20/05/08 Caderno Técnico Prisma 19

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20/05/08 Caderno Técnico Prisma 19
CT 4
CADERNO TÉCNICO ALVENARIA ESTRUTURAL - CT4
Alvenaria
Estrutural
Artigos Técnicos poderão ser encaminhados
para análise e eventual publicação para
[email protected]
RETRAÇÃO EM ALVENARIA
DE BLOCOS DE CONCRETO
Guilherme Aris Parsekian (1), Davidson Figueiredo Deana (2),
Kleilson Carmo Barbosa (3) e Thiago Bindilatti Inforsato (4)
O risco do aparecimento de fissuras em um edifício de alvenaria estrutural é maior
quando não se tem em conta o chamado efeito de retração. Neste artigo, um grupo
de pesquisadores explora o assunto e fornece subsídios para se evitar que o problema
comprometa o projeto ou a obra.
Palavras-chave:
retração, blocos,
alvenaria,
argamassa
.
Veja mais sobre este assunto no site da Comunidade
da Construção (www.comunidadedaconstrucao.com.br)
ou no site do Nepae - Núcleo de Ensino e Pesquisa da
Alvenaria Estrutural (www.nepae.feis.unesp.br)
EXPEDIENTE
O Caderno Técnico Alvenaria Estrutural é um suplemento da revista Prisma, publicado pela Editora Mandarim Ltda.
ISSN 1809-4708
Artigos para publicação devem ser enviados para o e-mail [email protected]
Conselho Editorial: Prof. Dr. Jefferson Sidney Camacho (coordenador) Eng. MSc. Rodrigo Piernas Andolfato (secretário); Eng. Davidson Figueiredo Deana; Eng. MSc.;
Prof. Dr. Antonio Carlos dos Santos; Prof. Dr. Emil de Souza Sanchez Filho; Prof. Dr. Flávio Barboza de Lima; Prof. Dr. Guilherme Aris Parsekian; Prof. Dr. João Bento de Hanai;
Prof. Dr. João Dirceu Nogueira Carvalho; Prof. Dr. Luis Alberto Carvalho; Prof. Dr. Luiz Fernando Loureiro Ribeiro; Prof. Dr. Luiz Roberto Prudêncio Júnior;
Prof. Dr. Luiz Sérgio Franco; Prof. Dr. Márcio Antonio Ramalho; Prof. Dr. Márcio Correa; Prof. Dr. Mauro Augusto Demarzo; Prof. Dr. Odilon Pancaro Cavalheiro;
Prof. Dr. Paulo Sérgio dos Santos Bastos; Prof. Dr. Valentim Capuzzo Neto; Profa. Dra. Fabiana Lopes de Oliveira; Profa. Dra. Henriette Lebre La Rovere;
Profa. Dra. Neusa Maria Bezerra Mota; Profa. Dra. Rita de Cássia Silva Sant´Anna Alvarenga.
Editor: jorn. Marcos de Sousa ([email protected]) - tel. (11) 3337-5633
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CADERNO TÉCNICO ALVENARIA ESTRUTURAL - CT4
RETRAÇÃO EM ALVENARIA DE BLOCOS DE CONCRETO
PARTE 1: COEFICIENTE DE RETRAÇÃO
O efeito da retração, quando não tratado corre-
INTRODUÇÃO
deformação elevados, pequenas deformações
tamente, é uma das principais causas de fissu-
A retração dos blocos de concreto, assim como
levam a altas tensões. Argamassas e blocos
ras em edifícios, incluindo-se aí os de alvenaria
da argamassa, causa diminuição em todas as
de concreto, assim como outros componentes
estrutural. Este artigo, dividido em duas partes,
dimensões de uma parede, ou seja, causa varia-
à base de cimento, são caracterizados por uma
tem por objetivo indicar alguns detalhes de
ção do volume desta. Quando essa variação vo-
baixa resistência à tração. Assim, qualquer pe-
projeto e cuidados que devem ser observados
lumétrica não é impedida, poucos efeitos serão
quena deformação pode gerar tensões superio-
durante a execução, para minimizar o potencial
observados na alvenaria: esta apenas diminui
res à resistência à tração da alvenaria, levando
de aparecimento de fissuras por retração em
seu tamanho, sendo essa variação muito pe-
ao aparecimento de fissuras.
edifícios de alvenaria estrutural.
quena e imperceptível a um observador comum.
Apesar de normalmente a retração da arga-
Na primeira parte, será mostrado como o efeito
Entretanto, na grande maioria dos casos, as
massa de assentamento ser maior que a dos
de retração pode levar ao aparecimento de fis-
construções em alvenaria introduzem restri-
blocos, essa tem pouca influência na retração
suras. Na segunda parte do artigo, serão abor-
ções a essa variação, seja pelo intertravamento
total da parede, pois a junta de argamassa
dados os cuidados a serem tomados no projeto
das faces laterais com outro painel de alvena-
preenche apenas pequenos espaços nas pa-
e na execução, quanto aos seguintes aspectos:
ria, seja pelo travamento inferior ou superior
redes. Diferentes casos de paredes sujeitas
posicionamento de juntas, escolha correta dos
por lajes. O impedimento da retração provoca
a deformações por retração foram modelados
blocos e respeito ao tempo de assentamento
o aparecimento de tensões de tração. Depen-
numericamente em estudo anterior. Os resulta-
desses, armação das paredes, utilização de
dendo da combinação de sua intensidade com a
dos desse estudo mostram os pontos críticos
argamassa de menor módulo de deformação,
resistência à tração e o módulo de deformação
para o aparecimento de fissuras por retração
com ou sem o preenchimento posterior das
da argamassa ou do concreto, pode ocorrer
em cada uma dessas paredes. Um dos modelos
juntas verticais.
fissuração. Em materiais com módulos de
para uma parede com extremidades engasta-
Figura 1: Condição típica para o aparecimento de fissuras por retração
(CURTIN et al., 1982)
32
prisma
Figura 2: Fissuras comuns em alvenarias (CURTIN et al., 1982)
seqüência, dá-se a retração por secagem. Em
de janela no centro, é mostrado na Figura 3.
contrapartida, quando há variação positiva da
Outros casos podem ser encontrados em BAR-
umidade (molhagem), a água se insere nos ca-
BOSA et al. (2004).
pilares dos blocos e exerce uma tensão capilar
Uma das formas de minimizar as tensões surgi-
que tende a aumentar seu volume.
das a partir da retração em alvenarias é utilizar
Segundo a NATIONAL CONCRETE MASONRY
argamassas com baixo módulo de deformação,
ASSOCIATION - NCMA (2003c) a retração por
permitindo que as juntas possam absorver as
carbonatação ocorre a partir da reação entre
deformações surgidas. Os blocos, por sua vez,
materiais cimentícios e o dióxido de carbono
devem ser assentados após estabilização das
presente na atmosfera, e é caracterizada por
deformações volumétricas (retração inicial).
um processo lento e ao longo de vários anos.
Também é possível (e muitas vezes funda-
Como atualmente não há nenhum método de en-
mental) a previsão de juntas de controle para
saio para avaliar a retração por carbonatação,
permitir a acomodação das deformações. Outra
a mesma bibliografia sugere a adoção do valor
possibilidade é a armação das juntas da alve-
de 0,25 mm/m.
naria para aumentar sua resistência à tração.
DRYSDALE et al. (1999) indica que a retração
Juntas verticais não preenchidas ou preenchi-
total depende principalmente das condições de
das posteriormente também podem ajudar na
cura (vapor ou autoclave), da quantidade de
prevenção. Esses tópicos serão retomados em
cimento, do tipo de agregado e da umidade
detalhe na parte 2 deste artigo.
relativa do ambiente, e indica valores típicos de
Figura 3: Parede com abertura de janela e
restrições laterais (engastes), superior e inferior.
Figura 4: Resultados de ensaios de retração
em alvenarias de blocos de concreto
(PARSEKIAN, 2002)
CADERNO TÉCNICO ALVENARIA ESTRUTURAL - CT4
das em seus quatro lados e com uma abertura
retração iguais a:
RETRAÇÃO EM BLOCOS DE CONCRETO
Blocos produzidos com:
blocos de concreto sem um processo adequado
A retração dos blocos de concreto ocorre de
• agregado comum com cura a vapor:
de cura, e desta forma é possível que sejam
três formas distintas:
a) por secagem
a.1) inicial irreversível, com a perda da umidade
não envolvida no processo de hidratação, logo
nas primeiras horas e dias;
a.2) reversível, pela variação de umidade ao
longo da vida;
de 0,2 a 0,5 mm/m;
encontrados blocos com retração superior à
• agregado comum com cura em autoclave:
de 0,1 a 0,4 mm/m;
indicada no parágrafo anterior.
O ensaio de retração por secagem dos blocos
• agregado leve com cura a vapor:
é realizado de acordo com a NBR 12117/1991,
de 0,4 a 0,8 mm/m;
e serve para certificação da qualidade destes,
• agregado leve com cura em autoclave:
devendo ser realizado apenas pelo fabricante
de 0,2 a 0,6 mm/m.
e não pelo construtor. A máxima retração dos
b) retração irreversível por carbonatação, tam-
No Brasil, usualmente os blocos de concreto
blocos permitida é igual a 0,65 mm/m. Segundo
bém ao longo da vida.
são produzidos com agregado comum e, nos
NCMA (2003a), quando não há variação no tra-
Usualmente a mistura dos blocos de concreto
melhores fabricantes, com cura a vapor. Entre-
ço ou no procedimento de fabricação, deve-se
é caracterizada por um concreto seco, com
tanto, não é incomum encontrar fabricantes de
repetir o ensaio a cada dois anos.
baixa relação água/cimento, uma vez que esses
blocos serão produzidos por vibroprensagem
Tabela 1: Valores do coeficiente de deformação unitária por retração na alvenaria,
com alta energia. Desta forma, a parcela de re-
segundo algumas referências
tração inicial irreversível é geralmente baixa em
REFERÊNCIA
Valor do Coeficiente (mm/m)
AS 3700/1998
- 0,7
ACI 530-99 / ASCE 5-99 /
0,25 + (0,15 ou 0,5) x retração
comparação com as outras duas. Apenas quando a energia de prensagem é pequena (casos
TMS 402-99
por secagem de bloco = 0,65
de equipamentos de pequeno porte) espera-se
BS 5628-2/1995
- 0,5
valores consideráveis de retração inicial.
ABCI/1990
- 0,2 a -0,6
LAURSEN et al. (2000)
- 0,45
TANEJA et al. (1986)
- 0,51
NCMA (2003)
- 0,45
PARSEKIAN (2002)
- 0,5 (- 0,6 para cálculo de perdas em alvenarias
Conforme SABBATINI (1984), como normalmente a alvenaria é fabricada com um teor de
água muito superior à umidade de equilíbrio
com o meio ambiente, há, após a fabricação,
uma perda substancial de umidade e, em con-
protendidas quando a protensão é feita antes de 14 dias)
GRIMM (1999)
- 0,59 (valor característico, ver Tabela 2)
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CADERNO TÉCNICO ALVENARIA ESTRUTURAL - CT4
RETRAÇÃO EM ALVENARIAS DE BLOCOS
O PROGRAMA EXPERIMENTAL
com aparelho Demec Gauge. O posicionamento
DE CONCRETO
REALIZADO NA UFSCAR
das pastilhas é indicado na Figura 5.
Estudos sobre retração em alvenarias são
O estudo realizado no Programa de Pós-Gra-
Foram ensaiados blocos de 8,0 e 14,0 MPa de
pouco encontrados no Brasil. Em PARSEKIAN
duação em Construção Civil da Universidade
um fabricante de grande porte da Região Me-
(2002) são relatados ensaios de retração em
Federal de São Carlos - UFScar avaliou expe-
tropolitana de São Paulo, blocos esses sujeitos
quatro paredinhas de blocos de concreto, com
rimentalmente a retração em blocos e paredes
a três tipos de curas e produzidos na mesma
duas resistências (Figura 4). A Tabela 1 mostra
de alvenaria. O trabalho completo é relatado em
partida. Os ensaios foram iniciados sete dias
alguns valores do coeficiente de retração em al-
BARBOSA (2005) e em PARSEKIAN (2005).
após a produção dos blocos, com três dias
venarias de blocos de concreto para serem
Foram moldadas pequenas paredes de dimen-
de cura a vapor ou úmida. As paredes foram
adotados em projeto.
são 120 cm x 100 cm. Para cada tipo de bloco
moldadas cinco dias após a produção dos
Segundo o MASONRY DESIGNERS’ GUIDE (THE
e cura foram moldadas três paredinhas, onde
blocos. Em seguida, foram utilizados blocos
MASONRY SOCIETY, 2003) o valor de 0,15
foram coladas pastilhas para monitoramento da
de um pequeno fabricante do interior do Estado
(quando a umidade dos blocos é controlada)
deformação. A leitura das deformações foi feita
de São Paulo, com resistência de 4,5 MPa e
ou 0,50 (quando a umidade dos blocos não é
controlada) vezes a retração do bloco corresponde à parcela relativa à retração reversível de
alvenarias de blocos de concreto. Para a retração total deve-se somar 0,25 mm/m relativo à
Tabela 2
Coeficiente de retração em alvenaria de blocos de concreto, mm/m (GRIMM, 1999)
Números de dados
Média
Desvio Padrão%
Moda
Mediana
Característico 95%
94
0,360
33
0,310
0,340
0,590
retração por carbonatação, conforme segue:
ε = 0,25 (parcela devido à carbonatação) +
0,15 (ou 0,50) x retração por secagem dos
blocos, valores em mm/m.
O NCMA (2003b) indica o valor de 0,45 mm/m
para a retração que ocorre em alvenarias. É
interessante ressaltar que a retração, aliada a
deformações térmicas, produz uma deformação
na ordem de 3 mm a cada 6,0 m de alvenaria.
GRIMM (1999) fez um extenso levantamento
sobre valores do coeficiente de retração em
alvenarias relatados em diversas referências
norte-americanas. Os resultados estatísticos
desse estudo são mostrados na Tabela 2.
Figura 6: Retração da medida de retração horizontal da parede, média das paredes analisadas.
Figura 5: Dimensões e indicação do
posicionamento das pastilhas para
monitoramento de deformações em paredinhas.
34
prisma
Figura 7: Retração da medida de retração no bloco de controle, média das paredes analisadas.
mesmo utilizando-se blocos de pequena resis-
des, utilização de argamassa de menor módulo,
após cinco e 19 dias da produção dos blocos.
tência; essa retração foi consideravelmente
realizando ou não o preenchimento posterior
Em frente de cada parede foi posicionado um
menor quando se esperou maior tempo para
das juntas verticais. Como conclusão são feitas
bloco com pastilhas coladas nas duas laterais e
assentamento dos blocos;
recomendações para o projetista ou executor
periodicamente foi feita a leitura da deformação
e) o valor máximo de retração, considerando-
relativas a cada um dos cuidados descritos no
nas duas faces.
se todos os casos, foi da ordem de 0,06% ou
parágrafo anterior.
O aqui chamado “grande fabricante” tinha todo o
0,6 mm/m.
processo de produção dos blocos automatizado
PREVENÇÃO DE FISSURAS
e controlado eletronicamente, vibroprensa de
OBSERVAÇÕES FINAIS
Existem vários caminhos para prevenção de
grande porte e cura a vapor no procedimento
Neste artigo são relatados estudos para ob-
fissuras devido à retração, tais como:
normal de produção. O cimento utilizado foi o
tenção de parâmetros para consideração da
a) Minimizar o valor da retração do bloco atra-
CP-II. Já o “fabricante de pequeno porte” não
retração em alvenarias de blocos de concreto.
vés da sua correta dosagem, procedimento de
tinha controle rigoroso do processo de produ-
Baseado nesses estudos pode-se concluir:
fabricação e cura;
ção e da dosagem dos materiais, possuía vibro-
• A retração da alvenaria depende basicamente
b) Aguardar a estabilização das deformações
prensa de pequeno porte e usualmente executa
da retração do bloco.
volumétricas (retração inicial) dos blocos antes
a cura por meio do espalhamento dos blocos
• Blocos fornecidos por fabricantes com vibro-
de assentá-los;
no chão e molhagem por um dia. O cimento
prensa de pequeno porte, sem controle rigoro-
c) Armar as paredes como forma de aumentar
utilizado foi o CP-V.
so do processo de fabricação, têm potencial de
a resistência à tração da alvenaria, já que a
As Figuras 6 e 7 mostram gráficos compara-
retração maior.
armadura pode absorver esses esforços;
tivos de todas as paredes para a retração em
• Blocos de maior resistência têm maior poten-
d) Prever juntas de controle para permitir a
uma linha horizontal e do bloco de controle,
cial de retração.
acomodação das deformações;
respectivamente.
• Parcela significativa da retração ocorre nos
e) Utilizar argamassas com baixo módulo de de-
A partir dos gráficos mostrados nas Figuras 6
primeiros dias após a produção destes.
formação para que as juntas possam absorver
e 7, pode-se concluir:
Para levar em conta o efeito da retração nos
as deformações surgidas;
a) valores da retração medida em cada parede
projetos, como por exemplo para dimensionar
f) Não preencher as juntas verticais.
após o período de um ano:
juntas de controle, sugere-se a adoção de co-
• parede com bloco de 14 MPa
eficiente de retração igual a 0,5 mm/m. Para
1. MINIMIZAÇÃO DA RETRAÇÃO DOS
ε = 0,050% cura a vapor;
o caso de previsão de perdas em alvenarias
BLOCOS E TEMPO DE ESPERA PARA
ε = 0,058% cura úmida;
protendidas pode-se adotar o mesmo valor,
ASSENTAMENTO
ε = 0,052% cura natural;
exceto quando a protensão é aplicada antes
Para reduzir o potencial de retração de uma pa-
• parede com bloco de 8 MPa
de 14 dias, quando se sugere adotar o valor
rede é de fundamental importância a utilização
ε = 0,026% cura a vapor;
de 0,6 mm/m. Na terceira parte deste artigo,
que, após o assentamento, blocos tenham a
ε = 0,030% cura úmida;
são feitas recomendações sobre o projeto e a
menor retração possível. Diferentes conclusões
ε = 0,026% cura natural;
execução de obras em alvenarias de blocos de
podem ser extraídas do trabalho BARBOSA
• parede de 4,5 MPa de pequeno fabricante da
concreto, visando a minimizar o potencial de
(2005) que realizou ensaios de retração em blo-
região de São Carlos
patologias associadas a esse fenômeno.
cos e paredes de alvenaria de diversas caracte-
ε = 0,050% blocos assentados com cinco dias;
rísticas (ver parte 1 deste artigo). Fabricantes
ε = 0,030% blocos assentados com 19 dias;
com vibroprensa de maior eficiência em termos
b) as retrações medidas nas paredes e nos
blocos de controle apresentaram valores
próximos, indicando influência secundária da
PARTE 2: RECOMENDAÇÕES
PARA PREVENÇÃO DE
PATOLOGIAS
argamassa na retração de paredes;
CADERNO TÉCNICO ALVENARIA ESTRUTURAL - CT4
cura úmida. Essas paredes foram moldadas
de energia de vibração e compactação, com
controle rigoroso de produção e cura a vapor,
podem produzir blocos com menor potencial de
retração por diferentes motivos.
c) nas paredes moldadas com blocos do grande
Nesta segunda parte são indicados alguns
O fato de se ter controle do traço e uma energia
fabricante, a retração obtida no caso de blocos de
cuidados que podem ser tomados no projeto
de vibroprensagem elevada permite otimização
14,0 MPa foi superior à dos blocos de 8,0 MPa;
e execução, como posicionamento de juntas,
do traço, especialmente da quantidade de
d) as paredes moldadas com blocos do pequeno
escolha correta dos blocos e respeito ao tempo
cimento. Para uma mesma resistência será
fabricante tiveram valor de retração elevado,
de assentamento desses, armação das pare-
necessária quantidade de cimento superior
35
CADERNO TÉCNICO ALVENARIA ESTRUTURAL - CT4
no pequeno fabricante em relação ao grande
Tabela 3: Valores máximos de umidade dos blocos para classificação Tipo I
fabricante. Blocos produzidos com taxa de
Retração Linear (mm/m)
Máxima umidade do bloco quando ao assentamento (%)
Condições de umidade do ar local
cimento maior têm maior potencial de retração.
A utilização de cura a vapor, além de também
úmido
médio
árido
Hr > 75%
50% < Hr < 75%
Hr < 50%
contribuir para otimização do traço, acelera as
< 0,3
45
40
35
reações iniciais do cimento, fazendo com que
0,3 a 0,45
40
35
30
grande parte da parcela de retração irreversível
0,45 a 0,65
35
30
25
ocorra nos primeiros dias, antes do assentamento dos blocos.
A parcela de retração reversível depende basicamente da variação de umidade dos blocos. Se
o bloco for submetido à umidade alta ocorrerá
uma retração quando este entrar em equilíbrio
com um ambiente menos úmido. De forma alguma os blocos devem ser assentados molhados.
É importante aguardar um período de dias
adequado para que os blocos sequem antes do
assentamento.
Em relação ao controle de umidade, a normali-
Figura 8: Umidade relativa média anual no
Brasil 1931/1990 (Fonte: Instituto Nacional
de Meteorologia - INMET, disponível em:
www.inmet.gov.br, acesso em 10.set.2004
Figura 9: Junta de controle (NCMA, 2003a)
zação internacional classifica os blocos em duas
36
categorias: Tipo I (umidade controlada) ou Tipo
sagem de maior porte. É interessante escolher
1.4 Blocos de resistência elevada, acima de
II (sem controle de umidade, de acordo com a
blocos de fabricantes com cura a vapor. Quando
8,0 MPa, produzidos com cura a vapor, podem
Tabela 3 da ASTM C90/1998. Deve-se destacar
isso não for possível, além de se certificar de
ser utilizados aos 14 dias; para tanto a fábrica
que essa classificação foi eliminada em versões
que o produto atende a todas as especificações
deve possuir certificado de ensaio de retração
mais recentes desta norma (ASTM C90/2000).
de norma, é importante aguardar maior período
por secagem, segundo a NBR 12117, indicando
O intuito de reproduzi-la aqui é apenas para
antes do assentamento.
valores de retração máximos (de todos exem-
esclarecer as especificações da Tabela 4. Nas
A NBR 8798/1985 recomenda utilização de
plares) inferiores ao especificado com início de
recomendações deste texto utiliza-se um crité-
blocos somente com idades superiores a 21
ensaio aos 14 dias
rio mais simples e genérico.
dias. Entende-se que esse prazo pode ser
1.5 Nunca molhar os blocos antes do assen-
Outro fator que terá grande influência na
diminuído para cura a vapor e blocos de baixa
tamento; estes devem estar secos quando do
retração da alvenaria será a umidade média
resistência e que deva ser respeitado para blo-
assentamento.
da região onde a edificação será construída.
cos sem cura a vapor.
Quanto menor for a umidade local maior será
Baseado nessas considerações recomenda-se:
2. JUNTAS DE CONTROLE E ARMAÇÃO
o potencial de retração, uma vez que, ao entrar
1.1 A retração por secagem dos blocos, en-
DAS PAREDES
em equilíbrio com um ambiente seco, os blocos
saiados segundo NBR 12117, fica limitada a
Juntas de controle podem reduzir o potencial
perdem umidade e diminuem de tamanho (re-
0,65 mm/m;
de aparecimento de fissuras por retração, pois
traem). O mapa mostrado da Figura 8 indica
1.2 Blocos produzidos sem cura a vapor não
essas permitem que as deformações ocorram
valores médios de cada região brasileira.
devem nunca ser utilizados com menos de 21
livremente, sem o aparecimento de tensões. No
Neste trabalho são considerados dois fatores
dias de idade;
sentido contrário, a armação das paredes per-
para recomendação de cuidados na escolha dos
1.3 Blocos de resistência moderada, até 8,0
mite aumento na resistência a tração, provendo
blocos e no tempo de espera para assentamen-
MPa, produzidos com cura a vapor, podem ser
capacidade à alvenaria de resistir a eventuais
to. O primeiro fator é relativo ao fabricante, se
utilizados aos sete dias; para tanto a fábrica
trações ocorridas.
ele tem ou não cura a vapor. Ainda que a cura
deve possuir certificado de ensaio de retração
O NCMA (2003a e 2003b) indica os pontos
a vapor não seja o único fator para escolha do
por secagem, segundo NBR 12117, indicando
críticos em paredes de um edifício, nos quais
fabricante, entende-se que fabricantes com
valores de retração máximos (de todos os
devem ser previstas juntas:
cura a vapor terão também maior controle de
exemplares) inferiores ao especificado com
a) Em mudanças de altura ou largura de pa-
produção, além de equipamento de vibropren-
início de ensaio aos sete dias;
rede;
prisma
Para se obter uma taxa de armadura de 0,04%
cialmente no último pavimento;
em uma parede de 14 cm e 2,80 m de altura,
c) Nas laterais de aberturas;
deve-se ter uma área de aço horizontal igual a
d) Entre outros.
0,04x14x2,80 = 1,57cm2. Essa taxa pode ser
Ressalta-se que tradicionalmente a maioria
obtida com uma canaleta a meia altura e outra
das juntas indicadas acima não é prevista nas
no respaldo na laje, cada uma armada com uma
construções nacionais. Usualmente são execu-
barra de 10 mm. A Figura 10 indica esse e
tadas juntas de controle verticais (Figura 9) em
outros detalhes de taxa de armadura. Detalhes
espaçamentos pré-definidos. Quanto menor for
adicionais são possíveis, como a utilização de
a taxa de armadura horizontal de uma parede
armaduras de pequeno diâmetro distribuídas
menor deve ser o espaçamento dessas juntas.
nas juntas de assentamento horizontal.
Neste artigo serão adotados três níveis de
GRIMM (1999) fez recomendações de como
taxa de armadura horizontal das paredes: 0%,
aplicar as juntas de controle de acordo com:
0,04% e 0,1%. Essas taxas são relativas à área
• Umidade relativa média anual local;
bruta da seção lateral da parede (espessura x
• O tipo de unidade de concreto da alvenaria
altura) e foram adaptadas de recomendações
[ASTM C90, Tipo I (umidade controlada) ou
• O espaçamento vertical do reforço horizontal;
internacionais.
Tipo II (sem controle de umidade);
• Exposição ao tempo.
Figura 10: Detalhes de armação horizontal
para várias taxas de armadura
Como exemplos de utilização da tabela, pode-se
Tabela 4: Máximo espaçamento horizontal das juntas de controle
considerar dois casos:
em paredes de alvenaria de concreto*
1) Na cidade de São Paulo (ver umidade média
Umidade
Localização
Taxa de
Tipos de Unidades de Concreto
Relativa
da Parede
armadura
da Alvenaria
< 50%
Exterior
Interior
> 50 e < 70%
Exterior
Interior
> 70%
Exterior
Interior
Tipo I Umidade
Tipo II Sem Controle
Externa
Interna
interna, armada com cinta intermediária (Figura
Controlada
de Umidade
10-B) e bloco com umidade controlada, deve-se
3,66
1,83
prever uma junta de controle a cada 11,0 m.
0,04
5,49
3,05
0,1
7,32
4,27
2) Na cidade de Teresina, uma parede externa,
0
5,03
2,74
0,04
7,32
4,27
controlada, o comprimento de parede é igual a
0,1
9,63
5,79
1,8 m.
0
5,49
3,66
0,04
7,32
4,88
Baseado nessas idéias, o projeto de norma da
0,1
9,14
6,1
0
6,86
4,57
tos indicados na Tabela 5 em função da taxa
0,04
9,14
6,1
de armadura adotada. Recomenda-se como boa
0,1
11,46
7,62
0
7,32
5,49
prática executiva a armação das paredes exter-
0,04
9,14
6,71
0,1
10,97
7,92
espaçamento das juntas de controle anotadas
0
8,69
6,4
nesta tabela. Em situações em que se sabe a
0,04
10,97
7,92
0,1
13,29
9,45
priori que os blocos têm elevado potencial de
Taxa de Armadura
sem armadura longitudinal e bloco sem umidade
NBR10837 (2005), especifica os espaçamen-
nas com uma cinta intermediária e respeito ao
retração, recomenda-se estender essa armadura nas paredes internas.
3. PREENCHIMENTO DAS JUNTAS
Tabela 5: Recomendação para espaçamento horizontal das juntas de controle
Localização da parede
na Figura 8), levando-se em conta uma parede
0
* (Adaptado de GRIMM, 1999)
CADERNO TÉCNICO ALVENARIA ESTRUTURAL - CT4
b) Sob lajes que se apóiam em alvenarias, espe-
Limite (m)
VERTICAIS
Blocos produzidos
Blocos produzidos
com cura a vapor
sem cura a vapor
Sem armadura (Figura 10-A)
7,0
5,0
verticais permite uma certa liberdade de
0,04% (Figura 10-B)
9,0
7,5
movimentação dos blocos. Segundo RAMI-
Sem armadura (Figura 10-A)
9,0
7,5
REZ-VILATO (2004) “entre as alterações de
0,04% (Figura 10-B)
11,0
9,0
tecnologia ocorrida nos últimos anos está a
A prática do não-preenchimento das juntas
37
CADERNO TÉCNICO ALVENARIA ESTRUTURAL - CT4
CONCLUSÃO
posicionamento de juntas de controle, e o não-
cal de assentamento dos blocos (...). Nesse
Nesta segunda parte do artigo sobre Retração
preenchimento de juntas verticais para o caso
processo construtivo esta técnica objetivava
em Alvenarias de Blocos de Concreto são feitas
de prédios baixos.
principalmente a redução da possibilidade de
recomendações para prevenção de fissuras
ocorrências de problemas patológicos causados
associadas a esse fenômeno. Resumidamente,
por movimentações intrínsecas da alvenaria, de
essas condições se baseiam na escolha do
AGRADECIMENTOS
origem higroscópica ou térmica”.
fornecedor do bloco e respeito ao tempo míni-
Os autores agradecem à Fapesp/Capes e sA-
A partir de resultados de vários ensaios e da
mo de espera para assentamento dos blocos
BCP pelo financiamento e apoio ao projeto de
caracterização de vários aspectos relativos
após sua fabricação, armação das paredes e
pesquisa.
técnica de não-preenchimento da junta verti-
ao comportamento de uma parede com ou
sem junta vertical preenchida, o autor conclui
que “em várias situações é viável a utilização
da junta vertical seca (não preenchida), sendo
esse procedimento favorável à capacidade de
absorver deformações e evitar o surgimento de
fissuras e patologias nas paredes”.
Entretanto alguns fatores como resistência ao
cisalhamento diminuída, mais preocupante em
prédios médios e altos (acima de seis pavimentos), e menor isolação acústica devem ser
levados em conta.
Projetistas especializados em alvenaria estrutural recomendam o não-preenchimento ou
preenchimento posterior das juntas verticais
para evitar patologias associadas a retração
(WENDLER, 2005). Deve-se destacar que a escolha do não preenchimento das juntas verticais
deve levar em conta os fatores citados acima e
só pode ser feita na fase de projeto, com aval
do engenheiro de estruturas.
Recomenda-se o preenchimento das juntas
verticais para prédio médios e altos durante a
elevação das paredes, em função da necessidade de maior resistência ao cisalhamento. Em
prédios baixos recomenda-se considerar o não
preenchimento de juntas verticais e fechá-las
após a execução da parede (sugere-se aguardar pelo menos uma semana), utilizando uma
argamassa de resistência inferior à utilizada no
assentamento. Essa opção deve ser definida
na fase de projeto com aval do engenheiro de
estruturas.
(1) Guilherme Aris Parsekian
Professor-Doutor, Programa de Pós-Graduação em
Construção Civil da Universidade Federal de São Carlos
[email protected]
38
prisma
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(2) Davidson Figueiredo Deana
Engenheiro civil, Ethos Soluções
[email protected]
(3) Kleilson Carmo Barbosa
Engenheiro civil, mestre em
Construção Civil
[email protected]
(4) Thiago Bindilatti Inforsato
Graduando em Engenharia Civil,
Universidade Federal de São Carlos
[email protected]

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