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6º Curso de Mestrado em Reabilitação de Arquitectura e Núcleos Urbanos
BRANDI E O CONCEITO DE ESPAÇO: TEORIA E PRAXIS NO RESTAURO ARQUITECTÓNICO, LISBOA, FAUTL, 2007
BRANDI E O CONCEITO DE ESPAÇO: TEORIA E PRAXIS NO RESTAURO ARQUITECTÓNICO
ALGUMAS NOTAS SOBRE CESARE BRANDI
E(M) PORTUGAL
José Aguiar
Professor Associado da FAUTL - Presidente do ICOMOS-PORTUGAL
Projecto Europeu, Exposições, Seminários Internacionais: Cesare Brandi (1906-1988) Il suo pensiero ed il dibattito in
Europa nel XX secolo. Inserido no 6º Curso de Mestrado em Reabilitação de Arquitectura e Núcleos Urbanos FAUTL.
COMUNIDADE EUROPEIA
-
José Aguiar, Faculdade de Arquitectura da Universidade Técnica de Lisboa
IGESPAR
-
ICOMOS-PORTUGAL
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6º Curso de Mestrado em Reabilitação de Arquitectura e Núcleos Urbanos
BRANDI E
DE ESPAÇO:
TEORIA E TEORIA
PRAXIS NOERESTAURO
FAUTL, 2007
BRANDI
EOOCONCEITO
CONCEITO
DE ESPAÇO:
PRAXIS ARQUITECTÓNICO,
NO RESTAUROLISBOA,
ARQUITECTÓNICO
Um Projecto Europeu, um Ciclo de Exposições e de Seminários Internacionais:
«Cesare Brandi (1906-1988) Il suo pensiero ed il dibattito in Europa nel XX secolo»
Iniciativa: Associazione Amici di Cesare Brandi (Italia), Associazione Giovanni Secco Suardo (Italia),
Ministero per i Beni e le Attività Culturali - Dipartimento per i Beni Culturali e Paesaggistici (Italia), Istituto
Centrale per il Restauro (Italia), Faculdade de Arquitectura da Universidade Técnica de Lisboa
(Portugal), Academy of Fine Arts Warsaw - Faculty of Conservation and Restoration of Works of Art
(Poland), Hochschule fur angewandte Wissenschaft und Kunst Hildeshiem/Holzminden/Gottingen (Germany),
Institut Nationale du Patrimoine (France), Universidad Politecnica de Valencia - Departamento de
Conservaciòn y Restauraciòn de Bienes Culturales (Spain), Universitè Libre de Bruxelles - Facultè de
Philosophie et Lettres, Section d'Histoire de l'Art (Belgium).
Lisboa: Brandi e o Conceito de Espaço. Teoria e Praxis no Restauro Arquitectónico
Faculdade de Arquitectura da Universidade Técnica de Lisboa,
Comissão Científica e de Organização: José Aguiar, Delgado Rodrigues, Nuno Proença, Ana Seruya, com
apoio de Paolo Orizio.
Oradores: Paolo Fancelli, José Aguiar, Delgado Rodrigues, Ana Isabel Seruya, Paulo Pereira, Joaquim
Caetano, Nuno Proença, Luís Marreiros, Fernando Salvador, Elena Charola. Moderação de Jorge Bastos
Apoios: COMUNIDADE EUROPEIA, Ministério da Cultura – IGESPAR, ICOMOS-Portugal.
Projecto inserido no 6º Curso de Mestrado em Reabilitação de Arquitectura e Núcleos Urbanos da FAUTL.
José Aguiar, Faculdade de Arquitectura da Universidade Técnica de Lisboa
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6º Curso de Mestrado em Reabilitação de Arquitectura e Núcleos Urbanos
BRANDI E
DE ESPAÇO:
TEORIA E TEORIA
PRAXIS NOERESTAURO
FAUTL, 2007
BRANDI
EOOCONCEITO
CONCEITO
DE ESPAÇO:
PRAXIS ARQUITECTÓNICO,
NO RESTAUROLISBOA,
ARQUITECTÓNICO
I SESSION – Muenchen
III SESSION – Valencia
(26 April 2007, 10.00-16.30)
(7 May 2007, 9.30-21.30)
Cesare Brandis "Teoria del
Cesare Brandi, repercusión de su
restauro" und die Restaurierung in Teoría en la realidad española
Deutschland heute.
Paraninfo de la Universidad politécnica
Lehrstuhl für Restaurierung,
de Valencia
Kunsttechnologie und
D. Manuel Muñoz Ibañez
Konservierungswissenschaft der Pilar Roig Picazo
TU München, Seminarraum des Gianluigi Colalucci
Lehrstuhls, Oettingenstraße 15, Ignacio Bosch Reig
80538 München.
José A. Madrid García
Ursula Schädler-Saub
Vicente Guerola Blay
Paolo D’Angelo
Salvador Muñoz Viñas
Francesca Capanna
Pablo González Tornel
Dörthe Jakobs
Vittorio Brandi Rubiu
Erwin Emmerling
Massimo Carboni
Kathrin Janis
Moderatores: Pilar Roig Picazo,
Abschlussdiskussion
Salvador Garcia Fortes, Victor Medina
Moderation: Matthias Exner
Florez
II SESSION – Hildesheim
IV SESSION – Lisboa
(7 May 2007, 10.00-17.00)
(28 May 2007, 9.30-18.30)
Cesare Brandis „Teoria del
Brandi e o Conceito de Espaço. Teoria
restauro“ und die Restaurierung in e Praxis no Restauro Arquitectónico
Deutschland heute.
Faculdade de Arquitectura da
Fachbereich Konservierung und Universidade Técnica de Lisboa,
Restaurierung der HAWK
espaço “O Cubo”, Rua Sá Nogueira Hildesheim / Holzminden /
Pólo Universitário - Alto da Ajuda Göttingen, Hornemann Instituts, 1349-055 Lisboa
voraussichtlich Seminarraum
Paolo Fancelli
Bismarckplatz 19/11, 31135
José Aguiar
Hildesheim.
Delgado Rodrigues
Ursula Schädler-Saub
Ana Isabel Seruya
Dörthe Jakobs
Paulo Pereira
Ivo Hammer
Joaquim Caetano
Thomas Danzl
Nuno Proença
Wanja Wedekinde
Luís Marreiros
Francesca Valentini
Fernando Salvador
Abschlussdiskussion
Elena Charola
Moderation: Angela Weyer
Moderador: Jorge Bastos
V SESSION – London
(10 July 2007)
Cesare Brandi and the conservation of
our Cultural Heritage
With the collaboration of The Hamilton
Kerr Institute (University of Cambrige),
Courtauld Institute.
Courtauld Institute, Kenneth Clark
Lecture Theatre
Giuseppe Basile
Licia Borrelli-Vlad
Ian McClure
Jonathan Ashley-Smith
Phoebe Dent Weil
Dorothy Bell
VI SESSION – Warzaw
(5 October 2007, 9.00-19.00)
Cesare Brandi: Art of conservation restoration in Poland
Inter-Academy Institute of ConservationRestoration of Works of Art: Academy of
Fine Arts in Warsaw - faculty of
Conservation and Restoration of Works
of Art, Academy of Fine Arts in Krakow faculty of Conservation and Restoration
of Works of Art, Nicolas Copernicus
University in Torun - Institute for the
Study, Conservation and Restoration of
Cultural Heritage. Museum Palace at
Wilanow.
Giuseppe Basile
Wojciech Kurpik
Dusan C. Stulik
Wladyslaw Zalewski
Janusz Krawczyk
Andrzej Tomaszewski
Iwona Szmelter
Bogumila Rouba
Monika Jadzinska
VII SESSION – Bruxelles
(25 October 2007)
Cesare Brandi. sa pensée et
l’evolution des pratiques de
restauration
Université Libre de Bruxelles
Salle Dupréel, Institut de Sociologie,
44 avenue Jeanne – 1050 Bruxelles
Jean-Pierre Devroey
Giuseppe Basile
Chateline Perier D'Ieteren
Francoise Rosier
Hélèn Dubois
Dominique Driesmans
Modérateur de les Table-ronde:
Marie Berducou
VIII SESSION – Paris
(26 October 2007, 9.30-18.-00)
Cesare Brandi et la France
Institut national du patrimoine –
Auditorium Colbert
2 rue Vivienne, 75002 Paris
Geneviève Gallot
Giuseppe Basile
Après-midi sous la direction de JeanPierre Mohen:
Ségolène Bergeon-Langle
Nathalie Volle
Georges Brunel
Christine Mouterde
Matinée sous la présidence de
Christiane Naffah:
Elisabeth Mognetti
Jacques Hourrière
Table ronde animée par Michel
Laclotte.
Anthony Pontabry, Monique Pomey,
Isabelle Pallot-Frossart, Patricia
Vergez
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como nasce uma cultura de “conservação”?
RESTAURO VERSUS CONSERVAÇÃO
A procura de aproximações teóricas ao início dos
sobressaltos da necessidade de salvaguarda,
conduzirá à gradual definição de uma nova disciplina a
que os continentais (sobretudo os Italianos e os
Franceses) chamarão Restauro e os Ingleses de
Conservação.
Diferença e disputa conceptual que ultrapassará em
muito o século e a vida dos seus protagonistas: John
Ruskin e Viollet-le-Duc.
John Ruskin
Violet-le-Duc
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como nasce uma cultura de “conservação”?
O RESTAURO ESTILÍSTICO E O
MÉTODO ANALÓGICO
No início do segundo quartel do século
XIX, em França, restaurar um
monumento significa proceder à sua
reconstrução integral, ou à reintegração
de partes em falta, tendo por referência
a hipótese de um (seu?) estilo original.
Ludovic Vitet e Prosper Mérimée
defendem o completamento “em estilo”,
através da produção de cópias de
motivos ou partes análogas às
existentes no próprio edifício ou em
construções similares da mesma região,
época e estilo. Surge assim o MÈTODO
ANALÓGICO ainda defendido por
alguns …mesmo no século XXI.
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como nasce uma cultura de “conservação”?
A CONSERVAÇÃO ESTRITA
«Restoration, so called, is the worst manner of
Destruction.[...] Do not let us deceive ourselves in
this important matter; it is impossible, as impossible
as to raise the dead, to restore anything that has
ever been great or beautiful in architecture».
«Take proper care of your monuments, and you will
not need to restore them». (...) «But, it is said, there
may come a necessity for restoration! Granted.
Look the necessity full in the face, and understand ít
on its own terms. lt is a necessity for destruction.
(...) The principle of modern times (...) is to neglect
buildings first, and restore them afterwards».
J. Ruskin, The seven lamps of architecture. Kent: George Allen, 1880.
Consulte-se, em particular, o capítulo designado “The Lamp of Memory”.
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O RESTAURO EM PORTUGAL
1933 ESTADO NOVO: “Deus, Pátria,
Família” .....Autoridade!
Um paralelo entre a recuperação de valores
histórico-ideológicos e nacionalistas e os critérios
de intervenção no património ...”na medida em que
os monumentos são o espelho vivo desses valores,
influenciando a filosofia do restauro a utilizar”.
Fonte: Maria João Neto, p.143.
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O RESTAURO EM PORTUGAL
1933 ESTADO NOVO: “Deus, Pátria, Família” .....Autoridade!
Restauração: a primeira palavra de ordem do regime!
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O RESTAURO (ou antes a REPRISTINAÇÃO) EM PORTUGAL
Fotos: O Castelo de São Jorge, antes e depois do restauro.
Fonte: Boletim DGEMN 25-26.
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O RESTAURO (ou antes a REPRISTINAÇÃO) EM PORTUGAL
Fotos: Guimarães, Paço do Duques de Guimarães entes e depois do restauro,
Boletim DGEMN 20
Fonte: Boletim DGEMN 20.
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O RESTAURO (ou antes a REPRISTINAÇÃO) EM PORTUGAL
Fotos: Lagos, muralhas e Forte da Bandeira, antes e depois do restauro
Fonte: Boletim DGEMN 104.
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O RESTAURO (ou antes a REPRISTINAÇÃO) EM PORTUGAL
Sé do Porto, antes e depois do
restauro da DGEMN
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O RESTAURO EM PORTUGAL
Intervenções de Restauro Estilístico:
São Tiago,Coimbra
Edição:
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MODERNO: da sua aversão à cidade histórica
Le Corbusier, legenda: como lidar com o “problema” dos centros históricos!
Em: Maneiras de Pensar o Urbanismo. Lisboa: Europa-América, 1977
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Da aversão do MODERNO à cidade histórica
Plan Voisan
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A RENOVAÇÃO DEPOIS DA II GRANDE GUERRA
A necessidade de recuperar rapidamente as cidades europeias, para realojar
milhões de pessoas e permitir o relançamento da sua economia, obrigou a
actuações de extrema urgência e à aplicação de métodos expeditos de reconstrução
de monumentos (Montecassino), ou de cidades históricas destruídas pela guerra
(Varsóvia, Génova, Colónia, Bruxelas, Nápoles, etc.). Daqui resulta, na prática, o
abandono dos métodos de restauro anteriores à guerra e a primazia da
RENOVAÇÃO URBANA.
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O WelfareState e Baby Bum!
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Redevelopment project in Riquet, Paris
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O Admirável Mundo Novo
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Elgin Estate, Westminster, London, 1968
Royston Estate, 1969
A construção do Admirável Mundo Moderno
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da NOSSA AVERSÃO ainda recente à cidade histórica
PORTUGAL: PORTO
Planos de renovação urbana dos
anos 50 e 60 propondo a
DEMOLIÇÃO da Ribeira-Barredo,
hoje inscrita na Lista do Património
Mundial da Unesco.
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BRANDI E O CONCEITO DE ESPAÇO: TEORIA E PRAXIS NO RESTAURO ARQUITECTÓNICO, LISBOA, FAUTL, 2007
O PÓS GUERRA E A REINVENÇÃO DE VARSÓVIA
A reconstrução de Varsóvia foi uma necessidade política e psicológica,
reinstituindo a cidade histórica como o monumento referencial de uma nação cuja
cultura foi intencionalmente atingida.
Manteve-se a morfologia urbana anterior, mas a correspondência das novas
construções para com as antigas é apenas exterior, os interiores foram
significativamente modernizados.
O modelo nova-cidade-cópia-da-antiga-cidade levantava interrogações
incómodas tanto no campo da conservação urbana, como para a nova disciplina
do urbanismo.
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RESTAURO CRÍTICO E TEORIA DO RESTAURO DE
CESARE BRANDI
Contestação aos projectos cópia (repristinação) e à renovação
urbana moderna, demolidora e substitutiva, pelo grupo italiano (Carlo
Argan, Renato Bonelli, Roberto Pane e Cesare Brandi), torna-o
protagonista de uma nova escola de pensamento da qual resultou
(quase directamente) uma nova carta internacional de restauro, ainda
hoje válida - a Carta de Veneza de 1964 - e uma nova carta italiana, a
Carta del Restauro de 1972.
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Cesare Brandi, Teoria del Restauro. Turim: Piccola Biblioteca Einaudi, 1963:
«A qualidade do restauro depende directamente do juízo crítico da
artisticidade do objecto sobre o qual incide.» Para Brandi - e este princípio é
aplicável à arquitectura ou a qualquer outra arte -, quando deparamos com uma obra de arte,
o seu lado funcional não representa mais do que um lado concomitante ou secundário, face a
outros aspectos tomados como primordiais, respeitantes a essa obra enquanto obra de arte.
Assim, o restauro, estará sempre estreitamente ligado à avaliação crítica da própria
artisticidade do objecto sobre o qual incide.
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RESTAURO CRÍTICO E TEORIA DO RESTAURO, CESARE BRANDI
«o restauro deve permitir o restabelecimento da unidade potencial da obra
de arte, sem produzir um falso histórico ou um falso artístico e sem anular
os traços da passagem da obra de arte pelo tempo»
José Aguiar, Faculdade de Arquitectura da Universidade Técnica de Lisboa
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Paço de Sousa, antes e depois do
restauro. Fonte: Boletim DGEMN 17.
A TEORIA DO RESTAURO DE CESARE BRANDI
«...a conservação dos acrescentos deve considerar-se regular e
EXCEPCIONAL a [sua] remoção»
Um acrescento constitui sempre um novo testemunho do fazer humano, portanto
da própria história. A remoção de um acrescento (o que constitui também um
acto histórico), resultará sempre na «...destruição de um documento e não se
documenta a si mesma», pelo que pode conduzir à obliteração de uma
importante etapa histórica. A distinção entre acrescento e reconstrução
esclarece-se ao considerar-se que o objectivo da reconstrução, ao contrário do
acrescento - que se documenta sempre a si próprio -, é abolir um lapso de
tempo.
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São Pedro de Rates (Norte), antes e depois dos restauros, Boletim DGEMN 23. Pousado do Bouro.
BRANDI E A TEORIA DO RESTAURO
O processo de abolição do tempo, através das reconstruções (ou repristinações),
pode ocorrer, segundo Brandi, de acordo com os seguintes modelos: (i) simular o
processo criativo original, refundindo o velho e o novo de uma forma tal que
não permite sequer distinguir os dois momentos, que resultam num falso histórico,
eticamente inadmissível; (ii) ou absorver a obra pré-existente, usando-a para
criar uma nova entidade, no que será sempre um testemunho do presente em
que ocorre. Deste processo resultará algo que, no futuro, poderá até constituir-se
como monumento (um PROJECTO NOVO que constrói com o já construído), mas
que, como prática, não pertence sequer ao campo do RESTAURO, ou da
CONSERVAÇÃO do património.
José Aguiar, Faculdade de Arquitectura da Universidade Técnica de Lisboa
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BRANDI E A TEORIA COMO NOVO PARADIGMA DA CONSERVAÇÃO
“Só se restaura a matéria da obra de arte” , insiste Brandi e o restauro termina
onde a hipótese começa (como sempre insistia Philipot) e as intervenções de
restauro não devem impossilitar, antes facilitar, eventuais intervenções futuras.
“Il restauro costituisce il momento metodologico del
riconoscimento dell’opera d’arte, nella sua consistenza
fisica e nella sua duplice polarità estetica e storica, in vista
della sua trasmissione al futuro”.
“o restauro constitui o momento metodológico do reconhecimento da obra de
arte, na sua consistência física e na sua dupla polaridade estética e histórica,
com vista à sua transmissão para o futuro”.
Assim, como muitos entre nós ainda o consideram, o RESTAURO não pode ser
coisa de “práticos”, antes é um processo-projecto que se fundamenta em sólidas
capacidades de analise crítica, no campo da Arte, e conhecimentos no campo da
Ciência, definindo uma nova disciplina do conhecimento humano (a Conservação)
cujo domínio exige a capacitação novos agentes (já não só os “Arquitectos” os
“Engenheiros” e os “Historiadores”): os Conservadores-Restauradores (com
maiúscula)!
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A TEORIA (PRÁTICA) DE CESARE BRANDI COMO NOVO
PARADIGMA
A originalidade de Brandi: uma Filosofia da Arte aplicada ao Restauro
fundamentando-se na sua verificação Prática!
Uma hermenêutica prática!
Uma Teoria (fundamentada na História e na Crítica da Arte) confrontada com uma
Praxis (comprovada pela ciência com o experimentalismo do ICR-Roma) depois
traduzida numa “ESCOLA”, uma “escola de restauradores”, depois amplificada
internacionalmente (ICCROM).
E por aqui que se deu o primeiro contacto de muitos de nós, presentes nesta sala,
com os NOVOS ensinamentos de uma notável (e generosa) geração: Brandi;
Philippot; Laura e Paolo Mora, Torraca, Massari, Tabasso, etc. etc. etc.
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BRANDI E O CONCEITO DE ESPAÇO: TEORIA E PRAXIS NO RESTAURO ARQUITECTÓNICO, LISBOA, FAUTL, 2007
Coimbra, antes e depois das intervenções do Estado Novo a partir do início dos anos 40.
OS IMPACTOS DA TEORIA DO RESTAURO
DE BRANDI, EM PORTUGAL
A “Teoria” esclarece o fim de um paradigma - impensável
para a conservação -, que marcou (que ainda marca?)
mais de meio século da actividade de RESTAURO
ARQUITECTÓNICO em Portugal:
o pressuposto de que O TEMPO É REVERSÍVEL e de que
É POSSÍVEL ABOLIR A HISTÓRIA!
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CESARE BRANDI, A PASSO D´UOMO
CESARE BRANDI: INFLUÊNCIA EM PORTUGAL
ANOS 80 E 90 MUDANÇAS DE PARADIGMA: A GRADUAL PASSAGEM DO RESTAURO ESTILISTICO
E ANALÓGICO PARA UMA CONSERVAÇÃO (MAIS) ESTRITA
Foi sobretudo na década de 80, e ainda mais na década de 90 do século XX, que
algumas novas gerações de cientistas, de arquitectos e engenheiros e a primeira
geração do “Restauradores - Conservadores” portugueses travaram contacto com o
célebre Instituto Centrale del Restauro de Roma (ICR) que Brandi fundou e dirigiu, e,
depois, com os cursos de restauro que o ICCROM concretizava em Roma e por toda
a Europa.
Refiro-me aos célebres cursos “Conservation de Pinture Mural” (depois, com a
avassaladora primazia anglo-saxónica, designados de Mural Painting Conservation),
refiro-me aos estruturais cursos “on Architectural Conservation” e aos mais
específicos cursos “Architectural Surfaces Conservation (também a outros, orientados
para a conservação de materiais específicos como a Pedra, a Madeira, ou para os
cientistas, como os cursos de análise não destrutiva dos materiais das obras de arte,
etc.).
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CESARE BRANDI, A PASSO D´UOMO
CESARE BRANDI, INFLUÊNCIA EM PORTUGAL
ANOS 80 E 90 MUDANÇAS DE PARADIGMA: A GRADUAL PASSAGEM DO RESTAURO ESTILíSTICO E ANALÓGICO PARA UMA
CONSERVAÇÃO (MAIS) ESTRITA
Formações avançadas frequentadas por muitos dos actuais protagonistas portugueses do
mundo do restauro e da conservação, da investigação da praxis à embrionária investigação
científica (de memória, por exemplo): T. Cabral, J. Cordovil, J. Caetano, I. Frazão, M. Portela,
F. Peralta, F. Henriques, M. Fernandes, F. Marques, F. Pinto, J. Cornélio, J. Aguiar, S.
Salema, J. Antunes, A. Barreiros, P. Santa Bárbara, E. Murta, T. Gonçalves, E. Paupério, M.
Goreti, etc. etc.ETC.).
Cursos de conservação baseados no aprender fazendo e na experimentação das mais
contemporâneas teorias do restauro. Rescrevendo as praxis ao mesmo tempo que se
permitia a algumas das nossas gerações os primeiros contactos com os centros de
excelência, com as intensas discussões pluridisciplinares que desde os anos 70 ferviam pela
Europa.
Acedemos assim pela primeira vez aos conhecimentos mais avançados e ao inexcedível
convívio directo com as mais distintas estrelas deste novo universo da nova disciplina da
conservação patrimonial (como o saudoso casal Mora, G. Torraca, H. e G. Massari, M. Koller,
E. De Witte, J. Jokilehto, e tantos outros). Cursos onde hoje, como feliz indicador do nosso
crescimento científico, onde já não encontramos apenas alunos mas também Professores e
Investigadores portugueses, como o Investigador do LNEC Delgado Rodrigues. Como muitos
dos que citei, hoje aqui presente.
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BRANDI E O CONCEITO DE ESPAÇO: TEORIA E PRAXIS NO RESTAURO ARQUITECTÓNICO, LISBOA, FAUTL, 2007
CESARE BRANDI, A PASSO D´UOMO
OBRAS PIONEIRAS COM INFLUÊNCIA DA TEORIA DE BRANDI
J. Cordovil (ICCROM) Restauro da fachada da antiga delegação de D.G.Turismo de Évora
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BRANDI E O CONCEITO DE ESPAÇO: TEORIA E PRAXIS NO RESTAURO ARQUITECTÓNICO, LISBOA, FAUTL, 2007
CESARE BRANDI, A PASSO D´UOMO
OBRAS CHAVE QUE REVELAM A INFLUÊNCIA DAS TEORIAS DE BRANDI:
Palácio Nacional de Sintra (assessoria ao Restauro de Fernando Henriques ASC-ICCROM)
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OBRAS CHAVE DOS ANOS 80 E 90 QUE REVELAM A INFLUÊNCIA DAS
TEORIAS DE BRANDI
Joaquim Caetano (ICCROM)
Intervenções da Mural da História, St. Leocádia
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OBRAS CHAVE DOS ANOS 80 E 90 QUE REVELAM A INFLUÊNCIA DAS
TEORIAS DE BRANDI:
Irene Frazão (ICCROM)
e Arlinda Silva
Restauro de frescos, “Cuba” em Monsaraz
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OBRAS CHAVE DOS ANOS 80 E 90 QUE REVELAM A INFLUÊNCIA DAS
TEORIAS DE BRANDI:
Nuno Proença (ICR)
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TRADUÇÃO DA TEORIA DO RESTAURO
PARA PORTUGUÊS no centenário do nascimento de Brandi
Os estudiosos e os profissionais portugueses tiveram primeiramente acesso à
TEORIA DO RESTAURO na sua versão italiana (1963), mais tarde na versão
francesa, ou em traduções informais em castelhano.
Em 2006 Delgado Rodrigues, Nuno Proença, José Aguiar e Cristina Prats,
traduziram a Teoria, por entenderem que se tratava de um documento fundamental
para o ensino da conservação e do restauro, uma nova disciplina do conhecimento
humano que deu passos fundamentais em Portugal, no decorrer da última década.
Fizeram-no por imperativo pessoal, como testemunho pela admiração que têm por
este grande pensador e homem de cultura, e como tributo na ocasião do centenário
do seu nascimento.
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Seminário Internacional “Theory and Practice in Conservation: a tribute to
Cesare Brandi”, LISBOA, 2006 no centenário do nascimento de Brandi
José Aguiar, Faculdade de Arquitectura da Universidade Técnica de Lisboa
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Lisboa, Congresso Internacional do Restauro de Obras de Arte, recepção dos
congressistas no Museu Nacional de Arte Antiga. Na foto Brandi (Director do ICR) e
João Couto (Director do Museu de Arte Antiga) e o Director do Instituto Italiano da
Cultura em Portugal. A única foto que conhecemos de Cesare Brandi entre nós.
Cesare Brandi e Portugal
Cesare Brandi esteve várias vezes em Portugal e escreveu sobre assuntos portugueses.
O primeiro desses textos e que traduzimos em 2006 é um interessante ensaio sobre Álvaro
Pires de Évora, editado em 1940 pela Reale Accademia d´Italia, incluído na colectânea
Relazioni Storiche fra l´Italia e il Portogallo, iniciativa surgida no quadro das particulares relações
estabelecidas entre o Fascismo italiano e o Estado Novo Português.
O segundo texto é o capítulo, mais conhecido, sobre o Manuelino, incluído no seu livro Struttura
e Architettura, de 1967.
O último texto sobre assuntos portugueses é o capítulo Portogallo, do seu livro A passo d´uomo,
editado em 1970, livro onde Brandi descreve - poética e magnificamente - a sua passagem
pelos nossos monumentos e lugares, no clima cultural do Portugal da década de 60, que vivia
um tempo fora do tempo, em plena guerra colonial, já expectante do fim da ditadura.
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CESARE BRANDI: A PASSO D´UOMO
EXTRACTOS DE: O MANUELINO in Struttura e Architettura, 1967.
«Sobre o Manuelino viria a tentação de falar em termos de botânica mais de que em termos de
arquitectura e de escultura: uma hibridação que se sucede em vagas sobre o velho cepo gótico
que resiste e se compõe com os insertos. Os quais, ao contrário, na natureza aniquilam o
franco, e obrigam-no a nova fileira que não deixará passar nada das primitivas características,
mas só o suco vital, a seiva.
[No Manuelino] (…) acontece uma contínua osmose entre as formas vegetais e as molduras
arquitectónicas: as nervuras transformam-se em ramos, as colunas em troncos e como troncos
envolvem raízes, e como troncos têm casca e ramos aparados. Tudo isto não num modo
alusivo, mas grave, contínuo, verosímil até ao grotesco. Surge-nos a pergunta se e até que
ponto o Manuelino antecipa uma posição mental que será típica do Maneirismo».
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O MANUELINO
«(…) O Manuelino baseia-se assim, pelo menos numa das suas fases, sobre a semantização
em vez da figuração. Transmite apenas por significar. Por outro lado, esta significação não
tem objectivo, porque é portadora de uma mensagem inoperante: e não só, intencionalmente
falsa. (…) nestas duas obras supremas, o Claustro de Belém e o Claustro da Batalha, o
Manuelino renuncia a si próprio como semantização intensiva da arquitectura: a semantização
revela-se mesmo após a extraordinária aparição, com a qual estas obras se manifestam, se
esfumam na atenção o suficiente para permitir a análise e por isso a recuperação gradual dos
elementos semânticos com os quais foram investidas as estruturas».
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LISBOA
CITAÇÕES DE CESARE BRANDI A PASSO D´UOMO.
Milão: Col. Bompani, 1970 (Cap. Portogallo, pp. 83 – 10).
Talvez por este facto dominante, do qual ninguém fala mas no qual todos pensam [a
guerra de Angola], Portugal é tão melancólico: verde, afável e melancólico. (...)
Desce-se a Avenida da Liberdade, grande como os Champs Élisées, com tão belos
plátanos e canteiros floridos. Passam os carros, as pessoas passeiam. Mas há esta
melancolia que não se dissipa. Não basta que tenhamos fugido do bosque
maravilhoso e encantado onde os estudantes se transformam em árvores e os
pássaros perdem o canto [no Jardim Botânico]. Aquele bosque, aquele silêncio,
aquele halo de encantamento, está na base de tudo, em Portugal, encontra-se como o
inconfundível sabor que qualquer comida de um país guarda, no fundo do fundo, e
aproxima todos, quase como se fosse uma divindade carente que se tivesse
refugiado, expulsa de todos os lugares, na garganta.
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SINTRA
«Tanto tinha ouvido falar de Sintra e nunca da extraordinária cozinha. Claro, quando
um lugar fez as delícias de Byron e por Strauss foi considerado como o verdadeiro
jardim de Klingsor (quase que Ravello seria de deitar fora) parecerá muito prosaico
dedicar-se a uma cozinha; (...) Mas por Sintra, imaginem que de longe, apenas se
começa a ver subir no horizonte as colinas sobre as quais se encontra a delicada
cidadezinha, uma coisa nos atinge que não se sabe logo como interpretar: são dois
grandes garrafões de pedra e cal, grandes como cúpulas e em forma de fuso que,
em vez de acabar em pequena cúpula, exibem o pescoço estreito dum cantil. À volta
é um sobe e desce de telhados, de varandas, de janelas manuelinas bordadas como
uma toalha de igreja; eles, os dois cantis inchados, pavoneiam-se como galinhas
chocas no ninho».
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SINTRA ...E ALCOBAÇA
«Dir-se-á que em Alcobaça há muito
mais a ver: a esplêndida igreja que tem,
pelo menos, o dobro do comprimento de
Casamari e de Fossanova, as suas
irmãs italianas. Estão ali os dois
soberbos sepulcros de Inês de Castro e
do Rei D. Pedro I: certamente as duas
mais belas esculturas medievais de
Portugal e as mais intrigantes, por assim
dizer, porque portuguesas não são de
certeza e soam humores franceses por
toda a parte. Por fim, o claustro solene e
vastíssimo com a esplêndida fonte. De
tudo isto se poderia falar longamente e
com outro tom. A cozinha é uma coisa
bem mais modesta: mas, como em
Sintra, depois de vista, ofusca o resto».
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ALCOBAÇA E BATALHA
«Quando se chega a Alcobaça, a grande abadia aparece pousada como uma grande
maqueta de madeira entre casitas de liliputianos. A surpresa repete-se na Batalha, onde para
falsamente aumentar o isolamento e sugerir o vasto campo de batalha, abatem os lindíssimos
plátanos seculares que circundavam este que é o mais heterogéneo, não resolvido e
germinante monumento de Portugal. O que é que importa, a quem, a que pessoas ingénuas,
fazer o vácuo em torno dum monumento para reproduzir um campo de batalha? Não é
preciso muita fantasia, não é preciso pôr-se à secretária: um plano é um plano. (…)
Entretanto a actualidade do monumento está ali, dura e categórica. Ora, estes dois
monumentos de Alcobaça e da Batalha sofrem realmente duma falta de ligação ao solo:
parecem, já o disse, enormes maquetas pousadas ali e poderiam estar num outro lugar
qualquer. Tirem os plátanos à Batalha e a estranheza do grande e caótico edifício explodirá.
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ÓBIDOS
«Não estava prevista uma paragem em Óbidos: nem sequer sabia que existia, visto que não
tem nada de fundamental para a arte portuguesa. Mas feliz ignorância e feliz descoberta.
(...) esta aldeiazinha branca, entre paredes com ameias, quase oferecida como que numa
bandeja, é qualquer coisa que está fora do tempo, como uma cidade morta, e dentro do
tempo, como uma coisa viva.
(...) Pensa-se mesmo em Assis, e mais ainda em Córdova: Óbidos é uma outra coisa. É esta
civilização em conserva, que foi produzida por todas as especiarias do oriente e do ocidente
e, assim mumificada, em vez de se conjugar no passado, sobrevive, digna, melancólica,
cheia de luz e de sombras delicadas».
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ÓBIDOS
«(...) Agora poder-se-á argumentar: e é preciso ir a Portugal para uma imersão assim tão
barata no passado? Talvez não exista em Itália... e como eu o desejaria. Porque em Itália já
não há lugar nenhum que esteja conservado como Óbidos, e como, à parte as
características únicas e modestas de Óbidos, é em Portugal a norma constante.
Mas as cidades estão intactas: e mesmo que os monumentos às vezes estejam restaurados
de mais, como Alcobaça, nunca me aconteceu ver um campanário gótico em competição
com um arranha-céus. Este país, que nunca pretendeu ser, tanto quanto sei, o país da arte,
tem mais respeito pela arte do que o bendito berço dos Museus, que seria a Itália.
(...) Não quero acreditar, não poderei nunca acreditar que este milagre de educação, de
respeito, numa palavra, de civilidade, seja pelo contrário o produto de um regime de força, de
um estado de coacção no qual um povo, que ditou leis em quase um terço do mundo, se
encontra agora a morder o freio, tendo a ilusão de que basta chamar províncias àquelas que
são colónias atrasadas, absolutamente medievais».
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MAFRA 1
«Mafra encontra-se num daqueles sítios que parecem em baixo mas, ao contrário,
são um falso plano: do lado do mar prolonga-se o horizonte. Não se prolonga
como na Toscânia ou na Umbria com tantas filas de colinas que se cavalgam e se
rebaixam, prolonga-se como se se estendesse e onde toca com os pés é o céu».
(…) Mafra foi, portanto, um fruto atrasado, uma espécie de cruzamento entre o
convento espanhol e Versailles. Mas Juvarra, nos seus belíssimos esquiços, tinhao pensado doutro modo totalmente diferente: seria uma praça grandiosa, com o
castelo ao fundo, recintos indefinidos, a Igreja num dos lados. O problema é saber
se o obtuso arquitecto alemão, Ludwig, se serviu de qualquer dos esquiços de
Juvarra, não só para maior parte do edifício como para a Igreja que, nos seus
elementos, mais italiana do que isto não podia ser».
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MAFRA 2
«Mafra está toda no convento – não é, em suma, planificada como Caserta: as
casas burguesas, à volta do largo, param temerosas como diante dum reticulado.
Enfim, o largo não faz praça, e da escadaria da Igreja o olhar tem livre alcance
sobre os campos que continuam para lá dos telhados; (felizmente baixos, mas
ainda por quanto tempo?).
No imenso bosque por trás do Palácio Real (que se estendia à sua volta, por trás
do Convento e da Igreja) parece que ainda há veados: os últimos descendentes
dos que, com enormes chifres, povoam o andar nobre, conforme me disseram,
sob a forma de grandes troféus e de pernas de cadeiras. Gostaria de os ter visto,
estes móveis cornudos, mas era tarde e não se podia visitar o palácio.»
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NAZARÉ
«(...) sente-se, sem o saber, como Portugal é antigo, como nem as viagens, nem
as contínuas chegadas de civilizações diversas, mudaram um fundo duro e magro:
estes rostos como portas fechadas, este falar nasal e gutural, quase sem vogais,
onde os aspirados árabes e as guturais visigóticas fazem ao latim original o que os
arquitectos manuelinos fizeram ao Renascimento.»
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COIMBRA 1
«Quando se chega a Coimbra dá-se o agradável caso de a Universidade ser a acrópole da
cidade, está onde era o palácio real, coroando, com o seu saber, o aglomerado. Foi posta
mesmo no antigo palácio real e a aula magna ainda é uma espécie de grande salão do trono,
com aquele ar um pouco campónio que têm os interiores em Portugal, até do rei, dado que não
existia nem uma grande tradição pictórica, nem uma plástica a apoiar um artesanato de fundo
quase rural.
A Universidade, no seu antigo bloco central, está cercada agora por edifícios novos, entre os
quais a nova Biblioteca. Mas não tenham medo: a antiga que tanto agrada a Emilio Cecchi, está
lá, brilhante, intacta, intangível: mais adequada ao Parnaso que a uma Universidade».
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COIMBRA 2
«O fascínio de Coimbra, mais ainda que a fama da sua vetusta Universidade (e dos
sobreviventes focos de liberdade que ainda alimenta) devia-se para mim a uma
descrição da Biblioteca que me tinha feito Emilio Cecchi. Uma espécie de santuário
silencioso com minúsculas capelas, onde estudiosos privilegiados se isolam como
numa cabina espacial».
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COIMBRA 3
«A biblioteca está em cima de três arcadas, tantas quantas eram as faculdades, quando foi
feita.
Três arcadas a que dão acesso arcos espaçosos e no intradorso alojam-se os pequenos
pórticos para subir ao patamar. Este corre dum lado ao outro e, para permitir chegar aos
camarotes mais altos, contém escadas lindíssimas com degraus escondidos entre cada
prateleira. Mas para que sejam de fácil utilização e não se vejam e para que, com o seu
utilitarismo, não perturbem a ordem desinteressada, são essas também lacadas e douradas,
de modo a que, quando voltam a ordenar-se no seu alvéolo, não se distingam do resto. Um
ferro batido e também ele lacado sai do ponto justo para apoiar a escada e servir todo o
sector: mas se não fosse a escada, de baixo não se via nada. Os livros são para os anjos,
que têm asas.
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COIMBRA 3
«(…) Mas é lá, no lado [da Biblioteca] virado para o Mondego, que estão as minúsculas celas,
com a janela que dá para o rio, uma exígua secretária, a portinha que, quando está fechada, dá
continuidade às estantes como se nada existisse. Como se não existisse, lá dentro - dentro
desta espécie de gaveta secreta - o estudioso que trabalha e sonha, que trabalha esquecido,
destilando palavras. Emilio Cecchi, ao abrir uma daquelas pequenas portas, quase pensei que
o via».
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CESARE BRANDI E PORTUGAL
PORTUGAL
“Aquele bosque [onde os estudantes se transformam em árvores e os pássaros perdem o
canto], aquele silêncio, aquele halo de encantamento, está na base de tudo, em Portugal,
encontra-se como o inconfundível sabor que qualquer comida de um país guarda, no fundo do
fundo, e aproxima todos, quase como se fosse uma divindade carente que se tivesse refugiado,
expulsa de todos os lugares, na garganta.
(...) Dir-me-ão que [HOJE PORTUGAL] é bem diferente: mas mais tarde sucede que as
imagens enfraquecem, as recordações toldam-se, e de repente, com uma garfada, com um
gole, sentireis um abalo surdo e acontecer-vos-á dentro de uma igreja, numa praça, num
campo. Tereis encontrado aquele país e na voragem do tempo abriu-se como que uma brecha,
gerou-se uma paragem. Assim será Portugal para mim, quando me encontrar numa sombra
profunda e silenciosa ferida de raios de sol denso como o ouro, de um sol que atravessou as
trevas.”
Cesare, Brandi, A passo d´uomo. Milão: Col. Bompani, 1970 (Capitulo Portogallo, pp. 83 – 10, traduzido por Delgado Rodrigues,
José Aguiar, Nuno Proença, Cristina Prats em 2006).
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