jornal de brasília

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jornal de brasília
Clipping Nacional
de
Educação
Segunda-feira, 14 de Outubro de 2013
Capitare Assessoria de Imprensa
SHN, Quadra 2 Bloco F Edifício Executive Tower - Brasília
Telefones: (61) 3547-3060 (61) 3522-6090 www.capitare.com.br
16/10/13
00
CARTA AO LEITOR
16/10/13
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OAB
Ensino ruim
A OAB-SP reeditou o livro “O Exame
de Ordem como instrumento de defesa do
interesse público”, do ex-presidente Cid
Vieira de Souza, de 1971. “Os problemas
da época são os mesmos de hoje, a queda
na qualidade do ensino”, diz Marcos Costa, presidente da seccional paulista. Aliás,
o último exame (21º) reuniu 21.960 bacharéis. Passaram 3.433. O primeiro teste
(março de 1971) teve 101 inscritos, com
49 aprovados.
RICARDO BOECHAT
16/10/13
00
EDUCAÇÃO
Curso superior fica de recuperação
O Exame Nacional de Desempenho de
Estudantes (Enade) é a ferramenta que o
governo federal utiliza para medir a qualidade do ensino superior na rede pública e
privada. Na semana passada, o Ministério
da Educação divulgou os resultados da
edição de 2012: cerca de 30% dos cursos
avaliados apresentaram desempenho
insatisfatório, com notas de 1 e 2 (na escala até 5), e apenas 5,4% obtiveram nota
máxima. Ao todo, 7.228 cursos de 1.646
instituições foram testados e o exame contou com a participação de 536 mil estudantes. Os cursos reprovados poderão ter
o vestibular suspenso.
A SEMANA
16/10/13
COMPORTAMENTO
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Cerco aos vândalos
Diante do quebra-quebra generalizado em manifestações que começam pacíficas,
governos do Rio e de São Paulo começam a criar estratégias para coibir o vandalismo.
Mas é preciso evitar pirotecnias, como usar a Lei de Segurança Nacional
Wilson Aquino e Andrés Vera
DESTRUIÇÃO
Vandalismo tomou conta de São Paulo e do Rio na noite da segunda-feira 7:
prejuízo para as cidades
Quando começaram as manifestações Brasil afora, há quatro meses, o País tomou conhecimento da
tática Black Bloc que protesta destruindo patrimônio público e privado. Na segunda-feira 7, as cidades
do Rio de Janeiro e de São Paulo
sofreram com novas depredações ao
final de manifestações que começaram pacíficas em apoio aos professores cariocas em greve. Agências
bancárias foram devastadas, prédios públicos atacados, lojas quebradas e ônibus queimados. Essas ações
levam medo à população, maculam
movimentos legítimos e causam prejuízos aos municípios. Só no Rio,
onde desde junho já houve doze dias
de protestos que terminaram em
quebra-quebra, o prejuízo chega
perto dos R$ 2 bilhões (leia quadro).
Diante da situação, é urgente que os
governos formulem estratégias para
coibir
o vandalismo, como começou a
acontecer. Mas sem pirotecnia,
como lançar mão de um entulho da
ditadura, como a Lei de Segurança
Nacional, na qual dois manifestantes
paulistas foram enquadrados na semana passada. Na terça-feira 8, o
governo paulista apresentou seu plano para combater o quebra-quebra:
uma força-tarefa unindo esforços da
Secretaria de Segurança Pública, da
Polícia Militar e do Ministério Público, composta por oito promotores,
seis delegados, dois coronéis e um
comandante da Tropa de Choque.
A estratégia é reforçar, em primeiro
lugar, a inteligência das ações policiais. De um lado, acompanhar de perto as redes sociais para cruzar dados e monitorar os supostos vândalos. Do outro, intensificar o uso dos
chamados P2, agentes policiais disfarçados que se infiltram entre os
manifestantes. Durante os confrontos, a polícia poderá voltar a usar
balas de borracha, proibidas desde
os protestos de junho, quando manifestantes e jornalistas foram atingidos. Os flagrantes desse grupo irão
compor um único inquérito policial
para abrigar todos os casos com
envolvimento de Black Blocs.
Como o Rio tem sido o principal
palco dos confrontos, a polícia carioca está mais adiantada nesse processo. Na manhã da sexta-feira 11,
policiais da Delegacia de Repressão
aos Crimes de Informática do Rio
prenderam seis pessoas suspeitas de
envolvimento com esses manifestantes violentos e cumpriram 17 mandados de busca e apreensão em vários bairros da cidade, apreendendo
computadores, equipamentos eletrônicos e máscaras. O delegado
Fernando Reis informou que pediu
quebra de sigilo de dados das pessoas investigadas e que os detidos
foram conduzidos à delegacia para
prestar esclarecimentos. Dois deles
foram liberados logo depois.
No mês passado, investigando a
internet, a polícia conseguiu identificar e autuar três jovens que administravam o site do Black Bloc do
Rio. Os jovens foram enquadrados
no crime de quadrilha armada, incitação ao crime e corrupção de menores. No entanto, após uma semana na cadeia, eles ganharam o direito de responder às acusações em liberdade. “A tipificação é completamente absurda, tanto é que a Justiça
devolveu o inquérito para a polícia
investigar direito”, diz o diretor jurídico do Instituto de Defensores dos
Direitos Humanos (IDDH), Carlos
Eduardo Martins, que assiste os três.
A grande dificuldade está justamente aí: na tipificação correta dos
crimes cometidos.
Em São Paulo, por exemplo, o
delegado Antônio Tuckumantel recorreu a um instrumento da ditadura, a Lei de Segurança Nacional
(LSN) para enquadrar o casal de
manifestantes Humberto Caporalli,
24 anos, e Luana Lopes, 19, no crime de sabotagem. Eles foram detidos durante a violenta manifestação
Continua
Continuação
da segunda-feira 7. Para muitos especialistas, a legislação nem em vigor está mais. “A Constituição de
1988 revogou automaticamente a Lei
de Segurança Nacional”, diz o jurista Roberto Dias, da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo
(PUC-SP). A medida polêmica não
teve o apoio nem do governo
paulista. Dois dias depois, o Tribunal de Justiça de São Paulo decidiu
pelo relaxamento da prisão.
No Rio, a polícia optou pela recém-criada Lei da Organização Criminosa, em vigor desde o mês passado. “Acho que é a lei mais adequada. Para que possamos imputála temos de estar diante da prática
de delitos como furto qualificado,
posse de artefatos explosivos e incêndio. Essa organização não precisa ser permanente, pode ser temporária, tem que ter divisão de tarefa e
desejo de receber vantagem que não
precisa ser pecuniária”, explicou a
delegada Martha Rocha. Ou seja, cai
como uma luva nos adeptos da tática Black Bloc.
16/10/13
Mas, como sempre, há divergências. “O governo está fazendo isso
para tentar endurecer, mas, juridicamente, é impertinente”, critica o
criminalista Breno Melaragno, presidente da Comissão de Segurança
Pública da OAB/RJ. “O Brasil já tem
uma legislação penal que é facilmente aplicável aos vândalos. Os crimes
de incêndio e de explosão, por
exemplo, são inafiançáveis, impedindo que eles saiam da delegacia com
o pagamento de fiança logo depois”,
afirma. Se tudo parece tão simples,
por que tão poucos baderneiros foram presos e enquadrados até agora?
A ministra da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da
República, Maria do Rosário, prefere a via da negociação e revelou à
ISTOÉ a proposta apresentada na
quarta-feira 9 ao secretário de Segurança fluminense, José Mariano
Beltrame. Seriam criados grupos de
mediadores de conflitos, formados
por agentes da sociedade civil para,
com métodos pacíficos, evitar o quebra-quebra e a reação policial, por
vezes excessivamente violenta. A
ministra disse que Beltrame considerou a ideia positiva. “Precisamos que
as organizações de direitos humanos
tenham opinião sobre isso”, disse
Maria do Rosário.
A busca do consenso, no entanto, está longe de significar que ela não
desaprova firmemente a ação dos
Black Blocs: “Esses grupos que praticam atos de vandalismo e não pacíficos são um risco para a população, para outros manifestantes e também para os agentes policiais.”
Colaboraram: Mariana Brugger e
Camila Brandalise
fotos: jardiel carvalho/frame/
folhapress; ricardo moraes/reuters;
gustavo oliveira/futura press/folhapress;
fábio vieira/fotoarena/folhapress
fotos: j. duran machfee/futura press/
folhapress; adriano lima/brazil photo
press/folhapress
Continua
Continuação
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O PAÍS
00
Para especialistas, desafio
é avançar em qualidade
O BRASIL EM 20 ANOS
Segundo eles, universalização da
Educação não é garantia de
aprendizado
PAULO CELSO PEREIRA
BRASÍLIA - Apesar de os
indicadores da Pnad mostrarem
avanços em praticamente todas as
áreas nas últimas décadas,
especialistas alertam para as
deficiências difíceis de serem
percebidas a partir apenas da análise
desses números. A questão central
é que muitas vezes os resultados
quantitativos positivos ofuscam
problemas qualitativos. O caso mais
evidente é o da Educação. De
acordo com Rosa Ester Rossini,
professora titular do Departamento
de Geografia da Universidade de
São Paulo (USP), apesar de o ensino
fundamental estar praticamente
universalizado, o nível de
aprendizagem ainda é muito baixo.
— Desde a ditadura, nós temos
dados de alfabetização para
consumo externo.
Hoje, entre 40% e 60% dos
estudantes de primeira à quarta série
não sabem ler ou escrever. Igual
percentual de alunos da quinta à
oitava série sabe ler e escrever, mas
não sabe o que lê e escreve. A
situação é alarmante. Há, por
exemplo, uma enorme perda de
qualidade na entrada de jovens na
universidade. O jovem, hoje, entra
na faculdade e não sabe pensar.
Sabe copiar e colar. Temos que
começar quase do zero — lamenta
a professora.
LUTA POR IGUALDADE E
EQUIDADE
Sobre os resultados obtidos na
Educação pelos dois períodos de
governo, o professor do
Departamento de Economia da
Universidade de Brasília (UnB)
Carlos Alberto Ramos reforça
entendimento comum entre
especialistas que analisam dados: —
Quando você chega a percentuais de
95% ou 96%, aumentar é muito
difícil. Então, você tinha pouca coisa
para fazer no governo Lula em
relação à inclusão no ensino
fundamental, por exemplo.
O professor da UnB analisa um
outro problema não revelado de
imediato pelos números: mesmo com
os avanços na renda e no nível de
emprego, ambos ainda atingem mais
fortemente o mesmo grupo que mais
sofria na década de 1990, que são
os brasileiros com educação média.
— Se você pega a curva do
desemprego, as taxas mais baixas
estão entre os analfabetos e os de
educação superior. Ou seja, o
problema do desemprego no Brasil
está na educação média. A estrutura
do desemprego não mudou. Nos
anos 1990 e hoje ela é similar.
Ela se desloca, mas a estrutura é
exatamente a mesma — explica
Ramos: — O aumento do salário
mínimo beneficia os trabalhadores
menos qualificados. No caso dos
trabalhadores do ensino médio, há
uma estagnação em termos reais do
salário. Isso ocorre porque as
pessoas estão chegando ao mercado
de trabalho com educação média e
como há um excesso de oferta isso
tende a reduzir os salários. A
professora Rosa Ester Rossini,
especialista em questões de gênero,
destaca também que o avanço na
participação das mulheres no
mercado de trabalho não deve ser
fruto de comemoração intensa.
Segundo ela, é resultado das
dificuldades das famílias de serem
mantidas apenas com o trabalho dos
maridos.
E, ao mesmo tempo, de uma
opção das empresas por
remunerações menores. — Em
relação ao trabalho da mulher vejo
conquistas enormes, mas elas, no
fundo, entraram no mercado de
trabalho porque, com o número de
horas que o companheiro trabalha
durante a semana, é impossível
manter a família em condições
mínimas. Então, a intensificação não
é só uma conquista. A mulher entra
no mercado e não ganha igual ao
homem, talvez só no serviço público.
A gente tem que lutar é por igualdade
e equidade — reforça Rosa Ester.
Outra diferença grande entre os dois
Continua
Continuação
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governos é em relação à formalização
do emprego, que levou a carteira
assinada para trabalhadores de ambos
os sexos. Há ampla vantagem para os
governos petistas.
O professor Carlos Alberto Ramos
diz que seu marco inicial é a adoção
do câmbio flutuante e a desvalorização
do Real em 1999: — O corte da
formalização é nitidamente em janeiro
de 1999, com a desvalorização do
Real. Não se sabe muito bem por
que, mas depois que você adotou a
taxa de câmbio flexível, você tem um
processo de formalização muito forte,
que se junta com um aumento do
salário mínimo.
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RIO
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COTIDIANO
Por conta própria
Eles moram fora do centro,
estudaram em escola pública e,
sem ajuda de ninguém, entraram
na
melhor
escola
de
administração do país, a FGV;
hoje, estão entre os melhores da
turma
SABINE RIGHETTI
DE SÃO PAULO
Vários fatores diferenciam
Ricardo da Rocha Rodrigues, 20,
dos seus colegas de administração
pública da FGV (Fundação Getulio
Vargas). Entre eles, as notas: ele é
um dos melhores alunos.
Ricardo também tem um perfil
peculiar na faculdade conhecida
por formar estudantes de elite: ele
é filho de diarista e mora em
Carapicuíba, na Grande São Paulo.
Ele é um dos raros alunos da
FGV que vieram de escola pública
e, sem ajuda de ninguém e de
nenhuma ONG, entrou no curso de
administração pública na
faculdade --considerada a melhor
escola de administração do país no
RUF 2013 (Ranking Universitário
Folha).
Ele está no 2º ano, tem bolsa
integral de estudos (concedida aos
primeiros colocados) e também
recebe alguns auxílios, como a
chamada bolsa material escolar. A
mensalidade custa quase R$ 3.000.
Para ser aprovado no
vestibular, ele estudou sozinho com
base em material que comprou em
banca de jornal.
Filho de pernambucanos que
vieram a São Paulo em um paude-arara, ele viu sua família se
estabelecer
na
região
metropolitana da capital. A mãe é
diarista, o pai é comerciante. Na
sua casa moram sete pessoas.
Em uma realidade tão distante
da elite, Ricardo ficou sabendo da
FGV em um folder de propaganda.
Ricardo conta que resolveu
prestar o vestibular porque o curso
tem tudo a ver com o que ele
sempre quis fazer. "Quero trabalhar
no governo para mudar a realidade
do país", afirma.
Seu "bixo", Reginaldo
Gonçalves, 18, aluno do 1º ano da
FGV, segue a mesma trajetória.
Morador de Itaquera, zona leste de
São Paulo, é filho de professores
da rede pública e ficou sabendo
da FGV pela internet.
Nunca tinha passado nem na
frente do prédio da faculdade, que
fica a poucas quadras da avenida
Paulista. "Mas meu pai conhecia o
prédio porque morou num cortiço
aqui perto", diz.
Continua
Continuação
13/10/13
Quando decidiu prestar o
vestibular para a FGV, enquanto
ainda estudava em uma escola
técnica na Cohab de Itaquera,
conta, as pessoas "estranharam".
de Educação da PUC-SP, a
diferença social pode assustar
mais do que a diferença de
bagagem intelectual em casos
como esse.
Os dois futuros administradores
públicos da periferia sonham em
mudar a realidade que conhecem
tão bem.
"Um dos meus professores
achou esquisito. A FGV é
conhecida por formar elite e
pessoas de classe média alta",
lembra Reginaldo.
"Quem é da periferia e quem é
da elite de São Paulo têm
realidades
completamente
distintas, que talvez nunca tenham
se cruzado."
Ricardo já trabalha na própria
FGV, em um banco de microcrédito
para pessoas de baixa renda que
querem
iniciar
um
empreendimento.
Ao ser aprovado, com bolsa
integral, comemorou. "Mas fiquei
receoso porque a realidade é
diferente. A escola tem boa
infraestrutura, mas o medo era
sobre como seria recebido."
As diferenças são, mesmo,
muitas. A começar pelo modo
como os alunos chegam ao curso.
Enquanto a maioria dos alunos da
FGV usa os próprios carros,
Ricardo e Reginaldo gastam até
duas horas de trem e de metrô.
Reginaldo sonha em ser
político. Se fosse, o que mudaria
em Itaquera?
COLEGAS RICOS
Hoje, ele se sente incluído, diz,
mas conta que estranha algumas
conversas pelos corredores
acadêmicos da FGV.
"Às vezes escuto alunos falando
sobre lugares que a gente só vê na
TV, sabe?"
De acordo com Leda Maria
Oliveira Rodrigues, da Faculdade
Para a FGV, essa mescla de
realidades é positiva.
"Isso enriquece a discussão na
sala de aula, ainda mais em um
curso que visa formar gestores
públicos", ressalta Marco Antonio
Carvalho Teixeira,
vicecoordenador da graduação em
administração da FGV.
NO FUTURO
"Traria escolas e universidades
para
a
região.
Isso
descongestionaria as vias de
acesso a São Paulo."
Ele também investiria em lazer.
"Muitos moleques ficam o dia todo
à toa na rua e chegam à
criminalidade."
Isso aconteceu com alguns dos
seus colegas de infância de
Itaquera, diz e silencia. Ele não
quis falar sobre isso.
13/10/13
00
COTIDIANO
Aluno com alto desempenho pode se 'autoexcluir'
DE SÃO PAULO
Um dos maiores desafios
enfrentados no caminho ao ensino
superior pode estar no próprio
estudante. É a chamada
"autoexclusão".
Isso acontece quando a pessoa
deixa de tentar algumas
oportunidades por se sentir
naturalmente excluída. Por
exemplo, um estudante de escola
pública (tida como ruim) que
acaba não prestando o vestibular
para uma boa universidade.
"Muitas vezes o estudante até
tem preparo, pois não é toda
escola pública que é fraca. Mas
ele acaba se sentindo socialmente
excluído", explica Leda Maria
Oliveira Rodrigues, da Faculdade
de Educação da PUC-SP.
"É como se eles pensassem: tal
faculdade não é para mim",
comenta Marco Antonio Carvalho
Teixeira, vice-coordenador da
graduação em administração da
FGV.
Esses alunos acabam nem
fazendo o vestibular. Se fazem e
são aprovados, não aparecem na
matrícula.
Foi o caso de Reginaldo
Gonçalves. Quando viu que foi
aprovado na FGV e que teria bolsa
de estudos, ele não foi à fundação
porque achou que teria de pagar a
matrícula, de quase R$ 3.000.
"A FGV ligou em vários lugares
atrás de mim, até me achar na
igreja. Então me explicaram que eu
não precisaria pagar nada", conta.
De acordo com ele, o valor da
matrícula equivale à renda mensal
da sua família.
"Uma amiga minha que queria
fazer direito nem prestou a prova
da FGV", diz ele.
BUSCANDO TALENTOS
As universidades de qualidade
conhecem bem os sintomas da
autoexclusão, tanto que estão
buscando alternativas para evitála.
A própria FGV montou um
cursinho pré-vestibular para
alunos carentes com aulas ao
sábados --iniciativa que veio dos
próprios alunos.
Reginaldo é um dos porta-vozes
do cursinho. Ele visita escolas
públicas incentivando alunos para
o vestibular.
Neste ano, a maior universidade
do país, a USP, também anunciou
um cursinho com mil vagas para
alunos carentes a partir de 2014.
A ideia é atrair e capacitar jovens
de baixa renda.
A medida faz parte do programa
de inclusão da USP. A meta da
universidade é chegar a 50% de
alunos vindos de escolas públicas
em 2018.
Hoje, são 28%, com variações
entre os cursos. (SR)
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ESPECIAL
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Brincadeira escolar
Cursos de MBA usam
competição esportiva, teatro e
obra de caridade para formar
líderes
REINALDO CHAVES
COLABORAÇÃO PARA A
FOLHA
Competições de vela, aulas de
ioga e interpretação. Pode parecer
a programação de um clube, mas,
na verdade, são atividades de
MBA.
Esses cursos de pós-graduação,
cuja missão é dar aos executivos
uma visão geral das várias facetas
dos negócios, estão mudando
programas para treinar as
habilidades comportamentais dos
alunos. O objetivo é capacitá-los
em fatores como adaptação a
novos ambientes e flexibilidade
(veja nas páginas deste caderno
como
melhorar
essas
competências).
"Essas habilidades requerem a
imersão em atividades que são
representações razoavelmente
precisas do mundo real das
organizações", afirma David
Garvin, professor da Escola de
Negócios de Harvard. "Palestras
e debates por si só não ensinam
habilidades sociais."
Esse tipo de metodologia acaba
gerando aulas inusitadas.
Gutenberg Souza Oliveira, 44,
teve de participar de uma regata
em um veleiro como parte do curso
na BSP (Business School São
Paulo).
Na competição, realizada em
Boston (EUA) por meio de uma
parceria da escola com a
Universidade de Suffolk, cada
aluno tinha uma função específica
na embarcação.
"É um ambiente em que tudo
pode acontecer. Todos dependem
um do outro para, por exemplo,
mudar o rumo do barco. É
necessária muita coordenação e
espírito de grupo", conta Oliveira.
O coordenador dos programas
de MBAs da BSP, Fernando
Marques, afirma que cerca de 40%
do curso é voltado apenas para as
habilidades comportamentais
(conhecidas pela sigla em inglês
"soft skills"), o que inclui palestras
sobre
autoconhecimento,
espiritualidade e aulas de ioga.
"Avaliar a viabilidade
econômica de um projeto é uma
função natural de um executivo e
pode ser aprendida com aulas
técnicas.
Mas
tocar
a
implementação desse projeto é
complexo: o profissional precisa
estimular a equipe, expor suas
ideias e negociar com vários
públicos."
Continua
13/10/13
Continuação
Na Fundação Getulio Vargas em
São Paulo, uma das técnicas é
parecida com um jogo de RPG ao
fazer com que os alunos
interpretem papéis: eles são
divididos em grupos pequenos
para treinar negociação e trabalho
em equipe.
O engenheiro Sidnei Pereira,
31, é um dos alunos da escola e
afirma que está aprendendo a se
adaptar a diferentes ambientes.
"Lidar com clientes, colegas de
trabalho ou fornecedores hostis
tem muitas sutilezas. As pessoas
podem ter dúvidas sobre o que
você defende, mas você tem de
reverter isso, mostrar vários
pontos de vista, ter firmeza e
expressão corporal correta."
Medir a eficácia do
aprendizado e o sucesso de uma
habilidade comportamental
também não é fácil para uma escola
ou gestor. A abordagem mais aceita
pelos especialistas é propor que
um grupo faça uma avaliação
conjunta e, por meio de debates,
cheguem a uma conclusão mais
consensual.
Na Fiap (Faculdade de
Informática e Administração
Paulista), as avaliações são feitas
por meio de jogos. O professor
Armando Oliveira conta que, por
exemplo, os alunos têm que fazer
o planejamento e execução de
projetos como a construção de
miniaturas de torres, domos e
pontes.
"Nesse formato, procuramos
avaliar os indicadores de entrega
no prazo, custo e qualidade dos
projetos", afirma. "Mas também
são dadas metas individuais e
organizacionais para que sejam
desenvolvidas habilidades de
comunicação, empatia e liderança
e para que sejam estruturadas
parcerias entre os alunos."
Na tentativa de modificar o
comportamento dos alunos, vale
até o teatro.
Na Unifei (Universidade
Federal de Itajubá), uma das
disciplinas inclui encenações e
brincadeiras que parecem de
criança --por exemplo, estourar
bolas de bexiga coladas na parte
de traz dos cintos dos colegas, por
exemplo.
"É interessante ver como os
alunos, em sua maioria gerentes de
empresas, viram novamente
crianças. Logo após, são tiradas
conclusões sobre o comportamento
das pessoas", afirma Edson
Pamplona, coordenador de MBA
da instituição.
E não são apenas os executivos
os interessados em melhorar o
comportamento para o trabalho.
Renato Cerqueira, 50, coronel da
Polícia Militar que fez MBA no
Insper, diz que técnicas de
negociação e motivação de
colaboradores são úteis no seu dia
a dia -- ele tem 400 pessoas em
sua equipe, entre oficiais e praças.
"São pessoas que passam
situações aflitivas e só vão
realizar um bom trabalho se
entenderem suas responsabilidades
e a importância de sua função."
13/10/13
00
ESPECIAL
Aulas sobre comportamento exigem cuidado
COLABORAÇÃO PARA A
FOLHA
Ensinar as pessoas a se
comportar em diferentes situações
da vida corporativa, por meio de
simulações do cotidiano, por
exemplo, exige cuidado.
"Ensinar habilidades sociais
requer empatia por parte dos
instrutores e dos alunos, porque as
pessoas podem se machucar",
afirma David Garvin, professor da
Escola de Negócios de Harvard.
Para J. Neil Bearden, professor
de ciências da decisão da Insead,
"um dos maiores riscos é tentar
fornecer uma espécie de soluçãopadrão que não leva em conta o
contexto cultural".
Ele diz que o objetivo é preciso
formar "gestores adaptativos", que
compreendem seus colegas e o
meio em que eles vivem.
"Com
um
pouco
de
compreensão, o que muitas vezes
requer apenas prestar atenção a um
ambiente, não é difícil descobrir
como liderar e motivar."
Para ajudar os alunos a
conhecerem uns aos outros, antes
do início do curso eles têm de
realizar atividades como construir
playgrounds para um orfanato em
Cingapura, o que exige trabalho em
equipe real e habilidade de
trabalhar com pessoas que eles
não conhecem bem.
13/10/13
00
ESPECIAL
Invasão gringa
Estrangeiros
escolhem
estudar no Brasil para entender
problemas do país e identificar
oportunidades
ALINE OLIVEIRA
COLABORAÇÃO PARA A
FOLHA
O Brasil tem atraído a atenção
de alunos estrangeiros de MBA,
que escolhem cursar módulos do
curso aqui para entender quais são
as oportunidades e as dificuldades
dos negócios no país.
De olho em um futuro emprego,
eles desejam entender quais
consequências terá uma empresa
estrangeira que se instalar no
Brasil.
Os módulos oferecidos em
países
estrangeiros
são,
geralmente, feitos após a
conclusão dos estudos nas
universidades de origem.
"Nossos
alunos
são
profissionais interessados em
entender como as empresas
brasileiras fazem para crescer",
afirma
Ellen
McMahon,
professora da Lake Forest
Graduate School of Management,
localizada em Chicago.
A francesa Violaine Laurens,
30, cursava MBA em gestão de
sustentabilidade em Paris quando
soube que sua universidade
mandaria dois alunos para fazer
um módulo de seis meses no
Brasil. "Nunca tinha vindo para cá,
não falava português, mas me
candidatei porque, em questão de
sustentabilidade, o Brasil
concentra todas as problemáticas."
Laurens diz que desmistificou
alguns conceitos sobre o país. "A
Europa tem uma visão
preconceituosa em relação ao
Brasil. Estudando aqui pude
entender a complexidade do país
e ver que é uma nação avançada
em vários aspectos", completa.
Existe também a intenção de
aprender a negociar melhor. "Para
ter sucesso aqui você precisa ter
muito jogo de cintura --muito mais
do que nos EUA ou na Europa",
afirma John Schulz, sócio-fundador
da BBS Business School, que tem
acordos para intercâmbio de
alunos.
"Por isso, o executivo com
experiência brasileira é valorizado
pelas multinacionais, pois ele se
adapta rapidamente e é bastante
flexível."
13/10/13
ESPECIAL
00
ENTREVISTA
'Profissional que se forma em
MBA está menos arrogante'
Ensino da liderança faz com
que alunos fiquem mais humildes,
afirma especialista
O número de vagas para
profissionais com formação em
um curso de MBA cresceu 16%
entre 2012 e 2013 no Brasil, de
acordo com a consultoria
internacional QS.
O país é o oitavo com maior
demanda por esses alunos, em uma
lista liderada por Índia, Estados
Unidos e China. A pesquisa ouviu
mais de 5.300 empresas em 42
países.
Nunzio Quacquarelli, diretor da
QS, disse à Folha que isso
acontece tanto porque mais
empresas
estrangeiras,
especialmente dos setores
financeiro e de consultoria, estão
aumentando a operação no Brasil,
quanto
pela
maior
internacionalização das empresas
brasileiras.
Pela primeira vez desde que a
pesquisa é realizada, há 23 anos,
as empresas se disseram satisfeitas
com a capacidade de liderança
dos executivos. Leia trechos da
entrevista
salários.
Folha - O que explica esse
aumento de 16% na demanda
por profissionais com MBA?
Nunzio Quacquarelli - O
crescimento econômico é um fator,
mas o principal é que mais
empresas internacionais estão
interessadas em abrir ou expandir
operações no Brasil. Das vagas
para profissionais com MBA, um
terço vai para o setor bancário e
outro terço vai para consultorias,
e elas têm aumentado muito a
presença na região. Também há
mais empresas locais querendo
contratar.
O relatório indica que, pela
primeira vez, a capacidade de
liderança dos graduados em
MBAs teve uma nota compatível
com a expectativa das empresas.
Qual o motivo disso?
É resultado do trabalho das
escolas de negócios na última
década. Têm sido dada muita
ênfase ao treinamento da liderança.
Além disso, os profissionais com
MBA estão menos arrogantes. Essa
era uma crítica muito forte no
mercado, com a percepção de que
as pessoas chegavam ao mercado
achando que sabiam tudo. Com o
foco maior na liderança, isso vem
mudando: eles estão aprendendo a
ser mais humildes.
De acordo com a pesquisa, o
salário que as multinacionais
oferecem na América Latina é,
em média, 20% maior que o das
empresas locais. Isso tende a
mudar?
O mercado internacional é
muito competitivo, então as
empresas
multinacionais
competem entre si por talentos e
puxam os salários para cima. É
difícil que essa diferença caia.
Além disso, com a melhora da
economia nos Estados Unidos e na
Europa, vai haver pressão nos
Isso é efeito do currículo das
escolas ou a característica de
uma nova geração?
Com base em fatos, eu não sei
se o perfil do aluno mudou ou não.
Eu suspeito que isso seja resultado
direto do currículo. Há mais
espaço para conteúdos como ética
corporativa e responsabilidade
social, o que muda um pouco a
visão desses jovens.
13/10/13
00
ESPECIAL
Curso sem lei
Falta de regras complica
escolha de MBA; aluno deve
prestar atenção à carga horária
e ao método de seleção da escola
REBECA DE MORAES
COLABORAÇÃO PARA A
FOLHA
As confusões na hora de
escolher um de MBA podem
começar na nomenclatura do curso.
O MEC (Ministério da Educação)
classifica esse tipo de formação
como pós-graduação latu sensu.
Esse é o principal motivo para que
não sejam estabelecidas regras
rígidas sobre o conteúdo e a carga
horária deste tipo de programa.
Por isso, o que se vê no
mercado são MBA de vários tipos:
os que seguem os padrões
americanos, e vários outros (bons
e ruins) que foram elaborados sem
a metodologia internacional.
Daniela Marcondes, 36, gerente
de manutenção e obras da Sala
São Paulo, começou neste ano um
MBA em gerenciamento de
facilidades na USP. Ela conta que,
quando começou a procurar pelo
curso, ficou de olho nas
certificações dos programas.
"Como é um curso de padrão
internacional, queria algo que
desse peso no currículo, por isso
me informei sobre as chancelas de
cada curso."
comunicação da Anamba.
Na tentativa de orientar alunos
sobre os cursos que estão
alinhados
com
padrões
internacionais e também com o
mercado, as escolas que oferecem
esse tipo de curso criaram a
Anamba (Associação Nacional de
MBA).
Vale também entender qual a
tradição da escola que está em
avaliação. "Veja se ela tem o
mesmo foco que você procura para
sua carreira", sugere Marcelo
Saraceni, presidente da Abipg
(Associação Brasileira das
Instituições de Pós-Graduação).
Quem procura uma experiência no
exterior pode também conferir se
a escola tem convênios de
intercâmbio
com
boas
universidades estrangeiras.
A instituição verifica a
qualidade dos programas
brasileiros com base nos critérios
de exigência de associações
internacionais como a Amba
(Associação de MBAs). Recebem
um selo as escolas que se
enquadram em uma série de
padrões, como carga horária de
480 horas, alunos com no mínimo
três anos de experiência
profissional e processo seletivo
que conta com análise de
currículo, teste e entrevista.
Para certificar também a
qualidade de MBAs que não
seguem à risca todas as normas
internacionais, a Anamba criou o
selo Padrão Brasil.
"É importante que o candidato
conheça esses selos e pergunte por
eles antes de se inscrever num
curso, para ter certeza de que a
instituição tem qualidade", explica
Karla Alcides, diretora de
Os especialistas indicam que o
candidato analise com atenção o
conteúdo das aulas e veja quais as
matérias e a carga horária de cada
uma delas: finanças, operações,
recursos humanos, tecnologia de
informação, economia, estratégia e
marketing são disciplinas
obrigatórias.
Procure alunos do curso que
pretende fazer, veja qual a idade e
o tempo de experiência deles.
Vale também conhecer antes os
seus futuros professores. "Uma boa
escola deve ter professores com
títulos acadêmicos, mas é
fundamental eles estejam no
mercado", diz Juliana Fonseca,
coordenadora da BBS Business
School.
13/10/13
00
ESPECIAL
Chefe em curso
MBA tem foco em quem quer
ser líder e já tem experiência;
veja se esse tipo de pósgraduação é o mais adequado
para você
REBECA DE MORAES
COLABORAÇÃO PARA A
FOLHA
Quando foi promovido de
analista de supply chain (cadeia de
suprimentos) para executivo de
vendas na empresa que trabalhava,
Marcelo Freund, 34, sentiu que
precisava complementar sua
formação. Pela primeira vez em
um cargo de gestão, queria
entender mais sobre liderança de
pessoas.
Hoje gerente-geral regional da
Klabin, Freund considera que os
cursos de MBA --ele já tem dois
no currículo -- foram importantes
não só para os saltos nas funções
dentro das empresas, mas também
para avaliar setores diferentes dos
que trabalhava.
O momento que ele escolheu
para cursar seu primeiro MBA foi
o ideal, segundo especialistas:
quando o profissional tem uma boa
bagagem de experiência prática e
já alcançou um cargo em que chefia
pessoas.
"O MBA é um curso que integra
a teoria com a prática com o
objetivo de habilitar a pessoa a
tocar uma empresa grande ou
pequena
de
padrões
internacionais", explica James
Wright, coordenador do MBA
Executivo Internacional da FIA
(Fundação
Instituto
de
Administração).
Mas que não se espante quem
encontrar em uma sala de aula até
mesmo alguém com mais de 15
anos de experiência de mercado.
"É um curso indicado para quem
quer ser presidente-executivo e
precisa conhecer todas as áreas de
uma empresa."
Freund conta que seu principal
objetivo era ter uma experiência
acadêmica fora do Brasil. "Fiz o
primeiro MBA aqui pois tinha
acabado de ter uma promoção e
achei que não era a hora de
abandonar o trabalho", conta.
Depois de dois anos, resolveu
abandonar a companhia em que
trabalhava e fazer um MBA na
Universidade de Nova York. "A
qualidade dos cursos brasileiros é
muito boa, mas lá fora é possível
ter uma experiência em tempo
integral, além de estar exposto aos
principais líderes globais em
eventos e palestras da
Continua
Continuação
universidade."
MBA,
pós-graduação,
mestrado: Os vários tipos de curso
que o mercado oferece para quem
quer continuar estudando depois da
graduação pode trazer confusão na
hora da escolha.
Enquanto as pós-graduações
convencionais são para os alunos
que precisam de aplicação prática
imediata, os mestrados são
reservados para quem planeja atuar
em âmbito acadêmico e pesquisar
um tema que ainda não tenha sido
desenvolvido.
Os MBA são dedicados aos
profissionais que querem aprender
como gerir pessoas e ter as
ferramentas necessárias para,
como gestor, negociar com as
diversas áreas de uma empresa.
Os coordenadores de cursos de
MBA dizem em uníssono: a
experiência profissional de no
mínimo três anos é fundamental
para quem planeja ingressar nesse
tipo de programa, que dura em
média um ano e meio.
Isso porque logo depois da
13/10/13
graduação a principal necessidade
do profissional é de habilidades
técnicas, ou seja, entender como
se dá o dia a dia da carreira. Saber
liderar, em geral, vem num segundo
momento --eis a hora do MBA.
O vasto conhecimento sobre a
gestão de uma empresa que se tem
nesse tipo de curso é o que leva
muitos profissionais que não
tiveram disciplinas ligadas a
administração a recorrerem aos
MBA.
A psicóloga Érica Whately
Sundfeld, 29, começou neste ano
um curso como esse em gestão de
negócios.
"Queria complementar minha
graduação com um curso que me
desse uma visão global de um
negócio", diz Sundfeld. "Mas acho
que o MBA vai fazer mais sentido
quando estiver numa posição de
gerir um departamento."
GERAL OU ESPECÍFICO
Na hora de escolher seu MBA,
fique atento. As escolas oferecem
dois tipos, os generalistas e os
especializados. Os primeiros são
aqueles que dão uma visão geral
do funcionamento administrativo
de uma empresa.
São mais interessantes para
quem planeja ter cargos de
gerência, direção ou até
presidência, e precisa ter noções
de liderança e estratégia para
companhias grandes ou pequenas.
Os MBAs especializados têm
programas divididos entre as
matérias de formação básica de um
MBA (como administração,
finanças, estratégia, contabilidade)
e aquelas específicas do assunto
escolhido, o que pode ir de
educação a mercado de luxo.
Estes são mais indicados para
quem planeja orientar a carreira
para um certo setor ou crescer
como gerente de uma determinada
área.
Quem ainda não está no ponto
do curso pode ir se preparando.
"Os alunos que não têm experiência
prática suficiente podem começar
fazendo cursos curtos de
especialização", diz Wright,
coordenador da FIA.
13/10/13
00
ESPECIAL
Mão no bolso
Conheça diferentes tipos de
aplicações que ajudam a obter
recursos para pagar MBA
ANA MAGALHÃES
COLABORAÇÃO PARA A
FOLHA
O engenheiro civil Fábio Tran,
34, recorreu a pelo menos seis
métodos para conseguir bancar um
MBA e um mestrado nos Estados
Unidos: usou recursos que havia
economizado, pegou empréstimos
com as irmãs, adquiriu um
financiamento em um banco
americano, conseguiu uma bolsa
parcial da empresa onde
trabalhava e ganhou uma bolsa do
Instituto Ling.
Não era para menos ""apenas
um ano de MBA na universidade
Kellogg, onde estudou, custa hoje
US$ 60 mil. Sem contar
hospedagem,
alimentação,
transporte e lazer.
Fazer um MBA no Brasil
pressupõe não ter esses gastos
extras e poder continuar
trabalhando ""porém, os cursos por
aqui também não são baratos.
Alguns podem chegar a R$ 70 mil.
A melhor maneira de bancar um
curso de MBA, seja no Brasil ou
no exterior, é se planejar com
antecedência, guardar dinheiro e
aplicar. Quanto maior a
antecedência, menor será a quantia
mensal a ser guardada.
Como se trata de um
investimento de curto prazo, não
vale a pena investir na Bolsa de
Valores. Isso porque o prazo é
considerado
curto
para
investimentos arriscados.
O ideal, na avaliação de
Tatiana Engelmann, planejadora
financeira, é diversificar os
investimentos e aplicar em fundos
CDI (juro do empréstimo entre
bancos) ou no Tesouro Direto.
O CDI é usado como referência
para o rendimento de aplicações
na renda fixa, e sua variação
normalmente fica próxima à taxa
básica de juros, a Selic.
Os investimentos cujas
rentabilidades são atreladas ao
CDI se tornam mais atraentes em
cenário de aumento do juro básico,
como o atual.
Já o Tesouro Direto é a
plataforma do governo na internet
para negociação de títulos públicos
a pessoas físicas. É considerado
uma boa opção ao pequeno
investidor, pois os títulos públicos
são vistos como os ativos com
menor risco em uma economia.
Há um investimento específico
para quem consegue economizar,
Continua
13/10/13
Continuação
mas costuma cair em tentação e
gastar o dinheiro: as LCIs e LCAs
(Letras de Crédito Imobiliário e
Letras de Crédito Agrícola).
"São investimentos que não
permitem que você resgate durante
um determinado período de tempo
e que têm isenção de Imposto de
Renda", diz Engelmann.
A especialista lembra ainda de
um detalhe importante: é preciso
considerar a inflação. "Cursos de
MBA podem ter aumentos
superiores à inflação. Também por
isso é importante você atualizar o
valor que vai economizar todos os
meses."
Quem não tem disciplina para
economizar pode também parcelar
o curso brasileiro --há taxas de
juros, mas elas podem ser menores
do que empréstimos concedidos
pelos bancos.
"É uma espécie de poupança
também, só que obrigatória e com
resultados imediatos, ou seja, você
vai poupando, pagando e já
usufruindo do curso", diz Sérgio
Bessa, professor da Fundação
Getulio Vargas.
de que vai estudar no exterior.
A própria FGV parcela o custo
do seu MBA e cobra juros de 1%
ao mês. A linha de crédito da Caixa
Econômica
Federal
para
financiamento de pós-graduação
tem juros de cerca de 2% ao mês.
Há ainda muitas instituições
internacionais que têm parcerias
com bancos e que concedem
financiamentos a juros razoáveis.
Já para aqueles que sonham em
fazer um MBA no exterior, pode
ser interessante aplicar em fundos
cambiais, na avaliação do
professor de finanças do Insper,
Maurício Carvalho. O objetivo é
se proteger diante de flutuações do
dólar.
Funciona assim: você aplica
hoje R$ 110 mil, equivalentes a
US$ 50 mil. Daqui a um ano, você
seguirá tendo o equivalente a US$
50 mil, independentemente das
flutuações cambiais.
Se o dólar subiu, você não terá
perdido poder de compra em dólar.
O problema será se você desistir
de ir para o exterior e decidir
trocar os dólares por reais.
Por isso, essa aplicação é
interessante para quem tem certeza
Fábio Tran, o engenheiro que se
virou de todas as formas para ir
para os Estados Unidos, conta que
adquiriu um empréstimo por
intermédio da sua faculdade
americana com juros de cerca de
8% ao ano.
Ele fez o MBA entre 2006 e
2008 e até hoje paga essas
prestações --e, com a alta do dólar,
está mais difícil pagar a conta.
Mas ele diz que valeu a pena
demais ter feito as malas e ter se
endividado para fazer os cursos.
"Precisamos lembrar que,
normalmente, depois de um MBA,
você tem um aumento salarial."
Segundo ele, esse aumento é
suficiente para pagar as dívidas.
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METRÓPOLE
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Continua
Continuação
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METRÓPOLE
Isolamento afasta universidades
do Brasil das tops
Especialistas destacam a
internacionalização como fator
essencial para que as instituições
brasileiras possam alcançar a
excelência
Herton Escobar
Promover
a
internacionalização, valorizar o
mérito, flexibilizar regras e
reduzir a burocracia. Essa é a
receita
básica
que
as
universidades
brasileiras
precisam seguir se quiserem ficar
mais parecidas com Harvard,
Oxford, Stanford e outras
instituições de ensino e pesquisa
que aparecem no topo dos rankings
internacionais,
segundo
especialistas ouvidos pelo Estado.
A falta de interatividade com
oresto do mundo é apontada como
um dos pontos mais fracos das
instituições brasileiras, que reduz
suavisibilidade e competitividade
internacionais.
"Se eu pudesse singularizar um
item que precisaser incentivado, é
a internacionalização", diz o
pesquisador da Universidade de
São Paulo (USP) e presidente do
Conselho
Nacional
de
Desenvolvimento Científico e
Tecnológico (CNPq), Glaucius
Oliva. "E isso que vai trazer no seu
bojo todo o resto."
Universidades americanas e
europeias frequentemente ganham
prêmios Nobel com pesquisadores
que foram recrutados de outros
países ou outras instituições - que
muitas vezes competem para
contratar os melhores cientistas,
como times de futebol que brigam
pela contratação de um craque.
O Prêmio Nobel de Química
deste ano é um bom exemplo: os
três laureados são pesquisadores
de universidades norte-americanas
(Harvard, Stanford e Califórnia do
Sul) que nasceram em outros
países e passaram por outras
instituições ao longo de sua vida
acadêmica.
No Brasil, a barreira linguística
e as regras do funcionalismo
público tornam muito difícil atrair
professores estrangeiros. Mesmo
um ganhador do Nobel, se quisesse
se mudarpara o País e virar
professor da USP, teria de prestar
concurso público em português e
passarpor um complicado
processo de contratação, além de
aceitar ganhar um salário igual ao
de todo mundo.
"No Brasil, resolveu-se que um
professor universitário deve ser
tratado como um funcionário
público qualquer. Nenhum país
com universidades de ponta faz
Continua
Continuação
isso", aponta o físico Carlos
Henrique de Brito Cruz, diretor
científico da Fundação de Amparo
à Pesquisa do Estado de São Paulo
(Fapesp).
Segundo os especialistas, é
preciso flexibilizar as regras e
abrir as portas das universidadesparaestrangeiros-não
obrigando-os afalar português, mas
fomentando o uso do inglês entre
os brasileiros, seja na sala de
aula,nos laboratórios ou chamadas
de projetos e contratações.
"A língua é uma questão-chave.
As universidades asiáticas que
estão em ascensão adotaram o
inglês tanto para o ensino quanto
para a pesquisa. E a língua
universal de comunicação
acadêmica, indispensável para
universidades com uma visão
global que queiram participar desse
diálogo", disse ao Estado Phil
13/10/13
Baty, editor responsável pelaformulação do ranking de
melhores universidades do mundo
do Times Higher Education.
uma série de mazelas "domésticas"
que os cientistas brasileiros
enfrentam diariamente. Em
especial, a burocracia.
Essa, segundo ele, é uma das
principais razões para o Brasil não
termaisnenhumauniversi-dade
entre as 200 melhores do último
ranking.AUSP, que estava na
posição 158 em 2012, caiu para o
bloco de 226 a 250.
"Nossa burocracia é muito
burra; ela emperra tudo. Não tem
como ser competitivo des-sejeito",
dizo médico Jorge Kalil, professor
da Faculdade de Medicina da USP
e diretor do Instituto Butantã.
"Auniversidade é um ambiente
onde a diversidade é fundamental.
Melhora a formação dos alunos,
melhora a qualidade das pesquisas,
melhora tudo", diz o físico Marcelo
Knobel, da Universidade Estadual
de Campinas (Unicamp),a única
outra brasileira no ranking.
Entraves. Além da questão
linguística, a internacionalização
terá de passar também,
obrigatoriamente, pela solução de
"O pontomais crítico é
ainflexibilidade das universidades
públicas", avalia Robert Verhine,
pró-reitor de Pós-Graduação da
Universidade Federal da Bahia e
presidente da Comissão Nacional
de Avaliação do Ensino Superior
(Conaes). "As universidades
sãovistas como uma repartição
pública, cheias de regras
inflexíveis para uso de recursos,
contratações, demissões, etc.
Deixamos de fazer muita coisa por
causa disso."
13/10/13
00
METRÓPOLE
13/10/13
00
METRÓPOLE
CORREIO BRAZILIENSE
Professores e mascarados
Terça-feira é Dia do Professor,
categoria sofrida, que protagoniza
uma das mais longas greves do país
no Rio de Janeiro. O movimento
obteve grande adesão de estudantes
e da oposição ao prefeito Eduardo
Paes (PMDB). Parecia já derrotado,
porém, ganhou novo fôlego com a
decisão da juíza Roseli Nalin, da 5ª
Vara da Fazenda Pública do Rio, que
suspendeu a sessão plenária da
Câmara dos Vereadores que aprovou
a proposta do Plano de Cargos,
Carreiras e Remunerações (PCCR),
o real motivo da greve.
13/10/13
00
BRASÍLIA-DF
»»»
O episódio motivou uma passeata
de 50 mil professores na célebre
Avenida Rio Branco, que transcorreu
pacificamente da Candelária à
Cinelândia. Foi, então, que entraram
em cena os black blocs: os
mascarados tentaram invadir a
Câmara Municipal e enfrentaram a
PM. Houve muito gás lacrimogêneo
e atos de vandalismo. É provável que
o Tribunal de Justiça do Estado do Rio
de Janeiro casse a decisão da juíza, a
pedido de Eduardo Paes. A greve,
porém, continua.
Cadeia
»»»
A Lei 442/2013, sancionada pelo
prefeito do Rio, está suspensa. Havia
sido aprovada em 1º de outubro, em
reunião extraordinária, enquanto do
lado de fora da Câmara professores
e soldados da Polícia Militar entravam
em confronto. Os manifestantes
foram impedidos de entrar no Palácio
Pedro Ernesto para assistir à sessão
de votação do plano na base das
bombas de efeito moral e do spray
de pimenta. Assim, a greve dos
professores virou um caso de polícia.
Ser black bloc virou status entre
os secundaristas cariocas. Mas, quem
for flagrado praticando atos de
vandalismo pode pegar até oito anos
de prisão. Na sexta-feira, a Polícia
Civil fez uma operação de busca e
apreensão nas residências dos líderes
do grupo Black Bloc. Seis pessoas
foram detidas, suspeitas de atos de
vandalismo. Depois de autuados,
acabaram liberados.
CORREIO BRAZILIENSE
13/10/13
00
TRABALHO
Você está nas redes profissionais?
Cadastro virtual e sites de
emprego servem como vitrine
para o mercado de trabalho e são
cada vez mais usados pelas
organizações. Quem não está
conectado pode perder chances de
contratação
» MARIANA NIEDERAUER
Marina foi recrutada pela internet:
"Dessa forma, eu deixo disponível o
meu currículo para várias empresas"
Se a internet já tomava conta da
vida pessoal, agora não tem mais
volta: ela chegou para ficar também
no ambiente profissional e tornouse uma aliada de recrutadores nos
processos seletivos. A maioria das
empresas de médio e grande porte
já percebeu a importância desses
mecanismos. Por meio de redes
sociais profissionais e de sites de
emprego, eles conseguem aumentar
a qualidade da seleção e ter mais
segurança sobre o perfil do
candidato escolhido para a vaga. As
vantagens se estendem aos
trabalhadores, que precisam estar
conectados para garantir que serão
vistos no que promete se tornar a
principal vitrine do mercado.
Mais da metade dos brasileiros
já usaram algum site de empregos na
busca da atual ocupação, de acordo
com pesquisa feita pelo site de
classificados on-line Catho. Luís
Testa, gerente de marketing da
empresa, explica que esses sites são
ferramentas mais direcionadas,
usadas por aqueles que realmente
estão procurando uma colocação no
mercado. Só o site da Catho recebe,
em média, 7 milhões de acessos por
mês. Já as redes sociais profissionais
servem como complemento, são uma
forma de turbinar a rede de contatos.
Para Testa, o uso de ferramentas online no mundo do trabalho é um
caminho sem volta. “A internet se
popularizou e não existe mais nenhum
receio de compartilhamento de
informações. Isso ajuda na
construção do mercado tanto pelo
lado das empresas quanto pelo lado
dos candidatos”, afirma.
“As organizações estão
começando a olhar quem são os
funcionários mais assíduos na
internet, que tipo de conteúdo
consomem e quem eles conhecem”,
avalia o estrategista em marketing
Gabriel Rossi. Ele lembra que a vida
profissional está cada vez mais
próxima da pessoal e, por isso, os
recrutadores começam a levar em
consideração postagens em redes
sociais como o Facebook. O
objetivo é avaliar se o perfil
demonstrado na entrevista ou na rede
profissional condiz com quem a
pessoa é realmente.
Sob os holofotes
Marina Santos, 28 anos, foi
recrutada pela Catho para o cargo
de analista de recursos humanos. Ela
prefere essa maneira de contato com
as empresas por aumentar a
visibilidade. “Dessa forma, eu deixo
disponível o meu currículo para
várias empresas. Se eu sair para
entregá-lo em cada uma delas, não
vou conseguir um número tão
grande”, opina. Mariana Boner,
diretora de recursos humanos da
organização que contratou Marina,
a Globalweb Corp, explica que o site
de empregos e o LinkedIn são
usados
como
formas
complementares de recrutamento.
“Os sites mais tradicionais são
sempre nossas fontes principais de
busca de pessoas, porque têm um
banco gigantesco de profissionais
com todos os tipos de conhecimento
e de competências”, destaca. No
entanto, ela observa que cerca de um
quarto dos candidatos em potencial
não estão ativos nesses meios, daí a
importância de se usar a rede social
de forma estratégica. Os
recrutadores da organização viram
headhunters em busca de candidatos
que têm o perfil para a vaga, mas que
não estão procurando emprego.
Foi dessa maneira que Rodrigo
Ramalho, 24 anos, foi contratado
para o posto de consultor técnico da
Globalweb. “Eu uso o LinkedIn
Continua
Continuação
como forma de manter minha
atividade profissional. Eu acho
importante porque ele concentra o
currículo atualizado e qualquer um
pode visualizá-lo na hora que quiser”,
comenta. O perfil de Rodrigo
chamou a atenção de uma
recrutadora da empresa, que entrou
em contato prontamente. Nessa
época, ele ainda não tinha terminado
de tirar uma certficação que era prérequisito para a vaga, mas, assim que
atualizou o currículo na rede social,
o aviso foi lançado para todos os
contatos e Rodrigo recebeu outra
ligação, dessa vez para marcar a
entrevista e, posteriormente, para
assinar o contrato.
Prováveis candidatos
Quando foi contatado pelo
LinkedIn, Rodrigo estava em outro
emprego, mas manter o currículo
atualizado foi fundamental para ser
recrutado para o novo posto. “Se
você descreve seu perfil com
exatidão, com as suas melhores
habilidades, mesmo que esteja
trabalhando, é um potencial
candidato para excelentes
oportunidades”, reforça a consultora
Roselake Leiros, diretora da empresa
de desenvolvimento humano
CreSerMais.
O gerente regional do
ManpowerGroup,
Rodrigo
Michellino, lembra que o LinkedIn
— principal rede social profissional
usada pelas empresas — mantém
uma porcentagem relativa ao número
de campos de qualificação
preenchidos. Quanto mais completo
o currículo estiver, maiores as
chances de ele chamar a atenção dos
recrutadores. Ele sugere ainda que
os profissionais sigam os perfis das
13/10/13
empresas no Twitter e curtam as
páginas no Facebook, para
acompanhar as vagas que são
divulgadas.
A dica da especialista Sylvia
Ignácio da Costa, coordenadora da
graduação tecnológica em gestão de
recursos humanos da Anhembi
Morumbi, é que o profissional faça
uma boa descrição inicial para se
apresentar ao recrutador. Um texto
direto,
sem
autoelogios,
gramaticalmente correto e que inclua
as principais competências e
habilidades que possui. Assim, além
de atrair a atenção, o currículo ficará
mais visível, pois facilitará a busca por
palavras-chave na rede. “O currículo
terá uma influência muito grande no
sucesso ou no insucesso. Não
importa se é on-line ou não, esse é o
primeiro contato que alguém que não
te conhece terá com você”, finaliza.
O site 99jobs resolveu inverter a
lógica e oferece aos jovens
profissionais a oportunidade de
escolher as empresas em que vão
trabalhar, e não o contrário. A gerente
de relacionamento, Bárbara Teles,
explica que o internauta escolhe
palavras-chave fixas para indicar
com qual tipo de organização mais
se identifica. “Acreditamos que, de
fato, existem ambientes para todos
os tipos de pessoas, depende dos
valores de cada um. O nosso
objetivo é descobrir quem são as
pessoas certas para determinados
lugares”, afirma. Após quatro meses
de criação, o site tem 81 mil
profissionais inscritos, a maioria
jovens de 18 a 24 anos que estão na
universidade ou que já se formaram.
Pesquisa feita em agosto pela
empresa de recrutamento
especializado Robert Half com 651
executivos brasileiros mostrou que
83% deles fazem networking virtual.
“O brasileiro é famoso globalmente
por ter muitas associações no mundo
virtual. O país é um dos maiores
usuários do Facebook e o LinkedIn
está indo no mesmo caminho”,
lembra a gerente da divisão de
Finanças e Contabilidade da
empresa, Marta Chiavegatti. Isso
não significa, porém, que os
profissionais deixaram de investir no
networking pessoal: 81% deles
confirmaram que mantêm a maneira
tradicional de se relacionar
profissionalmente. “Nada substitui o
olho no olho. Eu entrevisto muitas
pessoas e tenho acesso a vários
currículos, mas é diferente analisar
um profissional pessoalmente”,
conclui Marta.
Destaque mundial
O Brasil é o terceiro maior
mercado do LinkedIn no mundo,
com mais de 13 milhões de usuários
cadastrados, atrás apenas de
Estados Unidos e Índia. Em julho
deste ano, a empresa abriu o
primeiro escritório no país, na cidade
de São Paulo.
Vagas on-line
O site Admite-se, do Grupo
Diários Associados, também reúne
ofertas de vagas de várias empresas.
No endereço www.admitese.com.br é possível visualizar todas
as oportunidades e ainda cadastrar
o currículo. Além disso, são postadas
notícias sobre o mercado e trabalho
diariamente. m agosto, o site teve
172 mil visualizações.
JORNAL DE BRASÍLIA
13/10/13
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CIDADES
ENSINO PÚBLICO
Abandono é marca dos
laboratórios de ciências
Continua
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JORNAL DE BRASÍLIA
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JORNAL DE BRASÍLIA
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Faltam recursos para investimento na área
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JORNAL DE BRASÍLIA
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13/10/13
JORNAL DE BRASÍLIA
13/10/13
00
OLHO NO ECA
Continua
Continuação
13/10/13
13/10/13
00
CIDADES
Evento reúne 700 alunos da rede pública
TATIANE ALVES
Governador em exercício, Tadeu
Filippelli, prestigia alunos da rede
pública
O GDF por meio da Secretária
de Fazenda aproveitou a época de
comemoração do Dia das Crianças
para programar a edição especial do
programa Portas Aberta à Cidadania. O evento foi realizado, na manhã de sexta-feira (11), no Museu
Nacional, e reuniu cerca de 700 alunos da rede pública para mais uma
aula sobre impostos, ética e cidadania. “Exercer a cidadania é uma
questão de respeito”, destacou o
governador em exercício, Tadeu
Filippelli.
“Não existe uma varinha mágica
para mudar o que precisa ser mudado em nosso país. Para que isso
ocorra, temos que construir um novo
futuro e, para isso, existem programas como esse que não ajudam somente a pensarmos em cidadania,
como também a entender e exercer”,
afirmou Filippelli.
O Portas Abertas à Cidadania tem
por objetivo disseminar informações
sobre tributos e cidadania, com vistas a estimular nos jovens cidadãos
a participação social. Essa é a 18ª
edição do programa. Os alunos participantes vêm de São Sebastião,
Candangolândia, Núcleo Bandeirantes, Santa Maria e Recanto das
Emas. Cerca de 20 ônibus fizeram o
deslocamento até o local, sob supervisão dos professores, coordenadores pedagógicos e diretores. A ideia
é trazer essas crianças não somente
para informar, mas plantar em cada
criança sementes de cidadania.
“Plantando essa conscientização na
primeira parte da vida das crianças,
vamos ter uma sociedade mais desenvolvida”, explica o secretário de
Fazenda, Adônias dos Reis Santiago.
O evento teve exibição do espetáculo “Dê Cá Minha Nota”, da Cia
Teatral Mapati, associando os conhecimentos aprendidos com momentos de descontração. Além da
peça houve distribuição de presentes e apresentação do coral do BRB.
O secretário de Fazenda explica
que a partir do momento que alguém
recebe a orientação para ser o que
nós chamamos de um cidadão consciente, ele passa a cumprir suas obrigações com satisfação, orgulho e
responsabilidade. “A espontaneidade está começando a tomar corpo,
de forma que 60% dos pagamentos
de impostos são feitos de forma espontânea. Estão começando a entrar
no novo ciclo que chamamos de ciclo de consciência de cidadão”, ressalta o secretário.
Para ele o evento é importante
porque leva uma educação fiscal
para as crianças. “Espero que nos
próximos anos nós possamos incluir
nos currículos escolares, nos primeiros anos do ensino básico, a educação fiscal como matéria permanente. Não existe nenhuma sociedade
que consiga se desenvolver e crescer, se seus cidadãos não tiverem a
consciência da cidadania e em especial da educação fiscal. É o tributo pago pelos cidadãos que sustenta
a sociedade. Cidadania é um processo de educação a longo prazo,
mas que vale a pena fazer. Temos
reservado uma parte do orçamento
para fazer esse tipo de trabalho juntamente com a Secretaria de Educação”, detalha o secretário.
12/10/13
00
RIO
Professores: suspensa sessão que aprovou plano
Continua
Continuação
12/10/13
12/10/13
00
RIO
Estado abre inquérito contra 400 docentes
Punição pode ser até demissão
do serviço público
RIO - Cerca de 400 professores
que estão ou estavam em greve nas
últimas duas semanas na rede
estadual terão de responder a
inquéritos administrativos que
podem até resultar em demissão do
serviço público. Após a decisão da
Justiça — publicada em 26 de
setembro — que considerou a
paralisação ilegal, esses profissionais
estão tendo os salários descontados,
e a Secretaria estadual de Educação
está aplicando o Estatuto do
Servidor: com dez dias de falta
consecutivos, é caracterizado
abandono de emprego. O docente
então precisa justificar a ausência
para não perder o cargo.
A atitude da Secretaria de
Educação acirra ainda mais os
ânimos entre o órgão e o Sindicato
Estadual dos Profissionais de
Educação (Sepe). A entidade afirma
que há escolas na Região
Metropolitana onde os professores
que estão retomando o trabalho são
impedidos de entrar em sala de aula
pelas direções, exatamente por
estarem respondendo a processo
por abandono de emprego. A
secretaria afirma, porém, que
registrou apenas um caso desse tipo,
numa escola na Ilha do Governador,
e que o próprio secretário Wilson
Risolia orienta para que seja
permitido ao docente voltar a
lecionar mesmo enquanto corre o
inquérito.
A coordenadora do Sepe Marta
Moraes afirmou que também houve
casos de professores grevistas
impedidos de voltar a dar aulas nas
cidades de Magé e Itaboraí.
— É preciso que a Secretaria de
Educação emita algum documento,
passe uma circular deixando claro
que os profissionais estão liberados
para voltar a trabalhar — pediu
Marta.
A direção do Sepe publicou nota
em seu site informando que “o
departamento jurídico do sindicato
entrou com dois recursos na Justiça
contra o corte de ponto na rede
estadual”. Na rede municipal,
professores estão recebendo
telegramas pedindo esclarecimentos
sobre ausências. Quem tem uma ou
mais faltas e está em estágio
probatório precisa enviar justificativa
num prazo de três dias após o
recebimento da correspondência.
12/10/13
TENDÊNCIAS
E DEBATES
A2
A USP deve adotar eleição direta para reitor?
NÃO
Universidade não é nem deve ser democrática
MARCOS FERNANDES G. DA SILVA
A atual ocupação da reitoria da
Universidade de São Paulo (USP),
por parte de alguns alunos e
funcionários, além de arranhar sua
natureza pública, levanta algumas
questões sobre a improcedência da
reivindicação dos invasores:
eleição direta para reitor e
questionamento da escolha do
mesmo pela lista tríplice, por parte
do governador.
O sindicato dos trabalhadores
da USP apoiou a ocupação da
reitoria. Em texto, afirmou que
considerava "total desrespeito a
decisão do Conselho Universitário
aos anseios e à luta dos estudantes,
funcionários e professores por
democratização na Universidade
de São Paulo ".
A universidade não é nem deve
ser democrática no que tange sua
administração financeira e de
recursos humanos e na gestão
acadêmica. A democracia deve
existir na garantia da liberdade
intelectual e no debate científico,
mas, neste caso, a palavra --que
se refere a um tipo de regime
político-- deve ser substituída por
"crítica intersubjetiva", conceito
que Karl Popper criou para
explicar a natureza provisória do
conhecimento científico, que
somente progride com liberdade e
discussão.
Mas a eleição direta para reitor
é refutável por razões bem mais
simples. Em primeiro lugar --e
chega a ser acintoso o tom da nota
do sindicato--, a USP é como uma
empresa e funcionário trabalha
para os alunos e professores
produzirem conhecimento e ensino.
Em segundo lugar, aluno não
vota, mas estuda e pesquisa. Ainda
mais numa universidade pública,
cuja gratuidade tem características
regressivas e de injustiça social.
Do ponto de vista da
administração, a universidade é
uma empresa, portanto, não há
democracia. Da mesma forma, a
gestão acadêmica não é
democrática, mas meritocrática. A
meritocracia é um sistema
administrativo em que o mérito
conduz ao topo: os mais educados,
a elite, governa.
Continua
Continuação
Quem sabe ensinar e pesquisar,
que ao fim e ao cabo fica e faz sua
carreira na universidade, é o
professor. Funcionários podem até
fazer a carreira nela, mas os alunos
chegam, se formam e vão embora.
Deveriam sim voltar e ajudar a
universidade, fazendo doações,
participando de conselhos de
administração, algo tão raro Brasil.
Por outro lado, vamos aos
fatos: entre as 30 melhores
universidades do mundo, por
qualquer ranking respeitável,
nenhuma tem eleição direta para
reitores. Para citar algumas,
Oxford, Cambridge, Amsterdã,
Harvard, Stanford, Autônoma de
Barcelona e o mexicano Instituto
Técnico de Monterrrey.
A universidade brasileira está
em crise, fora alguns poucos
centros de excelência em exatas,
biológicas,
matemática,
engenharias e ciências sociais
aplicadas (levadas a sério, como
ciência dura, "hard science").
Por que, então, essa discussão
tresloucada? Por que não protestar,
chamando a imprensa, por
12/10/13
exemplo, e exigir que se cumpram
metas de colocar a universidade
brasileira no topo das avaliações
globais?
Por outro lado, quem tem
mandato para escolher o reitor, em
última instância, é o governador.
Aí sim a democracia tem que
existir e ser respeitada, pois tal ato
é intrinsecamente legítimo.
A USP é um patrimônio
paulista,
financiada
regressivamente, com recursos
arrecadados dos cidadãos de São
Paulo. Não bastasse tal fato, o seu
gasto em educação também é
regressivo. Mas é nossa única
universidade bem posicionada nas
avaliações internacionais e merece
reformas, mas não essas
propostas.
Que tal debater o fim da
gratuidade, socialmente injusta?
MARCOS FERNANDES G.
DA SILVA, 50, economista, doutor
pela Faculdade de Economia e
Administração da USP, é
pesquisador na Fundação Getulio
Vargas
12/10/13
A2
TENDÊNCIAS
E DEBATES
A USP deve adotar eleição direta para reitor?
SIM
Diretas já
PEDRO SERRANO, ARIELLI TAVARES E LUÍSA D'ÁVOLA
No dia 1º de outubro, os
estudantes da USP entraram em
greve e ocuparam o prédio da
reitoria exigindo democracia e
eleições diretas para reitor. Hoje,
mais da metade dos cursos já
aderiu às manifestações.
As pautas estudantis encontram
apoio na sociedade. A Justiça
reconheceu a legitimidade e o
caráter político de nosso
movimento, indeferindo o pedido
de reintegração de posse do prédio
da reitoria.
Este é o momento de a USP ter
eleições diretas. Há 25 anos,
nosso país se redemocratizou. É
inadmissível que sua maior e
melhor universidade continue com
um estatuto que tem resquícios
A estrutura de poder da USP
está entre as mais antidemocráticas
do Brasil, desrespeitando,
inclusive, a legislação federal no
que se refere à eleição de
dirigentes.
absurdo. Em julho, o reitor
escreveu uma carta aberta à
universidade em que se dizia
disposto a democratizar a USP.
Entretanto, para ele, a decisão
deveria ficar a cargo do Conselho
Universitário, que reúne, dos 120
mil uspianos, somente 140
pessoas.
Entre 120 mil membros da
comunidade universitária, nem
sequer 2% têm direito a voto no
primeiro turno das eleições. No
segundo turno, votam 0,4%. Ao
final, como se sabe, é o governador
do Estado de São Paulo quem
nomeia o reitor.
Pelas costas da maioria, em sua
reunião de 1º de outubro, o
conselho recusou a proposta
estudantil de eleições diretas e do
fim da lista tríplice. Ainda pior,
impediu a participação dos
estudantes na sessão, que
aconteceu a portas fechadas.
Pois até mesmo João Grandino
Rodas, o atual titular do cargo, foi
obrigado a reconhecer esse
A opção por mudanças
cosméticas, como o fim do segundo
turno ou a aprovação de uma
daquele vigente no regime de
exceção.
Continua
Continuação
simples consulta à comunidade,
sem validade real, gerou a
indignação estudantil hoje em
curso.
A eleição direta é o melhor
método para escolha do reitor da
universidade, uma vez que está
intimamente relacionada à
qualidade de ensino e de seu
caráter público. Além de
intrinsecamente democrática, ela
garante que decisões estratégicas,
como mudanças de grade
curricular e contratação de
professores,
respeitem
a
experiência de protagonistas da
vida acadêmica.
Na USP, a não adoção desse
modelo leva a conflitos
categóricos no tocante a qual
projeto de universidade é levado
adiante por seus dirigentes, sem se
considerar a opinião da
comunidade universitária que a
constrói. Não por acaso, a USP
ficou conhecida por ter se tornado
um espaço de lutas internas
intensas em um curto período de
tempo.
12/10/13
Rodas (que não foi o mais
votado, mas acabou nomeado pelo
então governador do PSDB José
Serra) é famoso pelo autoritarismo
de suas decisões, como quando da
invasão da Tropa de Choque da
Polícia Militar em 2011. Sua
ligação com interesses tucanos é
constrangedora, ainda mais num
momento de questionamento de
Geraldo Alckmin diante do
descaso com a educação.
Também o conjunto da
sociedade perde com a falta de
democracia universitária. A
manutenção de um projeto de
universidade elitizada e voltada a
interesses particulares impede o
debate sobre políticas de
permanência, acesso e extensão.
A USP pode dar um exemplo de
participação direta. Os estudantes
querem dialogar e negociar suas
pautas. Em contrapartida, esta não
tem sido a postura da reitoria. No
dia seguinte à ocupação, Rodas não
respondeu às reivindicações e
pediu a imediata reintegração de
posse da reitoria. De modo
irresponsável,
cortou
o
fornecimento de água e energia do
prédio.
Com essa atitude, tenta escapar
da contradição central: por que,
entre quase todas universidades
públicas do Brasil, somente a USP
ainda não possui um sistema de
eleição direta? Por que não se
inicia, finalmente, um processo de
estatuinte livre, soberana e
democrática?
A postura intransigente da
reitoria apenas faz crescer a
mobilização pela democratização
da universidade. Os ventos de
junho já sopram na USP, e a
juventude, novamente, irá
protagonizar mudanças históricas.
PEDRO SERRANO, 22,
estudante de ciências sociais,
ARIELLI TAVARES, 23, e LUÍSA
D'ÁVOLA, 25, estudantes de
letras, são diretores do Diretório
Central dos Estudantes (DCE Livre
da USP - Alexandre Vannucchi
Leme)
CORREIO BRAZILIENSE
12/10/13
00
ECONOMIA
Mais clareza para o Enem
A forma de escolha dos
examidores e corretores das provas
do Exame Nacional do Ensino
Médio (Enem) motiva uma briga na
Justiça entre o Ministério Público
Federal (MPF) e o Instituto
Nacional de Estudos e Pesquisas
Educacionais (Inep).
Desde 2012, os procuradores
tentam, por meio de uma ação civil
pública, obrigar o instituto a divulgar
com mais clareza os critérios de
seleção da banca de examinadores,
além dos nomes e das qualificações
profissionais de seus membros, o
que é negado, em parte, pelo Inep.
A ação civil pública é movida pela
Procuradoria da República do
estado de Goiás e exige, também,
que o
Inep assegure que os
profissionais que corrigem e
elaboram as provas do Enem não
possuam vínculos parentais, sociais,
afetivos, profissionais e escolares
com alunos inscritos para a prova.
Esse último quesito já é cumprido
pelo Inep, mas o instituto se recusa
a divulgar a lista com os nomes dos
examinadores. Segundo o órgão de
pesquisas educacionais, os dados
são “extremamente confidenciais, e
a divulgação deles em nada
contribuiria para a integridade física
e moral dos escrutinadores”.
“É um dos casos mais
importantes movidos pelo MPF
contra uma seleção”, afirmou o
procurador da República Ailton
Benedito de Souza. “A ação tem o
objetivo de dar mais transparência
ao
Enem por meio da publicidade
dos dados, justamente porque a
correção dessas provas costuma ter
problemas sérios todos os anos.
Quem são essas pessoas que avaliam
os estudantes, qual é a qualificação
delas?”, completou.
Os problemas, aliás, acontecem
a despeito das enormes quantias
desembolsadas pelo Inep para a
aplicação das provas. Em 2012, o
instituto pagou à Fundação
Cesgranrio R$ 131,8 milhões para a
realização do Enem e do Exame
Nacional de Desempenho dos
Estudantes (Enade). Já em 2013, o
valor despendido à mesma fundação
foi de R$ 47,7 milhões.
Tramitação
Quando a ação foi ajuizada, a
Justiça Federal negou a liminar que
obrigaria o Inep a divulgar os nomes
dos examinadores. A alegação do
tribunal é que seria “temerário
determinar a publicidade imediata da
lista tendo em vista que o
cumprimento de tal diligência poderia
tumultuar a realização do exame em
andamento”. Ainda assim, o MPF
recorreu da decisão e deve utilizar o
argumento do acesso à informação
para obrigar o Inep a divulgar os
dados este ano. (BN)
CORREIO BRAZILIENSE
12/10/13
CIDADES
00
UNB » Ex-chefe de
editora acusado de desvio
Ex-diretor da Editora UnB,
Alexandre Lima responderá por
improbidade
Cinco anos após o escândalo de
irregularidades envolvendo a Editora
da Universidade de Brasília,
Alexandre Lima, ex-diretor do
órgão, foi condenado por
improbidade administrativa. Em
2010, o Ministério Público Federal
denunciou Lima e duas pessoas por
envolvimento em um esquema que
teria o objetivo de desviar mais de
R$ 3 milhões de um contrato entre a
UnB e a Secretaria de Educação
para a capacitação de professores.
Segundo o MPF, a universidade
foi contratada pela secretaria em
2007 para oferecer um curso de pósgraduação a distância para 2,4 mil
docentes da rede pública. O
contrato, de R$ 6,32 milhões, teria
sido firmado sem licitação, com a
justificativa de que a UnB era uma
instituição de excelência e sem fins
lucrativos. Mas a Editora UnB,
executora da parceria, subcontratou
a Faculdade Michelângelo.
Além disso, ele foi condenado a
pagar uma multa equivalente a 50
vezes a remuneração que recebia à
época. O Correio tentou contatar o
advogado que consta no processo
como responsável pela defesa de
Alexandre Lima, mas ele informou
que não cuida mais da causa. (HM)
A juíza federal Danielli Farias
Leitão Rodrigues, da 3ª Vara da
Seção Judiciária do DF, acatou os
argumentos da denúncia. “O simples
fato da subcontratação da
Faculdade Michelângelo, entidade
privada e com fins lucrativos, ter se
dado direta e verbalmente, já
configura violação aos princípios da
administração”, afirmou a
magistrada.
O escândalo envolvendo a
Editora UnB começou em 2008,
pouco depois do surgimento das
denúncias que levaram à queda do
ex-reitor Timothy Mulholland. O
protagonista foi Alexandre Lima,
então diretor da editora. Segundo
denúncias do Ministério Público
Federal, o ex-diretor teve
movimentação
financeira
incompatível com as declarações de
renda apresentadas em 2004, 2005
e 2006. Entre as denúncias, está o
repasse de recursos à mulher, ao filho
e a amigos por meio de convênios
que Lima coordenava.
Alexandre Lima teve os direitos
políticos suspensos por três anos e
ficará proibido firmar contrato com
o poder público pelo mesmo prazo.
Memória
Escândalo em 2008
JORNAL DE BRASÍLIA
12/10/13
00
EM TEMPO
JORNAL DE BRASÍLIA
12/10/13
00
CIDADES
Continua
Continuação
12/10/13
JORNAL DE BRASÍLIA
12/10/13
00
CIDADES
JORNAL DE BRASÍLIA
12/10/13
00
CIDADES
16/10/13
00
Claudio de
Moura Castro
Uma revolução no ensino. Outra?
Na história da educação não faltaram oráculos anunciando alguma
épica revolução. A imprensa de
Gutenberg foi a primeira. Embora
tenha sido uma das poucas a causar
abalo, não desempregou professores, como se temia. Com o correio,
inaugura-se o ensino por correspondência. Mas a escola continuou impávida. O cinema substituiria as escolas. Não aconteceu. A televisão foi
a profecia seguinte. Arranhou, mas
não revolucionou.
Com clarins estridentes, foi anunciada a chegada do computador à
escola. Os obesos mainframes viraram PCs; depois, notebooks, tablets
e smartphones. Some-se a isso a
internet, ligando tudo a todos. Veio
a tal revolução digital?
Por razões que a todos surpreendem, a maioria das escolas não
digere os computadores. Antes, hostilmente os rejeitava. Agora, diz que
os ama, mas não consegue usá-los.
Nos países em que foram avaliados,
como um todo, os programas de
informática na escola foram um desapontamento. Softwares criativos e
fascinantes não aterrissam no aprendizado do currículo. Adoção em
massa, só de mimeógrafo. xerox e
projetores — que, embora convenientes, nada inovam na pedagogia.
Fora da escola acadêmica, os
computadores dão certo. A educação informal os utiliza bem e, em alguns casos, os utiliza muito. Pesquisas mostram mais aprendizado por
parte de alunos com computadores
em casa. Estudo recente do Positivo
identificou um uso intenso das redes
sociais entre os alunos, em fóruns de
discussão criados por eles e com
mínima participação dos professores.
Dito isso, quero ser o oráculo de uma
revolução tecnológica: hoje é possível levar a qualquer brasileiro a melhor aula expositiva do mundo, a um
custo que se aproxima de zero.
Como assim?
Se o melhor dos melhores professores gravar uma aula, com o auxílio de todos os recursos
audiovisuais, estúdios e direção, essa
aula será melhor do que sua versão
ao vivo, nua dos complementos da
produção. Portanto, substituiria a
exposição do professor, monotonamente repetida.
E, se ela for vista por muitas pessoas, o custo por aluno será ridiculamente baixo. O Telecurso 2000 é
um belo exemplo, pois nenhum professor é capaz de dar uma aula tão
perfeita. A produção dos vídeos custou 30 milhões de dólares. Mas,
como 6 milhões já se formaram, o
custo por aluno é de 5 dólares apenas! Por aula, é um centavo. É ou
não é uma revolução?
Na esteira desse salto quântico na
tecnologia, aparece uma multidão de
iniciativas. A Kahn Academy é das
mais conhecidas. Coursera e outras
entram em cena, oferecendo ensino
de massa e gratuito. Como sou
carapina amador, aprendo a trabalhar com vídeos dos melhores marceneiros do mundo. É um privilégio
ao alcance de todos. Esse avanço
nos leva a duas encruzilhadas. A primeira é saber se haverá um casamento do EAD (ensino a distância) de
massa com o ensino acadêmico e
seus diplomas. Como fica um biólogo educado no computador e a custo zero? Super aulas de graça sem
diploma ou aulas chatas com diploma? Nos Estados Unidos, começase a falar de educação na nuvem com
diplomas oficiais. O ensino tradicional tem boas razões para tremer nas
bases. A segunda nasce do fato de
que uma aula expositiva é apenas um
pedaço de uma educação de qualidade. Como fica o resto, que envolve aplicação, prática e depende da
interação entre alunos e professores?
Há um sem-número de alternativas,
presenciais ou a distância. Em algumas, como o Telecurso, há um
monitor na sala de aula. Mas exis-
Continua
Continuação
16/10/13
tem cursos EAD em que uns poucos
tutores atendem os alunos, via
internet. E outros com muitos tutores. Há versões em que a inteligência artificial, instalada nos computadores, substitui a atenção pessoal do
professor. Obviamente, os custos
variam. Há cursos EAD mais caros
que seus correspondentes
presenciais. E há cada vez mais cursos gratuitos.
Embora os cursos a distância
possam apresentar rendimentos
equivalentes ou melhores, não somos
capazes ainda de destrinchar os méritos da multiplicidade de alternativas existentes e a existir. Só dá para
prever que o curso presencial puro
está ameaçado. Mais outra revolução que vai gorar? Ou um
realinhamento nas formas de ensinar,
trazendo terremotos à organização
do ensino?
16/10/13
00
Maílson da Nóbrega
A maldição do petróleo e a educação
Em recente e concorrida cerimônia, foi sancionada a lei que destina
75% dos royalties do petróleo para a
educação e 25% para a saúde. Do
mesmo modo. serão aplicados 50%
do Fundo Social do pré-sal. A medida
vai evitar, segundo a presidente
Dilma. a "característica terrível" da
"maldição do petróleo. Ela se empolgou. "Nós vamos assegurar, com esses recursos. um patamar de desenvolvimento bastante similar ao dos
países desenvolvidos." Será?
A "maldição do petróleo" vem do
artigo de Jefírey Sachs e Andrew
Warner ("Natural Resource
Abundance and Economic Growth",
1995). Eles mostraram que países ricos em recursos naturais crescem
menos, pois essa fonte de riqueza tende a gerar desperdícios em meio a
corrupção e a entraves burocráticos.
Gastos correntes crescem em detrimento de ações na infraestrutura e
no fortalecimento institucional. As
políticas de desenvolvimento beneficiam grupos influentes.
Ao contrário do que se pode pensar, o êxito é possível sem amplos
recursos naturais. No século XVII, a
Holanda eclipsou a Espanha, então
detentora de minas de ouro e prata
no Novo Mundo. Entre os séculos
XIX e XX, o Japão superou a Rússia
rica de recursos naturais. Outro
exemplo é o sucesso de Singapura.
Taiwan. Hong Kong e Coreia do Sul.
Há casos que não confirmam a tese
daqueles autores. Na Inglaterra, o
carvão mineral contribuiu para a Re-
volução Industrial. Os Estados Unidos enriqueceram ao tempo em que
exportavam recursos naturais. No
Mar do Norte, o petróleo não gerou
desperdícios.
É difícil partilhar das loas da presidente Dilma à nova lei. O problema
da educação não é de falta de recursos, mas de boa gestão e de prioridades, como afirmei nesta coluna. Essa
é também a opinião de outro colunista
e um de nossos melhores estudiosos
da matéria, Gustavo Ioschpe. Cabe
reconhecer, porém, que a maioria concorda com a empolgação de Dilma.
Ademais, é amplo o apoio ao projeto
de lei que elevaria tais gastos para
10% do PIB, mesmo que, proporcionalmente, seu nível atual (5,8% do
PIB) seja próximo do observado nos
Estados Unidos e na Alemanha, e supere os do Japão, da China e da
Coreia do Sul.
Há quem busque provar que aplicamos pouco em educação mediante
comparação dos nossos gastos por
aluno com os dos países ricos. De fato,
o relatório Education at a Glance 2013,
da OCDE, indica que, somados os
gastos públicos e privados, os Estados Unidos investem 15171 dólares
por estudante: o Brasil, apenas 3067
dólares. Aí estaria, diz-se, a origem
do fracasso brasileiro em educação.
Por isso, remuneramos mal nossos
professores e não investimos adequadamente em tecnologia. De fato,
pouquíssimas escolas do ensino fundamental possuem laboratório de ciências.
Esse tipo de comparação é despropositado. Não é possível cotejar
gastos públicos de países sem levar
em conta as diferenças de renda per
capita entre eles. O correto é fazer
comparações em termos proporcionais (porcentuais do PIB). Os Estados Unidos despendem em educação
4.9 vezes mais do que o Brasil simplesmente porque são mais ricos. Segundo o World Economic Outlook. do
FMI, em 2010 a renda per capita
americana era de 46 811 dólares e a
do Brasil de 10992 dólares, ou seja, a
deles é 4.3 vezes a nossa. Por aí, também ficamos próximo deles. O relatório da OCDE mostra que os gastos
americanos por estudante são 65%
maiores do que a média da União
Européia, mas os dois grupos exibem
qualidade de educação semelhante. O
critério quantitativo, como se vê, nem
sempre é o melhor para aferir o desempenho de distintas políticas públicas. Será ainda menos adequado
quanto maior for a distância entre as
rendas per capita dos países considerados.
Precisamos revolucionar a gestão
das políticas educacionais. Por exemplo, remunerar os professores por
desempenho e deixar de designar diretores de escolas por interesses políticos. Enquanto essas e outras mudanças não vierem, aumentar gastos
públicos pode ajudar, mas é provável
que gere mais desperdícios e não contribua para melhorar a qualidade da
educação. Como ensinou Cristo, "ninguém deita remendo de pano novo em
roupa velha porque semelhante remendo rompe a roupa e faz-se maior
a rotura" (Mateus 9:16).
16/10/13
BRASIL
00
A vitória da baderna
Diante de uma polícia acuada, os arruaceiros se fortalecem e
surgem mais violentos e destemidos do que no início dos protestos
Daniela Lima e Bela Megale
Horas depois da ação coordenada de black blocs que deixou
destruídas lojas de São Paulo e do
Rio de Janeiro e espalhou o pânico
nas duas cidades, o comandantegeral da PM paulista, coronel Benedito Meira, pediu licença para
mostrar um vídeo ao governador
Geraldo Alckmin. Além de oficiais
da PM, estava presente à reunião
toda a cúpula da Secretaria de Segurança do Estado. No filme, gravado na segunda-feira em frente à
Secretaria Estadual de Educação,
no centro da capital, o que se via
era uma fileira de mascarados vestidos de preto avançando na direção
de uma acuada tropa de policiais
militares. Provocando os homens
com gritos como "não estudou, tem
que estudar, para não virar polícia
militar", os mascarados começam
lançando pedras na direção da tropa. "Calma. calma", orienta o oficial
responsável pelo agrupamento. Em
seguida, vêm as bombas. São três
estouros. Os policiais permanecem
no lugar, tentando se defender atrás
dos escudos. No fundo, a voz do
comandante desestimula qualquer
outra reação. "Mantenham a calma,
mantenham a calma", insiste.
Ao ver o filme, um dos oficiais
afirmou: "Eu não entro em favela
com um 38 para combater traficante armado de fuzil. Também não
posso reagir com um cassetete contra quem vem para cima com coque-
téis molotov". No mesmo dia,
Alckmin decidiu revogar a proibição
do uso de balas de borracha,
suspenso desde 17 de junho. Quatro dias antes, uma atuação descontrolada da Tropa de Choque da PM
atingiu com balas de borracha dezenas de manifestantes e jornalistas que
cobriam protestos na região central
de São Paulo. Desde então, as balas foram banidas no estado—junto
com a autoridade da polícia, que
passou a atuar intimidada, incerta de
seus limites e receosa do julgamento
da opinião pública. No Rio de Janeiro, uma situação parecida ocorreu. Depois dos primeiros protestos
de junho, dos quais dezenas de pessoas saíram feridas, os policiais não
só pararam de impedir as depredações como se deixaram encurralar
por arruaceiros que invadiram a
Assembleia Legislativa.
Além da hesitação das polícias,
nas duas cidades, afrouxaram-se os
protocolos para lidar com as manifestações. Em vez de cumprirem a
regra de informar previamente às
autoridades horário e itinerário dos
protestos, os manifestantes passaram
a improvisar livremente seus atos. A
polícia tinha de descobrir onde eles
ocorreriam por meio das redes sociais ou à medida que aconteciam.
Tudo isso fortaleceu os black
blocs. Na semana passada, eles
mostraram que estão mais organizados e mais bem armados. Os pedaços de pau e pedras deram lugar a
esferas de aço e coquetéis molotov,
agora lançados com estilingues. Os
rojões passaram a vir reforçados
com bolas de gude e outros objetos,
de forma a se transformarem em
morteiros lançados contra a polícia.
"Houve um aumento da ousadia desses grupos que se infiltram nas manifestações e atuam para desmoralizar
o estado. Eles estão mais predispostos a partir para o enfrentamento",
afirma o coronel Reynaldo Simões
Rossi, comandante do batalhão que
monitora a região central de São
Paulo. "Tenho policiais afastados há
mais de sessenta dias, homens com
fratura de face, mandíbula e risco de
perder a visão", afirma. Um desses
feridos foi atingido na segunda por
um rolamento lançado por estilingue.
O lado esquerdo de sua face terá de
ser reconstituído, e ele corre o risco
de perder a visão. Não há dúvida de
que a escalada da violência dos
black blocs se deu no vácuo da atuação da polícia. "Ficamos entre a
prevaricação e o abuso de autoridade", reconheceu o secretário de Segurança do Rio, José Mariano
Beltrame.
Investigações da inteligência policial paulista mostram uma coordenação inédita entre os grupos de várias cidades, como se viu na segunda passada. Eles se provocam uns
aos outros, numa competição para
ver quem vai ser o mais violento.
"Quando é que São Paulo vai dar um
"salve"?, cutucaram cariocas, usando a gíria comum entre criminosos
Continua
Continuação
16/10/13
de facções como o Primeiro Comando da Capital (PCC) para designar uma ordem de ação criminosa. A comunicação se dá sobretudo
por meio de redes sociais como o
Facebook e a N-l. mais difícil de ser
rastreada.
Na reunião de segunda-feira com
a cúpula da segurança, o governador Alckmin recebeu das mãos do
delegado-geral da Polícia Civil, Luiz
Mauricio Blazeck, um relatório preparado pela equipe de inteligência
que revelava, entre outras coisas, que
para organizar protestos nas redes
sociais os black blocs criam vários
perfis falsos, de maneira a dificultar
o rastreamento da polícia. A peça,
com mais de 200 páginas, reúne informações trocadas pelos jovens que
a polícia acredita serem os cabeças
da violência.
Embora tardia, a contraofensiva
do estado à ação dos black blocs
parece que começa finalmente a ser
traçada. Desde o início dos protestos, já foram abertos cerca de 100
inquéritos relacionados a vandalismo
e agressões. Mas, como as investigações são dispersas, os casos não
andavam. Agora, todas as informações sobre as lideranças dos black
blocs serão organizadas em um único inquérito. A tática, espera-se. facilitará o enquadramento dos culpados em crimes como associação criminosa e formação de quadrilha, o
primeiro passo para impedir que os
presos de hoje de manhã estejam na
rua à tarde.
"Hoje. na maioria dos casos, o
policial leva o indivíduo para a delegacia e ele não passa nem uma noite
lá", diz o secretário da Segurança
Pública de São Paulo, Fernando
Grella. "Será que isso é suficiente
para inibir e punir esses comportamentos que, mais do que causar
dano, ofendem a paz pública, geram
intranquilidade e afetam diretamente
o direito de manifestação?", pergunta ele. Para quem não anda por aí de
cara tapada e molotov na mão, a resposta certamente é não.
Colaboraram Pâmela Oliveira e
Leslie Brandão
16/10/13
BRASIL
00
Em defesa da maioria
Ao contrário do que ocorre no
Brasil, os policiais dos países mais
civilizados e democráticos do mundo são apoiados e admirados na
contenção dos baderneiros
Há poucas semanas, no final da
tarde de um sábado já não tão quente
em Paris, os alto-falantes das linhas
de metrô com estações na ChampsÉlysées anunciavam, a cada dez minutos, que os trens não parariam
para embarcar ou desembarcar passageiros na avenida mais conhecida
da cidade, por motivo de segurança. Não havia problema nos trilhos
ou ataque terrorista. Foi só uma
maneira de evitar que uma passeata
não autorizada contra o casamento
gay fosse engrossada por simpatizantes ou confrontada por eventuais
oponentes. Os manifestantes, um
grupo católico autointitulado Veilleurs. algo como "Vigias da Noite",
haviam convocado simpatizantes
para descer a Champs-Élysées, do
bairro modernoso de La Défense em
direção à Place de la Concorde,
onde eles se concentrariam. acenderiam velas e rezariam pela revogação da lei aprovada neste ano. Na
quarta-feira anterior, a polícia já havia anunciado que não permitiria a
passeata divulgada pelas redes sociais, visto que não fora contatada
por interlocutores do movimento
para conversar a respeito do assunto. "Todos os cortejos em vias públicas devem ser precedidos por um
aviso prévio, o que até o momento
não foi feito", lembrou a polícia. Os
manifestantes retrucaram, via redes
sociais outra vez. afirmando que iriam fazer a passeata mesmo assim,
porque eles andariam nas calçadas,
e não no meio da rua. Bravata. Não
houve passeata nenhuma — de trinta em trinta pessoas, sem carregar
faixas ou gritar slogans, eles rumaram
até a Place de la Concorde. Como
era sábado à noite, e nada daquilo
prejudicava a circulação na área, já
havia sido permitido que executassem a sua pajelança por lá. sob os
olhares de policiais e de poucos turistas.
Sim, você leu certo: na França,
manifestações, sejam elas contra, a
favor ou muito pelo contrário, precisam ser autorizadas pela polícia ou
elas simplesmente não ocorrem. Se
se desrespeita a proibição ou as normas que a regulam são burladas, o
resultado é previsível e até desejável
pela maioria dos cidadãos: entra em
ação o aparelho de repressão do
Estado, detentor, no contrato social,
do monopólio das ações enérgicas.
Na Inglaterra, as regras são semelhantes. Evidencie-se aos distraídos
que não se está falando de ditaduras
ou arremedos de democracia, como
Cuba. Coreia do Norte ou Rússia, e
sim do núcleo duro do Ocidente,
onde a liberdade de expressão, informação e opinião é, mais do que
cláusula pétrea das respectivas constituições, ingrediente da receita essencial que o formou. As manifestações ininterruptas no Brasil, da forma como vêm se dando, são cho-
cantes no exterior porque é incompreensível para um cidadão europeu
que, num país em que vigora a democracia plena, bandos de pessoas
possam bloquear ruas a seu bel-prazer, infernizando o cotidiano de milhares de outras, para dar curso a
reivindicações de quaisquer sabores.
Quanto à invasão cotidiana de prédios públicos, de sedes de empresas e à depredação de bancos, lojas
e estações de metrô — bem, aí parece mesmo coisa de outro planeta.
O dos macacos.
A ordem e o respeito à lei não
são empecilho a protestos que fazem
parte do jogo democrático. Paris, na
condição de capital francesa e centro de convergência internacional, é
uma festa — em especial, para manifestantes. Em Londres, não é diferente. Uma das principais caixas de
ressonância mundiais, a capital inglesa conta com protestos frequentes,
controlados por regras estritas e policiais com grande grau de autonomia para lidar com possíveis imprevistos. Neste momento, enquanto o
repórter escreve, sírios pró-intervenção ocidental fazem algazarra lá embaixo, ao lado da Assembleia Nacional francesa, na pracinha Édouard
Herriot. É um ritual quase diário. Os
manifestantes chegam com antecedência em relação à hora combinada. Podem ser imigrantes ilegais africanos querendo documentos, árabes
gritando contra regimes despóticos,
franceses clamando por mais benefícios e por aí vai. Eles se instalam na
Continua
Continuação
pracinha bloqueada por grades e vigiada por soldados, pendurara os
seus cartazes, agitam bandeiras, gritam, cantam, dão entrevistas a repórteres e, depois de duas a três horas,
em média, se dispersam sem confusão, conforme o acertado, até as 9
da noite. Pois é, tem horário. Na gigantesca manifestação ocorrida contra o casamento gay, em janeiro, que
reuniu 800000 pessoas aos pés da
Torre Eiffel, sob um frio de freezer,
os oradores apressaram os seus discursos porque tudo deveria terminar
às 8 da noite, segundo o acordado
com a prefeitura e as forças policiais.
Horário e lugar. Manifestações
diante do palácio presidencial do
Eliseu. Proibido. Do palácio do primeiro-ministro, Matignon. Proibido.
Do Senado, no Jardim de
Luxemburgo. Proibido. Da
Assembleia Nacional. Proibido. De
ministérios. Proibido. Em avenidas
vitais para a circulação de carros e
transporte público. Proibido. Neste
ano, por duas vezes tentaram pegar
as autoridades de surpresa na Place
du Palais Bourbon, em frente à
Assembleia. Na primeira, em janeiro, agricultores sequiosos por mais
subsídios governamentais apareceram de manhã, espalharam alfafa nas
adjacências do portão e, quando
estavam para soltar uma vaca amedrontada, pobrezinha, de dentro de
um caminhão (ótima imagem para
jornais e TVs), policiais chamados
às pressas os impediram de fazê-lo.
Uma hora mais tarde, mais ou menos, a praça estava limpa — de manifestantes, alfafa e vaca. Na segunda, em maio, os Veilleurs irromperam
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à noite e se sentaram no chão da praça. Queriam fazer uma vigília de orações madrugada adentro. Foram
cercados por soldados, e um sargento lhes comunicou que seriam retirados à força, caso resistissem a sair.
O argumento de que queriam apenas rezar não comoveu as almas uniformizadas. "Rezar. Aqui, também
não pode", replicou o sargento. Tudo
acabou na santa paz laica.
Na França, um decreto-lei de
1935 (há oitenta anos. portanto) definiu os parâmetros a ser obedecidos por quem deseja exercer o direito de protestar nas ruas. Eis alguns:
Com três dias de antecedência,
no mínimo, três organizadores devem
enviar uma declaração por escrito à
prefeitura ou ao comando da polícia
sobre a intenção de fazer uma manifestação. Dessa declaração precisam
constar os seus nomes completos, os
seus domicílios fixos, o dia, a hora e
o itinerário a ser seguido pelo cortejo ou, no caso de ser apenas uma
concentração de pessoas, sem passeata. o local escolhido para a gritaria.
Se a prefeitura ou a polícia estimarem que a manifestação constitui
ameaça grave à ordem pública ou
que o aparato policial não está apto
a garantir a segurança. elas poderão
proibi-la.
Antes que o leitor veja no segundo item uma forma de filtrar inconveniências ideológicas, diga-se que
as interdições. por lei, devem ser
exceção e que, na hipótese de os
organizadores se acreditarem censurados, existe a possibilidade de recorrer a um juiz, em caráter de urgência. Das centenas de manifestações que ocorrem em Paris a cada
ano, não mais do que seis são vetadas. De acordo com a prefeitura.
40% são relativas a assuntos estrangeiros. Os sírios lá embaixo, na Place
Édouard Herriot, por exemplo.
Governadores brasileiros decidiram proibir o uso de máscaras em
manifestações. Não há nada de autoritário nisso. É uma ótima maneira
de domar os incivilizados que se
infiltram em atos que se querem civilizados — e de começar a civilizar
quem pede mais civilização, mas dá
uma piscadela cúmplice aos
baderneiros, para em seguida jurar
que nada tinha a ver com eles. Segue-se, aqui, a cartilha da França, da
Inglaterra e do Canadá. Um decreto-lei do governo francês de 2009
vetou as máscaras completamente,
seja no interior de um protesto, seja
nos seus arredores, como forma de
prevenir a ação de arruaceiros. Os
desobedientes são detidos, fichados
e têm de pagar uma multa de 1500
euros (ou 4500 reais). Em caso de
reincidência no prazo de um ano, o
valor dobra. No Canadá, uma lei
aprovada recentemente pune com
pena de até dez anos de prisão quem
participar mascarado de qualquer
perturbação da ordem pública. O
motivo foi um tumulto em Vancouver, quando o time de hóquei no gelo
local perdeu a final do campeonato
americano e o centro da cidade ficou praticamente em ruínas. Não é
preciso pedir autorização para organizar protestos, desde que eles não
Continua
Continuação
obstruam ruas nem calçadas. Os
policiais acompanham os cortejos e
só entram em ação quando a coisa
sai do controle. Foi o que ocorreu
em Toronto, em 2010, durante uma
reunião do G20 na cidade. Black
blocs, sempre eles, resolveram incendiar viaturas de polícia e destruir
agências bancárias. Centenas deles
foram presos e processados. "É o
que fazemos com criminosos", resumiu o prefeito David Miller.
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Nos Estados Unidos, o histórico
de repressão desmesurada aos movimentos em defesa de liberdades
civis, na década de 60, principalmente, constrange até hoje as autoridades de cada estado americano no
estabelecimento de normas mais rígidas para manifestações. "No entanto, impor restrições de tempo, lugar e organização a protestos passou a ser prática comum, embora não
inteiramente formalizada", diz o so-
ciólogo Alex Vitale, especialista em
movimentos sociais do Brooklyn
College, em Nova York. Em geral,
são exigidos pedidos de permissão
para ajuntamentos que excedam
cinquenta pessoas, sem que sejam
necessárias maiores especificações.
De qualquer forma, badernas estão
longe de ser toleradas. Desde 1998,
o direito de protestar tomou-se mais
restrito no país, se for considerado
uma perturbação da segurança na-
Continua
Continuação
cional — termo que costuma designar eventos que contem com a presença do presidente americano e
convenções de partidos políticos.
"Observamos que a polícia vem utilizando mais energia em oportunidades em que há pouca provocação por
parte dos manifestantes"", critica o
especialista em resolução de conflitos Stephan Sonnenberg. Talvez o
senhor Sonnenberg pensasse diferente se estivesse do outro lado dos
escudos de choque. É proibido, no
entanto, policiais à paisana se misturarem a manifestantes. A sua identificação precisa estar bem visível, ao
contrário do que acontece na França, onde quase sempre há agentes
disfarçados em meio a manifestantes. Por ocasião dos protestos do
movimento Occupy Wall Street,
Nova York ressuscitou uma legislação municipal datada de 1845,
reeditada em 1965, que bania o uso
de máscaras fora do âmbito de festas. Justificou-se dessa maneira a
prisão de sete pessoas que usavam
a carranca do personagem
Anonymous. A detenção de mascarados não é automática na cidade
americana, mas, dependendo da situação, a lei escuda os policiais.
O uso de máscaras não é proibido na Inglaterra, mas os policiais têm
o direito, por lei, de pedir a um manifestante que mostre o rosto em situações nas quais eles julguem o sujeito perigoso à ordem pública. Isso
inclui maquiagens ou pinturas faciais
que escondam a sua identidade.
"Uma pessoa que se recusa a remover um item de vestuário ou outro
qualquer, quando isso for solicitado
por um policial no exercício da sua
16/10/13
atividade, comete uma infração e
poderá responder por isso", disse a
VEJA Dave Lockyear. responsável
pela comunicação da polícia de Londres. Os policiais encarregados de
zelar pelo bom andamento de um
protesto podem deter um suspeito
por um prazo de até 24 horas, extensível por outras 24. período suficiente para que as engrenagens da
Justiça entrem em funcionamento,
seja para abrir um inquérito, seja para
liberar o detido. As regras para manifestações na capital inglesa são
detalhadas como as de Paris, com a
diferença de que é necessário notificar as autoridades com seis dias de
antecedência, no mínimo, e de que
basta fornecer os dados de um único organizador. O lado quase enternecedor é que a polícia londrina chama atenção para os benefícios que
tem quem obedece às normas: "Você
pode encontrar a garantia de que o
seu evento ou protesto não se chocará com o de outro grupo que pretenda utilizar os mesmos locais": "
Nós poderemos facilitar a realização
do seu protesto no que for possível
e aconselhá-lo sobre a melhor forma de gerenciá-lo": "Nós poderemos
mantê-lo a par de qualquer informação a respeito de quem queira protestar contra o seu protesto".
O carrasco-mor da Revolução
Francesa. Maximilien de
Robespierre, afirmou, em 1794, que.
"quando o governo viola os direitos
do povo, a insurreição é para o povo
o mais sagrado e o mais indispensável dos deveres". No mesmo ano, ele
perderia a cabeça na guilhotina, em
outra prova de como, naquele período, a violação dos direitos popula-
res ainda era uma questão que dependia somente do ponto de vista de
quem puxava a corda que fazia descer a lâmina. Paris foi moldada fisicamente por insurreições — essa é
a palavra que interessa aqui. No fim
do século XVIII, os revolucionários
aproveitaram-se das estreitas e tortuosas ruas medievais para erguer
barricadas, fugir das tropas reais ou
encurralá-las. A intrincada malha urbanística ajudou-os, assim, a derrubar a prisão da Bastilha, promover
o quebra-quebra de outros símbolos da monarquia absolutista e vandalizar igrejas. Durante a "primavera
dos povos", em 1848, idem. Em
1871, com a maior parte das reformas efetuadas por Georges-Eugène
Haussmann já realizadas, os rebeldes da Comuna de Paris encontraram muito mais dificuldade para manter a cidade em seu poder.
Isso porque, sob os auspícios de
Napoleâo III, sobrinho do Bonaparte
corso, Haussmann havia posto abaixo o emaranhado de casarios insalubres da Idade Média, retificado os
quarteirões, rasgado a paisagem
com avenidas largas e parques e definido o gabarito para as construções
parisienses que vigora até hoje
inalterado no essencial. O propósito
ia além do embelezamento e da modernização da capital da França. Tratava-se, ainda, de desenhar uma geografia que permitisse às autoridades mais eficácia na contenção de
insurreições — eis aí a palavrinha
outra vez —. por meio do rápido
deslocamento de soldados e do uso
de canhões. Os (pouquíssimos e tardios) resistentes franceses, aliás, experimentaram o efeito Haussmann
Continua
Continuação
sob a Paris ocupada pelos nazistas.
Em maio de 1968, os estudantes
amotinados no Quartier Latin lançaram mão da derradeira arma antiga
à disposição de insurretos — paralelepípedos arrancados do pavimento das ruas. O governo do presidente Charles de Gaulle, então, decidiu
asfaltar a região conhecida como a
Velha Paris.
As insurreições no Ocidente —
contra reis tirânicos, metrópoles coloniais, ditaduras ou invasores estrangeiros — foram um fator decisivo
para a construção da democracia. O
seu sucedâneo, numa escala que se
diria evolutiva, são as manifestações
pacíficas, como forma de pressão
sobre os representantes do povo nos
poderes constituídos. No berço do
Ocidente, elas são asseguradas pelo
artigo 10 da Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão e pela
Convenção Européia dos Direitos
Humanos. A redação desta última é
exemplar: "A liberdade de manifestar a sua religião ou as suas convicções não pode ser objeto de restrições que não aquelas que, previstas
pela lei, são necessárias, em uma
sociedade democrática, para a manutenção da segurança, a proteção
da ordem, a saúde ou a moral públicas, ou a proteção dos direitos e das
liberdades dos demais indivíduos".
Ou seja, insurreições na plena vigência do estado de direito não passam
de tentativa de destruição do
arcabouço democrático e, por isso,
devem ser reprimidas.
Nos países civilizados, insurreição
é um conceito que se estende do
enfrentamento armado com as forças da ordem à desobediência cons-
16/10/13
tante aos marcos reguladores das
manifestações legítimas. Marcos que,
no caso específico das passeatas,
visam a que a liberdade de expressão não se sobreponha a outra liberdade fundamental: a de ir e vir de
todos os cidadãos. Nesse contexto,
a polícia está investida do poder de
reagir com firmeza contra aqueles,
que desrespeitem os limites e confrontem a democracia. Em março, o
movimento contra o casamento gay
(ainda é o maior assunto na França,
fazer o quê? promoveu quatro passeatas simultâneas em Paris. Numa
delas, um grupo de ultradireita resolveu promover um débordement. um
transbordamento do circuito combinado. Os policiais impediram a ação,
os ultradireita decidiram enfrentá-los
— e tomaram pau. Ninguém, absolutamente ninguém, censurou o uso
de força. Pelo contrário,"a polícia foi
elogiada à esquerda e à direita.
Tome-se um exemplo oposto. Na
comemoração da conquista do campeonato francês de futebol, em maio,
o Paris Saint-Germikin escolheu
como palco (la festa o Trocádéro. o
lugar de onde se tem; a melhor vista
para a Torre Eiffel. No fim, arruaceiros iniciaram uma confusão. Os
policiais partiram para cima, conforme o manual, com o lançamento: de
gás lacrimogêneo e o disparo de balas de borracha — mas se viram criticados por não ter evitado a
bagunça.a tempo. Dá para imaginar
isso no Brasil?
Cassetetes, tasers, canhões
sônicos, balas de borracha e bombas de gás lacrimogêneo, fazem parte
do equipamento dos policiais destacados para enfrentar multidões.
Eliminá-los, como chegaram a suge-
rir desmiolados em São Paulo, equivaleria a mandar um gladiador desarmado para uma arena cheia de
leões. É importante notar que todas
essas armas foram desenvolvidas
para não causar mortes nem
ferimentos demasiado graves, quando usadas com perícia. São sinônimo de energia, não de selvageria,
como parecem acreditar os sambistas brasileiros que defendem os black
blocs contra a polícia, numa inversão de valores que é uma das nossas tristes verdades tropicais. Às
voltas, com motins violentos nas
banliues, as periferias das grandes
cidades, protagonizados em sua maioria por jovens imigrantes. As autoridades francesas, em 2011, deram
um passo além. Se atacados com
armas de fogo diante uma manifestação, os policiais foram autorizadòs
a responder com balas de verdade desde que provenientes de fuzis de
repetição, calibre 7L62 x 51 mm.
Houve quem gritasse contra a
medida, afirmando que se tratava de
um retrocesso aos tempos de
Napoleão Bonaparte. Boa parte da
ascensão de Napoleão ao poder, se
deve ao fato de ter esmagado, em
1795, uma insurreição monarquista
que ameaçava a Convenção Nacional, a instância máxima de governo
dos revolucionários franceses, instalada no então Palácio das Tulherias
(incendiado em 1871. por ancestrais
dos black blocs). Napoleão mandou
as tropas sob o seu comando utilizar
artilharia pesada —: canhões de
boca larga, como os expostos nos
Invalides, para ser mais exato —
contra os rebelados, matando 1 400
deles. Evidentemente, trata-se de
uma comparação exagerada. A per-
Continua
Continuação
16/10/13
missão para usar armas de fogo contra manifestantes é restrita a casos
extremos e só foi possível porque os
franceses contam com policiais muito bem treinados.
Em 1969, um ano após os distúrbios causados pela estudantada da
Sorbonne, em Paris, Charles de
Gaulle inaugurou o Centre National
d"Etrainement des Forces de
Gendarmerie (CNEFG), onde as
forças antimotim são adestradas para
executar as suas funções. Todos os
policiais perencentes a essas
corporações passam pelo complexo localizado em Saint-Astier, a 500
quilômetros a sudoeste de Paris que
nos seus 140 hectares abriga até
mesmo uma pequena cidade artificial que serve de cenário à simulação
de revoltas. De dois em dois em
anos, os gendarmes, como são chamados esses soldados na França são
obrigados a fazer uma reciclagem no
CNEFG, que, como o maior centro
desse tipo na Europa,, recebe alu-
nos da Itália, Espanha e Holanda,
entre outras nações. O lema do
CNEFG é ""O policial age como ele
treina. Ele, enquanto, deve adestrarse como quer agir". A responsabilidade é desse meio, também do
guardião da ordem, graças ao treinamento intenso e contínuo, você
jamais verá um batalhão francês
acuado como os pelotões de choque brasileiros. Recomenda-se aos
governantes brasileiros estabelecer
uma parceria com o CNEFG.
Agora, no fim desta reportagem,
os sírios pró-intervenção ocidental
deram lugar a manifestantes africanos que pedem o visto de residência
permanente na França. São os mais
barulhentos, mas nenhum deles ousa
pensar em atirar uma pedra numa das
janelas da Assembleia Nacional.
Com reportagem de Tatiana
Gianini
16/10/13
00
Gustavo Ioschpe
Seu valor é determinado por seu salário?
Você acha que os médicos brasileiros ganham bem? Eles têm os
maiores salários médios do país.
Pois saiba que um médico americano ganha quatro vezes mais. Eu já
ouvi muitos argumentos para explicar como melhorar o quadro da saúde brasileira. Inclusive do pessoal
que diz que faltam verbas para o
setor e que a solução é investir mais,
ressuscitar a CPMF, entre outras.
Mas não me recordo de ter ouvido
alguém sugerindo que o problema
era o salário dos médicos. Nem
muito menos, que as diferenças entre o sistema de saúde brasileiro e o
americano se explicam pelo fato de
que os nossos médicos ganham quatro vezes menos do que seus colegas americanos.
E os nossos dentistas? É a segunda carreira mais bem remunerada do país. Não sou especialista no
setor, mas acho que estão fazendo
um bom trabalho: o sorriso dos brasileiros é bem mais arrumado do que
o de habitantes de outros países em
desenvolvimento, como, por exemplo, os chineses, e até de países ricos, como os ingleses. Mas. Veja
só, coitados! Ganham 5.4 vezes
menos do que os dentistas americanos, que levam para casa, anualmente, o equivalente a 346000 reais,
contra 64000 reais dos brasileiros.
mundo. Mas, mordam-se de inveja:
os advogados americanos ganham
4,4 vezes mais. De novo, já li muitas
análises sobre o que precisa ser feito para melhorar nosso sistema legal, mas não me recordo de nenhum
protesto da OAB sugerindo que nossas deficiências se explicam pela distância entre o salário dos nossos
causídicos e seus congêneres do
Hemisfério Norte. O que dizer então de nossos artistas? Sinceramente, acho-os melhores do que os americanos, especialmente na música.
Como explicar então que ganhem
quase quatro vezes menos do que os
compatriotas de Madonna? E nossos profissionais de marketing e propaganda, que todos os anos levam
uma enxurrada de leões em Cannes
e criam promoções e eventos tão
criativos? Quantos Washington
Olivetto e Nizan Guanaes os americanos produziram? Quantos Rock in
Rio e carnavais? Nenhum. Mas —
ó destino cruel — nossos profissionais de marketing e propaganda recebem 3.5 vezes menos que seus
concorrentes americanos. Não 3,5%
menos, nem 35% menos: 3.5 vezes
menos. E, por mais criativos e originais que sejam nossos — publicitários, ainda não vi nenhum deles sugerir que, se ganhassem 3.5 vezes
mais, seriam ainda mais espetaculares.
E os advogados brasileiros?
Como mostra a fábrica de pizzas que
sai do nosso Judiciário, certamente
devem estar entre os melhores do
Essas diferenças são praticamente iguais para qualquer profissão de
nível superior que você queira comparar — os dados de vinte delas es-
tão disponíveis em twitter.com/
gioschpe. Na média dessas profissões, os americanos ganham 3,55
vezes mais que os brasileiros. Se retirarmos engenheiros e arquitetos da
conta, a relação vai a 3,76. Entre
essas carreiras, está a dos profissionais da educação. Os americanos
ganham 3,97 vezes mais do que os
brasileiros. Ou seja, a diferença entre professores brasileiros e americanos está bastante em linha com a
observada em todas as demais profissões. Se você acha que o professor brasileiro ganha pouco, deveria
notar que ganha pouco por ser brasileiro, não por ser professor.
Essa diferença existe porque os
países têm nível muito desigual de
renda média, o PIB per capita. O
americano é quatro vezes maior do
que o brasileiro. Então é normal e
esperado que, em todas as carreiras, haja uma diferença dessa magnitude entre um profissional brasileiro e outro americano. Isso não é
prerrogativa dos EUA. Usei este país
pela facilidade de obtenção de dados. Pegue a média dos países desenvolvidos e verá que a diferença é
a mesma. Pegue a média dos países
da África Subsaariana e verá que a
diferença também será a mesma,
apenas com o sinal trocado. Isso é
óbvio. Por isso é que sempre me
causa surpresa quando alguém pega
um dado de gasto nominal em educação e diz assim: ""Precisamos investir mais em educação se quisermos ter qualidade de Primeiro Mun-
Continua
Continuação
do. Enquanto o gasto médio por aluno dos países da OCDE for de 8 893
dólares e o do Brasil for de 2 849
dólares, não poderemos esperar que
a qualidade seja comparável". Que
professores e sindicalistas repitam
esse mantra, até entendo. Como disse Upton Sinclair: "É difícil conseguir
que uma pessoa entenda algo quando o seu salário depende de que não
entenda". Mas ouvir isso de gente
inteligente e bem-intencionada é apenas um sinal de que o discurso das
corporações dos professores abalou
o discernimento mesmo das melhores mentes. Quase quatro quintos
(78%) do gasto com educação no
Brasil são destinados a pagar salários de professores e funcionários.
Para que o Brasil gaste, em termos
nominais, o mesmo que um país desenvolvido, seria necessário que os
profissionais da educação ganhassem
o mesmo que seus pares de países
desenvolvidos. Seriam. Então, a única categoria profissional com remuneração nesse patamar, em um país
em que as demais profissões ganham
quatro vezes menos.
Essa não é uma questão menor.
É em virtude dessa incompreensão
16/10/13
sobre gastos diferentes para realidades diferentes que o Brasil já comprometeu os ganhos do pré-sal em
um sistema educacional fracassado,
e agora caminha para queimar mais
incríveis 5% do PIB ao aumentar os
investimentos em educação de 5%
para 10% do PIB. Você, eu e a geração de nossos filhos pagaremos
caro por esse populismo. Quem defende aumento de remuneração sem
esperar nenhuma contrapartida em
termos da qualidade do serviço está
subvertendo uma das leis basilares
da economia: a que estabelece que
remunerações são proporcionais à
produtividade do trabalhador. Americanos e europeus não ganham quatro ou cinco vezes mais do que nós
porque seus patrões são bonzinhos.
mas porque é isso que produzem.
Basta ver os dados da Organização
Internacional do Trabalho: o trabalhador brasileiro produz, por hora
trabalhada, um quinto do que produz o americano. Se usarmos o critério de produtividade e renda nominal para balizar a remuneração dos
nossos profissionais da educação, a
conclusão inescapável é que o professor brasileiro ganha demais em
relação ao que entrega. No último
Pisa, o teste de qualidade educacional mais respeitado do mundo, a educação brasileira ficou em 53° lugar.
Na sua vizinhança não estavam os
países de Primeiro Mundo, mas sim
Colômbia, Trinidad e Tobago.
Montenegro e Jordânia.
Mesmo que fosse financeiramente
factível, o que não é, a educação no
Brasil não melhoraria se os professores passassem a ganhar o mesmo
que os de países desenvolvidos.
Dezenas de estudos acadêmicos
mostram que não há correlação entre o salário dos professores e o
aprendizado dos alunos. Qualquer
gestor acharia absurdo dar aumento
significativo a funcionários que estão
entregando péssimos resultados.
Está na hora de aplicar a mesma lógica à área da educação. O que efetivamente importa é a formação de
professores, capacitação de
gestores, currículo nacional unificado, dever de casa, avaliação,
melhoria do material didático, uso
efetivo do tempo de sala de aula e
tudo o mais que os países que deram certo fizeram antes de poder
pagar salários mais altos. Salário não
cai do céu: conquista-se.
16/10/13
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GUIA
Continua
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16/10/13
Continua
Continuação
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16/10/13
00
O mal da ineficiência
Quando há investimento, há desenvolvimento, correto? Nem sempre. Um estudo da consultoria Maksen com a FGV releva que, apesar de o Brasil ser um dos
maiores receptores de Investimento Estrangeiro Direto, o chamado IED, o País está
muito distante dos líderes em eficiência em
áreas essenciais, como educação e
infraestrutura. Veja a posição dos países
no ranking mundial:
A SEMANA
Valor Econômico
14/10/13
BRASIL
00
Nordeste reduz distâncias
em relação ao Sudeste
Por Vanessa Jurgenfeld | De São
Paulo
Há uma redução das
disparidades regionais do país.
Recentes estudos, como a Pesquisa
Nacional por Amostra de Domicílios
(Pnad), novos trabalhos do Instituto
de Pesquisa Econômica Aplicada
(Ipea), que abordam renda e PIB
per capita regional, e o último Índice
de Desenvolvimento Humano
Municipal (IDHM) divulgado,
mostram que o fosso entre as regiões
mais ricas e as mais pobres está um
pouco menor. Novos investimentos,
políticas nacionais de transferência
de renda e o aumento real do salário
mínimo fizeram crescer nos últimos
anos, sobretudo, o PIB per capita
do Nordeste e a renda do
trabalhador local, ajudando a reduzir
as distâncias em relação ao Sudeste.
Depois da onda de crescimento
regional puxada por políticas
nacionais de transferência de renda,
o ciclo de investimentos aponta a
instalação de uma indústria mais
diversificada e de maior valor
agregado no Nordeste, para onde
também convergem importantes
projetos de infraestrutura. Apesar
desses passos adiante, indicadores
sociais mostram que faltam ganhos
mais efetivos em áreas-chave, como
a educação.
"Houve melhoras significativas no
Nordeste nos últimos anos. Isso
deve ser comemorado. Mas os
avanços não foram suficientes para
reduzir substancialmente as
desigualdades. Para isso, em algumas
dimensões deveriam ocorrer
crescimentos bem mais rápidos",
afirma Jorge Jatobá, economista e
sócio-diretor da Consultoria Ceplan.
Como a desigualdade é uma
medida relativa, ele lembra que para
convergir para a média nacional e
diminuir a diferença com outras
regiões, o Nordeste precisaria
imprimir um ritmo de melhorias acima
da média do país. "Em alguns
indicadores, isso foi conseguido.
Mas em outros nem tanto", diz.
A Pnad, por exemplo, indicou que
um em cada dois analfabetos ainda
está no Nordeste e que as taxas de
analfabetismo continuam elevadas na
região. E embora no IDHM geral,
Norte e Nordeste apresentem as
maiores taxas de crescimento do país
entre as cinco macrorregiões e haja
alguns avanços especificamente no
IDHM -Educação, "o quadro ainda
é muito duro", diz Jatobá, pois em
educação está historicamente uma
das maiores defasagens da região.
Em estudo de setembro baseado no
IDHM Educação 2000-2010, a
Ceplan constatou que Norte e
Nordeste ainda possuíam mais de
90% dos municípios nas faixas de
baixo e muito baixo desenvolvimento
humano.
A renda média da região,
entretanto, vem apresentando uma
trajetória mais consistente do que a
educação: subiu e num percentual
acima da média nacional. Conforme
estudo elaborado há poucos dias
pelo Ipea, baseado em dados da
Pnad, a alta foi de 8,7% contra uma
média no país todo de 6,3%. O
ganho médio de um trabalhador no
Nordeste (R$ 948,12), no entanto,
continua bem abaixo do ganho médio
de um trabalhador no Sudeste (R$
1.638,85). Pelo IDHM Renda, na
análise da Ceplan, 78% dos
municípios da região encontravamse ainda na categoria de baixo
desenvolvimento humano, mas 12
municípios apresentavam IDHM
Renda acima do IDHM Renda do
Brasil.
Essas estatísticas indicam que um
novo quadro se configura na região,
especialmente se somadas à taxa de
crescimento do PIB per capita. A
taxa média de aceleração do PIB per
capita do Nordeste foi de 3,12% ao
ano de 2000 a 2010, enquanto a
região mais rica, o Sudeste,
apresentou taxas médias de 1,81%
ao ano.
Guilherme Resende, coordenador
de estudos regionais do Ipea, ressalta
algumas tendências novas em relação
ao Nordeste, que estão por trás de
boa parte das mudanças mostradas
nas estatísticas: diversificação dos
investimentos produtivos e um
crescimento puxado pelo consumo
das famílias mais pobres, que tiveram
auxílio de programas nacionais que
Continua
Continuação
atuaram como políticas regionais de
desenvolvimento, como o Bolsa
Família, e da política de aumento real
do salário mínimo. A maior parte dos
beneficiados do Bolsa Família,
destaca Resende, encontra-se no
Nordeste.
O crescimento maior do
Nordeste em relação ao Sudeste
poderia ser enquadrado dentro de
um fenômeno já consolidado em
modelos econômicos, nos quais
quem é mais pobre tende a crescer
mais, porque a região sai de uma
base menor, e, portanto, teria mais
espaço para melhorar, diz Resende.
Porém, o aumento expressivo em
alguns indicadores não pode ser
considerado um fenômeno estatístico
natural. No PIB per capita, por
exemplo, ele ressalta, que a região
cresceu ao ano em uma década
quase o dobro do Sudeste. "Não dá
para considerar que isso aconteceria
naturalmente", afirma.
Em grande medida responsáveis
pelos avanços, os investimentos
produtivos
do
Nordeste
concentram-se hoje principalmente
em petroquímica, indústria naval,
eólica, siderúrgica, ferrovia, refinaria,
celulose e automobilística. Do total
de R$ 125 bilhões de investimentos
na região entre 2007 a 2010 (não
inclui investimentos governamentais),
cerca de 75% foram da indústria de
transformação. De acordo com
Resende, a siderurgia tem investido
no Ceará e no Maranhão, há indústria
naval com investimentos em
Pernambuco, Maranhão, Alagoas e
Bahia, há refinarias sendo construídas
em Pernambuco, Maranhão e Ceará,
além de petroquímica, setor
automotivo e farmoquímica em
14/10/13
Pernambuco e do setor de papelcelulose no Maranhão e na Bahia.
Para os pesquisadores, está em
curso uma possível mudança do perfil
industrial da região, que ficou
conhecida nos últimos anos mais pelo
incremento do setor têxtil e
calçadista.
Vinculados
aos
novos
investimentos, o Nordeste registra
também uma elevação dos
financiamentos públicos. A
participação da região nos
desembolsos do Banco Nacional de
Desenvolvimento Econômico e
Social (BNDES) saiu de um mínimo
de 7% (ou R$ 2,7 bilhões) em 2004,
para 13% (ou R$ 21 bilhões) em
2012. Apesar do crescimento, é
importante ressaltar que a fatia está
ainda distante da participação de
46% do Sudeste em 2012 (R$ 72,4
bilhões), conforme Ipea.
Além do aumento dos
desembolsos do BNDES, em estudo
publicado em abril deste ano, o
Banco do Nordeste mostrou que na
distribuição regional dos
investimentos previstos para 2013
nos relatórios de custeio e
investimentos da Secretaria do
Orçamento do Ministério de
Planejamento, o Nordeste detinha o
maior percentual de recursos do
Programa de Aceleração do
Crescimento, voltado a obras de
infraestrutura, com fatia de 14,1%.
O Sudeste aparecia em segundo
lugar, com 9,3%.
"Há grandes obras de
infraestrutura em curso. Há algum
atraso em parte delas, mas mesmo
assim são grandes obras e no
momento são geradoras de
emprego", destaca Wellington Santos
Damasceno, gerente de Estudos,
Pesquisas e Avaliação do Escritório
Técnico de Estudos Econômicos do
Banco do Nordeste.
Apesar de algumas melhorias, os
pesquisadores alertam que os
problemas da desigualdade estão
longe de uma solução. "Se
projetarmos [a taxa atual de
crescimento do Nordeste] para
frente, vai demorar muitos anos e
pode ficar eternamente essa grande
diferença entre as regiões", destaca
Resende, do Ipea.
Entre as principais alterações
necessárias estão a infraestrutura e a
melhora da qualidade no ensino,
acreditam. "A melhor forma de
democratizar o acesso à universidade
é qualificando o ensino médio e
fundamental. Ou a política pública
educacional chega muito próxima ao
município ou não vai conseguir
romper com essa dificuldade ou
acelerar a qualidade com a
intensidade necessária", afirma
Jatobá. Sobre infraestrutura, sua
avaliação é que "os investimentos
estão ocorrendo ainda de forma
muito devagar".
Resende reforça o coro sobre a
necessidade de mais investimentos
em educação. Diz que os recursos
gastos por aluno nas redes municipais
ainda é pequeno no Nordeste. Em
creche, por exemplo, se gastava R$
1,9 mil por aluno em 2009 enquanto
no Sudeste, R$ 8,3 mil por aluno,
segundo estudo realizado pela União
Nacional dos Dirigentes Municipais
de Educação (Undime).
Continua
Continuação
14/10/13
Valor Econômico
14/10/13
00
BRASIL
Reforma gera impasse e
professores mantêm greve no Rio
Por Guilherme Serodio e Renata
Batista | Do Rio
A discussão de uma reforma
educacional que pretende ampliar em
84% até 2016 o número de alunos em
turno integral nas escolas do município
é o pano de fundo do impasse entre
professores, a secretária municipal de
Educação, Cláudia Costin, e o
prefeito do Rio, Eduardo Paes
(PMDB). Para os professores, o
plano de cargos, carreiras e
remunerações aprovado em tempo
recorde na Câmara dos Vereadores
- em sessão suspensa na sexta-feira
pela Justiça - embute gatilhos que
deveriam ser objeto de discussão
pedagógica.
A secretária confirma a orientação
de adequar a carreira à reforma que
vem implementando desde 2009, e se
apega aos itens financeiros da
proposta, principalmente a valorização
salarial, para ressaltar os benefícios
para os professores. O resultado é
uma greve de mais de 60 dias,
manifestações quase diárias nas
últimas três semanas e graves
confrontos com a polícia.
"Aprovamos uma lei para colocar
toda
a
rede
municipal
progressivamente em sete horas de
aula diárias", afirma a secretária de
Educação " É aí que o plano dialoga
com a reforma, porque, de fato,
incentiva a migração dos professores
atuais e coloca para os futuros a
questão de trabalharem 40 horas."
Para o diretor do Sindicato
Estadual dos Profissionais de
Educação (Sepe), Gualberto Tinoco,
no entanto, "não existe plano de
carreira. Existe uma reforma
educacional travestida de plano de
carreira". Segundo ele, que critica
políticas como a unificação do
conteúdo por meio de apostilas e
provas distribuídas para toda a rede,
a greve foi "provocada pelas
condições de trabalho".
Cláudia reconhece que o impacto
do reajuste salarial é mais imediato
para professores de 40 horas, mas
afirma que as emendas dos
vereadores garantiram aumentos para
toda a categoria. "Todos os
funcionários de educação, não só os
professores, tiveram 15,3% de
correção salarial", afirma. "Alguns
terão esse aumento imediatamente e
outros ao longo de cinco anos, porque,
caso contrário, quebraria a prefeitura",
diz a secretária.
Na avaliação de Tinoco, a
prefeitura não tem condições de
absorver nem 10% dos profissionais
da categoria na faixa de 40 horas nos
próximos dois anos. Atualmente,
apenas 7% dos 43 mil profissionais
trabalham sob esse regime e a
secretaria de Educação assume não
ter ainda um planejamento capaz de
abrigar os profissionais que optem pela
migração imediata.
O novo plano foi um compromisso
assumido por Paes durante a
campanha eleitoral para o segundo
mandato, diz Claudia. Sindicato,
vereadores da oposição e até o
Ministério Público Estadual, no
entanto, criticam a falta de diálogo.
A procuradora Daniele Medina
Maia diz que o MP foi informado pela
secretaria que o assunto estava sendo
estudada. "Ofícios datados de 9 de
agosto e 6 de setembro, ou seja, menos
de um mês da aprovação, informavam
que o projeto de lei ainda não havia
sido elaborado e seria feito com a
participação de um grupo de trabalho
envolvendo profissionais da educação,
o que aparentemente não foi feito",
diz a promotora. "O MP, tal qual a
categoria de profissionais da
educação, foi surpreendido com a
aprovação do plano em regime de
urgência."
O vereador Renato Cinco (PSOL)
afirma que os vereadores
oposicionistas na Câmara estão
tentando, sem sucesso, marcar uma
reunião com Paes e a secretária de
Educação. "Na Câmara Municipal
também não houve negociação", diz
o vereador sobre a aprovação do
plano. "Não conseguimos apresentar
emendas, que foram acertadas em
reuniões só com a base de apoio ao
governo, nos horários das sessões e
sem a presença da oposição", diz
Cinco.
O sindicato diz querer retomar as
negociação, mas questiona o fato de
a secretária não ser oriunda da rede.
Cláudia diz que só abrirá negociações
quando os professores voltarem às
aulas.
Valor Econômico
14/10/13
EMPRESAS
00
Cyrela amplia aportes
em projetos de educação
Por De São Paulo
O Instituto Cyrela investiu, no
primeiro semestre, R$ 1,755 milhão
do orçamento de R$ 6,6 milhões
definido para este ano. A maior
incorporadora de capital aberto do
país destina 1% do lucro líquido do
ano anterior ao Instituto Cyrela,
fundado em 2011. Em 2013, o
orçamento cresceu 37% em relação
ao do ano passado.
Idealizado por Aron Zylberman
a partir da mescla de conceitos do
judaísmo referentes a justiça social
e a "conserto do mundo" com a ideia
de valor compartilhado, ou seja, de
benefício para a sociedade e a
companhia ao mesmo tempo, o
Instituto Cyrela busca a interseção
entre a "questão moral e a
empresarial".
"Uma empresa opera inserida na
sociedade. Quanto melhor o
entorno, melhor a empresa", diz
Zylberman, diretor-executivo do
Instituto Cyrela. Segundo ele, os
investimentos se revertem em
produtividade e melhor qualidade
dos serviços, e são direcionados
para projetos próprios ou apoiados
pela empresa.
O foco é contribuir, por meio da
educação
fundamental
e
profissionalizante, para qualificar os
empregados da Cyrela, as
respectivas famílias e outros
interessados, mesmo dos quadros de
um concorrente. Apenas os cursos
oferecidos nos canteiros de obras se
restringem aos trabalhadores do
respectivo empreendimento. As
demais aulas são oferecidas em
instituições de ensino ou
organizações sociais parceiras.
Em 2012, três mil passaram pelos
cursos oferecidos e, no primeiro
semestre deste ano, 900.
Nos cursos profissionalizantes, a
prioridade é capacitação relacionada
à construção civil. "Queremos ver um
operário se tornar diretor da Cyrela",
diz Zylberman. O Instituto Cyrela tem
iniciativas em oito Estados - São
Paulo, Rio de Janeiro, Paraná, Rio
Grande do Sul, Bahia, Pernambuco,
Maranhão e Pará.
Do orçamento, 15% é destinado
ao custo operacional do instituto,
20% a um fundo de reserva, e a
parcela restante, a investimento. Em
maio, o fundo de reserva tinha R$
5,77 milhões. Os projetos
contratados para investimento social
somaram R$ 3,484 milhões em
2012. Neste ano, os investimentos
devem somar R$ 3,196 bilhões.
Se, na incorporadora, as ações
sociais ocorrem pelo Instituto Cyrela,
como pessoa física, o fundador,
presidente e participante do bloco de
controle da empresa, Elie Horn,
realiza a filantropia por meio de
doações. "A missão do empresário
é sua função social: dar empregos e
doar dinheiro para terceiros", diz
Horn.
Ao ser questionado sobre o que
é mais importante - a filantropia ou
os negócios da Cyrela -, Horn
responde que os dois. "Se não
ganho, não posso pagar", diz o
empresário, nascido em 1944. Judeu
praticante, é doador de parcela
relevante do que ganha, prática
aprendida na família, de origem síria.
"Meu avô ajudou quase três mil
órfãos em Alepo. Meu pai doou
100% do que tinha para a filantropia.
Eu doei ou vou doar mais da
metade."
A preocupação em fazer o bem
começou, segundo Horn, antes da
vida profissional, quando tentava
conseguir dinheiro dos amigos para
distribuir. O trabalho e o nascimento
dos filhos - Efrain Horn e Raphael
Horn, hoje, diretores de operação e
de negócios da Cyrela,
respectivamente - reforçaram a
percepção dessa necessidade. Horn
diz que gostaria de terminar a vida
tendo cumprindo sua missão, mas
que isso não será possível, pois
sempre poderia fazer mais.
O presidente da Cyrela, que tem
como referências em filantropia Bill
Gates, cofundador da Microsoft;
Warren Buffett, da empresa de
investimentos Berkshire Hathaway;
e Amador Aguiar, fundador do
Bradesco e criador da Fundação
Bradesco, defende que o bem
realizado se multiplica e se torna
coletivo. (CQ)
14/10/13
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O PAÍS
Nova correção de redação gera debate
Especialistas criticam mudanças
no método do Enem, mas Inep
garante "rigor"
Lauro Neto
A divulgação do "Guia do
participante — A redação no Enem
2013" com a presença de erros de
língua portuguesa em textos que
receberam a nota máxima em 2012
levou professores e especialistas a
questionarem os critérios de
correção para a edição deste ano do
Exame Nacional de Ensino Médio,
que ocorre dias 26 e 27 deste mês.
Apesar de o ministro da Educação,
Aloízio Mercadante, ter dito que o
rigor aumentará e que serão
tolerados apenas desvios pontuais
para se atingir os mil pontos,
especialistas criticam as mudanças
nas exigências da competência
referente à norma culta. Numa
análise comparativa entre os manuais
de 2012 e 2013, O GLOBO
identificou trechos suprimidos que
podem comprometer a promessa de
uma correção mais rigorosa.
No guia de 2012, na
competência 1 ("Demonstrar
domínio da norma padrão da língua
escrita"), a classificação da nota
máxima de 200 pontos era a
seguinte: "O participante demonstra
excelente domínio da norma padrão,
não apresentando ou apresentando
pouquíssimos desvios gramaticais
leves e de convenções da escrita.
Assim, o mesmo desvio não ocorre
em várias partes do texto, o que
revela que as exigências da norma
padrão foram incorporadas aos seus
hábitos lingüísticos e os desvios
foram eventuais. Desvios mais
graves, como a ausência de
concordância verbal, excluem a
redação da pontuação mais alta."
Em 2013, na mesma
competência 1, agora denominada
"Demonstrar domínio da modalidade
escrita formal da Língua Portuguesa"
a justificativa para a nota máxima é
mais sucinta, com a supressão do
trecho "desvios mais graves, como
a ausência de concordância verbal,
excluem a redação da pontuação
mais alta". A descrição para se
alcançar os 200 pontos é a seguinte:
"Demonstra excelente domínio da
modalidade escrita formal da Língua
Portuguesa e de escolha de registro.
Desvios gramaticais ou de
convenções da escrita serão aceitos
somente como excepci-onalidade e
quando não caracterizem
reincidência."
Tolerância a erros
Além disso, o quadro presente
nas páginas 12 e 13 do guia de
2012, em que se classificam os
desvios como "mais graves" "graves"
e "leves" foi suprimido na edição de
2013, apesar de, no ano anterior, ter
sido acompanhado do seguinte
alerta: "ATENÇÃO! Seguem
algumas inadequações do uso
linguístico ao registro formal escrito
que são penalizadas na Competência
1" entre as quais "falta de
concordância do verbo com o
sujeito" e "desvios graves de grafia
e de acentuação."
Nas páginas 34 e 35 do guia de
2013, essa tolerância com erros de
concordância se mostra presente na
redação do estudante Adriel Rego
Barbosa e na posterior análise do
desvio. O trecho "Nos últimos anos,
a mudança na economia e o novo
espaço que o Brasil tem conquistado
no cenário internacional atraiu
trabalhadores e turistas (...)" é
justificado dessa forma: "o texto (...)
não apresenta problemas linguísticos,
a não ser um problema de
concordância em "atraiu", sem
reincidência em inadequações
linguísticas"
Além do erro de concordância
presente nesse texto, as outras três
redações publicadas no manual de
2013 apresentam falta de
acentuação nas palavras "saúde" e
"espanhóis" além do uso inadaquedo
da palavra "energéticas" no sentido
de "enérgicas". Presidente do Inep,
órgão responsável pela aplicação do
Enem, Luiz Cláudio Costa negou que
a supressão de trechos no manual
do candidato possa justificar a
correção menos rigorosa. Em
março, reportagem do GLOBO
mostrou que redações com erros
grosseiros como "enchergar",
"rasoavel" e "trousse", além de
desvios graves de concordância,
receberam nota 1000 em 2012.
Continua
Continuação
— Essa interpretação é
equivocada. Tornamos mais claras
as competências da matriz. Ao
retirar (trechos), torno (o guia) mais
objetivo e mais rigoroso. Quando
não sou muito conciso, dou margem
a interpretações como as que vocês
(da imprensa) questionaram, e, até
em alguns pontos, devidamente.
Não posso pôr mais "escassos
desvios" Não posso comparar
2012 com 2013 porque são dois
editais distintos. Os corretores vão
se basear no edital e na
objetividade do texto. Se eles
acharem excepcionalidade e não
repetibilidade (no erro), muito bem.
Por isso, não posso começar a
graduar. O manual tem que ser
aprimorado ao longo do tempo. E
acho que foi aprimorado, até com
a contribuição de vocês —
argumenta o presidente do Inep.
Professor ressalta
caos redacional
Costa justifica a presença de
erros nos textos nota 1000 do guia
do participante 2013 "para chamar
a atenção do estudante de que não
deveria ter "espanhóis", sem acento,
nem erro de concordância; mas,
como só tem um, passa" Segundo
ele, não é adequado, mas está no
limite da excepcionalidade. Cláudio
Cezar Henriques, professor titular
de Língua Portuguesa do Instituto
14/10/13
de Letras da Uerj, discorda.
— O Inep está dizendo
explicitamente aos candidatos que
um erro será perdoado. O estudante
que fizer uma redação com o erro
linguístico "O pessoal afirmam que o
caso é grave" terá 200 pontos na
competência? Pelo que diz o edital,
parece que sim. Quando digo que o
Inep reforça a impressão de que o
objetivo é "subir as notas" estou
apenas me baseando nos números
do Enem e comparando-os com o
desempenho desses mesmos alunos
em outros exames e ao longo de sua
carreira acadêmica. Basta examinar
os textos dos participantes do Enade
para ver que o "caos redacional"
impera — critica Henriques, citando
outra reportagem do GLOBO, em
abril, que mostrou erros como
"egnorância" "precarea" e "bule"
(bullying) nos textos de universitários
que fizeram o Exame Nacional de
Desempenho de Estudantes (Enade).
Defensor da meritocracia
linguística, em detrimento do que
chama de demagogia linguística,
Henriques não está sozinho. Pósdoutor em Linguística Aplicada e
professor da UFRJ e da Uerj,
Jerônimo Rodrigues de Moraes Neto
acha que a posição do Ministério da
Educação é mais ideológica do que
linguística. Ele também critica a
aceitação dos erros nas redações
nota 1000, como os que foram
apontados no guia do participante
deste ano.
— Falar é gramaticalizar. Não
pode haver maior ou menor rigor
linguístico. A norma existe e deve ser
obedecida. Erro de concordância é
gravíssimo. Como posso ter um
sujeito no plural e o verbo no singular
conforme o exemplo com o verbo
"atrair"? Se os candidatos não forem
capazes de se fazerem entender na
sua língua materna, como terão
condições de adquirir outros
conhecimentos? Nivelaremos
sempre por baixo? Por que não
buscamos a excelência? — questiona
Moraes Neto.
Educação
Não pode haver maior ou menor
rigor linguístico. A norma existe e
deve ser obedecida. Erro de
concordância é gravíssimo
Jerônimo Rodrigues de Moraes
Neto, professor da UFRJ e da UERJ
7,1 milhões
Este é o número de inscritos no
Exame Nacional do Ensino Médio
(Enem) deste ano.
A prova, marcada para os dias
26 e 27 deste mês, é composta por
180 questões de múltipla escolha,
além da redação.
Continua
Continuação
14/10/13
14/10/13
00
NOTAS &
INFORMAÇÕES
Os números do Enade
Dos 7.228 cursos avaliados no último Exame Nacional
de Desempenho de Estudantes (Enade), cerca de 30%
obtiveram conceitos 1 e 2, o que equivale à reprovação,
numa escala que vai até 5. Dos 1.683 cursos de graduação
avaliados no Estado de São Paulo, 542 tiveram notas
inferiores ao conceito classificado como suficiente - 3 pelo Ministério da Educação (MEC). Ao todo,
submeteram-se à prova do Enade - um mecanismo de
avaliação criado em 2004 para substituir o antigo Provão 536 mil alunos que cursavam o último ano da graduação,
em 2012.
A avaliação abrangeu 1.646 instituições em 17 áreas
do conhecimento. Nas faculdades de Administração, o
índice de reprovação foi de 36%. Nas faculdades de
Direito, foi de 33%. A última avaliação dos cursos dessas
áreas do conhecimento - que é realizada a cada três anos
pelo MEC - ocorreu em 2009. A prova do Enade de 2013
será aplicada no dia 24 de novembro a cerca de 200 mil
estudantes de 4.916 cursos das áreas de ciências de saúde
e ciências agrárias. A USP, que sempre se recusou a
participar do Enade, sob alegação de que a avaliação não
é válida, pois muitos estudantes boicotam a prova, mudou
de posição e pela primeira vez participará dela, em caráter
experimental. Para tentar evitar o boicote, o MEC exigirá
que os estudantes obrigados a fazer o teste permaneçam
pelo menos uma hora na sala.
Embora a qualidade das universidades públicas continue
acima da das instituições particulares, o Enade de 2012
mostrou um expressivo crescimento dos padrões de
excelência no ensino superior privado. De todos os cursos
públicos, privados e confessionais avaliados, os que
obtiveram a melhor nota estão nos Estados de São Paulo,
Minas Gerais, Rio Grande do Sul, Paraná, Rio de Janeiro
e Santa Catarina. Das 17 áreas avaliadas, publicidade e
propaganda é a única em que um curso do Nordeste - a
Universidade Estadual do Piauí - lidera o ranking nacional.
Ao apresentar os números do Enade, o ministro Aloízio
Mercadante anunciou que os cursos com conceitos 1 e 2
poderão ter os vestibulares suspensos. O resultado da
avaliação, porém, não basta para que o MEC adote essa
medida extrema. Os cursos reprovados só poderão sofrer
sanções se forem reprovados por outro indicador, o
Conceito Preliminar de Cursos (CPC), que será divulgado
em novembro. Esse indicador, no qual os conceitos do
Enade têm um peso de 55%, leva também em conta a
infraestrutura das escolas e a qualidade do corpo docente.
Avaliações são importantes para a melhoria de
qualidade do sistema educacional do País. Mas, no caso
do ensino superior, o Enade é muito criticado pelos
especialistas. Para o diretor da Associação Brasileira de
Mantenedoras de Ensino Superior (Abmes), Solón Caldas,
por exemplo, a forma de aplicação da prova prejudica a
avaliação. "O estudante que faz a prova não tem
comprometimento com o resultado", afirma. Segundo ele,
a nota da prova deveria constar no histórico escolar, para
motivar os alunos e evitar boicotes. Paulo Cardim,
integrante do Fórum das Entidades Representativas do
Ensino Superior Particular, critica o governo por não
divulgar as notas individuais dos estudantes.
Já para o educador Simon Schwartzman, o MEC se
limita a apresentar os conceitos de avaliação sem, contudo,
definir os pontos necessários para classificar um curso
como ruim ou excelente em cada área do conhecimento.
"O que ele faz é pegar todas as pontuações e colocá-las
em uma curva que divide os cursos em duas partes iguais,
os que estão acima da medida e os que estão abaixo,
aproximando os resultados do que os estatísticos chamam
de curva normal. Depois, os dados são divididos em
categorias de 1 a 5, de tal maneira que a média de todos
os cursos é sempre 3. Esses dados permitem dizer se um
cursos ficou melhor ou pior do que outro. Mas não
permitem afirmar que determinado curso é bom ou ruim",
diz ele.
As críticas mostram a necessidade de aperfeiçoar o
Enade, sob pena de pôr em risco a credibilidade da
avaliação do ensino superior.
14/10/13
00
METRÓPOLE
Voto de aluno, professor e funcionário
tem peso igual em 44% das federais
Victor Vieira
Pelo menos 26 das 59
universidades federais do País, ou
seja, 44% delas, usam a consulta
paritária a alunos, docentes e
funcionários como principal critério
para a escolha do reitor - uma das
reivindicações centrais dos
estudantes que ocupam o prédio da
reitoria da Universidade de São
Paulo (USP) desde o dia 1°.
A Lei de Diretrizes e Bases da
Educação (LDB) diz que os
conselhos devem ter 70% ou mais
de professores entre seus membros.
Isso não impede que, nessas
federais, o Conselho Universitário
(CO),formado majorita-riamente
por professores, referende na prática
o resultado da consulta pública,
indicando très nomes ao cargo. A
lista é enviada à Presidência da
República, que dá a palavra final.
"É um arranjo interno para a
eseolhaparitária", explica Eras-to
Fortes, professor aposentado da
Faculdade de Educação da
Universidade de Brasília, uma das
que adota o sistema, assim como as
federais do Rio de Janeiro e de São
Carlos.
Como as três categorias têm
tamanhos diferentes, o peso de cada
voto é ajustado proporcionalmente
para que não haja distorções. Assim
como os COs, o governo federal
tem respeitado as escolhas internas
e indicado o primeiro da relação.
"Dá mais legitimidade", diz Fortes. Na
USP, em 2009, o então governador
José Serra (PSDB) indicou o
segundo colocado, o atual reitor
João Grandino Rodas.
A próxima escolha do CO da
USP será em 19 de dezembro. Cinco
dias antes, a USP divulgará o
resultado da consulta informativa à
comunidade, sem caráter decisório.
Para o presidente da Associação dos
Docentes da USP, Ciro Correia, é
interessante que a universidade
ratifique a decisão popular, assim
como em várias federais. "Um voto
não deve valer mais do que outro",
defende. Na assembleia eleitoral da
USP, há cerca de 2 mil votantes, com
mais de 85% de professores, a
maioria titulares. Na última reunião,
o CO vetou eleições diretas.
Na Universidade Estadual
Paulista (Unesp) e na Universidade
Estadual de Campinas (Unicamp), é
feita consulta sem paridade. O peso
é de 70% para docentes e 15% para
alunos e servidores na Unesp, e de
60% e 20%, respectivamente, na
Unicamp. Em geral, os COs de
ambas confirmam as consultas.
Qualificação. Para o professor de
Ciência Política da Universidade
Federal de Minas Gerais Leonardo
Avritzer, a escolha da cúpula da
universidade demanda critérios
técnicos mais próximos de docentes
do que de servidores e alunos.
"Também há casos de eleições
paritárias em que surgem agendas
corporati-vistas de funcionários."
Pedro Serrano, diretor do
Diretório Central dos Estudantes da
USP, discorda que professores
sejam mais habilitados. "Somos
contra a ideia de democracia em que
uma elite ilustrada escolhe pelos
outros." Segundo ele, outros
protestos são pelas eleições diretas
em departamentos e unidades.
NaAmérica Latina, a pressão
estudantil por mais democracia
universitária existe há quase cem
anos.
14/10/13
00
METRÓPOLE
Entrevista:: João Grandlno Rodas, reitor da USP
Para Rodas, ocupar reitoria é "barbárie"
Reitor defende mudanças nas
eleições da USP e diz que postura
"contrária a tudo" de movimentos
estudantis atrapalha
Em entrevista ao Estado, João
Grandino Rodas condenou a postura
dos movimentos estudantis de "ser
contrários a tudo". Ele ressaltou que
mudar decisão do Conselho
Universitário não depende só do
reitor.
Quais são as vantagens das
eleições diretas na USP,
defendidas pelo senhor em
julho?
O que defendi foi que as eleições
de todós os representantes das
diversas categorias que compõem a
USP tivessem o mesmo grau de
amplitude, transparência e controle
externo. Não apresentei proposta
sobre a eleição de reitor, para que
ela não fosse tida como proposta
chapa branca. Minha preferência
pessoal foi e é que pudessem votar
todos os professores, alunos e
funcionários, cujos votos seriam
ponderados,
na
base,
respectivamente em 70%, 15% e
15%.
Há possibilidade de reformar
as decisões do último conselho,
como pedem os alunos?
A revogação ou alteração de dec: soes do Conselho Universitário
depende de projetos extinti-vos ou
modificativos. Eles precisam ser
examinados por alguns órgãos do
próprio CO, colocados na pauta do
referido conselho e nele aprovados.
Não é coisa que se faz em alguns dias
e, muito menos, por vontade de uma
pessoa, mesmo que seja o próprio
reitor,
A gestão da USP é
democrática? Como aproximar a
direção
da
comunidade
universitária?
Com base nas decisões do último
conselho, a gestão está no caminho
de aperfeiçoamento democrático. Se
todos
os
representantes
participassem, efetiva e ativamente,
a USP estaria em estágio mais
avançado. Seria proveitoso que as
posturas de "ser contrário a tudo" e
"do quanto pior melhor" fossem
substituídas por uma postura firme de
reivindicações e colaboração, em
posição de igualdade. Não se abre
diálogo quando se conspurca a
reunião do principal colegiado
representativo, com a quebra ~ com
barras de ferro e de marretas - de
patrimônio público. Nem quando se
permanece dias e dias num prédio e
se formam piquetes para impedir,
pela força, centenas de funcionários
de entrarem. Isso é barbárie. É
colocar o patrimônio de todos na lata
do lixo. Estamos sob o regime do
estado democrático de direito ou
passamos a viver sob o jugo do
direito da força?
CORREIO BRAZILIENSE
14/10/13
POLÍTICA
00
Somente renda não basta
Cidades dependentes do Bolsa
Família permanecem com índices
sociais ruins. Melhorar o
programa é o desafio
» RENATA MARIZ
» DANIEL CAMARGOS
» LUIZ RIBEIRO
Joana Lima é parte dos 48% de
moradores de Claro dos Poções
(MG) que dependem do benefício.
Antes, trabalhava em carvoaria para
sustentar os filhos
Brasília, Ribeirão das Neves
(MG) e Claro dos Poções (MG) —
Nos 10 municípios mais
dependentes do Bolsa Família, onde
o número de beneficiados supera
80% da população, está provado o
aumento no nível de bem-estar
social. O Índice de Desenvolvimento
Humano (IDH), que sintetiza dados
de saúde, educação e renda, foi
puxado
nessas
cidades
principalmente pela frequência das
crianças na escola. Mas são
localidades ainda com indicadores
semelhantes aos de países como
Timor Leste (0,565) e Cabo Verde
(0,534). Fazem parte de um Brasil
que desafia as políticas públicas,
sobretudo o maior programa de
combate à pobreza do país, que
completa 10 anos neste mês
atendendo uma em cada quatro
pessoas no território nacional. Como
avançar rumo a melhores resultados
é o que políticos terão de propor nas
eleições do ano que vem.
Embora o Nordeste tenha a maior
concentração do Bolsa Família, com
mais de 40% da população
recebendo a ajuda mensal do
governo, o programa está espalhado
em todas as unidades da Federação.
E atinge pessoas com problemas
graves atrelados à baixa renda, como
pouca escolaridade, acesso restrito
à saúde, falta de moradia e inserção
precária no mercado de trabalho.
Cristiane Rodrigues dos Santos, de
33 anos, reúne várias dessas
carências. Em Ribeirão das Neves,
região metropolitana de Belo
Horizonte, ela mora de favor em uma
pequena casa, com um quarto,
cozinha e banheiro. Divide a cama
de casal com os dois filhos, de 12 e
seis anos. Além dos R$ 130 que
recebe de benefício, ganha dinheiro
como faxineira, em trabalhos
esporádicos.
“Já passei muito aperto”, afirma
Cristiane. O filho dela, Luciano,
recorda quando a vida era mais difícil
antes de a mãe receber o Bolsa
Família. “Já precisei de beber água
com fubá para matar a fome”, lembra
o garoto, que quer ser policial civil.
No início do ano, a casa em que a
família morava pegou fogo. “Estava
num enterro de um parente e quando
voltei tinha perdido tudo”, lamenta
Cristiane. Para conseguir o novo
local para morar, contou com a ajuda
da avó paterna da filha Pâmela.
Apesar das tentativas do governo de
atrelar ao Bolsa Família políticas de
moradia e capacitação, o fosso entre
o que é ofertado e as necessidades
do público do programa de
transferência de renda continua
enorme.
Para o economista e sociólogo
Marcelo Medeiros, pesquisador de
temas relacionados à pobreza e
desigualdade do Instituto de
Pesquisa Econômica Aplicada
(Ipea), os valores pagos pelo Bolsa
Família, média de R$ 152,35 por
benefício, deveriam ser reajustados
em pelo menos 50%, podendo
chegar a 200%. “Hoje, é um
programa de alívio da pobreza. Se
quisermos que seja de erradicação,
os repasses têm de ser ampliados”,
defende. Ele argumenta que não
haveria impacto para os cofres
públicos, já que o programa
consome cerca de 1% do orçamento
federal (R$ 24,9 bilhões este ano).
Pela linha de pobreza extrema
adotada pelo Brasil, R$ 70 per
capita, foram retiradas dessa
condição 36 milhões, embora ainda
haja 600 mil famílias sem dinheiro
para comer.
Continua
Continuação
Secretário Nacional de Renda de
Cidadania, Luís Henrique Paiva não
descarta reajustes nos benefícios,
mas ressalta que serão “pequenas
variações”. “O foco atual é
aperfeiçoar as rotinas operacionais
e fazer modificações do ponto de
vista legal, além de identificar as
famílias em pobreza extrema”, afirma.
Mestra em sociologia pela
Universidade de Campinas
(Unicamp), Luciana Ramirez, autora
de pesquisa sobre o impacto do
Bolsa Família em Santo Antônio do
Pinhal, interior paulista, considera
importante que o governo reforce
iniciativas como cursos de
qualificação profissional e escola
integral a beneficiários, entre outros,
para criar as portas de saída do
programa. “Estamos caminhando
para um futuro sem tantos pobres no
Brasil”, diz.
Em Claro dos Poções, a 462
quilômetros de Belo Horizonte,
Joana Lima de Jesus faz parte dos
quase 48% de moradores que
recebem a ajuda federal. Antes, só
tinha uma alternativa para dar de
comer aos três filhos: o serviço numa
14/10/13
carvoaria. Acordava de madrugada
para carregar lenha, encher e esvaziar
os fornos. Só deixou o trabalho
porque não podia levar as crianças,
sob o risco de a empresa ser multada.
A mulher de 27 anos, que estudou
até a primeira série do ensino
fundamental, sabe que não terá saída
caso o Bolsa Família acabe. “Vou ter
que voltar para a carvoaria de novo.
Lá, a gente não chega a ganhar nem
um salário”, diz Joana, que recebe
R$ 352 por mês do programa.
Suzana Márcia de Oliveira
Rodrigues, outra beneficiária de
Claro dos Poções, complementa o
benefício de R$ 102 do Bolsa
Família com o trabalho de
doméstica. “Se não fosse esse
benefício, eu nem sei como a gente
ia viver”, diz a mulher de 28 anos,
que tem um filho pequeno. O
companheiro dela, Luiz Fernando
Rodrigues, faz bicos, ganhando R$
300 por dia como lavrador ou
servente de pedreiro, para reforçar
o orçamento. Mas nem sempre acha
serviço.
Na cidade mineira com quase
metade da população dependente do
Bolsa Família, Rosali de Jesus
Mendes, de 41 anos e mãe de cinco
filhos, também não quer nem
imaginar em perder o benefício. A
família dela recebe a ajuda mensal
há oito anos. Atualmente, o valor é
de R$ 492, englobando os
pagamentos do programa Brasil
Carinhoso, criado na atual gestão
petista para beneficiar filhos com
menos de seis anos. Rosali, que tem
dois nessa faixa etária, declara a sua
gratidão a presidente Dilma Rousseff.
“Primeiramente, a gente agradece a
Deus. Depois, a Dilma, por causa
desse dinheiro, que mantém todo
mundo aqui em casa.”
"Hoje, é um programa de alívio
da pobreza. Se quisermos que seja
de erradicação, os repasses têm de
ser ampliados"
Marcelo
Medeiros,
pesquisador do Ipea e professor da
UnB
CORREIO BRAZILIENSE
14/10/13
00
Mais de 50 mil estrangeiros
recebem o benefício
O maior programa de transferência de
renda do Brasil, às vésperas de completar
10 anos, atende 55.253 estrangeiros que
residem no país. Há gente de pelo menos
86 nações de todos os continentes do mundo
recebendo recursos do Bolsa Família. A
diversidade aponta tanto beneficiários de
países muito pobres — como Honduras,
Congo e Nicarágua — quanto atendidos
nascidos em locais desenvolvidos. Há 13
suíços, 181 estadunidenses e dois
canadenses. O maior número de estrangeiros
que recebem a ajuda do governo federal
brasileiro, entretanto, é do Paraguai (1.339).
Mas só 10% do total de 55.253
estrangeiros beneficiários do Bolsa Família
declararam o país de origem. Os vizinhos,
ao lado de portugueses e japoneses, são os
mais frequentes com tal informação
disponível. Depois do Paraguai, vem Bolívia
(721), Portugal (426), Argentina (336),
Uruguai (319), Japão (292) e Peru (200).
Há também originários de nações marcadas
por conflitos, como Líbia, Kuwait e Irã.
Secretário Nacional de Renda de Cidadania,
Luís Henrique Paiva explica que o programa
é aberto a qualquer estrangeiro que se
enquadre nos critérios, desde que esteja
legalmente no país. (RM)
POLÍTICA
CORREIO BRAZILIENSE
14/10/13
00
CIDADES
EDUCAÇÃO » Hora de conferir o simulado
Quem participou do treino para
o Enem, promovido pelo Correio
em parceria com o IMP
Concursos, já pode acessar
respostas da prova
» Manoela Alcântara
Adryelle fez o exame no sábado
e calculou o tempo médio gasto em
cada questão: em janeiro, a jovem
vai tentar uma vaga para medicina
na UnB
Os 6,1 mil inscritos no simulado
on-line preparatório para o Exame
Nacional do Ensino Médio (Enem),
realizado pelo Correio Braziliense,
em parceira com o IMP Concursos,
já podem conferir o gabarito
preliminar do exame. O documento
está disponível na edição de hoje e
também
no
site
www.simuladocb.com.br, mediante
o uso do login e da senha do
concorrente. Depois de analisar
todas as respostas, é possível
contestar o resultado que o
participante julgar estar errado. O
prazo para interpor recurso vai até
as 8h de amanhã.
O exame on-line disponibilizou
dois testes, durante todo o fim de
semana, elaborados por um grupo de
professores renomados na área. Nas
180 questões — 90 para cada prova
— foram exigidos conhecimentos
das mesmas matérias que serão
cobradas no
Enem, em 26 e 27 de outubro. O
primeiro teste continha problemas de
ciências humanas e da natureza e, o
segundo, de linguagens e códigos e
matemática. Assim como na data
prevista para o exame que dá acesso
a 3,7 mil cursos de universidades
federais, os inscritos tiveram 4 horas
e 30 minutos para concluir cada
prova.
Adryelle Carolynne Nogueira
Luetz, 17 anos, optou por fazer todo
o simulado on-line no sábado. Usou
a manhã e a tarde para concluir as
questões. Com o cronômetro ligado,
calculou a média de tempo que cada
item demandou. No segundo
semestre de cursinho preparatório,
Adryelle considerou alguns pontos da
simulação menos complexos do que
o exigido no antigo vestibular da
Universidade de Brasília (UnB). “A
prova de exatas estava mais fácil. Me
formei ano passado e já tinha
prestado o certame para algumas
instituições de Brasília”, contou a
estudante, que pretende ser
aprovada para o curso de medicina,
um dos mais concorridos nas
instituições de ensino superior. Neste
ano, pela primeira vez, o vestibular
do início do ano será substituído pelo
Enem.
Adryelle e os outros concorrentes
vão receber, por e-mail, o resultado
do simulado, com a nota e
classificação geral no ranking de cada
matéria. Devido ao grande número
de inscritos, a correção das provas
seguirá os mesmos parâmetros do
Enem, com base no conceito TRI —
Teoria Resposta Item. Será usado o
modelo estatístico que avalia a
dificuldade da questão, a
discriminação e a marcação
aleatória.
Embora essa primeira etapa de
avaliação do conhecimento tenha
terminado, os assinantes do Correio
Braziliense terão um benefício a mais
na hora de estudar. Quem, no ato da
inscrição, preencher o código de
assinante no formulário, terá acesso
exclusivo a um banco de questões
do Enem e de outros vestibulares
separadas por assunto. As questões
começam a ser disponibilizadas hoje
e vão até 25 de outubro, véspera da
prova.
Cronograma
» Gabarito preliminar: será
divulgado às 8h de hoje. Pode ser
visto nesta edição e acessado
mediante login e senha no site
www.simuladocb.com.br.
Continua
14/10/13
Continuação
» Recursos: poderão ser
encaminhados entre 8h de hoje e 8h
de amanhã no portal do simulado.
» Gabarito definitivo: será
disponibilizado às 15h de quarta-feira
no site.
» Resultado: estará disponível no
site no mesmo dia e hora do gabarito
definitivo. Além disso, o candidato
receberá por e-mail o boletim de
desempenho.
Data da prova do Enem
» 26 de outubro: prova de
ciências humanas e suas tecnologias
e ciências da natureza e suas
tecnologias.
» Tempo para fazer o exame:
4h30
» 27 de outubro: teste de
linguagens, códigos e suas
tecnologias, redação e matemática e
suas tecnologias.
» Tempo para fazer o exame:
5h30
» Os portões de acesso serão
abertos às 12h e fechados às 13h.
GABARITO 1
1. B
2. E
3. A
4. C
5. A
6. C
7. B
8. D
9. D
10. A
11. E
12. D
13. A
14. D
15. A
16. A
17. C
18. C
19. A
20. A
21. A
22. C
23. D
24. A
25. C
26. A
27. D
28. D
29. A
30. A
31. C
32. A
33. C
34. B
35. B
36. D
37. E
38. B
39. E
40. A
41. B
42. B
43. A
44. B
45. B
46. E
47. B
48. D
49. C
50. C
51. D
52. A
53. B
54. A
55. B
56. B
57. B
58. B
59. B
60. C
61. D
62. C
63. A
64. C
65. E
66. C
67. B
68. E
69. D
70. A
71. E
72. A
73. C
74. D
75. B
76. A
77. C
78. C
79. B
80. B
81. E
82. D
83. D
84. B
85. C
86. C
87. B
88. D
89. E
90. C
GABARITO 2
INGLÊS
91. B
92. B
93. D
94. C
95. E
ESPANHOL
91. B
92. B
93. C
94. D
95. C
96. A
97. A
98. C
99. A
100. C
101. A
102. D
103. E
104. A
105. B
106. B
107. A
108. A
109. B
110. E
111. B
112. D
113. D
114. D
115. A
116. D
117. B
118. C
119. E
120. E
121. A
122. D
123. C
124. A
125. D
126. D
127. A
128. C
129. B
130. A
131. A
132. C
133. A
134. C
135. C
136. C
137. B
138. D
139. B
140. D
141. C
142. B
143. D
144. A
145. B
146. B
147. A
148. C
149. C
150. C
151. A
152. C
153. B
154. A
155. E
156. E
157. B
158. B
159. E
160. D
161. B
162. D
163. E
164. A
165. E
166. C
167. B
168. E
169. E
170. A
171. E
172. D
173. E
174. C
175. B
176. B
177. B
178. B
179. E
180. B
CORREIO BRAZILIENSE
14/10/13
00
CIDADES
DIREITO DO CONSUMIDOR »
Cautela na escolha da escola
Embora os contratos sejam
regidos pelo CDC e pela Lei das
Mensalidades, o índice de
correção das anuidades é sempre
motivo de controvérsias e de
chateação para os pais. Os
estabelecimentos resistem à
transparência, e os clientes ficam
sem saber o que justifica reajustes
tão elevados
» FLÁVIA MAIA
Giselle Fontão e as filhas,
Mariana e Luana, afirma que não dá
para fugir muito dos preços,
"praticamente os mesmos e com igual
índice de aumento"
Apouco mais de dois meses para
o fim do ano, começa o
planejamento escolar para o
próximo ciclo letivo. As escolas
particulares calculam os reajustes,
abrem as matrículas e fazem as listas
de materiais. Os pais que querem
manter os filhos no mesmo colégio
garantem a renovação; quem
pretende mudar começa a pesquisar
e a escolher o novo centro de ensino.
Embora a contratação de serviços
educacionais ocorra todo o ano, os
pais não devem se descuidar, seja
na nova matrícula, seja na
renovação. Certos cuidados vão
evitar abusos e dor de cabeça.
A contratação de uma escola é
diferente de qualquer outra
prestação de serviço. Os
estabelecimentos educacionais
trabalham com a formação da pessoa
— criança ou adulto — e existe um
ciclo pedagógico envolvido. Quem
compra o serviço educacional é
amparado pelo Código de Defesa do
Consumidor (CDC) e pela Lei das
Mensalidades,
que
coíbe
arbitrariedades, como reajustes
abusivos e garantias mercantis para
a matrícula, como fiadores e cheques
pré-datados.
Ao escolher o colégio, o
consumidor precisa avaliar se a
proposta pedagógica corresponde
ao que ele deseja na formação do
filho. Depois, a atenção deve ficar
centrada nos termos do contrato.
“Embora sejam de adesão, os pais
podem questionar as cláusulas e
apontar as abusividades para os
órgãos de defesa”, alerta Tódi
Moreno, diretor-presidente do
Procon-DF.
Um dos pontos que mais críticos
é o reajuste anual. De acordo com a
Lei das Mensalidades, o aumento
somente pode ocorrer uma vez por
ano e precisa ser justificado. Mas não
é o que normalmente ocorre.
Algumas escolas elevam a anuidade
acima da inflação acumulada no
período e não explicam claramente
os motivos da decisão. O Ministério
Público do DF questionou, em ação
inédita no Brasil, os índices de
reajuste de algumas escolas de
Brasília (veja Memória).
Para
2014,
alguns
estabelecimentos da capital federal
devem subir em até 21% a anuidade,
e a média deve ficar entre 8% e 10%.
“Os aumentos não são consistentes.
Falta transparência. A gente sabe que
a lucratividade das escolas é alta”,
afirma Luís Cláudio Megiorin,
presidente da Associação de Pais do
Distrito Federal (Aspa). Os pais
geralmente não têm acesso às
planilhas e não conseguem questionar
a alta. “Sem acesso às informações,
os pais se tornam a parte fraca dessa
relação de consumo. Se a escola não
quer abrir uma planilha formal por
conta do segredo empresarial, pode
fazer um documento evidenciando as
mudanças que justifiquem o
aumento”, defende Maria Inês Dolci,
coordenadora institucional da
Proteste
Associação
de
Consumidores.
A Lei das Mensalidades,
regulamentada pelo Decreto número
3.274/99, exige a exposição da
planilha, mas não deixa claro quem
pode ter acesso, o que provoca
controvérsia. “Quem pode ter acesso
aos gastos da escola são os órgãos
competentes, não os pais”, justifica
Fátima de Mello Franco, presidente
do Sindicato dos Estabelecimentos
Particulares de Ensino do DF
(Sinepe). No entendimento da
Fundação Procon de São Paulo, o
consumidor deve ter acesso às
Continua
Continuação
informações dos serviços adquiridos.
“É obrigação da escola fornecer a
planilha de custos aos pais. O decreto
traz até o modelo e quais dados
devem constar”, alega Salma do
Amaral, diretora de Atendimento do
Procon de São Paulo.
Esta semana o Procon-DF e a
Aspa devem se reunir para avaliar
os reajustes aplicados no DF. A
presidente do Sinepe-DF, Fátima de
Mello, explica que não cabe ao
sindicato indicar porcentagem de
reajuste. Mas ela adianta que
auxiliares e professores tiveram
aumento salarial de 8%, o que deve
impactar o orçamento das escolas,
cuja participação dos gastos com
pessoal na receita chega a 60%.
Inadimplência
Outro ponto controverso é a
inadimplência. A legislação impede a
escola de reter os documentos (como
boletim e histórico escolar), de
provocar constrangimentos e de
negar a transferência para o aluno.
Ao fim do período letivo, a
instituição de ensino pode desligar o
aluno e não renovar o contrato. Mas
a lei não deixa claro se a escola pode
inserir o nome do pai ou do
estudante devedor nos órgãos de
proteção ao crédito, como Serasa e
SPC. As associações de defesa do
consumidor e os Procons defendem
que a prática é abusiva, uma vez que
o serviço educacional tem caráter
social, e a instituição possui meios
legais para a cobrança de dúvidas.
Giselle Fontão Ackel Haun, 42
anos, é do tipo mãe cuidadosa. Por
14/10/13
causa do trânsito entre Águas Claras
e a Asa Sul, ela resolveu mudar as
duas filhas de escola, Mariana, 12, e
Luana, 5. Passou um ano
pesquisando escolas e projetos
pedagógicos. Conheceu quatro
escolas e, por meio de um grupo em
uma rede social, teve informações
sobre os pontos positivos e negativos
das escolas em que ela pretendia
matricular as duas meninas. Por fim,
ficou em dúvida entre duas
instituições. Foi decisiva a empatia
com a escola, além de alguns detalhes
preciosos que fizeram a diferença.
confiáveis e estão dentro dos
parâmetros legais.”
Giselle olhou a quantidade de
alunos por sala de aula e a estrutura
física. Procurou uma instituição em
que os custos com material não
fossem abusivos e que desse
desconto em caso de duas crianças.
Tomou o cuidado de se assegurar de
que não haveria taxas extras, como
a pré-matrícula. A cobrança é legal,
desde que seja descontada na
matrícula ou nas parcelas do ano
seguinte. “A única coisa que não dá
para fugir muito são os preços,
praticamente os mesmos e com igual
índice
de
aumento
nas
mensalidades”, comenta Giselle.
Após queixa da Aspa-DF, com
o apoio da OAB-DF, o Ministério
Público do Distrito Federal e
Territórios concluiu, em julho deste
ano, que, das 13 instituições
investigadas, uma escola teria que
devolver os valores cobrados
indevidamente. Os proprietários do
colégio, cujo nome não foi divulgado,
terão que chegar a um acordo para
escapar do processo na Justiça: ou
devolvem o dinheiro ou abatem a
cobrança imprópria nas próximas
mensalidades. É a primeira vez, em
todo o país, que o MP apura esse
tipo de caso.
Para as associações de
consumidores e a Aspa, os pais
devem se concentrar nos detalhes e
exigir que tudo o que for oferecido
esteja em contrato para evitar dor de
cabeça e garantir a melhor formação
para as crianças. A presidente do
Sinepe-DF, Fátima de Mello, orienta
aos pais interessados que consultem
o Selo Escola Legal 2014. “Por meio
desse selo, mostramos que as escolas
têm serviço de qualidade, são
O que diz a lei
As instituições privadas de ensino
podem cobrar anuidade ou
semestralidade pela prestação de
serviços educacionais. A cobrança é
regulada pela Lei Federal nº 9.870
de 23 de novembro de 1999,
conhecido como a Lei das
Mensalidades e pelo Código de
Defesa do Consumidor (CDC). Os
cursos livres, como inglês, música e
esportes, são regidos pelo CDC.
Reclamações
As principais queixas dos
consumidores em relação às escolas
são problemas na rescisão do
contrato, cobrança indevida,
retenção de documentos, desistência
do serviço, serviço não fornecido e
reajuste abusivo na mensalidade.
Memória
Devolução de valores
Continua
Continuação
14/10/13
CORREIO BRAZILIENSE
14/10/13
00
CIDADES - CORREIO
DO BRASILIENSE
Brasília se liga ao Esperanto
A capital do Brasil não está alheia
à Internacia Lingvo do Dr.
Zamenhof. Lançado em 1887 com
o propósito de ser a segunda língua
de cada povo (em meio aos quase
seis mil idiomas que “babelizam” o
Planeta), o esperanto é a língua do
diálogo internacional direto e do
bilinguismo suficiente.
Cidadãos brasilienses, como
tantos pelo mundo, têm aderido à
ideia democrática de que aprender
apenas duas línguas (a materna mais
uma) pode se tornar o bastante para
falar com toda a humanidade —
desde que a segunda seja uma língua
neutra, planejada com lógica e
adotada mundialmente.
Aqui, como na Web, a ideia se
expande, a ponto de um olhar
panorâmico sobre o DF permitir ver
desde uma escola com o nome de
Zamenhof (em Brazlândia), até a
sede da Liga Brasileira de Esperanto
(no Edifício Venâncio III), passando
pelo Clube de Esperanto de
Taguatinga (no Edifício Paranoá
Center) e pela Associação
Brasiliense de Esperanto (no Brasília
Rádio Center).
A Liga Brasileira de Esperanto
(BEL), que se transferiu do Rio de
Janeiro para Brasília em 1986,
coordena nacionalmente o
movimento esperantista desde 1907.
Reconhecida de utilidade pública
desde 1921, a entidade já realizou
dois congressos internacionais
(Brasília/1981 e Fortaleza/2002),
com milhares de participantes de
mais de 50 países, além de
congressos nacionais, anualmente (o
49º será em Florianópolis — 24 a
28 de janeiro de 2014).
Ao longo dessa secular presença,
a BEL, que disponibiliza ao público
uma das maiores bibliotecas
mundiais em esperanto e distribui
livros para todo o país, contribuiu
para a conquista da simpatia de
muitos brasileiros pelo esperanto,
inclusive de escritores renomados
como Graciliano Ramos, Guimarães
Rosa e o contemporâneo Affonso
Romano de Sant'Anna.
Semelhante a entidades nacionais
esperantistas em mais de 70 países,
a BEL é filiada à Associação
Universal de Esperanto (Rotterdam
– Holanda), e tem como um dos
focos de atuação na atualidade a
convocação dos governos a
acatarem, na prática, as resoluções
por eles assinadas na Unesco (1954
e 1985), pela inserção do esperanto
nos sistemas de ensino dos paísesmembros.
No que toca ao governo do
Brasil, proposta preliminar
encaminhada pela BEL encontra-se
em análise no Ministério da
Educação (MEC) e na SecretariaGeral da Presidência da República.
Ao mesmo tempo, a Câmara dos
Deputados avalia o Projeto de Lei
nº 6.162/2009, do senador
Cristovam Buarque, que insere um
parágrafo na Lei de Diretrizes e
Bases da Educação (LDB),
colocando o esperanto em pé de
igualdade com as outras línguas no
sistema de ensino brasileiro.
Afora os cursos mantidos pelas
entidades esperantistas (entre
outras), e os inúmeros seguidos
autodidaticamente via internet, o que
mais visibilizou o ensino do esperanto
na Capital federal nos últimos tempos
foram os cursos dos centros
interescolares de língua da Secretaria
de Educação (embora já suspensos),
amparados pela Lei Distrital nº 912/
1995, e os cursos da UnB Idiomas.
Atualmente, acolhendo iniciativa dos
professores Josias Barboza e Paulo
Nascentes, a Universidade de
Brasília mantém turmas em dois
níveis, tornando-se potencial núcleo
de formação de professores.
Afonso Camboim,
mestre em literatura e jornalista
JORNAL DE BRASÍLIA
14/10/13
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CARTAS