Você Está Disposto a Morrer?

Transcrição

Você Está Disposto a Morrer?
Cristianismo
V itorioso
Você Está Disposto a
Morrer?
David Roper
C
omo observou certa vez W. B. West, os
avisos anunciados nas igrejas da época
de Apocalipse deviam ser bem diferentes dos avisos
anunciados nas igrejas de hoje1. Nos dias de hoje,
anunciamos jantares congregacionais, atividades do
grupo de jovens e eventos. No fim do primeiro século, os avisos certamente incluíam notícias como
a morte de Simão, que foi morto por recusar-se a
negar a Cristo; a prisão de Maria porque não disse:
“Senhor Deus César”; e a necessidade de um novo
lar para o pequeno Josué, cujos pais foram martirizados.
Na lição sobre a medição do santuário, enfatizamos que Deus prometeu proteger o Seu povo. Isto
não significa, porém, que eles jamais seriam perseguidos. A maioria deles, senão todos, sofreriam.
Alguns até morreriam. Essa verdade é descrita vividamente na história das duas testemunhas, no capítulo 11.
Na lição passada, expusemos três fatos que devemos saber sobre ser testemunha de Deus2. Nesta
lição, acrescentaremos mais dois fatos.
OS HOMENS PODEM MATÁ-LO (11:7–10)
Depois de ler a respeito dos poderes que Deus
concedeu às duas testemunhas, você poderá se
s­ urpreender com o versículo 7: “Quando tiverem,
então, concluído o testemunho que devem dar, a
besta que surge3 do abismo pelejará4 contra elas, e as
vencerá, e matará”. Uma quarta verdade que devemos saber sobre testemunhar é que embora os cristãos sejam protegidos por Deus para realizar a Sua
obra, essa proteção é para um propósito específico;
em certo sentido, permanecemos vulneráveis. Como
ilustra o versículo 7, ainda podemos ser mortos5.
O responsável pela matança no versículo 7 é
chamado de “a besta”. Essa criatura — que será um
fator importante na última metade do livro6 — é
introduzida quase casualmente7. Não serão dados
mais detalhes da besta até os capítulos 13 e 17, o que
não é incomum em Apocalipse. Nos capítulos 2 e
3, muitos tópicos foram introduzidos sem explicação, mas ganham destaque mais adiante — como “a
nova Jerusalém que desce do céu” (3:12; veja 21:2).
Da mesma forma, 14:8 anuncia a queda da Babilônia,
mas a Babilônia só é introduzida no capítulo 17 (veja
v. 5) e só é destruída no capítulo 18 (veja vv. 2, 10,
21).
Visto que João só dá detalhes da besta mais tarde, seguiremos a orientação dele8. Por enquanto, é
Eddie Cloer, palestra não publicada sobre Apocalipse, s.d. 2 Se quiser, reveja os três fatos. 3 “Surge” está no tempo presente
no grego, indicando ação contínua. As forças do mal surgem continuamente em oposição ao que é bom e verdadeiro (veja 17:8).
4
Discutiremos essa peleja ou guerra mais detalhadamente nos comentários sobre o capítulo 12; mas, por enquanto, gostaríamos
de enfatizar que: 1) é uma guerra espiritual, e não física, e 2) é uma batalha contínua, e não um conflito pontual do passado (veja
Efésios 6:12). 5 Veja a promessa de Jesus em Lucas 10:19: Ele disse aos discípulos: “Nada, absolutamente, vos causará dano”. Mais
tarde, alguns deles sofreram martírio por causa da fé — mas suas almas não sofreram “dano” algum. 6 Esta é a primeira de trinta
e seis referências à “besta”. 7 Por conta do artigo definido (“a”) precedendo a palavra “besta”, muitos presumem que a besta era
conhecida dos leitores de João, mas isto não é necessariamente assim. O texto grego tem “as duas testemunhas de mim” no versículo 3, mas o símbolo das testemunhas nem por isso era conhecido dos leitores: a imagem das duas testemunhas só aparece no
capítulo 11. 8 Para saber a identidade da besta, veja a lição “Olhe, Ouça e Aprenda”, na próxima edição desta série. Geralmente
presume-se que essa besta seja o rei do abismo (9:11), mas este não é necessariamente o caso. Muitos escritores identificam a besta
como “o Anticristo”. Veja a lição “O Anticristo e Apocalipse”, mais adiante nesta edição.
1
Apocalipse 11:7–14
suficiente reconhecer a besta como um inimigo poderoso de Deus que surgiu “do abismo” (grifo meu).
Na lição sobre a quinta trombeta e os gafanhotos,
reforçamos que o abismo não é “o lago de fogo e
enxofre” que foi “preparado para o diabo e seus anjos” (Apocalipse 20:10; veja Mateus 25:41). O simbolismo é, de fato, de uma caverna subterrânea com
uma fenda que vai até a superfície da terra, um lugar onde os espíritos maus aguardam julgamento
— uma caverna subterrânea fervilhada de criaturas
apavorantes9.
Assim como a chegada da primavera faz os animais hibernados despertarem de seu sono, a pregação da Palavra despertou a besta — e ela se arremeteu do terrível poço com um propósito mortal.
Será que ela teria êxito contra os homens — ou seja,
as testemunhas — que exalavam fogo, que controlavam o tempo e que operavam milagres poderosos?
Teria, sim: João disse que a besta “as vencerá, e matará” (v. 7).
Somos tentados a clamar: “Deus, por que o
Senhor permitiu que isso acontecesse?” O texto bíblico revela a resposta parcial. Leiamos o começo
do versículo 7: “Quando tiverem, então, concluído10
o testemunho que devem dar”. A besta conseguiu
matar as duas testemunhas, mas não antes que estas
concluíssem seu trabalho. Em outras palavras, a besta
matou os profetas, mas não o testemunho deles.
Tendo sugerido que, nos dias de João, as duas
testemunhas representavam todos os cristãos fiéis
que estavam propagando a Palavra, vamos contextualizar o versículo 7 com o primeiro século11: os
pregadores e professores cristãos estavam sendo
mortos? Estavam, sim. Isto destruiu o testemunho
deles? Não, não destruiu: a Palavra de Deus sobreviveu até o presente século — e continuará viva enquanto este mundo existir. Os inimigos de Deus não
podem deter o progresso do evangelho — nem jamais conseguirão isso. Deus decretou que a verdade
vencerá!12
Quando a besta matou as testemunhas, não
­ areceu que a verdade vencera; mas que o mal venp
cera. Os versículos 8 a 10 apresentam este quadro
das duas testemunhas mortas pela besta:
…e o seu cadáver13 ficará estirado na praça da
grande14 cidade que, espiritualmente, se chama
Sodoma e Egito, onde também o seu Senhor foi
crucificado. Então, muitos dentre os povos, tribos, línguas e nações contemplam os cadáveres
As Duas Testemunhas Estiradas na Praça (11:8)
das duas testemunhas, por três dias e meio, e não
permitem que esses cadáveres sejam sepultados.
Os que habitam sobre a terra se alegram por causa deles, realizarão festas e enviarão presentes15
uns aos outros, porquanto esses dois profetas
atormentaram os que moram sobre a terra.
As palavras dos apóstolos pintam uma cena grotesca. Henry Swete disse: “O deleite dos espectadores é… ao mesmo tempo cruel e infantil”16. Os habitantes da terra não permitiram que as testemunhas
fossem enterradas17, deixando seus corpos no meio
da rua, expostos a enxames de insetos, cães selvagens e pássaros carnívoros.
9
Veja a lição “A Natureza Autodestrutiva do Pecado”, na edição “Apocalipse — Parte 5” desta série. 10 A palavra grega traduzida por “concluído” indica “que o testemunho atingira seu fim e objetivo” (Leon Morris, Revelation [“Apocalipse”], ed. rev. The
Tyndale New Testament Commentaries. Grand Rapids, Mich.: Wm. B. Eerdmans Publishing Co., 1987, p. 145). 11 Pode-se fazer
uma breve explicação em ordem sobre a diferença entre o simbolismo e a realidade: na visão de João, as testemunhas concluíram
a pregação antes que a besta as atacasse. Na realidade, as forças do mal atacam constantemente os professores da Palavra justamente enquanto estão ensinando (consideremos a matança contínua dos cristãos indicada em 6:9–11). Não há contradição nisto.
Um caso é simbolismo, o outro é realidade — mas o resultado final é o mesmo. 12 Veja Isaías 55:11. 13 Ocorrem três referências a
“cadáveres” nos versículos 8 e 9. Na linguagem original, as duas primeiras referências estão no singular (literalmente, “cadáver”),
enquanto a terceira está no plural (literalmente, “cadáveres”). Parece que as duas primeiras indicam a singularidade do trabalho
e do destino das testemunhas — tal como dizemos “o coração deles” quando dois ou mais indivíduos têm o mesmo sentimento.
14
Veja as muitas ocorrências da palavra “grande” no capítulo 11. “Grande” é uma das palavras chaves do capítulo. 15 Alguns
pensam que “presentes” eram porções escolhidas de suas refeições festivas (veja Ester 9:19). 16 Henry B. Swete, The Apocalypse
of St. John (“O Apocalipse de João”). Cambridge: MacMillan Co., 1908; reimpressão, Grand Rapids, Mich.: Wm. B. Eerdmans
Publishing Co., s.d., p. 138.
Uma das maiores tragédias que poderia sobrevir a um homem era que seu corpo não fosse sepultado. (Veja Salmos 79:1–3; Isaías 5:25; Jeremias
8:1, 2.) Lembro-me de uma exposição horrível que
visitei na Feira Estadual de Oklahoma, quando eu
era adolescente. Dentro de uma barraca suja, gravuras sombrias e imagens de cera retratavam como os
corpos de famigerados criminosos de guerra foram
largados expostos em praças públicas no final da
Segunda Guerra Mundial.
Quando os corpos das duas testemunhas foram jogados na rua principal18, incrédulos de todo
o mundo19 se aproximaram para olhar e celebrar.
Assim a mentira se alegra quando parece que a verdade sucumbe. Assim o mal tripudia quando pensa
que venceu20.
Antes de deixar esta cena macabra, é necessário dizer uma palavra sobre as locações citadas: “e o
seu cadáver ficará estirado na praça da grande cidade que, espiritualmente, se chama Sodoma e Egito,
onde também o seu Senhor foi crucificado” (v. 8). A
palavra “espiritualmente” é traduzida na NVI por
“figuradamente”, e por “nome simbólico” na NTLH.
Qualquer que seja a tradução de sua preferência, a
passagem é clara quanto à linguagem usada estar no
sentido figurado.
Muitos presumem que a cidade é literalmente
Jerusalém, visto que a passagem identifica-a como
o lugar “onde também o seu Senhor foi crucificado”. Michael Wilcock, porém, fez uma indagação
pertinente: se os nomes “Sodoma e Egito” foram
usados metaforicamente, “por que ‘a cidade onde
o Senhor foi crucificado’ não poderia ser metafórica também?”21 Como destacou o autor do Livro de
Hebreus, o Filho do Homem já foi crucificado e exposto à vergonha mais de uma vez (Hebreus 6:6).
G. B. Caird observou que “João usa esta mesma expressão, a grande cidade, mais sete vezes (16:19;
17:18; 18:10, 16, 18, 19, 21), e em cada caso o contexto
evidencia que se trata de Roma”22. Especificamente,
as outras sete ocorrências da expressão se referem a
“Babilônia” — de maneira que essa é a interpretação
básica que devemos render ao termo no capítulo 11.
Como veremos, “Babilônia” é usada em Apocalipse
como um termo enigmático para a cidade de Roma
— e a cidade de Roma encaixa-se bem no relato das
duas testemunhas (veja 18:24).
Devemos ter o cuidado de não limitar “a grande
cidade” do capítulo 11 a um local único no globo.
Martin Franzmann disse que “‘a grande cidade’…
é um símbolo de todo e qualquer lugar onde os
homens ‘desprezam o Filho de Deus e profanam o
sangue da aliança pela qual eles foram santificados
e insultam o Espírito Santo da graça’ ([Hebreus]
10:29)”23.
As três locações mencionadas no versículo 8 falam do caráter da “grande cidade”: ela “é herdeira
do vício de Sodoma, da tirania do Egito do Faraó e é
a cega desobediência de Jerusalém”24. O mais importante de tudo é que as três locações falam do destino
da cidade: Sodoma, o Egito e Jerusalém tinham todos caído no juízo de Deus — e devemos dizer que
“a grande cidade” também foi julgada!
NO FINAL, DEUS IRÁ RECOMPENSÁ-LO!
(11:11–13)
A atmosfera festiva ao redor dos dois corpos sem
vida é perturbadora. Se não soubéssemos como é o
fim da história, poderíamos concluir que as forças
do mal são invencíveis. Então, olhamos novamente
para o texto e enfocamos uma expressão facilmente
ignorada: “Então, muitos dentre os povos, tribos,
línguas e nações contemplam os cadáveres das duas
testemunhas, por três dias e meio” (11:9; grifo meu).
“Por três dias e meio” — por apenas “três dias e
meio”.
Novamente nos deparamos com o número simbólico “três e meio”, que está associado a tribulação, privação e provação — com a implicação de
esperança no amanhã. O numeral do versículo 9
17
Não é dito quem queria enterrar os corpos porque esse detalhe não acrescentaria nada à cena. Poderiam ser amigos, ou até
não-cristãos simpatizantes. (Alguns amigos não-cristãos tentaram proteger Paulo em Atos 19:31.) 18 A palavra grega traduzida
por “praça” em 11:8 significa literalmente “largo” ou “espaçoso” (tradução usada em Mateus 7:13). Uma tradução literal seria
“largo”. Era um termo comum para uma rua principal de uma cidade. 19 A expressão “os povos, tribos, línguas e nações” (11:9)
é usada no sentido comum de “todos os homens de todos os lugares”. Nesta passagem, as palavras são usadas alternadamente
com a expressão “os que habitam na terra” (11:10). (Os habitantes da terra eram incrédulos não-cristãos.) 20 Talvez você queira dar
algumas ilustrações familiares aos seus ouvintes. Burton Coffman citou várias ilustrações (Commentary on Revelation [“Comentário
sobre Apocalipse”]. Austin, Tex.: Firm Foundation Publishing House, 1979, pp. 251–52). 21 Michael Wilcock, I Saw Heaven Opened:
The Message of Revelation (“Eu Vi o Céu Aberto: A Mensagem de Apocalipse”). The Bible Speaks Today Series. Downers Grove,
Ill.: Intervarsity Press, 1975, p. 106. 22 G. B. Caird, A Commentary on the Revelation of St. John the Divine (“Comentário de Apocalipse
de João, o Divino”). Londres: Adam & Charles Black, 1966, p. 138 (grifo dele). Veja também Robert Mounce, The Book of Revelation (“O Livro de Apocalipse”). The New International Commentary on the New Testament Series. Grand Rapids, Mich.: Wm.
B. Eerdmans Publishing Co., 1977, p. 226. 23 Martin H. Franzmann, The Revelation to John (“A Revelação a João”). St. Louis, Mo.:
Concordia Publishing House, 1976, pp. 80–81. 24 Caird, p. 138 (grifo dele).
basicamente se contrasta com o numeral usado anteriormente: as testemunhas deram testemunho por
três anos e meio (11:3), mas ficaram mortas apenas
três dias e meio. Nenhum desses números é literal,
mas ambos contrastam um período longo com um
curto. O contraste declara que a vitória dos ímpios
tem vida curta!
O quinto fato que devemos saber sobre testemunhas em favor do Senhor é que se perseverarmos,
tudo acabará bem. Já vimos 1) o conflito entre o bem
e o mal e 2) a aparente derrota do bem. É hora de
vermos 3) a vitória final do bem.
À medida que o feriado carnavalesco se arrastava em torno dos corpos, parecia que tudo estava
perdido. Os mensageiros de Deus estavam calados;
só se ouvia a cruel risada do diabo. Deus, porém,
sempre tem a última risada. Quando homens maus
celebram a abdicação dos bons e santos, “a festa
deles sempre é interrompida antes de atingir o clímax”25.
Visualize a dramática seqüência na sua mente:
“Mas, depois dos três dias e meio, um espírito de
vida26, vindo da parte de Deus, neles [nas duas testemunhas] penetrou, e eles se ergueram sobre os pés”
(v. 11a).
Muitos anos antes, foi mostrado ao profeta
Ezequiel um vale de ossos secos e alvos, que representavam os israelitas, dominados pelo desespero.
Enquanto o profeta observava a cena, os ossos começaram a se mexer. Os ossos se juntaram formando
esqueletos. Músculos e peles revestiram os esqueletos. Finalmente, “viveram e se puseram em pé, um
exército sobremodo numeroso” (Ezequiel 37:10). O
impacto da visão de Ezequiel era que, independentemente de quão desesperadoras as circunstancias
parecessem, Deus podia reverter a situação. Da
mesma forma, a visão de João dizia aos cristãos que
enfrentavam perseguição: “Por pior que seja a situação, sempre há esperança! O povo de Deus prevalecerá!”
A visão de João prometia que independentemente de quantos milhares fossem mortos por Roma, ou
de quantos cristãos fossem mortos pelas feras ou
queimados na estaca, ou de quanto sangue fosse
derramado no palco arenoso das arenas, o governo
romano não poderia deter o progresso da verdade;
ele não poderia destruir a igreja.
É possível fazermos uma aplicação mais abrangente: nenhuma força sobre a terra será capaz de
descarrilar os planos e propósitos de Deus. No decorrer dos tempos, muitos tentaram isso e todos fracassaram. Esta visão “exprime o que a história confirma, que a voz da igreja não pode ser silenciada”27.
Nas palavras imortais de William Cullen Bryant, “a
verdade soterrada há de ressurgir”28.
Isaías escreveu: “seca-se a erva, e cai a sua flor,
mas a palavra de nosso Deus permanece eternamente” (Isaías 40:8). Jesus disse: “Passará o céu e a terra,
porém as minhas palavras não passarão” (Mateus
24:35). Visto que a Palavra indestrutível é “a semente” do reino (Lucas 8:11; veja Mateus 13:19), a afirmação de Jesus também significa que o Seu reino/
igreja (Mateus 16:18, 19) jamais será destruído. Até
“as portas do inferno não prevalecerão” contra ele
(Mateus 16:18).
Você consegue imaginar o impacto nos que festejavam, quando as duas testemunhas se levantaram
despertando de um sono de três dias? O versículo
11 diz que “àqueles que os viram sobreveio grande
medo” (v. 11b). Os habitantes da terra tinham motivos para temer. “Sendo a morte o último recurso do
homem, o que se pode fazer contra quem ressuscitou
dos mortos?!”29 O mundo sempre fica espantado e
admirado com o poder de recuperação da verdade.
Então, as testemunhas “ouviram grande voz
vinda do céu, dizendo-lhes: Subi para aqui. E subiram ao céu numa nuvem” (v. 12a). Deus sempre
tem a última palavra — e a última palavra às Suas
testemunhas é: “Subam para cá”! Isto nos remete à
ascensão de Jesus, que subiu ao céu envolto numa
nuvem (Atos 1:9)30.
Essa visão assegurou, assim, aos primeiros cristãos que até mesmo se tivessem de morrer por causa
da fé, isso não seria em vão; a obra de Deus continuaria. Além disse, também lhes assegurou que eles
não seriam esquecidos pelo Senhor; Ele os ressuscitaria e os levaria para casa para estarem com Ele!
O versículo 12 retrata a ressurreição corpórea
quando o Senhor voltar? (Leia 1 Tessalonicenses
4:17, 18; 1 Coríntios 15:51–54.) Talvez. É mais provável que descreva o que mais tarde é denominado “a
primeira ressurreição” (Apocalipse 20:5, 6): viver e
25
Eugene H. Peterson. Trovão Inverso. São Paulo: Editora Habacuc, s.d., s.p. Quando deu esta aula na igreja em Judsonia,
Joel Davis comentou que “choveu no desfile de rua deles”. 26 Veja Gênesis 2:7; 6:17; 7:15, 22. 27 Albert H. Baldinger, Preaching
From Revelation: Timely Messages for Troubled Hearts (“Pregando com base em Apocalipse: Mensagens Oportunas para Corações
Atribulados”). Grand Rapids, Mich.: Zondervan Publishing House, 1960, p. 55. 28 William Cullen Bryant, “The Battlefield”, 1839;
citado em John Bartlett, Bartlett’s Familiar Quotations (“Citações Conhecidas de Bartlett”), 16ª ed., ed. ger. Justin Kaplan. Boston:
Little, Brown and Co., 1992, p. 411. 29 Mounce, p. 228. 30 A ida das testemunhas para o céu numa nuvem também nos remete à
ascensão de Elias (2 Reis 2:11).
As Duas Testemunhas Subindo para o Céu
(11:12)
reinar com Cristo durante a era cristã (20:4)31. Prefiro
a última interpretação por três razões: 1) neste estudo, ainda estamos na seção da trombeta (aviso)
e a última trombeta (a sétima) só será tocada em
Apocalipse 11:14 e 15. 2) Os versículos consecutivos
são expressos na linguagem da trombeta (aviso). No
versículo 13 “só” uma décima parte da cidade ruiu;
“só” sete mil foram mortos, enquanto a maioria da
humanidade (“as outras”) não foi morta32. 3) Esta é
uma visão que se utiliza de linguagem simbólica.
Todavia, a ressurreição e a ascensão descritas no
versículo 12 nos dão esperança de uma ressurreição
corpórea. Talvez pudéssemos dizer que o versículo
será parcialmente cumprido quando os espíritos dos
fiéis saírem para “estar com Cristo” (Filipenses 1:23).
O cumprimento final será quando nossos frágeis corpos ressuscitarem com poder, quando nossos corpos
perecíveis forem ressuscitados e transformados em
incorruptíveis, quando nossos corpos vis forem ressuscitados em glória (1 Coríntios 15:42–44, 52, 53).
Quando as duas testemunhas subiram na nuvem, “os seus inimigos as contemplaram. Naquela
hora, houve grande terremoto, e ruiu a décima parte
da cidade, e morreram, nesse terremoto33, sete mil
pessoas” (vv. 12b, 13a). Deus ainda estava operando
nos não arrependidos, de maneira que se ouviu um
aviso semelhante ao som de uma trombeta: a destruição de uma décima parte da grande cidade e a
morte de sete mil pessoas.
Esta é a única menção da fração “um décimo”
em Apocalipse34. Mounce observou que esta era
“uma porção relativamente grande [da cidade], mas
não o suficiente para desativá-la”35. Jim McGuiggan
sugeriu que “a décima parte fala, ao que parece…
de pagamento parcial, o resto vem depois”36. Esta
também é a única menção do número simbólico
“sete mil”. Tanto “sete” quanto “mil” são valores
que simbolizam completitude37. Talvez o número se
refira ao fato de que isso encerrava os avisos divinos
à humanidade. Depois disso, viria o soar da última
trombeta (11:14, 15). Daí seria tarde demais para o
arrependimento38.
Como tem sido o caso por toda a série de trombetas, Deus estava primordialmente interessado nos
sobreviventes. Que efeito Seus julgamentos surtiram
neles? Lemos: “ao passo que as outras39 ficaram sobremodo aterrorizadas e deram glória ao Deus do
céu” (v. 13b).
“Deram glória ao Deus do céu” — o que isto significa? No capítulo 9, quando “o exército do inferno” matou “a terça parte da humanidade”, os que
não foram mortos “não se arrependeram” (9:18, 20;
Veja as observações sobre 20:4–6 na edição “Apocalipse — Parte 10”, desta série. 32 Os comentaristas que acreditam que
o versículo 12 está falando da ressurreição corpórea interpretam o versículo 13 como uma descrição da destruição de todas as
coisas quando Cristo voltar — mas a linguagem não indica isso. Outros que acreditam na mesma coisa dizem que cronologicamente o versículo 13 vem antes do 12. Isto é possível, mas não é a forma natural de se ler o texto. 33 Vimos um terremoto mais
cedo no capítulo 6, mas determinamos que o terremoto ali descrito sobreviria no fim do mundo, destruindo completamente a
terra. O terremoto do capítulo 11 provoca apenas dano parcial. Veja mais sobre a importância simbólica de um terremoto, na
lição “O Grande Dia... Chegou”, na edição “Apocalipse — Parte 4”, desta série. 34 Veja os comentários sobre frações na página 26
de “Apocalipse — Parte 1”. 35 Mounce, p. 229. 36 Jim McGuiggan, The Book of Revelation (“O Livro de Apocalipse”). Looking Into
The Bible Series. Lubbock, Tex.: International Biblical Resources, 1976, p. 163. Em relação ao “resto do pagamento” à “grande
cidade” (Babilônia), veja o capítulo 18. 37 Veja o significado simbólico dos números “sete” e “mil” na lição “Calmaria no Meio
da Tempestade” de “Apocalipse — Parte 1”. 38 Alguns acreditam que não há nenhum significado simbólico para o número “sete
mil”, sendo simplesmente o equivalente aproximado de a décima parte da população da cidade relativamente grande. Outros
salientam que, nos dias de Elias, sete mil não se prostraram a Baal (1 Reis 19:18); acreditam que os sete mil de Apocalipse 11 é “a
contra-parte negativa” dos sete mil de 1 Reis 19. 39 A ERC diz “os demais”.
31
grifo meu). O terremoto do capítulo 11 produziu um
resultado diferente? Eles foram convertidos para o
Senhor?
À luz de 9:20 e 21 e passagens semelhantes, é
difícil crer que ficar aterrorizado e dar glória indique
arrependimento verdadeiro e conversão genuína da
parte dos sobreviventes. Por exemplo, 13:3 mostrará
que “toda a terra se maravilhou, seguindo a besta”
(grifo meu). Dificilmente isto significa que houve
uma conversão em massa em 11:1340. No que diz respeito à expressão “deram glória ao Deus do céu”,
o rei Nabucodonosor sempre foi incentivado a dar
glória ao Senhor Deus (Daniel 2:47; 3:28; 4:1–37), mas
com certeza ninguém afirmaria que Nabucodonosor
converteu-se à verdadeira fé. Por isso, minha tendência é concordar com Jim McGuiggan no sentido
de que “eles não se converteram — apenas tiveram
medo”41.
Por outro lado, alguns destacam que em outros
trechos da Bíblia (incluindo outras passagens de
Apocalipse), os termos usados no versículo 13 de
fato indicam arrependimento42. Talvez o que estava sendo expresso é a esperança de que, embora a
maioria não respondesse positivamente aos avisos
de Deus, alguns responderiam. Seja ou não este o
significado da última parte do versículo 13, sabemos
por experiência que isto é verdade. Graças a Deus,
mesmo entre os ímpios, alguns possuem corações
que podem ser tocados.
CONCLUSÃO
Da história das duas testemunhas, extraímos
cinco fatos que devemos saber sobre testemunhar
ou dar testemunho: 1) Deus o aplaudirá, embora 2) os homens o odeiem; 3) Deus o protegerá, embora
4) homens o matem; 5) e finalmente, Deus o recompensará — se você permanecer fiel.
Reserve um tempo para ler os versículos 3 a 13
novamente. Qual impressão geral você tem? Não
é a impressão de vitória? “Nós vencemos!43 Mesmo
morrendo, pode parecer que perdemos, mas no final nós vencemos. Ainda que morramos, nós vencemos!” Talvez você queira reler essas palavras. Talvez
queira repeti-las em voz alta. Talvez queira copiá-las
num pedaço de papel e afixá-las num lugar visível
para serem relidas várias vezes ao dia. Talvez queira
levá-las numa tira de papel com você. Esta é a pode-
rosa mensagem de Deus para você e para mim: nós
vencemos!
A história das testemunhas completa o interlúdio entre a sexta e a sétima trombeta. Assim, o versículo 14 anuncia: “Passou o segundo ai. Eis que, sem
demora, vem o terceiro ai”. Estamos prontos para
estudar a passagem sobre a sétima trombeta.
Ao encerrarmos, tenho de perguntar: “Você está pronto para o toque da sétima trombeta?” Será
que você reconheceu a glória de Deus sem realmente se arrepender, sem verdadeiramente se converter a Ele? Se você já é cristão, será que está sendo
­indiferente no seu serviço ao Senhor? Se pedissem
que você morresse por Jesus, você estaria pronto
para isso? Lembre-se de que Deus só recompensará
os fiéis. Só os fiéis podem verdadeiramente dizer:
“Nós vencemos!” Se você tem alguma necessidade espiritual pendente, por favor, cuide disso hoje
­mesmo!44
Questões para
Revisão e Debate
1. Reveja os três primeiros fatos que devemos
saber sobre o testemunho de Deus (da lição
anterior).
2. Segundo a lição, qual é o quarto fato que
devemos saber sobre testemunhar?
3. Apesar de sermos protegidos por Deus, em
que aspectos continuamos vulneráveis?
4. O que aprendemos sobre “a besta” no capítulo
11?
5. Reveja o que a lição “A Natureza Auto­
destrutiva do Pecado” mencionou sobre o
abismo.
6. Segundo a lição, qual é o significado da
expressão “quando tiverem… concluído o
testemunho” (grifo meu)?
7. As forças do mal podem deter o progresso do
evangelho?
8. Por que os habitantes da terra não deixaram
os corpos das duas testemunhas serem
enterrados?
9. O que você sabe sobre Sodoma, o Egito e
Jerusalém (ou seja, Jerusalém nos dias de
40
Alguns limitam a “conversão em massa” do capítulo 11 aos judeus, mas já vimos que Deus já não tem maior interesse nos
judeus do que em outras raças e povos. Veja os comentários sobre 2:9 em “Apocalipse — Parte 2”, e as observações sobre 7:4–8,
em “Apocalipse — Parte 4”. 41 McGuiggan, p. 163. 42 Veja Josué 7:6, 19; Isaías 42:12; Jeremias 13:16; Lucas 18:13; 1 Pedro 2:12; Apocalipse 14:7; 15:4; 16:9. 43 Se julgar apropriado, peça que os seus ouvintes repitam estas palavras com você: “Nós vencemos!” 44 Se
esta lição for usada no formato de sermão, diga aos ouvintes para aceitarem o chamado do Senhor. Veja a nota de rodapé 38, na
lição “Testemunhas de Deus” desta edição.
10.
11.
12.
13.
14.
Cristo e dos apóstolos)? O que esses nomes
lhe dizem sobre o caráter da “grande cidade”?
O que esses nomes lhe dizem sobre o destino
da “grande cidade”?
Segundo a lição, qual é o quinto fato que
devemos saber sobre testemunhar?
Reveja o significado simbólico do número
“três e meio”. Segundo a lição, qual é o
significado de “três anos e meio” versus “três
dias e meio”?
Você acha que o versículo 12 descreve uma
ressurreição corpórea ou uma ressurreição
espiritual (simbólica)? De qualquer maneira,
o versículo 12 nos dá esperança de que um
dia seremos ressurretos?
Qual efeito o terremoto teve sobre os homens?
Você acha que isto significa que eles se
arrependeram?
Qual impressão geral você obteve ao ler a
história das duas testemunhas?
Notas para
Professores e Pregadores
Ao comentar em aula o versículo 8, talvez você
queira fazer um cartaz sobre “a grande cidade”
como o modelo a seguir:
“A GRANDE CIDADE”
Locação
Caráter
Destino
Sodoma
Vício
Julgados por
Deus!
Egito
Tirania
Julgados por
Deus!
Jerusalém
Desobediência
Julgados por
Deus!
Aqui estão outras possibilidade para ensinar ou
pregar sobre Apocalipse 11:3–14: “Deus Sempre Tem
a Última Palavra” (a “última palavra” é “Subam…”);
“A Escuridão e a Glória”. Charles Ryrie chamou esta
seção de “Duas Testemunhas” e dividiu-a em quatro
partes:
1) Tempo (v. 3);
2) Traços (vv. 4–6);
3) Término (vv. 7–10);
4) Translado (vv. 11–14)45.
Albert Baldinger abordou todo o capítulo 11 com
uma lição intitulada “Vozes de Vitória”. Aqui está
uma adaptação do esboço dele:
1) Uma Voz Tranqüilizadora (vv. 1, 2);
2) Uma Voz Decidida (vv. 3–10);
3) Uma Voz Vitoriosa (vv. 11–14).
Charles Caldwell Ryrie, Revelation (“Apocalipse”). Chicago: Moody Press, 1968, pp. 72–75.
45
Nota do Autor
Eddie Cloer me olhou nos olhos um dia e perguntou: “Você já pensou que alguém pode ler
uma de nossas edições, ser convertido a Jesus — e morrer?”
Ele estava falando de um cristão que perderia a vida, se voltasse para a sua terra natal. As
lições nestes periódicos viajam pelo mundo, às vezes para lugares hostis ao cristianismo. Em
­algumas regiões do globo, a guerra de Apocalipse 12 está sendo revivida. Satanás não hesita em
usar todo e qualquer meio para tentar nos destruir. Esta edição acompanha a oração para que Deus
esteja com cada leitor — independentemente do desafio que ele esteja enfrentando.
David Roper
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