A violência contra a mulher

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A violência contra a mulher
A violência contra a mulher
Ilustração: Granville (Jean-Ignace-Isidore Gérard) – H. Fournier Éditeur, Paris, 1845. Fonte:
Wikimedia Commons.
Ocasionando acaloradas discussões entre diversos grupos, o tema da redação do Enem
2015, “a persistência da violência contra a mulher na sociedade brasileira”, provocou
opiniões binárias do que parecia se dividir entre “direita” e “esquerda”. Mas, afinal, como
sugeriram alguns, esse tema é doutrinador? É um tema pertinente?
Temas de redações dificilmente são doutrinadores. O que é doutrinado ideologicamente ou
não é a opinião individual dos alunos sobre o assunto. A violência contra a mulher existe, no
Brasil e no mundo, e a razão disso é a crise de valores morais que passa nossa sociedade.
Em contrapartida, a frase da feminista de segunda onda, Simone de Beauvoir, em uma
questão no primeiro dia da prova, convidava os vestibulandos a uma reflexão com viés
feminista sobre o tópico, cuja linha coloca a desigualdade de gênero como principal origem
do problema.
Desde a constituição da burguesia, no início da modernidade, nos solidificamos como uma
cultura materialista, cujo valor ao capital supera o valor às virtudes e à ética. Isto foi
transposto aos relacionamentos humanos, e passamos, progressivamente, à tendência de
objetificar as pessoas, como se elas fossem parte dos bens materiais que temos e
adquirimos.
Dessa linha de perda de bases morais para bases materiais, advém a transformação do amor
conjugal em sentimentalismo: o “amor” torna-se simples emoção volúvel e efêmera. Um
casal que tem como fundamento esse tipo de apego, sem analisar certas condições racionais
para a união, tenderá a não ter como valor cotidiano a doação mútua no matrimônio, mas o
uso dos próprios vícios para destruir a si e ao outro, abrindo caminho para a violência
doméstica.
Todavia, sem considerar essas e outras questões de diversas esferas tão necessárias e
pertinentes para se entender a problemática, surge o feminismo com a visão unilateral de
que homens são sempre potencialmente agressores e mulheres são sempre potencialmente
vítimas. Tal ideologia, travestida de busca por igualdade de gênero, ignora as diferenças
biológicas e psicológicas de homens e mulheres e, ao invés de utilizar-se dessas para
potencializar a vida em sociedade, promove uma constante luta de classes entre ambos. Na
realidade, o feminismo, especialmente a partir de sua segunda onda, reforça a visão
materialista, e inverte o comportamento que critica como machista, objetificando os homens
ao enxergá-los como possíveis agressores.
A resposta feminista para a questão da violência contra mulher toma como premissa o ódio
entre os sexos, algo oposto à premissa ética de que na relação entre os indivíduos de uma
sociedade a base deve ser o respeito e o amor, este último entendido no sentido de doação.
Nos diversos séculos ao longo da história, as culturas que conheceram um alto padrão de
moralidade, como a judaico-cristã, foram as com menores índices de violência contra
mulher, e onde a figura feminina mais encontrou valorização. Como podemos retornar a
esse respeito às mulheres se nossa cultura se desmoraliza cotidianamente?
A violência contra a mulher existe e persiste? Sim. Mas o feminismo apresenta uma resposta
errada para um problema real. Uma solução correta deve considerar aspectos morais da
sociedade, de modo a permitir que os indivíduos sigam valores éticos de caridade,
fidelidade, amor ao próximo, bondade, honestidade, entre outros. O que lhe faz ser uma
pessoa boa? A polícia? As leis? Não, certamente você me responderá que são os seus
valores. É, pois, a restauração de moral e de virtudes que reformula uma sociedade e que
pode diminuir a violência, inclusive a contra a mulher.
■ ■ Letícia Maria Barbano escreve para o blog Modéstia e Pudor
(www.modestiaepudor.com) e coordena o IFE São Carlos.
Artigo publicado originalmente no jornal Correio Popular, edição de 22 de Novembro de
2015, Página A2 – Opinião.
* Nota dos Editores IFE: A autora possui um artigo científico sobre machismo,
patriarcalismo etc. que desmistifica muito do que tem sido dito nas universidades, na mídia
e em outros canais, artigo este que recomendamos a leitura:
MACHISMO, PATRIARCALISMO, MORAL E A DISSOLUÇÃO DOS PAPÉIS
OCUPACIONAIS
http://www.uftm.edu.br/revistaeletronica/index.php/refacs/article/view/1097
Tags: Equívoco, Feminismo, Ideologia, Mulher, Violência,
Fonte: IFE Campinas. Disponível em: http://ife.org.br/violencia-contra-mulher-leticia-barbano/