vinhos perfeitos para o inverno harmonizados com os pratos típicos

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vinhos perfeitos para o inverno harmonizados com os pratos típicos
REVISTA ADEGA - ANO IX - Nº 93 - 2013
+ DE 125 VINHOS
SELECIONADOS
E AVALIADOS
PORTO VINTAGE 2011
A CERIMÔNIA QUE CONSAGROU
A MAIOR SAFRA DE TODOS
OS TEMPOS E A AVALIAÇÃO
DE SEUS GRANDES VINHOS
A REGIÃO DE CHAMPAGNE
REVELA SEUS SEGREDOS
VINHO NA TELONA
BASTIDORES DO MAIS TRADICIONAL
FESTIVAL DE CINEMA SOBRE VINHO
A VERDADEIRA IDENTIDADE
DO VINHO DA BAIRRADA,
SEGUNDO FILIPA PATO
SURPREENDENTE DESAFIO DO CHILE
AOS ÍCONES DO VELHO MUNDO
ISSN 1808-3722
VINHOS PERFEITOS PARA O
INVERNO HARMONIZADOS
COM OS PRATOS TÍPICOS
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CATA DE BERLIM
CURIOSIDADE |
por
Antigo retrato do Duque
d’Aumale, personagem do
documentário Zucco
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Edição 93
MÍRIAM AGUIAR
Vinho em
24 quadros
por segundo
Há 20 anos, o Festival Internacional da Uva e do
Vinho Oenovideo celebra as produções de vídeo
e imagens que têm o vinho como mote
A
s imagens vão se sucedendo, às vezes
frenéticas, às vezes plácidas. No mundo
da velocidade, da tecnologia, da urgência, como encaixar a filosofia do amor à
terra e às tradições, da paciência e todo
esse universo que gira em torno do ciclo anual de
uma planta de resistência milenar – como é a videira – em uma linguagem suportada pelos famosos
“24 quadros por segundo”?
De repente, surge na tela um cenário bucólico
de uma paradisíaca ilha grega, Santorini, de apenas 73 km2. Lá, em uma típica paisagem da “Arcádia”, um velho vinhateiro senta-se para descansar
com seus arados puxados por cavalos, que riscam
trilhas entre vinhas de grossos troncos antigos.
Seria um quadro perfeito do Romantismo, se não
fosse por um pequeníssimo detalhe: o agricultor
fala ao celular.
Esta cena é do documentário Pelican’s Watch,
da diretora grego-dinamarquesa Lea Binzer, que
trata de uma pequena comunidade de vinhateiros
de Santorini ameaçada de extinção face à demanda
econômica por atividades turísticas mais rentáveis.
O filme é uma das iniciativas que buscam revelar e
reafirmar, com um apelo simbólico além-fronteiras,
a importância da preservação de uma cultura ancestral encarnada no cultivo da vinha e no compartilha-
mento do vinho por aqueles que através dele consagram a sua identidade cultural.
Tocante e chocante, o documentário emocionou
a todos pelo sensível tratamento das imagens, ritmado pela obra da compositora grega Laoura Gini, e
pelo tom de revolta dos vinhateiros da ilha. Segundo
a diretora, mais do que emocionar, Pelican’s Watch
tem o intuito e o compromisso de revelar a extrema
insatisfação que corre nas veias de seus habitantes e
confrontá-la com as imagens paradisíacas, correntemente associadas às ilhas gregas. Por isso, recebeu o
troféu especial do o Festival Internacional da Uva e
do Vinho Oenovideo 2013.
A cultura do vinho em filmes e imagens
A agenda francesa de eventos em torno do vinho
é frenética, são centenas de feiras, salões, degustações, seminários, visitas guiadas a regiões e Châteaux, cotidianamente. Do mesmo modo, é intensa
a produção cinematográfica. Além dos museus, exposições e espetáculos, Paris é a cidade mais cinéfila do mundo: segundo pesquisa da World Cities
Culture Report 2012 (um relatório da vida cultural
em 12 das principais cidades mundiais), são 1010
salas de cinema na capital francesa contra 566 em
Londres e 501 em Nova York. Vinho e cinema são,
portanto, dois universos culturais e econômicos exEdição 93 >>
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O cineasta
Christophe
Barratier, um
apaixonado
por vinhos,
presidiu o júri
“VINHOS MEDIEVAIS”
Além dos filmes, o evento contou com mais
duas atrações: a belíssima cidade medieval
do Languedoc-Roussillon, sul da França, e os
vinhos de Minervois. Originária do século VI
a.C. do período neolítico, integrada ao Império
Romano no século I e ao reino da França no
século VI, a vila murada de Carcassonne foi
palco de combates contra hereges, conflitos e
batalhas históricas. A partir século XIX, a cidade
prosperou em função de sua vitivinicultura e
vida cultural, tornando-se Patrimônio Cultural da
Humanidade.
Carcassonne se situa dentro das demarcações
de Minervois, um dos maiores vinhedos do
Languedoc, vizinho de Corbières ao sul, de
Saint-Chinian ao leste e de Carbadès a oeste,
formado por cerca de 17.000 hectares de
vinhas, distribuídos em 61 comunas. Os
principais centros urbanos e comerciais de
Minervois são as cidades de Narbonne e
Carcassonne. Com uma produção total de
cerca de 2 milhões de hectolitros, o vinhedo
está dividido em cinco grandes sub-regiões,
onde se encontram vinhas de perfil mais
oceânico ou continental, entre 50 m e
500 m de altitude. Assim como em outras
denominações de origem do Languedoc, as
cepas tintas predominantes e autorizadas
para a produção de vinhos tintos e rosés na
AOC Minervois são Carignan, Mourvèdre,
Grenache, Syrah e Cinsault e, para os brancos,
Grenache, Macabeo, Marsanne, Roussanne
e Bourboulenc. Dentre elas, as varietais
predominantes atualmente são a Syrah e a
Grenache, o que, de acordo com Philippe Coste,
presidente do Sindicato do Cru de Minervois,
representa uma mudança de orientação, já que
nos anos 1950, era a Carignan que dominava,
totalizando 75% da viticultura da região. Antes
predominava um vinho leve, sem complexidade
e, atualmente, a preferência tem sido pela
produção de vinhos ricos em frutas, com
taninos macios e gastronômicos.
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tremamente importantes para o país. Poucos sabem, no entanto, que, há 20
anos, as duas temáticas se reúnem anualmente em torno de um festival de
cinema totalmente voltado ao registro do vinho, chamado Oenovideo.
A edição 2013 ocorreu entre os dias 31 de maio e 2 de junho em Carcassonne, França. Amantes e profissionais do vinho, cineastas, fotógrafos, produtores de vinhos de Minervois e imprensa especializada em vinhos e cinema
reuniram-se para celebrá-lo na Tour de Trésau da Cité de Carcassonne, cidade
medieval francesa com status de patrimônio mundial. Juntamente com o festival, há oito anos, é realizada a exposição “Terroir de Imagens”, que reúne
ampliações de 100 fotos de vinhas e vinhos. Neste ano, o tema escolhido para
orientar a produção fotográfica, subdividida em duas categorias – profissionais
e amadores – foi “Festejar e degustar o vinho nos cinco continentes”.
Obviamente que, dada a origem do festival e a sua realização prioritária na
França (apenas três edições aconteceram na Suíça), predominam inscrições do
próprio país, mas a participação internacional é crescente, assim como em tudo
que se refere ao vinho. Nesta edição, especificamente, dentre 26 filmes selecionados de um total de 114 inscrições, 14 eram de outros países, além da França:
Alemanha, Inglaterra, Austrália, Argentina, Bélgica, Canadá, Croácia, Estados
Unidos, Espanha, Itália, Grécia, Portugal e Suíça.
Vinho como inspiração
Há uma flexibilidade quanto às origens das fotos e dos filmes em termos de
autoria (regiões e profissionais), formatos (curta, média e longa metragem) e
abordagens (ficção, documentário, institucional), desde que o motivo principal seja o vinho. A organização do festival comenta que o perfil internacional
cada vez mais se consolida e que, especialmente neste ano, mesmo as abordagens sobre o vinho francês são originárias, em parte, de um olhar estrangeiro
sobre a sua vitivinicultura e influências em contextos exteriores.
É assim que temos um curta-metragem que versa sobre o legendário Grand
Cru borgonhês Romanée-Conti, que também é um dos emblemas homenageados pelo documentário biográfico “L’Évangile selon Champlain” (“O Evangelho
segundo Champlain”), sobre o canadense Champlain Charest, proprietário do
Bistrô Champlain, em Quebec. O bordalês Château Lafleur é outro vinho que
dá tema e nome ao curta-metragem alemão “Lafleur”, uma ficção que retrata
um encontro entre um amante de vinhos e uma sommelière para a degustação
de um Château Lafleur 1979 – que conquistou o prêmio de escolha do público
do Oenovideo 2013.
Não mais por estrangeiros, mas por franceses, Bordeaux é tema de “La vente
en primeur des vins Grands Crus Classés bordelais”, um documentário sobre
a importante campanha anual de promoção e venda antecipada de vinhos da
nova safra de Bordeaux – e venceu na categoria “melhor filme destinado aos
profissionais”.
De pomposa produção inglesa, Red Obsession, escolhido como um dos melhores longas-metragens, é um filme que trata do fenômeno de inflação dos vinhos de Bordeaux após o investimento do emergente mercado chinês nos vinhos
da região. O filme mostra as imagens do sucesso e glamour dos bordaleses entre
a elite chinesa, disposta a pagar uma fortuna por esses rótulos e é narrado por
ninguém menos que o galã Russell Crowe.
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@Leslie Xifre www.oenovideo.oeno.tm.fr
Carcassonne se situa
dentro das demarcações de
Minervois, no Languedoc
Com
produções do
mundo todo,
o grande
prêmio deste
ano ficou
com um
documentário
sobre
vinhateiros
na ilha de
Santorini, na
Grécia
VENCEDORES DO OENOVIDEO 2013
Troféu especial do grande júri
“Pelican’s watch” – Lea Binzer
Melhor longa metragem
“Red Obsession” – David Roach et Warwick
“À la poursuite de Mme Li” – Anne-Marie Avouac
Melhor curta-metragem
“Vendanges d’hiver” – Guilhem Connac
Prêmio de melhor imagem
“Boom Varietal – The rise of Argentine Malbec” –
Sky Pinnick
Prêmio de melhor cenário
“Le vin, culture universelle” – Jorge Mazo
Melhor filme de “promoção”
“Do Rias Baixas – A year of wine” –
Ramses Rivera
Melhor filme destinado aos profissionais
“La vente en primeur des vins grands crus classés
bordelais” – Hervé Remaud, Mylène Jaillette,
Christophe Villain
Menção especial do grande júri
“Like the old vine” – Milka Barisic
Prêmio do público
“A year in Burgundy” – David Kennard
“Lafleur” – Mathieu Charrière
Veja os trailers em www.oenovideo.oeno.tm.fr
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A América do Sul esteve representada por dois filmes: “Boom varietal: the rise of Argentine Malbec”,
um filme norte-americano que fala da explosão de
vendas dos Malbec argentinos nos Estados Unidos
– e ganhou o prêmio de melhor imagem. E o outro
país sul-americano representado foi o Chile, com o
vídeo institucional “Santa Rita 120”, um filme de 2
minutos cujo desafio é recriar o conceito de 120 vinhos, relacionando-os à independência chilena.
As sessões foram avaliadas por um júri presidido pelo cineasta Christophe Barratier, conhecido
pelo grande público devido aos filmes Les Choristes (A voz do coração) e Faubourg 36 (Paris 36).
Além de cineasta, Barratier é um connaisseur “garimpador” de vinhos do sul da França, portanto a
sua escolha para presidir o júri em Carcassonne
não foi à toa. Segundo organizadores, o festival
tem a intenção de mostrar a presença do vinho em
origens e formatos variados, registrando a evolução
do tema e de tudo aquilo que ele suscita em cada
época e local. Barratier diz que busca encontrar
algo que o comova, surpreenda tanto nos vinhos
como no cinema. Ser interessante, bem feito não
basta: “Que seja algo tocante ou chocante, que
provoque emoções ou revoltas, e não apenas interesse.” E não seria essa a natureza do vinho?
Para os enófilos cinéfilos, o festival Oenovideo
mostra que no mundo há muito mais do que os clássicos hollywoodianos e que o vinho pode ser celebrado nas taças e nas telas pela sétima arte.
Edição 93
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ZUCCO – A HISTÓRIA DO GRAND CRU ESQUECIDO DA SICÍLIA
Fins do século XIX, o mundo passara
por transformações. A França vivia o debacle da era pós-Napoleão. A monarquia
era restaurada, mas logo voltaria a cair.
Nessa época, um aristocrata se destacava: Henri d’Orleans, conhecido como
Duque d’Aumale, um dos muitos filhos
de Luís Filipe I, o último rei da França.
Henri era dono de uma vasta fortuna,
herdada desde muito cedo. Entre suas
propriedades, por exemplo, estava o famoso Château de Chantilly, que ele restaurou após a Revolução Francesa, e lá
deixou a segunda maior coleção de pinturas do país, depois do Louvre.
Devido aos constantes conflitos da época, o duque viveu no exílio entre a Casa
de Orleans, na Inglaterra, e a Sicília,
onde ocupou uma fazenda abandonada numa localidade chamada Zucco.
Lá, passou a produzir vinho por volta
de 1850. Com isso, trouxe um pouco de
prosperidade à ilha italiana (empregando 4 mil fazendeiros), historicamente
sempre muito pobre. O vinho Zucco,
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como ficou conhecido, cresceu com
uma aura de charme e mistério, por
guardar segredos de uma aliança entre paixão pela vinicultura, savoir-faire
francês e precioso estudo do terroir siciliano.
E foi por acaso que a siciliana Lídia Rizzo encontrou os vestígios para desvendar essa lenda. “Nunca imaginaria que
onde o grande chef François Vatel guardava o segredo do seu famoso creme de
Chantilly, encontraria o segredo do vinho de Zucco”, afirma a cineasta que
criou o documentário “Zucco, o vinho
do filho do rei da França”, vencedor do
prêmio da “Revista dos Enólogos”, no
festival Oenovideo 2013.
Pelas imagens de arquivos e pelas vozes
de historiadores, biógrafos e descendentes de viticultores, vamos identificando
vários fatos ocorridos na trajetória do vinho mundial e sua conexão com o legado referencial da França, que serviu de
inspiração para o duque e tantos outros
personagens da história. Segundo a ci-
neasta, Zucco foi um vinho notável até as
primeiras décadas do século XX, mas sua
história e importante contribuição para a
vitivinicultura se perdeu e o objetivo de
sua obra é incorporá-la à memória da Itália, da França e do vinho. E não é que,
dentre os relatos da biografia do duque,
deparamo-nos com um dado surpreendente: ele também tinha terras no Brasil,
no estado de Santa Catarina, onde produziu açúcar de cana e cachaça.
O filme mostra a multinacionalidade que
está na alma do vinho de Zucco – um
vinho de sobremesa de grande finesse,
fruto da assemblage entre a cepa francesa
Sémillon (que, em Bordeaux, botritizada,
gera o Sauternes), as autóctones Catarratto Bianco e Perricone, a alemã Riesling e
a espanhola Alicante, amadurecidas sob o
intenso sol da Sicília.
No final do século XIX, a devastação dos
vinhedos franceses pela filoxera direciona
o olhar do influente mercado inglês para
o oeste da Sicília, onde se faz o vinho
Marsala, e depara com a produção mais
modernizada de Zucco. O “moderno” ali
significava justamente o oposto da industrialização, que permeava grande parte
da produção regional. Segundo o enólogo italiano Giacomo Ansaldi, o produtor
francês introduz uma nova filosofia na
produção de vinhos e no cultivo das vinhas. Isso pode ser constatado pelos registros do estudo do solo e da criação de uma
carta topográfica, com colorimetria e altimetria geológica, bem como do estudo
do clima e das influências geográficas que
favoreciam a amplitude térmica propícia
à viticultura no território de Zucco.
Resgate histórico
No filme, as imagens combinam a simplicidade e belo colorido bucólico da
região mediterrânea com as ruínas do
passado imperial greco-romano e a imponente sede do vinho de Zucco, que
nada parecia dever ao perfeccionismo
dos crus franceses. O Duque d’Aumale
não poupou investimentos: canalizou
a água para irrigação das vinhas e, se-
gundo o historiador Salvo di Matteo,
transformou Zucco numa das mais belas cidades sicilianas, à moda francesa.
Tudo indica que ali era a sua “Pasárgada”, onde produzia o vinho que tanto
o deixava orgulhoso, mantinha uma relação calorosa com a população e usava como refúgio para se recuperar de
algumas dores, como da perda de dois
jovens filhos e, posteriormente, da esposa, em 1869. Quando adoeceu e acabou
falecendo em 1897, foi para Zucco que
ele se dirigiu: “Com a ajuda deste vinho
reparador, eu lutarei.”
Sobre os ombros dos trabalhadores rurais, antes de ser levado para o enterro
na França, seu corpo foi transportado,
ao longo das vinhas, dentre todos os
caminhos que costumava fazer quando
vivo. Considerando os benefícios que
trouxe à região, a reputação do vinho de
Zucco e a admirável personalidade de
Henri d’Orleans, constante nos registros
biográficos, é estranho constatar que
poucos na região atualmente conhe-
cem a sua história. Após a sua morte,
o Conde de Paris, Louis-Philippe-Robert, herdou a propriedade e vendeu-a
em 1923, dividida em cinco partes. A
parte mais produtiva passou à família
aristocrática Gangi, de Palermo, que
continuou a fazer o vinho, mas já com
outra orientação, privilegiando a produção de vinhos à base de Moscato. Após
as grandes guerras, a vitivinicultura foi
sendo abandonada e atualmente, pelas
mãos do Instituto Regional dos Vinhos
e Azeites da Sicília, inicia-se um projeto
de retomada da produção de vinhos de
qualidade na fazenda de Zucco.
O filme de Lídia Rizzo faz parte desse
processo de renascimento, ao resgatar e
projetar esse passado na tela do cinema,
para além do silêncio dos museus, numa
linguagem mais atual e acessível às novas gerações. É assim ela assina Zucco
com a seguinte epígrafe: “Se você ignora o nome das coisas, até o mesmo o
conhecimento delas desaparece.” (Carl
Nilsson Lannaeus).
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