Tecnologias associadas ao diagnóstico do Câncer de Mama

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Tecnologias associadas ao diagnóstico do Câncer de Mama
Tecnologias associadas ao diagnóstico do Câncer de Mama
Sérgio Furgeri¹, Silvia C. M. Rodrigues², Simone M. da Silva³
¹ Doutorando em Engenharia Biomédica - UMC
² Doutora em Engenharia Biomédia - UMC
3
Graduanda na Faculdade de Tecnologia de Indaiatuba
[email protected], [email protected],
[email protected]
Abstract. Breast cancer is the second most common cancer in the world. Early detection
and diagnosis can improve the quality of life of the patients. There are several
technologies available to assist medical professionals in the analysis of suspicious
lesions and regions of the breast. These tools seek to increase the accuracy of
diagnostic supporting functions that contribute to facilitate the analysis of images. This
article presents the various procedures involved in the diagnostic of breast and presents
some of the technologies used in these procedures. For this we present the main
concepts related to the diagnostic of breast cancer, as well as the procedures for the
preparation of a clinical diagnostic. Describes techniques such as mammography,
tomosynthesis, breast ultrasound, magnetic resonance and biopsy describing the
importance of the technological tools in this scenario. Presents some important features
found in software like CAD and its benefits in improving diagnosis of breast cancer. We
conclude that the technological resources, when used at the right time and in the right
way, can contribute to the early detection of breast cancer and reduce mortality.
Resumo. O segundo tipo de câncer mais incidente no mundo é o de mama. O
diagnóstico precoce pode impactar diretamente na recuperação e melhora da vida dos
pacientes. Existem diversas tecnologias disponíveis que auxiliam os profissionais da
medicina na análise de lesões e regiões suspeitas da mama. Essas ferramentas buscam
aumentar a acurácia do diagnóstico suportando diversas funções que contribuem para
facilitar a análise das imagens. Esse artigo apresenta os diversos procedimentos
envolvidos no diagnóstico da mama e apresenta algumas das tecnologias usadas nesses
procedimentos. Para isso são apresentados os principais conceitos referentes ao
diagnóstico do câncer de mama, assim como os procedimentos necessários para
elaboração de um diagnóstico clínico. Descreve técnicas como a mamografia,
tomossíntese, ultrasonografia mamária, resonância magnética e biópsia descrevendo a
importância da interversão das ferramentas tecnológicas nesse cenário. Apresenta
algumas funcionalidades importantes presentes em softwares do tipo CAD e seus
benefícios na melhoria do diagnóstico do câncer de mama. Conclui-se que os recursos
tecnológicos, quando utilizados no tempo certo e de maneira correta, podem contribuir
com a identificação precoce do câncer de mama e reduzir a mortalidade.
1. Introdução
De acordo com o INCA (Instituto Nacional de Câncer), o
segundo tipo mais frequente no mundo e o mais comum
respondendo por 22% dos casos novos anualmente. Estatísticas
sua incidência tanto nos países desenvolvidos quanto nos em
câncer de mama é o
entre as mulheres,
indicam aumento de
desenvolvimento. A
OMS (Organização Mundial da Saúde) registrou um aumento de 10 vezes nas taxas de
incidência de câncer de mama nas décadas de 60 e 70. O número de mortes em 2010
foi de 12.852, sendo 147 homens e 12.705 mulheres (INCA, 2012).
Segundo (SOUZA, 2012), a maior incidência do câncer de mama ocorre após os
35 anos. Como na maioria dos tipos de câncer, se descoberto em estágio inicial e
tratado corretamente, as chances de cura são muito boas, caso contrário, isto é, quando
o câncer é detectado tardiamente, os danos causados pela doença podem ser profundos
fisicamente, psicologicamente e socialmente. Independente do sexo, o câncer de mama
traz várias ameaças aos seus portadores. Um dos desafios, tanto para profissionais da
saúde quanto da tecnologia, é encontrar mecanismos para melhorar a acurácia do
diagnóstico e apresentar resultados mais precisos, contribuindo com o aumento da
qualidade de vida dos pacientes.
Diante desse cenário torna-se cada vez mais importante o desenvolvimento de
tecnologias que ajudem a realizar o diagnóstico de maneira precoce. Além de toda a
questão social, psicológica e do bem estar do paciente, um câncer detectado
precocemente permite reduzir custos, já que um tratamento no estágio inicial da
doença representa menores investimentos de tempo e recursos.
Esse artigo descreve alguns procedimentos e tecnologias associadas que podem
ajudar médicos a identificar mais facilmente anormalidades na mama. Serão citados
alguns equipamentos de hardware e ferramentas de software.
2. Diagnóstico do Câncer de Mama
O aparecimento do câncer de mama está associado a alguns fatores de risco.
Dentre os principais, podem ser citados: fumo, sedentarismo, dieta inadequada, vírus
(papiloma vírus e vírus da hepatite B) e exposição solar. Esses fatores são
responsáveis por aproximadamente 80% dos tumores (TUCUNDUVA, et. al., 2004).
Além disso, existem também os fatores genéticos e hereditários. A observação e o
acompanhamento desses fatores estão associados ao primeiro tipo de prevenção,
denominada prevenção primária. Outro aspecto importante se refere ao autoexame,
procedimento que pode ser realizado pelo próprio paciente e fundamental para o
acompanhamento da evolução de possíveis lesões.
Outro tipo de prevenção, e que mais nos interesse nesse artigo, se refere a
prevenção secundária, uma prevenção que requer procedimentos para identificar
lesões precocemente, aumentando as chances de cura e a melhora na sobrevida dos
pacientes. Por isso, a identificação desses procedimentos relacionados ao diagnóstico
do câncer de mama e o estudo das tecnologias associadas tornam-se fundamentais
(SCLOWITZ, et. al., 2005). Apesar de nosso foco recair sobre a prevenção secundária,
é importante salientar que a combinação dos dois tipos de prevenção pode reduzir
consideravelmente a incidência de câncer.
Existem diversos procedimentos (ou estágios) envolvidos na detecção e controle
do câncer de mama, dentre os quais citam-se: o diagnóstico clínico, a mamografia, a
ultrassonografia, a ressonância magnética e a biópsia. Esses procedimentos aparecem
na Figura 1.
Figura 1 – Procedimentos para detecção e controle do câncer de mama
Uma rápida interpretação do diagrama da Figura 1 pode ser assim descrita:
quando um novo caso é aberto o médico avalia inicialmente o estado clínico do
paciente, realizando um exame físico. Ao constatar qualquer tipo de irregularidade ou
suspeita, novos exames são solicitados. O exame solicitado inicialmente normalmente
é a mamografia, mas, outros exames podem ser solicitados para concluir o
diagnóstico. Quando existe a necessidade de informações adicionais, o médico poderá
solicitar diferentes exames, não necessariamente na ordem em que eles aparecem na
Figura 1. Portanto, cada um desses procedimentos representa diferentes formas de
investigação complementares. O número e a sequência dos procedimentos podem
variar dependendo do estado do paciente e da compreensão médica.
A seguir, serão descritas as características de cada um desses procedimentos e
sua importância para o diagnóstico, descrevendo algumas tecnologias associadas.
2.1. Diagnóstico Clínico
Como já descrito, quando um paciente vai ao médico a primeira coisa realizada é
o exame físico do ponto de vista clínico. Nesse procedimento são coletados dados
iniciais a respeito do paciente, principalmente no que se refere a prevenção primária.
Verificando a literatura, parece não existir um padrão de quais dados devam ser
coletados na avaliação clínica, ficando a critério do médico avaliador. A partir desse
exame clínico inicial, o médico verifica a necessidade de exames adicionais.
O Sistema de Informação de Câncer de Mama (SISMAMA), um subsistema do
SUS (Sistema Único de Saúde), é destinado a registrar diagnósticos e fornecer laudos.
Ele arquiva as informações referentes aos diversos tipos de rastreamento (os
procedimentos aqui citados) e mantém diagnósticos do câncer de mama (INCA, 2012).
Um resumo dos dados coletados pelo SISMAMA aparece na Tabela 1.
Tabela 1 – Informações do laudo no SISMAMA (Fonte: adaptada INCA, 2011).
CAMPOS 1 ATÉ 4 – INFORMAÇÕES SOBRE A PACIENTE
1. Tem nódulo ou caroço na mama?
2. Apresenta risco elevado para câncer de mama?
3. Antes desta consulta, teve as mamas examinadas por um profissional de saúde?
4. Fez mamografia alguma vez?
CAMPOS 5 E 6 – INDICAÇÃO DO EXAME
5. Mamografia diagnóstica
5a. Lesão palpável: localização; Nódulo: localização; Espessamento:localização;
Linfonodo suspeito.
5b. Controle radiológico de Lesão. Lesões: Nódulo, microcalcificações, assimetria focal,
assimetria difusa, área densa, distorção focal.
5c. Lesão com diagnóstico de câncer. Lesões: Nódulo, microcalcificações, assimetria
focal, assimetria difusa, área densa, distorção focal.
5d. Avaliação de resposta à quimioterapia neoadjuvante
6. Mamografia de rastreamento
CAMPOS 7 ATÉ 11 – ANAMNESE (Preenchidos na Clínica Radiológica)
7. História menstrual
8. Usa hormônio/remédio para tratar menopausa?
9. Você está grávida?
10. Fez radioterapia na mama? Em que ano?
11. Fez cirurgia de mama? Em que ano? Mama direita e mama esquerda?
2.2. Mamografia
A mamografia é um dos procedimentos mais utilizados para detecção precoce do
câncer de mama (SOUZA, 2012). De acordo com o FDA, órgão americano de
vigilância sanitária, a mamografia permite identificar lesões na mama até dois anos
antes de ela ser palpável. Por outro lado, existem profissionais que consideram que a
mamografia é prejudicial e não deve ser usada (KERR, 2013).
A capacidade da mamografia em detectar o câncer de mama varia
principalmente em função da densidade mamária (tecido adiposo). A sensibilidade da
mamografia é inversamente proporcional a densidade, ou seja, quanto maior for a
densidade da mama menores são as chances de encontrar lesões. Isso ocorre porque na
imagem mamográfica a densidade se mistura (ou sobrepõe) às lesões (KELMER, et.
al., 2007). Por causa dessa limitação, outros métodos têm sido investigados e incluem,
principalmente, ultrassonografia e a ressonância magnética.
A mamografia é realizada por meio de um aparelho chamado mamógrafo, um
aparelho comum de raio X. Possui basicamente duas placas, no meio da qual o
paciente encaixa a mama e a mesma é comprimida tanto no sentido vertical quanto no
horizontal. Essa compreensão gera desconforto, mas reduz a superposição de tecidos e
a aumenta as chances de descoberta de pequenos nódulos (SOUZA, 2012).
Existem atualmente dois tipos de mamografia: a convencional e a digital. Na
convencional as imagens são gravadas em um filme (CHALA e BARROS 2007). O
exame demora cerca de 30 minutos, porém quando a imagem não é satisfatória o
exame tem que ser refeito e o paciente é exposto novamente a radiação. Na
mamografia digital existe a presença de um receptor digital e um computador ao invés
de um filme. Na mamografia digital a imagem é capturada por um detector eletrônico
especial de raios X que converte a imagem numa foto digital. A mamografia digital é
realizada de forma mais rápida, diminuindo assim a exposição do paciente a radiação
(PEREGRINO, et. al., 2012).
Um estudo relatado em (CHALA e BARROS 2007) comparou a mamografia
convencional com a digital em 42.760 mulheres e concluiu que a acurácia geral da
mamografia convencional e da digital no rastreamento do câncer de mama foi similar.
Não há nenhum consenso em relação a um uso preferencial da mamografia digital ou
convencional, mesmo em subgrupos específicos de mulheres onde a digital seria mais
indicada. A Tabela 2 mostra as principais tecnologias utilizadas nos dois tipos de
mamografia citados.
Tabela 2 – Tecnologias Utilizadas na Mamografia Convencional X Digital
Recursos
Mamógrafo
Imagem
Filme Ecran
Revelador e Fixador
Computador
Convencional
Sim
Sim
Sim
Sim
Não
Digital
Sim
Sim
Não
Não
Sim
O uso da tecnologia digital no campo da Mamografia e o desenvolvimento de
técnicas de computação, possibilitou o surgimento de novas aplicações, entre elas a
obtenção de imagens tomográficas da mama através da Tomossíntese.
2.2.1. Tomossíntese
A Tomossíntese Digital Mamária representa o que há de mais novo em termos
de mamografia. Conhecida também como mamografia 3D ou mamografia
tomográfica, é uma tecnologia que gera imagens da projeção bidimensional da mama
comprimida, obtidas em diversos ângulos, durante o deslocamento em arco de um tubo
de raios X (BELFER, 2012).
Baseada na mamografia digital, a Tomossíntese permite uma melhor observação
dos tecidos sobrepostos, em especial quando a densidade mamária é alta (AZEVEDO,
2011). Segundo (MATUSIAK, 2013), a Tomossíntese é uma mamografia 3D que
proporciona uma melhoria significativa no diagnóstico de câncer de mama,
aumentando a acurácia do exame.
2.3. Ultrassonografia mamária
A ultrassonografia é o principal procedimento aliado da mamografia na detecção
e no diagnóstico das doenças mamárias (CHALA e BARROS 2007). Como já citado
anteriormente, esse procedimento é recomendado quando deseja-se informações mais
claras que não foram obtidas no exame físico, nem na mamografia, em especial
quando a densidade da mama é alta.
A ultrassonografia mamária funciona de forma similar ao sonar de submarinos,
isto é, quando uma onda sonora encontra um objeto, ela volta e reproduz um eco. Por
meio desse eco é possível determinar algumas características de um objeto, tais como
sua distância, forma, tamanho, consistência. Essas ondas sonoras são captadas,
convertidas e mostradas na tela de um computador. A ultrassonografia pesquisa o
fluxo sanguíneo através dos vasos, uma técnica que permite verificar se existe
vascularização em um nódulo mamário, uma informação adicional não detectada pela
mamografia.
Para realizar o exame um gel transparente é aplicado sobre a mama a ser
examinada para auxiliar na condução do som. Isso evita que o ar prejudique a
passagem do som, garantindo o contato entre a pele e o transdutor (a sonda que emite
as ondas sonoras). Durante o exame, o médico desliza o transdutor sobre a mama em
várias posições, garantindo que todo o tecido mamário esteja sendo analisado. De
forma geral, a ultrassonografia é indicada principalmente para exame de mamas com
próteses, análise de microcalcificações, exames de mamas alteradas em função da
radioterapia e direcionamento de biópsias em nódulos.
As principais tecnologias utilizadas para realizar a ultrassonografia são: um
computador contendo um software de ultrassom e o transdutor de alta frequência (o
sonar). As imagens captadas pelo transdutor são armazenadas para posterior avaliação.
2.4. Ressonância Magnética da mama
A ressonância magnética das mamas pode ser utilizada como um procedimento
adjunto da mamografia e da ultrassonografia na caracterização e no diagnóstico de
lesões ocultas, possuindo uma alta sensibilidade na detecção do câncer de mama
(CHALA e BARROS 2007).
De acordo com a SBM (Sociedade Brasileira de Mastologia), a ressonância
magnética da mama combina campos magnéticos e ondas de rádio para obter imagens
tridimensionais. Ao contrario da mamografia, a ressonância magnética é um exame
sem radiação, no entanto, não substitui a mamografia e também não pode garantir se a
lesão é maligna ou não.
O equipamento tecnológico para realizar a ressonância magnética consiste de
uma máquina grande e em forma de tubo. Ele cria um forte campo magnético ao redor
do paciente para capturar as imagens. Computadores são usados para formar uma
imagem bidimensional ou tridimensional, dependendo do equipamento.
2.5. Biópsia da mama
A biópsia é realizada quando procedimentos anteriores sugerem que existe uma
área da mama suspeita e que pode ser câncer de mama. Esse procedimento consiste na
remoção de uma amostra de tecido para análise. Segundo (GINECO, 2013), existem
três tipos de biópsia e o médico escolhe a mais indicada para cada caso:

Por aspiração: nesse procedimento é usada uma agulha fina,
normalmente guiada por ultrassonografia, para retirar líquido do nódulo. Em alguns
casos podem ser retirados pedaços sólidos que serão analisados em laboratório.

Estereotáxica: nesse procedimento é usada uma agulha mais grossa
para remover vários cilindros de tecido. Pela natureza do exame, o paciente recebe
uma anestesia local.

Cirúrgica: nesse procedimento é feita uma cirurgia para remover todo
nódulo (ou parte dele) para análise laboratorial. Em alguns casos existe a necessidade
de se coletar amostras de tecidos sadios ao redor do nódulo.
De todos os procedimentos descritos anteriormente, a biopsia é a que garante um
resultado mais conclusivo referente ao câncer de mama, isso parece ser um consenso
entre diversos autores, principalmente quando existe a presença de lesões sólidas
(SOUZA, et. al., 2005). Os procedimentos anteriores são mais propensos a dois tipos
de erro: falso negativo, quando o câncer de mama está presente, mas foi diagnosticado
como normal e falso positivo, quando foi diagnosticado como câncer de mama, mas na
verdade não é.
3. Softwares usados no processamento de imagens mamográficas
A análise do câncer de mama através do processamento de imagens é identificada
como uma tecnologia inovadora com grande potencial de impacto sobre o câncer de
mama (FERRARI, 1999). Existe um padrão criado nos Estados Unidos, utilizado para
uniformizar os relatos de radiologia quando se analisam as imagem de mamografia, esse
padrão chama-se BI-RADS (Breast Image Reporting and Data System). No artigo
(GARCIA, 2009), é apresentado o desenvolvimento de um sistema para a detecção
automática da assimetria e a classificação da densidade mamária de acordo o BI-RADS.
Existem diversos tipos de softwares voltados ao processamento e análise de
imagens para auxiliar médicos no diagnóstico das doenças mamárias com uma
segunda opinião. O objetivo é colaborar na identificação precoce do câncer de mama,
reduzindo o sofrimento e, consequentemente, o número de óbitos. Os softwares são
importantes porque auxiliam os profissionais na conclusão do diagnóstico final ou
mesmo indicando uma região que necessite maior observação ou cuidado pelo
profissional.
Existem duas aplicações de sistemas CAD (Computer-Aided Detection). Uma
delas é o auxílio à detecção de lesões, a partir de padrões anormais através de
varredura da imagem pelo computador e o outro é o auxílio ao diagnóstico através da
quantificação de características da imagem e sua classificação como correspondendo a
padrões normais ou anormais (AZEVEDO-MARQUES, 2001). Calas, Gutfilen e
Pereira (2012) afirmam que estudos clínicos "têm demonstrado que o CAD aumenta a
sensibilidade de detecção do câncer da mama, por radiologistas, em até 21%". O uso
do CAD permite que uma dupla varredura seja realizada, já que tanto o ser humano
quanto a máquina podem buscar anormalidades na imagem. Isso é muito útil por
prover uma segunda opinião, em especial quando a presença de um segundo
especialista não é possível. Apesar disso, o papel do CAD não é substituir o
observador humano, mas apenas auxiliá-lo.
Dentre os principais recursos no processamento de imagem, destacam-se: alterar
atributos na imagem (contraste, filtro, etc.), isolar áreas, aplicar zoom para análises
mais detalhadas de regiões suspeitas, comparar imagens de lesões com padrões
armazenados previamente em base de dados. Atualmente existem diversos softwares
para reconhecimento de padrões em imagens, sendo possível identificar nódulos e
calcificações presentes numa imagem mamográfica, alguns automáticos outros semi
automáticos. Algoritmos capazes de se observar, analisar e/ou quantificar a presença
de massas, ou microcalcificações, análises de texturas, nódulos, densidades (BAKER,
2003).
Alguns exemplos recentes de trabalhos direcionados ao diagnóstico de imagens
relacionadas ao câncer de mama, encontrados na literatura são:

MeVisLab – Ferramenta livre utilizada para o processamento de
imagens digitais, permitindo a exploração de imagens médicas, inclusive de
mamografia. Com ela é possível importar uma imagem a ser analisada, realizar seu
processamento (limitar, ampliar, por exemplo) e visualizar o resultado (SILVA e
LIMA, 2010). Permite também realizar a segmentação de uma região de interesse na
imagem (o tumor) e extrair o contorno externo da mama (GRANJA e LIMA, 2009).

Transformada Wavelet (TW) - Ferramenta matemática para análise de
sinais que decompõem a imagem em sinais de diferentes frequências, permitindo a
detecção desses objetos através de sua frequência em diferentes níveis de resolução.
Com isso ela é capaz de fornecer uma representação global do sinal, o que permite
uma visualização mais específica da imagem (DÓCUSSE et. al., 2007). Criada em
1984, possui grandes aplicações na análise de sinais digitais e compressão de imagens.
De acordo com (ELPÍDIO, 2012) vários estudos relatam a eficiência do uso de
Wavelets para detectar calcificações.

ImageJ – Ferramenta para edição de imagens desenvolvido em Java. O
sistema tem uma interface intuitiva como um editor de imagens convencional. Por ser
uma ferramenta livre, e possuir código fonte aberto, permite a sua modificação e
inclusão de novos plugins (existem mais de 500). Trata-se de um software muito útil
na manipulação de imagens de mamografias, pois permite o processamento e a análise
dessas imagens, tais como controle de contraste, nitidez, suavização, etc (POEL, et.
al., 2007). O software é multithread, permitindo executar duas ou mais tarefas
simultaneamente. Isso é importante principalmente no processamento de operações
mais demoradas (SANTANA, 2010). Ele está disponível on-line.
Ao pesquisar a literatura recente, constata-se também o surgimento de diversas
iniciativas para disponibilizar serviços na Web relacionados ao diagnóstico do câncer
de mama. Essas iniciativas acontecem em várias partes do globo e tem o objetivo de
auxiliar especialistas em radiologia, disponibilizando informações relevantes online a
respeito das imagens mamográficas. Diagnósticos realizados em diferentes hospitais
podem, por exemplo, ser integrados em uma base de dados única e disponibilizados
para consulta entre as unidades conveniadas. Da mesma forma, essas ferramentas
pretendem atuar no treinamento de profissionais iniciantes, tais como estudantes ou
radiologistas residentes, fornecendo um ambiente adequado para realização de
diagnósticos e avaliação de desempenho. Apenas como exemplo, alguns desses
trabalhos podem ser vistos em Elias et al. (2009), Martí et al. (2011), Kitanovski et al.
(2011), Suapang et al. (2012) e Mata et al (2012).
Observa-se que cada software possui uma funcionalidade específica, isto é, cada
um possui um diferencial, um ponto forte. Sendo assim, a combinação de diferentes
tecnologias pode contribuir para aumentar a precisão do diagnóstico de mamografias
(RODRIGUES, 2008; 2012), já que ainda não dispomos um único software com todas
as funcionalidades aqui mencionadas.
4. Conclusão
Com base nas pesquisas realizadas, nota-se claramente a importância exercida
pela tecnologia no auxílio ao diagnóstico dos exames mamográficos. Seja qual for o
procedimento realizado no paciente, o uso de equipamentos tanto de hardware como
de software melhora muito o processo e a tomada de decisão.
A utilização da tecnologia na investigação de problemas associados a mama,
contribui cada vez mais para auxiliar os especialistas da área no aumento da acurácia
dos diagnósticos. Em termos de realizada brasileira, em que a maioria das clínicas e
hospitais continua ainda a utilizar a mamografia convencional, é muito otimista
imaginar que a mamografia digital, ou ainda a 3D, irá melhorar o cenário na prevenção
do câncer de mama em curto prazo. Em função disso, torna-se necessário fazer o
melhor possível usando os recursos disponíveis no momento.
Os softwares apresentados dão suporte a recursos fundamentais necessários a
obtenção do diagnóstico final, esses recursos podem ser resumidos em: alterar
atributos na imagem, isolar áreas, aplicar zoom para análises mais detalhadas,
comparar imagens de lesões com padrões armazenados previamente, analisar e
transmitir dados de maneira remota, varrer a imagem em busca de anormalidades e
manter o histórico e a evolução do paciente. Como o uso de softwares CAD melhora a
eficácia dos radiologistas na determinação de anormalidades, tanto em exames de
mamografia, ultrasonografia e ressonância magnética, isso pode representar uma
redução na necessidade de biopsia, já que alguns exames classificados como normais
pelo software podem diminuir a necessidade de procedimentos invasivos. Nota-se
claramente que cada tipo de procedimento tem seus pontos fortes e restritivos, fato que
exige a utilização de mais de um exame para compor o diagnóstico final.
Em termos de software, torna-se necessário agregar o maior número de
funcionalidades possíveis, aumentando as chances de detecção de anormalidades, uma
ferramenta que esteja disponível ao especialista. Nesse momento, conforme
apresentado no presente artigo, busca-se cada vez mais disponibilizar-se serviços
online para auxiliar no diagnóstico, não apenas do câncer de mama, mas de outras
doenças. Mesmo assim, apesar de todos os benefícios do uso da tecnologia, é de vital
importância que os especialistas sejam treinados e, principalmente, saibam utilizar os
recursos corretamente. Somente assim, os diagnósticos serão mais precisos e,
consequentemente, anormalidades serão mais previamente detectadas e vidas serão
salvas.
5.
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