A importância da Triagem Auditiva Neonatal no
Transcrição
A importância da Triagem Auditiva Neonatal no
A importância da Triagem Auditiva Neonatal no diagnóstico precoce da Surdez Fernando de Azevedo Gonçalves, Natália Borges Maia, Ludmila da Silva Fadigas, Jadson Rabelo Assis INTRODUÇÃO As interações sociais dos seres humanos ocorrem por meio da linguagem, e neste contexto, no que tange à comunicação oral, a audição tem papel fundamental pois é por meio deste sentido que a aprendizagem da linguagem oral ocorre. Em crianças, a surdez promove efeitos devastadores, dificultando, em muitos casos, o desenvolvimento da fala, fato que afetará sua integração social, o processo escolar, e posteriormente, sua inserção no mercado de trabalho [1]. A surdez acomete de um a três neonatos saudáveis a cada 1.000 nascimentos e aproximadamente dois a quatro em 1.000 bebês que se enquadram nos fatores de risco. Com base nesses dados a surdez é a enfermidade mais prevalente (30:10.000) relacionada ao nascimento, em comparação com outros distúrbios rastreados com o teste do pezinho, por exemplo, a fenilcetonúria (1:10.000); anemia falciforme (2:10.000); hipotireoidismo (2,5:10.000). Dessa forma, a surdez infantil é considerada um importante problema de saúde pública [2]. A triagem neonatal auditiva (TNA), exame obrigatório em todas as crianças nascidas no Brasil, regulamentado através da lei 12303/10, permite rastrear distúrbios auditivos em recém-nascidos. Essa identificação, nessa fase da vida, é fundamental, tendo em vista que a criança encontra-se ainda no período crítico de maturação e plasticidade funcional do sistema nervoso central, permitindo um prognóstico favorável em relação a seu desenvolvimento global [3]. Assim, a identificação e intervenção precoce da surdez possibilitam ao deficiente auditivo alcançar desempenho comunicativo muito próximo ao das crianças ouvintes [4]. Recomendações do Ministério da Saúde (2012) orientam que a triagem deve ser realizada, preferencialmente, nos primeiros dias de vida (24h a 48h) na maternidade, e, no máximo, durante o primeiro mês de vida. Caso o recém-nascido falhe, deverá ser encaminhado para o diagnóstico. Nessa etapa, são utilizados vários testes para determinar os níveis de audição da criança, o tipo e a provável etiologia da perda auditiva, o prognóstico e o tratamento adequado precocemente [5]. Mesmo com o avanço das técnicas de detecção da deficiência auditiva, ainda se constata importante atraso na suspeita e no diagnóstico da surdez. A pouca valorização da prevenção primária e secundária, a falta de conscientização e informação da população sobre a necessidade e importância da detecção precoce da surdez infantil e a reduzida participação das equipes de saúde, principalmente dos médicos e pediatras na valorização e no encaminhamento para Triagem Auditiva Neonatal são possivelmente os fatores responsáveis pelo quadro que aí está [6]. Através das considerações, esse estudo objetiva aprimorar os conhecimentos sobre a importância da triagem neonatal auditiva no diagnóstico de deficiências auditivas. MATERIAL E MÉTODOS Com o intuito de discutir o tema proposto, optou-se por uma revisão sistemática de literatura, realizada nos meses de julho e agosto de 2014, tendo como bases de dados o SciELO e LILACS. Foram selecionados artigos publicados no período de 2007 a 2014, utilizando as palavras-chaves: teste da orelhinha, triagem auditiva neonatal, emissões otoacústicas, deficiência auditiva em recém-nascidos. A revisão foi ampliada por meio de referências de estudos relevantes e solicitação de estudos publicados a especialistas. Foram selecionados artigos que tratassem da implantação, vantagens e características da triagem auditiva neonatal. Foram excluídas as duplicidades, artigos publicados fora do período determinado, publicações que não respondiam aos objetivos da investigação e indisponíveis para leitura, sendo selecionado, portanto, oito artigos. RESULTADOS E DISCUSSÕES A deficiência auditiva (DA) em recém-nascidos (RN) é a doença mais prevalente nas maternidades, já que essa morbidade não requer, obrigatoriamente, casos na família ou fatores de risco [7]. Nos primeiros dois anos de vida se dá a plasticidade auditiva, sendo, então, importante o diagnóstico audiológico o quanto antes [3]. A DA traz consequências negativas, pois a audição é responsável pelo desenvolvimento social, cognitivo, ocupacional, da linguagem e da fala sendo, portanto, de grande importância o diagnóstico precoce [7,8,9]. O programa de triagem auditiva neonatal (TAN) visa, por meio de um procedimento não invasivo, rápido e de baixo custo, detectar precocemente perdas auditivas neurossensoriais ou de condução acima de 30 a 40 dB [7]. Para isso, utiliza o método das emissões otoacústicas evocadas (EOAE) ainda no berçário (de 24 a 48 horas após o nascimento) [3]. Ele registra a energia sonora gerada pelas células ciliares da cóclea em resposta a estímulo no meato acústico externo, possibilitando avaliar os aspectos mecânicos da função coclear. Quando na primeira realização o resultado der falha, que significa que a criança não alcançou o escore de reprodutividade de 50% nas frequências de 1000 a 4000 Hz [9], é necessário um reteste 30 dias após o nascimento para afirmar com exatidão a ausência das EOAE devido a DA, independente da presença ou não de fatores de risco [7]. Afinal, 50% dos bebês com perda auditiva não possuem fatores de risco [3] Apesar das vantagens da TAN, poucas famílias têm conhecimento acerca dos testes de triagem acústica. O estudo realizado por De Mello et al. (2013) mostra que apenas 17% das mães foram informadas sobre o teste durante o pré-natal e que após o nascimento do filho, apenas 17% relataram a realização da TAN para o pediatra durante as consultas de puericultura [7]. Entretanto, mesmo após a realização do teste, muitos responsáveis não levam o RN para o reteste comprovando a baixa conscientização acerca da importância da triagem [7]. Um estudo realizado em 2013 no Hospital São Vicente de Paulo evidenciou que apenas 70,53% dos recém-nascidos realizaram a triagem auditiva neonatal, enquanto que a literatura recomenda índices superiores a 95%. Desse total de recém-nascidos triados, 15% falharam na testagem inicial e foram encaminhados para o reteste. Contudo, cerca da metade não retornou para realizar o exame. Diante disso, apenas 0,039% da amostra total tiveram confirmado o diagnóstico de perda auditiva, contudo, tendo a vista a incidência de distúrbios auditivos, esperava-se de 5 a 15 crianças com diagnóstico confirmado. O estudo em questão evidencia que a não realização da triagem no momento adequado favorece o desenvolvimento de crianças com DA sem nenhuma intervenção adequada [8]. O estudo feito por Hilú e Zeigelboim (2007) apresenta dados referentes à atitude da equipe médica frente ao incentivo à realização da TAN. Nele 100% dos profissionais falaram ter conhecimento da importância do teste, mas 44% deles, não orientam as famílias a respeito da saúde auditiva dos bebês e 31% não recomendam a realização do teste [3]. É função da equipe de saúde apresentar a importância do teste e os riscos e consequências de uma DA não diagnosticada durante o pré-natal, afinal, nas primeiras 48 horas após o parto a mãe pode não ter condições psicológicas necessárias para compreender as informações acerca da TAN. Além disso, o pediatra deve questionar a mãe em relação à realização dos testes de triagem, tirando dúvidas e incentivando a realização destes [7]. CONSIDERAÇÕES FINAIS O presente estudo demonstrou que a proporção de falhas é significante no processo de triagem auditiva do neonatal. Diante disso fica comprovado que a ação conscientizadora das equipes de saúde frente aos cuidados acerca da saúde auditiva dos recém-nascidos deve ser intensificada. É necessário que haja maiores informações e atualização constante dos profissionais da saúde e da população sobre os riscos da DA e a TAN, lembrando que a necessidade do reteste não significa maior propensão ao desenvolvimento da patologia. Afinal, quanto mais precoce o diagnóstico e o tratamento, menores os índices de prevalência e incidência da DA. Sugere-se amplo estudo sobre a importância do conhecimento dos profissionais envolvidos na detecção, encaminhamento e diagnóstico precoce da surdez na infância. REFERÊNCIAS [1] RIBAS, Ângela et al. Programa de triagem auditiva neonatal: influência do tempo de vida dos recém-nascidos na pesquisa das emissões otoacústicas transientes. Revista CEFAC. vol.15, n.4, pp. 773-777, 2013. [2] GUIMARAES, Valeriana de Castro; BARBOSA, Maria Alves. Prevalência de alterações auditivas em recém-nascidos em hospital escola. Int. Arch. Otorhinolaryngol. vol.16, n.2, pp. 179-185, 2012. [3] HILU, Maria Regina Pereira Boeira; ZEIGELBOIM, Bianca Simone. O conhecimento, a valorização da triagem auditiva neonatal e a intervenção precoce da perda auditiva. Revista CEFAC. vol.9, n.4, pp. 563-570, 2007. [4] DA SILVA ARAÚJO, Cristiane Aparecida et al. Conduta dos Pediatras em relação à Triagem Auditiva Neonatal. CONNECTION LINE, n. 11, 2014. [5] BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Diretrizes de Atenção da Triagem Auditiva Neonatal. Brasília, DF, 2012. [6] GATTO, Cladi Inês; TOCHETTO, Tania Maria. Deficiência auditiva infantil: implicações e soluções. Revista CEFAC. vol.9,, n.1, pp. 110-115, 2007. [7] DE MELLO, J. et al. Índice de retorno ao reteste em um programa de triagem auditiva neonatal. Revista CEFAC. v. 15, n. 4, p. 764-772, julho-agosto, 2013. [8] BOSCATTO, S. D.; MACHADO, M. S. Teste da orelhinha no hospital São Vicente de Paulo: levantamento de dados. Revista CEFAC. v. 15, n. 5, p. 11181124, setembro-outubro, 2013. [9] MAIA, R. M.; DA SILVA, M. A. M.; TAVARES, P. M. B. Saúde auditiva dos recém-nascidos: atuação da fonoaudiologia na Estratégia Saúde da Família. Revista CEFAC. v. 14, n. 2, p. 206-214, março-abril, 2012.
Documentos relacionados
A Importância do Protocolo combinado em um Programa de
Introdução: A integridade do sistema auditivo é de extrema importância para o desenvolvimento comunicativo humano, já que a audição é o caminho para a aquisição de linguagem e a privação sensorial ...
Leia maistriagem auditiva neonatal opcional: resultados de uma maternidade
auditiva, apenas detectam (CHAPCHAP, RIBEIRO, SEGRE, 2001). Estudos realizados nos últimos anos demonstram que de 40 a 50% das perdas de audição neurossensoriais não estão relacionadas a qualquer f...
Leia maisA Importância da Triagem Auditiva Neonatal na Atenção
A Organização Mundial de Saúde (2000) relata que há mais de 120 milhões de pessoas no mundo com perda auditiva, sendo que 8,7 milhões dessas têm entre 0 e 19 anos, ou seja, uma grande parte das cr...
Leia mais