português ii e iii traduzir em português – correção dia 29/04/2016

Transcrição

português ii e iii traduzir em português – correção dia 29/04/2016
PORTUGUÊS II E III
TRADUZIR EM PORTUGUÊS – CORREÇÃO DIA 29/04/2016
COMPOSIÇÃO: COMENTE O ARTIGO.
O INFERNO DO USTRA
COLABORADORES DO REBATE 12 ABRIL 2012
CELSO LUNGARETTI (*)
No meu artigo Sr Torturador: só teme a verdade quem tem esqueletos no
armário(vide aqui), relatei como, em 1985, Maria Joseíta Silva Brilhante Ustra escreveu
uma mensagem para ser lida futuramente por suas filhas (o que não impediu seu marido
torcionário de a divulgar amplamente nos espaços virtuais da extrema-direita...), na qual o
DOI-Codi era apresentado como uma espécie de playground no qual criancinhas podiam
circular livremente e manter atividades amenas com as prisioneiras.
Era mesmo? Seguindo as regras do bom jornalismo, apresento agora o outro lado:
"[Joaquim] Seixas foi preso junto com seu filho Ivan, na Rua Vergueiro, altura do n° 9000,
no dia 16 de abril de 1971. Do local da prisão, ambos foram levados para a 37ª Delegacia
de Polícia, que fica na mesma rua Vergueiro, na altura do nº 6000, onde foram
espancados no pátio do estacionamento, enquanto os policiais trocavam os carros usados
para o esquema de prisão.
De primeira foram levados para o DOI/Codi, que a esta época ainda se chamava
Operação Bandeirantes-Oban. No pátio de manobras da Oban, pai e filho foram
espancados de forma tão violenta, que a algema que prendia o pulso de um ao outro
rompeu-se.
Dessa sessão de espancamento, ambos foram levados para a sala de interrogatórios,
onde passaram a ser torturados um defronte ao outro. Nesse mesmo dia, sua casa foi
saqueada e toda sua família presa.
No dia seguinte, 17 de abril de 1971, os jornais paulistas publicavam uma nota oficial dos
órgãos de segurança, que dava conta da morte de Joaquim Alencar de Seixas em tiroteio.
Em realidade, Seixas estava morto só oficialmente, pois nesta mesma hora se
desenrolavam torturas horríveis, o que pôde ser testemunhado por seu fllho Ivan, sua
esposa Fanny, e suas duas filhas, Ieda e Iara, presas na noite anterior.
Por volta das 19 horas deste dia, Seixas foi finalmente morto. Sua esposa, Fanny,
ouvindo que seu marido acabara de morrer, pôs-se nas pontas dos pés e viu os policiais
estacionarem uma perua C-14 no pátio de manobras, forrar seu porta-malas com jornais,
e colocarem um corpo que reconheceu ser o de seu marido. Não bastasse o seu
reconhecimento, ouviu um policial perguntar a outro: 'De quem é este presunto?' e como
resposta, a afirmação: 'Este era o Roque' (nome usado por Seixas).
No processo a que responderia se estivesse vivo, consta uma fotografia de seu cadáver
com os sinais dos sofrimentos passados, e um tiro na altura do coração, que indicaria a
causa-mortis.
Os assassinos de Joaquim Alencar de Seixas foram identificados por seus familiares e
companheiros como sendo o então major Carlos Alberto Brilhante Ustra, o capitão Dalmo
Lúcio Muniz Cirillo, o delegado Davi Araújo dos Santos, o investigador de polícia Pedro
Mira Granziere e vários outros, identificáveis somente por apelidos." (do verbete sobre
Joaquim Seixas no site Tortura Nunca Mais)
"Cheguei na Oban e a violência começou no interrogatório, com choque elétrico. Quando
eu vi o pau de arara, não reconheci o que era porque estava em choque. Vi um copo
cheio de uma substância branca e achei que era açúcar, para tomar com água na hora do
nervoso. Mas era sal, para pôr nas feridas.
Eles faziam piadas sobre o corpo das mulheres, se era feio, jovem, velho, gozavam dos
defeitos. Era uma mesquinharia muito grande. Eles abusam, violentam, de uma maneira
ou outra, humilham, tornam objeto. Eles faziam a gente se sentir uma porcaria.
...Eles tinham muito prazer na tortura. Não me pareceu que eles faziam por obrigação.
Havia o Ustra [coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra], que era o mais terrível, porque
vinha com uma conversinha, com uma diplomacia: ‘Minha filha, como você vai se meter
numa coisa dessas, você é de uma família boa, vai prejudicar os seus filhos por essa
coisa de comunismo’. E, de repente, inesperadamente, ele lançava uma bofetada.
Lá da minha cela, eu conseguia ver que eles tinham uma cachorrada no pátio. Eles
masturbavam as cadelas, as excitavam, e elas uivavam, acho que de prazer e medo. Era
brutal. Eu tinha vontade de vomitar." (depoimento da professora universitária Lúcia
Coelho, publicado no livro Luta, Substantivo Feminino: mulheres torturadas,
desaparecidas e mortas na resistência à ditadura)
"Fomos levados diretamente para a Oban. Tiraram o César e o [Carlos Nicolau] Danielli
do carro dando coronhadas, batendo. Eu vi que quem comandava a operação do alto da
escada era o Ustra [coronel reformado do Exército Carlos Alberto Brilhante Ustra].
Subi dois degraus e disse: ‘Isso que vocês estão fazendo é um absurdo’. Ele disse: ‘Fodase, sua terrorista’, e bateu no meu rosto. Eu rolei no pátio. Aí, fui agarrada e arrastada
para dentro.
A primeira forma de torturar foi me arrancar a roupa. Lembro-me que ainda tentava
impedir que tirassem a minha calcinha, que acabou sendo rasgada.
Começaram com choque elétrico e dando socos na minha cara. Com tanto choque e
soco, teve uma hora que eu apaguei. Quando recobrei a consciência, estava deitada, nua,
numa cama de lona com um cara em cima de mim, esfregando o meu seio. Era o
Mangabeira [codinome do escrivão de polícia de nome Gaeta], um torturador de lá. A
impressão que eu tinha é de que estava sendo estuprada.
Aí começaram novas torturas. Me amarraram na cadeira do dragão, nua, e me deram
choque no ânus, na vagina, no umbigo, no seio, na boca, no ouvido. Fiquei nessa cadeira,
nua, e os caras se esfregavam em mim, se masturbavam em cima de mim. A gente sentia
muita sede e, quando eles davam água, estava com sal. Eles punham sal para você sentir
mais sede ainda.
Depois fui para o pau de arara. Eles jogavam coca-cola no nariz. Você fi cava nua como
frango no açougue, e eles espetando seu pé, suas nádegas, falando que era o soro da
verdade. Mas com certeza a pior tortura foi ver meus fi lhos entrando na sala quando eu
estava na cadeira do dragão. Eu estava nua, toda urinada por conta dos choques.
Quando me viu, a Janaína perguntou: ‘Mãe, por que você está azul e o pai verde?’. O
Edson disse: ‘Ah, mãe, aqui a gente fica azul, né?’.
Eles também me diziam que iam matar as crianças. Chegaram a falar que a Janaína já
estava morta dentro de um caixão." (depoimento da professora Maria Amélia de Almeida
Teles, no mesmo livro)
"Estávamos na nossa casa em Atibaia. Éramos eu, meu marido e meus filhos. A polícia
cercou a casa, arrebentou o portão e bateu na porta. Meu marido estava dormindo.
Mandaram chamá-lo e queriam levá-lo para prestar esclarecimento, mas ele pegou um
fuzil e disse que não ia. Quando ele saiu na porta, a bala já bateu no peito dele, mas ele
ainda estava vivo. Quando caiu, deram trinta, quarenta balas no corpo. O último foi na
cabeça. Foi aí que ele morreu, e todos os homens entraram na casa.
Eles diziam: ‘Mata ela e os filhos dela, mata essa puta’. Saquearam a casa toda.
...Quando eu cheguei na delegacia, o pau comeu solto: arrancaram os meninos de mim,
me jogaram no chão, pisaram em cima de mim, eu rolava no chão toda ensanguentada.
Aí, começaram a vir os homens da Oban. Era soco, pontapé, batiam no meu quadril.
Apanhei tanto na boca que a dentadura enganchou na gengiva. Minha boca fi cou toda
inchada, cheia de dentes quebrados.
De madrugada, me levaram para São Paulo, para a Operação Bandeirante, onde eu fiquei
23 dias apanhando. Era choque, choque, choque todo santo dia. Eu me urinava toda, e
eles berravam: ‘Essa mulher tá podre, tira essa mulher fedorenta daqui’. Minha vagina
ficou toda arrebentada por causa dos choques. Eu tive de fazer uma operação em Cuba,
onde levei noventa pontos. Meu útero e minha bexiga ficaram para fora, eu estou viva por
um milagre.
Também levei muita porrada, muito soco na bunda. Fiquei completamente arrebentada,
foi muito sofrimento. Nesses dias, eu não conseguia comer, porque, além da comida
parecer ‘resto’, cheia de ponta de cigarro e palito, eu estava com a boca inchada. Então,
só tomava uma xícara de café. Tinha também xingamento dos nomes mais pesados. De
vez em quando, vinham e davam uma bofetada na nossa cara." (depoimento de Damaris
Lucena, que era feirante ao ser presa em 1970, no mesmo livro)
* jornalista, escritor e ex-preso político, anistiado pelo Ministério da Justiça e indenizado
pelo Governo paulista, permanentemente lesionado por tortura sofrida na PE da Vila
Militar (RJ). http://naufrago-da-utopia.blogspot.com