Untitled - Sankirtana Books

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Untitled - Sankirtana Books
DEVOCIONÁRIO DA RENDIÇÃO COMPLETA
por
Srila Bhaktivinoda Thakura
Um Presente da Sankirtana Books em
Homenagem ao Poeta de Krishna
Distribuição gratuita!
Proibida comercialização e impressão parcial ou total da obra.
Título original:
Saranagati
1ª Edição - 2014
Preparação e Tradução:
Bhagavan Dasa (Thiago Costa Braga).
Coordenador de Revisão:
Sri Krishna Murti Dasa (Romero Carvalho).
Revisão:
Sri Krishna Murti Dasa (Romero Carvalho);
Prana-vallabha Devi Dasi (Celeste Gomes dos Santos);
Prema-vardhana Devi Dasi (Flávia Acácio Reis).
Projeto Gráfico:
Sankirtana Books.
Capa:
Gopa-vrinda-pala Dasa (Frank Wesley Dantas).
Diagramação:
Krishna-kripa Devi Dasi (Laura Dias).
B575v.Pd
Bhaktivinoda Thakura, Sri
Saranagati: devocionário da redenção completa / Sri Bhaktivinoda Thakura;
tradução: Bhagavan Dasa (Thiago Costa Braga). - São Paulo: Sankirtana Books, 2014.
272p..
Título original: Saranagati
ISBN: 978-85-64775-20-6
1. Hinduísmo. 2. Filosofia hindu. I. Braga, Thiago Costa. II. Título.
CDD: 294.5
CDU: 233
Ficha catalográfica elaborada por Gláucia Grossi de Faria CRB-6/1318 de acordo com o AACR2
SANKIRTANA
BOOKS
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reproduzido todo ou em parte, por qualquer meio, sem prévia e
formal autorização dos proprietários dos direitos autorais.
Sumário
Introdução. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 7
Prefácio . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 9
Canção Introdutória. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 13
Primeiro Princípio da Rendição Dainya: Humildade. . . . . . . . . . . . . 19
Segundo Princípio da Rendição
Ātma-Nivedana: Dedicação do Eu . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 49
Terceiro Princípio da Rendição - Goptṛtve-Varaṇa:
Aceitação do Senhor como Nosso Único Mantenedor. . . . . . . . . . . . 83
Quarto Princípio da Rendição - ‘Avaśya Rakṣibe Kṛṣṇa’Viśvāsa, Pālana: “Kṛṣṇa Certamente Há de me Proteger ”. . . . . . . 101
Quinto Princípio da Rendição - Bhakti-AnūkulaMātra Kāryera Svīkarā: Aceitação Unicamente
de Atividades Favoráveis à Devoção Pura. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 121
Sexto Princípio da Rendição- Bhakti-Pratikūla-Bhāva
Varjanaṅgīkāra: Renúncia à Conduta
Desfavorável à Devoção Pura . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 141
Bhajana-Lālasā: Avidez pelo Serviço Divino. . . . . . . . . . . . . . . . . . . 159
Siddhi-Lālasā: Avidez pela Perfeição Espiritual. . . . . . . . . . . . . . . . 211
Vijñapti: Confissões. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 225
Śrī Nāmā-Māhātmya: As Glórias do Santo Nome . . . . . . . . . . . . . . 235
A Vida de Śrīla Bhaktivinoda Thakura. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 241
Glossário. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 257
h
Introdução
Na história recente da humanidade, poucas vezes surgiu alguém capaz de, simultaneamente, resgatar, reformar e propagar
um determinado pensamento religioso. Mestres raros, exemplares,
convictos, verdadeiros faróis na jornada rumo ao autoconhecimento empreendida por aqueles sinceros buscadores do saber perfeito.
O hoje chamado hinduísmo, com todas as suas vertentes espiritualistas e escolas filosóficas, é um celeiro desses mestres.
No vaiṣṇavismo gauḍīya, a escola filosófica de Śrī Caitanya
Mahāprabhu, a qual pertence a ISKCON – Sociedade Internacional
Para a Consciência de Krishna –, fundada por Sua Divina Graça
A.C. Bhaktivedanta Swami Prabhupāda e hoje a maior instituição
baseada na literatura védica do mundo, Bhaktivinoda Ṭhakurā se
destaca. Ao ler sua imensa obra, qualquer estudioso pode perceber
que se trata de um dos maiores pensadores religiosos de todos os
tempos, considerando todas as religiões. Isso porque o seu pensamento é absolutamente ligado à transcendência, que não tem fronteiras, etnia ou tempo.
Além de resgatar das cinzas o riquíssimo bhakti-yoga (o yoga da
devoção) do gauḍīya vaiṣṇavismo, Bhaktivinoda Ṭhakurā estabeleceu
paralelos com o cristianismo, idealizou a aplicação dos ensinamentos de Śrī Caitanya na modernidade e ainda vislumbrou um mundo
unido no ato sublime de glorificar a Deus cantando os Seus santos
nomes. Nesse sonho, Bhaktivinoda quebrou paradigmas históricos
ao propor meios para uma expansão de um assim chamado ‘culto
hindu’, algo até então completamente inédito. Uma expansão, digase, baseada no estudo filosófico e práticas devocionais. Nenhuma
espada, faca, canhão ou guilhotina. Apenas a propagação do amor.
Em 2014, completa-se cem anos do falecimento de Bhaktivinoda
Ṭhakurā, que deixou um legado inestimável. Além de setenta e
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Śaraṇāgati: Devocionário da Rendição Completa
exemplar gratuito
oito livros, incluindo várias canções devocionais hoje extremamente populares, Bhaktivinoda inspirou o seu filho a ser o agente
de sua visão de uma instituição gauḍīya vaiṣṇava organizada. Este
filho, Śrīla Bhaktisiddhānta Sarasvatī, foi o mestre espiritual de
Sua Divina Graça A.C. Bhaktivedanta Swami Prabhupāda, que,
com a ISKCON, realizou definitivamente o desejo de Bhaktivinoda
de ver o mundo todo cantando o mantra Hare Kṛṣṇa, Hare Kṛṣṇa,
Kṛṣṇa Kṛṣṇa, Hare Hare/ Hare Rāma, Hare Rāma, Rāma Rāma,
Hare Hare. Como uma pequena homenagem pelo centenário de
sua gloriosa partida, publicamos esse seu Śaraṇāgati, uma de suas
obras primas. Afinal, o mundo precisa de Bhaktivinoda Ṭhakurā.
- Os editores
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Prefácio
Śaraṇāgati é um livro de canções bengalis constituído de cinquenta hinos sobre o processo da rendição devocional pura ao
Senhor Supremo (Kṛṣṇa). Este livro tornou-se muito famoso, e suas
poesias são cantadas diariamente em centenas de templos, tanto
na Índia quanto ao redor do mundo. Baseia-se nos seis processos
de rendição mencionados por Śrīla Rūpa Gosvāmī em seu Bhaktirasāmṛta-sindhu, que são os seguintes:
Primeiro princípio da rendição: dainya, “Humildade”. Segundo
princípio da rendição: ātma-nivedana, “Dedicação do eu”. Terceiro
princípio da rendição: goptṛtve-varaṇa, “Aceitação do Senhor
como nosso único mantenedor”. Quarto princípio: ‘avaśya rakṣibe kṛṣṇa’-viśvāsa, pālana, “Kṛṣṇa certamente há de me proteger”.
Quinto princípio: bhakti-anukūla-mātra kāryera svīkara, “Aceitação
unicamente de atividades favoráveis à devoção pura”. Sexto: bhaktipratikūla-bhāva varjanāṅgīkāra, “Renúncia à conduta desfavorável à
devoção pura”.
Três anos antes do nascimento de Sua Divina Graça Śrīla A.C.
Bhaktivedanta Swami Prabhupāda, precisamente em 1893, Śrīla
Bhaktivinoda compôs estas canções conhecidas como Śaraṇāgati.
Nesse tempo, poucos conheciam tais composições. Hoje, após
cerca de cento e vinte anos, essas canções se tornaram muito populares entre adeptos da escola vaiṣṇava gauḍīya. Por que se tornaram tão populares? Em virtude do significativo papel que elas
exercem em conduzir o sādhaka, ou praticante da vida espiritual, à postura de rendição. Sua Divina Graça A.C. Bhaktivedanta
Swami Prabhupāda, o ācārya-fundador da ISKCON – Sociedade
Internacional Para a Consciência de Krishna, popularizou, sem
nenhuma assistência, essas canções, inserindo-as em seus escritos
e palestras, visto que epitomavam sua própria postura de rendição. Além disso, servem como poderosos faróis a orientarem os
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Śaraṇāgati: Devocionário da Rendição Completa
exemplar gratuito
tripulantes do barco que transporta os devotos praticantes do caminho de bhakti.
O livro se divide em cinco partes. A primeira consiste em trinta e
duas canções a descreverem as posturas de um devoto enquanto ele
segue sistematicamente os seis estágios de rendição. Há, então, treze
canções na seção de nome Bhajana-lālasā, ou “Avidez pelo Serviço
Divino”, que são canções bengalis baseadas no Upadeśāmṛta, a obra
sânscrita de Śrīla Rūpa Gosvāmī. Em seguida, o autor brinda-nos
com três canções sob o título Siddhi-lālasā, “Avidez pela Perfeição
Espiritual”. Finalmente, o Ṭhākura conclui a obra com duas importantes canções: Vijñapti, ou “Confissões”, em que ele anseia pelo dia
em que se ocupará – corpo, mente e palavras – nas atividades do
serviço devocional puro, e, então, a canção final, nomeada Śrī NāmaMāhātmya, ou “As Glórias do Santo Nome”, canção esta que descreve os poderosos efeitos do santo nome do Senhor e como o nome
leva o devoto de volta ao Supremo.
Na canção introdutória, o autor menciona a razão pela qual Śrī
Caitanya Mahāprabhu, juntamente com Seus companheiros pessoais, adveio a este mundo material temporário. A fim de distribuir
abertamente a dádiva do amor extático por Deus, o qual é deveras
difícil de ser obtido, Ele ensinou o caminho de śaraṇāgati, a rendição
devocional ao Senhor Supremo. Nesta canção, Śrīla Bhaktivinoda
menciona que Kṛṣṇa, o jovial filho de Nanda, ouve as orações de todo
aquele que se refugia em Sua pessoa mediante a prática sêxtupla de
rendição. Ele conclui a canção introdutória mostrando a postura em
consequência da qual podemos obter a misericórdia imotivada do
Senhor. Chorando continuamente, ele suplica: “Sou certamente o
mais baixo entre os homens! Oh, por favor, tornai-me o mais ilustre
ensinando-me śaraṇāgati, os seis princípios da rendição!”.
Na canção do primeiro princípio da rendição – dainya,
“Humildade” –, o Ṭhākura diz: “Ó Senhor, esquecido de Vós, vim
para este mundo material, onde experimento uma hoste de dores e
lamentações. Agora, aproximo-me de Vossos pés e submeto a Vós
minha angustiante história”. Ele conclui as canções referentes ao
primeiro princípio da rendição solicitando que todos busquem por
Śrī Caitanya Gosāi, que não é outro senão o próprio Kṛṣṇa, o filho
de Nanda, e que está salvando o mundo por meio da distribuição
incondicional de Seu próprio santo nome.
Na canção atinente ao segundo princípio da rendição – ātmanivedana, “Dedicação do eu” –, Śrīla Bhaktivinoda lamenta sua inabilidade para adorar os pés de lótus do Senhor. Entorpecido por
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exemplar gratuito
Prefácio
prazeres voluptuosos, simplesmente enganou a si mesmo. Então,
trevas é tudo o que via em todas as direções. Ele conclui esta seção
pedindo a todos que se ocupem em serviço devocional ao Senhor.
“Prestarei serviço em Vossa casa e jamais me esforçarei tendo em
vista gozar os frutos desse serviço. Em vez disso, completamente
enamorado por Vossos pés de lótus, esforçar-me-ei em prol de tudo
aquilo que por ventura Vos apraza”.
Nas canções que descrevem o terceiro princípio da rendição
– goptṛtve-varaṇa, “Aceitação do Senhor como nosso único mantenedor” –, Bhaktivinoda Ṭhākura questiona mediante que compreensão pessoal ou que poder alguém como ele poderia buscar
refúgio na morada do Senhor. Respondendo a si mesmo, diz que
certamente semelhante busca é produto unicamente da misericórdia do Senhor, haja vista que Ele é todo-misericordioso e é aquele
que encontra prazer em purificar e salvar as almas caídas.
Na série de canções a descreverem o quarto princípio da rendição – ‘avaśya rakṣibe kṛṣṇa’-viśvāsa, pālana, “Kṛṣṇa certamente há
de me proteger” –, Śrīla Bhaktivinoda declara: “Entregando a Vós
tudo o que possuo, atiro-me a Vossos pés de lótus”.
Nas canções do quinto princípio – bhakti-anukūla-mātra kāryera
svīkara, “Aceitação unicamente de atividades favoráveis à devoção
pura” –, o Ṭhākura afirma que ele certamente executará com absoluta diligência toda e qualquer atividade benéfica ao serviço devocional puro ao Senhor.
Śrīla Bhaktivinoda, nas canções do sexto princípio da rendição
– bhakti-pratikūla-bhāva varjanāṅgīkāra, “Renúncia à conduta desfavorável à devoção pura” –, fala sobre aqueles que são doutos em
karma, jñāna, yoga e tāpa, e sobre como são especialistas em opiniões
e provas para enganar aqueles de inclinação materialista. Devemos
prestar nossas reverências à distância a tais filósofos de grande astúcia, conclui o autor, e nos refugiarmos aos pés de lótus dos devotos do Senhor como a essência de nossa vida.
Com estas canções esotéricas, Śrīla Bhaktivinoda esclarece a
todo praticante sério o que é o caminho devocional e também nos
revela sua pessoal consciência de Kṛṣṇa. Ele se coloca em nossa situação apenas para nos ensinar o caminho para a bhakti pura, que se
dá por meio do processo de rendição do eu, śaraṇāgati.
– Bhakti-Dhīra Dāmodara Swami
Escrito no dia do Aparecimento do Senhor Narasiṁhadeva
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Canção Introdutória
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Canção Introdutória
(1)
śrī-kṛṣṇa-caitanya prabhu jīve doyā kori’
swa-pārṣada swīya dhāma saha avatari’
śrī-kṛṣṇa-caitanya – Śrī Kṛṣṇa Caitanya; prabhu – o Senhor; jīve – para
com as almas individuais; doyā – compaixão; kori – mostrando; swapārṣada – associados pessoais; swīya dhāma – morada pessoal; saha –
com; avatari – descendo.
Juntamente com Seus associados pessoais e Sua morada
divina, do mundo espiritual adveio o Senhor Śrī Kṛṣṇa
Caitanya, descendo a este mundo material temporário movido
por compaixão para com as almas caídas.
g
(2)
atyanta durlabha prema koribāre dāna
śikhāya śaraṇāgati bhakatera prāna
atyanta – muito; durlabha – raro; prema – amor; koribāre dāna – distribuir
abertamente; śikhāya – ensinar; śaraṇāgati – a rendição devocional ao
Senhor Supremo; bhakatera – dos devotos; prāna – a vida.
A fim de distribuir abertamente a dádiva do amor extático
por Deus, o qual é deveras difícil de ser obtido, Ele ensinou
o caminho de Śaraṇāgati, a rendição devocional ao Senhor
Supremo, caminho este que é a vida dos devotos sinceros.
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Śaraṇāgati: Devocionário da Rendição Completa
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(3-4)
dainya, ātma-nivedana, goptṛtve varaṇa
‘avaśya rakṣībe kṛṣṇa’-viśvāsa, pālana
bhaki-anukūla-mātra kāryera svīkara
bhakti-pratikūla-bhāva varjanāṅgikāra
dainya – humildade; ātma-nivedana – dedicação do eu; goptṛtve – mantenedor; varaṇa – aceitação; avaśya – certamente; rakṣībe – há de proteger;
kṛṣṇa – Kṛṣṇa; viśvāsa – fé; pālana – defesa; bhaki – ao serviço devocional;
anukūla – favorável; mātra – apenas; kāryera – de atividades; svīkara –
aceitação; bhakti – ao serviço devocional; pratikūla – desfavorável; bhāva
– condição; varjana – sem; aṅgikāra – aceitação.
A rendição ao Senhor se constitui de humildade, dedicação
do eu, aceitação do Senhor como o nosso único mantenedor, a
consciência “Kṛṣṇa certamente há de me proteger”, aceitação
unicamente de atividades favoráveis à devoção pura, e
renúncia à conduta desfavorável à devoção pura.
g
(5)
ṣaḍ-aṅga śaraṇāgati hoibe jāhāra
tāhāra prārthanā śune śrī-nanda-kumāra
ṣaḍ-aṅga – prática sêxtupla; śaraṇāgati – de rendição; hoibe – será; jāhāra
– dessa pessoa; tāhāra – dele; prārthanā – a oração; śune – ouve; śrī-nandakumāra – Kṛṣṇa, o jovial filho de Nanda.
Kṛṣṇa, o jovial filho de Nanda, ouve as orações de todo
aquele que se refugia em Sua pessoa mediante esta prática
sêxtupla de rendição.
g
(6)
rūpa-sanātana-pade dante tṛṇa kori’
bhakativinoda poḍe duhuṅ pada dhori’
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Canção Introdutória
exemplar gratuito
rūpa-sanātana-pade – aos pés de Śrīla Rūpa Gosvāmī e Śrīla Sanātana
Gosvāmī; dante – entre os dentes; tṛṇa – uma palha; kori – colocando;
bhakativinoda – Bhaktivinoda; poḍe – cai; duhuṅ – os dois; pada – pés;
dhori – segura.
Com uma palha entre seus dentes, aos pés de Śrī Rūpa
Gosvāmī e Śrī Sanātana Gosvāmī prostra-se Bhaktivinoda.
Os pés de lótus dessas duas personalidades inigualáveis, ele
segura em suas mãos.
g
(7)
kāṅdiyā kāṅdiyā bole āmi to’ adhama
śikhāye śaraṇāgati koro he uttama
kāṅdiyā – chorando; kāṅdiyā – e chorando; bole – suplica; āmi – eu; to –
certamente; adhama – o mais baixo; śikhāye – ensinai; śaraṇāgati – a rendição ao Senhor; koro he – tornai-me, por favor; uttama – absolutamente
ilustre.
Chorando continuamente, ele suplica: “Sou certamente o
mais baixo entre os homens! Oh, por favor, tornai-me o mais
ilustre ensinando-me os seis princípios da rendição!”.
Neste ponto encerra-se a canção introdutória.
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Primeiro Princípio da Rendição
Dainya:
Humildade
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Primeira Oração
(1)
bhuliyā tomāre, saṁsāre āsiyā,
peye nānā-vidha byathā
tomāra caraṇe, āsiyāchi āmi,
bolibo duḥkhera kathā
bhuliyā – esquecido; tomāre – de Vós; saṁsāre – no mundo material; āsiyā
– tendo vindo; peye – experimento; nānā-vidha – uma hoste; byathā – de
sofrimentos; tomāra – a Vossos; caraṇe – pés; āsiyāchi – aproximo-me; āmi
– eu; bolibaḥ – submeto; duḥkhera – angustiante; kathā – história.
Ó Senhor, esquecido de Vós, vim para este mundo material,
onde experimento uma hoste de dores e lamentações.
Agora, aproximo-me de Vossos pés e submeto a Vós minha
angustiante história.
g
(2)
jananī-jaṭhare, chilāma jakhona,
biṣama bandhana-pāśe
eka-bāra prabhu! dekhā diyā more,
vañcile e dīna dāse
jananī – de minha mãe; jaṭhare – ventre; chilāma – estava; jakhona – nesse; biṣama – em sofrimento; bandhana – preso; pāśe – como por cordas;
eka-bāra – uma vez; prabhu – ó Senhor; dekhā – a visão; diyā – permitistes;
more – a mim; vañcile – abandonastes; e – este; dīna – pobre; dāse – servo.
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Śaraṇāgati: Devocionário da Rendição Completa
exemplar gratuito
Enquanto eu ainda me encontrava desamparadamente
preso no claustrofóbico confinamento do ventre de minha
mãe, ó Senhor, Vós Vos revelastes diante de mim por uma
ocasião. Após aparecer apenas brevemente, no entanto,
abandonastes este Vosso pobre servo.
g
(3)
takhona bhāvinu, janama pāiyā,
koribo bhajana tava
janama hoilo, poḍi’ māyā-jāle,
nā hoilo jñāna-lava
takhona – ali; bhāvinu – pensei; janama pāiyā – ao nascer; koribaḥ – irei;
bhajana – adorar; tava – Vos; janama – nasci; hoilaḥ – quando; poḍi – fui
vitimado; māyā-jāle – pela rede de ilusões; nā – não; hoilaḥ – há; jñāna –
de conhecimento; lava – um pequeno fragmento.
Naquele instante, dei-me com o pensamento: “Após
meu nascer, adorar-Vos-ei”. Não obstante, ai de mim, fui
vitimado pela emaranhadora rede das ilusões do mundo,
em consequência do que não possuo sequer uma gota de
conhecimento verdadeiro.
g
(4)
ādarera chele, swa-janera kole,
hāsiyā kāṭānu kāla
janaka-jananī- snehete bhuliyā,
saṁsāra lāgilo bhālo
ādarera – afagado; chele – como um bebê; swa-janera – pelos parentes;
kole – no colo; hāsiyā – sorridente e risonho; kāṭānu – passei; kāla –
meus dias; janaka – paterno; jananī – e materno; snehete – com o amor;
bhuliyā – esqueci; saṁsāra – o mundo material; lāgilaḥ – era; bhālaḥ
– bom.
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Humildade
exemplar gratuito
Como um bebê querido, afagado no colo de meus parentes, sorridente e risonho passei meus dias. A afeição de meus
pais ajudou-me a me esquecer ainda mais de Vós e comecei a
acreditar que o mundo material era um lugar muito aprazível.
g
(5)
krame dina dina, bālaka hoiyā,
khelinu bālaka-saha
āra kichu dine, jñāna upajilo,
pāṭha poḍi ahar-ahaḥ
krame – gradualmente; dina – dia; dina – após dia; bālaka – um garotinho; hoiyā – tornei-me; khelinu – eu brincava; bālaka-saha – com outros
garotos; āra – outros; kichu – momentos; dine – do dia; jñāna – aptidão
para a aprendizagem; upajilaḥ – nasceu; pāṭha – em estudar; poḍi – absorvi-me; ahar-ahaḥ – dia após dia.
Dia após dia, gradualmente cresci e me tornei um
garotinho a brincar com outros garotos. Em pouco tempo,
fez-se presente meu poder de aprendizagem e compreensão,
em razão do que passei a revezar minhas brincadeiras com a
leitura e o estudo diligente e diário de minhas lições escolares.
g
(6)
vidyāra gaurave, bhrami’ deśe deśe,
dhana uparjana kori
swa-jana pālana, kori eka-mane,
bhulinu tomāre, hari!
vidyāra – da formação intelectual; gaurave – com o refinamento; bhrami
– viajei; deśe – de destino; deśe – em destino; dhana – riqueza; uparjana
kori – acumulando; swa-jana – da família; pālana – a manutenção; kori –
fiz; eka-mane – com indivisa atenção; bhulinu – deslembrado; tomāre – de
Vós; hari – ó Hari, Senhor Kṛṣṇa.
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Śaraṇāgati: Devocionário da Rendição Completa
exemplar gratuito
Orgulhoso de minha refinada formação, viajei por
diferentes destinos e acumulei grande riqueza. Com tais
recursos, mantive minha família com indivisa atenção,
deslembrado de Vós, ó Senhor Kṛṣṇa!
g
(7)
bārdhakye ekhona, bhakativinoda,
kāṅdiyā kātara ati
nā bhajiyā tore, dina bṛthā gelo,
ekhona ki habe gati?
bārdhakye – na velhice; ekhona – este; bhakativinoda – Bhaktivinoda;
kāṅdiyā – pranteia; kātara – pesaroso; ati – muito; nā – não; bhajiyā – adorando; tore – Vos; dina – dias; bṛthā – em vão; gelaḥ – passaram; ekhona
– agora; ki – qual; habe – será; gati – meu destino.
Agora, na velhice, este Bhaktivinoda pranteia em grande
pesar. Em vez de Vos adorar, ó Senhor, deixei meus dias
passarem em vão. Qual será o meu destino agora?
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Segunda Oração
(1)
vidyāra vilāse, kāṭāinu kāla,
parama sāhase āmi
tomāra caraṇa, nā bhajinu kabhu,
ekhona śaraṇa tumi
vidyāra – em estudos; vilāse – ocupei-me; kāṭāinu – passei; kāla – o tempo;
parama – grande; sāhase – com audácia; āmi – eu; tomāra – Vossos; caraṇa
– pés; nā – não; bhajinu – adorei; kabhu – em momento algum; ekhona –
agora; śaraṇa – refugio-me; tumi – em Vós.
Com grande entusiasmo, dediquei meu tempo aos
prazeres do estudo mundano e jamais adorei Vossos pés de
lótus, ó Senhor. Agora, sois meu único refúgio.
g
(2)
poḍite poḍite, bharasā bārilo,
jñāne gati habe māni’
se āśā biphala, se jñāna durbala,
se jñāna ajñāna jāni
poḍite – estudando; poḍite – e estudando; bharasā – muito; bārilaḥ – cada
vez mais; jñāne – conhecimento; gati – a meta; habe māni – considerei;
se – essa; āśā – esperança; biphala – infrutífera; se – esse; jñāna – conhecimento; durbala – frágil e débil; se – esse; jñāna – conhecimento; ajñāna
– ignorância; jāni – compreendo.
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Śaraṇāgati: Devocionário da Rendição Completa
exemplar gratuito
À proporção de minhas leituras, cresciam minhas esperanças de sucesso, uma vez que considerei o conhecimento
material como a verdadeira meta da vida. Quão infrutíferas
se revelaram tais esperanças quando todo o meu conhecimento se mostrou frágil e débil. Hoje tenho o conhecimento
de que toda essa erudição é, em realidade, mera ignorância.
g
(3)
jaḍa-vidyā jata, māyāra vaibhava,
tomāra bhajane bādhā
moha janamiyā, anitya saṁsāre,
jīvake koraye gādhā
jaḍa – material; vidyā – conhecimento; jata – nascido; māyāra – energia
ilusória; vaibhava – a potência; tomāra – a Vós; bhajane – a prestação de
serviço devocional; bādhā – um impedimento; moha – ilusão; janamiyā –
nascida; anitya – transitório e inconstante; saṁsāre – o mundo material;
jīvake – na vida; jīvake – torna; gādhā – asno.
Todo o assim chamado conhecimento deste mundo
nasce da potência de Vossa energia ilusória e é um impedimento para a prestação do serviço devocional a Vós. O
envolvimento com o conhecimento mundano reduz a alma
eterna à condição de um asno, encorajando a mesma a se
atrair em paixões por este mundo transitório e inconstante.
g
(4)
sei gādhā ho’ye, saṁsārera bojhā,
bahinu aneka kāla
bārdhakye ekhona, śaktira abhāve,
kichu nāhi lāge bhālo
sei – aqui está; gādhā – asno; ho’ye – sou; saṁsārera – a existência material; bojhā – o fardo; bahinu – carrego; aneka – há muito; kāla – tempo;
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Humildade
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bārdhakye – na velhice; ekhona – agora; śaktira – de aptidão; abhāve – na
ausência; kichu – algo; nāhi – não há; lāge – traz; bhālaḥ – prazer.
Aqui está alguém que foi reduzido a tal condição de asno,
alguém que há muito tempo carrega sobre suas costas o
inútil fardo da existência material. Agora, em minha velhice,
devido à carência de aptidão para o desfrute, nada me apraz.
g
(5)
jīvana jātanā, hoilo ekhona,
se vidyā avidyā bhelo
avidyāra jwālā, ghaṭilo biṣama,
se vidyā hoilo śelo
jīvana – da vida; jātanā – os sofrimentos; hoilaḥ – são; ekhona – agora; se –
esse; vidyā – conhecimento; avidyā – ignorância; bhelaḥ – é; avidyāra – de
ignorância; jwālā – candente; ghaṭilaḥ – é; biṣama – intolerável; se – esse;
vidyā – conhecimento; hoilaḥ – é; śelaḥ – flecha.
A vida, agora, é-me agonia, agora que minha pretensa
erudição coloca-se diante de mim em sua verdadeira
forma de imprestável ignorância. O conhecimento material
mostra-se nesse momento uma flecha de ponta afiada;
flecha esta que perfura o meu coração com a intolerável e
candente dor da necedade.
g
(6)
tomāra caraṇa, binā kichu dhana,
saṁsāre nā āche āra
bhakativinoda, jaḍa-vidyā chāḍi,’
tuwā pada kore sāra
tomāra – Vossos; caraṇa – pés; binā – inexiste; kichu – algum; dhana – tesouro digno de ser buscado; saṁsāre – no mundo material; nā – não; āche
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– há; āra – outro; bhakativinoda – Bhaktivinoda; jaḍa – material; vidyā –
conhecimento; chāḍi – rejeitando; tuwā – Vossos; pada – pés; kore – aceita;
sāra – como a essência.
Ó Senhor, inexiste tesouro digno de ser buscado neste
mundo, salvo Vossos pés de lótus. Bhaktivinoda rejeita todo
o seu conhecimento mundano e aceita Vossos pés de lótus
como a essência de sua vida.
28 |
Terceira Oração
(1)
jauvane jakhona, dhana-upārjane,
hoinu vipula kāmī
dharama smariyā, gṛhinīra kara,
dhorinu takhona āmi
jauvane – na juventude; jakhona – este; dhana-upārjane – por acumular
riquezas; hoinu – senti-me; vipula – muito; kāmī – ávido; dharama – dos
códigos religiosos; smariyā – lembrando-me; gṛhinīra – de uma esposa;
kara – a mão; dhorinu – aceitei; takhona – este; āmi – eu.
Quando jovem, senti em mim a ilimitada ambição de
acumular riquezas. Nesse momento, tendo em mente os
códigos religiosos, aceitei a mão de uma mulher.
g
(2)
saṁsāra pātā’ye, tāhāra sahita,
kāla-khoy koinu koto
bahu suta-sutā, janama lobhilo,
marame hoinu hato
saṁsāra – no mundo material; pātā’ye – caído; tāhāra – ela; sahita – com;
kāla – de tempo; khoy – desperdício; koinu – se deu; koto – muitíssimo;
bahu – muitos; suta – filhos; sutā – e filhas; janama – a nascer; lobhilaḥ –
vieram; marame – meu íntimo; hoinu – viu-se; hato – esmagar.
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Śaraṇāgati: Devocionário da Rendição Completa
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Caído no mundo material, estabeleci, juntamente com ela,
uma casa, dentro da qual desperdicei muitíssimo de minha vida.
Muitos filhos e filhas nasceram, e meu espírito viu-se esmagar.
g
(3)
saṁsārera bhāra, bāḍe dine dine,
acala hoilo gati
bārdhakya āsiyā, gherilo āmāre,
asthira hoilo mati
saṁsārera – da vida material de chefe de família; bhāra – o fardo; bāḍe
– cresceu; dine – dia; dine – após dia; acala – interrompido; hoilaḥ – foi;
gati – o progresso em direção à meta; bārdhakya – a velhice; āsiyā – fezse presente; gherilaḥ – sitiou e atacou; āmāre – me; asthira – perturbada;
hoilaḥ – tornou-se; mati – a mente.
O fardo da vida em família cresceu dia após dia. Sob o
seu peso, senti o progresso de minha vida ser forçosamente
interrompido. A velhice então se fez presente e sitiou-me por
todos os lados, dando-me um estado mental incessantemente
perturbado.
g
(4)
pīḍāya asthira, cintāya jwarita,
abhāve jwalita cita
upāya nā dekhi, andhakāra-moya,
ekhona ho’yechi bhīta
pīḍāya – atormentado; asthira – instável; cintāya – preocupado; jwarita –
febril; abhāve – com carências; jwalita – queima; cita – o coração; upāya
– solução; nā – não; dekhi – vejo; andhakāra-moya – tomado de cegante
escuridão; ekhona – agora; ho’yechi – experimento; bhīta – medo.
Doenças atormentam-me, a constante ansiedade deixame febril, e meu coração queima com toda sorte de desejos.
30 |
Humildade
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Não vejo saída para esta situação pavorosa, pois tudo me é
escuridão. Intenso medo é o que experimento neste agora.
g
(5)
saṁsāra-taṭanī- srota nahe śeṣa,
maraṇa nikaṭe ghora
saba samāpiyā, bhojibo tomāya,
e āśā biphala mora
saṁsāra – da vida material; taṭanī – do rio; srota – a correnteza; nahe – não;
śeṣa – cessa; maraṇa – uma morte; nikaṭe – aproxima-se; ghora – sombria e
aterradora; saba – com; samāpiyā – terminados; bhojibaḥ – adorarei; tomāya
– Vos; e – esta; āśā – esperança; biphala – infrutífera; mora – a mim.
A correnteza deste rio da vida material é forte e implacável
– uma morte sombria e aterradora se aproxima. “Terminados
os meus afazeres mundanos, adorar-Vos-ei, ó Senhor” – esta
esperança, agora, também infrutífera se revela.
g
(6)
ebe śuno prabhu! āmi gati-hīna,
bhakativinoda koya
tava kṛpā binā, sakali nirāśā,
deho’ more padāśroya
mora – neste momento; śunaḥ – ouvi-me, por obséquio; prabhu – ó Senhor;
āmi – eu; gati – orientação; hīna – sem; bhakativinoda – Bhaktivinoda; koya
– diz; tava – Vossa; kṛpā – misericórdia; binā – sem; sakali – completa;
nirāśā – desesperança; dehaḥ – por favor, dai; more – a mim; pada – de
Vossos pés; āśroya – o refúgio.
Neste momento, por obséquio, ouvi-me, ó Senhor!
Encontro-me em completa impotência. Bhaktivinoda diz:
“Sem Vossa misericórdia, tudo está perdido. Por favor, daime o refúgio de Vossos pés de lótus”.
| 31
Quarta Oração
g
(1)
āmāra jīvana, sadā pāpe rata,
nāhiko punyera leṣa
parere udvega, diyāchi je koto,
diyāchi jīvere kleśa
āmāra – minha; jīvana – vida; sadā – sempre; pāpe – ao pecado; rata – dada;
nāhikaḥ – sequer; punyera – de atos piedosos; leṣa – um pequeno vestígio;
parere – a outros; udvega – ansiedade; diyāchi – causei; je – quem; koto –
quantas; diyāchi – causei; jīvere – a entidades vivas; kleśa – perturbações.
Minha vida é inteiramente dada ao pecado – nela, inexiste
qualquer vestígio de bondade. Grande ansiedade causei aos
demais e, com efeito, desconheço uma única entidade viva a
qual eu não tenha perturbado.
g
(2)
nija sukha lāgi’, pāpe nāhi ḍori,
doyā-hīna swārtha-paro
para-sukhe duḥkhī, sadā mithya-bhāṣī,
para-duḥkha sukha-karo
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Śaraṇāgati: Devocionário da Rendição Completa
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nija – pessoal; sukha – felicidade; lāgi – envolver-me; pāpe – em pecado;
nāhi – não; ḍori – temi; doyā-hīna – sem misericórdia; swārtha – meus
interesses egoístas; paraḥ – planos; para – alheia; sukhe – a felicidade;
duḥkhī – sofrimento; sadā – sempre; mithya – falácias; bhāṣī – discursando; para – alheia; duḥkha – a miséria; sukha – a felicidade; karaḥ – traz a
mim.
Em prol de meu próprio desfrute, jamais hesitei ocuparme em atos pecaminosos. Destituído de toda compaixão,
tenho em vista unicamente meus planos e interesses egoístas.
Perdido em um perpétuo discursar de falácias, entristeceme a felicidade alheia, ao passo que ver outros em miséria é
fonte de grande deleite para mim.
g
(3)
aśeṣa kāmanā, hṛdi mājhe mora,
krodhī, dambha-parāyana
mada-matta sadā, viṣaye mohita,
hiṁsā-garva vibhūṣana
aśeṣa – infindáveis; kāmanā – desejos materiais; hṛdi – do coração;
mājhe – no âmago; mora – meu; krodhī – genioso; dambha – à exibição de
arrogância; parāyana – afeito; mada – pela vaidade; matta – alcoolizado;
sadā – sempre; viṣaye – por afazeres ordinários; mohita – desorientado;
hiṁsā – inveja; garva – e egotismo; vibhūṣana – ornamentos.
No âmago de meu coração, encontram-se infindáveis
desejos materiais. Sou alguém genioso, afeito à exibição de
arrogância, sempre alcoolizado pela vaidade e desorientado
por afazeres ordinários. Meus adoráveis ornamentos são a
inveja e o egotismo.
g
(4)
nidrālasya hata, sukārye virata,
akārye udyogī āmi
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Humildade
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pratiṣṭha lāgiyā, śāṭhya-ācaraṇa,
lobha-hata sadā kāmī
nidrā – pelo sono; alasya – e pela preguiça; hata – arruinado; sukārye – a
atos piedosos; virata – resisto; akārye – por atividades inapropriadas;
udyogī – ávido; āmi – sou; pratiṣṭha – fama e reputação; lāgiyā – em busca;
śāṭhya-ācaraṇa – atividades enganadoras; lobha – da ganância e da avareza; lobha – presa; sadā – sempre; kāmī – agitado pela luxúria.
Arruinado pela preguiça e pelo sono, resisto a toda classe
de atos piedosos, mas encontro grande entusiasmo para a
execução de atividades inapropriadas. Em busca de fama
e reputação, ocupo-me na arte da falsidade. Sou presa de
minha própria ganância e avareza, e encontro-me sempre
agitado pela luxúria.
g
(5)
e heno durjana, saj-jana-varjita,
aparādhi nirantara
śubha-kārya-śūnya, sadānartha-manāḥ,
nānā duḥkhe jara jara
e henaḥ – semelhante; durjana – sujeito perverso e repugnante; saj-jana –
pelas pessoas santas; varjita – rejeitado; aparādhi – um ofensor; nirantara
– constante; śubha – de bondade; kārya – de obras; śūnya – destituído;
sadā – eternamente; anartha – ao mal; manāḥ – inclinado; nānā – várias;
duḥkhe – por misérias; jara – desgastado; jara – e destruído.
Semelhante sujeito perverso e repugnante, rejeitado pelas
pessoas santas, é um constante ofensor. Destituído de qualquer
obra de bondade, eternamente inclinado ao mal, é semelhante
indivíduo desgastado e destruído por misérias várias.
g
(6)
bārdhakye ekhona, upāya-vihīna,
tā’te dīna akiñcana
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Śaraṇāgati: Devocionário da Rendição Completa
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bhakativinoda, prabhura caraṇe,
kore duḥkha nivedana
bārdhakye – na velhice; ekhona – agora; upāya – meios de socorro e alívio; vihīna – destituído; tā’te – este; dīna akiñcana – pobre e humildado;
bhakativinoda – Bhaktivinoda; prabhura – do Senhor; caraṇe – aos pés;
kore – apresenta; duḥkha – triste; nivedana – história.
Agora na velhice e destituído de todos os meios de socorro
e alívio, este pobre e humildado Bhaktivinoda apresenta sua
angustiante história aos pés do Senhor.
36 |
Quinta Oração
(1)
(prabhu he!) śuno mor duḥkher kāhinī
viṣaya-halāhala, sudhā-bhāne piyaluṅ,
āb avasāna dinamaṇi
prabhu – Senhor; he – ó; śunaḥ – por favor, ouvi-me; mor – de minha;
duḥkher – tristeza; kāhinī – história; viṣaya – da mundanidade; halāhala –
o veneno; sudhā – o néctar; bhāne – fingindo acreditar; piyaluṅ – bebi; āb
avasāna – está se pondo; dinamaṇi – o Sol.
Ó Senhor, por favor, ouvi-me contar-Vos a história de
minha tristeza. Bebi o mortal veneno da mundanidade
fingindo acreditar que era néctar, e agora o Sol está se pondo
no horizonte de minha vida.
g
(2)
khelā-rase śaiśava, poḍhaite kaiśora,
gowāoluṅ, nā bhelo vivek
bhoga-baśe yauvane, ghara pāti’ bosiluṅ,
suta-mita bāḍhalo anek
khelā – de brincar; rase – no gosto; śaiśava – a infância; poḍhaite – às atividades estudantis; kaiśora – na juventude; gowāoluṅ – se despertou em
mim; nā – nenhum; bhelo vivek – senso de discriminação; bhoga – do
desfrute material; baśe – sob o encanto; yauvane – no começo da idade
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Śaraṇāgati: Devocionário da Rendição Completa
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adulta; ghara – de família; pāti – pai; bosiluṅ – estabeleci-me; suta – filhos;
mita – e amigos; bāḍhalaḥ – cresciam; bāḍhalo – muitos.
Minha infância dediquei a brincar, minha juventude apliquei nas atividades acadêmicas, ao longo do que não se despertou em mim nenhum inteligente senso de discriminação.
No começo de minha idade adulta, estabeleci-me como pai
de família e entreguei-me ao encanto do desfrute material enquanto meus filhos e amigos se multiplicavam rapidamente.
g
(3)
vṛddha-kāla āolo, saba sukha bhāgalo,
pīḍā-baśe hoinu kātar
sarvendriya durbala, kṣīna kalevara,
bhogābhāve duḥkhita antar
vṛddha-kāla – a velhice; āolaḥ – chegou; saba – toda; sukha – alegria;
bhāgalaḥ – se foi; pīḍā – de sofrimento; baśe – sujeito; hoinu – fiquei; kātar
– perturbado e fraco; sarva-indriya – todos os meus sentidos; durbala –
cadentes; kṣīna – prostrado e dolorido; kalevara – corpo; bhoga – do gozo
dos sentidos; abhāve – na ausência; duḥkhita – abatido e taciturno; antar
– disposição emocional.
A velhice logo chegou, e, por causa dela, toda alegria
se foi. Sujeito aos tormentos de variadas doenças, sinto-me
perturbado e fraco. Todos os meus sentidos encontram-se
cadentes agora; meu corpo, prostrado, presenteia-me com
dores, e minha disposição emocional, agora na ausência do
gozo dos sentidos ao qual eu costumava me permitir, é de
um homem sempre abatido e taciturno.
g
(4)
jñāna-lava-hīna, bhakti-rase vañchita,
āra mora ki habe upāy
38 |
Humildade
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patita-bandhu, tuhuṅ, patitādhama hāma,
kṛpāya uṭhāo tava pāy
jñāna – de esclarecimento; lava – mesmo de uma partícula; hīna – destituído; bhakti – do serviço devocional; rase – das doçuras; vañchita – privado; āra – e; mora – a mim; ki – qual; habe – pode vir; upāy – socorro;
patita-bandhu – ó amigo dos caídos; tuhuṅ – Vós; patitādhama – o mais
baixo; hāma – eu; kṛpāya – misericordiosamente; uṭhāaḥ – por favor, erguei-me; tava – até Vossos; pāy – pés.
Destituído mesmo de uma partícula de iluminação ou
esclarecimento, privado das doçuras da devoção – que
socorro pode vir a mim agora? Ó Senhor, sois o amigo dos
caídos. Certamente caído eu sou: o mais baixo dos homens.
Por conseguinte, por favor, tende misericórdia e erguei-me
até Vossos pés de lótus.
g
(5)
vicārite ābahi, guna nāhi pāobi,
kṛpā koro, choḍato vicār
tava pada-paṅkaja- sīdhu pibāoto,
bhakativinoda karo pār
vicārite – com julgamento; ābahi – proceder; guna – virtude; nāhi – nenhuma; pāobi – haveis de encontrar; kṛpā – misericórdia; koraḥ – por favor, mostrai; choḍataḥ – deixai; vicār – de julgar; tava – de Vossos; padapaṅkaja – pés de lótus; sīdhu – o mel; pibāotaḥ – fazei-me beber; bhakativinoda – de Bhaktivinoda; karaḥ – por favor, trazei; pār – a liberação.
Caso me julgueis neste momento, não haveis de encontrar
nenhuma virtude em minha pessoa. Por favor, mostrai
misericórdia em não me julgar. Fazei-me beber o mel de
Vossos pés de lótus e, deste modo, libertai este Bhaktivinoda.
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Sexta Oração
(1)
(prabhu he!) tuwā pade e minati mor
tuwā pada-pallava, tyajato maru-mana,
viṣama viṣaye bhelo bhor
prabhu – Senhor; he – ó; tuwā – a Vossos; pade – pés; e – esta; minati
– oração; mor – minha; tuwā – de Vossos; pada-pallava – pés macios
como folhas recém-crescidas; tyajataḥ – deixei; maru-mana – mente árida como um deserto; viṣama – horrendo; viṣaye – dos sentidos; bhelaḥ
– foi; bhor – abrasada.
Ó Senhor, ofereço esta humilde oração a Vossos pés. O
refúgio de Vossos pés deixei, embora sejam macios como
folhas recém-crescidas, e agora minha mente tornou-se árida
como um deserto, tendo sido abrasada pelo fogo da absorção
em horrendo dos sentidos.
g
(2)
uṭhayite tākata, puna nāhi milo-i,
anudina korohuṅ hutāś
dīna-jana-nātha, tuhuṅ kahāyasi,
tumāri caraṇa mama āś
uṭhayite – para colocar-me de pé; tākata – forças; puna – novamente; nāhi
– não; milo-i – encontro; anudina – meus dias; korohuṅ – passo; hutāś
| 41
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– lamentando-me em grande amargor; dīna-jana-nātha – ó Senhor dos
mansos e humildes; tuhuṅ – a Vós; kahāyasi – eu digo; tumāri – Vossos;
caraṇa – pés; mama – minha; āś – esperança.
Porquanto não encontro forças para novamente colocar-me
de pé, passo meus dias lamentando-me em grande amargor.
Ó Vós que sois conhecido como o Senhor dos mansos e
humildes, Vossos pés de lótus são minha única esperança.
g
(3)
aichana dīna-jana, kohi nāhi milo-i,
tuhuṅ more koro parasād
tuwā jana-saṅge, tuwā kathā-raṅge,
chāḍahuṅ sakala paramād
aichana – se encontra; dīna-jana – uma alma tão desolada; kohi – onde;
nāhi – não; milo-i – encontro; tuhuṅ – Vós; more – a mim; koraḥ – por
favor, sede; parasād – misericordioso; tuwā – de Vossos; jana – devotos;
saṅge – na companhia; tuwā – sobre Vós; kathā – discussões; raṅge – o
prazer; chāḍahuṅ – hei de abandonar; sakala – todos; paramād – os vícios.
Jamais existiu uma alma tão desolada quanto eu. Por favor,
sede misericordioso e concedei-me a companhia de Vossos devotos, pois, experimentando o prazer de ouvir discussões acerca de Vossos passatempos, hei de abandonar todos os vícios.
g
(4)
tuwā dhāma-māhe, tuwā nāma gāoto,
gowāyabuṅ divā-niśi āś
tuwā pada-chāyā, parama suśītala,
māge bhakativinoda dās
tuwā – Vossa; dhāma – morada; māhe – na; tuwā – Vosso; nāma – nome;
gāotaḥ – a cantar; gowāyabuṅ – dedicar-me-ei; divā – dia; niśi – e noite;
āś – a esperança; tuwā – de Vossos; pada – pés; chāyā – a sombra; parama
42 |
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Humildade
– absolutamente; su – prazerosa; śītala – fresca; māge – suplica-Vos;
bhakativinoda dās – o servo Bhaktivinoda.
Uma única esperança anima a minha alma: dedicar-me-ei
noite e dia a cantar Vosso santo nome enquanto em residência
em Vossa morada divina. Vosso servo Bhaktivinoda suplicaVos a permissão de estar sob a sombra absolutamente fresca
de Vossos pés de lótus.
| 43
Sétima Oração
(1)
(prabhu he!)
emona durmati, saṁsāra bhitore,
poḍiyā āchinu āmi
tava nija-jana, kono mahājane,
pāṭhāiyā dile tumi
prabhu – Senhor; he – ó; emona – este; durmati – perverso; saṁsāra – mundo material; bhitore – no; poḍiyā – caído; āchinu – tornei-me; āmi – eu;
tava – Vosso; nija-jana – devoto; konaḥ – quem; mahājane – grande alma;
pāṭhāiyā – resgatar-me; dile – enviastes; tumi – Vós.
Ó Senhor, com meu coração de grande perversidade, caí
neste mundo material. Vós, malgrado isso, enviastes um de
Vossos elevados devotos para resgatar-me.
g
(2)
doyā kori’ more, patita dekhiyā,
kohilo āmāre giyā
ohe dīna-jana, śuno bhālo kathā,
ullasita ha’be hiyā
doyā – piedade; kori – sentiu; more – de mim; patita – meu estado caído e
deplorável; dekhiyā – contemplou; kohilaḥ – disse; āmāre – a mim; giyā –
aproximou-se; ohe – ó; dīna-jana – pobre alma; śunaḥ – ouve, por favor;
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Śaraṇāgati: Devocionário da Rendição Completa
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bhālaḥ – boa; kathā – nova; ullasita – de felicidade; ha’be – encherá; hiyā
– o coração.
Ele contemplou meu estado caído e deplorável, apiedouse de mim e aproximou-se de modo a dirigir-me a palavra:
“Pobre alma, por favor, ouve a boa nova que trago a ti, pois
esta encherá de felicidade o teu coração”.
g
(3)
tomāre tārite, śrī-kṛṣṇa-caitanya,
navadwīpe avatār
tomā heno koto, dīna hīna jane,
korilena bhava-pār
tomāre – tua pessoa; tārite – a fim de libertar; śrī-kṛṣṇa-caitanya – Śrī
Kṛṣṇa Caitanya; navadwīpe – em Navadvīpa; avatār – adveio; tomā – tu;
henaḥ – semelhantes; kotaḥ – quantas; dīna hīna jane – almas miseráveis;
korilena – conduziu; bhava – do oceano da existência material; pār – para
fora.
“A fim de libertar tua pessoa, Śrī Kṛṣṇa Caitanya apareceu
na terra de Navadvīpa. Ele já conduziu seguramente muitas
almas miseráveis como tua pessoa para fora do oceano da
existência material”.
g
(4)
vedera pratijñā, rākhibāra tare,
rukma-varna vipra-suta
mahāprabhu nāme, nadīyā mātāya,
saṅge bhāi avadhūta
vedera – dos Vedas; pratijñā – a promessa; rākhibāra – de maneira a cumprir; tare – adveio; rukma-varna – de tez dourada; vipra-suta – o filho
de um brāhmaṇa; mahāprabhu – Mahāprabhu; nāme – de nome; nadīyā
46 |
Humildade
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– Nadīyā; mātāya – arrebatando ensandecidamente; saṅge – na companhia; bhāi – do irmão; avadhūta – louco devido ao amor puro que carrega
conSigo.
“De maneira a cumprir a promessa dos Vedas, o filho de
um brāhmaṇa, de tez dourada e de nome Mahāprabhu, adveio
juntamente com Seu irmão, o qual é louco devido ao amor
puro que carrega conSigo. Juntos, Eles conduziram todos em
Nadīyā a um êxtase divino e arrebatador”.
g
(5)
nanda-suta jini, caitanya gosāi,
nija-nāma kori’ dān
tārilo jagat, tumi-o jāiyā,
loho nija-paritrān
nanda-suta – o filho de Nanda, Kṛṣṇa; jini – quem; caitanya gosāi –
Caitanya Gosāi; nija-nāma – Seu próprio nome; kori – procedendo; dān
– com a distribuição incondicional; tārilaḥ – salvando; jagat – o mundo;
tumi-aḥ – tu; jāiyā – vai; lohaḥ – recebe; nija-paritrān – tua liberação.
“Śrī Caitanya Gosāi, que não é outro senão o próprio
Kṛṣṇa, o filho de Nanda, está salvando o mundo por meio
da distribuição incondicional de Seu próprio santo nome. Vai
também até Ele e recebe tua liberação”.
g
(6)
se kathā śuniyā, āsiyāchi, nātha!
tomāra caraṇa-tale
bhakativinoda, kāṅdiyā kāṅdiyā,
āpana-kāhinī bole
se – estas; kathā – palavras; śuniyā – ouvindo; āsiyāchi – corri; nātha – ó
Senhor; tomāra – Vossos; caraṇa-tale – às solas de Vossos pés; bhakativinoda
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Śaraṇāgati: Devocionário da Rendição Completa
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– Bhaktivinoda; kāṅdiyā – chorando; kāṅdiyā – e chorando; āpana-kāhinī –
sua história; bole – narra.
Ouvindo tais palavras, ó Senhor, corri em direção às solas
de Vossos pés. Chorando continuamente, Bhaktivinoda narra
a história de sua vida.
Neste ponto encerra-se a seção
referente ao primeiro princípio da rendição.
48 |
Segundo Princípio da Rendição
Atma-Nivedana:
Dedicação do Eu
h
Primeira Oração
(1)
nā koroluṅ karama, geyāna nāhi bhelo,
nā sevilun caraṇa tohār
jaḍa-sukhe mātiyā, āpanaku vañca-i,
pekhahuṅ caudiśa āndhiyār
nā – não; koroluṅ – realizei; karama – atividades piedosas; geyāna – conhecimento transcendental; nāhi – não; bhelaḥ – acumulei; nā – não;
sevilun – servi; caraṇa – os pés; tohār – Vossos; jaḍa – voluptuosos; sukhe
– por prazeres; mātiyā – entorpecido; āpanaku – a mim mesmo; vañca-i – enganei; pekhahuṅ – o que vejo; caudiśa – nas quatro direções;
āndhiyār – trevas.
Não realizei nenhuma atividade piedosa, tampouco
acumulei algum conhecimento transcendental ou adorei
Vossos pés. Entorpecido por prazeres voluptuosos,
simplesmente enganei a mim mesmo. Agora, trevas é tudo o
que vejo em todas as direções.
g
(2)
tuhuṅ nātha! karunā-nidān
tuwā pada-paṅkaje, ātma samarpiluṅ,
more kṛpā korobi vidhān
tuhuṅ – Vós; nātha – ó Senhor; karunā-nidān – o manancial de toda misericórdia; tuwā – Vossos; pada-paṅkaje – aos pés de lótus; ātma – o eu;
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Śaraṇāgati: Devocionário da Rendição Completa
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samarpiluṅ – abandono; more – me; kṛpā – compaixão; korobi – por favor,
peço que mostreis; vidhān – fazei o arranjo.
Vós, ó Senhor, sois o manancial de toda misericórdia.
Abandono-me a Vossos pés de lótus e peço-Vos que
bondosamente me mostreis Vossa compaixão.
g
(3)
pratijñā tohāra oi, jo hi śaraṇāgata,
nāhi so jānabo paramād
so hāma duṣkṛti, gati nā hera-i āna,
āb māgoṅ tuwā parasād
pratijñā – promessa; tohāra – Vossa; oi – esta; jaḥ – quem; hi – certamente;
śaraṇāgata – se rende; nāhi – não; saḥ – aquele que; jānabaḥ – se deparará;
paramāt – com mal; saḥ – ele; hāma – eu; duṣkṛti – pecador; gati – refúgio; nā –
não; hera-i – vejo; āna – outro; āb māgoṅ – peço; tuwā – Vossa; parasāt – graça.
É Vossa promessa que aquele que se refugia em Vós não
se deparará com nenhum mal. Para um pecador como eu,
não vejo nenhum refúgio tirante Vós. Portanto, coloco-me
agora perante Vós e peço por Vossa graça.
g
(4)
āna mano-ratha, niḥśeṣa choḍato,
kab hāma haubuṅ tohārā
nitya-sevya tuhuṅ, nitya-sevaka mui,
bhakativinoda bhāva sārā
āna – ininterruptos; mano-ratha – desejos materiais; niḥśeṣa – todos; choḍataḥ – ver-me-ei livre; kab – quando; hāma – eu; haubuṅ – serei; tohārā –
Vossos; nitya – eternamente; sevya – o objeto do serviço; tuhuṅ – Vós;
nitya – eterno; sevaka – servo; mui – eu; bhakativinoda – Bhaktivinoda;
bhāva – da meditação; sārā – essência.
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Dedicação do Eu
Oh! Quando me verei livre dos ininterruptos desejos
materiais e, enfim, serei exclusivamente Vosso? Esta é a
essência da meditação de Bhaktivinoda: Vosso papel é ser
eternamente servido, e eu sou Vosso servo eterno.
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Segunda Oração
(1)
(prāneśwar!) kohobuṅ ki sarama ki bāt
aichana pāp nāhi, jo hāma nā koraluṅ,
sahasra sahasra beri nāth
prāna – de minha vida; īśwar – ó proprietário; kohobuṅ – contarei; ki –
como; sarama – vergonhosa; ki – como; bāt – trajetória; aichana – há; pāp
– pecado; nāhi – não; jaḥ – que; hāma – eu; nā – não; koraluṅ – tenha cometido; sahasra – milhares; sahasra – e milhares; beri – de vezes; nāth – ó
Senhor.
Ó proprietário de minha vida, como Vos contarei minha
vergonhosa trajetória? Não há pecado que eu não tenha
cometido milhares de vezes ou mais, ó Senhor.
g
(2)
sohi karama-phala, bhave moke peśa-i,
dokha deobo āb kāhi
takhonaka parinām, kachu nā bicāraluṅ,
āb pachu taraite cāhi
sohi – dessas; karama-phala – os frutos das ações; bhave – no mundo material; moke – eu mesmo; peśa-i – coloquei-me; dokha – a culpa; deobo
– atribuirei; āb – a outrem; kāhi – quem; takhonaka – então; parinām – as
consequências; kachu – algo; nā – não; bicāraluṅ – considerei; āb – busco;
pachu – por fim; taraite – ser salvo; cāhi – eu desejo.
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Śaraṇāgati: Devocionário da Rendição Completa
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Minha vida neste mundo, em decorrência de tais pecados,
foi uma existência aflitiva e tormentosa. Quem eu poderia
culpar por minha miséria? No passado, não considerei as
consequências que trariam meus atos, mas agora, provando
os resultados, busco por Vosso salvar.
g
(3)
dokha vicāra-i, tuṅhu danḍa deobi,
hāma bhoga korabuṅ saṁsār
karato gatāgati, bhakata-jana-saṅge,
mati rohu caraṇe tohār
dokha – culpado; vicāra-i – acredito que serei; tuṅhu – Vossa; danḍa – punição; deobi – deveis me dar; hāma – eu; bhoga – a experiência; korabuṅ –
terei; saṁsār – renascimento neste mundo material; karataḥ – irei;
gatāgati – ser submetido a nascimentos e mortes; bhakata-jana – dos devotos; saṅge – na companhia; mati – pensamentos; rohu – possa; caraṇe
– aos pés; tohār – Vossos.
Após julgar meus pecados, certamente me punireis
apropriadamente e sofrerei as dores do renascimento neste
mundo. Oro apenas que, enquanto submetido a repetidos
nascimentos e mortes, minha mente possa sempre se ater a
Vossos pés de lótus na companhia daqueles devotados a Vós.
g
(4)
āpana caturpana, tuwā pade soṅpaluṅ,
hṛdoya-garava dūre gelo
dīna-doyā-moya, tuwā kṛpā niramala,
bhakativinoda āśā bhelo
āpana – minha; caturpana – determinação; tuwā – Vossos; pade – aos
pés; soṅpaluṅ – apresento; hṛdoya – no coração; garava – a arrogância;
dūre – ausente; gelaḥ – se faz; dīna – para com os humildes; doyā-moya
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exemplar gratuito
Dedicação do Eu
– misericordioso; tuwā – Vossa; kṛpā – misericórdia; niramala – imaculada; bhakativinoda – Bhaktivinoda; āśā – a esperança; bhelaḥ – tornou-se.
A Vossos pés, ofereço esta sensata oração: a arrogância
antes presente em meu coração, agora se faz ausente. Ó Vós
que sois tão amável para com os humildes, Vossa imaculada
misericórdia se tornou a única esperança de Bhaktivinoda.
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Terceira Oração
(1)
mānasa, deho, geho, jo kichu mor
arpiluṅ tuwā pade, nanda-kiśor!
mānasa – mente; dehaḥ – corpo; gehaḥ – família; jo kichu – o que quer que;
mor – seja meu; arpiluṅ – rendo; tuwā – Vossos; pade – aos pés; nanda
-kiśor – ó jovial filho de Nanda, Kṛṣṇa.
Mente, corpo, família e tudo o mais que acaso seja meu,
rendo a Vossos pés de lótus, ó Kṛṣṇa, jovial filho de Nanda!
g
(2)
sampade vipade, jīvane-maraṇe
dāy mama gelā, tuwā o-pada varaṇe
sampade – em fortuna; vipade – em infortúnio; jīvane – na vida; maraṇe
– na morte; dāy – dificuldades; mama – minhas; gelā – desapareceram;
tuwā – Vossos; o-pada – pés; varaṇe – aceitei.
Em fortuna ou infortúnio, na vida ou na morte, todas as
minhas dificuldades desapareceram devido a eu ter aceitado
como o meu único refúgio Vossos pés de lótus.
g
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Śaraṇāgati: Devocionário da Rendição Completa
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(3)
mārobi rākhobi jo icchā tohāra
nitya-dāsa prati tuwā adhikāra
mārobi – matai-me; rākhobi – protegei-me; jaḥ – conforme; icchā – agrado; tohāra – Vosso; nitya-dāsa – Vosso servo eterno; prati – sobre; tuwā
– Vossa; adhikāra – autoridade.
Matai-me ou protegei-me, conforme Vosso agrado, porquanto tendes completa autoridade sobre Vosso servo eterno.
g
(4)
janmāobi moe icchā jadi tor
bhakta-gṛhe jani janma hau mor
janmāobi – renasça; moe – eu; icchā – desejo; jadi – se é; tor – Vosso; bhakta – de
um devoto; gṛhe – na casa; jani janma – nascimento; hau – seja; mor – meu.
Se é Vosso desejo que eu nasça novamente, permiti-me
nascer na casa de Vosso devoto.
g
(5)
kīṭa-janma hau jathā tuwā dās
bahir-mukha brahmā-janme nāhi āś
kīṭa – como um verme; janma – um nascimento; hau – que seja; jathā –
como; tuwā – Vosso; dās – devoto; bahir-mukha – avesso; brahmā-janme
– nascimento como um Brahmā; nāhi – não; āś – desejo.
Que eu renasça mesmo como um verme, contanto que eu
permaneça Vosso devoto. Não tenho o desejo de nascer como
um Brahmā caso avesso à Vossa pessoa.
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g
Dedicação do Eu
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(6)
bhukti-mukti-spṛhā vihīna je bhakta
labhaite tāṅko saṅga anurakta
bhukti – por desfrute mundano; mukti – pela liberação; spṛhā – de desejo;
vihīna – livre; je – daquele; bhakta – devoto; labhaite – por obter; tāṅko
saṅga – a companhia desse devoto; anurakta – eu anseio.
Anseio pela companhia daquele devoto completamente
destituído de todo desejo por desfrute mundano ou pela
liberação.
g
(7)
janaka, jananī, dayita, tanay
prabhu, guru, pati-tuhū sarva-moy
janaka – pai; jananī – mãe; dayita – amante; tanay – filho; prabhu – senhor;
guru – preceptor; pati – esposo; tuhū – Vós; sarva – tudo; moy – sois.
Pai, mãe, amante, filho, senhor, preceptor e esposo – sois
tudo para mim.
g
(8)
bhakativinoda kohe, śuno kāna!
rādhā-nātha! tuhuṅ hāmāra parāna
bhakativinoda – Bhaktivinoda; kohe – diz; śunaḥ – por favor, escutai-me;
kāna – ó Kṛṣṇa; rādhā-nātha – ó Senhor de Rādhā; tuhuṅ – Vós; hāmāra –
minha; parāna – vida e alma.
Bhaktivinoda diz: “Ó Kṛṣṇa, por favor, escutai-me! Ó
Senhor de Rādhā, sois minha vida e alma!”.
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Quarta Oração
(1)
‘ahaṁ mama’-śabda-arthe jāhā kichu hoy
arpiluṅ tomāra pade, ohe doyā-moy!
ahaṁ – eu; mama – meu; śabda – das palavras; arthe – transmitido pelo
significado; jāhā – que; kichu – tudo; hoy – é; arpiluṅ – ofereço; arpiluṅ –
Vossos; pade – aos pés; ohe – ó; doyā-moy – misericordioso.
Tudo o que pode ser indicado pelas palavras “eu” e “meu”,
a Vossos pés de lótus ofereço, ó Senhor de misericórdia!
g
(2)
‘āmāra’ āmi to’ nātha! nā rohinu ār
ekhona hoinu āmi kevala tomār
āmāra – meu; āmi – eu; to – sequer; nātha – ó Senhor; nā – não; rohinu –
considero; ār – e; ekhona – agora; hoinu – sou; āmi – eu; kevala – completamente; tomār – Vosso.
Já não considero sequer eu mesmo como “meu”, ó mestre.
Agora, tornei-me completamente Vosso.
g
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(3)
‘āmi’ śabde dehī jīva ahaṁtā chāḍilo
twadīyābhimāna āji hṛdoye paśilo
āmi – eu; śabde – a palavra; dehī – que habita este corpo mortal; jīva – a
alma; ahaṁtā – o falso ego; chāḍilaḥ – abandonou; twadīya – de ser Vosso;
abhimāna – o sentimento espiritual; āji – nesta data; hṛdoye – meu coração;
paśilaḥ – adentrou.
A alma que habita este corpo mortal abandonou o falso
ego associado à palavra “eu”, porquanto, nesta data, o
sentimento espiritual de ser Vosso adentrou seu coração.
g
(4-5)
āmār sarvasva-deho, geho anucar
bhāi, bandhu, dārā, suta, dravya, dwāra, ghar
se saba hoilo tava, āmi hoinu dās
tomāra gṛhete ebe āmi kori bās
āmār – meu; sarvasva – todos os haveres; dehaḥ – corpo; gehaḥ – residência; anucar – seguidores; bhāi – irmãos; bandhu – amigos; dārā – esposa;
suta – filhos; dravya – pertences pessoais; dwāra – portão; ghar – cerca;
se – o que; saba – tudo; hoilaḥ – é; tava – Vosso; āmi – eu; hoinu – sou; dās
– servo e criado; tomāra – Vossa; gṛhete – na casa; ebe – essa; āmi – eu; kori
– estou; bās – como residente.
Todos os meus haveres – corpo, residência, seguidores,
irmãos, amigos, esposa, filhos, pertences pessoais, cerca e
portão – são agora Vossos, pois me tornei Vosso servo. Nada
sou além de um mero criado residindo em Vossa casa.
g
(6)
tumi gṛha-swāmī, āmi sevaka tomār
tomāra sukhete ceṣṭā ekhona āmār
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Dedicação do Eu
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tumi – Vós; gṛha – da casa; swāmī – o proprietário; āmi – eu; sevaka – o
obediente criado; tomār – Vosso; tomāra – Vossa; sukhete – felicidade;
ceṣṭā – atividade; ekhona – única; āmār – minha.
Sois definitivamente o proprietário da casa, e eu sou Vosso
criado mais obediente. A única atividade que agora conheço
é empenhar-me em prol da felicidade Vossa.
g
(7)
sthūla-liṅga-dehe mora sukṛta duṣkṛta
āra mora nahe, prabhu! āmi to’ niṣkṛta
sthūla – grosseiro; liṅga – ou sutil; dehe – corpos; mora – meus; sukṛta – atividades piedosas; duṣkṛta – atividades impiedosas; āra – de; mora – mim;
nahe – não; prabhu – ó Senhor; āmi – eu; to – certamente; niṣkṛta – redimido.
Quaisquer atividades piedosas ou ímpias que tenham
sido realizadas por mim, quer com o meu corpo grosseiro
quer com o meu corpo sutil, não mais são minhas, ó Senhor,
pois agora redimido estou.
g
(8)
tomāra icchāya mora icchā miśāilo
bhakativinoda āja āpane bhulilo
tomāra – com Vosso; icchāya – desejar; mora – meu; icchā – desejar; miśāilaḥ –
fundiu-se; bhakativinoda – Bhaktivinoda; āja – deste dia em diante; āpane –
de si; bhulilaḥ – esquecido.
Meu desejar fundiu-se com o Vosso. Deste dia em diante,
Bhaktivinoda é alguém inteiramente esquecido de si.
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Quinta Oração
(1)
‘āmāra’ bolite prabhu! āre kichu nāi
tumi-i āmāra mātra pitā-bandhu-bhāi
āmāra – meu; bolite – ser chamado; prabhu – ó Senhor; āre – mais; kichu –
nada; nāi – não me resta; tumi-i – Vós; āmāra – meu; mātra – único; pitā
– pai; bandhu – amigo; bhāi – irmão.
Ó Senhor, nada mais me resta que possa ser chamado de
“meu”. Pai, amigo, irmão – unicamente Vós sois tudo isso
para mim.
g
(2)
bandhu, dārā, suta, sutā-tava dāsī dās
sei to’ sambandhe sabe āmāra prayās
bandhu – amigos; dārā – esposa; suta – filhos; sutā – filhas; tava – Vossos;
dāsī – servas; dās – e servos; sei – eles; to – conVosco; sambandhe – pela
relação; sabe – todos; āmāra – minha; prayās – dedicação.
Meus amigos, minha esposa e meus filhos e filhas são
agora Vossos servos e servas. Todo cuidado que dedico a eles
é somente pela relação que têm conVosco.
g
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(3)
dhana, jana, gṛha, dāra ‘tomāra’ boliyā
rakhā kori āmi mātro sevaka hoiyā
dhana – riqueza; jana – membros familiares; gṛha – casa; dāra – esposa;
tomāra – Vossos; boliyā – declaro; rakhā – proteção; kori – dou; āmi – eu;
mātraḥ – unicamente; sevaka – servo; hoiyā – sendo.
Declaro que minha riqueza, meus membros familiares, minha casa e minha esposa são verdadeiramente Vossos, e assim
continuo com meu dever, como Vosso servo, de protegê-los.
g
(4)
tomāra kāryera tore uparjibo dhan
tomāra saṁsāre-vyaya koribo vahan
tomāra – Vosso; kāryera – serviço; tore – por Vós; uparjibaḥ – conseguirei
honestamente; dhan – dinheiro; tomāra – Vossa; saṁsāre – da casa; vyaya
– os custos da manutenção; koribaḥ vahan – arcarei.
Pela causa de Vosso serviço, hei de conseguir dinheiro honestamente e arcar com os custos da manutenção de Vossa
casa.
g
(5)
bhālo-manda nāhi jāni sevā mātro kori
tomāra saṁsāre āmi viṣaya-praharī
bhālaḥ – bom; manda – e ruim; nāhi – não; jāni – conheço; sevā – prestar o
meu serviço; mātraḥ – a única coisa; kori – faço; tomāra – Vossa; saṁsāre
– na casa; āmi – eu; viṣaya-praharī – o vigia.
68 |
Desconheço a dualidade “bom” e “ruim” – tudo o que
faço é prestar o meu serviço. Nada sou senão um vigia
encarregado de guardar os pertences de Vossa casa.
Dedicação do Eu
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g
(6)
tomāra icchāya mora indriya-cālanā
śravana, darśana, ghrāna, bhojana-vāsanā
tomāra – Vossa; icchāya – pela direção; mora – meus; indriya – sensoriais;
cālanā – movimentos; śravana – ouvir; darśana – ver; ghrāna – cheirar;
bhojana – comer; vāsanā – tocar.
Unicamente em consonância com Vossa direção faço uso
de meus sentidos e assim desejo ouvir, ver, cheirar, saborear
e tocar.
g
(7)
nija-sukha lāgi’ kichu nāhi kori ār
bhakativinoda bole, tava sukha-sār
nija – próprio; sukha – prazer; lāgi – para obter; kichu – em algo; nāhi –
não; kori – ocupo-me; ār – e; bhakativinoda – Bhaktivinoda; bole – diz; tava
– Vosso; sukha – prazer; sār – a essência.
Não mais me ocupo em algo para o meu próprio prazer.
Bhaktivinoda diz: “Vosso prazer é a essência de tudo”.
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Sexta Oração
(1)
bastutaḥ sakali tava, jīva keho noy
‘aham’-’mama’-bhrame bhromi’ bhoge śoka-bhoy
bastutaḥ – em verdade; sakali – tudo; tava – Vosso; jīva – a alma espiritual;
kehaḥ – como; noy – não; aham – eu; mama – meu; bhrame – desorientada;
bhromi – vagueia; bhoge – experiencia; śoka – lamentação; bhoy – e medo.
Em verdade, tudo pertence a Vós – nenhuma alma
espiritual, em tempo algum, é proprietária de algo.
A minúscula alma espiritual vagueia por este mundo
equivocadamente pensando em termos de “eu” e “meu”.
Ela, assim, experiencia lamentação e medo.
g
(2)
ahaṁ-mama-abhimāna ei-mātro dhan
baddha-jīva nija boli’ jāne mane man
ahaṁ – eu; mama – e meu; abhimāna – julga; ei – isto; mātraḥ – exclusivo;
dhan – tesouro; baddha-jīva – a alma condicionada; nija – para si; boli – reivindicando; jāne – convence-se; mane – sua mente; man – ilusão grosseira.
A alma condicionada julga que tudo relacionado às falsas
concepções de “eu” e “meu” são seus tesouros exclusivos.
Reivindicando posses para si, sua mente se convence
firmemente dessa ilusão grosseira.
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Śaraṇāgati: Devocionário da Rendição Completa
g
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(3)
sei abhimāne āmi saṁsāre poḍiyā
hābuḍubu khāi bhava-sindhu sāṅtāriyā
sei – esta; abhimāne – concepção; āmi – eu; saṁsāre – no mundo de gozo
egoísta; poḍiyā – caí; hābuḍubu khāi – debatendo-me; bhava – da calamitosa existência material de repetidos nascimentos e mortes; sindhu – o
oceano; sāṅtāriyā – ondas.
Em virtude de semelhante presunção, também caí neste
mundo de gozo egoísta. Debatendo-me no mar da existência
material, afogam-me vezes e mais vezes as ondas desse
oceano calamitoso.
g
(4)
tomāra abhoya-pade loiyā śaraṇ
āji āmi korilāma ātma-nivedan
tomāra – Vossos; abhoya – os quais libertam de todo medo; pade – pés;
loiyā – obtendo; śaraṇ – o refúgio; āji – nesta data; āmi – eu; korilāma –
procedo; ātma-nivedan – com a rendição do meu eu.
Refugio-me a Vossos pés de lótus, os quais libertam de
todo medo, e, nesta data, dedico-me por inteiro a Vós.
g
(5)
‘ahaṁ’-’mama’-abhimāna chāḍilo āmāy
ār jeno mama hṛde stāna nāhi pāy
ahaṁ – eu; mama – meu; abhimāna – concepção; chāḍilaḥ – deixou; āmāy –
me; ār – e; jenaḥ – que; mama – meu; hṛde – no coração; stāna – lugar para
se instalar; nāhi – não; pāy – encontre.
72 |
Dedicação do Eu
exemplar gratuito
A falaciosa concepção de pensar em termos de “eu” e
“meu” deixou-me agora. Que semelhante conceito jamais
encontre a oportunidade de novamente se instalar em meu
coração.
g
(6)
ei mātro bala prabhu! dibe he āmāre
ahaṁtā-mamatā dūre pāri rākhibāre
ei – este; mātraḥ – único; bala – poder; prabhu – Senhor; dibe – dai; he – ó;
āmāre – a mim; ahaṁtā – eu; mamatā – e meu; dūre – bem distantes; pāri –
que eu possa; rākhibāre – manter.
Por favor, ó Senhor, dai-me unicamente este poder: que
eu possa manter bem distantes as falsas concepções de “eu”
e “meu”.
g
(7)
ātma-nivedana-bhāva hṛde dṛḍha roy
hasti-snāna sama jeno khanika nā hoy
ātma-nivedana – de rendição do eu; bhāva – o estado; hṛde – no coração;
dṛḍha – firme; roy – permaneça; hasti-snāna – o banho de um elefante;
sama – igual; jenaḥ – como; khanika – temporário; nā – não; hoy – revele-se.
Possa a postura de rendição a Vós permanecer fixa em
meu coração, não se revelando temporária como a limpeza
do banho de um elefante.
g
(8)
bhakativinoda prabhu nityānanda pāy
māge parasāda, jāhe abhimāna jāy
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Śaraṇāgati: Devocionário da Rendição Completa
exemplar gratuito
bhakativinoda – Bhaktivinoda; prabhu – pelo Senhor; nityānanda –
Nityānanda; pāy – busca; māge – roga; parasāda – pela graça; jāhe – mediante a qual; abhimāna – esses conceitos ilusórios; jāy – extinguir-se-ão.
Pela graça que conduz à extinção dos conceitos ilusórios
do falso prestígio, aos pés de lótus do Senhor Nityānanda
roga Bhaktivinoda.
74 |
Sétima Oração
(1)
nivedana kori prabhu! tomāra caraṇe
patita adhama āmi, jāne tri-bhuvane
nivedana – declaração; kori – apresento; prabhu – ó Senhor; tomāra –
Vossos; caraṇe – aos pés; patita – caído; adhama – detestável; āmi – eu;
jāne – conhecido; tri-bhuvane – nos três mundos.
Dou a conhecer perante Vossos pés de lótus, ó Senhor,
que sou o indivíduo mais caído e detestável. Esta verdade é
conhecida por todos os três mundos.
g
(2)
āmā-sama pāpī nāhi jagat-bhitore
mama sama aparādhī nāhiko saṁsāre
āmā-sama – como eu; pāpī – pecador; nāhi – inexiste; jagat-bhitore – todo o
universo; mama – a mim; sama – igual; aparādhī – ofensor; nāhikaḥ – não
há; saṁsāre – no mundo.
Inexiste algum pecador mais repulsivo do que este que
Vos fala. Mesmo que se busque por todo o universo, será
impossível encontrar alguém cujas ofensas rivalizem as
minhas.
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Śaraṇāgati: Devocionário da Rendição Completa
exemplar gratuito
g
(3)
sei saba pāpa āra aparādha, āmi
parihāre pāi lajjā, saba jāno’ tumi
sei – estes; saba – todos; pāpa – pecados; āra – e; aparādha – ofensas; āmi –
eu; parihāre – livrar-me; pāi – consigo; lajjā – expor-me ao ridículo; saba
– tudo; jānaḥ – sabeis; tumi – Vós.
Tentando livrar-me por meu próprio esforço de todos
esses pecados e ofensas, apenas exponho-me ao ridículo.
Tudo isso certamente é de Vosso conhecer.
g
(4)
tumi binā kā’ra āmi loibo śaraṇ?
tumi sarveśvareśvara, brajendra-nandan!
tumi – em Vós; binā – senão; kā’ra – em quem; āmi – eu; loibaḥ – buscaria;
śaraṇ – refúgio; tumi – Vós; sarva-īśvara-īśvara – o mestre de todos os
mestres; brajendra-nandan – Kṛṣṇa, filho do rei de Vraja.
Em quem eu poderia me refugiar senão em Vós? Sois o
mestre de todos os mestres, ó Kṛṣṇa, filho do rei de Vraja!
g
(5)
jagat tomāra nātha! tumi sarva-moy
tomā prati aparādha tumi koro’ kṣoy
jagat – universo; tomāra – Vosso; tomāra – mestre; tumi – Vós; sarva-moy
– tudo permeais; tomā – Vós; prati – contra; aparādha – ofensas; tumi –
Vós; koraḥ kṣoy – afastais os resultados.
76 |
Dedicação do Eu
exemplar gratuito
Este mundo é Vosso, ó Senhor, e tudo permeais. Afastais os
resultados pecaminosos decorrentes das ofensas cometidas
contra Vós.
g
(6)
tumi to’ skhalita-pada janera āśroy
tumi binā āra kibā āche, doyā-moy!
tumi – Vós; to – somente; skhalita-pada – que tropeçam; janera – das pessoas; āśroy – o refúgio; tumi – Vós; binā – sem; āra – outro; kibā – quem;
āche – é; doyā-moy – misericordioso Senhor.
Somente Vós sois o refúgio daqueles cujos passos talvez
fraquejem para fora do caminho correto. Além de Vós, o que
mais existe, ó misericordioso Senhor?
g
(7)
sei-rūpa tava aparādhī jana jata
tomāra śaraṇāgata hoibe satata
sei-rūpa – desta forma; tava – a Vós; aparādhī – ofensora; jana – a pessoa;
jataḥ – que; tomāra – Vosso; śaraṇāgata – refúgio; hoibe – hão de buscar;
satata – invariavelmente.
Invariavelmente, todos aqueles que, como eu, injuriaramVos hão de buscar por Vosso refúgio.
g
(8)
bhakativinoda ebe loiyā śaraṇ
tuwā pade kore āj ātma-samarpan
bhakativinoda – Bhaktivinoda; ebe – neste dia; loiyā – aceitando; śaraṇ – o
| 77
refúgio; tuwā – Vossos; pade – aos pés; kore – procede; āj – agora; ātmasamarpan – com a autorrendição.
Bhaktivinoda refugia-se completamente em Vós e, neste
dia, rende-se a Vossos pés de lótus.
Oitava Oração
(1)
ātma-nivedana, tuwā pade kori’,
hoinu parama sukhī
duḥkha dūre gelo, cintā nā rohilo,
caudike ānanda dekhi
ātma – do eu; nivedana – com a rendição; tuwā – Vossos; pade – aos pés;
kori – procedendo; hoinu – conheço; parama – suprema; sukhī – felicidade; duḥkha – pesar; dūre – com a ruína; gelaḥ – encontrou-se; cintā – inquietações; nā – não; rohilaḥ – há; caudike – nas quatro direções; ānanda
– regozijo; dekhi – vejo.
Devido à rendição a Vossos pés de lótus, conheço hoje a
felicidade suprema. Todo pesar se encontrou com a ruína,
e não há mais inquietações. Regozijo é tudo o que vejo em
todas as quatro direções.
g
(2)
aśoka-abhoya, amṛta-ādhāra,
tomāra caraṇa-dwaya
tāhāte ekhona, viśrāma labhiyā
chāḍinu bhavera bhoya
aśoka – livra-nos da lamentação; abhoya – livra-nos do medo; amṛtaādhāra – trazem consigo o néctar; tomāra – Vossos; caraṇa-dwaya – dois
| 79
Śaraṇāgati: Devocionário da Rendição Completa
exemplar gratuito
pés; tāhāte – neles; ekhona – agora; viśrāma – o abrigo; labhiyā – aceitando; chāḍinu – abandonei; bhavera – da existência material; bhoya – o
medo.
Vossos dois pés de lótus trazem consigo o néctar que
nos livra tanto da lamentação como do medo. Abrigandome neles, encontrei paz e abandonei por inteiro o medo da
existência material.
g
(3)
tomāra saṁsāre, koribo sevana,
nāhibo phalera bhāgī
tava sukha jāhe, koribo jatana,
ho’ye pade anurāgī
tomāra – Vossa; saṁsāre – na casa; koribaḥ – prestarei; sevana – serviço;
nāhibaḥ – não irei; phalera – dos frutos; bhāgī – tornar-me o desfrutador;
tava – de Vossa; sukha – felicidade; jāhe – o que; koribaḥ – irei; jatana – esforçar-me; ho’ye – serei; pade – aos pés; anurāgī – devotado.
Prestarei serviço em Vossa casa e jamais me esforçarei
tendo em vista gozar os frutos desse serviço. Em vez
disso, completamente enamorado por Vossos pés de lótus,
esforçar-me-ei em prol de tudo aquilo que por ventura Vos
apraza.
g
(4)
tomāra sevāya, duḥkha hoya jato,
se-o to’ parama sukha
sevā-sukha-duḥkha, parama sampada,
nāśaye avidyā-duḥkha
tomāra – a Vós; sevāya – no serviço; duḥkha – dificuldades; hoya – será;
jataḥ – o que; se-aḥ – isso; to – certamente; parama – grande; sukha – felicidade; sevā – no serviço; sukha – júbilo; duḥkha – e sofrimento; parama
80 |
Dedicação do Eu
exemplar gratuito
sampada – riquezas absolutas; nāśaye – destruição; avidyā – chamada ignorância; duḥkha – a miséria.
Todas as dificuldades encontradas no serviço a Vós serão
causa de grande felicidade, pois, em tal serviço devocional,
tanto júbilo quanto sofrimento são riquezas absolutas: ambos
destroem a miséria denominada “ignorância”.
g
(5)
pūrva itihāsa, bhulinu sakala,
sevā-sukha pe’ye mane
āmi to’ tomāra, tumi to’ āmāra,
ki kāja apara dhane
pūrva – passada; itihāsa – da história; bhulinu – esqueço-me; sakala – por
inteiro; sevā-sukha – a exultação do serviço; pe’ye – em decorrência de
sentir; mane – na mente; āmi – eu; to – verdadeiramente; tomāra – de
Vós; tumi – Vós; to – verdadeiramente; āmāra – meu; ki – qual; kāja – a
necessidade; apara – de outro; dhane – tesouro.
Esqueço-me por inteiro de todo o meu passado em
decorrência de sentir em minha mente a grande exultação
do serviço à Vossa pessoa. Sou verdadeiramente Vosso, e sois
verdadeiramente meu. Existe a necessidade de algum outro
tesouro?
g
(6)
bhakativinoda, ānande ḍubiyā,
tomāra sevāra tare
saba ceṣṭā kore, tava icchā-mato,
thākiyā tomāra ghare
bhakativinoda – Bhaktivinoda; ānande – em bem-aventurança; ḍubiyā –
imerso; tomāra – Vosso; sevāra – serviço; tare – a Vós; saba – todos; ceṣṭā
| 81
Śaraṇāgati: Devocionário da Rendição Completa
exemplar gratuito
– os atos; kore – devota; tava – a Vós; icchā-mataḥ – segundo o desejo;
thākiyā – permanecendo; tomāra – Vossa; ghare – na casa.
Ocupado a Vosso serviço, Bhaktivinoda afoga-se
profundamente no oceano de indefectível bem-aventurança.
Vivendo em Vossa casa, devota-se completamente segundo o
Vosso desejo.
Neste ponto encerra-se a seção referente
ao segundo princípio da rendição.
82 |
Terceiro Princípio da Rendição
Goptrtve-Varana:
Aceitação do Senhor como
Nosso Único Mantenedor
h
| 83
Primeira Oração
(1)
ki jāni ki bale, tomāra dhāmete,
hoinu śaraṇāgata
tumi doyā-moy, patita-pāvana,
patita-tāraṇe rata
ki – o que; jāni – sei; ki – que; bale – poder; tomāra – Vossa; dhāmete – a
morada; hoinu – eu buscaria; śaraṇāgata – refúgio; tumi – Vós; doyā-moy
– misericordioso; patita-pāvana – o purificador; patita-tāraṇe – e salvador
das almas caídas; rata – aquele que Se dedica com prazer.
Mediante que compreensão pessoal ou que poder alguém
como eu poderia buscar refúgio em Vossa morada? Certamente
semelhante busca é produto unicamente de Vossa misericórdia,
haja vista serdes todo-misericordioso e serdes aquele que
encontra prazer em purificar e salvar as almas caídas.
g
(2)
bharasā āmāra, ei mātra nātha!
tumi to’ karunā-moy
tava doyā-pātra, nāhi mora sama,
avaśya ghucābe bhoy
bharasā – esperança; āmāra – minha; ei – esta; ei – única; nātha – ó Senhor;
tumi – Vós sois; to – pleno; karunā-moy – de compaixão e misericórdia;
| 85
Śaraṇāgati: Devocionário da Rendição Completa
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tava – Vosso; doyā-pātra – objeto do compadecimento; nāhi – inexiste;
mora – a mim; sama – igual; avaśya – certamente; ghucābe – acabará; bhoy
– o medo.
Minha única esperança, ó Senhor, é o fato de serdes
pleno de compaixão e misericórdia. Inexiste alguém mais
necessitado de misericórdia do que eu. Certamente haveis de
me livrar de todos os temores.
g
(3)
āmāre tārite, kāhāro śakati,
avanī-bhitore nāhi
doyāla ṭhākura! ghoṣanā tomāra,
adhama pāmare trāhi
āmāre – me; tārite – para resgatar; kāhāraḥ – quem; śakati – poder; avanībhitore – na Terra; nāhi – nenhum outro alguém; doyāla – misericordiosíssimo; ṭhākura – o Senhor; ghoṣanā – decreto; tomāra – Vosso; adhama – vil
e desprezível; pāmare – pecador; trāhi – libertai.
Nenhum outro alguém possui poder para me resgatar.
Através de Vosso decreto, ó misericordiosíssimo Senhor,
sede bondoso e libertai este pecador vil e desprezível.
g
(4)
sakala chāḍiyā, āsiyāchi āmi,
tomāra caraṇe nātha!
āmi nitya-dāsa, tumi pālayitā,
tumi goptā, jagannātha!
sakala – de tudo; chāḍiyā – com o abandono; āsiyāchi – procedi; āmi – eu;
tomāra – Vossos; caraṇe – aos pés; nātha – ó Senhor; āmi – eu; nitya-dāsa –
servo eterno; tumi – Vós; pālayitā – o mantenedor; tumi – Vós; goptā – o
protetor; jagannātha – ó Senhor do Universo.
86 |
exemplar gratuito
Aceitação do Senhor como Nosso Único Mantenedor
Abandonei tudo e vim até Vossos pés de lótus, ó Senhor.
Sou Vosso servo eterno, e Vós sois o mantenedor. Sois meu
único protetor, ó Senhor do Universo!
g
(5)
tomāra sakala, āmi mātra dāsa,
āmāra tāribe tumi
tomāra caraṇa, korinu varaṇa,
āmāra nāhi to’ āmi
tomāra – Vosso; sakala – tudo; āmi – eu; mātra – inteiramente rendido;
dāsa – servo; āmāra – me; tāribe – havereis de me libertar; tumi – Vós;
tomāra – Vossos; caraṇa – os pés; korinu varaṇa – aceito; āmāra – meu;
nāhi – não; to – certamente; āmi – eu.
Tudo é propriedade Vossa. Dado que sou Vosso servo
rendido, certamente havereis de me libertar. Aceito Vossos pés
de lótus como o meu único refúgio e já não mais pertenço a mim.
g
(6)
bhakativinoda, kāṅdiyā śaraṇa,
lo’yeche tomāra pāy
kṣami’ aparādha, nāme ruci diyā,
pālana korohe tāy
bhakativinoda – Bhaktivinoda; kāṅdiyā – com lágrimas a cascatearem de
seus olhos; śaraṇa – refugia-se; lo’yeche – obtém; tomāra – Vosso; pāy – auferindo; kṣami – outorgando perdão; aparādha – às ofensas; nāme – pelo
santo nome; ruci – atração; diyā – conferindo; pālana – manutenção; korohe – por favor; tāy – dai.
Com lágrimas a cascatearem de seus olhos, Bhaktivinoda
humildemente se refugia a Vossos pés. Outorgando perdão a
todas as suas ofensas e conferindo-lhe gosto pelo cantar dos
santos nomes, oh, fazei a bondade de mantê-lo!
| 87
Segunda Oração
(1)
dārā-putra-nija-deho-kuṭumba-pālane
sarvadā vyākula āmi chinu mane mane
dārā – da esposa; putra – dos filhos; nija – meu; dehaḥ – do corpo; kuṭumba –
dos parentes; pālane – a manutenção; sarvadā – sempre; vyākula – ansioso; āmi – eu; chinu – ficava; mane mane – em minha mente.
Dentro de minha mente, sempre me ansiava a manutenção
de minha esposa e de meus filhos, a manutenção de meu
corpo e de meus parentes.
g
(2)
kemone arjibo artha, yaśa kise pābo
kanyā-putra-vivāha kemone sampādibo
kemone – como; arjibaḥ – conseguirei; artha – dinheiro; yaśa – fama; kise –
como; pābaḥ – conseguirei; kanyā – das filhas; putra – e dos filhos; vivāha
– casamento; kemone – como; sampādibaḥ – providenciarei.
“Como conseguirei dinheiro? Como obterei fama? Como
providenciarei cônjuges para meus filhos e filhas?”.
g
| 89
Śaraṇāgati: Devocionário da Rendição Completa
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(3)
ebe ātma-samarpane cintā nāhi ār
tumi nirvāhibe prabhu, saṁsāra tomār
ebe – agora; ātma-samarpane – rendi-me; cintā – ansiedade; nāhi – não; ār
– e; tumi – Vós; nirvāhibe – fareis os arranjos; prabhu – ó Senhor; saṁsāra
– o mundo; tomār – é Vosso.
Agora que me rendi a Vós, despojei-me de toda ansiedade.
Ó Senhor, confio que fareis todos os arranjos, pois toda a
criação está sob o controle Vosso.
g
(4)
tumi to’ pālibe more nija-dāsa jāni’
tomāra sevāya prabhu boḍo sukha māni
tumi – Vós; to – certamente; pālibe – havereis de manter; more – me; nijadāsa – Vosso servo; jāni – reconhecendo-me; tomāra – a Vós; sevāya – no
serviço; prabhu – ó Senhor; boḍaḥ – derradeira; sukha – a felicidade; māni
– eu experiencio.
Reconhecendo-me como Vosso servo, certamente havereis
de me manter. Enquanto presto serviço devocional a Vós, a
derradeira felicidade é o que experiencio.
g
(5)
tomāra icchaya prabhu sab kārya hoy
jīva bole,-’kori āmi’, se to’ satya noy
tomāra – Vosso; icchaya – pelo desejo; prabhu – ó Senhor; sab – toda; kārya
– ação; hoy – acontece; jīva – a alma condicionada; bole – diz; kori – ajo;
āmi – eu; se – isso; to – nenhum pouco; satya – sensato; noy – não é.
Tudo acontece unicamente por Vossa vontade, ó Senhor.
Conquanto a alma condicionada declare “eu sou o agente”,
mera insensatez é semelhante pensamento.
90 |
exemplar gratuito
Aceitação do Senhor como Nosso Único Mantenedor
g
(6)
jīva ki korite pare, tumi nā korile?
āśā-mātra jīva kore, tava icchā-phale
jīva – a alma; ki – como; korite – para agir; pare – teria o poder; tumi –
Vós; nā – não; korile – ajais; āśā – o desejo; mātra – apenas; jīva – a alma;
kore – de fazer; tava – de Vós; icchā – do desejo; phale – o fruto.
O que uma minúscula alma individual é capaz de fazer
a menos que Vós ajais? A alma atômica somente pode
desejar agir, e, a não ser que satisfaçais o desejo dela por
meio de Vosso desejo independente, não há algo que ela
possa fazer.
g
(7)
niścinta hoiyā āmi sevibo tomāy
gṛhe bhālo-manda ho’le nāhi mora dāy
niścinta – livre de ansiedade; hoiyā – tornando-me; āmi – eu; sevibaḥ –
prestarei serviço; tomāy – a Vós; gṛhe – na casa; bhālo-manda – bom e
ruim; ho’le – decorra; nāhi – não é; mora – minha; dāy – responsabilidade.
Livre de toda sorte de ansiedade, humildemente prestarei
serviço a Vós. Caso algo bom ou ruim decorra enquanto
sirvo em Vossa casa, nenhuma responsabilidade haverá de
recair sobre mim.
g
(8)
bhakativinoda nija-swātantrya tyajiyā
tomāra caraṇa seve’ akiñcana hoiyā
| 91
bhakativinoda – Bhaktivinoda; nija – pessoal; swātantrya – independência;
tyajiyā – renega; tomāra – a Vossos; caraṇa – pés; seve – serve; akiñcana –
sem nada mais; hoiyā – tendo.
Sem nenhum outro interesse em sua vida, Bhaktivinoda
renega sua independência e se ocupa no serviço exclusivo a
Vossos pés de lótus.
Terceira Oração
(1)
sarvasva tomār, caraṇe saṁpiyā,
poḍechi tomāra ghare
tumi to’ ṭhākur, tomāra kukur,
boliyā jānaho more
sarvasva – tudo; tomār – a Vós; caraṇe – aos pés; saṁpiyā – oferecendo;
poḍechi – atiro-me; tomāra – Vossa; ghare – na casa; tumi – Vós; to – certamente; ṭhākur – o mestre; tomāra – Vosso; kukur – cão; boliyā – dizendo;
jānahaḥ – sabei, por favor; more – que sou.
Entregando tudo o que possuo, atiro-me a Vossos pés
de lótus. Sabei, por favor, que, nesta Vossa casa, Vós sois o
mestre e eu sou Vosso cão.
g
(2)
bāṅdhiyā nikaṭe, āmāre pālibe,
rohibo tomāra dwāre
pratīpa-janere, āsite nā dibo,
rākhibo gaḍera pāre
bāṅdhiyā – acorrentai-me; nikaṭe – próximo; āmāre – me; pālibe – mantende; rohibaḥ – permanecerei; tomāra – Vossa; dwāre – à porta; pratīpajanere – os inimigos; āsite – que transponham; nā – não; dibaḥ – permitirei; rākhibaḥ – guardarei; gaḍera – do fosso; pāre – o limite.
| 93
Śaraṇāgati: Devocionário da Rendição Completa
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Acorrentai-me e mantende-me. Permanecerei à Vossa
porta e não permitirei que Vossos inimigos entrem. Como
Vosso cão de guarda, não permitirei que ninguém transponha
o fosso a circundar Vossa residência.
g
(3)
tava nija-jana, prasād seviyā,
ucchiṣṭa rākhibe jāhā
āmāra bhojan, parama-ānande,
prati-din ha’be tāhā
tava – de Vossos; nija – pessoais; jana – dos devotos; prasād – prasāda; seviyā –
servir-me-ei; ucchiṣṭa – remanentes; rākhibe – sustentarão; jāhā – que;
āmāra – meu; bhojan – banquete; parama-ānande – em grande boa-venturança; prati-din – todos os dias; ha’be – serão; tāhā – tais remanentes.
Quaisquer remanentes alimentares que Vossos devotos
deixem para trás após terem honrado Vosso prasāda será meu
sustento diário. Hei de me banquetear de tais remanentes em
grande boa-venturança.
g
(4)
bosiyā śuiyā, tomāra caraṇa,
cintibo satata āmi
nācite nācite, nikaṭe jāibo,
jakhona ḍākibe tumi
bosiyā – quer enquanto me coloco de pé; śuiyā – quer enquanto me deito;
tomāra – Vossos; caraṇa – nos pés; cintibaḥ – meditarei; satata – sempre;
āmi – eu; nācite – dançando; nācite – e dançando; nikaṭe – próximo; jāibaḥ
– irei; jakhona – de quem; ḍākibe – chamareis; tumi – Vós.
Quer enquanto me coloco de pé quer enquanto me deito,
meditarei constantemente em Vossos pés de lótus. Quando
94 |
exemplar gratuito
Aceitação do Senhor como Nosso Único Mantenedor
quer que me chameis, correrei prontamente ao Vosso
encontro e dançarei perdido em grande enlevo.
g
(5)
nijera poṣana, kabhu nā bhāvibo,
rohibo bhāvera bhore
bhakativinoda, tomāre pālaka,
boliyā varaṇa kore
nijera – minha; poṣana – nutrição ou sustento; kabhu – quando; nā – não;
bhāvibaḥ – pensarei; rohibaḥ – permanecerei; bhāvera – afagante amor;
bhore – em abundância; bhakativinoda – Bhaktivinoda; tomāre – Vós;
pālaka – o mantenedor; boliyā – diz; varaṇa kore – aceita.
Jamais pensarei em minha nutrição ou em meu sustento,
senão que me absorverei em sempre nutrir um afagante
amor por meu dono. Bhaktivinoda agora Vos aceita como o
seu único mantenedor.
| 95
Quarta Oração
(1)
tumi sarveśvareśvara, brajendra-kumāra!
tomāra icchāya viśve sṛjana saṁhāra
tumi – Vós; sarva-īśvara-īśvara – o mestre de todos os mestres; brajendrakumāra – jovial filho do rei de Vraja; tomāra – Vosso; icchāya – pelo desejo; viśve – acontecem no universo; sṛjana – a criação; saṁhāra – e a
destruição.
Ó Kṛṣṇa, jovial filho do rei de Vraja, sois o controlador de
todos os controladores. Segundo a Vossa vontade, a criação e
a destruição acontecem no universo.
g
(2)
tava icchā-mato brahmā korena sṛjana
tava icchā-mato viṣṇu korena pālana
tava – Vossa; icchā-mataḥ – segundo a vontade; brahmā – Brahma; korena –
procede; sṛjana – com a criação; tava – Vossa; icchā-mataḥ – segundo a
vontade; viṣṇu – Viṣṇu; korena – procede; pālana – com a manutenção.
Segundo a Vossa vontade, o Senhor Brahmā cria, e,
segundo a Vossa vontade, o Senhor Viṣṇu mantém.
g
| 97
Śaraṇāgati: Devocionário da Rendição Completa
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(3)
tava icchā-mate śiva korena saṁhāra
tava icchā-mate māyā sṛje kārāgāra
tava – Vossa; icchā-mate – segundo a vontade; śiva – Śiva; korena – procede; saṁhāra – com a destruição; tava – Vossa; icchā-mate – segundo a
vontade; māyā – Māyā; sṛje – cria; kārāgāra – a casa de detenção.
Segundo a Vossa vontade, o Senhor Śiva destrói, e,
segundo a Vossa vontade, Māyā erige a casa de detenção
que é este mundo.
g
(4)
tava icchā-mate jīver janama-maraṇa
samṛddhi-nipāte duḥkha sukha-saṁghaṭana
tava – Vossa; icchā-mate – segundo a vontade; jīver – as entidades vivas; janama – nascem; maraṇa – e morrem; samṛddhi – prosperidade;
nipāte – e a ruína; duḥkha – a aflição; sukha – e a felicidade; saṁghaṭana
– encontram-se.
Segundo a Vossa vontade, as entidades vivas nascem
e morrem, e, segundo a Vossa vontade, elas se encontram
com a prosperidade e com a ruína, com a aflição e com a
felicidade.
g
(5)
miche māyā-baddha jīva āśā-pāśe phire’
tava icchā binā kichu korite nā pāre
miche – ilusória; māyā – por Māyā; baddha – presa; jīva – a alma atômica;
āśā – dos desejos mundanos; pāśe – os grilhões; phire – debate-se; tava –
Vossa; icchā – a sanção; binā – sem; kichu – algo; korite – fazer; nā – não;
pāre – é capaz.
98 |
exemplar gratuito
Aceitação do Senhor como Nosso Único Mantenedor
A alma atômica presa pela energia ilusória debate-se em
vão nos grilhões dos desejos mundanos. Sem Vossa sanção,
é a centelha diminuta incapaz de algo fazer.
g
(6)
tumi to’ rākhaka ār pālaka āmāra
tomāra caraṇa binā āśā nāhi āra
tumi – Vós; to – certamente; rākhaka – o protetor; ār – e; pālaka – mantenedor; āmāra – meu; tomāra – Vossos; caraṇa – nos pés; binā – tirante; āśā
– esperança; nāhi – não; āra – outra.
Sois meu único protetor e mantenedor. Tirante em Vossos
pés de lótus, não há esperança para mim.
g
(7)
nija-bala-ceṣṭā-prati bharasā chāḍiyā
tomāra icchāya āchi nirbhara koriyā
nija – prórios; bala – força; ceṣṭā – esforçar-me; prati – em; bharasā – de
confiança; chāḍiyā – destituído; tomāra – Vossa; icchāya – segundo a vontade; āchi – estou; nirbhara – dependente; koriyā – colocando-me.
Agora destituído de qualquer confiança em minha
própria força e em meu próprio esforçar-me, coloco minha
pessoa por inteiro dependente de Vossa vontade.
g
(8)
bhakativinoda ati dīna akiñcana
tomāra icchāya tā’r jīvana maraṇa
| 99
Śaraṇāgati: Devocionário da Rendição Completa
exemplar gratuito
bhakativinoda – Bhaktivinoda; ati – muito; dīna – baixo; akiñcana – sem
nenhum orgulho; tomāra – Vossa; icchāya – de acordo com a vontade;
tā’r – dele; jīvana – a vida; maraṇa – e a morte.
Inexiste alguém mais baixo do que Bhaktivinoda, e seu
orgulho foi destruído. Agora, de acordo com Vossa vontade,
ele vive e morre.
Neste ponto encerra-se a seção referente
ao terceiro princípio da rendição.
100 |
Quarto Princípio da Rendição
Avasya
‘
Raksibe Krsna ’Visvasa, Palana:
Krsna
“
Certamente
Há de me Proteger ”
h
| 101
Primeira Oração
(1)
ekhona bujhinu prabhu! tomāra caraṇa
aśokābhoyāmṛta-pūrna sarva-khana
ekhona – agora; bujhinu – compreendi; prabhu – ó Senhor; tomāra – Vossos;
caraṇa – pés; aśoka – sem lamentação; abhoya – sem medo; āmṛta – do néctar; pūrna – plenos; sarva – a todo; khana – momento.
Agora compreendi, ó Senhor, que Vossos pés são
eternamente plenos do doce néctar que dispersa todo medo
e todo pesar.
g
(2)
sakala chāḍiyā tuwā caraṇa-kamale
poḍiyāchi āmi nātha! tava pada-tale
sakala – tudo; chāḍiyā – rendendo; tuwā – Vossos; caraṇa-kamale – pés de
lótus; poḍiyāchi – caio; āmi – eu; nātha – ó Senhor; tava – Vossos; padatale – aos pés.
Rendendo a tais pés de lótus tanto a minha pessoa quanto
tudo o que possuo, coloco-me em grande submissão sob o
refúgio dos mesmos.
g
| 103
Śaraṇāgati: Devocionário da Rendição Completa
exemplar gratuito
(3)
tava pāda-padma nāth! rokhibe āmāre
ār rakhā-kartā nāhi e bhava-saṁsāre
tava – Vossos; pāda-padma – pés de lótus; nāth – ó Senhor; rokhibe – hão
de abrigar; āmāre – me; ār – outros; rakhā-kartā – protetores; nāhi – não
há; e bhava-saṁsāre – neste mundo de nascimentos e mortes.
É certo, ó Senhor, que Vossos pés de lótus hão de me abrigar.
Não há outros protetores neste mundo de nascimentos e
mortes.
g
(4)
āmi tava nitya-dāsa-jāninu e-bāra
āmāra pālana-bhāra ekhona tomāra
āmi – eu; tava – Vosso; nitya – eterno; dāsa – servo; jāninu – compreendo;
e-bāra – finalmente; āmāra – minha; pālana – manutenção; bhāra – encargo; ekhona – agora; tomāra – Vosso.
Minha posição constitucional como Vosso servo eterno
finalmente compreendo. Agora, exclusivamente Vosso é o
encargo de minha manutenção.
g
(5)
baḍo duḥkha pāiyāchi swatantra jīvane
sarva-duḥkha dūre gelo o pada-varaṇe
baḍaḥ – grande; duḥkha – sofrimento; pāiyāchi – experimentei; swatantra –
independente; jīvane – na vida; sarva – todas; duḥkha – as misérias; dūre
– para longe; gelaḥ – foram; o pada-varaṇe – porque aceitei Vossos pés.
104 |
Em minha vida independente de Vós, sofrimento foi tudo
o que experimentei. No entanto, porque agora aceitei Vossos
pés, todas as minhas misérias eu vi se dissiparem.
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“Kṛṣṇa Certamente Há de me Proteger”
g
(6)
je-pada lāgiyā ramā tapasya korilā
je-pada pāiyā śiva śivatwa lobhilā
je-pada – esses pés; lāgiyā – desejando; ramā – a deusa da fortuna; tapasya –
severas austeridade; korilā – realizou; je-pada – esses pés; pāiyā – após receber; śiva – o Senhor Śiva; śivatwa – auspicioso; lobhilā – tornou-se.
Desejando algum espaço em Vossos pés de lótus, severas
austeridades realizou a deusa da fortuna. Unicamente após
receber a misericórdia de Vossos pés, tornou-se auspicioso o
Senhor Śiva.
g
(7)
je-pada labhiyā brahmā kṛtārtha hoilā
je-pada nārada muni hṛdoye dhorilā
je-pada – desses pés; labhiyā – obtendo a graça; brahmā – Brahmā; kṛtārtha –
suas metas; hoilā – alcançou; je-pada – esses pés; nārada muni – Nārada
Muni; hṛdoye – dentro do coração; dhorilā – carrega.
Ao obter a graça de Vossos pés, o Senhor Brahmā viu seus
desejos se realizarem. Nārada Muni sempre carrega Vossos
pés dentro de seu coração.
g
(8)
sei se abhoya pada śirete dhoriyā
parama-ānande nāci pada-guna gāiyā
sei se – eles; abhoya – os quais afugentam todo temor; pada – os pés;
śirete – sobre minha cabeça; dhoriyā – seguro; parama-ānande – em grande
êxtase; nāci – danço; pada – dos pés; guna – as glórias; gāiyā – cantando.
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Agora seguro sobre minha cabeça esses mesmos pés de
lótus, os quais afugentam todo temor, enquanto danço em
grande êxtase cantando suas glórias.
g
(9)
saṁsāra-vipada ho’te avaśya uddhār
bhakativinoda, o-pada koribe tomār
saṁsāra – desta viagem pelo mundo material; vipada – perigosas ameaças; ho’te – será; avaśya – inevitável; uddhār – a libertação; bhakativinoda –
Bhaktivinoda; o-pada – esses pés; koribe – serão; tomār – Vossos.
Vossos pés de lótus certamente libertarão Bhaktivinoda
das perigosas ameaças desta viagem pelo mundo material.
106 |
Segunda Oração
(1)
tumi to’ māribe jāre, ke tāre rākhite pāre,
tava icchā-baśa tri-bhuvan
brahmā-ādi deva-gaṇa, tava dāsa aganaṇa,
kore tava ājñāra pālan
tumi – Vós; to – certamente; māribe – decidais ceifar a vida; jāre – de alguém; ke – quem; tāre – o; rākhite – para protege-lo; pāre – teria o poder;
tava – Vossa; icchā – à vontade; baśa – subservientes; tri-bhuvan – os três
mundos; brahmā-ādi – encabeçados por Brahmā; deva-gaṇa – os semideuses; tava – Vossos; dāsa – servos; aganaṇa – incontáveis; kore – procedem; tava – Vosso; ājñāra – do comando; pālan – com o cumprimento.
Caso decidais ceifar a vida de alguém, quem poderia
protegê-lo? Os três mundos são subservientes à Vossa
vontade. Os semideuses, encabeçados pelo Senhor Brahmā,
são Vossos incontáveis servos, sempre a postos para executar
Vosso comando.
g
(2)
tava icchā-mate jata, graha-gaṇa avirata,
śubhāśubha phala kore dān
roga-śoka-mṛti-bhoy, tava icchā-mate hoy,
tava ājñā sadā balavān
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tava – Vossa; icchā-mate – pela vontade; jata – que; graha-gaṇa – planetas;
avirata – sempre; śubha-aśubha – auspiciosas e inauspiciosas; phala – f
rutos de atividades; kore dān – trazem; roga – doença; śoka – tristeza;
mṛti – morte; bhoy – temor; tava – Vossa; icchā-mate – pela vontade; hoy –
se fazem sentir; tava – Vosso; ājñā – comando; sadā – sempre; balavān –
todo-poderoso.
Por Vossa vontade, os planetas incessantemente trazem
os frutos de atividades auspiciosas e inauspiciosas. Doença,
tristeza, morte e temor se fazem sentir por Vossa vontade. É
todo-poderoso Vosso comando.
g
(3)
tava bhoye vāyu boy, candra sūrya samudoy,
swa-swa niyamita karya kore
tumi to’ parameśwar, para-brahma parāt-par,
tava bāsa bhakata-antare
tava – a Vós; bhoye – por temor; vāyu – o vento; boy – sopra; candra – a
Lua; sūrya – e o Sol; samudoy – nascem e se põem; swa-swa niyamita –
prescritos; karya – deveres; kore – cumprem; tumi – Vós; to – certamente;
parameśwar – o controlador último; para-brahma – a existência espiritual
derradeira; parāt-par – maior do que o maior; tava – Vossa; bāsa – residência; bhakata – do devoto amoroso; antare – o coração.
Por temor a Vós, o vento sopra e o Sol e a Lua nascem e
se põem – todos cumprindo seus deveres prescritos. Sois o
controlador último, a existência espiritual derradeira, e sois
maior do que o maior. Vossa residência é o coração de Vosso
devoto amoroso.
g
(4)
sadā-śuddha siddha-kāma, ‘bhakata-vatsala’ nāma,
bhakata-janera nitya-swāmī
108 |
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“Kṛṣṇa Certamente Há de me Proteger”
tumi to’ rākhibe jāre, ke tāre mārite pāre,
sakala vidhira vidhi tumi
sadā – eternamente; śuddha – puro; siddha – satisfeitos; kāma – os desejos; bhakata-vatsala – Kṛṣṇa, aquele que é afetuoso para com os devotos;
nāma – nome; bhakata-janera – dos devotos; nitya-swāmī – o eterno mestre; tumi to – Vós; rākhibe – decidais proteger; jāre – alguém; ke – quem;
tāre – o; mārite – para matar; pāre – teria poder; sakala – todas; vidhira –
acima de todas as leis; vidhi – a lei; tumi – Vós.
Eternamente puro sois Vós e não possuís desejos
insatisfeitos. Vosso nome é Bhakta-vatsala porquanto sois
eternamente o afetuoso Senhor de Vossos queridos devotos.
Caso decidais proteger alguém, quem poderia ceifar-lhe a
vida? Sois a lei acima de todas as leis.
g
(5)
tomāra caraṇe nātha! koriyāche pranipāta,
bhakativinoda tava dās
vipada hoite swāmī! avaśya tāhāre tumi,
rakṣibe,-tāhāra e viśvās
tomāra – Vossos; caraṇe – aos pés; nātha – ó Senhor; koriyāche – presta;
pranipāta – reverências; bhakativinoda – Bhaktivinoda; tava – Vosso; dās –
servo; vipada – adversidades; hoite – de; swāmī – mestre; avaśya – certamente; tāhāre – o; tumi – Vós; rakṣibe – protegereis; tāhāra – dele; e – esta;
viśvās – fé.
Vosso servo Bhaktivinoda curva-se submissamente a
Vossos pés de lótus, ó mestre, ó Senhor! Consigo, ele carrega a
fé de que Vós certamente o protegereis de toda adversidade.
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Terceira Oração
(1)
ātma-samarpane gelā abhimān
nāhi korobuṅ nija rakhā-vidhān
ātma-samarpane – a rendição de minha alma; gelā – desfeito; abhimān – o
falso orgulho; nāhi – não; korobuṅ – tentarei; nija – minha própria; rakhāvidhān – prover proteção.
A rendição de minha alma a Vós livrou-me do peso do falso
orgulho. Não mais tentarei prover minha própria segurança.
g
(2)
tuwā dhana jāni’ tuhuṅ rākhobi, nāth!
pālya godhana jñāna kori’ tuwā sāth
tuwā – Vossos; dhana – estimados dependentes; jāni – confio; tuhuṅ –
Vós; rākhobi – dareis proteção; nāth – ó Senhor; pālya – seguras; godhana –
vacas; jñāna – compreendo; kori – em; tuwā – Vossa; sāth – companhia.
Confio que dareis proteção a Vossos estimados dependentes, ó Senhor. Agora compreendo a disposição de Vossas estimadíssimas vacas, inteiramente seguras ao Vosso lado.
g
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(3)
carāobi mādhava! jāmuna-tīre
baṁśī bājāoto ḍākobi dhīre
carāobi – conduzis Vosso rebanho; mādhava – ó Kṛṣṇa, esposo da deusa
da fortuna; jāmuna-tīre – às margens do rio Yamunā; baṁśī – a flauta;
bājāotaḥ – tocando; ḍākobi – chamais; dhīre – doce.
Quando conduzis Vosso rebanho para os pastos às
margens do rio Yamunā, ó Kṛṣṇa, esposo da deusa da fortuna,
Vós o chamais com Vosso doce flautear.
g
(4)
agha-baka mārato rakhā-vidhān
korobi sadā tuhuṅ gokula-kān!
agha-baka – Aghāsura e Bakāsura; mārataḥ – matando; rakhā-vidhān –
proteção; korobi – havereis de conceder; sadā – sempre; tuhuṅ – Vós;
gokula – de Gokula; kān – ó Kṛṣṇa.
Matando Aghāsura e Bakāsura, sempre havereis de
conceder proteção, ó Kṛṣṇa, Senhor de Gokula.
g
(5)
rakhā korobi tuhuṅ niścoy jāni
pāna korobuṅ hāma jāmuna-pāni
rakhā – proteção; korobi – concedereis; tuhuṅ – Vós; niścoy – certamente;
jāni – confio; pāna korobuṅ – beberei; hāma – eu; jāmuna-pāni – a água do
Yamunā.
Destemido pela confiança em Vossa proteção, beberei a
água do Yamunā.
112 |
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(6)
kāliya-dokha korobi vināśā
śodhobi nadī-jala, bāḍāobi āśā
kāliya – causada por Kāliya; dokha – a situação perigosa; korobi vināśā –
será desfeita; śodhobi – havereis de purificar; nadī-jala – as águas do rio
Yamunā; bāḍāobi – intensificareis; āśā – nossa fé.
Envenenadas foram as águas do Yamunā pelo veneno
da serpente Kāliya, mas tal situação perigosa será desfeita.
Havereis de purificar o Yamunā, e, por meio de semelhantes
atos heroicos, intensificareis nossa fé.
g
(7)
piyato dāvānala rākhobi mo’y
‘gopāla’, ‘govinda’ nāma tava hoy
piyataḥ – devorando; dāvānala – o incêndio florestal; rākhobi – salvareis;
mo’y – me; gopāla – o protetor das vacas; govinda – aquele que deleita as
vacas; nāma – nomes; tava – Vossos; hoy – sois.
Certamente me salvareis devorando o incêndio florestal,
daí serdes conhecido como o protetor das vacas e aquele que
as deleita.
g
(8)
sura-pati-durmati-nāśa vicāri’
rākhobi varṣane, giri-vara-dhāri!
sura – dos semideuses; pati – o rei; durmati – hostil; nāśa – refreá-lo; vicāri –
decidireis; rākhobi – havereis de proteger; varṣane – das torrentes de chuva;
giri – das montanhas; vara – a mais majestosa; dhāri – Vós que ergueis.
De modo a refrear a hostilidade de Indra, o rei dos semideuses, havereis de proteger-me de suas torrentes de chuva,
ó Vós que ergueis a majestosa colina Govardhana!
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g
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(9)
catur-ānana korabo jab cori
rakhā korobi mujhe, gokula-hari!
catur-ānana – o Brahmā de quatro cabeças; korabaḥ – proceder; jab – quem;
cori – com o rapto; rakhā – de proteger-me; korobi – havereis; mujhe –
me; gokula-hari – ó Vós que raptais o coração dos habitantes de Gokula.
Quando o Brahmā de quatro cabeças me raptar –
juntamente com Vossos vaqueirinhos e bezerros –, também
nesse momento certamente havereis de proteger-me, ó Vós
que raptais o coração dos habitantes de Gokula!
g
(10)
bhakativinoda-tuwā gokula-dhan
rākhobi keśava! korato jatan
bhakativinoda – Bhaktivinoda; tuwā – Vossa; gokula – em Gokula; dhan –
propriedade; rākhobi – protegei; keśava – ó Kṛṣṇa, matador do demônio
Keśī; korataḥ jatan – cuidai com Vosso amor.
Bhaktivinoda agora é Vossa propriedade em Gokula,
Vossa sagrada morada. Ó Kṛṣṇa, matador do demônio Keśī,
protetor dos devotos, tende bondade e cuidai de mim com
Vosso amor.
114 |
Quarta Oração
(1)
choḍato puruṣa-abhimān
kiṅkorī hoiluṅ āji, kān!
choḍataḥ – abandono; puruṣa – de ser um desfrutador; abhimān – a vaidade; kiṅkorī – uma fiel criada; hoiluṅ – coloco-me; āji – hoje; kān – ó
Kṛṣṇa.
Abandono em definitivo a vaidade de ser um desfrutador.
Hoje, coloco-me como Vossa fiel criada, ó Kṛṣṇa!
g
(2)
baraja-bipine sakhī-sāth
sevana korobuṅ, rādhā-nāth!
baraja – de Vraja; bipine – na floresta; sakhī – de uma confidencial amiga
de Rādhā; sāth – como seguidor; sevana – serviço; korobuṅ – prestarei;
rādhā-nāth – ó mestre Rādhā.
Nos bosques de Vraja, prestarei serviço pessoal como
seguidor de uma confidencial amiga de Rādhā, ó Kṛṣṇa,
Senhor de Rādhā!
g
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(3)
kusume gāṅthobuṅ hār
tulasī-maṇi-mañjarī tār
kusume – com flores silvestres; gāṅthobuṅ – ensartarei; hār – guirlandas;
tulasī – de tulasī; maṇi – pedras preciosas; mañjarī – botões; tār – juntamente com.
Ensartarei guirlandas de flores silvestres e, juntamente
com pedras preciosas, farei seu arremate com botões de
tulasī.
g
(4)
jatane deobuṅ sakhī-kare
hāte laobo sakhī ādare
jatane – com absoluto cuidado; deobuṅ – entregarei; sakhī – de minha
sakhī superior; kare – nas mãos; hāte – nas mãos; laobaḥ – receberá; sakhī –
a amiga gopī; ādare – com carinhoso apreço.
Com absoluto cuidado, entregarei a guirlanda nas mãos
de minha sakhī superior, quem a receberá com carinhoso
apreço.
g
(5)
sakhī dibo tuwā duhuk gale
dūrato herobuṅ kutūhale
sakhī – essa amiga; dibaḥ – acomodará; tuwā – em Vós; duhuk – ambos;
gale – no pescoço; dūrataḥ – ao longe; herobuṅ – contemplarei; kutūhale –
em júbilo.
Então, essa amiga de Rādhā acomodará as guirlandas em
Vós e em Vossa amada. Ao longe, contemplarei em júbilo
Vosso enguirlandar.
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g
(6)
sakhī kahabo,-“śuno sundarī!
rahobi kuñje mama kiṅkorī
sakhī – confidente amiga; kahabaḥ – dirá; śunaḥ – escuta, por favor; sundarī – tu que és belíssima; rahobi – deves permanecer; kuñje – neste bosque; mama – minha; kiṅkorī – como auxiliadora.
A confidente amiga de Rādhā, nesse momento, endereçarme-á estas palavras: “Escuta, tu que és belíssima, deves
permanecer neste bosque como minha auxiliadora”.
g
(7)
gāṅthobi mālā mano-hārinī
niti rādhā-kṛṣṇa-vimohinī
gāṅthobi – haverás de ensartar; mālā – guirlandas florais; mano-hārinī –
garbosas; niti – sempre; rādhā-kṛṣṇa – Rādhā e Kṛṣṇa; vimohinī –
encantarão.
“Haverás de ensartar garbosas guirlandas florais, as quais
decerto encantarão Rādhā e Kṛṣṇa”.
g
(8)
tuwā rakhana-bhāra hāmārā
mama kuñja-kuṭīra tohārā
tuwā – tuas; rakhana-bhāra – alimentação e moradia; hāmārā – eu assumo;
mama – minha; kuñja – neste bosque; kuṭīra – casinha; tohārā – tua.
“Assumo a responsabilidade por tua alimentação e por
tua moradia. Tem minha casinha neste bosque como tua”.
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(9)
rādhā-mādhava-sevana-kāle
rahobi hāmāra antarāle
rādhā-mādhava – Rādhā e Kṛṣṇa; sevana – de ir servir; kāle – o momento;
rahobi – permanecerás; hāmāra – perto de mim; antarāle – escondida em
algum lugar.
“Quando for chegada a hora de eu ir a Rādhā e Kṛṣṇa
servi-lOs, permanecerás perto de mim enquanto escondida
em algum lugar”.
g
(10)
tāmbula sāji’ karpūra āni’
deobi moe āpana jāni’”
tāmbula – nozes de bétel; sāji – depois de embalar; karpūra – com cânfora; āni – trarás; deobi – entregarás; moe – a mim; āpana – como teu próprio
eu; jāni – tendo-me.
“Depois de embalar graciosamente nozes de bétel com
cânfora, entregar-me-ás os bonitos saquinhos, tendo-me
como teu próprio eu”.
g
(11)
bhakativinoda śuni’ bāt
sakhī-pade kare pranipāt
bhakativinoda – Bhaktivinoda; śuni – tendo ouvido; bāt – estas instruções; sakhī-pade – aos pés de lótus dessa amiga de Śrīmatī Rādhārāṇī;
kare – presta; pranipāt – reverências.
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Bhaktivinoda, tendo ouvido todas estas instruções,
curva-se aos pés de lótus dessa amiga de Śrīmatī Rādhārāṇī.
Neste ponto encerra-se a seção referente
ao quarto princípio da rendição.
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Quinto Princípio da Rendição
Bhakti-Anukula-Matra
Karyera Svïkara:
Aceitação Unicamente
de Atividades Favoráveis à
Devoção Pura
h
| 121
Primeira Oração
(1)
tuwā-bhakti-anukūla je-je kārya hoy
parama-jatane tāhā koribo niścoy
tuwā – Vosso; bhakti – serviço devocional puro; anukūla – benéfica; je-je –
toda e qualquer; kārya – atividade; hoy – hei de executar; parama – absoluta; jatane – com diligência; tāhā – as; koribaḥ – hei de executar; niścoy –
por certo.
Por certo hei de executar com absoluta diligência toda e
qualquer atividade benéfica a Vosso serviço devocional puro.
g
(2)
bhakti-anukūla jata viṣaya saṁsāre
koribo tāhāte rati indriyera dwāre
bhakti – à devoção pura; anukūla – que conduz; jata – o que; viṣaya – objetos
sensoriais; saṁsāre – no mundo material; koribaḥ – ocupar-me-ei; tāhāte –
com eles; rati – o apego; indriyera – dos sentidos; dwāre – pelos portões.
Sentirei apreço por aquilo que, neste mundo, conduz
à devoção pura e, com os meus sentidos, ocupar-me-ei em
Vosso serviço.
g
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(3)
śunibo tomāra kathā jatana koriyā
dekhibo tomāra dhāma nayana bhoriyā
śunibaḥ – ouvir; tomāra – concernentes a Vós; kathā – as discussões;
jatana – atentamente; koriyā – irei; dekhibaḥ – verei; tomāra – Vossa; dhāma –
morada; nayana – os olhos; bhoriyā – enchendo.
Ouvirei atentamente todas as discussões concernentes
a Vós, e a satisfação de meus olhos será contemplar Vossa
morada divina.
g
(4)
tomāra prasāde deho koribo poṣan
naivedya-tulasī-ghrāna koribo grahan
tomāra – Vossos; prasāde – com os remanentes; dehaḥ – para o meu corpo;
koribaḥ – obterei; poṣan – a nutrição; naivedya – oferecidas; tulasī – as
folhas de tulasī; ghrāna – cheirando o aroma adociado; koribaḥ – irei;
grahan – apreciar.
Nutrirei o meu corpo com os remanentes sagrados de
Vosso alimento e apreciarei o aroma adocicado das folhas de
tulasī adornando tais oferendas.
g
(5)
kara-dwāre koribo tomāra sevā sadā
tomāra vasati-sthale basibo sarvadā
kara-dwāre – com minhas mãos; koribaḥ – hei; tomāra – Vos; sevā – de
servir; sadā – sempre; tomāra – Vosso; vasati-sthale – local de moradia;
basibaḥ – residirei; sarvadā – eternamente.
Com minhas mãos, sempre hei de Vos servir e residirei
eternamente no local onde Vós morais.
124 |
Aceitação Unicamente de Atividades Favoráveis à Devoção Pura
g
(6)
tomāra sevāya kāma niyoga koribo
tomāra vidveṣi-jane krodha dekhāibo
tomāra – Vosso; sevāya – no serviço; kāma – os desejos; niyoga – ocupar;
koribaḥ – irei; tomāra – Vos; vidveṣi-jane – aqueles que invejam; krodha –
ira; dekhāibaḥ – mostrarei.
Ocuparei meus desejos em Vosso serviço devocional e,
contra aqueles que Vos invejam, minha ira mostrarei.
g
(7)
ei-rūpe sarva-vṛtti āra sarva-bhāva
tuwā anukūla ho’ye labhuka prabhāva
ei-rūpe – deste modo; sarva-vṛtti – todas as minhas propensões; āra – e;
sarva-bhāva – todos os meus sentimentos; tuwā – Vosso; anukūla – harmonizados com o interesse; ho’ye labhuka – hão de lograr; prabhāva –
dignidade e glória.
Deste modo, todas as minhas propensões e todos os
meus sentimentos hão de lograr dignidade e glória ao serem
harmonizados com Vosso interesse.
g
(8)
tuwā bhakta-anukūla jāhā jāhā kori
tuwā bhakti-anukūla boli’ tāhā dhori
tuwā – Vosso; bhakta – para o devoto; anukūla – que confira prazer; jāhā
jāhā – tudo aquilo que; kori – eu faça; tuwā – a Vós; bhakti – ao serviço
devocional; anukūla – aprovado e condutivo; boli – entenderei; tāhā –
isso; dhori – farei.
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Tudo aquilo que eu faça e confira prazer ao Vosso devoto,
entenderei como aprovado e como algo condutivo ao serviço
devocional a Vós.
g
(9)
bhakativinoda nāhi jāne dharmādharma
bhakti-anukūla tāra hau saba karma
bhakativinoda – Bhaktivinoda; nāhi – não; jāne – conhece; dharma – religião; adharma – e irreligião; bhakti-anukūla – favoráveis ao serviço devocional amoroso; tāra – suas; hau – que sejam; saba – todas; karma – as
ações.
Ignorante da dicotomia “religião” e “irreligião”,
Bhaktivinoda apenas ora que todas as suas atividades sejam
favoráveis a Vosso serviço devocional amoroso.
126 |
Segunda Oração
(1-2)
godruma-dhāme bhajana-anukūle
māthura-śrī-nandīśvara-samatule
tahi māha surabhi-kuñja-kuṭīre
baiṭhobuṅ hāma sura-taṭinī-tīre
godruma-dhāme – na terra de Godruma; bhajana-anukūle – propícia para
a adoração devocional; māthura-śrī-nandīśvara – a Nandagrāma, no distrito sagrado de Mathura; samatule – idêntica; tahi – lá; māha – dentro;
surabhi-kuñja – no Surabhi-kuñja; kuṭīre – em uma pequena casinha de
madeira; baiṭhobuṅ – hei de residir; hāma – eu; sura-taṭinī – do celestial
rio Ganges; tīre – às margens.
Na terra de Godruma, em Navadvīpa, a qual é deveras
propícia para a adoração devocional ao Senhor Supremo,
e a qual é idêntica a Nandagrāma, no distrito sagrado de
Mathurā, hei de residir em uma pequena casinha de madeira
dentro do bosque conhecido como Surabhi-kuñja, às margens
do celestial rio Ganges.
g
(3)
gaura-bhakata-priya-veśa dadhānā
tilaka-tulasī-mālā-śobhamānā
gaura – do Senhor Caitanya; bhakata – dos devotos; priya – ao gosto;
veśa – a aparência; dadhānā – adotando; tilaka – as doze marcas da
| 127
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tilaka vaiṣṇava; tulasī – de contas de tulasī; mālā – um colar; śobhamānā –
esplêndido.
Aparentar-me-ei ao gosto dos devotos do Senhor Caitanya,
o que inclui marcar meu corpo com as doze marcas da tilaka
vaiṣṇava e usar um esplêndido colar de contas de tulasī ao
redor de meu pescoço.
g
(4)
campaka, bakula, kadamba, tamāl
ropato niramibo kuñja viśāl
campaka – campaka; bakula – bakula; kadamba – kadamba; tamāl – tamāl; ropato – cultivando; niramibaḥ – hei de fazer; kuñja – um pomar; viśāl –
extenso.
Então, plantando árvores floríferas, como as árvores
campaka, bakula, kadamba e tamāl, hei de cultivar um extenso
pomar junto à minha residência campestre.
g
(5)
mādhavī mālatī uṭhābuṅ tāhe
chāyā-manḍapa korobuṅ taṅhi māhe
mādhavī – mādhavī; mālatī – e mālatī; uṭhābuṅ – plantarei para subirem;
tāhe – lá; chāyā – sombreado; manḍapa – caramanchão; korobuṅ – estabelecerei; taṅhi māhe – ali.
Plantarei trepadeiras de jasmins mādhavī e mālatī para
subirem pelas árvores e, quando alcancem as copas,
estabelecerei um caramanchão de forma que continuem por
ele crescendo e criem um ambiente sombreado.
128 |
g
Aceitação Unicamente de Atividades Favoráveis à Devoção Pura
(6)
ropobuṅ tatra kusuma-vana-rāji
jūthi, jāti, mallī virājabo sāji’
ropobuṅ – plantarei; tatra – ali; kusuma-vana-rāji – canteiros e mais canteiros de várias flores silvestres; jūthi – yuthī; jāti – jāti; mallī – mallī;
virājabaḥ – de modo muito gracioso e atrativo; sāji – decorarei.
Plantarei canteiros e mais canteiros de várias flores
silvestres, incluindo diferentes tipos de jasmins, como yuthī,
jāti e mallī. Tudo será disposto de modo muito gracioso e
atrativo.
g
(7)
mañce basāobuṅ tulasī-mahārāṇī
kīrtana-sajja taṅhi rākhabo āni’
mañce – sobre uma plataforma elevada; basāobuṅ – hei de instalar; tulasīmahārāṇī – a imperatriz tulasī; kīrtana-sajja – a parafernália necessária
para realizar kīrtana; taṅhi – ali; rākhabaḥ – protegerei; āni – providenciarei.
Hei de instalar a imperatriz tulasī sobre uma plataforma
elevada em tal jardim, após o que providenciarei toda a
parafernália necessária para realizar kīrtana, como mṛdaṅgas
e karatālas.
g
(8)
vaiṣṇava-jana-saha gāobuṅ nām
jaya godruma jaya gaura ki dhām
vaiṣṇava-jana – os vaiṣṇavas; saha – com; gāobuṅ – darei início ao cantar;
nām – dos santos nomes; jaya – todas as glórias; godruma – a Godruma;
jaya – todas as glórias; gaura – do Senhor Caitanya; ki – dEle; dhām – à
divina morada.
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Śaraṇāgati: Devocionário da Rendição Completa
exemplar gratuito
Nesse momento, na companhia dos vaiṣṇavas, darei início
ao cantar dos santos nomes do Senhor. Nós cantaremos:
“Todas as glórias à ilha de Godruma! Todas as glórias à
divina morada do Senhor Caitanya!”.
g
(9)
bhakativinoda bhakti-anukūl
jaya kuñja, muñja, sura-nadī-kūl
bhakativinoda – Bhaktivinoda; bhakti-anukūl – encontra-se favoravelmente disposto para o serviço devocional puro; jaya – todas as glórias; kuñja –
ao Surabhi-kuñja; muñja – a seus elevados bambuzais; sura-nadī – do rio
Ganges; kūl – às margens.
Favoravelmente disposto para o serviço devocional puro
encontra-se Bhaktivinoda. Todas as glórias ao Surabhi-kuñja,
a seus elevados bambuzais e às margens do rio Ganges!
130 |
Terceira Oração
(1)
śuddha-bhakata- caraṇa-reṇu,
bhajana-anukūla
bhakata-sevā, parama-siddhi,
prema-latikāra mūla
śuddha – puros; bhakata – dos devotos; caraṇa – dos pés; reṇu – a poeira;
bhajana – ao serviço devocional; anukūla – conduz; bhakata – aos vaiṣṇavas; sevā – o serviço; parama-siddhi – a perfeição suprema; prema – do
amor divino; latikāra – da delicada trepadeira; mūla – a raiz.
A poeira dos pés de lótus dos devotos puros conduznos ao serviço devocional, e o serviço aos vaiṣṇavas é tanto
a perfeição suprema como a raiz da delicada trepadeira do
amor divino.
g
(2)
mādhava-tithi, bhakti-jananī,
jatane pālana kori
kṛṣṇa-vasati, vasati boli’,
parama ādare bori
mādhava – a comemorarem os passatempos daquele que é o esposo da
deusa da fortuna; tithi – os dias sagrados; bhakti – da devoção; jananī – a
mãe; jatane – com grande inquietação; pālana – com a celebração; kori –
| 131
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procedo; kṛṣṇa – do Senhor Kṛṣṇa; vasati – a morada; vasati – como local
de residência; boli – escolho; parama – absolutos; ādare – reverência e
amor; bori – aceito.
Celebro com grande inquietação os dias sagrados a
comemorarem os passatempos daquele que é o esposo da
deusa da fortuna, pois eles são a mãe da devoção. Com
absoluta reverência e completo amor, escolho como meu
local de residência a morada transcendental de Śrī Kṛṣṇa.
g
(3)
gaur āmāra, ye-saba sthāne,
koralo bhramaṇa raṅge
se-saba sthāna, heribo āmi,
pranayi-bhakata-saṅge
gaur – o Senhor Caitanya; āmāra – meu; ye-saba – todas pelas quais; sthāne –
as localidades; koralaḥ bhramaṇa – viajou; raṅge – como passatempo;
se – os; saba – todos; sthāna – os locais; heribaḥ – verei; āmi – eu; pranayi –
amáveis; bhakata – devotos; saṅge – na companhia.
Todas as localidades pelas quais viajou meu Senhor
Caitanya a fim de realizar variados passatempos, hei de
visitar na companhia de amáveis devotos.
g
(4)
mṛdaṅga-vādya, śunite mana,
abasara sadā yāce
gaura-vihita, kīrtana śuni’,
ānande hṛdoya nāce
mṛdaṅga – da mṛdaṅga; vādya – a música; śunite – de ouvir; mana – meu coração; abasara – pela oportunidade; sadā – sempre; yāce – implora; gaura –
pelo Senhor Caitanya; vihita – tal como ensinado; kīrtana – o canto em
132 |
Aceitação Unicamente de Atividades Favoráveis à Devoção Pura
kīrtana; śuni – ao ouvir; ānande – em grande arroubo; hṛdoya – meu coração; nāce – dança.
Meu coração sempre implora pela oportunidade de ouvir
a música da mṛdaṅga. Ao ouvir o canto em kīrtana, tal como
ensinou o Senhor Caitanya, meu coração dança em grande
arroubo.
g
(5)
yugala-mūrti, dekhiyā mora,
parama-ānanda hoya
prasāda-sevā, korite hoya,
sakala prapañca jaya
yugala – do Casal Divino, Śrī Śrī Rādhā-Kṛṣṇa; mūrti – as formas das
Deidades; dekhiyā – quando quer que eu veja; mora – eu; parama-ānanda –
completa bem-aventurança; hoya – experimento; prasāda – o prasāda; sevā
– honrando; korite – fazendo-o; hoya – posso; sakala – todas; prapañca –
as ilusões deste mundo; jaya – superar.
Quando quer que eu veja as formas das Deidades do
Casal Divino, Śrī Śrī Rādhā-Kṛṣṇa, experimento completa
bem-aventurança, pois, honrando o prasāda do Senhor, sei
que posso superar todas as ilusões deste mundo.
g
(6)
ye-dina gṛhe, bhajana dekhi,
gṛhete goloka bhāya
caraṇa-sīdhu, dekhiyā gaṅgā,
sukha nā sīmā pāya
ye – certo; dina – dia; gṛhe – em minha casa; bhajana – enquanto realizava as práticas devocionais; dekhi – vi; gṛhete – a casa; goloka – em
Goloka; bhāya – transformar-se; caraṇa – os pés; sīdhu – a nectárea água
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que banhou; dekhiyā – vejo; gaṅgā – a água do Ganges; sukha – uma felicidade; nā – sem; sīmā – limites; pāya – obtenho.
Um dia, enquanto realizava as práticas devocionais, vi
minha casa transformar-se em Goloka Vṛndāvana. Quando
aceito a nectárea água que banhou os pés das Deidades, vejo
a água do Ganges, a qual flui a partir dos pés do Senhor
Viṣṇu, e minha felicidade desconhece limites.
g
(7)
tulasī dekhi’, juḍāya prāna,
mādhava-toṣanī jāni’
gaura-priya, śāka-sevane,
jīvana sārthaka māni
tulasī – a sagrada árvore tulasī; dekhi – ver; juḍāya – tranquiliza; prāna – a
minha alma; mādhava-toṣanī – apraz ao Senhor Kṛṣṇa, o esposo da deusa
da fortuna; jāni – é de meu saber; gaura – do Senhor Caitanya; priya –
uma das favoritas; śāka – śāka; sevane – quando saboreio; jīvana – a vida;
sārthaka – tem valor; māni – sinto.
Ver a sagrada árvore tulasī tranquiliza a minha alma,
porquanto é de meu saber que tulasī apraz ao Senhor Kṛṣṇa,
o esposo da deusa da fortuna. Quando saboreio a preparação
de nome śāka, uma das favoritas do Senhor Caitanya, sinto
que a vida tem valor.
g
(8)
bhakativinoda, kṛṣṇa-bhajane,
anukūla pāya jāhā
prati-divase, parama-sukhe,
swīkāra koroye tāhā
bhakativinoda – Bhaktivinoda; kṛṣṇa-bhajane – à prestação de serviço a
Kṛṣṇa; anukūla – práticas favoráveis; pāya – por que auferiu o estágio de
134 |
Aceitação Unicamente de Atividades Favoráveis à Devoção Pura
entusiasmo; jāhā – onde quer que; prati-divase – sempre; parama-sukhe –
inteiramente feliz; swīkāra-koroye – a aceitação; tāhā – disso.
Porque auferiu o estágio de entusiasmo por tais práticas
favoráveis à prestação de serviço a Kṛṣṇa, Bhaktivinoda
sempre se encontra inteiramente feliz onde quer que esteja.
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Quarta Oração
(1-6)
rādhā-kunḍa-taṭa-kuñja-kuṭīr
govardhana-parvata, jāmuna-tīr
kusuma-sarovara, mānasa-gaṅgā
kalinda-nandinī vipula-taraṅga
vaṁśī-vaṭa, gokula, dhīra-samīr
bṛndābana-taru-latikā-bānīr
khaga-mṛga-kula, malaya-bātās
mayūra, bhramara, muralī-vilās
venu, śṛṅga, pada-cihna, megha-mālā
vasanta, śaśaṅka, śaṅkha, karatāla
yugala-vilāse anukūla jāni
līlā-vilāse-uddīpaka māni
rādhā-kunḍa – do Rādhā-kuṇḍa; taṭa – às margens; kuñja – em um bosque; kuṭīr – uma casinha de madeira; govardhana-parvata – a majestosa
colina Govardhana; jāmuna-tīr – as margens do rio Yamunā; kusumasarovara – o lago Kusuma-sarovara; mānasa-gaṅgā – o Mānasa Gaṅgā;
kalinda-nandinī – a filha do monte Kalinda, Yamunā; vipula-taraṅga –
com suas muitas ondas; vaṁśī-vaṭa – a figueira-de-bengala Vaṁśīvaṭa;
gokula – Gokula; dhīra-samīr – o local sagrado de nome Dhīra Samīra;
bṛndābana – de Vṛndāvana; taru – árvores; latikā – trepadeiras; bānīr – e
bambuzais; khaga – de passarinhos coloridos; mṛga – de veados e outros
animais; kula – a grande variedade; malaya – a partir das montanhas malaias; bātās – a refrescante brisa a soprar; mayūra – os pavões; bhramara –
os abelhões; muralī – da grave flauta muralī; vilās – os passatempos;
venu – da aguda flauta veṇum; śṛṅga – a corneta de chifre de búfalo;
| 137
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pada-cihna – as pegadas das vacas na poeira de Vraja; megha-mālā – a
reunião de negras nuvens de chuva; vasanta – a primavera; śaśaṅka – a
Lua; śaṅkha – o búzio; karatāla – os karatālas; yugala – do Casal Divino;
vilāse – para os deleitosos passatempos; anukūla – estímulos; jāni – vejo
como; līlā-vilāse – passatempos; uddīpaka – intensifiquem-se; māni –
entendo.
Uma casinha de madeira no bosque junto ao Rādhākuṇḍa, a majestosa colina Govardhana, as margens do rio
Yamunā, o lago Kusuma-sarovara, o Mānasa Gaṅgā, a filha do monte Kalinda com suas muitas ondas, a figueirade-bengala Vaṁśīvaṭa, a cidade de Gokula, o local sagrado
de nome Dhīra Samīra, as árvores, trepadeiras e bambuzais
de Vṛndāvana, a grande variedade de passarinhos coloridos, os veados, a refrescante brisa a soprar a partir das
montanhas malaias, os pavões, os abelhões, os passatempos da grave flauta muralī, os passatempos da aguda flauta
veṇum, a corneta de chifre de búfalo, as pegadas das vacas
na poeira de Vraja, a reunião de negras nuvens de chuva, a
primavera, a Lua, o búzio e os karatālas – vejo em tudo isso
estímulos transcendentais para que os deleitosos passatempos do Casal Divino se intensifiquem.
g
(7)
e saba choḍato kaṅhi nāhi jāu
e saba choḍato parāna hārāu
e – esses; saba – todos; choḍataḥ – recuso-me; kaṅhi – a algum lugar; nāhi –
não; jāu – irei; e – esses; saba – todos; choḍataḥ – abandonar; parāna – a
vida; hārāu – abandonar.
Recuso-me a ir a qualquer lugar onde não haja estímulos
para o serviço devocional, pois abandonar tais estímulos é o
mesmo que abandonar a vida.
g
138 |
Aceitação Unicamente de Atividades Favoráveis à Devoção Pura
(8)
bhakativinoda kohe, śuno kān!
tuwā uddīpaka hāmārā parān
bhakativinoda – Bhaktivinoda; kohe – diz; śunaḥ – por favor, escutai-me;
kān – ó Kṛṣṇa; tuwā – Vossa; uddīpaka – séquito e parafernália; hāmārā –
minha; parān – vida.
Bhaktivinoda diz: “Por favor, escutai-me, ó Kṛṣṇa! Vosso
séquito e Vossa parafernália fazem-me lembrar de Vós, e Vós
sois a fonte de minha vida”.
Neste ponto encerra-se a seção referente
ao quinto princípio da rendição.
| 139
Sexto Princípio da Rendição
Bhakti-Pratikula-Bhava
Varjanangïkara:
Renúncia à Conduta Desfavorável
à Devoção Pura
h
| 141
Primeira Oração
(1)
keśava! tuwā jagata vicitra
karama-vipāke, bhava-vana bhrama-i,
pekhaluṅ raṅga bahu citra
keśava – ó Kṛṣṇa; tuwā – Vossa; jagata – criação material; vicitra – deveras
estranha; karama – atos; vipāke – egoístas; bhava – de repetidos nascimentos e mortes; vana – pela floresta; bhrama-i – vagueei; pekhaluṅ – contemplei; raṅga – estranheza; bahu citra – variada.
Ó Kṛṣṇa, matador do demônio Keśī, esta Vossa criação
material é deveras estranha. Vagueei ao longo de tal floresta
de repetidos nascimentos e mortes em consequência de meus
atos egoístas e muita estranheza contemplei.
g
(2)
tuwā pada-vismṛti, ā-mara jantranā,
kleśa-dahane dohi’ jāi
kapila, patañjali, gautama, kanabhojī,
jaimini, bauddha āowe dhāi’
tuwā – Vossos; pada – dos pés; vismṛti – o esquecimento; ā – até; mara – o
momento da morte; jantranā – acarreta angústias e aflições; kleśa – de
misérias; dahane – abrasador incêndio; dohi jāi – enquanto eu queimava;
kapila – Kapila Ṛṣi; patañjali – Patañjali; gautama – Gautama; kanabhojī –
| 143
Śaraṇāgati: Devocionário da Rendição Completa
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Kanāda; jaimini – Jaimini; bauddha – Buddha; āowe – vieram; dhāi – correndo em auxílio.
O esquecimento de Vossos pés de lótus acarreta
angústias e aflições até o momento da morte. Enquanto
eu queimava nesse abrasador incêndio de misérias, meus
supostos salvadores – Kapila Ṛṣi, Patañjali, Gautama,
Kanāda, Jaimini e Buddha – vieram correndo em meu
auxílio.
g
(3)
tab koi nija-mate, bhukti, mukti yācato,
pāta-i nānā-vidha phāṅd
so-sabu-vañcaka, tuwā bhakti bahir-mukha,
ghaṭāowe viṣama paramād
tab – então; koi – exporam; nija-mate – sua visão particular; bhukti – prazeres; mukti – a liberação; yācataḥ – destacando; pāta-i – de engodo para
a queda; nānā – vários; vidha – tipos; phāṅt – nas armadilhas; saḥ – eles;
sabu – todos; vañcaka – enganadores; tuwā – Vosso; bhakti – serviço devocional puro; bahir-mukha – avessos; ghaṭāowe – são; viṣama – grandes;
paramāt – ameaças.
Cada um deles expôs sua visão particular, destacando
vários prazeres e a liberação como um engodo para suas
armadilhas filosóficas. São todos enganadores, visto
serem avessos a Vosso serviço devocional puro, e são, por
conseguinte, grandes ameaças.
g
(4)
vaimukha-vañcane, bhaṭa so-sabu,
niramilo vividha pasār
danḍavat dūrato, bhakativinoda bhelo,
bhakata-caraṇa kori’ sār
144 |
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Renúncia à Conduta Desfavorável à Devoção Pura
vaimukha – aqueles de inclinação materialista; vañcane – enganar; bhaṭa –
doutos em karma, jñāna, yoga e tāpa; so-sabu – todos eles; niramilaḥ – especialistas; vividha – em várias; pasār – opiniões e provas; danḍavat – presta
suas reverências; dūrataḥ – à distância; bhakativinoda – Bhaktivinoda;
bhelaḥ – coloca-se; bhakata – dos devotos; caraṇa – os pés; kori – aceita;
sār – como a essência de sua vida.
Todos eles são doutos em karma, jñāna, yoga e tāpa,
especialistas em opiniões e provas para enganar aqueles
de inclinação materialista. Após prestar suas reverências
à distância a tais filósofos de grande astúcia, Bhaktivinoda
refugia-se aos pés de lótus de Vossos devotos como a essência
de sua vida.
| 145
Segunda Oração
(1)
tuwā-bhakti-pratikūla dharma jā’te roy
parama jatane tāhā tyajibo niścoy
tuwā – Vosso; bhakti – serviço devocional; pratikūla – que é contrária;
dharma – natureza; jā’te – cuja; roy – permanece; parama – grande; jatane –
zelo; tāhā – os; tyajibaḥ – hei de abandonar; niścoy – certamente.
Hei de abandonar, sem nenhuma reserva, tudo aquilo que
é contrário a Vosso serviço devocional.
g
(2)
tuwā-bhakti-bahir-mukha saṅga nā koribo
gaurāṅga-virodhi-jana-mukha nā heribo
tuwā – Vosso; bhakti – serviço devocional; bahir-mukha – aversionados;
saṅga – a companhia; nā – não; koribaḥ – permitir-me-ei; gaurāṅga – para
com o Senhor Caitanya; virodhi – hostil; jana – de alguém; mukha – para
o rosto; nā – não; heribaḥ – olharei.
Não me permitirei a companhia daqueles aversionados a
Vosso serviço devocional, tampouco em algum momento olharei
para o rosto de alguém hostil para com o Senhor Caitanya.
g
| 147
Śaraṇāgati: Devocionário da Rendição Completa
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(3)
bhakti-pratikūla sthāne nā kori vasati
bhaktira apriya kārye nāhi kori rati
bhakti-pratikūla – desfavorável às práticas devocionais; sthāne – em um
local; nā – não; kori vasati – residirei; bhaktira – o apego por Kṛṣṇa; apriya –
que não fomentem; kārye – em atividades; nāhi – não; kori – encontrarei;
rati – prazer.
Em tempo algum residirei em um local desfavorável
às práticas devocionais e jamais encontrarei prazer em
atividades que não fomentem o apego por Vós.
g
(4)
bhaktira virodhī grantha pāṭha nā koribo
bhaktira virodhī vyākhyā kabhu nā śunibo
bhaktira – ao serviço devocional; virodhī – opostas; grantha – de obras;
pāṭha – com a leitura; nā – não; koribaḥ – procederei; bhaktira – os princípios do yoga da devoção; virodhī – que contestem; vyākhyā – explicações
e comentários; kabhu nā – tampouco; śunibaḥ – ouvirei.
Jamais lerei obras opostas ao serviço devocional,
tampouco ouvirei explicações e comentários que contestem
os princípios do yoga da devoção.
g
(5)
gaurāṅga-varjita sthāna tīrtha nāhi māni
bhaktira bādhaka jñāna-karma tuccha jāni
gaurāṅga – o Senhor Caitanya; varjita – é rejeitado; sthāna – local onde;
tīrtha – local sagrado; nāhi – não; māni – terei apreço; bhaktira – o serviço
devocional puro; bādhaka – obstruem; jñāna – conhecimento; karma – e
atividade; tuccha – patéticos e irrelevantes; jāni – tenho como.
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Renúncia à Conduta Desfavorável à Devoção Pura
Um local onde o Senhor Caitanya é rejeitado, mesmo
se considerado sagrado por muitos, jamais terá apreço
de minha parte. Tenho como patético e irrelevante todo
conhecimento e toda atividade que obstrui o serviço
devocional puro.
g
(6)
bhaktira bādhaka kāle nā kori ādar
bhakti bahir-mukha nija-jane jāni par
bhaktira – para a execução do serviço devocional; bādhaka – que apresente obstáculos; kāle – circunstância ou data; nā – não; kori ādar – favorecerei; bhakti – à devoção pura; bahir-mukha – avessos; nija-jane – os meus
parentes; jāni – terei; par – como estranhos.
Jamais será favorecida por mim alguma circunstância ou
data que apresente obstáculos para a execução do serviço
devocional e terei como estranhos todos os meus parentes
que são avessos à devoção pura.
g
(7)
bhaktira bādhikā spṛhā koribo varjan
abhakta-pradatta anna nā kori grahan
bhaktira – a devoção amorosa; bādhikā – que retardam; spṛhā – os desejos; koribaḥ – hei de; varjan – abandonar; abhakta – por não-devotos;
pradatta – oferecido; anna – alimento; nā – não; kori – irei; grahan –
aceitar.
Por completo, hei de abandonar todos os desejos que
retardam a devoção amorosa e jamais aceitarei algum
alimento que acaso me ofereçam os não-devotos.
g
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(8)
jāhā kichu bhakti-pratikūla boli’ jāni
tyajibo jatane tāhā, e niścoya vānī
jāhā – o que; kichu – algo; bhakti-pratikūla – contrário ao serviço devocional; boli – apresento; jāni – eu saiba; tyajibaḥ – evitarei; jatane – zelosamente; tāhā – isso; e – este; niścoya – com grande determinação; vānī –
voto.
Faço o voto de zelosamente evitar o que quer que eu saiba
contrário ao serviço devocional. É com grande determinação
que Vos apresento este voto.
g
(9)
bhakativinoda poḍi’ prabhura caraṇe
māgaye śakati pratikūlyera varjane
bhakativinoda – Bhaktivinoda; poḍi – caído; prabhura – do Senhor; caraṇe –
aos pés; māgaye – clama pela força; śakati – tudo; pratikūlyera – o que por
ventura seja nocivo; varjane – o abandono.
Caído aos pés do Senhor, Bhaktivinoda clama pela força
necessária para o abandono de tudo o que por ventura seja
nocivo à devoção pura.
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Terceira Oração
(1)
viṣaya-vimūḍha ār māyāvādī jan
bhakti-śūnya duṅhe prāna dhare akāraṇ
viṣaya – hedonista; vimūḍha – tolo; ār – e; māyāvādī – o impersonalista
māyāvādī; jan – sujeitos; bhakti-śūnya – carentes de devoção; duṅhe – ambos; prāna – vida; dhare – mantêm; akāraṇ – inutilmente.
Uma vez que ambos carecem de devoção a Vós, vivem
inutilmente tanto o sujeito tolo e hedonista quanto o
impersonalista māyāvādī.
g
(2)
ei dui-saṅga nātha! nā hoy āmār
prārthanā koriye āmi caraṇe tomār
ei – esses; dui – dois; saṅga – a companhia; nātha – ó Senhor; nā hoy –
eximais; āmār – me; prārthanā – em súplica; koriye – peço-Vos; āmi – eu;
caraṇe – aos pés; tomār – Vossos.
Prostrado a Vossos pés de lótus, ó Senhor, peço-Vos em
súplica que me eximais da companhia de tais indivíduos.
g
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(3)
se duwera madhye viṣayī tabu bhālo
māyāvādī-saṅga nāhi māgi kono kālo
se – estes; duwera – dos dois; madhye – na companhia; viṣayī – do hedonista; tabu – então; bhālaḥ – melhor; māyāvādī-saṅga – companhia do
māyāvādī; nāhi – não; māgi – peço; konaḥ kālaḥ – nunca.
Entre os dois, aquele dado à gratificação dos sentidos é
menos ignóbil, logo suplico que me protejais sobretudo da
companhia do māyāvādī.
g
(4)
viṣayī-hṛdoya jabe sādhu-saṅga pāy
anāyāse labhe bhakti bhaktera kṛpāy
viṣayī – de uma pessoa hedonista; hṛdoya – o coração; jabe – quando;
sādhu-saṅga – a companhia dos devotos; pāy – obtém; anāyāse – facilmente; labhe – se atrai; bhakti – pelo serviço devocional; bhaktera – devotos; kṛpāy – pela misericórdia.
Quando o coração de uma pessoa hedonista entra em
contato com Vossos devotos santos, esse coração, em decorrência da misericórdia dos devotos, facilmente se vê tomado de atração pelo serviço devocional.
g
(5)
māyāvāda-doṣa jā’ra hṛdoye paśilo
kutarke hṛdoya tā’ra vajra-sama bhelo
māyāvāda – da ofensora filosofia māyāvāda; doṣa – a influência; jā’ra – de
alguém; hṛdoye – o coração; paśilaḥ – em que entra; kutarke – com sofisma; hṛdoya – o coração; tā’ra – dele; vajra – tão duro quanto um raio;
sama – como; bhelaḥ – torna-se.
152 |
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Renúncia à Conduta Desfavorável à Devoção Pura
Por outro lado, torna-se tão duro quanto um raio o coração cujo interior, arruinado por sofisma, carrega a influência
da ofensora filosofia māyāvāda.
g
(6)
bhaktira swarūpa, āra ‘viṣaya’, ‘āśroy’
māyāvādī ‘anitya’ boliyā saba koy
bhaktira – do serviço devocional em si; swarūpa – a forma original; āra –
bem como; viṣaya – seu possuidor, o devoto; āśroy – seu objeto, o Senhor
Supremo; māyāvādī – os māyāvādīs; anitya – efêmeros e, dessarte, ilusórios; boliyā – declaram; saba – todos; koy – são.
Os māyāvādīs declaram que o serviço devocional em si,
bem como o seu possuidor e o seu objeto – respectivamente,
o devoto e o Senhor Supremo – são efêmeros e, dessarte,
ilusórios.
g
(7)
dhik tā’ra kṛṣṇa-sevā-śravana-kīrtan
kṛṣṇa-aṅge vajra hāne tāhāra stavan
dhik – maldito; tā’ra – seu; kṛṣṇa – a Kṛṣṇa; sevā – serviço; śravana – ouvir;
kīrtan – e cantar; kṛṣṇa – do Senhor Kṛṣṇa; aṅge – contra o corpo; vajra –
como um raio; hāne – explodem; tāhāra – suas; stavan – as orações.
Maldito é seu suposto serviço a Kṛṣṇa! Maldito é seu
suposto ouvir e cantar das glórias de Kṛṣṇa! Com efeito, suas orações explodem contra o corpo de Kṛṣṇa com
maior violência do que explodem os raios contra as
montanhas.
g
| 153
Śaraṇāgati: Devocionário da Rendição Completa
exemplar gratuito
(8)
māyāvāda sama bhakti-pratikūla nāi
ataeva māyāvādī-saṅga nāhi cāi
māyāvāda – a filosofia māyāvāda; sama – como; bhakti – ao serviço devocional;
pratikūla – antagônica; nāi – inexiste; ataeva – portanto; māyāvādī-saṅga –
a companhia dos māyāvādīs; nāhi – jamais; cāi – desejo.
Inexiste outra filosofia tão antagônica ao serviço
devocional quanto a filosofia māyāvāda, em razão do que
jamais desejo a companhia de um māyāvādī.
g
(9)
bhakativinoda māyāvāda dūra kori
vaiṣṇava-saṅgete baise nāmāśraya dhori’
bhakativinoda – Bhaktivinoda; māyāvāda – do pensamento māyāvāda; dūra –
indo; kori – para longe; vaiṣṇava – dos devotos; saṅgete – na companhia;
baise – permanece; nāma – do santo nome; āśraya – o refúgio; dhori –
aceitando.
Distante do pensamento māyāvāda, Bhaktivinoda, na
companhia dos devotos, refugia-se no cantar dos santos
nomes do Senhor.
154 |
Quarta Oração
(1)
āmi to’ swānanda-sukhada-bāsī
rādhikā-mādhava-caraṇa-dāsī
āmi to – eu; swānanda-sukhada – no bosque Svānanda-sukhada; bāsī – resido;
rādhikā-mādhava – de Śrī Śrī Rādhā e Kṛṣṇa; caraṇa – dos pés; dāsī – serva.
Resido no bosque Svānanda-sukhada, onde sou serva dos
pés de lótus de Rādhā e Kṛṣṇa.
g
(2)
duṅhāra milane ānanda kori
duṅhāra viyoge duḥkhete mari
duṅhāra – o Casal Divino; milane – quando está junto; ānanda – regozijo;
kori – experimento; duṅhāra – quando os dois; viyoge – estão separados;
duḥkhete – a angústia; mari – mata-me.
Quando está junto o Casal Divino, eu regozijo, e, quando
separados, mata-me a angústia.
g
(3)
sakhī-sthalī nāhi heri nayane
dekhile śaibyāke paraye mane
| 155
Śaraṇāgati: Devocionário da Rendição Completa
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sakhī-sthalī – àquela região de Vraja de nome Sakhī-sthalī, onde vivem
Candrāvalī e suas amigas; nāhi – não; heri – lanço o meu olhar; nayane –
com meus olhos; dekhile – ver tal lugar; śaibyāke – de Śaibyā; paraye – suscitaria em mim; mane – a lembrança.
Jamais lanço o meu olhar àquela região de Vraja de nome
Sakhī-sthalī, onde vivem Candrāvalī e suas amigas, já que a
visão de tal lugar suscitaria em mim a lembrança de Śaibyā.
g
(4)
je-je pratikūla candrāra sakhī
prāne duḥkha pāi tāhāre dekhi’
je-je – sempre; pratikūla – rivais de Rādhārāṇī; candrāra – de Candrāvalī;
sakhī – as amigas; prāne – a minha vida; duḥkha – de sofrimento; pāi – enche-se; tāhāre – as; dekhi – quando vejo.
Enche-se de angústia a minha vida sempre que vejo as
orgulhosas amigas de Candrāvalī, dado serem todas rivais
de Rādhārāṇī.
g
(5)
rādhikā-kuñja āṅdhāra kori’
loite cāhe se rādhāra hari
rādhikā-kuñja – o bosque de Rādhikā; āṅdhāra – com o manto trevoso da
tristeza; kori – cobrindo; loite – roubar; cāhe – anela; se – ela; rādhāra – de
Rādhārāṇī; hari – Kṛṣṇa.
Candrāvalī anela roubar de Rādhārāṇī Seu amado Kṛṣṇa,
cobrindo assim o bosque de Rādhikā com o manto trevoso
da tristeza.
156 |
g
exemplar gratuito
Renúncia à Conduta Desfavorável à Devoção Pura
(6)
śrī-rādhā-govinda-milana-sukha
pratikūla-jana nā heri mukha
śrī-rādhā-govinda – de Śrī Śrī Rādhā e Kṛṣṇa; milana – o encontro; sukha –
o jubilante; pratikūla-jana – daqueles que estorvam; nā – não; heri – o
meu olhar se volta; mukha – em direção ao rosto.
Jamais o meu olhar se volta em direção àqueles que estorvam o jubilante encontro de Rādhā e Kṛṣṇa.
g
(7)
rādhā-pratikūla jateka janasambhāṣane kabhu nā hoy mana
rādhā-pratikūla – as inimigas de Rādhā; jateka – que são; jana – as pessoas; sambhāṣane – em conversar; kabhu nā – em tempo algum; hoy – concordará; mana – meu coração.
Em tempo algum concordará meu coração em conversar
com as inimigas de Rādhā.
g
(8)
bhakativinoda śrī-rādhā-caraṇe
saṅpeche parāna atīva jatane
bhakativinoda – Bhaktivinoda; śrī-rādhā – de Śrīmatī Rādhārāṇī; caraṇe – aos
pés; saṅpeche – confia; parāna – sua vida; atīva – grande; jatane – com avidez.
Por inteiro e com grande avidez, Bhaktivinoda confia a
sua vida aos pés de lótus de Śrīmatī Rādhārāṇī.
Neste ponto encerra-se a seção referente
ao sexto princípio da rendição.
| 157
Bhajana-Lalasa:
Avidez pelo Serviço Divino
h
| 159
Primeira Oração
(1)
hari he!
prapañce poḍiyā, agati hoiyā,
nā dekhi upāya ār
agatira gati, caraṇe śaraṇa,
tomāya korinu sār
hari – Hari, Kṛṣṇa; he – ó; prapañce – na ilusão deste mundo; poḍiyā – caído; agati – impotente; hoiyā – é como me encontro; nā – não; dekhi – contemplo; upāya – meio de salvação; ār – nenhum; agatira – dos desamparados; gati – o recurso; caraṇe – de Vossos pés; śaraṇa – aceito o refúgio;
tomāya – Vós; korinu – tenho; sār – como a essência de minha vida.
Caído na ilusão deste mundo, ó Senhor Kṛṣṇa, impotente
é como se encontra a minha pessoa, e não contemplo nenhum
meio de salvação exceto a rendição a Vós. Porquanto o abrigo
em Vossos pés de lótus é o único recurso dos desamparados,
aceito o refúgio de Vossos pés como a essência de minha vida.
g
(2)
karama geyāna, kichu nāhi mora,
sādhana bhajana nāi
tumi kṛpā-moya, āmi to’ kāṅgāla,
ahaitukī kṛpā cāi
| 161
Śaraṇāgati: Devocionário da Rendição Completa
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karama – atividades piedosas pretéritas; geyāna – conhecimento; kichu –
algum; nāhi – não; mora – tenho; sādhana – regulada; bhajana – prática devocional; nāi – tampouco; tumi – Vós; kṛpā-moya – pleno de compaixão
e benevolência; āmi to – eu; kāṅgāla – um indigno mendicante; ahaitukī –
incondicional; kṛpā – por Vossa misericórdia; cāi – rogo.
Carente sou de atividades piedosas pretéritas e careço
também de conhecimento ou de alguma prática devocional
regulada. Nada obstante, sois pleno de compaixão e
benevolência. Por conseguinte, porque em definitivo
sou destituído de qualquer merecimento, venho a Vós e,
como um pobre mendicante, rogo por Vossa misericórdia
incondicional.
g
(3)
vākya-mano-vega, krodha-jihvā-vega,
udara-upastha-vega
miliyā e saba, saṁsāre bhāsā’ye,
diteche paramodvega
vākya – da fala; manaḥ – da mente; vega – as demandas; krodha – da ira;
jihvā – da língua; vega – as demandas; udara – do estômago; upastha – e
dos genitais; vega – as demandas; miliyā – se uniram; e – essas; saba –
todas; saṁsāre – neste oceano do mundo material; bhāsā’ye – de modo
a deixarem-me à deriva; diteche – torturadora; parama-udvega – situação
deveras dolorosa.
As poderosas demandas da fala, da mente, da ira, da
língua, do estômago e dos genitais se uniram contra mim
de modo a deixarem-me à deriva neste oceano do mundo
material. Nesta situação torturadora, doloroso é o meu viver.
g
(4)
aneka jatane, se saba damane,
chāḍiyāchi āśā āmi
162 |
exemplar gratuito
Avidez pelo Serviço Divino
anāthera nātha! ḍāki tava nāma,
ekhona bharasā tumi
aneka – numerosas; jatane – tentativas; se – essas demandas; saba – todas;
damane – de subjugar; chāḍiyāchi – desconheço; āśā – qualquer esperança; āmi – eu; anāthera – dos desabrigados; nātha – o abrigo; ḍāki – chamo;
tava – Vosso; nāma – pelo nome; ekhona – agora; bharasā – esperança;
tumi – Vós.
Após numerosas tentativas de subjugar tais demandas
materiais, desconheço qualquer esperança de sucesso. Ó
abrigo dos desabrigados, chamo por Vosso santo nome, pois
agora sois a única esperança que me resta.
| 163
Segunda Oração
(1)
hari he!
arthera sañcaye, viṣaya-prayāse,
āno-kathā-prajalpane
āno-adhikāra, niyama āgrahe,
asat-saṅga-saṁghaṭane
hari – Hari, Kṛṣṇa; he – ó; arthera – riquezas em excesso; sañcaye – encontro-me absorto em acumular; viṣaya – coisas mundanas; prayāse –
dado ao esforço de conseguir; ānaḥ – com outros; kathā-prajalpane –
conversas desnecessárias, sobre tópicos desconectados do serviço a Kṛṣṇa; ānaḥ – alheios; adhikāra – deveres; niyama – as regras e
regulações; āgrahe – observo apenas por observá-las, sem interesse
algum no avanço espiritual; asat – de homens desinteressados da
consciência de Kṛṣṇa; saṅga – a companhia e a influência; saṁghaṭane
– apraz-me.
Ó Senhor Kṛṣṇa, encontro-me absorto em acumular
riquezas em excesso. Quando não me encontro dado ao
esforço de conseguir coisas mundanas, a despeito de quão
difícil possa ser a obtenção das mesmas, entrego-me a
conversas desnecessárias sobre tópicos desconectados do
serviço a Vós. Em vez de cumprir os deveres associados à
minha qualificação, aceito como meus os deveres alheios, e,
se observo as regras e regulações das escrituras, observoas apenas por observá-las, sem interesse algum no avanço
espiritual. Porquanto me apraz a companhia de homens
desinteressados da consciência de Kṛṣṇa, minhas ambições
são todas mundanas.
| 165
Śaraṇāgati: Devocionário da Rendição Completa
g
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(2)
asthira siddhānte, rohinu mojiyā,
hari-bhakti roilo dūre
e hṛdoye mātro, para-hiṁsā, mada,
pratiṣṭhā, śaṭhatā sphure
asthira – incertas e em constante mudança; siddhānte – conclusões;
rohinu – encontro-me; mojiyā – afundando; hari-bhakti – a devoção por
Hari, Kṛṣṇa; roilaḥ – mantém-se; dūre – longe; e – neste; hṛdoye – coração;
mātraḥ – unicamente; para-hiṁsā – inveja e o desejo de prejudicar outros;
mada – falso orgulho; pratiṣṭhā – desejo por fama e honra; śaṭhatā – falsidade; sphure – há.
Sempre me afundo profundamente nas areias movediças
de opiniões incertas e em constante mudança. A devoção
por Vós, destarte, sempre dista imensamente de mim. Neste
coração que carrego em meu peito, há unicamente inveja, o
desejo de prejudicar outros, falso orgulho, desejo por fama e
honra, e falsidade.
g
(3)
e saba āgraha, chāḍite nārinu,
āpana doṣate mari
janama biphala, hoilo āmāra,
ekhona ki kori, hari!
e – estas; saba – todas; āgraha – tenho comigo; chāḍite – de rejeitar; nārinu –
nunca me vi capaz; āpana – meus; doṣate – inclinações detestáveis, indicativos de queda; mari – em mim; janama – nascimento; biphala – inútil;
hoilaḥ – foi; āmāra – meu; ekhona – agora; ki – o que; kori – farei; hari – ó
Hari, Kṛṣṇa.
166 |
Nunca me vi capaz de rejeitar alguma de tais inclinações
detestáveis, senão que insistem em demorar-se e adornam
Avidez pelo Serviço Divino
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a minha queda. Meu nascimento como um ser humano foi
inteiramente arruinado. Ó Senhor Kṛṣṇa, o que farei agora?
g
(4)
āmi to’ patita, patita-pāvana,
tomāra pavitra nāma
se sambandha dhori’, tomāra caraṇe,
śaraṇa loinu hāma
āmi to – eu; patita – caído; patita-pāvana – ó salvador dos caídos; tomāra –
Vosso; pavitra – santo; nāma – nome; se – a essa; sambandha – relação; dhori –
aferrando-me; tomāra – Vossos; caraṇe – pés; śaraṇa – como refúgio; loinu –
aceito; hāma – eu.
Sou deveras caído, mas Vosso santo nome é Patita-pāvana,
o salvador dos caídos. Aferrando-me à relação que temos,
implícita em Vosso nome Patita-pāvana, aceito Vossos pés de
lótus como o meu refúgio.
| 167
168 |
Terceira Oração
(1-2)
hari he!
bhajane utsāha, bhaktite viśvāsa,
prema-labhe dhairya-dhana
bhakti-anukūla, karma-pravartana,
asat-saṅga-visarjana
bhakti-sadācāra, ei chaya guna,
nāhilo āmāra nātha!
kemone bhojibo, tomāra caraṇa,
chāḍiyā māyāra sātha
hari – Hari, Kṛṣṇa; he – ó; bhajane – pela prática da vida espiritual; utsāha –
entusiasmo; bhaktite – no processo do serviço devocional; viśvāsa – fé;
prema-labhe – até a consecução do amor a Deus; dhairya – da paciência;
dhana – o tesouro; bhakti – à devoção pura; anukūla – favoráveis; karmapravartana – a execução das atividades; asat – de não devotos; saṅga – da
companhia; visarjana – o abandono; bhakti – de um devoto; sadācāra –
conduta geral; ei – estas; chaya – seis; guna – virtudes; nāhilaḥ – não se
encontram; āmāra – em mim; nātha – ó mestre; kemone – como; bhojibaḥ –
hei de adorar; tomāra – Vossos; caraṇa – pés; chāḍiyā – hei de abandonar;
māyāra – pela energia ilusória; sātha – o fascínio.
Ó Senhor Kṛṣṇa, entusiasmo pela prática da vida
espiritual, fé no processo do serviço devocional, o tesouro
da paciência até a consecução do amor a Deus, a execução
das atividades favoráveis à devoção pura, o abandono da
companhia de não devotos, e a conduta geral de um devoto tal
como estabelecida pela sucessão discipular são seis virtudes
| 169
Śaraṇāgati: Devocionário da Rendição Completa
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cuja posse jamais conheci, ó mestre. Como, em semelhante
estado, hei de abandonar meu fascínio pela energia ilusória e
adorar Vossos pés de lótus?
g
(3)
garhita ācāre, rohilāma moji’,
nā korinu sādhu-saṅga
lo’ye sādhu-veśa, āne upadeśi,
e boḍo māyāra raṅga
garhita – abomináveis; ācāre – atividades; rohilāma – continuo; moji – entregue; nā – não; korinu – dar-me-ei; sādhu-saṅga – à companhia das pessoas santas; lo’ye – uso; sādhu-veśa – as vestes de um santo; āne – outros;
upadeśi – ensino; e – este; boḍaḥ – grande; māyāra – da diretora Māyā;
raṅga – peça de comédia.
Entregue a atividades abomináveis, jamais me dei à companhia das pessoas santas. Agora, no entanto, visto-me como
vestem-se os santos e ocupo-me no afazer de instruir outros.
Eis como se dá a curiosa peça de comédia da diretora Māyā.
g
(4)
e heno daśāya, ahaitukī kṛpā,
tomāra pāibo, hari!
śrī-guru-āśroye, ḍākibo tomāya,
kabe vā minati kori’
e – este; henaḥ – tal; daśāya – estado; ahaitukī – imotivada; kṛpā – misericórdia; tomāra – de Vossa; pāibaḥ – serei objeto; hari – ó Hari, Kṛṣṇa; śrī-guru –
em meu mestre espiritual; āśroye – refugiado; ḍākibaḥ – chamarei; tomāya –
por Vós; kabe – quando; vā – e; minati – orações; kori – oferecendo.
170 |
Ó Senhor Kṛṣṇa, quando, refugiado em meu mestre espiritual, chamar-Vos-ei exclamando Vosso nome, oferecer-Vos-ei
orações e serei objeto de Vossa misericórdia imotivada?
Avidez pelo Serviço Divino
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Quarta Oração
(1)
hari he!
dāna, pratigraha, mitho gupta-kathā,
bhakṣana, bhojana-dāna
saṅgera lakṣana, ei chaya hoya,
ihāte bhaktira prāna
hari – Hari, Kṛṣṇa; he – ó; dāna – a oferta de presentes; pratigraha – o recebimento de presentes; mithaḥ – mútuas; gupta-kathā – conversas confidenciais; bhakṣana – recebimento de alimentos santificados; bhojana-dāna –
a oferta de alimentos santificados; saṅgera – da reciprocação amorosa;
lakṣana – os constituintes; ei – estes; chaya – seis; hoya – são; ihāte – nestes;
bhaktira – da devoção; prāna – a vida.
Ó Senhor Kṛṣṇa, a oferta de presentes, alimentos
santificados e confidências, e o recebimento dos mesmos, são
os seis constituintes da reciprocação amorosa, nos quais se
encontra a vida da devoção.
g
(2)
tattva nā bujhiye, jñāne vā ajñāne,
asate e saba kori’
bhakti hārāinu, saṁsārī hoinu,
sudūre rohile hari
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tattva – a verdade; nā – não; bujhiye – compreendi; jñāne – ciente; vā – ou;
ajñāne – de maneira inconsciente; asate – com os não devotos; e – esses;
saba – todos; kori – fazendo; bhakti – a inclinação devocional; hārāinu –
perdi; saṁsārī – um materialista; hoinu – estou; sudūre – muito longe;
rohile – continuais; hari – ó Senhor Hari, Kṛṣṇa.
A verdade não fui capaz de compreender. Dando-me
à prática dessas seis reciprocações amorosas com os nãodevotos, quer ciente disso quer de maneira inconsciente, perdi
toda a inclinação devocional e me tornei um materialista. Vós,
consequentemente, ó Senhor, continuais distante de mim.
g
(3)
kṛṣṇa-bhakta-jane, ei saṅga-lakṣane,
ādara koribo jabe
bhakti-mahā-devī, āmāra hṛdoyaāsane bosibe tabe
kṛṣṇa-bhakta-jane – com os devotos de Śrī Kṛṣṇa; ei – essas; saṅga-lakṣane –
intimidades; ādara – amor; koribaḥ – aconteçam; jabe – quando; bhakti-mahādevī – a altíssima deusa do serviço devocional; āmāra – meu; hṛdoya – o
coração; āsane – como seu trono régio; bosibe – aceitará; tabe – nesse dia.
Algum dia nutrirei o desejo de que essas intimidades
se deem entre mim e os devotos de Śrī Kṛṣṇa? Tão logo se
faça presente esse venturoso dia, sei que a altíssima deusa
do serviço devocional aceitará o meu coração como o seu
trono régio.
g
(4)
yoṣit-saṅgī-jana, kṛṣṇā-bhakta āra,
duṅhu-saṅga-parihari’
172 |
tava bhakta-jana-saṅga anukṣana,
kabe vā hoibe hari!
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Avidez pelo Serviço Divino
yoṣit – à exploração de mulheres; saṅgī – afeitos; jana – homens; kṛṣṇābhakta – indivíduos avessos a Kṛṣṇa; āra – e; duṅhu – desses dois; saṅga –
a companhia; parihari – rejeitando; tava – Vossos; bhakta-jana – dos devotos; saṅga – a companhia; anukṣana – constante; kabe – quando; vā – e;
hoibe – permitir-me-ei; hari – ó Senhor Hari, Kṛṣṇa.
Chegará o dia em que desprezarei a companhia daqueles
viciados à exploração de mulheres e avessos a Vossa pessoa?
Ó Senhor, quando me permitirei a companhia constante de
Vossos devotos?
| 173
Quinta Oração
(1)
hari he!
saṅga-doṣa-śūnya, dīkṣitādīkṣita,
jadi tava nāma gā’ya
mānase ādara, koribo tāhāre,
jāni’ nija-jana tāya
hari – Hari, Kṛṣṇa; he – ó; saṅga-doṣa – em más companhias; śūnya – que
evita; dīkṣita – iniciado; adīkṣita – não iniciado; jadi – caso; tava – Vosso;
nāma – nome; gā’ya – cante; mānase – dentro da mente; ādara – honrar;
koribaḥ – irei; tāhāre – o; jāni – considerarei; nija-jana – parente; tāya – o.
Dentro de minha mente, ó Senhor Kṛṣṇa, honrarei e
considerarei meu parente aquele que naturalmente evita a
ofensa de estar em más companhias e que canta Vosso santo
nome, seja ele formalmente iniciado ou não.
g
(2)
dīkṣita hoiyā, bhaje tuwā pada,
tāhāre pranati kori
ananya-bhajane, vijña yei jana,
tāhāre sevibo, hari!
dīkṣita – à iniciação; hoiyā – submetido; bhaje – adora; tuwā – Vossos;
pada – pés; tāhāre – a ele; pranati – respeitosas reverências; kori – ofereço;
| 175
Śaraṇāgati: Devocionário da Rendição Completa
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ananya-bhajane – devoção imaculada e inteiramente fixa; vijña – realizado; yei – que; jana – o devoto; tāhāre – lhe; sevibaḥ – servirei; hari – ó
Senhor Hari, Kṛṣṇa.
Minhas humildes e respeitosas reverências eu ofereço
àquele devoto que se submeteu ao sacramento da iniciação
espiritual e se ocupa na adoração de Vossos pés de lótus, e
hei de servir fielmente, ó Senhor, àquele realizado devoto
cuja devoção é imaculada e inteiramente fixa em Vós.
g
(3)
sarva-bhūte sama, ye bhaktera mati,
tāhāra darśane māni
āpanāke dhanya, se saṅga pāiyā,
caritārtha hoiluṅ jāni
sarva – todas; bhūte – as entidades vivas; sama – equânime; ye – que é;
bhaktera – do devoto; mati – a visão; tāhāra – dele; darśane – quando vejo;
māni – sinto; āpanāke – me; dhanya – grandemente abençoado; se – sua;
saṅga – companhia; pāiyā – obtenho; caritārtha – bem-sucedido; hoiluṅ –
torno-me; jāni – sei que.
Faz-me sentir grandemente abençoado a mera visão
daquele devoto que é equânime para com todas as entidades
vivas. Quando em sua companhia, considero-me deveras
feliz, pois sei que fui bem-sucedido em minha vida.
g
(4)
niṣkapaṭa-mati, vaiṣṇavera prati,
ei dharma kabe pā’bo
kabe saṁsāra-sindhu-pāra ho’ye,
tava braja-pure jā’bo
niṣkapaṭa – humilde e inocente; mati – postura; vaiṣṇavera – os vaiṣṇavas;
prati – para com; ei – esta; dharma – natureza; kabe – será; pā’baḥ – obtida;
176 |
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Avidez pelo Serviço Divino
kabe – quando; e – este; saṁsāra – de repetidos nascimentos e mortes;
sindhu – oceano; pāra – à margem; ho’ye – chegarei; tava – Vossa; braja –
Vraja; pure – a morada; jā’baḥ – haverei de alcançar.
Quando minha postura para com os vaiṣṇavas tornar-se-á
humilde e inocente? Quando haverei de cruzar este oceano
de repetidos nascimentos e mortes e alcançar Vossa morada
transcendental chamada Vrajabhūmi?
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178 |
Sexta Oração
(1)
hari he!
nīra-dharma-gata, jāhnavī-salile,
paṅka-phena dṛṣṭa hoya
tathāpi kakhona, brahma-drava-dharma,
se salila nā chāḍoya
hari – Hari, Kṛṣṇa; he – ó; nīra-dharma-gata – constituintes inerentes à
natureza das águas de um rio; jāhnavī – do Ganges; salile – nas águas;
paṅka – lama; phena – e espuma; dṛṣṭa – visíveis; hoya – são; tathāpi – malgrado; kakhona – eventuais; brahma-drava-dharma – natureza puramente
espiritual; se – essas; salila – águas; nā – não; chāḍoya – desapossam-se.
Ó Senhor Kṛṣṇa, lama e espuma são eventualmente
visíveis nas águas do Ganges uma vez que são constituintes
inerentes à natureza das águas de um rio. Malgrado tais
aparentes defeitos, as águas do Ganges jamais se desapossam
de sua natureza puramente espiritual.
g
(2)
vaiṣṇava-śarīra, aprākṛta sadā,
swabhāva-vapura dharme
kabhu nāhe jaḍa, tathāpi ye ninde,
poḍe se viṣamādharme
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Śaraṇāgati: Devocionário da Rendição Completa
exemplar gratuito
vaiṣṇava – de um vaiṣṇava; śarīra – o corpo; aprākṛta – espiritual; sadā –
sempre; swabhāva – naturais; vapura – do corpo; dharme – na natureza;
kabhu – visto que; nāhe – não; jaḍa – material; tathāpi – portanto; ye –
quem; ninde – critica; poḍe – cai; se – ele; viṣama – terrivelmente; adharme –
do caminho da religião.
De maneira análoga, alguém talvez encontre defeitos
naturais no corpo de um vaiṣṇava, apesar dos quais seu corpo
é sempre espiritual. Visto que o corpo de um vaiṣṇava jamais é
material, aquele que o critica certamente haverá, em razão de
sua blasfêmia, de cair terrivelmente do caminho da religião.
g
(3)
sei aparādhe, yamera jātanā,
pāya jīva avirata
he nanda-nandana! sei aparādhe,
yeno nāhi hoi hata
sei – devido a; aparādhe – essa ofensa; yamera – de Yamarāja; jātanā – às
torturas; pāya – é submetida; jīva – a alma; avirata – incessantemente;
he – ó; nanda-nandana – filho de Nanda; sei – cometendo; aparādhe – tal
ofensa; yenaḥ – deste modo; nāhi – não; hoi hata – destrua-me.
Devido a semelhante ofensa, a alma caída sofre incessantemente as torturas de Yamarāja, o senhor da morte. Ó Kṛṣṇa,
jovial filho de Nanda, a Vós eu suplico: não permitais que eu
me destrua cometendo tal ofensa.
g
(4)
tomāra vaiṣṇava, vaibhava tomāra,
āmāre korunā doyā
tabe mora gati, ha’be tava prati,
pā’bo tava pada-chāyā
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tomāra – Vossa posse; vaiṣṇava – os vaiṣṇavas; vaibhava – divina glória;
tomāra – Vossa; āmāre – para comigo; korunā – misericórdia; doyā – mostrem; tabe – então; mora – meu; gati – destino; ha’be – será; tava – a Vós;
prati – voltar-me; pā’baḥ – terei; tava – Vosssos; pada – dos pés; chāyā – a
sombra.
Os vaiṣṇavas são Vossa posse e Vossa divina glória. Oro
que sejam misericordiosos comigo, pois, se o forem, voltarme-ei a Vós e terei a sombra de Vossos pés de lótus como
meu refúgio.
| 181
Sétima Oração
(1)
ohe!
vaiṣṇava ṭhākura, doyāra sāgara,
e dāse korunā kori’
diyā pada-chāyā, śodho he āmāya,
tomāra caraṇa dhori
ohe – ó; vaiṣṇava – vaiṣṇava; ṭhākura – venerável; doyāra – de misericórdia;
sāgara – ó oceano; e – este; dāse – servo; korunā – compaixão; kori – tem;
diyā – concede; pada – dos pés; chāyā – a sombra; śodhaḥ – purifica; he – ó;
āmāya – me; tomāra – teus; caraṇa – aos pés; dhori – agarro-me.
Ó venerável vaiṣṇava, ó oceano de misericórdia, por favor,
tem compaixão de mim, teu humilde servo. Concede-me
a sombra de teus pés de lótus e, deste modo, purifica-me.
Agarro-me a teus pés de lótus com grande submissão.
g
(2)
chaya vega domi’, chaya doṣa śodhi’,
chaya guna deho’ dāse
chaya sat-saṅga, deho’ he āmāre,
bosechi saṅgera āśe
chaya – as seis; vega – demandas; domi – controlar; chaya – os seis; doṣa –
defeitos; śodhi – livrar-me; chaya – seis; guna – virtudes; dehaḥ – incute;
| 183
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dāse – neste teu servo; chaya – seis; sat-saṅga – categorias de reciprocação entre as pessoas santas; dehaḥ – dê; he – ó, por favor; āmāre – a mim;
bosechi – sento-me aqui; saṅgera – de tua bondosa companhia; āśe – com
a esperança.
Por favor, ajuda-me a controlar as seis demandas, ensiname como posso livrar-me dos seis defeitos e, por favor, incute
neste teu servo as seis virtudes. Oh! Permite a este servo a
oportunidade das seis categorias de reciprocação entre
as pessoas santas. Sento-me aqui com a esperança de ser
agraciado por tua bondosa companhia.
g
(3)
ekakī āmāra, nāhi pāya bala,
hari-nāma-saṅkīrtane
tumi kṛpā kori’, śraddhā-bindu diyā,
deho’ kṛṣṇa-nāma-dhane
ekakī – sozinho; āmāra – por mim; nāhi – não; pāya – tenho; bala – forças; hari-nāma-saṅkīrtane – para cantar o santo nome do Senhor Hari,
Kṛṣṇa; tumi – tu; kṛpā – misericórdia; kori – concede-me; śraddhā – de
fé; bindu – uma gota; diyā – concede; dehaḥ – que eu possa obter; kṛṣṇanāma – do santo nome de Kṛṣṇa; dhane – o inestimável tesouro.
Sozinho, desconheço forças para cantar o santo nome
do Senhor Hari. Por favor, sê misericordioso e concede-me
apenas uma gota de fé com a qual eu possa obter o inestimável
tesouro do santo nome de Kṛṣṇa.
g
(4)
kṛṣṇa se tomāra, kṛṣṇa dite pāro,
tomāra śakati āche
āmi to’ kāṅgāla, ‘kṛṣṇa’ ‘kṛṣṇa’ boli’,
dhāi tava pāche pāche
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kṛṣṇa – Kṛṣṇa; se – Ele; tomāra – teu; kṛṣṇa – Kṛṣṇa; dite – de dar; pāraḥ – a
outrem; tomāra – teu; śakati – o poder; āche – é; āmi to – eu; kāṅgāla – um
abominável e caído mendicante; kṛṣṇa – Kṛṣṇa; kṛṣṇa – Kṛṣṇa; boli – exclamando; dhāi – corro; tava – de você; pāche – atrás; pāche – atrás.
Kṛṣṇa é propriedade tua, logo tens o poder de dá-lO a
qualquer pessoa, segundo o teu desejo. Sou deveras caído e
abominável; contudo, porque certamente podes dar Kṛṣṇa a
quem bem entendas, tudo o que faço é chorar exclamando o
nome de Kṛṣṇa enquanto corro atrás de tua pessoa.
| 185
Oitava Oração
(1)
hari he!
tomāre bhuliyā, avidyā-pīḍāya,
pīḍita rasanā mora
kṛṣṇa-nāma-sudhā, bhālo nāhi lāge,
viṣaya-sukhate bhora
hari – Hari, Kṛṣṇa; he – ó; tomāre – de Vós; bhuliyā – deslembrado; avidyā –
da ignorância; pīḍāya – com a icterícia; pīḍita – amargada; rasanā – a língua; mora – minha; kṛṣṇa-nāma – do nome de Kṛṣṇa; sudhā – o doce néctar; bhālaḥ – bom; nāhi – não; lāge – aceito; viṣaya – mundanos; sukhate –
nos prazeres; bhora – viciado.
Ó Senhor Kṛṣṇa, por haver-me deslembrado de Vós,
minha língua amargou-se com a icterícia da ignorância.
Viciei-me no gosto dos prazeres mundanos e saborear o doce
néctar de Vosso santo nome não me é possível.
g
(2)
prati-dina jadi, ādara koriyā,
se nāma kīrtana kori
sitapala jeno, nāśi’ roga-mūla,
krame swādu hoya, hari!
prati – todos; dina – os dias; jadi – caso; ādara – com grande afeição; koriyā –
eu proceda; se – desse; nāma – nome; kīrtana – com o cantar; kori – eu
| 187
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proceda; sitapala – o açúcar-cande; jenaḥ – como; nāśi – destrói; roga – da
doença; mūla – a causa; krame – gradualmente; swādu – a doçura; hoya –
hei de saborear; hari – ó Senhor Hari, Kṛṣṇa.
Caso Vosso santo nome diariamente eu cante com grande
afeição, então, assim como o açúcar-cande é o medicamento
que prontamente destrói a doença que faz o próprio açúcarcande parecer amargo, ó Kṛṣṇa, ver-me-ei curado de minha
doença espiritual por Vosso nome e, assim, gradualmente hei
de saborear Vossa doçura.
g
(3)
durdaiva āmāra, se nāme ādara,
nā hoilo, doyāmoya!
daśa aparādha, āmāra durdaiva,
kemone hoibe kṣoya
durdaiva – desdita; āmāra – minha; se – esse; nāme – pelo nome; ādara –
amor; nā – não; hoilaḥ – há; doyāmoya – misericordiosíssimo; daśa – dez;
aparādha – ofensas; āmāra – minha; durdaiva – lástima; kemone – como;
hoibe – haverei de; kṣoya – ver-me livre.
Não obstante, tão desditoso sou, ó misericordiosíssimo
Senhor, que inexiste em minha pessoa qualquer atração por
Vosso santo nome. Em semelhante lástima, como haverei de
me ver livre das dez ofensas ao santo nome?
g
(4)
anudina jeno, tava nāma gāi,
kramete kṛpāya tava
aparādha jā’be, nāme ruci ha’be,
āswādibo nāmāsava
anudina – rotina diária; jenaḥ – como; tava – Vossos; nāma – os nomes;
gāi – caso eu cante; kramete – gradualmente; kṛpāya – pela graça; tava –
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Vossa; aparādha – as ofensas; jā’be – hão de desaparecer; nāme – pelo
nome; ruci – o gosto; ha’be – haverá de crescer; āswādibaḥ – beberei;
nāmāsava – o intoxicante vinho do nome.
Caso eu tenha por rotina o canto diário de Vosso nome,
gradualmente as dez ofensas, por Vossa graça, hão de
desaparecer e o gosto por Vosso santo nome haverá de crescer
em mim, momento no qual beberei o intoxicante vinho desse
nome.
| 189
Nona Oração
(1)
hari he!
śrī-rūpa-gosāi, śrī-guru-rūpete,
śikṣā dila mora kāne
“jāno mora kathā, nāmera kāṅgāla!
rati pā’be nāma-gāne
hari – Hari, Kṛṣṇa; he – ó; śrī-rūpa-gosāi – Śrīla Rūpa Gosvāmī; śrī-guru – do
mestre espiritual; rūpete – na forma; śikṣā – instruções; dila – apresentou;
mora – meu; kāne – ao ouvido; jānaḥ – por favor, tenta assimilar; more – minhas; kathā – palavras; nāmera – pelo santo nome; kāṅgāla – ó tu que mendigas; rati – apego; pā’be – terás; nāma – do santo nome; gāne – pelo cantar.
Valendo-se de meu mestre espiritual como seu mensageiro,
ó Senhor Kṛṣṇa, Śrīla Rūpa Gosvāmī fez chegar aos meus
ouvidos estas instruções: “Ó tu que mendigas pelo santo
nome, por favor, tenta assimilar o significado de minhas
palavras, pois, compreendendo-as, terás apego pelo cantar
do santo nome”.
g
(2)
kṛṣṇa-nāma-rūpa- guna-sucarita,
parama jatane kori’
rasanā-mānase, koraho niyoga,
krama-vidhi anusari’
| 191
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kṛṣṇa – do Senhor Kṛṣṇa; nāma – os nomes; rūpa – as formas; guna – as
qualidades; sucarita – passatempos transcendentais e eternos; parama –
grande; jatane – esforço; kori – empreendendo; rasanā – a língua; mānase –
e a mente; korahaḥ niyoga – ocupa apropriadamente; krama-vidhi – as
regras e regulações; anusari – seguindo.
“Seguindo as regras e regulações escriturais, ocupa com
grande entusiasmo e zelo tua língua e tua mente em glorificar
e lembrar os nomes, as formas, as qualidades e os passatempos do Senhor Kṛṣṇa – todos completamente puros e eternos”.
g
(3)
braje kori’ bāsa, rāgānugā hoiyā,
smaraṇa kīrtana koro
e nikhila kāla, koraho jāpana,
upadeśa-sāra dharo’”
braje – na terra santa de Vraja; kori bāsa – em residência; rāgānugā –
um praticante da devoção amorosa espontânea; hoiyā – tornando-te;
smaraṇa – em lembrar; kīrtana – e glorificar; koraḥ – ocupate-te; e – e; nikhila –
todo; kāla – o tempo; korahaḥ – pratica; jāpana – o cantar do santo nome;
upadeśa – de toda instrução; sāra – a essência; dharaḥ – aceita.
“Sempre em residência na terra santa de Vraja, torna-te
um praticante da devoção amorosa espontânea e ocupa-te em
lembrar-te de Kṛṣṇa e em glorificá-lO. Aceitando nada senão
o cantar do santo nome como a essência de toda instrução,
aplica todo o teu tempo em tal prática”.
g
(4)
hā! rūpa-gosāi, doyā kori’ kabe,
dibe dine braja-bāsa
192 |
rāgātmika tumi, tava padānuga,
hoite dāsera āśā
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Avidez pelo Serviço Divino
hā – ó; rūpa-gosāi – Rūpa Gosvāmī; doyā – por misericórdia; kori – movido; kabe – quando; dibe – haverás de outorgar; dine – esta pobre alma;
braja-bāsa – residência em Vraja; rāgātmika – um devoto rāgātmika; tumi –
tu; tava – teus; pada – passos; anuga – seguir; hoite – é; dāsera – este humilde servo; āśā – a anelação.
Ó Rūpa Gosvāmī, quando, movido por tua misericórdia
imotivada, haverás de outorgar tua permissão para que
esta pobre alma resida em Vraja? És um devoto rāgātmika,
um associado de Rādhā e Kṛṣṇa eternamente liberado e
possuidor de grande intimidade com o Casal Divino. Tornarse um fiel seguidor de teus passos é pelo que anela este teu
humilde servo.
| 193
Décima Oração
(1)
gurudev!
boḍo kṛpā kori’, gauḍa-vana mājhe,
godrume diyācho sthāna
ājñā dila more, ei braje bosi’,
hari-nāma koro gāna
gurudev – ó meu mestre espiritual; boḍaḥ – imensa; kṛpā – misericórdia; kori –
mostrando; gauḍa-vana – às florestas de Gauḍadeśa; mājhe – em meio; godrume – em Godruma; diyāchaḥ – conferiste-me; sthāna – um local; ājñā –
esta ordem; dila – deste; more – a mim; ei – aqui; braje – em Vraja; bosi – vive;
hari – do Senhor Hari, Kṛṣṇa; nāma – o santo nome; koraḥ gāna – canta.
Ó meu mestre espiritual, mostrando-me imensa
misericórdia, conferiste-me um local para viver em Godruma,
em meio às florestas de Gauḍadeśa, com esta ordem por
cumprir: “Vive aqui nesta terra sagrada de Vraja e canta o
santo nome de Kṛṣṇa”.
g
(2)
kintu kabe prabhu, yogyatā arpibe,
e dāsere doyā kori’
citta sthira habe, sakala sohibo,
ekānte bhajibo hari
| 195
Śaraṇāgati: Devocionário da Rendição Completa
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kintu – não obstante; kabe – quando; prabhu – ó mestre; yogyatā – a qualificação; arpibe – haverás de conferir; e – a este; dāsere – servo; doyā – a
misericórdia; kori – mostrarás; citta – a mente; sthira – serenar-se; habe –
irá; sakala – tudo; sohibaḥ – hei de tolerar; ekānte – com indesviável atenção; bhajibaḥ – adorarei; hari – o Senhor Hari, Kṛṣṇa.
Não obstante, ó mestre, pergunto-me quando haverás de
conferir a este servo a qualificação espiritual para que possa
cumprir tua ordem. Com tua bênção, serenar-se-á minha
mente, hei de tolerar todas as provas e, enfim, adorarei o
Senhor Kṛṣṇa com indesviável atenção.
g
(3)
śaiśava-yauvane, jaḍa-sukha-saṅge,
abhyāsa hoilo manda
nija-karma-doṣe, e deho hoilo,
bhajanera pratibandha
śaiśava – na infância; yauvane – e na juventude; jaḍa-sukha – por prazeres mundanos; saṅge – apego nutrido; abhyāsa – incontáveis; hoilaḥ –
tenho; manda – maus hábitos; nija – de tais; karma – atos; doṣe – desvirtude; e – este; dehaḥ – corpo; hoilaḥ – é; bhajanera – ao serviço devocional;
pratibandha – um impedimento.
Em consequência do apego que nutri na infância e na
juventude aos prazeres mundanos, incontáveis maus
hábitos eu desenvolvi. As reações de tais atos pecaminosos
fazem do meu próprio corpo um impedimento ao serviço
devocional ao Senhor.
g
(4)
vārdhakye ekhona, pañca-roge hata,
kemone bhojibo bolo’
kāṅdiyā kāṅdiyā, tomāra caraṇe,
poḍiyāchi suvihvala
196 |
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Avidez pelo Serviço Divino
vārdhakye – idoso; ekhona – agora; pañca – cinco classes; roge – de doenças; hata – atormentado; kemone – como; bhojibaḥ – haverei de servir o
Senhor; bolo – por favor, responde esta pergunta que faço a ti; kāṅdiyā –
chorando; kāṅdiyā – e chorando; tomāra – teus; caraṇe – aos pés; poḍiyāchi –
caio; su – muito; vihvala – ansioso.
Agora, idoso e atormentado pelas cinco classes de
doenças, como o Senhor haverei de servir? Por favor, ó
mestre, responde esta pergunta que faço a ti! Em meio a meu
choro convulsivo, caio perante teus pés de lótus tomado de
grande ansiedade.
| 197
Décima Primeira Oração
(1)
gurudev!
kṛpā-bindu diyā, koro’ ei dāse,
tṛṇāpekṣā ati hīna
sakala sahane, bala diyā koro’,
nija-māne spṛhā-hīna
gurudev – ó meu mestre espiritual; kṛpā – de misericórdia; bindu – uma
gota; diyā – concede; koro – concede; ei – este; dāse – ao servo; tṛṇa – uma
palha na rua; apekṣā – como; ati – muito; hīna – humilde; sakala – tudo;
sahane – para sobrepujar; bala – a força; diyā – dá; koro – torna; nija māne –
por prestígio; spṛhā – desejo; hīna – sem.
Ó meu mestre espiritual, concede a este servo apenas uma
gota de tua misericórdia e torna-o mais humilde do que a
palha na rua. Dando-lhe a força necessária para sobrepujar
todas as provações, livra este teu servo do desejo por
prestígio.
g
(2)
sakale sammāna, korite śakati,
deho’ nātha! jathājatha
tabe to’ gāibo, hari-nāma-sukhe,
aparādha ha’be hata
| 199
Śaraṇāgati: Devocionário da Rendição Completa
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sakale – todas as entidades vivas; sammāna – mostrar respeito; korite –
procede; śakati – a aptidão; deho – em dar; nātha – ó mestre; jathājatha –
apropriadamente; tabe – então; to – decerto; gāibaḥ – poderei cantar; harināma – o santo nome de Hari, Kṛṣṇa; sukhe – em grande êxtase; aparādha –
as ofensas; ha’be – serão; hata – cessadas.
Ó mestre, inspira-me com a aptidão para mostrar
apropriado respeito por todas as entidades vivas. Somente
após a adoção de tal postura, cessarão todas as minhas ofensas
e poderei cantar em grande êxtase o santo nome de Kṛṣṇa.
g
(3)
kabe heno kṛpā, labhiyā e jana,
kṛtārtha hoibe, nātha!
śakti-buddhi-hīna, āmi ati dīna,
koro’ more ātma-sātha
kabe – quando; henaḥ – essa; kṛpā – misericórdia; labhiyā – recairá; e – sobre
esta; jana – pessoa; kṛtārtha – satisfeito; hoibe – ficará; nātha – ó mestre; śakti –
força; buddhi – e inteligência; hīna – sem; āmi – sou; ati – muito; dīna –
caído; koro – por favor, permite; more – a mim; ātma-sātha – a companhia.
Quando essa misericórdia recairá sobre este que é caído,
fraco e desprovido de inteligência? Fica satisfeito comigo, ó
mestre, e permite que eu seja contigo!
g
(4)
yogyatā-vicāre, kichu nāhi pāi,
tomāra karuṇā-sāra
karuṇā nā hoile, kāṅdiyā kāṅdiyā,
prāṇa nā rākhibo āra
yogyatā – minhas qualidades; vicāre – se examino; kichu – alguma; nāhi –
não; pāi – encontro; tomāra – tua; karuṇā – misericórdia; sāra – tudo; karuṇā –
200 |
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Avidez pelo Serviço Divino
misericórdia; nā – sem; hoile – mostrares; kāṅdiyā – chorarei; kāṅdiyā – e
chorarei; prāṇa – a vida; nā – não; rākhibaḥ – mantarei; āra – ou.
Se me examino, nenhuma qualidade eu encontro. Tua
misericórdia é tudo o que tenho. Se não fores misericordioso
comigo, restar-me-á apenas chorar e não serei capaz de
manter a minha vida.
| 201
Décima Segunda Oração
(1)
gurudev!
kabe mora sei din ha’be
mana sthira kori’, nirjane bosiyā,
kṛṣṇa-nāma gā’bo jabe
saṁsāra-phukāra, kāne nā poṣibe,
deho-roga dūre ro’be
gurudev – ó meu mestre espiritual; kabe – quando; mora – para mim;
sei – esse; din – dia; ha’be – chegará; mana – a mente; sthira – estável;
kori – estando; nirjane – em um local reservado; bosiyā – permanecendo;
kṛṣṇa-nāma – os santos nomes do Senhor Kṛṣṇa; gā’baḥ – cantarei; jabe –
quando; saṁsāra – do mundo material; phukāra – o tumultuoso pandemônio; kāne – no ouvido; nā – não; poṣibe – ecoará; dehaḥ – corpóreas;
roga – doenças; dūre – distantes; ro’be – perder-se-ão.
Ó meu mestre espiritual, quando se fará presente este
aguardado dia? Com a mente estável, haverei de sentar
em um local reservado e cantar o santo nome de Kṛṣṇa. O
tumultuoso pandemônio da existência material não mais
ecoará em meus ouvidos, e as doenças perder-se-ão distantes.
g
(2)
‘hare kṛṣṇa’ boli’, gāhite gāhite,
nayane bohibe lora
| 203
Śaraṇāgati: Devocionário da Rendição Completa
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dehete pulaka, udita hoibe,
premete koribe bhora
hare kṛṣṇa – Hare Kṛṣṇa; boli – proferindo; gāhite – cantando; gāhite – e
cantando; nayane – nos olhos; bohibe – haverão; lora – lágrimas; dehete – no
corpo; pulaka – pelos arrepiados; udita – o levantamento; hoibe – haverá;
premete – no sobrepujante amor divino; koribe – irei; bhora – afogar-me.
Lágrimas de amor hão de cascatear profusamente de
meus olhos sempre que eu cante Hare Kṛṣṇa. Extático
embevecimento se fará sentir em meu corpo, fazendo
meus pelos corpóreos se arrepiarem e meu ser afogar-se no
sobrepujante amor divino.
g
(3)
gada-gada vānī, mukhe bāhiribe,
kāṅpibe śarīra mama
gharma muhur muhuḥ, vivarṇa hoibe,
stambhita pralaya sama
gada-gada – balbuciantes; vānī – as palavras; mukhe – na boca; bāhiribe –
sairão; kāṅpibe – haverá de manifestar tremores; śarīra – o corpo; mama –
meu; gharma – transpiração; muhuḥ – vezes; muhuḥ – e mais vezes; vivarṇa – pálido; hoibe – ficará; stambhita – paralisado; pralaya – uma devastação de amor extático; sama – como.
Minha voz se embargará, permitindo-me apenas palavras
balbuciantes, e meu corpo haverá de manifestar tremores,
constante transpiração, empalidecimento e paralisação. Tudo
isso será como uma devastação de amor extático, o que me
fará desfalecer ao chão.
g
(4)
niṣkapaṭe heno, daśā kabe ha’be,
nirantara nāma gā’bo
204 |
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Avidez pelo Serviço Divino
āveśe rohiyā, deha-yātrā kori’,
tomāra karunā pā’bo
niṣkapaṭe – genuinamente; henaḥ – deste modo; daśā – essa condição; kabe –
quando; ha’be – virá; nirantara – sempre; nāma – o santo nome; gā’baḥ –
hei de cantar; āveśe – em profunda devoção; rohiyā – absorver-me-ei;
deha-yātrā – neste corpo material; kori – permanecendo; tomāra – vossa;
karunā – misericórdia; pā’baḥ – receberei.
Quando chegará o dia em que semelhante êxtase será
genuinamente meu? Constantemente hei de cantar o santo
nome e absorver-me-ei em profunda devoção enquanto de
alguma forma permaneço neste corpo material. Quando
receberei de ti esta misericórdia?
| 205
Décima Terceira Oração
(1)
gurudev!
kabe tava karunā-prakāśe
śrī-gaurāṅga-līlā, hoya nitya-tattwa,
ei dṛḍha viśvāse
‘hari hari’ boli’, godruma-kānane,
bhromibo darśana-āśe
gurudev – ó meu mestre espiritual; kabe – quando; tava – tua; karunāprakāśe – pela manifestação da misericórdia; śrī-gaurāṅga – do Senhor
Caitanya; līlā – os passatempos; hoya – entenderei; nitya-tattwa – uma
realidade eterna; ei – esta; dṛḍha – firme; viśvāse – fé; hari – Hari; hari –
Hari; boli – cantando; godruma-kānane – pelos bosques de Godruma;
bhromibaḥ – vaguearei; darśana – de ver; āśe – com a esperança.
Ó meu mestre espiritual, quando, por tua misericórdia,
terei completa fé de que os passatempos do Senhor Caitanya
é uma realidade eterna? Quando, cantando “Hari! Hari!”,
vaguearei pelos bosques de Godruma com a esperança de
ver tais passatempos?
g
(2)
nitāi, gaurāṅga, adwaita, śrīvāsa,
gadādhara – pañca-jana
| 207
Śaraṇāgati: Devocionário da Rendição Completa
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kṛṣṇa-nāma-rase, bhāsā’be jagat,
kori’ mahā-saṅkīrtana
nitāi – Nityānanda; gaurāṅga – Caitanya; adwaita – Advaita; śrīvāsa –
Śrīvāsa; gadādhara – Gadādhara; pañca-jana – as cinco personalidades
ilustres; kṛṣṇa-nāma – dos santos nomes; rase – com o intoxicante néctar;
bhāsā’be – inundarão; jagat – o universo; kori – fazendo; mahā – grandessíssimo; saṅkīrtana – o canto congregacional do santo nome de Kṛṣṇa.
Nityānanda, Caitanya, Advaita, Śrīvāsa e Gadādhara – são
estas as cinco personalidades ilustres que haverão de inundar
todo o universo com o intoxicante néctar do grandessíssimo
canto congregacional do santo nome de Kṛṣṇa.
g
(3)
nartana-vilāsa, mṛdaṅga-vādana,
śunibo āpana-kāne
dekhiyā dekhiyā, se līlā-mādhurī,
bhāsibo premera bāne
nartana – de divertidas e variadas danças; vilāsa – passatempos; mṛdaṅga –
da mṛdaṅga; vādana – a pulsação rítmica; śunibaḥ – haverei de escutar; āpana –
meus próprios; kāne – com os ouvidos; dekhiyā – vendo; dekhiyā – e vendo;
se – estes; līlā – dos passatempos; mādhurī – a doçura e a beleza; bhāsibaḥ –
deixar-me-ei levar; premera – do amor divino; bāne – pela enchente.
Com meus próprios olhos, haverei de contemplar os passatempos de divertidas danças variadas, e, com meus ouvidos, haverei de escutar a pulsação rítmica da mṛdaṅga. Dando
por inteiro minha atenção à doçura e à beleza de tais passatempos, deixar-me-ei levar pela enchente do amor divino.
g
(4)
nā dekhi’ ābāra, se līlā-ratana,
kāṅdi hā gaurāṅga! boli’
208 |
exemplar gratuito
Avidez pelo Serviço Divino
āmāre viṣayī, pāgala boliyā,
aṅgete dibeka dhūli
nā – não; dekhi – vendo; ābāra – no momento seguinte; se – destes; līlā –
passatempos; ratana – a joia; kāṅdi – hei de prantear; hā – ó; gaurāṅga –
Senhor Caitanya; boli – exclamando; āmāre – me; viṣayī – os materialistas; pāgala – um louco; boliyā – concluindo; aṅgete – sobre os membros;
dibeka – jogarão; dhūli – poeira.
No momento seguinte, despojado da visão de tais
preciosos passatempos, hei de prantear em meio a exclamares:
“Ó Senhor Caitanya!”, e os materialistas concluirão que sou
louco e desprezível.
Neste ponto encerra-se
a seção de nome Bhajana-Lālasā.
| 209
Siddhi-Lalasa:
Avidez pela
Perfeição Espiritual
h
| 211
Primeira Oração
(1)
kabe gaura-vane, suradhunī-taṭe,
‘hā rādhe hā kṛṣṇa’ bole’
kāṅdiyā beḍā’bo, deho-sukha chāḍi’,
nānā latā-taru-tale
kabe – quando; gaura-vane – na terra do Senhor Caitanya; suradhunī-taṭe –
às margens do celestial rio Ganges; hā – ó; rādhe – Rādhā; hā – ó; kṛṣṇa –
Kṛṣṇa; bole – haverei de clamar; kāṅdiyā – chorando; beḍā’baḥ – caminharei; deho-sukha – confortos; chāḍi – olvidado; nānā – várias; latā – trepadeiras; taru – árvores; tale – sob a sombra.
Far-se-á presente o dia em que, às margens do celestial rio
Ganges, caminhando choroso sob a sombra de várias árvores
e trepadeiras da terra de Navadvīpa, simplesmente haverei de
clamar: “Ó Rādha! Ó Kṛṣṇa!”, olvidado de todos os confortos?
g
(2)
śwa-paca-gṛhete, māgiyā khāibo,
pibo saraswatī-jala
puline puline, gaḍā-gaḍi dibo,
kori’ kṛṣṇa-kolāhala
śwa-paca – dos comedores de cachorro; gṛhete – na casa; māgiyā – mendigando; khāibaḥ – comerei; pibaḥ – beberei; saraswatī-jala – a água do rio
| 213
Śaraṇāgati: Devocionário da Rendição Completa
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Sarasvatī; puline – às margens; puline – às margens; gaḍā-gaḍi – rolar pelo
chão; dibaḥ – irei; kori – procederei; kṛṣṇa – do nome de Kṛṣṇa; kolāhala –
com bradejar.
Aquilo que eu mendigue nas casas dos comedores de
cachorro hei de ter por refeição, e a água do rio Sarasvatī
beberei. Arrebatado por interminável enlevo, rolarei ao longo
das margens do rio. “Kṛṣṇa! Kṛṣṇa!” haverei de bradejar em
meu arroubo.
g
(3)
dhāma-bāsī jane, pranati koriyā,
māgibo kṛpāra leśa
vaiṣṇava-caraṇa- reṇu gāya mākhi’,
dhori’ avadhūta-veśa
dhāma – da terra de peregrinação; bāsī – residentes; jane – as pessoas; pranati –
reverências; koriyā – prestando; māgibaḥ – esmolarei; kṛpāra – de graça;
leśa – uma gota; vaiṣṇava – dos vaiṣṇavas; caraṇa – dos pés; reṇu – a poeira;
gāya – sobre o corpo; mākhi – hei de esfregar; dhori – trajarei; avadhūta – de
alguém alheio às convenções sociais; veśa – as vestes.
Curvando-me perante os residentes da terra de
peregrinação, esmolarei uma gota de sua graça. Após vestirme como alguém alheio às convenções sociais, por todo o
meu corpo hei de esfregar a poeira dos pés dos vaiṣṇavas.
g
(4)
gauḍa-braja-jane, bheda nā dekhibo,
hoibo baraja-bāsī
dhāmera swarūpa, sphuribe nayane,
hoibo rādhāra dāsī
gauḍa – de Navadvīpa; braja – de Vrajabhūmi; jane – os moradores; bheda –
diferença; nā – não; dekhibaḥ – verei; hoibaḥ – tornar-me-ei; baraja-bāsī –
214 |
exemplar gratuito
Avidez pela Perfeição Espiritual
um residente de Vraja; dhāmera – da morada do Senhor; swarūpa – a forma; sphuribe – revelar-se-á; nayane – ante os meus olhos; hoibaḥ – tornarme-ei; rādhāra – de Śrīmatī Rādhārāṇī; dāsī – uma criada.
Diferença alguma verei entre os moradores de Vrajabhūmi
e aqueles de Navadvīpa, e, deste modo, tornar-me-ei um
residente de Vraja. Uma vez que se revele ante meus olhos
a morada do Senhor, tornar-me-ei uma criada de Śrīmatī
Rādhārāṇī.
| 215
Segunda Oração
(1)
dekhite dekhite, bhulibo vā kabe,
nija-sthūla-paricoya
nayane heribo, braja-pura-śobhā,
nitya cid-ānanda-moya
dekhite dekhite – em um piscar de olhos; bhulibaḥ – de eu me esquecer; vā –
então; kabe – acontecerá; nija – minha própria; sthūla – material; paricoya –
identidade; nayane – com os olhos; heribaḥ – hei de contemplar; braja-pura –
do reino de Vraja; śobhā – a requintada beleza; nitya – eternidade; cit – conhecimento pleno; ānanda – bem-aventurado; moya – que consiste em.
Chegará o dia em que, em um piscar de olhos, ver-meei esquecido de minha identidade corpórea grosseira? Hei
de contemplar a requintada beleza do reino de Vraja, reino
eterno, pleno de conhecimento e bem-aventurado.
g
(2)
bṛṣabhānu-pure, janama loibo,
yāvaṭe vivāha ha’be
braja-gopī-bhāva, hoibe swabhāva,
āno-bhāva nā rohibe
bṛṣabhānu – do rei Vṛṣabhānu; pure – na cidade; janama – nascimento; loibaḥ – dar-se-á; yāvaṭe – em Yāvaṭa-grāma; vivāha – meu casamento; ha’be –
| 217
Śaraṇāgati: Devocionário da Rendição Completa
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acontecerá; braja-gopī – de uma vaqueirinha de Vraja; bhāva – a disposição; hoibe – será; swabhāva – minha disposição; ānaḥ – outra; bhāva –
identidade; nā – não; rohibe – conhecerei.
Meu nascimento se dará na cidade do rei Vṛṣabhānu;
adiante, serei casada em Yāvaṭa-grāma. Minha única
disposição será de uma vaqueirinha de Vraja, e desconhecerei
qualquer outra disposição.
g
(3)
nija-siddha-deha, nija-siddha-nāma,
nija-rūpa-swa-vasana
rādhā-kṛpā-bale, lobhibo vā kabe,
kṛṣṇa-prema-prakaraṇa
nija – meu; siddha – espiritual e eterno; deha – corpo; nija – meu; siddha –
espiritual e eterno; nāma – nome; nija – minha própria; rūpa – forma;
swa-basana – vestes pessoais; rādhā – da Śrī Rādhā; kṛpā – da misericórdia; bale – pela força; lobhibaḥ – será; vā – então; kabe – quando;
kṛṣṇa-prema – de expressões de amor extático por Kṛṣṇa; prakaraṇa
– técnicas.
Quando, pelo poder da misericórdia de Rādhā, haverei
de conhecer meu corpo espiritual eterno, meu nome eterno,
minha forma eterna e minhas vestes de mesma natureza?
Quando, pelo poder da misericórdia de Rādhā, haverei de
ser iniciado nas técnicas de expressões de amor extático por
Kṛṣṇa?
g
(4)
jamunā-salila- āharaṇe giyā,
bujhibo yugala-rasa
218 |
prema-mugdha ho’ye, pāgalinī-prāya,
gāibo rādhāra yaśa
exemplar gratuito
Avidez pela Perfeição Espiritual
jamunā – do Yamunā; salila – água; āharaṇe – buscar; giyā – indo; bujhibaḥ –
por saber; yugala – do Casal Divino; rasa – as doçuras confidenciais;
prema – pelo amor espiritual; mugdha – em grande encanto; ho’ye – ficarei; pāgalinī-prāya – como uma mulher ensandecida; gāibaḥ – exaltarei;
rādhāra – de Śrī Rādhā; yaśa – as glórias.
Enquanto rumo até o Yamunā a fim de buscar água,
agradecerei a graça de conhecer as doçuras confidenciais que
unem o Casal Divino, Rādhā e Kṛṣṇa. Em grande encanto pelo
amor espiritual, exaltarei, tal qual uma mulher ensandecida,
as glórias de Śrī Rādhā.
| 219
Terceira Oração
(1)
bṛṣabhānu-sutā- caraṇa-sevane,
hoibo ye pālya-dāsī
śrī-rādhāra sukha, satata sādhane,
rohibo āmi prayāsī
bṛṣabhānu – de Vṛṣabhānu; sutā – da filha; caraṇa – aos pés; sevane –
no serviço; hoibaḥ – serei; ye – que; pālya – amparada; dāsī – serva; śrīrādhāra – de Śrī Rādhā; sukha – o comprazimento; satata – sempre; sādhane –
atividade habitual; rohibaḥ – permanecerei; āmi – eu; prayāsī –
esforçando-me.
Por servir os pés de lótus da filha de Vṛṣabhānu,
tornar-me-ei a amparada serva de uma das gopīs de Vraja.
Comprazer a Śrīmatī Rādhārāṇī será sempre a motivação
de todo esforço meu.
g
(2)
śrī-rādhāra sukhe, kṛṣṇaera ye sukha,
jānibo manete āmi
rādhā-pada chāḍi’, śrī-kṛṣṇa-saṅgame,
kabhu nā hoibo kāmī
śrī-rādhāra – de Rādhā; sukhe – o prazer; kṛṣṇaera – de Kṛṣṇa; ye – que;
sukha – regozijo; jānibaḥ – saberei; manete – no íntimo de meu coração;
| 221
Śaraṇāgati: Devocionário da Rendição Completa
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āmi – eu; rādhā-pada – os pés de Śrī Rādhā; chāḍi – desacolhendo; śrīkṛṣṇa – de Śrī Kṛṣṇa; saṅgame – na companhia; kabhu nā – em momento
algum; hoibaḥ – acontecerá; kāmī – de eu desejar.
No íntimo de meu coração, saberei que o prazer de Rādhā
é a única fonte de regozijo a Kṛṣṇa. Por conseguinte, em
momento algum cogitarei desacolher de meu coração os pés
de lótus de Rādhā para desfrutarmos eu e Kṛṣṇa.
g
(3)
sakhī-gaṇa mama, parama-suhṛt,
yugala-premera guru
tad-anugā ho’ye, sevibo rādhāra,
caraṇa-kalapa-taru
sakhī-gaṇa – as amigas; mama – minhas; parama-suhṛt – melhores amigas;
yugala – entre Rādhā e Kṛṣṇa; premera – na temática da união amorosa;
guru – professoras; tad-anugā – seguidor delas; ho’ye – serei; sevibaḥ – hei
de servir; rādhāra – de Rādhā; caraṇa – dos pés de lótus; kalapa-taru – a
árvore-dos-desejos.
As amigas de Śrīmatī Rādhārāṇī são minhas melhores
amigas e minhas professoras na temática da união amorosa
entre Rādhā e Kṛṣṇa. Seguindo o exemplo das sakhīs, hei de
servir os pés de lótus de Rādhā, duas árvores-dos-desejos.
g
(4)
rādhā-pakṣa chāḍi’, ye-jana se-jana,
ye bhāve se bhāve thāke
āmi to’ rādhikā- pakṣa-pātī sadā,
kabhu nāhi heri tā’ke
rādhā – de Rādhā; pakṣa – o grupo; chāḍi – deixando; ye-jana se-jana –
quem quer que; ye – desta; bhāve – posição; se – daquela; bhāve – posição;
222 |
exemplar gratuito
Avidez pela Perfeição Espiritual
thāke – acaso sejam; āmi to – eu; rādhikā – de Rādhārāṇī; pakṣa-pātī –
no grupo; sadā – sempre; kabhu nāhi – jamais; heri – vejo-me; tā’ke – na
companhia.
Sempre a Rādhārāṇī hei de ser parcial, jamais deixando
a companhia de Suas amigas em favor de Suas rivais,
independente de quem acaso sejam.
Neste ponto encerra-se a seção
de nome Siddhi-Lālasā.
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Vijnapti: Confissões
h
| 225
Vijnapti: Confissões
(1)
kabe ha’be bolo se-dina āmār
(āmār) aparādha ghuci’, śuddha nāme ruci,
kṛpā-bale ha’be hṛdoye sañcār
kabe – quando; ha’be – chegará o dia; bolaḥ – dizei-me, por favor; se –
esse; dina – dia; āmār – para mim; āmār – minhas; aparādha – ofensas;
ghuci – destruídas; śuddha – puro; nāme – pelo nome; ruci – gosto; kṛpābale – pelo poder da graça; ha’be – haverá; hṛdoye – no coração; sañcār – a
manifestação.
Quando, oh, quando chegará o dia em que minhas ofensas
cessarão e experimentarei algum gosto pelo santo nome
cantado puramente? Quando, pelo poder da graça divina,
esse gosto será infundido em meu coração?
g
(2)
tṛnādhika hīna, kabe nije māni’,
sahiṣṇutā-guna hṛdoyete āni’
sakale mānada, āpani amānī,
ho’ye āswādibo nāma-rasa-sār
tṛna – do que a palha na rua; adhika – mais; hīna – humilde; kabe – quando; nije – meu; māni – pensamento; sahiṣṇutā – da indulgência; guna – a
virtude; hṛdoyete – em meu peito; āni – acolhendo; sakale – inteiramente;
| 227
Śaraṇāgati: Devocionário da Rendição Completa
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mānada – respeitoso; āpani – pessoal; amānī – sem o desejo por distinção;
ho’ye – haverá; āswādibaḥ – o saborear; nāma – do santo nome; rasa-sār –
do doce néctar.
Quando, oh, quando, sentindo-me inferior à palha na
rua, acolhendo em meu peito a virtude da indulgência,
inteiramente respeitoso para com toda entidade viva e livre
de todo desejo por distinção, a essência do néctar do santo
nome haverei de saborear?
g
(3)
dhana jana āra, kavitā-sundarī,
bolibo nā cāhi deho-sukha-karī
janme janme dāo, ohe gaura-hari!
ahaitukī bhakti caraṇe tomār
dhana – riquezas; jana – seguidores; āra – e; kavitā – poesia mundana; sundarī –
belas mulheres; bolibaḥ – direi; nā – não; cāhi – desejo; dehaḥ – corpóreos;
sukha – prazeres; karī – dando; janme – nascimento; janme – após nascimento; dāaḥ – por favor, dai-me; ohe – ó; gaura-hari – Senhor Caitanya; ahaitukī –
imotivada; bhakti – devoção; caraṇe – aos pés; tomār – Vossos.
Riquezas, seguidores, belas mulheres e poesia mundana –
quando, oh, quando rejeitarei todos esses prazeres corpóreos?
Nascimento após nascimento, por favor, ó Senhor Caitanya,
dai-me a imotivada devoção a Vossos pés de lótus.
g
(4)
(kabe) korite śrī-kṛṣṇa- nāma uccāraṇa,
pulakita deho gadgada vacana
vaivarnya-vepathu, ha’be saṁghaṭana,
nirantara netre ba’be aśru-dhār
kabe – quando; korite – procedendo; śrī-kṛṣṇa – de Śrī Kṛṣṇa; nāma – do
nome; uccāraṇa – com a recitação; pulakita – estremecerá; dehaḥ – o corpo;
228 |
Confissões
exemplar gratuito
gadgada – embargar-se-á; vacana – a voz; vaivarnya – empalidecerei;
vepathu – trêmulo; ha’be – irá; saṁghaṭana – acontecer; nirantara – sempre; netre – nos olhos; ba’be – haverá; aśru – de lágrimas; dhār – rios.
Quando, oh, quando, ao recitar o divino nome de Śrī
Kṛṣṇa, meu corpo estremecerá em êxtase, minha voz se
embargará em emoção, minha tez descolorir-se-á e, deveras
trêmulo, um rio de lágrimas fluirá de meus olhos?
g
(5)
kabe navadwīpe, suradhunī-taṭe,
gaura-nityānanda boli’ niṣkapaṭe
nāciyā gāiyā, beḍāibo chuṭe,
bātulera prāya chāḍiyā vicār
kabe – quando; navadwīpe – na terra de Navadvīpa; suradhunī-taṭe – às
margens do rio Ganges; gaura – Caitanya; nityānanda – Nityānanda; boli –
exclamando; niṣkapaṭe – inocentemente; nāciyā – dançar; gāiyā – e cantar;
beḍāibaḥ chuṭe – irei; bātulera – alguém desapossado de sanidade; prāya –
como; chāḍiyā – indiferente por completo; vicār – à opinião alheia.
Quando, oh, quando, na terra de Navadvīpa, vaguearei
inocentemente pelas margens do rio Ganges a exclamar:
“Caitanya! Nityānanda!”? Chegará o dia em que, indiferente
por completo à opinião alheia, simplesmente dançarei como
alguém desapossado de sanidade?
g
(6)
kabe nityānanda, more kori’ doyā,
chāḍāibe mora viṣayera māyā
diyā more nija- caraṇera chāyā,
nāmera hāṭete dibe adhikār
kabe – quando; nityānanda – o Senhor Nityānanda; more – a mim; kori –
mostrando; doyā – misericórdia; chāḍāibe – livrará; mora – me; viṣayera – da
| 229
Śaraṇāgati: Devocionário da Rendição Completa
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mundanidade; māyā – a ilusão; diyā – dando; more – a mim; nija – Seus;
caraṇera – dos pés; chāyā – a sombra; nāmera – do santo nome; hāṭete – no
mercado; dibe – outorgar-me-á; adhikār – as qualificações.
Quando, oh, quando será o Senhor Nityānanda misericordioso comigo e livrar-me-á da ilusão da mundanidade?
Quando haverá de permitir que eu me acomode sob a sombra de Seus pés de lótus e outorgar-me-á todas as qualificações necessárias para entrar no mercado do santo nome?
g
(7)
kinibo, luṭibo, hari-nāma-rasa,
nāma-rase māti’ hoibo vivaśa
rasera rasika- caraṇa paraśa,
koriyā mojibo rase anibār
kinibaḥ – comprarei; luṭibaḥ – I will recklessly spend; hari-nāma – presentes no nome de Hari, Kṛṣṇa; rasa – as doçuras; nāma-rase – a doçura
do santo nome; māti – embriagando-me; hoibaḥ – haverá; vivaśa – atordoamento; rasera – de tais doçuras; rasika – das personalidades peritas
no saborear; caraṇa – os pés; paraśa – por tocar; koriyā – permanecerei;
mojibaḥ – imerso; rase – no açucarado néctar; anibār – constantemente.
Hei de comprar, a qualquer custo, as doçuras presentes no
nome de Kṛṣṇa. Embriagando-me por inteiro com a bebida
dessas doçuras, atordoar-me-ei. Por tocar os pés daquelas
grandes personalidades peritas no saborear de tais doçuras,
permanecerei constantemente imerso no açucarado néctar
do santo nome.
g
(8)
kabe jīve doya, hoibe udoya,
nija-sukha bhuli’ sudīna-hṛdoya
230 |
bhakativinoda, koriyā vinoya,
śrī-ājñā-ṭahala koribe pracār
exemplar gratuito
Confissões
kabe – quando; jīve – pelas almas caídas; doya – a compaixão; hoibe –
haverá de; udoya – despertar-se; nija – sua pessoal; sukha – felicidade;
bhuli – esquecendo-se; sudīna – manso e humilde; hṛdoya – um coração;
bhakativinoda – Bhaktivinoda; koriyā – procedendo; vinoya – ternamente;
śrī-ājñā – sagrado pedido; ṭahala – indo a vários lugares; koribe – irá;
pracār – pregar.
Quando, oh, quando haverá de se despertar em mim a
compaixão por todas as almas caídas? Quando presente se
fizer semelhante compaixão, Bhaktivinoda se esquecerá de
sua felicidade pessoal e, com um coração manso e humilde,
ocupar-se-á na distribuição do sagrado pedido de Śrī
Caitanya Mahāprabhu, solicitando ternamente que todos
sigam Sua instrução.
Neste ponto encerra-se a seção de nome Vijñapti.
| 231
Srï Nama-Mahatmya:
As Glórias do Santo Nome
h
| 233
Sri Nama-Mahatmya:
As Glórias do Santo Nome
(1)
kṛṣṇa-nāma dhare koto bal
viṣaya-vāsanānale, mora citta sadā jwale,
ravi-tapta maru-bhūmi-sam
karna-randhra-patha diyā, hṛdi mājhe praveśiyā,
variṣoya sudhā anupam
kṛṣṇa – de Kṛṣṇa; nāma – o nome; dhare – possui; kotaḥ – que; bal – poder;
viṣaya – mundanos; vāsanā – dos desejos; anale – no incêndio; mora –
meu; citta – coração; sadā – sempre; jwale – arde; ravi – pelos escaldantes
raios do Sol; tapta – ressecado; maru – deserta; bhūmi – terra; sam – como;
karna – ouvidos; randhra – abrindo; patha – caminho; diyā – dando; hṛdi –
do coração; mājhe – no âmago; praveśiyā – entrando; variṣoya – faz chover; sudhā – néctar; anupam – inigualável.
Que poder possui o nome de Kṛṣṇa? Meu coração constantemente arde no incêndio dos desejos mundanos, como
um deserto ressecado pelos escaldantes raios do Sol. O santo nome, entrando no âmago de meu coração através de
meus ouvidos, faz chover uma torrente de néctar em minha
alma.
g
(2)
hṛdoya hoite bole, jihvāra agrete cale,
śabda-rūpe nāce anukṣan
| 235
Śaraṇāgati: Devocionário da Rendição Completa
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kanṭhe mora bhaṅge swara, aṅga kāṅpe thara thara,
sthira hoite nā pāre caraṇ
hṛdoya – meu coração; hoite – do; bole – parte o canto; jihvāra – de minha
língua; agrete – à ponta; cale – ascende; śabda-rūpe – na forma do som
transcendental; nāce – coloca-se a dançar; anukṣan – continuamente;
kanṭhe – na garganta; mora – minha; bhaṅge – embarga-se; swara – o som;
aṅga – membros; kāṅpe – estremecem; thara – vezes; thara – e mais vezes;
sthira – de ficar parados; hoite – são; nā – não; pāre – capazes; caraṇ – os
pés.
O canto do santo nome parte de meu coração, ascende à
ponta de minha língua e coloca-se a dançar continuamente
sobre ela na forma do som transcendental. Minha voz se
embarga, meu corpo estremece vezes e mais vezes, e meus
pés são incapazes de não dançar.
g
(3)
cakṣe dhārā, dehe gharma, pulakita saba carma,
vivarna hoilo kalevara
mūrchita hoilo man, pralayera āgaman,
bhāve sarva-deha jara jara
cakṣe – nos olhos; dhārā – rios; dehe – no corpo; gharma – transpiração;
pulakita – pelos eriçados; saba – toda; carma – a pele; vivarna – pálido;
hoilaḥ – fica; kalevara – o corpo; mūrchita – desmaiada; hoilaḥ – fica; man –
a mente; pralayera – a devastação; āgaman – chega; bhāve – por emoções
extáticas; sarva-deha – todo o corpo; jara jara – esmagado.
Fluem de meus olhos lágrimas como as águas de um
rio, molha todo o meu corpo meu transpirar, arrepios
varrem-me por inteiro e fazem os pelos de meu corpo se
eriçarem. Empalidecido pelo arrebatamento, adorna-me
a inconsciência, devasta-me o enlevo, e um sem-fim de
emoções extáticas vejo esmagar todo o meu corpo.
236 |
g
As Glórias do Santo Nome
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(4)
kori’ eto upadrava, citte varṣe sudhā-drava,
more ḍāre premera sāgare
kichu nā bujhite dilo, more to’ bātula koilo,
mora citta-vitta saba hare
kori – enquanto promove; etaḥ – essas; upadrava – perturbações extáticas;
citte – em meu coração; varṣe – derrama; sudhā-drava – néctar; more – me;
ḍāre – faz afogar; premera – de amor; sāgare – em um oceano; kichu – algo;
nā – não; bujhite – compreender; dilaḥ – permite-me; more – de mim; to –
deveras; bātula – alguém louco; koilaḥ – fez; mora – minha; citta – mente;
vitta – e recursos; saba – todos; hare – roubando.
Enquanto promove toda essa perturbação extática, o
santo nome derrama néctar em meu coração e faz-me afogar no oceano sem margens do amor a Deus. Nada o santo
nome permite-me compreender, pois, roubando a minha
mente e todos os meus recursos, fez deste homem alguém
deveras louco.
g
(5)
loinu āśroya jā’r, heno vyavahāra tā’r,
varnite nā pāri e sakal
kṛṣṇa-nāma icchā-moy, jāhe jāhe sukhī hoy,
sei mora sukhera sambal
loinu – aceitei; āśroya – refúgio; jā’r – daquele em quem; henaḥ – eis;
vyavahāra – a conduta; tā’r – de tal indivíduo; varnite – de descrever; nā –
não; pāri – sou capaz; e – isto; sakal – tudo; kṛṣṇa-nāma – o santo nome
de Kṛṣṇa; icchā-moy – é independente para agir como queira; jāhe jāhe –
qualquer proceder; sukhī – que lhe leve felicidade; hoy – que seja; sei –
esse; mora – minha; sukhera – da felicidade; sambal – o caminho.
Eis a conduta daquele em quem aceitei refúgio. Incapaz
sou eu de tudo isto descrever. O santo nome de Kṛṣṇa é
independente, motivo pelo qual pode se comportar tal como
queira. Qualquer que seja o proceder que lhe leve felicidade,
também é esse o caminho da felicidade minha.
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Śaraṇāgati: Devocionário da Rendição Completa
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(6)
premera kalikā nām, adbhuta rasera dhām,
heno bala karaye prakāś
īṣat vikaśi’ punaḥ, dekhāy nija-rūpa-guna,
citta hari’ loya kṛṣṇa-pāś
premera – do amor divino; kalikā – o rebente; nām – o santo nome; adbhuta –
estonteantes; rasera – das doçuras; dhām – a morada; henaḥ – tamanho;
bala – o poder; karaye prakāś – manifesto; īṣat – leve; vikaśi – desabrochar;
punaḥ – novamente; dekhāy – revelam-se; nija – suas; rūpa – forma; guna –
e qualidades; citta – o coração; hari loya – leva embora; kṛṣṇa-pāś – para
Kṛṣṇa.
O santo nome é o rebento do amor divino e é a própria
morada das mais estonteantes doçuras. Tamanho é o
poder manifesto pelo santo nome que, tão logo começa
a desabrochar, revelam-se sua sublime forma e divinas
qualidades. Diretamente para Kṛṣṇa, em seguida, leva o
santo nome o meu coração.
g
(7)
pūrna vikaśita hoiyā, braje more jāya loiyā,
dekhāy more swarūpa-vilās
more siddha-deha diyā, kṛṣṇa-pāśe rākhe giyā,
e dehera kore sarva-nāś
pūrna – plenamente; vikaśita – desabrochada; hoiyā – estando; braje – a
Vraja; more – me; jāya loiyā – conduz-me; dekhāy – mostra; more – me;
swarūpa-vilās – gracejoso amor; more – a mim; siddha-deha – o corpo espiritual; diyā – desvela-me; kṛṣṇa – de Kṛṣṇa; pāśe – ao lado; rākhe giyā –
mantém-me; e – esta; dehera – da estrutura mortal; kore – procede; sarva –
completa; nāś – com a destruição.
238 |
Plenamente desabrochada, a flor do santo nome conduzme a Vraja e mostra-me seu gracejoso amor. O nome
As Glórias do Santo Nome
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desvela-me o corpo espiritual que me cabe, mantém-me ao
lado de Kṛṣṇa e destrói completamente tudo relacionado a
esta minha estrutura mortal.
g
(8)
kṛṣṇa-nāma-cintāmaṇi, akhila rasera khani,
nitya-mukta śuddha-rasa-moy
nāmera bālāi jata, saba lo’ye hoi hata,
tabe mora sukhera udoy
kṛṣṇa-nāma – o nome de Kṛṣṇa; cintāmaṇi – uma pedra filosofal; akhila
– todas; rasera – as doçuras transcendentais; khani – uma mina; nitya –
eternamente; mukta – liberado; śuddha – imaculadas; rasa – disposições
amorosas; moy – constitui-se; nāmera – ao cantar puro do santo nome;
bālāi – os impedimentos; jata – presentes; saba – todos; lo’ye – conseguir;
hoi – eu; hata – destruídos; tabe – então; mora – minha; sukhera – da felicidade; udoy – o despertar.
O nome de Kṛṣṇa é uma pedra filosofal, uma mina
de todas as doçuras devocionais. O nome é eternamente
liberado e é a corporificação das disposições amorosas
imaculadas. Quando forem removidos e aniquilados todos
os impedimentos ao cantar puro do santo nome, então minha
felicidade há de conhecer seu verdadeiro despertar.
Neste ponto encerra-se a obra de nome Śaraṇāgati,
de Śrīla Bhaktivinoda Ṭhākura.
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A Vida de
Srïla Bhaktivinoda Thakura
Śrīla Bhaktivinoda Ṭhākura, nascido no ano de 1838, em
Birnagar, Bengala Ocidental, como Kedāranātha Datta, é um proeminente preceptor ācārya da sucessão discipular que começa com o
próprio Kṛṣṇa e a que pertence a ISKCON.
Líder espiritual pioneiro, chefe de família, magistrado trabalhando na Índia colonial sob o regime britânico, prolífico pregador, escritor e poeta, Bhaktivinoda Ṭhākura escreveu muitos
livros de poesia e filosofia, como este Śaraṇāgati e o Jaiva Dharma,
e comentou obras clássicas, como o Bhagavad-gītā e o Caitanyacaritāmṛta, reintroduzindo assim os ensinamentos puros do
Senhor Caitanya em um contexto histórico no qual estavam praticamente perdidos.
Correspondeu-se com filósofos, teólogos, líderes políticos, estudiosos em geral e professores de seu tempo, e enviou livros, como
sua obra A Vida e os Preceitos do Senhor Caitanya, para bibliotecas
universitárias de países estrangeiros, plantando a semente de um
movimento consciente de Kṛṣṇa mundial.
Foi Bhaktivinoda Ṭhākura que redescobriu e escavou o local
do nascimento do Senhor Caitanya. Posteriormente, enquanto
olhava da janela de sua casa para o local do nascimento de Sua
Onipotência, ele teve a visão de que pessoas de todas as nações
logo se reuniriam harmoniosamente para cantar os bem-aventurados nomes de Kṛṣṇa, o que se concretizou anos mais tarde em decorrência do empenho de seu discípulo-bisneto A.C. Bhaktivedanta
Swami Prabhupāda.
Juntamente com sua devotada esposa, Bhagavatī-devī, ele criou
dez filhos, dentre os quais se destaca o ilustre Bhaktisiddhānta
Sarasvatī Ṭhākura, que se tornaria um grande líder espiritual em
| 241
Śaraṇāgati: Devocionário da Rendição Completa
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seu tempo e o mestre espiritual do ācārya-fundador da ISKCON,
Śrīla Prabhupāda.
Acima de tudo, Bhaktivinoda Ṭhākura ensinou a devoção a
Kṛṣṇa por meio de seu exemplo pessoal. A história de sua vida, brevemente apresentada a seguir, demonstra uma incomum soma de
coragem, caráter e perseverança. De muitas maneiras, aqueles que
hoje se sentem atraídos por Kṛṣṇa têm uma grande dívida para com
Śrīla Bhaktivinoda Ṭhākura, pois foi ele quem idealizou e estabeleceu a fundação para o atual movimento da consciência de Kṛṣṇa.
Cronologia da Vida de Bhaktivinoda Ṭhākura
1486. Nasce o avatar de Kṛṣṇa de nome Śrī Caitanya Mahāprabhu,
que inaugurou o Movimento Hare Kṛṣṇa na Bengala, Índia. O movimento, baseado em antigas escrituras devocionais na língua sânscrita, como o Bhagavad-gītā e o Śrīmad-Bhāgavatam, difundiu-se por toda
a Índia em curtíssimo tempo. Ele popularizou o saṅkīrtana, o canto
congregacional dos santos nomes de Deus, sobretudo no mahā-mantra Hare Kṛṣṇa, Hare Kṛṣṇa, Kṛṣṇa Kṛṣṇa, Hare Hare/ Hare Rāma,
Hare Rāma, Rāma Rāma, Hare Hare, como o meio mais prático para
se conhecer Deus e nosso relacionamento com Ele, especialmente na
era atual, caracterizada pelo declínio de virtudes no homem.
1750. Dois séculos mais tarde, a influência do Movimento Hare
Kṛṣṇa viu-se minguar. Seitas de pseudodevotos, como os sahajiyās
e grupos similares, tornaram-se proeminentes. Professando amor
por Deus, porém agindo de maneira baixa e imoral, esses grupos
levaram má reputação ao puro movimento iniciado por Caitanya
Mahāprabhu.
1838. Śrīla Bhaktivinoda Ṭhākura, que recebeu de seus pais o
nome de Kedāranātha Datta, nasceu em circunstâncias abastadas
em Birnagar, também conhecida como Ulāgrāma, no distrito de
Nadīyā, Bengala Ocidental. Foi o sétimo filho de Raja Kṛṣṇānanda
Datta, um grande devoto do Senhor Nityānanda, principal companheiro de Caitanya Mahāprabhu. Ficaria conhecido como daityakulera prahlāda, em referência ao grande e histórico devoto Prahlāda,
cujo pai era avesso aos devotos de Kṛṣṇa, pois a devoção a Kṛṣṇa
não era muito respeitada pela família de Bhaktivinoda.
Sua infância se desenrolou na mansão de seu avô materno em
Birnagar. Seu ambiente, neste tempo, era muito opulento. Recebeu
sua educação elementar na escola primária fundada por sua avó.
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A Vida de Śrīla Bhaktivinoda Ṭhākura
Posteriormente, frequentou uma escola inglesa em Krishnanagar,
iniciada pelo rei de Nadīyā.
1849. Quando tinha onze anos de idade, seu pai faleceu.
Subsequentemente, a concessão de direitos sobre o terreno que havia sido conferido à sua avó mudou de proprietário, em virtude do
que a família se empobreceu.
1850. Aos doze anos, sua mãe fez, seguindo os costumes da época, os arranjos para seu futuro casamento com a filha de cinco anos
de Madhusūdana Mitra Mahāśaya, um residente de Rāṇāghāṭa. Por
volta deste tempo, seu tio, Kāśīprasāda Ghoṣa Mahāśaya, que dominara a língua inglesa sob a tutela da educação britânica, educou
o jovem Kedāranātha Datta em sua casa em Calcutá. Kāśīprasāda
era uma figura central nos círculos literários de seu tempo, sendo o
editor do Hindu Intelligencer. Kedāranātha auxiliava seu tio selecionando artigos apropriados para publicar no jornal, estudava seus
livros e frequentava a biblioteca pública. Posteriormente, matriculou-se na Hindu Charitable Institution, de Calcutá, onde concluiu
o ensino médio.
1856. Com a idade de dezoito anos, Kedāranātha Datta ingressou
no ensino superior, também em Calcutá. Começou a escrever proliferamente em inglês e bengali. Estudou literatura inglesa e ensinou
oratória a um homem que posteriormente se tornou um orador bem
conhecido no Parlamento Britânico. Entre os anos de 1857 e 1858,
deu início à composição de um épico em língua inglesa intitulado
The Poriade, o qual descreveria a vida de Poro, rei que enfrentou
Alexandre, o Grande. O épico, cuja conclusão se daria em doze volumes, foi interrompido, tendo sido escritos apenas dois volumes.
Neste período, revelou-se muito afeito à teologia cristã, considerando-a mais interessante e menos ofensiva do que linha
do monismo hindu, a conclusão filosófica advaita-vedānta de
Śaṅkarācārya. Dedicava horas de seu dia a comparar os escritos
de Channing, Theodore Parker, Emerson e Newman. Na BritishIndian Society, palestrou sobre a evolução da matéria através do
modo material da bondade. Dvijendranatha Tagore foi o melhor
amigo de Kedāranātha Datta durante seus anos escolares, e auxiliou Kedāranātha Datta em seus estudos da literatura religiosa ocidental. Afetuosamente, Kedāranātha Datta costumava chamá-lo de
baro dada, ou “irmão mais velho”.
1858. Kedāranātha Datta retornou a Birnagar e encontrou sua
vila nativa quase inteiramente abandonada e em ruínas. Uma
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Śaraṇāgati: Devocionário da Rendição Completa
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epidemia de cólera havia matado grande parte dos habitantes, inclusive muitos de seus parentes. Retornou a Calcutá com os dois
membros sobreviventes de sua família: sua mãe e sua avó paterna.
Atendendo ao último pedido de seu avô, submeteu-se a uma peregrinação e viajou a todos os monastérios e templos no estado da
Orissa.
Como um jovem chefe de família, Śrīla Bhaktivinoda Ṭhākura
começou a considerar acerca da questão de qual seria seu meio de
subsistência. Ele não tinha interesse nas atividades de comércio,
pois havia visto como a desonestidade aparentemente necessária
no mundo comercial enfraquecera moralmente a classe mercantil.
Ele decidiu, então, tornar-se professor, estabelecendo uma escola
para ensino em língua inglesa na vila de Kendrapara, Orissa. Após
algum tempo, foi para Purī e foi aprovado em uma seleção de professores. Obteve o posto de professor em uma escola em Cuttack.
Posteriormente, tornou-se diretor de uma escola em Bhadraka, e,
então, em Medinīpura. Sua dedicação foi notada pelas autoridades
do conselho escolar.
1860. Em Bhadraka, nasceu seu primeiro filho, Annada Prasāda
(Acyutānanda). Infelizmente, a esposa de Kedāranātha faleceu durante o parto. Algum tempo depois, casou-se com Bhagavatī-devī.
Escreveu um livro em inglês que descrevia todos os āśramas e templos no estado da Orissa, os quais ele havia visitado pessoalmente.
Durante seu posto como diretor da escola de ensino médio em
Medinīpura, Kedāranātha Datta analisou a filosofia e as práticas
de várias seitas religiosas e pôde constatar que as pessoas em geral
adotavam práticas religiosas de maneira muito barata. Foi durante
tais análises que compreendeu a importância ímpar do movimento
de saṅkīrtana, a difusão do amor a Deus através do cantar de Seus
santos nomes e do serviço devocional, movimento este estabelecido na Bengala pelo Senhor Caitanya Mahāprabhu. Infelizmente,
nesse contexto histórico, o movimento do Senhor Caitanya não estava bem representado. Kedāranātha Datta iniciou uma investida
contra aqueles que estavam poluindo os ensinamentos de Caitanya
e que, sobretudo por sua ousadia, haviam se tornado conhecidos
pelo público como representantes da linhagem vaiṣṇava gauḍīya, o
ramo vaiṣṇava na escola de Caitanya.
1861. Kedāranātha Datta aceitou o posto de magistrado adjunto
no governo da Bengala. Posteriormente, ao ver a corrupção dos funcionários do governo, tornou-se cobrador de taxas alfandegárias.
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A Vida de Śrīla Bhaktivinoda Ṭhākura
Estabeleceu uma organização chamada Bhratri Samaj, escreveu
um livro em inglês chamado Our Wants, construiu uma casa em
Rāṇāghāṭa e compôs dois poemas narrativos em bengali: Vijanagrāma (Vila Abandonada) e Sannyāsī (Renunciante), os quais foram
aclamados pelos críticos.
1866. Kedāranātha obteve a posição de registrador adjunto com
o poder de um cobrador adjunto e de um magistrado adjunto no
distrito de Chapara. Tornou-se fluente em persa e urdu. Foi bemsucedido em apaziguar disputas entre fazendeiros do ramo de ervas de chá e ajudou a conseguir auxílio público para a construção
de uma escola para o ensino de nyāya-śāstra, textos sagrados que
verificam o conhecimento através de lógica e argumentação. Foi
transferido para Purniya, onde se encarregou dos departamentos
governamental e judicial.
1868. Tornou-se magistrado adjunto em Dinājapura, Bengala
Ocidental, o cargo mais elevado no governo que um indiano poderia assumir durante o regime britânico. Neste período, ele finalmente pôde procurar por raras cópias das escrituras sagradas
Śrīmad-Bhāgavatam, que descreve os passatempos de Kṛṣṇa e de
Seus companheiros, e Caitanya-caritāmṛta, uma biografia de Śrī
Caitanya Mahāprabhu. Leu o Caitanya-caritāmṛta repetidamente. Sua fé cresceu até que se absorveu na escritura sagrada dia e
noite. Passou a incessantemente oferecer orações de grande sinceridade pedindo pela misericórdia do Senhor. Foi nesta época que
compreendeu a suprema majestade e onipotência da Absoluta
Personalidade de Deus, Śrī Kṛṣṇa, e Sua encarnação na era atual,
Śrī Caitanya Mahāprabhu. Publicou uma canção sobre o Senhor
Caitanya intitulada “Sac-cid-ānanda-premālaṅkara”.
1869. Enquanto servia como magistrado sob o governo da
Bengala, em Dinājapura, fez um discurso na forma de um tratado
que havia escrito sobre o Śrīmad-Bhāgavatam. Seu público foi uma
grande congregação de homens proeminentes e eruditos de muitas
partes da Índia e da Inglaterra.
Foi transferido para Camparana, onde nasceu seu segundo filho,
Rādhikā Prasāda. Em Camparana, as pessoas costumavam adorar
um fantasma em uma figueira-de-bengala. O tal espírito tinha o
poder de influenciar a mente do juiz local de modo que seu parecer fosse favorável àqueles que o adoravam. Śrī Kedāranātha Datta
aconselhou a um estudioso local que lesse o Śrīmad-Bhāgavatam
debaixo da árvore continuamente, dia e noite. Após um mês, a árvore caiu ao solo, e muitas pessoas viram sua fé na mensagem do
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Śaraṇāgati: Devocionário da Rendição Completa
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Śrīmad-Bhāgavatam se renovar.
De Camparana, mudou-se para a cidade sagrada de Jagannātha
Purī, na Orissa, o que levou ilimitada felicidade ao seu coração.
1873. Próximo à capital da Orissa, na cidade de nome Kamanala,
vivia um yogī místico chamado Bisakisena, que se inclinava para
dentro de uma fogueira e, então, retornava para uma postura ereta.
Deste modo, ele repetidamente se colocava dentro da fogueira e se
afastava. Mediante os poderes místicos que adquirira, ele também
podia produzir fogo a partir de sua cabeça. Ele tinha dois companheiros, que se diziam Brahmā e Śiva, ao passo que ele afirmava
ser Mahā-Viṣṇu. Juntos, eles eram a divina trindade descrita nas
escrituras, trindade esta responsável por criar, manter e destruir o
Universo material. Alguns dos reis menores da Orissa se deixaram
influenciar e estavam provendo fundos para a construção de um
templo. Eles também lhe enviavam mulheres. Bisakisena declarava que tiraria os britânicos do governo da Orissa e se tornaria o
rei. Ele publicou tais declarações, as quais circularam por toda a
Orissa. Os ingleses consideraram-no um revolucionário por se pronunciar contra o regime da coroa britânica, em decorrência do que
o governador de distrito da Bengala decretou-lhe ordem de prisão.
Contudo, ninguém se atreveu a cumprir essas ordens, temendo os
poderes místicos de Bisakisena.
O Sr. Ravenshaw, comissário distrital da Orissa, solicitou
a Śrī Kedāranātha Datta que levasse Bisakisena em juízo. Śrī
Kedāranātha Datta foi ver pessoalmente Bisakisena. O yogī exibiu
alguns poderes místicos que normalmente assustariam um homem comum e informou a Kedāranātha Datta que ele sabia muito
bem quem ele era e que uma vez que ele, Bisakisena, era o Senhor
Supremo, Kedāranātha não deveria interferir em seus planos. Isso
foi suficiente para Śrī Kedāranātha Datta, que respondeu reconhecendo as perfeições que Bisakisena havia logrado em yoga e tantra
e solicitando-lhe que fosse a Purī, onde poderia receber as bênçãos
de Jagannātha, a famosa Deidade de Kṛṣṇa lá. Bisakisena respondeu com arrogância: “Por que eu deveria ir ver Jagannātha? Ele é
apenas um pedaço de madeira; eu sou o Supremo em pessoa”. Śrī
Kedāranātha Datta ficou furioso. Ele prendeu o enganador, levou-o
para Purī e o encarcerou. Na prisão, três dúzias de condestáveis e
setenta e dois policiais tomavam conta dele.
O destemido Kedāranātha Datta levou Bisakisena em juízo em
Purī. O julgamento durou dezoito dias, ao longo dos quais milhares de pessoas sobre as quais ele tinha controle protestaram fora
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A Vida de Śrīla Bhaktivinoda Ṭhākura
da sala do tribunal exigindo a soltura de Bisakisena. No sexto dia
do julgamento, Kādambinī, filha de Kedāranātha Datta, ficou gravemente doente e quase morreu. Śrī Kedāranātha Datta sabia que
aquilo decorria do poder do yogī tântrico. Ele disse: “Sim, que todos
nós morramos, mas esse sujeito infame tem de ser punido”. No dia
seguinte, na corte, o yogī disse que havia mostrado seu poder e iria
mostrar muito mais. Ele sugeriu que Kedāranātha Datta deveria
libertá-lo imediatamente ou sofreria misérias piores.
No último dia do julgamento, o próprio Kedāranātha Datta foi
vitimado por febre alta e sofreu tal qual sua filha sofrera. O determinado Kedāranātha, no entanto, condenou o homem e o sentenciou a dezoito meses de prisão por conspiração política. Quando
Bisakisena estava sendo preparado para ir para a cadeia, o médico
assistente distrital cortou todo o seu cabelo. Aparentemente, o yogī
dependia de seu cabelo longo para ter poderes. Ele não havia bebido ou ingerido algo sólido ao longo de todo o julgamento, em
razão do que, ante o corte de seu cabelo, ele caiu ao chão como
um cadáver e teve de ser levado para a prisão com a ajuda de uma
maca. Após três meses, foi transferido para o presídio central de
Midnapura, onde suicidou mediante a ingestão de veneno.
Em Purī, Śrī Kedāranātha Datta estudou o Śrīmad-Bhāgavatam
com o comentário de Śrīdhara Svāmī. Ele também fez uma cópia
manuscrita do Ṣaṭ-sandarbha, de Jīva Gosvāmī, além de um estudo
especial da obra Bhakti-rasāmṛta-sindhu, de Rūpa Gosvāmī.
1874-1893. Durante estes anos, Bhaktivinoda Ṭhākura passou
muito de seu tempo cantando os santos nomes em reclusão, embora continuasse cumprindo seus deveres ordinários. Escreveu vários
livros em sânscrito, incluindo o Śrī Kṛṣṇa Saṁhitā, o Tattva-sūtram e
o Tattva-Viveka. Escreveu muitos livros em bengali, como o Kalyāṇakalpataru. Em 1874, compôs o Datta-kaustubha, em sânscrito.
Enquanto em Purī, estabeleceu uma sociedade para discussões vaiṣṇavas conhecida como Bhāgavata-saṁsat, nos jardins
Jagannātha-vallabha, onde o santo Śrī Rāmānanda Rāya, um
devoto contemporâneo de Śrī Caitanya, realizava sua adoração.
Todos os vaiṣṇavas proeminentes da época juntaram-se a esse
grupo de Kedāranātha, exceto um bābājī de nome Raghunātha
Dāsa. Ele considerava que Śrīla Bhaktivinoda Ṭhākura era desautorizado, uma vez que não usava os costumeiros símbolos
religiosos kaṇṭhi-mālā no pescoço e as marcas de tilaka na testa. Ademais, o bābājī aconselhava outros vaiṣṇavas a evitarem a
companhia de Śrīla Bhaktivinoda Ṭhākura. Pouco tempo depois
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Śaraṇāgati: Devocionário da Rendição Completa
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de assumir esta postura, Raghunātha Dāsa Bābājī contraiu uma
doença mortal. Em um sonho, Deus como o Senhor Jagannātha
apareceu para ele e disse-lhe que orasse pela misericórdia de
Bhaktivinoda Ṭhākura caso ele tivesse interesse em se livrar da
doença e da morte que certamente decorreria da mesma. Ele
assim procedeu. Bhaktivinoda Ṭhākura ministrou-lhe medicamentos especiais e o curou. Mediante tal evento, Raghunātha
Dāsa Bābājī conscientizou-se da elevada posição espiritual de
Bhaktivinoda Ṭhākura.
Śrī Svarūpa Dāsa Bābājī, que realizava sua adoração em
Satasana, próximo ao oceano em Purī, mostrava grande afeição por
Śrīla Bhaktivinoda Ṭhākura e deu-lhe profundas instruções sobre o
cantar dos santos nomes, além de ter compartilhado com ele suas
experiências pessoais.
Caraṇa Dāsa Bābājī pregou verbalmente e publicou livros aconselhando que se deveria cantar o mahā-mantra Hare Kṛṣṇa em meditação pessoal, japa, mas, em canto público, kīrtana, dever-se-ia
cantar o mantra composto dos nomes nitāi gaura rādhe śyāma japa
hare kṛṣṇa hare rāma. Śrīla Bhaktivinoda Ṭhākura pregou para ele
demorada e severamente, tentando convencê-lo a parar de difundir
esse mantra desautorizado. Por fim, Caraṇa Dāsa Bābājī caiu em si
e pediu perdão a Śrīla Bhaktivinoda Ṭhākura, admitindo seu erro.
Seis meses mais tarde, Caraṇa Dāsa Bābājī enlouqueceu e morreu
em grande aflição.
Śrīla Bhaktivinoda Ṭhākura era um dos estudiosos devocionais mais destacados de seu tempo, apesar do que ele sempre se
apresentava humildemente como um insignificante mensageiro de
Deus.
Śrīla Bhaktivinoda Ṭhākura tornou-se presidente do complexo
do templo de Jagannātha Purī. Ele utilizava seus poderes governamentais para estabelecer regularidade na adoração à Deidade. No
pátio do templo, ele estabeleceu um bhakti-maṇḍapa, onde se realizavam palestras diárias sobre o Śrīmad-Bhāgavatam. Śrīla Bhaktivinoda
Ṭhākura passava longas horas discutindo sobre Kṛṣṇa e o cantar do
santo nome, especialmente no templo de Ṭoṭā-gopīnātha, na tumba
do grande santo Haridāsa Ṭhākura, sob a sagrada árvore Siddha
Bakula e no templo Gambhīrā. Fez notas sobre o Vedānta-sūtra, e
essas notas foram utilizadas por Śrī Śyāmalāla Gosvāmī quando
publicou o comentário de Baladeva Vidyābhūṣaṇa ao Vedānta-sūtra,
de nome Govinda-bhāṣya.
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A Vida de Śrīla Bhaktivinoda Ṭhākura
1874. Próximo aos jardins Jagannātha-vallabha, nasceu o quarto filho de Bhaktivinoda Ṭhākura, uma resposta à sua oração ao
Senhor de que enviasse um “raio de Viṣṇu” para pregar a mensagem de Śrī Caitanya Mahāprabhu pelo mundo inteiro. A criança recebeu o nome Bimala Prasāda e, posteriormente, seria conhecida como o grande estudioso e líder espiritual vaiṣṇava Śrīla
Bhaktisiddhānta Sarasvatī, o mestre espiritual de Sua Divina Graça
A.C. Bhaktivedanta Swami Prabhupāda.
Quando Bimala Prasāda tinha seis meses de idade, o carro do
Senhor Jagannātha ficou parado por três dias em frente à casa de
Śrīla Bhaktivinoda Ṭhākura, em Purī, durante a tradicional procissão
de Ratha-yātrā. Bhaktivinoda pediu à sua esposa, Bhagavatī-devī,
que levasse a criança até o Senhor Jagannātha, para que Ele a visse e abençoasse. Quando ela colocou o bebê diante do Senhor, uma
guirlanda dEle caiu e cingiu o garotinho, e a cerimônia em que o
bebê come grãos pela primeira vez foi realizada nessa época, com
alimento santificado, prasāda, do Senhor Jagannātha. Bimala Prasāda
permaneceu em Purī por dez meses após seu nascimento, e então sua
família se mudou com ele para a Bengala, onde passou sua infância
em Rāṇāghāṭa, ouvindo de sua mãe tópicos sobre Śrī Kṛṣṇa.
Śrīla Bhaktivinoda Ṭhākura e sua esposa eram ortodoxos e
virtuosos; eles jamais permitiam que seus filhos comessem algo
que não fosse prasāda, alimento sagrado preparado e oferecido ao
Senhor, tampouco lhes permitiam más companhias. Um dia, quando Bimala Prasāda ainda era uma criancinha de não mais do que
quatro anos, seu pai o censurou levemente por ter comido uma
manga que ainda não havia sido devidamente oferecida ao Senhor
Kṛṣṇa. Bimala Prasāda, embora apenas uma criança, considerou-se
um ofensor ao Senhor e fez o voto de nunca mais comer manga
novamente. Este voto foi honrado por toda a sua vida.
Quando Bimala Prasāda chegou aos sete anos de idade, ele já
havia memorizado todo o Bhagavad-gītā, além de poder explicar
seus versos apresentando maravilhosos significados. Seu pai, então, começou a treiná-lo em revisão de provas e impressão, em conjunto com a equipe de publicação da revista vaiṣṇava Sajjana-toṣaṇī.
Neste período, Bhaktivinoda Ṭhākura descobriu que o rei de Purī
havia se apropriado indevidamente de oitenta mil rúpias. O dinheiro
pertencia ao templo, de modo que Bhaktivinoda Ṭhākura forçou o
rei a oferecer ao Senhor Jagannātha cinquenta e duas refeições diariamente como punição e como maneira de fazê-lo gastar com o templo
o dinheiro roubado. O rei ficou furioso e deu início, com a ajuda de
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Śaraṇāgati: Devocionário da Rendição Completa
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cinquenta sacerdotes, a um ritual tântrico negro de trinta dias destinado a matar Bhaktivinoda Ṭhākura. Quando a última oblação foi
derramada no fogo sacrificial, em vez de Śrīla Bhaktivinoda Ṭhākura
morrer, como esperado, morreu o filho do rei.
1878. Bhaktivinoda Ṭhākura deixou Purī e retornou para a
Bengala, onde viu as cidades de Navadvīpa, Śāntipura e Kālanā.
Foi encarregado da subdivisão Mahisarekha, em Haora. Depois
disso, foi transferido para Bhadraka e, posteriormente, foi estabelecido como o governante maior da subdivisão Narāil, no distrito de Yashohan. Enquanto em Narāil, seus dois famosos livros Śrī
Kṛṣṇa-saṁhitā e Kṛṣṇa-kalpataru foram publicados. Essas duas obras
chamaram a atenção de muitos estudiosos indianos. Em uma carta
datada de 16 de abril de 1880, o Dr. Reinhold Rost escreveu: “Por
representar o caráter de Kṛṣṇa e adoração ao mesmo de uma maneira mais sublime e transcendental do que costumeiramente apresentados até então, o senhor prestou um serviço essencial a seus
correligionários”.
1877-1878. Em Rāṇāghāṭa, nasceram Varada Prasāda e Viraja
Prasāda, o quinto e o sexto filho de Śrīla Bhaktivinoda Ṭhākura.
Śrīla Bhaktivinoda Ṭhākura recebeu iniciação dīkṣā formal de
Vipina-vihārī Gosvāmī, descendente da família da mestra Jāhnavā
Ṭhākuraṇī, uma das principais acāryas da história do vaiṣṇavismo,
de Baghnapara. Por volta deste tempo, nasceu em Rāṇāghāṭa seu
sétimo filho, Lalitā Prasāda.
Muitas pessoas haviam adotado o vaiṣṇavismo, mas não sabiam
dizer quem era um vaiṣṇava e quem não era. Śrīla Bhaktivinoda
Ṭhākura deu-lhes refúgio e os instruiu sobre esta temática com absoluta precisão.
1881. Bhaktivinoda Ṭhākura começou a publicar o Sajjana-toṣaṇī,
seu periódico vaiṣṇava. Śrīla Bhaktivinoda Ṭhākura, anteriormente,
peregrinara a Kāśī, mais conhecida como Vārāṇasī, Prayāga (atual
Allahabad), Mathurā e Vṛndāvana, em 1866. Ao término de sua estadia em Narāil, desejou novamente ver a terra de Vraja (Vṛndāvana
e adjacências), para o que dedicou três meses. Enquanto lá, encontrou-se com Śrīla Jagannātha Dāsa Bābājī, que revezava sua estadia em seis meses em Navadvīpa e seis meses em Vṛndāvana.
Encontrando-o, Śrīla Bhaktivinoda Ṭhākura aceitou-o como seu
guru instrutor eternamente digno de adoração.
Durante sua peregrinação nessa época, ele lidou com uma gangue de criminosos conhecidos como Kañjharas, os quais roubavam
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A Vida de Śrīla Bhaktivinoda Ṭhākura
e assassinavam peregrinos. Ele apresentou provas ao governo, e
uma comissão foi formada para solucionar o problema.
De Vṛndāvana, ele foi para Calcutá e comprou uma casa na rua
Maniktala, 181, próxima ao Parque Bidana. Iniciou a adoração diária à forma de Kṛṣṇa conhecida como Śrī Giridhārī e chamou sua
casa de Bhakti-bhavan. Foi apontado governante máximo da subdivisão de Barasa.
No curso de escavar para a construção da Bhakti-bhavan, uma
deidade de Kūrmadeva foi encontrada. Após iniciar seu filho de
sete anos nas práticas da adoração à Deidade, Bhaktivinoda confiou a Bimala o serviço à Deidade de Kūrmadeva, uma das encarnações do Senhor.
O afamado romancista Bankim Chandra encontrou-se com Śrīla
Bhaktivinoda Ṭhākura em Barasa. Bankim Chandra escrevera um
livro sobre Kṛṣṇa e o mostrou a Bhaktivinoda Ṭhākura, que pregou
a Bankim Chandra por quatro dias, comendo pouco e praticamente
não dormindo. O resultado foi que Bankim Candra mudou suas
concepções acerca de Kṛṣṇa, as quais eram meras especulações
mundanas, e alterou seu livro de forma a conformá-lo com os ensinamentos de Śrī Caitanya Mahāprabhu.
1884. Śrīla Bhaktivinoda Ṭhākura foi apontado magistrado sênior de Serampore, onde Bimala Prasāda foi matriculado no ensino
médio. Nesse período, Bimala inventou um novo método de taquigrafia, chamado bicanto. Bimala também passou a receber aulas de
matemática e astrologia com o paṇḍita Maheśacandra Cūḍāmaṇi.
Ele, no entanto, preferia ler livros devocionais a livros de outras
disciplinas.
1886. Durante seu último ano de estadia em Barasat, Śrīla
Bhaktivinoda Ṭhākura publicou uma edição do Bhagavad-gītā com
o comentário sânscrito de Śrīla Viśvanātha Cakravartī Ṭhākura, o
qual foi traduzido para o bengali. Śrīla Bhaktivinoda Ṭhākura havia se dado a esse afazer a pedido de um amigo, ex-juiz do Alto
Comissariado de Calcutá. Bankim Chandra escreveu o prefácio,
reconhecendo sua dívida pessoal para com Śrīla Bhaktivinoda
Ṭhākura e dizendo que todos os leitores bengalis agora também
tinham uma dívida para com Śrīla Bhaktivinoda.
De Barasat, Śrīla Bhaktivinoda Ṭhākura foi transferido para
Śrīrāmapura. Ele visitou a residência de Uddhāraṇa Datta Ṭhākura,
um grande companheiro do Senhor Nityānanda, em Saptagrāma.
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Em Khānākūla, visitou o local onde permanecera Abhirāma
Ṭhākura e viu a residência de outro grande devoto de Śrī Caitanya
Mahāprabhu, Vasu Rāmānanda, em Kulīnagrāma.
Em Śrīrāmapura, compôs seu magistral Śrī Caitanya-śikṣāmṛta,
bem como as obras Vaiṣṇava-siddhānta-mālā, Prema-pradīpa e Manaḥśikṣā. Ele também prosseguia publicando regularmente seu periódico Sajjana-toṣaṇī. Em Calcutá, ele estabeleceu a Śrī Caitanya Yantra,
uma editora com máquina de impressão própria, no Bhakti-bhavan,
pela qual ele imprimiu o Śrī Kṛṣṇa-vijaya, de Mālādhara; o Āmnāyasūtra, de autoria sua, e o Caitanyopaniṣad, do Atharva Veda.
Encontrar o Caitanyopaniṣad foi uma tarefa difícil. Quase ninguém
na Bengala sequer ouvira falar sobre o mesmo. Consequentemente,
Śrīla Bhaktivinoda Ṭhākura viajou para muitos locais em busca dele.
Por fim, um devotado e erudito vaiṣṇava de nome Madhusūdana
Dāsa enviou-lhe uma antiga cópia. Bhaktivinoda Ṭhākura escreveu
um comentário em sânscrito ao livro e o chamou de Śrī Caitanyacaraṇāmṛta. Madhusūdana Dāsa Mahāśaya traduziu os versos para
o bengali, tradução esta que ficou conhecida como Amṛta-bindu.
Em Calcutá, Śrīla Bhaktivinoda Ṭhākura iniciou o Śrī Viśvavaiṣṇava-sabhā, dedicado à pregação da bhakti pura, tal como ensinada pelo Senhor Caitanya. Para divulgar o trabalho da sociedade,
Śrīla Bhaktivinoda Ṭhākura publicou um pequeno livreto chamado
Viśva-vaiṣṇava-kalpatavi.
Bhaktivinoda também publicou sua própria edição do Śrī
Caitanya-caritāmṛta, com seu comentário. Introduziu o calendário
Caitanyābda, ou calendário da Era Caitanya, e auxiliou na propagação do Caitanya Pañjikā, que estabelecia a festividade anual
do Gaura-pūrṇimā, celebrando o dia do nascimento do Senhor
Caitanya Mahāprabhu.
Palestrou sobre vários livros, como o Bhakti-rasāmṛta-sindhu,
de Śrīla Rūpa Gosvāmī, em várias sociedades vaiṣṇavas. Publicou
o Hindu Herald, um periódico em língua inglesa com detalhes da
vida de Śrī Caitanya. Foi nesse período que os vaiṣṇavas doutos
reconheceram Kedāranātha Datta e deram-lhe o título honorífico
“Bhaktivinoda Ṭhākura”.
1887. Śrīla Bhaktivinoda Ṭhākura decidiu deixar o serviço governamental e ir para Vṛndāvana com Bhaktibhṛṅga Mahāśaya pelo resto de sua vida. Uma noite, em Tārakeśvara, enquanto ainda no serviço governamental, teve um sonho no qual Śrī Caitanya Mahāprabhu
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A Vida de Śrīla Bhaktivinoda Ṭhākura
apareceu para ele e disse: “Você certamente irá para Vṛndāvana, mas,
primeiramente, há um serviço que você tem de fazer em Navadvīpa.
Portanto, o que você fará quanto a isso?”. Quando o Senhor desapareceu, o Ṭhākura acordou. Bhaktibhṛṅga Mahāśaya, ouvindo sobre esse
sonho, aconselhou que Bhaktivinoda entrasse com o requerimento de uma transferência para Kṛṣṇanagar, um município próximo a
Navadvīpa. Ele o fez, recusando até mesmo ofertas de assistência pessoal ao comissário chefe de Assam e o assento de ministro do estado
de Tripura. Ele também tentou se aposentar nesse período, mas sua
solicitação foi recusada. Finalmente, ele providenciou um intercâmbio de pessoal, trocando de posição com o magistrado de Kṛṣṇanagar.
Durante sua estadia em Kṛṣṇanagar, Bhaktivinoda Ṭhākura
costumava ir a Navadvīpa e buscava pelo local do nascimento de
Śrī Caitanya Mahāprabhu. Uma noite, enquanto cantava em suas
contas de meditação sentado na cobertura do dharmaśālā Rani, em
Navadvīpa, chamou-lhe a atenção uma árvore tāla próxima a uma
edificação, a qual emanava uma refulgência incomum. Após essa
visão, foi à biblioteca de Kṛṣṇanagar, onde começou a estudar antigos manuscritos das obras Caitanya-bhāgavata e Navadvīpa-dhāmaparikramā, bem como alguns velhos mapas de Nadīyā. Ele foi à vila
de Ballaladibhi e conversou com os idosos locais, descobrindo fatos
sobre a Navadvīpa moderna. Por fim, descobriu que o local que
havia visto do topo do dharmashala era de fato o local de nascimento de Śrī Caitanya Mahāprabhu. Depois que isso foi confirmado
por Śrīla Jaganatha Dāsa Bābājī, o líder da comunidade vaiṣṇava
gauḍīya de Nadīyā, um grande festival foi realizado ali. Em glorificação ao local sagrado, Śrīla Bhaktivinoda Ṭhākura publicou o
Navadvīpa-dhāma-māhātmya.
No mesmo ano, Śrīla Bhaktivinoda Ṭhākura se afastou de seus
ofícios por dois anos e adquiriu um terreno em Śrī Godrumadvīpa.
Ele construiu uma casinha afastada ali para suas práticas de adoração e chamou o local de Surabhī Kuñja.
1890. Estabeleceu ali um nāma-haṭṭa, um “mercado do santo
nome”. Algumas vezes, Jagannātha Dāsa Bābājī visitava o local e
fazia kīrtana, o canto de canções devocionais glorificando Kṛṣṇa.
Muitas centenas de anos antes, o Senhor Nityānanda, o eterno irmão do Senhor Caitanya, estabelecera Seu nāma-haṭṭa no mesmo
local. Bhaktivinoda Ṭhākura considerava-se o varredor de rua do
nāma-haṭṭa do Senhor Nityānanda.
Enquanto em Kṛṣṇanagar, encontrava-se sempre em Māyāpur,
a terra natal do Senhor Caitanya. Quando o local preciso do
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nascimento foi desvelado, Śrīla Bhaktivinoda Ṭhākura e Śrīla
Jagannātha Dāsa Bābājī passaram a adorar ali o Senhor Caitanya.
Relata-se que um dos filhos de Śrīla Bhaktivinoda Ṭhākura contraiu uma doença de pele. Jagannātha Dāsa Bābājī disse ao garoto
que se deitasse no local de nascimento do Senhor Caitanya e permanecesse deitado ao longo da noite. O garoto o fez e, na manhã
seguinte, viu-se curado.
1888. Encarregou-se da vila de Netrakona, uma vez que não conseguia manter-se saudável em Kṛṣṇanagar. De Netrakona, foi para
Tangail, de onde foi transferido para o distrito de Vardhamāna. Ali,
realizava kīrtana com os devotos de Kṛṣṇa em um local chamado
Amalajora.
1890. Foi encarregado da subdivisão Kalāra, de onde frequentemente visitava locais sagrados. De lá, foi transferido a outra localidade e, então, novamente para Dinājapura, onde nasceu seu último filho. Em Dinājapura, Śrīla Bhaktivinoda Ṭhākura escreveu seu
Vidvad-rañjana, um comentário ao Bhagavad-gītā acompanhado de
uma tradução ao mesmo. Foi publicado em 1891, juntamente com o
comentário de Baladeva Vidyābhūṣaṇa.
1891. Bhaktivinoda Ṭhākura afastou-se do serviço governamental por dois anos, muito desejoso de pregar os santos nomes de
Kṛṣṇa. Estabeleceu sua base em Godrumadvīpa, de onde costumava visitar outras localidades a fim de palestrar em clubes, sociedade
e organizações, o que também fizera em Kṛṣṇanagar.
1892. Viajou e pregou no distrito de Basirahata com outros
vaiṣṇavas. Todo o tempo, também estava ocupado em escrever.
Abriu muitas filiais de nāma-haṭṭa em diferentes distritos da
Bengala. O nāma-haṭṭa tornou-se um sucesso autônomo, o qual
continuou a se difundir mesmo após seu retorno ao serviço
governamental.
De Basirahata, partiu em sua terceira viagem a Vṛndāvana.
Interrompeu a viagem em Amalajora de modo a celebrar o dia de
ekādaśī com Śrīla Jagannātha Dāsa Bābājī. Em Vraja, visitou todas
as florestas e locais referentes aos passatempos do Senhor Kṛṣṇa.
Continuou a ministrar palestras e a conduzir leituras em vários locais da Bengala quando retornou a Calcutá.
1893. Publicou em livro as cinquenta canções que compõem o
Śaraṇāgati.
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A Vida de Śrīla Bhaktivinoda Ṭhākura
1894. Ministrou uma palestra acerca de sua busca pela localização
do local de nascimento de Śrī Caitanya. Sua audiência incluía homens de grande erudição de todas as partes da Bengala, os quais se
revelaram muito entusiastas com a nova. Desse encontro, foi formado o Śrī Navadvīpa-dhāma-pracāriṇī-sabhā, uma organização com
o objetivo de difundir as glórias de Navadvīpa-Māyāpura. Todos
os eruditos, após deliberarem acerca das evidências apresentadas
por Śrīla Bhaktivinoda Ṭhākura, concordaram que o Yogapīṭha era
de fato o local de nascimento de Caitanya Mahāprabhu.
Nesse ano, no Gaura-pūrṇimā, um grande festival foi realizado
para testemunhar a instalação das Deidades de Gaura-Viṣṇupriyā
no Yogapīṭha. Śrīla Bhaktivinoda Ṭhākura, em um espírito de humildade, pessoalmente foi de porta em porta na cidade de maneira
a arrecadar fundos para a construção do templo no local. Sua determinação foi altamente bem-sucedida, e o templo foi construído.
Em outubro de 1894, com a idade de 56 anos, aposentou-se de
seu posto de magistrado, conquanto essa medida tenha sido oposta
à vontade de sua família e das autoridades políticas. Permaneceu
em Surabhī Kuñja, onde pregou e revisou seus velhos escritos.
Algumas vezes, foi a Calcutá, onde mendigou de porta em porta
para construir o templo do Yogapīṭha.
1896. Śrīla Bhaktivinoda Ṭhākura foi para o estado de Tripura a
pedido do rei, que era vaiṣṇava. Permaneceu na capital por quatro
dias e pregou as glórias do santo nome. Sua preleção no primeiro dia impressionou os eruditos locais. Pelos próximos dois dias,
a família real e o público maravilharam-se com a audição de suas
palestras sobre os passatempos de Mahāprabhu.
A misericórdia de Bhaktivinoda Ṭhākura, no entanto, foi muito
além das fronteiras geográficas da Índia ou mesmo da Ásia. Ele
tinha o intento de divulgar a consciência de Kṛṣṇa para o Ocidente.
Enviou para o exterior um livreto, escrito em sânscrito e de nome
Śrī Gaurāṅga-līlā-smaraṇa-maṅgala-stotram, com comentários de
Śrīla Śitikaṇṭha Vācaspati, de Nadīyā. A introdução, Caitanya
Mahāprabhu, Sua Vida e Preceitos, era em inglês. Este livro chegou
à biblioteca da Royal Asiatic Society, em Londres; à biblioteca da
McGill University, no Canadá, e a outras instituições respeitáveis.
O livreto foi resenhado na publicação da Royal Asiatic Society por
F.W. Fraser, um estudioso europeu.
Na estação chuvosa do mesmo ano, Śrīla Bhaktivinoda Ṭhākura,
solicitado pelo governante de Tripura, foi a Darjeeling e Karsiyam.
Em 1897, viajou a diferentes vilas a fim de compartilhar o seu saber.
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Śrī śiśira Kumāra Ghoṣa foi o fundador da Āmṛta Bazar Patrikā, um
jornal bengali destacado à época, e o autor do Śrī Amiya Nimāi-carita.
Possuía grande respeito por Śrīla Bhaktivinoda Ṭhākura e assumiu o
compromisso de pregar o santo nome em Calcutá e em muitas vilas
na Bengala. Publicou o Śrī Viṣṇu Priyā O Ānanda Bazar Patrikā sob a
editoração de Śrīla Bhaktivinoda Ṭhākura. Em uma de suas cartas a
Śrīla Bhaktivinoda Ṭhākura, ele escreveu: “Eu não vi os Seis Gosvāmīs
de Vṛndāvana, mas considero que o senhor é o sétimo Gosvāmī”.
Bimala Prasāda, o filho de Śrīla Bhaktivinoda Ṭhākura que posteriormente ficaria conhecido como Śrīla Bhaktisiddhānta Sarasvatī,
residia em Purī como um monge celibatário e estava ocupado na
adoração sacerdotal no Gandharvikā Giridhārī Maṭha, um dos
sete templos próximos à tumba do santo Haridāsa Ṭhākura. Śrīla
Bhaktivinoda Ṭhākura, desejoso de ajudar seu filho, contratou homens para limparem e fazerem reparos no monastério quando visitou Purī. Depois que o jovem então chamado de Siddhānta Sarasvatī
partiu para Māyāpur, Śrīla Bhaktivinoda Ṭhākura construiu seu
próprio local de adoração na praia, o qual chamou de Bhakti-kuṭī.
Śrī Kṛṣṇadāsa Bābājī, um assistente e devotado discípulo de Śrīla
Bhaktivinoda Ṭhākura, juntou-se a ele nesse local e permaneceu seu
querido e constante assistente até o final da vida do Ṭhākura.
No Bhakti-kuṭī, o Ṭhākura fazia adoração e meditação devocional
solitária. Muitos visitantes iam até ele; alguns apenas para incomodá-lo, enquanto outros, sinceros, beneficiavam-se imensamente com
sua inspiradora companhia.
1908. Neste ano, Śrīla Bhaktivinoda Ṭhākura aceitou as vestes externas de bābājī, o que caracteriza alguém que devota o restante de
sua vida a práticas devocionais solitárias, especialmente o cantar dos
santos nomes. Pelos dois primeiros anos, ele viajava entre Calcutá e
Purī, e prosseguia escrevendo livros.
1910. Śrīla Bhaktivinoda Ṭhākura se afastou do mundo e devotou
o restante de seus anos à adoração solitária, meditação, oração e cantar dos santos nomes do Senhor Kṛṣṇa.
1914. No dia 23 de junho, pouco antes do meio-dia, Śrīla
Bhaktivinoda Ṭhākura Prabhupāda abandonou seu corpo na terra
sagrada de Jagannātha Purī. No calendário Gauḍīya Pañjikā, esse era
também o dia do desaparecimento de Śrī Gadādhara Paṇḍita. Seus restos mortais foram levados da Orissa de volta à sua amada Godruma,
na terra de Nadīyā, a terra do Senhor Caitanya Mahāprabhu. Em
meio ao saṅkīrtana, o canto congregacional dos santos nomes do
Senhor, seus remanentes foram enterrados em Godruma.
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Glossário
Advaita - Um dos principais companheiros de Kṛṣṇa Caitanya. O
devoto responsável pelas orações que fizeram Kṛṣṇa Caitanya
nascer na Terra no ano de 1486 d.C.
Aghāsura - Nos passatempos de Kṛṣṇa ocorridos na Terra cinco mil
anos atrás, um demônio que assumiu a forma de um gigantesco píton e engoliu Kṛṣṇa e os vaqueirinhos, mas que foi morto
por Kṛṣṇa.
Bakāsura – Nas atividades transcendentais de Kṛṣṇa ocorridas na
Terra há cinco mil anos, um demônio que assumiu a forma de
uma garça para matar Kṛṣṇa. Kṛṣṇa matou-o bifurcando seu
bico.
Bhakta-vatsala - Um nome de Kṛṣṇa, cujo significado é “Aquele
que é controlado pelos devotos” ou “Aquele que é muito afeito
aos devotos”.
Bhakti - Serviço devocional ao Senhor Supremo. A atividade constitucional da alma.
Bhaktivinoda (Ṭhākura) - O autor do Śaraṇāgati. Vide o ensaio intitulado “A Vida de Śrīla Bhaktivinoda Ṭhākura”.
Brahmā - Personalidade subordinada ao Supremo Senhor Kṛṣṇa,
a qual, no começo da criação material, cria o mundo material
como um reflexo do eterno mundo espiritual após ser instruído pelo Senhor Supremo a como fazê-lo. Nos passatempos de
Kṛṣṇa ocorridos na Terra, Brahmā se valeu de seus poderes místicos e raptou os amiguinhos de Kṛṣṇa e seus bezerros enquanto lanchavam na floresta. Kṛṣṇa, em resposta, expandiu-Se em
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réplicas idênticas – em aparência e comportamento – de seus
amiguinhos e bezerros. Espantado com esse poder de Kṛṣṇa,
Brahmā devolveu-Lhe os amiguinhos e bezerros e ofereceuLhe orações reconhecendo Sua supremacia.
Brāhmaṇa - Um membro da classe intelectual e sacerdotal na divisão ocupacional do sistema social védico.
Buddha - Manifestação de Kṛṣṇa que negou a autoridade dos
Vedas a fim de interromper a matança de animais que estava
sendo promovida, sobretudo na Índia, em virtude de algumas
passagens isoladas nas escrituras. Também é considerado uma
encarnação de Kṛṣṇa disfarçado de ateísta de modo a fazer
com que os ateístas glorifiquem e obedeçam a Deus sem terem
conhecimento de que o estão fazendo.
Caitanya Gosāi - Vide Kṛṣṇa Caitanya.
Caitanya Mahāprabhu - Vide Kṛṣṇa Caitanya.
Candrāvalī - Gopī que, juntamente com suas amigas, faz papel
de adversária de Rādhā em relação a quem é mais querida a
Kṛṣṇa. No mundo espiritual, ninguém é verdadeiramente inimigo de Rādhā, senão que aqueles que fazem o papel de estorvar a união de Rādhā e Kṛṣṇa o fazem como parte de um passatempo e para o despertar de diferentes emoções espirituais,
como saudade, ansiedade e assim por diante.
Dhīra Samīra - Bosque próximo ao rio Yamunā, no qual Kṛṣṇa Se
encontrava com Rādhā.
Gadādhara - Um dos principais companheiros de Kṛṣṇa Caitanya.
Uma encarnação de Rādhārāṇī.
Gauḍadeśa - Antigo reino da Bengala Ocidental onde a morada
eterna do Senhor Caitanya, não diferente de Vṛndāvana, manifesta-se na Terra.
Gautama - Proponente do pensamento Nyāya de lógica e
argumentação.
Godruma - Uma das nove ilhas de Navadvīpa, dentro da qual se
encontra o Surabhi-kuñja.
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Glossário
Gokula - A morada de Kṛṣṇa manifesta no planeta Terra de forma que os residentes do mundo material possam conhecer Sua
morada e optar por viverem com Ele na mesma.
Goloka Vṛndāvana - A morada de Kṛṣṇa no céu espiritual.
Gopīs - Vaqueiras, jovens ou mais velhas; especialmente as almas
puras que servem Kṛṣṇa na disposição conjugal.
Govardhana - Uma grande colina localizada a vinte e quatro quilômetros a oeste da cidade de Mathurā. Relata-se que, nos passatempos de Kṛṣṇa ocorridos na Terra, por sete dias Kṛṣṇa ergueu a colina Govardhana como um grande guarda-chuva de
maneira a proteger os residentes de Vraja de uma tempestade
devastadora causada pelo semideus Indra.
Hari - Um nome de Kṛṣṇa, cujo significado é, entre outros, “Aquele
que leva embora todas as mazelas”.
Indra - Rei dos semideuses. Também o responsável pela provisão
de chuva.
Jaiminī - Proponente do pensamento karma-mīmāṁsā, caracterizado pela elevação pessoal mediante o cumprimento exemplar
do próprio dever.
Jñāna - Disciplina que envolve práticas ascéticas e o cultivo de
conhecimento.
Kalinda - Montanha a partir da qual nasce o rio Yamunā.
Kāliya - Nos passatempos de Kṛṣṇa, uma serpente de múltiplos
capelos que envenenou um lago dentro do Yamunā. Os amiguinhos de Kṛṣṇa, que beberam a água desse lago, desfaleceram, mas Kṛṣṇa os trouxe de volta à consciência com Seu olhar.
Kṛṣṇa, então, mergulhou no lago, subjugou a serpente dançando sobre seus capelos e, por fim, solicitou-lhe que fosse embora
daquele lugar.
Kanāda - Proponente do atomismo Vaiśeṣika.
Kapila Ṛṣi - Proponente do pensamento Sāṅkhya, a análise da matéria e do espírito.
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Karatālas - Címbalos de mão tradicionalmente tocados em acompanhamento a mantras devocionais.
Karma - Disciplina que consiste no desapego dos frutos da ação.
Também se refere à disciplina centrada em rituais e atos de
caridade com o fim de ascensão a planetas de maior conforto
material. Ou ainda, atividades materiais, mediante as quais a
pessoa incorre em subsequentes reações.
Keśé - Nos passatempos de Kṛṣṇa ocorridos na Terra cinco mil
anos atrás, um demônio que assumiu a forma de um cavalo
selvagem e atacou os devotos de Kṛṣṇa. Forçando Sua mão
dentro da boca do demônio, Kṛṣṇa o matou.
Kīrtana - Canto sonoro dos santos nomes do Senhor.
Kṛṣṇa Caitanya - A forma na qual a Personalidade de Deus Kṛṣṇa
adveio em 1486 d.C., em Māyāpur, Bengala Ocidental, e agiu
nas vestes de Seu próprio devoto. Ele ensinou a adoração
pura a Kṛṣṇa, principalmente por meio do saṅkīrtana, o canto
congregacional dos nomes de Deus.
Kṛṣṇa - O nome e a forma original de Deus. Esteve na Terra cinco
mil anos atrás para dar a oportunidade de que os residentes
do mundo material conheçam Sua personalidade e atividades
e optem por residir com Ele em Sua morada eterna no mundo
espiritual.
Kusuma-sarovara - Um lago próximo do qual as gopīs costumavam colher flores para Kṛṣṇa.
Mādhava - Um nome de Kṛṣṇa, que significa, entre outras possibilidades, “O esposo da deusa da fortuna”.
Mahāprabhu - Literalmente, “o maior mestre”. Epíteto de Kṛṣṇa
Caitanya.
Manasa Gaṅgā - Um lago de Vṛndāvana criado por Kṛṣṇa com
água do Ganges a fim de que pudesse Se banhar no Ganges
sem ter de deixar Vṛndāvana.
Mathurā - Divisão territorial dentro da qual se encontra Gokula.
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Glossário
Māyā - Energia ilusória responsável por fazer com que as almas
condicionadas no mundo material se esqueçam de que são servas eternas do Senhor Supremo.
Māyāvāda - A filosofia impessoal de “unidade”, a qual advoga que
a Verdade Absoluta, única e inigualável, é amorfa, e que tudo
o que tenha nome e forma é uma ilusão falsamente imposta a
essa Verdade. O mais influente defensor deste pensamento na
atualidade foi Śaṅkarā­cārya.
Māyāvādī - Adepto da filosofia māyāvāda.
Mṛdaṅga - Espécie de tambor, tradicionalmente tocado em acompanhamento a mantras devocionais.
Muralī - Flauta de Kṛṣṇa de tamanho médio; cerca de vinte
centímetros.
Nadīyā - Distrito dentro do qual se encontra Navadvīpa.
Nanda - Devoto que exerce o papel de pai de Kṛṣṇa.
Nandagrāma - A vila de Nanda, o pai de Kṛṣṇa, situada no distrito
de Mathurā.
Nārada Muni - Destacado devoto do Senhor Supremo possuidor
de poderes especiais com os quais pode viajar por diferentes
planetas difundindo as glórias de Kṛṣṇa.
Navadvīpa - Conjunto de nove ilhas, entre as quais figura
Antardvīpa, a ilha na qual nasceu Kṛṣṇa Caitanya, especificamente na vila de nome Māyāpur.
Nityānanda - Um dos principais companheiros de Kṛṣṇa Caitanya.
O mestre espiritual original de todos os devotos de Kṛṣṇa.
Patañjali - Proponente da disciplina do yoga, ou misticismo.
Patita-pāvana - Um nome de Kṛṣṇa, cujo significado é “Salvador
dos caídos”.
Prasāda - Alimento santificado pela oferta do mesmo ao Senhor
Kṛṣṇa mediante orações.
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Śaraṇāgati: Devocionário da Rendição Completa
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Rādhā (-rāṇī, Rādhikā) - O aspecto feminino de Kṛṣṇa, responsável
por ocupar todas as entidades vivas a serviço de Kṛṣṇa. Ela é
Sua consorte eterna em Vṛndāvana e a mais dedicada e amada
de Seus devotos.
Rādhā-kuṇḍa - Um lago tido como um dos mais importantes locais
de peregrinação para os devotos de Kṛṣṇa.
Rāgātmika - Um associado de Kṛṣṇa eternamente liberado e possuidor de grande amor espontâneo pelo Senhor.
Rūpa Gosvāmī - Um dos seis Gosvāmīs de Vṛndāvana, principais
seguidores de Caitanya Mahāprabhu. Śrīla Rūpa é a maior
autoridade na ciência de rasa, as trocas amorosas com Deus,
o que ele explicou em seus Bhakti-rasāmṛta-sindhu e Ujjvalanīlamaṇi. Foi também um eminente dramaturgo e poeta.
Śaibyā - Uma das melhores amigas de Candrāvalī.
Sakhīs - As amigas de Śrīmatī Rādhārāṇī; todas também devotas
puras de Kṛṣṇa.
Sakhī-sthalī - Local onde Kṛṣṇa costumava Se encontrar com
Candrāvalī.
Sanātana Gosvāmī - Um dos seis Gosvāmīs de Vṛndāvana, principais seguidores de Caitanya Mahāprabhu. Śrīla Sanātana é
famoso por sua obra Śrī Bṛhad-bhagavatāmṛta, na qual apresenta progressivamente os devotos do Senhor Supremo e as
diferentes moradas que existem no mundo material e na
transcendência.
Semideus - Uma alma espiritual que, em virtude de grande acúmulo de bons méritos, goza de uma posição administrativa
dentro do universo, administrando planetas, classes de pessoas e fenômenos naturais.
Śiva - Personalidade divina subordinada ao Supremo Senhor
Kṛṣṇa, a qual, no momento oportuno, procede com a destruição do cosmos. É também descrito nas escrituras védicas como
o maior dos devotos de Kṛṣṇa.
Śrīmatī Rādhārāṇī - Vide Rādhā.
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Glossário
Śrīvāsa - Um dos principais associados de Kṛṣṇa Caitanya. Sua
casa serviu de cenário para muitos dos passatempos de Kṛṣṇa
Caitanya.
Surabhi-kuñja - Local onde Indra fez austeridades após ter ofendido Kṛṣṇa atacando os habitantes de Vṛndāvana. Foi também a sede de pregação de Nityānanda Prabhu.
Svānanda-sukhada - Local onde Bhaktivinoda passou seus últimos dias e onde atualmente se encontra seu corpo.
Tāpa - Prática de austeridades.
Tilaka - Marcas feitas com barro em diferentes partes do corpo a
fim de marcá-lo como um templo do Senhor Supremo.
Tulasī - Pequena árvore sagrada cujas folhas adornam os pés
de Kṛṣṇa. Sua madeira é utilizada na confecção de artigos
devocionais.
Vaiṣṇava - Devoto do Supremo Senhor Viṣṇu. Visto que Kṛṣṇa e
Viṣṇu são diferentes aspectos da mesma Pessoa Suprema, os
devotos de Kṛṣṇa são vaiṣṇavas.
Vaṁśīvaṭa - Árvore embaixo da qual Kṛṣṇa tocava Sua flauta convidando as gopīs para dançar.
Veṇum - Flauta de Kṛṣṇa de tamanho pequeno; com não mais do
que quinze centímetros de comprimento.
Viṣṇu - O Senhor Supremo em Seu aspecto opulento, em oposição
a Kṛṣṇa, que é o Senhor Supremo em um aspecto que permite
intimidade.
Vraja (-bhūmi) - O lugar eterno dos passatempos de Kṛṣṇa com
as almas liberadas, manifesto na Terra no distrito de Mathurā.
Vṛndāvana - A mais amada floresta de Kṛṣṇa, onde Ele desfruta de passatempos com os vaqueirinhos e as jovens gopīs.
Também o nome da morada eterna de Kṛṣṇa no mundo
espiritual.
Vṛṣabhānu - Devoto que atua no papel de pai de Rādhārāṇī.
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Śaraṇāgati: Devocionário da Rendição Completa
exemplar gratuito
Yamarāja - Divindade responsável por condenar aqueles que transgridem os códigos de conduta revelados por Deus para o corpo, a fala e a mente.
Yamunā - Rio sagrado que corta a terra de Vraja e no qual brincou
Kṛṣṇa quando na Terra cinco mil anos atrás.
Yāvaṭa-grāma - Pequena cidade próxima a Vṛndāvana construída por Vṛṣabhānu especialmente para o prazer de sua filha,
Rādhā.
Yoga – Reconexão com Deus. O processo óctuplo de meditação que
começa com yama e termina com samādhi.
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