condutividade térmica do suco de laranja
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condutividade térmica do suco de laranja
Revista Brasileira de Produtos Agroindustriais, Campina Grande, v.3, n.1-2, p.101-104, 2001 ISSN 1517-8595 101 CONDUTIVIDADE TÉRMICA DO SUCO DE LARANJA Simone Duarte Oliveira1, Darmil Camargo2, Pedro Paulo Machado3; Soraia Vilela Borges4 RESUMO Neste trabalho, o objetivo foi determinar a condutividade térmica (k) do suco de laranja. Em diferentes concentrações (11-59 oBrix). A condutividade térmica foi medida pelo método da sonda linear. Para construção da sonda, foi usado uma agulha hipodérmica contendo no seu interior um fio aquecedor de constantan e termopar de cobre-constantan. Uma corrente contínua de 260 mA foi usada para aquecer a sonda. Os dados foram registrados por uma interface conectada a um computador e ao programa QuickLog. Os resultados mostraram que k varia an faixa de 0,2 a 0,57 w/m °C, de acordo com a equação: k = -1,181 + 4,641 xa -3,008 xa2, onde xa é o conteúdo de água. Os resultados experimentais foram comparados aos encontrados na literatura e mostraram pequenas diferenças. Entretanto modelos baseados sobre o conteúdo de água, não foram adequados para predizer estes resultados experimentais. Palavras-chave: Condutividade térmica, propriedades termofísicas, suco de laranja. THERMAL CONDUTIVITY OF ORANGE JUICE ABSTRACT The objective of this work to measure the thermal conductivity of orange juice in several concentrations (11 to 59°Brix). The thermal conductivity was measured by linear heat source technique. For the probe construction, there were used a hypodermic needle. A wire heater constantan and cooper-constantan were placed inside the needle. Continuous current of 260 mA was used to heat the probe. The data were recorded by na interface connected to the computer and QuickLog program. The results showed that k varies from 0,2 to 0,57 W/m °C, according to equation: : k = -1,181 + 4,641 xw -3,008 xw2 , where xw is water content. The experimental results were compared to values found in literature and showed small differences. However, models based on water content, were not suitable to predict these experimental results. Keywords: thermal condutivity, thermophysical properties, orange juice. Protocolo 21 2000 41 de 07/11/2000 1 Eng. Alimentos. Msc em Ciência e Tecnologia de Alimentos- Técnica- CTAA/EMBRAPA-RJ 2 2Técnico de Mecânica do SENAI-CETEC/Vassouras-RJ 3 Doutor em Agronomia-Solos/UFRRJ 4 Prof. Adjunto II-DTA/UFRRJ Apoio Financeiro/Técnico: FAPERJ/ SENAI-CETEC DTA/IT/UFRRJ- km 47 da Antiga Rodovia Rio-SP 23851-970 Seropédica RJ. 102 Condutividade térmica do suco de laranja INTRODUÇÃO Existem várias formas de processamento de alimentos aplicação de calor e frio, irradiação, fermentação, adição de substâncias conservadoras, entre outros processos que envolvem aplicação de calor/frio, tais como tratamento térmico (ou enlatamento), secagem, evaporação, refrigeração, e congelamento, são largamente empregados na indústria de alimentos, pois os produtos resultantes são adequados tanto do ponto de vista nutricional e organoléptico, além terem vida útil estendida acima de 1 ano, Mafart & Béliard (1994), Cabral et al. (1983). Entretanto, esses processos devem ser conduzidos de forma econômica. Os gastos com energia representam uma considerável parcela nos custos de produção , sendo portanto considerados críticos na redução dos mesmos, Peters & Timmerhaus (1980). Neste contexto, o conhecimento das propriedades físicas (densidade) e termofísicas (calor específico, condutividade térmica e difusividade térmica) tem importância fundamental para estimar a quantidade de emergia envolvida no processo e consequentemente, selecionar e dimensionar corretamente os equipamentos, Vieira(1996) e Shepherd & Bhardwaj (1986). São propriedades dependentes da composição química do alimento e condições de processamento, principalmente umidade e temperatura, respectivamente. Entretanto, poucos dados sobre estas propriedades são registrados na literatura, sendo comum a utilização de várias correlações existentes na literatura para estimar tais propriedades. Tal fato pode gerar estimações grosseiras sobre os aspectos energéticos, resultando em sub ou hiperdimensionamento de equipamentos, comprometendo dessa forma os custos do projeto. Baseado no exposto este trabalho tem como objetivos: Oliveira et al. - Construção do calorímetro e sistema de medição de condutividade térmica; - Ajuste de um modelo empírico para k em função da concentração do suco de laranja e comparação dos resultados experimentais com os modelos da literatura. MATERIAL E MÉTODOS Utilizou-se suco de laranja concentrado da marca Lanjal sem adição de açúcar, a diferentes concentrações (11 a 58°Brix). A concentração dos sucos foi ajustada por diluição e medida em um refratômetro, seguindo as normas recomendadas pela AOAC (1985). Para medir a condutividade térmica do suco de laranja, utilizou-se a técnica da fonte de calor linear em regime transiente, de acordo com Sweat (1974), cujo esquema da sonda é montado na Figura 1. Este equipamento foi construído e calibrado com ágar a 2%. A sonda, é constituída de uma agulha hipodérmica de 2,0 mm de diâmetro externo e 40,0 mm de comprimento, dentro do qual foi introduzido um par termoelétrico de cobre-constantan no seu ponto médio e um fio aquecedor de constantan. A variação da temperatura com o tempo foi registrada por meio de uma interface acoplada a um computador e um programa QuickLog. Os resultados experimentais, repetidos 5 vezes, foram obtidos através de Equação 1. (1) Os modelos da literatura escolhidos para comparar com os dados experimentais são: k= 0,0560 + 0,567 xa Bowman (1970) citado por Lamb (1976) k= 0,140 + 0,66 xa - 0,24 xa2 Lamb (1976) Figura1- Esquema da sonda linear Revista Brasileira de Produtos Agroindustriais, Campina Grande, v.3, n.1-2, p.101-104, 2001 Condutividade térmica do suco de laranja Oliveira et al. 103 RESULTADOS E DISCUSSÃO A Figura 2 mostra a variação dos dados experimentais com a umidade do suco de laranja, bem como a comparação com os modelos da literatura para predizer tais valores. Os resultados experimentais foram bem ajustados pela seguinte equação (R = 0,92 e R2 = 0,85). Tabela 1- Valores calculados para o desvio médio relativo(P%) para o k do suco de laranja utilizando as equações IX e X. k= -1,181 + 4,641 xa -3,008 xa 2 onde xa é a fração de água. Observa-se através da figura que a equação IX prediz muito bem na faixa de 0,5 a 0,9 de umidade. Equação IX - Bowman (1970) citado por Lamb (1976) Equação X - Lamb (1976). CONCLUSÃO O valor da condutividade do suco com umidade de 0,89 citado Por Hayes (1987) é de 0,554W/M°C e por Vieira (1996) é de 0,556 W/m°C. O valor encontrado neste trabalho para essa umidade é de 0,565 W/m°C, portanto está relativamente próximo aos dos referidos autores. Em relação aos modelos, a análise estatística, apresentada na tabela 1 mostra que os mesmos não se adequaram aos resultados experimentais. O equipamento construído e o sistema de aquisição de dados mostrou ser uma ferramenta útil e de boa precisão na determinação da condutividade térmica de sucos de frutas, pois os resultados encontrados estão próximos aos da literatura. AGRADECIMENTOS À FAPERJ pelo apoio financeiro e ao SENAI-CETEC-Vassouras pela construção dos equipamentos. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS A.O.A.C. Official methods of analysis. 14 ed. Washington: Association of Official Analytical Chemists, 1980. Cabral, A.C.D; Madi, L.F.C.; Soler, R.M.; Ortiz, S.A. Embalagens de produtos alimentícios. Campinas: FTPT, 1983. 338 p. Hayes,G.D. Food engineering data handbook. – Zaragoza : Acribia, 1987, 182 p. Figura 2. Condutividade térmica do suco de laranja em função da umidade, dados experimentais e modelos da literatura. Lamb, J. Influence of water on the thermal properties of foods. Chemistry and Industry, v.24, n. p. 1046-1048, 1976. Mafart, P.; Béliard, E. Ingenieria industrial alimentária. Acribia, Zaragoza, 1994. 277p. Revista Brasileira de Produtos Agroindustriais, Campina Grande, v.3, n.1-2, p.101-104, 2001 104 Condutividade térmica do suco de laranja Peters, M.S.; Timmerhaus, K.D. Plant design and economics for chemical engineers. 4. ed. New York: Mc Graw-Hill Book Co., 1991. 970p. Oliveira et al. tubos de suco de laranja. Campinas: UNICAMP/ FEA,1996. (Tese de Doutorado). NOMENCLATURA Shepherd, H.; Bhardway, R.K. Thermal properties of pigeon pea . Cereal Foods World, 31(7): 466-470, 1986. Sweat, V.E.; Haugh, C.G. A thermal conductivity probe for small food samples. Transaction of the ASAE, 17(1):56-8, 1974. Vieira, J.A.G. Propriedades termofísicas e convecção no escoamento laminar em Cp - calor específico (kJ/kg C) k - condutividade térmica (W/m C) M - massa (g) Q - potência por unidade de comprimento dissipada no fio aquecedor (W/m) t - tempo (min) T - temperatura ( C) x - fração peso (g/g) 1,2 - intervalo de tempo Revista Brasileira de Produtos Agroindustriais, Campina Grande, v.3, n.1-2, p.101-104, 2001