«A ferida de Kennedy era claramente incompatível com a vida»

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«A ferida de Kennedy era claramente incompatível com a vida»
HISTÓRIA
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Dental Tribune Brazilian Edition | Dezembro 2013
«A ferida de Kennedy era claramente
incompatível com a vida»
Uma entrevista com o Dr. Don T. Curtis, EUA
pondeu que o presidente estava ferido e me
levou para a sala de trauma, onde o presidente Kennedy estava.
Qual era o estado de Kennedy quando o senhor
chegou?
Quando cheguei lá, era óbvio que o presidente estava inextremis. Ele tentava respirar
mas estava incapacitado de fazê-lo. O Dr.
Charles James Carrico, um cirurgião residente de Parkland, tinha colocado um tubo
endotraqueal numa tentativa de ventilação.
No entanto, isso não funcionou porque havia
um bloqueio nas vias respiratórias do presidente, então o Dr. Carrico decidiu fazer uma
traqueostomia.
Eu ajudei a enfermeira a desamarrar a gravata do presidente e tirar a camisa para prepará-lo para o procedimento. Em seguida, o
Dr. Malcolm Perry, um cirurgião sênior, entrou na sala e ficou decidido que ele deveria
fazer a traqueostomia. O Dr. Carrico assistiu
ao Dr. Perry e eu executei uma incisão na
perna esquerda para proporcionar a substituição intravenosa de perda de sangue. Mais
tarde, quando olhei para cima, a sala estava
cheia de altos chefes de todos os departamentos cirúrgicos de Parkland. Havia também algumas pessoas que eu não conhecia.
Dr. Don T. Curtis falando no evento sobre os 50 anos do assassinato de Kennedy. (DTI/ Foto Stephanie Price/Museu Histórico Panhandle-Plains, EUA)
A apenas poucas pessoas são concedidas a
oportunidade de tornar-se parte ativa dos
acontecimentos históricos. Um ex-cirurgião
dentista de Amarillo, no Texas, de setenta e
seis anos de idade o Dr. Don T. Curtis, passa a
ser um deles. Como residente em cirurgia
buco maxilo facial no Parkland Memorial
Hospital, em Dallas, ele foi um dos primeiros
médicos a ter realizado o tratamento de
emergência no presidente dos EUA John F.
Kennedy depois que ele foi baleado em 22 de
novembro de 1963. O Dental Tribune Internacional teve a oportunidade de falar com ele
sobre esse dia e porque ele acha que existe
algo mais do que um atirador solitário em relação ao assassinato.
Odontologia da Universidade de Baylor, em
Waco.
O senhor estava ciente de que o presidente estaria em Dallas em 22 de novembro de 1963?
Eu não tinha conhecimento disso e fiquei
surpreso quando o trouxeram para o hospital. Eu tinha uma cirurgia marcada para mais
tarde naquele dia e estava indo almoçar. O ca-
minho para a sala de almoço no entanto, me
obrigava a deixar o prédio e atravessar a área
de recepção da sala de emergência, onde notei carros de polícia e a limusine presidencial
que tinha sangue nela e rosas que foram dadas para a primeira-dama, Jacqueline Kennedy, quando ela chegou ao aeroporto.
Quando um policial me perguntou se eu era
um médico, eu disse que sim. Ele, então, res-
O senhor foi informado de que o presidente foi
alvo de uma tentativa de assassinato?
Eu não tinha conhecimento da natureza
da lesão do presidente porque sua cabeça
estava em um travesseiro e eu não podia ver
a ferida. Lembro-me do chefe de neurocirurgia Dr. Kemp Clark rotating virando a cabeça de Kennedy para a esquerda, revelando que a parte posterior de seu crânio estava radicalmente fraturada. Ele então
disse: «Pare, esta lesão é incompatível com
a vida».
Dental Tribune International: Um filme sobre
os eventos em Parkland Memorial Hospital,
produzido por Tom Hanks e estrelado por Billy
Bob Thornton, acaba de ser lançado por ocasião do 50 º aniversário do assassinato de Kennedy. O senhor já assitiu, e na sua opinião ele se
mantém fiel aos acontecimentos?
Dr. Don T. Curtis: Eu não assisti, mas ouvi
críticas de que retrata os eventos de forma
sensacionalista. Eu acho que eu iria assistir se
passasse aqui em Amarillo.
O senhor começou a trabalhar no Parkland Memorial Hospital em 1963. Qual a sua posição
naquela época?
Naquela época, eu estava no meio do caminho cursandoo meu primeiro ano de residência em cirurgia buco maxilo facial. Antes de
cursar a residência, eu também completei
um internato. Fiquei interessado no campo
enquanto trabalhava como técnico cirúrgico
em um hospital geral durante o meu tempo
na faculdade de odontologia da Faculdade de
Agentes do Serviço Secreto Americano e polícia local verificam a limusine presidencial do lado de fora do Hospital Parkland Memorial em Dallas, Texas, enquanto o Presidente President John F. Kennedy recebe tratamento no hospital após ser baleado. (DTI/ Foto cortesia da Biblioteca e Museu Presidencial John F.
Kennedy, EUA)
HISTÓRIA
Dental Tribune Brazilian Edition | Dezembro 2013
Como era a atmosfera na sala?
Fez-se um silencio. Ninguém disse nada.
dessa forma, isso tem permanecido um mistério pelos últimos 50 anos.
Em sua opinião, houvera alguma chance de que
a vida do presidente pudesse ter sido salva?
Nada do que fizemos fez a diferença. A ferida de Kennedy era claramente incompatível com a vida.
O que o senhor acredita que realmente aconteceu naquele dia?
A minha opinião pessoal é de que havia,
claro, vários atiradores e que Oswald não fez
isso sozinho. Isso indicaria, porém, que
houve de fato uma conspiração.
Após os eventos, o senhor ficou no Parkland
Memorial Hospital por mais dois anos. Os
eventos ainda foram discutidos pela equipe
posteriormente?
Nós, na verdade, nunca conversamos sobre
isso. Isso foi algo que simplesmente não queríamos discutir.No entanto, deixei Parkland,
em 1965, para uma residência de intercâmbio
em Londres e Zurique, onde eu muitas vezes
discuti os eventos com os meus colegas no exterior. Particularmente na Inglaterra, havia
muito interesse na política dos Estados Unidos e no assassinato.
O senhor recentemente veio totalmente em
público com o seu conhecimento depois de 50
anos. Quais foram as suas razões para fazê-lo?
Tudo o que eu poderia dizer já está demonstrado na literatura sobre o assassinato,
mas acho que é preciso haver um conheci-
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mento geral do que as pessoas sabiam que estavam realmente envolvidas.
Mais de seis milhões de páginas de provas confidenciais sobre o assassinato de Kennedy vão
ser lançadas em 2017. O senhor está interessado
neste conhecimento ou o senhor considera que
esse capítulo de sua vida está fechado?
Há muita especulação sobre quais as informações que esses documentos realmente
contêm. Eu não espero nada com isso, mas estaria interessado em saber o que pode ser
aprendido com eles.
Muito obrigado pela entrevista.
AD
Dr. Don T. Curtis como estudante de odontologia
em 1962. (DTI/ Foto cortesia da Faculdade de
Odontologia de Baylor)
Segundo testemunhas, a discussão começou
sobre quem foi autorizado a fazer a autópsia.
O senhor notou alguma coisa?
Eu não notei porque eu sai da sala de
trauma logo após o presidente ter sido declarado morto e voltei à clínica para ver o meu
paciente na sala de cirurgia. No entanto, descobri que todas as cirurgias agendadas para
esse dia foram canceladas e que todos os pacientes tinham sido enviados de volta para a
enfermaria.Naquele momento apenas algumas cirurgias tiveram andamento, incluindo
aquela do governador Connally, que também
foi ferido durante o tiroteio.
Informei a minha paciente que sua cirurgia tinha sido adiada. Ela compreendeu. Uma
vez que não havia mais nada para eu fazer, então eu desmarquei o meus compromissos na
clínica e fui para casa. Ali, passamos o final de
semana assistindo televisão e ouvindo as notícias no rádio. Ficamos aliviados que o presidente Lyndon B. Johnson retornou em segurança de volta para Washington e que o governo não foi interrompido. Finalmente, no
domingo, nós soubemos que o suspeito Lee
Harvey Oswald foi baleado, o que indicava
que havia algo acontecendo, além de apenas
um atirador solitário.
A maioria dos americanos não acredita que Oswald agiu sozinho, como concluiu o relatório
da Comissão Warren nomeada pelo governo
para investigar as circunstâncias do assassinato. O senhor notou alguma irregularidade
entre esta versão oficial e os eventos que o senhor testemunhou?
O relatório da Comissão Warren refletiu sobre o que o povo queria ouvir, que foi que Oswald agiu sozinho e que não havia nenhuma
conspiração. Os médicos do Parkland no entantoenquanto limpavam o sangue do pescoço de Kennedy para a traqueostomia, encontraram um único buraco de bala que aparentemente era uma ferida de entrada o que
significa que deve ter sido um projétil que
atingiu o presidente pela frente. Devido à sua
natureza, a ferida na parte de trás da cabeça de
Kennedy era um ferimento de saída, de modo
que devem ter havido pelo menos duas balas
que vinham pela frente.
Embora todos os testemunhos dos médicos, incluindo o meu, foram incluídos no relatório, o seu conhecimento sobre as feridas
não tinha muita influência sobre a conclusão
geral da Comissão. Por que foi interpretado
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