Atualidades

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Fascículo 09
Cinília Tadeu Gisondi Omaki
Maria Odette Simão Brancatelli
Índice
Os constantes desafios para Cuba de Fidel Castro......................................................................1
Exercícios............................................................................................................................................2
Gabarito.............................................................................................................................................2
Encerrou-se o monopólio do PRI no México ................................................................................3
Exercícios............................................................................................................................................4
Gabarito.............................................................................................................................................4
Os constantes desafios para Cuba de Fidel Castro
O clima de tensão criado pela Revolução Cubana vez por outra retorna, apesar de seus 41
anos. Em 2000, velhas questões – embargo econômico norte-americano, fugas da ilha caribenha,
novas levas de refugiados em Miami – foram temporariamente encobertas com o episódio Elián
González.
Transformado no principal mote de propaganda oficial do regime fidelista contra o
eterno inimigo norte-americano, o garoto cubano Elián conseguiu sobreviver ao naufrágio da balsa,
que provocou a morte de sua mãe. No entanto, não escapou do oportunismo político dos tradicionais
rivais dos tempos da Guerra Fria: Fidel Castro e o governo dos EUA.
Cobiçada pelas potências européias durante a Idade Moderna, devido à estratégica
localização geográfica e à lucrativa produção de açúcar e tabaco, Cuba tornou-se colônia espanhola.
Sua independência só aconteceu no final do século XIX, após a Guerra Hispano-Americana (1895-98),
na qual foi fundamental a ação armada dos EUA. O direito de intervenção garantido pela Emenda
Platt e a instalação de uma base militar em Guantanamo formalizaram a tutela norte-americana.
Governos autoritários e sem representatividade, além de grande insatisfação popular,
marcaram a história cubana da primeira metade do século XX. O ambiente era ideal para ações
radicais, como Fidel Castro bem falou: “... o momento é revolucionário e não político”.
Em 1959, a Revolução Cubana derrubou a longa ditadura de Fulgêncio Batista, após a
vitória de Fidel e poucos companheiros, na guerra de guerrilhas iniciada em Sierra Maestra anos antes.
O novo governo passou a cumprir as promessas relacionadas à igualdade e justiça social:
nacionalização dos setores básicos e de empresas estrangeiras e significativas medidas nos setores da
educação e saúde.
A reação americana foi imediata: suspensão das importações de açúcar, fim das relações
diplomáticas, embargo comercial e pressão para que Cuba fosse expulsa da OEA. Acuada política e
economicamente, Cuba aderiu ao socialismo e aproximou-se da URSS, numa relação de forte
dependência entre 1961 e 91.
A falência do socialismo real e a desintegração do Leste europeu e da aliada URSS
trouxeram novos desafios para Cuba que, lentamente, foi forçada a ceder à abertura econômica, mas
com rigoroso controle estatal. Afinal, era uma questão de sobrevivência.
O fim do apoio soviético, a queda do volume do comércio externo e um mercado
caracterizado por baixos níveis de eficiência e competitividade levaram a economia cubana a viver seu
pior momento entre 1992 e 94.
Aproveitando-se do novo contexto, os EUA aumentaram a pressão, com a aprovação de
duas leis, entre 1992 e 96, que fecharam ainda mais o cerco sobre a ilha: a Torricelli (direito do
governo americano de aplicar sanções a países que tivessem relações com Havana, além de proibir a
entrada de navios que tenham atracado na ilha) e a Helms-Burton (sanções contra empresas
estrangeiras que negociassem com empresas cubanas beneficiadas com propriedades
norte-americanas confiscadas pela revolução).
Em tempos de globalização, todo mercado é importante e agressivamente disputado.
Cuba possui um grande potencial de negócios e, por isso, houve pressões do empresariado sobre o
governo norte-americano para amenizar o bloqueio.
No final de 2000, o Congresso dos EUA votará um projeto de lei que visa atenuar o
embargo econômico sobre Cuba, permitindo a venda de remédios e alimentos, mas continuariam as
restrições relativas a financiamentos comerciais e viagens turísticas de cidadãos americanos à ilha.
Fidel usa os meios de que dispõe para manter o regime e recuperar a economia, inclusive
o garoto Elián, que retornou ao seu país em junho passado, após sete meses vivendo nos EUA. Se
questionado hoje, provavelmente o carismático líder da Revolução Cubana concordaria com a
alteração de sua histórica frase para ‘o momento agora é político e não mais revolucionário’.
1
Cinília T. Gisondi Omaki e Maria Odette Simão Brancatelli são professoras de História do Colégio
Bandeirantes.
Texto elaborado em outubro de 2000 para o Portal.
Exercícios
01. (Fuvest-99) Sobre a Revolução Cubana, é correto afirmar que:
a. um número expressivo de padres católicos compunha as principais lideranças revolucionárias.
b. o êxito da revolução só foi possível graças ao apoio econômico de diversos países da América
Latina.
c. o caráter socialista da revolução só foi assumido em abril de 1961, ainda que a vitória tenha
acontecido em janeiro de 1959.
d. a vitória da revolução deve ser desvinculada da luta guerrilheira na Sierra Maestra.
e. o principal líder da revolução, Fidel Castro, militou no Partido Comunista Cubano desde sua
juventude.
02. (FEI-2000) O caso Elián González deflagrou uma crise política entre o governo norte-americano e a
comunidade cubana do país. Sobre este caso, é possível afirmar:
I. A posição do governo norte-americano – a favor do pai do menino – marca uma nova forma de
relacionamento entre EUA e Cuba, com o fim do embargo imposto pelo primeiro há 40 anos.
II. Houve ampla mobilização da comunidade cubana de Miami e do estado da Flórida a favor da
permanência de Elián nos Estados Unidos, já que isto seria considerado uma vitória frente ao
regime de Fidel Castro, que eles combatem.
III. O governo norte-americano, em princípio contrário à volta de Elián para Cuba, teve que rever sua
posição devido às pressões por meio da OEA e da ONU.
a.
b.
c.
d.
e.
apenas II está correta.
apenas I está correta.
apenas I e II estão corretas.
apenas I e III estão corretas.
apenas III está correta.
Gabarito
01. Alternativa c.
02. Alternativa a.
2
Encerrou-se o monopólio do PRI no México
Num contexto de maior liberdade política, ocorreu em 2000 uma eleição presidencial
histórica no México. A derrota do PRI (Partido Revolucionário Institucional), depois de 71 anos no
poder, representa um passo decisivo para a democratização plena do país.
Para unir as forças que combateram o autoritário e conservador governo de Porfírio Diaz
(1876-1911), nasceu em 1929 o Partido Nacional Revolucionário que, em 1946, intitulou-se PRI. Seu
caráter reformista e conciliador permitiu à burguesia legitimar o poder e ao Estado harmonizar
diferentes facções políticas e sociais, que participaram da primeira revolução latino-americana pós
independência.
A Revolução Mexicana (1910-17) contou, de um lado, com os setores da burguesia e
camadas médias que defendiam propostas liberais, dos quais o proletariado se aproximou; de outro,
os camponeses e pequenos proprietários que queriam a devolução das terras indígenas, a
expropriação dos latifúndios e o fim da marginalização político-social.
Subiu ao poder Francisco Madero, representante da liderança burguesa, que não
concretizou a promessa de reforma agrária. Os setores populares radicalizaram sua ação, sob o
comando de Emiliano Zapata no sul e de Pancho Villa no norte.
Após várias crises e conflitos, assumiu o liberal Venustiano Carranza (1914-20), que
promulgou a Constituição de 1917, com algumas das propostas sociais, a fim de enfraquecer o
movimento campesino. A revolução, aparentemente, atingiu seus objetivos, mas os líderes
camponeses foram mortos.
O PRI obteve, a partir de 1929, o controle da polícia, burocracia estatal e sindicatos;
nacionalizou o petróleo com a Pemex, sob o governo do populista Lázaro Cárdenas; criou monopólios
privados nos setores de comunicação e telefonia, em meio ao nepotismo e à corrupção; realizou a
reforma agrária (embora limitada) e afastou os militares da política, mantendo uma fachada
democrática.
Essa “ditadura perfeita” (definição do escritor peruano Mario Vargas Llosa) era,
periodicamente, referendada por votações em que prevaleciam o voto de cabresto e fraudes,
garantindo-lhe a presidência, os executivos estaduais e a maioria no Legislativo.
A abertura política possibilitou que as pressões sociais aumentassem, durante a
instabilidade econômica da década de 1980. Na eleição de 1988, Cuauhtémoc Cárdenas, dissidente
do PRI, venceu nas urnas, mas foi derrotado por fraude na contagem oficial. O presidente Carlos
Salinas (1988-94) empreendeu medidas neoliberais, abrindo o mercado e integrando mais o México
aos EUA. Embora modernizador, o reformismo não evitou nova crise financeira e o aumento da
corrupção, ligada ao narcotráfico.
Em 1.o de janeiro de 1994, explodiu em Chiapas uma rebelião liderada pelo Exército
Zapatista de Libertação Nacional, que exigia mudanças na distribuição da terra e dos benefícios sociais
para a população mais pobre. Os rebeldes se auto-denominavam “zapatistas”, em referência a Zapata,
símbolo da luta social da Revolução Mexicana.
O EZLN tomou o palácio de governo e sublevou o pobre estado de
Chiapas, exigindo “pão, saúde, educação, autonomia e paz” para os camponeses, em sua maioria
indígenas. Era, também um protesto contra o início do Nafta (Acordo Norte-Americano de Livre
Comércio), que agravaria, em sua opinião, as condições de vida das camadas populares.
No governo de Ernesto Zedillo (1994-2000), a crise financeira e a desigualdade
socioeconômica acentuaram-se, o PRI revelou-se incapaz de resolver os problemas e a oposição
ganhou espaço nos estados e municípios. As reformas políticas garantiram mais liberdade, as regras
eleitorais foram modificadas e a escolha do candidato do PRI mudou, com a substituição do dedazo
(indicação) pela eleição interna no partido.
Coordenadas por uma instituição independente do governo (Instituto Federal Eleitoral) e
fiscalizadas por milhares de mexicanos e estrangeiros, as eleições de 2000 foram marcadas por uma
disputa acirrada entre o candidato priista Francisco Labastida e o oposicionista Vicente Fox, do Partido
3
de Ação Nacional (PAN). A vitória de Fox pôs fim ao monopólio do PRI.
O novo governo deve continuar o processo de reformas neoliberais, modernizar a
máquina estatal, privatizar o setor elétrico e as ferrovias, ampliar o debate sobre o destino da Pemex e,
principalmente, avançar nas questões sociais. Se o futuro é imprevisível, ao menos tem-se uma
certeza: a velha oligarquia de “dinossauros” e os tecnocratas do PRI perderam sua hegemonia.
Maria Odette Simão Brancatelli e Cinília T. Gisondi Omaki são professoras de História do Colégio
Bandeirantes.
Texto elaborado em outubro de 2000 para o Portal.
Exercícios
01. (Fuvest-97) A Revolução Mexicana de 1910, do ponto de vista social, caracterizou-se:
a.
b.
c.
d.
e.
pela intensa participação camponesa.
pela aliança entre operários e camponeses.
pela liderança de grupos socialistas.
pelo apoio da Igreja aos sublevados.
pela forte presença de combatentes estrangeiros.
02. (FGV-98) “O fato é que, oito décadas depois, México e Rússia abandonaram há bastante tempo os
princípios que moveram suas revoluções. Neozapatistas de Chiapas já não buscam certezas. Propõem,
em vez delas, unir rebeldes do mundo todo em rede, para construir um futuro diferente, que ainda
não sabe como será. Uma espécie de 5.a Internacional tolerante, não dogmática e informatizada,
nascida na selva latino-americana. Como protagonistas estarão aqueles que não pensam que a história
acabou e o capitalismo venceu. O século não poderia acabar sem essa!”
J. S. Ramos. Revista Atenção, n.o 8,1996
O texto acima refere-se diretamente a:
a. necessidade dos latino-americanos de pegarem em armas contra o imperialismo.
b. existência em Chiapas, neste final de século, de uma proposta de transformação da sociedade
protagonizada, entre outros rebeldes, pelos neozapatistas.
c. emergência de um movimento de massas para a libertação do México.
d. descontentamento da população de Chiapas com o abandono dos princípios norteadores das
revoluções russa e mexicana.
e. necessidade de imprimir reformas no capitalismo dando continuidade à história.
Gabarito
01. Alternativa a.
02. Alternativa b.
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