A VERDADEIRA RELIGIÃO CRISTÃ Contendo toda a teologia da

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A VERDADEIRA RELIGIÃO CRISTÃ Contendo toda a teologia da
A VERDADEIRA RELIGIÃO CRISTÃ
Contendo toda a teologia da NOVA-IGREJA
Vol. I
Emanuel Swedenborg
Daniel, VII, 13 e 14:
"Vendo eu estava, em visões de noite e eis com as nuvens dos céus como um Filho do
Homem que vinha; e lhe foi dada Dominação e Glória e Reino; e todos os povos, nações e
línguas 0 servirão: a sua Dominação (será) uma Dominação do século,
• qual não passará, e seu Reino (um Reino) que não perecerá."
Apocalipe, XXI, 1, 2, 5, 9, 10:
"Eu, João, vi um Céu Nôvo e uma Terra Nova; e vi a Cidade,
• Santa Jerusalém nova, descendo de Deus pelo Céu, adereçada como uma Espôsa ornada
para seu Marido. E um anjo me falou, dizendo: Vem, eu te mostrarei a Espôsa do Cordeiro,
o Esposo; e levou-me em espírito sôbre uma montanha grande e elevada e me mostrou a
cidade grande, a Santa Jerusalém descendo do Céu de junto de Deus.
"Aquele que estava assentado sôbre o Trono, disse: Eis, Novas tôdas as cousas eu faço; e
me disse: Escreve porque estas palavras são verdadeiras e certas. '
&1 A FÉ DO NÔVO CÉU E DA NOVA IGREJA
1 - A Fé na forma universal e na forma singular é apresentada primeiro que tudo, a fim de
que seja como a Face diante da Obra que segue; a fim de que também seja como a Porta
pela qual há entrada no Templo; e que seja o Sumário no qual cada uma das cousas que
seguem está contida a seu modo. Dizse: A Fé do Nôvo Céu e da Nova Igreja porque o Céu
onde estão os Anjos e a Igreja na qual estão os Homens, fazem um, como o Interno e o
Externo no homem; é por isso que o homem da Igreja, que está no bem do amor segundo os
veros da fé e nos veros da fé segundo o bem do amor, é um Anjo do Céu quanto aos
interiores de sua mente; é mesmo por isso que depois da morte êle vem para o Céu, e aí
goza da felicidade, segundo o estado de conjunção dêste bem e dêstes veros. É preciso que
se saiba que no Nôvo Céu, que é hoje instaurado pelo Senhor, esta Fé é a sua face, a porta e
o sumário.
&2 - A FÉ DO NÔVO CÉU E DA NOVA IGREJA NA FORMA UNIVERSAL é esta:
Que o Senhor de tôda a eternidade (ab eterno) que é Jehovah, veio ao mundo para subjugar
os infernos e glorificar seu Humano; que sem isso nenhum mortal teria podido ser salvo, e
que aquêles que crêem n'Ele são salvos.
Diz-se: Na forma Universal, pois é isto o Universal da fé; e o Universal da fé é o que deve
estar em tôdas e cada uma das cousas da fé. E' um Universal da fé, que Deus é Um em
Essência e em Pessoa, no qual está a Divina Trindade; e que o Senhor Deus Salvador Jesus
Cristo é êste Deus. E' um Universal da fé que nenhum mortal teria podido ser salvo se o
Senhor não tivesse vindo ao Mundo. E' um Universal da fé, que Êle veio ao Mundo para
afastar o homem do Inferno; e que Êle o afastou por combates contra êle e por vitórias
alcançadas sôbre êle; assim Êle o subjugou e o repôs na ordem C sob Sua obediência. E' um
Universal da fé, que Êle veio ao Mundo para glorificar Seu Humano, que Êle tomou no
Mundo, isto é, para uni-lo ao Divino A QUO (do qual procedia); assim Êle mantém pela
eternidade o Inferno na ordem e sob Sua obediência. Como isto não podia se fazer senão
pelas tentações admitidas em Seu Humano até à última de tôdas; e que esta última foi a
paixão da cruz, é por isso que Êle a sofreu. São êstes os Universais da fé no que concerne
ao Senhor.
Da parte do homem, o Universal da fé é que êle creia no Senhor, pois por crer n'Êle, se faz
com Êle uma conjunção pela qual há Salvação: crer n'Ele é ter confiança que Êle salva; e
como não há senão o que vive bem que possa ter confiança, resulta daí que por crer n'Êle é
entendido também viver no bem. 0 Senhor o disse também em João: "E' a vontade do Pai
que aquêle que crê no Filho tenha a vida eterna" (VI, 40). E em outra parte: "Aquêle que
crê no Filho tem a vida eterna; mas aquêle que não crê no Filho não verá a vida, mas a
cólera de Deus permanece sôbre êle" (111, 36).
&3 - A FÉ DO NOVO CÉU E DA NOVA IGREJA NA FORMA SINGULAR é esta: Que
Jehovah Deus é o Amor mesmo e a Sabedoria mesma, ou que Êle é o Bem mesmo e o Vero
mesmo; e que Ele mesmo quanto ao Divino Vero, que é a Palavra e que era Deus em Deus,
desceu e tomou o Humano, no propósito de repor na ordem tôdas as cousas que estavam no
Céu, tôdas as cousas que estavam no Inferno e tôdas as cousas que estavam na Igreja
porque então a potência do Inferno levava vantagem sôbre a potência do Céu; e que nas
Terras, a potência do mal levava vantagem sôbre a potência do bem; e que em
conseqüência uma danação geral estava à porta e iminente. Jehovah Deus, por Seu Humano
que era o Divino Vero, afastou esta Danação que ia acontecer; e assim remiu os Anjos e os
Homens. Em seguida, em Seu Humano uniu o Divino Vero ao Divino Bem ou a Divina
Sabedoria ao Divino Amor; e assim voltou ao Seu Divino, no qual estava de tôda a
eternidade, ao mesmo
tempo com e no Humano Glorificado. E' o que é entendido por esta passagem em João: "A
Palavra estava em Deus e Deus era a Palavra; e a Palavra carne foi feita" (I, 1 e 14). E no
mesmo: "Eu saí do Pai e vim ao Mundo; de nôvo deixo o Mundo e vou para o Pai" (XVI,
28). E além disso por esta passagem: "Nós sabemos que o Filho de Deus veio ' e que Êle
nos deu a inteligência para que conheçamos o Vero; e estamos no Vero em Seu Filho Jesus
Christo. Êste é o Verdadeiro Deus e a Vida Eterna" (João I Epístola, V, 20 e 21). Segundo
isto é evidente que sem a vinda do Senhor ao Mundo ninguém poderia ter sido salvo.
Acontece o mesmo hoje; se portanto o Senhor não viesse de nôvo no Divino Vero que é a
Palavra, ninguém também poderia, ser salvo.
Da parte do homem os Singulares da fé são: 1.0) Que há um único Deus em que está a
Divina Trindade, e que êste Deus é o Senhor Deus Salvador Jesus Christo. 2.0) Que a fé
salvífica é crer n'Ele. 3.0) Que os males não devem ser feitos porque são do diabo e vêm do
diabo. 4.0) Que os bens devem serfeitos porque são de Deus e vêm de Deus. 5.0) E que os
bens devem ser feitos pelo homem como por si mesmo, mas que êle deve crer que é pelo
Senhor que êles estão nêle e são feitos por êle. Os dois primeiros pertencem à fé, os dois
últimos pertencem à caridade, e o quinto pertence à conjunção da caridade e da fé, assim à
conjunção do Senhor e do homem
.
&4
CAPITULO I
DO DEUS CRIADOR
4 - A Igreja Cristã desde o tempo do Senhor, tinha percorrido suas idades, da Infância à
extrema Velhice; sua infância foi a época em que os Apóstolos viviam e pregavam em todo
o Mundo o Arrependimento e a Fé no Senhor Deus Salvador; que êles tenham pregado
êsses dois pontos, vê-se por estas palavras ,nos Atos dos Apóstolos: "Paulo atestava e aos
Judeus e aos Gregos o Arrependimento para com Deus e a Fé em Nosso Senhor Jesus
Cristo (XX, 21). E' um fato memorável, que o Senhor convocou, há alguns meses, Seus
doze discípulos, que são agora Anjos e os enviou a todo o Mundo Espiritual, com ordem de
-aí pregar de nôvo o Evangelho porque a Igreja que o Senhor tinha instaurado por êles, está
hoje de tal modo consumada, que apenas subsistem dela alguns restos; e que, isso
aconteceu porque se dividiu a Divina Trindade em três Pessoas, das quais cada uma é Deus
e Senhor; e que dai, decorreu um frenesi em toda a Teologia; e assim na Igreja que do nome
do Senhor é chamada Christã; diz-se frenesi porque as mentes humanas foram por isso
arrastadas a um tal delírio que não se sabe se há um único Deus ou se há três; não há senão
um na linguagem da boca, mas há três no pensamento da mente; a mente está portanto em
oposição com a boca ou o pensamento com a linguagem; desta oposição resulta que não se
reconhece nenhum Deus; o Naturalismo que reina hoje não tem outra origem. Faz disso, se
quiseres, o exame: Quando a boca diz um e a mente pensa em três, não acontece que
dentro, no meio do caminho, um expulsa o outro, e isso reciprocamente? Daí o homem
apenas pensa ,de outro modo sôbre Deus, se o pensa, a não ser segundo a palavra nua de
Deus, sem nenhum sentido que envolva um conhecimento de Deus. Pois que. a idéia de
Deus, com toda noção que possa ter dela, foi assim dissipada, vou, em sua ordem, tratar de
Deus Criador, do Senhor Redentor e do Espírito Santo em sua operação e da Divina
Trindade; e isso a fim de que o que foi dissipado seja restabelecido, o que acontece quando
a Razão humana, segundo a Palavra e a luz que dela provêm, está convencida de que há
uma Divina Trindade e que esta Trindade está no Senhor Deus Salvador Jesus Christo,
como a Alma, o Corpo e o Procedente estão no homem; e que assim permanece em vigor
esta passagem do Símbolo de Atanásio, que no Christo, Deus e o Homem, ou o Divino e o
Humano, não são dois, mas estão em uma única Pessoa; e que, como a Alma racional e a
Carne, são um único homem, do mesmo modo, Deus e o Homem são um único Christo.
DA UNIDADE DE DEUS
&5 - Pois que o reconhecimento de Deus, segundo o conhecimento que se tem d'Ele, é a
essência mesma e a alma de tôdas as cousas em toda a Teologia, é necessário tomar por
exórdio a Unidade de Deus; ela será demonstrada em ordem pelos Artigos seguintes:
I - TODA A ESCRITURA SANTA E, POR CONSEGUINTE, AS DOUTRINAS DAS
IGREJAS NO MUNDO CRISTAO, ENSINAM QUE DEUS E' UM.
II - 0 INFLUXO UNIVERSAL, PROCEDENDO DE DEUS NAS ALMAS DOS
HOMENS, E' QUE HÁ UM DEUS, E QUE ÊLE E' UM.
III - DAI VEM QUE NO MUNDO INTEIRO NAO HÁ UMA NAÇÃO, TENDO UMA
RELIGIÃO E UMA RAZÃO SA, QUE NAO RECONHEÇA QUE DEUS E' UM.
IV - QUAL E' ESTE DEUS UM: AS NAÇÕES E OS POVOS TEM TIDO E TEM,
SEGUNDO VARIAS COISAS, OPINIÕES DIFERENTES SOBRE ESTE PONTO.
V - A RAZÃO HUMANA, SEGUNDO UM GRANDE NúMERO DE COISAS NO
MUNDO, PODE PERCEBER OU CONCLUIR SE HÁ UM DEUS E QUE ÊLE E um.
VI - SE NAO HOUVESSE UM úNICO DEUS, 0 UNIVERSO NAO PODERIA TER
SIDO CRIADO NEM CONSERVADO.
VII - 0 HOMEM QUE NAO RECONHECE DEUS E EXCOMUNGADO DA IGREJA E
DANADO.
VIII - NADA DA IGREJA ESTA EM COERÊNCIA NO HOMEM QUE RECONHECE
NAO UM úNICO DEUS, MAS VÁRIOS DEUSES.
Cada um dêstes artigos vai ser desenvolvido separadamente.
&6 - I. TODA A ESCRITURA SANTA E, POR CONSEGUINTE, TÔDAS AS
DOUTRINAS DA IGREJA NO MUNDO CRISTÃO, ENSINAM QUE HÁ UM DEUS E
QUE ÊLE É UM.
Se toda a Escritura Santa ensina que há um Deus, é que nos íntimos desta Escritura não há
absolutamente senão Deus, pois ela foi ditada por Deus; e de Deus não pode proceder senão
o que é Êle mesmo e é chamado Divino; êste Divino está nos íntimos da Escritura Santa.
Mas nos derivados, que estão abaixo dos íntimos e que provêm dêles, esta Santa Escritura
foi acomodada à percepção dos Anjos e dos Homens; nestes derivados há
semelhantemente, o Divino, mas em uma outra forma; e nesta forma êle é chamado Divino
Celeste, Divino Espiritual e Divino Natural, Divinos que não são senão invólucros de Deus,
pois que Deus Mesmo, tal como está nos íntimos da Palavra não pene ser visto, por nenhum
ser criado; pois Êle disse a Moisés, que pedia com insistência para ver a glória de Jehovah,
que ninguém podia ver Deus e viver, acontece o mesmo com os íntimos da Palavra, onde
Deus está no Seu Ser e em Sua Essência: mas não obstante o Divino; que ai está
intimamente e é envolvido pelos Divinos ajustados às percepções dos Anjos e dos,
Homens, brilha como a Luz através de formas cristalinas, mas com variedade, segundo o
estado da mente, estado que o homem se formou ou segundo Deus, ou segundo êle mesmo;
diante de quem formou segundo Deus o estado de sua mente, a Escritura Santa é como um
espelho, no qual êle vê Deus, mas cada um 0 vê à sua maneira; as Verdades que se
aprendem pela Palavra e de que a gente se imbui conformando com elas a sua vida,
compõem êsse Espelho: daí, torna-se evidente que a Escritura Santa é a plenitude de Deus.
Que esta Escritura ensina não sómente que há um Deus, mas, também que Deus é um,
pode-se vê-lo pelas Verdades que, assim como foi dito, formam êste Espelho, pelo fato de
que elas são coerentes em um único, encadeamento; e fazem que o homem não possa
pensar de Deus senão como sendo um; daí vem que todo homem, cuja razão foi imbuída de
alguma santidade derivada da Palavra, sabe por si mesmo que Deus é um; e percebe que há
uma espécie de loucura em dizer que há vários deuses; os anjos não podem abrir a boca
para pronunciar a palavra deuses, pois a aura celeste em que vivem impede essa
pronunciação. Que Deus seja um, a Escritura Santa o ensina não só universalmente, como
acaba deser dito, mas em particular em grande número de passagens, por exemplo nestas:
"Escuta, Israel, Jehovah nosso Deus, Jehovah e um" (Deuter. IV, 4). Semelhantemente em
Marcos XII, 29.
"Sómente em Ti está Deus, e excetuando Eu, não há Deus" (Isaías, XLV, 14-15). "Não
sou eu Jehovah? E há outro Deus senão Eu ?' (Isaías XLV, 20-21). "Eu sou Jehovah teu
Deus, e Deus
outro que Eu tu não reconhecerás" (Oséas XIII, 4). "Assim disse Jehovah, o Rei de Israel:
Eu (sou)
o Primeiro e o último, e excetuando Eu não há Deus" (Isaías XLIV, 6). "Nesse dia, Jehovah
será
como Rei sôbre toda a terra; nesse dia, Jehovah será um e Seu Nome um" (Zacarias XIV,
9).
&7 - Que as doutrinas da Igreja no Mundo Christão ensinam que Deus é um, isso é notório;
elas o ensinam porque da Palavra são tiradas tôdas as doutrinas dessas Igrejas; estas
doutrinas têm consistência tanto quanto aí se reconhece um único Deus não sómente de
boca, mas também de coração: quanto àqueles que de boca, sómente confessam um único
Deus e, de coração, três, como acontece hoje entre um grande número na Christandade,
Deus não é para êles senão uma simples palavra pronunciada pela boca, e, todo dogma
teológico não é senão um ídolo de ouro encerrado em um cofre, de que só os Prelados têm a
única chave; e quando êstes lêem a Palavra não percebem em parte alguma dela luz alguma,
nem mesmo que Deus é um; a Palavra para êles é como coberta de riscos e inteiramente
velada quanto à unidade de Deus; são êles que o Senhor descreveu em Mateus: "De ouvido
vós ouvis e não compreendeis; e vendo vereis e não discernireis. Fecharam seus olhos, de
modo que não aconteça que vejam com os olhos e que com os ouvidos ouçam e que, de
coração, compreendam e que se convertam e que eu os cure" (XIII, 14-15). Todos êstes são
como os que fogem da luz e que entram em quartos sem janelas, tateíam em torno das
paredes e procuram onde estão os víveres e onde estão os escudos e que fazem para si uma
vista como a das corujas e vêem nas trevas; são- semelhantes a uma mulher que, tendo
vários maridos, é uma cortesã lasciva, não uma esposa; são semelhantes ainda a uma moça
que recebe anéis de vários amantes, e que, depois do casamento, cede suas noites a um e
também aos outros.
&8 - 11. 0 INFLUXO UNIVERSAL, PROCEDENDO DE DEUS NAS ALMAS DOS
HOMENS, É QUE HÁ UM DEUS, E QUE ÊLE É UM.
Que haja um influxo procedente de Deus no homem, é verdade segundo esta confissão
geral, que
todo bem que em si é o bem e que está no homem e é feito por êle, vem de Deus e,
semelhantemente, tudo que pertence à caridade e tudo que pertence à fé; pois, lê-se: "Um
homem nada pode tomar, a menos que lhe tenha sido dado do Céu" (João 111, 27); e Jesus
disse: "Sem Mim nada podeis fazer" (João XV, 5); isto é, nada do que pertence à caridade e
do que pertence à fé. Se êste influxo está nas almas dos homens, é porque a alma é o íntimo
e o supremo do homem; e que o influxo procedendo de Deus se faz aí, e desce daí às cousas
que ,estão abaixo e as vivifica segundo a recepção: os Veros que pertencerão à fé influem
na verdade, pelo ouvido; e desta maneira são implantados na mente, assim abaixo da alma,
mas o homem por estes Veros está sómente disposto a receber o influxo procedendo de
Deus pela alma; e tal é a disposição, tal é a recepção; e tal também a transformação da fé
natural em fé espiritual. Se o influxo procedendo de Deus nas almas dos homens, é que
Deus é um, é porque todo Divino, tomado tanto universalmente como singularmente, é
Deus; e como todo Divino é coerente como uma unidade, só pode inspirar ao homem a
idéia de um único Deus; e esta idéia é corroborada dia a dia, conforme o homem é elevado
por Deus na luz do Céu; os Anjos, com efeito, não podem em sua luz se constranger a
pronunciar a palavra deuses; é por isso que também a sua linguagem no fim de cada sentido
é, quanto ao acento, terminada em unidade, o que não provém de outra parte senão do
influxo em suas almas, que Deus é um. Se, não obstante, o influxo nas almas de todos os
homens que Deus é um, há um grande número dos que pensam que Sua Divindade foi
dividida em Várias da mesma Essência, é porque êste influxo, quando desce, cai em formas
não correspondentes; e que a forma mesma o diversifica, como acontece em todos os sêres
dos três reinos da natureza; o Deus que vivifica toda bêsta é o mesmo Deus que vivifica
todo homem, mas a forma recipiente faz com que a bêsta seja bêsta e o homem seja
homem; o mesmo acontece ao homem quando este introduz em sua mente a forma de uma
bêsta; o influxo que procede do sol em tôdas as árvores é semelhante, mas é diversificado
segundo a forma de cada árvore; é semelhante para a cêpa como para o espinheiro, mas se o
espinheiro é enxertado sôbre a cepa, êste influxo é virado e procede, segundo a forma do
espinheiro. Acontece o mesmo nos sêres do Reino mineral; a luz que influi em uma pedra
calcárea e em um diamante é a mesma, mas brilha neste, e torna-se opaca naquela. Quanto
ao que concerne às mentes humanas, elas são diversificadas segundo suas formas, que
dentro são espirituais segundo a fé em Deus e ao mesmo tempo conforme se vive por Deus,
e estas formas tornam-se brilhantes e Angélicas pela fé em um único Deus, enquanto que,
ao contrário, se tornam opacas e bestiais pela fé em vários deuses, a qual difere pouco da fé
em nenhum Deus.
&9 - III. DAÍ VEM QUE NO MUNDO INTEIRO NAO HÁ UMA NAÇÃO, TENDO
UMA RELIGIÃO E UMA RAZÃO SA QUE NAO RECONHEÇA DEUS E QUE
DEUS :É UM.
Do influxo Divino nas almas dos homens de que se acaba de falar, resulta que existe em
cada homem um ditame interno que há um Deus e que êle é um: se, entretanto, há os que
negam. Deus e que reconhecem a natureza por Deus e outros também que adoram Imagens
como deuses é porque fecharam os interiores de sua razão ou de seu entendimento pelas
cousas mundanas e corporais; e por isso, apagaram a primitiva idéia de Deus ou a idéia da
infância e transferiram então, ao mesmo tempo, do peito para as costas, a Religião. Que os
Christãos reconhecem um único Deus, mas de que maneira, é o que se vê claramente pela
sua Confissão Simbólica, que é esta: A Fé Católica consiste em que adoramos um único
Deus na Trindade e a Trindade na Unidade. Há três Pessoas Divinas, o Pai, o Filho e o
Espírito Santo, e entretanto não são três deuses, mas há um único Deus: outra é a Pessoa do
Pai, outra a do Filho e outra a do Espírito Santo; e sua Divindade é uma, a Glória igual e a
Majestade Coeterna; assim o Pai é Deus, o Filho é Deus, e o Espírito Santo é Deus; mas
embora sejamos forçados, segundo a verdade cristã, a reconhecer que cada pessoa em
particular é Deus e Senhor, entretanto, nos é interdito pela Religião Católica dizer que há
três Deuses e três Senhores". Tal é a Fé Christã sôbre a Unidade de Deus, mas ver-se-á, no
Capítulo sôbre a Divina Trindade, que nesta confissão a Trindade de Deus e a Unidade de
Deus são incompatíveis. No Mundo, tôdas as outras Nações que têm uma religião e uma
razão sã, se acordam -em reconhecer que Deus é um; todos os Maometanos em seus
Impérios os Africanos, nos vários Reinos de sua Região; os Asiáticos também, na maior
parte dos seus; e além disso os Judeus de hoje. Os Antiquíssimos, no século de ouro,
aquêles em que existia a Religião, adoraram um único Deus, que chamavam Jehovah;
acontecia o mesmo com os Antigos do século seguinte, antes da fundação dos impérios
monárquicos, rios quais os amôres mundanos e em seguida os amôres corporais começaram
a fechar os superiores do entendimento, que antes tinham estado abertos e serviam então de
Templos e de Santuários para o culto de um único Deus; todavia, o Senhor Deus, a fim de
abrir e de restaurar assim o culto de um único Deus, instituiu uma Igreja entre os
descendentes de Jacob; e à testa de todos os preceitos de sua religião colocou êste: "Não
haverá outro Deus diante da minha face" (Éxodo XX, 3). Jehovah, que é também o nome
que Êle se deu de nôvo diante deles, significa o Ser Supremo e único, de que procede tudo
o que é e existe no universo. Os antigos gentios reconheciam por supremo Júpiter (Joven),
assim chamado talvez de Jehovah, e atribuíam também a Divindade a vários outros que
compunham a sua corte; mas na idade seguinte, Sábios, tais como Platão e Aristóteles
declararam que esses eram, .não deuses, mas outras tantas propriedades, qualidades e
atributos de um único Deus, os quais foram chamados deuses porque em cada uma delas
havia a Divindade.
&10 - Toda razão sã, ainda que não religiosa, vê que Toda cousa dividida, a menos que
esteja sob a dependência de uma unidade, se dissipa por si mesma; assim se dissiparia o
Homem, composto de tantos membros, de vísceras, de órgãos da sensibi1idade e do
movimento se não estivesse sob a dependência de uma única alma; e o Corpo mesmo se
não estivesse sob a dependência de um único coração. Aconteceria o mesmo com um Reino
se não fosse governado por um único Rei; com uma Casa se não tivesse um único dono;
com tôdas as funções, que são em grande número em cada Reino, se não estivessem sob a
direção de um único funcionário. Que força teria um Exército contra os inimigos sem um
General investido de um poder supremo e tendo sob suas ordens oficiais, cada um dos quais
exerce sua autoridade sôbre os soldados? Aconteceria o mesmo na Igreja se ela não
reconhecesse um único Deus; e também com o Céu Angélico, que é como a cabeça da
Igreja nas terras, sendo o Senhor a -Alma mesma de um e de outro; por isso o Céu e a
Igreja são chamados seu Corpo; se êles não reconhecessem um único Deus, seriam um e a
outra como um corpo inanimado que, não sendo útil a nada, seria rejeitado e sepultado.
&11 - IV. AS NAÇÕES E OS POVOS TIVERAM E TÊM, POR VÁRIAS CAUSAS,
OPINIÕES DIFERENTES SOBRE A QUALIDADE DÊSTE DEUS úNICO.
Uma primeira cousa é que não pode haver conhecimento de Deus, nem por conseguinte,
reconhecimento de Deus sem -Revelação; e que não há conhecimento do Senhor e, por
conseguinte, reconhecimento de que no Senhor habita corporalmente Toda a plenitude da
Divindade, senão pela Palavra, que é a coroa das Revelações; pois o homem, quando uma
Religião foi dada, pode ir ao encontro de Deus e receber o influxo; e por conseqüência
tornar-se, de natural espiritual: ora, uma primitiva Revelação foi espalhada sôbre todo o
Globo, mas o homem natural a perverteu de várias maneiras, daí os afastamentos, os
dissentimentos, as heresias e os cismas das religiões. Uma segunda causa é que o homem
Natural nada pode perceber nem aplicar se a cousa alguma do que concerne a Deus, mas
pode únicamente perceber e aplicar aquilo que concerne ao mundo; por isso se diz nos
Cânones da Igreja Christã que o homem Natural é oposto ao homem Espiritual e que êles
combatem um contra o outro; daí vem que aquêles que, segundo uma Palavra resultante de
uma outra Revelação, conheceram que há um Deus, tiveram e têm opiniões diferentes sôbre
a Qualidade de Deus e sôbre a Unidade de Deus. Aquêles portanto de quem a vista da
mente estava sob a dependência dos sentidos do corpo, e que entretanto queriam ver Deus,
formaram para si Imagens de ouro, de prata,
de pedra -e de madeira, a fim de que sob essas Imagens, como objetos da vista, adorassem
Deus; e outros que pela religião ti nham rejeitado as Imagens, representaram Deus por
símbolos do Sol e da Lua, dos Astros e de diversos objetos da Terra; mas aquêles que se
acreditavam mais sábios que o Vulgo e que, entretanto, tinham permanecido homens
naturais, reconheceram, pela imensidade de Deus e por Sua onipresença criando o Mundo,
por Deus a Natureza, uns nos seus íntimos e outros em seus últimos, e alguns, a fim de
separar Deus da Natureza, imaginaram alguma cousa de muito universal que chamaram o
Ser do universo; e como não sabem nada mais sôbre Deus, êste Ser torna se nêles um ser de
razão, isto é, uma cousa de nada. Que não pode compreender que os conhecimentos sôbre
Deus são espelhos de Deus eque aquêles que nada sabem de Deus vêem Deus não em um
espelho voltado para seus olhos, mas em um espelho virado pelo dorso que é coberto de
mercúrio ou de negro de fumo (noir Gluten), e não reflete a imagem, mas a oculta? A Fé
em Deus entra no homem pelo Caminho anterior, que vai da alma aos superiores do
entendimento; mas os conhecimentos so- bre Deus entram pelo Caminho posterior porque o
Entendimento os tira pelos sentidos do corpo da Palavra revelada; e o encon- tro dos
influxos se faz no meio do Entendimento, e aí a fé natural, que não é senão uma persuasão,
se torna a fé espiritual, que é o reconhecimento mesmo; o Entendimento humano é portanto
como um entreposto de trocas no qual se faz a permuta.
&12 - V. A RAZÃO HUMANA, DE ACORDO COM UM GRANDE NúMERO DE
COISAS DO MUNDO, PODE PERCEBER OU CONCLUIR, SE QUISER, QUE HÁ UM
DEUS E QUE ÊLE É UM.
Esta verdade pode ser confirmada por inúmeras c coisas do Mundo visível. Com efeito, o
Universo é como um Teatro no qual se apresentam contInuamente Testemunhas de que há
um Deus, e que Êle é um. Mas para ilustrar êste assunto, narrarei êste Memorável do
Mundo Espiritual: Um dia, quando conversava com Anjos, chegaram alguns Noviços do
Mundo natural; logo que os vi, desejei-lhes uma vinda feliz e lhes contei sôbre o Mundo
Espiritual várias coisas que êles ignoravam; e depois da conversação lhes perguntei que
saber traziam consigo do Mundo sôbre Deus e sôbre a Natureza. Disseram-me: Eis nosso
saber: a Natureza opera tôdas as coisas que se fazem no Universo Criado; e que Deus,
depois da Criação, lhe deu e imprimiu esta faculdade e esta potência, Deus as sustentando
únicamente e as conservando a fim de que não pereçam; é por isso que tôdas as cousas que
existem, nascem e renascem sôbre a Terra são atribuídas hoje à Natureza. Mas respondi que
a Natureza por si mesma não opera cousa alguma, que é Deus que opera pela Natureza; e
como pedissem uma demonstração, eu lhes disse: Aquêles, que crêem na Divina Operação
em cada coisa da Natureza, podem, por um muito grande número de fatos que vêem no
Mundo, confirmar-se por Deus muito mais que pela Natureza: aquêles, com efeito, que se
confirmam pela Divina operação em cada cousa da Natureza, prestam atenção às
Maravilhas que percebem tanto na Produção dos Vegetais como na dos Animais: NA
PRODUÇÃO DOS VEGETAIS, no fato de que de uma semente muito pequena lançada em
terra sai uma raiz, pela raiz uma haste e sucessivainente ramos, galhos, folhas, flores, frutos
até novas sementes, absolutamente como se a Semente soubesse a sucessão ou o processo
pelo qual ela deve se renovar. Um homem racional pode pensar que o Sol, que é puro fogo,
sabe isso, ou que possa insinuar o seu calor e a sua luz que façam isso e que possa ter em
vista os usos? Quando o homem, cujo racional elevado, vê estas Maravilhas e as examina
atentamente, não pode deixar de pensar que elas vêm d'Aquele cuja Sabedoria é infinita,
por conseqüência de Deus; aquêles que reconhecem a Divina operação em cada uma das
cousas da natureza se confirmam também nisso, quando as vêem; aquêles, ao contrário, que
não a reconhecem, as vêem não com os olhos da razão na fronte, mas com os olhos no
occipute; são êstes que tiram dos sentidos do corpo tôdas as idéias do seu Pensamento e
confirmam as ilusões dos sentidos, dizendo: Não se vê o Sol operar tôdas essas cousas por
seu -calor e por sua luz? 0 que não se vê, o que é? Os que se confirmam pelo Divino
prestam atenção às Maravilhas que vêem nas Produções dos Animais; e para falar aqui
primeiro nas que estão nos Ovos, êles vêem aí o filhote escondido em seu germe, com tudo
o que é necessário para a formação e também com tudo que concerne ao crescimento após a
eclosão, até que se torne pássaro na forma da mãe. De mais, se prestarem atenção aos
Voláteis em geral, apresenta-se diante da mente que pensa profundamente, cousas que
produzem admiração: por exemplo, o fato de que nos menores como nos maiores, nos que
são invisíveis, como nos que são visiveís, isto é, nos mínimos insetos como nos pássaros e
nos animais maiores, há órgãos dos sentidos, que são a vista, o ouvido, o olfato, o gosto, o
tato e os órgãos dos movimentos, que são os músculos, pois êles voam e andam; como
também as vísceras aderentes ao coração e ao pulmão, que são postos em atividade pelos
cérebros. Aquêles que atribuem tudo à Natureza, vêem, é verdade, tais cousas, mas pensam
sómente o que elas são e dizem que a Natureza os produz; e dizem isso porque desviaram
sua mente de todo pensamento sôbre o Divino; e aquêles que se desviaram do Divino,
quando vêem as maravilhas da natureza, não podem pensar nelas racionalmente, nem com
mais forte razão, espiritualmente, mas pensam nelas sensualmente e materialmente; e então
pensam na natureza segundo a natureza e não acima da natureza, diferindo das bestas
únicamente no fato de gozar da racionalidade, isto é, de poderem compreender, se
quiserem. Aqueles que se desviaram de todo pensamento sôbre o Divino, e por isso se
tomaram sensuais-corporais não pensam que a vista do olho é tão grosseira e material, que
considera muitos pequenos insetos como uma única cousa obscura; e entretanto, cada
pequeno inseto foi organizado para sentir e para se mover; assim não refletem que êle foi
dotado de fibras e de vasos, de pequenos corações, de canais pulmonares, de pequenas
vísceras e de cérebros, e que estes órgãos foram tecidos com as mais puras substâncias que
existem na natureza; e que êstes, tecidos correspondem à vida no último grau, a qual põe
distintamente em ação as suas partes mais delicadas. Pois que a vista do olho é tão grosseira
que um grande, número de insetos, com as partes inúmeras que cada um encerra, aparecem
como um pequeno ponto obscuro, e que entretanto os que são sensuais pensam e julgam
segundo esta vista, vê-se claramente quanto sua Mente se tornou espessa, e por
conseguinte, em que obscuridade êles estão sôbre as cousas espirituais.
Cada um pelas cousas visíveis na Natureza pode se confirmar pelo Divino, se quiser; e
também se confirma aquêle que pensa em Deus e na Sua onipotência criando o Universo e
na Sua onipresença, conservando-o; por exemplo, quando vê os Voláteis do Céu; cada
espécie conhece seus alimentos e sabe onde estão, conhece os seus semelhantes pelo som e
pela vista; e entre os pássaros, êstes conhecem seus inimigos e seus amigos; sabem sob as
penas o lugar do acasalamento, formam casamentos, constroem com arte ninhos, aí
depositam seus ovos, os cobrem, sabem o tempo da incubação; e quando êste se escoa,
fazem sair da casca seus filhotes, que amam com ternura; reaquecem-nos sob suas asas,
preparam-lhes alimentos e lhes dão o biscate, isso, até que estejam em estado de agir por si
mesmos e de fazerem como êles. Quem quiser pensar no influxo Divino vindo pelo Mundo
Espiritual ao Mundo natural, pode ver este influxo nestas cousas; pode, também, se quiser,
dizer em seu coração: 0 Sol não pode dar tais ciências a êsses voláteis por seu calor e sua
luz pois o Sol, de que a Natureza tira sua origem e sua essência, é um puro Fogo e, por.
conseguinte, os efluxos de seu valor e de sua luz são absolutamente mortos; e assim podese concluir que tais cousas vêm do influxo Divino pelo Mundo espiritual aos últimos da
natureza.
Cada um pelas cousas visíveis na Natureza pode se confirmar pelo Divino, quando vê os
Vermes que, segundo o prazer de um certo amor, são levados e aspiram a mudar seu estado
terrestre para um estado que é análogo ao estado celeste, e para isso se arrastam para
lugares convenientes, se envolvem com uma cobertura, e assim se colocam em um útero
para renascer, e aí se tornam crisálidas, ninfas e por fim borboletas; e depois que sofrem a
Metamorfose segundo a sua espécie, foram decorados com asas magníficas, voam no ar
como em seu céu, ai folgam alegremente -e formam casamentos, põem ovos e provêm à sua
posteridade; e então se nutrem de alimento agradável e doce que tiram das flores. Entre os
que se confirmam no Divino pelas coisas visíveis na natureza, há algum que não veja nestes
seres como uma espécie de imagem do estado terrestre do homem e nesses mesmos seres,
como borboletas, uma espécie de Imagem do estado celeste? Aqueles que se confirmam
pela Natureza, veem, é verdade, estas maravilhas, mas, como rejeitaram para longe dêles o
estado celeste do homem, êles as chamam de puras operações da natureza.
Cada um pelas coisas visíveis na Natureza pode se confirmar no Divino quando presta
atenção a tudo que se conhece das Abelhas. Elas sabem recolher das rosas e das flores. a
cera, sugar delas o mel, construir células como pequenas casas, e dispôIas em forma de
cidades, com lugares pelos quais entram e pelos quais saem; sentem, de longe, o perfume
das flores e das ervas de que recolhem a cêra e o mel para a alimentação; e quando estão
carregadas, voltam segundo a plaga para suas colméias e provêm assim a sua alimentação
para o inverno seguinte, como se o previssem; põem também à sua testa como Rainha uma
soberana, pela qual a posteridade deve ser propagada e para a qual constroem uma espécie
de palácio acima de suas células, colocando sentinelas ao redor; quando chega o tempo da
postura a Rainha, acompanhada de satélites, que são chamados Falsos burbões, vai de
célula em célula e põe ovos, que o bando que a segue cerca de um reboco, para que não seja
alterado pelo ar; dai para elas uma raça nova; mais tarde, quando esta geração chegou à
idade necessária para poder fazer os mesmos trabalhos, é expulsa da colméia; e a princípio
o enxame se reúne em bando, a fim de que a consociação não seja rompida e em seguida
voa em busca de um domicílio; no Outono, êstes falsosburbões, não tendo contribuído em
nada para a colheita da Cera e do mel, são postos fora e privados de suas asas, para que não
voltem e não consumam os alimentos para cujo aprovisionamento não cooperaram em
cada. Ocorrem ainda vários outros fatos notáveis. Por isso se pode ver que é em razão do
Uso prestado por elas ao Gênero Humano que recebem no influxo Divino pelo Mundo
Espiritual uma forma de govêrno tal como existe entre os homens, na Terra, e mesmo entre
os Anjos nos Céus. Qual é o homem provido de uma razão sã, que não vê que tais cousãs
nesses insetos não vêm do Mundo Natural? 0 que é que o Sol, donde provém a Natureza,
tem de comum com um governo semelhante e análogo ao Govêrno Celeste? De acôrdo com
estas observações e outras semelhantes entre as bestas brutas, aquêle que reconhece e adora
a Natureza se confirma pela Natureza, enquanto que aquéle que reconhece e adora Deus se
confirma em Deus pois o homem Espiritual vê aí cousas espirituais; e homem Natural ai vê
cousas naturais, assim cada um segundo que êle mesmo é. Quanto ao que me concerne, tais
observações têm sido para mim testemunhas do Influxo procedente de Deus pelo Mundo
Espiritual, ao Mundo Natural. Que se examine se, a respeito de alguma Forma de govêrno
ou de alguma Lei civil ou de alguma Virtude moral ou de alguma Verdade espiritual, 6
possível pensar analiticamente, a menos que o Divino, pela Sabedoria influa pelo Mundo
Espiritual; quanto ao mim, isso me tem sido e me é impossível; com efeito, tenho notado
êste influxo de uma maneira perceptível e sensível há vinte e oito anos contInuamente; falo
disso portanto segundo um testemunho certo.
A Natureza pode ter por fim o Uso e dispor os usos nas ordens e nas formas? Só a
Sabedoria o
pode fazer; e só Deus em Quem a Sabedoria é Infinita, é que pode assim ordenar e formar o
Universo; quem mais pode prever para os homens o que é necessário à alimentação e à
roupa e prover a isso; à alimentação pela seara dos campos e pelos frutos da terra e pelos
animais; às roupas,, pelas produções da terra e por estes mesmos animais? Não é uma
maravilha que êstes feios insetos, que se chamam Bichos da sêda, forneçam vestimentas e
decorem com magnificência as mulheres e os homens, desde as Rainhas e o Reis até às
camareiras e aos criados; e que êstes minúsculos insetos que se chamam Abelhas, forneçam
a cera para a luz que enche de esplendor os Templos e os Palácios? Estas cousas e várias
outras são provas existentes de que Deus de Si mesmo pelo Mundo Espiritual opera o que
se faz na Natureza.
A isso devo ajuntar que no Mundo Espiritual, vi aquêles que, pelas cousas visíveis do
Mundo, se tinham confirmado pela Natureza até se tornarem ateus, e que seu Entendimento
na Luz espiritual me apareceu aberto por baixo, mas fechado por cima; e isso, porque pelo
pensamento, êles olham para baixo na direção da Terra, e não para cima em direção ao Céu
acima do sensual, que é o ínfimo do entendimento, aparecia como que um vês brilhando
pelo fogo infernal, em alguns negro como a fuligem e em outros, lívido como um cadáver.
Que cada um se guarde portanto de confirmações pela Natureza, mas que se confirme por
Deus, pois os meios não faltam.
&13 - VI. SE NAO HOUVESSE UM úNICO DEUS, 0 UNIVERSO NAO TERIA
PODIDO SER CRIADO NEM SER CONSERVADO.
Se da criação do Universo se pode concluir a unidade de Deus é porque o Universo é uma
obra coerente como um desde os primeiros até aos últimos e depende de um único Deus,
como o corpo depende de sua alma; o Universo foi criado a fim de que Deus pudesse estar
onipresente, manter sob seu auspicio tôdas e cada uma das cousas que o compõem, e
sustentá-lo perpètuamente como um, o que é conservar. E' por isso também que Jehovah
Deus disse que Êle é o "Primeiro e o último, o Começo e o Fim, o Alfa e o Ômega" (Isaías
XLIV, 6 e Apoc. 1, 8 e 17); e em outro lugar: "Que Êle fêz tôdas as coisas; que Êle
desdobra os Céus e estende a Terra por si mesmo" (Isaías XLIV, 24). Este grande sistema
que se chama Universo, é uma obra coerente como um desde os primeiros até aos últimos,
porque Deus criando-o teve em vista um único Fim, que era o Céu angélico formado do
Gênero Humano; e os Meios para esse fim são tôdas as cousas de que o Mundo se compõe
pois quem quer fim quer também os meios; aquêle portanto que contempla Mundo como
uma Obra que contém os meios para este fim, pode contemplar o Universo criado como
uma obra coerente como um, e pode ver que o Mundo é um encadeamento de usos de
ordem sucessiva para o Gênero Humano, de que se forma o Céu Angélico; o Divino Amor
não pode ter em vista um outro fim que não seja a Beatitude eterna dos homens decorrente
do Seu Divino, e Sua Divina Sabedoria não pode produzir outra cousa que não seja usos e
meios para êste fim. Examinando o Mundo nesta idéia universal, todo homem sábio pode
compreender que o Criador do Universo é um, e que Sua Essência é o Amor e a Sabedoria;
e por isso que não existe no mundo um singular no qual não haja escondido, de perto ou de
longe, um uso para o homem, seja para sua alimentação pelos frutos da terra e também
pelos animais, seja para sua vestimenta por estas mesmas cousas. E, como foi dito, está no
número das maravilhas que êstes insignificantes insetos, que se chamam Bichos da seda,
forneçam vestimentas e decorem com magnificência, as mulheres e os homens, desde as
Rainhas e os Reis até às camareiras e aos criados; e que êstes outros insetos, que se
chamam Abelhas, forneçam a cera para a luz que enche de esplendor os Templos e os
Palácios. Aquêles que examinam no Mundo por alguns objetos, isoladamente, e não o todo
universalmente na série em que estão os fins, as causas médias e os efeitos, e que não
deduzem que a Criação provém do Divino Amor pela Divina Sabedoria, não podem ver
que, o Universo é Obra de um único Deus, nem que este Deus habita em cada um dos usos,
porque Ele está nos fins. Com efeito quem está no fim está também nos meios; pois em
todos os meios há Intimamente o fim, que põe em ação e dirige os meios. Aquêles que
contemplam o Universo não como uma obra de Deus, nem como a habitação de Seu Amor
e de Sua Sabedoria, mas como a Obra da Natureza e como a habitação do calor e da luz do
sol, fecham os superiores de sua mente para Deus e abrem os inferiores de sua mente para o
diabo, e por conseguinte despem o Humano e se revestem do bestial, e não sómente se
acreditam semelhantes às bêstas, mas se tornam como tais; com efeito, se tomam raposas
quanto à astúcia, lobos quanto à ferocidade, leopardos quanto à velhacaria, tigres quanto à
crueldade, crocodilos, serpentes, mochos e corujas quanto à natureza destas bêstas. Os que
são tais aparecem também de longe, no Mundo Espiritual, semelhantes a êsses animais; o
amor do seu mal toma assim esta forma.
&14 - VII. 0 HOMEM QUE NAO RECONHECE DEUS É EXCOMUNGADO DA
IGREJA E DANADO.
Se o homem que não reconhece Deus é excomungado da Igreja, é porque Deus é o tudo da
Igreja e porque os Divinos que são chamados Teológicos, fazem a Igreja, por isso a
negação de Deus é a negação de tôdas as cousas da Igreja; e esta negação mesma o
excomunga. Se este homem é danado, é porque estando excomungado da Igreja, êle é
também excomungado do Céu; pois a Igreja na Terra e o Céu angélico fazem um, como o
Interno e o Externo, como o Espiritual e o Natural no homem; e o homem foi criado por
Deus a fim de que esteja quanto a seu Interno no Mundo Espiritual e quanto a seu Externo
no Mundo Natural; por conseqüência foi criado indígena de um e de outro Mundo, a fim de
que o espiritual que pertence ao Céu seja implantado no natural que pertence ao Mundo,
como acontece com uma semente que é posta na terra, e que assim o homem exista e dure
eternamente. 0 homem que, pela negação de Deus, se excomunga da Igreja e, por
conseqüência do Céu, fecha o homem interno nêle quanto à vontade, assim quanto a seu
amor nativo, pois a vontade do homem é o receptáculo de seu amor e torna-se a sua
morada; entretanto, êle não pode fechar seu homem interno quanto ao Entendimento, pois
se o pudesse e fizesse, o homem não seria mais homem; mas o amor de sua vontade enfátua
pelos falsos os superiores do entendimento; daí o Entendimento torna-se fechado quanto
aos veros que pertencem à fé e quanto aos bens que pertencem à cari--dade; assim êle é
cada vez mais contra Deus e ao mesmo tempo contra os espirituais da Igreja; e por
conseqüência é excluído. da comunhão com os Anjos do Céu; desde que é excluído, se põe
em comunicação com os Satanases do inferno, e seu pensamento faz um com o dêles; ora
os Satanases negam Deus e pensam loucamente de Deus e dos espirituais da Igreja;
acontece o mesmo com o homem conjunto com êles; quando êste está no seu Espírito, o
que acontece quando em sua casa, entregue a si mesmo, deixa seus pensamentos serem
dirigidos pelos prazeres do mal e do falso que concebeu e deu à luz nêle, pensa. então de
Deus que Èle não existe e que não é mais que uma palavra que retumba nas catedrais para
prender o povo à obediência às leis da justiça que concernem à Sociedade; e além disso
Pensa que a Palavra, segundo a qual os ministros falam, de Deus, é um amontoado de
sonhos que, pela Autoridade, foram revestidos de Santidade; que o Decálogo ou Catecismo
6 um livrinho que, depois de ter sido usado pelas mãos das crianças, deve ser posto de lado,
pois prescreve honrar os pais, não matar, não cometer adultério, não roubar, não dar falso
testemunho; e não há ninguém que não saiba isso pela lei civil. A respeito da Igreja,
pensam que é únicamente uma reunião de pessoas simples, fáceis de crer, e pusilânimes,
que vêem o que êles não vêem; a respeito do homem e dêle mesmo como homem, pensa da
mesma maneira que a respeito das bestas; e sôbre a vida depois da morte, da mesma
maneira que sôbre a, vida da bêsta quando é morta. Assim pensa seu homem Interno,
qualquer que seja a diferença que haja na linguagem de seu homem Externo; pois, como foi
dito, cada homem tem um Interno e um Externo; e seu Interno constitui o homem que 6
chamado Espírito e que vive depois da morte, e seu Externo, segundo o qual por
moralidade agiu como hipócrita, é sepultado; e então por causa da negação de Deus êle se
torna um danado. Todo homem, quanto a seu Espírito, é consociado a seus semelhantes no
Mundo Espiritual, e é por assim dizer, um com êles; e muito freqüentemente me foi dado
ver ai nas Sociedades, Espíritos de homens ainda vivos, alguns em Sociedades Angélicas e
alguns outros em Sociedades infernais; e também me foi dado falar durante dias inteiros
com eles e eu ficava admirado de que o homem mesmo, vivendo ainda em seu corpo, nada
soubesse absolutamente: por isso eu vi claramente que aquêle que nega Deus, está já entre
os danados e que depois da morte é recolhido entre os seus.
&15 - VIII. NADA DA IGREJA ESTA EM COERÊNCIA NO HOMEM QUE
RECONHECE, NAO UM Só, MAS VÁRIOS DEUSES.
Aquêle que reconhece de fé e adora de coração um único Deus, está na comunhão dos
Santos nas Terras e na comunhão dos Anjos nos Céus; estas assembléias são chamadas
comunhões; e o são porque aquêles que as compõem estão em um único Deus e um único
Deus está nêles; e ousarei dizer, com todos e com cada um, pois êles são todos como os
filhos e os descendentes de um único Pai; suas mentes, seus costumes e suas faces são
semelhantes, o que faz com que se conheçam mútuamente. 0 Céu Angélico foi coordenado
em Sociedades segundo todas as variedades do amor do bom, variedades que tendem a um
só Amor muito universal, o amor a Deus; por èste Amor foram propagados todos aquêles
que reconhecem de fé e de coração um único Deus, Criador do Universo e, ao mesmo
tempo, Redentor e Regenerador. Mas é diferente com aquêles que procuram e adoram, não
um único Deus, mas vários deuses, quer isso aconteça pelo fato de adorarem um de boca e
três pelo pensamento, como fazem na Igreja de hoje aqueles que distinguem Deus em três
Pessoas e declaram que cada Pessoa é Deus por si mesma; e atribuem a cada uma
qualidades separadas ou propriedades que não pertencem a um outro; o que faz com que
não sómente a unidade de Deus é na realidade dividida, mas semelhantemente também a
teologia mesma e a mente humana em que ela deve estar. Que resulta daí nas cousas da
Igreja, senão a perplexidade e a incoerência? No Apêndice que seguirá esta Obra, será
demonstrado que tal é o estado da Igreja de hoje. E uma verdade que a divisão de Deus ou
da Essência Divina em três Pessoas, das quais cada uma por si mesma ou separadamente é
Deus, conduz à negação de Deus; é como alguém que entra em um Templo para adorar e
que vê sobre o Altar um Quadro representando um Deus como o Ancião dos dias, um
Segundo Deus como Soberano Pontífice e um Terceiro como Éolo voando; e em baixo esta
inscrição: Éstes três são um único Deus; ou talvez como se ai se visse a Unidade e a
Trindade representadas como um homem com três Cabeças sôbre um único corpo, ou com
três corpos sob uma única Cabeça, o que é uma forma monstruosa. Se alguém entrasse com
essa idéia no Céu seria certamente precipitado de lá, -ainda mesmo que dissesse que a
Cabeça ou as Cabeças significavam a Essência e o Corpo ou os Corpos, as Propriedades
distintas.
&16 - Ao que acaba de ser dito ajuntarei um Memoravel Vi alguns Espíritos recentemente
chegados do Mundo Natural ao Mundo Espiritual, que falavam entre si das Três Pessoas
Divinas de toda a eternidade; tinham sido Cônegos e um dêles, Bispo; êles me abordaram e
depois de lhes haver falado um instante sôbre o Mundo Espiritual, de que antes não tinham
conhecimento algum, eu lhes disse: Eu vos ouvi falar de três Pessoas Divinas de toda a
eternidade; peço-vos para desvendar este grande Mistério segundo as idéias que adquiriste
no Mundo Natural donde viestes recentemente; e então o Primaz, encarandome, disse: Vejo
que és leigo; abrirei pois as idéias do meu pensamento sôbre êste grande Mistério e o
ensinarei. As minhas idéias foram e são ainda que Deus o Pai, Deus o Filho e Deus o
Espírito Santo estão assentados no meio do Céu sôbre três Poltronas ou Tronos magníficos
e elevados; Deus o Pai, sôbre um Trono de ouro fino com Cetro na mão; Deus o Filho, à
direita do Pai, sôbre um Trono de prata muito pura, com uma coroa na cabeça; e Deus o
Espírito Santo perto deles sôbre um Trono de cristal resplandescente, tendo uma Pomba na
mão; que em torno dêles, em tríplice fileira, brilham pelo esplendor de pedras preciosas,
lâmpadas suspensas; e que longe deste Círculo se mantém uma quantidade inumerável de
Anjos que adoram e glorificam; que além disso, Deus o Pai e Seu Filho conversam
continuamente sôbre os que devem ser justificados e que, entre êles, determinam e decidem
quais são nas Terras os que seriam dignos de ser recebidos entre os Anjos e ser coroados
com a vida eterna; que Deus o Espírito Santo, logo que ouve pronunciar seus nomes, se
dirige prontamente para o Globo da Terra em direção a êles, levando consigo os dons da
justiça, outras tantas seguranças de salvação para aquêles que devem ser justificados; e
desde que chega e insufla, dissipa os pecados como um ventilador expulsa a fumaça de uma
fornalha e a branqueia, tira também de seus corações as durezas da pedra, lhes dá as
branduras da carne e, ao mesmo tempo, renova seus Espíritos ou suas mentes, os engendra
de nôvo e lhes dá fisionomias infantis; enfim, marca suas frontes com o sinal da cruz e os
chama eleitos e filhos de Deus. Terminado este discurso, êste Primaz me disse: E' assim
que desvendei êste grande Mistério no Mundo; e como a maior parte dos membros de nossa
Ordem aplaudiram as minhas palavras, estou persuadido de que tu também, que és leigo,
acredites nelas. Depois do Primaz ter pronunciado estas palavras, eu o encarei atentamente,
assim como os Cônegos que estavam com êle e notei que lhe davam todo assentimento,
comecei pois a responder e disse: Examinei bem o enunciado da tua fé e concluí dêle que te
formaste e reténs, com prazer sôbre Deus Trino uma idéia absolutamente natural e sensual e
mesmo material, da qual decorre inevitàvelmente a idéia de três deuses; não é pensar
sensualmente de Deus o Pai assentá-lo sôbre um Trono com um Cetro na mão; e do Filho
assentá-lo sôbre seu Trono com uma coroa na cabeça; e do Espírito Santo, colocá-lo sôbre o
seu com uma Pomba na mão e fazê-lo percorrer o Globo da Terra segundo o que foi
ouvido? E visto como uma tal idéia resulta disso, eu não posso acreditar em tuas palavras;
com efeito, em minha infância não pude admitir em minha mente outra idéia que não fosse
a de um único Deus e como eu a admito sómente e a retenho, tudo o que disseste se dissipa
em mim; e então vi que pelo Trono sôbre o qual, segundo a Escritura, se diz que Jehovah se
assenta, entende-se o Reino, pelo Cetro e a Coroa, o Governo e a Dominação; por sentar-se
à direita, a Onipotência de Deus por Seu Humano; e por tôdas as cousas que são ditas do
Espírito Santo, as operações da Divina Onipresença; toma, se te agrada, a idéia de um único
Deus, gira-a bem no teu Raciocínio e aprenderás, enfim, com clareza, que isso é assim.
Vós, é verdade, dizeis dessa forma que Deus é um, e isso, porque fazeis uma, e também
indivisível, a Essência dessas Três Pessoas; mas não permitis que alguém diga que êste
Deus único é uma Pessoa, quereis ao contrário, que haja três; e fazeis isso a fim de que a
idéia de três Deuses, tal como é a vossa, não pereça; e atribuis também a cada uma delas,
uma propriedade separada da outra. Não é dessa maneira dividir a vossa Essência Divina?
Pois que isto é assim, como podeis dizer e ao mesmo tempo pensar que Deus é um? Eu vôlo perdoaria se dissesses que o Divino é um. Como alguém, quando ouve dizer: 0 Pai é
Deus, o Filho é Deus, o Espírito Santo é Deus e cada pessoa-, em particular, é Deus, pode
pensar que não há senão um Deus? Não é uma contradição em que jamais é possível
acreditar? Que se possa dizer não um único Deus, mas um semelhante Divino, isso pode ser
ilustrado assim: de vários homens que formam em conjunto um Senado, um Consistório ou
um Concílio, não se pode dizer que são um único homem; mas quando sôbre tôdas as
cousas em geral e em particular há uma única opinião, pode-se dizer que eles têm um único
sentimento; não se pode dizer também de três diamantes de uma mesma substância que são
um único Diamante, mas pode-se dizer que são um quanto à substância e também que cada
diamante difere do outro pelo preço de acordo com seu pêso próprio; entretanto, não
acontece o mesmo, se há um só e não três. Mas eu percebo por que dizeis que as três
Pessoas Divinas, das quais cada uma por si mesma ou em particular é Deus, são um único
Deus, e por que prescreveis a cada membro da Igreja que fale assim. E' porque uma Razão
esclarecida e sã reconhece em todo Universo que não há senão um Deus e que, em
conseqüência, seríeis cobertos de vergonha se não tivésseis também a mesma linguagem;
mas não obstante quando pronunciais um único Deus, embora penseis três, esta vergonha
não retém estas duas palavras na boca, mas vós as enunciais. 0 Bispo, depois de ouvir o que
eu acabava de dizer, se retirou com os Cônegos e retirando-se, êle se voltou e quis
exclamar: Não há senão um Deus; mas não o pôde porque seu pensamento reteve sua
língua e então êle pronunciou abertamente: Há três deuses. Vendo êste efeito prodigioso, os
assistentes riram desenfreadamente e foram embora.
&17 - Em seguida perguntei onde encontraria entre os eruditos, os que têm mais penetração
e que opinam pela Divina Trindade dividida em três Pessoas; e se apresentaram três dêles
aos quais eu disse: Como podeis dividir a Trindade Divina em três Pessoas e sustentar que
cada Pessoa por si mesma ou em particular é Deus e Senhor? Não acontece assim que a
confissão de boca, que Deus é um, fica afastada do pensamento como o Meio-Dia está
longe do Setentrião? A isso responderam: Ela não é de modo algum afastada déle porque as
três Pessoas têm uma única Essência e porque a Divina Essência é Deus; fomos no Mundo
os Tutôres da Trindade de Pessoas, e o Pupilo de que geramos a tutela era a nossa fé, na
qual cada Pessoa Divina obteve sua parte: Deus Pai teve em partilha imputar e dar; Deus
Filho interceder e ser mediador e Deus Espírito Santo efetuar os usos da Imputação e da
Mediação. Mas, perguntei eu: que entendeis por Divina Essência? Éles responderam:
Entendemos a Onipotência, a Onisciência e a Onipresença, a Imensidade, a Eternidade, a
Igualdade de Majestade. Então eu lhes disse: Se esta Essência faz de vários Deuses um só,
podeis ainda ajuntar-lhe vários; por exemplo, um quarto de que fala em Moisés, em
Ezequiel e em Job e que é chamado Deus Schaddai; foi assim que na Grécia e na Itália
agiram os Antigos, que distribuíram atributos semelhantes e, por conseqüência, uma
essência semelhante a seus deuses, como Saturno, Júpiter, Plutão, Apolo, Juno, Diana,
Minerva e até mesmo Mercúrio e Vênus, mas acontece que nunca puderam dizer que todos
êsses deuses eram um só Deus; e vós também, que sois três, e como percebo, tendo uma
semelhante erudição e, portanto, uma semelhante essência quanto à erudição, não podeis
entretanto vos combinar em um único homem erudito. Mas (ouvindo) a estas palavras, êles
se puseram a rir, dizendo: E' uma brincadeira; é completamente diferente a Essência
Divina; esta é uma e não tripartida; é indivisível -e, portanto, não dividida; a partilha e a
divisão não se aplicam, a ela. Quando ouvi estas palavras repliquei: Desçamos a esta arena
e combatamos; e lhes perguntei: Que entendeis pela palavra Pessoa e que significa esta
expressão? E êles disseram: 0 nome Pessoa significa, não uma parte ou uma qualidade em
um outro, mas o que subsiste própriamente; assim é definida a palavra Pessoa por todos os
chefes da Igreja e por nós com êles. E eu disse: E' essa a definição da palavra Pessoa? E
êles responderam: Sim. Então, eu lhes disse: não há parte alguma do Pai no Filho, nem
parte alguma de um e de outro no Espírito Santo; do que resulta que cada um é senhor de
seu arbítrio, de seu direito e de seu poder e, portanto, nada há que conjunte, senão a vontade
que é própria de cada um e por conseqüência comunicável segundo o bel-prazer; as três
Pessoas não são assim três deuses distintos? Escutai ainda: Destes também por definição da
Pessoa, que é o que subsiste própriamente; por conseqüência há três substâncias em que
partilhais a Essência Divina; e, entretanto, esta Essência, como o dissestes também é
impartilhável, porque é uma, indivisível; e além disso, a cada substância, isto é, a cada
Pessoa, vós atribuis propriedades que não estão em uma outra e que não podem tampouco,
ser comunicadas a uma outra, a saber, a Imputação, a Mediação e a Operação; então que
resulta daí, senão que as três Pessoas são três Deuses? A estas palavras êles se retiraram,
dizendo: Agitaremos estas questões; depois do exame responderemos. Um sábio, que
estava presente, tendo ouvido esta discussão, lhes disse: Não quero considerar êste assunto
sublime através de tramas tão sutis, mas fora destas sutilezas, vejo em uma luz clara que
nas idéias de vosso pensamento há três deusfs; mas como há pudor ,em expor estas idéias
diante do Mundo inteiro, pois se as publicásseis seríeis chamados de insensatos e loucos,
importa, por-tanto, para evitar a ignomínia que confesseis de bÔca um único Deus.
Entretanto, êstes três eruditos que mantinham com teimosia a sua opinião, não prestaram
atenção alguma às palavras do sábio, e indo embora pronunciavam murmurando alguns
termos tirados da metafísica; o que me fêz notar que esta ciência era o tripé de onde
queriam dar as respostas.
&18 DO DIVINO SER, QUE E JEHOVAH
18 - Trata-se primeiro do Divino Ser e em seguida tratarse-á da Divina Essência; parece
que há entre os dois uma identidade perfeita, mas acontece contudo que o Ser é mais
Universal do que a Essência, pois a Essência supõe o Ser; é segundo o Ser que há a
Essência; o Ser de Deus ou o Ser Divino não pode ser descrito porque está acima de toda
idéia do pensamento humano; só o criado e o finito é que cabem neste pensamento, mas o
Incriado e o Infinito não cabem nêle, nem por conseqüência o Ser Divino; o Ser Divino é o
Ser mesmo segundo o qual tôdas as cousas são e que deve estar em tôdas as cousas para
que sejam. Uma visão mais completa sôbre o Ser Divino pode decorrer dos Artigos
seguintes:
I - ÊSTE DEUS UM E' CHAMADO JEHOVAH SEGUNDO 0 SER, POR
CONSEQÜÊNCIA PORQUE Só ÊLE E', FOI E SERA E PORQUE E' 0 PRIMEIRO E 0
ÚLTIMO, 0 COMÊÇO E 0 FIM, 0 ALFA E 0 ÔMEGA.
II - ÊSTE DEUS UM E' A SUBSTANCIA MESMA E A FORMA MESMA; E OS
ANJOS E OS HOMENS SÃO SUBSTANCIAS E FORMAS SEGUNDO ÊLE; E TANTO
QUANTO ESTÃO N'ELE E ÊLE NELES SÃO IMAGENS E SEMELHANÇAS.
III - 0 DIVINO SER E' 0 SER EM SI E, AO MESMO TEMPO, 0 EXISTIR EM SI.
IV - 0 DIVINO SER E EXISTIR EM SI NAO PODE PRODUZIR UM OUTRO DIVINO
QUE SEJA 0 SER E 0 EXISTIR EM SI, POR CONSEQÜÊNCIA UM OUTRO DEUS DA
MESMA ESSÊNCIA NAO E' ADMISSIVEL.
V - A PLURALIDADE DE DEUSES NOS SÉCULOS ANTIGOS E TAMBÉM EM
NOSSOS DIAS Só EXISTIU PORQUE NAO SE COMPREENDEU 0 DIVINO SER.
Cada um dêstes artigos vai ser explicado separadamente.
&19 - I. ÊSTE DEUS UM E' CHAMADO JEHOVAH SEGUNDO 0 SER; POR
CONSEQÜÊNCIA PORQUE Só ÊLE E', FOI E SERA E PORQUE E' 0 PRIMEIRO E 0
ÚLTIMO, 0 COMÊÇO E 0 FIM, 0 ALFA E 0 ÔMEGA.
Que Jehovah significa EU SOU e o SER, isso é sabido; e que Deus desde os tempos
antiquíssimos tem sido chamado assim, isto consta do Livro da Criação, ou segundo o
Genesis, onde noPrimeiro Capítulo Êle é chamado Deus; e no Segundo Capítulo e nos
seguintes, Jehovah Deus; e mais tarde, quando os descendentes de Abrahão procedentes de
Jacob tinham esquecido o nome de Deus durante a sua residência no Egito, éle lhes foi
relembrado à memória; assim se fala disso: "Moisés disse a Deus: Qual (é) teu Nome? Deus
disse: EU SOU 0 QUE (E) EU SOU. Assim dirás aos filhos de Israel: Eu Sou me enviou a
vós e dirás: Jehovah, o DEUS de vossos Pais, me enviou a vós; "este é meu nome pela
eternidade e "este meu Memorial de geração em geração" (Êxodo 111, 14 e 15). Pois que
Deus só é EU SOU e o SER ou Jehovah, nada há no Universo criado que não tire seu ser
d'Êle; mas como? E' o que veremos abaixo; a mesma coisa é também entendida por estas
palavras: "Eu sou o Primeiro e o último, o Comêço e o Fim, o Alfa e o Ômega'' (Isaías
XLIV, 15; Apoc. 1, 8 e 11; XXII, 13); o que significa Aquele que desde os primeiros até os
últimos é o Mesmo e o único de Quem tôdas as cousas procedem. Se Deus é chamado o
Alfa e o Ômega, o Comêço e o Fim, é porque o Alfa é a primeira e o Ômega, a. última letra
do Alfabeto Grego e, por conseguinte, significam tôdas as cousas no complexo; isto
provém de que cada Letra Alfabética, no Mundo Espiritual, significa alguma coisa e que as
Vogais, porque servem ao som, significam alguma coisa da. afeição ou do amor; desta
origem procede a língua Espiritual ou Angélica, e também a Escrita no Mundo Espiritual.
Mas isso. é um Arcano desconhecido até ao presente; há, com efeito, uma Língua Universal
de que se servem todos os Anjos e todos os Espíritos e que nada tem de comum com
qualquer Língua dos homens no Mundo; todo homem depois da morte possui esta Língua,
pois ela é inata em cada homem por criação; é por isso que em todo Mundo Espiritual cada
um pode compreender o que diz um outro; muito freqüentemente me foi dado ouvir esta
Língua e reconheci que ela não tem mesmo conformidade na, mínima cousa com nenhuma
Língua natural da Terra; difere delas pelo seu primeiro princípio, que consiste em que cada
letra de cada palavra significa alguma cousa. E' por isso que Deus é chamado o Alfa e o
Ômega, o que significa que desde os primeiros até aos últimos Êle é o Eu Mesmo e o único,
de Quem tôdas as coisas procedem; mas sôbre esta Língua e sôbre sua Escrita, que
decorrem do pensamento Espiritual dos Anjos, ver no Tratado do AMOR CONJUGAL, os
ns. 326 e 329, e também. no que segue.
&20 - II. ÊSTE DEUS UM E' A SUBSTANCIA MESMA E A FORMA MESMA; E OS
ANJOS E OS HOMENS SÃO SUBSTANCIAS E FORMAS POR ÊLE; E QUANTO
MAIS ELES ESTÃO NÊLE E ÊLE NÊLES, TANTO MAIS SÃO IMAGENS E
SEMELHANÇAS. Pois que Deus é o Ser, é também a Substância; com efeito, o Ser, se
não tem substância, é um ser de razão, pois a substância é o ser subsistindo (ens subsistens);
e aquêle, que é a substância é também a forma, pois a substância se não tiver forma, será
um ser de razão; uma e outro podem pois se dizer de Deus, mas neste sentido que Êle é a
Substância única, a Substância mesma, a Substância primeira e a forma única, a Forma
mesma, a Forma primeira. Que esta Forma seja a Forma Humana mesma, isto é, que Deus
seja Homem Mesmo, em que tudo é infinito, é o que foi demonstrado na Sabedoria
Angélica sôbre o Divino Amor e a Divina Sabedoria, publicada em Amsterdam em 1763;
foi da mesma forma demonstrado que os Anjos e os Homens são substâncias e formas
criadas e organizadas para receber os Divinos que influem nêles pelo Céu; é por isso que,
no Livro da Criação, êles são chamados Imagens e Semelhanças de Deus (Genesis 1, 26 e
27); e em outra parte se diz que êles são filhos de Deus e nascidos de Deus; mas no curso
desta Obra será demonstrado em vários lugares, que quanto mais o homem vive sob o
auspício Divino, isto é, se deixa conduzir por Deus, tanto mais se torna mais e mais
interiormente a imagem de Deus. Se não se forma de Deus a idéia de que Êle é a primeira
Substância e a primeira Forma, e que Sua Forma é a Forma Humana, as Mentes Humanas
facilmente podem introduzir nelas fantasias como espectros sôbre Deus ¥esmo,, sôbre a
origem dos homens e sôbre a criação do Mundo; sôbre Deus, não ter outra noção que não
seja como da Natureza do universo em seus primeiros, assim como da Extensão da
Natureza ou como do vazio ou do nada; sôbre a origem dos homens não ter noção senão
como do concurso fortuito dos elementos na forma humana; sôbre a Criação do Mundo,
imaginar que a origem das substâncias e das formas vem de pontos e em seguida de linhas
geométricas que, não tendo atributo algum,
nada são por conseqüência em si mesmas; em tais homens tudo o que pertence à Igreja é
como o Estige, ou como a obscuridade do Tártaro.
&21 - 111. 0 DIVINO SER E' 0 SER EM SI E, AO MESMO TEMPO, 0 EXISTIR EM SI.
Se Jehovah Deus é o Ser em Si, é porque Êle é EU SOU, o EU mesmo, o único e o
Primeiro de toda a eternidade a toda eternidade, pelo qual é tudo o que é para ser alguma
cousa; é assim e não de outro modo, que Êle é o Comêço e o Fim, o Primeiro e o último, o
Alfa e o Ômega; não se pode dizer que Êle é Seu Ser de Si, porque êste de Si supõe um
anterior e assim o tempo, o que não é admissível no Infinito que se chama de toda
eternidade (ab eterno] e supõe também um outro Deus em Si, assim supõe Deus de Deus
(Deus a Deo), ou que Deus se formou a Si mesmo; e assim não seria nem Incriado nem
Infinito porque se finaliza por si mesmo ou segundo um outro. Pelo fato de que Deus é o
Ser em SI, segue-se que Êle é o Amor em Si, a Sabedoria em Si e a Vida em Si e é o Eu
Mesmo pelo qual tôdas as cousas são, e ao qual tôdas as coisas se ,referem para serem
alguma cousa; que Deus seja a vida em ai; e assim Deus, vê-se pelas palavras do Senhor em
João, Cap. V, a 6; e em Isaías: "Eu Jehovah, faço tôdas as cousas, desdobrando os Céus e
estendendo a Terra por Mim mesmo" (XLIV, 24). E, se diz que Êle Só é Deus e que exceto
Êle não há Deus Isaías XLV, 14, 15, 21, 22; Hoséas XIII, 4). Se Deus é não somente o Ser
em SI, mas também o Existir em Si, é porque a -não ser que exista, não é alguma cousa; e
do mesmo modo o Existir, a não ser que seja segundo o Ser; é por isso que, um sendo dado,
o outro deve ser dado; semelhantemente, se a substância não tem também uma forma; da
Substância, se ela não tem uma forma, nada se pode dizer; e esta, não tendo qualidade, nada
é em si. Se é dito aqui, Ser e Existir e não Essência e Existência, é porque é preciso
distinguir entre o Ser e a Essência; e por conseqüência, entre o Existir e a Existência, como
entre o anterior e o posterior. Ao Divino Ser se aplicam a Infinidade e a Eternidade;
enquanto que à Divina Essência e à Divina Existência se aplicam o Divino Amor e a Divina
Sabedoria; e por êstes dois a Onipotência e a Onipresença, de que conseqüentemente será
tratado em sua ordem.
&22 - Que Deus seja o Eu Mesmo, o unico e o Primeiro, que é chamado o Ser em Si e o
Existir em Si, de que procedem tôdas as cousas que são e existem, é o que o homem
Natural não pode de modo algum descobrir, pois o homem Natural por sua razão não pode
perceber senão o que pertence à Natureza; com efeito, o que pertence à Natureza adapta-se
à sua essência, porque nela não entrou nenhuma outra coisa desde a sua infância e a sua
juventude; mas como o homem foi criado para ser Espiritual também, porque deve viver
depois da morte e estar então entre Espirituais em seu Mundo, é por isso que Deus em Sua
Providência deu urna Palavra, na qual ' não sómente Êle se revela a Si Mesmo, mas na qual
também revela que há um Céu e um Inferno e que todo homem deve viver eternamente em
um ou no outro, cada um segundo sua vida e, ao mesmo tempo, segundo sua fé. Deus
revelou também na Palavra que Êle é Eu Sou ou o Ser e Êle Mesmo e o único que é em Si,
e assim o Primeiro ou o Princípio donde procedem tôdas as coisas. E' por esta Revelação
que o homem Natural pode se elevar acima da natureza, assim acima dele mesmo e ver as
cousas que são de Deus; mas sempre, entretanto, como de longe, embora Deus esteja
próximo de cada homem, pois está nele com Sua Essência; e sendo isso assim, está
próximo daqueles que 0 amam, e amam- nO aquêles que vivem segundo Seus preceitos e
que crêem n'Êle; eles 0 vêem por assim dizer a Êle Mesmo; o que é a fé, senão a vista
espiritual que Deus é? E o que é a vida segundo os preceitos de Deus, senão o
reconhecimento efetivo que a salvação e a vida eterna vêm de Deus? Aquêles, ao contrário,
que estão não na fé espiritual, mas na fé natural, a qual é únicamente uma ciência e, por
conseguinte, em uma vida semelhante, vêem Deus, é verdade, mas de longe, e isso
únicamente quando falam d'Ele; entre os primeiros e êste há uma diferença, como entre os
que. estão na claridade da luz e que vêem os homens perto déles e os tocam; e os que estão
em um nevoeiro espesso e, que por conseguinte, não podem ver se são homens ou se são
árvores ou -rochedos; ou bem ainda como entre os que estão sôbre um alto Monte onde está
situada uma cidade e que vão aqui e ali e conversam com seus concidadãos e os que desta
Montanha olham para baixo e não distinguem se os objetos que vêem são homens ou se são
animais ou estátuas; ou bem ainda como entre os que estão sôbre um Globo planetário e aí
vêem os seus, semelhantes e os que estão sôbre um outro Globo planetário com um
telescópio na mão e vêem um planêta e que dizem ver aí homens, quando entretanto não
vêem em geral senão terras tais como as apresentam no brilhante da lua e águas tais como
se apresentam nas manchas desse satélite. Há uma diferença semelhante entre ver Deus e os
Divinos que procedem de Deus em sua mente, naqueles que estão na fé e ao mesmo tempo
na vida da caridade e os que unicamente estão, a êste respeito, na ciência; por conseguinte
entre os homens Naturais e os homens Espirituais. Quanto aos que negam a Divina
Santidade da Palavra e que, entretanto, carregam como em um saco sobre as costas as
cousas que pertencem à Religião, não vêem Deus, mas fazem apenas ressoar o nome de
Deus, nisto, diferindo pouco dos papagaios.
&23 - IV. 0 DIVINO SER E EXISTIR EM SI NAO PODE PRODUZIR UM OUTRO
DIVINO QUE SEJA 0 SER E 0 EXISTIR EM SI; POR CONSEQÜÊNCIA UM OUTRO
DEUS DA MESMA ESSÊNCIA NAO E' ADMISSIVEL.
Que Deus Um, que é o Criador do Universo, seja o Ser e o Existir em Si, assim Deus em
Si, é o que foi mostrado até aqui
***missing pages 35 to 49
recepção. A Mente humana, pela qual e segunda a qual homem é homem foi firmada em
três Reg~ segundo os três graus; esta mente é celeste no Primeiro grau no bém os Anjos do
Céu supremo; é espiritual no 8 qual estão também os Anjos do Céu médio; e é natural no
Ter- ceiro grau, no qual estão também os Anjos do último céu; a Mente humana organizada
segundo êstes três graus, é o receptáculo do influxo Divino; mas jamais o Divino do que
segundo o aplainamento do caminho pelo -homem ou se- - gundo a abertura da porta por-
êle. Se o caminho é aplainado ou se a porta é aberta até ao Grau supremo ou celeste, então
o homem se torna verdadeiramente a imagem de Deus; e depois da morte se toma um Anjo
do Céu supremo; se o homem não aplaina o caminho ou não abre a porta senão até ao, grau
médio ou espiritual, êle se torna, é verdade, a Imagem de Deus, mas não nesta perfeição; e
depois da morte se torna Anjo do Céu médio; se o homem não aplaina o caminho ou não
abre a porta senão para o último grau ou grau natural e que então reconhece Deus e 0 adora
por uma piedade real, êle se toma a imagem de Deus no último grau e depois da morte se
torna Anjo do último Céu; ao contrário, se o homem não reconhece Deus e não 0 adora por
uma piedade real, êle se despoja da imagem de Deus e se torna semelhante a uma espécie
de animal, com a diferença de que goza da faculdade de compreender e, por conseguinte, de
falar; se então êle fecha o grau supremo natural, que corresponde ao supremo celeste, tornase quanto ao amor semelhante à bêsta da Terra; se fecha o grau médio natural, que
corresponde ao grau médio espiritual, torna-se quanto ao amor uma raposa, e quanto à vida
do entendimento como uma ave noturna; se fecha também o último grau natural quanto ao
espiritual dêste natural, torna-se quanto ao amor como uma bêsta feroz, e quanto ao
entendimento do vero como um peixe. A Vida Divina que, pelo influxo procedente do Sol
do Céu Angélico, põe o homem em ação, pode ser comparada à Luz procedente do Sol do
Mundo e o seu influxo em um objeto diáfano; a recepção da vida no grau supremo, ao
influxo da luz em um diamante, a recepção da vida no segundo grau, ao influxo da luz em
um cristal e a recepção da vida no último grau, ao influxo da luz em um vidro ou em uma
membrana transparentes; mas se êste último grau quanto ao seu espiritual estiver
inteiramente fechado, o que acontece quando Deus é negado e Satanás adorado, a recepção
da vida procedente de Deus pode ser comparada ao influxo da luz nos corpos opacos da
Terra, como no pau podre ou na erva dos pântanos ou na fuligem e assim de resto; pois o
homem torna-se então um cadáver espiritual.
&35 Ao que precede ajuntarei êste Memorável. Um dia eu estava muito admirado da
imensa multidão de homens que atribuem à Naturez a Criação e, por conseguinte, tudo o
que está abaixo do ~_À tudo o que está acima do Sol, dizendo, reconhecendo-o do fundo do
coração, quando vêem alguma cousa: Não é isto da natureza? E quando se lhes pergunta
por que atribuem isso à natureza- e não a Deus, quando entretanto dizem às vêzes com a
comunhão da Igreja, que Deus criou a Natureza e, por conseguinte, poderiam dizer tanto
que as cousas que vêem são de Deus, como -dizer que são da natureza; então respondem
com um tom interno quase tácito: 0 que é Deus, senão a Natureza? Todos ésses se mostram
gloriosos da persuasão de que o Universo foi criado pela Natureza; e desta loucura como de
um sabedoria, ao ponto de---considerarem todos os que reconhe, cem -a Criação do
Universo por Deus como formigas que se arrastam sôbre a terra e seguem um caminho
batido; e alguns como borboletas que voam no ar, chamando seus dogmas de sonhos
porque vêem o que èles não vêem, dizendo: Quem viu Deus e quem é que não vê a
Natureza? Enquanto eu me admirava da multidão dêsses homens, um Anjo apareceu diante
de mim sôbre o lado e me disse: Sôbre o que meditas tu? e eu respondi: Sôbre a multidão
daqueles que crêem que a Natureza é por si mesma e que assim ela criou o Universo; e o
Anjo me disse: Todo o inferno é composto de tais homens e êles lá são chamados Satanases
e Diabos; Satanases, aquêles que se confirmaram pela Natureza e, por conseguinte, negam
Deus; Diabos, aquêles que viveram nos crimes, e assim rejeitaram de seus corações todo
reconhecimento de Deus; mas vou te conduzir a ginásios situados na Plaga meridionalocidental, onde residem aquêles que são tais e que ainda não estão no Inferno; e êle me
tomou pela mão, e me conduziu; e eu vi casinhas nas quais havia Ginásios; e no meio delas
uma que era como o Pretório de tôdas as outras; êste Pretório era construido de pedras de
pêz que eram recobertas de lâminas como de vidro brilhantes como ouro e prata, tais como
as que se chamam selenitos ou talco; e aqui e ali eram recamadas de conchas brilhantes.
Nós nos aproximamos desta casa e batemos à porta; e em breve alguém a abriu, e nos disse:
Séde benvindos; e correu a uma mesa e trouxe quatro livros e disse: Êstes Livros são a
Sabedoria, à qual uma multidão de Reinos aplaude hoje; a êste Livro ou a esta Sabedoria
aplaudem numerosos homens na França, a êste, numerosos na Alemanha, a êste, alguns na
Holanda e a êste, alguns na Inglaterra; depois disse: Se quiserdes ver, farei que êstes quatro
livros brilhem a vossos olhos; e então exalou e espalhou em tômo a glória de sua reputação;
e os Livros imediatamente resplandeceram de luz; mas esta luz diante de nossos olhos se
dissipou imediatamente; e então lhe perguntamos o que êle escrevia agora; e ele respondeu
que neste momento tirava de seus tesouros e expunha as cousas que pertencem à sabedoria
íntima e que, em resumo, são estas: I. A Natureza pertence à Vida ou a Vida pertence à
Natureza. 11. 0 Centro pertence à Extensão ou a Extensão pertence ao Centro. III. Sôbre o
Centro da Extensão e da Vida. Depois de ter assim falado, colocou-se em uma Poltrona
perto da mesa; mas nós percorremos o seu Ginásio que era espaçoso; êle tinha sôbre a mesa
uma vela, porque lá não havia urna Luz do Sol, mas uma Luz noturna da lua; e o que me
admirava, a vela parecia levada a toda parte e iluminar, mas como não era espevitada,
iluminava pouco; e enquanto êle escrevia, vimos esvoaçar da mesa sôbre as paredes
imagens de formas diferentes, que, nesta luz noturna de lua, apareciam como belos pássaros
da India, mas quando abrimos a porta, eis que estas imagens, na Luz diurna do Sol,
apareciam como aves noturnas cujas asas são em forma de rêde; de fato eram
verossimilhanças, que por confirmações tinham se tornado ilusões, que êle tinha
engenhosamente ligado em série. Após ter visto isto, nós nos aproximamos da mesa e lhe
perguntamos o que escrevia nesse momento; e êle disse: Sôbre o Primeiro Ponto: A
NATUREZA PERTENCE A VIDA OU A VIDA PERTENCE A NATUREZA; e sôbre
êste ponto, disse que podia confirmar um ou outro e fazer que um e outro fossem verdade;
mas como havia dentro alguma cousa escondida que êle temia, não ousava confirmar senão
esta proposição, que a Natureza pertence à Vida, isto é, vem da Vida; e não a outra, que a
Vida pertence à Natureza, isto é, vem da Natureza. Nós lhe perguntamos com honestidade o
que havia de oculto que êle temia; respondeu que era ser chamado Naturalist,a e, por
conseqüência, ateu pelos Padres, e Homem de uma razão pouco sã, pelos Leigos porque
uns e outros ou criam segundo uma fé cega, ou vêem segundo a vista daqueles que
confirmam esta fé. Então levados por uma sorte de indignação de zêlo pela verdade, nós o
interpelamos, dizendo: Amigo, tu te enganas muito; a tua sabedoria, que consiste em
escrever com talento, te seduziu; e a glória da reputação te induziu a confirmar o que tu não
-crês; não sabes que a Mente humana pode se elevar acima dos sensuais, os quais são o que,
nos pensamentos, provêm dos sentidos do corpo; e que, quando é elevado, vê em cima
cousas que pertencem à Vida, e em baixo as que pertencem à Natureza? 0 que é a Vida,
senão o Amor e a Sabedoria; e o que é a Natureza, senão o receptáculo pelo qual o Amor e
a Sabedoria operam seus efeitos ou usos? Podem a Vida e a Natureza ser um senão como o
principal e o instrumental? Pode a luz ser um -com o olho ou o som com o ouvido; donde
vêm os sentidos do olho e do ouvido senão da vida; e suas formas senão da Natureza? 0 que
é o corpo humano, senão um órgão da Vida? Tudo que o compõe em geral e em particular
não foi orgânicamente formado para produzir o que o Amor quer e o que o Entendimento
pensa? Os órgãos do corpo não vêm da Natureza; e o Amor e o Pensamento não procedem
da Vida? Estas cousas não são absolutamente distintas entre si? Eleva ainda um pouco mais
alto a perspicácia do teu gênio, e verás que é próprio da Vida ser afetada e pensar, é que ser
afetada pertence ao Amor, que pensar pertence à Sabedoria; e que um e outro pertencem à
Vida; pois, assim como foi dito, o Amor e a Sabedoria são a Vida; se elevas ainda um
pouco mais alto a faculdade de compreender, verás que o Amor e a Sabedoria não podem
existir, a menos que sua origem esteja em alguma parte e que sua origem é o Amor Mesmo
e a Sabedoria Mesma e, por conseqüência, a Vida Mesma; e que estas cousas são Deus de
quem procede a Natureza. Em seguida falamos com êle do Segundo Ponto: 0 CENTRO
PERTENCE A EXTENSÃO OU A EXTENSÃO PERTENCE AO CENTRO; e lhe
perguntamos porque êle debatia esta questão; respondeu-nos: Com o fim de concluir sôbre
o Centro e a extensão da Natureza e da Vida, assim sôbre a origem de uma e de outra; e
quando lhe perguntamos qual era a sua opinião sôbre êste ponto, respondeu-nos, como
sôbre o primeiro, que podia confirmar uma ou outra proposição; mas que, com mêdo de
perder sua reputação, confirmava que a Extensão pertence ao Centro, isto é, vem do Centro;
ainda que eu saiba, acrescentou, que antes do Sol houve alguma cousa; e que esta alguma
cousa estava por toda parte na Extensão e confluiu por si mesma em ordem, assim no
Centro. Então nós o interpelamos de nôvo com uma indignação excitada pelo zêlo e lhe
dissemos: Amigo, tu és louco; e logo que ouviu estas palavras recuou a poltrona da mesa e
nos encarou com timidez e então prestou atenção, mas rindo; entretanto continuamos nestes
têrmos: Que há de mais insensato do que dizer que o Centro vem da Extensão - por teu
centro entendemos o Sol, e por tua Extensão entendemos o Universo, - e que assim o
Universo teria existido sem o Sol! 0 Sol não faz a Natureza e tôdas as suas propriedades
que dependem únicamente da Luz e do Calor procedendo do Sol pelas Atmosferas? Onde a
Natureza estava antes e donde veio ela, é o que te diremos quando o terceiro ponto for
debatido; as Atmosferas e tôdas as cousas que estão sôbre a Terra não são como
Superfícies, e o Sol não é seu Centro? Será que tôdas estas cousas sem o Sol podem
subsistir um só instante? Por conseqüência será que tôdas estas cousas antes do **tro e da
Extensão da Vida tu queiras considerar o Centro e a da Natureza, e não vice-versa; e lhe
ensinamos que Céu Angélico há um Sol, que é puro Amor, e em a parência ígneo como o
Sol do Mundo; que é pelo Calor que pro cede ~e Sol que os Anjos e os homens têm a
Vontade e o Amor e que é pela sua Luz que êles, têm o Entendimento e a Sabedoria; que
as cousas que procedem de lá são chamadas Espirituais; e que as que procedem do Sol do
Mundo são os conti nentes ou os receptáculos da Vida e são chamadas Naturais; que a
Extensão do Centro da Vida é o Mundo Espiritual que subsiste por seu Sol; e que a
Extensão do Centro da Natureza é o Mundo Natural, que subsiste por seu Sol. Pois que os
Espaços e os Tempos não podem se dizer do Amor e da Sabedoria e são subs tituídos pelos
Estados, segue-se daí que o que está em extensão em torno do Sol do Céu Arigélico não é
uma Extensão mas está entretanto na Extensão do Sol natural, e aí segundo as recep ções
nos seres vivos, e as recepções segundo as formas e os es tados. Então êle perguntou de
onde vinha o fogo do Sol do Mundo ou da Natureza; respondemos que vem do Sol do Céu
Angélico que não é fogo, mas o Divino Amor procedendo ime diatamente de Deus, que
está no meio dêste Sol; como êle ficasse admirado disso, nós lhIo demonstramos assim: 0
Amor em sua essência é o fogo espiritual; é por isso que o fogo, no sentido espiritual da
Palavra, significa o Amor; daí, os Padres, nos Tem plos, orarem para que os coraçóes sejam
repletos com o Fogo celeste, pelo qual entendem o Amor; o fogo do Altar e o fogo do
Candelabro no Tabernáculo, entre os Israelitas, não representava outra cousa senão o
Divino Amor; o Calor do sangue ou o Calor vital dos homens e em geral dos animais, não
tem outra origem senão o amor que faz a sua vida; daí vem que o homem se abrasa e se
inflama quando seu axnor é exaltado em zêlo ou excitado em cólera e arrebatamento; é por
isso, pelo fato do Calor espiritual que é Amor, produzir nos homens um calor natural, ao
ponto de aquecer e inflamar suas faces e seus membros, que se torna evidente que o Fogo
do Sol natural não existe senão pelo Fogo do Sol espiritual, que é o Divino Amor. Agora,
visto que a Extensão vem do Centro, e não vice-versa, como o dissemos acima, e que o
Centro da Vida, o qual é o Sol do Céu Angélico, é o Divino Amor procedendo
imediatamente de Deus que está no meio dêsse Sol; e visto que é daí que vem a Extensão
dêsse Centro a qual é chamada Mundo espiritual e que é por êste Sol que existiu o Sol do
Mundo e por êste sua Extensão que é chamada Mundo natural, é evidente que o Universo
foi criado por Deus. Depois disto, fomos embora, e êle nos a com
panhou além do pórtico de seu Ginásio, e conversou conosco sôbre o Céu e o Inferno, e
sôbre o Divino auspício, com uma nova sagacidade de espírito.
&36 DA ESSÊNCIA DE DEUS, ESSÊNCIA QUE E' 0 DIVINO AMOR E A DIVINA
SABEDORIA
36 - Distinguimos entre o Ser de Deus e a Essência de Deus, porque há uma distinção entre
a Infinidade de Deus e o Amor de Deus; e que a Infinidade se diz para aplicação ao Ser de
Deus e o Amor para aplicação à Essência de Deus; com efeito, assim como já foi dito, o Ser
de Deus é mais universal que a Essência de Deus, semelhantemente a Infinidade de Deus é
mais universal que, o Amor de Deus; é por isso que o Infinito torna-se um adjetivo dos
Essenciais e dos Atributos de Deus, os quais são todos chamados Infinitos; assim se diz do
Divino Amor que êle é Infinito da-Divina Sabedoria que ela é Infinita do Divino Poder
igualmente; não que o Ser de Deus preexiste, mas porque entra na Essência como um
adjuntivo coerente, determinado, formando e ao mesmo tempo elevando. Mas esta seção do
Capítulo, do mesmo modo que as precedentes, será dividida em Artigos, a saber:
I - DEUS E' 0 AMOR MESMO E A SABEDORIA MESMA, E ÊSTES DOIS FAZEM A
SUA ESSÊNCIA.
II - DEUS E' 0 BEM MESMO E 0 VERO MESMO, PORQUE 0 BEM PERTENCE AO
AMOR E 0 VERO A SABEDORIA.
III - 0 AMOR MESMO E A SABEDORIA MESMA SAO A VIDA MESMA, QUE E' A
VIDA EM SI.
IV - 0 AMOR E A SABEDORIA EM DEUS FAZEM UM.
V - A ESSÊNCIA DO AMOR E' AMAR OS OUTROS FORA DE SI, QUERER SER UM
COM ÊLES E TORNA-LOS FELIZES POR SI.
VI " ÊSTES ESSENCIAIS DO DIVINO AMOR FORAM A CAUSA DA CRIAÇÃO DO
UNIVERSO E SAO A CAUSA DE SUA CONSERVAÇÃO.
Cada um dêstes Artigos vai ser explicado separadamente:
&37 - I. DEUS E' 0 AMOR MESMO E A SABEDORIA MESMA E ÊSTES DOIS
FAZEM A SUA ESSÊNCIA.
Que o Amor e a Sabedoria sejam dois Essenciais aos quais se referem todos os Infinitos que
estão em Deus, é o que viu a primeira Antiguidade; mas como as Idades que se seguiram
desviaram sucessivamente do Céu as mentes e as mergulharam nos mundanos e nos
corporais, não puderam vê-los; com efeito, os, homens começaram a não saber o que é o
Amor em sua Essência, nem por conseguinte o que é a Sabedoria em sua Essência, i
gnorando que o Amor abstraído da forma não é possível e que êle opera na forma e pela
forma. Ora, desde que Deus é a Substância mesma e a Forma mesma, a Substância única e
a Forma única, e assim a Substância primeira e a Forma primeira, das quais a Essência é o
Amor e a Sabedoria, e desde que por Êle foram feitas tôdas as coisas que foram feitas,
segue-se que, do Amor pela Sabedoria, foi criado o Universo com tôdas e cada. uma das
cousas que Êle contém; e que por isso o Divino Amor está conjuntamente com a Divina
Sabedoria em todos e cada um dos seres criados; o Amor é ainda não somente a Essência
formando tôdas as cousas, mas também unindo-as e conjuntando-as e assim contendo-as
formadas em um encadeamento. Isto pode ser ilustrado pelas cousas inumeráveis do
Mundo; por exemplo, pelo Calor e a Luz provenientes do Sol, que são dois Essenciais e os
dois Universais pelos quais todas e cada uma das cousas existem e subsistem sôbre a Terra;
o calor e a luz estão ai porque correspondem ao Divino Amor e à Divina Sabedoria, pois o
Calor que procede do Sol do Mundo espiritual é em sua essência o Amor; e a Luz que
procede dêle é, em sua essência, a Sabedoria. Isto pode também ser ilustrado pelos dois
essenciais e os dois universais, pelos quais as Mentes humanas existem e subsistem e que
são a Vontade e o Entendimento. Com efeito, é nesses dois que consiste a Mente de cada
um, e todos dois, estão e operam em tôdas e cada uma das coisas dessas Mentes; e isso
porque a Vontade é o receptáculo e o habitáculo do Amor e que acontece o mesmo com o
Entendimento em relação à Sabedoria; é por isso que êstes dois correspondem ao Divino
Amor e à Divina Sabedoria, de que tiram sua origem. Isto pode ainda ser ilustrado pelos
dois essenciais e os dois universais pelos quais os corpos humanos existem e subsistem e
que são o Coração e o Pulmão, ou a sístole e a diástole do coração e a respiração do
pulmão; é bem conhecido que êstes dois operam em tôdas e cada um das cousas do corpo;
e isso porque o Coração corresponde ao Amor e o Pulmão à Sabedoria; esta
correspondência foi plenamente demonstrada na SABEDORIA. ANGÉLICA SOBRE 0
DIVINO AMOR E A DIVINA SABEDORIA, publicado em Amsterdam. Que o Amor
como noivo e marido, engendra tôdas as formas, mas pela Sabedoria como noiva e espôsa,
é o de que podemos nos convencer por cousas inúmeras em um e outro Mundo, o
Espiritual e o Material; basta lembrar que todo o Céu Angélico é disposto em sua forma e
contido nela segundo o Divino Amor pela Divina Sabedoria; aquêles que deduzem a
criação do Mundo de outra parte que não vino Amor pela Divina Sabedoria e não sabem
que .fazem a Divina Essência, descem da vista da razão à ôlho, e aceitam a Natureza como
criadora do Universo; por conseguinte concebem quimeras e dão à luz fantasmas, pensam
ilusões segundo as quais raciocinam; e tiram por conclusões ovos ,em que estão pássaros
naturais. Tais homens podem ser chamados, não Mentes, mas Olhos e Ouvidos sem
entendimento ou Pensamentos sem alma; falam de cores corno se elas -Pudessem
A À pudesse existir sem a luz; da existência de árvores como se à acontecer sem sementes;
e de tôdas as cousas do Mundo corno se pudessem existir sem o Sol, pois fazem princípios
os principiados (principiata), e causas os resultados das causas (causata); assim invertem
tudo, entorpecem as vigílias da razão e vêem por -conseqüência sonhos.
&38 - II. DEUS É 0 BEM MESMO E 0 VERO MESMO, PORQUE 0 BEM PERTENCE
AO AMOR, E 0 VERO A SABEDORIA.
E' Universalmente sabido que tôdas as cousas se referem ao bem e ao vero, índice de que
tôdas as cousas existem pelo Amor e a Sabedoria; com efeito, tudo o que procede do Amor
é chamado bem, pois isso é sentido; e o prazer pelo qual o Amor se manifesta é para cada
um o bem; por outro lado, tudo o que procede da Sabedoria é chamado vero, pois a
Sabedoria não consiste senão em veros e afeta seus objetos pelo encanto da luz e êste
encanto, quando é percebido, é o vero procedendo do bem; também o Amor é o complexo
de tôdas as bondades e a Sabedoria o complexo de tôdas as verdades; mas uns e outros vêm
de Deus, que é o Amor mesmo e, por conseguinte, o Bem mesmo ,e também a Sabedoria
mesma e, por conseguinte, o Vero mesmo. Daí vem que na Igreja há dois essenciais que são
chamados Caridade e Fé, nas quais consistem tôdas as coisas da Igreja e que devem estar
em tôdas e cada uma das cousas da Igreja; e isso porque os bens da Igreja pertencem à
Caridade e são chamados Caridade, e todos os veros da Igreja pertencem à Fé e são
chamados Fé; os prazeres do Amor que são também prazeres da Caridade fazem com que
os prazeres sejam chamados bens; e os encantos da Sabedoria, que são também encantos da
Fé, fazem -com que os encantos façam a vida dos bens e dos veres; sem a vida que daí
provém os bens e os veros são como inanimados, e são também estéreis. Mas os Prazeres
do amor são de dois gêneros, semelhantemente os Encantos que parecem pertencer à
Sabedoria; a saber, os prazeres do amor do bem e os prazeres do amor do mal e, por
conseguinte, os encantos da fé do vero e os encantos da fé do falso; estes dois prazeres do
amor, nas pessoas em que estão por suas sensações, são chamados bens; e estes dois
encantos da fé, por suas percepções são também chamados bens, mas como estão no
entendimento não são outra coisa seUM veros; ainda que os dois gêneros sejam opostos
entre si e que o bem de um dos amôres seja o bem e o bem do outro amor o mal, e que o
vero de uma das fés seja o vero e o vero da outra fé o falso; mas o amor cujo prazer é
essencialmente o bem é como o calor do Sol, frutificando, vivificando e operando em um
humus fértil, em árvores de boa qualidade e em colheitas e fazendo do terreno onde opera,
uma espécie de paraíso, de jardim de Jehovah e uma espécie de terra de Canaan; e o
encanto do vero dêsse amor é como a luz do Sol na primavera e como a luz que influi em
um vaso de cristal onde estão encerradas belas flores e de onde se exala um perfume suave
quando é aberto; ao contrário, o prazer do amor do mal é como o calor do sol dessecando,
sufocando e operando em um humus estéril e em árvores estéreis tais como espinheiros e
sarças e faz do terreno onde opera, uma espécie de deserto da Arábia habitado por
serpentes, hidras e dipsadas; e o encanto do falso dêsse amor é como a luz do sol no
inverno e como a luz que influi em uma garrafa, onde estão vermes nadando no vinagre e
répteis de um odor infecto. V preciso que se saiba que todo bem se forma por veros, se
reveste dêles também e se distingue assim de um outro bem; é preciso ainda que se saiba
que os bens de uma mesma origem se ligam em feixes e os cobrem com uma vestimenta e
se distinguem assim dos outros; que as formações se façam desta maneira é o que se vê
claramente por tudo que se passa em geral e em particular no Corpo humano; que a mesma
coisa se faça na Mente humana isso é evidente pelo fato de haver uma correspondência
perpétua de tôdas as coisas da mente com tôdas as coisas do corpo; daí resulta que a Mente
humana foi organizada interiormente com substâncias espirituais e exteriormente com
substâncias naturais; e enfim, com substâncias materiais; a Mente cujos prazeres do amor
são bons consiste interiormente em substâncias espirituais como as que estão no-Céu,
enquanto que a Mente cujos prazeres são males consiste interiormente em substâncias
espirituais tais como as que estão no Inferno; e os males desta mente são ligados em feixes
pelos falsos, como os bens da outra Mente são ligados em feixes pelos veros; pois que os
bens e os males são ligados assim em feixes, eis porque o Senhor disse "que o joio deve ser
reunido em feixes para ser queimado e que acontecerá o mesmo com os escândalos"
(Mateus XIII, 30, 40, 41; João XV, 6).
&39 - III. DEUS, SENDO 0 AMOR MESMO E A SABEDORIA MESMA, E' A VIDA
MESMA, QUE E' A VIDA EM SI.
Está dito em João: "A Palavra estava em Deus, e Deus era a Palavra; n'Êle estava a Vida, e
a Vida era a luz dos homens" (João 1, 1 e 4); nesta passagem por Deus é entendido o
Divino Amor e pela Palavra, a Divina Sabedoria; e a Divina Sabedoria é própriamente a
Vida e a Vida é própriamente a Luz que procede do Sol do Mundo espiritual, no meio do
qual está Jehovah Deus; o Divino Amor forma a Vida como o fogo forma a luz; no Fogo há
duas cousas, a Causticidade e o Esplendor; da Causticidade do fogo procede o calor; e do
Esplendor do fogo procede a luz; no Amor há igualmente duas cousas, uma a que
corresponde a causticidade do fogo e é alguma coisa que afeta Intimamente a vontade do
homem; a outra a que corresponde o esplendor do fogo e é alguma cousa que afeta
Intimamente o entendimento do homem; é por isso que o homem possui o amor e a
inteligência; pois, assim como já foi dito, algumas vêzes, do Sol do Mundo espiritual
procedem um Calor que em sua essência é o amor e uma Luz que em sua essência é a
sabedoria; êste calor e esta luz influem em tôdas e cada uma das cousas do Universo e as
afetam Intimamente, e influem nos homens em sua vontade e em seu entendimento, que
foram os dois criados receptáculos do influxo, a vontade receptáculo do amor, e o
entendimento receptáculo da sabedoria; daí é evidente que a vida do homem habita no
entendimento e que -é tal como é a sabedoria do entendimento e que o amor da vontade a
modifica.
&40 - Em João se lê também: "Como o Pai tem a vida em Si Mesmo, assim Êle deu
também ao Filho ter a vida em Si Mesmo" (João V, 26); por isso é entendido que, como o
Divino Mesmo, que t em sido de toda eternidade, vive em SI, assim o Humano que tomou
no tempo vive também em Si; a Vida em Si é a Vida Mesma e única, da qual vivem todos
os anjos e todos os homens. A razão humana pode ver isto pela luz que procede ,do Sol do
Mundo natural, pelo fato dessa luz não ser criável, mas terem sido criadas formas que a
recebem, pois os olhos são formas recipientes e a luz que influi do Sol faz com que os olhos
vejam; acontece o mesmo com a Vida que, como foi dito, é a Luz procedendo do Sol do
Mundo Espiritual pelo fato dela não ser criável, mas influir continuamente e da mesma
forma que ilumina, da mesma forma vivifica o Entendimento do homem; por conseqüência,
como a Luz, são a Vida e a Sabedoria, a Sabedoria não é criável, nem igualmente a Fé, nem
o Vero, nem o Amor, nem a Caridade, nem o Bem, mas foram criadas formas que os
recebem; as mentes humanas e angélicas são essas formas. Que cada um se guarde portanto
de se persuadir que vive por si, e que, por si, sabe, crê, ama, percebe o vero, quer o bem e o
faz; com efeito, tanto mais alguém se persuade disso, tanto mais precipita sua mente do Céu
para a Terra, e de espiritual se torna natural, sensual e corporal, pois fecha as regiões
superiores de sua mente; com isso se torna cego quanto a tudo que concerne a Deus, ao Céu
e à Igreja, e então tudo que pensa, raciocina e diz sôbre esses assuntos se toma loucura,
porque está nas trevas, e então ao mesmo tempo está na segurança de que é a sabedoria;
com efeito, as regiões superiores da mente, onde habita a verdadeira luz da vida, sendo
fechada, então se abre a região inferior da mente, na qual é admitida unicamente a elaridade
do Mundo; e essa claridade separada da luz das regiões superiores é uma claridade
fantástica, na qual os falsos se mostram como veros e os veros como falsos, os raciocínios
fundados sôbre falsos como sabedoria e os raciocínios fundados sôbre veros como loucura;
e então o homem crê ter a vista da águia, embora não distinga o que concerne à sabedoria
mais do que um morcego vê na luz do dia.
&41 - IV. 0 AMOR E A SABEDORIA EM DEUS FAZEM UM, Todo homem sábio da
Igreja sabe que todo bem do amor e da caridade vem de Deus e igualmente todo vero da
sabedoria e da fé; que isso seja assim, a Razão humana pode mesmo vê-lo, desde que saiba
que a origem do amor e da sabedoria procede do Sol do Mundo espiritual, no meio do qual
está Jehovah. Deus, ou, em outros têrmos, que esta origem procede de Jehovah Deus pelo
Sol que está em torno d'Êle; com efeito, o calor procedente deste Sol é em sua essência o
amor, e a luz que dêle procede é em sua essência a sabedoria; donde se vê, como na
claridade do dia, que nesta origem o amor e a sabedoria são um, por consequencia, em
Deus, de Quem procede a origem dêste Sol. Isto pode ser também ilustrado pelo Sol do
Mundo natural que é puro Fogo, pelo fato de que de seu ígneo procede o calor e do
esplendor do seu ígneo procede a luz; e que assim o calor e a luz em sua -origem são um.
Mas que procedendo dela eles são divididos, vê-se pelos objetos, dos quais alguns recebem
mais calor e outros mais luz; isto acontece principalmente com os homens; nêles a luz da
vida, que é a inteligência, e o calor da vida, que é o amor, são divididos; isso é assim
porque o homem deve ser reformado e isto não pode ser feito, a menos que a Luz da vida,
que é a Inteligência ensine o que êle deve querer e amar; entretanto, é preciso que se saiba
que Deus opera continuainente a conjunção do amor e da sabedoria no homem, mas que o
homem, se não volta seus olhos para Deus e não crê em Deus opera continuamente a
divisão; tanto mais portanto estas duas cousas, o bem do amor ou da caridade e o vero da
sabedoria ou da fé, são conjuntos no homem, tanto mais o homem setorna a imagem de
Deus e é elevado para o Céu e no Céu onde estão os Anjos; e vice-versa, tanto mais estes
dois são divididos pelo homem, tanto mais o homem se torna a imagem de Lúcifer e do
Dragão e é precipitado do Céu à Terra; e em seguida sob a terra no Inferno. Pela conjunção
do amor e da sabedoria, o estado do homem se torna como o estado de uma árvore na
estação da primavera quando o calor se conjunta em igualdade com a luz, donde resulta a
germinação, a floração e frutificação da árvore; e vice-versa, pela separação do amor e da
sabedoria, o estado do homem se torna como o da árvore na estação do inverno, quando o
calor se retira da luz, donde resulta para a árvore a privação e o despojamento de toda flor e
de toda folha. Quando o calor espiritual, que é o amor, se separa da luz espiritual, que é a
sabedoria, ou quando a caridade se separa da fé, o homem se torna Amo um humus que se
azeda. ou apodrece, no qual nascem vermes e se produz arbustos, suas folhas são cobertas
de insetos e devoradas; com efeito, os atrativos do amor do mal, que em si mesmos são
concupiscências, explodem de repente, e a Inteligência não os domina nem os suprime, mas
os preza, os entretém e os alimenta; em uma palavra, separar o amor da sabedoria ou a
caridade da fé, que Deus se esforça continuamente para conjuntar, é, por comparação,
privar a face do vermelho, donde resulta uma palidez como a de um morto; ou tirar ao
vermelho o branco, o que torna a face como uma tocha inflamada; é ainda, por comparação,
romper o laço conjugal entre dois esposos e fazer com que a esposa se torne prostituta e o
marido adúltero; pois o amor ou a caridade é como o marido; -e a sabedoria ou a fé é como
a esposa e quando estas duas cousas são separadas, se faz uma prostituição espiritual e uma
escortação espiritual, que são a falsificação do vero e a adulteração do bem.
&42 - V preciso, além disso, saber que há três graus de amor e de sabedoria e, por
conseguinte, três graus de vida e que a Mente humana foi formada como em regiões
segundo êstes graus e que a vida na região suprema está no grau supremo, na segunda
região no grau médio e na última região no grau ínfimo; estas regiões são sucessivamente
abertas no homem; a última região onde a vida está no grau ínfimo, se abre depois da
primeira infância até à segunda (puerícia); e isso se faz pelas ciências; a segunda região
onde a vida está em um grau maior, 'se abre depois da segunda infância até à adolescência e
isso se faz pelos pensamentos provenientes das ciências; a região suprema, onde a vida está
no grau supremo, se abre depois da adolescêntia até à Juventude e além, e isso se faz pelas
percepções das verdades morais e espirituais. Enfim, é preciso saber que a perfeição da vida
consiste não no pensamento, mas na percepção do vero segundo a luz do vero; é por isso
que se pode julgar as diferenças da vida nos homens; com efeito, há os que, logo que
ouvem o vero, percebem que é o vero, estes no Mundo espiritual são representados pelas
águias; há os que não percebem o vero, mas que o concluem segundo confirmações pelas
aparências, éstes são representados pelos pássaros que têm uma voz agradável; há os que
crêem que uma cousa é vero, porque foi dita por um homem de autoridade, êstes são
representados pelas pêgas; e há além disso os que não querem e que não podem perceber o
vero, mas que percebem únicamente o falso, e isso porque estão em uma luz fantástica, na
qual o falso se mostra como o vero e o vero se mostra ou como alguma cousa escondida
acima da cabeça em uma nuvem espessa, ou como um meteoro, ou como o falso. Os
pensamentos dêstes são representados por corujas e suas palavras por bufos; entre êstes
últimos, os que confirmaram seus falsos não suportam ouvir os veros e desde que algum
vero atinge seu ouvido, êles o rejeitam por aversão, pouco mais ou menos como um
estômago carregado de bílis vomita o alimento.
&43 - V. A ESSÊNCIA DO AMOR E' AMAR OS OUTROS FORA DE SI, QUERER SER
UM COM ÊLES E TORNA-LOS FELIZES POR SI.
Há duas cousas, o Amor e a Sabedoria que fazem a Essência de Deus, mas há três que,
fazem a essência do Seu Amor: Amar os outros fora de si, querer ser um com eles e os
tomar felizes por si; estas três mesmas coisas fazem a essência de Sua Sabedoria porque o
Amor e a Sabedoria em Deus fazem um, assim como foi mostrado acima; mas o Amor quer
estas coisas e a Sabedoria as produz. 0 PRIMEIRO ESSENCIAL, que é amar os outros fora
de si, é reconhecido pelo amor de Deus por todo o Gênero humano; e por causa do Gênero
humano Deus ama tôdas as cousas que criou porque elas são meios; pois, quem ama o fim,
ama também os meios; tudo e tôdas as coisas do Universo estão fora de Deus porque são
finitas e Deus é Infinito; o amor de Deus vai e se estende não sómente sôbre os bons e as
cousas boas, mas também sôbre os maus e sôbre as cousas más, por conseqüência não
sómente sôbre os que estão no Céu e sôbre as cousas que o Céu encerra, mas também sôbre
os que estão no Inferno e sôbre o que o Inferno encerra, assim não sómente sôbre Miguel e
Gabriel, mas também sôbre o diabo e Satanás; pois por toda parte e de toda eternidade Deus
é o Mesmo; também êle disse que "Seu Sol Êle faz levantar-se sobre os maus e os bons e
envia a chuva sôbre os justos e os injustos" (Mateus V, 45); mas não obstante se os maus
são maus, isto se atém aos indivíduos mesmos e aos objetos mesmos no modo porque
recebem o amor de Deus, não tal qual é e se encontra Intimamente, mas tal qual são êles
mesmos, como fazem semelhantemente o espinheiro e a ortiga em relação ao calor do Sol e
à chuva do Céu. 0 SEGUNDO ESSENCIAL DO AMOR DE DEUS, queé querer ser um
com êles, é reconhecido também pela conjunção de Deus com o Céu Angélico, com a
Igreja nas Terras, com cada homem da Igreja, e com todo bem e todo vero que entram no
homem e na Igreja e que os constituem; o amor também considerado em si mesmo, não é
outra coisa mais que um esforço para a conjunção; é por isso que, a fim de que esta
propriedade da essência do amor seja obtida, Deus criou o homem à Sua imagem e à Sua
semelhança, com as quais a conjunção pode ser feita; que o amor tende confinuamente à
conjunção, isto é evidente por estas palavras do Senhor: "que Êle quer que êles sejam um,
Êle neles e êles n'Éle, e que o amor de Deus esteja nêles" (João XVII, 21, 22, 23, 26). 0
TERCEIRO ESSENCIAL DO AMOR DE DEUS, que é torná-los felizes por si, é
reconhecido pela vida eterna, que é a beatitude, a ventura e a felicidade sem fim que Deus
dá aos que recebem em si Seu Amor; com efeito, como Deus é o Amor mesmo, pois todo
amor exala de si um prazer e o Divino Amor exala a beatitude mesma, a ventura mesma, e a
felicidade mesma durante a eternidade, assim Deus torna felizes por Si os Anjos e os
homens depois da morte, o que se faz pela conjunção com êles.
&44 - Que tal seja o Divino Amor, isso é conhecido pela Esfera que se estende no Universo
e afeta cada um segundo o estado de cada um; afeta sobretudo os Pais; é por causa dela que
eles amam ternamente seus filhos, que estão fora dêles; que querem ser um com êles e que
querem torná-los felizes; esta Esfera do Divino Amor afeta não sómente os bons, mas
também os maus; e não sómente os homens, mas também as bêstas e os pássaros de todo
gênero; a mãe quando deu à luz, pensa em outra cousa que não seja unir-se por assim dizer
a seu filho e prover o seu bem? 0 pássaro logo que faz sair dos ovos os seus filhotes, faz
outra cousa que não seja aquecê-los sob suas asas, introduzir por seu biquinho alimento em
sua garganta? Não è sabido que as serpentes e as víboras amam a sua progenitura? Esta
Esfera universal afeta especialmente aquêles que recebem em si êste Amor de Deus; são os
que crêem em Deus e amam o próximo; a caridade nêles é a imagem dêsse amor. A
amizade entre aquêles que não são bons imita mesmo êste Amor; com efeito, o amigo em
sua mesa, dá os melhores pedaços a seu amigo, abraça-o, toma-lhe a mão e a aperta e lhe
promete serviços.---As simpatias e os esforços dos homogêneos e dos semelhantes para a
conjunção, não tira de outra parte a sua origem. Esta mesma esfera Divina opera também
nas coisas inanimadas, como as árvores e as ervas, mas pelo Sol do Mundo e por seu calor e
sua luz, pois o calor entra nelas por fora, se conjunta com elas e faz que elas germinem,
floresçam e frutifiquem, o que substitui a beatitude das cousas animadas; eis o que faz êste
calor porque corresponde ao calor espiritual, que é o amor. Há também nos diversos objetos
do Reino mineral representações da operação dêste amor; seus símbolos se manifestam nas
exaltações dos minerais para os usos e por conseguinte por valores de grande preço.
&45 - Pela descrição da essência do Divino Amor pode-Se ver qual é a essência do amor
diabólico, pode-se ver segundo o oposto; o amor diabólico é o amor de si, é chamado amor,
mas considerado em si mesmo, é o ódio, pois não ama pessoa alguma fora dêle e quer ser
conjunto,aos outros não para lhes fazer bem, mas únicamente para faze-lo a si mesmo; por
seu íntimo aspira continuamente dominar sôbre todos e também possuir os bens de todos e,
enfim, ser adorado como Deus; é por esta razão mesma que aquêles que estão no Inferno
não reconhecem Deus, mas reconhecem por deuses aquêles que ultrapassam os outros em
poder, assim deuses inferi-ores e deuses superiores, ou deuses menores e deuses maiores,
segundo a extensão do poder; e como lá, cada um tem em seu coração esta mesma ambição,
cada um é também devorado de ódio contra seu deus e está contra aqueles que estão sob
seu império e os considera como vis escravos, com quem fala, é verdade, com doçura
enquanto eles o adoram, mas é como pelo fogo, arrebatado de furor contra todos os outros e
também interiormente ou em seu coração, contra seus clientes; com efeito, o amor de si é o
mesmo que o amor dos ladrões, que se abraçam mútuamente, quando executam seus
banditismos, mas que em seguida ardem de desejo de se massacrarem, para roubar suas
porções dos despojos. E' êste amor que faz com que suas cobiças no Inferno onde reinam,
apareçam de longe como diversas espécies de bestas ferozes; uns como raposas e
leopardos; outros como lôbos e tigres; e outros, como crocodilos e serpentes venenosas; e
que os desertos onde vivem, não consistam senão em montões de pedras ou em cascalho
nu, entre os quais há charcos onde grasnam as rãs; e que sôbre suas choças voam pássaros
lúgubres que, soltam gritos lamentáveis; os ochim, os tiziim. e os juiim, que são
mencionados nos livros proféticos da Palavra onde se trata do amor de mandar segundo o
amor de si, não são outra cousa (Isaías XIII, 21; Jeremias L, 39; Psalmos 74, 14).
&46 - VI. ÉSTES ESSENCIAIS DO AMOR DIVINO FORAM A CAUSA DA CRIAÇAO
DO UNIVERSO E SAO A CAUSA DE SUA CONSERVAÇÃO.
Que estes três essenciais do Amor Divino tenham sido a causa da Criação é o que se pode
ver escrutando-os e examinando-os; que o PRIMEIRO ESSENCIAL, que é o amar os
outros fora de si, tenha sido a causa, vê-se pelo Universo, que está fora de Deus como o
Mundo está fora do Sol, e sôbre o qual Deus pode estender Seu Amor e no qual pode
exercê-lo e assim se repousar; lêse também que depois que Deus criou o Céu e a Terra, Ele
repousou e que daí foi feito o dia do Sabbath (Genesis 11, 2 e 3), Que o SEGUNDO
ESSENCIAL, que é querer ser um com êles, tenha sido a sua causa, pode-se ver pela
criação do homem à, imagem e semelhança de Deus, pelas quais é entendido que o homem
foi feito forma recipiente do amor e da sabedoria de Deus, assim Deus pode se unir com êle
e por êle com tôdas e cada uma das cousas do Universo, que não são mais que meios; pois a
conjunção com a causa final é também a conjunção com, as causas médias; que tôdas as
cousas foram criadas para o Homem, é também o que prova o Livro da Criação ou o
Genesis, Capítulo 1, 28, 29, 30. Que o TERCEIRO ESSENCIAL, que é torná-los felizes
por si, tendo sido sua causa, vê-se pelo Céu Angélico, * qual foi destinado pela Providência
a todo homem que recebe* Amor de Deus, e no qual todos são felizes por Deus só. Que
estes três essenciais do Amor de Deus sejam também a causa da conservação do Universo,
é porque a Conservação é uma perpétua Criação, como a subsistência é uma perpétua
existência, e que o Divino Amor é o mesmo de toda eternidade a toda eternidade; assim, tal
êle era criando o Mundo, tal êle é e permanece no Mundo criado.
&47 - Por estas explicações bem compreendidas, pode-se ver que o Universo é uma obra
coerente desde os primeiros até os últimos porque é uma obra que contém os Fins, as
Causas e os Efeitos em um encadeamento indissolúvel; e como em todo amor há o fim, e
em toda sabedoria há a promoção do fim pelas causas médias e por estas os efeitos, que são
os usos, resulta dai também que o Universo é uma Obra que contém o Divino Amor, a
Divina Sabedoria e os Usos, sendo assim uma Obra inteiramente coerente desde os
primeiros até os últimos. Que o Universo consiste em perpétuos Usos produzidos pela
Sabedoria a começados pelo Amor é o que todo homem sábio pode contemplar como em
um espelho, quando adquire uma idéia comum da Criação do Universo e que nela considera
as cousas particulares,, pois os particulares se adaptam a seu comum e o comum os dispõe
em forma a fim de que concordem; que isso seja assim, é o que será ilustrado no que segue
por maiores detalhes.
&48 - Ao que precede ajuntarei êste Memorável. Um dia eu conversava com dois Anjos,
um era do Céu oriental e o outro do Céu meridional, quando êles perceberam que eu
meditava sôbre os Arcanos da sabedoria concernente ao Amor, êles me disseram: Tens
algum conhecimento dos jogos da sabedoria em nosso mundo? Respondi: Ainda não; e eles
disseram: Há vários deles e aquêles que amam os veros pela afeição espiritual ou porque
são veros e que a sabedoria existe pelos veros, se reúnem a um sinal dado e discutem e
decidem questões que pertencem a um entendimento muito profundo. Então me tomaram
pela mão, dizendo: Segue-nos e verás e ouvirás; o sinal da reunião foi dado hoje. Fui
conduzido através de uma planície para uma colina e ao pé da colina, um pórtico de
palmeiras, continuado até em cima; entramos ai e subimos; e sôbre a cabeça ou o cume da
colina vi um Bosque entre, as árvores, do qual um terreno elevado formava uma espécie de
Teatro onde havia uma plataforma pavimentada com pedrinhas de diversas cores; em torno,
desta Plataforma em quadrado haviam sido colocadas cadeiras sôbre as quais estavam
assentados os amadores da sabedoria; e no meio do Teatro estava uma mesa e sôbre ela
tinha sido colocado um Papel selado. Os que estavam assentados nas cadeiras nos
convidaram a tomar cadeiras ainda vagas; e eu respondi: Fui conduzido aqui por dois Anjos
para ver e escutar e não para me sentar; e então êstes dois Anjos foram ao meio da
Plataforma em direção à mesa e romperam o sêlo do papel e leram diante daqueles que
estavam assentados os arcanos da sabedoria escritos sôbre o papel, os quais iam ser
discutidos e desenvolvidos; tinham sido escritos pelos Anjos do terceiro Céu e enviados
sôbre a mesa; havia três Arcanos, o PRIMEIRO: 0 que é a imagem de Deus e o que é a
Semelhança de Deus, segundo as quais o homem foi criado? 0 SEGUNDO: Por que o
homem não nasce na ciência de amor algum, quando entretanto as bestas e os pássaros,
tanto nobres como ignóbeis, nascem ciências de todos os seus amores? 0 TERCEIRO: Que
significa a Árvore da Vida; que significa a Arvore da ciência do bem e do mal; e que
significa a ação de comer dessas árvores? Em baixo estava escrito: Reuni as três decisões
em uma única sentença, e escreveia-a sôbre um nôvo papel e recolocai-o sôbre esta mesa;
se a sentença, na balança, parece de pêso e justa, o premeio da sabedoria será dado a cada
um de vós. Após esta leitura os dois Anjos se retiraram e foram levados para os Céus. E
então aquêles que estavam assentados nas cadeiras começaram a discutir e desenvolver os
Arcanos que lhes eram propostos e falaram em ordem; primeiro os que estavam sentados no
Setentrião, em seguida os que estavam no Ocidente, depois os que estavam no Oriente; e
tomaram o Primeiro assunto da discussão, que era: 0 QUE E' A IMAGEM DE DEUS E 0
QUE E' A SEMELHANÇA DE DEUS, SEGUNDO AS QUAIS 0 HOMEM FOI
CRIADO? E então leu-se primeiro diante de todos os assistentes estas passagens do Livro
da Criação: "Deus disse: Façamos o homem à nossa Imagem, à Semelhança de Deus êle, o
fez'' (1, 26 e 27). "No dia em que Deus criou o homem, à Semelhança de Deus Êle o fez''
(V, 1).
Aquêles que estavam sentados no Setentrião falaram primeiro, dizendo que a Imagem de
Deus e a Semelhança de Deus são as duas Vidas inspiradas no homem por Deus, isto é, a
Vida da vontade e a Vida do entendimento, pois está dito: "Jehovah Deus inspirou nas
narinas de Adão uma alma de Vidas e o homem foi feito alma vivente" (Gen. 11, 7). Pelo
que parece ser ,entendido que Êle lhe inspirou a vontade do bem e a percepção do vero e
assim uma alma de vidas; e como a vida lhe foi inspirada por Deus, a Imagem e a
Semelhança significam a integridade nêle segundo o amor e a sabedoria e segundo a justiça
e o julgamento. Aqueles que estavam sentados no Ocidente foram favoráveis a esta opinião,
acrescentando entretanto que o estado de integridade que lhe foi inspirado por Deus, é
contínuamente inspirado a cada homem depois dele, mas que está no homem como em um
receptáculo, e que o homem sendo um receptáculo é a imagem e semelhança de Deus. Em
seguida os Terceiros em ordem, a saber, aquêles que estavam sentados ao Meio-Dia,
disseram: A Imagem de Deus e a Semelhasça de Deus são duas cousas distintas, mas unidas
no homem por criação e vemos como numa espécie de luz interior que o homem pode
destruir a imagem de Deus, mas não a semelhança de Deus; isto se apresenta como através
de um véu, no fato de Adão ter retido a semelhança de Deus após ter perdido a imagem de
Deus, pois após a maldição lê-se estas palavras: "Eis, o homem é como um de nós, sabendo
o bem e o mal" (Gen. 111, 22). E em seguida é chamado semelhança de Deus (Geri. V, 1),
mas deixemos falar os nossos co-associados que estão sentados no Oriente e estão por
conseqüência em uma luz superior sôbre o que é própriamente a imagem de Deus e -o que é
própriamente a semelhança de Deus. E então, depois que o silêncio se restabeleceu, os que
estavam sentados no Oriente se, levantaram de suas cadeiras e elevaram o olhar para o
Senhor; e em seguida se recolocaram em suas cadeiras e disseram: A Imagem de Deus é o
receptáculo de Deus e Deus sendo o Amor mesmo e a Sabedoria mesma, a imagem de Deus
é a recepção do amor e, da sabedoria que procedem de Deus, no homem; mas a Semelhança
de Deus é uma perfeita semelhança e uma plena aparência como se o amor e a sabedoria
estivessem no homem e por conseqüência absolutamente como se lhe pertencessem pois o
homem não pode fazer outra cousa senão sentir que ama por si mesmo e que é sábio por si
mesmo ou que quer o bem e compreende o vero por si mesmo quando entretanto, não o é
na mínima cousa por si mesmo, mas o é por Deus; Deus só ama por Si mesmo e é sábio por
Si mesmo, porque Deus é o Amor mesmo e a Sabedoria mesma; a semelhança ou a
aparência que o amor e a sabedoria ou o bem e o vero estão no momem como lhe
pertencendo, faz que o homem seja homem e possa ser conjunto a Deus e assim viver na
eternidade; segue-se daí que o homem é homem pelo fato de poder querer o bem e
compreender a verdade absolutamente como por si mesmo, e entretanto saber !e crer que é
por Deus, pois à medida que sabe e crê, Deus põe Sua imagem no homem; isto seria de
outro modo se êle cresse que é por si mesmo e não por Deus. Depois que êles assim
falaram, o zêlo que produz o amor da verdade os tomou e êles pronunciaram estas palavras:
Como pode o homem receber alguma cousa do amor e da sabedoria, o reter e reproduzir, se
êle não o sente como lhe pertencendo? Como pode haver uma conjunção com Deus pelo
amor e a sabedoria, se não for dado ao homem algum recíproco de conjunção, pois sem um
recíproco nenhuma conjunção pode existir; e o recíproco da conjunção é que o homem ame
a Deus e faça as coisas que são de Deus -como por si mesmo e creia entretanto que é por
Deus! Como o homem pode viver na eternidade, se não for conjunto a Deus eterno? E por
conseqüência como pode o homem ser homem sem esta semelhança nêle? A estas palavras
todos aplaudiram e disseram: Que seja tirada uma conclusão do que acaba de ser dito e
tirou-se esta: 0 homem é o receptáculo de Deus; e o Receptáculo de Deus é a Imagem de
Deus; e como Deus é o Amor mesmo e a Sabedoria mesma, o homem é o Receptáculo do
Amor e da Sabedoria e o Receptáculo torna-se Imagem de Deus conforme recebe; o homem
é a Semelhança de Deus pelo fato de sentir que as cousas que vêm de Deus estão nêle como
se lhe pertencessem; mas entretanto por esta semelhança êle não é a imagem de Deus senão
tanto quanto reconhece que o amor e a sabedoria ou o bem e o vero, não são nêle cousas
que lhe pertençam e que assim elas não vêm tampouco déle, mas que são únicamente de
Deus e vêm por conseqüência de Deus. Depois disso, tomaram o segundo grau da
discussão: "PORQUE 0 HOMEM NAO NASCE NA CIÈNCIA DE AMOR ALGUM,
QUANDO ENTRETANTO AS BÉSTAS E OS PASSAROS, TANTO NOBRES COMO
IGNÓBEIS, NASCEM NAS CIÈNCIAS DE TODOS OS SEUS AMORES". De comêço
confirmaram a verdade da proposição por diversos meios, por exemplo, a respeito do
homem, que êle não nasce em ciência alguma, nem mesmo na ciência do amor conjugal; e
se informaram e observadores lhes disseram que a criança não conhece mesmo por uma
ciência inata a mama da mãe, mas que é a mãe ou a ama que a faz conhecê-la,
aproximando-a; que ela só sabe mamar e que aprendeu isso por uma contínua sucção no
útero da mãe; que mais tarde não sabe nem caminhar, nem articular o som em palavra
humana alguma, nem mesmo exprimir pelo som como as bêstas, as afeições do amor; que
além disso não conhece alimento algum que lhe convém, como as bêstas, mas toma o que
encontra, quer seja limpo ou sujo e o leva à boca; êstes observadores disseram que o
homem, sem instrução, ignora absolutamente as maneiras de amar o sexo e que mesmo as
moças e os rapazes o ignoram, se não forem instruídos por outros; em uma palavra, o
homem nasce corporal como * verme; e permanece corporal, a menos que aprenda por
outros * saber, a compreender e a ser sábio. Depois disso, confirmaram que as Bêstas, tanto
nobres como ignóbeis, como os animais da terra, os pássaros do Céu, os réptis, os peixes,
estes vermes que se chamam insetos, nascem em tôdas as ciências dos amores de sua vida,
por exemplo, em tudo que concerne à alimentação, em tudo que concerne à habitação, em
tudo que concerne ao amor do sexo e à prolificação e em tudo que concerne à educação de
seus filhotes; confirmaram isso por maravilhas que lembraram em suas memórias, pelo que
tinham visto, ouvido e lido no Mundo natural, onde tinham vivido antes e no qual há bestas
não representativas, mas reais. Depois que a verdade da proposição foi assim provada,
aplicaram suas mentes em pesquisar e encontrar as causas pelas quais desenvolveriam êste
Arcano; e disseram todos: Isso não pode existir assim senão pela Divina Sabedoria, a fim
de que -a homem seja homem e que, a bêsta seja bêsta e que assim a imperfeição de
nascença do homem se torne perfeição e que a perfeição de nascença da bêsta seja a
imperfeição.
Então os do Setentrião começaram, primeiro, a dar sua opinião e disseram que o homem
nasce sem as ciências, a fim de que possa recebê-las tôdas, enquanto que se nascesse nas
ciências não poderia receber outras a não ser aquelas em que nascesse; e que então não
poderia tampouco se apropriar de nenhuma; ilustraram isso por comparações: 0 homem no
seu nascimento é como um humus no qual semente alguma está espalhada, mas que pode
entretanto receber todas as sementes e fazei-las crescer e frutificar; a besta, ao contrário, é
como um húmus já semeado e cheio de grama e de ervas, o qual não recebe outras sementes
senão as que nele estão semeadas; se outras lhe fossem confiadas, ele as abafaria; daí vem
que o homem, para adquirir todo seu crescimento, emprega vários anos, durante os quais
pode, como um húmus, ser cultivado e produzir como que colheitas, flores e árvores de
toda espécie, enquanto que a besta adquire seu crescimento em muitos poucos anos, durante
os quais não pode ser cultivada senão nas ciências que recebeu de nascença. Em seguida os
do Ocidente falaram e disseram que o homem não nasce ciência, como a besta, mas nasce
Faculdade e Inclinação; Faculdade para saber, e Inclinação para amar e nasce Faculdade
não somente para amar as cousas que são dele e do mundo, mas também as que são de
Deus e do Céu; que em conseqüência o homem nasce órgão, vivendo apenas pelos sentidos
externos, portanto obscuramente, mas de modo algum pelos internos, a fim de que
sucessivamente viva e se torne homem, a princípio natural, em seguida racional e pôr fim
espiritual; o que não aconteceria, se nascesse nas ciências e nos amores como as bestas;
com efeito, as ciências e as afeições do amor inatas (connata) limitam esta progressão; mas
as faculdades e inclinações sós não limitam cousa alguma; é por isso que o homem pode ser
aperfeiçoado pela ciência, a inteligência e a sabedoria durante a eternidade. Os do meio-dia
falaram em seguida e emitiram sua opinião dizendo: V impossível ao homem adquirir por si
mesmo alguma ciência, mas é pelos outros que ele deve adquirir a ciência, pois que
nenhuma ciência é inata (connata) nele; e como não pode adquirir por si mesmo nenhuma
ciência, não pode tampouco adquirir amor algum, pois que onde não está a ciência, aí não
está o amor; a ciência e o amor são companheiros indivisíveis e não podem ser separados
do mesmo modo que a vontade e o entendimento, ou a afeição e o pensamento, enfim do
mesmo modo que a essência e a forma; à medida portanto que o homem adquire dos outros
a ciência, o amor a esta se adjunta como companheiro da ciência; o amor universal que a
ela se adjunta é o amor de saber e em seguida o amor de compreender e o amor de ser
sábio; estes amores são do homem somente e não estão em besta alguma e influem de
Deus. Concordamos com os nossos companheiros do Ocidente, que o homem não nasce em
amor algum> nem por conseqüência em ciência alguma, mas nasce somente na inclinação
de amar e, por conseguinte na faculdade de receber as ciências, não dele mesmo, mas pelos
outros, isto é, por intermédio dos outros, porque estes também nada recebem deles mesmos,
mas receberam originariamente de Deus. Concordamos também com os nossos
companheiros do Setentrião, que o homem ao nascer é como um húmus no qual nenhuma
semente foi espalhada, mas onde podem ser semeadas todas as cousas tanto nobres como
ignóbeis; daí vem que ele tenha sido chamado Homem da palavra húmus e Adão da palavra
Adama que é o Humus. A isso ajuntamos que as Bestas nascem nos amores naturais e, por
conseguinte, nas ciências que a eles correspondem, e que entretanto dessas ciências eles
nada sabem, nada pensam, nada compreendem e nada discernem, mas a elas são
conduzidos por seus amores pouco mais ou menos como os cegos nas ruas por cães, pois
são cegos quanto ao entendimento; ou antes são como sonâmbulos que fazem o que fazem
por uma ciência cega, estando o entendimento entorpecido. Os do Oriente falaram em
último lugar e disseram: Concordamos com as opiniões que nossos irmãos emitiram, que o
homem nada sabe por si mesmo, mas sabe pelos outros e por intermédio dos outros, a fim
de que conheça e reconheça que tudo o que sabe, compreende e discerne, vem de Deus; e
que de outro modo o homem não pode nascer e ser engendrado de Deus, nem se tornar Sua
imagem e semelhança; pois ele se torna imagem de Deus pelo fato de reconhecer e crer que
recebeu e recebe de Deus e não de si mesmo, todo bem do amor e da caridade e todo vero
da sabedoria e da fé; e é a semelhança de Deus, pelo fato de sentir em si este bem e este
vero como vindos dele mesmo; sente isso porque não nasce nas ciências, mas as recebe e
lhe parece que o que recebe vem dele; Deus dá mesmo ao homem sentir assim, a fim de que
seja homem e não besta, pois que pelo fato de querer, pensar, amar, saber, compreender e
ser sábio como por si mesmo, recebe as ciências, as exalta em inteligência, e por seus usos,
em Sabedoria; assim Deus conjunta o homem a Ele, e o homem se conjunta a Deus; estas
cousas não teriam podido se fazer se Deus não tivesse provido para que o homem nascesse
em uma ignorância total. Depois destas palavras, todos quiseram que se formasse uma
conclusão do que acabava de ser dito e formulou-se esta: "Que o homem não nasce em
ciência alguma, a fim de que possa crescer em toda ciência, e fazer progressos na
inteligência e, pela inteligência, na sabedoria; e não nasce em amor algum, a fim de que
possa crescer todo amor, pelas aplicações das ciências segundo a inteligência e no amor
para com Deus pelo amor em relação ao próximo, e assim ser conjunto a Deus, e por isso,
tornar-se homem, e viver na eternidade. Em seguida, tomaram o papel e leram o terceiro
Objeto da discussão, a saber: "0 QUE SIGNIFICA A ARVORE DA VIDA; 0 QUE
SIGNIFICA A ARVORE DA CIÊNCIA DO BEM E DO MAL; 0 QUE SIGNIFICA A
AÇÃO DE COMER DESSAS ARVORES?" todos pediram que os que estavam sentados
ao Oriente desenvolvessem esse Arcano, como tendo um entendimento mais profundo e
porque os que são do Oriente estão na luz inflamada, isto é, na sabedoria do amor e esta
sabedoria é entendida pelo Jardim do Éden, no qual estas duas Arvores estavam colocadas;
estes responderam: Vamos falar, mas como o homem nada pode tirar dele mesmo e tira
tudo de Deus, falaremos segundo Deus, mas não obstante por nós como se fosse por nós
mesmos; e então disseram: a Arvore significa o homem e o fruto da árvore é o bem da vida;
daí a árvore da vida significa o homem vivendo por Deus; e como o amor e a sabedoria, a
caridade e a fé, ou o bem e o vero fazem a vida de Deus no homem, a Arvore da vida
significa o homem em que estas cousas estão por Deus e, por conseguinte, a vida eterna
para o homem; a Arvore da Vida de que lhe será dado comer (Apoc. 11, 7, e XXII, 2 e 14),
tem a mesma significação. A Arvore da ciência do bem e do mal significa o homem que crê
viver por si mesmo e não por Deus, assim crê que o amor e a sabedoria, a caridade e a fé,
isto é, o bem e o vero, pertencem no homem ao homem, e não a Deus, crendo isso porque
pensa e quer, fala e age em toda semelhança, e em toda aparência como por si mesmo; e
como o homem por conseguinte se persuade que é também um Deus, é por isso que a
Serpente disse: "Deus sabe que no dia que comerdes do fruto desta árvore, os vossos olhos
serão abertos, e vós sereis como Deus sabendo o bem e o mal" (Gen. 111, 5). A Ação de
comer destas árvores significa a recepção e a apropriação; a ação de comer da árvore da
vida, a recepção da vida eterna; e a grão de comer da árvore da ciência do bem e do mal, a
recepção da danação; pela Serpente é entendido o diabo quanto ao amor de si e ao fasto da
própria inteligência; e este amor é o possuidor desta árvore e os homens que estão no fasto
segundo este amor são estas árvores. Estão portanto em grande erro aqueles que crêem que
Adão foi sábio e fez o bem por ele mesmo e que era esse o seu estado de integridade,
quando entretanto este Adão, foi maldito por causa desta fé; pois isso é significado por
Comer da árvore da ciência do bem e do mal; é por isso que então ele caiu do estado de
integridade, no qual tinha estado quando cria. Ser sábio e fazer o bem por Deus e de modo
algum por si mesmo, pois isto é entendido por Comer da árvore da vida. O Senhor só,
estando no Mundo, foi sábio por Si mesmo, porque por nascimento o Divino Mesmo estava
n'Ele e Lhe pertencia, também é por isso que pela própria potência Ele se tornou o Redentor
e Salvador. De tudo que acabavam de dizer fizeram esta Conclusão: "Que pela Arvore da
vida e pela Arvore da ciência do bem e do mal e pela ação de comer destas árvores, é
entendido, que a Vida para o homem é Deus nele, e que então ele tem o Céu e a Vida
eterna; e que a Morte para o homem é a persuasão e a fé de que a vida para o homem é, não
Deus, mas ele mesmo, donde lhe vem o Inferno e a Morte eterna, que é a danação.
Depois disso, examinaram o Papel deixado pelos Anjos sobre a mesa e viram escrito em
baixo: "Reuni as três Decisões em uma única sentença"; e então eles as reuniram de novo e
viram que se ligavam as três em uma única série; e que esta série ou esta sentença era esta:
"Que o Homem foi criado para receber de Deus o amor e a sabedoria e, entretanto, em toda
semelhança como dele mesmo; e isso por causa da recepção e da conjunção; e que em
conseqüência o homem não nasce em amor algum, nem em ciência alguma, nem mesmo
em poder algum de -amar e de ser sábio por si mesmo; é por isso que se atribui todo bem do
amor e todo vero da sabedoria a Deus, torna-se Homem vivente; mas se os atribui a si
mesmo, torna-se homem morto". Escreveram estas palavras sobre um novo Papel e o
colocaram sobre a Mesa; e eis que, imediatamente, os Anjos foram presentes em uma
nuvem de uma brancura resplandecente e levaram o, papel ao Céu e depois que ali foi lido,
os que estavam sentados nas cadeiras ouviram vozes do Céu: Bem, bem, bem. E em
seguida apareceu um Anjo que parecia voar, tendo como que duas asas nos pés e nas
têmporas; trazia prêmios, que consistiam em Togas, Barretes e Coroas de louro; e desceu e
deu aos que estavam sentadas ao Setentrião Togas de cor opala; aos que estavam ao
Ocidente togas de cor escarlate; aos que estavam ao Meio-Dia. Barretes ornados em volta
com faixas de ouro e pérolas, cuja elevação do lado esquerdo era enriquecida com
diamantes talhados em forma de flores; e aos que estavam ao Oriente, coroas de louro nas
quais estavam rubis e safiras; e todos, decorados com seus prêmios foram embora do Jogo
da sabedoria para suas casas com alegria.
DA OMNIPOTÊNCIA, DA ONISCIÊNCIA E DA ONIPRESENÇA DE DEUS
&49 - Tratou-se do Divino Amor e da Divina Sabedoria e mostrou-se que são os dois a
Divina Essência; falar-se-á agora da Onipotência, da Onisciência e da Onipresença de
Deus, porque as Três procedem do Divino Amor e da Divina Sabedoria, pouco mais ou
menos como a potência e a presença do Sol neste Mundo, e em todas e cada uma das
cousas do Mundo pelo Calor e pela Luz; o Calor que procede do Sol do Mundo espiritual,
no meio do qual está Jehovah. Deus é também em sua essência o Divino Amor; e a Luz que
procede dele é também em sua essência a Divina Sabedoria; daí é evidente que, como a
Infinidade, a Imensidade e a Eternidade pertencem ao Divino Ser, do mesmo modo a
Onipotência, a Onisciência e a Onipresença pertencem à Divina Essência. Mas como estes
três atributos universais da Divina Essência não foram até ao presente compreendidos
porque as suas progressões, segundo suas vias, que são as leis da Ordem, não eram
conhecidas, é necessário pô-los na luz por Artigos, que serão:
I - A ONIPOTÊNCIA, A ONISCIÊNCIA, E A ONIPRESENÇA PERTENCEM A
DIVINA SABEDORIA SEGUNDO O DIVINO AMOR.
II - A ONIPOTÊNCIA, A ONISCIÊNCIA E A ONIPRESENÇA DE DEUS NÃO PODEM
SER CONHECIDAS SE SE IGNORA 0 QUE E' A ORDEM; E SE NÃO SE SABE
RELATIVAMENTE A ORDEM, QUE DEUS E' A ORDEM E QUE NO INSTANTE DA
CRIAÇÃO ELE INTRODUZIU A ORDEM, TANTO NO UNIVERSO COMO EM
TODAS E CADA UMA DAS COUSAS DO UNIVERSO.
III - A ONIPOTÊNCIA DE DEUS TANTO NO UNIVERSO, COMO EM TODAS E
CADA UMA DAS COUSAS DO UNIVERSO, PROCEDE E OPERA SEGUNDO AS
LEIS DE SUA ORDEM.
IV - DEUS E' ONISCIÊNTE, QUER DIZER QUE ELE PERCEBE, VÊ E SABE TODAS
AS COUSAS TANTO EM GERAL COMO EM PARTICULAR, ATÉ AS MAIS
MINUCIOSAS QUE SÃO FEITAS SEGUNDO A ORDEM; E TAMBÉM, POR ESTAS,
TODAS AS QUE SÃO FEITAS CONTRA A ORDEM.
V - DEUS E' ONIPRESENTE DESDE OS PRIMEIROS ATÉ AOS ÚLTIMOS DE SUA
ORDEM.
VI - 0 HOMEM FOI CRIADO FORMA DA ORDEM DIVINA.
VII - TANTO QUANTO 0 HOMEM VIVE SEGUNDO A ORDEM DIVINA, TANTO
ESTA ELE NO PODER CONTRA 0 MAL E 0 FALSO SEGUNDO A DIVINA
ONIPOTÊNCIA, E TANTO ESTA NA SABEDORIA SOBRE 0 BEM E 0 VERO
SEGUNDO A DIVINA ONISCIÊNCIA; E TANTO ESTA EM DEUS SEGUNDO A
DIVINA ONIPRESENÇA.
Estas proposições vão ser desenvolvidas uma após outra.
&50 - I. A ONIPOTÊNCIA, A ONISCIÊNCIA E A ONIPRESENÇA PERTENCEM A
DIVINA SABEDORIA SEGUNDO O DIVINO AMOR.
Que a Onipotência, a Onisciência e a Onipresença pertencem à Divina Sabedoria segundo o
Divino Amor, e não ao Divino Amor pela Divina Sabedoria, é um Arcano do Céu, que
ainda não brilhou no entendimento de pessoa alguma porque ninguém soube ainda o que é
o Amor em sua Essência, nem com mais forte razão, cousa alguma do influxo de um no
outro, a saber, que o Amor, com todas e cada uma das cousas que lhe pertencem, influi na
Sabedoria e aí reside como um Rei em seu Reino ou como um Senhor em sua casa; e
abandona a seu julgamento todo o governo da justiça; e como a justiça pertence ao Amor e
o julgamento à Sabedoria, êle abandona à sua Sabedoria todo o. governo do Amor; mas este
arcano será posto na luz no que segue que isto, enquanto se espera, sirva de regra. Que
Deus seja Onipotente, Onisciênte e Onipresente pela Sabedoria de Seu Amor é também o
que é entendido por estas palavras em João: "No comêço era a Palavra; e a Palavra estava
em Deus e Deus era a Palavra, todas as cousas foram feitas por Ela, e sem Ela nada foi feito
do que foi feito. N'Ela estava a Vida e a Vida era a Luz dos homens; e o Mundo foi feito
por Ela e a Palavra foi feita Carne" (João 1, 1, 3, 4, 10 e 14); aí, pela Palavra é entendido o
Divino Vero ou, o que dá no mesmo, a Divina Sabedoria; é por isso que ela também é
chamada Vida e Luz; e a Vida e a Luz não são outra cousa senão a Sabedoria.
&51 - Pois que na Palavra a Justiça se diz do Amor e o Julgamento da Sabedoria, em
conseqüência vai-se referir algumas passagens que mostram que o Govêrno de Deus se faz
no Mundo por estas duas cousas; eis essas passagens: "Jehovah, a Justiça e o Julgamento
(são) -o sustentáculo do teu Trono" (Ps. 89, 15). "Que aquêle que se glorifica, se glorifique
porque Eu Jehovah faço Julgamento e Justiça na Terra" (Jeremias IX, 23). "Exaltado seja
Jehovah, porque Êle encheu Sião de Julgamento e de Justiça" (Isaías XXXIII, 5). "E correrá
como água o Julgamento e a Justiça como uma torrente forte" (Amós V, 24). "Jehovah! tua
Justiça é um abismo grande" (Ps. 36, 7). "Jehovah fará sair como a luz tua Justiça e teu
Julgamento como o meio-dia" (Ps. 37, 6). "Jehovah. julgará seu povo na Justiça e seus
desgraçados no Julgamento" (Ps. 72, 2). "Quando eu tiver aprendido os Julgamentos da tua
Justiça" (Ps. 119, 7, 164). "Desposar-te-ei na Justiça e no Julgamento" (Hoséas, 11, 19).
''Sião na Justiça será resgatada, e seus resgatados no Julgamento" (Isaías 1, 27). "Ele estará
sentado no Trono de David e sobre seu Reino para firmar em Julgamento e em Justiça"
(Isaías IX, 6). "Eu suscitarei a David um germe justo, que reinará Rei e fará Julgamento e
Justiça na Terra" (Jeremias XXIII, 5; XXXIII, 15); e em outros lugares, se diz que se deve
fazer a Justiça e o Julgamento, como em Isaías 1, 21; V, 16; LVIII, 2; Jeremias IV, 1; XXII,
3, 13, 15; Ezequiel XVIII, 14, 16, 19; Amos. VI, 12; Miqueas VII, 9; Deuter. XXXIII, 21;
João XVI, 8, 10, 11).
&52 - II. A ONIPOTÊNCIA, A ONISCIÊNCIA E A ONIPRESENÇA DE DEUS NÃO
PODEM SER CONHECIDAS SE SE IGNORA 0 QUE É A ORDEM E SE NÃO SE
SABE RELATIVAMENTE A ORDEM, QUE DEUS E' A ORDEM; E QUE NO
MOMENTO DA CRIAÇÃO ELE INTRODUZIU A ORDEM TANTO NO UNIVERSO
COMO EM TODAS E CADA UMA DAS COUSAS DO UNIVERSO.
Quantas extravagâncias e que extravagâncias se espalharam nas mentes humanas, e da na
Igreja pelas Cabeças e instauradores, por isso que eles não compreenderam a Ordem, na
qual Deus criou o Universo e cada uma das cousas do Universo! Poderse-á ver no que
segue só pelo recenseamento que delas será feito. Mas aqui vamos de começo fazer
conhecer a Ordem por uma espécie de definição geral que é esta: A Ordem é a qualidade da
disposição da determinação e da atividade das partes, das substâncias ou seres, que
constituem a forma, donde, provém o estado cuja sabedoria segundo seu amor produz a
perfeição, cuja loucura de razão segundo a cobiça força a imperfeição. Nesta definição são
mencionados a Substância, a Forma e o Estado, e pela Substância entendemos ao mesmo
tempo a Forma, porque toda substância é forma; e a qualidade da forma é seu estado, cuja
perfeição ou imperfeição resulta da ordem. Mas como estas cousas são Metafísicas, não
podem estar senão na obscuridade, todavia esta obscuridade será no que segue dissipada
por explicações e exemplos que ilustram este assunto.
&53 - Que Deus seja a Ordem é porque Ele é a Substância mesma e a Forma mesma; a
Substância, porque todas as cousas que subsistem existiram e existem por Ele; a Forma
porque toda qualidade da Substância saiu e sai d'Ele a qualidade não provém de outra parte
que não seja a forma. Agora, como Deus é a Substância mesma, única e primeira e a Forma
mesma única e primeira, e como ao mesmo tempo Ele é o Amor mesmo e único e a
Sabedoria mesma e única; e como a Sabedoria segundo o Amor faz a forma, e como o
estado e a qualidade da forma, são segundo a ordem que aí está, segue-se que Deus é a
Ordem mesma; conseqüentemente, que Deus por Si mesmo introduziu a Ordem tanto no
Universo como em todas e dada uma das cousas do Universo; e que Ele introduziu a Ordem
mais perfeita, porque todas as cousas que Ele criou eram boas, como se vê no Livro da
Criação; que as coisas más tenham existido ao mesmo tempo que o Inferno, assim após a
criação, é o que será demonstrado a seu tempo. Mas passemos a coisas que entram de mais
perto no Entendimento, que o ilustram com mais clareza e que o afetam com mais doçura.
54 - Ora, qual é a Ordem em que o Universo foi criado? E' o que não pode ser exposto
senão por um grande número de volumes; será dada uma espécie de esboço dela no Lema
seguinte sobre a Criação. Devemos ter como certo que, no Universo, todas e cada uma das
cousas foram criadas em sua ordem, para que subsistam por si mesmas e que foi assim
desde o começo, para que se conjuntem com a Ordem universal, a fim de que as ordens
singulares subsistam na Ordem universal, e assim façam um; mas recorramos a alguns
exemplos: O Homem foi criado em sua ordem e cada parte do homem na sua, assim a
Cabeça na sua; o Corpo na sua; o Coração, o Pulmão, o Fígado, o Pâncreas, o Estômago, na
sua; todo órgão do movimento, que se chama Músculo, na sua; e todo órgão dos sentidos,
como o olho, o ouvido, a língua, na sua; não há mesmo arteríola nem fibra, que não esteja
em sua ordem; e entretanto estas partes inúmeras se conjugam com o comum do homem e
aí se unem de tal modo que, em conjunto, fazem uma; acontece o mesmo em outras cousas
e um simples recenseamento basta para ilustração: Toda Besta da terra, todo pássaro no
céu, todo peixe do mar, todo réptil e mesmo todo verme até a traça, foi criado em Sua
ordem; igualmente Toda árvore, todo arbusto, arvorezinha e legume, na sua; e, mais ainda,
Toda pedra e todo mineral, até o grão de poeira da terra, foram criados na sua.
&55 - Quem não vê que não há Império, Reino, Ducado, República, Cidade, Casa, que não
seja estabelecido sobre leis que constituem a ordem e a forma de seu governo? Em cada um
desses Estados as Leis da Justiça estão em primeiro lugar, as Leis políticas em segundo e as
Leis econômicas em terceiro; se as compararmos com o homem, as Leis da Justiça fazem a
Cabeça, as Leis políticas seu Corpo e as Leis econômicas suas roupas, é mesmo por isso
que estas podem ser mudadas como às roupas. Mas quanto ao que concerne à Ordem na
qual a Igreja foi instaurada por Deus, consiste em que Deus está em todas e cada uma das
cousas da Igreja e que é em relação ao próximo que a Ordem deve ser exercida; as Leis
desta Ordem são em tão grande número quanto há Verdades na Palavra; as Leis que
concernem a Deus fazem a Cabeça, as Leis que concernem ao próximo fazem seu Corpo e
as Cerimônias fazem as roupas, pois se estas últimas não contiverem as outras em sua
Ordem, seria como se o Corpo fosse posto a nu e exposto ao calor no verão e ao frio no
inverno; ou como se se tirasse de um Templo as paredes e o teto, e que se deixasse o
Santuário, o Altar e o Púlpito expostos às diversas intempéries das estações.
&56 - III. A ONIPOTÊNCIA DE DEUS, TANTO NO UNIVERSO COMO EM TODAS E
CADA UMA DAS COUSAS DO UNIVERSO PROCEDE E OPERA SEGUNDO AS
LEIS DE SUA ORDEM.
Deus é Onipotente porque pode todas as cousas por Si; e todos os outros não o podem
senão por Ele; o Seu Poder e a Seu Querer são um e como Ele não Quer senão o Bem, não
pode por conseqüência fazer. Senão -a Bem; no Mundo espiritual ninguém pode fazer
alguma coisa contra sua vontade, todos aí derivam isso de Deus pelo fato do Seu Poder e o
Seu Querer serem um; Deus é também o Bem mesmo, quando, portanto faz o Bem. está em
Si e Ele não pode sair de Si; daí vê-se claramente que Sua Onipotência marcha e opera
dentro da esfera de extensão do Bem, a qual é infinita; com efeito, esta Esfera pelo íntimo
enche o Universo, e todas e cada uma das cousas que aí estão; e pelo íntimo governa as que
estão por fora, tanto quanto estas se conjuntam segundo Sua ordem; e se não se conjuntam,
ela as sustenta sempre e por toda sorte de esforços trabalha para reconduzi-las a uma ordem
concordante com a Ordem universal, na qual Deus mesmo está na Sua Onipotência e
segundo a qual, Ele age; e se isso não acontece, elas são rejeitadas para fora d'Ele, onde,
não obstante, Ele as sustenta pelo íntimo. Segundo isso,, toma-se evidente que a
Onipotência Divina não pode, de modo algum, sair fora de Si para se pôr em contato com o
mal, nem o repelir de Si, pois o mal se afasta por si mesmo; donde acontece que o mal é
absolutamente separado de Deus e precipitado no Inferno, entre o qual e o Céu, onde está
Deus, existe um. Abismo imenso. Por estes poucos detalhes pode-se ver em que
extravagância estão aqueles que pensam e, mais ainda, os que crêem; e mais ainda, os que
ensinam que Deus pode danar alguém, maldizer alguém, lançar alguém no Inferno,
predestinar a alma de alguém à morte eterna, vingar-se de injúrias, pôr-se em cólera, punir;
mais ainda, Éle não pode mesmo se afastar do homem, nem encará-lo com uma face severa;
essas crenças e outras semelhantes são contra a Essência de Deus e quem é contra. Sua
Essência é contra Ele mesmo.
&57 - A opinião dominante hoje é que a Onipotência de Deus é semelhante à potência, no
Mundo, de um Rei absoluto, que pode a seu bel-prazer fazer tudo o que quiser, absolver e
condenar quem quiser, fazer o culpado, inocente, declarar fiel o que é infiel, colocar o
homem incapaz e sem mérito acima do homem. capaz e de mérito; e que pode mesmo sob
um pretexto qualquer, tirar de seus súditos os seus bens e entregá-los à morte, além de
muitos outros abusos semelhantes. Por esta opinião, esta fé e esta doutrina insensata sobre a
Onipotência Divina, espalharam se na Igreja tantas falsidades, ilusões e quimeras, como há
momentos, articulações e gerações da fé; e podem ainda se espalhar tantos quantos vasos se
pode encher com a água de um grande lago ou quantas serpentes saem de suas cavernas e
vão, gozar a exposição ao sol em um deserto da Arábia. Não temos necessidade senão de
duas palavras, Onipotência e Fé; e então, espalha-se diante do vulgo tantas conjecturas,
fábulas e futilidades, quantas caem sob os sentidos corporais, pois a razão é excluída por
uma e por outra destas palavras; e uma vez a razão excluída, em que o pensamento do
homem é superior à razão do pássaro que voa acima de sua cabeça? ou, a que se assemelha
então o Espiritual, que o homem tem a mais que as bêstas, senão ao odor que exalam as
jaulas, odor que convém as bêstas que aí estão encerradas, mas não ao homem, a menos que
seja semelhante a elas? Se a Onipotência Divina tivesse a extensão para fazer o mal como
para fazer o bem, que diferença haveria entre Deus e o Diabo? Não haveria outra senão a
que existe entre dois Monarcas, um dos quais é Rei e ao mesmo tempo -tirano, e o outro um
Tirano cuja potência foi amarrada, o que faz com que não possa ser chamado Rei; ou entre
um Pastor a quem foi permitido agir como ovelha e também como leopardo; e um Pastor a
quem isso não foi permitido. Quem não pode saber que o bem e o mal são opostos e que se
Deus, pela Sua Onipotência, pudesse querer um e outro e fazer um e outro segundo esse
quere-r, Ele nada mais poderia absolutamente e não teria, por conseqüência, potência
alguma, nem com mais forte razão a Onipotência? Seria como duas rodas que agissem
mutuamente em sentido contrário; por esta reação cada roda ficaria no lugar e estariam
completamente -em repouso; ou como um Navio que, em uma torrente oposta à sua
marcha, seria arrastado e pereceria se não estivesse em repouso sobre sua âncora; ou como
o homem que tem duas vontades opostas entre si, das quais uma está necessariamente em
repouso quando a outra age; mas se agissem as duas ao mesmo tempo, lançariam sua mente
no delírio ou na vertigem.
&58 - Se, segundo a fé de hoje, a Onipotência de Deus fosse absoluta tanto para fazer o
bem como para fazer o mal, não seria possível, e mesmo não seria fácil a Deus elevar todo
o Inferno ao Céu, mudar os diabos e os satanases em Anjos e purificar, em um instante, de
seus pecados todo ímpio sobre a Terra, renová-lo, santificá-lo, regenerá-lo e fazer dele de
um filho da cólera, um filho da graça, isto é, justificá-lo, o que se faria somente pela
adjudicação e imputação da justiça de Seu Filho? Mas Deus pela Sua Onipotência não pode
isso porque isso é contra as leis de Sua Ordem no Universo e, ao mesmo tempo, contra as
leis da Ordem postas em cada homem, as quais consistem em que de uma parte e de outra
haja mutuamente conjunção; que isso seja assim, ver-se-á na continuação deste Tratado.
Desta opinião e desta fé insensatas sobre a Onipotência de Deus, resultaria que Deus
poderia mudar cada homem-bode em homem-ovelha, e por bel-prazer fazê-lo passar de Sua
esquerda para Sua direita; poderia também, por bel-prazer, mudar os Espíritos do Dragão
em Anjos de Miguel; e poderia dar a vista de uma águia a um homem cujo entendimento é
como a vista de uma toupeira; em uma palavra: de um homem-coruja fazer um homempomba; Deus não pode essas cousas fazer porque isso é contra as leis de Sua Ordem, ainda
que continuamente. Ele o queira e faça esforços. Se Ele tivesse podido, não teria permitido
a Adão escutar a serpente, tomar o fruto da Arvore de ciência do bem e do mal e aproximálo de sua boca; se tivesse podido não, teria permitido a Caim matar seu irmão; a David
fazer a numeração do povo; a Salomão elevar templos a ídolos; e aos Reis de Judah e de
Israel, profanar o Templo, o que eles fizeram tantas vezes; e mesmo se tivesse podido, teria
pela Redenção de Seu Filho, salva todo o Género humano sem executar um único homem e
extirpado todo o Inferno. Os antigos Gentios tinham atribuído uma semelhante Onipotência
a seus deuses; daí saíram às fábulas; por exemplo, a de Decalião e de Pyrrha, que lançando
pedras para trás deles, faziam homens; a de Apoleo que mudou Daphne em loureiro; a de
Diana que metamorfoseou um caçador em corvo; e a de um outro de seus deuses, que
mudou em pegas as virgens do Parnaso. A fé de hoje sobre a Onipotência de Deus é
semelhante; daí serem levadas ao Mundo tantas idéias fantásticas e por conseqüência
heréticas em toda Região onde existe a Religião.
&59 - IV. DEUS E' ONISCIÊNTE, ISTO É PERCEBE, VÊ E SABE TODAS AS
COUSAS, TANTO EM GERAL COMO EM PARTICULAR, ATÉ AS MAIS
MINUCIOSAS QUE SÃO FEITAS SEGUNDO A ORDEM; E TAMBÉM POR ESTAS
TODAS AS QUE SÃO FEITAS CONTRA A ORDEM.
Se Deus é Onisciente, isto é, vê e sabe todas as coisas, é porque Ele é a Sabedoria mesma e
a Luz mesma; ora a Sabedoria mesma percebe todas as cousas e a Luz mesma vê todas as
coisas; que Deus seja a Sabedoria mesma, é o que foi mostrado acima; que Ele seja a Luz
mesma é porque Me é o Sol do Céu Angélico, que ilustra o entendimento de todos, tanto o
dos Anjos como o dos homens, pois do mesmo modo que o olho é esclarecido pela Luz do
Sol natural, do mesmo modo o entendimento é esclarecido pela Luz do Sol Espiritual; e não
só é esclarecido mas é ao mesmo tempo enchido de Inteligência, pois que esta Luz em sua
essência é a Sabedoria; é pôr isso que se diz em David: "Que Deus habita em uma luz
inacessível''; e no Apocalipse, "que na Nova Jerusalém não há necessidade de Lâmpada
porque o Senhor Deus a ilumina"; e em João, "que a Palavra estava em Deus e que era
Deus, é a Luz que ilumina todo homem vindo ao Mundo"; pela Palavra entende-se a Divina
Sabedoria. Dai vem que os Anjos estão tanto mais no brilho da luz, quanto mais estão na
sabedoria; e daí vem também que, na Palavra, quando a Luz é citada, entende-se a
sabedoria.
&60 - Se Deus percebe, vê e sabe todas as coisas, até as mais minuciosas, que são feitas
segundo a Ordem, é porque a Ordem é Universal pelos singularíssimos, pois os singulares
tomados em conjunto se chamam o Comum; o Universal com seus singularíssimos é uma
obra coerente com um, de tal modo que este um não pode ser nem tocado nem afetado sem
que alguma sensação repercuta sobre todo o resto. Segundo esta qualidade da Ordem no
Universo existe uma qualidade semelhante em todas as coisas, criadas no Mundo; mas isso
será ilustrado pôr comparações tomadas nas coisas, visíveis: No homem inteiro há comuns
e particulares e os comuns envolvem os particulares e eles se arranjam em um tal
entrelaçamento, que um pertence ao outro; iam acontece porque há um invólucro comum
em torno de cada membro; e este invólucro se insinua em cada uma das partes que o
compõem, para que façam um em cada função e cada uso; pôr exemplo, o invólucro de
cada músculo entra em cada uma das fibras motrizes e as reveste de si mesmo; acontece o
mesmo com o fígado, o pâncreas e o baço para cada uma das coisas, que estão dentro
dessas vísceras; acontece o mesmo com o invólucro do pulmão, que se chama pleura, para
os interiores do pulmão; do mesmo modo também o pericárdio para todas e cada uma das
cousas do coração; e comumente com o peritônio para as anastomoses com os invólucros
de todas as vísceras; do mesmo modo com as Meníngeas do Cérebro, estas pôr fios
extraídos delas mesmas, entram em todas as glândulas substratadas e pôr estas em todas as
fibras; e pelas fibras, em todas as partes do corpo; é daí que a Cabeça pelos Cérebros
governa todas e cada uma das cousas colocadas sob ela. Distes exemplos não foram
apresentados senão com o fim de que se forme, pelas cousas visíveis, alguma idéia da
maneira pela qual Deus percebe, vê e sabe todas as cousas, até as mais minuciosas que se
fazem segundo a Ordem.
&61 - Se Deus, pelas cousas que pertencem à ordem, percebe, sabe e vê todas aquelas,
tanto em geral como em particular, até as mais minuciosas, que são feitas contra a Ordem, é
porque Deus não mantém o homem no mal, mas o desvia do mal,- assim não o conduz, mas
luta com ele; pôr esta luta perpétua, pelo esforço, a resistência, a repugnância e a reação do
mal e do falso contra Seu Bem e Sua Verdade, pôr conseqüência contra Me mesmo, Ele
percebe a quantidade e a qualidade deste mal e deste falso; isso é uma conseqüência da
Onipresença de Deus em todas e cada uma das cousas de Sua Ordem, e ao mesmo tempo de
Sua Onisciência dessas coisas; assim, pôr comparação, o homem cujo ouvido está na
harmonia e na consonância, descobre exatamente a desarmonia e a dissonância de quanto e
como elas diferem quando penetram; semelhantemente, o homem cujo sentido está no
prazer, quando o desprazer intervém; semelhantemente o homem cuja vista está no belo, vê
exatamente o belo, quando há ao lado alguma cousa disforme, por Isso os pintores têm o
hábito de colocar uma figura feia ao lado de uma bela; acontece o mesmo com o bem e o
vero, quando o mal e o falso lutam contra eles, pois que o mal e o falso são distintamente
percebidos pelo bem e o vero; com efeito, quem quer que esteja no bem pode perceber o
mal; e quem quer que esteja no vero pode ver o falso; e isso, porque o bem está no calor do
Céu e o vero está na luz do Céu, enquanto que o mal está no frio do Inferno e o falso na
obscuridade do inferno; é o que pode ser ilustrado por isso que os Anjos do Céu podem ver
tudo que se passa no Inferno, e quais são os monstros que o habitam, enquanto que, ao
contrário, os espíritos do Inferno não podem ver a menor cousa do que se passa no Céu nem
mesmo os Anjos, não mais que um cego ou não mais que um olho que olha no ar vazio ou
no éter vazio. Aqueles cujo entendimento está na luz pela sabedoria são semelhantes aos
que se mantêm ao meio-dia sobre uma montanha e vêem claramente todos os objetos que
estão em baixo; e Aqueles que estão em uma luz ainda superior assemelham-se aos que,
com o auxílio de lunetas de aproximação, vêem como perto deles os objetos que estão em
torno e em baixo; mas aqueles que estão na luz ilusória do Inferno pela confirmação das
falsidades assemelham-se aos que se mantêm sobre a mesma Montanha durante a noite com
fachos na mão, e que não vêem senão os objetos mais próximos, e não percebem senão
indistintamente as formas e confusamente as cores. Quando um homem que está em alguma
luz do vero e, entretanto, no mal da vida está no prazer do seu mal, não vê os veros no
começo, senão como um morcego vê em um jardim roupas suspensas, para as quais voa
como para seu asilo; e, mais tarde, se toma como uma coruja e, enfim, como um mocho; e
então é como um limpador de chaminés que se detém na parte mais escura da chaminé e
que, quando levanta os olhos para o alto, vê o Céu através da fumaça; e quando olha para
baixo, vê a fornalha donde provém esta fumaça.
&62 - É preciso ter como, certo que a percepção dos opostos é diferente da percepção dos
relativos; com efeito, os opostos são cousas que estão fora e contra os que estão dentro;
pois se produz um oposto quando um cessa inteiramente de ser alguma cousa e outro,
então, se eleva esforçando-se por agir contra este anterior como uma roda que age contra
uma roda, e um rio contra um rio; os Relativos, ao contrário, são várias cousas diversas
dispostas em uma certa ordem, de modo que haja entre elas uma conformidade e um acordo
como pedras preciosas de diversas cores em um colar sobre o peito de uma Rainha, ou
como flores de nuances diversas em uma grinalda que provoca o encanto da vista. Há,
portanto, relativos em um e outro oposto, tanto no bem como no mal e tanto no vero como
no falso; assim, tanto no Céu como no inferno, mas os relativos do inferno são todos
opostos aos relativos no Céu; agora, pois, que Deus percebe, vê e, por conseguinte, conhece
todos os relativos do Céu pela Ordem na qual Ele mesmo está e assim, percebe, vê e
conhece todos os relativos opostos do inferno, é evidente pelo que acaba de ser dito, que
Deus é Onisciente no Inferno como no Céu e, semelhantemente, nos homens no Mundo;
que assim Ele percebe, vê e conhece seus males e seus falsos pelo bem e o vero, nos quais
Ele mesmo está e que em sua essência são Ele mesmo; com efeito, Ele disse: "Se subo ao
Céu, lá Tu (estás); se desço ao Inferno, eis-Te aí" (Salmo 139.°, 8). E em outra parte:
"Quando penetrassem no Inferno, de lá minha mão os retiraria" (Amós IX, 2, 3).
&63 - V. DEUS E' ONIPRESENTE DESDE OS PRIMEIROS ATÉ AOS últimos DE SUA
ORDEM.
Se Deus é Onipresente desde os primeiros até aos últimos de Sua Ordem, é pelo Calor e a
Luz do Sol do Mundo Espiritual, no meio do qual Ele está; por este Sol foi feita a Ordem e
pela Ordem Ele espalha o calor e a luz que penetram no Universo desde seus primeiros até
seus últimos; e produzem a vida que está no homem e em cada animal e também a alma
vegetal que está em cada germe sobre a Terra, e os dois influem em cada uma das cousas e
fazem com que cada indivíduo viva e cresça segundo a Ordem introduzido nele pôr criação;
e como Deus não é extenso e, entretanto, enche todas as extensões do Universo, Ele é
Onipresente; que Deus esteja em todos os espaços sem espaço e em todos os tempos sem
tempo; e por conseguinte, o Universo, quanto à essência e à Ordem, seja a plenitude de
Deus, é o que foi mostrado em outra parte; e isso sendo assim, pela Onipresença Me
percebe tudo, pela Onisciência provê a tudo e pela Onipotência opera tudo; donde é
evidente que a Onipresença, a Onisciência e a Onipotência fazem um ou que uma supõe a
outra e assim elas não podem ser separadas.
&64 - A Onipresença Divina pode ser ilustrada pela admirável presença dos Anjos e dos
Espíritos no Mundo Espiritual; como não há espaço nesse Mundo, mas somente aparência
de espaço, o anjo ou o espírito podem estar em um instante em presença um do outro desde
que venham a uma mesma afeição do amor e por conseguinte a um pensamento
semelhante, pois estas duas coisas fazem a aparência do espaço; que haja lá uma tal
presença de todos é o que se tornou para mim evidente, pelo fato de que eu podia ver ai
Africanos e Indianos próximos uns dos outros, embora estejam separados por tantos
quilômetros sobre a Terra; e que, além disso, pude me achar na presença dos que estão nos
Planetas de outros Mundos fora de nosso sistema solar; é por meio de uma tal presença, não
de lugar, mas de aparência de lugar, que eu conversei com os Apóstolos, com Papas,
Imperadores e Reis defuntos, com os instauradores da Igreja de hoje, Lutero, Calvino,
Melancliton e com outros de países afastados; quando existe uma tal presença para os
Anjos e para os Espíritos, o que não deve ser no Universo a presença Divina que é infinita?
Se tal -é a presença para os Anjos e os Espíritos, é porque toda afeição do amor, todo
pensamento do entendimento estão no espaço sem espaço e no tempo sem tempo, pois cada
um pode pensar em um irmão, em um parente ou em um amigo, que está nas índias e então
tê-lo como presente diante de si; pode igualmente ser afetado de amor por eles segundo
uma recordação. Por estas cousas que são conhecidas do homem, a Onipresença Divina
pode, de alguma sorte, ser ilustrada; pode também sê-lo pelos pensamentos humanos, pelo
fato de que quando alguém lembra na memória as cousas que viu em viagem por diferentes
lugares, ele os tem como presentes. Ainda mais, a vista do corpo imita esta mesma
presença; ela não nota os objetos distantes senão pelos intermediários que servem, por
assim dizer, de medida; o Sol mesmo estaria perto do olho e mesmo -como no olho, se os
intermediários não mostrassem que ele está a uma grande distância; que isso seja assim, é o
que fizeram observar em seus livros os que escreveram sobre a ótica. Uma tal presença
existe tanto para a vista intelectual como para a vista corporal do homem porque seu
espírito vê por seus olhos, mas não existe cousa semelhante para a besta porque as bestas
não têm vista espiritual. Por estas explicações, pode-se ver que Deus é Onipresente desde
os Primeiros até aos últimos de Sua Ordem; que Ele seja também Onipresente no Inferno,
isso foi mostrado no artigo precedente.
&65 - VI. O HOMEM FOI CRIADO FORMA DA ORDEM DIVINA.
Se o homem foi criado forma da Ordem Divina é porque foi criado à imagem e semelhança
de Deus; e pois que Deus é a Ordem, o homem foi criado à imagem e semelhança da
Ordem. Há duas cousas segundo as quais a Ordem veio a existir e pelas quais subsiste. O
Divino Amor e a Divina Sabedoria; e o homem foi criado receptáculo dos dois; é por isso
que ele foi criado também na ordem segundo a qual estes dois agem no Universo e,
principalmente, segundo a qual agem no Céu Angélico, donde resulta que esse Céu na sua
maior efígie é a forma da Ordem Divina e que sob o aspecto de Deus este Céu é como um
único Homem; e há também entre Mim, o Céu e o homem uma correspondência completa;
com efeito, não há no Céu nenhuma Sociedade que não corresponda a algum membro, a
alguma víscera, a algum órgão do homem; é por isso que no Céu se diz que tal sociedade
está na província do Fígado ou do Pâncreas ou do Baço ou do Estômago ou do olho, ou do
Ouvido, ou da Língua ou de tal outra parte; pois os Anjos mesmos sabem também no
domínio de que Parte do homem habitam; que isso seja assim, é o que me foi, dado saber
por viva experiência (ad vivum); vi uma sociedade de alguns milhares de Anjos cujo
conjunto formava como um único homem; por isso tornou-se evidente para mim que o Céu
no complexo é a imagem de Deus; e a Imagem de Deus é a forma da Ordem Divina.
&66 - E' preciso que se saiba que todas as cousas que procedem do Sol do Mundo
Espiritual, no meio do qual está Jehovah Deus, se referem ao homem e, por conseguinte,
tudo que existe nesse Mundo tende a uma forma humana e a apresenta em seus íntimos; daí
vem que todos os objetos que nele se oferecem aos olhos são representativos do homem; lá
aparecem Animais de todas as espécies -e esses animais são Semelhanças das afeições do
amor dos Anjos e, por conseqüência, de seus pensamentos; lá aparecem também vergeis,
canteiros e lugares cobertos de verdura; !e me foi dado saber que afeição representam cada
um desses objetos; e, o que é admirável, quando a vista íntima é aberta, conhece-se a sua
imagem nesses objetos; e isso porque todo homem é seu amor e por conseguinte seu
pensamento; e como as afeições e os pensamentos em cada homem são variados e múltiplos
e alguns se referem à afeição de tal animal e outros à afeição de tal outro, eis por que as
imagens de suas afeições se apresentam assim; mas ver-se-á mais detalhes Sobre este
assunto no Artigo seguinte em que se trata da Criação. Por isto se manifesta também esta
verdade, que o fim da Criação foi o Céu Angélico proveniente do Género Humano, por
conseqüência do Homem, em que Deus pode habitar como em Seu receptáculo; é portanto
por esta razão que o homem foi criado forma da Ordem Divina.
&67 - Deus antes da Criação era o Amor mesmo e a Sabedoria mesma e estes dois estavam
no esforço de fazer usos, pois o Amor e Sabedoria sem o uso são unicamente seres de razão
e também se dissipam, a menos que se conjuntem no uso; os dois primeiros separados do
terceiro são portanto como pássaros que voam sobre o grande oceano e, enfim, cansados de
voar caem e são submergidos, daí vê-se que o Universo foi criado por Deus a fim de que os
usos existissem; por isso, o Universo pode ser chamado o Teatro dos usos; e como o
homem é o principal fim da criação, resulta que todas as cousas, em geral e em particular,
foram criadas para o homem; e por conseguinte, todas e cada uma das coisas da ordem
foram conjuntas e concentradas nele, a fim de que por ele Deus faça os usos principais. O
Amor e a Sabedoria sem o terceiro, que é o Uso, podem ser comparados ao calor e à luz do
sol, que seriam cousas vãs se não operassem nos homens, nos animais e nos vegetais, mas
que se tornam reais pelo influxo e sua operação neles. Há pôr isso três cousas que se
seguem em ordem, o Fim, a Causa e o Efeito; e sabe-se no Mundo Sábio que o fim nada é
se não tem em vista a causa eficiente e que o fim e esta causa nada são se não resulta deles
um efeito; o fim e a causa podem, é verdade, ser abstratamente agitados na Mente, mas
sempre para algum efeito que o fim tem em vista e que a causa procura; acontece o mesmo
com o amor, com a sabedoria e o uso; e é o uso que o amor tem em vista e produz pela
sabedoria; e quando o uso é produzido, o amor e a sabedoria existem realmente e fazem no
uso sua habitação e uma residência e ai repousam como em sua casa; acontece o mesmo
com o homem no qual estão o amor e a sabedoria de Deus quando faz usos; e para que faça
usos de Deus, foi criado imagem e semelhança, isto é, forma da Ordem Divina.
&68 - VII. TANTO MAIS O HOMEM VIVE SEGUNDO A ORDEM DIVINA, TANTO
MAIS ESTA NA FORÇA CONTRA 0 MAL E 0 FALSO SEGUNDO A DIVINA
OMNIPOTÊNCIA; E TANTO MAIS NA SABEDORIA SOBRE 0 BEM E 0 VERO
SEGUNDO
• DIVINA ONISCIÊNCIA E TANTO MAIS EM DEUS SEGUNDO
• DIVINA ONIPRESENÇA.
Se tanto mais o homem vive segundo a Ordem Divina, tanto mais está na força contra os
males e os falsos segundo a Divina Onipotência é porque não há senão Deus somente que
possa resistir aos males e por conseguinte aos falsos; com efeito, todos os males e todos os
falsos vêm no Inferno e são coerentes como um no Inferno, absolutamente da mesma
maneira que todos os bens e todos os veros do Céu; pois, assim como já foi dito, todo o Céu
diante de Deus é como um único Homem; e vice-versa, todo o Inferno é como um único
Gigante que é um Monstro; é por isso que agir contra um único mal e contra o falso que
dele provém, é agir contra esse Gigante monstruoso ou contra o Inferno e ninguém o pode
senão Deus porque Ele é Onipotente; por isso; é evidente, que se o homem não se dirige ao
Deus Onipotente, não tem por si mesmo mais força contra o mal e o falso desse mal, do que
um peixe contra o Oceano, do que um inseto contra uma baleia e do que um grão de areia
contra uma montanha que desmorona; e muito menos, do que um gafanhoto contra um
elefante ou do que uma mosca contra um camêlo; e além disso, o homem tem ainda menos
força contra o mal e o falso desse mal porque nasceu do mal e o mal não pode agir contra si
mesmo. Segue-se daí que se o homem não vive segundo a Ordem, isto é, se não reconhece
Deus e Sua Onipotência e o socorro que daí pode tirar contra o Inferno, e se o homem de
seu lado não combate também contra o mal que está nele, pois este ponto pertence à Ordem
como o precedente, só pode mergulhar e submergir no inferno e ai ser empurrado pelos
males,. uns após outros como uma barca no mar pelas tempestades.
&69 - Se tanto mais o homem vive segundo a Ordem, tanto mais está na Sabedoria sobre o
bem e o vero segundo a Divina Oniciência, é porque todo amor do bem e toda sabedoria do
vero ou todo bem do amor e todo vero da sabedoria, vêm de Deus; é mesmo o que está
conforme com a confissão de todas as Igrejas do Mundo Cristão; segue-se dai que o homem
não pode estar interiormente em nenhum vero da sabedoria senão por Deus porque a Deus
pertence à Onisciência, isto é, a Sabedoria infinita. A Mente humana foi dividida em três
graus, como o Céu Angélico, e por conseguinte, pode ser elevada em um grau superior e
superior e pode ser abaixada a um grau inferior e inferior; e tanto mais é elevada a um grau
superior, tanto mais está na sabedoria, pois tanto mais está na luz do Céu, isso não, pode ser
feito senão por Deus; e tanto mais é elevada tanto mais é homem; mas tanto mais é
abaixada aos graus inferiores, tanto mais está na luz fantástica do inferno, e tanto mais
cessa de ser homem e se torna besta; é mesmo por causa disso que o homem se mantém
direito sobre os pés, e volta a face para o Céu e pode elevá-la para o zénite, enquanto que a
besta se mantém sobre os pés em uma posição paralela à terra e volta para ela todos os seus
olhares e não pode, a não ser com dificuldade, elevá-la para o Céu. 0 homem que eleva sua
Mente para Deus e reconhece que todo vero da sabedoria vem d'Ele e que vive ao mesmo
tempo segundo a Ordem, é como aquele que se mantém. sobre uma torre elevada e vê
abaixo dele uma cidade populosa e o que aí se faz nas ruas; mas o homem que em si
confirma. que todo vero da sabedoria lhe vem da luz natural e vem assim dele mesmo, é
como aquele que habita em uma adega sob esta torre e olha para esta mesma cidade por
alguns buracos, este não vê, da cidade, senão o muro de uma única casa e como os tijolos
estão aí cimentados. Enfim, o homem que tira de Deus a sabedoria é como um pássaro que,
planando no ar, vê tudo que está nos jardins, nas florestas e nas granjas e voa para o que
pertence ao seu uso; mas o homem que tira de si mesmo as. cousas que concernem à
sabedoria, sem a fé de que estas cousas vêm não obstante de Deus, é como um moscardo
que, voando perto da terra, se dirige para onde vê estrume e acha prazer no cheiro infecto
que ele -exala. Todo homem enquanto vive no Mundo, anda entre o Céu e o Inferno e está,
por conseguinte, em equilíbrio; e assim no livre arbítrio de olhar para cima, para Deus, ou
para baixo, para o inferno; se olha para cima, para Deus, reconhece que toda sabedoria vem
de Deus e está na realidade quanto ao espírito, com os Anjos do Céu; mas se olha para
baixo, o que faz todo aquele que está nos falsos segundo 0. mal, está na realidade quanto ao
espírito, com os diabos do inferno.
&70 - Se tanto mais o homem vive segundo a Ordem Divina, tanto mais está em Deus
segundo a Divina Onipresença, é porque Deus é Onipresente e por que, onde está a Sua
Ordem Divina, aí Ele está em Si, pois Ele mesmo é a Ordem, assim como foi mostrado
acima; portanto uma vez que o homem foi criado forma da Ordem Divina, Deus está nele,
mas tanto quanto o homem vive plenamente segundo a Ordem Divina; se não vive segundo
a Ordem Divina, Deus sempre estará nele, mas em seus supremos; e lhe dá poder de
compreender o vero e querer o bem, isto é, lhe dá a faculdade de compreender e a
inclinação para amar; mas tanto mais o homem vive contra a Ordem, tanto mais fecha os
inferiores de sua mente ou de seu espírito e assim impede que Deus desça e encha seus
inferiores com Sua presença; de acordo com isso Deus está nele, mas ele não está em Deus;
é uma regra geral do Céu, que Deus está em todo homem, tanto mau como bom, mas o
homem não está em Deus se não vive segundo a Ordem; pois o Senhor disse: "que quando
que o homem esteja n'Ele, e Ele no homem" (João XV, 4). Se o homem pela vida segundo a
Ordem está em Deus, é porque Deus é Onipresente no Universo e em todas e cada uma das
cousas do Universo, em seus íntimos, pois estes íntimos estão na Ordem; mas nas cousas
que são contra a Ordem, as quais são unicamente as que estão fora dos íntimos, Deus está
Onipresente por uma luta contra elas, e por um esforço contínuo para reconduzi-las à
Ordem; é por isso que tanto mais o homem se deixa reconduzir A Ordem, tanto mais Deus
está nele e ele em Deus. Deus não pode estar ausente do homem, como o Sol não pode estar
da Terra pelo calor e a luz; mas os objetos da Terra não estão na virtude do Sol senão tanto
quando recebem estas duas cousas que procedem deste Sol, o que acontece nas estações da
Primavera e do Verão; isto pode assim ser aplicado à Onipresença de Deus, nisto que, tanto
mais o homem está na Ordem, tanto mais está no calor espiritual e ao mesmo tempo na luz
espiritual, isto é, no bem do amor e nos veros da sabedoria; mas o calor e a luz espirituais
não são como o calor e a luz naturais, pois o calor natural se retira da Terra e de seus
objetos no tempo do Inverno e a luz se retira no tempo da noite, e isso acontece porque a
Terra produz esses tempos pôr sua rotação sobre si mesma e por seu movimento em torno
do Sol; mas não acontece o mesmo com o calor espiritual e a luz espiritual, pois Deus por
Seu Sol está presente com um e outro e não tem alternativas de presença e ausência, como
em aparência o Sol do mundo, o homem mesmo se afasta como a Terra se afasta de seu
Sol; e quando ele se afasta dos veros da sabedoria é como a Terra que se afasta de seu Sol
no tempo da noite; e quando o homem se afasta dos bens do amor é como a Terra que se
afasta de seu Sol no tempo do inverno; tal é a correspondência entre os efeitos e os usos
procedentes do Sol do Mundo espiritual e os efeitos e os usos provenientes do Sol do
Mundo natural.
&71 - As explicações precedentes ajuntarei três Memoráveis. Eis o primeiro: Um dia ouvi
sob mim como um barulho do mar e perguntei o que era; e alguém me disse que era um
tumulto entre espíritos reunidos na Terra inferior; e incontinenti o solo que fazia teto acima
deles se entreabriu e eis que, através da abertura, voaram nuvens de pássaros noturnos que
se espalharam à esquerda; e logo depois se elevaram gafanhotos que saltavam sobre a relva
do solo e fizeram por toda parte um deserto; e pouco depois ouvi alternadamente gritos
lamentáveis desses pássaros noturnos; e sobre o lado um grito confuso como de espectros
nas florestas. Em seguida vi belos pássaros do Céu, que se espalharam à direita; estes
pássaros se faziam notar pôr asas como que douradas, recamadas de raias e manchas como
que prateadas; e sobre a cabeça de alguns havia cristas em forma de coroas. Enquanto eu
via e admirava estes objetos, de repente, da Terra Inferior, onde se fazia esse tumulto,
elevou-se um Espírito que podia se dar a forma de um Anjo de luz, e gritava: Onde está
aquêle que fala e escreve sobre a Ordem, à qual Deus Onipotente se sujeitou quanto ao que
concerne ao homem? Ouvimos através do teto estas palavras pronunciadas em cima; êste
Espírito, enquanto estava sobre esta Terra, percorria um caminho batido e, enfim, veio para
mim e logo tomou a aparência de um Anjo do Céu; e, falando com um tom que não lhe era
próprio, disse: És tu que pensas e falas sobre a Ordem? Diz-me, sumariamente, o que é a
Ordem-e algumas das cousas concernentes à Ordem. E eu respondi: Eu te darei as
propriedades sumárias, mas não as particulares porque tu não as compreenderias, e disse: I.
Deus Mesmo é a Ordem. II. Êle criou o homem segundo a Ordem, na Ordem e para a
Ordem. III. Criou sua Mente racional segundo a Ordem de todo o Mundo Espiritual; e seu
Corpo segundo a Ordem de todo o Mundo natural; é por isso que o homem foi chamado
pelos Antigos Micro-Urano (Céu pequeno), e Micro-Cosmo (mundo pequeno). IV. Daí, é
uma Lei da Ordem, que o homem por seu Micro-Urano ou pequeno mundo espiritual, deve
governar o seu Microcosmo ou pequeno mundo natural, como Deus por Seu Macro-Urano
ou Mundo Espiritual governa o Macrocosmo ou Mundo Natural no conjunto e em cada
parte. V. Por conseguinte, é uma Lei da Ordem, que o homem deve se introduzir na Fé
pelas verdades segundo a Palavra e na Caridade pelas boas obras; e por conseqüência, se
reformar e se regenerar. VI. E' uma Lei da Ordem, -que o homem por seu trabalho e sua
força se purifique dos pecados e que não se mantenha na fé da impotência e não espere que
Deus lave imediatamente seus pecados. VII. E' também uma Lei da Ordem, que o homem
ame a Deus de toda a sua alma e de todo seu coração, e ao próximo como a si mesmo e que
não protele e não espere que êsses dois amores sejam introduzidos por Deus Imediatamente
em sua mente e em seu coração, como o pão seria posto na boca por um padeiro; além de
várias outras leis semelhantes. Depois de ter ouvido estas palavras, êste satanás replicou
com uma voz doce na qual havia astúcia interiormente: Que dizes aí? 0 quê! o homem deve
por sua força introduzir-se na ordem cumprindo suas leis! Não sabes que o homem está,
não sob a lei, mas sob a graça; que todas as cousas lhe são dadas gratuitamente; que êle não
pode tomar senão aquilo que lhe foi dado do Céu e que nas cousas espirituais não pode agir
por si mesmo mais do que a mulher de Loth transformada em estátua, ou que Dragão o
ídolo dos Filisteus em Ekron, e que em conseqüência, é impossível ao homem justificar-se,
devendo isso ser feito pela Fé e pela Caridade? Mas eu lhe dei uma única resposta: E'
também uma Lei da Ordem que o homem por seu trabalho e sua força deva adquirir a fé
pelos veros da Palavra; e que, entretanto, creia que por si mesmo, não tem um só grão de fé,
mas que toda sua fé vem de Deus; e também que o homem por seu trabalho e sua força
deve se justificar e que, entretanto, creia que não há mesmo um só ponto de justificação que
venha dêle, mas que toda justificação vem de Deus. Não foi ordenado que o homem deve
crer em Deus e amar a Deus de todas as suas forças e a seu próximo como a si mesmo?
reflete e me diz como êste mandamento teria podido ser dado por Deus se o homem não
tivesse força alguma de obedecer e-fazer. A estas palavras, êste Satanás experimentou uma
mudança em sua face, que de branca se tornou a princípio lívida, depois negra; e, falando
com o tom que lhe era natural, disse: Tu pronunciaste paradoxos contra paradoxos; e
imediatamente se afundou para os seus e desapareceu; e os pássaros da esquerda de
companhia com os espectros soltaram gritos extraordinários e se precipitaram no mar, que
aí é chamado mar de Enxofre e os gafanhotos os seguiram saltando, e o ar foi purificado, e
a Terra foi limpa destas bêstas imundas, o tumulto de baixo cessou e houve tranqüilidade e
serenidade.
&72 - Segundo Memorável. Um dia ouvi um barulho extraordinário vindo de longe e eu,
em espírito, segui a direção do som e me aproximei; tendo chegado ao lugar donde êle
vinha, eis, que era uma Coorte de Espíritos que raciocinavam sobre a Imputaçâo e a
Predestinação; era composta de Holandeses e Ingleses, e de uma mistura de alguns
Espíritos dos outros Reinos; e êstes, ao fim de cada raciocínio, exclamavam: Admiremos!
Admiremos! A discussão versava sobre êste ponto: Por que Deus não imputa o mérito e a
justiça de Seu Filho a todos e a cada um daqueles que foram criados por Êle e em seguida
foram como que resgatados? Não é êle Onipotente?... Não pode, se o quiser, de Lúcifer, do
Dragão e,de todos os bodes fazer Arcanjos? Não é êle Onipotente?... Por que permite que a
injustiça e a impiedade do diabo triunfem da justiça de Seu Filho e da piedade dos
adoradores de Deus? o que há de mais fácil para Deus, do que dar a todos a fé e assim a
salvação? para isso que lhe é preciso mais do que uma pequena palavra? e se Êle não o faz
não está em contradição com Suas palavras, as quais são, se Me quer a salvação de todos e
não quer a morte de pessoa alguma? Dizei portanto donde vem e em que reside a causa da
danação daqueles que perecem? E então, um Predestinatário-Supralapsário dentre os
Holandeses, disse: Isto não está no bel-prazer do Onipotente? A argila deve repreender o
oleiro porque fêz dela um urinol? E um outro disse: A salvação de cada um está na mão de
Deus como uma balança na mão daquele que pesa. Sobre os lados se mantinham alguns
espíritos simples de fé e direitos de coração, uns com os olhos inflamados, outros como
estupefactos, outros como sufocados, dizendo entre si em voz baixa: Que necessidade
temos de, escutar estas extravagâncias? Èles se infatuaram com esta fé, que Deus o Pai
imputa a justiça de Seu Filho a quem quer e quando quer e que envia o Espírito Santo para
operar as decisões desta justiça; e que o homem, para que não se atribua a mínima cousa na
operação de sua salvação, deve ser absolutamente como um
pedra no negócio da justificação e como um toco nas cousas espirituais; e então, um deles
se introduziu na Coorte e falando em altas vozes, disse: Oh, insensatos! o vosso raciocínio é
de lana-caprina; ignorais absolutamente que Deus Onipotente é em Si mesmo a Ordem e
que há miríades de Leis da Ordem, em tão grande número quanto existem verdades na
Palavra; e que Éle não pode agir contra Êle mesmo e assim não somente contra a Justiça,
mas ainda contra a Onipotência; e êle viu de longe sobre a direita como uma ovelha e um
cordeiro, e uma pomba que voava; e sobre a esquerda como um bode, um lobo e um abutre,
e disse: Acreditais que Deus por Sua Onipotência pode mudar êste bode em -ovelha, ou êste
lobo em cordeiro ou êste abutre em pomba, ou reciprocamente? Absolutamente não, porque
esta mudança é contra as leis de Sua Ordem, da qual nem mesmo um único ponto pode cair
por terra, segundo as Suas próprias palavras; como então pode Êle transportar a justiça da
Redenção de Seu Filho sobre alguém que é refratário às leis de Sua justiça? Como a Justiça
mesma pode cometer a injustiça e predestinar alguém para o inferno e lançá-lo em um fogo
perto do qual o diabo se mantém com tochas na mão e o atiça? 0' insensatos, vazios de
espírito, a vossa fé vos seduziu; não é ela em vossa mão como uma laçada para prender
pombos? A essas palavras um certo Mágico fêz desta fé como uma laçada e a suspendeu a
uma árvore, dizendo: Vereis que vou prender esta pomba; e imediatamente o abutre voou,
passou o pescoço na laçada, e ai ficou suspenso; e a pomba, tendo visto o abutre, voou para
longe. Os espectadores ficaram admirados e exclamaram: Êste jogo entretanto é um
testemunho de .justiça.
&73 - No dia seguinte vieram a mim alguns espíritos desta coorte, que estavam na fé da
predestinação e me disseram: Nós estamo& como ébrios, não de vinho, mas do discurso
que êste homem fêz ontem; êle falou da Onipotência e ao mesmo tempo da Ordem e
concluiu que, como a Onipotência é Divina, do mesmo modo a Ordem também é Divina; e
mais ainda: que Deus mesmo é a Ordem; e disse que existem tantas leis da Ordem como
verdades na Palavra, que há não somente milhares, mas miríades de miríades; e que Deus
está adstrito a Suas leis e o homem às suas; o que é então a Onipotência Divina, se está
adstrita a leis, pois assim todo absoluto se retira da Onipotência? Deus tem pois menos
poder que um Rei no Mundo, que governa só? Este pode virar as leis da justiça como as
palmas de suas mãos e agir despoticamente como Otávio Augusto, e mesmo
despóticamente como Nero; nós, depois de termos pensado na Onipotência, Divina adstrita
a leis, ficamos como ébrios e estamos prestes a desfalecer se não nos trazem prontamente
um remédio; com efeito, segundo nossa fé, oramos, a fim de que Deus o Pai tenha piedade
de nós por causa de Seu Filho e acreditamos que Éle pode ter piedade de quem lhe agradar
e remir os pecados a quem julgue conveniente e salvar a quem quiser; e não ousamos
subtrair de Sua Onipotência a menor cousa, por conseguinte, consideramos como um crime
ligar Deus com cadeias de alguma& de Suas leis, porque isso nos parece contraditório com
Sua Onipotência. Tendo assim falado, êles me encararam e eu os encarei e os vi
desvairados, disse: Dirigirei súplicas ao Senhor e trarei um remédio, ilustrando êste
assunto; mas no momento será únicamente por exemplos; e disse: Deus Onipotente criou o
Mundo segundo a Ordem em SI, assim pela Ordem na qual Ele está e segundo a qual Ele
governa, e impôs ao Universo e a todas e cada uma das cousas do Universo, a Sua Ordem;
ao homem a sua, aos pássaros e aos peixes a dêles, ao verme a sua, a cada árvore e mesmo
a cada haste de erva, a sua; mas para que os exemplos ilustrem êste assunto, vou em poucas
palavras dar os seguintes: As leis da Ordem impostas ao homem são, que êle adquira
verdades pela Palavra e que pense nelas naturalmente e tanto quanto puder, racionalmente;
e que assim procure, a fé natural; neste caso as leis da Ordem da parte de Deus são, que Ele
se aproxime, encha com a Sua Divina Luz as verdades e com a Sua Divina Essência a fé
natural que é unicamente uma ciência e uma persuasão; assim, e não de outro modo, a fé se
torna salvífica; acontece o mesmo com a caridade; mas vamos relatar ligeiramente algumas
dessas leis: Deus não pode segundo Suas leis remir os pecados de um homem, senão tanto
quanto êste homem desiste dêles segundo as suas; Deus não pode regenerar espiritualmente
o homem, senão tanto quanto o homem, segundo suas leis, se regenera naturalmente; Deus
está no perpétuo esforço de regenerar e assim salvar o homem, mas não o pode fazer, a
menos que o homem se prepare para ser receptáculo e que aplaine assim o caminho de
Deus e abra a porta; um noivo não pode entrar no quarto de dormir de uma virgem que
ainda não contratou casamento; esta fecha a porta e guarda consigo a chave do lado de
dentro; mas depois que a, virgem se tomou noiva, dá a chave ao noivo. Deus não pôde por
Sua Onipotência remir os homens, sem que se fizesse Homem; e não pôde tornar Divino
Seu Humano sem que Seu I-Iu-, mano fosse a princípio como o Humano de uma criança,
depois como o Humano de um adolescente e sem que o Humano se formasse em seguida
como receptáculo e como habitáculo no qual entraria o Pai, o que aconteceu por ter
cumprido todas as coisas da Palavra, isto é, todas as leis da Ordem que ela contém; e à
medida que fazia isto, ia se unindo ao Pai e o Pai se unindo a Ele Mas êstes são apenas
muitos poucos exemplos dados para ilustração, a fim de que vejais que a Onipotência
Divina está, na Ordem e que Seu govêrno, que é chamado Providência, é segundo as leis de
sua Ordem e não pode agir contra essas leis, nem as mudar em um único ponto porque a
Ordem com todas as suas leis é Deus Mesmo. Depois destas palavras, um esplendor de luz
com uma cor de ouro influiu através do teto e formou no ar querelaras voando; e em
seguida, o brilhante de ouro ilustrou as têmporas de alguns dêles do lado do occipute, mas
não ainda do lado da fronte; pois diziam muito baixo: Ignoramos ainda o que é a
Onipotência; e eu disse: Ela vos será revelada agora que as explicações que acabam de vos
ser dadas vos comunicaram alguma luz.
&74 - Terceiro Memorável: Vi de longe vários espíritos reunidos, tendo bonés na cabeça;
uns bonés cercados de uma faixa de sêda, eram da Ordem Eclesiástica; outros bonés cujas
bordas eram ornadas com uma faixa de ouro, eram da ordem Civil; todos eram sábios e
eruditos; e além disso, vi alguns com tiaras, estes eram ignorantes; aproximei-me e os ouvi
falar entre si sobre o Poder Divino ilimitado e dizer que se êle se exercesse segundo certas
leis que se tornaram leis da Ordem, êle seria não ilimitado, mas limitado e assim uma
potência e não a Onipotência; mas quem não vê necessidade alguma da lei pode
constranger a Onipotência a fazer de tal maneira e não de uma outra? Certamente quando
levamos nossos pensamentos para a Onipotência e ao mesmo tempo para as leis da Ordem,
segundo as quais ela é obrigada a andar, as idéias que tínhamos concebido sobre a
Onipotência caem como a mão quando o bastão se quebra. Quando me viram perto dêles,
alguns acorreram e me disseram com um tom assaz veemente: Poste tu que circunscreveste
Deus nas leis como em cadeias? não é isso uma imprudência extrema? por isso não fizeste
também em pedaços a nossa fé sobre a qual está fundada a nossa salvação, no meio da qual
colocamos a justiça do Redentor e acima a Onipotência de Deus, o Pai, acrescentando a
isso a operação do Espírito Santo e sua eficácia na impotência absoluta em que está o
homem para as cousas espirituais, para o que é suficiente falar da plenitude da justificação
que está nesta fé pela Onipotência de Deus? mas Babemos que vês inanidade nesta fé
porque não há nela cousa alguma da Ordem Divina do lado do homem. Depois de ouvi-los,
abri a boca e falando em voz alta, disse: Aprendei as leis da Ordem Divina e em seguida
descobri esta fé e vereis uma vasta solidão; e nela o Leviatã tortuoso e oblongo e em torno,
rêdes enroladas como em um nó inextrincável; mas fazei como se disse que Alexandre fêz,
o qual quando viu o Nó Gordio, tirou a espada, cortou-o em dois, rompeu assim os
emaranhados, lançou-o por terra e esmagou os fios sob seu calçado. A estas palavras, êstes
Espíritos morderam as línguas, querendo aguçá-las em palavras picantes, mas não ousaram
porque viam acima de mim o Céu aberto e ouviam uma voz que de lá dizia: Escutai antes
de mais nada com moderação o que é a Ordem segundo as leis da qual Deus Onipotente
age; Deus, de Si mesmo, como sendo a Ordem, criou o Universo na Ordem, segundo a
Ordem; criou igualmente o homem em quem estabeleceu as leis de Sua Ordem, pelas quais
o homem foi feito imagem e semelhança de Deus; o sumário destas leis é que o homem
creia em Deus e ame o próximo; e tanto mais faz estas duas cousas pelo poder natural, tanto
mais se faz receptáculo da Divina Onipotência e tanto mais Deus se conjunta a êle e o
conjunta a Si; por isso sua fé se torna viva e salvífica e o que êle faz se torna caridade, da
mesma forma viva e salvífica; mas é necessário que se saiba que Deus está perpètuamente
presente e que continuamente faz esforços e age no homem e toca também seu livre-arbítrio
sem violá-lo entretanto, pois s,e violasse o livre-arbitrio do homem, a morada do homem
em Deus pereceria; não haveria senão a morada de Deus no h<>mem e esta morada está em
todos, tanto nos que estão sobre a Terra como nos que estão nos Céus e também nos que
estão no inferno, pois é por isso que êles podem, querem e compreendem; mas a morada
recíproca do homem em Deus não existe senão naqueles que vivem segundo as leis da
Ordem dadas na Palavra; e êstes se tornam imagens e semelhanças de Deus e o paraíso lhes
-é dado em possessão e o fruto da árvore da vida por alimento; todos os outros, ao
contrário, se reúnem em torno, da árvore da ciência do bem e do mal e aí conversam com a
Serpente e comem o fruto dessa árvore, mas em seguida são expulsos do Paraíso; entretanto
Deus não os abandona; êles, porém, abandonam a Deus. Os que tinham bonés
compreenderam isto e aprovaram; mas os que tinham tiaras o negaram e disseram: A
Onipotência não é assim limitada? Ora uma Onipotência limitada é uma contradição.
Respondi, porém. Não há contradição em agir poderosamente segundo as leis da justiça
com julgamento ou segundo as leis inscritas no Amor segundo a Sabedoria; mas é uma
contradição, que Deus possa agir contra as leis de Sua Justiça e de Seu Amor e isso seria
agir sem julga, mento e sem sabedoria; uma tal contradição está encerrada em vossa fé que
pretende que Deus por pura graça pode justificar o injusto, enriquecê-lo, com todos os dons
da salvação e das recompensas da vida. Todavia, direi em poucas palavras o que é a
Onipotência de Deus: Deus por Sua Onipotência criou o Universo e, ao mesmo tempo,
introduziu Sua Ordem em tôdas e cada uma das cousas do Universo; Deus também por Sua
Onipotência conserva o Universo e aí mantém a Ordem com suas leis perpètuamente; e
quando alguma cousa se escapa da Ordem, Êle a reconduz e a reintegra nela. De mais, Deus
pela Sua Onipotência instaurou a Igreja e revelou as leis de sua Ordem na Palavra; e
quando a Igreja caiu fora da Ordem, Êle a restaurou; e quando ela caiu totalmente, Êle
mesmo desceu ao Mundo; e tomando o Humano se revestiu com a Onipotência e
restabeleceu a Igreja. Deus pela Onipotência e também pela Oniciência examina cada um
depois da morte e prepara os justos ou as ovelhas para suas moradas no Céu e constrói com
êles o Céu e prepara os injustos ou os bodes para suas moradas no inferno e constrói com
êles o inferno; e dispõe o Céu e o Inferno em Sociedades e em Congregações segundo tôdas
as variedades de seu amor, que no Céu são em tão grande número quanto as estrêlas no
firmamento do Mundo; e conjunta em uma as Sociedades do Céu, a fim de que estejam
diante d'Ele como um único Homem; e age do mesmo modo com as congregações do
Inferno a fim de sejam como um único Diabo e separa estas das outras por um abismo, a
fim de que o Inferno não faça violência ao Céu, e a fim de que o Céu não cause tormento ao
Inferno; pois tanto quanto o Céu influi, tanto assim são atormentados os que estão no
Inferno. Se Deus por Sua Onipotência não fizesse tôdas essas cousas a cada instante, a
ferocidade entraria nos homens, a ponto dêles não poderem mais ser contidos pelas leis de
nenhuma Ordem; e assim o Gênero Humano pereceria; estas cousas e outras semelhantes
aconteceriam se Deus não fosse a Ordem e Onipotente na Ordem. Depois de ter ouvido
estas palavras, os que tinham bonés retiraram o boné para debaixo do braço, louvando a
Deus, pois naquele Mundo os inteligentes usam bonés; mas os que estão cobertos com
tiaras, não são inteligentes porque são calvos e a Calvície significa a estupidez; e êstes se
foram para a esquerda, mas os outros se foram para a direita.
&75
DA CRIAÇÃO DO UNIVERSO
75 - Pois que no Primeiro Capitulo se tratou de Deus Criador, é preciso também falar da
Criação do Universo por Êle, do mesmo modo que no Capítulo seguinte onde será questão
do Senhor Redentor, falar-se-á também da Redenção; mas ninguém. pode formar uma idéia
justa da Criação do Universo, se alguns conhecimentos gerais dados de ante-mão não põem
o entendimento em um estado de percepção; êsses conhecimentos serão os seguintes: I. Há
dois Mundos, o Mundo Espiritual onde estão, os Anjos e os Espíritos, e o Mundo Natural
onde estão os homens. II. Em um e outro Mundo há um Sol; o Sol do Mundo Espiritual é o
puro amor procedente de Jehovah Deus, que está no meio dele; dêsse Sol procede um calor
e uma luz; o calor que dele; procede é em sua essência o amor; e a luz que dêle procede é
em sua essência a sabedoria; e todos dois afetam a vontade e o entendimento do homem, o
calor, a sua vontade e a luz, o seu entendimento; mas o Sol do Mundo Natural é puro fogo
e, em conseqüência, o calor que déle procede é morto, igualmente a luz, e êles servem de
invólucro e de suporte ao Calor e à Luz espirituais a fim de que penetrem até aos homens.
111. 0 Calor e a Luz que proceder do Sol do Mundo espiritual e, por conseguinte, tôdas as
cousas que lá existem por êles, são substanciais e são chamadas espirituais; o Calor e a Luz
que procedem do Sol do Mundo natural e, por conseguinte, tôdas as cousas que aí existem
por êles, são materiais e são chamadas naturais. IV. Em um e outro Mundo há três graus
que são chamados graus de altura e, por conseguinte, três Regiões, segundo as, quais foram
postos em ordem os três Céus angélicos e também, as mentes humanas que assim
correspondem a êsses três Céus angélicos; e semelhantemente tôdas as coisas aqui e lá. V.
Há uma correspondência entre as cousas que estão no Mundo espiritual as que estão no
Mundo natural. VI. Há uma Ordem, na qual tôdas e cada uma das cous,as de um e outro
Mundo foram criadas. VII. É absolutamente necessário, antes de mais nada, formar uma
idéia dessas noções senão, a Mente humana estando em uma completa ignorância sobre
éstes pontos cai facilmente na idéia de que o Universo foi criado pela Natureza e é somente
pela Autoridade Eclesiástica que diz que a Natureza foi criada por Deus, mas como não
sabe de que modo, se pesquisa interior
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nho desceram e vieram para aqueles que estavam nos prazeres de amores semelhantes;
foram para lá e como o seu prazer era um prazer de fazer o mal e que, em seu caminho,
tinham feito mal a muitos, foram encarcerados, se tornaram demônios e então seu prazer foi
mudado em desprazer, pois pelas penas e pelo medo das penas, foram constrangidos e
reprimidos em seu precedente prazer, que constituía sua natureza; e perguntaram aos que
estavam na mesma prisão, se deviam viver assim eternamente; e alguns responderam:
Estamos aqui há alguns séculos e devemos ficar aqui durante séculos de séculos; pois a
natureza que contraímos no Mundo não pode ser mudada nem expulsa pelas penas; e
quando é expulsa por elas, sempre depois de um curto espaço de tempo, volta.
&80 - Quinto Memorável. Um dia um Satanás, por permissão, subiu do inferno com uma
mulher e se aproximou da casa onde eu estava; tendo-os visto, fechei a janela, não obstante
lhes falei através do caixilho e perguntei ao Satanás de onde vinha, ele me disse: Da
companhia dos meus semelhantes; e perguntei-lhe donde vinha a mulher; disse: Ela vem de
lá igualmente; esta era da quadrilha das Sereias que, por fantasias, sabem tomar todos os
exteriores e todas as formas da beleza e da graça; ora se dão a beleza de Vênus, ora a
fisionomia decente de uma virgem do Parnaso, ora se ornam de coroas e mantos de Rainhas
e caminham com majestade apoiadas em um bastão de prata; tais são no Mundo dos
Espíritos as cortesãs; elas se aplicam em operar fantasias; a fantasia se opera pelo
pensamento sensual, fechando as idéias que provêm de algum pensamento interior.
Perguntei ao Satanás seela era sua esposa; respondeu: 0 que é uma esposa, minha sociedade
o ignora também; ela é minha cortesã; e então esta inspirou lascívia ao homem, no que se
avantajam, também as Sereias; e logo que recebeu esta inspiração, êle lhe deu um beijo,
dizendo: Ah! meu Adonis! Mas tratemos do que é sério. Perguntei ao Satanás qual era a sua
função e êle disse: Minha função é a Erudição; não vês um laurel sobre minha cabeça?
Adonis, por sua arte compôs esta coroa e m'a compôs por trás E eu disse: Pois que vens de
uma cidade onde há academias, dizme, que crês tu e que crêem teus companheiros sobre
Deus? Éle replicou: Deus para nós é o Universo, que chamamos também Natureza e que os
simples dentre nós chamam Atmosfera, que para êles é o ar, mas que os sábios chamam
Atmosfera que também é o Éter; Deus, o Céu, os Anjos e outras cousas seme; lhantes,
sobre as quais muitos neste Mundo têm composto uma multidão de contos, são palavras vãs
e ficções tiradas de Meteoros que,brincam aqui sob os olhos de vários; todas as coisas que
se manifestam sobre a Terra não foram criadas pelo Sol? com a sua chegada na primavera,
não nascem Vermes com asas e sem elas? e pelo Calor os Pássaros não se entregam
mútuamente ao amor e à prolificação? e a Terra aquecida por seu ardor não faz sair das
sementes os rebentos e enfim frutos como descendência? assim, o Universo não é Deus e a
Natureza Deusa? e como esposa do Universo, não concebe, não cria, não dá à luz e não
alimenta? Em seguida, lhe perguntei qual era a sua crença e a de sua Sociedade sobre
Religião; respondeu: Para nós que somos mais instruídos do que o vulgo, a Religião nada
mais é que um encanto para fascinar a populaça; êste encanto está em torno de cousas
sensitivas e imaginárias de sua mente, como uma aura (atmosfera) na qual as idéias de
piedade voam como borboletas no ar; e a sua fé, que entrelaça estas idéias em uma espécie
de cadeia, é como um bicho da sêda em seu casulo, donde se evola como o rei das
borboletas; pois uma comunidade de homens sem instrução gosta das imagens acima do
sensual do corpo; por conseguinte, acima dos sensuais do pensamento, no desejo de voar;
assim também se fazem asas, a fim de se elevar como águias e de se apresentar com
jactância aos habitantes da Terra, para lhes dizer: Eis aqui, sou eu; nós, ao contrário,
acreditamos no que vemos e amamos o que tocamos; e então tocou sua companheira e
disse: Creio nisto porque vejo e toco; mas lançamos tais brinquedos pela janela e por um
sopro repelimos os gracejos. Perguntei, em seguida, qual era a sua crença e a de seus
companheiros, sobre o Céu e o Inferno; respondeu com uma gargalhada: 0 que é o Céu,
senão o firmamento etéreo em sua altitude; e os Anjos senão manchas errantes em torno do
Sol; e os Arcanjos senão comêtas de longas caudas sobre o qual habita seu grupo? e o que é
o Inferno, senão pântanos onde as rãs e os crocodilos, em sua fantasia, são os diabos?
excetuadas estas idéias sobre o Céu e sobre o inferno, tôdas as outras são futilidades
introduzidas por algum Prelado para atrair a glória da parte de um povo ignorante. Mas
tôdas estas cousas, êle as pronunciava absolutamente como tinha pensado sobre elas no
Mundo, não sabendo que vivia após a morte e tendo esquecido tudo que ouviu quando
entrou no Mundo Espiritual; é por isso que, quando o interroguei também sobre a vida
depois da morte, respondeu que era uma cousa imaginária (ens, imaginarium); e que talvez
algum eflúvio se elevando de um cadáver no túmulo em uma forma como de um homem ou
alguma cousa que se chama espectro de que algumas pessoas fazem contos, tinha
introduzido uma tal idéia nas fantasias dos homens. A estas palavras não foi mais possível
me conter, desatei a rir e disse: Satanás, tu desarrazoas, desarrazoando; o que és tu agora?
não és homem na forma? não falas, não vês, não ouves, não caminhas? Recorda-te de que
viveste :em um outro Mundo de que não te lembras; e que agora vives depois da morte e
que falaste absolutamente como falavas antes; e a recordação lhe foi dada, ele se lembrou e
então teve vergonha e exclamou: Eu desarrazoo; vi o Céu acima e ouvi os Anjos dizer aí
cousas inefáveis quando eu acabava de chegar aqui; mas agora eu reterei isso para contar
aos companheiros que acabo de deixar e talvez então terão, vergonha igualmente; e
persistiu em dizer que os chamaria insensatos, mas à medida que descia, o esquecimento
expulsava a recordação; e quando chegou, desarrazoou como êles e chamou, loucuras às
cousas que me havia ouvido dizer. Tal é o estado do pensamento e da linguagem dos
Satanases depois da morte, são chamados Satanases aquêles que em si confirmaram os
falsos até à fé; e Diabos aquêles que em si confirmaram os males pela vida.
CAPITULO II
&81 Do Senhor Redentor
81- No Capítulo precedente, tratou-se de Deus Criador e também da Criação; neste
Capítulo tratar-se-á do Senhor Redentor e igualmente, da Redenção; e no Capítulo seguinte,
do Espírito Santo e da Divina Operação; pelo Senhor Redentor entendemos Jehovah no
Humano. Com efeito, que Jehovah mesmo tenha descido e haja tomado o Humano a fim de
operar a Redenção, isso será demonstrado nos Artigos que seguem. Se se diz o Senhor e
não Jehovah, é porque Jehovah do Antigo Testamento é chamado o Senhor no Novo, como
se pode ver por estas passagens: Em Moisés se diz: "Escuta Israel, Jehovah nosso Deus,
Jehovah é um; Tu amarás Jehovah teu Deus de todo teu coração e de toda a tua alma''
(Deuter. VI, 4 e 5); e em Marcos: "O Senhor nosso Deus, o Senhor é um; Tu amarás o
Senhor teu Deus de todo teu coração e de toda tua alma" (XII, 29 e 30). Depois em Isaías:
"Preparai o caminho de Jehovah, aplainai na solidão uma vereda a nosso Deus" (XL, 3);
mas em Lucas: "Tu irás adiante da face do Senhor para preparar Seu caminho" (1, 76); e
além disso, em outros lugares; e o Senhor ordenou por isso a Seus discípulos que o
chamassem de Senhor; e é por isso que Ele foi chamado assim pelos Apóstolos em suas
Epístolas e em seguida, pela Igreja Apostólica, como se vê pelo Símbolo dessa Igreja, que
se chama Símbolo dos Apóstolos; a razão disso é que os judeus não ousavam nomear
Jehovah por causa da santidade; e além disso, por Jehovah entende-se o Divino Ser, que era
de toda a ,eternidade; e o Humano que Êle tomou no tempo não é êste Ser; o que é o Divino
Ser ou Jehovah, isso foi explicado no Capitulo precedente, ns. 18 a 26, e w. 27 a 35; é por
esta razão que aqui e no que segue, pelo Senhor entendemos Jehovah em Seu Humano.
Agora, como o conhecimento sobre o Senhor ultrapassa em excelência todos os
conhecimentos que existem na Igreja e mesmo todos que estão no Céu, o assunto vai ser
disposto em ordem, a fim de que êste conhecimento seja posto na luz; esta ordem será
portanto a seguinte:
I - JEHOVAH CRIADOR DO UNIVERSO DESCEU E TOMOU 0 HUMANO PARA
REDIMIR E SALVAR OS HOMENS.
II - ÉLE DESCEU COMO DIVINA VERDADE, QUE E' A PALAVRA E,
ENTRETANTO, NÃO SEPAROU 0 DIVINO BEM.
III - ÉLE TOMOU 0 HUMANO SEGUNDO SUA ORDEM DIVINA.
IV - 0 HUMANO PELO QUAL ELE SE ENVIOU AO MUNDO É 0 QUE SE CHAMA 0
FILHO DE DEUS.
V - 0 SENHOR PELOS ATOS DA REDENÇÃO SE FÊZ A JUSTIÇA.
VI - PELOS MESMOS ATOS, ELE SE UNIU AO PAI E 0 PAI SE UNIU A ÉLE,
TAMBÉM SEGUNDO A ORDEM DIVINA.
VII - ASSIM DEUS FOI FEITO HOMEM; E 0 HOMEM ,DEUS EM UMA ÚNICA
PESSOA.
VIII - A PROGRESSAO PARA A UNIAO FOI 0 ESTADO DE SUA EXINANIÇAO; E A
UNIAO MESMA FOI 0 ESTADO DE SUA GLORIFICAÇÃO.
IX - DAI POR DIANTE NINGUÉM ENTRE OS CHRISTÃOS VEM PARA 0 CÉU
SENÃO AQUELES QUE CRÊEM NO SENHOR DEUS SALVADOR E SE DIRIGEM A
Ele.
Cada uma dessas proposições será explicada em particular.
&82 - I. JEHOVAH DEUS DESCEU E TOMOU 0 HUMANO, PARA REDIMIR E
SALVAR OS HOMENS.
Nas Igrejas Christãs, hoje, cré-se que Deus Criador do Universo, engendrou um Filho de
toda a eternidade e que êsse Filho desceu e tomou o Humano para redimir e salvar os
homens; mas isso é errôneo e cai por si mesmo, desde que se pense que Deus é um; e que,
diante da razão, é mais que fabuloso que Deus Um tenha engendrado de toda a -eternidade
um Filho; e também que Deus Pai com o Filho e o Espírito Santo, cada um dos quais é
separadamente Deus, seja um único Deus; êste fabuloso é inteiramente dissipado como uma
estrêla cadente no ar, quando pela Palavra é demonstrado que Jehovah Deus mesmo desceu
e se fêz Homem, e também Redentor. Quanto ao primeiro ponto, que o próprio Jehovah
Deus desceu e se fêz Homem, vê-se por estas passagens: "Eis que a Virgem conceberá e
dará à luz um Filho, que será chamado Deus conosco" (Isaías VII, 14; Mateus I, 22 e 23).
"Um menino nos nasceu, um Filho nos foi dado, sobre seu ombro (estará) o principado e
será chamado seu Nome, Admirável, Deus, Herói, Pai da eternidade, Príncipe da Paz"
(Isaías IX, 5 e 6). "Será dito naquele dia: Eis nosso Deus, Aquêle que temos esperado para
que nos salve; Êste é Jehovah que esperávamos, saltemos e regozijemo-nos em sua
salvação" (Isaías XXV, 9). "Uma voz que clama no deserto: Preparai o caminho de
Jehovah, aplainai na solidão uma vereda para vosso Deus; e êles verão toda carne
juntamente" (Isaías XL, 3 e 5). "Eis que o Senhor Jehovah como forte vem e seu braço
dominará por Ele eis sua recompensa com Êle; como Pastor apascentará seu rebanho"
(Isaías XL, 10 e 11). "Jehovah disse: Sê na jubilação e na alegria, filha de Sião; eis, que
venho para habitar no meio de ti; então serão ligadas Nações numerosas a Jehovah naquele
dia" (Zacarias 11, 10 e 11). "Eu Jehovah te chamei em Justiça e te darei por aliança do
povo; Eu, Jehovah é o meu nome, e minha glória a um outro não darei" (Isaías XLII, 1, 6,
7, 8). "Eis os dias que vêm em que suscitarei a David um germe justo, que reinará Rei e
fará julgamento e justiça na Terra; e é êste seu nome: Jehovah nossa Justiça" (Jeremias
XXIII, 5 e 6; XXXIII, 15 e 16). E além disso, nas passagens onde o advento do Senhor é
chamado o Dia de Jehovah, como Isaías XIII, 6, 9, 13, 22; Ezequiel XXXI, 15; Joel 1, 15;
11, 1, 2, 11; 111, 2 e 4; IV 1, 14, 18; Anos V, 13, 18, 20; Sefonias 1, 7 a 18; Zacarias XIV,
1, 4 a 21, e em outros lugares. Que Jehovah mesmo tenha descido e tomado o Humano,
vê-,se claramente em Lucas, onde estão estas palavras: "Maria disse ao Anjo: Como será
isto, pois que não conheço homem? 0 Anjo respondeu: Um Espírito Santo virá sobre ti e
uma virtude do Altíssimo te cobrirá com sua sombra, por isso o Santo que nascerá de ti,
será chamado Filho de Deus" (I, 34 e 35). E em Mateus: "Um Anjo disse em sonhos a José,
marido de Maria: o que nela está gerado é do Espírito Santo; e José não a conheceu até que
ela deu à luz seu Filho e chamou seu nome Jesus" (1, 20 e 25). Que pelo Espírito Santo seja
entendido o Divino que procede de Jehovah Deus, ver-se-á no Terceiro Capítulo desta
Obra. Quem não sabe que é pelo Pai que a criança tem a Alma e a Vida e que é pela Alma
que o Corpo existe? Há, portanto, alguma cousa que seja mais clara, do que dizer que o
Senhor teve de Jehovah Deus a Alma e a Vida e que, visto que o Divino não pode ser
dividido, o próprio Divino do Pai era a Alma e a Vida do Senhor? é por isso que o Senhor
chamou tantas vêzes Jehovah Deus Seu Pai e que Jehovah Deus 0 chamou Seu Filho. Que
pode pois haver de mais ridículo do que ouvir dizer que a Alma de nosso Senhor veio de
Maria sua mãe, assim como o sonham hoje os Católicos Romanos e os Reformados, sem
que a Palavra os tenha ainda tirado desse sonho?
&83 - Que um Filho nascido de toda a eternidade tenha descido e haja tomado o Humano, é
isso um êrro completo que cai e é dissipado pelas passagens da Palavra, nas quais o próprio
Jehovah disse que Êle é o Salvador e o Redentor; eis essas passagens: "Não sou Eu,
Jehovah, e há outro Deus fora de mim? Há outro Deus Justo e Salvador senão Eu?" (Isaías
XLV, 21 e 22). "Eu sou Jehovah teu Deus, e Deus além de Mim tu não reconhecerás; e
Salvador não há senão eu" (Hoséas XIII, 4). "A fim de que saiba toda carne que Eu sou
Jehovah teu Salvador e teu Redentor" (Isaías XLIX, 26; LX, 16). "Quanto a nosso
Redentor, Jehovah Sebaoth (é) seu Nome" (Isaías XLVII, 4). "0 meu Redentor forte,
Jehovah Sebaoth (é) seu Nome" (Jeremias L, 34). "0' Jehovah, minha Rocha e meu
Redentor" (Ps. 19, 15). "Assim disse Jehovah teu Redentor, o Santo de Israel: Eu sou
Jehovah teu Deus" (Isaías XLVIII, 17; XLIII, 14; XLIX, 7). "Assim disse Jehovah teu
Redentor: Eu Jehovah fiz tôdas as cousas e só por mim mesmo" (Isaías XLIV, 24). "Assim
disse Jehovah, o Rei de Israel, e seu Redentor Jehovah Sebaoth: Eu sou o Primeiro e o
último, e exceto Eu, não há Deus" (Isaías XLIV, 6). "Jehovah, Tu nosso Pai, nosso
Redentor desde o século (é) o teu Nome" (Isaías LXIII, 16). "Com uma misericórdia de
eternidade terei compaixão de ti, assim disse teu Redentor Jehovah" (Isaías LIV, 8). "Tu me
redimiste, ó Jehovah (Deus) de verdade" (Ps. 31, 6). "Que Israel espere em Jehovah, porque
com Jehovah (está) a misericórdia, em abundância com Ele Redenção; êle mesmo redimirá
Israel e tôdas as suas iniqüidades" (Ps. 130, 7 e 8). "Jehovah Deus e teu Redentor, o Santo
de Israel, Deus de toda terra será chamado" (Isaías LIV, 5). Por estas passagens e muitas
outras, todo homem que tem olhos e cuja mente foi aberta pelos olhos, pode ver que Deus é
Um, desceu e foi feito Homem, com o fim de operar a Redenção; há uni homem que não
possa ver isso, como na luz da manhã, quando presta atenção a tôdas essas sentenças
Divinas que acabam de ser referidas? mas quanto aos que estão na sombra da noite pelas
confirmações sobre o nascimento de um outro Deus de toda eternidade e sobre sua descida
e sua Redenção, fecham as pálpebras diante dessas Divinas sentenças; e sob as pálpebras
pensam na maneira de aplicar essas sentenças a seus falsos e pervertê-las.
&84 - Que Deus não tenha podido redimir os homens, isto é, retirá-los da danação e do
Inferno, sem tomar o Humano, há para isso várias causas, que serão desvendadas em série,
no que segue; com efeito, a Redenção foi a subjugação dos infernos e a Ordenação dos
Céus e depois disso a instauração da Igreja; Deus por Sua Onipotência não podia executar
essas operações senão pelo Humano, do mesmo que ninguém pode operar cousa alguma, a
menos que tenha um braço, por isso o Humano de Deus é chamado na Palavra o Braço de
Jehovah (Isaías XL, 10; LIII, 1); do mesmo modo que ninguém pode atacar uma cidade
fortificada e aí destruir os templos dos ídolos, senão por Forças que servem de meios; que
Deus nesta obra Divina tenha tido a Onipotência por Seu Humano é ainda evidente pela
Palavra; com efeito, Deus que está nos íntimos e assim nas coisas mais puras, não podia
passar de outro modo até aos últimos, nos quais estão os Infernos e nos quais estavam os
homens dessa época; do mesmo modo que a alma nada pode fazer sem o corpo ou do
mesmo -modo que ninguém pode vencer os inimigos que não vêm à sua presença, ou para
os quais êle não pode ir nem se aproximar com armas, tais como lanças, escudos ou fuzis;
era por isso impossível a Deus operar a Redenção sem o Humano, como seria impossível a
um homem subjugar os Indianos sem transportar para seus países soldados em navios ou
como seria impossível fazer crescer árvores só pelo calor e a luz, se o ar pelo qual passam o
calor e a luz e se a terra da qual elas saem, não tivessem sido criados; e mesmo tão
impossíveis como lançar rêdes no ar e não na água, e aí apanhar peixes; com efeito,
Jehovah, tal como é em Si mesmo, não pode por Sua onipotência atingir diabo algum no
Inferno, nem diabo algum na Terra, nem moderá-lo, nem acalmar seu furor, nem domar sua
violência, se não estiver nos últimos como está nos primeiros; Êle está nos últimos em Seu
Humano, por isso é chamado na Palavra o Primeiro e o último, o Alfa e o Ômega, o
Comêço e o Fim.
&85 - II. E JEHOVAH DEUS DESCEU COMO DIVINO VERO, QUE E' A PALAVRA
E, ENTRETANTO, NÃO SEPAROU 0 DIVINO BEM.
Há duas cousas que constituem a Essência de Deus, a saber, o Divino Amor e a Divina
Sabedoria, ou, o que dá no mesmo, o Divino Bem e o Divino Vero; que a Essência de Deus
seja composta, dessas duas cousas, é o que foi demonstrado acima, ns. 36 a 48. Essas duas
cousas na Palavra são entendidas também por Jehovah Deus; por Jehovah, o Divino Amor
ou o Divino Bem, e por Deus, a Divina Sabedoria ou o Divino Vero; dai vem que na
Palavra os dois são distinguidos de diversas maneiras; ora Jehovah só é nomeado, ora Deus
só, pois onde se trata do Divino Bem, aí se diz Jehovah; onde se trata do Divino Vero se diz
Deus, onde se trata de um e de outro, aí se diz Jehovah Deus. Que Jehovah Deus tenha
descido como Divino Vero, que é a Palavra, vê-se em João por esta passagem: "No comêço
era a Palavra e a Palavra estava com Deus; e Deus era a Palavra; tôdas as cousãs por Ela
foram feitas e sem Ela não foi feito nada do que se fêz. E a Palavra carne foi feita e habitou
entre nós" (1, 1, 3, 14). Se pela Palavra nesta passagem é entendido o Divino Vero, é
porque a Palavra, que está na Igreja, é o próprio Divino Vero, pois foi ditada pelo próprio
Jehovah; e o que é ditado por Jehovah é puramente o Divino Vero e não pode ser outra
cousa; mas como a Palavra atravessou os Céus para chegar até ao Mundo, ela foi adaptada
à concepção dos Anjos no Céu, e também à dos homens no Mundo; daí haver na Palavra
um sentido espiritual, no qual o Divino Vero está na luz; e um sentido natural no qual o
Divino Vero está na sombra; é por isso que o Divino Vero nesta Palavra é o que é
entendido em João; isto é ainda mais evidente pelo fato do Senhor vir ao Mundo para
cumprir todas as coisas da Palavra; por isso se lê (na Palavra) tão freqüentemente que tal ou
tal cousa Lhe aconteceu a fim de que a Escritura fosse cumprida. Tampouco não é
entendida outra cousa senão o Divino Vero pelo Messias ou o Christo, nem outra cousa
pelo Filho do Homem, nem outra cousa pelo Paracelso, o Espírito Santo, que o Senhor
enviou depois de Sua salda dêste Mundo. Que na transfiguração diante dos três discípulos
sobre a montanha - Mateus XVII; Marcos IX; e Lucas IX - e também diante de João no
Apocalipse - 1, 12 a 16 - Êle se tenha representado como sendo esta Palavra, é o que se
verá no Capítulo sobre a Escritura Santa. Que o Senhor no Mundo tenha sido o Divino
Vero, isso é evidente por Suas próprias palavras: "Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida"
(João XIV, 6), e por estas: "Sabemos que o Filho de Deus veio e nos deu a entendimento, a
fim de que conhecêssemos a Verdade; e estamos na Verdade, em Seu Filho Jesus Christo;
Êle é o verdadeiro Deus e a Vida eterna (João I, Epístola V, 20 e 21). E também pelo fato
d'Éle ser chamado a Luz, como nestas passagens: "Ele era a Verdadeira Luz, que ilumina
todo homem vindo ao Mundo" (João 1, 4 e 9). "Jesus disse: Ainda por um pouco de tempo
a Luz está convosco; caminhai enquanto tendes a Luz, de modo que as trevas não vos
surpreendam; enquanto tendes a Luz, créde na Luz, a fim de que sejais filhos da Luz" (João
XII, 35, 36 e 46). "Eu sou a Luz do Mundo" (João IX, 5). "Simão disse: Meus olhos viram
a tua Salvação, Luz para a revelação das nações" (Lucas 11, 30 a 32). "E' êste o julgamento,
que a Luz veio ao Mundo. Aquêle que faz a Verdade, vem à Luz" (João III, 19 e 21), e em
outros lugares pela Luz é entendido o Divino Vero.
&86 - Se Jehovah Deus desceu ao Mundo como Divino Vero, foi para operar a Redenção;
ora a Redenção foi a subjugação dos Infernos e a ordenação dos Céus, e depois disso a
instauração da Igreja; não é o Divino Bem que pode fazer essas operações, mas é o Divino
Vero segundo o Divino Bem; o Divino Bem considerado em si mesmo é como o punho
arredondado de uma espada, como um pau rombudo ou como um arco sem flechas, mas o
Divino Vero segundo o Divino Bem é como uma espada aguda, como um dardo acerado e
como um arco com flechas, armas que são fortes contra os inimigos; pelas espadas, os
dardos e os arcos, são por isso entendidos, no sentido espiritual da Palavra, ou veros que
combatem; veja-se o Apocalipse Revelado ns. 52, 299 e 436 onde isso foi demonstrado; e
não é senão pelo Divino Vero segundo a Palavra, que os falsos e os males, nos quais esteve
e está continuamente todo o Inferno, puderam ser combatidos, vencidos e subjugados; nem
por outra cousa pôde ser fundado, formado e posto em ordem o novo Céu, que então
também foi feito; nem por outra cousa pôde ser instaurada uma nova Igreja nas Terras;
além disso, todo vigor, toda força e toda potência de Deus pertencem ao Divino Vero
segunda o Divino Bem. Eis a razão pela qual Jehovah Deus desceu como Divino Vero que
é a Palavra; por isso se diz em David: "Cinge tua espada à tua coxa, 6 Poderoso; e em tua
honra monta; cavalga sobre a Palavra de Verdade; a tua direita Te ensinará maravilhas; teus
dardos são acerados, teus inimigos cairão debaixo de ti" (Ps. 3, 4, 5); estas palavras foram
ditas do Senhor e de Seus combates contra os Infernos, e das vitórias que alcançou sobre
êles.
&87 - 0 que é o Bem sem o Vero e o que é o Vero segundo o Bem, vê-se claramente pelo
homem; todo seu Bem reside na Vontade e todo seu Vero no Entendimento; e a vontade
não pode por seu bem fazer cousa alguma senão pelo Entendimento; não pode operar, não
pode falar, não pode sentir; toda sua força e todo seu poder existem pelo entendimento, em
conseqüência pelo vero, pois o entendimento é o habitáculo do vero. Dá-se com isso
conforme a operação do Coração e do Pulmão no Corpo; o Coração sem a respiração do
Pulmão não produz movimento algum, nem sentimento algum, mas a respiração do Pulmão
produz um e outro segundo o Coração, -a que é evidente pelos desfalecimentos daqueles
que são sufocados ou mergulhados na água, nos quais cessa a respiração, a atividade
sistólica do coração persistindo ainda; que êstes não tenham nem movimento nem
sentimento, isso é notório; a mesma cousa acontece com os embriões no seio de sua mãe;
isto provém de que o coração correspondendo à Vontade e aos bens da Vontade; e o
Pulmão ao Entendimento e aos veros do entendimento. No Mundo espiritual a potência do
vero é sobretudo notável; ainda que o Anjo que está pelo Senhor nos Divinos Veros seja
fraco quanto ao corpo como um menino, ele pode entretanto pôr em fuga uma tropa de
espíritos infernais, que aparecem como Enakim e Nefilim, isto é, como Gigantes; e
persegui-los até ao Inferno e aí precipitá-los em cavernas; quando saem daí não ousam se
aproximar de um Anjo. Os que estão nos Divinos Veros pelo Senhor são nesse Mundo
como leões, ainda que quanto ao corpo não tenham mais força do que ovelhas. Acontece o
mesmo com os homens que estão nos veros pelo Senhor, contra os males e os falsos, por
conseqüência contra falanges de diabos que, considerados em sua essência não são outra
cousa mais que males e falsos. Se há no Divino Vero uma tal força é porque Deus é o Bem
mesmo e o Vero mesmo; e que êste criou o Universo pelo Divino Vero; e que tôdas as leis
da Ordem, pelas quais conserva o Universo, são verdades; é por isso que se diz em João:
"que pela Palavra tôdas as coisas foram feitas e que, sem Ela, não foi feito nada do que foi
feito" (1, 3 e 10); e em David: "Pela Palavra de Jehovah os Céus foram feitos, e pelo
Espírito de Sua boca todo seu exército" (Ps. 31.°, 6).
&88 - Que Deus ainda que tenha descido como Divino Vero, não tenha, entretanto,
separado o Divino Bem, vê-se pela Concepção, a respeito da qual se diz que a virtude do
Altíssimo cobriu Maria com sua sombra (Lucas 1, 35); ora, pela virtude do Altíssimo é
entendido o Divino Bem; vê-se ainda pelas passagens onde o próprio Senhor diz que o Pai
está n'Êle e que Êle está no Pai, que tudo o que é do Pai é d'Êle, que o Pai e Êle são Um; e
em várias outras passagens, pelo Pai, é entendido o Divino Bem.
&89 - III. DEUS TOMOU 0 HUMANO SEGUNDO SUA ORDEM DIVINA.
No parágrafo sobre a Divina Onipotência e a Divina Onisciência, foi mostrado que Deus
com a Criação introduziu a Ordem tanto no Universo como em tôdas e cada uma das cousas
que o compõem; e que é por isso que a Onipotência de Deus no Universo e em tôdas e cada
uma das cousas do Universo, procede e opera segundo as leis de Sua Ordem, de que se
tratou acima em série, ns. 49 a 74. Agora, pois que Deus desceu e que Ele mesmo é a
Ordem, assim como já foi demonstrado, não pôde, para se tornar também Homem em
atualidade, fazer outra coisa senão ser concebido, ser conduzido em um útero, nascer, ser
educado, aprender sucessivamente as ciências e ser por elas introduzido na inteligência e na
sabedoria; é por isso que, quanto ao Humano, Éle foi criancinha como uma criancinha,
menino como um menino, e assim por diante, com a única diferença que concluiu esta
progressão mais ràpidamente, mais plenamente e mais perfeitamente que os outras; que
tenha assim progredido segundo a Ordem, vê-se por estas palavras em Lucas: "o menino
Jesus crescia e se fortificava em espírito e avançava em sabedoria, em idade e em graça
para com Deus e os homens" (11, 40 e 52); que foi mais ràpidamente, mais plenamente e
mais perfeitamente que os outros, vê-se pelo que é dito d'Ele no mesmo Evangelista, por
exemplo, que "quando Êle tinha doze anos, assentou-se no Templo no meio dos Doutores e
ensinava; e que todos os que o escutavam estavam admirados de Sua inteligência e de Suas
respostas" (11, 46 e 47); e em seguida (IV, 16 a 22 e 32). Isto foi feito assim porque a
Ordem Divina é que o homem se prepare a si mesmo para a recepção de Deus; e que,
conforme se prepara, Deus -entre nêle como em Seu habitáculo e em Sua casa; e esta
preparação se faz pelos conhecimentos sobre Deus e sobre os espirituais que pertencem à
Igreja, e assim pela inteligência e pela sabedoria; pois a Lei da Ordem é que, quanto mais o
homem vai para Deus e se aproxima d'Ele, o que deve fazer absolutamente como por si
mesmo, tanto mais Deus vem, ao homem e se aproxima dêle e se conjunta a ele no meio
dêle; que o Senhor tenha progredido segundo esta Ordem até à união com Seu Pai, é o que
será demonstrado mais amplamente na continuação.
&90 - Os que não sabem que a Divina Onipotência procede e opera segundo a Ordem,
podem fazer nascer de sua fantasia várias questões opostas e contrárias à sã razão; por
exemplo, por que Deus não tomou imediatamente o Humano sem uma tal progressão? por
que não criou ou compôs um Corpo com elementos tirados das quatro plagas do Mundo e
não se mostrou assim como Deus-Homem diante do povo Judeu e mesmo diante do Mundo
inteiro? ou: Se queria nascer, por que não infundiu todo Seu Divino n'Êle quando ainda era
embrião ou quando era criancinha? ou: Por que, depois de ter nascido, não tomou
imediatamente a estatura de um adulto e não falou desde logo pela Divina Sabedoria? E'
assim que aqueles que pensam na Di-vina Onipotência sem a Ordem, podem conceber e dar
à luz tais questões e outras semelhantes e encher desta maneira a, Igreja de loucuras e
futilidades; é mesmo o que foi feito; assim pretende-se que Deus pôde engendrar um Filho
de toda a eternidade e fazer que um Terceiro Deus procedesse também d'Ele e do Filho
então; que Deus pôde se encolerizar contra o Gênero Humano, entregandoo à execração e
querer ser reconduzido à misericórdia pelo Filho e isso pela intercessão e a lembrança da,
cruz; que além disso quis pôr no homem a justiça de Seu Filho e introduzi-Ia em seu
coração como uma substância simples de Wolf, na qual, assim como êste mesmo autor o
diz, estão tôdas as cousas do mérito do Filho, mas que não pode ser dividida porque se é
dividida, se reduz a nada; e que além disso, pode, como uma Bula do Papa, redimir os
pecados a quem quiser ou purificar inteiramente o ímpio de seus males medonhos e, assim,
de preto como um -diabo, torná-lo resplandecente como um Anjo. de luz, sem que o
homem se mova mais do que uma pedra ou enquanto se mantém como uma estátua ou
como um ídolo; além, de várias outras loucuras, que aqueles que estabelecem uma Divina
Potência absoluta sem o conhecimento e sem o reconhecimento de nenhuma ordem, podem
espalhar como uma joeira espalha a gluma no ar; êstes, nas cousas espirituais que
pertencem ao Céu e à Igreja, e por conseguinte, à vida eterna, podem se afastar dos veros
Divinos e se extraviar como um cego em uma floresta, que ora cai sobre pedras, ora fere a
fronte contra uma árvore, ora fica com os cabelos presos nos galhos.
&91 - Os Milagres Divinos também foram feitos segunda a Ordem Divina, mas segundo A
ORDEM DO INFLUXO DO MUNDO ESPIRITUAL NO MUNDO NATURAL. Ordem
de que ninguém até ao presente soube alguma cousa porque ninguém sabe nada do Mundo
espiritual; mas qual é esta Ordem, é o que será manifestado a seu tempo, quando se tratar
dos Milagres Divinos e dos Milagres mágicos.
&92 - IV. 0 HUMANO PELO QUAL DEUS SE ENVIOU AO MUNDO, E' 0 FILHO DE
DEUS.
O Senhor disse muitas vêzes que o Pai o enviou, e que ele foi enviado pelo Pai, por
exemplo: Mateus X, 40; XV, 24; João, 111, 17, 34; V, 23, 24, 36, 37, 38; VI, 29, 39, 40, 44,
57; VII, 16, 19, 29, 42; IX, 4; e muitas vêzes, em outros lugares, disse isso por que por ser
enviado ao Mundo, entende-se descer e vir entre as homens e isso foi feito pelo Humano
que Èle tomou pela Virgem Maria; e portanto êste Humano é na realidade o Filho de Deus,
porque foi concebido de Jehovah Deus como Pai, segundo Lucas 1, 32, 35. Foi chamado
Filho de Deus, Filho da homem e Filho de Maria; e por Filho de Deus, é entendido Jehovah
Deus em Seu Humano, por Filho do homem o Senhor quanto à Palavra e por Filho de
Maria propriamente o Humano que Ele tomou; que o Filho de Deus e o Filho do homem
tenham essas duas significações, é o que será demonstrado no que segue; que o Filho de
Maria signifique propriamente o Humano, vê-se com evidência pela geração dos homens,
em que- do pai vem a alma e da mãe, o corpo; com efeito, a alma está na semente do pai e é
revestida com um corpo na mãe; ou, o que é a mesma cousa, todo espiritual que está no
homem vem do pai e tudo que é material lhe vem da mãe; quanto ao Senhor, o Divino que
estava n'Ele vinha de Jehovah Pai e o Humano vinha da mãe; êstes dois unidos são o Filho
de Deus; que isto seja assim vê-se claramente pela natividade do Senhor, da qual assim se
fala em Lucas: "0 Anjo Gabriel disse a Maria: Um Espírito Santo virá sobre ti, e uma
virtude do Altíssimo te ensombrará, por isso o que nascer de ti, Santo, será chamado Filho
de Deus" (I, 35). 0 Senhor se chamou o Enviado do Pai, também por esta razão que, pelo
Enviado, é significada a mesma coisa que pelo Anjo, pois o Anjo na língua original é o
Enviado, com efeito, se diz em Isaías: "0 Anjo das faces de Jehovah os libertou; por causa
de seu amor e de sua clemência Éle os redimiu" (LXIII, 9); e em Malaquias:
"Imediatamente virá a Seu templo o Senhor que procurais e o Anjo da Aliança que
desejais" (111, 1); e em outros lugares. Que a Divina Trindade, Deus Pai, Filho e Espírito
Santo esteja no Senhor, e que n'Éle o Pai seja o Divino A QUO (de que tudo procede), o
Filho o Divino Humano, e o Espírito Santo o Divino Procedente, ver-se-á no Capítulo III
desta Obra, onde ,se tratará da Divina Trindade.
&93 - 0 Anjo Gabriel tendo dito a Maria que o Santo que nasceria dela seria chamado Filho
de Deus, as passagens seguintes tiradas da Palavra vão mostrar que o Senhor quanto ao
Humano é chamado o Santo de Israel: "Vendo eu estava em visões, e eis, o Vigilante e o
Santo que descia do Céu" (Daniel IV, 10, 20). "Deus de Teman virá; e o Santo, da
montanha de Paran" (Habac. 111, 3). "Eu sou Jehovah o Santo, o Criador de Israel, vosso
Santo" (Isaías XLIII, 11, 15). "Assim disse Jehovah, o Redentor de Israel, seu Santo"
(Isaías XLIX, 7). "Eu sou Jehovah teu Deus, o Santo de Israel teu Salvador" (Isaías XLIII,
1, 3). "Quanto a nosso Redentor, Jehovah Sebaoth (é) seu Nome, 0 Santo de Israel" (Isaías
XLVII, 4). "Assim disse Jehovah vosso Redentor, o Santo de Israel" (Isaías XLIII, 14;
XLVIII, 17). "Jehovah Sebaoth (é) Seu Nome, e teu Redentor o Santo de Israel" (Isaías,
LIV, 5). "Éles tentaram Deus e o Santo de Israel" (Ps. 78, 41). "Eles abandonaram Jehovah
e provocaram o Santo de Israel" (Isaías 1, 4). "Éles disseram: Fazei cessar de diante de
nossas faces o Santo de Israel; é porque assim disse o Santo de Israel" (Isaías XXX, 11,
12). "Eles dizem: Que apresse sua obra para que vejamos e que avance e venha o conselho
do Santo de Israel" (Isaías V, 19). "Nesse dia êles se apoiarão sobre Jehovah, o Santo de
Israel" (Isaías X, 20). "Escreve e sê contente, filho de Sião porque grande (é) no meio de ti
o Santo de Israel" (Isaías XII, 6). "Palavra do Deus de Israel: Nesse dia, seus olhos para o
Santo de Israel olharão" (Isaías XVII, 7). "Os indigentes dentre os homens no Santo de
Israel se alegrarão" (Isaías XIX, 19; XLI, 16). "A Terra está cheia de delito contra o Santo
de Israel" (Jeremias LI, 16). E além disso: Isaías LV; LX, 9 e em outros lugares. Pelo Santo
de Israel é entendido o Senhor quanto ao Divino Humano, pois o Anjo disse a Maria: "0
Santo que nascerá de ti será chamado Filho de Deus" (Lucas 1, 35). Que Jehovah e o Santo
de Israel sejam um, embora sejam citados separadamente, pode-se ver também pelas
passagens que acabam de ser referidas em que Jehovah é este Santo de Israel. Que o Senhor
seja chamado o Deus de Israel, vê-se também por um grande número de passagens, por
exemplo: Isaías XVII, 6; XXI, 10, 17; XXIV, 15; XXIX, 23; Jeremias VII, 3; IX, 14; XI, 3;
XIII, 12; XVI, 9; XIX, 3; XXIII, 2; XXIV, 5; XXV, 15, 27; XXIX, 2, 8, 21, 25; XXX, 2;
XXXI, 23; XXXII, 14, 15, 36; XXXIII, 4; XXXIV, 2, 13; XXXV, 13, 17, 18, 19; XXXVII,
7; XXXVIII, 17; XXXIX, 16; XLII, 9, 15, 18; XLIII, 10; XLIV, 2, 7, 11, 25; XLVIII, 1; L,
18; LI, 33; Ezequiel VIII, 4; IX, 3; X, 19, 20; XI, 22; XLIII, 2; XLIV, 2; Sofonias 11, 9;
Salmos 41, 14; 59, 6; 68, 9.
&94 - Nas Igrejas Christãs de hoje chama-se comumente nosso Senhor de Filho de Maria e
raramente Filho de Deus, a não ser que então se entenda o Filho de Deus nascido de toda a
eternidade; isto provém de que os católicos romanos santificaram acima de tôdas as outras,
Maria Mãe, e a colocaram como Deusa ou como Rainha à testa de todos os santos, quando
entretanto Senhor quando glorificou Seu Humano, despojou-se de tudo que tinha de Maria
e revestiu-se de tudo que pertencia ao Pai, que será plenamente demonstrado na
continuação desta Obra. Dêste nome comum de Filho de Maria, que está na boca de todos,
fluíram na Igreja várias enormidades, sobretudo entre aqueles que não submeteram à
reflexão o que o Senhor disse na Palavra, por exemplo: que o Pai e Éle são um; que Éle está
no Pai e que o Pai está n'Ele; que tudo que é do Pai é d'Êle; que Êle mesmo chamou
Jehovah Seu Pai; e que Jehovah 0 chamou Seu Filho. As Enormidades que fluíram na Igreja
pelo fato de aí se chamar o Senhor de Filho de Maria e não Filho de Deus, são, que, a
respeito do Senhor, a idéia de Divindade perece e com ela tudo que, na Palavra, foi dito
d'Êle como Filho de Deus; e que por aí entram o Judaísmo, o Arianismo, o Socinianismo, o
Calvinismo tal como foi no comêço, enfim o Naturalismo; e com o naturalismo a idéia
fanática de que o Filho de Maria vinha de José, que Sua Alma vinha de Sua mãe e que
assim Ele é chamado Filho de Deus e não o é; que cada um se consulte, seja eclesiástico,
seja leigo e que examine se concebeu e se manteve uma idéia do Senhor como Filho de
Maria que não fosse a de um simples homem. Como uma tal idéia tinha, já no terceiro
século, começado a prevalecer entre os christãos quando os Arianos se levantaram, é por
isso que o Concílio de Nicéa, a fim de reivindicar para o Senhor a Divindade, supôs um
Filho de Deus nascido de toda a eternidade e por esta ficção o Humano do Senhor era
então, elevado para Deus; e Êle o é também por muitos, mas não entre aqueles que pela
união hipostática entendem a união como entre dois, dos quais um está acima e o outro está
embaixo. Mas o que resulta daí senão que toda a Igreja Christã perece, ela que foi fundada
únicamente sobre o culto de Jehovah no Humano, por conseqüência sobre Deus-Homem;
que ninguém possa ver o Pai nem 0 conhecer, nem vir a Êle, nem crêr n'Ele, a não ser por
Seu Humano, é o que o Senhor declara em grande número de passagens; se isso não tem
lugar, toda semente nobre da Igreja é mudada em semente ignóbil: a semente da oliveira em
semente de pinheiro; a semente da laranjeira, do limoeiro, da macieira, da pereira, em
semente de salgueiro, de olmeiro, de tilia, de azinheiro; a cêpa, em junco do pântano, o
trigo e a cevada, em palha; e mesmo todo alimento espiritual se torna como o pó de que se
nutrem as serpentes; pois no homem a luz espiritual se torna uma luz natural e, enfim,
sensual, corporal, que, considerada em si mesma, é uma luz fantástica; mais ainda: o
homem torna-se como um pássaro que, quando está voando no ar, sendo de repente privado
de suas asas, cai sobre a terra onde, caminhando, não vê mais em torno dêle senão o que
está diante de seus pés; e então sobre os espirituais da Igreja, que devem ser para a vida
eterna, este homem não pensa de modo diferente de um adivinho; eis o que acontece,
quando o homem considera o Senhor Deus Redentor e Salvador como simples Filho de
Maria, por conseqüência como um simples homem.
&95 - V. 0 SENHOR PELOS ATOS DA REDENÇÃO SE FÊZ JUSTIÇA.
Diz-se e cré-se hoje nas Igrejas Christãs que o mérito e a justiça pertencem ao Senhor só
pela obediência que mostrou a Deus Pai, no Mundo; e sobretudo pela paixão da cruz; mas
pensou-se que a paixão da cruz foi o ato mesmo da redenção, quando, entretanto, esta
paixão foi não o ato da redenção, mas o ato da glorificação do Humano do Senhor, como se
verá no Lema seguinte sobre a Redenção; os atos da Redenção pelos quais o Senhor se fêz
a Justiça, consistiram em que Ele realizou o Julgamento Final que foi feito no Mundo
Espiritual, e que então Ele separou os maus dentre os bons e os bodes, das ovelhas,
expulsou do Céu os que faziam um com as bêstas do dragão, fundou um novo Céu com
aqueles que eram dignos e um Inferno com aqueles que não eram dignos; e repôs
sucessivamente tôdas as cousas em ordem de uma parte e de outra; e além disso, instaurou
uma Nova Igreja; êstes atos foram os atos da Redenção, pelos quais o Senhor se fêz a
Justiça; com efeito, a Justiça siste em fazer tôdas as cousas segundo a Ordem Divina e em
repor na ordem aqueles que se escaparam da ordem, pois a Ordes Divina mesma é a Justiça.
E' isto que se entende por estas palavras do Senhor: "Convém-me cumprir toda a Justiça de
Deus" (Mateus 111, 15); e por estas, no Antigo Testamento. "Eis os dias que vêm e eu
suscitarei a David um Germe Justo, que reinará Rei e fará Justiça na Terra; e eis seu Nome,
Jehovah nossa Justiça" (Jeremias XXIII, 5, 6; XXXIII, 15, 16). "Eu falo em Justiça grande
para salvar" (Isaías, LXIII, 1). "Êle estará sentado sobre o trono de David, para o reafirmar
em Julgamento e Justiça" (Isaías IX, 6). "Sião será resgatada em Justiça'' (Isaías 1,27).
&96 - Em nossos dias aqueles que ocupam o primeiro plano na Igreja descrevem de modo
inteiramente diferente a Justiça do Senhor; e além disso, por sua inscrição no homem fazem
sua fé salvífica, quando entretanto a verdade é que a Justiça do Senhor, sendo tal, vindo dai
e sendo, em si mesma, puramente Divina, não pode ser conjunta a homem algum, nem por
conseqüência, produzir salvação alguma, mais do que a Vida Divina, que é o Divino Amor
e a Divina Sabedoria; o Senhor entra em cada homem com êste Amor e esta Sabedoria,
todavia se o homem não vive segundo a Ordem, esta Vida aí está, na verdade, mas nada
serve absolutamente para a salvação. Dá somente a faculdade de compreender o vero e de
fazer o bem. Viver segundo a Ordem é viver segundo os preceitos de Deus; e quando um
homem vive e age assim, adquire a justiça; não a justiça da redenção do Senhor, mas o
Senhor mesmo como Justiça; são esses que são entendidos por estas palavras: "Se vossa
justiça não ultrapassa a dos Escribas e Fariseus, vós não entrareis no Reino dos Céus"
(Mateus V, 20). "Bem-aventurados aqueles que são perseguidos por causa da Justiça,
porque dêles é o Reino dos Céus" (Mateus V, 10). "Na consumação dos séculos sairão os
Anjos e separarão os maus do meio dos Justos" (Mateus XIII, 49); e em outros lugares:
pelos Justos na Palavra são entendidos aqueles que viveram segundo a Ordem Divina, pois
que a Ordem Divina é a Justiça. A Justiça mesma em que se tornou o Senhor pelos atos da
Redenção, não pode ser atribuída, inscrita, adaptada nem conjunta ao homem, senão como
a luz ao olho, o som ao ouvido, a vontade aos músculos daquele que age, o pensamento aos
lábios daquele! que fala, o ar ao pulmão que respira, o calor ao sangue, e assim de resto;
que estas cousas influem e se adjuntam em vez de se conjuntarem, cada um pode perceber
por si mesmo. Mas a justiça é adquirida tanto quanto o homem exerce a Justiça e esta, tanto
quanto age em relação ao próximo segundo o amor do justo e do vero; no homem mesmo,
ou no uso mesmo que ele faz, habita a justiça; com efeito, o Senhor disse que toda árvore é
conhecida por seus frutos; qual é o homem que não conhece um outro homem por suas
obras, se examina atentamente com que fim e em que desígnio da vontade, por qual
intenção e por quais causas elas são feitas? Todos os Anjos e todos os sábios em nosso
Mundo se entregam a êste exame; em geral, toda erva e todo germe saindo da terra é
conhecido pela sua flor e sua semente; tudo, enfim, é conhecido pela sua espécie ou
qualidade, como sejam, a pedra, o campo, o alimento, o animal da terra e todo pássaro do
Céu. Por que, então, o homem não o seria nas mesmas condições? Porém, quanto à
qualidade das obras do homem, donde vem, isso será desvendado no Capítulo sobre a Fé.
&97 - VI. 0 SENHOR PELOS MESMOS ATOS SE UNIU AO PAI E 0 PAI SE UNIU A
ÊLE.
Se a união foi f feita pelos atos da Redenção, é porque o Senhor os operou segundo Seu
Humano; e à medida que os operava, G Divino que é entendido pelo Pai se aproximava
mais de perto, o ajudava e cooperava; e enfim, Eles se conjuntaram, ao ponto de que não
eram mais dois, mas um; e esta União é a Glorificação de que se falará em seguida.
&98 - Que o Pai' e o Filho, isto é, o Divino e o Humano, tenham sido unidos no Senhor
como a Alma e o Corpo, isto faz parte da fé da Igreja de hoje e resulta da Palavra, mas não
obstante há apenas cinco por cento ou cinqüenta por mil, que o sabem; a causa desta
ignorância vem da doutrina da justificação pela fé só, à qual, a maior parte dos
eclesiásticos, que procuram um renome d, erudição para alcançar as honras e as riquezas, se
apegam com tanto ardor, que esta doutrina hoje retém e ocupa toda sua mente; e como, à
semelhança do espírito de vinho chamado Alcool, ela embriagou seus pensamentos; e por
isso, semelhantes a homens ébrios, êles não viram este ponto, o mais essencial da Igreja,
que Jehovah Deus desceu e tomou o Humano quando, entretanto, é únicamente por esta
União que há conjunção do homem com Deus e pela conjunção, a salvação; que a salvação
depende do conhecimento e do reconhecimento de Deus, é o que pod, ver quem considere
que Deus é tudo em tôdas as cousas do Céu e, por conseguinte, em tôdas as cousas da
Igreja; e portanto, em tôdas as cousas da Teologia. Mas a princípio será demonstrado aqui
que a união do Pai e do Filho ou do Divino e do Humano no Senhor, é como a união da
alma e do corpo e esta União é recíproca; a União como a da alma e do corpo foi
estabelecida no símbolo de Atanásio, que foi recebido em todo Mundo Christão como
Doutrina sobre Deus; aí se lêem estas palavras: "Nosso Senhor Jesus Christo é Deus e
Homem; e ainda que seja Deus e Homem, entretanto, não são dois, mas é um único Christo;
Êle é Um porque o Divino tomou sobre Si o Humano; Éle é mesmo inteiramente Um e é
uma única Pessoa, pois do mesmo modo que a Alma e o Corpo são um único homem, do
mesmo modo Deus e o Homem são um único Christo mas nesta passagem entende-se que
uma tal união é a do Filho de Deus de toda eternidade com o Filho nascido no tempo;
entretanto, como não há senão um Deus e não três, esta Doutrina concorda com a Palavra
desde que esta União seja entendida com Deus um de toda eternidade; na Palavra lê-se:
"que Êle foi concebido de Jehovah Pai" (Lucas 1, 34, 35); é daí que Ele teve a alma e a
vida, por isso Êle diz "que Êle e o Pai são um" (João X, 30); "que aquêle que 0 vê e 0
conhece, vê e reconhece o Pai" (João XIV, 9); ''aquele que me recebe, recebe Aquele que
me enviou" (João XIII, 20); "que Êle está no seio do Pai" (João 1, 18); "que tudo quanto o
Pai tem é d'Ele'' (João XVI, 15); "é chamado Pai de eternidade" (Isaías IX, 5); "que, por
conseguinte, Êle tem poder sobre toda carne" (João XVII, 2); "e todo poder no Céu e na
Terra" (Mateus XXVIII, 18). Por estas passagens e várias outras na Palavra, pode-se ver
claramente que a União do Pai e do Filho é como a da Alma e do Corpo; é por isso que no
Antigo Testamento Êle mesmo é muitas vêzes chamado Jehovah Sebaoth, Jehovah e
Jehovah Redentor (ver acima, n. 83).
&99 - Esta união é recíproca; vê-se claramente por estas passagens da Palavra: "Filipe, não
crês que Eu estou no Pai e que o Pai (está) em Mim? Crêde-me, que Eu (estou) no Pai e que
o Pai (está) em Mim" (João XIV, 9, 10, 11). "A fim de que conheçais e creais que o Pai
(está) em Mim, e Eu no Pai" (João, X, 36, 38). "A fim de que todos sejam um, como Tu,
Pai (Tu estás) em Mim, e Eu em TV' (João XVII, 21). "Pai tôdas as minhas cousas são tuas
e tôdas as tuas são minhas" (João XVII, 10). Se a União é recíproca, é porque não existe
União alguma ou conjunção alguma entre dois, a menos que reciprocamente. um se
aproxime do outro; toda conjunção em todo Céu e em todo o Mundo e em todo homem, não
vem de outra parte senão da aproximação recíproca de um para o outro; e então que um
queira a mesma cousa que o outro; por causa disso em tôdas as partes de um e de outro há
homogeneidade e simpatia, unanimidade e concórdia; tal é a conjunção reciproca da alma
do corpo em cada homem; tal é a conjunção do espírito do homem com os órgãos da
sensibilidade e do movimento de seu corpo; tal é a conjunção do coração e do pulmão; tal é
a conjunção da vontade e do entendimento; tal é a conjunção de todos os membros e de
tôdas as vísceras nêles e entre êles, no homem; tal é a conjunção das mentes entre todos
aqueles que se amam interiormente, pois ela está gravada em todo amor e em toda amizade,
pois o amor quer amar e ser amado. Há no Mundo uma conjunção reciproca de tôdas as
cousas que foram estreitamente conjuntas entro elas semelhante é a conjunção do calor do
sol com o calor da madeira e da pedra, do calor vital com o calor de tôdas as fibras nos
seres animados; semelhante é a da árvore com a raiz e pela .árvore com o fruto; tal é a do
ímã com o ferro e assim o resto. Se a conjunção não é feita por uma aproximação recíproca
e vice-versa, de um para o outro, há únicamente uma conjunção externa e não interna e esta
conjunção externa, com o tempo, é destruída por si mesma de uma parte e de outra, e
algumas vezes ao ponto de que os dois não se conhecem mais.
&100 - Assim, não há conjunção que seja conjunção, a menos que seja feita reciprocamente
e vice-versa, é por isso que a conjunção do Senhor e do homem não é outra, como se vê
claramente por estas passagens: ''Aquele que come minha carne e bebe meu sangue, em
Mim mora e Eu nêle" (João VI, 56). "Permanecei em Mim e Eu em vós; aquêle que
permanece em Mim e Eu nele, êste dá muito fruto" (João XV, 4 e 5). "Aquêle que abre a
porta, Eu entrarei nêle e cearei com êle e êle comigo" (Apoc. 3º, 20), e em outros lugares;
esta conjunção é feita pelo :fato do homem se aproximar do Senhor e o Senhor se
aproximar dêle; pois é uma lei certa e imutável, que tanto quanto o homem se aproxima do
Senhor, tanto o Senhor se aproxima do homem; mas ver-se-á mais sobre êste assunto no
Capítulo sobre A CARIDADE E A FÉ.
&101 - VII. ASSIM DEUS FOI FEITO HOMEM E 0 HOMEM, DEUS EM UMA úNICA
PESSOA.
Que Jehovah Deus foi feito Homem e o Homem Deus em uma única Pessoa, é o que resulta
como conclusão de todos os precedentes Artigos dêste Capítulo, e sobretudo dêstes dois:
"que Jehovah Criador do Universo desceu e tomou o Humano para redimir e salvar os
homens", ns. 82, 83 e 84; e "que o Senhor pelos atos da Redenção se uniu ao Pai e o Pai se
uniu a Ele'', assim reciprocamente e vice-versa, ns. 97 a 100; por esta união recíproca é
evidente que Deus foi feito Homem e o Homem Deus, em uma única Pessoa; resulta
semelhantemente da União de um e de outro, que ela é como a da Alma e do Corpo; que
isso seja conforme a fé da Igreja de hoje segundo o símbolo de Atanásio, vê-se acima, n.
89; isto está ainda de acordo com a fé dos Evangélicos, em um Capitulo dos livros de sua
Ortodoxia, que se chama
a FÓRMULA DE CONCÓRDIA, onde está solidamente estabelecido, tanto segundo a
Escritura Santa, como segundo os Doutores da Igreja (les Pères), e também por meio de
razões que a Natureza Humana do Christo foi elevado à Divina Majestade, à Onipotência e
à Onipresença; e que, no Christo, o Homem é Deus
e Deus Homem, págs. 607, 765.
Além disso, foi mostrado neste Capítulo que Jehovah Deus quanto a Seu Humano é
chamado, na Palavra, Jehovah, Jehovah Deus, Jehovah Sebaoth e Deus de Israel; é por isso
que Paulo disse: "Que em Jesus Christo toda a plenitude da Divindade habita
corporalmente" (Coloss. 2, 9); e João disse: "Que Jesus Christo, Filho de Deus é o
verdadeiro Deus e a Vida eterna" (I, Epístola 5, 20, 21); que pelo Filho de Deus seja
entendido propriamente o Humano do Senhor, vê-se acima, ns. 92 e segs.; e além disso,
Jehovah Deus chama Senhor a Éle mesmo e a Jesus Christo, pois lê-se: "0, Senhor disse a
meu Senhor assenta-te à minha direita" (Ps. 110, 1) e em Isaías: "Um Menino nos nasceu,
um Filho nos foi dado e se chamará seu Nome Deus, Pai de eternidade" (IX, 5, 6); pelo
Filho é também entendido o Senhor quanto ao Humano em David: "Eu anunciarei o
estatuto: Jehovah me disse: Meu Filho, Tu, Eu hoje te engendrei; beij ai o Filho com mêdo
que Éle se irrite e que pereçais no caminho" (Ps. 2, 7, 12); aqui é entendido não o Filho de
toda a eternidade, mas o Filho nascido no Mundo, pois é uma profecia sobre o Senhor que
devia vir, por isso é chamada o Estatuto que Jehovah anunciou a David e neste Psalmo lê-se
precedentemente: "Eu ungi meu Rei sobre Sião", versículo 6 e segs.: "Eu lhe darei hoje as
nações em herança", vers. 8); é por isso que HOJE, nesta passagem, não é de toda
eternidade, mas é no tempo, pois em Jehovah o futuro é presente.
&102 - Crê-se que o Senhor quanto ao Humano, não somente foi, mas é ainda Filho de
Maria; mas nisto o Mundo Christão está em grande êrro; é verdade que Êle foi Filho de
Maria, mas não é verdade que Èle o seja ainda, pois pelos atos da Redenção Ele despiu o
Humano proveniente da mãe e revestiuse com o Humano procedente do Pai; é por isso que
o Humano do Senhor é Divino e que n'Ele Deus é Homem e o Homem Deus. Que Ele
despojou-se do Humano procedente da mãe e revestiu-se do Humano que procedia do Pai e
que é o Divino Humano, pode-se ver pelo fato d'Êle mesmo jamais ter chamado Maria de
Mãe, assim como se pode verificar por estas passagens: "A Mãe de Jesus lhe disse: Êles,
não têm vinho". Jesus lhe disse: "Que há entre Mim e ti, Mulher, a minha hora ainda não
chegou" (João 11, 4). E depois: 'Ma cruz, Jesus vendo sua Mãe e, perto dela, o discípulo
que Éle amava, disse à Sua Mãe: "Mulher, eis teu filho". Depois disse ao Discípulo: "Eis
tua Mãe" (João XIX, 26, 27); e em uma outra vez Êle não a reconheceu: "Vieram dizer a
Jesus: Tua mãe e teus irmãos estão lá fora e querem te ver". Jesus, respondendo, lhes disse:
"Minha Mãe e meus irmãos são aquêles que escutam a Palavra de Deus e que a fazem"
(Lucas VIII, 20, 21; Mateus XII 46 a 49; Marcos 111, 31 a 35). Assim o Senhor não a
chamou Mãe, mas mulher, e deu-a por Mãe a João; em outras passagens ela é chamada Sua
Mãe, mas não -é da boca do Senhor. 0 que confirma ainda êste mesmo ponto, é que o
Senhor não se reconheceu como Filho de David, pois lê-se nos Evangelistas: "Jesus
interrogou os Fariseus, dizendo: Que vos parece do Christo? De quem é Êle Filho? Êles lhe
disseram de David. Êle lhes disse: Como pois David em espírito Lhe chama seu Senhor,
dizendo: 0 Senhor disse a meu Senhor: Assenta-te à minha direita até que eu tenha posto
teus inimigos por escabelo de teus pés? Se, pois, David o chama Senhor, como é seu Filho?
E ninguém podia lhe responder uma palavra" (Mateus XXII, 41 a 46; Marcos XII, 35, 36,
37; Lucas XX, 41 a 44; Ps. 110, 1). Ao que precede ajuntarei êste fato novo: "Uma vez me
foi dado falar a Maria; ela passava um dia e foi vista no Céu acima da minha cabeça em
vestimenta branca que se assemelhava à sêda; e se tendo detido um pouco, Ela disse que
havia sido a Mãe do Senhor porque Êle nasceu dela, mas que tendo sido feito Deus, Êle se
tinha despojado de todo Humano que provinha dela e que, por esta razão ela 0 adorava
como seu Deus e não queria que ninguém 0 reconhecesse por seu Filho porque todo Divino
estava n'Êle. Tudo o que precede apresenta portanto uma prova brilhante desta verdade, que
Jehovah é Homem tanto nos últimos como nos primeiros, segundo estas palavras: "Eu sou o
Alfa e o Ômega, o Comêço e o Fim, Aquêle que E' e que Era e que deve Vir, o Todo
poderoso" (Apoc. 1, 8, 11). "Quando João viu o Filho do homem no meio dos sete
candelabros, caiu a seus pés como morto; mas Êle pôs a sua dextra sobre êle, dizendo: Eu
sou o Primeiro e o último" (Apoc. 1, 13, 17; 21, 6). "Eis, eu venho em breve, para dar a
cada um segundo as suas obras; Eu sou o Alfa e o Ômega, o Comêço e o Fim, o Primeiro e
o último" (Apoc. 22, 12, 13). E em Isaías: "Assim disse Jehovah o Rei de Israel e seu
Redentor Jehovah Sebaoth: Eu sou o Primeiro e o último" (XLIV, 6; XLVIII, 12).
&103 - Ao que precede ajuntarei êste Arcano: A Alma que vem do pai é o homem mesmo;
e o Corpo que vem da mãe não é o homem em si, mas é segundo o homem, é unicamente
sua vestimenta, tecida de coisas que são do Mundo natural, enquanto que a Alma é
composta de cousas que são do Mundo espiritual; todo homem depois da morte depõe o
natural que recebeu da mãe e retém o espiritual que lhe veio do pai; e ao mesmo tempo, em
torno dêste espiritual, uma espécie de limbo tirado das partes mais puras da natureza; mas
êste limbo, naqueles que vão para o Céu, está em baixo e o espiritual em cima, enquanto
que naqueles que vão para o Inferno, este limbo está em cima e o espiritual em baixo; daí
resulta que o Homem-anjo fala segundo o Céu, assim pronuncia o bem e o vero, mas o
homem-diabo fala segundo o Inferno quando é do fundo do coração; e segundo o Céu
quando é de boca; faz isto fora e aquilo, em casa. Pois que a Alma do homem é o homem
mesmo e é espiritual por sua origem, vê-se claramente que é daí que a mente, o animus, o
caráter, a inclinação e a afeição do amor do pai permanecem nos filhos descendentes dos
filhos; e revêm e se apresentam visíveis de geração em geração; é daí que várias famílias e
mesmo nações, são conhecidas por seu primeiro pai; em tôdas as faces de uma raça há uma
imagem comum que se manifesta; e esta imagem não é mudada senão pelos espirituais da
Igreja; se a imagem comum de Jacob e de Judá permanece ainda em seus descendentes e se
por ela são distinguidos dos outros, é porque êles têm estado até aqui firmemente ligados à
sua religiosidade; com efeito, na semente de que cada um é concebido, há um enxerto ou
uma mergulhia da Alma do pai em sua plenitude, em uma espécie de invólucro tirado dos
elementos da natureza; por isso no útero da mãe é formado seu corpo, que pode ser feito ou
à semelhança do pai ou à semelhança da mãe; a imagem do pai restando, entretanto, por
dentro, sempre no, esforço para se manifestar; e por isso, se ela não o pode na primeira
geração, o faz nas seguintes. Se a imagem do pai está em pleno na semente, é porque a
Alma, como foi dito, é espiritual por sua origem; e o espiritual nada tem de comum com o
espaço, por isso é semelhante a si mesmo em um pequeno volume como em um grande.
Quanto ao que concerne ao Senhor, Êle despojou-se, enquanto estava no Mundo, pelos atos
da Redenção de todo Humano proveniente da Mãe; e revestiu-se com o Humano que
procedia do Pai, que é o Divino Humano; é daí que n'Êle o Homem é Deus, e Deus
Homem.
&104 - VIII. A PROGRESSÃO PARA A UNIAO FOI 0 ESTADO DE SUA
EXINANIÇAO E A UNIÃO MESMA 0 ESTADO DE SUA GLORIFICAÇÃO.Que o
Senhor, enquanto estava no Mundo, tenha tido dois Estados que são chamados estado de
Exinanição e- estado de Glorificação, isso é conhecido na Igreja; o primeiro estado que era
o de Exinanição, é descrito em várias passagens da Palavra, sobretudo nos Salmos de David
e também nos Profetas; e particularmente em Isaías, Capítulo LIII, onde se diz que "Até à
morte êle exauriu (exinanivit) sua alma (vers. 12); êste mesmo estado era o estado de Sua
humilhação diante do Pa!, pois neste estado orava ao Pai; diz que faz a vontade do Pai e
atribui ao Pai tudo o que fêz e disse; que tenha orado ao Pai, vê-se por estas passagens:
Mateus XVII, 43; Marcos 1, 35; VI, 46; XIV, 32 a 39; Lucas V, 15 VI, 12; XXII, 41 a 44;
João XVII, 9, 159 20; que tenha feito a vontade do Pai, vê-se em João IV, 34; V, 30; que
tenha atribuído ao Pai tudo o que féz e pronunciou, vêse em João VIII, 26, 27, 28; XII, 49,
50; XIV, 10; além disso, na cruz exclamou: "Meu. Deus, meu Deus por que me
abandonaste?" (Mateus XXVII, 47; Marcos XV, 34); e sem êste estado, Ele não teria
podido ser crucificado. 0 Estado de Glorificação é também o Estado de União; estava neste
estado quando foi transfigurado diante de Seus três Discípulos e também quando fazia
Milagres e tôdas as vezes em que dizia que o Pai e Ele são um, que o Pai está n'Ele e que
Êle está no Pai, que tudo que é do Pai é d'Ele; e - depois da união plenária - que Ele tinha
podêres sobre toda carne, João XVII, 2, e todo poder no Céu e sobre a Terra, Mateus
XXVIII, 18, além de várias outras coisas.
&105 - Se o Senhor estêve nesses dois estados, o de Exinanição e o de Glorificação, é
porque não pode haver outra progressão para a União, pois ela é segundo a Ordem Divina,
que é imutável; a Ordem Divina é que o homem se disponha à recepção de Deus e se
prepare para ser um receptáculo e um hábitáculo onde Deus possa entrar e habitar como em
Seu Templo; que o homem deve fazer isso por si mesmo, e não obstants, reconhecer que é
por Deus; deve reconhecê-lo porque, ainda que não sinta nem a presença nem a operação de
Deus, entretanto, Deus opera todo bem do amor e todo vero da fé no homem; é segundo
esta Ordem que progride e deve progredir todo homem, para que, de natural, se torne
espiritual; deu-se o mesmo com o Senhor, para que fizesse Divino o Seu Humano Natural;
daí vem que orasse ao Pai, que fizesse a vontade do Pai, que lhe atribuísse tudo que fez e
pronunciou; e que na cruz dissesse: Meu Deus, meu Deus, por que me abandonaste? pois
nesse estado Deus parecia ausente; mas depois dêste estado veio o outro, que é o estado de
conjunção com Deus; neste, o homem age semelhantemente, mas segundo Deus; e então
não tem necessidade, como antes, de atribuir a Deus todo bem que quer e f az e todo vero
que pensa e pronuncia, porque isso está gravado em seu coração e está, por conseguinte,
interiormente em tôdas as suas ações e em tôdas as suas palavras. Semelhantemente, o
Senhor se uniu a Seu Pai e o Pai se uniu a Êle; em uma palavra, o Senhor glorificou Seu
Humano, isto é, o fêz Divino, da mesma maneira que o Senhor regenera o homem, isto é, o
faz espiritual.
Que cada homem, que de natural, se torna espiritual, passa por êstes dois estados; e que
pelo primeiro, entra no segundo e avança assim do Mundo para o Céu, é o que será
plenamente demonstrado nos Capítulos sobre 0 LIVRE ARBÍTRIO, sobre A CARIDADE
E A FÉ, e sobre A REFORMA E A REGENERAÇÃO; aqui será dito unicamente que no
Primeiro estado, que é chamado o estado de Reforma, o homem está na plena liberdade de
agir segundo o Racional de seu entendimento; e que no Segundo, que é o estado de
Regeneração, está também em uma liberdade semelhante, mas que então quer e age, pensa
e fala por um novo, amor e uma nova inteligência que vêm do Senhor; com efeito, no
primeiro estado, o entendimento ocupa o primeiro lugar e a vontade o segundo lugar; no
segundo estado a vontade ocupa o primeiro lugar e o entendimento, o segundo; mas, não
obstante, o entendimento segundo a vontade e não a vontade pelo entendimento; a
conjunção do bem e do vero, da caridade e da fé, do homem interno e o homem externo,
não se faz de outro modo.
&106 - Estes dois Estados são representados por diversas cousãs no Universo, porque são
segundo a Ordem Divina; e a Ordem Divina enche tôdas e cada uma das coisas até aos
singularíssimos no Universo; o Primeiro estado é representado em todo homem pelo estado
da primeira e da segunda idade de sua infância até à puberdade, à adolescência e à
juventude, estado que é de humilhação diante dos pais e então de obediência e também de
instrução pelos mestres e pelos ministros; o Segundo estado é representado pelo estado
dêsse mesmo homem quando goza plenamente de seu direito e de seu livre arbítrio ou de
sua vontade e de seu entendimento, estado no qual tem o poder em sua casa. 0 Primeiro
Estado também é representado pelo estado de um Príncipe ou Filho de Rei ou de um filho
de Duque, antes de ser rei ou duque; semelhantemente pelo estado do cidadão, antes de se
tomar magistrado; ou do súdito antes que desempenhe um cargo; do aluno, que é iniciado
no ministério antes que se torne padre; do padre, antes que se torne pastor; do pastor, antes
que se tome primaz; da donzela, antes que se tome esposa; da servente, antes de se tornar
patroa; e em geral, de caixeiro, antes de se tornar negociante; de soldado, antes que se torne
oficial e de criado, antes que seja patrão; o primeiro dêstes, estados é um estado de servidão
e o segundo é o da vontade própria e por consequencia do entendimento próprio. Éstes dois
estados são representados também por diferentes cousas no Reino Animal; o primeiro pelas
bêstas e pelos pássaros, enquanto estão com as mães e os pais que seguem continuamente e
pelos quais são alimentados e educados; e o segundo estado, quando os deixam e provém
por si mesmos às suas necessidades; semelhantemente, pelos vermes; o primeiro, quando se
arrastam e se alimentam de fôlhas; o segundo quando deixam seu invólucro e se tornam
borboletas. Estes dois estados são também representados nos indivíduos do Reino Vegetal;
o primeiro, quando o vegetal sai da semente e se orna de ramos, de fôlhas e de flores; o
segundo, quando se carrega de frutos e produz novas sementes; isto pode ser comparado à
conjunção do vero e do bem, pois que tôdas as cousas que pertencem à árvore respondem
ao vero e os frutos ao bem. Entretanto, o homem que fica no Primeiro estado e não entra no
segundo, é semelhante à árvore que só tem fôlhas e não dá fruto, da qual se diz na Palavra
que deve ser arrancada e lançada no fogo (Mateus XXI, 19; Lucas 1, 9; XIII, 6 a 10; João
XV, 5, 6); é ainda como o escravo que não quer ser livre e a cujo respeito foi estabelecido,
"que seria levado à porta e que sua orelha seria furada com uma sovela" (Êxodo XXI, 6); os
escravos são aquêles que não estão conjuntos ao Senhor; e os livres, aqueIes que são
conjuntos a Êle, pois o Senhor disse: "Se o Filho vos libertar, verdadeiramente sereis livres"
(João VIII, 36).
&107 - IX. DAQUI POR DIANTE NINGUÉM, ENTRE OS CHRISTÃOS, VEM PARA 0
CÉU, SENÃO AQUÊLE QUE CRÊ NO SENHOR DEUS SALVADOR E QUE SE
DIRIGE A ÊLE.
Lê-se em Isaías: "Eis que Eu crio um Céu novo e uma Terra nova e não se lembrarão mais
dos precedentes e êles não subirão mais sobre o coração; e eis que vou criar Jerusalém,
alegria e seu povo, contentamento" (LXV, 17, 18). E no Apocalipse: "Vi um Céu novo e
uma Terra nova; e, vi a Santa Jerusalém descendo de Deus pelo Céu adornada como uma
Noiva para seu Marido; e aquêle que estava assentado sobre o trono disse: Eis que faço
novas tôdas as cousas" (21, 1, 2, 5). E várias vêzes se diz que não entrará no Céu senão
aquêle que está inscrito no Livro de vida do Cordeiro (Apoc. 13, 8; 17, 8; 20, 12, 15; (21,
27); nestas passagens pelo Céu é entendido não o Céu visível a nossos olhos, mas o Céu
Angélico; por Jerusalém, não uma cidade que descerá do Céu, mas uma Igreja que descerá
do Senhor pelo Céu; e pelo Livro de vida do Cordeiro é entendido não algum livro escrito
no Céu e que será aberto, mas a Palavra que vem do Senhor e que trata do Senhor. Que
Jehovah Deus, que é chamado Criador e Pai, tenha descido e tomado o Humano, para que o
homem pudesse se dirigir a Éle e ser conjunto com Êle, é o que foi confirmado, posto em
evidência e estabelecido nos Artigos precedentes deste Capítulo; há, com efeito, alguém
que, para se aproximar de um homem, se dirija à sua Alma e quem é que o pode? mas se
dirige ao homem mesmo, que vê face a face, e com o qual fala boca a boca acontece o
mesmo a respeito de Deus Pai e Filho, pois Deus Pai está no Filho, como a Alma está no
Corpo. Que se deve crer no Senhor Deus Salvador, vê-se por estas passagens da Palavra:
"Deus amou de tal modo o Mundo, que Seu Filho unigênito foi dado, a fim de que quem
quer que creia n'Êle, não pereça, mas tenha a vida eterna" (João 111, 15, 16). "Aquêle que
crê no Filho não é julgado, mas aquêle que não crê já foi julgado porque não creu no nome
do unigênito Filho de Deus" (João 111, 18). "Aquêle que crê no Filho tem a vida eterna;
mas aquêle que não crê no Filho não verá a vida, mas a cólera de Deus permanecerá sobre
êlell (João 111, 36). "0 Pão de Deus é Aquêle que desceu no Céu e dá a vida ao Mundo;
quem vem a Mim não terá fome e quem crê em Mim não terá jamais sede'' (João VI, 33,
35). "E' a vontade d'Aquele que me enviou, que quem quer que veja o Filho e creia n'Êle,
tenha a vida eterna e que eu o ressuscite no último dia" (João VI, 40). "Eles disseram a
Jesus: Que faremos nós para operar as obras de Deus? Jesus respondeu: Esta é a obra de
Deus; que creais n'Aquele que o Pai enviou" (João VI, 28, 29). "Na verdade eu vos digo:
aquêle que crê em Mim tem a vida eterna" (João VI, 47). "Jesus exclamou, dizendo: Se
alguém tem sêde, venha a Mim e beba; quem quer que crê em Mim, rios de água viva
correrão de seu ventre" (João VII, 37, 38). "Se não crerdes que Eu sou, morrereis em vossos
pecados" (João VIII, 24). "Jesus disse: Eu sou a ressurreição e a vida; aquêle que crê em
Mim, ainda que morra viverá; quem quer que vive e crê em Mim, não morrerá para a
eternidade" João XI, 25, 26). "Jesus disse; Eu, a Luz, vim ao Mundo a fim de que quem
quer que creia em Mim, não fique nas trevas" (João XII, 46; VIII, 12). "Enquanto tendes a
Luz, crede na Luz, a fim de que sejais filhos da Luz" (João XII, 36). "Êles permanecerão no
Senhor e o Senhor nêles" (João XIV, 20; XV, 1 a 5; XVII, 23), o que se faz pela fé. "Paulo
pregou aos Judeus e aos Gregos o arrependimento em relação a Deus e a fé em Nosso
Senhor Jesus Christo" (Atos 20, 21). "Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida, ninguém vem
ao Pai senão por Mim, (João XIV, 6). Que aquêle que crê no Filho crê no Pai, pois que,
como acaba de ser dito, o Pai está no Filho como a Alma no Corpo, vê-se por estas
passagens: "Se me conhecêsseis, conheceríeis também meu Pai" (João VIII, 19; XIV, 7).
"Quem me vê, vê Aquêle que me enviou" (João XII, 45). "Quem me recebe, recebe Aquele
que me enviou" (João XIII, 20). Isto vem de que ninguém pode ver o Pai e viver (Êxodo 33,
20); é por isso que o Senhor disse: "Deus, ninguém 0 viu jamais, o Filho unigênito, que está
no, seio do Pai, Êle o expôs'' (João 1, 18). "Não que alguém tenha visto o Pai, a não ser
Aquêle que está no Pai; Êste viu o Pai (João VI, 46). "Nem a voz do Pai ouvistes jamais,
nem o Seu aspecto o vistes" (João V, 37). Mas quanto àqueles que não têm conhecimento
algum do Senhor, como são a maior parte dos homens nas duas partes do Globo, a Asia e a
África e também nas Indias, se crêem em um Deus e vivem segundo os preceitos de sua
Religião, são salvos por sua fé e sua vida, pois a imputação concerne àqueles que
conheceram, e não àqueles que ignoraram, do mesmo modo que não se imputa aos cegos
terem feito um passo em falso, pois o Senhor disse: "Se fósseis cegos, não teríeis pecado,
mas agora dizeis que vêdes, por isso o vosso pecado permanece" (João IX, 41).
&108 - A fim de confirmar ainda este ponto, referirei o que sei, pois eu vi e posso afirmar
isto: Acontece que o Senhor funda hoje um Novo Céu Angélico e o compõe com aquêles
que crêem no Senhor Deus Salvador e se dirigem imediatamente a Ele e os outros são
rejeitados; se, portanto, daqui por diante alguém vem do Mundo Christão para o Mundo
Espiritual, o que acontece a todo homem depois da morte, e não crê no Senhor e não se
dirige a Ele e se então não perceber isso porque viveu mal ou se confirmou nos falsos, ao
primeiro passo para o Céu, é repelido e sua face se desvia e se volta para a Terra Inferior,
para onde vai mesmo e se conjunta com os que aí estão, os quais são entendidos no
Apocalipse pelo Dragão e o Falso Profeta. Todo homem por isso, nas Terras Christãs, que
não crê no Senhor, não é de modo algum ouvido depois; suas preces no Céu são como
odores fétidos e como erutaçôes de um pulmão doente; e bem que se imagine que sua prece
é como um perfume de incenso, ela não sobe entretanto para o Céu Angélico senão como
uma fumaça de incêndio, que o vento rebate em seus olhos ou como um perfume que sai de
um incensário sob o capuz de um monge; desde êsse tempo, é o que acontece a toda
piedade que se fixa sobre uma Trindade dividida e não sobre uma Trindade conjunta; que a
Divina Trindade tenha sido conjunta ao Senhor, é o objeto principal desta Obra Aqui
acrescentarei este fato Novo é que há alguns meses os doze Apóstolos foram convocados
pelo Senhor e enviados a todo o Mundo Espiritual, como tinham sido antes no Mundo
natural, com a ordem de pregar êste Evangelho, e então uma Região foi assinalada a cada
Apóstolo; e êles executaram esta ordem com todo zêlo e cuidado possível. Mas se tratará
dêste assunto especialmente no último Capítulo desta Obra, onde será questão da
CONSUMAÇÃO DO SÉCULO, DO ADVENTO DO SENHOR E DA NOVA IGREJA.
COROLÁRIO
&109 - Tôdas as Igrejas que existiram antes do Advento do Senhor, foram Igrejas
Representativas, que não puderam ver os Veros Divinos senão na Sombra; mas após o
Advento do Senhor no Mundo, foi instituída por Êle uma Igreja que viu, ou antes, que pôde
ver os Divinos Veros na Luz; há a mesma diferença que entre a Tarde e a Manhã: o estado
da Igreja antes do Advento do Senhor é mesmo chamado na Palavra a Tarde; e o Estado da
Igreja após o Seu Advento, é aí chamado a Manhã. 0 Senhor antes do Seu Advento no
Mundo, estava presente, é verdade, nos homens da Igreja, mas mediatamente por Anjos que
0 representavam, mas depois do Seu Advento, Ele está presente nos homens da Igreja
imediatamente, pois no Mundo Ele revestiu-se também com o Divino Natural, no qual está
presente nos homens; a Glorificação do Senhor é a Glorificação do Seu Humano que tomou
em Maria; e o Humano Glorificado do Senhor é o Divino Natural. Que seja assim, isso é
evidente pelo fato do Senhor ter ressuscitado do sepulcro com todo Seu corpo que tinha no
Mundo; e que, em conseqüência, levou consigo o Humano Natural mesmo desde os
primeiros dêste Humano até aos últimos; é por isso que depois da ressurreição Êle disse aos
discípulos que acreditavam ver um Espírito: "Vêde minhas Mãos e meus Pés, que sou Eu
mesmo; pois um Espírito não tem carne e osso como Me vedes ter" (Lucas XXIV, 37, 39).
De acordo com isso, é evidente que Seu Corpo Natural foi feito Divino pela Glorificação; é
por isso que Paulo disse "que em Jesus Christo habita corporalmente todas a plenitude da
Divindade" (Coloss. 2, 9); e João disse "que o Filho de Deus, Jesus Christo, é o verdadeiro
Deus" (I Epist. 5, 20, 2 1). Por isto os Anjos sabem que o Senhor só em todo o Mundo
Espiritual é plenamente Homem. É sabido na Igreja que na Nação Israelita e Judaica, todo o
culto era puramente Externo, cobria com uma sombra o culto Interno que o Senhor abriu; e
que assim o culto antes do Advento do Senhor consistiu em tipos e figuras que
representavam o Culto verdadeiro em sua justa efígie. 0 Senhor, é verdade, foi visto, Ele
próprio, entre os Antigos, pois Ele disse aos judeus: "Abrahão vosso Pai exultou de alegria
por ver meu dia, e êle o viu e se regozijou; eu vos digo: Antes que Abrahão fosse, Eu sou"
(João VIII, 56, 58); mas como então o Senhor era somente representado, o que era operado
pelos Anjos, é por isso que nêles; tôdas as cousas da Igreja tinham se tornado
representativas; mas após o Senhor ter vindo ao Mundo, estas representações se dissiparam;
a cansa interior disso, é que o Senhor no Mundo também revestiu o Divino Natural, e que
por este Divino Êle ilustra não somente o homem Interno espiritual, mas também o homem
Externo natural; se os dois não são ilustrados ao mesmo tempo o homem está como na
sombra, mas quando eles o são, um e outro ao mesmo tempo, êle está como no dia; com
efeito, quando só o homem Interno é ilustrado e não ao mesmo tempo o homem Externo, ou
quando só o homem Externo é ilustrado e não ao mesmo tempo o homem Interno, e que,
quando secorda, recolhe seu sonho e tira dêle diversas conclusões que entretanto são cousas
imaginárias; é também como um sonâmbulo que crê que os objetos que vê são vistos na luz
do dia. A diferença entre o estado da Igreja antes do Advento do Senhor e o da Igreja após
este advento, é também como a diferença entre aquêle que lê um escrito durante a noite à
luz da lua e das estrêlas e o que o lê à luz do sol; é evidente que na primeira luz, que é
somente branca, o olho se engana; e que na segunda, que é além disso inflamada, ,êle não
se engana; é por isso que se diz do Senhor: "Disse o Deus de Israel, a mim falou o Rochedo
de Israel; Êle, como a Luz da manhã quando o Sol se eleva em uma manhã sem nuvens" (II,
Samuel XXIII, 3, 4); o Deus de Israel e o Rochedo de Israel é o Senhor; e em outro lugar:
"Será a luz da Lua como a luz do Sol; e a luz do Sol sete vêzes maior como a luz de sete
dias, no dia em que Jehovah ligar as quebraduras de Seu povo" (Isaías XXX, 25, 26); estas
palavras são ditas do estado da Igreja após o advento do Senhor. Em uma palavra, o estado
da Igreja antes do advento do Senhor pode ser comparado a uma velha cuja face foi pintada
e que pela púrpura da tinta se crê bela; e o estado da Igreja após o advento do Senhor pode
ser comparado a uma virgem, bela por sua própria natureza; o estado da Igreja antes do
advento do Senhor também pode ser comparado ao invólucro de alguns frutos, tais como as
laranjas, as maçãs, as peras, as uvas, e ao sabor dêstes invólucros; e o estado da Igreja após
o advento do Senhor pode ser comparado aos interiores dêstes frutos e a seu sabor; pode-se,
além disso, estabelecer várias compa,rações semelhantes; e esta diferença entre os dois
estados vem de que o Senhor, depois que revestiu também o Humano Natural, ilustra o
homem Interno espiritual e, ao mesmo tempo, o homem Externo natural, pois quando só o.
homem interno é ilustrado e não ao mesmo tempo o homem externo há sombra, do mesmo
modo que quando só o homem Externo o é e não, ao mesmo tempo, o homem Interno.
&110 - Aqui serão acrescentados êstes Memoráveis. Primeiro Memorável. Uma vez no
Mundo Espiritual, vi no ar um fogo fátuo que caiu sobre a Terra e produziu em torno uma
claridade; era o meteoro que o vulgo chama Dragão; tomei nota do lugar onde êle tinha
caído, mas ao romper do dia quando o Sol se levantou tudo tinha desaparecido como
acontece a todo Fogo fátuo. Após a manhã aproximei-me do lugar onde o havia visto cair
durante a noite; e eis, lá, um humus de uma mistura de enxofre, de limalha de ferro e de
lama argilosa; e de repente apareceram então duas Tendas; uma diretamente sobre o lugar e
a outra ao lado, para o sul; e olhei para cima e vi um Espírito que caía do Céu como um raio
e foi lançado na Tenda que estava diretamente sobre o lugar onde o meteoro tinha caído e
eu me achava na outra tenda que estava ao lado para o sul; eu estava na entrada desta tenda
e vi o Espírito na outra, estando também na entrada; e então lhe perguntei por que tinha
assim caído do Céu; respondeu que tinha sido precipitado como um anjo do Dragão pelos
anjos de Miguel, porque, me disse êle, avancei algumas proposições concernentes à Fé, nas
quais me confirmei no Mundo; e entre outras, esta, que Deus Pai e Deus Filho são dois e
não um; pois nos Céus hoje todos crêem que o Pai e o Filho são um como a alma e o corpo;
e todo discurso oposto a esta crença é como um aguilhão em suas narinas e como uma
sovela que fura suas orelhas, daí para êles emoção e dor; e por esta razão aquêle que diz o
contrário recebe ordem de sair; e se demora, é precipitado. Depois de ter ouvido esta
narração, eu lhe disse: Por que não crês como êles? Replicou: Depois de ter saldo do
Mundo, ninguém pode crer senão no que imprimiu em si mesmo pela confirmação, isto fica
gravado e não pode ser apagado, sobretudo o que cada um confirmou em si sobre Deus,
pois que nos céus cada um é colocado segundo a idéia que tem de Deus. Perguntei-lhe em
seguida porque tinha confirmado que o Pai e o Filho eram dois. Disse-me: Por isto, que na
Palavra o Filho orou ao Pai não somente antes da Paixão da cruz, mas também durante esta
paixão e se humilhou diante de Seu Pai; como então podiam eles ser um, como a alma e o
corpo o são no homem? quem é que ora como se orasse a um outro e, se humilha como
diante de um outro, quando êle mesmo é êsse outro? Ninguém age assim, com mais forte
razão o Filho de Deus; e, além disso, a Igreja Christã inteira, no meu tempo, dividia a
Divindade em Pessoas e cada Pessoa é um por si mesma, e se dá por definição que é o que
subsiste propriamente. Quando ouvi êstes raciocínios, respondi: Percebi pelo que acabas de
dizer que ignoras absolutamente como o Deus Pai e o Deus Filho são um, e porque ignoras
como, tu te confirmaste nos falsos em que a Igreja está ainda sobre Deus; não sabes que o
Senhor, quando estava no Mundo, tinha uma alma como todos os outros homens? donde lhe
vinha ela senão de Deus Pai? é o que prova abundantemente a Palavra dos Evangelistas; o
que é então o que se chama Filho, senão o Humano que foi concebido do Divino do Pai e
nasceu da Virgem Maria? A Mãe não pode conceber a alma, isto é inteiramente oposto à
Ordem segundo a qual todo homem nasce; e Deus Pai não pode inserir a Alma procedente
d'Ele e em seguida se retirar como todo pai faz no Mundo, pois que Deus é a Divina
Essência e ela é una e indivisível; e sendo indivisível, é o próprio Deus; daí vem que o
Senhor disse que o Pai e Êle são um, que o Pai está n'Ele e Ele no Pai e outras expressões
semelhantes; é mesmo o que viram de longe aquêles que conceberam o símbolo de
Atanásio; por isso, após haver dividido Deus em três Pessoas, dizem êles entretanto que no
Christo Deus e o Homem, isto é, o Divino e o Humano, não são dois, mas são um como a
alma e o corpo no homem. Se o Senhor, no Mundo, orou ao Pai como a um outro que não
Ele e se humilhou diante do Pai como diante de um outro que não Ele mesmo, foi
conformemente à Ordem estabelecida para a Criação, Ordem imutável, segundo a qual todo
homem deve progredir para a conjunção com Deus; esta Ordem é que à medida que o
homem por sua vida conforme as leis da Ordem, que são os preceitos de Deus, se conjunta
a Deus, Deus se conjunta ao homem; e de natural, o faz espiritual; foi desta mesma maneira
que o Senhor se uniu a Seu Pai e que Deus Pai se uniu a Éle; o Senhor, quando era Criança,
não era como uma criança? quando era Adolescente, não era como um adolescente; não
lemos que Èle crescia em sabedoria e em graça e que, em seguida, orou ao Pai para
glorificar Seu Nome, isto é, Seu Humano? Glorificar é fazer Divino pela união consigo; é
portanto evidente que o Senhor orou ao Pai no estado de Sua exinanição, estado que era o
de sua progressão para a União. Esta. mesma Ordem foi, por Criação, gravada em cada
homem, a saber, do mesmo modo que o homem, pelas verdades segundo a Palavra prepara
seu entendimento, do mesmo modo o torna apto a receber a fé que vem de Deus; e do
mesmo modo que pelas obras da caridade prepara sua vontade, do mesmo modo a torna
apta a receber o amor que vem de Deus; pois do mesmo modo que um lapidário talha um
diamante, do mesmo modo o torna próprio a receber e refletir o brilho da luz; preparar-se à
recepção de Deus e à conjunção, é viver segundo a Ordem Divina e as leis da Ordem são
todos os preceitos de Deus; o Senhor cumpriu éstes preceitos até ao menor ponto; e assim
se fêz o receptáculo da. Divindade em toda plenitude; por isso Paulo disse que em Jesus
Christo toda a plenitude da Divindade habita corporalmente; e o Senhor disse d'Ele mesmo
que tudo que pertence a Seu Pai é d'Ele. Enfim, é preciso ter por certo que o Senhor no
homem é o único ativo e que o homem, por si mesmo, é puramente passivo, mas que pelo
influxo de vida que procede do Senhor, ele também é ativo; segundo êste perpétuo influxo
que procede do Senhor, parece ao homem que é ativo por si mesmo; e por que é assim, tem
o livre arbítrio e êste livre arbítrio lhe foi dado, a fim de que se prepare para receber o
Senhor para a conjunção, que não é possível, a menos que seja recíproca; e ela se torna
recíproca quando o homem age segundo sua liberdade e segundo, a fé atribui ao Senhor
todo ativo.
Depois disso lhe perguntei se confessava, como seus outros companheiros, que não há
senão um Deus único; respondeu que o confessava; e então eu disse: Temo entretanto que a
confissão de teu coração seja que não há Deus; toda linguagem da boca não procede do
pensamento da mente? acontece portanto infalivelmente que a confissão da boca que não há
senão um Deus expulsa da mente o pensamento de que há três, e vice-versa que o
pensamento da mente expulsa da boca a confissão de que não há senão um; que resulta daí
senão que não há Deus? todo o intervalo desde o pensamento até à boca e desde a boca
voltando até ao pensamento, não é assim evacuado? e então o que é que a mente conclui
sobre Deus, senão que a natureza é Deus; e sóbre o Senhor, senão que Sua Alma veio ou de
Sua Mãe ou de José, duas conclusões que todos os Anjos do Céu têm em horror como
medonhas e abomináveis. Depois que eu disse estas palavras, êste Espírito foi relegado para
o Abismo de que se fala no Apocalipse, 9, 2 e segs., onde os Anjos do Dragão agitam
questões místicas sobre sua fé. No dia seguinte quando dirigi meus olhares para o mesmo
lugar, vi no lugar das Tendas duas Estátuas em forma de homens, feitas do pó da terra que
estava misturada com enxofre, ferro e argila; e uma das estátuas parecia ter um cetro na
mão esquerda, uma coroa na cabeça e um livro na mão direita, além disso um peitoral
obliquamente cercado de uma faixa de pedras preciosas, uma vestimenta flutuando por
detrás até à outra Estátua, mas êstes ornamentos tinham sido postos sobre esta estátua por
uma fantasia; e então um dos espíritos do Dragão fêz ouvir estas palavras: Esta Estátua
representa a nossa Fé como Rainha, e a outra atrás dela, a Caridade como sua serva; esta
segunda estátua era feita de um pó semelhantemente misturado, estava colocada na
extremidade da vestimenta que flutuava por trás da Rainha, e tinha na mão um papel sobre
o qual estava escrito: Guardate de te aproximar de mais perto e de tocar a vestimenta. Mas
então caiu de repente uma chuva do Céu e penetrou em uma e outra Estátua; e como eram
compostas de uma mistura de enxofre, de ferro e de argila, ferveram como acontece
ordinàriamente a uma mistura desta espécie quando a água cai em cima; e estando assim
abrasadas com um fogo interior desmoronaram e se tornaram em montões, que em seguida
se elevaram sobre esta terra como eminências sepulcrais.
&111 - Segundo Memorável. No Mundo natural o homem tem uma dupla linguagem
porque tem um duplo pensamento, o pensamento Externo e o pensamento Interno; pois o
homem pode falar segundo o pensamento interno e ao mesmo segundo o externo, e pode
falar segundo o pensamento externo e não segundo o interno, e mesmo contra o interno, dai
as dissimulações, as à bajulações, e as hipocrisias; mas no Mundo Espiritual o homem não
tem uma dupla linguagem, a sua linguagem é simples; lá êle fala com-c, pensa, de outro
modo o som é estridente e fere os ouvidos, mas entretanto êle pode se, calar e assim não
divulgar o que a sua mente pensa; quando portanto um hipócrita chega entre os sábios ou se
retira ou se coloca em um ângulo do apartamento, não se faz notar e se assenta sem dizer
uma palavra. Um dia, no Mundo dos Espíritos, vários estavam reunidos e falavam entre si
sobre este assunto, dizendo, que não poder-se falar senão como se pensa, isso é duro, na
companhia dos bons, para aquêles que não pensaram justo sobre Deus e sobre o Senhor. No
meio dos espíritos reunidos se achavam Reformados e vários dentre o Clero; e perto dêles,
Católicos-Romanos com monges; e uns e outros disseram a principio que isso não é duro;
que necessidade há de falar diferentemente do que se pensa? e se por ventura não se pensa
justo, não se pode cerrar os lábios e guardar silêncio? E um Eclesiástico disse: Quem é que
não pensa justo sobre Deus e sobre o Senhor? Mas alguns dos que formavam a assembléia
disseram: Façamos sobre êles um ensaio; e disseram aos que se tinham confirmado sobre
Deus na Trindade de Pessoas, para pronunciar segundo o pensamento Um Só Deus; mas
não o puderam, imprimiram a seus lábios vários movimentos violentos e os curvaram de
várias maneiras, sem poder articular um som em outras palavras que não fossem conformes
com as idéias de seu pensamento, as quais eram por três Pessoas e por conseguinte por três
Deuses. Em seguida, foi dito aos que haviam confirmado a Fé separada da Caridade, para
pronunciar Jesus, mas não puderam, entretanto puderam dizer Christo, e também Deus Pai;
admiraram-se disso, procuraram a sua causa e acharam que era porque, orando, se tinham
dirigido a Deus Pai para que tivesse consideração por êles por causa do Filho; e não se
tinham dirigido ao Salvador mesmo; e Jesus significa Salvador. Depois lhes foi dito para
pronunciar DIVINO HUMANO, segundo o pensamento que tinham do Humano do Senhor;
mas nenhum dentre os Eclesiásticos que estavam presentes o pôde; todavia alguns dos
Leigos o puderam; por isto êste assunto foi submetido a um exame sério; e ;então, I. Leu-se
diante dêles estas passagens dos Evangelistas: "0 Pai deu tôdas as coisas na mão do Filho"
(João II, 35); "0 Pai deu ao Filho poder sobre toda carne" (João XVII, 2). "Tôdas as cousas
Me foram entregues pelo Pai" (Mateus XI, 27). "Todo poder me foi dado no Céu e sobre a
Terra" (Mateus XXVIII, 18); e lhes disseram: De acordo com estas passagens fixai em
vosso pensamento que o Christo, não somente quanto a Seu Divino, mas ainda quanto ao
Seu Humano, é o Deus do Céu e da Terra, e assim pronunciai DIVINO HUMANO; mas
jamais o puderam; e disseram que, na verdade, sobre isso retinham alguma cousa do
pensamento segundo o entendimento, mas entretanto nada do reconhecimento e que, por
conseqüência, não o podiam. II. Em seguida leuse diante dêles, segundo Lucas 1, 32, 34, 35
que o Senhor quanto ao Humano era Filho de Jehovah Deus e que aí é chamado Filho do
Altíssimo e por toda parte Filho de Deus e também o Unigênito; e lhes pediram para manter
isso no pensamento; e também que o Filho Unigênito de Deus nascido no Mundo não pode
deixar de ser Deus como o Pai é Deus e para pronunciar DIVINO HUMANO; mas êles
disseram: Não podemos, porque nosso pensamento espiritual, que é interior, não admite no
pensamento mais próximo da linguagem outras idéias senão as que são semelhantes às
suas; e ajuntaram que por isso percebiam que agora não lhes era permitido dividir seus
pensamentos como no Mundo natural. III. Depois leu-se diante deles as palavras do Senhor
a Filipe: Tilipe disse: Senhor, mostranos o Pai. E o Senhor disse: Quem me vê, vê o Pai;
não crês que Eu (estou) no Pai, e que o Pai (está) em Mim" (João XIV, 8 a 11); e também
estas outras passagens, que o Pai e Êle são um, por exemplo, em João X, 30; e lhes
disseram para reter isso no pensamento e assim pronunciar DIVINO HUMANO; mas este
pensamento não estava enraizado no reconhecimento de que o Senhor era Deus também
quanto ao Humano, torceram com esforço os lábios até se indignarem ;e quiseram
constranger a boca a pronunciar, mas seus esforços foram inúteis por que as idéias do
pensamento, que decorrem do reconhecimento, fazem um com as palavras da linguagem
naqueles que estão no Mundo Espiritual; e. lá onde estas idéias não estão, as palavras
faltam, pois as idéias tornam-se palavras na linguagem. IV. Além disso, leuse diante dêles
estas expressões tiradas da Doutrina recebida em todo Mundo Christão, "que o Divino e o
Humano no Senhor não são dois, mas um; e mesmo em uma única pessoa, unidos como a
alma e, o corpo no homem", isto é extraído da Fé simbólica de Atanásio e reconhecida
pelos Concílios; e lhes disseram: Por aí podeis, segundo o reconhecimento, ter a idéia de
que o Humano do Senhor é Divino porque Sua Alma é Divina, pois isso é tirado da
doutrina de vossa Igreja, doutrina que. haveis recenhecido no Mundo; de mais, a Alma é a
essência mesma do homem e o corpo é a sua forma; e a essência e a forma fazem um como
o ser e o existir; e como a causa eficiente do efeito e a efeito mesmo, êles retiveram esta
idéia e quiseram segundo ela, pronunciar DIVINO HUMANO, mas não puderam, pois a
idéia interior sobre o Humano do Senhor expulsou e apagou esta nova. idéia emprestada,
como a chamavam. V. Leu-se ainda diante deles em João, esta passagem: "A Palavra estava
em Deus e Deus era a Palavra; e a Palavra se fêz Carne" (I, 1 e 14); e também esta: "Jesus
Christo é o verdadeiro Deus e a Vida eterna!' (I, Epist. 5, 21); e em Paulo: "Em Jesus
Christo habita corporalmente toda a plenitude da Divindade" (Coloss. 2, 9); e lhes disseram
para pensar semelhantemente, a saber, que Deus que era a Palavra foi feito Homem; que êle
era o verdadeiro Deus; e que toda a plenitude da Divindade habita corporalmente n'Ele; e
eles fizeram assim, mas unicamente no pensamento externo, por isso não puderam por
causa da resistência do pensamento interno, pronunciar DIVINO HUMANO, dizendo
abertamente que não podiam ter a idéia do Divino Humano, pois Deus é Deus e o homem é
homem; e acrescentaram: Deus é Espírito e nós não podemos pensar em um espírito senão
como um Vento ou um Éter. VI. Enfim, lhes disseram: Sabeis que o Senhor disse:
Permanece! em Mim e Eu em vós; aquêle que permanece em Mim e Eu nêle, esse dá muito
fruto porque sem Mim nada podeis fazer" (João XV, 4, 5); e como havia lá alguns
Eclesiásticos ingleses, leu-se diante dêles êste extrato de uma de suas orações para a Santa
comunhão: "Pois, quando comemos espiritualmente a Carne de Christo e bebemos Seu
sangue, habitamos em Christo e Christo em nós". Se agora pensais que isto não é possível,
a menos que -o Humano do Senhor seja Divino, pronunciai, pois, DIVINO HUMANO
segundo o reconhecimento no pensamento; mas não o puderam jamais, pois nêles estava
profundamente impressa a Idéia de que o Divino não podia ser Humano, nem o Humano ser
Divino; e que o Divino do Senhor vinha do Divino do Filho de toda a eternidade e que Seu
Humano era semelhante ao humano ,de um outro homem; mas lhe disseram: Como podeis
pensar assim? será que uma Mente racional pode jamais pensar que haja um Filho de Deus
nascido de toda a eternidade? VII. Depois disso, os que faziam as perguntas se voltaram
para os Eclesiásticos, dizendo: que a Confissão de Augsbourg e Lutero ensinaram que o
Filho de Deus e o Filho do Homem são no Christo uma única Pessoa; que Êle mesmo é
também, quanto à Natureza Humana, Onipotente e Onipresente; que Éle está assentado,
quanto a esta natureza à direita de Deus Pai e governa tudo nos Céus e sobre a Terra, enche
tudo, está conosco, habita e opera em nós; que não há diferença de adoração porque pela
Natureza que é vista, a Divindade que não é vista, é adorada; e que no Christo Deus é
Homem e o Homem é deus. Tendo ouvido estas citações responderam: Será que isso é
assim? Olharam em torno deles e, em seguida, disseram: Jamais anteriormente tivemos
conhecimento disso, eis por que não podemos pronunciar DIVINO HUMANO; entretanto,
um ou dois disseram: Nós o havemos lido e o havemos escrito, mas não obstante quando
pensamos nisso em nós mesmos, isso não era mais que palavras de que não tínhamos idéia
interior. VIII. Enfim, tendo se voltado para os CatólicosRomanos, disseram: Vós, sem
dúvida, podeis pronunciar DIVINO HUMANO porque crêdes que em vossa Eucaristia, -o
Christo está inteiro no Pão e no Vinho e em cada parte do Pão e do Vinho e que, por isso, 0
adorais como Deus Santíssimo, quando mostrais as hóstias e as levais em procissão; e além
disso, como chamais Maria Mãe de Deus (Deipara, Dei genitrix), vós reconheceis por
conseqüência que ela engendrou. Deus, isto é, o Divino Humano; e então, êstes quiseram
pronunciá-lo, mas porque sobreveio nesse momento a idéia material do Corpo e do Sangue
do Christo; e também a fé de que Seu Humano deve ser separado de Seu Divino e que, na
realidade, foi separado no Papa, a quem foi transferido somente Seu poder Humano e não
Seu poder Divino, êles não puderam pronunciá-lo; e -então um Monge se levantou e disse
que podia pensar no Divino Humano a respeito da Santíssima Virgem Maria e também a
respeito do Santo do seu Mosteiro; e um outro Monge se aproximou dizendo: Eu, segundo
a idéia do meu pensamento, que abraço agora, posso pronunciar Divino Humano a respeito
do Santíssimo Pontífice mais do que a respeito do Christo; mas então alguns dos CatólicosRomanos o retiraram para trás e lhe disseram: Não tens vergonha? Depois disso, viu-se o
Céu aberto e Línguas como pequenas chamas que desciam e influíam sobre alguns dos
assistentes; e êstes celebravam então o DIVINO HUMANO DO SENHOR, dizendo:
Rejeitai a idéia de três Deuses e crêde que no Senhor habita corporalmente toda a plenitude
da Divindade; que o Pai e o Filho são um, como a alma e o corpo são um; e que Deus não é
um vento nem um éter, mas é Homem e, então, sereis conjuntos ao Céu e pelo Senhor
podereis dizer JESUS e pronunciar DIVINO HUMANO.
&112 - Terceiro Memorável. Um dia tendo me acordado desde a aurora, saí para o jardim
diante da casa, vi o Sol se elevar no seu brilho e em torno dêle, uma cintura a princípio leve
e em seguida mais espessa, como resplandecente de ouro; e sob seu limbo subir uma nuvem
que, semelhante a um carbúnculo, brilhava com a chama do Sol; e então caí em meditação
sobre o que, segundo as fábulas da antiguidade mais remota, tinha se imaginado a Aurora
com asas de prata levando ouro em sua boca. Enquanto minha Mente se comprazía nessas
meditações, tornei-me em espírito e ouvi alguns Espíritos que falavam entre si e diziam:
Aprouve a Deus que nos fosse permitido falar com êste Inovador que lançou entre os
Chefes da Igreja um pomo de Discórdia para o qual, muitos dos Laicos correram; e depois
de havê-lo recolhido, o ofereceram a nossos olhos; por êste pomo êles entendiam um
Opúsculo intitulado EXPOSIÇÃO SUMARIA DA DOUTRINA DA NOVA IGREJA; e
disseram: E' seguramente alguma cousa de Cismático em que até ao presente ninguém
havia pensado; e ouvi então um dêles exclamar: 0 quê! Cismático? é Herético; mas alguns
ao lado dele disseram, repelindo-o: Calate, guarda silêncio; não é Herético; êle alega uma
multidão de passagens da Palavra, às quais, nossos estrangeiros, pelos quais entendemos os
laicos, prestam atenção e dão seu assentimento. Quando ouvi esta discussão, porque eu
estava em espírito, aproximei-me e disse: Eisme aqui, o que há? E imediatamente um dêles,
que, como soube mais tarde, era Alemão, nativo do Saxe, e tinha falado com um tom de
autoridade, me disse: Donde te veio a audácia de derrubar o Culto firmado por tantos
séculos no Mundo Christão, culto que consistiu em invocar Deus Pai como Criador do
Universo, Seu Filho como Mediador e o Espírito Santo como operante? e tu separas de
nossa personalidade o Primeiro e o último Deus quando, entretanto, o Senhor mesmo disse:
"Quando orardes, orai assim: PAI NOSSO, QUE ESTAS NOS CÉUS, SANTIFICADO
SEJA 0 TEU NOME! VENHA 0 TEU REINO!" Assim não ordenou Êle para invocar Deus
Pai? - Depois que prinunciou estas palavras, fêz-se silêncio e todos que eram de sua opinião
se mantiveram firmes, tal como soldados corajosos sobre navios de guerra à vista de uma
frota inimiga, prestes a exclamar: Combatamos agora, a vitória é certa; e então comecei a
falar e disse: Quem de, vós não sabe que Deus desceu do Céu e que foi feito homem, pois
lê-se: "A Palavra estava em Deus e Deus era a Palavra e a Palavra se fez Carne?" Quem, de
vós, não sabe - e voltei meus olhos para os Evangélicos entre os quais estava êsse Ditador
que me tinha interpelado - que no Christo nascido da Virgem Maria, Deus é Homem e o
Homem é Deus? Mas a essas palavras ouviu-se um murmúrio na Assembléia; por isso, eu
disse: Será que não. sabeís isso? Não está de acordo com a doutrina de vossa confissão, que
se chama Fórmula de Concórdia, onde isso é dito e é corroborado por vários argumentos? E
então êste Ditador se voltou para a Assembléia e perguntou se ela tinha conhecimento
disso; e êles responderam: Nós estudamos pouco nesse Livro o que concerne à Pessoa do
Christo, mas nós aí nos afadigamos sobre o Artigo da Justificação. pela Fé só; entretanto, se
aí se lê isso, nós aquiescemos; e então um dêles, tendo se recordado do texto, disse: Isso aí
se lê e, além disso, se diz que a Natureza Humana do Christo foi elevada à Majestade
Divina e a todos os seus atributos; e também, que o Christo nessa Majestade está assentado
à direita de Seu Pai. Quando ouviram esta confissão, êles se calaram; após êste
assentimento tácito, tomei de novo a palavra, dizendo: Pois que é assim, o que é então o Pai
senão o Filho; e o que é também o Filho senão o Pai? Mas como isso era ainda
desagradável a seus ouvidos, continuei dizendo: Escutai as próprias palavras do Senhor; se
não lhes prestastes atenção antes, prestai-lhes atenção agora; com efeito, Éle disse: "0 Pai e
Eu somos um; o Pai está em Mim e Eu no Pai; Pai, tôdas as Minhas cousas são Tuas e tôdas
as Tuas cousas são Minhas; quem Me vê, vê o Pai"; que outra cousa diz Ele por isso, senão
que -o Pai está no Filho e o Filho no Pai e que Êles são como a Alma e o Corpo no homem
e que assim são uma única Pessoa; isso também deve ser conforme a vossa fé, se crédes no
símbolo de Atanásio, onde cousas semelhantes são ditas; mas das passagens citadas, tomei
únicamente estas palavras do Senhor: Pai, tôdas as Minhas cousas são Tuas e tôdas as Tuas
cousas são Minhas"; que outra cousa é, senão que o Divino do Pai pertence ao Humano do
Filho e o Humano do Filho, ao Divino do Pai, que em conseqüência no Christo Deus é
Homem e o Homem é Deus; e assim Eles são um como a alma e o corpo são um; todo
homem pode também dizer a mesma cousa de sua alma e de seu corpo, a saber, tôdas as
tuas coisas são minhas, e tôdas as minhas cousas são tuas; tu estás em mim e eu estou em ti;
quem me vê, te vê; nós somos um quanto à pessoa e quanto à vida; e isso porque a alma
está no homem inteiro e em cada parte do homem, pois a vida da alma é a vida do corpo, e
há o mútuo entre êles; daí é evidente que o Divino do Pai é a alma do Filho e que o
Humano do Filho é o corpo do Pai; de onde vem a alma de um filho senão do pai e de onde
vem seu corpo senão da mãe? E' dito o Divino do Pai e é entendido o próprio Pai, pois que
Ele e seu Divino são uma mesma cousa; o Divino também é um e indivisível; que isso seja
assim, vê-se ainda por estas palavras do Anjo Gabriel a Maria: "Uma virtude do Altíssimo
te cobrirá com sua sombra e um Espírito Santo virá sobre ti; e o que nascerá de ti Santo,
será chamado Filho de Deus" e um pouco antes Éle é chamado Filho do Altíssimo; e em
outros lugares, Filho Unigênito; vós, ao contrário, que o chamais únicamente Filho de
Maria, destruís a idéia de Sua Divindade, mas esta idéia não está perdida senão para os
Sábios dentre os Eclesiásticos e para os Eruditos dentre os Laicos, -os quais, quando
elevam seus pensamentos acima dos sensuais do seu corpo, consideram a glória de sua
reputação, que não somente obscurece, mas ainda extingue a luz pela qual entra a glória de
Deus. Mas voltemos à Oração Dominical onde está dito: "Pai nosso que estás no Céu,
santificado seja teu Nome! venha o teu Reino!" Vós que estais aqui, entendeis por estas
palavras, o Pai em Seu Divino Só; mas eu entendo o Pai mesmo em Seu Humano; e êste
Humano também é o Nome do Pai, pois o Senhor disse: "Pai, glorifica teu Nome", isto é,
teu Humano, e quando isto é feito, que venha então o Reino de Deus; e essa Oração foi
recomendada para êste tempo, isto é, a fim de que se dirijam ao Deus Pai por Seu Humano;
o Senhor disse também: "Ninguém vai ao Pai senão por Mim"; e no Profeta: "Um menino
nos nasceu, um Filho nos foi dado; seu Nome (é) Deus, Herói, Pai de eternidade"; e noutro
lugar: "Tu Jehovah nosso Pai, nosso Redentor, desde o século teu nome", e em mil outros
lugares, onde o Senhor nosso Salvador é chamado Jehovah. Eis a verdadeira explicação das
palavras desta Prece. Depois que assim falei, olhei-os atentamente e notei as mudanças de
fisionomia segundo as mudanças de estado de sua mente, alguns me sendo favoráveis e me
olhando com atenção; outros não me sendo favoráveis e se desviando de mim; e então à
direita vi uma Nuvem cor de opala e à esquerda uma Nuvem negra e sob estas duas nuvens
como uma chuva, sob a segunda como uma forte chuva dos últimos tempos de outono; e
sob a primeira -como uma chuva de orvalho no comêço da primavera; e de repente de
espírito em que eu estava fui reposto no corpo e assim, do Mundo espiritual, reentrei no
Mundo natural.
&113 - Quarto Memorável. Eu olhava no Mundo dos Espíritos e vi um Exército sobre
Cavalos russos e pretos; os que os montavam apareciam como macacos, voltados quanto à
face e ao peito, para as garupas e as caudas dos Cavalos; e quanto ao occipute e ao dorso,
para as espáduas e as cabeças; e as rédeas pendiam em torno do pescoço dos Cavaleiros; e
eles gritavam contra Cavaleiros montados sobre Cavalos brancos e sacudiam as rédeas com
as duas mãos, mas assim retiravam os cavalos do combate; e isso continuamente. Então
dois Anjos desceram do Céu, vieram a mim e me disseram: Que vês tu? e contei que via
uma cavalaria bem ridícula; e fiz estas perguntas: 0 que é isto e quem são êles? e os Anjos
responderam: Êles vêm do lugar, que é chamado no Apocalipse Armegeddon (16, 16), no
qual foram reunidos em número de alguns milhares para combater contra os que são da
Nova Igreja do Senhor, chamada a Nova Jerusalém; nesse lugar eles falam da Igreja e da
Religião e, entretanto, nêles nada havia da Igreja porque não têm nenhum vero espiritual
nem cousa alguma da Religião, porque não têm nenhum bem espiritual; falavam de boca. e
com os lábios sobre uma e outra, mas era para ter, por elas, a dominação; aprenderam em
sua mocidade a confirmar a Fé só e alguma proposição sobre Deus; e as repetiram algum
tempo, quando foram elevados às mais eminentes funções na Igreja; entretanto, como então
começaram a pensar, não mais em Deus nem no Céu, mas neles mesmos e no Mundo,
assim não na beatitude e na felicidade eternas, mas na eminência e na opulência temporais,
rejeitaram para fora dos interiores da Mente racional, que comunicam com o Céu estão, por
conseguinte, na luz do Céu, as doutrinas que tinham colhido em sua mocidade e as
colocaram nos exteriores da Mente racional, que comunicam com o Mundo e estão, por
conseguinte, na luz do Mundo e os precipitaram na natureza sensual; daí os doutrinais da
Igreja nêles pertencerem únicamente à boca e não mais ao ensamento proveniente da razão;
e ainda menos, à afeição proveniente do amor; e como se fizeram tais, não admitem
nenhum Divino vero pertencente à Igreja, nem nenhum bem real pertencente à Religião; os
interiores de sua Mente tomaram-se como Odres cheios de uma mistura de limalha de ferro
e de pó de enxofre, na qual, se se lança água, se manifesta a princípio calor e em seguida a
chama, o que faz romper os odres; semelhantemente, êsses, quando ouvem alguma cousa
concemente à água viva, que é a verdade real da Palavra e isso entra em seus ouvidos, êles
se abrasam e se inflamam com veemência e rejeitam isso como uma cousa que lhes
arrebentaria a cabeça. São êstes que te aparecem como macacos montados às avessas sobre
cavalos russos e pretos, com as rédeas em torno do pescoço porque os que não amam nem a
verdade nem o bem da Igreja tirados da Palavra, não querem olhar para a parte anterior do
cavalo, mas olham para a sua parte posterior, pois o Cavalo significa o entendimento da
Palavra; e o Cavalo russo, o entendimento da Palavra destruido quanto ao bem; e o Cavalo
prêto, o entendimento da Palavra destruido quanto ao vero; se proclamaram o combate
contra os que estavam montados em Cavalos brancos é porque o Cavalo branco significa o
entendimento da Palavra quanto ao vero e ao bem; se te apareceram puchando com o
pescoço seus cavalos para trás, é porque temiam o combate, com mêdo de que o vero da
Palavra viesse a muitos e se manifestassem assim na luz: é a interpretação. Em seguida os
Anjos me disseram: Somos da Sociedade do Céu que é chamada Miguel e recebemos do
Senhor a ordem de descer a êsse lugar chamado Armageddon, de onde se escapou a
Cavalaria que viste; entre nós, no Céu, Armageddon significa o estado e a intenção de
combater pelos veros falsificados, estado e intenção que têm sua fonte no amor de dominar
e de sobrepujar sobre todos os outros; e como percebemos em ti o desejo de ter detalhes
sobre êste combate, vamos te dar alguns. Após nossa descida do Céu, aproximamo-nos
dêste lugar chamado Armageddon e os vimos reunidos aí em número de alguns milhares;
todavia não entram-os nessa Assembléia, mas havia sobre o lado meridional dêsse lugar
algumas Casas que eram de Crianças com seus Mestres; entramos aí, e êles nos receberam
com benevolência; nós nos alegramos em sua companhia; todos, quanto à face, eram
encantadores pela Vida em seus olhos e pelo zêlo na linguagem; a Vida nos olhos lhes
vinha da percepção do Vero; e o zêlo na linguagem, da afeição do bem; por isso lhes demos
Gorros cujas bordas eram ornadas de tranças de ouro semeadas de pérolas e lhes demos
também vestímentas coloridas de branco e de jacinto; lhes perguntamos se haviam lançado
a vista sobre o lugar vizinho que é chamado Armageddon; responderam que haviam olhado
por uma janela que havia sob o teto da casa e que tinham visto lá uma assembléia, mas sob
diversas figuras, ora como homens de alta categoria, ora não mais como homens, mas como
Estátuas e ídolos -esculpidos; e em torno desses Idolos, a Multidão dobrando os joelhos;
êles nos tinham também aparecido sob diversas formas, alguns como homens, outros como
leopardos, outros como bodes, e êstes com chifres recurvados para baixo com os quais
cavavam a terra; demos a essas crianças a interpretação dessas metamorfoses, dizendo-lhes
o que representavam e o que significavam. Mas voltemos ao nosso assunto: Quando
aquêles que se tinham reunido em assembléia souberam que tínhamos entrado nestas Casas,
disseram entre si: Que fazem êles entre essas crianças? Enviemos alguns de nossa
Assembléia para os expulsar; e os enviaram e quando -chegaram, nos disseram: Por que
entrastes nestas Casas? De onde sois? Nós, por nossa autoridade, vos ordenamos que vos
retireis. Mas respondemos: Não podeis dar essa ordem segundo uma autoridade; sois, é
verdade, aos vossos próprios olhos como Enakins e os que estão aqui vos parecem anões,
mas não obstante não tendes aqui poder algum nem direito algum, a não ser pela astúcia
que, entretanto, não terá força alguma; ide pois contar aos vossos que somos enviados do
Céu para aqui, para examinar por nossa visíta, se em vós há Religião ou não; se não há,
sereis expulsos dêste lugar; em conseqüência propondelhes êste ponto, que encerra o
essencial mesmo da Igreja e da Religião: Como entendem êles estas palavras da Oração
Dominical: PAI NOSSO QUE ESTAS NOS CÉUS! SANTIFICADO SEJA TEU NOME!
VENHA TEU REINO! - Logo que ouviram estas palavras, disseram a princípio: 0 que é
isso? E em seguida: Que proporiam êsse ponto; e foram embora e fizeram seu relatório aos
seus, que responderam: Que significa isso e o que é essa proposição? Mas compreendemos
o Arcano, êles querem saber se estas palavras confirmam o desígnio de nossa fé por Deus
Pai; disseram pois: Estas palavras são claras, é preciso segundo elas orar a Deus Pai, e
como o Christo é nosso Mediador, é preciso orar a Deus Pai para ser propício por causa do
Filho; e em seguida em sua indignação resolveram vir nos encontrar e nos dar de viva voz
esta expli cação, dizendo mesmo que nos puxariam as orelhas; efetivamente saíram do
lugar onde estavam e entraram em um bosque situado perto destas Casas onde se achavam
as crianças com seus mestres e no meio do qual havia um Terreno elevado como um Teatro
para exercícios; e se seguravam pelas mãos e entraram nesse teatro onde nós estávamos e
onde os esperávamos; havia aí montículos de grama formando como pequenas colinas,
sobre as quais, se colocaram, pois disseram uns aos outros: Não ficaremos de pé diante
dêles, mas nos sentaremos. E então um dêles, que podia tomar a aparência de um Anjo de
luz e ao qual, os outros tinham incumbido de nos dirigir a palavra, nos disse: Vós nos
haveis proposto que abríssemos nossas mentes sobre as primeiras palavras da Oração
Dominical e vos explicar como as entendemos; eu vos digo, portanto, que nós as
entendemos assim: E' preciso orar a Deus Pai; e como o Christo é o nosso Mediador e
somos salvos por seu Mérito, -é preciso orar a Deus Pai segundo a fé no mérito do Christo.
Mas então lhes dissemos: Somos da Sociedade do Céu, que é chamada Miguel e fomos
enviados para visitar e examinar se vós, que vos reunistes em assembléia neste lugar, tendes
alguma Religião ou não, pois a idéia de Deus entra em tudo que é da Religião; e por esta
idéia se faz a conjunção; e pela conjunção, a salvação; nós, no Céu, lemos todos os dias esta
Oração como os homens sobre a Terra; e então pensamos, não em Deus Pai, porque Éle é
invisível, mas n'Ele no seu Divino Humano porque, no Divino Humano, Ele é visível, Éle
no Divino Humano é chamado por vós o Christo, mas por nós, o Senhor, e assim para nós o
Senhor é o Pai nos Céus; e Senhor, por isso, ensinou que Ele e o Pai são um; que o Pai está
n'Ele e Êle no Pai; que aquêle que 0 vê, vê o Pai; que ninguém vem ao Pai senão por Ele e
também que a vontade do Pai é que se creia no Filho; e que aquêle que não crê no Filho não
vê a Vida, mais ainda, a cólera de Deus repousa sobre êle; segundo estas passagens, é
evidente que nos dirigimos ao Pai por Ele e n'Ele; e como é assim, Éle ainda ensinou que
todo poder Lhe foi dado no Céu e sobre a Terra; nesta Oração se diz: Santificado seja Teu
nome! Venha Teu rei-no! e nós demonstramos segundo a Palavra que o Divino Humano do
Senhor é o Nome do Pai e que o Reino do Pai vem quando nos dirigimos imediatamente ao
Senhor; e de modo algum quando nos dirigimos imediatamente a Deus Pai; também é ainda
por isso que o Senhor ordenou a Seus Discípulos para pregar o Reino de Deus, e está aí o
Reino de Deus. A estas palavras os Antagonistas responderam: Citais muitas passagens da
Palavra, talvez as tenhamos lido, mas não nos lembramos, abri portanto diante de .nós a
Palavra, e lêde-as, principalmente aquelas que mostram que o Reino do Pai vem quando
chega o Reino do Senhor; e -,entâa disseram às Crianças: Trazei a Palavra; elas a trouxeram
e nós aí lemos o que segue: "João pregando o Evangelho do Reino, disse: Cumprido está o
tempo e se aproximou o Reino de Deus" (Marcos 1, 14, 15; Mateus 111, 2). "Jesus mesmo
pregou o Evangelho do Reino, e que estava próximo o Reino de Deus" (Mateus IV,. 17, 23;
IX, 35). "Jesus ordenou a Seus discípulos para pregar e evangelizar o Reino de Deus"
(Marcos XVI, 15; Lucas VIII, 1; IX, 60); igualmente aos setenta que enviou (Lucas X, 9,
11), além do que é dito em outros lugares, como em Mateus XI, 5; XVI, 27, 28; Marcos
VIII, 35; IX, 1, 27; X, 29, 30; XI, 10; Lucas 1, 19; 11, 10, 11; IV, 43; VII, 22; XXI, 30, 31;
XXII, 18. 0 Reino, de Deus, que era Evangelizado, era o Reino do Senhor, e assim o Reino
do Pai; que isso seja assim, vê-se claramente por estas passagens: "0 Pai deu tôdas as
cousas na mão do Filho" (João 111, 35). "0 Pai deu ao Filho poder sobre toda carne" (João
XVII, 2). "Tôdas as cousas me foram entregues por Meu Pai" (Mateus XI, 27). "Foi-me
dado todo poder no Céu e sobre a Terra" (Mateus XXVIII, 18). E além disso, por estas:
"Jehovah Sebaoth (é) seu Nome, e teu Redentor, o Santo de Israel, Deus de toda Terra, será
chamado" (Isaías LIV, 5). "Vi, e eis como um Filho do Homem, e lhe foi dada Dominação
e glória e reino; e todos os povos e nações 0 servirão, sua Dominação (será) uma
Dominação do século a qual não passará, e seu Reino (um Reino) que não perecerá"
(Daniel VII, 13, 14). "Quando o sétimo Anjo tocou a trombeta, houve grandes vozes no
Céu, dizendo: Torna-' ram-se os Reinos do mundo (os) do Senhor e de seu Christo; e, Ele
reinará nos séculos dos séculos" (Apoc. 11, 15; 12, 10). Além disso, os instruímos pela
Palavra, que o Senhor veio ao Mundo não unicamente para redimir os Anjos e os Homens,
mas, também para os unir a Deus Pai por Êle e n'Ele, pois ensinou. que Êle está naqueles
que crêem n'Èle, e que êles estão n'Ele (João VI, 56; XIV, 4, 5). Depois de ouvirem isto,
êles nos disseram: Como pois vosso Senhor pode ser chamado Pai? Responde-mos:
Segundo as passagens que acabam de ser lidas e ainda segundo estas: "Um menino nos
nasceu, um Filho nos foi dado, seu Nome será chamado Deus, Herói, Pai de eternidade"
(Isaías IX, 5). "Tu, nosso Pai, Abrahão não nos conhece e Israel não, nos reconhece; Tu,
Jehovah (tu és) nosso Pai, nosso Redentor desde o século (é) Teu Nome" (Isaías LXIII, 16).
Não disse Ele a Filipe que queria ver o Pai: "Filipe! não me tens conhecido? quem Me vê,
vê o Pai" (João XIV, 9; XII, 45); por conseqüência que outro é o Pai senão aquêle que
Filipe via com seus próprios olhos? A isso acrescentamos: Diz-se em todo Mundo Cristão,
que aqueles que são da Igreja fazem o Corpo de Christo e estão em seu corpo, como então o
homem da Igreja pode se dirigir a Deus Pai, senão por Aquêle em cujo corpo está? De outro
modo sairia inteiramente do corpo e se iria embora. Enfim, nós os informamos que hoje o
Senhor instaura a Nova Igreja, que é entendida no Apocalipse pela Nova Jerusalém, na qual
haverá o culto do Senhor só, como no Céu, e assim será cumprido tudo o que está contido
na Oração Dominical desde o comêço até ao fim. Confirmamos tôdas estas cousas segundo
a Palavra nos Evangelistas e nos Profetas e segundo o Apocalipse no qual, desde o comêço
até ao fim, se trata desta Igreja e isto, citando um tão grande número de passagens, que êles
ficaram fatigados de nos ouvir.
Os Armagedonianos, que nos tinham ouvido com indignação, tinham querido, de tempos
em tempos, nos interromper; êles o conseguiram e, por fim, exclamaram: Vós falastes
contra a Doutrina de nossa Igreja que ensina que é preciso dirigir-se imediatamente a Deus
Pai e crer n'EIe; assim vos tornastes culpados de violação de nossa fé, sai portanto daqui,
senão sereis expulsos; e, inflamados de furor, das ameaças vieram aos esforços; mas então
pela potência que nos havia sido dada nós os ferimos de cegueira e, por conseguinte, não
nos vendo, saíram precipitadamente; e em seu desvario, corriam daqui para ali e alguns
caíram. no abismo de que se fala no Apocalipe 9, 2, o qual agora está na Plaga meridional
para o Oriente, onde estão os que confirmam a justificação pela fé só; e lá os que
confirmam esta fé pela Palavra, são enviados para um deserto onde são levados até à
extremidade do Mundo Cristão e confundidos com os pagãos.
DA REDENÇÃO
&114 - Que no Senhor houve duas Funções, a Função Sacerdotal e a Função Real, isso é
conhecido na Igreja, mas há poucos que sabem em que consiste uma e outra, é preciso pois
dizê-lo: 0 Senhor segundo a Função Sacerdotal, foi chamado Jesus; e segundo a Função
Real, Christo; e também segundo a Função Sacerdotal, é chamado na Palavra Jehovah e
Senhor, e segundo a Função Real, Deus e Santo de Israel e também Rei; estas duas funções
são distintas entre si como o Amor e a Sabedoria ou, o que é a mesma cousa, como o Bem e
o Vero entre si; é por isso que tudo que o Senhor fez e operou pelo Divino Amor ou o
Divino Bem, Êle o fêz e operou pela Sua Função Sacerdotal; e tudo que fêz e operou pela
Divina Sabedoria ou o Divino Vero, o fêz e operou por Sua Função Real; por isso, na
Palavra Padre e Sacerdote significam o Divino Bem enquanto que Rei e Realeza significam
o Divino Vero; os Padres e os Reis na Igreja Israelita representavam êste Bem e êste Vero.
Quanto ao que concerne à Redenção, ela pertence a estas duas Funções; o que segue
mostrará o que pertence a uma e o que pertence a outra.Mas para que cada cousa seja
percebida distintamente, a exposição será dividida por Seções ou Artigos, na ordem
seguinte:
I - A REDENÇÃO MESMA FOI A SUBJUGAÇAO DOS INFERNOS E A
ORDENAÇAO DOS CÉUS; E POR UMA E OUTRA, A PREPARAÇAO PARA UMA
NOVA IGREJA ESPIRITUAL.
II - SEM ESTA REDENÇÃO NENHUM HOMEM TERIA PODIDO SER SALVO E OS
ANJOS NÃO TERIAM PODIDO SUBSISTIR NO ESTADO DE INTEGRIDADE..
III - ASSIM 0 SENHOR REDIMIU NÃO ENTE OS HOMENS, MAS TAMBÉM OS
ANJOS.
IV - A REDENÇÃO FOI UMA OBRA PURAMENTE DIVINA.
V - ESTA REDENÇÃO MESMA NÃO FOI FEITA SENÃO POR DEUS ENCARNADO.
VI - A PAIXAO DA CRUZ FOI A ÚLTIMA TENTAÇÃO QUE 0 SENHOR SOFREU
COMO GRANDISSIMO PROFETA; E FOI 0 MEIO DA GLORIFICAÇÃO DE SEU
HUMANO, ISTO E', DA UNIÃO COM 0 DIVINO DE SEU PAI, MAS NÃO FOI A
REDENÇÃO.
VII - A CRENÇA DE QUE A PAIXAO DA CRUZ FOI A REDENÇÃO MESMA, E' 0
ÊRRO FUNDAMENTAL DA IGREJA E ÉSTE ERRO, JUNTO AO ÉRRO SOBRE AS
TRÊS PESSOAS DIVINAS DE TODA ETERNIDADE, DE TAL MODO PERVERTEU
TODA A IGREJA, QUE NÃO RESTA NADA MAIS DE ESPIRITUAL NELA.
Agora cada uma dessas proposições vai ser desenvolvida em particular.
&115 - I. A REDENÇÃO MESMA FOI A SUBJUGAÇAO DOS INFERNOS E A
ORDENAÇAO DOS CÉUS; E POR UMA E OUTRA A PREPARAÇAO PARA UMA
NOVA IGREJA ESPIRITUAL.
Que estas três operações constituem a Redenção, eu o posso dizer com toda a certeza, pois
que o Senhor opera ainda hoje a Redenção, que começou no ano de 1757, ao mesmo tempo
que o Julgamento Final que então foi feito; depois dessa época esta Redenção continuou até
hoje; e isso, porque hoje, é o Segundo Advento do Senhor e deve ser instituída uma Nova
Igreja, que não pode ser instituída, a não ser que seja precedida pela subjugação dos
Infernos e a ordenação dos Céus; e como me foi dado ver tôdas essas cousas, posso
descrever como os Infernos foram subjugados e como o Novo Céu foi fundado e ordenado,
mas isso será o assunto de uma obra inteira; todavia, em um Opúsculo im presso
em
Londres, em 1758, desvendei como o Julgamento Final foi realizado. Se a subjugação dos
Infernos, a ordenação dos Céus e a instauração de uma Nova Igreja constituíram a
Redenção, é porque sem essas três operações, homem algum podia ser salvo; elas se
seguem mesmo em ordem, pois é preciso primeiro que os Infernos sejam subjugados antes
que um Novo Céu Angélico possa ser formado; e é preciso que êste Céu seja formado antes
que uma Nova Igreja possa ser instituída nas terras; pois os homens no Mundo foram de tal
modo conjuntos aos Anjos do Céu e aos Espíritos do Inferno, que fazem um de uma parte e
de outra nos interiores das mentes; mas será tratado especialmente deste assunto no último
Capítulo desta Obra, onde se falará da Consumação do século, do Advento do Senhor, e da
Nova Igreja.
&116 - Que o Senhor, quando estava no Mundo, tenha combatido contra os Infernos e os
tenha vencido e subjugado e que assim os tenha submetido à Sua obediência, vê-se por um
grande número de passagens da Palavra e vou apresentar algumas delas; em Isaías se diz:
"Quem é aquêle que vem de Éden, com as roupas tintas de Bozra? éste ornado com sua
vestimenta, marchando na multidão de sua força? (Sou) Eu, que falo na justiça, grande para
salvar. Por que vermelho na tua vestimenta e tua roupa como (aquêle) que pisa no lagar?
No lagar eu pisei só, e dentre o povo homem algum comigo; é por isso que os pisei na
minha cólera e os esmaguei no meu arrebatamento, daí espalhou-se sua vitória sobre ninhas
vestimentas, pois o dia da vingança (está) em meu coração e o ano dos meus Redimidos
chegou, meu braço me trouxe a salvação; fiz descer à Terra a sua vitória. Ele disse: Eis,
meu povo, êles, filhos; por isso Ele se tornou para êles um Salvador; por causa de seu amor
e por causa de sua clemência Êle os redimiu" (LXIII, 1 a 9) . Isto foi dito do combate do
Senhor contra -os Infernos; pela vestimenta de que êle estava ornado e que estava vermelha
entende-se a Palavra à qual a povo Judeu tinha feito violência; o combate mesmo contra os
Infernos e a vitória sobre eles são descritos por estas palavras: Ele os pisou em sua cólera e
os esmagou em seu arrebatamento?'; pelas expressões: "Dentre o povo homem algum
comigo; meu braço me trouxe a salvação; fiz descer à Terra a sua vitória", é descrito como
Ele combateu só e por sua própria força; por estas: "Por isso Êle se tornou para êles um
Salvador; por causa de seu amor e de sua clemência, Èle os redimiu", é descrito como Ele
os salvou e redimiu; por estas: "0 dia da vingança está em meu coração e o ano dos meus
redimidos chegou", é entendido que foi essa a causa de seu advento. De Novo em Isaías:
"EIe viu que não havia ninguém e ficou admirado de que não houvesse Intercessor; é por
isso que seu braço lhe trouxe a Salvação, e sua Justiça o sustentou; daí, Êle revestiu a
Justiça como couraça e o capacete da Salvação sobre sua cabeça; e revestiu-se com roupas
de vingança e se cobriu de zêlo como de um manto. Então veio a Sião o Redentor" (LIX,
16, 17, 20). Em Jeremias: "Êles estavam consternados: seus (homens) fortes foram mortos;
eles fugiram e não se voltaram. Êste dia é para o Senhor Jehovah Sebaoth um dia de
vingança de seus inimigos, para que a espada devore e seja saciada (XLVI, 5, 10); estas
duas passagens tratam do combate do Senhor contra os Infernos e da vitória alcançada
sobre êles. Em David: "Cinge tua espada sobre (tua) coxa, 6 Poderoso; teus dardos (são)
acerados, os povos sob Ti cairão (aquêles que são) de coração inimigo do Rei. Teu Trono é
para o século e para a eternidade; tu amas a Justiça; é por isso que Deus Te ungiu" (Ps. 45,
4 a 8); e além disso, em muitas outras passagens. Porque o Senhor Só, venceu os Infernos
sem o socorro de nenhum Anjo, é por isso que Êle é chamado: Herói e homem de guerras
(Isaías XLII, 13; IX, 5); Rei de glória, Jehovah o forte, o herói de guerra (Ps. 24, 8, 10); 0
forte de Jacob (Ps. 132, 2); e em várias passagens, Jehovah Sebaoth, isto é, Jehovah dos
Exércitos; o Advento do Senhor é também chamado 0 dia de Jehovah, dia terrível, cruel, de
indignação, de arrebatamento, de cólera, de vingança, de destruição, de guerra, de clarim,
de ruído retumbante, de tumulto, etc. Nos Evangelistas lê-se estas palavras: "E' agora o
Julgamento dêste mundo, o Príncipe deste mundo vai ser lançado fora" (João XII, 31). "0
Príncipe dêste Mundo é julgado" (João XVI, 11). "Tende confiança, eu venci o Mundo"
(João XVI, 33). "Vi Satanás como um relâmpago caindo do Céu" (Lucas X, 18); pelo
Mundo, o Príncipe do Mundo, Satanás e o Diabo, entende-se o Inferno. Além dessas
passagens, é descrito no Apocalipse, desde o comêço até ao fim, qual é a Igreja Cristã de
hoje e também, que o Senhor deve vir de novo, que Ele subjugará os Infernos e fará um
Novo Céu Angélico, e que em seguida instalará uma Nova Igreja nas terras. Tôdas estas
cousas aí estão preditas, mas só foram desvendadas hoje; isto, por que o Apocalipse, assim
como todos os proféticos da Palavra, foram escritos por puras correspondências se êstes
proféticos não tivessem sido desvendados pelo Senhor, apenas alguém teria podido
apreender convenientemente um único pequeno versículo dêles; mas agora foram todos
desvendados em favor da Nova Igreja, no Apocalipse revelado, obra impressa em
Amsterdam em 1766; e serão vistos por aquêles que crêem na Palavra que o Senhor
pronunciou em Mateus, Capítulo XXIV completo, sobre o estado da Igreja de hoje, e sobre
Seu Advento; mas esta fé vacila somente ainda naqueles em cujo coração a fé da Igreja de
hoje sobre a Trindade de Pessoas Divinas de toda a eternidade e sobre a Paixão do Christo
como sendo a Redenção mesma, foi impressa tão profundamente, que não pode ser
desenraizada; mas êstes, como foi dito acima no Memorável n. 113, são como odres cheios
de uma mistura de limalha de ferro e pó de enxofre, na qual, se se põe água, se manifesta a
princípio, calor; e em seguida, chama, o que faz romper os odres; êles, do mesmo modo,
quando ouvem alguma coisa concernente à água viva, que é a verdade real da Palavra, e
que esta entra pelos olhos ou pelos ouvidos, êles se abrasam, se inflamam e a rejeitam como
uma cousa que lhes quebra a cabeça.
&117 - A subjugação dos Infernos, a ordenação dos Céus e, em seguida, a instauração da
Igreja, podem ser ilustradas por diversas comparações; podem ser ilustradas por
comparações com um Exército de bandidos ou de rebeldes que se apoderam de um Reino
ou de uma cidade e incendeiam as casas, despojam os habitantes de seus bens, partilham
entre si o saque e em seguida se regozijam e se gloriam; e a Redenção mesma pode ser
ilustrada por comparação com um Rei justo que ataca êsses bandidos com seu Exército,
passa uma parte a fio de espada, lança a outra nas prisões, lhes arrebata o saque e o restitui
aos habitantes, depois restabelece a ordem no Reino e o põe ao abrigo de uma invasão
semelhante. Êste assunto pode também ser ilustrado por uma comparação com uma tropa
de bêstas ferozes que -saem das florestas e se lançam sobre rebanhos de gado miúdo e
graúdo; e também sobre os homens, o que faz com que o homem não ouse sair das
muralhas da cidade, nem cultivar a terra, donde resulta que os campos ficarão desertos e
que os citadinos perecerão de fome; e a Redenção pode ser ilustrada pela destruição e a
expulsão destas bêstas ferozes e pela proteção dos campos contra uma nova invasão. Éste
assunto pode ainda ser ilustrado por gafanhotos que devoram toda a verdura da terra e pelos
meios empregados para que êles não façam outras devastações; igualmente, pelos insetos
que, no comêço do verão, privam as árvores das fôlhas, e por conseqüência também dos
frutos, de sorte que elas ficam nuas como no meio do inverno; e pela destruição dêstes
insetos e assim pelo restabelecimento do jardim no seu estado de floração e de frutificação.
Seria o mesmo da Igreja, se o Senhor pela Redenção não tivesse separado os bons dos maus
e não tivesse lançado êstes no Inferno e elevado aquêles ao Céu; que se tornaria um Império
ou um Reino onde não houvesse justiça nem julgamento para retirar os maus do meio dos
bons e proteger os bons contra as violências, a fim de que cada um viva em segurança em
sua casa, como se diz na Palavra, assentado tranqüilo sob sua figueira e sob sua vinha?
&118 - II. SEM ESTA REDENÇAO NENHUM HOMEM TERIA PODIDO SER SALVO;
E OS ANJOS NAO TERIAM PODIDO SUBSISTIR. NO ESTADO DE INTEGRIDADE.
Será dito primeiro o que é a Redenção: Redimir significa livrar da danação, isentar da
morte eterna, arrancar do Inferno e arrancar da mão do diabo os cativos e os ;encarcerados;
é o que foi feito pelo Senhor, subjugando os Infernos e fundando um novo Céu; que o
homem não teria podido ser salvo de outro modo, é porque o Mundo Espiritual e o Mundo
natural, são de tal moda ligados, que não podem ser separados, sobretudo no que concerne
aos interiores que são chamados almas e mentes; as dos bons são ligadas às almas e às
mentes dos Anjos e as dos maus, às almas e às mentes dos espíritos infernais; há uma tal
união, que se os Anjos e os espíritos se retirassem do homem, o homem cairia morto como
um cepo; e do mesmo modo os Anjos e os espíritos não poderiam subsistir se os homens
lhes fossem subtraídos. Por isso, vê-se porque a Redenção foi feita no Mundo espiritual e
porque o Céu e o Inferno deviam ser postos em ordem, antes que a Igreja pudesse ser
instaurada nas terras; que isso seja assim, vê-se claramente no Apocalipse, em que a Nova
Jerusalém, que é a Nova Igreja, desceu do Céu, depois que o novo Céu foi formado (21, 1,
2).
&119 - Que os Anjos não teriam podido subsistir no estado de integridade, se a Redenção
não tivesse sido feita pelo Senhor, é porque todo o Céu Angélico com a Igreja nas terras é
diante do Senhor como um único Homem, do qual o Céu Angélico constitui o Interna, e a
Igreja o Externo, ou mais especialmente, de que o Céu supremo constitui a Cabeça; e o
segundo e o último Céu, o Peito e a Região Médica do corpo; e a Igreja nas terras os
Lombos e os Pés, e o Senhor mesmo é a Alma e a Vida de todo êste Homem; se portanto o
Senhor não tivesse feito a Redenção, êste Homem teria sido destruído; êle é destruido
quanto aos Pés e aos tombos quando a Igreja nas terras se retira, quanto à região gástrica
quando o último Céu se retira, quanto ao Peito quando o Segundo Céu se retira; e então, a
Cabeça, não tendo correspondência com o Corpo, cai em desfalecimento. Mas isso WL"er
ilustrado por comparações: Quando a gangrena se apoaera dos pés, ela sobe
progressivamente e corrompe a princípio os lombos, em seguida, as vísceras do abdome; e
enfim as partes vizinhas do Coração, então o homem, como é notório, sucumbe e morre.
Isto também pode ser ilustrado por uma comparação com as moléstias das vísceras que
estão abaixo do Diafragma: Quando estas vísceras deperecem, o Coração começa a palpitar
e o Pulmão a ofegar fortemente e, enfim, todo o movimento cessa. Isto também pode ser
ilustrado por uma comparação com o homem Interno e o homem Externo: 0 homem Interno
se sente bem, enquanto o homem Externo preenche suas funções com obediência; se ao
contrário, o homem Externo não obedece mas resiste e se, além disso, ataca o homem
Interno, então o homem Interno é abalado e enfim privado dos prazeres do homem Externo,
até que se torne favorável ao homem Externo e seja de sua opinião. Isto ainda pode ser
ilustrado por comparação com um homem que, estando sobre uma Montanha, vê em baixo
dêle as terras inundadas e as águas subirem sucessivamente; quando elas chegam à altura
onde êle está, é também inundado se não pode prover à sua salvação por uma barca que
venha a êle sobre as águas; igualmente, se alguém do alto de uma Montanha vê nevoeiro
espêsso se elevar cada vez mais da terra e cobrir os campos, as aldeias e as cidades; quando
em seguida êsse nevoeiro chega a éle, êle nada vê, não vê mesmo mais onde está. Cousa
semelhante acontece aos Anjos quando a Igreja nas terras perece, então os Céus inferiores
também se vão; e isso, porque os Céus são compostos de homens vindos da Terra e quando
não resta mais nenhum bem de coração nem vero algum da Palavra, os Céus são inundados
pelos males que se elevam e são sufocados como pelas águas do Estige; mas todavia
aquêles, que os habitam são escondidos em algum lugar pelo Senhor e reservados para o dia
do Julgamento Final e então são elevados a um Novo Céu; são êles que são entendidos
nestas passagens do Apocalipse: "Vi sob o Altar as almas daqueles que haviam sido mortos
pela Palavra de Deus e pelo Testemunho que tinham; e exclamavam com graude voz: Até
quando Senhor, que (és) Santo e Verdadeiro, não julgas e não vingas nosso sangue sobre
aquêles que habitam sobre a Terra? e a cada um foram dados vestidos brancos e lhes foi
dito que repousassem ainda um pouco de tempo, até que fossem completados e seus
companheiros de serviço e seus irmãos, que deviam ser mortos como eles'' (6, 9, 10, 11).
&120 - Sem a Redenção pelo Senhor, a iniqüidade e a maldade se espalhariam em toda a
Cristandade em um e outro Mundo, o Natural e o Espiritual; há para isso várias razões,
entre as quais se acha esta: Todo homem depois da morte vem para o Mundo dos espíritos,
e então é absolutamente semelhante ao que era antes; e aí entrando, ninguém pode impedilo de conversar com seus parentes, seus irmãos, seus aliados e seus amigos, mortos antes
dêle; então cada marido procura primeiro sua esposa, e cada esposa, seu marido; e é
introduzido por uns e outros em diversas reuniões de Espíritos que, por fora, aparecem
como ovelhas e são, por dentro, como lobos e por êles são pervertidos aqueles mesmos que
se tinham dedicado à piedade; por conseguinte, e de acordo com artifícios abomináveis
desconhecidos no Mundo natural, aquêle Mundo foi enchido com espíritos malignos como
um pântano esverdeado, está cheio de ovos de rãs; que a freqüentação dos maus produz aí
êste efeito, é o que se pode tornar -evidente pelos exemplos seguintes: Se alguém
permanece com ladrões ou com piratas, se torna por fim semelhante a êles; se alguém mora
com adúlteros e prostitutas, acaba por considerar o adultério como nada; se alguém se
mistura com aquêles que estão revoltados contra as leis, acaba por considerar como nada
agir com violência contra o primeiro que aparece; com efeito, todos os males são
contagiosos e podem ser comparados à peste que se comunica só pela aspiração e só pela
exalação; e também a um câncer ou a uma gangrena que se insinua e põe em putrefação as
partes vizinhas e sucessivamente as que estão mais afastadas, até que todo o corpo pereça;
os prazeres do mal em que cada um nasce, são a causa disso. Segundo o que acaba de ser
dito, é agora evidente que, sem a Redenção pelo Senhor, nenhum homem pode ser salvo e
que os Anjos não podem subsistir no estado de integridade; o único refúgio para não
perecer, é se dirigir ao Senhor, pois Êle disse: "Permanecei em Mim e Eu em vós; como o
sarmento não pode dar fruto por si mesmo, se não permanece na cepa, do mesmo modo vós
também não, se em Mim não permaneceis; Eu sou a cepa, vós, os sarmentos; aquêle que
permanece em Mim e Eu nêle, êsse dá muito fruto, porque sem Mim nada podeis fazer; se
alguém não permanece em Mim, é lançado fora, secará, é lançado no fogo e queimado"
(João, 4, 5, 6).
&121 - III. ASSIM QUE 0 SENHOR REDIMIU NÃO SóMENTE OS HOMENS, MAS
TAMBÉM OS ANJOS.
Isto é uma conseqüência do que foi dito no Artigo precedente, que sem a Redenção pelo
Senhor os Anjos também não teriam podido subsistir; às causas acima apresentadas se
juntam estas: 1.0) No tempo do Primeiro Advento do Senhor, os Infernos tinham
aumentado para cima, ao ponto de encherem todo o Mundo dos Espíritos, que fica no meio
entre o Céu e o Inferno; e assim não somente levavam a confusão ao Céu que é chamado
último Céu, mas atacavam também o Céu médio, infestando-o de mil maneiras; se o Senhor
não o tivesse sustentado, êle marcharia para sua destruição. Um tal ataque dos Infernos é
entendido pela Torre elevada na terra de Schinear, seu topo devia ir até ao Céu, mas os
esforços dos que a construíam foram detidos pela confusão dos lábios e êles mesmos foram
dispersados e a cidade foi chamada Babel (Gênesis 11, 1 a 9); o que é,entendido nesta
passagem pela Torre e pela confusão dos lábios, foi explicado nos "Arcanos Celestes11,
impressos em Londres. Se os Infernos aumentaram até a uma tal altura, foi porque, no
tempo em que o Senhor veio ao Mundo, todo o Globo se tinha inteiramente afastado de
Deus pelas idolatrias e pelas magias; e a Igreja, que havia estado com os filhos de Israel e
enfim com os Judeus, tinha sido completamente destruida pela falsificação e a adulteração
da Palavra e porque todos, tanto uns como outros, iam após a morte para o Mundo dos
Espíritos, onde por fim, o seu número foi de tal modo aumentado e multiplicado, que não
podiam ser expulsos daí senão pela descida de Deus mesmo, e então pela força do Divino
braço; a maneira pela qual a expulsão foi feita está descrita no Opúsculo impresso em
Londres em 1758, sobre o Julgamento Final; isso foi realizado pelo Senhor quando Ele
estava no Mundo; a mesma cousa é ainda feita hoje pelo Senhor, pois que é hoje, como já
foi dito, o Seu Segundo Advento que foi predito por toda parte no Apocalipse e em Mateus
XXIV, 3, 30; em Marcos XIII, 26; em Lucas XXI, 27; e nos Atos dos Apóstolos 1, 11, e
algures; a diferença consiste em que no Seu Primeiro Advento, êste grande acréscimo dos
Infernos tinha provindo dos idólatras, dos mágicos e dos falsificadores da Palavra, enquanto
que no Seu Segundo Advento provinha dos pretensos Cristãos, tanto dos que se imbuíram
do Naturalismo, como dos que falsificaram a Palavra por confirmações de sua fé fabulosa
sobre três Pessoas Divinas de toda a eternidade e sobre a Paixão do Senhor que pretendem
ter sido a Redenção mesma; são, com efeito, estes que são entendidos pelo Dragão e suas
duas Bêstas no Apocalipse, Capítulos 12.0 e 13.0. 2.0) Uma segunda causa que fêz com que
o Senhor também redimisse os Anjos, é que não somente cada homem, mas mesmo cada
Anjo, é pelo Senhor desviado do mal e mantido no bem; pois ninguém, seja Anjo, seja
homem, está no bem por si mesmo, mas todo bem vem do Senhor; quando, por tanto, o
escabêlo dos pés dos Anjos, que para eles está no Mundo dos espíritos, foi subtraído, lhes
aconteceu como aquêle que se assenta sobre um trono quando os estilobatas são retirados.
Que
os Anjos não sejam puros diante de Deus, vê-se pelos livros proféticos da Palavra e também
em Job; depois, não há um único Anjo precedentemente não tenha sido homem. Por isso se
que confirma o que foi dito nos preliminares desta Obra sobre A Fé do Novo Céu e da
Nova Igreja na forma universal e na forma singular, a saber, "que o Senhor veio ao Mundo
para afastar do homem o Inferno e que o afastou por combates contra êle e por vitórias
alcançadas contra êle; assim Ele o subjugou e o repôs sob sua obediência". Por isso se acha
também confirmado, "que Jehovah Deus desceu e tomou o Humano, com o objetivo de
repor na ordem tôdas as cousas que estavam no Céu e tôdas as coisas que estavam no
Inferno porque então o poder do Diabo, isto é, do Inferno sobrepujava o poder do Céu; e
nas terras o poder do mal sobrepujava o poder do bem e, em conseqüência, uma danação
geral estava à porta e iminente. Jehovah Deus, por Seu Humano tirou esta danação que ia
acontecer e assim redimiu os homens e os Anjos; por isso é evidente que sem o Advento do
Senhor ninguém poderia ter sido salvo. Acontece o mesmo hoje; se portanto o Senhor não
viesse de novo ao Mundo, ninguém podia ser salvo também". Vêde acima ns. 2 e 3.
&122 - Que o Senhor tenha libertado o Mundo Espiritual e que por êste Mundo deve
libertar a Igreja de uma danação universal, é o que pode ser ilustrado por uma comparação
com um Rei, cujos príncipes, seus filhos, foram tomados pelo inimigo, lançados em prisões
e carregados de ferros e que, por vitórias alcançadas sobre êste inimigo, os libertou e os
reconduziu para sua Corte. Depois, por uma comparação com um Pastor que, como Sansão
e David, arrancou suas ovelhas da goela de um leão ou de um urso, ou que caçou essas
bêstas ferozes quando, se lançavam das florestas para os prados, as perseguiram até aos
últimos limites e, enfim, as empurraram para pântanos ou para desertos; e em seguida
voltaram a suas ovelhas, fizeram-nas pastar em segurança e as dessedentaram em fontes de
águas límpidas. Isto pode também ser ilustrado por uma comparação com um homem que,
vendo em um caminho uma serpente enrolada em espiral e disposta a ferir o calcanhar do
viajante, a pega pela cabeça e a leva até sua casa, embora ela se enrole em torno de sua
mão, e lá, corta-lhe a cabeça e lança o resto no fogo. Isto pode ainda ser ilustrado por uma
comparação com um noivo ou um marido que, vendo um adúltero procurar fazer violência
à sua esposa, se lança sobre ele e o fere na mão com sua espada ou o golpeia nas pernas e
nos rins, ou o faz lançar na rua por seus servidores que o perseguem com bastões até à sua
casa; e tendo assim livrado sua noiva ou esposa, a reconduz a seu apartamento; na Palavra,
pela Noiva e pela esposa, é entendida a Igreja do Senhor; e pelos adúlteros são entendidos
aquêles que fazem violência à Igreja, isto é, aquêles que adulteram a Palavra do Senhor; e
como os Judeus agiram assim, foram chamados pelo Senhor nação adúltera.
&123 - IV. A REDENÇAO FOI UMA OBRA PURAMENTE. DIVINA.
Aquêle que sabe o que é o Inf erno e quais foram a altura e a inundação de Inferno sobre
todo o Mundo dos Espíritos no tempo do Advento do Senhor, e por que potência o Senhor
abaixou e dispersou o Inferno e, em seguida, o repôs na ordem ao mesmo tempo que ao
Céu, não pode se impedir de ficar na maior admiração, e de exclamar que tôdas essas
cousas foram uma Obra puramente Divina. 1.0) 0 que é o Inferno: 0 Inferno consiste em
miríades de miríades de Espíritos, pois é composto de todos aquêles que, desde a criação do
Mundo, se desviaram de Deus pelos males da vida e pelos falsos da fé. 2.0) Quais foram a
altura e a inundação do Inferno sobre todo o Mundo dos Espíritos no tempo do Advento do
Senhor: Isto foi brevemente exposto nos Artigos precedentes; quais elas foram ao tempo do
primeiro Advento, ninguém teve conhecimento, porque isso não foi revelado no sentido da
letra da Palavra; mas quais elas foram ao tempo do segundo Advento, me foi dado ver com
os meus olhos; donde se pode concluir a respeito do primeiro Advento; e isso foi descrito
no Opúsculo do Julgamento Final, impresso em Londres em 1758; do mesmo que, 3.0) Por
que potência o Senhor abaixou e dispersou êste, inferno; mas transcrever aqui o que foi
descrito segundo a autópsia neste Opúsculo, seria inútil, pois êste opúsculo subsiste e há
ainda uma grande quantidade de exemplares postos em reserva em Londres na Tipografia;
quem quer que o leia pode ver claramente que o abaixamento e a dispersão dêste Inferno
foram Obra de Deus Onipotente. 4.0) Como o Senhor em seguida repôs tôdas as comas na
ordem, tanto no Céu c no Inferno: Isso não foi ainda descrito por mim porque a ordenação
dos Céus e dos Infernos durou desde o dia do Julgamento Final até ao tempo presente e
dura ainda; mas após a publicação deste Livro, se se deseja, será dada ao público; pelo que
me concerne, quanto a êste assunto, cada dia tenho visto e vejo a Onipotência do Senhor
como em face; todavia, a ordenação pertence propriamente à Redenção, enquanto que o
abaixamento e a dispersão do Inferno pertencem propriamente ao Julgamento Final;
aquêles que consideram distintamente êstes dois pontos, podem ver muitas cousas que, nos
proféticos da Palavra, têm estado escondidas sob figuras e, entretanto, foram descritas
desde que pela explicação das correspondências sejam postas na luz do entendimento. Uma
e outra Obra Divina não pode ser ilustrada senão por comparações, mas entretanto muito
pouco; por exemplo: Por uma comparação com um combate contra os Exércitos de tôdas as
nações do Mundo, providos de lanças, de escudos, de espadas, de fuzis e de canhões, e
comandados por chefes e generais destros e astuciosos; digo destros e astuciosos porque no
Inferno a maior parte sobressai nos artifícios desconhecidos em nosso Mundo e nêles se
exercitam entre si sobre a maneira de atacar, de surpreender, de cercar e de assaltar aquêles
que estão no Céu. 0 combate do Senhor contra o Inferno pode também ser comparado,
embora a comparação seja fraca, com um combate contra as bestas ferozes de toda a Terra
e com a destruição e a subjugação destas bêstas, ao ponto de não haver mais uma que ouse
sair e atacar alguns dos homens que estão no Senhor, donde resulta que se um dêles mostra
uma face ameaçadora, a besta feroz se retira imediatamente, como se sentisse no meio do
peito um abutre procurando furá-lo até ao coração; os Espíritos Infernais são mesmo
descritos na Palavra pelas bêstas ferozes; também são entendidos pelas bêstas com as quais
o Senhor esteve durante quarenta dias (Marcos 1, 13). Êste combate do Senhor pode ainda
ser comparado a uma resistência contra todo o Oceano fazendo irrupção, com suas vagas
nas planícies e cidades, após ter rompido seus diques; a Subjugação do Inferno pelo Senhor
é também entendida pelo Mar que se acalma, quando Èle diz: "Cala-te, torna-te mudo"
(Marcos IV, 38, 39; Mateus VIU, 26; Lucas VIII, 23, 24); pois, aí, como em muitas outras
passagens, pelo Mar é significado o Inferno. 0 Senhor, por um semelhante poder Divino,
combate hoje contra o Inferno em todo homem que é regenerado, pois o Inferno ataca-os a
todos com um furor diabólico; e se o Senhor não lhe resiste e não o doma, é impossível que
o homem não sucumba; o Inferno, com efeito, é como um único homem monstruoso e
como um Leão feroz, ao qual 4 mesmo comparado na Palavra; se portanto o Senhor não
mantivesse êste Leão ou êste Monstro acorrentado pelas mãos e pelos pés, seria de todo
impossível que o homem, quando fosse arrancado de um mal, não caísse por si mesmo em
um outro mal e, em seguida, em vários males.
&124 - V. ESTA REDENÇÃO MESMA NÃO PODIA SER FEITA SENÃO POR DEUS
ENCARNADO.
No Artigo precedente foi mostrado que a Redenção foi urna Obra puramente Divina, que
por conseqüência não podia ser feita senão por Deus Onipotente; que não podia ser feita
senão por ele encarnado, isto é, feito Homem, é porque Jehovah Deus, tal como é em Sua
essência infinita, não pode se aproximar do Inferno, nem com mais forte razão ai entrar,
pois está no que há de mais puro e nos primeiros; é por isso que se Jehovah Deus, que é em
Si, soprasse únicamente sobre os que estão no Inferno, no mesmo instante os mataria, pois
Êle disse a Moisés que queria vê-lo: "Tu não poderás ver minhas faces, pois não pode o
homem Me ver e viver" (Êxodo 33, 20), portanto visto que Moisés não o pôde, com mais
forte razão não o podem os que estão no Inferno, onde todos estão nos últimos e no que há
de mais grosseiro; e assim, no que há de mais afastado, pois são naturais ínfimos; se,
portanto, Jehovah Deus não tivesse tomado o Humano e não se tivesse assim revestido com
o corpo, que está nos últimos, seria em vão que empreenderia qualquer Redenção; com
efeito, quem pode atacar um inimigo sem se aproximar dele e sem estar munido de armas
para o combate? ou, quem pode caçar e destruir dragões, hidras e basiliscos em um deserto,
sem ter uma couraça sobre o corpo, um capacete na cabeça e uma lança na mão ou, quem
pode apanhar baleias no mar sem um navio e sem tudo que é necessário para uma tal
captura? Estes exemplos e outros semelhantes não dão uma comparação exata, mas podem
pôr na luz que Deus Onipotente não teria podido empreender o combate contra os Infernos,
se não tivesse antes se revestido com o Humano. Todavia, é preciso que se saiba que o
combate do Senhor contra os Infernos não foi um combate oral, como entre aquêles que
raciocinam e discutem, um tal combate não teria produzido efeito algum, mas foi um
combate espiritual, isto é, o combate do Divino Vero segundo o Divino Bem, que era o
vital mesmo do Senhor; ao influxo dêsse Di vino por intermédio da vista, ninguém nos
Infernos pôde resistir; há nêle um tal poder que só com a sua percepção, os gênios infernais
fugiam, se precipitavam no abismo e se entranhavam nas cavernas para se esconder; é isso
mesmo que é descrito em Isaías: "Eles entrarão nas cavernas de rochas e nas fendas de pó
por causa do pavor de Jehovah, quando Ele se levantar para espantar a terra" (11, 19). E no
Apocalipse: -Todos êles se esconderão nas cavernas e nos rochedos das montanhas e dirão
às montanhas e aos rochedos: Caí sobre nós e escondei-nos da cólera do Cordeiro" (6, 15,
16, 17). Pelo que foi descrito no Opúsculo sobre o Julgamento Final, pode-se ver qual era o
poder que o Senhor tinha do Divino Bem, quando fêz êste Julgamento em 1757; por
exemplo, Êle arrancou de seu lugar colinas e montanhas de que os infernais se tinham
apoderado no Mundo dos Espíritos e as transportou para longe; fazia abaixar algumas;
inundava com um dilúvio as suas cidades, suas vilas e suas campinas; revirava
completamente suas terras, e as lançava com seus habitantes nos precipícios, nos pântanos e
lagoas, etc.; e o Senhor Só fazia tudo isso pelo poder do Divino Vero segundo o Divino
Bem.
&125 - Que Jehovah Deus não tenha podido pôr em ato nem efetuar tais cousas senão por
Seu Humano, é o que pode ser ilustrado por diversas comparações; por exemplo: Aquêle
que é invisível não pode passar a vias de fato, nem entrar em conversação, senão por
alguma cousa visível; nem mesmo um Anjo ou um espírito com o homem, mesmo quando
se mantém perto de seu corpo e diante de sua face. A alma de alguém não pode também
nem falar nem agir com um outro senão por seu corpo. 0 Sol com sua luz e seu calor não
pode entrar em um homem ou em uma besta ou em uma árvore, a menos que antes não
entre no ar e atue pelo ar; nem, igualmente, nos peixes a menos que não penetre através das
águas; pois deve agir pelo elemento no qual está o objeto. Ninguém tampouco pode
escamar um peixe sem faca, nem depenar um corvo sem se servir de seus dedos, nem
descer ao fundo de um lago sem uma campânula de mergulhador; em uma palavra, cada
cousa deve ser acomodada a uma outra, antes que tenha comunicação e antes que aja contra
ela ou com ela.
&126 - VI. A PAIXÃO DA CRUZ FOI A úLTIMA TENTAÇÃO QUE 0 SENHOR
SOFREU COMO GRANDISSIMO PROFETA; E ELA FOI 0 MEIO DA
GLORIFICAÇÃO DE SEU HUMANO, ISTO É, DA UNIÃO COM 0 DIVINO DE SEU
PAI, MAS NÃO FOI A REDENÇÃO.
Há duas cousas pelas quais o Senhor veio ao Mundo e pelas quais salvou os homens e os
Anjos, a saber: a Redenção e a Glorificação de Seu Humano; estas duas cousas são distintas
entre si, mas não obstante fazem um para a salvação. Nos Artigos precedentes foi mostrado
que a Redenção é o Combate contra os Infernos, sua subjugação e, em seguida, a ordenação
dos Céus; quanto à Glorificação, é a União do Humano do Senhor com o Divino do Pai;
esta foi feita sucessivamente e plenamente pela Paixão da cruz; com efeito, todo homem
deve aproximar-se de Deus; e quanto mais o homem se aproxima, tanto mais de seu lado
Deus, entra nêle; acontece com isso como com um Templo; primeiro deve ser construído o
que depende das mãos dos homens; em seguida deve ser inaugurado; e enfim, é preciso orar
para que Deus aí esteja presente e se una com a Igreja. Que a união mesma tenha sido
plenamente feita pela Paixão da cruz é porque esta Paixão foi a última Tentação que o
Senhor sofreu no Mundo e a conjunção se faz pelas tentações; com efeito, nas tentações, o
homem está em aparência abandonado a êle só, ainda que não tenha sido abandonado, pois
Deus está sempre presente nos íntimos do homem e o sustenta; quando, portanto, alguém é
vencedor na tentação, é intimamente conjunto a Deus; e o Senhor é então Intimamente
unido a Deus Seu Pai. Que o Senhor na Paixão da cruz tenha sido abandonado a Si mesmo,
vé-se por Sua exclamação na cruz: "Deus! por que me abandonaste?" e também por estas
palavras do Senhor: "Ninguém Me arrebata alma, mas eu a deponho por Mim mesmo; Eu
tenho poder de depor e poder de a retomar, êste mandamento recebi de Meu Pai" (João X,
18). Por estas explicações, pode-se ver que o Senhor sofreu, não quanto ao Divino, mas
quanto ao Humano e que, então, a união se tornou íntima e plenária. Isto pode ser ilustrado
pelo fato de que, quando o homem sofre quanto ao corpo, sua alma não sofre, mas está
únicamente na dor; todavia Deus após a vitória retira esta dor e a limpa como alguém
enxuga as lágrimas dos olhos.
&127 - Estas duas coisas, a Redenção e a Paixão da cruz, devem ser percebidas
distintamente, de outro modo a mente humana cai como um navio quando se lança sobre
um banco de areia ou sobre rochedos naufraga e com o capitão, o piloto e os ,marinheiros;
isto é, a mente cai no erro sobre tudo o que concerne à salvação pelo Senhor; pois o
homem, sem uma idéia distinta destas duas ações, está como em um sonho e vê cousas vãs,
de onde tira conjeturas que toma como realidades, quando, entretanto, são futilidades; ou é
como alguém que caminha durante a noite e que, apanhando a folhagem de uma árvore, crê
que são os cabelos de um homem, aproxima,se de mais perto e entrelaça seus próprios
cabelos. Mas ainda que a Redenção e a Paixão da cruz sejam duas ações distintas, acontece,
entretanto, que fazem um pela salvação, pois que o Senhor pela união com Seu Pai, que foi
concluída pela Paixão da cruz, se tornou Redentor para a eternidade.
&128 - Quanto à Glorificação, pela qual é entendida a união do Divino Humano do Senhor
com o Divino do Pai, união que foi plenamente realizada pela Paixão da cruz, o Senhor
mesmo falou dela assim nos Evangelistas: "Depois que Judas saiu, Jesus disse: Agora o
Filho do Homem foi Glorificado e Deus foi Glorificado n'Ele; se Deus foi Glorificado
n'Ele; Deus também 0 Glorificará em Si e no instante o Glorificará" (João XIII, 31, 32);
aqui a Glorificação se diz do Deus Pai edo Filho, pois está dito: `Meus foi Glorificado
n'Ele; e Éle 0 glorificará em Si"; que seja isto ser unido, é evidente. "Pai, a hora chegou,
Glorifica teu Filho, a fim de que teu Filho também te Glorifique" (João XVII, 5); se diz
assim porque a união foi recíproca; como quando se diz: 0 Pai está n'Êle e Êle no Pai.
"Agora minha alma foi perturbada; e disse: Pai, glorifica Teu Nome; e saiu uma voz do
Céu: E o tenho Glorificado e de, novo o Glorificarei" (João XII, 27, 23); isso foi dito
porque a união se operou sucessivamente. "Não convinha que o Christo sofresse isso e que
entrasse em sua glória?" (Lucas XXIV, 26); a glória na Palavra, quando se trata do Senhor,
significa o Divino Vero unido ao Divino Bem. Por estas passagens é bem evidente que o
Humano do Senhor é Divino.
&129 - Se o Senhor quis ser tentado até à Paixão da cruz porque era Êle mesmo Profeta e
os Profetas, outrora, significavam a doutrina da Igreja segundo a Palavra e, por
conseguinte, representavam a Igreja tal qual era, por diversas coisas, e também pelos atos
iníquos, duros e mesmo atrozes que lhes eram prescritos por Deus. Mas como o Senhor era
a Palavra mesma, pela Paixão da cruz Êle representou, como Profeta, a Igreja Judaica e a
maneira pela qual esta Igreja havia profanado a Palavra mesma; a essa razão se junta esta,
que Ele devia assim ser reconhecido nos Céus pelo Salvador de um e outro Mundo, pois
tôdas as circunstâncias de Sua Paixão significavam? coisas que concernem. à profanação da
Palavra; e os Anjos as compreendem. espiritualmente, enquanto que os homens da Igreja as
compreendem naturalmente. Que o Senhor mesmo tenha sido Profeta, vê-se por estas
passagens: "0 Senhor disse: Uni Profeta não é sem honra senão em sua pátria e em sua
casa" (Mateus XIII, 57; Marcos VI, 4; Lucas IV, 24). "Jesus disse: Não é conveniente que
um Profeta morra fora de Jerusalém" (Lucas XIII, 33). "0 medo se apoderou de todos; êles
louvavam a Deus, dizendo que um grande Profeta havia sido suscitado entre êles" (Lucas
VII, 16). Diziam de Jesus: "E' o Profeta de Narazeth" (Mateus XXI, 11; João VII, 40, 41).
"Um Profeta será suscitado do meio de teus irmãos, obedecei às suas palavras' (Deuter. 18,
15, 19).
&130 - Que os Profetas tenham representado o estado de sua Igreja quanto à doutrina tirada
da Palavra e quanto à vida segundo esta doutrina, vê-se por estas passagens: Foi ordenado
ao Profeta Isaías, "para desatar o saco de cima de seus rins, tirar o sapato do pé e ir nu e
descalço durante três anos, em sinal e em prodígio" (Isaías XX, 2, 3). Foi ordenado ao
Profeta Ezequiel para que representasse o estado da Igreja, "que preparasse sua bagagem
para se mudar, e se fosse para outro lugar aos olhos dos filhos de Israel; pusesse do lado de
fora a sua bagagem durante o dia, saísse de noite por um buraco feito na parede, cobrisse o
rosto para não ver a terra e fosse assim um prodígio para a casa de Israel; depois dissesse:
Eis, eu sou vosso prodígio; como eu faço, do mesmo modo vos será feito" (Ezequiel XII, 3
a 7, 11). Foi ordenado ao Profeta Hoséas, para que reprentasse o estado da Igreja, -que
tomasse uma prostituta por esposa; e êle tomou uma e ela lhe deu à luz três filhos, dos quais
chamou um Jisreel, o outro, Sem-Misericórdia; e, o terceiro, NãoMeu-Povo. E lhe foi
ordenado de novo para ir embora e amar unia mulher amada de um companheiro e adúltero;
e êle a comprou mesmo por quinze moedas de prata" (Hoséas 1, 2 a 9; 111, 2, 3). Foi
também ordenado a um Profeta, "que pusesse cinzas sobre os olhos e se deixasse bater e
ferir` 1 (1 Reis XX, 35 a 38).Foi ordenado ao Profeta Ezequiel, para que representasse o
estado da Igreja, "que tomasse um tijolo, gravasse nêle Jerusalém, lhe fizesse o cêrco,
construísse contra ela entrincheiramentos e uma fortificação, colocasse uma sertã de, ferro
entre êle e a cidade, se deitasse sobre o lado esquerdo e em seguida sobre o lado direito.
Depois tomasse trigo, cevada, favas, lentilhas, milho, aveia, e disso fizesse pão; e também
que fizesse de cevado com excremento de, homem; mas a seu pedido, lhe foi permitido
fazer com excremento de boi. Foi-lhe dito: Tu te deitarás sobre teu lado esquerdo e põe
sobre êle a iniqüidade da casa de Israel; o número dos dias que te deitarás sobre êste (lado)
tu levarás a sua iniqüidade, segundo o número de dias, (a saber) 390 dias, a fim de que
leves a iniqüidade da casa de Israel.Mas quando acabares êstes (dias), tu te estenderás em
segundo lugar sobre teu lado direito, para levar a iniqüidade da casa de Judá" (Ezequiel IV,
1 a 15). Que o Profeta, por haver assim levado as iniqüidades da casa de Israel e da casa de
Judá, não as tirou, nem por conseqüência as expiou, mas não fez senão as representar e as
mostrar, é o que se vê pelo que é dito em seguida no mesmo Capítulo: "Do mesmo modo,
diz Jehovah, os filhos de Israel comerão seu pão impuro entre as nações para as quais vou
expulsá-los. Eis, vou quebrar o bastão do pão de Jerusalém, a fim de que lhes falte pão e
água e que o homem e seu irmão sejam desolados e caiam em fraqueza por causa de sua
iniqüidade" (IV, 13, 16, 17). E' portanto entendido a mesma cousa a respeito do Senhor,
quando se diz: "Ele tomou as nossas enfermidades e carregou as nossas dores; Jehovah fêz
cair sobre êle a iniqüidade de todos nós; por sua ciência justificará muitos porque suas
iniqüidades Ele mesmo as terá carregado" (Isaías LIII, 4, 6, 11); aí em todo o Capítulo se
trata da Paixão do Senhor. Que o Senhor, como sendo Êle mesmo Profeta, tenha
representado o estado da Igreja Judaica quanto à Palavra, é o que é evidente em cada
partícularídade de Sua Paixão; por exemplo: Éle foi traído por Judas. Foi prêso e
condenado pelos Príncipes dos sacerdotes e pelos Anciços. Deram-lhe bofetadas. Bateramlhe a cabeça com uma cana. Puseram-lhe uma coroa de espinhos. Dividiram Suas roupas e
lançaram sortes sobre Seu manto. Crucificaram-nO. Deram-lhe a beber vinagre. Furaramlhe o lado. Foi sepultado e ressuscitou no terceiro dia. A Sua traição por Judas significava
que Êle era traído pela nação Judaica, na qual estava então a Palavra; pois Judas
repressntava esta nação. Sua prisão e Sua condenação pelos Príncipes dos sacerdotes e
pelos Anciãos. significava que toda a Igreja Judaica agia assim. Dar-lhe bofetadas, cuspirlhe na face, açoitá-lo com uma cana, significava que se tinha agido assim em relação à
Palavra, quanto a Seus Divinos Veros. A coroa de espinhos que lhe puseram na cabeça
significava que se tinha falsificado e adulterado êstes veros. A partilha de Suas roupas e a
sorte lançada sobre Seu manto significava que haviam dispersado todos os veros da
Palavra, mas não seu sentido espiritual, que era significado pelo manto do Senhor. A Sua
crucificação significava que se havia destruido e profanado toda a Palavra. 0.vinagre que
lhe apresentaram para beber significava que tudo estava falsificado; por isso Êle não o
bebeu. A ferida que lhe fizeram do lado significava que haviam extinto totalmente todo
vero e todo bem da Palavra. Seu sepultamento significava a ação de rejeitar o resto do
humano que Ele tinha de uma mãe. Sua ressurreição no terceiro dia significava a
Glorificação ou a União de Seu Humano com o Divino do Pai. Por estas explicações, é
agora evidente que por levar as iniqüidades é entendido, não as retirar, mas representar a
profanação das verdades da Palavra.
&131 - Êste assunto pode também ser ilustrado por comparações, e isso, em favor das
pessoas simples que vêem melhor por comparações que por deduções formadas
analiticamente segundo a Palavra e ao mesmo tempo segundo a razão: Todo cidadão ou
súdito está unido ao Rei, pelo fato de executar suas -ordens e seus mandamentos, e mais
ainda, se por êle suporta perigos e sofre a morte, o que acontece nos combates e nas
batalhas; semelhantemente um amigo é unido a seu amigo, um filho a seu pai e um servidor
a seu amo porque executam o que concerne à sua vontade, o defendem contra seus inimigos
e, mais ainda, se combatem por sua honra. Aquêle que deseja esposar uma moça, não se
une a ela combatendo contra aquêles que a difamam e se expondo a ser ferido por um rival?
Se há união por meio de tais atos, é conforme a lei gravada na natureza. 0 Senhor disse: "Eu
sou o bom Pastor; o bom Pastor dá sua alma pelas ovelhas; por causa disso meu Pai Me
ama" (João X, 11, 17).
&132 - VII. A CRENÇA DE QUE A PAIXÃO DA CRUZ FOI A REDENÇÃO MESMA,
E' 0 ÊRRO FUNDAMENTAL DA IGREJA; ÊSTE ERRO, JUNTO AO ÊRRO SOBRE AS
TRÉS PES:SOAS DIVINAS DE TODA ETERNIDADE, DE TAL MODO PERVERTEU
A IGREJA TODA, QUE NADA RESTA DE ESPIRITUAL NELA.
O que é que enche e recheia mais hoje os livros dos Ortodoxos, o que é ensinado e
inspirado com mais ardor nos lugares de instrução e o que é pregado e declamado mais
freqüentemente, nas cátedras, senão que Deus Pai, irritado contra o gênero humano, não
somente o afastou de Si, mas ainda o abrangeu em uma danação universal, por
conseqüência o excomungou, mas que por uma graça especial empenhou ou incitou o Filho
a descer e a tomar sobre si a danação que havia sido decidída e assim a aplacar a cólera de
Seu Pai, e que foi por êste meio que Êle pôde encarar o homem com algum favor; que o
-Filho executou esta obra, de sorte que tomando sobre si a danação do Gênero Humano, se
deixou flagelar pelos Judeus, cuspir na face e -em seguida crucificar como maldição de
Deus (Deut. 21, 23); que o Pai, após a realização desta obra, tornou-se propício e por amor
a Seu Filho, retirou a danação, mas únicamente de cima daqueles pelos quais intercedesse
o Filho, que se fez assim Mediador perpètuamente perante Seu Pai. Estes raciocínios e
outros semelhantes reboam hoje nos Templos e repercutem pelas paredes como o eco pelas
florestas, enchem os ouvidos de todos -os assistentes. Mas qual é o homem que, tendo
formado pela Palavra uma Razão esclarecida e sã, não pode ver que Deus, sendo a
Misericórdia mesma e a Clemência mesma, porque é o Amor mesmo e o Bem mesmo, e
que os dois pertencem à Sua Essência, há contradição em dizer que a Misericórdia mesma
ou o Bem mesmo possam encarar o homem com cólera e concluir sua danação, e não
obstante, permanecer a Essência de Deus? Tais raciocínios ferem apenas o homem probo,
mas são acolhidos pelo homem vicioso; êles não abalam o Anjo do Céu, mas são acolhidos
pelo Espírito do Inferno; é portanto abominável aplicá-los a Deus. Entretanto se
procurarmos a causa, acharemos que é porque se tom-ou a Paixão da cruz pela Redenção
mesma; daí decorrem êstes erros, como de um único Falso decorrem falsos em série
contínua, ou como de um Barril de vinagre não sai senão vinagre, ou de uma Mente insana
senão loucuras; pois de uma única conclusão resultam teoremas do mesmo tronco, êles
estão interiormente contidos na Conclusão e saem dela sucessivamente e desta Conclusão
que a Paixão da cruz é a Redenção podem ainda sair e ser extraídas várias proposições
escandalosas e ignominiosas para Deus, até que acontece o que disse Isaías: "Sacerdote e
Profeta erram por causa da bebida forte, vacilam no julgamento; tôdas as mesas estão
cheias de vômitos de evacuação" (XXVIII, 7, 8).
&133 - Por esta idéia sobre Deus e sobre a Redenção, toda a Teologia, de espiritual, tornouse baixamente natural; e isso, porque propriedades puramente naturais são atribuídas a
Deus; e entretanto tudo na Igreja depende da idéia de Deus, e da idéia da Redenção que faz
um com a Salvação; pois esta idéia é como a Cabeça, donde procedem tôdas as outras
partes do corpo; quando portanto ela é espiritual, tôdas as cousas da Igreja se tornam
espirituais, e quando é natural tôdas as cousas da Igreja se tornam naturais; eis a razão
porque, como a idéia de Deus e da Redenção se tornou- natural, isto é, sensual e corporal,
são puramente naturais tôdas as cousas que os Chefes e Membros da Igreja ensinaram e
ensinam em seus dogmas; se daí não pode ser tirado senão falsos, é porque o homem
natural age continuamente contra o homem espiritual, e por conseguinte considera os
espirituais como quimeras e fantasmas no ar; podese
portanto dizer que em razão desta idéia sensual sobre a Redenção e por conseguinte sobre
Deus, os caminhos para ir ao Céu, que são os caminhos que conduzem ao Senhor Deus
Salvador, foram infestados por ladrões e salteadores (João X, 1, 8, 9); e que nos Templos os
batentes das portas foram invertidos e que assim os dragões, as corujas, os tziim e os jiim aí
entraram e aí fazem concêrtos discordantes. Que esta idéia sobre a Redenção e sobre Deus
tenha sido introduzida na fé de hoje, isso é notório; esta fé consiste em se dirigir ao Deus
Pai para que Ele redima os pecados em consideração da cruz e do sangue de Seu Filho e a
Deus Filho para que Êle peça e interceda; e a Deus Espírito Santo para que Èle justifique e
santifique; não é isto outra cousa senão suplicar a três Deuses cada um em sua ordem, e
então qualê o pensamento sobre o Govêrno Divino? Será outro senão sobre um govêrno
Aristocrático ou Hierárquico, ou sobre o Triunvirato tal como existiu uma vez em Roma?
Mas em lugar de Triunvirato pode ser chamado Triumpersonato; e então o que haverá de
mais fácil para o Diabo do que aplicar a máxima: Divide e governa, isto é, dividir os
espíritos, e excitar movimentos de rebelião, ora contra um Deus, ora contra um outro, como
aconteceu desde a época de Arius até ao presente, e assim derrubar do Trono o Senhor
Deus Salvador, a Quem pertence todo poder no Céu e sobre a Terra (Mateus XXVIII, 18), e
aí colocar um de seus Clientes e lhe outorgar o culto ou porque se outorgou o culto a esse
cliente, retirá-lo por isso do Senhor mesmo?
&134 - Ao que acaba de ser dito, ajuntarei estes Memoráveis. Primeiro Memorável. Um dia
entrei em um Templo no Mundo dos espíritos onde vários Espíritos estavam reunidos; e
antes da Pregação raciocinavam entre si sobre a Redenção. 0 Templo era quadrado, e sem
nenhuma janela nas paredes, mas no alto, no meio do teto, havia uma grande abertura, pela
qual a luz do Céu entrava e dava mais claridade do que se houvesse janelas dos lados; e eis
que de repente, enquanto estavam discorrendo sobre a Redenção, uma nuvem negra veio do
setentrião cobrir a abertura, o que produziu trevas ao ponto de cada um não ver seu vizinho
e perceber apenas a sua própria mão; como esta obscuridade os mantinha admirados, eis
que esta nuvem negra se fendeu pelo meio; e pela fenda viu-se Anjos enviados do Céu e
estes afastaram a Nuvem dos dois lados, de maneira que houve de novo claridade no
Templo; e os Anjos enviaram ao Templo um dêles, a fim de perguntar de sua parte aos que
estavam reunidos sobre que assunto discutiam, para que uma nuvem tão escura viesse lhes
tirar a luz e os cobrir de trevas; responderam: Sobre a Redenção; e diziam que o Filho de
Deus a operou pela Paixão da cruz e que por esta paixão fez expiação e livrou o Gênero
Humano da danação e da morte eterna mas a estas palavras o Anjo que lhes tinha sido
enviado, disse: Que entendeis pela Paixão da cruz? Exponde por que a Redenção foi feita
por ela? E então um Padre se adiantou e disse: Vou expor em série o que sabemos e
cremos, ei-lo: Deus Pai, irritado contra o Gênero humano, o havia danado e excluído de Sua
clemência, havia declarado todos os homens votados à execração, malditos, e os havia
destinado ao Inferno; entretanto quis que Seu Filho tomasse sobre si essa condenação e o
Filho consentiu; e para isso desceu, tomou o Humano e sofreu o suplício da cruz, e
transferiu assim para Êle a danação do Gênero Humano, pois lê-se: "Maldito é qualquer que
é suspenso ao madeiro de uma cruz"; assim o Filho tornou o Pai propício fazendo-se
intercessor e mediador; e então o Pai por amor ao Filho, tocado pelos sofrimentos que o viu
sofrer sobre o madeiro da cruz, decidiu que perdoaria, mas únicamente, lhe disse, àqueles
aos quais imputarei tua Justiça, eu os farei de filhos da cólera e da maldição filhos da graça
e da bênção, e os justificarei e salvarei; quanto a todos os outros, que fiquem, como foi
precedentemente decidido, filhos da cólera. Eis nossa fé, a única que justifica e salva. 0
Anjo, tendo ouvido estas palavras, ficou longo tempo sem falar, pois o espanto o tornava
mudo; enfim, rompeu o silêncio e se exprimiu nestes termos: 0 Mundo Cristão pode ser
louco a êsse ponto .e se afastar da sã razão para semelhantes quimeras e tirar desses
Paradoxos o dogma fundamental da salvação? Quem não pode Ver que é~ Paradoxos são
diametralmente opostos à Essência de Deus, isto é, a Seu Amor e a Sua Sabedoria, e ao
mesmo tempo à Sua Onipotência e à Sua Onipresença? Nenhum senhor probo agiria assim
em relação a seus servidores e a seus criados; nem mesmo uma besta feroz em relação a
seus filhotes; isso é abominável. Não é contra a Divina Essência tomar nula a Vocação que
foi feita a todos os homens em geral e a cada um em particular? Não é contra a Divina
Essência mudar a Ordem estabelecida de toda a eternidade, a saber, que cada um seja
julgado segundo a sua vida; não é contra a Divina Essência retirar o amor e a miscricórdia a
um único homem, e com mais forte razão a todo o gênero humano? Não é ainda contra a
Essência de Deus ser reconduzido, à vista dos sofrimentos suportados pelo Filho, à
misericórdia e a misericórdia sendo a Essência mesma de Deus, ser reconduzido à Sua
Essência e não é abominável pensar que êle jamais tenha saído dela, pois esta Essência é
Ele mesmo de toda a eternidade? Não é impossível por isso transportar para uma espécie de
ser (ens), tal como é a vossa fé, a Justiça da Redenção, que em si pertence à Divina
Onipotência, imputá-la e aplicá-la ao homem e, sem nenhum outro meio, declará-lo justo,
puro e santo? Não é impossível remir a quem quer que seja os pecados, inovar, regenerar e
salvar quem quer que seja só pela imputação e assim mudar a injustiça em justiça, e a
maldição em bênção? Deus poderia assim mudar o Inferno em Céu e o Céu em Inferno, ou
o Dragão em Miguel e Miguel em Dragão, e assim renovar em sentido inverso o combate
entre êles; não será necessário senão retirar de um a imputação de vossa fé e dá-Ia aos outro
por conseqüência, nós que estamos no Céu, devemos tremer eternamente. Além disso, está
conforme a justiça e ao julgamento que um tome sobre si o crime de outro; que o criminoso
se torne não culpado e que o crime seja assim apagado? Isso não é contra a Justiça Divina e
contra a justiça humana? 0 Mundo Cristão ignora ainda que há uma Ordem e, além disso,
ignora o que é a Ordem que Deus introduziu no Mundo ao mesmo tempo que o criou; e que
Deus não pode agir contra essa Ordem, pois que então agiria contra Si, pois Deus mesmo é
a Ordem. 0 Padre compreendeu o que o Anjo tinha dito porque os Anjos que estavam em
cima tinham espalhado uma luz do Céu; e então êle gemeu e disse: Que é preciso fazer?
Hoje todos pregam, oram e crêem assim; todo mundo tem na boca estas palavras: Bom Pai!
tem piedade de nós e redime nossos pecados por causa do sangue de Teu Filho, que Êle
derramou por nós na cruz; e se diz ao Christo: Senhor intercede por nós; e nós Padres,
acrescentamos: Envia-nos o Espírito Santo; e então o Anjo disse: Notei que da Palavra não
compreendida interiormente, os padres tiram colírios que aplicam nos olhos cegos por sua
fé ou de que fazem um emplastro que põem sobre as feridas produzidas por seus dogmas,
mas não obstante não as curam, porque são inveteradas; vai portanto e aquêle que está lá, e
me apontou com o dedo - êle te ensinará, segundo o Senhor, que a Paixão da cruz foi, não a
Redenção, mas a União do Humano do Senhor com o Divino do Pai; que a Redenção foi a
subjugação dos Infernos e a ordenação dos Céus; e que sem estes dois atos que o Senhor
realizou quando estava no Mundo, não teria havido salvação para pessoa alguma sobre a
Terra, nem para pessoa alguma nos Céus; e além disso, êle te ensinará a ordem introduzida
na criação, ordem segundo a qual deve-se viver para ser salvo; e que aquêles, que vivem
segundo esta ordem são contados no número dos Redimidos e são chamados eleitos. Depois
que pronunciou estas palavras, se formaram sobre os lados, no Templo, janelas pelas quais
uma luz brilhante, influía das quatro plagas, do Mundo, e apareceram Querubins que
voavam no esplendor da luz; e o Anjo foi elevado para os seus acima da abertura; e nós nos
retiramos contentes.
&135 - Segundo Memorável. Um dia, tendo me levantado de manhã do meu sono, o Sol do
Mundo espiritual me apareceu em seu brilho e abaixo vi os Céus, que eram tão afastados
dêle. como a Terra o é do seu Sol; e então se ouviram dos Céus palavras inefáveis que,
reunidas em conjunto, formavam por articulações esta frase compreensível: Não há senão
um Deus, que é Homem, cujo habitáculo é neste Sol; esta frase articulada caiu pelos Céus
médios para o Céu Ínfimo e de lá, no Mundo dos Espíritos, onde eu estava; e notei que a
idéia de um único Deus, que os Anjos tinham expresso, era, segundo os graus de descida,
mudada em uma idéia de três Deuses; enquanto fazia esta observação entrei em
conversação com aquêles que pensavam três Deuses, dizendo-lhes: O! que enormidade! de
onde vos vem ela? E êles, responderam: Pensamos três segundo nossa idéia perceptível de
Deus Triuno, mas esta idéia não cai jamais em nossa boca; quando falamos, dizemos
sempre a boca cheia que Deus é um; pouco importa que haja em nossas mentes uma outra
idéia, desde que ela daí não decorra e não cinda a unidade de Deus na, boca mas não
obstante ela daí decorre de tempos em tempos, pois que aí está, e então se falássemos,
diríamos três Deuses, mas nos guardamos bem disso, com medo de nos expor à zombaria
de nossos ouvintes; e então falaram abertamente segundo seu pensamento, dizendo: Não é
que há três Deuses, pois que há três Pessoas Divinas, cada uma das quais é Deus; e
podemos nós pensar de outro modo, quando os chefes de nossa Igreja, nas preciosas
coleções de seus santos dogmas, consignam- a um a Criação, ao outro a Redenção, e ao
terceiro, a Santificação; e quando, além disso, atribuem a cada um d'Êles propriedades que
afirmam incomunicáveis aos outros dois, propriedades que não são somente a Criação, a
Redenção e a Santificação, mas ainda a Imputação e Mediação e a Operação? Desde logo
não há um que nos criou e também imputa; um outro que nos redimiu. e também faz
mediação; e um terceiro que opera a imputação obtida pela mediação e também santifica?
Quem não sabe que o, Filho de Deus foi enviado ao Mundo por Deus Pai, para redimir o
gênero humano e assim tornar-se Expiador, Mediador, Propiciador e Intercessor? e como
este é um com o Filho de Deus de toda a eternidade, não estão aí duas Pessoas distintas por
si mesmas? e pois que estas duas Pessoas estão no Céu, uma sentada à direita da outra, não
deve haver uma terceira Pessoa para. executar no Mundo o que foi decidido no Céu?
Quando ouvi estas palavras, guardei silêncio, mas pensava em mim mesmo: O! que loucura! êles não sabem coisa alguma do que é entendido na Palavra, por Mediação; e então
segundo a ordem do Senhor três Anjos desceram do Céu e me foram associados,, a -lim de
que, segundo uma percepção Interior, eu falasse com aqueles que estavam na idéia de três
Deuses, e especialmente sobre a Mediação, a Intercessão, a Propiciação e a Expiação, que
são atribuídas por êles à Segunda Pessoa, ou o Filho, mas somente depois que Êle foi feito
Homem; e Êle foi feito Homem muitos séculos depois da Criação quando êstes quatro
meios de salvação -não existiam ainda; e que assim Deus Pai não se tinha tomado propício,
o gênero humano não tinha sido expiado, e ninguém tinha sido enviado do Céu para
interceder e operar a mediação. Segundo a inspiração que me foi dada falei então com êles,
dizendo: Aproximai-vos em tão grande número quanto for possível e escuta! o que é
entendido na Palavra por Mediação, Intercessão, Expiação e Propiciação; são quatro
Atribuições da graça do Deus único em Seu Humano; Deus Pai não pode jamais ser
aproximado, nem Êle mesmo pode se aproximar de homem algum porque é Infinito e (está)
em Seu Ser que é Jehovah e que, se por Seu Ser, se aproximasse do homem, Êle o destruiria
como o fogo destrói a madeira e a reduz a cinzas; isto é evidente por ,estas palavras que
dirigiu a Moisés que queria vê-lO: "Ninguém pode Me ver e viver" (Êxodo 33, 20); e o
Senhor disse que "Deus ninguém 0 viu jamais, senão o Filho que está no selo do Pai" (João
1, 18; Mateus XI, 27); e que "ninguém ouviu a voz do Pai, nem viu Seu aspecto" (João V,
37); lê-se, é verdade, que Moisés viu Jehovah face a face e falou com Èle de boca a boca
mas isso aconteceu por intermédio de um Anjo como para Abrahão e Gedeão. Pois que tal é
Deus Pai em Si mesmo, Aprouve-lhe tomar o Humano e neste Humano admitir os homens,
e assim escutá-los e falar com êles; e este Humano é o que se chama o Filho de Deus; e está
aí o que opera a mediação, a intercessão, a propiciação e a expiação. Vou dizer em
conseqüência o que significam êstes quatro Atributos do Humano de Deus Pai: A Mediação
significa que este Humano é o intermediário pelo qual o homem pode se aproximar de Deus
Pai, e Deus Pai se aproximar do homem e assim ensiná-lo e conduzilo para'que seja salvo; é
por isso que o Filho de Deus, pelo qual é entendido o Humano de Deus Pai, é chamado
Salvador, e no Mundo Jesus, isto é, Salvação. A Intercessão significa uma perpétua
Mediação, pois o Amor mesmo, ao qual pertence a Misericórdia, a clemência e a graça,
intercede perpetuamente, isto é, está perpetuamente, em mediação por aquêles que fazem
seus preceitos e que são os que Ele ama. A Expiação significa o afastamento dos pecados
nos quais o homem se precipitaria se se aproximasse de Jehovah nu (não revestido do
Humano). A Propiciação significa a operação da clemência e da graça, a fim de que o
homem pelos pecados não se precipite na danação; signífica também a vigilância para que
não profane a santidade; é o que significava o Propiciatório sobre a Arca no Tabernáculo.
E' notório que Deus na Palavra falou segundo as aparências; por exemplo: quando diz que
se põe em cólera, que se vinga, que tenta, pune, lança no inferno, dana e mesmo que faz o
mal, Ele, entretanto, não se põe em cólera contra pessoa alguma, não se vinga de pessoa
alguma, não tenta, não pune, não lança no inferno, não dana pessoa alguma, estas ações
estão tão afastadas de Deus como o Inferno, está afastado do Céu. São, portanto, locuções
segundo as aparências; há também, em um outro sentido, locuções segundo as aparências
nas expressões de Expiação, Propiciação, Intercessão e Mediação, pelas quais são
entendidas as atribuições do acesso para perto de Deus e da graça proveniente de Deus, por
Seu Humano; como estas atribuições não foram compreendidas, dividiuse Deus em três e
sobre estes Três fundou-se toda a doutrina da Igreja e assim falsificou-se a Palavra; daí a
abominação da desolação predita pelo Senhor em Daniel e também em Mateus, Capítulo
XXIV. A estas palavras, a Coorte de Espíritos se retirou de roda de mim e notei que aqueles
que na realidade pensavam em três Deuses olhavam para o Inferno; e aquêles que
pensavam em um único Deus, no qual está a Divina Trindade e que esta Trindade está no
Senhor Deus Salvador, olhavam para o Céu, no qual está Jehovah no Seu Humano.
&136 - Terceiro Memorável. VI, de longe, cinco Ginásios, cada um dos quais estava
cercado de uma luz proveniente do Céu. 0 Primeiro Ginásio estava cercado de uma luz
púrpura, tal como há nas nuvens antes do nascer do Sol pela manhã; o Segundo estava
cercado de uma luz amarela tal como a da aurora depois do nascer do Sol; o Terceiro, de
uma luz branca tal como é no Mundo ao meio-dia; o Quarto, de uma luz média, tal como e
quando começa a se misturar com a sombra da tarde; e o Quinto estava na sombra mesma
da tarde. No Mundo dos Espíritos os Ginásios são Edifícios onde os Eruditos se reúnem e
discutem diversos arcanos que servem à sua ciência, à sua inteligência e à sua sabedoria.
Vendo êstes Ginásios desejei ir a um dêles e fui, em espírito, ao que estava cercado de uma
luz média; entrei e vi uma Assembléia composta de Eruditos -que discutiam entre si esta
questão: 0 que significa o que é dito do Senhor: - sendo elevado ao Céu, assentou-se à
direita de Deus? (Marcos XVI, 19). A maior parte dos membros da Assembléia disseram
que, segundo as palavras, era absolutamente necessário entender que o Filho está assim
assentado perto do Pai; foi-lhes perguntado porque isso é -assim; alguns disseram que o
Filho foi colocado pelo Pai à Sua direita por causa da Redenção, que Me realizou; outros,
que Ele está assim sentado por amor; -outros, que é para ser o Conselheiro do Pai e, como
tal, os Anjos lhe dão honra; e outros, que é porque o Pai lhe concedeu reinar em Seu lugar,
pois lê-se que Ele lhe deu todo poder no Céu e sóbre a Terra; todavia, o maior número disse
que Ele está à Sua direita, a fim de que o Pai atenda aquêles por quem éle - ~ cede; pois na
Igreja todos se dirigem a Deus Pai e pedem que tenha piedade por consideração a Seu
Filho; e isso faz que o Pai se volte para o Filho para receber Sua mediação; mas alguns
disseram que é unicamente o Filho de Deus de toda a eternidade que se assentou à direita
do Pai, a fim de comunicar Sua Divindade ao Filho do homem nascido no Mundo. Quando
ouvi estas diversas opiniões, fiquei muito admirado de que Eruditos, ainda que tivessem
ficado algum tempo no Mundo espiritual, estivessem entretanto em uma tão grande
ignorância das cousas celestiais; mas percebi que era porque, confiando na própria
Inteligência, não se tinham deixado instruir pelos Sábios. Todavia, para que não
permanecessem por mais tempo na ignorância sobre o Filho sentado à direita do Pai, eu
levantei a mão, pedindo para prestarem atenção a algumas palavras que desejava lhes
dirigir sobre este assunto; e como consentissem, disse: Não sabeis pela Palavra, que o Pai e
o Filho são um, e que o Pai está no Filho e o Filho no Pai? 0 Senhor o disse claramente
(João 30; XIV, 10, 11); se não o crêdes, vás dividis Deus em dois e assim, não podeis
pensar sobre Deus senão sensualmente e mais, materialmente; e isto é o que se faz no
Mundo depois do Concílio de Nicéa, que introduziu as Três Pessoas Divinas de toda a
eternidade, transformando a Igreja em um Teatro e criando telas pintadas, nas quais há
personagens a representar novas cenas. Quem não sabe e não reconhece que Deus é Um?
Se reconheceis isso de coração e de espírito, tudo que dissestes se dissipa por si mesmo e
ressalta no ar como bagatelas que o ouvido do sábio rejeita. A estas palavras, vários,
arrebatados de cólera, desejavam vivamente me puxar as orelhas e me impor silêncio! 0
Presidente da Assembléia, com indignação, me disse: 0 assunto da discussão não é nem a
unidade, nem a pluralidade de Deus, pois que acreditamos numa e noutra, mas é saber o
que envolvem estas palavras: - 0 Filho está assentado à direita do Pai; se sabes alguma
cousa, fala; e eu respondi: Falarei; mas ordena, eu te peço, que cesse o tumulto; e disse: Por
assentar-se à direita, não é entendido assentar-se à direita, mas é entendida a Onipotência de
Deus pelo Humano que Ele tomou no Mundo; por êste Humano Ele está. nos últimos como
nos primeiros; por êle entrou nos Infernos, os derrubou, os subjugou e por éle, pôs em
ordem os Céus, redimiu os homens e os Anjos e os redimiu pela eternidade; se consultais a
Palavra e se sois tais que possais ser ilustrados, percebereis que pela Direita é entendida a
Onipotência; por exemplo, em Isaías: "Minha Mão fundou a Terra e minha Direita, de sua
palma, formou os Céus" (XLVIII, 13). "Deus jurou por Sua Direita e pelo Braço de Sua
força'' (LXII, 8). Em David: "A tua Direita me sustenta" (Psalmo 18, 36). "Olha para o
Filho que tu te tinhas fortificado; que seja tua mão para o homem de tua direita, para o
Filho do Homem que tu te fortificaste" (Salmo 80, 16, 18). Por aí se vê como deve ser
entendida esta passagem: "Palavra de Jehovah a meu Senhor: Assenta-te à minha Direita
até que eu tenha posto teus inimigos por escabelo de teus pés; Jehovah de Sião enviará o
cetro de tua força; domina no meio de teus Inimigos" (Psalmo 110, 1, 2); em todo este
(Salmo se trata do combate contra os Infernos e da subjugação dos Infernos; como a Direita
de Deus significa a Onipotência, eis por que o Senhor disse que estará assentado à direita
da potência (Mateus XXVI, 63, 64); e à direita da virtude de Deus (Lucas XXII, 69). A
estas palavras a Assembléia fêz ouvir murmúrios; mas eu disse: Tomai cuidado para que
não vos apareça do Céu uma Mão que, quando aparece, imprime um incrível terror da
potência; e isto é uma confirmação de que a Direita de Deus significa a Onipotência;
apenas tinha pronunciado estas palavras, viu-se uma Mão estendida abaixo do Céu, a qual,
tão grande terror causou a êles, que se precipitaram todos para as portas e para as janelas
tentando fugir; e outros, faltando-lhes a respiração, calam desfalecidos; mas eu fiquei
tranqüilo e me fui embora, lentamente, depois deles; porém, quando estava a uma certa
distância, me voltei, e vi êste Ginásio envolvido em uma nuvem escura; e me foi dito do
Céu, que isso tinha acontecido assim porque êles tinham falado segundo a fé dos três
Deuses; e que a luz precedente que o cercava voltaria quando Espíritos mais sensatos aí se
reunissem.
&137 - Quarto Memorável. Soube que tinha sido convocado um Consistório composto de
pessoas de nomeada por seus escritos e sua erudição sobre a Fé de hoje e sobre a
justificação dos eleitos por esta fé; era no Mundo dos Espíritos; e me foi dado estar aí
presente em espírito; e vi os que tinham sido convocados dentre o Clero se grupar segundo
eram do mesmo sentimento ou de um sentimento oposto; do lado direito ficavam aquêles
que no Mundo são chamados Pais Apostólicos e que viveram nos séculos anteriores ao
Concílio de Nicéa; do lado esquerdo, estavam homens que, depois dêsses séculos se
tomaram célebres por obras impressas ou transcritas por copistas; muitos, tinham o mento
calvo e a cabeça coberta de perucas frisadas feitas com cabelos de mulher; alguns dêstes
estavam com gola de canudos e outros com gola de asas; mas os do lado direito tinham
barba e cabelos naturais; diante de uns e de outros estava um Personagem que tinha sido
Juiz e Arbitro dos escritores deste século; tinha na mão um bastão com que bateu no solo e
impôs silêncio; então, subiu ao mais alto degrau da Cátedra, soltou um gemido e, em
seguida, quis falar em voz alta, mas a respiração de seu gemido não permitiu; pouco depois,
podendo falar, disse: Irmãos! 6 que século! elevou-se da multidão dos Leigos um homem
que não tem nem o manto, nem a mitra, nem o louro e que arrancou do Céu a nossa fé e a
lançou no Estige; 6 malvadez! Entretanto, ela é a nossa Estrêla e brilha como Orion nas
noites e como Lúcifer de manhã; êste homem, ainda que de muita idade, é inteiramente
cego nos mistérios de nossa fé porque não a abriu e não viu nela a justiça do Senhor nosso
Salvador, nem sua mediação, nem sua propiciação; e como não viu êstes atos, não viu as
maravilhas de sua justificação que são a remissão, dos pecados, a regeneração, a
santificação e a salvação; êste homem, em lugar de nossa Fé soberanamente salvífica,
porque é em três Pessoas Divinas, assim em Deus completo, transferiu sua fé para a
Segunda Pessoa, não mesmo para esta Pessoa, mas para o Humano desta Pessoa, que
dizemos Divino, é verdade, pela encarnação do Filho de toda a eternidade, mas quem é que
pensa sobre êste Humano outra cousa que o simples Humano? e então, que resulta daí
senão uma fé, da qual decorre como de uma fonte o naturalismo? e como tal a fé não é
espiritual, difere pouco da fé em um Vigário ou em um Santo; sabeis o que Calvino, em seu
tempo, disse do Culto que vem de uma tal fé; e vos peço, que um de vós diga de onde vem
a Fé? Não é de Deus imediatamente no qual estão tôdas as coisas da salvação? A estas
palavras, os membros do lado esquerdo, que tinham o mento calvo, uma peruca frisada e
uma gola em torno do pescoço, aplaudiram com as mãos e exclamaram: Falaste muito
sabiamente; sabemos que nada podemos tomar que não seja dado do Céu; que êsse profeta
nos diga de onde vem a fé se não é isso; é impossível que haja uma outra e que venha de
outra parte; expor uma outra fé que não esta, que seja a fé, isso é tão impossível como ir a
cavalo para uma das constelações do Céu, apanhar aí uma estrêla, encerrá-la no bôlso de
sua roupa, e carregá-la. Êle se exprimia assim para que seus confrades escarnecessem de
toda fé nova. Então, os Homens do lado direito, que tinham barba e cabelos naturais, foram
tomados de indignação e um deles se levantou, um Ancião, mas que, entretanto, logo em
seguida, foi visto como um jovem, pois era um Anjo do Céu, que pode retornar à juventude.
Ele tomou a palavra e disse: Ouvi qual é a vossa, fé, que o homem ~que ocupava a Cátedra
tanto exaltou; mas o que é essa fé, senão o sepulcro de nosso Senhor após a ressurreição,
fechado de novo pelos soldados de Pilatos? eu abri essa fé e não vi senão as varinhas dos
prestidigitadores pelas quais os Magos do Egito fizeram Milagres; mais ainda: a vossa fé é
exteriormente, a vossos olhos, como um escrínio de ouro maciço e guarnecido de pedras
preciosas e que, quando é aberto, está vazio, ou terá talvez, nos cantos, o pó das relíquias
dos Pontífices, pois êstes têm a mesma fé, com a exceção de que hoje eles a cobriram de
santidades externas; a vossa fé também para me servir de comparações, foi escondida na
Terra como entre os antigos a Vestal que deixava extinguir o fogo sagrado; e posso afirmar
que, ante meus olhos, ela é como o bezerro de ouro, em torno do qual dançaram os filhos de
Israel depois que Moisés os deixou e subiu sobre a montanha do Sinai para Jehovah; não
vos admireis que tenha falado de vossa Fé mediante tais comparações, pois nós falamos
assim no Céu,. Quanto à nossa Fé, ela é, foi e será eternamente no Senhor Deus Salvador,
cujo Humano é Divino e o Divino é Humano, tornando assim conveniente à recepção e de
acordo com ela, o Divino espiritual é unido ao natural do homem, tornando-se a fé
espiritual, no natural; daí, o natural se torna como diáfano pela luz espiritual, na qual está
nossa fé; as verdades de que ela se compõe são em tão grande número como o dos
versículos no Código sagrado; tôdas estas verdades são como estrêlas que, por suas luzes, a
manifestam e lhe dão uma forma; o homem a tira da Palavra por meio de sua iluminação
natural, na qual ela é ciência, pensamento e persuasão; mas o Senhor, naqueles que crêem
n'Ele, faz com que ela se torne convicção, segurança e confiança, assim ela se torna
espiritual-natural; e pela caridade se torna viva; esta Fé em nós é como uma Rainha ornada
de tantas pedras preciosas comer a muralha da Santa Jerusalém (Apocalipse 21, 17 a 20).
Mas não acrediteis que as palavras que eu disse sejam unicamente palavras de exaltação; e,
para que não as considereis puerilidades, vou ler algumas passagens da Santa Palavra, pelas
quais vereis claramente que a nossa Fé está não no homem, como vós o crêdes, mas no
verdadeiro Deus, em que tudo é Divino; João disse: "Jesus Christo é o verdadeiro Deus e a
Vida eterna" (i Epist. 21). Paulo: "No Christo habita a plenitude da Divindade
corporalmente" (Coloss. 2, 9); e nos Atos dos apóstolos: "Êle pregou aos judeus e aos
gregos, a penitência para com Deus e a fé em nosso Senhor Jesus Christo" (20, 21); e o
Senhor disse d'Ele mesmo, "que lhe tinha sido dado todo poder no Céu e sóbre a Terra"
(Mateus XXVIII, 18); mas não são estas mais do que um pequeno número de passagens
confirmativas. Depois disso, o Anjo me olhou e disse: Tu sabes o que os pretensos
Evangélicos crêem ou devem crer sobre o Senhor Salvador; conta-nos alguma coisa disso, a
fim de que saibamos se estão nesta loucura de crer que o Humano do Senhor é
simplesmente Humano e se não lhe ligam alguma cousa do Divino ou como o ligam; e
então, diante de toda a Assembléia, li os artigos seguintes tirados de seu Livro de
Ortodoxia, intitulado Fórmula de concórdia, impresso em Leipzig em 1756: "No Christo a
Natureza Divina--e a Natureza Humana foram de tal modo unidas, que fazem uma única
Pessoa (págs. 606, 762). 0 Christo é verdadeiramente Deus e Homem em uma Pessoa
indivisivel e nela permanece pela eternidade (págs. 609, 673, 762). No Christo, Deus é
Homem e o Homem é Deus (págs. 607, 765). A Natureza Humana do Christo foi elevada a
toda a Majestade Divina; isto é tirado mesmo de vários Doutores da Igreja (págs. 844 a 852,
860 a 865, 869 a 878). 0 Christo, quanto à Natureza Humana, é Onipresente e enche tôdas
as cousas (págs. 768, 783, 784, 785). 0 Christo, quanto à Natureza Humana, tem todo poder
no Céu e sobre a Terra (págs. 775, 776, 780). 0 Christo, quanto à Natureza Humana, está
assentado à direita do Pai (págs. 608, 764). 0 Christo, quanto à Natureza Humana, deve ser
invocado; o que foi confirmado por passagens da Escritura (pág. 226). A Confissão de
Augsbourg aprova principalmente este Culto (pág. 19). - Depois de ter lido estas passagens
diante da Assembléia, voltei-me para o Homem que estava na cátedra , e disse: Sei que
todos os que estão aqui foram consociados a homens semelhantes a êles no Mundo natural;
eu te peço sabes tu com quem estás? Êle respondeu com um tom grave: eu o sei, fui
consociado a um Homem célebre, Chefe de ilustres falanges tiradas da Milícia da Igreja; e
como tinha respondido com um tom tão grave, eu lhe disse: Perdoa-me se te interrogo:
Sabes onde habita êsse Chefe célebre? E ele disse: eu o sei; habita não longe do túmulo de
Lutero. A essas palavras disse-lhe sorrindo: Por que dizes o túmulo? Não sabes que Lutero
está ressuscitado e que hoje rejeita seus erros sobre a justificação pela fé em três Pessoas
Divinas de toda eternidade e que, em conseqüência, foi transportado para o meio dos
venturosos do Novo Céu e que vê os insensatos que o seguiram e ri de sua loucura? Êle
replicou: Eu o sei, mas que me importa? E então com o mesmo tom com que ele me falou,
lhe respondi, dizendo: Inspira o teu Homem célebre, ao qual estás consociado, pois eu temo
que, contràriamente à Ortodoxia de sua Igreja, não tenha neste instante arrebatado do
Senhor seu Divino, ou que não tenha deixado sua pena traçar um sulco no qual
inconsideradamente semeou o Naturalismo, quando escreveu contra o culto do Senhor
nosso Salvador. Respondeu-me: Não o posso, porque IX, 5, e além disso, as outras
passagens nas quais está predito que Jehovah mesmo devia vir ao Mundo. A tôdas estas
provas o Personagem da cátedra se calou e se afastou.Depois desta discussão, o Presidente
quis terminar o Consistório por um discurso; mas então um Personagem (Vir) que tinha na
cabeça uma mitra e um boné por cima, lançou-se de repente do lado esquerdo da
Assembléia, tocou com o dedo seu boné e tomando a palavra, disse: Eu também estou
consociado a um Homem que, no teu Mundo, foi eminentemente constituído em honra; eu
o sei, porque falo por êle como por mim mesmo; então perguntei: Onde mora ésse Homem
eminente; respondeu, Em Gothembourg; e segundo êle tenho algumas vêzes pensado, que
tua nova Doutrina cheira a Mahometismo. Logo que esta palavra foi pronunciada, vi todos
os da direita, onde estavam os Pais Apostólicos, tomados de assombro e com as faces
mudadas; e ouvi sair de suas bocas estas exclamações: Oh! infame invectiva! ó que século!
Mas, a fim de acalmar seu justo arrebatamento, estendi a mão e pedi para ser ouvido; a
palavra me tendo sido dada, disse: Sei que um homem dessa eminência inseriu uma tal
infâmia em uma Carta que foi, em seguida, impressa; mas se então êle tivesse sabido que
blasfêmia está encerrada nesta asserção, teria, sem dúvida, rasgado essa carta e a lançaria
no fogo; é um tal ultraje que é entendido pelas palavras do Senhor aos Judeus quando
diziam que o Christo fazia milagres por um poder diferente do poder Divino (Mateus XII,
22 a 32); além dessas palavras, o Senhor disse ainda: "Aquêle que não está comigo é contra
Mim e aquêle que não ajunta comigo, espalha" (vers. 30). A estas palavras, o consociado
desse homem baixou a cabeça, mas pouco depois a levantou e disse: Jamais ouvi palavras
mais duras que essas que acabas de me dirigir. Mas eu continuei: Há aqui em causa duas
acusações: a. de Naturalismo e a de Mahometismo; são duas infames mentiras inventadas
com astúcia e dois ferimentos, mortais para assustar as vontades e as desviar do Santo Culto
do Senhor; e me voltei para o último consociado, e disse: Diz: se o podes, àquele que está
em Gothembourg, que leia o que foi dito pelo Senhor no Apocalipse, Capítulo 3, 18; e
também o que foi dito no, Capítulo 2, 16. - A estas palavras se fêz um tumulto; mas foi
acalmado por uma luz enviada do Céu, segundo, a qual vários daqueles que estavam à
esquerda passaram para aquêles que estavam à direita; à esquerda ficaram aquêles que não
pensam senão cousas vãs e que dependem da eloqüência de um mestre, qualquer que êle
seja e também aquêles que, a respeito do Senhor, não crêem senão no Humano; a Luz
enviada do Céu parecia ser repercutida por estes e por aquêles e influir nos que tinham
passado do lado esquerdo para o lado direito.
CAPITULO III
Do Espírito Santo e da Divina Operação
&138 - Todos os da Ordem Sacra, que abraçaram alguma idéia justa do Senhor nosso
Salvador, desde que entram no Mundo espiritual, o que acontece ordinariamente no terceiro
dia depois da morte, são a princípio, instruídos sobre a Trindade Divina; e especialmente
sobre o Espírito Santo, a respeito dêle não ser Deus por si, mas que na Palavra, por êle é
entendida a Divina Operação procedente de Deus Um e Onipresente; se são especialmente
instruidos sobre o Espírito Santo, é porque a maior parte dos Entusiastas depois da morte
caem na louca fantasia de que êles mesmos são o Espírito Santo; e porque muitos da Igreja.
que acreditaram no Mundo, que o Espírito Santo falou por eles, amedrontam os outros pelas
palavras do Senhor em Mateus, dizendo que é um pecado irremissível falar contra as
-cousas que o Espírito Santo lhes inspirou (XII, 31, 32). Aquêles que, após esta instrução,
se retiram da fé que o Espírito Santo é Deus por Si, são em seguida instruídos a respeito da
unidade de Deus, que não é dividida em três Pessoas, das quais cada uma é em particular
Deus e Senhor, segundo o símbolo de Atanásio; mas que a Divina Trindade está no Senhor
Salvador, como a Alma, o Corpo e a Virtude que dêles procede estão em cada homem;
êstes, em seguida, são preparados para receber a fé do Novo Céu; e depois de terem sido
preparados, lhes é aberto o caminho para uma Sociedade no Céu onde há uma fé
semelhante; e lhes é dada uma morada com confrades com quem viverão eternamente na
beatitude. Agora, pois que se tratou de Deus Criador e do Senhor Redentor, é necessário
que se trate também do Espírito Santo; êste assunto vai ser dividido, como os outros, por
Artigos, como segue:
I - 0 ESPIRITO SANTO É A DIVINA VERDADE E TAMBÉM A DIVINA VIRTUDE E
A DIVINA OPERAÇAO PROCEDENTE DE DEUS UM, EM QUE ESTA A DIVINA
TRINDADE; ASSIM PROCEDENDO DO SENHOR DEUS SALVADOR.
II - A DIVINA VIRTUDE E A DIVINA OPERAÇÃO, QUE SÃO ENTENDIDAS PELO
ESPÍRITO SANTO, SÃO EM GERAL, A REFORMAÇÃO E A REGENERAÇÃO; E
SEGUNDO ESTAS, A INOVAÇÃO, A SANTIFICAÇÃO E A JUSTIFICAÇÃO E
SEGUNDO ESTAS ÚLTIMAS, A PURIFICAÇÃO DOS MALES E A RE- MISSAO DOS
PECADOS E, ENFIM, A SALVAÇÃO.
III - ESTA DIVINA VIRTUDE E ESTA DIVINA 0PERAÇÃO, QUE SÃO
ENTENDIDAS PELO ESPIRITO SANTO, NOS ECLESIÁSTICOS ESPECIALMENTE,
SAO A ILUSTRAÇÃO E A INSTRUÇÃO.
IV - 0 SENHOR OPERA ESTAS VIRTUDES NAQUELES QUE CRÊEM N'ELE.
V - 0 SENHOR OPERA DE SI MESMO SEGUNDO 0 PAI, E NÃO VICE-VERSA.
VI - 0 ESPÍRITO DO HOMEM E' SUA MENTE E TUDO 0 QUE DELA PROCEDE.
&139 - 0 ESPIRITO SANTO É A DIVINA VERDADE, E TAMBÉM A DIVINA
VIRTUDE E A DIVINA OPERAÇÃO, PROCEDENDO DE DEUS UM, EM QUEM
ESTA A DIVINA TRINDADE; ASSIM, PROCEDENDO DO SENHOR DEUS
SALVADOR.
Pelo Espírito Santo é propriamente significado o Divino Vero, por conseqüência também a
Palavra; e neste sentido, o Senhor mesmo é também o Espírito Santo; mas como na Igreja,
hoje, pelo Espírito Santo é designada a Divina Operação, que é a Justifícação atual, é por
isto que esta Operação é tomada aqui pelo Espírito Santo e que se trata dela principalmente;
e também por esta razão: que a Divina Operação se faz pelo Divino Vero que procede do
Senhor; e aquilo que procede é de unia única e mesma essência com aquilo de que procede,
como estes Três, a Alma, o Corpo e o Procedente que fazem, em conjunto, uma 'única
Essência no homem, puramente humana; mas no Senhor, Essência Divina e, ao mesmo
tempo, Essência Humana, unidas -uma-com a outra após a Glorificação como o Anterior
com &eu Posterior e como a Essência com sua Forma; assim, os três Essenciaís, que são
chamados Pai, Filho e Espírito Santo, são um no Senhor. Que o Senhor seja o Divino Vero
mesmo ou -a Divina Verdade, isso foi demonstrado acima; que o Espírito Santo o seja
também, vê-se por estas passagens:- "Sairá um ramo do tronco de Jishal, sobre ele
repousará o Espírito de Jehovah, Espírito de Sabedoria e de inteligência, Espírito de
conselho e de força; êle ferirá a terra com a vaTa de sua boca e pelo espírito ,de seus lábios
matará o ímpio; a justiça será o cinto de seus rins e a Verdade, o cinto de suas coxas"
(Isaías 2[1, 1, 2, 4, 5). "Virá como o rio apertado, o Espírito de Jehovah porá seu sinal nêle;
então virá a Sião, o Redentor" (Isaías LIX, 19, 20). "0 Espírito do Senhor Jehovah (está)
sobre mim, Jehovah me ungiu para evangelizar os pobres me enviou" (Isaías LXI, 1; Lucas
IV, 18). "'Eis -a minha aliança: Meu Espírito que (está) sobre ti e minhas palavras não se
retirarão de tua boca desde agora e na eternidade (Isaías LIX, 21). - Pois que o Senhor é a
Verdade, tudo que procede d'Ele é por conseqüência a verdade; e êste Procedente é
entendido pelo Paracleto que é também chamado Espírito de verdade e Espírito Santo; isto
é evidente segundo estas passagens: "Eu vos digo a verdade, é vantajoso para vós que eu
me vá, pois se eu não me for, o Paracleto não virá a vós, mas se eu me for, eu vô-lo
enviarei" (João XVI, 7). "Quando êle vier, o Espírito da Verdade, êle vos conduzirá a toda
Verdade; não falará por êle mesmo, mas tudo que tiver ouvido êle o pronunciará" (João
XVI, 13). "Éle me glorificará porque do meu êle receberá, e vô-lo anunciará; tôdas as
cousas que o Pai tem são minhas; é por isso que eu digo que do meu êle receberá e vô-lo
anunciará" (João XVI, 14, 15). "Pedirei ao Pai que vos dê um outro Paracleto o Espírito da
Verdade, que -o Mundo não pode receber porque não o vê, e não o conhece; mas vós o
conheceis, porque êle mora em vós e em vós êle estará; não vos deixarei órfãos, venho a
vós; e vós me vereis" (João XIV, 16, 17, 18). "Quando vier o Paracleto que eu vos enviarei
do Pai, o Espírito de Verdade, Êsse dará testemunho de mim" (João XV 26). Que o Senhor
se tenha designado a Si mesmo por Paracleto ou Espírito Santo, isso é evidente por estas
palavras do Senhor, que o Mundo não o conhecia ainda, mas vós me conheceis; não vos
deixarei órfãos, venho a vós; e vós me vereis; e era outro lugar: "Eis que eu convosco estou
todos os dias até à consumação dos séculos" ,(Mateus XXVIII, 20); depois por estas
palavras: "Ele não falará por si mesmo, mas do meu receberá".
&140 - Ora, pois que pelo Espírito Santo é entendida a Divina Verdade e que esta estava no
Senhor e era o Senhor mesmo (João XIV, 6), e que assim 'não podia proceder de outra
parte, é por isso que se diz: "Não havia ainda um Espírito Santo porque Jesus ainda não
tinha sido glorificado" (João VII, 39); e após a Glorificação: "Ele soprou sobre Seus
Discípulos e disse: Recebei o Espírito Santo" (João XX, 22). Se o Senhor soprou sobre
seus discípulos e lhes disse estas palavras, é porque o sopro era o sinal representativo
externo da Divina inspiração; ora a Inspiração é a inserção nas sociedades angélicas. Por
isso, o entendimento pode apreender o que foi dito pelo Anjo Gabriel, só bre a Concepção
do Senhor: "Um Espírito Santo virá sobre ti e uma Virtude do Altíssimo te cobrirá com sua
sombra; por isso, o que nascer de ti, Santo, será chamado Filho de Deus'' (Lucas 1, 35).
Depois: "0 Anjo do Senhor disse em sonho a José: "Não temas receber Maria tua Noiva,
pois o que nela nasceu é do Espírito Santo; e José não a conheceu até que ela tivesse dado à
luz seu Filho primogénito" (Mateus 1, 20, 25). Aí, o Espírito Santo é o Divino Vero
procedendo de Jehovah, o Pai; e êste procedente é a Virtude do Altíssimo, que cobriu então
a Mãe com sua sombra; isto coincide com a passagem de João: "A Palavra estava com
Deus e Deus era a Palavra; e a Palavra se fêz carne" (1, 1, 14); que aí, pela Palavra, seja
entendido o Divino Vero, vê-se na Fé da Nova Igreja, acima, n. 3.
&141 - Que a Divina Trindade esteja no Senhor, isso foi demonstrado acima; e o será mais
amplamente no que segue quando se trata dela ex professo; aqui serão somente referidas
certas discordâncias que resultam desta Trindade dividida em três Pessoas. E' como se
algum Ministro da Igreja ensinasse do alto de uma cátedra o que se deve crer e o que se
deve fazer; e que perto dêle houvesse um outro Ministro lhe dizendo ao ouvido: Falaste
bem, acrescenta ainda alguma cousa; e dissesse a um terceiro que estivesse sobre os
degraus da cátedra: Desce ao Templo, abre os ouvidos e espalha estas palavras em seus
corações; e ao mesmo tempo, faze que êles sejam purezas, santidades e testemunhos da
justiça. A Divina Trindade dividida em Pessoas, cada uma das quais em particular, é Deus e
Senhor, é semelhante também a três Sóis em um único Mundo, dois no alto perto do outro.
e abaixo o terceiro, que espalha em torno dos anjos e dos homens e conduz o calor e a luz
dos dois primeiros com toda potência em suas mentes, em seus corações, em seus corpos e
age sobre êles do mesmo modo que o fogo penetra, clarifica e sublima os materiais nas
retortas; quem não vê que, se fosse assim, o homem seria queimado até ficar reduzido a
cinzas? 0 govêrno, de três Pessoas Divinas no Céu, seria semelhante também ao govêrno de
três Reis em um mesmo Reino; ou ao govêrno de três generais, tendo o mesmo poder sobre
um único Exército; ou antes, ao Govêrno Romano, antes do tempo dos Césares quando
havia um Cônsul, um Senado e um Tribuno do povo, entre os quais, é verdade, o poder
estava dividido, mas, entretanto, soberano em todos ao mesmo tempo; quem não vê quanto
será discordante, ridículo e extravagante, introduzir um tal govêrno no Céu? êle é aí
introduzido quando se atribui a Deus Pai o poder como o de um Cônsul Supremo, ao Filho
um poder como o de um Senado e ao Espírito Santo, um poder como o de um Tribuno do
povo; o que acontece quando se atribui a cada um dêles uma função própria e mais ainda:
quando se acrescenta que essas propriedades não são comunicáveis.
&142 - II. A DIVINA VIRTUDE E A DIVINA OPERAÇÃO, QUE SÃO ENTENDIDAS
PELO ESPIRITO SANTO SÃO, EM GERAL, A REFORMAÇÃO E A REGENERAÇAO;
E, SEGUNDO ESTAS, A INOVAÇAO, A VIVIFICAÇAO, A SANTIFICAÇÃO E A
JUSTIFICAÇÃO; E, SEGUNDO ESTAS úLTIMAS, A PURIFICAÇAO DOS MALES E
A REMISSAO DOS PECADOS E, ENFIM, A SALVAÇÃO.
Estão aí em sua ordem as Virtudes que o Senhor opera naqueles que crêem n'Êle e que se
preparam e se dispõem a lhe servir de recipiente e de morada; e isso é feito pelo Divino
Vero; e nos Cristãos, pela Palavra, pois é o único médium pelo qual o homem se aproxima
do Senhor e no qual o Senhor entra; com efeito, como foi dito acima, o Senhor é o Divino
Vero mesmo, e tudo que procede d'Êle é êste vero; mas é preciso entender o Divino Vero
segundo o Divino Bem, o que e a mesma coisa, a Fé segundo a Caridade, pois a fé não é
outra cousa que a verdade; e a caridade não é outra cousa que a bondade. Pelo Divino Vero
segundo o Divino Bem, isto é, pela Fé segundo a Caridade, o homem é reformado e
regenerado; e também renovado, vivificado, santificado, justificado; e segundo estas
progressões e éstes acréscimos, é purificado dos males; e a purificação dos males é a
remissão dos pecados. Mas tôdas estas operações do Senhor não podem ser expostas aqui
em particular porque cada uma exige uma análise especial, confirmada pela Palavra e
ilustrada pela razão; e não, é aqui o lugar; o Leitor é, portanto, encaminhado às explicações
que serão dadas em ordem na continuação desta Obra, as quais concernem à Caridade, à Fé,
ao Livre Arbítrio, à Penitência, à Reformação e à Regeneração. E' preciso que se saiba que
o Senhor opera continuamente em cada homem estas salvações; são, com efeito, degraus
para o Céu, pois o Senhor quer a salvação de todos; por isso, a salvação de todos é para Êle
o fim; e quem quer o fim, quer os meios; foi para a salvação dos homens que houve o
Advento do Senhor, a Redenção e a Paixão da cruz (Mateus XVIII, 11; Lucas XIX, 10); e
como a salvação dos homens foi e é paxa a eternidade o fim que o Senhor se propôs, seguese que as operações acima mencionadas são os fins médios e a salvação é o fim último.
&143 - A operação destas virtudes é o Espírito Santo que o Senhor envia aos que crêem
n'Ele e se dispõem a recebê-lO; e é entendida pelo Espírito Santo nestas passagens: "Darei
um Coração novo e um Espírito novo meu Espírito darei no meio de vós e farei com que no
caminho da salvação marchareis" (Eze quiel XXXVI, 26, 27; XI, 19). "Um coração puro
cria em nos, 6 Deus! e um Espírito firme inova no meio de mim; traz-me a alegria de tua
salvação e que um Espírito espontâneo me sustente" (Salmo 51, 12, 14). "Jehovah forma o
Espírito do Homem no meio dêle" (Zacarias XII, 1). "Com a minha alma eu te esperei à
noite e com meu Espírito te esperei pela manhã" (Isaías VI 9). "Fazei-vos um Coração novo
e um Espírito novo porque morrereis vós, 6 Casa de Israel?" (Ezequiel XVIII, 31); e em
outros lugares. Nestas passagens, pelo Coração novo é entendida a vontade do bem; e pelo
Espírito novo, o entendimento do vero; que o Senhor opera estas cousas naqueles que
fazem o bem e crêem o vero, assim naqueles que estão na fé da caridade, isso é bem
evidente, por estas palavras: "Deus dá a alma àqueles que aí marcham"; e por se dizer:,
"Um Espírito espontâneo". Que o homem deve operar de seu lado, isto é ainda bem
evidente por estas expressões: "Fazei-vos um coração novo, e um espírito novo, por que
morrereis vós, 6 Casa de Israel?"
&144 - Lê-se que, enquanto Jesus era batizado, os Céus se abriram e que João viu o
Espírito Santo descer como uma Pomba (Mateus 111, 16; Marcos 1, 10; Lucas 111, 22;
João 1, 32, 33); isto aconteceu, porque o Batismo significa a Regeneroção e a purificação; e
que se dá o mesmo com a Pomba; quem é que não pode perceber que a Pomba não era o
Espírito Santo; e que o Espírito Santo não estava na Pomba? no Céu aparecem Pombos
muito freqüentemente; e tôdas as vêzes que aparecem os Anjos sabem que são
correspondências de afeições e de pensamentos sobre a regeneração e a purificação
daqueles que estão na vizinhança; é por isso que se se aproximam deles e lhes falam de
cousas diferentes daquelas que eram o objeto de seus pensamentos quando esta aparição
teve lugar, imediatamente as pombas se dissipam; dá-se com isso como com várias outras
cousas que foram vistas pelos profetas; por exemplo, como o Cordeiro que João viu sobre a
montanha de Sião (Apoc. 14, 1) e em outros lugares; quem não sabe que o Senhor não era
êsse Cordeiro, nem estava nesse Cordeiro, mas que o Cordeiro era o representação da
inocência do Senhor? por aí se vê o erro daqueles que d deduzem as três Pessoas da
Trindade, do fato de uma Pomba ter sido vista sobre o Senhor enquanto era batizado; e que,
então, ouviu-se do Céu uma voz que dizia: "Este é meu Filho bem amado". Que o Senhor
regenera o homem pela fé e pela caridade, é o que se entende por estas palavras de João
Batista: "Eu vos batizo com água para o arrependimento, mas Aquêle que deve vir depois
de mim, Esse vos batizará com o Espírito Santo e com fogo" (Mateus 111, 11; Marcos 1, 8;
Lucas 111, 16); batizar com o Espírito Santo e com fogo, é regenerar pelo Divino Vero que
pertence à fé; e pelo Divino Bemque pertence à caridade. A mesma coisa é significada por
estas palavras do Senhor: "Se alguém não for engendrado da água e do Espírito, não pode
entrar no Reino de Deus" (João 111, 5); aqui, como em outros lugares da Palavra, a água
significa o vero no homem natural ou externo; e o espírito significa o vero segundo o bem
no homem espiritual ou interno.
&145 - Ora, pois que o Senhor é o Divino Vero mesmo segundo o Divino Bem e que está
aí a sua Essência mesma, pois que é segundo sua Essência que cada um faz o que faz, é
evidente que continuamente o Senhor quer e não pode querer outra coisa senão implantar o
vero e o bem ou a fé e a caridade, em cada homem. Isso pode ser ilustrado por várias coisas
no Mundo; assim, por estas: que todo homem quer e pensa e tanto quanto lhe é permitido,
fala e age segundo sua essência, por exemplo, o homem leal pensa e tem por intenção
cousas leais, o homem honesto, o probo, o piedoso e o religioso, cousas honestas, probas,
piedosas e religiosas; e vice-versa, o faustoso, o astucioso, o velhaco, o ávaro, cousas, que
fazem um com sua essência; o adivinho não quer senão predizer e o tolo não quer senão
dizer cousas opostas às que pertencem à sabedoria; em unia palavra: o Anjo não discute e
não medita senão cousas celestes; e o diabo senão cousas infernais. Acontece o mesmo com
todos os seres de uma classe inferior no Reino animal; por exemplo, um pásuma bêsta, um
peixe, um verme alado ou não alado, cada um é conhecido por sua essência ou natureza, o
instinto de cada um vem dessa essência e é conforme com ela. Sernelhantemente no Reino
vegetal, todo arbusto, e toda planta, é conhecido por seu fruto e sua semente, nos quais a
sua essência é inata e não pode ser produzido por êle nenhuma outra coisa que não seja
semelhante a êle e sua; mais ainda, é segundo a essência que se julga de todo homem, de
toda argila, de toda pedra, tanta. preciosa como vil, de todo minério e de todo metal.
&146 - III. ESTA DIVINA VIRTUDE E ESTA DIVINA OPERAÇÃO, QUE SÃO
ENTENDIDAS PELO ENVIO DO ESPÍRITO SANTO, NOS ECLESIASTICOS
ESPECIALMENTE, SAO A ILUMINAÇAO E A INSTRUÇÃO.
As operações do Senhor, enumeradas no Artigo precedente, isto é, a reformação, a
regeneração, a renovação, a vivificação, a santificação, a justificação, a purificação, a
remissão dos pecados, e enfim a salvação, influem do Senhor, tanto nos Eclesiásticos corno
nos Leigos; e são recebidas por aquéles que está(> no Senhor e nos quais está o Senhor
(João VI, 56; XIV, 20; XV, 4, 5). Quanto à Ilustração e a Instrução, se estão especialmente
nos Eclesiásticos, eis as razões disso; é que elas pertencem à sua função; e que a
inauguração no ministério, as leva em ela; e mesmo êles crêem que, quando pregam com
zêlo, são inspirados como os Discípulos do Senhor, sobre os quais o Senhor soprou,
dizendo: "Recebei o Espírito Santo" (João XX, 22), ver, além disso (Marcos XIII, 11);
alguns atestam mesmo que sentiram o influxo. Mas que se guardem bem de se persuadir de
que o zelo de que muitos são tomados quando pregam, são a Divina operação em seus
corações, pois há um zêlo semelhante e ainda mais ardente nos Entusiastas e também
naqueles que estão nos falsos extremos da doutrina; mesmo naqueles que desprezam a
Palavra, que adoram a natureza como Deus, que rejeitam para trás de seu dorso como em
um saco, a fé e a caridade, e que, quando pregam e instruem, suspendem diante da face uma
espécie de estômago ruminador de onde tiram e vomitam cousas tais que sabem fazer
engulir por seus auditores. 0 zelo, com efeito, considerado em si mesmo, é um
arrebatamento do homem natural; se o amor do vero está nêle interiormente, êste
arrebatamento é então como o fogo sagrado que influiu nos Apóstolos, e de que se fala
assim nos seus Atos: "Viram Línguas separadas, como de fogo, que se puseram sobre cada
um dêles; e todos foram cheios do Espírito Santo" (2, 3, 4); mas se nesse zêlo ou nesse
arrebatamento se esconde interiormente o amor do falso, então é um fogo encerrado em
uma viga, que se escapa e envolve a casa; Tu, que negas a santidade da Palavra e a
Divindade do Senhor, tira, eu te peço, o teu saco, de cima de teu dorso e abreo como fazes
livremente em tua -casa, e verás. Eu sei que aquêles que são designados em Isaías por
Lúcifer, que são os de Babel, quando entram em um Templo e mais ainda, quando sobem a
uma tribuna, sobretudo os que se dizem da sociedade de Jesus, são tomados de um zelo
que, em muitos, vem de um amor infernal e que, por conseguinte, se exprimem com mais
veemência e tiram do peito suspiros mais profundos do que os que estão no zêlo pelo amor
celeste. Que nos Eclesiásticos há ainda duas operações espirituais, vê-se abaixo? n. 155.
&147 - A Igreja ignora ainda, por assim dizer, que em toda vontade e em todo pensamento
e por conseguinte em toda ação e em toda linguagem do homem, há um Interno e um
Externo; -e que o homem, desde a infância, foi ensinado a falar segundo o Externo,
qualquer que seja o dissentimento do Interno, donde resultam os fingimentos, as bajulaçães
e as hipocrisias; que, conseqüentemente, êle é duplo; e que só é simples, aquêle cujo
Externo pensa e fala, quer e age, segundo o Interno; êstes são, por isso, entendidos pelos
simples na Palavra (Lucas VIII, 15; XI, 34, e em outros lugares), ainda que sejam mais
sábios que os duplos. Que haja duplicidade e triplicidade em tôdas as coisas criadas, vê-se
pelas que estão no corpo humano: Todo nervo é composto de fibras e as fibras de fibrilas;
todo Músculo, de feixes de fibras; e estas, de fibras motrizes; toda Artéria, de túnicas em
triplice série; dá-se o mesmo com' a Mente humana, cujo organismo espiritual é
semelhante; e isso, porque a Mente humana, como foi dito acima, foi distinguida em três
regiões, das quais a suprema, que é também a íntima, é chamada celeste; a média,
espiritual; e a ínfima, natural. As Mentes de todos os homens que negam a santidade da
Palavra e a Divindade do Senhor, pensam na região ínfima; mas como desde à Infância
aprenderam também os espirituais que pertencem à Igreja, eles os recebem, mas os colocam
abaixo dos naturais que são diversas cousas científicas, políticas, civis e morais; e como
esses espirituais são colocados na mente, no lugar mais baixo e muito perto da linguagem,
falam deles nos templos e nas assembléias; e, o que é surpreendente, estão então
persuadidos que falam e ensinam segundo sua fé; porém, quando estão em liberdade, o que
acontece quando entram em sua casa, a porta que fechava o interno de sua mente se abre, e
então por vêzes escarnecem das cousas que pregaram diante da assembléia, dizendo em seu
coração que a Teologia é uma excelente rêde para apanhar as pombas.
&148 - 0 Interno e o Externo de tal homem podem ser comparados a Venenos cobertos de
uma crosta de açúcar, em da a coloquintidas colhidas é postas em uma sopa para os filhos
dos profetas que exclamaram, comendo-a: "A morte está na panela!" (II Reis 4, 38 a 43).
Também podem ser comparados à Bêsta subindo do mar, que tinha dois chifres como o
Cordeiro e que falava como o Dragão (Apoc. 13, 11); na continuação do texto, esta bêsta é
chamada falso-profeta. São ainda como ladrões, que, quando residem como cidadãos em
uma Cidade, aí agem com moralidade e falam com racionalidade, mas que, voltando para
as florestas, aí são bêstas ferozes; ou ainda como piratas que, em terra, são homens-, mas no
mar crocodilos; enquanto uns e outros estão em terra ou na cidade, andam como panteras
cobertas de peles de ovelhas ou como macacos vestidos de homem, tendo no rosto uma
máscara de face humana. Podem ainda ser assemelhados a uma prostituta que sé perfuma,
põe ruge no rosto, veste um vestido de sêda branca guarnecido de grinaldas de flores e que,
voltando para casa, se põe nua diante dos libertinos e os infecta com sua lepra. Que tais
sejam esses que de coração tiram da Palavra a -Santidade e do Senhor o Divino, é o que me
foi dado saber no Mundo Espiritual por experiências de vários anos, pois lá, a principio,
todos são mantidos em seus externos, mas em seguida, os externos lhes sendo retirados,
êles são postos- nos internos; e então sua comédia toma-se uma tragédia.
&149 - IV. 0 SENHOR OPERA ESTAS VIRTUDES NAQUELES QUE CRÊEM N'ELE.
Que o Senhor opera estas virtudes, que são entendidas pelo envio do Espírito Santo
naqueles que crêem n'ele, isto é, Êle, os reforma, regenera, renova, vivificar santifica,
justifica, purifica dos males e, enfim, os salva, vê-se na Palavra por tôdas essas passagens
que confirmam que a salvação e a vida eterna são para aquêles que crêem no Senhor,
passagens referidas acima,. n. 108; e além disso, por estas: "Jesus disse: Quem quer que
creia em Mim, como diz a Escritura, rios *de seu ventre correrão, de águas vivas; êle dizia
isso do Espírito que deviam receber aquêles que cressem n'ele'' (João VII, 38, 39). Depois
por esta: "0 Testemunho de Jesus é o Espírito de Profecia" (Apoc. 19, 10); pelo Espírito de
Profecia é entendido o Vero da doutrina segunda a Palavra; a profecia não significa outra
cousa senão a doutrina; e profetizar é ensinar a doutrina; e pelo testemunho deJesus é
entendida a confissão pela fé n'Êle; a mesma- coisa é entendida por seu testemunho nesta
passagem: "Os Anjos de Miguel. venceram o dragão pelo sangue do Cordeiro e pela
Palavra de seu Testemunho; e o dragão saiu para fazer, a guerra aos restos de Sua semente
que observavam os mandamentos de Deus e têm o Testemunho de Jesus Christo" (Apoc.
12, 11, 17).
&150 - Se aquêlès que crêem no Senhor Jesus Christo devem receber estas virtudes'
espirituais, é porque Êle mesmo é a Salvação e a Vida Eterna; a Salvação, pois Éle é o
Salvador; e 'seu nome Jesus significa também Salvação; a Vida Eterna, pois a vida eterna é
para aquêles em que Êle mesmo está e que estão n'Ele; por isso, Êle mesmo é chamado a
Vida Eterna, em João (Epist. 5.0 21); ora, pois que Êle é a Salvação e a Vida Eterna,,
segue-se que é também tudo pelo qual a salvação e a vida eterna. são obtidas, que por
conseqüência, é o tudo da reformação, da, regeneração, da renovação, da vivificação, da
santificação, da Justificação, da purificação dos males;. e que, enfim, é a Salvação; o
Senhor opera em cada homem estas virtudes, isto é, se esforça, por pô-las nêle e as põe
quando o homem se prepara e se dispõe à recepção; o ativo mesmo da operação e da
disposição vem também. do Senhor; mas se o homem não o recebe com espírito
espontâneo, então o Senhor, malgrada o esforço que persiste continuamente não pode pôlas nêle.
&151 - Crer no Senhor é não somente reconhecê-lO, mas. também fazer Seus preceitos,
pois o reconhecimento unicamente não pertence senão ao pensamento, mas fazer seus
preceitos pertence também ao, reconhecimento segundo a vontade; a mente do homem se
compõe do Entendimento e da Vontade; pensar pertence ao Entendimento; é fazer pertence
à Vontade. Quando, portanto, o homem reconhece sómente segundo o pensamento do
entendimento, não vem ao Senhor senão pela metade da mente; mas quando faz, vem pela
mente inteira e isto é crer; aliás, o homem pode dividir seu, coração e constranger a sua
superfície a se elevar para o alto, enquanto que sua carne se volta para baixo; e desta
maneira, êle voa como uma águia entre o Céu e o Inferno, e entretanto o-homem 'não segue
seu aspecto, mas segue o prazer de sua carne; e isto por que está no Inferno; para aí voa
portanto, e quando aí sacrificou às suas volúpias e fêz libações aos demônios, toma uma
face risonha e um olhar de onde saltam fagulhas de fogo e contrafaz assim o anjo de luz; os
que reconhecem o Senhor e não fazem Seus preceitos tornam-se semelhantes Satanases
depois da morte.
&152 - Em um Artigo precedente foi demonstrado que a salvação e a vida eterna dos
homens são o fim primeiro e último do Senhor; e como o fim primeiro e o fim último
contêm em si os fins médios, segue-se que as virtudes espirituais acima mencionadas estão
em conjunto no Senhor; e também, pelo Senhor, no homem, mas contudo se manifestam
sucessivamente; com efeito, a Mente do homem cresce como seu corpo, mas este em
estatura e aquela, em sabedoria; assim; a mente é elevada de região em região, a saber, da
região natural à região espiritual, e. desta à região celeste; na região celeste está o homem
sábio,,, na região espiritual, o homem inteligente, na região natural, o homem erudito; mas
esta'elevação da mente não se faz senão de tempos em tempos; e se faz, à medida que o
homem adquire os veros e os conjunta ao bem; é absolutamente como quando o homem
constrói uma casa; primeiro se provê dos materiais necessários, como tijolos, telhas, traves,
caibros, e assim põe a fundação, eleva as paredes, divide-a em aposentos, coloca portas,
constrói janelas, põe escadas de um andar para o outro; tôdas estas cousas em conjunto
estão no fim, que é uma habitação cômoda e digna, que o homem vê avançar e para a qual
provê. Dá-se o mesmo com um Templo, quando é construido; tudo o que concerne à
construção está no fim, que é o culto de Deus. Acontece o mesmo com tôdas as outras
cousas, por exemplo, jardins, praças e também com os empregos e negócios, para os quais
o fim mesmo prepara o que lhe é necessário.
&153 - V. 0 SENHOR OPERA POR SI MESMO SEGUNDO O PAI E NÃO VICEVERSA.
Operar é significada aqui a mesma coisa que enviar o Espírito Santo, pois que as
Operações acima mencionadas que são, em geral, a Reformação, a Regeneração, a
Renovação, a Vivificação, a Santificação, a Justificação, a Purificação dos males, a
Remissão dos pecados, as quais são atribuídas hoje ao Espírito Santo como Deus por si, são
Operações do Senhor; que estas operações venham do Senhor segundo o Pai e não viceversa, é o que será a princípio confirmado pela Palavra e, em seguida, ilustrado por várias
cousas que
são da alçada da razão. Pela Palavra, por estas passagens: "Quando vier o Paracelso que eu
vos enviarei, do Pai, o Espírito da verdade que sai do Pai - esse dará testemunho de Mim"
(João XV, 26). "Se eu não me for, o Paracelso não virá a vós; mas se eu me for, eu vô lo
enviarei" (João XVI, 7). "0 Paracelso, o Espírito da verdade, não falará por si mesmo, mas
do meu, êle receberá e vos anunciará; tôdas as cousas que o Pai tem são minhas; por isso eu
disse que do meu, êle receberá e vos anunciará" (João XVI, 13, 14, 15). "Não havia ainda
um Espírito Santo porque Jesus não tinha ainda sido glorificado" (João VII, 39). "Jesus
soprou sobre os Discípulos e disse: Recebei o Espírito Santo" (João XX, 22). "Tudo o que
pedirdes, em meu Nome, eu o farei, a fim de que o Pai seja glori ficado no Filho; se
pedirdes alguma cousa em meu Nome, Eu o farei'' (João XIV, 13, 14). Por estas passagens
é bem evidente que o Senhor envia um Espírito Santo, isto é, opera as 1 coisas que são hoje
atribuídas ao Espírito Santo como Deus por' si; com efeito, Ele disse que o enviaria do Pai;
que o enviaria para eles; que não havia ainda Espírito Santo, porque Jesus não tinha ainda
sido glorificado; que, depois da glorificação, Ele soprou sobre os Discípulos e disse:
Recebei um Espírito Santo; depois disse: Tudo que pedirdes em meu Nome, Eu o farei; e
também: o Paracelso receberá do que é meu, e êle vô-lo anunciará; que o Paracelso seja a
mesma cousa que o Espírito Santo, vê-se em João XIV, 26. Que Deus Pai não opera estas
virtudes de Si mesmo pelo Filho, mas que o Filho opera de Si mesmo pelo Pai, vê-se por
estas passagens: "Ninguém viu Deus jamais; o Filho unigênito que está no seio do Pai lh'O
expôs" (João 1, 18); e em outro lugar: "Nem a voz do Pai ouvistes jamais, nem o seu
aspecto o vistes" (João V, 37). Resulta, portanto, destas passagens que Deus Pai opera no
Filho e sobre o Filho; e não pelo Filho, mas que o Senhor opera de si mesmo segundo o Pai,
POIS Êle disse: "Tôdas as cousas que o Pai tem são minha&' (João XVI, 15). "0 Pai deu
tôdas as cousas na mão, do Mo' (João 111, 35). "Como o Pai tem a vida em Si mesmo, Ele
deu ao Filho ter a vida em Si mesmo" (João V, 26). E também palavras que pronuncio são
espírito e são vida" (João VI, 63 ). Se o: Senhor disse que o Espírito da verdade sai do Pai
(João XV, 26), é porque de Deus Pai êle sai no Filho; e sai do Filho, pelo Pai;por isso Ele
disse também: "Naquele dia conhecereis que o Pai (está) em Mim, e Eu no Pai, e vós em
Mim, e Eu em vós" (João XIV, 11, 20). Por estas palavras explícitas do Senhor, vê-se bem
claramente este êrro no Mundo Cristão, o qual é, que Deus Pai envia o Espírito Santo ao
homem; e o erro da Igreja Grega, que Deus Pai o envia imediatamente; êste (doutrinal),
que é o Senhor que o envia de Si mesmo segundo o Pai e não vice-versa, vem do Céu e os
Anjos o chamam Arcano, por que não foi ainda desvendado ao Mundo.
&154 - Este assunto pode ser ilustrado por várias cousas que são da ~da da razão; por
exemplo, por estas: E' notório que os Apóstolos, depois que o Senhor os dotou com o
Espírito Santo, pregaram o Evangelho em uma grande parte do globo e que o espalharam de
boca e por escrito; e fizeram isso por si mesmos segundo o Senhor; com efeito, Pedro
ensinou e escreveu de uma maneira, Tiago de uma outra, João de uma outra e Paulo de
urria outra; cada um, segundo sua inteligência, o Senhor encheu a todos de seu espírito, mas
cada um tomou dêle uma medida segundo a qualidade de sua percepção e cada um agiusegundo a qualidade de seu poder. Todos os Anjos nos Céus estão repletos do Senhor, pois
estão no Senhor e o Senhornêles, mas entretanto cada um fala e age segundo o estado de
sua mente; uns, com simplicidade, outros, com sabedoria, assim com uma variedade infinita
e contudo, cada um fala de si mesmo segundo o Senhor. Dá-se o mesmo com todo Ministro
da Igreja, tanto daquele que está nos veros como daquele que está nos falsos; cada um tem
sua boca e sua inteligência e cada um fala segundo sua mente, isto é, segundo o espírito que
possui. Todos os Protestantes, quer se denominem Evangélicos ou Reformados, depois de
terem tido instruídos nos dogmas estabelecidos por Lutero, Melanchton ou Calvino, não
falam, êles ou os seus dogmáticos, dêles ãesmos por êstes chefes, mas falam dêles mesmos
segundo êstes chefes; cada dogma é como uma cornucópia de abundância, donde cada um
tira o que é favorável e adequado a seu gênio e o expõe segundo sua faculdade. Isto pode
ser ilustrado pela ação do coração no pulmão e sobre o pulmão, e pela reação do pulmão de
si mesmo, segundo o coração; estas duas cousas são distintas, mas entretanto,
reciprocamente unidas; o pulmão respira por si mesmo segundo o coração, mas não o
coração pelo pulmã o; se isso se fizesse, um e outro parariam; dáse o mesmo-também com
a ação do coração nas vísceras e sobre as vísceras-de todo o corpo; o coração envia o
sangue de todo lado, mas as vísceras tiram dêle cada uma a sua medida segundo a
qualidade do uso que desempenham; e cada um também age segundo esta qualidade, assim
de uma maneira diferente. A mesma cousa pode ainda ser ilustrada assim: 0 mal que
provém dos pais e que se chama mal hereditário, age no homem e sobre o homem; dá-se o
mesmo com o bem que procede do Senhor; o bem em cima ou por dentro, o mal em baixo
ou por fora; se o mal agisse pelo homem, o homem não seria reformável e não seria
culpado; semelhantemente, se o bem que procede do Senhor agisse pelo homem, o homem
também não seria reformável; mas como um e outro dependem da livre escolha do homem,
o homem se torna culpável, quando age por si mesmo segundo o mal e inocente, quando
age por si mesmo segundo o bem; ora, pois que o mal é o diabo e o bem é o Senhor, êle se
torna culpável se age segundo o diabo; e inocente, se age segundo o Senhor; é por esta livre
escolha, que está em cada homem, que o homem pode ser reformado. Dá-se o mesmo com
todo Interno e com todo Externo no homem, os dois são distintos, mas, entretanto,
reciprocamente unidos; o Interno age no Externo e sobre o Externo, mas não age pelo
Externo, pois o Interno agita milhares de cousas de que o Externo toma somente as que são
convenientes para o uso; com efeito, no Interno do homem, pelo qual é entendida a sua
Mente voluntária e perceptiva, há em circulação uma massa de idéias que, se se escoassem
pela boca do homem, produziriam o efeito do vento que sai de um fole; o Interno, porque
agita idéias universais, pode ser comparado a um Oceano ou a um Canteiro ou a um Jardim,
de onde o Externo tira o que lhe basta para o uso; a Palavra do Senhor é como um Oceano,
um Canteiro e um Jardim; quando a Palavra está em alguma plenitude no Interno do
homem, o homem fala e age por si mesmo segundo a Palavra e não a Palavra por êle; dá-se
o mesmo com o Senhor, como Êle é por Si mesmo a Palavra, isto é, o Divino Vero e o
Divino Bem na Palavra, age nos homens e sobre os homens, mas não pelos homens, porque
o homem age e fala livremente segundo o Senhor, quando age e fala livremente segundo a
Palavra. Mas isso pode ser ilustrado de mais perto pelo comércio mútuo da alma e do
corpo; a alma e o corpo são distintos mas reciprocamente unidos; a alma age no corpo e
sobre o corpo, mas não pelo corpo, e o corpo age por si mesmo segundo a alma; que a alma
não aja pelo corpo, é porque eles não consultam e não deliberam entre si, e que a alma não
ordena ou não pede que o corpo aja de tal ou tal maneira ou pronuncie tal ou tal cousa; e
que o corpo não exije ou não pede à alma que faça ou forneça alguma cousa, pois tudo o
que é da alma é do corpo reciprocamente e vice-versa; dá-se o mesmo com o Divino e o
Humano do Senhor, pois o Divino do Pai é a Alma do Humano do Senhor, e o Humano é o
Corpo; e o Hu-mano não pede a seu Divino para lhe dizer o que deve pronunciar e operar; é
por isso que o Senhor disse: "Naquele dia, em meu Nome pedireis e eu não vos digo que
pedirei ao Pai por vós, pois o Pai mesmo vos ama, porque vós me tendes amado" (João
XVI, 26, 27); nesse dia, é após a glorificação, isto é, após a união perfeita e absoluta com o
Pai. Êste Arcano vem do Senhor mesmo para aquêles que serão de Sua Nova Igreja.
&155 - Foi mostrado acima, no Artigo III, que esta Divina -Virtude, que é entendida pela
operação do Espírito Santo, nos Eclesiásticos especialmente, é a Ilustração e a Instrução,
mas a estas duas se juntam duas outras colocadas entre elas, a saber, a Percepção e a
Disposição; assim há quatro cousas que se seguem em ordem nos Eclesiásticos, a
Ilustração, a Percepção, a Disposição e a Instrução; a Ilustração vem do *Senhor. A
Percepção está no homem segundo o estado de sua Mente, estado formado pelos doutrinais;
se os doutrinais são verdadeiros, a percepção torna-se clara pela luz que ilustra; mas se são
falsos, a percepção se torna obscura e, entretanto, pode aparecer como clara pelas
confirmações, mas é por uma luz fantástica que diante da vista puramente natural é
semelhante à claridade. A Disposição vem da afeição do amor da vontade; o prazer dêste
amor dispõe; se é o prazer do amor do mal e do falso desse mal, excita um zêlo que por fora
é áspero, rude, ardente e vomita fogo; e por dentro, é a cólera, a raiva e a não misericórdia;
mas se é o prazer do amor do bem e do vero, o zêlo por fora é doce, polido, retumbante e
abrasante; e por dentro, é a caridade, a graça e a misericórdia. A Instrução vem em seguida
como efeito resultante daquelas como causas. Assim a Ilustração que vem do Senhor se
muda em diferentes luzes e em diferentes calores em cada um, segundo o estado de sua
mente.
&156 - VI. 0 ESPíRITO DO HOMEM E' SUA MENTE E TUDO QUE DELA PROCEDE.
Pelo Espírito do homem, no concreto, não é entendida outra coisa senão sua Mente, pois é a
Mente que vive após a morte e que então é chamada espírito; se é boa, Espírito angélico e,
em seguida, Anjo; se é má, Espírito satânico e em seguida, Satanás. A Mente de cada
homem é seu homem Interno, que na realidade é homem e está dentro do homem Externo
que faz seu corpo; quando, portanto, o corpo é rejeitado o que acontece após a morte, ela
está em plena forma humana. Enganam-se, portanto, os que crêem que a Mente do homem
está únicamente na Cabeça; ai ela está apenas nos princípios, donde sai primeiro tudo o que
o homem pensa pelo entendimento e faz segundo a vontade; mas no corpo está nos
principiados formados por sentir e, agir; e como por dentro é aderente aos corporais, aí
leva. os sentidos e o movimento e também inspira a percepção, como se o corpo pensasse e
agisse por si mesmo; mas que isso seja uma ilusão, todo homem sábio o sabe. Ora, pois que
o espírito do homem pensa. pelo entendimento e age pela vontade e que o corpo pensa e
age, não de si mesmo, mas segundo o espírito, segue-se que pelo espírito do homem é
entendida a inteligência e a afeição do amor do homem e tudo que procede dèl,e e é
operado por elas. Que o espírito do homem signifique tais coisas que pertencem à sua
mente, isso é evidente por um grande número de passagens da Palavra que é suficiente
referir para que cada um possa ver que não significa outra cousa; dêsse grande número de
passagens, eis algumas: 1'Bezaleel foi cheio do espírito de sabedoria, de inteligência e de
ciência" (Êxodo 31, 3). Nabuchadnezar disse de Daníel, "que havia nêle um espírito
excelente de ciência, de inteligência e de sabedoria" (Daniel V, 12, 14). "Josué foi cheio de
um espírito de sabedoria" (Deuter. 34, 9). "Fazei-vos um coração novo e um espírito novo''
(Ezequiel XVIII, 31). "Felizes os pobres de espírito, porque deles é o Reino dos Céus"
(Ma-' teus V, 3). "Eu habito no contrito e no humilde de espírito, para -vivificar o espírito
dos humildes" (Isaías LVII, 15). "Os sacrificios de Deus (são) um espírito quebrantado"
(Ps. 51, 19). Darei um manto de louvor em lugar de um espírito acabrunhado" (Isaías LXI,
3); e em outros lugares. Que o espírito significa coisas que pertencem à Mente pervertida e
iníqua, vê-se por estas passagens: "Ai dos profetas insensatos, que se vão atrás de seu
espírito" (Ezequiel XIII, 3). "Concebestes palha, parirás pragana; e a vosso espírito um fogo
devorará" (Isaías XXXIII, 11). "Um homem vagabundo de espírito e que fornece mentira"
(Miquéas 11, 11). "Uma geração cujo espírito não é constante com Deus" (Ps. 78, 8). "Um
espírito de escortação" (Hoséas V, 4; IV, 12). "Todo coração desmaiará e todo espírito se
angustiará" (Ezequiel XXI, 7). "0 que se eleva em vosso espírito não acontecerá jamais"
(Ezequiel XX, 32). "Desde que no seu espírito não haja fraude" (Ps. 32, 2). "0 espírito de
Faraó foi perturbado" (Gênesis 41, 8); igualmente, o "espírito de Nebuchadnezar" (Daniel
11, 3). Por estas passagens e muitas outras é bem evidente que o espírito significa a Mente
do homem e as cousas, que pertencem à Mente.
&157 - Pois que pelo Espírito do homem é entendida a sua Mente, é por isso que pela
expressão estar em espírito, algumas vêzes empregada na Palavra, é entendido o estado da
mente separado do corpo, e como nesse estado. os Profetas viram cousas ,que existem no
Mundo Espiritual, eis por que se chama Visão de Deus; este estado era então para êles tal
qual é para os próprios Espíritos e para os próprios Anjos no Mundo Espiritual; neste
estado o espírito do Homem quanto à vista, pode ser transportado de -um- lugar para outro,
ficando o corpo no mesmo lugar. E' nesse estado que eu mesmo tenho estado desde 26
anos, com a diferença de que aí, eu estava em espírito e, ao mesmo tempo, no corpo; e só
algumas vêzes fora do corpo. Que Ezequiel, Zacarias, Daniel e João quando escrevia o
Apocalipse, estavam nesse estado, vê se pelas passagens. seguintes: Ezequiel disse: "0
Espírito me levantou e me conduziu à Caldéa para o Cati veiro, na Visão de Deus, em
Espírito de Deus; assim subiu sobre mim a Visão que eu vi" (XI, 1, 24). "Que o Espírito o
arrebatou e que êle ouviu detrás dêle um a Terra e o Céu e o conduziu a Jerusalém e que viu
abominações" (VIII, 3 e segs.). "Que viu quatro animais, e eram Querubins e várias outras
cousas que lhe diziam respeito" (I e X). Depois "uma nova Terra e um novo Templo e um
Anjo que os media (XL a XLVIII). "Que êle estava então em Visão e em Espírito" (XL, 2;
XLIII, 5). Aconteceu o mesmo a Zacarias, em quem estava então um Anjo, quando, viu
"um Homem a cavalo que estava entre murtas" (1, 1 e segs.). Quando viu "quatro cornos e
um homem tendo na mão um cordão para medir" (11, 1 e segs.). Quando viu "o sumo
sacerdote Joshua" (111, 1 e segs.). Quando viu "quatro Carros que saíam dentre duas
montanhas e Cavalos" (VI, 1). Daniel estava em um estado semelhante, quando viu "quatro
Bêstas subindo do mar e várias cousas que lhes concerniam" (VII, 1 e segs.). Quando viu
"os combates entre o carneiro e o bode" (VIII, 1 e segs.). Que êle viu estas coisas "em
Visão" é o que se lê no Cap. VII, 1, 2, 7, 13; VIII, 2; X, 1, 7, 8). Êle disse que "o Anjo
Gabriel lhe apareceu em Visão e conversou com ele" (IX, 21). Aconteceu o mesmo a João,
quando escrevia o Apocalipse; êle diz que se achava em Espírito em um dia de Domingo
(1, 10); que foi transportado em Espírito para um deserto (XVII, 3); que foi transportado
em Espírito para uma montanha (XXI, 10); que viu cavalos na Visão (IX, 17); e em outros
lugares, que viu coisas que descreve; por exemplo, o Filho do Homem no meio de sete
candelabros; o Tabernáculo, o Templo, a Arca e o Altar no Céu; o Livro selado com sete
selos e cavalos que saíam dêle; os quatro animais em torno do Trono; os doze mil eleitos de
cada Tribo; o Cordeiro então sobre a Montanha de Sião; os Gafanhotos que subiam do
abismo; o Dragão e seu combate contra Miguel; a mulher que deu à luz um Filho homem e
que fugiu para o deserto por causa do Dragão; as duas Bestas, uma subindo do mar e a
outra da terra; a Mulher sentada sobre a Bêsta de cor escarlate; o Dragão lançado no lago de
fogo e de enxofre; o Cavalo branco e a grande Ceia; a Cidade Santa, Jerusalém, descendo
do Céu, descrita quanto às suas portas, ao seu muro e a suas fundações; o Rio de água viva
e as árvores de vida dando fruto cada mês; e várias outras coisas Em um estado semelhante
estavam Pedro, Tiago e João, quando viram Jesus transfigurado; e Paulo, quando ouviu
do ,Céu cousas inefáveis.
Corolário
&158 - Pois que, neste Capitulo se tratou do Espírito Santo, é absolutamente importante
fazer notar que o Espírito Santo não é mencionado em parte alguma no Antigo Testamento,
mas que se diz únicamente o Espírito de Santidade em três lugares, uma vez em David (Ps.
51, 13); e duas vezes em Isaías (LXIII, 10, .11). Mas na Palavra do novo Testamento, tanto
nos Evangelhos, como os Atos dos Apóstolos e em suas Epístolas é freqüente,mente citado
e isso porque houve pela primeira vez um Espírito Santo quando o Senhor veio ao mundo;
com efeito, o Espírito Santo procede do Senhor segundo o Pai, pois só o Senhor é Santo
(Apoc. 15, 4). E' mesmo por isso que o Anjo Gabriel disse a Maria Mãe: "0 Santo
(Sanctum) que nascerá de ti" (Lucas I, 35). Se foi dito: "Não havia ainda um Espírito Santo
porque Jesus não tinha ainda sido glorificado" (João VII, 39), enquanto que antes se diz que
um Espírito Santo encheu Isabel (Lucas 1, 41). em seguida Zacarias (Lucas 1, 67), e
também Simeão (Lucas 11, 25), era porque o Espírito de Jehovah o Pai os tinha enchido, o
qual Espírito foi chamado Espírito Santo por causa do Senhor, que já estava no Mundo. É
por esta razão que na Palavra do Antigo Testamento não se diz, em lugar algum, que os
Profetas tenham falado pelo Espírito Santo, mas se diz que é por ,Jehovah; com efeito, se
diz por toda parte: Jehovah me falou; a palavra me foi dirigida por Jehovah; Jehovah disse;
a Palavra ,de Jehovah; a fim de que ninguém duvide que assim seja, vou citar unicamente
as passagens de Jeremias, onde estas expressões são empregadas: Cap. 1, 4, 7, 11, 12, 13,
14, 19. - 11, 1, 2, 3, 4, 5, 9, 22, 29, 31. 111, 1, 6, 10, 12, 14, 16. - IV, 1, 3, 9, 17, 27. - V, 11,
14, 18, 22, 29. - VI, 6, 9, 12, 15, 16, 21, 22. VII, 1, 3, 11, 13, 19, 20, 21. - VIII, 1, 3, 12, 13.
- IX, 1, 6, 9, 11, 17, 18, 21, 22. - X, 1, 2, 18. - XI, 1, 6, 9, 11, 17, 18, 21, 22. - XII, 14, 17. XIII, 1, 3, 6, 8, 9, 11, 12, 13, 14, 15, 25. - XIV, 1, 10, 14, 15. - XV, 1, 2, 3, 6, 11, 19, 20. XVI, 1, 3, 5, 9, 14, -16. - XVII, 5, 9, 15, 19, 20, 21, 24. - XVIII, 1, 5, 6, 11, 13. - XIX, 1, 3,
6, 12, 15. XX, 4. - XXI, 1, 4, 7, 8, 11, 12. XX11, 1, 2, 3, 5, 6, 11, 16, 18, 24, 29, 30. XXIII, 1, 2, 4, 5, 7, 11, 12, 15, 24, 28, 29, 30, 31, 32, 33, 38. XXIV, 3, 4, 5, 8. - XXV, 1, 3,
7, 8, 9, 12, 15, 27, 28, 29, 32. - XXVI, 1, 2, 18. - XXVII 1, 2, 4, 8, 11, 16, 19, 21, 22. XXVIII, 2, 12, 14, 16. - XXIX, 4, 8, 9, 10, 11, 14, 16, 19, 20, 21, 25, 30, 31, 32. XXX, 1, 2,
3, 4, 5, 8, 10, 11, 12, 17, 18, 2 1. XXXI, 1, 2, 7, 10, 15, 16, 17, 23, 27, 28, 31, 32, 33, 34,
35, 36, 27, 38. - XXXII, 1, 6, 14, 15, 25, 26, 28, 30, 36, 42, 44. - XXXIII, 1, 2, 4, 10, 12,
13, 14, 17, 19, 20, 23, 25. - XXXIV, 1, 2, 4, 5, 8, 12, 13, 17, 22. - XXXV, 1, 13, 17, 18, 19.
- XXXVI, 1, 6, 27, 29, 30. XXXVII, 6, 7, 9. - XXXVIII, 2, 3, 17. - XXXIX, 15, 16, 17, 18.
XL, 1. - XLII, 7, 9, 15, 18, 19. - XLIII, 8, 10. - XLIV, 1, 2, 7, 11, 24, 25, 26, 30. - XLV, 1,
2, 4, 5. - XLVI, 1, 23, 25, 26, 28. - XLVII, 1, 2. - XLVIII, 1, 8, 12, 30, 35, 38, 40, 43, 44,
47. - XLIX, 2, 5, 6, 7, 12, 13, 16, 18, 26, 28, 30, 32, 34, 35, 37, 38, 39. - L, 1, 4, 10, 18, 20,
21, 30, 31, 33, 35, 40. - LI, 1, 25, 33, 36, 39, 52, 53, 58. - Eis unicamente para Jeremias;
expressões semelhantes se encontram em todos os outros Profetas; e aí não se diz que o
Espírito Santo tenha falado, nem que Jehovah tenha falado pelo Espírito Santo.
&159 - Ao que precede ajuntarei estes Memoráveis: Pri-meiro Memorável. Um dia em que
eu estava em sociedade com os Anjos do Céu, vi a uma certa distância, em baixo, uma
grande Fumaça e o fogo que, por vêzes, se escapava; então, disse aos Anjos que
conversavam comigo: Há poucos aqui que saibam que a fumaça vista nos Infernos sai dos
falsos confirmados pelos raciocínios e que o fogo é a cólera se arrebatando contra os que
contradizem; isto, acrescentei eu, é também desconhecido neste Mundo como o é no meu,
onde vivo pelo corpo, que a chama não é outra coisa mais que a fumaça inflamada; fiz
muitas vêzes a experiência de que isso é assim, pois vi em uma fornalha fumaças se
elevarem acima da lenha e quando lhes cheguei fogo com um tição, vi estas fumaças se
mudarem em chamas e estas chamas terem a mesma forma que as fumaças, pois todas as
particularidades da fumaça se tornam pequenas fagulhas que se inflamam conjuntamente,
como acontece também com a pólvora para canhão incendiada; acontece o mesmo com esta
Fumaça que vemos lá em baixo; ela consiste em outros tantos falsos; e o fogo que se escapa
como uma chama é o arrebatamento do zêlo pelos falsos. Então, os Anjos me disseram:
Oremos ao Senhor para que nos seja permitido descer e nos aproximar, a fim de que
percebamos quais são os falsos que fumegam e se inflamam assim entre êles; e isso foi
concedido; e eis que apareceu
em torno de nós uma coluna, de luz continuando até
aquele lugar; e então vimos quatro Tropas de Espíritos, que confirmavam fortemente qúe
Deus Pai, porque é invisível, deve ser implorado e adorado; e não o Seu Filho nascido no
Mundo, porque é homem e visível; quando dirigi o olhar para os lados, à esquerda, vi
Sábios entre os Eclesiásticos e por detrás dêles, ignorantes; à direita, Eruditos dentre os
Leigos, e por detrás deles, iletrados; mas entre nós e êles, havia um intervalo hiante que não
podia ser transposto. Ora, nós voltamos os olhos e os ouvidos para a esquerda, onde
estavam os Sábios dentre os Eclesiásticos _e por detrás dêles, os ignorantes; e os ouvimos
raciocinar assim sobre Deus: Sabemos pela doutrina de nossa Igreja, que é uma sobre Deus
em toda a Europa, que é a Deus Pai porque é Invisível, que é preciso se dirigir e ao mesmo
tempo, então, ao Deus Filho e a Deus Espírito Santo, que são também invisíveis porque são
coeternos com o Pai; e como Deus Pai é o Criador do Universo, Êle está presente no
Universo, para qualquer parte que voltemos os olhos; e quando oramos, Ele nos escuta
favoràvelmente; e após a Mediação pelo Filho aceita, Êle envia o Espírito Santo que, palha
em nossos corações a glória da justiça de seu Filho e nos beatifica; nós, criados Doutores da
Igreja, quando pregamos, sentimos em nossos peitos a santa operação dêste envio e
exalamos a devoção segundo sua presença em nossas mentes; somos, assim afetados
porque dirigimos todos os nossos sentidos para Deus Invisível, que opera pelo envio de seu
espírito não singularmente na vista de nosso entendimento, mas universalmente em todo o
sis tema de nossa mente e de nosso corpo; o culto de um Deus
visível ou percebível
como homem diante das mentes, não apresentaria semelhantes efeitos. Depois que assim
falaram, os ignorantes dentre os Eclesiásticos que se tinham mantido por detrás dêles,
aplaudiram; e êles acrescentaram: Donde vem o Santo, senão de Deus não visível e não
perceptível? desde, que esta expressão toca a entrada de nosso ouvido, nosso rosto se
expande e nos regozijamos como pela doçura de uma aura odorífera e por isso batemos nos
peitos; se, ao contrário, se trata de um Divino visível e perceptível, desde que esta
expressão entra em nossos ouvidos. isso se torna puramente natural e não Divino; é por tal
razão que os Católicos Romanos cantam suas missas em latim e tiram do santuário dos
altares as hóstias que dizem conter mistérios Divinos, e as mostram ao povo que, diante
delas, como diante do que há de mais misterioso, caem de joelhos e respiram a santidade.
Depois disso nos voltamos para a direita, onde estavam colocados os Eruditos, e por trás
dêles os iletrados entre os Leigos; e ouvi os Eruditos falarem nestes têrmos: Sabemos que
os mais sábios dentre os Antigos adoraram um Deus invisível, que chamavam Jehovah, mas
que, depois dêles, nos séculos seguintes, os homens fizeram de seus Monarcas, defuntos
deuses, entre os quais estavam Saturno, Júpiter, Netuno, Plutão, Apolo, depois, Minerva,
Diana Vênus, Temis; que lhes erigiam templos e lhes prestavam um culto Divino; e que
dêste culto, pela ação do tempo, nasceu a idolatria que lançou todo o globo na
extravagância; nós, em conseqüência, acedemos por um consentimento unânime, a esta
decisão do Sacerdócio e de nossos padres, que houve e que há três Pessoas Divinas de toda
a eternidade, cada uma das quais é Deus; basta- nos que sejam invisíveis; os iletrados
acrescentaram depois dêles: Somos da mesma opinião; Deus não é Deus, e o homem,
homem? mas sabemos que se alguém propuser um Deus-Homem, a Massa do povo, que
tem de Deus uma idéia sensual, acederá a isso. Após estes discursos, seus olhos foram
abertos e êles nos viram perto dêles; e então, despeitados porque os tínhamos ouvido,
guardaram silêncio; mas os Anjos, pelo poder que lhes tinha sido dado, fecharam então os
exteriores ou inferiores de seus pensamentos pelosquais tinham falado, e abriram seus
interiores ou superiores e forçaram a falar de Deus segundo seus interiores; e então, tendo
tomado a palavra, disseram: 0 que é Deus? Não vimos sua forma e não ouvimos sua voz; o
que é Deus, portanto, senão a Natureza nos seus primeiros e nos seus últimos? nós a vemos
porque brilha a nossos olhos; e a ouvimos porque ressoa- em nos sos ouvidos. A estas
palavras, lhes dissemos: Vistes jamais Socin que reconheceu únicamente Deus Pai, ou
Arius que negou a Divindade do Senhor Salvador, ou alguns de seus sectários?
Responderam-nos: Não os vimos de modo algum. Eles estão, lhes dissemos, em um abismo
abaixo de vós; e imediatamente alguns foram retirados de lá; e tendo sido interrogados
sôbre Deus, falaram da mesma maneira que os precedentes; e além disso, disseram: 0 que é
Deus? podemos fazer tantos deuses quantos quisermos; e então lhes dissemos.: V inútil vos
falar do Filho de Deus nascido no Mundo, mas não obstante eis o que vos diremos: A fim
de que a respeito de Deus a fé n'Ele e por Éle, por isso mesmo- que ninguém viu Deus, não
se torne como uma bolha de sabão no ar, ornada de belas cores na primeira e na segunda
idade, e reduzida a nada, na terceira e na seguinte, aprouve a Jehovah Deus descer e tomar
o Humano e assim se tornar visível e convencer os homens que Deus não é um ser de razão
(ens), mas é Aquêle que Foi, E' e será de toda eternidade a toda eternidade; e que Deus não
é uma palavra de três sílabas, mas é o tudo da coisa desde o Alfa até o Omega, que é por
conseqüência a Vida e a Salvação de todos que crêem n' Ele, visível; e não daqueles que
dizem crer em um Deus invisível, pois crer, ver e conhecer fazem um; por isso o Senhor
disse a Filipe: ''Aquele que me vê e me conhece, vê e conhece o Pai"; e em outro lugar: "A
vontade do Pai é que se creia no Filho; e aquêle que crê no Filho tem a vida eterna, mas
aquêle que não crê no Filho não verá a vida, mas a cólera de Deus permanecerá sôbre ele";
eis o que o Senhor disse em João 111, 15, 16, 36; XIV, 6 a 15. Logo que ouviram isto,
muitos daqueles que compunham as quatro Tropas se arrebataram ao ponto de sair de suas
narinas fumaça e fogo; então fomos embora; e os Antigos, depois de me terem
acompanhado à casa, subiram para o Céu.
&160 - Segundo Memorável. Um dia, eu caminhava, acompanhado de Anjos, no Mundo
dos espíritos que está no meio entre o Céu e o Inferno e para o qual vão, a principio, todos
os homens depois da morte e são separados: os bons, para o Céu e os maus, para o Inferno;
e conversava com os Anjos sôbre diversos assuntos; entre outras coisas lhes disse: No
Mundo onde estou pelo corpo, aparecem durante a noite inumeráveis Estrêlas, grandes e
pequenas, e são outros tantos sóis que somente, no mundo de nosso sol, transmitem luz; e
quando vi que em vosso Mundo percebem-se também Estrêlas, presumi que eram em tão
grande número como no Mundo em que estou; os Anjos encantados com esta conversação,
diziam que sem dúvida havia tantas, pois que cada Sociedade do, Céu brilha por vêzes
como uma Estrêla diante daqueles que estão abaixo do Céu; e que as Sociedades do Céu
são inúmeras e tôdas dispostas segundo as variedades das afeições do amor do bem, que em
Deus são infinítas e, por conseguinte, segundo Deus são inumeráveis. E como estas
sociedades foram previstas antes da criação, penso que segundo seu número foi provido,
isto é, foram criadas outras tantas Estrêlas no Mundo onde deviam habitar os homens em
um corpo naturalmaterial. Enquanto conversávamos assim, vi no setentrião um caminho
batido, de -tal modo coberto de Espíritos, que apenas haveria entre êles o espaço de um
passo; e eu disse aos Anjos que havia visto este caminho também precedentemente e
Espíritos aí caminhando, coordenados como batalhões; e que tinha aprendido que é por êsse
caminho que passam todos os que saem do Mundo Natural; se êste caminho estava coberto
de um tão grande número de Espíritos, é porque morrem cada semana miríades de homens
e que todos êles, após a morte, transmigram para êste Mundo. A isso, os Anjos
acrescentaram: Este caminho vai ter ao meio dêste Mundo onde nos encontramos neste
momento; se vai ao meio, é porque do lado para 10 Oriente estão as Sociedades compostas
daqueles que estão no Amor para com Deus e no Amor em relação ao próximo; e a
esquerda, para o Ocidente, as Sociedades compostas daqueles que são contra estes amores;
e para diante, ao Meio-dia, as Sociedades compostas daqueles que são mais inteligentes que
os outros; dai resulta que os recém-vindos do Mundo natural afluem a princípio. para aqui;
quando chegam, estão ainda nos externos, nos quais estavam por último no Mundo
precedente; e em seguida são sucessivamente postos em seus internos e examinados quanto
à sua. qualidade; e após êsse exame, os bons são levados para seu lugar no Céu -e os maus,
a seu lugar, no Inferno.
Detivemo-nos no meio, onde terminava o caminho ao qual afluíam os Espíritos; e
dissemos: Fiquemos aqui algum tempo e falemos com alguns dos recém-vindos; e
escolhemos doze; a como eram todos recentemente chegados do Mundo natural, não
sabiam outra cousa senão que aí estavam ainda; e os interrogamos sôbre o- que pensavam
do Céu e do Inferno e da Vida após a morte. Um déles respondeu: A nossa Ordem Sagrada
imprimiu em mim a fé de que viveremos depois da morte e que há, um Céu e um Inferno;
por conseguinte, acredito que todos que vivem moralmente vão para o Céu e que, como
todos vivem moralmente, ninguém vai para o Inferno; e que assim o Inferno, é uma fábula
inventada pelo Clero para afastar do mau viver; que importa que eu tenha de Deus tal ou
qual pensamento? a pensamento não é mais que uma película ou uma bolha sôbre a água,
que se dissipa e desaparece. Um outro, que estava perto, dêle, falou assim: a minha fé é que
há um Céu e uni Inferno e que Deus governa o Céu e o Diabo, o Inferno; e como eles são
inimigos, um chama de mal o que o outro chama de bem; e o homem moral hipócrita, que
pode fazer que o mal pareça. como bem e o bem como mal, se mantém em um e outro
partido; então o que importa que eu esteja com um ou com outro, Senhor, desde que êle me
seja favorável; o mal e o bem agradam igualmente a-os homens. 0 Terceiro, que estava ao
lado. deste, disse: Que importância tem para mim, crer que há um Céu e um Inferno? quem
voltou de lá? quem deu notícias delá? se todo homem vivesse depois da morte, por que,
dentre uma tão grande multidão, nem um só voltou para dar notícias de lá? 0 Quarto, que
estava próximo, lhe disse: Eu te ensinarei por que ninguém voltou e não deu notícias de lá:
é que, quando o homem entregou a alma e morreu, esta alma ou se torna um espectro e se
dissipa, ou é como o sopro da boca, que não é, mais que um vento; como pode ela voltar e
falar com alguém? 0 Quinto, tomou a palavra e disse: Amigos, esperai até ao dia do
Julgamento Final, pois então todos voltarão para seus corpos e os vereis, falareis com êles e
cada um, então, contará ao outra o seu destino. 0 Sexto, que estava defronte, disse, rindo:
Como o espírito que é um sopro, pode voltar para um corpo comida pelos vermes e, ao
mesmo tempo, a seu esqueleto que~ pelo sol e reduzido a. pó? E como um Egípcio tomado
Múmia, e misturado por um farmacêutico com extratos e emulsões coisas que foram
bebidas ou comidas, pode voltar e contar alguma coisa; esperai pois, se é vossa fé, este
último dia, mas será uma -espera perpétua e em vão. Depois dêste, o Sétimo disse Se eu
acreditasse em um Céu e em um Inferno e, por conseguinte, em uma vida depois da morte,
eu creria também que os pássaros ,e as bestas devem igualmente viver; não há delas
algumas espécies tão morais e tão racionais como os homens? nega-se que as bêstas vivam,
eu portanto nego que os homens vivam; há Paridade de razões, uma resulta da outra; e o
que é o homem senão um animal? 0 Oitavo, que estava atrás dêste, avançou e disse: Crede,
se quiserdes, no Céu, mas eu não creio de modo algum no Inferno; Deus não é Onipotente e
não pode salvar cada homem? Então, o Nono lhe bateu na mão e disse: Deus não somente é
Onipotente, mas também é cheio de graças; não pode enviar quem quer que seja para um
fogo eterno e se alguém ai estivesse, seria impossível que Êle não o livrasse e não,o
retirasse de lá; 0 Décimo lançou-se de sua fila para o meio, e disse: Eu tampouco não creio
de modo algum no Inferno; Deus não enviou Seu Filho e o Filho não expiou e retirou os
pecados de todo mundo? o que pode agora o Diabo contra isso? .e visto que nada pode, o
que é então o Inferno? 0 Décimo, Primeiro, que tinha sido Padre, se inflamou ouvindo estas
palavras, -e disse: Não sabes que aquêles que obtiveram a fé, à qual foi ligado o mérito de
Christo, são salvos e que aqueles que Deus -elegeu obtêm essa fé? Não pertence a Eleição
ao Arbítrio do Onipotente e a seu Julgamento? Quem são os que são dignos? quem pode se
opor a êste Arbítrio e a êste Julgamento? 0 Dêcimo Segundo, que era um político, guardava
silêncio; mas tendo ,sido instado para coroar as respostas com a sua, disse: Não manifesto
nada do que penso do Céu, do Inferno e da vida depois ,da morte, pois que ninguém sabe a
mínima coisa; sobre estes assuntos; mas não obstante permiti aos Padres, sem os censurar,
pregá-las, pois as mentes do Vulgo são assim, por um laço invisível, mantidas ligadas às
leis e aos chefes; a Salvação pública não depende disso?
Depois de ouvir êstes diversos sentimentos, ficamos interditos de surprêsa e dissemos entre
nós: Entretanto estão aí pessoas que se chamam Cristãos; não são nem homens, nem ~as,
são homens-bestas; contudo, para retirá-los do sono, lhes dissemos: Há um Céu e um
Inferno e há uma vida depois da morte; sereis convencidos disso quando tiverdes, dissipado
a ignorância sôbre o estado da vida em que estais agora; com efeito, cada um, nos primeiros
dias após a morte, não sabe outra coisa senão que vive ainda no mesmo Mundo, onde
estava precedentemente, pois o tempo escoado é como um sono; e quando se sai dêsse
sono, não se pode fazer outra cousa senão crer que se está onde se estava antes; acontece o
mesmo convosco hoje; por isso falastes como pensáveis no Mundo precedente. E os Anjos
dissiparam a ignorância; e então, estas pessoas se viram em um outro Mundo, entre pessoas
que não conheciam, e exclamaram: Oh! onde estamos nós? E lhes dissemos: Não estais
mais no Mundo natural, estais no Mundo espiritual; e nós somos Anjos. Então, estando bem
acordados, disseram: Se vós sois Anjos, mostrai-nos o Céu. E respondemos: ficai um pouco
aqui e nós voltaremos; uma meia hora depois, tendo voltado lhes dissemos: Segui-nos ao
Céu; e êles nos seguiram e subimos ao Céu com êles; e porque estávamos com êles, os
guardas abriram a porta e os admitiram; e dissemos aos que recebiam à entrada êstes
recém-vindos: Submetei-os ao exame; e eles os fizeram voltar as costas e viram que seus
occiputes eram muito escavados; então lhes disseram: Retirai-vos daqui, pois há em vós o
prazer do amor do mal fazer e por conseqüência não fostes, de modo algum, conjuntos ao
Céu, pois em vossos corações negastes Deus e desprezastes a religião; e então lhes
dissemos: Não ficai, porque, de contrário, sereis expulsos; e êles se apressaram em descer e
ir embora.
No caminho, para voltar à minha casa, indagamos por que razão os Occiputes daqueles que
estão, no prazer de fazer o mal foram escavados neste Mundo; e eu apresentei esta: E' que
no homem há dois Cérebros um no Occipute que se chama Cerebelo; e o outro, no
Sincipute, que se chama Cérebro; que no Cerebelo habita o amor da vontade, e no Cérebro,
o pensamento do entendimento; e que, quando o pensamento do entendimento não conduz
ao amor da vontade do homem, os íntimos do Cerebelo, que em si mesmos são celestes, se
deprimem, dai a Excavação.
&161 - Terceiro Memorável. Um dia, no Mundo espiritual, ouvi um ruído como o que faz
uma Mó; era na Plaga Setentrional dêsse Mundo; a princípio me admirei do que podia ser
isso; depois me lembrei de que a Má e Moer significam procurar segundo a Palavra o que
serve à doutrina; avancei portanto para o lugar de onde êsse ruído se fazia ouvir; e quando
cheguei perto, o ruído cessou; e então vi sôbre a terra uma espécie de -cavidade à qual se
chegava por um antro; tendo percebido o antro, desci e entrei; era uma Câmara, na qual vi
um Homem velho, sentado no meio de livros, tendo diante dêle a Palavra onde procurava o
que podia servir à sua doutrina; em torno, dêle, espalhadas por terra, fôlhas de papel, sôbre
as quais escrevia passagens que deviam lhe servir; em uma Câmara adjacente, havia
secretários que recolhiam estas folhas de papel e transcreviam em um volume o que tinha
sido escrito nelas. Eu o interroguei a princípio a respeito dos Livros que estavam em torno
dêle; disse-me que todos tratavam da Fé justificante, os da Suécia e da Dinamarca
profundamente, os da Alemanha mais profundamente, os da Inglaterra ainda mais
profundamente, e os da Holanda o mais profundamente; e acrescentou que êles diferiam em
diversos pontos, mas que todos estavam de acordo sôbre o Artigo da Justificação e da
Salvação pela fé só. Em seguida, me disse que agora recolhia da Palavra este ponto
principal da Fé justificante, que Deus Pai se tinha afastado da graça para com o Gênero
humano por causa de suas iniqüidades e, por conseqüência, para salvar os homens tinha
havido necessidade Divina de que uma satisfação, uma mediação fosse feita por alguém
que tomasse sôbre si a danação da justiça; e que isso não tinha podido ser feito senão por
seu Filho único; e depois que isso foi feito, houve por causa dêle, acesso junto a Deus Pai;
pois dizemos: Pai, tem piedade de nós por causa do Filho; e acrescentou: Vejo e vi que isto
está conforme com toda razão e conforme com a Escritura; como Deus Pai teria podido ser
aproximado de outro modo senão pela fé no mérito do Filho? Eu o escutei e estava
extremamente surpreendido por lhe ouvir dizer que isto estava conforme com a razão e
conforme a Escritura, quando, entretanto, isto é contra a razão e contra a Escritura e, por
isso lho disse, abertamente. Então, êle respondeu no arrebatamento de seu zêlo: Como
podes falar
assim? Eu lhe abri então completamente a minha mente, dizendo: Não é contra a razão
pensar que Deus Pai se, afastou da graça para com o Gênero humano, e que a reprovou e
excomungou? A Graça Divina não é um atributo da Essência Divina? Afastar-se da graça
seria, portanto, afastar-se da Essência Divina; e afastar-se de sua Essência Divina, seria não
ser mais Deus; pode Deus separar-se de Si mesmo? Acredita-me, do lado de Deus, do
mesmo modo que a Graça é infinita, do mesmo modo também é eterna; do lado do homem,
a graça de Deus pode ser perdida se o homem não a recebe; se a graça se retirasse de Deus,
acabaria todo o Céu e todo o Gênero humano; do lado de Deus, a graça permanece,
portanto, eternamente, não só em relação a-os Anjos e aos Homens, mas mesmo em relação
aos diabos do Inferno;
pois que isto é conforme a razão, porque dizes que não há outro acesso para junto do Pai
senão pela fé no mérito do Filho, quando, entretanto, há acesso perpétuo pela graça? Mas
por que dizes para junto de Deus Pai em consideração ao Filho, e não dizes pelo Filho? Não
é o Filho Mediador e Salvador? Por que não te diriges ao Mediador e Salvador mesmo?
Não é Ele mesmo Deus e Homem? sobre a Terra há alguém que se dirija imediatamente a
um Imperador, a um Rei ou a um Príncipe? Não é a um Intendente e a um Introdutor que se
deve dirigir? Não sabes que o Senhor veio ao Mundo para ser Ele mesmo o Introdutor para
junto do Pai, que não há acesso senão por Ele; e que êste acesso é perpétuo, quando nos
dirigimos imediatamente ao Senhor mesmo, pois que Êle está no Pai e o Pai está n'Eles?
Procura agora na Escritura e verás que isto está conforme com ela e que o teu caminho para
ir ao Pai lhe é oposto, do mesmo modo que é oposto à razão; te direi mesmo que há
imprudência em lançar-se para Deus Pai, e em não chegar a Ele por Aquêle que está no
Seio do Pai e Só no -Pai; não lestes em João o versículo 6 do Capítulo XIV? A estas
palavras, este velho entrou em um tal furor, que se lançou de cima de sua cadeira e gritou a
seus secretários que me expulsassem; e como no mesmo Instante eu saí de bom grado, êle
lançou após mim fora da porta um Livro que sua mão pegou ao acaso; e esse Livro era a
Palavra.
&162 - Quarto Memorável. Elevou-se uma discussão entre os Espíritos sobre esta questão:
Pode-se ver algum vero doutrinal Teológico na Palavra, senão pelo Senhor? Todos
concordaram com isso, que ninguém o pode senão por Deus, porque "um homem -nada
pode tomar, a menos que não lhe tenha sido dado do Céu" (João 111, 27); restava, portanto,
discutir se a~ o pode sem se dirigir imediatamente ao Senhor, sendo Êle a Palavra; de outro
lado, que a, verdadeira doutrina também era vista quando nos dirigíamos imediatamente a
Deus Pai; por isso, a discussão se fêz, a princípio, sobre êste ponto: E' permitido a um
Cristão dirigir-se imediatamente a Deus Pai e assim, saltar por cima do Senhor; e não é isso
uma insolência e uma audácia indecente e temerária, pois que o Senhor disse, que ninguém
vai ao Pai senão por Êle? (João XIV, 6). Todavia, deixaram êste ponto e disseram que o
homem pode ver o vero doutrinal segundo a Palavra por sua própria luz natural; mas esta
opinião foi rejeitada; por isso insistiram, dizendo que êste vero pode ser visto por aquêles
que oram a Deus Pai; leu-se diante déles uma passagem da Palavra e então oraram de
joelhos a Deus Pai para ilustrá-los e disseram a respeito da passagem da Palavra, que tinha
sido lida diante dêles, que tal e tal cousa era um vero, quando, entretanto, era um falso; isso
foi repetido várias vêzes até produzir aborrecimento; enfim, confessaram que não podiam;
mas do outro lado, aquêles que se dirigiram imediatamente ao Senhor viram os veros e os
explicaram aos outros. Depois desta discussão assim terminada, subiram do Abismo alguns
Espíritos que apareceram a princípio como Gafanhotos e, em seguida, como homens
pequenos; eram aquêles que, no Mundo, tinham orado a Deus Pai e confirmado a
Justificação pela fé só;, eram aqueles mesmos de que se fala no Apocalipse, Capítulo 9, 1 a
11; êles diziam que viam em uma luz clara e também pela Palavra, que o homem é
justificado pela fé só, sem as obras da lei; foi-lhes perguntado por que fé; responderam:
Pela fé de Deus Pai; mas depois que foram examinados, lhes foi dito do Céu que êles não
sabiam nem mesmo um único vero doutrinal. segundo a Palavra; todavia, replicaram que
viam entretanto seus veros na luz; então, lhes foi dito que os viam em uma luz fantástica;
perguntaram o que é uma luz fantástica; ensinaramlhes que a luz fantástica é a luz da
confirmação do falso, e que esta luz corresponde à luz na qual estão as Corujas e os
Morcegos, para os quais as trevas são luz e a luz é treva; isso foi confirmado quando
olhavam para cimaem direção ao Céu, onde está a Luz mesma, viam trevas; e quando
olhavam para baixo em direção ao abismo, de onde êles eram, viam a luz. Indignados com esta prova confirmativa, disseram que, desse modo, a Luz e as Trevas não são
algumacousa, mas são unicamente um estado do olho, pelo qual se diz que a luz é luz e que
as trevas são trevas; mas lhes foi mostrado que a Luz fantástica, que é a luz da confirmação
do falso, estava nêles e que sua luz era únicamente uma atividade de sua mente, que tirava
sua origem do fogo das concupiscências e que se parecia muito com a luz dos gatos, cujos
olhos, pelo desejo ardente de encontrar ratos nas caves, pareciam durante a noite, como
velas. A estas palavras, disseram com arrebatamento, que não eram gatos, nem como gatos,
porque podiam quando queriam; mas como temiam que lhes fosse dito: Por que não
quereis? eles se retiraram; e se precipitaram em seu Abismo; e os que se parecem com êles,
são mesmo chamados pelos Anjos Corujas e Morcegos e também gafanhotos.
Quando chegaram perto dos seus, no Abismo, e contaram que os Anjos lhes haviam dito
que êles não sabiam nenhum vero doutrinal, nem mesmo um só, e que os tinham chamado
Corujas, Morcegos e Gafanhotos, houve tumulto, e disseram: Oremos a Deus que nos
permita subir e demonstraremos claramente que temos um grande número de veros
doutrinais, que mesmo os Arcanjos reconhecerão; e por que oraram a Deus, a permissão foi
dada e êles subiram em número de trezentos; e quando apareceram sobre a terra, disseram:
Fomos célebres e de nomeada no Mundo porque conhecíamos e ensinávamos os arcanos da
Justificação pela fé só; e pelas confirmações, não somente víamos luz, mas a víamos
mesmo como um relâmpago brilhante; e nós vemos ainda do mesmo modo em nossas
células; e entretanto, acabamos de saber pelos nossos companheiros que estiveram
convosco, que esta luz não é a luz, mas trevas, por esta razão, como não temos, como
dizeis, nenhum Vero doutrinal segundo a Palavra; sabemos que todo vero da Palavra brilha
e acreditamos que era daí que vinha o esplendor de que estávamos cercados quando
meditávamos profundamente sobre nossos arcanos; por isso, vos demonstraremos que
temos, pela Palavra, veros em grande quantidade; e disseram: Não temos êste vero, que há
uma Trindade, Deus Pai, o Filho e o Espírito Santo e que é preciso crer na Trindade? não
temos êste Vero, que o Christo é nosso Redentor e nosso Salvador? não temos êste Vero,
que o Christo só é a Justiça e que a Êle só pertence o Mérito, e que aquêle que quer se
atribuir alguma coisa do mérito e da justiça do Senhor é injusto e ímpio? não temos êste
Vero, que nenhum mortal pode fazer por si mesmo nenhum bem espiritual, mas todo bem,
que em si é o bem, é de Deus? não temos este Vero, que há um bem meritório e um bem
hipócrita e que estes bens são males? (não temos êste Vero, que o homem, por suas próprias
forças, em nada pode contribuir para sua salvação?) não temos êste Vero, que não obstante
é preciso fazer boas obras? não temos êste Vero, que há uma fé e que é preciso crer em
Deus e que cada um tem a vida segundo crê? além de muitos outros veros segundo a
Palavra. Quem, de vós, pode negar um dêsses veros? e entretanto, dissestes que em nossas
escolas não tínhamos Vero algum, nem mesmo um só; não é isso que nos haveis
injustamente censurado? Mas receberam então estas respostas: Tôdas as proposições que
enunciastes são em si mesmas veros, mas (vós as tendes falsificado, aplicando-as para
confirmar um falso princípio e daí são) convosco e em vós veros falsificados, que tiram do
princípio falso, seu caráter de falso. Que isso seja assim, é mesmo o que demonstraremos a
vossos olhos: Há, não longe daqui, um lugar sobre o qual a luz influi diretamente do Céu;
no Meio está uma Mesa; e quando ai é colocado um papel sobre o qual está escrito um Vero
tirado da Palavra, êste papel, pelo Vero que aí está escrito, brilha como uma Estrela;
escrevei, pois, vossos Veros sobre um papel e colocai-O sobre a Mesa e vereis. Êles os
escreveram sobre um papel, e o deram ao guarda, que o pôs sobre a Mesa, que então, lhes
disse: Afastai-vos, e olhai para a Mesa; e êles se afastaram e olharam; e eis que êste Papel
brilhava como uma estrêla; então, o guarda lhes disse: Vêdes que são Veros que escrevestes
sobre o papel; mas aproximai-vos mais para perto e fixai vossa vista sobre o papel; êles o
fizeram e, de repente, a luz desapareceu e o papel se tornou prêto como se tivesse sido
coberto de fuligem; e em seguida, o guarda lhes disse: Tocai o papel com vossas mãos, mas
guarda!-vos de tocar a escritura; e logo que lhe tocaram, saiu uma chama e o consumiu.
Depois que viram o abrasamento do papel, lhes foi dito: Se tivesses tocado a escritura,
teríeis ouvido um ruído retumbante e teríeis queimado os dedos; e então os que estavam por
trás dêles lhes disseram: Vêdes agora que as Verdades de que abusastes para confirmar os
Arcanos de vossa Justificação, são em si mesmos, Verdades, mas que são em vós Verdades
falsificadas. Aquêles olharam então para cima, e o Céu lhes apareceu como sangue, em
seguida como uma obscuridade; e êles mesmos apareceram aos olhos dos Espíritos
angélicos, como Morcegos, outros como Corujas e alguns como Bufos; fugiram para suas
trevas, que brilhavam fantasticamente a seus olhos.
Os Espíritos angélicos que estavam presentes, ficaram muito admirados porque, até então,
nada tinham sabido concernente a êste lugar e à mesa que aí se achava; e então veio da
Plaga meridional uma voz que lhes disse: Aproximaivos daqui e vereis, alguma cousa mais
maravilhosa ainda; êles se aproximaram e entraram em uma Câmara cujas paredes
brilhavam -como ouro, e aí viram também uma Mesa, sobre a qual estava colocada 4
Palavra, cercada de pedras preciosas em formas celestes; e o Anjo encarregado da guarda
lhes disse: Quando a Palavra é aberta, salta dela uma luz de um brilho inefável e aparece,
ao mesmo tempo, acima e em torno da Palavra, uma espécie de Arco-Íris produzido pelas
pedras preciosas; quando vem aqui um Anjo do Terceiro Céu, aparece acima e em torno da
Palavra, um Arco-Íris em um plano vermelho; quando vem aqui um Anjo do segundo Céu e
que olha a Palavra, aparece um Arco-íris em um plano azul celeste; quando vem aqui um
Anjo do último Céu e que olha, aparece um Arco-íris em um plano branco; quando vem um
bom -espírito e que olha, aparece uma luz cujas variedades são como as do mármore; lhes
foi mostrado à vista, que isso acontece assim. Em seguida o Anjo encarregado da guarda
lhes disse: Se vem alguém que tenha falsificado a Palavra, o esplendor desaparece desde
logo; e se êle se aproxima e fixa os olhos sobre a Palavra, forma-se como sangue em volta;
então, é intimado a se retirar porque há perigo. Entretanto, um Espírito que, no Mundo,
tinha escrito como Chefe de uma doutrina sobre a Fé Só Justificante, se adiantou com
audácia, e disse: Eu, quando estava no Mundo, não falsifiquei a Palavra; exaltei mesmo a
Caridade ao mesmo tempo que a Fé e ensinei que o homem, em estado de fé, no qual
exerce a caridade e as obras da caridade, é renovado, regenerado e santificado pelo
Espírito ,Santo; ensinei também que a Fé não existe só, isto é, sem as boas obras; do mesmo
modo que não existe árvore boa sem frutos, ,sol sem luz, nem fogo sem calor; e além disso,
censurei aqueles que diziam que as boas obras não eram necessárias; e de mais preconizei
os preceitos do Decálogo, e também a penitência; e assim, apliquei de uma maneira
admirável, todos os veros da Palavra no Artigo sobre a Fé, que não obstante descobri e
demonstrei ser só salvífica. Este Espírito, na confiança de sua afirmação de que não tinha
falsificado a Palavra, se aproximou da Mesa; -a não obstante a advertência do Anjo, tocou a
Palavra; mas no mesmo instante saiu da Palavra fogo com fumaça e se produziu com
estrondo uma explosão, que o lançou em um canto da Câmara e ai ficou estendido como
morto durante perto de uma hora. Os Espíritos Angélicos ficaram muito admirados, mas
lhes foi dito que este Chefe Eclesiástico tinha mais que todos os outros exaltado os bens da
caridade como procedendo da Fé, mas, não obstante, não tinha entendido outras obras
senão obras políticas, que são também chamadas obras morais e civis, que é preciso fazer
pelo Mundo e por sua própria prosperidade no Mundo, mas de modo algum para a
salvação; e que, além disso, tinha -suposto da parte do Espírito Santo, obras invisíveis, de
que o homem nada sabe, que são engendradas na Fé, quando se está no estado de fé.
Então, os Espíritos Angélicos falaram entre si, da falsificação da Palavra e convieram
unânimemente, que falsificar a Palavra é tomar os Veros e empregá-los para confirmar
falsos, o que é tirá-los da Palavra para fora da Palavra e os matar, por exemplo, aplicar-se à
Fé de hoje e explicar segundo esta fé, todos esses veros referidos acima, por aquêles que
tinham -saldo do abismo; que esta fé se tenha impregnado de falsos, isso será demonstrado
no que segue: E' também tirar da Palavra este Vero: que a Caridade deve ser exercida e que
é necessário fazer bem ao próximo; se então alguém confirma que é preciso fazê-la, mas
não pela Salvação1 pois que todo bem da parte do homem não é um bem porque é
meritório, êste tira o Vero da Palavra para fora da Palavra e o mata, pois que o Senhor, em
Sua Palavra, prescreve a todo homem que quer ser salvo que ame o próximo e lhe faça bem
segundo êste amor. Acontece o mesmo com os outros Veros.
Da Trindade Divina
&163 - Tratou-se de Deus Criador e, ao mesmo tempo, da Criação, em seguida do Senhor
Redentor e, ao mesmo tempo, da Redenção; e enfim, do Espírito Santo e, ao mesmo tempo,
dá Divina Operação, pois que assim tratou-se de Deus Triuno, é necessário que se trate
também da Trindade Divina, que no Mundo Cristão é conhecida e, contudo, desconhecida;
com efeito, por Ela só se adquire uma justa idéia de Deus e uma justa idéia de Deus é na
Igreja como o Santuário e o altar em um Templo e como uma coroa sobre a cabeça e um
cetro na mão de um Rei sentado sobre um Trono, pois todo corpo da Teologia depende dela
como uma cadeia depende de seu primeiro elo; e, se quiserdes crer, cada um obtém seu
lugar nos Céus segundo sua idéia de Deus, pois esta idéia é como a Pedra de toque com a
qual se experimenta o ouro e a prata, quer dizer o bem e o vero, tais como estão no homem,
pois que não existe nêle nenhum bem salvífico que não venha de Deus, nem vero algum
que não tire do seio do bem a sua qualidade. Mas, para que se veja com os dois olhos o que
é a Trindade Divina, Sua Exposição vai ser dividida em Artigos na ordem seguinte:
I - HÁ UMA TRINDADE DIVINA, QUE E' 0 PAI, 0 FILHO E 0 ESPíRITO SANTO.
II - ÊSTES TRÊS, 0 PAI, 0 FILHO, 0 ESPíRITO SANTO, SAO OS TRÊS ESSENCIAIS
DE UM úNICO DEUS, QUE FAZEM UM COMO A ALMA, 0 CORPO E A OPERAÇÃO
NO HOMEM.
III - ANTES DO MUNDO CRIADO NÃO HAVIA ESTA TRINDADE, MAS APÓS 0
MUNDO CRIADO, QUANDO DEUS SE ENCARNOU, ELA FOI PROVIDA E FEITA;
E ENTAO, NO SENHOR DEUS REDENTOR E SALVADOR JESUS CHRISTO.
IV - A TRINDADE DE PESSOAS DIVINAS DE TODA A ETERNIDADE, OU ANTES
DO MUNDO CRIADO, E' NA IDÉIA DO PENSAMENTO UMA TRINDADE DE
DEUSES; E A IDÉIA DE TRÊS DEUSES NÃO PODE SER APAGADA PELA
CONFISSÃO ORAL DE UM úNICO DEUS.
V - A TRINDADE DE PESSOAS ERA DESCONHECIDA NA IGREJA APOSTÓLICA,
MAS FOI TIRADA DO CONCILIO DE NICÉA; E POR CONSEGUINTE, FOI
INTRODUZIDA NA IGREJA CATÓLICA-ROMANA E PASSOU DAI PARA AS
IGREJAS QUE DELA SE SEPARARAM.
VI - DA TRINDADE NICEANA E, AO MESMO TEMPO, ATANASIANO SAIU A FÉ
QUE PERVERTEU TODA A IGREJA CRISTA.
VII - DAI, RESULTA QUE ESTA FÉ E' A ABOMINAÇÃO DA DESOLAÇÃO, E A
AFLIÇÃO TAL COMO AINDA NAO TINHA HAVIDO E NÃO HAVERÁ, QUE 0
SENHOR TINHA PREDITO EM DANIEL, NOS EVANGELHOS E NO APOCALIPSE.
VIII - DEPOIS DISSO, QUE SE UM NOVO CÉU E UMA, NOVA IGREJA NÃO
TIVESSEM SIDO FUNDADOS PELO SENHOR, NENHUMA CARNE SERIA SALVA.
IX - DA TRINDADE DE PESSOAS, DAS QUAIS CADA UMA, EM PARTICULAR, E'
DEUS, SEGUNDO 0 SÍMBOLO DE ATA NASIO, ELEVARAM SOBRE DEUS UM
GRANDE NúMERO DE IDÉIAS DISCORDANTES E HETEROGÊNEAS, QUE SAO
FANTASIAS E ABORTOS.
Cada uma destas proposições vai ser explicada em particular.
&164 - I. HÁ UMA TRINDADE DIVINA, QUE E' 0 PAI, 0 FILHO E 0 ESPíRITO
SANTO.
Que haja uma Trindade Divina, o Pai, o, Filho e o Espírito Santo, vê-se claramente segundo
a Palavra e por estas passagens da Palavra: "0 Anjo Gabriel disse a Maria: um Espírito
Santa virá sobre ti e uma virtude do, altíssimo te cobrirá com sua sombra; por isso, o que
nascerá de ti Santo será chamado filho de Deus (Lucas 1, 35); aqui três são mencionados, o
Altíssimo que é Deus Pai, o Espírito Santo e o Filho de Deus. "Quando Jesus era batizado,
eis que os Céus foram abertos e João viu o Espírito Santo descendo como uma Pomba e
vindo sobre Êle; e eis uma voz dos Céus, dizendo: Êste é o meu Filho amado em quem me
comprazo" (Mateus 111, 16, 17; Marcos 1, 10, 11; João 1, 32). Ainda mais abertamente,
por estas palavras do Senhor aos Discípulos: Ide e fazei discípulos de tôdas as nações,
batizandoos em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo" (Mateus XXVIII, 19); e além
disso, por estas, em João: Há três que dão testemunho no Céu, o, Pai, a palavra e o Espírito
Santo" (I Epist. 5, 7). E além disso, o Senhor orou a seu Pai, falou d'Ele e com Êle, e disse
que enviaria o Espírito Santo e também o enviou. De mais, os Apóstolos, em suas
Epístolas, mencionaram freqüentemente o Pai e o Filho e o Espírito Santo. Por tudo isso, é
bem evidente que há uma Trindade Divina, que é o Pai, o Filho e o Espírito Santo.
&165 - Mas como deve ela ser compreendida? São três Deuses que, de essência e assim de
nome, são um só Deus? ou três objetos de um único sujeito, por conseqüência são
nícamente as qualidades ou os atributos de um único Deus, que são assim mencionados? ou
é de outro modo? A razão abandonada a si mesma não pode absolutamente ver cousa
alguma; mas que partido tomar? não há outro para o homem senão dirigir-se ao Senhor
Deus Salvador e ler a Palavra sob seu auspício, pois Ele é o Deus da Palavra; e o homem
será ilustrado, e verá a verdade que a razão também reconhecerá. Ao contrário, se não te
diriges ao Senhor, mesmo que leias mil vêzes a Palavra e que aí vejas a Trindade Divina e
também a Unidade, não compreenderás jamais outra cousa, senão que há três Pessoas
Divinas, cada uma das quais, em particular, é Deus; e assim, três Deuses; mas como isso
repugna à percepção comum de todos os homens no Mundo inteiro, eis por que, para evitar
censura, se inventou que, embora sejam três em verdade, entretanto, a fé exige que se diga
um único Deus e não três Deuses; e que, além disso, para evitar ser sobrecarregado de
críticas, o entendimento, quanto a este ponto principalmente, será fechado e mantido
encadeado sob a obediência da fé; e que isto, pela Ordem Cristã, será daí por diante uma
coisa santa na Igreja Cristã. Um tal feto paralítico nasceu de não se ler a Palavra sob o
auspício do Senhor; e quem quer que não leia a Palavra sob êste auspício, a lê sob o
auspício da própria inteligência; e esta é como um pássaro noturno nas cousas que estão na
luz espiritual, tais como são os essenciais da Igreja; e quando um tal homem lê na Palavra
coisas que concernem à Trindade e que por elas pensa que, embora sejam três, entretanto
são um, isso lhe parece semelhante à resposta de uma -sacerdotiza sobre seu tripé; e como
não a compreende, enrola-o entre os dentes, pais se a colocasse diante dos olhos seria um
enigma; quanto mais se esforça por desenrolá-la mais se envolve -em trevas até que se
ponha a pensar nisso sem o entendimento, que é a mesma coisa que ver sem os olhos; em
suma, ler a Palavra sob o auspício da própria inteligência, é o que fazem todos os que não
reconhecem o Senhor por Deus do Céu e da Terra; por conseguinte, não se dirigem
unicamente a Ele e não 0 adoram únicamente; é semelhante a crianças que para brincarem
põem uma venda nos olhos e querem caminhar em linha reta, acreditando mesmo seguir
uma linha reta; e entretanto, se afastam, passo a passo, para o lado, vão em sentido oposto,
batem contra uma pedra e caem. E' também semelhante a pilotos que -navegam sem
bússola, dirigem o navio contra esc-olhos e perecem; è semelhante a um homem que
caminha em uma vasta campina no meio de um nevoeiro espesso e que, vendo um
escorpião, que acredita ser um pássaro, quer agarrá-lo com a mão, levantálo, e recebe,
então, uma ferida mortal; é ainda, semelhante a um mergulhão ou a um milhafre, que vê
sobre as águas uma pequena parte do dorso de um grande peixe, se lança sobre êle, enterra
seu bico e é arrastado pelo peixe, sufocando-se nas ondas; enfim, é semelhante àquele que
entra em um labirinto sem gula e sem fio e que, quanto mais nêle penetra interiormente'
mais perde o caminho da saída. 0 homem que não lê a Pa1avra sob o auspício do Senhor,
mas que a lê sob o auspício da própria inteligência, acredita-se um lince e mais clarividente
que Argus, quando, entretanto, não vê interiormente a menor coisa do vero; não vê senão
falsos que, quando se persuade deles, lhe aparecem como a estrêla polar, para a qual dirige
tôdas as velas do seu pensamento; e então, não vê os veros mais do que uma toupeira; e se
os vê, dobra-os em favor de sua fantasia e assim perverte e falsifica os santos da Palavra.
&166 - II. ESTES TRÊS, 0 PAI, 0 FILHO E 0 ESPIRITO -SANTO, SAO OS TRÊS
ESSENCIAIS DE UM úNICO DEUS, QUE FAZEM UM,, COMO A ALMA, 0 CORPO E
A OPERAÇÃO NO HOMEM.
Há para uma mesma cousa Essenciais comuns e também Essenciais particulares; e êstes
com aquêles, fazem -uma única Essência; os Essenciois comuns de um homem são a sua
alma, o seu corpo e a sua operação; que êstes façam uma única Essência, pode-se vê-lo
nisto, que um é pelo outro e para o outro, em série continua; com efeito, o homem tem seu
começo pela alma, que é a essência mesma da semente; a alma não somente começa, mas
ainda produz, em sua ordem, tôdas as cousas, que pertencem ao corpo e as que procedem,
ao mesmo tempo, dêstes dois, a alma e o corpo, as quais são chamadas operações; é por
isso que, segundo a produção de um pelo outro, e por conseguinte, segundo enxêrto e a
conjunção, torna-se evidente que êstes três pertencem a uma mesma essência; é por isso
que são chamados os três essenciais.
&167 - Que no Senhor Deus Salvador tenha havido e haja estes três Essenciais, a saber, a
Alma, o Corpo e a Operação, cada um o reconhece; que Êle tenha tido sua Alma de
Jehovah Pai Isso não pode ser negado senão pelo Antichristo, pois na Palavra de um e outro
Testamento o Senhor é chamado Pilho de Jehovah, Filho de Deus Altíssimo, Unigênito; o
Divino do Pai é portanto, como a alma do homem, o primeiro Essencial do Senhor; que o
Filho, que Maria deu à luz, seja o Corpo dessa Alma Divina, é a conseqüência disso, pois
no útero da mãe não se produz senão o Corpo concebido e derivado da alma; êste Corpo, é,
portanto, o segundo Essencial; que as - operações façam o terceiro Essencial, é porque elas
procedem, ao mesmo tempo, da alma e do corpo; e que as cousas que procedem são da
mesma essência que as que produzem. Que os três Essenciais, que são * Pai, o Filho e o
Espírito Sonto, sejam um no Senhor, como * alma, o corpo e a operação no homem, vê-se
claramente pelas .palavras do Senhor, que o Pai e Éle são um, e que o Pai está n'Ele e Êle
no Pai; acontece o mesmo com Êle e o Espírito Santo, pois que o Espírito Santo é o Divino
procedente do Senhor segundo o Pai, ns. 153, 154; demonstrá-lo de novo, seria um trabalho
supérfluo e, por assim dizer, sobrecarregar uma mesa de comidas, quando já se está
saciado.
&168 - Quando se diz que o Pai, o Filho e o Espírito Santo são três Essenciais de um único
Deus, como a alma, o corpo e a operação no homem,.parece diante da Mente humana que
três Pessoas sejam, êstes três Essenciais, o que não é admissivel; mas -quando se entende
que o Divino do Pai, que faz a Alma, e o Divino do Filho, que faz o Corpo, e o Divino do
Espírito Santo ou o Divino Procedente, que faz a Operação, são os três Essenciais de um
único Deus, então isto cabe no entendimento. Com efeito, Deus Pai é seu Divino, o Filho
segundo o Pai o seu, e o Espírito Santo segundo um e outro o seu, Divinos, que sendo de
uma única essência e unânimes, fazem um único Deus. Se, ao contrário, êstes três Divinos
são chamados Pessoas e que, a cada Pessoa, seja atribuída sua propriedade, como ao Pai a
imputação, ao Filho a mediação, e ao Espírito Santo a operação, então a Essência Divina é
dividida, quando entretanto ela é indivisível, assim cada um dos três não é Deus -em
plenitude, mas cada um o é em um terço de potência, o que um entendimento são não pode
deixar de rejeitar.
&169 - Quem, portanto, não pode perceber a Trindade no Senhor pela Trindade de cada
homem? Em cada homem há a alma, o corpo e a operação, semelhantemente, no Senhor,
"pois no Senhor habita toda a plenitude da Divindade corporalmente% segundo Paulo,
Coloss. 2, 9; por isso, a Trindade no Senhor é Divina, mas no homem é humana. Quem não
vê que nesta expressão mística - "Há três Pessoas Divinas; e contudo, um único Deus; e
êste Deus, embora seja um, não é entretanto uma única Pessoa" - a Razão não tem parte
alguma, mas estando entorpecida, força contudo, a boca a falar como um papagaio? quando
a razão está entorpecida, que pode ser a linguagem da boca, senão inanimada? quando a
boca fala e a Razão erra aqui e ali, em dissentimento com ela, que pode ser a linguagem
senão insensata? Hoje a Razão humana, quanto à Divina Trindade, está ligada como um
prisioneiro com ferros nas mãos e nos pés em um calabouço e pode ser comparada a uma
Vestal enterrada viva, por ter deixado se extinguir o fogo sagrado; entretanto, a Trindade
Divina deve luzir como um archote nas mentes dos homens da Igreja, pois que Deus, em
sua Trindade e na unidade da Trindade, é tudo em tôdas as santidades do Céu e da Igreja.
Com efeito, da Alma fazer um Deus, do corpo um segundo Deus, e da Operação um
terceiro, que outra cousa é isso senão fazer dêstes três Essenciais de um mesmo homem,
três partes distintas entre si? Não será mutilá-lo e matá-lo?
&170 - III. ANTES DO MUNDO CRIADO NÃO HAVIA ESTA TRINDADE, MAS
APÓS 0 MUNDO CRIADO, QUANDO DEUS SE ENCARNOU, ELA FOI PROVIDA E
FEITA; E ENTÃO, NO SENHOR DEUS REDENTOR E SALVADOR JESUS CHRISTO.
Na Igreja Cristã, hoje se reconhece uma Trindade Divina antes do Mundo criado, a qual, é
que Jehovah Deus de toda eternidade engendrou um Filho e que de um e de outro saiu
então o Espírito Santo; e que, cada um dêstes Três, é por si ou em particular, Deus, porque
cada um é uma Pessoa subsistindo por si; mas como isso não cabe em razão alguma,
chamam-no um mistério, no qual só se pode entrar nisto, que há para êstes três uma única
Essência Divina, pela qual entende-se a Eternidade, a Imensidade, a Onipotência; e por
conseguinte, uma Divindade igual, uma Glória igual e uma Majestade igual; mas em
seguida, será demonstrado que esta Trindade é de três Deuses e que assim não é uma
Trindade Divina; que, ao contrário, a Trindade que é também do Pai, do Filho e do Espírito
Santo, a qual foi provida e feita depois que Deus se encarnou, assim depoisdo Mundo
criado, seja a Trindade Divina, porque é de um único Deus, isso é evidente por tudo que
precede. Que esta Trindade Divina esteja no Senhor Deus Redentor e Salvador Jesus
Christo, é porque os três Essenciais de um único Deus, que fazem uma única Essência estão
n'Ele; que n'Êle haja toda a plenitude da Divindade, segundo Paulo, vê-se também pelas
palavras do Senhor mesmo, que tudo que é do Pai -é d'Ele, e que o Espírito Santo fala não
por si mesmo mas por Êle; e, além disso, que do sepulcro, quando Êle ressuscitou, retirou
todo Seu Corpo Humano, não unicamente quanto à Carne, mas também quanto aos Ossos,
vê-se em Mateus XXVIII, 1 a 8; em Marcos XVI, 5, 6; em Lucas XXIV, 1, 2, 3, e em João
XX, 11 a 15; acontece diferentemente com todo outro homem; é mesmo o que Êle provou
ad ~um aos Discípulos, dizendo: "Vêde minhas mãos e meus pés, que sou Eu mesmo,
tocai-Me e vêde, pois um Espírito não tem carne e ossos, como Me vêdes ter" (Lucas
XXIV, 39); por isto, todo homem, se quiser, pode se convencer de que o Humano do
Senhor é Divino, que assim n'Êle Deus é Homem e o Homem Deus.
&171 - A Trindade que a Igreja Cristã de hoje adotou e introduziu em sua Fé, é que Deus
Pai engendrou o Filho de toda a eternidade; e que o Espírito Santo saiu então de um e de
outro; e que cada um dêles é Deus por Si; esta Trindade não pode ser concebida pelas
Mentes humanas senão como uma Triarquia; e como o govêrno de três Reis em um só
Reino, ou de tr s Generais sobre um único Exército, ou de três Patrões em uma só casa,
cada um dos quais teria um poder igual, que resultaria daí senão a destruição? e se alguém
quiser figurar ou esboçar diante da vista da mente esta Triarquia e ao mesmo tempo sua
unidade, não pode apresentá-la à contemplação senão como um homem ,,com três cabeças
sobre um só corpo, ou como três corpos sob uma só cabeça; uma semelhante imagem
monstruosá, da Trindade, deve se apresentar diante daqueles que crêem em três Pessoas
Divinas, sendo cada uma Deus por Si mesma; e que as conjugue em um único Deus e
negam que Deus, porque é um, seja uma única Pessoa. Que um Filho de Deus de toda a
eternidade tenha descido e tenha tomado o Humano, isso pode ser comparado às fábulas
dos Antigos, que as Almas humanas foram criadas desde o comêço do Mundo e que entram
nos corpos e- se tornam homens; depois também a estes sonhos, que a alma de um passa
para um outro, como muitos da Igreja Judaica acreditaram, por exemplo, que a alma de
Elias passou para o corpo de João Batista; e que David voltará em seu corpo ou no corpo de
um outro e reinará sobre Israel e sobre Judá porque se diz em. Ezequiel: "Suscitarei sobre
êles um único Pastor, que os apascentará, meu servidor David; êle será seu Pastor e Eu,
Jehovah, serei seu Deus; e David, príncipe no meio deles'' (XXXIV, 23, 25); e em outros
lugares; não sabendo que nessas passagens por David é entendido o Senhor.
&172 - IV. A TRINDADE DE PESSOAS DIVINAS DE TODA ETERNIDADE, OU
ANTES DO MUNDO CRIADO, E' NAS IDÉIAS DO PENSAMENTO UMA TRINDADE
DE DEUSES; E A IDÉIA DE TRÊS DEUSES NÃO PODE SER APAGADA PELA
CONFIESAO ORAL DE UM úNICO DEUS.
Que a Trindade de três Pessoas Divinas de toda eternidade seja uma Trindade de Deuses,
vê-se claramente por estas palavras do símbolo de Atanásio: "Outra é a Pessoa do Pai, outra
a do Filho e outra a do Espírito Santo: Deus e Senhor é o Pai, Deus e Senhor é o Filho,
Deus e Senhor é o Espírito Santo; mas, entretanto, não são nem três Deuses nem três
Senhores, mas um único Deus e um único Senhor; porque, do mesmo modo que somos
forçados pela verdade Cristã a confessar que cada Pessoa é em particular Deus e Senhor, do
mesmo modo nos é proibido pela Religião Católica, dizer três Deuses ou três Senhores; êste
símbolo foi recebido por toda a Igreja Cristã como Eucumênico ou universal; e tudo o que
hoje se sabe e reconhece sobre Deus é tirado dêste símbolo. Que aquêles que estavam no
Concílio de icéa, donde saiu como feto póstumo este Símbolo chamado símbolo de
Atanásio, não tenham entendido outra Trindade senão uma Trindade de Deuses, quem quer
que -o leia somente de olhos abertos pode vê-lo; que uma Trindade de Deuses tenha não
sómente sido entendida por êles, mas ainda que não seja entendida outra Trindade no
Mundo Cristão, isso resulta de que todo conhecimento sobre Deus é tirado deste símbolo e
que cada um permanece na fé das palavras que aí estão. Que hoje, no Mundo Cristão, não
seja entendida outra Trindade que não seja uma. Trindade de Deuses, eu apelo sobre isso
para todo homem, tanto Leigo como Eclesiástico, tanto para os Professores e Doutores
laureados, como para os Bispos e Arcebispos consagrados; e também para os Cardeais
purpurados e o que é mais, para o Pontífice Romano mesmo, que cada um se consulte e se
exprima então segundo as idéias de sua mente; pelas palavras desta doutrina recebida
universalmente sobre Deus, isso é também visível e tão diáfano como a água através de um
vaso de cristal; por exemplo, que há três Pessoas e que cada uma delas é Deus e Senhor; em
seguida, que pela verdade Cristã se deve confessar e reconhecer que cada Pessoa é em
particular Deus e Senhor, mas que a Religião ou- a Fé Católica ou Cristã proíbe dizer ou
nomear três Deuses e três Senhores; e que assim a Verdade e a Religião, ou a Verdade e a
Fé não são uma única cousa, mas são duas cousas que se contrariam. Se foi acrescentado
que não são nem três Deuses nem três Senhores, mas um unico unico Deus e um único
Senhor, foi para não se expor ao ridículo diante do Mundo Inteiro, pois quem não
arrebentaria de rir com a idéia de três Deuses? mas quem não vê a contradição no que foi
acrescentado? Se, ao contrário, tivessem dito que a Divina Essência é do Pai, a Divina
Essência é do Filho, e a Divina Essência é do Espírito Santo, mas que não são três
Essências Divinas, mas que a Essência é una e indivisível, então este mistério seria
explicável, por exemplo, quando pelo Pai é entendido o Divino do qual (a quo) tudo
provém, pelo Filho o Divino Humano que d'Ele provém, e pelo Espírito Santo, o Divino
procedente, os quais pertencem, todos três, a um único Deus; ou se pelo Divino do Pai é
entendida a mesma cousa que a alma no homem, pelo Divino Humano a mesma cousa que
pelo corpo desta alma, e pelo Espírito Santo, a mesma coisa que pela Operação que procede
da alma e do corpo, então são entendidos três essenciais que pertencem a uma única e
mesma Pessoa; e assim, fazem em conjunto, uma Essência única e indivisível.
&173- Que a idéia de três Deuses não pode ser apagada pela Confissão oral de um único
Deus, é porque esta idéia foi semeada na memória desde a infância; e todo homem pensa
segundo as coisas que aí estão; a Memória no homem é como o Estômago ruminatório nos
pássaros e nas bêstas, que põem neste estômago os alimentos de que são sucessivamente
alimentados e, de tempos em tempos, os retiram daí e os fazem passar para o Estômago
mesmo, onde êsses alimentos são digeridos e distribuídos para todos os usos do corpo; o
Entendimento humano é êste Estômago como a Memória é o Estômago ruminatório. Que a
idéia de três Pessoas Divinas de toda a eternidade, que é a mesma que a idéia de três
Deuses, não possa ser apagada pela confissão oral de um único Deus, cada um pode vê-lo
por isso unicamente que ela ainda não foi apagada; e que, entre os homens Célebres, há os
que não querem que ela seja apagada, pois persistem em sustentar que as três Pessoas
Divinas são um única Deus e negam, com obstinação, que Deus, porque é um, seja também
uma única Pessoa; mas qual é o homem sábio que não pensa em si mesmo, que pela palavra
Pessoa é entendida uma ,atribuição de alguma qualidade e, de modo algum, uma pessoa?
entretanto, não se sabe qual é essa qualidade; e como não se sabe, aquilo que é semeado na
memória desde a infância permanece, como permanece na terra uma raiz de árvore, de onde
nascem alguns brotos, quando a árvore mesma é cortada; mas, meu amigo, não somente
corta essa árvore, mas extirpa sua raiz; e então, planta em teu jardim, árvores de bom fruto;
guarda-te, portanto, de que a idéia de três Deuses se apodere de tua mente, que a boca, que
não tem idéia alguma, pronuncie só, um Deus; que é então um entendimento acima da
memória, que pensa em três Deuses e um Entendimento abaixo da memória, segundo o
qual a boca, pronuncia um único Deus, e isso ao mesmo tempo? São como em um teatro,
um comediante que pode desempenhar o papel de duas pessoas passando com velocidade
de um lado ,do teatro para o outro, e dizer, de um lado, uma cousa, e do outro lado, o
contrário; e assim discutindo, se chamar aqui sábio, e lá louco? que outra coisa resulta daí,
senão que, quando está no meio do teatro e olha para cada lado, pensa que nem uma cousa
nem outra é verdade? chega-se da mesma forma a pensar que não há nem um Deus, nem
três Deuses, que assim não há Deus algum; o naturalismo que reina hoje não tem outra
origem. No Céu ninguém pode pronunciar a Trindade de -Pessoas, cada uma das quais, em
particular, é Deus, pois a própria atmosfera celeste, na qual os pensamentos dos Anjos
voam e ondulam como o som em nosso ar, se opõe a isso; lá, só o hipócrita o pode, mas o
som de suas palavras retine na atmosfera celeste como um ranger de dentes ou como o grito
de um corvo ,para os augures. Aprendi também do Céu, que apagar pela confissão oral de
um único Deus a fé na Trindade de Deuses implantada na mente pelas confirmações, é tão
impossível como -fazer passar uma árvore por sua semente, ou o queixo de um homem por
um fio de sua barba.
&174 - V. A TRINDADE DE PESSOAS ERA DESCONHECIDA NA IGREJA
APOSTÓLICA, MAS FOI TIRADA DO CONCILIO DE NICÉA E, EM SEGUIDA, FOI
INTRODUZIDA NA IGREJA CATóLICA-ROMANA E DEPOIS PASSOU DAI PARA
AS IGREJAS QUE DELA SE SEPARARAM.
Pela Igreja Apostólica é entendida não somente a Igreja que havia em diversos lugares no
tempo dos Apóstolos, mas também dois ou três séculos depois dêsse tempo; mas, por fim,
começou-se a arrancar de seus gonzos as portas do Templo e se lançaram como ladrões no
Santuário; pelo Templo é entendida a Igreja; pela Porta o Senhor Deus Redentor; e pelo
Santuário, Sua Divindade; pois Jesus disse: "Em verdade vos dígo, aquele que não entra
pela Porta no Aprisco, mas que sobe por um outro lugar, é um salteador e um ladrão; Eu
sou a Porta, por Mim se alguém entra, será salvo". Éste atentado foi cometido por Arius e
por seus sectários; é por isso que um Concílio que foi convocado por Constantino, o
Grande, 'em Nicéa, cidade da Bitinia; e lá, a fim de rejeitar a heresia perniciosa de Arius,
foi imaginado, concluído e sancionado por aquêles que tinham sido convocados, que havia
de toda eternidade Três Pessoas Divinas, o Pai, o Filho e o Espírito Santo, em cada uma das
quais havia por si e em si, a personalidade, a existência e a subsistência; que a segunda
Pessoa, ou o Filho, desceu, tomou o Humano e fêz a Redenção; que, por conseguinte, a
Divindade está unida a Seu Humano pela União hipostática e que, por esta união, havia
uma estreita afinidade com Deus Pai. Depois dêsse tempo uma multidão de heresias
abomináveis sobre Deus e sobre a Pessoa do Christo começou a sair da terra; e Anticristos
começaram a levantar a cabeça e a dividir Deus em três; e o Senhor Salvador em dois; e
assim a destruir o Templo que o Senhor tinha elevado pelos Apóstolos e isso até que não
restasse pedra sobre pedra que não fosse derrubada, segundo Suas próprias palavras
(Mateus XXIV, 2), onde pelo Templo é entendido não somente o Templo de Jerusalém,
mas também a Igreja, da consumação ou do fim da qual se trata em todo êsse Capítulo. Mas
que outra cousa se podia esperar deste Concílio e dos seguintes, que semelhantemente,
dividiram a Divindade em três partes, e colocaram Deus encarnado abaixo deles sob o
escabelo de seus pés? pois separaram a Cabeça da Igreja de seu Corpo, porque subiram por
um outro lugar, isto é, porque passaram por cima de Deus encarnado e subiram para Deus
Pai como para um outro Deus, sómente com a pequena palavra de Mérito de Christo na
boca, para que tivesse piedade por causa desse Mérito; e assim a Justificação influía
imediatamente com todo seu cortêjo, a saber, com a remissão dos pecados, a renovação, a
santificação, a regeneraçâo e a salvação; e isso sem nada de mediato, da parte do homem.
&175 - Que a Igreja Apostólica não tenha sabido a menor cousa da Trindade de Pessoas ou
das três Pessoas de toda a eternidade, vê-se claramente pelo Símbolo dessa Igreja, chamado
Símbolo dos Apóstolos, onde estão estas palavras: "Creio em Deus, o Pai Onipotente,
Criador do Céu e da Terra; e em Jesus Christo, seu Filho único, nosso Senhor, que foi
concebido do Espírito Santo, nasceu da Virgem Maria; e no Espírito Santo". Aí não se faz
menção alguma de um Filho de toda eternidade, mas se fala de um Filho concebido do
Espírito Santo e nascido da Virgem Maria; sabe-se pelos Apóstolos que Jesus Christo era
o_ verdadeira Deus (I João V, 21); que n'Ele habitava corporalmente toda a. plenitude da
Divindade (Coloss. 2, 9); que os Apóstolos tinham pregado a Fé n'Ele (Atos 20, 21); e que
a Ele pertencia toda poder no Céu e sobre a Terra (Mateus XXVIII, 18).
&176 - Que confiança pode-se ter nos Concílios, quando eles não se dirigem
Imediatamente ao Deus da Igreja? A Igreja não é o Corpo do Senhor e Êle mesmo não é a
sua Cabeça? 0 que é o corpo sem a Cabeça; e o que é o corpo a que se pôs três Cabeças, sob
o auspício das quais se tomam decisões- e, se expedem decretos? Não acontece então que a
Ilustração, que é espiritual pelo Senhor só, que é o Deus do Céu e da Terra, e, ao mesmo
tempo, o Deus da Palavra, se torna cada vez mais natural e, por fim, sensual? E então, não
se explora algum vem real teológico em sua forma interna, sem que seja imediatamente
pelo pensamento do entendimento racional, e dissipado no ar, como a palha pelo vento?
Então, neste estado, em lugardas verdades sobrevêm as ilusões; e em lugar dos raios da
luz:, as trevas; e então, se está como em uma caverna com óculos no, nariz e uma vela na
mão e se fecham as pálpebras para os veros espirituais que estão na luz do Céu, mas abre-se
para os sensuais:que estão na luz ilusória dos sentidos do corpo; a mesma cousa acontece
em seguida quando se lê a Palavra; a mente dorme sóbre os veros, desperta sobre os falsos e
torna-se como está escrito, a Besta subindo do mar, quanto à boca como um leão,. quanto
ao corpo como um leopardo e quanto aos pós-, como um urso (Apoc. 13, 2). No Céu, se
diz, que quando o Concilio de, Nicéa terminou, houve coincidência com estas coisas que o
Senhor predisse aos Discípulos: "0 Sol será obscurecido, a Lua. não dará sua luz, as estrêlas
cairão do Céu e as Potências dos Céus serão abaladas" (Mateus XXIV, 29); e na realidade a
IgrejaApostólica era como uma Estrêla nova aparecendo no Céu Astral e a Igreja, após os
dois Concílios de Nicéa, tornou-se como, a mesma Estrêla que ficou depois opaca, não
aparecendo mais, assim como isso aconteceu mesmo algumas vezes no Mundo Natural
segundo as observações dos Astrônomos. Na Palavra, ~ que Jehovah Deus habita em uma
luz Inacessível; quem, por-tanto, poderia se aproximar d'Ele se Éle não habitasse em uma,
luz acessível, isto é, se Èle não tivesse descido e não tivesse to-mado o Humano; e se neste
Humano não se tivesse tornado a Luz do Mundo? (João 1, 9; XII, 46); quem não pode ver
que. - aproximar-se de Jehovah Deus em Sua Luz, é tão Impossível,como tomar as asas da
Aurora e voar com elas para o Sol oualimentar-se com os raios solares em lugar de um
alimento ele mentar; ou tão impossível como um, Pássaro voar no éter e um Cervo correr
no ar.
&177 - VI. DA TRINDADE NICEANA E AO MESMO TEMPO ATANASIANA SAIU A
FÉ QUE PERVERTEU TORDA A IGREJA CRISTA.
Que a Trindade Niceana e ao mesmo tempo Atanasiana, seja uma Trindade de Deuses, vêse explicado acima segundo seus símbolos, n. 172; daí saiu a fé da Igreja de hoje, que é em
Deus Pai, em Deus Filho e em Deus Espírito Santo; em Deus Pai, para que Ele impute a
justiça do Salvador seu Filho e a atribua-ao homem; em Deus Filho, para que Éle Interceda
e estipule; no Espírito Santo, para que Êle, efetivamente, inscreva a justiça do Filho
imputada e que, depois de a ter estabelecido a sele, santificando e regenerando
o homem; eis a Pé de hoje, a qual só pode testemunhar que é uma Trindadede Deuses que é
reconhecida e adorada. Da Fé de cada Igreja decorre não somente todo seu culto, mas
também toda sua parte dogmática; por conseguinte, pode-se dizer que tal é a fé da Igreja, tal
é sua doutrina; que esta fé, porque é a fé em três Deuses, tenha pervertido tôdas as cousas
da Igreja, é o que resulta daí; pois a Fé é o princípio e os doutrinais são os principiados; e
os principiados tiram sua essência do princípio. Se alguém submete a exame cada um dos
doutrinais, por exemplo, aqueles que concernem a Deus, à Pessoa do Christo, à Caridade à
Penitência, à Regeneração, ao Livre Arbítrio, à Eleição, ao uso dos sacramentos do Batismo
e a Santa Ceia, verá claramente que a Trindade de Deuses está em cada doutrinal, e se aí
não parece estar efetivamente, não obstante a doutrina ressalta daí como de sua fonte. Mas
como um tal exame não pode ser feito aqui e que, entretanto, é necessário que seja feito
para abrir os olhos, será acrescentado a esta Obra um Apêndice, no qual isso será
demonstrado. A Fé da Igreja sobre Deus é como a Alma do corpo; e os doutrinais são como
seus membros; e, além disso, a Fé em Deus é como uma Rainha, e os dogmáticos são como
oficiais da sua corte; e do mesmo modo que èstes dependem das ordens dadas pela Rainha,
do mesmo modo os dogmáticos dependem do enunciado da fé; segundo esta fé somente
pode se ver como é entendida a Palavra na Igreja, pois a fé se aplica e puxa para si tudo que
pode; se a fé é falsa, ela se prostitui com todo vero da Igreja, ou volta para a esquerda e o
falsifica e torna o homem insensato nos espirituais; mas se a Fé é verdadeira, é então
favorável a toda a Palavra; e o Deus da Palavra, que é o Senhor Deus Salvador, espalha a
luz, inspira com seu Divino assentimento, e faz com que o homem se torne sábio.
Que a fé de hoje, que na forma interna é a fé de três Deuses e, na forma externa, a fé em um
único Deus, tenha extinguido a luz da Palavra e afastado da Igreja o Senhor e assim tenha
precipitado sua manhã na noite, ver-se-á também no Apêndice; isso foi feito pelas heresias
antes do Concílio de Nicéa; e em seguida, pelas heresias provindas dêste Concílio e após
êste Concílio; mas que confiança se pode ter em Concílios que não entram pela Palavra no
Aprisco, mas sobem por um outro lugar, segundo as palavras do Senhor em João X, 1, 9;
sua deliberação é muito semelhante à marcha de um cego de dia, ou de um homem tendo
olhos de noite, que um e outro não vêem o fosso antes de nêle caírem. Por exemplo, que
confiança se pode ter em Concílios que estabeleceram o Vigariato do Papa, a Apoteose de
mortos e sua invocação como se fossem Deidades (Numina), a veneração de suas imagens,
a autoridade de indulgências, a divisão da Eucaristia, etc.? Que confiança se pode ter em
um Concílio que firmou a execrável Predestinação? e esta Predestinação, êles a
suspenderam como um Palácio da religião diante dos templos de sua Igreja. Mas, 6 meu
amigo, dirige-te ao Deus da Palavra; entra assim pela porta no Aprisico, isto é, na Igreja, e
serás ilustrado; verás, tu mesmo, como do alto de uma montanha não somente os passos e
os erros do maior número, mas também os teus passos precedentes e os teus precedentes
erros na sombria floresta ao pé da montanha.
&178 - A Fé de cada Igreja é como uma semente, donde saem todos os dogmas e pode ser
comparada à semente de uma árvore, donde nascem tôdas as partes da árvore até aos frutos;
e também à semente do homem de onde são engendradas em série sucessivas linhagens e
famílias; quando, portanto, se conhece a a Fé principal, que pela predominância é chamada
salvífica, conhece-se qual é a Igreja; isto pode ser ilustrado por êste exemplo: Seja a Fé que
a Natureza é Criadora do Universo, as conseqüências desta fé são que o Universo é o que se
chama Deus; que a Natureza é a sua Essência; que o Éter é o Deus supremo, que os antigos
chamavam Júpiter; que o Ar é a Deusa que os antigos chamavam Juno e davam por esposa
a Júpiter; que o Oceano é um Deus abaixo déles, que se pode, como os antigos, chamar
Netuno; e que, como a Divindade da Natureza penetra mesmo no centro da Terra, lá
também há um Deus, que se pode, como os antigos, chamar Plutão; que o Sol é a corte de
todos os Deuses onde se reúnem quando Júpiter convoca a assembléia; que, além disso, o
Fogo é a vida proveniente de Deus; e que os Pássaros voam em Deus, as Bestas caminham
em Deus e os Peixes nadam em Deus; que, além disso, os pensamentos são unicamente
modificações do éter, como as palavras que dêles provêm são modificações do ar; e que as
afeições do amor são mudanças de estado ocasionadas pelo influxo dos raios do sol nelas;
que, no meio de tudo isso, a Vida depois da morte e, ao mesmo tempo, o Céu e o Inferno,
são fábulas inventadas pelos Padres para obterem honras e riquezas, mas que essas crenças,
ainda que sejam fábulas, são, entretanto, úteis e que é preciso não zombar delas
abertamente porque servem ao bem público, contendo os espíritos dos simples em um
vínculo de obediência aos magistrados; mas que, entretanto, aquêles que caíram nas rédes
da religião, são homens arrastados por seus pensamentos de quimeras e suas ações de
minúcias e são, para os padres, baixos servos que crêem no que não vêem; e vêem o que
excede à esfera de sua mente. Estas conseqüências e várias outras semelhantes, estão
contidas nesta Fé, que a Natureza é criadora do universo e dela decorrem quando é aberta.
Isto foi referido, a fim de que se saiba que na Fé da Igreja de hoje, que na sua forma interna
é em três Deuses e na forma externa em um só, há falsidades em multidão e que se pode
tirar dela tantas quantas aranhazinhas há em um casulo proveniente de uma aranha-mãe;
qual é o homem cuja mente se tornou verdadeiramente racional pela luz proveniente do
Senhor, que não vê isso? mas como um outro o veria, quando a porta que conduz a esta fé e
a suas produções foi fechada com ferrolho por este estatuto de que não é permitido à razão
penetrar nos mistérios desta fé.
&179 - VII. DAI RESULTA QUE ESTA FÉ E' A ABOMINAÇÃO DA DESOLAÇAO E
A AFLIÇÃO TAL COMO NAO HOUVE E QUE NAO 0 HAVERA, QUE 0 SENHOR
TINHA PREDITO EM DANIEL, NOS EVANGELHOS E NO APOCALIPSE.
Em Daniel lê-se estas palavras: "Enfim sobre o pássaro das abominações estará a desolação
e até à consumação e à desolação ela se derreterá sobre a devastação' (IX, 27). No
Evangelista Mateus, o Senhor diz: "Então vários falsos profetas se elevarão e seduzirão a
muitos; quando pois virdes a Abominação da desolação predita por Daniel, o Profeta,
estabelecida no lugar santo, aquêle que lê preste atenção" (XXIV, 11, 15); e em seguida, no
mesmo Capítulo: "Haverá uma aflição grande, tal como ainda não houve desde o começo
do mundo até ao presente e não haverá mais" (vers. 21). Tratou-se desta aflição e desta
abominação em sete capítulos do Apocalipse; são elas que são entendidas pelo cavalo prêto
e pelo cavalo pálido, que saíram do livro de que o cordeiro abria os selos (Apoc. 6, 5 a 8).
Depois pela Bêsta que subiu do abismo, que fêz a guerra às duas testemunhas e as matou
(11, 7 e segs.). Pelo Dragão que se mantinha diante da Mulher que estava para dar à luz,
para devorar seu fruto e que a perseguiu no deserto e aí lançou, de sua goela, águas como
um rio, para a submergir (12.0). Pelas Bestas do Dragão, uma subindo do mar e outra da
terra (13). Pelos três Espíritos semelhantes a rãs, que saíram da goela, do dragão da goela
da
besta e da boca do falso profeta (16, 13) . E, além disso, por estas passagens: "Depois que
os sete anjos derramaram as taças da cólera de Deus, nas quais estavam as últimas sete
pragas, sobre a Terra, sobre o mar, sobre as fontes e os rios, sobre o sol, sobre o trono da
besta sobre o Eufrates e, enfim, no ar, houve um grande tremor de terra, tal como ainda não
tinha havido desde que os homens foram feitos" (16). O tremor de terra significa o
desmoronamento da Igreja, que é feito pelos falsos e pelas falsificações do vero, a mesma
coisa que significa a aflição grande tal como ainda não tinha havido desde o comêço do
mundo (Mateus XXIV, 21). coisas semelhantes são entendidas por estas palavras: "0 Anjo
lançou ma foice e vindimou a vinha da terra, e lançou no grande lagar da cólera de Deus,
fêz pisar o lagar e saiu sangue até aos freios dos cavalos em mil e seiscentos estádios (14,
19, 20); o sangue significa o vero falsificado; além de várias outras coisas nestes sete
Capítulos.
&180 - Nos evangelistas, Mateus XXIV, Marcos XIII, e Lucas XXI, foram descritos os
declínios sucessivos e as corrupções sucessivas da Igreja Cristã; e pela aflição grande, tal
como ainda não houve desde o comêço do mundo, é entendida, como. aqui e ali algures na
Palavra, a infestação dos veros pelos falsos, até que não reste mais vero algum que não
tenha sido falsificado e consumido; Isto também é entendido pela abominação da desolação
nos Evangelistas, e ainda pela desolação das abominações e pela consumação e a decisão
em Daniel; e a mesma coisa é descrita no Apocalipse pelos extratos que acabam de ser
dados. E' o que foi efetuado pela Igreja, reconhecendo a Unidade de Deus na Trindade e a
Trindade na Unidade, não em uma única Pessoa, mas em Três e, por conseguinte, fundouse a Igreja, na Mente, sobre a Idéia de três Deuses; e na boca sobre a Confissão de um
único Deus; pois assim separaram-se do Senhor, ao ponto de que não se tem mais nenhuma
idéia da Divindade em Sua Natureza Humana; quando, entretanto, Ele mesmo é Deus Pai
no Humano; é por isso, que Éle é chamado "Pai de eternidade" (Isaías IX, 5); e que Éle
disse a Filipe: "Quem me Vê, vê o Pai" (João XVI, 7, 9).
&181 - Mas pergunta-se: De onde vem a fonte mesma da qual saiu esta abominação da
desolação, tal como é descrita em Daniel IX, 27; e esta aflição, tal como ainda não tinha
havido e não haverá mais, Mateus XXIV, 21? A resposta é que vem desta Fé universal do
Mundo Cristão e do influxo de sua ope e de sua imputação, segundo as tradições. É
surpreendente que a doutrina da Justificação por esta fé só, ainda que seja não a fé, mas
uma quimera, obtenha todos os sufrágios nas Igrejas Cristãs, Isto é, ai reine quase como o
único ponto teológico na Ordem Sacra; é o que todos os noviços do clero aprendem,
absorvem e devoram com avidez nas Casas de instrução; e em seguida, ,como inspirados de
uma sabedoria celeste, a ensinam nos Templos, a fazem conhecida nos Livros e por ela,
procuram e exploram o nome, a reputação e a glória de uma erudição supe-rior, como
também recebem, por causa dela, diplomas de valor e recompensas; e estas cousas se
fazem, ainda que por esta fé só, hoje, o Sol tenha sido obscurecido, a Lua tenha sido
privada de seu esplendor e as Estrelas tenham caído e que as Potências dos Céus tenham
sido abaladas, segundo as palavras da predição feita pelo Senhor, em Mateus XXIV, 29;
que a doutrina desta fé tenha hoje cegado as mentes ao ponto de não quererem ver; por
conseguinte, são como se não pudessem ver Vero Divino algum interior na luz do sol, nem
na luz da lua, -mas unicamente no exterior em uma espécie de superfície áspera à luz da
lareira durante a noite, é o que se tornou indubitável para mim; é por isso que eu pode
predizer que se os Divinos Veros sobre a conjunção real da caridade e da fé sobre o Céu é o
Inferno, sobre o Senhor, sobre a vida depois da morte e sobre a felicidade eterna, descessem
do Céu gravados em letras de prata, os Justificadores e os Santificadores pela fé só, não os
julgariam dignos de ser lidos; mas seria outra coisa se um Papel sobre a Justificação pela fé
só subisse dos Infernos, êles o agarrariam, o beijariam e o levariam para casa, em seu seio.
&182 - VIII. DEPOIS ISTO, QUE SE UM NOVO CÉU E UMA NOVA IGREJA NÃO
FOSSEM FUNDADOS PELO SENHOR, NENHUMA CARNE SERIA SALVA.
Lê-se em Mateus: "Haverá então unia aflição grande, tal ,como ainda não houve desde o
comêço do Mundo até ao presente e nem haverá mais; e se não fossem abreviados êsses
dias nenhuma carne seria salva" (XXIV, 22); neste Capítulo, se trata da Consumação do
século, pela qual é entendido o fim da Igreja de hoje; é por isso que por abreviar êsses dias,
é entendido por fim a essa Igreja e instaurar uma nova. Quem não sabe que se o Senhor não
tivesse vindo ao Mundo e não tivesse feito a Redenção, nenhuma carne teria podido ser
salva? por fazer a Redenção é entendido fundar um novo Céu e uma nova Igreja. Que o
Senhor devesse vir de novo ao Mundo, Éle o predisse nos Evangelistas, Mateus XXIV, 30,
31; Marcos XIII, 26; Lucas XII, 40; XXI, 27; e no Apocalipse, principalmente no último
Capitulo; que mesmo hoje Ele faça a Redenção, fundando um novo Céu e instaurando uma
nova Igreja, a fim de que os homens possam ser salvos, isso foi demonstrado acima no
Lema sobre a Redenção. 0 Grande Arcano, que sem a instauração de uma Nova Igreja pelo
Senhor, nenhuma carne pode ser salva, é este: Enquanto o Dragão permanecer com sua
tropa no Mundo dos Espíritos, no qual êle foi lançado, nenhum Vero Divino unido ao
Divino Bem, pode chegar até aos homens da terra, sem que seja pervertido e falsificado ou
sem que seja destruido; é o que é entendido no Apocalipse por esta passagem: "0 Dragão
foi precipitado na Terra e seus anjos com ele, foram precipitados; ai daqueles que habitam a
Terra e o Mar, porque desceu o diabo para êles, tendo uma cólera grande" (XII, 9, 12, 13)
mas depois que o Dragão tinha sido precipitado no Inferno (XX, 10), então João viu um
Céu novo e uma Terra nova e viu a Nova Jerusalém descendo de Deus pelo Céu (XXI, 1,
2). Pelo Dragão são entendidos os que estão na Fé da Igreja de hoje.
Algumas vêzes, no Mundo espiritual, conversei com os Justificadores dos homens pela fé
só e lhes disse que sua Doutrina é errônea e mesmo absurda; e que ela introduz a segurança,
a cegueira, o sono e a noite nas cousas espirituais e, por conseguinte, a morte da alma,
exortando-os a desistir dela; mas recebi como resposta: 0 que! resistir dela! a proeminência
da erudição dos Eclesiásticos sobre os Leigos não depende desta fé? Mas repliquei, que
assim êles tinham por fim, não a salvação das almas, mas a proeminência de sua reputação;
e pois que tinham aplicado a seus falsos princípios os veros da Palavra e os tinham assim
adulterado, êles eram Anjos do abismo, chamados Abbadons e Appolyons (Apoc. 9, 11),
pelos quais são significados os que perdem a Igreja por uma total falsificação da Palavra.
Mas êles responderam: 0 que é isso? Somos Oráculos pela ciência dos mistérios desta fé e
damos respostas por ela como por um santuário; somos, portanto, Apolos e não Apollyons.
Indignado com esta resposta, eu lhes disse: Se sois, Apolos, sois também Leviatãs; os
principais dentre vós, Leviatãs tortuosos, e os de segunda categoria, Leviatãs oblongos, que
Deus visitará com sua espada dura e grande (Isaías XXVII, 1); mas a estas palavras êles se
puseram a rir.
&183 - IX. DA TRINDADE DE PESSOAS, CADA UMA DAS QUAIS EM
PARTICULAR E' DEUS, SEGUNDO 0 SÍMBOLO DE ATANASIO, SE ELEVARAM
SOBRE DEUS GRANDE NúMERO DE IDÊIAS DISCORDANTES E
HETEROGÊNEAS, QUE SAO FANTASIAS E ABORTOS.
Da Doutrina de três Pessoas Divinas de toda a eternidade, que em si é a Cabeça de todos os
doutrinais das Igrejas Cristãs, elevou-se um grande número de idéias indecentes sobre
Deus, indignas do Mundo Cristão, que, entretanto, deve ser e pode ser um Archote para
todos os povos e para tôdas as nações nas quatro partes da terra, naquilo que concerne a
Deus e à Unidade de Deus; todos os que habitam fora da Igreja Cristã, tanto os maometanos
como os Judeus; e além destes, os Gentios de qualquer -culto que seja, têm aversão aos
Cristãos unicamente por causa da fé em três Deuses; os propagadores desta fé o sabem; por
isso se abstêm de expor públicamente a Trindade de Pessoas, tal como está nos Símbolos de
Nicéa, e de Atanásio, porque então os seus ouvintes fugiriam e zombariam dêles. As idéias
discordantes, ridículas e frívolas que se elevaram da Doutrina das três Pessoas Divinas de
toda eternidade e se elevam em quem quer que fique na fé das palavras desta Doutrina e
passem, dos ouvidos e dos olhos, para a vista do pensamento, são estas: Deus Pai está
sentado acima da cabeça no alto; o Filho à sua direita; e o Espírito Santo diante dêles,
prestando atenção e, imediatamente, percorrendo todo o Globo; e, segundo o que foi
decidido, dispensa os dons da justificação e os inscreve; e de filhos da cólera, faz filhos da
graça; e dos danados, faz eleitos; eu apelo para os Sábios dentre o Clero e para os Eruditos
dentre os Leigos; alimentam êles em suas mentes uma outra vista senão esta vista ideal?
pois ela decorre espontâneamente da Doutrina mesma, ver o Memorável acima n. 16. Dela
decorre também a curiosidade de conjecturar o que êstes Três Deuses se diziam entre si
antes que o Mundo fosse criado; falariam do Mundo a criar? falariam daqueles que deviam
ser predestinados e justificados segundo os supralapsários? falariam também da Redenção?
semelhantemente, que dizem êles entre si depois que o Mundo foi criado? o Pai fala da
autoridade e do poder de imputar; e o Filho, do poder da mediação; que a imputação, que é
a eleição, vem da misericórdia do Filho que intercede por todos e, em particular, por
alguns; e que a graça para êles vem doi Pai, comovido por seu amor pelo Filho e pela
miséria que viu nêle sobre o madeiro da cruz. Mas quem não pode ver que tais cousas são
loucuras da mente sobre Deus? e entretanto, estas loucuras são nas Igrejas Cristãs as
Santidades mesmas, que se deve beijar com a boca, mas não é preciso examiná-las por
qualquer vista da mente, porque são supra-racionais; e se, da memória fossem elevadas ao
entendimento, o homem ficaria louco; entretanto, sempre acontece que isso não suprime a
idéia de três Deuses, mas introduz uma fé estúpida, segundo a qual o homem pensa sóbre
Deus como aquêle que dorme em um sonho, como aquêle que caminha na obscuridade da
noite ou como um cego de nascença que caminha à luz do dia.
&184 - Que a Trindade de Deuses se tenha apoderado das mentes dos Cristãos, ainda que
por pudor se o contrário, vê-se claramente
pelas sutilezas que muitos empregam para demonstrar que três são um, e que um é três, por
diversos argumentos de Geometria, de Estereometria, de Aritmética e de Física; e também
por pregas de estofos e de papel; a eles jogam com a Trindade Divina como os adivinhos
entre ai. A adivinhação sobre êste assunto pode ser comparada à vista do olho dos
febricitantes, que vêem um único objeto, quer seja homem, mesa ou vela, como três ou três
objetos como um 86; pode também ser comparada à brincadeira daqueles que rolam entre
os dedos cera mole e lhe dão várias formas: ora a forma triangular para mostrar a Trindade,
ora a forma esférica pam mostrar a Unidade, dizendo: Não é, entretanto, uma única e
mesma vista substância? Entretanto, a Trindade Divina é como uma Pérola de grande valor;
mas esta Trindade dividida em Pessoas é como uma pérola que dividida em três partes,
perde absolutamente todo seu valor.
&185 - Ao que precede acrescentarei êstes Memoráveis. Primeiro Memorável. No Mundo
Espiritual há Climas e Zonas como no Mundo Natural; nada existe neste que não exista
também naqueles; mas as cousas diferem pela origem; no Mundo natural as variedades de
Climas são segundo as distâncias do Sol, a partir do Equador; no Mundo espiritual são
segundo as distâncias das afeições da vontade e dos pensamentos do entendimento, a partir
do verdadeiro amor e da verdadeira fé-, lá, todas as cousas são correspondências dêste amor
e desta fé. Nos Zonas glaciais do Mundo espiritual, aparecem cousas semelhantes às que
estão nas Zonas glaciais do Mundo natural; aí aparecem terras recobertas de geleiras, águas
geladas e também massas de neve sobre elas. V para lá que vão e habitam aquêles que, no
Mundo, entorpeceram seu entendimento por falta de pensar nas coisas espirituais e que, ao
mesmo tempo, negligenciaram fazer usos; são chamados Espíritos boreais. Um dia tive um
grande desejo de ver alguma Região na Zona glacial onde estavam os espíritos boreais; e
fui conduzido em espírito para o setentrião, até a um sitio onde toda a terra aparecia coberta
de neve e toda água gelada; era um dia de Sabath; e vi homens, isto é, Espíritos de estatura
semelhante à dos homens no Mundo; mas por causa do frio, tinham a cabeça coberta com
uma pele de leão, cuja goela estava aplicada à sua boca; seus corpos por diante e por trás,
até aos lombos, estavam cobertos de peles de leopardos; e seus Pés estavam envolvidos em
pele de urso; vi também muitos em carros, e alguns em carros esculpidos em forma de
dragão, cujos chifes eram estendidos para frente; êsses carros eram puchados por pequenos
cavalos, cujas caudas tinham sido cortadas; corriam como bêstas furiosas e o condutor, com
as rédeas na mão, os apressavam sem descanso e forçava sua marcha; vi, enfim, que
afluíam por tropas para um Templo, que eu não tinha visto a os guardas do templo
deslocavam a neve e por uma escavação preparavam uma entrada para aquêles
quechegavam para o culto; êstes desciam e entravam. Também me foi dado ver o Templo
por -dentro; era iluminado por lâmpadas e por tochas em grande quantidade; o Altar era
composto de pedra talhada, detrás do altar, suspenso, um Quadro sobre o qual havia esta
inscrição: Trindade Divina, Pai, Filho, Espírito Santo, que essencialmente, são um único
Deus, mas pessoalmente Três. Enfim, o Padre que se mantinha em pé perto do Altar, depois
de ter fletido três vêzes os joelhos diante do Quadro do Altar, subiu ao púlpito com um
Livro na mão e começando seu sermão pela Divina Trindade, exclamou: Oh! que grande
Mistério, que Deus no Altíssimo tenha engendrado um Filho de toda a eternidade e tenha
por Êle produzido o Espírito Santo, os quais se conjuntaram, os três pela Essência, mas se
separaram pelas propriedades, que são a Imputação, a Redenção e a Operação Entretanto,
se considerarmos isso pela razão, a vista se perturba e diante dela se forma uma
obscuridade, como diante do olho daquele que encara fixamente o Sol; por isso, meus
Ouvintes, quanto a êste mistério, ponhamos o entendimento sob a obediência da fé. Depois
disso, exclamou de novo, dizendo: 0h1 que grande Mistério é nossa Santa Fé, que consiste
em crer que Deus Pai imputa a justiça do Filho e envia o Espírito Santo, o qual segundo
esta justiça imputada, opera os benefícios da Justificação caç o, que são em suma a
remissão dos pecados, a renovação, a regeneraçao e a salvação! Sob o influxo ou ação desta
fé o homem não sabe mais do que a estátua de sal, em que foi mudada a mulher de Lot;
sobre sua morada ou seu estado não sabe mais do que um peixe no mar; entretanto, meus
amigos, nela está escondido um tesouro de tal modo fechado e encerrado, que a menor
parcela não é descoberta; e por isso, quanto a ela, também ponhamos o entendimento sob a
obediência da fé. Após alguns suspiros, exclamou de novo, dizendo: 0h! que grande
Mistério é a Eleição! Torna-se eleito aquêle a quem Deus imputa esta fé, que infunde por
livre prazer e por pura graça em quem quer; e o homem é como um cepo quando ela é
infundida, mas tornase como uma árvore, após ela ter sido infundida; os frutos, que são as
bom obras, estão -suspensos, é verdade, nesta árvore
Que no sentido representativo é a nossa fé, mas contudo não estão ligados a ela; por isso, o
valor desta árvore não vem do fruto; mas como isso parece heLerodoxo e é, entretanto, uma
verdade mística, ponhamos, meus irmãos, o entendimento sob a obediência da fé. E em
seguida, alguns instantes após, mantendo-se como se tirasse ainda alguma causa de sua
memória, continuou, dizendo: Dêste punhado de Mistérios tirarei ainda este ponto
importante: é que nas cousas espirituais, o homem não tem um só grão de Livre Arbítrio;
com efeito, em, seus cânones Teológicos, nossos Primazes e nossos Prelados Regulares
dizem que a homem, nas cousas que pertencem à fé e à salvação, causas que são
especialmente denominadas espirituais, nada pode querer, nem, pensar, nem compreender e
que não pode mesmo nem se dispor nem se preparar para pensá-las; eu, portanto, de mim
mesma vos digo, que o homem por si mesmo não pode sobre estas causas nem pensar
segundo a razão, nem falar segundo o pensamento, senão como um papagaio, uma pega ou
um corvo; que assim o homem nas causas espirituais é verdadeiramente um asno, e que,
não é homem senão nas causas naturais, 6 meus caros consociados, sobre êste ponto, como
sobre os outros, para que ele não infeste a vossa razão, ponhamos o entendimento sob a
obediência da fé; pois a nossa Teologia é um abismo sem fundo, no qual, se mergulhais a
vista do entendimento, sereis submergidos e perecereis naufragando; todavia, escutai, nós
estamos entretanto na luz mesma do Evangelho que brilha no alto acima de nossas cabeças;
mas, 6 sofrimento! as nossas cabeleiras e os ossos de nosso crânio a detém e impedem que
ela penetre nas câmaras de nosso entendimento. Tendo assim
falado, êle desceu e depois de pronunciar preces votivas junto do altar e o culto acabou, eu
me aproximei de alguns assistentes que falavam entre si; aí estava também o Padre, ao qual
os que estavam em torno diziam: Nós te damos imortais ações de graças por um sermão tão
magnífico e tão cheio de sabedoria; mas então eu lhes disse: Compreendestes alguma
coisa? E eles responderam: Apreendemos tudo a plenos ouvidos; mas por que perguntas se
compreendemos? O entendimento não fi ca estupefacto em tais assuntos? E o Padre
acrescentou a isso: Porque ouvistes e não compreendestes, sois felizes, pois que daí vos
vem a salvação. Em seguida falei com o Padre e lhe perguntei s e tinha recebido a coroa de
louros; êle respondeu: Eu sou um Mestre Laureado; e então eu disse: Mestre, eu te ouvi
pregar Mistérios; se tu os sabes sem saber nenhuma das cousas que êles contêm, tu não
sabes nada; pois êles são únicamente como caixinhas fechadas por três fechaduras; se não
as abres e não olhas dentro, o que deve ser feito pelo entendimento, tu não sabes se
encerram causas preciosas ou causas vis ou cousas prejudiciais; pode ha r aí ovos de áspide
e telas de aranha, segundo a descrição -de Isaías LIX, 5. A estas palavras, o Padre me
encarou com ar ameaçador; e os Assistentes se retiraram e subiram para seus carros,
inebriados de paradoxos, infatuados de puerilidades e envolvidos de obscuridade em todas
as cousas da fé edos meios de salvação.
&186 - Segundo Memorável Um dia, eu cogitava em meu pensamento em que região da
Mente residem no homem as cousas Teológicas; e, como são espirituais e celestes, eu
acreditava a princípio, que era na região suprema; pois a Mente humana é distinguida em
três Regiões, como uma casa de três andares, e semelhantemente como as habitações dos
Anjos nos três Céus; então, se apresentou um Anjo e disse: Naqueles que amam o Vero
porque é o Vero, as coisas da Teologia se elevam até à Região suprema porque lá está o seu
Céu e porque elas estão na luz em que estão os Anjos; as cousas Morais, teóricamente
examinadas e percebidas, se colocam sob elas na segunda Região porque comunicam com
os espirituais; e as coisas Políticas sob estas na terceira; mas as cousas Científicas, que são
em número muito grande e podem se classificar em gêneros e espécies, constituem as
portas para essas cousas superiores. Naqueles em que as cousas espirituais, morais,
políticas e científicas, foram assim subordinadas, pensam o que pensam e fazem o que
fazem, segundo a justiça e o julgamento; e isso, porque a Luz do vero, que é também a Luz
do Céu, ilumina, da Região suprema, as coisas que estão nas Regiões seguintes, como a
Luz do Sol, atravessando os éteres e progressivamente o ar, ilumina a vista dos homens, das
bêstas e dos peixes. Mas acontece de modo completamente diferente -com as cousas
Teológicas naqueles que amam o vero; não porque é o vero, mas únicamente pela glória de
sua reputação; nestes, as cousas Teológicas residem na última Região onde estão as cousas
científicas, com as quais em alguns, elas se misturam; e em outros, não podem se misturar;
sob elas, na mesma Região estão as cousas políticas e sob estas, as cousas Morais, pois que
nêles as duas Regiões superiores não foram abertas do lado direito; por isso, não há nêles
nenhuma razão interior de julgamento, nem nenhuma afeição interior de justiça, mas há
únicamente uma destreza engenhosa, pela qual, podem falar de tudo como pela inteligência
e confirmar tudo que se apresenta como pela razão, mas os objetos da razão, que êles amam
principalmente são os falsos, porque os falsos são coerentes com as ilusões dos sentidos.
Daí vem que, no Mundo, haja tantos homens que não vêem os veros da Doutrina pela
Palavra mais do que os cegos de nascença, e que, quando os ouvem pronunciar apertam as
narinas com medo de que seu odor não os fatigue e excite náuseas; mas para os falsos,
abrem todos os seus sentidos e os engolem como as baleias servem as águas.
&187 - Terceiro Memordvel. Um dia em que eu meditava sôbre o Dragão, a Bêsta e o Falso
Profeta, de que se fala no ~~- calipse, um Espírito Angélico me apareceu e me fêz esta
pergunta: Sôbre que meditas tu? e eu disse: Sôbre o Falso Profeta; então êle me disse: Eu te
conduzirei ao lugar onde moram aquêles que são entendidos pelo Falso Profeta; e
acrescentou que são os mesmos que são entendidos, Capítulo 13.0 do Apocalipse, pela
Bêsta subindo da Terra, que tinha dois chifres semelhantes: aos do Cordeiro e que falava
com o Dragão. Eu o segui e vi uma tropa no meio da qual estavam Chefes da Igreja que
tinham ensinado que nada mais salva o homem senão a Fé no ~to do Christo; que as obras
são boas, mas não para a salvação; -e que, entretanto, elas devem ser ensinadas segundo a
Palavra, a fim de que os Leigos, sobretudo os simples, sejam mantidos mais estritamente
nos laços da obediência, em relação aos Magistrados; e como impelidos pela Religião,
assim interiormente a exercer a Caridade moral. E então um dêles me vendo, disse-me:
Queres ver o nosso Templo, em que está a imagem representativa de nossa Fé? Aproximeime e vi que era magnífico; e no meio havia a imagem de uma Mulher, vestida com um
vestido escarlate, tendo na mão direita uma Moeda de ouro; e na esquerda, -Unia Cadeia de
pérolas; mas a Imagem e o Templo eram o p~0iJo de uma fantasia; pois os Espíritos
infernais podem, por fantasias, representar cousas magníficas, fechando os interiom na
mente e abrindo sómente os exteriores. Mas como percebi que êsMa objetos eram
fantasmagóricos, dirigi uma prece ao Senhor e imediatamente os interiores de minha mente
foram abertos; e então, em lugar de um Templo magnífico, vi uma Casa rachada desde o
teto até em baixo, cujas partes não tinham coerência alguma entre si; em lugar da Mulher,
vi nesta Casa um Simúlacro suspenso, cuja cabeça era semelhante à de um Dragão, o Corpo
ao de um Leopardo, cujos pés eram como os de um Urso e a goela como a de um Leão;
assim, perfeitamente semelhante à descrição da Bêsta que subia do mar, Apocalipse 23.0, 2;
e, em lugar de um terreno sólido, havia um pântano cheio de rãs; e me foi
dito que sob o pântano havia uma grande pedra talhada, sol) a qual a Palavra estava
profundamente escondida. Depois de ver isto, disse ao Prestidigitador: E' êsse o vosso
Templo? e êle me disse: Sim; mas imediatamente a sua vista interior foi também aberta e
êle viu as mesmas cousas que eu; a essa vista gritou em altas vozes: 0 que é isto? e donde
provém isto? E eu disse: E' o efeito da, luz do Céu, que descobre a qualidade de cada forma
e a qualidade da vossa Fé, separada da Caridade espiritual. E no mesmko instante o vento
oriental soprou e levou o Templo com a Imagem; e além disso, dessecou o Pântano e pôs
assim a nu, a Pedra sob a qual estava a Palavra; e depois disso, se fèz sentir, do Céu, um
calor tal como o da primavera; e eis que se viu, então neste mesmo lugar, um Tabernáculo
simples quanto à forma externa; e os Anjos que estavam perto de mim, ~eram: Eis o
Tabernáculo de Abrahão, tal como era, quando os três Anjos vieram a êle e lhe anunciaram
o nascimento próximo de Isaac; Êle aparece simples diante dos olhos, mas entretanto tornase cada vez mais magnífico segundo o Influxo da luz do Céu. E lhes foi dado abrir o Céu
onde estavam os Anjos espirituais que estão na sabedoria; e então, pela Luz que influiu êste
Tabernáculo, apareceu como um Templo semelhante ao de Jerusalém: e quando eu o
examinava no interior, vi a Pedra
do fundo, sob a qual estava depositada a Palavra, recamada de pedras preciosas, donde
jorrava uma espécie de clarão sobre as paredes, sobre as quais havia formas de Querubins,
que as diversificava com beleza pelas cores. Enquanto eu admirava estas coisas, os Anjos
disseram: Tu verás ainda mais adimiráveis; e lhes foi dado abrir o Terceiro Céu onde estão
os Anjos celestes que estão no amor; e então, pela Luz inflamada que dêle influía,, todo, o
Templo dissipou-se; e em seu lugar foi visto o Senhor só, de pé sobre a Pedra do fundo, que
era a Palavra, tal como apareceu a João, Capítulo 1,0 do Apocalipse. Mas como então os
interiores da mente dos Anjos encheu-se de uma santidade que os levava a cair sobre suas
faces, o Senhor fechou imediatamente a entrada da luz que vinha do Terceiro Céu e abriu a
luz vinda do Segundo Céu, o que fêz com que o aspecto precedente do Templo voltasse e
também o do Tabernáculo, mas este no meio do Templo. Por estas mudanças foi ilustrado o
que é entendido no Capítulo 21.0 do Apocalipse por estas palavras: "Eis o Tabernáculo de
Deus com os homens e Êle habitará com eles, vers. 3; e por estas: "Não vi Templo na Nova
Jerusalém porque o Senhor,
Deus Onipotente e o Cordeiro são o seu Templo", vers. 22.
&188 - Quarto Memorável. Como me foi dado ver pelo Senhor cousas maravilhosas, que
estão nos Céus e sob os Céus, é preciso, segundo o que me foi ordenado, que eu relate o
que vi. Vi um Palácio magnífico e no seu interior, um Templo; havia no meio do Templo
uma mesa de ouro sobre a qual estava a Palavra; dois Anjos se mantinham de pé perto da
Palavra; em torno da Mesa havia três ordens de Assentos; os assentos da primeira ordem
estavam cobertos de um estofo de seda cor de púrpura; os da segunda ordem estavam
cobertos de um estofo de seda de cor azul celeste; e os da terceira ordem de um estofo
branco. Sob o teto, a grande elevação acima da Mesa, aparecia uma cortina estendida toda
resplandecente de pedras preciosas, cujo clarão brilhava como íris, quando, após a chuva, o
Céu retoma a sua serenidade. No mesmo instante, vi os Assentos ocupa-dos por outros
tantos membros do Clero, todos revestidos de suas vestes sacerdotais. A um dos lados
estava a sala do Tesouro, sob a guarda de um Anjo que se mantinha de pé; e lá estavam
dispostas, na mais bela ordem, Vestimentas magníficas. Era um Concílio convocado pelo
Senhor; e ouvi uma voz do Céu, que disse: Deliberai; mas êles disseram: sobre o que? foi
respondido: sobre o Senhor Salvador e sobre o Espírito Santo. Mas quando refletiram sobre
êstes assuntos, não estavam na ilustração, fizeram, portanto, uma súplica; e então, emanou
do Céu uma ,luz que iluminou a princípio o seu Occipute, depois suas têmporas e suas
faces; e então começaram; e em primeiro lugar, sobre o Senhor Salvador, como lhes tinha
sido ordenado; e a Primeira Proposição posta em discussão
foi esta: Quem é Aquêle que tomou o Humano na Virgem Maria? E o Anjo que estava em
pé perto da Mesa sobre a qual estava a Palavra, leu diante deles estas palavras de Lucas: "0
Anjo disse a Maria: Eis que conceberás no útero e darás à luz um Filho e chamarás seu
Nome Jesus; êste será Grande; e Filho do Altíssimo será chamado. E Maria disse ao Anjo:
Como -será isso, pois que eu não conheço, homem? e respondendo, o Anjo disse: Um
Espírito virá sobre ti; e uma Virtude do Altíssimo te cobrirá com sua sombra; por isso, o
que nascerá de ti Santo será chamado Filho de Deus" (1, 31, 32, 34, 35); leu -também estas
em Mateus: "Um Anjo disse a José em sonho: José, filho de David, não temas receber
Maria tua noiva, pois o que nela é nascido é do Espírito Santo. E José não a conheceu, até
que ela deu à luz seu Filho primogênito; e chamou seu nome Jesus" (I, 20, 25); leu ainda
várias passagens tiradas dos Evangelistas; por exemplo, Mateus 111, 17; XVII, 5; João 1,
18; 111, 6; XX, 31, e várias outras algures, onde o Senhor quanto ao seu Humano é
chamado Filho de Deus; e onde Èle mesmo, por seu Humano, chama Jehovah seu Pai; leu
também várias passagens tiradas dos Profetas, onde está predito que Jehovah mesmo virá
ao Mundo; entre outras, as duas seguintes em Isaías: "Será dito nesse dia: Eis, nosso Deus
êste que temos esperado para que nos livre. Este é Jehovah que temos esperado; saltemos e
regozijemo-nos em Sua Salvação (XXV, 9). "Uma voz de quem grita no deserto: Preparai o
caminho de Jehovah, aplainai na solidão um caminho para nosso Deus; então será revelada
a glória de Jehovah e êles (a, verão toda carne em conjunto; Eis que vem o Senhor Jehovah;
como pastor apascentará seu rebanho" (Isaías XL, 3, 5, 10, 11). E o Anjo disse: Como
Jehovah mesmo veio ao Mundo, tomou o Humano (e por Isso resgatou e salvou os
homens), é por isso que nos Profetas ele mesmo é chamado Salvador e
Redentor;eentão,leudiantedêlesasseguintes passagens: "Somente em ti (está) Deus e não há
outro Deus; certo Tu (és) um Deus escondido, o Deus de Israel Salvador" (Isaías XLV, 14,
15). "Não sou Eu Jehovah e há outro Deus além de Mim? Há outro Deus justo e Salvador
além de Mim?" (Isaías XLV, 21, 22). "Eu sou Jehovah, e não há outro Salvador senão Eu"
(Isaías XLIII, 11). "Eu sou Jehovah teu Deus; e Deus, além de Mim, tu não reconhecerás; e
não há outro Salvador senão Eu" (Hoséas XIII, 4). "A fim de que saiba toda carne que Eu
(sou) Jehovah teu Salvador e teu Redentor" (Isaías XLIX, 26; LX, 16). "Quanto a nosso
Reden tor, Jehovah Sebaoth (é) seu Nome" (Isaías XLVIII, 4). "Seu Redentor, Forte,
Jehovah Sebaoth (é) seu Nome" (Jeremias XIX, 15). "Assim disse Jehovah teu Redentor, o
Santo de Israel: Eu (sou) Jehovah teu Deus" (Isaías XLVIII, 17; XLIX, 7; XLIII, 14; LIV,
8). "Jehovah, Tu, nosso Pai, nosso Redentor, desde o século (é) teu Nome" (Isaías LXIII,
16). "Assim disse Jehovah, teu Redentor: Eu, Jehovah, fiz todas as coisas e Só por Mim
mesmo" (Isaías XLIV, 24). "Assim disse Jehovah, o rei de Israel e seu Redentor Jehovah
Sebaoth: Eu (sou) o Primeiro e o último; e exceto Eu, não há Deus" (Isaías XLIV, 6).
"Jehovah Sebaoth (é) seu Nome; e teu Redentor, o Santo de Israel, Deus de toda a Terra
será chamado" (Isaías LIV, 5). "Eis os dias que vêm, em que suscitarei a David um germe
justo, que reinará Rei; e eis seu Nome: Jehovah nossa Justiça" (Jeremias XXIII, 5, 6;
XXXIII, 15, 16). "Nesse dia Jehovah será como Rei sobre toda terra; nesse dia Jehovah
será um, e seu Nome um" Zacarias XIV, 9). Aquêles que estavam sentados nas cadeiras,
tendo sido confirmados por todas estas passagens, disseram unanímemente, que Jehovah
mesmo tomou o Humano para resgatar e salvar os homens. Mas então de um grupo de
Católico Romanos que tinham ficado escondidos por detrás do Altar, se fez ouvir uma voz,
que disse: Como Jehovah Pai pôde se fazer Homem? Não é Êle o Criador do universo? E
um dos que estavam sen tados nas cadeiras da segunda ordem, se voltou e dÍsse: Quem
então, se fêz Homem? Aquêle éstava detrás do Altar , colocando-se perto do Altar
respondeu: 0 Filho de toda Eternidade. Mas recebeu como resposta: 0 Filho de toda a
eternidade não é também segundo vossa Confissão, o Criador do Universo? E como a
Essência Divina que é Una e Indivisível, pode ser separada? Como uma de suas partes pode
descer e não o Todo ao mesmo tempo - A segunda Proposição posta em discussão
cernente ao Senhor foi esta: 0 Pai e o Senhor não são um como a Alma e o Corpo são?
Eles disseram que a afirmativa é a. conseqüência de que a Alma vem do Pai. Então um dos
que estavam sentados nas cadeiras da terceira ordem, leu esta passagem da Fé Simbólica,
que é chamada Atanasiana: "Ainda que nosso Senhor Jesus Christo, Filho de Deus, seja
Deus e Homem, Ele é, entretanto, não dois, mas um único Christo; Êle é mesmo
absolutamente Um, é Uma única Pessoa; pois que, do mesmo modo Deus e o Homem são
Um único Christo". Aquêle que lia acrescentou que êste Símbolo onde estão estas palavras,
foi recebido em todo Mundo Cristão, mesmo pelos CatólicoRomanos. Então, disseram: Que
necessidade há de mais exame? Deus Pai e o Senhor são um, como a Alma e o Corpo são
um; e acrescentaram: Pois que isto é assim, vemos que o Humano do Senhor é Divino,
poisé o Humano de Jehovah; que é necessário se dirigir ao Senhor quanto ao Divino
Humano; e que é assim e não de outro modo, que podemos nos dirigir ao - Divino que é
chamado Pai. 0 Anjo confirmou sua Conclusão por várias passagens da Palavra, entre as
quais estavam estas: "Um menino nos nasceu,, um Filho nos foi dado; seu Nome será
chamado, Admirável, Conselheiro, Deus, Herói, Pai de eternidade, Príncipe da Paz" (Isaías
IX, 5). No mesmo: "Abrahão não nos conhece e Israel não nos reconhece; Jehovah, Tu,
nosso Pai, nosso Redentor, desde o século (é) teu Nome" (LXIII, 16). E em João: "Jesus
disse: aquêle que crê em Mim, crê naquele que Me enviou" (XII, 44, 45). "Filipe disse a
Jesus: Mostra-nos o Pai. Jesus disse: Aquêle que Me vê, vê o Pai, como, pois, dizes:
Mostra-nos o Pai? Não crês que Eu (estou) no, Pai e que o Pai (está) em Mim; crede-me,
que Eu (estou) no Pai e que o Pai (está) em Mim" (João XIV, 8 a 11). "Jesus disse: Eu e o
Pai somos um" (João X, 30). Depois: "Tudo o que o Pai tem é Meu e tudo que é Meu, é do
Pai" (João XVI, 15; XVII, 10). Enfim: "Jesus disse: Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida,
ninguém vem ao Pai senão por mim" (João XIV, 6). Aquêle que lia acrescentou, que cousas
semelhantes a estas que o Senhor disse aqui d'Êle e de seu Pai, podem também pelo homem
ser ditas dêle mesmo e de sua alma. - Depois de ter ouvido estas passagens, todos disseram
com uma boca e um coraçao unânimes, que o Humano do Senhor é Divino e que é a êste
Humano que é preciso se dirigir para se dirigir ao Pai, pois que Jehovah Deus se enviou por
êste Humano ao Mundo, e se tornou visível aos olhos dos homens e por conseqüência
acessível; Êle se tornou semelhantemente visível e acessível sob Forma Humana aos
Antigos, mas então pelo ministério de um Anjo; ora, como esta Forma era representativa do
Senhor que devia vir, é por isso que todas as cousas da Igreja entre os Antigos eram
representativas.
Depois disso, passou-se à Deliberação sobre o Espírito Santo; e de começo foi exposta a
idéia de vários sobre Deus Pai, o Filho e o Espírito Santo, a qual punha que Deus Pai estava
sentado em um lugar elevado, tendo o Filho à sua direita; e que Eles enviavam déles
mesmos "o Espírito Santo. para ilustrar, ensinar, justificar e santificar os homens. Mas
então uma voz do Céu se fêz ouvir, dizendo: Nós não podemos suportar essa idéia do
pensamento; quem não sabe que Jehovah Deus é Onipresente? Ora aquêle que o sabe e o
reconhece, reconhecerá também que é Jehovah Deus que ilustra, ensina, justifica e
santifica, e que não é um Deus intermediário distinto d'Ele, como uma Pessoa é distinguido
de uma outra - Pessoa, nem, com mais forte razão, um Deus distinto de dois outros; afastese, portanto, a primeira idéia, que é vã e se receba esta que é justa; e vereis isto claramente.
Mas no momento, do grupo de Católico-Romanos que estavam perto do Altar do Templo,
se fêz ouvir uma voz, que disse: 0 que é então o Espírito Santo, que na Palavra é
mencionado nos Evangelistas, e em Paulo, pelo Qual tantos Sábios Eclesiásticos, sobretudo
em nosso Clero, se dizem conduzidos: Quem, hoje, no Mundo Cristão, nega o Espírito
Santo e suas operações?
A estas palavras, um dos que estavam sentados nas cadeiras da segunda ordem, se voltou e
disse: Dizeis que o Espírito Santo é uma Pessoa por si e um Deus por si; mas o que é uma
Pessoa saindo e procedendo de uma Pessoa, se não unia Operação que sai e procede? Uma
Pessoa não pode sair e proceder de uma pessoa por uma outra pessoa, mas uma operação
pode sair e proceder de uma pessoa. Ou, o que é um Deus saindo e procedendo de um
Deus, senão o Divino que sai e procede? um Deus não pode sair nem proceder de um Deus
por um outro Deus, mas o Divino pode sair e proceder de um único Deus. Depois de haver
ouvido estas palavras, aquêles que estavam senta~ nas cadeiras, concluíram unanimemente,
que o Espírito Santo não é uma Pessoa por si, nem Deus por si, mas que é o Santo Divino
saindo e procedendo do Deus único Onipresente, que é o Senhor. A esta conclusão, os
Anjos que estavam de pé perto da Mesa de ouro, sobre a qual estava a Palavra, disseram:
Bem! Não se lê em parte alguma na Antiga Aliança, que os Profetas tenham pronunciado a
Palavra pelo Espírito Santo, mas que ora por Jehovah; e quando, na Nova Aliança, se fala
do Espírito Santo, aí é entendido o Divino procedente, que é o Divino ilustrando,
ensinando, vivificando, reformando e regenerando.
Em seguida, agitou-se uma outra questão sobre o Espírito Santo; a saber: De quem procede
o Divino, que é chamado Espírito Santo? E' do Pai, ou é do Senhor? E enquanto agitavam
esta questão, uma Luz vinda do Céu brilhou; e por ela, êles viram que o Santo Divino, que
é entendido Espírito Santo, procede, não do Pai pelo Senhor, mas do Senhor segundo o Pai,
da mesma maneira que no homem o seu procede não da alma pelo corpo, mas do corpo
segundo a alma. O anjo que se mantinha em pé, perto da Mesa, confirmou isso por estas
passagens: "Aquele que o Pai enviou fala as palavras de Deus, porque Deus não lhe deu o
Espírito por medida; o Pai ama o Filho e lhe deu todas as cousas em sua mão" (João 111,
34, 35). "Sairá um ramo do tronco de Jíshaji; sobre Ele repousará o Espírito de Jehovah,
Espírito de Sabedoria e de Inteligência, Espírito de conselho e de força'' (Isaías XI, 1, 2). "0
Espírito de Jehovah lhe foi dado e estava n'Ele'' (Isaías XLII, 1; LIX, 19, 20; LXI, 1; Lucas
IV, 18). "Quando virá o Espírito Santo que Eu vos enviarei do Pai" (João XV, 26)' "Ele me
glorificará, porque do meu receberá, e vo-lo anunciará; todas as cousas que o Pai tem são
minhas; é por isso que eu digo que do Meu receberá e vo-lo anunciará" (João XVI, 14, 15).
"Se eu me for, vos enviarei o Paracelso" (João XVI, 7). Que o Paracelso seja o Espírito
Santo, vêse em João XIV, 26. "Não havia ainda o Espírito Santo porque Jesus não estava
ainda glorificado" (João VII, 39). Mas após a glorificação: "Jesus soprou sobre os
discípulos, e lhes disse: Recebei um Espírito Santo" (João XX, 22). E no Apocalipse:
"Quem não glorificará teu Nome, Senhor, pois só tu és Santo" (15, 4). Como a Divina
Operação do Senhor, pela sua Onipresença Divina, é entendida pelo Espírito Santo, é por
isso que, quando o Senhor falou a seus discípulos do Espírito Santo que enviaria do Pai,
disse também: "Não vos deixarei órfãos; eu vou e volto para vós; e nesse dia conhecereis
que eu estou no Pai, e vós em Mim e Eu, em vós" (João XIV, 18, 20, 28); e pouco tempo
antes de deixar o Mundo, lhes disse: "Eis que eu convosco estou todos os dias até à
consumação dos séculos" (Mateus XXVIII, 20). Estas passagens tendo sido lidas diante
dêles, o Anjo disse: Por estas passagens e por várias outras, tiradas da Palavra, é evidente
que o Divino, que é chamado Espírito Santo, procede do Senhor segundo o Pai. A estas
palavras, os que estavam sentados nas cadeiras, disseram: Isso é uma Divina Verdade.
Enfim decretou-se o que segue: Pelas deliberações tomadas neste Concílio, vimos
claramente, e por conseqüência reconhecemos por uma Santa Verdade, que no Senhor Deus
Salvador Jesus Cristo, há a Divina Trindade, a qual é o Divino a quo (de que tudo procede)
que é chamado Pai, o Divino Humano que é chamado Filho e o Divino procedente que é
chamado Espírito Santo; declarando todos com aclamação que no Cristo, toda a plenitude
da divindade habita corporalmente (Coloss. 2, 9). Assim há um único Deus na Igreja.
Depois que esta conclusão proclamada neste Magnífico Concilio, êles se levantaram; e e
Anjo que guardava o Tesouro veio e trouxe para a um dos que tinham estado sentados nas
cadeiras, Vestimes esplêndidas cujo tecido era recamado de fios de ouro, e disse: Recebei
as Vestimentas Nupciais. E êles foram conduzidos com glória para o Novo Céu Cristão
com o qual será conjunta a Igreja do Senhor sobre a Terra, que é a Nova Jerusalém.
CAPÍTULO IV
DA ESCRITURA SANTA OU DA PALAVRA DO SENHOR
I-A Escritura Santa ou a Palavra é o próprio Divino Vero
&189 - Geralmente se diz que a Palavra é de Deus, que foi Divinamente inspirada e que é
Santa; mas sempre se ignorou até ao presente, onde reside nela o Divino; pois a Palavra, na
letra, aparece como um Escrito vulgar, de um estilo estranho, não sendo nem sublime nem
brilhante, como o são em aparência os Escritos do século. Daí vem que o homem, que
adora a Natureza em lugar de Deus ou de preferência a Deus, e pensa por si mesmo e por
seu próprio, e não pelo Céu procedente do Senhor, pode fàcilmente cair no êrro a respeito
da Palavra, ter desprêzo por ela e dizer consigo mesmo quando a lê: 0 que é isto? 0 que é
aquilo? Será que isto é Divino? Será que Deus, cuja sabedoria é infinita, pode falar assim?
Onde está a santidade deste Livro e donde vem ela, senão de uma Religiosidade e da
persuasão que resulta dela.
&190 - Mas aquêle que pensa assim não considera que Jehovah, o Senhor , que é o Deus do
Céu e da Terra, pronunciou a Palavra por Moisés e pelos profetas; por conseguinte, ela só
pode ser Divino Vero, pois aquilo que o próprio Jehovah o Se nhor pronuncia é Êste Vero;
não considera tampouco que o Senhor Salvador, que é Jehovah mesmo, pronunciou a
Palavra nos Evangelistas, a maior parte pela sua própria boca; e o resto pelo Espírito de sua
boca; que é o Espírito Santo, por intermédio de seus doze Apóstolos; por isso, Ele mesmo
disse que nessas Palavras há Espírito e Vida, que Êle mesmo é a Luz que ilustra e é a
Verdade; o que -é evidente por estas passagens que seguem: "Jesus disse: As palavras que
eu vos pronuncio são Espírito e são Vida" (João VI, 63) "Jesus disse à mulher que estava
perto da fonte de Jacob: se tu conhecesses o dom de Deus e quem é aquele que te diz: Dáme de "' beber, tu lhe terias pedido e êle te teria dado uma água viva Aquêle que beber da
água que eu lhe der não terá sede durante a eternidade; mas a água que eu darei, se tornará
nêle uma fonte de água jorrando para a vida ,eterna" (João IV, 6, 10, 14)' A Fonte de Jacob
significa a Palavra, como também no Deuteronomio 33, 28); é mesmo por isso que o
Senhor, porque é a Palavra, sentou-se lá e falou com a mulher; e a Água Viva significa o
Vero da Palavra: "Jesus disse: Se alguém tem sêde, que venha a mim e beba. Quem crê em
mim, como diz a Escritura, rios correrão de seu ventre de Agua viva" (João VII, 37, 38);
Pedro disse a Jesus: "Tu tens as palavras da Vida eterna" (João VI, 68). "Jesus disse: 0 Céu
e a Terra passarão, mas as minhas palavras não passarão" (Marcos XIII, 31). Que as
palavras do Senhor sejam a Verdade e a Vida, é porque 21e mesmo é a Verdade e a Vida,
como ensina em João: "Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida" (XIV, 6). E no mesmo:
"No comêço era a Palavra; e a Palavra estava com Deus e Deus era a Palavra; n'Ela estava a
Vida; e a Vida era a Luz dos homens" (I, 1, 2, 4). Pela Palavra é entendido o Senhor
quanto ao Divino Vero, no qual Só está a Vida e está a Luz. É por isso, que a Palavra que
vem do Senhor e que é o Senhor, é chamada fonte de águas vivas (Jeremias 11, 13; XVII,
13; XXXI, 9); fonte da salvação (Isaías XII, 2, 3); fonte (Zacarias XIII, 1); e rio de água
-viva (Apocalipse 22, 1); e que se diz "que o Cordeiro que está no meio do trono, os
apascentará e os conduzirá às Fontes vivas das águas" (Apoc. 7, 17). E além disso, em
outras passagens em que a Palavra é também chamada santuário e
tabernáculo, onde o Senhor habita com os homens.
&191 - Mas o homem natural não pode,
que a Palavra é o Divino Vero mesmo,
pois a considera pelo Estilo, no qual
Entretanto, o estilo da Palavra é o estilo
entretanto, por estas passagens, ser persuadido de
encerrando a Sabedoria Divina e a Vida Divina;
não se vê nem esta sabedoria nem esta vida.
Divinomesmo , com o qual qualquer outro estilo,
por mais sublime e excelente que pareça, não pode ser posto em comparração. 0 Estilo da
Palavra é tal, que o Santo está em cada sentido
e em
cada palavra; e mesmo em certos lugares nas próprias letras; é por isso, que a Palavra
conjunta o homem com o Senhor e abre o Céu. Há duas cousas que procedem do Senhor, o
Divino Amor e a Divina Sabedoria, ou, o que dá no mesmo, o Divino Bem` o Divino Vero;
a Palavra em sua essência é um e outro; e c conjunta o homem com o Senhor e abre o Céu,
como foi di acima, é por isso que a Palavra enche o homem com os do Amor e com os
Veros da Sabedoria, a sua
vontade com os bens do Amor e o seu Entendimento com os veros da sabedoria; daí vem
ao homem a vida pela.Palavra. Mas é preciso que se saiba bem, que a vida proveniente da
Palavra está só naqueles que lêem a Palavra com o propósito de tirar, dela os Divinos Veros
como de sua fonte; e ao memo tempo, com o propósito de aplicar à vida os Divinos Veros
assim obtidos; e que o contrário acontece àqueles que lêem a Palavra somente com o
propósito de adquirir honras e ganhar o Mundo.
&192 - Todo homem que não sabe que há na Palavra um certo Sentido Espiritual como no
corpo há a alma, não pode fazer um juízo da Palavra senão pelo Sentido da letra, quando,
entretanto, este Sentido é como uma Caixinha que contém cousas preciosas, que são o
Sentido espiritual; quando, portanto, este sentido Interno não é conhecido, não se pode
julgar a Divina Santidade da Palavra senão como se julga uma pedra preciosa pela matriz
que a envolve e por vêzes se assemelha à uma pedra ordinária, ou como um Castelo feito de
jaspe, de lápis lazuli, de amianto e de talco, ou de ágata, no qual estão colocados em ordem,
diamantes, rubis, sardônias, topásios do Oriente, etc.; enquanto se ignora o que contém a
caíxinha, não é de admirar que ela não seja estimada senão conforme o preço da matéria.
que se apresenta à vista; acontece o mesmo com a Palavra quanto ao sentido da letra. A fim
de que o homem não possa, portanto, duvidar de que a Palavra seja Divina e Muito Santa, o
Senhor me revelou o seu Sentido interno, que em sua essência é Espirítual, o qual está no
Sentido externo que é natural, como a alma. está no corpo; este sentido é o espírito que
vivifica a letra; êste sentido pode ser também um testemunho da Divindade e da Santidade
da Palavra e convencer mesmo o homem natural, seêle quiser ser convencido.
II- Na Palavra há um sentido, espiritual, ignorado até ao presente
&193 - Quando se diz que a Palavra, porque é Divina, é espiritual em seu seio, haverá
alguém que não o reconheça e não concorde? mas quem é que soube até ao presente o que é
o Espiritual e onde esse espiritual está escondido na Palavra? 0 que é o Espiritual será
manifestado em um Memorável depois deste capítulo; e onde êste espiritual está escondido
na Palavra, vai se ver no que segue. Que a Palavra seja espiritual em seu seio, é porque ela
desceu de Jehovah o Senhor e atravessou os Céusangélicos; e porque o Divino mesmo, que
em si é inefável e não perceptível, se torn0ou na descida, adequado à percepção dos Anjos e
à percepção dos homens; daí vem o Sentido espiritual que está interiormente no sentido
natural, como a alma no homem, na linguagem, e a afeição da vontade, na ação; e se é
permitido uma comparação com as coisas que se apresentam diante dos olhos no Mundo
natural, o Sentido espiritual está no Sentido natural como todo Cérebro está dentro de suas
Meningeas ou de suas Dura-mater, ou como os ramos de uma árvore dentro de suas cascas,
e mesmo como tudo que concerne à geração do frango dentro da casca do ovo, etc. Mas que
no Sentido natural da Palavra haja um tal Sentido espiritual, ninguém até ao presente, o
conjecturou; é portanto, necessário que êste Arcano, que em si ultrapassa todos os Arcanos
descobertos
até aqui, seja manifestado diante do entendimento, o que vai ser feito expondo-o nesta
ordem:
I - O QUE É 0 SENTIDO ESPIRITUAL.
II - ÉSTE SENTIDO ESTA EM TODAS E CADA UMA DAS COUSAS DA PALAVRA.
III -É POR ÉSTE SENTIDO QUE A PALAVRA FOI DIVINAMENTE INSPIRADA E É
SANTA EM CADA PALAVRA.
IV - ÊSTE SENTIDO FOI IGNORADO ATÉ 0 PRESENTE.
V - ELE NÃO SERÁ DADO DAQUI POR DIANTE SENAO, AQUELE QUE ESTA
PELO SENHOR NOS VEROS REAIS.
VI - MARAVILHAS CONCERNENTES A PALAVRA SEGUNDO 0 SENTIDO
ESPIRITUAL.
Cada proposição vai ser desenvolvida.
&194 - 1. 0 QUE É 0 SENTIDO ESPIRITUAL.
O Sentido espiritual não é aquêle que brilha pelo sentido da letra da Palavra, quando
alguém escuta e explica a Palavra para confirmar algum dogma da Igreja, este sentido pode
ser chamado sentido literal e Eclesiástico da Palavra; mas o sentido espiritual não se mostra
no sentido da letra, está dentro dêle, como a alma no corpo, como o pensamento do
entendimento nos olhos, e como a afeição do amor, na face. Este sentido, principalmente,
faz com que a Palavra seja espiritual, não somente para os homens, mas ainda para os
Anjos; é por isso que a Palavra por este Sentido comunica com osCéus. Como a Palavra
interiormente é espiritual, foi por isso escrita por puras correspondências, e o que foi escrito
por Correspondências foi escrito , no último sentido, em um estilo tal como o dos Profetas,
Evangelistas e do Apocalipse, o qual, embora pareça vulgar, encerra entretanto em si a
Sabedoria Divina e toda Sabedoria Angélica.
0 que é a Correspondência pode-se ver no Tratado do Céu e Inferno, publicado em Londres
em 1758, onde se trata da Correspondência de todas as coisas de Céu com todas as coisas
do
homem, ns. 87 a 102, e da Correspondência de todas as coisas do Céu com todas as
coisasTerra, ns. 103 a 115; e além
disso, se verá por exemplos tirados da Palavra, que serão citados aqui.
&195 - Do Senhor procedem, um depois do outro, o Divino Celeste, o Divino Espiritual e o
Divino Natural. E' chamado - Divino Celeste tudo que procede de seu Divino Amor; e tudo
isso é o Bem; é chamado Divino Espiritual tudo que procede de sua Divina Sabedoria e
tudo isso é o Vero. 0 Divino Natural vem de um e de outro, é o complexo no último. Os
Anjos do Reino Celeste, de que se compõe o Terceiro Céu ou Céu Supremo, estão no
Divino que procede do Senhor e que é chamado Celeste, -pois êles estão no Bem do amor
pelo Senhor. Os Anjos do Reino Espiritual do Senhor, de que se compõe o Segundo Céu ou
Céu Médio, estão no Divino que procede do Senhor e que é chamado Espiritual, pois eles
estão na Divina Sabedoria pelo Senhor. Os Anjos do Reino Natural do Senhor, de que se
compõe o Primeiro ,Céu ou Céu ínfimo, estão no Divino que procede do Senhor e que é
chamado Divino Natural e estão na fé da caridade pelo Senhor. Mas os homens da Igreja
estão, segundo seu amor, sua sabedoria e sua fé, em um dêstes Reinos e depois da morte,
vão para aquêle em que estão. A Palavra do Senhor é também tal qual ,é o Céu, Natural no
seu último sentido, Espiritual no seu sentido interior, Celeste no seu íntimo e Divina, em
cada sentido; por .isso, ela foi acomodada para os Anjos dos Três Céus e também para os
Homens.
&196 - 11. 0 SENTIDO ESPIRITUAL ESTA EM TODAS E -CADA UMA DAS
COUSAS DA PALAVRA.
Isto não pode ser visto melhor do que por Exemplos; sejam ,os seguintes: João disse no
Apocalipse: "V! o Céu aberto; e eis, um Cavalo Branco; e aquêle que estava montado em
cima era chamado Fiel, Verdadeiro, e em justiça julga e combate; e seus Olhos como uma
chama de fogo; e sobre sua Cabeça, vários diademas; tendo um nome escrito que ninguém
conhecia senão Ele mesmo; e estava revestido com um vestido tinto de sangue; e é
chamado seu Nome: a palavra de Deus. E os Exércitos que (estão) - Céu o seguiram sobre
cavalos brancos, vestidos de linho branco e puro. Há sobre sua vestimenta e sobre sua coxa
êste Nome escrito Rei dos Reis e Senhor dos Senhores. E vi um ,Anjo pernanecendo no
Sol, e que gritava em forte voz: Vinde e reúni-vos para a grande Ceia, a fim de que comais
carne de reis, carne de quiliarcas, carne de poderosos, carne de cavalos e daqueles que os
montam, e carne de todos, livres e escravos, pequenos e grandes (XI, 11 a 18). 0 que estas
palavras significam ninguém o pode ver senão pelo Sentido espiritual da Palavra, e
ninguém conhece o sentido espiritual senão pela ciência das correspondências; pois todas as
as palavras são correspondências e nenhuma palavra inútil. A ciência das correspondências
ensina o que é significado pelo Cavalo branco, por Aquêle que está montado em cima,
pelos Olhos que são uma chama de fogo, pelos Diademas que estão sobre sua cabeça; pelo
Vestido tinto de sangue, pelo Fino Linho branco, com que estavam vestidos os que são de
seu exército no Céu, pelo Anjo que permanecia no Sol, pela grande Ceia para a qual se
devia vir e reunir-se e pelas carnes de reis, de quiliarcas, etc., que se deve comer. Quanto ao
que significam -cada uma destas cousas no Sentido espiritual, vê-se explicado no
Apocalipse revelado ns. 820 a 838, e também no Opúsculo sobre o cavalo branco, é por
conseguinte, inútil dizer mais sobre êste assunto; foi mostrado que o Senhor, quanto à
Palavra, está descrito nesta passagem; que pelos Olhos, que eram como uma chama de
fogo, é entendida a Divina Sabedoria de Seu Divino Amor; que, pelos Diademas que
estavam sobre sua Cabeça, são entendidos, os Divinos Veros da Palavra que procedem
d'Ele que pelo Nome, que ninguém conhece senão ele mesmo, é entendido que ninguém vê
qual é a Palavra no sentido espiritual, senão o Senhor e aquêle a quem o Senhor o revelar; e
que, pelo vestido tinto de sangue, é entendido o sentido natural da Palavra, que é o sentido
da letra, ao qual se fêz violência. Que seja a Palavra que é assim descrita, isto é,muito
evidente, pois se diz: é chamado seu nome a palavra de Deus; que seja o Senhor que é
entendido, isto é ainda muito evidente, pois é dito que o Nome Daquele que estava montado
sobre o Cavalo branco era: Rei dos Reis e Senhor dos Senhores, do mesmo modo que no
Apocalipse 17, 14, onde se diz: E o Cordeiro os vencerá, porque Êle é o Senhor dos
Senhores e o Rei dos Reis. Que o Sentido espiritual da Palavra deve ser aberto no fim da
Igreja, isso é significado não só pelo que acaba, de ser dito do Cavalo branco e daquele que
estava montado em cima, mas ainda pela grande Ceia para a qual todos são convidados pelo
Anjo que permanecia no Sol, para vir e comer carnes de reis e de quiliarcas, etc, pelas quais
é significada apropriaçâo de todos os bens provenientes do Senhor. Todas estas expressões
seriam palavras inúteis e privadas de vida e de espírito, se o sentido espiritual não estivesse
interiormente nelas, como a alma está no corpo.
&197 - No Apocalipse, Capítulo 21, a Nova Jerusalém e assim descrita: Sua luz era
semelhante a uma pedra muito preciosa tal como uma pedra de Jaspe, resplandecente como
cristal. Ela tinha uma muralha grande e elevada, tendo doze portas; e sobre as portas, doze
Anjos, e Nomes escritos que são (os) das deze tribos dos filhos de Israel. A muralha era de
cento e quarenta e quatro covados, medida o homem, isto é, de Anjo; e a estrutura da
muralha era de Jaspe; e seus fundamentos, de toda pedra preciosa eram ornados, de j aspe,
safira, de calcedônia, de esmeralda, de sardonix, de sardônia, de crisolito, de berilo, de
topásio, de crisoprazo, de hiacinto e de ametista. As portas eram doze pérolas. A Cidade
mesma era em ouro puro, semelhante a um vidro puro; era quadrangular; o comprimento, a
largura e a altura eram iguais, de doze mil estádios, etc." Que tôdas estas coisas devem ser
entendidas espiritualmente, pode-se ver nisto que, pela Nova Jerusalém, é entendida uma
nova Igreja, que deve ser instaurada pelo Senhor, como foi mostrado no Apocalipse
Revelado n. 880; e pois que Jerusalém significa aqui a Igreja, s,egue-se que tudo o que é
dito dela como Cidade, de suas Portas, de sua Muralha, das Fundações da Muralha, e de
suas medidas, contém um sentido espiritual, pois o que pertence à Igreja é espiritual; quanto
ao que significam estas cousas, isso foi
mostrado no Apocalipse Revelado, ns. 896 a 925, será, portanto, supérfluo demonstrá-lo
mais. Basta que se saiba que o sentido espiritual está dentro de cada parte da descrição,
como a alma está dentro do corpo e que, sem um tal sentido, não se poderia aplicar à Igreja
nenhuma das cousas que aí estão escritas, por exemplo, que esta Cidade era de ouro puro,
as suas portas de pérolas, os fundamentos da muralha, de pedras preciosas, que a muralha
era de cento e quarenta e quatro covados, medida de homem, isto é, de Anjo, e que a
Cidade tinha um comprimento, uma largura e uma altura de doze mil estádios, etc.; mas
aquêle que, pela ciência das correspondências, conhece o Sentido espiritual, compreende
estas cousas, por exemplo, compreende que a Muralha e seus Fundamentos significam as
doutrinas desta Igreja segundo o sentido da letra da Palavra e que os números 1, 144 e
12.000 significam tôdas as cousas da Igreja, ou os veros e os bens da Igreja em um único
complexo.
&198 - O Senhor, falando diante de seus discípulos da con sumaçaõ dos séculos, que é o
último tempo da Igreja, disse no fim das predições sobre suas mudanças de estado
sucessivas: "Logo depois da aflição dêsses dias, o Sol será obscurecido, a Lua não dará
mais o seu resplendor, as Estrelas cairão do Céu e as Potências do céu serão abaladas. E
então, aparecerá o Sinal do Filho do homem no Céu e gemerão tôdas as Tribos da Terra; e
elas verão o Filho do homem vir nas nuvens do Céu com potência e muita glória. E Ele
enviará seus Anjos com trombeta e grande voz e êles reunirão seus eleitos dos quatro
ventos, de uma extremidade dos céus à (outra) extremidade" (Mateus XXIV, 29, 30, 31).
Por estas palavras, no sentido espiritual, não se entende que o Sol e a Lua se obscurerão,
nem que as estrelas cairão do céu , nem que o sinal do Senhor aparecerá nos Céus, nem
que o sinal do Senhor aparecerá nos céus, nem que nas nuvens, e ao mesmo tempo os
Anjos Com as trombetas; mas por cada uma das palavras desta passagem entende-se
espirituais que concernem à Igreja, cujo estado final é aqui
descrito; com efeito, no sentido espiritual, pelo Sol que será obscurecido é entendido o
amor para
com o Senhor, pela Lua que não dará mais seu resplendor é entendida a fé n'Êle, pelas
Estrêlas que
cairão do Céu são entendidos os conhecimentos do vero e do bem; pelo sinal do Filho do
homem no Céu, é entendida a aparição do Divino Vero na Palavra segundo o Senhor; pelas
tribos da Terra,
que gemerão, é entendida a falta de todo vero que pertence à fé e de todo bem que pertence
ao amor; pela vinda do Filho do homem nas nuvens do Céu com poder e glória, é entendida
a presença do Senhor na Palavra e a revelação; as nuvens do Céu significam o sentido da
letra da Palavra e a glória o sentido espiritual da Palavra; pelos Anjos com a forte voz da
trombeta, é entendido o Céu de onde vem o Divino Vero; por reunir os eleitos dos quatro
ventos de uma extremidade do Céu à outra extremidade, são entendidos o novo Céu e a
nova Igreja, ompostos daqueles que têm a fé no Senhor e vivem segundo seus preceitos.
Que não seja a entendido nem o obscurecimento do Sol e da Lua, nem a queda das estrêlas,
sobre a Terra, vê-se claramente pelos profetas nos quais
cousas semelhantes são ditas do estado da Igreja quando o Senhor viesse ao Mundo; por
exemplo, em Isaías: "Eis, o dia de Jehovah vem, cruel e de arrebatamento de cólera; as
Estrêlas dos céus e seus Astros não brilharão mais com sua luz, obscurecido será o Sol ao
seu levantar e a Lua não fará mais resplandecer seu clarão; visitarei sobre o Globo a
malícia" (XIII, 9, 10, 11). Em Joel: "Vem o dia de Jehovah, dia de trevas e de obscuridade;
o Sol e a Lua serão enegrecidos e as estrelas retirarão seu resplendor" (111, 4; IV, 15). Em
Ezequiel: "Eu cobirei os Céus e enegrecerei as estrelas o Sol, com uma nuvem se cá não
fará luzir seu clarão; todos os Luminares de rei e porei trevas sobre a Terra" (XXXII, 7, 8),
de Jehovah é entendida a vinda do Senhor; esta vinda teve lugar, quando não havia mais na
Igreja nenhum do amor e do vero da fé, nem conhecimento algum do Senhor; é por isso
que êsse tempo é chamado Dia de treva e da obscuridade.
&199 - Que o Senhor, quando estava no Mundo, tenha falado por correspondências, assim
espiritualmente quando falava naturalmente, pode-se vê-lo por suas parábolas, em cada
palavra das quais há o sentido espiritual; seja, por exemplo, a Parábola das dez Virgens;
Êle disse: "Semelhante é o Reino dos Céus a dez Virgens, que, tomando suas lâmpadas,
saíram ao encontro do Noivo; cinco dentre elas eram , Prudentes; e cinco insensatas; as
que eram Insensatas, tomando suas lâmpadas não tinham tomado óleo, mas as Prudentes
tinham tomado óleo em suas lâmpadas. Ora, como o Noivo tardasse, elas toscanejaram
tôdas e adormeceram; mas no meio da noite, um grito se ouviu: Eis, o Noivo vem, saí ao
seu encontro; então foram acordadas tôdas estas Virgens e elas prepararam suas lâmpadas;
ora, as Insensatas disseram às Prudentes: Dai nos de vosso óleo, porque as nossas
Lâmpadas estão apagadas; mas responderam as prudentes, dizendo: Talvez que êle não
baste para
nós e para vós; ide antes àqueles que o vendem e comprai-o para vós. Ora, enquanto elas
foram comprá-lo, chegou o Noivo; e aquelas que estavam prontas, entraram com êle às
núpcias e a porta foi fechada. E enfim, vieram as outras Virgens, dizendo: Senhor,. Senhor,
abri nos; mas Êle respondendo, disse: Em verdade vos digo: não vos conheço" (Mateus
XXV, 1-12). -Que em cada uma destas palavras há um Sentido espiritual e, por
conseguinte, o Santo Divino, ninguém o vê senão aquêle que conhece que existe um
Sentido espiritual e qual é esse sentido. No Sentido espiritual, pelo reino dos céus é
entendido o Céu e a Igreja; pelo Noivo o Senhor; pelas Núpcias o casamento do Senhor
com o Céu e a Igreja pelo bem do amor e pelo vero da fé; pelas virgens, aquêles que estão
na Igreja; por Dez, todos; por Cinco, uma parte, pelas Lâmpadas, as cousas que pertencem
à fé; pelo Óleo, as que pertencem ao bem do amor; por Dormir e Acordar-se, a vida do
homem no Mundo, a qual é natural; e a vida após a morte, a qual é espiritual; por Comprar,
adquirir por si mesmo; por ir aos que Vendem e Comprar óleo, adquirir dos outros para si
mesmo o bem do amor depois da morte; e como então não é mais possível adquiri-lo, eis
por que, embora com suas lâmpadas e o óleo elas tinham comprado chegassem à porta do
lugar onde se faziam as núpcias, o Noivo, entretanto, lhes disse: Eu não vos conheço; e
isso, porque o homem, após a vida no Mundo, fica tal como viveu no Mundo. Por isso é
bem evidente que o Senhorfalou por puras correspondências porque Êle falava pelo Divino
que estava n'Ele e era d'Éle. Como as Virgens significam aqueles que estão na Igreja, é por
isso que, na Palavra Profética se diz tão freqüentemente: A Virgem e a Filha de Sião,
Jerusalém, de Judá, de Israel; e como, o óleo significa o bem do amor, é por isso que tôdas
as cousas santas da Igreja eram ungidas com óleo. Dá-se o mesmo com tôdas as outras
Parábolas e com tôdas as palavras que o Senhor pronunciou; daí vem que o Senhor disse
que S lavras são espírito e vida, (João VI, 63).
&200- 111. E POR ESTE SENTIDO QUE A PALAVRA FOI DIVINAMENTE
INSPIRADA E É SANTA EM CADA PALAVRA
Diz-se, na Igreja, Palavra é Santa; e isso porque Jehovah o Senhor a pronunciou; mas como
o Santo da Palavra não se manifesta no Sentido só da letra, aquêle que, por causa disso,
duvida uma vez de sua Santidade, se confirma em seguida nessa dúvida por várias
passagens da Palavra, quando a lê, pois diz em si mesmo: Será que isto é Santo? Será que
isto é Divino? Portanto, a fim de que um tal Pensamento não influa sóbre muitos e não se
afirme, em seguida, cada vez mais e a Palavra não seja rejeitada como um Escrito
desprezível, e que assim a conjunção do Senhor com o homem não pereça, aprouve ao
Senhor revelar agora o sentido espiritual da Palavra, para que se saiba onde está escondido
n'Ela o Santo Divino. Mas isso vai ser ilustrado com exemplos: Na Palavra se fala, ora do
Egito, ora de Ashur, ora de Edom, de Moab, dos filhos de Amom, dos Filisteus, de Tiro, e
de Sidon, de Gog; a que não sabe que por esses Nomes são significadas cousas e da Igreja,
pode, ser levado a êste êrro, que a Palavra s muito de Povos e de Nações e muito pouco do
Céu e da Igreja, assim muito das cousas Mundanas, e pouco das coisas Celestes; mas
quando êsse sabe o que é significado por estes povos e por estas nações ou por seus Nomes,
pode ser reconduzido do êrro, à verdade. Acontece o mesmo quando na Palavra se vê que
tão frequentemente se fala de Jardins, de Bosques, de Florestas, e de suas Arvores, tais
como a Oliveira, a Cêpa, o Cedro, o Choupo, o Carvalho; e tão freqüentemente trata de
Cordeiros, de Ovelhas, de Bodes, de Bezerros, de Bois;' e também de Montanhas, de
Colinas, de Vales, de Fontes, Rios e Águas que ai se encontram e de muitos outros objetos
naturais; aquêle que nada sabe do sentido espiritual da Palavra, não pode fazer outra cousa
senão crer que são unicamente êstes objetos que são entendidos; pois e que pelo Jardim, o
Bosque, a Floresta, são entendidas Sabedoria, a Inteligência e a Ciência; que pela Oliveira,
a o Cedro, o Choupo e o Carvalho, são entendidos o bem e o vero da Igreja, sob seus
diferentes caracteres de celeste, espiritial, natural e sensual; que, pelo Cordeiro, a Ovelha, a
Bode, o Bezerro, o Boi, são entendidas a inocência, a caridade e a afeição natural e
sensual; e pelas Montanhas, as Colinas e os Vales são entendidos os superiores, os
inferiores e os ínfimos da Igreja; que Egito é significado o científico, por Ashur o racional;
por Edon o natural, por Moab a adulteração do bem; pelos Filhos de Amom a adulteração
do vero; pelos Filisteus a fé sem a caridade; pôr Tiro e Sidon os conhecimentos bem e cio
Gog o culto externo sem o interno; em por Jacob é entenida a Igreja natural; por Israel a
Igreja t Jehudah a Igreja Celeste. Quando o homem conhece essas signeficações,pode então
pensar que a Palavra não ão trata ao de cousas ce-estes e que êstes objetos Mundanos não
-são senão sujeitos nos quais estão encerrados. Mas um exemplo tomado na Palavra vai
ainda ilustrar isso; lê-se em Isaías: "Naquele dia haverá um caminho do Egito à Assiria, a
fim de que venha a Assíria ao Egito e o Egito à Assíria; e servirão os Egípcios com a
Assíria. Nesse dia será Israel em terceiro ao Egito e à Assiria; bênção no meio da terra,
que abençoará Jehovah Sebaoth, dizendo: Abençoado seja meu povo, o Egito; e a obra das
minhas mãos, a Assíria; e minha herança, Israel" (XIX, 23, 24, 25). - Por estas palavras, no
sentido espiritual, é entendido que no tempo da Vinda do Senhor, o Científico, o Racional
e o Espiritual, farão um; e que, então, o Científico estará ao serviço do Racional; e um e
outro ao serviço do Espiritual; pois, assim como foi dito, pelo Egito é significado o
científico, por Ashur, o racional e por Israel o espiritual; pelo dia mencionado duas vêzes é
entendido o Primeiro e o Segundo advento do Senhor.
&201 IV. 0 SENTIDO ESPIRITUAL DA PALAVRA FOI IGNORADO ATÉ AO
PRESENTE.
Que todas e cada uma das coisas que estão na Natureza correspondem. a cousas espirituais
e que aconteça o mesmo com todas e cada uma das cousas que estão no Corpo humano, é o
que foi mostrado no tratado do Céu e do Inferno, ns. 87 a 115.
Mas o que é a Correspondência? Até ao presente foi ignorado; entretanto, nos tempos
Antiquíssimos, era bem conhecida; pois, para os que viviam então, a ciência das
Correspondências era a ciência das ciências; e tão universal, que todos os seus tratados e
todos os seus Livros eram escritos por Correspondências; o livro d Job, que é um livro da
Antiga Igreja, está cheio de correspondências. Os Hieroglifos dos Egípcios e também as
fábulas da Antiguidade , não foram outra cousa; todas as Igrejas Antigas representativas
dos espirituais; seus Ritos e seus Estatutos, segundo os quais o seu culto tinha sido
instituído, consistiam em puras Correspondências; do mesmo modo as coisas da Igreja
entre os filhos de Israel; os Holocaustos, os Sacrifícios, os Minchashs e as Li bações, com
tudo que a isso se elacionava, eram correspondências; semelhantemente o Tabernáculo com
tudo e encerrava; além disso, também suas Festas, tais como a Festa dos ázimos, a Festa
dos tabernáculos e a Festa das primícias; do mesmo modo, o Sacerdócio de Aharão e dos
Levitas e também suas vestimentas de santidade; mas quais eram os espirituais aos quais
todas estas correspondiam, isso foi mostrado nos arcanos celestes publicados em Londres;
além disso, todos os Estatutos utos e todos os J entos, que se relacionavam com seu culto e
sua vida, eram também Correspondências. Ora, como no Mundo os Divinos se apresentam
nas Correspondências, eis porque a Palavra foi, a por puras Correspondências; é por isso
que o Senhor, como falava segundo o Divino, falava por Correspondências, pois o que vem
do Divino cai na Natureza em coisas que correspondem aos Divinos; e então encerram em
seu seio os Divinos que são chamados Celestes e Espirituais.
&202 - Soube que os homens da Antiquíssima Igreja, que existiu antes do Dilúvio, eram de
um gênio tão celeste que falavam com os Anjos do Céu e podiam falar com êles pelas
Correspondências; daí o estado de sua sabedoria se tornou tal que tudo que viam sobre a
Terra, não somente os fazia pensar naturalmente, mas ainda espiritualmente; por isso,
conseqüentemente, conjuntamente com os Anjos do Céu. Além disso, soube que Chanoch
(Henoc), de que se fala em Gênesis 5, 21 a 24, e os de sua sociedade, recolheram de suas
bocas as Correspondências e transmitiram a sua Ciência à posteridade; do que resulta que a
Ciência das Correspondências tornou-se não somente conhecida, mas ainda cultivada em
um grande número de Reinos da Asia, sobretudo na Terra de Canaan, no Egito, na Assíria,
na Caldéa, na Síria, na Arábia, em Tiro, em Sidom, em Ninive, e que dai foi transportada
para a Grécia; mas aí foi mudada em Narrações fabulosas, como se pode ver pelos escritos
dos mais antigos autores dessas regiões.
&203 - A fim de que se possa ver que a Ciência das Correspondências pondências foi por
muito tempo conservada nas nações da Azia, todavia, entre os que eram chamados
Adivinhos e Sábios e por alguns, Magos, quero citar um único Exemplo tirado se Samuel I,
Cap. 5.0 e 6.0. Aí se diz que a Arca onde estavam e estavam Tábuas sobre as quais o
Decálogo tinha sido gravado, foi pelos Filisteus e colocada no templo de Dagon em
seguida, Dagon caiu por terra diante dela e que, em seg da, e suas duas mãos separadas do
corpo jaziam sobre Templo; que os Asclidonianos e os Ekronitas, em rios milhares foram
atacados de hemorróidas por, e que sua terra foi devastada pelos ratos; que em e os Filisteus
convocaram os Sátrapas e os Adivinhos; impedir sua ruína, eles decidiram que se faria
cinco das e cinco Ratos de ouro e um Carro novo; que se Arca em cima; e perto dela, as
hemorróidas e os ratos de que o carro seria puxado por duas Vacas; e as vacas, berrando no
caminho, conduziram a Arca para os filhos de Israel, que sacrificaram as Vacas e o carro; e
assim o Deus de Israel se tomou propício. Que todas as coisas as imagindas pelos
Adivinhos dos Filisteus, eram Correspondências, vê-se por sua significação, que é esta: Os
Filisteus mesmospara significavam que estão na fé separada da caridade; Dagon
representava esta Religiosidade; as Hemorróidas de que foram atacados os significavam os
amores naturais que, sendo separados do amor espiritual, são impuros; e os Ratos
significavam a devastação da Igreja pelas falsificações do vero; o Carro novo significava a
Doutrina natural da Igreja, pois o Carro na Palavra significa a doutrina segundo os veros
espirituais; as Vacas significavam as afeições naturais boas; as Hemorróidas de ouro
significavamos amores naturais purificados e tomados bons; os Ratos de ouro significavam
a supressão da devastação da Igreja pelo bem, pois o Ouro na Palavra significa o bem; o
mugido das Vacas no caminho, significava a difícil conversão das concupiscências do mal
do homem natural, em afeições boas; o sacrifício em holocausto das Vacas, com o Carro,
significava que assim o Deus de Israel se tinha tomado propicio. todas estas cousas que
fizeram os Filisteus pelo conselho dê seus Adivinhos eram Correspondências, donde
resulta evidentemente que esta Ciência tinha sido conservada muito tempo entre essas
nações.
&204 - Quando os Ritos Representativos da Igreja, que eram Correspondências,
começaram com o tempo, a ser mudados em ídolos e também em Magia, esta Ciência, pela
Divina Providência do para Senhor, caiu sucessivamente no olvido; e nas Nações Israelitas
e Judaica, ela perdeu-se inteiramente. Na verdade, o Culto desta nação consistia em puras
Correspondências e era representativo dá& coisas Celestes, mas entretanto os Israelitas e os
Judeus não sabiam o que êste culto significava; pois eram homens naturais; por
conseguinte, queriam e não po a alguma dos Espirituais e dos Celestes, nem conseqüência,
cousa alguma das Correspondências, pois as ias são as Representações dos Espirituais e dos
Naturais.
&205 - Se, nos tempos Antigos, as Idolatrias das Nações tira Ciência das Correspondências,
isto vem de que se vê sobre a Terra, correspondem, não mas ainda as Bestas e os Pássaros
de toda também os Peixes, etc. Os antigos, que estavam na Correspondências, tinham feito
imagens que cor cousas celestes e achavam prazer em ver essas imagens, Porque
significavam e ue pertenciam ao Céu e à Igreja; e em conseqüência, as colocavam em seus
Templos, mas em sua casas, não para fazê-las objeto de adoração, mas para trazer à sua
lembrança as cousas celestes que significavam; daí no Egito e alhures houve imagens,
Bezerros, Bois, Serpentes, além Crianças, velhos e Virgens porque os Bezerros e os Bois
significavam as afeições e as forças do homem Natural; as Serpentes, a prudência e também
a astúcia do homem sensual; as Crianças, a inocência e a caridade; os Velhos, a sabedoria;
as Virgens, as afeições do vero; e assim de resto. Quando a Ciência das Correspondências
foi obliterada, os descendentes começaram a adorar como Santas, as Imagens e os
Simulacros colocados pelos Antigos, porque os encontravam nos Templos e perto dos
Templos; e enfim, a adorá-los com Deidades. E por causa disso, os Antigos tinham
também um Culto em Jardins e em Bosques, conforme as espécies de Arvores; além disso,
também em Montanhas e sobre Colinas; pois os Jardins e os Bosques significavam a
sabedoria e a inteligência; e cada Arvore, alguma cousa da sabedoria e da inteligência; por
exemplo, a Oliveira, o Bem do amor, a Cepa, o vero segundo o bem, o Cedro, o bem e o
vero racionais; a Montanha, o Céu supremo e a Colina o Céu que está em baixo. Que a
Ciência das Correspondências tenha permanecido entre vários Orientais UM ao Advento do
Senhor, pode-se também vê-lo pelos Sábios do te, que vieram ao Senhor, quando Êle
nasceu; por êsse motivo, uma Estrêla ia adiante dêles e eles levavam consigo presentes de
Ouro, de Incenso e de Mirra (Mateus 11, 1, 2, 9, 10, 11); com efeito, a Estrêla que ia
adiante dêles significava o conhecimento vindo do Céu; o Ouro significava o Bem celeste;
o Incenso, o bem espiritual e a Mirra o bem natural; todo culto depende desses três bens.
Entretanto, a Ciência das Correspondências era inteiramente nula na Nação Israelita e
Judaica, embora todas as coisas de seu culto, todos os Estatutos e todos os Julgamentos que
lhes tinham sido dados por Moisés e todas as cousas da Palavra, fossem puras
Correspondências; isto vinha de serem eles idólatras de coração; por conseguinte, tais que
não queriam mesmo saber que alguma cousa de seu Culto significava o Celeste e o
Espiritual, pois acreditavam que todas as coisas eram Santas por si mesmas; é por isso que
se osCelestes e os Espirituais lhes tivessem sido descobertos, não somente seriam
rejeitados, mas os teria mesmo profanado; é Céu foi tão bem fechado para êles, que apenas
sabiam que havia uma Vida eterna; que isto seja assim, vê-se claramente no fato deles não
reconhecerem o Senhor, ainda que toda Estrutura Santa tenha profetizado sobre Ele e tenha
predito seu advento, êles 0 rejeitaram por esta única razão, que Êle lhes falava de seu Reino
celeste, e não de um Reino terrestre, pois queriam um Messias que os elevasse acima todas
as Nações do Mundo e não um Messias que provia à sua salvação eterna.
&206 - S a Ciência das Correspondências, pela qual é dado o sentido espiritual da Palavra,
não foi desvendada nos tempos posteriores, é porque os cristãos da Primeira Igreja eram de
uma grande simplicidade, para que ela pudesse ser descoberta diante dêles, pois se ela lhes
fôsse descoberta, não lhes teria sido de utilidade alguma e não teria sido compreendida.
Depois dessa primeira época do Cristianismo, trevas se elevaram sobre toda a Cristandade;
a princípio, pelas Heresias que muitos espalharam de todo lado; e pouco depois, pelas
deliberações e os decretos do Concílio de Nicéa sobre as três Pessoas Divinas de toda
-eternidade e sobre a Pessoa do Christo como Filho de Maria e não como Filho de Jehovah
Deus; daí saiu a Fé de hoje sobre a justificação, fé na qual a gente se dirige aos três deuses
em sua ordem e da qual dependem todas e cada uma das cousas, da Igreja de hoje, como da
cabeça dependem os membros do corpo; e como se aplicaram todas as cousas da Palavra
para confirmar essa Fé errônea, o Sentido espiritual não pôde ser descoberto, pois se êste
sentido fosse desvendado, teria sido aplicado para confirmar essa fé; e com isso, ter-se-ia
profanado o Santo mesmo da Palavra; e assim ter-se-ia fechado inteiramente o Céu e ter-seia afastado a Igreja do Senhor.
&207 - Que a Ciência das Correspondências, pela qual é dado o Sentido espiritual, foi
revelada hoje, é porque agora os Divinos Veros da Igreja estão postos na luz e que é nesses
veros que consiste o-Sentido espiritual da Palavra; e quando estes veros estão no homem, o
sentido da letra da Palavra não pode ser pervertido; com efeito, o sentido da letra da Palavra
pode ser torcido para aqui ou para ali; mas se é torcido para o falso, então perece sua
Santidade interna e com ela a Santidade externa, enquanto que se é voltado para o Vero, a
Santidade interna permanece; na continuação se dirá mais sobre êste assunto. Que o Sentido
espiritual será aberto hoje, isso está entendido em que João viu o Céu aberto, e então um
Cavalo branco; além disso, no fato dêle ter visto e ouvido que o Anjo que estava no Sol,
fazia uma convocação geral para a grande Ceia (Apoc. 19, 11 a 18). Mas que durante muito
tempo este sentido não será reconhecido, isto é entendido pela Besta e pelos Reis da Terra,
que deviam fazer a guerra contra Aquêle que estava montado sobre o Cavalo branco (Apoc.
19, 19), e também pelo Dragão, que perseguia a Mulher, que tinha dado à luz um Filho, até
ao deserto e que lá, êle lançou de sua boca, águas como um rio a fim de submergi-Ia (Apoc.
12, 13 a 17) .
&208 -V. 0 SENTIDO ESPIRITUAL DA PALAVRA NÃO, SERA DADO DAQUI EM
DIANTE SENÃO AQUELE QUE ESTA PELO SENHOR NOS VEROS REAIS.
Eis a causa disso: é que ninguém pode ver o Sentido espiritual se não for pelo Senhor só; e
a menos que esteja pelo Senhor nos Divinos veros; pois o Sentido espiritual da Palavra trata
do Senhor só e de seu Reino; e êste sentido é aquêle em que estão os Anjos do Céu, pois
seu Divino Vero está lá; o homem pode violá-lo, se está na Ciência das Correspondências, e
que por ela queira explorar o Sentido espiritual da Palavra segundo a própria inteligência;
pois, por algumas correspondências que conhece, pode perverter êste sentido e levá-lo a
confirmar mesmo os Falsos, e isso seria fazer violência ao Divino Vero, e também por
conseqüência, ao Céu, no qual êste Vero habita; se, portanto, alguém quer abrir êste Sentido
por si mesmo e não pelo Senhor, o Céu se fecha e desde que está fechado, o homem ou
nada vê do vero, ou extravasa espiritualmente. Há também uma outra causa, é que o Senhor
ensina a cada um pela Palavra e ensina segundo os conhecimentos que estão no homem e
não infunde imediatamente cousas novas; se, portanto, o homem não está nos Divinos
Veros ou se está somente em um pequeno número de veros e, ao mesmo tempo, nos falsos,
pode por êstes, falsificar os veros; como também isto é feito por todo herético quanto ao
Sentido mesmo da letra da Palavra. E' por isso que, a fim de que ninguém entre no Sentido
espiritual e perverta o Vero real que pertence a esse sentido, o Senhor colocou Guardas, que
são entendidos na Palavra pelos Querubins.
&209 - VI. MARAVILHAS CONCERNENTES A PALAVRA SEGUNDO SEU
SENTIDO ESPIRITUAL.
No Mundo natural, não existe Maravilha alguma Palavra, porque o sentido do espiritual
não se mostra e não é recebido pelo homem interiormente, tal como êle é em si; mas o
Mundo espiritual manifestam-se Maravilhas pela Palavra,
no Mundo espiritual
manifestam-se Maravilhas pela Palavra , porque lá todos são espirituais, e as cousas
espirituais afetam o homem espiritual como as naturais o homem natural. As Maravilhas
que existem pela Palavra no Mundo espiritual são e em grande número, mencionarei aqui
algumas delas. A Palavra mesma, nos santuários dos Templos, brilha diante dos olhos dos
Anjos como uma grande Estrela, algumas vêzes como o Sol e por causa do brilho que a
cerca, aparecem também belíssimos Arco-íris; isso acontece desde que o santuário é aberto.
Que todos e cada um dos Veros da Palavra brilham, eu o pude ver no fato de que, quando
algum versículo da Palavra era escrito sobre um Papel e o Papel era lançado no ar, o Papel
brilhava na forma, segundo a qual tinha sido cortado; é só por isso que os Espíritos podem
pela Palavra produzir diversas formas brilhantes, tais como formas de pássaros e de peixes.
E é ainda mais maravilhoso quando alguém fricciona sua face, as suas mãos ou as roupas
de que está revestido, pois, com a Palavra aberta, aplicando-lhes a escrita, a face, as mãos e
as roupas brilham também como se ele estivesse em uma Estrela cuja luz se espalhasse em
torno dêle; vi e admirei muitas vezes isso; por isto, fiquei sabendo por que a face de Moisés
brilhava quando êle trazia da Montanha do Sinal as Tábuas da aliança.
Além disso, há muitas outras Maravilhas que provém da Palavra, por exemplo: Se alguém
está nos falsos e dirige sua vista para a Palavra colocada em um lugar santo, uma
Obscuridade se apodera de seus olhos, a Palavra lhe parece negra e, algumas vezes, como
coberta de fuligem; mas se êle toca a Palavra, se produz uma explosão, êle é lançado sobre
um Ângulo da ~ara e aí fica estendido, como morto, durante uma hora. Se uma passagem
da Palavra é transcrita em um papel por alguém que está nos falsos e se o papel for lançado
para o Céu, então, se produz uma semelhante explosão no ar, o papel é feito em pedaços e
desaparece; acontece o mesmo se esse papel é lançado sobre um ângulo que está próximo;
vi isso muitas vêzes. Por isso, torna-se evidente que aquêles que estão nos falsos da
doutrina não têm comunicação alguma com o Céu pela Palavra, mas que a leitura que
fazem dela se espalha de um lado e de outro do caminho e é dissipada como a pólvora
encerrada em papel quando o foguete é inflamado e lançado no ar. 0 contrário acontece
com aquêles que estão pelo Senhor nos veros da doutrina da Palavra; a leitura da Palavra
por eles penetra até ao Céu e aí faz a conjunção com os Anjos. Os Anjos mesmos quando
do Céu para desempenhar alguma missão mais em baixo, aparecem cercados de pequenas
estrelas, sob o em torno da cabeça; é um sinal de que os Divinos Veros da Palavra estão
com eles.
Além disso, no Mundo espiritual há cousas semelhantes às as terras, mas todas e cada uma
delas são de 1; assim, há também ouro e prata, há pedras pre e a sua origem espiritual é o
Sentido da vem que, no Apocalipse, os fundamentos Jerusalém são descritos por doze
Pedras da muralha significam os dou letra da Palavra; vem aue no Efod de Aharão havia
também doze Pedras preciosas, chamadas Urim e Thumim; e por elas eram dadas respostas
do Céu. disso, há ainda pela Palavra um grande número de Maravilhas que concernem ao
poder do Vero no Mundo espiritual; poder de tal modo imenso, que se fôsse descrito,
ultrapassaria toda crença; pois êste poder é tal, que derruba, montanhas e colinas, as
transporta para longe e as lanças no mar, etc.; em suma, o Poder do Senhor pela Palavra é
infinito.
&210 0 sentido da letra da Palavra é a base, o continente e a afirmação de seu sentido
espiritual e de seu sentido celeste.
Em todo Divino há um Primeiro, um Médio e um último; o Primeiro vai pelo Médio até ao
último e por isso mesmo existe e subsiste; daí, o último é a Base. 0 Primeiro também está
no Médio e pelo Médio, no último; assim, o último é o Continente; e como o último é o
Continente e a Base, é também a Afirmação. 0 homem erudito compreende que estes Três
podem ser chamados Fim, Causa e Efeito e também: Ser, Tórnarse e Existir e que o Fim é o
Ser, a Causa é o Tornar-se e o Efeito é o Existir; por conseguinte, em toda cousa completa
há um Trino, que é chamado Primeiro, Médio e último e também, Fim, Causa e Efeito.
Quando isto é compreendido, compreendese também que toda Obra Divina no último é
Completa e Perfeita; e também que, no último, está o Todo, pois que o Primeiro e o Médio
estão conjuntamente no último.
&211 - Daí vem que, na Palavra, pelo número Três é entendido no Sentido espiritual
completo e o perfeito e, por conseguinte , todo o em conjunto; e como êste número tem
ficação, eis por que é empregado na Palavra todas se trata de designar uma cousa completa
e perfe tas passagens. "Isaías caminhou nu e descalço Três Anos (Isaías XX, 3). "Jehovah
chamou Três vezes Samuel, Samuel correu Três vêzes para Elias e foi na Terceira vez que
Elias compreendeu ( I Samuel III, 1 a 8). "Jonatas disse a David que se escondesse Três
dias em um campo; depois Jonata lançou três flechas sobre o lado da pedra; e depois disso
David se prosternou Três vêzes diante de Jonatan" (I Samuel II, 5, 12 a 42). "Elias se
estendeu Três vêzes sobre o filho da Viúva" (I Reis XXII, 21) "Elias mandou derramar
Três vêzes água sobre o holocausto" (I Reis XVIII, 34). "Jesusdisse que o Reino dos Céus é
semelhante ao levedo que uma mulher, pegando nêle, escondeu em Três medidas de farinha
até que tudo estivesse fermentado" (Mateus XIII, 33). "Jesus disse a Pedro que êle o
renegaria Três vêzes" (Mateus XXVI, 34 "Jesus à Três vêzes a Pedro: Amas-me?" (João
XXI, 15, 16, 17). "Jonas estêve no ventre da baleia Três dias e Três noites" (Jonas 11, 1).
"Jesus disse que se se destruísse o Templo, Ele o reconstruiria em Três dias" (Mateus
XXVI, 61). "Jesus orou Três vêzes em Gethsemane11 (Mateus XXVI, 39 a 44). "Jesus
ressuscitou ao Terceiro dia" (Mateus XXVIII, 1). Há, além disso, muitas outras passagens
onde o número Três é mencionado quando se trata de uma Obra acabada e perfeita, porque
isso é significado por êste Número.
&212 - Há Três Céus, o Supremo, o Médio e o ínfimo; o Céu Supremo é o Reino Celeste
do Senhor. 0 Céu Médio faz seu Reino Espiritual e o Céu ínfimo faz seu Reino Natural; do
mesmo modo que há três Céus, do mesmo modo também há Três Sentidos da Palavra, o
Celeste, o Espiritual e o Natural, com os quais coincide também o que foi dito acima, n.
210, a saber, que o Primeiro está no Médio; e pelo Médio, no último, absolutamente como o
fim está na causa e pela causa, no efeito. Por aí, vê-se claramente qual é a Palavra, a saber,
que no sentido de sua letra, que é o Sentido Natural, há um sentido interior, que é o Sentido
espiritual; e neste, um Sentido íntimo, que é o Sentido Celeste; e que assim o último
Sentido, que é o Natural e é chamado Sentido da letra, é o continente dos dois Sentidos
interiores, assim a Base e a Afirmação dêsses dois sentidos.
&213 - Segue-se daí que a Palavra sem o Sentido de sua letra, seria como um Palácio sem
fundação, assim como um Palácio no ar e não sobre a terra, o que não seria senão a sombra
de um Palácio e se dissiparia. Sem o sentido de sua letra, a Palavra seria também como um
Templ o , no qual há várias coisas Santas e no meio o Santuário, sem um Teto e sem uma
Parede que sejam os Continentes; se êsses Continentes não existissem ou fossem tirados,as
cousas Santas do Templo seriam pilhadas por ladrões e devastadas pelas Bêstas da terra e
pelos pássaros do Céu, e assim seriam dissipadas. Semelhantemente, seria como o
Tabernáculo dos filhos de Israel no deserto, no íntimo do qual havia a Arca da Aliança, e
no seu meio, o Candelabro de ouro, o Altar de ouro dos perfumes e a Mesa dos pães das
faces, sem seus últimos, que eram as cortinas, os véus e as colunas. Além disso, sem o
Sentido de sua letra, a Palavra seria como o Corpo po humano sem seus tegumentos que se
chamam Pe les seus suportes que se chamam Ossos, todos os seus inte ríores se
espalhariam de um lado e de outro. Ela seria também como o Coração e o Pulmão no Peito,
sem seu tegumento, que se chama Pleura; e sem seus, suportes, que se chamam Costelas.
Ou como o Cérebro sem seus tegumentos que se chamam Dura-Máter e Pia-Máter; e sem
seu tegumento comum, seu Continente e sua Consolidação, que se chama Crânio.
Aconteceria o mesmo com a Palavra sem o Sentido de sua letra; é por isso que se diz em
Isaías, que "Jehovah criou sobre toda glória uma cobertura" (IV, 5).
&214 IV O Divino Vero no sentido da letra da Palavra está no: seu Pleno, no seu Santo e
no seu Poder
214 - Que a Palavra no sentido da letra, esteja em seu Pleno, no seu Santo e no seu Poder é
porque os dois Sentidos anteriores ou interiores, que são chamados Senti-do Espiritual e
Sentido Celeste, estão em conjunto no Sentido natural, que é o Sentido da letra, como foi
dito acima, ns. 210 e 212; mas como estão juntos aí, é o que vai ser dito agora. Há no Céu e
no Mundo uma Ordem sucessiva e uma Ordem simultânea; na Ordem sucessiva há
sucessão e seguimento de um após outro, desde os supremos até aos ínfimos; na Ordem
simultânea, ao contrário, um está perto do outro, desde os íntimos até aos extimos
(externos). A Ordem sucessiva é como uma Coluna com degraus desde o alto até em baixo;
a Ordem simultânea, ao contrário, é como uma obra coerente com as periferias desde o
Centro até à última superfície. Agora se dirá como a ordem sucessiva se transforma na
Ordem simultânea; isso acontece assim: os supremos da Ordem suce tornam-se os íntimos
da Ordem simultânea; e os ínfimos da em sucessiva se, tornam os extimos (externos) da
Ordem simultânea; é, por comparação, como uma Coluna de degraus que, se abatendo,
torna-se um corpo coerente um plano. Assim, o Simultâneo é formado de Sucessivos;e isso,
em todas e cada uma das coisas do Mundo natural e espiritual; pois, em toda parte há um
Primeiro, Médio e o Primeiro, pelo Médio, tende e vai para preciso compreender bem que
são graus de pure quais se faz uma e outra Ordem. Agora, quanto Celeste, o Espiritual e o
Natural procedem do Senhor em ordem sucessiva; e no último estão em Ordem simultânea;
assim, os Sentidos celeste e espirituais da Palavra estão no seu Sentido natural. Quando
isto é compreendido, pode-se ver como o Sentido natural da Palavra é o continente, a base
e a consolidação de seu Sentido espiritual e de seu Sentido celeste; e como no Sentido
literal da Palavra, o Divino Bem e o Divino Vero estão em seu Pleno, em seu Santo e seu
Poder. Por estas expIicações, pode-se ver que a Palavra em seu Sentido da letra é a Palavra
mesma, pois nesse sentido, há interiormente espírito e vida; é isto o que o Senhor disse:
"As palavras que eu vos pronuncio são Espírito e Vida" (João VI, 63); pois o Senhor
pronunciou Suas palavras no Sentido natural. 0 Sentido celeste e o Sentido espiritual não
são a Palavra sem o Sentido natural, pois são como o espírito e a vida sem o corpo; são
também como um Palácio que não tem fundações, como foi dito precedentemente, n. 213.
&215 - Os veros do Sentido da letra da Palavra, em parte, não são veros nus, mas são
aparências do vero, e como similitudes e comparações tomadas de cousas que estão na
natureza, que foram assim acomodadas é tornadas adequadas à concepção dos sim ples; e
também à das crianças; mas como, ao mesmo tempo, estas cousas são Correspondências,
elas são os receptáculos e os hábitáculos do vero real; e são vasos que o contém, como uma
Taça de cristal contém um Vinho generoso, um Prato de prata, alimentos delicados e, como
Roupas que cobrem, por exemplo, os cueiros, de uma criancinha e um vestido decente, uma
virgem; são também como científicos do homem natural, que compreendem em si as
percepções e as afeições do vero espiritual. Os veros nua mesmos, que estão encerrados,
contidos, vestidos e compreendidos, estão no Sentido espiritual da Palavra; e os bens nus
estão no Sentido celeste. Mas Isso vai ser ilustrado segundo a Palavra: "Jesus disse: Ai de
vós! escribas fariseus, por que limpais o exterior do copo e do prato, enquanto que os
interiores estão cheios de rapina e de intemperança! Fariseu cego, limpa primeiramente o
interior do copo prato, a fim de que o exterior também se torne limpo" (MateusXXIII, 25,
26); aqui o Senhor falou por similitudes e comparações, que são ao mesmo tempo
Correspondências; e disse o copo e o prato e pelo ente, é entendido mas também é
significado o Vero pelo copo é entendido o vinho, e pelo vinho, é vero; pelo prato é
entendido o alimento, e pelo *fica o bem; por isso, limpar o interior do copo e a purificar
pela Palavra os interiores da mente, à vontade e ao, pensamento; por "a fim de que o seja
limpo", significa que assim seriam purificados .'que são as obras e a linguagem, pois êstes
exteriores interiores a sua essência. Além disso: "Jesus disse: Havia um homem rico, que se
vestia de púrpura e de fino linho e divertia cada dia esplêdidamente; havia também um
pobre, chamado Lázaro, que estendido perto de seu vestíbulo, coberto de úlceras" (Lucas
XVI, 19, 20); aqui também o Senhor falou por similitude se que eram Correspondências e
continham os espirituais; homem rico, é entendida a Nação Judaica, que é chamada rica
porque tinha a Palavra, na qual estão as riquezas espirituais; pela púrpura e o fino linho
com que êle se vestia, significa o bem e o vero da Palavra; pela púrpura, o bem; e pelo fino
linho, o vero; por se divertir esplêndidamente cada dia, significa o prazer de ter a Palavra e
de ouvir e ler as passagens dela no Templo e nas inagogas; por Lázaro, o pobre, são
entendidas as Nações, porque não tinham a Palavra; por Lázaro estendido perto do
vestíbulo do rico, é entendido eram desprezadas e rejeitadas pelos Judeus; por Lázaro
coberto de úlceras, é significado que as nações pela ignorância do vero estavam em um
grande número de falsos. Se as nações são entendidas por Lázaro, é por que o Senhor
amava as Nações, como amava Lázaro, que Êle ressuscitou dos mortos (João XI, 3, 5, 36),
que chamou seu amigo (João XII, 2). Por estas duas passagens, é evidente que os veros e os
bens do Sentido da letra da Palavra são como vasos e como vestimentas do vero e do bem
nus, que estão os dois escondidos no Sentido espiritual e no Sentido celeste da Palavra.
Como tal é a Palavra no Sentido da letra, resulta daí que aquêles que estão nos Divinos
veros e na fé de que a Palavra é interiormente no seu seio o Santo Divino; e ainda mais
aquêles que estão na fé, de que a Palavra é tal pelo seu Sentido espiritual e seu Sentido
Celeste, vêem, quando na ilustração procedente do Senhor, lêem a Palavra, os Divinos
Veros na Luz natural; pois a Luz do Céu, na qual está o Sentido espiritual da Palavra, influi
na Luz natural em que está o Sentido da letra da Palavra e ilumina o Intelectual do homem,
que é chamado Racional; e faz que êle veja e reconheça os Divinos Veros onde se mostram
e onde estão escondidos; estes veros com a Luz do Céu influem em alguns, por vêzes, sem
o saberem.
&216 - A Palavra em seu seio íntimo, segundo Sentido celeste, sendo como uma chama
doce que abrasa, em seu sentido médio, segundo seu Sentido espiritual, como ilumina,
resulta daí que em seu último, segundo se Sentido natural, ela é como um objeto diáfano
que recebe um e outro; que, pela chama, é vermelho como púrpura, e pela luz, branca
como a neve; assim é respectivamente como um Rubi e como um Diamante; pela chama
celeste, como um Rubi; e pela luz espritual com um Diamante. Como tal é a Palavra em seu
Sentido da letra, eis por que a Palavra nesse Sentido é entendida:
I - Pelas Pedras preciosas de que eram compostos os fundamentos da Nova Jerusalém.
II - Pelo Urim e sobre o Efod de Aharão.
III - Pelas Pedras preciosas no Jardim do Éden, onde se diz que o rei de Tiro tinha estado.
IV - Pelas Cortinas, os Véus 11 as Colunas nas do Tabernáculo.
V - Semelhantemente, pelos externos do Templo de Jerusalém.
VI - A Palavra em sua glória foi representada no Senhor, quando Ele se transfigurou.
VII - 0 Poder da Palavra nos últimos foi representado pelos Narizeus.
VIII - Do inefável Poder da Palavra.
Mas cada parágrafo vai ser ilustrado separadamente.
&217 - I. Os Veros do Sentido da letra da Palavra são entendidos pelas Pedras preciosas de
que eram compostos os fundamentos da Nova Jerusalém, no Apocalipse, Cap. 21, 17 a 21.
Foi dito acima, n. 209, que no Mundo Espiritual há Pedras preciosas como no Mundo
natural; e que sua origem espiritual vem dos Veros no Sentido da letra da Palavra; isto
parece incrível, mas não obstante é verdade; daí vem que na Palavra em toda parte onde são
mencionadas as Pedras preciosas, por elas no Sentido espiritual são entendidos os veros.
Que pelas Pedra.s preciosas, de que se diz terem sido construídos os fundamentos da
muralha em torno da Cidade da Nova Jerusalém, sejam significados os Veros da Doutrina
da Nova Igreja, isso resulta de que,
pela Nova Jerusalém, é entendida a, Nova Igreja quanto à doutrina segundo a Palavra; é por
isso que, por sua Muralha e pelos fundamentos da muralha, não pode ser entendida outra
cousa senão o Externo da Palavra, que e o Sentido da letra, pois é, por êste sentido que há
a Doutrina, e pela Doutrina, a Igreja; e êste Sentido é como uma Muralha, com seus
fundamentos, que cerca uma Cidade e a põe em segurança. Eis o que se lê no Apocalipse a
respeito da Nova Jerusalém e de seus fundamentos: "0 Anjo mediu a Muralha da Cidade de
Jerusalém, cento e quarenta e quatro covados, medida de homem, isto é, de Anjo. E a
Muralha tinha doze Fundamentos; de toda Pedra periosa eles eram ornados; o primeiro
Fundamento (era) de jaspe; o segundo, uma safira; o terceiro, uma calcedônia; o quarto,
uma esmeralda; o quinto, uma sardônica; o sexto, um sárdio; o sétimo, um crisólito; o
oitavo, um berilo; o nono, um topázio; o décimo, um risóprazo; o décimo primeiro, um
jacinto; o décimo segundo, uma ametista" (Cap. 21, 17 a 20); se havia fundamentos da
muralha, compostos de outras tantas Pedras preciosas, é porque o número doze significa
todas as coisas do vero segundo o bem e por conseqüência, tôdas as coisas da doutrina.
Mas estas palavras, como também as que precedem e as que seguem neste. Capítulo
foram particularmente explicadas e confirmadas por passagens paralelas tiradas da Palavra
profética, ver no Nosso Apocalipse Revelado.
&218 - II. OS BENS E OS VEROS DA PALAVRA NO SENTIDO DA SUA LETRA
SÃO ENTENDIDOS PELO URIM E 0 TUMIM SOBRE 0 EFOD) DE AHARÃO.
O Urim e o Tumim. estavam no Efod de Aharão, cujo sacerdócio representava o Senhor
quanto ao Divino Bem e quanto à Obra da salvação; pelas Vestimentas do Sacerdote ou por
sua santidade, eram representados os Divinos Veros procedentes do Senhor; pelo Efod era
representado o Divino Vero em seu último, assim a Palavra no Sentido da letra, pois é êsse
o Divino, Vero em seu último; daí, as doze Pedras preciosas com os nomes das doze Tribos
de Israel, que formavam o Urim e o Tumim, representavam os Divinos Veros segundo o
Divino Bem em todo o complexo. Eis o que se lê sobre êste assunto em Moisés: "Farão o
Efod de Hiacinto e de Púrpura, d'Escarlate duplamente tinto e de Fino Linho tecido; em
seguida farão um Peitoral de Julgamento como a obra do Efod; e tu o cobrirás de pedras de
engaste; quatro ordens de pedras: Rubi, Topázio, Carbúnculo, primeira ordem; Crisópraso,
Safira e Diamante, segundo ordem; Jacinto, Agata e Ametista, terceira ordem; Turqueza,
Sardônio e Jaspe, quarta ordem. Estas pedras estarão segundo os Nomes dos filhos de
Israel, com gravuras de selo em cada uma segundo seu Nome elas serão, para as doze
Tribos. E Aharão levará sobre o Peitoral do Julgame ,Urim e o Tumim; que estejam sobre o
coração de Aharãx quando êle entrar diante de Jehovah" (Êxodo 38, 6, 15 a 21, 30). 0 que
foi representado pelas Vestimentas de Aharão, por seu Efod, seu Manto, sua Túnica, seu
Turbante, seu Talabarte, foi explicado nos ''Arcanos Celestes'', publicado em Londres,
sobre êste Capítulo, onde foi mostrado que pelo Efod era representado o Divino Vero em
seu último; que pelas Pedras preciosas eram representados os Veros que brilham pelo Bem;
por doze, em quatro ordens, todos êstes veros, desde os primeiros até aos últimos; pelas
doze Tribos, tôdas as cousas da Igreja pelo lo Peitoral, o Divino Vero segundo o Divino
Bem no sent pelo Urim e o Tumim, o brilho do Divino Vero segun Bem no último; pois o
Urim é o fogo que brilha; o brilho na Língua Angélica e a integridade na Língua também
foi mostrado que as Respostas eram dadas ções da Luz e, ao mesmo tempo, por uma
percepção de viva voz , etc. Por isso, que por estas pedras também foram significados os
veros segundo os bens no último Sentido da Palavra; as respostas do Céu naõ são dadas
senão por êstes veros, porque neste Sentido procedente está em seu Pleno.
&219 - III. OS MESMOS BENS E OS MESMOS VEROS SÃO ENTENDIDOS PELAS
PEDRAS PRECIOSAS NO JARDIM DO EDEN, ONDE SE DIZ QUE 0 REI DE TIRO
TINHA ESTADO.
Lê-se em Ezequiel: "Rei de Tiro, tu que selas a medida, cheio de sabedoria e perfeito em
beleza; no Eden, o Jardim de Deus, tu estiveste; toda Pedra preciosa era tua cobertura:
Rubi, Topázio e Diamante, Turquesa, Sardônia e Jaspe, Safira, Crisóprazo, Esmeralda e
Ouro" (XXVIII, 12, 13). Por Tiro na Palavra é significada a Igreja quanto aos
conhecimentos do bem e do vero; pelo Rei o vero da Igreja; pelo Jardim do Eden são
significadas a sabedoria e a inteligência segundo a Palavra; pelas Pedras preciosas, os veros
tornados transparentes pelo bem, tais como estão no Sentido da letra da Palavra e como
êstes veros são significados por estas Pedras, é por isso que elas são mencionadas como sua
Cobertura; que o Sentido da letra cobre os interiores da Palavra, vé-se acima n. 213.
&220 - IV. OS VEROS E BENS NOS ÚLTIMOS, TAL OS COMO ESTÃO NO
SENTIDO DA LETRA DA PALAVRA, FORAM REPRESENTADOS PELAS AS
CORTINAS,OS VÉUS E AS COLUNAS DO TABERNÁCULO.
0 Tabernáculo construído por Moisés no deserto, representava o Céu e a Igreja, por isso a
sua forma tinha sido mostrada porJehovah sobre a Montanha do Sinai; daí, Coisas que
estavam neste Tabernáculo, a saber, o Candelabro, o Altar de ouro para os perfumes e a
Mesa de ouro sobre a qual estavam os pães das faces, representavam e significavam os
Santos do Céu e da Igreja; o Santo dos santos, onde estava a Arca da Aliança, representava
e significava o íntimo do Céu e da Igreja; a Lei mesma gravada sobre as duas tábuas
significava a Palavra; e os Querubíns que estavam sobre ela significavam os guardas a fim
de que os santos da Palavra não fossem violados. Ora, como os externos tiram sua essência
dos Internos e, uns e outros, tiram a sua do íntimo, que lá era a Lei, é por isso que os santos
da Palavra eram representados e significados por tôdas as coisas do tabernáculo; segue-se
daí, que os últimos do Tabernáculo ortinas, os Véus e as Colunas, isto é, as coberturas, os
continentes e a consolidação significavam os últimos da Palavra, que são os Veros e os
Bens do sentido de sua letra; é por causa desta signifição que "todas as Cortinas e todos os
jacinto Véus foram feitos de fino linho tecido, de jacinto e de púrpura e de escarlate
duplamente tinto, com querubíns" (Exodo 26, 1, 31, 36). 0 que foi representado e
significado, em geral e em particular, pelo Tabernáculo e por todas as coisas que ele
continha, foi explicado nos "ArcanosCelestes" sobre este Capítulo do Êxodo, e aí foi
mostrado que as, Cortinas e os Véus representavam, os Externos do Céu e da Igreja, por
conseqüência, também os externos da Palavra; que o fino linho significava o Vero de
origem celeste; a púrpura, o Bem celeste; o escarlate duplamente tinto, o bem espiritual; e
os querubins, os guardas dos interiores da Palavra.
&221 - V. OS MESMOS VEROS E OS MESMOS BENS SÃO SEMELHANTEMENTE
ENTENDIDOS PELOS EXTERNOS DO TEMPLO DE JERUSALÊM.
Isto provém de ser o Templo, do mesmo modo que o Tabernáculo, representativo do Céu e
da Igreja, mas o Templo representava o Céu onde estão os Anjos espirituais; e o
Tabernáculo o Céu, onde estão os Anjos Celestes; os Anos espirituais são os que estão na
Sabedoria pela Palavra; e os Anjos Celestes os que estão no Amor pela Palavra. Que o
Templo de Jerusalém, no Sentido supremo, tenha significado o Divino Humano do Senhor,
é o que o Senhor mesmo ensina em João: "Destruí este Templo e em três dias eu o
levantarei; Ele falava do Templo do Seu Corpo" (11, 19, 21); e onde é entendido o Senhor,
é entendida também a Palavra, pois Ele mesmo é a Palavra. Agora, como os Interiores do
Templo representavam os Interiores do Céu e da Igreja, por conseguinte, também os da
Palavra, resulta que seus Exteriores também representavam e significavam os exteriores do
Céu e da Igreja, por conseqüência, também os da Palavra, que são coisas pertencentes ao
Sentido da letra. A respeito dos Exteriores do Templo, lê-se "que foram construídos de
pedra inteira não talhada; e de Cedro por dentro; e que tôdas as Paredes por dentro tinham
sido esculpidas com Querubins, Palmas e Flores abertas e com o sol coberto de ouro" (I
Reis VI, 7, 29, 30); por todas estas coisas são também significados os Externos da Palavra,
que são os Santos do Sentido da letra.
&222 - VI. A PALAVRA EM SUA GLÓRIA F SENTADA NO SENHOR QUANDO ÊLE
SE TRANSFIGUROU.
Lê-se a respeito da transfiguração do Senhor diante de Pedro, Tiago e João, "que Sua face
resplandecia com Suas vestimentas tomaram-se como luz e que Moisés ram vistos
conversando com Ele; que uma nuvem cobriu os Discípulos; e que da nuvem foi ouvida
uma Este é o meu Filho bem amado, escutai-O" (Mateus XVII, 1 a 5). Fui informado que o
Senhor então representava a Palavra;, e Sua Face que resplandecia como o Sol,
representava o Divino Bem de Seu Divino Amor; as Suas Vestimentas, que se tornaram
como a luz, representavam o Divino Vero de Sua Divina Sabedoria; Maisés e Elias, a
Palavra Histórica e Profética; Moisés, a Palavra que foi escrita por êle e em geral a Palavra
Histórica; e Elias, toda a Palavra Profética; a Nuvem brilhante que cobriu os Discípulos, a
Palavra no Sentido da letra por isso, é desta nuvem que foi ouvida uma Voz, dizendo: Éste
é meu Filho bem amado, escutai-0. Com efeito, todos os Enunciados e tôdas as Respostas
do Céu jamais se fazem a não ser pelos últimos, tal como estão no Sentido da letra da
Palavra, pois êstes enunciados e estas respostas se fazem no Pleno pelo Senhor.
&223 - VII. 0 PODER DA PALAVRA NOS úLTIMOS FOI REPRESENTADO PELOS
NAZIREUS.
No Livro dos Juízes, lê-se a respeito de Sansão, que êle era Narizeu desde o ventre de sua
mãe; e que sua Força Consistia em seus cabelos; Nazireu e Narizeato significam, por isso,
cabelos; que sua Força tenha enha consistido em seus Cabelos, êle mesmo o declarou, dizen
- "A navalha não subiu sobre minha Cabeça porque sou Nazireu desde o ventre de minha
mãe; se for raspado, então se retirará de mim a minha força, me tomarei fraco e serei
como todos os outros homens omens11 (Juízes, 16, 17). Ninguém pode saber por que foi
instituído o Nazireato que significa Cabelo, nem donde vem que a força de Sansão consistia
nos seus Cabelos, não se ignora o que é significado na Palavra pela Cabeça: a Cabeça
significa a inteligência que o Senhor concede aos Anjos e aos Homens pelo Divino Vero;
daí os Cabelos significarem a inteligência nos últimos ou nos extremos segundo o Divino
Vero. Como é isto que é significado pelos cabelos, eis por que o estatuto para os Nazireus
era "não raspar a cabeleira de sua Cabeça (Numeros 6, 1 a 21); e é também por isso que foi
estatuído, "que o Sumo Sacerdote e seus Filhos não raspassem a Cabeça, para que não
morressem; e contra toda a casa de Israel não se irritasse Jehovah" (Levitico 10, 6). Como
os Cabelos, em razão desta significação que provinha da correspondência, tinham uma tão
grande santidade, o Filho do homem, que é o Senhor quanto à Palavra, é descrito também
quanto a seus cabelos; se diz "que eram como Lã branca, como a neve" ( Apoc. 1, 14); o
Ancião de dias é descrito da mesma maneira (Daniel VII, 9) . Como os Cabelos significam
o Vero nos últimos, assim o sentido da letra da Palavra, aquêles que desprezam a palavra
tormam-se calvos no Mundo espiritual e vice-versa; os que despresaram muito a Palavra e a
consideram como Santa, aparecem, com uma cabeleira conveniente; por causa desta
correspondência aconteceu que quarenga e dois meninos
foram feitos em pedaços por dois Ursos, porque tinham chamado Eliseu de Calvo (II Reis
11, 231 4); Eliseu reprentava a Igreja quanto à Doutrina segundo a Palavra; e os Ursos, a
potência do vero nos últimos. Se a a Potência do do Divino Vero ou da Palavra está no
Sentido da letra é porque neste Sentido, a Palavra está em seu Pleno porque nêle estão em
conjunto os Anjos, dois Reinos do Senhor e os Homens.
&224 - VIII. DA INEFÁVEL POTÊNCIA DA PALAVRA.
Apenas alguém sabe hoje que há alguma Potência nos veros, pois se imagina que o vero
não é mais que uma palavra dita por alguém que tem o Poder de a fazer executar; e por
conseqüência, o vero é únicamente como, um sopro da boca e um som no ouvido, quando,
entretanto, o Vero e o Bem são os princípios de tôdas as cousas em um e outro Mundo, no
Mundo Espiritual e no Mundo Natural; e quando é por- eles que o Universo foi criado e por
êles o Universo é conservado e também, por êles, o Homem foi feito; é por isso que êstes
dois, o Vero e o Bem, são tudo em tôdas as cousas. Que o Universo tenha sido criado pelo
Divino Vero, isso está dito abertamente em João: "No comêço era a Palavra, e Deus era a
Palavra; tôdas as cousas por Ela foram feitas; e sem Ela, não foi feito nada do que foi feito;
e o Mundo por Ela foi feito" (João I, 1, 3, 10); e em David: "Pela Palavra de Jehovah os
céus foram feitos" (Salmo 33,, 6); em outra passagem pela Palavra é entendido o Divino
Vero. Pois que o Universo criado por êste Vero, é também por Ele que é conservado, pois
do mesmo modo que a Subsistência é uma perpétua Existência, do mesmo modo a
Conservação é uma perpétua Criação. Que o Homem tenha sido feito pelo Divino Vero é
porque tôdas as coisas do homem se referem ao Entendimento e à Vontade; e o
Entendimento é o receptáculo do Divino Vero e a Ventade o o Receptáculo do Divino
Bem; por conseqüência a Mente humana, que consiste nestes dois princípios, não é outra
cousa senão a forma do Divino Vero e do Divino Bem espiritualmente e naturalmente
organizada, o Cérebro humano é esta Forma; e como o homem todo depende de sua Mente,
todas ascoisas que estão no seu corpo são apêndices que são postos em e vivem por estes
dois princípios. Por estas explicaçõspode-se agora ver por que Deus veio como a Palavra ao
Mundo e se fez Homem; foi por causa da Redenção; pois então Deus pelo Humano, que era
o Divino Vero, se revestiu de todo o poder e repeliu, subjugou e repôs sob sua obediência
os Infernos, que tinha crescido até aos Céus onde estavam os Anjos; e Ele fez isso, não por
uma Palavra oral, mas pela Palavra Divina Divina, que é o Divino Vero; e em seguida,
abriu entre os Infernos e os Céus um grande Abismo, que nenhum dos que estão no Inferno
pode atravessar; se algum dêles faz alguma tentativa, é torturado, desde os primeiros
passos, como uma serpente serpente colocada sobre uma placa de ferro ao rubro ou sobre
montão de formigas; pois logo que os diabos, e os satanases sentem o Divino Vero,
precipitam-se
imediatamente no profundo, se afundam em Cavernas e as tapam com tanto cuidado que
não há uma fenda que fique aberta; e isso é assim porque a sua Vontade está nos males e
seu Entendimento nos falsos, assim nos opostos do Divino Bem e do Divino Vero; e como
o homem Inteiro consiste, como foi dito, nestes dois princípios de vida, eis por que são tão
fortemente feridos, desde a cabeça até aos pés, logo que sentem o oposto. Por isto, pode-se
ver que a Potência do Divino Vero é inefável; e como a Palavra que está na Igreja Cristã, é
o Continente do Divino Vero nos três graus, é evidente que ela é entendida em João 1, 1, 3,
10. Que a sua Potência seja inefável, posso confirmá- lo por um grande número de
documentos da experiência no Mundo espiritual, mas como ultrapassam a fé ou
pareceriam incríveis, dispenso-me de apresentá-los, entretanto, pode-se ver alguns deles
referidos acima no n. 209. Daí, resultará esta Verdade memorável, que a Igreja que está
pelo Senhor nos Divinos Veros, prevalece sobre os Infernos e que, por Isso, o Senhor disse
a Pedro: "Sobre esta Rocha edificarei a minha, Igreja e as portas do Inferno não
prevalecerão contra ela" (M XVI, VI, 18); o Senhor pronunciou estas palavras depois que
Pedro confessou, "que Ele era o Christo, o Filho de Deus vivo" (vers. 16); esta Verdade é
entendida aí pela Pedra; pois a Pedra por toda parte na Palavra significa o Senhor quanto ao
Divino Vero.
&225 V - A doutrina da Igreja deve ser tirada do sentido da letra da Palavra, e ser
confirmada por esse sentido
225 - No Artigo precedente, foi mostrado que a Palavra no letra está em seu Pleno, em seu
Santo e em sua Força; e como o Senhor é a Palavra e é o Primeiro e o Último, assim assim
mesmo o disse no Apocalipse 1, 17, resulta daí que o Senhor está presente sobretudo neste
sentido; e que, por este sentido, instrui e ilustra o homem; mas isso vai ser explicado nesta
ordem:
I - A PALAVRA SEM A DOUTRINA NÃO É COMPREENDIDA.
II - A DOUTRINA DEVE SER TIRADA DO SENTIDO DA LETRA DA PALAVRA.
III - MAS 0 DIVINO VERO, QUE PERTENCE A DOUTRINA, NÃO SE MOSTRA
SENÃO AQUELES QUE ESTÃO NA ILUSTRAÇAO PELO SENHOR.
&226 - I. A PALAVRA SEM A DOUTRINA NÃO É COMPREENDIDA.
Isto provém de que a Palavra, no Sentido da letra, consiste em puras Correspondências, a
fim de que os Espirituais e os Celestes aí estejam ao mesmo tempo; e que, cada palavra seja
o seu continente e suporte; é por isso que os Divinos Veros no sentido da letra estão
raramente nus, mas são veros vestidos, que se chama Aparências do vero e são acomodados
em sua maior parte à concepção dos simples, que não elevam seus pensamentos acima das
cousas que vêem; há alguns dêles que aparecem como contradições, quando, entretanto, na
Palavra, considerada
em sua luz espiritu há contradição alguma; há também em certas Passagens, nos Profetas,
coleções de nomes de lugares e de pessoas de que não se pode tirar sentido algum. Uma
vez pois que a Palavra é assim no Sentido da letra, podese ver que ela não pode ser
compreendida sem a Doutrina. Mas exemplos vão ilustrar êste ponto. Foi dito que "Jehovah
se arrepende" (Êxodo 32, 12, 14; Jonas III, 9; IV, 2); e foi dito também que "Jeovah não se
arrepende" (Num. 23, 19; 1 Samuel XV, 29); sem a Doutrina essas passagens não podem se
conciliar. Foi dito que "Jehovah visita a iniqüidade dos pais sobre os filhos até à terceira e
quarta geração" (Num. 14, 18) 18); e foi dito também que "não morrerá o pai pelo filho,
nem o filho pelo pai, mas cada um em seu pecado" (Deut. 24 16); estas passage es o o em
discordância, mas em concordância pela Doutrina. J disse: "Pedi e vos será dado; procurai e
achareis; batei e vos será aberto" (Mateus VII, 7, 8; XXI, 21, 22); sem a Doutrina,
acreditar-se-á que cada um deve receber o que pede, mas pela Doutrina, sabe-se que tudo o
que o homem pede segundo o Senhor é dado; é mesmo o que o Senhor ensina: "Se
habitardes em Mim e as minhas palavras em vós habitarem, tudo o que quiserdes pedir, vos
será feito" (João XV, 7). O Senhor disse: "Bem-aventurados os pobres porque dêles é o
Reino de Deus" (Lucas VI, 20); sem a Doutrina pode-se pensar que o Céu é para os pobres
e não para os ricos, mas a Doutrina se deve entender os pobres de espírito, pois o Senhor
aventurados os pobres de espírito porque dêles é Céus" (Mateus V, 3). 1, o Senhor disse:
disse: "Não julgueis para que não sejais julgados; com o julgamento com que julgais sereis
julgados" (Mate VI, 37); sem a Doutrina podemos ser levados a confi que não se deve
julgar que o mau é mau; entretanto, segui a Doutrina é permitido julgar, porém, justamente,
pois o Senhor disse: "Com um julgamento justo julgai" João VII, 24). Jesus disse: "Não
deixeis vos chamar Doutor, pois um só é vosso Mestre, o Christo; e não chameis alguém
vosso pai sobre a Terra, pois pois um só é vosso Pai, Aquêle (que está) nos Céus; e não
sede chamados Mestres, pois um só é vosso Mestre, o Christo" (Mateus XXIII, 8, 9, 10);
sem a Doutrina, resultará que não é permitido chamar alguém de Doutor, Pai ou Mestre,
mas segundo a Doutrina sabe-se que isso é permitido no sentido natural, mas não no sentido
espiritual. Jesus disse aos Discípulos: "Quando o Filho do homem estiver sentado sobre o
Trono de sua glória, vós estareis sentados também sobre doze Tronos, julgando as doze
Tribos de Israel" (Mateus XIX, 28); segundo estas palavras, pode-se concluir que os
Discípulos do Senhor devem atambém julgar, quando, entretanto, não podem julgar pessoa
alguma; a Doutrina revelará portanto este arcano, dizendo que o Senhor, qu onisciente e
conhece os corações de todos, deve julgar só pode julgar; e que pelos Seus doze Discípulos
se entende a Igreja quanto a todos os veros e a todos os bens que vêm do Senhor pela
Palavra; donde a Doutrina conclui que estes veros e estes bens devem julgar a cada um,
segundo as palavras do Senhor em João III, 17, 18; XII, 47, 48. Há na Palavra um grande
número de passagens a estas, pelas quais é bem evidente que a Palavra sem a Doutrina não
é compreendida.
&227 - A Palavra pela Doutrina é não somente compreendida, mas brilha mesmo no
entendimento, pois é como um Candelabro com suas lâmpadas acesas; o homem vê então
-tiais coisas do que tinha visto antes e compreende também coisas que não tinha
compreendido antes; as coisas obscuras e discordantes, ou não as vê e as deixa de lado, ou
as vê e as explica, de sorte que estão de acordo com a Doutrina. Que a Palavra seja vista
pela Doutrina e seja também explicada pela Doutrina, é o que atesta a Experiência no
Mundo Cristão. Todos os Reformados vêem a Palavra segundo sua doutrina e explicam a
Palavra segundo essa Doutrina; igualmente, os Católico-Ramanos pela sua; os Judeus
também pela sua e segundo a sua; consqüentemente, nela se vêem falsos segundo uma
Doutrina falsa; e os veros segundo uma Doutrina verdadeira. Por isso é evidente que a
verdadeira Doutrina é um facho nas trevas e comol um poste indicador nos caminhos.
&228 - Por isso, pode-se ver e lêem a Palavra sem a Doutrina, estão no escuro a respeito
de toda verdade verdade e sua Mente é vaga e incerta, inclinada erro e facilmente disposta
às heresias que abraçam, se aspiram ao favor ou à autoridade, quando sua reputação não
corre risco algum. A Palavra, com efeito, é para eles como um Candelabro sem luz; vêem
na sombra como muitas cousas e, entretanto, apenas vêem alguma cousa, pois a Doutrina
só, é o facho. Vi tais pessoas examinadas pelos Anjos achou-se que podiam confirmar pela
Palavra o que lhes aprouvesse,
e confirmam principalmente que se relaciona com o amor delas mesmas e com o amor
daqueles por quem se interessam; mas eu as vi despojadas das roupas, sinal de que estavam
sem veros; lá as roupas são os veros.
&229 - II. A DOUTRINA DEVE SER TIRADA DO SENTIDO DA LETRA DA
PALAVRA E CONFIRMADA POR ESTE SENTIDO.
A razão disto é que o Senhor está presente neste Sentido e que êle ensina e ilustra, pois o
Senhor não opera jamais senão no Pleno; e a Palavra no Sentido da letra, está em seu Pleno
como foi mostrado acima; daí, resulta que a Doutrina deve ser tirada do seu do 'seu Sentido
da A Doutrina do Vero real pode mesmo ser tirada plenamente do sentido literal da Palavra;
pois, neste Sentido, a Palavra é como um homem vestido, cuja face está nua e cujas mãos
também estão nuas; tôdas as cousas que pertencem à fé e à vida do homem do homem,
assim como as que pertencem à sua salvação, aí estão nuas; mas tôdas as outras estão
vestidas; em vários lugares, onde estão vestidas, são vistas através de suas roupas, como se
vê uma mulher através de uma gase ligeira colocada diante de sua face; e mesmo os Veros
da Palavra brilham e se mostram assim cada vez mais claramente, quando são multiplicados
pelo amor que se tem por Ele se quando são postos em ordem por êsse amor.
&230 - Poder-se-ia crer que a Doutrina do vero real pode ser adquirida pelo Sentido
Espiritual da Palavra que é dado pela ciência das correspondências; mas por êste Sentido, a
Doutrina não é adquirida, é únicamente ilustrada e corroborada; pois, como foi dito
precedentemente, n. 208, o homem pode falsificar a Palavra por algumas correspondências
que, conheça, ligando-as e aplicando-as para confirmar o que está ligado a sua Mente por
um princípio assentado. Aliás, o Sentido espiritual a quem quer que seja senão pelo Senhor
só, e o Senhor vela sobre o Sentido espiritual como vela sobre o Céu Angélico, pois este
Céu está nesse Sentido.
&231 - III. 0 VERO REAL, QUE DEVE PERTENCER A DOUTRINA, NÃO SE MO 0
SENTIDO DA LETRA DA PALAVRA SENÃO AQUELES QUE ESTÃO NA
ILUMINAÇÃO PELO SENHOR.
A ilustração vem do Senhor só só e está naqueles que amam os veros porque são veros e qu
os tomam usos da vida; nos outros, não há ilustração pela Palavra. Se, a ilustração vem do
Senhor só, é porque a Palavra vem d'Ele .e, por conseguinte, Ele mesmo está na Palavra; se
a ilustração está com aquêles que amam os veros porque são veros e os tornam usos da
vida, é porque estes estão no Senhor e o Senhor está nêles, pois o Senhor é- a Verdade
mesma, como foi mostrado no Capítulo sobre o Senhor e então, o Senhor é amado quando
vivemos segundo os Seus Divinos Veros, assim quando os usos são feitos segundo êstes
Veros, conforme estas palavras em João: "Naquele dia conhecereis que estais em Mim e,
Eu em vós; aquêle que tem os meus preceitos e os faz, êsse Ma ama e Eu o amarei e Me
manifestarei a êle; e virei a êle e farei morada nêle" (XIV, 20, 21, 23) . Eis os que estão na
ilustração quando lêem a Palavra e nos quais a Palavra está em seu brilho e em sua
transparência. Se neles a Palavra está em seu brilho e ua transparência, é porque há em
cada coisa da Palavra um Sentido espiritual e um Sentido celeste e êstes Sentidos estão na
Luz do Céu; é por isso que, por estes Sentidos e por sua luz, o Senhor influi no Sentido
natural da Palavra e em sua luz no homem; por isso, o homem pela percepção interior,
reconhece o Vero, em seguida em seu pensamento o vê e isso tôdas as vezes que está do
Vero pelo Vero; pois, da afeição vem a percepção, da pé ção o pensamento e assim vem o
reconhecimento, que é chia do fé.
&232 - 0 contrário acontece aqueles que lêem a Palavra segundo a Doutrina de uma
Religião falsa; e mais particularmente aos que confirmam esta Doutrina pela Palavra em
que em então em vista a sua própria glória e as riquezas do Mun nêles os Veros da Palavra
estão como na sombra da noite e os falsos como na luz do dia; lêem os veros, mas não os
vêem; e se vêem a sua sombra, os falsificam; é dêles que o Senhor disse: "que têm olhos e
não vêem; e ouvidos e não ouvem" (Mateus XIII, 14, 15). Daí, a sua luz nas cousas
espirituais que pertencem à Igreja, torna-se puramente natural e a vista de sua mente tornase como a de um homem que vê fantasmas em seu leito quando se acorda, ou como a de um
sonâmbulo que se crê acordado enquanto que eatá dormindo.
&233 - Foi-me permitido falar após sua morte com vários homens que que tinham
acreditado que brilhariam no Céu como Estrêlas porque, segundo o que diz tinham
considerado a Palavra como santa e a tinham lido muito freqüentemente e tinham, reunido
várias passagens a dela, pelas quais tinham confirmado os dogmas de sua fé e ti adquirido,
por isso, a reputação de homens instruídos; à os fazia crer que seriam Miguéis ou Rafaéis;
mas vários dentre eles foram examinados e foi reconhecido que alguns tinham agido pelo
amor de si, a fim de serem honrados como Primazes da Igreja; e outros, pelo amor do
Mundo, a fim de adquirirem riquezas; quando foram examinados também sobre o que
sabiam da Palavra, foi descoberto que nada sabiam do vero real da Palavra, mas que sabiam
unicamente o que é chamado vero falsificado, que em si é um falso fétido, pois no Céu
exala um odor infecto; e lhes foi dito que isso lhes vinha de que tinham tido por fim a êles
mesmos e ao Mundo quando liam a Palavra, e não o vero da fé e o bem da vida; e que
quando se tem por fim a si si mesmo e ao Mundo, a Mente lendo a Palavra fica ligada a si
mesma e ao mundo; por conseguinte, pensa segundo o próprio; e e o Próprio do homem
está na obscuridade quanto a tudo que pertence ao Céu e à Igreja; neste estado o homemen
ser tirado de seu próprio pelo Senhor, nem ser elevado à do Céu, nem receber influxo
algum do Senhor pelo Céu. Vi também estes admitidos no Céu e quando foi descoberto
que não tinham vero algum, foram expulsos, mas não obstante permanecia nêles o
orgulho,de ter mérito. Foi completamente diferente com os que tinham estudado a Palavra
pela afeição de saber o vero porque é o vero e porque serve aos usos da vida, não somente
da sua própria, mas também da do próximo; eu os ti elevados ao Céu, e assim à luz onde
está o Divino Vero; e então, ao mesmo tempo, exaltados na Sabedoria Angélica, em sua
felicidade em que estão os Anjos do Céu.
Pelo sentido da da letra da Palavra há conjunção com o Senhor e consociação com os
Anjos
&234 - Que pela Palavra há conjunção com o Senhor, é porque Ele mesmo é a Palavra, isto
é, o Divino Vero mesmo e o Divino Bem mesmo na Palavra; que pelo Sentido da letra haja
conjunção, é porque neste Sentido a Palavra está em seu pleno, em seu santo e em sua
potência como foi mostrado acima, Artigo IV; esta conjunção não é aparente para o
homem, mas está na afeição do vero e em sua percepção. Que pelo Sentido haja
consociação com os Anjos do Céu, é porque neste,há o Sentido espiritual e o Sentido
celeste; e os Anjos dois sentidos, os Anjos do Reino espiritual do Senhor, no Sentido
espiritual da Palavra, e celeste, no seu Sentido celeste; êstes dois sentidos se desprendem do
Sentido natural da Palavra quando o homem, que considera a Palavra como santa, a lê. 0
desprendimento instantâneo, por conseqüência também a consociação.
&235 - Que os Anjos es lãs, am no Sentido espiritual da Palavra e os Anjos celestes no o
tido celeste, é o que me foi manifestado por um grande número de experiências; me foi
dado perceber que enquanto eu lia a Palavra no Sentido da letra, se fazia uma comunicação
com os Céus, ora com uma de suas sociedades, ora com uma outra; e que eu entendia
segundo o Sentido natural, os Anjos espirituais o entendiam segundo o Sentido espiritual e
os Anjos celestes tes segundo o Sentido celeste; e isso, no mesmo instante; como percebi.
milhares de vêzes essa comunicação, não me fie dúv ficou dúvida - alguma a seu respeito.
Há também Espíritos, que estão abaixo do ficou dúvida alguma Céus e que abusam desta
comunicação, pois reei recitam algumas passagens do Sentido da letra da Palavra e
observam e notam a Sociedade com a qual se fez a comounicação. Por estas circunstâncias
me foi dado saber, por viva experiência, que a Palavra, quanto ao Sentido da letra, é um
meio Divino de conjunção com o Senhor e de e de consociação com, os Anjos do Céu.
&236 - Mas vai ser ilustrado por Exemplos, como os Anjos espirituais percebem seu
sentido, e os Anjos Celestes, o seu, segundo o Sentido natural, quando o homem lê a
Palavra a Palavra; tomemos, para Exemplos, quatro preceitos do Decálago: o: o quinto
preceito: Não matarás. Por isto o homem entende não somente matar, mas também ter ódio
e aspirar vingança até desejar a morte de seu inimigo; o Anjo espiritual, por matar, entende
agir como um diabo e fazer perecer a alma do homem; Anjo celeste, por matar, entende ter
ódio ao Senhor e à Palavra. 0 sexto preceito: Não cometerás adultério. Por cometer
adultério, o homem entende também entregar-se à escortação, praticar ações obscenas,
sustentar propósitos lascivos, e ter pensamentos impuros por cometer adultério, o Anjo
espiritual entende adulterar os bens da Palavra e falsificar seus ver-os; e, por cometer
adultério, o Anjo celeste entende negar o Divino do Senhor e profanar a Palavra. 0 sétimo
preceito: Não furtarás. Por furtar, o homem entende furtar, fraudar e, sob qualquer pretexto
que seja arrebatar ao próximo o que lhe pertence; por furtar, o Anjo espiritual entende
privar os outros dos veros e dos bens de sua fé pelos falsos e pelos males; por furtar, o Anjo
celeste entende o que pertence ao Senhor e apropriar-se de sua jusmérito. 0 oitavo preceito:
Não levantarás falso testemunho. Por levar falso m entende também, mentir e difamar
alguém; o anjo espiritualentende, por levar falso testemunho, dizer e persuadir que o falso é
o vero e que reciprocadamente; o Anjo celeste entende, por o mal é o bem, e
reciprocadamentelevar falso testemunho, bIasfemar o Senhor e a Palavra. Por estes
exemplos, pode-se ver como o Sentido o espiritual e o Sentido celeste são desprendidos e
tirados do Sentido natural da Palavra, no qual eles estão; e; o que é surpreendente, os
Anjos extraem os sentidos que lhes são próprios, sem que saibam o que o homem pensa;
mas não obstante os os pensamentos dos Anjos e dos homens fazem um pelas
correspondências, como o fim, a causa e o efeito; e mesmo, na realidade, os fins estão no
Reino celeste, as causas no Reino espiritual e os efeitos no Reino natural; resulta daí, que
há consociação dos homens com os Anjos pela Palavra.
&237 - Se o Anjo espiritual tira e faz sair do Sentido da letra da Palavra, os espirituais; e o
Anjo celeste, os celestes, é porque os espirituais e os celestes concordam e são homogêneos
com a natureza desses Anjos; que seja assim, isso pode ser ilustrado por cousas
semelhantes nos Três Reinos da natureza, chamados Reino Animal, Reino egetal e Reino
Mineral. No reino animal: Do alimento, quando se torna Quilo, os Vasos tiram e fazem sair
seu sangue, as fibras nervosas, seu suco; e as substâncias que são as origens das fibras, seu
espírito. No reino vegetal: A Arvore, com seu tronco, seus galhos, suas fôlhas e seus frutos
se sustentam pela raiz, a qual, do humus, tira e faz sair um suco mais grosseiro para o
tronco, galhos e folhas; mais puro, polpa dos frutos e para as sementes dentro dos
frutos.No reino mineral: No seio da terra há, em alguns lugares, Minas de ouro, prata, de
cobre e de ferro; dos vapôres e dos eflúvios das rochas, o ouro tira seu alimento, a prata o
seu (o cobre o seu), o ferro o seu; e as águas os carreiam para todos os lados.
&238 - A Palavra na letra, é como um Cofrezinho, no qual estão colocadas, em ordem,
pedras preciosas, pérolas e diademas; o homem que considera a Palavra como Santa e que a
lê para os usos da vida, é por comparação, quanto aos pensamentos da mente, como aquêle
que tem à mão um tal Cofrezinho, o envia ao Céu, ele chegam aos Anjos, que ficam
profundamente satisfei las e exáminá-las; esta satisfação dos Anjos é comunicada ao
homem, faz a consociação de percepções. E por esta consociação com os Anjos e, ao
mesmo tempo pela conjunção com o Senhor, que foi instituída a Santa Ceia, na qual o Pão
torna-se no Céu Divino Bem e o Vinho Divino Vero, um e outro pelo Senhor. Uma tal
Correspondência existe pela Criação, a fim de que o Céu o Céu Angélico, a Igreja nas
Terras e, em geral, o Mundo espiritual com o Mundo natural, façam um, e que o Senhor se
conjunte com com um e com e cora o outro ao mesmo tempo.
&239 - Se a Consociação do, homem com os Anjos se faz pelo Sentido natural ou literal da
Palavra, é também porque em cada homem há, por criação, três graus de vida: o celeste, o
espiritual e o natural; mas o homem está no natural enquanto está no Mundo; e então
somente no espiritual angélico, tanto quanto está nos veros reais; e somente no celeste,
tanto quanto está na vida segundo êstes veros; mas, entretanto, êle não vem ao espiritual
mesmo e ao celeste mesmo senão depois depois da morte porque o espiritual e o celeste
estão encerrados e escondidos nas suas idéias naturais; é por isso que, quando pela morte o
natural se vai, o espiritual e o celeste ficam; e então, por eles se fazem as idéias de seu
pensamento. Por isso, pode-se ver que na Palavra só há espírito e vida como o Senhor : "As
Palavras que vos dou são espírito e vida" (João VI, 63). "A Água que Eu vos darei, se
tornará uma fonte de água jorrando para a vida eterna" (João IV, 14). "Não só de pão viverá
o homem, mas de toda Palavra que sai da boca de Deus" (Mateus IV, 4). ''Trabalhai pelo
alimento que permanece durante a vida eterna, o qual o Filho do homem vos dará" (João
VI, 27).
&240 VII - Em todos os céus há a Palavra; e por conseqüência há a sabedoria angélica
240 - Que nos Céus há a Palavra, até hoje não se sabia; e não se podia saber, enquanto a
Igreja ignorava que os Anjos e os Espíritos são homens, absolutamente semelhantes pela
face e pelo corpo aos homens em nosso Mundo; e que, entre êles, as coisas são em tudo
semelhantes às que existem entre os ho esta única diferença: que êles são Espirituais e que
-as cousas que estão entre êles são de uma origem espi enquanto que os homens no Mundo
são naturais e tôdas as nêles são de uma origem natural. Enquanto se estêve ignorância,
não se pôde saber que nos Céus há também a Palavra e que ela é lida pelos Anjos que ai
estão e também pelos Espíritos que estão abaixo dos Céus. Mas, para que isto não ficasse
perpètuamente desconhecido, me foi dado estar em sociedade com os Anjos e com os
Espíritos, conversar com êles, ver o que existe entre eles e, p, em seguida, relatar um
grande número de coisas que vi e ouvi; ouvi; isto isto foi feito no Tratado Do Céu e do
Inferno, publicado em Londres em 1758; pode-se ver aí, que os Anjos -e os Espíritos são
homens e têm em abundância tôdas as cousas que estão com os homens no Mundo. Que os
Anjos e -os Espíritos sejam homens, vê-se nesse Tratado, ns. 73 a 77, e ns. 453 a 456, e
também, que há entre êles coisas semelhantes às que estão entre os homens no Mundo, ns.
170 a 190; que há também um Culto Divino e Pregações nos Templos, ns. 221 a 227; que
êles têm Escritos e também Livros, ns. 258 a 264; e que possuem a Escritura Santa ou a
Palavra, n. 259.
&241 - Quanto ao à Palavra no Céu, ela foi escrita em um estilo es difere inteiramente do
estilo natural; o estilo espirituail te em puras letras, cada uma das quais envolve um entido;
e acima, entre essas letras há pequenas linhas, curva pontos que exaltam o Sentido. As
letras, entre os Anjos do o espiritual, são semelhantes às letras tipográficas em nosso
Mundo; e as letras entre os Anjos do Reino celeste, são semelhantes, entre alguns, às letras
Arabes, entre outros às antigas letras hebraicas, mas encurvadas em cima e em bai i com
sinais em cima, entre e dentro, cada um dos quais en ve também um Sentido inteiro. Como
tal é sua escrita, os n es de pessoas e de lugares na Palavra entre êles e em ais e foram
marcados com um sinal; por isto, os sábios compreendem o que há espiritual e de celeste
significado por cada nome; assim, Moisés, a a Palavra de Deus escrita por êle, no sentido
comum, a Palavra Histórica; por Elias, a Palavra Profética; por Abrahão, Isaac e Jacob, o
Senhor quanto ao Divino Celeste, ao divino espiritual e ao e ao Divino natural; por Aharão,
o Sacerdócio; por David, a Realeza, um e outra pertencentes ao Senhor; pelos Nomes dos
filhos de Jacob ou das doze tribos de Israel, as diversas coisas do
Céu e da Igreja; pelos nomes dos doze discípulos do Senhor, estas mesmas coisas por Sião
e Jerusalém, a Igreja quanto à Doutrina da Palavra; pela Terra de Canaan, a Igreja, mesma;
pelos Lugares e as Cidades desta terra daquém e dalém do Jordão, diferentes cousas que
pertencem à Igreja e à s trina. Acontece o mesmo com os Números; eles não se en também
nas Palavras que estão no Céu, mas em seu lugar, há coisas às quais os números
correspondem. Por isso, que no Céu a Palavra é, quanto ao Sentido literal, semelhante
***missing page 283***
&243 VIII A Igreja existe pela Palavra, e tal é o entendimento da Palavra no homem, tal é
a Igreja.
243 - Que a Igreja existe pela Palavra, isso não pode ser posto em dúvida, pois foi mostrado
acima, que a Palavra é o Divino Vero, ns. 189 que a Doutrina da Igreja é tirada da Palavra,
ns. 225 a 233; e que pela Palavra há comunicação com o Senhor, ns. 234 a 239; mas que o
entendimento da Pa lavra faça a Igreja, isso pode ser posto em dúvida, pois que há os que
crêem ser da Igreja porque têm a Palavra, a lêem ou a ouvem proferir por um pregador; e
sabem alguma coisa do sentido da letra, enquanto que ignoram como tal ou qual passagem
da Palavra deve ser compreendida; e vários dentre eles pensam que isso é pouco
importante; torna-se, portanto, necessário confirmar aqui que é o entendimento da Palavra e
não a Palavra que faz a Igreja; e tal é o entendimento da Palavra tal é a Igreja.
&244 - Que a Igreja conforme o entendimento da Palavra, é porque a Igreja é segundo os
veros da fé e os bens da caridade; e que estes veros e estes bens são os universais que, não
somente foram espalhados em todo o Sentido literal da Palavra, mas estão ainda
escondidos dentro como objetos preciosos nos tesouros; as coisas que estão no Sentido
literal da Palavra se mostram diante de todo homem, porque influem diretamente nos
olhos, mas as que estão escondidas no Sentido espiritual não se mostram senão aqueles que
amam os veros porque são veros e que fazem os bens porque são bens; diante destes se
manifesta o tesouro que o Sentido literal cobre e guarda; e são estes veros e estes bens que
fazem essencialmente a Igreja.
&245 - Que a Igreja seja conforme a sua Doutrina e que a Doutrina seja tirada da Palavra,
isso é sabido; todavia, o que instaura a Igreja, não é a Doutrina, mas a integridade e a
pureza da Doutrina; por conseqüência, o entendimento da Palavra; quanto a Igrejas
especiais, que está no homem em particular, não é a Doutrina que a instaura e a faz, mas é a
fé e a vida segundo a fé; semelhantemente, não é a Palavra que instaura e faz a Igreja
especialmente no homem, mas é a fé segundo os veros e a vida segundo os bens que ele tira
da Palavra e aplica. A Palavra é como uma Mina no fundo da qual há em abundancia ouro e
prata e onde, interiormente, estão escondidas as pedras mais e mais preciosas; estas minas
são abertas segundo o entendimento da Palavra; sem o entendimento da Palavra, tal como é
em si, no seu seio e em sua profundeza, a Palavra não fará a Igreja no homem, mais, do que
estas Minas, situadas
na Asia, fariam a riqueza de um Europeu; isso será diferente para este Europeu se êle
estiver entre os à.
possuidores e os operários destas minas. A Palavra nos que procuram os os veros da fé e os
bens da vida que daí
provêm, é como são os são os tesouros do Rei da Pérsia ou dos Imperadores do Mongol e
da China;. e os homens
da Igreja são como os intendentes destes tesouros, que tivessem a permissão de tirar dêles
para seus usos tanto
quanto lhes aprouvesse; mas aqueles que somente possuem a Palavra e a lêem, sem,
entretanto, procurar nem os
veros reais para a fé, nem os bens reais para a vida, são como os que sabem por narrações
que há lá imensos
tesouros, mas que não tocam nem mesmo em um escudo dêles. Os que possuem a Palavra e
dela não tiram
entendimento algum do vero real, nem tade alguma do bem real, são como aqueles que se
crêem o possuidores de
riquezas que lhes foram emprestadas por outros ou que se crêem possuidores de por outros
ou que se crêem
possuidore sde campos, de casas e de mercadorias de outros; que isso seja fantástico, cada
um o vê. Assemelh
am-se também aos que andam magnificamente vestidos e são con os em equipagens
douradas com lacaios atrás,
guardas dos e batedores adiante e que, entretanto, nada disso é é de sua propriedade.
&246 - Tal foi a Nação Judaica: é por isso que, como possui a Palavra, foi comparada pelo
Senhor ao Rico que estava vestido de púrpura e linho fino e vivia, esplêndidamente cada
dia; e que, entretanto, não tinha mesmo tirado da Palavra bastantes veros e bens para ter
piedade do pobre , estendido e coberto de úlceras diante de seu vestíbulo; esta ão não
somente não se tinha apropriado de vero algum da lavra, mas se tinha apropriado dos falsos
em tal abundância, por fim vero algum não se manifestava a ela; pois os veros não veros
somente são cobertos pelos falsos, mas são mesmo obliterad. rejeitados; é por isso que os
Judeus não reconheceram o as, embora todos os profetas tivessem anunciado a sua Vinda.
&247 - Em vários lugares, nos profetas, a Igreja na nação Israelita e Judaica é descrita
como totalmente destruída e aniquilada porque o Sentido ou o Entendimento da Palavra
estava falsificado; pois nenhuma outra cousa destrói a Igreja. 0 entendimento da Palavra,
tanto verdadeiro como falso, é descrito nos Profetas por Efraim, sobretudo em Hoséas, pois
por Efraim, na Palavra, é significado o entendimento da Palavra na Igreja. entendimento
da Palavra faz a Igreja, eis por que Efraim, do filho precioso e criança das delícias
(Jeremias XXXI, 20). Primogênito (Jeremias XXXI, 9). Poderoso (Zacarias X 7). Munido
de arco (Zacarias IX, 13); e os filhos de Efraim. são chamados Armados e Atiradores de
arco (Ps. (S. 78, 9); 9); pois o Arco significa a Doutrina da Palavra, combatendo contra os
falsos. E' por Isso também que, Efraim foi foi transferido para a direita de Israel e
abençoado; e que que, em em seguida, foi aceito emlugar de Rubens (Gen. 42, 5 42, 5,
11 e e segs.). E' ainda por isso que na bênção dos filhos de Israel por Moisés, Efraim, foi
elevado acima de todos os outros com seu irmão Manassés, sob o nome de José, seu pai
(Deut. 33, 13 a 17). 0 que é a Igreja quando o entendimento da Palavra é destruído, isso
também é descrito por Efraim nos Profetas, sobretudo em Hoséas, por exemplo,,' nestas
passagens: "Israel e Efraim cairão, Efraim estará em solidão. Efraim é pisado e ferido pelo
julgamento (Hoséas V, 5, 9, 11, 12, 13, 14). "Que te farei Efraim? pois que a tua santidade
como uma nuvem da aurora e como o orvalho da manhã, se foi embora" (Hoséas VI, VI ,
4). "E 4). "Eles não habitarão na terra. de Jehovah, Efraim voltará` ao Egito e na Assíria
comerá o que é impuro" (Hoséas IX , 3); a terra de Jehovah é a Igreja, o Egito é o
científico do h natural, a Assíria é o raciocínio que dêle procede; é por científico e ao
mesmo tempo por este raciocínio que a P é falsificada quanto ao seu entendimento interior;
por isso que Efraim voltará ao Egito e que na Assíria comerá o que é impuro . "Efraim se
apascenta de vento e segue o Euro; todo di ultiplica a mentira e a vastação, aliança com a
Assíria êle trata, e o azeite do Egito é levado" (Hoséas XII, 1); apascentar-se de vento,
seguir o Euro e multiplicar a mentira e -e a vastação, é falsificar os veros, e assim destruir
a Igreja. A mesma coisa é também significada pela escortação de pois a escortação
significa a falsificação do entendimento da Palavra, isto é, de seu vero real; nestas
passagens: "Eu conhece Efraim; êle se entregou inteiramente à escortação, e Israel
contaminado" (Hoséas V, 3). "Na casa de Israel vi coisa medonha; lá Efraim se entregou à
escortação e Israel foi contaminado" (Hoséas VI, 10); Israel é a Igreja mesma. e Efraim é o
entendimento da Palavra, pelo qual e segundo o qual é a Igreja; por isso se diz que Efraim
se entregou à escortação e Israel foi contaminado. Como a Igreja na nação Israelita e
Judaica foi completamente destruída pelas falsificações da Palavra, é por Isso que se diz de
Efraim: "Como te deixaria, 6 Efraim? como te entregaria, 6 Israel? te daria como, Adamah,
e te poria como Seboim?" (Hoséas XI, 8). Ora, por que o Profeta Hoséas, desde o Primeiro
Capítulo até ao último, trata da falsificação do entendimento real da Palavra e da destruição
da Igreja por esta falsificação, e que a escortação significa a falsificação do vero da Palavra,
foi por conseguinte ordenado a este Profeta, para que representasse este estado da Igreja,
que tomasse por mulher uma prostituta, Capítulo III. Estas
passagens foram referidas, a fim de que que se saiba e seja confirmado pela Palavra, que
a Igreja é tal qual é o
entendimento da Palavra nela, magnífica e de um grande valor entendimento vem dos veros
reais da
Palavra,masdestruída e medonha, se vem dos veros falsificados.
&248 IX - Em cada coisa da Palavra há o casamento do Senhor e da Igreja; e por
conseguinte, o casamento do Bem e e
do Vero
&248 - Que em cada cousa da Palavra haja haja a o Casamento do Senhor e da Igreja e,
por consegu conseguinte, o Casamento do bem e do vero, isto até hoje não foi visto e não
podia ter sido visto e não podia porque o Sentido espiritual da Palav ra ainda não tinha sido
desvendado, e este Casamento não pode ser visto visto senão por êste Sentido; com efeito,
há na Palavra, escondidos no Sentido da letra, dois sentidos, que são chamados Espiritual e
Celeste; no Sentido espiritual da Palavra o que lhe pertence se refere principalr
principalmente à Igreja; e no Celeste, principalmente ao Senhor; mais, no Sentido espiritual
o que e lhe pertence se refere ao Divino Vero e no Celeste ao Divino Bem; daí, na Palavra
êste Casamento. Mas isto não é evidente senão para aquele e que, pelo Sentido
espiritual e o Sentido celeste da Palavra , conhece as significações das palavras e dos
nomes, pois certas pala
vras e certos se dizem do Bem, outros do Vero, e outros se referem a um e a outro; é por
isso que sem êste
conhecimento, este casamento em cada cousa da Palavra não pôde ser visto; tal como é
razão pela qual este
Arcano não foi desvendado antes. Como existe um tal casamento em cada cousa da Palavra,
eis por que tão
freqüentemente na Palavra duas Expressões que parecem ser repetições de uma mesma
coisa; entretanto, elas
não são etições, mas uma se refere ao bem e a outra ao vero e as duas, tomadas em
conjunto fazem a conjunção,
assim uma única cousa. Daí vem também a Divina Santidade da Palavra; pois em toda
Obra Divina há o Bem
conjunto ao Vero e o Vero conjunto ao Bem.
&249 Diz-se que, em cada cousa da Palavra, há o Casamento do Senhor e da Igreja e, por
conseguinte, o casamento
do bem e do vero, porque onde há o casamento do Senhor e da Igreja, aí há o casamento do
bem e do vero, pois
este casamento vem do outro; com efeito, quando a Igreja ou o homem da Igreja está nos
veros, o Senhor influi com
o bem em seus veros e os vivifica
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aqueles que, quando estão no sentido natural, estão também no Sentido espiritual.
&251 - Seria demasiado- longo mostrar, pela Palavra, que há. nela tais expressões duplas
que parecem ser Repetições de uma mesma coisa, pois seria preciso encher volumes; mas
para tirar a dúvida, vou referir passagens onde se diz ao mesmo tempo Nação e Povo,
Contentamento e Alegria. Eis passagens onde Nação e Povo são mencionados: "Ai da
Nação pecadora, do Povo carregado de iniqüidade" (Isaías 1', 4). Povos que andavam nas
trevas viram uma grande luz, tu multiplicaste a Nação" (Isaías IX, 1, 2). "Assíria, vara de
minha oontra a Nação hipócrita eu te enviarei, contra o Povo do meu arrebatamento eu te
mandarei" (Isaías X, 5, 6). "Acontecerá erá naquele dia que a raiz de Jischai, erigida para
pendão Povos, as Nações a procurarão" (Isaías XI, 10) "Jehovah fere os Povos com uma
praga incurável, que domina com cólera sobre as Nações" (Isaías XIV, 6). "Naquele dia
trarão à presença de Jehovah um Povo dispersado e pilhado e uma Nação da com o cordel
e espezinhada" (Isaías XVIII, 7). "Uni-,, e Te honrará, a cidade das Nações possantes Te
temerá" (Isaías XXV, 3). "Jehovah tirará a cobertura que está só os povos e o véu (que
está) colera sobre tôdas as Nações" (Isaías XXV , 7). "Aproximai-vos, Nações; e vós
Povos, estai ate (Isaías XXIV, 1). "Eu te chamarei para aliança do Povo, p Nações" (Isaías
XLII, 6). "Que tôdas as Nações se reúnam e que os Povos" (Isaías XLIII, 3). "Eis,
levantarei sobre Nações a minha mão e colera sobre os Povos o seu estandarte"(Isaías
XLIX, 22). "Testemunho aos Povos eu o tenho dado, Príncipe e Legislador das Nações"
(Isaías LV, 4, 5). "Eis um Povo terra do Setentrião e uma Nação grande dos lados da terra "
(Jeremias VI, 22, 23). "Não te farei mais ouvir a calúnia das e o opróbrio dos Povos tu não
levarás mais" (Ezequiel 15). "Todos os Povos e as Nações o servirão" (Daniel VII, 14).
"Para que mofa deles não façam as Nações e que não digam entre os tempo Onde está seu
Deus" (Joel 11, 17). "Os restos do eu Povo os pilharão e os resíduos de minha Nação os
terão por herança" (Sefonias 11, 9). "E virão vários Povos e Nações numerosas para
procurar Jehovah em Jerusalém" (Zacarias VIII, 22). Meus olhos viram tua salvação, que
preparaste diante da face. de todos os Povos, luz para revelação das Nações" (Lucas II, 3032). "Tu nos resgataste em teu sangue, de todo Povo e Nação"( Apoc. 50, 9). "E preciso que
de novo profetizes colera sobre Povos e Nações (Apoc. 10, 11). "Tu me porás à testa das
Nações, um Povo que eu não tinha conhecido, me servirá" (S. 18, 44) "Jehovah torna inútil
o conselho das Nações e transtornará os pensamentos dos Povos" (Sl. 33, 10) "Tu nos pões
em provérbio entre as Nações, em meneio de cabeça entre os Povos" (Sl. 44, 15). 15).
"Jehovah disporá os Povos sob nossos nós e as Nações sob nossos pés; Jehovah reinará
Nações, os voluntários dentre os Povos se congregaram" (Sl. 47, 4, 9, 10). "Os Povos te
confessarão e na jubilação estarão as Nações porque julgarás os Povos com justiça e as
nações na Terra tu conduzirás" (Sl. 67, 3, 4, 5). Lembra-te de mim, Jehovah, no bel-prazer
de teu Povo, a fim de que eu me regozije na alegria de tuas Nações (Ps. (Sl.106, 4, 5); e
além disso em vários outros lugares. Se se diz ao mesmo tempo Nações e Povos, é porque
pelas Nações são entendidos aqueles que estão no bem; e no sentido oposto, aqueles que
estão no mal; e que pelos Povos são entendidos aqueles que estão nos veros; e no sentido
oposto, aqueles, que estão nos falsos; é por isso que os que são do Reino Espiritual do
Senhor são chamados Povos; e os que são do Reino Celeste do Senhor são chamados
Nações; pois no Reino Espiritual todos estão e por conseguinte na inteligéncia; e no Reino
Celeste estão nos bens e por conseguinte na sabedoria.
&252 - Acontece o mesmo com muitas outras expressões; assim quando se diz
Contentamento to se diz também Alegria, como nestas passagens: "Eis, Contentamento e
Alegria, matando boi!' (Isaías XXII, 13) "Contentamento e Alegria eles obterão e fugirão à
tristeza e ao gemido" (Isaías XXXV, 10; LI, 11). "Dá casa do nosso Deus foram cortadas a
Alegria e o Contentamento" (Joel I, 16). "Eu os privarei da voz de Contentamento e da voz
da Alegria" (Jeremias VII, 34; XXV, 10). "0 jejum do décimo mes será para a casa de
Jehudah Contentamento e Alegria" (Zacarias VIII, 19). "Estejais Alegres em Jerusalém,
tende Contentamento nela" (Isaías LXIV, 10). "Estejais no Contentamento e na alegria,
filha de Edom" (Lament. 6, 21). "Na Alegria estarão os Céus e no Contentamento estará a
Terra" (Sl. 96, 11). "Tu me farás ouvir Contentamento e Alegria?' (Ps. (Sl. 51, 10).
"Contentamento e Alegria serão encontrados em Sião, confissão e voz de canto" (Isaías LI,
3). "Será para ti uma Alegria e muitos, por causa do seu nascimento, terão Contentamento"
(Lucas I, 14). "Farei cessar a voz do Contentamento e a voz da Alegria, a voz do noivo e a
voz da noiva" (Jeremias VII, 34; XVI, 9; XXV, 10). "Ainda será ouvida neste lugar a voz
do Contentamento e a voz da Alegria, a voz do noivo e a voz da noiva" (Jeremias XXXIII,
10, 11); e em outros lugares. Se as as duas expressões, Contentamento e Alegria, são
empregadas é por que o Contentamento se diz do Bem e a Alegria se diz do Vero, ou
porque o Contentamento se diz do Amor e a Alegria se diz da Sabedoria; pois o
Contentamento pertence ao Coração e a Alegria ao Espírito ou antes: o Contentamento
pertence à Vontade e a Alegria ao Entendimento. Que o Casamento do Senhor e da Igreja
estejam também nestas expressões, isto é evidente, pois se diz: "A voz do Contentamento e
a voz da Alegria, a voz do Noivo e a voz da Noiva" (Jeremias VII, 34; XVI, 9; XXXIII, 10,
11); e o Senhor é o Noivo e a Igreja a Noiva; qúe o Senhor seja o Noivo, vê-se em Mateus
IX, 15; Marcos 11, 19, 20; Lucas V, 34, 35; e que a Igreja seja a Noiva, ve-se no
Apocalipse 21, 2, 9; 22.10, 17; é por isso que João Batista diz, falando de Jesus; "Aquêle
que tem a Noiva é o Noivo" (João 111, 29).
&253 - É por causa do Casamento do Divino Bem e do Divino Vero em cada cousa da
Palavra, que em um grande número de passagens se diz Jehovah Deus, e e também
Jehovah e a Salvação de Israel, como se fossem dois uando entretanto são um; pois por
Jehovah é entendido hor quanto ao Divino, Bem do Divino Amor; e por Salvação de Israel,
é entendido o Senhor quanto ao Vero da Divina Sabedoria. Que as expressões Jehovah e
Deus, Jehovah e o Santo de Israel, sejam empregadas em grande número de passagens e
que, entretanto, por elas seja entendido Um Só, ve-se na Doutrina sobre o Senhor Redentor.
&254 - X - Heresias podem ser tiradas da letra da Palavra, mas mas confirmá-las é
perigoso.
Foi mostrado acima que a Palavra não pode ser compreendida sem a Doutrina e que a
Doutrina é como um Archote para que os veros reais sejam vistos; e isso porque a Palavra
foi escrita por puras Correspondências, donde resulta que muitas cousas nela são
Aparências do vero, e não veros nus, e que muitas foram escritas segundo a concepção do
homem puramente natural e de tal maneira, que os simples podem compreender a Palavra
com simplicidade, os inteligentes com inteligência e os sábios, com sabedoria. Ora, pois
que tal é a Palavra, as Aparências do vero, podem ser tomadas por veros nus e quando são
confirmadas, tornam-se ilusões que, em si mesmas, são falsos. Por terem sido as
Aparências do vero tomadas por veros reais e confirmadas, nasceram tôdas as heresias que
existiram e existem ainda no Mundo Cristão. As Heresias mesmas não danam os homens,
mas o que dana, é
quando, pela Palavra e pelos raciocínios que procedem do homem natural, confirmam-se as
falsi
dades que estão nas Heresias e se tem uma vida má. Com efeito, cada um nasce na Religião
de
sua Pátria ou de seus Pais, é iniciado nela desde sua infância, depois a retém e não pode por
si
mesmo se desprender dos falsas dessa religião, tanto por causa dos negócios do Mundo
como
por causa da fraqueza do entendimento para distinguir as verdades religiosas; mas viver
mal e
confirmar os falsos até destruir o vero real, eis o que dana; pois aquele que fica na sua
Religião e
crê em Deus, e que se está no seio do Cristianismo - crê no Senhor, considera a Palavra
como
Santa e vive pela religião segundo os preceitos do Decálogo, este não está ligado aos falsos
como por juramento (non jurat in falsa), por isso, desde que ouve os veros e os percebe à
sua
maneira, pode abraçá-los e assim ser retirado dos falsos; mas não acontece o mesmo com
aquêle que confirmou os falsos de sua Religião falso confirmado permanece e não pode ser
extirpado; com efeito, depois da confirmação, o falso é como se o homem se tivesse ligado,
a ele
por juramento, sobretudo se este falso é coerente com o amor de si ou com o orgulho da
própria
inteligência.
&255 - Conversei no Mundo espiritual, com alguns homens, que tinham vivido há vários
séculos e se tinham confirmado nos falsos de sua Religião, e reconheci que eles
permaneciam ainda constantemente nos mesmos falsos; também conversei com outros que
tinham sido da mesma Religião e que tinham pensado como eles, mas não tinham
confirmado em si os falsos dessa Religião e e reconheci que, tendo sido instruídos pelos
Anjos, tinham rejeitado os falsos e recebido os veros e que estes tinham sido salvos, mas
não aqueles. Cada homem depois da morte é instruído pelos Anjos; e aqueles que vêem os
veros e pelos veros, os falsos, são recebidos; mas somente aquêles que não se confirmaram
nos falsos vêem os veros; aquêles, ao contrário, que se confirmaram nêles não querem ver
os veros e se os vêem, se afastam dêles, ou os falsificam; a verdadeira causa disso, é que a
confirmação entra na vontade, que a vontade é o homem mesmo e dispõe o entendimento a
seu jeito; mas o -conhecimento nu não entra senão no entendimento; e o entendimento não
tem direito algum sobre a vontade, por conseqüência, não está no homem senão como
alguém que permanece no vestíbulo ou à porta, e não está ainda na casa.
&256 - Mas isto vai ser ilustrado por um exemplo: Em várias passagens da Palavra, a
cólera, o arrebatamento, a vingança são atribuídos a Deus, e se diz que *le pune, lança no
inferno, tenta e faz várias outras- coisas semelhantes; aquêle que crê nisso com
simplicidade é como unia criança e que, em razão desta crença, teme a Deus e se guarda de
pecar contra Ele, este este não é danado por esta fé simples. Mas aquele que confirma em
si esta fé ao ponto de crer que a cólera, o arrebatamento, a vingança, e assim cousas que
têm por origem o nua, estão em Deus, e que pela cólera, o arrebatamento e a vingança Deus
pune o homem e o lança no inferno, êste é danado, porque destrói o vero real, que é, que
Deus é o Amor mesmo, a Misericórdia mesma e o Bem mesmo; e Aquêle que tem estas
qualidades não pode se entregar nem à cólera, nem ao arrebatamento, nem à vingança; se
tais paixões são atribuídas a Deus na Palavra, é porque Isso parece assim; são aparências do
vero.
&257 - Que muitas coisas no Sen literal da Palavra, se jam Aparências do vero, nas quais
estão
estão escondidos os os veros reais e que não seja perigoso pensar nem mesmo falar com
simplicidade segundo as aparências do vero, mas que seja perigoso confirmá-las porque a
confirmação Divino Vero que está escondido dentro delas, é o que pode ser ilustrado por
um
Exemplo que tomarei na Na porque a Natureza ilustra e ensina mais claramente qu
Espiritual.
Parece à vista que o Sol seja levado cada dia torno da terra e também, uma vez em cada
ano;
daí, dizer-se que o Sol se levanta e se deita, que ele faz a manhã, o meio-dia, a tarde e a
noite
e também, as estações da primavera, do verão, do outono e do inverno e, por conseqüência,
os
dias e os anos, ra entretanto o Sol f ique imóvel, pois é um Oceano de fogo e seja a Terra
que
gira cada dia sobre si mesma, e cada ano em torno do Sol; o homem que, por simplicidade
e
por ignorância, pensa que o Sol executa estes movimentos, não destrói a verdade natural,
que a
Terra gira em torno de seu eixo e é levada cada ano segundo a Eclítica; mas aquêle que
confirma por meio de raciocínios tirados do homem natural, que o movimento aparente do
Sol, e
mais ainda o que o confirma pela Palavra, porque aí se diz que o Sol se levanta e se deita,
êste
Invalida a verdade e a destrói; e depois mal pode vê-Ia, ainda mesmo que lhe seja mostrada
à
vista que todo o Céu astral tem em aparência movimentos semelhantes cada dia e cada ano
e
que, entretanto, não há nem mesmo uma única Estrêla que seja deslocada de seu lugar fixo
relativamente a uma outra. 0 vero aparente, é que o Sol executa êstes movimentos; o vero
real, é
que êle não os executa; entretanto, cada um fala segundo os veros aparentes, dizendo que o
Sol
se levanta e se deita e Isto é permitido, porque não pode ser de outra forma; mas pensar
segundo êste vero depois de uma confirmação, Isto toma o entendimento racional pesado e
obscurecido.
&258 - Que seja perigoso confirmar as aparências do vero, que estão na Palavra, pois que
daí resulta uma ilusão e que assim o Divino Vero que está escondido dentro, é destruído,
eis a causa mesma, é que tôdas e cada uma das coisas do Sentido da letra da Palavra,
comunicam com o Céu; pois. , como foi mostrado acima, em tôdas e cada uma das coisas
do sentido da letra há um Sentido espiritual; e este sentido se abre quando passa do homem
ao Céu; e tôdas as coisas do Sentido espiritual são veros reais; quando, portanto, o homem
está nos falsos e aplica aos falsos o Sentido da letra, então aí estão os falsos, e quando os
falsos entram, os veros são dissipados; Isto acontece no caminho, passando do homem ao
Céu; é, para me servir de uma comparação, como se uma bexiga brilhante cheia de fel
fosse lançada contra um homem e que, antes de chegar a ele, ela arrebentasse no ar e o fel
se espalhasse de todo lado; logo que este homem sentisse o ar de fel, se afastaria e fecharia
a boca, a fim de que a língua não fosse afetada. É também como se um Odre e arcos de
cedro, no qual houvesse vinagre cheio de pequenos pequenos os vermes, se rompesse no
transporte; o cheiro fétido que exalaria seria sentido pelo homem, que Imediatamente o ar
para dissipar o mau cheiro, a fim de que não em suas narinas. E ainda como se retirasse a
crosta de uma uma massa, na qual em lugar de amêndoas houvesse uma cobra recémnascida, que esta cobrazinha parecesse levada pelo vento para os olhos de alguém, é
evidente que este se afastaria, a, para evitar de ser atingido. Acontece o mesmo com a lei
tura da Palavra pelo homem que está nos falsos e que aplica a esses falsos alguma coisa do
Sentido da letra da Palavra, então du rante o caminho para o Céu, o que êle lê é rejeitado a
fim de uma tal mistura não influa e não infeste os Anjos; com efeito, quando o falso toca o
vero, é como quando a ponta de uma agulha toca uma fibrila de nervo, ou a pupila do olho;
sabe-se que a fibrila do nervo se enrola imediatamente em espiral e se dobra sobre si
mesma; e que o olho; ao primeiro contacto, se cobre com as pálpebras. Por estas
explicações, é evidente que o vero falsificado suprime a comunicação com o Céu e a fecha.
Tal é a causa pela qual é perigoso confirmar um a falso herético.
&259 - A Palavra é como um Jardim, que se pode chamar Paraíso Celeste, encerrando todo
gênero de coisas, saborosas deliciosas, saborosas, em razão dos frutos; e deliciosas, em
razão das flores, tendo em seu centro Arvores de vida perto das quais estão as fontes de
água viva e, em sua circunferência, árvores florestais. 0 homem que está, pela Doutrina, nos
Divinos veros, está no meio do Jardim onde estão as Arvores de vida e tem, na realidade, o
gozo destas cousas saborosas e deliciosas; ,o homem que está nos veros, não pela Doutrina,
mas só pelo Sentido da letra, está na circunferência e vê somente as árvores florestais; mas
aquêle que está na Doutrina de uma Religião falsa e que confirmou nêle os falsos, não está
nem mesmo na floresta; reside além em planícies arenosas, onde não há verdura
absolutamente. Que tal seja também o estado dêstes homens depois da morte, isso foi
mostrado no Tratado do Céu e do Inferno.
&260 - E preciso, além disso, que se q o Sentido da letra é um guarda para os, veros reais,
e escondidos dentro, a fim de que não sejam feridos; e esta guarda consiste em que este
Sentido pode ser virado de toda maneira e ser explicado conforme é tomado, sem que seu
In terno seja ferido e violado; pois não é prejudicial que o Se Sentido da letra etra seja
compreendido por um diferentemente de outro; que é prejudicial, é quando o homem tira
dele falsos que ão contra os Divinos Veros, o que fazem unicamente , que se confirmaram
nos falsos; por isto, ele faz violencia à Palavra o Sentido da letra é um guarda para impedir
que o isso aconteça; e exerce esta guarda nos que estão nos falsos pela Ré Religião que
não confirmam êstes falsos. 0 Sentido da letra da Palavra como guarda é significado pelos
Querubins na Palavra e esta guarda é é também aí descrita por êles. E significada pelos
Querubins que, depois de Adão e sua Esposa terem sido expulsos do Jardim do Eden,
foram colocados à entrada desse Jardim, a respeito dos quais lemos estas palavras:
"Quando Jehovah Deus expulsou o homem, fêz habitar do lado do Oriente do Jardim do
Éden os Querubins e a chama da espada que gira de um lado para outro para guardar o
caminho da Arvore da vida" (Gênesis 3, 23, 24). 0 que estas palavras significam, ninguém o
pode ver, a menos que se saiba o que é significado pelos Querubins, pelo Jardim do Eden, e
pela Arvore da vida nesse Jardim; e depois o que é significado pela chama da espada que
gira de um lado para o outro; cada uma destas cousas foi explicada nos Arcanos Celestes
sobre este Capítulo, a saber, pelos Querubins é significada a Guarda; pelo caminho da
Arvore da vida é significada a entrada para o Senhor, entrada que os homens acham pelos
Veros do Sentido espiritual da Palavra; pela chama da espada que gira é significado o
Divino Vero nos últimos, o qual é como a Palavra no Sentido literal, que pode ser girado da
mesma maneira. A mesma cousa é entendida pelos Querubins de ouro colocados sobre as
duas extremidades do Propiciatório que estava sobre a Arca, no Tabernáculo (Êxodo 25, 18
a 21); a Arca significava a Palavra porque o Decálogo na Arca era o primitivo da Palavra,
os Querubins aí significavam a Guarda; 6, por isso que o Senhor falou com Moisés entre os
Querubins (Êxodo 25, 22; 34, 8; Número, 7, 89); - e falou no Sentido natural, pois Éle só
fala com o homem no pleno, e o Divino Vero está em seu pleno no Sentido da letra, vede
acima ns. 214 a 224. Outra cousa não é significada pelos "Querubins sobre as Cortinas do
Tabernáculo, e sobre os Véus" (Êxodo 26, 31); pois as Cortinas e os Véus do Tabernáculo
significavam os últimos do Céu e da Igreja; por conseqüência, também os últimos da
Palavra, vêde acima n. 220. Nem pelos "Querubins esculpidos sobre as paredes e as portas
do Templo de Jerusalém" (I Reis VI, 29, 32, 35) vede acima n. 221. Nem pelos Querubins
do Novo Templo (Ezequiel XLI, 18-20). Como os Querubins significam a Guarda para que
o Senhor, o Céu, e o Divino Vero, tal como está no interior da Palavra, não sejam
imediatamente abordados, mas para que e o sejam mediatamente pelos últimos, por isso
mesmo fala do Rei de Tiro: "Tu, que selas a medida, cheio de sabedoria , e perfeito em
beleza, no Eden o Jardim de Deus tu estiveste, toda da pedra preciosa foi tua cobertura; tu,
Querubim, expanção do que protege. Eu te perdi, Querubim Protetor, no meio das pedras de
fogo" (Ezequiel CXXVII, 12, 13, 14, 16). Tiro significa a Igreja quanto aos conhecimentos
do vero e do bem; Dor conseguinte, o Rei de Tiro significa a Palavra onde estão estes
conhecimentos e de onde êles vêm; que aqui a Palavra no seu último seja significada por
este Rei e a Guarda pelo Querubim, isso é evidente, pois se diz: ,Tu que selas a medida,
toda pedra preciosa foi tua Cobertura; tu, Querubim, expansão do que protege"; e também:
"Querubim Protetor"; que pelas pedras preciosas mencionadas também nesta passagem,
sejam entendidas as cousas que pertencem ao Sentido da letra, vê-sé acima ns. 217, 218.
Como os Querubins, significam a Palavra nos últimos e também a Guarda, em
conseqüência, se diz em David: "Jehovah inclinou os Céus e desceu a cavalgada sobre um
Querubim" (Sl. 18, 10, 11). "Pastor de Israel, que estás assentado sobre Querubins, mostrate com brilho" (Sl. 80, 2). "Jehovah assentado sobre Querubins" (Sl. 99, 1). Cavalgar sóbre
Querubins, estar assentado sobre êles, é sobre o último sentido da Palavra. 0 Divino Vero
na Palavra e sua qualidade são descritos por quatro Animais, que também são chamados
Querubins, em Ezequiel, Capítulos I, IX e X, e também pelos quatro Animais no meio do
Trono e perto do Trono, Apocalipse 4, 6 e segs. Vede o Apocalipse Revelado publicado
por mim em Amsterdam, ns. 239, 275, 314.
&261 XI - 0 Senhor no mundo cumpriu tôdas as coisas da Palavra e por isso foi feita a
Palavra, isto é, o divino vero, mesmo nos últimos.
261 - Que o Senhor, no Mundo, tenha cumprido todas as cousas da Palavra e, por isso,
tenha
sido feito o Divino Vero ou a Palavra, mesmo nos últimos, é o que é entendido por esta
passagem de João: "E a Palavra Carne foi feita habitou entre nós e vimos a sua
Glória;Glória
como do Unigênito do Pai, cheio de graça e de verdade" (I, 14); ser feito é ser feito a
Palavra
nos últimos. 0 Senhor, quando se ou, mostrou aos Discípulos o que Ele era como a Pala vra
a
últimos (Mateus XVII, 2 e segs.; Lucas IX, 28 e segs.); e diz que Moisés e Elias
apareceram na
glória; por Moisés é a a. Palavra que foi escrita por éle; em geral, a Palavra Histórica; e por
Elias,
a Palavra Profética. 0 Senhor como a Palavra nos ultimos, também. foi representado diante
de
João, no Apocalise (1, 13 a 16); aí, tôdas as cousas de sua descrição significam os últimos
do Divino Vero ou da Palavra. 0 Senhor, tinha sido a Palavra ou o Divino Vero, mas nos
Primeiros pois está dito: "No começo era a Palavra e a Palavra estava co m Deus; e Deus
era a
Palavra" (João 1, 1, 2); mas quando a Palavra se fez Carne, o Senhor se fez a Palavra nos
últimos; por isso, Ele é chamado o Primeiro e o último (Apocal. 1, 8, 11, 17; 2, 8; 2120,
12, 13;
Isaías XLIV, 6).
&262 - Que o Senhor tenha cumprido tôdas as da Éle .Palavra, isto é evidente pelas
passagens
onde se diz que por Ele foram cumpridas a Lei, a Escritura, e que tudo foi consumado;
assim,
por estas: "Jesus disse: Não penseis que vim abolir a Lei e os Profetas; vim, não para abolir,
mas
cumprir" (Mateus V, 17, 18). "Jesus entrou na Sinagoga e se levantou para ler; então lhe
deram o
Livro de Isaías o Profeta; êle desenrolou o Livro e achou o lugar onde estava escrito. 0
Espírito de
Jehovah está sobre mim; por isso Ele me ungiu; para anunciar o Evangelho aos pobres Èle
me
enviou, para curar os quebrantados de coração; para anunciar aos cativos, a liberdade, aos
cegos a vista e para publicar o Ano favorável do Senhor; depois, enrolando o Livro, disse:
Hoje foi
cumprida esta Escritura em vossos ouvidos" (Lucas IV, 16 a 21). "A fim de que a Escritura
fosse cumprida: Aquêle que come comigo o pão, elevou sobre Mim o seu calcanhar" (João
XIII, 18). "Nenhum dêles se perdeu, senão o filho da perdição, a fim de que a Escritura
fosse cumprida" (João XVII, 12). "A fim de que fosse cumprida a Palavra que ele tinha
dito: Aquêles que tu Me deste, não perdi um só, deles'' (João XVIII, 9). "Jesus disse a
Pedra: Repõe tua espada em seu lugar; como pois seriam cumpridas as Escrituras: Que
assim é preciso que seja feito? Mas tudo isso foi feito a fim de que fosse cumprida a
Escritura" (Mateus XXVI, 52, 54, 56). "0 Filho do homem vai embora como está escrito
d'Ele, a fim de que sejam cumpridas as Escrituras" (Marcos XIV, 21, 49). "Assim foi
cumprida a Escritura, que diz: No número dos impios êle foi posto" (Marcos Lucas XXII,
37). "A fim de que a Escritura fosse cum Eles partilharam entre si as minhas vestimentas e
sobre minha túnica lançaram a sorte" (João XIX, 24). "Depois disso, Jesus sabendo que
tudo estava já consumado, a fim de que fosse cumprida a Escritura" (João XIX, 28).
"Quando Jesus tomou nagre, disse: Tudo está consumado, isto é, cumprido" (João XIX 30).
"Estas cousas aconteceram a fim de que a Escritura fosse cumprida; os ossos não
quebrareis n'Ele; e ainda uma outra diz: Eles verão Aquêle que trespassaram" (João XIX,
36, 37). Que toda a Palavra tenha sido escrita d'Ele e que Ele tenha vindo ao Mundo para a
cumprir, é mesmo o que Ele aos ensinou Discípulos nestes termos, antes de ir embora:
"Ele lhes disse: Ó insensatos e lentos de coração para crer todas as cousas que
pronunciaram os Profetas! Não convinha que o Christo sofresseestas cousas, e que entrasse
em Sua glória, Depois, começando por Moisés e (continuando) por todos os Profeta lhes
explicou em tôdas as Escrituras as cousas que se re-Ele'' (Lucas XXIV, 25-27). Além disso,
Jesus disse: "Que convinha que fossem cumprida as coisas que foram escritas na Lei de
Moisés, nos Profetas e nos Salmos, referentes a Ele (Lucas XXIV, 44, 45). Que o Senhor
no Mundo tenha cumprido tôdas as cousas da Palavra até às suas menores particularidades,
vê-se claramente por Suas próprias palavras: "Em verdade vos digo: Até que passem o Céu
e a Terra, um único jota, ou um único traço de letra, não passará da Lei, sem que tôdas as
cousas sejam feitas" (Mateus V, 18). Ora, por tôdas estas passagens, pode-se ver claramente
que, por estas expressões, "o Senhor cumpriu tôdas as cousas da Lei", é entendido que Ele
cumpriu todas as coisas da Palavra e não simplesmente -todos os preceitos do Decálogo.
Que todas as coisas da Palavra sejam mesmo entendidas pela Lei, pode-se ver por estas
passagens: "Jesus disse: Não está escrito na vossa Lei? Eu disse: Vós sois deuses" (João X,
34); isto foi escrito no Sl. 82, 6. "A multidão respondeu: Nós aprendemos pela Lei que o
Christo permanecerá. eternamente" (João XII, 34); isto foi escrito no Ps. 89, 30; e 110, 4); e
em Daniel VII, 14. "A fim de que fosse cumprida a Palavra escrita em sua Lei: Eles me
odiaram sem causa" (João XV, 25); isto foi escrito no Ps. Sl. 35, 19. "E' mais fácil que o
Céu e a Terra passem do que um único acento da Lei caia" (Lucas XVI, 17). Pela Lei nesta
passagem, como também aqui e ali, em outros lugares, é entendida toda a Escritura Santa.
&263 - Poucas pessoas compreendem como o Senhor é a Palavra, pois pensa-se que o
Senhor, pela Palavra, pode ilustrar e ensinar os homens; e que isso não é razão para que Êle
possa ser chamado a Palavra; mas que se saiba que cada homem é sua Vontade e seu
Entendimento; e que assim um homem distinguido de um outro; e como Vontade é o
receptáculo do Amor, te amor; assim de todos os bens que pertencem a este Amor; e que o
Entendimento é o receptáculo da Sabedoria, assim de todos os veros que pertencem a esta
sabedoria, segue-se q cada homem é seu amor e sua sabedoria ou o seu bem e seu vero; o
homem não é homem senão por isso e nenhuma outra coisa a nele é homem. Quanto ao que
concerne ao Senhor, Ele é o Amor mesmo e a Sabedoria mesma, assim o Bem mesmo e o
Vero mesmo; Ele se fez este Bem e êste Vero por ter cumprido todo bem e todo Vero que
estão na Palavra; pois aquele que e não pensa e não pronuncia senão o vero torna-se este
vero; e aquele não quer e não faz senão o bem torna-se êste bem; e visto o Senhor cumpriu
todo Divino Vero e todo Divino Bem que estão na Palavra, tanto no seu Sentido natural
como no seu Sentido espiritual, Ele fez o Bem mesmo e o Vero mesmo, assim a Palavra.
&264 XII - Antes desta Palavra, que estd hoje no mundo, houve uma Palavra que se
perdeu.
264 - Que antes da Palavra dada à Nação Israelita por Moisés e pelos Profetas, o Culto
pelos Sacrifícios tenha sido conhecido e se tenha profetizado segundo a boca de Jehovah,
podese ver pelo que foi referido nos Livros de Moisés. Que o Culto pelos Sacrifícios tenha
sido conhecido, vê-se por estas passagens: "Foi ordenado aos filhos de Israel para derrubar
os Altares das -Nações, quebrar suas Estátuas e cortar seus Bosques" (Éxodo 34, 13; Deut.
7, 5; 12, 1). "Israel começou em Schittin a se entregar à escortação com as filhas de Moab;
elas chamaram o povo aos Sacrifícios de seus deuses e o povo comeu deles'' (Números 25,
1-3)' "Balac, que era da Síria, fêz construir Altares
e Sacrificou bois e gado" (Números 22.0 , 40; 23, 1, 2, 14, 29, 30). "Profetizou também
sobre o
Senhor, dizendo que sairia uma Estrela de Jacob e um Cetro de Israel" (Números 24, 17). E
"que
se tenha profetizado segundo a boca de Jehovah", vê-se em Números 22, 13, 18; 23, 3, 5, 8,
16, 26; 24 1, 13. Por estas passagens é evidente que houve entre as Nações um Culto
Divino quase
semelhante ao Culto instituído por Moisés para a Nação Israelita. Que êste Culto tenha
existido
mesmo antes do tempo de Abrahão, vê-se claramente pelas palavras de Moisés, em Deut.
32, 7, 8; mais claramente por Melchisedech Rei de Salem, ter apresentado Pão e Vinho e
abençoado
Abrão, tendo Abrão lhe dado o Dízimo de tudo (Gênesis 14, 18); e pelo fato de
Melchizedech
representa o Senhor, pois é chamado Sacerdote do Deus Altíssimo (Gênesis 14, 18); e se
diz
do Senhor em David: "Tu, Sacerdo ra a eternidade segundo o modo de Melchizedech" (Sal.
111, 4); isto provinha do fato de Melchizedech ter apresentado o e o Vinho como as cousas
mais
santas da Igreja, do modo que o são na Santa Ceia. Estes fatos e vários outros índices
marcantes de que antes da Palavra Israelita hou Palavra, da qual foram tiradas tais
Revelações.
&265 - nha, havido uma Palavra entre os Antigos, vê-se em Moisés por quem ela é
mencionada, e
de onde tirou extratos, Nú Números 21, 21.0, 14, 15, 27 a 30; vê-se ai também que os
Histórico
dessa Palavra eram chamados Guerras de Jehovah e os Prof cos, os Enunciados. Dos
Históricos desta Palavra, Moisés tomou esta passagem: "E' por isso que se diz no Livro das
Guerras de Jehovah: Vaheb em Suphah, as torrentes de Arnon, o curso das torrentes que
declinou até onde está habitada Ar e se detém no termo de Moab" (Num. 21, 14, 15); pelas
Guerras de Jehovah nesta Palavra, como na nossa, são entendidos e descritos os Combates
do
Senhor contra os Infernos e as Vitórias que Êle ganharia sobre êles quando viesse ao
Mundo; os
mesmos combates são entendidos e descritos em muitos lugares nos Históricos de nossa
Palavra, como nas Guerras de Josué contra as Nações da terra de Canaan e nas Guerras dos
juízes e dos Reis de Israel. Dos proféticos dessa Palavra foram tiradas as passagens
seguintes:
"E' por isso que dizem os Enunciados: Entrai em Chesbon; será construída e afirmada a
cidade
de Sichon; pois um fogo saiu de Chesbon; uma chama, da cidade de Sichon; foi devorada
Ar de
Moab, os possuidoras das alturas de Amon; Ai de ti, Moab! tu pereceste, povo de Kemosh;
êle
deu seus filhos que fugiam e suas filhas em cativeiro ao Rei Emorreu. em Sichon; com
flechas, nós os derrotamos; pereceu Chesbon até Dihon e devastamos até Medebah" (Num.
21, 27, 30). Os Tradutores escreveram Compositores de Provérbios, mas deviam ser
chamados Enunciadores ou Enunciados Proféticos; com efeito, pode-se ver pela
significação da palavra Moschalin na Língua Hebraica, que não são somente Provérbios,
mas também Enunciados Proféticos como resulta de Números 23, 7, 18; 24, 3, 15, onde se
diz que Balac. pronunciou seu Enunciado, que era profético e que concerne mesmo ao
Senhorl seu Enunciado é chamado Maschal no singular; é preciso acrescentar que as
passagens que Moisés tomou são Proféticos e não Provérbios. Que esta Palavra tenha sido
do mesmfo modo Divinamente inspirada s é evidente em Jeremias, onde se encontram
expressões quase semelhantes: "Um fogo saiu de Chesbon e uma chama dentre Sichon ; ela
devorou o ângulo de Moab e o cimo dos filhos de Schaon. Ai de ti, Moab! pereceu o povo
de Kemosh, pois levados foram teus filhos em cativeiro, e tuas filhas em cativeiro"
(Jeremias 11, 45, 46). Além disso, se faz menção de um Livro Profético da Palavra Antiga, chamado Livro de Jaschar ou Livro do Justo, por David e por Josué; por David:
"David
pronunciou uma uma lamentação sobre Schaul e uma lamentação sobre Jonathan e a
inscreveu
para s filhos de Jehudah a arca; eis (está) escrita no Livro de Jaschar (II Samuel 1, 17, 18).
E por
Josué: "Josué em Gibeon repousa e (tu) Lua no vale de Ajalon; isto não está escrito no
Livro de
Jaschar?" (X, 12, 13).
&266 - Pelo que acaba de ser dito, pode-se ver que houve uma Palavra Antiga uma
lamentação sobre o Globo, particularmente na Ásia, antes da Palavra Israelita' Que esta
Palavra seja conservada no Céu entre os Anjos que viveram naqueles séculos e que da
esteja mesmo ainda hoje entre as nações na Grande Tartária, vê. se no Terceiro Memorável,
inserido em seguida neste Trátado uma lamentação sobre a Escritura Santa.
XIII - Pela Palavra a luz é mesmo comunicada aos que estão fora da Igreja e que não têm a
Palavra.
&267 - Não há conjunção possível com o Céu se não houver em alguma parte, sobre a
Terra, uma Igreja que esteja de posse da Palavra e que por Ela conheça o Senhor; pois o
Senhor é o Deus do Céu e da Terra e sem o Senhor não há salvação; que pela Palavra haja
conjunção com o Senhor e consociação com os Anjos, vê-se acima, ns. 234 a 240. E'
bastante que haja uma. Igreja na posse da Palavra, quando mesmo essa Igreja seja composta
de um pequeno número de homens; por ela o Senhor está. sempre presente sobre todo o
Globo, pois por ela o Céu é conjunto com o Gênero, Humano.
&268 - Vai ser dito como pela Palavra há conjunção do Senhor e do Céu em tôdas as terras.
0 Céu Angélico, em presença do Senhor, é como um único Homem, semelhantemente a
Igreja nas terras; que o Céu e a Igreja apareçam mesmo efetivamente como um Homem, vése no Tratado do Céu e do Inferno, ns. 59 a 87. Neste Homem, a Igreja onde a Palavra é
lida e onde por ela o Senhor conhecido, o Reino Celeste do Senhor é como o Coração e
Espiritual como o Pulmão; do mesmo modo que no Corpo Humano tôdas as outras coisas,
Membros, Vísceras e órgãos
subsistem e vivem por estas duas Fontes da vida, do mesmo modo m os habitantes do
Globo que tem uma Religião, que um único Deus e vivem bem; e que por isso estão neste
Homem, representam os Membros e as Vísceras fora do tórax, onde estão o Coração e o
Pulmão, subsistem e vivem pela conjução do Senhor e do Céu pela Palavra com a Igreja;
pois a Palavra reja Cristã transmite às outras nações a vida procedente d do Senhor pelo
Céu, como o Coração e o Pulmão transmitem a ns Membros e às Vísceras de todo o Corpo;
a comunicação é or isso semelhante; é mesmo por isso que os Cristãos, ent; quais a Palavra
é lida, constituem o Peito dêste Homem e r Isso estão no centro de tudo; em torno deles
estão og- Católico-Romanos; em torno destes, os Maometanos que reconhecem o Senhor
como um Grandíssimo Profeta e como Filho, de Deus; depois deles vêm os Africanos; e a
última circunferência é formada pelos Povos e as Nações da Ásia e das Índias.
&269 - Que seja as-sim em todo o Céu, pode-se concluir de uma disposição semelhante em
cada sociedade do Céu, pois cada sociedade é o Céu em uma forma menor, a qual também
é COMO um Homem; que seja assim vê-se no Tratado do Céu e do Inferno, ns. 41 a 87.
Em cada Sociedade do Céu, os que estão nomeio representam semelhantemente o Coração
e o Pulmão e nêles há a maior Luz; a Luz mesma é a Percepção do vero, espalha-se desse
meio para as periferias de todo lado, assim para todos que estão na Sociedade e faz sua vida
espiritual; foi-me mosdos que estão na Sociedade e faz sua trado que quando os que estão
no meio e constituem a província do Coração e do Pulmão, nos quais havia a maior Luz,
eram tirados daí os que estavam em torno se encontravam na sombra do entendimento e
então em uma fraca percepção do vero, que se lamentavam disso; mas desde que os do
centro voltavam, ,os que ficavam em torno viam a luz e tinham a percepção do vero como
antes. Pode-se fazer uma comparação -com o calor e a luz do Sol do Mundo que dá a
vegetação às árvores e aos arbustos, mesmo às que estão sobre os lados e sob uma nuvem,
desde que o Sol esteja acima do horizonte. Acontece o mesmo com a Luz e o Calor do Céu
procedendo do Senhor como Sol; esta Luz em sua essência é o Divino Vero, donde os
Anjos e os homens tiram toda a inteligência e toda sabedoria; por, Isso se diz a xespeito da
Palavra "que ela estava com Deus e era Deus; que ilumina todo homem vindo ao Mundo; e
que esta Luzbrilha nas trevas" (João 1, 1, 5, 9); aí pela Palavra é enten ido o Senhor quanto
ao Divino Vero.
&270 - Por isso pode-se ver que a Palavra está entre os Protestantes e os Reformados,
ilustra
todas ações e todos os Povos pela comunicação espiritual; e que, além disso , o Senhor
provê
para que haja sempre na Terra uma Igreja onde a Palavra seja lida e onde por ela o Senhor
conhecido; e é por isso que quando a Palavra tinha sido quase rejeitado CatólicoRomanos, a
Reforma foi feita pela Divina Providência do Senhor; e por isso, a Palavra foi tirada como
de um
es derijo e posta em uso. Quando também a Palavra tinha sido inteiramente falsificada e
adulterada na Nação Judaica e torn quase nula, aprouve então ao Senhor descer do Céu,
tornarse como a Palavra, cumpri-Ia e dar de novo a luz aos habitantes Terra segundo estas
palavras do
Senhor: "0 Povo que estava sentado nas trevas viu uma Grande Luz; e para aquêles que
estavam
assentados em uma região e em uma sombra de morte, a Luz se elevou sobre êles" (Isaías
IX, 1;
Mateus IV, 16).
&271 - Como foi predito que no fim desta Igreja se levantariam trevas por causa do não
conhecimento de que o Senhor é o Deus Deus do Céu e da Terra, e por causa da Fé
separada da Caridade, em conseqüência, para que o entendimento real da Palavra e assim a
Igreja, não perecessem, aprouve ao Senhor revelar agora o Sentido Espiritual da Palavra e
mostrar claramente que a Palavra neste Sentido e por este Sentido, no Sentido Natural,
contém coisas inumeráveis, por meio das quais a luz quase extinta do vero proveniente da
Palavra será restabelecida. Que a Luz do vero, no fim desta Igreja, será quase extinta, isto
está predito em um grande número de passagens do Apocalipse e é entendido também pelas
palavras do Senhor: "Logo depois da aflição dêstes dias, o Sol será a Lua não dará mais o
seu resplendor, as Estrelas talrão do Céu e
as Potências dos Céus serão abaladas; e então DA Tribos da terra verão o Filho do homem
vir
nas nuvens do Céu com glória e força" (Mateus XXIV,29, 30); aí, pelo Sol é entendido o
Senhor
quanto quanto ao amor; a Lua, o Senhor quanto à fé; pelas Estrelas, o Senhor quanto aos
conhecimentos do vero e do bem; pelo Filho do homem, o Senhor quanto à Palavra; pela
Glória, o
Sentido espiritual da Palavra e a sua transparência pelo Sentido da letra; e pela força" sua
potência.
&272 - Foi-me dado ver por numerosas experiências, que pela Palavra o homem tem
comunicação com o Céu. Quando eu lia atentam te Palavra desde o Primeiro Capítulo de
Isaías até ao último
de Malaquias e os Salmos de de David e que eu tinha o meu pensamento em seu Sentido
espiritual, me foi dado perceber claramente que cada Versículo comunicava com alguma
sociedade do Cée e assim toda a Palavra comunicava com todo o Céu; por isso, tornou-se
evidente para mim que, como o Senhor é a Palavra, o Céu também é a Palavra, pois que o
Céu é Céu pelo Senhor e que ue o Senhor pela Palavra é o tudo em todas as coisas do Céu.
XIV - Se não houvesse uma Palavra, ninguém saberia que há um Deus, um Céu e um
Inferno,
uma vida depois da morte, e ninguém com mais forte razão conheceria o Senhor.
&273 - Como há pessoas que decidem e confirmaram em si, que o homem podia, sem a
Palavra, conhecer a existência de Deus e também a do Céu e do Inferno e tôdas as outras
coisas
que a Palavra ensina, não se pode, portanto, servir-se da P alavra para discutir com êles,
mas é
preciso empregar-se a luz natural da razão; pois êles crêem não na Palavra, mas em si
mesmos.
Faze pesquisas pela luz da razão e acharás que há no homem duas Faculdades da vida, que
são chamadas Entendimento e Vontade; e que o Entendimento que foi submetido à Vontade
e
não a Vontade ao Entendimento, pois o Entendimento ensina e mostra unicamente o que
deve
ser feito pela Vontade; daí vem que há muitos que são de um gênio penetrante e
compreendem
melhor do que os outros as coisas morais da vida e que, entretanto, não conformam com
elas a
sua vida; seria de outro modo, se eles quisessem estas coisas. Faze Faze ainda pesquisas e
acharás que a vontade do homem é o seu próprio e que este próprio desde o nascimento é o
mal; e que, por isso, o falso está no Entendimento. Quando tiveres feito estas descobertas,
verás que o homem não quer compreender outra cousa que não seja o que procede de sua
vontade; e que, a menos que tenha alguma outra fonte de conhecimento, o homem pela sua
vontade não pode compreender outra cousa que não seja o que concerne a êle mesmo e ao
mundo; tudo o que está acima está na obscuridade- por exem plo, quando vê o Sol, a Lua e
as Estrêlas, se, por ventura, refletisse sÔbre sua origem, poderia deixar de pensar que estes
astros existem por êles mesmos? Teria êle pensamentos mais elevalos que os de muitos
Sábios do Mundo, que, ainda que saibam pela Palavra que a Criação de tôdas as cousas é
devida a Deus, atribuem-na à Natureza? Que teriam, portanto, pensado estes sábios, se
nada tivessem sabido da Palavra Crês tu que os Sábios Antigos, como Aristóteles, Cícero,
Sêneca e, tros, que escreveram sobre Deus e sobre a Imortalidade da Alma, tenham tirado
de seu próprio entendimento as suas primeiras Idéias sobre estes assuntos? Não, mas as
tiraram de outros, quais as tinham recebido por tradição daqueles que primitivamente
tinham sabido isso pela Antiga Palavra de que se falou acima. Aqueles que escrevem sobre
a Teologia natural am deles mesmos nada de semelhante, mas confirmam ú ente pelos
raciocínios, o que sabem pela Igreja em que há alavra; e entre eles pode haver os que
confirmam, mas não crêem.
&274 - Foi-me dado ver Povos nascidos nas. e racionais -quanto às cousas civis, os quais
não tinham conhecimento algum sÔbre Deus; apareciam no Mundo espiritual como
Esfinges, mas como nasceram homens e, por conseguinte, com a faculdade de receber a
vida espiritual, foram instruídos pelos Anjos e vivificados pelos conhecimentos que
adquiriram sobre o Senhor-como Homem. 0 que é o homem por si mesmo, vê-se com
evidência por aquêles que estão no Inferno, entre os quais se encontram Umbém alguns
Prelados e alguns Eruditos, que não querem mesmo ouvir falar de Deus e por esta razão não
podem pronunciar o nome Deus; vi estes e conversei com êles; conversei também com
aquêles que se entregaram ao ardor da cólera e do arrebatamento quando ouvem alguém
falar do Senhor; considera pois qual seria o homem que jamais tivesse ouvido falar de
Deus, quando alguns dos que falaram de Deus, escreveram a respeito de Deus, e pregaram
sobre Deus, são tais. Se são assim, é por causa de sua vontade que é má; e esta, como foi
dito precedentemente, conduz o Entendimento e lhe tira o vero que recebe da Palavra. Se o
homem tivesse podido saber or si mesmo que há um Deus e uma vida depois da morte, por
que ignoraria que o homem é homem depois da morte? porque crê que sua alma ou seu
espírito é como o vento ou o éter e que esta alma ou êste espírito não vê pelos olhos, não
ouve pelos ouvidos e não fala pela boca antes de ter sido conjunto e unido com seu cadáver
e com seu esqueleto? Imagina, portanto, uma Doutrina tirada só da Luz racional, não
consistiria ela em o homem prestar um culto a si mesmo como aconteceu nos tempos
passados e como acontece também hoje àqueles que sabem pela Palavra que só Deus deve
ser adorado! Nenhum outro culto pode provir do próprio do homem, nem mesmo o culto do
Sol e da Lua.
&275 - Se, desde os tempos mais antigos, houve uma Religião e se os Habitantes do Globo
tiveram, por toda parte, conhecimentos sobre Deus e algumas noções da vida depois da
morte, foi não por eles mesmos mesmos ou por sua própria inteligência, mas pela Antiga
Palavra de que se falou acima, ns. 264 a 266, e em seguida pela Palavra Israelita; é destas
duas Palavras que as noções religiosas se espalharam nas Índias, nas Ilhas, no Egito e na
Etiópia, nos Reinos da África e pelas costas marítimas da Ásia, na Grécia a e daí, na Itália;
mas como a Palavra não podia ser escrita senão por meio de Representativos, que são
coisas deste Mundo correspondem às cousas celestes, resultou daí que as noções religiosas
das Nações foram mudadas em coisas idolátricas; e na Grécia, em coisas fabulosas; e os
Atributos Divinos e Propriedades Divinas em outros tantos Deuses governados por uma
Deidade Suprema, a que chamaram Júpiter (Joves), palavra derivada, sem dúvida, de
Jehovah. Que as Nações tenham tido conhecimento do Paraíso, do Dilúvio, do Fogo
sagrado,` das quatro Idades, a começar pela Idade do ouro, até à última, a idade do ferro,
como em Daniel, Capitulo 11, 31 a 35, isso é notório.
&276 - Aquêles que acreditam poder, pela própria inteligência, adquirir conhecimentos
sÔbre Deus, sÔbre o Céu, o Inferno e sóbre os Espirituais que pertencem à Igreja, não
sabem que o homem Natural, em si mesmo, é contra o homem Espiritual e que, em
conseqüência, quer extirpar os espirituais que entram, ou envolvê-los com ilusões, as quais
são como vermes que devoram as raizes dos legumes e das colheitas. Pode-se comparar
esses homens aos que sonham que estão montados sÔbre Aguias e que são transportados ao
alto no ar; ou sobre Pégasos e que voam sobre a colina do Parnaso para o Helicon; e são de
fato como os Lucíferos no Inferno, os quais aí se chamam filhos da aurora (Isaías XIV,
12). São também como os que, -no vale da terra. de Schinear, empreenderam elevar uma
torre, cujo cimo iria até ao Céu (Gênesis 11, 2, 4); e põem sua confiança em si mesmos
como Golias, não prevendo que podiam ser derrubados como éle por uma pedra de funda
lançada sobre a fronte. Direi que sorte os aguarda depois da morte: A princípio se tornam
como ébrios, em seguida como loucos; por fim, caem na estupidez e ficam sentados em
lugares obscuros: guardai-vos portanto de semelhante delírio.
&277 Ao que precede ajuntarei os Memoráveis seguintes: Primeiro Memorável. Um dia, eu
percorria em espírito diferentes lugares do Mundo espirit com o fito de observar
Representações de cousas celestes que demonstram lá em muitos lugares; e em uma certa
Casa onde havia Anjos, vi grandes Bolsas, nas quais tinha sido encerrada prata em grande
quantidade; e como estavam abertas, me parecia que cada um poderia se apoderar da prata
que aí estava depositada e fazer uma pilhagem; mas, perto destas Bolsas, estavam sentados
dois jovens guardas; o lugar onde tinham sido colocadas se assemelhava a a uma creche
em um estábulo; em um Quarto adjacente vi Virgens modestas com uma Esposa casta;
perto deste Quarto estavam dois Meninos, e me foi dito que com êles não se brincar de uma
maneira infantil, mas agir com sabedoria. seguida apareceu uma Mulher debochada, depois
um Cavalo estendido, morto. Depois que vi estas coisas, fui instruido que, era representado
o Sentido natural da Palavra, no qual está o Sentido espiritual; estas grandes Bolsas, cheias
de prata significavam os
conhecimentos dos veros em grande abundância; que estas Bolsas tinham sido abertas e
guardadas por dois jovens, isso significava que cada um podia tirar dela os conhecimentos
do vero, mas que medidas tinham sido tomadas a fim de que ninguém violasse o Sentido
espiritual, no qual estão as verdades puras; a creche em um estábulo, significava o alimento
espiritual para o entendimento; a creche tem esta significação porque o cavalo que ai come
significa o entendimento; as Virgens modestas que foram vistas em um quarto adjacente,
significavam as afeições do vero e a Esposa casta a conjunção do bem e do vero; os
Meninos significavam a inocência da sabedoria, pois os Anjos do Céu supremo, que são os
mais sábios, aparecem de longe pela inocência como crianças; a Mulher debochada com o
Cavalo morto significava a falsificação do vero por muitos; falsificação pela qual perece
todo entendimento do vero; a mulher debochada significa ela tinha estado quando viviam
no Mundo. Estes Antigos, entre os quais esta Palavra está ainda em uso no Céu, tinham em
sua maior parte habitado a terra de Canaan e as regiões circunvizinhas, tais como a Síria, a
Mesopotâmia, a Arábia, a Caldéa, a Assíria, o Egito, Sidon, Tiro, Ninive, Reinos cujos
habitantes tinham estado no Culto representativo e, por conseguinte, na Ciência das
Correspondências; a sabedoria desse tempo vinha dessa Ciência e por ela tinham uma
percepção interior e uma comunicação com os Céus; os que conheciam as correspondências
desta Palavra eram chamados Sábios e Inteligentes e, mais tarde, Adivinhos e Magos. Mas
como esta Palavra estava cheia destas Correspondências que significavam, de uma maneira
afastada, os Celestes e os Espirituais e que, em razão disso, ela tinha começado a ser
falsificada por muitos, a Divina Providência do Senhor a fez desaparecer com a sucessão do
tempo; e uma outra Palavra escrita por Correspondências à menos afastada, foi dada e isso
pelos Profetas entre os filhos de Israel. Nesta Palavra foram conservados vários Nomes de
lugares, que estava não somente na terra de Canaan, mas também em torno na Asia, os
quais significavam todos, coisas e estados da Igreja; mas significações vinham desta Antiga
Palavra. Por isso, Abrão recebeu ordem de ir para esta terra e sua posteridade n ascida à
de Jacob aí foi introduzida. Sobre esta Palavra antiga, que estava na tes da Palavra
Israelita, alguma cousa de novo que me é é permitido relatar e que ainda é conservada
entre os abitam a Grande Tartária; conversei com Espíritos e Anjos que no Mundo
espiritual eram dessa região; eles me disseram que possuem a Palavra desde os tempos
antigos; que fazem seu culto segundo esta Palavra Divina e que ela consiste em puras
Correspondências; disseram-me que nesta Palavra há também o Livro de Jaschar, de que se
fala em Josué X, 12, 13; e no Livro II de Samuel 1, 17, 18; também que há entre êles
Livros chamados Guerras de Jehovah e Enunciados, que são citados por Moisés, Números
21, 14, 15, 27 a 30; e quando li diante deles as palavras que Moisés tirou dêsses livros, êles
procuraram se elas aí se encontravam e as acharam; por isso ficou evidente para mim que a
Palavra Antiga está ainda entre êles. Em minha conversa com êles, disseram-me que
adoram Jehovah, alguns como Deus invisível, outros como Deus visível. Além disso, me
contaram que não toleravam que os Estrangeiros entrassem no seu meio, exceto os
Chineses, com quem cultivavam a paz porque o Imperador da China é da Tartária;
dísseram-me também que sua população é tão numerosa que não acreditam que haja no
Mundo inteiro uma Região mais populosa; isso é crível também por causa da muralha de
um tão grande número de milhas, que os Chineses tinham construído para sua defesa contra
as invasões que faziam outrora os Tártaros. Além disso, soube pelos Anjos, que os
Primeiros Capítulos do Genesis, nos quais se trata da Criação de Adão e Eva, do Jardim do
Eden, de seus Filhos e de seus descendentes até ao Dilúvio e mesmo de Noê e de seus
Filhos, estão também nessa Palavra, e que assim êles foram extraídos dela por Moisés. Os
Anjos e os Espíritos, que provêm da Grande Tartária, aparecem na Plaga Meridional do
lado do Oriente e foram separados dos outros, pois habitam em uma Extensão mais
elevada; que não admitem no meio deles pessoa alguma do Mundo Cristão; e que se alguns
sobem lá, êles os vigiam a fim de que não saiam. A causa desta separação provém do fato
deles possuírem uma outra Palavra.
&280 - Quarto Memorável: Um dia vi, de longe, Passeios formados de aléas de árvores e
aí, Jovens reunidos em grupos e cada um con conversava sobre coisas concernentes à
sabedoria; era no Mundo espiritual; aproximei-me e quando cheguei perto, vi um que os o
os veneravam como seu Primaz, em razão de ter ele mais sabedoria que todos os outros;
quando êste me viu, disseme: Estou muito muito admirado; desde que te vi aproximando,
ora caías sob minha vista, ora me escapavas, ou, de repente, não te via mais; certamente não
estás no estado de vida dos nossos; a isso respondi sorrindo: Não sou nem um bufão, nem
um vertumno, mas estou alternativamente, ora na vossa luz, ora na vossa sombra, por
conseqüência, estrangeiro aqui e também indígena; então, este sábio me encarou e me
disse: As tuas palavras são estranhas e surpreendentes; diz-me quem és; e eu disse: Estou
no Mundo onde vós estivestes e de onde saístes, que é chamado Mundo Natural, eu estou
também no Mundo onde estais, que é chamado Mundo Espiritual; daí vem que estou no
estado Natural e, ao mesmo tempo, no estado Espiritual; no estado Natural com os homens
da terra; e no estado Espiritual, convosco; e quando estou no estado natural, não sou visível
para vós; mas quando estou no estado espiritual, torno-me visível; foi-me dado pelo Senhor
ser assim; quanto a ti, Homem ilustrado, sabes que o homem do Mundo natural não vê o
homem do Mundo espiritual e vice-versa; é por isso que, quando eu mergulhava meu
Espírito no Corpo, não era visível por ti, mas quando o retirava do corpo, tornava-me
visível; e isso vem da diferença entre o Espiritual e o Natural. Quando ouviu falar da
diferença entre o Espiritual e o Natural, êle me disse: Qual é esta diferença? Não é como
entre o que é mais puro e o que é menos puro, assim, o que é o Espiritual senão um Natural
mais puro? E eu respondi: Tal não é a diferença; jamais o Natural pode por sutilizacao se
aproximar do Espiritual a ponto de se tornar espiritual, pois
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preender que o pensamento Espiritual ultrapassa o pensamento natural, a a ponto de ser
relativamente inefável, eu lhes disse: Fazei uma experiência; entrai em vossa Sociedade
espiritual, pensai urna coisa qualquer, retende-la, voltai e a exprimi diante de mim; e eles
entraram, pensaram, voltaram; e quando quiseram exprimir a cousa pensada, não puderam,
pois não encontraram Idéia alguma do pensamento natural adequada a uma, idéia do
pensamento espiritual, assim nenhuma palavra para exprimi-la, pás as' idéias do
pensamento tornam-se palavras da língua; em seguida, entraram de novo, voltaram e se
confirmaram. que as idéias espirituais eram sobrenaturais, inexprimíveis, Inefáveis
incompreensíveis para o homem natural; e porque, são tão supereminentes, diziam que as
idéias e os pensamentos espirituais, relativamente aos naturais, eram idéias de idéias e
pensamentos de pensamento isso mesmo, exprimiam as qualidades das qualidades e as
afeições das afeições; que, por Conseqüência, os Pensamentos espirituais eram os começos
e as origens dos pensamentos naturais; por isso, tornou-se ainda evidente que a Sabedoria
espiritual era a Sabedoria da sabedoria, por conseqüência, inexprimível para qualquer Sábio
do Mundo Natural. Então foi dito do Céu superior, que há ainda uma Sabedoria interior ou
superior, que é chamada Celeste, cuja relação, com a Sabedoria espiritual, é semelhante à
relação desta com a Sabedoria natural; e que estas sabedorias, em ordem segundo os Céus,
influem da Divina Sabedoria do Senhor, que é Infinita. Em seguida, o Sábio (Vir) que
falava comigo me disse: Vejo isso, porque percebi que uma única idéia natural é o
continente de um grande número de idéias espirituais; e também, que uma única
idéia espiritual. é o continente de um grande número de idéias celestes; daí resulta também
esta conseqüência, que o dividido se torna não cada vez mais simples, mas cada vez mais
multiplicado porque se aproxima cada vez mais do Infinito, no qual todas as cousas estão
infinitamente. Depois disso, disse aos assistes: Por estes três ensinamentos da experiência
vedes qual é a diferença entre o Espiritual e o Natural e também a razão peIa qual o homem
Natural não é visível para o homem Espiritual, nem o homem Espiritual para o homem
Natural, embora estejam um e outro em perfeita forma humana; e por causa desta forma,
parece que um devia ser visível para o outro; mas são os interiores, pertencentes à Mente,
que fazem esta forma e a Mente dos Espíritos e dos Anjos foi formada de coisas
espirituais; e a dos homens, enquanto vivem no Mundo, é formada naturais. Em seguida,
uma voz vinda do Céu superior foi ouvida, dizendo a um dos assistentes: Sobe aqui; e ele
subiu, voltou e disse que os Anjos não conheciam antes as diferenças entre o Espiritual e o
Natural porque antes não tinha havido meio algum de confrontação entre um homem que
estivesse ao mesmo tempo em um e outro Mundo; e que estas diferenças não podem ser
conhecidas sem confrontação e sem relação. Antes de nos separarmos, falamos de novo
sobre este assunto e eu disse: Estas diferenças não vêm senão de que vós, no Mundo
espiritual, sois substanciais e não naturais e que as coisas substanciais são os começos das
cousas naturais; o que é a matéria senão uma aglomeração de substâncias? Vós, portanto,
estais nos princípios e assim nos singulares; mas nós estamos nos principiados e nos
compostos; vós estais nos particulares; mas nós estamos nos comuns; e do mesmo modo
que os comuns não podem entrar nos particulares, também os naturais, que são materiais,
não podem entrar nos espirituais, que são substanciais; do mesmo modo que um cabo de
navio não pode absolutamente entrar ou passar pelo buraco de uma agulha de coser, ou do
mesmo modo que um nervo não pode ser introduzido em uma das fibras de que é
composto. Está aí portanto a razão pela qual o o homem Natural não pode pensar as coisas
que pensa o homem Espiritual, nem por conseqüência as pronunciar; por isso Paulo
chamava inefáveis as que ouviu do Terceiro Céu. Acrescentai a isso, que pensar
espiritualmente, é pensar sem o tempo à o espaço e que, pensar Naturalmente é pensar com
o tempo e o espaço; pois a toda idéia do pensamento natural se liga a coisa do tempo e do
espaço, mas não a qualquer idéia es espiritual; isso vem de que o Mundo espiritual não está,
como o o natural, no espaço e no tempo, mas está na aparência do espaço e do tempo; nisto
diferem também os pensamentos e as percepções; é por isso que vós podeis pensar na
Essência e na Onipresença ,de Deus de toda a eternidade, isto é, em Deus antes da Criação
do Mundo, porque pensais na Essência de Deus sem o tempo, e em Sua Onipresença sem o
espaço; e assim apreendeis coisas que estão acima das idéias naturais do homem; e então
contei que uma vez eu tinha pensado na Essência e na Onipresença de Deus de toda a
eternidade, isto é, em Deus antes da Criação do Mundo e que,
como eu não tinha ainda podido afastar das idéias do meu pensamento os espaços e os
tempos, fiquei inquieto porque a idéia da Natureza entrava em lugar de Deus; mas me foi
dito: Afasta as idéias do espaço e do tempo e tu verás; me foi dado afastá-las e eu vi; e
desde esse tempo pude pensar em Deus de toda a eternidade e de modo algum na Natureza
de toda a eternidade porque Deus está em todo tempo sem tempo e em todo espaço sem
espaço, enquanto que a Natureza está em todo tempo no tempo e em todo espaço no
espaço; e como a Natureza com seu tempo e seu espaço não pode deixar de ter começo
enquanto que não acontece o mesmo com Deus que é sem tempo e sem espaço; é por isso
que a Natureza vem de Deus, não de toda a eternidade, mas no tempo com seu tempo e seu
espaço.
&281 - Quinto Memorável. Como me foi dado pelo Senhor estar ao mesmo tempo no
Mundo espiritual e no Mundo natural e, por conseguinte falar com os anjos como com os
homens e conhecer, por isto, os Estados daqueles que depois da morte para esse Mundo até
ao presente desconhecido, pois falei com todos os meus conhecidos e todos os meus amigos
e também com Reis, Príncipes e Eruditos, que tinham terminado suas carreiras; e isso
continuamente desde vinte e sete anos; assim, posso por viva experiência, descrever os
Estados dos homens depois da morte, quais são os dos homens que homens que viveram
bem e os dos homens que viveram mal; mas aqui darei unicamente alguns detalhes sobre o
Estado daqueles que se confirmaram pela Palavra nos falsos da Doutrina, e são
especialmente aqueles que fizeram isso para sustentar a justificação pela fé só; eis os
estados por que passam sucessivamente. I. Quando morrera e revivem quanto ao espírito, o
que acontece comumente no terceiro dia depois que seu coração cessou de bater, eles se
vêem em um Corpo semelhante ao ue tinham no Mundo, a ponto de não saber outra coisa,
senão que vivem ainda no Mundo precedente, entretanto, não tem Corpo material, mas em
um Corpo substancial que, diante de seus sentidos, aparece material, embora não o seja. II.
Depois e alguns dias vêem que estão em um Mundo onde há diferentes Sociedades
estabelecidas, Mundo que é chamado Mundo dos Espíritos e que fica no meio, entre o Céu
e o Inferno; aí todas as Sociedades, que são inúmeras, foram postas em ordem uma maneira
admirável segundo as afeições naturais boas e mas; as Sociedades postas em ordem
segundo as afeições naturais boas comunicam com o Céu; e as Sociedades postas em ordem
segundo as afeições más, comunicam com o Inferno. III. 0 Espírito noviço ou o homem
Espiritual, é conduzido e transferido para diversas Sociedades, tanto boas como más e se
examina se ele é afetado pelos bens e (os veros, e como; ou se é afetado e pelos males e os
falsos, e como. IV. Se é afetado pelos bens e os veros, é afastado das sociedades más,
introduzido nas Sociedades boas e também em diversas Sociedades, até que chegue à
Sociedade correspondente à sua afeição natural; e aí goza do bem correspondente a esta
afeição, isso até que se desfaça da afeição natural e se revista com a afeição espiritual e
então é
elevado ao Céu; mas isso acontece àqueles que no Mundo viveram a vida da caridade e por
conseqüência também a vida da fé, que consiste em crer no Senhor e em fugir dos males
como pecados. V. Aqueles que se confirmaram nos falsos pelos racionais, sobretudo pela
Palavra e que, por conseqüência, não viveram outra vida senão uma vida puramente natural,
males acompanham os falsos e aos falsos se ligam os males; estes po porque são afetados,
não pelos bens e os veros, mas pelos males e os falsos, são afastados das Sociedades boas,
introduzidos, nas Sociedades más e também em diversas Sociedades até que cheguem à
Sociedade correspondente às cobiças de seu amor. VI. Mas como limo Mundo tinham
simulado boas afeições nos externos, ainda, que em seus internos não houvesse senão
afeições más ou cobiças, são por vezes mantidos nos externos; e aqueles que no Mundo,
tinham sido chefes de Corporações, são postos aqui e ali no Mundo dos Espíritos à testa de
Sociedade, seja de uma Sociedade inteira, seja de uma parte de sociedade, segundo a
importância das funções que tinham desempenhado antes; mas como não amam o vero, não
amam o justo e não podem ser ilustrados os até saberem o que é o vero e o justo, alguns
dias depois destituídos; vi espíritos destes transferidos de uma Sociedade para a outra e em
todas elas colocados como chefes, mas em todas elas destituídos pouco tempo depois. VII.
Após freqüentes destituições, alguns por desgosto não querem mais disputar funções,
outros por medo de perder sua reputação não o ousam mais; por isso se retiram, ficam
tristes; e então são levados para um solitário, onde há cabanas em que entram, e aí lhes
dada alguma obra para fazer; e de acordo com o que fazem, é dada alguma alimentos; e se
não a fazem, sentem fome e nada recebem; a os força portanto a trabalhar. Lá, os alimentos
são semelhantes aos alimentos de nosso Mundo, mas são de origem espiritual e dados do
Céu pelo Senhor a todos segundo os usos que fazem; aos ociosos nada é dado, porque são
seres inúteis. VIII. Algum tempo depois o trabalho se torna fastidioso para eles; e então
saem das cabanas; se são Sacerdotes, querem construir; e imediatamente aparecem diante
deles montes de pedras talhadas, de tijolos, de caibros, de pranchas, molhos de taquaras e
de junco, argila, cal e betume; à vista destes materiais, o furor de construir se apodera deles
e começam a construir uma casa, tomando, ora, uma pedra, ora, madeira, ora, uma taquara,
ora, argamassa e os põem uns sobre os outros em uma ordem regular; todavia, o que eles
elevaram no dia desmorona de noite; mas no dia seguinte, juntam os escombros, constroem
de novo e isso se renova até que se desgostem de construir; isto lhes acontece de acordo
com a correspondência porque eles amontoaram passagens da Palavra para confirmar falsos
da fé e seus falsos também não constroem a Igreja. IX. Em seguida, extenuados de tédio
vão embora e assentam-se solitários e ociosos; e como os ociosos, assim como se disse
acima, não recebem do Céu alimento algum, começam a ter fome e a não pensar em outra
cousa que não seja descobrir um meio obter alimento e matar sua fome; quando estão neste
estado, vêm a eles alguns espíritos, aos quais pedem esmolas e que lhes dizem: Por que
permaneceis assim ociosos, vinde conosco às nossas casas e vos daremos trabalho a fazer e
vos alimentaremos; e então, cheios de alegria, se levantam, vão com eles para suas casas e
aí é dada a cada um uma tarefa e alimento em razão da obra que fazem; mas como todos
aqueles que se confirmaram nos falsos da fé não podem fazer trabalho de um bom uso, mas
o fazem de um mau uso, sem boa-fé, fraudulentamente e com pezar, eles deixam seus
trabalhos e não gostam senão de conversar, falar, passear e dormir; e como então não
podem ser reconduzidos ao trabalho por seus patrões, são expulsos como inúteis. X.
Quando são expulsos, seus olhos se abrem e eles vêem um caminho que se dirige para uma
Caverna; quando chegam ai, a porto, se abro eles entram e se informam se há alimento; e
quando respondem que há, pedem que lhes permitam ficar aí, são introduzidos e a porta é
fechada atrás deles; então, o chefe desta Caverna vem e lhes diz: Não podeis mais sair;
vede: vossos Companheiros, todos trabalham e conforme trabalham, víveres lhes são dados
do Céu; eu vo-lo digo, a fim de que o saibais; e seus Companheiros também lhes dizem:
Nosso chefe sabe a que trabalho cada um é apropriado ele ordena, cada dia a cada um o que
deve fazer; se o trabalho é feito no dia, dado alimento, senão, não é dado alimento nem
roupas; e se e se alguém faz mal a um outro, é lançado em um canto da caverna sobre um
leito de poeira danada, onde é horrivelmente torturado até que o Chefe veja nele um sinal
de arrependimento; então, é retirado de lá e lhe é ordenado que faça seu trabalho; e lhe é
dito também ser permitido a cada um, depois do trabalho, passear, conversar e, em seguida,
dormir; e é conduzido ao fundo da carona onde estão Prostitutas, entre as quais, cada um
pode tomar uma para si e chamá-la sua mulher; mas é proibido, sob pena de castigo, se
entregar promiscuamente à escortação. 0 Inferno consiste em tais Cavernas, que são eternas
prisões. Foi-me permitido entrar em algumas, a fim de as conhecer; todos que nelas se
encontravam me pareceram vis e nenhum sabia o que tinha sido, nem que emprego houvera
tido
no Mundo; mas um Anjo que estava comigo, me disse: Este, era criado; aquele, soldado;
aquele, prefeito; aquele sacerdote; aquele nas dignidades; aquele na opulência; entretanto,
todos admitiam ter sido escravos e da mesma condição, porque eram semelhantes
interiormente, embora diferentes, exteriormente. E que, no Mundo espiritual, todos são
consociados pelos interiores. Quanto ao que concerne aos infernos em geral, consistem em
Cavernas e Prisões semelhantes, mas que diferem lá,onde estão os Satanases e onde estão
os Diabos; são chamados Satanases aqueles que estão nos falsos ou nos males; e Diabos,
aqueles que estão nos males ou nos falsos. Na luz do Céu, os Satanases aparecem lívidos
como cadáveres e alguns, pretos, como múmias; e os diabos, na luz do Céu, aparecem com
uma cor de fogo sombrio e alguns, negros como fuligem, mas todos monstruosos quanto à
face e ao corpo; todavia, em sua luz, que é semelhante a carvões em brasa, aparecem, não
como monstros, mas como homens; isso lhes foi concedido a fim de que pudessem ser
consociados.
&282 CAPITULO V - CATECISMO OU DECÁLOGO - Explicado quanto ao seu sentido
externo e a seu sentido interno.
282 - Não há, sobre todo o Globo, uma Nação que não saiba que é um cometer adultério,
roubar, dar falso testemunho; e que, se estes Males não fossem proibidos por Leis, nem
Reino, nem República, nem estabelecimento algum de sociedade, poderia subsistir. Quem,
portanto, pode presumir que a Nação Israelita tenha sido mais estúpida que todas as outras,
a ponto de ignorar que estas ações fossem males? Pode-se, por conseqüência, ficar
admirado de que estas Leis universalmente conhecidas sobre a terra, tenham sido
promulgadas no meio de tantos Milagres alto da montanha do Sinai, por Jehovah mesmo.
Mas escuta: Elas foram promulgadas no meio de tantos Milagres a fim de que se soubesse
que elas eram, não somente esse que elas eram, não somente Leis civis e morais, mas
também Leis Divinas; e que, transgredi-Ias, era não somente agir mal para com o próximo,
mas ainda pecar contra Deus; é por isto que estas Leis, pela promulgação por Jehovah do
alto da Montanha do Sinai, se tomaram também Leis de Religião; é evidente que se tudo é
ordenado por Jehovah, Ele o ordena para que seja da religião e, assim, para a salvação. Mas
antes de explicar estes Preceitos, é preciso falar de sua Santidade a fim de que se tome bem
claro que a Religião está neles.
O Decálogo era a própria Santidade na Igreja Israelita.
&283 - Como os Preceitos do decálogo eram as Primícias da Palavra e, por conseguinte, as
Primícias da Igreja que ia ser Instaurada em a Nação Israelita, e como eram em um curto
sumário o Complexo de todas as coisas da Religião, pelas quais há conjunção de Deus com
o homem e do homem com Deus, é por isso que eles são tão santos, que nada há de mais
santo. Que eles tenham sido o que há de mais santo, vê-se claramente pelos fatos seguintes:
Que Jehovah, o Senhor, desceu, Ele mesmo sobre a Montanha do Sinai no meio do fogo,
com Anjos, e de lá, os promulgou de viva voz e que a Montanha tinha sido cercada de
barreiras para que ninguém avançasse e morresse; que nem os sacerdotes, nem os Anciãos
se aproximaram, mas Moisés; que estes Preceitos foram gravados pelo dedo de Deus sobre
duas Tábuas de pedra; que a face de Moisés brilhava quando trazia para baixo estas Tábuas
na segunda vez; que, unas tarde, colocou-se as Tábuas na Arca, na parte mais interior do
Tabernáculo e sobre ela ia Propiciatório e sobre o Propiciatório, Querubins de ouro; que
esta parte mais interior do Tabernáculo onde estava a Arca, era chamada o Santo dos
Santos; e fora do Véu, dentro do qual estava esta Arca,
haviam sido colocados vários objetos, que representavam as cousas santas do Céu e da
Igreja, a saber: Mesa coberta de ouro onde estavam os Pães das faces, o altar de ouro dos
perfumes e o Candelabro de ouro com sete lâmpadas; depois as Cortinas de fino linho, de
púrpura e de escarlata, que estavam cai torno; a Santidade de todo este Tabernáculo vinha
unicamente da Lei que estava na Arca. Por causa da Santidade do Tabernáculo proveniente
da Lei na Arca, todo o Povo Israelita tinha recebido ordem de acampar em ordem em torno
dele segundo as Tribos, e de partir em ordem atrás dele; e então, uma nuvem repousava
sobre ele durante o dia e uma coluna de fogo a noite. Por causa da Santidade desta Lei e da
presença de Jehovah nela, Jehovah falava sobre o Propiciatório entre os Querubins, com
Moisés; e a Arca era chamada Jehovah lá. Não era permitido a Abrão entrar para dentro do
Véu então, então, com sacrifícios e perfume, sob pena de morrer Por causa da então,
presença de Jehovah nesta Lei e em torno; dela, Milagres foram por isso operados pela
Arca em que estava esta Lei; assim, as Águas do Jordão foram separadas; e enquanto a
Arca permaneceu no meio do rio, o povo o passou a pé enxuto; as muralhas de Jericó se
esboroaram enquanto a Arca fazia a volta em torno; delas; Dagon, o deus dos Filisteus, caiu
diante dela uma primeira vez sobre suas faces; e em seguida foi achado estendido à porta do
Templo com a cabeça e as duas mãos separadas do corpo; por causa da Arca muitos
milhares introduzida por David, em Sião com sacrifícios e cânticos de alegria; e em
seguida, por Salomão no Templo de Jerusalém, de que ela formava o santuário; sem falar
de muitos outros prodígios; por isto é bem evidente que o Decálogo era a Santidade mesma
na Igreja Iraelita.
&284 - Os fatos acima referidos concernentes à Promulgação, à Santidade e ao Poder desta
Lei, se encontram na Palavra e nos lugares, que vão ser indicados. Que Jehovah desceu
sobre a Montanha do Sinai no meio do fogo; e que então a Montanha foi coberta de fumaça
e tremia; que houve trovões e relâmpagos, uma nuvem espessa e uma voz de trombeta
(Êxodo 19, 16 a 18; Deut. 4, 11; 5, 19 a 23). Que o povo antes da descida de Jehovah, se
tinha preparado e santificado durante três dias (Êxodo 19, 10, 11, 15). Que a Montanha foi
cercada de barreiras, para que ninguém se aproximasse e não avançasse para a borda, com
medo de que morressem, até mesmo os Sacerdotes, excetuando Moisés (Êxodo 19, 12, 13,
20 a 23; 24, 1, 2). Que a Lei foi promulgada do alto da Montanha do Sinai (Êxodo 20, 2 a
14; Deut. 5 6 a 18). Que a Lei foi gravada sobre duas Tábuas de pedra e escrita pelo dedo
de Deus (Êxodo 31, 18; 32, 15, 16; Deut. 9, 10). Que a face de Moisés, quando ele levava
para baixo estas tábuas a segunda vez, brilhava de tal modo, que ele cobriu a face com um
véu quando falava com o povo (Êxodo 34, 29 a 35). Que as tábuas foram depositadas na
Arca (*rodo 25, 16; Deut. 10, 5; 1 Reis VIII, 9). Que se colocou o Propiciatório sobre a
Arca e Querubins de ouro sobre o Propiciatório (Êxodo 25, 17 a 21). Que a Arca, com o
Propiciatório e os Querubins, foi posta no Tabernáculo, e constituía o seu Primeiro e assim
o Íntimo; que a Mesa coberta de ouro onde estavam os Pães das faces, o Altar de ouro do
perfume e o Candelabro de ouro com as lâmpadas, faziam o Externo do Tabernáculo; e que
as dez Cortinas de fino linho, de púrpura e de escarlata, faziam o seu Extimo (Êxodo 25,
26, 17 a 28). Que o lugar onde estava a Arca era chamado o Santo dos Santos (Êxodo 26,
33). Que todo o Povo de Israel acampava em ordem segundo as Tribos em torno do
Tabernáculo e partia em ordem atrás dele (Num. 2.10). Que então sobre o Tabernáculo
havia uma nuvem durante o dia e uma coluna de fogo durante a noite (Êxodo 4, 38; Num.
9, 15, 16, até ao fim; 14, 14; Deut. 1, 33). Que Jehovah falava com Moisés, de cima da
Arca, entre os Querubins (Êxodo 25, 22; Num. 7, 89). Que a Arca, por causa da Lei, foi
chamada Jehovah-lá; pois Moisés dizia quando a Arca partia: Levanta-te, Jehovah, e
quando ela repousava: Volta, Jehovah (Num. 10, 35, 36; 11 Samuel VI, 2; Sl. 132, 7, 8).
Que não era permitido a Aharão, por causa da Santidade desta Lei, entrar para dentro do
Véu senão com sacrifícios e perfume (Levítico 16, 2 a 14 e segs.). Que, pela presença do
Poder do Senhor na Lei, que estava na Arca, as águas do Jordão foram separadas; e
enquanto a Arca permaneceu no meio do rio, o povo o passou a pé enxuto (José 111, 1 a
17; VI, 5 a 20). Que as muralhas de Jericó se esboroaram enquanto a Arca fazia a sua volta
(Josué VI, 1 a 20). Que Dagon, deus dos Filisteus, caiu por terra diante da Arca e foi depois
encontrado estendido na porta do templo, com a cabeça separada do corpo e as mãos
cortadas (I Samuel V). Que muitos milhares de Bethchemitas foram feridos por causa da
Arca (I Samuel V e VI). Que Uzah morreu por que tinha tocado a Arca (II Samuel VI, 7).
Que a Arca foi introduzida por David em Sião com sacrifícios e cânticos de alegria (II
Samuel VI, 1 a 16). 16). Que a Arca foi introduzida no Templo de Jerusalém pior Salomão,
do qual ela formava o Santuário (I Reis VI, 19 e segs.; VIII, 3 a 9) .
&285 - Como há por esta Lei conjunção do Senhor com o homem; e do homem, com o
Senhor, ela é chamada Aliança e Testemunho; Aliança, porque conjunta, e Testemunho
porque confirma as convenções da Aliança; pois, na Palavra, a aliança significa a
conjunção, o Testemunho significa a confirmado e a atestação das convenções da Aliança.
É por isso que havia duas Tábuas, uma para Deus e a outra para o homem; a conjunção é
feita pelo Senhor, mas só quando o homem faz o que está escrito em sua Tábua; pois
continuamente o Senhor está presente, e quer entrar, mas o homem, pela liberdade que lhe
do Senhor, deve abrir; com efeito, o Senhor diz: "Eis que estou à porta e bato; se alguém
ouve a minha voz e abre a eu entrarei e cearei com ele e ele comigo" (Apoc. 3, 20). Que as
Tábuas de pedra, sobre as quais a Lei estava gravada, eram chamadas Tábuas da Aliança; e
que a Arca, por causa dessas Tábuas, era chamada Arca da Aliança e a Lei sma a Aliança,
vê-se em Num. 10, 33; Deut. 4, 13, 23; 5, 2, 3; 9, 10; Josué III, 11; IReis VIII, 19, 21;
Apoc. 11, 19, e algures. Como a Aliança significa a conjunção, é por isso que se diz do
Senhor que "Ele será para Aliança do povo" (Isaías XLII, 6; XLIX, 8); e é chamado o Anjo
da Aliança (Malaquias III,1); e o Seu sangue é chamado o Sangue da Aliança (Mateus
XXVI, 28; Zacarias IX, 11; Êxodo 24, 4 a 19); é por isso também que a Palavra é chamada
a Antiga Aliança e Nova Aliança; com efeito, as Alianças se fazem em vista do amor, da
amizade, da, consorciação e, da conjunção.
&288 - Se havia tanta Santidade e tanto Poder nesta Lei, é. por que ela era o complexo de
todas as coisas da religião, pois tinha sido gravada sobre duas Tábuas, das quais uma
contém no complexo todas as coisas que se referem a Deus; e a outra, todas, as coisas que
se referem ao homem; é por esta razão que os Preceitos desta Lei são chamados as Dez
Palavras (Êxodo 34, 28; Deut. 4, 13,10, 4); foram chamados assim porque Dez significa
todas as cousas e as Palavras significam as Verdades; dê fato, havia mais de dez palavras.
Que Dez significa todas as cousas e que os Dízimos tenham sido instituídos por causa desta
significação, vê-se no Apocalipse Revelado, n. 101; que esta Lei seja o complexo de todas
as coisas da Religião, ver-se-á depois. 0 Decálogo no Sentido da letra contém os Preceitos
comuns da Doutrina e da Vida; e no Sentido Espiritual e no Sentido Celeste contém
universalmente todos os Preceitos.
&287 - Sabe-se que o Decálogo na Palavra é por excelência chamado a Lei porque contém
todas as coisas que são da Doutrina e da Vida, pois contém não somente tudo o que se
refere a Deus, mas ainda tudo que se refere ao homem, é por isto que esta Lei foi gravada
sobre duas Tábuas, das quais uma trata de Deus e a outra do homem. Sabe-se também que
todas as coisas da Doutrina e da Vida se referem ao amor a Deus e ao amor para com o
próximo; tudo o que concerne a estes dois amôias está contido no Decálogo; que toda
Palavra não ensina outra coisa, vê-se por esta expressão do Senhor: "Jesus disse: Amarás o
Senhor teu Deus de todo teu coração, de toda tua alma e de toda tua mente e a teu próximo
como a ti mesmo; destes dois mandamentos dependem a Lei e os Profetas" (Mateus XXII,
35-37). A Lei e os Profetas significam toda a Palavra. E além disso: "Um Doutor da Lei,
para tentar Jesus, lhe disse: Mestre, que farei para ter a vida eterna em herança? E Jesus lhe
disse: Na Lei o que está escrito? como a lês? e este respondeu: Amarás o Senhor teu Deus
de todo teu coração, de toda a tua alma, de toda força, de toda tua mente e a teu próximo
como a ti mesmo. E Jesus disse: Faz isso e viverás" (Lucas X, 25 a 28). Ora, pois que o
amor para com Deus e o Amor em relação ao próximo são todas as cousas da Palavra; e que
o Decálogo na Primeira Tábua contém, em sumário, todas as coisas do amor para com
Deus; e na Segunda Tábua, todas as do amor em relação ao próximo, segue-se que o
Decálogo contém todas as coisas que são da Doutrina e da Vida. Pela inspeção das duas
Tábuas, é evidente que elas foram conjuntas, de maneira que Deus pela Sua Tábua vê o
homem e, reciprocamente, o homem, pela sua, vê Deus; e assim há um aspecto recíproco,
que, da parte de Deus, acontece sempre que Ele vê o homem, opera as coisas que
concernem à sua salvação e que, se o homem recebe e faz o que está em sua Tábua, se
opera uma conjunção recíproca, e então ela tem lugar segundo as palavras do Senhor ao
Doutor da Lei: "Faz isso e viverás".
&288 - Na Palavra, a Lei é multas vezes citada; e vai ser dito o que é entendido por ela no
Sentido estrito, o que é entendido por ela em um Sentido mais largo e o que é entendido no
Sentido o mais largo. No Sentido estrito pela Lei é entendido o Decálogo; em um Sentido
mais largo são entendidos os Estatutos dados por Moisés aos filhos de Israel; e no Sentido o
mais largo é entendida toda a Palavra. Que pela Lei no Sentido estrito seja entendido o
Decálogo, isso é notório. Que pela Lei em um Sentido mais largo sejam entendidos os
Estatutos dados por Moiséis aos filhos de Israel, vê-se por cada um dos estatutos do
Pentateuco, onde são chamados Lei, por exemplo: "Eis a Lei do sacrifício" (Levítico 7, 1);
"Eis a Lei dos sacrifícios" (Levítico 7, 7, 11). 'Eis a Lei da Minchach" (Levítico 6, 7 e
segs.). "Eis a Lei para o Holocausto, para a Minchach, para os sacrifícios do pecado e do
delito, para as Consagrações" (Levit. 7, 37). "Eis a Lei da besta e do pássaro" (Levit. 9, 46 e
segs.). "Eis a Lei da que dá à luz um filho ou uma filha" (Levit. 12, 7). "Eis a Lei da lepra"
(Levit. 13, 59; 14, 2, 32, 54, 57). "Eis a Lei daquele que é atacado de fluxo" (Levit. 15, 32).
"Eis a Lei do ciúme" (Num. 5, 29, 30). "Eis a Lei do Nazireu" (Num. 6, 13, 21). "Eis a Lei
da Purificação" (Num. 19.0 14). "Eis a Lei sobre a vaca russa" (Num. 19, 2). "A Lei para o
Rei" (Deut. 17, 15 a 19). Bem mais, todo o Livro de Moisés é chamado a Lei (Deut. 31,
9,11,12, 26). Além disso, também no Novo Testamento, como Lucas 11, 22; XXIV, 44;
João 1, 46; VII, 22, 23; VIII, 5, e algures. Que estes estatutos tenham sido entendidos pelas
Obras da Lei, "Eis Paulo, quando disse que o homem é justificado pela fé sem as Obras da
Lei (Rom. 3, 28), isso é bem evidente pelo que vem depois;além disso, por suas palavras a
Pedro, ao qual censurava por judaizar, quando três vezes, em um único Versículo, disse que
"ninguém é justificado pelas Obras da Lei (Gal. 2, 14-16). Que pela Lei, no sentido o mais
largo, seja entendida toda a Palavra, isso é evidente por estas passagens: "Jesus disse: Não
está escrito na vossa Lei? Eu vos digo: Deuses vós sois" (João X, 34); isto está escrito no
Salmo 82, 6. "A multidão respondeu: Aprendemos pela Lei que o Cristo permanecerá
eternamente" (João XII, 34); isto está escrito no Salmo 89, 30, e 90, 4; e em Daniel VII, 14.
"A fim de que fosse cumprida a Palavra escrita em sua Lei: eles me odiaram sem causa"
(João XV, 25); isto está escrito no Salmo 35, 19. "Os Fariseus disseram: Creu nele
porventura algum dos principais ou dos fariseus? mas esta multidão que não sabe a Lei"
(João VII, 49). "É mais fácil que o Céu e a Terra passem, do que, da Lei, um só acento
caia" (Lucas XVI, 17); ai, pela Lei, é entendida toda a Escritura Santa e, além disso em
mil passagens em David.
&289 - Se o Decálogo, no Sentido espiritual e no Sentido celeste, contém universalmente
todos os Preceitos da Doutrina e da Vida, assim todas as cousas da Fé e da Caridade, é
porque a Palavra, no sentido da letra, em todas e em cada uma de suas partes ou no comum
e em toda parte, esconde dois Sentidos interiores; um, que é chamado espiritual, e outro,
que é chamado celeste; e nestes sentidos há a Divina Verdade em sua luz e a Divina
Bondade em seu calor; ora, como tal é a Palavra no comum e em toda parte, é necessário
que os dez Preceitos do Decálogo sejam explicados nestes três Sentidos, que são chamados
Natural, Espiritual e Celeste. Que tal seja a Palavra, pode-se ver pelo que foi demonstrado
no Capítulo, sobre a Escritura Santa ou a Palavra, acima, ns. 193 a 208.
&290 - Ninguém, a menos que saiba o que é a Palavra, pode conceber por alguma idéia que
em cada uma de suas partes há a Infinidade, isto é, que ela contenha coisas inumeráveis que
os Anjos, mesmos não podem esgotar; cada palavra aí pode ser comparada a uma semente
que, por meio do humus, pode se tornar uma grande árvore e produzir, em abundância,
sementes de onde provêm, de novo, árvores semelhantes que, em conjunto, fazem um
jardim e assim ao infinita; tal é a Palavra do Senhor em cada urna de suas partes, tal é
principalmente o Decálogo, pois porque ensina o amor para com Deus e o amor em relação
E próximo, é o breve complexo de toda a Palavra. Que tal seja a Palavra, a, é o que o
Senhor ensina também por esta comparação: semelhante é o Reino de Deus a um grão de
mostarda, que um homem tendo recebido semeou em seu campo; ela é a menor que todas
as sementes, mas quando cresce é maior tio que os legumes, torna-se uma árvore, de tal
modo, que as aves do céu fazem os ninhos em seus ramos (Mateus XIII, 31, 32; Marcos IV,
31, 32; Lucas XIII, 18, 19; cfr. Também com Ezequiel XVII, 2 a 8). Que haja uma tal
infinidade de sementes espirituais ou de verdades da Palavra, pode-se ver pela Sabedoria
Angélica que procede toda da Palavra; ela aumenta eternamente nos Anjos; e quanto mais
estes são sábios, vêem claramente que a Sabedoria é sem fim; e percebem que eles mesmos
estão apenas na entrada e que não podem, quanto à menor cousa, atingir a Sabedoria Divina
do Senhor, que chamam um Abismo. Ora, como a Palavra emana deste Abismo, pois que
ela vem do Senhor, é evidente que em todas as suas partes há uma espécie de Infinidade.
&291 PRIMEIRO PRECEITO - Não há outro Deus diante das minhas faces.
- São estas as palavras do Primeiro Preceito (Êxodo 20, 3; Deut. 5, 7), pelas quais no
sentido natural, que é o sentido da letra, é entendido, em primeiro lugar, que não se deve
adorar Ídolos, pois é acrescentado: "Não farás imagem talhada, nem alguma Semelhança do
que está nos Céus em cima, nem do que está na Terra em baixo, nem do que está nas Águas
em baixo da terra; não te prosternarás diante delas e, não as servirás porque Eu sou Jehovah
teu Deus, Deus zeloso" (Êxodo 20 3-6). Que por este Preceito seja entendido, em primeiro
lugar, que não se deve adorar Ídolos, é porque antes desse tempo, e depois até ao advento
do Senhor, houve em uma grande e parte da Ásia um Culto idolátrico; este culto provinha
de que e todas as Igrejas antes do Senhor eram representativas e típicas; e que os tipos e as
representações eram tais, que os Divinos eram apresentados sob diversas Semelhanças e
diversas Esculturas, que o Vulgo, quando as significações foram obliteradas, co a adorar
como deuses. Que a Nação Israelita tenha estado também em um tal culto quando estava no
Egito, pode-se vê-lo pelo Bezerro de ouro que adorou no deserto em lugar de Jehovah; ; e
que, depois, da não se afastou deste culto, vê-se por um grande número de passagens na
Palavra, tanto Histórica como Profética.
&292 - Por este Preceito: "Não há outro Deus diante das minhas faces", no Sentido natural,
entende-se também, que nenhum Homem, defunto ou vivo, deve, ser adorado como Deus
como também tinha sido feito no Mundo Asiático e em diversos lugares em torno; muitos
deuses das Nações não eram outra coisa, como Baal, Astaroth, Chémos, Mikom, Belzebu;
e em Atenas e em Roma, Saturno, Júpiter, Netuno, Plutão, Apolo, Palas, etc., dos quais,
alguns foram adorados a princípio como Santos, depois como Deidades (Numina), e enfim,
como Deuses. Que se tenha também adorado como deuses, Homens vivos, vê-se por este
Édito de Dario, o Medo, que ninguém durante trinta dias devia pedir cousa alguma a Deus,
mas ao Rei somente, sob pena de ser lançado na fossa dos leões (Daniel VI, 8 a 29).
&293 - No Sentido natural, que é o Sentido da letra, por este Preceito é ainda entendido que
ninguém, exceto Deus; e que nada, exceto o que procede de Deus, deve ser amado acima de
todas as cousas, o que está também de acordo com as palavras do Senhor (Mateus XXII, 35
a 37; Lucas X, 25 a 28); pois a pessoa que é amada e aquilo que é amado acima de todas
coisas, são uma e outro um Deus e um Divino para aquele que ama; assim, aquele que se
ama.ou ama ao Mundo acima de todas as coisa, faz de si mesmo ou do Mundo, seu Deus; é
por isso tais homens não reconhecem, de coração, Deus algum; por estão conjuntos a seus
semelhantes no Inferno, onde foram reunidos todos aqueles que se amaram e amaram o
Mundo acima de todas as coisas.
&294 - 0 Sentido Espiritual deste Preceito é, que não se deve adorar outro Deus senão o
Senhor Jesus Christo porque Ele mesmo é Jehovah, que veio ao Mundo e fez a Redenção,
sem a qual nenhum homem poderia ser salvo, nem Anjo algum. Que exceto Ele, não há
outro Deus, vê-se por estas passagens da Palavra: "Será dito naquele dia: Eis nosso Deus,
Aquele que temos esperado para que nos liberte; Aquele Jehovah que temos esperado;
salta! e regozijai-vos em sua Salvação" (Isaías XXV, 9). "Uma sua do que clama no
deserto: Preparai o caminho a Jehovah, aplainai na solidão um caminho para nosso Deus;
porque será revelada a Glória de Jehovah e êles a verão, toda carne junta. Bis o Senhor
Jehovah como Forte vem; como um Pastor o seu rebanho apascentará" (Isaías XL, 3, 5, 10,
11). ''Somente em Ti Deus, não há outro Deus oculto, o Deus de Israel, Salvador" (Isaías
XLV, 14, 15). "Não sou Eu Jehovah? e há outro Deus senão Eu, outro Deus justo e
Salvador senão Eu?" (Isaías XLV, 21, 22). "Eu sou Jehovah e não há outro Salvador senão
Eu". (Isaías XLIII, 11; Hoséas XIII, 4). "A fim de que saiba toda carne que Eu sou Jehovah
teu Salvador e teu Redentor" (Isaías XLIX, 26; XL, 16). "Quanto a nosso Redentor,
Jehovah Sebaoth é seu nome" (Isaías XLVII, 4; Jeremias L, 34). "Jehovah meu Rochedo e
meu Redentor" (Sl.19, 15). "Assim disse Jehovah teu Redentor, o Santo de Israel: Eu sou
Jehovah teu Deus" (Isaías XLVIII, 17; XLIII, 14; XLIX, 7). "Assim disse teu Redentor: Eu
Jehovah faço todas as cousas e só por Mim mesmo" (Isaías XLIV, 24). "Assim disse
Jehovah, o Rei de Israel e seu Redentor, Jehovah Sebaoth: Eu o Primeiro e o último; e
exceto Eu, não há Deus" (Isaías XLIV, 6). "Jehovah Sebaoth é seu Nome, o teu Redentor, o
Santo de Israel, Deus da terra será chamado" (Isaías LIV, 5). "Abrahão não nos conhece e
Israel não nos reconhece; Tu, Jehovah, nosso Pai, nosso Redentor, desde o século é teu
Nome" (Isaías LXIII, 16). "Um Menino nos nasceu, um Filho nos foi dado, cujo nome é:
Admirável, Conselheiro, Deus, Herói, Pai de Eternidade, Príncipe da Paz" (Isaías IX, 5).
"Eis, os dias virão em que suscitarei a David um Germe justo, que reinará Rei e eis seu
nome: Jehovah nossa Justiça" (Jeremias XXIII, 5, 6; XXXIII, 15, 16). "Filipe disse a
Jeremias: Mostra-nos o Pai. Jesus lhe disse: Quem me vê, vê o Pai, não crês que Eu estou
no Pai e que o Pai está em Mim" (João XIV, 8-10). "Em Jesus Christo toda a plenitude da
Divindade habita corporalmente" (Coloss. II, 9). "Nós estamos na Verdade em Jesus
Christo; Ele é o Verdadeiro Deus e a Vida eterna; meus filhinhos, guardair-vos dos ídolos"
(I João V, 20, 21). Por estas passagens é evidente que o Senhor nosso Salvador é Jehovah
mesmo e que é, ao mesmo tempo, Criador, Redentor e Regenerador. Tal é o Sentido
espiritual deste Preceito.
&295 - 0 Sentido Celeste deste Preceito, é que Jehovah, o Senhor, é Infinito, Imenso e
Eterno; que Ele é Onipotente, Onisciente e Onipresente; que Ele é o Primeiro e o último, o
Começo e o Fim. Que Ele Era, É e Será; que é o Amormesmo e a Sabedoria mesma ou o
Bem mesmo e o Vero mesmo por conseqüência, a Vida mesma; assim o único de que todas
as coisas procedem.
&296 - Todos que reconhecem e adoram um outro Deus q e não seja o Senhor Salvador
Jesus Christo, o qual é o prio Jehovah Deus em uma forma Humana, pecam contra o
Primeiro Preceito; semelhantemente, também aqueles que se persuadem que há Três
Pessoas Divinas, de toda eternidade, existindo efetivamente; estes, à medida que se
confirmam neste erro, tornam-se cada vez mais naturais e corporais; e então não podem
apreender interiormente nenhum Vero Divino e se os ouvem e recebem alguns, eles os
maculam e envolvem com ilusões; por isso, podem ser comparados aos que habitam o résdo-chão ou as caves de uma casa e, por conseqüência, não ouvem cousa alguma do que
dizem entre si os que habitam no segundo e no terceiro andares porque, os tetos que estão
acima de sua cabeça, impedem a Penetração do som; a Mente humana é como uma casa de
três saldares; no andar mais baixo estão aqueles que se confirmaram por três Deuses de
toda eternidade; no segundo e no terceiro estão aqueles que reconhecem e crêem em um só
Deus, sob uma forma Humana e que o Senhor Deus Salvador é este Deus; o homem sensual
e corporal, sendo puramente natural, é considerado, em si mesmo, inteiramente animal; e
não difere da besta senão porque pode pensar e raciocinar; por isso, ele é como se passasse
a vida, em um curral, onde estão bestas ferozes de toda espécie; e aí, ora, se faz de leão,
ora, de urso, ora, de tigre, de leopardo ou de lobo; e pode mesmo fazer-se de ovelha, mas
então ri-se disso, em seu coração. 0 homem puramente natural não pensa nos Veros Divinos
senão pelos mundanos, assim pelas ilusões dos sentidos, pois não pode elevar sua mente
acima destas ilusões; por isso, a Doutrina de sua fé pode ser comparada a uma sopa de
palha picada, que ele come como um manjar suculento; ou ao que foi ordenado ao Profeta
Ezequiel, a saber, misturar trigo, cevada, favas, lentilhas e aveia, com excremento humano
ou de boi, e fazer disso pão e bolos; e assim representar a Igreja, tal como ela era na Nação
Israelita (Cap. IV, 9 e segs.); semelhante é a Doutrina da Igreja, que foi fundada e
construída sobre três Pessoas Divinas de toda a eternidade, cada uma das quais, em
particular, é Deus; quem é que não veria a enormidade desta fé se ela se apresentasse tal
qual é em si mesma,pintada sobre um quadro diante dos olhos; por exemplo, se os três se
mantive sem em ordem perto um do outro, o Primeiro tendo por insígnias um cetro e uma
coroa; o Segundo tendo, em sua mão direita, um Livro que é a Palavra; e em sua esquerda,
uma Cruz de ouro, coberta de sangue; e o Terceiro, provido de mantendo-se sobre um pé,
pronto para voar e agir, acima dos quais se tivesse escrito: Estas Três Pessoas, outros tantos
Deuses, são um único Deus? Qual é o sábio que, vendo este Quadro, não diria em si
mesmo: Oh! Que fantasia! Mas uma, única Pessoa Divina com raios de luz celeste em torno
da cabeça e tendo esta inscrição: Eis nosso Deus, ao mesmo tempo Criador, Redentor e
Regenerador, por conseqüência Salvador; não beijaria este quadro, não o levaria para sua
casa e, por seu aspecto, não espalharia ele a alegria em seu coração e nos corações de sua
esposa, de seus filhos e de seus criados.
&297 SEGUNDO PRECEITO - Não tomarás o Nome de Jehovah teu Deus em vão, pois
por inocente não terá Jehovah aquele que tomar seu Nome em vão.
297 - No Sentido Natural, que é o sentido da letra, por tomar Nome de Jehovah Deus, em
vão, é entendido o Nome mesmo; e o abuso deste Nome em diversas palestras,
principalmente em discursos falsos ou de mentiras, além disso, em juramentos sem causa e
para o fim de desculpar com intenções más, juramentos que são execrações e em prestígios
e encantamentos. Mas jurar por Deus e pela Santidade de Deus, pela Palavra e pelo
Evangelho, nas Coroações, nas Inaugurações, no Sacerdócio, nas Iniciações de fidelidade,
isto não é tomar o Nome de Deus em vão, a não ser que aquele que jura, rejeite em seguida
suas promessas como vãs. 0 Nome de Deus, porque é o Santo mesmo, deve ser sem cessar
empregado nas coisas Santas que pertencem à Igreja, por exemplo, nas preces, nos Salmos,
em todo o culto, também nas prédicas e nos Escritos sobre coisas Eclesiásticas; razão disso,
é que Deus está em tudo que concerne à Religião e quando é convenientemente invocado,
por Sei; Ele está presente e ouve; é nisso que o Nome de Deus é cado. Que o Nome de
Jehovah Deus seja Santo cai si vê-se por este Nome mesmo, que os Judeus, após seus
amam. tempos, não ousavam e não ousam ainda, dizer Jehovah; e em consideração a eles,
os Evangelistas e os Apóstolos não o fizeram a também; por isso, em lugar de Jehovah,
disseram, o Senhor, como se vê pelas diversas passagens do Antigo Testamento portadas
para o Novo, onde se diz Senhor em lugar de por exemplo, Mateus XXII, 35; Lucas X, 27;
cfr. Com Deut. VI, 5 e algures. Que o Nome de Jesus seja semelhantemente Santo, isso é
notório por esta declaração de um Apóstolo, de que a este Nome dobram e devem dobrar-se
os joelhos nos Céus e nas Terras; e, além disso, por êste fato, que êle não pode ser,
pronunciado por diabo algum no Inferno. Há vários Nomes de Deus que não se deve tomar
em vão, tais são: Jehovah, Jehovah Deus, Jehovah Sebaoth, o Santo de Israel, Jesus e
Christo, o Espírito Santo.
&298 - No Sentido Espiritual pelo Nome de Deus tudo o que a Igreja ensina segundo a
Palavra e pelo o Senhor é invocado e adorado; tudo isso é o Nome Deus no complexo; é
por isso que, por tomar o Nome de Deus em vão, é entendido tomar daí alguma cousa para
discursos frívolos, discursos falsos, mentiras, execrações, prestígios e encantamentos, pois
isso também é ultrajar e
blasfemar Deus, por conseqüência, seu Nome. Que a Palavra e o que daí pertence à Igreja e
assim todo culto, seja o Nome de Deus, pode-se ver por estas passagens: "Desde o levantar
do sol será invocado seu Nome" (Isaías XXIV, 8, 13). "Desde o levantar do sol até o seu
deitar, grande será meu Nome entre as Nações e em todos os lugares o perfume será
oferecido em meu Nome. Vós profanais meu Nome quando dizeis: A Mesa de Jehovah foi
maculada; e soprais, sobre meu Nome quando trazeis o que é roubado, coxo ou doente"
(Malaquias I, 11, 12, 13). "Todos os povos andam, cada um em nome de seu Deus e nós
andamos em nome de Jehovah nosso Deus" (Miquéas IV, 5). "Adorar-se-á Jehovah em um
único lugar, onde Ele colocará seu Nome" (Deut. 12, 5, 11, 13, 14, 18; 16, 2, 6, 11, 15, 16),
isto é, onde Ele colocará seu culto. "Jesus disse: Onde estão dois ou três reunidos em meu
Nome, aí eu estarei no meio deles'' Mateus XVIII, 20). "A todos os que 0 receberam, deulhes poder de ser filhos de Deus, àqueles que crêem em seu Nome" (João I, 12). "Aquele
que não crê já foi julgado, porque não creu no Nome do Unigênito Filho de Deus" (João
111, 18). "Aqueles que crêem terão a vida em meu Nome" (João XX, 31). "Jesus disse:
Manifestei teu Nome aos homens e lhes fiz conhecer teu Nome" (João XVII, 26). "0 Senhor
disse: Tens alguns poucos de Nomes em Sardes" (Apoc. 30, 4); e além disso, em muitos
outros lugares, onde como nas passagens precedentes, pelo Nome de Deus é entendido o
Divino que procede de Deus e pelo qual Ele é adorado. Pelo nome de Jesus Christo é
entendido o todo da Redenção e o todo da Doutrina e assim o todo da salvação; por Jesus,
o todo da salvação; e por Christo, o todo da salvação por sua doutrina.
&299 - No Sentido Celeste, por tomar o Nome de Deus em vão é entendido o que o Senhor
disse aos Fariseus: "Todo pecado e blasfêmia será perdoado ao homem, mas o espírito de
blasfêmia não será perdoado" (Mateus XII, 31, 32); pela blasfêmia do espírito é entendida a
blasfêmia contra a Divindade do Humano do Senhor e contra a Santidade da Palavra. Que
no Sentido Celeste ou Supremo, o Divino Humano do Senhor seja entendido pelo Nome de
Jehovah Deus, vê-se por estas passagens: "Jesus disse: Pai glorifica teu Nome; e saiu uma
voz do Céu, dizendo: e Eu o tenho glorificado e, de novo, o glorificarei" (João XII, 28).
"Tudo que pedirdes em meu Nome eu o farei, a fim de que o Pai seja glorificado no Filho;
se alguma cousa pedirdes em meu nome eu o farei" (João XIV, 13, 14). Na Oração
Dominical, para que seja santificado teu Nome! Não é também significada outra cousa no
Sentido Celeste; semelhantemente, pelo Nome, em Êxodo 23, 21, e Isaías XLIII, 16. Como
a blasfêmia do Espírito não é perdoada ao homem segundo as palavras em Mateus XII, 31,
32, é isto que é entendido no Sentido Celeste, é por isso que a este Preceito é ajuntado:
"Pois por inocência Jehovah não terá aquele que toma seu Nome em vão".
&300 - Que, pelo Nome de uma pessoa, seja entendido não somente seu nome, mas
também toda sua qualidade (quale), isso é evidente pelos nomes no Mundo espiritual; lá,
homem algum retém o nome que recebeu no batismo, mas cada um é chamado segundo
seu quale (ou segundo o que êle é); assim os Anjos são chamados segundo sua vida moral e
espiritual; são eles também que são entendidos por estas palavras do Senhor: "Jesus disse:
Eu sou o bom Pastor; as ovelhas ouvem a sua voz; e suas próprias ovelhas ele chama por
seus Nomes e as leva para fora" (João X, 3); e semelhantemente, por estas: "Tens alguns
poucos de Nomes em Sardes, que não macularam seus vestidos. Aquele que vencer, eu
escreverei sobre ele o Nome da cidade, a nova Jerusalém e seu Nome novo, (Apoc. 3, 4,
12). Gabriel e Miguel não são os nomes de dois Personagens do Céu, mas por estes nomes
são entendidos todos aqueles que, no Céu, estão na sabedoria concernente ao Senhor e 0
adoram. Da mesma forma, na Palavra, pelos Nomes de Pessoas e de lugares, entende-se,
não Pessoas nem lugares, mas cousas da Igreja. No Mundo natural, pelo Nome também não
é entendido o Nome só, mas entendesse, ao mesmo tempo, o quale da pessoa (ou o que ela
é), porque este quale está ligado a seu nome, pois na linguagem ordinária se diz de um
homem, que faz tal cousa por seu Nome ou pela reputação de seu Nome; e de um outro, que
tem um grande Nome, o que significa que é célebre pelas coisas que estão nele, por
exemplo, pelo gênio, pela erudição, pelo mérito, etc. Quem não sabe que aquele que injuria
e calunia uma pessoa quanto ao Nome, blasfema e calunia também os atos da vida dessa
pessoa? os atos e o nome estão conjuntos na idéia, por isso perece a reputação de seu
Nome. Da mesma maneira que aquele que pronuncia com ignomínia o Nome de um Rei, de
um Príncipe, de um Magnata, cobre também de opróbrio sua Majestade e sua Dignidade;
semelhantemente, aquele que pronuncia, com um tom de desprezo, o Nome de um homem,
despreza, ao mesmo tempo, as ações e a e a vida desse homem; acontece o mesmo com
toda Pessoa, de que não é permitido, segundo as leis de todos os Reinos, atacar nem injuriar
o Nome, isto é, a qualidade e, por conseqüência, a reputação.
&301 TERCEIRO PRECEITO - Lembra-te do Dia do Sábado para o Santificar; seis dias
trabalharás, e farás toda tua obra; mas, o sétimo dia, Sábado a Jehovah toa Deus.
301 -- Que seja este o Terceiro Preceito, vê-se em Êxodo 20, 8-10, e em Deut. 5, 12, 13;
por este Preceito no Sentido Natural, que é o sentido da letra, entende-se que há seis dias
para o homem e para seu trabalho e que o Sétimo é para o Senhor e para o repouso do
homem, pelo Senhor; Sabbath na Língua original significa Repouso. 0 Sabbath entre os
filhos de Israel era a Santidade das Santidades, porque representava o Senhor; os seis dias
representavam seus trabalhos e seus combates contra os Infernos; e o sétimo, sua Vitória
sobre eles e, assim, o Repouso; e como este dia era representativo do fim de toda Redenção
operada pelo Senhor, é por isso que ele era a Santidade mesma. Mas quando o Senhor veio
ao Mundo e, que por conseguinte, suas Representações cessaram, este Dia tornou-se o dia
de instrução nas cousas Divinas e também o dia de repouso após os trabalhos e da
meditação sobre as cousas que pertencem à Salvação e à Vida eterna, como também o dia
de amor ao próximo.
Que ele se tenha tornado o dia de instrução nas cousas Divinas, vê-se claramente no fato do
Senhor nesse dia ensinar no Templo e nas Sinagogas (Marcos VI, 2; Lucas IV, 16, 31, 32;
VI, 6; XIII, 10); e de ter dito ao paralítico: "Toma tua cama e anda; e aos fariseus, "que era
permitido aos Discípulos no dia do Sábado, comer espigas e comê-las" (Mateus XII, 1-9;
Marcos 11, 23-28; Lucas VI, 4-6; João V, 9-19); por cada uma destas cousas, no Sentido.
espiritual, é significado ser instruído nos doutrinais; que este dia seja também o dia do amor
para com o próximo, vê-se pelo que o Senhor fez e ensinou no dia do Sábado (Mateus XII,
10 a 14; Marcos 111, 1-9; Lucas VI, 6-12; XIII, 10-18; XIV, 1 a 7; João V, 9-19; VII, 22,
23; IX, 14, 16); por estas passagens e as que foram citadas acima, vê-se claramente porque
o Senhor disse que Ele é também Senhor do Sábado (Mateus XII, 8; Marcos II, 28, VI, 5); e
pois que Ele disse isso, segue-se que este dia foi representativo do Senhor.
&302 - No Sentido Espiritual, este Preceito significa a Reforma e a Regeneração do homem
pelo Senhor; os seis dias de trabalho significam o combate contra a carne e as cobiças da
carne e, ao mesmo tempo, contra os males e os falsos que nele vêm do Inferno; e o Sétimo
dia significa sua conjunção com o Senhor e, por isso, a sua regeneração; que enquanto dura
este combate haja para o homem trabalho espiritual, mas que quando o homem foi
regenerado, haja para ele, Repouso, ver-se-á pelo que será dito no Capítulo da Reforma e da
Regeneração, sobretudo quando se mostrará: I. Que a Regeneração se faz como quando o
homem é concebido, carregado no ventre, nasce e é criado. II. Que o primeiro ato da nova
Geração é chamado Reforma e pertence ao entendimento; e que o segundo é chamado
Regeneração e pertence à vontade; por conseqüência, ao entendimento. III. Que o homem
interno deve ser reformado primeiro e por ele, o homem externo. IV. Que se levanta então
um combate entre o homem Interno e o homem Externo e o que é vencedor domina o outro.
V. Que há no homem Regenerado uma nova Vontade e um novo Entendimento, etc. Se a
Reforma e a Regeneração do homem são significadas por este Preceito no Sentido
espiritual, é porque elas coincidem com os trabalhos e os combates do Senhor contra os
Infernos, com Sua Vitória contra eles e, então, com o Repouso; pois a maneira pela qual o
Senhor glorificou Seu Humano e o fez Divino, é também a que emprega para reformar e
regenerar o homem e torná-lo espiritual; é isto que é entendido por seguir o Senhor. Que o
Senhor tenha tido combates e que estes combates sejam chamados Trabalhos, vê-se em
Isaías, Caps. LIII e LXIII; e que as cousas semelhantes no homem sejam chamadas
Trabalhos, vê-se em LXV, 23 e no Apocalipse 2, 2, 3.
&303 - No Sentido Celeste, par este Preceito entende-se a conjunção com o Senhor; e então
a Paz, porque há proteção contra o Inferno; com efeito, Sabbath significa Repouso e, no
sentido supremo, Paz; é por isso que o Senhor é chamado Príncipe da Paz, e se chama
também Paz; como se vê por estas passagens: "Um Menino nos nasceu, um Filho nos foi
dado; suma seus ombros estará o Principado e chamarão seu Nome: Admirável,
Conselheiro, Deus, Herói, Pai de Eternidade, Príncipe da Paz; à sua multiplicação do
Principado e da Paz não haverá fim" (Isaías IX, 5, 6). "Jesus disse: a Paz eu vos deixo, a
minha Paz eu vos dou" (João XIV, 27). "Jesus disse: Destas coisas eu vos falei, a fim de
que em Mim tenhais Paz" (João XVI, 33). "Como são agradáveis sobre as montanhas os
pés do Mensageiro de boa nova, que faz ouvir a Paz, que diz: Reina teu Deus" (Isaías LII,
7). "Jehovah, resgatará em Paz minha alma" (Sl. 55, 19). "A obra de Jehovah é a Paz; o
trabalho de justiça, o Repouso e a Segurança para a eternidade, a fim de que habitem em
um Habitáculo de Paz, nas tendas de Segurança e nos Repousas tranqüilos (Isaías XXXII,
17, 18). "Jesus disse aos setenta que enviou: Em qualquer casa em que entrardes, dizei
primeiro: Paz a esta casa; e se há lá um filho de Paz, sobre ele repousará a Paz" (Lucas X,
5, 6; Mateus X, 12-14). "Jehovah falará de Paz a seu povo; a Justiça e a Paz se beijarão"
(Ps. 85, 9, 11). Quando o Senhor apareceu aos Discípulos, disse: Paz a vós! (João XX, 19,
21, 26). Além disso, se trata 0 Estado de Paz a que se virá pelo Senhor, em Isaías, Caps.
LXV e LXVI, e algures; e a este estado virão aqueles que são recebidos na Nova Igreja, que
hoje é instaurada pelo Senhor. Quanto ao que é, em sua essência, a Paz em que estão os
Anjos do Céu e os que estão no Senhor, vê-se no Tratado do Céu e do Inferno, ns. 284 a
290. Por estas explicações, vê-se ainda claramente porque o Senhor se chama Senhor do
Sábado, isto é, do Repouso e da Paz.
&304 - A Paz celeste, que é uma proteção contra os Infernos, a fim de que os males e os
falsos não se elevem de lá e não invadam, pode ser comparada à Paz natural sob vários
aspectos; por exemplo, à Paz depois das guerras, quando cada um vive em segurança a
respeito dos inimigos, em segurança em sua cidade, em sua casa, em seus domínios e seus
jardins, como diz o Profeta, quando fala da Paz celeste naturalmente: "Estarão sentados
cada um sob sua Cepa e sob sua figueira e ninguém os espantará (Miqueas IV, 4; Isaías
LXV, 21-23). Também pode ser comparada ao descanso do espírito (animus) e ao repouso
depois de trabalhos os penosos; às consolações das mães depois do parto, quando seu amor,
chamado storge, manifesta seus prazeres. Pode ainda ser comparada à serenidade depois
das tempestades, das nuvens negras e dos trovões; e também à Primavera depois de um
inverno rude; e então, à satisfação produzida pelas novidades que brotam nos campos e
pelas primeiras flores nos jardins, nas campinas e nas florestas; e igualmente, ao estado das
mentes daqueles que, depois de tempestades e de perigos no mar, atingem o porto e põem
os pés sobre a terra desejada.
&305 QUARTO PRECEITO - Honra teu Pai e tua Mãe, para que sejam prolongados os
dias sobre ou terra que Jehovah teu Deus te dá.
305 - Este Preceito se lê assim - Êxodo 20, e Deut. 5, 16. No Sentido Natural, que é o
sentido da letra, por honrar seu Pai e sua Mãe, entende-se honrar seus Pais, obedecê-los,
ligar-se a eles e lhes dar graças por seus benefícios, que consistem em alimentar seus filhos,
dar-lhes roupas e os introduzir para que ai atuem corno Pessoas civis e morais; eles também
introduzem no Céu pelos preceitos da Religião, assim provêm à sua prosperidade temporal
e também à sua felicidade eterna e fazem tudo isso pelo amor em que estão pelo Senhor, de
que fazem as vezes. Em um Sentido relativo, entende-se a honra que os pupilos devem a
seus tutores, se os seus pais estão mortos. Em um Sentido mais lato, por este Preceito
entende-se honrar o Rei e os Magistrados, porque eles provêm às necessidades de todos em
comum, como os pais em particular. No Sentido mais lato, por este Preceito, entende-se
amar a Pátria, porque ela alimenta e defende os cidadãos, por isso a palavra Pátria vem de
Pai; mas as honras à Pátria, ao Rei e aos Magistrados devem ser prestadas pelos Pais, e ser
implantadas por eles, nos filhos.
&306 -No Sentido Espiritual, por honrar Pai e Mãe, entende-se venerar e amar a Deus e a
Igreja; neste Sentido, pelo Pai entende-se Deus, que é o Pai de todos, e pela Mãe, a Igreja;
as Crianças e os Anjos nos Céus não conhecem outro Pai, nem outra Mãe, por que aí
nasceram de novo do Senhor e da Igreja; é por isso que o Senhor disse: "A ninguém
chamais Pai na terra, porque um só é vosso Pai, Aquele que está nos Céus" (Mateus XXIII,
9); isto foi dito para as Crianças, para os Anjos no Céu, e não para as Crianças e os homens
na terra. 0 Senhor ensina a mesma cousa na prece comum das Igrejas Cristãs: "Pai nosso
que estás nos Céus, santificado seja Teu Nome!" Se pela Mãe no Sentido espiritual,
entende-se a Igreja é porque do mesmo modo que uma Mãe, na terra, alimenta seus filhos
com alimentos naturais, a Igreja com alimentos mesmo por isso que a Igreja, na Palavra, é
muitas vezes chamada Mãe, como em Hoséas: ''Pleiteai com vossa Mãe, ela não é minha
esposa, e Eu não sou seu Marido" (11, 2, 5). Em Isaías: "Onde está a carta de divórcio de
vossa Mãe, que eu devolvi" (L, 1); e em Ezequiel XVI, 45; XIX, 10. E nos Evangelistas:
"Jesus estendendo a mão para Seus Discípulos, disse: Minha Mãe e meus irmãos são
aqueles que ouvem a Palavra de Deus e a fazem" (Mateus XII, 48, 49; Marcos 111, 33, 34,
35; Lucas VIII, 21; João XIX, 25-27).
&307 - No Sentido Celeste, pelo Pai, entende-se r nosso Senhor Jesus Christo; e pela Mãe,
a comunhão dos Santos, Pela qual se entende Sua Igreja espalhada por todo o Globo. Que o
Senhor seja o Pai, vê-se par estas passagens: "Um Menino nos nasceu, um Filho nos foi
dado, cujo Nome é Deus, Herói, Pai de eternidade, Príncipe da Paz" (Isaías IX, 5). "Tu
nosso Pai; Abrahão não nos conhece e Israel não nos reconhece; Tu, nosso Pai, nosso
Redentor desde o
século é o Teu Nome" (Isaías LXIII, 18). "Fi lipe disse: Mostra-nos o Pai. Jesus lhe disse:
Quem me vê, vê o Pai. Como pois dizes: Mostra-nos o Pai?" (João XIV, 7 a 11; XII, 45).
Que neste Sentido, pela Mãe, entende-se a Igreja do Senhor, vê-se por estas passagens: "Vi
a Cidade, a Santa Jerusalém Nova, enfeitada corno uma Noiva ornada para seu Marido"
(Apoc. 210 2). nosso Anjo disse a João: Vem, eu te mostrarei a Noiva do Cordeiro, a
Esposa; e ele me mostrou a Cidade, a Santa Jerusalém" (Apoc. 21, 9, 10). "0 tempo de
núpcias do Cordeiro chegou e sua Esposa; está preparada. Felizes são os que à ceia de
núpcias do Cordeiro são chamados!" (Apoc. 19-0, 7, 9); e além disso, Mateus IX, 15;
Marcos 11, 19, 20; Lucas V, 34, 35; João 111, 29; XIX, 25-27. Que pela Nova Jerusalém
seja entendida a Nova Igreja que hoje é instaurada pelo Senhor, vê-se no "Apocalipse
Revelado", ns. 880, 881; esta Igreja, e não, a precedente, é a Esposa; e a Mãe neste
Sentido. As linhagens espirituais, que nascem deste Casamento, são os bens da caridade e
os veros da fé; e aqueles que estão, pelo Senhor, nestes bens e nestes veros, são chamados
filhos das núpcias, filhos de Deus e nascidos d'Ele.
&308 - E' preciso ter -como certo que, do Senhor procede continuamente uma Esfera
Divino-Celeste de amor para com todos que abraçam a doutrina de sua Igreja e que, do
mesmo modo que as crianças no mundo em relação a seu pai e à sua mãe, lhe obedecem, se
ligam a Ele e querem ser alimentadas, isto é, instruídas por Ele; desta esfera celeste nasce
uma Esfera natural que é a do amor ara com as criancinhas e as crianças, a qual é muito
universal e afeta, não somente os homens, mas também os pássaros e as bestas, até as
serpentes; e não somente os seres animados, mas mesmo as coisas inanimadas; mas para
que o Senhor operasse nestas, como opera nas cousas espirituais, Ele criou o Sol, para que,
no Mundo Natural, ele fosse como o Pai um; e a Terra, como, a Mãe comum, pelo
casamento dos quais existem todas aí, germinações que embelezam a superfície do Globo;
pelo influxo desta Esfera celeste no Mundo natural existem estas admiráveis progressões
dos vegetais, pela semente até aos frutos e a novas sementes; daí vem também que haja
vários gêneros de arbustos que, durante o dia, voltam por assim dizer,suas faces para o Sol
e as afastam quando o sol se deita; daí, vem também que haja flores que se abrem ao nascer
do sol e que se fecham ao pôr do sol; é também, por isso, que os pássaros cantam
deliciosamente no começo da aurora e, semelhantemente, depois que receberam o alimento
da Terra, sua Mãe; assim uns e outros honram pai e mãe; estão aí outros tantos testemunhos
de que o Senhor pelo Sol e pela Terra provê, no Mundo natural, a todas as necessidades dos
seres vivos e não vivos; por isso, se diz em David: "Louvai
Jehovah dos Céus; louvai-0, Sol e Lua; louvai-O da terra, baleias e abismos; louvai-0,
árvores frutíferas e todos os cedros; animal e toda besta, réptil e pássaro alado; Reis da terra
e todos os povos, moços e moças" (Sl. 147, 2 a 12). E em Job: "Interroga, eu te peço, as
bestas e elas te ensinarão; ou o arbusto da terra e ele te instruirá, e os peixes do mar t'o
contarão; quem não conhece por eles todos, que a mão de Jehovah fez isto?" (XII, 7 a 9);
interroga e eles te ensinarão, significa, olha, presta atenção e julga por estas coisas que é o
Senhor Jehovah que as criou.
&309 QUINTO PRECEITO - Não matarás.
309 - Por este Preceito, "não matarás", no Sentido Natural entende-se não matar o homem,
e não lhe fazer nenhum ferimento de que possa morrer; e também não mutilar seu corpo; e
além disso, não desfechar golpe mortal sobre seu nome e sua reputação, porque, para
muitas pessoas, a reputação e a vida marcham juntas. Em um Sentido natural mais lato,
pelos homicídios são entendidas as inimizades, os ódios e as vinganças, que respiram a
morte, pois nelas está escondido o homicídio, como o fogo na lenha sob as cinzas; o fogo
infernal não é outra: cousa, por isso se diz estar ardendo em ódio e inflamado de vingança.
Estão aí homicídios em intenção, mas não em ato; e se o medo da lei de talião e da
vingança fosse retirado, eles explodiriam em atos, sobretudo se na intenção há embuste e
ferocidade. Que o ódio seja um homicídio, vê-se por estas palavras do Senhor: "Ouvistes
que foi dito pelos Antigos: Não matarás e quem matar estará sujeito ao julgamento; mas eu
vos digo que quem quer que se encorelizar contra seu irmão temerariamente, estará o jeito à
gehena de fogo" (Mateus V, 21, 22). A causa disso, é e tudo que pertence à intenção,
pertence também à portanto, em si, ao fato.
&310 - No Sentido Espiritual, pelos homicídios, são entendidas todas as maneiras de matar
e de perder as almas dos homens; essas maneiras são diversas e múltiplas; por exemplo,
afastar de Deus, da Religião e do Culto Divino, lançando contra palavras escandalosas,
persuadindo-os de coisas que os afastam deles e os faz desgostar-se deles; tais são todos os
diabos e os satanases no Inferno, com os quais estão conjuntos aqueles neste Mundo violam
e prostituem as Santidades da Igreja. Os que destroem as almas pelos falsos são entendidos
pelo do abismo, chamado Abadom ou Apollyon, isto é, destruidor, no Apocalipse, Cap. 9,
11; e pelos Mortos, na Palavra Profética, como nestas passagens: "Jehovah Deus disse:
Apascenta as ovelhas da matança, que seus possuidores mataram" (Zacarias XI, 4, 5, 7).
"Somos mortos todo o dia; somos tidos na conta de um rebanho para o matadouro" (Ps. 44,
22). Aqueles que virão fará tomar raízes Jacob; porventura, segundo o massacre de seus
Mortos, foi ele morto?" (Isaías XXVII, 6, 7). "0 estranho não vem senão para roubar e
massacrar as ovelhas, Eu vim para que elas tenham vida e fartura" (João X, 10);
e além disso, em outros lugares, por exemplo, Isaías XIV, 21; XXIV, 21; XXVII, 9;
Jeremias IV, 31; XII, 3; Apoc. 9, 4; 11, 7. Daí vem que o Diabo é chamado Homicida desde
o começo (João VIII, 44).
&311 - No Sentido Celeste, por matar, entende-se encoleriza se temerariamente contra o
Senhor, odiá-lo e querer destruir Seu Nome; são estes de quem se diz que 0 crucificam; o
que fariam mesmo, assim como o fizeram os judeus, se Ele viesse como precedentemente
ao Mundo; isso é entendido pelo "Cordeiro que estava como morto" (Apoc. 5, 6; 13, 8). E
por "Crucificado" (Apoc. 11, 8; Hebreus 6, 6; Gal. 3, 1).
&312 - 0 que é o Interno do homem, se não é reformado pelo Senhor eu o vi claramente
peles diabos e satanases no inferno, pois eles estão continuamente na intenção de matar o
Senhor e como não o podem, fazem todos os esforços para matar os que são ligados ao
Senhor; mas não o podendo fazer como fazem os homens no Mundo, empregam todos os
meios para perder suas almas, isto é, para destruir a fé e a caridade neles. Os ódios e as
vinganças entre eles aparecem como fogos sombrios e como fogos brilhantes, os ódios
como fogos sombrios e as vinganças como fogos brilhantes; todavia, não fogos, mas
aparências; as crueldades de seu coração são vistas algumas vezes acima deles no ar como
combates com os Anjos e como uma carnificina e massacre destes; é de suas cóleras e de
seus ódios contra o Céu, que se elevam estas medonhas imagens fantásticas. Além disso, os
mesmos aparecem de longe como bestas ferozes de todas espécies, tais como tigres,
leopardos, lobos, raposas, cães, crocodilos e como serpentes de toda espécie; e quando
vêem bestas mansas em formas representativas, eles as atacam em fantasia e fazem esforços
para. as massacrar; eles se apresentaram à minha vista, como dragões, permanecendo perto
de mulheres com as quais crianças que e se esforçavam, por assim dizer, para devorar
conforme o que é referido no Apoc., Cap. 12, o que não é outra coisa senão representativos
de ódio contra o Senhor e contra sua Igreja. Que, no Mundo, os homens que querem
destruir a Igreja do Senhor sejam semelhantes a eles, isso não se manifesta diante das
pessoas presentes porque os corpos, pelos quais exercem as faculdades morais, absorvem e
escondem estás coisas; mas, entretanto, diante dos Anjos que olham, não os seus corpos,
mas seus espíritos, elas aparecem nas mesmas formas que estes diabos, de que se acaba de
falar. Quem poderia ter sabido tais coisas; se o Senhor não tivesse aberto a vista a alguém e
não lhe tivesse dado a faculdade de penetrar no Mundo Espiritual? De outra forma, estas
coisas; e outras muito dignas serem conhecidas pelos homens, não teriam ficado
eternamente escondidas?
&313 SEXTO PRECEITO - Não cometerás adultério.
313 - No Sentido Natural, por este preceito entende-se, não somente não cometer adultério,
mas também não querer e não fazer coisas; obscenas; por conseguinte, não pensar e não
dizer coisas; lascivas; que só cobiçar, seja cometer adultério, vê-se por estas palavras do
Senhor: "Ouvistes que foi dito pelos antigos: Não cometerás adultério; Eu vos digo que se
alguém olha para a mulher de um outro a ponto de a cobiçar, já cometeu adultério com ela,
em seu coração" (Mateus V, 27, 28); a razão disso é que a cobiça torna-se como o fato
quando está na vontade, pois no entendimento entra unicamente a inclinação, mas na
vontade entra a intenção e a intenção da cobiça é o fato. Mas sobre este assunto, vê-se
maiores desenvolvimentos no Tratado Do Amor Conjugal e do Amor Escortatório,
publicado em Amsterdan em 1768, no qual se trata da oposição entre esses dois amores, ns.
423 a 443; da Fornicação, ns. 444 a 460; dos Adultérios, de suas espécies e de seus graus,
ns. 473 a 499; da Lubricidade da defloração, ns. 501 a 505; da Lubricidade das variedades,
ns. 506 a 510; da Lubricidade da violação, ns. 511 e 512; da Lubricidade de seduzir os
inocentes, ns. 513 e 514; da Imputação de um e de outro amor, o escortatório e o conjugal,
ns. 523 a 531. Todas estas cousas são entendidas por este Preceito no Sentido natural.
&314 - No Sentido Espiritual, por cometer adultério entende-se se adulterar os bens da
Palavra e falsificar os seus veros; que seja isto também o que é entendido por cometer
adultério ignorou-se até ao presente, porque até ao presente, o Sentido espiritual da Palavra
tem estado escondido; que na Palavra não seja significada outra cousa por cometer seja
adultério, seja fornicação, seja escortação, vê-se claramente por estas passagens: ''Correi
pelas ruas de Jerusalém e procurai, se encontrar um homem que faça julgamento e que
procura a verdade; quando eu os fartei, eles cometeram escortação" (Jeremias V, 1, 7).
Profetas de Jerusalém vi uma obstinação horrível em cometer adultério e em caminhar na
mentira" (Jeremias XXIII, 14). "Agiram loucamente era Israel, cometeram escortação, e
pronunciará minha Palavra, mentindo" (Jeremias XXIX, 23). "Cometeram escortação,
porque abandonaram Jehovah" (Hoséas IV, 10) . "Cortarei a alma que se volta para os
pithons, e os adivinhos, para cometer escortação após eles" (Lev. XX, 6). "Não deve tratar
aliança com os habitantes da terra, a fim de não cometer escortação após seus deuses"
(Êxodo 34, 15). Como Babilônia adultera e falsifica a Palavra mais que todos os outros,' é
por isso que ela é chamada a Grande Prostituta e se diz dela no Apocalipse: "Babilônia,
com o vinho da cólera e de sua Escortação, saciou todas as Nações" (14, 8). 0 Anjo me
disse: Eu te mostrarei o julgamento da grande Prostituta com a qual cometeram escortação
todos os Reis da terra" (17, 2). ''Ele julgou a grande Prostituta que corrompeu a terra por
sua escortação" (19, 2). E como a Nação Judaica tinha falsificado a Palavra, por isso foi
chamada pelo Senhor, "Geração adúltera" (Mateus XII, 39; XVI, 4; Marcos VIII, 38); e
Semente de adultério (Isaías LVI, 3); além de muitas outras passagens, onde pelos
adultérios e as escortações são entendidas as adulterações e as falsificações da Palavra,
como em Jeremias 111, 6, 8; XIII, 27; Ezequiel XVI, 15, 10, 26, 29, 32, 33; XXIII, 2, 3, 5,
7, 11, 14, 16, 17; Hoséas V, 3; VI, 16; Nahum 111, 1, 3, 4).
&315 - No Sentido Celeste, por cometer adultério, entendesse negar a santidade da Palavra
e profaná-la; que seja isso o que é entendido nesse Sentido, é o que resulta do Sentido
espiritual precedente, que é adulterar os bens e falsificar os veros da Palavra. Negam a
santidade da Palavra e a profanam, aqueles que, em seu coração, riem de todas as coisas da
Igreja e da religião, pois no Mundo Cristão todas as coisas da Igreja e da religião vêm da
Palavra.
&316 - Há diferentes coisas que fazem com que o homem pareça casto não somente aos
outros, mas também a ele mesmo, ainda que seja inteiramente não casto; pois ignora que a
cobiça, quando entra na vontade, é o fato e que não pode ser afastada senão pelo Senhor
após a penitência; abster-se de fazer não toma o homem casto, mas abster-se de querer,
quando se pode fazer, porque é um pecado, eis o que o torna casto; por exemplo, se alguém
se abstém dos Adultérios e das Escortações unicamente por medo è da lei civil e das penas
que ela inflige, pelo medo de perder sua reputação e, por conseguinte, a honra, pelo medo
das moléstias que daí provêm, pelo medo de questões. em casa com a esposa, e de perder
assim a tranqüilidade da vida, pelo medo da vingança do marido e de seus aliados e dos
maus tratos de seus domésticos; ou pela avareza ou por uma fraqueza proveniente ou de
moléstia ou do abuso, ou da idade ou de outra causa de impotência; mais ainda, se abstém
por alguma lei natural ou moral e não, ao mesmo tempo, pela lei espiritual, é sempre
adultério e escortador interiormente, pois crê não obstante que o adultério e a escortação
não são pecados e, por conseguinte, os considera em seu espírito como não ilícitos diante
de Deus; e assim, em seu espírito, ele os comete ainda que não os cometa diante do Mundo
no corpo; por isso depois da morte, quando se toma espírito, fala abertamente em seu favor.
Além disso, os adultérios podem ser comparados aos que violam os tratados que fizeram;
também aos Sátiros e aos Príapos, dos antigos, que corriam por aqui e por ali nas florestas,
gritando: Onde estão as donzeIas, as noivas e as esposas com quem possamos nos divertir?
Os adúlteros, no Mundo Espiritual, aparecem também na realidade como Sátiros e Príapos.
Podem ainda ser comparados aos bodes que cheiram mal e aos cães que correm nas ruas e
procuram e farejam onde estão as cadelas, com as quais se acasalam. A potência viril destes
homens, quando se tornam maridos, pode ser comparada à floração das Tulipas na estação
da primavera, as quais depois de um mês perdem a flor e murcham.
&317 SÉTIMO PRECEITO - Não furtarás.
317 No Sentido Natural, por este Preceito entende-se, segundo a letra, não furtar, não
roubar e não agir como pirata no tempo de paz; e em geral não tirar às ocultas, nem sob
pretexto algum, os bens de quem quer que seja. Este preceito se estende também a todas as
velhacarias, aos ganhos ilícitos, à usura e às exacções; além disso, também às fraudes, no
pagamento de tributos e dos impostos e na liquidação de dívidas. Contra este Preceito
prevaricam os Operários que fazem seu trabalho sem sinceridade e sem fidelidade; os
Comerciantes que sobre as mercadorias, sobre o peso, a medida e os cálculos, Oficiais que
sonegam aos soldados o pagamento; os Juízes que, por causa de amizade, de presente, de
parentesco ou por outros motivos, julgam pervertendo as leis ou as questões e privam os
outros, dos bens que possuem com direito.
&318 - No Sentido Espiritual, por furtar entende-se vários outros dos veros de sua fé, o que
se faz pelos falsos e po opiniões, heréticas; os Sacerdotes que desempenham o Ministério
unicamente pelo ganho ou por ambição de honras e que ensinam cousas, que vêem ou
podem ver pela Palavra que não são veros, são ladrões espirituais pois que tiram ao povo os
meios de salvação, que são os veros da fé; estes são, por isso, chamados ladrões na Palavra
nestas passagens: "Aquele que não entra porta no aprisco, mas que ai sobe por outro lugar,
é um ladrão e um salteador; o ladrão não vem senão para roubar, matar e perder" (João X,
1, 10). "Ajuntai tesouros, não sobre a mas no Céu, onde os ladrões não vêm nem roubam"
(Mateus VI, 19, 20). "Se viessem a ti ladrões, bandidos de noite, quanto serias saqueado ?"
(Obad. vers. 5). "Na cidade se espalharão, a muralha correrão, na casa entrarão, pelas
janelas e trarão, como um ladrão" (Joel 11, 9). "Obraram a mentira, o ladrão veio e a tropa
se espalhou por fora" (Hoséas VII, 1).
&319 - No Sentido Celeste, pelos ladrões, entende-se os que arrebatam do Senhor o Divino
Poder; além desses, os que se atribuem Seu Mérito e Sua Justiça; ainda que estes adorem a
Deus, entretanto, têm confiança, não n'Ele, mas em si mesmos; e crêem não em Deus, mas
neles mesmos.
&320 - Os que ensinam falsos e opiniões heréticas e persuadem ao vulgo que são veros e
comas ortodoxas e que, entretanto, lêem a Palavra e, por conseguinte, podem saber o que é
o falso e o que é o vero; além desses, os que por ilusões, confirmam os falsos da religião e
seduzem, podem ser comparados aos impostores e às imposturas de todo gênero; e como
estas em si mesmas, são urubus no Sentido espiritual, eles podem ser comparados aos
impostores que forjam moedas fada, as cobrem de depois, também aos que sabem, com
habilidade, talhar e polir cristais, os tomar duros e que os vendem por dia- e ainda, os que
conduzem pelas cidades, sobre cavalos ou mulas, macacos vestidos como homens, com a
face selada e que exclamam que são nobres de uma raça antiga. São semelhantes também
aos que põem máscaras cobertas de pintura sobre as faces vivas e naturais e escondem as
suas belezas. São ainda semelhantes aos que gabam e vendem como veios, muito préselenitas e talco que brilham como ouro e prata. Podem também ser assemelhados aos que,
por peças de teatro, desse verdadeiro Culto Divino e dos templos, e atraem para à casas
onde essas peças são representadas. Os que confirmam os falsos de todo gênero, não tendo
estima alguma pelos veros e que desempenham as funções do sacerdócio unicamente pelo
ganho e por ambição de honra, são assim ladrões espirituais e podem ser assemelhados a
estes ladrões que levam chaves, com quais podem abrir as portas de todas as casas; além
disso, também aos leopardos e às águias que, com seus olhos penetrantes, vêem onde estão
as melhores presas.
&321 OITAVO PRECEITO - Não responderás em falso testemunho contra teu próximo.
321 - No Sentido Natural mais próximo da letra, por não responder contra o próximo em
falso testemunho ou não dar falso testemunho, entende-se não agir como fado testemunho
diante do juiz, ou diante de um outro fora do tribunal, contra alguém que é acusado
injustamente de algum mal e não o afirmar pelo nome de Deus, ou por uma outra coisa
santa ou por si e por cousas de si, que são de alguma nomeada. Em um Sentido natural mais
largo, por este preceito são entendidas as mentiras de todo gênero e as hipocrisias políticas
que têm um fim mau; é também entendido não desacreditar e não difamar o próximo, o que
destruiria a sua honra, seu nome e sua reputação, de que depende o caráter de todo homem.
No Sentido natural mais lato, são entendidas as ciladas, as velhacarias e os maus desígnios
contra alguém, provindos de diversas fontes, por exemplo, da inimizade, do ódio, da
vingança, tia inveja, do ciúme, etc.; pois estes inales escondem em si o testemunho falso.
&322 - No Sentido Espiritual, por dar falso testemunho, entende-se persuadir que o falso da
fé é o vero da fé, que o mal .da vida é o bem da vida, e reciprocamente; mas fazer uma ou
outra cousa de propósito e não por ignorância, assim fazê-lo depois que se sabe o que é o
vero e o bem e não antes, pois o Senhor disse: "Se fósseis cegos, não teríeis pecado; mas
agora de Nós vemos; é por isso que o vosso pecado permanece" (João IX, 41). Este Falso é
entendido na Palavra pela Mentira o Propósito é entendido pela Velhacaria, nestas
passagens: "Tratamos aliança com a morte e com o inferno fazemos a visão, pu na mentira
a nossa confiança; e na falsidade nós nos escondemos" (Isaías XXVIII, 15). "Um povo de
Rebelião, eles; filhos mentirosos, que não querem escutar a lei de Jehovah" (Isaías XXX, 9)
. "Desde o Profeta até ao Sacerdote, cada um faz a mentira" (Isaías VIII, 10) . "Os
habitantes pronunciam a mentira e quanto à língua, o embuste está em sua bancam'
(Miquéas VI, 12). "Tu perderás aqueles que pronunciam a mentira, o homem de fraude está
e abominação a Jehovah" (Ps. (Sl. 5, 6). "Eles ensinaram sua língua a pronunciar a mentira;
tua habitação é no meio da fraude" (Jeremias IX, 4, 5). Como ara tira significa o falso, o
Senhor disse: "que o diabo pronuncia a mentira por si próprio" (João VIII, 44); a mentira
significa também. o falso e a linguagem falsa nestas passagens: Jeremias XL 4; XXIII, 14,
32; Ezequiel XIII, 15 e 16; X.XI, 24; Oséas VII, 1; Nahum III, 1; Sl. 120, 2, 3.
&323 -- No Sentido Celeste, por dar falso testemunho é tendido blasfemar o Senhor e a
Palavra e também Expulsar, da Igreja, a Verdade mesma, pois o Senhor é a Verdade
mesma semelhantemente a Palavra. Vice-versa, por dar Testemunho é entendido neste
Sentido, pronunciar a Verdade e, pelo Testemunho, a Verdade mesma; é por isso também
que o Decálogo é o chamado o Testemunho (Êxodo 24, 16, 21, 22; 30, 7, 18; 32, 15, 16; 40,
20; Levit. 16.0, 13; Num. 17, 19, 22, 25. E como o Senhor é a Verdade mesma, Ele disse de
Si que Ele mesmo dá Testemunho; que o Senhor seja a Verdade mesma, vê-se em João
XVI, 6, e no Apoc. 3, 7; e que Ele mesmo dá testemunho e seja seu próprio testemunho, vêse em João 111, 11; VIII, 13 a 19; XV, 26; XVIII, 38.
&324 - Os que dizem falsos por velhacaria ou de propósito e os pronunciam com um tom
que simula a afeição espiritual e mais ainda, se misturam com eles, verdades tiradas da
Palavra que, por conseguinte, falsificam, tinham sido chamados Encantadores pelos
Antigos, ver "Apocalipse Revelado" n. 462; e também Pythons e Serpentes da árvore da
ciência do bem e do mal. Estes falsificadores, estes mentirosos e estes fraudulentos podem
ser comparados àqueles que falam a seus inimigos com doçura, e amizade e que, enquanto
falam, agarram por trás um punhal, com que os matam. Podem também ser comparados
àqueles que, mergulham sua espada no veneno e atacam assim seus inimigos; e aqueles que
misturam o acônito com água, vinho com resinas e ~as açucaradas. Podem ainda ser
comparados a belas e atraentes prostitutas infectadas de moléstias contagiosas; a arbustos
espinhosos que, aproximados das narinas, ferem as fibrilas do olfato; e a venenos adoçados;
e também a estrumes que secam na estação do outono, espalhando um odor penetrante. Tais
homens são designados na Palavra por leopardos, ver o "Apocalipse Revelado", n. 572.
&325 NONO E DÉCIMO PRECEITOS - Não cobiçarás a Casa de teu próximo; não
cobiçarás a Esposa de teu próximo, nem seu Servo, nem sua Serva, nem seu Boi, nem seu
Jumento, nem cousa alguma que seja de teu próximo.
325 - Estas palavras, no Catecismo que está hoje entre as mãos, foram distinguidas em dois
Preceitos; um que faz o Nono, é: Não cobiçarás a Casa de teu próximo; e o outro, que faz o
Décimo, é: Não cobiçarás a Esposa de teu próximo, nem seu servo., nem sua serva, nem
seu boi, nem seu jumento, nem cousa alguma que seja de teu próximo; estes dois Preceitos
fazendo
única cousa e estando compreendidos em um único Versículo, Êxodo 20, 14, e Deut. 5, 18,
acreditei dever tratar dos dois ao mesmo tempo; não que eu queira que eles sejam conjuntos
em um único Preceito, mas eles devem ser distinguidos em dois como acaba de ser
mostrado, pois que estes Preceitos são chamados as Dez Palavras, Êxodo 34, 28; Deut. 4,
13; 10, 4.
&326 - Estes dois Preceitos têm em vista todos os Preceitos que precedem; ensinam e
prescrevem que não se faça os males, como também não se tenha cobiça por êles; por
conseqüência, se referem não somente ao homem externo, mas também ao homem Interno,
pois aquele que não faz os males e entretanto, deseja fazê-los, os faz contudo; com efeito, o
Senhor disse: "Se alguém cobiça a mulher de um outro, já cometeu adultério com ela em
seu coração" (Mateus V, 27); e o homem Externo não se torna Interno ou não faz um com o
homem Interno, senão, quando as cobiças foram afastadas; é também o que ensina o
Senhor, dizendo: "Ai de vós escribas e fariseus! porque limpais o exterior do copo e do
prato, enquanto que os interiores estão ,cheios de rapina e de intemperança; fariseu cego,
limpa primeiramente o interior do copo e do prato, a fim de que o exterior também fique
limpo" (Mateus XXIII, 25, 26), e além disso, em todo este Capítulo, desde o começo até ao
fim; os internos, que são farisaicos, são as cobiças pelas cousas que lhes são proibidos de
fazer nos Preceitos I, II, VI, VII, VIII. Sabe-se que o Senhor no Mundo ensinou os Internos
da Igreja, e os Internos da Igreja são não ter cobiça pelos males e ensinou que o homem
Interno e o homem Externo devem fazer um, e é isso ser gerado de novo, como o Senhor
dizia a Nicodemus, João III, e ninguém pode ser gerado de novo ou ser regenerado, por
conseqüência, torna-se Interno, a menos que o seja pelo Senhor; para que, estes Dois
Preceitos tenham em vista todos os Preceitos que precedem, neste sentido de que é preciso
não ter cobiça pelos males que proíbem, a Casa é citada em primeiro lugar, depois a
Esposa, em seguida o servo e a serva, o boi e o jumento; e em último lugar, tudo o que é do
próximo; com efeito, a Casa envolve tudo o que segue, pois nela há o marido, a Esposa, o
servo, a serva, o boi e o jumento; a Esposa, que é mencionada em seguida, envolve também
o que segue, pois ela é a Dona da casa, como o marido é o Dono; o servo e a serva estão
subordinados a eles e o boi e o jumento estão subordinados a estes; e, em último ]lugar,
todas as cousas que estão abaixo ou fora, visto que se trata de tudo o que é do próximo. Por
isso, é evidente que estes dois Preceitos no Comum e no Particular, em um sentido largo e
um sentido estrito, têm em vista todos os Preceitos precedentes.
&327 - No Sentido Espiritual, por estes; preceitos são proibidas todas as cobiças que são
contra o espírito, assim que são contra os espirituais da Igreja, os quais se referem
principalmente à fé à caridade porque se as cobiças não forem domadas, a came
abandonada à sua liberdade se precipitaria em tudo que é ilícito, pois é sabido, segundo
Paulo, "que a carne cobiça contra o espírito, e o espírito contra a carne" (Gal. 5, 17); e
segundo Sou Tiago: "Cada um é tentado
por sua própria concupiscência, quando é seduzido; em seguida, a concupiscência, depois
que concebeu, engendra o pecado; e o pecado, quando foi consumado, engendra a morte"
(Epist. 1, 14, 15); depois, segundo Pedro: "0 Senhor reserva os injustos para serem punidos
no dia do julgamento; principalmente aqueles que andam atrás da carne na concupiscência"
(II Epíst. 2, 9, 10). Em suma, estes dois Preceitos, entendidos no Sentido espiritual, têm em
vista todas as cousas que foram referidas precedentemente no Sentido Espiritual, nisto, que
não as devemos cobiçar; acontece o mesmo com todas as coisas referidas precedentemente
no Sentido Celeste; repeti-las aqui seria supérfluo.
&328 - As concupiscências da carne, dos olhos e dos outros sentidos, separadas as
concupiscências, isto é, das afeições, dos desejos e dos prazeres do espírito, são
absolutamente semelhantes as cobiças das bestas, por isso, em si mesmas, bestiais; mas as
afeições do Espírito são tais como as afeições dos Anjos e, por conseguinte, devem ser
denominadas afeições verdadeiramente humanas; portanto, quanto mais alguém se entrega
às cobiças da carne, tanto mais é besta e animal; mas quanto mais alguém se compraz nos
desejos do espírito, tanto mais é homem e Anjo. As cobiças da carne podem ser
comparadas a uvas dessecadas e torradas pelo ardor do sol, aos frutos da vinha selvagem e
também ao gosto do vinho que delas provém. As cobiças da carne podem ser comparadas a
estábulos onde estão jumentos, bodes e porcos; e as afeições do espírito, a estrebarias onde
estão cavalos vigorosos; e também a apriscos, onde estão ovelhas e cordeiros; elas diferem
também como o jumento e o cavalo, como o bode e a ovelha, e como o porco e o cordeiro;
em geral, como a escória e o ouro, como a cal e a prata, como o coral e o rubi, etc. A cobiça
e o fato são coerentes como o sangue e a carne, como a chama e o óleo, pois a cobiça está
no fato, como o ar no pulmão quando se respira e se fala, como o vento na vela quando se
navega e como a água, na roda, quando a máquina está em movimento e em ação.
&329 Os Dez Preceitos do Decálogo contêm tudo o que pertence ao amor para com Deus e
tudo o que pertence ao amor em relação ao próximo.
329 - Em oito preceitos do Decálogo, o Primeiro, o Segundo, o Quinto, o Sexto, o Sétimo,
o Oitavo, o Nono e o Décimo, nada se diz concernente ao amor para com Deus e o amor em
relação ao próximo, pois não se diz que é preciso amar a Deus, nem que é preciso santificar
o Nome de Deus, nem que é preciso amar ao próximo, nem, por conseqüência, que é
preciso agir para com ele com sinceridade e correção; mas se diz unicamente: Não haverá
outro Deus diante de minhas faces; não tomarás o Nome de Deus em vão; não matarás; não
cometerás adultério; não furtarás; não cobiçarás o que é do teu próximo; não darás falso
testemunho; assim, se diz, em geral, que não se deve nem. querer, nem pensar, nem fazer o
mal contra Deus, nem contra o próximo. mas se as cousas que concernem diretamente ao
amor e à caridade não foram ordenadas e se diz unicamente: que as que são opostas não
devem ser feitas, é porque tanto mais o homem foge dos malas como pecados, tanto, mais
quer os bens que pertencem ao anua e à caridade. Que a primeira cousa -do amor para com
Deus e o amor em relação ao próximo seja não fazer o mal; e que a segunda, seja fazer o
bem, ver-se-á no Capítulo sobre a Caridade. Há dois amores opostos um ao outro, o amor
de querer e fazer o bem e o amor de querer e fazer o mal; este é o amor infernal e aquele, o
amor celeste, pois o Inferno está no amor de fazer o mal e todo o Céu está no amor de fazer
o bem; ora, como o homem nasce nos males de todo gênero que, por conseqüência, por
nascimento ele se inclina para as cousas que são do Inferno e como não pode vir para o
Céu, a não ser que nasça de novo, isto é, a não ser que se regenere, é necessário que, em
primeiro lugar, os males que são do Inferno sejam afastados antes que possa querer os bens
que são do Céu; pois quem é que pode ser adotado pelo Senhor antes de ter sido separado
do Diabo? Quanto à maneira por que os males são afastados e por que o homem é levado a
fazer os bens, será exposto em dois Capítulos, um sobre a Penitência e o outro sobre a
Reforma e a Regeneração. Que os males devem ser afastados em primeiro lugar, antes que
os bens que o homem faz, se tornem bens diante de Deus, é o que o Senhor ensina em
Isaías: "Lavai-vos, purificai-vos, afastai a malícia de vossas obras de diante de meus olhos;
aprendei a fazer o bem; então quando mesmo Os vossos pecados fossem como a escarlata,
como a neve se tornariam brancos; quando mesmo fossem vermelhos como a púrpura,
com* a lã seriam" (I, 16-18). Semelhante a essa passagem é esta em. Jeremias: "Põe-te à
porta da Casa de Jehovah; e aí proclama esta Palavra: Assim disse Jehovah Sebaoth, o Deus
de Israel: Tornai bons os vossos caminhos e as vossas obras; não confieis em palavras de
mentira, dizendo: 0 Templo de Jehovah, o Templo de Jehovah, aqui (isto é a Igreja); é
roubando, matando, cometendo adultério e jurando falsamente, que em seguida vireis e vos
poreis diante de Mim, nesta Casa, sobre a qual é chamado o meu Nome, e direis: Fomos
libertados; enquanto fazeis todas estas abominações? E' pois que, em -caverna de ladrões,
se tornou esta Casa? Sim, Eu mesmo, eis que o vi, palavra de Jehovah" (VII, 2, 3, 4, 9, 10,
11). Que antes de ser lavado ou purificado dos males, as preces a Deus não são ouvidas, é
também ensinado em Isaías: "Jehovah disse: Ai da nação pecadora, do povo carregado de
iniqüidade, que se voltaram para trás; é por isso que, quando estendeis vossas mãos,
escondo meus olhos de vós; se mesmo multiplicais a prece, Eu não escuto" (I, 4, 15). Que
o amor e a caridade venham àqueles que fazem os preceitos do .Decálogo, fugindo dos
males, vê-se por estas palavras do Senhor em João: "Jesus disse: Aquele que tem os meus
preceitos e os faz, é o que me ama; ora, aquele que me ama será amado por meu Pai, Eu o
amarei, eu mesmo me manifestarei a ele e morada nele faremos" (XIV, 21, 23); aí, pelos
Preceitos são especialmente entendidos os Preceitos do Decálogo, que são, que é preciso
não fazer os males, nem cobiçá-los; e que assim o amor do homem para com Deus e o amor
de Deus em relação ao homem, vêm em seguida, como faz o bem depois que o mal foi
afastado.
&330 - Foi dito que, tanto mais o homem foge dos males, tanto mais quer os bens; isso
provém de que os males e os bens são opostos, pois os males são do Inferno e os bens são
do Céu; por isso, que tanto mais é afastado o Inferno, isto é, o mal, tanto mais se aproxima
o Céu e o homem olha para o bem; que assim seja, vê-se claramente pelos oito preceitos do
Decálogo considerados da maneira seguinte: I. Quanto mais alguém não adora outros
deuses, tanto mais adora o verdadeiro Deus. II. Quanto mais alguém não toma o Nome de
Deus em vão, tanto mais ama as coisas que são de Deus. III. Quanto mais alguém não quer
matar, nem agir por ódio e vingança, tanto mais quer bem ao próximo. IV. Quanto mais
alguém não quer cometer adultério, tanto mais quer viver castamente com sua esposa. V.
Quanto mais alguém não quer roubar; tanto mais se compraz na sinceridade. VI. Quanto
mais alguém não quer dar falso testemunho, tanto mais quer pensar e dizer veros. VII e
VIII. Quanto mais alguém não cobiça as cousas que são do próximo, tanto mais quer com
as suas fazer bem ao próximo. Por isto se toma evidente que os preceitos do Decálogo
contêm todas as cousas que pertencem ao amor para com Deus e ao amor em relação ao
próximo; é por isso que Paulo disse: "Aquele que ama os outros cumpriu a Lei, pois isto:
Não cometerás adultério; não matarás; não furtarás; não dirás falso testemunho; não
cobiçarás; e se há algum outro mandamento, se resume nesta palavra: amarás teu próximo
como a ti mesmo. A Caridade não faz mal ao próximo; a plenitude da Lei é portanto a
Caridade" (Rom. 13, 8-10). A isso é preciso ajuntar duas Regras que servirão à Nova
Igreja: I. Que ninguém pode fugir dos males como pecados, nem fazer por si mesmo bens
que sejam bens diante de Deus; mas que quanto mais alguém foge dos males como
pecados, tanto mais faz os bens, não por si mesmo, mas pelo Senhor. II. Que ,o homem
deve fugir dos males como pecados e combater contra êles como por si mesmo; e que, se
alguém foge dos males por qualquer outra causa que não seja porque são pecados, ele não
os foge, mas unicamente faz com que não apareçam diante do Mundo.
&331 - Se o mal e o bem não podem estar juntos, e se quanto -mais é afastado o mal, tanto
mais é visto e sentido o bem, é porque, no Mundo espiritual, de cada um se exala a esfera
de seu amor, que se espalha e afeta tudo em torno e faz as simpatias e as antipatias; por
estas esferas são separados os bons, dos maus. Que o mal deve ser afastado, antes que o
bem seja conhecido, percebido e amado, é o que pode ser comparado com várias coisas do
Mundo Natural; por exemplo: Um homem não pode ir ver um outro que guarda em seu
quarto um leopardo e uma pantera, com os quais habita sem medo porque lhes dá de comer,
a não ser que estes tenham antes afastado estas bestas ferozes. Qual é o homem que,
convidado para a mesa de UM Rei, e de uma Rainha, não lava antes seu rosto e suas mãos,
para depois ir lá? e qual aquele que entra no quarto nupcial com sua esposa, depois da
cerimônia do casamento, sem ter tomado um banho, e sem ter posto. Uma roupa de
núpcias? Qual é aquele que não purifica pelo fogo os minerais e não separa deles as
escórias, antes de obter o ouro e a prata puros? Quem é que não separa de seu trigo, o joio,
antes de o pôr em sua granja? e quem é que não bate a aveia com a mangual paxa separar as
cascas antes de a levar para casa? Quem é que não escuma a carne crua posta na panela
andes, que se torne comível e seja levada para a mesa? Quem é que não sacode em seu
jardim os insetos de cima das fôlhas das árvores a fim de que as folhas não sejam devoradas
e o fruto se perca? Quem é que não vê com repugnância imundícies nas casas e nos
vestíbulos e não as limpa, sobretudo quando se espera um príncipe, ou a filha de um
príncipe como noiva? Quem é que ama e procura para casar um§, moça que sabe infectada
de doenças malignas ou coberta de pústulas e de varizes, embora ela disfarce seu rosto e
esteja ricamente vestida e se aplique às seduções do amor por palavras doces? Que o
homem deve se purificar dos males por si mesmo, e não esperar que o Senhor o purifique
imediatamente, isso é evidente; de outro modo, seria como um criado que, aproximando-se
de seu amo com o rosto e as roupas cobertos de fuligem e de barro lhe dissesse: "Senhor,
lava-me!" Seu amo não lhe diria: "Criado estúpido, que dizes? Lá estão a água, o sabão e a
toalha, não tens mãos e força para utilizá-las? lava-te a ti mesmo". E o Senhor Deus diria:
"Os meios de purificação vêm de Mim, teu querer, e tua força vêm de Mim, serve-te pois
dos meus dons e dos meus presentes como cousas, tuas e serás purificado"; e assim por
diante. Que o homem Externo deve ser limpo, mas pelo homem Interno, o Senhor o ensina
em Mateus, Capitulo XXIII, desde o começo até o fim.
&332 - Ao que precede sejam ajuntados Quatro Memoráveis.
Primeiro Memorável. Um dia ouvi grandes gritos que pareciam vir dos infernos através das
águas; um à esquerda: Ó como eles são justos! outro à direita: Ó como eles são eruditos! e
um terceiro por trás: Ó como eles são sábios! e como me veio ao, pensamento se no Inferno
havia também Justos, Eruditos e Sábios, fui tomado pelo desejo de ver se lá os havia
realmente; e
me foi dito do Céu: Tu verás e ouvirás; saí da casa em espírito e vi diante de mim uma
Abertura; me aproximei dela e olhei; e eis uma escada pela qual desci; e quando cheguei
em baixo, vi planícies cobertas de arbustos entremeados de espinheiros e de urtigas; e
perguntei se era isso o Inferno; disseram-me: É a terra Inferior, que fica imediatamente
acima do Inferno; e então avancei em direção aos Gritos, seguindo a ordem; para o primeiro
Grito: Ó como eles são justos! e vi uma Assembléia daqueles que no Mundo tinham sido
Juizes de amizade e de presentes; em seguida, para o segundo grito: Ó como eles são
Eruditos! e vi uma Assembléia daqueles que no Mundo tinham sido Raciocinadores; e
enfim, para o terceiro Grito: Ó como eles são Sábios! e vi uma Assembléia daqueles que no
Mundo tinham sido Confirmadores; mas destes, voltei para a primeira Assembléia onde
estavam os Juizes de amizade e de presentes, que eram proclamados Justos; e vi sobre o
lado uma espécie de anfiteatro construído de tijolos e coberto de telhas negras e me foi dito
que era lá o seu Tribunal; chegava-se lá por três entradas do lado setentrional, três do lado
ocidental; e não as havia do lado meridional nem do lado oriental, índice de que seus
julgamentos não eram Julgamentos de justiça, mas eram arbitrários. No meio, do
Anfiteatro, vi uma lareira onde, criados encarregados deste serviço, lançavam tochas
sulfurosas e betuminosas, cujos clarões projetando-se sobre as paredes rebocadas de novo
apresentavam imagens pintadas de pássaros da tarde e da noite; mas esta lareira e as
projeções de luz nas formas destas imagens eram representações de seus Julgamentos, em
que podiam disfarçar o fundo de toda questão e revesti-lo de formas segundo o favor.
Meia hora depois, vi entrar, com vestes compridas e com mantos, Velhos e Moços, que,
depois de terem tirado seus gorros, se colocaram sobre Assentos perto das Mesas para
fazerem julgamentos; escutei e percebi, com que habilidade e com que sagacidade, tendo
em vista a amizade, eles faziam pender e torcer os julgamentos em aparências de justiça e, a
tal ponto, que eles mesmos viam o injusto, não de outra forma, senão como justo e viceversa; o justo, não de outra forma, senão como injusto; as persuasões sobre o justo e o
injusto se mostravam tais pelas suas faces e eram ouvidas corno tais pelas som de sua
linguagem; então, me foi dado do Céu, uma ilustração, pela qual percebi que, cada uma das
cousas, era conforme ou não conforme com o direito; e vi com que habilidade eles velavam
o injusto e lhe davam sa aparência do justo, com que habilidade escolhiam entre as leis a
que era favorável para a da ligar o fundo da questão, pondo de lado, por meio de raciocínios
hábeis, todas as outras. Depois dos julgamentos, as Sentenças eram levadas aos clientes,
aos amigos e aos sectários; estes, para os recompensarem por seu; favor gritavam pelo
caminho: 0' como eles são justos! Depois disso, falei deles com Anjos do Céu e lhes contei,
em parte, o que tinha visto e ouvido; e os Anjos me disseram: Tais juízes parecem aos
outros ter um entendimento de penetração muito sutil; entretanto, êles não vêem a menor
coisa do justo e do eqüitativo; se tirares a amizade por um dos partidos, êles se assentam
nos julgamentos como estátuas e dizem unicamente: Concordo, filiome à opinião deste ou
daquele; isso porque todos os seus julgamentos são estabelecidos sobre prevenções e a
prevenção, junta ao favor, segue a causa desde o começo até ao fim; assim êles não vêem
senão o que é favorável ao amigo; quanto a tudo que lhe é contrário, olham pelo canto do
olho; e se novamente se trata disso, eles o envolvem com raciocínios, corno a aranha
envolve de fios a sua presa, e a aniquilam; dai, vem que se não seguem a teia de sua
prevenção, nada vem do direito; foi examinado se podiam ver alguma cousa dele e achouse que não podiam; os habitantes do teu Mundo ficarão admirados que assim seja, mas
dize-lhes que isso é uma verdade reconhecida como incontestável pelos Anjos do Céu.
Como esses nada vêem do justo, nós os consideramos no Céu, não como homens, mas
como monstruosas imagens de homens, cujas cabeças constituem as coisas que são da
amizade, os peitos, as que são da injustiça, as mãos e os pés, as que são confirmações, as
plantas, as que são da justiça, as quais eles derrubam e pisam com os pés, se não são
favoráveis ao amigo. Mas quais são êles, considerados em si mesmos, tu vais ver, pois seu
fim está próximo. E eis que imediatamente o solo se entreabriu, as mesas caíram sobre as
mesas e eles foram tragados com todo o Anfiteatro, lançados em cavernas e encarcerados;
então me foi dito: Queres vê-los lá? E eis que foram vistos, quanto à face, como aço polido;
quanto ao corpo, desde o pescoço até aos lombos, como estátuas vestidas de peles de
leopardo; e quanto aos pés, como cobras; e vi os Livros de sua Lei, que tinham posto sobre
as Mesas, transformados em cartas de jogar; então, em lugar de julgar, lhes foi dado como
emprego preparar vermelhão em tinta para pôr no rosto das prostitutas e mudá-las assim em
belezas. Depois que vi essas cousas, quis ir para as duas outras Assembléias onde, em uma,
estavam
puros Raciocinadores; e na outra, puros Confirmadores, mas me foi dito: Repousa um
pouco; Anjos da Sociedade mais próxima acima deles te serão dados como companheiros;
por eles, o Senhor te dará a luz e tu verás cousas surpreendentes.
&333 - Segundo Memorável Pouco tempo depois, ouvi de novo, da Terra inferior, estas
exclamações: Ó como eles são Eruditos! Ó como eles são Eruditos! E olhei para todos os
lados para ver que pessoas estavam perto de mim; eram Anjos que, no Céu, estavam
imediatamente acima daqueles pelos quais se gritava: Ó como eles são Eruditos! Conversei
com eles sobre este grito e me disseram: Estes Eruditos são daqueles que, raciocinando,
procuram unicamente se a coisa é ou não é, e que pensam raramente que ela é de tal
maneira; por isso, são como ventos que sopram e passam; como cascas em torno de
árvores que não tem miolo; como cascas em torno de amêndoas sem núcleo;e ou como a
superfície de frutos sem carne, pois suas Mentes são sem julgamento interior, e só estão
unidas aos Sentidos do corpo; é por isso que, se os sentidos mesmos: não julgam, eles nada
podem concluir; em uma palavra, são puramente sensuais, e nós os chamamos
Raciocinadores; são chamados raciocinadores porque jamais concluem cousa alguma, mas
se apoderam de tudo que ouvem e discutem se a coisa é, contradizendo-a
continuamente;nada gostam mais do que atacar as verdades e assim despedaçá-las,
submetendo-as a debates; são os que se acreditam no Mundo mais Eruditos do
que todos os outros. Depois de ter recebido estas informações, pedi aos Anjos que me
conduzissem a eles; me conduziram a uma Cavidade onde havia degraus que levavam à
terra inferior; descemos e seguimos o grito: Ó como eles são Eruditos! e eram algumas
centenas que se mantinham de pé, em um mesmo lugar; batendo na terra; perguntei porque
estavam assim, de pé, batendo na terra com os pés? E acrescentei: Eles podem, assim, fazer
uma escavação no solo. A estas palavras os Anjos sorriram e disseram: Aparecem assim de
pé, porque, sobre não importa que assunto, não pensam de modo algum que isso é assim,
mas perguntam somente se isto é assim, e discutem; e quando o pensamento não vai mais
longe, aparecem unicamente calcando, pilando com os pés um torrão de terra e não
avançando. E os Anjos ajuntaram: Os que vêm do Mundo natural para este e aprendem que
estão em um outro Mundo, se reúnem em vários lugares, em Assembléias, procuram onde é
o Céu e onde é o Inferno e também onde está Deus; mas depois de terem sido instruídos, se
põem a raciocinar, a discutir e a debater, se há um Deus; fazem isso porque hoje, no Mundo
natural, há um grande número de Naturalistas e estes, entre si e com os outro, quando falam
de Religião, põem isso em, discussão; esta proposição e esta discussão terminam raramente
na afirmação da fé, de que há um Deus; e estes, depois, se consociam cada vez mais com
os maus; isso acontece porque ninguém pode fazer algum bem pelo amor do bem, senão
por Deus. Fui, em seguida, conduzido para a Assembléia; me apareceram como homens de
bom aspecto e decentemente vestidos; e os F os disseram: Eles aparecem assim em sua
própria luz, mas quando a luz do Céu influi, as faces mudam e as roupas também; é o que
aconteceu e, então, apareceram com faces lívidas, cobertas de sacos pretos; mas esta luz
tendo sido retirada, foram vistos como antes. Pouco depois falei a alguns da Assembléia e
disse: Ouvi a multidão que vos cerca gritar: Ó como eles são Eruditos! Que me seja,
portanto, permitido discutir convosco sobre assuntos que são da mais profunda Erudição; e
êles responderam: Diz o que te agrada e nós te satisfaremos; e propus esta questão: Qual
deve ser a Religião pela qual o homem é salvo? E disseram-me: Dividiremos a questão em
várias outras e antes de termos concluído sobre estas, não podemos dar resposta; é preciso
antes por em discussão: 1) se uma religião é alguma coisa? 2) se há salvação ou não? 3) se
há uma Religião que seja mais eficaz que uma outra? 4) se há um Céu e um Inferno? 5) se
há uma vida eterna depois da morte? Além de muitos outros pontos. E pedi que tratassem
do primeiro ponto: Se a Religião é alguma coisa? e eles se puseram a discutir este ponto por
uma multidão de argumentos; e lhes pedi que o referissem à Assembléia, e o fizeram; a
resposta comum foi que esta proposição exigia tão numerosas pesquisas, que não poderia
ser resolvida naquela tarde; mas, perguntei se poderia ser um em ano? e um deles me disse:
que não o poderia ser em cem anos; e eu disse: Enquanto esperais, ficais sem religião; e
como a salvação depende dela, ficais sem idéia, sem fé e sem esperança de salvação; ele,
respondeu: Não deve antes ser demonstrado se há uma Religião e o que é esta Religião e se
é alguma cousa? se há uma, ela será também para os sábios; se não há, aquilo que é
chamado religião será unicamente para o vulgo; sabe-se que a Religião é chamada Ligação;
mas pergunta-se para quem é esta ligação; se é unicamente para o vulgo, ela não é em si
mesma alguma coisa? Se é também para os sábios, ela é alguma coisa? Depois de ter
ouvido esta resposta, disse: Vós nada tendes de Eruditos, pois não podeis pensar senão se
uma cousa é ou não é e examinar em um e outro sentido; quem pode ser Erudito, a não ser
que saiba alguma cousa com certeza e avance nessa coisa? Como um homem avança passo
a passo e sucessivamente na Sabedoria? De outro modo vós não tocais as verdades nem
mesmo com um dedo, mas as afastais cada vez mais da vista; raciocinar unicamente, se
uma coisa é ou não é, é como raciocinar sobre um boné sem jamais pô-lo na cabeça ou
sobre um sapato sem o calçar; resulta daí, senão que não sabeis se, seja o que for, existe
realmente ou se tudo não é ideal; assim, se há uma salvação, uma vida após a morte, se uma
Religião vale mais do que uma outra, se há um Céu e um Inferno; não podeis pensar coisa
alguma sobre estes assuntos, enquanto vos detiverdes no primeiro passo, e aí bateis a areia,
sem levar um pé para diante do outro e sem avançar. Tende cuidado para que as vossas
Mentes, enquanto, se mantêm assim fora do julgamento, não se endureçam interiormente e
não se tornem estátuas de sal. Depois de ter assim falado, fui embora; e eles em sua
indignação, lançaram pedras atrás de mim; então me apareceram como imagens talhadas,
nas quais não há uma centelha de razão humana. E indaguei dos Anjos sobre a sorte destes
espíritos; eles me disseram que os mais abjetos dentre eles são precipitados no profundo, e
lá em um deserto, são reduzidos a carregar fardos; e então, como dizer de conformidade
com a razão, balbuciam, falam coisas frívolas e, de longe, aparecem como jumentos
carregando suas cargas.
&334 - Terceiro Memorável. Em seguida, um dos Anjos me disse: Segue-me para o lugar
onde gritam: Ó como eles são sábios! e me disse: Verás prodígios de homens; verás faces e
corpos, que são de homens e, entretanto, não são homens; e eu disse: São portanto bestas?
Respondeu: Não são bestas? Mas bestas-homens, pois são tais que não podem, de modo
algum, ver se o vero é vero ou não e, entretanto, podem fazer com que tudo que querem
apareça como vero; estes entre nós são chama dos Confirmadores. E seguimos o Grito e
chegamos ao lugar; e eis uma Assembléia de Homens, em torno, uma multidão e na mesma,
algumas pessoas de distinção, que, tendo ouvido que eles confirmavam tudo que diziam e
como, por una aquiescência manifesta, lhes eram favoráveis, se voltaram e disseram: Ó
como eles são sábios! Mas o Anjo me disse: Não vamos para junto deles, mas chamemos
um da Assembléia; chamamos um e nos retiramos com ele, à parte; falamos de diversas
cousas e ele as confirmava todas, a ponto de parecerem absolutamente como verdadeiras; e
lhe perguntamos se podia também confirmar as coisas contrárias; disse que podia tão bem
como as precedentes; então ele disse abertamente, do fundo do coração: o que é o vero? Na
natureza das cousas há outro vero senão o que o homem faz vero? Diz o que te agrada e eu
farei que seja vero; e eu disse: Faz Vero isto, que a Fé é tudo na Igreja; ele o fez com tanta
destreza e habilidade, que os Eruditos que estavam nos arredores, ficaram admirados e
aplaudiram; depois lhe pedi que fizesse vero que a Caridade é tudo na Igreja; e, ele o fez
em seguida, que a Caridade não pertence, de modo algum, à Igreja; ele envolveu uma e
outra proposição e as ornou de aparências, de sorte que os assistentes se olhavam entre si, e
diziam: Este não é um Sábio? e eu disse: Não sabes que bem viver e que bem dizer é a Fé?
Não vês que isto é vero? Respondeu: Parei isso vero e verei; e a fez, e disse: Agora eu vejo;
mas pouco depois fez que o contrário fosse vero e disse: Vejo também que isto é vero; a
essas palavras, sorrimos e dissemos: Não estão aí cousas, contrárias? como dois contrários
podem ser vistos como veros? A isso, ele respondeu muito indignado: Estais no erro; um e
outro é vero, pois que não há vero senão o que o homem faz vero. Perto daí, estava alguém,
que no Mundo tinha sido Embaixador de primeira classe; ele ficou admirado do que
acabava de ouvir e disse: Reconheço que há alguma cousa semelhante no Mundo, mas
contudo, tu desarrazoas; faz, se podes, que seja vero que a Luz é Obscuridade e que a
Obscuridade é a Luz; e ele respondeu: Eu o farei facilmente; o que é a Luz e a Obscuridade,
senão um Estado do olho? A luz não é mudada em sombra quando o olho acaba de ser
exposto aos raios do sol, como também quando se encara fixamente o sol? Quem não sabe
que então o estado do olho é mudado e, por conseguinte, que a luz aparece como sombra e
que vice-versa, quando o estado do olho volta, esta sombra aparece como luz? 0 Mocho não
vê a obscuridade da noite como a luz do dia e a luz do dia como a obscuridade da noite, e o
sol mesmo, como una globo inteiramente opaco e sombrio? Se o homem tivesse os olhos
como o mocho, o que chamaria ele luz e o que chamaria obscuridade? Então o que é a Luz,
senão um estado, do olho e se é unicamente um estado do olho a Luz não é Obscuridade, e
a Obscuridade, Luz? Portanto, um é vero e o outro é vero. Mas como esta confirmação
deixava embaraçados alguns dos assistentes, eu disse: Notei que este confirmador não sabe
que há uma Luz verdadeira e uma Luz quimérica (Luz fátua), e que estas duas Luzes
aparecem como luzes, mas que, entretanto a Luz quimérica não é em si mesmo uma Luz;
não é senão obscuridade relativamente à Luz verdadeira; o Mocho está na Luz quimérica,
pois está dentro de seus olhos a cupidez de perseguir e devorar pássaros; e esta Luz faz com
que seus olhos vejam durante a noite, absolutamente da mesma maneira que os Gatos, cujos
olhos nos celeiros aparecem corno velas; está dentro de seus olhos a luz quimérica
proveniente da cupidez de perseguir e devorar ratos, que produz isso; daí, é evidente que a
Luz do Sol é a Luz verdadeira e que a Luz da cobiça é uma Luz quimérica. Em seguida, o
Embaixador pediu ao Confirmador para fazer vero isto, que o corvo é branco, e não negro;
e ele respondeu: Eu o farei com facilidade; e disse: Toma uma agulha ou uma faca e abre as
asas e as plumas do corvo, não são elas brancas por dentro? Depois afasta as asas e as
plumas e examina o Corpo pela pele; não é ele branco? o que é o preto que o cerca, senão
uma sombra pela qual não se deve julgar a cor do Corvo? Que o preto não seja senão a
sombra, consulta os que possuem a Ciência da ótica e eles te dirão; ou antes, pulveriza uma
pedra preta e verás que o seu pó é branco. Mas, respondeu o Embaixador, não é que o
Corvo aparece preto diante da vista? 0 que! Replicou o Confirmador, queres tu, que és
homem, pensar alguma coisa pela aparência? Podes dizer é verdade, segundo a aparência,
que o Corvo é preto, mas não o podes pensar; assim, por exemplo, podes dizer, segundo a
aparência, que o sol se levanta e se deita, mas como és um homem, não o podes pensar,
porque o sol permanece imóvel e a terra gira; dá-se o mesmo com o Corvo; uma aparência
é uma aparência; diz tudo o que quiseres, o, corvo, é inteiramente branco; e branqueia
quando fica velho, eu o vi; depois destas palavras, os assistentes voltaram os olhos para
mim; por isso disse: E' verdade que as asas e as plumas do Corvo se aproximam, no
interior, do branco; e igualmente a sua pele, mas isso se dá não somente nos corvos, mas
também em todos os pássaros do Universo; e todo homem distingue os pássaros pela
aparência de sua cor se não agíssemos assim, diríamos que todo pássaro é branco, o que
seria absurdo e vão. Depois disso, o Embaixador lhe perguntou: Podes fazer vero isto, que
tu és louco? e ele disse: Poderia, mas não o quero; quem é que não é louco? Em seguida lhe
pediram para dizer do fundo do coração, se ele estava brincando ou se acreditava que não
há vero senão o que o homem faz vero; e respondeu: Juro que o creio. Depois desta
conversação, este Confirmador universal foi enviado para os Anjos, a fim de que
examinassem o que ele era; e depois de o terem examinado, disseram que êle não possuía
nem mesmo um grão de entendimento porque tudo o que está acima do racional estava
fechado nele e que só havia aberto o que estava abaixo do racional; acima do Racional está
a Luz espiritual; e abaixo do Racional está a Luz natural e esta, no homem é tal, que pode
confirmar o que lhe apraz; mas se a Luz espiritual não influi na Luz natural, o homem não
vê se o que é vero é vero,, e ainda, muito menos, se o que é falso é falso; ora ver um e outro
depende da Luz espiritual na luz natural; e a luz espiritual vem de Deus do Céu, que é o
Senhor; é por isto que este Confirmador universal não é homem nem besta, mas é bestahomem. Perguntei ao Anjo qual era a sorte destes confirmadores, e se podiam estar com os
viras, pois que vida está no homem pela Luz espiritual e seu entendimento vem desta luz;
disseram-me que estes confirmadores, quando estão sós, nada podem pensar, nem
dizer,mas ficam de pé mudos como autômatos e corno que mergulhodos em profundo sono,
e despertam desde que alguma coisa choca seus ouvidos; e acrescentaram que assim se
tornam os que são intimamente maus; a luz espiritual não pode influir neles pela parte
superior, mas influi unicamente pelo Mundo algum espiritual, de onde lhes vem a faculdade
de confirmar. Após estas explicações, ouvi uma voz vinda dos Anjos que o tinham
examinado, dizendo: Faz de tudo que ouviste uma Conclusão geral; e fiz esta: Poder
confirmar tudo o que agrada não é próprio de homem inteligente; mas poder ver que o que
é vero é vero e o que é falso é falso; e confirmar isso, Isso sim, é próprio do homem
inteligente". Dirigi, em seguida, os meus olhos para a Assembléia onde estavam os
Confirmadores e, em torno deles, a multidão gritava: Ó como são sábios! e eis que uma
nuvem sombria os envolveu e na Nuvem voavam corujas e morcegos; e me foi dito: As
corujas e os morcegos que voam nesta nuvem são as correspondências e as aparências dos
pensamentos destes Confirmadores; pois ás confirmações das falsidades, a ponto de
aparecerem como verdades, são representadas neste Mundo sob as formas de aves noturnas,
cujos olhos são iluminados por dentro pela luz quimérica, segundo a qual eles vêem os
objetos nas trevas como em uma luz; uma tal luz quimérica espiritual está nos que
confirmam os falsos, a ponto de vê-los como veros; todos esses estão na visão posterior e
não em nenhuma vista anterior.
&335 -Quarto Memorável. Um dia, tendo despertado do sono ao amanhecer, vi diante de
meus olhos como Espectros de aparências diversas; e em seguida, quando amanheceu, vi
Luzes quiméricas sob diferentes formas, umas como pergaminhos cobertos de escrituras,
que dobrados e redobrados apareciam por fim como Estrelas cadentes, e dissipavam-se no
ar; e as outras como Livros abertos, dos quais, alguns brilhavam como pequenas luas e
outros como velas; entre estes havia Livros que se elevavam ao alto e aí se perdiam; e
outros que caíam por terra e aí eram reduzidos a pó. De tudo que eu acabava de ver augurei
que abaixo destes Meteoros havia Espíritos que discutiam sobre cousas imaginárias, que
acreditavam ser de grande importância, pá, no Mundo espiritual, tais Fenômenos aparecem
nas atmosferas pelos raciocínios daqueles que estão em baixo; e pouco depois, a vista de
meu espírito me foi aberta e notei numerosos Espíritos, cujas cabeças estavam ornadas com
folhas de loureiro e os Corpos cobertos de roupas floridas; significava que eram Espíritos
que, no ,Mundo natural, tinham gozado de grande renome de erudição; e como eu estava
em espírito, aproximei-me e me misturei com a Assembléia; então, ouvi que discutiam com
vivacidade e ardor sobre as idéias inatas (ideae connatae), se havia algumas nos homens
desde o nascimento como nas bestas; os que negavam, se afastavam dos que afirmavam; e
por fim, se conservaram separados uns dos outros como as falanges de dois Exércitos
prestes idéias desembainhar as; espada, mas, como não havia espadas, combatiam com as
pontas das palavras. Mas então, de repente um Espírito Angélico se achou no meio deles; e,
falando em voz alta, diste: Ouvi à distância, não longe de vós, que vos inflamáveis de, parte
a parte, em uma discussão sobre as Idéias inatas; se havia algumas nos homens como nas
bestas; mas eu vos digo, que pão há idéia alguma inata nos homens, e que não as há
tampouco nas bestas; disputais, portanto, por nada ou, como se diz, sobre a lã da cabra, ou
sobre a barba do século. Ouvindo estas palavras, todos se arrebataram e gritaram: Expulsaio, ele fala contra o Senso comum; mas esforçando-se por expulsá-lo, viram-no cercado de
uma Luz celeste, através da qual não podiam se lançar, pois era Espírito Angélico; voltaram
pois sobre seus passos e se afastaram um pouco dele; depois que esta luz se concentrou
nele, ele lhes disse: Por que vos arrebatais, escutai antes e reuni as razoes que vou dar te
vós mesmos tirai uma conclusão delas; prevejo que os que são dotados de julgamento as
aceitarão e acalmarão as tempestades levantadas em vossas mentes. A estas palavras, eles
disseram com um tom de voz que encerrava indignação: Fala, pois, e nós escutaremos;
então, começando a falar, disse: Acreditais que nas Bestas há idéias inatas e concluístes isto
porque suas ações parecem resultar de pensamentos; entretanto, nelas não há a menor coisa
que pertença ao pensamento; e as idéias são atributos do pensamento, o caráter do
pensamento é que se aja em vista disto ou daquilo, de tal ou qual maneira; examinai pois:
Será que a Aranha, que tece a sua teia com a maior arte, pensa em sua cabecinha: Vou
estender meus fios nesta ordem e os ligarei em conjunto, por fios postos de través, a fim de
que minha teia não seja dispersada pela primeira agitação do ar; às primeiras extremidades
dos fios que formarão o meio de minha teia, eu me prepararei uma morada, de onde
perceberei tudo que nela caia, para aí acorrer; por exemplo, se uma mosca para ai voa, ela
ficará presa nos fios e, imediatamente, me lançarei sobre ela e a envolverei com fios e me
alimentarei com ela? E mais, será que a Abelha pensa em sua cabecinha: Vou voar, eu sei
onde há campos cobertos de flores e aí sugarei em umas, a cêra e em outras, o mel; e com a
cera construirei células contíguas, em série, de tal maneira, que eu e minhas companheiras
entremos e saiamos livremente como pelas ruas e, em seguida, ai depositamos mel em
abundância, a fim de que haja bastante para o inverno que está para vir, para que não
morramos? além de muitas outras maravilhas, nas quais não somente elas rivalizam com a
prudência política e econômica dos homens, mas por vezes mesmo a excedem. Ver o n.12.
- Além disso, será que o Zangão pensa em sua cabecinha: Eu e meus companheiros f
fabricaremos unia casinha de delgado papirus, da qual contornaremos as paredes no interior
em forma de labirinto e no centro disporemos uma praça pública onde haverá uma entrada e
uma saída; e isso com uma tal esperteza, que nenhum ser vivo que não seja da nossa raça,
não ache o caminho que conduz ao lugar intimo onde nós nos reunimos? Além disso, será
que o Bicho da seda, enquanto não é mais. que verme, pensa em sua cabecinha: É tempo
agora de me preparar para fiar minha seda, a fim de que, quando estiver fiada, eu voe e no
ar, onde ainda não tinha podido me elevar, brinque com meus semelhantes e proveja à
minha progenitura? Da mesma forma os outros vermes, quando se arrastam ao longo dos
muros e se tornam ninfas, aurélios, crisálidas e, enfim, borboletas. Será que a mosca tem
alguma idéia de ligação com uma outra mosca, se é aqui e não lá? E para os animais de um
corpo maior, não é a mesma coisa que para estes insetos, por exemplo, para os pássaros e
para os empenados de todo gênero quando se acasalam, depois quando constroem seus
ninhos, aí põem seus ovos, os chocam, tiram os filhotes, lhes dão o biscate, os educam até
que voem e, em seguida, os expulsam do ninho como se não fossem sua progenitura, sem
falar de muitos outros detalhes sem número? Não se dá ainda o mesmo com as bestas da
terra, com as serpentes e com os peixes? Quem de vós não pode ver, por estes exemplos,
que seus atos espontâneos não profluem de pensamento algum, do qual a idéia unicamente
se pode dizer? 0 erro de que há idéia nas bestas não proflui de outra parte senão da
persuasão de que elas pensam como os homens e que só a linguagem faz a diferença.
Depois de falar assim, o Espírito Angélico olhou em torno de si e como os visse ainda
incertos, se as bestas tinham ou não pensamentos, continuou seu discurso e disse: Percebo
que a semelhança dos atos dos animais brutos com os dos homens está ainda ligada em vós
à idéia visionária sobre o pensamento desses animais; direi de onde vêm seus atos. Em cada
besta, cada pássaro, cada peixe, cada réptil Em cada inseto, há seu amor natural, sensual e
corporal, de que suas cabeças são as moradas; e nelas estão os cérebros, pelos quais o
Mundo espiritual influi imediatamente nos Sentidos de seus corpos; e por estes sentidos
determina os atos, o que faz com que os Sentidos de seus corpos sejam muito mais agudos
do que os dos homens. É este influxo do Mundo espiritual que é chamado, Instinto; e é
chamado Instinto porque existe sem o pensamento intermediário; há também os acessórios
do Instinto, que provêm do hábito. Mas seu amor pelo qual vem do Mundo espiritual a
determinação para os atos, é unicamente para a Alimentação e a Propagação e não para
alguma ciência, alguma inteligência e alguma sabedoria, pelas quais o amor chega
sucessivamente ao, homem. Que, no homem não haja também idéia inata, pode-se ver
claramente pelo fato de que nele não há pensamento inato e onde não há pensamento, não
há também idéia, pois esta pertence àquele, reciprocamente; é o que se pode concluir das
crianças recém-nascidas, pelo fato de que elas só podem mamar e respirar; se podem
mamar, não é por alguma cousa inata, mas é devido à contínua sucção no útero da mãe; e se
podem respirar é porque vivem, pois é isso um universal da vida; os Sentidos mesmos de
seus corpos estão em uma profunda obscuridade e elas saem desta obscuridade
sucessivamente com esforço pelos objetos; do mesmo modo seus movimentos se
desenvolvem pelo hábito; e sucessivamente, à medida que aprendem a dizer palavras e a
pronunciá-las, a princípio, sem idéia, começa a aparecer uma certo obscuro de fantasia; e à
medida que se esclarece nasce um obscuro de imaginação e, em seguida, de pensamento;
segundo a formação deste último estado existem as idéias, que, assim como acaba de ser
dito, fazem um com o pensamento; e o pensamento, de nulo que era, cresce pelas
instruções; é por isso que os homens têm idéias, não inatas, mas formadas; e destas idéias
decorrem suas palavras e seus atos. (Que não haja de inato no homem senão a faculdade de
saber, de compreender e de ser sábio e também a inclinação para amar não somente a
ciência, a inteligência e a sabedoria, mas também o próximo e a Deus, pode-se ver acima
no Memorável n. 48, e também mais abaixo em um outro Memorável). Depois destes
discursos do Espírito Angélico, olhei em torno de mim e vi, a pouca distância, Leibnitz e
Wolf, que meditavam profundamente sobre as razões dadas pelo Espírito Angélico; e então
Leibnitz se aproximou e deu seu assentimento; mas Wolf foi embora negando e afirmando,
pois ele não era dotado de um tão bom julgamento interno como Leibnitz.
&336 CAPITULO VI - DA FÉ
336 - Da sabedoria dos Antigos decorreu este dogma, que o universo e todas e cada uma
das cousas que o compo em, se referem ao Bem e ao Vero; e que assim todas as cousas da
Igreja se referem ao Amor ou Caridade e à Fé, pois que tudo que decorre do Amor ou da
Caridade é chamado Bem; e tudo que decorre da Fé é chamado Vero; portanto, como a
Caridade e a Fé são distintamente duas, mas não obstante fazem um no homem para que ele
seja homem da Igreja, isto é, para que a Igreja esteja no homem, é por isso que nos antigos
havia controvérsia e discussão sobre qual das duas devia ser o Primeiro e assim ser
chamada, com direito, o Primogênito; alguns deles diziam que devia ser o Vero, por
conseqüência, a Fé; e outros, que devia ser o por 1 conseqüência, a Caridade; viam, com
efeito, que o homem logo depois do nascimento aprende a falar, a pensar e a aperfeiçoar
seu entendimento, o que tem lugar pelas ciências; e assim, a aprender e a compreender o
que é o Vero; e em seguida, por estes meios, aprende e compreende o que é o Bem; por
conseqüência, primeiro o que é a Fé e, em seguida, o que é a Caridade; os que tomavam a
cousa assim creram que o vero da Fé era o Primogênito e que o Bem da Caridade nasceu
depois; por isso, atribuíram à Fé o relevo e as prerrogativas da Primogenitura; mas
abafaram seu entendimento sob uma quantidade de argumentos pela Fé, a ponto de não
verem que a Fé não é a Fé se não está conjunta à Caridade; e que a Caridade também não é
a Caridade se não está conjunta à Fé; e assim elas fazem um; e que, de outro modo, uma e
outra nada são na Igreja; que elas façam absolutamente um, isso será demonstrado em
seguida. "Mas neste Prefácio, desvendarei em poucas palavras como ou por qual razão elas
fazem um, pois isso é importante para que, o que segue, esteja em alguma luz: A Fé, pela
qual é também entendido o Vero, é o Primeiro pelo tempo; mas a Caridade, pela qual
também é entendido o Bem, é o Primeiro pelo -fim; ora, o que é Primeiro pelo fim é
efetivamente o Primeiro, porque é o Principal, por conseqüência, é também o Primogênito;
e o que é o Primeiro pelo tempo não é o Primeiro efetivamente, o é em aparência; para que
isto seja apreendido, vou ilustrá-lo por comparações feitas com a construção de um
Templo, a construção de uma Casa, a disposição de um Jardim e a prepa de um Campo.
Com a construção de um templo: 0 primeiro tempo, é pôr as fundações, elevar as paredes,
estabelecer, o teto e, em seguida, erigir o altar e colocar uma cátedra; mas o Primeiro pelo
fim, é o culto de Deus nesse Templo, culto para o qual ele foi construído. Com a construção
de uma casa: 0 Primeiro pelo tempo, é construir os exteriores e arranjar os interiores com
tudo que é necessário; mas o Primeiro pelo fim, é uma Habitação cômoda para si e para
todos que devem morar nessa Casa. Com a disposição de um jardim: o Primeiro pelo
tempo, é aplainar o solo, preparar o humus, plantar árvores a semear o que deve servir ao
uso; mas o Primeiro pelo fim, é o uso dos frutos que dele se retira. Com a preparação de um
campo: o Primeiro pelo tempo, é cavar a terra, lavrá-la, estercá-la e, em seguida, semear;
mas a Primeiro pelo fim, é a Colheita, por conseqüência também o uso. Por estas
comparações, cada um pode concluir o que é em si o Primeiro; todo homem, quando quer
construir um Templo ou uma Casa, dispor um Jardim e preparar um Campo, não tem por
Primeira intenção o Uso? Esse uso não sustenta e não agita sua Mente, durante o tempo em
que procura os meios para obtê-lo? Concluímos, portanto que o Vero da Fé é o Primeiro
pelo tempo, mas que o Bem da Caridade é o Primeiro pelo fim e que este, por isso mesmo
que é o principal, torna-se na realidade na Mente o Primogênito". Mas é necessário que se
saiba o que é a Fé e o que é a Caridade e o que elas são, em essência; e não podemos sabêlo, a menos que uma e outra, seja dividida em Artigos, a Fé nos seus e a Caridade nos seus.
Eis as Artigos da Fé: I- A Fé salvífica é a fé no Senhor Deus Salvador Jesus Christo. II- A
Fé, em suma, é que o que vive bem e crê segundo as regras, é salvo pelo Senhor. III- 0
homem recebe a Fé pelo fato de dirigir-se ao Senhor, por instruir-se sobre as verdades pela
Palavra e viver segundo estas verdades. IV- A abundância de verdades ligadas em conjunto
como um feixe exalta e aperfeiçoa a Fé. V- A Fé sem a Caridade não é a fé; e a Caridade
sem a Fé não é a caridade; e uma e outra não vive senão pelo Senhor. VI- 0 Senhor, a
Caridade e a Fé fazem um, como a Vida, a Vontade e o Entendimento no homem; e se
forem divididos, cada um se perde como uma Pérola reduzida a pó. VII- 0 Senhor é a
Caridade e a Fé no homem; e o homem é a Caridade e a Fé no Senhor. VIII- A Caridade e a
Fé estão em conjunto nas boas obras. IX- Há a Fé verdadeira, a Fé bastaria e a Fé hipócrita.
X- Não há fé alguma nos maus. Cada Artigo vai ser explicado em particular.
&337 I - A Fé salvífica é a Fé no Senhor Deus Salvador Jesus Christo.
337 - Se a Fé salvífica é a fé no Senhor Deus Salvador Jesus Christo, é porque Ele é Deus e
Homem; é Ele mesmo no Pai e o Pai n'Ele; e assim são um. Aqueles, portanto, que se
dirigem a Ele, se dirigem também, ao mesmo tempo, ao Pai; e, assim, a um único Deus; e
não há fé salvífica em um outro. Que é preciso crer ou ter fé no Filho de Deus, Redentor e
Salvador, concebido de Jehovah e nascido da Virgem Maria, chamado Jesus Christo, vê-se
pelos mandamentos tantas vezes reiterados por Ele mesmo e, mais tarde, pelos Apóstolos.
Que a fé no Senhor tenha sido ordenada por Ele, vê-se claramente por estas passagens:
"Jesus disse: E' a vontade do Pai que me enviou; quem quer que veja o Filho e creia n'Ele,
tenha a vida eterna e eu o ressuscitarei no último dia" (João VI, 40). "Aquele que crê no
Filho tem a vida eterna, mas aquele que não crê no Filho não verá a vida, mas a cólera de
Deus permanecerá sobre ele" (João III, 36). "A fim de que, quem crê no Filho não pereça,
mas tenha a vida eterna; pois Deus amou de tal modo o mundo, que deu Seu Filho
Unigênito, a fim de que, quem crê n'Ele, não pereça, mas tenha a vida eterna" (João III, 15,
16). Jesus disse: Eu sou a ressurreição e a vida; quem crê em Mim não morrerá ela
eternidade" (João XI, 25, 26). "Em verdade, em verdade vos digo: Quem crê em Mim tem a
vida eterna; Eu sou sem o Pão da vida" (João VI, 47, 48). "Eu sou o Pão da vida; quem vem
a Mim não terá fome, quem crê em Mim jamais terá sede" (João VI, 35). "Jesus exclamou,
dizendo: Se alguém tem sede, que venha a Mim e beba; quem crê em Mim, como diz a
Escritura, rios de água viva correrão de seu ventre" (João VII, 37,38). "Disseram a Jesus:
Que faremos para operar as obras de Deus? Jesus respondeu: E' a obra de Deus, que creais
n'Aquele que o Pai enviou'' (João VI, 28, 29). "Enquanto tendes a Luz, crede na Luz, a fim
de que sejais filhos da Luz" (João XII, 36). "Aquele que crê no Filho de Deus, não é
julgado; mas aquele que não crê, já foi julgado porque não creu no Nome do Unigênito
Filho de Deus" (João 111, 18). "Estas cousas foram escritas, a fim de que creais que Jesus é
o Filho de Deus e que, crendo, tenhais a vida em Seu Nome" (João XX, 31). "Se não credes
que Eu sou, morrereis em vossos pecados" (João VIII, 24). "Jesus disse: Quando vier o
Paracleto, o, Espírito de verdade, ele repreenderá o Mundo por causa do pecado, da Justiça
e do Julgamento; por causa do pecado porque não crê em Mim" (João XVI, 8, 9).
&338 - Que a Fé dos Apóstolos não foi outra senão a Fé no Senhor Jesus Christo, vê-se em
suas Epístolas por várias passagens d que não referirei senão as seguintes: "Eu vi, não mais
eu, vi em mim Christo; e quanto ao que vi agora na carne, eu vi na Fé no Filho de Deus"
(Gal. 2, 20). "Paulo pregou aos Judeus e aos Gregos o arrependimento para com Deus e a
Fé em Nosso Senhor Jesus Christo" (Atos dos Apóst. 20 21). "Aquele que tirou Paulo para
fora, disse: Que é preciso que eu faça para ser salvo? Ele lhe disse: Crê no Senhor Jesus
Christo e tu serás salvo e a tua casa" (Atos 16, 30, 31). Quem tem o Filho, tem a vida; mas
quem não tem o Filho de Deus, não tem a vida; eu vos escrevo estas cousas, a vós que
credes no Nome do Filho de Deus, a fim de que saibais que tendes a vida eterna e creiais no
Nome do Filho de Deus" (I João V, 12, 13). "Nós, judeus de natureza, e não pecadores
entre as nações, mas sabendo que o homem não é justificado por suas obras da lei, mas pela
fé de Jesus Christo, nós também em Jesus Christo temos crido" (Gal. 2, 15, 16). Como sua
Fé era em Jesus Christo e vinha também d'Êle, êles a chamavam Fé de Jesus Christo, como
na passagem acima - Gal. 2, 20 - e nestas: "A justiça de Deus pela Fé de Jesus Christo para
dos sobre todos os que creram. A fim de que seja justificante aquele que está na Fé de
Jesus" (Rom. 3, 22, 26). "Que tenha a justiça que vem pela Fé de Christo, a justiça que vem
de Deus pela Fé (Filip. 3, 9) . "Aqueles que guardam os mandamentos de Deus e a Fé de
Jesus Christo" (Apoc. 14, 12). "Pela Fé que está no Christo Jesus" (II Timot. III, 15). "Em
Jesus Christo está a Fé operando pela Caridade" (Gal. 5, 6). Por estas passagens pudesse
ver que fé foi entendida por Paulo na Passagem hoje repisada na Igreja: "Concluímos,
portanto, que o homem é justificado pela Fé, sem as obras da Lei" (Rom. 3, 28), que era
não a fé em Deus Pai, mas a fé em Seu Filho; e ainda menos, a fé em três Deuses em
ordem. Um de quem ela vem, o Outro por causa de quem ela é dada e o Terceiro por quem
ela é enviada; se se crê na Igreja que esta Fé tripessoal foi entendida por Paulo nesta
passagem, é porque a Igreja, desde quatorze séculos ou desde o Concílio de Nicéa, não tem
reconhecido outra fé; por conseguinte, não conheceu outra, crendo assim que ela é única, e
que não podia existir outra; assim, que por toda parte onde na Palavra do Novo Testamento
se lê a Palavra Fé, acredita-se que é aquela e aplicou-se si essa Fé tudo que aí se a isso, foi
destruída a Fé unicamente salvífica, que é a Fé em Deus Salvador; e também se insinuaram
nas doutrinas dos cristãos tantas ilusões e tantos paradoxos opostos à sã razão; come feito,
toda doutrina da Igreja, que deve ensinar e mostrar o caminho para o Céu, isto é, para a
salvação, depende da fé; e como se tinha insinuado nessa fé tantas ilusões e paradoxos, foi
absolutamente necessário proclamar o dogma de que o entendimento deve ser posto sob a
obediência da fé. Presentemente, pois, que na Passagem de Paulo (Rom. 3, 28) pela fé é
entendida não a fé em Deus Pai, mas a Fé em Seu Filho e que, pelas obras da Lei não são
entendidas as obras do Decálogo, mas as obras da lei de Moisés para os judeus, como se vê
claramente pelas passagens que seguem e também pelas passagens semelhantes nas
Epístolas aos Galatas, Cap. 2, 14, 15, a pedra fundamental da fé de hoje cai; e o templo,
elevado sobre esta pedra, cai também como uma casa que desmorona e de que não resta
senão a cumieira do teto.
&339 - Que é preciso crer, ter fé em Deus Salvador Jesus Christo, é porque é a fé em um
Deus visível, no qual está Deus invisível; e a fé em um Deus visível, que é Homem e, ao
mesmo tempo Deus, entra no homem; com efeito, em sua essência, a fé é espiritual, mas em
sua forma é natural; e por isso, no homem, esta fé se toma espiritual-natural, pois todo
espiritual é recebido no natural, a fim de que seja alguma cousa no homem; o espiritual nu
entra, é verdade, no homem, mas não é recebido; é como o éter que influi e eflui sem afetar;
pois para que afete, é necessário que haja percepção e recepção, uma e outra na Mente do
homem e isso só acontece rio homem em seu natural. Por outro lado, a Fé puramente
natural ou a Fé privada da essência espiritual não é a fé; é unicamente uma persuasão ou
ciência; a persuasão imita a fé nos externos, mas como em seus internos não há o Espiritual,
não há, muito menos salvífico algum;
tal é a fé em todos aqueles que negam a Divindade do Humano no Senhor; tal foi a fé
Ariana, e tal é também a fé Sociniana, porque uma e outra rejeitou a Divindade do Senhor.
0 que é a fé sem um termo (ou um fim) para o qual ela tenda? Não é como a vista que,
mergulhando no universo, cai como no vácuo e se perde? Não é como um pássaro voando
acima da atmosfera no éter, onde expira como no vácuo? A morada desta fé na mente do
homem pode ser comparada à morada dos ventos nas asas de Éolo e à morada da luz em
uma estrela cadente; eleva-se como um cometa de longa cauda, mas passa como esta e
desaparece; em uma palavra, a Fé em um Deus invisível é na realidade uma fé cega porque
a mente humana não vê seu Deus; e a luz dessa fé, porque não é espiritual-natural, é uma
luz quimérica e esta luz é como a luz no vidro brilhante e como a luz nos pântanos ou sobre
glebas sulfurosas durante a noite; desta luz não provêm outra cousa que não seja uma
fantasia, na qual se acredita que o que é aparente, existe, embora não exista; a Fé em um
Deus Invisível não brilha com uma outra luz; e sobretudo, quando pensa que Deus é
Espírito e se pensa a respeito de um Espírito to como a respeito do éter; que resulta daí,
senão que o homem considera Deus como considera o éter, que assim ele 0 procura no
Universo e não 0 encontrando, crê que a Natureza do Universo é Deus? é desta origem que
vem o Naturalismo, que reina hoje; o Senhor não disse: "A voz do Pai jamais ouvistes, nem
vistes o seu aspecto" (João V, 37); e também: "Deus, ninguém viu jamais; o Filho
Unigênito, que está no seio do Pai, no-lo declarou,"(João I, 18). "Não, que alguém tenha
visto o Pai, senão aquele que está no Pai; este viu o Pai" (João VI, 46). Depois: "Ninguém
vai ao Pai senão por Mim" (João XIV, 6), e em seguida: "Quem Me vê e Me conhece, vê e
conhece o é a Fé no Senhor Pai" (João XIV, 7 e segs.). Mas bem diferente seu Salvador;
como Ele é Deus e Homem e pode ser aproximado, pode ser visto no pensamento, a Fé não
é não terminada (indeterminada), mas tem um termo, de que provém e para o qual tende e
uma
vez recebida, permanece; é como alguém que um Imperador ou uma Rei; todas as vezes
que se lembra dèle, a sua imagem se apresenta. A vista desta fé é como alguém quando vê
uma Nuvem brilhante e, no meio dela, um Anjo que convida o homem a vir a de, para que
seja elevado ao Céu; assim aparece o Senhor àqueles que tem fé n'Ele; Ele se aproxima de
todo homem segundo o homem o conhece e o reconhece, o que acontece conforme de
conhece e faz seus preceitos, que são para fugir dos males e fazer os bens; e enfim, Ele vem
à casa deste homem e aí faz Sua morada com o Pai que está n'Ele, segundo Suas palavras
em João: "Jesus disse: Aquele que tem os meus preceitos e os faz, é o que Me ama; e
aquele que Me ama será amado por Meu Pai; Eu o amarei, Eu mesmo me manifestarei a de
e para êle viremos, e morada nele faremos" (XIV, 21, 23). Isto foi escrito em presença dos
doze Apóstolos do Senhor que tinham sido enviados a mim pelo Senhor, enquanto eu
escrevia. A Fé, em suma, é que aquele que vive bem e crê segundo as regras, é salvo pelo
Senhor.
&340 - Que o homem foi criado para a vida eterna' e que todo homem possa tê-la em
herança, desde que viva segundo os, meios de salvação que foram prescritos na Palavra, é
fato com -que concorda todo Christão e também todo Pagão que tem religião e uma razão
sã; mas os meios de salvação são numerosos; entretanto, todos e cada um, se referem a
viver bem e crer segundo as regras; assim à Caridade e à Fé, pois a Caridade é bem viver e
a Fé é crer segundo as regras. Estes dois e uns dos meios de salvação foram não somente
prescritos ao na Palavra, mas ainda ordenados; e, porque foram ordenados, segue,se que o
homem por êles pode obter a vida eterna pelo poder que Deus pôs nele e lhe deu; e quanto
mais o homem se serve deste poder e dirige, ao mesmo tempo, seus olhos para Deus, tanto
mais Deus o corrobora, a ponto de fazer com que tudo que pertence à Caridade natural se
torne Caridade espiritual, e que tudo que pertence à Fé natural se torne Fé espiritual; assim,
de uma Caridade e de uma Fé mortas, Deus faz uma Caridade e uma Fé vivas e torna, ao
mesmo tempo, o homem viva. Há duas coisas que devem estar juntas, para que se possa
dizer que o homem vive bem e crê segundo as regras; estas duas cousas são chamadas na
Igreja, o homem Interno e o homem Externo; quando o homem Interna quer bem e o
homem Externo age bem, então um e outro fazem um, o Externo pelo Interno, e o Interno
pelo Externo; assim, o homem segundo Deus e Deus pelo homem; mas ao contrário, se o
homem Interno quer mal e, Entretanto, o homem Externo age bem, um e outro não obstante
agem segundo ,o Inferno, pois então o querer vem do Inferno e os feitos são hipócritas; e
em cada feita hipócrita, o querer, que é infernal, está interiormente escondido como uma
serpente sob a erva e como um verme em uma flor. 0 homem que sabe não somente que há
o homem Interno e o homem Externo, mas ainda o que êles são, e que podem fazer um na
realidade, e também um na aparência; e que, além disso, o, homem Interno vive depois da
morte e que o homem Externo é sepultado, esse possui potencialmente os arcanos do Céu e
também os do Mundo com abundância; e aquele que conjunta estes dois homens em si para
o bem, se torna feliz para a eternidade; mas aquele que os divide, e mais ainda, aquele que
os conjunta para o mal, se torna desgraçado para a eternidade.
&341 - Crer que o homem que vive bem e crê segundo as regras não é salvo e que Deus
pode salvar e danar à sua vontade e segundo seu prazer a quem Ele quiser, é dar ao homem
o direito de acusar Deus de barbárie, inclemência e também, m, de crueldade, e mesmo de
negar que Deus seja Deus; e acusá-lO também de ter dito em Sua Palavra coisas vãs e de
,ter ordenado coisas que -são inúteis ou que são futilidades; e além disso, se o homem que
vive bem e crê segundo as regras não é salvo, êle também pode acusar Deus de violar a
aliança que contratou sobre o Monte Sinai e que gravou com seu dedo sobre as duas tábuas;
que Deus não possa salvar senão aqueles que vivem segundo seus preceitos e têm fé n'Ele,
vê-se por estas palavras do Senhor em João, Cap. XIV, 21 a 24; e quem tenha uma religião
e uma razão sã pode se confirmar nisso, quando pensa que Deus, que está constantemente
no homem e lhe dá a vida e também a faculdade de compreender e de amar, não pode fazer
outra coisa senão amá-lo; e pelo amor, se conjunta àquele que vive bem e crê segundo as
regras; Deus não gravou isto em cada homem e em cada criatura? Um pai e uma mãe não
podem rejeitar seus filhos, uma galinha seus pintinhos, um animal seus filhotes, os tigres, as
panteras e as serpentes mesmas não o podem; agir de outro modo seria contra a ordem em
que está Deus e segundo a qual Êle age e também contra a ordem em que criou a homem.
Ora, do mesmo modo que é impossível a Deus danar alguém que vive bem e crê segundo as
regras, assim também, em sentido contrário, é impossível a Deus salvar alguém que vive
mal e por conseguinte crê os falsos; este segundo ponto é também contra a ordem, por
conseqüência contra a Onipotência de Deus, a qual não pode proceder senão pelo caminho
da Justiça; e as Leis da Justiça são verdades que não podem ser mudada, pois o Senhor
disse: "E' mais fácil que o Céu e a Terra passem, do que caia um só acento da Lei" (Lucas
XVI, 17). Quem tenha algum conhecimento da essência de Deus e do Livre arbítrio do
homem pode perceber isso; assim, por exemplo: Adão foi livre para comer da árvore da
vida e também da árvore da ciência do bem e do mal; se êle tivesse somente comido da
Arvore ou das Arvores da vida, teria sido possível a Deus expulsá-los do Jardim? creio que
não; mas depois que êle comeu da Arvore da ciência do bem e do mal, teria sido possível a
Deus retê-lo no Jardim? creio ainda que não; semelhantemente, Deus não pode lançar no
Inferno alguém que foi recebido como Anjo no Céu, nem admitir no Céu alguém que foi
julgado diabo; é segundo Sua Onipotência que Êle não pode fazer nem um nem outro, ver
acima no Artigo sobre a Divina Onipotência, ns. 49 a 70.
&342 - No Lema precedente, ns. 336 a 339, foi mostrado que a Fé salvífica é a Fé no
Senhor Deus Salvador Jesus Christo; mas pergunta-se qual é o Primeiro ponto da Fé no
Senhor; e eu respondo que é o Reconhecimento de que êle é o Filho de Deus; foi o primeiro
ponto de fé que o Senhor, quando veio ao Mundo, revelou e anunciou; pois se não se
tivesse primeiro reconhecido que êle era o Filho de Deus, e assim Deus vindo de Deus, teria
sido em vão que Êle e, em seguida, os Apóstolos pregariam a fé n'Ele. Ora, como alguma
cousa semelhante existe hoje, mas naqueles que pensam segundo o próprio, isto é, segundo
o homem Externo ou natural só, dizendo consigo mesmo: Como Jehovah Deus pode
conceber um Filho e como um Homem pode ser Deus, é necessário que êste Primeiro ponto
da fé seja confirmado e afirmado pela Palavra; por isso, vão ser tiradas dela as passagens
seguintes: "0 Anjo disse a Maria: Tu conceberás no útero e darás à luz um Filho e chamarás
seu Nome Jesus; Este será grande e Filho do Altíssimo será chamado. E Maria disse ao
Anjo: Como se fará isso, pois que eu não conheço homem? 0 Anjo respondeu: Um Espírito
Santo virá sobre ti e unia Virtude do Altíssimo te cobrirá com sua sombra, por isso, o que
nascer de ti Santo será chamado Filho de Deus" (Lucas 1, 31, 32, 34, 35). "Quando Jesus
era batizado, uma voz veio do Céu, dizendo: Este é meu Filho bem amado, em quem me
comprazo" (Mateus III, 16, 17; Marcos 1, 10, 11; Lucas III, 21, 22). Depois: "Quando Jesus
foi transfigurado, uma voz veio também do Céu, dizendo: Este é meu Filho bem amado, em
quem me comprazo; escutai-O" (Mateus XVII, 5; Marcos IX, 7; Lucas IX, 35). "Jesus
perguntou a seus Discípulos: Que dizem os homens quem eu sou? Pedro respondeu: Tu és o
Christo, o Filho de Deus vivo. E Jesus disse: Tu és feliz, Simão filho de Jonas; Eu te digo:
Sobre esta rocha construirei minha Igreja" (Mateus XVI, 13, 16, 17, 18); o Senhor disse que
sobre esta Rocha construiria sua Igreja, a saber, sobre a Verdade e a Confissão de que Êle é
o Filho de Deus; pois a Rocha significa a Verdade e também o Senhor quanto ao Divino
Vero; aquele, portanto, em quem não há a confissão desta Verdade, que Êle é o Filho de
Deus, não há tampouco a Igreja; eis por que foi dito acima que é isso o primeiro ponto da
Fé em Jesus Christo, assim a Fé em sua origem. "João Batista viu e atestou que ele era o
Filho de Deus" (João 1, 34). "Nataniel o discípulo disse a Jesus: Tu és o Filho de Deus; tu
és o Rei de Israel" (João I, 50). "Os doze discípulos disseram: Nós cremos que tu és o
Christo, o Filho de Deus vivo" (João VI, 69). Êle é chamado o Unigênito Filho de Deus, o
Unigênito do Pai, que está no seio do Pai (João 1, 14, 18; 111, 16). Jesus mesmo diante do
Sumo sacerdote confessou que era o Filho de Deus (Mateus XXVI, 63, 64; XXVII, 43;
Marcos XIV, 61, 62; Lucas XXII, 70). ''Aqueles que estavam na barca, aproximando-se,
adoraram Jesus, dizendo: Verdadeiramente Filho de Deus Tu és" (Mateus XIV, 33). O
eunuco que queria ser batizado disse a Filipe: "Eu creio que Jesus Christo é o Filho de
Deus" (Atos 8, 37). Quando Paulo se converteu, pregou que Jesus era o Filho de Deus
(Atos 9, 20). "Jesus disse: Virá uma hora em que os mortos ouvirão a voz do Filho de Deus;
e aqueles que a ouvirem viverão" (João V, 25). ''Aquele que não crê já foi julgado porque
não creu no Nome do Unigênito Filho de Deus" (João III, 18). "Estas coisas foram escritas,
a fim de que creiais que Jesus é o Christo, o Filho de Deus e que, crendo, tenhais a vida em
seu Nome" (João XX, 31). "Eu vos escrevi estas cousas, a vós que crerdes no Nome do
Filho de Deus, a fim de que saibais que tendes a vida eterna e de que creiais no Nome do
Filho de Deus" (I João V, 13). "Sabemos que o Filho de Deus veio, vos deu a conhecer o
Vero e estamos no Vero em seu Filho Jesus Christo; Ele é o verdadeiro Deus e a Vida
eterna" (I João V, 20, 21). "Quem quer que tiver confessado que Jesus é o Filho de Deus,
Deus mora nele, e ele em Deus" (I João IV, 15). E também em outros lugares, por exemplo:
Mateus VIII, 29; XXVII, 40, 43, 54; Marcos I, 1; III, 11, 15, 39; Lucas VIII, 28; João IX,
35; X, 36; XI, 4, 27; XIX, 7; Rom. 1, 4; II Corint. 1, 20; Efes. 4, 13; Heb. 4, 6; 7, 3; 10, 29;
1 João III, 8; V, 10; Apoc. 2, 18. Além disso, em muitas outras passagens onde Ele é
chamado Filho por Jehovah e onde Ele mesmo chama Jehovah Deus seu Pai, como nesta:
"Tudo o que o Pai faz, o Filho faz; como o Pai ressuscita os mortos e vivifica, do mesmo
modo também o Filho. Como o Pai tem a vida em Si mesmo, assim deu ao Filho ter a vida
em Si mesmo; a fim de que todos honrem o Filho como honram o Pai" (João V, 19 a 27); e
em muitos outros lugares algures; e também em David: "Anunciarei sobre o estatuto:
Jehovah me disse: Meu Filho, Tu; Eu hoje te tenho gerado. Beijai o Filho, de modo que êle
não se irrite e que vós não pereçais em caminho; pois se abrasará em breve a sua cólera.
Bem-aventurados todos os que confiam n'Ele'' (Ps. 2, 7, 12). De todas estas passagens se
forma esta conclusão: que, quem queira ser verdadeiramente cristão e ser salvo pelo
Christo, deve crer que Jesus é o Filho de Deus Vivo; e aquele que não crê isso, mas crê
somente que é o Filho de Maria, implanta em si sobre o Senhor diferentes idéias, que são
perigosas e destrutivas de sua salvação; ver acima ns. 92, 94, 102; não se pode dizer desses
homens a mesma cousa que dos judeus, a saber: que, em lugar de sua coroa real, êles
puseram sobre Sua cabeça uma coroa de espinhos e que lhe deram a beber vinagre,
exclamando: Se és o de Deus, desce da cruz; ou como dizia o Diabo, tentando-o: Se és o
Filho de Deus, dize que estas pedras se tornem pão; ou Se és o Filho de Deus, lança-te em
baixo (Mateus IV, 3, 6). Esses profanam sua Igreja e seu Templo e fazem dele um covil de
ladrões. São esses que tornam seu culto semelhante ao culto de Mahomet e que não fazem
distinção entre o verdadeiro Christianismo, que é o culto do Senhor, e o Naturalismo.
Podem ser comparados aos que correm em um carro ou em um trenó sobre gelo delgado, o
gelo se rompe, eles são submergidos e eles, os cavalos e o carro são cobertos pelos pedaços
de gelo. Podem ser ainda comparados aos que construíssem uma barra de juncos e de canas
e a revestissem de pêz para lhe dar consistência e se lançassem ao mar sobre ela; mas em
breve o revestimento de pêz se dissolveria e eles, asfixiados, seriam tragados pelas águas do
mar.
&343 III - 0 homem recebe a fé, dirigindo-se ao Senhor, instruindo-se nas verdades pela
Palavra e vivendo segundo essas verdades.
343 - Antes de empreender a demonstração da Origem da Fé, que é dirigir-se ao Senhor,
instruir-se nas verdades pela Palavra e viver segundo essas verdades, é necessário
apresentar primeiro os Sumários da Fé, pelos quais pode-se adquirir uma noção comum de
cada uma das partes da Fé; pois pode-se apreender com mais nitidez, não somente o que é
dito neste Capitulo sobre a Fé, mas também o que encerram os Capítulos seguintes sobre a
Caridade, sobre o Livre Arbítrio, sobre a Penitência, sobre a Reforma, a Regeneração e
sobre a Imputação; com efeito, a Fé entra em todas e cada uma das partes do sistema
teológico, como o sangue entra nos membros do corpo e os vivifica. 0 que a, Igreja de hoje
ensina sobre a Fé é geralmente conhecido no Mundo Christão e especialmente na Ordem
Eclesiástica, pois os Livros sobre a Fé somente e sobre a Fé só enchem as Bibliotecas dos
doutores da Igreja; apenas existe alguma cousa que seja hoje considerada propriamente
teológica, excetuada a Fé; mas antes de tomar, de percorrer e de examinar os pontos que a
Igreja. de hoje ensina sobre a Fé, o que será feito no Apêndice, vou apresentar os pontos
gerais que a Nova Igreja ensina sobre sua Fé, são os seguintes:
&344 - 0 ser da fé da Nova Igreja é: 1) a Confiança no Senhor Deus Salvador Jesus Christo.
2) A Segurança de que aquele que vive bem e crê segundo as regras é salvo por Ele. A
essência da fé da Nova Igreja é a Verdade segundo a Palavra. A existência da fé da Nova
Igreja é: 1) A Vista espiritual; 2) 0 Acordo das verdades. 3.0) A Convicção. 4) 0
Reconhecimento gravado na mente. Os estados da fé da Nova Igreja são: 1) Fé criança, a Fé
adolescente, a Fé adulta; 2) A Fé do vero real e a Fé das aparências do vero. 3) A Fé de
memória, a Fé de dá razão, a Fé de Luz. 4) A Fé natural, a Fé espiritual, a Fé celeste. 5) A
Fé viva e a Fé miraculosa. 6) A Fé livre e a Fé constrangida. A forma mesma da fé da Ma
Igreja na idéia universal e na idéia particular; ver acima os ns. 2 e 3, onde esta Forma foi
apresentada.
&345 - Como as cousas que pertencem à Fé espiritual foram apresentadas em sumário, do
mesmo modo vão ser apresentadas as cousas concernentes. à fé puramente natural, que em
si mesma é uma persuasão simulando a fé; é a persuasão do falso e é chamada Fé herética;
suas denominações são: 1) A Fé bastarda, na qual os falsos foram misturados aos veros. 2)
A Fé prostituída pelos veros falsificados e a Fé adúltera pelos bens adulterados. 3) A Fé
tapada ou cega, que é a Fé das cousas místicas, que se crê embora não se saiba se são veros
ou falsos, ou se estão acima da razão ou contra a razão. 4) A Fé errática ou vagabunda, que
é a fé era vários Deuses. 5) A Fé vesga, que é a fé em um outro Deus que não o verdadeiro
Deus; e nos Christãos, em um outro Deus que não o Senhor Deus Salvador. 6) A Fé
hipócrita ou farisaica, que é a fé de boca e não de coração. 7) A Fé visionária e às avessas,
que é a aparência do falso como vero, por uma engenhosa confirmação.
&346 - Foi dito acima que a Fé, quanto à sua existência no homem, é a Vista espiritual;
agora, como a vista espiritual que pertence ao entendimento e à mente; e a vista natural que
é a vista do olho ou do corpo, se correspondem mutuamente, todo estado da fé pode, em
conseqüência, ser comparado a um estado do olho e da vista do olho o estado da fé do vero
com todo estado são da vida do olho e o estado da fé do falso com todo estado pervertido
da vista do olho mas vamos comparar as correspondências destas duas vistas; a da mente e
a do corpo, quanto aos estados pervertidos de uma e de outra: A Fé bastarda, na qual os
falsos foram misturados aos veros, pode ser comparada com o vício do olho e, por
conseqüência, da vista que se chama Belida branca sobre a córnea, tomando a vista
obscura. A Fé prostituída que provém dos veros falsificados e a Fé adúltera, que provém
dos bens adulterados, podem ser comparadas com o vício do olho e, por conseqüência, da
vista, que se chama Glaucoma, que é uni dessecamento, una endurecimento do humor
cristalino(*). A Fé tapada ou cega, que é a fé das cousas místicas, que se crê, embora não se
saiba se são veros ou falsos ou se estão acima ou contra a razão, pode ser comparada com o
vício do olho que se chama Gota serena e Amaurose, que é a perda da vista por uma
obstrução do nervo ótico e, entretanto o olho parece, ver perfeitamente. A Fé errádica ou
vagabunda que é a fé em vários Deuses, pode ser comparada com o vicio do olho que se
chama Catarata, que é a perda da vista por uma obstinação entre a túnica esclerótica e a
úvea (**). A Fé vesga, que é a fé em um outro Deus que não o verdadeiro Deus; e nos
Cristãos, em um outro Deus que não o Senhor Deus Salvador, pode ser comparada com o
vício do olho que se chama Estrabismo. A Fé hipócrita ou farisaica, que é a fé de boca e
não de coração, pode ser comparada com a Atrofia do olho e por conseguinte com a perda
da vista. A Fé visionária e às avessas, que é a aparência do falso como vero por uma
engenhosa confirmação, pode ser comparada com o vício do olho que se chama Nictalópia,
que faz com que se veja nas trevas por uma luz quimérica.
&347 - Quanto ao que concerne à Formação da Fé, a fé é formada por dirigir-se o homem
ao Senhor, instruir-se nas Verdades pela Palavra e viver segundo essas verdades.
Primeiramente: a fé é formada por dirigir-se o homem ao Senhor; é porque a fé que é a fé
da salvação, vem do Senhor e é a fé no Senhor; que ela venha do Senhor, isso é evidente
pelas palavras do Senhor a Seus discípulos: "Permanecei em Mim e Eu em vós, porque sem
Mim nada podeis fazer" (João XV, 4, 5). Que seja a Fé no Senhor, vê-se claramente pelas
passagens citadas acima, ns. 237, 238, que mostram que é preciso crer no Filho. Agora,
pois que a Fé vem do Senhor e é a fé no Senhor, pode-se dizer que o Senhor é a Fé mesma,
pois a vida e a essência da fé são do Senhor, assim vêm do Senhor. Segundamente: A fé é
formada por instruir-se o homem nas verdades pela Palavra; é porque a fé, em sua essência,
é a Verdade; com efeito, todas as coisas que entram na fé (*) 0 autor se exprime aqui
conformemente à nosologia de seu tempo. Os modernos aplicaram a esta mesma afecção o
nome de Catarata; e o nome de Glaucoma a uma moléstia do humor vítreo. (**) Esta
obstipação, produzida por um derramamento da linfa coagulada no humor aquoso, recebeu
entre os modernos, não mais o nome de Catarata, mas simplesmente de derramamento
proveniente de inflamação. Convém observar, além disso, que a aplicação dos termos
Túnica, Esclerótica e úvea foi hoje restringido, ao ponto de não mais designar as partes que
o Autor teve em vista; o primeiro desses termos abrangia toda a túnica externa do olho, aí
compreendida a sua parte transparente, chamada hoje Córnea, a que é aqui entendida; e o
nome úvea compreendia o Íris, que lhe serve aqui para designar são verdades; por isso, a Fé
não é outra cousa senão o complexo das verdades que brilham na mente do homem; pois as
verdades ensinam não somente que é preciso crer, mas ainda em que é preciso crer e o que
é preciso crer. Se as verdades devem ser colhidas na Palavra, é porque todas as verdades
que conduzem à salvação aí estão; nestas verdades há eficácia porque foram dadas pelo
Senhor; por conseqüência, foram inscritas em todo Céu Angélico; portanto, quando o
homem aprende as verdades pela Palavra, entra em comunicação com os Anjos, sem que o
saiba; a Fé sem as verdades é como grão privado de substância medular, que moído dá
somente som; mas a Fé segundo as verdades é como grão bom, que, moído, dá a farinha;
em uma Palavra, os essenciais da Fé são as verdades; se as verdades não estão nelas e não a
compõem, a fé é somente como o som barulhento de um assobio; mas quando estão nela e a
compõem, a fé é como o som de uma notícia que traz a salvação. Terceiramente: A fé é
formada por viver o homem segundo as verdades, porque as verdades não vivem realmente
antes de estarem nos fatos; as verdade, abstração feita dos fatos, pertencem ao pensamento
só; e se não se tornam cousas da vontade, estão unicamente no limiar da porta no homem e
não estão interiormente nele; pois a vontade é o homem mesmo; e o pensamento não é o
homem senão na medida e da maneira por que se adjunta à vontade. Aquele que se instrui
nas verdades e não as faz, é como aquele que espalha seu grão em um campo, não o
esterroa, o grão incha pela chuva e não vale mais nada; mas aquele que se instrui nas
verdades e as faz, é como aquele que semeia e, em seguida, passa a grade, o grão pela
chuva cresce em espiga e dá uma colheita que serve para a alimentação; o Senhor disse: "Se
estas cousas vós sabeis, felizes sereis se as fizerdes" (João XIII, 17). E em outra parte:
"Aquele que semeou na boa terra, é o que ouve a Palavra e lhe dá atenção; por conseguinte,
carrega e dá fruto" (Mateus XIII, 23). Depois: "Quem quer que ouve as minhas Palavras e
as faz, eu o compararei a um homem prudente que construiu sua casa sobre a rocha; mas
quem ouve as minhas palavras e não as faz, será comparado a um homem insensato que
construiu sua casa sobre a areia" (Mateus VII, 24, 26); todas as palavras do Senhor são
verdades.
&348 - Pelo que acaba de ser dito, é evidente que há três cousas pelas quais a fé é formada
no homem, a saber: primeiramente, dirigir-se ao Senhor; em segundo lugar, instruir-se nas
verdades pela Palavra; em terceiro lugar, viver segundo essas verdades; agora, pois que há
três e que uma não é a outra, segue se que elas podem ser separadas; com efeito, um
homem pode dirigir-se ao Senhor e não conhecer as verdades concernentes a Deus e ao
Senhor, senão as verdades históricas; e um homem, também pode conhecer, em
abundância, as verdades Palavra e, entretanto, não viver segundo essas verdades; mas
homem em que estas três cousas estão separadas, isto é, estão uma um a outra, não há a Fé
da salvação; esta fé nasce quando estas, três cousas estão conjuntas; e tal é a conjunção, tal
é está fé. Por toda parte onde estas três coisas foram separadas, a Fé é como uma semente
estéril que, posta na terra, se reduz a pó; mas por toda a parte onde estas três cousas foram
Conjuntas, a Fé é como uma semente que, posta na terra, produz uma árvore, cujo fruto é
segundo a conjunção. Quando estas três coisas foram separadas, a Fé é como um ovo que
não foi fecundado; mas quando estas três cousas foram conjuntas, a Fé é como um ovo
fecundado que produz um belo pássaro. A Fé naqueles em quem estas três cousas foram
separadas, pode ser comparada ao olho de um peixe cozido ou de um lagostim cozido; mas
naqueles em quem foram conjuntas, a Fé pode ser comparada a um olho transparente desde
o humor cristalino até e através da úvea da pupila. A Fé separada é semelhante a uma
pintura em cores escuras sobre uma pedra negra; mas a Fé conjunta é semelhante a uma
pintura em belas cores sobre um cristal transparente. A luz da fé separada pode ser
comparada à luz de um tição. na mão de um viajante durante a noite; mas, a luz da Fé
conjunta pode ser comparada à luz de um archote, cuja vibração ilumina todos os passos. A
fé sem as verdade" como uma cepa que produz uvas selvagens; mas a fé pelas verdades é
como uma cepa que dá cachos de uvas de um vinho gemo roso. A fé no Senhor sem as
verdades pode ser comparada a uma nova estréia que aparece na extensão do céu e que,
com a: tempo, se obscurece; mas a fé no Senhor com as verdades pode ser comparada a
uma estrela fixa, que permanece perpetuamente. A verdade é a essência da fé; sem as
verdades a fé é vaga, mas com as verdades é fixa; a fé das verdades brilha no Céu como
uma estrela.
&349 IV - A abundância dia verdades ligadas em conjunto como em um feixe exalta e
aperfeiçoa a fé.
349 - Pela percepção que se tem hoje da fé, não se pode conhecer que a fé, amplamente
considerada, é o complexo das verdades; nem, com mais forte razão que o homem pode
contribuir em alguma cousa para adquirir a fé, quando, entretanto, a fé em sua essência é a
verdade na luz; e como a verdade, pode-se adquirir, do mesmo modo, também a fé; quem
não pode dirigir-se ao Senhor, se quiser? E quem não pode, pela Palavra, recolhe verdades,
se quiser? Toda verdade na Palavra e pela Palavra dá luz e a verdade na luz é a fé; o
Senhor, que é a luz mesma, influi era cada homem e naquele em que há verdades pela
Palavra, faz com que brilhem nele e assim, elas se tomam coisas da fé; e é isto que o
Senhor diz em João: "A fim de que eles permaneçam no Senhor e Suas palavras
permaneçam nele" (XV, 7); as palavras do Senhor são as verdades. A fim de que se
apreenda bem que a abundância das verdades ligadas em conjunto como um feixe, exalta e
aperfeiçoa a fé, o exame deste Artigo será dividido em quatro Parágrafos: I. As verdades da
fé são multiplicáveis ao infinito. II. Sua disposição é em séries, como em pequenos feixes.
III. Segundo sua abundância e sua coerência, a fé é aperfeiçoada. IV. As verdades por mais
numerosas que sejam e mais diferentes que pareçam, fazem um pelo Senhor, que é a
Palavra, o Deus do Céu e da Terra, o Deus de toda carne, o Deus da Vinha ou da Igreja, o
Deus da fé e a. Luz mesma, a Verdade e a Vida eterna.
&350 - I. As verdades da fé são multiplicáveis ao infinito; pode-se ver pela sabedoria dos
Anjos do Céu, que aumenta eternamente; os Anjos dizem também que jamais há fim para a
sabedoria, a qual não vem senão dos Divinos veros examinados analiticamente nas formas,
mediante a luz vinda do Senhor; a inteligência humana, por maior que seja, não vem de
outra parte. A multiplicidade do Divino Vero ao infinito vem do fato de ser o Senhor o
Divino Vero em sua infinidade e que atrai tudo a Ele; mas os Anjos e os homens, porque
são finitos, não podem seguir a veia da atração senão segundo suas medidas e o esforço de
atração para o infinito persistindo continuamente; a Palavra do Senhor é um abismo de
verdades donde procede toda a Sabedoria Angélica, embora esta Palavra, diante do homem
que nada sabe do seu Sentido espiritual nem do seu Sentido celeste, não pareça. mais do
que a água em um balde. A multiplicação das verdades da fé ao infinito, pode ser
comparada às sementes dos homens, de uma das quais, podem ser propagadas famílias nos
séculos dos séculos. A Proliferação das verdades da fé pode também ser comparada à
proliferação das sementes de um campo e de um Jardim, que podem ser propagadas em
miríades e perpetuamente; na Palavra, pela semente, não é entendida outra cousa senão o
Vero; pelo campo, a Doutrina e pelo jardim, a Sabedoria. A mente humana é como um
húmus, no qual os veros espirituais e naturais são implantados como sementes, que podem
ser multiplicados sem fim; o homem deriva isso da Infinidade de Deus, que está
perpetuamente presente com sua luz e- seu calor e com a faculdade de criar.
&351 - II. A disposição das verdades da fé é em séries, o em pequenos feixes; que seja
assim ignora-se ainda porque que as verdades espirituais, de que toda a Palavra se compõe,
não puderam se mostrar por causa da fé mística e enigmática, que constitui cada ponto da
Teologia de hoje, e ficaram, por conseqüência, escondidas como celeiros sob a terra. Para
que se saiba o que é entendido por séries e pequenos feixes, uma explicação vai ser dada: 0
Primeiro Capitulo deste Livro, que trata de Deus Criador, foi dividido era Séries, das quais,
a primeira concerne à Unidade de Deus; a segunda, ao Ser de Deus ou Jehovah; a terceira, à
Infinidade de Deus; a quarta, à Essência de Deus, que é o Divino Amor e a Divina
Sabedoria; a quinta, à Onipotência de Deus e a sexta, à Criação; os artigos de cada assunto
fazem ,séries, ligam em conjunto como em feixe, todas as cousas que aí estão. Estas séries
no comum e no particular, contêm verdades que, conforme a abundância e conforme a
coerência, exaltam e aperfeiçoara a fé. Aquele que não sabe que a Mente humana é um
organismo espiritual terminado em um organismo natural, no qual e segundo o qual a
Mente se entrega a suas idéias ou pensa, não pode fazer outra coisa senão crer que as
percepções, os pensamentos e as idéias não são outra cousa senão radiações e variações da
luz que influi na cabeça; e apresentam formas que o homem vê e reconhece como razões;
mas isso é uma fantasia; pois todos sabem que a Cabeça está cheia com dois cérebros, que
os cérebros são organizados, que a Mente aí habita e que suas idéias aí se fixam e
permanecem conforme foram aceitas e confirmadas. Se, portanto, se pergunta qual é esta
organização, eu respondo que é uma organização de todas as cousas em séries, como por
pequenos feixes; e que as verdades que pertencem à lá foram assim dispostas na Mente
humana; que assim seja, é o que pode ser ilustrado pelas explicações seguintes: 0 cérebro
consiste em duas substâncias, das quais, uma é glandular, chamada cortical e cinzenta; e a
outra é fibrosa e chamada medular; a primeira substância, que é glandular, foi disposta em
cachos como as uvas em uma cepa e estas reuniões em cachos são suas ;séries; a segunda
substância, que é chamada medular, consiste em perpétuas confasciculações de fibrilas, que
saem das glândulas da primeira substância; estas confasciculações são suas séries; todos os
Nervos que daí procedem são espalhados no corpo para desempenharem diferentes funções,
são molhos ou feixes de fibras; semelhantemente, todos os músculos e, em geral, todas as vísceras e todos os órgãos do corpo; uns e outros são tais porque correspondem às séries em
que o organismo da mente foi disposto. Além disso, na Natureza nada existe que não tenha
sido confasciculado em séries; toda árvore, todo arbusto, toda sarça, todo,legume, toda
espiga e toda erva, no comum e na parte, é assim. A causa universal disso, é que as Divinas
Verdades foram assim conformadas, pois lê-se que todas as cousas foram criadas pela
Palavra, isto é, pelo Divino Vero e que o Mundo também foi feito por ela (João I, 1). Por
isso, pode-se ver que se não houvesse na Mente humana uma tal ordenação das substâncias,
o homem não teria analítica alguma da razão, analítica que cada um possui segundo a
ordenação, assim segundo a abundância de verdades ligadas em conjunto como um feixe; e
a ordenação está de acordo com o uso da razão segundo a liberdade.
&352 - III. Conforme a abundância e a coerência das verdades a fé é aperfeiçoada; é isto a
conseqüência do que acaba de ser dito e se manifesta diante de quem reúne razões e
distingue as que produzem séries multiplicadas, quando são ligadas em conjunto como um;
pois, então, uma apóia e confirma a outra, e fazem, juntas, uma forma que, quando está em
ação, apresenta um único ato. Ora, como a fé, em sua essência, é a verdade, segue-se que,
conforme a abundância e a coerência das verdades, ela se torna, cada vez, mais
espiritualizada; assim, cada vez menos natural-sensual, pois é elevada à região superior da
mente, de onde vê em baixo coortes de confirmações em seu favor na natureza do Mundo; a
verdadeira fé, pela abundância das verdades ligadas em conjunto como em um feixe, tornase mesmo mais brilhante, mais perceptível, mais evidente e mais clara; torna-se também
mais apta a se conjuntar com os bens da caridade; por conseguinte, mais separada dos
males e, sucessivamente, mais afastada das seduções do olho e das cobiças da carne, por
conseqüência, mais feliz em si mesma; torna-se principalmente mais possante contra os
males e os falsos; portanto, cada vez mais viva e salvífica.
&353 - Foi dito acima que, no Céu toda verdade brilha e também, que a verdade que brilha
é a fé em sua essência; a beleza e a graça da fé segundo esta ilustração, quando suas
verdades são multiplicadas, podem ser comparadas às diversas formas, objetos e quadros,
compostos de diferentes cores adaptadas segundo as conveniências; por conseqüência, às
pedras preciosas de diversas cores do peitoral de Aharão, que, tomadas em conjunto, eram
chamadas Urim e Tumim; do mesmo modo, as pedras preciosas de que os fundamentos da
muralha da Nova Jerusalém deviam ser construídos (Apoc. 21.0); podem também ser
comparadas às pedras preciosas de diversas cores na coroa de um Rei; as pedras preciosas
significam também as verdades da fé. A comparação pode ainda ser feita com a beleza do
arco-íris, com a beleza de uma campina esmaltada de flores, ou com a de jardim quando as
árvores florescem no começo da primavera. luz e a glória da fé, pela abundância das
verdades que a e embele podem ser comparadas à iluminação dos Templos grande número
de círios. A elevação da fé, pela abundância das verdades, pode ser ilustrada pela
comparação com a elevação de um som retumbante acompanhado de uma melodia
produzida por vários instrumentos de música, em um concerto; e também com a elevação
do perfume produzido pela reunião de flores de odor suave; e assim por diante. A potência
da fé, formada por um grande número de verdades contra os falsos e os males, pode ser
comparada à solidez de um Templo construído com pedras bem ligadas entre si e com
colunas acrescentadas à sua muralha e sustentando sua abóbada; pode ser também
comparada a um batalhão em quadrado, no qual os soldados se mantêm lado a lado e assim,
constituem uma única força; pode ser ainda comparada aos músculos de que o corpo é
tecido e que, embora numerosos e dispersos, exercem, contudo, uma única e maior força;
nas ações.
&354 - IV. As verdades da fé, por mais numerosas que sejam e por mais diferentes que
pareçam, fazem um pelo Senhor, que é a Palavra, o Deus do Céu e da Terra, o Deus de toda
carne, o Deus da Vinha ou da Igreja, o Deus da Fé, a Luz mesma, a Verdade e a Vida. As
verdades da fé são diversas e se mostram diferentes diante do homem; por exemplo: umas
sobre Deus Criador, outras sobre o Senhor Redentor, outras sobre o Espírito Santo e sobre a
Divina Operação, outras sobre a Fé e sobre a Caridade; e outras, sobre o Livre Arbítrio, a
Penitência, a Imputação, etc.; não obstante, fazem um no Senhor e no homem pelo Senhor,
como vários ramos de uma única cepa (João V, 1 e segs.). Com efeito, o Senhor conjunta as
verdades esparsas ou divididas, como em uma única forma, na qual oferecem um único
aspecto e apresentam um único ato; isso pode ser ilustrado por uma comparação com os
membros, as vísceras e os órgãos em um único corpo; mau grado sua variedade, e ainda
que, diferentes diante da vista do homem, entretanto, o homem, que é a forma comum
deles, não sente senão a unidade; e quando age por eles todo, age como se fosse uma única
unidade. Acontece o mesmo no Céu que, embora dividido em inumeráveis Sociedades,
aparece, não obstante, como um diante do Senhor; que ele seja como um único Homem,
isso foi mostrado acima. Acontece ainda era relação a isso, como com um Reino que,
embora dividido em várias administrações e também em províncias e cidades, faz,
entretanto, um sob o Rei que exerce justiça e julgamento. Se acontece o mesmo com as
Verdades da fé, segundo as quais a Igreja é Igreja pelo o é porque o Senhor é a Palavra, o
Deus do Céu e da Terra, o Deus de toda de toda a Carne, a Deus da Vinha ou da Igreja, o
Deus da fé, a Luz, a Verdade e a Vida eternas. Que o Senhor seja a Palavra e seja assim
todo Vero do Céu e da Igreja, pode-se ver em João: "A Palavra estava com Deus; e Deus
ela era, a Palavra; e é Palavra carne foi feita" (João I, 1, 14). Que o Senhor seja o Deus do
Céu e da Terra, vê-se em Mateus: "Jesus disse: Foi-me dado todo poder no Céu e na Terra"
(XXVIII, 18). Que o Senhor seja o Deus de toda carne, vê-se em João: "0 Pai deu ao Filho
poder sobre toda Carne" (João XVII, 2). Que o Senhor seja o Deus da Vinha ou da Igreja,
vê-se em Isaías: "Uma Vinha era do meu bem amado" (V, 1, 2); e em João: "Eu sou a Cepa
e vós, os sarmentos" (XV, 5). Que o Senhor seja o Deus da fé, vê-se em Paulo: "Tendo a
justiça que vem da fé de Christo, de Deus pela fé" (Filipe 111, 3). Que o Senhor seja a Luz
mesma, vê-se em João: "Ele era a luz verdadeira que Ilumina todo homem vindo ao
Mundo" (I, 9); e em outra parte: "Jesus disse: "Eu, Luz, ao Mundo vim, a fim de que quem
crer em Mim, não permaneça nas trevas" (XII, 46). Que o Senhor seja a Verdade mesma,
vê-ser em João: "Jesus disse: Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida" (XIV, 6). Que o
Senhor seja a Vida eterna, vê-se em Não: "Nós sabemos que o Filho de Deus veio as
Mundo, a fim de que conhecêssemos a Verdade e estamos na Verdade em Jesus Christo;
Ele é o verdadeiro Deus e a Vida eterna" (Epist. I, V, 20, 21). A isto é preciso acrescentar
que o homem, por coisa de seus afazeres no Mundo, não pode adquirir as verdades da fé
senão em pequeno número; mas, não obstante, se dirige ao Senhor e 0 adora, a Ele só,
chega potencialmente a conhecer todas as verdades; é por Isso que todo verdadeiro
adorador doSenhor, desde que ouve alguma verdade da fé, que não tinha conhecido antes, a
vê imediatamente, a reconhece e a recebe; e isso, porque o Senhor está nele, e porque ele
está no Senhor; por conseqüência, o Senhor é a Luz da verdade nele e ele está na Luz da
Verdade; pois como acaba de ser dito, o Senhor é a Luz mesma e a Verdade mesma. Isso
pode ser confirmado pela experiência: Eu vi um Espírito que, em sociedade com outros
espíritos, parecia simples porque reconhecia o Senhor só por Deus do Céu e da Terra e
fortificava esta sua fé com algumas verdades tiradas da Palavra; este Espírito foi elevado ao
Céu entre os Anjos mais sábios; e me foi dito que lá, ele era tão sábio como eles e que
pronunciava com abundância, como por si mesmo, verdades de que não tinha tido
conhecimento antes. De um estado semelhante gozarão aqueles que vierem para a Nova
Igreja do Senhor; é este mesmo estado que está descrito em Jeremias: "Esta será a aliança
que tratarei com a Casa de Israel depois destes dias: Porei minha lei em seu meio e sobre
seu coração eu a escreverei; e não ensinarão mais, o homem a seu companheiro ou o
homem a seu irmão, dizendo: Conhecei Jehovah; pois todos me conhecerão, desde o menor
dentre eles até ao maior" (XXXI, 33, 34). Este estado será também tal como está descrito
em Isaías: "Sairá um ramo do tronco de Ischai: a verdade será o cinto de suas coxas; então
morará o lobo com o cordeiro, o leopardo com o cabrito se deitará, a criança de peito
brincará sobre o buraco da víbora; e sobre a caverna do basilisco o menino desmamado
porá a mão; pois cheia será a terra da ciência de Jehovah, do mesmo modo que as águas do
mar cobrem; e nesse dia a raiz de Ischai, as nações procurarão e será Seu repouso glória"
(XI, 1, 5, 6 a 10).
v - A Fé sem a Caridade não é a Fé, e a Caridade sem a Fé não é a Caridade, e uma e outra,
não vivem sendo pelo Senhor.
&355 - A Igreja de hoje separou a fé da caridade, dizendo que a Fé só, sem as obras da lei,
justifica e salva; e que, assim, a Caridade não pode ser conjunta à Fé, pois que a Fé vem de
Deus, e a Caridade, tanto quanto está efetivamente nas obras, vem do homem; jamais isso
veio ao espírito de agum Apóstolo, como o mostram claramente as suas Epístolas; mas esta
separação e esta divisão foram introduzidas na Igreja Cristã quando se partilhou Deus Um,
em três Pessoas e se atribuiu a cada uma, Divindade igual. Que não haja Fé sem Caridade,
nem Caridade sem Fé e que não haja vida em uma e outra senão pelo Senhor, isso será
ilustrado no Lema seguinte: I. Que o homem pode adquirir a fé. II. E também a Caridade.
III. E também a vida de uma e de outra. IV. Mas que, entretanto, nada da Fé, nada da
Caridade, nem cousa alguma da Vida de uma e de outra, vem do homem, mas tudo vem do
Senhor só.
&356 - I. 0 homem pode adquirir a Fé: isso foi mostrada acima no terceiro Lema, ns. 343 a
348, e aí se viu que a Fé, em sua essência, é a verdade e que cada um pode adquirir
Verdades pela Palavra; e que, quanto mais alguém as adquire e as ama, tanto mais inicia em
si a fé; a isso será acrescentado que, se o homem não pudesse adquirir a fé, todas as coisas
que foram ordenadas na Palavra sobre a fé, seriam vãs; com efeito, lê-se, que "a vontade do
Pai é que se creia no Filho e que aquele que crê n'Ele tem a Vida eterna; e que aquele que
não crê, não verá a vida"; aí se lê também, "que Jesus enviará o Paracelso, que acusará o
Mundo de pecado, porque não creram n'Eles"; além de multas outras passagens que foram
referidas acima, ns. 337 e 338; ademais, todos os Apóstolos pregaram a Fé no Senhor Deus
Salvador Jesus Christo. Que utilidade teriam todas essas recomendações, se o homem
permanecesse de braços caídos, como uma imagem talhada com articulações móveis,
esperasse o influxo e que então as articulações, sem que pudessem se aplicar a receber o
influxo, fossem interiormente excitadas a alguma cousa, não pertencendo à fé? Com efeito,
eis o que ensina a ortodoxia de hoje no Mundo Cristão separado dos CatólicoRomanos: "0
homem quanto ao bem está inteiramente corrompido e morto, a ponto que, na natureza do
homem, desde a queda, não permanece ou não resta, antes da regeneração, nem mesmo
uma faísca de forças espirituais, pelas quais possa, por si mesmo, ser preparado para a graça
de Deus -ou apreendê-la quando lhe é oferecida; ou ser de si mesmo ou por si mesmo,
suscetível desta graça; ou no caso das cousas espirituais, compreender, crer, abraçar,
pensar, querer, começar, acabar, agir, operar, cooperar, ou se aplicar, se acomodar à graça,
ou fazer alguma cousa para sua conversão, seja rio todo, seja pela metade ou pela menor
parte. 0 homem, nas cousas espirituais, que dizem respeito à salvação da alma, é como a
estátua de sal da mulher de Ló semelhante a um toco ou a uma pedra privados de vida, que
não têm olhos, nem boca, nem de sentido algum. Entretanto, tem a faculdade de locomoção
ou de governar seus membros externos, ir às assembléias públicas, ouvir a Palavra e o
Evangelho". Esta passagem está no Livro da Igreja dos Evangélicos, chamado Fórmula de
Concórdia, Edição de Leipzig, 1756, págs. 656, 658, 661, 662, 663, 671, 673; é sobre este
Livro e sobre esta Fé, que juram os sacerdotes quando são consagrados. Os Reformados
tem uma Fé semelhante. Mas qual é o homem dotado de razão e tendo uma Religião, que
não rejeitará, com desprezo, estes dogmas como absurdos e ridículos? Pois dirá em si
mesmo: Se fossem assim, para que serviria então a Palavra, para que serviriam a Religião, o
Sacerdócio e a Predicação, senão para alguma cousa de inútil ou para produzir sons em
vão? Fala destes dogmas a algum pagão que quedas converter, dotado de julgamento; dizelhe que tal ele deve ser quanto à conversão e à fé, não encararia ele o Cristianismo como
alguém encara um vaso vazio? pois tira a um homem todo poder de crer como por si
mesmo, será ele mesmo outra cousa? Mas este assunto receberá uma luz mais clara no
Capítulo sobre o Livre Arbítrio.
&357 - II. 0 homem pode adquirir a Caridade: é a mesma coisa que para a f é; pois o que é
que a Palavra ensina a mais do que a Fé e a Caridade, pois que elas são os dois teu da
salvação? Coem efeito, lê-se: "Amarás o Senhor de teu coração, de toda a tua alma e a teu
próximo como a ti mesmo" (Nat. XXII, 34 a 39); e "Jesus disse: Um mandamento que vos
ameis uns aos outros; nisto todos conhecerão e sois meus discípulos, se tiverdes amor uns
pelos outros" (João XIII, 34, 35), semelhantemente, XV, 9; XVI, 27. Diz-se também que o
homem deve dar frutos como uma boa árvore; e que aquele que faz o bem será se
compensado na ressurreição; além de vários outros preceitos semelhantes; para que
serviriam todos estes preceitos, se o homem não pudesse, por si mesmo, exercer a Caridade
nem adquiri-la de maneira alguma? Não pode ele dar esmolas, socorrer os indigentes, fazer
o bem em sua casa e em seu emprego? Não pode viver segundo os preceitos do Decálogo?
Não tem uma alma pela qual pode fazer estes preceitos e também uma mente nacional pela
qual pode se dirigir para agir com tal ou tal fim? Não pode pensar que deve fazê-los porque
foram ordenados na Palavra e assim por Deus? Esta faculdade não falta a homem algum; se
não falta é porque o Senhor a deu a cada A um; e a dá como uma espécie de propriedade;
com efeito, quem é que fazendo a caridade sabe outra cousa senão que a faz por si mesmo?
&358 - III. 0 homem pode também adquirir a vida da fé e da caridade: é ainda a mesma
cousa: o homem adquire esta vida, quando se dirige ao Senhor que é a vida mesma; e o
acesso ao Senhor não é fechado a homem algum, pois o Senhor convida continuamente
todo homem a vir a Ele, pois disse: "Quem vem a Mim não terá fome e quem crê em Mim
jamais terá sede; e aquele que vem a Mim eu não o porei para fora,(João VI, 35, 37). "Jesus
pôs-se de pé exclamou: Se alguém tem sede, que venha a Mim, e beba" (João VII, 37). E
em outro lugar: "Semelhante é o Reino dos Céus a um Rei que fez núpcias para seu filho; e
enviou seus servos para chamar os convidados; e enfim disse: Ide pelas saídas dos
caminhos; e a todos que encontrardes, chamai-os para as núpcias" (Mateus XXII, 1 a 9);
quem não sabe que o convite ou a vocação é universal e também a graça da recepção? Se o
homem, pelo fato de se dirigir ao Senhor, obtém a Vida, é porque o Senhor é a Vida
mesma; não somente a vida da fé, mas também a Vida da caridade; que o Senhor seja a
Vida e que o homem tenha a vida pelo Senhor, pode-se ver por estas passagens: "No
começo era a Palavra; n'Ele estava a vida e a Vida era a Luz dos homens" (João 1, 1, 4).
"Como o Pai ressuscita os mortos e vivifica, do mesmo modo o Filho, vivifica-a quem
quer" (João V, 21). "Como o Pai tem a Vida em Si mesmo, assim deu ao Filho ter a vida
em Si mesmo" (João V, 26). "0 Pão de Deus é Aquele que desceu do Céu e dá a Vida ao
Mundo" (João VI, 33). "As palavras que vos dirijo são espírito e tão Vida" (João VI, 63).
"Jesus disse: Aquele que me segue terá, a Luz da Vida" (João VIII, 12). "Eu vim para que
tenham Vida e a tenham com abundância" (João X, 10). ''Aquele que crê em Mim, ainda
que morra, viverá" (João XI, 6). "Porque Eu vivo, vós também viveis" (João XIV, 19).
"Estas coisas foram escritas, a fim de que tenhais a Vida em Seu Nome" (João XX, 31).
"Ele é a Vida eterna" (I João V, 21). Pela Vida na Fé e na Caridade é entendida a Vida
espiritual, que é dada pelo Senhor ao homem em sua vida natural.
&359 - IV. Entretanto, nada da Fé, nada da Caridade, nem coisa alguma da vida de uma e
de outra, vem do homem, mas tudo vem do Senhor só: com efeito, lê-se que "um homem
nada pode tomar, a menos que lhe tenha sido dado do Céu" (João III, 27). E Jesus disse:
''Aquele que mora em Mim e Eu nele, esse dá fruto, pois sem Mim nada podeis fazer" (João
XV, 5); mas isso deve ser entendido assim: que o homem, por si mesmo, não pode adquirir
outra fé que não seja a Fé natural, que é a persuasão de que uma cousa é de tal maneira
porque um homem de autoridade o disse assim; nem outra caridade que não seja a caridade
natural, que é uma operação por favor, em vista de alguma recompensa; nesta fé e nesta
caridade há o próprio do homem e não ainda a vida proveniente do Senhor; entretanto, por
uma e por outra, o homem se prepara para ser um receptáculo do Senhor; e à medida que se
prepara, o Senhor entra nele e faz com que a sua fé natural se torne fé espiritual; do mesmo
modo a Caridade; e assim, uma e outra, se tornam vivas; e isso se faz quando o homem se
dirige ao Senhor como Deus do Céu e da Terra. 0 homem, tendo sido criado imagem de
Deus, foi criado habitáculo de Deus; e par isso, o Senhor disse: ''Aquele que tem os meus
preceitos e os faz, é o que me ama; e eu o amarei, virei a ele e nele farei morada" (João
XIV, 21, 23). Depois: "Eis que fico à porta e bato; se alguém ouve a minha voz e abre a
porta, eu entrarei, cearei com ele e ele comigo" (Apoc. 3, 20). Daí, segue-se esta conclusão:
que, à medida que o homem se prepara naturalmente para receber o Senhor, o Senhor entra,
torna espiritual e vivas todas as cousas que estão interiormente nele. Mas, vice-versa,
quanto mais o homem não se prepara, tanto mais afasta de si o Senhor e faz tudo ele mesmo
pelo eu, o que o homem faz, pelo eu, nada tem da vida em si. Mas este assunto não pode ser
apresentado à vista em alguma luz, antes que se tenha tratado da Caridade e do Livre
Arbítrio; e será visto mais tarde no Capitulo sobre a Reforma e a Regeneração.
&360 - No que precede, foi dito que a Fé, no começo no homem, é natural e que se torna
espiritual, à medida que o homem se aproxima do Senhor; semelhantemente, a Caridade;
mas, ninguém conhece ainda a diferença entre a Fé e a Caridade espirituais; por isso, esse
grande Arcano vai ser agora descoberto. Há dois Mundos, o Natural e o Espiritual; e em um
e outro Mundo um Sol; e de um e outro Sol procedem um Calor e uma Luz; mas o Calor e a
Luz procedentes do Sol do Mundo espiritual têm neles a vida; e a vida. lhes vem do Senhor
que está no meio deste Sol, enquanto que o Calor e a Luz procedentes do Sol do Mundo
natural não têm nêles cousa alguma da vida, mas servem de receptáculos aos dois
primeiros, como as causas instrumentais servem às causas principais, para que aqueles dois
cheguem aos homens; é preciso saber, portanto, que o Calor e a Luz do Sol do Mundo
espiritual são a fonte de onde provêm todos os espirituais e são espirituais porque o espírito
e a vida estão neles; mas o calor e a luz do sol do Mundo natural são a fonte de onde
provêm todos os naturais e estes, considerados em si mesmos, são sem espírito e sem vida.
Ora, como a Fé pertence à luz e a Caridade ao calor, é evidente que, quanto mais o homem
está na Luz e no Calor que procedem do Sol do Mundo espiritual, tanto mais está na Fé e na
Caridade espirituais; mas, quanto mais está na Luz e no Calor que procedem do Sol do
Mundo, natural, tanto mais está na Fé e na Caridade naturais. Por isso, vê-se que, do
mesmo modo que a Luz espiritual está interiormente na luz natural como em seu
receptáculo ou em sua bainha, semelhantemente, o Calor espiritual no Calor natural, do
mesmo modo também a Fé espiritual está interiormente na Fé natural e, semelhantemente, a
Caridade espiritual na Caridade natural; e isso se faz no mesmo grau em que o homem
avança do Mundo natural para o Mundo espiritual; e êle avança conforme crê no, Senhor,
que é a Luz mesma, o Caminho, a Verdade e a Vida, como Me mesmo o ensina. Uma vez
que é assim, é evidente que, quando o homem está na Fé espiritual, está também na Fé
natural, pois a Fé espiritual está interiormente na Fé natural; e como a Fé pertence à luz,
segue-se que, por esta inserção, o Natural do homem se torna como diáfano; e conforme
está conjunto com a Caridade, se torna de uma bela coloração; isso, porque a Caridade tem
em si uma vermelhidão e a Fé uma brancura resplandecente; a Caridade tem em si a
vermelhidão da chama do fogo espiritual e a Fé a brancura resplandecente do esplendor da
luz espiritual. Dá-se o contrário quando a Espiritual não está interiormente no Natural, mas
que o Natural está interiormente no Espiritual, assim como acontece nos homens que
rejeitam a fé e a caridade; nestes, o interno de sua mente, no qual estão quando pensam,
entregues a si mesmos, segundo o Inferno, ainda a que não o saibam; e o Externo de sua
mente, pelo qual falam com seus companheiros no Mundo, é como espiritual, mas está
cheio de impurezas como as que estão no Inferno; é por isso que estes estão em um estado
inverso, respectivamente, ao daqueles de que se falou em primeiro lugar.
&361 - Quando se sabe, portanto, que o espiritual está interiormente, no natural naqueles
que estão na fé no Senhor e, ao mesmo tempo, na caridade em relação ao próximo e, por
conseguinte, o natural nêles és diáfano, daí se sabe que o homem é SOA nas coisas
espirituais; por conseguinte, sábio também nas coisas naturais, pois vê interiormente em si
quando pensa, ou lê e ouve alguma cousa, se isso é uma verdade ou não; percebe isso pelo
Senhor, de quem a luz e o calor espirituais influem na esfera superior de seu entendimento.
Quanto mais no homem a Fé e. a Caridade se tornam espirituais, tanto mais o homem se
retira de si próprio e não olha para si mesmo, nem para recompensa ou remuneração, mas
unicamente para o prazer de perceber os veros da fé e de fazer os bens do amor; e quanto
mais esta espiritualidade aumenta, tanto mais este prazer se torna beatitude; daí vem sua
salvação, que é chamada vida eterna. Este estado do homem pode ser comparado às cousas
mais belas do Mundo e que apresentam mais encantos; e na Palavra é também comparado
às árvores frutíferas e aos pomares onde elas estão; aos Prados esmaltados de flores; às
pedras preciosas; aos manjares delicados, e também às Núpcias, aos Divertimentos e aos
Prazeres. Mas, quando se dá o inverso, isto é, quando o Natural está interiormente no
Espiritual e, por conseguinte, o homem em seus Internos, é um Diabo; e nos Externos,
como um Anjo, então seu estado pode ser comparado a um Morto em um esquife de
madeira preciosa e dourado; pode ainda ser comparado a um Esqueleto preparado com
vestimentas como um homem e conduzido em um carro magnífico; e também, a um
Cadáver em um sepulcro construído como um Templo de Diana; melhor ainda, seu Interno
pode ser assemelhado a um conjunto de serpentes em uma caverna; e seu Externo, a
borboletas cujas asas são pintadas em cores de toda espécie e que põem ovos sujos sobre as
folhas das árvores frutíferas, do que resulta a destruição dos frutos. Enfim, seu Interno pode
ser comparado a um Gavião seu Externo, a uma Pomba e sua Fé e sua Caridade, ao vôo do
Gavião sobre a Pomba em fuga, que ele caça e por fim, se lança sobre ela e a devora.
&362 VI - 0 Senhor, a Caridade e a Fé fazem um, como a Vida, a Vontade e o
Entendimento: e se forem divididos, cada um se perde, como uma pérola reduzida a pó.
362 - É preciso primeiramente fazer menção de algumas verdades que, até ao presente, têm
sido ignoradas no Mundo Sábio e na Ordem Eclesiástica; e de tal modo ignoradas, que são
como cousas enterradas, quando, entretanto, são Tesouros de Sabedoria; e se estes tesouros
não forem desenterrados e entregues ao Público, será em vão que o homem se empenhará
em chegar a algum conhecimento justo sobre Deus, sobre a Fé, sobre a Caridade e sobre o
Estado de sua vida, como dirigi-la e prepará-la para o estado da vida eterna. Estas verdades
ignoradas são as seguintes: 0 homem é um puro órgão da vida; A vida, com tudo que lhe
pertence, influi de Deus do Céu, que é o Senhor; Há no homem duas faculdades da vida,
que são chamadas a Vontade e o Entendimento; a Vontade é o receptáculo do amor e o
Entendimento é o receptáculo da sabedoria; por conseguinte, também a Vontade é o
receptáculo da Caridade e o Entendimento o receptáculo da Fé; Todas as cousas que o
homem quer e compreende, influem de fora; os bens que pertencem ao amor e à caridade e
os veros que pertencem à sabedoria e à fé, influem do Senhor; e tudo que é contra estes
bens e estas verdades influi do Inferno; 0 Senhor proveu para que o homem sinta em si
mesmo como seu, o que influi de fora, embora nada disso seja dele; Entretanto, isso lhe é
imputado como seu, por causa do Livre Arbítrio no qual há o seu Querer e o seu Pensar; e
por causa dos conhecimentos do bem e do vero, pelos quais pode livremente escolher tudo
o que convém à sua Vida temporal e à sua Vida eterna. 0 homem que olha, com um olho
vesgo, estas verdades, pode concluir delas várias cousas que pertencem à loucura; mas o
homem que as olha com um olho direito pode concluir delas um grande número de cousas
que pertencem. à sabedoria; para chegar a este resultado e não ao outro, foi necessário
apresentar primeiro os julgamentos e os dogmas que concernem a Deus e à Divina
Trindade; e será necessário estabelecer, em seguida, os julgamentos. e os dogmas que
concernem à Fé, à Caridade, ao Livre Arbítrio, à Reforma, à Regeneração, à Imputação e
também à Penitência, ao Batismo e à Santa Ceia.
&363 - Mas, para que ste Artigo de fé, "que o Senhor, a Caridade e a Fé fazem um, como a
Vida, a Vontade e o Entendimento no homem; e que, se forem divididos, cada um se perde
como uma pérola reduzida a pó", seja visto e reconhecido como uma verdade, é importante
examiná-lo nesta ordem: I. 0 Senhor com todo Seu Divino Amor, com toda Sua Divina
Sabedoria, com toda toda Sua Vida Divina, influi em cada homem. II. Por conseqüência
influi com toda a Essência da Fé e da Caridade. III. Mas estas cousas são recebidas pelo
homem segundo sua forma. IV. Portanto, o homem que divide o Senhor, a caridade e a fé,
não é uma forma que recebe, mas é uma forma que destrói.
&364 - I. 0 Senhor com todo Seu Divino Amor, com toda Sua Divina Sabedoria, com toda
Sua Vída influi em cada homem. No Livro da Criação lê-se que o homem foi criado
Imagem de Deus e que Deus soprou em suas narinas uma alma de vidas (Gen. 1, 27; 2, 7);
isso, quer dizer que o homem é um órgão da vida e não a vida; com efeito, Deus não podia
criar um outro semelhante a Ele; se o pudesse, haveria tantos deuses quantos homens; não
podia criar a vida, do mesmo modo que a luz não pode mais ser criada, mas pôde criar o
homem forma da vida, como criou o olho forma da luz; Deus não podia nem pode dividir
Sua essência, pois ela é una e indivisível. Portanto, pois que Deus só é a Vida, segue-se
indubitavelmente que de Sua Vida Deus vivifica cada homem; e que o homem sem esta
vivificação seria, quanto à carne, uma pura esponja; e quanto aos ossos, um puro: esqueleto,
no qual não haveria mais vida do que em um relógio, cujo movimento provém do pêndulo e
do pêso ou da mola. A cousa sendo assim, segue-se ainda, que Deus in,flui em cada homem
com toda Sua Vida Divina, com todo Seu Divino Amor e com toda Sua Divina Sabedoria;
estes dois constituindo Sua Vida Divina, ver acima ns. 39, 40; pois o Divino não pode ser
dividido. Mas como Deus, com toda Sua Vida Divina, influi? Podemos de alguma forma,
percebê-lo por uma idéia semelhante àquela, pela qual se percebe que o Sol do Mundo com
toda sua essência, que consiste em calor e luz, influi em cada árvore, em cada fruto, em
cada flor, em cada pedra, tanto comum como preciosa; e que cada objeto tira sua dose deste
influxo comum e que o Sol não divide sua luz nem seu calor; e não dá deles uma parte a
um, e uma parte a outro. Acontece o mesmo com o Sol do Céu, de onde procedem o Divino
Amor como Calor e a Divina Sabedoria corno Luz; estes dois influem nas mentes humanas
como nos corpos, o calor e a luz do Sol do Mundo; e eles os vivificam segundo a qualidade
da forma; e cada mente torna deste influxo comum o que lhe é necessário. E' a isso que é
aplicável o que disse o Senhor: "Vosso Pai faz levantar-se seu Sol sobre maus e bons e faz
chover sobre justos e injustos (Mateus V, 45). 0 Senhor também é onipresente e onde, ele
está Presente, aí está com toda Sua Essência; e lhe é impossível destacar dela alguma
cousa e dar uma parte a um, e uma parte a um, e uma parte a outro; mas Ele a dá inteira, e
dá ao homem a liberdade de tomar dela pouco ou muito; Ele disse também que tem sua
morada naqueles que fazem Seus preceitos e que os fiéis estão n'Ele e Ele neles; em uma
palavra; todas as cousas estão cheias de Deus e desta plenitude, cada um toma sua porção.
Isto pode ser comparado a cada cousa comum, por exemplo, às atmosferas e aos oceanos; a
atmosfera é em seus mínima tal como é em seus maxima; ela não dispensa uma parte de si
mesma para a respiração do homem, para o vôo do pássaro, para as velas dos navios ou
para as asas dos moinhos, mas cada um tira dela a sua medida e a aplica tanto quanto é
suficiente; isso também pode ser comparado a um celeiro cheio de trigo; o seu possuidor
tira cada dia a sua provisão; e não é o celeiro que faz a distribuição.
&365 - II. Por conseqüência, o Senhor influi em homem com toda a Essência da Fé e da
Caridade; é uma conseqüência do Teorema precedente, pois que a Vida da Divina
Sabedoria é a Essência da fé e a Vida do Divino Amor é a Essência da Caridade; quando o
Senhor está presente com as cousas que lhe pertencem propriamente, as quais são a Divina
Sabedoria e o Divino Amor, está também presente com todos os veros pertencem à fé e
com todos os bens que pertencem à caridade; pois, pela fé é entendido todo o vero que o
homem, pelo Senhor,percebe, pensa e pronuncia; e pela Caridade, é entendido todo Bem
com que o homem, pelo Senhor, é afetado e, por conseguinte, quer e faz. Foi dito acima,
que o Divino Amor, que procede do Senhor como Sol, é percebido pelos Anjos como
Calor; e que a Divina Sabedoria é percebida como Luz; mas aquele que não pensa além da
aparência, pode imaginar que este Calor é calor nu; e que esta Luz é uma luz nua, tal como
são o Calor e a Luz que procedem do Sol de nosso Mundo, enquanto que o Calor e a Luz
que procedem do Senhor como Sol, contêm, em seu seio,todas as Infinidades que estão no
Senhor, o Calor tôdas as Infinidades do Seu Amor, e a Luz todas as Infinidades de Sua
Sabedoria; por conseqüência, também em Infinidade, todo bem que pertence à caridade e
todo vero que pertence à fé; isto provém de estar este Sol presente por toda parte em seu
calor e sua luz, e de ser Sol o Círculo mais, próximo do Senhor, Circulo que emana de Seu
Divino Amor e, ao mesmo tempo, de Sua Divina Sabedoria; poks, como já foi dito algumas
vezes, o Senhor está no meio deste Sol. Por estas explicações, é evidente que nada se opõese de uma de odores diferentes; entretanto, são sentidos como um só; acontece o mesmo
com multas outras cousas, que, embora pareçam uniformes no exterior, são múltiplas no
interior; as simpatias e as antipatias, como emoções provenientes das mentes, também
afetam os outros segundo as semelhanças ou dessemelhanças; embora sejam numeráveis e
não sentidas pelos sentidos do corpo, são percebidas pelos sentidos da alma como um; e é
de acordo com elas que se fazem todas as conjunções e todas as consociastes no Mundo
espiritual. Estes detalhes foram dados para ilustrar o que foi dito acima sobre a Luz
espiritual que procede do Senhor, a saber; que há nela tôdas as coisas da Sabedoria e, por
conseguinte, tôdas as da Fé e é por esta Luz que o Entendimento vê e percebe
analiticamente os racionais, como percebe simètricamente os naturais.
&366 - III. Estas coisas que influem do Senhor são percebidas pelo homem segundo a sua
forma: aqui, pela forma é entendido o estado do homem quanto ao seu amor e à sua
sabedoria; por conseqüência, também quanto às suas afeições dos bens da caridade e às
percepções dos veros da fé. Que Deus seja um, indivisível e o mesmo de eternidade a
eternidade, não o mesmo simples, mas infinito, e que toda variedade vem do, objeto em que
está, é o que foi mostrado acima; que a For o estado recipiente produza variações, pode-se
ver pela Vida das criancinhas, das criança, dos adolescentes, dos adulto e dos velhos; há
em cada um, desde a primeira infância até a velhice, a mesma Vida, porque há a mesma
alma, mas do modo por que varia seu estádo segundo as idades e as conveniências, do
mesmo modo, também é percebida sua vida. A Vida de Deus está em. toda plenitude, não
somente em todos os homens bons, mas também nos homens maus e ímpios,
semelhantemente, nos Anjos do Céu e nos Espíritos do Inferno; a diferença é que os maus
bloqueiam o caminho e fecham a porta, a fim de que Deus não entre' nos inferiores de sua
mente, enquanto que os bons aplainam o caminho, abrem a porta e também convidam Deus
para que entre nos inferiores de sua mente, do mesmo modo que habita nos 'supremos, e
assim formam o estado da vontade para o influxo do amor e da caridade e o estado do
entendimento para o influxo da sabedoria e da fé, por conseqüência, para a recepção de
Deus; mas os maus põem obstáculos a este influxo por diversas, cobiças da carne e diversas
imundícies espirituais, que colocam em baixo e impedem a passagem; Deus, entretanto,
reside em seus supremos com toda Sua Divina Essência e lhes dá a --faculdade de querer o
bem e de compreender o vero, faculdade que cada homem possui e que não teria, de modo
algum, se a vida procedente de Deus não estivesse em sua alma; que os maus tenham
também esta faculdade, é o que me foi dado saber por grande número de experiências. Que
cada um recebe segundo sua forma a vida que procede de Deus, isso pode ser ilustrado por
comparações com os vegetais de todo gênero: Cada árvore, cada arbusto e cada erva, recebe
o influxo do calor e da luz segundo sua forma; assim, não somente os vegetais de um uso
bom, mas também os que são de um uso mau; e o Sol com seu calor não muda as formas,
mas as formas mudam em si mesmas os efeitos do Sol. Acontece o mesmo com os objetos
do Reino mineral; cada um deles, tanto preciosos como vis, recebe o influxo segundo a
forma da contextura de suas partes; assim, uma pedra diferentemente de uma outra, um
mineral diferentemente de um outro mineral e um metal, diferentemente de um outro metal;
alguns deles são coloridos com muito belas cores, outros transmitem a luz sem colorido e
outros a absorvem e abafam. Por estes exemplos pudesse ver que do mesmo modo que o
Sol do Mundo, com seu calor e sua luz, está igualmente presente em um objeto como em
um outro, mas que as formas recipientes variam suas operações, do mesmo modo que o
Senhor pelo: Sol do Céu, no meio do qual está, com seu calor que em sua essência é amor,
e com sua luz que em sua essência é sabedoria, está igualmente presente em um como em
outro, mas que a forma do homem, que foi introduzida pelos estados de sua vida, varia as
operações; por conseqüência, não é o Senhor a causa do homem não renascer e não ser
salvo, mas o homem mesmo é a causa disso.
&367 - IV. Portanto, o homem que divide o Senhor, a Caridade e a Fé não é uma forma que
recebe, mas é uma forma que destrói; com efeito, aquele que separa o Senhor da Caridade e
da Fé, separa delas a vida, e quando a vida é separada delas, a Caridade e a Fé ou não
existem ou são abortos; que o Senhor seja a Vida mesma, vê-se acima, n. 358. Aquele que
reconhece o Senhor e separa d'Ele a caridade, não reconhece o Senhor senão de boca; seu
reconhecimento e sua confissão são frios, não há neles a fé, pois que lhes falta a essência
espiritual, pois a caridade é a essência da fé. Aquele que pratica a Caridade e não reconhece
o Senhor como sendo o Deus do Céu e da Terra, um como Pai, como Êle mesmo ensina,
não pratica outra caridade senão uma caridade puramente natural, na qual não há a vida
eterna; o homem da Igreja sabe que todo bem, que é em. si o bem, vem de Deus; por
conseqüência, do Senhor, "que é o, verdadeiro Deus e a Vida eterna" (I João V, 21);
acontece o mesmo com a Caridade, porque o bem e a caridade são um. Se a Fé separada da
Caridade não é a Fé, é porque a Fé é a luz da vida do homem e a Caridade é o calor de sua
vida; se, portanto, a Caridade está separada da Fé, é como quando o Calor está separado da
Luz; desde então, o estado do homem se torna tal como é o estado do Mundo na estação das
geadas, quando tudo na terra está em um estado de morte; a Caridade e a Fé, para que a
caridade seja caridade e a Fé seja a fé, não podem ser separadas mais do que a Vontade e o
Entendimento; pois se estes forem separados, o Entendimento se torna nulo e também a
Vontade; se acontece o mesmo com a Caridade e a Fé, é porque a Caridade reside na
Vontade e a Fé, no Entendimento. separar a Caridade da Fé, é como separar a essência de
sua forma; no Mundo Sábio sabe-se que a Essência sem a Forma e a Forma sem a Essência
nada são, pois não há qualidade da Essência a senão pela Forma; e a Forma é um ser
subsistente pela Essência; por conseqüência, nada se pode dizer de uma ou de outra
separadas uma da outra; a caridade também é a essência da fé e a fé é a forma da caridade,
absolutamente, como foi dito acima, como o Bem é a Essência do Vero e o Vero, a forma
do Bem. Estes dois, a saber, o Bem e o Vero, estão em tôdas e cada uma das cousas que
existem essencialmente; é por isso que a caridade, por que pertence ao bem, e a fé, por que
pertence ao vero, podem ser ilustradas por comparações com várias cousas do corpo
humano e com várias cousas da Terra; podem ser justamente comparadas com a respiração
do pulmão e com o movimento sistólico do coração, pois a caridade não pode ser separada
da fé mais do que o coração o pode ser do pulmão, pois que o movimento do coração,
cessando; imediatamente cessa a respiração do pulmão; e a respiração do pulmão, cessando
dos os sentidos desfalecera e todos os músculos ficam privados da ação de mover-se; e
pouco depois, o coração também cessa de bater e toda a vida se dissipa; esta comparação é
exata, pois que o Coração corresponde à Vontade; por conseguinte, também à Caridade, a
respiração do Pulmão, ao Entendimento, por conseguinte também à Fé; pois, como foi dito
acima, a Caridade reside na Vontade e a Fé no Entendimento; não é mesmo entendida outra
cousa na Palavra pelo Coração e o Espírito (sopro). A separação da Caridade e da Fé
coincide também com a separação do sangue e da carne, pois o sangue, separado da carne,
é um sangue coagulado (cruor) e se toma sânie; e a carne, separada do sangue, se corrompe
sucessivamente e nela nascem vermes; o sangue também no sentido espiritual significa o
Vero da sabedoria e da fé; e a carne, o bem do amor e da caridade; que ia sangue tenha essa
significação, isso foi mostrado no ira Apocalipse Revelado, n. 379; e quanto à carne, n.
832. A Caridade e a Fé, para que uma e outra sejam alguma coisa não podem, ser
separadas mais do que, no homem, o Alimento e a Água, ou o Pão e o Vinho, pois o
Alimento e o Pão tomados sem água e sem vinho distendem somente o ventre, o estragam
com massas indigestas e se tornam como uma lama podre; a Água e o Vinho, sem Alimento
e sem Pão, distendem do mesmo modo o ventre e também os vasos e os poros, que,
privados assim de alimento, emagrecem o corpo até à morte; esta comparação ajustasse
ainda, pois que o alimento e o pão, no sentido espiritual, significam o bem do amor e da
caridade; e a água e o vinho, o vero da sabedoria e da fé; ver o Apocalipse Revelado, ns.
50, 316, 778, 932. A Caridade conjunta a Fé e a Fé reciprocamente conjunta a Caridade,
podem ser comparadas à face de uma donzela, que é embelezada pelo rubor e a brancura
convenientemente misturados; esta comparação é ainda exata, pois que, no Mundo
espiritual, o Amor e, por conseguinte, a Caridade são de um vermelho Inflamado pelo fogo
do Sol desse Mundo, e a Verdade e por conseguinte, a Fé é de uma branco brilhante pela
luz desse Sol; é por isso que a Caridade separada da Fé, pode ser comparada a uma face
inflamada com pústulas; e a Fé separada da Caridade pode ser comparada à face pálida de
um morto. A fé. separada da caridade pode também ser comparada à Paralisia em um dos
lados, chamada Hemiplegia, de que o homem morre quando ela torna consistência; pode
ainda ser comparada à Dansa de S. Vito ou de S. Guido, moléstia produzida no homem pela
picada da Tarântula; o racional toma-se semelhante a um tal homem, salta como êle com
furor; e então, se crê vivo; entretanto, não pode mais reunir as razões em um, nem pensar
sobre os veros espirituais, mais do que a poderia um homem deitado em um leito e
oprimido por um pesadelo. Estas explicações bastam para a demonstração destes dois
teoremas deste Capítulo; o Primeiro, que a Fé sem a Caridade não é a Fé, e a Caridade sem
a Fé não é a Caridade, e que uma e outra não vive senão pelo Senhor; e o Segundo, que o
Senhor, a Caridade e a Fé fazem um, como a Vida, a Vontade e o Entendimento no homem;
e que se são divididos, cada um se perde como uma pérola reduzida: a pó.
&368 VII - 0 Senhor é a Caridade e a Fé no homem. E o homem é a Caridade e a Fé no
Senhor.
368 - Que o homem da Igreja esteja no Senhor, e que o Senhor esteja nele, vê-se por estas
passagens da Palavra: "Jesus disse: Permanecei em Mim e Eu em vós; Eu sou a Cepa, vós
os sarmentos; aquele que permanece em Mim e Eu nele, esse dá muito fruto" (João XV, 4,
5). "Aquele que come minha carne e bebe meu sangue, em Mim permanece e Eu, nele
(João VI, 56). "Naquele dia conhecereis que Eu estou em Meu Pai, vós em mim e Eu em
vós" (João XIV, 20). "Quem quer que tenha confessado que Jesus é o Filho de Deus, Deus
permanecerá nele e êle em Deus" (I João IV, 15). Ora, o homem não pode estar êle mesmo
no Senhor, mas o que está no Senhor, é a Caridade e a Fé, que pelo Senhor estão no homem
e pelas quais o homem é essencialmente homem. Mas para que este Arcano se mostre em
alguma luz diante do entendimento, vai ser desenvolvido segundo esta série: I. Há com
Deus uma conjunção pela qual o homem tem a salvação e a vida eterna. II. A conjunção
não é possível com Deus Pai, mas é Possível com o Senhor e pelo Senhor, com Deus Pai.
III. A conjunção com o Senhor é recíproca; isto quer dizer que o Senhor está no homem e o
homem, no Senhor. IV. Esta conjunção recíproca se faz pela caridade e pela fé. Que isso
seja assim, ver-se-á claramente pela explicação que segue.
&369 - I. Há uma conjunção com Deus pela qual o homem tem a salvação e a vida eterna. 0
homem é criado para que possa se conjuntar a Deus, pois é criado Indígena do Céu e
também Indígena do Mundo; como Indígena do Céu é espiritual e como Indígena do
Mundo, é natural; ora, o homem Espiritual pode pensar em Deus e perceber as coisas que
são de Deus e ser afetado pelas coisas que são de Deus, donde segue-se que pode ser
conjunto a Deus. Que o homem possa pensar em Deus e perceber as cousas que são de
Deus, isso não oferece a menor dúvida, pois êle pode pensar na Unidade de Deus, no Ser de
Deus, que é Jehovah na Imensidade e na Eternidade de Deus, no Divino Amor e na Divina
Sabedoria, que fazem a Essência de Deus, na Onipotência, na Onisciência e na Onipresença
de Deus; no Senhor Salvador Seu Filho, na Redenção e na Mediação; além disso, também
no Espírito Santo e na Divina Trindade; todas as comas que Mão de Deus, e que mesmo são
Deus; e além disso, nas Operações de Deus, que são principalmente a Fé e a Caridade, sem
falar em um grande número de outras cousas que procedem da fé e da caridade. Que o
homem possa, não somente pensar em Deus, mas também amar a Deus, vê-se nestes dois
mandamentos de Deus mesmo: "Amarás o Senhor teu Deus de todo teu coração e de toda
tua alma; é este o Primeiro e o Grande Mandamento"; o segundo lhe é semelhante:
"Amarás o teu próximo como a ti mesmo" (Mateus XXII, 37-39; Deuter. VI, 5). Que *
homem possa fazer os preceitos de Deus e que seja isso amar * Deus e ser amado por Deus,
vê-se por estas palavras: "Jesus disse: Aquele que tem meus preceitos e os faz, é esse que
me ama; ora, aquele que Me ama será amado por Meu Pai, Eu o amarei, e Me manifestarei
a êle" (João XIV, 21). Além disso, o que é a Fé, senão a conjunção com Deus pelos veros
que pertencem ao entendimento e, por conseguinte, ao pensamento? e o que é o Amor,
senão a conjunção com Deus pelos bens que pertencem à vontade e, por conseguinte, à
afeição? A conjunção de Deus com o homem é a conjunção do espiritual no natural; e a
Conjunção do homem com Deus é a Conjunção do natural segundo o espiritual. E' por esta
Conjunção como fim, que o homem foi criado Indígena do Céu e, ao mesmo tempo,
Indígena do Mundo; como Indígena do Céu, êle é espiritual e como Indígena do mundo, é
natural; se, portanto, o homem se torna Espiritual-racional e, ao mesmo tempo, Espiritualmoral, está conjunto a Deus; e pela conjunção tem a salvação e a vida eterna mas se o
homem é somente natural-racional e também natural-moral, há, em verdade, conjunção de
Deus com êle, mas não há. conjunção dele com Deus; daí, resulta para êle a morte
espiritual, que, considerada em si mesma, é a vida natural sem a vida. espiritual; pois o
espiritual em que há vida de Deus, está extinto nele.
&370 - II. A conjunção não é possível com Deus Pai, mas é ;possível com o Senhor e pelo
Senhor, com Deus Pai: é o que a, Escritura ensina e o que a Razão vê; a Escritura ensina
que Deus Pai jamais foi visto ou ouvido e que não pode ser visto nem ouvido; por
conseqüência, por Si mesmo, tal como é em Seu
Ser e em Sua Essência, nada pode operar no homem; pois o Senhor disse: Deus, ninguém 0
viu, a não ser Aquele que está no Pai, Esse viu o Pai" (João VI, 46). "0 Pai ninguém o
conhece senão o Filho e aquele a quem o Filho queira revelar" (Mateus XI, 27). "Nem a
voz do Pai jamais ouvistes, nem seu aspecto o vistes" (João V, 37); e isso, porque Ele está
nos Princípios de todas as cousas e assim muito acima de toda esfera da mente humana;
pois Ele está nos Primeiros e nos Princípios de tôdas as coisas da Sabedoria e de todas as do
Amor, com as quais não há para o homem conjunção alguma; se, portanto, Ele mesmo se
aproximasse do homem, ou o homem se aproximasse d'Ele, o homem seria consumido e se
dissolveria, como um pedaço de madeira no foco de um grande espelho ardente, ou antes
como uma estátua lançada no Sol mesmo; por isso, foi dito a Moisés, que desejava
ardentemente ver Deus, "que o homem não pode ver Deus e viver" (Êxodo 33, 20). Que
Deus Pai seja conjunto por meio do Senhor, vê-se pelas passagens que acabam de ser
mencionadas, que é, não o Pai, mas o Filho Unigênito, que está no seio do Pai e viu o Pai,
que expôs e revelou as coisas que são de Deus e vêm de Deus; e além disso, por estas
passagens: "Naqueles dias conhecereis que Eu estou em meu Pai, vós em Mim e Eu em
vós" (João XIV, 20). "A glória que tu me deste, eu lhes dei, a fim de que sejam um, como
nós somos um, Eu neles e Tu em Mim" (João XVII, 22, 23, 26). "Jesus disse: Eu sou o
Caminho, a Verdade e a Vida, ninguém vem ao Pai senão por Mim"; e quando Filipe quis
ver o Pai, o Senhor lhe respondeu: "Quem me vê, vê também o Pai; e quem me conhece,
conhece também o Pai" (João XIV, 6, 7 e segs.). E em outro lugar: "Quem me vê, vê
Aquele que me enviou" (João XII, 45). E além disso, Ele disse: "que é a Porta e que aquele
que entra por Èle é salvo, mas que aquele que sobe por um outro lugar é um salteador e um
ladrão" (João X, 1, 9). E Êle disse também, "que aquele que não permanece n'Ele será
lançado fora e será como o armento que, ficando seco, é lançado no fogo" (João XV, 6). A
razão disso, é que o Senhor nosso Salvador é o próprio Jehovah, o Pai, em uma Forma
humana; pois Jehovah desceu e se fez Homem, a fim de que pudesse se aproximar do
homem, e o homem pudesse se aproximar d'Êle; e que assim houvesse conjunção e pela
conjunção salvação e vida eterna para o homem; pois quando Deus se fez homem e, por
conseqüência, o Homem também se fez Deus, Ele pôde, estando assim acomodado, se
aproximar do homem e lhe ser conjunto como Deus-Homem e Homem-Deus. Há três
cousas que se seguem em ordem: a Acomodação, a Aplicação e a Conjunção; é preciso que
haja Acomodação antes que haja Aplicação; e é preciso que haja Acomodação e, ao mesmo
tempo, Aplicação antes que haja Conjunção, a Acomodação veio do lado de Deus, por se
ter feito Homem; a Aplicação da lado, de Deus é perpétua, enquanto que o homem se aplica
reciprocamente; e conforme isso se faz, a Conjunção se faz também. Os à três se seguem e
procedem, em sua ordem, em tôdas e cada uma das coisas que se tornam um e coexistem.
&371 - III. A conjunção com o Senhor é recíproca, quer dizer que o Senhor está no homem,
e o homem no Senhor. Que a conjunção seja recíproca, a Escritura o ensina e a razão
também o vê: o Senhor, falando de Sua conjunção com o Pai, ensina que ela é recíproca,
pois disse a Filipe: "Não crês que Eu estou no Pai, e que o Pai está erm Mim? Crêde-me,
que Eu estou no Pai e que o Pai está em Mim" (João XIV, 10, 11). "A fim de que conheçais
que o Pai está em Mim e Eu no Pai" (João X, 38). "Jesus disse: Pai, chegou a hora, glorifica
teu Filho, a fim de que teu Filho também te glorifique" (João XVII, 1). "Pai, tudo que é
Meu é Teu, e tudo que é Teu é Meu" (João XVII, 10). 0 Senhor disse a mesma coisa de sua
conjunção com o, homem, a saber, que ela é recíproca; pois disse: ''Permanecei em Mim e
Eu em vós; aquêle que permanece em Mim e Eu nêle, esse dá muito fruto" (João XV, 4, 5).
"Aquêle que come minha Carne e bebe meu Sangue; em Mim permanece e EU nêle"
VI,56). "Naquele dia conhecereis que Eu estou em meu Pai, vós em Mim, e Eu em vós"
(João XIV, 20). "Aquêle que faz os mandamentos de Christo permanece em Christo e
Christo nêle" (IJoão 111, 24; IV, 13). "Quem quer que tenha confessado que Christo é o
Filho de Deus, Deus permanece nêle e êle em Deus" (I João IV, 15). "Aquêle que ouve a
minha voz e abre a porta, entrarei nêle, e cearei com êle e êle comigo" (Apoc. 3, 20). Por
estas expressões explicitas, é evidente que a conjunção do Senhor e do homem é recíproca;
e pois que é recíproca, segue-se necessàriamente que o homem deve se conjuntar com o
Senhor, para que o Senhor se conjunte com êle; e que, de outro modo, a conjunção não se
faz, mas há um afastamento e, por conseguinte, separação; não, entretanto, do lado do
Senhor, mas do lado do homem. Para que esta conjunção recíproca tenha lugar, foi dada ao
homem uma Livre Escolha, pela sual pode entrar no caminho que conduz ao Céu ou no que
leva ao Inferno; desta liberdade dada ao homem decorre seu recíproco, por poder êle se
conjuntar com o Senhor e poder se conjuntar com o Diabo; mas esta Liberdade, o que é, e
por que foi dada ao homem, isso será ilustrado no que segue, quando se tratar do Livre
Arbítrio, da Reforma, da Regeneração e da Imputação. Devemos nos afligir porque esta
Conjunção recíproca do Senhor e do homem, embora expressa tão claramente na Palavra,
tenha, entretanto, sido ignorada na Igreja Cristã; se foi ignorada, é devido às Hipóteses
sobre a Fé e sobre o Livre Arbítrio; as Hipóteses sobre a Fé são, que a Fé é dada sem que o
homem faça a menor cousa paxa obtê-la e que, para recebê-la, ele nas se acomoda e não se
aplica mais do que faria um toco; as Hipóteses sobre o Livre Arbítrio são, que o homem
não tem nern mesmo uni grão de Livre Arbítrio nas cousas espirituais. Mas a fim de que a
conjunção reciproca do Senhor e do homem, conjunção de que depende a, salvação,do
gênero humano, não fique, por mais tempo, escondida e ignorada, a necessidade mesma
impõe descobria, o que não pode ser feito de melhor maneira do que pelos exemplos,
porque os exemplos ilustram. Há duas Reciprocações, pelas quais se faz a conjunção; uma é
Alternativa e a outra é Mútua; a Reciprocação Alternativa pela qual se faz a conjunção
pode ser ilustrada pelas animações do pulmão; o homem aspira o ar e, para isso, dilata o
Tórax; pouco depois, expele o ar aspirado e, para isso, comprime o Tórax; esta aspiração
com a dilatação que dela é a conseqüência, se faz por meio da pressão do ar segundo sua
coluna; e a expulsão, com a compressão que dela resulta, se faz por meio das costelas pela
força dos músculos; tal é a conjunção recíproca do ar e do pulmão, de que depende a vida
dos sentidos e dos movimentos de todo o corpo, pois a respiração cessando, há
desfalecimento dos sentidos e dos movimentos. A conjunção recíproca que se faz por
alternativas, pode ainda ser Ilustrada pela conjunção do coração com o pulmão e do pulmão
com o coração; o coração, de sua cavidade direita, espalha o sangue no pulmão e o pulmão
o reenvia para a cavidade esquerda, do coração, assim se faz essa conjunção recíproca, de
que de pende absolutamente a vida de todo o corpo. Há uma semelhante conjunção do
sangue com o coração e do coração com o sangue; o sangue de todo o corpo influi pelas
veias no coração e eflui do coração pelas artérias em todo o corpo, a ação e a reação fazem
essa conjunção. Há entre o embrião e o útero da mãe uma semelhante ação e urna
semelhante reação, pelas quais persiste a conjunção. Entretanto, não é uma tal conjunção
recíproca que existe entre o Senhor e o homem, mas é uma conjunção mútua, que se faz,
não por ações e reações, mas por cooperações, pois o Senhor age e o homem recebe do
Senhor a ação, e opera como por si mesmo e de si mesmo, pelo Senhor; esta operação do
homem pelo Senhor lhe é imputada como sua, pois que é continuamente mantido pelo
Senhor no Livre Arbítrio; o Livre Arbítrio que resulta daí, é que êle pode querer e pode
pensar pelo Senhor, isto é, pela Palavra, e também pode querer e pensar pelo diabo, isto é,
contra o Senhor e a Palavra; o
Senhor dá esta Liberdade ao homem, a fim de que possa reciprocamente se conjuntar e pela
conjunção, ser dotado de vida e de beatitude eternas, pois sem a conjunção recíproca, não
pode recebê-las. Esta conjunção recíproca, que é mútua, pode também ser ilustrada por
diferentes coisas do homem e do mundo. Tal é a conjunção da alma e do corpo em cada
homem; tal é a conjunção da vontade e da ação; tal é a do pensamento e da linguagem; tal é
também a dos olhos entre si, dos ouvidos entre si, e das duas narinas entre si; que a
conjunção dos olhos entre si seja recíproca à sua maneira, isso é evidente pelo Nervo ótico,
no qual as fibras provenientes de um e outro Cérebro, são entrelaçadas entre si, e assim
tendem para um e outro olho; acontece o mesmo com os ouvidos e as narinas. Há uma
semelhante conjunção recíproca-mútua da Luz e do olho, do Som e do Ouvido, do Odor e
da Narina, do Gosto e da Língua, do Tato e do
Corpo; pois o olho; está na luz e a luz está no olho; o som está no ouvido e o ouvido está no
som, o odor está na narina e a narina está no odor, o Gosto está na língua e a língua está no
Gosto o tato está no corpo e o corpo está no tato. Esta conjunção recíproca pode também
ser comparada com a conjunção do Cavalo e do Carro, do Boi e da Chasrua, da Roda e da
Máquina, da Vela e do Vento, da Flauta e do Ar; em suma, há uma semelhante conjunção
recíproca entre o Fim e a Causa, entre a Causa e o Efeito; mas expor em particular cada
uma dessas conjunções recíprocas, não é aqui o lugar, pois seria necessário grande número
de páginas.
&372 - IV. Esta conjunção recíproca do Senhor e do homem se faz pela Caridade e pela Fé.
Sabe-se hoje que a Igreja faz o Corpo de Christo e que todo homem, em quem está a Igreja,
está em algum Membro dêsse Corpo, segundo Paulo (Efes. 1, 23: 1 Cord. 12, 27; Rom. 12,
5). Mas o que é o Corpo de Christo, senão o Divino Bem e a Divina Verdade? Isto é
entendido pelas palavras do Senhor, em João: "Aquele que come minha Carne e bebe meu
Sangue, em Mim permanece, e Eu nele'' (VI, 56), pela Carne do Senhor, como também pelo
Pão, é entendido o Divino Bem; e pelo Sangue do Senhor, como também pelo Vinho, é
entendido o Divino Vero; que seja isso o que é entendido, ver-se-á no Capítulo sobre a
Santa Ceia; segue-se que, quanto mais o homem está nos bens da caridade e nos Veros da
fé,tanto mais está no Senhor e o Senhor nêle; pois a conjunção espiritual se faz unicamente
pela Caridade e pela Fé. Que a conjunção do Senhor e da lgreja e, por conseqüência do
Bem e do Vero, esteja em tôdas e cada uma das cousas da Palavra, isto foi mostrado no
Capítulo sobre a Escritura Santa, ns. 248 a 253; e como a Caridade é o Bem e a Fé é o
Vero, há por toda parte na Palavra a conjunção da caridade e da fé. Ora, resulta destas
explicações que o Senhor é a Caridade e a Fé no homem, e que o homem é a Caridade e a
Fé no Senhor; pois o Senhor é a Caridade e a Fé espirituais na Caridade e na Fé naturais do
homem; a o homem é a Caridade e a Fé naturais provenientes da Caridade e da Fé
espirituais do Senhor, as quais, conjuntas, fazem a Caridade e a Fé espirituais-naturais.
&373 VIII - A Caridade e a Fé estão em conjunto nas boas obras.
373 - Em toda Obra que procede do homem, há o homem inteiro tal como é quanto à mente
(animus) ou tal qual é essencialmente; pela mente (animus) é entendida a afeição do seu
amor; por conseguinte, seu pensamento, eles formam sua natureza e em geral sua Vida; se
considerarmos assim as obras, elas serão como os espelhos do homem; isso pode ser
ilustrado pelos semelhantes nas bestas e nos animais ferozes; a besta é besta, o animal feroz
é animal feroz em todos os seus atos, o lobo é lobo em todos os seus, o tigre é tigre em
todos os seus, a raposa é raposa em todos os seus e o leão é leão em todos os seus;
semelhantemente, o carneiro e o cabrito em todos os seus; acontece o mesmo com o
homem, mas este é tal qual é em seu homem interno; se neste homem êle é como um lobo
ou como uma raposa toda obra dele é interiormente a de um lobo ou a de uma raposa e
vice-versa, se é como um carneiro ou como um cordeiro; mas que seja tal em tôdas as suas
obras, isso não se manifesta em seu homem externo porque este, que é mutável, está em
torno do homem Interno, mas acontece que este está sempre escondido aí interiormente; o
Senhor disse: "0 homem bom do bom tesouro de seu coração tira o bom; e o homem mau
do mau tesouro do seu coração tira o mau" (Lucas VI, 45). E também: "Toda árvore por seu
fruto é conhecida; sobre espinheiros não se colhe figos e sobre sarças não se vindima uvas"
(Lucas VI, 44). Que o homem em tôdas e cada uma das cousas que procedem dele seja tal
qual é no seu homem interno, é o que se manifesta nêle de uma maneira frisante (ad vivum)
depois da morte, pois que então êle vive homem Interno e não mais homem Externo. Que o
bem esteja no homem e que toda obra que procede dêle seja boa, quando o Senhor, a
Caridade e a Fé estão em seu homem Interno, isso vai ser demonstrado segundo esta série:
I. A Caridade é o bem querer, e as boas obras são o bem fazer segundo o bem querer. II. A
Caridade e a Fé não são mais que cousas caducas se, quando isso é possível, elas não são
determinadas em obras e aí coexistem. III. A Caridade só, não produz boas obra, e menos
ainda a Fé só, mas a Caridade e a Fé, reunidas, as produzem. Mas cada um destes pontos
vai ser explicado em particular.
&374 - I. A Caridade é o bem querer, e as boas são o bem-fazer segundo o bem-querer. A
Caridade e as Obras são distintas entre si, como a Vontade e a Ação, e como a afeição da
Mente e a operação do Corpo; por conseqüência, também como o homem Interno e o
homem Externo e estes estão entre si como a Causa e o Efeito, pois as cassas de tôdas as
coisas são Na madas no homem Interno e todos os efeitos se fazem, por cora seguinte, no
homem Externo; é por isso que a Caridade, porque pertence ao homem Interno, é o bemquerer; e as obras, porque pertencem ao homem Externo, são o, bem-fazer segundo o bemquerer. Mas, não obstante, há uma diversidade infinita entre o bem querer de um e o de
outro, pois tudo que é feito por alguém em favor de outro, acredita-se profluir, ou parece
profluir do bem querer ou da benevolência; mas não se sabe, entretanto, se os benefícios
vêm da Caridade e, ainda menos, de que Caridade vem, se é da caridade real ou da caridade
bastarda, esta diversidade infinita entre o bem querer de um e o de outro, tira sua origem do
Fim, da Intenção e assim do Desígnio (aquilo que alguém se propôs); estas coisas estão
interiormente escondidas na Vontade de bem agir, a qualidade de cada vontade vem daí; e a
vontade procura no entendimento os meios e os modos de chegar a seus fins, que são os
efeitos e se põe aí na luz, para ver não somente as razões, mas também as ocasiões quando
e como deve se determinar em atos, e assim produzir seus efeitos, que são as obras e, ao
mesmo tempo, no entendimento, ela se põe em força para agir; daí, resulta que as obras
pertencem, essencialmente, à Vontade, formalmente ao Entendimento e, em atualidade, ao
Corpo; assim, nas boas obras desce a Caridade. Isso pode ser ilustrado pela comparação
com a árvore: 0 homem, mesmo quanto a tudo que lhe pertence, é como a Arvore, em cuja
semente estão escondidos por assim dizer, um fim, um desígnio (propositum) de produzir
frutos; nisto a semente corresponde à Vontade do homem, na qual estão estas duas coisas,
como acaba de ser dito; em seguida, a semente, por seus interiores, faz sair seu rebento para
fora da terra, reveste-se de ramos e de folhas, e assim se prepara os meios para os fins, que
são os frutos; nisso a Arvore corresponde ao Entendimento do homem; enfim, quando a
estação se aproxima, a Arvore floresce e produz frutos; nisto ela corresponde às boas Obras
do homem; que estes frutos pertençam essencialmente à semente, formalmente às folhas e à
madeira da árvore, é evidente. Isto pode a" ser ilustrado pela comparação com um Templo;
o homem é um Templo de Deus segundo Paulo (I Cor. 3, 16, 17; 11 Cor. 6, 16; Efes. 2, 21,
22); o fim, a intenção e o desígnio são a salvação e e a vida eterna para o homem, como
Templo de Deus; -nisto há uma correspondência com a vontade, na qual estão estas duas
coisas; em seguida, o homem recebe as doutrinas da fé em da. caridade de seus pais, de
seus mestres e dos pregadores; e quando possui seu julgamento, da Palavra e dos Livros
dogmáticos; tôdas as coisas que são meios para o fim; nisso há correspondência com o
Entendimento; enfim, chega a determinação para os usos segundo os doutrinais como
meios, e ela se faz por atos do corpo, que são chamados boas obras, assim o fim pelas
Causas médias, produz efeitos, que pertencem essencialmente ao fim, formalmente aos
doutrinais da Igreja e, em atualidade, aos usos; é assim que o homem se torna Templo de
Deus.
&375 - II. A Caridade e a Fé não são mais do que cousas mentais e caducas se', quando é
possível, elas não são determinadas em obras, e coexistem. 0 homem não tem uma Cabeça,
um Corpo, e não há conjunção da Cabeça e do Corpo, no Pescoço? Não há na Cabeça uma
Mente que quer e pensa e no Corpo, 'uma força que faz e executa? Se, portanto, o homem
tivesse somente o bem querer ou o bem pensar segundo a Caridade, e não tivesse o bem
fazer e que não fizesse usos, o homem não seria como uma Cabeça só, e assim como uma
Mente só, que, sós sem o Corpo, não podem subsistir? Quem não vê, por isso, que a
Caridade e a Fé não são a caridade nem a fé, enquanto estão somente na cabeça e na mente
e não no corpo? pois são então como pássaros voando no ar sem nenhum lugar de repouso
sobre a terra; e também como pássaros prestes a pôr e que, não tendo ninhos, deixarão
escapar seus ovos no ar ou os depositarão sobre algum galho de árvore, de onde cairão e se
quebrarão. Não há, na Mente, cousa alguma à qual não corresponda uma outra cousa do
corpo; e esta, que corresponde, pode ser chamada a incorporação daquela. E' por isso que
enquanto a Caridade e a Fé estão somente na mente, não estão incorporadas ao homem;
então, podem ser comparadas a um homem aérea, que é chamado fantasma, tal como os
antigos tinham pintado a Fama com um laurel em torno da cabeça e uma cornucópia de
abundância na mão; os que estão neste estado, sendo fantasmas semelhantes, e não
obstante, podendo pensar, não podem deixar de ser agitados por fantasias (o que acontece
também pelos raciocínios segundo diversos sofismas) pouco mais ou menos como, pelo
vento, são agitadas as canas nos pântanos, sob as quais no fundo se estendem conchas, e na
superfície, coaxam as rãs; quem não pode ver que é assim, quando pela Palavra adquire
somente alguns conhecimentos sobre a caridade e a fé, e não os põe em prática 0 Senhor
disse também: "Quem ouve as minhas palavras, e as faz, Eu o compararei a um homem
prudente, que construiu sua casa sobre a rocha; mas quem ouve as minhas palavras, e não
as faz, será comparado a um homem insensato, que construiu sua! Casa sobre a areia, ou
sobre a terra sem alicerces" (Mateus VII, 24, 26; Lucas VI, 47-49). A Caridade e a Fé com
suas idéias fictícias quando o homem não as põe em obra, podem também ser comparadas a
borboletas no ar, que são atacadas e devoradas pelos pássaros; o Senhor disse também: "0
semeador saiu a semear; uma parte caiu sÔbre o caminho batido e os pássaros vieram e a
comeram" (Mateus XIII, 3, 4).
&376 - Que a Caridade e a Fé não, sejam em nada vantajosas para o homem, quando ficam
unicamente em um hemisfério do corpo, isto é, em sua Cabe, e não foram tornadas estáveis
nas obras, vê-se na Palavra por mil passagens, das quais mencionarei somente estas: "Toda
árvore que não dá bom fruto é cortada e lançada no fogo" (Mateus VII, 19-21). "Aquele que
na boa terra foi semeado, é o que ouve a Palavra e lhe dá atenção; ora, esse dá fruto e faz;
quando Jesus disse essas cousas, exclamou, dizendo: Quem tem ouvidos para ouvir, ouça"
(Mateus XIII, 23, 43). "Jesus disse: Minha mãe e meus irmãos são aqueles que ouvem a
palavra de Deus e a fazem" (Lucas VIII, 21). "Sabemos que Deus não ouve os pecadores;
mas se alguém honra a Deus e faz sua vontade, Êle o escuta" (João IX, 31). "Se sabeis estas
coisas, felizes sereis, se as fizerdes" (João XIII, 17) . "Aquele que tem os meus preceitos e
os faz, é esse o que Ale ama, Eu o amarei, Ale manifestarei a êle, a êle virei, e morada nele
farei" (João XIV, 15 a 21, 23). "Nisto é glorificado Meu Pai, que deis muito fruto" (João
XV, 8). "Aqueles que escutam a Lei, não são justificados por Deus, mas aqueles que fazem
a Lei" (Rom. 2, 13; Jaq. 1, 22). "Deus no dia de sua cólera e de seu justo julgamento dará a
cada um segundo as obras" (Rom. 2, 5, 6). "Precisamos todos comparecer diante do tribunal
de Christo, a fim de que cada um relate o que fêz pelo corpo, seja o bem, seja o mal" (II
Cor. 5, 10). "0 Filho do homem deve vir na glória de seu Pai, e então dará a cada um
segundo seus feitos" (Mateus XVI, 27). "Ouvi uma voz do Céu que dizia: Bem aventurados
os mortos que no Senhor morrem desde agora! Sim, diz o Espírito, a fim de que repousem
de seus trabalhos, suas obras seguem com eles" (Apoc. 14, 13). "Um Livro foi aberto, que é
o Livro da vida; e foram julgados os mortos segundo as cousas que tinham sido escritas no
Livro, todos segundo suas obras" (Apoc. 20, 12, 13). "Eis que breve venho e minha
recompensa comigo, a fim de que dê a cada um segundo sua obra" (Apoc. 22, 12).
"Jehovah cujos olhos estão abertos sÔbre todos os caminhos homens, para dar a cada um
segundo seus caminhos, e segundo o fruto de suas obras" (Jeremias XXXII, 19). "Farei a
visita sobre seus caminhos e suas obras Eu lhe retribuirei" (Hoséas IV, 9). "Jehovah
segundo nossos caminhos e segundo nossas obras, tem agido conosco" (Zacarias 1, 6); e
além disso, em mil outras passagens. Por isto, pode-se ver que a Caridade e a Fé não são
nem a caridade nem a fé, antes de estarem nas obras; e se estão somente acima das obras na
Extensão ou na Mente, são como imagens de um Tabernáculo ou de um Templo no ar, que
não são mais que Meteoros e desaparecem por si mesmos; e são como pinturas sobre um
papel, que as traças consomem; e como Habitáculo sÔbre um Teto onde não há leito, e não
na casa. Ora, por estas explicações, pode-se ver que a Caridade e a Fé são cousas caducas
quando não estão senão na Mente e se, quando isso é possível, elas não são determinadas
em obras, e aí coexistem.
&377 - III. A Caridade só, não produz boas obras, e muito menos a Fé só, mas a Caridade e
a Fé reunidas, as produzem. A razão disso, é que a caridade sem a fé não é a caridade e que
a ;é sem a caridade não é a fé, como! foi mostrado acima, ns. 355 a 358; não há, portanto, a
Caridade solitária, nem a Fé solitária, assim não se pode dizer que a Caridade produz
alguma boa obra por si mesma, nem que a fé a produz por si mesma; dá-se o mesmo COM
a Vontade e o Entendimento; não há Vontade solitária, ela nada produziria, nem
Entendimento solitário, êle também nada produziria, mas toda produção vem de uma e de
outra, em conjunto, e se faz pelo Entendimento segundo a Vontade; se há similitude é
porque a Vontade é o habitáculo da caridade; e o Entendimento, o habitáculo da fé; se se
diz "bem menos ainda a Fé só" é porque a Fé é a verdade, e sua operação é fazer verdades,
e por que estas iluminam a caridade e os exercícios da caridade; que as verdades iluminam,
é o que ensina o Senhor, dizendo: "Aquele que faz a verdade vem à luz, a fim de que sejam
manifestadas suas obras porque em Deus elas foram feitas" (João 111, 21); quando um
homem faz boas obras segundo as verdades, êle as faz na luz, isto é, com inteligência e
sabedoria. A Conjunção da Caridade e da Fé é como o casamento do marido e da esposa;
do marido como pai e da esposa; como mãe, nascem tôdas as descendências naturais;
semelhantemente, da Caridade como pai e da Fé como mãe, nascem tôdas as
descendências espirituais, que são os conhecimentos do bem e do vero; por estes
conhecimentos é conhecida a geração das famílias espirituais; na Palavra também, no
sentido espiritual, pelo Marido e pelo Pai é significado o Bem da Caridade; e pela Esposa e
a UM o Vero da Fé; por isso, é ainda evidente que a Caridade só é a Fé só, não podem
produzir boas obras, do mesmo modo que um marido só e uma Esposa só não podem ter
filhos. As verdades dá Fé não somente iluminam a caridade, mas ainda a qualificam i e,
além disso, a nutrem; o homem, portanto, que tem a caridade sem ter as verdades da fé, é
como aquêle que passeia em um jardim à noite e apanha frutos de árvores sem saber se são
de um bom ou de um mau uso. Pois que as verdades da fé não somente iluminam a
caridade, mas ainda a qualificam, como foi dito, segue-se que a caridade sem as verdades
da fé, é como um fruto sem suco, como um figo dessecado, e como uma uva depois que o
vinho foi espremido; e pois que as verdades nutrem a caridade, como acaba de ser dito,
segue-se que, se a caridade está sem as verdades da fé, não tem outro alimento que o que
teria um homem comendo pão queimado e bebendo água corrompida de um pântano.
&378 IX - Há a Fé verdadeira, a Fé bastarda e a Fé hipócrita.
378 - A Igreja Cristã, desde seu berço, começou a ser testada e dilacerada por cismas e
heresias; e, na continuação do tempo, a ser ferida e lacerada, pouco mais ou menos como se
lê que o foi o homem que, descendo de Jerusalém para Jericó foi atacado pelos ladrões, os
quais, depois de o haverem despojado e coberto de feridas, o deixaram meio morto (Lucas
X, 30). Daí aconteceu o que se lê dessa Igreja, em Daniel: "Enfim, sobre o pássaro das
abominações estará a desolação e até à consumação e à decisão ela se espalhará sobre a
devastação" (IX, 27); e segundo estas palavras pronunciadas pelo Senhor: "Então virá o
fim, quando virdes a abominação da desolação, predita por Daniel, o Profeta" (Mateus
XXIV, 14, 15). A sorte desta Igreja pode ser comparada a de um Navio carregado de
mercadorias de grande preço, que, saindo do porto, foi batido pela tempestade e, pouco
depois, submergido no mar, então, as suas mercadorias foram, em parte, estragadas pelas
águas e despedaçadas pelos peixes. Que a Igreja Cristã desde sua infância tenha sido
agitada e despedaçada, vê-se pela História Eclesiástica; por exemplo, desde o tempo dos
Apóstolos, lar Simão, que era Samaritano de nação e Mágico, de profissão (Atos dos
Apóstolos 8, 9 e segs.); e também por Hymeneus e Filetos, de que fala Paulo na Epístola II
a Timóteo; depois ainda por Nicolau, que deu seu nome aos Nicolaitas, de que se fala no
Apocalipse 2, 6 e os Atos 6.0 5; além disso, por Corintus. Depois do tempo dos Apóstolos,
muitos outros se elevaram, por exemplo, os Marcionitas, os Noecianos, os Valentinianos,
os Encratites, os Catafrígios, os Quartodecimanos, os Alogianos, os Cataros, os Origenistas
ou Adamentinos, os Sibelianos, os Manicheanos, os Melecianos, e enfim os Arianos.
Depois do tempo dêstes, falanges de Heresíarcas invadiram também a Igreja, por exemplo,
Donotistas, os Focinianos, os Acacianos, ou os Semi-Arianos, ou Eunimianos, os
Macedonianos, os Nestorianos, os Predestinacianos, os Papistas, os Zwinglenianos, os
Anabatistas, os Swenckfeldianos, os Simergistas, os Socinianos, os Antitrinitários, os
Quakers, os Hernhuters, além de muitos outros; e enfim sobre êstes prevaleceram Lutero,
Melanchton e Calvino, cujos dogmas reinam hoje. As causas de tantas dilacerações e
sedições na Igreja são principalmente as três seguintes: A Primeira, é que a Trindade não
foi compreendida; a Segunda, 'que não houve nenhum conhecimento justo do Senhor; a
Terceira, que a Paixão da Cruz foi tomada pela Redenção mesma. Enquanto se conhece mal
êstes três pontos, que entretanto são os Essenciais mesmos da Fé, pelos quais a Igreja tem
existência e é chamada Igreja, não se pode senão voltar à esquerda e em diversos sentidos,
enfim, no sentido oposto, tôdas as coisas da fé; e, chegado aí, crer, entretanto, que se está
na verdadeira Fé em Deus. Neste caso assemelham-se àqueles que cobrem os olhos
conjunta faixa e imaginam caminhar em linha reta; entretanto, a cada passo se af afastam da
direção e voltam-se para o oposto, onde há uma caverna na qual caem. Mas o homem da
Igreja não pode ser retirado de seu erro para o caminho do vero, a menos que saiba o que é
a Fé verdadeira, o que é a Fé bastarda e o que é a Fé hipócrita; isto vai ser demonstrado
nestas proposições: I. A Fé verdadeira é única, é a Fé no Senhor Deus Salvador Jesus
Christo e permanece naqueles que crêem que Êle é o Filho de Deus, o Deus do Céu e da
Terra e um com o Pai. II. A Fé bastarda é toda fé que se afasta da verdadeira Fé que é
única, e ela está naqueles que sobem por um outro lugar, e consideram o Senhor não como
Deus, mas unicamente como homem. III. A Fé hipócrita não é uma Fé.
&379 - I. A Fé verdadeira é única, é a Fé no Senhor Deus, Salvador Jesus Christo e
permanece naqueles que crêem que Êle é o Filho de Deus, o Deus do Céu e V Terra e um
com o Pai. Que a Fé verdadeira seja única, é porque a Fé é a verdade e a verdade não pode
ser nem quebrada, nem cortada em duas, de sorte que uma parte se volte para a esquerda e a
outra para a direita e permaneça a verdade; a Fé, no Sentido comum, se compõe de
verdades inumeráveis, pois ela é o complexo delas,mas estas verdades inumeráveis fazem
seus membros, umas fazem os membros que dependem do peito, como, os braços e as
mãos, outras os que dependem dos lombos, como os pés e as plantas dos pés; mas as
verdades interiores fazem a Cabeça e as verdades que procedem dela de mais perto fazem
os Sensórios que estão na face; se as verdades interiores fazem a Cabeça, é porque, quando
o Interior é mencionado, entende-se também o Superior; pois no Mundo espiritual todos os
interiores são também. superiores, acontece assim nos três Céus; a Alma e a Vida deste
Corpo e de todos os seus membros, é o Senhor Deus Salvador; é por isso que a Igreja é
chamada por Paulo o Corpo de Christo e que os homens da Igreja, segundo os estados da
caridade e da fé neles, fazem os membros; que a verdadeira fé seja única, Paulo o ensina
também nestes termos: "Há um único Corpo e um único Espírito, um único Senhor, uma
única Fé, um único Batismo, um único Deus; Êle deu a obra do Ministério para a edificação
do Corpo de Christo, até que tenhamos chegado todos à unidade da Fé e do conhecimento
do Filho de Deus e ao homem perfeito, na medida da idade da plenitude de Christo" (Efes.
4, 4, 5, 12, 13). Que a Fé verdadeira, que é única, seja a Fé no Senhor Deus Salvador Jesus
Christo, isso foi plenamente mostrado acima, ns. 337-339. Que a Fé verdadeira esteja
naqueles que crêem que o Senhor é o Filho de Deus, é porque estes crêem também que ela
é a Fé em Deus; que este ponto de Fé seja o principal, de tôdas as verdades que entram na
fé e a formam, vê-se pelas palavras do Senhor a Pedro, quando Pedro lhe disse: "Tu és o
Christo, o Filho de Deus Vivo: Bem-aventurado és tu, Simão; Eu te digo: Sobre esta Rocha
construirei minha Igreja e as portas do Inferno não prevalecerão contra ela" (Mateus XVI,
16-18); pela Rocha aqui, como em outras partes da Palavra, é entendido o Senhor quanto ao
Divino Vero e também o Divino Vero procedente do Senhor; que este vero seja o principal,
e como um diadema Sobre a cabeça e como um cetro na mão do Corpo do Christo vê-se
pelas palavras do Senhor, que Sobre esta Rocha edificará sua Igreja e que as portas do
Inferno não prevalecerão contra ela; que tal seja este ponto de fé, vê-se ainda por estas
palavras em João: "Quem quer que confesse que Jesus é o Pilho de Deus, Deus morará
nele, e êle em Deus" (Epist. 4, 15'. Além deste índice característico, de que se está na
verdadeira fé que é única, há ainda um outro, é que se crê que o Senhor é o Deus único do
Céu e da Terra; este é uma conseqüência do precedente, que Êle é o Filho de Deus, e destas
passagens: "Que n'Êle reside toda a plenitude da Divindade" (Colos. 11, 9). "Que Êle é o
Deus do Céu e da Terra" (Mateus XXVIII, 18). "Que tôdas as cousas do Pai são d'Ele''
(João 111, 35; XVI, 15). 0 terceiro Índice de que aqueles que crêem no Senhor estão
interiormente na fé n'Ele e assim na verdadeira fé que é única, é que eles crêem que o,
Senhor é um com Deus Pai; que Êle seja um com Deus Pai e que Ele mesmo seja o Pai no
Humano, isso foi plenamente mostrado no Capítulo sÔbre o Senhor e sÔbre a Redenção,
vê-se claramente pelas palavras do Senhor mesmo, "que o Pai e Êle são um" (João X, 30);
"que o Pai está n'Êle e Êle no Pai" (João IÇ 38; XIV, 10, 11); e pelo que Êle disse aos
discípulos, "que desde agora tinham visto e conhecido o Pai", e que Êle encarou Filipe e
disse "que agora êle via e conhecia o Pai" (João XIV, 7, e segs.). Que estes três Pontos
sejam Testemunhos Característicos de que se está na fé no Senhor, assim na verdadeira fé
que é única, é, porque todos os que se dirigem ao Senhor não estão na fé n'Êle, pois a
verdadeira fé é interna e ao mesmo tempo externa; aqueles em quem estão estas três coisas
preciosas da fé estão tanto nos internos como nos externos desta fé, assim ela é não
somente um tesouro em seu coração, mas ainda um objeto precioso em sua boca; é
inteiramente diferente naqueles que não o reconhecem por Deus do Céu e da Terra, nem
como um com o Pai, estes, interiormente, consideram também outros Deuses, aos quais
pertence uma potência semelhante, mas crêem que esta potência, deve ser exercida pelo
Filho, quer como Vigário, quer como tendo, merecido, por causa da Redenção, reinar sobre
os que Ele resgatou; mas estes quebram a verdadeira fé pela divisão da unidade de Deus; e
quando ela é quebrada, não há mais fé, há somente um fantasma de fé que, vista
naturalmente, aparece como uma imagem da fé, mas que, vista espiritualmente, se torna
uma quimera; quem pode negar que a verdadeira fé seja a fé em um único Deus, que é o
Deus do Céu e da Terra, por conseqüência, em Deus Pai na forma humana, assim a fé no
Senhor? Estes três Caracteres, Testemunhos e índices de que a Fé no Senhor é a fé mesma,
são como as pedras de toque pelas quais se conhece o ouro e a prata; mas também como
pedras ou postes que, nos caminhos, mostram a rota que conduz ao Templo onde o único e
verdadeiro Deus é adorado; são ainda como são sobre os rochedos, os faróis pelos quais os
marinheiros, durante a noite, sabem, onde estão e por qual vento devem dirigir os navios; o
Primeiro caráter da fé, a saber, que o Senhor é o Filho de Deus vivo, é, como a Estrela da
manhã para todos aqueles que entram em Sua Igreja.
&380 - II. A Fé bastarda é toda fé que se afasta da verdadeira, Fé que é única e permanente
naqueles que sobem por um outro lugar e consideram o Senhor não como Deus, mas
unicamente como Homem. Que a Fé bastarda seja toda fé que se afasta da verdadeira fé que
é única, isso é evidente por si mesmo, pois única sendo o vem, segue-se que aquilo que se
afasta dela não 0 pode ser o vero; todo bem e todo vero da Igreja, assim tudo que é
essencialmente caridade e essencialmente fé, provém deste casamento, mas toda causa da
caridade e da fé que não provém
dêle não saiu de um leito legitimo, mas de um leito ilegítimo, assim seja de um leito ou
casamento poligâmico, seja de um leito adúltero; de um leito poligâmico sai toda fé quis
reconhece a Senhor e adota os falsos das heresias; e de um leito adúltero sai a fé que
reconhece três Senhores de uma única Igreja, pois ela è como urna prostituta, ou como uma
mulher que está casada com um único
homem e aluga suas noites a dois outros homens; e que, quando se deita com eles, dá a cada
um o nome de marido; Daí vem que unia e outra fé é chamada bastarda; o Senhor, em
muitas passagens, chama adúlteros os que professam a fé bastarda e são também eles que se
entende pelos salteadores e ladrões, em João: "Em verdade, vos digo: Aquele que não entra
pela porta no Aprisco,
mas sobe por um outro lugar, é um salteador e um ladrão. Eu sou a Porta, por Mim se
alguém entra, entra, será salvo" (X, 9); entrar no Aprisco, é entrar na Igreja e também entrar
no Céu; que seja também entrar no Céu, é porque o Céu e a Igreja fazem um, e que não há
senão a Igreja que faça o Céu; é por isso que, do mesmo modo que o Senhor é Noivo e o
Marido da Igreja, do mesmo modo também Ele é Noivo e o Marido do Céu. A legitimidade
ou a ilegitimidade da fé pode ser descoberta e conhecida pelos três índices de que se, falou
acima, que são o reconhecimento do Senhor como Filho de Deus, o reconhecimento do
Senhor como Deus do Céu e da Terra e o reconhecimento de que Êle é um com o Pai;
quanto mais, portanto, uma Fé se afasta destes três essenciais, tanto mais ela é bastarda. A
fé bastarda e, ao mesmo tempo, adúltera está naqueles que consideram o Senhor não como
Deus, mas unicamente como homem. Que assim seja, vê-se claramente por estas duas
heresias abomináveis, a heresia Ariana e a heresia Sociniana, que foram anatematizadas, na
Igreja Cristã e excomungadas dela; isso, porque elas negam a Divindade do Senhor e
sobem por um outro lugar; mas temo que estas abominações estejam hoje escondidas no
espírito comum dos homens da
Igreja. 0 que é espanto é que, quanto mais alguém se crê superior aos outros em erudição e
em julgamento, mais tem inclinação para apreender e se apropriar, a respeito do Senhor, as
idéias de que Ele é Homem e não Deus e que, pois que é Homem, não pode ser Deus; ora
aquele que se apropria destas idéias se põe na companhia dos Arianos e dos Socinianos que,
no Mundo espiritual, estão no Inferno. Se tal é hoje o espírito comum dos homens da Igreja,
é lua porque em cada homem há um espírito que lhe é consociado; pois sem um espírito
consociado, um homem não pode pensar nem analiticamente, nem racionalmente, nem
espiritualmente, assim será não um homem mas um bruto; e cada homem atrai a si um
Espírito semelhante à afeição de sua vontade e à percepção de seu entendimento; ao que se
introduz nas afeições boas pelas verdades da Palavra e pela vida segundo estas verdades, é
adjunto una Anjo de Céu; mas ao que se introduz nas afeições más pelas confirmações das
falsidades e por uma; vida má, se adjunta um Espírito do Inferno; e uma vez que este
Espírito é adjunto, o homem contrai cada vez mais uma espécie de fraternidade com os
Satanases; e então se confirma cada vez mais nos falsos contra os veros da Palavra e na
abominação Ariana e Socíniana contra o Senhor; isso provém de que os Satanases não
podem ouvir pronunciar nenhum vero da Palavra, nem ouvir nomear Jesus; desde que isso
acontece, êles se tornam como fúrias, correm para aqui e para ali e blasfemam; e se então a
luz do Céu influi, precipitam-se em cavernas e na sua obscuridade, em que há para eles uma
luz como há para as corujas nas treva, e tal como há para os gatos nas caves quando
perseguem os ratos; assim se tornam depois da morte todos os que negam, de coração e de
fé, a Divindade do Senhor e a Santidade da Palavra; seu homem Interno é tal, ainda que seu
homem Externo desempenhe a Pantomima e o papel de Cristão; que assim seja, eu o sei,
pois o vi e ouvi. Todos os que honram somente de boca e com os lábios o Senhor como
Redentor e Salvador e que, de coração e de espírito, não 0 consideram senão como um
homem, todos esses, quando falam e ensinam, têm a boca como um odre de mel e o coração
como um odre de fel; suas palavras são como pães açucarados e seus pensamentos como
emulsões envenenadas; são como pastéis no interior dos quais, há serpentes venenosas; se
são sacerdotes, assemelham-se a piratas no mar, que arvoram o pavilhão de um reino
amigo, levantam o pavilhão pirata no lugar do primeiro e se apoderam do navio e de toda a
equipagem; são também como as serpentes da árvore da ciência do bem e do mal, que se
aproximam como Anjos de luz, tendo na mão pomos desta árvore, pintados em cores
fulvas, como provenientes da Árvore da vida, os apresentam e dizem: "Deus sabe que no
dia em que comerdes deles, os vossos olhos se abrirão e sereis como Deus, sabendo o bem
e o mal" (Gen. 3, 5); e desde que se comeu deles, acompanha-se a Serpente ao Orcus, e
habita-se aí com ela; em torno deste Orcus estão os Satanases que comeram dos frutos de
Arius e de Socin; eles também são entendidos por aquele que entrou sem estar vestido com
a roupa de núpcias e que foi lançado nas trevas exteriores (Mateus 22, 11-13); a roupa de
núpcias é a Fé no Senhor como Filho de Deus, como Deus do Céu e da Terra e um com o
Pai. Se os que honram o Senhor unicamente de boca e com os lábios e que, de coração e de
espírito 0 consideram como um homem, descobrem as coisas que pensaram e persuadem a
outros, são homicidas espirituais; e os piores dentre eles são antropófagos espirituais; pois a
vida do homem vem do amor para com o Senhor e da fé n'Êle; e se afasta este essencial da
fé e do amor, que o Senhor é Deus-Homem e Homem-Deus, a vida do homem torna-se a
sua morte; assim, portanto, o homem é morto e é devorado como um cordeiro por um lobo.
&381 - III. A Fé hipócrita não é uma fé. 0 homem tornasse hipócrita, quando pensa muito
em si e se prefere aos outros, pois assim determina e mergulha em seu corpo os
pensamentos e as afeições de sua mente e os conjunta com os sentidos do corpo; por isso, o
homem se torna natural, sensual e corporal; e então, sua Mente não pode ser retirada da
carne com a qual está em coerência, nem ser elevada para Deus, nem ver cousa alguma de
Deus na luz do Céu, isto é, coisa alguma de espiritual; e como é homem carnal, os
espirituais que entram, o que tem lugar pelo ouvido no entendimento, não lhe parecem ser
senão fantasmas ou flocos no ar e mesmo como moscas em torno da cabeça de, um cavalo a
galope e suado, também escarnecem disso em seu coração; pois sabe-se que o homem
Natural considera como loucura as coisas que pertencem ao Espírito ou os espirituais. Entre
os homens naturais, o hipócrita é natural no mais baixo grau, pois é sensual; com efeito, sua
Mente foi estreitamente ligada aos sentidos do corpo; por conseguinte, não gosta de ver
senão o que os seus Sentidos sugerem; e como seus Sentidos são da natureza, forçam a
Mente a pensar pela natureza sobre cada cousa, por conseguinte, também sobre todas as
cousas da fé. Se este Hipócrita se torna um Pregador, êle retém em sua memória as cousas
que foram ditas sobre a fé em sua infância e em sua juventude, mas como não há
interiormente nelas coisa alguma de espiritual, e que tudo é natural, quando êle as
pronuncia diante da Assembléia, não são senão palavras inanimadas; se ressoam, como se
fossem animadas, isto vem dos prazeres do amor de si e do Mundo, segundo os quais, pela
sua facilidade de elocução, elas retinem e encantam os ouvidos, como o fazem
ordinariamente os cantos harmoniosos. Quando após seu sermão o pregador hipócrita volta
à sua casa, êle ri de tudo que expôs diante da Assembléia sobre a fé, sobre as passagens da
Palavra e talvez diga em si mesmo: "Lancei a redes no lago e apanhei rodovalhos e
mariscos"; pois, em sua fantasia, como tais lhe aparecem todos os que estão nos veros da fé.
0 hipócrita é como uma estátua que tem duas cabeças, uma dentro da outra; a cabeça
interna é coerente com o tronco ou corpo, e a cabeça externa, que pode girar em torno da
interna, é pintada na frente com cores naturais como a face humana, pouco mais ou menos
como as cabeças de madeira, expostas diante das lojas de cabeleireiros. E como uma Barca,
que o marinheiro, pela disposição da vela, pode dirigir à sua vontade com o vento e contra
o vento; a seu favor por tudo que deleita a carne e os prazeres dos sentidos é esta manobra
da vela. Os Ministros, que são hipócritas, são absolutamente como comediantes, palhaços e
histriões, que podem desempenhar papéis de Rei, Generais, Primazes, Bispos e que,
imediatamente depois de tirarem seus costumes, entram em lugares de depravação e ai
vivem com prostitutas. São também como Portas de gonzo redondo que podem ser voltadas
para diante e para trás; tal é sua Mente, pois pode ser aberta do lado do Inferno e do lado do
Céu; e quando é aberta de um lado, é fechada do outro; com efeito, o que é espantoso, no
instante em que desempenham as funções sacerdotais e ensinam os veros segundo a
Palavra, não sabem outra coisa senão que crêem nesses veros, pois então a porta do lado do
Inferno foi fechada, mas desde que voltam para casa, não crêem em cousa alguma, pois
então a porta do lado do Céu está fechada. Naqueles que são profundamente hipócritas, há
uma inimizade intestina contra os homens verdadeiramente espirituais, pois é tal como a
dos Satanases contra os Anjos do Céu; que seja assim, eles não se apercebem enquanto
vivem no Mundo, mas isso se manifesta depois da morte, quando seu externo pelo qual
simulam o homem espiritual lhes é retirado, pois é seu homem Interno que é um tal
Satanás. Mas direi como aparecem diante dos Anjos os hipócritas espirituais, isto, é,
"aqueles que se apresentam com roupas de ovelha e que, por dentro, são lobos devoradores"
(Mateus VII, 15): Aparecem como charlatões caminhando sobre as palmas das mãos e
orando, que de boca se dirigem de todo coração aos demônios e lhes dão beijos, mas batem
no ar os seus sapatos um ,contra o outro, e assim celebram a Deus; quando se mantêm sobre
os pés, aparecem quanto aos olhos como leopardos; quanto ao andar, como lobos quanto à
boca como raposas; quanto aos dentes, como crocodilos, e quanto à fé, como abutres.
&382 X - Não há Fé alguma nos maus.
382 - São maus todos os que negam a criação do mundo por Deus e, por conseqüência,
Deus, pois são Naturalistas ateus; se todos esses são mau, é porque todo bem, que não
somente naturalmente mas também espiritualmente é o bem, vem de Deus; portanto, os que
negam Deus, não querem e não podem receber bem alguma de outra parte que não seja de
seu próprio, e o próprio do homem é a cobiça de sua carne; e tudo o que procede desta
cobiça é espiritualmente o mal, ainda que naturalmente se apresente como o bem; estes são
maus em teoria; mas os maus na prática, são os que consideram corno nada os Preceitos
Divinos encerrados sumariamente no Decálogo e vivem como sem leis; que estes também
neguem a Deus em seus corações, embora muitos dentre eles 0
confessem de boca, é porque Deus e Seus preceitos fazem um, por isso os dez Preceitos do
Decálogo também foram chamados Jehovah-aí (Num. 10, 35, 36, Ps. 132, 7, 8). Idas para
que se Vaie mais evidente que não há fé alguma nos que são maus, este Capítulo será
terminado por estas duas proposições: I. Não há Fé alguma nos maus porque o mal pertence
ao Inferno e a fé pertence ao Céu. II. Não há fé alguma no Cristianismo em todos os que
rejeitam o Senhor e a Palavra, ainda que vivam moralmente e rr racionalmente e mesmo
que falem, ensinem e escrevam sobre a fé, cada proposição vai ser tratada em particular.
&383 - I. Não há Fé alguma nos maus porque o mal pertence ao Inferno e a fé pertence ao
Céu. Se o mal pertence ao Inferno é porque todo mal vem do Inferno; se a fé pertence ao
Céu e porque todo vero que pertence à fé vem do Céu; enquanto o homem vive no Mundo,
é mantido e anda no meio entre o Céu e o Inferno e aí está em equilíbrio espiritual, que é
seu Livre arbítrio; o Inferno está sob seus pés, o Céu sobre sua cabeça; e tudo que sobe do
Inferno é o mal e o falso, mas tudo que desce do Céu é o bem e o vero; pois que o homem
está no meio entre estes dois opostos e, ao mesmo tempo, em equilíbrio espiritual, pode
escolher, adotar e se apropriar de um ou de outro segundo sua liberdade; se é o mal e o
falso, êle se conjunta com o Inferno, mas se é o bem e o vero, êle se conjunta com o Céu;
daí, é não somente evidente que o mal pertence ao Inferno e a Fé ao Céu, mas ainda que
estes dois não podem estar juntos no mesmo sujeito ou em um mesmo homem, pois se
estivessem juntos, o homem amarrado como que por duas cordas, seria desmembrado,
puxado, por uma, para cima, e pela outra, para baixo; e assim se tornaria como que
suspenso no ar; e seria como se voasse, como uni melro, ora para cima, ora para baixo e
que, em cima adorasse Deus e, em baixo, o Diabo; que seja isso o profano, cada um o vê; o
Senhor ensina em Mateus, "que ninguém pode servir a dois Senhores, pois a um odiaria e
ao outro amaria" (VI, 24). Que lá onde está o mal não há fé, isso pode ser ilustrado por
diferentes comparações, por exemplo: 0 mal é como o fogo - o fogo infernal não é outra
cousa mais que o amor do mal consome a fé como palha e a reduz a cinzas assim como
tudo que lhe pertence. 0 mal habita na obscuridade, a fé na luz e o mal, pelos falsos,
extingue a fé como a obscuridade a luz. 0 mal é negro como tinta de escrever e a fé é
branca. como a neve e transparente como a água; e o mal enegrece o lê, como a tinta
enegrece a neve e a água. Enfim, o mal e o vero da fé não podem estar conjuntos senão
como o seria o fétido com o aromático, a urina com o vinho; não podem estar juntos senão
como um cadáver infecto, com um homem vivo em um mesmo leito; e não podem habitar
juntos mais que um lobo em um aprisco, um gavião em um pombal e uma raposa em um
galinheiro.
&384 - II. Não há fé alguma no Cristianismo naqueles que rejeitam o Senhor e a Palavra,
ainda que vivam moralmente e racionalmente e ainda mesmo que fadem, ensinem e
escrevam sobre a fé. Isto resulta, como Conclusão de tudo o que precede; com efeito, foi
mostrado que a Fé que é verdadeira e única, é a Fé no Senhor e segundo o Senhor; e que a
Fé que não é a Fé no Senhor e segundo Ele não é a Fé espiritual, mas uma fé natural; e que
a fé puramente natural não tem em si mesma essência da fé. De mais a Fé vem da Palavra,
não vem de outra parte, porque a Palavra vem do Senhor; por conseqüência, o Senhor
mesmo está na Palavra, por isso Êle disse "que é a Palavra" (João 1, 1, 2); daí resulta que os
que rejeitam a Palavra rejeitam também o Senhor, pois o Senhor e a Palavra são coerentes
como um; e os que rejeitam um e outro rejeitam também a Igreja, porque a Igreja vem do
Senhor pela Palavra; e além disso, aqueles que rejeitam a Igreja estão fora do Céu, pois a
Igreja introduz no Céu; e os que estão fora do Céu estão entre os danados e os danados não
têm fé alguma. Que os que rejeitam o Senhor e a Palavra não tenham fé alguma, ainda que
vivam moralmente e racionalmente, ainda mesmo que falem, ensinem e escrevam sÔbre a
fé, é porque têm uma vida moral não espiritual mas natural; e a moralidade e a
racionalidade puramente naturais, são mortas em si mesmas; é por isso que neles, como
mortos, não há fé alguma. 0 homem puramente natural e morto quanto à fé, pode, é
verdade, falar e ensinar sÔbre a Fé, sÔbre a Caridade e sÔbre Deus, mas não pela Fé, nem
pela Caridade, nem por Deus. Que a Fé esteja só nos que crêem no Senhor e que os outros
não tenham fé, vê-se por estas passagens: "Aquele que crê no Filho não é julgado, mas
aquele que não crê já foi julgado, porque não creu no Nome do Unigênito Filho de Deus"
(João 111, 18). "Aquele que crê no Filho tem a vida eterna; mas aquele que não crê no
Filho não verá a vida, mas a cólera de Deus permanecerá sobre ele" (João 111, 36). "Jesus
disse: Quando vier o Espírito de verdade, repreenderá o Mundo _por causa do pecado,
porque As não crêem em Mim" (João XVI, 8, 9); e aos judeus: "Se não credes que Eu sou,
morrereis em vossos pecados" (João VIII, 24). E' por isso que David disse: ,"Anunciarei
sobre -o estatuto: Jehovah disse: Tu és meu Filho; Eu hoje te engendrei. Beijai o Filho com
medo de que não se irrite e que vós pereçais em caminho; bem-aventurado todo aquele que
confia n'Ele'' (Ps. 2, 7, 12). Que na Consumação do século, que é o último tempo da Igreja,
não haverá fé alguma no Senhor como Filho de Deus, Deus do Céu e da Terra, e um com o
Pai, o Senhor o predisse nos Evangelistas, dizendo: "que haverá a abominação da desolação
e uma aflição tal como nunca houve e nunca haverá; o Sol será obscurecido, a Lua não dará
mais seu resplendor e as Estrelas cairão do Céu" (Mateus XXIV, 15, 21 , 29); e no
Apocalipse: "que Satanás, desligado de sua prisão, sairá para seduzir as nações que estão
nos quatro ângulos da terra, cujo número é como a areia do mar" (XX, 8). E como o Senhor
previu isso, disse também: "Mas quando o Filho do Homem vier, encontrará Ele Fé sobre a
terra?" (Lucas XVIII, 8).
&385 - Ao que precede serão acrescentados estes Memoráveis.
Primeiro Memorável. Una Anjo me disse um dia: "Queres ver claramente o que é a Fé e a
Caridade, o que é a Fé separada da Caridade e o que é a Fé conjunta à Caridade? eu o
demonstrarei". Respondi: "Demonstra". E êle disse: "Em lugar de pensar na Fé e na
Caridade, pensa na Luz e no Calor e tu verás claramente que a Fé, em sua essência, é a
Verdade que pertence à Sabedoria; e a Caridade, em sua essência, é a Afeição -que pertence
ao Amor; ou a Verdade da Sabedoria no Céu é Luz; e a Afeição do Amor, no Céu, é Calor;
a Luz e o Calor em que estão os Anjos, não são em sua essência outra cousa; dai podes ver
claramente o que é a Fé separada da Caridade e o que à Fé conjunta à Caridade. A Fé
separada da Caridade é como a Luz do inverno; e a Fé conjunta à Caridade é como a Luz da
Primavera; a Luz do inverno, que é a Luz separada da Caridade, estando conjunta ao frio,
despoja inteiramente as árvores, faz morrer as ervas, endurece a terra e congela as água,
mas a Luz da primavera, que é a Luz conjunta ao Calor, faz brotar as árvores primeiro em
folhas, depois em flores e por fim, em frutos; abre e amolece a terra para que produza
grama, as ervas, as flores e os arbustos; funde também o gelo para que as águas corram das
fontes. Dá-se absolutamente o mesmo com a Fé e 'a 'Caridade; a Fé separada da Caridade
faz morrer tudo; e a Pé conjunta à Caridade vivifica tudo; esta Vivificação e esta Ação
mortífera podem ser vistas ao vivo (Ad vivum) em nosso Mundo espiritual, porque aqui a
Fé é a Luz e a Caridade é o Calor; -pois onde a Fé está conjunta à Caridade, aí há Jardins
paradisíacos, Taboleiros esmaltados de flores, Lugares cheios de verdura, com seus
atrativos segundo a conjunção; mas onde a Fé está separada da Caridade, não há nem
mesmo a erva, e se aí se encontra alguma verdura não é senão sarças e espinheiros". Havia,
então, não longe de nós, alguns Eclesiásticos que o Anjo chamava Justificadores e
Santificadores dos homens pela fé só e também Arianistas; nós lhes dissemos as mesmas
coisas e as demonstramos até lhes fazer ver que isso era assim; e quando lhes perguntamos
se isso não era assim, eles se voltaram e disseram: "Não ouvimos". Mas nós lhes gritamos,
dizendo: "Ouvi pois agora". Então puseram as duas mãos diante dos ouvidos e gritaram:
"Nós não queremos ouvir". Depois disso falei com o Anjo sobre a Fé solitária e disse que,
por uma viva experiência, me tinha sido dado saber que esta Fé é corno a Luz do inverno; e
contei que, durante alguns anos, Espíritos de fé diferente passaram perto de mim; e que
todas as vezes que os que tinham separado a Fé da Caridade se aproximavam de mim, um
tal frio se apoderava de meus pés e, sucessivamente, de meus lombos e de meu peito, que
eu sentia me desfalecer e que a vida do meu corpo ia se extinguir, se o Senhor não tivesse
expulso estes Espíritos e não me tivesse libertado; o que me parecia surpreendente, era que
estes Espíritos não sentiam frio, como alguns me declararam; por isso, os comparei aos
peixes sob o gelo, que não sentem frio algum; eu percebia então que este frio emanava da
luz quimérica de sua fé, do mesmo modo que acontece nos lugares pantanosos e sulfurosos,
no meio do inverno, depois que o Sol se deita; os viajantes vêem aqui e ali uma semelhante
luz quimérica e fria. Estes Espíritos podem ser comparados às montanhas de gelo que,
separadas violentamente de seus lugares nas terras boreais, são levadas para aqui e para ali,
no oceano; e das quais ouvi contar que, à sua aproximação, todos os que estão todas navios
tremem. de frio; as Assembléias dos que estão na fé separada da caridade podem portanto
ser assemelhadas a estas montanhas. Sabe-se pela Palavra que a Fé sem a caridade é morta,
mas direi de onde vem a sua morte. Sua morte vem do frio, e de que esta Fé expira como,
no rigor do inverno, um pássaro morre devido ao frio intenso, que lhe paralisa o vôo e a
respiração.
&386 - Segundo Memorável. Urna manhã, ao despertar, vi dois Anjos que desciam do Céu,
um do Meio-Dia do Céu e o outro do Oriente do Céu, os dois, em carros atrelados de
cavalos brancos; o Carro em que estava o Anjo do Meio-Dia do Céu resplandecia como se
fosse de prata e o Carro em que estava o Anjo do Oriente do Céu resplandecia como se
fosse de ouro, e as rédeas que tinham nas mãos brilhavam com uma luz inflamada como a
da aurora; assim me apareceram de longe, estes dois Anjos, mas quando chegaram perto,
não os vi mais em um carro, mas em sua Forma Angélica, que é a forma humana; o que
vinha do Oriente do Céu estava com uma roupa de púrpura brilhante e o que vinha ao
Meio-Dia do Céu, com uma roupa cor de jacinto. Quando chegaram abaixo dos Céus
correram um para o outro e se abraçaram e beijaram mutuamente; soube que estes dois
Anjos, quando viviam no Mundo, tinham estado unidos pelos laços de uma amizade
interior, mas agora um estava no Céu Oriental e o outro no Céu Meridional; no Céu
Oriental estão aqueles que, pelo Senhor, estão no amor; e -no Céu Meridional, os que, pelo
Senhor, estão na Sabedoria. Depois de falarem durante algum tempo das magnificências de
seus Céus, a. sua conversação foi sobre este ponto: 0 Céu, em sua essência, é Amor ou é
Sabedoria? concordaram imediatamente que uni pertence ao outro, mas qual dos dois deve
sua origem ao outro, foi isso que eles discutiram. 0 Anjo que vinha do Céu da sabedoria
perguntou ao outro o que é o amor; e este respondeu que o Amor, tirando sua origem do
Senhor como Sol, é o calor da vida dos Anjos e dos homens, o ser de sua vida; que as
derivações do amor são chamadas afeições e que, por das são produzidas as percepções e os
pensamentos; donde se segue, que a Sabedoria, por sua origem, é o Amor e que o
Pensamento, por sua origem, é a afeição deste amor; e que isso é ignorado porque os
Pensamentos estão na luz, enquanto que as afeições estão no calor, o que faz com que se
reflita sobre os Pensamentos e não sobre as Afeições. Que o Pensamento não seja outra
cousa senão a forma da afeição de algum amor, isso pode ser ilustrado pela linguagem,
visto que a linguagem não é outra cousa senão a forma do som; há também similitude,
porque o som corresponde à afeição e a linguagem, ao pensamento; por isso, a afeição soa e
o pensamento fala; isto ainda pode-se tornar claro, por esta consideração; se, da linguagem
se tira o som, nada resta da linguagem; e semelhantemente, se, do pensamento se tira a
afeição, nada resta do pensamento. Ora, por isto, é evidente que o Amor é o tudo da
Sabedoria; por conseqüência, a Essência dos Céus é o Amor e a, Existência dos Céus é a
Sabedoria; ou que os Céus são pelo Divino Amor e existem segundo o Divino Amor pela
Divina Sabe doria; por isso, que um pertence ao outro. Havia então comigo um Espírito
noviço que, ouvindo isso, perguntou se acontecia o mesmo com a Caridade e a Fé, pois a
Caridade pertence à afeição e a Fé pertence ao pensamento; e o Anjo respondeu: E'
absolutamente o mesmo; a Fé não é outra cousa senão a forma da Caridade, absolutamente
como o Som é a forma da linguagem, a fé também -é formada pela caridade, como a
linguagem é formada pelo som; no Céu nós conhecemos mesmo o modo de formação, mas
não é o momento de o expor aqui". Acrescentou: "Pela Fé entendo a Fé espiritual,
proveniente do Senhor pela Caridade, a vida e o espírito, pois a Caridade é espiritual e por
ela a Fé o é também; por isso, a Fé sem a Caridade é uma Fé puramente natural e esta Fé é
morta; ela se conjunta mesmo com a afeição puramente natural, que não é outra coisa senão
a cobiça". Os Anjos falavam disso espiritualmente; e a linguagem espiritual abrange
milhares de cousas que a linguagem natural não pode exprimir, e que, isso é surpreendente,
pois não podem cair nas idéias do pensamento natural. Depois dos Anjos terem conversado
assim, eles se foram cada um parei seu Céu; apareciam estrelas em torno da cabeça deles e
quando estavam a alguma distância de mim, eu os vi de novo em carros, como antes.
&387 - Terceiro Memorável. Depois que estes dois Anjos ficaram fora de minha vista, vi à
minha direita um Jardim, onde havia oliveiras, figueiras, loureiros e palmeiras, colocados
em ordem segundo as correspondências; olhei mais atentamente para esse lado, e entre as
árvores vi Anjos e Espíritos que passeavam e conversavam entre si; então, um Espírito
angélico me reparou; são chamados Espíritos angélicos os que, no Mundo dos espíritos são
preparados para o Céu; este Espírito veio deste Jardim a mim, e disse: "Se queres vir
comigo ao nosso Paraíso, ouvirás e verás cousas maravilhosas. Fui com êle, e então me
disse: "Esses que vês pois eram em grande número estão todos no amor do vero, por
conseguinte, na luz da sabedoria; há também um Palácio, que chamamos o Templo, da
Sabedoria, mas não é visível para aquele que crê ter muita sabedoria, menos ainda para
aquele que se crê suficientemente sábio; e bem menos ainda para aquele que se crê sábio
por si mesmo; porque estes não estão na recepção da luz do Céu pelo amor da sabedoria
real; a sabedoria real é que o homem veja pela luz do Céu que aquilo que tem de ciência, de
inteligência e de sabedoria, é tão pouca cousa relativamente ao que não tem, que é como
uma gota d'água relativamente ao Oceano; todos os que estão neste Jardim paradisíaco, e
que pela percepção e a vista reconhecem em si mesmos que têm pouca sabedoria
relativamente, vêem este Templo da Sabedoria, pois a luz interior na mente põe o homem
em estado de vê-lo, mas não a luz exterior sem a interior". Ora, como eu muitas vezes
pensei isso pela ciência e pela percepção, enfim, pela luz interior, reconheci que o homem
tem tão pouca sabedoria, eis que me foi dado ver esse Templo. Êle tinha uma forma
admirável, era muito elevado acima do solo, quadrangular, as, paredes eram de cristal, a
cobertura elegantemente abobadada era de jaspe transparente e seus fundamentos, de
diversas pedras preciosas; os degraus pelos quais se subia para êle eram de elabastro polido;
sobre os lados dos degraus viam-se como leões com leõezinhos. Então perguntei se me era
permitido entrar e me dito que era permitido; subi e quando entrei, vi como querubins, que
voavam sob a, abóbada, mas que se dissipavam em seguida. 0 assoalho sobre o qual se
andava era de cedro; e todo o Templo, pela transparência da cobertura e das paredes, era
construído em forma luminosa. Comigo entrou o Espírito Angélico, a quem contei o que
tinha aprendido com dois Anjos sobre o Amor e a Sabedoria, sobre a Caridade e a Fé;
então, ele disse: "Será que eles não falaram também do Terceiro;" "0 que é o terceiro? lhe
disse. Ele respondeu: E' o Bem do Uso; o Amor e a Sabedoria sem o Bem do Uso nada são;
são unicamente entidades ideais não se tornam realidades antes de estarem no Uso; pois o
Amor, a Sabedoria e o Uso são três coisas que não podem ser separadas; se são separadas,
nada são nem uma nem outra; o Amor nada é sem a Sabedoria, mas na Sabedoria ele é
formado para alguma cousa e esta alguma cousa para a qual é formado é o Uso; quando,
portanto, o amor pela sabedoria está no uso, está então na realidade, porque existe
efetivamente; estes três são absolutamente como o fim, a causa e o efeito; o fim nada é, a
não ser que pela causa esteja no efeito; se um dos três é rompido, torna-se como nada. Dáse o mesmo também com a Caridade, a Fé e as Obras; a Caridade sem a Fé nada é, nem a
Fé sem a Caridade, nem a Caridade e a Fé sem as Obras, mas nas Obras elas são alguma
cousa, e alguma coisa tal como é o Uso das Obras. Dá-se o mesmo com a Afeição, o
Pensamento e a Operação, e o mesmo com a Vontade, o Entendimento e a Ação, pois a
Vontade sem o Entendimento é como o olho sem a vista; e uma e o outro sem a Ação, é
como a mente sem o corpo; que seja assim, pode-se ver claramente neste Templo, porque a
Luz, em que estamos aqui, é uma Luz que ilustra os
interiores da mente. Que não haja cousa alguma completa nem perfeita, que não seja Trina,
é também o que ensina a Geometria, pois a Linha nada é senão se faz uma Superfície; e a
Superfície nada é se não se faz um Corpo; é preciso, portanto, que um seja conduzido ao
outro a fim de existir e há coexistência no Terceiro; como acontece com isso, o mesmo
acontece com tôdas e cada uma das coisas criadas, que são terminadas no Terceiro. Daí
vem portanto que Três na Palavra significa o completo e inteiramente. Isto sendo assim,
não pude deixar de ficar admirado vendo que pessoas professam a Fé só, outros a Caridade
só, outros as Obras sós; quando, entretanto, uma destas cousas sem a outra, e duas
conjuntas sem a Terceira, nada é". Então lhe fiz estas perguntas: "Não
pode o homem ter a Caridade e à Fé e, entretanto, não ter ás Obras? Não pode o homem
estar na afeição e no pensamento de uma coisa e, entretanto, não estar na operação dessa
coisa?'' E o Anjo me respondeu: "Não o pode senão em idéia, mas, não na realidade, deve
estar sempre no esforço ou na vontade de operar e a vontade ou o esforço é o ato em si,
porque é uma tendência continua para agir, que se torna ato nos externos, quando a
determinação chega; é por isso que o esforço ou a vontade, como ato interno, é aceito por
todo sábio porque é aceito por Deus, absolutamente como o ato externo, desde que Me se
execute, quando a ocasião para isso se apresente.
&388 - Quarto Memorável. Conversei com alguns Espíritos que, no Apocalipse, são
entendidos pelo Dragão, e um deles me disse: "Vem comigo e eu te mostrarei os prazeres
dos nossos olhos e dos nossos corações". E me conduziu através de uma floresta sombria,
sobre uma colina, de onde pude considerar os prazeres dos dragões e a um Anfiteatro
elevado em forma de Circo com bancos em toda volta, alinhados até ao alto, sÔbre os quais
estavam assentados os espectadores; os que estavam nos bancos mais baixos me apareciam
de longe como Sátiros e Príapos, alguns com um véu sÔbre as partes vergonhosas; e outros,
nus sem este véu; sobre os bancos acima deles estavam sentados libertinos e prostitutas,
pelo menos por seus gestos pareciam tais; e então o Dragão me disse: "Vais ver o nosso
divertimento". E vi na Arena do Circo como touros, carneiros, ovelhas, cabritos e cordeiros
que aí foram introduzidos; e depois que foram introduzidos, uma porta sé abriu, e aí se
lançaram como leões, tigres o e lobos, e se lançaram com furor sobre o gado e os
despedaçaram e massacraram; mas os Sátira, depois desta horrenda carnificina, espalharam
areia sÔbre o lugar do massacre. Então o Dragão me disse: "São estes os nossos
Divertimentos, que alegram as nossas mentes" (animus). E eu respondi: "Vai-te, Demônio,
dentro em pouco verás este Anfiteatro mudado em lago de fogo e enxofre". A estas
palavras, êle riu e se foi. E em seguida, eu pensava comigo mesmo: '.Por que tais coisas são
permitidas pelo Senhor? e recebi em meu coração estas respostas: que elas são permitidas,
enquanto aqueles estão no Mundo dos Espíritos, mas que depois que seu tempo neste
Mundo terminou, estas cenas teatrais são mudadas em medonhos tormentos infernais.
Todas estas coisas que eu tinha visto,era o Dragão que as tinha produzido por fantasias; não
havia portanto touros, nem carneiros, nem ovelhas, nem cabritos, nem cordeiros, mas os
dragões faziam aparecer assim os bens e os veros reais da Igreja, que eram os objetos de
seu ódio; os leões, as panteras, os tigres e os lobos eram as aparências das cobiças daqueles
que tinham sido vistos como Sátiros e Príapos; os que não tinham véu em torno das partes
vergonhosas eram os que acreditavam que os males não aparecem diante de Deus; e os que
tinham um véu, eram os que acreditavam que estes aparecem, mas que não danam, desde
que se esteja na fé; os libertinos e as prostitutas eram os falsificadores dos veros da Palavra,
pois a escortação significa a falsificação do vero. No Mundo espiritual tôdas as cousas
aparecem de longe segundo as correspondências; e quando aparecem em formas, são
chamadas representações das coisas espirituais e são objetos semelhantes às coisas naturais.
Em seguida, eu os vi sair da floresta, o Dragão no meio dos Sátiros e dos Príapos; e depois
deles escudeiros e vivandeiras, que eram os escortadores e as prostitutas; o bando aumentou
no caminho, e então ouvi o que diziam entre si. Diziam que viam em um prado um rebanho
de ovelhas com cordeiros, o que em sinal de que perto dali havia uma das Cidades de
Jerusalém, onde a caridade é o principal; e disseram: "Vamos e apoderemo-nos desta
cidade, expulsemos as habitantes e pilhemos seus bens eles se aproximaram, mas havia
uma muralha em torno da cidade e os Anjos guardiães sobre a muralha; e então disseram:
"Tomemo-la pela astúcia, enviemos alguém hábil na mussitação, que possa branquear o
preto e enegrecer o branco e dissimular o fundo de cada objeto". E se achou um Espírito
hábil em Metafísica, que podia mudar as idéias de cousas em idéias de termos, esconder as
coisas mesmas sob fórmulas e assim voar como um gavião com a presa sob as asas. Este
Espírito tinha por instrução, logo que falasse com os habitantes da cidade, dizer-lhes que
aqueles que o enviavam eram consociados em Religião a eles, e pediam para serem
introduzidos. Este, aproximou-se da porta, bateu, e quando ela foi aberta, disse que queria
falar ao mais sábio daquela cidade; entrou, e foi conduzido para um certo personagem; e lhe
falou, dizendo: "Meus irmãos estão fora da cidade e pedem para serem recebidos; eles são
vossos consociados em Religião; fazemos, vós e nós, a Fé e a Caridade os dois essenciais
da Religião; a única diferença é que vós dizeis que a Caridade é o principal e que a Fé
procede dela; que importa que se diga que uma ou outra seja o principal, quando se crê em
uma e outra?" 0 sábio da cidade respondeu: "Não conferenciemos sós sobre este assunto,
mas discutamos em presença de muitos que sejam árbitros e juízes; de outro modo não se
chega a uma decisão". E imediatamente se fez vir muitos, aos quais o enviado do Dragão
dirigiu palavras semelhantes às que tinha pronunciado antes; e então o Homem sábio da
cidade respondeu: "Tu disseste que é a mesma cousa, seja que a Caridade fosse tomada
pelo principal da Igreja, seja que fosse a Fé, desde que se concorda que uma e outra fazem a
Igreja e sua Religião; entretanto, há a mesma diferença que entre o anterior e o posterior,
que entre a causa e o efeito, que entre o principal e o instrumental, e que entre o essencial e
os formal; emprego esses termos porque notei que tu és hábil na arte da Metafísica, arte que
chamamos mussitação, e que alguns chamam encantação; mas deixemos para lá esses
têrnos; há uma diferença como entre o que está em cima e o que está em baixo, e mesmo, se
o quiserdes crer, há uma diferença como entre as Mentes daqueles que habitam nas regiões
superiores e as Mentes dos que habitam as regiões inferiores neste Mundo; pois o que é o
Principal faz a Cabeça e o Peito e o que daí procede faz os Pés e as plantas dos Pés; mas
convenhamos primeiro sobre o que é a Caridade e sobre o que é a Fé; convenhamos que a
Caridade é a afeição do amor de fazer o bem ao próximo por causa de Deus, da salvação e
da vida eterna, e que a Fé é o Pensamento segundo a confiança concernente a Deus, à
salvação e à vida eterna". Mas o emissário disse: "Concordo que isso é a Fé e concordo
também que a Caridade é essa afeição por causa de Deus, porque é por causa de seu
mandamento, mas não por causa da salvação, nem por causa da vida eterna". Após esta
convenção e esta restrição, o Sábio da cidade disse: "A afeição ou a direção não é o
principal e o pensamento não procede dela?" Mas o enviado do Dragão disse: "Eu o nego".
Foi-lhe respondido: "Tu não o podes negar; não é segundo uma ~certa dileção que o
homem pensa? tira a dileção, pode ele pensar alguma coisa? é absolutamente como s, da
linguagem, tirasses o som; se tirasses o som, poderias dizer alguma cousa? o som pertence
também à afeição de algum amor e a linguagem pertence ao pensamento, pois o amor soa e
o pensamento fala; e é também como a chama e a luz; se tirares a chama, a luz não perece?
dá-se o mesmo com a Caridade porque ela pertence ao amor; e com a Fé porque ela
pertence ao pensamento; será que desta maneira não podes apreender que o principal é tudo
no secundário, absolutamente como a chama na luz? daí resulta evidentemente que se não
fazes principal o que é principal, tu não estás no outro; se, portanto, pões em primeiro lugar
a Fé que está em segundo, tu não aparecerás no Céu senão como um homem às avessas,
cujos pés estão em cima e a cabeça em baixo; ou como um charlatão que, invertendo seu
corpo, caminha sobre as palmas das mãos; pois que assim apareceis no Céu, quais são as
vossas boas obras, que são a Caridade em ato, senão tais como as faria este charlatão com
os pés, porque não as pode fazer com as mãos? daí, vem que a vossa Caridade é natural e
não espiritual porque está invertida". 0 Emissário compreendeu isto, pois todo diabo pode
compreender a verdade quando a ouve pronunciar, mas não a pode reter quando a afeição
do mal, que em si mesma é a cobiça da carne, expulsa o pensamento do vero; em seguida, o
sábio da cidade mostrou de várias maneiras qual é a Fé, quando foi aceita como o principal,
a saber, é propriamente natural e é uma persuasão sem nenhuma vida espiritual, que por
conseqüência não é a Fé; quando e acrescentou: "Poderia quase dizer que em vossa Fé não
há mais de espiritual, do que há na ação de pensar no Reino de Mogol, em sua mina de
diamantes e no Tesouro ou na Corte de seu Imperador". A essas palavras o Draconiano se
foi irritado e fez o relato aos seus fora da cidade; e quando souberam que tinha sido dito
que a Caridade é a afeição de fazer bem ao próximo pela salvação e pela vida
eterna, exclamaram todos: "Isso é uma mentira". E o Dragão mesmo disse: "Que
abominação! Todas as obras pertencentes à Caridade, se são feitas pela salvação, não são
elas meritórias?"Então disseram entre si: Convoquemos ainda muitos dos nossos sitiemos
esta cidade e expulsemos estes Caridades". Ora enquanto faziam seus preparativos, eis que
apareceu como um fogo do Céu, que os consumiu; mas o fogo do Céu era a aparência da
cólera e do ódio contra os que estavam na cidade, porque estes tinham transferido a Fé do
primeiro lugar para o segundo, e mesmo para mais baixo sob a Caridade, dizendo que não
era a fé; se apareceram como consumidos pelo fogo, é porque o Inferno se abriu sob seus
pés eles foram tragados. Acontecimentos semelhantes aconteceram em vários lugares no
dia do Julgamento Final; é também o que é entendido no Apocalipse por esta passagem: "0
Dragão sairá para seduzir as Nações que (estão) nos quatro ângulos da terra, a fim de as
reunir para uma guerra; e subirão sobre a largura da terra e cercarão o campo dos santos e a
cidade querida; e desceu um fogo do Céu e os consumiu" (20, 8, 9).
&389 - Quinto Memorável. Um dia vi um Papel descendo do Céu ao Mundo dos espíritos,
em uma Sociedade onde havia dois Prelados da Igreja tendo sob estes Cônegos e Padres;
este papel continha uma exortação para reconhecer o Senhor Jesus Christo como Deus do
Céu e da Terra, como Ele mesmo tinha ensinado (Mateus XXVIII, 18); e para se retirar da
doutrina da Fé justificante sem as obras da lei, porque esta doutrina é errônea. Este papel
foi lido e copiado por um grande número; e vários pensavam e falavam judiciosamente das
cousas que ele continha. Mas depois de o terem recebido, disseram entre si: "Ouçamos os
Prelados". E estes foram ouvidos, mas contradisseram e desaprovaram; ora, os Prelados
desta Sociedade eram duros de coração em conseqüência dos falsos de que se tinham
imbuído no inundo precedente; por isso, depois de uma curta consulta entre si, devolveram
o papel para o Céu, de onde tinha vindo; feita esta devolução, a maior parte dos Leigo,
depois de alguns murmúrios, retiraram seu precedente assentimento, e então a luz de seu
julgamento nas cousas espirituais, que tinha brilhado antes, extinguiu-se de repente; depois
de terem sido, de novo, advertidos, mas em vão, eu vi esta sociedade afundar, mas não vi a
que profundidade; e desapareceu assim à vista daqueles que adoravam unicamente o Senhor
e têm em aversão a fé só justificante. Mas alguns dias depois, vi uma centena de espíritos
subir da terra inferior, onde esta pequena sociedade se tinha afundado; aproximaram-se de
mim e um deles, tomando a palavra, disse: "Escuta uma cousa maravilhosa: Quando nos
afundamos, apresentou-se a nós um lugar como um lago, mas pouco depois como uma terra
seca e em seguida como uma cidadezinha, na qual, muitos tinham, cada um, sua casa; no
dia seguinte, consultamo-nos entre nós sobre o que havia a fazer; muitos disseram que era
preciso ir procurar, esses dois Prelados da Igreja e os repreender com doçura por terem
devolvido o Papel para o Céu de onde tinha descido, o que tinha sido a causa do que nos,
tinha acontecido; escolheram então alguns deles que foram a procura dos Prelados - o que
me falava me disse que era um deles; e então um de nós que sobressaia em sabedoria, falou
assim aos Prelados: "Nós acreditávamos que entre nós, mais do que entre todos os outros,
havia a Igreja e a Religião porque ouvimos repetir que estávamos na suprema luz do
Evangelho; mas foi dada a alguns de nós a ilustração procedente do Céu; e na ilustração, a
percepção de que hoje em dia no Mundo Cristão não há mais Igreja porque não há
Religião". Os Prelados responderam: "Que dizeis? Não está a Igreja onde está a Palavra,
onde o Christo Salvador é conhecido e onde estão os Sacramentos?" A isso, o nosso
respondeu: "Estas cousas são a Igreja porque fazem a Igreja, entretanto, elas a fazem não
fora do homem, mas dentro do homem". E além disso, êle disse: "A Igreja pode estar onde
se adora três Deuses? A Igreja pode estar onde toda sua doutrina é fundada sobre uma única
passagem de Paulo falsamente entendida e não sobre a Palavra? Pode haver Igreja, quando
não se dirigem ao Salvador do Mundo, que é, Ele mesmo, o Deus da Igreja? Quem pode
negar que a Religião consiste em fugir do -mal e fazer o bem? Há uma Religião onde se
ensina que a fé só salva, e não ao mesmo tempo a caridade? Há uma Religião onde se
ensina que a Caridade procedendo do homem não é senão uma Caridade moral e civil?
Quem não vê que nessa caridade nada há da Religião? Há na fé só alguma coisa de ato ou
de obra, quando, entretanto, a Religião consiste em fazê-lo? Existe sobre todo o Globo uma
Nação, que exclua todo salvífico dos bens da Caridade, que são as boas obras, quando,
entretanto, tudo na Religião consiste no bem e tudo da Igreja na doutrina que ensina os
veros e pelos veros os bens? Que glória para nós, se tivéssemos aceito o que trazia em seu
seio esse Papel descido do Céu!" Então os Prelados disseram: "Tu falas demasiado alto; a
Fé pelo ato, que é a Fé plenamente justificante e salvante, não é a Igreja? e a Fé pelo ato,
que é a Fé procedente e aperfeiçoante, não é a Religião? aprendei isso, filhos". Mas então o
nosso Sábio disse: "Escutai, pois! Será que o homem não concebe a Fé pelo ato como um
toco, segundo o vosso dogma? Um toco, pode ser vivificado na Igreja? Será que a Fé pelo
estado não é, segundo a vossa idéia, a continuação e a progressão da fé pelo ato? E, pois
que em vosso dogma, todo salvífico está na Fé e que não há salvífico algum no bem da
caridade pelo homem, onde está então a Religião? Os Prelados disseram: "Amigo, tu falas
assim porque não conheces os Arcanos da justificação pela Fé só; e quem não os conhece,
não conhece o caminho da salvação pelo interior; teu caminho é externo e plebeu; segue-o
se quiseres, mas sabe apenas que todo bem vem de Deus e que bem algum vem do homem;
e assim, o homem nas cousas, espirituais nada pode por si mesmo; como então o homem
pode por si mesmo fazer o bem, que é um bem espiritual?" Fortemente indignado com estas
palavras, aquele dentre nós que lhes falava, respondeu: "Conheço os vossos Arcanos da
justificação mais do que vós, e vos digo abertamente que não vejo interiormente em vossos
Arcanos senão fantasmas; a Religião não consiste em reconhecer e amar a Deus e em fugir
e odiar o diabo? Deus não é o Bem mesmo, e o Diabo o Mal mesmo? Quem é, em todo o
Globo, o homem que, tendo uma religião, não sabe isso? Não é reconhecer e amar a Deus
fazer o bem, porque é de Deus e vem de Deus? e não é fugir do Diabo e odiá-lo, não fazer o
mal, porque o mal é do Diabo e vem do Diabo? Vossa Fé pelo ato, que dizeis plenamente
justificante e servante, ou, o que é a mesma cousa, vosso Ato de justificação pela fé só,
ensina a fazer algum bem, que é de Deus e vem ,de Deus e ensina a fugir de algum mal que
é do Diabo e vem do Diabo? de modo algum, pois decidistes que não há salvação alguma
em fazer um e fugir do outro. 0 que é a vossa Fé pelo estado, que chamais Fé procedente e
aperfeiçoante, senão a mesma Fé pelo ato? Como pode ela ser aperfeiçoada, pois que
excluis todo bem que o homem faz como por si mesmo, dizendo em vossos Arcanos: Como
o homem pode ser salvo por algum bem que faça, pois que a salvação é gratuita? Dizendo
também: 0 que é o bem que o homem faz, senão um bem meritório e, entretanto, o mérito
do Christo é tudo? Fazer o bem para a salvação seria atribuir-se o que pertence ao Christo
só, assim seria também querer se justificar e salvar por si mesmo? Enfim, dizendo ainda:
Como alguém pode fazer o bem, pois que o Espírito Santo faz tudo sem nenhuma ajuda
humana? Que necessidade há ainda de algum bem acessório por parte do homem? Quando
todo bem vindo do homem não é em si o Bem? e multas outros raciocínios semelhantes.
Não são esses os vossos Arcanos? Mas a meus olhos ao puras argúcias e finuras inventadas
com o fim de afastar as boas Obras, que são os bens da Caridade, a fim de estabelecer a
vossa fé só; e como agis, assim, considerais o homem quanto a esta fé, e em geral, quanto a
todos os espirituais que pertencem à Igreja e à Religião, como um toco ou como uma
estátua inanimada e não como um homem criado à imagem de Deus, a quem foi dada a
faculdade de compreender e de querer, de crer e de amar, de falar e de fazer, absolutamente
como por si mesmo sobretudo nas cousas espirituais, porque -é por elas que o homem é
homem; se o homem, nas cousas espirituais, não pensasse e não agisse como por si mesmo,
que seria entra a Palavra, que seria então a Igreja e a Religião e que seria então o cultos?
Sabeis que fazer o bem ao próximo por amor, é a Caridade; mas não sabeis que é a
Caridade, quando, entretanto, a Caridade é a alma a essência da Fé; e pois que a Caridade é
a alma e a essência que se torna então a Fé afastada da Caridade, senão uma Fé morta?
Ora, a Fé morta não é mais que um espectro: eu a chamo um espectro porque Jacques
chama a Fé sem as boas Obras não somente fé morta, mas mesmo fé diabólica. Então um
desses Prelados, tendo ouvido que a sua fé era chamada fé morta, fé diabólica e espectro,
arrebatou-se de tal modo, que arrancou a Mitra da Cabeça e a lançou sobre a mesa, dizendo:
"Não a retomarei enquanto não tiver tirado vingança dos inimigos da Fé de nossa Igreja". E
sacudiu a cabeça, murmurando e dizendo: "Este Jaques, este Jaques!" Na frente de sua
mitra, havia uma lâmina de metal sobre a qual estava esta inscrição: Fé só justificante; e
então apareceu de repente um monstro saindo da terra com sete cabeças, tendo os pés como
os de um urso, o corpo como o de um leopardo e a goela como a de um leão, absolutamente
semelhante à bêsta que está descrita no Apocalipse (8, 1, 2) de que unia imagem foi feita e
adorada (vers. 14, 15). Este espectro tomou a Mitra de cima da Mesa, alargou-a em baixo e
a pôs sobre as suas sete cabeças; feito isto, a terra se abriu sob seus pés e êle foi tragado. A
vista disto, o prelado exclamou: "Violência! Violência!" Então nos separamos deles; e eis,
que diante de nossos olhos uma escada, pela qual subimos e voltamos esta terra e à vista do
Céu, onde estávamos antes". Eis o que me contou este espírito, que tinha reascendido da
terra inferior com cem outros espíritos.
&390 - Sexto Memorável. Na Plaga setentrional do Mundo espiritual ouvi como um
barulho produzido pelas águas; dirigi pois para o lugar e quando cheguei perto, o barulho
cessou e ouvi um burburinho como de uma assembléia e então vi uma casa toda rachada,
cercada de um péssimo muro, da qual saía, este burburinho; aproximei-me; havia aí um
porteiro a quem perguntei que gente estava nesse pardieiro; êle me disse que eram os sábios
dos sábios, que discutiam, entre si, sobre assuntos sobrenaturais; êle se exprimia assim na
simplicidade de sua fé; e eu disse: "E' permitido entrar?" Ele disse: "Isso é. permitido,
desde que não fales absolutamente, pois tenho permissão de admitir os gentios que se
conservam comigo na entrada". Em- conseqüência entrei; e eis que havia um Circo e no
meio uma Cátedra; e a Assembléia dos pretensos sábios dissertava sobre os ar. canos de sua
fé; e na ocasião a matéria ou a proposição submetida a discussão era esta: 0 Bem que faz o
homem no Estado de justificação pela fé ou na progressão da fé após o Ato, é um Bem de
religião ou não? Disseram unanimemente que pelo Bem de religião é entendido um Bem
que contribui para a salvação. A discussão foi viva; mas a vitória foi para os que
sustentavam que os Bens que o homem faz no Estado ou progressão da fé não são mais que
Bens morais, que conduzem à prosperidade no Mundo do, mas que não contribuem em
cousa alguma para a salvação para a qual contribui somente a Fé; e confirmaram isso desta
maneira: "Como algum bem voluntário do homem pode ser conjunto com um bem gratuito?
A salvação não se faz gratuitamente? Como algum Bem vindo do homem pode ser conjunto
com o Mérito do Christo? Não há salvação unicamente por este Mérito? E como a operação
do homem pode ser conjunta com a operação do Espírito Santo? Este não faz tudo sem o
concurso do homem? Não estão aí unicamente os salvíficos no Ato da justificação pela fé?
e estes três salvíficos únicos não permanecem no Estado ou progressão da Fé? Em
conseqüência o Bem acessório proveniente do homem não pode de modo algum ser
chamado Bem de Religião, o qual, como foi dito, contribui para a salvação; mas se alguém
faz o bem para a salvação, como há nesse bem acessório a vontade do homem, e que esta
não pode deixar de considerá-Io como um mérito, deve antes ser chamado mal de religião".
Havia perto do porteiro, no vestíbulo, dois gentios; eles ouviram estes raciocínios e um
deles disse ao outro: "Estes não têm Religião alguma; quem não vê que fazer bem ao
próximo por Deus, assim com Deus e segundo Deus, é o que se chama Religião?" E o outro
disse: "A sua fé os tornou loucos". E então perguntaram ao porteiro, quem eles eram; o
porteiro disse: Não Sábios cristãos. E eles responderam: "Estás brincando, dizes uma
mentira; são uns farsantes; pelo menos usam a linguagem deles''. E eu fui -embora. Foi pelo
auspício Divino do Senhor que vim a esta Casa, e que então eles deliberaram sobre este
assunto e a cousa se passou como está descrita.
&391 - Sétimo Memorável. Qual é a desolação do vero e qual é o marasmo teológico, hoje,
no Mundo Cristão; é o de que tive conhecimento pelas conversações no Mundo espiritual
com grande número de Leigos e grande número de Eclesiásticos; neste há uma tal
indigência espiritual, que apenas sabem outra cousa, senão que há uma Trindade, Pai, Filho
e Espírito Santo e que a Fé só salva; e sÔbre o Senhor Christo não conhecem d'Êle se não
os Históricos que! estão mos Evangelistas, quanto a todas as outras cousas que a Palavra
de um e outro Testamento ensina, sobre Êle, por exemplo, que o Pai e Êle são um; que Ele
esmo está no Pai e o Pai está n'Ele; que Ele tem todo poder no Céu e sobre a Terra; que a
vontade do Pai é que se creia , no Filho e que aquele que crê n'Ele tem a vida eterna e
várias outras cousas, são tão ignoradas e afastadas como as que estão, no fundo do oceano e
no centro da terra; e quando são tiradas das Palavras e lidas, eles ficam como se
escutassem, mas não escutam; e elas não entram em seus ouvidos mais profundamente .do
que o ruído do vento ou que o som de um tambor. Os Anjos que o Senhor envia algumas
vezes para as Sociedades Cristãs, que estão no Mundo dos espíritos, assim sob o Céu, para
as visitar, queixam-se muito, dizendo que há neles, para as cousas da salvação tanta
estupidez e conseqüentemente tanta obscuridade, que são pouco mais ou menos como um
papagaio que fala; os seus sábios, também dizem eles que para as cousas Espirituais e
Divinas não têm mais inteligência do que as estátuas. Um dia, um Anjo me contou que
tinha conversado com dois Eclesiásticos, dos quais um estava na Fé separada da Caridade e
o outro na Fé não separada. Dirigiu-se assim ao que estava na Fé separada da Caridade:
"Amigo, o que és tu?" êle respondeu: "Sou um Cris tão reformado". "Qual é a tua Doutrina,
e conseqüentemente a tua Religião?" Ele respondeu: "A minha fé é que Deus Pai enviou
seu Filho para que tomasse sobre si a danação do Gênero humano e que, por isso, nós
fomos salvos". Fez-lhe ainda esta pergunta: "Que mais sabes tu sÔbre a salvação?"
Respondeu: "A salvação se opera por esta fé só". Disse-lhe em seguida: "Que sabes sÔbre a
Redenção?" Respondeu: que ela foi feita pela Paixão da Cruz e que o mérito do Filho é
imputado por esta fé. Depois: "Que sabes da Regeneração?" Respondeu: "Ela se faz por
esta fé". "Diz-me o que sabes sÔbre o Amor e sÔbre a Caridade?" Respondeu: "0 Amor e a
Caridade são esta fé". "Dize-me, o que pensas dos Preceitos do Decálogo e de outros
preceitos da Palavra?" Respondeu: "Estão nesta fé". Então o Anjo disse: "Por conseguinte,
tu não farás cousa alguma?" Respondeu: "0 que farei? não posso por mim mesmo fazer o
bem que seja o bem". "Podes por ti mesmo ter a fé?" Respondeu: "Não indago isso; terei a
W. Enfim disse: "Nada mais sabes sÔbre a salvação?" Respondeu: "Que saberia mais, pois
que esta fé só opera a salvação". Mas então o Anjo disse: "Tu respondes como aquele que
toca flauta em um só tom; não ouço como resposta senão a fé; se não conhecesses senão
esta fé e nada mais, tu nada sabes. Vai-te embora e volta para os teus companheiros. E êle
se foi e os reencontrou em um deserto, onde não havia erva alguma; informou-se por que
era assim e lhe disseram que era porque não havia neles cousa alguma da Igreja. 0 Anjo se
dirigiu assim ao que estava na Fé conjunta à Caridade: "Amigo, o que és tu?" Respondeu:
"Sou um Cristão reformado". "Qual é a tua Doutrina e conseqüentemente a tua Religião?"
Respondeu: "A Fé e a Caridade". Êle disse: "São elas duas coisas?" Respondeu: "Elas não
se podem separar". Disse: "0 que é a Fé?" Respondeu: "E' crer o que a Palavra ensina".
Disse: "0 que é a Caridade?" Respondeu: "E' fazer o que a Palavra ensina". Disse: "Crês
apenas nestas coisas?" ou também as fazes?" Respondeu: "Eu as faço também". Então o
Anjo do Céu o encarou atentamente e lhe disse: "Meu amigo, vem comigo, e habita
conosco".
&392 CAPITULO VII - DA CARIDADE OU DO AMOR EM RELAÇÃO AO
PRÓXIMO E DAS BOAS OBRAS
392 - Acabou-se de tratar da fé, segue-se que é preciso agora tratar da Caridade, porque a
Fé e a Caridade estão conjuntas como o Vero e o Bem; e estes dois estão conjuntos como a
Luz e o Calor na estação da primavera; falo assim, porque a Luz espiritual, que é a Luz
procedente do Sol do Mundo, espiritual, é em sua essência o Vero, por isso o Vero naquele
Mundo, em qualquer lugar que se mostre, brilha com esplendor segundo sua pureza porque
o Calor espiritual, que procede também desse Sol, é em sua essência o Bem. Isso foi dito
porque dá-se com a Caridade e a Fé, o mesmo que com o Bem e o Vero, pois a Caridade é
o complexo de tôdas as cousas do Bem que o homem. faz ao próximo; e a Fé é o, complexo
de tôdas as coisas do Vero que o homem pensa concernente a Deus e aos Divinos. Portanto,
desde que o Vero da Fé é a Luz espiritual e o Bem da Caridade o Calor espiritual, acontece
com estes dois o mesmo que com o calor e a luz no Mundo natural, isto é, como, pela sua
conjunção, tudo floresce na Mente humana; porém, com a diferença que na Terra a floração
é feita pelo, Calor e a Luz naturais, enquanto que, na Mente humana, a floração é feita pelo
Calor e a Luz espirituais; e que esta floração, porque é espiritual, é a Sabedoria e a
Inteligência; há por isso, correspondência entre elas; por isso, que a Mente humana, em que
a Caridade foi conjunta à Fé e a Fé à Caridade, é comparada na Palavra a um jardim, e é
entendida também pelo Jardim do Éden; que seja assim, isso foi plenamente mostrado nos
"Arcanos Celestes", impressos em Londres. Além disso, é preciso que se saiba: a não ser
que se trate da Caridade, depois de se ter tratado da Fé, não se pode compreender o que é a
Fé; pois, como foi dito e mostrado no Capítulo precedente, a Fé sem a Caridade não é a Fé
e a Caridade sem a Fé não é a Caridade; as duas não, vivem senão pelo Senhor, ns. 355 a
361; depois também, o Senhor, a Caridade e a Fé fazem um como a Vida, a Vontade e o
Entendimento; e se são divididos, cada um se perde como unia pérola reduzida a pó, ns.
363 a 367; além disso, a Caridade e a Fé estão juntas nas Boas Obras, ns. 373 e segs.
&393 - Uma verdade constante, é que a Fé e a Caridade não podem ser separadas, a fim de
que o homem tenha a vida espiritual e, conseqüentemente, a salvação; que seja assim, cai
por si mesmo no entendimento de cada homem, mesmo não ornado com talento de
erudição. Há alguém que quando ouve dizer que aquele que vive bem e crê segundo as
regras é salvo, não veja isso por uma sorte de percepção interior e, por conseguinte, pelo
entendimento não seja desta opinião? Há alguém que, quando ouve dizer que aquele que
crê segundo a regra e não vive bem também é salvo, não rejeita isso do entendimento como
uma imundície que cai no olho, pois que então, pela percepção interior lhe vem
imediatamente este pensamento: Como se pode crer segundo a regra, quando não se vive
bem; e o que é então crer, senão uma figura pintada da Fé e não sua imagem viva?
Semelhantemente, se alguém ouvisse dizer que aquele: que vive bem, ainda que não creia, é
salvo, seu entendimento, virando e revirando esta proposição, ou pensado-a, não veria, não
perceberia, e não pensaria que ela também não tem consistência, pois que bem viver vem
de Deus? com efeito, todo bem que em si é o bem, vem de Deus. 0 que é então bem viver e
não crer, senão como é na mão do oleiro, a argila que não pode ser moldada em nenhum
vaso próprio ao uso no Reino espiritual, e não pode servir senão no Reino natural? Além
disso, quem não vê a contradição nestas duas proposições a saber Aquele que crê e não vive
bem é salvo; e Aquele que vive bem e não crê é salvo? Ora, hoje sabe-se e não se sabe o
que é Bem viver, que pertence à Caridade, pois sabe-se o que é bem viver naturalmente, e
não se sabe o que é bem viver espiritualmente; vai se tratar disso, em Séries, por Artigos
distintos.
&394 Há três amores universais: o Amor do Céu, o Amor do mundo e o Amor de si.
394 - Começarei por estes três Amores porque são universais e constituem os fundamentos
de todos os outros Amores e porque a Caridade tem com cada um deles o comum; pois pelo
Amor do Céu é entendido o Amor para com o Senhor e também o Amor em relação ao
Próximo; e estes dois amores consideram o uso como fim, o Amor do Céu pode ser
chamado o Amor dos usos. 0 Amor do mundo é não somente o Amor das riquezas e das
posses, mas ainda o Amor de tôdas as coisas que o Mundo fornece e que agradam os
Sentidos do Corpo, como a beleza, aos olhos, a harmonia, aos
ouvidos, as exalações odoríferas, às narinas, os manjares delicados, à língua, os contatos
suaves, à pele, e também a elegância das roupas, a comodidade das habitações, o prazer da
companhia, assim todos os gozos que provêm destas cousas e de muitos outros objetos. 0
Amor de si mesma e não somente o Amor da honra, da glória, da reputação, da
supremacia, mas também o amor de merecer e de obter as funções e reinar sobre os outros.
A caridade tem de comum com cada um destes três amores que considerada em si mesma
ela é o amor dos usos, pois a caridade quer fazer o bem ao próximo; e o bem a mesma
cousa que o uso; ora, cada um destes amores considera os usos como seus fins, o Amor do
Céu os usos espirituais, o Amor do Mundo os usos naturais, que podem ser chamados usos
civis, e o Amor de si, os usos corporais que podem ser chamados usos domésticos para si e
para os seus.
&395 - Que estes três amores estejam em cada homem por criação e assim de nascença, e
que eles aperfeiçoam o homem quando estão regularmente subordinados e o pervertem
quando o estão irregularmente, é o que será demonstrado no Artigo seguinte; aqui é
suficiente dizer que estes três amores estão regularmente subordinados, quando o Amor do
Céu faz a Cabeça, o Amor do Mundo o peito e o ventre, e o Amor de si os pés e as plantas
dos pés. A Mente humana foi distinguida em três regiões, como já foi dito algumas vezes; o
homem pela região suprema olha para Deus, pela segunda ou média o Mundo e pela
terceira ou ínfima olha para si mesmo; pois que tal é a Mente, ela pode ser elevada e elevarse a si mesma ao alto, porque pode olhar para Deus e para o Céu; pode ser estendida e
estender-se por si mesma para os lados por toda parte, porque pode olhar para todos os
lados no Mundo e na natureza do Mundo; e pode ser abaixada e abaixar-se a si mesma
porque pode olhar para a terra e para o inferno; nisto, a vista do corpo imita a vista da
mente, pois a vista do corpo pode também dirigir-se para cima, para os lados e para baixo.
A Mente humana é como uma Casa de três andares, entre eles há uma comunicação por
escadas; no andar mais alto habitam os Anjos do Céu; no do meio, os homens do Mundo e
no mais baixo, os gênios (infernais); o homem em quem estes três amores estão
regularmente subordinados pode, à sua vontade, subir e descer e quando sobe ao andar mais
alto, está em companhia com os Anjos como Anjo, quando daí desce ao andar do meio, está
em companhia com os homens como homem Anjo; e quando desce deste para o mais baixo,
está em companhia com os gênios como homem do mundo e os instrui, os repreende e os
doma.. No homem em quem estes três amores estão subordinados, estão também
coordenados de maneira que o Amor supremo, que é o Amor do Céu está interiormente no
segundo que é o amor do mundo; e por este no terceiro ou ínfimo, que é o Amor de si, e o
amor que está dentro dirige à sua vontade o amor que está por fora; se, portanto, o amor do
Céu está interiormente no amor do Mundo, e por este imo amor de si, o homem faz usos em
cada amor pelo Deus do Céu. Estes três amores são, na operação, como a Vontade, o
Entendimento e a Ação; a Vontade influi no Entendimento, e aí se provê dos meios pelos
quais produz a Ação. Mas sobre este assunto se verá maiores desenvolvimentos no Artigo
seguinte, onde será demonstrado que estes três amores aperfeiçoam o homem, se estão
regulamente subordinados, mas que o pervertem e transformam, se estão subordinados
irregularmente.
&396 - Entretanto, para que as cousas que seguem neste Capítulo e nos capítulos seguintes
sobre o Livre-Arbítrio, sobre a Reforma e a Regeneração, etc. se apresentem claramente à
vista na luz da razão, é necessário dar anãs algumas noções sobre a vontade e o
entendimento; sobre o bem e o Vero; sobre o Amor em geral; sobre o Amor do mundo e o
Amor de si em particular; sobre o homem Externo e o homem Interno, e sobre o homem
puramente natural e sensual. Estas noções vão ser desenvolvidas, a fim de que a vista
racional do homem, quando se tratar de perceber as cousas que serão ditas em seguida, não
esteja como em um nevoeiro espesso e não erre, por assim dizer, pelas ruas da Cidade, a
ponto de não acertar com o caminho que conduz à casa; pois sem o Entendimento e se o
entendimento não é ilustrado quando lê a, Palavra, urna verdade teológica não é mais que
como uma lâmpada na mão se a mecha não está acesa, tal como era a lâmpada na mão das
cinco Virgens insensatas, que não tinham Azeite. Cada um desses assuntos vai, pois, ser
tratado em sua ordem.
&397 - 1. Da Vontade e do Entendimento.
1) Há no homem duas faculdades que fazem sua vida, uma se chama a Vontade e a outra o
Entendimento; elas são distintas entre si, mas foram criadas de maneira que sejam um, e
quando são um, são chamadas a Mente; são, portanto, a mente humana e toda a vida do
homem está ai nos princípios e, por conseguinte, no corpo. 2) Como no Universo todas as
cousas que estão segundo a Ordem, se referem ao Bem e ao Vero, do mesmo modo, no
homem, elas se referem todas à Vontade e ao Entendimento, pois o Bem no homem
pertence à Vontade e o Vero pertence a seu entendimento; com efeito, estas duas
Faculdades ou estas duas Vidas do homem são os receptáculos e os sujeitos do bem e do
vero; a Vontade é o receptáculo e o sujeito de tudo o que pertence ao Bem; e o
Entendimento é o receptáculo e o sujeito de tudo que pertence ao Vero; os Bens e os Veros
no homem não estão em outra parte; segue-se que o Amor e a Fé não estão também em
outra parte, pois que o Amor pertence ao Bem e o Bem ao Amor, e que a Fé pertence ao
Vero, e o Vero à Fé. 3) A Vontade e o Entendimento fazem também o Espírito do homem,
pois aí residem sua Sabedoria e sua Inteligência e também seu Amor, sua Caridade e em
geral, sua .Vida; o Corpo nada mais é que uma Obediência. 4) 0 que há de mais importante
a saber é como a Vontade e o Entendimento fazem um único Mental (Mente): Fazem uma
única Mente como o Bem e o Vero fazem um; pois há entre a Vontade e o Entendimento o
mesmo Casamento que entre o Bem e o Vero; qual é êste Casamento, ver-se-á pelo que será
relatado em breve sobre o Bem e o Vero, a saber, que como o Bem é o ser mesmo da cousa
e o Vero é, por conseguinte, o Existir da cousa, do mesmo modo no homem a Vontade é o
Ser mesmo de sua vida e o Entendimento é o Existir de sua vida; pois o Bem que pertence à
Vontade se forma no Entendimento e se apresenta à vista.
&398 - Do Bem e do Vero.
1) No universo tôdas as coisas que estão na Ordem Divina se referem ao Bem e ao Vero;
não há cousa alguma no Céu, nem cousa alguma no Mundo, que não se refira a estes dois; e
isto, porque um e outro, tanto o Bem como o Vero, procedem de Deus, de quem procedem
tôdas as cousas. 2) Daí, é evidente que é necessário o homem saber o que é o Bem e o que é
o Vero, como um encara o outro e como um é conjunto ao outro; mas isso é principalmente
necessário ao homem da Igreja, pois como tôdas as cousas do Céu se referem ao Bem e ao
Vero, do mesmo modo também todas as cousas da Igreja, pois que o bem e o vero do Céu
são também o bem e o vero da Igreja. 3) É segundo a Ordem Divina que o Bem e o Vero
sejam conjuntos e não separados, de tal sorte que sejam um e não dois, pois conjuntos
procedem de Deus e conjuntos estão no Céu; por conseqüência, conjuntos devem estar na
Igreja; a Conjunção do bem e do vero é chamada no Céu Casamento Celeste, pois neste
Casamento estão todos que ai habitam; daí vem que na Palavra o Céu é comparado a um
Casamento e o Senhor é chamado Noivo e Marido; e o Céu, Noiva e Esposa, igualmente a
Igreja; se o Céu e a Igreja são chamados assim, é porque aqueles que aí estão recebem o
Divino Bem nos Veros. 4) Toda inteligência e Toda sabedoria que possuem os Anjos vêm
deste Casamento e não vêm de Bem algum separado do Vero, nem do Vero separado do
Bem; dá-se o mesmo com o homem da Igreja. 5) Pois que a conjunção do bem e do vero é !
como um casamento, é evidente que o Bem ama o Vero; que, reciprocamente, o Vero ama
o Bem e que um deseja ser conjunto ao outro; o homem da Igreja, no qual não há um tal
amor nem um tal desejo, não está Do Casamento celeste; por conseqüência, não há ainda
nele a Igreja, pois que a Conjunção do bem e do vero faz a Igreja. 6) Os Bens são de várias
espécies; em geral, há o bem espiritual-e o bem natural e um e outro foram conjuntos no
Bem moral real. Como são os bens, do mesmo modo são os veros, porque os Veros
pertencem ao Bem e são as formas do bem. 7) Como se dá com o Bem e o Vero, também se
dá pelo oposto com o Mal e o Falso; pois como no Universo tôdas as cousas que estão
segundo a Ordem Divina se referem ao Bem e ao Vero, do mesmo modo tôdas as que são
contra a Ordem Divina se referem ao Mal e ao Falso; e também como o Bem ama ser
conjunto ao Vero, do mesmo modo, o mal ama ser conjunto ao Falso, e reciprocamente; e
ainda, como toda Inteligência e Toda Sabedoria nascem. da conjunção do bem e do vero, do
mesmo modo toda Insensatez e toda Loucura nascem da conjunção do mal e do falso. A
conjunção do mal e do falso, considerada interiormente, não é um Casamento, é um
Adultério. 8) Por serem o Mal e o Falso opostos ao Bem e ao Vero, é evidente que o Vero
não pode ser conjunto ao Mal, nem o Bem ao Falso do mal; se o Vero está conjunto ao Mal,
não -é mais o Vero, mas é o Falso, porque foi falsificado; e se o Bem é adjunto ao Falso,
não é mais o Bem, mas é o mal, porque foi adulterado. Todavia, o falso que não é o falso do
mal, pode ser conjunto ao bem. 9) Quem quer que esteja no Mal e, por conseguinte, no
Falso pela confirmação e a vida, não pode saber o que é o Bem e o Vero, porque acredita
que seu Mal é o Bem e por isso acredita que seu Falso é o Vero; mas quem está no Bem e,
por conseguinte, no Vero pela ,confirmação e a vida, pode saber o que é o mal e o falso; a
razão disso é que todo Bem e todo Vero do bem são celestes em sua essência, e que todo
Mal, por conseguinte todo Falso são infernais em sua essência; ora, toda coisa celeste está
na luz e Toda cousa infernal está nas trevas.
&399 - Do Amor em geral.
1) A Vida mesma do homem é seu Amor; tal é o Amor, tal é a Vida, e tal é todo o homem,
mas é o Amor dominante ou reinante que faz o homem. Este Amor tem sob sua
dependência vários amores que são derivações; estas se mostram sob uma outra forma, mas
não obstante estão tôdas no Amor Dominante e fazem com êle um mesmo Reino; o Amor
Dominante é como seu Rei e seu Chefe; êle os dirige, e por eles como fins médios, visa e
tende para seu Fim, que é o primeiro e o último de. todos; e isso tanto direta como
indiretamente. 2) 0 que pertence ao Amor Dominante é o que é amado acima de todas as
coisas. 0 que o homem ama acima de todas as coisas. está sem cessar presente em seu
pensamento, porque isto está em sua Vontade e faz sua vida mesma (ipsissima); por
exemplo, é que ama acima de tôdas as coisas as riquezas, quer constiam em dinheiro ou em
posses, está continuamente preocupado com os meios de as adquirir, está intimamente
alegre quando as adquire e está intimamente triste quando as perde, seu coração está nelas.
Aquele que se ama acima de tôdas as coisas. Use, em todas as circunstâncias, se lembra de
si, pensa em si, fala de si e age para si, pois a sua vida é a vida de si mesmo. 3) 0 homem
tem por fim o que ama acima de tudo, o que tem em vista em tôdas as cousas; isso está em
sua vontade como a vela escondida de um rio, que a arrasta e domina, mesmo quando se
ocupa de outra cousa, pois é o que êle ama. E isso o que um homem examina em um outro;
e por isso, ou o dirige, ou age com ele. 4) 0 homem é tal qual é o Dominante de sua vida; é
por este Dominante que é distinguido dos outros; é êle que faz seu Céu, se é bom e seu
Inferno, se é mau; é a sua Vontade mesma, seu Próprio mesmo e sua Natureza mesma, pois
é o Ser mesmo de sua vida; depois da morte, êle não pode ser mudado, porque é o homem
mesmo. 5) Todo prazer, toda felicidade procedem era cada um de seu Amor Dominante e é
segundo este amor; pois o homem chama prazer o que ama porque o sente; o que êle pensa
e não ama, pode também chamar prazer, mas não é o prazer de sua vida. E o prazer de seu
amor, que é para o homem o Bem e é o desprazer que é para êle o Mal. 6) Há dois amores
de onde decorrem todos os bens e todos os veros, como de suas fontes mesmas; e há dois
amores de onde decorrem todos os males e todos os falsos. Os dois amores de onde
decorrem todos os Bens e todos os Veros, são o Amor para com o Senhor e o Amor em
relação ao próximo; e os dois amores de onde decorrem todos os males e todos os falsos,
são o Amor de si e o Amor do Mundo; êstes dois amores quando dominam, são
inteiramente opostos aos dois outros amores 7) Os dois Amores que são o Amor para com o
Senhor e o Amor em relação ao próximo, fazem o Céu no homem, pois reinam no Céu; e
como fazem o Céu no homem, fazem também a Igreja nêle; os dois Amores, de onde
decorrem todos os males e todos os falsos, são o Amor de si e o Amor do mundo, fazem o
Inferno no homem, pois reinam no Inferno, conseqüentemente também destroem a Igreja
nele. 8) Os dois Amores de onde decorrem todos os bens e todos os veros e que são os
Amores do Céu, abrem e formam o homem interno espiritual porque residem nesse homem;
os dois Amores de onde decorrem todos os males e todos os falsos, são os Amores do
Inferno, fecham e destroem o homem interno espiritual, quando dominam, fazem com que
o homem seja Natural e Sensual segundo a quantidade e a qualidade de sua Dominação.
&400 - IV. Do Amor de si e do Amor do mundo em particular.
1) 0 Amor de si consiste em não querer bem senão a si mesmo, e a não o querer aos outros,
mesmo à Igreja, à Pátria, a uma Sociedade humana e ao concidadão, senão em relação a si;
como também em não fazer o bem senão tendo em vista a reputação, a honra e a glória, de
sorte que, se não se vê a reputação, a honra ou a glória no bem que se lhes pode fazer, se
diz no coração: Que me importa? Por que o faria? Que lucrarei com isso? E assim não o
faz; daí é evidente que aquele que está no amor de si não ama a Igreja, nem a Pátria, nem a
Sociedade, nem o Concidadão, nem Bem algum real, mas não ama senão a si só e o que lhe
pertence. 2) 0 homem está no Amor de si quando nas cousas que pensa e que faz não
considera o próximo, nem o Público, ainda menos o Senhor, mas não vê senão êle mesmo e
os seus: por conseqüência, quando faz tôdas as cousas para si mesmo e para os seus, e
também quando faz alguma cousa para o Público, unicamente para se fazer ver; e para o
próximo unicamente a fim de que lhe seja favorável. 3) Diz-se para Si mesmo e para os
Seus, pois aquele que se ama, ama também os seus, que são especialmente seus Filhos e
seus Descendentes e geralmente todos os que fazem um com êle e que êle chama os Seus;
amar uns e outros, é também amar-se a si mesmo pois os considera como em si e se
considera como neles; entre os que chama os seus estão também todos os que o louvam, o
honram e o veneram. Quanto a todos os outros, êle os olha, é verdade, com os olhos do
corpo como homens, mas aos olhos de seu espírito, apenas são outra cousa mais que
fantasmas. 4) No Amor de si está o homem que despreza o próximo comparando-o a si
mesmo, que o considera como inimigo, se não lhe é favorável e se não o venera e não lhe
presta homenagem; ainda mais no Amor de si está aquele que, por causa disso, odeia o
próximo e o persegue; e ainda mais aquele que, por causa disso, arde em vingança contra
êle e deseja ardentemente a sua perda; tais ho mens gostam de praticar crueldades. 5) Pela
comparação com o Amor celeste, pode-se ver qual é o Amor de si; o Amor celeste consiste
em amar por causa dos usos, os usos, ou por causa dos bens, os bens, que se faz à Igreja, à
Pátria, a uma Sociedade humana e ao concidadão; mas aquele que ama por causa de à, não
os ama senão como criados porque o servem; segue-se daí que aquele que está no Amor de
si quer que a Igreja, a Pátria, as Sociedades humanas e os concidadãos o sirvam e não quer
servi-los; coloca-se acima deles e os põe abaixo de si. 6) Além disso, tanto mais alguém
está no Amor celeste, que -consiste em amar os usos e os bens, e em ser afetado pelo prazer
do coração fazendo-os, tanto mais é conduzido pelo Senhor, porque este Amor é aquele em
que está o Senhor e aquele que vem do Senhor; mas quanto mais alguém está no Amor de
si, tanto mais é conduzido por si mesmo; e quanto, mais é conduzido por si mesmo, tanto
mais o é por seu Próprio; e o Próprio do homem não é senão mal, pois é seu mal
hereditário, que consiste em se amar de preferência a Deus e em amar ao Mundo, de
preferência ao Céu. 7) 0 Amor de si é ainda tal que, quanto mais se lhe soltam as rédeas,
isto é, quanto mais são afastados os laços externos, que são o medo da perda da reputação,
da honra, do ganho, dos empregos e da vida, tanto mais se lança, até querer dominar não
somente sobre todo o Globo, mas ainda sobre o Céu e mesmo sobre Deus; jamais há para
êle algum termo ou algum fim; esta cupidez está escondida em todo homem que está no
Amor de si, ainda que não se manifeste diante do Mundo, onde os freios e os laços acima
mencionados, o retêm; e quem é tal quando encontra um obstáculo impossível de vencer, aí
se detém, até que a cousa se tome possível; é por causa de tudo isso que o homem que está
neste amor, não sabe que esta louca cupidez sem limites está escondida nele. Que,
entretanto, seja assim, cada um pode vê-lo nos Poderosos e nos Reis, para quem estes
freios, estes laços e estas impossibilidades não existem, os quais se precipitam sobre as
Províncias e os Reinos, os subjugam, tanto quanto o sucesso os ajuda e aspiram a um poder
e a uma glória sem limites; e mais ainda naqueles que estendem sua Dominação sobre o
Céu e transferem para eles todo o Poder Divino do Senhor; estes desejam contInuamente
mais. 8.0) Há dois gêneros de Dominação: Uma do amor em relação ao próximo; e a outra
do Amor de si. Estas duas Dominações são opostas uma à outra, aquele que domina pelo
Amor em relação ao próximo, quer bem a todos e nada ama mais de que fazer usos, e
também servir aos outros, é pelo bem querer fazer bem aos outros e fazer usos; é este seu
Amor, é este o prazer de seu coração; quanto mais este é elevado às dignidades, tanto mais
também se regozija, não por causa das dignidades, mas por causa dos usos que pode fazer
com maior abundância e em um grau mais extenso; tal a Dominação nos Céus. Mas aquele
que domina pelo amor de si não querer bem a quem quer que seja e só o quer para si e para
os seus; os usas que faz são para sua própria honra e sua própria glória, são estes para de os
únicos usos; serve aos outros a fim de ser de mesmo servido, ser honrado e dominar;
ambiciona as dignidades, não pelos bens que poderá fazer, mas para ficar acima dos outros
e na glória, por conseguinte, pelo prazer de seu coração. 9) 0 amor da Dominação
permanece, também em cada um após a vida no Mundo; mas aos que, dominaram pelo
Amor em relação ao próximo, é também confiada. uma Dominação nas Céu, e então não
são eles que dominam, mas são os usos e os bens que eles amam; e quando os usos e as
bens dominam, o Senhor domina; quanto àqueles que no Mundo dominaram pelo Amor de
si, são despojados da dominação após a vida no Mundo e são reduzidos à servidão. Ora,
pelo que acaba de ser dito, pode-se conhecer quais são os que estão no Amor de si; pouco
importa que aparências tenham na forma externa, que estejam elevados ou submissos, pois
os motivos da dominação estão no homem Interno, e na maioria o homem Interno está
escondido; e o homem Externo está habituado a fingir afeições que pertencem ao Amor do
Público e do próximo, assim afeições Contrárias e isso também em vista de si mesmo; pois
esses sabem que amar o Público e o próximo faz interiormente impressão sobre todos os
homens e que se é mais estimado por isso; se isso faz impressão, é porque o Céu influi
nesse Amor. 10) os males, naqueles que estão no Amor de ai, são em geral, o Desprezo
pelos outros, a Inveja, a Inimizade contra os que não lhes são favoráveis, a Hostilidade que
dai provém, os ódios de toda espécie, a Vingança a Astúcia, as Velhacarias, a
Desumanidade, a Crueldade; e onde estão tais males, há também o Desprezo por Deus e
pelos Divinos, que são os bens e os veros da. Igreja; se honram, é somente de boca e não de
coração. E coma esses males provêm desse amor, dele provêm também os falsos
semelhantes, pois os falsos vêm dos males. 11) 0 Amor do Mundo consiste em querer atrair
a si as Riquezas dos outros por qualquer meio que seja, em pôr seu coração nessas riquezas
em deixar que o Mundo o retire e o afaste do Amor Espiritual, que é o Amor em relação ao
próximo, e assim o afasta do Céu. No Amor do Mundo estão os que desejam se apoderar
dos bens dos outros por diversos meios, sobretudo os que empregam a astúcia e a
velhacaria, considerando como nada o, bem do próximo; os que estão neste Amor cobiçam
os bens dos outros; e quando, não temem as leis, nem a perda de sua reputação por causa
dos proveitos que procuram, eles roubam e pilham. 12) Entretanto, o Amor do Mundo não é
oposto ao Amor celeste no mesmo grau