CRESCIMENTO EM CAMPO DE MUDAS DE CEDRO

Transcrição

CRESCIMENTO EM CAMPO DE MUDAS DE CEDRO
CRESCIMENTO EM CAMPO DE MUDAS DE CEDRO (Cedrela fissilis)
DESENVOLVIDAS EM DIFERENTES SUBSTRATOS
Lucio dos Reis Oliveira1; Sebastião Ferreira de Lima2; Ana Paula Leite de Lima3
1
Aluno do curso de Ciências Biológicas do Unicerp – Centro Universitário do Cerrado Patrocínio, MG,
[email protected]; 2Doutor em Fitotecnia, Eng.Agrônomo UFMS, [email protected]; 3Doutora
em Ciências Florestais, UFMS, [email protected]
Resumo
O cedro é uma espécie importante para a recuperação florestal de áreas degradadas
que não estão sujeitas à inundação. O trabalho teve o objetivo de avaliar o desempenho de
mudas de cedro em campo após seu crescimento inicial em casa de vegetação sob diferentes
substratos. As mudas foram produzidas em Patrocínio, MG, em agosto de 2007. Foram
utilizados os tratamentos: T1 – areia+solo+esterco (1:1:1); T2 – areia+solo+substrato (1:1:1);
T3 – solo+esterco (1:1); T4 – solo+substrato (1:1); T5 – solo+esterco (2:1); T6 –
solo+substrato (2:1); T7 – solo+areia (1:1); T8 – solo. O delineamento experimental foi
composto por blocos casualizados, com 4 repetições. Foram utilizadas em campo os mesmos
tratamentos e delineamentos usados para a produção de mudas em casa de vegetação. O
espaçamento em campo foi de 3 m x 3 m, em covas de 30 cm x 30 cm. As avaliações
ocorreram 2 meses e 5 meses após o plantio em campo, sendo avaliados altura de plantas,
diâmetro do colo, número de folhas por planta e diâmetro da copa. Na primeira avaliação,
apenas a variável altura de planta apresentou médias significativas. Na segunda avaliação
todas as variáveis avaliadas tiveram resultados significativos. Excetuando-se os tratamentos
solo + substrato (1:1) e solo, todos os demais tiveram bons resultados no crescimento de
mudas de cedro. Concluiu-se que os melhores substratos foram solo + esterco (2:1); solo +
esterco (1:1) e areia + solo + esterco (1:1:1). A escolha do substrato depende da
disponibilidade de seus constituintes e é possível produzir mudas de cedro com boa qualidade
e baixo custo.
Palavras-Chave: Espécies nativas; áreas degradadas; cerrado.
Introdução
A espécie Cedrela fissilis, popularmente conhecida como cedro, é encontrada desde
florestas da Argentina até as da Costa Rica, do nível do mar até cerca de 800 metros de
altitude, tendo ampla adaptação em toda a América Latina (MATTOS, 1980). Segundo
Carvalho (1994), ocorre em diversas formações florestais brasileiras e praticamente em toda
América tropical.
Trata-se de uma espécie uniformemente rara, ou seja, ocorrendo em populações de
baixa densidade, menos de um indivíduo por hectare (BAWA e ASHTON, 1991). Apresenta
distribuição escassa dentro da floresta primária, mas com comportamento muito agressivo em
matas secundárias, por isso, é freqüentemente encontrado em pastos abandonados e
fragmentos de matas em propriedades rurais. Quando a densidade de indivíduos é alta, pode
favorecer o ataque da broca-do-cedro (Hypsipyla grandella Zeller, Lepidoptera: Pyralidae),
comprometendo o valor comercial, pois as árvores ficam deformadas (CARVALHO, 1994).
A densidade aparente da madeira é de 0,53 g/cm3, indicada para móveis finos, folhas
faqueadas decorativas, molduras, construções internas como venezianas, rodapés e outros
(MAINIERI e CHIMELO, 1989). Por essas características nobres da madeira, a planta foi
explorada intensamente e irracionalmente, no passado, continuando até os dias atuais
(PINAZZO, 1992), levando a intensa erosão genética da espécie, decorrente da destruição de
muitas populações e indivíduos (FAO, 1986). Além do uso direto da madeira de cedro,
também se pode extrair óleo essencial com perfume semelhante ao cedro-do-líbano. Verificase também a presença de substâncias tanantes na casca e no lenho. O chá das cascas do cedro
é utilizado, na medicina popular, como tônico fortificante, adstringente, febrífugo, no combate
às disenterias e artrite (FRANCO e FONTANA, 1997). Também pode ser utilizado para
produção de mel e, por ser uma espécie ornamental, é empregada em projetos paisagísticos e
arborização urbana (LORENZI, 1992). A Cedrela fissilis é uma espécie importante para
recuperação florestal de áreas degradadas e de matas ciliares, onde não ocorrem inundações
(DURIGAN et al., 2002).
Constitui, portanto, uma espécie de grande interesse ambiental, pois necessita de
grandes extensões de terra para sua conservação, permitindo, concomitantemente, a
conservação de espécies que ocorrem em maior densidade (KAGEYAMA e GANDARA,
1993).
Devido à grande necessidade de produzir mudas de espécies nativas, em razão da
tendência de ocupação de terras com futuros plantios florestais de forma equilibrada, faz-se
necessário, avaliar e selecionar substratos de fácil aquisição, baixo custo e que atenda às
exigências das espécies (BOLFE et al., 2004). No Brasil, especialmente no Nordeste e
Centro-Oeste, verifica-se uma enorme carência de oferta de mudas produzidas com tecnologia
que garanta a qualidade genética e fitossanitária e, conseqüentemente, assegure o
fortalecimento econômico da exploração e atenda às exigências dos mercados consumidores
(OLIVEIRA et al., 2002).
A boa formação de mudas tanto para povoamentos florestais como para povoamentos
mistos com finalidade de preservação ambiental ou recuperação de áreas degradadas depende
da eficiência dos substratos (GONÇALVES e POGGIANI, 1996).
Segundo Toledo (1992), muitos materiais de origem vegetal e animal têm sido
utilizados no preparo de compostos orgânicos para produção de mudas, mas a escolha do
substrato, quando da sua formulação, deve ser feita em função da disponibilidade de
materiais, suas características físicas e químicas, seu peso e custo. De acordo com Gomes et
al. (1991), deve se testar substratos de fácil aquisição, alternativos a vermiculita, por ser essa
de elevado custo.
O objetivo do trabalho foi de avaliar o desempenho de mudas de cedro em campo após
seu crescimento inicial em casa de vegetação sob diferentes substratos.
Metodologia
As mudas foram produzidas em casa de vegetação no Centro Universitário do Cerrado
Patrocínio – UNICERP, localizado no município de Patrocínio, MG. As sementes foram
semeadas em agosto de 2007.
Foram utilizados os tratamentos: T1 – areia+solo+esterco (1:1:1); T2 –
areia+solo+substrato (1:1:1); T3 – solo+esterco (1:1); T4 – solo+substrato (1:1); T5 –
solo+esterco (2:1); T6 – solo+substrato (2:1); T7 – solo+areia (1:1); T8 – solo. Foi utilizado
solo de barranco.
O delineamento experimental foi composto por blocos casualizados, com 4 repetições,
perfazendo 32 parcelas. Cada parcela foi composta por quatro saquinhos de polietileno com
dimensões de 18 cm de altura e raio de 4,5 cm comportando 1.144,53 cm³, com uma muda de
cedro por saquinho. As mudas foram levadas ao campo em janeiro de 2008, sendo conduzidas
em área pertencente à Funcecp – Fundação Comunitária, educacional e cultural de Patrocínio,
MG.
Foram utilizadas em campo os mesmos tratamentos e delineamentos usados para a
produção de mudas em casa de vegetação. As mudas foram plantadas, em campo, com
espaçamento de 3 m x 3 m, em covas de 30 cm x 30 cm. Cada tratamento foi constituído de
uma planta, perfazendo as 32 parcelas.
As avaliações ocorreram 2 meses e 5 meses após o plantio em campo, sendo avaliados
altura de plantas, diâmetro do colo, número de folhas por planta e diâmetro da copa.
A análise das variáveis foi realizada com o emprego do programa SAEG (2007). O
fator qualitativo, quando significativo pelo teste F, teve suas médias comparadas pelo teste de
Tukey a 5% de probabilidade.
Resultados e Discussão
Na primeira avaliação (2 meses após o plantio em campo), apenas a variável altura de
planta apresentou médias significativas (FIG. 1). A maior média para altura de plantas foi
obtido com o substrato solo + esterco (2:1), entretanto, não diferiu estatisticamente dos
tratamentos solo + esterco (1:1); areia + solo + esterco (1:1:1) e solo + substrato (2:1). Esse
resultado inicial, favorável para substratos de fácil aquisição e mais baratos, corroboram com
as indicações de Bolfe et al. (2004) e Toledo (1992). Observa-se a importância de um bom
substrato quando se comparam as médias extremas, ou seja, com o uso do substrato solo +
esterco (2:1) a média de altura foi 45,4% (27 cm) superior ao substrato com pior desempenho
(solo).
70
Altura de plantas (cm)
50
59,4 A
56 AB
60
48,3 ABC
45,8 ABCD
41 BCD
38,8 CD
35,3 CD
40
32,4 D
30
20
10
0
A
B
C
D
E
F
G
H
Substratos
Figura 1 – Altura de plantas em função dos substratos: A – areia+solo+esterco (1:1:1); B – areia+solo+substrato
(1:1:1); C – solo+esterco (1:1); D – solo+substrato (1:1); E – solo+esterco (2:1); F – solo+substrato (2:1); G –
solo+areia (1:1) e H – solo. Médias seguidas pela mesma letra, não diferem estatisticamente entre si, pelo teste
de Tukey a 5%.
Na segunda avaliação (5 meses após o plantio em campo) todas as variáveis avaliadas
tiveram resultados significativos (FIG. 2 e 3). Excetuando-se os tratamentos solo + substrato
(1:1) e solo, todos os demais tiveram bons resultados no crescimento de mudas de cedro. As
melhores médias para altura de plantas, diâmetro do caule e número de folhas por planta
foram obtidas com o tratamento composto de solo + esterco (2:1). Para diâmetro de copa, a
maior média foi obtida com o tratamento solo + substrato (2:1), mas não diferiu
estatisticamente do tratamento solo + esterco (2:1).
Da mesma forma que foi verificado na primeira avaliação, o uso de substratos de fácil
aquisição e baixo custo manteve-se com bom desempenho na segunda avaliação.
Os melhores substratos obtidos nesse trabalho propiciam uma recomendação que vai
de encontro às premissas de Toledo (1992), afirmando que muitos materiais de origem vegetal
e animal têm sido utilizados no preparo de compostos orgânicos para produção de mudas, mas
a escolha do substrato, quando da sua formulação, deve ser feita em função da disponibilidade
de materiais, suas características físicas e químicas, seu peso e custo. Também concorda com
Gomes et al. (1991), que recomenda o uso de substratos de fácil aquisição e de custo menor,
servindo como alternativas aos substratos comerciais disponíveis no mercado.
(a)
(b)
40
60
59,4 A
56 A
51,1 AB
45,8 ABC
50
38,8 BC
37,8 BC
40
41 BC
32,4 C
30
20
10
Diâmetro do caule (mm)
Altura de plantas (cm)
70
33,8 A
35
30
27,7 ABC
31,7 AB 30,4 ABC
27,6 ABC
25
18,5 C
20
19,6 BC
18,5 C
15
10
5
0
0
A
B
C
D
E
F
G
A
H
B
C
D
E
F
G
H
Substratos
Substratos
Figura 2 – Altura de plantas (a) e diâmetro do caule (b) em função dos substratos: A – areia+solo+esterco
(1:1:1); B – areia+solo+substrato (1:1:1); C – solo+esterco (1:1); D – solo+substrato (1:1); E – solo+esterco
(2:1); F – solo+substrato (2:1); G – solo+areia (1:1) e H – solo. Médias seguidas pela mesma letra, não diferem
estatisticamente entre si, pelo teste de Tukey a 5%.
9A
8,8 A
(b)
120
8,3 AB
7,5 AB
6,8 AB
7,3 AB
5,8 AB
4,3 B
Diâmetro de copa (cm)
Número de folhas
(a)
10
9
8
7
6
5
4
3
2
1
0
101,8 A
100
91,5 AB
80
69,1 ABC
82,9 AB
74,5 ABC
62,3 ABC
53,1 BC
60
35,1 C
40
20
0
A
B
C
D
E
Substratos
F
G
H
A
B
C
D
E
F
G
H
Substratos
Figura 3 – Número de folhas (a) e diâmetro de copa (b) em função dos substratos: A – areia+solo+esterco
(1:1:1); B – areia+solo+substrato (1:1:1); C – solo+esterco (1:1); D – solo+substrato (1:1); E – solo+esterco
(2:1); F – solo+substrato (2:1); G – solo+areia (1:1) e H – solo. Médias seguidas pela mesma letra, não diferem
estatisticamente entre si, pelo teste de Tukey a 5%.
Conclusões
Os melhores substratos para a produção de mudas de cedro foram solo + esterco (2:1);
solo + esterco (1:1) e areia + solo + esterco (1:1:1).
Dentre os três melhores substratos, a escolha de qual será utilizado deve recair sobre a
disponibilidade dos materiais que os compõem, custo e facilidade de manuseio da mistura de
substrato.
É possível obter produção de mudas de cedro com boa qualidade e baixo custo, isso ao
alcance de todos os produtores que tenham capacidade técnica, sem custos altos no preparo do
substrato.
Referências
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genetic perspective. In: HOISINGER, D.; FALK, A. (ed. ) Genetics and conservation of rare
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BAITELLO, J. B. Sementes e mudas de árvores tropicais. 2 ed. São Paulo: Páginas &
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FRANCO, I. J.; FONTANA, V. L. Ervas & plantas: a medicina dos simples. Erechim:
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Revista Árvore, Viçosa, v. 15, n. 1, p. 35-41, 1991.
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LORENZI, H. Árvores brasileiras: manual de identificação e cultivo de plantas arbóreas
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TOLEDO, A. R. M. Efeito de substratos na formação de mudas de laranjeira (Citrus
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Fitotecnia) - Escola Superior de Agricultura de Lavras,

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