PDF - Casa do Coração

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QUEM FOI DR. FRITZ
O médico mais famoso do Brasil é alemão. Filho de camponeses, estudou na Polônia e,
depois de formar-se, retornou a seu país. Onde casou-se com uma jovem catalã. Mas não teve
tempo de aproveitar a vida. Foi convocado para servir na Primeira Grande Guerra e morreu no
campo de batalha.
Quarenta anos mais tarde, o espírito do Dr. Adolph Fritz deixou estarrecido o Brasil onde
nunca estivera – ao realizar inacreditáveis tipos de cura, através das mãos de um homem que
mal concluira o terceiro primário: Zé Arigó. E depois dele, três outros médiuns deixaram a
comunidade científica sem saber o que dizer.
Como o mineiro Zé Arigo,o baiano Oscar Wilde e o médico pernambucano Edson Queiroz
também serviram ao Dr. Fritz. Salvaram muitas vidas, mas tiveram mortes trágicas.
Caberá ao engenheiro Rubens de Faria Jr., do Rio de Janeiro, concluir esta missão. Sua
vida é a ultima do médico alemão.
ZÉ ARIGÓ, O SEMI-ANALFABETO QUE ASSOMBROU O MUNDO
Na noite de 18 de outubro, uma sexta-feira, os 800 lugares do Cine Leon
estavam ocupados. A sociedade Congonhas do Campo, no interior de Minas Gerais, a
50 minutos de Belo Horizonte, participava da homenagem do grupo de teatro
amador, do Centro Espirita Casa do Caminho ao filho mais famoso da cidade: José
Pedro de Freitas que, se vivo fosse, estaria completando 74 anos.
No palco, ao lado de um painel que estavam a imagem de Allan Kardec – o Pai
do Espiritismo - , Sidney Venceslau de Freitas, 45 anos, tetava parar a timidez para
agradecer em nome de sua mãe e dos dois irmãos a lembrança do nome de seu pai.
Junto a ele, representando as autoridades e as famílias de Congonhas, o juiz Murilo
de Sá não era menos humilde. E vestia a mesma camisa, com o simbolo da entidade
religiosa. Forte abraço entre os dois espíritas selou a admiração e respeito que hoje
existem entre o poder constituido e a família de Zé Arigó – o medium que, apesar de
ter salvo muita gente com seu canivete enferrujado, foi perseguido pela Igreja e a
classe médica, julgado e preso em duas ocasiões.
Como os profetas esculpidos pelo Aleijadinho, que adornam o adro da igreja do
Bom Jesus do Matosinho, no alto da cidade, a lembrança do preconceito e da
injustiça ficarão para sempre, na consciência dos homens.
INFANCIA POBRE
Filho de Antonio de Freitas Sobrinho e Maria André de Freitas, José nasceu em
12 de outubro de 1922, na Fazenda do Faria, pertencente a seu avô, de quem
herdou o nome copleto. Como era comum na época, vei ao mundo pelas mão de
uma parteira. Foi o primeiro de uma prole de dez. Sua infância foi muito pobre e até
16 anos, os limites do mundo que conhecia não transcendiam os das terras de seu
avô, onde trabalhava de sol a sol; Quase sempre se alimentando de angu.
É o próprio Arigó que lembra do tempo de privações: “Não me recordo de ter
conhecido um colchão, em menino. Dormia debaixo das moitas de bananeiras, sobre
o couro das cangalhas, junto com o meu irmão Antonio, para esperar o dia clarear, a
fim de tocarmos a tropa de burros ou o carro de bois. O relógio de meu pai eram as
estrelas e o sol. Nosso maior medo eram as onças, cujo miado enchia de pavor a
escuridão da noite. Com medo delas, muitas vezes dormi em forquilhas de arvores.”
Arigó podia ter nascido rico. Seu avô foi um homem próspero e temido, dono de
muitas propriedades. Morreu em 1911, quando o filho mais velho, José Freitas
Sobrinho, então com 29 anos, tomou as rédeas dos negócios. Ficou sendo
responsável pela Fazenda do Faria, de cultura, e da Forquilha de gado. Semanas
depois, no entanto, morreu numa caçada. Gente esperta soube se aproveitar do
momento de insegurança da família e roubou muitas terras.
Antonio de Freitas, pai de Zé Arigó, teve que abandonar os estudos para
assumir a responsabilidade e salvar o que restava, preservando o patrimônio que
tambem era de sua irmã, Delfina, e de sua mãe, Ana Cordeiro de Brito. Os pais só
deram permissão para Arigó sair da fazenda e conhecer a feira que havia no centro
de Congonhas, quando ele completou 16 anos. Foi vender galinhas e ovos. “Fiquei
deslumbrado com aquela multidão de gente. Nunca imaginei que houvesse tudo
aquilo. Foi uma grande novidade.”
PESADELOS COM MÉDICOS
Havia outras coisas no mundo, alem de plantar, colher e tocar o gado.
Um dia, os olhos de Arigó esbarraram nos de uma cabocla bonita, prendada e
sonhadora. Chamava-se Arlete Soares, tinha 21 anos, quatro a mais do que o bichodo-mato. Descobriram mais tarde, que eram primos em quarto grau. Namoraram,
noivaram e casaram. Virgens, na primavera de 1943. Havia outras coisas no mundo,
sim. E também assustavam.
Quando rapazinho,Arigó começou a ter pesadelos. Via um homem alto, careca,
envolto numa névoa. Dirigia outros médicos, que usavam máscaras e aventais
brancos.
Na primeira vez, acordou sobressaltado. Levantou-se e rezou, pedindo a Deus
que não deixasse aquilo acontecer novamente. Mas na noite seguinte, a cena se
repetiu. O mesmo homem, os mesmos médicos, o mesmo centro cirúrgico
apareceram no sonho do assustado Arigó.
ZÉ FICANDO LOUCO
Como o pesadelo teimasse em se repetir, pensou que estivesse ficando louco.
Seus pais e irmãos não imaginaram de forma diferente e acabaram levando-o a um
médico de verdade, na cidade. O doutor achou que o angu do jantar devia ter
causado o problema. O estomago pesado seria o responsável pelos sonhos
tenebrosos. Arigó perdeu até a fome e parou de jantar. Emagreceu e perdeu muitos
quilos.
Mas os pesadelos continuavam. E a cada noite se apresentavam mais
assustadores. O homem careca falava um idioma que o rapazola nunca ouvira.
Levantava-se de madrugada para ficar perambulando no quintal. Parecia um
zumbi.
“Plantei muita couve nessas ocasiões”, dizia ele, lembrando-se daqueles anos de
sofrimento.
O casamento não trouxe a solução. Arigó conta a mulher tudo o que via e ouvia
de estranho. Tinha medo de dormir. Pedia a Arlete que ficasse em vigília, ate que ele
pegasse no sono. Mas o silencio da noite trazia novas visões. Por várias vezes,
completamente transtornado,foi para na rua, sem roupas. Os vizinhos ajudavam a
dominá-lo e trazê-lo de volta para casa.
O comentário ganhava as ruas de terra batida da velha Congonhas.
“O Zé ta ficando louco”. Médicos e até psiquiatras não conseguiram dizer
contrário.
“Ele agora está falando comigo numa língua que eu não conheço e que eu não
entendo nada.”
DORMENCIA NO CORPO
Se o trabalho braçal deixava o pobre Arigó extenuado,as suas visões e os
pesadelos acabavam de minar sua resistência. No dia seguinte era Arlete que se
desdobrava em cima da máquina de costura para zelar pelo sustento da família. Era
a única forma que encontravam para ajudar o marido, que agora, dera para falar
sozinho pelos cantos, como se estivesse cedendo terreno à debilidade.
“Eu não agüento mais !”, explodiu um dia. “Ele agora está falando comigo,
numa língua, que não conheço, que não entendo nada.
Finalmente, Arigó conseguiu compreender o que o desconhecido tentava lhe
dizer, há algum tempo. Era um médico alemão, já morto, que precisava voltar a
Terra através de seu corpo, para socorrer pessoas necessitadas.
Arigó entregou-se.
“Daí por diante dei para sentir uma dormência que começava na ponta do dedo
dos pé até envolver todo o meu corpo. A princípio achei uma sensação esquisita.
Mas, depois, passeia compreendê-la. Era o meu amigo que estava chegando”,
explicou certa vez, já consciente do processo de incorporação.
Mais uma vez, os fenômenos que aconteciam com Zé Arigó voltaram a ser
motivo de comentários na cidade. Agora diziam que ele estava recebendo o espírito
de um médico alemão. Doentes começaram a bater a porta de sua casa. Um deles
se contorcia com dores na barriga. Vomitava e dizia estar disposto a qualquer coisa,
para livrar-se do sofrimento. Arigó começou a falar enrolado. Foi até o quintal e
voltou com uma faca na mão. Por alguns instantes, o doente deixou de se preocupar
com a dor que estava sentindo. Seus olhos brilhavam de pavor, temendo do que
poderia acontecer. Será que o vizinho ficara louco mesmo? Afinal, onde é que estava
o médico de que o povo falava?
RESUMO:
1-
23-
José Pedro de Freitas, o Zé Arigó, quase vai a loucura, de passar três
anos tendo pesadelos e visões de um médico, que falava um idioma
estranho. Era Dr. Fritz, que pretendia usar o corpo do médium para
desenvolver uma missão de curas.
As cirurgias feitas pelas mãos de Zé Arigó atraem caravanas de todas
as partes do pais a Congonhas do Campo, MG.
Perseguições de classe médica leva Arigó a prisão. Médico morre em
trágico acidente. Missão de Dr. Fritz continua na Bahia, através dos
irmãos Eduardo e Oscar Wilde, que tem morte semelhantes.
Autor: Cláudio Vieira
(Extraído do jornal “O DIA” de 16/11/1996)
Casa do Coração – Associação Beneficente
Rua Nascimento Silva, 94 – Ipanema
Rio de Janeiro - RJ

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