experiência no espaço público
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EXPERIÊNCIA NO ESPAÇO PÚBLICO 2|3 EXPERIÊNCIA NO ESPAÇO PÚBLICO Trabalho realizado por Eunice de Oliveira Sara de Castela Susana Carvalho DCiii Esfera Social_Espaço Urbano 2007-2008 “We are in a transition to a post-spectacular, post-massified culture in which performance environments will be judged by their capacity to foster interaction and learning. The trend is towards spaces, places, and communities in which complex experiences and processes combine in new geographies of learning and experience (…)” John Tackara Índice Introdução..........................................................................p. 7 1. O Espaço Urbano e o Papel do Público 1.1 Contexto do Espaço Urbano.............................................p. 9 1.2 Espaço Público/ Espaço Privado.....................................p. 13 1.3 Papel do Público na Criação de Identidade do “Lugar”......p. 17 2. Experiência no Espaço Público 2.1 Design enquanto Criação de Experiências........................p. 21 2.2 Experiências como Modelo de Comunicação....................p. 24 3. Referências Projectuais 3.1 Revitalização dos espaços.............................................p. 26 3.2 Promoção da relacção Pessoas/Espaço..........................p. 34 3.3 Promoção de Relações Interpessoais..............................p. 42 Conclusão..........................................................................p. 46 Anexos..............................................................................p. 47 Bibliografia.......................................................................p. 79 Introdução Actualmente, vivemos num contexto urbano que se caracteriza por um clima frenético, privilegiando a comercialização, industrialização, o individualismo e indiferença, esquecendo muitas vezes valores tão importantes como a valorização dos espaços e das relações interpessoais. O espaço público perdeu algumas das características que possuía no passado, que permeavam relações de proximidade, tais como encontros, palestras, intercâmbios culturais e lazer. Tal contribui para a perda da sua importância. Consequentemente, a esfera urbana surge agora como um medium que potencia o fluxo frenético de bens e serviços, resultando numa dissonância de experiências. Estes factores desfavorecem o relacionamento entre os indivíduos e entre estes e a cidade pois, contribuem para a indiferença e isolamento a que assistimos na esfera pública. Assim, pretende-se que o público “viva” a cidade, crie vínculos e experiências, e se aperceba do carácter recíproco entre o espaço urbano e o transeunte, mediante a recorrência à experiência como meio de comunicação que poderá potencializar um melhor relacionamento entre cidade/público. Através destas experiências também poderão ser criadas novas relações entre os habitantes, privilegiando o intercâmbio cultural e social, e contribuindo para novas construções de sentidos para a cidade. É o habitante que define a identidade do espaço urbano logo, o modo como o habita, o entende e o usufruto que faz deste, poderá redefinir os espaços. Valores como bem-estar, desaceleração, revalorização do tempo, proximidade, conforto, equilíbrio e intercâmbio cultural, são importantes para que se promovam novas relações e novas abordagens no espaço urbano. O espaço urbano é o palco da vida das pessoas que lá circulam logo, o seu bem-estar poderá ser melhorado se se desenvolverem novas formas de acção, observação, e interacção mediante a experiência. Para tal, é importante conhecer o público e as “características” do espaço urbano, entender o papel que a experiência pode assumir no espaço público e, finalmente, analisar as estratégias utilizadas em alguns projectos que exploram as potencialidades do espaço urbano, as relações interpessoais e público/ espaço urbano. 6|7 01 O Espaço Urbano e o Papel do Público 1.1 Contexto do Espaço Urbano O conceito de espaço público é muito vasto, englobando noções de configuração, identidade e utilização. Assim sentimos a necessidade de conhecer quais os principais factores que definem o Espaço Público, quais as suas delimitações e implicações na vida das pessoas. É certo que o conceito de Espaço Público não foi sempre encarado da mesma forma, e a sua definição tem correspondido às interpretações pessoais ou partilhadas por grupos de indivíduos, relativamente às funções que os espaços devem desempenhar. Posteriormente, essas opiniões reflectem-se na configuração visual dos meios urbanos. Assim, ao longo de vários séculos, têm-se registado diferentes entendimentos do que é o espaço público. No passado, os lugares urbanos eram a projecção das actividades que neles se praticavam. Cada lugar tinha a sua própria função consoante a área urbana em que se encontrava. Durante as décadas de 1950 e 1960, muitas cidades à volta do mundo passaram por uma mudança com uma escala sem precedentes, que passou pela construção massiva de auto-estradas. Isto resultou no aumento da actividade comercial e atingiram-se níveis únicos de acessibilidade para os veículos motorizados. 8|9 “We must exploit individuality, uniqueness and the differences between places. An attractive public realm is very important to a feeling of well-being or comfort.” “A consciência de uma irredutível diferença de natureza entre percepção estética e percepção da cidade deveria ser uma das chaves do desenho urbano do futuro.” John Tackara1 Françoise Choay 2 No entanto, esta evolução produziu ambientes físicos que ficam muito aquém das mais profundas aspirações do domínio público, porque se centram sobretudo em questões de parqueamento e mobilidade e ignoram os problemas relacionados com a autenticidade dos lugares. Por outro lado, a atitude da maioria dos designers urbanos consiste apenas na adaptação dos edifícios aos lugares, no sentido de criar uma beleza visual. Passado quatro décadas, actualmente as preocupações económicas e de mercado continuam a ser as predominantes na determinação dos espaços físicos urbanos (que se estão a tornar cada vez mais complexos). Por outro lado, a excessiva atribuição de importância concedida à imagem, à representação e à aparência dos espaços urbanos— em detrimento da realidade original—, tem como consequência a alteração dos comportamentos dos indivíduos nas cidades. Assim, estamos perante uma sociedade em que “a cultura, tornada integralmente mercadoria, também se torna vedeta da sociedade e do espectáculo”, segundo as palavras de Guy Debord (1991). 1 Tackara, J. (2002), Architecture, spectacle, performance [online]Consulta em: http://www.doorsofperception.com/archives/place/ Como alternativa, começam a surgir grupos de indivíduos que propõem a exploração de individualidade nos espaços públicos, tanto através da acentuação da diferença entre os diversos espaços, como pela defesa do seu carácter único. Alguns teóricos, como por exemplo John Tackara, defendem a construção de locais atractivos, pois esses são muito importantes para o despontar de sentimentos de bem-estar e conforto do indivíduo. existe uma vivência centrada em torno da “rua” (espaço público) e por sua vez, as atitudes individuais face ao uso dos espaços públicos foram radicalmente alteradas, resultando na perda do sentido da identidade urbana. Quanto mais atractivos forem os locais de vivência, mais actividades serão desempenhadas nesses locais pelos habitantes. Por sua vez, os espaços adquirirão um papel promotor de discussão social e de intercâmbio cultural. Por isso, deverá configurar-se os espaços de modo a que estes possibilitem o desenvolvimento de relações entre pessoas. Também é possível desenvolver relações entre os indivíduos e os locais, proporcionando um melhor conhecimento tanto das pessoas com as quais se convive, como dos locais. Ou seja, o espaço público deverá ser concebido e projectado para desempenhar um papel construtor da identidade urbana. A perda de “sentido colectivo” acerca do significado do espaço público, é outro dos pontos a combater na actualidade, de forma a quebrar a tendência gerada pelo ritmo que a sociedade impõe aos indivíduos, forçando-os a estabelecer a sua vida em “territórios controlados”, ou seja, em locais isolados. Assim, não Para além destas noções, começa a valorizar-se o papel que os indivíduos exercem na cidade pois, estes são os “principais actores no palco urbano”, e “deverão por isso estar no centro das preocupações envolvidas na concepção dos espaços, melhorando a vivência nas cidades” 3. 2 Choay F. (1975). L’Urbanisme, Utopies et Realités , Ed. Seuil,Paris Tradução livre de uma citação de Tridib Banerjee, retirada do texto The Future of Public Space: beyond invented streets and reinvented places , no livro Urban Design Reader, ed. Architectural Press, Oxford 2007, p. 155 3 10|11 Por outro lado, procura-se integrar sistemas, ou artefactos culturais abertos à participação de todos os indivíduos, que têm como principal objectivo permitir o seu desenvolvimento activo na sociedade. 1.2 Espaço Público/ Espaço Privado Conclui-se que os projectos desenvolvidos em torno do espaço público começam a colocar no seu foco o utilizador, respondendo às necessidades dos habitantes e promovendo espaços de convívio. Todos os espaços devem ser desenvolvidos para os usos, actividades e funções que lá se desempenham. O mero pensamento estético sobre os componentes da cidade, bem como o estabelecimento de relações entre os edifícios e os lugares não é o mais importante, o que importa é prever e melhorar as actividades dos indivíduos. É importante estabelecer lugares para o “discurso social” que devem preceder questões de parqueamento e mobilidade. “Passeio pela minha cidade. Um vagabundo dorme no “seu” banco (público). Um grupo de reformados joga às cartas na “sua” mesa habitual do “seu” bar. Um músico de rua toca na “sua” esquina. Dois namorados despedem-se como sempre fazem na “sua” porta. Atravesso um bairro dando voltas: o espaço urbano entre os blocos de vivendas é restrito aos vizinhos com gradeamentos e segurança. Apanho o metro. Um homem esconde-se atrás de um jornal desportivo tentando não ser visto pela ex-namorada – que está como ele, de pé e apertada – a quarenta centímetros de distância. Ela por seu lado está submersa pelo som do seu walkman e que a liberta do túmulo quotidiano, fecha os olhos sem querer observar ninguém (…) Finalmente chego a casa. Aqui ninguém me incomodará. Dispo-me, desligo o telefone e enfio-me na cama. Amanhã será outro dia ”. 4 Segundo Pedro Brandão, autor do livro Design De Espaço Público: Deslocação E Proximidade, a forma como os indivíduos se comportam no espaço urbano é definido essencialmente pela sua configuração, e pelas actividades que lá se desempenham. O palco urbano começa a tornar-se menos narrativo (menos centrado num discurso ou numa representação física do futuro) e mais instrumental, de interacção, em que os indivíduos se reconheçam como parte integrante do espaço público. A projecção dos lugares irá ao encontro de uma procura do que neles acontece. Espera-se assim, uma nova fase na relação entre cidade e processo de comunicação. O Espaço Público representa o palco onde se desenrolam os episódios da vida quotidiana. Entendemo-lo como um espaço partilhado, no entanto, os usos que as pessoas fazem dele ultrapassam a esfera pública. A vida na cidade é definida por uma dicotomia constante de local público e privado. A valorização desta dicotomia é por si só um acto fundamental para dar significado ao novo ambiente/meio que nos rodeia, um espaço comum e “não comum”, o “nosso” espaço, o dos outros e o de todos. A relação mais directa que as pessoas estabelecem com o espaço público urbano prende-se com a realização de actividades profissionais em locais de trabalho, a que correspondem situações de stress e de falta de tempo. Brandão P. & Remesar A. (2003), Design de Espaço Público: Deslocação e Proximidade, Centro Português do Design. 4 12|13 “Third places the world over share common and essential features. As one’s investigations cross the boundaries of time and culture, the kinship of the Arabian coffeehouse, the German bierstube, the Italian taberna, the old country store of the American frontier, and the ghetto bar reveals itself. As one approaches each example, determined to describe it in its own right, an increasingly familiar pattern emerges (…)But the third place, the people’s own remedy for stress, loneliness, and alienation, seems easy to ignore.” Ray Oldenburg 5 Num outro momento, os indivíduos evitam deslocar-se por espaços desabitados, pois estes transmitem-lhes sensações de desconfiança e insegurança, devido à sua localização e configuração isolada e desconfortável. Estes problemas poderão ser colmatados pelo designer de comunicação, através da criação de instalações que revitalizem as áreas e proporcionem o intercâmbio social, cultural e sentimental. Deste modo, os indivíduos são convidados a interagir de forma conjunta, estabelecendo laços com os outros habitantes, e desenvolvendo vivências mais pacíficas no interior do contexto urbano. Por outro lado, nos espaços privados, as pessoas agem no sentido do reencontro consigo mesmos, da quebra de velocidade do dia-a-dia, da pausa, da satisfação e bem-estar pessoal. Em todos estes casos, as pessoas são colocadas em estados de isolamento parcial ou total. No entanto, entre as duas noções acima apontadas, encontra-se um novo conceito, o dos espaços indicados como “terceiros lugares” por Tridib Banerjee.6 Banerjee caracteriza-os como locais de convívio — marcados por factores sociológicos —, com semelhanças suficientes para serem comparados com os locais de habitação. 5 6 Oldenburg R. (2007) Urban Design Reader, Architectural Press, Oxford op.cit. Eles proporcionam conforto e cooperação entre os indivíduos— sob o ponto de vista psicológico —, que nascem da necessidade do homem conviver e apenas podem ser entendidos quando comparados com outros locais urbanos. No entanto, os terceiros lugares são evidentemente diferentes das casas dos indivíduos pois estão inseridos no meio público. Os terceiros lugares podem resolver as questões de isolamento e stress dos indivíduos, pois promovem a satisfação social através de actividades com objectivos próprios (Ex: os pubs, as danças de rua, as festas públicas, etc.), tendo em vista o bem-estar dos indivíduos. Ajudam ainda a conhecer/apreciar a personalidade e individualidade de cada um (melhorando por isso as relações interpessoais), proporcionam o melhor conhecimento das pessoas pelo que elas são, eliminando os estatutos sociais, o seu cargo profissional, a sua influência na sociedade e no mercado. Assim, pode afirmar-se que estes locais se apresentam como espaços atractivos porque demonstram a intenção de contribuir para a realização de experiências conjuntas, restabelecendo a igualdade entre as pessoas e equilibrando as suas relações na sociedade. Os terceiros lugares consistem num importante agente de união de grupos sociais e propiciam o despertar de sentimentos normalmente relacionados com o conforto da casa de cada pessoa. No entanto são locais que trazem mais benefícios para os indivíduos, pois permitem desenvolver interacções sociais, promovendo os comportamentos cívicos e de solidariedade, e activam processos de apropriação de espaço que permitem aos cidadãos desenvolver o sentido de pertença ao lugar e à colectividade social. O espaço público é assim o campo de actuação escolhido pois desenvolve noções de cidadania entre os habitantes/frequentadores do meio urbano. Relaciona-se com valores de convívio, abertura e exterior, e oferece diversidade cultural positiva para a revalorização do papel dos indivíduos para a sociedade e definição dos locais.Enquanto designers, sentimos a incumbência de criar uma visão da cidade alternativa, assente no indivíduo e na sua interacção com o meio social/urbano. 14|15 1.3 Papel do Público na criação de Identidade do “Lugar” Enquanto intervenientes do domínio público, temos a capacidade de actuar “para o bem público” e melhorar esta relação. Por outro lado, verifica-se que se seguiu nas últimas décadas um caminho que provocou a separação entre as pessoas que vivem, e utilizam diariamente as cidades. Isto é surpreendente, pois o espaço público tem todas as características necessárias para reunir as pessoas e aproximá-las umas das outras, uma vez que é o local de habitação e, ou, de trabalho de muitas pessoas, colocandoas a partilhar muitos espaços e funções. “The modern city dweller is forced to create a social life on personal, controllable territory instead of engaging in a communal existence centered around the street. As a consequence, individual attitudes toward the use of urban space have been radically altered. With the loss of a collective sense of the meaning of public space.” Assim, deveriam desenvolver-se relações de qualidade, assentes nas oportunidades geradas pela mobilidade– os interfaces–, no entanto estas têm vindo a piorar e a ficar para segundo plano. Verificando-se, acima de tudo, uma “nova noção de tempo, que faz de nós uma espécie de urbanos sob o signo de dispersão, e da mudança de sentido”.7 Roger Trancik 8 Previamente observámos que a importância do papel do indivíduo enquanto principal “juiz” da configuração do Espaço Público9 tem vindo a aumentar, mas o papel do público no Espaço Urbano não termina nesse momento. Quando pensamos sobre os valores, as imagens e as actividades que identificam os diversos espaços da cidade, pensamos automaticamente nas recordações que guardamos desses espaços, ou seja, as imagens que observámos, as situações em que estivemos envolvidos, as actividades em que participámos, entre outros factores. O desempenho de acções que compreendam estes princípios, resultarão na mediação entre as pessoas e os lugares, ligando intencionalmente os locais públicos às pessoas que nele vivem ou circulam (para os quais o espaço funciona como local de vida diária ou de arredores. Possibilitarse-á o encontro de espaços agradáveis na vida diária citadina, abertos à integração. Revalorizar-se-á a importância das pessoas na cidade e a forma como a sua acção nesses espaços os torna únicos, os caracteriza. As próprias cidades podem aumentar o seu número de habitantes, e por outro lado, as pessoas poderão afastar-se da passividade a que tinham sido entregues. Em suma, a caracterização do local é determinada pela própria experiência individual de cada um, pela relação que se estabelece com o local, e também, pela selecção dos dados que consideramos mais marcantes para nós10, aos quais atribuímos mais significados. Brandão, P. & Remesar, A. Design de Espaço Público: Deslocação e Proximidade, Centro Português do Design. 7 8 Trancik, R. (2007), Urban Design Reader, Architectural Press, Oxford 9 Pois as suas necessidades/actividades devem estar na base das preocupações do designer urbano. O factor primário para a selecção de dados é o background cultural de cada indivíduo, pois esse estabelece o modo como observamos, assimilamos e analisamos o panorama urbano. 10 16|17 “Dizemos, o acontecimento tem lugar. Na cidade, que é o lugar do acontecimento, não há acontecimento sem lugar. Dizemos o que o lugar “é”, referindo não só o cenário desenhado, mas também as próprias coisas que ali acontecem.” Pedro Brandão & Antoni Remesar 11 As pessoas são obrigadas a formar a sua vida à volta de espaços isolados, o que fez com que perdessem o sentido dos lugares em sua volta. Este é o principal perigo nos dias de hoje, e apenas pode ser contrariado pela acção do designer urbano. Este deverá colocar ênfase nas relações psicológicas e experienciais, que os indivíduos mantêm com os lugares, contribuindo para a construção conjunta de uma “memória local”, formada por pensamentos e expressões locais, que preserva a cultura/história do espaço. Posteriormente, o indivíduo atribuirá— consciente ou inconscientemente— significados a esses espaços, através das experiências desenvolvidas e das diferenças/semelhanças existentes entre essas experiências e as que foram desenvolvidas noutros locais, gerando uma cadeia de relações entre acontecimentos, reacções psicológicas e os locais. Os lugares ganham significado e identidade através da experiência vivida. Enquanto indivíduos ou enquanto grupos, as pessoas alteram os espaços em lugares, através da atribuição de significado a esses espaços. Assim, a experiência é a grande mediadora da relação entre os lugares, as pessoas e os actos, e é esta união que torna possível a atribuição de sentido aos lugares. Deste modo, poderá colocar-se um fim à ideia de que os espaços públicos são “arenas para multidões passivas”12. Assim se gera a noção de lugar, algo muito mais pessoal e com muito mais sentido. Conclui-se que não é válido afirmar que existe uma identidade dos lugares relacionada com a sua essência existencial, mas sim que esta deriva das experiências O papel dos indivíduos, na criação da identidade de lugar passa então pelo seu modo de utilização dos espaços, baseado na interacção, que definirá o sentimento urbano, e contribuirá para a redescoberta da atitude activa dos cidadãos. 11 Brandão, P. & Remesar, A. Design de Espaço Público: Deslocação e Proximidade Centro Português do Design. Tackara, J. (2002), Architecture, spectacle, performance [online], Consulta em: http://www.doorsofperception.com/archives/place/ 12 desenvolvidas pelas pessoas nos locais. Por outras palavras, existem tantas identidades quanto o número de pessoas que conhecem aquele local. O papel do designer passa então pela previsão e controlo das experiências e actividades desenvolvidas nos espaços públicos, guiando-se por duas premissas essenciais: a abertura e o conforto. 18|19 02 Experiência no Espaço Público 2.1 Design enquanto Criação de Experiências “Every design product, communication or environment provides human experiences.” Mike Press & Rachel Cooper 13 A experiência produz sensações, conhecimento e emoções no momento de interacção entre público e espaço urbano. Questões sociais, culturais, tecnológicas e políticas medeiam a cidade, e são exploradas com o intuito de produzir as mais diversas experiências. Criar experiências é sem dúvida um desafio mas, ainda assim, é uma área de grande interesse no campo do design. A possibilidade de explorar as reacções do público através da evidenciação de conceitos é algo ambicioso. O Design assume-se assim como um criador de sensações e emoções que resultam da experiência. Logo, o campo do design alarga-se a novas áreas que envolvem conhecimentos da ciência cognitiva e teorias sobre os conceitos de emoção e percepção sensorial. 13 Press, M. & Cooper, R. (2003), The Design Experience: The Role of Design and Designers in the Twenty-First Century, Ashgate Publishing 20|21 “To be a designer is a cultural option: designers create culture, create experience and meaning for people.” Mike Press & Rachel Cooper 14 “The reasonable man adapts himself to the world; the unreasonable one persists in trying to adapt the world to himself. Therefore all progress depends on the unreasonable man.” George Bernard Shaw 15 O design não é apenas uma actividade que produz objectos mas é também um processo que permite experienciar ideias. Este processo de entendimento e de comunicação entre o público e o espaço urbano, resulta em experiências significativas para o público que comunica e reage ao ambiente recriado pelo designer. O público é o alvo da experiência, logo deve ser colocado em primeiro lugar, denotando-se uma preocupação com a experiência humana e, com a sua integração no contexto social e cultural do espaço urbano. Para tal, o designer deve proceder a métodos de pesquisa que potenciem o desenvolvimento de comunicações efectivas, entre o objecto de experiência (espaço público) e o utilizador. Assim, o designer enquanto criador de experiências no espaço público deve conhecer o contexto de utilização desenvolvendo conhecimentos sobre os precedentes históricos e a forma como o espaço moderno evoluiu, ou seja, conhecer a cultura e a identidade do local. Conhecer o utilizador é também um princípio no campo do design pois, possibilita criar sentidos que poderão ser transmitidos mediante a experiência. Logo, verifica-se desde já a importância de uma abordagem interpretativa e cultural na prática do design, recorrendo à pesquisa assente nas necessidades dos utilizadores e nos seus desejos, para tornar a experiência mais atractiva. 14 ibid. Os designers enquanto intermediários culturais, direccionam o público para conceitos e ideias sobre o espaço urbano, despertando o interesse por este e produzindo conhecimento e prazer nesta relação baseada na experiência. Assim, a pesquisa assume um papel muito importante pois permitirá compreender o contexto para o qual são criadas as experiências, produzindo-as em consonância com o ambiente, com as pessoas e com as suas necessidades. Cabe ao designer procurar soluções e conceitos que permitam estabelecer mediações na relação público/espaço urbano, mas tal só será atingido se as pesquisas forem conduzidas de forma a produzir conhecimento sobre a cidade e o utilizador. O designer assume o papel de mediador na dialéctica espaço público/utilizador, procurando estabelecer pontos de referência que permeiem uma relação entre os dois pólos. 15 op. cit., p.200 Neste sentido, o público é convocado a envolver-se mais profundamente com os espaços, podendo desfrutar de momentos de pausa, de lazer, conforto e de fruição de conhecimento. O designer surge assim, como um construtor e organizador de experiências, que tem como incumbência criar uma nova visão da cidade, revelando preocupações com as mais variadas situações de interacção do utilizador com o ambiente urbano. Enquanto interveniente do domínio público, tem a possibilidade de actuar visando novos diálogos entre o público e a cidade, melhorando esta relação e devolvendo ao público a vontade de habitar o espaço urbano. 22|23 2.2 Experiência como Modelo de Comunicação “(…) the real challenges come when we step back and reassess all the ways a design might influence and benefit customers – physically, emotionally, intellectually, and culturally.” The Design Experience Model adaptado de D. Rhea (1992) “A new perspective on design : focusing on costumer experience” Design Management Journal, vol.9, n.4, p.12 Darrel Rhea 16 A experiência como meio de comunicação entre público/espaço urbano, assume características unificadoras pois, estimula o interesse do público na exploração dos lugares visando o conhecimento e compreensão da identidade urbana. Assim, são promovidas novas formas de fruição social que privilegiam a comunicação e a promoção dos locais. O público é o elo fundamental neste processo de experiência logo, a comunicação torna-se uma parte integrante do processo de design. Uma comunicação eficaz influenciará o público criando ligações e pontos de interesse que o levarão a experimentar a cidade. O especialista de marketing Darrel Rhea desenvolveu um modelo que propõe a compreensão do processo de comunicação através da experiência, desde que o público estabelece o contacto com o produto, até às relações e resultados que surgem da experiência. Define os seguintes quatro grandes pólos neste ciclo: Contexto de vida, Compromisso, Experiência e Resolução. Portanto, o processo de comunicação através da experiência poderá permitir que a pessoa conheça e estabeleça relações com o espaço, bem como crie relações interpessoais. A experiência também poderá servir como meio de revitalização do espaço, proporcionando novas formas de envolver o público na formação do esfera urbana. O processo de experiência inicia no Contexto de Vida, isto é, no contexto cultural e social da experiência definido pelo público e pelas característica do local de experiência, que visa estabelecer um envolvimento do público com o lugar/objecto. Por sua vez, este envolvimento conduz a um Compromisso em que são comunicados os atributos do produto com o intuito de atrair e cativar o interesse do público. A Experiência resulta deste compromisso, focando-se na ligação real entre espaço e produto da qual poderá advir o prazer. A Resolução é a consequência da experiência que se espera que seja positiva, resultando numa satisfação e integração da experiência. 16 op.cit., p.73 As sensações, sentimentos, desejos, inspirações e relações sociais, que advêm desta interacção poderão satisfazer as necessidades das pessoas e consequentemente influenciar o público a criar ritmos, valores e códigos que possibilitem o usufruto da cidade. Em suma, o espaço público é um elemento fundamental para permitir a “noção de consciência” do indivíduo e dos grupos sociais. Este é o palco onde se desenvolverá a interacção baseada na experiência, produzindo-se processos de apropriação do espaço que permitirão a inserção do público, devolvendo o sentido de pertença ao lugar e à colectividade social. Assim, a experiência poderá surgir através da criação de situações onde narrativas de design têm uma manifestação física, fortalecendo os laços entre o artefacto e a experiência de interacção. Por misturar elementos narrativos com descrições de utilização e funcionalidade, uma sensibilidade para o actual contexto poderá ser suportada e uma compreensão poderá ser alcançada mediante o recurso à experiência. 24|25 03 Referências Projectuais 3.1 Revitalização dos espaços Como se constatou anteriormente, na actualidade o meio urbano carece de espaços públicos dedicados ao conforto dos indivíduos, à criação de momentos relaxantes, e ao desenvolvimento de sentimentos de segurança. Neste sentido, os espaços urbanos podem ser revitalizados. Estas noções estão presentes em vários projectos realizados por designers de comunicação, arquitectos e artistas, no espaço público. Os projectos são baseados em modelos experimentais, que colocam o indivíduo em confronto com artefactos ou sistemas de comunicação que se destinam à interacção. O projecto Reactive Gap House17, desenvolve uma estratégia de reaproveitamento dos espaços vazios existentes entre os prédios de Berlim, construídos no século XIX— com o objectivo de ligar os quintais dos prédios. O projecto põe fim ao ambiente sombrio que caracteriza estes lugares, através do uso de tectos cobertos com LEDs por detrás de vidro opaco. Os tectos, conectados com um sistema sensorial, reagem ao movimento por debaixo deles com padrões visuais, que apelam ao olhar e que iluminam o caminho dos transeuntes. Os habitantes poderão controlar essa iluminação, de acordo com as suas acções. 17 Projecto da autoria de: Floating Grounds Ort | Berlin Bauherr| Arquitectos: HSH Hoyer Schindele Hirschmüller. http://www.convertiblecity.de/projekte_projekt06.html 26|27 Consequentemente, estabelece-se uma nova atmosfera que propicia a reunião de pessoas num mesmo local de experimentação. A experiência poderá ser individual ou partilhada por um grupo de indivíduos. O vazio é transformado numa abertura, que revela a sua especial comunicação com a cidade à noite: o seu bloco de luz interactivo reage à passagem dos peões e ilumina o seu caminho. Assim, cria-se uma ligação directa entre os mundos privados e públicos e sublinha-se a acção de “passagem” no espaço. O espaço antes marcado pelo abandono, é transformado num espaço apelativo, que atrai os indivíduos até si, convidando-os a desenvolver uma atitude de exploração/ interacção. 28|29 Blinkenlights Chaos Computer Club O projecto Blinkenlights18 também se desenvolve numa óptica de experimentação, proporcionada por um sistema integrado num elemento vulgar do espaço público: um prédio. Neste caso, a revitalização do local advém do desenho de imagens e mensagens tipográficas na fachada do prédio, formadas pelas luzes de cada janela. Os indivíduos controlam a sua projecção, através de um sistema de envio de mensagens sms. Assim, este edifício contribui muda positivamente o local pois, revaloriza-o através da comunicação e das experiências agradáveis que são propiciadas. Floating Grounds Reactive Gap House 18 Desenvolvido pelo Chaos Computer Club Project leader Tim Pritlove http://www.blinkenlights.de/index.de.html Tal como acontece neste projecto, a instalação LIK LAK 19 também oferece uma plataforma para a criatividade individual, em que cada indivíduo pode contribuir pode contribuir para a formação do espaço urbano. Este projecto tem a particularidade de se situar numa zona onde as deslocações são menores devido ao carácter inseguro do espaço. Assim, mudar positivamente a atmosfera espacial dos “não lugares” 20 através do sentido das novas tecnologias e das dinâmicas da luz, para provocar reavaliações e processos comunicativos sociais. Este cubo gigante iluminado encontra-se instalado num passeio, e permite que as pessoas deixem mensagens através de sms. Esta instalação contribui assim para uma atmosfera mais relaxada, revigorando um espaço que à partida é desagradável e tornando-o numa experiência atractiva e segura. Outro aspecto interessante é que este projecto recorre ao efeito da luz e da cor, como forma de despertar a atenção e apelar os sentidos dos transeuntes que se deslocam a este espaço, outrora evitado. 30|31 Plataforma LIK-LAK (Light Information Cube and Local Anonymous Communication) Claude Hidber Light Information Cube and Local Anonymous Communication . Projecto Concebido por Claude Hidber. http://culturebase.org/home/struppek/HomepageEnglisch/Projekte/LIKLAK/Liklak.htm 19 20 Lugares não habitados ou cuja a deslocação é evitada devido a sua localização. Por fim, encontramos também num outro projecto, intitulado Tree 21 (2004), a mesma finalidade de revitalizar o espaço urbano. Neste caso, o seu autor Simon Heidjens, desenvolveu um sistema interactivo que integra um elemento natural numa fachada de um prédio, com o intuito de transformar o ambiente urbano, tornando-o mais benéfico para os indivíduos. A particularidade deste projecto é que esta árvore respondia às mudanças naturais exteriores (condições climáticas, por exemplo), e às mudanças físicas do local. A árvore transformava-se ao longo do dia, percorrendo um ciclo que iniciava com o amanhecer do dia, altura em que se encontrava repleta de folhas e a passagem das pessoas provocava alterações na sua aparência. A árvore deixa cair folhas mais rápida ou lentamente, consoante a velocidade da passagem das pessoas, reflectindo assim o carácter frenético da sua rotina. Assim, o espectador é confrontado com novas formas de percepcionar a complexidade do ambiente urbano. 32|33 Os objectos normalmente são considerados inalteráveis, mas para Heidjens, todas as coisas são comandadas ao longo do tempo por este processo constante de transformação. O autor concentra-se, então na tentativa de materializar a passagem ou os efeitos do tempo neste projecto. Em suma, verifica-se que através de diferentes estratégias é possível revalorizar o espaço público, tornando-o mais atractivo e atribuindo-lhe novos sentidos através da experiência, que melhoram a vivência nestes espaços. Instalação Tree. Simon Heidjens 21 http://www.simonheijdens.com/ 3.2 Promoção da Relação Pessoas/Espaço Os transeuntes desempenham um papel importante na mudança das áreas urbanas pois, a sua deslocação e as suas actividades acrescentam sentido às configurações espaciais. Assim, alguns projectos dedicam-se a enfatizar a relação entre as público/espaço, de forma explícita, integrando a imagem do indivíduo nos espaços urbanos e reflectindo a sua importância na atribuição de sentido aos lugares. Ao mesmo tempo, também se procura evidenciar que a cidade vive das pessoas, das suas acções, são elas que constroem a identidade do espaço urbano logo, a cidade sofre alterações de acordo com as vivências que nela se assumem. 34|35 Na instalação Nosy , desenvolvida por Nanjo and Associates e Tetsu Nagata, na cidade de Osaki, em Tóquio, representou-se a questão de integração do indivíduo no espaço público, através da utilização de uma câmara de vídeo, que captava a paisagem e as pessoas que lá passavam. Estas imagens, eram transformadas em gráficos bitmap, e exibidas em três torres brancas, com vidros e LEDS, inseridas no espaço urbano. O público foi incentivado a participar nesta instalação de vídeo, podendo visualizar a sua imagem projectada nela. Assim, atribuiu-se ao indivíduo um papel fundamental na definição/significação do espaço, criando-se laços entre estes dois pólos. 22 Nosy, Nanjo and Associates & Tetsu Nagata Projecto realizado em Osaki City, Tokyo 2006 por Tetsu Nagata, http://www.christian-moeller.com/display.php?project_id=59&play=true 22 Por sua vez, a instalação Fado Morgana 23 , integrada na Bienal Luzboa 24 (2006), cujo objectivo é reforçar a identidade cultural da Capital através da luz, e afirmar uma identidade dinâmica para Lisboa ao nível arquitectónico, artístico e cultural— representou a relação pessoa/espaço através da ligação intencional do local aos seus moradores, para os quais o espaço funciona como palco de vida diária. Efectuou-se assim uma instalação composta por som e luz, que fez alusão ao fado (elemento característico da zona de Alfama) e ao significado colectivo, pois contou com a participação e envolvimento dos habitantes locais. Estes foram filmados, fotografados e posteriormente projectados sobre painéis suspensos, que mostravam retratos em movimento das personagens, cada uma cantando separadamente o mesmo fado, conhecido por todos. Cada uma das vozes foi gravada em fita, isoladamente, e pode ouvir-se junto a cada projecção individual. Mas a uma certa distância, é um coro que é escutado e não as vozes individuais. 36|37 Fado Morgana, Het Pakt 23 Instalação realizada pelo belga Het Pakt nas Escadinhas de São Cristóvão, em Lisboa. 24 http://www.luzboa.com/2006/2006.html Já o projecto Bruit Rose 25 reflecte a relação espaço/público, mediante uma perspectiva centrada nos efeitos da deslocação dos indivíduos na cidade. A velocidade do ritmo de vida urbano é acentuada e reflectida num painel de rua— normalmente utilizado para publicidade—, o que atrai a atenção das pessoas, mobilizando-as para este facto. A função habitual (comercial) do objecto que foi apropriado é substituída pela função de registo visual das actividades no espaço público, que se desenvolvem no ambiente circundante. O painel detecta os sons do ambiente, bem como os sons provocados pelos transeuntes que passam por perto dele e projecta-os na sua superfície, por meio de dígitos de números intermitentes. A emissão de números de luz é normalmente utilizada para divulgar informação formada numericamente. Neste caso, os números de luz são desvinculados da sua função didáctica e servem como uma animação visual. 38|39 Bruit Rose, V2 25 Projecto de V2, Institute for the Unstable Media, Roterdão, 2005, http://hehe.org.free.fr/hehe/bruitrose/index.html Bruit Rose (Pink Noise em Inglês) é um termo musical que descreve um som aleatório presente em todas as frequências de som. O projecto Magical Mirrors , do autor Daniel Michelis, é composto por painéisespelho, inseridos na fachada do edifício SAP, em Berlim, que apelam à interacção entre os transeuntes e os espelhos . A relação pessoa/espaço é neste caso possibilitada por um sistema interactivo, que proporciona uma experiência enriquecedora e divertida no espaço público. O utilizador poderia desenvolver vários tipos de relações com o objecto: manipular as fitas que aparecem no espelho, as quais as pessoas podem moldar virtualmente, com as suas mãos; visualizar a sua imagem envolvida por uma aura, ou por elementos luminosos numéricos, que reagem ao movimento do utilizador; e controlar o crescimento de flores, através da sua aproximação ou afastamento. Assim, torna-se evidente a relação entre o espaço e o indivíduo pois, o espaço responde perante os movimentos do utilizador, resultando numa experiência divertida e estimulante. Der Interactive Stradraum, Mark Wieland & Rolf Kruse O projecto Der Interactive Stadtraum, concretizado por Marc Wieland e Rolf Kruse, segue os mesmos princípios propostos por este projecto, jogando com as mudanças causadas pela passagem das pessoas no espaço público. Este projecto consiste num “outdoor” cuja superfície reage em tempo real, duma forma plástica às actividades do meio envolvente. Assim, surgem conjuntos tipográficos associados a uma plasticidade, que numa reacção aos movimentos envolventes, assumem diversas posições simulando texturas e adquirindo noções espaciais através da tridimensionalidade. Consequentemente, o espaço assume-se como o medium, a essência, no qual os transeuntes repentinamente ficam conscientes da sua presença, reconhecendo-se como parte integrante do espaço público. Magic Mirrors, Daniel Michells A posição individual assume subitamente um sentido visível na infra-estrutura ambiental e estabelecendo afinidades entre público e espaço urbano. Assim, este conjunto de projectos privilegiam uma conotação do espaço com o público, mediante experiências de interacção, que permitem que o utilizador tenha uma acção mais activa e criativa, na esfera urbana. 40|41 3.3 Promoção de Relações Interpessoais No espaço urbano, as diversas pessoas partilham os mesmos espaços, no entanto, não estabelecem relações efectivas umas com as outras, ficando isoladas. O design de comunicação pode ajudar a melhorar as situações de desconforto e desconfiança manifestadas entre pessoas desconhecidas. Poderão ser concebidas plataformas de comunicação que estimulem a interacção e redes de cooperação entre indivíduos que, consequentemente, contribuirão para um melhor aproveitamento dos espaços urbanos. O projecto Chat Stop26 representa a tentativa de promover o intercâmbio e contacto entre pessoas situadas em diferentes paragens de transportes públicos. A instalação consiste na introdução de equipamento tecnológico (vídeo interactivo) nestas paragens. O seu objectivo é transformar o desconfortável tempo de espera nas paragens de autocarros, em momentos mais confortáveis e seguros, porque aumenta o sentimento de segurança, através de criação de possibilidades de comunicação entre pessoas, num espaço público. 42|43 Este projecto tenta influenciar e relaxar a atmosfera destas zonas de “medo”, através de processos de comunicação, em vez de controlo, assim como reflectir sentimentos de segurança e paz, através da iluminação da cobertura. Chat Stop pretende promover as relações entre pessoas, que não se conhecem pessoalmente, mas onde se criam relações amigáveis. Projecto Chat Stop Friedrich von Borries, Gesa Glück, Tobias Neumann, André Schmidt 26 Friedrich von Borries, Gesa Glück, Tobias Neumann, André Schmidt, by rude architecture http://culturebase.org/home/struppek/HomepageEnglisch/Projekte/Chat_Stop/ChatStop.htm Projecto Recycled Soudscapes Karmen Franinovic Projecto Agora Phone Kelly Dobson Na sequência deste tema de partilha de experiências, ideias e medos entre desconhecidos, o projecto Agora Phone,27 de Kelly Dobson, surge como uma experiência que medeia uma comunicação baseada no anonimato. com objectivo de proporcionar o intercâmbio social e cultural, as pessoas são convidadas a expressarem ideias, por uma ligação telefónica que é remetida para esculturas situadas em locais de passagem. Os transeuntes que estiverem junto destas esculturas, poderão responder a estas conversas, iniciando um processo de comunicação com um membro da sua comunidade. Este projecto, tem a vantagem de assegurar a privacidade das pessoas que estabelecem estas conversas, permitindo que estas se sintam mais à vontade para se expressarem. Por conseguinte, o espaço público surge como um elemento de conexão entre a vizinhança, em que os residentes são chamados a sentir mais responsabilidade para com o bem-estar do ser humano, desenvolvendo uma consciência social activa. Por fim, o projecto Recycled Soundscapes,28 desenvolvido por Karmen Franinovic, também aborda a questão das relações interpessoais, através da criação de um evento colectivo, baseado na manipulação de sons gravados na cidade. 25 26 http://web.media.mit.edu/~monster/AgoraPhone/ http://www.slowlab.net/architectsubtraction.html Estes mecanismos contribuem para a construção de novos ambientes comunicativos, aproximando as pessoas umas das outras. Assim, elas podem partilhar uma experiência, criando um som envolvente, que elimina a “barreira” da comunicação entre pessoas desconhecidas no espaço público. as vivências e experiências proporcionadas neste. Esta divisão, assumiu-se como um método de apresentação dos vários projectos para uma melhor compreensão sobre os parâmetros e conceitos assumidos por cada um, especulando sobre as suas intenções e as características pelas quais se destacam. Recycled Soundscape torna-se numa experiência enriquecedora para os indivíduos pois, assiste-se a uma quebra da sua rotina, onde são oferecidas novas formas de experienciar o espaço e privilegiando relações interpessoais. Assim, ao longo deste capítulo pode-se constatar que são várias as estratégias adoptadas no espaço urbano de forma a revitalizar e dinamizar O facto de os projectos estarem inseridos num tópico, não invalida a possibilidade de encontrar características semelhantes às dos restantes projectos, porque a maioria, uns mais outros menos, pretendem revitalizar os espaços e promover as relações espaço/público e relações interpessoais. 44|45 Conclusão O ritmo de vida das pessoas, na cidade, está cada vez mais acelerado. O quotidiano citadino tornou-se numa dissonância de experiências, que levam ao afastamento dos indivíduos uns dos outros, e do próprio espaço público. Neste sentido, o Espaço Urbano adquire um carácter de mera passagem dos seus transeuntes, na qual não existe cumplicidade interpessoal, nem disfrutação do próprio espaço, consequentemente, as pessoas encaram-se como desconhecidas. A existência de espaços desabitados na cidade, que provocam sentimentos de medo e insegurança nos indivíduos, e a falta de espaços de reunião colectiva são dois dos factores para que as pessoas não se relacionem umas com as outras. Assim, surge a necessidade de revitalizar os espaços urbanos e melhorar a relação da dicotomia cidade/público, convidando as pessoas a experienciar e interagir com esses espaços. É neste sentido, que a nossa pesquisa se desenvolve, pretendendo-se explorar as caracteristicas do Espaço Urbano, pois este espaço tem muito mais para oferecer, bem como nos importa imbuir os objectos da cidade com memórias e significados. É necessário ainda promover o papel do individuo, tornando-o mais activo e envolvente com o meio que o circunda, através da criação de experiências únicas que convoquem a sua participação e interacção em projectos comunicativos. Criar experiências, e possibilitar a sua contribuição para um melhor entendimento e usufruto dos espaço é uma mais valia para campo do design de comunicação. Com este projecto pretende-se criar sensações e emoções que resultam da experiência e interacção com o espaço urbano. Transformar o espaço público em experiências desfrutáveis poderá contribuir para o desenvolvimento de interacções benéficas que resultarão em pausas no meio urbano, visando impedir o isolamento dos indivíduos e estimular o convívio. Assim, definir um espaço e criar uma situação que convoque à experimentação e/ou interacção, mediante a enunciação de conceitos ou ligações pertinentes com o espaço, deverá ser a estratégia deste projecto. Anexos FICHA DE LEITURA NÚMERO 01 Dados de identificação do projecto: Autor: John Tackara Data: October 03, 2002 Título: Architecture, spectacle, performance Local de publicação: Doors of Perception http://www.doorsofperception.com/archives/place/ Síntese do argumento principal do texto: A mudança do pensamento e da estratégia utilizada por designers e directores artísticos de instituições (teatros museus, entre outros), é apontada por J. Tackara como uma forma de anular a atitude passiva que os indivíduos adoptam actualmente na sociedade. Neste sentido, o público é chamado a envolver-se mais profundamente com os objectos culturais que “consome”. Tackara opõe-se assim aos que caracterizam o domínio público como algo “sem sentido”. Este facto advém do usufruto que se faz dele, baseado apenas na deslocação/movimentação regular de pessoas. A ausência de experimentação leva o público a estabelecer relações catatónicas com a cidade. As pessoas são levadas a entender os espaços públicos como arenas para multidões passivas. No entanto, o público está cansado da rotina e procura autenticidade, o valor do “local” (que substituiu o valor do “espaço”, outrora tão importante). Tackara alerta para o facto de que “hoje o mais importante é a actividade e não a arquitectura”, ou seja, começa a manifestar-se no contexto social actual a procura da criação de acções, que estabelecem relações e promovem a troca de conhecimentos, debates, que caminham para a criação do significado dos locais. Outro aspecto importante neste texto é a crítica lançada à atribuição excessiva de importância à mensagem, nos objectos culturais, e o fechar de olhos às possibilidades de exploração, experimentação, interacção e ligação social que estes oferecem. Em suma, o pensamento do círculo urbano/cultural está em mudança, concentrando-se agora na tentativa de aproximação entre as pessoas, essencialmente através da criação de ambientes intimistas. Síntese das informações, factos, dados que sustentam o argumento: Para fundamentar como se podersão criar ambientes intimistas, Tackara refere o caso do Teatro Unicorn’s Children Theatre, cujo espaço (edifício) foi muito bem planeado pois o director queria um número máximo de espectadores rondasse as 300-400 pessoas, de modo a que a experiência trocada entre elas e os actores fosse épica, sem no entanto perder uma faceta íntima, porque “as pessoas hoje querem ver as coisa tal como elas são, sem artifícios”. 48|49 O autor refere ainda as exposições organizadas no museu de New Metropolis— pioneiro na ideia de proporcionar o desenvolvimento de jogos, e desafios para o público. Pontos de relação com outras referências (autores, protagonistas): A opinião de J.Tackara, de um modo geral está próxima dos valores do movimento slow design, no que diz respeito à defesa da descredibilização da cultura de massas, e enfoque da atenção dado aos pormenores que permitirão às pessoas viver melhor. Segundo ele, tomos merecemos gastar o nosso tempo correctamente, ou seja, de forma agradável e em ambientes favoráveis, em vez do oposto. Selecção de citações passíveis de uso: • This encounter confirmed my prejudice that we have forgotten how to design for communication and interaction. We know how design messages, yes. • Globalization promoted 'anytime, anywhere' as a value - but attention is shifting back from space to place. • The new business thinking is that mass things - mass production, mass communications, and large public spectacles - are relatively easy for upstart competitors to copy. • Business has decided that there's money to be made in customisation and authenticity. • Tony Graham, Director of the Unicorn Children’s Theatre in London, looked at more than 100 buildings in London before deciding to commission a new theatre on the River Thames. "Scale is crucial in theatre" he says; "300-400 people is the maximum size at which you can be both epic and intimate, (…) A 1500 person audience creates a different sense of what theatre is about. • "Audiences today don't want trickery, special effects and illusion. They want to see things as they are, without artifice". The amphitheatre model favoured by Graham "heightens the human figure and strips things back to the minimum". • Charles Hampden-Turner (…) we learn through participation in collaborative human activities. "Knowledge as it grows is necessarily social," he writes, "the shared property of extended groups and networks". • What matters most in a post-spectacular world is activity, not architecture. As the director Peter Brook once said, it is not a question of good building and bad; "a beautiful place may never bring about an explosion of life, while a haphazard hall may be a tremendous meeting place. • In biology, they describe as choronomic the influence on a process of geographic or regional environment. Choronomy adds value; a lack of context destroys it. We all deserve to spend time in safe, pleasant and comfortable surroundings, rather than their opposite; but, beyond that, most buildings will surely do - for performance, for learning, for all forms of social connection. • Given that more space is needed for shared learning activities, many involving performance and interaction, where will it come from - and who will pay for it? (…), already exist in most cities in the form of museums, science, and media centres. These buildings are therefore ripe to be commandeered and re-purposed as sites of informal learning. • James Bradburne (…), Director of the Museum of Applied Arts (MAK) in Frankfurt, despairs that exhibition design ever since the 1950s has been "obsessed with the message - the storyline - and has seen itself as one of the broadcast media, reaching out to the masses with its messages". • Instead of looking at the design task as creating exhibits, modernisers like James Bradburne have shifted their focus from the exhibit as an end-in-itself to the exhibit as a setting for interaction between and among participants: discussion, dialogue, debate are the goal. Just as with theatre. At NewMetropolis in Amsterdam, where Bradburne's ideas were first implemented, the emphasis was not on science and technology, per se, but on being human beings in a world rapidly being transformed by science and technology. "Our aim was to foster skills of experimentation, abstraction, collaboration, and systems thinking", says Bradburne, who led the design team there before moving to Frankfurt. Puzzles, challenges, simulations and role-playing games were at the heart of his design strategy. "Our goal was to stimulate self-initiated exploration, encourage sustained engagement, and repeat use, and provided a framework in which competence demonstrably increases". Bradburne uses the metaphor of the piazza - in contrast to the arena - to describe this kind of museum as a resource to be used, rather than visited, or looked at. • Design must allow the user the shape her experience. "Design doesn't end with the opening", says Bradburne, "it begins with the opening". • Richard Sennet once complained, “When public space becomes a derivative of movement, it loses any independent experiential meaning of its own. On the most physical level, these environments of pure movement prompt people to think of the public domain as meaningless... It is catatonic space (…) a description of the way many great modern spaces make us feel - arenas and stadia designed for passive crowds… • The problem is not new. Throughout the twentieth century artists intervened in a variety of ways into manmade space: futurism, cubist collage, Duchamp’s ready-mades, Dada, constructivism, surrealism, Fontana’s spatialism, Fluxus, land art, arte povera, process art, conceptualism: in all these groups the deadness and catatonia of modern public space were perceived to be both as a rebuke, and a challenge. They prepared sitespecific installations and events whose meaning was to be gathered by the viewer over time. • We are in a transition to a post-spectacular, post-massified culture in which performance environments will be judged by their capacity to foster interaction and learning. The trend is towards spaces, places, and communities in which complex experiences and processes combine in new geographies of learning and experience (…) A division persists between designers who believe that experiences can be systematically designed, and those who feel that the designer can only set the stage for what is experienced - but the consensus is clear: we are all actors now. 50|51 FICHA DE LEITURA NÚMERO 02 Dados de identificação do projecto: Autor: Francis Tibbalds Data: 1992 Título: Places Matter Most Local de publicação: Architectural Press — Urban Design Reader Síntese do argumento principal do texto: Este texto refere-se à necessidade de defesa dos lugares, isto é, à influência que os designers (urbanos) têm sobre a conservação/criação da autenticidade dos lugares. Esta função tem afecta as pessoas positiva ou negativamente, porque “quanto mais individualizados forem os locais que os arquitectos criarem, quanto mais diferentes e únicos, mais próximos estarão da sensação de bem-estar e de conforto”. Para tal, F. Tibbalds defende a criação de bons espaços urbanos, ou seja, espaços variados que proporcionem o desenvolvimento de diversas actividades. Estas devem contribuir para a construção (por parte do designer) de características diferenciadoras que facilitem a identificação dos locais. Coloca as necessidades das pessoas (peões, jovens, idosos) no centro das preocupações do design urbano, ao invés de preocupações centradas em necessidades de tráfego rodoviário ou do mercado. Síntese das informações, factos, dados que sustentam o argumento: É possível estabelecer uma relação entre a idea de “Bons Espaços” expressa neste texto e a ideia de bemestar e conforto presente na teoria do Slow Design. Os “Bons Espaços” são espaços onde se podem desempenhar diversas actividades benéficas para o conforto das pessoas. Por outro lado, Tibbalds manifesta a necessidade de o designer urbano se afastar das necessidades do mercado, e se concentrar na criação de espaços pensados para as pessoas. Em todas as fases projectuais, as preocupações do designer devem direccionar-se para as necessidades dos indivíduos que irão utilizar os espaços planeados por ele. Pontos de relação com outras referências (autores, protagonistas): Relação com os textos de Alastair Fuad-Luke (teoria do Slow Design). Selecção de citações passíveis de uso: • We must exploit individuality, uniqueness and the differences between places. An attractive public realm is very important to a feeling of well-being or comfort. • We are witnessing a return to the spirit of urbanism that characterized well-loved traditional towns and cities. The concern is once again for the scale of people walking, for attractive, intricate places and for complexity of uses and activities. The object has now become the public realm – the space between buildings – rather than the buildings themselves. • The aim is to create urban areas with their own identities, rooted in a regional and/or historic context. • The physical design of the public domain as an organic, colourful, human-scale, attractive environment is the overriding task of the urban designer.” • During the 1950s and 1960s many towns and cities around the world underwent change on an unprecedented scale in terms of built development and in terms of massive highway construction. This undoubtedly resulted in considerable commercial vitality and unique levels of accessibility for motor vehicles, but it is now fairly widely recognized that it also produced physical environments that fall a long way short of current public aspirations. • Much of the problem derives from the loss of urban scale or grain. Traditionally cities were composed of blocks of buildings with streets around them. The so-called comprehensive redevelopment schemes of the past twenty or thirty years have tended to destroy this familiar and successful urban form and the results have been largely unsatisfactory. They have rarely produced places which are now widely recognized as being attractive. • Of course, it is not only streets that are important. The places that make up the public realm come in many shapes, sizes and uses. They include streets, squares, public footpaths, parks and open spaces and extend, also, to riversides and seafronts. These places all belong to the wider community. It is important never to forget that they are there for their use, benefit and enjoyment. In designing and developing buildings and environments which interrelate with the public realm, it is therefore essential to ensure that this tremendous value of the public realm to the wider community is acknowledged, respected and enhanced. One of the joys of towns and cities is their variety. Different areas have different characteristics – of activities, scale, uses and function. Some places are lively and busy. Others are quiet and secluded. There will be intricate, dense areas; open, monumental areas; soft areas; hard areas; old areas; new areas; areas of high building; areas of low building; shopping areas; commercial areas; entertainment areas; recreation areas; and so on and so on. We need to recognize this variety – to define areas of cohesive character.” • All too often towns and cities simply continually re-adapt to accommodating more and more traffic and bigger and bigger buildings. What is desperately needed is a new approach to producing and looking after good urban spaces. We have actually got to address the re-structuring of our urban areas, over possibly quite long time scales, to reflect a new set of priorities in which the needs of people – as pedestrians, cyclists, the young, the old and the infirm, as well as the able-bodied – take precedence over the voracious demands of traffic and developers. 52|53 Síntese das informações, factos, dados que sustentam o argumento • Public places within a town belong to the people of that town – they do not belong to developers or investors, the police or traffic wardens. Their nature will be influenced by their scale, shape and size; the ways in which they are related one to another; the uses and activities which they contain, and the way in which traffic of all kinds is handled. The proper civilized use of places – streets, squares, alleys, promenades and so on – can be achieved visually, functionally and psychologically, through sensitive and imaginative design. If, for example, motorists feel like guests in a predominantly pedestrian area, hopefully they will behave like guests. Is this not infinitely to be preferred to a plethora of street signs and prohibitions backed up by tedious byelaws and penalties? • The challenge is clearly very great – finding ways of promoting the renaissance of the public realm in our towns and cities. But it is a potentially very rewarding and enjoyable one. It demands a new set of priorities in which, basically, places take precedence over buildings and traffic. • Try not to view the organization or reorganization of towns and cities purely from the rather exclusive points of view of the motorist or the developer. It is of greater importance to consider the needs and aspirations of people as a whole – with priority being given to pedestrians, children and old people. This simple change or widening of priorities could, by itself, transform our urban environment and lifestyle. Sintetiza o papel do designer nas três funções seguintes: 1) Estudar precedentes históricos e a forma como o espaço moderno evoluiu; 2) Desenvolvimento de uma compreensão das teorias do design urbano espacial 3)Desenvolvimento de competências sintetizadoras e aplicá-las ao processo de design. 4) Exemplo da Piazza Navona District of Rome, na qual as ruas e sobressaem da massa dos edifícios, dando direcção e continuidade à vida urbana e criando ligações físicas, e lugares com significado Selecção de citações passíveis de uso: • The modern city dweller is forced to create a social life on personal, controllable territory instead of engaging in a communal existence centered around the street. As a consequence, individual attitudes toward the use of urban space have been radically altered. With the loss of a collective sense of the meaning of public space… • Movement design features as enclosed malls, midblock arcades, and sunken or raised plazas. These have siphoned shopping and entertainment off the street, which no longer functions as a gathering place. FICHA DE LEITURA NÚMERO 03 • The modern city dweller is forced to create a social life on personal, controllable territory instead of engaging in a communal existence centered around the street. As a consequence, individual attitudes toward the use of urban space have been radically altered with the loss of a collective sense of the meaning of public space… Dados de identificação do projecto: • With the loss of a collective sense of the meaning of public space, we have also lost the sense that there are rules for connecting parts through the design of outdoor space. Autor: Roger Trancik Data: Título: What is lost space? “Local” de publicação: [livro] Architectural Press—Urban Design Reader Síntese do argumento principal do texto: Divisão de espaços segundo duas perspectivas: tradicional ou modernista. Centra-se na segunda, dizendo que esta no século XX foi combinada com práticas de desenvolvimento e assim se formou um fenómeno chamado “espaços perdidos/vazios”. R. Trancik aponta um problema essencial no design urbano actual que é o da criação de espaços exteriores colectivos, através do processo centrado nos comportamentos humanos na cidade (processo utilizado apenas por uma minoria). Não é apenas estabelecer uma relação entre os edifícios e os lugares que importa, mas sim prever e melhorar as suas actividades. Importa estabelecer locais para o “discurso social”. Estes deverão preceder as questões relacionadas com a deslocação das pessoas e as questões de parqueamento na cidade. • Functionalism, which laid the groundwork for our loss of traditional space, became obsessed with efficiency, but, like any great historical movement, it was most concerned with meanings and the problem of giving man na existential foothold. The ethics of modernism have proved inadequate, and its synthetic vision and preemptive dogma no longer constitute the dominant frame of reference in city design. Renewed interest in historicism and the traditional city, which were neglected by the Modernists, has reintroduced the grammar of ornament, metaphor, and style, which can reunite the many aspects of building as an art responsive to the larger issues of contemporary society. • The continuities of streets are broken by ill-placed buildings, height ordinances are frequently violated, and varied materials and facade styles compete stridently for attention. The city becomes a showplace for the private ego at the expense of the public realm. (…) Further, the institutional neglect of the public realm is a monumental problem both because of minimal investment in maintaining public space and a general lack of interest in controlling the physical form and appearance of the city. In any redesign of urban space the 54|55 conflict between public good and private gain must be resolved. • In order to address the lost-space question, designers should create site plans that become generators of context and buildings that define exterior space rather than displace it. In a successful city, welldefined outdoor spaces are as necessary as good buildings. • People’s image of and reaction to a space is largely determined by the way it is enclosed. People like rooms. They relate to them daily in their homes and at work. This probably explains why tourists and residents enjoy the structured urban rooms of Europe in cities such as Rome, Venice, and Paris or the garden rooms of Villa Lante, Vaux-le-Vicomte, and Versailles. In urban design the emphasis should be on the groups and sequences of outdoor rooms of the district as a whole, rather than on the individual space as an isolated entity. Special attention should be given to the residual spaces between districts and the wasteland at their edges. We need to reclaim these lost spaces by transforming them into opportunities for development; infill and recycling can incorporate such residual areas into the historic fabric of the city. • Existing public plazas, streets, and parking lots that are presently dysfunctional and incompatible with their contexts can be transformed into viable open spaces. These design and development strategies can also provide the impetus to attract people back to the center. • We have introduced the importance of the outdoor environment as a social and physical space and some of the causes of its decline in the modern city. consciente. Para Relph, os lugares são essencialmente centros de significado enraizados na experiência vivida. Enquanto indivíduos ou enquanto grupos, as pessoas alteram os espaços em “lugares”, através da atribuição de significado a esses espaços. Compreende os lugares através do fenómeno da experiência, com base num conjunto de conceitos que respondem à união de “lugar, pessoa e acto”. Assim, aponta as ligações, ao invés das divisões entre características específicas e gerais dos lugares. Como é que se atribui identidade a um lugar? Esta equivale a uma função de intenções intersubjectivas e experiências, bem como as aparências dos edifícios e dos cenários urbanos, referindo-se não só às características únicas dos lugares, como também às semelhanças entre os diversos locais. São as pessoas que atribuem identidade aos locais. Cada pessoa ou grupo tem uma identidade com um lugar, particularmente se estiverem a experienciar o lugar de fora ou de dentro…. Assim, a sua relação com o lugar é o que marca a identidade daquele lugar, para aquela pessoa. O que ela reconhece, e a forma como ela define aquele lugar é marcada pelas experiências que desenvolveu lá. Síntese das informações, factos, dados que sustentam o argumento: Para o autor, a identidade dos lugares não é uma simples “catalogação” passível de ser sumarizada numa descrição breve de factos. Ou seja, não é possível dizer que existe uma verdadeira identidade dos lugares relacionada com a sua essência existencial. Um lugar não é visto da mesma maneira por uma pessoa que faça parte dele ou por uma pessoa que apenas estabeleça uma relação passageira com ele (vinda de fora). A identidade é algo constante e absoluto, não está constantemente em mudança nem é variável. É por esta razão que Edward Relph defende que a identidade dos lugares toma muitas formas e é a qualidade da nossa experiência desse lugar que se diferencia das outras experiências passadas nos outros lugares que nos faz formar uma identidade dos lugares. FICHA DE LEITURA NÚMERO 04 Pontos de relação com outras referências (autores, protagonistas): Dados de identificação do projecto: Autor: Edward Relph Data: 1976 Título: On the identity of places “Local” de publicação: [livro original] Place and placelessness [livro consultado] Architectural Press—Urban Design Reader Síntese do argumento principal do texto: O design urbano consiste na criação de lugares e o livro de E. Relph foi um dos primeiros a concentrar-se no ”sentido de lugar” psicológicos e experiencial. O seu livro foi também um dos primeiros no campo do design urbano a traçar uma hipótese fenomenológica — a investigação filosófica e a descrição de uma experiência Na questão da identidade e caracterização dos lugares, o autor retirou influência dos ensaiosThe Spirit of Place, de Lawrence Durrell (1969) acerca das ilhas Gregas; adoptou parte do pensamento de Heidegger, citando a certa altura a sua frase — “Everywhere, wherever and however we are related to beings of every kind, identity makes its claim upon us”— para explicar como é que reconhecemos uma identidade própria nas pessoas, nas plantas e nas nações. Foi ainda encontrar argumentos no pensamento defendido por Kevin Lynch, sobre o funcionamento da identidade: é simplesmente aquela que lhe atribui individualidade e distinção das outras entidades, e serve de base para o seu reconhecimento enquanto entidade separada. Por fim, nos escritos de Albert Camus interessou-lhe a distinção de três elementos essenciais para a formação de uma identidade: o conjunto físico estático, as actividades, e os significados. 56|57 Selecção de citações passíveis de uso: • The phenomenon of place (…) is interesting in its own right as a fundamental expression of man’s involvement in the world • “Both region and writer, person and place, are unique”, declares Hugh Prince (1961, p.22), “and it is in their distinctive qualities that we find their essential character”. From this it follows that to capture, comprehend and communicate ‘essential character’ depends largely on artistic insight and literary ability identity is founded both in the individual person or object and in the culture to which they belong. It is not static and unchangeable, but varies as circumstances and attitudes change; and it is not uniform and undifferentiated, but has several components and forms. • Ian Nairn (1965, p.78) offers some expansion of this: he recognises that “there are as many identities of place as there are people”, for identity is in the experience, eye, mind, and intention of the beholder as much as in the physical appearance of the city or landscape. But while every individual may assign selfconsciously or unselfconsciously an identity to particular places, these identities are nevertheless combined intersubjectively to form a common identity. • The meanings of places may be rooted in the physical setting and objects and activities, but they are not a property of them—rather they are a property of human intentions and experiences. Meanings can change and be transferred from one set of objects to another, and they possess their own qualities of complexity, obscurity, clarity, or whatever. guardam destes. Lynch lança a hipótese de que a qualidade da imagem da cidade é importante para o bemestar e deveria ser tida em conta aquando do desenvolvimento dos projectos de criação e modificação dos lugares. No entanto isto foi mais uma especulação do que propriamente uma experiência. Síntese das informações, factos, dados que sustentam o argumento: O autor fez um estudo Managing the Sense of a Region para tentar entender como é que as pessoas identificam as cidades. Pediam-lhes para dizerem do que se lembravam primeiro quando pensavam na cidade, para fazerem um pequeno desenho dela e para imaginarem (e registarem num papel) diversas rotas possíveis para conhecer a cidade. O resultado conseguido foi que as pessoas tinham uma imagem mental relativamente coerente e detalhada da cidade, que foi, segundo Lynch, criada segundo a interacção entre as pessoas e os lugares, e essa imagem seria essencial para a sua actual função, bem como para o seu bem-estar emocional. Pontos de relação com outras referências (autores, protagonistas): Relação com John Dewey, deivido à ênfase que deu à experiência, e relativamente às ideias dos psicólogos partilha o seu entendimento da percepção como uma transacção activa entre as pessoas e os lugares. Interessa-lhe ainda as histórias e as memórias dos antropologistas. Selecção de citações passíveis de uso: FICHA DE LEITURA NÚMERO 05 Autor: Kevin Lynch Data: 1984 Título: Reconsidering the image of the city “Local” de publicação: [livro] Architectural Press—Urban Design Reader • What do people care if they have a vivid image of their locality? And aren’t they delighted by surprise and mystery? This was a more direct hit. The study never proved its basic assumption, except indirectly, via the emotional tone of the interviews: the repeated remarks about the pleasure of recognition and knowledge, the satisfaction of identification with a distinctive home place, and the displeasure of being lost or of being consigned to a drab environment. Succeeding studies have continued to collect this indirect evidence. The idea can be linked to the role of selfidentity in psychological development, in the belief that self-identity is reinforced by a strong identity of place and time. A powerful place image can be presumed to buttress group identity. Síntese do argumento principal do texto: • The perception of a city is a transaction between person and place, which varies with variations in each factor, but which has stable rules and strategies. Dados de identificação do projecto: Kevin Lynch pretende alertar para a necessidade de mudança na forma como se modelam as cidades, isto é, chama a atenção para a necessidade de as tornar numa resposta aos seus habitantes. Este texto resulta numa especulação sobre a forma como as pessoas identificam os locais e a imagem que 58|59 FICHA DE LEITURA NÚMERO 06 FICHA DE LEITURA NÚMERO 07 Autor: Tridib Banerjee Data: 2001 Título: The future of public space: beyond invented streets and reinvented places “Local” de publicação: [livro] Architectural Press—Urban Design Reader Autor: Ray Oldenburg Data: 1989 Título: The character of third places “Local” de publicação: [livro] Architectural Press—Urban Design Reader Síntese do argumento principal do texto: Síntese do argumento principal do texto: O estado começa a exercer cada vez menos influência sobre os espaços que se criam na cidade. Actualmente o mais comum que é realizarem-se construções (de edifícios, praças, ou outros locais) privadas. Por outro lado, a ideia de convívio proporcionada pelo espaço urbano está também na ordem do dia, em pequenas acções levadas a cabo por pequenos grupos activistas de cidadãos. Assim, têm surgido comunidades que procuram organizar esse convívio e um usufruto da cidade algo semelhante a uma atitude de flanêur existente nos chamados “terceiros lugares”. Estes são lugares dedicados ao culto do bem-estar, às necessidades de conforto e de cuidado das pessoas. São movimentos de valor, pois estamos numa era globalizada e estas pessoas tentam melhorar a vivência nas cidades e revalorizar o papel das pessoas no meio urbano (as pessoas devem estar no centro das preocupações de concepção de espaços, e devem sobrepor-se a necessidades de outras ordens (económicas, …) sendo os principais actores no palco urbano). A importância dos “terceiros lugares” como eles se relacionam com a necessidade do homem conviver (campo da sociologia), no entanto estes lugares são por vezes ignorados. Eles apenas podem ser entendidos quando comparados com todos os outros locais urbanos e quer seja em Berlim, Veneza ou Chicago, todos estes lugares têm características em comum. Síntese das informações, factos, dados que sustentam o argumento: O autor baseou-se na noção lançada por Peattie (1998) quando este fala em prazeres sociais enquanto actividades com objectivos próprios. Estes podem ultrapassar o convívio registado em pubs, em danças de rua, festas entre outras actividades, mas também passa pela criação de “pequenos rituais de grupo e ligações sociais através de acções colectivas sérias. As manifestações activistas são para o autor outro argumento que defende a pertinência dos “terceiros lugares”, pois estas ajudaram à formação de comunidades de diálogo e defesa do bem-estar da população. Selecção de citações passíveis de uso: • As such initiatives occur, it can be expected that much of the interest will focus on improving the livability of local streets and neighborhoods and the shared public realm. In some cities, community activism helped convert abandoned or vacant lots into vest-pocket parks or neighborhood playgrounds. In many innercity neighborhoods, immigrant communities have brought street life back into the community. There is a general growth in the neighborhood-based nonprofit groups that are taking charge of community improvements (…) and thus infusing conviviality and creating third places even in poorer neighborhoods that the conventional market sees as too risky for investment. Thus, the claim to local public space can arise from a variety of insurgent citizenship and community initiatives. Os terceiros lugares são caracterizados como “levellings”, ou seja, como exercendo funções de estabelecimento de igualidade entre as pessoas, não importando o seu estrato social, o seu cargo profissional, a sua influência na economia da cidade, etc. São locais de “alívio social”, onde a conversa se assume como a actividade principal e a melhor forma de mostrar ou apreciar a personalidade e individualidade de cada um. Surgem como uma alternativa às instituições formais da sociedade, e a sua estratégia reflecte isso: o seu horário abrange as horas mortas de outras instituições, e sobrepõe-se às horas “regulares”. Dado o seu carácter informal, o ambiente é descontraído e propício ao divertimento, contrastando com o ambiente de outras esferas. Estes locais podem ainda ser comparados às casas das pessoas, porque proporciona conforto psicológico e apoio. Selecção de citações passíveis de uso: • Third places the world over share common and essential features. As one’s investigations cross the boundaries of time and culture, the kinship of the Arabian coffeehouse, the German bierstube, the Italian taberna, the old country store of the American frontier, and the ghetto bar reveals itself. As one approaches each example, determined to describe it in its own right, an increasingly familiar pattern emerges(…)and seems unaffected by the wide differences in cultural attitudes toward the typical gathering places of informal public life. • The wonder is that so little attention has been paid to the benefits attaching to the third place. It is curious that its features and inner workings have remained virtually undescribed in this present age when they are so sorely needed and when any number of lesser substitutes are described in tiresome detail. • But the third place, the people’s own remedy for stress, loneliness, and alienation, seems easy to ignore. But there is far more than escape and relief from stress involved in regular visits to a third place. There is more than shelter against the raindrops of life’s tedium and more than a breather on the sidelines of the rat 60|61 race to be had amid the company of a third place. • Though characterizations of the third place as a mere haven of escape from home and work are inadequate, they do possess a virtue—they invite comparison. The escape theme suggests a world of difference between the corner tavern and the family apartment a block away, between morning coffee in the bungalow and that with the gang at the local bakery. (…) The raison d’être of the third place rests upon its differences from the other settings of daily life and can best be understood by comparison with them. • In order for the city and its neighborhoods to offer the rich and varied association that is their promise and their potential, there must be neutral ground upon which people may gather. There must be places where individuals may come and go as they please, in which none are required to Play host, and in which all feel at home and comfortable. • Necessarily, a transformation must occur as one passes through the portals of a third place. Worldly status claims must be checked at the door in order that all within may be equals. The surrender of outward status, or leveling, that transforms those who own delivery trucks and those who drive them into equals, is rewarded by acceptance on more humane and less transitory grounds. Leveling is a joy and relief to those of higher and lower status in the mundane world.Those who, on the outside command deference and attention by the sheer weight of their position find themselves in the third place enjoined, embraced, accepted, and enjoyed where conventional status counts for little. They are accepted just for themselves and on terms not subject to the vicissitudes of political or economic life. FICHA DE LEITURA NÚMERO 08 Autor: S. Carr, M. Francis, L.G. Rivlin e A.M. Stone Data: 1992 Título: Needs in Public Space “Local” de publicação: [livro] Architectural Press—Urban Design Reader Síntese do argumento principal do texto: Os autores defendem que as várias necessidades dos espaços públicos cobrem vários aspectos do funcionamento humano. Estes relacionam-se com a criação de confortos físicos— que contribuem para o relaxamento das pessoas— conseguidos através de objectos de repouso e nas paragens que as pessoas podem fazer em bancos espalhados nos espaços da cidade. Como nem todas as pessoas que habitam a cidade partilham as mesmas necessidades, há que analisar quais as necessidades mais comuns para tentar responder a todas elas. 62|63 Selecção de citações passíveis de uso: • In fact, however, third places compete with the home on many of its own terms and often emerge the winner (…)the third place does not qualify, being neither (1) the “family’s place of residence” or (2) that “social unit formed by a family living together.” But the third definition of homen as offering “a congenial environment” (…) Obviously, there is a great deal of difference between the private residence and the third place. Homes are private settings; third places are public. Homes are mostly characterized by heterosocial relations; third places most often host people of the same sex. Homes provide for a great variety of activities,third places far fewer. Largely, the third place is what the home is not, yet, there clearly exists enough similarity to invite comparison. • The character of a third place (…) is marked by a playful mood, which contrasts with people’s more serious involvement in other spheres. Though a radically different kind of setting from the home, the third place is remarkably similar to a good home in the psychological comfort and support that it extends. • Social needs address the stimulation surrounding people, escape from urban overload, and protection from the threats from others. People need to relax, to enjoy the respite offered by public places and have opportunities to enjoy natural elements with public places functioning as oases. • The specific reasons drawing people to public areas reflect many aspects of life, especially urban life. A stop in a public place may enable a person to rest and escape from the confusion, noise, crowds and “overload” (Milgram, 1970) in the surroundings – a common need in complex, urban settings. In this instance the place becomes a haven, a “stimulus shelter” (Wachs, 1979), providing a contrast to the outside.(…) There are other reasons to stop, reflecting the need to go to rather than the need to get away from. Public areas also enable people to connect with others, to affiliate in some way with other people. This may occur in a very passive mode, as in cases where people position themselves to watch the passing scene, content to have their eyes follow the flow of strangers moving by. In other cases a more active participation is desired, where a place is used to meet friends. • Social and psychological comfort is a deep and pervasive need that extends to people’s experiences in public places. It is a sense of security, a feeling that one’s person and possessions are not vulnerable. • Relaxation is distinguished from comfort by the level of release it describes. It is a more developed state with body and mind at ease. A sense of psychological comfort may be a prerequisite of relaxation – a lifting of physical strains, moving the person to a sense of repose. • Discovery is the fifth reason for people’s presence in public spaces and represents the desire for stimulation (Lynch, 1963) and the delight we all have in new, pleasurable experiences. Exploration is a human need. • In the context of urban public spaces, discovery has some specific meanings. (…)The visitor is able to move around and discover parts of the place – balconies that jut out, escalators, elevators, flags, strange or interesting people. In this example, the major aspects of discovery appear to be the diversity in the physical design and the changing vistas. design, no sentido de satisfazer as necessidades das pessoas. Selecção de citações passíveis de uso: • “Design is a value-driven activity. In creating change, designers impose values upon the world – values of their own or those of their client. To be a designer is a cultural option: designers create culture, create experience and meaning for people.” • “Every design product, communication or environment provides human experiences.” • “Culture is the lens through which people view products” Michael Solomon • But discovery also can occur at home under conditions in which elements of known places change. FICHA DE LEITURA NÚMERO 09 Autor: Mike Press and Rachel Cooper Data: 2003 Título: The Design Experience – The Role of design and designers in the Twenty-First Century “Local” de publicação: Ashgate Publishing Síntese do argumento principal do livro: The design experience explora os contextos, práticas e o papel do designer à medida que avançamos no terceiro milénio. Considera, assim, duas ideias fundamentais: 1º o design deve ser considerado como um processo que cria experiências significativas para as pessoas, criando produtos, comunicações ou ambientes neste sentido. Design como experiência (designing for experience) envolve o posicionamento da pessoa em primeiro lugar, vendo o mundo pelos seus olhos e sentindo-o através dos seus sentidos. Em 2º, a experiência de ser um designer está radicalmente e irrevogavelmente a mudar. Novos métodos e actividades fazem com que se enfatize na inovação, criando novos métodos, comunicações efectivas e empreendedores proactivos. O conceito de “experiência” é essencial como um tema unificador entre cultura e economia do design, como um meio de entender o contexto do design de hoje, e como uma janela pela qual se pode ver as possibilidades e desafios face ao design no futuro. Enfatizar a experiência – as sensações, os sentimentos, os desejos, inspirações e as relações sociais, que surgem com a nossa interacção com o mundo do design – inevitavelmente reforça o “humanismo” dentro do • “The creative energies involved in articulating and sustaining new patterns of social association are in very profound sense a form of design.” David Chaney (sociologist) • “It´s essential to soften the technology, to make it transparent. As designers we have to think about how users enjoy the experience of whatever it is that they´re doing, not the object. The object should become transparent - it´s the action that people want the object to do, and the experience of doing it that is important.” Eric Chan • “By thinking about the kinds of situations or experiences that products will participate in and create, we can ensure that technology makes meaningful contributions to people´s lives… Once we have the option to designing situations, of designing the activities of people and groups of people, we also have the option of changing what individuals and groups of people do. In a sense, products and services have the potential to be seen as abstractions of better ways for people to work and play – and to maximise their own potential.” John Rheinfrank, Executive Vice president, Fitch RichardsonSmith • “Whether we create a film, glassware, a powertool or a word processor, we need appropriate methods of ensuring that it satisfies people´s needs and expectations. Especially in the design of products we must ensure that an advantage over competing design is offered, and that our work reflects changing trends and developments in design, technology and culture.” • “The existing skill designers have, is to make the intangible, tangible, to conceive of an ideia for a product; a piece of jewelry, set for a play, a web page, and to use visual techniques to share that ideia with others.” • “ People have different cultural histories that emphasize reliance on some clues over others or favour different pahts of exploration. Unless designed for very homogeneous populations, industrial products must afford these differences, allowing visual, tactile, acoustical and verbal indicators or clues to different interpretations of form to exist side by side.” • [Language] is used in the communication of constraints and requirements; in group problem-solving and decisions making; in designer-client dialogue and negotiation; in inquiry, research, and testing; in naming, 64|65 specifying, representing, and elaboration; and interpretation. D. Fleming (1998), “Design talk: Constructing the object in studio conversations”, Design Issues, 14 (2) • “The reasonable man adapts himself to the world; the unreasonable one persists in trying to adapt the world to himself. Therefore all progress depends on the unreasonable man.” George Bernard Shaw Síntese das informações, factos, dados que sustentam o argumento: Compreender a cultura é crucial para o processo do design. O comportamento das pessoas, os seus rituais e os seus valores variam de país para país, e no nosso mundo multicultural e diversidade social, muitas vezes também variam de cidade para cidade. Os objectos usados e as suas configurações reflectem e reforçam o comportamento esperado do quotidiano (vida diária). Definições conservativas de cultura têm sido desafiadas, recentemente, pelo incremento dos cultural studies no campo da antropologia, sociologia, linguística, história, psicologia e outras disciplinas, para explorar a cultura como produção social e reprodução de sentidos, significados e consciência. Na nossa cultura de consumo todos nós somos, em diferentes graus, designers. Todos fazemos decisões sobre a casa/espaço em que vivemos, as roupas que usamos, o que consumimos e o estilo de vida que expressamos. Como “everyday consumption work”, para citar David Chaney, “exemplifies a notion of design as a way of using that is invested with significance”. A cultura de consumo é uma experiência de design que interliga produção com consumo, designer profissional com consumidor criativo. Os designers, como intermediários culturais, desempenham um papel vital no sentido de ajudarem as pessoas a encontrarem sentido, identidade e senso, neste elevado mundo de consumo. O design tem que ter em consideração o que está “por detrás” dele, começa-se por perceber/considerar a experiência que querem criar com um serviço/produto (…) Como consequência final do serviço/produto de design – tem que ser extremamente relevante e significativo para o utilizador, e deve ser “personalizado” (individualizado) pelas suas conclusões individuais. Assim Rheinfrank conclui que “that technology makes meaningful contributions to people´s life”. Paul Chamberlain desenvolveu um projecto de som (idêntico ao recycling soundscape) – o desafio e a mais-valia do projecto é o facto de criarem produtos onde o foco principal era trocar os sentidos visuais (entre outros) pelos sentidos do toque, cheiro e som – para criarem, através do produto/serviço sensações e experiências cognitivas. Criando “visões de possíveis mundos” Enzio Manzini escreveu: -Habilidade de desenhar (não só com um lápis ou uma caneta, mas também utilizando um computador, câmara, ou imagens); -É uma forma de sentido visual, combinando elementos visuais em variados media, para criar uma imagem de um “possível mundo”; -Envolve a criação e a interpretação de signos, como de símbolos. “Talking design” é o título de um estudo de caso recente do design gráfico, que destaca a interacção social e a complexa comunicação verbal/visual, que predomina no processo de design. - Utilização de modos visuais e verbais de comunicação (relação do designer com utilizador/cliente, no sentido de conhecer os clientes, entrevistá-los, etc) -Importância da linguagem e da comunicação Pontos de relação com outras referências (autores, protagonistas): Algumas conclusões: De acordo com o especialista de marketing Darrel Rhea, “the real challenges come when we step back and reassess all the ways a design might influence and benefit customers – physically, emotionally, intellectually, and culturally. It is, in fact, customers ´every experience with a product that reveals opportunities to use design in innovative ways”. Rhea desenvolveu o modelo design experience como uma ferramenta conceptual para a compreensão de todo este ciclo da experiência, desde quando os clientes tomam consciência de um produto, através da sua aquisição e utilização, para integrar toda a esta experiencia (do produto) na sua vida. O design de experiencia é sem dúvida um desafio. O design de um produto/serviço tem que ter em conta o que está por detrás desse produto – as questões sociais, tecnológicas e politicas que moldam o nosso mundo, e determinam as esperanças, medos, alegrias/dor que formam as diversas experiencias de estar/ sentir vivo. (…) Se criar experiências é o “novo desafio” no design, assim leva-nos a novas premissas nos métodos de trabalhar enquanto designers, e em particular a pesquisa que envolve a sua prática.Novos aos conhecimentos de que o design é um processo de entendimento e de comunicação do produto e o seu contexto. Considerando as propriedades e as experiências dos objectos/serviços de design, e este ciclo de experiência (que todos os serviços e produtos sofrem), tem-se chegado à crítica e ao desafio face ao design da actualidade. Os designers não só designam produtos; não só são estilistas estéticos; não só resolvem problemas, como também são criadores de experiencias que enriquecem a fundamental experiencia humana de estar vivo. Assim a sua preocupação fundamental é, ou deve ser, com a humanidade da nossa cultura material. Preocupação com o relacionamento entre o design e a experiência humana – a nossa interacção do dia-adia com produtos e serviços, e a integração dessa interacção com o nosso contexto de vida. DESIGNERS OF PLACES Designers de “lugares” trabalham em ambientes de 2 e 3 dimensões. Preocupam-se com a interacção entre a pessoa e o ambiente - desde a escala, as formas, as imagens, as cores pelo os quais todos afectam os 66|67 sentidos. Designers de “lugares” necessitam de ter as capacidades de entender uma série de requisitos, na área do design. (relação do cliente/utilizador; criação/fabrico). Eles precisam de capacidades de comunicação, ambas visuais e verbais, para explicar os conceitos que a audiência necessita. Os designers desempenham um papel essencial na criação de um mundo material. Para os designers, trabalhar no domínio dos lugares e das mensagens, existe alguns factores preponderantes – avanços/modificações tecnológicas, mudança de ambientes e a mudança de mercado. (Pag200) em género de conclusão Designers devem ser exagerados. Devem criar empatia, conhecimento pelas necessidades e desejo dos outros, e reconhecer o dever da sustentabilidade. Além disto, os designers necessitam de confiança e de uma visão totalmente exagerada, num mundo que tem negligenciado as necessidades e aspirações da maioria dos seus habitantes. O nosso futuro depende disso. Experience – A totalidade das sensações, percepções, conhecimento e emoções adquiridas num acontecimento de interacção. No design, definir um produto, serviço ou ambiente, em termos multi-sensoriais e/ou em necessidades emocionais. No Modelo Design de experiência é a fase em que o produto/serviço torna-se parte da nossa vida. FICHA DE LEITURA NÚMERO 10 Autor: Pedro Brandão / Antoni Remesar [eds] Data: Título: Design de espaço público: deslocação e proximidade “Local” de publicação: Centro Português de Design Síntese do argumento principal do livro: A espectacularização e mediatização da vida pública, em que assenta a ideia de “criador de espaço urbano”, é contemporânea de uma outra, de sentido inverso. A da maior “socialização” da ideia de cidade. A cidade está cada vez mais a tornar-se complexa, considerando o facto de ela nunca estar terminada, pode não ser totalmente regulável a partir do seu exterior. O que estimula uma cultura centrada, não no criador, mas no contexto (face a todos os actores do processo urbano, actuais e futuros, que fazem o seu contexto). - Estetização, e também desmaterialização, tematização, espectacularização, são paradigmas de uma noção de arte como dissimulação, que se relaciona com a realidade urbana. - A literatura sobre a cidade (incluindo a ficção e a dramaturgia, que cada vez mais apresenta-nos as cidades não apenas como palcos de acção, ou como registo da descoberta inesperada do “flanneur”, mas como verdadeiras protagonistas); prova por si só que a cidade não é literatura. - O campo urbano é menos narrativo (menos centrado num discurso ou numa representação física do futuro) e mais instrumental, de interacção. Se desenhamos/projectamos os lugares é no sentido de uma procura no que neles acontece. Síntese das informações, factos, dados que sustentam o argumento: Na cidade actual, de que forma o espaço público assume função, significado e forma? - Ideia de vazio e de movimento, que se podem associar á noção de “domínio público”. - A cidade é a obra de estar junto/de encontro, noção em que o vazio oferece, por excelência, o lugar potencial de encontro, e a deslocação apela à atracção para o encontro - a centralidade. - Na actualidade a cidade está em movimento: o real – nos fluxos que a atravessam com apoio nas redes de deslocação; e também o virtual – pela possibilidade de instantaneamente ligarmos o que está separado, sem nos movimentarmos, e ainda pela possibilidade de que dispomos de mudar repentinamente o nosso ambiente. - Hoje os espaços de encontro ampliam-se com as oportunidades geradas pela mobilidade – os interfaces – mas a nova noção do tempo faz de nós uma espécie de urbanos, sob o signo de dispersão e da mudança de sentido. - A resposta à questão, de que forma o espaço público assume função, significado e forma, encontra-se no duplo carácter – Abertura e Conforto. A questão, que introduz o tema do design de comunicação, é: qual é o elenco de temas que se cruzam, na cidade, como palco e objecto de comunicação? - Aqui podemos determinar um deficit de consciência, isto é, não sabemos ainda o suficiente sobre a comunicação na cidade e não organizámos ainda o que já sabemos de modo a aplicá-lo nas decisões de projecto: a) Sistemas de Comunicação A sinalética não é em si mesma todo o terreno de design de comunicação na cidade. A maior parte das vezes será, pelo contrario o auxilio possível ou mesmo mais um elemento conivente do ruído. Nem o essencial da sinalética é o suporte (os espetos em q tropeçamos) e pode até ser a forma de os evitar. Shannon e Wear (1949) procuraram nos anos 60 desenvolver a partir dos modelos matemáticos, um modelo linguístico, delineando os seus factores constitutivos (utilizador, contexto, mensagem, contacto, código e destinatário) e as suas funções que o acto de comunicação desempenha para cada factor (emotiva, referencial, poética, fática, metalinguística e conotativa), antes de uma abordagem em função da sociedade e cultura, que Barthes (1988) desenvolverá analisando os sistemas de significado do quotidiano através dos meios de comunicação de massa. 68|69 - Orientar, direccionar, informar e interagir serão os objectivos de um sistema em que devem estar previstos e organizados não só as mensagens como os canais. Presumindo-se que o ambiente da comunicação não pode ser resultante de uma acção não planeada e impossibilitada, sobre o espaço envolvente, o sistema de comunicação não pode sucumbir à perversão da comercialização abusiva da disponibilidade visual do espaço, nem à poluição por ruídos, redundâncias e ineficácias diversas, do mau uso da língua, à iliteracia visual, e o “Kitsch” gráfico. b) Comunicação da cidadania Os espaços públicos da cidade, em que o contacto comunicacional se regista em directo e numa situação de igualdade, são um recurso essencial. Uma das formas de garantir essa comunicação é na relação entre as pessoas (face-a-face,) c) Novas tecnologias e comunicação Os avanços tecnológicos conduzem as redes de comunicação a uma maior difusão e dispõem-se, assim, de um novo espaço público que tornará menos relevantes as localizações concretas e a proximidade dos interlocutores. Que significam estas mudanças para o futuro da cidade e do seu espaço público? - Elas possibilitam uma fase diferente na relação entre cidade e processo de comunicação, mas esta nova situação garantirá a continuidade histórica da cidade, ou representará antes uma rotura da sua função de lugar de encontro? A evolução efectiva, como comprovou Gottmann (1991) é a de que : “a circulação das pessoas a breve e longa distância não pára de aumentar; o desejo de estar presente em todas as formas de manifestação, participar pessoalmente em reuniões, conviver “face a face” acentua-se. E tudo isto anima, multiplica, sobrecarrega as redes, faz crescer ou explodir os centros das grandes cidades”. d) Marketing e comunicação nas cidades - Segundo Guy Debord (1991), os indicadores das alterações comportamentais nas cidades derivam da importância concebida à imagem, à representação, à aparência, em detrimento da realidade original, que estaria na base de uma sociedade em que “a cultura tornada integralmente mercadoria deve também tornarse vedeta da sociedade e do espectáculo” - As imagens da cidade, dos acontecimentos e das pessoas (da qual desempenham um papel preponderante na cidade), ou de um conjunto de artefactos (produto/serviço/ambiente) identificados com a cidade, são objectos de processo cultural de reprodução, simplificando-se através de um “conceito” ou “tema”, isto é a marca da cidade. e) Comunicação do projecto A resposta à questão – qual é o elenco dos temas que se cruzam, na cidade, como palco e objecto de comunicação ?, poderá ser: - Formular um diagnóstico; visualizar um programa; simular uma hipótese; estabelecer uma referência; transmitir um conceito; produzir alternativas; propor decisões; discutir os impactos…passaram a ser territórios do espaço público que reclamam não só novas tecnologias de comunicação (audiovisuais, multimédia, rendering), novos canais e linguagens polissémicas, mas principalmente novas atitudes de comunicação. Selecção de citações passíveis de uso: • “Dizemos, o acontecimento tem lugar. Na cidade, que é o lugar do acontecimento, não há acontecimento sem lugar. Dizemos o que o lugar “é”, referindo não só o cenário desenhado, mas também as próprias coisas que ali acontecem.” • “A consciência de uma irredutível diferença de natureza entre percepção estética e percepção da cidade deveria ser uma das chaves do desenho urbano do futuro” Françoise Choay (1975) • “Passeio pela minha cidade. Um vagabundo dorme no “se” banco (público). Um grupo de reformados joga ás cartas na “sua” mesa habitual do “seu” bar. Um músico de rua toca na “sua” esquina. Dois namorados despedem-se como sempre fazem na “sua” porta. Atravesso um bairro dando voltas: o espaço urbano entre os blocos de vivendas é restrito aos vizinhos com gradeamentos e segurança. Apanho o metro. Um homem esconde-se atrás de um jornal desportivo tentando não ser visto pela ex-namorada – que está como ele, de pé e apertada – a quarenta centímetros de distância. Ela por seu lado está submersa pelo som do seu walkman e que a liberta do tumulo quotidiano, fecha os olhos sem querer observar ninguém (…) Finalmente chego a casa. Aqui ninguém me incomodará. Dispo-me, desligo o telefone e enfio-me na cama. Amanhã será outro dia.“ • “Public art, architecture, landscape design and other urban design disciplines that operate the new kind of postindustrial urban projects, must question themselves about their own actions, in the processes of change”. Pedro Brandão (2001) • “The problem endemic to public art in a democracy, begin with its definition. How can something be both public (democratic) and art (elitist)? Who is the public? What defines art or sculpture today for that matter? What makes it public – its essence, its patron, or its location? (…) Do we discuss public sculpture in the context of art or urban design or both? How can we approach a subject that makes news as an object of controversy more often than it makes sense to its primary audience?” Questiona-se Harriet Senie na introdução do seu livro Contemporary Public sculpture. 70|71 Algumas conclusões: - O território da comunicação visual no projecto do espaço público é menos convencional. Para, fazer evoluir o contributo gráfico para além da sua finalidade projectual e de representação, será preciso elaborar uma linguagem apta a comunicar e a tomar em conta visões diferentes, permitindo uma concepção mais aberta e democrática da programação e do desenho urbano. - A noção de “espaço livre” é frequentemente utilizada em associação com a de “paisagem”. Esta relação tem vindo a ser ampliada. Não só porque a ideia de “espaço livre” transmite a vez à ideia de “espaço público”, mas também porque da ideia de paisagem “verde”, passamos para a ideia de paisagem de todos os elementos, naturais e artificiais e da relação entre eles. - O espaço público, espaço de relações entre as pessoas e entre elas e os sítios, é concebido e projectado para ter um papel construtor da identidade urbana. - Se a cidade dever ser o lugar onde todos os grupos sociais possam viver juntos, o espaço público é apenas o local/cena em que se desenvolverá a interacção social, promovendo os comportamentos cívicos e de solidariedade, e o lugar em que se produzirão os processos de apropriação do espaço que permitem aos cidadãos desenvolver o sentido de pertença ao lugar e à colectividade social. - Em conclusão, o espaço público, significado através do design urbano e da arte pública, é um elemento fundamental para permitir a “noção de consciência” do individuo e dos grupos sociais, permitindo o passar de “si mesmo” ao “sujeito”. Assim, compreender o conceito de Arte Pública, supõe compreender as práticas sociais de produção da cidade, práticas que, para além da materialização física do betão urbano, implicam uma serie de práticas politicas como suporte da criação da cidade, que no caso destes dois tipos de actividades devem promover uma arte por e para o cidadão (Remessar 200) FICHA DE LEITURA NÚMERO 11 Dados de identificação do projecto: Autor: Per Linde e Sofia Dahlgren Data: 2003 Título: Towards socially meaningful Design by configuring Design Space Local de publicação: [Livro] Senses and Sensibility in Technology: Linking Tradition to Innovation Throught Design Síntese do argumento principal do texto: O texto aborda questões do design de interacção. O design de interacção é apresentado como uma disciplina que procura explorar qualidades, que pertençam à experiência estéticas e a actividades sociais e que resultem na compreensão de artefactos digitais. Acredita-se que criar situações onde as narrativas têm uma manifestação física, pode fortalecer os laços entre o artefacto e a experiência de interacção. O papel dos objectos físicos e interfaces tangíveis tem aproximado o design de interacção aos campos do design de produto e arquitectura. A prática do design tem uma vasta variedade de métodos e é igualmente rica em diferentes representações. O design é apresentado como um processo de experienciar ideias. As representações físicas podem ser colocadas no actual espaço de design de diferentes formas. As disposições são configuradas e re-configuradas numa série de diferentes situações criadas. Por misturar elementos narrativos com descrições de utilização e funcionalidade, uma sensibilidade para o actual contexto poderá ser suportada. Desta forma, a prática pode ser descrita como uma série de diferentes narrativas espaciais que informam o processo. Isto é descrito em dois aspectos, primeiro na configuração do espaço de design e na criação de situações de design, segundo uma análise de uma exibição em que os conceitos foram manifestos em instalações físicas. Síntese das informações, factos, dados que sustentam o argumento: Conhecer o utilizador e o contexto de utilização é um princípio vasto aceitável no campo do design de interacção. É uma questão de negociar o sentido. Este trabalho produz material em diferentes formatos, digitais e físicos. Designers usam múltiplos media para explorar e expressar ideias de design. Para transmitir conceitos de design em cenários de performance apresentam-se situações em que designers relacionam a tecnologia com uma forte presença do corpo. Ambos dirigem-se a necessidades de avaliação intuitiva que não têm de ser verbalizadas e levanta questões por detrás da funcionalidade. Trabalhar com cenários compromete explicitamente o utilizador com o espaço. Ao mesmo tempo é experimental no sentido em que suporta imaginações de actividades futuras. Por mudar o espaço, tornou-se possível contar diferentes histórias. As histórias misturam-se com as primeiras do campo de estudo. Conseguir um conceito baseado na compreensão do design é importante. Parte desta compreensão é a habilidade de desenhar ideias e vê-las/imaginá-las de diferentes pontos de vista. Extrair referências de diferentes contextos e trazê-las juntas numa nova perspectiva faz parte de um processo de reprogramação— para imaginar objectos com novas formas. Pontos de relação com outras referências (autores, protagonistas): O artista de performance, Ulay, refere-se ao espaço em que ele “performa” como “vida editada” ou “existência coreografada”. 72|73 Há duas décadas atrás pensávamos que o recurso à tradição e herança tinha chegado ao fim mas, agora os seus valores voltam a ser apreciados, tal como as artes tradicionais enriquecidas com a experiência, novos pensamentos e técnicas. FICHA DE LEITURA NÚMERO 12 Dados de identificação do projecto: Autor: Margaret C. Perivoliotis Data: 2003 Título: Memory and Identity Stimuli of innovative Design: A Hellenic Case Study Local de publicação: [Livro] Senses and Sensibility in Technology: Linking Tradition to Innovation Throught Design Síntese do argumento principal do texto: Este texto centra-se na investigação do poder da identidade cultural e tradição no desenvolvimento e inovação do design. Mediante vastos estudos de tradição e herança cultural local procuram identificar novas oportunidades para inovação e novas estratégias para comunicação e promoção —filosoficamente, teoricamente e praticamente. Os países e os designers são forçados gradualmente a trazer mais e mais valores e inovação aos seus produtos de design se desejam ser competitivos. A intenção desta pesquisa é ligar tradição a inovação através do design, deste modo habilitando futuros designers a criarem e proporem inovações realistas inspiradas pelas memórias locais, cultura, tradição e herança. Os resultados práticos tendem a tornar o design num campo de estudo apto para participar no processo que envolve o desenvolvimento de valores locais, recursos e realidades, tornando os designers em visionários com importantes papéis na inovação do processo de pesquisa. As intenções desta autora grega residem em potenciar os alunos a criar, e propor às indústrias e artesanato um design realista, isto é, inspirado pelas suas identidades culturais e memórias, tradições e herança locais. Depois apresenta os trabalhos que os alunos (na Grécia) desenvolveram neste âmbito e os parâmetros que seguiram. Síntese das informações, factos, dados que sustentam o argumento: O design baseia-se em relações íntimas com os materiais, com os objectivos, formas e estilos. Os objectos acabam também por ser o reflexo de várias coisas tal como o da natureza e da cultura de diferentes pessoas em diferentes tempos, o reflexo do espírito dos tempos, da política ou de ideias religiosas. Os estilos que se criam são a pura expressão do carácter das pessoas de determinada área numa certa época histórica. A cultura e a herança contribuem para a inovação do design, inspirando-o nas mais diversas áreas (têxtil, cerâmica...). Cultura e herança juntas com a educação contribuem para a evolução do processo de design. Em alguns casos, o design está estreitamente ligado a tradições e crenças numa relação complexa entre design e identidade. Selecção de citações passíveis de uso: • “The use of particular designs is linked to traditions, believes and customs with a complex relationship between design and identity. On a parallel basis, the cultural routes provide a suitable forum for exchanges in design information and design experiences, as well as insights in the diversities and cultural developments of different people in different places, stimulating artistic an professional creativity”. 74|75 FICHA DE LEITURA NÚMERO 13 Dados de identificação do projecto: Autor: Valentina Rognoli Data: 2003 Título: The Aesthetical and Sensorial Characterization of Design Materials Local de publicação: [Livro] Senses and Sensibility in Technology: Linking Tradition to Innovation Throught Design Síntese do argumento principal do texto: Este texto aborda o papel que os materiais podem assumir na experiência sensorial, como as suas características podem ser exploradas de forma a resultar na transmissão de sensações. As sensações têm-se tornando o alvo do design assim, os materiais e as transformações tecnológicas têm assumido uma importância decisiva. A escolha do material determina a escolha de linguagens e de sistemas emotivos e perceptivos. Síntese das informações, factos, dados que sustentam o argumento: Os materiais deveriam ser escolhidos e pensados mediante as suas características técnicas mas, as prioridades dos projectos acabam por ser as qualidades estéticas e sensoriais. Assim, as várias qualidades estéticas e sensoriais deveriam ser planeadas. A estética foi em primeiro lugar definida como “a doutrina do conhecimento dos sentidos”, isto é, o conhecimento do mundo através dos sentidos. Assim, a partir deste ponto, o termo estética assumiu quase que exclusivamente o um significado: estética torna-se agora a doutrina da beleza, a experiência da beleza. Mas o significado que mais nos interessa é o primeiro. A dimensão sensorial refere-se ao contexto de pesquisa que tem como fim avaliar sistemas e formas de apropriação, através dos quais o sujeito se relaciona com o meio envolvente. Do design de experiências sensoriais advém a sua visão estética que é depois expressa no projecto. Os sentidos determinam emoções estéticas e a progressiva intelectualização das sensações faz com que o homem crie ritmos, valores e códigos com um significado específico, em que apenas podem ter um real significado no contexto duma cultura. Assim, “estética envolve todos os nossos sentidos, visão, paladar, tacto e cheiro, e as nossas emoções (Jordan, 2000)” Alguns parâmetros que se devem ter em conta: —Tacto: é definido como uma sensação específica que surge em resposta a um estímulo dos receptores tácteis. O tacto é a acumulação de sensações enviadas do material para o sujeito de uma forma táctil. —Textura: é um elemento de caracterização táctil das superfícies que é também visível. A aplicação de textura envolve também uma alteração na superfície do material, através de marcas ou gravações na superfície. —Brilho: normalmente é associado à reflexão das superfícies e que resulta da intervenção da luz. —Luz —Transparência Pontos de relação com outras referências (autores, protagonistas): Os estudos relacionados com as capacidades expressivas dos materiais começaram com Johannes Itten, as suas texturas, acabamentos e aparência. Selecção de citações passíveis de uso: • “Materials communicate with all the senses: they give us a knowledge of the plurisensorial world by bringing together the perceptions of touch, sigth, smell, flavours and sounds. (Fiorani, 2000)” • “In man, references to aesthetic sensibility, in the senses of smell and taste, hearing and sight and, lastly, in the intellectual image, the symbolic reflection off alll sensitized fabrics. (leroi-Gourhan, 1977)” FICHA DE LEITURA NÚMERO 14 Dados de identificação do projecto: Autor: Maristela Mitsuko Ono e Maria Cecília Loschiavo dos Santos Data: 2003 Título: Implications Of cultural Diversity on Designing Pleasurable Products for Society Local de publicação: [Livro] Senses and Sensibility in Technology: Linking Tradition to Innovation Throught Design Síntese do argumento principal do texto: Neste texto procede-se à observação de casos particulares e constata-se que as interpretações e as respostas emocionais variam consoante a cultura específica do público, que não é homogénea, estática ou hermética mas sim complexa. Dá-se ênfase à importância de uma abordagem interpretativa e cultural na prática do design, mediante o recurso à pesquisa sobre as necessidades dos utilizadores e os seus desejos para então se poder tornar as coisas mais atractivas. Síntese das informações, factos, dados que sustentam o argumento: Cultura é entendida como um fenómeno capaz de representar, reproduzir e transformar os elementos tangíveis não-tangíveis que dão forma ao sistema social e vida, influenciando e sendo influenciado pelas práticas económicas e relações simbólicas. O design é entendido como um agente que reproduz, muda e cria significados, e como um mediador entre objectos e pessoas. No contexto da globalização, é fundamental para o design estar atento à diversidade cultural. É necessário que os designers procurem um melhor entendimento sobre o universo material e simbólico dos indivíduos, para quem eles pretendem produzir objectos, considerando as suas possíveis implicações na vida humana, tal como na sociedade. 76|77 FICHA DE LEITURA NÚMERO 15 Bibliografia Dados de identificação do projecto: Autor: Terence Love Data: 2003 Título: Design and Sense: Implications of Damásio’s Neurological Findings Local de publicação: [Livro] Senses and Sensibility in Technology: Linking Tradition to Innovation Throught Design Síntese do argumento principal do texto: Este texto aborda alguns conhecimentos inerentes ao conceito de emoção, recorrendo-se a alguns estudos de Damásio. Centra-se em pesquisas recentes no campo de cognição neurológica e aplica-as a teorias sobre design. Este documento, descreve a pesquisa cujo alvo é melhorar a forma como os sentimentos e as emoções são representadas em teorias sobre design cognitivo. Podemos encontrar uma dificuldade no campo de pesquisa do design que se refere à inclusão de sentimentos, afectos e emoções humanas mas, ainda assim, existe um grande interesse no papel do design em despertar emoções. Síntese das informações, factos, dados que sustentam o argumento: Segundo este documento as aproximações baseadas em emoções são problemáticas e não ajudam a confluir várias questões importantes conceptuais e funcionais que são necessárias para construir uma compreensão satisfatória das actividades humanas envolvidas no processo de design. Os resultados desta análise sugerem a necessidade de uma revisão fundamental das áreas chave da teoria do design, numa revisão particular das teorias centrais do design cognitivo, interacção do utilizador e colaboração do design. Todas as teorias do design presumem teorias sobre processos cognitivos porque o design é uma parte essencial da actividade humana, e os objectivos do design advêm da utilização humana e de valores. Os sentimentos, emoções humanas, processos automáticos e não racionais têm sido incluídos em teorias do design por serem inseridos dentro de modelos da ciência cognitiva do design cognitivo. BRANDÃO, P. & REMESAR, A. (2003), Design de espaço público: Deslocação e Proximidade, Centro Português do Design http://www.simonheijdens.com/ CARMONA M. & TIESDEL, S. (2007), Urban Design Reader, Architectural Press, Oxford, UK, 2007 http://www.slowlab.net/ GENDLER, T. & HAWTHORNE, J. 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