Helsinque 1952 UEF

Transcrição

Helsinque 1952 UEF
XV JOGOS OLÍMPICOS DA ERA MODERNA: HELSINQUE 1952
Principais dados:
Nações participantes
69
Atletas
4925
Eventos
149 em 17 esportes
Cerimônia de Abertura
19 de julho
Cerimônia de Encerramento 3 de agosto
Abertura oficial
Juho Kusti Paasikivi
Juramento do Atleta
Heikki Savolainen
Entrada da Tocha Olímpica
Paavo Nurmi e
Hannes Kolehmainen
Local
Estádio Olímpico
Os preparativos para a Finlândia sediar as Olimpíadas começaram em 1938, depois
que Helsinque aceitou substituir Tóquio como sede dos Jogos de 1940. Mas a invasão
do país pelas tropas soviéticas forçou o cancelamento do evento. Em 1947, Helsinque
foi novamente designada como organizadora dos Jogos Olímpicos. A capital
finlandesa foi a menor cidade a receber uma Olimpíada (na época, Helsinque tinha
apenas 367 mil habitantes).
Construído para receber os Jogos suspensos, o estádio Olímpico, palco das principais
competições, teve sua capacidade ampliada para 70 mil lugares. A cerimônia de
abertura deu destaque a um atleta banido pelo COI (Comitê Olímpico Internacional)
sob a acusação de profissionalismo: Paavo Nurmi, maior esportista finlandês da
história, entrou no estádio carregando a tocha olímpica. Outro "finlandês voador",
Hannes Kolehmainen, campeão em Estocolmo-12, recebeu, aos 62 anos, a tocha das
mãos de Nurmi e acendeu a chama olímpica numa torre de 72,71m, referência à
distância do arremesso do dardo conseguida pelo atleta local Matti Jarvinen em Los
Angeles-1932.
Durante a cerimônia de abertura, uma alemã ativista do movimento feminino desceu
da arquibancada e se lançou correndo em direção ao palco onde se encontrava o
locutor oficial. Bárbara Rotbraut-Pleyer queria ler uma mensagem em favor da paz,
porém foi impedida pelo membro finlandês do COI, Eric von Frenckell.
Em Helsinque-1952, as delegações dos países ocidentais foram hospedadas na Vila
Olímpica de Kapylae, em uma área de 200 mil m², formada por 21 prédios que
hospedavam 4.800 atletas. As delegações da URSS (União das Repúblicas
Socialistas Soviéticas) e de seus países-satélites ficaram instaladas no litoral do mar
Báltico, em Otaniemi, onde foram construídos três grupos de prédios com capacidade
para 1.200 atletas.
A União Soviética estava ausente dos Jogos desde a revolução bolchevique, mas
participava dos campeonatos europeus de atletismo. Em abril de 1951, os dirigentes
soviéticos pediram seu reconhecimento ao COI. A entrada dos soviéticos marcou
também o início de uma nova era nas Olimpíadas. Ausente dos Jogos desde 1912
(quando ainda era Rússia), a URSS tornou-se uma potência olímpica, capaz de
superar os Estados Unidos, até então os maiores vencedores em Olimpíadas.
Como conseqüência de sua derrota na Segunda Guerra Mundial, a Alemanha tinha
sido banida de Londres-1948. Em Helsinque, voltou a se apresentar unida, sem fazer
distinção entre os lados Ocidental e Oriental, apesar de não ter na delegação nenhum
atleta do leste. Esteve presente também a delegação do Sarre, uma região carbonífera
do sul da Alemanha independente desde o final da Guerra. O Sarre não ganhou
nenhuma medalha e seu Comitê Olímpico desapareceu em 1956, quando a região,
depois de um plebiscito, voltou a fazer parte da Alemanha. O Japão, que também
havia sido punido pelo COI por ser membro do Eixo, retornou aos Jogos Olímpicos.
O espírito olímpico reinou em Helsinqui e a hospitalidade finlandesa foi marcante.
Diziam até que os finlandeses receberam tão bem os visitantes que, após terem
mantido uma tradição de vitórias nas corridas de longa distância, não ganharam
nenhuma medalha nestas provas, deixando-as com os visitantes e fazendo real o
slogan "You First".
Foi a 1ª participação da União Soviética como força esportiva unificada pois, em 1948,
havia enviado apenas técnicos e treinadores para acompanharem os Jogos. A Rússia
não participava dos Jogos desde 1912. Participaram 5.867 atletas (sendo 573
mulheres) de 69 países em 17 esportes.
Os EUA ganharam 40 medalhas de ouro, enquanto a URSS recebia 22 medalhas de
1º lugar.
Estes Jogos marcaram a despedida do sueco Sigfrid Edstron da presidência do
Comitê Olímpico Internacional (COI), sendo substituído pelo americano Avery
Brundage.
Os atletas ficaram separados politicamente por imposição da URSS. Os atletas dos
países da cortina de ferro (URSS, Hungria, Polônia, Bulgária, Romênia e
Tchecoslováquia) ficaram na Vila Velha, perto de uma base militar soviética. Apesar
disso, os atletas russos demonstraram espírito fraternal e convidavam os demais para
confraternizar, comer caviar e para intercâmbio de técnicas e táticas. Após a regata de
8 com timoneiro ,no remo, os soviéticos convidaram os campeões, os americanos,
para uma confraternização.
Um dos grandes momentos dos Jogos foi quando Paavo Nurmi, o grande campeão de
1924 e 1928, entrou no estádio carregando a tocha olímpica e depois a passou para o
grande Hannes Kolehmainen, herói dos Jogos de 1912. A escolha de Nurmi para
entrar no estádio com a tocha teve alguma oposição do COI uma vez que ele havia
sido impedido de competir nos Jogos de 1932 em Los Angeles por ter recebido
premiação superior à permitida a época após os Jogos de 1928. Nurmi foi ovacionado
longamente por todos os presentes à Cerimônia de Abertura
Paavo Nurmi acende a chama olímpica.
Emil Zatopek, tcheco, de 30 anos, foi o grande destaque dos Jogos, vencendo os
5.000m,10.000m e a maratona. Foi o único até hoje a conseguir este feito. Sua
esposa, Dana, também venceu no lançamento do dardo. O francês Alain Mimoun,
excelente atleta, foi 2º nos 5.000m e 10.000m, enquanto o argentino Reinaldo Gorno
foi medalha de prata na maratona.
O americano Harrison Dillard, que em Londres venceu os 100m rasos, em Helsinqui
conseguiu a medalha de ouro em sua prova, os 110m com barreiras. E o seu
compatriota Bob Mathias venceu novamente o decatlo. O americano Walter Davis era
mais um atleta que havia tido paralisia infantil (aos 8 anos) que recebia medalha de
ouro em Jogos Olímpicos. Venceu no salto em altura com 2,04m.
A Jamaica, que já havia sido 1ª e 2ª nos 400m em Londres, repetiu a dose em
Helsinqui e ainda obteve a medalha de ouro no revezamento 4 x 400m com novo
recorde mundial de 3'.03".09. O jamaicano Herbert McKenley, que havia sido medalha
de prata em 1948, conseguiu nova medalha de prata em Helsinqui nos 400 e 100m
rasos, além de obter ouro no revezamento. Na final dos 100m, vencida pelo americano
John Remigino, os 4 primeiros colocados fizeram exatamente o mesmo tempo - 10"04.
Os EUA dominaram o atletismo (14 medalhas de ouro), natação masculina (6
medalhas de ouro), boxe (5 medalhas de ouro) e basquete. A URSS dominou a
ginástica e lutas, enquanto a Hungria liderou a natação feminina, futebol e pólo
aquático.
Na disputa pelo 3º lugar no basquete, o Uruguai derrotou a Argentina por 68 a 59. Mas
o jogo foi uma verdadeira luta de boxe e, ao final da partida, o Uruguai estava com 4
jogadores e a Argentina com 3, tendo sido expulsos ou penalizados todos os demais
por excesso de faltas.
No boxe, o americano Floyd Patterson venceu na categoria peso-médio.
Posteriormente, seria campeão mundial dos peso-pesados. Ainda no boxe, o sueco
Ingmar Johansem, que depois seria também campeão mundial dos pesados
derrotando Patterson, foi desclassificado da final por falta de combatividade, deixando
de receber a medalha de prata, que ficou sem ganhador.
Nos 800 metros o americano Malvin Whitfield venceu com 1:49.2 derrotando o favorito
e campeão dos 400 metros de 1948 o jamaicano Arthr Wint que fez 1:49.4. Wint que
em Londres havia ganho o ouro nos 400 e prata nos 800 voltou a ganhar a medalha
de prata nos 800 e deve ser registrado que entre os dois Jogos Olímpicos ele serviu o
exército na Guerra da Coréia. Wint participou ainda em Helsinqui da medalha de ouro
obtida pela Jamaica revezamento 4 x 400 em novo recorde mundial com 3:03.9
Um dos momentos mais emocionantes dos Jogos foi a vitória de Joseph Barthel nos
1.500m em 3:45.1 surpreendendo os favoritos. Barthel chorou muito após a
surpreendente vitória e demonstrou grande emoção ao ouvir o hino nacional e ver a
bandeira no topo do mastro de seu pequeno País, Luxemburgo.
Nos 3.000 metros com obstáculos o americano Horace Ashenfelter venceu com
recorde mundial em 8:45.4 derrotando o soviético franco favorito Vladimir Kzantsev
Emil Zatopek que em Londres em 1948 havia ganho medalha de ouro nos 10.000
metros e prata nos 5.000 metros veio a Helsinqui para se consagrar. Inicialmente
venceu com certa facilidade os 10.000 metros em 29:17.0, novo recorde olímpico
derrotando o francês Alain Mimoun que já havia perdido para ele em 1948. Após os
10.000 metros esperava-se que Zatopek fosse disputar a Maratona, mas antes disso
ele surpreendeu entrando na pista para disputar os 5.000 metros e nova medalha de
ouro com 14:06.6, também novo recorde olímpico e derrotando uma vez mais ao
francês Alain Mimoun com 14:07.4. Após os 5.000 metros Zatopek surpreendeu
quando lhe perguntaram porque optara pelos 5.000 metros ao invés da maratona
afirmando que disputaria também a maratona.
E foi na Maratona que veio a consagração de Zatopek pois conseguiu sua 3ª medalha
de ouro em Helsinqui sendo até os dias de hoje o único a conseguir vencer nos
mesmo Jogos os 5.000,10.000 e Maratona ( Lasse Virem tentou repetir o feito em
1976, mas terminou a Maratona em 5º após ter vencido os 5.000 e 10.000 metros). Na
Maratona Zatopek fez 2:23.03.2, novo recorde olímpico derrotando o argentino
Reinaldo Gorno com 2:25.35.0. Deve ser destacada que esta era a estréia de Zatopek
em Maratonas. Zatopek voltaria a competir em 1956 nos Jogos de Melbourne na
Maratona e terminou em 6º,m as não se pode considerar um fracasso pois havia sido
operado de hérnia do disco apenas 6 semanas antes
Estátua de Paavo Nurmi na entrada do Estádio Olímpico de Helsinque.
Dela foi tirada o Poster Oficial dos Jogos
O carpinteiro sueco Lars Hall sagrou-se o primeiro campeão olímpico não-militar do
Pentatlo Moderno.
A fabulosa seleção húngara de futebol liderada por Ferenc Puskas conquistou o título
olímpico e continuaria maravilhando o mundo até perder a final da Copa do Mundo
para a RFA dois anos depois, na Suíça. A Hungria, um país com apenas dez milhões
de habitantes, conseguiu a extraordinária façanha de ganhar 45 medalhas nestes
Jogos, ficando atrás apenas dos Estados Unidos e da URSS.
Sete anos após o término da II Guerra Mundial, a Alemanha pôde novamente
participar dos Jogos, mas apenas alemães da parte ocidental competiram.
A participação brasileira:
Com a maior delegação desde que estreou nas Olimpíadas, em Antuérpia-1920, o
Brasil teve no evento finlandês seu melhor desempenho até então. Com 108 atletas
competindo por 15 modalidades, os brasileiros conquistaram uma medalha de ouro e
duas de bronze.
O ouro olímpico, que o Brasil só havia ganhado uma vez, em 1920, com o atirador
Guilherme Paraense, foi conquistado dessa vez por Adhemar Ferreira da Silva, no
salto triplo. Favorito ao ouro pelo desempenho nos anos que antecederam os Jogos
de Helsinque, Adhemar, então com 25 anos, bateu o recorde mundial em sua segunda
tentativa, pulando 16,12m. No quinto salto, o brasileiro alcançou sua melhor marca,
16,22m, um novo recorde mundial. Quando Adhemar encerrou sua participação com
um salto de 16,05m, o ouro já estava garantido. Outro brasileiro, Geraldo de Oliveira,
foi o sétimo colocado na mesma prova.
Uma curiosidade histórica sobre Adhemar é pouco conhecida pela posteridade, apesar
de ter se tornado um costume universal no esporte. Extasiados com a performance
daquele gigante negro desconhecido de um país longínquo, os torcedores finlandeses
aplaudiam e gritavam entusiasticamente seu nome por todo o estádio, instando-o a
estar com eles. Vagarosamente então Adhemar começou a andar pela pista sorrindo e
agradecendo os frenéticos aplausos. Cada vez mais incentivado a seguir em frente
pela massa que o chamava e queria vê-o de perto, Adhemar começou a trotar ao
mesmo tempo em que acenava para a multidão e assim foi trotando em volta de todo
o estádio olímpico. Inconscientemente, o campeão brasileiro criava ali a chamada
volta olímpica, que nos anos seguintes e até nossos dias passaria a ser usada
comumente pelos campeões de todos os esportes para saudar o público após suas
vitórias.
Ainda no atletismo, o Brasil conquistou sua segunda medalha nos Jogos de 1952. No
salto em altura, o carioca José Telles da Conceição alcançou a marca de 1,98m recorde sul-americano - e ficou com o bronze. Outro atleta bem colocado no esporte
foi Ary Façanha de Sá. No salto em distância, Ary terminou na quarta colocação, com
um salto de 7,23m.
Na natação, o Brasil conseguiu sua terceira medalha, a segunda de bronze nos Jogos.
O nadador Tetsuo Okamoto chegou em terceiro lugar nos 1.500m livre, ao completar a
prova em 18min51s3 - recorde sul-americano. O resultado rendeu ao brasileiro o
apelido de "peixe-voador".
Tetsuo Okamoto
No futebol, a seleção brasileira fez sua estréia olímpica com uma goleada por 5 a 1
contra a Holanda. O time formado por jogadores de clubes do Rio de Janeiro e
treinado por Newton Cardoso venceu Luxemburgo, na segunda fase, por 2 a 1. O
sonho de medalha, porém, acabou nas quartas-de-final, quando o Brasil perdeu para a
Alemanha por 4 a 2. Daquele time, dois jogadores seriam campeões da Copa do
Mundo de 1958: Vavá e Zózimo.
A decepção ficou por conta do basquete, que havia sido medalha de bronze em
Londres. Em Helsinque, a equipe brasileira não passou de uma sexta colocação, com
quatro vitórias e quatro derrotas.
O Brasil participou, ao todo, nos seguintes esportes: levantamento de peso, boxe, tiro,
esgrima, pentatlo moderno (6º por equipes), natação (medalha de bronze para Tetsuo
Okamoto), pólo aquático, remo, iatismo, atletismo (medalhas de Adhemar Ferreira da
Silva e José Telles da Conceição), futebol (eliminado nas quartas de final pela
Alemanha), basquete (6º lugar) e hipismo (4º no individual com Eloy de Meneses e a
4ª colocação por equipes na Prova das Nações, surpreendendo com Renyldo Ferreira
- capitão da equipe -, Álvaro Dias de Toledo e Eloy Massey Oliveira de Meneses).
Modalidades disputadas:
Atletismo
Hóquei sobre a grama
Basquetebol
Natação
Boxe
Pentatlo moderno
Canoagem
Pólo aquático
Ciclismo
Remo
Esgrima
Saltos ornamentais
Futebol
Tiro
Ginástica
Vela
Halterofilismo
Wrestling
Hipismo
Quadro de medalhas:
Posição
País
Ouro
Prata
Bronze
Total
1
Estados Unidos
40
19
17
76
2
União Soviética
22
30
19
71
3
Hungria
16
10
16
42
4
Suécia
12
13
10
35
5
Itália
8
9
4
21
6
Checoslováquia
7
3
3
13
7
França
6
6
6
18
8
Finlândia
6
3
13
22
9
Austrália
6
2
3
11
10
Noruega
3
2
11
Suíça
2
6
6
14
12
África do Sul
2
4
4
10
13
Jamaica
2
3
5
14
Bélgica
2
2
4
15
Dinamarca
2
1
16
Turquia
2
17
Japão
1
18
Grã-Bretanha
19
20
5
3
6
1
3
6
2
9
1
2
8
11
Argentina
1
2
2
5
Polónia
1
2
1
4
Canadá
1
2
3
Jugoslávia (Iugoslávia)
1
2
3
21
23
Roménia
1
Brasil
1
2
4
1
2
3
Nova Zelândia
1
2
3
26
Índia
1
1
2
27
Luxemburgo
1
28
Alemanha
7
29
Países Baixos
5
30
Irão (Irã)
3
31
Chile
2
Áustria
1
1
2
Líbano
1
1
2
Espanha
1
1
Irlanda
1
1
México
1
1
24
1
17
24
5
4
7
2
32
34
37
Coréia do Sul
2
2
Trinidad e Tobago
2
2
Uruguai
2
2
Bulgária
1
1
Egipto (Egito)
1
1
Portugal
1
1
Venezuela
1
1
40

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