Sessão: "Sistemas de Informação Geográfica aplicados a pesquisas

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Sessão: "Sistemas de Informação Geográfica aplicados a pesquisas
Sessão: "Sistemas de Informação Geográfica aplicados a pesquisas de História
Agrária"
Título: “História, Arqueologia e Georreferenciamento na percepção da ocupação
territorial da vila de Ilhéus (Bahia, Brasil): período pré-colonial ao século XVII”
Autores
Marcelo Henrique Dias – Doutor em História; Professor Adjunto do Departamento de
Filosofia e Ciências Humanas (DFCH) da Universidade Estadual de Santa Cruz (UESC), Ilhéus,
Bahia, Brasil. [email protected]
Walter Fagundes Morales - Doutor em Arqueologia; Professor Adjunto do Departamento de
Filosofia e Ciências Humanas (DFCH) da Universidade Estadual de Santa Cruz (UESC), Ilhéus,
Bahia, Brasil. [email protected]
Ronaldo Lima Gomes - Doutor em Geotecnia; Professor Titular do Departamento de Ciências
Agrárias e Ambientais (DCAA) da UESC. [email protected]
Resumo
Nossa comunicação tem como objetivo apresentar as pesquisas desenvolvidas na região sul do
estado da Bahia, Brasil, mais precisamente no território compreendido pela antiga Vila de São
Jorge dos Ilhéus, sede da capitania homônima constituída na primeira metade do século XVI.
Em nossos estudos utilizamos áreas do conhecimento distintas, porém complementares: a
História Agrária e a Arqueologia. Por meio de prospecções arqueológicas e informações
documentais levantadas foi possível localizar mais de três dezenas de sítios arqueológicos do
período pré-colonial e do Brasil Colônia e discutir as opções e os elementos culturais,
econômicos, ambientais e paisagísticos como fatores que orientaram a implantação dos
assentamentos ancestrais e das antigas sesmarias, engenhos, fortificações, caminhos de acesso,
portos e aldeamentos indígenas. Esses dados, aplicados ao Sistema de Informações Geográficas
(SIG) permitiram-nos localizar, identificar e caracterizar diversos tipos de assentamentos
erguidos desde tempos ancestrais até as primeiras décadas do século XVII e, assim, criar
modelos preditivos para direcionar as prospecções arqueológicas em busca de assentamentos
não registrados nas fontes textuais e iconográficas e detalhar análises sobre o uso e ocupação do
solo que vão além de uma perspectiva cartesiana desprovida de ações culturais e cognitivas das
comunidades que viveram nesse território.
Palavras chaves: Arqueologia; História Agrária, SIG; Bahia; paisagem; ocupação e uso do
solo; longa duração.
“History, Archaeology and georeferencing perception of territorial occupation of the
village of Ilhéus (Bahia, Brazil) from the pre-colonial period to the seventeenth century”
Abstract
The present work introduces the research carried out in the southern state of Bahia, Brazil, more
precisely the territory comprised by the ancient village of São Jorge dos Ilhéus, seat of the
homonymous captaincy established in the first half of the sixteenth century. In our studies we
have used distinct, though complementary areas of knowledge, viz. Agrarian History and
Archaeology. Through archaeological surveys and the documentary information obtained, it was
possible to locate more than three dozen archaeological sites of pre-colonial and colonial Brazil
and also to discuss the options and the cultural, economic, environmental and landscape
elemental factors that have guided the establishment of ancient settlements and ancient land
grants, mills, fortifications, access roads, ports and indigenous settlements. These data, applied
to the Geographic Information System (GIS) allowed us to locate, identify and characterize the
various types of settlements raised since ancient times until the early decades of the seventeenth
century. We have thus been able to design predictive models so as to direct the search for
archaeological surveys in settlements not recorded in textual or iconographic sources which
therefore enabled us to minutely detail our analysis on the use and occupation of land beyond a
Cartesian perspective devoid of cultural and cognitive actions of the communities that have
lived in said territory.
Keywords: Archaeology; Agrarian History, GIS, Bahia, landscape, land use and soil, long term.
INTRODUÇÃO
O município de Ilhéus está situado na região sul do estado da Bahia, Brasil, mais
precisamente no território compreendido pela antiga Vila de São Jorge dos Ilhéus, sede da
capitania homônima constituída na primeira metade do século XVI.
O empreendimento colonial em terras ilheenses tem início ainda na primeira metade do
século XVI com a ocupação colonial na vila de São Jorge, a exploração do pau-brasil, a lavoura
de subsistência e a produção de açúcar, atividades econômicas baseadas na captura e exploração
pela mão de obra indígena, nativa dessas terras.
Por todo este longo período de tempo, rapidamente resumido em um parágrafo, houve
uma lógica envolvida no processo de ocupação e uso do solo, assim como o havia entre os
povos que habitavam a área em período pré-colonial.
O objetivo desta pesquisa ainda em andamento é elaborar um mapeamento
arqueológico e histórico-documental da região de Ilhéus que possa servir como ponto de partida
para o desenvolvimento de modelos preditivos sobre a organização e o uso do espaço ocupado
por grupos humanos desde o período pré-colonial até meados do século XVII no território do
município de Ilhéus. Pretende-se capturar o processo de estabelecimento dos primeiros
assentamentos coloniais para identificar e verificar, inclusive, as possibilidades de correlações
espaciais destes e com possíveis articulações com sistemas de assentamentos pré-coloniais.
A investigação dos processos de organização e uso do espaço e, como consequência, da
construção e transformação das paisagens, se beneficia, neste caso, dos conhecimentos da
Arqueologia, da História Agrária e do SIG (Sistema de Informação Geográfica), na medida em
que permite, para além da localização dos assentamentos, articular e mapear em uma base
cartográfica atual as informações históricas documentais (textuais e iconográficas) e
arqueológicas, possibilitando a sobreposição de mapas em uma perspectiva diacrônica e de
longa duração. Tal metodologia permite a observação, no tempo e espaço, da orientação
geográfica e topográfica dos processos de ocupação e utilização do solo e dos recursos naturais,
dentre outros fatores que podem ter influenciado a configuração de diferentes tecno-ambientes e
suas redes e sistemas de relação espacial, movimentos e percepção do ambiente. Assim
procedendo, procura-se entender a lógica de ocupação desse ambiente pelas populações desde
tempos pré-coloniais, inserindo tanto critérios econômicos quanto a existência de um sentido
simbólico no uso e organização desses espaços.
De forma geral, tendo em vista os procedimentos de manipulação de dados e
informações espacializadas sobre a localização e contexto na paisagem dos diferentes sítios
arqueológicos e assentamentos coloniais em ambiente de SIG, mais precisamente com a
utilização e manipulação do software ATCGIS 9.3, inicialmente o método adotado contemplou
a organização da base cartográfica atual da área em estudo. Para tanto, utilizou-se planos de
informações digitais e georreferenciados contendo a distribuição planimétrica da rede de
drenagem atual, linha de costa e estradas e acessos. Estes dados foram obtidos das cartas
planialtimétricas na escala 1:100.000 disponibilizadas pela SEI - Superintendência de Estudos
Socioeconômicos do Estado da Bahia. No sentido de conhecimento da distribuição das formas
de relevo na área, tendo em vista a elaboração do Modelo Digital do terreno (MDT), foram
utilizados os dados altimétricos digitais e georreferenciados extraídos do Projeto TOPODATA,
com resolução de píxel de 30 x30m, compatível com a escala de 1:100.000.
Para a análise em detalhe da paisagem, no contexto da área e periferia da antiga Vila de
Ilhéus, utilizou-se de planos de informações na escala 1:2.000, com a utilização de base
planialtimétrica e fotografias aéreas do ano de 2010, na escala 1:2000. A base planimétrica em
detalhe de eqüidistância de curvas de nível de 1m, foi útil no entendimento da dinâmica da
paisagem, a exemplo de localização de atributos geográficos como elevações no relevo, fundos
de vale, rede de drenagem local, que no contexto atual encontram-se em zona intensamente
urbanizada. Dessa forma, com os dados do MDT e base da planimétrica consolidada tornou-se
possível o lançamento no SIG dos planos de Informações contendo a distribuição de pontos
referentes aos sítios arqueológicos e assentamentos coloniais.
A base de dados georreferenciada dos sítios arqueológicos foi obtida a partir de
trabalhos de campo com a aquisição de suas coordenadas geográficas a partir da utilização de
aparelhos GPS. Já a localização e inclusão na base de dados dos pontos referentes aos
assentamentos coloniais, esta foi obtida a partir da interpretação visual de peças cartográficas
representativas da paisagem e da localização dos assentamentos na época de sua elaboração. De
forma geral, apesar dessas peças cartográficas não apresentarem, muitas vezes, uma distribuição
espacial de seus atributos de forma detalhada e em escala, existe certa relação entre elementos
conhecidos na paisagem. Nesse cenário, por exemplo, engenhos, aldeias, igrejas, aparecem
localizados e referenciados por atributos naturais, seja por características da rede de drenagem
ou por características de relevo. Sendo assim, procedeu-se uma análise da paisagem
representada nas peças cartográficas antigas e sua correlação com a distribuição atual dos
atributos da paisagem observados no MDT e nas fotografias aéreas.
AS PROSPECÇÕES ARQUEOLÓGICAS NAS BACIAS DOS RIOS SANTANA,
CACHOEIRA, FUNDÃO E ALMADA: OS ASSENTAMENTOS IDENTIFICADOS
Em 2012 iniciou-se uma nova fase de pesquisas arqueológicas no território do
município de Ilhéus, Bahia, Brasil (MORALES 2013). Embora os primeiros registros sobre a
presença de sítios arqueológicos em Ilhéus datem das décadas de 1960 e 1970, quando o
arqueólogo Valentin Calderón esteve na região (1969, 1971 e 1974), pesquisas sistemáticas
tiveram início apenas a partir do ano 2000 (BARBOSA 2000 e 2003 e BARBOSA e
MORALES 2012). Assim, ainda que as pesquisas anteriores não possibilitassem uma visão
plena de todos os grupos humanos que ocuparam essa região ao longo do tempo, elas foram de
fundamental importância ao fornecerem subsídios para que a análise em Sistema de
Informações Geográficas, SIG, pudesse ser aplicada.
Essa nova fase de pesquisas pôde contar com as informações fornecidas pelo SIG, pelas
pesquisas arqueológicas anteriores e pelo conhecimento obtido através das fontes cartográficas e
textuais (DIAS 2011) para nortear as prospecções arqueológicas que objetivaram melhor
investigar os processos pretéritos de uso e ocupação do solo do atual território de Ilhéus, mais
especificamente do período pré-colonial ao século XVII. As prospecções foram então
direcionadas a certas características ambientais da área atrativas aos grupos humanos desde o
período pré-colonial (MORALES E BARBOSA 2012) existentes no trecho final das bacias dos
rios Santana (antigo rio do Engenho), Cachoeira, Fundão (antigo rio Cooqua ou ribeiro da
Esperança) e Almada (antigo rio Taipe).
Assim procedendo, conseguimos avançar no mapeamento arqueológico dessa região
não nos restringindo apenas aos sítios mais representativos em função da sua complexidade,
importância, visibilidade ou por serem conhecidos pela população rural e identificados por meio
de informes orais. Essas prospecções foram desenvolvidas como uma ferramenta para obter
elementos informativos em escalas de relevâncias diversificadas (REDMAN 1987).
As metodologias de prospecção adotadas propiciaram identificar sítios com graus
diferenciados de relevância em termos quantitativos ou qualitativos e de integridade,
caracterizando assentamentos para uma estada mais intensa e/ou mais duradoura e locais de
acampamento ou de atividades expeditas. Tais procedimentos de pesquisa estão fundamentados
na opção teórico-metodológica assumida, a Arqueologia Regional, quando considera-se que os
diversos assentamentos implantados na região fazem parte de um contexto cultural amplo, que
pode relacionar os sítios entre si ao ambiente circundante, formando uma intrincada rede
articulada e com múltiplas funções e significados (TOREN 1995, SHANKS e TILLEY 1987 e
SHENNAN 1994). Isso implica na realização de levantamentos extensivos em âmbito regional
procurando recuperar o máximo possível de informações a respeito dos espaços ocupados,
buscando estabelecer um panorama consistente dessa região (HODDER 1986, ROSSIGNOL e
WANDSNIDER 1992).
Com o resultado das prospecções desenvolvidas até o momento nas bacias dos rios
Santana, Almada, Cachoeira e Fundão, município de Ilhéus, posteriormente aplicado ao Sistema
de Informação Geográfica (CHAPMAN 2011), foi possível localizar, identificar e caracterizar
diversos assentamentos associados tanto ao período pré-colonial quanto ao colonial, sob a forma
de assentamentos rurais e unidades de produção erguidas ao longo dos séculos XVI e XVII.
A partir dos sítios conhecidos até o momento no território de Ilhéus, Estado da Bahia,
Brasil, é possível afirmar que a região foi palco para pelo menos quatro amplos horizontes de
ocupação humana. A mais recente é a ocupação histórica, antes desta estão duas ocupações de
sociedades sedentárias e agricultoras pré-coloniais conhecidas na literatura arqueológica como
Tradição Tupiguarani e Tradição Aratu e, por fim, o quarto e mais antigo horizonte, aquele
associado aos grupos de caçadores e coletores (MORALES 2013).
Mais importante, o conjunto de dados obtidos a partir das prospecções desenvolvidas foi
possível perceber diferentes características paisagísticas e ambientais que nos levaram ao
reconhecimento dos mosaicos ambientais presentes nas bacias pesquisadas, propiciando análise
das características consideradas atrativas para o assentamento humano, como os deltas dos rios,
praias, ambientes lagunares, topos de falésias, cabeceiras de pequenos córregos, colinas, ilhas
fluviais, cascalheiras, antigos campos dunares etc. Estas opções, por sua vez, foram mais bem
visualizadas na medida em que foram agregadas às bases cartográficas atuais, mapas históricos
e ao Sistema de Informações Geográficas (SIG), com dados sobre qualidade do solo, tipo de
vegetação, insolação, campo de visibilidade, hidrografia, localização de povoados, unidades de
produção, rotas etc.
O HORIZONTE DE OCUPAÇÃO TUPIGUARANI
Esse grupo representa, a partir das informações etno-históricas e arqueológicas, a
ocupação indígena mais extensa que o Brasil já teve ao longo de todo o período pré-colonial.
Para que esses grupos pudessem manter traços culturais tão homogêneos diante de um território
extenso e diversificado em seus contornos ambientais, é de se supor a existência de uma ampla e
eficiente comunicação, garantindo a manutenção e expansão de uma intensa rede de contatos e
trocas culturais. Florestan Fernandes (1963) e posteriormente Viveiros de Castro (1986)
resumem a questão das migrações indígenas Tupi a fatores histórico-culturais anteriores à época
da conquista européia, relacionados ao “complexo migratório Tupi-guarani” e aos intensos
remanejamentos populacionais decorrentes do processo de avanço europeu pelo território
brasileiro depois do ano de 1500. Para Viveiros de Castro o ponto é que a estrutura social dos
povos indígenas Tupi-Guarani se mostra permeável o suficiente para sobreviver a alterações
significativas diante de pressões ecológicas e demográficas bastante desfavoráveis. Essa
estrutura social seria capaz de absorver novos elementos, de mesclar outros e ainda transmitir
significados elementares de forma rápida e funcional. Assim, sempre segundo este autor, se
estaria diante de uma baixa especialização da estrutura social e, conseqüentemente, baixa coesão
social, onde a língua se destaca como elemento integrador (VIVEIROS DE CASTRO 1986:
108-109).
Sintomático disso é que a temática sobre a dispersão geográfica dos povos TupiGuarani sempre esteve intimamente associada à existência de uma língua comum, utilizada em
várias partes do nosso território ao longo de todo o Brasil colonial. Essa “língua geral” chamou
a atenção desde os primeiros anos da colonização porque se percebeu que línguas bastante
semelhantes eram faladas por distâncias significativas, tanto nas áreas litorâneas quanto
interioranas. As línguas do Tronco Tupi eram faladas desde a foz do Amazonas até a da bacia
do rio da Prata, ao longo da bacia do Paraná e também da montante da desembocadura do
Amazonas até a base dos Andes (RODRIGUES 1986). A explicação para a expansão e rotas
Tupi foi demonstrada por intermédio de um modelo1 onde as populações da Amazônia central,
devido a pressões ambientais e populacionais, teriam começado a efetuar uma movimentação
em sentido centrífugo povoando as bacias do Negro, Madeira, Solimões e Baixo Amazonas
(LATHRAP 1970). Anos mais tarde esse modelo de Lathrap foi reforçado pelo trabalho de
BROCHADO (1984) com novas informações sobre os Tupi e sua dispersão histórica, diante da
reclassificação das línguas associadas a esse tronco lingüístico (RODRIGUES 1964 e LEMLE
1971) e da distribuição ambiental e das datações relacionadas aos sítios arqueológicos
associados à Tradição Polícroma Amazônica (BROCHADO 1984). Esse autor interpretou que
as variações nos atributos tecno-estilísticos e morfológicos dos vestígios cerâmicos trariam em
seu bojo transformações lingüísticas. Assim, a correspondência mais evidente liga os grupos
Guarani às cerâmicas identificadas nas porções oeste da Amazônia e aos vestígios existentes na
direção leste, como os existentes nas regiões costeiras do estado da Bahia onde estavam os
Tupinambá.
Esse modelo entende que a Amazônia Central foi palco de um desenvolvimento próprio
e original que fez com que “levas sucessivas” de populações colonizassem novos territórios em
ritmos bastante diferenciados e velocidades distintas (BROCHADO 1989 e 1991). Com um
movimento em “forma de pinça” essas populações deixaram como testemunho milhares de
1
Para uma completa síntese sobre a expansão Tupi consultar o texto de Noelli (1996) “As hipóteses sobre o centro de
origem e rotas de expansão dos Tupi” e os comentários a esse artigo feitas por Viveiros de Castro (1996), Urban
(1996), Noelli (1996) e Heckenberger, Neves & Petersen (1998).
sítios associados à conhecida Tradição Tupiguarani espalhados em quase todo o território
brasileiro, ocupando toda a costa brasileira, desde o Pará até o Rio Grande do Sul e também em
direção ao interior, pelos estados do Tocantins, Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e
Minas Gerais. Isso sem contar com a presença de sítios em terras uruguaias, argentinas,
paraguaias, peruanas e bolivianas (SCATAMACCHIA 1990).
Existem dois tipos básicos de morfologia de sítio encontrada nos assentamentos
relacionados aos grupos portadores da Tradição Tupiguarani na região de Ilhéus. Os sítios
podem ser constituídos por diversas concentrações de vestígios arqueológicos com formato
alongado ou circular ou por uma única grande concentração de material. Nas duas situações
essas áreas são resultantes de atividades antrópicas intensas, que acabaram alterando a coloração
e composição do solo original, tornando-o bem mais escuro e com a presença de restos de
materiais diversos: fragmentos cerâmicos, líticos lascados, líticos polidos e vestígios de
fogueiras, tais como pedras e blocos queimados e pedaços centimétricos e milimétricos de
carvão vegetal. A origem dessas concentrações de material arqueológico misturadas ao
sedimento mais escuro está relacionada às atividades desenvolvidas dentro ou no entorno
imediato das unidades habitacionais, mais genericamente tratadas como sendo os “fundos das
cabanas”.
Os sítios de maior porte, isto é, as grandes aldeias, são muitas vezes compostas por
diversas unidades habitacionais dispostas em formato circular ou compondo uma forma mais
alongada. A implantação desses sítios maiores acontece em áreas de boa visibilidade, em pontos
mais elevados da paisagem, quase sempre nos altos das falésias junto ao mar, próximos aos rios
navegáveis Cachoeira, Fundão, Almada e Engenho que, além de servirem para a navegação,
fornecem água potável para os moradores. Os sítios menores não apresentam tamanha
padronização, embora haja algumas recorrências na forma de implantação. Eles quase sempre
estão em áreas de topo de falésia próximas aos maiores cursos d’água. Neste primeiro momento
sugerimos serem estes sítios assentamentos satélites, de atividades específicas ligadas às
grandes aldeias.
A área de dispersão dos vestígios arqueológicos varia consideravelmente. Nos
assentamentos de menor porte eles podem ter entre 1.000 a 3.000 m2 e nas grandes aldeias cerca
de 10.000 m2. Além disso é comum encontrarmos sepultamentos em urnas nestes sítios.
As variáveis tecnológicas, morfológicas e estilísticas identificadas no material cerâmico
coletado nos assentamentos associados a esse horizonte de ocupação são nitidamente
diferenciadas das outras indústrias cerâmicas brasileiras. As formas encontradas são muitas,
apresentando características diferenciadas como vasos abertos rasos, jarros, vasilhas
semiglobulares, globulares esféricas e igaçabas, entre outros. Algumas dessas peças apresentam
pescoço e ombros bem marcados, definindo um contorno complexo. Mesmo em meio a tamanha
variedade de formas algumas são mais constantemente encontradas, como as vasilhas esferóides
com bordas extrovertidas e as tigelas em calota de esfera.
O HORIZONTE DE OCUPAÇÃO ARATU
Os povos Aratu não estão associados a um grupo étnico específico e sim, a um tipo de
vestígio arqueológico cujas características tecnotipológicas foram agregadas e denominadas
como “Tradição Aratu”. Inicialmente identificada por CALDERÓN (1969, 1971, 1974) na faixa
litorânea da Bahia a partir de 24 sítios arqueológicos, esses tipos de vestígios foram encontrados
até agora em vários outros estados brasileiros: Bahia, Goiás, Pernambuco, Espírito Santo, Minas
Gerais, Tocantins, Maranhão, Piauí e também no trecho norte de São Paulo.
Apesar dessa vasta distribuição geográfica e da existência de variações regionais, de
uma maneira geral, seus assentamentos assumem uma grande semelhança em alguns de seus
aspectos constitutivos: estão a céu aberto, possuem grande extensão, várias concentrações de
material, morfologia circular ou elíptica e indústria cerâmica com características bastante
uniformes (WUST 1983).
Na região de ilhéus a implantação dos sítios de maior porte da Tradição Aratu é
semelhante à das populações Tupiguarani: as áreas planas no alto dos topos das falésias. Sempre
próximos aos rios e com uma visibilidade plena de longos trechos da costa. Nesses sítios, que
acredita-se serem locais de habitação, são encontrados vestígios espalhados por uma extensão
entre 100m e quase 300m de diâmetro. Assentamentos menores foram localizados nas partes
mais interioranas, cerca de 3 a 4 quilômetros do mar, junto aos rios Cachoeira, Almada e
Fundão, em pequenas colinas de vertentes suaves. Tanto nas aldeias de maior porte quanto nas
menores existem restos de urnas funerárias. Dentro desta tradição as datações vão do século IX
da era cristã até o período do desembarque dos europeus nas costas brasileiras, sem definição
clara de associação etnográfica.
A cultura material relacionada aos sítios da Tradição Aratu apresenta elevado grau de
homogeneidade. As características tecnotipológicas nos sítios estudados, de uma maneira geral,
trazem vasilhas cerâmicas de médio porte confeccionadas por acordelamento, com paredes
finas/médias (até 3,0 cm), antiplástico de quartzo (variam de 1,0 mm a 0,5 mm), queima
redutora (predominando a incompleta), bordas introvertidas extrovertidas (sem reforço) e
diretas, lábios planos, arredondados ou apontados e ocasional grafitado na superfície externa.
Além dos vestígios cerâmicos presentes nos sítios de povos agricultores como os Tupiguarani e
aqueles associados à Tradição Aratu, são comuns as peças feitas em pedra. Dentre os vestígios
líticos polidos temos as mãos de pilão, almofarizes, lâminas de machado em granito.
É interessante ressaltar que muitas das aldeias associadas aos grupos Aratu da Bahia e
Espírito Santo apresentam variações no material cerâmico que permitem perceber a existência
de um contato extracultural com grupos indígenas de outras regiões. Fica clara a existência de
contatos culturais que permitiram o fluxo de determinados objetos e/ou pessoas e informações
(WUST 2000). Como exemplo podemos citar a existência de material com características da
indústria da Tradição Tupiguarani. Esse intercâmbio adquire proporções maiores à medida que
se avança para os séculos X-XI em vários pontos do Brasil, mesmo período em que os
assentamentos começam a demonstrar diversas alterações em sua composição original: a
redução no seu tamanho, a instalação em ambientes pouco ocupados anteriormente e, na
indústria cerâmica, a adoção de elementos anteriormente associados às indústrias externas
(ROBRAHN-GONZÁLEZ 1996).
As características acima delineadas levaram os pesquisadores à criação de duas
hipóteses divergentes sobre a região de origem desses grupos. A primeira delas acredita em uma
proveniência externa: grupos oriundos da região amazônica teriam chegado ao Brasil Central e
ao Nordeste devido às significativas mudanças climáticas. Tais alterações climáticas teriam
pressionado grandes contingentes populacionais a se deslocarem em busca de novos ambientes
(MEGGERS 1992 e 1995 e ROOSEVELT 1992). Outros pesquisadores sugerem que essas
populações, que em um determinado momento começaram a se estabelecer em aldeias
circulares de grande extensão, teriam origem local, ou seja, no próprio Planalto Central. Elas
seriam produto das necessidades de grupos caçadores e coletores habitantes dessa região que,
diante de novas situações, tais como rápido crescimento populacional e a circulação de bens,
informações e pessoas, adotaram soluções próprias e originais para resolverem seus problemas e
ajustarem as suas necessidades (ROBRAHN-GONZÁLEZ 1996, WUST e BARRETO 1999 e
WUST 2000).
Seja como for, independentemente das rotas e das opiniões divergentes sobre os
caminhos percorridos por esses grupos, cerca de 200 anos se passariam até que as grandes
aldeias de contorno circular relacionadas aos grupos portadores da Tradição Aratu tivessem um
grande impulso e se espalhassem por extensões consideráveis. Vestígios arqueológicos
relacionados a esse período estão espalhados desde o norte de São Paulo até o litoral e ao longo
do interior e litoral de vários estados nordestinos, como no caso da Bahia. Sua área de expansão
máxima, no sentido oeste, atingiu as margens do rio Araguaia e ao norte a região banhada pelo
rio Tocantins (SCHMITZ et ali 1982).
O HORIZONTE DE OCUPAÇÃO CAÇADOR, COLETOR E PESCADOR
Um ponto que deve ser realçado sobre essas ocupações de populações caçadoras e
coletoras no litoral da Bahia é que muitos desses sítios arqueológicos de ocupação mais antiga
não existem mais ou são inacessíveis. O motivo é que a costa da Bahia (e do Brasil) esteve
sujeita a influências ambientais e climáticas significativas ao longo do tempo, o que acarretou
cenários de ocupação humana bem diferentes dos de agora. Para se ter uma ideia da dimensão
desses eventos glaciais em escala global, diversos autores apontam (MARTINS e COUTINHO
1981, BROECKER e DENTON 1990) que durante o último máximo glacial (entre 22.000 –
14.000 AP2) o nível do mar nas plataformas sul e norte americanas pode ter atingido uma cota
de -90 m e -120 m em relação ao nível atual. Consequentemente, ocupações costeiras de grupos
caçadores e coletores entre 10.000 AP e 5.000 AP estariam hoje em locais que são terraços
marinhos, ou seja, estariam sob as águas do oceano em uma paleolinha recuada da atual costa
vários quilômetros rumo leste. Dessa possível ocupação da “planície pleistocênica”,
infelizmente, não temos qualquer comprovação diante da falta de vestígios arqueológicos que
foram destruídos pelo avanço do nível do mar.
Por outro lado, outras ocupações de povos caçadores e coletores que têm nas pedras
lascadas a principal evidência arqueológica estão presentes na região de Ilhéus. Dentre as
indústrias arqueológicas que podem ser associadas a essas populações que utilizaram a área de
pesquisa, das quais ainda não obtivemos evidências seguras para serem datadas. As análises
dessas indústrias são semelhantes na tecnotipologia dos artefatos e na utilização do quartzo
como principal matéria-prima. O suporte para o lascamento são as lascas e o córtex é quase
sempre retirado em sua totalidade.
Esses vestígios lascados foram coletados ao longo das barrancas do rio Almada, em
trechos mais interioranos, nas proximidades da grande lagoa do Taípe, também conhecida como
Lagoa Encantada.
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AP - Antes do Presente
O HORIZONTE DE OCUPAÇÃO HISTÓRICO
Dentre esse mosaico de povos e culturas, a mais recente (e conhecida) é a ocupação
histórica que tem início com a chegada dos primeiros europeus em Ilhéus, com o intuito de
ocupar e povoar as terras recém-descobertas para o Império Português. Seus vestígios
remanescentes são componentes de materiais construtivos e da tralha doméstica.
Nas áreas pesquisadas essa ocupação teve início nos século XVI e tem ligação ancestral
com viventes na região nos dias de hoje. Os vestígios identificados relacionados a este horizonte
de ocupação foram significativos nas áreas pesquisadas e estão associados ao material de uso
cotidiano doméstico das pessoas que ali viveram: alimentação (talheres, pratos, travessas,
cachimbos, recipientes cerâmicos, vidros de remédios, urinóis etc.), edificação (lajotas e telhas),
vestuário (botões), lazer (bolinhas de gude) e aqueles ligados às atividades de subsistência, tais
como a pesca e o plantio3.
Embora os sítios ainda não tenham sido escavados, muitas das informações sobre esses
assentamentos podem ser encontradas nos registros historiográficos.
OS DADOS TEXTUAIS E CARTOGRÁFICOS
Na presente investigação, temos em vista um objeto comum à Arqueologia e à História
Agrária, pois diz respeito ao processo de ocupação e uso do solo e sua lógica e, por conseguinte,
à transformação da paisagem no tempo. Diante disso, em primeiro lugar, é preciso, do ponto de
vista da intervenção do historiador, estar atento à necessária materialidade que envolve a
experiência das sociedades no tempo e a dimensão da cultura material como “produto e vetor de
relações sociais” (Meneses, 1983, p. 113). No caso em foco, se dará especial atenção ao meio
físico e às estruturas de habitação, produção e circulação que foram sendo criadas a partir da
chegada dos colonizadores europeus, as quais serão confrontadas com os sistemas de
assentamento pré-coloniais. Pretendemos analisar em que medida os sistemas ancestrais
influenciaram o processo de ocupação colonial, haja vista a absoluta dependência que se
impunha aos colonizadores de mão-de-obra, mas também de recursos naturais igualmente
comuns à vida cotidiana dos indígenas, como cursos d’água, madeiras de construção, piaçava,
etc., além das estratégias de defesa que confluíam para a ocupação de locais com boa
visibilidade, dentre outras exigências topográficas. Daí o recurso aos SIGs como ferramenta
valiosa para se visualizar tal dinâmica.
Primeiramente, é preciso reunir informações sobre os assentamentos e as vias de
circulação, para o que nos manteremos no terreno de uma heurística convencional da pesquisa
histórica, lançando mão tão somente de fontes textuais e cartográficas para a identificação e a
tipologia dos lugares coloniais. Posteriormente, será justamente o recurso aos SIGs que
promoverá a permeabilidade das “táticas” da Arqueologia e da História na análise da paisagem e
da dinâmica territorial dos grupos sociais. Nosso primeiro passo, portanto, é o de levantar,
3
Muitos desses vestígios históricos foram produzidos em escala industrial, tais como a faiança fina em padrões
decorativos, muitos dos quais importados da Europa, China e consumidos no Brasil no decorrer do séc. XVI até o
final do XIX.
selecionar e analisar a cartografia e os testemunhos de autoridades, jesuítas e demais agentes
que descreveram a vila de São Jorge de Ilhéus e seu entorno entre os séculos XVI e XVII.
Em relação às fontes textuais, existe uma gama de testemunhos que vem sendo
explorada por memorialistas e historiadores desde o período colonial, na qual se incluem os
documentos que fundam a capitania de Jorge de Figueiredo - a carta de doação e a foral -, os
testemunhos dos primeiros jesuítas que missionaram na vila desde a década de 1550 (Nobrega,
Gândavo, Cardim etc.) e os cronistas que escreveram trabalhos de caráter descritivo sobre a
Colônia, a exemplo de Gabriel Soares de Souza, Simão de Vasconcelos e Frei Vicente de
Salvador. Silva Campos, depois de elencar e discutir as diferentes visões apresentadas por
historiadores como Rocha Pombo, Accioli e Borges de Barros sobre os testemunhos que
envolveram a fundação da vila e as datas correspondentes, chegou à conclusão de que nada
havia de conclusivo a semelhante respeito, “... partinhando esses autores, como os demais que
do fato se ocuparam, no terreno lábil das conjeturas” (2006: p. 32).
Se ainda existe muita imprecisão sobre o momento da fundação da vila, é certo que a
mesma foi estabelecida entre 1536 e 1546, no alto do Outeiro de São Sebastião, obedecendo ao
imperativo da defesa. Os engenhos, por sua vez, começaram e ser construídos entre 1546 e
1548, esta última, a data da posse da água do rio Santana, onde se instalaria o primeiro engenho,
pertencente a Mem de Sá. Coetaneamente, outros dois foram montados, um no rio Esperança
(um afluente do Fundão), o engenho Esperança, de Fernão Alvarez, e, próximo à barra do Itaípe,
outro, pertencente a Lucas Giraldes. Dos quatro rios que formam o delta que deságua na baía do
Pontal, em Ilhéus, apenas o Cachoeira esperaria até o século XIX para ter engenhos nas suas
margens. O movimento de vinte navios entre Lisboa e Ilhéus para o período de execução das
obras dos engenhos (1546-1548), tal como estimado nos contratos de aforamento de águas
firmados entre o primeiro donatário e seus sócios sesmeiros, concorreu para a expansão e a
consolidação daquele núcleo colonial (COELHO FILHO, 2001, p. 65).
Temos, portanto, os primeiros contornos territoriais da ocupação colonial na vila de
Ilhéus e seu entorno: a vila, estabelecida no alto à beira-mar, tendo aos pés um porto natural e
defensável na barra e uma ampla visibilidade para terra e mar. Nas imediações, matas de paubrasil e rios capazes de navegação e engenhos, além de uma população tupi disposta a barganhar
com os portugueses. Os europeus, afinal, eram mercadores de ferramentas e armamentos que
transformariam definitivamente a dinâmica da produção e da guerra entre os nativos.
As atividades econômicas que sustentaram os primórdios da ocupação colonial na vila
de São Jorge – exploração do pau-brasil, lavoura de subsistência e produção de açúcar –
exigiam a colaboração dos nativos. Eles foram indispensáveis como mão-de-obra e na defesa da
vila e dos colonos em relação a outros índios, como os aimorés. É, portanto, na condição de
aliados que devemos entender a relação dos tupiniquins com os colonos nos primórdios da vila
de Ilhéus. Um sistema de barganha, por conseguinte, orientou uma nova organização territorial,
com o estabelecimento de aldeias nas proximidades dos principais estabelecimentos produtivos,
os engenhos. Em 1549, conforme a declaração do donatário, os tupis já tinham “assentadas suas
estâncias e fronteiras de guerra duas léguas pouco mais ou menos da dita baia de São Jorge
dentro das terras de Lucas Giraldes” (ibidem, p 186). Estavam ali, próximos do estabelecimento
colonial, garantindo a segurança do empreendimento, ao tempo em que obtinham dos colonos
os instrumentos que lhes fortaleciam, dando os inimigos capturados pelo resgate.4
Esta aliança esteve, porém, envolta em tensões e à violência que são inerentes ao
sistema escravista. Uma luta aberta entre as autoridades coloniais e os índios tupiniquins
ocorreu em 1559, contexto do episódio que figura na história como a Batalha dos Nadadores.
Sob a pressão do sítio que os índios teriam imposto aos colonos da vila de São Jorge, o então
governador geral Mem de Sá seguiu da capital para a vila, acompanhado de um exército de
tupinambás habitantes das cercanias de Salvador. Na narrativa de sua cruzada, feita por ele e por
Nobrega, uma sequência de aldeias autônomas tupis aparece localizada entre a baia do Pontal e
a praia do Cururupe, as quais foram sendo destruídas no avanço da tropa do governador.
Aniquilados os tupiniquins, não sem o auxílio de índios deste mesmo grupo leais aos
portugueses, o governador impôs algumas sansões que resultaram em uma nova organização
territorial da vila. Por um lado, os índios derrotados foram obrigados a trabalhar na reconstrução
de fazendas e engenhos destruídos ou danificados no levante, o que deu novo fôlego ao
complexo produtivo já instalado. Por outro lado, os tupiniquins não poderiam, dali por diante,
fazer guerra a outros índios sem a autorização do governador e passariam a viver em grandes
aldeias “à maneira dos civilizados”, e construiriam casas e igrejas para os padres (CAMPOS,
op. cit., p. 89).
As informações das fontes textuais que nos permitem a formulação de representações
do território encontram correspondências na cartografia que retrata a vila, produzida entre as
últimas décadas do século XVI e as primeiras do XVII. No mapa mais antigo, datado de 1586,
a toponímia ainda preserva a nomenclatura tupi para alguns rios.5 Dentre os assentamentos
coloniais, além da vila propriamente dita, se inclui o engenho de Lucas Giraldes, próximo ao
qual, o desenho de um edifício rústico com um nome indígena (Tucanagoura) parece indicar
uma aldeia, possivelmente, no mesmo local referido pelo primeiro donatário como as “fronteiras
de guerra” estabelecidas pelos índios tupis, “nas terras de Lucas Giraldes”. Na ponta sul da baía
do Pontal, uma igrejinha indica o provável local do primeiro aldeamento, formado, intui-se, pela
imposição de Mem de Sá. Aparece também o porto de pedras de Tambepe, entre a vila e a barra
do Itaípe, assim como a ponta do Oleiro, junto à entrada do rio Fundão (nomeado de rio
Cooqua).
Outros mapas foram elaborados entre as décadas de 1610 e 1630 pelo cartógrafo João
Teixeira de Albernaz, a partir de informações de Diogo de Campos Moreno, sargento-mor que
esteve na vila em 1610 para resolver pendências com a câmara de Ilhéus sobre o comércio de
pau-brasil.6 São três mapas que estampam a vila e seus arredores, onde se destacam a Aldeia dos
4
Nobrega assegurava, em 1550, que os índios de Ilhéus e Porto Seguro não se vendiam aos colonos, mas
estes, “os cristãos”, lhes ensinavam que “aos do sertão, que vinham a fazer sal ao mar, os salteassem e
vendessem” (CAMPOS, op. cit., p. 89, nota 162). Em 1562, quando os inacianos começaram a missionar
nos territórios do norte da capitania de Ilhéus, o padre Leonardo do Vale informou seus superiores sobre
os índios da baia de Camamu, que pediam proteção dos jesuítas por estarem sendo perseguidos pelos
tupiniquins de Ilhéus (idem, p. 101, nota 205).
5
Apud COELHO FILHO, op. cit., p. 100. O Atlas publicado com o nome de Monumentae Portugalia,
por Armando Cortezão e Teixeira da Mota na década de 1960, do qual Coelho Filho compilou o mapa, é
atribuído ao cartógrafo Fernão Vaz Dourado (http://purl.pt/369/1/ficha-obra-vazdourado.html, acessado
em 05/09/13).
6
Revista do IHGB, IV Congresso de História Nacional, Tomo 11 (1951) Inspeções do capitão e
sargento-mor Diogo de Campos Moreno e aventuras do pau-brasil em Ilhéus (com 4 documentos).
Comunicação apresentada no IV Congresso de História Nacional, por Eduardo Dias, p. 10-24;
Índios dos Padres, ao sul da baia do Pontal, certamente a mesma indicada por Vaz Dourado, e
quatro engenhos que loteiam as águas dos rios que enramam da baía do Pontal: os engenhos de
Santana, o Esperança, o de Lucas Giraldes e o de São Francisco. Indica-se também a ermida de
Nossa Senhora da Vitória, a lagoa de Taípe (atual Lagoa Encantada) e um novo assentamento
próximo à margem meridional do rio Cachoeira, não muito longe do engenho de Santana. Tratase do Posto de Maria Jape, lugar que outra fonte de caráter textual identifica como sendo um
lugar de assentamento de aldeias de índios descidos do sertão do Orobó para mão de obra e
defesa do engenho de Santana.7
O lugar Maria Jape era chamado de posto por se constituir numa espécie de fronteira,
posto avançado de sentinela, onde se estabelecia uma trincheira. Um lugar estratégico, portanto,
para a defesa do engenho.8 Algumas pistas permitem identificar a provável origem daquele
assentamento, os grupos indígenas ali presentes e os propósitos da sua existência. O documento
sobre o levante de 1602 aponta a existência de uma ou mais aldeias de índios tapuias descidos
do sertão do Orobó pelos padres da Companhia, e uma aldeia de índios potiguares, “que eram
vindos agora de novo socorro a terra”. O inimigo que demandava o socorro dos potiguares eram
os índios aimorés, que desde a década de 1560 acostavam os arredores da vila, fazendo assaltos
nas fazendas e engenhos. A diminuição da população tupiniquim por conta da desestruturação
das aldeias e das seguidas epidemias de varíola e sarampo que castigaram a vila na segunda
metade do século XVI, impunha, agora, a necessidade da presença de outros contingentes de
índios aliados para a defesa dos empreendimentos coloniais. Este seria o papel dos potiguares,
trazidos da Paraíba para Ilhéus em 1602, por ordem do governador Diogo Botelho (CAMPOS,
op. cit., p.150).
A narrativa apresentada pelo feitor do engenho para dar contas do levante, assim como
os relatos das testemunhas, revelam que as aldeias inclusas no posto de Maria Jape abrigavam
“índios forros” que costumavam ir ao engenho visitar seus parentes aos domingos. É provável
que trabalhassem no engenho em regime de administração por certo tempo, ficando “forros”
depois disso, “aposentados” - como se expressa no documento - na aldeia de Maria Jape.9 Após
MORENO, Diogo de Campos. Livro que dá razão do Estado do Brasil (1612). Recife: Arquivo Público
Estadual, 1955.
7
A fonte é: Instrumento com o tratado de uma petição e justificação de testemunhas para se provar um
levantamento do gentio no engenho de Santana dos Ilhéus, 18/11/1603. ANTT Cartório Jesuítico, maço
16, n. 4. (apud, Viegas. 2003, anexos).
8
No dicionário de Raphael Bluteau (1728), aparecem as seguintes definições para o substantivo ‘posto’:
“sítio, lugar, lavadouro de roupas; posto para encher os cântaros”. Já ‘posto de soldado’ é definido
como: “o lugar em que põe uma sentinela, uma vigia; o lugar que lhe dá a guardar. (Ex.) Na entrada do
arraial ou nas portas do campo tinham o seu posto [...] também na milícia é o sítio onde estão as
companhias, terços; posto avantajado”. Das ordenações militares, o dicionarista recortou o seguinte
extrato a título de exemplo: “Muito melhor fora ter ocupado com boas tropas um posto estreito por onde
se entra em Sicília, e ter tomado na coroa do monte o posto que descortina o caminho por onde o inimigo
havia de entrar e onde lhe podia impedir a entrada e desbaratá-lo sem perigo” (Brasiliana Digital:
http://www.brasiliana.usp.br/en/dicionario/1/posto) . Os elementos aqui descritos indicam que o sítio em
questão deveria se constituir em um lugar com manancial de águas e outros recursos naturais, além de
características topográficas que o tornava um local de passagem e de entrada para os canaviais do
engenho de Santana, muito provavelmente uma passarela natural para os inimigos aimorés.
9
Apesar de não encontrarmos referências a respeito da administração das aldeias de Maria Jape, é
provável que os jesuítas intermediassem o agenciamento da mão-de-obra para o engenho, pois, como
declarou, em 1598, um administrador do engenho de Sergipe do Conde ao seu patrão, - o mesmo Conde
de Linhares - uma nova lei tornara os jesuítas senhores dos índios, “que com nome de forros os servem, e
são mais seus cativos que os escravos da guiné” (SCHWARTZ, op. cit., p. 59). De acordo com S.
o levante destes índios, lamentaram o feitor e as testemunha o fato dos potiguares estarem
assentados a meia légua do engenho, o que dificultava a defesa.
Outros índios seriam agrupados ao assentamento por volta, presume-se, de 1603. Os
aimorés, ou ‘um garfo deles’ (um grupo), foram pacificados por obra do jesuíta Domingos
Rodrigues, conforme narrativa do padre Fernão Guerreiro.10 Com o uso da língua, que
aprendera a falar com os aimorés aldeados anteriormente na ilha de Itaparica, e o recurso a
táticas de barganhas, o padre Domingos Rodrigues estabeleceu pazes com mais de um grupo, os
quais fizeram contato no lugar onde os potiguares faziam seus roçados. Logo, o padre tratou de
“os ajuntar todos em uma aldeia e acomodar-lhes terras em que façam suas roças e lavouras e de
os domesticar e acompadrar com os outros índios mansos e antigos”. Ao final daquele ano,
ainda segundo o padre Guerreiro, havia duas aldeias dos aimorés, uma com 1.200 e outra com
400 almas. A indicação do Posto Maria Jape nos mapas de Albernaz indica sua permanência dez
anos depois.
Na outra fronteira da vila, próximo aos engenhos de Taípe, São Francisco e Esperança,
ainda existia, em 1603, a velha aldeia dos tupis estabelecida antes de 1549 na então sesmaria de
Lucas Giraldes, a qual aparece no mapa de Dourado com o nome de Tucanagoura. Após o
levante de 1602, o feitor conseguiu junto ao capitão-mor a ordem para “lhe darem certos índios
que estavam em uma aldeiazinha em um lugar que chamaram Toqua na guera”.
As fontes textuais e cartográficas permitem a projeção hipotética de um quadro do
processo de ocupação territorial até a primeira década do século XVII, pouco mais de cinquenta
anos do surgimento da vila de São Jorge dos Ilhéus. A fronteira do domínio territorial era
estabelecida pela presença ameaçadora dos índios aimorés. Como estratégia de defesa, mas
também como reserva de mão-de-obra, foram instaladas nas proximidades dos engenhos,
aldeias de índios tupis. Se não eram absolutamente autônomas, dadas as vicissitudes do sistema
de trabalho administrado aos nativos, ao menos ainda não havia a tutela temporal dos jesuítas.
Um cordão de aldeias autônomas se estendia na costa ao sul da vila. Após o conflito de 1559,
teve início, efetivamente, o sistema de aldeamentos, à frente do qual estariam os missionários
inacianos. Com a diminuição da “gente da terra”, potiguares e mesmo índios do sertão,
nomeados genericamente de tapuias ou aimorés, foram descidos e/ou pacificados e instalados
nas aldeias de Maria Jape, dando, assim, sustentação ao engenho mais poderoso da vila, o
Santana, do Conde de Linhares. As fronteiras da ocupação colonial estavam, portanto, na
distância de duas léguas a partir da vila, tanto para norte e sul, como para o sertão. Esse limite
para a efetiva ocupação não se colocava para a exploração de recursos florestais, a exemplo do
pau-brasil, que era retirado nas margens do rio Patipe (rio Pardo), do rio de Contas e do
Cachoeira (DIAS, 2010).
Com o recurso do georreferenciamento, serão agregadas informações sobre o relevo, os
cursos d’água e a visibilidade, de maneira a permitir a identificação dos locais prováveis dos
assentamentos. Como resultado, pretende-se não somente a verificação do alcance do quadro
Schwartz, “nos engenhos baianos, a escravidão, o trabalho dos índios das aldeias jesuíticas, o escambo e o
assalariamento existiam simultaneamente” (idem, p, 60).
10
Relaçam annal das cousas que fezeram os padres da Companhia de Iesus nas partes da India Oriental,
& no Brasil, Angola, Cabo Verde, Guine, nos annos de seiscentos & dous & sescentos & tres, & do
processo da conuersam, & christandade daquellas partes, tirade das cartas dos mesmos padres que de là
vieram.
http://books.google.com.br/books/about/Rela%C3%A7am_annal_das_cousas_que_fezeram_os.html?id=
XrHYPbsQayQC&redir_esc=y (último acesso em 09/09/2013)
sugerido acima, mas a construção de um modelo preditivo para a implantação do sistema
colonial na vila de Ilhéus, levando em conta as possíveis projeções da influência dos sistemas de
assentamentos pre-coloniais.
As tabelas abaixo, por sua vez, organizam cronologicamente as informações textuais e
cartográficas.
TABELA 1: INFORMAÇÕES TEXTUAIS SOBRE ASSENTAMENTOS COLONIAIS
DA VILA DE ILHÉUS (SÉCULOS XVI-XVII)
DATA
LOCAL
TIPOLOGIA DO
ASSENTAMENTO
Sesmaria e águas para
engenho
1544
(27/06)
Rio
de
Santana
(atual rio do
Engenho)
1545
Rio
Esperança
(atual
Fundão)
Sesmaria
engenho
e
águas
para
1547
Rio de Taípe
ou de Itaípe
(atual
rio
Almada
Sesmaria
engenho
e
águas
para
1553
Vizinhanças
da vila de
Ilhéus.
Aldeias
tupiniquins
autônomas
1559
Da vila de
Ilhéus à praia
do Cururupe.
Aldeias
tupiniquins.
autônomas
1563
Vila
de
Ilhéus
e
cercanias
4
engenhos;
aldeias
tupiniquins (autônomas?);
casa dos jesuítas na vila
(início da construção).
1565
Vila
de
Ilhéus
e
cercanias
200 vizinhos, 8 engenhos
de açúcar (?).
OBSERVAÇÕES
Carta de doação de 1
légua de terras e
aforamento de 2 águas
no rio de Santana para
engenho.
Carta de doação de ?
légua
de
terra,
aforamento de águas
para Fernão Alvarez.
As terras começavam
44 metros (20 braças)
antes do lado sul da
barra do Itaípe
Carta de doação a
Lucas Giraldes de 2
léguas de terras e
aforamento de 2 águas
para
engenho.
Começavam na borda
sul da barra do Itaípe e
seguiam para o norte.
Cartas de Nobrega.
Jesuítas intermitentes
na vila e em uma aldeia
próxima.
Guerra dos Nadadores,
ou Guerra dos Ilhéus.
Condições de Mem de
Sá para os índios, que
se
localizariam
doravante em grandes
aldeias, “à maneira dos
civilizados”
e
construiriam casas e
igrejas para os padres.
Informações
de
Nobrega e Mem de Sá.
Testemunho do padre
Diogo
Jacome.
Referência
ao
carregamento de pedras
que se iniciava para a
obra da residência.
Tratado da Terra do
Brasil de Gândavo.
“Vila mui formosa em
FONTE
BIBLIOGRÁFICA
COELHO FOLHO,
p. 48
Idem p. 38 e 67
Ibidem p. 38 e 68.
CAMPOS, p. 79.
Idem, p. 81, 82
Ibidem, p. 104-105.
ibidem,
121-2
1565
Vila
de
Ilhéus
e
cercanias
1565
Vila
Ilhéus
158?1584
Vila
de
Ilhéus
e
cercanias
1583
Vila
de
Ilhéus
e
cercanias
Vila
de
Ilhéus
e
cercanias
158486
de
158?
Rio Fundão
(num
afluente)
1595
Vila
Ilhéus.
15991603
Rio
de
Santana;
lugar Maria
Jape.
de
150 fogos, 3 engenhos,
lavouras e comércio de
víveres
em
barcos
pequenos
para
Pernambuco.
Capela de N. S. das Neves
(pé do morro, rua de S.
Bento), depois transferida
para o alto, com o orago de
N.S. da Vitória.
Teria tido 8 ou 9 engenhos
entre as décadas de 15601580, mas, com a “praga
dos aimorés”, não havia à
época mais que 6; a vila foi
abastada e rica, com 400 ou
500 vizinhos; engenho de
Luis Alvares de Espinha no
Itaípe; quase não havia
mais
tupiniquins
na
capitania, apenas 2 aldeias
junto dos engenhos de
Henrique Luis.
50 vizinhos; 3 engenhos.
Não havia aldeia de índios
domesticados.
Há 2 e mais léguas da vila
havia fazendas e engenhos
habitados, administrados e
servidos por brancos e
índios domesticados, aos
quais de contínuo acudiam
os padres da residência;
naus grandes fundeavam a
1 légua do porto; 150
vizinhos
Provável construção do
engenho de São Francisco,
por Domingos de Fonseca
Saraiva.
Pouca fortificação: falcão
montado no fortezinho
denominado
de
Santo
Antonio, sito no porto;
ermida de N.S da Vitória,
onde os moradores se
encastelaram na invasão
dos franceses.
Engenho
de
Santana;
aldeamentos de índios
tapuias (do Orobó, descidos
pelos jesuítas) e de
potiguares no lugar Maria
Jape.
cima de uma ladeira à
vista do mar”.
Descrição
de
um
navegador francês .
ibidem, 108-9
Carta do P. Jorge
Rodrigues. Início das
“guerras” dos aimorés.
ibidem, 109-112.
Gabriel
Soares
de
Sousa.
As informações devem
ser vistas com cautela,
pois o número de 8 ou 9
engenhos e o de 400 ou
500 vizinhos destoa da
maioria
dos
testemunhos da época.
SALES, op. Cit., p.
19-25
Padre Cardim.
ibidem, p. 130-131
Padre Anchieta..
ibidem, p. 132-33
Frei A. de S. Maria de
Jaboatão.
SALES, p. 43-45
Invasão francesa; saíam
os grupos de franceses
para pilharem as casas.
Fontes primárias: Frei
A. de S. Maria de
Jaboatão.
Idem 138-40
Fonte
primaria:
Instrumento com o
tratado de uma petição
e
justificação
de
testemunhas para se
provar
um
levantamento do gentio
no engenho de Santana
dos Ilhéus, 18/11/1603.
VIEGAS, anexos, p.
XXV-XXXIII
1602
1603
1610
Entre os rios
Fundão e a
barra
do
Itaipe.
Maria Jape
Outeiro de
Taierepe, há
4 léguas da
vila, margens
do
rio
Cachoeira
Aldeia de Tucanaguera
Idem.
Dois
Aldeamentos
de
índios aimorés, um com
1.200 e outro com 400
almas, dirigido pelo jesuíta
Domingos Rodrigues.
Zona de corte de pau-brasil.
Narrativa
Fernão
(jesuítas)
Idem.
do Padre
Guerreiro
Testemunho de Diogo
de Campos Moreno.
Relaçam annal das
cousas que fezeram
os
padres
da
Companhia
de
Iesus... (op. cit.)
Revista do IHGB, IV
Congresso
de
História
Nacional,
Tomo 11..., op. cit.
TABELA 2: INFORMAÇÕES CARTOGRÁFICAS SOBRE ASSENTAMENTOS
COLONIAIS DA VILA DE ILHÉUS NO MAPA DE FERNÃO VAZ MORENO, 1587
LOCAL
Vila de São
Jorge
Praia
Pontal
do
Morro
do
Pernambuco
Rio
do
Engenho
Rio
Cachoeira
Rio Fundão
Rio Almada
Entre os rios
Fundão e a
barra
de
Itaípe, mas
próximo do
primeiro
TIPOLOGIA DO
ASSENTAMENTO E
TOPONÍMIA
- A vila
- Porto de pedras do tambepe
- Rio Iocembepe (baia do Pontal)
- Praia de Antonio Lopes
- Praia dos Índios
- Ponta do Oleiro
- Ilha de Beuna
- Igrejinha
- Divide-se em dois: o ribeirão de
Joannes e o rio Saguipe.
- Rio da Vila
- Rio Cooqua
- Ribeirão da Esperança
- Rio Taípe
- Engenho de Taípe (na barra)
Tucanagoura. A representação gráfica
e a toponímia sugerem uma aldeia.
OBSERVAÇÕES
- Limitada ao Oiteiro de São Sebastião.
- Na zona do atual porto do Malhado.
- Entrada do rio Fundão
A igrejinha representa, provavelmente,
primeiro aldeamento jesuítico na vila.
o
- Do qual sai outro ribeiro, chamado de Y°
Porcel.
- Único engenho representado no mapa.
- Provavelmente no lugar identificado pelo
primeiro donatário em 1549 como o das aldeias
tupiniquins estabelecidas nas antigas terras de
Lucas Giraldes, “fronteiras de guerras”. Em 1602
havia uma aldeia denominada Tucanaguera.
TABELA 3: INFORMAÇÕES CARTOGRÁFICAS SOBRE ASSENTAMENTOS COLONIAIS
DA VILA DE ILHÉUS EM 3 MAPAS DE JOÃO TEIXEIRA DE ALBERNAZ, 1610-1630
LOCAL
Vila de São
Jorge
Do Pontal
para o sul
TIPOLOGIA DO LUGAR ou
ASSENTAMENTO e
TOPONÍMIA
- A vila
- Desembarcadouro do Tambepe
- Caminho de Tambepe para a vila.
- Igreja de N. S. da Vitória
- Aldeia dos Índios dos Padres
- Praia do Zimbo
OBSERVAÇÕES
- Não mais limitada ao Outeiro de São Sebastião.
- Na zona do atual porto do Malhado.
- Representada com edifícios.
Morro
do
Pernambuco
Rio
do
Engenho
Rio
Cachoeira
Entrada da barra com 2 braças
Rio Fundão
- Engenho da Esperança
- Engenho de São Francisco
- Engenho do Taípe na barra
- Lagoa de Taipe (atual Encantada)
- Paço de Camaropins
Rio Almada
Entre os rios
Fundão e a
barra
de
Itaípe, mas
próximo do
primeiro
- Engenho de Santana
- Representado com edifícios.
- Posto Maria Jape
Na margem direita, à caminho do Engenho de
Santana. Nos dois mapas mais antigos, estampase um pequeno edifício para indicar o lugar, no
mapa mais recente, aparece apenas a indicação
textual.
- Representados com edifícios.
- Representado com edifícios.
- Há somente uma legenda, sem a estampa de
edifícios ou qualquer outra coisa que sugira
assentamento. Porém, o termo ‘paço’, para além
de indicar o lugar do palácio real ou de
instituições de justiça, também podia ser
empregado para se referir ao bom tratamento ou
sustento recebido por alguém de pessoas mais
poderosas: “viver ao paço de...”. Seria o lugar
resquícios da velha aldeia de Tucanaguera, onde
os índios viveriam sob administração particular?
O SIG COMO FERRAMENTA DE COMPREENSÃO DAS FORMAS DE USO E
OCUPAÇÃO DO ESPAÇO
AS FORMAS DE IMPLANTAÇÃO NO PERÍODO PRÉ-COLONIAL
O ponto de partida para se pensar a paisagem e o ambiente que temos nos dias de hoje é
que estes podem ser bem diferentes daqueles que existiam no passado. A região costeira da
Bahia passou por significativas mudanças ambientais e climáticas desde a transição do
Pleistoceno – Holoceno, a cerca de 11.000 anos antes do presente. Essas alterações não se
restringiram à paisagem e ao clima, elas influenciaram diretamente as populações humanas que
ali viveram e cujos testemunhos as pesquisas arqueológicas buscam desvendar no tempo
presente. Contudo, por conta das centenas – ou até milhares de anos – que nos separam dessas
sociedades que ali viveram, em boa parte das vezes os estados de conservação desses
assentamentos pretéritos estão longe de serem considerados ideais. Afinal, de uma maneira
geral, quanto maior a antiguidade, maior a possibilidade de fatores pós-deposicionais afetarem a
integridade dos sítios arqueológicos e, consequentemente, as possibilidades de interpretação
destes.
Mesmo diante dessas limitações foi possível avançar no conhecimento daqueles que nos
antecederam no tempo e no espaço. As prospecções arqueológicas revelaram que em alguns
momentos temos vestígios que remetem aos antepassados imediatos daqueles que ainda vivem
nessa região, como os restos das antigas fazendas e aldeamentos. Em outros, temos as
populações de ceramistas agricultores, os povos associados aos grupos Tupiguarani e Aratu que
deixaram significativas evidências materiais. Os Tupiguarani, como atestam as fontes históricas
existentes, testemunharam a chegada dos primeiros europeus na região. Já os grupos associados
à Tradição Aratu, segunda ocupação indígena da região costeira da Bahia, estavam por aqui
antes dos povos Tupiguarani e, provavelmente, tiveram contato direto com esses povos. Por fim,
temos diversos horizontes de ocupação de grupos caçadores e coletores que por aqui viveram
em data recuada, ainda incerta na zona costeira, mas cujos vestígios se expressam na forma do
material lascado que foi produzido, utilizado e descartado ao longo das margens do rio Almada,
Engenho, Cachoeira e Fundão ou nas falésias junto ao litoral de Ilhéus.
Como resultado, a análise da disposição dos sítios arqueológicos identificados revelou que
apesar destes apresentarem uma distribuição relativamente uniforme ao longo da costa, existem
áreas com nítidas variações no adensamento de sítios, situação que nos permite avançar na
discussão dos motivos culturais e/ou ambientais para essa implantação na paisagem. Um dos
motivos dessa concentração de sítios está ligada, sem sombra de dúvida, à disponibilidade de
recursos alimentares diversificados e abundantes zonas de estuário entrecortadas por mangues,
pois esse tipo de ecossistema oferece a proteção para uma significativa quantidade de peixes e
crustáceos em suas diversas fases de crescimento ou reprodução. Há de se destacar, que esses
ambientes foram, antes da chegada dos europeus, ecossistemas muito mais ricos e diversificados
do que agora. Os trechos ocupados pelos manguezais eram mais amplos e, dependendo da
época, com trechos com antigos campos dunares hoje recorbertos por densos trechos de Mata
Atlântica.
Acredita-se, pois, que as características ambientais e paisagísticas das fozes dos rios
Cachoeira e Almada serviram como pólo de atração natural para os povos que habitavam essa
região costeira desde pelo menos 3.000 anos atrás. Se por um lado essa bacia serviu como um
caminho natural e bem delimitado de circulação entre o interior e o litoral (sentido oeste e o
leste), seriam pontos de atração e parada das populações ancestrais para a captação de recursos,
pontos de significado estratégico para a sobrevivência, hipótese atestada tanto pela significativa
quantidade de sítios arqueológicos localizados, quanto pela densidade destes.
No caso dos assentamentos da tradição Aratu sua implantação se deu, em grande medida,
nas partes altas das falésias, em trechos próximos dos grandes rios que cortam a região. Esses
pontos de excelente visibilidade e planos foram alvos preferenciais de ocupação desses povos
em tempos pré-coloniais. Além desses trechos mais próximos ao mar, em terrenos mais
interioranos, colinares, nas proximidades do rio Cachoeira, acampamentos menores desses
grupos estavam presentes.
No caso da ocupação Tupiguarani, posterior ao da Tradição Aratu, vários sítios
arqueológicos associados foram mapeados nos mesmos locais – os altos das falésias e em
trechos com excelente visibilidade do oceano. A mesma implantação preferencial para ambas as
ocupações pode indicar desde uma coincidência na forma de implantação desses povos até a
possibilidade de um contato entre eles que pode ter acarretado uma continuidade na forma de
utilizar o ambiente.
AS FORMAS DE IMPLANTAÇÃO NOS SÉCULOS XVI E XVII
Apontadas as possibilidades de continuidades culturais nas formas de uso e implantação
na paisagem, temos os primeiros europeus ocupando também as áreas mais altas. Só que agora
os motivos são outros. Por um lado temos o fator defensivo orientando a escolha do sítio da vila
no outeiro de São Sebastião. O sítio era tanto um ponto de melhor defesa contra as populações
indígenas hostis quanto para as potências europeias que transitavam pelas costas brasileiras.
Nas proximidades da vila, também em um elevado – atual Alto da Piedade – foi erguida a
igreja de Nossa Senhora da Vitória, a qual a crônica histórica aponta como uma espécie de
baluarte, onde a população da vila se abrigava em ocasiões de ameaça estrangeira, como ocorreu
em 1595, à chegada de corsários franceses.
O mesmo fator defensivo exigiu o assentamento de aldeamentos naqueles pontos onde
foram implantados engenhos, a exemplo da aldeia denominada Tucanagoura ou Tucanaguera,
nas proximidades dos engenhos de Lucas Giraldes (barra do Itaípe) e Esperança (rio Fundão),
ou, ainda, as aldeias do Maria Jape, nas cercanias do Engenho de Santana. Em relação a estes
aldeamentos, a necessidade de mão de obra nos engenhos também deve ser levada em conta.
Índios tupis e tapuias trabalharam tanto na condição de escravos, como na de “administrados”.
O primeiro aldeamento jesuítico foi implantado ao sul da baía do Pontal, próximo a uma
elevação que se destaca na paisagem junto ao Rio Cachoeira conhecido como “Morro do
Pernambuco”.
Os engenhos, por sua vez, requeriam um rio ou um ribeiro para a movimentação das rodas
e para o escoamento da produção, não podendo estar muito distante do porto marítimo. O
loteamento de três rios com estas características, cada um para um engenho, deixava uma boa
margem de terras e matas para cada um. Os engenhos não distavam mais que duas léguas da
vila. Em pelo menos um dos engenhos até agora identificados pelas prospecções arqueológicas
há, ainda, outro fator ambiental determinante para sua implantação. O Engenho de Santana fica
exatamente no primeiro travessão11 a montante do rio Santana, ou seja, o ponto máximo de
navegação a montante.
Havia, pelo que as fontes sugerem, dois desembarcadouros: um dentro da baía do Pontal,
aos pés da vila, lugar denominado nos testemunhos como a “Alfândega Velha”; outro, no lugar
do atual porto do Malhado, o qual aparece nos mapas antigos com o nome de desembarcadouro
de Tambepe. A entrada da barra era defensável, exigindo para isso a instalação de fortins no
morro do Pernambuco e na base do Outeiro da vila.
PERSPECTIVAS FUTURAS
A análise das informações obtidas por meio das fontes historiográficas e arqueológicas
em conjunto com o SIG permitiu reunir um grande número de informações a respeito dos
espaços ocupados, traçando um panorama consistente da região estudada.
O trabalho desenvolvido até o momento sugere que as populações caçadoras e coletoras
do período pré-colonial ocupam as áreas planas da região, próximas as margens arenosas do rio
Almada sujeitas a processos erosivos intensos. Para essa ocupação a inserção de cotas
altimétricas foi de fundamental importância. Primeiro, por permitir caracterizar paleolinhas da
costa onde essas populações nômades acampavam e, em um segundo momento, a época que
isso ocorreu diante dos avanços e recuos do nível do mar.
No caso das populações agricultoras associadas às populações Tupiguarani e Aratu,
temos, conforme expresso anteriormente, coincidências na forma de implantação de ambas as
11
No Brasil dá-se o nome de travessão a um afloramento rochoso transversal ao leito do rio que dificulta
ou impede a livre navegação e, ao mesmo tempo, pode permitir a sua travessia a pé.
ocupações. Ao buscarmos a planta-base fornecida pelo SIG vê-se que a principal delas é que
ambas as ocupações ocupam as áreas planas nos topos das falésias com solos de boa fertilidade,
próximos aos grandes cursos de água da região e, principalmente, locais que além dessas
características possibilitam uma visão plena do Oceano Atlântico.
Por fim, no caso da ocupação colonial dos séculos XVI e XVII, vemos que os primeiros
núcleos de povoamento estão próximos a cursos de água e pequenas nascentes e, de preferência,
com relevo que permita a defesa, como os altos das falésias (neste ponto é oportuno salientar
uma recorrência no uso do espaço das falésias tanto por grupos pré-coloniais quanto dos séculos
XVI e XVII). No caso dos engenhos, veem-se indícios de uma ocupação orientada pela presença
de travessões nos rios estudados, bancos de rochas que limitam a navegação fluvial. Os locais
com travessões seriam potenciais indicadores de implantação dos primeiros engenhos de canade-açúcar.
As pesquisas prosseguem com a busca de outros assentamentos que nos permitam
ampliar as informações obtidas até o momento. Seguimos na busca das aldeias denominadas nas
fontes documentais como “Tucanagoura” ou “Tucanaguera”. Os registros escritos revelam que
essa antiga aldeia foi implantada, por conta de fatores defensivos, nas proximidades dos
engenhos de Lucas Giraldes (barra do Itaípe) e Esperança (rio Fundão). A hipótese com que se
trabalha nesse caso é que a implantação dessa aldeia estaria atrelada a um padrão de ocupação
ancestral, pré-colonial, de uso e ocupação do solo. A busca pelas informações geográficas será
definida por uma área amostral entre os engenhos citados, em trecho próximo àquele registrado
na cartografia de época e, ainda, em locais altos, de falésia, com excelente visibilidade das áreas
de entorno.
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