Recursos para a construção de estilos: tópico e

Transcrição

Recursos para a construção de estilos: tópico e
Universidade Estadual de Campinas
Instituto de Estudos da Linguagem
Rafaela Defendi Mariano
Recursos para a construção de estilos: tópico e
marcadores discursivos na fala de um rapper
paulista
Relatório Científico Parcial referente à bolsa de
Iniciação Científica encaminhado à apreciação
da FAPESP.
Orientadora: Profa. Dra. Anna Christina Bentes da Silva
SHAPE \* MERGEFORMAT
Campinas 2011
Sumário
Resumo ____________________________________________________________Pg.3
Resumo das Atividades ________________________________________________Pg.3
1. Aprofundamento de Pressupostos Teóricos______________________________Pg.4
1.1. Retomando as discussões sobre o conceito de tópico_____________________Pg.4
2. Análise da primeira situação comunicativa ______________________________Pg.9
2.1 Configurações relacionais da audiência da primeira situação comunicativa __Pg.9
2.2 Organização tópica da primeira situação comunicativa___________________Pg.9
3. Análise da segunda situação comunicativa _____________________________Pg.13
3.1 Configurações relacionais da audiência da segunda situação comunicativa __Pg.13
3.2 Organização tópica da segunda situação comunicativa__________________Pg.14
4. Análise da terceira situação comunicativa _____________________________Pg.17
4.1 A situação social engendrada na terceira situação comunicativa___________Pg.17
4.2 O formato híbrido da terceira situação comunicativa____________________Pg.23
4.3 Organização tópica da terceira situação comunicativa___________________Pg.30
5. Questões metodológicas ____________________________________________Pg.39
5.1. A transcrição do corpus __________________________________________Pg.39
5.2 Exercícios de transcrição __________________________________________Pg.40
6. Redimensionamento do Cronograma __________________________________Pg.42
7. Publicações e Participações em Eventos _______________________________Pg.43
8. Sobre o Desempenho Acadêmico e Outras Atividades ____________________Pg.44
9. Bibliografia _____________________________________________________Pg.46
Anexo 1 ___________________________________________________________Pg.49
Anexo 2 ___________________________________________________________Pg.61
Projeto: “Recursos para a construção de estilos: tópico e marcadores discursivos na fala de
um rapper paulista”
Aluna: Rafaela Defendi Mariano RA: 082587 Unidade: IEL/UNICAMP
Orientadora: Profa. Dra. Anna Christina Bentes da Silva
Vigência: 01 de dezembro de 2010 a 31 de novembro de 2011
Relatório Parcial de Iniciação Científica - FAPESP
Resumo
A presente pesquisa tem como objetivo descrever e analisar as diferenças
estilísticas resultantes das manipulações estratégicas de recursos linguístico-discursivos
produzidas pelo rapper Mano Brown, protagonista de movimento social em São Paulo,
em
diferentes
situações
comunicativas:
fala
pública,
depoimento,
entrevista
sociolinguística e entrevista. Nossa hipótese é a de que sendo o design de audiência
(BELL, 2001) o fator condicionante da variação estilística, dois fenômenos se
apresentam como os principais lócus de observação dessa variação: o fenômeno textual
tópico discursivo e o fenômeno linguístico-discursivo dos marcadores discursivos. Para
comprovarmos a hipótese, procedemos à descrição da organização hierárquica e da
segmentação linear dos tópicos discursivos dos textos orais produzidos por Mano Brown.
Na próxima fase, analisaremos a manipulação estratégica por parte do rapper dos
marcadores discursivos e sua relação com a gestão do tópico.
Este relatório refere-se às atividades desempenhadas no período compreendido entre
01 de dezembro de 2010 e 10 de maio de 2011.
Resumo das Atividades
Os seis primeiros meses desta pesquisa foram dedicados a três atividades principais:
o aprofundamento teórico, a transcrição do corpus e as análises de três dos quatro textos
orais pertencente ao corpus.
Para a produção das análises, foram retomadas as seguintes leituras sobre estilo, fatores da
variação estilística (design de audiência e design de referência) e tópico discursivo: Bell
(2001), Jubran et al. (2002), Jubran (2006) e Bentes e Rio (2006).
No que se refere ao aprofundamento teórico, alguns importantes trabalhos sobre o gênero
entrevista sociolinguística foram lidos, como Schiffrin (1994) e Rio (2010). Estas leituras
foram necessárias para que se pudesse entender melhor o texto produzido por Mano Brown
na terceira situação comunicativa, como será exposto no item 4.
Além disso, também foram realizadas transcrições do programa “Manos e Minas”,
exibido na TV Cultura, com vistas a contribuir com o projeto “É nóis na fita: a formação de
um registro e a elaboração de estilos no campo da cultura popular urbana paulista”, cujo
objetivo geral é o de “produzir descrições e análises que revelem a maneira pela qual os
processos de formação de registros e de elaboração de estilos pelos grupos sociais se
interpenetram, se complementam e/ou entram em conflito” (BENTES, 2009), no interior do
qual a presente pesquisa se insere. Além disso, essa atividade possibilitou um treinamento
para a realização da transcrição do corpus da presente pesquisa, já que ambas foram feitas
baseadas no modelo que é uma adaptação das convenções adotadas por outros grupos e
projetos de análise da fala, a saber: Projeto ALIP (Amostra Linguística do Interior
Paulista), Grupo de Pesquisa COGITES (Cognição, Interação e Significação) e Projeto
NURC (Norma Urbana Culta).
1. Aprofundamento dos Pressupostos Teóricos
1.1. Retomando as discussões sobre tópico
Jubran et al. (2002) a partir de uma perspectiva discursiva promoveram um estudo
da organização tópica de um discurso de natureza oral-dialogada a fim de melhor definir a
unidade de análise de estatuto discursivo, o tópico:
Tomado no sentido geral de “acerca de”, o tópico manifesta-se, na
conversação, mediante enunciados formulados a respeito de um
conjunto de referentes explícitos ou inferíveis, concernentes entre si
e em relevância num determinado ponto da mensagem. (JUBRAN et
al., 2002, p. 344) (grifos nossos)
Jubran et al. (2002) propuseram uma análise que fosse além do turno, pois
perceberam que, em uma conversação, a relação de interdependência entre os turnos “pode
ser movida pela preocupação dos falantes em se entrosarem, procurando manter a
conversação em torno de um conjunto de referentes comuns (...) Nesse caso são
observáveis segmentos discursivos articulados em torno de um tópico proeminente”
(JUBRAN et al., 2002, p. 342); ou seja, como a interação verbal é envolvida por atos
colaborativos em vista à construção do texto, o turno é produzido por referência ao anterior.
A nova definição foi uma revisão dos estudos do grupo cuja primeira definição
revelou-se de difícil operacionalização devido ao caráter vago e amplo do significado de
assunto e do grau de subjetividade na compreensão da noção: “fragmentos textuais, de
extensões variadas, recobrindo determinado assunto (tema), em pauta no segmento
recortado para análise” (KOCH et al., 1990 apud JUBRAN et al, 2002, p. 343).
Apesar da conceituação de tópico ter sido postulada por Jubran et al. (1992) e
Jubran (2006) a partir de um corpus constituído de textos dialogados, acreditamos que é um
conceito passível de ser aplicado na análise das quatro situações comunicativas, já que a
própria autora assim afirma: “no entanto, se desbastada desses indícios de conversação
[falava antes sobre turnos], a categoria tópica é aplicável à análise de textos de outros
gêneros falados e também escritos [ver Pinheiro, 2005], uma vez que a topicalidade é um
processo constitutivo do texto” (JUBRAN, 2006).
Os pesquisadores procuraram estabelecer traços que pudessem definir a categoria tópico
com mais segurança e objetividade. A centração, que é uma das propriedades definidoras
de tópico, abrange os seguintes traços:
a) a concernência: relação de interdependência entre elementos
textuais, firmada nos mecanismos coesivos de sequenciação e
referenciação, que promovem a integração desses elementos em um
conjunto referencial, instaurado no texto como alvo da interação
verbal;
b) a relevância: proeminência de elementos textuais na constituição
desse conjunto referencial, que são projetados como focais, tendo em
vista o processo interativo;
c) a pontualização: localização desse conjunto em determinado
ponto do texto, (fundamentada na integração - concernência) e na
proeminência (relevância) de seus elementos, instituídas com
finalidades interacionais. (JUBRAN, 2006, p. 35).
Segundo Maynard (1990 apud JUBRAN et al., 2002), os estudos mais recentes
demonstram que o tópico não é mais visto apenas como uma noção de conteúdo como os
estudos anteriores, visto que “aquilo de que se fala” não pode ser desvinculado do “como se
fala” (MAYNARD, 1980 apud JUBRAN et al., 2002). Podemos afirmar que o conceito de
tópico do Grupo de Organização Textual Interativa do Projeto de Gramática do Português
Falado (PGPF) contribui para o pressuposto de Maynard, visto que os elementos coesivos
de referenciação e sequenciação nos dão pistas para a delimitação do tópico (traço de
concernência) e a escolha desses elementos produz sentidos:
Não há estudos detalhados relacionando esses dois aspectos
[progressão referencial e progressão tópica]. Mas, em princípio, eu
não creio que sejam independentes, embora também não sejam
biunívocos. Eles são co-determinados. Contudo, se a continuidade
referencial serve de base para o desenvolvimento de um tópico, a
presença de um tópico oferece tão somente as condições
possibilitadoras e preservadoras da continuidade referencial, mas
não as garante. (MARCUSCHI, 2008, p. 141).
A partir desse pressuposto do tópico como um princípio organizador do discurso,
Jubran et al. (2002) postulam a outra propriedade do tópico: a organicidade. Esta
propriedade diz respeito às relações de interdependência tópica, que pode se estabelecer em
dois níveis: o hierárquico e o linear/sequencial. O primeiro se refere ao plano vertical, em
que os tópicos podem ser descritos hierarquicamente “conforme as dependências de
superordenação e subordinação entre tópicos que se implicam pelo grau de abrangência do
assunto” (JUBRAN et al., 2002, p. 345) e o segundo se refere ao plano horizontal “de
acordo com as articulações intertópicas em termo de adjacências ou interposições na linha
discursiva” (JUBRAN et al., 2002, p. 345).
A partir dessa categoria, Jubran et al. (2002) conseguem identificar e delimitar os
segmentos tópicos, ou seja, “unidades discursivas que atualizam as propriedades de tópico”
(JUBRAN et al., 2002, p. 345); observar como esses segmentos se distribuem linearmente e
se inter-relacionam hierarquicamente no texto e caracterizar estruturalmente os segmentos,
ou seja, caracterizar a estrutura intratópica que pode vir evidenciada por marcas linguísticas
na sua abertura, meio ou saída que ajudam a delimitá-los.
Em relação à hierarquização, Jubran et al. (2002) afirmam que é possível observar e
identificar as relações de interdependência entre os tópicos de acordo com a sua
abrangência. Nas palavras dos autores:
Há como que camadas de organização, indo desde um tópico
suficientemente amplo para não ser recoberto por outro
superordenado,
passando
por
tópicos
sucessivamente
particularizados, até se alcançarem constituintes tópicos
mínimos-definíveis pelo maior grau de particularização do
assunto em relevância. (JUBRAN et al., 2002, p. 346)
A partir dessa constatação, os autores propuseram a análise a partir de Quadros
Tópicos (QT), ―noção abstrata e relacional cujo estatuto concreto é determinado pelo nível
de hierarquia selecionado pelo analista (JUBRAN et al., 2002), caracterizados por duas
condições necessárias (a e b) e uma possível (c):
a) centração num tópico mais abrangente (Supertópico – ST);
b) divisão interna em tópicos co-constituintes (Subtópicos – SbT);
c) subdivisões sucessivas no interior de cada tópico co-constituinte de forma que um tópico
pode vir a ser ao mesmo tempo ST e SbT.
Em relação à distribuição linear do tópico, os autores caracterizam dois fenômenos
básicos: a continuidade e a descontinuidade. A primeira se refere à abertura do tópico
subsequente com o esgotamento do anterior e a segunda à perturbação da sequência linear
seja pela suspensão de um tópico que ainda não se esgotou ou pela divisão desse tópico que
será retomado posteriormente. Segundo Jubran et al. (2002), apesar da possibilidade de
descontinuidade com a inserção de tópicos constitutivos de um quadro tópico entre tópicos
de outro quadro tópico, nos níveis hierárquicos mais elevados, há uma tendência ao
restabelecimento da linearidade. Assim, quando há dois supertópicos na conversação, um
só é iniciado quando o outro se esgota, confirmando segundo os autores a estruturação,
coesão e coerência do fenômeno conversação.
Segundo Jubran et al. (2002), há três formas de ocorrência da mudança de tópico:
introdução de um tópico após o esgotamento do anterior, caracterizando assim
continuidade; passagem gradativa de um foco de relevância para outro, graças aos tópicos
de transição que não é o tópico anterior e nem o seguinte, mas algo que os liga; introdução
de um tópico por abandono do anterior que não foi esgotado, caracterizando assim a
descontinuidade.
As marcas que podem delimitar os segmentos tópicos, apesar de facultativas e
multifuncionais (podem aparecer em situações textuais outras), são um critério auxiliar na
segmentação. Assim como a observação da mudança de rumo da conversação, a observação
das marcas linguístico-discursivas da delimitação tópica se mostra uma importante
ferramenta para os nossos objetivos. Essas marcas podem ser prosódicas (entonação, por
exemplo); morfossintáticas (topicalização- quando um dos referentes passa a ser
centralizado e torna-se novo assunto de relevância ou deslocamento à esquerdatopicalização com um pronome co-referencial presente); léxico-semânticas (paráfrases,
repetições seja para concluir tópicos ou concluir para introduzir novos tópicos, frases feitas,
ditados populares e enunciados conclusivos); marcadores discursivos; atos ilocutórios;
silêncio e pausas; hesitações, etc. Nossa investigação privilegiará na segunda fase de
pesquisa a análise dos marcadores discursivos por acreditarmos ser importante para se
analisar a sua função coesiva ou interacional, mas também por termos a hipótese de que
essas unidades se constituem em um lócus de observação da manipulação estratégica dos
recursos linguísticos por parte do falante.
2. Análise da primeira situação comunicativa
2.1 Configurações relacionais da audiência primeira situação comunicativa
Na primeira situação comunicativa, o discurso público, Mano Brown, apesar de ter
uma plateia formada por pessoas fisicamente presentes, age da mesma forma como
Goffman propôs que ocorre aos comunicadores televisivos: “os comunicadores são
pressionados a modular suas falas como se fossem dirigidas a um único ouvinte”
(GOFFMAN, 1964 apud AZANHA, 2008). O termo plateia se faz adequado à fala que vem
da tribuna, segundo Goffman (1964 apud RIBEIRO E GARCEZ, 2002, p. 125-6), pois as
plateias escutam de uma maneira “que lhes é peculiar”, pois não constituem um conjunto de
companheiros de conversa e podem ter “o direito de examinar o falante diretamente com
uma franqueza que seria ofensiva numa conversa”. Além disso, “o papel de uma plateia é o
de apreciar as observações feitas e não o de responder de forma direta”, apesar de serem
testemunhas ao vivo (“co-participantes numa mesma ocasião social”) e de poderem dar
sinais de concordância, atenção, etc. No caso do discurso proferido por Mano Brown, o
efeito produzido é o de certo grau de proximidade com os interlocutores, em virtude dos
próprios tópicos abordados pelo rapper. Mano Brown, por exemplo, critica a si mesmo e
aos membros da sua comunidade e, além disso, exemplifica trazendo cenas do cotidiano da
periferia. Isso contribui para a aproximação dele com a plateia e diminui possíveis
apreciações negativas sobre ele em seu discurso.
2.2 A organização tópica da primeira situação comunicativa
Em termos de organização tópica de natureza hierárquica, a primeira situação
comunicativa apresenta, a nosso ver, o supertópico Qualidades e defeitos do ser humano
e dois quadros tópicos co-constituintes: (1) Humildade x arrogância e (2) Comentários
sobre si mesmo.
Essa delimitação foi possível graças a duas etapas: a primeira consistiu na
segmentação do texto em suas menores porções (segmentos tópicos), identificáveis
fundamentalmente pelo princípio de centração e a segunda no agrupamento desses
segmentos tópicos, conforme o grau de associação entre eles e o enquadramento sucessivo
dos grupos em níveis mais elevados (quadros tópicos) conforme o princípio de
organicidade.
A partir do agrupamento, foi possível identificar os quadros tópicos e os seus
segmentos tópicos co-constituintes.
O quadro tópico (1) envolve cinco subtópicos: Definição de pobreza; Definição de
sabedoria; Crítica sobre a situação da favela; Crítica sobre tratar o playboy com
arrogância e Crítica sobre a ostentação de bens materiais.
O quadro tópico (2) envolve seis subtópicos: Sinceridade; Ter a proteção de
Deus; Honra de receber o prêmio; Falha de não estar sempre presente; Fama e
Solidão.
Segundo Jubran et al. (2002, p. 360), pode ocorrer de tópicos não se desdobrarem
em níveis inferiores. No caso dessa primeira situação comunicativa, como se trata de um
discurso e Mano Brown faz uma fala relativamente curta, temos um menor detalhamento e
consequentemente se observa esse não desdobramento dos tópicos até o terceiro nível,
como acontece na terceira situação comunicativa, por exemplo.
SHAPE \* MERGEFORMAT
Gráfico 1. Organização tópica hierárquica da primeira situação comunicativa
1 Definição de
pobreza
Linhas 14-15
2 Definição de 3 Crítica sobre a 4 Crítica sobre 5 Definição de
sabedoria Linha situação da
tratar o playboy sabedoria Linha
s 15-20
favela Linhas 20- com
s 30-32
25
arrogância Linh
as 25-30
6 Crítica sobre a 7
8 Ter a proteção 9 Honra de
ostentação de
Sinceridade Lin de Deus Linhas receber o
bens materiais has 35-41
41-43
prêmio Linhas
Linhas 32-35
43-47
11 Fama
Linhas 52-56 12 Definição de
sabedoria Linhas 57-59
10 Falha de não
estar sempre
presente Linhas
47-49
13 Solidão Linhas 65-72
Gráfico 2 Organização tópica linear da primeira situação comunicativa
A partir do segundo gráfico, podemos observar que há nesse texto oral uma
tendência à não perturbação da linearidade, ou em outras palavras, Mano Brown introduz
um novo tópico apenas depois de concluí-lo. No texto todo, só há uma exceção: o subtópico
Definição de sabedoria que é retomado em duas vezes, uma inclusive quando outro
quadro tópico já havia sido introduzido. Mano Brown retoma esse subtópico, para fazer as
conclusões dos exemplos que expõe.
Em relação aos tópicos desenvolvidos pelo rapper, percebemos que Mano Brown
revela uma determinada percepção dos fatos do mundo e de suas próprias ações, ou seja,
além da reflexão sobre a realidade social presente em suas músicas, ele revela em seu
discurso que o ato de refletir sobre as qualidades e defeitos dos seres humanos e sobre suas
próprias ações faz parte constante de sua vida. Sendo assim, podemos concluir que os dois
quadros tópicos são de caráter reflexivo: enquanto o primeiro, Humildade x arrogância,
caracteriza a reflexão de Mano Brown sobre a sociedade em geral, o segundo,
Comentários sobre si mesmo, caracteriza a reflexão do rapper sobre si mesmo. Apesar de
falar sobre os defeitos da sociedade em geral, Mano Brown os exemplifica com cenas do
cotidiano da própria favela de forma incitar em seus interlocutores uma consciência crítica
(cf. BENTES, 2009b). Para isso, ele define pobreza e sabedoria de forma geral, mas faz as
seguintes exemplificações: revolta que ele sente quando olha para a favela (Crítica sobre a
situação da favela), arrogância com que alguns “manos” tratam os playboys (Crítica
sobre tratar o playboy com arrogância) e ostentação de bens materiais, como tênis,
motos, armas etc. (Crítica sobre a ostentação de bens materiais).
Um recurso bastante marcante na fala do rapper é o uso constante de analogias e antíteses
para falar das qualidades e defeitos dos seres humanos. Esquematicamente, observam-se as
seguintes analogias:
inteligência = humildade = sabedoria
arrogância = burrice = revolta/ódio/neurose
e antíteses:
humildade x arrogância
sabedoria x burrice
O segundo quadro tópico, Comentário sobre si mesmo, caracteriza a reflexão de Mano
Brown sobre si mesmo. Em relação à burrice, por exemplo, o rapper se inclui também no
erro de ser burro, ou seja, o locutor procura demonstrar que não é perfeito e com isso,
aproxima-se de seu interlocutor. Essa aproximação tem seu ápice na promessa que o líder
de movimento social faz: “eu vou tentar ser menos burro...daqui pa frente(...)”. O fato de o
rapper fazer promessas, revelar desejos, revelar seus erros e o próprio pedido de que não o
abandonem mostram que Mano Brown, mais do que adequar sua linguagem à de seus
interlocutores (design de audiência), tenta se aproximar dos seus interlocutores através de
determinados tópicos, exibindo um discurso que promove a sua identificação com os
moradores da favela (design de referência).
Em relação aos comentários (linhas 60-66), a maioria também é de caráter reflexivo,
mas em relação à sua própria linguagem: o rapper reflete sobre a fala das pessoas que
discursaram e sobre sua própria fala, ou seja, muito das suas escolhas, em termos de tópico
e de estratégias discursivas, se deve a essa reflexão sobre a linguagem. O seu discurso,
resultaria, portanto, tanto da sua reflexão sobre a realidade como da sua reflexão sobre a
linguagem.
3. Análise da segunda situação comunicativa
3.1 Configurações relacionais da audiência da segunda situação comunicativa
No segundo evento, temos uma interação face a face com apenas um “participante
endereçado e ratificado” (GOFFMAN, 1964 apud RIBEIRO E GARCEZ, 2002), ou seja,
Mano Brown endereça a sua fala a apenas um interlocutor, mesmo sabendo que podem
estar presentes outros participantes, que são denominados por Goffman (1979 apud
RIBEIRO E GARCEZ, 2002) como “circunstantes”, que apesar de ratificados, não são os
diretamente endereçados. É importante salientar ainda que os interlocutores estão bem
próximos e em um lugar conhecido e familiar para o rapper: o seu carro. Além disso, nessa
situação comunicativa, não há uma divisão dos turnos de fala nos moldes de uma
conversação. Assim, Mano Brown faz uso de todo o turno e seus interlocutores produzem
apenas backchannels, o que caracteriza sua produção discursiva como um depoimento.
3.2 Organização tópica da segunda situação comunicativa
Em termos de organização tópica de natureza hierárquica, a segunda situação
comunicativa apresenta, a nosso ver, dois supertópicos: Documentário e Sonho. O
primeiro supertópico apresenta dois quadros tópicos co-constituintes: (1) História da vida
de um ladrão e (2) Descrição do contexto. O segundo supertópico apresenta apenas um
quadro tópico: Sonhar em estar preso. Este último só aparece no final quando Mano
Brown faz a seguinte revelação: “eu já sonhei eu preso várias vez/tipo...já me imaginei
várias vez/cê acredita?...várias vezes... morto nem tanto...”. A emergência desse outro
supertópico, considerando que essa fala de Mano Brown é bem curta, apesar de indicar uma
mudança na direção e na natureza do tópico, tem relação com o a sua fala anterior, que
discorria sobre a História da vida de um ladrão e a Descrição do Contexto dessa
história.
Essa delimitação foi possível graças a duas etapas já citadas anteriormente: a
segmentação do texto em suas menores porções (segmentos tópicos), identificáveis
fundamentalmente pelo princípio de centração e pelo agrupamento desses segmentos
tópicos conforme o grau de associação entre eles; e também pelo enquadramento sucessivo
dos segmentos em níveis mais elevados (quadros tópicos) conforme o princípio de
organicidade.
A partir do agrupamento, foi possível identificar os quadros tópicos e os seus
segmentos tópicos co-constituintes.
O quadro tópico (1) envolve quatro subtópicos: Gostos; Assassinatos cometidos
pelo ladrão; Fama do ladrão e Amigos do ladrão.
O quadro tópico (2) envolve quatro subtópicos: Apresentação geral; Favela; Casa
de detenção e Linguagem dos ladrões.
Assim como na primeira situação comunicativa, no depoimento, não há
desdobramento dos subtópicos para um terceiro nível inferior. Acreditamos também que
isso se deva ao menor detalhamento em decorrência do curto tempo de fala.
SHAPE \* MERGEFORMAT
Gráfico 3 Organização tópica hierárquica da segunda situação comunicativa: primeiro
supertópico
SHAPE \* MERGEFORMAT
SHAPE
Gráfico 4 Organização tópica hierárquica da segunda situação comunicativa: segundo
supertópico
1 Apresentação
geral
Linhas 4-9
6 Favela
Linha 16
2 Gostos Linhas 3 Assassinatos 4 Fama do
9-10
cometidos pelo ladrão Linhas
ladrão Linhas 13-14
10-11
5 Amigos do
ladrão Linhas
14-15
7 Casa de
8 Linguagem 9 Fama do
10
11
Detenção Li dos ladrões ladrão Linha Favela Linha Gostos Linha
nhas 16-18
Linhas 21- s 26-28
s 29-34
s 34-37
26
Gráfico 5: Organização tópica linear da segunda situação
Em termos sequenciais, Mano Brown inicia o seu texto com um tópico de natureza
interacional:
Exemplo 1
MB
vô(u) fazê(r) o seguinte... põe essas revista...daqui ó... nóis (es)tá de teto
solar mano... o negócio (es)tá foda
Segundo Jubran et al. (2002, p. 366), isso caracterizaria uma digressão baseada na
interação. Segundos os autores: “Tais digressões, por serem baseadas sensivelmente na
interação, são perfeitamente identificáveis e demarcáveis, embora nem sempre apresentem
estruturas claras e definidas”. Nesse caso, Mano Brown começa a interação com uma
preocupação em deixar o interlocutor mais confortável (“vô(u) fazê(r) o seguinte... põe
essas revista...daqui ó”) e depois faz um comentário sobre o carro onde estão (“nóis (es)tá
de teto solar mano... o negócio (es)tá foda”). Apesar de não constituírem digressões
propriamente ditas, pois não interrompem nenhum tópico em andamento, não podemos
deixar de considerar a importância desse início como uma espécie de convite à interação.
Em relação à linearidade, podemos dizer que ao contrário da primeira situação
comunicativa, há maior descontinuidade tópica. Mano Brown apenas inicia o primeiro
quadro tópico (Descrição do contexto) para fazer uma apresentação geral do documentário
visto. Em seguida, ele inicia outro quadro tópico (História da vida de um ladrão) e depois
retoma o quadro tópico Descrição do contexto mesmo sem ter terminado o anterior. Dessa
forma, ele volta ao quadro tópico História da vida de um ladrão com os subtópicos Fama
do ladrão e Gostos do ladrão e, entre eles, insere o subtópico do outro quadro tópico:
Favela. Podemos concluir, então, que apesar de haver continuidade em determinado ponto
da conversa, no início e no fim, há tendência para a descontinuidade, ou seja, ocorre
“introdução de um tópico, por abandono do anterior, antes que os interlocutores o dessem
por encerrado. Nessa situação, ocorre um corte do tópico que estava em pauta” (JUBRAN
et al., 2002, p. 350).
Nessa situação comunicativa, não há uma divisão dos turnos de fala nos moldes
convencionais, como já foi dito, caracterizando a produção discursiva do rapper como um
depoimento. Concluímos, a partir da identificação dos tópicos, que a forma como o rapper
organiza os conteúdos e finaliza seu depoimento revela que ele não apenas reconta o que
viu, mas também explicita o impacto daquele produto cultural sobre si mesmo. Isto é
evidenciado também pela quantidade relativa de comentários: linhas 15-16 (“pô achei
lo(u)co pa carai”); linha 18 (“INCRÍVEL COMO LADRÃO NÃO MUDA”); linha 39 (“eu
falei pÔ::rra lo(u)co lo(u)co lo(u)co lo(u)co”).
4. Análise da terceira situação comunicativa
4.1 Situação social engendrada na terceira situação comunicativa
Em comparação com as outras duas situações comunicativas (discurso de
agradecimento e depoimento), a análise da terceira situação comunicativa se mostrou um
empreendimento um pouco mais demandatório, pois nela, além da complexidade inerente a
qualquer tipo de interação face a face, a interação ocorre entre mais de dois indivíduos.
Sendo a interação face a face “um dos lugares em que se constroem e reconstroem
indefinidamente os sujeitos e o social” (VION, 1992 apud RIO, 2010), analisar a interação
face a face pressupõe observar a língua em seu funcionamento:
(...) observar como os interactantes constroem sentidos com ela,
como se engajam nas atividades de linguagem, qual o contexto mais
imediato de uso da língua e qual a relação desses usos com as
condições mais gerais de produção (visão de mundo, práticas
culturais e sociais). Ou seja, é preciso atentar-se para os falantes da
interação constituídos de papéis ativos na elaboração da mensagem
e para o contexto em que a interação ocorre (RIO, 2010).
Para a análise dessa situação comunicativa, portanto, tivemos de considerar alguns
aspectos muito relevantes, que segundo Goffman (apud RIBEIRO E GARCEZ, 2002),
fazem parte da situação social engendrada na comunicação face a face.
O primeiro aspecto importante dessa situação comunicativa é o fato de que ela parece ser
previamente roteirizada e, ao contrário das outras situações comunicativas, apresenta cortes
de edição. Em outras palavras, temos acesso a um material já editado.
Um outro aspecto importante de se levar em consideração é o fato de que os participantes
da interação se conhecem e são, além de colegas de trabalho, amigos. Porém, como estão
em uma situação em que devem seguir um roteiro de temas e estes temas dizem respeito ao
seu trabalho, o rap, temos a hipótese de que estão incorporadas a esse contexto as formas
de participação que ocorrem nas interações de trabalho desses interactantes, ou seja, está
em jogo uma relação de colegas de trabalho mais do que amizade. Acreditamos também
que o conhecimento prévio entre os interactantes favorece a ocorrência de traços de
informalidade e de um certo controle social da produção de linguagem do outro. Em
relação a esse último aspecto, nossa hipótese é a de que haveria estranhamento e certa
repressão caso alguém usasse um estilo que não fosse o do grupo.
Apesar da predominância de uma relação simétrica entre os participantes da interação, o
fato de o encontro ter sido previamente roteirizado - com a definição de um tema a ser
discutido pelos participantes -, de estar sendo filmado e de estar sendo diretamente
“observado” por um participante ratificado (a jornalista) configuram essa interação como
um tipo de “encontro de trabalho”, no interior do qual os participantes reproduzirão o
sistema de disposições para agir (BOURDIEU, 1983) que caracteriza, em nossa opinião,
uma parte de seu cotidiano profissional. Nossa hipótese ganha força quando analisamos o
discurso inicial existente entre os interactantes antes que comecem a falar sobre o tema
previamente definido, a saber, o rap. No caso, percebemos que eles compartilham
conhecimentos e conversam informalmente sobre futebol:
Exemplo 2
AR
MB
eu só conheço três santista... é ele e os outro os outro amigo dele só
VA 1[((risos))]
MY 1[é ele a Sophia e o Pelé]
AR ((rindo)) e o Pelé
ô meu (vo)cê é são paulino tricampeão do mundo e os cara (es)tá
falan(d)o um montão 2[e (v)ocê o::... 3[pelo amor de Deus]]
AL 2[((risos))]
AR 3[três títulos]...três títulos
MB 4[eu sô(u) santista eu posso falá(r)] mais você mano] 5[para]
MY 5[(num dá mano)]
AL 6[i::]
MB 6[ai se o Santos] fosse 7[trimundial ia agüentá(r) esses cara falá(r)]
MY 7[não mais os cara]...os cara num suporta não ((corte de edição)) nóis
jogamo(s) c’o Real Madrid...(vo)cê 8[já jogô(u)?]
AL 8[(vo)cê já jogô(u)?]
VA 9[((conversas pararelas))]
AL 9[aonde (vo)cê já jogô(u)? que estádio?]
VA ((conversas pararelas))
MB vamos à realidade vamos à realidade
VA ((risadas))
AL 10[quantas libertadores?]
VA
MY
MB
MY
AL
MB 10[vamo(s) pará(r) de loucura] vamo(s) pará(r) de loucura vamos à
realidade
11
[((conversas paralelas))]
11
[o Santos já jogô(u) c’o Real Madrid? o Santos]
AL 12[o Brown]
MB 12[já jogô(u) já]
AL 13[aonde?]
MY 13[quando?]
MB há faiz tempo
AL 14[a final do Mundial...o primeiro foi c’o Real Madrid]
VA 14[((conversas paralelas))]
AL que dia?
MB vô(u) te falá(r) uma fita vamo(s) discutí(r) futebol não que esse
campeonato que (v)ocês ganharam aí tio((faz sinal de não com a cabeça))
MY o que é que foi?
AL o que é que foi?
ó ((faz algum sinal com a mão que a câmera não consegue pegar))
AL (vo)cês nem comemoraram
MB 15[ó horrível]
VA 15[((conversas paralelas))]
AL horrível?
MB 16[horrível...ô Arnaldo vô(u) te falá(r) um barato]
16
[(inint.)dinheiro pra comprá(r) nóis comprô(u) o campeonato]
MB
o Santos é um time que faiz eu sofrê(r) mais eu nuca fui
campeão perdendo jogo não mano igual (vo)cês perdeu aí e 17[foi
campeão...pa Goiás?]
17
[ah não mais daí o importante é a vantagem dos pontos]
MB 18[perdê(r) pa Goiás?]
VA 18[((conversas paralelas))]
Nesse início de conversa, observa-se que ainda não haviam começado a conversar
sobre o tema roteirizado que vai fazer parte da seção extra do DVD. Dessa forma, podemos
observar que há muitas sobreposições, conversas paralelas e até mesmo exaltação que pode
ser percebida com o aumento do volume da voz.
Segundo Goffman (apud RIBEIRO E GARCEZ, 2002), quando conhecidos se
encontram para tratar de assuntos profissionais, no início bem como no final, pode haver
uma conversa informal na qual se evocará assuntos ligados à relação global dos envolvidos,
que na situação analisada, é o futebol:
Na nossa sociedade, toda vez que dois conhecidos se encontram para
tratar de negócios, de assuntos profissionais ou de serviços, pode
haver tanto no início como no fim da transação, uma conversa
“informal”, ou um papo- uma versão em miniatura do “pré-jogo” e
do “pós-jogo” que delimitam acontecimentos sociais maiores. Essa
conversa informal provavelmente evocará assuntos ligados à relação
global dos envolvidos e ao que cada um considera duradouro e
importante para o outro (saúde, família, etc.) (GOFFMAN apud
RIBEIRO E GARCEZ, 2002, p. 110).
Ainda em relação ao contexto, achamos importante ter informações sobre cada um
dos participantes. Fizemos, então, uma pesquisa para conhecermos as relações entre eles no
contexto mais geral para entendermos as relações estabelecidas nessa situação mais
específica.
Sobre o participante Ferréz, em seu site temos acesso a sua biografia:
“Paulistano de 32 anos, Ferréz começou a escrever aos 12 anos de idade,
acumulando contos, versos, poesias e letras de música. Antes de se dedicar exclusivamente
à escrita, trabalhou como balconista, auxiliar - geral e arquivista. Seu primeiro livro
Fortaleza da Desilusão foi lançado em 1997 (edição do autor).
Mas foi com Capão Pecado, que se firmou como um dos melhores escritores da sua
geração.
Apelidado pelos leitores como “o romancista da traição” depois de ter lançado o romance
Manual Prático do ódio, o infantil Amanhecer Esmeralda e o livro de contos, Ninguém é
inocente em São Paulo - todos pela Objetiva, o autor teve suas obras traduzidas na Itália,
Alemanha, Portugal, Espanha e Estados Unidos.
É ligado ao movimento Hip Hop e fundador da 1DASUL (marca de roupa totalmente feita
no bairro).
No cinema e TV, além de ter o conto Os inimigos não levam flores, adaptado para a TV e
pros quadrinhos, já escreveu roteiros para o filme Brother e os seriados Cidade dos
Homens (02) e 9MM (Fox).
Ferréz atua como colunista da revista Caros Amigos desde 2000 e é conselheiro editorial
do Le mond Diplomatic Brasil.
Compositor e cantor, já teve suas músicas gravadas por vários artistas e lançou dois CDs.
Em 2009 Ferréz produziu o documentário Literatura e Resistência, de 58 minutos, que
mostra os seus 11 anos de carreira. O documentário saiu em dvd pelo Selo Povo.
Em sua prosa ágil e seca, composta com doses igualmente fortes de revolta, perplexidade e
esperança, Ferréz reivindica voz própria e dignidade para os habitantes das periferias das
grandes cidades brasileiras.
Vive no bairro de Capão Redondo em São Paulo, com esposa e filha.” (FONTE:
HYPERLINK
"http://www.ferrez.com.br/index.php?option=com_content&view=article&id=5&Itemid=5
4"
http://www.ferrez.com.br/index.php?option=com_content&view=article&id=5&Itemid=54
acessado em 10/04/11)
Sobre os integrantes do grupo de rap “Negredo” que também participam dessa
terceira situação comunicativa, encontramos em seu site oficial o seguinte texto sobre sua
trajetória:
“Surgiu de um dos berços do RAP em São Paulo, o Capão Redondo; de lá surgiram
nomes como Racionais mc’s, Ferréz, entre outros. NEGREDO significa respeito ao negro,
e foi por isso que os irmãos Mc Tó, Nego Dú e Mc Ylsão, após conhecerem uma poesia
com o mesmo nome, rebatizaram o grupo, que antes se chamava Realismo Frontal. Hoje o
Grupo é formado por: Mc Tó, Ylsão, Dj Alê e Arnaldo. NEGREDO lançou o primeiro disco
chamado “Mundo Real” e o “DVD 100% favela”, no ano de 2006. Agora o grupo está
prestes a lançar o segundo ábum, intitulado de “A Cupula Negredo”, que terá
participações de: Dun-dun (Facçao Central), Mauricio dts (Detentos do rap), Rdg ,
Luciana , Edga Vida, Ferréz e Selma Tristão. A produção músical ficou por conta do
próprio
NEGREDO.”
(FONTE:
HYPERLINK
"http://www.rapnacional.com.br/2010/index.php/noticias/novo-disco-do-grupo-negredo/"
http://www.rapnacional.com.br/2010/index.php/noticias/novo-disco-do-grupo-negredo/
acessado em 10/04/11)
Podemos perceber que os integrantes do grupo Negredo e Ferréz participam de projetos
profissionais, como o CD. No site do grupo Negredo, há ainda informações sobre o projeto
Periferia Ativa que recebe apoio de Mano Brown e Ferréz:
“ONG fundada por um grupo de rappers negredo da comunidade. Seus principais projetos
são a Bibioteca Êxodus e espaço Nego Du Área, que além de oferecer acesso à literatura
para a comunidade, realizam oficinas culturais de interesse da comunidade local, como
samba-rock, grafite, DJ, MCS, TOY ARTE, CONTABILIDADE, TEATRO, LITERATURA,
para cerca de 100 crianças do bairro. A Periferia Ativa também organiza a Festa de
Aniversário da Favela Godói, cuja produção mobiliza anualmente muitos moradores,
comerciantes locais e grupos musicais. O RUKHA apoiou a reforma da Biblioteca Êxodus
e atualmente colabora no desenvolvimento institucional da organização e na captação de
recursos. Também tem apoio de Mano Brown, Racionais mcs, e do escritor de rap Ferréz.”
(FONTE: HYPERLINK "http://gruponegredo.blogspot.com/"
http://gruponegredo.blogspot.com acessado em 10/04/11)
Ainda sobre as relações profissionais, encontramos informações e vídeos sobre a produção
do álbum “A Cúpula” do grupo Negredo que teve participação de Mano Brown e Ferréz:
“O grupo Negredo representa a nova geração do rap paulista e nasceu no Capão
Redondo, quebrada que revelou talentos como o Racionais MCs, Ferréz, entre outros. O
quarteto lançou recentemente seu novo trabalho chamado “A Cúpula”, gravado no estúdio
1daSul. O álbum conta com produção de DJ Ale, DJ Dri, DJ Cia, Mano Brown e com
participações de Dum Dum do Facção Central, Ferréz, Maucírio DTS, Edgar Vida Loka,
Big e J.R. do RDG e backing vocals de Luciana e Selma Tristão” (FONTE: HYPERLINK
"http://gruponegredo.blogspot.com/2011/02/site-wwwdoladodecacombr-publicamateria.html" http://gruponegredo.blogspot.com/2011/02/site-wwwdoladodecacombrpublica-materia.html acessado em 10/04/11)
Todas essas informações nos revelam as relações profissionais, mas também de
amizade entre os interactantes da terceira situação comunicativa, que além de protagonistas
de movimento social, são artistas e moradores da periferia de São Paulo.
4.2 O formato híbrido da terceira situação comunicativa
Em relação ao gênero discursivo, no projeto inicial dessa pesquisa consideramos
que a terceira situação comunicativa tratava-se de um debate. Baseamos nossa constatação
na definição de Schneuwly e Dolz (2004, p. 84):
(...) o objeto de um debate é sempre uma questão social controversa
para a qual soluções diversas são previstas; o debate pode, então,
ser concebido, idealmente, como um instrumento de construção
coletiva de uma solução (Klein, 1980); tendo posições diferentes em
relação
à
questão
colocada,
porém
não
necessariamente
contraditórias, cada participante do debate pressupõe nos outros –
participantes ou ouvintes –a faculdade da razão e a vontade de
encontrar, através do raciocínio, uma solução coletivamente
aceitável para a questão; (...); o debate aparece, assim, como a
construção conjunta de uma resposta complexa à questão, como
instrumento de reflexão que permite a cada debatedor (e a cada
ouvinte), precisar e modificar sua posição inicial; essa modificação é
realizada, essencialmente, pela escuta, pela consideração e pela
integração do discurso do outro (...).
Nossa escolha por compreender essa interação como um debate foi feita em função
da consideração de alguns fatores, tais como a presença de recursos argumentativos (de
concordância ou discordância entre os participantes) e de conteúdos que visam à formação
de opinião.
Porém, ao longo dessa primeira fase de leituras e reflexões, percebemos que há também um
grande espaço na interação voltado à exposição de fatos da realidade. Além disso, chamou
nossa atenção o fato de os interactantes abordarem um tema principal como se isto tivesse
sido definido previamente.
Fomos percebendo que a forma como os tópicos eram introduzidos parecia revelar uma
agenda semiestruturada, aproximando assim essa interação do gênero entrevista
sociolinguística. Segundo Schiffrin (1994), a entrevista sociolinguística se parece muito
com uma entrevista “referencial”, como afirma a autora:
Sociolinguistic interviews have some features typical of an interview.
One important feature is their ENDS: since one person (a
Sociolinguistic, S) seeks to gain specific information from another (a
respondent, R), the structure of activities and the expectations for
behavior revolve, at least partially, around a desire to resolve
asymmetrical distribution of information. (SCHIFFRIN, 1994, p.
160)
As diferenças, segundo a autora, consistem no fato de que a entrevista
sociolinguística tem um objetivo não apenas referencial:
The information sought in a sociolinguistic interview, for example, is
information that is interesting to sociolinguistic theory, practice, and
application, e.g. information about phonological, grammatical or
discourse patterns, language and social attitudes, and ways of life in
community. (SCHIFFRIN, 1994, p. 161)
Concluímos, portanto, que a função dessa interação é principalmente revelar, de
forma didática, as visões daqueles protagonistas de movimento social sobre determinados
fatos da realidade de sua comunidade, apresentando assim um caráter expositivo, o que
aproxima a interação de uma entrevista sociolinguística.
A exposição didática dos fatos da realidade e das opiniões dos protagonistas de
movimento social é um dos objetivos dos produtores do DVD. Observamos a aproximação
dessa interação com uma entrevista sociolinguística porque:
a) ela apresenta alguns objetivos de caráter sociolinguístico, como o de fazer o o
outro falar da vida na comunidade;
b) ela se organiza por meio de uma roteirização prévia que é obedecida pelos interactantes;
c) nela procura-se diminuir a “assimétrica distribuição de informação” (SCHIFFRIN,
1994), no caso, entre aqueles que vão assistir à entrevista no DVD 100% Favela e os
protagonistas de movimento social que participam dela.
Do ponto de vista metodológico, a forma de conduzir a interação é interessante porque
parece que a proposição prévia de um tópico sem que ela seja enunciada ao longo da
interação faz com que o entrevistado se engaje na discussão e, assim, se preocupe mais com
o que diz do que como diz.
Consequentemente, pode-se considerar que em função desse engajamento, os dados de fala
dessa interação apresentam um grau mais baixo de monitoramento, tal como acontece no
contexto dos estudos labovianos sobre a narrativa de experiência pessoal (LABOV E
WALETZKY, 1967). Neste sentido, podemos dizer que o paradoxo do observador
(LABOV, 1972) fica minimizado.
Voltando à questão do formato híbrido da interação, optamos por categorizá-la como um
encontro social (GOFFMAN, 1964 apud RIBEIRO E GARCEZ, 2002, p. 19), sem a
preocupação com a sua nomeação como um gênero específico.
A nosso ver, a existência desse hibridismo entre o gênero entrevista e o gênero debate
também pode ser percebida em decorrência do duplo papel que Mano Brown parece
desempenhar. Primeiramente, observamos que no momento que antecede o encontro social
propriamente dito, temos um enunciado de Mano Brown que se repete por muitas vezes:
“vamos à realidade”. Esse enunciado visa à interrupção do tópico que vinha sendo tratado,
o futebol, para que se comece a falar sobre aquilo que “deveriam” falar: a realidade, ou
seja, os temas do roteiro. Nesse primeiro momento, já se pode observar Mano Brown como
que desempenhando o papel de mediador de uma:
A mediação da interação por meio de perguntas ou anúncios de mudança de tópico é
claramente desempenhada por Mano Brown, como os exemplos a seguir revelam.
Exemplo 3
MB
((corte de edição, em outro lugar da casa)) a verdade meu o que acontece
é o seguinte não dizen(d)o que eu saiba mais eu (es)tô(u) dizen(d)o
assim...quando começô(u) toda essa cultura de cantá(r) a realidade
cantá(r) A REalidade o que que é a realidade...dentro d’uma periferia?
((olha para os interlocutores, esperando resposta))
Em seguida, o rapper volta a fazer perguntas, mas com o objetivo de conseguir a
adesão dos participantes ao que ele enuncia.
Exemplo 4
MB
o rap num é a música da realidade? num veio do/num foi a:: a COluna
que:: segurô(u) toda essa estrutura de rap de todo mundo aqui? seus livro
minhas música o documentário a realidade.. que que a realidade é dentro
(da) periferia?...pobreza ((começa a contar nos dedos))...certo meu?
trabalhadô(r) 20[tam(b)ém ladrão] tam(b)ém ((ainda contando nos dedos))
Nesse caso, Mano Brown parece exercer o papel de mediador do debate, já que
conduz a argumentação através de perguntas retóricas que revelam a opinião não só dele,
mas de todo os outros protagonistas de movimento social presentes.
Em outros momentos da interação, Mano Brown volta a fazer perguntas para que um novo
tópico seja instaurado:
Exemplo 5
MB
que tipo de pergunta hoje que poderia::...quebrá(r) as perna d’ um grupo
de rap ...hoje?
Em outros momentos, percebe-se que Mano Brown discorda dos outros
participantes, revelando que é, ao mesmo tempo, um moderador e também um dos
participantes dessa discussão, ou seja, que é um dos debatedores do tema:
Exemplo 6
FE
MB
.
43
[não se respeita] quantos cara aí que eu conheço mano ...do próprio
movimento rap que pra você pegá(r) o cara é só pela vaidade...(vo)cê
elogian(d)o o trampo do cara (vo)cê já amigo do cara mano...agora se
(vo)cê for criticá(r) uma letra do cara...for falá(r) d’uma capa d’um
negócio...vixe (vo)cê já arrumô(u) inimigo...entendeu?...então ele só te
mostra aquilo... e você só mostra o que (vo)cê qué(r) mostrá(r)
tam(b)ém...(es)tá ligado?... é:: (há) camadas né?então
MB eu acho que isso aí é em qualquer lugar 44[o Ferréz]
FE 44[é qualquer lugar]
45
[qualquer pessoa]
Nesse momento, Ferréz está falando sobre a questão da vaidade e
exemplifica apenas com as posturas que ele encontrou nos rappers. Já Mano Brown
discorda da exemplificação “limitadora” e opina que a questão sobre a qual falam, a
vaidade, pode acontecer em qualquer lugar e não apenas na periferia, com qualquer pessoa,
e não apenas com os rappers.
No entanto, é interessante perceber que na situação comunicativa “discurso
de agradecimento”, Mano Brown apresenta quase a mesma percepção e reflexão sobre a
questão da vaidade, inclusive exemplificando com experiências dele vividas na periferia.
Acreditamos que essa exemplificação dada por meio da descrição de cenas do cotidiano da
favela é uma forma de, naquela situação, incitar em seus interlocutores uma consciência
crítica (cf. BENTES, 2009b).
Já nesse encontro social, o objetivo de Mano Brown, em decorrência da
mudança de audiência, parece se revelar outro. O rapper parece querer incitar na audiência
(a sociedade em geral) a ampliação do horizonte de visão e reflexão sobre a sua
comunidade.
Observa-se nesse como em muitos outros momentos da interação a concordância
dos outros participantes com a opinião de Mano Brown. Há outros momentos em que se
percebe novamente a contrariedade de Mano Brown quanto à limitação da exemplificação
dos outros interactantes, como se pode ver no exemplo abaixo:
Exemplo 7
FE
a MTV tratô(u) o rap assim porque o rap num:: também num se impôs
mano... (es)tá ligado?...quando o KLJay (es)tava lá era outra pegada...
agora o rap tinha que continuá(r) se impon(d)o...num se impôs... aí o que
acontece?... você mandô(u) e-mail pra MTV?... mandô(u) carta?...
ligô(u)?... não? ...alguém aqui ligô(u)? tam(b)ém não num tem pressão
pro baguio agora liga cem mil pessoa lá o cara nossa se eu não pô(r) um
clipe nacional no outro dia... a audiência vai me matá(r) ....entendeu?
agora deixa de passá(r) PItty no horário da MTV nobre...pa vê(r) se os
boy tudo já num liga passa e-mail já se envolve entendeu?...agora o cara
liga na cento e cinco pa falá(r) de jogo mano
MB (vocês) tão falan(d)o/ colocando o rap como se fosse o:: centro do::
do:: universo da música e num é né meu...se você pará(r) pa analisá(r) os
outros compositor dos outros estilo musical (es)tá todo mundo fechado
n’um mundinho tam(b)ém... pega música de Zélia Duncan (es)tá
falan(d)o daquelas poesia dela vaga que só diz respeito a ela e a namorada
dela ou namorado... pega qualquer outro Caetano Veloso...ele (es)tá no
mundo dele tam(b)ém...de intelectual 66[inteligente]
Nesse caso novamente Mano Brown procura ampliar o foco da crítica a não limitá-la ao
universo do rap e de forma que a tratar do problema da alienação não como exclusivo do
público desse estilo musical.
Quando há enunciados dos outros participantes em que um novo tópico se instaura,
percebe-se que Mano Brown, assim como um mediador de entrevista faria, apenas ouve
aquilo que o outro diz:
Exemplo 8
MY
ouví(r) rap mano era o cri::me...tipo assim ô num sei o que eu já vi
vagabundo chegá(r) e falá(r) assim ô meu (vo)cês não fizeram uma
música pro crime...mais eu num tenho nada a vê(r) c’o crime eu num
vô(u) falá(r) de crime se eu não vivi eu vivo o crime aqui...só que a minha
ideologia é falá(r)... sobre o social eu não quero falá(r) do crime...os cara
ah mais (vo)cê tem que falá(r) que:: mais (inint.) eu falei mano...(vo)cê
qué(r) colá(r) pode colá(r) mais é o seguinte...eu não fumo eu num bebo
eu num ro(u)bo...então eu vô(u) falá(r) o que eu penso...não adianta
(vo)cê vim me cobrá(r) entendeu? se eu achá(r) que tem uma música que
tal que eu vô(u) falá(r) do crime mais eu vô(u) falá(r) do meu jeito...só
que... na favela pa falá(r) a verdade quem manda é o crime... quem manda
é o crime...ó...nois/os cara respeita nóis lá dentro da favela...porque tipo
assim nóis segue na reta certinho mais a hora que nóis dé(r) o pé...nóis
lançamo(s) o CD...mais a hora que 26[nóis dé(r) o pé]
FE 26[é chamá(r) o mundo] do crime pra dá(r) o nome
MY já era..27[por que os cara mano têm outra visão totalmente... os cara é
o crime é o seguinte]
FE 27[inint.]
MY o crime qué(r) vê(r) você sempre aqui ó (vo)cê tem que (es)tá abaixo
deles a hora que (vo)cê feiz isso aqui os cara fala -“pô os maluco já (es)tá
28
[mais do que eu”-]
FE 28[pra intercedê(r) por você] tem que sê(r) alguém do crime 29[(na
verdade)]
MY 29[tem que (tê(r)] o do crime
MB mais (vo)cê sabe que pra virá(r) elite basta você (es)tá(r) n’u::ma
corrida e se acontecê(r) do jeito que (vo)cê qué(r) (vo)cê (es)tá arriscado a
virá(r) uma elite
Nesse exemplo do começo da interação, MC Ylsão instaura um novo tópico, a
dominação da periferia (e também da produção dos artistas da periferia, especialmente, de
rap) pelos bandidos, sendo que Mano Brown só retoma o turno para introduzir outro tópico.
Todos esses exemplos mostram, a nosso ver, claramente o papel que Mano Brown
assume nesse encontro social: o papel de mediador, tanto no caso dos momentos mais
expositivos, como nos momentos de debate. Ele, assim como qualquer outro mediador de
entrevista:
faz as perguntas ou introduz um tópico, de acordo com o roteiro;
ouve aquilo que os outros participantes têm a dizer
sobre o que ele propôs que se falasse;
argumenta de forma didática por meio de perguntas
retóricas;
discorda dos participantes, fazendo com que estes
revejam a sua posição e construam uma nova
argumentação.
Outra questão que achamos importante ressaltar metodologicamente é que a terceira
situação comunicativa, assim como as outras duas anteriores, não se constitui em uma
forma de agir radicalmente distinta daquelas como estes sujeitos agem em interações que
ocorrem no dia a dia, ainda mais considerando que estes participantes são protagonistas de
movimento social e que têm uma vida pública.
Sendo assim, pode-se finalmente afirmar que esse encontro social reflete a dinâmica de
uma entrevista com mais de dois participantes. Segundo Milroy e Gordon (2003 apud RIO,
2010), isso facilita a produção de fala casual à medida que “cria-se uma conversa de mais
de duas vias, o que elimina inconvenientes de dois estranhos, frente a frente, com papéis
assimétricos (entrevistador-entrevistado) terem que conversar/interagir”. Essa dinâmica de
estudar grupo em vez de indivíduos foi desenvolvida por Labov em suas pesquisas no
Harlem e, segundo Milroy e Gordon (2003 apud RIO, 2010) foram nessas entrevistas em
grupo que Labov conseguiu os dados mais ricos.
Sobre a entrevista, Milroy e Gordon (2003 apud RIO, 2010) postulam que nesse gênero,
assim como em uma interação entre iguais, as regras de tomada de turno não são
igualmente distribuídas, pois sempre há o entrevistador que é responsável por controlar o
discurso e o entrevistado, que implicitamente ao aceitar ser entrevistado, concorda em
responder cooperativamente às perguntas.
Em função desta característica, pode-se dizer que na entrevista em grupo essa
função do mediador de distribuir os turnos não deixa de existir, mas ela se encontra
“ralentada”, “diluída”, e acontece por meio de um conjunto de recursos outros, tais como os
que vimos acima.
4.3 A organização tópica da terceira situação comunicativa
Em termos de organização tópica de natureza hierárquica, a terceira situação
comunicativa apresenta, a nosso ver, o supertópico Rap brasileiro e três quadros tópicos
co-constituintes: (1) Principal tema: realidade da periferia; (2) Visão da sociedade
sobre os grupos de rap e (3) Visão dos rappers sobre o rap brasileiro. Essa delimitação
foi possível graças às etapas já citadas anteriormente: segmentação do texto em suas
menores porções (segmentos tópicos), identificáveis fundamentalmente pelo princípio de
centração e agrupamento desses segmentos tópicos, conforme o grau de associação entre
eles e o enquadramento sucessivo dos grupos em níveis mais elevados (quadros tópicos)
conforme o princípio de organicidade.
A partir do agrupamento, foi possível identificar os quadros tópicos e os seus
segmentos tópicos co-constituintes.
O quadro tópico (1) envolve um subtópico: Crime/violência, trabalhador, ladrão,
pobreza e playboy de favela.
O quadro tópico (2) envolve dois subtópicos: Grupo de rap como elite e Grupo de
rap como partido político.
O quadro tópico (3) envolve quatro subtópicos: Qualidades; Defeitos; Rap na
mídia e Futuro do rap.
No gráfico a seguir, o supertópico aparece no topo de uma grande configuração
piramidal, a qual compreende basicamente dois níveis inferiores e, excepcionalmente, um
terceiro, visto que há subtópicos que podem ser desdobrados em menores, levando-se em
conta o detalhamento do assunto. Isso ocorre com os subtópicos: Grupo de rap como elite
que se subdivide em Ser elite x viver como elite; Grupo de rap como partido político
que se subdivide em Obrigação de dar por ter ganhado dinheiro e Não reconhecimento
do trabalho; Qualidades que se subdivide em Não submissão dos rap ao crime, União
pelo rap e Exemplo de vida para os moradores da periferia; Defeitos que se subdivide
em Aceitação ou não de crítica, Espelhamento no rap americano, Alienação e Pobreza
do rap; Rap na mídia que se subdivide em Presença na mídia do rap limpo (D2) e do rap
americano, Não mobilização da comunidade pelo rap, Não ida do Racionais na mídia e
Conflito entre os rappers e a mídia; e Futuro do rap que se subdivide em Necessidade de
profissionalização e Necessidade de se fazer respeitar como rapper.
SHAPE \* MERGEFORMAT
1 Crime/ violência, trabalhador, ladrão, pobreza, playboy de favela
violência, trabalhador, ladrão, pobreza, playboy de favela
trabalhador, ladrão, pobreza, playboy de favela
ladrão, pobreza, playboy de favela
playboy de favela
1
Crime/ 2 Não submissão 3 Ser elite x viver 4 Obrigação de
violência,
do rap ao crime como
dar por ter
trabalhador,
Linhas 94-118 elite Linhas
ganhado
ladrão, pobreza,
119-143
dinheiro Linhas
playboy de favela
144-151
Linhas 53-93
5 Não
reconhecimento
do trabalho
Linhas 152174
6 União pelo
7 Aceitação ou
rap Linhas 177- não de
204
crítica Linhas
206-250
8 Espelhamento 9 Presença na
no rap americano mídia do rap
Linhas 251-286 limpo (D2) e do
rap
americano Linh
as 287-314
10 Não
mobilização da
comunidade pelo
rap Linhas 315325
12 Não ida do
11
Alienação Linh Racionais na
as 326-344
mídia Linhas
345-358
13 Conflito entre
os rappers e a
mídia Linhas
359-402
15 Necessidade
de
profissionalizaçã
o Linhas 425430
16 Pobreza do rap
Linhas 430-440
14 Exemplo de
vida para os
moradores da
periferia Linhas
402-424
17 Necessidade de
profissionalização Linhas
440-450
18 Necessidade de se fazer
respeitar como rapper
Linhas 451-469
Gráfico 7: Organização tópica linear da terceira situação comunicativa
A partir do sétimo gráfico, podemos afirmar que a descontinuidade na organização
tópica dessa situação comunicativa se caracteriza em sua grande maioria pela inserção de
outro subtópico, porém, constituinte de um mesmo quadro tópico, ou seja, quando se inicia
um quadro tópico, há a tendência de mantê-lo por um certo período, apenas há mudanças de
subtópicos que pertencem ao mesmo quadro tópico.
Ainda em relação às mudanças de tópico, podemos observar que a maioria são
linguisticamente marcadas. Na introdução do primeiro quadro tópico, por exemplo, Mano
Brown faz uma pergunta:
Exemplo 9
MB
quando começô(u) toda essa cultura de cantá(r) a realidade cantá(r) A
REalidade o que que é a realidade...dentro d’uma periferia? ((olha para os
interlocutores, esperando resposta))
Segundo Maynard (1980 apud JUBRAN et al. 2002, p. 350), é comum que: “a
mudança de tópico seja realizada sob a forma de anúncios entre interlocutores conhecidos e
de convites, entre desconhecidos”. No nosso caso, as perguntas que são frequentes nessa
entrevista constituem uma maneira de anunciar a mudança de tópico e dos participantes
seguirem o roteiro. Como os interactantes são amigos e colegas de profissão, os “anúncios”
feitos não lhes são estranhos e parecem ser facilmente percebidos, já que eles parecem
“aceitar” a mudança de tópico quando aquele que exerce o papel de moderador, como já foi
exposto anteriormente, sugere um novo tópico.
O responsável pela primeira mudança de quadro tópico é o participante MC Ylsão:
Exemplo 10
MY
ouví(r) rap mano era o cri::me...tipo assim ô num sei o que eu já vi
vagabundo chegá(r) e falá(r) assim ô meu (vo)cês não fizeram uma
música pro crime...mais eu num tenho nada a vê(r) c’o crime eu num
vô(u) falá(r) de crime se eu não vivi eu vivo o crime aqui...só que a minha
ideologia é falá(r)... sobre o social eu não quero falá(r) do crime...os cara
ah mais (vo)cê tem que falá(r) que:: mais (inint.) eu falei mano...(vo)cê
qué(r) colá(r) pode colá(r) mais é o seguinte...eu não fumo eu num bebo
eu num ro(u)bo...então eu vô(u) falá(r) o que eu penso...não adianta
(vo)cê vim me cobrá(r) entendeu? se eu achá(r) que tem uma música que
tal que eu vô(u) falá(r) do crime mais eu vô(u) falá(r) do meu jeito...só
que... na favela pa falá(r) a verdade quem manda é o crime... quem manda
é o crime...ó...nois/os cara respeita nóis lá dentro da favela...porque tipo
assim nóis segue na reta certinho mais a hora que nóis dé(r) o pé...nóis
lançamo(s) o CD...mais a hora que 26[nóis dé(r) o pé]
Nesse caso, o quadro tópico Principal tema: realidade da periferia é esgotado
antes que outro quadro tópico seja inserido, ou seja, apenas depois que os rappers
terminam de falar sobre os temas abordados pelo rap, Mc Ylsãoo introduz o quadro tópico
Visão dos rappers sobre o rap brasileiro e o subtópico Qualidades. O rapper fala sobre a
pressão exercida para que a temática da criminalidade seja seguida, porém, afirma que
apesar do crime mandar na favela (“quem manda é o crime”), ele tem autonomia em
relação à composição do rap (“se eu achá(r) que tem uma música que tal que eu vô(u)
falá(r) do crime mais eu vô(u) falá(r) do meu jeito”).
Antes que o quadro tópico Visão dos rappers sobre o rap brasileiro seja encerrado, Mano
Brown introduz um novo quadro tópico, caracterizando assim uma descontinuidade:
Exemplo 11
MY
MB
o crime qué(r) vê(r) você sempre aqui ó (vo)cê tem que (es)tá abaixo
deles a hora que (vo)cê feiz isso aqui os cara fala -“pô os maluco já (es)tá
28
[mais do que eu”-]
FE 28[pra intercedê(r) por você] tem que sê(r) alguém do crime 29[(na
verdade)]
MY 29[tem que (tê(r)] o do crime
mais (vo)cê sabe que pra virá(r) elite basta você (es)tá(r) n’u::ma corrida
e se acontecê(r) do jeito que (vo)cê qué(r) (vo)cê (es)tá arriscado a virá(r)
uma elite
O novo quadro tópico é Visão da sociedade sobre os grupos de rap. Porém, essa
descontinuidade não revela um corte de edição ou uma interrupção abrupta para que o
roteiro seja seguido: Mano Brown dá continuidade à questão da inveja por parte dos
bandidos (Não submissão do rapper ao crime), inserindo o subtópico Grupo de rap como
elite, já que esta é uma visão em que a questão da inveja também está envolvida (“o crime
qué(r) vê(r) você sempre aqui ó (vo)cê tem que (es)tá abaixo deles a hora que (vo)cê feiz
isso aqui os cara fala -“pô os maluco já (es)tá
28
[mais do que eu”-] e “30[Altas horas] e
falá(r)...-“ah esse escritor é da/um dia eu quero sê(r) mai num quero sê(r) que nem esse cara
aí não”-...os cara já bate um sujo só porque (vo)cê (es)tá lá”). Nesse caso, portanto,
podemos afirmar que há expansão do tópico, conforme postulam Jubran et al. (2002, p.
348): a expansão do tópico “pode também ocorrer como o desenvolvimento pleno de dados
colocados de passagem, anteriormente, na conversação, sem que esses dados tenham
constituído um segmento tópico específico”, ou seja, os subtópicos Grupo de rap como
elite e Grupo de rap como partido político representam uma expansão do segmento Não
submissão do rapper ao crime, a medida em que há detalhamento da inveja da sociedade
citada nesse segmento.
Em seguida, Mc Ylsão continua o quadro tópico com a mudança para o subtópico
Grupo de rap como partido político:
Exemplo 12
MY
o povão vê o o o:: grupo de rap como um partido político..que tem que
dá(r) isso que tem que dá(r) aquilo que tem que me ajudá(r)...e não é
assim às vezes (vo)cê num tem nem o que comê(r)... e os cara qué(r) (...)
Esse outro subtópico dá continuidade à visão da sociedade sobre os grupos
de rap e encerra o quadro tópico Visão da sociedade sobre os grupos de rap. Apenas
depois do encerramento desse quadro tópico, há o retorno para o quadro tópico Visão dos
rappers sobre o rap brasileiro:
Exemplo 13
FE
a oportunidade não chega igual...o::a chance não chega igual a batalha
não é igual...o talento não é igual...então aí o o rap atraiu todo mundo...e
agora (es)tá tendo que falá(r)...(es)per’aí que não é assim
MB
o rap qué(r) sê(r) uma exceção...o rap na/se você for pará(r) pra analisá(r)
a periferia é desunido...37[certo?]
Nesse caso, Mano Brown faz um anúncio para um novo tópico sem que o mesmo
tenha alguma relação com o anterior. Como já afirmamos anteriormente, isso
provavelmente ocorre para que os tópicos da roteirização sejam contemplados.
A partir desse ponto da interação, há apenas um quadro tópico sendo abordado:
Visão dos rappers sobre o rap brasileiro. Há apenas, mudança de subtópico dentro desse
mesmo quadro tópico.
Em seguida, Ferréz introduz o novo subtópico:
Exemplo 14
FE
43
[não se respeita] quantos cara aí que eu conheço mano ...do próprio
movimento rap que pra você pegá(r) o cara é só pela vaidade...(vo)cê
elogian(d)o o trampo do cara (vo)cê já amigo do cara mano...agora se
(vo)cê for criticá(r) uma letra do cara...for falá(r) d’uma capa d’um
negócio...vixe (vo)cê já arrumô(u) inimigo...entendeu?...então ele só te
mostra aquilo... e você só mostra o que (vo)cê qué(r) mostrá(r)
tam(b)ém...(es)tá ligado?... é:: (há) camadas né?então
Como um desdobramento do segmento tópico União pelo rap, Ferréz introduz o
subtópico Defeitos que se opõe ao anterior (Qualidades), mostrando assim as exceções da
união.
Em seguida, Ferréz continua com o subtópico Defeitos com o segmento
Espelhamento no rap americano:
Exemplo 15
51
FE
[pegô(u)] a marra né?]
Dando continuidade, Mc Ylsão introduz um novo subtópico:
Exemplo 16
58
MY
[mais sabe] num tem um programa de rap pu (vo)cê vê(r) na
Globo...(vo)cê vai vê(r) o que?....eu quero vê(r) o tal grupo lá 59[num tem]
Nessa mudança de subtópico, parece haver corte de edição, pois os participantes
estavam falando sobre a diferença entre o grupo de rap americano e o brasileiro em
decorrência da falta do dinheiro por parte destes, quando Mc Yilsão introduz um novo
subtópico, que apesar de fazer parte do quadro tópico Visão dos rappers sobre o rap
brasileiro, refere-se à relação dos grupos de rap com a mídia (Rap na mídia), que se
mostra bem diferente do subtópico anterior (Defeitos). Durante a linearidade do subtópico
Rap na mídia, há apenas uma interrupção com o retorno do subtópico Defeitos:
Exemplo 17
MB
(vocês) tão falan(d)o/ colocando o rap como se fosse o:: centro do:: do::
universo da música e num é né meu...se você pará(r) pa analisá(r) os
outros compositor dos outros estilo musical (es)tá todo mundo fechado
n’um mundinho tam(b)ém...pega música de Zélia Duncan (es)tá falan(d)o
daquelas poesia dela vaga que só diz respeito a ela e a namorada dela ou
namorado...pega qualquer outro Caetano Veloso...ele (es)tá no mundo
dele tam(b)ém...de intelectual 66[inteligente]
Esse subtópico é retomado, pois Mano Brown discorda da limitação da
exemplificação dos outros participantes, como já foi abordado no item anterior. O rapper,
então, fala de um defeito dos grupos de música em geral: a Alienação. Em seguida, voltase ao subtópico Rap na mídia que é finalizado antes da inserção de outro subtópico.
Ferréz para exemplificar os benefícios do rap para a periferia, cobrança feita por
parte da mídia para os grupo de rap (“72[que (vo)cê faiz pela favela? que (vo)cê faiz pela
favela?] 73[que (vo)cê faiz pela favela?]”), retoma o subtópico Qualidades com o segmento
tópico Exemplo de vida para os moradores da periferia:
Exemplo 18
87
FE
[você cutucô(u) então]...me diz o que é que (vo)cê faiz?...aí você não pá
pá pá pá muitas vezes as pessoas fazem bastante...porque...uma vez o
Chico me disse uma coisa...que ficô(u) guardada dentro de mim até hoje
mano..ele falô(u) assim...mano o que você faiz através d’um livro d’um
CD...é mais do que qualqué(r) projeto social mano...(es)tá ligado?...(vo)cê
dá orgulho no cara o cara trancado dentro do quarto dele a luz de vela
len(d)o (vo)cê dá orgulho no cara... o cara escutan(d)o sua música
mano...na rua trampan(d)o... de camelô...você dá orgulho nele ...você
injetô(u) um baguio nele que ninguém injeta...nem uma ong...nem
escola....nem nada ...então esse/essa esse trabalho já é muito mano
quantas vida foi mudada uma através da outra? (...)
Nesse caso, observamos novamente que a roteirização não atrapalhou a coerência da
conversação. Durante a interação, a coerência foi possível mesmo com a roteirização, pois
os tópicos foram expandidos, o que promove uma inter-relação entre eles. Nesse exemplo, a
expansão do tópico ocorreu para que a argumentação fosse desenvolvida por Ferréz.
Em seguida, insere-se um novo subtópico:
Exemplo 19
MB
mas pra quem curte o rap...é necessário que:: ele...ele se:: moder...num
vô(u) dizê(r) modernizá(r)...mais 88[ele::]
Mano Brown faz a marcação da mudança de tópico com a conjunção “mas”,
revelando que apesar do novo tópico se opor às Qualidades, ele se relaciona com o
anterior. O novo subtópico é Futuro do rap, que é desenvolvido com os segmentos:
Necessidade de profissionalização e Necessidade de se fazer respeitar como rapper:
Exemplo 20
MB
mais pra quem curte o rap...é necessário que:: ele...ele se:: moder...num
vô(u) dizê(r) modernizá(r)...mais 88[ele::]
AL 88[evoluir né?)]
JO profissionalize 89[(inint.)]
MB 89[é::...o mais rápido possível] senão num vai sobrá(r) nada pra
ninguém entendeu?...porque as pessoa (es)tá reclaman(d)o muito da
rUindade do rap
MY 90[mais é verdade]
AL 90[isso é verdade]
MB
falta qualidade falta tudo...falta som falta luz falta letra falta batida falta::
91
[idéia]
Nesse caso, percebemos uma descontinuidade em nível de subtópico: o segmento
tópico Necessidade de profissionalização não se esgota antes que o subtópico Defeitos
seja retomado com o segmento Pobreza do rap. Nesse exemplo, temos o fenômeno de
inserção ou alternância, ou seja, há cisão do segmento tópico Necessidade de
profissionalização, que se apresenta de forma não adjacente na linearidade discursiva, em
decorrência da intercalação de um segmento (Pobreza do rap) não pertencente ao
subtópico Futuro do rap. Depois dessa inserção, há a finalização da conversa com o
esgotamento do subtópico Futuro do rap com o segmento Necessidade de se fazer
respeitar como rapper.
5. Questões Metodológicas
5.1 A transcrição do corpus
Na nossa pesquisa anterior (MARIANO, 2010), financiada pela CNPQ/Pibic,
usamos o modelo de transcrição do Grupo COGITES (Cognição, Interação e Significação).
O corpus da presente pesquisa fará parte do corpus do Projeto “É Nóis na Fita: a formação
de um registro e a elaboração de registros no campo da cultura popular urbana paulista”,
sob a coordenação de minha orientadora, em que um dos objetivos específicos é construir
um corpus ampliado e vídeo-gravado de entrevistas, de situações de interação cotidianas e
de produtos midiáticos (programas de TV, de rádio, raps e gêneros literários) relacionados
aos sujeitos e ao universo social das periferias de São Paulo. Nosso grupo de pesquisa teve
discussões a respeito de qual seria o modelo mais adequado aos nossos interesses e
objetivos e decidimos pela adaptação dos modelos já existentes por contemplarem aspectos
que serão úteis para eventuais análises que os pesquisadores venham a fazer, utilizando o
banco de dados que será disponibilizado virtualmente. O modelo que utilizaremos é,
portanto, uma adaptação das convenções adotadas por outros grupos e projetos de análise
da fala, a saber: Projeto ALIP (Amostra Linguística do Interior Paulista), Grupo de
Pesquisa COGITES (Cognição, Interação e Significação), Projeto NURC (Norma Urbana
Culta).
As principais dificuldades de transcrição já haviam sido encontradas quando fizemos o
exercício de treinamento de transcrever dois programas “Manos e Minas”, como será
exposto no próximo item. A primeira foi a de formatar o arquivo segundo o manual de
transcrição. Usamos a ferramenta de “Tab” ao invés de tabela para que futuros
pesquisadores que venham a utilizar o corpus tenham maior facilidade na formatação ao
copiarem as transcrições aos seus textos. Outras dificuldades recorrentes foram:
identificação dos trechos em que havia sobreposição de fala; reconhecimento de quando
havia de fato apagamento de um segmento, e quando este segmento fora pronunciado de
maneira menos perceptível e transcrição de recursos semióticos tais como gestos e
expressões.
5.2 Exercícios de Transcrição
Como já dissemos anteriormente, outra atividade realizada no primeiro semestre da
presente Iniciação Científica foi o exercício do modelo de transcrição adotado nesta
pesquisa.
O exercício de transcrição foi importante, já que todo o grupo o fez e pudemos a partir dele
identificar possíveis dificuldades e/ou dúvidas que foram discutidas e na medida do
possível resolvidas. Além disso, a atividade permitiu uma maior familiarização com seus
recursos e marcações para que as transcrições do nosso corpus fossem feitas com maior
facilidade.
Foram transcritos dois programas: um exibido em 02/05/09 e outro em 23/08/09, cada um
com duração de cerca de 45 minutos. A transcrição do programa de 23/08/09 encontra-se
no Anexo 2. Essas transcrições também serão incluídas no banco de dados do projeto de
Bentes (2009).
O modelo de transcrição adotado segue basicamente o modelo utilizado pelo grupo ALIP,
que prevê uma notação que engloba aspectos morfo-fonológicos, traços da interação e
comentários do transcritor, com o acréscimo de notações de outras semioses (gestualidade e
expressividade, por exemplo). O treinamento neste modelo exigiu um tempo maior do que
se esperava. Isso ocorreu tanto devido ao tempo que se levou com o entendimento do
modelo como o tempo gasto na identificação dos fenômenos ocorridos no corpus transcrito
e a classificação dos mesmos segundo as convenções do manual.
Outras dificuldades encontradas estão relacionadas ao fato de que o que estava sendo
transcrito era fala ordinária. No caso da transcrição dos programas Manos e Minas, em
contexto midiático, que apresenta traços tais como: pausas, hesitações, correções,
sobreposições de fala etc.
Como programa midiático, havia muitas vezes música de fundo, barulhos provenientes da
plateia que dificultaram a audição e fizeram com que fossem necessárias repetições da
audição do mesmo trecho.
Outra dificuldade recorrente foi a de reconhecer quando houvera de fato apagamento de um
segmento, e quando este segmento fora pronunciado de maneira menos perceptível. Isso se
deu, sobretudo, na percepção da consoante “r” em final de verbos no infinitivo.
Por fim, devo levantar a dificuldade quanto à transcrição de recursos semióticos tais como
gestos e expressões, que a nosso ver são essenciais para compor o repertório de recursos
semióticos não-verbais concebidos como característicos do registro dos manos.
Todas essas dificuldades e algumas dúvidas que surgiram foram produtivas para que a
transcrição dos três textos orais do corpus da presente pesquisa fosse feita, dando-se mais
atenção a esses eventuais problemas.
6. Redimensionamento do Cronograma
A pesquisa como um todo, até o momento, não foi totalmente desenvolvida
conforme o cronograma. Em primeiro lugar em decorrência das transcrições cujo modelo
exigiu mais atenção e tempo, além de um treinamento, como foi exposto no item 2.2. Outro
desafio foi o começo da análise da terceira situação comunicativa que se apresentou
diferente em relação às duas primeiras, cuja análise e organização tópica foram mais
facilmente empreendidas. Foi necessária a leitura de mais alguns textos e melhor pesquisa
sobre a sua contextualização, a fim de não se negligenciar a situação social que Goffman
(apud RIBEIRO E GARCEZ, 2002) aponta como um dos problemas dos estudos
sociolinguísticos em virtude da falta de atenção dada, ainda mais nas análises de interações
face a face, como no nosso caso:
(...) um estudioso interessado nas propriedades da fala pode se ver
obrigado a olhar para o cenário físico no qual o falante executa seus
gestos simplesmente porque não se pode descrever completamente
um gesto sem fazer referência ao ambiente extracorpóreo no qual ele
ocorre. E alguém interessado nos correlatos linguísticos da estrutura
social pode acabar descobrindo que precisa se voltar para a ocasião
social toda vez que um indivíduo possuidor de certos atributos
sociais se fizer presente diante de outros. Ambos os estudiosos
precisam, portanto, olhar para o que chamamos vagamente de
situação social. E é isso que tem sido negligenciado. (GOFFMAN
apud RIBEIRO E GARCEZ, 2002, p. 16)
A necessidade de maior pesquisa, das leituras e da preparação de resenhas fez com
que não tivéssemos tempo para a transcrição da quarta situação comunicativa. Porém,
acreditamos que a transcrição desta última deverá ser brevemente concluída pela
experiência já adquirida no primeiro período. Dessa forma, às análises e à redação do
relatório final será destinado um período maior, pois elas contribuirão muito para a escrita
de artigos a serem publicados.
O novo cronograma sugerido é, portanto, o que se segue:
Atividades
Junho
Julho
Agosto
Setembro
Outubro
Novembro
Transcrição dos
dados
Análise dos dados
Elaboração do Relatório Científico Final
Na próxima fase do projeto, pretendemos, portanto, além da transcrição da quarta
situação comunicativa que prevemos ser realizada nos dois primeiros meses, concluir as
análises. Primeiramente, faremos a análise tópica da quarta situação comunicativa e em
seguida realizaremos uma análise comparativa dos tópicos entre todas as situações
comunicativas. Por fim, faremos a análise dos marcadores discursivos presentes no corpus.
Com as análises concluídas, elaboraremos o relatório científico final.
7. Publicações e Participações em Eventos
Não houve nesse período produção científica, como publicação de artigos e
participação em eventos, visto que foi feito um esforço para que houvesse um maior
aprofundamento teórico e para que as transcrições fossem feitas a fim de que as análises
sejam empreendidas na segunda etapa e assim render uma melhor explanação sobre as
conclusões em artigos e eventos. Fizemos uma pesquisa de eventos que ocorrerão no
segundo semestre de 2011 e temos previsão de participar do SIICUSP (Seminário
Internacional de Iniciação Científica da USP), do Enel (XII Encontro Nacional dos
estudantes de Letras), do XIX Congresso Interno de Iniciação Científica da Unicamp e do
8º Sepeg (Seminários de Pesquisa da Graduação, Unicamp). Além da participação em
eventos, pretendemos submeter artigos a revistas da área. Pesquisamos também revistas que
aceitam publicações de graduandos e nossa pretensão é submeter artigos à revista Ao pé da
Letra da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e à revista Caderno de Letras da
Universidade Federal Fluminense (UFF).
Apesar de não ter apresentado nenhum trabalho no primeiro período da pesquisa,
tive a oportunidade de realizar algumas atividades extracurriculares relacionadas à temática
da presente pesquisa. Participei como ouvinte do Encontro InterGTs da ANPOLL: “Das
Relações entre Texto, Gramática e Cognição” cujo mapeamento das inter-relações entre
texto, gramática e cognição, sob uma perspectiva sociocognitiva foi esclarecedor tanto
teórico como metodologicamente. Além disso, assisti a duas defesas de tese de doutorado:
“Da Silva & Silva, duas trajetórias políticas, duas personas: o emprego de dêixis de
primeira pessoa em discurso de palanque” de Sandra Batista da Costa e “Estilo e ethos
prévio em peças publicitárias da Coca-Cola Brasil: estratégias para seduzir o consumidor
verde” de Maria Angélica de Oliveira Penna e a uma dissertação de mestrado: “Gêneros
discursivos em foco: dos programas televisivos Manos e Minas e Altas Horas” de Lívia
Bertolazzi Granato. Todas elas foram muito úteis na minha formação seja em
Sociolinguística como em Linguística Textual, já que abrangeram temáticas importantes
nessas áreas, como a noção de persona, de dêixis, de estilo, de ethos, de gêneros
discursivos, de tópico, etc.
8. Sobre o Desempenho Acadêmico e Outras Atividades
Durante o segundo semestre de 2010, além das atividades realizadas para o presente
projeto, foram cursadas as disciplinas obrigatórias e eletivas para o 6º período da graduação
(LA601: Ensino do Português Segunda Língua/ Língua Estrangeira, LA 602: Pesquisa de
Português Segunda Língua/ Língua Estrangeira, HL905: Investigação Científica II, HL234:
Práticas de Análise da Linguagem V, HL071: Estágio Supervisionado, LG026: Atividades
Científico-Culturais VI), além de algumas disciplinas extracurriculares (LA118: Italiano I,
HL175: Tópicos em Língua e Sociedade).
Como será possível observar no Histórico de Graduação encaminhado à FAPESP, houve
duas matérias (TL119: Textos em Teoria, Crítica e História Literária II e TL 242: Tópicos
em Pesquisa XXXIII: Temas e Questões de Literatura Brasileira II) cuja conclusão se
tornou inviável, devido à prioridade de dedicação a atividades mais relevantes para o
currículo de Letras. Porém, estas duas disciplinas são consideradas extracurriculares, pois já
cursei as disciplinas de Teoria Literária que fazem parte da grade do curso de Letras.
Por outro lado, todas as disciplinas obrigatórias e eletivas foram devidamente cursadas, e os
resultados obtidos foram plenamente satisfatórios, com todas as médias acima de 9,0. Com
isto, o 6º período foi concluído sem qualquer atraso para a formação prevista para
dezembro de 2011.
A Investigação Científica também está sendo realizada com o intuito de que se apresente
uma monografia ao final do seu desenvolvimento. A pesquisa desenvolvida também se
encontra na área de Sociolinguística e nela também trabalho com a questão do tópico
discursivo, porém, com o seguinte corpus: dois programas midiáticos, Manos e Minas,
produzidos pela TV Cultura. Também esta pesquisa está intimamente relacionada ao
projeto de pesquisa da orientadora Anna Christina Bentes, pois as resenhas e análises
realizadas para uma pesquisa são frequentemente relevantes para a outra.
Nesse semestre, estou cursando as disciplinas obrigatórias (HL906: Investigação Científica
II, LG027: Atividades Científico Culturais VII e EL774: Estágio Supervisionado) e
algumas disciplinas extracurriculares (HL090: Tópicos de Linguística I, LA218: Italiano II,
TL109: Introdução aos Estudos Literários, TL248: Tópicos em Literatura Brasileira:
Autores III). A disciplina Tópicos em Linguística I está contribuindo muito para a minha
formação na área de Sociolinguística, pois a professora Anna Christina Bentes, responsável
por essa disciplina, está fazendo uma introdução aos estudos, dando um panorama geral da
área através da leitura do livro Sociolinguística: uma introdução crítica, de Calvet (2007).
Depois da leitura teórica, iremos proceder à transcrição e análise de dados. Em relação à
Investigação Científica III, estamos realizando reuniões semanais em grupo que estão sendo
muito úteis para discutirmos a análise de dados sob uma perspectiva sociolinguística. Para
isso, também estamos lendo alguns textos. Para a noção de enquadre, por exemplo, estamos
lendo e discutindo Tannen e Wallet (2002) e a tese de Goulart (2005).
9. Bibliografia
AZANHA, E.F.S. Gêneros televisivos na escola: a co-construção dos sentidos nas
interações de alunos do ensino médio. Campinas, 2008. Dissertação de Mestrado em
Lingüística. Orientador: Anna Christina Bentes. IEL, Unicamp.
BELL, A. “Back in style: reworking audience design”. In: Penelope Eckert and John
Rickford (eds.), Style and sociolinguistic variation. Cambridge: Cambridge University
Press, 2001, p. 139-169. Tradução livre: Antônio Pessotti; Christine da Silva Pinheiro;
Lúcia Ap. de Campos Scisci; Marjorie Mari Fanton.
BENTES, A.C. É nóis na fita : a formação de um registro e a elaboração de registros no
campo da cultura popular urbana paulista. Nº do processo: 2009/08369-8. Projeto de
pesquisa financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa. Unicamp, Campinas, 2009.
______________ Tudo que é sólido desmancha no ar: sobre o problema do popular na
linguagem. Gragoatá (UFF), v. 27, 2009, p. 12-47.
BENTES, A.C.; RIO, V. “Razão e rima: reflexões em torno da organização tópica de um
rap paulista”. In Caderno de Estudos Lingüísticos n.48, 2006, p. 115-124.
BOURDIEU, P. Questões de sociologia. Rio de Janeiro: Marco Zero, 1983.
CALVET, L.J. Sociolinguística: uma introdução crítica. Tradução: Marcos Marcolino. 3.
ed. São Paulo: Parábola Editorial. 2007.
DUNCAN, S. D., JR. Distribution of auditor back-channel behaviors in dyadic
conversation. Journal of Psycholinguistic Research, 1972.
GOFFMAN, E. “A situação negligenciada” in RIBEIRO, B. T., GARCEZ, P. M. (org.).
Sociolinguística Interacional. 2. ed. São Paulo: Loyola, 2002. Cap. 1, p. 13-20.
GOULART, C. As Práticas orais na escola: o seminário como objeto de ensino.
Dissertação de Mestrado. Instituto de Estudos da Linguagem, Universidade Estadual de
Campinas, Campinas, 2005.
JUBRAN, C.C.A.S. et al. “Organização tópica da conversação”. In: ILARI, R. (org.).
Gramática do português falado, v. II. Campinas/SP: UNICAMP, São Paulo: FAPESP,
2002a, p. 341-377.
JUBRAN, C.C.A.S. “Revisitando a noção de tópico discursivo” in Caderno de Estudos
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LABOV, W.. Sociolingusitic patterns. Pennsylvania: University of Pennsylvania Press,
1972.
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ANEXO 1: Transcrição do corpus
Situação Comunicativa
Participantes
Participantes
Falas dos participantes
Discurso Público no Prêmio Cooperifa em
Sérgio Vaz = SV
SV
SV
MB
AL
MB
PB
MB
Mano...sem mais delongas...Mano Brown Racionais MC’s
1
PB
[((palmas, gritos, assobios))]
1
[por favor]
PB
((palmas, gritos, assobios))]
((Mano Brown recebe o prêmio de uma moça, cumprimenta a moça e o
Sérgio Vaz e depois começa a falar no microfone)) salve lo(u)cos
((batendo palmas)) salve
MB 2[bom 3[é:::]
2
PB
[((palmas))]
3
AL
[salve lo(u)cos]... ((batendo palmas)) é isso aí
escu/é::...(es)per’aí...já vai já vai esquentá(r) ((faz estralo com os dedos))
4
[((risos))]
4
[eu (es)tava prestan(d)o atenção] é::... acho que a pior pobreza é quando
a gente (es)tá pobre de espírito eu num vou querê(r) falá(r) coisas bonita
porque aqui é covardia né?...só gente inteligente...
PB 5[((risos))]
MB 5[e eu (es)tava] ven(d)o que os inteligente são humildes né o/as
pessoas que vêm aqui elas falam as coisa com... humildade né humildade
é sabedoria...na verdade arrogância é burrice né e muitas vezes eu fui
burro... porque:: a burrice vem da re/neurose do ódio da revolta né você
passa na frente de uma favela te dá ódio dá raiva...dá raiva até da
favela...porque (porque) eles aceita isso aí?...por que nóis num vamo(s)
fazê(r) alguma coisa...junto?...mais é assim né meu a gente::/e a revolta
traz arrogância...então muitas vezes (vo)cê pode virá(r) a esquina e
tratá(r) um playboy com arrogância...entendeu?...um cara porque ele tem
os olhos verde ((olha para trás))...e:: não é a me(s)ma cor que a sua e você
acha que ele é rico (vo)cê vai tratar ele mal porque (vo)cê viu gente igual
você sofren(d)o...ISSO é burrice...eu já fiz isso...e eu vi gente
aqui...inteligente gente da maior/melhor qualidade né?...eu falei pô mais
os inteligente são humilde né mano?...e às vezes eu vejo um malandro
subin/em cima de um Nike de setecentos conto e é arrogante...por causa
de um NIke...por causa de uma marca de um carro d’uma moto d’uma
arma...e por outras...fita morô?...é::...o importante num é nem a a
humildade porque na verdade a gente nem nem somos/nós nem somos tão
humilde assim eu não sô(u) um cara humilde...eu sô(u) um cara... eu tento
ser verdadeiro tenho vários inimigo...falar o que qué(r) ouve o que não
qué(r) eu falo o que eu quero((dá um sorriso))...então as consequência
também são monstruosa (vo)cê entendeu?...e se eu (es)tô(u) vivo até hoje
é porque:: de alguma forma eu acho que tem um um Deus que olha por
mim...e:: me livra da das covardia(s) me(s)mo...e:: um dia como hoje... no
final do ano ganhá(r) um prêmio na minha quebrada certo meu? que eu
posso dizer que é minha quebrada aqui (es)tá no meu Chácara Zona Sul...
é importante...pra mim é uma honra... está(r) entre entre vocês a minha
falha é não está(r) sempre...porque mesmo porque eu tenho problemas
certo?...tenho inimigos...preciso ganhar dinheiro pa pagá(r) as dívida que
eu fiz depois que eu fiquei famoso ((dá um sorriso))
PB 6[((risos))]
SV
MB
MB 6[porque isso é uma prisão acontece isso né?]... que saudade que eu
tenho quando eu... eu era só mais um me(s)mo andando no meio da
multidão desconhecido né infelizmente num dá pa sê(r) mais isso...mais
vamo(s) administrá(r) os probrema que:: aconteceram depois...e muito
obrigado a vocês continue...é::...inteligentes num vô(u) dizê(r) humildade
porque humildade é inteligência entendeu? inteligência é humildade...eu
acho isso...certo? eu vou tentá(r) sê(r) menos burro...daqui pa frente e::
((virando-se para falar com Sérgio Vaz)) eu sou o último a falá(r)?não?
(não)
não né ... eu sou quase um dos último então eu fui favorecido porque eu
vi todo mundo falá(r) e de todo mundo eu peguei um pouco...certo?...os
pensamentos o::s aonde todo mundo qué(r) chegá(r)...eu entendo (eu)
quero (es)tá(r) junto às vezes eu não estou junto mais eu preciso (es)tá(r)
junto não me abandonem
SV 7[((risos))]
MB 7[porque às vezes eu fico sozinho]...dentro do meu mundo
pequenininho pá de problemas individuais MEUS...não me
abandonem...me chama me liga((faz o sinal de telefone, dando um
sorriso))...por incrível que pareça eu (es)tô(u) facinho 8[(es)tô(u)...
firmeza? ((faz jóia com a mão))]
PB 8[((risos))]
MB 9[muito obrigado aí ((levanta o prêmio))]
PB 9[((palmas, gritos, assobios))]
MB ((recita, junto com o público, que marca com palmas, parte da letra
de um rap seu, Vida Loka Parte II))
Situação Comunicativa
Participantes
Participantes
Falas dos participantes
Depoimento para uma jornalista dentro
do carro
Mano Brown = MB
MB
vô(u) fazê(r) o seguinte... põe essas revista...daqui ó...
nóis (es)tá de teto solar mano... o negócio (es)tá foda
JO ((risos))
MB ((começa a dirigir)) eu assisti um documentário d’um
d’um ladrão que fizeram em setenta e sete em São
Paulo...chamava...é::Wilson...Wilsinho...Wilsinho n’uma
favela daqui de São Paulo aqui em setenta e sEte...o
documentário mostrô(u) casa de detenção os cara dan(d)o
entrevista n’um dia de visita em setenta e sEte mano...aí
mostra a favela que ele morava e paus os cara falô(u) dos
carro que ele gostava de:: ele tinha catorze assassinato
(es)tá ligado?
JO 1[nossa]
MB 1[aí ele (es)tava] com a fama de sê(r) um ladrão frio
né meu? um cara frio aí as pessoa que conhecia ele falava
a versão dele a respeito dele né?...a versão a respeito dele
e tal...pô achei lo(u)co pa carai...mostrô(u) as favela
como é que era mostrô(u) as rua meu os camarada dele na
rua...dan(d)o entrevista os cara da detenção...INCRÍVEL
COMO LADRÃO NUM MUDA mano
JO ((ri))
MB é sempre foi a me(s)ma fita os cara é:::as me(s)ma(s)
ideia de sempre ô mano (vo)cê acredita que aquelas
mesma gíria de antigamente é as de hoje?...a:: pique::
como é que eles fala morô(u)?...num sei o que
morô(u)?...aí deu um desacerto aí na minha vida aí mais
(es)tá tudo 2[ce::rto]
JO 2[((ri))]
MB me(s)ma coisa me(s)ma coisa me(s)ma coisa...ele
virô(u) um mito na época (es)tá ligado? aí a polícia
matô(u) ele dentro de casa
JO hum
MB u mano as favela era diferente...era o(u)tro modelo de
favela...era mais espaçado né?...os telhado era de assim ó
((mostra com as mãos o formato))...é::...era de telha as
favela tam(b)ém num era de Eternit...sô:: eu presto muita
atenção nas:: na:: nos detalhe...arquitetura nas ro(u)pa das
pessoa...nas ideia nas palavra (es)tá ligado?...i o lo(u)co é
que na hora/tem uma hora que eles (es)tão é... fazen(d)o
uma::...reconstituição d’uma fita eles (es)tão no carro
(es)tão ouvin(d)o um som do caRAlho meu...os cara
(es)tá tipo ouvin(d)o um funkão meu
JO ham
MB eu falei pÔ::rra lo(u)co lo(u)co lo(u)co lo(u)co...eu já
sonhei eu preso várias vez tipo...já me imaginei várias
vez (vo)cê acredita?
JO várias vezes?
MB morto nem tanto...não ((faz som de não))...morto não
Situação Comunicativa
Participantes
Participantes
Falas dos participantes
Discussão a respeito de rap
Mano Brown = MB
MB
MB
VA
MY
MB
MY
((entrando na casa)) ((rindo)) (vo)cê (es)tava era bêbado mano
AR eu só conheço três santista... é ele e os outro os outro amigo dele só
VA 1[((risos))]
MY 1[é ele a Sophia e o Pelé]
AR ((rindo)) e o Pelé
ô meu (vo)cê é são paulino tricampeão do mundo e os cara (es)tá
falan(d)o um montão 2[e (v)ocê o::... 3[pelo amor de Deus]]
AL 2[((risos))]
AR 3[três títulos]...três títulos
MB 4[eu sô(u) santista eu posso falá(r)] mais você mano] 5[para]
MY 5[(num dá mano)]
AL 6[i::]
MB 6[ai se o Santos] fosse 7[trimundial ia agüentá(r) esses cara falá(r)]
MY 7[não mais os cara]...os cara num suporta não ((corte de edição)) nóis
jogamo(s) c’o Real Madrid...(vo)cê 8[já jogô(u)?]
AL 8[(vo)cê já jogô(u)?]
VA 9[((conversas pararelas))]
AL 9[aonde (vo)cê já jogô(u)? que estádio?]
VA ((conversas pararelas))
MB vamos à realidade vamos à realidade
VA ((risadas))
AL 10[quantas libertadores?]
MB 10[vamo(s) pará(r) de loucura] vamo(s) pará(r) de loucura vamos à
realidade
11
[((conversas paralelas))]
11
[o Santos já jogô(u) c’o Real Madrid? o Santos]
AL 12[o Brown]
MB 12[já jogô(u) já]
AL 13[aonde?]
MY 13[quando?]
MB há faiz tempo
AL 14[a final do Mundial...o primeiro foi c’o Real Madrid]
VA 14[((conversas paralelas))]
AL que dia?
MB vô(u) te falá(r) uma fita vamo(s) discutí(r) futebol não que esse
campeonato que (v)ocês ganharam aí tio((faz sinal de não com a cabeça))
MY o que é que foi?
AL o que é que foi?
ó ((faz algum sinal com a mão que a câmera não consegue pegar))
AL (vo)cês nem comemoraram
MB 15[ó horrível]
VA 15[((conversas paralelas))]
AL horrível?
MB 16[horrível...ô Arnaldo vô(u) te falá(r) um barato]
16
[(inint.)dinheiro pra comprá(r) nóis comprô(u) o campeonato]
MB
o Santos é um time que faiz eu sofrê(r) mais eu nuca fui
AL
MY
MB
campeão perdendo jogo não mano igual (vo)cês perdeu aí e 17[foi
campeão...pa Goiás?]
17
[ah não mais daí o importante é a vantagem dos pontos]
MB 18[perdê(r) pa Goiás?]
VA 18[((conversas paralelas))]
MB ((corte de edição, em outro lugar da casa)) a verdade meu o que
acontece é o seguinte não dizen(d)o que eu saiba mais eu (es)tô(u)
dizen(d)o assim...quando começô(u) toda essa cultura de cantá(r) a
realidade cantá(r) A REalidade o que que é a realidade...dentro d’uma
periferia? ((olha para os interlocutores, esperando resposta))
AL é o crime...a violência
MB 19[certo?]
19
[o crime] a violência
o rap num é a música da realidade? num veio do/num foi a:: a COluna
que:: segurô(u) toda essa estrutura de rap de todo mundo aqui? seus livro
minhas música o documentário a realidade.. que que a realidade é dentro
(da) periferia?...pobreza ((começa a contar nos dedos))...certo meu?
trabalhadô(r) 20[tam(b)ém ladrão] tam(b)ém ((ainda contando nos dedos))
FE 20[(trabalhador] também)
MB ((não está mais contando nos dedos)) cara tam(b)ém que é playboy e
mora na quebrada...playboy de favela que vive nas custa do pai...vários
FE tam(b)ém
MB (es)tá ligado? que enquanto ele tem um pão e um cafezinho com leite
de manhã pra ele (es)tá bom...21[(es)tá bom mano]
MY 21[ já (es)tá suave]
FE 22[(es)tá bom]
MB 22[o dia] que faltá(r) ele qué(r) metê(r) o revólver mas enquanto (es)tá
bom (es)tá bom
AL vão vive(n)do
MB então a gente tem que citá(r) a realidade...então quando o::...os rap
falan(d)o de crime começô(u) a fazê(r) sucesso então au-to-maticamente...todo movimento é assim...uma le23[GIÃO...de pessoas]
FE 23[se desdobrou]
MB passô(u) a seguir esse MÉtodo né?
AL 24[uma vertente (inint.)]
MB 24[de fazê(r) música]
FE é
MB falá(r) de...crime...num bastô(u) ao Diário do Deten25[to]
FE 25[é]
MB teve que tê(r) um grupo de dEntro da detenção...entendeu mano?
FE é é
MB (vo)cê entendeu? como as coisa uma coisa puxa a outra
FE puxa a outra né?...
TO e tudo que foi...assim:: cantado sobre crime estorô(u)
MY ouví(r) rap mano era o cri::me...tipo assim ô num sei o que eu já vi
vagabundo chegá(r) e falá(r) assim ô meu (vo)cês não fizeram uma
música pro crime...mais eu num tenho nada a vê(r) c’o crime eu num
vô(u) falá(r) de crime se eu não vivi eu vivo o crime aqui...só que a minha
ideologia é falá(r)... sobre o social eu não quero falá(r) do crime...os cara
ah mais (vo)cê tem que falá(r) que:: mais (inint.) eu falei mano...(vo)cê
qué(r) colá(r) pode colá(r) mais é o seguinte...eu não fumo eu num bebo
eu num ro(u)bo...então eu vô(u) falá(r) o que eu penso...não adianta
(vo)cê vim me cobrá(r) entendeu? se eu achá(r) que tem uma música que
tal que eu vô(u) falá(r) do crime mais eu vô(u) falá(r) do meu jeito...só
que... na favela pa falá(r) a verdade quem manda é o crime... quem manda
é o crime...ó...nois/os cara respeita nóis lá dentro da favela...porque tipo
assim nóis segue na reta certinho mais a hora que nóis dé(r) o pé...nóis
lançamo(s) o CD...mais a hora que 26[nóis dé(r) o pé]
FE 26[é chamá(r) o mundo] do crime pra dá(r) o nome
MY já era..27[por que os cara mano têm outra visão totalmente... os cara é
o crime é o seguinte]
FE 27[inint.]
MY o crime qué(r) vê(r) você sempre aqui ó (vo)cê tem que (es)tá abaixo
deles a hora que (vo)cê feiz isso aqui os cara fala -“pô os maluco já (es)tá
28
[mais do que eu”-]
FE 28[pra intercedê(r) por você] tem que sê(r) alguém do crime 29[(na
verdade)]
MY 29[tem que (tê(r)] o do crime
MB mas (vo)cê sabe que pra virá(r) elite basta você (es)tá(r) n’u::ma
corrida e se acontecê(r) do jeito que (vo)cê qué(r) (vo)cê (es)tá arriscado a
virá(r) uma elite
FE é verdade
MB da me(s)ma forma que o cara pode vê(r) o Brown e falá(r) –“o Brown
é o rap da elite...venceu...”-ou ele pode vê(r) o Ferréz dan(d)o entrevista
no....no...igual eu vi você no programa do do...
AL 30[Jô Soares?]
MB 30[Altas horas] e falá(r)...-“ah esse escritor é da/um dia eu quero sê(r)
mai num quero sê(r) que nem esse cara aí não”-...os cara já bate um sujo
só porque (vo)cê (es)tá lá
FE é
MY 31[(inint.)]
MB 31[isso]...tudo isso é uma elite (es)tá ligado?...a gente a gente
me(s)mo forma a elite pode se transformá(r) em elite sem vê(r)
FE não...hoje...hoje eu sô(u) uma parte de uma elite da literatura...você é
uma parte da elite da música...porque (vo)cê vende mais que muito cara
que é rico na música...vamo(s) supô(r) então cara fala mas o Brown
alcança o que eu não alcanço ele é elite...só que você vive como
elite?...(vo)cê consome como elite 32[bes-tamente...pá...toda semana
shopping (es)tá ligado? é o que você vive
MB 32[(inint.) pa caraio]
VA 33[(inint.)]
MB 33[eu sô(u) um escravo] 34[eu nem sô(u)] elite..eu sô(u) escravo da
elite
FE 34[então]
MY o povão vê o o o:: grupo de rap como um partido político..que tem
que dá(r) isso que tem que dá(r) aquilo que tem que me ajudá(r)...e não é
assim às vezes (vo)cê num tem nem o que comê(r)... e os cara qué(r)...não
ah meu o Brown (es)tá ganhan(d)o mó dinheiro tem que dá(r) tanto e se
num dá (es)tá errado...então são coisa que num existe meu....ah o
Ferréz...lançô(u) um livro ó o cara (es)tá ganhan(d)o mó dinheiro...então
o povo...tipo assim...num sei...éh... tipo o pessoal centralizou isso
daí...que tem que dá(r)...tem que dá(r)
FE todo mundo achô(u) que era fácil ganhá(r)
AL é::
FE e num viu... ninguém vê as pinga 35[as::...como é que é o baguio?]
AL 35[dificuldades]
FE as pinga que (vo)cê toma todo mundo vê mais ninguém vê as queda
que (vo)cê leva né? então ninguém vê as dificuldade...ninguém reconhece
o corre de ninguém...o cara qué(r) fazê(r) o corre dele mais não
reconhece o corre dos o(u)t(r)o...entendeu? então...ele não viu que o
bagulho tem um processo/vocês aprenderam que tem um
processo...desd’o começo nóis sempre falô(u) disso...tem um processo SE
você chegá(r) lá ainda...se você chegá(r)...(es)tá ligado? agora os cara só
olhô(u)...o principal...puta mano...quando eu comprei minha casa...nossa
o Ferréz comprô(u) a casa dele vendendo livro mano...nossa mano eu
tenho que fazê(r) livro...o cara nossa mano se embucetô(u) aí fazen(d)o
livro aí ó...(es)tá ligado?...num consegui nem editora... porque o baguio é
osso...36[então, é mano...(es)tá ligado?]
AL 36[(o bagulho é osso)]
FE a oportunidade não chega igual...o::a chance não chega igual a
batalha não é igual...o talento não é igual...então aí o o rap atraiu todo
mundo...e agora (es)tá tendo que falá(r)...(es)per’aí que não é assim
MB o rap qué(r) sê(r) uma exceção...o rap na/se você for pará(r) pra
analisá(r) a periferia é desunido...37[certo?]
JO 37[mas o mas]
VA 38[(inint.)]
MB 38[o rap é uma exceção]... o rap é uma exceção que ainda fala de
união dentro d’um lugar que não se fala...qual que é o lema da
periferia?cada um, cada um né? ...e o rap é o quê?...é nóis na fita...é
o(u)tra idéia...(es)tá ligado? esse bagulho de...(es)tá ligado? é nóis é nóis
esse negócio de é nóis é nóis é coisa de rap...malandro quando tem
dinheiro ó((faz som com a mão))... se joga
VA 39[((risos))]
MB 39[certo?]
MY ele 40[com a família]
MB 40[o cara quando ganha] dinheiro vai embora...ele (es)tá ligado que os
próprio cara da quebrada vai crescê(r) o olho vai ca/casá(r) um::...uma
casinha pra ele caí(r) um barato...e o rap ainda prega o contrário...não
vamo(s) vamo(s) tentá(r) (vo)cês são unido...eu (es)tô(u) ven(d)o que
(vo)cês são unido...não é totalmente todo mundo né...não é tão individual
assim...querendo ou não (vo)cês são ligado eu sô(u) ligado a eles
indiretamente...agora (es)tô(u) ligado a você indiretamente e você ligado
a outros... e outros são ligado a outros...noís (es)tamo(s)/é uma teia
AL é::
MB é uma teia ((faz o entrelaçamento dos dedos))...fora daqui (vo)cê num
vai vê(r) isso muito...(vo)cê não vai vê(r) isso na na rua
AL é difícil...é difícil
MB essa união que nóis (es)tamos falan(d)o não existe em lugar nenhum
em movimento nenhum...em profissão nenhuma
MY mais não não só se uní(r)...mas se respeitá(r) pelo menos
MB ah:: sim
MY 41[não existe]
MB 41[ah sim]...42[aí é outra coisa]((faz sim com a cabeça))
MY 42[eu acho que] ...43[é tipo assim]
FE 43[não se respeita] quantos cara aí que eu conheço mano ...do próprio
movimento rap que pra você pegá(r) o cara é só pela vaidade...(vo)cê
elogian(d)o o trampo do cara (vo)cê já amigo do cara mano...agora se
(vo)cê for criticá(r) uma letra do cara...for falá(r) d’uma capa d’um
negócio...vixe (vo)cê já arrumô(u) inimigo...entendeu?...então ele só te
mostra aquilo... e você só mostra o que (vo)cê qué(r) mostrá(r)
tam(b)ém...(es)tá ligado?... é:: (há) camadas né?então
MB eu acho que isso aí é em qualquer lugar 44[o Ferréz]
FE 44[é qualquer lugar]
MB 45[qualquer pessoa]
AL 45[(inint.)]
MB (vo)cê vai pegá(r) um cara aí... 46[u::m]
FE 46[com certeza]
MB cara que mexe c’um marketing aí um:: Washington Olivetto critica o
trabalho dele pu (vo)cê vê...ele num vai gostá(r)...ninguém gosta de
47
[sê(r) criticado]
VA 47[(inint.)]
MB o ser humano todo mundo::...o ser humano tem seu ego mano
MY é...a crítica nunca é bem acei48[ta]
MB 48[aí de]pende da palavra que (vo)cê usa tam(b)ém né?
FE é::
MB (vo)cê vai 49[usá(r)..de/às vez]
MY 49[mais aí] eu acho que tem o lance crítica e o lance... que os cara usa
como tiração tem cara que não critica...tem cara tipo assim... que nem eu
já vejo no Ferréz o Ferréz quando opa isso aqui (es)tá meio errado ele
sabe explicá(r)...agora tem cara que fala ô seu bagulho é um lixo...(vo)cê
fala pô mano
AL ((risos))
MY tem uns cara que eu vô(u) falá(r) 50[pu (vo)cê]
AL 50[( tem uns cara que é foda)]
MY aí quando (vo)cê fala o meu é um lixo o seu é uma bosta... aí aí
começa a guerra... rap... o grupo de rap é desse jeito nóis trampa com
rap...é igual o Ferréz eu falo o mano num dá num dá pa tocá(r) porque é
isso e isso...ô se você chegá(r) ni mim e falá(r) ô Negredo...ô Wilson num
dá pa cantá(r) ainda porque essa música num (es)tá assim...eu...eu paro e
penso eu posso dá(r) uma parada/e falá(r) não o que o Brown (es)tá
falan(d)o... (es)tá certo porque (vo)cê já (es)tá...lá na frente ó uma quota...
só que os cara num pensa assim...os cara num pensa assim...se você fala
assim essa base (es)tá meio assim...(vo)cê fala puta o Brown falô(u) que
(es)tá assim ou o Ferréz falô(u) o Maurício falô(u) ali... eu vô(u)::
chegá(r) em casa eu vô(u) analisá(r) porque se esses cara (es)tá falando
alguma coisa (es)tá errado...porque (vo)cês conhece mais a maioria dos
grupo de rap não é assim...(vo)cê fala ô mano essa base tem que dá(r)
mais...não o bagulho é meu eu que fiz... é assim que vai e já era...51[então]
FE 51[pegô(u)] a marra né?]
MY o::52[ barato é]
FE 52[os cara pegô(u)] a marra do americano...pegô(u) a marra...num
pegô(u) estudo num pegô(u) o trampo que o cara faiz todo dia
trabalhan(d)o no rap dele só pegô(u) a marra...a marra os cara
pegô(u)...(inint.) os medalhão os baguio mais por dentro o trampo que o
cara tem...(es)tá ligado?...(vo)cê acha que os cara vai dormí(r) à
noite?...os cara (es)tá trampando
MY 53[num pegô(u)]
FE 53[isso aí] os cara num pegô(u) eles num aprendeu que o baguio é
trampo
MY 54[eles]
FE 54[né?]
MY aprenderam só a marra num aprenderam ganhá(r) dinheiro 55[num
aprenderam]
MB 55[por exemplo]
MY a produzí(r)
MB o rap nos Estados Unidos (es)tá isso...os cara:: ho::hoje em dia eles
num nem qué(r) nem posá(r) de mocinho mais os cara –“eu sô(u) o vilão
me(s)mo e já era (es)tô(u) rico...com o meu dinheiro eu compro todo
mundo”- os cara pensa isso... nos Estados Unidos é assim...com dinheiro
(vo)cê compra tudo mEsmo...aqui não porque nóis/ (es)tá ligado?
ninguém tEm esse dinheiro... onde (es)tá esse dinheiro?...mais lá eles
compra me(s)mo...eles compra mulher eles compra casamento eles
compra mansão compra...56[a::]
AL 56[carro]
MB (es)tá ligado?...os cara compra...é milhão de dólar entendeu mano?...é
uma realidade tam(b)ém o que o Fifitycent canta é uma realidade dele
num é 57[a nossa... mais é a dele]
FE 57[é (inint.)]
MB é a dele...chego na boate as mininha olha pra mim eu (es)tô(u) com
pô... relojão de ouro meu carro vale tantos mil é verdade...OFENDE
NÓIS...MAIS É VERDADE
FE é verdade
VA ((risos))
MB é verdade 58[((rindo))]
MY 58[mais sabe] num tem um programa de rap pu (vo)cê vê(r) na
MY
VA
Globo...(vo)cê vai vê(r) o que?....eu quero vê(r) o tal grupo lá 59[num tem]
JO 59[D2] 60[((risos))]
MY 60[eu vô(u) dá(r) audiência]...tem o D2 lá...me(s)mo eu não
gostan(d)o do D2 os cara num gostan(d)o os cara vai vê(r) D2...por
que?...é o rap... (es)tá lá na batida..num (es)tá aquela (inint.) 61[então]
FE 61[mais aí] nóis num (es)tamo(s) higienizado que nem eles
qué(r)...eles qué(r) um rap higienizado eles...qué(r) um rap limpo
...62[eles qué(r) um rap]
MY 62[eu sei]
FE do padrão que eles 63[que eles qué(r) vê(r) no domingo]
MY 63[mais (vo)cê (inint.)]
FE dá pa assistí(r) no domingo Cabal...então ele vai vê(r) só o Cabal o
D2
MY tinha a MTV...a MTV era/eu vô(u) falá(r) pu (vo)cê...eu ficava até
duas hora pra vê(r) o programa de rap...agora (vo)cê num vê mais (vo)cê
num/praticamente num é o rap...pra mim num é o rap
FE (vo)cê tem que vê(r) até onde da pra cedê(r) mano
MY não mais
FE até onde o cara cedeu..é a a opção é:: dele ele cedeu pa tê(r) aquilo de
repente você num (es)tá ven(d)o...mais tem uma legião de moleque que
ainda (es)tá assistindo e é a única coisa que eles tem pa vê(r) (es)tá
ligado?...porque o cara cedeu um pouco...o cara resolveu 64[fazê(r)]
64
[ah] 65[se for pra ficá(r) só no rap americano]
65
[((conversas paralelas))]
MY eu compro o::/ eu vejo no no Santo Amaro os camelô...porque rap
nacional num passa
FE a MTV tratô(u) o rap assim porque o rap num:: também num se
impôs mano... (es)tá ligado?...quando o KLJay (es)tava lá era outra
pegada...agora o rap tinha que continuá(r) se impon(d)o...num se
impôs...aí o que acontece?...você mandô(u) e-mail pra MTV?...mandô(u)
carta?...ligô(u)?...não? ...alguém aqui ligô(u)? tam(b)ém não num tem
pressão pro baguio agora liga cem mil pessoa lá o cara nossa seu eu não
pô(r) um clipe nacional no outro dia...a audiência vai me matá(r)
....entendeu? agora deixa de passá(r) PItty no horário da MTV nobre...pa
vê(r) se os boy tudo já num liga passa e-mail já se envolve
entendeu?...agora o cara liga na cento e cinco pa falá(r) de jogo mano
MB (vocês) tão falan(d)o/ colocando o rap como se fosse o:: centro do::
do:: universo da música e num é né meu...se você pará(r) pa analisá(r) os
outros compositor dos outros estilo musical (es)tá todo mundo fechado
n’um mundinho tam(b)ém...pega música de Zélia Duncan (es)tá falan(d)o
daquelas poesia dela vaga que só diz respeito a ela e a namorada dela ou
namorado...pega qualquer outro Caetano Veloso...ele (es)tá no mundo
dele tam(b)ém...de intelectual 66[inteligente]
FE 66[com certeza]
MB pa caraio...num tem como os pobres analfabeto entendê(r) o que o
Caetano Veloso muitas veiz fala...(es)tá todo mundo meio elitizado
67
[meio no seu mundo]
FE 67[ah com certeza]
MY 68[(MPB (inint.)]
MB 68[o rap tam(b)ém] o rap tam(b)ém...é tribo mano...várias
tribo..69[tribo de roqueiro, tribo de reggae de rap entendeu?]
FE 69[as vezes...aí o aprendizado dos cara é o(u)tro né mano?]
MB dentro da nossa tribo nóis é alienado na nossa cultura...o rap
tam(b)ém é alienado nóis é alienado na nossa cultura de rap
FE qual que é o maior debate?...de todos os tempo?...desde que surgiu o
hip-hop?...(es)tá ligado? é o estigma do Racionais num í(r) na TV
mano...igual...o:: o Brown vai falecê(r)...va::/o Racionais vai acabá(r)
tudo vai mudá(r) mais sempre vai tê(r) aquele baguio... um cara vai
trombá(r) um dia você na esquina com o seu neto e vai falá(r)...mais por
que que ele num foi mano?...porque pu cara pobre... você num
compactuá(r) c’o a elite é um crIme mano 70[(es)tá ligado?]
AL 71[é::]
FE 72[é um crime mano]
AL 72[(inint.)]
FE porque o cara ele qué(r) pertence àquilo...e você diz não...nOssa
(vo)cê ofende ele mano...entendeu?...ele num entende...o(u)tros
entende...o(u)tros fala que entende mais num entende...o estigma do
rap...a vida toda vai sê(r) esse
MB que tipo de pergunta hoje que poderia::...quebrá(r) as perna d’ um
grupo de rap ...hoje?
AL a::
MB 72[(eu num vejo a ponto quebrá(r) as perna (inint.) televisão a ponto
de quebrá(r) um grupo)]
FE 72[que (vo)cê faiz pela favela? que (vo)cê faiz pela favela?] 73[que
(vo)cê faiz pela favela?]
TO 73[mais aí eles väo fazê(r)] 74[outro tipo de pergunta]
FE 74[que (vo)cê faiz] pela favela quebra as perna 75[de qualquer grupo]
MB 75[(claro) um tipo de pergunta] dessa (vo)cê tem que respondê(r) com
o(u)tra pergunta ...eu te pedi voto?... 76[eu pedi voto pa alguém?]
FE 76[daí que (vo)cê (inint.)]
MB 77[eu sô(u) cantor de rap num sô(u)]
MY 77[mais daí (vo)cê já (es)tá]...aí você já (es)tá ligeiro...(vo)cê (es)tá
ligeiro...você já (es)tá ligeiro (vo)cê já (es)tá já (es)tá firme... 78[mais cata
outros grupo aí...o cara fica mudo]
FE 78[o cara perguntô(u) uma vez isso] pra mim eu falei assim::... inveis
d’eu explicá(r) o que eu faço eu falei pra ele...e o que que eu o Caetano
faiz pela favela?...vende um milhão de disco...ah mai ele num fala de
favela...falei mai num interessa o assunto da música pode sê(r) o que for
79
[pode ser]
MB 79[ele é brasileiro?]... 80[ele num tem responsabilidade (sobre o povo
daqui)]
FE 80[ele é brasileiro ele (es)tá aqui]...ele pode sê(r) assaltado pode
sê(r)::...então o que que ela faiz? 81[o que que o Zezé de Camargo faiz?]
MB 81[é isso é isso que eu acho errado]...por que que o rap é obrigado
82
[a fazê(r) as coisa]
FE 82[a fazê(r)]
MB é lógico ele faiz de coração certo?...mais porque que o rap é obrigado
a fazê(r) e o Chico Buarque num é?
FE o rap é obrigado a fazê(r)...porque eles acham que a gente fala do
tema...quando a gente fala..a gente tem que mostrá(r) pra eles que a gente
faiz...eles acham isso...não mais se o cara critica então o que que ele
faiz?..entendeu?...ele tem que fazê(r) alguma coisa...ele tem que mostrá(r)
que faiz alguma coisa...83[entendeu?]
MB 83[é uma pergunta] pra 84[puní(r) você por tê(r) tocado no assunto]
FE 84[é pra puní(r) porque (vo)cê (vo)cê] tocô(u) no assunto...é isso 85[é
isso me(s)mo é isso]
MB 85[vô(u) te puní(r)]...86[vô(u) te puní(r)]
VA 86[((conversas paralelas))]
MB porque 87[(vo)cê cutucô::(u) a ferida]
FE 87[você cutucô(u) então]...me diz o que é que (vo)cê faiz?...aí você
não pá pá pá pá muitas vezes as pessoas fazem bastante...porque...uma
vez o Chico me disse uma coisa...que ficô(u) guardada dentro de mim até
hoje mano..ele falô(u) assim...mano o que você faiz através d’um livro
d’um CD...é mais do que qualqué(r) projeto social mano...(es)tá
ligado?...(vo)cê dá orgulho no cara o cara trancado dentro do quarto dele
a luz de vela len(d)o (vo)cê dá orgulho no cara... o cara escutan(d)o sua
música mano...na rua trampan(d)o... de camelô...você dá orgulho nele
...você injetô(u) um baguio nele que ninguém injeta...nem uma ong...nem
escola....nem nada ...então esse/essa esse trabalho já é muito mano
quantas vida foi mudada uma através da outra?...(es)tá ligado? o Negredo
(es)tá aqui por causa de algum grupo de rap...(es)tá ligado?...porque
alguma coisa eles viram eu escrevi meu livro por causa de grupo de rap
eu sempre falei isso em todos lugar que eu falo eu sempre falei que eu fui
pego n’um show de rap... um show de rap que o cara cantô(u) e depois
desceu no público...pa falá(r) c’o nóis...pegô(u) na minha mão eu só via
show gringo... curtia rock... eu via os cara pequenininho lá em cima os
cara saía e pegava o avião saía de São Paulo...e ia pa outro país... depois
eu vi um grupo de rap descen(d)o lá em baixo conversan(d)o com todo
mundo falei...carai esses cara aí tem a vê(r) comigo mano... então (vo)cê
sempre é pego n’um baguio...(es)tá ligado?...então num é a toa o trampo
muda a vida de uma par de gente mano... isso já é um trampo fodido
MB mais pra quem curte o rap...é necessário que:: ele...ele se::
moder...num vô(u) dizê(r) modernizá(r)...mais 88[ele::]
AL 88[evoluir né?)]
JO profissionalize 89[(inint.)]
MB 89[é::...o mais rápido possível] senão num vai sobrá(r) nada pra
ninguém entendeu?...porque as pessoa (es)tá reclaman(d)o muito da
rUindade do rap
MY 90[mais é verdade]
AL 90[isso é verdade]
MB falta qualidade falta tudo...falta som falta luz falta letra falta batida
falta:: 91[idéia]
AL 91[ritmo]
MB falta::...(es)tá ligado? as pessoa (es)tá/as própria pessoa que
curte...(es)tão reclamando da pobreza do rap...pobreza em todos os
sentido entendeu?...de idéia pobreza de roupa de:: palavra...idéia de...de
som....de banheiro sujo...ambiente:: carregado o nosso póprio povo qué(r)
modernizá(r)
MY eu penso assim...essa decadência do rap pra mim...infelizmente...ó
até hoje eu não ganhei um real no rap...mais pra mim é bom....porque eu
vô(u) falá(r) pu (vo)cê
FE ó::...um real...
MY não...92[um real]
FE 92[(vo)cê] vendeu seu disco...cachorro ((risos))
MY não...eu vendi mais eu produzi c’o meu bolso...eu falo ganhá(r) é
você tê(r)... 93[ganhá(r)] que eu falo é você vivê(r) do rap
AL 93[vivê(r)]
MB é...a gente vai passá(r) por isso tam(b)ém mano...mais cedo ou mais
tarde quando começá(r) a aparecê(r) os grupo de rap rico...é::...os:: os DJ
rico...a gente vai passá(r) por isso tam(b)ém...aí já passa um novo
estágio....aí você tem que se impô(r)::...pus cara num acha que (vo)cê
(es)tá alienado porque (vo)cê (es)tá rico (vo)cê vai tê(r) que se impô(r) de
alguma forma...pra você num perdê(r) sua raiz...aí você vai tê(r) que se
impô(r) pus malandro num achá(r) que (vo)cê virô(u) bunda mole...aí
(vo)cê vai tê(r) que se impô(r)...aí (vo)cê vai/a vida é assim... quando
você (es)tá pobre (vo)cê tem que se impô(r) porque o dono da padaria
num:: num o balconista num num responde você na hora que (vo)cê
pergunta... 94[(es)tá ligado?..você perde é] 95[(es)tá ligado?... então]
VA 94[((risos))]
MY 95[acho que hoje a gente já se impõe né?]
MB então toda toda (tudo quanto é) parte da vida (vo)cê vai tê(r)
barreiras (vo)cê vai tê(r) que se impô(r) mano... e o cara que vem da
favela tem que se impô(r) o tempo todo... o tempo todo...tem que se
impô(r) mano... desd’o:: vizinho do lado (vo)cê tem que se
impô(r)...(vo)cê briga por/(porque) tudo é questão de sobrevivência
ANEXO 2: Transcrição do Programa Manos e Minas
Programa Manos e Minas exibido em 23/08/09
Situação Comunicativa
Participantes
Participantes
Falas dos participantes
Auditório
Thaíde = TH
TH
PL
TH
PL
TH
PL
TH
PL
TH
PL
TH
PL
TH
PL
TH
PL
TH
PL
TH
PL
TH
PL
TH
PL
TH
PL
TH
PL
TH
((vinheta de abertura o programa)) 1[e aí rapaziada como é que (es)tá? e aí
FNJ vamo(s) chegá(r)]
1
[((música, gritos, palmas, assobios))]
então é mano
((música, gritos, palmas, assobios)) é mina é mano é mina é mano é mina
diz
é mano
diz
é mina
diz
é mano
2
[é isso aí]
2
[é mina]
3
[é isso aí]
3
[é mano]
4
[vamo(s) que vamo(s)]
4
[é mina]
5
[me diz aí]
5
[é mano]
6
[com’é que é]
6
[é mina]
7
[mais uma vez]
7
[é mano... é mina]
8
[é isso aí rapaziada]
8
[ ((palmas, assobios, gritos))]
Manos e Minas mais uma vez no ar com vocês que estão aqui e também
com vocês que estão aí em casa...comigo o time de sempre DJ Erick Jey...
nas quadradas...palmas pra ele 9[porque ele merece]
9
[((palmas, assobios, gritos))]
TH
os biboys Kocada e Catatau estão desse lado 10[palmas
pra eles]
10
PL
[((palmas, assobios, gritos))]
TH
Sil e Ana P desse lado palmas pra 11[elas]
11
PL
[((palmas, assobios, gritos))]
o grafiteiro que (es)tá aqui hoje no Manos e Minas como nosso convidado
de honra é o Guilherme Matsumoto...palma(s) pra ele rapaziada
12
[((palmas, assobios, gritos))
12
[ele é mais] conhecido como GuI...vamo(s) dá(r) uma olhada no RG do
grafite(i)ro aí ((corte de imagem: mostra-se o RG do grafiteiro com
informações escritas sobre ele)) ((mostram-se os quadros do programa em
VT)) o Manos e Minas de hoje (es)tá todo musical...nós vamo(s)
mostrá(r) para vocês...alguns colecionadores de boombox...aqueles super
rádios que os dançarinos de break levam pra rua pra se divertir...no
quadro interferência Ferréz conversa com o fanzineiro Hamilton
Tadeu...muito interessante...KLJ um dos principais DJs do Brasil faiz
quarenta anos... e o Manos e Minas foi na festa... ((acaba-se a imagem no
PL
TH
PL
TH
PL
TH
PL
TH
TH
PL
TH
VT e a volta-se à imagem para o auditório)) e vô(u) falá(r) de vocês
agora...posso falá(r) de vocês? eu posso falá(r)?
13
[((palmas, assobios, gritos))]
13
TH
[posso?... não se num pudé(r) tudo bem eu posso?]
PL
((palmas, assobios, gritos))
então (es)tá bom...vô(u) falá(r) de vocês agora hein...se liga aê
rapaziada...programa escola da família Ari Jorge Guarulhos
14
[Norte...cadê?]
14
[((palmas, assobios, gritos))]
TH
Escola da (inint.) 15[no Jardim Ângela]
15
PL
[((palmas, assobios, gritos))]
TH
hip hop em ação de São José do::s 16[Campos e
Guaratinguetá]
16
PL
[((palmas, assobios, gritos))]
TH
Periferia Faz... de Cotia... cadê a 17[rapaziada?]
17
PL
[((palmas, assobios, gritos))]
vocês estão aí:: escola estadual professor Carlos Eduardo 18[Matarazzo
Carreira de Itapetininga]
18
[((palmas, assobios, gritos))]
caramba (vo)cês (es)tão que (es)tão hoje com a corda toda hein
rapaziada...vô(u) falá(r) pra vocês...olha... é com muito respeito que eu
vô(u) apresentá(r) aqui agora um peso pesado do rap brasileiro...com
(muito) respeito...e muito barulho e muito barulho por favor 19[cadê o
barulho de vocês... mais barulho mais barulho... 20[SNJ no palco do
Manos e Minas...é com vocês]]
19
[((palmas, assobios, gritos))]
20
BA
[o::] ((apresentação musical: 38’16-42’29))
SNJ 21[com vocês... aqui no Manos e Minas... 22[já já]]
PL
AL
TH
PL
com vocês agora Tsunami All Stars Kokada e Catatau... é só chegá(r)...DJ
Erck Jey é com você...vamo(s) que vamo(s) ((vinheta, apresentação de
dança: 42’48-43’28)) 24[Kokada e Catatau no Manos e Minas...Tsunami
All Stars]
24
[((palmas, assobios, gritos))]
25
[vamo(s) pr’um rápido intervalo..já já a gente volta...VAMO(s) QUE
VAMO(s)... é isso aê
PL
TH
mais daqui... nossa senhora... é com vocês meninas ((Apresentação de
dança: 45’48-46’20)) Bastardo eu (es)tô(u) aqui perto de você porque
agora eu vô(u) tratá(r) de um assunto...que realmente me emociona...e eu
(es)tô(u) nervoso pra falá(r) sobre esse assunto...é que aqui hoje tem uma
turma...de colecionadores de boombox...certo?...que são aqueles rádios
gravadores enormes que é...sem dúvida nenhuma o grande símbolo da
cultura hip hop...e eles... lógico eles (es)tão batalhando pra conseguí(r)
uma sede aonde eles vão juntá(r) as coleções...trocá(r) idéias...sobre
informações sobre novos modelos e tudo mais...(vo)cê (es)tá
entendendo?...eles ainda não têm essa sede...mais se dependê(r) de mim
com certeza...isso vai acontecê(r) logo mais...vamos vê(r) agora essa
história dos colecionadores... de rádios boombox...vamo(s) vê(r) junto aê
Situação Comunicativa
Participantes
Participantes
Falas dos participantes
Reportagem sobre Boombox
Thaíde = TH
TH
TH
RG
TH
RG
TH
RG
TH
RG
RG
TH
RG
jardim Novo Horizonte...nós viemos aqui conversá(r) com uma turma que
coleciona boombox...você não sabe o que é boombox?...legal...porque
agora...você vai sabê(r)...vamo(s) lá ((exibição de uma sala cheia de
boombox)) cara eu vô(u) dizê(r) uma coisa eu num sei nem pra que lado
olhá(r) de tanto rádio que tem nessa sala aqui...agora qual foi seu primeiro
rádio quanto tempo faiz isso?... e qual foi seu primeiro rádio?
RG bom me/minha paixão pelos rádios vem desde que eu conheci a
cultura hip hop mais meu primeiro rádio...como colecionador quando eu
decidi colecioná(r) foi justamente o PA oitocentos e cinquenta mais
infelizmente ele não está aqui ((corte de imagem: vídeo-clip)) ((ao som da
música)) na medida que o rádio...é:: começô(u) a sê(r) utilizados pelas
pelas pelos movimentos pelas tribos urbanas... entendeu? então ele
começô(u) a ganhá(r)... um novo formato...com uma com cores luzes né?
mais porque se caracterizou tanto com o break? porque... o boombox era a
ferramenta de trabalho do b-boy... sem o boombox não tinha música sem
a música não tinha como fazê(r) aquela seção de break nas esquinas
((corte de imagem: exibição de dançarinos de break)) ((Imagem com a
pergunta: Mas o que é um boombox?)) box 1[box]
1
[é uma caixa]
RG
se for traduzí(r) pro português é uma caixa 2[né?]
2
TH
[certo]
o boom é justamente pelo ruído que saía dessa caixa então boombox
3
[entendeu?]
3
[certo]
agora existem vários outros termos é:: é::gettho gettho blaster como eles
usa/chamavam em Nova York na década de oitenta...só que assim é:: o::
mais tradicional é box caixa né?
é
nós nós até usamos entre nós nós usamos o termo rádio((exibição dos
boombox colecionados)) cada rádio aqui ó ((aponta com o dedo)) tem
uma história...eu encontrei esse rádio aqui por exemplo ((aponta um
rádio))...n’um n’um bar...e eu fiquei...fiquei negociando com a dona do
bar cerca de um MÊS E MEIO pra convecê(r) ela a me vendê(r) e ele
(es)tava cheio de gordura...(es)tava perto ali da chapa...e eu tive até que
comprá(r) removedor de gordura pra limpá(r) ele
você salvô(u) esse rádio?
é salvei (es)tá aqui agora ((exibição dos rádios colecionados))
4
[(vô(u)mostrá(r) pra ele)]
TH 4[você acredita] que eu perdi um box dentro de um ônibus de viagem
vindo de Brasília?
5
[(vo)cê tá brincan(d)o véio]
5
[(vindo) de Brasília]...sim senhor...inclusive o senhor DJ Hum foi a
pessoa que estava usando o rádio e deixô(u) lá...esqueceu... o
rádio...6[mas tudo bem]
6
[vem cá Foley]
FO
DJ Hum
RG
DJ Hum dá uma idéia no DJ Hum
FO
RG
TH
RG
TH
RO
DA
FO
olha
RG
mostra pra ele a seriedade do que ele fez
(vo)cê num sabe o quanto a gente rala prá achá(r) um rádio e de repente
você me esquece um desse dentro do ônibus cara
7
[você (es)tá ficando lo(u)co cara]
7
TH
[(inint.)]
FI
se eu fosse o Thaíde eu pegava um disco seu 8[mais
raro]
8
TH
[((ri))]
FO
e deixava também dentro do ônibus ((corte de
imagem: vídeo clip))
eu num vim aqui fazê(r) essa matéria...só porque eu achei interessante
inteligente e tudo mais também tem um outro propósito...eu tenho um
rádio box...que é minha paixão...minha paixão realmente eu não vendo
num empresto qué(r) dizê(r) empresto eu empresto mais...devolve rápido
((risos))...e eu gostaria de:: sabê(r) se vocês podem me ajudá(r) a deixá-lo
ele em deixá(r) ele novo porque ele (es)tá caidinho
RG já buscamos na internet e já localizamos o modelo...é esse modelo
que (vo)cê tem num é isso?
TH é esse modelo mais você:: (vo)cê já sabe que ele num é desse
tamanho...vamo(s) fazê(r) o seguinte eu vô(u) pegá(r) o rádio...(vo)cê
pode esperá(r) aqui um minutinho?
a gente pode esperar
é rapidinho (es)pera aí ((corte de imagem rápida, como indicativo de
mudança)) esse é o meu rádio box ((segurando o rádio)) rapaziada num
sô(u) comédia não...e eu trouxe ele((risos)) pode chorá(r) pode chorá(r)
eu deixo...pois é esse é o meu rádio...o meu filho...adoro esse rádio...ele
tem muitas histórias comigo...ganhei de/quem me deu de presente esse
rádio foi o... o grande Nazi meu irmão muito obrigado...está aqui inteiro
ainda e a gente vai reformar esse rádio ((sai da casa e recebe os outros
colecionadores de boombox que vieram de carro)) grande Rooney((dá a
mão))...e aí Danone? ((entram na casa, segurando vários rádios
boombox))
RG vô(u) fazê(r) o seguinte...foi lançado um desafio pra nós...nós vamos
restaurá(r) esse rádio e vamo(s) devolvê(r) esse rádio pro pro
Thaíde...9[no programa Manos e Minas]
9
[devolvê(r)?]
10
RG
[é]
10
TH
[devolvê(r)] sim senhor
RG
foi difícil falá(r) devolvê(r) 11[foi difícil]
11
[o o] desafio de arrumá(r) beleza ma(i)s o lance de devolvê(r) aí é um
desafio me(s)mo
FO se você tem um rádio aí em casa e eu acho que (inint) ele ficaria
muito bem... aqui na nossa coleção nós aceitamos é só enviar pra nós nós
vamos cuidar dele com muito carinho
TH inclusive eu faço dele minhas as palavras porque se quisé(r) doá(r)
rádio para mim também...você sabe onde me encontrar não é verdade
Situação Comunicativa
Participantes
Participantes
Falas dos participantes
Auditório
Thaíde = TH
TH
TH
PL
TH
AL
TH
PL
TH
PL
TH
BA
TH
BA
realmente...eu tinha razão ou não tinha?
1
PL
[sim]
1
TH
[aliás] eu tenho razão na verdade né?
2
PL
[((gritos, palmas, assobios))]
2
[olha só...o rádio o meu rádio chegô(u) lá] numa tal situação...e essa
rapaziada essa turma de cole/colecionadores chamadas chamados
boombox estão aqui...com o meu rádio...vamos vê(r) o que aconteceu por
favor chega aqui chega aqui...eu quero já agradecê(r) e parabenizá(r)
vocês pela iniciativa criatividade de criar desenvolver uma turma de
colecionadores de boombox vocês merecem todos os aplausos dessa
3
[rapaziada aí]
3
[((gritos, palmas, assobios))]
3
AL
[valeu]
3
[e do Brasil inteiro] e do Brasil inteiro sem dúvida...deixa eu vê(r) esse
rádio pelo amor de Deus
vai lá Danone vai lá deix’eu í(r) lá também pra levantá(r) isso aí
TH
a situação dele (es)tava ruim...4[no::ssa]
4
PL
[((gritos, palmas, assobios))]
4
[não acredito]...falante vermelho mano...no::sssa falante vermelho cara
((abraça o rádio))
é::
((música)) esse som é dele?... esse som (es)tá saindo dele?...nas 5[palmas
todo mundo então porque é festa
PL 5[((palmas))] ((um dançarino de break faz uma apresentação)) ((ao
fim da apresentação)) 6[((gritos, palmas, assobios))]
TH 6[muito obrigado rapaziada sinceramente...de verdade]...a minha
emoção é tanta que:: eu estava...mais ou menos há uns três anos que eu
venho tentando arrumá(r) esse rádio... não confiei em ninguém teve muita
gente que pediu pra levá(r) o rádio pra podê(r) é:: pra podê(r) consertá(r)
eu não confiei mas em vocês eu confio...porque a gente é do tempo da
São Bento do começo de tudo ((dá a mão para os colecionadores)) muito
obrigado...boombox com vocês
7
[((gritos, palmas, assobios))]
7
[valeu]((dá um beijo na mão de um deles))...muito obrigado hein?...e
agora vamo(s) fazê(r) o seguinte cadê? ((troca de microfone))...a emoção
é tanta que (inint.) o deixa meu rádio aí pelo amor de Deus... não tira ele
daí deixa ele aí......pode ser?((ri e suspira))...eu quero já nossa é muito
rádio deixa um pra mim além do meu...Bastardo (vo)cê entendeu o que eu
quis dizê(r)?
com certeza
TH
você entendeu DJ?...entendeu a jogada?
AL
entendi lógico
só me resta pedi pra vocês por favor nesse clima manda mais um som pra
essa rapaziada que merece
com certeza
8
PL
[((gritos, palmas, assobios))]
BA
PL
TH
PL
BA
PL
BD
PL
TH
PL
TH
PL
TH
8
[vamo(s) sentí(r) a energia da galera aí]...e esse momento é um momento
especial pra gente Thaíde que a gente vai podê(r) dividí(r) esse palco aqui
humildemente falando com um grande parceiro nosso aí...eu vô(u)
chamá(r) esse parceiro aqui e quem conhecê(r) ele pode dá(r) um salva de
palmas mas quem não conhecê(r) pode chegá(r) junto Badauí CPM22
9
[((gritos, palmas, assobios))]
9
[chega Badauí...é:: Badauí na área rapaziada]
10
[((gritos, palmas, assobios))]
10
[é o rock e o rap na mesma sintonia mano::]
11
[((gritos, palmas, assobios))]
11
[boa noite a todos] ((apresentação musical: 55’55- 57’37))
12
[((gritos, palmas, assobios))]
12
[SNJ...juntamente com Badauí aqui no Manos e Minas...certo
rapaziada? daqui a pouco tem mais som hein?] obrigado pela presença
meu irmão vamo(s) pr’um rápido intervalo e já ja a gente volta vamo(s)
que vamo(s)
o som não pode (parar)
TH
certíssimo ((vinheta, comercial: 58’00-59’52, vinheta))
13
PL
[((gritos, palmas, assobios))]
TH
((Thaíde levantando o boombox))13[o::]
PL
((gritos, palmas, assobios))
pode crê(r) rapaziada é nesse clima chegando com o meu boombox...que
eu...retorno depois desse rápido intervalo com o Manos e Minas...certo
rapaiz?...Eric Jay tri-campeão brasileiro de DJ palmas pra ele 14[porque
ele merece]
14
[((gritos, palmas, assobios))]
agora de(i)xa eu falá(r) uma parada pra vocês que também é muito
interessante ((vinheta))
Situação Comunicativa
Participantes
Festa de aniversário do DJ KLJ
DJ KLJ = DJ
Participantes
Falas dos participantes
DJ
TH
DJ
quis trazê(r) os caras os DJ da velha guarda... que:: foram minha
inspiração também ((corte de imagem: mostram-se os DJs convidados))
CE grande responsabilidade tocá(r) numa festa de quarenta anos DJ KLJ
((corte de imagem: mostra-se o DJ KLJ tocando na festa))
DJ eu sempre gostei de música eu sempre tive um instinto pela música...
e desde novinho eu ouvia rádio né ouvia música que tocava no Anhembi
aí meu pai tinha um rádio aí fui lá tinha sequências (inint.)...pus meu FM
e descobri o funk era anos oitenta ((corte de imagem: mostra-se o DJ KLJ
tocando na festa)) mais também tinha muita festa em casa né? as
pessoa(s) se reuniam cada um levava o seu som.. é montava um negócio
no quarto as pessoas ficavam no/na sala aí eu ficava olhando pelo buraco
da fechadura se as pessoa(s) (es)tava gostan(d)o ((corte de imagem:
mostra-se o DJ KLJ tocando na festa)) meu pai coitado do meu pai me
ajudô(u) pra mim comprá(r) meu primeiro mix um Gemili eu tenho até
hoje... um Gemili que o Cash Money usô(u)((corte de imagem: mostra-se
o DJ KLJ tocando na festa)) as inspirações foram muitas((corte de
imagem: mostram-se as fotos dos Racionais Mc’s, do Ice Blue e do Edy
Rock))Edy Rock foi o cara que me ensinô(u) a a a mixá(r) ((corte de
imagem: mostra-se o DJ KLJ tocando na festa)) é desesperador fui fazê(r)
scratch pulô(u) o disco ((põe a mão na cabeça)) eu falei (inint.)
1
[sai do baile sai do baile]
1
[sai do baile é isso]((corte de imagem: mostram-se as fotos de pessoas
vaiando e o som de vaia)) aí o Ninja não liga pros cara(s) volta o disco e
solta e eu sô(u) muito grato a ele até hoje por causa disso ((corte de
imagem: mostra-se o DJ KLJ tocando na festa)) talvez a a minha carreira
podia ter acabado ali ((corte de imagem: mostra-se o DJ KLJ tocando na
festa))
GM ((em outro ambiente))na realidade não era essa coisa glamorosa que
era hoque que é hoje...era muita dedicação...pouca grana...é e muita
ralação ((corte de imagem: mostram-se fotos de uma Kombi))
SI ((em outro ambiente))primeiro show do Racionais que a gente
feiz...ham a gente foi embora tudo junto numa Kombi velho imagina
umas doze pessoas dentro de uma ko::mbi ((corte de imagem: mostram-se
fotos de uma Kombi))
GM e quando eu conheci o Kléber ele...estava co/classificado pra final de
MC e e faltava um disco pra ele fazê(r) a performance né...feiz uma
belíssima apresentação...me devolveu o disco intacto...e eu devolvi na
caixa da Chico Show e essa história eles num sabe até hoje qué(r) dizê(r)
eles (es)tão sabendo agora que a gente (es)tá contando aqui
BE ((em outro ambiente) (inint.) na época em que o KLJ ainda dançava
break ainda pô dançava estilo e/etiópia né?((corte de imagem: mostra-se o
DJ KLJ dançando)) ele vai lembrá(r) vai passá(r) pr’os nossos filhos pr’os
nossos netos sucessivamente assim né?
TH agora se você não fosse o KLJ DJ do Racionais MCs ou
simplesmente não fosse KLJ o que você gostaria de ser
profissionalmente?
AL
DJ
DJ ((ri))astrólogo ou ou sei lá sê(r) sê(r) um chefe de alguma cozinha
vegetariana aí ((ele vai até a cozinha))
Kléber onde a gente (es)tá indo?
(es)tamo(s) indo (es)tamo(s) indo cortá(r) os primeiro pedaço de bolo... o
bolo chama bolo da Índia...sensacional ((faz um gesto de delicioso))
SI ((na cozinha))((ri)) por isso que a gente está aqui inclusive...porque o
bolo (es)tá guardado aqui a gente (es)tá por aqui só esperando
DJ quero é contribuí(r) por muito tempo ainda pra cultura hip-hop
né((corte de imagem: mostram-se fotos de uma Kombi e depois o
“Parabéns a você)) ((vinheta))
Situação Comunicativa
Participantes
Participantes
Falas dos participantes
Auditório
Thaíde = TH
TH
BA
TH
BA
PL
TH
TH
BA
é o seguinte...quem está ali agora é o Gui... que é designer gráfico
trabalha com isso já tem até prestô(u) serviços aí pra São Paulo Fashion
Week...vamos ver o...RG do grafite(i)ro ((vinheta)) eu vô(u) conversá(r)
agora com essa rapaziada que (es)tá aqui eu gostaria de chamá(r) o DJ
Alma mais conhecido como Djalma pra nos acompanhá(r) nessa
conversa...eu quero e aí Bastardo tudo sobre controle ou não?
tranquilo ((dá a mão para Thaíde))
muito obrigado pela sua presença certo meu irmão...aí rapaziada esse aqui
sem dúvida nenhuma é um grande representante da música do hip-hop...
brasileiro...certo? grande Bastardo e toda a sua turma do SNJ
WJ Cris Trêmulo
1
[((palmas))]
1
[é o] seguinte co/a primeira vez que eu ouvi o SNJ eu (es)tava no meu
carro na avenida...é Santo Amaro...parei pra fazê(r) um lanche de repente
começô(u) uma música era época até que o Sombra fazia parte do projeto
e eu comecei a ouví(r) aquela música e achei que era uma música de
doido porque até então ninguém teve coragem e criatividade pra fazê(r)
uma música daquele jeito...certo? mesmo assim depois que o Sombra saiu
vocês continuaram com o estilo...próprio estilo único...como vocês
chegaram a esse estilo?
BA bom é como você frisou realmente é o Sombra...é:: pra quem ainda
não conhece é um dos fundadores desse projeto SNJ né...das/da
prime(i)ra formação é:: e naquele tempo a gente se juntô(u) né através
dele que foi o prime(i)ro integrante ele convidô(u)... a minha pessoa...
através de mim o WJ... é:: veio a participá(r) também do projeto
juntamente com a Cris e mais recentemente o Trêmulo... através da nossa
música a gente qué(r) entrá(r) desd’a cadeia até o show para um
condomínio fechado residencial e sempre levando a mesma mensagem...é
isso que faiz a gente sempre (es)tá diferencian(d)o
quais são os planos pro futuro do SNJ?
bom a gente (es)tá com um re/um CD aí que a gente lançô(u) nosso
último trabalho chamado a esperança é o alimento da alma...participações
legais como essa do do Badauí...é:: e outra rapaziada de peso tam(b)ém
é:: estamos trabalhando aí é com os pés no chão com toda a
tranquilidade...fazen(d)o po(u)co a po(u)co as nossas novas músicas
porque...o cara que escreve a pessoa que gosta de escrever sempre (es)tá
escreven(d)o algo novo né...aqui dentro do grupo também cada um tem
um projeto paralelo... ao grupo né...WJ tem um projeto dele a Cris o
Trêmulo eu tenho um projeto paralelo ao SNJ...é:: que::...algumas
músicas já vão estar começan(d)o rolá(r) esse ano ainda...a gente vai
(es)tá(r) disponibilizando em sites certo site do SNJ SJN sigla ponto com
ponto br...e bastardo SNJ ponto com ponto br ma(i)s é um projeto
paralelo ao SNJ e é um po(u)co futuramente
TH bom já que é um po(u)co futuramente vamos de música porque vocês
nasceram pra isso e eu (es)tô(u) ligado que é assim que funciona certo
rapaziada?
PL
TH
PL
TH
PL
TH
GU
TH
TH
TH
GU
TH
PL
TH
2
[((palmas, assobios, gritos))]
2
TH
[SNJ com vocês vamo(s) que vamo(s)]
3
PL
[((palmas, assobios, gritos))]
3
BA
[vamo(s)::]((apresentação
musical:
1’08’1601’10’34))
4
PL
[((palmas, assobios, gritos))]
4
[SNJ aqui no Manos e Minas quebrando tudo hein quebrando tudo... ((dá
a mão para os integrantes do grupo SNJ)) meu Deus do céu Ave Maria
vamo(s) pr’um rápido intervalo] e ja já a gente volta vamo(s) que vamo(s)
o show não pode (parar) 5[((palmas, assobios, gritos))]
5
[Ave Maria é isso ae] ((vinheta; comercial: 01’10’53- 01’11’53; vinheta;
dançarinos de break fazem uma apresentação))
6
[((música, palmas, assobios fracos))]
6
[é assim que tem que ser]... Manos e Minas voltô(u) depois de um rápido
intervalo e agora eu vô(u) aLI ...conversar com o Gui
7
[salve Thaíde beleza]
7
TH
[e aí com’é] que (vo)cê (es)tá tudo sobre controle ou
não?
GU
tranquilidade total né?
TH
muito obrigado aí rapaiz pela sua
8
GU
[satisfação é minha]
8
TH
[participação aí]
9
GU
[com certeza]
9
[é o seguinte] você é designer profissional...certo?...como você foi pro
grafite e o que... o grafite significa na sua vida?
GU o:: grafite apareceu na minha vida logo depois que eu (es)tava
terminan(d)o a faculdade...meu projeto de:: faculdade foi sobre grafite... e
a partir desde então meio que larguei o design gráfico (es)tô(u) mais pro
grafite me(s)mo
10
[(esse)]
10
GU
[que é muito vício]
muito bem parabéns esse grafite que você (es)tá fazendo aqui esse estilo
que você (es)tá apresentando aqui hoje
fazê(r) um personagem que eu faço tem um monte na rua aí
TH
ham ham
GU
e:: retrata o bando de lo(u)co que tem em São Paulo
entendi entendi (es)tá certo... esse é o Gui palmas pra ele porque ele
merece
11
[((palmas, assobios, gritos))]
11
GU
[valeu valeu valeu]
12
PL
[((palmas, assobios, gritos))]
12
[obrigado pela sua participação...certo? agora...co/ com quem que eu
falo?] com o Ribeiro ou com DJ Alma? pode ser o Ribeiro Ribeiro é o
seguinte...no quadro interferência...de hoje...o Ferréz foi conversar com
ele...e você ((com voz diferenciada, aponta para um lado))...você ((com
voz diferenciada, aponta para o outro lado)) e todos vocês (com voz
diferenciada)...vão poder saber quem é ((vinheta))
Situação Comunicativa
Participantes
Participantes
Falas dos participantes
Quadro Interferência
FE = Ferréz
FE
HT
FE
FE
FE
((vinheta de abertura do quadro com a identificação do local onde foi feita
a entrevista: Barraca do Saldanha, Capão Redondo, SP)) Hamilton... você
é nerd?
não cara...acho que não....pergunta inesperada meu
1
FE
[((ri))]
1
HT
[assim logo] de cara um negócio de ((vinheta))
Hamilton nessa geração que fica twitando passando MSN e tal...explica aí
o que é um fanzine pro pessoal que não sabe em casa
HT ó fanzine ao pé da letra seria fanatic magazine o fan vem de fanático
e o zine de magazine revista feita por fãs...se o cara curte Jornada nas
Estrelas ele vai lá e faz um fanzine sobre Jornada nas Estrelas se o cara
gosta de::...de:: cowboy vai fazê(r) um fanzine sobre cowboy e mocinhos
e bandidos se gosta de rock...pessoa vai e faiz ((corte de imagem:
mostram-se algumas revistas ))
FE porque o Hamilton não virô(u)um desenhista desses aí copistas dos
Estados Unidos que (es)tão indo pra lá mudá(r) de nome...porque você
resolveu fazê(r) uma edição brasileira com a sua cara com as suas idéias?
HT primeiro como::acho que como bom pecador que eu sô(u) sô(u)
preguiçoso ((corte de imagem)) tenho um problema terrível no
pescoço...fui fazê(r) uma besteira aí caí ((enquanto ele fala, aparece a
imagem de um cara pulando de cabeça)) de cabeça na piscina de ponta
cabeça em noventa e sete ((corte de imagem)) eu sô(u) um cara detalhista
gosto de Leonardo da Vinci Michelangelo Caravaggio...John Byrne Alan
Davis ((enquanto ele fala, aparecem as obras dos artistas citados))
de Caravaggio pra John Birne é um 2[trampo hein é um]
2
HT
[é]
e dentro do do mercado de hoje (vo)cê acha que há espaço pro seu
trampo?
HT tem um nicho não tem um quadrinho sobre heavy metal...eu fui lá
e::pensei na primeira...fui a segunda que lançô(u) ((corte de imagem:
mostra-se um vídeo com quadrinhos)) por exemplo eu criei os
personagens que ainda não consegui publicá(r) que de cunho social...tem
os X-man eu criei os ex((com pronúncia inglesa))-cluídos...tem o Mano X
que é da periferia...tem o anão tem o:: cadeirante...tem a:: mãe solteira
que é professora...uma coisa que eu quero fazê(r) mais de lance social
FE e você (es)tá seguin(d)o a linha da Marvel da DC só que ao contrário
eles pelo menos eles incentivam a indústria armamentista né? ...como que
é a gente sustentá(r) os super-heróis que na verdade patrocinam a guerra
né?
HT muita gente... cresceu lendo os quadrinhos norte-americanos como eu
você...naquela fantasia toda a gente com o tempo foi adquirin(d)o uma
certa consciência...teve o atentado do World Trend Center em dois mil e
um e:: mais de seis mil pessoas morreram...tem gente que pediu um
minuto de silêncio...por causa daquelas mortes mais... os Estados Unidos
matô(u) muita mais gente na guerra do Vietnam essa coisas...e a pessoa
não se toca a respeito disso né?...uma coisa que (es)tá maquiada se
acomodando
FE
FE
HT
FE
HT
AX
(vo)cê trabalha de quê pra sustentá(r) tudo isso?
HT
ah eu sei lá os parente(s) vão morrendo eu vô(u)
herdando
((ri)) ((corte de imagem: velório)) ((pegando cada revista)) essa daqui foi
a tia que morreu...essa daqui foi um primo
é
essa daqui foi uma madrasta ruim ((corte de imagem)) (vo)cê é
problemático? você é um cara ou as pessoas que são/que pegam no seu pé
que são problemáticas?
HT ah eu acho que todo mundo tem os seus problema(s) a gente a gente
não é entendido...o pessoal dá opinião na sua vida mas num para pra
pensá(r) num projeto da vida dele...ah tem muita gente porque (vo)cê num
escreve um livro eu conto história pra caramba eu sô(u) um Forrest Gump
lá do Cambuci...às vezes (vo)cê eu vou num lugar esse lugar me abre
alguma porta...e eu começo a criar teorias em cima daquilo...meu
universo acaba criando um outro universo em cima de um negocinho de
nada que eu li
FE você acha que o mundo virô(u) geek ou nerd porque... tudo os filmes
são baseados nos quadrinhos...né é as edições de luxo são pra
colecionadores
HT o mundo (es)tá muito ruim cara...num sei o que acontece no trânsito
tam(b)ém sabe a minha teoria é que tem muito carro hoje na rua... e a
maio/tem muito motor ligado...tem um campo eletromagnético maior...e
isso afeta o cérebro...assim como tem muito celular muito
computador...isso daí de certa forma:: afeta o cérebro e o raciocínio das
pessoas
FE esse dias eu vi no trânsito uma frase assim ““nós somos escravos do
trânsito””... estranho né com’é que um cara pode ser escravo d’uma
situação que ele criou né?
HT o homem mesmo agora agride a natureza com progresso né? o
progresso agora acaba sendo regresso
CA ((corte de imagem: em um local aberto do Jardim Novo Horizonte,
Casulo cita um poema)) mananciais...as lágrimas que brotam do choro
das serras...se multiplicam na queda...escorrendo muito até descansar na
cacimba...que riacha a floresta pra nutri o black power vegetal da
terra...porque amar a natureza é preservar a fauna e a flora contra a
calvície do planeta
FE ((volta ao cenário inicial da entrevista)) você é um cara que reclama
mas você corre
3
[sim]
3
FE
[né] é dois é o R e o C né
((próximo Quadro Interferências)) eu sempre fui sonhador e é isso que me
mantem vivo quando pivete meu sonho era ser jogador de futebol ó vai
vendo
FE ((volta à entrevista com Hamilton, já com os créditos aparecendo))
qual a diferença de um cara que é correria me(s)mo sem apoio nada ele
vai lá e faiz e do cara que fica a vida toda ““eu não tive uma chance””?
FE
HT a questão é perseverança...é legal essa coisa do (vo)cê não ficá(r)
acomodado sabe...porque eu vô(u) fazê(r) isso pra tê(r) mais sabe num
adianta tê(r) você qué sempre mais sabe...parece que eu tenho até perfil
de super vilão 4[quero as coisa(s) mais acabo no final perdendo uma coisa
ou outra]
4
[((ri))]
Situação Comunicativa
Participantes
Participantes
Falas dos participantes
Auditório
Plateia = PL
PL
FE
PL
TH
PL
TH
PL
TH
PL
TH
PL
TH
PL
BA
1
[((aplausos, assobios))]
[bom...eu tenho que dizê(r) a vocês]...não num posso fazê(r) isso
não...você ((aponta para o convidado)) por favor chega aqui temos aqui
um presente...eu já ia chamá(r) o final do programa mais eu num posso
fazer isso antes de conversar com essa pessoa...como é que vai tudo
bem?((aperta a mão do convidado que vem da plateia))...vamo(s) fica
aqui ó ((puxa o convidado para trás))...i::sso... tudo certo com você?
CO tudo certo...é:: o projeto::Periferia Faiz do Jardim Petrópolis 2[Cotia
tá presentean(d)o o programa...e dan(d)o os parabéns por um ano...de
prog(r)ama Manos e Minas... em nome de todos da comunidade lá da
nossa cidade Cotia (es)tamo(s) dan(d)o esse presente pra você e pra todos
que fazem parte do Manos e Minas parabéns] ((entrega um quadro para
Thaíde com o nome do programa e a foto de Thaíde))
2
[((palmas, gritos, assobios))]
3
[((pega o quadro)) muito obrigado rapaziada ó que beleza...olha só que
beleza...bonito demais...eu agradeço] eu gostaria que (vo)cê falasse o
nome daquele len-dário grupo de rap que você faiz parte
3
[((palmas, gritos, assobios))]
CO
Caveiras do Rap
temos que contá(r) a história qualquer dia hein? ((abraça o convidado))
4
[((palmas, gritos, assobios))]
4
[palmas pra ele aí e pra toda rapaziada da área dele que merece...olha que
coisa maravilhosa...mais um pra coleção muito obrigado]...é aí que tô/que
(es)tá o negócio né trabalhá(r) com pessoas competentes
profissionais...pessoas que entende(m) do assunto é:: a:: gente só tem esse
resultado...resultado positivo uma galera uma plateia inteligente... que
sabe se comportá(r) e sabe se divertí(r) e uma equipe totalmente
profissional com artistas ((mostra o grupo de rap no palco)) do mais alto
gabarito...palmas 5[pra nóis porque nóis merecemos certo... Manos e
Minas está chegando ao seu final...é chegando ao final mais só hoje
sábado que vem]
5
[((palmas, gritos, assobios))]
estaremos de volta às sete da noite com reprise a uma e meia da manhã...
logicamente de sábado para domingo e se quisé(r) mandá(r) sugestões
elogios xingá(r) sei lá fazê(r) qualquer coisa pode mandá(r) manda pro
manos e minas arroba teve cultura 6[ponto com ponto BR rapaziada...bi
box muito obrigado por restaurar o meu rádio muito obrigado de
verdade...certo? SNJ...eu posso pedí(r) pra vocês...tocá(r) mais uma pra
gente no bom sentido é claro?]
6
[((palmas, gritos, assobios))]
BA
claro
então vamo(s) que (vamo(s) que o som num pode pará(r) 7[muito barulho
pra SNJ que eles merecem
7
[((palmas, gritos, assobios))]
7
[esse som aqui....a gente qué(r) dedicá(r)...pra todos os cantos do Brasil
onde a gente já passô(u)...e a todas as pessoas que a gente já visito(u)
certo manO?]
1
TH
PL
PL 7[((palmas, gritos, assobios))] ((apresentação musical: 1’20’201’26’05))
8
[SNJ com vocês]
8
[((palmas,
gritos,
assobios))
O texto de 2002 é assinado pelo Grupo Organização Textual-Interativa do PGPF: Clélia Cândida Abreu
Spinardi Jubran, Mercedes Sanfelice Risso, Hudnilson Urbano, Leonor Lopes Fávero, Ingedore Grunfeld
Villaça Koch, Luiz Antônio Marcuschi, Luiz Carlos Travaglia, Maria Célia Pérez de Souza e Silva, Maria
Lúcia Victorio de Oliveira Andrade, Zilda Gaspar Oliveira de Aquino, Maria do Carmo de Oliveira Turchiari
Santos; já o de 2006 é assinado pela professora Clélia Cândida Abreu Spinardi Jubran.
Jubran et al. (1992) escolheram um diálogo do projeto Nurc (D2-SP-360), “que se desenvolve entre duas
informantes, na presença de uma documentadora, cuja função é a de provocar a fala das entrevistadas com a
proposição de temas, efetuada mediante perguntas ou comentários rápidos” (Jubran et al., 2002, p. 342).
Nossa metodologia se baseia em Jubran et al. (2002) e Jubran (2006).
A fim de demonstrar que está prestando atenção na fala do outro, uma pessoa pode emitir o
que Maynard (1980, p. 269) denomina “minimal utterances” ou “elocuções mínimas”,
normalmente realizadas por meio de indicações vocais, como “hum-hum”, em português,
ou por meio do olhar ou de acenos com a cabeça. Outros autores, como Duncan (1972),
denominam esse recurso como backchannel.
Estamos nos referindo tanto aos dois programas “Manos e Minas” quanto ao corpus da presente pesquisa.
PAGE 5
PAGE \* MERGEFORMAT47
Qualidades e defeitos do ser humano
Humildade x arrogância
Comentá-rios sobre si mesmo
Definição de pobreza
Crítica sobre tratar o playboy com arrogância
Crítica sobre a ostentação de bens materiais
Sinceri-dade
Ter a proteção de Deus
Fama
Solidão
Crítica sobre a situação da favela
Definição de sabedoria
Honra de receber o prêmio
Falha de não estar sempre presente
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
11
13
12
Documentário
Descrição do contexto
História da vida de um ladrão
Apresenta-ção geral
Favela
Casa de detenção
Linguagem dos ladrões
Gostos do ladrão
Assas-sinatos cometidos pelo ladrão
Fama do ladrão
Amigos do ladrão
1
6
7
8
2
3
4
5
9
10
11
Sonho
Sonhar em estar preso
Rap brasileiro
Principal tema: realidade da periferia
Visão da sociedade sobre os grupos de rap
Visão dos rappers sobre o rap brasileiro
Qualida-des
Defeitos
Rap na mídia
Futuro do rap
Crime/ violência, trabalha-dor, ladrão, pobreza, playboy de favela
Grupo de rap como elite
Ser elite x viver como elite
Grupo de rap como partido político
Obrigação de dar por ter ganhado dinheiro
Não reconhe-cimento do trabalho
Não submis-são do rapper ao crime
União pelo rap
Exemplo de vida para os morado-res da periferia
Aceita-ção ou não de crítica
Espelha-mento no rap america-no
Aliena-ção
Pobreza do rap
Presença na mídia do rap limpo (D2) e do rap america-no
Não mobiliza-ção da comuni-dade pelo rap nacional
Não ida do Racionais na TV
Neces-sidade de profis-sionaliza-ção
Neces-sidade de se fazer respeitar como rapper
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
11
12
Conflito entre os rappers e a mídia
13
14
15
16
17
18

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