3-In the Beginning_pt
Transcrição
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NOS PRIMÓRDIOS POR JONATHAN NOBLE Martin Brundle, ex-piloto de Fórmula 1 e destacado comentador, conhece bem o terreno onde pisa. Mas, mesmo agora, com 158 partidas de Grande Prémio no bolso e muito mais presenças em pista do que atrás dos microfones, ele não tem dúvidas sobre o melhor acontecimento da sua carreira. “A s pessoas perguntam-me qual é a minha pista favorita e eu dou sempre a mesma resposta”, explica Brundle, actualmente um dos comentadores da especialidade da televisão SKY do Reino Unido. “Eu digo que, em F1, é o Mónaco, Spa, Silverstone ou Suzuka. Mas, de todas elas, a do circuito da Guia de Macau é a minha favorita. “É um lugar extraordinário. A pista tem um traçado magnífico que, no início, se pode comparar com a do Mónaco, a seguir com a de Silverstone, na secção de curvas do Reservatório, bastante parecido com o antigo cenário de Stowe e Club. Eu adorava o passeio pelas ruas. Na verdade, gostava muito de lá voltar!” Este ano, assinala-se a 30ª edição do Grande Prémio de Macau de Fórmula 3 e Brundle ainda se lembra, como se fosse ontem, da sua experiência e participação na corrida inaugural do famoso evento, em 1983. Nessa altura, estava encantado porque ia correr fora da Europa, pela primeira vez,” diz Brundle. “Eu competia para a equipa de Teddy Ip. Dick Bennetts era o mentor de Ayrton [Senna] e Eddie Jordan e companheiros de Roberto Guerrero e eu próprio. Tínhamos todos a mesma oficina/ garagem de trabalho, no alto da colina e, ainda me lembro que, quando precisávamos de ir às pits, tinham de baixar as barreiras de protecção para voltarmos à pista. A corrida de 1983 ficou para a história como o maior feito, até então, da carreira do grande Senna. Para Brundle, todavia, ela será sempre recordada como a vitória que lhe escapou. Tendo chegado a Macau ansioso por bater Senna, depois de ser derrotado no campeonato britânico de F3 pelo rival brasileiro, após um longo e intenso duelo ao longo de toda a temporada, ele sabia que a vitória nas ruas de Macau poderia significar um grande impulso para as suas ambições de chegar à F1. Mais rápido nos treinos e com a terceira posição na grelha de partida, ele acreditava que tinha grandes hipóteses de ser bem sucedido. Mas, tudo correu mal: logo na primeira curva, sofreu um furo, na sequência de um toque do super entusiasmado Pierluigi Martini, e teve de ir às boxes para mudar o pneu caindo para último. 44 59TH MACAU GRAND PRIX (WWW.SUTTON-IMAGES.COM) EM CIMA À ESQUERDA: MARTIN BRUNDLE (ESQ) FALA COM AYRTON SENNA NA GRELHA, EM SILVERSTONE, NO FINAL DE UMA CORRIDA DO CAMPEONATO BRITÂNICO DE F3, EM MARÇO DE 1983. (WWW.SUTTON-IMAGES.COM) EM CIMA À DIREITA: MARTIN BRUNDLE, NO CAMPEONATO BRITÂNICO DE FÓRMULA 3, EM 1983 (WWW.SUTTON-IMAGES.COM) À DIREITA: NA PRIMEIRA EDIÇÃO DO GRANDE PRÉMIO DE MACAU DE FÓRMULA 3, EM 20 DE NOVEMBRO DE 1983: (ESQ. P/ DIR.) TEDDY YIP, PATRÃO DA THEODORE RACING; 10º CLASSIFICADO, MARTIN BRUNDLE (EDDIE JORDAN RACING/THEODORE); VENCEDOR, AYRTON SENNA (WEST SURREY RACING/ THEODORE) E SEGUNDO CLASSIFICADO, ROBERTO GUERRERO (EDDIE JORDAN RACING/THEODORE) Brundle recuperou bem e ainda chegou ao 10º lugar da geral no final da segunda manga. Mas, esse não era, propriamente, o resultado almejado. “Gostei imenso do circuito. Fui mais rápido que Ayrton no primeiro dia e o Roberto já tinha corrido antes em Macau. Apesar disso consegui qualificar-me atrás de ambos na grelha. Parti com Ayrton à minha frente que teve um saída lenta. Por isso colei-me a ele e tentei ultrapassálo. Foi quando Pierluigi Martini e eu nos tocámos. Ainda hoje não sei como isso aconteceu mas, para mim, acabou com um furo e, efectivamente, todas as minhas hipóteses arruinadas.” Mas, apesar de as coisas não terem acontecido como Brundle desejava, ele só tem boas recordações desse fim-de-semana incluindo, mesmo, o facto de uma noite ter deixado Senna de boca aberta com a sua indumentária. mesa e a amiga de uma das moças que estavam connosco à mesa chegou e sentou-se, empoleirada nas bordas de uma cadeira. Assim, ficaram 13 pessoas sentadas à volta da mesa e isso dava azar!” Brundle relata ainda que as recordações desse GP não acabaram em Macau prolongando-se, mesmo, no regresso ao Reino Unido. “Ainda me lembro que levámos 30 horas para chegar a casa”, diz ele, sorrindo. Não podíamos aterrar em Heathrow e acabamos por fazê-lo em Stansted. Aí, não havia maneira de nos tirarem do avião e os pilotos saíram a correr. Foi um momento verdadeiramente épico!” Quase três décadas volvidas sobre a aventura de então, Brundle ainda acredita que o Grande Prémio de Macau continua a ter um lugar importante no desporto motorizado devido ao prestígio decorrente de uma vitória no evento. “Tinha um jantar com Teddy e duas coisas estão ainda bem presentes na minha memória sobre esse jantar. Uma, foi Ayrton perguntar-me porque usava um fato. “Por que estás de fato?” disse ele. “É uma estupidez usar um fato.” Eu limitei-me a explicar-lhe que era assim que eu gostava. Foi um bom jantar num restaurante bonito, mas Ayrton estava completamente espantado por eu estar ali todo aperaltado.” “Se um piloto vence no Circuito da Guia fica marcado como um potencial material de campeonato,” explica. “Todavia, se pensarmos na história do evento, nem tudo são favas contadas. Definitivamente, ele dá-te destaque como sendo capaz de lidar com grandes e difíceis eventos, porque é muito complicado aguentamos sem problemas e vencer.” “O mais engraçado foi que estávamos ali sentados a jantar e, de repente, Teddy levantou-se e saiu da sala. Descobri mais tarde que foi devido ao facto de estarmos 12 pessoas à E, isso, foi algo que Brundle descobriu da maneira mais difícil, sem apagar, no entanto, as recordações felizes da sua primeira visita, em 1983. 59TH MACAU GRAND PRIX 45