Esporte-lazer: Bem-estar social no aterro do Flamengo, Rio de

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Esporte-lazer: Bem-estar social no aterro do Flamengo, Rio de
Esporte-lazer: Bem-estar social no
aterro do Flamengo, Rio de Janeiro,
Brasil
Cayo Marcus Lames Silva1
Manoel José Gomes Tubino2
Federação Internacional de Educação Física (FIEP)
Recepción: agosto 2009
Aprobación: octubre 2009
Resumo: Foi realizada uma abordagem descritiva, analisada de forma
pp.67-132
qualitativa, com base etnográfica interpretativo. Quanto ao método de
interpretação, o conteúdo obtido, a partir da entrevista semi-estruturada
concebida (12 entrevistados), foi utilizado como suporte a Análise de
Discurso – linha francesa, Pêcheux – de Orlandi (2003). Assim, através da
Análise de Discurso, pode-se apontar que a pratica do esporte-lazer do
entrevistado está intimamente ligado ao Prazer proporcionado e a busca por
uma Convivência harmoniosa, numa ambiência. A vitória ocorre através do
“ser permitido”1 realizá-la (autonomia) e na auto superação (técnica, física e
convívio). O “estilo de vida” deve ser de modo a 1 Não depende da própria
1
Graduação em Educação Física pelo Centro Universitário Moacyr Sreder Bastos
(1998). Pós Graduado em Ciência do Treinamento de Auto Nível (2002). Mestre em
Ciência da Motricidade Humana (2006). Delegado Adjunto da Federação
Internacional de Educação Física (FIEP), professor do Centro Universitário Moacyr
Sreder Bastos. Autor do livro: “Papai...Mamãe...o que é a ética?” Tem experiência na
área de Educação Física, com ênfase em Esporte e Identidade Cultural e Ética
Profissional em Educação Física. [email protected].
2
Especialização em Ensino Programado pela Pontifícia Universidade Católica do Rio
de Janeiro (1969) , mestrado em Educação pela Universidade Federal do Rio de
Janeiro (1976) , doutorado em Educação Física pela Universite Libre de Bruxelles
(1982) e doutorado em Educação pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (1988) .
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vontade.proporcionar, mesmo que provisoriamente, uma “liberdade”, que por
sua vez deve estar ligada, por múltiplos sentidos, com o “prazer”, pois sem
ele não existirá continuidade, entretanto, talvez, o mais interessante é que não
foi esquecida a importância da “convivência” (a mais associada dentre as
palavras indutivas).
Palavras-chave: Esporte-Lazer; Bem-Estar Social; Esporte; Aterro do
Flamengo
Abstract: A descriptive approach was accomplished and analyzed in a
qualitative way on an ethnographic interpretative basis. The content obtained
from a semi-structured interview was interpreted with the speech analysis aid
– French line, Pecheux - from Orlandi (2003).Therefore, through speech
analysis it can be pointed out that the interviewed one‟s sport leisure practice
is closely related to the pleasure provided and seek for harmonious living
together, ambience. The victory occurs through “being permitted”
(autonomy) and through self-overcoming (technique, physical and living).
The lifestyle must provide freedom at least temporarily and it must be related
through multiple senses to pleasure, because without it there won‟t be
continuity (flowing, accomplishing, practicing). However, the most
interesting is that the importance of living (the most associated among
inductive words) was not forgotten.
Keywords: Sport-leisure; Social well-being; Sport; Aterro do Flamengo.
1. Introdução
O Homem, intencionalmente ou não, está “sempre” procurando
atender suas necessidades. Essa afirmativa justifica-se desde a
Idade da Pedra, onde a vida deste Homem era em função da sua
obrevivência.
Avançando na história, reporta-se a necessidade de acumular
riquezas dos burgueses, que em sua época viveram a chamada
Revolução Industrial. Com o aproveitamento da velocidade das
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máquinas, surge a reivindicação de se utilizar um tempo
destinado à realização de algo de vontade própria; algo
prazeroso, em fim, o que viria a ser chamado de lazer, ou tempo
livre de lazer.
Sem contrariar a esses princípios do lazer, Tubino (2001)
percebe que dentre as dimensões sociais do esporte, ou seja, a
intencionalidade da utilização do esporte existe uma que respeita
e atende a esses princípios supracitados. Nomeando-a como
esporteparticipação ou esporte-lazer.
Acredita-se que este esporte-lazer realize uma contribuição ao
desenvolvimento social, atendendo as necessidades do contexto.
Assim, para compreender as necessidades dos praticantes do
esporte-lazer, deve-se considerar a atual civilização que se vive.
Após alguns processos civilizatórios (que nunca estarão
terminados), dentre eles a “sociedade do capitalismo ilimitado”
(Bourdieu, 1997), a “sociedade dos meios de comunicação de
massa” (Tubino, 2003. Informação Verbal) e a “sociedades dos
descartáveis” (Vargas, 2003. Informação Verbal), o lazer passa a
ser percebido como uma prática vital a existência humana. As
doenças silenciosas, como o stress, atacam cada vez mais os que
adotam um ritmo de vida frenético e sem a presença do prazer
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em
suas
vivencias,
atendendo
apenas
realizações
de
“subsistência financeira”3, ou ainda, de “ganância financeira”4.
Com a prática do esporte-lazer são realizadas intervenções
positivas nas vivencias dos seus praticantes.
O profissional de Educação Física intervêm, a partir da sua
atuação, nas áreas da educação (conforme contempla a Lei de
Diretrizes e Base) e na área da saúde (conforme resolução nº 218
de 6 de março de 1997), ganhando status de Interventor Social.
Há que se observar a influencia dessas áreas na transformação
do Ser Humano. Cabe evidenciar que, para este estudo, este
interventor social deve ser visto como o especialista da atividade
física, o orientador, mas não o condutor. Ele é o condutor da
recreação (atividades recreativas). O lazer deve ser regido pelo
princípio da opcionalidade (fazer e deixar de fazer quando bem
entender, sem compromisso com a obrigatoriedade, bem como a
escolha da atividade e mudança desta).
3
Refere-se à aceleração dos afazeres de trabalho diário em função de atender a
subsistência, ou seja, para sobreviver é preciso trabalhar horas a mais, seja no mesmo
trabalho, seja adquirindo trabalhos diferentes.
4
Refere-se a aceleração dos afazeres de trabalho diário em função de sempre almejar
mais, de acumular.
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Pensando o bem-estar social, esse pode ser atingido quando se
sacia uma ou mais carências sociais, transformando o individuo
a um estado, momentâneo, de prazer.
É um direito de todos. É a forma de um indivíduo expressar,
satisfações sob todas as formas, demonstrando a relação do
seu convívio na sociedade, portanto ser sociável. Neste
sistema estão inclusas as exigências naturais e espirituais do
homem. Buscando atender as necessidades vitais do grupo,
pois é através dos anseios e frustrações desses indivíduos
que se compõem uma sociedade (Meireles, 1976).
Assim, considerando o profissional de Educação Física como
um agente subsidiador da prática do esporte-lazer, e que esta
prática esportiva intervem de forma positiva na vivencia de seus
praticantes, surge a curiosidade científica de saber qual o bemestar proporcionados pela prática do esporte-lazer.
Visto que já fora detectado, em pesquisa (Cf. Lames, 2006),
numa análise “observacional direta” que o espaço da praia do
Aterro do Flamengo parece ser o mais democrático entre as
demais praias da Cidade. Logo, consta um favorecimento a
diversas classes econômicas e culturais, atendendo desta forma a
intenção do estudo que não pretendia focar particularidades em
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termos de classe, até por entender que a prática do esporte-lazer
deve ser oportunizado a todos.
Tendo em vista os reduzidos estudos realizados na dimensão do
esporte-lazer (regido por princípios bem definidos – Prazer;
Inclusão e Opcionalidade), que não é o mesmo que “esporte e o
lazer”, e consecutivamente o desconhecimento científico do
bem-estar que é proporcionado por essa pratica social-esportiva.
Essa redução e desconhecimento possibilitam o problema do
estudo.
Desta forma, esse estudo objetivou identificar o bem-estar social
proporcionado ao sujeito que realiza a prática do esporte-lazer
no espaço conhecido como Aterro do Flamengo.
2. Pensando o tema
O Ser humano está “inscrito numa pluralidade de relações
sociais e participando de uma pluralidade de identificações
coletivas” (Cunha, 1995, p.14), este ser é produto de uma
competição desde o primeiro ato anterior à vida – a fecundação
– entretanto a competição deve configurar principalmente a
“capacidade de transcender e transcendermo-nos a nós mesmo,
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não só do ponto de vista econômico ou político, mas também
cultural, ético e moral” (Ibid, p.14).
O saciar deste Homem será, em todo transcorrer da vida, o
objetivo maior de todo processo, pois este Ser encontra-se em
notável estado de carência, privação ou vacuidade.
A busca pela felicidade parece ser ininterrupta, todavia o que
sacia a carência, ou seja, faz atingir a felicidade, depende do
contexto que se está vivendo. Segundo Souza Santos (2003, p.9)
é extremamente diferente perguntar “pela utilidade ou pela
felicidade que o automóvel me pode proporcionar se a pergunta
é feita quando ninguém na vizinhança tem automóvel, quando
toda a gente tem exceto eu ou quando eu próprio tenho carro a
mais de vinte anos.”
Investigar essas e outras complexidades do Homem só será
possível e aceitável, quando for inteligível que o Homem é
produto e produtor do próprio Homem. Assim, “o homem
excede infinitamente o homem” (Pascal apud Cunha, 1995
p.28), isso nos dá uma idéia de quanto somos plural em nosso
processo de evolução, e ainda complementa, “o homem é de fato
um peregrino do Absoluto, porque viver é sentir a contingência
da nossa condição atual e [...] tentar supera-la!” (Ibid, p. 28).
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O valor da conduta motora (esporte na perspectiva de lazer) é
imputado à melhora da qualidade de vida, o suprimir de forma
positiva das carências e necessidades individuais de seus
praticantes, pois os mesmos são estimulados, a partir desta
prática, a interagir, a democratizar, a socializar, ao agir
eticamente, bem como o respeito dos atos morais. Este agir será
aproveitado, e respeitado, num agir intrapessoal, interpessoal, e
num agir em contato com a natureza.
A partir da pré-compreensão existente acerca do bem-estar
social, o estudo propõe elucida-lo quando este é originado da
prática do esporte-lazer, ou seja, uma compreensão subjetiva,
interpretando a cosmo visão destes.
Entende-se que o Bem-estar social não deve ser derivado de uma
comparação interpessoal, ele representa uma condição social
derivada de interpretações pessoais a circunstâncias contextuais
coletivas.
A abordagem de Bérgson-Samuelson “exige que o bem-estar
social de uma sociedade seja função do nível de proveito
desfrutado por cada indivíduo dentro dela” (Outhwaite &
Bottomore, 1996, p. 42).
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3. Dados metodológicos
O estudo foi delimitado ao espaço físico conhecido como Aterro
do Flamengo, situado na Zona Sul da Cidade do Rio de Janeiro.
Segundo Lames (2005) este espaço encontra-se no setor POM
(Praticantes da Orla Marítima), pela divisão, concebida em
estudo, feita da prática do esporte-lazer na Cidade do Rio de
Janeiro.
Foram pesquisados os praticantes das seguintes modalidades
esportivas: Corrida, Remo, Futvoley, Futebol (quadra e areia),
Patins, Voley, Tênis, Pesca, Skateboard e Frescobol. Estes
esportes, salvo melhor juízo, são os mais praticados no Aterro
do Flamengo.
Os praticantes investigados estão na classificação “Jovem
Adulto” (Papalia & Olds, 2000), ou seja, possuem entre vinte e
quarenta anos, são de ambos os sexos, e não foram feitas
distinções nas suas participações quanto a religião, raças ou
classe social.
O estudo justifica-se, pois cada vez mais o lazer é procurado
pela sociedade contemporânea. Talvez, devido ao volume de
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informações e tarefas cada vez maior, bem como o ritmo
frenético que estas são, obrigatoriamente, realizadas.
É mister informar que o estudo central deste artigo, com fins a
sustentação de sua justificativa, foi precedido de outros dois
estudos, com fins a uma sistemática delimitação do espaço a ser
pesquisado: “O esporte-lazer realizado na Cidade do Rio de
Janeiro: Uma abordagem dimensória” (Lames, 2005), onde
foram definidos setores de prática do esporte-lazer na Cidade do
Rio de Janeiro – idealizando a Orla Marítima como espaço
democrático; e “Análise Histórica Descritiva da Prática do
Esporte-Lazer nas Praias do Rio de Janeiro” (Lames, 2006),
onde, após uma análise observacional direta, pode-se identificar
peculiaridades quanto à inclusão e a opcionalidade (nãoobrigatoriedade e variedade) no Parque Brigadeiro Eduardo
Gomes (Aterro do Flamengo).
Esses componentes foram abordados “aleatoriamente”5, e só
participaram realmente da entrevista quando preenchiam as
condições delimitativas do estudo, ou seja: estavam na faixa
5
Atendendo, visualmente, na pré-compreesão, o perfil da faixa etária que o estudo
propunha, a intencionalidade da prática da atividade, o término da atividade, o
diversificar entre as modalidades, e o equilíbrio quantitativo entre o sexo masculino e
feminino.
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etária entre vinte e quarenta anos; realizavam suas práticas
esportivas segundo os princípios da dimensionalidade do
esporte-lazer (prazer lúdico, opcionalidade e inclusão); e
praticavam suas modalidades pelo menos três vezes por semana;
e já praticavam a pelo menos 3 meses.
A entrevista semi-estruturada colheu informações de 12
praticantes, sendo 6 do sexo feminino e 6 do masculino.
O estudo do jovem adulto, para este artigo, é pertinente pois
contribui para o entendimento desta fase, do Ser, neste momento
da sua vida. Assim, compreender a percepção do bem-estar
social do praticante do esporte-lazer perpassa pela caracterização
deste ente, e que devem ser consideradas.
Este é o momento, na vivencia do Ser humano, que sua saúde
física atinge o ápice e começa a reduzir. As habilidades
cognitivas assumem maior complexidade. As decisões acerca
das profissões e do relacionamento íntimos são tomadas, ou seja,
as decisões que promoverão um novo caminhar. Contribuindo
com o aumento da responsabilidade, a maioria dos casais já têm
filhos ou aguardam sua chegada.
Segundo Papalia e Olds (2000, p. 370) Jovem Adulto é a fase
compreendida entre 20 e 40 anos, e nesta fase “elas tomam
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decisões que as ajudam a determinar sua saúde, sua carreira e o
tipo de pessoa que desejam ser”.
Quanto à esfera laboral, acredita-se que na sociedade
ontemporânea brasileira, o jovem adulto venha sendo exigido
(por sua necessidade
– condição econômica, ou pela
obrigatoriedade imposta pelo empregador), progressivamente,
cada vez mais a longínquas jornadas de trabalho. “Também é
possível que os empregados mais jovens tendam a ter trabalho
mais desagradável e estressante ou que empregados mais velhos
tenham maior probabilidade de já ter abandonado um emprego
do qual não gostavam” (Forteza & Prieto, 1994, Rhodes, 1993,
Warr, 1994, apud Papalia & Olds, 2000, p.394).
“O trabalho afeta a vida cotidiana, não apenas no emprego mas
também em casa, e proporciona tanto satisfação quanto
estresse”. (Papalia & Olds, 2000, p.396). Faz-se evidente o
necessitar do tempo livre de lazer, que pode ser saciado pela
prática do esporte-lazer.
Considerando que as carências de um ente do Ser do Homem,
que realiza o esporte na intencionalidade do lazer, são sempre
em função de melhorar ou equilibrar os estados físicos ou
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biológicos, psíquicos, sociais, ético e moral, pode-se então
considerar que esta realização estará voltada a saúde.
4. Levantamento das prováveis categorias do bem-estar
social ao praticante do esporte-lazer na região do aterro do
Flamengo
Conforme já enunciado, o bem-estar social de uma sociedade
deve ser “função do nível de proveito desfrutado por cada
indivíduo dentro dela” (Outhwaite & Bottomore, 1996, p. 42).
Assim, quais seriam as categorias de bem-estar aproveitadas
pelo praticante do esporte-lazer? Para responder tal questão, foi
elaborada uma pesquisa.
Foram sugeridas nove (09) prováveis categorias do bem-estar
social adquiridas quando se realiza a prática do esporte-lazer.
Pediu-se que fossem numeradas em ordem crescente, a começar
pela mais importante – conforme a concepção de cada um dos
Doutores e Mestres pesquisados. Além das nove categorias
sugeridas, foram disponibilizados cinco (05) espaços como
opções a serem preenchidas caso o colaborador identificasse
uma outra categoria não listada.
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Após o somatório das pontuações, surgiram as quatro categorias
que, segundo a opinião dos colaboradores, são as que melhor
representam em termos de importância o bem-estar social ao
praticante do esporte-lazer. Representadas por: Convivência
Humana (85 pontos); Estilo de vida/Qualidade de vida (81
pontos); Prazer (78 pontos); e Liberdade (74 pontos).
As quatro prováveis categorias, depois de eleitas, serviram de
norte a elaboração do roteiro de entrevista com a finalidade de
serem identificadas, de que forma e porque, bem como sua
representatividade aos praticantes do esporte-lazer do Aterro do
Flamengo.
5. Pesquisa de campo
O instrumento utilizado no estudo foi um roteiro de entrevista
(entrevista semiestruturada – em anexo), onde a captação do
conteúdo a ser analisado foi registrado num gravador de fita K7.
O roteiro de entrevista foi composto por quatro etapas: 1Abordagem (uma pergunta/apresentação); 2- Identificação do
entrevistado (sete perguntas); 3- Filtro (quatro perguntas, sendo
uma de assinalar alternativas - anexo); e 4- Perguntas
Específicas (doze perguntas).
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O roteiro confeccionado foi validado por sete professores
especialistas no assunto.
Dentre eles evidenciam-se três pesquisadoras, que realizam suas
práticas sobre a forma de entrevista e utilizando, para o
tratamento dos dados, a Análise de Discurso da linha de Eni
Orlandi.
No intuito de não obter uma visão unilateral, tal roteiro foi
submetido a um professor pesquisador, que pode contribuir com
seus conhecimentos na área social, mais especificamente cultura social urbana.
Por se tratar de uma atividade de lazer, um momento de
realização própria e privacidade, acreditava-se que alguns
praticantes poderiam se sentir incomodados, invadidos, ou
mesmo agredidos, com a abordagem, desta forma, objetivando
garantir a continuidade da pesquisa, a explicação aos praticantes
foi no intuito de conquistar a atenção e a confiança, enfatizando
o cunho científico e sua importância.
O procedimento de uma “abordagem” semi-estruturada faz-se
importante por tratar de padronizar a mensagem que se pretende
passar. Antes de coletar um conteúdo para o tratamento de uma
Análise
de
Discurso
(AD),
é
preciso
perceber
que,
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empiricamente, o produtor do discurso fará uma AD no seu
primeiro contato com ele (abordagem). Essa idéia pode ser
compreendida na chamada “relação de forças”. “Segundo essa
noção, podemos dizer que o lugar a partir do qual fala o sujeito é
constitutivo do que ele diz. Assim, se o sujeito fala a partir do
lugar de professor, suas palavras significam de modo diferente
do que falasse do lugar de aluno” (Orlandi, 2003, p.39).
Num outro momento, já fora do ambiente de entrevista, a
gravação das entrevistas foi transcrita de forma mais fiel
possível procurando preservar as interlocuções.
Ainda como estratégica metodológica, foi empregada a técnica
da Análise de Discurso (AD) estudada por Eni Puccinelli
Orlandi (2003).
Atentou-se para os comportamentos dos entrevistados, conforme
sugeri esta técnica, levando-se em conta as verbalizações, o
silêncio, as hesitações, os risos, os lapsos e a má vontade,
registrados em função de sustentarem as análises.
Repensando o campo da linguagem, o que a Análise de Discurso
questiona é o que é deixado para fora, no campo da lingüística: o
sujeito e a situação. É preciso entender que existe uma
construção em conjunta do social com o lingüístico. “Melhor
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ainda, defini-se o discurso como um objeto social cuja
especificidade está em que a sua materialidade é lingüística”
(Ibid, p.27).
Acredita-se que exista relevância, no trato metodológico, ao
utilizar a Análise de Discurso, em pesquisas sociais, pois “é no
discurso que o homem produz a realidade com a qual ele está em
relação” (Ibid, p. 39).
Tal tratamento contempla, ainda, o conceito de contexto aos seus
resultados.
Ela
“confronta-se
com a
noção
tradicional
(hermenêutica) da interpretação e produz um deslocamento no
que é ler o arquivo hoje” (Pêcheaux, 1982, apud Orlandi, 2004,
p. 41).
6. Esporte
Desde sua época mais primitiva, as atividades físicas, que mais
tarde viriam se tornar modalidades esportivas demonstrava sua
capacidade
de
promover
uma
intervenção
social.
Sua
representatividade a vida social se deu paralelamente à formação
das civilizações. O “Cong-Fou” e o Jiu-jitsu, através do caráter
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guerreiro e utilitário, serviram de defesa aos feudos, bem como a
educação corporal.
Estava primitivamente reservado aos samurais, casta de
guerreiros, como já vimos repousando cada vez mais sôbre
conhecimentos de mecânica humana, descobrindo os
segredos da anatomia do homem e desvendando os mistérios
da fisiologia, o jiú-jitsú torna os samurais invencíveis nas
lutas corpo a corpo (Accioly & Marinho, 1956, p.38).
Conforme Ramos (1982, p.56) relata alguns povos e suas
atividades, com modalidades esportivas conhecidas nos dias de
hoje: “Lacrosse, espécie de hóquei […] prática recreativa dos
índios norte-mericano”; os maias e astecas com o “jogo de
pelotas […] semelhante ao atual basquetebol”.
A arte egípcia, cheia de majestade e beleza, revela, por meio
de preciosos testemunhos, que a prática dos exercícios
físicos, muito antes dos milagres gregos, ocupou importante
lugar na brilhante civilização que floresceu na terra dos
faraós. A luta livre, o boxe, a esgrima com bastão,
disputando primazia com a natação e o remo, foram, talvez,
os desportos de maior aceitação. Os romanos, mais tarde,
aperfeiçoaram muitos golpes egípcios e estabeleceram regras
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de competição, criando assim a luta greco-romana (Ibid,
p.17).
Na Grécia antiga, o mais importante não era a vitória esportiva,
mas o preparo a cidadania. Deve ser lembrado que era
considerado cidadão aqueles que defendiam e lutavam pela sua
cidade. Em Lachés II, Aristóteles (apud Pereira, 1960, p.42)
mostra duas atividades, de caráter guerreiro, que devem ser
praticadas em função de resguardar a cidade: “A prática da luta,
do pugilato, e, sobretudo da esgrima, devem ser preconizadas,
não para obter uma vitória desportiva, mas para o treino do
indivíduo e para o maior de todos os concursos, - a defesa da
Pátria”.
Numa análise mais contemporânea, o livro “O que é esporte”, do
professor Manoel J. G. Tubino, explica que durante longo
período o esporte foi compreendido pela valorização do
rendimento. Desta forma, na tentativa de ampliar esta
compreensão, surgiram três movimentos: “o da intelectualidade
inconformada com os rumos perversos que o esporte vinha
tomando; o dos organismos internacionais ligados ao esporte,
que passam a publicar manifestos; e o Trimm [...] Esporte para
Todos” (Tubino, 1999, pp. 24-25). Em comum, os três
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movimentos, pareciam desejar atender as idéias de ampliação
em defesa do esporte como “Direito de Todos”.
Em 1978 a UNESCO (Organização das Nações Unidas para a
Educação, a Ciência e a Cultura) lança a “Carta Internacional da
Educação Física e do Esporte”, onde em seu primeiro artigo
estabelece que “A prática da Educação Física e do Esporte é um
direito fundamental de todos”, embasado nos seguintes itens:
(a) é indispensável à expansão das personalidades das
pessoas; (b) propicia meio para desenvolver nos praticantes
aptidões físicas e esportivas nos sistemas educativos e na
vida social; (c) possibilita adequações às tradições esportivas
dos países, aprimoramento das condições físicas das pessoas
e ainda pode levá-las a alcançar níveis de performances
correspondentes aos talentos pessoais; (d) deve ser
oferecido, através de condições particulares adaptadas às
necessidades específicas, aos jovens, até mesmo às crianças
de idade pré-escolar, às pessoas idosas e aos deficientes,
permitindo
o
desenvolvimento
integral
de
suas
personalidades. (apud Fédération Internationale D‟Éducation
Physique, 2000, p. 8).
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Ainda seguindo o entendimento de Tubino, as formas de
exercícios deste “direito” constituem-se nas efetivas dimensões
do esporte: 1- Esporte Educação (hoje, dividido em escolar e
educacional); 2- Esporte Participação (Popular ou Lazer); e 3Esporte Performance ou Rendimento.
7. Lazer
Quando os horários de trabalho foram vistos como abusivos, foi
catarseada a revolução do tempo livre, que de imediato muitos
identificaram como tempo do preguiçoso.
O “tempo livre” é sobre tudo um tempo de expressão, tempo de
democracia. Uma liberação pessoal mais profunda de sensações,
de sentimentos, desejos e sonhos reprimidos. Quanto mais nos
afastamos do tempo livre de lazer, mais nos aproximamos da
escravidão (imposições do sistema).
As pessoas parecem tender, em toda sua vivencia, a pouca
existência autônoma.
Elas devem estar integradas a sociedade, caso contrário serão
tratadas como marginais.
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A utilização do termo “tempo livre”, parece inclinar a uma total
autonomia de qualquer exigência social, o que se crê como
utópico, pois nenhuma liberdade será plena tal qual não seja
atingida pelas pressões sociais. Já a expressão “tempo
disponível”, poderia ser interpretada como o momento em que é
permitida a utilização do tempo.
Assim, poderia ser proposto o termo “tempo da opcionalidade”,
pois este seria utilizado conforme a necessidade. O sujeito
deveria ser capaz de optar pelo que é adequado cumprir. Ou seja,
ninguém deve continuar um trabalho se for observado, pelo
próprio agente, que, naquele momento, é preciso uma pausa
(para alimentação ou descanso). O tempo da opcionalidade deve
ser favorável a autonomia.
Compreender a autonomia é estar ciente das leis, é dar
importância a deontologia e a diceologia, assim, utilizando a
Constituição da Republica Federativa do Brasil (1988), observase que no artigo 6º, o lazer é considerado como um direito
social, bem como a educação, a saúde, o trabalho, a segurança,
entre outros.
Contemplado no artigo 227º, o lazer, bem como o direito à vida,
à alimentação, à dignidade e ao respeito, é posto como “dever da
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família, da sociedade e do Estado assegurar à criança e ao
adolescente, com absoluta prioridade” (Brasil, 1988, p.101).
Cabe salientar, que apesar do direito ao lazer estar previsto no
artigo 7º, inciso IV, através do salário mínimo digno ao
trabalhador, dando a este lazer o status de “necessidade vital
básica”; as políticas públicas parecem não contemplar esses
integrantes da sociedade. As políticas elaboram e realizam
programas que atendem aos anseios das crianças, adolescentes e
idosos, porém, sem lembrar dos que sofrem com a maximização
do estresse pelas longínquas e aceleradas jornadas de trabalho –
o jovem adulto.
É forte a idéia de que o stress no trabalho e na vida diária
tem aumentado significativamente, particularmente nos
últimos anos com o aumento da competição entre as
empresas, do aumento da insegurança profissional e das
pressões em direção ao aumento de produtividade. É
possível afirmar que praticamente todos os trabalhadores
estão ou estarão submetidos a estas pressões e stress em
maior ou menor grau, absorvendo ou somatizando estes
conflitos […] “A maior fonte de stress para os adultos é o
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stress profissional”, descrito pela OMS como uma
“epidemia global” (Lipp, 1996).
A idéia de lazer poderia ser confundida com a do ócio, e
assumiria um caráter negativo. Considerando que trabalhar é
fazer algo em benefício próprio e/ou coletivo, o ócio seria o não
fazer nada. De Masi emprega o termo, que parece ser mais
adequado - ócio criativo. Para este autor, “futuramente o lazer
será confundido com o rabalho e o estudo”6, pois o ócio que
deve existir é um ócio de utilização do tempo a seu favor, de
maneira criativa e favorável aos seus desejos.
Neste olhar ao ócio, De Masi (2000, p.325-326) escreve ainda
que:
O ócio requer uma escolha atenta dos lugares justos: para se
repousar, para se distrair e para se divertir. Portanto é preciso
ensinar aos jovens não só como se virar nos meandros do
trabalho, mas também pelos meandros dos vários possíveis
lazeres. Significa educar para a solidão e para a companhia,
para a solidariedade e para o voluntariado […]. Significa
ensinar como se evita a alienação que pode ser provocada
6 Informação fornecida em entrevista realizada no programa “Roda Viva” da TV
Cultura de São Paulo, em 1998.
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pelo tempo vago, tão perigosa quanto a alienação derivada
do trabalho.
Corroborando a reflexão da utilização deste tempo, De Masi
(1999) diz em sua oratória que:
O século 21 será dominado pelos países que souberem
gerenciar o tempo livre.[…]. É preciso educar as pessoas
para o tempo livre. Se no século 20 vivemos principalmente
de trabalho, no próximo viveremos sobretudo de tempo livre.
E a maioria dos países não está preparada para isso, pois está
tão imersa no frenesi do trabalho que já não sabe o que fazer
do tempo livre. Vivemos em uma sociedade em pleno
desenvolvimento tecnológico que vem permitindo ao ser
humano uma 'reserva' de tempo até então inexistente. Num
mundo que sobrevaloriza o trabalho, as obrigações de todas
as naturezas, o relógio, a eficiência, a produtividade,
vivenciar esses momentos de descanso, divertimento e pleno
desenvolvimento, tanto pessoal como social, de forma
desinteressada', poderá trazer o equilíbrio tão necessário para
que uma pessoa possa viver, nesta virada de século, uma
verdadeira qualidade de vida.
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O trabalho não pode apresentar-se como a primeira necessidade
humana, mesmo trazendo satisfações no plano das tarefas
técnicas, e no plano das relações sociais; pois a qualidade de
vida depende da relação do tempo de trabalho e do tempo de
livre escolha.
8. Esporte-lazer
O Esporte-Lazer é a “dimensão social do esporte referenciado
com o princípio do prazer lúdico, e que tem como finalidade o
bem-estar social dos seus praticantes” (Tubino, 2001, p.38). Sua
realização se dá através de uma livre “escolha” – onde encontrase embutida a ação voluntária e a ação opcional – denotada pela
liberdade de realização.
Esta
manifestação,
que
ocorre
em
espaços
não
comprometidos com o tempo e fora das obrigações da vida
diária, de um modo geral, tem como propósito a
descontração, a diversão, o desenvolvimento pessoal e as
relações entre as pessoas. Também oferece oportunidades de
liberdade a cada praticante, a qual se inicia na própria
participação voluntária (Ibid., pp. 38-39).
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A prática do esporte-lazer pode ser entendida através do “espaço
imaginário”, ou seja, de criação ou materialização dos desejos.
Trata-se do momento em que lhe é permitido, através de uma
prática de convivência esportiva, alguns instantes distante das
teias sociais de nossa identidade. Acredita-se que quando se tem
liberdade de ação, toda vitalidade do praticante explode,
contribuindo com o bem-estar e, consecutivamente, com a
qualidade de vida.
O espetáculo esportivo, já é algo tão grandioso que poderia
sobreviver facilmente através das magníficas disputas; como era
no período do Ideário Olímpico, em que prevalecia o ideal de
esporte (a disputa sem cobrança de ganhar a qualquer custo, ou a
necessidade de se apresentar como o melhor).
No esporte participação, ou esporte-lazer, o espetáculo fica por
conta da socialização, da inclusão, do prazer lúdico, da
comunicação fluida, do direito a desistir caso não sinta mais
desejo.
Segundo Tubino (1999, p.27-28) o esporte-lazer proporciona “o
desenvolvimento de um espírito comunitário, de integração
social, fortalecendo parcerias e relações pessoais” propiciadas
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pelos ares democráticos, onde não deve ser privilegiado o
talentoso.
O ganhar a qualquer custo ou “chauvinismo de vitória” (Tubino
1999,
p.21),
assim
como
no
esporte
de
alto
rendimento/performance, pui a fronteira da conduta ética com a
falta desta. O praticante do esporte-lazer deve estar em sintonia
com a ética esportiva, mais do que isso, por se tratar de uma
atividade opcional, deve estar em plenitude com o “espírito
esportivo”10, pois desta forma estará sempre em paz com a sua
consciência moral.
O que se sabe é que a nova ética esportiva deriva da ética
geral e que o equilíbrio entre a atitude ética e a atitude
esportiva deve resultar a formação de um renovado espírito
esportivo […] no esporte-participação, a referência ética será
o bem-estar social e a qualidade de vida (Ibid, 1999, pp. 5758).
Analisa-se
que
a
Ética
ocorre
pelo
cumprimento
do
associacionismo, em sua codificação, e pode ser exemplificada
na carta do fair play; entretanto, no “jogo do lazer” as normas
podem ser convencionadas de forma a incentivar o espírito
esportivo, onde o incontestável é a permanente presença da
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realização ao “bem” (Platão), e ao respeito à coletividade
(moral).
Assim, o concordar ou discordar das condutas esportivas poderá
ser ajustado por uma capacidade de convivência; caso ela não
exista,
seus
protagonistas
deverão
entrar
num
acordo
(convenção) em prol da continuidade do momento de prazer, e
do bem-estar social.
Analisando a prática do frescobol arrisca-se nomeá-lo como
esporte símbolo do esporte-lazer, pois este tem sua continuidade
ou ininterrupção quando o jogador mais hábil realiza suas
jogadas em função de estimular a permanência das jogadas do
seu adversário. A intenção é que haja um equilíbrio entre as
jogadas, em função de que haja jogo (continuidade).
Desta forma, o esporte-lazer deve ser compreendido por alguns
princípios: 1- Princípio do prazer lúdico; seu praticante, no
intuito de jogar, deve sentir que esta na presença de algo
prazeroso (lembrando o hedonismo (Doutrina filosófica que faz
do prazer o fim da vida (Bueno, 1960, p.610); 2- Princípio da
Inclusão; deve ser oportunizado independente do talento do
praticante, tendo como lema o “direito de todos”, sem que haja
qualquer tipo de descriminação; 3- Princípio da opcionalidade;
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cada um tem o direito por optar a modalidade que deseja
realizar, e uma vez realizando-a, optar por sua continuidade, ou
não, a qualquer momento.
Caminhando em sentido contrário a qualquer imposição feita ao
Homem, ocorrências desde a idade da pedra, onde a necessidade
de sobreviver não era uma mera opção, o lazer aparece em prol
de suavizar e qualificar a vida. Expressão utilizada aludindo ao
esportista que não se permite obter vantagem em desrespeito a
regra – questões morais no que tange as normas codificadas do
esporte. Segundo Gonçalves (1989, apud Tubino, 2001, p.62) “o
espírito esportivo é de difícil definição, mas de fácil percepção,
e deve ser entendido como um código de atitudes, um respeito às
normas derivadas de um código de ética, e ainda como um
comportamento moral para o meio esportivo.”
9. Esporte-lazer realizado na cidade do Rio de Janeiro
Na cidade do Rio de Janeiro, o esporte surgiu, no início do
século XIX, colaborando com a vida social, através do lazer
realizado pelos imigrantes. As práticas mais evidenciadas eram
as individuais (turfe, remo, natação, atletismo, ginástica de
aparelhos, patinação sobre rodas, bilhar, bocha e ciclismo). Suas
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práticas atendiam a intenção de ter prestígio social, bem como o
modismo.
O lazer da época é compreendido, neste estudo, por
entretenimento esportivo 7. Logo o assistir daria desejo ao
“também praticar”, numa progressão social lógica, o “também
praticar” precisa receber um nivelamento (rankeado), e assim o
competir traria a rivalidade. Outro fator que veio caracterizar a
época, fora a presença de clubes.
Segundo Garrido (2005, p.527) “nas últimas décadas do século
XX, o Rio de Janeiro já tinha o esporte como uma de suas
principais identidades culturais, marcando e simbolizando seu
estilo de vida, quer no sentido de espetáculo ou na sua prática.”
Este autor ainda escreve que esta cidade captou, na mesma
época, a influencia internacional, do que viria se consolidar
como “esportes-radicais”. O Rio de Janeiro serviu como uma
“porta de entrada” destas atividades ao Brasil.
Timidamente, surgiram os banhos de mar “e se consolidou a
percepção da utilização de logradouros públicos, como praças e
7
A interferência e interação de quem pratica o entretenimento ocorre sem contato com
a pratica vislumbrada
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parques, para a prática esportiva com fins de recreio e higiene
[…] Desde 1857, discutia-se a importância de espaços públicos
para essa finalidade” (Id., p.529). Entra para a história o início
da relação entre esporte e poder público, no Rio de Janeiro, em
benefício da população, mesmo que os locais públicos fossem
visados como fonte de negócio.
Nas décadas de 1900 a 1920 ocorre a popularização do futebol
carioca:
o futebol no Rio de Janeiro passou a ser jogado livremente
nas ruas, várzeas, praias e escolas, independente de classe
social e com qualquer tipo de bola. Sob a forma de “pelada”,
era uma atividade livre, uma forma de lazer. […] Outra
conseqüência da popularização do futebol foi a aceitação do
esporte como prática social em logradouros públicos, o que
nas décadas seguintes – anos de 1970 em diante – viria a
facilitar a adoção das atividades físicas em geral da
população carioca. […] os banhos de mar praticados pelas
elites inicialmente começaram a se popularizar com a
chegada dos bondes elétricos na zona sul do Rio de Janeiro
via túnel Alaor Prata, aberto na década de 1910 (Garrido,
2005, p. 529 passim).
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As classes sociais eram organizadas e, consecutivamente,
controladas pelo Estado, que por sua vez permitia a classe dos
trabalhadores à conquista de salário mínimo, contrato coletivo,
jornadas de no máximo oito horas de trabalho, e criação de
sindicatos. Tais fatos proporcionavam um tempo que poderia ser
destinado a assistir e praticar esporte (favorecimento ao lazer).
Nos estudos de Garrido (Ibid., p.530, grifos nossos), o autor
atesta que existem (2005) testemunhos orais de que “o futebol se
instalou nas areias das praias do Rio de Janeiro assumindo um
cunho típico destes locais.
Mais uma vez, o RJ fez-se constar como locais de
experimentações de esportes ajustados ao meio social e físico
local.”
Nas décadas de 1950 e 1960 o crescimento urbano industrial
estimula o aumento da densidade populacional, o que, para a
época, alavanca o desenvolvimento econômico.
Na educação, bem como a eletrificação, as rodovias, a cultura
(música, poesia, teatro e cinema), o desenvolvimento continua
crescente. Em particular a Educação Física, com intercambio de
seus profissionais e a elaboração de cursos técnico-pedagógicos,
que renovava o emprego da pedagogia.
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Neste sentido, o Método Desportiva Generalizada – MDG
abriria perspectivas para um maior desenvolvimento do
esporte na escola, principalmente dos coletivos (esportes de
massa). Tal contexto favorável levou a instituição da
Campanha Nacional de Educação Física pela Divisão de
Educação Física-MEC, cujo Diretor era o professor Alfredo
Colombo.
Essa Campanha realizada nas praças, ruas e praias, proporcionou
uma iniciação esportiva à população, segundo comunicação
pessoal do professor José Ferreira da Silva (1997). Reconhecido
como „Ruas de Recreio‟, „Praias de Recreio‟ e „Ruas de Lazer‟
[…] (Id., p.530).
Conforme a cidade crescia, em termos viários e habitacionais,
aumentava também o número de espaços destinados à prática
esportiva pública, como por exemplo o Parque Brigadeiro
Eduardo Gomes (Aterro do Flamengo).
Com uma urbanização capaz de atender os desejos de uma
prática esportiva no intuito de lazer, ou mesmo satisfazer o
imaginário como jogador profissional, entre as décadas de 1970
e 1980, o que restava ser desenvolvido eram as elaborações (ou
cópia) das atividades a serem realizadas. “O primeiro
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experimento bem sucedido foi o chamado Método Cooper,
trazido ao país por Néri Nascimento, Manoel Tubino e Cláudio
Coutinho” (Ibid., p.530).
Outra manifestação de nível internacional, na época, foi o EPT
(Esporte para todos). Neste, não eram privilegiados os talentos, e
sim o experimentar por parte das pessoas que em muitas das
vezes eram apenas expectadoras. O movimento, que primeiro foi
chamado de Trimm, na Noruega, recebeu diversos nomes pelo
mundo:
“Participation no Canadá, Éducation Physique pour Tous na
França, Trimm na Alemanha, Deporte com Todos na
Argentina” (Tubino, 1999, p. 25).
A adesão do Esporte Para Todos ampliou a oferta da prática
esportiva à sociedade.
Como conseqüência deste movimento, no Rio de Janeiro,
acentua-se a necessidade de fechamento do transito em ruas
espaçosas e atrativas ao lazer. Vale relatar que a Campanha
“„MEXA-SE‟, promovida nacionalmente pela TV Globo e que
antecedeu o Movimento EPT, foi promovida no RJ, também
deixando como herança à própria denominação que se fixou na
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língua falada no Brasil como sinônimo de atividade física de
lazer” (Garrido, op. cit., p. 530).
Era o prenuncio de que o esporte seria reconhecido como direito
de todos pela Constituição da República Federativa do Brasil, e
assim foi através do artigo 217. No parágrafo 3º do inciso IV, “o
Poder Público incentivará o lazer, como forma de promoção
social” (Brasil, 1988, p. 97).
Não é por acaso que se tem tanta oportunidade a realização do
esporte, ele promove a maior união entre os membros sociais, e
isso se dá justamente por ser um direito de todos, e por existir
em nossa sociedade um Homo Sportivus (fato).
No final do século XX, das práticas esportivas regulares e
esporádicas, surgiram os Homo sportivus, que são aquelas
pessoas que de alguma forma incorporaram a atividade física
ao seu cotidiano. Podem ser pessoas de qualquer faixa etária,
sexo, raça, nível social, e engajada em qualquer uma das três
dimensões do esporte […] (Tubino, 1999, p.47).
A figura do Homo Sportivus parece fazer parte naturalmente da
sociedade carioca8. O desejo de competir está presente, e é posto
8
Casa Branca; natural da cidade do Rio de Janeiro.
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em
prática
sem
o
afastamento
da
solidariedade,
do
companheirismo e do espírito esportivo.
Mesmo, geograficamente, localizando-se a privilegiar a Zona
Sul da cidade, “talvez seja a praia o lugar mais central do Rio de
Janeiro, para todas as camadas sociais, sendo um lugar de
representação e de reprodução ritual ideal miniaturizada da
sociedade carioca” (Goldenberg, 2002, p.7)
Praticar o esporte-lazer numa das praias (orla) da cidade do Rio
de Janeiro deve ser compreendido como uma prática num espaço
de cobranças estéticas. O que poderia fazer deste espaço
democrático, um espaço de privações. Segundo Goldenberg
(Ibid, p.7) “uma simples caminhada nas areias das praias da
cidade do Rio de Janeiro, em um domingo de sol, pode se
transformar em uma rica etnografia do corpo carioca […] No
Rio de Janeiro, o nu também é moda”.
O Esporte-lazer não é complementar ou compensatório ao
trabalho, é realizado em suas íntimas necessidades em função de
gozar de momentos prazerosos. O carioca, naturalmente,
desfruta das belas paisagens por onde passa; seja indo para o
trabalho,
seja
voltando
cansado
das
compras,
o
que
provavelmente configura um estimulo natural ao desejo de ter
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contato. “As praias acabam servindo de praças públicas,
extensão do próprio lar de cada habitante” (Ibid., p.51).
É intensa a utilização de espaços “não convencionais 9” a prática
esportiva, no intuito do lazer. Facilita por demais a realização
desta prática, o fato da cidade ter uma estrutura física
convidativa. Os moradores e os turistas sentem-se interessados
em ter um contato mais próximo com a natureza disponibilizada,
com a cordialidade e a prestatividade de seus integrantes.
Trata-se de uma cidade cuja apreciação e valorização,
mundialmente, encontram-se nas estampas de seus cartões
postais, onde são apresentados os significantes, duplo produto:
paisagens naturais e práticas esportivas.
É mister perceber que a cidade do Rio de Janeiro favorece uma
ambiência a pratica do esporte-lazer. Na tentativa de conceituar
a prática do esporte-lazer realizado na cidade do Rio de Janeiro,
Lames (2005), observa que:
Trata-se da higiene física e mental realizada através de uma
modalidade esportiva, a fim de atingir, de forma consciente
ou não, uma melhora na qualidade de vida, na certeza de
9
Espaços que são aproveitados para a prática esportiva do lazer, sem terem sido
criados exclusivamente com essa finalidade.
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estar praticando algo prazeroso, e capaz de ser seguido como
“estilo de vida ativa”.
Cabe evidenciar que a expressão Esporte-Lazer Realizado na
Cidade do Rio de Janeiro é pertinente ao estudo, não pela
intenção de que a amostra pretenda representar um quantitativo
estatístico da cidade do Rio de Janeiro, mas por estar tratando de
uma prática esportiva realizada por características próprias da
vivencia do carioca.
10. Políticas públicas
As políticas públicas do esporte e lazer parecem desejar cumprir
um nobre papel a sociedade, entretanto esquecem que para uma
proveitosa realização desta prática é preciso se educar para o
lazer.
Ao educar para o lazer, possibilita-se, uma futura educação
através do lazer, ou seja, pelo lazer.
Entretanto, na atual conjuntura do cenário político mundial as
coisas, mesmo em diferentes dimensões, são transformadas em
mercadoria. Identificar o lazer como mercadoria significa aceitalo como mais uma mercadoria. Vender o lazer é possível,
contudo não se deve, através desta venda, criar uma exclusão
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social, ou seja, o lazer, por sua importância e benefício ao Ser
humano, deve ser oportunizado e subsidiado.
O esporte-lazer é capaz de favorecer algo que transcende o
“entretenimento” e a “educação” – a qualidade de vida. Esta
afirmativa é feita ao se considerar conclusões advindas da
Declaração de Alma-Ata (1978)10, onde foi entendido que o
Homem pode viver sem educação, “mas não sem saúde”. E
ainda,
que
é
“direito
e
dever
dos
povos
participar
individualmente e coletivamente no planejamento e na execução
de seus cuidados de saúde”. Tal execução parece ser viável,
também, a partir da autonomia prática do esporte-lazer.
A melhora da qualidade de vida poderá ser proporcionada
através da elaboração de uma política pública que reorganize os
espaços esportivos na cidade; redistribua o tempo destinado ao
trabalho; desenvolva um programa de lazer direcionado à
criança, ao trabalhador (20 a 40 anos – jovem adulto) e ao
aposentado, resguardando suas necessidades; e o planejamento
de férias que possam ser desfrutadas, ou seja, que a remuneração
possa ser proporcional às necessidades deste momento
particular.
10
(http://www.opas.org.br/coletiva/uploadArq/Alma-Ata.pdf)
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É notório que o “jovem adulto” não pode ser excluído deste
benefício – é essa faixa etária que parece sofrer mais com os
ritmos frenéticos de trabalho urbano.
Consoante ao termo espaço, vale lembrar que tal noção
“delineou-se a partir do momento em que o homem teve
necessidade de deslocar-se e de retornar aos locais de origem”
(Cunha, 1997, p.40). Tal continuidade, até por novas exigências,
ampliou a gestão de recursos necessários à vida de um sujeito,
uma comunidade ou uma nação, “localizados dentro de uma
determinada extensão territorial” (Ibid, p.40, grifos nossos).
Os espaços de civilização definem-se a partir do conjunto de
atividades pertencentes ao modo de vida de um povo, que
expressam uma certa maneira de viver no mundo, com
concepções próprias sobre ele, traduzidas pelas suas
instituições-normas que as perpetuam e as projetam no seu
futuro e que são visíveis em espaços construídos e
organizados que são as cidades. Os povos que não
construíram cidades, não originaram civilizações (Ibid, p.
42).
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O espaço de interação humana, ou espaço social, é um espaço de
convívio, afirmação entre as pessoas e auto-afirmação, e
definidos a partir de organizações sociais.
A estrutura de uma cidade, bem como seus habitantes,
organizam seu desenvolvimento a procura da utilização do
tempo livre, “tendente a realização de atividades mais nobres,
como sejam aquelas que estão mais ligadas aos lazeres e a
cultura” (Ibid, p.52).
Pela sua localização, nas zonas nobres ou periféricas das
cidades, pela sua envolvência e pela sua arquitetura, as
instalações desportivas espelham o modo como um povo
valoriza o seu corpo, o desporto e de como organiza no
espaço e no tempo essa valorização. (Ibid, p.52, grifos
nossos).
Arrisca-se apontar que o praticante do esporte-lazer, da orla
marítima, por se valer de um espaço onde a liberdade de
expressão é convidativa, conduz seu corpo a gozar do prazer da
liberdade, da sensação de estar ao ar livre, do natural, do realizar
sem obrigatoriedade, mas em quanto houver prazer; todos, itens
que configuram o esporte lazer.
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Assim pensa-se que a idéia de “estar na praia” é uma idéia
compatível a de “estar praticando o esporte-lazer”.
Contribuindo na justificativa da utilização da orla marítima
como espaço destinado ao esporte, Luiz Cunha, passim, escreve
uma delimitação a ser analisada:
Os espaços naturais ou ao ar livre, também podem ser incluídos
dentro deste conceito de instalações desportivas. Contudo, eles
só são considerados, na medida em que a sua utilização
continuada
pelas
populações
se
verifique
através
da
identificação de pequenas estruturas de apoio às actividades
desportivas, que localizam a atividade, dão significado
desportivo ao espaço natural em presença e oferecem mais um
espaço de prática desportiva (Ibid, p.52).
O espaço esportivo contribui como palco da convivência
humana. Ele não pode ser entendido como um mero espaço
destinado à competição e a análise de uma ordenação
hierárquica. Ele é “também o grande espaço descodificado onde,
em contacto com a natureza, o praticante procura novas
possibilidades” (Ibid, p. 51).
Para Cunha (Ibid p. 48) “o desporto é claramente um produto da
civilização urbana e industrial e todos os seus sub-produtos
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revelam essas características”. O esporte-lazer parece advir de
uma necessidade de realizar a determinada modalidade esportiva
para sentir um fantasiar que lhe permite uma inclusão e/ou
sensação de também ser capaz.
Entretanto, não se pode negar a necessidade urbana de ser capaz
de transformar um determinado espaço num espaço democrático
onde as normas são um pouco mais liberada, na verdade
convencionadas.
9. Bem-estar social
Segundo Da Costa (2002, p.56), repensando questões referentes
ao conceito de bem-estar:
em termos de civilização ocidental, são correntes vários
nexos de „bem estar pessoal‟ mas todos revelando
fundamentações
determinadas
historicamente.
Nestes
termos, a trajetória histórica constitui, em tese, uma
metodologia hábil para se pesquisar, debater e dar maior
compreensão à categoria „bem estar‟ quer pessoal ou social
[…].
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A palavra poiesis configura uma expressão grega “com
significado de produção e ao mesmo tempo de realização
humana” (Ibid, p. 57).
E, nestas circunstâncias, concluiu-se que o fio condutor da
qualidade determinado historicamente era a exibição pública
de informações sobre o produto que almejava ser de
excelência para consumo ou serviço. Tal disponibilidade pro
bono publico seria em última análise uma expressão teatral e
ritualista de desejáveis atitudes éticas e estéticas por parte
daqueles que buscavam a excelência nas relações sociais e/
ou comerciais.
Na perspectiva de Juran (1995 apud Da Costa, 2002, italicos
nossos), “dispôs-se como uma qualidade externa aos indivíduos,
mas vinculada a eles por uma manifestação interna de realização
pessoal. Este seria também o caso de se obter a excelência em
atos de guerra ou de competição esportiva.” Os gregos
utilizavam a denominação arete “para definir uma virtude a ser
desenvolvida e voltada para o alcance do bem, belo e bom. E as
disputas que desenvolveriam o aretê seriam meios de exposição
e verificação tal como a observação da qualidade de sentidos
interno e externo” vinculados aos indivíduos.
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111
Em
síntese,
o
„bem
estar‟
dos
dias
presentes
é
essencialmente uma manifestação de obtenção contínua de
qualidade no fazer e viver, ora revelada por trocas
profissionais e sociais, ora por confrontação comparativa nas
relações pessoais (Ibid, p. 57).
O tentar conceituar ou redefinir, este termo, vem crescendo nas
últimas décadas, embora tais não se afastem das tradições
filosóficas e pedagógicas dos gregos e romanos, voltada para a
saúde mental e física como forma ideal de vida.
Recapitulando, houve entre os pensadores da Grécia Antiga uma
busca de sentido da vida e do agir coletivo, a qual os romanos
herdaram e denominaram de “bem supremo” (summum bonum).
Aconteceu, nestes termos, uma passagem do bem comum ao
estilo do modo de viver grego para um bem de aperfeiçoamento
individual tipicamente romano […].
Esta fusão do “bem comum” com o “supremo bem” chegou ao
século 17 assumindo uma interpretação de prolongamento da
vida (Ibid, p. 58).
Segundo Lovisolo (1996, apud Da Costa, 2002) “esta
fundamentação encontra-se na „Didática Magna‟ de Comenius,
uma obra que vinculava educação com a saúde e esta com o
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modo de conduzir hábitos sadios, isto é, com o sentido e o uso
da vida.”
Acredita-se que quando se vive em meio ao bem-estar,
prolonga-se a vida.
Contudo, a definição da expressão bem-estar, segundo o
Dicionário do Pensamento Social do Século XX está ligada a
teoria economia: ela “é a análise dos juízos de valore no
contexto de tomada de decisão econômicas” (Outhwaite &
Bottomore, 1996, p.42).
11. Analise de dados
Entende-se que a diversidade das modalidades esportivas
pesquisadas é representativa da diversidade de modalidades
esportivas que atualmente ocorrem no local pesquisado.
Acredita-se que pesquisar o esporte-lazer pretenso neste estudo
seja pesquisar suas diversas atividades que configuram o grupo
entendido como “praticantes do esporte-lazer no Aterro do
Flamengo”.
Foram entrevistados praticantes das seguintes modalidades:
Caminhada, Ciclismo, corrida, frescobol, futebol, futevôlei,
patins, pesca, remo, skateboard, tênis e vôlei. Cabe informar que
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essas modalidades foram as que se apresentaram como mais
praticadas, salvo melhor juízo, nos dias da entrevista.
A Análise de Discurso (AD) pode ser aplicada na linha
americana ou na linha francesa de estudos. Perante o que tange a
francesa, foi escolhido trabalhar nos ideais de Michel Pêcheux,
aqui fundamentados por Eni Orlandi (2003).
Deve-se evidenciar a importância entre os sentidos e suas vias
percorridas, a influencia histórica, seja na esfera da linguagem,
seja na esfera da imagem (que podem ser transformadas em
texto), assim segundo Costa (1999, p.41), introduzindo a Analise
de Discurso, informa que o discurso:
Como o efeito de sentidos entre interlocutores cuja relação é
regulada
historicamente
entre
as
muitas
formações
discursivas. A AD investiga seus processos de produção de
sentidos, ou seja, que caminhos, que vias os sentidos
percorrem para sua formação. Orlandi (1996) desenvolve
uma noção de discurso (fala, pintura, imagem, escrita) na
qual este é uma das instâncias materiais (concretas) da
relação que o homem estabelece entre o pensamento, a
linguagem e o mundo. Para ela, interpretar o discurso é dar
sentido a essa linguagem. O texto se apresenta como o lugar
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mais adequado para se observar a linguagem, uma vez que
contém inúmeras relações de sentidos.
A Análise de Discurso “se interessa pela linguagem tomada
como prática: mediação, trabalho simbólico, e não instrumento
de comunicação” (Orlandi, 2004, p. 28).
Orlandi (Ibid, p. 24) explica que a “AD se forma no lugar em
que a linguagem tem de ser referida necessariamente à sua
exterioridade, para que se apreenda seu funcionamento,
enquanto processo significativo”.
12. O Cenário do lazer esportivo: aterro do Flamengo
Acredita-se que o cenário adequado à prática do esporte-lazer
deva apresentar, em sua imagem, uma límpida sensação de
liberdade. A beleza estrutural também deve estar presente,
auxiliando a sensação de prazer contínuo. Entretanto o
movimento (ação) dos seus personagens, também na imagem,
deve transmitir um harmonioso convívio social, dotado de
respeito interpessoal e ambiental11.
11
Acredita-se que o respeito por si mesmo, nesta prática, já existe naturalmente, uma
vez realizada pelo princípio da opcionalidade, ou seja, não existe nenhuma obrigação
por realizar (somente com o prazer).
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O Aterro do Flamengo (Parque Brigadeiro Eduardo Gomes)
apresenta imagens que parece atender os critérios listados. Além
disso, seus gramados altos, que separam as pistas de trânsito da
área destinada ao lazer, proporcionam um isolamento acústico e
consecutivamente um ambiente que contempla o respeito
sonoro, de tranqüilidade e paz, onde quase se escuta o balançar
das ondas de uma praia onde elas praticamente não se formam.
Normalmente para se chegar a este recanto, em plena zona sul
da Cidade do Rio de Janeiro, devem-se atravessar as vias de
trânsito por passarelas ou por passagens subterrâneas (sob as
pistas de transito).
Apelidada de Cidade Maravilhosa, vê-se que o Aterro do
Flamengo situa-se numa parte que realiza uma considerável
contribuição ao apelido. Consegue-se observar, além do projeto
paisagístico do parque, o Pão de Açúcar, a enseada por onde
passam os remos e os barcos à vela, e ao longe a ponte “RioNiteroi”.
O espaço, como um todo, não apresenta um ar bucólico, apenas
apresenta-se mais reservado em determinados trechos. Aos
finais de semana fica bastante movimentado, com pessoas
passando por todos os locais, entretanto existe uma certa
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exigência
por
manter
uma
certa
privacidade.
Isso
é
compreensível, pois a prática esportiva e o lazer são atividades
em que seus praticantes parecem buscar uma desvinculação da
obrigatoriedade e um “poder realizar” 12 sem serem tolhidos
(atrapalhados).
13. Interpretando a associação de idéias realizadas pelos
entrevistados
A interpretação da Associação de Idéias foi feita através da
técnica projetiva, que é utilizada pela psicanálise com a
finalidade de estudar as associações mentais, ajudando a
penetrar na subjetividade do sujeito em questão. Este recurso foi
acrescentado ao estudo, vislumbrando, junto a Análise de
Discurso, um decifrar no mundo lingüístico dos praticantes do
esporte-lazer do Aterro do Flamengo.
Segundo Sousa (2004, p.158) este método ajuda “o pesquisador
a penetrar na subjetividade do individuo, ela é oriunda do
discurso dos pesquisados e está relacionada com a intensidade
das escolhas”. Assim, “estes procedimentos favorecem a
12
Discurso que apareceu na fala de um dos entrevistados.
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manifestação dos laços emotivos latentes, que servem para a
interpretação dos sentidos, dos símbolos evocados” (Costa,
2004, p. 85).
Os entrevistados, jovens adultos praticantes do esporte-lazer no
Aterro do Flamengo, foram convidados a expressar verbalmente
(Questão 11 do roteiro de entrevista) a associação que lhe vinha
ao pensamento quando apresentada uma determinada palavra
(ou expressão), pelo entrevistador, a sua prática esportiva. Caso
não ocorresse nenhuma associação o entrevistado deveria
levantar a mão, indicando que o entrevistador deveria passar
para a próxima palavra.
Cada
uma
das
palavras
(expressão)
foi
apresentada
isoladamente, sem a indução de vincular a algo que não o
pretenso pela formulação da questão, entretanto deve-se
evidenciar que a seleção de tais palavras se deu por estas
configurarem a representação das “categorias do bem-estar
social do praticante do esporte-lazer”. São elas, na ordem que
foram apresentadas: Liberdade; Prazer; Estilo de Vida; e
Convivência (Palavras Indutoras).
Intenção deste estudo, a identificação, através do que é
percebido subjetivamente pelo praticante do esporte-lazer, da
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promoção de um bem-estar social foi incentivada também a
partir desta associação de idéias, inclusive originando a
representação do “Mapa de Associação de Idéias” (Figura 1).
Foi observado que a condução deste tipo de questão (pela
liberdade de expressão) ajuda na identificação do “não-dito”,
outrora não permitida por perguntas um pouco mais objetivas.
Foram consideradas as cognições prontamente lembradas,
adotando-se os critérios de natureza coletiva (freqüência de
indicação) e o de natureza individual.
A reação dos entrevistados foi, normalmente, de alegria por
poder expressar a determinada associação. Não houve nenhum
estímulo a fala do entrevistado. Nenhum levantou a mão para
indicar que não sabia associar a palavra a sua prática esportiva
de lazer.
A relação detectada entre as respostas e as palavras indutoras é
de significação, e não de causa, “o que permite ter acesso ao
cimento que as mantém aglutinadas” (Ulson, 1988), auxiliando
no dêsvendar do tom ideológico-afetivo que as configura.
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14. Conclusão
Após o tratamento das informações geradas pelos entrevistados,
cabe concluir que, dentre estes, praticantes do esporte-lazer no
Aterro do Flamengo, fica evidenciado:
Essas três divisões permitem um melhor desenvolvimento dos
fatos percebidos.
Pode-se inferir que dentre os desejos dos entrevistados, ficam
evidenciados “o afastar-se da obrigação cotidiana”; “o realizar
novas amizades”, um desvincular da obrigação rotineira. Mas
também um “contemplar da paisagem natural, ampla e pública”
que deriva na sensação de liberdade e prazer (bem-estar social).
Em contato com a natureza, este praticante, respira aliviado por
não estar na clausura que restringe, de forma impositiva, o seu
viver.
Quanto aos proveitos derivado desta prática esportiva, percebido
e discursado pelos entrevistados, identificou-se a “realização de
novas amizades”, um “afastar-se do que é nocivo à vida
saudável” (contrário ao bem-estar social), o “priorizar o prazer”
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sobre a condição de realização, sendo este prazer resultante de
um bem-estar individual que se alonga ao coletivo.
A convivência pretensa a partir da prática, pode até servir para
melhorar o autocontrole de suas ações (você com você),
entretanto é contrária a este benefício caso precise realizar um
isolamento para atingi-lo. Existe uma valorização do “estar
junto”.
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Figura 1- Os desejos deste esportista; Os proveitos derivados desta prática esportiva; e A convivência pretensa.
Conviver é, para os entrevistados, sinônimo de perceber as
diferenças e aprender a como lidar com elas, seja através das
regras do jogo, seja através das convenções que se pode realizar
no ambiente de prática, ou ainda, seja nas situações inusitadas
que o jogo espelha a vida. Ficou evidenciado que essa
convivência é realizada com oponentes momentâneos e não com
adversários ou inimigos, onde pode até existir a infração ao
espírito esportivo, mas esta ocorre em função do “gozar” com a
falta de atenção do oponente. Ganhar do amigo parece ser mais
prazeroso, pois não torna mais acirrada a rivalidade, aumento da
tenção – não existe a obrigação.
Assim, a prática do esporte-lazer no Aterro do Flamengo, pelo
jovem adulto, fica configurada pelo prazer de realizar, numa
sensação de liberdade e ambiência, uma atividade sem vínculos
com a obrigação e a rotina.
Dentre os fatores, percebidos, que influenciam e estimulam a
realização
do
esporte-lazer
dos
entrevistados,
pode-se
evidenciar, num primeiro plano, o desejo por sair da
obrigatoriedade e todo estresse produzido por ela. Percebe-se
também a consciência do praticante, em estar ciente, mesmo que
empiricamente, do bem-estar que a prática proporciona antes
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(saciar o desejo de praticar), durante (pelo desligamento
proporcionado) e após (por estar recarregado e pronto para
encarar a rotina) o esporte.
Na prática do esporte-lazer a verdadeira vitória está relacionada
com o ser permitido realizar e a auto-superação. As autonomias
de seus atos atingem o que se pretende do Bem-estar Social.
A formação escolar percorre caminhos visando criar um suporte
que atenda ao trabalhador, o futuro profissional, o que é análogo
ao mundo das obrigações. Só se prepara para as obrigações, não
se prepara para a descontração, para o não performático.
As idéias de lazer de Domenico Demasi (2000) receberam
contemplações, mas não aplicabilidade. Parece que o mundo do
capitalismo selvagem realmente deu lugar ao capitalismo
ilimitado, conforme apontou Bourdieu (1997), obrigando a
população estar sempre num “correr atrás”, e desta forma
ficando para trás. Não se ensina o “correr ao lado”, ou se prepara
para a ultrapassagem. Para se realizar novas descobertas,
devesse agir com criatividade, uma criatividade com liberdade
de ação, e isso só parece possível nos momentos da nãoobrigatoriedade.
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Quanto ao bem-estar social percebido pelo praticante, denotado
em seu discurso, observa-se a reverencia ao prazer e a liberdade,
entretanto foi apontado
com relevância o
exercício a
convivência, seja pelo prazer de conhecer novas pessoas, seja
por tolerar as individualidades pessoais, ou ainda, por criar um
ciclo de amizade que buscam transferir os momentos prazerosos
da prática esportiva para diversos outros lugares onde marcam
para estarem juntos.
Assim, a convivência fica referendada como o bem-estar mais
explícito na percepção dos praticantes entrevistados.
Com base no estudo realizado e concluído, é possível inferir que
a dimensão social do esporte, compreendida como esporte-lazer,
configura um representante importante ao propiciar um bemestar social que liberta, desprende, ou ainda, desperta um
conviver agradável (que poderia fazer parte de todas as horas do
dia), à vida que hodiernamente na sociedade exige tanto das
condições físicas e mentais.
Cada vez mais os hábitos da sociedade contemporânea
apresentam-se através de realizações frenéticas. Uma correria
desenfreada atinge o cotidiano, dando a vida uma volumosa
quantidade de informações simultâneas e imediatas. E nesta
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simultaneidade questiona-se o que é obrigatoriedade e o que é
opcionalidade. Assim, acredita-se, que uma das maneiras para
equilibrar essas tendências seria a utilização do esporte-lazer
como supressor das carências que lacunam a felicidade no
decorrer da vivencia do Ser humano.
Dois fatores parecem ter contribuído com o advento do bemestar social através do esporte-lazer em espaços públicos ao ar
livre: Os esclarecimentos a cerca dos benefícios desta prática
(via profissionais da área da saúde – qualidade de vida) e a
aplicação em grande escala da iluminação pública (Orla
Marítima principalmente).
Por tudo que foi observado no decorrer das etapas da pesquisa
de campo – as fisionomias em estado de serenidade (pósatividade), as poucas contrações da musculatura facial (durante a
atividade), que quando ocorriam era em função de um sorriso; as
admirações e o desejo de “aproveitar mais um pouco” aquele
momento – permitem dizer que a realização do esporte-lazer é
sempre uma realização de ambiência propiciando um bem-estar
social.
Repensar o bem-estar social é retornar a história das primeiras
civilizações e perceber a trajetória favorecida pelo social. Em
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todas as centenas de séculos que se passaram, desde a idade da
pedra, estudada pelos paleontólogos, o Homem não mudou em
grande parte a sua anatomia e sua fisiologia, a enorme diferença
que existe é obra da civilização, isto é, da cultura gradualmente
acumulada e transmitida pela tradição social, onde se percebe
que o esporte-lazer realiza suas contribuições.
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