COMUNIDADES VIRTUAIS - Universidade Anhembi Morumbi
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COMUNIDADES VIRTUAIS - Universidade Anhembi Morumbi
UNIVERSIDADE ANHEMBI MORUMBI SUELY TREVIZAM ARAUJO COMUNIDADES VIRTUAIS: Interfaces do Contexto Cultural no Orkut e suas Comunicações SÃO PAULO 2008 SUELY TREVIZAM ARAUJO COMUNIDADES VIRTUAIS: Interfaces do Contexto Cultural no Orkut e suas Comunicações Dissertação de Mestrado apresentada à Banca Examinadora, como exigência parcial para a obtenção do título de Mestre do Programa de Mestrado em Comunicação, área de concentração em Comunicação Contemporânea da Universidade Anhembi Morumbi, sob a orientação da Profa. Dra. Maria Ignês Carlos Magno. SÃO PAULO 2008 FICHA CATALOGRÁFICA . ARAÚJO, Suely Trevizam Comunidades Virtuais: Interfaces do Contexto Cultual no Orkut e suas Comunicações / Suely Trevizam Araújo. – São Paulo: 2008. 75p. Dissertação de Mestrado – Universidade Anhembi Morumbi, 2008 1.Virtual. 2. Comunidade Virtual SUELY TREVIZAM ARAUJO COMUNIDADES VIRTUAIS: Interfaces do Contexto Cultural no Orkut e suas Comunicações Dissertação Banca de Mestrado Examinadora, apresentada como à exigência parcial para a obtenção do título de Mestre do Programa de Mestrado em Comunicação, área de concentração Contemporânea da em Comunicação Universidade Anhembi Morumbi, sob a orientação da Profa. Dra. Maria Ignês Carlos Magno. Aprovada em ----/-----/----- Profa. Dra. Maria Ignês Carlos Magno Profa. Dra. Maria Elisabete Antonioli Prof. Dr. Paulo Alexandre Cordeiro de Vasconcelos RESUMO Recentemente, os sociólogos descobriram que laços de vizinhança e parentesco são apenas uma porção de todas as pessoas envolvidas em redes comunitárias. Eles perceberam que a comunidade não tem que ser um grupo solidário de vizinhos densamente entrelaçados, também podem existir como rede social de filiação, amizades e colegas de trabalho que não necessariamente vivem próximos. Essa revolução conceitual significou um deslocamento da comunidade em termos de espaço – vizinhanças – para sua definição em termos de redes sociais. Esta pesquisa objetiva acompanhar o surgimento das comunidades virtuais como novas formas de sociabilidade, destacando e analisando comunidades da rede social orkut. Para análise foram selecionadas, de forma arbitrária, três comunidades que, segundo dados do próprio site, são as maiores comunidades da atualidade: “Eu Odeio Acordar Cedo”, “Eu amo a minha Mãe” e “Só mais cinco minutinhos”. Palavras-chave: Virtual. Comunidade Virtual. Ciberespaço. Orkut. Sociabilidade. ABSTRACT Recently, the sociologists found out that ties of kinship and neighbourhood are only a part of all persons involved in community networks. They realized that the community doesn’t have to be a supportive group of neighbours densely interwoven, may also exist as a social network of membership, friends, work colleagues who do not necessarily live nearby. This conceptual revolution meant a shift of the community in terms of space – neighbourhoods – to define them in terms of social networks. This research aims to monitor the emergence of virtual communities as new forms of sociability, highlighting and analyzing social networking communities - orkut. For those analysis were selected in an arbitrary manner, three communities which, according to data from the site, are the largest communities: “I hate wake up early”, “I love my mother” and “Just more five minutes”. Key words: Virtual. Virtual Community. Cyberspace. Orkut. Sociability. LISTA DE TABELAS Tabela 1 - Ranking da quantidade de comunidades por idioma .......................... 36 Tabela 2 -Tópicos do Fórum da Comunidade “Eu amo a minha Mãe”................. 47 AGRADECIMENTOS A Deus, acima de tudo, por ter aberto as portas para eu realizar o mestrado, por ter provido tudo quanto precisei no decorrer dessa caminhada e por ter-me capacitado com Sua sabedoria. À minha amada família, por terem acreditado no meu potencial desde o início, cobrindo-me com amor, carinho e oração em todos os momentos e compreendendo a minha ausência em seu convívio. Vocês são preciosos na minha vida! Ao Programa de Pós-Graduação em Comunicação da Universidade Anhembi Morumbi pela oportunidade da realização do mestrado. À Profa. Dra. Maria Ignês Carlos Magno pelo incentivo, apoio e sensibilidade, principalmente em momentos de dificuldade. Também agradeço aos professores Dra. Maria Elisabete Antonioli e Dr. Paulo Alexandre Cordeiro de Vasconcelos, que aceitaram participar da banca, ajudando-me a crescer com suas contribuições. À querida amiga Profa. Aída Conci, pela disposição em revisar meu trabalho. Enfim, ofereço a minha gratidão a todos que direta e indiretamente contribuíram para que eu concluísse meu trabalho! SUMÁRIO INTRODUÇÃO ................................................................................................................................. 10 1. DA COMUNIDADE TRADICIONAL À VIRTUAL.......................................................................... 15 1.1 COMUNIDADES .......................................................................................................................... 15 1.2 VIRTUAL ................................................................................................................................... 22 1.3 COMUNIDADES VIRTUAIS ........................................................................................................... 26 2. INTERNET – CIBERESPAÇO – COMUNICAÇÃO...................................................................... 30 2.1 INTRODUÇÃO............................................................................................................................. 30 2.2 INTERNET: REDE MUNDIAL DE REDES ........................................................................................ 30 2.3 INTERNET NO BRASIL ................................................................................................................ 32 2.4 CIBERESPAÇO ........................................................................................................................... 33 2.5 CIBERCULTURA ......................................................................................................................... 36 2.6 COMUNICAÇÃO ......................................................................................................................... 37 3. OBJETO DO ESTUDO................................................................................................................. 38 3.1 INTRODUÇÃO............................................................................................................................. 38 3.2. ORKUT .................................................................................................................................... 39 3.2.1 Introdução ........................................................................................................................ 39 3.2.2 Como ser usuário............................................................................................................. 39 3.2.3 Dinâmica .......................................................................................................................... 40 3.2.4 Perfil ................................................................................................................................. 42 3.2.5 Comunidades................................................................................................................... 44 4. ANÁLISE DAS COMUNIDADES ORKUT .................................................................................... 48 4.1 INTRODUÇÃO............................................................................................................................. 48 4.2. COMUNIDADES DO ORKUT ........................................................................................................ 49 4.2.1 Eu Odeio Acordar Cedo - E.O.A.C .................................................................................. 49 4.2.2 Eu amo a minha Mãe!...................................................................................................... 53 4.2.3 Só mais 5 minutinhos....................................................................................................... 58 4.2.4 Sociabilidade no orkut...................................................................................................... 61 5. CONCLUSÃO............................................................................................................................... 65 6. REFERÊNCIAS BIBIBLIOGRÁFICAS ......................................................................................... 67 NOTAS ............................................................................................................................................. 73 INTRODUÇÃO Este trabalho apresenta uma abordagem teórica sobre a formação das comunidades virtuais, por meio das mudanças processadas no interior dos meios e das tecnologias. Com o desenvolvimento das tecnologias, novas formas de comunicação e socialização surgem como alternativas, facilitando a transmissão, o armazenamento, o tratamento e a integração das informações na vida grupal humana. A internet inaugurou uma nova forma de comunicação: a possibilidade de interação. O fluxo de informação se dá em duas vias: receptor e emissor. O usuário pode receber a informação como também emitir sua opinião sobre o assunto e se transforma em sujeito ativo no processo de comunicação. É uma revolução nas relações humanas: o usuário se comunica com pessoas que podem estar do outro lado do mundo, ultrapassando barreiras geográficas e culturais. O acesso à internet é um facilitador do crescimento de redes. A rede pode ter início através de uma pessoa e atingir as comunidades virtuais que, em sua definição mais ampla, agregam pessoas com interesses comuns no ciberespaço, estruturando novas formas de sociabilidade. Essa pesquisa tem por objetivo acompanhar as transformações tecnológicas e aprofundar o estudo das comunidades virtuais como novas formas de sociabilidade. Com o desenvolvimento e transformações tecnológicas em seus vários aspectos, a ampliação da potencialidade dos recursos já desenvolvidos e disponibilizados merece atenção. Assim, considera-se o seguinte problema de pesquisa: como as comunidades, que pertencem à rede social – orkut, mediada pela internet, geram mudanças sociais. 10 O presente trabalho pode ser caracterizado como uma pesquisa exploratória descritiva, de caráter qualitativo, com enfoque nas comunidades virtuais enquanto componente tecnológico de mudanças sociais. Na pesquisa será realizado um levantamento bibliográfico, enfocando o conceito de comunidades, histórico das comunidades tradicionais às comunidades virtuais e, fatores que levam estas comunidades a gerar redes de sociabilidade no ciberespaço contemporâneo. Objetivos Os resultados finais a serem alcançados pelo presente trabalho envolvem os seguintes objetivos geral e específicos: Objetivo Geral • Acompanhar o surgimento das comunidades virtuais como novas formas de sociabilidade, destacando e analisando comunidades da rede social - orkut. Objetivos Específicos • Levantar diferentes conceitos de comunidades, chegando ao conceito de comunidade virtual. • Acompanhar as mudanças processadas no interior dos meios e das tecnologias. • Discutir como a internet estrutura novas formas de sociabilidade. Justificativa Existem estudos, no Brasil, que estão sendo explorados, sobre o impacto da comunicação mediada por computador nas relações humanas, mas ainda 11 existem lacunas a serem preenchidas, principalmente devido ao rápido aumento do uso de computadores pelos brasileiros. Este trabalho não se propõe a suprir esta carência, mas a fazer um estudo sobre a formação das comunidades virtuais, por meio das mudanças processadas no interior dos meios e das tecnologias. Há uma diversidade de ferramentas e sistemas que se propõem a ser um componente tecnológico de apoio ao desenvolvimento de comunidades virtuais. A escolha da rede orkut, como objeto de estudo, deu-se por algumas razões: • É considerada a maior e melhor rede social do mundo, na opinião dos brasileiros. • Mais de 70% dos participantes são brasileiros. • O maior interesse dos usuários é fazer amigos, 84,30% (Telles, 2006). • É uma nova forma de contato entre as pessoas, possibilitando interação direta e imediata com o público-alvo. Referenciais Teóricos Dentre vários sistemas que se propõem a suportar a criação e manutenção de comunidades virtuais, optou-se por analisar comunidades pertencentes à rede social orkut. Como existem diversos autores que apresentam fatores de sucesso com comunidades virtuais, optou-se, para este trabalho, por utilizar os que definem critérios claros sobre os componentes tecnológicos de suporte à comunidade. Os autores que nortearam a pesquisa foram Michel Maffesoli, Pierre Lévy, Manuel Castells, André Lemos e André Parente, porém é importante ressaltar que muitos outros autores alimentaram o desenvolvimento deste estudo. 12 Metodologia O presente trabalho pode ser caracterizado como uma pesquisa exploratória descritiva de caráter qualitativo. Segundo Lakatos & Marconi (1991), a pesquisa exploratória propicia a formulação de familiaridade do pesquisador com o ambiente, fato ou fenômeno, e modifica ou clarifica conceitos. Neste estudo, foi feita uma pesquisa exploratória para construção de evidências, levantamento de conteúdos e para se filtrar o necessário à evolução na criação do trabalho. O procedimento técnico adotado foi a pesquisa documental bibliográfica dos principais tópicos abordados. A literatura consultada é composta de referências teóricas publicadas em livros, revistas científicas, anais de congressos e artigos disponíveis na internet. O objeto da pesquisa foi a rede social orkut que conta com milhares de comunidades dos mais variados temas, desde as mais fúteis até comunidades que discutem e esclarecem doenças raras. Para análise foram selecionadas, de forma arbitrária, três comunidades, que segundo dados do próprio site são as maiores comunidades da atualidade: “Eu Odeio Acordar Cedo”, “Só mais 5 minutinhos” e “Eu amo a minha Mãe”. A análise foi composta de duas fases. A primeira consistiu na observação dos mais diversos perfis de usuários, buscando regularidades entre os perfis observados. A segunda consistiu na observação da forma como os usuários interagem entre si, através de: fóruns, enquetes e recados nas comunidades que fazem parte desta pesquisa. A partir disso, serão apresentadas indicações de como este ambiente trabalha no sentido de formar um tipo de sociabilidade. 13 Estrutura do Trabalho Com vistas a atingir os objetivos propostos, o trabalho está organizado em quatro capítulos, a saber: fundamentação teórica da pesquisa, apresentação do objeto da pesquisa, análise dos dados e considerações finais. O primeiro capítulo apresenta os diferentes conceitos de comunidade, na ótica de diversos autores, passando da visão clássica até o mais recente que é a comunidade virtual. O capítulo dois traz reflexões sobre internet, ciberespaço, suas potencialidades conectivas e interativas, mediadas pelas tecnologias de informação e comunicação. O terceiro capítulo apresenta a rede social – orkut, principal objeto deste estudo e apresentação das comunidades escolhidas. No quarto capítulo, é apresentada a análise das comunidades do orkut, apontando e correlacionando questionamentos sobre as formas de sociabilidade. 14 1. DA COMUNIDADE TRADICIONAL À VIRTUAL O presente capítulo tem o objetivo de identificar algumas das definições relacionadas ao conceito de comunidade, chegando até o conceito de comunidade virtual. 1.1 Comunidades A palavra comunidade é oriunda do termo latino communis e quer dizer: pertence a todos, ou a muitos. Etimologicamente, a palavra comunidade deriva de comum: algo que pertence a todos. Conceitualmente, várias são as definições dadas para o termo. O dicionário de Ciências Sociais (1986) cita que já foram encontradas 94 definições, embora não haja um consenso entre os cientistas sociais além da referência de que as pessoas vivem em comunidade. A dificuldade em estabelecer um significado preciso para esta palavra fez com que ela fosse usada, quase sempre, como sinônimo de sociedade, aldeia, organização social, associação de bairro, conjunto habitacional ou clube esportivo. Todas estas significações, porém, corroboram a idéia de que, para existir, uma comunidade deve ocupar um locus, um território específico, um espaço geograficamente determinado onde as pessoas estejam ligadas pelos mesmos interesses. Acredita-se que as pessoas que vivem em comunidade possuem um senso de interdependência e integração. Segundo o Dicionário de Filosofia (Abbagnano,1999), o termo comunidade, pode-se dizer, foi primeiramente estabelecido a partir de uma perspectiva dialética por Kant, que deu esse nome à terceira categoria da relação, à ação recíproca, e também à terceira analogia da experiência ou princípio da comunidade. A partir do Romantismo, esse termo começou a ser usado para 15 indicar a forma de vida social cuja característica acontece pelo vínculo orgânico inerente entre seus membros. O Dicionário de Sociologia (1986) define que o termo comunidade está essencialmente ligado ao solo, em virtude dos seus componentes viverem de maneira permanente em determinada área, além da consciência de pertencerem, ao mesmo tempo, ao grupo e ao lugar, e de partilharem o que diz respeito aos principais assuntos das suas vidas. Têm consciência das necessidades dos indivíduos, tanto dentro como fora do seu grupo imediato e, por essa razão, apresentam tendência para cooperar estritamente. O sociólogo alemão Ferdinand Tonnies (1947) parece ter sido aquele que mais longe levou o primeiro sentido de comunidade, como tipo de grupo social em oposição à sociedade. Para o sociólogo, o conceito de comunidade era definido a partir de uma situação de confronto, de contraste, opondo a compreensão de comunidade ao conceito de sociedade. A comunidade seria, para Tonnies, um tipo de vivência em conjunto real e orgânica, cujas ações seriam frutos da tradição, dos costumes. Já a sociedade, seria um agregado mecânico e artificial, cujas metas e ações, oriundas de uma convenção, de uma lei, são definidas em termos da adequação dos meios ao fim. Outras significações da palavra comunidade também são encontradas e entre elas destaca-se: “... lugar onde as pessoas vivem agremiadas, comunhão, uniformidade e identidade” (Sanmya F. Tajra, 2002). Uma comunidade é uma unidade de interação e convivência entre indivíduos, na qual pessoas vivem, trabalham ou se divertem. No mundo físico é, por exemplo, a família, o local de trabalho, o clube dentre outros. Até pouco tempo, tinham como base fundamental a proximidade geográfica. A história da humanidade apresenta, em diferentes momentos, a formação e o relacionamento de grupos sociais nas diversas regiões do planeta. Sendo o homem um ser gregário, sempre buscou o convívio em grupos. A família, predominantemente, constituiu seu primeiro grupo social. Depois da família, outros grupos foram surgindo, ligados por interesses comuns como, por exemplo, 16 as instituições religiosas. A comunidade, então, pode ser caracterizada de maneira simplificada como um conjunto de pessoas que vivem num mesmo espaço, partilhando os mesmos valores, crenças e cultura. Dentre as diversas definições para as comunidades, Samuel Koenig (1967) considera a comunidade como um grupo de pessoas que vivem juntas e se relacionam mutuamente, que compartilham interesses particulares e também todo um conjunto de interesses amplos e completos que incluem suas vidas. O autor considera, nas comunidades, os pequenos agregados como aldeias, e os grandes agregados como cidades, tribos e nações. Tonnies estabelece uma série de manifestações típicas de cada estado de associação: na comunidade prevaleceria a cooperação, na sociedade a competição; na comunidade predomina o sentimento, na sociedade a razão; na comunidade o espaço seria íntimo, na sociedade ele seria público; na comunidade as ações seriam espontâneas, na sociedade elas seriam calculadas. Contrapondo esta definição, o sociólogo Joseph Fichter diz que o termo comunidade sofre uma grande variação de significados e, às vezes, é até usado como sinônimo de sociedade ou origina outras expressões, como comunidade católica, comunidade negra, como desígnio de categorias sociais. Para o autor, comunidade tem uma definição bem técnica: É um grupo territorial de indivíduos com relações recíprocas que se servem de meios comuns; é um setor organizado da sociedade total, não precisamente uma sociedade (FICHTER, Joseph. 1973, p.154). Na sociologia brasileira, Florestan Fernandes (1972, p. 56-60), ao tratar de comunidade, toma como referência os fatores intrínsecos de estabilidade física, visto que considera a comunidade como uma cidade, um bairro, estabelecendo novos elementos ao conceito, a exemplo do espaço físico e da dinâmica dos padrões. Depreende-se dessa posição que a comunidade se estabelece como um sistema vivo, mutável e variável, que possui um sistema de inter-relações de sistemas menores, podendo vir a ter uma configuração geográfica e funcional. A especificação geográfica compreende o povo de uma 17 vila, de um bairro. A comunidade funcional se expressa pelas pessoas que têm interesses comuns. No entendimento de Max Weber, o conceito de comunidade baseia-se na orientação da ação social. Para ele, a comunidade funda-se em qualquer tipo de ligação emocional, afetiva ou tradicional. Weber utiliza como exemplo básico de comunidade a relação. Chamamos de comunidade a uma relação social na medida em que a orientação da ação social, na média ou no tipo ideal – baseia-se em um sentido de solidariedade: o resultado de ligações emocionais ou tradicionais dos participantes (WEBER, Max. 1987, p. 77). A idéia do agir societário através da qual Max Weber constrói sua teorização é semelhante à do filósofo Martin Buber, quando utiliza como exemplo básico de comunidade a relação. Há que se salientar a importância marcante e influente da obra de Ferdinand Tonnies para as reflexões de Max Weber e Martin Buber. O conceito de comunidade sofreu alterações, sendo despojado da exigência de uma territorialidade comum por parte dos indivíduos, valorizando o caráter corporativo, o sentimento de comunidade, bem como os interesses comuns. Com o advento da modernidade, o filósofo social inglês Antony Giddens (1991) trabalha a relação entre o tempo e o espaço na comunidade. Os tempos pré-modernos são marcados pela maioridade da população vivendo em pequenas vilas. Para a maioria da população, o senso de espaço seja geográfico ou mais importante, social, era estreito. Muitos vilões eram proibidos, pelos senhores feudais, de andarem pelas redondezas de suas comunidades particulares. Neste sentido, presume-se que, para tais populações, as idéias de espaço eram fixas. O autor sugere que se devam descrever tais trabalhadores como encaixados em suas comunidades locais. Giddens aponta para a invenção do relógio como um marco importante para a transição das sociedades tradicionais para as modernas. O relógio não é 18 baseado no tempo sazonal, mas num tempo social e artificial. Esta noção de tempo é linear e não cíclica e, portanto, pode ser usada para previsões. Igualmente, o relógio permite uma medida de tempo universal e não, como era o caso, de noções tradicionais de tempo, para uma definição um tanto rústica. Tal noção moderna de tempo ajuda a produzir um sentimento entre os indivíduos de que o mundo está encolhendo. As distâncias passaram a diminuir a partir do momento em que as comunidades começaram a calibrar seu senso de tempo com o de outra comunidade do outro lado do globo. O processo de modernização distanciou os indivíduos e as comunidades das sociedades tradicionais destas noções estreitas de tempo, espaço e status. A modernização desencaixou o indivíduo feudal de sua identidade fixa no tempo e no espaço. Resumindo, Giddens diz que a modernização e a modernidade são baseadas em um processo, segundo o qual uma idéia fixa e estreita de lugar e espaço (que prevalece nos tempos modernos) é gradualmente destruída por um cada vez maior conceito de tempo universal. Giddens descreve isso como uma chave para o processo de desencaixe. Os elementos que caracterizariam a comunidade são enumerados por Marcos Palácios: O sentimento de pertencimento, a territorialidade, a permanência, a ligação entre o sentimento de comunidade, caráter corporativo e emergência de um projeto comum, e a existência de formas próprias de comunicação (PALÁCIOS, Marcos. 1995:10). O sentimento de pertencimento, ou pertença, seria a noção de que o indivíduo é parte do todo, coopera para uma finalidade comum com os demais membros (caráter corporativo, sentimento de comunidade e projeto comum), desencaixa-se da localização: “é possível pertencer a distância” (Marcos Palácios, 1995, p. 95); a territorialidade, o locus da comunidade; a permanência, condição essencial para o estabelecimento das relações sociais. Ainda mais recentemente, os sociólogos descobriram que laços de vizinhança e parentesco são apenas uma porção de todas as pessoas envolvidas em redes comunitárias, porque com carros, aviões e telefones podemse manter as relações mesmo em longas distâncias. 19 Analisando sob o ponto de vista das novas comunidades, Barry Wellman (1999) atenta para o fato de que os laços como vizinhança e parentesco são apenas uma parte das redes de comunidades gerais das pessoas, pois a evolução dos meios de transporte e comunicação permite manter relações a longa distância. Comunidades não precisam ser grupos solidários de vizinhos com relações densas, mas podem também existir como redes sociais de familiares, amigos e colegas de trabalho que não necessariamente residem na mesma vizinhança. Esta revolução conceitual, segundo Wellman, parte da definição de comunidade em termos de espaço e vizinhança para defini-la em termos de redes sociais. A mudança do conceito de comunidade e das próprias relações baseada no avanço tecnológico desde a Revolução Industrial é justificada por Jennifer Preece, quando diz que: Antes da Revolução Industrial as pessoas viviam próximas umas das outras, e a maioria das suas necessidades era suprida pelos outros na sua comunidade local. A comunidade era altamente delimitada e autosuficiente. Mas com o advento das tecnologias – melhor transporte, o telefone, e mais recentemente e-mail e outros meios de comunicação via computador – as pessoas se espalharam para novas localizações geográficas. O resultado é que as relações familiares e de amizades agora têm que ser suportadas a longas distâncias. Conseqüentemente, as pessoas hoje contam menos com relações baseadas localmente do que há cinqüenta anos. (PREECE, Jennifer, 2000, p.175). Num livro publicado em 2003, intitulado Comunidade: a busca por segurança no mundo atual, Zygmunt Bauman, sociólogo reconhecido por seus trabalhos sobre o fenômeno da globalização, procura analisar o que estaria se passando atualmente com a noção de comunidade. É possível perceber uma série de conceitos em jogo no texto do autor: individualismo, liberdade, transitoriedade, cosmopolitismo dos "bem-sucedidos", comunidade estética, segurança. Bauman supõe que haja uma oposição entre liberdade e comunidade. Considerando-se que o termo "comunidade" implique uma "obrigação fraterna de partilhar as vantagens entre seus membros, independente do talento ou importância deles", indivíduos egoístas, que percebem o mundo pela ótica do mérito (os cosmopolitas), não teriam nada a "ganhar com a bem-tecida rede de obrigações comunitárias, e muito que perder se forem capturados por ela" (Bauman, 2003, p. 59). 20 O texto defende a idéia de que, hoje, comunidade e liberdade são conceitos em conflito: Há um preço a pagar pelo privilégio de “viver em comunidade”. O preço é pago em forma de liberdade, também chamada “autonomia”, “direito à auto-afirmação” e à “identidade”. Qualquer que seja a escolha, ganha-se alguma coisa e perde-se outra. Não ter comunidade significa não ter proteção; alcançar a comunidade, se isto ocorrer, poderá em breve significar perder a liberdade. (BAUMAN, Zygmunt, 2003, p.10) É interessante perceber que a aparente oposição entre liberdade e comunidade que se encontra em Bauman deve-se, de fato, ao sentido que ele atribui à noção de comunidade: Tecida de compromissos de longo prazo, de direitos inalienáveis e obrigações inabaláveis [...] E os compromissos que tornariam ética a comunidade seriam do tipo do “compartilhamento fraterno”, reafirmando o direito de todos a um seguro comunitário contra os erros e desventuras que são os riscos inseparáveis da vida individual. (BAUMAN, Zygmunt, 2003, p. 57) Como é possível notar, para o autor a vida individual está envolta em riscos, e querer viver em liberdade deve significar viver sem segurança. Já a comunidade, o lugar da segurança, remete-nos ao sentido mais tradicional que conhecemos, em que os laços por proximidade local, parentesco, solidariedade de vizinhanças seria a base dos relacionamentos consistentes. De acordo com Bauman (2003), o mundo não mais se resume a apenas “comunidade cercada”, tão valorizada no mercado imobiliário, pois o conceito de lugar, onde se espera estar seguro e passar toda a vida também sofre mudanças. Pode-se perceber que não mais se pertence a um único local, ou seja, pode-se começar a enxergar a cosmopolidade. Como se pode observar, essa discussão é bastante significativa, abrangente e há que se atentar para a diversidade do conceito comunidade, as várias características e elementos que o compõem, o poder simbólico de coletividade que a mesma carrega, não deixando de mencionar as relações estabelecidas por diferentes autores no que diz respeito à comunidade e à sociedade e tempo versus espaço virtual. 21 Algo semelhante também ocorre com comunidade virtual. O conceito de comunidade, combinado a aspectos tecnológicos, evoluiu para o conceito de comunidade virtual, apresentado a seguir. Antes de chegarmos a este conceito é importante conceituarmos o termo virtual. 1.2 Virtual Na verdade é muito difícil falar sobre o significado da palavra virtual, pois virtual hoje qualifica muita coisa. Segundo o Dicionário Virtual Aurélio da Língua Portuguesa, o termo “virtual” (do latim escolástico virtuale) é um adjetivo e pode ter vários significados, como se pode ver a seguir: o que existe como faculdade, porém sem exercício ou efeito atual; suscetível de se realizar; potencial. Já na Filosofia diz-se do que está predeterminado e contém todas as condições essenciais à sua realização. Na Física, o virtual é o oposto do real, do efetivo, a propósito de grandezas introduzidas por convenção com objetivos de pesquisa ou representação, por exemplo: "deslocamento virtual"; ou ainda de fenômenos ou entes que se apresentam sob aspectos não correspondentes à realidade, por exemplo: na óptica se diz: "foco virtual, imagem virtual". O virtual abole a delimitação do território geográfico, expandindo suas possibilidades. O centro das atividades não fica restrito a um conjunto de salas e a um tempo inflexível. O tempo e o espaço adaptam-se ao ritmo de cada um, diluídos numa ampla rede de informação e comunicação, possibilitando um incremento qualitativo. Pierre Lévy, um dos mais renomados estudiosos da atualidade, em sua obra O que é o virtual, define virtual como uma palavra derivada do latim medieval, virtualis, derivado por sua vez de virtus, força, potência. Segundo ele, na filosofia escolástica, virtual apresenta o que existe em potência e não em ato. 22 O virtual tende a atualizar-se, sem ter passado, no entanto concretização efetiva ou formal. A árvore está virtualmente presente semente. Em termos rigorosamente filosóficos, o virtual não se opõe real, mas ao atual: virtualidade e atualidade são apenas duas maneiras ser diferente (LÉVY, Pierre, 1996, p.15). à na ao de O virtual existe como potência, não é, portanto, um conceito oposto ao real, mas é oposto ao conceito atual. A atualização e a virtualização são dois conceitos diferentes. A atualização é uma solução de um determinado problema, um resultado de fatores que se conjugam e originam uma solução. Pierre Lévy (1996, p.18) define a atualização como “uma criação, invenção de uma forma a partir de uma configuração dinâmica de forças e de finalidades.” A virtualização é oposta à atualização, pois não se trata de uma solução, mas sim uma “mutação de entidade”, uma deslocação da entidade no espaço. Lévy (1996) destaca quatro pólos do conhecimento: o virtual, o atual, o possível e o real. Segundo o autor, para se compreender o virtual é preciso fazer a distinção entre esses quatro pólos do conhecimento: o virtual, o atual, o possível e o real. Assim, o real está relacionado com a materialidade, pertence à ordem imediata das substâncias, das propriedades físicas e das determinações. Esses objetos reais têm seus limites claramente definidos e perceptíveis aos nossos sentidos. O possível é quando um objeto tem sua existência apenas idealizada no plano abstrato de um projeto ainda não executado. Ele existe no plano das idéias, restando apenas a sua existência material, para se tornar real. O virtual não é o oposto da realidade, apenas possui uma realidade que lhe é própria, sua natureza vai distanciar-se do atual pelo fato de envolver o abandono do território imediato. O virtual está próximo do possível, contudo não é da mesma natureza do possível, pois já tem implícita a resolução do problema, faltando apenas a realização. A noção de virtualidade está fortemente associada à criatividade. Esses quatro pólos do conhecimento: possibilidade, realidade, virtualidade e atualidade estão fortemente correlacionados. O autor diz também: A virtualidade não tem absolutamente nada a ver com aquilo que a televisão mostra sobre ela. Não se trata de modo algum de um mundo 23 falso ou imaginário. Ao contrário, a virtualização é a dinâmica mesma do mundo comum, é aquilo através do qual compartilhamos uma realidade. Longe de circunscrever o reino da mentira, o virtual é precisamente o modo de existência de que surge tanto a verdade como a mentira (LÉVY, Pierre, 1996, p.148). Ao tratar da questão do virtual, André Parente (1999, p.14) destaca três concepções do conceito: uma primeira afirma que “o surgimento de uma tecnologia do virtual é capaz de explicar o fato de a imagem, na cultura contemporânea, ter-se tornado auto-referente e, por isso, ter rompido com os modelos de representação”; uma segunda indica o virtual tecnológico como “um sintoma e não uma causa das mutações culturais. Para além deste ou daquele meio (cinema, televisão, vídeo...) as imagens contemporâneas são virtuais, autoreferentes, ou seja, a imagem pós-moderna é um significante sem referente social” e finalmente uma terceira concepção aponta o virtual como “uma função da imaginação criadora, fruto de agenciamentos os mais variados entre a arte, a tecnologia e a ciência, capazes de criar novas condições de modelagem do sujeito e do mundo”. O virtual, portanto, não se apresenta como um “para além do real”; mas se coloca como “uma vontade (ou não) de constituição do real enquanto novo”. De acordo com Parente, as primeiras concepções do virtual encaram o simulacro somente como pura repetição do mesmo e reduzem a imagem ao clichê: não se pode mais distinguir a cópia do original, portanto, não há mais original e a imagem só remete a si própria (simulacros despotencializados); o virtual se apresentaria então como a recriação de um real recalcado, ou seja, de um real que se confunde com sua representação dominante. Parente ressalta, no entanto, que o modo como se percebe o virtual é uma questão de escolha do sujeito, e aponta como opção o simulacro potencializado: neste caso o virtual é encarado como ilusão que afirma o real enquanto novo. Neste estudo da virtualidade, no texto, Realidade virtual: uma realidade na realidade, a professora Diana Domingues, pesquisadora da Universidade de Caxias do Sul, instala sua hipótese no primeiro parágrafo: Numa perspectiva da comunicação interativa e da ciência da interface, a realidade virtual, ao proporcionar experiências conectadas a mundos virtuais habitáveis que permitem a presença efetiva do homem no interior 24 de imagens, em comportamentos que replicam e transgridem as ações do homem no mundo real, é uma realidade dentro da realidade (DOMINGUES, Diana, 2006, p. 79). Domingues (2006, p. 80) observa que: A Realidade Virtual não deve ser examinada como a ausência do real ou a negação do real, mas como uma expansão da capacidade perceptiva de se viver no real por tecnologias de realidade virtual, que oportunizam a experiência sensível antes não vivida em imagens. Os autores ressaltam que a realidade virtual não pode ser o contraponto do real. A realidade virtual instrumentaliza-se com a produção de novas tecnologias, além do que, tem sido considerada como uma espécie de mundo alternativo, uma ampliação da realidade, que a relativiza abrindo novas possibilidades, diferentes do que já experimentamos e conseqüentemente desenvolvendo-se entre si e com a própria sociedade. O mundo alternativo da realidade virtual não é, no entanto, o primeiro mundo fictício inventado pela tecnologia. A realidade é mais o resultado do cruzamento, da contaminação das imagens, das interpretações, das múltiplas reconstruções que a mídia distribui. Portanto, antes mesmo que o mundo alternativo da realidade virtual adviesse, o princípio de realidade entrara em crise, como se fosse necessário primeiro explodir a visão do mundo em múltiplas visões de mundo e só num segundo momento fazer a realidade virtual como ampliação da realidade. A interseção do virtual com o real proporciona o surgimento de novas formas de sociabilidade, denominadas por Pierre Lévy de comunidades virtuais. Segundo pesquisadores contemporâneos, estas comunidades são diferentes das reais, e ao mesmo tempo muito semelhantes. Em uma comunidade virtual, podemos colocar-nos diretamente num meio de assuntos que nos interessam, debater e travar conhecimentos com indivíduos que compartilham de nossos interesses e que podem nos seduzir pela expressão escrita. 25 1.3 Comunidades Virtuais "Comunidade Virtual" seria o termo utilizado para os agrupamentos humanos que surgem no ciberespaço [1] , através da comunicação mediada pelas redes de computadores (CMC). Com o uso das tecnologias, verifica-se que o homem vai moldando os espaços e se moldando neles. Em especial, as tecnologias que proporcionaram grande interação entre os usuários, têm sido grandemente consideradas e discutidas, uma vez que, por meio delas, é possível estabelecer uma comunicação de dupla mão entre os participantes. Uma comunidade virtual pode ser definida como uma comunidade de pessoas compartilhando interesses comuns, idéias e relacionamentos, através da internet ou de outras redes colaborativas. Muitas teorias foram e são formuladas, nos campos da Sociologia, Psicologia e Antropologia, para explicar os motivos que levam as pessoas a se organizarem em comunidades, sejam elas virtuais ou não. Este trabalho traz diferentes estudos, autores e conceitos de comunidades virtuais, que serão discutidos posteriormente, no decorrer desta dissertação. O possível inventor do termo, Howard Rheingold (1993), foi o primeiro autor a difundir o conceito de comunidade virtual. O autor define “comunidade virtual” como: ... agregações sociais que surgem na internet, quando um número suficiente de pessoas levam adiante discussões públicas longas e com suficiente sentimento humano, a ponto de estabelecerem redes de relacionamentos no ciberespaço (1993, p. 5). De acordo com o autor, na rede telemática, os agregados sociais permitem às pessoas estabelecer diálogos públicos e privados com sincronicidade ou assincronicidade no ciberespaço. O autor considera o ciberespaço como um locus dessas comunidades, sem fronteiras delimitadas, vindo a se constituir em uma redefinição do espaço imaginário, no qual as 26 pessoas reconfiguram sua sociabilidade. Com o advento das redes telemáticas, resultado da união das telecomunicações com a informática, as comunidades irrompem propiciando uma maneira diferente de união dos seus participantes, não mais pela proximidade territorial, mas pela conexão com os elementos telemáticos. Possibilitam-se, desse modo, outras formas de proximidades, nas quais os relacionamentos sociais, o conhecimento e os interesses comuns são efetivados pela via eletrônica. Rheingold (2003, p. 23) adverte, contudo, que o simples fato de os usuários da internet visitarem determinados sites ou responderem a mensagens não evidencia a constituição de uma comunidade. Para ele, nem tudo que se faz e se comunica por computador em rede caracteriza, efetivamente, uma comunidade. Tido como um defensor das comunidades virtuais, Rheingold (2003, p. 34) argumenta que na internet é possível aos homens realizar atos da vida real, separando-se dos seus corpos, sem perder a dimensão do real. Segundo Danny Goodman (1996), a designação de “comunidade virtual” aos grupos on-line justifica-se porque internautas passam a se conhecer, saber das preferências e antipatias uns dos outros, acabando por experimentar uma sensação de sociabilidade. As interações se dão em espaços virtuais, mas são reais. Por utilizarem o potencial cooperativo do ciberespaço, podem se originar comunidades mais coesas e sociáveis do que muitos grupos físicos. Michel Maffesoli (1995, p. 50) define as comunidades virtuais como: Microentidades baseadas na escolha e na afinidade. Afinidades eletivas que encontramos em organizações formais que funcionam segundo as regras de solidariedade de uma franca-maçonaria generalizada. Inumeráveis tribos religiosas, sexuais, culturais, esportivas, musicais, de estrutura idêntica: ajuda mútua, partilha de sentimentos, ambiência afetual. Sem centro preciso nem periferias identificáveis. Para Castells (1999, p. 385), as comunidades virtuais se entendem como uma rede eletrônica de comunicação interativa autodefinida, organizada em torno de um interesse ou finalidade compartilhados, embora algumas vezes a própria comunicação se transforme no objetivo. 27 Desse modo, podem-se diferenciar as comunidades virtuais de outros grupos de discussão, pela qualidade dos laços de relacionamento entre os participantes. Essas comunidades são formadas a partir do uso contínuo dos ambientes de comunicação mediada por computadores. Segundo Pierre Lévy, a criação de uma comunidade no ciberespaço [...] não é irreal, imaginária ou ilusória, trata-se simplesmente de um coletivo mais ou menos permanente que se organiza por meio do novo correio eletrônico mundial (LÉVY: 2000, p. 130). Por essa ótica, diversos grupos sociais, antes com dificuldades nos contatos ou dispersos pela ausência de intermediação propiciada pelas tecnologias de comunicação e informação, podem agora, via rede, aglutinarem-se e efetivamente delimitarem um “lugar” para o encontro e trocas de seus interesses. Assim, as comunidades virtuais potencializam uma atualização dos contatos e encontros (virtuais) efetivamente. De acordo com Tajra (2002), comunidade virtual pode ser entendida como um conjunto de pessoas disponíveis para interesses comuns, que não necessariamente estão presentes, mas podem estar em diferentes posições geográficas e temporárias. Lemos (2002, p. 93) completa que “essas comunidades seriam agregações em torno de interesses comuns, independentes de fronteiras ou demarcações territoriais fixas”. Para Teixeira Filho (2002), uma comunidade virtual pode organizar-se sobre uma base de afinidade por intermédio de sistemas de comunicação. Seus membros estão reunidos pelos mesmos interesses e pelos mesmos problemas, e apesar da “não presença” em uma comunidade virtual, as pessoas encontram muitos dos elementos humanos de uma interação normal. Assim, pode-se verificar nas comunidades virtuais, a aplicabilidade do conceito de “sociabilidade”, definido por ligações orgânicas, efêmeras e simbólicas (Lemos, 2002). Vimos, ao longo do capítulo, que as comunidades virtuais ainda trazem vários elementos que a caracterizam como uma comunidade. O sentimento de 28 pertencimento e a territorialidade são os mais importantes, e sem eles, não se pode falar em nenhum tipo de comunidade, seja ela na tradição ou até mesmo na pós-modernidade. Numa comunidade virtual os integrantes estão imersos no ciberespaço, e as relações sociais são diferentes das que ocorrem na vida real. O espaço e o tempo são desmaterializados, não são mais fatores que prendem as pessoas à sua localidade ou ao seu tempo, como ocorria nas comunidades na tradição e em menor escala nas comunidades na modernidade. O ciberespaço surge como um espaço transnacional, sem barreiras ou demarcações geográficas. As mudanças tecnológicas se tornaram muito rápidas: da internet disseminada nos anos 1990 até a internet que temos hoje (chats, webcans, fóruns, transações on-line, webblogs...), pode-se perceber que inovações surgem a cada dia. 29 2. INTERNET – CIBERESPAÇO – COMUNICAÇÃO 2.1 Introdução As novas tecnologias trouxeram as mais variadas mudanças para o atual cenário social; o homem tem a possibilidade de conexão com o mundo em tempo real, através da rede, sem precisar sair de casa. A virtualidade é fascinante aos olhos da sociedade. Através da internet você pode estar em todos os lugares e conhecer tudo a respeito do mundo com alguns “cliques”. Quebram-se todas as fronteiras geográficas. Para o mundo virtual, o globo terrestre torna-se desterritorializado. O espaço virtual consegue mesclar todas as culturas. Surgem então novos conceitos como ciberespaço e cibercultura. Através da internet estabeleceu-se um novo espaço e tempo de interação social, em que surgem novas formas de comunicação e sociabilidade. 2.2 Internet: Rede Mundial de Redes A internet surgiu com apenas uma rede, denominada ARPANET [2] , um sistema aberto de comunicação por computador, descentralizado e flexível, que seria sua primeira fonte. Era um sistema de origem militar, ligado ao Departamento de Defesa dos Estados Unidos e à sua agência de pesquisas. Quando os militares passaram a não considerá-la tão importante, permitiram o acesso aos cientistas que, mais tarde, cederam a rede para as universidades e estes passaram para universidades de outros países, permitindo a expansão da pesquisa. 30 A internet só avançou quando inventaram a Word Wide Web [3] , em 1990, e o navegador, em 1993, mas o número de usuários em todo o mundo já ultrapassava 350 milhões. Castells (1999, p. 379) afirma que: A coexistência pacífica de vários interesses e culturas na Rede tomou a forma da World Wide Web – WWW (Rede de Alcance Mundial), uma rede flexível formada por redes dentro da internet onde instituições, empresas, associações e pessoas físicas criam os próprios sites, que servem de base para todos os indivíduos com acesso poderem produzir sua home page, feita de colagens variáveis de textos e imagens. Com o surgimento da World Wide Web, o conteúdo da rede ficou mais atraente com a possibilidade de incorporar imagens e sons desprovidos de limites territoriais tradicionais. Muito embora cada participante da internet tenha seu próprio endereço, nem sempre o destinatário fica sabendo da localização física do remetente. De acordo com Cebrian (1999, p.120): A internet oferece todas as possibilidades com as quais nem mesmo os mais entusiastas escritores de ficção ou os utópicos sonhadores de Alexandria poderiam sonhar. A quantidade de informações é tal, que com menos de 12 anos de idade pode-se ter tido acesso a um número muito superior do que aquele que um adulto na Idade Média seria capaz de recolher durante toda sua vida. Nos dias de hoje, a internet pode ser entendida como uma vasta rede internacional composta de redes de computadores individuais e milhões de usuários individuais espalhados por todo o mundo. Não é possível mensurar a dimensão da internet, porque não há um ponto central de controle e porque a rede cresce em uma taxa quase exponencial. A internet é um sistema global de comunicação, através do qual milhões de pessoas podem se comunicar e compartilhar um imenso acervo de informações, recursos e serviços. Por meio da internet é possível compartilhar dados e recursos em escala global, e não apenas local. Na internet não existem fronteiras para a comunicação. Na internet não existem chamadas internacionais. Não há diferença 31 entre acessar dados num computador em Sidney ou num computador localizado em São Paulo. Não importa que um esteja na Austrália e outro aqui no Brasil. O que importa é que ambos estão ligados numa imensa rede global de computadores. A internet é constituída de redes interligadas pertencentes a empresas, corporações, órgãos governamentais, centros de pesquisa, universidades, etc. Quando o usuário se liga à internet, passa a fazer parte dessa imensa rede. A internet, portanto, constitui-se num amplo mecanismo de disseminação de informação, serviços e entretenimento. A internet não vem substituir, mas adicionar. Ela traz novas formas de trabalhar e de se comunicar. Pode ainda comunicar decisões rapidamente através do correio eletrônico ou trabalhar em conjunto num mesmo documento. A internet possibilita novos padrões de interação social. As pessoas passam a se comunicar por e-mail, mensagens instantâneas, pelo Messenger, pelo orkut, enfim, a interatividade virtual passa muitas vezes a ser maior e mais freqüente do que a comunicação face a face. 2.3 Internet no Brasil A história da internet no Brasil começou em 1991 com a Rede Nacional de Pesquisa, uma operação acadêmica subordinada ao Ministério de Ciência e Tecnologia. Em 1994, a EMBRATEL lança o serviço experimental a fim de conhecer melhor a internet, porém somente em 1995 é que foi possível a utilização pelo setor privado, para exploração comercial da população brasileira. O número de usuários brasileiros da internet é muito difícil de ser estimado, pois o crescimento é rápido, tornando as informações velozmente desatualizadas. 32 O crescimento da Web chegou a um ritmo tão extremo que, segundo Wertheim (2001, p.166) “especialistas temem jamais ser capazes de acompanhálo em sua totalidade”. O escritor canadense Marshall McLuhan (1996), um dos principais precursores da teoria da comunicação, percebendo a rapidez com que os meios de comunicação desenvolviam novas tecnologias, anteviu um mundo novo: totalmente interconectado e tomado pelas mídias eletrônicas. As novas mídias aproximariam as pessoas de tal maneira que, como em uma aldeia, todas poderiam conhecer-se e comunicar-se. O advento da internet, esta gigantesca rede mundial de computadores, veio confirmar as previsões. Ela criou um novo espaço para o pensamento, para o conhecimento e para a comunicação. Este espaço que não existe fisicamente, mas apenas virtualmente, é o ciberespaço. 2.4 Ciberespaço O termo ciberespaço foi utilizado pela primeira vez em 1984 pelo escritor William Gibson como sendo um espaço não físico ou territorial, que se compõe de um conjunto de redes de computadores através das quais todas as informações circulam. Segundo Pierre Lévy (2000; p. 92-93) ciberespaço é um novo meio de comunicação que surge da interconexão mundial dos computadores. Especifica não apenas a infra-estrutura material da comunicação digital, mas também o universo oceânico de informações que ela abriga, assim como os seres humanos que navegam e alimentam este universo. Para Lemos (2002, p.137), o ciberespaço pode ser tanto o lugar onde estamos quando entramos num ambiente simulado, de realidade virtual, como o conjunto de redes de computadores, interligadas ou não, em todo o planeta. O ciberespaço é o ambiente simbólico onde as comunidades virtuais se constituem. O ciberespaço potencializa o surgimento de comunidades virtuais e de agregações eletrônicas em geral que estão delineadas em torno de interesses 33 comuns, de traços de identificação, pois ele é capaz de aproximar, de conectar indivíduos que talvez nunca tivessem oportunidade de se encontrar pessoalmente. É um ambiente em que o espaço e o tempo não são barreira. Complementando essas reflexões, Diana Domingues (2002: p. 28) diz que, no ciberespaço ocorre todo um processamento das informações que, ao entrarem no computador em suas redes e sub-redes, traduzem-nos em paradigmas computacionais e os devolvem, gerando outros tipos de experiências estéticas. O corpo e sua capacidade cognitiva conectam-se a bancos de dados eletrônicos e à sua capacidade de gerenciar e devolver sinais, ampliando as formas de sentir, pensar, sonhar numa fusão do imaginário humano com o imaginário de máquinas. Os sistemas artificiais com suas redes nervosas de silício alimentam os sistemas biológicos e geram situações inimagináveis”. O ciberespaço e sua relação com a informação pode ser entendido pela sua aplicação. Uma das principais funções do ciberespaço é o acesso à distância aos diversos recursos de um computador: uploads; utilização remota de aplicativos; acesso remoto à memória de computadores. Outra manifestação do ciberespaço é o correio eletrônico. O e-mail se tornou um dos principais canais de comunicação nos dias de hoje, sendo uma das interfaces do ciberespaço utilizado desde comunicação formal de uma organização até recado de amigos, etc. Também utilizado como propagação de idéias, boatos e propaganda, esta ferramenta tornou-se uma forma de comunicação sem precedentes na história, onde as barreiras tempo/espaço são rompidas e o próprio criador de uma mensagem não tem a medida das proporções que esta pode atingir. As conferências eletrônicas e os groupware’s são dispositivos sofisticados que permitem a um grupo de pessoas discutirem em conjunto sobre temas específicos por meio de videoconferências. Teletrabalho, teleconferência, são palavras comuns no cotidiano de diversas organizações e instituições de pesquisa nas quais, em tempo real, pessoas dispersas no espaço geográfico colaboram, compartilhando informações no ciberespaço. 34 Com as comunidades virtuais, ocorreram modificações significativas nas relações sociais valendo-se das possibilidades do ciberespaço onde pessoas se aglutinam por interesses e semelhanças dentro de comunidades virtuais. Relações profissionais e afetivas antes limitadas ao tempo/espaço real agora são possíveis, em meio virtual, em tais comunidades. Ex.: ORKUT. O hipertexto é uma forma de apresentação não linear de apresentar e consultar informações, vinculando dados contidos em seus documentos, criando uma rede de associações através de hiperlinks. Esta é a forma de apresentação da informação no ciberespaço, onde as barreiras textuais são rompidas e dá ao usuário autonomia de navegação para solucionar sua lacuna informacional. O ciberespaço é uma dimensão comunicacional. Sua lógica é a da articulação de memórias através das conexões. No mundo todo, pessoas conectam-se a fontes remotas de dados, comunicam-se, enviam mensagens, interagem em ambientes virtuais em tempos diversos, síncronos e/ou assíncronos. Isto ocorre pela combinação complexa de tecnologias de informação e de comunicação. Nessa perspectiva, o ciberespaço é constituído com base em uma comunicação, em linguagens e diálogos homem-máquina, máquina-máquina, operados em equipamentos físicos e localizados. Vemos a tela, mas não visualizamos a quantidade de informações, de comandos, expressões e códigos que estão por trás das imagens. Lemos (2006) coloca que essa difusão provocada pelas novas tecnologias de comunicação altera os processos de comunicação, de produção, de criação e de circulação de bens e serviços, fazendo então emergir a cibercultura: “trata-se de uma nova relação entre as tecnologias e a sociabilidade, configurando a cultura contemporânea” (LEMOS, 2006, p. 52). 35 2.5 Cibercultura A cibercultura é a relação entre as tecnologias de comunicação, informação e a cultura, emergentes a partir da convergência informatização/telecomunicação na década de 1970. Trata-se de uma nova relação entre tecnologias e sociabilidade, configurando a cultura contemporânea (Lemos, 2002). A cibercultura é resultado de uma crescente troca social sob vários formatos, tais como: blogs, chats, fóruns, orkut, pod-casts, sistemas peer to peer, entre outros. Com a cibercultura tem-se enriquecido a diversidade cultural mundial, ou seja, dinamizando a cultura em nível planetário. A cibercultura está pondo em sinergia processos de cooperação, de troca e de modificação criativa de obras, dadas as características da tecnologia digital em rede. Dentro deste cenário da cibercultura, a autora Diana Domingues (2002: p.30) diz que: O ser humano experimenta o fenômeno da comunicação interagindo e recebendo respostas em tempo real dos sistemas artificiais. As tecnologias interativas estão nos proporcionando diálogos entre o corpo e os sistemas artificiais que permitem a aquisição e comunicação de sinais biológicos com sinais de máquinas. Interfaces e computadores capturam, gerenciam e devolvem sinais emitidos pelo corpo. A cibercultura coloca a humanidade diante de um caminho sem volta, devido à avidez dos usuários para experimentar coletivamente formas de comunicação diferentes daquelas que as mídias clássicas propõem. Como conseqüência, estamos vivendo a abertura de um novo espaço de comunicação, e cabe apenas a nós explorar as potencialidades mais positivas deste espaço nos planos econômico, político, cultural e humano. Os espaços se encurtaram, a comunicação se expandiu. 36 2.6 Comunicação O homem, através da comunicação no ciberespaço, gera a sociabilidade, um processo dinâmico, em que cada sujeito que se relaciona encontra-se, momentaneamente, na mesma realidade e age de maneira simultânea e interativa. Desta forma, há a necessidade de uma ordem ou regras para que a comunicação interpessoal possa ocorrer sem ruídos e de forma clara. É esse agente da comunicação que vai valorizar o repertório de mensagens enviadas de um ao outro, cada sujeito utilizando a sua dinâmica interna de experiências, valores e atitudes, para filtrar e dar sentido às mensagens recebidas e, conseqüentemente, respondê-las de forma sociável. O espaço virtual, acessado pelas novas tecnologias de comunicação, é apenas o meio das relações interpessoais. Esse meio virtual faz parte de um conjunto de categorias específicas do mundo das comunicações, ou melhor, os meios de comunicação, que segundo McLuhan (1971) são extensões do homem e foram inventados para multiplicar a força e o alcance da capacidade humana de emitir mensagens. Segundo Rebeca Recuero (2007, p. 5), a comunicação pode ser: ..síncrona, caso os usuários estejam on-line enviando a mensagem quase que imediatamente ou assíncrona, quando um indivíduo manda uma mensagem e, só depois de um certo tempo, o destinatário irá respondê-la. A comunicação interativa mediada por computador (CMC) – popularizada, principalmente, através da internet – levou ao surgimento de redes sociais, que através de suas comunidades virtuais geram uma comunicação interativa organizada em torno do compartilhamento de interesses ou propósitos, desenvolvendo-se de forma contínua através dos textos, imagens, signos e códigos. Essas redes sociais estão crescendo e tomando espaço muito rapidamente, no mundo e, principalmente no Brasil, o orkut, é o exemplo, portanto será o objeto deste estudo. 37 3. OBJETO DO ESTUDO 3.1 Introdução O processo de evolução da informática tem ocorrido de forma muito rápida. Na pós-modernidade, conforme Maffesolli (2000), a tecnologia favoreceu uma visão de encanto para o mundo. Pode-se falar do surgimento de um ”mundo imaginal”, uma vez que as maneiras de ser e pensar são transmitidas pela imagem, pelo imaginário, pelo simbólico, pelo imaterial. Tem-se a imagem como meio, vetor, elemento primordial do vínculo social. Com as transformações ocorridas no final do século XX, especialmente as decorrentes da conexão do sistema de telecomunicações com a informática, demarcam-se significativas mudanças na relação entre tecnologia e sociedade. Nesse contexto, verifica-se uma expansão exponencial das formas de comunicação, principalmente via computadores em rede. Essa expansão, através da internet, ocorre sem delimitação de fronteiras, por diversos espaços, o que propicia trocas de informações e a emergência de diferentes relações sociais, que interligam realidades reais virtuais. Isso altera significativamente o meio e favorece o surgimento de relações antes não estabelecidas, que irão tecer uma complexa rede de possibilidades. É nesse espaço, e nesse presente desterritorializado, que vêm surgindo novas formas de sociabilidade. Um desses novos espaços virtuais de sociabilidade, que tem ganhado dia a dia mais adeptos, especialmente no Brasil, é o orkut. Este sistema consiste na criação de inúmeras comunidades virtuais administradas por um participante, as quais podem ser relacionadas aos perfis dos demais participantes do site. Há espaço para o envio de comentários, o fomento de discussões e até mesmo o agendamento de eventos pertinentes ao tema tratado em cada uma das milhares de subdivisões dos diversos campos sociais existentes e ali integrados. Todos os 38 integrantes desta rede têm o direito de criar e aderir às comunidades, acumular amigos virtuais com interesses equivalentes. A rede social orkut é o objeto deste estudo, e como tal será apresentada neste capítulo. 3.2. Orkut 3.2.1 Introdução O nome orkut deve-se ao criador do site, o engenheiro de computação, Orkut Buyukkokten. Segundo Araújo (2006), o orkut (www.orkut.com) foi criado pela Google no início de 2004 e, segundo dados estatísticos, que constam em sua página, já em abril do mesmo ano o número de usuários girava em torno de 190.000 cadastrados e, ao final de maio, já eram mais de 300.000. Embora tenha sido criada pela Google, essa rede social não faz, oficialmente, parte do portfólio de produtos da marca. Em abril de 2005, ganha versão em português e, em 2006, é criado um mecanismo que permite saber, por parte do usuário, quem visita seu perfil; no entanto, apesar desta suposta exposição, alguns usuários se sentiram incomodados e por isso foi criado o mecanismo de manter-se oculto. 3.2.2 Como ser usuário O orkut é um software social que tem como objetivo principal a criação de uma rede social ou comunidade virtual. 39 Primeiramente, para entrar no orkut a pessoa deve ser convidada por um amigo, via e-mail, que faz parte da sua comunidade presencial, já cadastrado, e que passou pelo mesmo processo anteriormente, ou criar uma conta no Google, além disso, deve ter no mínimo 18 anos. Ao se cadastrar, no orkut, o convidado preenche um questionário, dividido em três categorias: social, profissional e pessoal. No perfil social, o usuário pode descrever um pouco de si mesmo, de características como gostos, livros preferidos, músicas, programas de TV, filmes, etc.; no perfil profissional, faz-se a seleção da atividade profissional com informações sobre grau de instrução e carreira; já no pessoal é apresentado o perfil pessoal do indivíduo de forma a facilitar as relações interpessoais. Apresenta informações físicas, e sobre o tipo de pessoa com quem ela gostaria de se relacionar, ou mesmo até mesmo namorar/casar. A partir desse questionário, a pessoa pode montar o seu perfil, que poderá ser visto por qualquer usuário, desde que sejam dadas as permissões necessárias no painel de gerenciamento do site. Também é possível incluir fotos, vídeos e favoritos ao seu perfil. Além destes recursos, existem outros que só são executados por outras pessoas no seu perfil, como: escrever um depoimento, enviar uma mensagem particular, uma “paquerada”, ignorá-lo ou até mesmo denunciá-lo ao orkut para que seu perfil seja investigado. 3.2.3 Dinâmica O usuário tem um painel com a relação de seus amigos e outro painel com a relação das comunidades. Quando se adicionam novos amigos é possível organizá-los em grupos, classificá-los como: legal, confiável e sexy numa escala de 1 a 3 para cada amigo. Pode-se também definir o nível de amizade em: não conheço, conhecido, amigo, bom amigo e melhor amigo. 40 Um dos recursos do orkut é a criação e participação em comunidades. As pessoas podem entrar nas comunidades (as comunidades não possuem limite de participantes, mas o usuário pode adicionar no máximo 1.000 comunidades), que podem funcionar como fóruns de interesses comuns. Por exemplo: se alguém gosta de futebol, pode entrar em uma comunidade com o nome genérico “Eu amo futebol”. Outras pessoas podem participar dessas três áreas de interação: o fórum, os eventos e as enquetes. O fórum funciona por meio de tópicos. Uma pessoa elabora um assunto, com um título e um texto e permite que outros possam lê-lo e deixar alguma mensagem. É possível conversar no orkut, porém não de forma instantânea. Os eventos são explanações fixas, que normalmente comunicam algum acontecimento. Eles não podem ser respondidos. Na maioria dos casos, os eventos são utilizados para fazer spam do tipo "fique rico, trabalhando em casa" ou "festa em tal bar". As enquetes são usadas para recolher informação quantitativa dos membros de uma comunidade. Cada comunidade possui um dono, o qual poderá escolher até dez mediadores que poderão autorizar ou não a entrada de um novo perfil, no caso da comunidade ser "fechada" (moderada). Se ela for "aberta" (pública), qualquer um pode entrar, incluindo perfis falsos. Quando algum perfil comete algum ato impróprio na comunidade, ele também pode ser banido pelo dono ou por algum dos mediadores, sendo apenas removido, podendo entrar novamente quando quiser, ou então será definitivamente expulso. Na sua versão inicial, o orkut não permitia que o dono pudesse delegar funções de moderador a outros usuários, havendo, portanto, um só moderador, o dono, o que tornava difícil manter a organização da comunidade. A possibilidade de delegar a mediação a outros usuários foi efetivada junto a um pacote de melhorias, na data de 20 de outubro de 2006. É nas comunidades que ocorre a prática da sociabilidade. 41 3.2.4 Perfil O Brasil é o país com o maior número de membros. O sistema possui aproximadamente sessenta milhões de usuários cadastrados, até agosto de 2007, sendo que cerca de 55% dos usuários declaram-se brasileiros. Na verdade, estes dados não apresentam exatidão, pois muitos membros criam mais de um perfil ou declaram residir em outros países. O orkut é procurado por aproximadamente 60% de pessoas na idade entre 18 e 25 anos. Porém, este número não é real, pois jovens com idade inferior a 18 anos também podem participar da rede, colocando idade incorreta. De acordo com as alternativas de que o orkut dispõe, 64,34% dos usuários estão participando para fazer novos amigos e encontrar os antigos; em segundo lugar estão aqueles que procuram contatos profissionais, com 19,51%. Desde o dia 22 de abril de 2006, os usuários do sistema podem contar com a ferramenta "visualizações do seu perfil", que mostra o número de vezes que outros membros do orkut visualizaram seu perfil e lista os últimos dez membros. A nova ferramenta deixou muitos usuários descontentes. Eles argumentaram a favor da liberdade de navegar livremente pelas páginas. Por outro lado, havia aqueles que preferiam a ferramenta tal como foi criada porque funcionava bem para saber quem vigiava seus recados. Por causa da polêmica, o orkut disponibilizou um recurso para desativar a opção na página de configurações e assim permitir o acesso a perfis anonimamente. Entretanto, isso faz com que o usuário também não saiba quem visualizou o seu perfil. A fim de manter o recurso ativado e não deixar que saibam que visitou perfis, uma minoria de usuários criou perfis alternativos com informações falsas, conhecidos como fakes. Fakes são perfis falsos (fakes ou bogus) criados com alguns possíveis objetivos: Fazer-se passar por algum conhecido pessoal, famoso ou personagem fictício; difundir conteúdo ilegal, como racismo, pornografia infantil e ameaças; 42 visitar quem viu o seu perfil oficial; debater anonimamente; denunciar crimes no orkut, podendo organizar-se em hierarquias. Muitas vezes, um usuário não deseja exibir sua foto e coloca um desenho, foto de celebridade ou de algo de que ele gosta, o que teoricamente é proibido pelas regras do orkut. Isso é, a cada dia, mais comum e é relativamente aceito pela comunidade para os que querem permanecer anônimos. Neste caso, usa-se o nome real e muitos até sobem fotos reais para o álbum, mas preferem manter a foto do perfil com um desenho qualquer. A mesma política deveria ser válida para comunidades, porém, mesmo as maiores comunidades do orkut têm imagens consideradas impróprias (imagens protegidas por direitos autorais, artes ou fotos de crianças). Como o perfil é falso, os amigos deste perfil geralmente são falsos também, tornando mais difícil o rastreamento do autor original e agindo da forma mais anônima possível. Os usuários podem fazer denúncias contra esses falsos perfis, mas as denúncias raramente atingem o seu objetivo, que seria o banimento do falso perfil do sistema. De qualquer forma, não adianta muito deletar o perfil falso, pois o autor original pode criar um novo a qualquer momento. Cometer um "orkuticídio" é um termo usado no sentido figurado de "suicídio" para quando algum usuário exclui ou pretende excluir sua conta no sistema. O termo foi bastante usado pela imprensa brasileira. O orkut mantém-se tão atualizado com as tendências que comunidades sobre todos os assuntos continuam a surgir. Para o termo “orkuticídio” também já surgiram algumas comunidades. A maioria delas com poucos integrantes, já que muitos deles se "orkuticidaram". No “orkuticídio”, muitas pessoas perdem grandes amigos e só ficam sabendo dessa perda após perceber a subtração destes no número de amigos. 43 3.2.5 Comunidades Além da ligação entre usuários, o orkut permite a construção de comunidades, cujas temáticas são as mais diversas. Dentre as 28 (vinte e oito) categorias pelas quais uma comunidade pode ser classificada, existem, certamente, muito mais de dez mil comunidades. As comunidades foram criadas para que membros com interesses mútuos pudessem trocar idéias e conhecer pessoas. Porém, alguns entram em comunidades postando mensagens contrárias ao assunto delas, buscando chamar a atenção para si mesmos, criar confusões ou menosprezar os integrantes destas. E, como é possível postar mensagens anonimamente em algumas comunidades, alguns utilizam essa possibilidade para xingar e humilhar os integrantes delas, semear caos e discórdia. As comunidades estão sujeitas às restrições e a violação destas pode resultar no cancelamento da comunidade. Dentre estas restrições, pode-se destacar que: as comunidades não deverão conter material como pornografia infantil ou pedofilia, que viole as leis válidas no mundo real. São vedadas imagens de conotação sexual e não deverão apresentar material que demonstre preconceito; também não deverão apresentar ameaças diretas de violência contra qualquer pessoa. É importante ressaltar que as comunidades não poderão ser utilizadas para fins comerciais, pois o orkut é um serviço apenas para uso pessoal. O idioma mais comum das comunidades é o português, com mais de 10 vezes a quantidade de comunidades do segundo idioma mais usado, o inglês. O terceiro mais comum é o inglês britânico, que foi introduzido no segundo trimestre de 2006 para distinguir entre as pessoas que chamam o esporte da Copa do Mundo de “football” e as que o chamam de “soccer” (futebol). Espanhol e hindi ocupam quarto e quinto lugares conforme mostrado na tabela 1: 44 Idioma Português Inglês Comunidades 40.460.878 3.738.534 Maior comunidade Eu amo a minha MÃE! Membros 9.480.777 Nike 624.095 118.657 Inglês (UK) 469.538 David Beckham Espanhol 186.323 Pra que serve o Orkut? 79.734 Hindi 43.837 Cafe Coffee Day 55.492 Estoniano 37.199 Estonia 63.505 Todos 34.294 Caipirinhas Francês 25.118 Paris Telugu 23.925 311.487 21.772 !!! !!! [É, tá bom!] 15.665 Tabela 1 - Ranking da quantidade de comunidades por idioma. Fonte: Blog Orkut Algumas comunidades do orkut existem desde que o site chegou e ainda era novidade aqui no país. Hoje, ter uma comunidade já se tornou um fato normal para qualquer usuário e alguns deles ficaram famosos por serem donos de comunidades com grande expressão na rede. Esses usuários nunca apareceram na TV, nem sequer pensavam em levar uma vida assim, mas depois do orkut as coisas mudaram um pouco. Cantadas e recados vindos de todos os cantos do país chegam diariamente para eles. “Recebo cerca de 60 mensagens por dia e não posso negar que isso é gostoso”, diz o carioca João Paulo Mascarenhas, 28, criador da “Eu Odeio Acordar Cedo”, uma das maiores comunidade do orkut. João Paulo é consultor de uma agência de viagens de intercâmbio e coordena cerca de 4,5 milhões de integrantes em sua página sem ganhar um tostão. Apenas pelo prazer de ser famoso e querido no mundo virtual. Ao contrário do que muita gente pensa, não é só criar uma comunidade e “deixar rolar”. Conduzir a empreitada dá trabalho. Só respondo mensagens que me interessam, garante o gaúcho Fábio Possamai, 27, da comunidade “Só mais cinco minutinhos”, que tem mais de 1,8 milhão de pessoas que adoram enrolar um pouco mais na cama pela manhã. Quem pede coisas como: relacione a minha comunidade, não tem resposta, diz Fábio, que já perdeu a conta de quantos amigos fez. Ele é formado em Biologia, estuda Filosofia e ainda tem tempo para 45 gerenciar mais cinco comunidades. Sem pensar na parte da fama, criar uma comunidade no orkut sempre foi uma diversão à parte para os usuários. Inventar uma comunidade e ver que as pessoas se encontram ou simplesmente fazem parte dela, porque gostam do tema, é uma sensação muito boa dando a impressão de estar fazendo algo legal no orkut, diz o usuário Diego Carvalho que controla três comunidades no site. O ponto principal do orkut é a ferramenta de busca em que você pode encontrar pessoas ou velhos amigos com quem há muito você perdeu contato. Mas nada se compara às comunidades regadas a ódio e amor. Estas comunidades de pessoas se unem em torno de um gosto: “Eu odeio isso”, “eu odeio aquilo”. Comunidades assim, que proclamam algum tipo de ódio, são muito comuns, bem como as que declaram amor por algo ou alguém. O orkut liberou algumas estatísticas interessantes: das mais de 46 milhões de comunidades criadas no site de relacionamentos, mais de 40 milhões são configuradas para o idioma português, isto é, feitas por brasileiros para público brasileiro. O número é mais de 10 vezes maior que o segundo idioma, o inglês, com quase quatro milhões de comunidades. Os dados divulgados no blog oficial do orkut mostram que a comunidade “Eu amo a minha Mãe!” é a que possui mais membros. Segundo as estatísticas, ela possui 3.903.588 membros, porém ao entrar na página da comunidade, vê-se que, na verdade, eles são 9.475.965 atualmente, mantendo o posto de "maior comunidade do orkut". Vale lembrar que uma comunidade com milhares de membros no orkut pode ser sinal de dinheiro envolvido, devido a anunciantes interessados no grande público que freqüenta as páginas de discussão da comunidade. Além disso, o dono da comunidade pode receber ofertas de compra. No blog oficial também foi publicado o ranking de categorias e países mais influentes em cada uma delas. No topo da lista, a categoria "Pessoas" é a que mais possui comunidades, com destaque para Madagascar e Brasil como os países mais representativos nessa categoria. 46 No ranking das mais numerosas comunidades e que foram escolhidas, aleatoriamente, para objeto de estudo desta pesquisa, estão: “Eu Odeio Acordar Cedo”; “Eu amo a minha Mãe!” e “Só mais 5 minutinhos...” A justificativa para escolha destas comunidades ocorreu por acreditar que quanto mais pessoas tiverem acesso ao ciberespaço, mais se desenvolverão novas formas de informações pelos mais diferentes atores, que terão a possibilidade de produzir, fazer circular e consumir a informação presente, de acordo com seus próprios valores (culturais, estéticos), difundindo-a por sua vez de uma nova maneira. A seguir entenderemos como se estabelecem as relações destes usuários e de que forma as comunidades ligadas a eles podem desenvolver um tipo de sociabilidade. 47 4. ANÁLISE DAS COMUNIDADES ORKUT 4.1 Introdução A nova forma de comunicar e vivenciar a realidade, possibilitada pelas redes de computadores que compõem a internet, e que constituem um artefato tecnológico inovador, estabeleceu um novo espaço e tempo de interação social, dentro dos quais emergem formas de sociabilidade. O orkut gerou uma sociedade virtual que une pessoas de todos os perfis, mas que têm interesses comuns no convívio, na troca de idéias, no “estar-junto”, no expor seus dados pessoais, suas ideologias ou informações profissionais que são recebidas e reconhecidas pelos outros. Como já foi dito, no capítulo anterior, todo usuário do orkut pode se associar a diversas comunidades que existem dentro do site. Essas comunidades são grupos de interesse em que são levantados ou não debates sobre os temas a que se propõem. Cada comunidade tem um fórum no qual são propostos tópicos de debate e todo membro pode fazer seu comentário. A maioria das comunidades é aberta, no sentido de permitir a entrada de quem quer que deseje participar. No orkut, a interface é composta pelos elementos visuais, como cor e formato do site, os ícones coloridos e a maneira como estes estão dispostos, as imagens postadas pelos próprios usuários e códigos da linguagem escrita. Os recursos disponíveis nessa comunidade virtual priorizam, a princípio, a comunicação e localização dos usuários inseridos nela, mas possui também outras funções e finalidades, como a construção de uma identidade on-line e sua exibição a outros usuários. Ou seja, além de disponibilizar infinitas possibilidades de criação de laços e compartilhamento de interesses, foi aberto ao usuário um espaço individual com recursos mais amplos para a construção e exposição de sua identidade on-line. 48 Dentre as comunidades mais populares do site estão: “ Eu Odeio Acordar Cedo”; “Eu amo a minha Mãe!” e “Só mais 5 minutinhos...”, que são o objeto desta pesquisa. Neste capítulo, será apresentada a análise destas comunidades, através dos mais diversos perfis de usuários e a forma como estes usuários interagem entre si por meio de fóruns, enquetes e recados dentro das comunidades. Por fim, serão apontados alguns questionamentos sobre as formas de sociabilidade. 4.2. Comunidades do Orkut 4.2.1 Eu Odeio Acordar Cedo – E.O.A.C. A comunidade apresenta 5.848.677 membros e é representada pela foto a seguir: Seu dono, João Paulo Mascarenhas, que aparece como João Holden, faz a seguinte descrição: Para todos aqueles que acham que o dia só começa após o meio-dia. "Eu faço samba e amor até mais tarde e tenho muito sono de manhã" (Chico Buarque) A maior comunidade do orkut! 49 Ainda na página principal, João Holden faz as seguintes observações: Serão apagados: - Jogos que não tenham relação com o tema da comunidade. - Propagandas de outras comunidades. Vamos manter a nossa comunidade organizada. A comunidade é apresentada no idioma português, criada em 23 de maio de 2004, às 19 h 55 min, possui os seguintes moderadores: Gabriel Skrilatt, Renato, Anselmo, LuILa, Mediador, ΨMåU_® [E.O.A.C], DeDeZiNhA, Ð㋡M ҒЯдηҜ. Os moderadores contam com alguns privilégios, tais como: excluir tópicos, mensagens e eventos inadequados da comunidade e podem ainda aceitar, recusar, expulsar e remover membros e suas postagens. Esta comunidade é do tipo público e aberto para não-membros, isto significa que qualquer usuário do orkut pode acessá-la e fazer o pedido para ser incluído, podendo também pedir exclusão de acordo com seu interesse. No fórum são apresentados vários tópicos, pelos moderadores, que buscam um maior número de postagem; existem muitos tópicos repetidos e sem sentido dentro da proposta da comunidade. Eis alguns dos tópicos desta comunidade: Qual o dorminhoco(a) mais gato(a) da Pag? [chat] com 193.462 postagens, cujo autor é LuILa e que pela foto é do sexo feminino. Vamos formar Casais de dorminhocos? com 11.577 postagens cujo autor é JeanLost All© , do sexo masculino. CONFESSIONÁRIO =p com 3.496 postagens cujo autor é Si, do sexo feminino. Este fórum é interessante, pois todas as postagens começam por “confesso que...”. São várias as enquetes, dentro da comunidade, que são representadas como pesquisa para conhecer o usuário. Seguem-se abaixo algumas: Qual é o time da maior torcida entre as pessoas que odeiam acordar cedo? 50 Apresentação Uma_Mega_Enquete_para_Geral_Votar_em_Massa. Enquete criada para remecher (sic) com a rivalidade entre vários times e detonar em votos. Nesta enquete varias torcidas iram (sic) dar seu voto para o time que honram. Uma enorme nação repartida em rivalidades entre vários times. Vote em seu time! Saudações João Holden Criador Gabriel Skrilatt A proposta é fazer com que o internauta sinta-se mais atraído pelos conteúdos ali expostos, considerando-se parte de um processo de mediação que não mais tende à centralização de meios de comunicação hegemônicos, mas que é propiciado, em certa medida, por ele, de acordo com os próprios interesses. Existem relações de poder envolvidas. O poder da detenção do discurso e de suas possíveis alterações; o poder de ser também um emissor de informações; o poder de mudar totalmente as concepções de esfera pública, de construir novas realidades sociais, de estipular novas relações entre local e global, entre tempo e espaço, entre conteúdos aparentemente distantes, mas que podem relacionar-se intimamente, dependendo do objeto acerca do qual pretende tratar. Até o presente momento, 15 de agosto, têm-se 1.494 votos e o primeiro colocado é o Flamengo com 287 votos (19%), seguido do Corinthians com 308 votos (18%). Outra enquete, com 447 votos, até o presente momento, é “Qual o estilo musical mais escutado entre as pessoas que odeiam acordar cedo?” Com 61 votos (13%) está rock (Heavy Metal e estilos em geral) e em segundo lugar, com 41 votos (9%), aparece o estilo eletrônico. A enquete “De que parte do Brasil você odeia acordar cedo” quer revelar qual é o estado brasileiro que mais atua na comunidade. Dos 199 votos, 25% (51 votos) são do estado de São Paulo. Dentro ainda da enquete, é apresentada a pesquisa criada pelo moderador ΨMåU_® [E.O.A.C], cuja intenção é procurar saber o que os membros da E.O.A.C. acham ou esperam da comunidade. Segundo o moderador: 51 Estamos querendo organizar a comunidade e evitar aquele monte de tópicos repetidos e falidos, deixando a nossa comuna mais bonita para todos. A votação, nesta enquete, teve início em agosto e seu término será no dia 15 de outubro (cerca de dois meses). As possibilidades de resposta são: SIM queremos uma comunidade limpa e organizada ou NÃO - gostamos assim mesmo (explique). Até a presente data, agosto de 2008, têm-se 670 votos cujos resultados são: SIM - 531 votos (79%) e Não - 139 votos (20%). É importante ressaltar que somente os membros da comunidade podem votar nesta enquete. Dentro das explicações da escolha, os participantes acreditam que se a comunidade ficar limpa e organizada não será mais interessante, pois perderão a liberdade de postar ou criar passando a “obedecer a normas” o que de certa forma irá descaracterizar as comunidades do orkut. Os participantes podem fazer comentários a respeito da escolha, tanto no fórum quanto na enquete, porém se observa que a minoria faz algum registro. Alguns dos comentários geram discussões, como as que se seguem: É um achincalhe a comunidade “Eu odeio acordar cedo”. Ela incentiva o atraso, a ignorância, a pobreza e a preguiça. Isto é péssimo para o Brasil. Não podemos continuar sendo um país de jecas-tatus. Deveríamos ter sim uma comunidade chamada “Eu adoro acordar cedo”, adoro ter mais tempo para trabalhar, estudar, ajudar o país a se desenvolver. O dono desta comunidade de preguiçosos é um tremendo imbecil que nunca fez nada pelo bem da humanidade. É preguiçoso e odeia acordar cedo porque deve passar as noites bebendo nas noitadas. Preguiça não constrói um homem, não constrói um país! Esta comunidade é um desserviço ao país! É uma vergonha monstruosa! Dr.. Enzo Fragonelli Médico, agosto 22nd, 2007 at 8:28 pm. Em contraponto à posição do Dr. Enzo, Dinho se coloca da seguinte forma: Bom, só porque a pessoa “odeia acordar cedo”, não quer dizer que ela seja preguiçosa. Garanto que muito mais da metade do povo dessa comunidade acorda cedo, às vezes até mais cedo do que alguns que “adoram acordar cedo”. Eu acordo cedo porque preciso, se eu pudesse escolher, escolheria dormir até tarde, pra ficar acordado de madrugada, escolheria trabalhar a noite. Jô Soares só acorda depois do meio-dia, nem por isso é um fracassado. Aliás, o programa dele é ótimo, e quem 52 acorda cedo, como eu, perde um ótimo programa da madrugada. Bom, é o que eu acho! abraços a todos”. Dinho, outubro 4th, 2007 at 11:31 am. Reforçando a posição de Dinho, Iza Mendonça conclui que: Bem… Apesar de achar toda essa discussão uma bobagem, fiquei indignada com a opinião de algumas pessoas. Concordo com o Dinho, o fato de alguém não “gostar” de acordar cedo, não quer dizer que ela é preguiçosa ou vagabunda. Rotular toda uma comunidade dessa forma só mostra a falta de cultura de algumas pessoas. Essa foi uma das primeiras comunidades da qual fiz parte no orkut e eu sempre acordo cedo… Aliás, bem cedo… Mas porque faço isso não preciso ser hipócrita e dizer que “adoro” acordar cedo, afinal de contas, poder acordar mais tarde aos domingos é muito bom!!! E não “sou” ou me “tornei” uma pessoa preguiçosa por fazer parte dessa comunidade. Eu trabalho, tenho dois filhos, tomo conta da minha casa, adoro ler… Leio desde bulas de remédio até a Bíblia e acho que qualquer forma de leitura é valida. Minha filha só tomou gosto pela leitura depois de receber muitos “gibis” como presente… Hoje ela lê livros que muitos adultos nem sequer têm interesse em folhear. Então rotular as pessoas só por causa do que elas gostam ou não de fazer, por causa das comunidades de que elas fazem ou não parte só mostra o quanto vocês são preconceituosos. Iza Mendonça, outubro 24th, 2007 at 9:32 am Essas discussões, que fazem parte dos fóruns e enquetes, mostram idéias divergentes e/ou convergentes criando-se formas de mediação alternativas, libertárias e que fazem os usuários sentirem que pertencem às comunidades nas quais atuam socialmente. 4.2.2 Eu amo a minha Mãe! Esta comunidade foi criada em 17 de julho de 2004, apresenta 9.480.777 membros, e pertence à categoria Família e Lar; está no idioma português e tem como dono Fabiana Bottini e os moderadores são: 【ツ】_ Wal_【ツ】, Valéria, Mi e Iรค. Na descrição da página é apresentado: Comunidade pra quem é apaixonado pela sua MÃE! Mãe carinhosa e dengosa Mãe amiga, mãe irmã Mãe de todos nós, Mãe das mães 53 Mãe dos filhos Mãe-pai: duas vezes mãe Mãe lutadora e companheira Mãe educadora, mãe mestra Mãe analfabeta, sábia mãe Mãe do silêncio, mãe comunicação Mãe dos doentes e dos sãos Mãe de quem magoou e de quem perdoou Mãe rica, mãe pobre Mãe dos que já foram, mãe dos que ficaram Mãe dos guerreiros e dos guerreados Mãe que sorri, mãe que chora Mãe que abraça e afaga Mãe presente, mãe ausente Mãe do sagrado, mãe da luz Mãe de Jesus e mãe nossa. MÃE, simplesmente MÃE! Para servir de ilustração desta comunidade, o criador colocou a imagem do coração que, além de designar um órgão vital do corpo humano, também significa, num sentido analógico, valores de ordem moral. Assim, metaforicamente, se diz: fulano tem um “coração de ouro”; sicrano tem um “coração de pedra”. No primeiro caso, significando que fulano é bondoso, generoso, etc.; no segundo, que sicrano é insensível, mesquinho, etc. Pode-se dizer também que sicrano tem o “coração aberto”, e beltrano, “coração fechado”. E assim por diante, poder-se-iam fazer inúmeras correlações simbólicas a propósito de coração. O coração também representa a imagem do Imaculado Coração de Maria, que é uma devoção católica, e aparece em alguns quadros. Consiste na veneração do coração de Maria, mãe de Jesus. Esta relação está reforçada pelos comentários feitos pelos usuários desta comunidade, que colocam a figura da mãe com idolatria pois todas as mães são perfeitas e só querem o melhor para seus filhos. No fórum, os tópicos que mais se relacionam ao nome da comunidade são: “A Melhor Mãe é a de quem postar por último!”, com 2.284 postagens, cujo 54 autor é ♣ ßяuиö ♠. Os comentários, na sua grande maioria são de cada um dizendo que sua mãe é a melhor do mundo, alguns colocando poemas e dedicatórias às suas mães. Outro fórum bastante interessante, nesta comunidade, é o “Diz aí Qual o nome da Melhor Mãe do Mundo?, com 610 postagens e tendo como autora ޮΧ©Î££Å.... Nos comentários, os participantes falam o nome de sua mãe acompanhado, na sua maioria, de qualificativos demonstrando o amor que lhe dedicam. Na enquete, a maior participação está para “Você acha que uma madrasta pode ocupar o lugar da Mãe? Criada por Valéria, com 1.626 votos, com os seguintes resultados: não, acho que mãe só tem uma” com 771 votos (47%); “sim, acho que tudo se conquista com muito carinho” apresenta 132 votos (8%); “não aceito ninguém no lugar da minha mãe” com 602 votos (37%) e “acho que podemos nos dar muito bem” 121 votos (7%). Outra enquete, criada por Vitalina, pergunta “O que fazemos quando sentimos que está chegando a hora de nossa mãe partir?” Aparece como um pedido de ajuda, pois sua mãe está quase morrendo, câncer em fase terminal, está descontrolada e gostaria que a ajudassem. Em apenas três horas e meia, após a abertura da enquete, já apresentava 24 votos, em que 50% dizem que fariam o impossível para fazê-la feliz, 29% entregariam a Deus e o restante, 20%, choraria. Acompanhando esta enquete, após dois dias, com 110 votos, o resultado é o seguinte: 66 votos (60%) dizem que fariam o impossível para fazê-la feliz, 29 votos (26%) entregariam a Deus e o restante, 10%, diz que choraria. Seguem abaixo, alguns dos comentários, na íntegra e conforme a escrita dos usuários da rede: “Olha essa pergunta e muito dificil pra uma filha q ama muito sua maee faço o possivel pra ve la feliz! mas óoo eu entregaria nas mãos de Deus se ela estivesse sofrendO e melhor ele mOrre doque fica sofrenduh não éhh achu q se acontecece uma coisa comu essa comiguh iri a choraa muitoo pqqq eu amooo muito minha maee e que sempre Deus venha abençoaer elaa sempre msm......te amO maue demais”. ♥*•lιtα♥*• “olha só espero não passar por isso mas acho que faria o impossível pra ve-la feliz e entragaria nas mãos de Deus, porque Ele td pode” Paula. “Bom se pensarmos bem, todo mundo sabe que sua hora chegará, mas se falando de uma pessoa tão importante, lógico que vc vai chorar, vai 55 tentar faze-la o mais feliz possível, acho que todo ser humano que ainda tem uma mão faria isto, mas o impossível só Deus é quem pode..... melhor fazer o que vc deseja qdo ela está em vida, do que depois vc se arrepender e ficar se lamentando que poderia fazer isso ou aquilo, viva cada dia como se fosse o último.....”Clayton bom entrego nas mao de deus pq sei q com deus ela vai descancar em paz!!!!!Suzy p!nk nos falamos que não vivemos sem nossas mães se ela esta quaze na hora de partir e so agradecer por tudo o que ela fez por nos educou,nos criou então devemos tambem fazela feliz por que tambem sabemos que la com DEUS ela estara nos olhando e estara sorrindo quando nascemos todos riam eso nos choravamos ,quando morremos so nos ♥◘nninh◘♥ estaremos rindo e nossos familiares chorando. Embora não se tenha a veracidade da pergunta, a interação entre os membros é muito intensa, inclusive com a participação nos comentários, e de uma forma envolvente e bastante séria. É importante observar também que o orkut tem sido o ambiente perfeito para a proliferação de uma nova forma de linguagem. Essa “nova língua”, denominada por muitos como internetês miguxês, [5] [4] ou está sendo muito estudada, seja por teóricos da comunicação ou lingüística ou discutida por pessoas comuns. Essa nova linguagem se caracteriza pela alternância de letras maiúsculas e minúsculas, a troca de “R” por “L”, de “S” por “X”, uso de caracteres gregos, uso de letras repetidas, uso de “H” no final das palavras. O orkut e o MSN são ambientes perfeitos para o uso e desenvolvimento dessa nova e própria linguagem. A tabela 2 mostra que há uma grande quantidade de tópicos criados, com muitas postagens, porém não apresentam comentários, somente os tópicos mais polêmicos conseguem criar uma discussão. Tópico Autor postagens JOGO DO FAROL BEM LEGAL !!! ┌∩┐(Ò.ó)┌∩┐®™ 1284 Beija ou Passa?? Iรค 32291 JOGO DO IMPOSSIVEL (CONTE ATÉ 12...SE CONSEGUIR) 【ツ】_ Wal_【ツ】 95901 1-gostosa(o) 2-linda(o) 3-pegavel 4-sai fora!!!!! ****viver ou 1187 oraçao milagrosa Mah barbosa! 1 Win Big Money Playing Poker: www.pokervitals.com jordan 1 ♥ Amodoro demais minha mãe ♥ ♥Carla, Coutinho 1 Códigos Drigao 1 FESTA A FANTASIA ♥ ROBERTHAH ♥ 1 56 ADIVINHE algo da pessoa ABAIXO Samuel♫ 2648 BricAdeira: Do SI tI DeSSe? →Indiia 1824 Tópico Autor postagens QUANTOS ANOS VCS ACHAO QUE TEM A PESSOA ACIMA?? [[ ingrid 131 Como é o nome da pessoa abaixo??? ♥ ¬¬ Ŀįþě ¬¬ ♥ 562 huummm ou affffff ~~BrUnO 463 [Que NoTa De 0 a 10!! Vc Dah Pra PessOa De Cima?? Mi 2153 qual a idade da pessoa acima adilson 924 Qm eh o mas gato ou gata da pag? Lipee 1120 Continue a história com apenas 3 palavras... Leonardo 2177 Jogo : Cara de ANJO ou cara de SAFADO(A) ? ♥•¸ღ♥ Greiciane 2781 PIMENTA OU COLÍRIO???? Rodrigo 862 ~~~> *FICO* - *NAMORO* - *NOIVO* - *CASO* *PASSO ℝαƒαεℓ 1008 Bonito ou Feio ? Vamos J.O.G.A.R !!! Rafael Biriba 3715 Qual a profisão da pessoa acima. \o/ Enrico Francesco 6105 Beija ou Passa??????????? Edison 58441 VC BEIJA O DE CIMA OU ARRISCA NO DE BAIXO ****viver ou 529 DIZ AÍ QUAL O NOME DA MELHOR MÃE DO MUNDO ?? ޮΧ©Î££Å... 634 A melhor mãe é a de quem postar por último! ♣ ßяuиö ♠ 2301 ( NOVO)MAIS TEMAS PARA ORKUT QUE LEGAL BART 247 FRASE QUE SUA MAE SEMPRE FALA? 'ºPεđяoOº' 912 Jogo Da Rima... ●•>.ω.เ.ℓ.ℓ.<•● 1496 O Jogo das 4 letra só mudar UMA. suzana 1612 ->qual o(a) mais bonito(a) da pagina?<- GUGA VIBE -VOTE- 1818 Dê uma nota de 0 a 10 pra pessoa de cima! Tiago 342 ***HOMENS X MULHERES*** 【ツ】_ Wal_【ツ】 43474 _______JOGO DAS MELHORES FRASES____ 【ツ】_ Wal_【ツ】 629 Vamos tentar contar até o infinito... Marih te Amo 815 O Jogo Da Velha ♥Gabriele♥ 1679 o q vc faria com a pessoa acima?? .gяєgσяу 812 JOGO DO SORVETE ;)karynna;)ღ ღ 654 Jogo do Policial...essa é muito boa!!! Qual é o nome da sua mãe.. QUAL O NOME DA MÃE DA PESSOA DE CIMA Iรค 269 - LorãO - 597 Aline 199 SEMPRE UP !!(.....SEMPRE....)☻ αηdяєw ******DIVULGACÃO DE COMUNIDADES AQUI****** 【ツ】_ Wal_【ツ】 336 57 Tabela 2 - Tópicos do Fórum da Comunidade “Eu amo a minha Mãe” Fonte: http://www.orkut.com.br/Community.aspx?cmm=176183 Como se pode perceber os tópicos apresentam enfoques variados, com cerca de 90% das postagens acima de 100. 4.2.3 Só mais 5 minutinhos Esta comunidade, criada em 28 de maio de 2004, às 20 h 02 min, apresenta 1.989.202 membros, e tem como dono Fábio Valenti Possamai com os moderadores Ycaro, - J є s s i c α, ♥ Laurilene, → s.w.a.t. ♂ e pertence à categoria Atividades. Na descrição da página apresenta-se a seguinte chamada: Se você é daqueles que quando ouve o despertador tocar, vai lá...desliga o treco, depois vira pro lado e diz "Ahhhh, só mais 5 minutinhos..." Depois descobre que está atrasado de novo, e que os "5 minutinhos" se transformaram em vários "minutaços"!!! Abaixo a imagem que representa a comunidade: A comunidade apresenta cerca de dez enquetes com baixa participação dos usuários na votação, e a que mais se aproxima da proposta é “Quanto tempo você gostaria de dormir mais?” Criada pelo Igor, tem 55 votos, sendo que 56% (o equivalente a 31 votos) dizem que gostariam de “dormir até a hora da escola ou do trabalho acabar”. Este tópico tem apenas 3 comentários que não respondem à questão proposta. Outra enquete com maior votação, 55 votos, foi criada por Luciana que propõe “Não Leia” e faz a seguinte apresentação: 58 Oi meu nome é Samara, tenho 14 anos (Teria se estivesse viva), morri aos 13 em Cascavel-PR. Eu andava de bicicleta Quando não pude desviar de um arame farpado. O pior foi que o dono do lote não quis me ajudar, riu bastante mim após agonizar por 2 horas enroscada no arame eu faleci, através dessa mensagem eu peço que façam com que eu possa descançar em paz. Envie isso para 20 comunidades e minha alma estara sendo salva por você e pelos outros 20 que receberão. Caso não repasse essa mensagem vou visitar-lhe hoje a noite assim vc poderá conhecer o tal arame bem de pertinho. Dia 15 de Julho Mariana resolveu rir dessa mensagem, uma noite depois ela sumiu sem deixar vestigios. O mesmo aconteceu com Kare dia 18 de Outubro. Não Quebre essa corrente por favor,a não ser que queira sentir a minha presença. Como resultado, esta enquete tem: 22 votos, 40%, dizendo que não leram; 15 votos, 15%, que dizem “o que é isso!” e 18 votos, 32%, que dizem que leram; sete participantes desta enquete fizeram comentários criticando e xingando a proposta. Comparando as comunidades estudadas, percebeu-se que cada uma apresenta algumas características comuns e outras extremamente próprias, inclusive associadas com o nome que lhes foi dado. A comunidade “Eu amo a minha Mãe” apresenta um aspecto de seriedade, pois existe uma grande demonstração de carinho, respeito e amor dos participantes em relação à figura da mãe, que está inclusive registrada pela descrição da página, associada com a apresentação de um poema enfocando a Mãe de Jesus. As enquetes e fóruns apresentam questões relacionadas à figura da mãe. A comunidade “Eu Odeio Acordar Cedo”, embora apresente um nome que caracteriza preguiça, não significa que seus membros não levantem cedo, inclusive em seus depoimentos registram que odeiam acordar cedo, mas continuam fazendo isso para estudar ou trabalhar. O dono e seus moderadores querem organizá-la e para tal montaram uma enquete junto aos usuários. De acordo com informações obtidas na comunidade, existe muito material que não condiz com a proposta do nome. Por outro lado, muitos usuários acreditam que ao tentarem esta organização irão descaracterizar o real sentido das comunidades virtuais onde todos têm o direito de postar sua opinião. 59 A comunidade “Só mais 5 minutinhos” apresenta um grande número de participantes, pois muitos usuários do orkut se identificam com seu nome. Ela difere em relação às outras por estar despojada de organização e seriedade. Existe um pequeno número de enquetes e poucos participantes, porém em relação ao fórum não se pode dizer o mesmo, há um grande número de propostas, diversificadas e que resultam na interação de seus participantes que na sua maioria são jovens. Dentre as características comuns destacamos que a grande maioria de membros é jovem e sua linguagem é uma mistura da língua portuguesa com internetês. Percebe-se que as comunidades, constituídas por grupos de pessoas interessadas no mesmo assunto, apresentam aspectos particulares, dependendo do tema e da quantidade de pessoas que as formam. A grande maioria das comunidades dedica-se principalmente a discutir frivolidades, ou o que se poderia chamar de cultura inútil. Da mesma forma que os scraps [6] , o espaço de troca das comunidades permite o travamento de uma interação do tipo mútua dentro dos tópicos, nos quais ocorrem as discussões entre os participantes. A interação é mútua, mas assim é apenas entre os indivíduos que mantêm uma efetiva participação dentro da comunidade, ou seja, que mantêm um bom nível de intensidade de trocas. É comum, no orkut, as pessoas inserirem-se nas comunidades apenas para fazer parte delas, ou seja, apenas mostrar que mantêm uma afinidade com o tema e para que assim a comunidade apareça no seu perfil para os outros usuários, como uma espécie de caracterização do seu eu. Na medida em que a pessoa insere-se na comunidade e não participa dos debates, a interação que ela trava ali dentro é parcial. No momento em que a pessoa cria um tópico, mas não segue na discussão, a interação é meramente interrompida ou deixada para aqueles que seguem o debate, não chega ao menos a se caracterizar como reativa, pois a pessoa sequer participa das discussões. 60 Existem várias dessas comunidades dentro do orkut. Ao observar suas movimentações diárias, percebe-se claramente que a maior parte das comunidades que possui um grande número de participantes, quando não tem um baixo nível de atividade, de criação de tópicos, tem sempre os mesmos membros como participantes efetivamente ativos. 4.2.4 Sociabilidade no orkut Durante o processo de evolução humana, diversas ferramentas “tecnológicas” foram criadas para facilitar a comunicação e a interação social entre os povos. Desde a criação da escrita, há milhares de anos, até o advento da internet no fim do século XX, o homem sempre teve fascínio pelo desconhecido e busca cotidianamente alternativas que ampliem a troca de informação, a difusão de conhecimento e o estabelecimento de novas relações sociais. Atualmente, o planeta se encontra interligado por uma teia virtual que cresce velozmente, o ciberespaço, potencializado por ferramentas de informação e comunicação antes inimagináveis. A internet revolucionou a comunicação entre as pessoas, derrubando barreiras geográficas, abrindo novas oportunidades de relacionamento. O maior fenômeno de popularidade entre os jovens internautas é o site de relacionamentos orkut. Os brasileiros estão entre os maiores usuários deste site, tanto que a língua predominante no site deixou de ser o inglês para ser o português recentemente e o verbo “orkutar” passou a fazer parte do cotidiano juvenil. Hoje, milhares de pessoas distantes fisicamente, sem nenhum contato presencial, podem se comunicar e interagir socialmente utilizando o espaço virtual. Essa forma de sociabilidade, apesar de recente, cresce vertiginosamente, fascinando principalmente crianças e adolescentes. O que se pode perceber ao observar o funcionamento das comunidades do orkut é que as pessoas que participam dessa rede de relacionamento dedicam-se a uma grande celebração do “estar-junto”, termo presente na análise de Michel Maffesoli. Segundo o autor, na modernidade, estamos numa outra 61 lógica de sociabilidade, centrada no cotidiano e na atração de sensibilidade (1996:52). O orkut é fruto da pós-modernidade que estamos vivenciando. No entanto, segundo Maffesoli (1997), é possível identificar tendências claras de valores aceitos culturalmente: o popular, o passageiro, o banal, o emocional, o subjetivo, a identificação, o hibridismo, o presenteísmo. O importante, ainda segundo o autor, não é mais negar padrões anteriores, como fazia o homem moderno. O homem pós-moderno é um ser mimético, transformando-se segundo as situações e as relações com os seus grupos. Os valores mudam rápido. A moda muda rápido. Amparadas por inúmeros aparatos tecnológicos, as pessoas se conhecem mais facilmente e em maior número. As amizades trocam de acordo com cada etapa da vida, pois não se vive mais em um lugar só. Crenças e opiniões também mudam, segundo a idade, o endereço, o acesso tecnológico e o site na internet. A questão pós-moderna tem como resultado um emaranhado de idéias que envolvem: tecnologia, tribalismo, hibridismo, estética, fragmentação, efemeridade, descoberta do outro, desconstrução, jogos de linguagem, entre outros. O orkut aponta para algumas das características da sociedade contemporânea tais como o simulacro, o tribalismo e a busca do prazer imediato e individual (mesmo que através do outro). Além disso, o site, como boa parte da tecnologia na pós-modernidade, segundo Maffesoli (2000), favoreceu um reencantamento do mundo, um (re)nascimento de um “mundo imaginal” e de um modo de ser e de pensar perpassado pela imagem, pelo imaginário, pelo simbólico e pelo imaterial. A imagem como meio, vetor, elemento primordial do vínculo social. O tribalismo é entendido como a característica cultural que reúne os indivíduos de grupos de identificação (MAFFESOLI, 1995, 1997, 2001), em torno de totens [7] contemporâneos, como, por exemplo, o futebol, a religião, as festas e, nesse caso, as comunidades do orkut. As escolhas, a subjetividade e os sentimentos entram em cena para disparar esses momentos de vibração em 62 comum, de sensação compartilhada. Essas relações ou interações sociais acontecem dentro de um substrato cultural que vem sendo modificado pela produção imaginária individual e coletiva (onde ganham força as tecnologias de produção cultural). Essas relações modificadas abrem novas possibilidades de interações. Muitas adesões, crenças, movimentos sociais, entre outros, não podem mais ser explicados apenas pela razão, pela ideologia ou pelo conteúdo. O imaginário é a dimensão que esclarece alguns desses pontos. De acordo com Maffesoli (2004), esse homem moldado pelo imaginário pós-moderno não quer apenas informação na mídia, mas também, e fundamentalmente, ver-se, ouvir-se, participar, contar o próprio cotidiano para si mesmo e para aqueles com quem convive. Na sociedade, busca-se existir diante do outro através dessas interações sociais. Isso explica algumas situações que geram os conglomerados de emoções e sentimentos partilhados. O estar-junto busca, [...] no quadro reduzido das tribos, encontrar o outro e partilhar com ele algumas emoções e sentimentos comuns. No balanço cíclico dos valores sociais, assiste-se ao retorno do ideal comunitário, em detrimento do ideal societário (MAFFESOLI, 1995, p. 54). O tribalismo é evidente no orkut, explicitado nas comunidades ou nos grupos de amigos que têm nas imagens exibidas, uma forma de identificação e classificação. Dentro das comunidades, percebem-se certos padrões de textos, formas de escrever, maneiras diferentes de grafar as palavras, de acordo com a identidade e o perfil de cada grupo. Comunidades informais escrevem de forma mais informal, comunidades acadêmicas ou profissionais escrevem de forma mais formal. Na comunidade virtual, o individuo escolhe a comunidade de que quer fazer parte, por identificação e sabendo que vai encontrar pessoas que irão compartilhar idéias e promover discussões. Nesse aspecto, torna-se importante esclarecer que é o interesse em comum partilhado que transmite o sentimento de pertencimento. 63 Maffesoli (1997) expõe que, muitas vezes, como uma espécie de autoproteção – “favorecer a conservação de si” – o indivíduo acaba vestindo máscaras, escondendo um pouco do verdadeiro eu, para que consiga o aceite ou a inserção em determinadas tribos. As máscaras são trocadas conforme as situações que são vividas. Às vezes, acabam escondendo ou omitindo alguma convicção ou crença, pois o que se quer é compartilhar, evitando conflitos e talvez a exclusão de determinados grupos dos quais participa. “[...] vê-se que a conservação de si permite difundir suas idéias e assim reforçar, na longa duração, a integridade do grupo em questão” (p. 106). Dessa forma, as máscaras ajudam a restaurar o equilíbrio do grupo. Algumas comunidades virtuais costumam promover encontros e eventos fora do ambiente virtual como uma maneira de reforçar o contato face a face, uma forma de as pessoas se conhecerem pessoalmente, excluir possibilidades do uso de máscaras, e, em última instância, complementar a relação social mantida na comunidade. 64 5. CONCLUSÃO A mídia digital, através do espaço virtual, então, propõe uma nova maneira de as pessoas se reunirem em comunidades. É o que se pode verificar nas comunidades virtuais em que as pessoas têm a opção de criar vínculos ou não. Elas podem querer aprofundar algum tipo de relacionamento, amigável, amoroso, social, ou não. A partir deste encontro virtual, elas vão decidir encontrarse no mundo real, ou não. Conforme Pierre Lévy, a mídia digital traz à tona uma nova maneira de as pessoas conviverem, mas alerta: compreender o lugar fundamental das tecnologias da comunicação e da inteligência na história cultural nos leva a olhar de uma nova maneira a razão, a verdade, e a história, ameaçadas de perder sua preeminência na civilização da televisão e do computador (LÉVY, 1995:87). As novas formas de sociabilidade, influenciada pelas novas tecnologias e gerada no ciberespaço, são pautadas na superexposição das informações pessoais. Na construção de um “eu virtual”, o internauta constrói seu perfil baseado no outro, no olhar do próximo e no sentir-se igual a ele. A interação no novo espaço, o virtual, é estabelecida de acordo com os interesses e as qualidades comuns expressas em comunidades, que garantem a publicação dessas informações. Na construção de uma identidade para o meio cibernético, a personalidade torna-se solúvel, sujeita à desconstituição de forma efêmera, tal como seu surgimento, baseado numa farsa pelo simples adicional em determinado grupo. A excessiva exposição da intimidade satisfaz não apenas o internauta, que busca o reconhecimento nos demais, mas também o outro que contenta sua curiosidade ao saber, bisbilhotar a vida alheia. Na interface do orkut ainda é possível notar que a representação social dos usuários encontra-se condensada em forma de símbolos. Algumas ferramentas, por exemplo, são dispostas na página de apresentação do usuário por meio de números – número de amigos, número de membros, porcentagem de 65 beleza, etc. Estes números não simbolizam somente a quantidade. Eles resumem elementos importantes da representação social do usuário. O número de membros, por exemplo, não simboliza somente esse aspecto quantitativo, mas representa a aceitação do usuário pelos integrantes da comunidade virtual. Notase, assim, que no orkut a quantidade, muitas vezes, é vista como qualidade. Ou seja, os usuários vêem os ícones como termômetros de suas características, que passam a serem elementos de sua representação social. A representação social também ocorre por meio de ações e comportamentos do indivíduo, ou seja, ela não é moldada apenas pelo perfil do usuário e os símbolos e imagens que ele contém. A sua participação em subcomunidades e seu relacionamento com outros membros também contribuem para que o usuário se represente socialmente e crie uma identidade na rede, pois essa construção só se efetiva frente a outros. Assim, por ser um site que funciona por meio da criação de perfis e, ainda, que privilegia os relacionamentos sociais e a comunicação em rede, o orkut é um ambiente propício para que ocorra a representação social. O orkut é mais uma maneira de entendermos como as novas tecnologias estão fazendo parte da vida social dos internautas. Através dos meios de comunicação surgem espaços de sociabilidade que disponibilizam o acesso a dados e a informações de domínio particular. A exposição pessoal é imanente. Percebemos, portanto, uma inter-relação entre as mídias, as novas tecnologias e a sociedade através de uma interação entre as novas relações de comunicação e novas vias de informação, e como a sociedade faz uso desses meios. Espera-se que a presente pesquisa tenha contribuído para o debate em torno das novas tecnologias e suas implicações para a sociedade, através dos meios de comunicação que trazem consigo a possibilidade de refletirmos sobre a nossa realidade no ciberespaço e de como agimos diante dele, pois cada vez mais esse espaço virtual vai fazer parte do meu e do seu cotidiano. 66 6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALECRIM, Emerson. 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Ele seria caracterizado como um espaço virtual, não oposto ao real, mas que o complexificaria, público, imaterial, constituído através da circulação de informações. (Lévy, 1999:94, Manta e Sena, 1998 on-line). 2] eCMetrics é uma empresa de pesquisa e inteligência de mercado da América Latina, com sede nos Estados Unidos. A pesquisa eCMasterProfile-SL, encomendada pela Vázquez & Junqueira Arquitetos, foi realizada entre agosto e setembro de 2007, com 1.267 internautas, por meio de entrevistas on-line. [3] WWW significa World Wide Web e é o ambiente multimídia da internet, a reunião de texto, imagem, som, vídeo e movimento na internet. [4] "internetês" é a polêmica linguagem utilizada para "simplificar" o português – ou "comer” as letras. [5] Miguxês é o nome popular de um socioleto do idioma português, utilizado comumente por adolescentes lusófonos na internet e outros meios eletrônicos, como mensagens escritas de telefone celular. Seu nome deriva de miguxo, termo utilizado para "amiguinho". O miguxês conta com ortografia, vocabulário e estrutura próprios, não devendo ser confundido com o internetês – embora ambos os socioletos tenham origem comum, há diferenças entre eles, como: • Objetivo. O internetês enfoca a agilidade na escrita, reduzindo o número de teclas a se digitar por palavra. O miguxês enfoca numa aproximação escrita da fala infantil, considerada atraente e/ou engraçada. • Grupo. O miguxês é utilizado principalmente por adolescentes do sexo feminino, sendo muito menor a porcentagem de adolescentes do sexo masculino que o usam. O internetês, entretanto, é usado por ambos os sexos na mesma proporção, e inclusive por não-adolescentes. • Local. Embora ambos os socioletos coexistam em mensagens instantâneas de celular e internet, o internetês encontra maior uso em jogos on-line e canais de bate-papo que o miguxês. 73 [6] O termo scrap (recado) tornou-se tão popular que é comum ouvir um ou outro dizer, por exemplo: "você recebeu o scrap que mandei ontem?" ou "ainda não respondi ao seu scrap". Cabe aos usuários, destinatários ou autores dos scraps, a sua eliminação ou manutenção. Muitos os eliminam para manter a privacidade. Outros os mantêm como "índice de popularidade". Existem várias formas de se "manter popular", e cabe a cada um como fazer isto. [7] Totem é qualquer objeto, animal ou planta que seja cultuado como deus ou equivalente por uma sociedade organizada em torno de um símbolo ou por uma religião, a qual é denominada totemismo. Por definição religiosa podemos afirmar que é uma etiqueta coletiva tribal, que tem um caráter religioso. É em relação a ele que as coisas são classificadas em sagradas ou profanas. Segundo Schoolcraft, analisando os termos dos totens tribais da América do Norte, diz que o totem: é na verdade um desenho que corresponde aos emblemas heráldicos das nações civilizadas e que cada pessoa é autorizada a portar como prova da identidade da família à qual pertence. É o que demonstra a etimologia verdadeira da palavra, derivada de 'dodaim', que significa aldeia ou residência de um grupo familiar. 74