Nós tentamos. Campanha presidencial de 2006

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Nós tentamos. Campanha presidencial de 2006
Sinfonia de uma nota só Em maio de 2005, o presidente do PDT, Carlos Lupi, veio conversar comigo no Senado. Trazia um convite para que eu ingressasse no seu partido. Depois de 15 anos de militância, sair do PT, único partido ao qual fui filiado -­‐ com exceção do meu tempo de estudante -­‐ me parecia um ato de infidelidade. Mas o presidente do PDT introduziu na conversa uma reflexão que eu já fazia, pessoalmente e em meus discursos: o PT tinha se tornado um partido conservador, sem vigor transformador, mais parecido com uma sigla do que com um partido. Seus militantes estavam se transformando em filiados, tendo o partido como meta e razão, o País e sua revolução estavam sendo esquecidos. Lupi destacou que o partido de Brizola mantinha acesa a chama da transformação social, colocando a educação como vetor dessa transformação. Continuava comprometido com os trabalhadores e defendendo a nação brasileira. Lembrou também que em 1989 eu fizera campanha para Brizola, e apontou, na parede de meu gabinete, para a foto de Darcy Ribeiro que tenho há muitos anos comigo. Finalmente, disse que o PDT era um partido aberto, que carrega consigo seus princípios, adaptando-­‐os aos novos tempos. Vários meses se passariam, antes que eu desse o passo decisivo de mudar de partido. Antes, considerei seriamente manter-­‐me fiel à sigla que me elegera, apesar do seu conservadorismo, e optar por um mandato discreto, apagado; mergulhar até o final do mandato de senador, sem motivação para a militância, sem uma utopia para lutar por ela. Um senador fiel ao PT, mas morto-­‐vivo política e ideologicamente. Ficaria na sigla, mas e abandonaria o partido que defendia há 40 anos: a transformação da sociedade brasileira, pela educação. Aos poucos, evoluí para a idéia de trocar de sigla para continuar no partido no qual militava desde muito jovem, nos anos 60 -­‐ antes da própria fundação do PT, em 1980, e do meu ingresso nele, em 1990. Ajudou-­‐me nessa decisão uma conversa com meu irmão Sérgio. Quando lhe falei da minha opção pelo mergulho e afastamento, ele me respondeu que eu não tinha este direito: "Há 40 anos, começamos a fazer política em Recife. Daquela geração, parte se acomodou, outra ficou reacionária, alguns preferiram enriquecer, outros desapareceram. Você se manteve na luta, não mudou de lado e está tendo êxito, pois já foi governador, ministro, senador. E ainda tem anos pela frente". Senti-­‐me como um atleta que abandona a maratona no meio do percurso porque a camisa se rasgou, e as regras não permitem correr sem camisa. A alternativa é vestir outra com a mesma cor e continuar. Aquela conversa foi decisiva. Em setembro de 2005, filiei-­‐me ao PDT. Era a única possibilidade de retomar a defesa de uma revolução para derrubar o muro do atraso e o muro da desigualdade que amarram o Brasil. Não havia nenhum compromisso, da parte de Lupi ou de Manoel Dias, Secretário Geral do Partido, de que eu seria candidato à Presidência. A tendência do PDT, defendida por muitos dos seus líderes, era de não lançar candidato próprio, como acontecera em 2002. Por causa da lei da verticalização, a candidatura própria inviabilizava alianças na maior parte dos Estados e, sem elas, o PDT corria o sério risco de não eleger o número mínimo de deputados necessários para romper a cláusula de barreira. Uma candidatura presidencial, sem chance de chegar ao segundo turno, poderia ameaçar a existência plena do partido. Eu próprio manifestei diversas vezes minha dúvida sobre a conveniência da candidatura própria, pelo risco que ela representava. Mas Manoel Dias e Carlos Lupi insistiram: "sem candidato próprio podemos até romper a cláusula de barreira, mas o partido se dissolverá; sem uma bandeira nacional, a bancada será uma simples aglutinação de deputados ligados a lideranças locais de outros partidos". Estaríamos dando os mesmos passos que outros partidos sem unidade nacional: cresceríamos em número de deputados, mas cairíamos em termos de qualidade partidária e ideológica. Lupi ainda argumentava, dizendo que toda vez que Brizola foi candidato, a bancada aumentou, e sempre que ele não foi, a bancada diminuiu. Mas no tempo de Brizola, não havia verticalização, nem cláusula de barreira. Em 2006, o risco de fato existia: a candidatura própria era um risco para o PDT. Apesar disso, o partido optou por uma candidatura própria. Um gesto para o qual nenhum dos partidos menores teve ousadia. Os pedetistas se mostraram dispostos a sacrificar a eleição pelo princípio, a votação pela causa. Só então, abriu-­‐se o debate para escolher o candidato. Outros três pedetistas disputaram a indicação: Ronaldo Lessa, Jefferson Peres e Bautista Vidal. Posso ter ganhado o debate para ser o candidato, mas foram Carlos Lupi e Manoel Dias que lideraram o partido a optar pelo arriscado caminho do candidato próprio. No dia 19 de junho de 2006, no Rio de Janeiro, o PDT fez sua convenção e fui escolhido candidato. Começava ali uma campanha para enfrentar três candidatos já em ação há meses: dois deles lançados por partidos fortes, ambos vindos do populoso Estado de São Paulo, que tem quase 20 vezes mais eleitores do que o Distrito Federal, e uma terceira candidata de prestígio nacional, reconhecida pela firme defesa da moralidade e com um discurso capaz de atrair todos os descontentes. Minha candidatura era a de um partido pequeno e ainda traumatizado pela perda de Brizola, com 1% das intenções de votos, esnobada pela mídia e mesmo por alguns prefeitos e candidatos do PDT. Mas tinha no discurso uma causa, e um companheiro de chapa que era um dos grandes símbolos da política brasileira, o senador Jefferson Peres. Em 20 de junho de 2006, fiz o discurso que abre esta coleção, anunciando a candidatura. O segundo discurso foi feito em 2 de outubro, dia seguinte à eleição. Entre os dois, apresentei e divulguei um programa completo de governo, com o título "A revolução pela educação. Como fazer!". Com 10 capítulos, e propostas para enfrentar cada um dos problemas do Brasil: segurança pública, reforma política, inclusão social, saúde, previdência, política econômica, juros, reforma tributária, reforma agrária, crescimento e sustentabilidade, drogas e crime organizado, meio ambiente e Amazônia; mas apresentando a educação, a ciência e a tecnologia como os vetores a partir dos quais o futuro avançaria. O eixo central do programa era a idéia de que o Brasil precisa de uma revolução que passa pela educação: a garantia de escola com a mesma qualidade, em horário integral, para toda criança brasileira, com professores bem remunerados, dedicados e preparados. Uma escola para o filho do trabalhador tão boa quanto a escola do filho do patrão. O velho sonho de Brizola e Darcy. Para isso, o caminho seria federalizar a educação de base, com descentralização gerencial e liberdade pedagógica. Citei muitas vezes a semelhança entre as agências do Banco do Brasil e a desigualdade nas escolas, de uma cidade para outra, e até na mesma cidade, de um bairro para outro. Por trás dessa proposta havia uma concepção: o socialismo de hoje consiste no educacionismo. A igualdade não é mais de renda, mas de oportunidade. A utopia está na garantia da mesma chance: entre classes, pela educação; e entre gerações, pelo respeito ecológico. Educação e ecologia são os dois vetores de que o Brasil precisa para derrubar os muros que amarram seu futuro. Mas é a educação que fará as mudanças, que criará as bases para o desenvolvimento econômico, que acabará com a desigualdade e construirá a sustentabilidade ecológica. E fará nosso país ingressar na economia do conhecimento que caracterizará o século XXI, com avanço científico e tecnológico. Por isso, usamos o nome educacionismo para simbolizar nosso programa. Mas as duas pernas da revolução -­‐ educação e ecologia -­‐ não caminharão sem uma base de estabilidade na economia e na sociedade, na política e na justiça. As reformas necessárias nesses quatro setores são condições para consolidar o terreno da revolução educacional e ecológica. Além disso, três programas emergenciais deveriam enfrentar os problemas imediatos do Brasil: violência e insegurança, corrupção e impunidade, pobreza e desemprego. Esses foram os componentes do programa educacionista que carreguei por três meses. Foram apenas três meses de campanha, do que parecia uma sinfonia de uma nota só: um candidato vindo do menor colégio eleitoral, com pouco tempo de televisão e rádio, ignorado pela imprensa escrita, lançado depois de o terreno eleitoral estar ocupado por nomes do tamanho de Lula, Alckmin e Heloísa. Ao longo da caminhada, ouvi de muitos que não vota-­‐riam em mim porque não tinha chance; de outros, que não votariam porque Lula precisava ganhar no primeiro turno, ou Alckmin precisava chegar perto de Lula, ou porque o discurso da Heloísa era mais incisivo nas críticas. Mas ninguém contestou os propósitos de campanha. O resultado final foi uma votação de 2.538.844 eleitores, 2,5% do eleitorado. Eleitores que saíram de casa no dia 1º de outubro de 2006 para votar em um candidato sem chance de chegar ao segundo turno. Votaram mais na bandeira do que no candidato. Votaram com a consciência de que o Brasil precisa de uma revolução, e de que nos tempos de hoje ela deve assegurar a mesma chance entre classes e gerações, por uma doce revolução na educação e pela reorientação do modelo so-­‐cial, econômico e cultural em direção à sustentabilidade ecológica: uma revolução educacionista. Foi isto que tentamos em 2006; foi isto que conseguimos colocar na agenda nacional a partir de 2006; foi para isto que buscamos despertar o Brasil: para a idéia de que o futuro está em uma sinfonia com muitos acordes, um para cada problema nacional, mas todos baseados em uma nota só: a educação -­‐ a máxima qualidade educacional para o nosso povo, em escolas iguais, independentemente de renda, raça, cidade. Repetindo: escola igual para todos, a do filho do empregado igual à do filho do patrão. Foi o que nós, 2.538.844 brasileiros, tentamos no dia 1º de outubro de 2006. E continuamos tentando, como mostram estes discursos, especialmente o segundo, feito no dia seguinte à eleição, lançando o movimento "Educação Já!", e o terceiro, um ano depois, relatando o andamento da luta ao longo de 2007. Ainda é cedo para saber que repercussão e consequências nossa luta terá no futuro do nosso povo e do nosso país. O certo é que cada um de nós pode, hoje, dizer a todos os brasileiros: nós acreditamos que é possível, e tentamos mudar o Brasil! O PDT terá candidato Ontem, o PDT tomou uma decisão. Uma decisão extremamente difícil. Para se ter uma idéia, durante os debates, personalidades importantes do partido manifestaram posição contrária à decisão tomada. Personalidades como Alceu Collares, Matheus Schmidt, Jackson Lago, o próprio Senador Osmar Dias -­‐ que não estava presente, mas se manifestou -­‐, enfim, personalidades pelas quais todos nós temos o maior respeito, e orgulho de ter como companheiros. Por isso mesmo, tivemos de levar em conta a opinião de cada um. Pessoalmente, quero dizer que cheguei a considerar que eles estariam corretos, ao defender que o partido não tivesse candidato à Presidência da República. Seus argumentos eram fortes. Defendiam uma visão estratégica que, para eles, parecia melhor para o partido: a idéia de não ter candidato a Presidente, para, com isso, garantir a possibilidade de fazer coligações diferentes em cada Estado, o que tornaria mais fácil eleger governadores, ampliar nossas bancadas e vencer a cláusula de barreira. Entretanto, depois de forte disputa, os convencionais do partido decidiram, por imensa maioria, que devemos ter candidato próprio. Não foi uma decisão fácil. Foi arris-­‐cada, porque todas as regras feitas neste País são para que os partidos não sejam nacionais, mas sim regionais; para que, em cada Estado, o partido se comporte de maneira diferente; para que, em cada Estado, seja feita uma aliança diferente. As regras estão aí para isto: a verticalização e a cláusula de barreira. Tudo isso fez com que, no Brasil, o partido só tenha, de brasileiro, o nome. Na verdade, cada partido é estadual. O PDT decidiu romper com isso. Decidiu correr o risco de lançar um candidato com pouco tempo na televisão, com o apoio de poucos prefeitos, com uma pequena base parlamentar, e sabendo que o campo eleitoral já está delimitado entre dois fortes candidatos e uma candidata. Mas mesmo assim, ir em frente com a candidatura. Por quê? Porque achamos que está na hora de agir do ponto de vista eleitoral, tanto quanto do ponto de vista político e ideológico. Está na hora de acabar com a separação entre eleição, política e ideologia. Está na hora de evitar pensamentos como: "não tenho ideologia" ou "tenho uma ideologia, mas, na hora da eleição, ela não importa", ou ainda "tenho uma política, mas, na hora da eleição, eu a deixo de lado e faço alianças com quem tem políticas diferentes". O PDT chegou à conclusão de que vale a pena olhar lá na frente, correndo os riscos implícitos da eleição deste ano. Pensar no processo eleitoral com os olhos no futuro do país. E por que essa decisão, Senhor Presidente? Porque está na hora dos mais de 100 milhões de eleitores terem a chance de conhecer alternativas diferentes para o Brasil. É uma sorte para o Brasil ter uma candidata como Heloísa Helena para presidente. Porque Heloísa Helena vai trazer uma proposta nova, uma bandeira, vai trazer aquilo que o seu Partido, o PSOL, considera certo, correndo o risco de que muitos dos seus atuais parlamentares não sejam reeleitos, de que outros líderes não se elejam, de que ela própria, que teria um mandato consagrado, não retorne a esta Casa. Mas eles vão defender princípios, vão defender bandeiras. Eles, do PSOL, vão correr o risco. Chegamos à conclusão de que é preciso ter um discurso alternativo. Nem as propostas que -­‐ com o todo respeito, como já manifestei -­‐ a Senadora Heloísa Helena defende, e que a nosso ver estão muito além do que é possível hoje, nem aquele discurso parecido, que ouviremos tanto do candidato do PT quanto do candidato do PSDB e do PFL -­‐ com propostas presas ao presente, sem visão de longo prazo, restritas a "dar um jeitinho" na realidade que atravessamos, em vez de buscar as mudanças de que o Brasil precisa. Defendemos transformações profundas no Brasil, mas elas devem ser feitas com cuidado, sem rupturas bruscas. Defendemos que é preciso transformar com responsabilidade; construir uma sociedade diferente sem correr destruir tudo o que já foi feito. Alguém precisa dizer isso durante a campanha. Os jovens estão caindo na acomodação. Hoje, temo dizer que os jovens nem sequer esperam uma proposta alternativa. Seria ótimo que eles esperassem. Talvez eles nem dêem importância a propostas alternativas. Precisamos despertá-­‐los. Que pelo menos vingue a semente de que o Brasil pode mudar, daqui para frente. Não temos o direito de aceitar a acomodação, por isso decidimos lançar um candidato a Presidente, sabendo do risco que isso significa. Escolhemos o caminho mais difícil: ter candidatura própria e defender bandeiras que não estão sendo apresentadas pelos outros candidatos. Não temos o direito de esperar mais quatro anos para que essas propostas cheguem ao debate eleitoral. Tomamos a decisão arriscada de lançar candidato à Presidência, porque além de ouvirmos todos os que ali estavam -­‐ lideranças importantes contrárias à candidatura própria -­‐, nós, convencionais, pensamos também no que nos pediriam os 75 milhões de pobres excluídos, que vivem neste regime de apartheid social brasileiro. Eles pediriam que tivéssemos ou não candidato? Claro que eles iriam querer alguém que defendesse a abolição do apartheid social no Brasil. E não apenas a mera, monótona continuidade da República excludente iniciada em 1889, e continuada por todos os Presidente até hoje. Todos, sem exceção. Alguns com mais governabilidade, outros com mais responsabilidade, mas todos na monótona repetição de palavras, na manutenção do sistema social dividido da República, igual ao da Monarquia escravocrata. O que pediriam a nós os 15 milhões de analfabetos brasileiros adultos? Que abríssemos mão de uma candidatura para fazer alianças regionais, ou que mantivéssemos o arriscado desafio do candidato próprio? O que pediriam os quatro milhões de crianças que trabalham em vez de estudar, e os quarenta milhões que ou não estudam ou têm escola de péssima qualidade? O que pediria a classe média, desesperada por segurança, à espera não só de promessas de mais cadeias para hoje, mas também de mais escolas para reduzir violência no futuro? O povo brasileiro, se pudesse participar da Convenção do PDT, certamente pediria um candidato que trouxesse uma voz de esperança, sobretudo à juventude -­‐ uma voz que não discuta somente o superficial, mas também a ferrugem que corrói e emperra o bom funcionamento da nossa sociedade. Senadoras e senadores, não discutiremos apenas a podridão da superfície, que se vê na corrupção. Queremos discutir a ferrugem da estrutura social que impede o País de atravessar o século XXI como uma das nações ricas. A podridão da corrupção tem de ser limpa, mas é preciso também enfrentar e corrigir a ferrugem que está nos ossos da sociedade brasileira. Não queremos somente enfrentar a corrupção no comportamento dos políticos, mas também a corrupção nas prioridades das políticas no uso dos recursos públicos. Inspirado, sobretudo, por essa grande figura do nosso partido que aqui está, o Senador Jefferson Peres, vamos propor uma concertação nacional. Vamos propor que o País perceba que nenhum partido sozinho é capaz de governar; que nenhum Presidente é capaz de governar passando por cima dos partidos, ou ficando apenas com o seu. E que, como os partidos são quase todos pequenos, só há uma maneira de caminharmos: por meio de uma grande concertação, na linha do que fala o Senador Jefferson Peres há tantos meses nesta Casa, procurando construir um Brasil diferente, e não apenas corrigir os pequenos problemas. Não vamos trazer aqui o debate limitado aos "jeitinhos". Vamos trazer o debate de uma revolução -­‐ não uma revolução que destrua o que já foi feito, mas sim uma revolução que construa a partir do que já existe; não uma revolução que dê saltos para o futuro, nem tampouco uma proposta presa ao presente. Queremos, sim, uma revolução que olhe para o futuro e caminhe na sua direção, começando nos dias de hoje com as restrições, as limitações, as dificuldades que temos. Foi isso o que o PDT decidiu ontem, sabendo do risco que corre, mas consciente de que isso é o que o povo brasileiro precisa ouvir nos próximos meses. Uma revolução doce por meio de educação. A revolução que assegure a mesma chance, a cada brasileiro, independentemente da sua origem social e regional. A doce revolução da garantia de uma escola igual para todos -­‐ igual e com a máxima qualidade. A única revolução possível para derrubar o muro do atraso e o muro da desigualdade que emperram o Brasil. Esta foi a corajosa decisão do PDT para as eleições deste ano: oferecer ao eleitor brasileiro a chance de votar em um candidato que traga uma alternativa com vigor transformador. E quis o destino, a confiança e a generosidade dos meus correligionários que meu nome fosse o escolhido para carregar essa bandeira. Passo a palavra aos dois Senadores que pediram apartes: inicialmente, ao Senador Ramez Tebet; depois, ao Senador José Jorge. Aparte do Senador Ramez Tebet (PMDB-­‐MS) – Senador Cristovam Buarque, pedi o aparte para cumprimentar o PDT, uma vez que decidiu ter candidato, porque o partido vai ser muito bem representado às urnas, já que Vossa Excelência levará a mensagem ao povo brasileiro. Tenho certeza, pela convivência que temos aqui no Senado -­‐ conviver com Vossa Excelência é aprender sempre mais, e quero aprender, quero me imbuir de suas idéias, quero aceitá-­‐las, discuti-­‐las, quero discutir o que é bom para o País. Sei que Vossa Excelência vai ocupar o tempo de televisão, e vai para a praça pública, debater uma proposta para importante para o Brasil. Sei que Vossa Excelência tem uma alta predileção -­‐ todos nós temos, mas Vossa Excelência é, entre os Senadores, aquele que aborda melhor -­‐ por como deve ser a educação no nosso País. Sei que, além desse tema, Vossa Excelência trará outros, forçará o debate a respeito do futuro do nosso País. Tenho certeza de que, ao lançar a sua candidatura, Vossa Excelência honrará a confiança do seu Partido e fará uma grande campanha, porque vai defender idéias possíveis, projetos que possam ser realizados. Muito obrigado a Vossa Excelência. Que seja muito feliz na campanha. Parabéns ao PDT. Senador Cristovam Buarque (PDT-­‐DF) – Eu é que agradeço sua manifestação e concedo o aparte ao Senador José Jorge. Aparte do Senador José Jorge (PFL-­‐PE) – Meu caro Senador Cristovam, gostaria de dirigir minhas palavras aos convencionais do PDT. Acho que o PDT acertou em ter candidato próprio, porque, como Vossa Excelência sabe, a verticalização nos trouxe muita dificuldade para lançar candidatos nacionais, inclusive para fazer coligações. É preciso ter coragem para se coligar em nível nacional e para lançar candidato. E quero dizer que o partido de Vossa Excelência deu um segundo passo correto quando o escolheu para candidato, porque as condições que o PDT terá para fazer campanha serão difíceis, não terá muito tempo na televisão, nem uma grande estrutura política. Assim, Vossa Excelência é o candidato ideal, porque tem uma proposta simples. E essa proposta Vossa Excelência já a defende há muitos e muitos anos, quando foi Governador do Distrito Federal, e mesmo como intelectual, quando esteve sem mandato. Enfim, Vossa Excelência sempre defendeu coisas muito simples, como o investimento na educação e a preocupação com os mais pobres, porque, como Vossa Excelência diz, aboliram a escravatura, mas ela ainda existe. Qualquer um de nós conhece a proposta de Vossa Excelência, porque não é complexa, e porque o povo consegue entendê-­‐la. Acho que o PDT acertou duas vezes: quando resolveu ter candidato próprio e quando o escolheu, porque, para as condições que o partido terá, Vossa Excelência é o candidato ideal. Com pouco tempo e pouca estrutura, fará chegar sua proposta a todos os rincões do País. Sem dúvida, terá muito apoio e dará uma grande contribuição para elevar o nível da campanha. Meus parabéns, ao PDT principalmente, mas também a Vossa Excelência. Senador Cristovam Buarque (PDT-­‐DF) – Senador José Jorge, agradeço a referência ao PDT, mas, na segunda parte do seu aparte, quando se refere a mim, sua afirmação fica sob suspeita, por causa da velha amizade que temos, desde a Escola de Engenharia de Pernambuco. Eu a recebo com muito prazer, como colega hoje e como amigo de tanto tempo. Concedo o aparte ao Senador Eduardo Azeredo. Aparte do Senador Eduardo Azeredo (PSDB-­‐MG) – Senador Cristovam Buarque, também quero cumprimentá-­‐lo por sua candidatura, lançada ontem. Vossa Excelência tem todos os predicados necessários e a formação para fazer uma campanha de alto nível, uma campanha que interesse ao Brasil. Evidentemente, como sou do PSDB, estarei com a candidatura de Geraldo Alckmin. Mas fico feliz em ver que a campanha se enriquece com a presença de Vossa Excelência. Sua presença trará para o debate uma causa fundamental: a questão da educação, causa que foi abraçada desde o início da sua vida pública e profissional. Pude testemunhar isso quando fomos colegas Governadores. Hoje, no Senado, testemunho mais uma vez sua luta permanente a favor da educação. Esse é um ponto que nos une, e espero que seja realmente muito discutido nessas eleições. Se houver debate de idéias e propostas exeqüíveis, será um bom momento para a população ficar mais politizada, sem a questão rasteira, que não interessa a ninguém. O bom é que tenhamos propostas, e isso Vossa Excelência tem de sobra. Desejo-­‐lhe felicidades, cumprimentando o PDT pelo lançamento da sua candidatura. Senador Cristovam Buarque (PDT-­‐DF) – Agradeço ao Senador Eduardo Azeredo, velho amigo. Concedo o aparte ao Senador Leonel Pavan. Aparte do Senador Leonel Pavan (PSDB-­‐SC) – Hoje podemos dizer que estas eleições tomam outro rumo, começam a ser discutidas por pessoas mais bem preparadas. Há Vossa Excelência, Heloísa Helena, Geraldo Alckmin e o próprio Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva. Todos têm condições de fazer um amplo debate, discutir projetos que tragam melhores condições de vida ao povo brasileiro. Eu venho do PDT, que tem uma história de trabalhismo, e acho que o partido acertou na escolha do seu nome. Mas gostaria que o PDT estivesse conosco, apoiando Geraldo Alckmin. Como não foi possível, em função da verticalização, o PDT lança um nome com reais chances de chegar ao segundo turno: foi Governador da capital federal, tem história, experiência, conhece o cheiro do povo, conhece os caminhos, e num debate, saberá defender o que é melhor para a sociedade brasileira. Fico feliz de saber que o glorioso PDT terá à sua frente, depois de Leonel Brizola, uma figura carismática, competente como Vossa Excelência. Senador Cristovam Buarque (PDT-­‐DF) – Muito obrigado, Senador Leonel Pavan. Quem tem o nome Leonel é pedetista em qualquer partido em que estiver. Concedo o aparte ao Senador Sérgio Guerra. Aparte do Senador Sérgio Guerra (PSDB-­‐PE) – Queria afirmar, como outros o fizeram hoje, os nossos melhores votos para uma boa campanha para Presidente da República. O povo de Pernambuco conhece o Senador Cristovam há muitos anos, sua coerência, sua capacidade de ser afirmativo sem ser agressivo. É um político que honra a vida pública brasileira, e entra numa luta difícil, por um partido pelo qual tenho imensa simpatia, com origem no trabalhismo, desenvolvido por Leonel Brizola, que abriga quadros de excelente qualidade. Essa campanha é desigual, pois reeleição e PT não combinam, senão no sentido do desequilíbrio, da disputa que não respeita regras, que não presta atenção que deveria ser a democracia no Brasil. O que está acontecendo hoje é uma deslavada propaganda oficial, que ocupa quase 80% do tempo de exposição dos candidatos com a figura do presidente da República. Os outros candidatos -­‐ Geraldo Alckmin, Cristovam Buarque e Heloísa Helena -­‐ ocuparão menos de 20% desse tempo. Todavia, a força dessa propaganda, a massificação dessa propaganda e a total e completa falta de responsabilidade, no sentido democrático, é algo que surpreende o Brasil e com o qual vai se confrontar o agora candidato Cristovam Buarque. Tenho certeza de que seu valor, sua inteligência, sua capacidade de argumentação e de convencimento farão esta eleição mais democrática. Sempre desejei uma composição do PSDB com o PDT, mas compreendo perfeitamente as razões do PDT para ter seu candidato. Meus votos são para que sua campanha seja a melhor e para que, no final, vença quem tenha mais capacidade de chegar aos brasileiros com palavra firme, com o exemplo da sua vida, sem contestações históricas como as que promove, diariamente, o Presidente Lula. Um candidato de 30 anos se transforma num Presidente diferente do candidato. Ao tomar posse, renuncia às convicções que subscreveu a vida toda. No Governo, produz a partidarização no mau sentido -­‐ com a chamada coligação da crise -­‐, de instituições que nunca antes tinham sido afetadas por interesses grupais, para a formação de um Governo que, em vez de fazer a reforma política, fez o "mensalão". E não fez reforma alguma da qual se possa tomar nota: nem reforma tributária, nem da Previdência, nem agrária, nem reforma nenhuma. Fez a política de sempre, com vícios ainda mais amplos e com uma ortodoxia nunca antes conhecida, em um consenso que mais ninguém hoje defende, nem o Fundo Monetário Internacional. Tenho a convicção de que vamos ter um grande candidato à Presidência da República. Senador Cristovam Buarque (PDT-­‐DF) – Agradeço ao Senador Sérgio Guerra os elogios que fez a mim, mas tenho de diminuí-­‐los, por causa da grande amizade que temos. Como com o Senador José Jorge, nos une uma amizade de décadas. Fico feliz por receber esses comentários de Vossa Excelência, que é coordenador da campanha de Geraldo Alckmin. Digo a Vossa Excelência e ao Senador José Jorge, candidato a Vice-­‐Presidente, que vejo em Geraldo Alckmin um homem honrado, que demonstrou muita competência gerencial. Não deixarei de reconhecer isso pelo fato de ser, como ele, um dos candidatos. Concedo um aparte ao Senador Pedro Simon. Aparte do Senador Pedro Simon (PMDB-­‐RS) – Amanhã é o segundo aniversário da morte do Dr. Brizola. Tenho certeza de que, onde estiver, ele estará feliz em ver Vossa Excelência disputando esse cargo. Sabemos todos que Brizola se esforçou para dar força a Lula. Na primeira eleição que Lula disputou, ele teve uma quantia insignificante de votos no primeiro turno, no Rio Grande do Sul. No segundo, com o apoio de Brizola, ele estourou com 80% dos votos no Rio Grande do Sul. O esforço que o Dr. Brizola fez para que Lula fosse adiante ficou no máximo de se candidatar a seu Vice-­‐Presidente. Ultimamente, o Dr. Brizola estava muito ácido e duro com a figura de Lula. Vou ser muito sincero. Eu discordava do Dr. Brizola. Achava que ele estava partindo para um combate que não traduzia a verdade. Não me parecia que Lula era aquilo que o Dr. Brizola falava. Hoje, vejo que era. Lamentavelmente, o Dr. Brizola tinha muito mais visão do que eu. E o que ele dizia que seria a candidatura de Lula, eleito Presidente, é o que está aí. Por isso, acredito que ele estaria muito feliz com Vossa Excelência candidato a Presidente. Não vejo como o nome de Vossa Excelência possa impedir que a cláusula de barreira seja atingida pelo PDT. Pelo contrário, Vossa Excelência tem todas as condições, junto com a Senadora Heloísa Helena, de dar uma tônica diferente a esta campanha. Para que não tenhamos apenas um monólogo -­‐ parece diálogo, mas não é -­‐ entre o PSDB e o PT, onde os quatro anos que aí estão são a continuação dos oito anos que já se foram. Vossa Excelência e a Senadora Heloísa Helena terão condições de apresentar uma pro-­‐posta à altura do povo brasileiro. Vossa Excelência é um grande intelectual. Lá de Pernambuco, na luta pela defesa das causas da democracia, com o nosso velho MDB, com Jarbas Vasconcelos, com Fernando Lyra, com Marco Maciel, com Miguel Arraes, veio para cá. No início da reconstrução da democracia, com Fernando Lyra, lá estava Vossa Excelência na chefia do gabinete. Vossa Excelência se preparava e preparava uma equipe de professores e de intelectuais, buscando a consolidação da democracia. Vossa Excelência terá uma grande responsabilidade. Grandes foram as qualidades do trabalhismo. Eu também vim de lá, não do PDT, porque, infelizmente, divergia do Dr. Brizola. Hoje, estou em um partido em cujo comando, à exceção do Presidente, há uma legião estrangeira que eu não sei o que quer. Fico a me perguntar se valeu a pena todo o esforço e toda a divergência. No velho PTB, estávamos lá com o maior de todos, que era Pasqualini... Eu digo a Vossa Excelência: releia Pasqualini antes da sua campanha. Meu querido Senador, não conheço no Brasil ninguém que tenha o alcance, a profundidade do social do querido e velho Alberto Pasqualini. Vossa Excelência tem a missão. O Dr. Brizola foi um grande líder, apaixonado. E tinha grandes sonhos para este País. É claro que o discurso e a bandeira de Vossa Excelência terão de ser atualizados num mundo onde querem que tudo seja uma unanimidade global, quando sabemos que essa unanimidade global não soma, não traz vantagens para países como o Brasil. Vossa Excelência haverá de levar consigo um grande contingente, um percentual impressionante que não aceita o que está aí, nem o PT, nem o PSDB. Vossa Excelência tem um caminho aberto pela sua capacidade, pela sua competência. Eu acredito que Vossa Excelência prestará um grande serviço a este País. Meu fraterno abraço, prezado companheiro. Senador Cristovam Buarque (PDT-­‐DF) – Muito obrigado, Senador Pedro Simon. Acho importante dizer que se o PMDB o tivesse escolhido como o candidato à Presidente, eu não estaria como candidato do PDT. Estaria junto com o senhor. Eu tentei 1 Fiz questão de me inscrever como primeiro orador neste retorno, passadas as eleições, para falar ao povo brasileiro e aos meus colegas senadores. Nestes três últimos meses, estive fora desta tribuna. Fiz questão de não vir à tribuna, apesar de as sessões terem continuado, porque estava em uma grande luta, uma luta que muito me honrou. Honrou-­‐me, em primeiro lugar, porque fui o primeiro candidato do PDT à Presidência da República, com exceção do nosso líder Leonel Brizola. Substituí-­‐lo é algo que honra profundamente qualquer pessoa. A mim especialmente, porque comecei a ouvir falar dele quando, ainda muito jovem, em Pernambuco, acompanhei sua luta pela legalidade. Depois, acompanhei ao seu lado a disputa presidencial em 1989. Acompanhei toda a sua vida de luta, como político de duas grandes bandeiras: a soberania nacional e a educação de nosso povo. Essa honra do privilégio que me foi oferecido pelo meu partido, o PDT, devo ao Presidente, Carlos Lupi; ao Secretário-­‐Geral, Manoel Dias; e a cada um dos militantes que discutiram conosco durante meses se deveríamos ou não ter candidato. Depois, se seria meu o nome. Tenho um débito com toda essa gente que apostou em termos um candidato e que me escolheu, cada um desses militantes que tiveram essa participação. Tenho um débito enorme também com uma figura histórica deste País, o Senador Jefferson Peres, que aceitou ser o Vice na minha chapa. Eu disse muitas vezes, e repito, que Jefferson Peres era um Vice do qual eu gostaria de ser o vice. Este é que é um bom Vice: aquele que nos orgulha se o Vice fôssemos nós e ele, o cabeça da chapa. Mas tenho gratidão, sobretudo, aos mais de 2,5 milhões de eleitores que ontem saíram de casa para votar no meu nome, no meu número. Essas pessoas não saíram apenas para votar em um nome e em um número. Posso dizer, com orgulho, que essas pessoas saíram para votar em uma causa, em uma causa da qual, durante meses, fui o portador. Pode-­‐ria ter sido qualquer outro escolhido pelo meu partido, mas o destino fez com que fosse eu o portador dessa causa: a causa que, podemos dizer, tem duas partes intimamente ligadas. A primeira é a idéia de que não há saída para o Brasil, a não ser por um processo muito mais radical do que os peque-­‐nos ajustes que costumam ser propostos pelos políticos que disputam eleições. Defendi, em nome da militância do meu partido e em nome desses 2,5 milhões de eleitores, a palavra revolução. Defendi a idéia de que o Brasil precisa fazer uma revolução. E outra coisa imbricada como causa, junto com essa revolução, é a idéia de que ela pode ser feita de maneira pacífica, tranqüila, doce, por meio da educação. 1
Discurso proferido no dia 20 de junho de 2006.
Não temos saída para fazer o Brasil dar um salto à frente, a não ser que tomemos a decisão, adiada há décadas e décadas -­‐ posso dizer há séculos -­‐ de derrubar dois muros que prendem o Brasil. O primeiro é o muro infame da desigualdade, com o qual já nos acostumamos, como se fosse normal. O Brasil é um país que insiste em ter como característica fundamental a desigualdade. Desigualdade que surgiu no nascimento do Brasil, separando brutalmente índios e europeus, não apenas pelo aspecto religioso, racial, cultural, mas também, e, sobretudo, pelo desprezo e pela maldade com que nossos índios foram tratados. E dizimados, num genocídio e etnocídio. A desigualdade se afirmou com o muro que separou durante 400 anos os negros e os brancos, os escravos e os homens livres deste País. Foram 400 anos de brutal perversidade, em um país construído graças ao repetido seqüestro de africanos trazidos para trabalhar e produzir, em benefício de uma minoria. As estatísticas dizem que, para cada duas toneladas de açúcar produzidas no Brasil, um negro africano morria, ou no trajeto até aqui, ou durante o trabalho brutal a que era submetido. Essa desigualdade não parou depois da Abolição da Escravatura. Embora não com a mesma explicitação do período em que separava brancos e negros, ela continuou separando os excluídos e os incluídos na modernidade. Continuou no País que fez uma República esquecendo-­‐se de construí-­‐la, porque a República manteve uma classe nobre separada da plebe. Mesmo quando todos podiam votar para escolher o Presidente, ainda estavam separados pelo analfabetismo de uns diante dos doutorados de outros; do consumo elevado de uns ante a miséria dos outros. Esta-­‐vam separados pela esperança de vida muito maior para uns, desde o nascimento, graças ao acesso desigual à qualidade de vida. O Brasil continua tão brutalmente dividido quanto foi durante o período colonial. Essa desigualdade não vai desaparecer com as promessas feitas durante todos estes anos. Prometemos Abolição; prometemos República; prometemos crescimento econômico. Mas a desigualdade insiste em dividir o nosso País, com um muro separando ricos de pobres. Só uma revolução pode derrubar esse muro. Durante anos dissemos que a revolução era o desenvolvimento, era o crescimento. E a renda cresceu e a riqueza aumentou, mas se concentrou. E assim como antes, continuamos dois Brasis brutalmente separados. Prometemos que a riqueza chegaria a todos; mas ela não chega, nem chegará, por meio de mecanismos puramente econômicos. Da mesma maneira, não conseguimos realizar o sonho prometido de nos tornarmos uma Nação desenvolvida, nos padrões dos países ricos. Dissemos que chegaríamos lá graças à economia. E não chegamos. Ao contrário, apesar de todo o sucesso do nosso crescimento, da nossa economia, o que vemos é um País cada vez mais distante daqueles que desenvolvem. Mesmo que uma parcela ascenda e supere os padrões de consumo dos países ricos, a nação se vê atrasada por causa da falta de educação, da violência, da corrupção, da miséria, da prostituição infantil, de doenças endêmicas, da dependência e da vulnerabilidade. Foram esses dois impedimentos ao futuro brilhante do meu País que me levaram a disputar a eleição presidencial. Foi o sonho de derrubar dois muros -­‐ o muro da desigualdade e o muro do atraso -­‐, e fazer o Brasil se transformar em um país desenvolvido, de modo que todo o povo brasileiro seja unificado. Não era o sonho de ganhar a Presidência em uma eleição predeterminada, na qual os concorrentes ao segundo turno já estavam decididos desde o início. O que mais nos motivou -­‐ a mim e ao PDT -­‐ foi o fato de ter uma bandeira alternativa para realizar a derrubada desses muros. O meio de que dispomos para derrubá-­‐los consiste na radical mudança do quadro educacional brasileiro. Algo que parece tão óbvio ainda é considerado subversivo no Brasil de hoje, porque nossa mentalidade é a de que o crescimento da economia leva à igualdade, de que o aumento da riqueza reduz a pobreza, de que um país com alta renda per capita se torna automaticamente desenvolvido. Essa é uma ilusão que todos temos. O sentimento profundo de que tudo isso é uma ilusão fez-­‐me, um dia, deixar a cadeira de professor e transformar-­‐me em político e, agora, aceitar o desafio de disputar a Presidência da República. Hoje está claro, para mim, pelo menos -­‐ e isso tentei passar -­‐, que a desigualdade que existia antes, porque uns tinham capital e outros tinham somente trabalho, a desigualdade que existia entre patrão e trabalhador não ocorre mais por causa da propriedade -­‐ do capital, ou das mãos. Hoje quando olhamos a desigualdade, podemos perceber que ela vem da falta de conhecimento de uns e a disponibilidade de conhecimento por outros. Aquilo que se chamava de mais-­‐valia, que era a exploração que o capitalista exercia sobre o trabalhador, pagando-­‐lhe um baixo salário, hoje não existe porque alguns são donos do capital e outros só têm as próprias mãos para trabalhar. O que faz hoje a desigualdade é o fato de uns terem acesso ao conhecimento, e outros não. A quebra da desigualdade não virá pela desapropriação e estatização do capital, mas pela distribuição de conhecimento e garantia de oportunidade igual para todos. É isso que vai fará com que a renda se distribua, mas essa oportunidade igual só virá dos bancos das escolas. Houve um tempo em que nordestinos tomavam um pau-­‐de-­‐arara, chegavam a São Paulo e encontravam um emprego, mesmo que tivessem apenas o curso primário incompleto, e graças a isso podiam ascender socialmente. Isso não vai mais acontecer. Hoje, aquele que chega a qualquer mercado de trabalho sem uma formação razoável, sem uma base educacional mínima, sem qualificação profissional, vai ficar excluído. Vai ficar desempregado, ou terá empregos com baixíssimos salários. Hoje, a porta de entrada no mundo moderno é a escola. A porta de entrada não é o emprego em uma fábrica; é a passagem pelo banco da escola que vai proporcionar um emprego em algum setor da economia. É a escola que carrega a possibilidade de derrubar o secular muro da desigualdade, garantindo oportunidades iguais. E se a escola garante oportunidades iguais aos indivíduos brasileiros, é a educação de todo o povo que vai derrubar o muro do atraso, permitindo a criação de um conhecimento superior na ciência e na tecnologia, graças ao qual o Brasil será um país desenvolvido. Por isso caminhei o Brasil inteiro. Por isso atravessei o País. Por isso carreguei, com muita dificuldade para mim e para a minha família -­‐ para minha esposa Gladys, aqui presente -­‐, todas as dificuldades de uma campanha presidencial. Mas fiz isso sem nenhum sofrimento; carreguei tudo como se a minha energia fosse infinita; como se vivesse uma lua-­‐de-­‐mel com o meu País. Um país que passei 40 anos estudando -­‐ e que vou continuar estudando, porque ainda não aprendi o suficiente -­‐, mas com o qual o casamento se concretizou de fato na disputa presidencial. Penso que só há duas maneiras de amarmos realmente e profundamente o País: como soldado numa guerra ou como candidato a presidente da República. Como soldado numa guerra, felizmente, não é uma chance para nós. Tive o privilégio de ser candidato a presidente. Calculo que não chegue a 80 o número de candidatos a Presidente nas, se não me engano, 17 eleições presidenciais dos períodos democráticos no Brasil. É um privilégio muito grande. E é um privilégio muito grande poder não apenas estudar, mas querer dar uma resposta; não apenas dar uma resposta, mas querer levá-­‐la aos brasileiros, sabendo que 125 milhões de eleitores me ouviam nas entrevistas, nos programas eleitorais, nos debates com outros candidatos, conferindo se havia ali a semente de uma árvore que pudéssemos plantar. É um desafio do qual eu gostaria que todos pudessem usufruir. Chego ao final sem nenhuma frustração. Nem mesmo a frustração de ter tido uma votação muito inferior àquela que um candidato deseje, mesmo aquele que não teve ilusões de poder ganhar naquele momento. Não tenho uma única frustração. Entendo perfeitamente por que a grande maioria dos eleitores não optou por esse caminho, apesar da minha convicção de que era o caminho certo. A baixa votação é uma realidade natural, para qualquer proposta subversiva; uma proposta subversiva diante de uma mentalidade que põe o caminho do progresso e da igualdade nas mãos da economia. E ninguém pode ter votações grandes se traz propostas subversivas. Além disso, acostumamo-­‐nos, nos últimos 20 ou 30 anos, a perder a dimensão da transformação que Juscelino trouxe, quando conseguiu trazer para o País a palavra industrialização, num momento em que éramos uma nação agrícola, exportadora. Chegou esse candidato e seduziu, com sua subversão, a opinião pública para o projeto de industrialização. Mas naquele momento, o Brasil estava maduro para aquela subversão, e além disso, havia o carisma de Juscelino. A importância da educação ainda não foi suficientemente absorvida por falta de amadurecimento nosso -­‐ não me excluo -­‐ e também porque, é óbvio, faltou o carisma de um Juscelino ou de outros grandes líderes. Isso não me inibe e nem me constrange. Cumpri o meu papel: trouxe a palavra revolução para o dicionário da política na disputa do dia-­‐a-­‐dia, quando ela estava jogada nos dicionários da História. Mas trouxe algo mais: a idéia de que é possível uma revolução diferente, aquilo que chamei de uma "revolução doce". Uma revolução que, em vez de fuzis, usa lápis; em vez de trincheiras, usa escola; em vez de guerrilheiros, usa professores; em vez de divulgar preconceitos, ideologias, tenta divulgar conhecimento. É uma doce revolução, sobretudo porque, em vez de classes, de proletariado, de campesinato, põe a categoria "infância" como vetor do progresso. Rompemos com a idéia de luta de classes e passamos a discutir a distância entre quem tem e quem não tem conhecimento. Saímos da categoria de classe como instrumento da revolução e colocamos, como portadores de progresso, o elemento óbvio: a infância. Tiramos a idéia de que revolução é algo azedo e colocamos a idéia de que a revolução pode ser doce. Estas foram, de maneira muito resumida, a idéia, a causa, a razão de ser da campanha: a educação e a revolução por meio dela. A razão de ser da campanha é a necessidade de quebrar o vazio do debate que temos visto ultimamente. O debate entre taxa de emprego e taxa de crescimento, e não da taxa de escolarização, que é o verdadeiro motor da liberdade; o debate de quantas cadeias precisam ser construídas, e não de quantas cadeias poderemos derrubar daqui a 20 anos; o debate entre quantas famílias a mais vão precisar da Bolsa Família e não de quantas vão deixar de depender dela; o debate de que o problema do Brasil está na alta taxa de juros, e não na baixa taxa de conclusão do Ensino Médio. Essa foi a razão que me levou a essa grande e bela aventura por uma causa. Aventura no sentido positivo, de algo difícil de ser feito. E que me deu um prazer, Presidente Heráclito Fortes, que, confesso, não imaginava, diante de tantas dificuldades. Falei até aqui do passado, e direi algumas poucas palavras sobre o futuro. Vou me dirigir, muito especialmente, a esses mais de 2,5 milhões de brasileiros que saíram de casa ontem para votar no número 12, na proposta de uma doce revolução pela educação. Quero dizer a cada um de vocês que, a partir de hoje, a campanha que fizemos tem de se transformar em movimento. Fiz questão de ser o primeiro a falar aqui, de me inscrever hoje cedinho, porque não queria deixar passar nem um minuto depois dessa bela campanha para falar da beleza do movimento. A data de ontem foi definida pelo Tribunal Superior Eleitoral. Hoje, além de agradecer pela confiança do voto dado ontem, quero convocar vocês para continuarmos a luta. Ontem foi apenas um instante de um longo processo histórico. A nossa campanha é política, é muito mais do que eleitoral. A nossa campanha é por algo tão novo que não se esgota no dia de eleição. Chegou a hora de transformarmos a campanha eleitoral em um movimento político, social e ideológico, um movimento educacionista, similar ao movimento abolicionista do século XIX. Mas lembrem-­‐se de que, naquela época, o movimento abolicionista contra a escravidão contrariava o interesse de pessoas que defendiam a abolição disfarçada, incompleta. Uns defendiam a extinção do tráfico de escravos, mas não queriam abolir a escravidão. Outros defendiam o ventre livre, mas não queriam abolir a escravidão. Outros ainda afirmavam que alguém com mais de 60 anos não deveria ser mais escravo, mas não desejavam a abolição. Foi preciso surgir um grupo de loucos dizendo: "Não bastam pequenas medidas para corrigir uma maldade; é preciso erradicar a maldade." Precisamos dar esse salto. Não bastam pequenos gestos educativos; é necessária uma revolução na educação. Não basta aumentar um pouco os recursos para a educação, ou até aumentá-­‐los muito, se não completarmos um projeto educacionista, que vai muito além de dinheiro. Ele exige uma mudança de mentalidade no Brasil inteiro, e que tratemos a educação não como um serviço a mais -­‐ como água, esgoto, estrada, energia. A educação deve ser o centro, o eixo, o vetor, o motor do progresso, quase transformando o lema "Ordem e Progresso" em "Educação é Progresso". Basta alterar três ou quatro letras, mas muda tudo, se entendermos que educação é progresso, como entendemos, há algum tempo, que indústria e exportação eram progresso. Mas não foram. São necessários, não suficientes. É preciso exportar e produzir mais; mas o que transforma, o que realmente muda, é uma revolução pela educação. De certa maneira, peço desculpas por termos tido apenas 2,5 milhões de eleitores. Eu gostaria de ter tido o tempo e a competência -­‐ não era possível a dedicação ser maior, mas o tempo de campanha eleitoral, sim, poderia ter sido maior -­‐ para ter alcançado um número maior. Mas não conseguimos. Peço desculpas a vocês por não ter conseguido que fôssemos mais do que 2,5 milhões. No entanto, apelo a vocês para que não sejam apenas eleitores, mas que sejam adeptos de uma causa. Que não sejam eleitores de um candidato, pois o candidato passa, e depois virá outro. Mas que sejam adeptos de uma causa, e cobrem dos próximos candidatos -­‐ inclusive dos dois que vão disputar agora o segundo turno -­‐ que levem adiante a necessidade de derrubarmos os dois muros que amarram o progresso do Brasil: o muro da desigualdade interna e o muro do atraso com relação ao exterior. Exijam vocês, os 2,5 milhões de adeptos, que o Brasil não volte ao tempo em que a educação era um mero coadjuvante do processo, e não algo que precisa ser feito. Nós, eleitores dessa causa, vamos nos transformar em adeptos dessa causa. Sejamos, cada um de nós, os 2,5 milhões, portadores de uma bandeira. Vamos transformar cada comitê eleitoral em um ponto de luta pelo educacionismo no Brasil. Vamos fazer com que não seja tão importante o nome do candidato a Presidente daqui para frente, mas sim que o candidato não se contente em apenas administrar, mas que queira transformar o País. Que ele não se contente em tirar as minas que estão no terreno por onde caminha a história do Brasil, mas que queira desarmar essas minas. E o meu programa de Governo dizia como desarmar cada uma delas. Chamaram de uma campanha de uma nota só, mas nosso programa de governo, publicado sob o título "Como fazer!", mostrava em 48 capítulos como enfrentar cada problema do Brasil. A educação era, sim, o diferencial, o vetor do progresso, como antes era a industrialização. Mas mostramos como desarmar cada bomba armada em nosso caminho. Todavia, não basta caminhar no terreno da História, é preciso também construir uma Nação diferente, sem desigualdade interna e sem atraso em comparação com o exterior. "É Possível", como usei no meu slogan de campanha. Não custa muito, porém exige grande mudança cultural em relação a como a política é feita. E foi principalmente para fazer esta mudança de cultura, de mentalidade, que eu fui candidato pelo PDT. Posso dizer que tentei. Podem dizer que não tive muitos votos, ou que não tive competência para fazer a idéia se transformar em consenso. Entretanto, ninguém pode dizer que não tentei, que não usei a minha energia, durante esses meses todos, para trazer um discurso novo para o meu País. Um discurso revolucionário, na concepção do que é o progresso e de qual é o instrumento do progresso. Um discurso duplamente subversivo. Subversivo porque exige uma mudança de prioridade, da economia para a educação; e subversivo porque exige o remanejamento do orçamento público brasileiro, para destinar mais recursos à educação. Estou falando numa segunda-­‐feira pós-­‐eleitoral e quero que, nesta Casa, fique como marca que eu tentei, e que, quando fui chamado, não fraquejei, não titubeei. Meus atos exigiram de mim grande esforço -­‐ e não vou negar -­‐ e coragem, como o de sair de um Partido no qual tinha militado durante toda a minha vida política. Foi uma coragem que excedeu o que eu imaginava ser capaz. Depois, coragem para aceitar o desafio de uma candidatura à Presidência da República, chegando tarde no processo eleitoral, com o terreno todo dividido, polarizado entre duas candidaturas e com mais uma grande candidata. Quando alguém começa a campanha junto com os outros candidatos, sai à cata de eleitores. Mas, quando começa depois, precisa tomar eleitores dos outros, o que é muito mais difícil. E meu partido me recebeu com tanto carinho, mas ainda não é um partido grande, que se espalha pelo país inteiro. Eu sabia das dificuldades de carregar uma bandeira diferente das que hoje dominam o imaginário brasileiro -­‐ a corrupção, violência e desemprego -­‐, e eu trazia uma diferente. Mas, talvez até por essas dificuldades, posso dizer ao povo brasileiro que tentei e que vou continuar tentando. Porque depois disso que comecei, não há mais caminho de volta. Minha vida -­‐ não tem mais jeito -­‐ será dedicada a essa causa, a essa doce revolução por meio da educação de nosso povo, especialmente da infância, dos pequenos brasileiros e brasileiras em cujos cérebros estão depositadas as esperanças do Brasil. Muito obrigado, Senhor Presidente, pela paciência. E, a partir de hoje, estou plenamente de volta a esta Casa. Aparte do Senador Paulo Octávio (PFL-­‐DF) – Senador Cristovam, manifesto o meu contentamento em ouvir o seu pronunciamento. Imagino que Vossa Excelência nem teve tempo para descansar dessa campanha tão bonita que fez, percorrendo todo o Brasil. Essa campanha foi anunciada há seis meses, quando, aqui no Senado, em conversa que tivemos, o amigo manifestou a vontade de pregar a educação em nosso País, tema muitas vezes esquecido. Pude observar que, em sua campanha, percorrendo o Brasil de ponta a ponta e com muita competência, Vossa Excelência soube levar a todos os brasileiros essa mensagem. Tenha a certeza, o Senador que representa tão bem Brasília, de que não pregou no deserto, não pregou em vão. Muitas vezes, a sociedade demora a acordar para temas importantes. Educação é prioridade. Hoje, 50 anos depois de JK ter pisado em Brasília pela primeira vez, em 2 de outubro de 1956, é bom ver que Brasília já deu seu primeiro candidato a Presidente da República. É de Brasília um candidato a Presidente do Brasil e pela primeira vez temos um brasiliense se candidatando a Presidente. Quero cumprimentá-­‐lo, como brasiliense, como seu colega de Senado, e dizer que cumpriu um papel muito importante nessa eleição, um papel que jamais será esquecido pelo povo brasileiro, pelas suas mensagens e, ainda mais, pela mensagem prioritária que, por sinal, vai ser prioridade que pretendemos implementar no governo de Brasília a partir do ano que vem: educação. Educação tem de ser prioridade em todos os governos neste País. Vossa Excelência soube levar essa mensagem com muita dignidade e muita competência. Parabéns pela campanha limpa e correta de troca de idéias. Vossa Excelência orgulhou Brasília e o Brasil. Agradecimento e convocação 2 Nesta semana, as eleições de 2006 fazem um ano. Por isso, quero falar a um pequeno grupo de brasileiros. Especificamente a 2.538.844 brasileiros. Nada mais do que 1,5% dos brasileiros, 2,5% dos eleitores. Quero falar àqueles que votaram no Senador Jefferson Peres para Vice-­‐ Presidente e em mim para Presidente do Brasil. Quero falar para eles. Só para eles. Primeiro, para agradecer a confiança que tiveram no Senador Jefferson Peres e em mim. Mas não quero apenas agradecer. Quero também convocá-­‐los, para juntos continuarmos a luta por uma Causa maior que qualquer eleição, e que não fique restrita a qualquer sigla partidária, porque sigla nenhuma, sozinha, incorpora toda a dimensão de uma Causa. No tempo da campanha pela abolição, não havia um partido dos abolicionistas, mas sim uma causa abolicionista, com representantes dos partidos da época. Cento e vinte anos depois, em cada partido, há pessoas que defendem a Causa da Educação. Quero falar para esses 2.538.844 brasileiros e dizer-­‐lhes que neste ano que passou, desde a eleição, o Senador Jefferson Peres e eu continuamos cumprindo a tarefa que vocês nos atribuíram, quando votaram na nossa chapa. No dia seguinte ao da eleição, subi a esta tribuna e disse que transformaria a campanha eleitoral em um movimento pela "Educação Já", com o objetivo de iniciar a revolução da garantia de escola igual para todo brasileiro. De lá para cá, foram 37 viagens, 71 palestras, 25 caminhadas, com um só objetivo: despertar, nos outros mais de 100 milhões de eleitores, o sentimento de que está faltando uma revolução no Brasil. Uma revolução doce, que assegure educação igual e de qualidade para todos os brasileiros. 2
Discurso proferido no dia 3 de outubro de 2007.
Precisamos despertar a população para a percepção de que o crescimento econômico, sozinho, não vai fazer uma civilização brasileira satisfatória, com justiça, com liberdade, com bem-­‐estar, assegurando a mesma chance a todos os brasileiros. Despertar para o fato de que as revoluções do século XIX não farão o Brasil derrubar o muro da desigualdade que nos divide internamente, nem o muro do atraso que nos separa dos países desenvolvidos. Despertar para o fato de que o que vai mudar nosso País é uma revolução pela educação. A garantia de que cada criança tenha acesso à escola com a mesma qualidade, independentemente da renda de sua família ou da cidade onde vive. Esta é a revolução que difundi durante a campanha: a revolução da escola igual para todos, para cada brasileiro. Na nossa campanha, havia um programa de governo completo. A educação sozinha, obviamente, não vai trazer tudo o que a gente espera. Nosso programa explicava como enfrentaríamos cada um dos problemas brasileiros. Mas assumimos um caminho essencial para a mudança: uma revolução na educação. A educação é o caminho, é o que nos identificou naquele 1º de outubro de 2006. Sabíamos que o resultado eleitoral não seria favorável. Vocês votaram numa causa, e num sonho para o futuro do Brasil. A eleição terminou, mas o movimento em defesa da revolução continua. Falo aos 2.538.844 brasileiros para agradecer a confiança, e para convocá-­‐los a continuar lutando pela mesma idéia: garantir a mesma chance para toda pessoa que nascer no Brasil. A mesma oportunidade de usar livremente seu talento e sua persistência para desenvolver seu potencial. Só uma educação igual para todos vai assegurar a mesma chance entre classes. E só a adoção de um modelo de desenvolvimento ecologicamente sustentável vai assegurar a mesma chance entre gerações. Educação e ecologia foram as duas pernas da campanha de 2006, e são as duas pernas do projeto para o qual convoco os 2.538.844 a continuarem lutando. O objetivo utópico é a mesma chance; os vetores revolucionários são educação e ecologia. A educação é determinante, porque além de seu impacto social, é o que construirá um modelo ecologicamente equilibrado, graças à mudança de mentalidade e ao desenvolvimento de instrumentos científicos e tecnológicos. Mas essas duas pernas têm de caminhar num terreno sólido da sociedade, numa base sobre a qual a revolução educacional possa se firmar. Chamei a isso, na campanha, de choque de eficiência: a garantia de um sistema econômico eficiente, porque sem ele não teremos os recursos necessários para fazer a revolução pela educação e pela ecologia; por um choque de gestão, com o fim dos apagões na infraestrutura; pela redução da carga fiscal; pela garantia de um sistema social eficiente, na moradia, na saúde, na oferta de água e saneamento; pela eficiência política, contra corrupção e a favor da consolidação da democracia e da participação; e pela eficiência jurídica, com um sistema de regras impessoais e permanentes. Nunca foi tão necessário fazer a revolução pela educação igual para todos. Nossa bandeira não é mais dar aos trabalha-­‐dores o capital do patrão, mas dar ao filho do trabalhador a mesma escola do filho do patrão. Nisso estava nosso propó-­‐sito, para isso fizemos a campanha, para isso votamos. E para isso continuamos nossa luta. Além de agradecer, quero convocar os 2.538.844 a lutar por um país cuja utopia seja a mesma chance. Cujos vetores revolucionários sejam educação igual para pobres e ricos, e respeito à ecologia, para garantir desenvolvimento sustentável. Um país que construa eficiência, que combata o corporativismo, que acabe com os apagões, que resolva a tragédia da saúde, a ineficiência na política e a desigualdade no acesso à justiça e na distribuição de renda. Além disso tudo, precisamos continuar lutando por três programas emergenciais – previstos no nosso programa de governo – que não podem esperar nem um dia. Programas para enfrentar a violência e a insegurança; para enfrentar a corrupção e a impunidade; e para enfrentar o desemprego e a exclusão. Daqui a anos, o desemprego vai diminuir numa sociedade educada, mas não há prazo para os adultos que não têm acesso à educação hoje; a corrupção também vai diminuir no futuro com um país educado, mas não dá para esperar. A violência é causada, sobretudo, pela falta de alternativas que decorre da falta de boa educação. Mas a população de hoje não pode esperar. Por isso, a necessidade emergencial nessas três áreas. Esse é o programa pela mesma chance, lançado com as eleições, há um ano, e continuado com o movimento Educação Já. Devo agradecer aos 2.538.844 que tiveram a delicadeza de sair de casa no dia 1º de outubro de 2006 para votar em nossa chapa; todos sabiam que não iríamos para o segundo turno. Em nenhum instante caímos na velha tentação dos candidatos tradicionais de negar pesquisas ou assumir vitória eleitoral antes do tempo. Nós tínhamos uma causa. E essa causa não se esgota em uma data, não é escrava de um resultado eleitoral. O voto desse pequeno grupo foi um gesto de confiança em nossos nomes, mas, principalmente um voto de crença em um projeto transformador que as outras propostas não traziam. As outras propostas não traziam bandeira transformadora. Não tinham vigor transformador. A nossa tinha. Então vim agradecer, mas vim, sobretudo, dizer que não terminamos a tarefa a que nos propusemos. Nossa luta está no começo, com o movimento Educação Já, simbolizada na idéia de mudar o espírito de Ordem e Progresso, para Educação é Progresso. Não se trata de mudar o desenho, mas sim o espírito da nossa bandeira. Isso é o educacionismo, nossa causa comum, nossa ideologia. Somos 2.538.844, educacionistas. No dia 1º de outubro de 2006, os 2.538.844 educacio-­‐nistas deram seu grito apertando os botões da urna eletrônica. Somos um pequeno número, mas não apenas de eleitores. Somos adeptos de uma causa. Não votamos, simplesmente. Nós gritamos, lutamos, carregamos uma ban-­‐deira. Dois milhões e meio, um pequeno número de eleito-­‐res, mas uma imensa passeata de pessoas espalhadas, caminhando naquele domingo, de casa para a zona eleitoral, levando um ideal dentro do coração. Nossa marcha estava espalhada, mas não foi menor do que as outras grandes campanhas nacionais. Este é um bom momento para agradecer aos 2.538.844 eleitores e convocá-­‐
los para nos unirmos, atravessando a distância deste imenso país; espalhados geograficamente, separados por diferentes fusos horários, mas de mãos dadas em defesa de uma causa, não só eleitores, mas militantes adeptos de um sonho. E é com esses militantes que comemoro. A eles agradeço e convido para continuarmos nossa luta por um Brasil onde a escola seja igual, absolutamente igual em qualidade, para toda criança. Aparte do Senador Jefferson Peres (PDT-­‐AM) – Senador Cristovam Buarque, Vossa Excelência diz muito bem. Na campanha eleitoral passada, altamente polarizada entre dois candidatos com enorme estrutura de apoio, não sobrava espaço para outras. E nenhum dos brasileiros que votaram em nós tinha a ilusão de que poderia nos levar ao segundo turno. Sabiam todos que não tínhamos nenhuma chance. Portanto, Vossa Excelência tem inteira razão. Aqueles dois milhões e quinhentos mil brasileiros nos comoveram porque votaram numa causa. Foi como se dissessem nas urnas: eu sei que vocês não vão, mas sei que vocês estão certos. Aquilo realmente nos gratificou muito. Não sou um apóstolo da educação, como Vossa Excelência, mas sempre tive muito claro na minha consciência que a educação era a condição necessária, embora não suficiente, para o desenvolvimento do País. De forma que a grande falha -­‐ e houve muitas falhas ao longo da nossa história -­‐ dos últimos 50 anos, talvez a pior, tenha sido a dos nosso governantes, que se descuidaram tanto da educação. Não fosse isso, outro seria o Brasil de hoje. Meus parabéns pelo seu pronunciamento e por sua firmeza, pela paixão com que Vossa Excelência abraça essa causa. Senador Cristovam Buarque – Senador Jefferson Peres; quero aproveitar para dizer que, em toda a campanha, um dos momentos mais emocionantes para mim foi quando estava em Belo Horizonte e recebi seu telefonema, aten-­‐
dendo ao apelo que eu, Carlos Lupi, Manoel Dias e outros companheiros do PDT fazíamos, para que Vossa Excelência fosse candidato a Vice-­‐Presidente. Aquele foi um dos momentos mais fortes da campanha. Mas do que um político, eu teria ao meu lado um símbolo. Parte dos votos deveu-­‐se à presença do Senador Jefferson na chapa. A própria candidatura teria sido impossível sem a firme decisão dos dirigentes do PDT, especialmente Carlos Lupi e Manuel Dias. A eles devemos a candidatura ter acontecido. Aparte do Senador Renato Casagrande (Bloco/PSB-­‐ES) – Senador Cristovam Buarque, em primeiro lugar, quero parabenizá-­‐lo pelo pronunciamento. Reconheço na atuação de Vossa Excelência o trabalho, a luta, o empenho pela educação de qualidade, com mais investimento, com acesso à educação por todos os brasileiros e brasileiras. Então, receba meu reconhecimento como Senador, como ser humano e como partidário do trabalho que Vossa Excelência desenvolve na área da educação. Segundo, minha concordância de que não podemos discutir o crescimento e o desenvolvimento econômico apenas pela visão da infra-­‐estrutura, da logística de mais investimento nessas áreas e, sim, pela visão da qualidade. Para quem estamos crescendo, como estamos crescendo, onde estamos crescendo, e se estamos respeitando o meio ambiente. Dependemos do investimento em educação. Portanto, o investimento em educação é fundamental para um crescimento sustentável e de qualidade, distribuído a todas as pessoas, a todas as regiões brasileiras, sem as diferenças regionais de hoje. Queria só fazer esse registro e parabenizar Vossa Excelência pelo pronunciamento. Senador Cristovam Buarque – Obrigado, Senador Casagrande. Insisto que o berço da desigualdade está na desigualdade do berço: a escola. Cada ser humano nasce fisicamente na maternidade e intelectualmente na escola. É a educação que rompe o muro da desigualdade. Aparte do Senador Epitácio Cafeteira (Bloco/PTB-­‐MA) – Senador Cristovam Buarque, Vossa Excelência está fazendo um pronunciamento que não pertence apenas ao Brasil, mas ao mundo. Sem a educação, ninguém se desenvolve. A educação é realmente o combustível, o motor de qualquer desenvolvimento. Com a educação vem o desenvolvimento intelectual; com o desen-­‐volvimento intelectual vem a pros-­‐peridade. Vossa Excelência está fazendo uma apologia do que todos nós temos de fazer e não apenas os dois milhões de eleitores PDT. Todos aqueles que querem o desenvolvimento do Brasil têm de militar na luta pela educação neste País. Parabéns a Vossa Excelência. Senador Cristovam Buarque – Muito obrigado, Senador Cafeteira. Estou de acordo que é um problema do mundo. O capital, daqui para frente, não será formado por máquinas, mas pelo conhecimento que cria as máquinas. O valor das coisas já não está na quantidade de mão-­‐de-­‐obra e de matéria-­‐prima, como quando eu era jovem e estudava Economia. O valor das coisas vem da quantidade de ciência e tecnologia envolvidas na sua criação. São os donos de patentes, e não os donos das máquinas, que recebem o dinheiro que a gente paga quando compra qualquer produto moderno. Por isso, o capital é o conhecimento. E o processo de produção já não exige um operário, mas um operador. Hoje, ou os operários se transformam em operadores, ou ficam desempregados. A diferença entre um operário e um operador é a diferença entre quem usa as mãos e quem, no mundo globalizado, usa os dedos para mover a máquina, graças à quantidade de conhecimento que adquiriu. E fica sem futuro a economia que não for capaz de transformar seus operários em operadores. A diferença entre um operário e um operador é a quantidade de conhecimento que este tem. Por isso, sem conhecimento, não haverá emprego. Sem educação, não há futuro. Essa foi a razão de nossa campanha. Aparte do Senador Eduardo Suplicy (Bloco/PT-­‐SP) – Cumprimento-­‐o por sua jornada em favor da educação, suas caminhadas. Pode me chamar quando eu estiver próximo; irei junto. Tenho a mesma convicção de Vossa Excelência de que, para que tenhamos a oportunidade de igual educação para todos, ricos e pobres, também é necessário que todos, no Brasil, tenham não só educação, mas a renda básica como um direito à cidadania, o direito de todos usufruírem da riqueza da nação, que é uma meta irmã da sua proposição, a qual abraço com igual intensidade. Vossa Excelência estava ontem e hoje cedo um pouco pessimista com o que fazemos no Senado. Quero dizer que Vossa Excelência cumpre muito bem o objetivo que coloca a todos, de fazermos sempre de nosso debate, de nosso diálogo, uma meta pela qual tanto batalha. Senador Cristovam Buarque – Muito obrigado, Senador Suplicy. Lamento não tê-­‐lo avisado das caminhadas que fizemos em Itu, Salto e Indaiatuba. Em Indaiatuba, graças ao envolvimento direto do Prefeito José Onério da Silva (PDT/SP), calcula-­‐se que entre cinco e dez mil pessoas caminharam quatro quilômetros, carregando a bandeira da educação igual para todos; a bandeira de que educação é progresso; a bandeira da crença de que tudo isso é possível. O Senhor Presidente Romeu Tuma (DEM-­‐SP) – Eu estava aqui escrevendo: Cristovam Buarque e Jefferson Peres levantaram a bandeira da educação sob a aura da moralidade e, além da educação, buscaram todos os valores para a inclusão social, o que representa a cidadania. E o número 2.538.844 deve ter do-­‐
brado hoje. Eu incluiria aí a Professora Zilda, minha esposa, pelo amor que tem pela educação. Sabemos o que representa a educação. E há um valor mais forte, Senhores Senadores: a crise, a angústia, o sofrimento por que estamos passando nesta Casa. Hoje mesmo, na discussão, o Senador Casagrande sentiu, assim como os demais Senadores, essa angústia profunda. Um discurso como o de Vossa Excelência nos traz de volta a tranqüilidade de espírito. E o Brasil, sem dúvida, vai melhorar com homens como Vossa Excelência, o Senador Jefferson Peres, o Senador Casagrande e os demais que aqui se encontram. Senador Cristovam Buarque – Muito obrigado. O Senhor Presidente Romeu Tuma (DEM-­‐SP) – Nós é que temos de agradecer a Vossa Excelência e aos dois milhões e quinhentos mil eleitores.