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Trabalho
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CORREIO BRAZILIENSE • Brasília, domingo, 2 de março de 2014
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As desbravadoras
A quantidade de
trabalhadoras em profissões
consideradas masculinas
ainda é baixa, mas elas não se
deixam abalar por ser minoria
e brilham nos chamados
“empregos de homem”
» ANA PAULA LISBOA
a semana do Dia Internacional da Mulher,
comemorado em 8 de março, o Correio reúne exemplos de profissionais corajosas, que
fazem parte da minoria a ocupar funções
tradicionalmente exercidas por homens. Engenheiras, cirurgiãs, pilotos e motoristas ainda são exceção à
regra. Por outro lado, tornam-se exemplos para que
garotas de todas as idades trilhem cada vez mais esses
caminhos e quebrem paradigmas de divisões de gênero. Para ter melhores salários e ocupar cargos de
chefia, ainda há muito a conquistar, mas o cenário está em processo de mudança.
Mas de onde vem essa coisa de emprego “de homem” ou “de mulher”? A escolha da área profissional
a ser seguida não é baseada no simples gosto, segundo Natália Fontoura, pesquisadora da Coordenação
de Igualdade de Gênero e Raça do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). “Meninos e meninas
são educados de formas diferentes e são orientados a
se aproximar de certos campos, até por meio dos
brinquedos”, critica. Outro problema é o espelho da
sociedade: “Quando vemos menos mulheres nas engenharias, na construção civil ou no comando de
aviões, por exemplo, isso tende a ser perpetuado”. Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
(IBGE) de 2012 mostram que, na construção civil, estão 15% dos homens e 0,6% das mulheres empregadas. Na indústria, são 15,6% dos homens e 11,9% das
mulheres, enquanto nos serviços sociais (educação,
saúde, trabalho doméstico etc.), estão 32% das mulheres ocupadas e 4,8% dos homens. O curso superior
com mais alunas é pedagogia, e a graduação com
maior quantidade de alunos é engenharia mecânica,
áreas com grandes diferenças salariais.
Aventurar-se por profissões em que os homens predominam gera desafios. “Não existem falhas no desempenho, mesmo nas áreas que exigem força. O problema é conciliar a carreira com o trabalho doméstico e
driblar a discriminação de colegas e da própria família”,
avalia a professora Denise Delboni, da Escola de Administração de Empresas de São Paulo da Fundação GetulioVargas (FGV-EAESP). Sthephanne Jacklline Calutino, 28 anos, é prova disso. Ela se capacitou como azulejista em curso oferecido pelo Instituto Federal Brasília
(IFB) em parceria com a Superintendência do Desenvolvimento do Centro-Oeste. Depois de trabalhar oito
meses na reforma de prédios, desistiu, por considerar a
construção civil um setor despreparado para as trabalhadoras.“Apesar de os homens terem mais força, eu tinha capacidade de fazer o trabalho. O salário era pequeno e eu sofria com piadinhas, ‘zoações’ e apelidos
por parte dos colegas, que, ainda por cima, inventavam
mentiras sobre mim para o chefe. O vestiário e o banheiro eram compartilhados, e os homens tentavam
me observar enquanto eu me trocava”, queixa-se.
Apesar das dificuldades, as mulheres estão se inserindo mais em áreas como a indústria e a construção
civil. Neuza Tito, secretária adjunta de Políticas do
Trabalho e Autonomia Econômica das Mulheres,
acredita que essa tendência deve continuar. “Aos poucos, a população vai ter outra visão sobre os locais de
trabalho adequados para mulheres. Trata-se de um
processo gradativo, pois a visão machista dura há
anos”, afirma. Ela acredita que políticas públicas e a
postura da mulher, que se mostra capaz para qualquer área de atuação, ajudam a mudar essa situação.
N
Mulheres-maravilha / Histórias de vida e de trabalho
Fotos: Carlos Vieira/CB/D.A Press
Os olhos do metrô
Nayara Lopes, 29 anos, piloto do metrô
No metrô de Brasília, circulam 140 mil usuários por
dia, conduzidos por 201 pilotos, dos quais 20 são
mulheres. Nayara Lopes é uma delas. A função que
desempenha há oito anos exige conhecimento técnico,
controle emocional, responsabilidade e concentração.
Nayara define os pilotos como os “olhos do sistema
metroviário” e sabe que uma distração momentânea
pode causar uma tragédia. “A função de piloto é de
risco. A situação mais estressante pela qual passei
aconteceu quando duas jovens sentaram na
plataforma do metrô, com as pernas dependuradas, e
não perceberam que o trem estava se aproximando.
Acionei a buzina e freei, mas demorei a parar. Por
pouco elas escaparam”, conta. Nayara controla o
painel, dá avisos, e está pronta para identificar e
resolver falhas. “No início, os passageiros se
espantavam por eu ser mulher e faziam piadinhas.
Quanto mais o tempo passa, mais as pessoas encaram
a minha função com naturalidade. A inserção da
mulher quebra paradigmas do machismo.”
Primeira-dama da cirurgia cardíaca
Maria Cristina Rezende,
52 anos, médica especializada em cirurgia cardiovascular
Os homens são maioria em 40 das 53 especialidades médicas.
As mulheres predominam em áreas como pediatria e
dermatologia. Em cirurgia, são exceção: menos de 10% dos
cirurgiões cardiovasculares do Brasil são mulheres, segundo o
estudo Demografia Médica no Brasil, do Conselho Federal de
Medicina. Maria Cristina Rezende é uma das quatro cirurgiãs da
área no DF. Ao terminar a residência no Hospital de Base em
1988, tornou-se a primeira médica na especialidade no CentroOeste. Sócia de consultórios no Hospital Santa Lúcia e no Instituto
do Coração de Taguatinga, realiza cirurgias em locais como o
Hospital do Coração. Encarregada de restituir a saúde e a
qualidade de vida de pacientes, lida com o estresse com
naturalidade. “Sem controle emocional, não dá para levar
adiante. É uma área que exige esforço físico e dedicação para ficar
até 10 horas numa operação”, revela. Abrir mão do lazer é rotina.
“Muitas vezes, estava pronta para ir ao cinema e tive que correr
para uma cirurgia de emergência. A dedicação é 24 horas. Meus
filhos reclamam muito”, relata.
Criadora de pérolas negras
Flávia da Costa Rocha,
36 anos, criadora e importadora
de cavalos da raça friesian
A paixão por equinos virou profissão depois
que Flávia da Costa Rocha teve de parar de atuar
como fisioterapeuta por conta da doença de
Stergardt, que causa degeneração da retina. Sua
especialidade é a raça holandesa friesian, uma
das mais raras e antigas do mundo. No Brasil,
há apenas 40 animais do tipo, conhecidos como
pérolas negras. Em viagens ao país europeu,
Flávia fez parcerias com criadores e trouxe a
Brasília o primeiro cavalo da raça para montar a
própria empresa de importação de cavalos, a
Black Gold Friesian. “O fato de o cavalo ser um
animal grande me ajuda a enxergar, e posso
trabalhar sozinha. Um cavalo custa R$ 150 mil.
Os lucros superam as expectativas”, diz. Na
Holanda, ela só encontrou mulheres criadoras,
ao contrário do que ocorre no Brasil. “Aqui, as
mulheres só montam, mas acho que é por falta
de costume de criar e de ser proprietária.”
Vaidade ao volante
Visão da sociedade
Ana Paula Sampaio, 41 anos, motorista de táxi
Um questionário da Expertise, empresa de pesquisa e inteligência de mercado, consultou, pela internet,
1.258 pessoas em todos os estados brasileiros sobre diferenças entre os gêneros. A presença feminina em
profissões consideradas de domínio masculino foi vista como normal pela maioria dos respondentes: metade das pessoas não veria problemas em ser conduzida
por uma taxista ou por uma piloto de avião. “Com o
passar do tempo, cresce a aceitação de mulheres em
papéis que, normalmente, seriam de homens. Isso
mostra uma evolução na sociedade”, analisa o diretor
de Operações da empresa, Rodrigo Cicutti. O estudo
também mostrou que 75% dos entrevistados consideram o Brasil um país machista e que 62% das pessoas
reconhecem a legitimidade do movimento feminista.
A opinião de que homens e mulheres devem dividir as
tarefas domésticas e o cuidado com os filhos é compartilhada por cerca de 90% dos entrevistados. Entre
cada cinco pessoas, quatro não consideram um problema a mulher ganhar mais que o marido.
Entre os cerca de 7,5 mil taxistas do Distrito Federal,
10% são mulheres, segundo o Sindicato dos Taxistas do
DF. Ana Paula Sampaio faz parte da minoria há 12 anos.
Carro limpo, flor de pelúcia no painel, boa direção,
simpatia e boa aparência ajudam a conquistar clientes
fixos. “Eu trabalhava como monitora de creche e ganhava
pouco. Meu marido era taxista e me incentivou a mudar
de área. Deu certo. Não tenho vergonha de dizer que
gosto de ser taxista. Adoro meus clientes e muitos já
viraram amigos. Muitos me esperam para andar
comigo”, conta. Ana Paula avalia que a carreira é mais
complicada para quem é mãe e esposa. “Meu marido
chega em casa e pode descansar. Eu ainda cozinho,
limpo, cuido dos filhos”, explica. O fato de motoristas de
táxi precisarem estar sempre à disposição também é um
agravante. “Às vezes, tenho que deixar as panelas no
fogão e sair correndo.” Ela já passou por situações em
que foi discriminada. “Procuro relevar quando reclamam
ou fazem piada por eu ser mulher, mas já foi pior. Agora,
as pessoas estão mais acostumadas”, percebe.
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