experiência no espaço público

Transcrição

experiência no espaço público
EXPERIÊNCIA
NO ESPAÇO PÚBLICO
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EXPERIÊNCIA
NO ESPAÇO PÚBLICO
Trabalho realizado por
Eunice de Oliveira
Sara de Castela
Susana Carvalho
DCiii Esfera Social_Espaço Urbano 2007-2008
“We are in a transition to a post-spectacular, post-massified culture
in which performance environments will be judged by their capacity
to foster interaction and learning. The trend is towards spaces,
places, and communities in which complex experiences and processes
combine in new geographies of learning and experience (…)”
John Tackara
Índice
Introdução..........................................................................p. 7
1. O Espaço Urbano e o Papel do Público
1.1 Contexto do Espaço Urbano.............................................p. 9
1.2 Espaço Público/ Espaço Privado.....................................p. 13
1.3 Papel do Público na Criação de Identidade do “Lugar”......p. 17
2. Experiência no Espaço Público
2.1 Design enquanto Criação de Experiências........................p. 21
2.2 Experiências como Modelo de Comunicação....................p. 24
3. Referências Projectuais
3.1 Revitalização dos espaços.............................................p. 26
3.2 Promoção da relacção Pessoas/Espaço..........................p. 34
3.3 Promoção de Relações Interpessoais..............................p. 42
Conclusão..........................................................................p. 46
Anexos..............................................................................p. 47
Bibliografia.......................................................................p. 79
Introdução
Actualmente, vivemos num contexto urbano que
se caracteriza por um clima frenético, privilegiando
a comercialização, industrialização, o individualismo
e indiferença, esquecendo muitas vezes valores tão
importantes como a valorização dos espaços
e das relações interpessoais.
O espaço público perdeu algumas das características
que possuía no passado, que permeavam relações
de proximidade, tais como encontros, palestras,
intercâmbios culturais e lazer. Tal contribui para a perda
da sua importância. Consequentemente, a esfera
urbana surge agora como um medium que potencia
o fluxo frenético de bens e serviços, resultando
numa dissonância de experiências. Estes factores
desfavorecem o relacionamento entre os indivíduos e entre
estes e a cidade pois, contribuem para a indiferença
e isolamento a que assistimos na esfera pública.
Assim, pretende-se que o público “viva” a cidade, crie
vínculos e experiências, e se aperceba do carácter
recíproco entre o espaço urbano e o transeunte,
mediante a recorrência à experiência como meio
de comunicação que poderá potencializar um melhor
relacionamento entre cidade/público.
Através destas experiências também poderão ser criadas
novas relações entre os habitantes, privilegiando
o intercâmbio cultural e social, e contribuindo para
novas construções de sentidos para a cidade. É o
habitante que define a identidade do espaço urbano
logo, o modo como o habita, o entende e o usufruto
que faz deste, poderá redefinir os espaços.
Valores como bem-estar, desaceleração, revalorização
do tempo, proximidade, conforto, equilíbrio
e intercâmbio cultural, são importantes para que se
promovam novas relações e novas abordagens
no espaço urbano. O espaço urbano é o palco da vida
das pessoas que lá circulam logo, o seu bem-estar
poderá ser melhorado se se desenvolverem novas formas
de acção, observação, e interacção mediante
a experiência.
Para tal, é importante conhecer o público
e as “características” do espaço urbano, entender
o papel que a experiência pode assumir no espaço
público e, finalmente, analisar as estratégias utilizadas
em alguns projectos que exploram as potencialidades
do espaço urbano, as relações interpessoais e público/
espaço urbano.
6|7
01
O Espaço Urbano
e o Papel do Público
1.1 Contexto do Espaço Urbano
O conceito de espaço público é muito vasto, englobando noções de
configuração, identidade e utilização. Assim sentimos a necessidade de
conhecer quais os principais factores que definem o Espaço Público, quais
as suas delimitações e implicações na vida das pessoas.
É certo que o conceito de Espaço Público não foi sempre encarado da mesma
forma, e a sua definição tem correspondido às interpretações pessoais
ou partilhadas por grupos de indivíduos, relativamente às funções que os
espaços devem desempenhar. Posteriormente, essas opiniões reflectem-se
na configuração visual dos meios urbanos. Assim, ao longo de vários séculos,
têm-se registado diferentes entendimentos do que é o espaço público.
No passado, os lugares urbanos eram a projecção das actividades que neles
se praticavam. Cada lugar tinha a sua própria função consoante a área
urbana em que se encontrava. Durante as décadas de 1950 e 1960, muitas
cidades à volta do mundo passaram por uma mudança com uma escala sem
precedentes, que passou pela construção massiva de auto-estradas. Isto
resultou no aumento da actividade comercial e atingiram-se níveis únicos
de acessibilidade para os veículos motorizados.
8|9
“We must exploit individuality, uniqueness and the differences between
places. An attractive public realm is very important to a feeling of
well-being or comfort.”
“A consciência de uma irredutível diferença de natureza entre
percepção estética e percepção da cidade deveria ser uma das
chaves do desenho urbano do futuro.”
John Tackara1
Françoise Choay 2
No entanto, esta evolução produziu ambientes físicos que ficam muito
aquém das mais profundas aspirações do domínio público, porque se centram
sobretudo em questões de parqueamento e mobilidade e ignoram
os problemas relacionados com a autenticidade dos lugares.
Por outro lado, a atitude da maioria dos designers urbanos consiste apenas
na adaptação dos edifícios aos lugares, no sentido de criar uma beleza visual.
Passado quatro décadas, actualmente as preocupações económicas e de
mercado continuam a ser as predominantes na determinação dos espaços
físicos urbanos (que se estão a tornar cada vez mais complexos).
Por outro lado, a excessiva atribuição de importância concedida à
imagem, à representação e à aparência dos espaços urbanos— em
detrimento da realidade original—, tem como consequência a alteração dos
comportamentos dos indivíduos nas cidades. Assim, estamos perante uma
sociedade em que “a cultura, tornada integralmente mercadoria, também
se torna vedeta da sociedade e do espectáculo”, segundo as palavras
de Guy Debord (1991).
1
Tackara, J. (2002), Architecture, spectacle, performance [online]Consulta em:
http://www.doorsofperception.com/archives/place/
Como alternativa, começam a surgir grupos de indivíduos
que propõem a exploração de individualidade nos espaços
públicos, tanto através da acentuação da diferença entre os
diversos espaços, como pela defesa do seu carácter único.
Alguns teóricos, como por exemplo John Tackara,
defendem a construção de locais atractivos, pois esses
são muito importantes para o despontar de sentimentos
de bem-estar e conforto do indivíduo.
existe uma vivência centrada em torno da “rua” (espaço
público) e por sua vez, as atitudes individuais face ao
uso dos espaços públicos foram radicalmente alteradas,
resultando na perda do sentido da identidade urbana.
Quanto mais atractivos forem os locais de vivência, mais
actividades serão desempenhadas nesses locais pelos
habitantes. Por sua vez, os espaços adquirirão um papel
promotor de discussão social e de intercâmbio cultural.
Por isso, deverá configurar-se os espaços de modo
a que estes possibilitem o desenvolvimento de relações
entre pessoas. Também é possível desenvolver relações
entre os indivíduos e os locais, proporcionando
um melhor conhecimento tanto das pessoas com as quais
se convive, como dos locais. Ou seja, o espaço público
deverá ser concebido e projectado para desempenhar
um papel construtor da identidade urbana.
A perda de “sentido colectivo” acerca do significado
do espaço público, é outro dos pontos a combater
na actualidade, de forma a quebrar a tendência gerada
pelo ritmo que a sociedade impõe aos indivíduos,
forçando-os a estabelecer a sua vida em “territórios
controlados”, ou seja, em locais isolados. Assim, não
Para além destas noções, começa a valorizar-se o
papel que os indivíduos exercem na cidade pois, estes
são os “principais actores no palco urbano”,
e “deverão por isso estar no centro das preocupações
envolvidas na concepção dos espaços, melhorando
a vivência nas cidades” 3.
2
Choay F. (1975). L’Urbanisme, Utopies et Realités , Ed. Seuil,Paris
Tradução livre de uma citação de Tridib Banerjee, retirada do texto The Future of Public Space: beyond invented
streets and reinvented places , no livro Urban Design Reader, ed. Architectural Press, Oxford 2007, p. 155
3
10|11
Por outro lado, procura-se integrar sistemas, ou artefactos culturais abertos
à participação de todos os indivíduos, que têm como principal objectivo
permitir o seu desenvolvimento activo na sociedade.
1.2 Espaço Público/ Espaço Privado
Conclui-se que os projectos desenvolvidos em torno do espaço público
começam a colocar no seu foco o utilizador, respondendo às necessidades
dos habitantes e promovendo espaços de convívio. Todos os espaços
devem ser desenvolvidos para os usos, actividades e funções que lá se
desempenham. O mero pensamento estético sobre os componentes
da cidade, bem como o estabelecimento de relações entre os edifícios
e os lugares não é o mais importante, o que importa é prever e melhorar as
actividades dos indivíduos. É importante estabelecer lugares para
o “discurso social” que devem preceder questões de parqueamento
e mobilidade.
“Passeio pela minha cidade. Um vagabundo dorme no “seu” banco (público).
Um grupo de reformados joga às cartas na “sua” mesa habitual do “seu” bar.
Um músico de rua toca na “sua” esquina. Dois namorados despedem-se como
sempre fazem na “sua” porta. Atravesso um bairro dando voltas: o espaço
urbano entre os blocos de vivendas é restrito aos vizinhos com gradeamentos
e segurança. Apanho o metro. Um homem esconde-se atrás de um jornal
desportivo tentando não ser visto pela ex-namorada – que está como ele, de
pé e apertada – a quarenta centímetros de distância. Ela por seu lado está
submersa pelo som do seu walkman e que a liberta do túmulo quotidiano,
fecha os olhos sem querer observar ninguém (…) Finalmente chego a casa.
Aqui ninguém me incomodará. Dispo-me, desligo o telefone e enfio-me na
cama. Amanhã será outro dia ”. 4 Segundo Pedro Brandão, autor do livro
Design De Espaço Público: Deslocação E Proximidade, a forma como
os indivíduos se comportam no espaço urbano é definido essencialmente
pela sua configuração, e pelas actividades que lá se desempenham.
O palco urbano começa a tornar-se menos narrativo (menos centrado num
discurso ou numa representação física do futuro) e mais instrumental,
de interacção, em que os indivíduos se reconheçam como parte integrante
do espaço público. A projecção dos lugares irá ao encontro de uma procura do
que neles acontece. Espera-se assim, uma nova fase na relação entre cidade
e processo de comunicação.
O Espaço Público representa o palco onde se desenrolam os episódios
da vida quotidiana. Entendemo-lo como um espaço partilhado, no entanto,
os usos que as pessoas fazem dele ultrapassam a esfera pública. A vida
na cidade é definida por uma dicotomia constante de local público e privado.
A valorização desta dicotomia é por si só um acto fundamental para dar
significado ao novo ambiente/meio que nos rodeia, um espaço comum e
“não comum”, o “nosso” espaço, o dos outros e o de todos.
A relação mais directa que as pessoas estabelecem com o espaço público
urbano prende-se com a realização de actividades profissionais em locais de
trabalho, a que correspondem situações de stress e de falta de tempo.
Brandão P. & Remesar A. (2003), Design de Espaço Público: Deslocação e Proximidade,
Centro Português do Design.
4
12|13
“Third places the world over share common and essential features.
As one’s investigations cross the boundaries of time and culture,
the kinship of the Arabian coffeehouse, the German bierstube, the
Italian taberna, the old country store of the American frontier, and
the ghetto bar reveals itself. As one approaches each example,
determined to describe it in its own right, an increasingly familiar
pattern emerges (…)But the third place, the people’s own remedy for
stress, loneliness, and alienation, seems easy to ignore.”
Ray Oldenburg 5
Num outro momento, os indivíduos evitam deslocar-se por espaços
desabitados, pois estes transmitem-lhes sensações de desconfiança
e insegurança, devido à sua localização e configuração isolada e
desconfortável. Estes problemas poderão ser colmatados pelo designer de
comunicação, através da criação de instalações que revitalizem as áreas
e proporcionem o intercâmbio social, cultural e sentimental. Deste modo,
os indivíduos são convidados a interagir de forma conjunta, estabelecendo
laços com os outros habitantes, e desenvolvendo vivências mais pacíficas
no interior do contexto urbano.
Por outro lado, nos espaços privados, as pessoas agem no sentido do
reencontro consigo mesmos, da quebra de velocidade do dia-a-dia, da
pausa, da satisfação e bem-estar pessoal. Em todos estes casos, as pessoas
são colocadas em estados de isolamento parcial ou total.
No entanto, entre as duas noções acima apontadas, encontra-se um novo
conceito, o dos espaços indicados como “terceiros lugares” por Tridib
Banerjee.6 Banerjee caracteriza-os como locais de convívio — marcados
por factores sociológicos —, com semelhanças suficientes para serem
comparados com os locais de habitação.
5
6
Oldenburg R. (2007) Urban Design Reader, Architectural Press, Oxford
op.cit.
Eles proporcionam conforto e cooperação entre os indivíduos— sob o ponto
de vista psicológico —, que nascem da necessidade do homem conviver
e apenas podem ser entendidos quando comparados com outros locais
urbanos. No entanto, os terceiros lugares são evidentemente diferentes
das casas dos indivíduos pois estão inseridos no meio público. Os terceiros
lugares podem resolver as questões de isolamento e stress dos indivíduos,
pois promovem a satisfação social através de actividades com objectivos
próprios (Ex: os pubs, as danças de rua, as festas públicas, etc.), tendo em
vista o bem-estar dos indivíduos. Ajudam ainda a conhecer/apreciar
a personalidade e individualidade de cada um (melhorando por isso
as relações interpessoais), proporcionam o melhor conhecimento das pessoas
pelo que elas são, eliminando os estatutos sociais, o seu cargo profissional,
a sua influência na sociedade e no mercado.
Assim, pode afirmar-se que estes locais se apresentam como espaços
atractivos porque demonstram a intenção de contribuir para a realização de
experiências conjuntas, restabelecendo a igualdade entre as pessoas
e equilibrando as suas relações na sociedade.
Os terceiros lugares consistem num importante agente de união de grupos
sociais e propiciam o despertar de sentimentos normalmente relacionados
com o conforto da casa de cada pessoa. No entanto são locais que trazem mais
benefícios para os indivíduos, pois permitem desenvolver interacções sociais,
promovendo os comportamentos cívicos e de solidariedade, e activam processos
de apropriação de espaço que permitem aos cidadãos desenvolver o sentido de
pertença ao lugar e à colectividade social.
O espaço público é assim o campo de actuação escolhido pois desenvolve
noções de cidadania entre os habitantes/frequentadores do meio urbano.
Relaciona-se com valores de convívio, abertura e exterior, e oferece
diversidade cultural positiva para a revalorização do papel dos indivíduos
para a sociedade e definição dos locais.Enquanto designers, sentimos a
incumbência de criar uma visão da cidade alternativa, assente no indivíduo
e na sua interacção com o meio social/urbano.
14|15
1.3 Papel do Público na criação de Identidade do “Lugar”
Enquanto intervenientes do domínio público, temos a capacidade de
actuar “para o bem público” e melhorar esta relação. Por outro lado,
verifica-se que se seguiu nas últimas décadas um caminho que provocou
a separação entre as pessoas que vivem, e utilizam diariamente as cidades.
Isto é surpreendente, pois o espaço público tem todas as características
necessárias para reunir as pessoas e aproximá-las umas das outras, uma vez
que é o local de habitação e, ou, de trabalho de muitas pessoas, colocandoas a partilhar muitos espaços e funções.
“The modern city dweller is forced to create a social life on personal,
controllable territory instead of engaging in a communal existence
centered around the street. As a consequence, individual attitudes
toward the use of urban space have been radically altered. With the
loss of a collective sense of the meaning of public space.”
Assim, deveriam desenvolver-se relações de qualidade, assentes nas
oportunidades geradas pela mobilidade– os interfaces–, no entanto estas
têm vindo a piorar e a ficar para segundo plano. Verificando-se, acima de
tudo, uma “nova noção de tempo, que faz de nós uma espécie de urbanos sob
o signo de dispersão, e da mudança de sentido”.7
Roger Trancik 8
Previamente observámos que a importância do papel do indivíduo enquanto
principal “juiz” da configuração do Espaço Público9 tem vindo a aumentar,
mas o papel do público no Espaço Urbano não termina nesse momento.
Quando pensamos sobre os valores, as imagens e as actividades que
identificam os diversos espaços da cidade, pensamos automaticamente
nas recordações que guardamos desses espaços, ou seja, as imagens que
observámos, as situações em que estivemos envolvidos, as actividades
em que participámos, entre outros factores.
O desempenho de acções que compreendam estes princípios, resultarão
na mediação entre as pessoas e os lugares, ligando intencionalmente os
locais públicos às pessoas que nele vivem ou circulam (para os quais o
espaço funciona como local de vida diária ou de arredores. Possibilitarse-á o encontro de espaços agradáveis na vida diária citadina, abertos à
integração. Revalorizar-se-á a importância das pessoas na cidade e a forma
como a sua acção nesses espaços os torna únicos, os caracteriza. As próprias
cidades podem aumentar o seu número de habitantes, e por outro lado, as
pessoas poderão afastar-se da passividade a que tinham sido entregues.
Em suma, a caracterização do local é determinada pela própria experiência
individual de cada um, pela relação que se estabelece com o local,
e também, pela selecção dos dados que consideramos mais marcantes para
nós10, aos quais atribuímos mais significados.
Brandão, P. & Remesar, A. Design de Espaço Público: Deslocação e Proximidade,
Centro Português do Design.
7
8
Trancik, R. (2007), Urban Design Reader, Architectural Press, Oxford
9
Pois as suas necessidades/actividades devem estar na base das preocupações do designer urbano.
O factor primário para a selecção de dados é o background cultural de cada indivíduo, pois esse estabelece
o modo como observamos, assimilamos e analisamos o panorama urbano.
10
16|17
“Dizemos, o acontecimento tem lugar. Na cidade, que é o lugar do
acontecimento, não há acontecimento sem lugar. Dizemos o que
o lugar “é”, referindo não só o cenário desenhado, mas também as
próprias coisas que ali acontecem.”
Pedro Brandão & Antoni Remesar 11
As pessoas são obrigadas a formar a sua vida à volta de espaços isolados, o
que fez com que perdessem o sentido dos lugares em sua volta. Este é
o principal perigo nos dias de hoje, e apenas pode ser contrariado pela acção
do designer urbano. Este deverá colocar ênfase nas relações psicológicas
e experienciais, que os indivíduos mantêm com os lugares, contribuindo para
a construção conjunta de uma “memória local”, formada por pensamentos
e expressões locais, que preserva a cultura/história do espaço.
Posteriormente, o indivíduo atribuirá— consciente
ou inconscientemente— significados a esses espaços,
através das experiências desenvolvidas e das
diferenças/semelhanças existentes entre essas
experiências e as que foram desenvolvidas noutros
locais, gerando uma cadeia de relações entre
acontecimentos, reacções psicológicas e os locais.
Os lugares ganham significado e identidade através da experiência vivida.
Enquanto indivíduos ou enquanto grupos, as pessoas alteram os espaços em
lugares, através da atribuição de significado a esses espaços. Assim,
a experiência é a grande mediadora da relação entre os lugares, as pessoas
e os actos, e é esta união que torna possível a atribuição de sentido aos
lugares. Deste modo, poderá colocar-se um fim à ideia de que os espaços
públicos são “arenas para multidões passivas”12.
Assim se gera a noção de lugar, algo muito mais pessoal
e com muito mais sentido.
Conclui-se que não é válido afirmar que existe uma
identidade dos lugares relacionada com a sua essência
existencial, mas sim que esta deriva das experiências
O papel dos indivíduos, na criação da identidade de lugar passa então pelo
seu modo de utilização dos espaços, baseado na interacção, que definirá
o sentimento urbano, e contribuirá para a redescoberta da atitude activa
dos cidadãos.
11
Brandão, P. & Remesar, A. Design de Espaço Público: Deslocação e Proximidade Centro Português do Design.
Tackara, J. (2002), Architecture, spectacle, performance [online], Consulta em:
http://www.doorsofperception.com/archives/place/
12
desenvolvidas pelas pessoas nos locais. Por outras
palavras, existem tantas identidades quanto o número
de pessoas que conhecem aquele local.
O papel do designer passa então pela previsão
e controlo das experiências e actividades desenvolvidas
nos espaços públicos, guiando-se por duas premissas
essenciais: a abertura e o conforto.
18|19
02
Experiência
no Espaço Público
2.1 Design enquanto Criação de Experiências
“Every design product, communication or environment provides human
experiences.”
Mike Press & Rachel Cooper
13
A experiência produz sensações, conhecimento e emoções no momento
de interacção entre público e espaço urbano. Questões sociais, culturais,
tecnológicas e políticas medeiam a cidade, e são exploradas com o intuito
de produzir as mais diversas experiências.
Criar experiências é sem dúvida um desafio mas, ainda assim, é uma área
de grande interesse no campo do design. A possibilidade de explorar as
reacções do público através da evidenciação de conceitos é algo ambicioso.
O Design assume-se assim como um criador de sensações e emoções
que resultam da experiência. Logo, o campo do design alarga-se a novas
áreas que envolvem conhecimentos da ciência cognitiva e teorias sobre
os conceitos de emoção e percepção sensorial.
13
Press, M. & Cooper, R. (2003), The Design Experience: The Role of Design and Designers
in the Twenty-First Century, Ashgate Publishing
20|21
“To be a designer is a cultural option: designers create culture,
create experience and meaning for people.”
Mike Press & Rachel Cooper
14
“The reasonable man adapts himself to the world; the unreasonable
one persists in trying to adapt the world to himself. Therefore all
progress depends on the unreasonable man.”
George Bernard Shaw 15
O design não é apenas uma actividade que produz objectos mas é também
um processo que permite experienciar ideias. Este processo de entendimento
e de comunicação entre o público e o espaço urbano, resulta em experiências
significativas para o público que comunica e reage ao ambiente recriado
pelo designer. O público é o alvo da experiência, logo deve ser colocado em
primeiro lugar, denotando-se uma preocupação com a experiência humana
e, com a sua integração no contexto social e cultural do espaço urbano.
Para tal, o designer deve proceder a métodos de pesquisa que potenciem o
desenvolvimento de comunicações efectivas, entre o objecto de experiência
(espaço público) e o utilizador.
Assim, o designer enquanto criador de experiências no espaço público
deve conhecer o contexto de utilização desenvolvendo conhecimentos sobre
os precedentes históricos e a forma como o espaço moderno evoluiu, ou seja,
conhecer a cultura e a identidade do local. Conhecer o utilizador é também
um princípio no campo do design pois, possibilita criar sentidos que poderão
ser transmitidos mediante a experiência. Logo, verifica-se desde já a
importância de uma abordagem interpretativa e cultural na prática do
design, recorrendo à pesquisa assente nas necessidades dos utilizadores e
nos seus desejos, para tornar a experiência mais atractiva.
14
ibid.
Os designers enquanto intermediários culturais,
direccionam o público para conceitos e ideias sobre
o espaço urbano, despertando o interesse por este
e produzindo conhecimento e prazer nesta relação
baseada na experiência. Assim, a pesquisa assume um
papel muito importante pois permitirá compreender
o contexto para o qual são criadas as experiências,
produzindo-as em consonância com o ambiente, com as
pessoas e com as suas necessidades. Cabe ao designer
procurar soluções e conceitos que permitam estabelecer
mediações na relação público/espaço urbano, mas tal só
será atingido se as pesquisas forem conduzidas de forma
a produzir conhecimento sobre a cidade e o utilizador.
O designer assume o papel de mediador na dialéctica
espaço público/utilizador, procurando estabelecer
pontos de referência que permeiem uma relação
entre os dois pólos.
15
op. cit., p.200
Neste sentido, o público é convocado a envolver-se mais
profundamente com os espaços, podendo desfrutar de
momentos de pausa, de lazer, conforto e de fruição de
conhecimento.
O designer surge assim, como um construtor e
organizador de experiências, que tem como incumbência
criar uma nova visão da cidade, revelando preocupações
com as mais variadas situações de interacção
do utilizador com o ambiente urbano. Enquanto
interveniente do domínio público, tem a possibilidade de
actuar visando novos diálogos entre o público e a cidade,
melhorando esta relação e devolvendo ao público a
vontade de habitar o espaço urbano.
22|23
2.2 Experiência como Modelo de Comunicação
“(…) the real challenges come when we step back and reassess all the
ways a design might influence and benefit customers – physically,
emotionally, intellectually, and culturally.”
The Design
Experience Model
adaptado de D. Rhea
(1992)
“A new perspective on
design : focusing on
costumer experience”
Design Management
Journal,
vol.9, n.4, p.12
Darrel Rhea 16
A experiência como meio de comunicação entre público/espaço urbano,
assume características unificadoras pois, estimula o interesse do público
na exploração dos lugares visando o conhecimento e compreensão da
identidade urbana. Assim, são promovidas novas formas de fruição social
que privilegiam a comunicação e a promoção dos locais.
O público é o elo fundamental neste processo de
experiência logo, a comunicação torna-se uma parte
integrante do processo de design. Uma comunicação
eficaz influenciará o público criando ligações e pontos
de interesse que o levarão a experimentar a cidade.
O especialista de marketing Darrel Rhea desenvolveu um modelo que propõe
a compreensão do processo de comunicação através da experiência, desde
que o público estabelece o contacto com o produto, até às relações e
resultados que surgem da experiência. Define os seguintes quatro grandes
pólos neste ciclo: Contexto de vida, Compromisso, Experiência e Resolução.
Portanto, o processo de comunicação através da
experiência poderá permitir que a pessoa conheça
e estabeleça relações com o espaço, bem como
crie relações interpessoais. A experiência também
poderá servir como meio de revitalização do espaço,
proporcionando novas formas de envolver o público
na formação do esfera urbana.
O processo de experiência inicia no Contexto de Vida, isto é, no contexto
cultural e social da experiência definido pelo público e pelas característica
do local de experiência, que visa estabelecer um envolvimento do público com
o lugar/objecto. Por sua vez, este envolvimento conduz a um Compromisso em
que são comunicados os atributos do produto com o intuito de atrair e cativar
o interesse do público. A Experiência resulta deste compromisso, focando-se na ligação real entre espaço e produto da qual poderá advir o prazer. A
Resolução é a consequência da experiência que se espera que seja positiva,
resultando numa satisfação e integração da experiência.
16
op.cit., p.73
As sensações, sentimentos, desejos, inspirações
e relações sociais, que advêm desta interacção
poderão satisfazer as necessidades das pessoas e
consequentemente influenciar o público a criar ritmos,
valores e códigos que possibilitem o usufruto da cidade.
Em suma, o espaço público é um elemento fundamental
para permitir a “noção de consciência” do indivíduo
e dos grupos sociais. Este é o palco onde se desenvolverá
a interacção baseada na experiência, produzindo-se
processos de apropriação do espaço que permitirão
a inserção do público, devolvendo o sentido de pertença
ao lugar e à colectividade social.
Assim, a experiência poderá surgir através da criação
de situações onde narrativas de design têm
uma manifestação física, fortalecendo os laços entre
o artefacto e a experiência de interacção. Por misturar
elementos narrativos com descrições de utilização
e funcionalidade, uma sensibilidade para o actual
contexto poderá ser suportada e uma compreensão poderá
ser alcançada mediante o recurso à experiência.
24|25
03
Referências
Projectuais
3.1 Revitalização dos espaços
Como se constatou anteriormente, na actualidade o meio urbano carece
de espaços públicos dedicados ao conforto dos indivíduos, à criação de
momentos relaxantes, e ao desenvolvimento de sentimentos de segurança.
Neste sentido, os espaços urbanos podem ser revitalizados.
Estas noções estão presentes em vários projectos realizados por designers
de comunicação, arquitectos e artistas, no espaço público. Os projectos são
baseados em modelos experimentais, que colocam o indivíduo em confronto
com artefactos ou sistemas de comunicação que se destinam à interacção.
O projecto Reactive Gap House17, desenvolve uma estratégia de
reaproveitamento dos espaços vazios existentes entre os prédios de Berlim,
construídos no século XIX— com o objectivo de ligar os quintais dos prédios.
O projecto põe fim ao ambiente sombrio que caracteriza estes lugares,
através do uso de tectos cobertos com LEDs por detrás de vidro opaco.
Os tectos, conectados com um sistema sensorial, reagem ao movimento por
debaixo deles com padrões visuais, que apelam ao olhar e que iluminam
o caminho dos transeuntes. Os habitantes poderão controlar essa
iluminação, de acordo com as suas acções.
17
Projecto da autoria de: Floating Grounds Ort | Berlin Bauherr| Arquitectos: HSH Hoyer Schindele Hirschmüller.
http://www.convertiblecity.de/projekte_projekt06.html
26|27
Consequentemente, estabelece-se uma nova atmosfera que propicia a
reunião de pessoas num mesmo local de experimentação. A experiência
poderá ser individual ou partilhada por um grupo de indivíduos.
O vazio é transformado numa abertura, que revela a sua especial
comunicação com a cidade à noite: o seu bloco de luz interactivo reage à
passagem dos peões e ilumina o seu caminho. Assim, cria-se uma ligação
directa entre os mundos privados e públicos e sublinha-se a acção de
“passagem” no espaço.
O espaço antes marcado pelo abandono, é transformado num espaço
apelativo, que atrai os indivíduos até si, convidando-os a desenvolver uma
atitude de exploração/ interacção.
28|29
Blinkenlights
Chaos Computer Club
O projecto Blinkenlights18 também se desenvolve numa óptica de
experimentação, proporcionada por um sistema integrado num elemento
vulgar do espaço público: um prédio. Neste caso, a revitalização do local
advém do desenho de imagens e mensagens tipográficas na fachada do
prédio, formadas pelas luzes de cada janela.
Os indivíduos controlam a sua projecção, através de um sistema de envio de
mensagens sms. Assim, este edifício contribui muda positivamente o local
pois, revaloriza-o através da comunicação e das experiências agradáveis que
são propiciadas.
Floating Grounds
Reactive Gap House
18
Desenvolvido pelo Chaos Computer Club Project leader Tim Pritlove
http://www.blinkenlights.de/index.de.html
Tal como acontece neste projecto, a instalação LIK LAK 19 também oferece
uma plataforma para a criatividade individual, em que cada indivíduo pode
contribuir pode contribuir para a formação do espaço urbano. Este projecto
tem a particularidade de se situar numa zona onde as deslocações são
menores devido ao carácter inseguro do espaço.
Assim, mudar positivamente a atmosfera espacial dos “não lugares” 20
através do sentido das novas tecnologias e das dinâmicas da luz, para
provocar reavaliações e processos comunicativos sociais. Este cubo gigante
iluminado encontra-se instalado num passeio, e permite que as pessoas
deixem mensagens através de sms. Esta instalação contribui assim para
uma atmosfera mais relaxada, revigorando um espaço que à partida é
desagradável e tornando-o numa experiência atractiva e segura.
Outro aspecto interessante é que este projecto recorre ao efeito da luz e da
cor, como forma de despertar a atenção e apelar os sentidos dos transeuntes
que se deslocam a este espaço, outrora evitado.
30|31
Plataforma LIK-LAK
(Light Information
Cube and Local
Anonymous
Communication)
Claude Hidber
Light Information Cube and Local Anonymous Communication . Projecto Concebido por Claude Hidber.
http://culturebase.org/home/struppek/HomepageEnglisch/Projekte/LIKLAK/Liklak.htm
19
20
Lugares não habitados ou cuja a deslocação é evitada devido a sua localização.
Por fim, encontramos também num outro projecto, intitulado Tree 21 (2004),
a mesma finalidade de revitalizar o espaço urbano. Neste caso, o seu autor
Simon Heidjens, desenvolveu um sistema interactivo que integra um elemento
natural numa fachada de um prédio, com o intuito de transformar o ambiente
urbano, tornando-o mais benéfico para os indivíduos. A particularidade
deste projecto é que esta árvore respondia às mudanças naturais exteriores
(condições climáticas, por exemplo), e às mudanças físicas do local.
A árvore transformava-se ao longo do dia, percorrendo um ciclo que iniciava
com o amanhecer do dia, altura em que se encontrava repleta de folhas
e a passagem das pessoas provocava alterações na sua aparência. A árvore
deixa cair folhas mais rápida ou lentamente, consoante a velocidade da
passagem das pessoas, reflectindo assim o carácter frenético da sua rotina.
Assim, o espectador é confrontado com novas formas de percepcionar
a complexidade do ambiente urbano.
32|33
Os objectos normalmente são considerados inalteráveis, mas para Heidjens,
todas as coisas são comandadas ao longo do tempo por este processo
constante de transformação. O autor concentra-se, então na tentativa de
materializar a passagem ou os efeitos do tempo neste projecto.
Em suma, verifica-se que através de diferentes estratégias é possível
revalorizar o espaço público, tornando-o mais atractivo e atribuindo-lhe
novos sentidos através da experiência, que melhoram a vivência nestes
espaços.
Instalação Tree.
Simon Heidjens
21
http://www.simonheijdens.com/
3.2 Promoção da Relação Pessoas/Espaço
Os transeuntes desempenham um papel importante na mudança das áreas
urbanas pois, a sua deslocação e as suas actividades acrescentam sentido às
configurações espaciais. Assim, alguns projectos dedicam-se a enfatizar a
relação entre as público/espaço, de forma explícita, integrando a imagem do
indivíduo nos espaços urbanos e reflectindo a sua importância na atribuição
de sentido aos lugares. Ao mesmo tempo, também se procura evidenciar
que a cidade vive das pessoas, das suas acções, são elas que constroem a
identidade do espaço urbano logo, a cidade sofre alterações de acordo com
as vivências que nela se assumem.
34|35
Na instalação Nosy , desenvolvida por Nanjo and Associates e Tetsu Nagata,
na cidade de Osaki, em Tóquio, representou-se a questão de integração do
indivíduo no espaço público, através da utilização de uma câmara de vídeo,
que captava a paisagem e as pessoas que lá passavam. Estas imagens,
eram transformadas em gráficos bitmap, e exibidas em três torres brancas,
com vidros e LEDS, inseridas no espaço urbano. O público foi incentivado
a participar nesta instalação de vídeo, podendo visualizar a sua imagem
projectada nela. Assim, atribuiu-se ao indivíduo um papel fundamental na
definição/significação do espaço, criando-se laços entre estes dois pólos.
22
Nosy,
Nanjo and Associates
& Tetsu Nagata
Projecto realizado em Osaki City, Tokyo 2006 por Tetsu Nagata,
http://www.christian-moeller.com/display.php?project_id=59&play=true
22
Por sua vez, a instalação Fado Morgana 23 , integrada na Bienal Luzboa 24
(2006), cujo objectivo é reforçar a identidade cultural da Capital através da
luz, e afirmar uma identidade dinâmica para Lisboa ao nível arquitectónico,
artístico e cultural— representou a relação pessoa/espaço através da ligação
intencional do local aos seus moradores, para os quais o espaço funciona
como palco de vida diária.
Efectuou-se assim uma instalação composta por som e luz, que fez alusão ao
fado (elemento característico da zona de Alfama) e ao significado colectivo,
pois contou com a participação e envolvimento dos habitantes locais. Estes
foram filmados, fotografados e posteriormente projectados sobre painéis
suspensos, que mostravam retratos em movimento das personagens, cada
uma cantando separadamente o mesmo fado, conhecido por todos.
Cada uma das vozes foi gravada em fita, isoladamente, e pode ouvir-se junto
a cada projecção individual. Mas a uma certa distância, é um coro que é
escutado e não as vozes individuais.
36|37
Fado Morgana,
Het Pakt
23
Instalação realizada pelo belga Het Pakt nas Escadinhas de São Cristóvão, em Lisboa.
24
http://www.luzboa.com/2006/2006.html
Já o projecto Bruit Rose 25 reflecte a relação espaço/público, mediante uma
perspectiva centrada nos efeitos da deslocação dos indivíduos na cidade.
A velocidade do ritmo de vida urbano é acentuada e reflectida num painel de
rua— normalmente utilizado para publicidade—, o que atrai a atenção das
pessoas, mobilizando-as para este facto. A função habitual (comercial) do
objecto que foi apropriado é substituída pela função de registo visual das
actividades no espaço público, que se desenvolvem no ambiente circundante.
O painel detecta os sons do ambiente, bem como os sons provocados pelos
transeuntes que passam por perto dele e projecta-os na sua superfície, por
meio de dígitos de números intermitentes.
A emissão de números de luz é normalmente utilizada para divulgar
informação formada numericamente. Neste caso, os números de luz são
desvinculados da sua função didáctica e servem como uma animação visual.
38|39
Bruit Rose, V2
25
Projecto de V2, Institute for the Unstable Media, Roterdão, 2005, http://hehe.org.free.fr/hehe/bruitrose/index.html
Bruit Rose (Pink Noise em Inglês) é um termo musical que descreve um som aleatório presente em todas as
frequências de som.
O projecto Magical Mirrors , do autor Daniel Michelis, é composto por painéisespelho, inseridos na fachada do edifício SAP, em Berlim, que apelam
à interacção entre os transeuntes e os espelhos . A relação pessoa/espaço
é neste caso possibilitada por um sistema interactivo, que proporciona uma
experiência enriquecedora e divertida no espaço público.
O utilizador poderia desenvolver vários tipos de relações com o objecto:
manipular as fitas que aparecem no espelho, as quais as pessoas podem
moldar virtualmente, com as suas mãos; visualizar a sua imagem envolvida
por uma aura, ou por elementos luminosos numéricos, que reagem ao
movimento do utilizador; e controlar o crescimento de flores, através da
sua aproximação ou afastamento. Assim, torna-se evidente a relação entre
o espaço e o indivíduo pois, o espaço responde perante os movimentos do
utilizador, resultando numa experiência divertida e estimulante.
Der Interactive
Stradraum, Mark
Wieland & Rolf Kruse
O projecto Der Interactive Stadtraum, concretizado
por Marc Wieland e Rolf Kruse, segue os mesmos
princípios propostos por este projecto, jogando com
as mudanças causadas pela passagem das pessoas no
espaço público. Este projecto consiste num “outdoor”
cuja superfície reage em tempo real, duma forma
plástica às actividades do meio envolvente.
Assim, surgem conjuntos tipográficos associados a
uma plasticidade, que numa reacção aos movimentos
envolventes, assumem diversas posições simulando
texturas e adquirindo noções espaciais através da
tridimensionalidade. Consequentemente, o espaço
assume-se como o medium, a essência, no qual os
transeuntes repentinamente ficam conscientes da sua
presença, reconhecendo-se como parte integrante do
espaço público.
Magic Mirrors,
Daniel Michells
A posição individual assume subitamente um sentido
visível na infra-estrutura ambiental e estabelecendo
afinidades entre público
e espaço urbano.
Assim, este conjunto de projectos privilegiam uma
conotação do espaço com o público, mediante
experiências de interacção, que permitem que o
utilizador tenha uma acção mais activa e criativa,
na esfera urbana.
40|41
3.3 Promoção de Relações Interpessoais
No espaço urbano, as diversas pessoas partilham os mesmos espaços,
no entanto, não estabelecem relações efectivas umas com as outras, ficando
isoladas. O design de comunicação pode ajudar a melhorar as situações de
desconforto e desconfiança manifestadas entre pessoas desconhecidas.
Poderão ser concebidas plataformas de comunicação que estimulem a
interacção e redes de cooperação entre indivíduos que, consequentemente,
contribuirão para um melhor aproveitamento dos espaços urbanos.
O projecto Chat Stop26 representa a tentativa de promover o intercâmbio
e contacto entre pessoas situadas em diferentes paragens de transportes
públicos. A instalação consiste na introdução de equipamento tecnológico
(vídeo interactivo) nestas paragens. O seu objectivo é transformar
o desconfortável tempo de espera nas paragens de autocarros, em momentos
mais confortáveis e seguros, porque aumenta o sentimento de segurança,
através de criação de possibilidades de comunicação entre pessoas, num
espaço público.
42|43
Este projecto tenta influenciar e relaxar a atmosfera destas zonas
de “medo”, através de processos de comunicação, em vez de controlo, assim
como reflectir sentimentos de segurança e paz, através da iluminação da
cobertura. Chat Stop pretende promover as relações entre pessoas, que não
se conhecem pessoalmente, mas onde se criam relações amigáveis.
Projecto Chat Stop
Friedrich von Borries,
Gesa Glück,
Tobias Neumann,
André Schmidt
26
Friedrich von Borries, Gesa Glück, Tobias Neumann, André Schmidt, by rude architecture
http://culturebase.org/home/struppek/HomepageEnglisch/Projekte/Chat_Stop/ChatStop.htm
Projecto Recycled
Soudscapes
Karmen Franinovic
Projecto Agora Phone
Kelly Dobson
Na sequência deste tema de partilha de experiências, ideias e medos entre
desconhecidos, o projecto Agora Phone,27 de Kelly Dobson, surge como uma
experiência que medeia uma comunicação baseada no anonimato. com
objectivo de proporcionar o intercâmbio social e cultural, as pessoas são
convidadas a expressarem ideias, por uma ligação telefónica que é remetida
para esculturas situadas em locais de passagem. Os transeuntes que
estiverem junto destas esculturas, poderão responder a estas conversas,
iniciando um processo de comunicação com um membro da
sua comunidade.
Este projecto, tem a vantagem de assegurar a privacidade das pessoas que
estabelecem estas conversas, permitindo que estas se sintam mais à vontade
para se expressarem. Por conseguinte, o espaço público surge como um
elemento de conexão entre a vizinhança, em que os residentes são chamados
a sentir mais responsabilidade para com o bem-estar do ser humano,
desenvolvendo uma consciência social activa.
Por fim, o projecto Recycled Soundscapes,28 desenvolvido por Karmen
Franinovic, também aborda a questão das relações interpessoais, através da
criação de um evento colectivo, baseado na manipulação de sons gravados na
cidade.
25
26
http://web.media.mit.edu/~monster/AgoraPhone/
http://www.slowlab.net/architectsubtraction.html
Estes mecanismos contribuem para a construção de
novos ambientes comunicativos, aproximando
as pessoas umas das outras. Assim, elas podem partilhar
uma experiência, criando um som envolvente, que
elimina a “barreira” da comunicação entre pessoas
desconhecidas no espaço público.
as vivências e experiências proporcionadas neste. Esta
divisão, assumiu-se como um método de apresentação
dos vários projectos para uma melhor compreensão sobre
os parâmetros e conceitos assumidos por cada um,
especulando sobre as suas intenções e as características
pelas quais se destacam.
Recycled Soundscape torna-se numa experiência
enriquecedora para os indivíduos pois, assiste-se
a uma quebra da sua rotina, onde são oferecidas novas
formas de experienciar o espaço e privilegiando relações
interpessoais. Assim, ao longo deste capítulo pode-se
constatar que são várias as estratégias adoptadas no
espaço urbano de forma a revitalizar e dinamizar
O facto de os projectos estarem inseridos num tópico,
não invalida a possibilidade de encontrar características
semelhantes às dos restantes projectos, porque
a maioria, uns mais outros menos, pretendem revitalizar
os espaços e promover as relações espaço/público
e relações interpessoais.
44|45
Conclusão
O ritmo de vida das pessoas, na cidade, está cada vez
mais acelerado. O quotidiano citadino tornou-se
numa dissonância de experiências, que levam ao
afastamento dos indivíduos uns dos outros, e do próprio
espaço público. Neste sentido, o Espaço Urbano adquire
um carácter de mera passagem dos seus transeuntes,
na qual não existe cumplicidade interpessoal, nem
disfrutação do próprio espaço, consequentemente, as
pessoas encaram-se como desconhecidas. A existência
de espaços desabitados na cidade, que provocam
sentimentos de medo e insegurança nos indivíduos,
e a falta de espaços de reunião colectiva são dois dos
factores para que as pessoas não se relacionem
umas com as outras.
Assim, surge a necessidade de revitalizar os espaços
urbanos e melhorar a relação da dicotomia cidade/público,
convidando as pessoas a experienciar e interagir com
esses espaços. É neste sentido, que a nossa pesquisa se
desenvolve, pretendendo-se explorar as caracteristicas
do Espaço Urbano, pois este espaço tem muito mais
para oferecer, bem como nos importa imbuir os objectos
da cidade com memórias e significados. É necessário
ainda promover o papel do individuo, tornando-o mais
activo e envolvente com o meio que o circunda, através
da criação de experiências únicas que convoquem a sua
participação e interacção em projectos comunicativos.
Criar experiências, e possibilitar a sua contribuição para
um melhor entendimento e usufruto dos espaço é uma
mais valia para campo do design de comunicação. Com
este projecto pretende-se criar sensações e emoções
que resultam da experiência e interacção com o espaço
urbano. Transformar o espaço público em experiências
desfrutáveis poderá contribuir para o desenvolvimento
de interacções benéficas que resultarão em pausas
no meio urbano, visando impedir o isolamento dos
indivíduos e estimular o convívio.
Assim, definir um espaço e criar uma situação que
convoque à experimentação e/ou interacção, mediante
a enunciação de conceitos ou ligações pertinentes com
o espaço, deverá ser a estratégia deste projecto.
Anexos
FICHA DE LEITURA NÚMERO 01
Dados de identificação do projecto:
Autor: John Tackara
Data: October 03, 2002
Título: Architecture, spectacle, performance
Local de publicação: Doors of Perception http://www.doorsofperception.com/archives/place/
Síntese do argumento principal do texto:
A mudança do pensamento e da estratégia utilizada por designers e directores artísticos de instituições
(teatros museus, entre outros), é apontada por J. Tackara como uma forma de anular a atitude passiva que
os indivíduos adoptam actualmente na sociedade. Neste sentido, o público é chamado a envolver-se mais
profundamente com os objectos culturais que “consome”. Tackara opõe-se assim aos que caracterizam o
domínio público como algo “sem sentido”. Este facto advém do usufruto que se faz dele, baseado apenas na
deslocação/movimentação regular de pessoas. A ausência de experimentação leva o público a estabelecer
relações catatónicas com a cidade. As pessoas são levadas a entender os espaços públicos como arenas para
multidões passivas.
No entanto, o público está cansado da rotina e procura autenticidade, o valor do “local” (que substituiu o
valor do “espaço”, outrora tão importante). Tackara alerta para o facto de que “hoje o mais importante é a
actividade e não a arquitectura”, ou seja, começa a manifestar-se no contexto social actual a procura da
criação de acções, que estabelecem relações e promovem a troca de conhecimentos, debates, que caminham
para a criação do significado dos locais.
Outro aspecto importante neste texto é a crítica lançada à atribuição excessiva de importância à mensagem,
nos objectos culturais, e o fechar de olhos às possibilidades de exploração, experimentação, interacção e
ligação social que estes oferecem.
Em suma, o pensamento do círculo urbano/cultural está em mudança, concentrando-se agora na tentativa
de aproximação entre as pessoas, essencialmente através da criação de ambientes intimistas.
Síntese das informações, factos, dados que sustentam o argumento:
Para fundamentar como se podersão criar ambientes intimistas, Tackara refere o caso do Teatro Unicorn’s
Children Theatre, cujo espaço (edifício) foi muito bem planeado pois o director queria um número máximo
de espectadores rondasse as 300-400 pessoas, de modo a que a experiência trocada entre elas e os actores
fosse épica, sem no entanto perder uma faceta íntima, porque “as pessoas hoje querem ver as coisa tal como
elas são, sem artifícios”.
48|49
O autor refere ainda as exposições organizadas no museu de New Metropolis— pioneiro na ideia de proporcionar o desenvolvimento de jogos, e desafios para o público.
Pontos de relação com outras referências (autores, protagonistas):
A opinião de J.Tackara, de um modo geral está próxima dos valores do movimento slow design, no que diz
respeito à defesa da descredibilização da cultura de massas, e enfoque da atenção dado aos pormenores que
permitirão às pessoas viver melhor. Segundo ele, tomos merecemos gastar o nosso tempo correctamente, ou
seja, de forma agradável e em ambientes favoráveis, em vez do oposto.
Selecção de citações passíveis de uso:
• This encounter confirmed my prejudice that we have forgotten how to design for communication and interaction. We know how design messages, yes.
• Globalization promoted 'anytime, anywhere' as a value - but attention is shifting back from space to place.
• The new business thinking is that mass things - mass production, mass communications, and large public
spectacles - are relatively easy for upstart competitors to copy.
• Business has decided that there's money to be made in customisation and authenticity.
• Tony Graham, Director of the Unicorn Children’s Theatre in London, looked at more than 100 buildings in
London before deciding to commission a new theatre on the River Thames. "Scale is crucial in theatre" he
says; "300-400 people is the maximum size at which you can be both epic and intimate, (…) A 1500 person
audience creates a different sense of what theatre is about.
• "Audiences today don't want trickery, special effects and illusion. They want to see things as they are,
without artifice". The amphitheatre model favoured by Graham "heightens the human figure and strips things
back to the minimum".
• Charles Hampden-Turner (…) we learn through participation in collaborative human activities. "Knowledge
as it grows is necessarily social," he writes, "the shared property of extended groups and networks".
• What matters most in a post-spectacular world is activity, not architecture. As the director Peter Brook
once said, it is not a question of good building and bad; "a beautiful place may never bring about an explosion of life, while a haphazard hall may be a tremendous meeting place.
• In biology, they describe as choronomic the influence on a process of geographic or regional environment.
Choronomy adds value; a lack of context destroys it. We all deserve to spend time in safe, pleasant and
comfortable surroundings, rather than their opposite; but, beyond that, most buildings will surely do - for
performance, for learning, for all forms of social connection.
• Given that more space is needed for shared learning activities, many involving performance and interaction,
where will it come from - and who will pay for it? (…), already exist in most cities in the form of museums,
science, and media centres. These buildings are therefore ripe to be commandeered and re-purposed as sites
of informal learning.
• James Bradburne (…), Director of the Museum of Applied Arts (MAK) in Frankfurt, despairs that exhibition
design ever since the 1950s has been "obsessed with the message - the storyline - and has seen itself as one
of the broadcast media, reaching out to the masses with its messages".
• Instead of looking at the design task as creating exhibits, modernisers like James Bradburne have shifted
their focus from the exhibit as an end-in-itself to the exhibit as a setting for interaction between and among
participants: discussion, dialogue, debate are the goal. Just as with theatre. At NewMetropolis in Amsterdam,
where Bradburne's ideas were first implemented, the emphasis was not on science and technology, per se, but
on being human beings in a world rapidly being transformed by science and technology. "Our aim was to foster
skills of experimentation, abstraction, collaboration, and systems thinking", says Bradburne, who led the
design team there before moving to Frankfurt. Puzzles, challenges, simulations and role-playing games were
at the heart of his design strategy. "Our goal was to stimulate self-initiated exploration, encourage sustained
engagement, and repeat use, and provided a framework in which competence demonstrably increases".
Bradburne uses the metaphor of the piazza - in contrast to the arena - to describe this kind of museum as a
resource to be used, rather than visited, or looked at.
• Design must allow the user the shape her experience. "Design doesn't end with the opening", says Bradburne, "it begins with the opening".
• Richard Sennet once complained, “When public space becomes a derivative of movement, it loses any independent experiential meaning of its own. On the most physical level, these environments of pure movement
prompt people to think of the public domain as meaningless... It is catatonic space (…) a description of the
way many great modern spaces make us feel - arenas and stadia designed for passive crowds…
• The problem is not new. Throughout the twentieth century artists intervened in a variety of ways into manmade space: futurism, cubist collage, Duchamp’s ready-mades, Dada, constructivism, surrealism, Fontana’s
spatialism, Fluxus, land art, arte povera, process art, conceptualism: in all these groups the deadness and
catatonia of modern public space were perceived to be both as a rebuke, and a challenge. They prepared sitespecific installations and events whose meaning was to be gathered by the viewer over time.
• We are in a transition to a post-spectacular, post-massified culture in which performance environments will
be judged by their capacity to foster interaction and learning. The trend is towards spaces, places, and communities in which complex experiences and processes combine in new geographies of learning and experience
(…) A division persists between designers who believe that experiences can be systematically designed, and
those who feel that the designer can only set the stage for what is experienced - but the consensus is clear:
we are all actors now.
50|51
FICHA DE LEITURA NÚMERO 02
Dados de identificação do projecto:
Autor: Francis Tibbalds
Data: 1992
Título: Places Matter Most
Local de publicação: Architectural Press — Urban Design Reader
Síntese do argumento principal do texto:
Este texto refere-se à necessidade de defesa dos lugares, isto é, à influência que os designers (urbanos) têm
sobre a conservação/criação da autenticidade dos lugares. Esta função tem afecta as pessoas positiva ou
negativamente, porque “quanto mais individualizados forem os locais que os arquitectos criarem, quanto
mais diferentes e únicos, mais próximos estarão da sensação de bem-estar e de conforto”. Para tal, F.
Tibbalds defende a criação de bons espaços urbanos, ou seja, espaços variados que proporcionem o desenvolvimento de diversas actividades. Estas devem contribuir para a construção (por parte do designer) de
características diferenciadoras que facilitem a identificação dos locais.
Coloca as necessidades das pessoas (peões, jovens, idosos) no centro das preocupações do design urbano,
ao invés de preocupações centradas em necessidades de tráfego rodoviário ou do mercado.
Síntese das informações, factos, dados que sustentam o argumento:
É possível estabelecer uma relação entre a idea de “Bons Espaços” expressa neste texto e a ideia de bemestar e conforto presente na teoria do Slow Design. Os “Bons Espaços” são espaços onde se podem desempenhar diversas actividades benéficas para o conforto das pessoas.
Por outro lado, Tibbalds manifesta a necessidade de o designer urbano se afastar das necessidades do
mercado, e se concentrar na criação de espaços pensados para as pessoas. Em todas as fases projectuais,
as preocupações do designer devem direccionar-se para as necessidades dos indivíduos que irão utilizar os
espaços planeados por ele.
Pontos de relação com outras referências (autores, protagonistas):
Relação com os textos de Alastair Fuad-Luke (teoria do Slow Design).
Selecção de citações passíveis de uso:
• We must exploit individuality, uniqueness and the differences between places. An attractive public realm is
very important to a feeling of well-being or comfort.
• We are witnessing a return to the spirit of urbanism that characterized well-loved traditional towns and
cities. The concern is once again for the scale of people walking, for attractive, intricate places and for
complexity of uses and activities. The object has now become the public realm – the space between buildings
– rather than the buildings themselves.
• The aim is to create urban areas with their own identities, rooted in a regional and/or historic context.
• The physical design of the public domain as an organic, colourful, human-scale, attractive environment is
the overriding task of the urban designer.”
• During the 1950s and 1960s many towns and cities around the world underwent change on an unprecedented scale in terms of built development and in terms of massive highway construction. This undoubtedly
resulted in considerable commercial vitality and unique levels of accessibility for motor vehicles, but it is
now fairly widely recognized that it also produced physical environments that fall a long way short of current
public aspirations.
• Much of the problem derives from the loss of urban scale or grain. Traditionally cities were composed of
blocks of buildings with streets around them. The so-called comprehensive redevelopment schemes of the
past twenty or thirty years have tended to destroy this familiar and successful urban form and the results
have been largely unsatisfactory. They have rarely produced places which are now widely recognized as being
attractive.
• Of course, it is not only streets that are important. The places that make up the public realm come in many
shapes, sizes and uses. They include streets, squares, public footpaths, parks and open spaces and extend,
also, to riversides and seafronts. These places all belong to the wider community. It is important never to
forget that they are there for their use, benefit and enjoyment. In designing and developing buildings and
environments which interrelate with the public realm, it is therefore essential to ensure that this tremendous
value of the public realm to the wider community is acknowledged, respected and enhanced. One of the joys
of towns and cities is their variety. Different areas have different characteristics – of activities, scale, uses
and function. Some places are lively and busy. Others are quiet and secluded. There will be intricate, dense
areas; open, monumental areas; soft areas; hard areas; old areas; new areas; areas of high building; areas of
low building; shopping areas; commercial areas; entertainment areas; recreation areas; and so on and so on.
We need to recognize this variety – to define areas of cohesive character.”
• All too often towns and cities simply continually re-adapt to accommodating more and more traffic and
bigger and bigger buildings. What is desperately needed is a new approach to producing and looking after
good urban spaces. We have actually got to address the re-structuring of our urban areas, over possibly quite
long time scales, to reflect a new set of priorities in which the needs of people – as pedestrians, cyclists, the
young, the old and the infirm, as well as the able-bodied – take precedence over the voracious demands of
traffic and developers.
52|53
Síntese das informações, factos, dados que sustentam o argumento
• Public places within a town belong to the people of that town – they do not belong to developers or investors, the police or traffic wardens. Their nature will be influenced by their scale, shape and size; the ways
in which they are related one to another; the uses and activities which they contain, and the way in which
traffic of all kinds is handled. The proper civilized use of places – streets, squares, alleys, promenades and
so on – can be achieved visually, functionally and psychologically, through sensitive and imaginative design.
If, for example, motorists feel like guests in a predominantly pedestrian area, hopefully they will behave
like guests. Is this not infinitely to be preferred to a plethora of street signs and prohibitions backed up by
tedious byelaws and penalties?
• The challenge is clearly very great – finding ways of promoting the renaissance of the public realm in our
towns and cities. But it is a potentially very rewarding and enjoyable one. It demands a new set of priorities in
which, basically, places take precedence over buildings and traffic.
• Try not to view the organization or reorganization of towns and cities purely from the rather exclusive points
of view of the motorist or the developer. It is of greater importance to consider the needs and aspirations of
people as a whole – with priority being given to pedestrians, children and old people. This simple change or
widening of priorities could, by itself, transform our urban environment and lifestyle.
Sintetiza o papel do designer nas três funções seguintes:
1) Estudar precedentes históricos e a forma como o espaço moderno evoluiu;
2) Desenvolvimento de uma compreensão das teorias do design urbano espacial
3)Desenvolvimento de competências sintetizadoras e aplicá-las ao processo de design.
4) Exemplo da Piazza Navona District of Rome, na qual as ruas e sobressaem da massa dos edifícios, dando
direcção e continuidade à vida urbana e criando ligações físicas, e lugares com significado
Selecção de citações passíveis de uso:
• The modern city dweller is forced to create a social life on personal, controllable territory instead of engaging in a communal existence centered around the street. As a consequence, individual attitudes toward the
use of urban space have been radically altered. With the loss of a collective sense of the meaning of public
space…
• Movement design features as enclosed malls, midblock arcades, and sunken or raised plazas. These have
siphoned shopping and entertainment off the street, which no longer functions as a gathering place.
FICHA DE LEITURA NÚMERO 03
• The modern city dweller is forced to create a social life on personal, controllable territory instead of engaging in a communal existence centered around the street. As a consequence, individual attitudes toward the
use of urban space have been radically altered with the loss of a collective sense of the meaning of public
space…
Dados de identificação do projecto:
• With the loss of a collective sense of the meaning of public space, we have also lost the sense that there are
rules for connecting parts through the design of outdoor space.
Autor: Roger Trancik
Data:
Título: What is lost space?
“Local” de publicação: [livro] Architectural Press—Urban Design Reader
Síntese do argumento principal do texto:
Divisão de espaços segundo duas perspectivas: tradicional ou modernista. Centra-se na segunda, dizendo
que esta no século XX foi combinada com práticas de desenvolvimento e assim se formou um fenómeno
chamado “espaços perdidos/vazios”.
R. Trancik aponta um problema essencial no design urbano actual que é o da criação de espaços exteriores
colectivos, através do processo centrado nos comportamentos humanos na cidade (processo utilizado apenas por uma minoria). Não é apenas estabelecer uma relação entre os edifícios e os lugares que importa, mas
sim prever e melhorar as suas actividades. Importa estabelecer locais para o “discurso social”. Estes deverão
preceder as questões relacionadas com a deslocação das pessoas e as questões de parqueamento na cidade.
• Functionalism, which laid the groundwork for our loss of traditional space, became obsessed with efficiency, but, like any great historical movement, it was most concerned with meanings and the problem of
giving man na existential foothold. The ethics of modernism have proved inadequate, and its synthetic vision
and preemptive dogma no longer constitute the dominant frame of reference in city design. Renewed interest
in historicism and the traditional city, which were neglected by the Modernists, has reintroduced the grammar
of ornament, metaphor, and style, which can reunite the many aspects of building as an art responsive to the
larger issues of contemporary society.
• The continuities of streets are broken by ill-placed buildings, height ordinances are frequently violated, and
varied materials and facade styles compete stridently for attention. The city becomes a showplace for the
private ego at the expense of the public realm. (…) Further, the institutional neglect of the public realm is a
monumental problem both because of minimal investment in maintaining public space and a general lack of
interest in controlling the physical form and appearance of the city. In any redesign of urban space the
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conflict between public good and private gain must be resolved.
• In order to address the lost-space question, designers should create site plans that become generators
of context and buildings that define exterior space rather than displace it. In a successful city, welldefined
outdoor spaces are as necessary as good buildings.
• People’s image of and reaction to a space is largely determined by the way it is enclosed. People like rooms.
They relate to them daily in their homes and at work. This probably explains why tourists and residents enjoy
the structured urban rooms of Europe in cities such as Rome, Venice, and Paris or the garden rooms of Villa
Lante, Vaux-le-Vicomte, and Versailles. In urban design the emphasis should be on the groups and sequences
of outdoor rooms of the district as a whole, rather than on the individual space as an isolated entity. Special
attention should be given to the residual spaces between districts and the wasteland at their edges. We need
to reclaim these lost spaces by transforming them into opportunities for development; infill and recycling can
incorporate such residual areas into the historic fabric of the city.
• Existing public plazas, streets, and parking lots that are presently dysfunctional and incompatible with
their contexts can be transformed into viable open spaces. These design and development strategies can also
provide the impetus to attract people back to the center.
• We have introduced the importance of the outdoor environment as a social and physical space and some of
the causes of its decline in the modern city.
consciente. Para Relph, os lugares são essencialmente centros de significado enraizados na experiência
vivida. Enquanto indivíduos ou enquanto grupos, as pessoas alteram os espaços em “lugares”, através da
atribuição de significado a esses espaços.
Compreende os lugares através do fenómeno da experiência, com base num conjunto de conceitos que
respondem à união de “lugar, pessoa e acto”. Assim, aponta as ligações, ao invés das divisões entre características específicas e gerais dos lugares. Como é que se atribui identidade a um lugar? Esta equivale
a uma função de intenções intersubjectivas e experiências, bem como as aparências dos edifícios e dos
cenários urbanos, referindo-se não só às características únicas dos lugares, como também às semelhanças
entre os diversos locais.
São as pessoas que atribuem identidade aos locais. Cada pessoa ou grupo tem uma identidade com um lugar,
particularmente se estiverem a experienciar o lugar de fora ou de dentro…. Assim, a sua relação com o lugar
é o que marca a identidade daquele lugar, para aquela pessoa. O que ela reconhece, e a forma como ela
define aquele lugar é marcada pelas experiências que desenvolveu lá.
Síntese das informações, factos, dados que sustentam o argumento:
Para o autor, a identidade dos lugares não é uma simples “catalogação” passível de ser sumarizada numa
descrição breve de factos. Ou seja, não é possível dizer que existe uma verdadeira identidade dos lugares
relacionada com a sua essência existencial. Um lugar não é visto da mesma maneira por uma pessoa que
faça parte dele ou por uma pessoa que apenas estabeleça uma relação passageira com ele (vinda de fora). A
identidade é algo constante e absoluto, não está constantemente em mudança nem é variável.
É por esta razão que Edward Relph defende que a identidade dos lugares toma muitas formas e é a qualidade
da nossa experiência desse lugar que se diferencia das outras experiências passadas nos outros lugares que
nos faz formar uma identidade dos lugares.
FICHA DE LEITURA NÚMERO 04
Pontos de relação com outras referências (autores, protagonistas):
Dados de identificação do projecto:
Autor: Edward Relph
Data: 1976
Título: On the identity of places
“Local” de publicação: [livro original] Place and placelessness
[livro consultado] Architectural Press—Urban Design Reader
Síntese do argumento principal do texto:
O design urbano consiste na criação de lugares e o livro de E. Relph foi um dos primeiros a concentrar-se no
”sentido de lugar” psicológicos e experiencial. O seu livro foi também um dos primeiros no campo do design
urbano a traçar uma hipótese fenomenológica — a investigação filosófica e a descrição de uma experiência
Na questão da identidade e caracterização dos lugares, o autor retirou influência dos ensaiosThe Spirit of
Place, de Lawrence Durrell (1969) acerca das ilhas Gregas; adoptou parte do pensamento de Heidegger, citando a certa altura a sua frase — “Everywhere, wherever and however we are related to beings of every kind,
identity makes its claim upon us”— para explicar como é que reconhecemos uma identidade própria nas pessoas, nas plantas e nas nações. Foi ainda encontrar argumentos no pensamento defendido por Kevin Lynch,
sobre o funcionamento da identidade: é simplesmente aquela que lhe atribui individualidade e distinção das
outras entidades, e serve de base para o seu reconhecimento enquanto entidade separada.
Por fim, nos escritos de Albert Camus interessou-lhe a distinção de três elementos essenciais para a formação de uma identidade: o conjunto físico estático, as actividades, e os significados.
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Selecção de citações passíveis de uso:
• The phenomenon of place (…) is interesting in its own right as a fundamental expression of man’s involvement in the world
• “Both region and writer, person and place, are unique”, declares Hugh Prince (1961, p.22), “and it is
in their distinctive qualities that we find their essential character”. From this it follows that to capture,
comprehend and communicate ‘essential character’ depends largely on artistic insight and literary ability
identity is founded both in the individual person or object and in the culture to which they belong. It is not
static and unchangeable, but varies as circumstances and attitudes change; and it is not uniform and undifferentiated, but has several components and forms.
• Ian Nairn (1965, p.78) offers some expansion of this: he recognises that “there are as many identities of
place as there are people”, for identity is in the experience, eye, mind, and intention of the beholder as much
as in the physical appearance of the city or landscape. But while every individual may assign selfconsciously
or unselfconsciously an identity to particular places, these identities are nevertheless combined intersubjectively to form a common identity.
• The meanings of places may be rooted in the physical setting and objects and activities, but they are not
a property of them—rather they are a property of human intentions and experiences. Meanings can change
and be transferred from one set of objects to another, and they possess their own qualities of complexity,
obscurity, clarity, or whatever.
guardam destes. Lynch lança a hipótese de que a qualidade da imagem da cidade é importante para o bemestar e deveria ser tida em conta aquando do desenvolvimento dos projectos de criação e modificação dos
lugares.
No entanto isto foi mais uma especulação do que propriamente uma experiência.
Síntese das informações, factos, dados que sustentam o argumento:
O autor fez um estudo Managing the Sense of a Region para tentar entender como é que as pessoas identificam as cidades.
Pediam-lhes para dizerem do que se lembravam primeiro quando pensavam na cidade, para fazerem um
pequeno desenho dela e para imaginarem (e registarem num papel) diversas rotas possíveis para conhecer a
cidade.
O resultado conseguido foi que as pessoas tinham uma imagem mental relativamente coerente e detalhada
da cidade, que foi, segundo Lynch, criada segundo a interacção entre as pessoas e os lugares, e essa imagem
seria essencial para a sua actual função, bem como para o seu bem-estar emocional.
Pontos de relação com outras referências (autores, protagonistas):
Relação com John Dewey, deivido à ênfase que deu à experiência, e relativamente às ideias dos psicólogos
partilha o seu entendimento da percepção como uma transacção activa entre as pessoas e os lugares.
Interessa-lhe ainda as histórias e as memórias dos antropologistas.
Selecção de citações passíveis de uso:
FICHA DE LEITURA NÚMERO 05
Autor: Kevin Lynch
Data: 1984
Título: Reconsidering the image of the city
“Local” de publicação: [livro] Architectural Press—Urban Design Reader
• What do people care if they have a vivid image of their locality? And aren’t they delighted by surprise and
mystery? This was a more direct hit. The study never proved its basic assumption, except indirectly, via the
emotional tone of the interviews: the repeated remarks about the pleasure of recognition and knowledge,
the satisfaction of identification with a distinctive home place, and the displeasure of being lost or of being
consigned to a drab environment. Succeeding studies have continued to collect this indirect evidence. The
idea can be linked to the role of selfidentity in psychological development, in the belief that self-identity is
reinforced by a strong identity of place and time. A powerful place image can be presumed to buttress group
identity.
Síntese do argumento principal do texto:
• The perception of a city is a transaction between person and place, which varies with variations in each factor, but which has stable rules and strategies.
Dados de identificação do projecto:
Kevin Lynch pretende alertar para a necessidade de mudança na forma como se modelam as cidades, isto é,
chama a atenção para a necessidade de as tornar numa resposta aos seus habitantes.
Este texto resulta numa especulação sobre a forma como as pessoas identificam os locais e a imagem que
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FICHA DE LEITURA NÚMERO 06
FICHA DE LEITURA NÚMERO 07
Autor: Tridib Banerjee
Data: 2001
Título: The future of public space: beyond invented streets and reinvented places
“Local” de publicação: [livro] Architectural Press—Urban Design Reader
Autor: Ray Oldenburg
Data: 1989
Título: The character of third places
“Local” de publicação: [livro] Architectural Press—Urban Design Reader
Síntese do argumento principal do texto:
Síntese do argumento principal do texto:
O estado começa a exercer cada vez menos influência sobre os espaços que se criam na cidade. Actualmente
o mais comum que é realizarem-se construções (de edifícios, praças, ou outros locais) privadas. Por outro
lado, a ideia de convívio proporcionada pelo espaço urbano está também na ordem do dia, em pequenas
acções levadas a cabo por pequenos grupos activistas de cidadãos. Assim, têm surgido comunidades que
procuram organizar esse convívio e um usufruto da cidade algo semelhante a uma atitude de flanêur existente nos chamados “terceiros lugares”. Estes são lugares dedicados ao culto do bem-estar, às necessidades
de conforto e de cuidado das pessoas. São movimentos de valor, pois estamos numa era globalizada e estas
pessoas tentam melhorar a vivência nas cidades e revalorizar o papel das pessoas no meio urbano (as pessoas devem estar no centro das preocupações de concepção de espaços, e devem sobrepor-se a necessidades
de outras ordens (económicas, …) sendo os principais actores no palco urbano).
A importância dos “terceiros lugares” como eles se relacionam com a necessidade do homem conviver
(campo da sociologia), no entanto estes lugares são por vezes ignorados. Eles apenas podem ser entendidos
quando comparados com todos os outros locais urbanos e quer seja em Berlim, Veneza ou Chicago, todos
estes lugares têm características em comum.
Síntese das informações, factos, dados que sustentam o argumento:
O autor baseou-se na noção lançada por Peattie (1998) quando este fala em prazeres sociais enquanto actividades com objectivos próprios. Estes podem ultrapassar o convívio registado em pubs, em danças de rua,
festas entre outras actividades, mas também passa pela criação de “pequenos rituais de grupo e ligações
sociais através de acções colectivas sérias.
As manifestações activistas são para o autor outro argumento que defende a pertinência dos “terceiros
lugares”, pois estas ajudaram à formação de comunidades de diálogo e defesa do bem-estar da população.
Selecção de citações passíveis de uso:
• As such initiatives occur, it can be expected that much of the interest will focus on improving the livability
of local streets and neighborhoods and the shared public realm. In some cities, community activism helped
convert abandoned or vacant lots into vest-pocket parks or neighborhood playgrounds. In many innercity
neighborhoods, immigrant communities have brought street life back into the community. There is a general
growth in the neighborhood-based nonprofit groups that are taking charge of community improvements (…)
and thus infusing conviviality and creating third places even in poorer neighborhoods that the conventional
market sees as too risky for investment. Thus, the claim to local public space can arise from a variety of
insurgent citizenship and community initiatives.
Os terceiros lugares são caracterizados como “levellings”, ou seja, como exercendo funções de estabelecimento de igualidade entre as pessoas, não importando o seu estrato social, o seu cargo profissional, a
sua influência na economia da cidade, etc. São locais de “alívio social”, onde a conversa se assume como
a actividade principal e a melhor forma de mostrar ou apreciar a personalidade e individualidade de cada
um. Surgem como uma alternativa às instituições formais da sociedade, e a sua estratégia reflecte isso: o
seu horário abrange as horas mortas de outras instituições, e sobrepõe-se às horas “regulares”. Dado o seu
carácter informal, o ambiente é descontraído e propício ao divertimento, contrastando com o ambiente de
outras esferas. Estes locais podem ainda ser comparados às casas das pessoas, porque proporciona conforto
psicológico e apoio.
Selecção de citações passíveis de uso:
• Third places the world over share common and essential features. As one’s investigations cross the boundaries of time and culture, the kinship of the Arabian coffeehouse, the German bierstube, the Italian taberna,
the old country store of the American frontier, and the ghetto bar reveals itself. As one approaches each
example, determined to describe it in its own right, an increasingly familiar pattern emerges(…)and seems
unaffected by the wide differences in cultural attitudes toward the typical gathering places of informal public
life.
• The wonder is that so little attention has been paid to the benefits attaching to the third place. It is curious
that its features and inner workings have remained virtually undescribed in this present age when they are so
sorely needed and when any number of lesser substitutes are described in tiresome detail.
• But the third place, the people’s own remedy for stress, loneliness, and alienation, seems easy to ignore.
But there is far more than escape and relief from stress involved in regular visits to a third place. There is
more than shelter against the raindrops of life’s tedium and more than a breather on the sidelines of the rat
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race to be had amid the company of a third place.
• Though characterizations of the third place as a mere haven of escape from home and work are inadequate,
they do possess a virtue—they invite comparison. The escape theme suggests a world of difference between
the corner tavern and the family apartment a block away, between morning coffee in the bungalow and that
with the gang at the local bakery. (…) The raison d’être of the third place rests upon its differences from the
other settings of daily life and can best be understood by comparison with them.
• In order for the city and its neighborhoods to offer the rich and varied association that is their promise and
their potential, there must be neutral ground upon which people may gather. There must be places where individuals may come and go as they please, in which none are required to Play host, and in which all feel at home
and comfortable.
• Necessarily, a transformation must occur as one passes through the portals of a third place. Worldly status
claims must be checked at the door in order that all within may be equals. The surrender of outward status,
or leveling, that transforms those who own delivery trucks and those who drive them into equals, is rewarded
by acceptance on more humane and less transitory grounds. Leveling is a joy and relief to those of higher and
lower status in the mundane world.Those who, on the outside command deference and attention by the sheer
weight of their position find themselves in the third place enjoined, embraced, accepted, and enjoyed where
conventional status counts for little. They are accepted just for themselves and on terms not subject to the
vicissitudes of political or economic life.
FICHA DE LEITURA NÚMERO 08
Autor: S. Carr, M. Francis, L.G. Rivlin e A.M. Stone
Data: 1992
Título: Needs in Public Space
“Local” de publicação: [livro] Architectural Press—Urban Design Reader
Síntese do argumento principal do texto:
Os autores defendem que as várias necessidades dos espaços públicos cobrem vários aspectos do funcionamento humano. Estes relacionam-se com a criação de confortos físicos— que contribuem para o relaxamento
das pessoas— conseguidos através de objectos de repouso e nas paragens que as pessoas podem fazer em
bancos espalhados nos espaços da cidade. Como nem todas as pessoas que habitam a cidade partilham as
mesmas necessidades, há que analisar quais as necessidades mais comuns para tentar responder a todas
elas.
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Selecção de citações passíveis de uso:
• In fact, however, third places compete with the home on many of its own terms and often emerge the winner
(…)the third place does not qualify, being neither (1) the “family’s place of residence” or (2) that “social
unit formed by a family living together.” But the third definition of homen as offering “a congenial environment” (…) Obviously, there is a great deal of difference between the private residence and the third place.
Homes are private settings; third places are public. Homes are mostly characterized by heterosocial relations;
third places most often host people of the same sex. Homes provide for a great variety of activities,third
places far fewer. Largely, the third place is what the home is not, yet, there clearly exists enough similarity to
invite comparison.
• The character of a third place (…) is marked by a playful mood, which contrasts with people’s more serious
involvement in other spheres. Though a radically different kind of setting from the home, the third place is
remarkably similar to a good home in the psychological comfort and support that it extends.
• Social needs address the stimulation surrounding people, escape from urban overload, and protection from
the threats from others. People need to relax, to enjoy the respite offered by public places and have opportunities to enjoy natural elements with public places functioning as oases.
• The specific reasons drawing people to public areas reflect many aspects of life, especially urban life. A
stop in a public place may enable a person to rest and escape from the confusion, noise, crowds and “overload” (Milgram, 1970) in the surroundings – a common need in complex, urban settings. In this instance the
place becomes a haven, a “stimulus shelter” (Wachs, 1979), providing a contrast to the outside.(…) There
are other reasons to stop, reflecting the need to go to rather than the need to get away from. Public areas
also enable people to connect with others, to affiliate in some way with other people. This may occur in a very
passive mode, as in cases where people position themselves to watch the passing scene, content to have their
eyes follow the flow of strangers moving by. In other cases a more active participation is desired, where a
place is used to meet friends.
• Social and psychological comfort is a deep and pervasive need that extends to people’s experiences in public places. It is a sense of security, a feeling that one’s person and possessions are not vulnerable.
• Relaxation is distinguished from comfort by the level of release it describes. It is a more developed state
with body and mind at ease. A sense of psychological comfort may be a prerequisite of relaxation – a lifting
of physical strains, moving the person to a sense of repose.
• Discovery is the fifth reason for people’s presence in public spaces and represents the desire for stimulation
(Lynch, 1963) and the delight we all have in new, pleasurable experiences. Exploration is a human need.
• In the context of urban public spaces, discovery has some specific meanings. (…)The visitor is able to
move around and discover parts of the place – balconies that jut out, escalators, elevators, flags, strange or
interesting people. In this example, the major aspects of discovery appear to be the diversity in the physical
design and the changing vistas.
design, no sentido de satisfazer as necessidades das pessoas.
Selecção de citações passíveis de uso:
• “Design is a value-driven activity. In creating change, designers impose values upon the world – values of
their own or those of their client. To be a designer is a cultural option: designers create culture, create experience and meaning for people.”
• “Every design product, communication or environment provides human experiences.”
• “Culture is the lens through which people view products” Michael Solomon
• But discovery also can occur at home under conditions in which elements of known places change.
FICHA DE LEITURA NÚMERO 09
Autor: Mike Press and Rachel Cooper
Data: 2003
Título: The Design Experience – The Role of design and designers in the Twenty-First Century
“Local” de publicação: Ashgate Publishing
Síntese do argumento principal do livro:
The design experience explora os contextos, práticas e o papel do designer à medida que avançamos no
terceiro milénio. Considera, assim, duas ideias fundamentais: 1º o design deve ser considerado como um
processo que cria experiências significativas para as pessoas, criando produtos, comunicações ou ambientes
neste sentido. Design como experiência (designing for experience) envolve o posicionamento da pessoa em
primeiro lugar, vendo o mundo pelos seus olhos e sentindo-o através dos seus sentidos. Em 2º, a experiência
de ser um designer está radicalmente e irrevogavelmente a mudar. Novos métodos e actividades fazem com
que se enfatize na inovação, criando novos métodos, comunicações efectivas e empreendedores proactivos.
O conceito de “experiência” é essencial como um tema unificador entre cultura e economia do design, como
um meio de entender o contexto do design de hoje, e como uma janela pela qual se pode ver as possibilidades
e desafios face ao design no futuro.
Enfatizar a experiência – as sensações, os sentimentos, os desejos, inspirações e as relações sociais, que
surgem com a nossa interacção com o mundo do design – inevitavelmente reforça o “humanismo” dentro do
• “The creative energies involved in articulating and sustaining new patterns of social association are in very
profound sense a form of design.” David Chaney (sociologist)
• “It´s essential to soften the technology, to make it transparent. As designers we have to think about how
users enjoy the experience of whatever it is that they´re doing, not the object. The object should become
transparent - it´s the action that people want the object to do, and the experience of doing it that is important.” Eric Chan
• “By thinking about the kinds of situations or experiences that products will participate in and create, we
can ensure that technology makes meaningful contributions to people´s lives… Once we have the option to
designing situations, of designing the activities of people and groups of people, we also have the option of
changing what individuals and groups of people do. In a sense, products and services have the potential to be
seen as abstractions of better ways for people to work and play – and to maximise their own potential.” John
Rheinfrank, Executive Vice president, Fitch RichardsonSmith
• “Whether we create a film, glassware, a powertool or a word processor, we need appropriate methods of ensuring that it satisfies people´s needs and expectations. Especially in the design of products we must ensure
that an advantage over competing design is offered, and that our work reflects changing trends and developments in design, technology and culture.”
• “The existing skill designers have, is to make the intangible, tangible, to conceive of an ideia for a product;
a piece of jewelry, set for a play, a web page, and to use visual techniques to share that ideia with others.”
• “ People have different cultural histories that emphasize reliance on some clues over others or favour different pahts of exploration. Unless designed for very homogeneous populations, industrial products must
afford these differences, allowing visual, tactile, acoustical and verbal indicators or clues to different interpretations of form to exist side by side.”
• [Language] is used in the communication of constraints and requirements; in group problem-solving and
decisions making; in designer-client dialogue and negotiation; in inquiry, research, and testing; in naming,
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specifying, representing, and elaboration; and interpretation. D. Fleming (1998), “Design talk: Constructing
the object in studio conversations”, Design Issues, 14 (2)
• “The reasonable man adapts himself to the world; the unreasonable one persists in trying to adapt the
world to himself. Therefore all progress depends on the unreasonable man.” George Bernard Shaw
Síntese das informações, factos, dados que sustentam o argumento:
Compreender a cultura é crucial para o processo do design. O comportamento das pessoas, os seus rituais e
os seus valores variam de país para país, e no nosso mundo multicultural e diversidade social, muitas vezes
também variam de cidade para cidade. Os objectos usados e as suas configurações reflectem e reforçam o
comportamento esperado do quotidiano (vida diária).
Definições conservativas de cultura têm sido desafiadas, recentemente, pelo incremento dos cultural studies
no campo da antropologia, sociologia, linguística, história, psicologia e outras disciplinas, para explorar a
cultura como produção social e reprodução de sentidos, significados e consciência.
Na nossa cultura de consumo todos nós somos, em diferentes graus, designers. Todos fazemos decisões sobre
a casa/espaço em que vivemos, as roupas que usamos, o que consumimos e o estilo de vida que expressamos. Como “everyday consumption work”, para citar David Chaney, “exemplifies a notion of design as a way
of using that is invested with significance”. A cultura de consumo é uma experiência de design que interliga
produção com consumo, designer profissional com consumidor criativo. Os designers, como intermediários
culturais, desempenham um papel vital no sentido de ajudarem as pessoas a encontrarem sentido, identidade e senso, neste elevado mundo de consumo.
O design tem que ter em consideração o que está “por detrás” dele, começa-se por perceber/considerar a
experiência que querem criar com um serviço/produto (…) Como consequência final do serviço/produto de
design – tem que ser extremamente relevante e significativo para o utilizador, e deve ser “personalizado”
(individualizado) pelas suas conclusões individuais. Assim Rheinfrank conclui que “that technology makes
meaningful contributions to people´s life”.
Paul Chamberlain desenvolveu um projecto de som (idêntico ao recycling soundscape) – o desafio e a
mais-valia do projecto é o facto de criarem produtos onde o foco principal era trocar os sentidos visuais
(entre outros) pelos sentidos do toque, cheiro e som – para criarem, através do produto/serviço sensações
e experiências cognitivas.
Criando “visões de possíveis mundos” Enzio Manzini escreveu:
-Habilidade de desenhar (não só com um lápis ou uma caneta, mas também utilizando um computador,
câmara, ou imagens);
-É uma forma de sentido visual, combinando elementos visuais em variados media, para criar uma imagem
de um “possível mundo”;
-Envolve a criação e a interpretação de signos, como de símbolos.
“Talking design” é o título de um estudo de caso recente do design gráfico, que destaca a interacção
social e a complexa comunicação verbal/visual, que predomina no processo de design.
- Utilização de modos visuais e verbais de comunicação (relação do designer com utilizador/cliente, no
sentido de conhecer os clientes, entrevistá-los, etc)
-Importância da linguagem e da comunicação
Pontos de relação com outras referências (autores, protagonistas):
Algumas conclusões:
De acordo com o especialista de marketing Darrel Rhea, “the real challenges come when we step back and
reassess all the ways a design might influence and benefit customers – physically, emotionally, intellectually, and culturally. It is, in fact, customers ´every experience with a product that reveals opportunities to use
design in innovative ways”. Rhea desenvolveu o modelo design experience como uma ferramenta conceptual
para a compreensão de todo este ciclo da experiência, desde quando os clientes tomam consciência de um
produto, através da sua aquisição e utilização, para integrar toda a esta experiencia (do produto) na sua
vida.
O design de experiencia é sem dúvida um desafio. O design de um produto/serviço tem que ter em conta
o que está por detrás desse produto – as questões sociais, tecnológicas e politicas que moldam o nosso
mundo, e determinam as esperanças, medos, alegrias/dor que formam as diversas experiencias de estar/
sentir vivo. (…)
Se criar experiências é o “novo desafio” no design, assim leva-nos a novas premissas nos métodos de trabalhar enquanto designers, e em particular a pesquisa que envolve a sua prática.Novos aos conhecimentos
de que o design é um processo de entendimento e de comunicação do produto e o seu contexto.
Considerando as propriedades e as experiências dos objectos/serviços de design, e este ciclo de experiência
(que todos os serviços e produtos sofrem), tem-se chegado à crítica e ao desafio face ao design da actualidade. Os designers não só designam produtos; não só são estilistas estéticos; não só resolvem problemas,
como também são criadores de experiencias que enriquecem a fundamental experiencia humana de estar
vivo. Assim a sua preocupação fundamental é, ou deve ser, com a humanidade da nossa cultura material.
Preocupação com o relacionamento entre o design e a experiência humana – a nossa interacção do dia-adia com produtos e serviços, e a integração dessa interacção com o nosso contexto de vida.
DESIGNERS OF PLACES
Designers de “lugares” trabalham em ambientes de 2 e 3 dimensões. Preocupam-se com a interacção entre
a pessoa e o ambiente - desde a escala, as formas, as imagens, as cores pelo os quais todos afectam os
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sentidos.
Designers de “lugares” necessitam de ter as capacidades de entender uma série de requisitos, na área do
design. (relação do cliente/utilizador; criação/fabrico). Eles precisam de capacidades de comunicação,
ambas visuais e verbais, para explicar os conceitos que a audiência necessita. Os designers desempenham
um papel essencial na criação de um mundo material. Para os designers, trabalhar no domínio dos lugares e
das mensagens, existe alguns factores preponderantes – avanços/modificações tecnológicas, mudança de
ambientes e a mudança de mercado.
(Pag200) em género de conclusão
Designers devem ser exagerados. Devem criar empatia, conhecimento pelas necessidades e desejo dos outros, e reconhecer o dever da sustentabilidade.
Além disto, os designers necessitam de confiança e de uma visão totalmente exagerada, num mundo que tem
negligenciado as necessidades e aspirações da maioria dos seus habitantes. O nosso futuro depende disso.
Experience – A totalidade das sensações, percepções, conhecimento e emoções adquiridas num acontecimento de interacção. No design, definir um produto, serviço ou ambiente, em termos multi-sensoriais e/ou
em necessidades emocionais. No Modelo Design de experiência é a fase em que o produto/serviço torna-se
parte da nossa vida.
FICHA DE LEITURA NÚMERO 10
Autor: Pedro Brandão / Antoni Remesar [eds]
Data:
Título: Design de espaço público: deslocação e proximidade
“Local” de publicação: Centro Português de Design
Síntese do argumento principal do livro:
A espectacularização e mediatização da vida pública, em que assenta a ideia de “criador de espaço urbano”, é contemporânea de uma outra, de sentido inverso. A da maior “socialização” da ideia de cidade. A
cidade está cada vez mais a tornar-se complexa, considerando o facto de ela nunca estar terminada, pode
não ser totalmente regulável a partir do seu exterior. O que estimula uma cultura centrada, não no criador,
mas no contexto (face a todos os actores do processo urbano, actuais e futuros, que fazem o seu contexto).
- Estetização, e também desmaterialização, tematização, espectacularização, são paradigmas de uma
noção de arte como dissimulação, que se relaciona com a realidade urbana.
- A literatura sobre a cidade (incluindo a ficção e a dramaturgia, que cada vez mais apresenta-nos as
cidades não apenas como palcos de acção, ou como registo da descoberta inesperada do “flanneur”, mas
como verdadeiras protagonistas); prova por si só que a cidade não é literatura.
- O campo urbano é menos narrativo (menos centrado num discurso ou numa representação física do futuro)
e mais instrumental, de interacção. Se desenhamos/projectamos os lugares é no sentido de uma procura no
que neles acontece.
Síntese das informações, factos, dados que sustentam o argumento:
Na cidade actual, de que forma o espaço público assume função, significado e forma?
- Ideia de vazio e de movimento, que se podem associar á noção de “domínio público”.
- A cidade é a obra de estar junto/de encontro, noção em que o vazio oferece, por excelência, o lugar potencial de encontro, e a deslocação apela à atracção para o encontro - a centralidade.
- Na actualidade a cidade está em movimento: o real – nos fluxos que a atravessam com apoio nas redes de
deslocação; e também o virtual – pela possibilidade de instantaneamente ligarmos o que está separado, sem
nos movimentarmos, e ainda pela possibilidade de que dispomos de mudar repentinamente o nosso ambiente.
- Hoje os espaços de encontro ampliam-se com as oportunidades geradas pela mobilidade – os interfaces
– mas a nova noção do tempo faz de nós uma espécie de urbanos, sob o signo de dispersão e da mudança de
sentido.
- A resposta à questão, de que forma o espaço público assume função, significado e forma, encontra-se no
duplo carácter – Abertura e Conforto.
A questão, que introduz o tema do design de comunicação, é: qual é o elenco de temas que se cruzam, na
cidade, como palco e objecto de comunicação?
- Aqui podemos determinar um deficit de consciência, isto é, não sabemos ainda o suficiente sobre a comunicação na cidade e não organizámos ainda o que já sabemos de modo a aplicá-lo nas decisões de projecto:
a) Sistemas de Comunicação
A sinalética não é em si mesma todo o terreno de design de comunicação na cidade. A maior parte das vezes
será, pelo contrario o auxilio possível ou mesmo mais um elemento conivente do ruído. Nem o essencial da
sinalética é o suporte (os espetos em q tropeçamos) e pode até ser a forma de os evitar.
Shannon e Wear (1949) procuraram nos anos 60 desenvolver a partir dos modelos matemáticos, um modelo
linguístico, delineando os seus factores constitutivos (utilizador, contexto, mensagem, contacto, código e
destinatário) e as suas funções que o acto de comunicação desempenha para cada factor (emotiva, referencial, poética, fática, metalinguística e conotativa), antes de uma abordagem em função da sociedade e
cultura, que Barthes (1988) desenvolverá analisando os sistemas de significado do quotidiano através dos
meios de comunicação de massa.
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- Orientar, direccionar, informar e interagir serão os objectivos de um sistema em que devem estar previstos e
organizados não só as mensagens como os canais. Presumindo-se que o ambiente da comunicação não pode
ser resultante de uma acção não planeada e impossibilitada, sobre o espaço envolvente, o sistema de comunicação não pode sucumbir à perversão da comercialização abusiva da disponibilidade visual do espaço,
nem à poluição por ruídos, redundâncias e ineficácias diversas, do mau uso da língua, à iliteracia visual, e o
“Kitsch” gráfico.
b) Comunicação da cidadania
Os espaços públicos da cidade, em que o contacto comunicacional se regista em directo e numa situação de
igualdade, são um recurso essencial. Uma das formas de garantir essa comunicação é na relação entre as
pessoas (face-a-face,)
c) Novas tecnologias e comunicação
Os avanços tecnológicos conduzem as redes de comunicação a uma maior difusão e dispõem-se, assim, de
um novo espaço público que tornará menos relevantes as localizações concretas e a proximidade dos interlocutores.
Que significam estas mudanças para o futuro da cidade e do seu espaço público?
- Elas possibilitam uma fase diferente na relação entre cidade e processo de comunicação, mas esta nova
situação garantirá a continuidade histórica da cidade, ou representará antes uma rotura da sua função de
lugar de encontro?
A evolução efectiva, como comprovou Gottmann (1991) é a de que : “a circulação das pessoas a breve e
longa distância não pára de aumentar; o desejo de estar presente em todas as formas de manifestação, participar pessoalmente em reuniões, conviver “face a face” acentua-se. E tudo isto anima, multiplica, sobrecarrega as redes, faz crescer ou explodir os centros das grandes cidades”.
d) Marketing e comunicação nas cidades
- Segundo Guy Debord (1991), os indicadores das alterações comportamentais nas cidades derivam da
importância concebida à imagem, à representação, à aparência, em detrimento da realidade original, que
estaria na base de uma sociedade em que “a cultura tornada integralmente mercadoria deve também tornarse vedeta da sociedade e do espectáculo”
- As imagens da cidade, dos acontecimentos e das pessoas (da qual desempenham um papel preponderante
na cidade), ou de um conjunto de artefactos (produto/serviço/ambiente) identificados com a cidade, são
objectos de processo cultural de reprodução, simplificando-se através de um “conceito” ou “tema”, isto é a
marca da cidade.
e) Comunicação do projecto
A resposta à questão – qual é o elenco dos temas que se cruzam, na cidade, como palco e objecto de comunicação ?, poderá ser:
- Formular um diagnóstico; visualizar um programa; simular uma hipótese; estabelecer uma referência;
transmitir um conceito; produzir alternativas; propor decisões; discutir os impactos…passaram a ser territórios do espaço público que reclamam não só novas tecnologias de comunicação (audiovisuais, multimédia, rendering), novos canais e linguagens polissémicas, mas principalmente novas atitudes de comunicação.
Selecção de citações passíveis de uso:
• “Dizemos, o acontecimento tem lugar. Na cidade, que é o lugar do acontecimento, não há acontecimento
sem lugar. Dizemos o que o lugar “é”, referindo não só o cenário desenhado, mas também as próprias coisas
que ali acontecem.”
• “A consciência de uma irredutível diferença de natureza entre percepção estética e percepção da cidade
deveria ser uma das chaves do desenho urbano do futuro” Françoise Choay (1975)
• “Passeio pela minha cidade. Um vagabundo dorme no “se” banco (público). Um grupo de reformados joga
ás cartas na “sua” mesa habitual do “seu” bar. Um músico de rua toca na “sua” esquina. Dois namorados
despedem-se como sempre fazem na “sua” porta. Atravesso um bairro dando voltas: o espaço urbano entre
os blocos de vivendas é restrito aos vizinhos com gradeamentos e segurança. Apanho o metro. Um homem
esconde-se atrás de um jornal desportivo tentando não ser visto pela ex-namorada – que está como ele,
de pé e apertada – a quarenta centímetros de distância. Ela por seu lado está submersa pelo som do seu
walkman e que a liberta do tumulo quotidiano, fecha os olhos sem querer observar ninguém (…) Finalmente
chego a casa. Aqui ninguém me incomodará. Dispo-me, desligo o telefone e enfio-me na cama. Amanhã será
outro dia.“
• “Public art, architecture, landscape design and other urban design disciplines that operate the new kind
of postindustrial urban projects, must question themselves about their own actions, in the processes of
change”. Pedro Brandão (2001)
• “The problem endemic to public art in a democracy, begin with its definition. How can something be both
public (democratic) and art (elitist)? Who is the public? What defines art or sculpture today for that matter?
What makes it public – its essence, its patron, or its location? (…) Do we discuss public sculpture in the context of art or urban design or both? How can we approach a subject that makes news as an object of controversy more often than it makes sense to its primary audience?” Questiona-se Harriet Senie na introdução do
seu livro Contemporary Public sculpture.
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Algumas conclusões:
- O território da comunicação visual no projecto do espaço público é menos convencional. Para, fazer evoluir
o contributo gráfico para além da sua finalidade projectual e de representação, será preciso elaborar uma
linguagem apta a comunicar e a tomar em conta visões diferentes, permitindo uma concepção mais aberta e
democrática da programação e do desenho urbano.
- A noção de “espaço livre” é frequentemente utilizada em associação com a de “paisagem”.
Esta relação tem vindo a ser ampliada. Não só porque a ideia de “espaço livre” transmite a vez à ideia de
“espaço público”, mas também porque da ideia de paisagem “verde”, passamos para a ideia de paisagem de
todos os elementos, naturais e artificiais e da relação entre eles.
- O espaço público, espaço de relações entre as pessoas e entre elas e os sítios, é concebido e projectado
para ter um papel construtor da identidade urbana.
- Se a cidade dever ser o lugar onde todos os grupos sociais possam viver juntos, o espaço público é apenas
o local/cena em que se desenvolverá a interacção social, promovendo os comportamentos cívicos e de solidariedade, e o lugar em que se produzirão os processos de apropriação do espaço que permitem aos cidadãos
desenvolver o sentido de pertença ao lugar e à colectividade social.
- Em conclusão, o espaço público, significado através do design urbano e da arte pública, é um elemento
fundamental para permitir a “noção de consciência” do individuo e dos grupos sociais, permitindo o passar
de “si mesmo” ao “sujeito”. Assim, compreender o conceito de Arte Pública, supõe compreender as práticas
sociais de produção da cidade, práticas que, para além da materialização física do betão urbano, implicam
uma serie de práticas politicas como suporte da criação da cidade, que no caso destes dois tipos de actividades devem promover uma arte por e para o cidadão (Remessar 200)
FICHA DE LEITURA NÚMERO 11
Dados de identificação do projecto:
Autor: Per Linde e Sofia Dahlgren
Data: 2003
Título: Towards socially meaningful Design by configuring Design Space
Local de publicação: [Livro] Senses and Sensibility in Technology: Linking Tradition to Innovation Throught
Design
Síntese do argumento principal do texto:
O texto aborda questões do design de interacção. O design de interacção é apresentado como uma disciplina que procura explorar qualidades, que pertençam à experiência estéticas e a actividades sociais e que
resultem na compreensão de artefactos digitais. Acredita-se que criar situações onde as narrativas têm uma
manifestação física, pode fortalecer os laços entre o artefacto e a experiência de interacção.
O papel dos objectos físicos e interfaces tangíveis tem aproximado o design de interacção aos campos do
design de produto e arquitectura.
A prática do design tem uma vasta variedade de métodos e é igualmente rica em diferentes representações.
O design é apresentado como um processo de experienciar ideias.
As representações físicas podem ser colocadas no actual espaço de design de diferentes formas.
As disposições são configuradas e re-configuradas numa série de diferentes situações criadas. Por misturar
elementos narrativos com descrições de utilização e funcionalidade, uma sensibilidade para o actual contexto poderá ser suportada. Desta forma, a prática pode ser descrita como uma série de diferentes narrativas espaciais que informam o processo. Isto é descrito em dois aspectos, primeiro na configuração do espaço
de design e na criação de situações de design, segundo uma análise de uma exibição em que os conceitos
foram manifestos em instalações físicas.
Síntese das informações, factos, dados que sustentam o argumento:
Conhecer o utilizador e o contexto de utilização é um princípio vasto aceitável no campo do design de interacção. É uma questão de negociar o sentido. Este trabalho produz material em diferentes formatos, digitais
e físicos.
Designers usam múltiplos media para explorar e expressar ideias de design.
Para transmitir conceitos de design em cenários de performance apresentam-se situações em que designers
relacionam a tecnologia com uma forte presença do corpo. Ambos dirigem-se a necessidades de avaliação
intuitiva que não têm de ser verbalizadas e levanta questões por detrás da funcionalidade.
Trabalhar com cenários compromete explicitamente o utilizador com o espaço. Ao mesmo tempo é experimental no sentido em que suporta imaginações de actividades futuras.
Por mudar o espaço, tornou-se possível contar diferentes histórias. As histórias misturam-se com as primeiras do campo de estudo.
Conseguir um conceito baseado na compreensão do design é importante. Parte desta compreensão é a habilidade de desenhar ideias e vê-las/imaginá-las de diferentes pontos de vista.
Extrair referências de diferentes contextos e trazê-las juntas numa nova perspectiva faz parte de um processo de reprogramação— para imaginar objectos com novas formas.
Pontos de relação com outras referências (autores, protagonistas):
O artista de performance, Ulay, refere-se ao espaço em que ele “performa” como “vida editada” ou “existência coreografada”.
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Há duas décadas atrás pensávamos que o recurso à tradição e herança tinha chegado ao fim mas, agora os
seus valores voltam a ser apreciados, tal como as artes tradicionais enriquecidas com a experiência, novos
pensamentos e técnicas.
FICHA DE LEITURA NÚMERO 12
Dados de identificação do projecto:
Autor: Margaret C. Perivoliotis
Data: 2003
Título: Memory and Identity Stimuli of innovative Design: A Hellenic Case Study
Local de publicação: [Livro] Senses and Sensibility in Technology: Linking Tradition to Innovation Throught
Design
Síntese do argumento principal do texto:
Este texto centra-se na investigação do poder da identidade cultural e tradição no desenvolvimento e inovação do design. Mediante vastos estudos de tradição e herança cultural local procuram identificar novas
oportunidades para inovação e novas estratégias para comunicação e promoção —filosoficamente, teoricamente e praticamente.
Os países e os designers são forçados gradualmente a trazer mais e mais valores e inovação aos seus produtos de design se desejam ser competitivos.
A intenção desta pesquisa é ligar tradição a inovação através do design, deste modo habilitando futuros
designers a criarem e proporem inovações realistas inspiradas pelas memórias locais, cultura, tradição e
herança.
Os resultados práticos tendem a tornar o design num campo de estudo apto para participar no processo que
envolve o desenvolvimento de valores locais, recursos e realidades, tornando os designers em visionários com
importantes papéis na inovação do processo de pesquisa.
As intenções desta autora grega residem em potenciar os alunos a criar, e propor às indústrias e artesanato
um design realista, isto é, inspirado pelas suas identidades culturais e memórias, tradições e herança locais.
Depois apresenta os trabalhos que os alunos (na Grécia) desenvolveram neste âmbito e os parâmetros que
seguiram.
Síntese das informações, factos, dados que sustentam o argumento:
O design baseia-se em relações íntimas com os materiais, com os objectivos, formas e estilos. Os objectos
acabam também por ser o reflexo de várias coisas tal como o da natureza e da cultura de diferentes pessoas
em diferentes tempos, o reflexo do espírito dos tempos, da política ou de ideias religiosas. Os estilos que se
criam são a pura expressão do carácter das pessoas de determinada área numa certa época histórica.
A cultura e a herança contribuem para a inovação do design, inspirando-o nas mais diversas áreas (têxtil,
cerâmica...).
Cultura e herança juntas com a educação contribuem para a evolução do processo de design. Em alguns casos, o design está estreitamente ligado a tradições e crenças numa relação complexa entre design e identidade.
Selecção de citações passíveis de uso:
• “The use of particular designs is linked to traditions, believes and customs with a complex relationship
between design and identity. On a parallel basis, the cultural routes provide a suitable forum for exchanges in
design information and design experiences, as well as insights in the diversities and cultural developments of
different people in different places, stimulating artistic an professional creativity”.
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FICHA DE LEITURA NÚMERO 13
Dados de identificação do projecto:
Autor: Valentina Rognoli
Data: 2003
Título: The Aesthetical and Sensorial Characterization of Design Materials
Local de publicação: [Livro] Senses and Sensibility in Technology: Linking Tradition to Innovation Throught
Design
Síntese do argumento principal do texto:
Este texto aborda o papel que os materiais podem assumir na experiência sensorial, como as suas características podem ser exploradas de forma a resultar na transmissão de sensações.
As sensações têm-se tornando o alvo do design assim, os materiais e as transformações tecnológicas têm
assumido uma importância decisiva. A escolha do material determina a escolha de linguagens e de sistemas
emotivos e perceptivos.
Síntese das informações, factos, dados que sustentam o argumento:
Os materiais deveriam ser escolhidos e pensados mediante as suas características técnicas mas, as prioridades dos projectos acabam por ser as qualidades estéticas e sensoriais. Assim, as várias qualidades
estéticas e sensoriais deveriam ser planeadas.
A estética foi em primeiro lugar definida como “a doutrina do conhecimento dos sentidos”, isto é, o conhecimento do mundo através dos sentidos. Assim, a partir deste ponto, o termo estética assumiu quase que
exclusivamente o um significado: estética torna-se agora a doutrina da beleza, a experiência da beleza. Mas
o significado que mais nos interessa é o primeiro.
A dimensão sensorial refere-se ao contexto de pesquisa que tem como fim avaliar sistemas e formas de apropriação, através dos quais o sujeito se relaciona com o meio envolvente. Do design de experiências sensoriais
advém a sua visão estética que é depois expressa no projecto.
Os sentidos determinam emoções estéticas e a progressiva intelectualização das sensações faz com que o
homem crie ritmos, valores e códigos com um significado específico, em que apenas podem ter um real significado no contexto duma cultura.
Assim, “estética envolve todos os nossos sentidos, visão, paladar, tacto e cheiro, e as nossas emoções (Jordan, 2000)”
Alguns parâmetros que se devem ter em conta:
—Tacto: é definido como uma sensação específica que surge em resposta a um estímulo dos receptores
tácteis. O tacto é a acumulação de sensações enviadas do material para o sujeito de uma forma táctil.
—Textura: é um elemento de caracterização táctil das superfícies que é também visível. A aplicação de textura envolve também uma alteração na superfície do material, através de marcas ou gravações na superfície.
—Brilho: normalmente é associado à reflexão das superfícies e que resulta da intervenção da luz.
—Luz
—Transparência
Pontos de relação com outras referências (autores, protagonistas):
Os estudos relacionados com as capacidades expressivas dos materiais começaram com Johannes Itten, as
suas texturas, acabamentos e aparência.
Selecção de citações passíveis de uso:
• “Materials communicate with all the senses: they give us a knowledge of the plurisensorial world by bringing
together the perceptions of touch, sigth, smell, flavours and sounds. (Fiorani, 2000)”
• “In man, references to aesthetic sensibility, in the senses of smell and taste, hearing and sight and, lastly,
in the intellectual image, the symbolic reflection off alll sensitized fabrics. (leroi-Gourhan, 1977)”
FICHA DE LEITURA NÚMERO 14
Dados de identificação do projecto:
Autor: Maristela Mitsuko Ono e Maria Cecília Loschiavo dos Santos
Data: 2003
Título: Implications Of cultural Diversity on Designing Pleasurable Products for Society
Local de publicação: [Livro] Senses and Sensibility in Technology: Linking Tradition to Innovation Throught
Design
Síntese do argumento principal do texto:
Neste texto procede-se à observação de casos particulares e constata-se que as interpretações e as respostas emocionais variam consoante a cultura específica do público, que não é homogénea, estática ou
hermética mas sim complexa.
Dá-se ênfase à importância de uma abordagem interpretativa e cultural na prática do design, mediante o
recurso à pesquisa sobre as necessidades dos utilizadores e os seus desejos para então se poder tornar as
coisas mais atractivas.
Síntese das informações, factos, dados que sustentam o argumento:
Cultura é entendida como um fenómeno capaz de representar, reproduzir e transformar os elementos
tangíveis não-tangíveis que dão forma ao sistema social e vida, influenciando e sendo influenciado pelas
práticas económicas e relações simbólicas.
O design é entendido como um agente que reproduz, muda e cria significados, e como um mediador entre
objectos e pessoas.
No contexto da globalização, é fundamental para o design estar atento à diversidade cultural. É necessário
que os designers procurem um melhor entendimento sobre o universo material e simbólico dos indivíduos,
para quem eles pretendem produzir objectos, considerando as suas possíveis implicações na vida humana,
tal como na sociedade.
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FICHA DE LEITURA NÚMERO 15
Bibliografia
Dados de identificação do projecto:
Autor: Terence Love
Data: 2003
Título: Design and Sense: Implications of Damásio’s Neurological Findings
Local de publicação: [Livro] Senses and Sensibility in Technology: Linking Tradition to Innovation Throught
Design
Síntese do argumento principal do texto:
Este texto aborda alguns conhecimentos inerentes ao conceito de emoção, recorrendo-se a alguns estudos
de Damásio. Centra-se em pesquisas recentes no campo de cognição neurológica e aplica-as a teorias sobre
design.
Este documento, descreve a pesquisa cujo alvo é melhorar a forma como os sentimentos e as emoções são
representadas em teorias sobre design cognitivo.
Podemos encontrar uma dificuldade no campo de pesquisa do design que se refere à inclusão de sentimentos,
afectos e emoções humanas mas, ainda assim, existe um grande interesse no papel do design em despertar
emoções.
Síntese das informações, factos, dados que sustentam o argumento:
Segundo este documento as aproximações baseadas em emoções são problemáticas e não ajudam a confluir
várias questões importantes conceptuais e funcionais que são necessárias para construir uma compreensão
satisfatória das actividades humanas envolvidas no processo de design.
Os resultados desta análise sugerem a necessidade de uma revisão fundamental das áreas chave da teoria do
design, numa revisão particular das teorias centrais do design cognitivo, interacção do utilizador e colaboração do design.
Todas as teorias do design presumem teorias sobre processos cognitivos porque o design é uma parte essencial da actividade humana, e os objectivos do design advêm da utilização humana e de valores. Os sentimentos, emoções humanas, processos automáticos e não racionais têm sido incluídos em teorias do design por
serem inseridos dentro de modelos da ciência cognitiva do design cognitivo.
BRANDÃO, P. & REMESAR, A. (2003),
Design de espaço público: Deslocação
e Proximidade, Centro Português do Design
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CARMONA M. & TIESDEL, S. (2007),
Urban Design Reader, Architectural Press,
Oxford, UK, 2007
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GENDLER, T. & HAWTHORNE, J. (2006),
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to innovation through design (2003), IADE, Lisboa
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MANZINI, E. (2003),
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