O Crep ú s c u lo dos Deuses: Nijinsky e Isadora

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O Crep ú s c u lo dos Deuses: Nijinsky e Isadora
Leituras / Readings
O Crepúsculo dos Deuses: Nijinsky e Isadora
Gods crepuscule: Nijinsky and Isadora
“Os três bailarinos verdadeiramente grandes que conheci foram a Argentina, Isadora Duncan e Nijinsky”
Gertrude Stein
Autobiografia de Alice B.Toklas
Adrián Gramary
Médico Psiquiatra
Centro Hospitalar
Conde de Ferreira,
Porto
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Adrian Gramary
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Duas cidades, Saint-Moritz e Nice, conhecidos destinos de férias para a aristocracia europeia da dourada
Belle Époque, foram testemunhas da morte e da
doença (autêntica morte psíquica, neste caso) de dois
grandes bailarinos do século XX: Isadora e Nijinsky.
Na cidade suíça de Saint-Moritz, famosa estação
alpina de esqui, procurou refúgio entre os anos 1918
e 1919, fugindo da Grande Guerra que assolava a
Europa, quem continua a ser considerado por muitos
o maior bailarino do século passado: Vaslav Nijinsky.
O bailarino adoeceu gravemente, nesse ambiente
g é l i d o, ap resentando os primeiros sintomas da
doença mental que provocaria o seu afastamento
definitivo dos cenários até a sua morte nos anos 50.
A mitologia escandinava imaginava o inferno como
um espaço de gelos perpétuos e esses meses de
retiro alpino transformaram-se num inferno para
Nijinsky, que registou as vivências interiores dessa
invernal saison en enfer num caderno diário que
recentemente foi traduzido em português pela editora Assírio & Alvim (Nijinsky: Cadernos).
O Promenade des Anglais,em Nice, é um cumprido passeio que perc o rre a orla marítima da outrora glamourosa capital da Côte D´Azur. Nesse cenário elegante,no
dia 14 de setembro de 1927, encontrou a morte (morte
espectacular e cinematográfica, como tinha sido a sua
vida) a bailarina norte-americana Isadora Duncan: a
echarpe que levava ao pescoço enrolou-se numa roda
do carro descapotável que guiava, provocando-lhe a
m o rte por enforcamento e secção medular. O relato
autobiográfico da bailarina, intenso e apaixonado, apare-
ceu nas montras das livrarias espanholas este ano,
traduzido pela primeira vez nessa língua (Isadora
Duncan: Au t o b i ografia. Bailando en la oscuri dad.Tradução do original inglês My life).
Falar de Nijinsky implica desvendar os segredos do
mito. O bailarino russo foi um dos poucos “mitos em
vida” que já fazem parte incontornável da mitologia
popular contemporânea e da história do ballet.
Vaslav Nijinsky (1890–1950) nasceu em Kiev, filho
Vaslav Nijinsky (1890–1950).
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de pais polacos. Revelou com precocidade, como costuma acontecer nestes casos, os seus prodigiosos dotes para o ballet,
entrando na Escola Imperial de Ballet da cidade dos czares em
1898. Foi lá que conheceu quem havia de ser o seu mentor e, em
parte, o criador da sua lenda: o aristócrata, mecenas e
empresário teatral Sergei Pavlovitch Diaghilev. Com ele manteve
um relacionamento afectivo, que, anos depois, tentou justificar
como motivado pela necessidade económica da família. Com
Diaghilev entrou no mítico Ballets Russes, companhia lendária de
bailado – que congregou a participação impossível de inúmeras
genialidades: Stravinsky, Cocteau, Picasso - com a qual percorreu
toda Europa, num faustoso desfile triunfal.As suas interpretações
deixaram, nos contemporâneos afortunados que tiveram a oportunidade de presencia-las, uma recordação indelével: Le Spectre de
la Rose, L´Après Midi d´un Faune, Petrushka, Sherezade, A Sagração
da Primavera constituem passos consecutivos no seu caminho de
glória.Até aquele momento, as bailarinas assumiam o protagonismo absoluto dos ballets, ficando os homens num discreto segundo plano, e o fenómeno Nijinsky introduziu uma mudança significativa nesta tradição, provocando, pela primeira vez, que a
atenção do público se desloca-se para os bailarinos. Louvou-se a
sua sensibilidade artística, as inovações coreográficas por ele
introduzidas e a sua capacidade física como ginasta. Sirva como
exemplo o que escreveu o crítico Henri Gautier-Villars, marido
da escritora Colette: “Ontem, quando Nijinsky saltou tão elegante e
lentamente, traçando uma trajectória de quatro metros e meio e ater rou, sem fazer ruído, com os braços levantados, um incrédulo ah!
surgiu entre as senhoras”.
As trevas que pre nunciaram o seu crepúsculo surgiram no inve rno de 1918-1919, em Saint-Moritz, para onde Nijinsky tinha ido,
acompanhado pela sua mulher Romola e a sua filha Kyra. O seu
estranho comportamento começou a chamar a atenção da mu lher: o bailarino ia sozinho para a vila, vestido de branco, com um
grande crucifixo pendurado no pescoço, tentando pregar aos
vizinhos. Pro c u r ava o isolamento, apresentava crises de agre s s i v idade e o seu discurso tornava-se com frequência incoerente. No
caderno do bailarino podemos encontrar algumas chaves para
compreender os seus fantasmas interiores, durante aquele
período:
“Durante os saraus, senti Deus. Deus amava-me. Eu amava-o.
Tínhamos casado um com o outro. No carro, disse à minha mulher que
aquele dia era o dia do meu casamento com Deus.”
“Deus disse-me: «Volta para casa e diz à tua mulher que estás louco.»
Compreendi que Deus gostava de mim, por isso fui para casa com a
intenção de lhe dar essa notícia.”
“Deus disse-me em voz alta que era melhor escrever com o lápis
pequeno porque não perco tempo”.
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“Eu não como carne, mas, hoje, Deus queria que comesse. Não sei
porquê, mas queria. Cumpri as suas ordens e comi carne.Tive vontade
de chorar, por isso comi depressa, engolindo grandes pedaços. Não
sabia ao certo o que significavam as suas ordens, mas cumpri as suas
ordens”.
Vaslav Nijinsky (1890–1950).
Desesperada, Romola Nijinsky procurou ajuda, consultando
Eugen Bleuler, um dos grandes psiquiatras suíços do momento,
criador de uma nova visão fenomenológica da esquizofrenia. No
seu consultório de Zurique, o professor Bleuler não duvidou do
diagnóstico: “confusão mental de natureza esquizofrénica, acompanhada de uma leve excitação maníaca” e recomendou a Romola
que internasse o seu marido e avançasse para o divórcio, pois,
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segundo o seu ponto de vista, a ciência psiquiátrica nada mais
tinha a oferecer, nesse momento, para resolver a situação clínica
do bailarino. A partir dessa altura, a vida de Romola Nijinsky foi
uma via-sacra à procura da solução para a doença do marido. É
surpreendente a lista de famosos psiquiatras que observaram e
deram o seu parecer sobre o doente: Freud (que terá explicado
que a psicoterapia não era uma solução para o caso), Sackel (criador do choque insulínico, terapêutica que também foi aplicada
sem sucesso ao bailarino), Jung,Wagner von Jauregg, Binswanger,
Ferenzi, Kraepelin, Forel, etc.
Partindo das teorias de Bleuler, não se torna difícil encontrar nos
textos do bailarino, os famosos três As que, segundo o psiquiatra
suíço, constituíam as chaves diagnósticas da esquizofrenia: a perda
de associações, o embotamento afectivo e a ambivalência.
A perda de associações:
“O macaco é natureza. O homem é natureza. O homem é natureza.
O macaco não é a natureza do homem. Eu não sou um macaco num
homem. O macaco é deus na natureza porque sente os movimentos.
Eu sinto os movimentos. Os meus movimentos são simples. Os movi mentos do macaco são complicados. O macaco é estúpido. Eu sou
estúpido, mas sou dotado de razão. Sou um ser dotado de razão, mas
o macaco não é dotado de razão. Acho que os macacos descendem
das árvores e o homem descende de Deus. Deus não é o macaco. O
homem é Deus”.
O embotamento afectivo:
“Estou aborrecido porque está tudo vazio à minha volta. Fiquei vazio.”
E a ambivalência:
“Quero escrever a verdade, por isso minto”
“Não gosto da publicidade, porque a publicidade mente. Gosto da
publicidade porque a publicidade é verdade”
“Sei que Deus queria essa guerra. Sei que Deus não quer guerras, e
foi por isso que enviou horrores aos homens”.
Nijinsky morreu em Inglaterra, durante a primavera de 1950,
antes do aparecimento do primeiro neuroléptico eficaz (a clorpromazina), em consequência de uma insuficiência renal. Os seus
diários, encontrados de forma casual, foram publicados em vida,
expurgados pela mulher dos conteúdos mais escabrosos. A
tradução de Assírio & Alvim é a primeira feita a partir do texto
íntegro do Caderno.
O editor do livro, Christian Dumais-Lvowsky, reconhece no fim
da introdução que “Nijinsky não era certamente um escritor, um
poeta ou um epistológrafo” e é evidente que o texto do bailarino
está desprovido de valor literário intrínseco, mas tem o valor de
um testemunho em primeira-mão do eclodir da doença
esquizofrénica. Resulta, portanto, irrisório que o editor deixe a
porta aberta para a explicação do texto como uma eventual
experiência de vanguarda: “Além disso, será bom lembrar que a revo-
lução dadaísta (1916) é quase contemporânea dos escritos de
Nijinsky, e é impossível saber-se até que ponto o influenciou” (sic).
Aqueles que a conhecem e a sofrem sabem que a esquizofrenia
é uma doença que provoca, infelizmente, um esvaziamento
incompatível, na maioria dos casos, com qualquer tipo de criatividade artística. As incongruências do texto de Nijinsky nada têm
a ver com as experimentações de Hugo Ball e Tristan Tzara, e
qualquer tentativa de comparação resulta, no mínimo, ridícula.
Isadora Duncan (1978-1927), n o rte-americana da costa
oeste, nascida em São Francisco, viveu precocemente a separação
dos pais e o abandono por parte da figura paterna. Decidida a libertar a expressão do corpo e recuperar o espírito da dança
clássica, procurou na cultura grega a inspiração necessária para
sustentar esta renascença. “Descobri a dança. Descobri uma arte
que esteve perdida durante dois mil anos” refere na sua autobiografia. Para Isadora, o corpo era um instrumento harmónico e os
seus movimentos não expressavam apenas, como na ginástica,
movimentos corporais, mas também “sentimentos e pensamentos
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Isadora Duncan (1978-1927).
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da alma”. Tentava encontrar uma dança que simbolizasse a alma
da nova América democrática, qualquer coisa semelhante ao que
o poeta Walt Whitman tinha feito em poesia; no entanto, deixou
a sua terra e emigrou para a Europa, pois intuiu que este era o
local adequado para aprofundar os seus estudos e fazer conhecer
a sua descoberta:“Tinha vindo à Europa para trazer um renascimen to da religião através da dança, para elevar o público até o conheci mento da Beleza e da Santidade do corpo humano através da
expressão dos seus movimentos.” O seu périplo inclui uma peregrinação espiritual pela Grécia, encontrando em Atenas tudo o que
satisfazia o seu sentido estético. Como uma iluminação, foi-lhe
revelado que “era preciso voltar às túnicas dos antigos gregos”, transformando esta prenda, que sempre vestiu - dentro e fora dos
cenários - no símbolo da sua paixão pela antiguidade pagã.
Feminista, vegetariana, pagã, anticlerical, próxima da intelectualidade de esquerda, criou, em França,Alemanha e Rússia, com fundos próprios e com a ajuda de conhecidos milionários, escolas de
dança que visavam a formação de bailarinos procedentes das
classes sociais pobres. Causou escândalo, no pacato início do
século, ao dançar livre de qualquer entrave: descalça e com túnicas semi-transparentes, que deixavam entrever a silhueta do seu
corpo. Durante a Primeira Guerra Mundial, despedia-se, nos seus
espectáculos, enfiada na bandeira francesa, dançando “A
Marselhesa”, como manifestação de apoio aos aliados. A sua bissexualidade (não sabemos se real ou parte integrante da sua
lenda de personagem maldita) foi também objecto de comentários na sua época.
Declarava-se inimiga do ballet, género que considerava “falso e
absurd o” , pelo que ele tinha de clausura da liberdade de
expressão do corpo, explicando: “Os meus ideais não me permitiam a menor colaboração com os ballets, cujos movimentos chocavam
com o meu sentido da beleza e cujas expressões me pareciam
mecânicas e vulgares”. Neste sentido, as suas reflexões após a sua
visita, acompanhada pela famosa bailarina Pavlova, à Escola
Imperial Russa de Ballet, são suficientemente reveladoras: “Vi em
fila todas as pequenas alunas realizando os seus exercícios dolorosos.
Seguravam-se na ponta dos pés durante horas inteiras, como vítimas
de uma cruel e desnecessária Inquisição. Os quartos de ballet, grandes
e nus, desprovidos de qualquer beleza e inspiração, com um grande
retrato do czar como único adorno, era quartos de tortura. Fiquei con vencida mais do que nunca que a Escola Imperial de Ballets era uma
inimiga da Natureza e da Arte”. Transformou a sua própria vida
também em bandeira dessa mesma liberdade que procurava para
a dança, defendendo “o direito da mulher a amar livremente e de ter
os filhos que quisesse e como quisesse”, e, fiel aos seus princípios,
teve dois filhos de homens diferentes, com os quais não chegou
a casar. Na sua autobiografia explica: “Opunha-me ao matrimónio
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com toda a força inteligente do meu ser. Acreditava, e continuo a
acreditar, que é uma absurda instituição de escravidão que conduzia
sem remédio – particularmente no caso dos artistas – ao processo de
divórcio e a uma vulgar situação legal”. Excêntrica e transgressora,
a bailarina transformou-se num dos ícones mais famosos da Belle
Époque e dos loucos anos 20, até ser visitada pela tragédia.
Em 1913, os dois filhos faleceram num terrível acidente de viação,
em companhia da ama, após o carro ter caído num rio. Mortos
por afogamento, os seus corpos só foram encontrados no dia
seguinte.A vida da bailarina entrou num processo de luto, do qual
nunca mais se terá recuperado: “Este peito encerra uma dor
incurável, estas mãos, que aqui tenho à minha frente, estão marcadas
pela tristeza e, quando estou sozinha, estes olhos têm uma rara secu ra. As lágrimas têm brotado durante doze anos, desde o dia em que,
estendida no meu leito, fui repentinamente acordada por um grande
alarido e, ao levantar-me, vi o L. que gritava como um homem ferido:
«as crianças morreram» (…) Recordo que o grito me provocou um
estranho mal-estar, e que senti na minha garganta um fogo como se
tivesse engolido carvões acessos (…) Duas vezes lança a mãe esse
grito que parece alheio a ela própria: ao parir e ao perder o filho.
Quando senti o roçar daquelas duas mãos frias que já nunca mais
voltariam a abraçar-me, ouvi o meu grito, o mesmo grito que quando
nasceram. Porquê o mesmo, sendo um o grito de suprema alegria e o
outro de suprema tristeza? Não sei porquê, mas sei que era o mesmo.
Não será que em todo o Universo não há mais do que um único
Grande Grito que expressa a Angústia, a Alegria, o Extase e a Dor: o
Grito da Criação da Mãe?”. Mas a tragédia, tinha vindo para se
instalar definitivamente na vida da bailarina. Tentando reconstruir, pelo menos parcialmente, o seu infindável vazio, teve um
outro filho, que faleceu com poucos meses, de doença desconhecida. A sua dor transformou-se então em desolação. Podemos
ler na sua autobiografia a sua arrepiante confissão: “Creio que,
embora pareça que continuamos a viver, há dores que matam. O
corpo pode arrastar-se ao longo dos caminhos dolorosos da terra, mas
o espírito fica aniquilado. E aniquilado para sempre. Ouvi muitas pes soas a falar na influência enobrecedora da tristeza. Unicamente posso
dizer que aqueles últimos dias da minha vida, aqueles dias que pre cederam a tragédia, foram, na realidade os últimos dias da minha vida
espiritual. Desde que apareceu a tragédia, eu não tive mais do que um
desejo: fugir, fugir, fugir. Fugir do horror, e a minha vida não foi senão
uma série de fugas de tudo, semelhante ao judeu errante, toda a minha
vida depois foi como um navio fantasma sobre um oceano fantasma.”
De nada serviram as tentativas de consolo de amigas como a actriz
Eleanora Duse, de quem ouviu estas palavras terríveis: “Assim é a
vida do art i s t a : escura e sombri a , trágica, mas produtora da mármore
branca de onde nascem as aspirações do homem”.
Em 1922, conheceu, durante a sua estada na Rússia, Sergei Esenin.
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Do poeta russo, conhecido bissexual, conseguiu apaixonar-se até
ao ponto de abandonar os seus preconceitos relativamente ao
casamento e decidir casar com ele. O matrimónio naufragou em
1923 e, após o regresso ao seu país, o poeta enfrentou um sério
problema de alcoolismo, que motivou o seu internamento num
hospital psiquiátrico. Após a alta, sumido novamente numa grave
depressão - motivada, em parte, pelas dificuldades para sobreviver ao estalinismo - acabou por se suicidar.
Abalada com a sucessão de perdas afectivas que sempre se
seguiam aos ganhos materiais e artísticos, Isadora começou a
beber descontroladamente. Nas últimas páginas da sua autobiografia deparamo-nos, com a dor surda da bailarina, levantando-se
contra aqueles que interpretaram o seu destino trágico como
uma merecida punição pela sua vida dissipada: “Comecei a impos sível tarefa de vos relatar a minha vida num papel. Chegaremos até o
fim, embora oiça as vozes de todas as boas mulheres do mundo que
me dizem: «Uma história sem qualquer graça». «Todos os seus
infortúnios são a consequência dos seus pecados». Mas não tenho
consciência de ter pecado”.
Desde a altura da morte dos filhos, apenas guiava descapotáveis,
recusando-se a guiar carros fechados, pois provocava-lhe uma
angústia insuportável. Este mesmo medo foi, paradoxalmente, a
causa indirecta do seu fim trágico, no Promenade des Anglais, em
1927. A sua morte, nas vésperas do fatídico ano 29, representa
também simbolicamente o adeus aos alegres anos 20.A sua autobiografia é um texto de rara autenticidade, apaixonado testemunho de alguém que se transcendeu através da arte.A sua vida
talvez fosse – tal como tinha adivinhado a sua amiga Eleanora
Duse que era a vida do autêntico artista - uma vida “escura e som bria, trágica, mas produtora da mármore branca de onde nascem as
aspirações do homem”.
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NB: As traduções do texto de Isadora Duncan foram feitas pelo
autor do artigo.
Bibliografia
Bleuler, E (1967): Tratado de Psiquiatria. Espasa Calpe. 2ª ed. Madrid.
Duncan, Isadora (2005): Autobiografía. Bailando en la oscuridad. Ediciones
JC. Memorias Clementine. Madrid.
Nijinsky V (1993): Diario. Parsifal Ediciones. Barcelona.
Nijinsky V (2004): Cadernos.Assírio & Alvim. Lisboa.
Stein G (2000): Autobiografia de Alice B.Toklas. Lúmen. Barcelona
Vallejo-Nágera, JA (1996): Locos egregios. Planeta De Agostini. Barcelona.
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