01D História da Tipografia.cdr

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01D História da Tipografia.cdr
HISTÓRIA DA TIPOGRAFIA - 04
(Sem ilustrações, por enquanto)
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Extraído de: Clair, Kate. Manual de tipografia. Porto Alegre, Bookman, 2009.
Tipografia Durante a Colonização e a
Industrialização
Começando no século XVII, a mecanização fez com que a produção
de tipos crescesse de forma extremamente rápida. Na mesma época,
foi graças aos impressores que a produção da literatura expandiu os
conceitos de livre pensamento e de liberdade, encorajando as revoluções americana e francesa e inspirando outros movimentos políticos.
Durante esse período, a tipografia transicionou desde caracteres de
textos claros, práticos e legíveis até as faces de tipos altamente
ornamentadas que apareceram nos primeiros anúncios de propaganda da era vitoriana.
Didots usados na França no século XVIII
Tipografia da Era Colonial
A colonização da América começou no século XVI por indivíduos que buscavam
uma oportunidade econômica e a liberdade, fugindo de uma opressão religiosa. A
primeira colônia permanente foi o estabelecimento de 1607 em Jamestown, na
Virgínia. Os peregrinos desembarcaram em Plymouth, Massachusetts, e os holandeses estabeleceram-se em Nova Amsterdã (Nova York) em 1623, escapando dos monarcas absolutistas da Europa.
Na Europa, o dramaturgo William Shakespeare morria em 1616, sete anos antes
que a coleção de suas obras completas fosse publicada em 1623. Bach e Vivaldi viviam
no final desse século, quando as óperas começaram a ser encenadas. A música e a arte
barroca estavam na moda. Obras impressas para finalidades recreativas tornaram-se
mais comuns, e a indústria da impressão florescia nos anos 1600 e 1700, apesar da falta
de inovação tecnológica dos equipamentos.
Alguns historiadores vêem o estilo barroco como ligado à Contra-Reforma da
Igreja Católica Romana, que dava ênfase aos aspectos espirituais e emocionais da
religião católica. A arte barroca era considerada como fundamentada na expressão da
emoção em cores vibrantes. Alguns artistas barrocos voltaram-se para temas clássicos
enquanto outros colocavam os heróis cristãos em cenários antigos.
Novelas, diários e panfletos políticos tornaram-se amplamente disponíveis para a
emergente classe média européia e havia uma sede insaciável pela palavra impressa. As
novelas causavam um impacto tremendo sobre as normas morais e culturais. Cartazes
e panfletos, como também jornais (o primeiro foi impresso em Estrasburgo em 1609),
circulavam na maioria das cidades da Europa. Em Amsterdã, os livros eram impressos
em tipo condensado para caberem nos bolsos dos coletes. A primeira Bíblia foi impressa em inglês por Robert Baker em 1612.
A primeira prensa de impressão foi registrada nas colônias americanas em 1640.
Em 1775 havia 50 impressoras nas 13 colônias, apesar dos impostos sobre o papel e
sobre os anúncios. Essas impressoras espalharam a palavra da revolução pelo Novo
Mundo mais rápido do que a palavra falada, encorajando a frente unificadora de uma
poderosa rebelião.
Uma fonte matematicamente perfeita
Em 1692 o Rei Luís XIV da França encomendou à Academia Francesa de Ciências
um sistema baseado em fórmula geométrica própria para a construção correta de
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tipos tipográficos.
Uma comissão de eruditos e matemáticos desenvolveu uma detalhada teoria de
design que tinha como estrutura uma malha de 2.304 quadrados. Em 1702 Philippe
Grandjean, o puncionador real, talhou uma face de tipos denominada Romain du Roi
(romana do rei) mantendo as proporções geométricas estabelecidas pela academia.
Esta foi a primeira face tipográfica que se registrou fundamentada em precisa análise e
consistência matemática, comparada com os enfoques artísticos usados anteriormente pelos calígrafos. O tipo exagerava a diferença do peso entre a haste e os traços finos,
reduzia a ligação da serifa com a letra e criava serifas finas, horizontais, com terminações retas. O tipo estava reservado para uso exclusivo da casa impressora real da
França e qualquer outro uso era considerado crime.
Tipografia na era Rococó
Nos anos 1720, apareceu em Paris um estilo floreado e ornamental de design e de
moda conhecido como Rococó. Esse estilo de design refletia um monarca que vivia
suntuosamente - um estilo de vida que logo seria derrubado por um governo alimentado pelo povo na Revolução Francesa. A realeza continuava a desfrutar uma vida de
extravagância e frivolidade, ignorando a fúria que estava fervendo nos corações daqueles que estavam condenados a viver na miséria e na pobreza.
A extravagância do estilo da arte e da tipografia na época Rococó estava expressa
nas linhas finas e nos floreios curvilíneos. As gravuras em cobre eram as mais apropriadas para reproduzir o estilo, em lugar da rigidez da impressão tipográfica. A paixão
pela letra manuscrita dos anos iniciais experimentou um tipo de renascimento, com os
mestres da caligrafia criando cartões elaborados que exibiam os seus talentos para os
fascinados estudantes. Esses floreios elaborados e rebuscados eram vistos como sinal
de refinamento pelas classes mais nobres, que se mantinham completamente distanciadas da dura realidade das condições de vida das classes mais pobres da Europa.
A impressão tipográfica
Os primeiros prelos de impressão foram construídos com o design modificado de
prensas de esmagar frutas. A prensa original de platina (uma placa sólida e lisa) incluía
um grande leito de impressão, ou cofre, com uma moldura ao redor dele. Todos os
tipos ou imagens a serem impressos tinham a altura precisa de 0,918 de polegada
(23,317 mm), denominada altura do tipo.
Era necessária precisão nas dimensões do leito de impressão e da composição dos
tipos; quaisquer blocos ou peças de chumbo que estivessem acima da altura do tipo
rasgariam o papel ou a superfície que estivesse sendo impressa, enquanto qualquer
imagem mais baixa do que 0,918 de polegada não seria corretamente entintada, resultando numa impressão má ou inexistente. Essa profundidade era essencial para uma
distribuição uniforme de tinta e uma boa impressão.
A moldura ao redor do leito da prensa era mais baixa do que 0,918 de polegada de
forma a não ser entintada ou impressa. Os tipos de madeira ou de chumbo eram arranjados no leito da prensa, seguros por guarnições (blocos de madeira e metal) colocadas
nas laterais da composição tipográfica e nos lados internos da rama. As combinações
de guarnições prendiam os tipos em seus lugares para evitar que escorregassem sob a
alta pressão da platina durante a impressão. Testes preliminares de impressão, denominados provas, permitiam que o impressor verificasse tudo para que a impressão
fosse clara e correta.
A impressão tipográfica (letterpress printing) é uma variação do prelo de platina
original. De início, a impressão tipográfica era limitada a uma estrutura ou layout composicional horizontal e vertical. Mais tarde os artistas dadaístas experimentaram composições mais livres, compondo diretamente no leito de impressão, mudando as composições antes altamente estruturadas dos trabalhos impressos. A impressão tipográfica é um processo complicado que envolve prática e paciência; às vezes é necessário
compensar com suportes o fundo dos tipos para que as dimensões de altura sejam
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precisas em todas as áreas a serem impressas. A tinta deve ser misturada com óleo na
viscosidade exata para uma impressão clara e limpa. A temperatura e a umidade afetam tanto a tinta como o papel, assim métodos de provas são aplicados para que os
resultados da impressão sejam perfeitos.
A tipografia durante a expansão colonial
A expansão colonial tornou-se uma necessidade para a obtenção das matérias
primas necessárias para o progresso nos países europeus, como também veio a ser
uma fonte de recursos para o reino. As colônias proporcionavam um bom mercado
para os bens manufaturados na Europa. Enquanto a aristocracia francesa contribuía
com dinheiro para apoiar as colônias americanas em seu movimento pela independência, suas próprias classes mais baixas tornavam-se mais e mais insatisfeitas.
Ironicamente, muitos historiadores estão convencidos de que o sucesso da Revolução
Americana nas colônias inspirou os camponeses franceses a incitarem a luta pela liberdade uma década mais tarde, em 1789.
O final do século XVIII viu a máquina a vapor tornar-se o sustentáculo de muitas
indústrias manufatureiras. A primeira delas foi instalada em uma fábrica de fiar algodão em Nottinghamshire em 1785. Eli Whitney inventou o cotton gin (máquina que
separa a semente do algodão) em 1793, o mesmo ano em que Luís XVI e Maria
Antonieta foram executados pela guilhotina na França. Seguindo-se ao Reinado do
Terror (no qual qualquer pessoa da nobreza podia ser sentenciada à morte na guilhotina pelo veredito da multidão formada pelas classes mais baixas), um jovem general
chamado Napoleão Bonaparte assumiu o poder ditatorial na França em 1799.
A moda dos tipos na Inglaterra
Em 1730, o ourives William Caslon fez o design de um tipo que incluía o romano e
o itálico, denominado Old Face. Esse estilo de tipo foi um sucesso instantâneo na
Inglaterra. Mantinha proporções equilibradas e os traços espessos das letras eram
levemente mais pesados do que os vistos em outros tipos contemporâneos, aumentando a sua legibilidade. Contrastando com o Romain du Roi, que era muito mais leve,
não tinha floreios para distrair o leitor. Mesmo que essa fonte tipográfica contasse
com um estilo orgânico, era mais refinada no peso dos traços do que a Garamond. A
Caslon Old Face rapidamente tornou-se o padrão para os livros impressos na
Inglaterra. As primeiras edições tanto da Declaração da Independência como da
Constituição dos Estados Unidos da América foram impressas em Caslon, assim até
hoje a Caslon Old Face itálica, com suas letras capitais inclinadas, ainda carrega um
sentimento da América antiga.
Um mestre da escrita torna-se designer de tipos
John Baskerville, um competente lapidador de pedras preciosas, começou nos
anos 1700 a sua carreira como mestre da escrita. Depois de fazer dinheiro como fabricante de artigos laqueados (objetos cobertos de laca com decorações gravadas), ele se
dedicou às letras e à impressão quando tinha 41 anos. Como Gutenberg, Baskerville
aperfeiçoou muitos elementos do processo de impressão. Ele se interessava por todas
as fases do processo de produção: fez o design de tipos, fundiu-os cuidadosamente,
refinou a técnica de "packing' da prensa, introduziu novos tipos de papel com superfície mais lisa, melhorou o design das prensas e refinou fórmulas de tintas para conseguir um rico negro de tonalidade púrpura.
Considerado como um tipo de Estilo Transicional (originalmente chamado de
"tipo aperfeiçoado" no final dos anos 1700), a fonte Baskerville marca o início de uma
influência da mecanização da imprensa no campo do design de tipos. Essa nova face
de tipos (em romano e itálico) foi apresentada na Inglaterra por Baskerville com a
publicação de uma edição da obra de Virgílio em 1757. Os traços precisos e extremamente finos, com serifas retas em uma face relativamente espessa, foram um ponto de
partida das faces mais cruas e artesanais vistas nos exemplos de Old Style. A nova
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fonte Baskerville era reta, com uma ênfase vertical e serifas mais chatas. Refletia várias
das qualidades encontradas na Roman du Roi, o tipo matematicamente construído.
Baskerville é reconhecido como o primeiro designer puro de tipos, diferenciandose daqueles que eram também talhadores de punções (o talhador de punções de
Baskerville foi John Handy). Ele é considerado um dos primeiros designers de tipos a
criar e a refinar as formas de suas letras desenhando-as primeiramente no papel em
vez de talhar diretamente os punções no metal. Baskerville considerava os objetivos,
as possibilidades e as limitações de todo o processo de impressão durante o desenho
de uma face de tipo.
Sabendo desde o início do design que não queria uma impressão de letras forçadas
para dentro do papel, ele fabricou suas próprias tintas fervendo o óleo de linhaça,
maturando-o com resina negra e queimando o negro-de-fumo ele mesmo.
Perfeccionista, ele procurou uma superfície de impressão mais suave e acabou desenvolvendo o primeiro papel acetinado. Rejeitando o acabamento de textura tradicional,
ele prensou à quente a superfície do papel ainda úmido para torná-Io mais liso.
Durante o processo de impressão, ele cobria o cobertor por trás da folha de papel com
um material mais duro do que o usualmente aplicado, conseguindo assim um resultado mais liso.
A obra de Baskerville é identificada pelo uso generoso do espaço em branco incorporado dentro do layout e pela ausência de ornamentação desnecessária; ele confiava
exclusivamente na tipografia para transmitir significado e sentido na composição.
Inicialmente seus esforços foram criticados, muitos reclamando que o papel era muito
liso e que a tinta era negra demais. Alguns reclamavam que o reflexo causado pelo
papel limpo e brilhante feria os olhos. Infelizmente, Baskerville morreu antes de constatar que suas inovações na arte de imprimir e seu compromisso com a excelência
eram amplamente aceitos pelo público em geral.
A tipografia na Itália
Em 1788 em Parma, na Itália, Giambattista Bodoni apresentou a primeira face de
tipos de Estilo Moderno (Modern Style), com extrema variação de peso entre os traços espessos e finos. As letras redondas eram estreitas, com serifas muito finas que não
tinham ligações com a haste. A precisão geométrica desse tipo transmite um sentimento clássico por sua ênfase vertical e sua pequena altura-de-x em proporção com a
altura da letra capital, como também pelos detalhes encontrados nos ângulos retos
bem marcados das serifas, e pelas ascendentes, que têm a mesma altura das letras capitais. Existe uma consistência mecânica no design, porque Bodoni usou a repetição da
forma para criar letras similares em todo o alfabeto.
É possível que Bodoni estivesse familiarizado com a obra (e nela tenha se inspirado) do designer francês Firmin Didot, que por sua vez foi influenciado pelo Romain
du Roi. As faces em Estilo Moderno de Bodoni e Didot podem ter sido influenciadas
pelas mudanças de traço feitas com o instrumento do gravador, um estilete fino e
pontiagudo usado para marcar as placas de metal. À medida que esse instrumento foi
aperfeiçoado, tornou-se possível a criação de formas de letras mais precisas.
O alvorecer da industrialização
No final dos anos 1700 haviam ocorrido as revoluções tanto da América como da
França, e a transição de uma sociedade agrária e artesanal para economias mecanizadas e de produção em massa estava em curso. Muitos fizeram essa transição da noite
para o dia, vendendo suas fazendas e mudando-se para as cidades em busca de empregos viáveis para sua sobrevivência. O caminho em direção à Idade Industrial estava
atravancado com muitos desempregados e muitos que trabalhavam demais, no meio
de uns poucos que prosperavam, enfatizando os contrastes no status social. As grandes mudanças na sociedade e na economia refletiam-se na arte e na literatura da época.
À medida que a Idade Industrial ganhava impulso, os anos 1800 viram a produção
de bens e serviços ganharem velocidade à medida que a energia a vapor era empregada
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em todas as áreas do processo de fabricação. Em Londres, os bairros degradados cresceram em proporção espantosa, porque muitos dos que estavam vivendo parcamente
nas fazendas pobres mudaram-se para as cidades em busca de trabalho. As condições
de vida miseráveis eram agravadas pela superpopulação.
Como conseqüência, uma classe média emergiu dessas revoluções políticas e econômicas. À medida que o padrão de vida das classes trabalhadoras melhorou, elas
puderam adquirir os bens e serviços que se tornaram disponíveis com a industrialização. A riqueza não era mais medida pela propriedade de terras, mas pelo investimento
de capital.
A população urbana que crescia demandava mercadorias que fossem baratas. A
propaganda de tais produtos resultou em uma explosão de material impresso. Por
meio da criação de um consumidor de classe média, a industrialização tinha dado
nascimento a uma economia de mercado, como também a uma oportunidade completamente nova e imensa para a palavra impressa.
Muitos países europeus tinham colonizado terras distantes durante a exploração
em busca de matérias-primas baratas. Sob a pretensão de "cristianizar" os nativos, a
igreja também expandiu seus domínios. À medida que sua ascensão ao poder na
França continuava, Napoleão tentou tomar militarmente grandes áreas da Europa. A
derrota de Napoleão por Wellington em Waterloo, em 1815, levou a uma maior definição das identidades nacionais independentes ao longo do século. Em 1860, a Itália foi
unificada como uma só nação, e em 1870 a Alemanha foi unificada por Bismarck,
definindo de forma mais clara suas fronteiras e seus territórios.
A imprensa ganha impulso
Em 1803, o inglês Henry Fourdrinier construiu uma máquina de fazer papel em
rolo contínuo, revolucionando a manufatura do papel. Em 1840 era possível fabricar o
papel a partir da madeira em uma folha contínua. Isso resultou em um produto de
papel que era mais consistente, abundante e de baixo custo comparado com o antigo
processo de fazer à mão uma folha de cada vez.
A consistência no peso e na textura da superfície do papel proporcionou inovações
nos prelos de impressão para aumentar a velocidade e a precisão.
Em 1814, Friedrich Koenig construiu duas prensas movidas a vapor para o Times
de Londres. Antes das prensas mecanizadas de Koenig, considerava-se rápido 250
folhas por hora nas prensas manuais. As duas novas prensas Koenig eram capazes de
imprimir até 1.100 folhas por hora - um aumento de 440% na produção.
Conseqüentemente, o acréscimo de placas curvas de impressão e de rolos para
entintar aumentou a velocidade dos processos de produção. Em 1851 os prelos de
impressão estavam tirando 20.000 folhas por hora. Os avanços mecânicos tornaram a
informação barata, acessível e oportuna para a maioria das pessoas. Como resultado,
aumentou a alfabetização.
Introdução das fontes sem serifas
Todos os tipos impressos no início dos anos 1800 tinham sido com serifas. Na sua
introdução em 1816, por William Caslon IV, os tipos sans serif (sem serifas) foram
denominados Grotescos na Europa e Góticos na América, porque muitos acharam
que essas letras tinham uma aparência bárbara e estranha. Em 1832 a novidade da
estética sans serif tinha passado, e Stephenson Blake & Co. (uma casa fundidora de
tipos de Sheffield começada por William Garnett e John Stephenson, financiada por
James Blake) produziu uma ampla série de tipos sem serifas que logo ficaram populares nos Estados Unidos.
Uma nova era na tipografia: a propaganda
Em 1820 a aplicação da tipografia mudou de seu uso predominantemente de tipos
para livros para o crescente uso de faces decorativas ou de formato display (especiais
para títulos). A Revolução Industrial estava em plena agitação, numa expansão econô-
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mica nunca vista antes. As mudanças violentas na sociedade continuavam, e grandes
grupos de imigrantes estavam sendo rapidamente absorvidos pela força de trabalho
americana, muitas vezes explorados como força barata de trabalho.
Para atender às necessidades do crescente setor de produtos manufaturados, os
anúncios tornaram-se predominantes. Tipos inusitados em formato display apareceram para ser usados em cartazes, papéis de carta, catálogos, tabelas de horários, cartões postais e outras necessidades de uma economia voltada para a fabricação e para o
marketing. Os fabricantes sentiram a necessidade de atrair maior atenção para seus
próprios produtos e serviços dentro de um ambiente visual congestionado por meio
do desenvolvimento de fontes ornamentadas, sombreadas e de aparência tridimensional. Grandes variações de fontes extravagantes que tinham de 5 a 8 centímetros de
altura tornaram-se uma norma, adequadas para espalhar as mensagens sobre as novas
mercadorias.
Esses enormes títulos eram talhados em madeira, material mais leve e menos dispendioso do que se fosse fundido em chumbo. Tipos em tamanhos maiores tornaram-se mais populares, e em 1827 o americano Darius Wells (inventor e impressor de
Nova York) era conhecido por produzir enormes tipos talhados em madeira. Não
havia limite para o tamanho do tipo que podia ser impresso e variações na largura dos
tipos eram comuns. Versões condensadas e expandidas dos grandes tipos de madeira
também se tornaram populares. Wells eventualmente desenvolveu uma fresadora
mecânica (chamada de cortador giratório vertical) de forma que pudesse produzir
tipos de madeira com mais rapidez e maior precisão. Em 1828 ele publicou o primeiro
catálogo de tipos conhecido nos Estados Unidos.
Os tipos sem serifas eram misturados nas composições para dar uma aparência
mais cheia e escura para a página, com o propósito de chamar mais atenção. Novas
formas de tipos apareceram, exibindo traços pesados e negros, bem como pesadas
serifas na forma de blocos. Essas fontes ganharam o nome de Egípcias devido ao
interesse dos ingleses nas descobertas e expedições que estavam acontecendo simultaneamente ao longo do Rio Nilo. Tendo hastes e serifas em bloco de peso quase igual,
elas eram consideradas altamente visíveis nos painéis abarrotados de anúncios. Um
exemplo de tipo desse período, P.T. Barnum, que tinha as letras sombreadas e com
incisões atraentes, exageradas e tridimensionais, foi desenhado para prender a atenção
do público comprador.
A ênfase em vender mercadorias conduziu o design de tipos do período.
Anteriormente, as mudanças na tipografia tinham sido orientadas pelos instrumentos,
materiais e pela tecnologia disponível aos impressores e pelo seu senso de estética. O
resultado era material de leitura na forma de livros e panfletos. Agora, no entanto, a
mudança era determinada pela indústria manufatureira, e as necessidades dos anunciantes influenciavam os aspectos estéticos do design de tipos.
A máquina de escrever
Uma máquina de escrever primitiva foi patenteada em 1714, porém foi somente
em 1829 que William Austin Burt patenteou nos Estados Unidos uma prática máquina de escrever. Os primeiros modelos produziam somente letras maiúsculas e de início as letras eram embossadas (marcadas profundamente no papel), por isso eram
consideradas somente como um instrumento para preparar material para os cegos.
Com o tempo, as modernas máquinas de escrever tornaram-se a ferramenta preferida
dos secretários masculinos, substituindo as correspondências e os registros escritos
caprichosamente à mão.
Os tipos para as máquinas aperfeiçoadas eram semelhantes ao Bodoni, mas as
serifas muito finas não permitiam que o operador fizesse múltiplas cópias com significante qualidade. O mecanismo da máquina de escrever era tal que as letras eram monoespacejadas na página resultante. Monoespacejado refere-se ao espaço igual entre as
letras dentro de uma palavra, de forma que letras largas como o M tomavam o mesmo
espaço da letra i.
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As letras monoespacejadas são difíceis de ser lidas de forma fluente, causando um
ritmo staccato desigual. Para compensar essa dificuldade técnica, as serifas das letras
mais estreitas foram estendidas para preencher um espaço horizontal mais largo. O
novo tipo para as letras das máquinas ficou conhecido como paica (pica, em inglês) e
assim as máquinas de escrever proliferaram.
A máquina de escrever proporcionou às pessoas a oportunidade de criar documentos acabados, que pareciam impressos, na privacidade de suas próprias casas ou
escritórios. Escrever à máquina tornou-se rapidamente um hábito no setor dos negócios, e em algumas décadas as máquinas de escrever eram equipamento padrão nos
escritórios, causando o declínio do uso de escreventes para preparar documentos
formais legais e para a transcrição de documentos jurídicos. Com a invenção da máquina de escrever elétrica em 1935 vieram as opções de espaços variáveis, fazendo
com que mais designers viessem a se interessar pelo design de estilos de tipos para a
máquina de escrever.
A impressão da cromolitografia em pedra
O processo de impressão litográfica é baseado no princípio de que óleo e água não
se misturam. As imagens são desenhadas em uma pedra porosa com um marcador
gorduroso. A pedra é revestida com uma mistura de água e goma arábica, que não
adere na área da imagem. Quando uma tinta oleosa é aplicada na superfície da pedra, a
tinta adere somente na área de imagem e pode ser impressa.
Inventada em 1796 por Aloys Senefelder, o processo de impressão litográfica não
ganhou popularidade comercial até o início dos anos 1900. Devido ao fato de que o
artista ou designer desenhava diretamente na pedra, esse método permitia grande
liberdade e espontaneidade no design de tipos e nas imagens como também a oportunidade do uso múltiplo de cores. As letras, com formas graciosas e muitas vezes extravagantes, corriam pelos rótulos e cartazes com uma facilidade nunca vista nas tradicionais produções tipográficas.
A era vitoriana influencia a tipografia
A segunda metade dos anos 1800 é geralmente referida como a era vitoriana, em
homenagem à Rainha Vitória, que subiu ao trono britânico em 1837 com a idade de 18
anos. Ela dirigiu o reinado até 1901. A era foi marcada por otimismo social, forte crença moral e religiosa e ênfase nas boas maneiras e nas convenções sociais. A ingênua
doçura e o romantismo que marcaram essa época eram atribuídos ao sentimento preponderante de uma jovem rainha. Essa época causou uma atitude social mais amável
para com as crianças, parcialmente manifestada pela ampla publicação de livros infantis.
O amor pelos detalhes diminutos e pela decoração intrincada marcou a arquitetura, o mobiliário, o vestuário e os estilos artísticos do período. Quando a estética vitoriana foi aplicada ao design de tipos, no entanto, o resultado muitas vezes não foi promissor. Freqüentemente levou a tipos filigranados e embelezados de tal forma que
eram quase impossíveis de serem lidos. Muitos tipos vitorianos mostramencaracolados entrelaçados com temas naturais cobertos de folhas, que não eram
vistos desde a Idade Média. Hoje, poucos tipos desse período encontram aplicação
nas composições modernas, uma vez que sua pouca legibilidade inibe o seu uso.
A documentação da Guerra Civil Americana
Uma parte da era vitoriana coincide com a Guerra Civil Americana (18611865),
seguida pela Reconstrução dos estados sulistas. Ostensivamente, a razão da guerra
estava na oposição filosófica a uma escravidão baseada no racismo; no entanto, a economia do norte, amplamente baseada na indústria, estava em conflito direto com a
economia do sul, baseada nas plantações, porém também o separatismo alimentou a
guerra. A Guerra Civil Americana foi a primeira a ser documentada pela fotografia, e
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narrativas de primeira mão foram levadas aos jornais. Mais de um milhão de homens
americanos perderam suas vidas na sangrenta guerra e, com o advento do fotojornalismo, a ânsia por notícias oportunas de cada batalha propagaram a ampla distribuição
de jornais diários.
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