Red del Sur e CICOPA Mercosul: alianças e

Transcrição

Red del Sur e CICOPA Mercosul: alianças e
“Promoção do cooperativismo de trabalho associado e fortalecimento das redes de
empreendimentos da economia social do MERCOSUL como estratégia de combate à
pobreza e construção de uma sociedade mais democrática e sustentável”
• EDITORIAIS
NESTA
EDIÇAO:
Publicação periódica Red del Sur | Segunda Edição | Maio 2012 | www.reddelsur.coop
• COOPERATIVISMO & SUSTENTABILIDADE
• ESTRATÉGIA CICOPA MERCOSUL
• POTENCIALIDADES DA INTERCOOPERAÇÃO
• A COMUNICAÇÃO COMO OPORTUNIDADE
CICOPA Mercosul
EDITORIAL
Red del Sur e CICOPA Mercosul:
alianças e construções
E
ste é um ano muito importante para as organizações que participam do projeto Red del Sur.
O seu terceiro ano de ação coincide com o Ano
Internacional das Cooperativas promovido pelas Nações Unidas. O ano de 2012 nos encontra com novidades e progressos em um projeto de escala regional
que engloba organizações da Economia Social e Solidária (ESS) dos três países que compõem o Mercosul:
a Confederação Nacional de Cooperativas de Trabalho
da Argentina (CNCT), a Central de Empreendimentos
Cooperativos e Solidários do Brasil (UNISOL), a Confederação Paraguaia de Cooperativas (CONPACOOP) e
a Federação de Cooperativas de Produção do Uruguai
(FCPU). O projeto é cofinanciado pela União Europeia
e coordenado pela ONG italiana COSPE, que trabalha
com a ESS da região há mais de vinte anos.
A Red del Sur é o resultado de um interessante processo de intercooperação em todos os níveis, tendo os
seguintes objetivos: que os empreendimentos cooperativos da região fortaleçam a própria inserção no mercado e desenvolvam iniciativas de encadeamentos produtivos; que incorporem ferramentas para promover
políticas públicas e projetos de desenvolvimento local;
e que a Red del Sur se transforme em um agente estratégico nos espaços regionais e internacionais vinculados
à ESS. Ainda que em relação a cada um destes pontos
tenham acontecido importantes avanços, nesta segunda
edição enfatizaremos este último aspecto: a institucionalização da Red del Sur através da CICOPA Mercosul,
entidade que se apropria dos objetivos da rede e os desenvolve de maneira cada vez mais expressiva.
A CICOPA Mercosul, criada em outubro de 2011, é
parte do processo de fortalecimento das regionais da
CICOPA Mundial (Organização Internacional das Cooperativas de Produção Industrial, Artesanal e de Serviços) e que pôde cristalizar-se através da articulação do
projeto Red del Sur e dos esforços que as organizações
desta zona da América Latina vinham realizando já há
décadas pelo fortalecimento do movimento na região.
A este bloco formado pelas organizações da Red del Sur,
somou-se ainda a Organização de Cooperativas do Brasil (OCB), no âmbito do trabalho.
Resta ainda pouco mais de um ano para o projeto
Red del Sur. Neste espaço de tempo, a partir da Unidade
de Gestão (UdG), concentraremos nossos esforços para
acompanhar este processo político que dará continuidade e profundidade aos objetivos iniciais da rede. Por
esta razão, já nesta edição consta o logotipo da CICOPA
Mercosul e seu tema para este ano, cuja criação é o
resultado do trabalho conjunto do grupo de comunicação da CICOPA Mercosul coordenado pela UdG. É
importante destacar que a maioria do conteúdo deste
boletim também foi realizado por este grupo, constituído pelos responsáveis de comunicação das organizações membro.
Nesta página há ainda dois outros editoriais: um do
presidente da CICOPA Mercosul e outro do presidente
da também recém-constituída CICOPA Américas. Para
saber de outras ações da CICOPA Mercosul, convidamos
você a ler a página 3. Na página 2 você encontrará as organizações compartilhando suas visões de desenvolvimento
sustentável – eixo temático da II Cooperativa das Américas
no Panamá – citando experiências concretas que têm sido
realizadas através do projeto Red del Sur. Na contracapa
você poderá ler sobre a experiência intercooperativa que
estamos vivendo através das ações da COSPE.
Enfim, esta edição é feita para que não restem dúvidas de que o cooperativismo, tal como no lema da
CICOPA Mercosul, é um movimento que transforma o mundo.
Neste ano tão especial, desejamos o melhor para todas e todos os cooperativistas da região e do mundo.
A equipe da Unidade de Gestão – Projeto Red del Sur:
Ada Trifirò – Diretora Geral
Gabriel Isola – Diretor Regional
“Um dos nossos maiores desafios como cooperativistas nestes tempos é nos comprometermos
em construir um mundo mais justo, onde impere
uma economia que ponha ao centro a defesa das pessoas e o respeito ao meio
ambiente. Este mundo repleto de injustiças deve acabar e isto só será possível
se lutarmos para construir outro mundo possível, com mais empresas de todo
o mundo nas mãos dos trabalhadores.
Neste esforço devemos nos unir todos e todas cooperativistas de cada país
e de todos os países. Estamos vivendo um momento em nossa América no
qual os governos realizam enormes esforços de integração e nós, os povos,
devemos acompanhar estas políticas que nos fazem mais fortes para lutar pela
justiça e pela igualdade. Neste marco político, em 2011 nós cooperativistas
de trabalho da América concluímos um processo – que estava em curso já há
muitos anos – de nos organizarmos. Assim, conseguimos reativar uma Organização Regional do Mercosul, CICOPA Américas, além de criar uma outra:
CICOPA Mercosul. Ambas integradas por Federações e Centrais de trabalhadores que de forma autogestionária levam adiante as nossas empresas.
O processo de nossa região no sul concretiza-se portanto graças à participação conjunta de várias Federações no Projeto Red del Sur, no qual, junto às
ONGs europeias Cospe, Nexus e Iscos, conseguimos desenvolver uma prática
de integração, de conhecimento e de confiança mútua que nos permitiu o
salto qualitativo da realização da Organização Sub-regional.
Em 2012 importantes desafios serão apresentados à estas novas organizações, pois é este o Ano Internacional das Cooperativas, e devemos dar visibilidade à nossa existência, mostrar o que somos em quantidade e qualidade,
e que somos um movimento. Para nós este é o Ano do Cooperativismo, e
teremos a oportunidade de demonstrar que a existência de nossas empresas,
nas mãos dos trabalhadores, é uma revolução em curso, e que não somente
transformamos as relações de produção, mas que transformamos as relações
entre os seres humanos e contribuímos para a mudança civilizatória que deverá ocorrer para que haja um futuro para a humanidade.
Desde já nos comprometemos em 2012 a levar adiante os princípios cooperativos de integração entre cooperativas e o compromisso com a sociedade
e com o meio ambiente. Neste caminho o futuro é nosso.”
José Orbaiceta – Presidente da CICOPA Mercosul
CICOPA Americas
Em novembro de 2011 fui eleito presidente da
Cicopa Américas. Trata-se de uma organização
setorial da Aliança Cooperativa Internacional que
abrange cooperativas de produção em todo o
mundo e de diferentes setores, como construção civil, produção industrial,
serviços gerais, transporte, artesanato, alimentação, entre outras modalidades.
Assumir a presidência da Cicopa Américas foi um grande desafio, particularmente, para mim e para a UNISOL Brasil, entidade na qual também sou
presidente e que está representada nos 27 estados do País, contemplando
atualmente um total de 10 setoriais. Pretendo, junto com todos os parceiros, trabalhar em prol dos empreendimentos econômicos solidários, para que
unidos possamos atingir os objetivos de geração de trabalho e renda, troca
de experiências, criação de redes e cadeias regionais, além de avançarmos em
questões como a legislação cooperativista para promover melhorias necessárias no continente, assegurando os direitos dos trabalhadores por meio da
Cicopa Américas.
Arildo Mota/Presidente de CICOPA Américas y UNISOL-Brasil
Projeto DCI-NSAPVD/127763/2009/201-649, cofinanciado pela União Europeia (UE). As informações contidas neste documento são de responsabilidade exclusiva
dos sócios do projeto e em caso algum deve-se considerar que reflita os pontos de vista da UE.
Em meio à maior crise sócio-econômica e ambiental, as Nações Unidas veem no
cooperativismo um modelo alternativo para o desenvolvimento sustentável.
Este desafio é enfrentado por organizações cooperativas de todo o mundo.
Abaixo, a perspectiva política e prática de nossas organizações.
ARGENTINA
PARAGUAI
Desenvolvimento Sustentável como igualdade social
O modelo cooperativo revela-se sustentável
Nós da CNCT (Confederação Nacional de
Cooperativas de Trabalho) apoiamos um desenvolvimento sustentável com ações que
melhorem a qualidade de vida das pessoas,
das famílias, das comunidades e da sociedade. Através dele, concebemos o desenvolvimento das comunidades como um processo
de mudança que permita aos indivíduos de
crescer, individual e coletivamente, por meio
da potencialização das capacidades tanto produtivas quanto humanas, alcançando assim a
igualdade social. Portanto, é importante utilizar um conceito de sustentabilidade que nos
seja útil para a ação, ou seja, que o que devemos sustentar não seja uma coisa ou recurso
em particular, mas uma capacidade geral para
a criação de bem-estar
A partir desta perspectiva desenvolveu-se,
por exemplo, um projeto binacional intercooperativo que consolida fontes de trabalho em cooperativas vinculadas à fabricação
e uso de maquinário agrícola na Argentina e
no Uruguai. Em novembro de 2010, promovido pelo projeto Red del Sur, foi realizado
em Buenos Aires um intercâmbio entre cooperativas de trabalho da região, que permitiu,
entre outras coisas, que sócios da Cooperativa Operária de Serviços Especializados em
Maquinário e Afins (COSSEMA) do Uruguai
e da Cooperativa de Trabalho ICECOOP Ltda.
da Argentina, descobrissem que tinham em
Quando falamos de desenvolvimento sustentável nos referimos a um modelo de desenvolvimento no qual a participação do
ser humano, das organizações sociais e das
associações é fundamental. Um modelo que
implica a capacidade de gerar recursos para a
vida sem prejudicar o meio ambiente, fatores
fundamentais da produção, como o ar, as matas, a água, zelando pelo futuro das gerações
que virão. E é exatamente isto que nossas cooperativas buscam, aqui e no mundo.
O modelo cooperativista, em seus mais de
160 anos de existência, demonstra possuir tudo
isto, sendo portanto um modelo sustentável.
Sustentável porque apoia-se, em primeiro lugar,
em valores como a solidariedade, a cooperação,
o esforço e o compromisso dos sócios, em favor
dos objetivos fixados para cada cooperativa.
No Paraguai as cooperativas movem-se em
um âmbito no qual busca-se a igualdade, a
participação econômica e política e aquilo
que chamamos participação democrática dos
sócios. O fator essencial de igualdade social
apoia-se no fato de que cada sócio tem as
mesmas obrigações e direitos dentro da cooperativa. Assim, para que o Cooperativismo
como modelo sustentável seja preservado
através do tempo, é necessário que haja também políticas públicas e leis que lhe deem
garantias. A Confederação Paraguaia de Cooperativas (Conpacoop) tem trabalhado nesta
Máquina do Instituto Nacional de Tecnologia
Agropecuária da Argentina
comum a tecnologia de arado horizontal
Multicorte. O trabalho na lavoura canavieira
através de tal maquinário, associado à colheitadeira Cañera do Instituto Nacional de Tecnologia Agropecuária (INTA), significa uma
importante contribuição tecnológica para os
pequenos produtores de cana-de-açúcar dos
dois países. Assim surgiu o projeto .
Com esta experiência buscamos melhorar
os processos de produção agropecuária em
sistemas familiares incorporando tecnologias
que permitam diminuir o esforço físico do
produtor e de sua família. Ainda, pode incrementar a produtividade da terra e da força
de trabalho aplicada ao processo produtivo,
conservando e melhorando o solo, incrementando a renda para a melhoria da qualidade de vida, sem descurar dos bens naturais
para as gerações futuras.
BRASIL
URUGUAI
Cadeia Solidária Binacional do PET: uma alternativa sustentável
Chaves para a sustentabilidade
O conceito de sustentabilidade é presente nos
princípios da Economia Solidária e é uma prática
comum entre as organizações filiadas à UNISOLBrasil desde a sua fundação, em 2004. Ao mesmo
tempo há uma demanda latente de apoio e fomento à investigação e inovação tecnológica para a
otimização dos processos produtivos e desenvolvimento de novos produtos que estejam preparados
e certificados para poderem ser comercializados.
A Economia Solidária, diferentemente da
economia tradicional orientada exclusivamente
ao mercado, preocupa-se em direcionar o processo produtivo em equilíbrio com a comunidade local e com o meio ambiente.Tal princípio
garante o desenvolvimento e a criação de trabalho e renda, ligados por uma lógica sustentável.
Atualmente, a UNISOL-Brasil representa
centenas de empreendimentos por todo o país.
Vários deles possuem um grande potencial de
melhoramento da produção baseado em tecnologias sociais e inovação.
A forma em que temos trabalhados tais aspectos e as oportunidades que representam podem ser demonstradas em vários projetos. Um
exemplo é a Cadeia Solidária Binacional do PET.
O programa foi desenvolvido entre organizações
cooperativas do Brasil e do Uruguai e é realizado em diversas etapas, desde a coleta das garrafas
descartáveis, reciclagem, processamento, até chegar à transformação do PET em tecido.
Para a FCPU (Federação de Cooperativas de
Produção do Uruguai) o desenvolvimento
sustentável implica pensar em um aspecto
estratégico para o futuro de nossas cooperativas, onde a intercooperação em âmbito
local e regional é componente central.
O crescimento econômico pelo qual nosso
país atravessa deve ser um estímulo que encoraje, do ponto de vista governamental, o desenvolvimento de políticas públicas de apoio
ao setor, mas também uma oportunidade para
nos impormos como cooperativistas. Estamos
em um contexto no qual devemos estimular
o pensamento estratégico para desenhar, a
médio e longo prazo, estruturas organizadas
e interligadas. Estratégias que sirvam como
suporte estrutural de um desenvolvimento
sustentável e também como alternativas contra as vicissitudes dos mercados.
O Uruguai do ponto de vista territorial
encontra-se estrategicamente localizado,
convertendo-se em ponte de muitos processos sociais, econômicos e culturais. Esta
é a razão pela qual a FCPU está participando de dois encadeamentos intercooperativos regionais assentados nessa perspectiva de desenvolvimento, com o objetivo
de que esta integração produtiva regional
seja uma alternativa a mais que provoque
mudanças na redistribuição da riqueza na
Cooperativismo e
desenvolvimento sustentável
De 28 de maio até 1° de junho de 2012 no Panamá, será realizada a II Cúpula Cooperativa das
Américas, com o título “As cooperativas: desenvolvimento sustentável com equidade social”. O
Comitiva de Cooperativas Brasileiras visita Coopima no Uruguai
Ainda, a novidade deste projeto é a cooperação governamental binacional, já que engloba um
acordo entre ambos os países, com a participação
e compromisso de vários governos locais brasileiros, como o do Rio Grande do Sul, onde estão localizadas as cooperativas de classificação, e
agora também de Minas Gerais, onde encontra-se
a empresa recuperada Coopertêxtil (Cooperativa
de Produção Têxtil), que recebe a fibra processada
pela cooperativa uruguaia Coopima (Cooperativa
Industrial Maragata), para a fiação e tecelagem.
A experiência da Cadeia Binacional do PET é
pioneira e irá possibilitar que sejam retiradas de
circulação cerca de um milhão de garrafas PET.
A iniciativa é possível graças ao apoio e o compromisso de diversas instituições que apostam
na Economia Solidária como forma de conter
o impacto ambiental através da geração de empregos para centenas de famílias.
encontro é organizado pela Aliança Cooperativa
Internacional para as Américas. De acordo com
a convocatória, disponível em www.aciamericas.
coop, o evento busca transformar-se em uma
oportunidade de encontro para cooperativistas
mas também em “uma oportunidade para fazer
uma análise multidimensional das crises mundiais”, recordando que “as organizações coopera-
tivas são atores significativos nesta redefinição dos
paradigmas de desenvolvimento e da nova ordem
econômica mundial”.
O objetivo principal é “aprofundar a análise da
temática, oferecendo, através de um processo
prévio, a possibilidade de uma participação mais
direta de todos os atores para que se pronuncie e
estabeleça a posição das cooperativas em relação
Presidenta da Conacoop durante a Assembléia Geral Ordinária
de Sociais. Abril 2012
direção, desenvolvendo com o apoio da Red
del Sur e das organizações sócias da região
bases legais para ampliar e melhorar o marco normativo do cooperativismo de trabalho
associado, a cobertura de saúde e previdência
social de seus sócios, assim como as possíveis
iniciativas de intercooperação.
O cooperativismo como modelo alternativo deve contemplar também a participação
de setores que em geral são discriminados e
contam com maiores obstáculo para a participação plena, tal como ocorre com as mulheres. Nossa associação, presidida este ano por
uma mulher, está desenvolvendo e projetando
a crescente participação das mulheres através
de diversas instâncias para que de nenhuma
maneira lhes seja limitada a participação nas
situações de decisão das cooperativas, sendo
este aspecto uma outra dimensão relevante
para garantir modelos de desenvolvimento
efetivamente sustentáveis.
Encontro em Bella União, Artigas Uruguai,
entre cooperativistas uruguaios e argentinos
nossa América que cresce sem no entanto
mudar os padrões de distribuição.
O projeto que levamos a cabo junto a
cooperativas argentinas busca reafirmar
uma trajetória tecnológica capaz de tornar
sustentável a produção canavieira familiar,
especialmente associativa, ao norte do Uruguai, em um dos departamentos com maior
incidência de pobreza. Procuramos assim
deixar a fabricação e desenvolvimento de
equipamentos especializados nas mãos da
Economia Social, assim como a promoção e
comércio de produtos com uma perspectiva
de desenvolvimento local. Outro exemplo
de processo de intercooperação regional do
qual participamos é a Cadeia Binacional do
PET, integrada por cooperativas uruguaias e
brasileiras (ver nota Brasil).
ao desenvolvimento sustentável com equidade social”. A análise e a discussão girarão em torno dos
seguintes eixos temáticos: Identidade Cooperativa
e Gestão Empresarial; Paradigmas de Desenvolvimento e Equidade Social; Responsabilidade Social
e Ambiental; Políticas Públicas e Incidência.
CICOPA Mercosul estará presente através da
participação de todos os seus membros.
AGENDA INTEGRADA DO COOPERATIVISMO
DE TRABALHO DO MERCOSUL
Abaixo estão enumeradas as principais atividades de importância regional em que estiveram envolvidas as várias
organizações sócias da Red del Sur e da CICOPA Mercosul, a partir de uma missão e uma visão.
Missão da CICOPA Mercosul: “Contribuir para o desenvolvimento
das sociedades dos países do Mercosul, ampliando a democracia
econômica, social e política da região através da promoção do cooperativismo de trabalho associado e dos empreendimentos da Economia Social e Solidária.”
Visão da CICOPA Mercosul: “Consolidar-se como entidade de referência regional para difusão, promoção e defesa do cooperativismo
de trabalho associado, e como ator estratégico no fortalecimento da
Economia Social e Solidária da América.”
ASSOCIAÇÃO
INFLUÊNCIA
É o primeiro objetivo estratégico, no qual se dispõe que a CICOPA Mercosul fomente a criação e o fortalecimento de entidades de representação neste âmbito na América Latina. Foi já dado o primeiro passo no
Equador, onde foi realizada uma primeira reunião com cooperativas e
autoridades do governo. As atividades planejadas para 2012 incluem o
vínculo da experiência do Mercosul ao processo de trabalho autogestionado em Cuba, uma análise durante o segundo semestre das realidades
do cooperativismo de trabalho chileno assim como o fomento à articulação na Bolívia e no Peru. Será mantido um diálogo fluido com as
experiências da Colômbia além de procurar manter o apoio ao processo
na Venezuela. No Paraguai, onde a Red del Sur tem dado apoio sistemático à difusão e promoção realizada pela CONPACOOP,
pretende-se aprofundar o marco legal específico e em
particular potencializar a constituição de uma entidade setorial de referência.
Em relação ao segundo objetivo estratégico, pretende-se alcançar um significativo avanço em um conjunto de normas extremamente necessárias nos vários
países da região. Mantém-se assim o apoio à ampliação de possibilidades da Lei
de Falências da Argentina, assim como para a aprovação de uma lei específica
para o Cooperativismo de trabalho. Esta medida tem sido apoiada também no
Brasil, onde já conta com uma parcial sanção. Tenta-se ainda levar adiante uma
medida similar no Paraguai. Em todos os países continuaremos acompanhando as melhorias dos marcos normativos de garantia da previdência social e de
assistência sanitária de todos os sócios trabalhadores. Para alcançar estas metas
foi já constituído um grupo de trabalho de referentes legais de alcance regional.
Por outro lado, pretende-se expandir as experiências de articulação com os governos de diferentes graus (nacionais, locais) para o desenvolvimento
de políticas públicas de promoção do cooperativismo de trabalho.
COMUNICAÇÃO
DESENVOLVIMENTO
Quanto a este objetivo, as atividades são orientadas
para a melhoria da gestão das cooperativas, para a
potencialização do desenvolvimento de negócios na
região, para o apoio a todas as formas de integração,
para a formação de grupos econômicos cooperativos,
para todas as iniciativas de pesquisa e desenvolvimento, além do fortalecimento das redes existentes. Neste
sentido o papel da Red del Sur é chave, já que durante
2012 irá permitir o incremento das capacitações, nos
quatro países englobados, em temáticas de mercado,
formulação de projetos e identificação e gestão de
recursos financeiros, além do financiamento direto a
mais de uma dezena de iniciativas que tenham por
característica identitária a intercooperação. Até o momento, dois projetos destacam-se, entre todos os que
vêm sendo desenvolvidos, pelo caráter supranacional:
a Cadeia Solidária Binacional do PET e a cadeia regional de Desenvolvimento de Tecnologia e Maquinário
para a Agricultura Familiar. A primeira englobará várias
dezenas de cooperativas brasileiras, seja do setor de classificação de resíduos sólidos seja do setor têxtil e de confecção,
integrando uma cadeia de valor que vai da classificação de embalagens plásticas até a confecção de diversos produtos têxteis, passando
por uma usina cooperativa de fabricação de fibra de poliéster a partir
do PET, no Uruguai. A segunda experiência reúne uma dezena de atores
da Argentina e do Uruguai. O projeto, neste caso, busca a transferência
metodológica e a cooperação em termos de desenvolvimento de equipamentos apropriados para a agricultura familiar no setor canavieiro. A
iniciativa conta com o apoio de entidades de pesquisa agropecuária de
ambos países, assim como com o interesse efetivo da ALUR, o principal
engenho de açúcar do Uruguai.
Estão emergindo também possíveis projetos intercooperativos em vários
setores de atividade. Por exemplo, a criação da Rede de Cooperativas Metalúrgicas da República Argentina (ligada à CNCT) já conta com várias
ideias de projetos intercooperativos com a Associação de Cooperativas
Metalúrgicas da FCPU no Uruguai. Há também um grande interesse em
relação às possibilidades de colaboração regional entre as cooperativas
de trabalho do setor das comunicações e da construção. Neste sentido, a
participação de vários companheiros no Encontro da Setorial Construção
Civil da UNISOL em São Paulo é um claro exemplo.
CICOPA Mercosul pretende abordar este objetivo a partir de
duas dimensões: a) a comunicação entre as entidades que
formam esta organização subregional e; b) a consolidação de
projetos intercooperativos e de economia social e solidária no
campo das comunicações. Desta forma, encontra-se já ativo um
Grupo de trabalho regional que reúne os responsáveis de comunicação das entidades da Red del Sur. Ao mesmo tempo estão
sendo elaboradas propostas para integrar diversas experiências
e projetos intercooperativos existentes na região, visando darlhes um caráter regional. Neste sentido, são realmente relevantes
as experiências da Rede Gráfica Cooperativa da Argentina, a da
Federação Associativa de Diários e Comunicadores Cooperativos
da República Argentina, a proposta da Usina de Mídia argentina
e a de várias experiências comunitárias e associativas em rádio,
revistas e outros meios de comunicação.
GOVERNANÇA
O quarto objetivo estratégico visa a necessidade de cuidar
e fortalecer os recentes processos organizativos, seja no âmbito
regional do Mercosul, seja naquele da América como um todo. Inicialmente, a CICOPA Mercosul pretende sustentar o processo continental,
colocando à disposição vários referentes políticos e apoio de distintos
instrumentos, incluindo o projeto Red del Sur, que será um apoio logístico durante esta fase de consolidação da CICOPA Américas. A Unidade
de Gestão da Red del Sur, por outro lado, irá manter a sua tarefa de apoio
técnico à CICOPA Mercosul, dando aos sócios as contribuições que sejam necessárias para ampliar e manter a longo prazo os instrumentos
organizacionais desenvolvidos. O poder criado até o momento a partir
dos esforços das organizações da região juntamente aos companheiros
da Colômbia, México, Estados Unidos e Canadá, deu às cooperativas das
Américas um papel tremendamente significativo na condução mundial
do Comitê Internacional das Cooperativas de Produção, Serviços e Artesanato (CICOPA). Estes múltiplos desafios deverão desaguar no Plano Estratégico quinquenal que será aprovado pelos sócios das Américas durante a
Assembleia Ordinária em 30 de maio, no Panamá. Ali serão estabelecidos
os fundamentos do trabalho a ser realizado em conjunto pelo cooperativismo de trabalho associado do continente.
CRÔNICA DE UM PERCURSO
A intercooperação em tempos de crise mundial
Marcha do Movimento 15-M ou Indignados na Puerta del Sol, Madrid, Espanha, em protesto contra o sistema capitalista e reivindicam uma democracia
mais participativa - Maio 2011. Autor: Arribalasqueluchan.org.
E
stamos em 2012, ano Internacional das Cooperativas
e também da Cúpula dos Povos na Rio +20 por Justiça Social e Ambiental. E estamos em meio a uma
profunda crise. Para a Europa é a mais dura desde a Segunda
Guerra Mundial. Ainda assim, ao mesmo tempo estamos em
uma época de transformações que devemos aproveitar para
as mudanças que queremos gerar.
Qual então o melhor momento para reafirmar e aprofundar os propósitos da intercooperação, seja entre organizações da Economia Social e Solidária (ESS), seja entre esta
outra economia e a sociedade civil?
Recentemente a CICOPA Mundial fez da aliança com a sociedade civil um gesto chave para o fortalecimento da ESS no mundo. Ainda assim, os atores da Red del Sur e da COSPE caminham
juntos há mais de uma década em um processo que – como
mencionado ao longo deste boletim – acompanhou a fundação
da CICOPA Mercosul e a reativação da CICOPA Américas.
Vinte anos após a Cúpula da Terra, as cifras mundiais deixam claro que estamos ainda muito mais longe daquela noção de “desenvolvimento sustentável” que deveria permitir
satisfazer as necessidades do presente sem comprometer as
necessidades das gerações futuras.
A probreza não foi erradicada, a inclusão social não foi alcançada, as questões de gênero se aprofundaram. Os ecossistemas
continuam em processo de degeneração. Os conflitos se extendem e são armas hegemônicas para a penetração em territórios
estratégicos, sobretudo por reservas de recursos energéticos. Em
relação à cooperação internacional para o desenvolvimento, os
países mais ricos não cumpriram nem mesmo o histórico compromisso de destinar 0,7% de seu PIB. Além disso, os fundos de
ajuda continuam sendo cortados, ano após ano.
É neste contexto mundial que o projeto Red del Sur surge
como um espaço de práticas e reflexão política que devemos, a partir da Europa, observar. Atualmente, a cooperação
internacional para o desenvolvimento representa uma ferramenta e uma oportunidade imprescindível para estabelecer
alianças entre iguais e assim alcançar uma profunda transformação cultural, social e econômica. Uma transformação
para o país que recebe uma ajuda financeira mas também
para o país que a oferece. É com esta visão que a COSPE
continua levando adiante suas iniciativas nos países do Mer-
cosul, apesar de que os doadores tendem a abandonar os
países de renda média e que os cortes fazem que a cooperação termine orientada em direção à assistência às áreas mais
pobres do mundo e à ajuda humanitária.
A ruptura que temos diante de nós pode hoje ser a oportunidade para promover formas de convivência e produção
capazes de conduzir ao desenvolvimento sustentável e à justiça social. É por esta razão que na Europa a experiência da Red
del Sur deve ser levada aos espaços de debates sobre a crise.
Por outro lado, na região do Mercosul e em todo o continente latino-americano, deve-se aproveitar o momento
positivo – a presença de governos progressistas e o crescimento da ESS – para ampliar e aprofundar a difusão da ética
cooperativa e desta outra economia como novo modelo de
desenvolvimento, sem desperdiçar, como na Europa durante
a segunda metade do século passado, a oportunidade que a
conjuntura oferece para questionar o sistema – capitalista e
hegemônico – a partir de suas raízes.
A ESS pode chegar a ser uma alternativa concreta, mas antes deverá consolidar-se. Para isto é preciso estimular a participação plena das mulheres em todos no níveis, assim como
motivar e mobilizar a criatividade dos jovens, normalmente
afastados dos espaços de participação. Deve-se difundir uma
imagem positiva da ESS, superando a ordinária percepção
de que esta seja uma “economia de pobres para pobres”.
Deve-se limitar as externalidades negativas ambientais e de
saúde da produção, valendo-se de inovações e tecnologias
apropriadas. É necessário disputar espaços de expressão e
difusão, sobretudo em relação à promoção e valorização dos
meios de comunicação autogestionários.
Finalmente, a integração entre organizações da ESS é
crucial: produzir de forma regional, disputar conjutamente
espaços no mercado, zelar pelos direitos dos trabalhadores,
fortalecer pontes e espaços de reflexão política entre a Europa e a região do Mercosul. Todos estes objetivos formam
parte do grande desafio que as organizações da ESS que integram a Red del Sur estão levando a cabo e que a COSPE
compartilha, apoia e acompanha.
Ada Trifirò – Diretora Geral do projeto Red del Sur /
Coordenadora da sede COSPE no Uruguai.
A comunicação
como oportunidade
Concebemos a comunicação como uma ferramenta que oferece
oportunidades: oportunidades para nos conhecermos, nos reconhecermos, nos encontrarmos e nos fortalecermos. A comunicação é
portanto um aspecto chave em um processo de integração como
o que está sendo levado adiante pelas nossas organizações. Por esta
razão celebramos o fato que tenha sido estabelecido como um dos
objetivos estratégicos dentro do plano da CICOPA Mercosul.
Como primeiro desafio, nós comunicadores das diferentes entidades
que formam esta organização subregional da CICOPA nos unimos para
trabalhar em um lema e um logotipo, conscientes que trabalhar a imagem é refletir sobre a identidade e a história. Ainda que a criação da entidade seja recente, seu processo social existe já há décadas, tendo podido
realizar-se em 2009 através do projeto Red del Sur, que forneceu recursos
e um plano sobre o qual começar a trabalhar em âmbito regional e articulado. Por esta razão, no nosso símbolo retomamos as cores do logotipo
deste projeto e das redes, que agora se unem ao mundo, como referência
à escala global do movimento do qual nossas organizações hoje fazem
parte. E exatamente porque integramos este processo maior é que buscamos manter o aspecto do logotipo da CICOPA Mundial. Há também
os pássaros, que por sua vez são parte do logotipo da ACI. São pássaros
que falam de um percurso, de processos que caminham de mãos dadas,
em diferentes partes do mundo, uns como causa dos outros. Porém, são
também pássaros que surgem de um mundo em transformação.
Este último aspecto nos leva ao lema que o nosso logotipo, concebido por desenhistas cooperativistas*, busca acompanhar. Através
de um trabalho coletivo e motivado para a criação de um lema das
organizações de trabalho associado do sul durante o Ano das Cooperativas, as entidades de representação decidiram, em conjunto, por
Cooperativismo: movimento que transforma o mundo.
Através da palavra movimento buscamos o conceito de ação. O cooperativismo é uma ação concreta que procura resultados concisos,
que impulsiona uma ação que influi sobre os processos. Traz também a ideia do cooperativismo como algo vivo, como fenômeno
mundial, como movimento organizado.
Mas esta ação possui um propósito. A ação cooperativa busca incidir para transformar as diversas realidades para que sejam sustentáveis,
equitativas e justas, considerando que tais termos são diretamente relacionados, já que não sendo sustentável não poderá ser solidário, e não
sendo solidário não poderá ser equitativo. Sem estas condições significa que não houve transformação e portanto nem mesmo um processo
cooperativo. Surge assim a noção e a convicção de nossas organizações
de que o cooperativismo é, em si, uma ação transformadora.
Os pássaros, que nos recordam o processo histórico e mundial
de nosso movimento, assim como a luta de muitos companheiros
e companheiras, são quatro, alinhados como a constelação do Cruzeiro do Sul, presente no céu de nosso hemisfério. E este céu é atravessado pelas nossas aves, mas também pelos sonhos de conseguir,
não somente em uma região, mas em todo o mundo, uma realidade
mais justa e solidária.
Grupo de Comunicação CICOPA Mercosul (Maria Laura Coria/Fecootra; Cinthia Isabel Alves/UNISOL; Helena Garate/FCPU; Horacio
Enciso/Conpacoop; Luciana Siri/COSPE)
* O logotipo foi criado por jovens desenhistas participantes da Cooperativa de Trabalho Projeto Coopar, da Argentina.
Boletim Red del Sur / CICOPA Mercosul
Coordenação: Luciana Siri (COSPE)
Redação e colaborações: Maria Laura Coria (Fecootra); Cinthia Isabel Alves
(UNISOL); Horacio Enciso (Conpacoop); Helena Garate (FCPU); José Pablo
Sabatino (coordenador RdS Argentina); José Orbaiceta (Presidente CICOPA
Mercosul); Arildo Mota (Presidente CICOPA América); Ada Trifirò (COSPERdS); Gabriel Isola (COSPE projeto RdS); Luciana Siri (COSPE).
Desenho: Diego García
Tradução: Diogo Rodrigues
Impressão: Artés Gráficas
AGENDA GLOBAL 2012 DA CICOPA MERCOSUR
MARÇO
ABRIL
MAIO
- Encontro Setorial
Coop. Construção da
UNISOL-Brasil
- Encontro de Coop.
Metalúrgicas Argentina
- II Cúpula Coop.
das Américas e Assembleia da CICOPA
Américas, Panamá
- Conferência Nacional
da CTA dos EUA
(Boston) + Encontro da
CICOPA-Am
JUNHO
- C.A. ACI Am. +
Reunião com CTA
Equador
- Plenária RECM +
Reunião Comissão
Pol. Red del Sur Argentina
- Plenária RECM Argentina
- Plenária RECM +
Reunião Com. Pol. RdS
- AGROBRÁS-Brasil
- Processo Formativo
CTA Argentina (RECM
AECID RdS)
- Seminário: Norte
chama o Sul: alternativas econômicas frente
à crise - Itália - Terra
Futura
- Cúpula da Terra (Rio
+20) + Oficina sobre coop.
Semana da Economia
Solidária da RMADS
Argentina
JULHO
AGOSTO
SETEMBRO
OUTUBRO
NOVEMBRO
- Congresso Cooperativo e da ES Argentino +
Encontro de Coops. do
Mercosul
- Congresso Nacional
da UNISOL-Brasil
- C.A. ACI Am (Chile) +
Reunião com CTA do
Chile (Bolívia e Peru)
- C.A. ACI Am + Cúpula
Internacional de Coop.
(Canadá)
- Evento CTA Mercosul
– UE/Itália
(Red del Sur)
- Plenária RECM/Brasil
- Seminário Coop.
Sociais RECM
/Paraguai, Brasil
- (Manchester)
EXPOCOOP Aci
Mundial
- Evento da CUDECOOP e INACOOP
(Uruguai)
- Mesa de diálogo
com a sociedade civil
e governos locais da
Europa/Bruxelas
- Congresso da RULESCOOP / Espanha
DEZEMBRO
- Plenária RECM/
Brasil

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