Efeito de níveis de tanino sobre o tempo de ingestão de alimentos

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Efeito de níveis de tanino sobre o tempo de ingestão de alimentos
Efeito de níveis de tanino sobre o tempo de ingestão de alimentos de vacas em lactação1
Effect of tannin levels about the time of ingestion of food lactating cows
Raniere de Sá Paulino2, Antônio da Costa Pinheiro3, Edilson Paes Saraiva4, Carla Aparecida
Soares Saraiva4, Severino Gonzaga Neto4, Severino Guilherme Caetano Gonçalves dos
Santos3
1
Parte da dissertação de mestrado do segundo autor.
Graduando do curso de Zootecnia – UFPB, Areia, Paraíba, Brasil. Bolsista de iniciação cientifica (CNPq). email: [email protected]
3
Doutorando do Programa de Doutorado Integrado em Zootecnia – UFPB, Areia, Paraíba, Brasil.
4
Professor do Departamento de Zootecnia – UFPB, Areia, Paraíba, Brasil.
2
Resumo: Objetivou-se avaliar a influência de níveis de tanino sobre o tempo de ingestão de
volumoso e concentrado de vacas em lactação em diferentes períodos de adaptação a dieta.
Foram utilizadas 5 vacas primíparas distribuídas em um delineamento quadrado latino 5x5 (5
dietas e 5 períodos). As observações do comportamento ingestivo foram realizadas durante 24
horas, no 1º e 2º (fase I), 9º e 10º (fase II), 17º e 19º dia (fase III) de cada período. Os
tratamentos consistiram de 5 níveis de tanino nas dietas: T1 = 0,0%; T2 = 1,3%; T3 = 2,6%;
T4 = 3,9%; e T5 = 5,2%. Animais consumindo dietas com 1,3% de tanino apresentaram
menor tempo diário para o consumo de volumoso e maior tempo para o consumo de
concentrado durante a fase II de adaptação. A inclusão de 5,2% de tanino na dieta de vacas
em lactação aumenta tempo para o consumo de concentrado em relação ao tratamento
controle durante o primeiro contato com o alimento contendo tanino. Assim, a inclusão de
5,2% de tanino na dieta de vacas em lactação causa alteração no tempo de ingestão de
concentrado aumentando tempo diário de consumo durante o primeiro contato com o
alimento.
Palavras-chave: ruminantes, comportamento alimentar, compostos secundários
Abstract: This study aimed to evaluate the influence of tannin levels about the time intake of
roughage and concentrate of dairy cows in different periods of adaptation to diet. Five
primiparous cows were used, distributed in a 5x5 Latin square design (5 diets and 5 periods).
The observations of feeding behavior were held for 24 hours, on the days: 1 and 2 (phase I), 9
and
10
(phase
II),
17
and
19
(phase
III)
of
each
period.
The treatments consisted of 5 tannin levels in the diets: T1 = 0.0%; T2 = 1.3%; T3 = 2.6%; T4
= 3.9%; and T5 = 5.2%. Animals fed diets with 1.3% tannin showed lower daily time for
consumption of roughage and long for the consumption of concentrate during phase II
adaptation. The inclusion of 5.2% of tannin in lactating cows diet increases time to
concentrate intake in relation to the control treatment during the first contact with food
containing tannin. Thus, the inclusion of 5.2% of tannin in cows diet lactating causes a change
in the time of concentrate intake increasing daily time consumption during the first contact
with food.
Keywords: feeding behavior, ruminants, secondary compounds
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Introdução
Os taninos são compostos fenólicos que quando presentes nos alimentos podem causar
variações no padrão ingestivo de ruminantes, principalmente, devido à característica de
adstringência causada pelo seu consumo. No entanto, os efeitos decorrentes da ingestão irão
depender da concentração no alimento e também de outros fatores, tais como, tipo de tanino, a
espécie animal, estado fisiológico e composição da dieta (Makkar, 2003).
Assim, tanto os efeitos benéficos como nocivos advindos da presença de taninos na
nutrição animal podem estar ligados com a quantidade de tanino presente nos alimentos,
capazes de modificar o comportamento ingestivo do animal de forma que ele se adapte a
ingestão desses compostos. Portanto, objetivou-se avaliar a influência da adição de níveis de
tanino no tempo de ingestão de concentrados e volumosos por vacas lactantes em diferentes
fases de adaptação.
Material e Métodos
O experimento foi conduzido no Setor de Bovinocultura do Departamento de Zootecnia
do Centro de Ciências Agrárias/UFPB, Campus II, no município de Areia – PB. Foram
utilizadas 5 vacas primíparas (Holandês x Zebu) com aproximadamente 4 anos de idade, peso
vivo médio de 420 kg e lactação em torno de 100 dias, com produção média inicial de 18 kg
de leite/dia. Os animais foram distribuídos em um delineamento quadrado latino 5x5, sendo o
período experimental de 100 dias, dividido em 5 períodos de 20 dias.
As dietas experimentais foram formuladas de acordo com o NRC (2001), sendo
volumoso e concentrado ofertados separadamente no comedouro, às 06 e 14 h, permitindo
sobras de 5%, e a água foi fornecida Ad libitum. Os tratamentos consistiram nos níveis de
tanino das dietas, havendo a inclusão do grão de sorgo seco moído (moderado teor de tanino =
1,27%), exceto para o tratamento controle: T1 = 0,0%; T2 = 1,3%; T3 = 2,6%; T4 = 3,9%; e
T5 = 5,2% de inclusão de tanino, e acrescentado ácido tânico puro para regular as
percentagens. As observações do comportamento ingestivo (tempo de ingestão de volumoso e
tempo de ingestão de concentrado) foram do tipo animal focal, realizadas de forma contínua
durante 24 horas, no 1º e 2º (fase I), 9º e 10º (fase II), 17º e 19º dia (fase III) de cada período,
totalizando 144 horas de observações por tratamento em cada período.
Os dados foram submetidos à análise de variância pelo procedimento “GENMOD” e as
médias quando significativas foram comparadas pelo teste f com nível de confiança de 5%.
Para as variáveis comportamentais utilizou-se modelo de regressão conforme o melhor ajuste
da equação em função do nível de tanino na dieta. Todas as análises foram feitas por meio do
software estatístico SAS (2011).
Resultados e Discussão
Animais alimentados com 1,3% de tanino apresentaram menor tempo diário de
ingestão de volumoso durante a fase II, refletindo no maior tempo diário destinado ao
consumo de concentrado nessa mesma fase. Isso se deve, possivelmente, ao primeiro contato
dos animais com o tanino. Na fase I, houve a necessidade de uma resposta comportamental
adaptativa, assim, quando o animal chegou à fase II já estava adaptado, ocorrendo reajustes na
ingestão de alimento na fase seguinte (Tabela 1).
Houve variação (P<0,05) dos níveis de tanino sobre o tempo de ingestão de
concentrado, para fase I. Animais alimentados com dietas contendo 5,2% de tanino
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dispenderam maior tempo para o consumo de concentrado em relação ao tratamento controle.
Essa condição, pode ser em função do efeito adstringente causado pela presença de maiores
níveis de tanino na dieta, forçando os animais modularem seu comportamento ingestivo,
refletindo em maior de tempo diário para ingestão de concentrado durante o primeiro
momento de contato com tanino. Segundo Barroso et al. (2003), o maior despendimento de
tempo seria um mecanismo de defesa dos animais a presença de taninos na dieta.
Tabela 1. Percentagem de tempo diário de ingestão de volumoso (Vol) e concentrado (Con) de vacas em
lactação alimentadas com diferentes níveis de tanino em três fases de adaptação.
I
Fases
II
III
Trat
Valor de P
Fase
Trat x Fase
Variáveis respostas
Vol (%/hora)
0,0%
87,80
84,96A
83,97
1,3%
86,67a
73,63bB
84,51a
2,6%
84,08
85,07A
80,69
0,3328
0,6379
0,0023
3,9%
82,58
86,73A
85,47
5,2%
81,79
86,58A
81,07
Linear
ns
Quadrático
ns
Con (%/hora)
0,0%
12,20B
15,04B
16,03
1,3%
13,33bAB
26,37aA
15,49b
2,6%
15,92AB
14,93B
19,31
0,2848
0,6005
0,0049
3,9%
17,42AB
13,27B
14,53
5,2%
18,21A
13,42B
18,93
Linear
ns
Quadrático
ns
Médias seguidas de letras minúsculas diferentes, nas linhas, e letras maiúsculas diferentes, nas colunas, diferem
pelo teste f a 5% de probabilidade. ns: não significativo.
Na fase III, não houve variação (P>0,05) entre os níveis de tanino sobre o tempo de
ingestão de concentrado e de volumoso. Esse achado se deve, possivelmente, ao fato que os
animais estavam habituados com a dieta.
Conclusões
A inclusão de 5,2% de tanino na dieta de vacas em lactação causa alteração no tempo de
ingestão de concentrado, aumentando o tempo diário de consumo durante o primeiro contato
com o alimento.
Literatura citada
BARROSO, F.G.; MARTÍNEZ, T.F.; PAZ, T.; ALADOS, C.L.; ESCÓS, J. Relationship of
Peiploca laevigata (asclepidaceae) tannins to livestock herbivory. Journal of Arid
Environments, v. 53, p. 125 – 135, 2003.
MAKKAR, H. P. S. Effects and fate of tannins in ruminant animals, adaptation to tannins,
and strategies to overcome detrimental effects of feeding tannin-rich feeds. Small Ruminant
Research, v. 49, n. 3, p. 241-256, 2003.
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