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GT – 1: REESTRUTURAÇÃO URBANA - AGENTES, REDES, ESCALAS E PROCESSOS ESPACIAIS O SISTEMA PORTUÁRIO DA ÁFRICA AUSTRAL: ESCALAS, REDES E DINÂMICAS ESPACIAIS Ana Carolina Alves Carvalho de Oliveira Universidade Federal do Rio de Janeiro [email protected] RESUMO O sistema portuário da África Austral, objeto de nosso estudo, experimenta importantes mudanças qualitativas e quantitativas. Sendo esta, uma região que se destaca cada vez mais no continente africano por apresentar um sistema portuário que está passando por grandes mudanças, tanto qualitativas como quantitativas. Por um lado, observamos uma reforma institucional, com a chegada de novos atores. Por outro lado, constatamos um aumento dos fluxos, que no geral atuam como fatores condicionantes no reposicionamento dos portos sul-africanos nas redes de circulação marítima mundial e regional, e uma redefinição das articulações com suas hinterlândias. Todo este cenário gera interessantes questionamentos para a geografia portuária, assim como para a geografia econômica. Palavras-chave: Sistema marítimo portuário; redes de circulação; África do Sul. Orientador: Frédéric Monié 1 I. APRESENTAÇÃO O sistema portuário da África do Sul experimenta atualmente relevantes mudanças quantitativas e qualitativas que levantam questionamentos interessantes para a pesquisa em geografia. Surgem novos atores definindo estratégias operacionais e espaciais que contribuem para a reestruturação das lógicas de circulação dentro do cone sul africano e entre essa região e o espaço global dos fluxos. Em vista disso, o trabalho tem como objetivo analisar as modalidades que inserem os portos da África Austral nas redes do transporte marítimo de mercadorias. Bem como responder questionamentos referentes aos fatores que explicam a vitalidade do sistema portuário sul africano, a sua evolução na distribuição espacial dos tráfegos em escala nacional, regional e mundial. Além de analisar os portos que experimentaram o maior dinamismo comercial, assim como a inserção do sistema portuário sul-africano na rede mundial dos fluxos marítimos aumenta a centralidade dos portos do país. II. FUNDAMENTOS TEÓRICO-METODOLÓGICOS Para responder os questionamentos feitos foi preciso elaborar um arcabouço teórico metodológico a partir de conceitos norteadores da pesquisa. Nesse sentido, o debate a respeito do conceito de rede, imprescindível para analisar as interações e as modalidades de articulação dos vetores de circulação (rotas marítimas; corredores terrestres) e nós de processamento dos fluxos (portos marítimos). De acordo com Milton Santos, “As redes são um veículo de um movimento dialético que, de uma parte, ao Mundo opõe o território e o lugar; e, de outra parte, confronta o lugar ao território tomado como um todo. ” (SANTOS, 1996, p.182) 2 Além disso, os conceitos clássicos de sítio e posição geográfica são uteis para avaliar as mudanças de posicionamento dos portos sul africanos no jogo mundial e regional das trocas a partir de sua localização geográfica. Segundo Beaujeu Garnier, Situação Geográfica é relevante a posição de uma cidade em relação aos meios externos a ela. É um elemento passivo de contextualização a partir das interações geradas com os lugares com que possuem vínculos funcionais (comando, trocas, etc.). Dessa maneira, as trocas e transações torna-se foco principal desta discussão (GARNIER, 1980). Enfim, um trabalho envolvendo sistemas de circulação de mercadorias deve considerar diversas escalas de análise. Segundo Lacoste, o raciocínio em níveis de análise permite identificar elementos próprios a cada escala contribuindo para a compreensão do fenômeno na sua totalidade (LACOSTE, 1976). O conteúdo e o sentido dos fenômenos podem mudar quando analisamos escalas diferentes, sendo assim, o espaço geográfico deve ser analisado através de uma lógica multiescalar (CASTRO, 2005). É assim esperado, portanto, que o trabalho consiga fornecer elementos de debate para entender as mudanças do sistema portuário sul africano e suas implicações espaciais em diversas escalas. III. Contextualização das Transformações Operacionais e Espaciais do Sistema Portuário da África do Sul As economias, as sociedades e os espaços da África subsaariana experimentam atualmente importantes transformações. Desde o início dos anos 2000, de acordo com dados apresentados no FMI, a combinação de dinâmicas endógenas e de fatores exógenos relacionados ao desenvolvimento do quadro geopolítico e econômico mundial impulsionou mudanças que intensificaram a participação da região aos circuitos econômicos, financeiros e comerciais mundiais (INTERNATIONAL 3 MONETARY FUND, 2013). Apesar de manter elevados níveis de desigualdade social e regional, de precariedade do quadro social e sanitário nas áreas rurais e na periferia das grandes aglomerações ou do agravamento dos problemas ambientais em algumas regiões, o cenário atual gera uma nova onda de otimismo. (BAVA, 2011) No campo econômico, os últimos doze anos foram marcados por um ritmo de crescimento da riqueza produzida duas vezes superior ao crescimento populacional. Em 2013, o PIB da África subsaariana cresceu assim de +5,7%, contra +0,1% para os países da Zona Euro (INTERNATIONAL MONETARY FUND, 2013). A região se beneficiou duplamente do aumento do consumo de matérias primas pelos países emergentes. Por um lado, a expansão da demanda por bens primários dinamizou o comércio internacional e permitiu inverter em parte um longo processo de degradação dos termos da troca. Por outro lado, investimentos produtivos chineses, indianos, brasileiros e ocidentais colaboraram para o desenvolvimento das indústrias petrolífera e da mineração. Setores como o turismo, a construção civil, as telecomunicações, a indústria têxtil, as infraestruturas, etc. demonstram também um grande dinamismo. (BAVA,2011) Mas, a expansão econômica e a consolidação da dinâmica de inserção competitiva da África nos circuitos comerciais internacionais supõem investimentos de grande porte em infraestruturas de transporte. (MILLER, 2011). As condições de circulação são precárias, os custos de transporte se apresentam entre os mais elevados do mundo e os nós de transbordo apresentam condições operacionais ultrapassadas em relação ao padrão mundial. (MULAUDZI, 2009). Os entraves logísticos revelam-se 4 ainda maiores para os países encravados que dependem dos portos dos países vizinhos para realizar suas importações e exportações. (MILLER, 2011) Diante dessa situação, governos nacionais, blocos regionais (SADC, em particular) e órgãos multinacionais (União Africana; Banco Africano de Desenvolvimento) definiram nos últimos anos ambiciosos projetos de modernização dos sistemas circulatórios: reformas portuárias; ampliação e modernização das plataformas aeroportuárias; investimentos em rodovias e ferrovias; corredores de escoamento de mercadorias; reformas administrativas, reforma dos procedimentos aduaneiros etc. (SADC, 2014) Dentro do quadro regional, a África austral é a região que apresenta a mais densa malha funcional de comunicações materiais e imateriais do continente africano. Se destaca pelo volume de investimentos aplicados nos vetores e nós de transporte, com destaque para a África do Sul e Moçambique. (HORNE-FERREIRA, B.; GOEDE, W.; ISSUFO, 2011) A relativa qualidade das infraestruturas e a crescente interconexão das redes técnicas dos países da região já desenham um espaço de interações que contribuiu de forma decisiva para a dinâmica da integração regional. O desenvolvimento da infraestrutura no caso da África do Sul foi possível a partir do momento em que o governo sul-africano vendo a possibilidade de movimentar melhor a economia se preocupou em investir em seus portos. Se apoiando, principalmente, na posição geográfica do país Sul-Africano entre os oceanos Atlântico e Índico, diante de uma intensa movimentação da circulação de fluxo comercial mundial. Favorecendo o investimento e o desenvolvimento dos portos nacionais e gerando um crescimento no PIB da África do Sul durante os últimos 10 anos aproximadamente. (INTERNATIONAL MONETARY FUND, 2013). A África do Sul, após ser mobilizada durante décadas a serviço das estratégias geopolíticas, na conjuntura do embate entre o regime do apartheid sul africano, onde 5 ao final ocorreu um processo de liberação de novas transações econômicas e da paz dos países vizinhos com o fim das guerras civis, faz com que sejam criadas novas conexões no comércio regional com o país. Como a criação do bloco econômico da Comunidade para o Desenvolvimento da África Astral (SADC), ou parcerias externas como o BRIC’s, uma parceira recente que inclui a África do Sul e países considerados emergentes, como o Brasil. (SADC, 2014) No contexto do processo de crescimento das atividades portuárias, o país, se apresenta atualmente como o mais desenvolvido da África Subsaariana, com um tecido econômico bastante integrado e diversificado. (SADC, 2014). Com áreas especializadas na produção de diferentes produtos como zonas produtoras de cereais, de frutas, ouro, minério, assim como a presença da indústria automobilística. (HUGON, 2009) Todo esse dinamismo inesperado fez com que, os países da linha de frente da região e a rede de transporte regional, passassem atualmente por uma reformulação de seus quadros institucionais, gerenciais, funcionais e de estrutura técnica. Causando, assim, impactos sobre as dinâmicas territoriais e econômicas em curso no cone sul africano. IV. O SISTEMA PORTUÁRIO SUL-AFRICANO: DINÂMICAS RECENTES A África do Sul em seu dinamismo apresenta atualmente duas hierarquias portuárias consolidadas. Uma voltada para os portos que se especializaram na movimentação do tipo granéis, como o carvão e o petróleo - voltados para a circulação de cargas consideradas de baixo valor agregado - e como o minério de ferro, movimentado no porto de Saldanha Bay. (WATERS, 2014). No caso dos portos que lidam com as cargas de carvão, como o porto de Richards Bay, são inseridos cada vez 6 mais no comércio mundial como portos exportadores através das redes de circulação marítima. Enquanto os portos que movimentam petróleo são considerados do tipo importadores, já que o país é produtor de carvão, porém não de petróleo. (WORLD PORT DEVELOPMENT, 2014) A segunda hierarquia se especializa na movimentação de contêineres, como os portos de Durban e da Cidade do Cabo. O porto de Durban, localizado no Oceano Índico, na costa nordeste da África do Sul, é o que mais se destaca nessa hierarquia dos portos, exibindo o melhor desempenho e uma maior movimentação de cargas, devido algumas especificidades que veremos mais abaixo. (LIMPOPO, 2014) Já o porto da Cidade do Cabo, por sua vez, tem estado em evidência, por ser uma das rotas comerciais mais movimentadas do mundo, contando com uma posição estratégica e econômica de grande importância para a África do Sul. Sendo um movimentado porto de contentores, com uma base que serve de transbordo para grandes frotas pesqueiras. A emergência da indústria petrolífera na África Ocidental, contribuiu para que esse porto se tornasse importante para a manutenção e reparação de suas instalações. (LIMPOPO, 2014) (WORLD PORT DEVELOPMENT, 2014) Além dos portos de Durban e da Cidade do Cabo, o porto Elizabeth vem ganhando importância frente ao cenário do sistema portuário marítimo sul-africano. Localizado na costa do sul da África do Sul na Província do Cabo Oriental a leste do porto de Mossel Bay. (WATERS, 2014). Este porto tem movimentado a maior parte das instalações de carregamento de minério no hemisfério sul. O terminal de contêineres do porto também lida com máquinas, lã, aço, manganês e produtos agrícolas. (WORLD PORT DEVELOPMENT, 2014) O porto Elizabeth possui convenientes ligações rodoviárias e ferroviárias com as redes que integram a África do Sul. A instalação em massa tem capacidade para armazenar 350 mil toneladas de minério de manganês, além disso, o porto maneja 7 volumes menores de outros minérios. (CIA, 2014). Constituindo assim um importante papel como exportador de produtos agrícolas da região, e por ter uma relação de proximidade com uma forte indústria automotiva, o Porto Elizabeth conta com um terminal enorme de carros. Também é uma opção pronta para os navios portacontentores, quando as portas em Durban ou Cidade do Cabo se tornarem excessivamente congestionados. (TRANSNET, 2014) O processo de crescimento que atinge o sistema portuário da África do Sul, aparece de forma bastante perceptível, tanto no que tange as movimentações do tipo granéis quanto em relação aos de contêineres (Tabela 1). (WATERS, 2014) Movimento de Carga no Sistema Portuário Sul-Africano (Expressas em toneladas métricas -10³) 2003 2005 2010 2012 Total em 2014 (Abril 2013 – Março 2014) Richards Bay 87.798 86.623 85.148 90.240 91.739 Durban 41.273 40.778 41.648 42.977 45.208 Saldanha Bay 31.497 35.208 53.788 61.273 60.187 Cape Town 4.731 3.508 3.673 4.106 3.715 Port Elizabeth 3.683 4.189 6.690 7.812 8.479 East London 1.417 1.647 1.748 1.775 1.559 Mossel Bay 1.221 1.598 1.834 2.294 2.177 - - 86 2 95 171.621 173.555 194.532 210.478 213.064 Ranking Nqgura/ Coega África do Sul Fonte: TRANSNET-Calendar Year; Elaboração: Ana Carolina Oliveira Tabela 1 De acordo com os dados analisados (Tabela 1), a evolução dos tráfegos portuários em termos do volume total de cargas movimentadas (quantidade total de cargas movimentadas), o porto de Richards Bay pode ser considerado o maior porto da 8 África do Sul, com um fluxo de cargas que em 2012 atingiu 91.739 toneladas métricas. (TRANSNET, 2014) Richards Bay constitui um porto direcionado principalmente para a exportação (no envio de cargas de carvão, madeira e granito para portos em todo o mundo). Contando com os sistemas ferroviário e correia transportadora, o porto pode atender os berços diretamente das plantas e fábricas de áreas próximas. (WATERS, 2014). Se tornando, portanto, o principal porto e o mais moderno da África do Sul, no que se refere ao manuseio de cargas a granel. (TRANSNET, 2014) Embora tenha sido inicialmente construído para exportar carvão, Richards Bay tem se expandido de forma que consiga lidar com uma variedade de cargas fracionadas, bem como a do tipo granel desde que iniciou seu funcionamento. (LIMPOPO, 2014) (WORLD PORT DEVELOPMENT, 2014) Porém essa movimentação não significa que irá gerar maior impacto na economia do país, já que as cargas nele movimentadas são do tipo commodities, principalmente o carvão nesse caso. Ou seja, possuem menor valor agregado, de menor complexidade e de menor impacto econômico, e que necessitam de um maior espaço para o transporte. Assim como os portos de Mossel Bay e Saldanha que são portos que se especializaram na movimentação de minério. (LIMPOPO, 2014) Com base no volume total de cargas movimentadas, em Durban, considerado o segundo maior porto do país, atingindo em 2012 a marca de 45.208 toneladas métricas. Possuindo uma grande importância no dinamismo comercial portuário sulafricano, dado que ele é o principal responsável na movimentação de contêineres no país, lidando com uma média de 83 mil contêineres por mês. (TRANSNET, 2014) 9 O Porto de Durban Container Terminal, dentre outras coisas, possui o maior terminal de contêineres do hemisfério sul. Movimentando cargas de maior valor agregado, de maior complexidade, constituindo um grande porto generalista. Ganhando, portanto, maior destaque no sistema portuário sul-africano por ter maior representação na economia (Gráfico 1). (TRANSNET, 2014) Durban ganha notoriedade não só por sua capacidade de lidar com a grande movimentação de carga, mas também por ser um ponto de entrada de matérias-primas a granel, bens de capital e equipamentos industriais. (TRANSNET, 2014) As suas exportações incluem minerais, açúcar, grãos e carvão. No processo de transporte do óleo, por exemplo, o seu refinamento é feito no próprio porto de Durban e canalizado para a cidade de Joanesburgo. A distribuição recipientes para Joanesburgo e para destinos na África tão distantes como Zâmbia é feita através de um terminal ferroviário do Porto de Durban. (HORNE-FERREIRA, B.; GOEDE, W.; ISSUFO, 2011) Movimento de Contêineres nos Portos Sul-Africanos - em TEUS 3000 2500 2000 1500 1000 500 0 Total em 2003 Total em 2005 Total em 2010 Total em 2012 Elaboração: Ana Carolina Oliveira 10 Total em 2013/2014 Gráfico 1 A valorização do porto de Durban se dá também devido a sua importante posição geográfica. A sua proximidade com Gauteng, terceira maior cidade da África do Sul e também o coração econômico do país, responsável pela receptação e emissão de fluxos mercadorias para o sistema portuário da África do Sul e para os países vizinhos, o torna próximo, assim, das áreas de atividades produtoras. (HORNEFERREIRA, B.; GOEDE, W.; ISSUFO, 2011) De maneira que o porto, em decorrência do fluxo de mercadorias, se firma como o maior porto do continente africano, tendo um dinamismo que ocorre de forma bastante eficiente diante sua demanda. Visto ainda que, possui o mais ativo tráfego marítimo do que qualquer porto no sul da África. Se tornando um dos portos comerciais mais importantes do mundo. (MILLER, 2011). O grande fluxo observado em Durban, é devido a sua grande capacidade e qualidade da infraestrutura abrangendo um total de mais de 1,8 mil hectares de terra e água, e contendo 302 km de malha ferroviária. Servindo como um tipo de hub para os recipientes do sul da Ásia, Oriente Médio e Extremo Oriente e Oceano Índico. Ademais, o Porto de Durban Container Terminal é considerado o maior da África do Sul, tendo sido inaugurado em 1977, e hoje ele lida com cerca de 1,5 milhões de contêineres por ano, incluindo os recipientes de uso geral. O porto de Durban Container Terminal abrange uma área total de 102 hectares, e a área de empilhamento o recipiente é de 26,3 hectares. (TRANSNET, 2014) V. As Escalas de Desenvolvimento do Sistema Portuário Sul-Africano Do ponto de vista de uma escala de análise regional, observa-se uma crescente integração comercial e econômica regional, envolvendo uma articulação das redes 11 logísticas no cone sul africano. Sendo possível graças a formação de novos blocos e alianças regionais, como no caso da Comunidade para o Desenvolvimento da África Astral (SADC), promovendo uma crescente integração comercial e econômica regional, e uma articulação das redes logísticas. Gerando um aumento das trocas comerciais em escala macrorregional que acaba beneficiando os portos sul-africanos. (SADC, 2014) Com o processo de abertura comercial e com a atração de investimentos estrangeiros no continente africano, principalmente na África Austral, gera um aumento da participação dos países sul-africanos na globalização. O interesse de países como a China e os Estados Unidos em matéria prima encontrada nos países africanos, causa uma circulação maior na economia dos países vizinhos da África do Sul, inserindo-os no processo de globalização. (SIKUKA, 2013) Consequentemente, faz com que estes por sua vez dependam dos portos sulafricanos: seja pela falta de fachada marítima como no caso da Botswana e Zâmbia; ou pela de baixa tecnologia, pouco desenvolvimento do sistema portuário dos portos dos países vizinhos como no caso da Namíbia. (HORNE-FERREIRA, B.; GOEDE, W.; ISSUFO, 2011) Tal dependência desses países nos portos da África do Sul, torna necessário a ampliação do dinamismo nas redes de circulação terrestre sul-africano, através dos corredores de transporte. Interligando os países da região, com o sistema portuário da África do Sul, que por sua vez recebe fluxos dos demais países da África austral. (MILLER, 2011) Corredores de Transporte da África Austral e Portos Sul-Africanos 12 Elaboração: Ana Carolina Oliveira e Frédéric Monié; Fonte: LIMPOPO; TRANSNET; CIA Figura 2 O porto de Richards Bay, por exemplo, é servido pela estrada de ferro que liga o porto dedicado à Gauteng e a Província de Mpumalanga. A estrada de ferro foi projetada para lidar com a maior parte das exportações de carvão do país. Outras ferrovias foram criadas com a finalidade de ligar o porto de Richards Bay com o porto de Durban e Suazilândia. Uma outra estrada bem preservada também liga o Porto de Richards Bay com Durban para o sul. (HORNE-FERREIRA, B.; GOEDE, W.; ISSUFO, 2011) (MCLI, 2014) O projeto da Rede Rodoviária Transafricana é um exemplo de um conjunto de projetos rodoviários transcontinentais na África, que estão sendo desenvolvidos pela Comissão Econômica da ONU para a África (UNECA), pelo Banco Africano de Desenvolvimento, e pela União Africana que 13 trabalham em conjunto com comunidades internacionais regionais, como no caso da União do Magreb Árabe, a Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental e a Comunidade para o Desenvolvimento da África Austral. (SADC, 2014) (HORNE-FERREIRA, B.; GOEDE, W.; ISSUFO, 2011) Estes atores tem como a pobreza no continente da infraestrutura das rodovia e finalidade africano a impulsionar o comércio e reduzir por administração meio do de corredores desenvolvimento comerciais inter- africanos. O comprimento total das nove rodovias envolvidas na rede é de 56683 km. Rede esta, projetada para conectar todas as nações do continente africano, com exceções de alguns países, como, Eritreia, Somália, Guiné Equatorial (Rio Muni), Malauí, Lesoto e Suazilândia. Destes países, Malauí, Lesoto e Suazilândia contam com caminhos pavimentados que encontram com a rede. (MCLI, 2014) Um exemplo do interesse em melhorar a eficiência no processo de escoamento dos fluxos na África Austral é a criação do projeto do Corredor de Desenvolvimento de Maputo, desenvolvido com o intuito de desbloquear as regiões sem acesso ao litoral das Províncias de Mpumalanga, Gauteng e Limpopo, um verdadeiro corredor de transporte envolvendo rodovia, ferrovia, postos de fronteira, portos e terminais. (MCLI, 2014) (HORNE-FERREIRA, B.; GOEDE, W.; ISSUFO, 2011) O corredor atravessa as regiões tidas como as mais industrializadas e produtivas da África Austral. O projeto tem como objetivo principal desenvolver uma rede de infraestruturas de transportes e de comunicações, em especial, com potencial para atrair investimentos para a região sul-africana. Facilitando a administração conjunta das infraestruturas entre o setor público e o privado com políticas bilaterais promovidas pelos governos da África do Sul e de Moçambique. (MCLI, 2014) 14 A implantação dessas redes técnicas no território sul-africano, possibilitou que maior parte dos países africanos que não tinham capacidade financeira para explorar adequadamente todos seus recursos, atualmente se inverte, pois hoje em dia os grandes atores mundiais do setor da exploração de minérios já estão instalados na zona que compreende a África Austral. (HORNE-FERREIRA, B.; GOEDE, W.; ISSUFO, 2011). Tendo alguns já realizado muitos investimentos na exploração de recursos, onde na maioria das vezes é incluído o respectivo Corredor Logístico Ferroviário, essencial para tornar eficiente a exportação destes minérios para os principais locais de consumo, como é o caso da China, Índia e Brasil. (SIKUKA, 2013) Outro elemento que explica o crescimento do dinamismo portuário marítimo, diz respeito às estratégicas desenvolvidas pelos armadores, que procuram limitar o número de escalas. Buscando, então concentrar os contêineres nos portos de Durban ou da Cidade do Cabo, para que esses dois portos redistribuam as cargas utilizando navios de porte menor para as fachadas marítimas do oceano índico e do atlântico. Mostrando, portanto, a importância da situação como fator competitivo para a inserção dos portos sul-africanos nas redes de circulação marítima. (SIKUKA, 2013) O Sistema Portuário Sul-Africano nas Redes de Circulação Marítima (Escala de Análise Macrorregional) Cape Town e Durban: hub ports 15 Fonte: TRANSNET-Calendar Year Figura 3 Dessa maneira, dentro da perspectiva da escala de análise da dinâmica marítima tanto regional quanto macrorregional, se torna visível a concentração das atividades portuárias na região sul-africana, como consequência da situação geográfica privilegiada desses portos entre os oceanos Índico e Atlântico. Fazendo com que ocorre um processo cada vez mais rápido de inserção do sistema portuário da África do Sul na globalização. Onde além de atrair interesses externos, com as novas rotas estratégicas das redes de circulação marítima do comercio mundial, faz com que ocorra uma transformação no quadro econômico não só do país como também dos países vizinhos que aumentam suas dinâmicas frente ao mercado mundial. (SIKUKA, 2013) (HORNE-FERREIRA, B.; GOEDE, W.; ISSUFO, 2011). Diante disso, torna-se importante fazer uma abordagem multiescalar, para que seja possível relacionar não só os fenômenos locais, assim como a maneira que eles interagem com outros sistemas externos e o que surge a partir disso. Sendo possível por meio disto, analisar os atores influenciadores no processo e o que eles desencadearão. 16 O Sistema Portuário Sul-Africano nas Redes Mundiais de Circulação Marítima (Escala de Análise Mundial) A Revalorização da Posição Estratégica Fonte: TRANSNET-Calendar Year Figura 4 Entendendo a dinâmica portuária sul-africana dentro da perspectiva de uma escala mais global (Figura 4) é possível identificar a atuação do sistema portuário da África do Sul na formação de novas organização das redes de circulação marítima, promovida pela formação de alianças regionais, como o BRIC’s ou por motivos estratégicos. (SIKUKA, 2013) VI. Considerações Finais Durante o desenvolvimento da pesquisa foi possível observar a existência de um processo de inserção crescente dos portos sul-africanos nas redes de circulação macrorregional e mundiais. Bem como uma valorização da qualidade de seus portos (com destaque para Durban, o maior porto no continente africano), e uma atenção para as demandas oriundas de países vizinhos que não dispõem de fachada marítima 17 (Zâmbia, Zimbábue, RDC, Botsuana dependem dos portos sul africanos para seu comercio exterior). Além disso, ocorre um reconhecimento dentro do espaço mundial de circulação da sua situação privilegiada entre os oceanos Atlântico e Índico, se tornando assim uma alternativa ao Golfo de Aden; novas rotas SUL- SUL entre Ásia e América do Sul. Portanto, baseado nas informações coletas pode-se dizer que tal processo de expansão tem grande possibilidade de continuar nos próximos anos. VII. Referências Bibliográficas AGÊNCIA CENTRAL DE INTELIGÊNCIA (CIA). Publication. 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Aceite, Revisto e Aprovado por: Directora Operacional, Monique Desthuis-Francis, outubro de 2011. 18 HUGON, P (2009). Geopolítica da África. FGV Editora: Rio de Janeiro, 2009. HUTSON, T.. Ports & Ships. Shipping and harbour news out of Africa. Portos sulafricanos: Durban. Disponível em< http://ports.co.za/durban-harbour.php > Acesso em 06 abr. 2014. INTERNATIONAL MONETARY FUND. World Economicand Financial Surveys. Regional Economic Outlook. Sub-Saharan Africa: Building Momentum in a MultiSpeed World. Washington, D.C,May 2013. LACOSTE, Y. A Geografia - isso serve, em primeiro lugar, para fazer a guerra. Campinas: Papirus (1988 [1976]). LIMPOPO. Provincial Government- Republic of south Africa: Roads and Transport. Maritime. Disponível em: << http://www.ldrt.gov.za/LPFDB/maritime.html >>Acesso em: 09 ago. 2014. MILLER, Darlene. Spatial Development Initiatives and Regional Integration in PostApartheid Southern Africa. Rosa Luxemburd Stifund, 2011. 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