minerais ruminantes - EDUFU - Universidade Federal de Uberlândia
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minerais ruminantes - EDUFU - Universidade Federal de Uberlândia
Bases práticas para produção de leite a pasto Edmundo Benedetti ISBN 978-85-7078-424-7 Leguminosas e sistema silvipastoril Edmundo Benedetti MINERAIS PARA RUMINANTES Água na alimentação de bovinos Edmundo Benedetti Esta obra contempla assuntos referentes ao metabolismo e o requerimento de minerais para o gado de leite. O conhecimento nesta área de nutrição animal contribuirá para um melhor desempenho na produção, evitando problemas causados por deficiências dos minerais, que comprometem o funcionamento do organismo animal. O texto traz ainda o histórico da descoberta dos minerais essenciais aos animais e destaca sua importância no metabolismo dos ruminantes, suas principais funções e inter-relações, deixando evidente a necessidade de suplementação mineral para a melhoria da produtividade. Sebastião Luiz de Almeida Filho Conheça outros livros sobre nutrição animal publicados pela Edufu: Sebastião Luiz de Almeida Filho MINERAIS PARA RUMINANTES Esta obra consegue unir informações do metabolismo dos minerais no interior do corpo dos ruminantes com informações das funções dos mesmos nas plantas forrageiras utilizadas na sua alimentação. É um contributo à construção de um conhecimento holístico do uso dos minerais na alimentação e nutrição, trazendo as particularidades de cada macro e micromineral, sua importância, problemas decorrentes de sua deficiência, exigências do ponto de vista nutricional, suas funções fisiológicas nos ruminantes e nas plantas forrageiras utilizadas em sua nutrição. Prof. Dr. Robson Carlos Antunes Faculdade de Medicina Veterinária - UFU MINERAIS PARA RUMINANTES Universidade Federal de Uberlândia www.edufu.ufu.br REITOR Elmiro Santos Resende VICE-REITOR Eduardo Nunes Guimarães DIRETORA DA EDUFU Joana Luiza Muylaert de Araújo Av. João Naves de Ávila, 2121 Campus Santa Mônica - Bloco 1S Cep 38408-100 | Uberlândia - MG Tel: (34) 3239-4293 CONSELHO EDITORIAL Carlos Eugênio Pereira Cibele Crispim Fábio Figueiredo Camargo Francisco José Torres de Aquino Guilherme Fromm Luiz Fernando Moreira Izidoro Narciso Laranjeira Telles da Silva Reginaldo dos Santos Pedroso Sônia Maria dos Santos EQUIPE DE REALIZAÇÃO Editora de publicações Assistente editorial Coordenadora de revisão Revisão Revisão ABNT Projeto gráfico, capa e editoração Foto capa Maria Amália Rocha Leonardo Marcondes Alves Lúcia Helena Coimbra Amaral Stefania Montes Henriques Fernanda Fernanda Nogueira Ivan da Silva Lima http://www.freeimages.com/ Sebastião Luiz de Almeida Filho Minerais para ruminantes Copyright 2016 © Edufu Editora da Universidade Federal de Uberlândia/MG Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução parcial ou total por qualquer meio sem permissão da editora. Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) A447m Almeida Filho, Sebastião Luiz de. Minerais para ruminantes / Sebastião Luiz de Almeida Filho. – Uberlândia: EDUFU, 2016. 138 p. : il. Inclui bibliogra ia. ISBN 978-85-7078-424-7 1. Ruminantes – Nutrição. 2. Nutrição animal. 3. Minerais na nutrição animal. I. Título. CDU: 636.2/.3.085 Elaborados pelo Sistema de Bibliotecas da UFU / Setor de Catalogação e Classi icação – MG Universidade Federal de Uberlândia www.edufu.ufu.br Av. João Naves de Ávila, 2121 Campus Santa Mônica - Bloco 1S Cep 38408-100 | Uberlândia - MG Tel: (34) 3239-4293 Sumário 7 Introdução 9 9 14 18 20 23 26 29 31 33 33 36 37 39 40 43 47 49 51 53 54 Capítulo I Minerais e microminerais 1.1. Minerais 1.1.1. Cálcio (Ca) 1.1.2. Cloro (Cl) 1.1.4. Magnésio (Mg) 1.1.5. Fósforo (P) 1.1.6. Potássio (K) 1.1.7. Sódio (Na) 1.1.8. Enxofre (S) 1.2. Micros minerais 1.2.1. Cromo (Cr) 1.2.2. Cobalto (Co) 1.2.3. Cobre (Cu) 1.2.4. Flúor (F) 1.2.5. Iodo (I) 1.2.6. Ferro (Fe) 1.2.7. Manganês (Mn) 1.2.8. Molibdênio (Mo) 1.2.9. Selênio (Se) 1.2.10. Silício (Si) 1.2.11. Zinco (Zn) 57 62 62 Capítulo II 2.1. Composição mineral de plantas forrageiras 2.2. Concentração mineral dos alimentos 2.3. Fatores que in luenciam a concentração mineral dos alimentos 67 68 69 70 73 74 75 76 Capítulo III 3.1. Metabolismo mineral – gado de leite 3.2. Transporte e turnover de mineral no interior de tecidos 3.3. Excreção de elemento mineral 3.4. Homeostasia de tecido no nível de minerais 3.5. Efeito da de iciência mineral nos animais 3.6. Toxidez e tolerância 3.7. Interação mineral 3.8. Interação entre minerais e constituintes orgânicos de dieta 77 78 79 3.9. A disponibilidade de minerais nos alimentos 3.10. Forma química do elemento 3.11. Suplementação mineral 81 81 85 90 92 94 96 97 98 99 101 103 108 111 112 Capítulo IV 4.1. Requerimentos minerais do gado de leite 4.1.1. Cálcio 4.1.2. Fósforo 4.1.3. Magnésio 4.1.4. Enxofre 4.1.5. Cobalto 4.1.6. Cobre 4.1.7. Iodo 4.1.8. Ferro 4.1.9. Manganês 4.1.10. Molibdênio 4.1.11. Selênio 4.1.12. Zinco 4.1.13. Cromo 4.1.14. Flúor 113 114 115 116 117 117 121 123 Capítulo V 5.1. Minerais orgânicos 5.1.1. Formação de compostos orgânicos sinteticos quelatos 5.1.2. Biodisponibilidade dos quelatos 5.1.3. Absorção dos quelatos 5.1.3.1. Resposta à Utilização de Minerais quelatados 5.1.3.2. Zinco - MetiOnina 5.1.3.3. Selênio de Levedura 5.1.3.4. Cromo – Metionina 125 Referências Introdução O objetivo deste livro é mostrar ao leitor a importância dos minerais para o ruminante. Cada mineral essencial está envolvido em uma ou mais atividades vitais para o animal. O livro aborda os minerais e suas funções no organismo, a história de sua descoberta, a composição mineral das plantas – as quais são fontes naturais de minerais –, o inter-relacionamento entre solo e planta na composição mineral desta e o inter-relacionamento entre os elementos minerais. Há, ainda, a explicitação dos processos de absorção, metabolismo e excreção desses minerais pelos ruminantes. Aborda a disponibilidade de minerais nos alimentos e o metabolismo do gado de leite. Como foi constatado, o elemento mineral é essencial no metabolismo do animal. A suplementação do ruminante de maneira incorreta leva-o a uma condição marginal ou de iciente, o que prejudica seu desempenho. O trabalho esclarece a importância na correta suplementação mineral do animal, já que as fontes naturais de minerais não são su icientes para suprir suas necessidades básicas. A conscientização de uma suplementação mineral correta é de extrema importância, pois aumentará o desempenho do rebanho brasileiro e, consequentemente, sua produtividade. Os minerais, sendo suplementados de uma maneira e icaz, in luenciarão na reprodução, na produção de carne e de leite. Além disso, os parâmetros zootécnicos que in luem no aumento do desfrute do rebanho também serão melhorados. 7 Capítulo I Minerais e microminerais 1.1. Minerais Os minerais são considerados essenciais, isto é, são aqueles dos quais se conhece pelo menos uma função vital ao animal. Eles são classi icados em macrominerais e microminerais, sendo que a utilização desses termos não implica uma menor função do último grupo, mas sim se refere à quantidade necessitada pelo animal. Desse modo, tem-se por de inição que: Macrominerais: elementos requeridos em torno de poucos décimos de gramas. Microminerais: elementos requeridos em minúscula quantidade de microgramas por dia pelo animal. Segundo Ensminger et al. (1990), o cálcio, fósforo, potássio, magnésio, sódio, cloro e enxofre são classi icados como macrominerais. Enquanto o cobre, cromo, cobalto, lúor, iodo, ferro, manganês, molibdênio, selênio, zinco e silício são microminerais. 9 TABELA 1 – Análise corporal (%) dos principais constituintes minerais em novilhas de diferentes idades – Trato digestivo. Elementos (%) Cálcio 1,33 Fósforo 0,74 Potássio 0,19 Sódio 0,16 Enxofre 0,15 Cloro 0,11 Magnésio 0,04 Ferro 0,01 Total 2,73 Fonte: ENSMINGER, et al., 1990. De acordo com a Tabela 1, o cálcio e o fósforo representam, respectivamente, 49% e 27% da percentagem corporal, sendo que o restante dos minerais totalizam 24%. Dentre as principais funções dos minerais, podemos citar as seguintes: 1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. São constituintes da estrutura esquelética; Fazem parte da estrutura molecular de compostos orgânicos, como proteínas e lipídios, que formam os músculos, os órgãos, as células e outros tecidos do corpo; Ativam sistemas enzimáticos; Controlam o luído, a pressão, o balanço osmótico e a excreção; Regulam o balanço acidobásico: Exercem um efeito característico sobre toda a irritabilidade de músculos e de nervos; Fazem parte de vitaminas; 10 • Sebastião Luiz de Almeida Filho História e descoberta dos minerais Há evidências de que civilizações antigas reconheceram e trataram as de iciências minerais, apesar de não conhecerem os diversos minerais existentes. Os chineses, em 3000 a.C, descreveram o bócio e recomendaram às pessoas a comerem plantas verdes queimadas do fundo do mar, as quais são boas fontes de iodo. Já em 400 d.C., no tempo de Hipócrates, a anemia foi tratada dando ao paciente uma água a qual era aquecida juntamente com uma espada. Entretanto, os efeitos dos tratamentos eram, frequentemente, imprevisíveis, porque não havia meios de identi icar ou medir a quantidade dos ingredientes ativos nas várias substâncias medicinais da época (Ensminger et al., 1990). O conhecimento da função dos minerais no organismo não foi produzido por muitos séculos, já que os laboratórios de pesquisa só foram desenvolvidos na Renascença, apesar de alquimistas medievais terem inventado pequenas técnicas e ferramentas de química para mudar a base de metais para o ouro. O grande químico francês Antoine Lavoisier, creditado como o fundador da ciência da nutrição, prognosticou, em 1799, que apenas elementos como o sódio e o potássio poderiam ser brevemente descobertos. Isso porque ele acreditava que esses minerais estavam presentes em certos complexos e misturas, conhecidos como “Terras”. No início do século XVIII, o químico inglês Humphry Davy descobriu não somente o sódio e o potássio, como também o cálcio, o enxofre, o magnésio e o cloro, na mesma época da Academia Francesa 1806. O químico sueco Jöns Jacob Berzelius, por sua vez, adicionou ao conhecimento dos minerais sua análise sobre o cálcio e o fosfato nos ossos, em 1801. Em 1838, ele concluiu que o ferro na hemoglobina tornava possível uma maior absorção de oxigênio Minerais para ruminantes • 11 pelo sangue. Uma contribuição similar foi feita pelo químico Jean Baptiste Boussingaut, o qual notou, em 1822, que em um povoado na América do Sul não houve incidência do bócio, porque seus habitantes consumiam sal contendo iodo, sendo que aqueles que usaram somente NaCl (cloreto de sódio) foram afetados. Charles J. Chossat, um ísico na Suíça, em 1840, demonstrou que a adição do carbonato de cálcio na dieta de trigo e água melhorou o crescimento ósseo em suínos. Em 1895, o bioquímico Baumann descobriu que a glândula tireoide continha iodo e demonstrou, por intermédio de cientistas, que a medicina americana, entre 1907 a 1918, administrou uma mínima quantidade de iodo que evitou bócio em animais e crianças em idade escolar. Somente no inal do século XIX, cerca de 1/3 dos minerais, os quais são agora aceitos como essenciais, foram conhecidos para serem utilizados na alimentação. Apesar do desenvolvimento de pesquisas nutricionais naquele século, a incidência de bócio ainda persistia na população, porque a necessidade de ingestão de vitaminas ainda não tinha sido descoberta. Consequentemente, era di ícil diferenciar se a de iciência era pela falta de minerais ou de vitaminas. A primeira metade do século XX foi marcada pela descoberta de vários minerais necessários aos animais e às pessoas.1 Entretanto, apesar de ser frequente a incerteza da função metabólica de vários minerais, eles foram reconhecidos como essenciais. Por exemplo, até 1948, não era estabelecida a função do cobalto como um componente da Vitamina B12. Desse modo, percebe-se que entre 1930 e 1950 houve uma intensa atividade cientí ica com o intuito de apreender como os elementos essenciais atuavam no organismo animal. O mais recente capítulo, nesta história, começa quando Para citar alguns exemplos: o fósforo foi descoberto em 1918, enquanto em 1925 descobriu-se a existência do cobre. Em 1931, o magnésio, manganês e molibdênio foram conhecidos e, em 1934 e 1935, descobriuse, respectivamente, o zinco e o cobalto. 1 12 • Sebastião Luiz de Almeida Filho Klaus Schwarz, um médico cientista alemão, que tinha emigrado para os Estados Unidos, e seus co-pesquisadores descobriram, em 1957, a idade essencial do selênio, e em 1959, do cromo. Então, desenvolveram uma série de equipamentos para proteger seus animais e dietas ultrapuras, contaminadas pela mínima quantidade de elementos do meio ambiente. Em 1972, foram capazes de identi icar o lúor e a sílica como essenciais também. É irônico que, há pouco tempo, estes quatro elementos – selênio, cromo, lúor e sílica – foram considerados tóxicos e responsáveis pela contaminação dos alimentos, da água e do ar. Muitos trabalhos continuam sendo feitos nessa área. Há testes para veri icar se outros elementos podem ser essenciais, para a de inição dos limites de segurança e das doses tóxicas dos minerais essenciais já conhecidos e também para determinar como os vários elementos interagem entre si no organismo do animal. De inição, classi icação e função. Minerais são elementos inorgânicos encontrados com frequência nos sais e em compostos orgânicos, como proteínas, e os aminoácidos em complexos orgânicos. Sua disponibilidade e função metabólica relacionam-se com a fórmula na qual eles são encontrados. Por exemplo, na presença de oxalato e citrato, o cálcio não pode ser absorvido. Já o fósforo, quando combinado com a itina, torna-se disponível para alguns animais, como os ruminantes, mas não para outros. Agentes quelatos exercem atração seletiva com vários elementos minerais, liberando um elemento mineral por outro pelo qual o agente quelato tem maior atração. Assim, cria-se a de iciência de um elemento que está presente em quantidade inadequada. Na análise alimentar, amostras de alimento são queimadas (incineradas) para destruir toda a matéria orgânica, restando somente minerais ou cinzas. Esta análise é limitada, pois oferece Minerais para ruminantes • 13 somente a medida bruta (cinza total) do teor mineral no alimento, porque a análise não indica qual mineral presente, não inclui minerais voláteis, como iodo, cloro e selênio, não determina óxidos e carbonatos com o valor destes elementos, incluindo os minerais. Não indica qualquer coisa sobre a disponibilidade e a forma como o mineral está presente no alimento, não dá informação relativa à quantidade de cada mineral, não se sabe a importância de todos minerais necessários, mesmo as quantidades com que eles não estão realmente contribuindo para o total teor de cinza dos alimentos. De fato, a análise de cinza é usada com frequência em forragens para estimar as quantidades de poeira e de solo que foram colhidas com o alimento. Ela é usada por iscais para monitorar o quanto de enchimento existe em rações com excessiva quantidade de calcário e de outros materiais, como a terra, que são, algumas vezes, adicionados. 1.1.1. Cálcio (Ca) O cálcio foi um dos primeiros nutrientes conhecidos por serem essenciais. Em 1842, Charles J. Chossat, um francês, demonstrou, experimentalmente, que os suínos desenvolviam ossos fracos quando expostos a uma dieta pobre em cálcio. É conveniente lembrar que todos os animais necessitam de cálcio, o qual representa cerca de 2% do peso corporal. Ele dá resistência e estrutura aos ossos e dentes, controla o batimento cardíaco, tem a função de transmissão de impulsos nervosos e relaciona-se com a contração muscular. Além disso, esse elemento químico também aumenta a permeabilidade das membranas celulares e é necessário para a coagulação sanguínea e para a ativação de diversas enzimas, incluindo a lípase. 14 • Sebastião Luiz de Almeida Filho Absorção, metabolismo e excreção do Cálcio. No que concerne à absorção dos sais de cálcio, temos que eles são mais solúveis em solução ácida. Isso evidencia, portanto, que a absorção ocorre, em grande medida, na parte proximal do intestino delgado. Entretanto, nem todo cálcio presente no alimento torna-se disponível para o organismo. Normalmente, dependendo da alimentação, somente 20 a 30% do cálcio, em média, é absorvido no trato intestinal e entra na corrente sanguínea. Nesse sentido, é pertinente a irmar que a absorção de cálcio depende de três fatores: da necessidade que o organismo tem desse elemento químico, do tipo de alimentos consumidos e da quantidade de cálcio ingerido. Quanto ao metabolismo do cálcio, sabe-se que o intestino delgado age como um controlador efetivo de absorção desse elemento, evitando a ocorrência de excessos. Além disso, a necessidade do organismo é o principal fator responsável pela quantidade de cálcio que será absorvida. Depois da absorção, a maior parte do cálcio é estocada nos ossos, dos quais ela é retirada quando o organismo sente necessidade. Entretanto, esse processo pode nem sempre ocorrer de maneira rápida e su iciente para prevenir alguma alteração do metabolismo, como a tetania. Muitos cientistas mediram o cálcio retirado dos ossos, para diagnosticar a de iciência desse elemento no organismo do animal. Destaca-se que quando este diagnóstico é feito, por meio da retirada dos ossos da mandíbula, o seu resultado é considerado mais e icaz para diagnosticar a de iciência de cálcio. Se a quantidade de cálcio no sangue está acima de níveis normais, ele pode ser depositado nos ossos, para ser mobilizado pelo organismo futuramente, ou excretado. Ademais, deve-se ressaltar que deposição e mobilização de cálcio estão sob controle hormonal. A excreção do cálcio, por sua vez, ocorre em grande parte pela urina, mas há casos em que essa dispersão também ocorre por meio das fezes ou do suor. A excreção do cálcio ocorre quando há uma quantidade maior do que a necessária no organismo. Minerais para ruminantes • 15 Função A principal função do cálcio é a constituição de ossos e dentes e também manter os ossos. Mas a importância do cálcio não se restringe somente a esses processos. Esse mineral também é responsável por: Coagulação sanguínea Transmissão nervosa Permeabilidade da membrana celular Ativação de enzimas Secreção de um número de hormônios. Produção de leite, pois é essencial à lactogênese. Em virtude de sua importância para o funcionamento do organismo, a de iciência de cálcio acarreta em alguns problemas, tais como o impedimento do crescimento, má qualidade de ossos e dentes e a má formação óssea (raquitismo). Dentre as manifestações clínicas relacionadas à de iciência de cálcio2, podemos citar as seguintes: Raquitismo jovem, caracterizado pelo alargamento das juntas de ossos longos e de ossos que mudam a conformação, por causa do peso e da atividade do animal. Osteomalacia: raquitismo do adulto. Osteoporose: é uma condição caracterizada por pouco osso, quando a utilização do osso excede sua formação. Assim, há a diminuição da matriz óssea e a atividade osteoblástica do osso é inferior à normal. Queda na produção de leite: O teor de cálcio do leite varia somente dentro de estreitos limites, abaixo dos quais a É necessário ressaltar que, da mesma forma que a de iciência de cálcio causa doenças no organismo, o seu excesso também possui consequências. Uma delas é a formação de pedras no rins. 2 16 • Sebastião Luiz de Almeida Filho produção de leite poderá decrescer para a quantidade que pode ser produzida com a disponibilidade de cálcio. Tetania (hipocalcemia): Normalmente, o cálcio no sangue é controlado por hormônios, mas uma queda desse mineral pode resultar em tetania. Logo após o parto, as vacas podem mostrar uma redução no nível de cálcio sanguíneo, causando hipocalcemia, comumente chamada de «febre do leite». Nesses casos, a velocidade das batidas do coração é diminuída e a vaca perde o controle de suas pernas. Caso a doença não seja tratada, o animal entra em coma e morre. Uma injeção intravenosa de solução de cálcio, na maioria das vezes, provê uma condição de recuperação não muito demorada. Toxidez: Geralmente, o intestino delgado previne a absorção do excesso de cálcio. No entanto, a quebra deste controle pode aumentar o nível de cálcio no sangue, levando à calci icação dos rins e de outros órgãos internos. Ademais, uma grande ingestão de cálcio pode causar excesso de secreção de calcitonina e anormalidades nos ossos, como os ossos densos, condição chamada de osteopetrose. Pode ocorrer também a deposição de cálcio nos tecidos, particularmente, nos tendões que conectam os músculos aos ossos. Inter-relação do cálcio com outros minerais A absorção de cálcio em excesso pode reduzir a absorção de outros minerais, tais como o magnésio, ferro, iodo, manganês e cobre. Isso ocorre, especialmente, quando a ingestão de um destes minerais está no nível adequado. Não obstante, o excesso de cálcio reduz a absorção e a utilização de zinco e causa paraqueratose. Por outro lado, o excesso de outros minerais no organismo também possui consequências no que concerne ao cálcio. O excesso de magnésio, por exemplo, diminui a absorção de cálcio, Minerais para ruminantes • 17 substituindo-o nos ossos e aumentando sua excreção. Uma grande quantidade de fósforo também reduz a absorção de Cálcio. A relação Cálcio/Fósforo e Vitamina D Ao se considerar a necessidade do gado por cálcio e fósforo3, é importante compreender que a própria utilização destes minerais pelo organismo depende de três fatores, que são: – – – A suplementação de cálcio e fósforo em uma fórmula disponível. A relação apropriada entre esses elementos na proporção de 1 a 2 partes de cálcio para 1 de fósforo. Em ruminantes, relações de 1:1 à 7:1 são satisfatórias. Su iciente VIT-D para resultar em adequada assimilação e utilização do cálcio e fósforo. Na fartura de VIT-D, a relação de cálcio / fósforo torna-se menos crítica. Do mesmo modo, uma quantidade menor de VIT-D é necessária quando há uma relação Cálcio: Fósforo correta. Dessa forma, pode-se depreender que: Absorção maior – Necessidade do organismo para crescimento, lactação e prenhez, VIT-D e meio ácido. Absorção menor – De iciência de VIT-D, relação cálcio/ fósforo desbalanceada, grande alcalinidade. 1.1.2. Cloro (Cl) Carl Willtelm Scheele, um químico Sueco, descobriu o cloro em 1774. Em 1810, Sir Humphry Davy, químico inglês, Um aspecto importante a ser citado é que cerca de 99% de cálcio e 80% de fósforo encontra-se nos ossos e dentes. 3 18 • Sebastião Luiz de Almeida Filho determinou-o como um elemento químico, the chloros, palavra grega que signi ica amarelo-esverdeado. E isso porque o cloro é um gás amarelo-esverdeado de cheiro forte, o qual não é encontrado na natureza como um elemento individual. Mas, o composto cloreto de sódio (sal comum) está largamente espalhado pelo globo. No que concerne à presença no sangue, temos que há 0,25 % de cloro, 0,22% de sódio e 0,02 a 0,22% de potássio. Absorção, metabolismo e excreção do Cloro. A absorção do Cloro, originário dos alimentos e do suco gástrico, é realizada, principalmente, no intestino delgado. Já o seu metabolismo ocorre da seguinte maneira: durante a digestão, certa quantidade de cloro, presente no sangue, é usada para a formação de ácido clorídrico nas glândulas gástricas. Após esse processo, ele é secretado no estômago (abomaso), onde funciona, temporariamente, com as enzimas gástricas, sendo posteriormente absorvido pela corrente sanguínea com outros nutrientes. A maior concentração de cloro no organismo é encontrada no suco gástrico e no luído cérebro-espinhal. Função O Cloro possui função importante na regulação da pressão osmótica, balanço hídrico e ácido-base. É requerido para a produção do ácido clorídrico no estômago e também é necessário para a absorção da Vitamina B-12 e Fe e para a ativação de enzimas que quebram as proteínas. A de iciência severa de Cloro no organismo pode ser responsável pelo desenvolvimento de alcalose (excesso alcalino no sangue). A alcalose caracteriza-se pela respiração lenta e super icial, desinteresse em alimentar, paralisia muscular, perda de apetite e, ocasionalmente, convulsões. Outros sintomas que posem Minerais para ruminantes • 19 ser percebidos é a diminuição da taxa de crescimento e nervosismo, induzido por barulhos repentinos. No que se refere à toxidez, ocorrida em virtude de excesso de cloro no organismo, temos que sua ocorrência é incomum se os animais tiverem su iciência de água. Quanto à absorção e excreção desse mineral pelo organismo, temos que ele é absorvido em todo o trato intestinal, inclusive no rúmen. A excreção, por sua vez, é realizada principalmente pela urina, na forma de sal, e também pelas fezes, suor e leite. 1.1.4. Magnésio (Mg) Um ancião romano reivindicou que o magnésio alba4 curava muitas doenças. Mas, apesar do reconhecimento de suas características medicinais, somente em 1808 que esse elemento foi isolado por Sir Humphty Davy, químico inglês. Em 1926, Leroy, na França, usando ratos (camundongos) em seu primeiro experimento, provou que o magnésio é um nutriente essencial para os animais. Posteriormente, McColhum e outros pesquisadores, nos Estados Unidos, descreveram sinais de severa de iciência de magnésio em ratos e cachorros, incluindo magnésio tetania, uma forma de convulsão em que os nervos e os músculos são afetados. O magnésio é um mineral bastante comum no organismo. Ele é encontrado em cerca de 60-70% nos ossos, e o restante nos tecidos e sangue. Em virtude de sua grande concentração nos ossos, que está associado com o cálcio em muitas funções relacionadas, especialmente, na formação da estrutura óssea. Absorção, metabolismo e excreção do Magnésio. De 30% a 50% da média diária de magnésio ingerida é Sal magnésio, originado do distrito de Magnésia, na Grécia. Sua origem foi inspiração para a denominação de Magnésio. 4 20 • Sebastião Luiz de Almeida Filho absorvido pelo intestino delgado e também por todo o sistema digestivo, principalmente no rumem-retículo. Aproximadamente todo o magnésio presente nas fezes representa não ter sido absorvido da dieta. Pode-se a irmar que sua absorção sofre a interferência da grande ingestão de cálcio, fósforo e itato presente no grão inteiro e em gorduras de baixa digestão, como os graxos saturados, de cadeia longa. Ademais, a absorção de magnésio pode ser aumentada em virtude de sua interação com proteína, VIT-D, hormônio do crescimento e antibióticos. No que concerne à excreção, temos que esse elemento é, geralmente, reabsorvido nos rins, o que minimiza a perda de reservas do organismo. A quantidade remanescente de magnésio é excretada por meio da urina, sendo que a aldosterona, hormônio secretado pela glândula adrenal, ajuda a regular a taxa de magnésio nos rins. Minerais para ruminantes • 21 Função O magnésio possui um papel fundamental na constituição de ossos e dentes. Não obstante, ele também contribui no metabolismo celular, ativando as enzimas envolvidas no complexo fosforilação e na transferência de fosfato de grande energia ADP e ATP. Além disso, esse elemento ativa certas peptidases na digestão de proteínas e relaxa impulsos nervosos, o que o faz funcionar de maneira contrária ao cálcio, que é um estimulador. Outra função do magnésio é de ser um tamponante em ruminantes, melhorando os níveis de gordura no leite. No que concerne à de iciência de magnésio, ela pode ser a responsável pela “tetania das pastagens”. Essa condição caracterizase pelo estremecimento de músculos do pescoço, respiração acelerada, temperatura alta, ranger dos dentes e salivação abundante. Esses sintomas são anteriores à queda do animal no solo, levando à morte. A “tetania das pastagens” ocorre no período inicial de duas semanas, em que os animais retornam às pastagens novas, as quais cresceram na primavera e no outono nos Estados Unidos. Ela acontece quando o nível de magnésio no sangue cai dramaticamente, mas é diferente da simples de iciência de magnésio, na qual o cálcio no sangue também está baixo. Animais em aleitamento podem apresentar de iciência desse elemento, porque eles são algumas vezes incapazes de suprir suas necessidades somente por meio da ingestão de leite. Quando o magnésio é suprido em grandes quantidades, a excreção do cálcio não é observada, provavelmente, em virtude da regulação da absorção de magnésio, por intermédio de um mecanismo altamente seletivo. No que se refere à toxidez natural (voluntária), decorrente de alta ingestão de magnésio, temos que ela não tem sido relatada. Caso haja injeções com sais de magnésio, como sulfato de magnésio, 22 • Sebastião Luiz de Almeida Filho poderá ocorrer um estágio de contração no coração (tetania), resultando na morte do animal. Inter-relação entre o Magnésio e outros nutrientes. No que concerne à interação do magnésio com outros nutrientes, tem-se que quando sua ingestão é extremamente baixa, o cálcio é depositado em tecidos moles, formando lesões calci icadas. Ademais, o excesso de magnésio altera o metabolismo tanto do cálcio quanto do fósforo. Em nível adequado de magnésio e de outros nutrientes, o aumento de cálcio e fósforo resulta em de iciência de magnésio. O magnésio ativa muitos sistemas enzimáticos, particularmente, aqueles referentes à transferência de fósforo de ATP e ADP. Como componente de enzima, ele é capaz de inativar certas enzimas. 1.1.5. Fósforo (P) O Fósforo foi, primeiramente, identi icado na urina, por Henning Brand, um alquimista alemão, em 1669. Esse elemento despertava muito interesse por ser um material que pegava fogo, espontaneamente, quando exposto ao ar. E o nome fósforo, que em grego phosphorus signi ica produzir luz, foi apropriado para este elemento. O fósforo existe na natureza somente em formas combinatórias, inicialmente, com o cálcio, em ossos e rochas fosfáticas (fósforo Rocha). Nesse sentido, o Fósforo está intimamente associado ao cálcio na medida em que a de iciência ou a abundância de um pode interferir na utilização do outro. Além disso, esses dois elementos são encontrados praticamente nas mesmas fontes de alimentos e, da mesma forma que o cálcio, uma das funções do fósforo pode ser veri icada na constituição de ossos e dentes. Ademais, ambos Minerais para ruminantes • 23 relacionam-se com a VIT-D no processo de absorção e são regulados metabolicamente pelo hormônio paratormônio e calcitonina, que existem no soro sanguíneo em proporção um do outro. Absorção, metabolismo e excreção. A absorção do fósforo ocorre de maneira mais e iciente que a absorção do cálcio. Tem-se que 70% do fósforo ingerido são absorvidos e 30% são excretados. A absorção desse elemento ocorre no duodeno, de forma ativa e passiva (difusão). TABELA 2 – Absorção do fósforo. Absorção Maior Crescimento Absorção Menor VIT –D deficiente VIT –D Desbalanço Ca: P Relação Ca: P Excesso Ferro, Alumínio, Manganês, Potássio pH intestinal Gordura Fonte: FEEDS & NUTRITION, 1990. No que concerne ao metabolismo do Fósforo, temos que, após a sua absorção pelo intestino delgado, ele circula no organismo e é prontamente removido do sangue para os ossos e dentes durante os períodos de crescimento. Algumas incorporações para ossos ocorrem em todas as idades, sendo que ele pode ser removido dos ossos para manter os níveis no plasma sanguíneo normais durante um período de privação na dieta alimentar. O nível de fósforo no plasma, junto com cálcio, é regulado pelos hormônios paratormônio e calcitonina. A excreção do fósforo, por sua vez, ocorre principalmente por meio dos rins, regulando os níveis desse elemento no sangue. Há também excreção de fósforo por meio das fezes e do leite, apesar de ser em menor quantidade. 24 • Sebastião Luiz de Almeida Filho Função O fósforo possui várias funções no organismo. Dentre elas, podemos citar: • • • • • • • • • • • Formação dos ossos e mantença; Desenvolvimento dos dentes; Secreção no leite; Construção de tecidos musculares; Componentes dos ácidos nucléicos (RNA e DNA), que são importantes na transmissão genética e no controle do metabolismo celular (ligações fosfáticas de alta energia); Manutenção osmótica e balanço ácido – base; Importante nas muitas funções metabólicas. Utilização de Energia – reações de fosforilação; Formação de fosfolipídios; Sistemas Enzimáticos; Formação de proteína; – P O 4 é o maior radical aniônico do fluído intracelular; Considerando a importância desse elemento químico e as funções que ele cumpre no funcionamento do organismo, temos que os sintomas de de iciência de fósforo incluem: fraqueza generalizada, perda de apetite ou apetite descontrolado, fraqueza muscular, ossos desmineralizados, perda de cálcio, problemas na criação em virtude da diminuição de fertilidade e a excreção de sangue na urina. Além disso, a severa e prolongada de iciência de fósforo causa anemia e osteomalácia no animal adulto. Quanto à ingestão abundante de fósforo, temos que não há o reconhecimento de toxidez desse elemento. No entanto, o consumo excessivo de fósforo pode diminuir a absorção de cálcio e causar Minerais para ruminantes • 25 hipocalcemia, de iciência de cálcio no sangue. Outra consequência é quando o fósforo é alto em relação ao nível de cálcio, já que cálculos urinários podem ser formados, especialmente, em ruminantes. Principais inter-relações entre o Fósforo e outros nutrientes. Como foi dito anteriormente, há uma forte relação entre o fósforo e o cálcio. Essa relação ideal entre esses dois elementos ocorre na proporção de 1 a 2 partes de cálcio para 1 de fósforo, apesar de maiores quantidades serem toleradas, notadamente, em ruminantes. A VIT-D também é necessária para a utilização e para a assimilação do fósforo no organismo. Além disso, deve-se ressaltar que o excesso de cálcio, magnésio, ferro e alumínio causa a diminuição da absorção de fósforo. Nesse ponto, é conveniente observar que os ossos e dentes contêm de 80% a 85% de fósforo e 20% desse elemento é encontrado nos tecidos, nos quais desempenha a função de produção de energia, contração e repouso. Ele também age como tampão na saliva dos ruminantes. 1.1.6. Potássio (K) Em 1807, o químico inglês, Sir Humphry Davy, isolou o metal que ele chamou de potássio e deu-lhe o símbolo K, originário de Kalium, versão latinizada da palavra arábica alkali. Em 1938, McColhum, usando ratos, obteve a comprovação de que o potássio é um elemento essencial para o organismo. O potássio é o terceiro e mais abundante elemento no organismo depois do cálcio e do fósforo, eleja que está presente na proporção de duas vezes a concentração de sódio. O Potássio constitui em torno de 5% do teor mineral do organismo, sendo o 26 • Sebastião Luiz de Almeida Filho principal cátion do luído intracelular. Aproximadamente 98% do potássio no organismo localizam-se no interior da célula, onde sua concentração é 30 vezes maior que no ambiente extracelular. A concentração do sódio no plasma sanguíneo é muito maior que a do potássio. Por outro lado, a concentração de potássio no tecido muscular é, frequentemente, maior que a do sódio. Absorção, metabolismo e excreção do potássio. O potássio é absorvido em todo o trato digestivo, incluindo o rúmen, o omaso e a parte superior do intestino delgado e grosso. A absorção desse elemento pela dieta é muito e iciente, já que mais de 90% do potássio ingerido é absorvido, sendo que esse processo ocorre mais no intestino delgado. Apesar de os sucos digestivos conterem grande concentração de potássio, a perda nas fezes é pequena, porque a maior parte é absorvida no intestino delgado e grosso. Os rins constituem-se como o principal mecanismo regulador para manter o balanço de potássio, e grandes variações na ingestão são re letidas em lutuações nas concentrações desse elemento no plasma. É o hormônio adrenal, chamado de Aldosterona, que estimula a excreção renal do potássio. Além disso, tem-se que o excesso de potássio pode resultar na severa diminuição de luído. Função do Potássio no organismo. O potássio está envolvido na manutenção do equilíbrio ácido/base e na transferência de nutrientes nas células. Ele também é responsável por promover o relaxamento do músculo do coração, oposto à ação do cálcio, que é estimulatória (Atividade Muscular) e por regular a pressão osmótica. Ademais, esse elemento é necessário para a secreção de insulina pelo pâncreas, na reação enzimática que envolve a Minerais para ruminantes • 27 fosforilação da creatina no metabolismo dos carboidratos e na síntese proteica. No que concerne à de iciência de potássio no organismo, pode-se a irmar que ela é de rara ocorrência. Entretanto, ela pode acontecer, ocasionalmente, quando os animais que estão em con inamento são alimentados com rações as quais possuem grandes proporções de concentrados. Os sintomas da de iciência do potássio no organismo caracterizam-se pelo retardamento no crescimento, fraqueza muscular, apetite descomedido, diarreia, hipertro ia do coração e rins e morte. Quanto ao excesso desse elemento no organismo, temos que ele interfere na absorção e no metabolismo do magnésio. Entretanto, a toxidez decorrente de ingestão excessiva de potássio é improvável. Ela somente ocorre nos seguintes casos: 1. Quando água é restrita; 2. Quando o funcionamento dos rins não é satisfatório; A excreção do potássio é realizada principalmente por meio da urina, sendo que 10% podem ser excretado pelas fezes, e até 12% pelo leite. Principais inter-relações entre o potássio e outros nutrientes. Pode-se a irmar que a de iciência na retenção de potássio possui estreita relação com a de iciência de magnésio. Assim, se o organismo não estiver absorvendo o magnésio de maneira satisfatória, a absorção de potássio também será prejudicada. Por outro lado, altos níveis de potássio podem interferir na absorção do magnésio, resultando em sua de iciência. Outra consequência da quantidade excessiva de potássio no organismo é a diminuição dos batimentos cardíacos até a parada silenciosa do coração, quando 28 • Sebastião Luiz de Almeida Filho os rins não são capazes de excretar o excesso pela urina, porque o sódio e o potássio precisam estar em balanceamento. Deve-se lembrar também que o excessivo uso de sal exaure o potássio do organismo e que esse nutriente é mais necessário quando o animal está em crescimento. Outro aspecto importante é que, em virtude de seu depósito nos músculos, o potássio será perdido sempre que houver uso muscular, e isso por causa da fome ou da de iciência de proteínas no organismo. 1.1.7. Sódio (Na) Misturas de sódio foram conhecidas e usadas extensivamente durante os tempos antigos. Entretanto, somente em 1807 que esse elemento foi isolado por Sir Humphy Davy. O químico inglês, em um processo chamado eletrólise, extraiu metal puro do hidróxido de sódio. Como elemento essencial, o sódio veio a ser constatado em 1918, quando Osborne Mendel realizou experimentos com animais em laboratório. Absorção, metabolismo e excreção do Sódio. Todo sódio ingerido na dieta é prontamente absorvido pelos intestinos, na parte superior do intestino delgado e também no rúmen. Em seguida, ele é transportado pelo sangue para os rins, onde é iltrado (puri icado). Após esse processo, o sódio retorna para o sangue em uma quantidade necessária para manter os níveis requeridos pelo organismo. O excesso de sódio, que consiste em cerca de 90 a 95% do sódio ingerido, é em sua maior parte excretado pelos rins na urina, como cloreto e fosfato, sendo controlado pela aldosterona, um hormônio produzido no córtex adrenal. Minerais para ruminantes • 29 O nível de sódio na urina re lete a quantidade ingerida por meio da dieta. Assim, se há grande ingestão de sódio, a taxa de excreção é alta; se há baixa ingestão, a taxa de excreção é baixa. O sódio também pode ser excretado pelas fezes, suor e leite. Função do Sódio no organismo. O sódio é o principal Cátion na regulação da pressão osmótica e no equilíbrio ácido base nos fluídos extracelulares do organismo, dos quais depende a transferência de nutrientes para as células, a remoção de resíduos e a manutenção do balanço hídrico entre eles. Esse elemento também é um constituinte do suco pancreático, da bile, do suor e das lágrimas. Além disso, está associado à contração muscular e à função nervosa. No que diz respeito ao seu armazenamento, temos que o sódio está presente nos luídos, tecidos e ossos. Os sintomas de de iciência de sódio incluem perdas signi icativas na produção de leite. Ademais, há também perda de apetite, redução do crescimento do animal e também da e iciência da utilização de alimentos em animais em crescimento. Como há uma diminuição do apetite, o animal também perde peso e tem problemas na reprodução. A toxidez decorre da grande ingestão de sódio e da restrição de água, o que causa o andar cambaleante e, muitas vezes, a cegueira. O excesso de sódio resulta em também em hipertensão. Principais inter-relações entre o Sódio e outros elementos. O sódio, potássio e o cloro estão intimamente relacionados. Eles trabalham em funções vitais no controle da pressão osmótica e no equilíbrio ácido-base e têm importante função no metabolismo 30 • Sebastião Luiz de Almeida Filho hídrico (osmótico). Ambos os íons, sódio e potássio, ocorrem no organismo, principalmente em íntima associação com íon cloro. Por esta razão, a de iciência de sódio e potássio é raramente encontrada na ausência de de iciência de cloro. 1.1.8. Enxofre (S) O nome é derivado de palavra latina sulphurum. O enxofre é usado desde tempos antigos e, frequentemente, era chamado de pedra que queima. Por ser in lamável, é mencionado nos registros primitivos de muitos países um apetrecho usado em cerimônias religiosas e na puri icação de edi ícios. Os romanos usavam-no na medicina e na guerra. Foram os alquimistas que reconheceram o enxofre como substância mineral que poderia ser fundida e queimada, mas foi somente em 1777 que esse elemento foi classi icado por Antoine Lavoisier. O enxofre é encontrado em todas as células do organismo, sendo essencial para a vida. Ele é o componente de três importantes aminoácidos: a cistina, a cisteína e a metionina. Também é componente das vitaminas tiamina e biotina, e está presente na saliva, bile e no hormônio insulina. Aproximadamente 0,15% do peso corpóreo e 10% do teor mineral do organismo são de enxofre. Absorção, metabolismo e excreção do Enxofre. O enxofre absorvido é incorporado, em grande parte, pela proteína microbiana e absorvido no intestino delgado. Durante a digestão dos aminoácidos que possuem enxofre, há a separação destes da proteína e o seu direcionamento para a circulação portal. O enxofre é estocado em muitas células do organismo, e grandes concentrações são encontradas no pelo, na pele e no casco. Quanto ao seu armazenamento, ele ocorre principalmente na forma de aminoácidos sulfurados. Minerais para ruminantes • 31 No que concerne à excreção, temos que o excesso de enxofre é expelido por meio da urina e das fezes. Aproximadamente 85 a 90% do enxofre excretado na urina ocorrem na forma orgânica, derivado quase inteiramente do metabolismo de aminoácidos que são constituídos por ele, e, desde que sulfatos inorgânicos sejam absorvidos em pequena quantidade. Função do Enxofre no organismo. Como foi dito anteriormente, o enxofre é um elemento bastante presente na constituição do organismo. Nesse sentido, ele compõe aminoácidos, como a metionina, a cistina e, também, componentes da biotina, da tiamina, da insulina e da coenzima A. Além disso, ele é um dos constituintes primários do pelo e da lã. O enxofre também é encontrado na Glutationa, a qual é um antioxidante hidrossolúvel, reconhecido como o tiol não proteico mais importante nos sistemas vivos. Trata-se de um tripeptídeo linear constituído por três aminoácidos: ácido glutâmico, cisteína e glicina, sendo o grupo tiol da cisteína o local ativo responsável por suas propriedades bioquímicas. Ele tem como função a metabolização da água oxigenada e outros peróxidos de hidrogênio como cofator da Glutationa peroxidase, na metabolização de xenobióticos como cofator da Glutationa – s – transferase, e na desativação de radicais. A Glutationa está envolvida no metabolismo do ácido ascórbico, na manutenção de comunicação entre as células, na prevenção da oxidação dos grupos tiol, presentes nas proteínas, e no transporte de cobre intracelular. A mitocôndria e o núcleo têm sua própria reserva de Glutationa oxidada a qual é de importância crucial na proteção destas estruturas contra a ação das espécies reativas de oxigênio. A Glutationa é sintetizada no ígado. 32 • Sebastião Luiz de Almeida Filho FIGURA 1: Glutationa oxidada. Uma ligação dissulfeto formada entre os grupos tiol das Cisteínas. Fonte: HTTPS://PT.WIKIPEDIA.ORG/WIKI/GLUTATIONA_PEROXIDASE Dentre os sintomas de de iciência de enxofre, pode-se citar o retardamento do crescimento, primariamente, em virtude de não encontrar a quantidade necessária de aminoácidos que contenham enxofre para a realização da síntese proteica. No que concerne à toxidez, temos que a produção de H2S Sulfeto de hidrogênio, gás altamente tóxico, pelos microrganismos do rúmen, pode desencadear problemas quando excessivas quantidades de enxofre são fornecidas. Ruminantes, consumindo ureia como nitrogênios não proteicos, têm que suplementar o enxofre, que é recomendado na proporção Nitrogênio: Enxofre de 10:1. 1.2. Micros minerais 1.2.1. Cromo (Cr) O Cromo foi descoberto por um químico francês, Vauguel, em 1797. Este nome comum foi derivado da palavra grega chroma, que signi ica colorido. Em 1900, o cromo tornou-se um importante ingrediente de metal resistente à corrosão, um uso que tem aumentado no presente, quando os cientistas médicos W. Mertz and K. Schwarz Minerais para ruminantes • 33 – que vieram para o USA originários da Alemanha – descobriram que a alimentação de sais Cromo corrigia o metabolismo anormal de açúcares em ratos. Os últimos estudos desses pesquisadores e de H. Schroeder, da Dartmouth Medical School, estabeleceram o Cromo como um cofator da insulina, necessário para a utilização normal da glicose e para o crescimento e longevidade de ratos. A substância continha cromo da levedura e foi chamada de fator de tolerância à glicose (GTF), porque restaurava o metabolismo dos açúcares para o nível normal, quando a tendência diabética estava presente. A menção deste elemento químico faz a maioria das pessoas pensarem no cromo incrustado no para-choque e nos equipamentos de seus automóveis. No entanto, foi recentemente descoberto que o metal brilhante pode também existir em formas que operam como: elemento essencial, hormônio, vitamina e veneno. Absorção, metabolismo e excreção do Cromo. Estudos têm mostrado que somente cerca de 1 % dos níveis do cromo inorgânico ingerido na dieta é absorvido. Entretanto, de 10 a 25% do fator de tolerância à glicose ligada ao cromo (GTF-Cr) pode ser absorvido. Quanto ao metabolismo dessa substância, pesquisas realizadas com animais demonstram que a maior parte da dose de Cromo administrada é estocada no ígado, quando ele é fornecido como GTF–Cr, do que quando ele é fornecido como sal inorgânico. Além disso, o cromo no ígado tem mostrado ter GTF em atividade. Depois do ígado, os rins parecem ser a fonte de GTF-Cr. Várias condições de estresse, como má nutrição e perda de sangue, têm sido conhecidas por diminuir a utilização de açúcar do organismo. Também, aparentemente, o Cromo necessário ao organismo torna-se mais crítico quando submetido a certas condições. Por exemplo, pesquisas mostram que os efeitos do baixo nível de proteína na dieta, acompanhado por exercícios controlados, 34 • Sebastião Luiz de Almeida Filho demonstra que na ação de tirar e avaliar quantidades de sangue, foram observadas condições mais severas em grupos com de iciências de cromo do que com os suplementados com o mineral. Outro ponto importante a ser citado é a excreção do cromo endógeno. Ela ocorre de maneira predominante por intermédio da urina. Função do Cromo no organismo. Dentre as principais funções do Cromo no organismo, podemos citar que ele é um dos componentes do fator de tolerância à glicose (GTF) e também é responsável por ativar certas enzimas, a maioria das quais estão envolvidas na produção da energia originária de carboidratos, gorduras e proteínas. Ademais, o cromo também é um estabilizador de ácidos nucléicos (DNA e RNA) e um estimulador da síntese de ácidos graxos e de colesterol no ígado. A de iciência de cromo no organismo pode ser percebida quando há uma diminuição da tolerância à glicose, acompanhada ou não por um grande teor de açúcar no sangue e pela liberação de açúcar na urina. Distúrbios no metabolismo de gorduras e proteínas também podem ser percebidos. No que diz respeito à toxidez causada pelo cromo no organismo, temos que ele é raramente tóxico, porque somente pequenas quantidades estão presentes nos alimentos; há pequena absorção no organismo do animal e existe uma larga margem de segurança entre o útil (que ajuda) e o nocivo. Deve-se ressaltar também que o excesso de Cromo inorgânico é muito mais tóxico que a quantidade similar de GTF – Cr. Relações entre o Cromo e outros nutrientes. O Cromo funciona melhor no organismo quando está na forma de GTF-Cr e dietas ricas em carboidratos podem causar Minerais para ruminantes • 35 o esgotamento do suprimento de GTF-Cr. O Cromo inorgânico é utilizado pelo organismo, mas de maneira menos e iciente que GTF-Cr. Além disso, a absorção do Cromo é impedida por oxalatos e itatos e o zinco e o vanádio antagonizam o efeito do Cromo. 1.2.2. Cobalto (Co) A palavra cobalto é derivada da palavra germânica Kobold, ou espírito danoso. O termo originou-se no século XVI, quando o arsênico contido no minério de Cobalto foi escavado na mina de prata da montanha Hans. Acreditava-se que, nas minas de cobalto, os minérios continham cobalto. Por outro lado, os mineiros esquentavam os minérios e, dessa forma, foram intoxicados pelo vapor tóxico liberado pelo trióxido arsênico. Estes danos foram atribuídos ao cobalto. George Brandt, químico Sueco, foi quem primeiro isolou o elemento, em 1742. A descoberta, em 1948, de que a vitamina B-12 continha 4% de cobalto (Co) provou que este elemento era um nutriente essencial para os humanos. É digno de nota que a função essencial do cobalto na nutrição do animal ruminante foi conhecida muito cedo. Em 1935, E.T. Underwood e outros cientistas australianos descobriram que a falta de Cobalto, resultado de sua de iciência no solo, produzia “wasting disease”, doença que acarreta perda de peso no animal. Quando essa de iciência de cobalto no solo era constatada, os produtores costumavam transferir suas criações de áreas “doentes” para áreas “sadias”. Absorção, metabolismo e excreção do Cobalto. Como componente da vitamina B-12, absorvida na porção inferior do intestino delgado, o Cobalto requer como fator intrínseco um composto secretado no abomaso para absorção. Se este fator não está presente, resultará na de iciência dessa vitamina. Desde 36 • Sebastião Luiz de Almeida Filho que o Cobalto do organismo seja excretado por meio da bile, pode ser rapidamente reabsorvido para minimizar perdas. Do Cobalto ingerido, 30% são absorvidos. O excesso de Cobalto é excretado principalmente nas fezes, sendo que apenas 1% é expelido pela urina, chegando a 12% no leite. Função Há somente uma função conhecida do cobalto, a que integra parte da Vitamina B-12, elemento essencial na formação das células vermelhas do sangue. Quando o Cobalto é dado para animais que utilizam a fermentação microbiana, o elemento é usado para a síntese Vitamina B-12. Dentre os sintomas de de iciência do cobalto, temos que a de iciência de Cobalto em gado de leite produz sintomas similares à de iciência de Vitamina B-12: descamação na pele, ausência de estro, aborto, baixa produção leite, perda de apetite, rápida perda de peso e anemia. Continuada, a deficiência causa a morte. É importante explicitar também que aproximadamente 0,1 ppm desse nutriente no alimento é adequado. Caso os níveis caiam para 0,04 – 0.07, os sintomas de de iciência começam a aparecer. Entretanto, com a introdução de cobalto no rúmen, recupera-se rapidamente a de iciência. No que concerne à toxidez, o cobalto pode ser tóxico quando a ingestão é excessivamente alta, mas a margem de segurança é grande e a absorção pelo intestino delgado é baixa. Quanto ao seu armazenamento, o cobalto é estocado no ígado, nos rins, na glândula adrenal e nos ossos, principalmente como Vitamina B-12. 1.2.3. Cobre (Cu) O cobre foi descoberto e usado pelo homem neolítico durante a última idade da pedra. A data exata desta descoberta, Minerais para ruminantes • 37 provavelmente, não será conhecida, mas acredita-se que foi por volta 8000 a.C. A última idade Bronze, entre 3000 a 1000 a.C., recebeu este nome em virtude do período em que se produziu uma mistura de cobre e lata. Como resultado de uma série de estudos começados em 1925, Hart e associados, na Universidade de Wisconsin, descobriram que pequenas quantidades de cobre são necessárias, juntamente com o ferro, para a formação e para a síntese da hemoglobina. Absorção, metabolismo e excreção do Cobre O local de absorção do cobre varia conforme a espécie do animal, mas ela é, geralmente, maior no intestino delgado. Em ruminantes, apenas de 1% a 3% do Cu (Cobre) é absorvido. Depois da absorção no intestino, o cobre chega à corrente sanguínea, na qual há a ligação de cerca de 80% ou mais desse nutriente à ceruloplasmin, formando uma proteína complexa (globulina – Cu). A estocagem maior ocorre no ígado. A excreção do Cobre é realizada em grande medida por meio das fezes. Função O Cobre é responsável por facilitar a absorção de Ferro do trato intestinal e reserva-lo, armazenando-o no ígado e no sistema retículo endotelial. Ele também é essencial para a formação ou síntese da hemoglobina, apesar de não ser um de seus constituintes. Ademais, o cobre constitui vários sistemas enzimáticos. Ele desenvolve e mantém as estruturas vasculares e esqueléticas (veias, tendões, mielina nos nervos e ossos). Na estrutura de funcionamento do sistema nervoso central, é requerido para a pigmentação normal dos pelos e da lã. Por im, também é cofator em vários sistemas enzimáticos de oxirredução e atua na reprodução (fertilidade). 38 • Sebastião Luiz de Almeida Filho No que concerne ao seu armazenamento do cobre, tem-se que a maior parte ocorre no ígado. Apesar de o requerimento de cobre ser muito pequeno, muitos fatores relatados para a absorção e a utilização têm criado de iciência de cobre. Dentre eles, pode-se citar: o inchaço das juntas, diarreia, fragilidade dos ossos, condição nervosa conhecida como ataxia, e anemia nutricional, comumente chamada “Salt sick”. Apesar de possuir várias funções no organismo, o cobre é tóxico se ingerido em grandes quantidades. Ele se acumula no ígado e pode resultar em morte. De acordo com a Academia Nacional de Ciência Americana, o nível máximo de tolerância para o gado de leite é de 100 ppm de cobre. Relações entre o Cobre e outros nutrientes O cobre, juntamente com certas vitaminas, está envolvido no metabolismo do ferro. Ademais, o excesso, na dieta, de cádmio, cálcio, ferro, chumbo, molibdênio, enxofre e zinco, reduz a utilização de cobre pelo organismo. 1.2.4. Flúor (F) O lúor foi isolado, primeiramente, em 1886, por Henri Moissan, um francês, por eletrólise. O nome lúor é derivado do latim ϔluo, e era usado como um fundidor em metalúrgica. Ele está presente, em pequenas quantidades, em praticamente todos os solos, suprimentos de água, plantas e minerais. Entretanto, sua concentração é variável. O lúor é, portanto, um constituinte de todas as rações normais. Por outro lado, ele também é um dos contaminantes atmosféricos das indústrias, as quais usam minérios de metais, carvão ou fosfatos naturais e fertilizantes fosfatados, que podem se tornar contaminantes da vegetação que alimenta os animais. Minerais para ruminantes • 39 Absorção, metabolismo e excreção A absorção do lúor ocorre no trato gastrointestinal, incluindo o rúmen. Em torno de 90% do lúor ingerido é absorvido principalmente no intestino delgado. Da porção do lúor que não é absorvida pelos ossos e dentes, 50% ou mais são excretados no suor e nas fezes. Como resultado, o nível de lúor no plasma sanguíneo é completamente constante. Função A principal função do lúor é a constituição de 0,02 a 0,05% dos ossos e dentes, para que sejam sadios. No que diz respeito à de iciência e toxidez do lúor, temos que o seu excesso no organismo afeta mais que sua de iciência. E isso porque uma grande quantidade desse nutriente pode acarretar ossos e dentes deformados, manchados e as capas dos dentes tornam-se irregulares. A toxidez pode ser combatida pela adição de cálcio e alumínio ou gordura na ração, visto que esses elementos parecem reduzir a absorção de lúor pelo organismo. Ademais, esse nutriente é um tóxico cumulativo, conhecido como luorose. Principal inter-relação Como dissemos no tópico anterior, grandes quantidades de cálcio, alumínio ou gordura na dieta podem diminuir a absorção de flúor. 1.2.5. Iodo (I) O iodo foi o primeiro nutriente a ser reconhecido como essencial para animais e humanos. Nos primórdios de 3000 a. C, 40 • Sebastião Luiz de Almeida Filho os chineses tratavam do chamado bócio alimentando-se com ervas marinhas e esponja queimada. Em 1811, Bernard Courtois, um químico francês, descobriu iodo em ervas marinhas e descreveu algumas de suas propriedades básicas. Depois, o hidriodato de potássio foi introduzido por Prout como um tratamento de bócio. Entretanto, o aparecimento do bócio foi recorrente no mundo por muitos anos. Em 1914, Kendall, Clínica Mayo, em Minnesota, reportou o isolamento de um composto Cristalino que possuía 65% de iodo na glândula tireoide, nomeando-lhe de tiroxina. Em virtude dessa descoberta e da realização de outros estudos, a inclusão do iodo na dieta de animais e humanos levou a uma grande redução do bócio nos U.S.A. e em outros países desenvolvidos. Kendall recebeu o prêmio Nobel por seu trabalho sobre a tiroxina e outros hormônios. O iodo é reconhecido como um nutriente essencial para todas as espécies animais. A maior quantidade de iodo no organismo animal encontra-se na glândula tireoide, em que ele é um componente integral dos hormônios tireoidianos tiroxina e triiodotironina, os quais têm importante função metabólica. Ademais, a disponibilidade de iodo é um dos fatores essenciais para a liberação de hormônios pela glândula tireoide. Entretanto, na ausência de iodo su iciente, a glândula tenta compensar a de iciência com o aumento de sua atividade secretora, o que ocasiona a faz aumentar de tamanho. Esta condição é conhecida como papo simples ou endêmico. Absorção, metabolismo e excreção A absorção do iodo é muito e iciente, perto de 100%. Apesar de ser absorvido por meio do trato gastrointestinal, ocorrendo maior absorção no intestino delgado, ele também é absorvido por meio dos pulmões e da pele. Nesse processo, o iodo tem dois caminhos principais dentro organismo: aproximadamente Minerais para ruminantes • 41 30% é removido pela glândula tireoide e usado para a síntese de hormônio; do restante, a maior parte é excretada na urina, sendo que pequenas quantidades podem ser perdidas nas fezes e no suor. Desse modo, tem-se que a maior concentração de iodo, cerca de 70% a 80%, ocorre na tireoide. Ademais, um ponto importante a ser citado é que, quanto maior o nível de iodo na dieta do animal, maior é a quantidade desse nutriente no leite. Função A única função do iodo é entrar na composição dos hormônios tiroxina e triiodotironina, secretados pela glândula tireoide, a qual regula a taxa de oxidação dentro das células, in luenciando no crescimento, no funcionamento de nervos e tecidos musculares, na atividade circulatória e no metabolismo de todos nutrientes. Quando a quantidade de hormônio da tireoide aumenta no sangue, a taxa de metabolismo aumenta. Portanto, a taxa de produção de leite também cresce. Se a ingestão de nutrientes da dieta não é su iciente para a necessidade requerida, o estoque de nutrientes do organismo será mobilizado. Esse processo tem como um de seus principais efeitos a diminuição do peso corporal. Eventualmente, o emagrecimento e os problemas de saúde ocorrem se a de iciência da dieta é prolongada. Desse modo, uma ingestão inadequada de iodo na dieta ocasiona no impedimento de produção de hormônios pela a glândula tireoide. Ademais, sob a ação do hormônio estimulante da tireoide, originário da glândula hipó ise, a glândula tireoide aumenta em uma tentativa de responder às necessidades do organismo. O aumento da glândula tireoide é chamado de bócio. Outros sintomas da de iciência são: redução da taxa de crescimento, pele seca e pelo quebradiço, fêmeas com estro anormal, redução da libido e sêmen de baixa qualidade. 42 • Sebastião Luiz de Almeida Filho O tratamento da de iciência de iodo pode não ter sucesso, se houver efeito sobre a tireoide e outros tecidos estiverem progredindo muito. A prevenção é melhor e mais fácil medida, desde que o iodo esteja prontamente disponível na forma inorgânica ou orgânica, os quais são fornecidos como suplementos na ração. O uso de sal iodado como parte da ração é o mais econômico meio de suplementar as rações em que os alimentos tenham baixos níveis de iodo. Já a toxidez de iodo, por sua vez, é ocasionada pela ingestão excessiva desse elemento durante longos períodos. Isso pode ocasionar a interrupção da utilização de iodo pela glândula tireoide. Uma das consequências da toxidez desse nutriente no organismo dos mamíferos é o aborto. Principais inter-relações Longos períodos de ingestão crônica de grandes quantidades de iodo reduzem a capacidade de absorção desse elemento pela glândula tireoide. 1.2.6. Ferro (Fe) O elemento ferro é conhecido desde os tempos préhistóricos. Aproximadamente em 1.200 a.C., o ferro era obtido dos minérios, marcando o começo da idade do ferro. Ademais, os primitivos gregos estavam cientes das propriedades do ferro para a saúde. Desde então, ele tem sido o tônico predileto para saúde. No século 17, na Inglaterra, o ferro foi usado para o tratamento de anemia em humanos. Em 1867, Jean Baptiste Boussingaut, químico francês, obteve, experimentalmente, a evidência da natureza essencial do ferro na nutrição. O organismo contém somente 0,004% de ferro, do qual, em torno de 70% está presente na hemoglobina, um pigmento que Minerais para ruminantes • 43 contém ferro e está presente nas células vermelhas do sangue, que transportam oxigênio. Do restante, a maior parte constitui uma reserva estocada no ígado, baço e na medula óssea. Apesar de ser encontrado em pequena quantidade no organismo, o ferro é um dos mais importantes elementos na nutrição, sendo essencial à vida. Ele é um componente da hemoglobina, mioglobina (globina do músculo) e de enzimas, citocromos, catalases e peroxidases. Como parte desses “heme” complexos de metaloenzinas, ele vem a desempenhar importante função no transporte de oxigênio e na respiração celular. Absorção, metabolismo e excreção A maior absorção de ferro ocorre em todo o trato digestivo, principalmente, na parte superior do intestino delgado, duodeno e jejuno. É digno de nota que há duas formas de ferro no alimento – “heme” (orgânica) e “nonheme” (inorgânica). O “heme” é absorvido do alimento mais e icientemente que o ferro inorgânico e é independente da vitamina C ou do ferro ligado a agentes quelatizantes. Apesar da proporção de ferro “heme” em tecidos animais variar, ela está na quantidade de 1/3 na constituição da carne de boi, fígado, galinha e peixe. O restante, 2/3 do ferro, em tecido animal e todo o ferro de produtos vegetais é considerado como ferro “não heme”. A absorção de ferro é controlada pelo bloqueio da mucosa intestinal, a cortina de ferritina, da qual não se conhece o exato mecanismo. Sabe-se que a necessidade aumenta com o crescimento do animal, a prenhes e quando aumenta-se a síntese de hemoglobina, seguido de hemorragias. A absorção de ferro é prejudicada pela ingestão de alimentos ricos em ferro “não heme”. Além disso, há prejuízo também quando muito ferro é depositado na mucosa intestinal 44 • Sebastião Luiz de Almeida Filho cortina de ferritina, pelo excesso de fosfatos, de itatos, de oxalatos e de ácidos tânicos, os quais formam compostos insolúveis que não são facilmente absorvidos. No que concerne ao metabolismo, temos que a mucosa libera Fe++ para o sistema sanguíneo portal. Desse sistema, pouca quantidade desse nutriente é convertida e volta como Fe+++, em estado oxidado. Como íon férrico, ele combina com a proteína no plasma, formando a combinação conhecida como transferrina. Nessa forma, o ferro é transportado para a medula óssea, na qual será incorporado em novas moléculas sintetizadas de hemoglobina, ou pode entrar no ígado e no baço. É também na medula óssea que ele se combina com a proteína. Ele é armazenado, principalmente, no sistema reticuloendotelial e nas células parenquimatosas do ígado, depositadas como ferritina. A excreção do Ferro, por sua vez, ocorre das seguintes maneiras: por descamação, pela urina, pelo trato respiratório e na perda de pele e pelo. Do total ingerido, 90% é excretado nas fezes. Somente uma pequena quantidade de ferro é excretada na urina. O organismo conserva e reutiliza o ferro, uma vez que ele tenha sido absorvido. Fezes, urina, suor, pelo, e se houver hemorragia, ela pode resultar em uma maior perda. Função O Ferro “heme” combina com a proteína formando uma cadeia polipeptídica muito longa, chamada globina que se torna hemoglobina. A hemoglobina é um composto contendo ferro nas células avermelhadas do sangue, que transporta oxigênio para todas as células e tecidos do organismo como parte da molécula hemoglobina. A mioglobina, por sua vez, é um composto pigmentado similar à hemoglobina, mas menor em tamanho, é encontrada no músculo. Ela contém ferro e por tal motivo tem habilidade de captar oxigênio da mesma maneira que a hemoglobina. Minerais para ruminantes • 45 Além de sua função de transporte de oxigênio, o ferro é também uma parte especial de uma variedade de enzimas. Dentre elas, podemos citar: citocromo oxidase, catalase e peroxidade. Ademais, ele também funciona como um ativador para a enzima arginase. No que diz respeito aos sintomas de de iciência desse nutriente no organismo, temos a ocorrência de Anemia por de iciência de ferro. Quando há um número menor que o normal de células vermelhas há, também, uma quantidade menor que o normal de hemoglobina. Há palidez da membrana mucosa, apetite depravado, diarreia, perda do apetite para alimentos normais, respiração di ícil, taxa de crescimento reduzida e um aumento da sensibilidade ao estresse e doenças. O excesso de ferro no organismo, por outro lado, também provoca toxidez. E isso porque o íon de ferro livre é muito tóxico. Então, o ferro é sempre transportado em combinação com uma proteína. Dois átomos de íon ferro são ligados por uma molécula de Beta Globulina = apotransferrina, e esta combinação forma a transferrina, que é, então, transportada no plasma. Quando o nível de íon ferro excede a capacidade de ligação da transferrina, a toxemia pelo ferro ocorre. Normalmente, a quantidade de ferro no plasma é su iciente para ligar somente 1/3 da transferrina, os remanescentes 2/3 representam a reserva não ligada. Principal inter-relação O ferro é associado à hemoglobina e a várias enzimas. Entretanto, a produção de hemoglobina no organismo também necessita de proteína, cobre, VIT-C, VIT-B-6 (piridoxina), ácido fólico e VIT-B12. Um excesso de ferro na dieta pode ligar o fósforo a um complexo insolúvel ferro-P, criando uma de iciência de fósforo. Além disso, o ferro relaciona-se também com o cobre, já que este é necessário para o metabolismo daquele. 46 • Sebastião Luiz de Almeida Filho Animais Jovens nascem com um estoque de ferro no ígado. Mas, o leite é baixo em teor de ferro. Então, quando animais jovens continuam com a dieta de leite particularmente sob condições con inadas, com pouca ou nenhuma suplementação alimentar, é provável que se desenvolva a anemia nutricional. 1.2.7. Manganês (Mn) O manganês foi primeiro reconhecido como um elemento, em 1774, pelo notório químico sueco Carl W. Scheele. Ele foi isolado no mesmo ano pelo seu colaborador, Johann G. Ghan. O nome “manganês” é uma forma alterada de uma palavra em latim para a fórmula de pedra magnética, magnésio. O manganês é essencial para o crescimento das plantas e é encontrado em pequenas quantidades em grandes animais, nos quais ele ativa muitas enzimas envolvidas no processo metabólico. Em 1931, pesquisadores da Universidade de Wisconsin informaram que esse nutriente é um elemento essencial para o crescimento de ratos. Por im, demonstrou-se que ele é essencial para ruminantes e para outros animais. E isso porque ele é um ativador de vários sistemas enzimáticos, por exemplo, o superóxido dismutase, envolvido na fosforilação oxidativa, metabolismo de aminoácidos e na síntese de ácidos graxos. O manganês atua ainda no metabolismo da proteína, na energia e na formação de mucopolissacarídeos. Absorção, metabolismo e excreção Por meio de todo o trato gastrointestinal, o manganês é, preferencialmente, absorvido no intestino delgado. Em média, na dieta, 45% do manganês ingerido é absorvido e 55% excretado nas fezes. A absorção pode ser diminuída, quando quantidades excessivas de cálcio, fósforo e ferro são consumidas. Minerais para ruminantes • 47 Depois da absorção, o manganês é ligado à proteína e transportado como transmanganin. Os ossos e, em menos grandeza, o ígado, os músculos e a pele servem como local reserva. A concentração de manganês em vários tecidos do organismo é completamente estável sob condições normais, um fenômeno atribuído à excreção controlada e pela absorção regulada. No que concerne à excreção, esse nutriente é eliminado do organismo nas fezes, como um constituinte da bile. Entretanto, parte do manganês excretado é novamente reabsorvida, indicando uma efetiva conservação no organismo. Quanto à urina, a excreção de manganês é bem menor. Função Dentre as funções do manganês, podemos citar a formação de ossos, a constituição de matriz orgânica, o crescimento de outros tecidos conectivos e coagulação sanguínea. Além disso, ele age nas atividades de insulina, na síntese de ácidos graxos, na síntese de colesterol e nas atividades de várias enzimas no metabolismo de carboidratos, gorduras, proteínas e ácidos nucléicos (DNA e RNA). A de iciência de manganês na dieta pode ocasionar crescimento de iciente, mancar (coxo), pernas menores e curvadas e juntas grossas. Ademais, problemas como o retardamento no estro, falha na concepção e decréscimo da libido e espermatogenese anormal em machos podem ocorrer. Por im, tem-se que o excesso de manganês no organismo do animal não produz toxidez. Principal inter-relação Dentre as relações estabelecidas pelo manganês com outros nutrientes, pode-se citar que sua absorção pode ser comprometida, caso haja excesso de cálcio e fósforo. A função do manganês, cobre, 48 • Sebastião Luiz de Almeida Filho zinco e do ferro pode ser trocada ou intercambiada entre eles, em certos sistemas enzimáticos. O manganês e a VIT-K trabalham juntos com promoção da coagulação de sangue. 1.2.8. Molibdênio (Mo) Em 1778, Karl Scheele, da Suécia, reconheceu o molibdenite como um minério de um novo elemento: o molibdênio. Posteriormente, em 1782, P. J. Hjelm obteve o metal e chamou-o de molibdênio. O nome molibdênio é derivado do grego molybdos, que signi ica conduzir, o cabo condutor. O Molibdênio foi, por muito tempo, conhecido como essencial para o crescimento de plantas superiores. Em 1953, ele foi encontrado em uma enzima essencial, chamada xantina desidrogenase. A função essencial do molibdênio em plantas é bem conhecida. Em leguminosas, o molibdênio ajuda na ixação do nitrogênio. Evidencia-se que o molibdênio é um elemento essencial, já que ele faz parte da estrutura molecular de duas enzimas: xantina oxidase, envolvida na oxidação da xantina para ácido úrico, e aldeído oxidase, envolvida na oxidação de aldeído para ácido carboxílico. Dietas com baixo nível de molibdênio afetam, desfavoravelmente, o crescimento de pequenos animais. Absorção, metabolismo e excreção O Molibdênio é prontamente absorvido como molibdato no intestino delgado, embora alguma absorção ocorra também por meio do trato intestinal. A taxa de absorção pode ser drasticamente diminuída pela presença de sulfatos nos alimentos. Há pouca retenção deste elemento no ígado, adrenal, rins e ossos. O molibdênio é excretado rapidamente na urina e, em quantidade limitada, na bile e nas fezes. Minerais para ruminantes • 49 Função O transporte de elétrons, importante no metabolismo das purinas, é função do molibdênio, como um componente de três diferentes sistemas enzimáticos, que são envolvidos no metabolismo de carboidrato, gorduras, proteínas, aminoácidos que contêm enxofre e ácidos nucléicos (DNA e RNA). Tem-se observado, em carneiros em fase de crescimento, que o molibdênio promove um maior crescimento desses animais. Apesar de a base para tal ação não ser conhecida, tem sido observado que o molibdênio tem tido um efeito estimulante sobre a degradação da celulose pelos microrganismos no rúmen. Ademais, esse elemento também é um componente dos esmaltes dos dentes. Não de observa, em circunstâncias naturais, a de iciência de molibdênio em animais, exceto se a utilização deste mineral seja interferida por excesso de cobre e sulfato. A de iciência de molibdênio em animais é especialmente susceptível para o efeito tóxico do bisul ite, caracterizando-se por di iculdades na respiração e por doenças neurológicas. No que concerne à toxidez de molibdênio, temos que ela é de maior interesse prático que a de iciência. A molibdenose, particularmente, ocorre sempre que as gramíneas estão crescendo sobre solos com alto teor de molibdênio. Principais inter-relações O molibdênio relaciona-se com o cobre e o sulfato de maneira que sua utilização pelo organismo é reduzida, caso haja excesso de cobre e sulfato. Além disso, sempre que houver uma ingestão excessiva de molibdênio pelo animal, há uma signi icante perda de cobre por meio da urina. Portanto, o requerimento de cobre é aumentado. Em outros casos, a toxidez em virtude do excesso de cobre é 50 • Sebastião Luiz de Almeida Filho contrabalanceada pela ação do molibdênio, que possui ação microbiana em ruminantes. 1.2.9. Selênio (Se) Em 1817, o químico Sueco Berzelius descobriu o elemento selênio. Em 1940, cientistas Alemães testaram um tipo europeu de levedura de cerveja para uso como suplemento proteico, e constataram que isto poderia produzir uma doença no ígado de ratos, a qual foi evitada por alimentação de germe de trigo ou outras fontes de VIT-E. Então, em 1951, o pesquisador e médico alemão, Klaus Schwarz, que, naquele tempo, foi em visita cienti ica ao Instituto de Saúde Nacional Americano, descobriu que um tipo de levedura americana de cerveja continha um fator 3 não identi icado, o qual, aparentemente, atuava junto com a VIT-E e os aminoácidos contendo enxofre na proteção do ígado contra danos ocasionados por certos tipos de dietas. Schwarz permaneceu na América do Norte, para continuar suas pesquisas e, em 1957, ele, Foltz, e seus colaboradores reportaram que o fator 3 continha selênio. Outros estudos feitos pelo grupo do Instituto de Saúde e por Scott com seus colaboradores, no Depto. de Poultry Husbandry at Cornell, mostraram que a adição de sais de “Selênio” na dieta de pintos evitava certas doenças resultantes da de iciência de VIT-E. O passo da descoberta apressou Old ield e outros pesquisadores, que observaram que o selênio protegia bezerros e cordeiros de doenças musculares, nutricionais e de distro ia muscular. Finalmente, em 1973, Rotruck e seus colaboradores, na Universidade de Wisconsin, a irmaram que o selênio atuava como um cofator para a recente descoberta da enzima Glutatione peroxidase, que quebrava e atuava em moléculas de peróxidos tóxicos, cuja maioria é formada da oxidação de gorduras polinsaturadas. Então, Minerais para ruminantes • 51 a ligação entre o selênio e a VIT-E foi demonstrada e provou-se que esse elemento participou da quebra de compostos altamente tóxicos e, juntamente com a VIT-E, prevenia a sua formação. Pesquisas recentes sugerem que há outras funções para esse elemento essencial. Absorção, metabolismo e excreção O selênio ingerido é absorvido no intestino, principalmente, no duodeno e no ceco. Após esse processo, ele é ligado à proteína e transportado no sangue para os tecidos, onde é incorporado à proteína como selenocísteina e selenometionina. Depois, no último processo, o selênio substitui o enxofre nos aminoácidos cisteina e metionina. A excreção de selênio ocorre em maior parte por meio dos rins, na urina, apesar de quantidades pequenas serem excretadas nas fezes e no suor. Quando há toxidade, a eliminação do selênio pela via respiratória aumenta. Função Como componente da enzima glutationa peroxidase, a função metabólica do selênio é proteger contra a oxidação de ácidos graxos poliinsaturados, que ocasionam danos nos tecidos. Ademais, esse elemento protege os tecidos de certas substâncias venenosas, como o arsênio, o cádmio e o mercúrio. Interrelaciona-se com a VIT-E e com aminoácidos que contenham enxofre. No que concerne ao seu armazenamento, tem-se que ele ocorre nos rins, ígado e outros tecidos glandulares. Deve-se notar que a de iciência de selênio pode causar, em bezerros, uma condição chamada de “músculo branco”. O excesso de selênio na dieta, por sua vez, resulta na perda de pelo, feridas dos cascos, manqueira, anemia, salivação em excesso, ranger dos dentes, cegueira e paralisia, podendo levar, muitas vezes, à morte. 52 • Sebastião Luiz de Almeida Filho Principais inter-relações O Selênio auxilia as VIT-E e os aminoácidos que contém enxofre em sua constituição. Ele protege contra os efeitos tóxicos do arsênico, do cobre e do mercúrio. Igualmente, estes elementos agem contra os efeitos tóxicos do selênio. Uma dieta de alto teor em proteína e alto teor em sulfato promove alguma proteção contra o envenenamento por selênio. Dietas ricas em ácidos graxos poliinsaturados, mas pobres em VIT-E, podem aumentar o requerimento por selênio. Vitamina E e Selênio Durante o ano de 1950, uma inter-relação entre selênio e VIT-E foi estabelecida. Descobriu-se que o selênio prevenia necrose no ígado com de iciência de VIT-E em ratos. Uma pesquisa posterior demonstrou que ambos, selênio e VIT-E, protegiam a célula do efeito detrimental da peroxidação, mas cada um assumiria diferença distinta para o problema. A função do Selênio, dentro do citoplasma, é destruir peróxidos, enquanto a VIT-E está presente nos componentes da membrana da célula e previne a formação do peróxido. Isto explica que a necessidade biológica para cada nutriente pode ser compensada, ao menos parcialmente, apesar de não totalmente por outro elemento. 1.2.10. Silício (Si) Em 1823, Jons J. Berzelius, um químico sueco, descobriu o elemento silício. O nome é derivado do Latim Sílex em Silicis, que signi ica uma coisa muito dura. Em 1972, o Dr. E. Carlisle, nutricionista da Universidade da Califórnia, Los Angeles, relatou que o elemento Silício (Si) é necessário em micrograma, quantidade para o crescimento e desenvolvimento normal de esqueletos de ratos. Minerais para ruminantes • 53 O silício é um dos elementos mais abundantes na terra – presente em grande quantidade nos solos e nas plantas. Ele também é encontrado em altas concentrações nos tecidos de animais, principalmente na pele. Absorção, metabolismo e excreção No que diz respeito à absorção do silício, tem-se que ele é rapidamente absorvido. Da mesma forma, em grande extensão de ingestão, a concentração no sangue permanece relativamente constante. É excretado facilmente via fezes e urina. Não tem sido relatados sintomas de de iciência de silício na dieta de ruminantes. Por outro lado, níveis altos de silício, na dieta de animais, na fazenda, podem fazer com que as quantidades desse elemento presentes na urina sejam depositadas nos rins e uretra, ocorrendo a formação de cálculos. Porém, em ruminantes, não tem sido descrito esse problema. Principal inter-relação O silício aparece como parte na síntese de mucopolissacarídeos e é um componente do complexo proteína mucopolissacarídeo do tecido conectivo. 1.2.11. Zinco (Zn) O zinco foi, primeiramente, mostrado ser biologicamente importante há mais de 100 anos, quando se descobriu que ele era necessário para o crescimento de certas bactérias Em 1920, demonstrou-se que o zinco era requerido para o crescimento de ratos. O zinco é um elemento essencial para os animais. Ele está largamente distribuído no organismo, mas maiores concentrações 54 • Sebastião Luiz de Almeida Filho são encontradas na pele, que contém 70% do zinco do organismo, no pelo, nos cascos e nos ossos. Há algumas ocorrências desse elemento no ígado, nos ossos e no sangue. Ademais, ele também é um constituinte de enzimas envolvidas nas rotas metabólicas. Absorção, metabolismo e excreção A absorção do zinco ocorre em poucas quantidades, já que menos de 10% do zinco da dieta são captados para dentro do organismo, rúmen e intestino delgado, primeiramente no duodeno. O zinco metálico e na forma carbonato, sulfato e óxido, é absorvido de maneira semelhante Grandes quantidades de cálcio, ácido ítico ou cobre inibem a absorção do zinco. Ademais, o Cádmio parece ser antimetabólico do zinco. Depois de o zinco ser absorvido no intestino delgado e no rúmen, ele se combina a proteínas no plasma, sendo transportado para os tecidos. Relativamente, grandes quantidades de zinco são depositadas nos ossos, mas estes estoques não se movem em equilíbrio com o resto do organismo. O “pool” de zinco biologicamente disponível no organismo parece ser pequeno e ter rápido retorno, como evidencia o aparecimento de sinais de de iciência em animais experimentais. No que concerne à excreção, tem-se que a maior parte do zinco derivado do processo metabólico é excretada no intestino – por meio da secreção pancreática, intestinal e biliar. Somente pequenas quantidades são excretadas na urina. Função O zinco é necessário para manter a normalidade da pele, dos ossos e dos pelos. Além disso, esse elemento compõe vários sistemas enzimáticos diferentes, envolvidos na digestão e na respiração. Ele também é requerido para a transferência de dióxido Minerais para ruminantes • 55 de carbono (CO2) nas células vermelhas do sangue para a própria calci icação dos ossos, para a síntese e o metabolismo de proteínas e ácidos nucléicos e para o desenvolvimento e o funcionamento de órgãos reprodutivos e da insulina. Desse modo, o zinco é cofator de vários sistemas enzimáticos, incluindo a peptidase e a anidrase carbônica. Dentre os sintomas de de iciência de zinco no organismo, pode-se citar: perda de apetite, crescimento atro iado e problemas nos ossos. Pele áspera e grossa em várias espécies animais, conhecida como paraqueratose, também pode ser veri icada. Em animais gestantes, a de iciência experimental de zinco tem resultado na má formação do feto. Por outro lado, a toxidez de zinco no organismo é caracterizada pela anemia, crescimento deprimido, hemorragia nas articulações dos ossos, apetite depravado e, em casos severos, a morte. A anemia aparece por resultado de uma interferência na utilização do ferro e cobre, sendo que a própria adição destes elementos pode superar a anemia causada por excesso de zinco. Principal inter-relação O zinco está envolvido em muitas relações. Primeiro, no metabolismo de carboidratos, gorduras, proteínas e ácidos nucléicos. Em segundo lugar, na interferência da utilização do cobre e do ferro e outros microminerais, quando há excesso de zinco na dieta. Além disso, o zinco também oferece proteção contra os efeitos tóxicos do cádmio. Por outro lado, quando há grandes níveis na dieta de cálcio, fósforo e cobre, há uma redução da absorção de zinco.5 5 ENSMINGER, M. E.; OLDSIELD, J. E.; HEINEMANN, W. W. Feeds & nutrition. California: Ensminger Publishing, 1990. 56 • Sebastião Luiz de Almeida Filho Capítulo II 2.1. Composição mineral de plantas forrageiras Algumas das variações na composição mineral das plantas forrageiras são explicadas pelo metabolismo de cada nutriente na planta, na sua distribuição entre as partes do vegetal e nas interrelações entre minerais com os fatores ambientais. É questionável a validade de conclusões sobre a composição mineral de plantas forrageiras, especialmente, quando submetidas ao pastejo e quando se desconhecem as informações complementares necessárias para auxiliar na interpretação dos resultados, como idade da planta, nível de produtividade, época do ano, relação haste/folha, pressão de pastejo, consumo da planta forrageira e categoria animal (Corsi, 1985). Os fatores responsáveis pelas alterações na composição mineral nas plantas forrageiras são: espécie, variedade, idade, estágio de desenvolvimento, velocidade de crescimento, partes da planta e nível de disponibilidade de nutrientes (Corsi, 1985). Martines (1980) determinou o nível crítico interno de fósforo, que é o teor necessário para a planta ter produção elevada (90% ou 95% da produção máxima), e a B. decumbens e P. maximum apresentaram 0,32% e 0,23% de fósforo na matéria seca, respectivamente. O mesmo autor determinou níveis críticos Minerais para ruminantes • 57 externos, como a concentração de fósforo na solução do solo, necessária para a planta produzir elevadas quantidades de matéria seca, com esta concentração variando de 3,72 a 18,50 mg/I para humidicola e P maximum. Falade (1975) encontrou variedades de capim elefante (Pennisetum purpurum) com exigências de até oito vezes de fósforo disponível no solo para atingir o mesmo nível interno na planta. Segundo Corsi (1985), qualquer fator que inter ira com o volume do sistema radicular altera a absorção de fósforo pela planta forrageira. Portanto, o pastejo frequente e severo, camadas obstruindo o crescimento do sistema radicular, como a compactação, o encharcamento e elevados teores de alumínio aumentam a exigência da planta por fósforo. Fatores como a baixa disponibilidade de água no solo, fonte e localização inadequada de fósforo e potássio, em relação ao sistema radicular, podem explicar os baixos teores desses minerais nas plantas, durante o inverno, no Brasil Central. Como pesquisado por Souza (1978), em condições de pastagens mal manejadas, deve-se aliar a esses fatores o efeito negativo da maturidade das plantas sobre a composição mineral das forrageiras, portanto, durante o “inverno”, os teores de minerais decrescem acentuadamente, conforme a irmam Van nierkerk e Serrão (1976). Werner (1971) trabalhou com capim Colonião e Jaraguá em solução nutritiva e avaliou os sintomas visuais de de iciência dos nutrientes N, P, K, Ca, Mg e S, e a distribuição destes minerais nas folhas novas, velhas e hastes. Ele concluiu que houve variações acentuadas nos teores de minerais entre as partes das plantas, demonstrando que, nas folhas novas, o fósforo apresentou 0,11% e nas velhas 0,08%, e 0,10% para o capim colonião. Estes baixos níveis de fósforo são explicados pela idade avançada das plantas. O fósforo é extremamente móvel na planta, acumula-se nos vacúolos das células, participa da síntese proteica e do metabolismo proteico e energético e é indispensável na fotossíntese, nas sínteses e na 58 • Sebastião Luiz de Almeida Filho degradação dos carboidratos. Portanto, ele está sempre presente em tecidos jovens e meristemáticos das plantas. Na gramínea forrageira, os meristemas da parte aérea são meristemas apicais, meristemas intercalares das folhas em expansão e dos meristemas internos de alongamento. Estes meristemas estão localizados nas partes altas da planta e são os preferidos pelos animais em pastejo. Quando há aumento da pressão de pastejo, as hastes e as folhas velhas participam mais da dieta dos animais. A relação haste/folha em plantas forrageiras tropicais tem variação acentuada e frequente em virtude da baixa exigência destas plantas em relação a fatores ambientais para estimular o lorescimento (Wilson, 1980). A característica da gramínea tropical, de alongar as hastes frequentemente após cada corte/pastejo, exige cuidados de manejo. Nessas gramíneas, a coleta de plantas para análise no início do período de crescimento seria de folhas, como concluiu Costa (1982), o qual, trabalhando com andropógon e colonião, superestimou os teores de fósforo. Entretanto, análises de amostras retiradas de plantas submetidas ao pastejo apresentaram coe iciente de variações elevado, de acordo com Souza (1978). Little (1982), por sua vez, a irma que animais com ístula no esôfago representando o pastejo dariam boas amostragens No entanto, o pastejo contínuo, com carga variável, apresenta variações na composição mineral das plantas nas amostragens coletadas nas bolsas por meio das istulas. A composição mineral de plantas forrageiras tem como objetivo orientar o manejo do solo e a adubação com a necessidade de aumentar a produtividade. Segundo Haddad (1984), os suplementos minerais presentes no mercado não atendem às exigências dos animais em relação aos macros nutrientes (Ca, P, S, Mg) com níveis de consumo observados. A planta forrageira tem grande importância como fonte de minerais em pastejo. Portanto, a adubação de pastagem é uma das maneiras de garantir o atendimento da maior parte das exigências dos animais, tanto com o aumento do teor de minerais Minerais para ruminantes • 59 na composição química da planta quanto pela maior qualidade da planta e maior disponibilidade da forragem. A adubação na planta forrageira contribui para melhorar a qualidade e a disponibilidade da planta, incrementando, o consumo de forragem pelos animais. A adubação, em relação à concentração de minerais, e a produção de matéria seca em planta forrageira envolvem estudos acerca do nível de absorção, translocação e metabolismo da planta, segundo Beenson e Matrone (1976). Portanto, o aumento nas concentrações de minerais na planta ocorre quando há absorção maior que as suas taxas de crescimento. Nos países tropicais, raramente, as forragens podem satisfazer a todos os requerimentos minerais dos bovinos. Um resumo dos resultados de análises de 2.615 forragens da América Latina mostra as seguintes concentrações de minerais em níveis de icientes ou marginais: cobalto (Co) – 43%; cobre (Cu) – 47%; magnésio (Mg) 35%; fósforo (P) – 73%; sódio (Na) – 60%; zinco (Zn) – 75%. Os minerais potássio, ferro e manganês raramente se apresentam em níveis de icientes. A concentração mineral das forragens depende da interação de vários fatores, entre os quais se inclui o solo, a espécie forrageira, o estado de maturidade, o rendimento, o manejo das pastagens e o clima. Somente uma fração do total de minerais do solo é absorvida pela planta. A “disponibilidade” dos minerais do solo para as plantas depende de sua efetiva concentração na solução do solo. A maioria das de iciências minerais em herbívoros está associada com regiões especí icas e é diretamente relacionada com as características do solo. As formações geológicas jovens e alcalinas contêm abundância da maioria dos microelementos, em contraste com formações mais antigas, mais ácidas, grosseiras e arenosas, nas quais a lixiviação e a intemperização dos solos tropicais ocorrem, sob condições de elevada precipitação 60 • Sebastião Luiz de Almeida Filho pluviométrica e altas temperaturas, tornando-os de icientes em minerais para as plantas. O aumento do pH do solo, a disponibilidade e a absorção do Fe, Mn, Zn, Cu e Co pelas forrageiras diminuem, enquanto as de Mo e Se aumentam McDowell (1985). Diferentes espécies forrageiras, crescendo no mesmo solo, apresentam grandes variações no conteúdo mineral. Dados pesquisados no Quênia com 58 gramíneas, desenvolvendo-se no mesmo tipo de solo, indicam as seguintes variações na concentração em percentagem na M. S. Cinza – 4% ou 12,2%; Ca – 0,09% a 0,55%; P – 0,05% a 0,37%. Geralmente, as plantas herbáceas e leguminosas são mais ricas em vários elementos minerais que as gramíneas. Com o aumento da idade da planta, o seu conteúdo mineral declina por causa do processo de diluição e da translocação de nutrientes para o sistema radicular. Na maioria das vezes, o P, K, Mg, Na, CI, Cu, Fe, Se, Zn e Mo diminuem, já o cálcio é pouco afetado. Um estudo mostrou a diminuição dos níveis de N, P, K com o avanço da idade ou do crescimento da planta. Portanto, houve o efeito de diluição e outros fatores contribuíram para a diminuição da capacidade de absorver nutrientes do solo e o aumento na relação talo/folha. A pressão de pastoreio tende a in luenciar a espécie forrageira predominante e, também, a relação talo/folha, alterando o conteúdo mineral da pastagem. O cultivo de plantas de elevado valor nutritivo pode depauperar mais rapidamente os solos. Os nutrientes minerais que mais frequentemente podem se apresentar em níveis inadequados na dieta de ruminantes, em condições tropicais, são: Ca, P, Na, Co, Cu, I, Se e Zn. Em algumas regiões, em circunstâncias específicas, o Mg, K, Fe e Mn podem ser deficientes. Minerais para ruminantes • 61 2.2. Concentração mineral dos alimentos As tabelas de teor de minerais nos alimentos informam a média de valores. Entretanto, pesquisas nos EUA demonstram a variabilidade encontrada dentro de uma mesma cultura, com limites para elementos variados em 10 vezes para o enxofre e em mais de 200 para o cálcio, conforme mostra a Tabela 3. TABELA 3 – Variação do valor nutritivo – Forragem de gramíneas e leguminosas Elemento Variação Diferem em vezes (x) NDT (%) 51-71,0 1,4 PB (%) 6,6-33,0 5,0 Cálcio (%) 0,01-2,60 261,00 Fósforo (%) 0,07-0,74 11,00 Fonte: Extraído da Cooperativa de Geórgia Serviços e Extensão. Os teores de minerais dos grãos, normalmente, variam menos que das forragens. No entanto, a variabilidade nos grãos é ainda muito grande. A porcentagem de selênio do milho pode variar de 10 a 20 vezes dentro de um mesmo território, como também até 200 vezes, quando estão envolvidas diferentes áreas do país. 2.3. Fatores que in luenciam a concentração mineral dos alimentos A compreensão dos fatores que in luenciam na concentração mineral dos alimentos é importante no planejamento de programas de alimentação e no diagnóstico de possíveis problemas relacionados com minerais, conforme mostra a Tabela 4. 62 • Sebastião Luiz de Almeida Filho TABELA 4 – Teores minerais em silagens de milho na Geórgia (1966) Mineral Média Limites (variação) Diferença (vezes) Manganês (ppm) 88 15 – 287 19 Ferro 231 56 – 4750 85 Zinco 29 11 – 79 7 Cobre 7 1 – 28 28 Molibdênio 2 0 – 11,5 115 0,07 0.005 – 0,186 37 Enxofre Fonte: Extraído da Cooperativa de Geórgia Serviços e Extensão. * Base de matéria seca de 132 amostras. Fatores que afetam teores de minerais de plantas envolvem: 1. 2. 3. 4. Genética de plantas. Solo onde as plantas crescem. Clima e tempo. Estádio de maturidade e parte da planta. A genética de plantas, frequentemente, tem maior efeito sobre teores de minerais, sendo que as leguminosas têm de 2 a 5 vezes mais cálcio que as gramíneas (Underwood,1966). Para o bom desenvolvimento, muitas leguminosas são mais dependentes de um adequado pH e do nível de cálcio no solo. É comum que leguminosas contenham mais magnésio, potássio, zinco, ferro, cobre, cobalto e enxofre que gramíneas. Grandes diferenças na concentração de muitos minerais também existem entre as espécies de leguminosas e gramíneas. Essas concentrações diferentes, apesar de, usualmente, maiores nas partes das plantas forrageiras, também são encontradas nas sementes. Por exemplo, o grão de milho possui baixo nível de manganês em relação a outros grãos. Minerais para ruminantes • 63 A inter-relação solo, planta e clima e os teores de selênio no grão de milho foram analisados nos EUA. Os maiores níveis foram mostrados em South Dakota e em Nebrasca, sendo 0,4 e 0,35 ppm; e os menores em Michigam, 0,02. O clima mais seco e a formação do solo determinaram esses maiores valores, pois houve uma menor lixiviação de selênio e maiores níveis de pH do solo, que aumentaram a disponibilidade de selênio para plantas. O solo no qual as plantas se desenvolvem, frequentemente, tem grande função para determinar os teores de vários minerais nas plantas, e um dos maiores fatores que afetam a disponibilidade de minerais é o pH do solo. Muitos minerais, incluindo zinco, manganês, ferro, níquel e cobalto são mais disponíveis em solos com baixo pH. Em contraste, molibdênio e selênio são mais disponíveis em solos com altos níveis de pH. Da mesma forma que ocorre interação no metabolismo do animal, também ocorre em plantas. Por exemplo, a grande fertilização de potássio, enquanto aumenta a concentração desse mineral na forragem, também tende a reduzir o sódio e o magnésio. Em algumas áreas do mundo, como Austrália e Nova Zelândia, minerais especí icos, como os microelementos, são, muitas vezes, aplicados no solo como parte da fertilização, para aliviar as de iciências minerais em animais de pastejo. O estado de maturidade das plantas forrageiras tem grande importância sobre os teores de vários minerais, como o declínio no fósforo com a maturidade. O baixo nível de fósforo no solo por longo período, quando o gado, depende de forragens maduras é a chave para a de iciência do fósforo nos animais, em grandes áreas e em muitos países. Vários outros minerais, incluindo potássio, sódio, cloro, cobre, cobalto, níquel, zinco e molibdênio, geralmente, diminuem com a maturidade das plantas (Underwood, 1966). A Sílica aumenta com a maturidade, entretanto o manganês, o iodo e o ferro, aparentemente, não são claramente relacionados com o estádio de maturidade. 64 • Sebastião Luiz de Almeida Filho É comum que os teores de minerais de diferentes partes da mesma planta variem apreciavelmente. Assim, os grãos têm teores de minerais diferentes da parte vegetativa, por exemplo, já que contêm muito menos cálcio que as forragens. Minerais para ruminantes • 65 Capítulo III 3.1. Metabolismo mineral – gado de leite A parte do trato digestivo em que a absorção ocorre mais ativamente varia entre os minerais. Vários cátions divalentes, incluindo o cálcio, o zinco, o manganês e o ferro, parecem ser absorvidos primariamente no intestino delgado. Estudos com carneiros indicam que o retículo, rúmen é o maior local de absorção do magnésio que, em quantidade variável, é absorvido no intestino delgado e, possivelmente, o restante no omaso (Tomas, Potter, 1976). O mecanismo de absorção possui grande variação entre os vários elementos monovalentes íons, como o sódio, o potássio e o cloro, que são absorvidos por difusão simples. Outros minerais, especialmente alguns dos divalentes cátions, incluindo o cálcio, o zinco e o ferro, parecem ser absorvidos por uma difusão facilitada, que é, de acordo com Stake (1974), uma forma de transporte ativo. Segundo Taylor (1973), um cálcio especial, ligado à proteína, exerce a maior função na absorção do cálcio, o que também ocorre na absorção do ferro, do cobre e do zinco. Da mesma forma, alguns dos elementos minerais podem ser absorvidos em associação com vários compostos orgânicos: 67 principalmente na forma de quelatos. Já que melhoram a absorção do mineral, tendo função signi icante. O zinco, bem como outros microelementos, ocorre no metabolismo do animal combinado com compostos orgânicos (Miller, 1971b). Ademais, é comum que ele seja transportado na combinação com um composto orgânico. Em absorção e transporte, o zinco passa da proteína da parede do intestino delgado para outra proteína na corrente sanguínea, que faz o transporte do zinco para o tecido animal. A absorção pode ser visualizada como um dos “step process” (processo de passo), apesar de mais dois passos serem envolvidos. Estes passos, na absorção pela mucosa intestinal transferemse dentro do plasma sanguíneo, sendo transportados para outros tecidos. A proteína que liga o zinco à mucosa intestinal é completamente diferente daquele do plasma sanguíneo, que ainda é diferente da proteína ligada em outros tecidos. O zinco pode ou não estar combinado com outros compostos, como quelatos em adição à proteína. Entretanto, pode ser a proteína-zinco, complexo, ou o complexo – zinco quelato – proteína. É conveniente afirmar que a natureza do quelato pode afetar o metabolismo e a utilização do zinco. 3.2. Transporte e turnover de mineral no interior de tecidos Depois da absorção, elementos minerais, com muita variação da forma química, são transportados pelo corpo via plasma. O transporte de alguns elementos é dado em combinação com compostos orgânicos, como as proteínas e os aminoácidos. Outros, incluído o sódio, o potássio e o cloro, são transportados como íons ou como parte de íons apenas como fosfato. A combinação de alimentos minerais dentro de muitos tecidos do corpo é extremamente complexa e variada, cobrindo diversos compostos. Em um esforço para melhor entender o processo e as 68 • Sebastião Luiz de Almeida Filho aplicações práticas envolvidas, cientistas desenvolveram alguns conceitos gerais. Um destes é o turnover rate = taxa turnover, o qual é a descrição simples, o tamanho de tempo, período em que um elemento permanece no tecido. Há uma enorme diferença entre os elementos, as combinações químicas e os tecidos no que se refere à taxa turnover. Por exemplo, muito do sódio no corpo desloca-se, um após o outro rapidamente, com equilíbrio, sendo obtido em minutos, depois que ele entra no tecido. Em contraste, o cálcio nos dentes quase nunca muda, permuta. Entre esses dois extremos, há uma grande diferença da mudança ou taxa turnover, de modo que o cálcio, no plasma sanguíneo, tem turnover que varia diversas vezes por dia. Ademais, muitas das diferenças na taxa turnover têm importância prática: há menores quantidades de ossos sendo, prontamente trocadas ou permutadas, e o cálcio parece ser a razão primária da ocorrência de febre do leite em vacas adultas, mais do que nas vacas jovens. 3.3. Excreção de elemento mineral A excreção de elemento mineral por conveniência pode ser dividida dentro do que não é absorvido e o que tem sido absorvido e, depois, excretado. A excreção que é absorvida e, em seguida excretada, é chamada excreção endógena. Todos minerais não absorvidos são excretados em fezes. A maioria da excreção endógena de elementos minerais ocorre, também, pelas fezes e urina. Entretanto, alguns elementos são eliminados no suor e, em certas situações, como na grande ingestão de selênio, uma quantidade limitada é perdida via respiração ou vapor. A maioria da excreção endógena de sódio, cloro, potássio e magnésio dá-se pela urina. Contudo, as fezes são a principal rota de excreção endógena do ferro, do zinco, do manganês e do cádmio. Minerais para ruminantes • 69 3.4. Homeostasia de tecido no nível de minerais A quantidade de elementos minerais nos alimentos possui grande variação, mas, para o desempenho normal, a concentração das formas funcionais no tecido animal precisa, segundo Underwood (1977), ser mantida dentro de limites relativamente estreitos. A compreensão de como os ruminantes se adaptam para essa situação contrária deve-se à grande variação na ingestão mineral e à necessidade de manter um nível funcional satisfatório e uniforme nos tecidos. Na discussão desta adaptação, é útil usar o termo isiológico “homeostasia”. A homeostasia é de inida como a condição de relativa igualdade que origina o ajustamento do acontecimento da vida quando muda seu meio ambiente. A homeostasia, para todos os nutrientes, é essencial para a sobrevivência. A notável adaptabilidade do ruminante para a grande variedade de alimento é possível em virtude do mecanismo com a homeostasia para a maioria dos nutrientes. Considerando que o balanço de energia ou homeostasia é conseguido, primariamente, pela variação da ingestão do alimento, a homeostasia de mineral e de outros nutrientes não ocorre deste modo. Durante a evolução, quando se desenvolveu a adaptação da homeostasia, este mecanismo tornou o gado adaptado para o desempenho normal com enormes diferenças no consumo dos microelementos minerais essenciais. A maior ingestão consistente de um elemento mineral, com o desempenho normal, é determinada pela homeostasia do animal. Sobre um princípio prático, precisa-se considerar a possibilidade de sérias consequências de ambas as deficiências e de toxidades, quando está fora do limite da habilidade do animal para manter o sistema funcional dos elementos dentro da tolerância aceitável. A proporção da homeostasia mineral e 70 • Sebastião Luiz de Almeida Filho os mecanismos envolvidos variam bastante entre os diferentes minerais. O gado rejeita o excesso de minerais, mesmo que alguns sejam essenciais. A rejeição é necessária, da mesma forma que a retenção também é. Por exemplo, o teor manganês, na maioria das forragens boas, é muito alto em relação à necessidade no tecido do gado. Em consequência disso, uma apreciável discriminação contra manganês precisa ser aplicada. Desse modo, há enormes diferenças entre os minerais na quantidade absorvida, retida e excretada, o que evidencia um meio de sobrevivência. Apesar de ser variável, a crosta terrestre, incluindo o solo, tem 15 vezes mais manganês que zinco. Forragens, usualmente, contêm somente um pouco mais de manganês do que de zinco, mas, ainda assim, o corpo do animal tem em torno de 70 vezes mais zinco do que manganês. As plantas absorvem menos manganês, em relação ao zinco, com maior discriminação pelo animal. A homeostasia ao mineral pode ser considerada de acordo com dois pontos de vista. Primeiro, o diferente modo metabólico dos distintos minerais no animal é importante. Segundo, o modo como o animal se adapta para a grande ingestão variável de um elemento. As maiores vias com que o gado se adapta para as grandes diferenças na ingestão são as mudanças na absorção, excreção na urina, deposição no tecido e rápido uso da reserva, secreção no leite e a excreção endógena por meio das fezes. Há, também, outros modos, os quais a excreção ocorre em quantias menores, tais como: a exalação, a descamação da pele, a perda de pelo e a transpiração. Mudanças na Absorção – A mudança na porcentagem absorvida é a maior via de adaptação e controle para as diferenças no consumo de alguns cátions bivalentes essenciais, semelhantes ao cálcio, ferro, zinco e manganês. Por exemplo, a absorção de zinco varia entre menos de 10% e em torno 80% em bezerros e vacas em lactação, com mudanças na ingestão zinco da dieta. A quantidade total Minerais para ruminantes • 71 de zinco absorvida em nove dias aumenta com a maior ingestão na dieta, mas, menos proporcional que o aumento no consumo. A mudança na percentagem de absorção, aparentemente, contribui pouco para a regulação do sódio, potássio, cloro, iodo, cálcio e magnésio. Em contrapartida, o aumento do cádmio em 400 vezes na dieta, em cabras, causou pouca mudança na porcentagem absorvida e retida. Excreção Urinária – O principal modo de adaptação do gado às diferenças de magnésio na dieta é a excreção do excesso pela urina, que é também a maior rota da homeostasia para o sódio, potássio, cloro, iodo, lúor e selênio. Mudança de composição do microelemento no tecido – A mudança na concentração do elemento no tecido, como um mecanismo de adaptação, varia grandemente entre os elementos. Quando o excesso de um elemento é fornecido e absorvido, alguns podem ser depositados também como uma reserva usável e/ou inofensiva, mas não uma forma rapidamente mobilizável. O cálcio pode ser estocado no osso e retirado quando necessário, do mesmo modo, há apreciável estoque de ferro no fígado. Excreção fecal – sobre a importante rota da adaptação, a informação é muito inadequada sobre a excreção endógena, por causa de sua parcialidade. Perdas fecais de minerais absorvidos têm considerável signi icância na compreensão da nutrição mineral. Desta maneira, as perdas podem igualar ou exceder a absorção verdadeira, sobrando pouco ou nenhuma retenção líquida. A absorção líquida perto de zero, usualmente, ocorre em animal adulto, mas não para 72 • Sebastião Luiz de Almeida Filho os minerais cuja rota predominante de excreção endógena é as fezes. Exemplos incluem o manganês e cálcio. Desde que a excreção endógena fecal de manganês seja a maior rota de controle, uma maior ingestão na dieta re lete-se em uma elevada perda endógena fecal. Secreção no leite – o iodo é único entre os elementos essenciais que se diferencia no leite, o qual é estreitamente relacionado com a ingestão. Na realidade, o iodo no leite de vacas em lactação é considerado como boa medida bioquímica da posição de iodo. A concentração de muitos elementos no leite, incluindo o cálcio, o cloro, o ferro, o níquel e o cádmio, é notavelmente pouco afetada pela ingestão na dieta. O sódio e o potássio não são in luenciados por um excesso na dieta e diminuem somente um pouco com uma ingestão de iciente. Com outros minerais, incluindo o cobre, o cobalto, o zinco, o manganês e o molibdênio, os efeitos das dietas são pequenos, mas podem ser de alguma importância prática. A magnitude pode ser ilustrada com o zinco. A redução do zinco na ração de 40ppm para 17ppm diminui o zinco no leite de 4,2 para 3,3 ppm. Se o zinco na dieta for elevado para 700ppm, entretanto, sua taxa vai para 8ppm no leite. Ademais, deve-se ressaltar que a glândula mamária é a barreira contra grandes aumentos nos teores de zinco no leite. O leite é bem protegido contra elementos tóxicos, como o arsênico, o cádmio e o mercúrio, mas não é tão bem protegido do chumbo. 3.5. Efeito da de iciência mineral nos animais Os efeitos de de iciência possuem grande variação para cada mineral, como será discutido mais tarde. Há, também, Minerais para ruminantes • 73 considerável coincidência de sintomas em diferentes de iciências, possuindo efeitos similares. Consequentemente, o diagnóstico de de iciência de um elemento individual não é fácil. A de iciência de alguns elementos exigidos tem um efeito adverso sobre a saúde e o desempenho do animal leiteiro. Entretanto apresenta apreciável exaustão e esgotamento de alguns elementos exigidos. Portanto, é importante detectar o problema antes que um possível desempenho possa ser prejudicado. 3.6. Toxidez e tolerância Todo nutriente, incluindo cada elemento mineral essencial, é potencialmente tóxico, se consumido em grandes quantidades. Geralmente, o nível mineral que o gado de leite pode tolerar, sem efeitos adversos sobre o seu desempenho ou saúde, é maior que o mínimo requerido. No entanto, a distância entre mínimo necessário e os níveis tóxicos é maior que aquela da maioria de outros nutrientes. Por exemplo, o gado leiteiro pode tolerar, seguramente, de 30 a 50 vezes o nível mínimo requerido de Selênio, que, algumas vezes, é citado, de maneira errada, como tendo uma distância estreita entre a de iciência e a toxidez. De maneira usual, o limite de extensão entre a de iciência e a toxidez é relativamente maior para microelementos que para macrominerais. A toxidez de alguns dos elementos essenciais minerais, incluindo o lúor, o selênio, o molibdênio, o lodo e o cobre, pode ser um problema prático em gado leiteiro sob algumas condições de alimentação. Alguns elementos minerais, que se têm mostrado não serem essenciais para animais, são de interesse em virtude de sua toxidade ou potencial toxidade. Dentre esses, pode-se citar o cádmio, o chumbo e o mercúrio. É importante evitar limites extremos de deficiência ou toxidade, pois uma severa deficiência e toxidez micromineral ou macromineral podem ser um problema para os lucros das fazendas 74 • Sebastião Luiz de Almeida Filho de leite. Problemas com limites extremos, entretanto, são mais dispendiosos, porque são mais disseminados. A de iciência, em geral, é semelhante à extremidade de um iceberg, já que a maioria do problema está escondida em um limite extremo ou em uma condição marginal. Algumas estimativas têm indicado que, para todo animal exibindo um problema geral ou severo de de iciência mineral, o desempenho de um milhar de animais pode ser adversamente afetado por uma de iciência em limite extremo. A de iciência marginal ou toxidade de um mineral essencial pode levar à redução da produção de leite, da taxa crescimento, da resistência a doenças e infecções e/ou da reprodução em pequena porcentagem. Mas, os efeitos não são iguais em todos os animais. E isso porque, a de iciência marginal, normalmente encontrada nos animais, afeta o desempenho de um rebanho que pode ter seu peso corpóreo reduzido e, também, a renda líquida, sem que o problema possa ser detectado ou facilmente diagnosticável pelos melhores especialistas. 3.7. Interação mineral O metabolismo entre o nível requerido e a máxima dieta segura do elemento mineral essencial é in luenciado pelo nível de outros minerais na dieta. Usualmente, uma interação mineral envolve alguma forma de antagonismo entre dois ou mais elementos. Alguns exemplos são: o cobre, o molibdênio, o cálcio e o fósforo. É frequente que a proporção entre o cálcio e o fósforo seja usada no estudo da nutrição destes dois elementos. A maioria das interações entre os minerais não tem sido estudada su icientemente no gado leiteiro. Se desta maneira for possível alcançar, quantitativamente, os dados necessários e de inir o limite e a proporção segura na dieta, obter-se-á melhores resultados no balanceamento dos minerais para os animais. Minerais para ruminantes • 75 Os altos níveis de cálcio podem aumentar o requerimento de microelementos, incluindo o zinco e o manganês para algumas espécies. No gado, esses relacionamentos não são bem de inidos. Isto é presumível com interações entre elementos minerais, não tendo o mesmo efeito nas diferentes espécies de animais. O mecanismo pelo qual um elemento afeta a nutrição de outro varia de maneira considerável nas diferentes duplas de elementos. Da mesma forma, para muitas das interações, o mecanismo não tem sido de inido. Um dos modos de alguns elementos afetarem outros é pela mudança na percentagem absorvida. A maior parte, muitas vezes, com um maior nível do elemento interagindo, reduz a absorção do outro. Outro mecanismo é por meio da excreção mais rápida e o terceiro tipo é realizado pelo tecido. Muitas vezes, aumentando o nível de um elemento na dieta, a distribuição de outro elemento nos tecidos ou luídos será mudada. 3.8. Interação entre minerais e constituintes orgânicos de dieta Apesar de se dar mais atenção à interação entre os elementos minerais, o inter-relacionamento entre eles e os compostos da dieta pode ser igualmente importante. Um dos mais conhecidos dessa interação é aquele entre VIT-D e cálcio. A vitamina D desempenha uma relevante função na absorção do cálcio por intermédio de seu relacionamento com a proteína ao qual é ligado. Esta vitamina também afeta o metabolismo de vários minerais, incluindo o magnésio, o zinco, o cádmio e o chumbo. O efeito de poupar da VIT-E (tocoferoI), pela quantidade de selênio requerida, é bem conhecido. Muito do fósforo no grão está presente como itato. Nessa condição, o fósforo é pobremente disponível para algumas espécies de animais monogástricos. Visto que o bezerro jovem 76 • Sebastião Luiz de Almeida Filho é um animal monogástrico, antes que seu rúmen funcional se desenvolva, é razoável esperar o fósforo como itado, pois pode não ser prontamente disponível para o bezerro muito jovem. O itato também afeta de maneira adversa a utilização de alguns microelementos, como o zinco em animais monogástricos, mas “aparentemente” exerce muito menos in luência em ruminantes. O metabolismo de vários minerais é controlado ou bastante afetado por certos hormônios. Entre eles, pode-se citar os hormônios paratiróideo, os quais agem sobre o cálcio e o fósforo, a aldosterona, que age sobre o sódio e o potássio, e a calcitonina e o estrógeno, os quais afetam o cálcio. 3.9. A disponibilidade de minerais nos alimentos A disponibilidade dos minerais varia, de forma substancial, em diferentes alimentos. Igualmente, a importância prática e a proporção das diferenças em disponibilidade não são bem esclarecidas. No entanto, alguns fatos são bem estabelecidos, tais como: a grass tetany, nos EUA, ocorre em virtude da baixa disponibilidade de magnésio em forragens novas e suculentas, comparadas àquelas maduras ou velhas. Há uma grande diferença nas características e na quantidade de diferentes elementos que o gado pode absorver. Desse modo, o sódio, o potássio e o cloro são absorvidos em sua totalidade, enquanto alguns elementos têm, como uma de suas características, uma baixa percentagem de absorção, como o manganês, no limite 3% e 4%. Entretanto, em vários elementos, incluindo cálcio, zinco e ferro, a porcentagem absorvida depende da quantidade presente nos alimentos. Quando grandes quantidades são ingeridas, a porcentagem de absorção diminui. Por muitos anos, era geralmente, conhecido que fontes naturais de minerais foram mais disponíveis para o gado que suplementos inorgânicos. Informações recentes sugerem que, Minerais para ruminantes • 77 muitas vezes, isto não é o certo. Os elementos de muitos suplementos minerais são altamente disponíveis em relação às fontes naturais. 3.10. Forma química do elemento Apesar de o elemento mineral não mudar, ele existe em diferentes formas químicas, valência, combinação e associação. Frequentemente, a forma química tem uma grande in luência sobre o modo como o elemento é metabolizado pelo animal, por exemplo, o óxido ferro é muito menos disponível para o gado leite que outros compostos férricos (Becker et al., 1965). O gado é capaz de tolerar menos lúor de fontes solúveis, como luoreto de cálcio e sódio, que de solúveis, como o lúor ligado a componentes em fosfatos de rocha. Em alimentos naturais, o elemento mineral, reiteradamente, ocorre em combinação com compostos orgânicos e associados. A forma natural do composto orgânico especí ico pode ter um efeito crucial sobre a disponibilidade do elemento e no modo como o elemento mineral é metabolizado e utilizado depois da absorção. Um exemplo disso é a variação da toxidade do selênio de alimentos naturais. Em geral, o selênio de sódio é menos disponível e menos tóxico que o originário de fontes naturais. Similarmente, o molibdênio de fontes inorgânicas é menos tóxico que o de pastagens. Em contraste, o gado pode tolerar maiores quantidades de ferro de alimentos naturais do que de sulfato ferro (Standish et aI., 1969), em NRC – Nutritional Requeriment Council (1978). A forma química não somente in luencia a absorção e a utilização de minerais, como também o metabolismo, já que, depois da absorção, ele pode ser drasticamente alterado com diferentes formas químicas do mesmo elemento. Grandes diferenças existem no modo como o gado usa alguns compostos minerais em relação a animais monogástricos, como os suínos e as galinhas. 78 • Sebastião Luiz de Almeida Filho Há de salientar que enquanto os ruminantes utilizam o fósforo na forma de itato, os animais monogástricos, não o absorvem. O que pode acarretar de iciências de fósforo em animais monogástricos. Neste caso, recomenda-se suprir as de iciências com a prática no balanceamento de ração para o animal monogástrico. Informações sobre o efeito da forma química no metabolismo e na utilização de elementos minerais são completamente limitadas. É possível que a maior parte das respostas relacionadas à alimentação mineral para o gado de leite ainda será obtida. 3.11. Suplementação mineral A proteína, a energia e a ibra são requeridas por ruminantes em maiores quantidades; estes nutrientes merecem consideração especial ao se selecionarem os ingredientes alimentares. Os alimentos usados para balancear esses nutrientes também fornecem boa parte dos minerais essenciais. Desse modo, a combinação de alimentos tem grande importância na quantidade dos vários elementos fornecidos. Alguns minerais são necessários, mas não são fornecidos pelos maiores ingredientes alimentares, e deverão ser suplementados. Na maioria das combinações práticas de alimentos escolhidos para fornecer energia e ibra, o sódio, fósforo, cálcio, magnésio, cobalto, cobre, enxofre e potássio seriam inadequados. Minerais para ruminantes • 79 Capítulo IV 4.1. Requerimentos minerais do gado de leite 4.1.1. Cálcio O cálcio é o mais abundante mineral no corpo. Em torno de 98% do cálcio corporal está no esqueleto e dentes e representa, aproximadamente, 2% do peso corporal de um animal. Os restantes 2% de cálcio são largamente distribuídos em tecidos moles e fluídos extracelulares. O animal necessita de cálcio para a formação de ossos e dentes, transmissão de impulsos nervosos, excitabilidade muscular, regulação cardíaca, coagulação do sangue e para a ativação e estabilização de enzimas. Ademais, os ossos servem como uma fonte de reserva de cálcio para a troca com tecidos moles (NRC 1985). Acréscimo nos ossos, reabsorção e troca são fenômenos contínuos, sendo que o acréscimo é maior que reabsorção. Em ruminantes jovens, o balanço é positivo, entretanto animais maduros estão em equilíbrio negativo. A reabsorção pode ser maior que o acréscimo, quando o animal está em balanço negativo de cálcio no início de lactação e o cálcio que sai no leite é maior que o que entra por meio da absorção do intestino, ou quando o cálcio ingerido é insu iciente. Apesar de a quantidade de cálcio no tecido mole ser pequena, 81 ele é de extrema importância. Normalmente, o plasma sanguíneo contém 5mEq de cálcio (9 a 11mg/dl). A partir de 45 a 50% do cálcio, o plasma está na forma solúvel ionizada, entretanto 40 a 45% estão ligados com a proteína. Os 5% restantes estão complexados com elementos inorgânicos ionizados, dependendo do pH do sangue. A entrada de cálcio no plasma é originária de absorção no trato digestivo e de reabsorção nos ossos. A saída de cálcio, por sua vez, inclui deposição em tecidos (principalmente olhos, secreção no leite e excreção por meio das fezes, urina e suor). A maior via de excreção ocorre pelas fezes, a perda urinária de cálcio é mínima por causa da reabsorção do elemento pelos rins. A regulação, pelos vários mecanismos homeostáticos da concentração de cálcio no plasma, e a concentração intracelular re letem a essencialidade do mineral. Manter a concentração do cálcio no plasma é, primariamente, a função de hormônios que regulam o cálcio e os tecidos alvos. Os hormônios que regulam o cálcio são os hormônios da tireoide, a calcitonina e os metabólicos, a vitamina D, 1,25 – dihidroxi – vitamina D3, conforme explicitam Wasserman (1981) e Deluca e Schondes (1983). Os principais órgãos alvos que respondem por um ou mais desses hormônios são os rins, o intestino e o esqueleto. O intestino é importante, porque ele é o órgão que adquire cálcio de fontes exógenas para o corpo. A VIT-D é exigida para manter um mecanismo de transporte ativo, entretanto a absorção também ocorre pela difusão passiva iônica (Deluca 1979). A quantidade de cálcio que é absorvida e, consequentemente, está disponível para o animal, relaciona-se à ingestão de cálcio, à posição do cálcio e à idade do animal, à quantidade de cálcio que ele necessita, à forma química, às fontes de cálcio e às inter-relações minerais. A disponibilidade de Cálcio diminuída é aumentada com a ingestão (Braithwaite, 1979). Quando a ingestão pelo animal excede seu requerimento, a absorção diminui sem considerar a 82 • Sebastião Luiz de Almeida Filho disponibilidade de cálcio. Hansard et al., (1954,1957) demonstraram que, quando a idade aumenta, a absorção verdadeira de cálcio diminui de 98% em bezerros alimentando-se de leite, para 22% em animais adultos. Hansard et al. (1957) explicitam ainda que a disponibilidade de cálcio originária de fontes de suplementação comum variou entre 45% e 68% em gado jovem e de 37% a 55% em gado adulto. Esses autores estimaram que a disponibilidade do cálcio na alfafa variou entre 31% a 41%, o que ocorreu, parcialmente, em virtude de que 20% a 33% do cálcio na alfafa são ligados aos cristais de oxalato e são, por consequência, indisponíveis (NRC, 1989). O cálcio nos alimentos naturais pode ocorrer como sal dos compostos orgânicos itato e oxalato. O cálcio em itato parece ser tão disponível como o cálcio no fosfato monocálcio (Tillman and Brethour, 1958), o do oxalato de cálcio, entretanto, é de baixa disponibilidade. Garret e Goodriech, (1983) veri icaram que a disponibilidade de cálcio na alfafa diminui com o avanço da maturidade. A interação de cálcio com outros minerais e com nutrientes não minerais sugere que, em ambos, a de iciência e o excesso precisam ser evitados. Miller (1983) tem mostrado que a dieta com relação ao cálcio: fósforo entre 1:1 e 7:1, resultou em desempenho igual. Dietas com muita gordura aumentam a perda fecal de cálcio por meio da formação de sabões, o que acarreta um aumento do requerimento da dieta (Oltjen, 1975). A de iciência desse mineral em animais jovens prejudica o crescimento normal dos ossos, impedindo seu desenvolvimento normal e o crescimento. O raquitismo pode ser causado pela de iciência de cálcio, fósforo ou VITD. Ele é caracterizado pela calci icação imprópria da matriz orgânica do osso, a qual resultará em fraqueza e ossos de menor densidade. Sinais de raquitismo incluem aumento dos ossos inais, que estão arqueados e provocam durezas nas pernas. Ossos que têm baixo teor de cálcio e fósforo estão sujeitos à fratura espontânea. Minerais para ruminantes • 83 A desmineralização dos ossos do animal amadurecido pode conduzir à osteomalácia. Esta condição é caracterizada pela fraqueza e por ossos quebradiços, os quais podem quebrar quando o animal está estressado. A alimentação de baixo cálcio na dieta, para vacas em lactação, durante um longo período, pode causar um esgotamento do cálcio e do fósforo nos ossos, resultando em fragilidade, fácil fratura dos ossos e reduzida produção de leite (NRC 1989). Usualmente, somente uma extrema e prolongada de iciência de cálcio diminuirá o desenvolvimento e a produção leite. Porém, uma extrema de iciência pode ocorrer se não se dá atenção proverão provimento adequado do cálcio. A febre do leite em vacas é causada por distúrbios no metabolismo de cálcio. Um marcante colapso no cálcio do plasma sanguíneo ocorre por causa de uma falha da homeostasia do cálcio (Miller, 1970). Grande ingestão de cálcio, durante o período seco, tende a aumentar a incidência de febre do leite (Jorgensen, 1974). A alimentação com baixo cálcio na dieta, há poucas semanas antes do parto, pode reduzir a incidência de febre no leite. O gado é capaz de evitar a toxidade de grande nível de cálcio na dieta pela excreção do excesso nas fezes. Igualmente, então, o cálcio em excesso é o antagônico para o metabolismo de vários outros elementos, incluindo o fósforo, o manganês e o zinco. As forragens, geralmente, contêm mais cálcio que os grãos (Underwood, 1966). Entretanto, a variação é grande dentro de grãos e forragens e, igualmente, na mesma espécie, pois vêm de regiões distintas com solos e clima diferentes. As leguminosas têm uma média de 2 a 5 vezes mais cálcio que as gramíneas. Os altos níveis de potássio e magnésio no solo reduzem o teor de cálcio na forragem (Netherlands commitee 6 n Mineral Nutrition, 1973). Recentemente, tem havido considerável interesse em alterar o equilíbrio eletrolítico da dieta aniônica para prevenir a febre do leite. As pesquisas sugerem que as dietas formuladas para vacas 84 • Sebastião Luiz de Almeida Filho em inal de gestação, as quais são dietas aniônicas ou acidogênicas, reduzem a incidência da “febre do leite” e melhoram o desempenho leiteiro subsequente e a saúde dos animais (Beed, 1983). Dietas com cátions elevados, em especial, sódio e potássio, tendem a “induzir a febre do leite”, enquanto dietas altas em ânions, primariamente cloro e enxofre, podem preveni-la. O alto nível de ânions em dietas ácidas para vacas induz uma acidose metabólica, que facilita a absorção de cálcio dos ossos. Dietas aniônicas parecem funcionar, ao aumentar a resposta de tecidos especí icos aos hormônios calcitró icos. Apesar do excesso, o cálcio pode ser antagônico para outros elementos, em particular, fósforo, magnésio, ferro, iodo e manganês (NRC, 1980). Na alimentação das vacas em lactação, 20% a 30% a mais de cálcio que o indicado podem não causar problema (Miller, 1983). Já a alimentação com o cálcio no nível de mais que 0,95% a 1,00% matéria seca, em mistura total na dieta, pode reduzir a ingestão de matéria seca e de desempenho (Miller, 1983c). 4.1.2. Fósforo O fósforo é de extrema importância na formulação de dieta para gado de leite. Aproximadamente, 86% do fósforo no gado são encontrados no esqueleto e nos dentes e o restante é incluído nos tecidos moles. O plasma sanguíneo de um animal com 600 Kg contém em torno de 1,1 g de fósforo total e varia na concentração de 4mg a 8mg. Os eritrócitos contêm mais fósforo que o plasma. Um quilo de leite tem em torno 1g de fósforo, o que acarreta que a entrada do fósforo no organismo precisa ser contínua para detectar a necessidade da vaca para alta produção leite. O fósforo é o mineralchave no metabolismo de energia e é um componente essencial do sistema buffer no sangue e em outros luídos do corpo. Ele é importante em quase todo o aspecto bioquímico do metabolismo. A absorção do fósforo (P) ocorre no intestino delgado, e parece ser um processo ativo (Deluca, 1979). Ela é estimulada pela Minerais para ruminantes • 85 forma ativa de VIT-D, – vitamina D3. Ruminantes reciclam grandes quantidades de fósforo, como o fosfato inorgânico e na saliva, na qual a secreção parece ser regulada pelo hormônio paratireoide (Wasserman, 1981). A concentração de fósforo na saliva pode chegar a cinco vezes ou mais à do plasma. A quantidade absorvida pelo animal depende da fonte de fósforo, da quantidade de ingestão, da proporção cálcio/fósforo, do pH intestinal, da idade do animal e do nível de cálcio, ferro, alumínio, manganês, potássio, magnésio e gordura na dieta (Irving, 1964). Poucos estudos têm sido conduzidos com ruminantes para medir a absorção verdadeira de fósforo proveniente de várias fontes, apesar de a medida de disponibilidade ter sido conduzida com ruminantes em crescimento e não lactantes. Deve-se ressaltar que a absorção varia com idade, com a e iciência da absorção decrescendo em torno 14 vezes. A proporção cálcio/fósforo no sangue é de, aproximadamente, 2:1; nos ossos, é também de 2:1; no leite, a proporção é de 1,3:1 e, na saliva, por sua vez, há predominância de fósforo. Esta diferença na e iciência da absorção entre e dentro de fontes de cálcio e fósforo somadas à reciclagem de fósforo pela saliva, que também contribuem como fonte de fósforo e cálcio para o animal, di iculta uma ótima recomendação destes elementos da dieta dos animais. Wise et al., (1958) reportaram que bezerros de leite, com peso vivo de 90 kg a 125 kg, requeriam 0,22% de fósforo em suas dietas, na base da matéria seca, para o máximo ganho. Entretanto, as cinzas dos ossos foram maiores com 0,30% que 0,22% fósforo na dieta, mas o alto nível de fósforo ingerido não melhorou nenhuma medida de desempenho. Teh et al., (1982) apontaram que o aumento do teor de fósforo de 0,24% a 0,31% aumentou a ingestão, ganho de peso vivo, e fósforo inorgânico no plasma (Larger et aI., 1985). Compararam níveis de fósforo na dieta de 0,24%, 0,30% e 0,36 % para bezerros 86 • Sebastião Luiz de Almeida Filho em crescimento. Aumentando o fósforo na dieta para 0,30%, foram aumentados a ingestão de matéria seca e o ganho de peso. Wise et al., (1963) recomendou 0,30% de fósforo como o mínimo para que a dieta seja balanceada e segura. A taxa de crescimento e a utilização de alimentos dos bezerros foram satisfatórias com relação ao cálcio/fósforo, que variou de 1:1/7:1. A diminuição do desempenho e a conversão de nutrientes foram notadas nas relações acima e abaixo desta variação (Wise et aI., 1963). A relação de 8:1 resultou em fraco desenvolvimento e diferenças de utilização dos alimentos pelas novilhas holandesas (Ricketts et aI., 1970). Ainda não houve diferença encontrada em vacas em lactação, alimentadas por dietas contendo vários níveis de cálcio e fósforo para as relações 1:1, 4:1 e 8:1 (Smith et aI., 1966). Em experimento longo, com novilhas gestantes, ocorreu melhor absorção de ambos os elementos na relação cálcio: fósforo 2:1 do que com a 1:1 (Manston, 1967). O experimento de Hibbs e Conrad (1983) indicou que a e iciência da absorção de fósforo nas dietas completas para vacas em lactação estaria entre 45% e 50%. Abaixo de algumas condições, o nível de cálcio e VIT-D no organismo torna-se mais crítico, porque o excesso de cálcio pode aumentar o requerimento de fósforo, e VIT-D é necessária para assegurar o eficiente uso do fósforo. Wise et aI. (1963) testaram nove relações Ca:P para ruminantes desde 0,41:1 até 14,3:1. De acordo com esses autores, apenas relações inferiores a 1:1 e superiores a 7:1 prejudicam o crescimento e a conversão alimentar dos animais. Excessivas quantidades de cálcio ou fósforo na dieta podem reduzir a biodisponibilidade de certos microelementos. É possível que o requerimento de fósforo sugerido pelo NRC (1989) para bovinos sob pastejo esteja superestimado. Segundo (NRC, 1989) trabalhos em Utah (U.S.A.) não observaram quaisquer diferenças em ganho de peso de 0,45 kg/ Minerais para ruminantes • 87 dia, na conversão alimentar ou apetite entre as novilhas Hereford durante dois anos, uma dieta contendo 0,14% de P, ou seja, 66% da recomendação NRC. Outro grupo semelhante recebeu a mesma dieta, suplementada com fosfato monossódico para elevar o seu nível de P para 0,36%. Entretanto, após oito meses de uma dieta com apenas 0,09% de P, os autores observaram a diminuição do apetite e a redução da densidade óssea. Em outros estudos na Flórida, Willians et aI. (1992) demonstraram que os níveis de P de 0,12 a 0,13 % eram insu icientes para novilhas angus em crescimento, por meio de um experimento com duração de 525 a 772 dias. Os animais, recebendo dieta baixa em P, tiveram ganhos baixos e desmineralização óssea. Esses trabalhos foram realizados em condições de con inamento, pois animais em pastejo, que caminham para obter o alimento, teriam, provavelmente, uma necessidade maior de minerais envolvidos na estrutura óssea. Além disso, a disponibilidade de fósforo nas forrageiras tropicais é menor que nos alimentos usados no con inamento. Os sinais de de iciência de fósforo não são fáceis de reconhecer, exceto nos casos graves, quando os seguintes sintomas podem ser observados: fragilidade óssea, fraqueza generalizada, perda de peso, emagrecimento progressivo, enrijecimento das articulações, redução da produção de leite e perversão do apetite, o que leva os animais a mastigarem madeira, pedras, ossos e outros materiais estranhos à dieta normal. O apetite depravado pode ser observado, entretanto, em outras de iciências nutricionais. A de iciência de fósforo é a mais comum em gado sob pastejo. Na maioria das áreas de pasto em regiões tropicais, tanto os solos como as forrageiras são pobres em fósforo. Muitas espécies de gramíneas encerram níveis de fósforo acima de 0,3% durante os estágios iniciais de crescimento, estando disponíveis para os animais por períodos muitos curtos. Durante a maior parte do ano, as forragens adultas contêm menos de 0,15% de fósforo e, em muitos países tropicais, altas concentrações de AI e Fe nos solos 88 • Sebastião Luiz de Almeida Filho tendem a acentuar a de iciência de fósforo, formando complexos que tornam o fósforo indisponível para a absorção pelas plantas. Na África do Sul, por volta de 1900, os estudos pioneiros de suplementação com fósforo (Van Niekerk, 1978) relataram a causa do botulismo bovino e afosforose. Ambas as condições eram o resultado de severa de iciência de fósforo, com animais exibindo crescimento retardado, baixa fertilidade e apetite depravado, manifestado pela mastigação de ossos. Em áreas do Piauí, no Brasil, estimou-se que 2% a 3% de, aproximadamente, 100.000 bovinos morrem anualmente de botulismo (Tokarnia et aI., 1970b). Sob condição de carência extrema de fósforo, vacas podem passar 2 a 3 anos sem produzir bezerros ou mesmo sem apresentar cio. Em regiões de icientes de fósforo, se a vaca produz um bezerro, ela pode não voltar a apresentar cio fértil até que suas reservas orgânicas de fósforo sejam restauradas, pela suplementação do elemento. Pesquisadores brasileiros, como Cardoso et aI. (1999), Camargo et aI. (1980) e Barros et aI. (1981) trabalhando com diversas espécies de forrageiras na planície amazônica, detectaram a de iciência de fósforo como limitante da produção de ruminantes nas regiões tropicais. Senger et aI. (1997), em trabalho realizado no Rio Grande do Sul, concluíram que 98% das forragens analisadas continham menos do que o requerido – 0,18% de P – para bovinos de corte. As determinações das concentrações de fósforo nas forrageiras, comparadas aos requerimentos das categorias animais, são úteis para determinar o «Status» nutricional dos ruminantes. Os níveis séricos de fósforo são um bom indicativo da condição dos animais apenas quando fatores adversos, tais como estresse do animal e processamento do sangue, são controlados (McDowell, 1999). Em virtude das limitações dos níveis séricos de Cálcio e fósforo, como indicativos do “status” desses minerais no animal, a análise da dieta e da composição e resistência óssea são métodos mais adequados para o diagnóstico das de iciências de cálcio e fósforo. Willians et aI. (1992) relataram que as propriedades Minerais para ruminantes • 89 químicas, ísicas ou mecânicas dos ossos poderiam ser utilizadas para a avaliação da condição de nutrição fosfórica dos animais. Técnicas não invasivas, como “dual photon absorptiometry” (DPA), fotometria radiográ ica e ultrassonogra ia, podem ser usadas para estimar o conteúdo mineral dos ossos e a resistência óssea e, indiretamente, o “status” de cálcio e fósforo do animal. 4.1.3. Magnésio O magnésio tem muitas e diversi icadas funções isiológicas. No esqueleto, ele é importante para a integridade e o desenvolvimento dos ossos e dentes. Ele também tem participa da transmissão neuromuscular e da atividade de muitos sistemas enzimáticos, como “ativador” enzimático. O magnésio é vital no metabolismo de carboidratos e lipídios e Coenzimas, como catalizador da ampla variedade de enzimas, que necessitam do mineral para sua atividade ótima. Ademais, ele também está envolvido na síntese da proteína por meio de sua atuação na agregação do ribossomo, seu papel na ligação do RNA como mensageiro aos ribossomos 70s e na Síntese e degradação do DNA (Mc Dowell, 1999). O corpo do animal adulto contém em torno 0,05% magnésio (Miller et aI., 1972). Em vacas maduras, 60% do magnésio corporal estão concentrados nos ossos (Rook e Storry, 1962), e esta reserva é mobilizada lentamente quando há de iciência de magnésio. Em consequência disso, uma mudança abrupta de uma dieta normal para uma de disponibilidade inadequada de magnésio pode resultar em hipomagnesemia, dentro de 2 a 18 dias, sempre que por meio de alimento prévio, houver alto teor de magnésio (NRC,1989). Em bezerros jovens, entretanto, 30% ou mais do magnésio do esqueleto podem ser mobilizados e deslocados para outras áreas do corpo (Blaxter et aI. ,1954) ou (NRC,1989). Os 30% restantes do magnésio estão distribuídos entre músculos e outros tecidos moles (Miller et aI., 1972). Depois do potássio, o magnésio é o mais abundante cátion do fluido intracelular. 90 • Sebastião Luiz de Almeida Filho Em vacas maduras, 60% do magnésio corporal são estocados nos ossos (Rook e Storry, 1962), e esta reserva é mobilizada lentamente quando há de iciência desse elemento. Consequentemente, uma mudança abrupta de uma dieta normal para uma com magnésio de disponibilidade inadequada pode resultar em hipomagnesia dentro de 2 a 18 dias, apesar de a alimentação prévia ter sido alta em magnésio (Dishington e Tollersrund, 1967). Vacas maduras são mais susceptíveis para “grass tetania”, por que sua habilidade de mobilizar magnésio dos ossos é diminuída. Dietas de icientes de magnésio podem causar uma redução na digestibilidade do nutriente (Wilson, 1980) que, por sua vez, poderá resultar na redução do desempenho do animal. Entre os sintomas de de iciência desse elemento, obtidos de maneira experimental, percebeu-se a anorexia em bezerros, um grande aumento da excitabilidade e a calci icação dos tecidos moles (Blaxter et aI., 1954). A disponibilidade aparente do magnésio na dieta para gado leiteiro possui uma variação gradual e, para evitar afetar negativamente o desempenho do animal, recomenda-se observar mais detalhadamente este determinante (magnésio) com o nível requerido dele na dieta. O porquê da di iculdade experimental em determinar a “disponibilidade verdadeira”, na maioria dos dados disponíveis, incluindo todos citados neste trabalho, é a disponibilidade aparente (Miller et aI., 1972). Valores de disponibilidade para o magnésio tão alto quanto 70% têm sido observados em bezerros jovens com dietas de leite, mas esses valores declinam de 30% a 50% em bezerros velhos (Peeler, 1972). Estimativas de disponibilidades para ferro em gramíneas variaram de 11,6% a 37,3% para ruminantes velhos (ARC 1950). Geralmente, o magnésio em grãos e concentrados é mais disponível para gado que o magnésio em forragens (Miller et aI., Minerais para ruminantes • 91 1972). Semelhantemente, o magnésio em forragens conservadas é mais disponível que o das pastagens. Em contraste com a maioria dos nutrientes, a absorção de magnésio é menor em pastagens jovens suculentas e aumenta com a maturidade da forragem. A média de disponibilidade, para vaca de leite, do magnésio em forragens foi de 17%, com uma variação de 7% a 33% (Kemp, 1963). O gado, aparentemente, tem um bom mecanismo de homeostasia para eliminar um moderado excesso de magnésio, já que ele excreta o excesso desse elemento. Por outro lado, é relativamente pobre a homeostasia na deficiência (Miller, 1975). A toxidade do magnésio não é conhecida como um problema prático em gado de leite, apesar de o máximo tolerável, no nível de 0,4%, tenha sido estabelecido (NRC, 1980). Entretanto, suplementar magnésio como óxido magnésio, para o nível de 0,8%, tem sido prática comum em dietas de alto concentrado para corrigir a depressão de gordura no leite sem aparente problema, exceto diarreia ocasional (Edman et aI., 1980). 4.1.4. Enxofre O enxofre é um componente essencial da proteína e constitui 0,15% do tecido corporal. O elemento é um componente do aminoácido metionina e da vitamina B, tiamina e Biotina, que não podem ser sintetizados pelo tecido animal. No mais, o enxofre está presente em muitos outros compostos, que são essenciais para o funcionamento normal do metabolismo. O leite contém 0,03% enxofre, na forma de aminoácidos metionina e cistina. Há uma íntima associação entre enxofre e nitrogênio nas plantas, e a célula animal e alimentos com altos níveis de proteína terão grandes teores de enxofre. Em sistemas de alimentação do gado leite, uma de iciência de enxofre é fácil de ocorrer, quando há consideráveis suplementos de nitrogênio não proteico (NPN) na 92 • Sebastião Luiz de Almeida Filho forma de silagem. O uso de ureia como um suplemento NPN, em dieta ruminante, tem aumentado a necessidade de suplementação, e a silagem de milho possui, muitas vezes, baixa quantidade de enxofre, sendo entre 0,05% a 0,10% (HILL, 1985). Para a mais e iciente utilização da ureia, Moir et aI., (1968) sugeriram uma proporção de nitrogênio/enxofre de 10:1, usando dados obtidos em carneiros. Bouchard e Conrad (1973), entretanto, encontraram que proporção N/S de 12: 1 foi adequada para manter a máxima ingestão de alimento em vaca de leite em lactação. Enxofre insu iciente em dietas de gado de leite resulta em reduzida ingestão de alimento, baixa digestibilidade, ganho lento de peso e diminuição na produção de leite. Por outro lado, o nível de enxofre que excede o requerimento pode diminuir a ingestão de alimento e pode sobrecarregar o sistema de excreção urinário. O Enxofre pode também interferir no metabolismo de outros minerais, particularmente, selênio e cobre. O enxofre participa da síntese proteica (aminoácidos sulfurados), então ele faz parte da estrutura de hormônios (MacDowell, 1992). Além disso, esse elemento é parte integrante das vitaminas B1 (Tiamina) e H (Biotina). Dessa forma, o enxofre tem participação ativa no ciclo de Krebs (metabolismo de energia) e é integrante de algumas moléculas orgânicas como a hemoglobina, heparina, condroitina, taurina e citocromo e coenzimas. A sintomatologia clássica de deficiência é rara, mas efeitos de carência marginal refletem basicamente no desempenho reprodutivo (Haddad e Platzek, 1985). O enxofre interage com o cobre, molibdênio, selênio e nitrogênio. Altas concentrações de molibdênio na presença de enxofre reduzem a presença de cobre, pela formação de um complexo pouco solúvel, chamado de tiomolibdato de cobre (MacDowell, 1992). Por outro lado, o enxofre, na ausência de molibdênio, também pode causar deficiência de cobre pela formação do sulfito de cobre, o qual é pouco solúvel. Ademais, o enxofre é antagônico em relação ao Minerais para ruminantes • 93 selênio, porque ambos os elementos são semelhantes em suas estruturas químicas e competem pelo mesmo sitio de absorção (Pond, et al., 1995). O National Research Council’s – NRC Mineral Tolerance of Domestic Animais (1980) aponta que o máximo nível tolerável de enxofre para gado de leite foi 0,40%. Bouchard e Conrad (1976), no entanto, sugeriram uma menor concentração de enxofre de 0,26% para vacas leite em lactação, quando alimentadas com ração completa, por vários meses. Os ruminantes, aparentemente, podem tolerar níveis mais altos de enxofre, quando possuem na dieta ingredientes naturais, do que dietas de fontes inorgânicas (Kandylls, 1983). 4.1.5. Cobalto O Cobalto é um elemento essencial, porque ele é necessário para a síntese de vitamina B12 pelo micro-organismo do trato gastrointestinal. Essa vitamina é usada pelo tecido animal e pelos micro-organismos. Em torno de 3% do cobalto ingerido são convertidos para vitamina B12, primariamente, no rúmen (Smith e Marston, 1970), sendo que da vitamina total produzida, somente entre 1% a 3% é absorvido. A baixa porção do intestino delgado é o local primário de absorção. A absorção de cobalto na dieta é variável, mas estima-se ser de 20% a 95%. Valberg (1971) propôs que o cobalto tem um transporte comum, na mucosa intestinal e na rota com ferro. O Cobalto injetado é excretado, principalmente, na urina, com pequenas quantidades eliminadas na bile. Em torno de 43% do cobalto do corpo são estocados nos músculos e, aproximadamente, 14%, nos ossos (Underwood, 1977). O Cobalto estocado nos tecidos, entretanto, não possui um deslocamento rápido para o rúmen, quando há a síntese de VIT-B12. O gado não estoca signi icantes quantidades de cobalto reciclável. 94 • Sebastião Luiz de Almeida Filho Por consequência, sínteses de VIT-B12 declinam rapidamente, quando o cobalto na dieta é de iciente. O tempo levado para a de iciência ser desenvolvida depende do grau inicial da dieta de cobalto adequada, da quantidade de VIT-B12 previamente estocada, e da idade do animal (Underwood, 1977). O nível de VIT-B12 estocado no ígado e em outros tecidos é su iciente para manter o animal por vários meses. Não há evidências de que a síntese de VIT-B12 seja possível no tecido corporal, ou de qual quantidade dessa vitamina produzida no cecum e no intestino grosso do ruminante possa ser absorvida. Assim, de acordo com Underwood (1977), o ruminante precisa depender da síntese dos micro-organismos do rúmen. O requerimento da dieta para cobalto tem sido estimulado para ser de 0,10 ppm na matéria seca (Ammerman, 1970). Forragens, em muitas áreas do mundo, contêm menos que este nível adequado de cobalto (Underwood 1977). Experimentos não têm produzido evidências de que o requerimento do cobalto seja maior quando as dietas são altas em grãos (Macpherson e Chalmeres 1984). A principal manifestação da de iciência de cobalto ou VIT-B12 é o impedimento do metabolismo de propionato. A vitamina B12 de iciente é um cofator para metil malonil – COA isomerase 5 metil, tetrahidrofolate; homocisteina metil transferase (Gawthorne e Smith, 1974). Os melhores indicadores da de iciência de cobalto são as baixas concentrações de VIT-B12 no ígado e no plasma, ou a perda do apetite e o elevado piruvato sanguíneo. Outros sintomas incluem o crescimento atrasado ou perda de peso, a diminuição na produção leite e a anemia (Underwood, 1977). O National Research Council (1980) cita um nível máximo tolerável na dieta para cobalto de 10 ppm. A toxidez de cobalto em gado é incomum, porque o animal pode tolerar em torno de 100 vezes o nível requerido. Minerais para ruminantes • 95 4.1.6. Cobre Desde a primeira observação por Neal et aI. (1931), reconheceu-se a deficiência de cobre em gado em pastejo em muitas partes do mundo, como seu maior problema prático. A deficiência origina-se, também, do baixo nível de cobre por si ou pela influência de outras substâncias nele, as quais interferem nos altos níveis de molibdênio (Underwood, 1977). Além disso, a influência genética sobre o metabolismo do elemento cobre tem sido demonstrada em duas diferentes raças de carneiros (Woolllams et aI., 1985). O teor do cobre da maioria dos órgãos e tecidos é diretamente afetado pela ingestão da dieta do elemento, Underwood (1977). O tecido do ígado do gado, recebendo ingestão normal de cobre, pode conter entre 100 ppm a 400 ppm na matéria seca e pode aumentar para várias vezes esta quantidade em virtude de maiores concentrações de cobre na dieta. O colostro contém mais cobre que o leite, sendo que a quantidade de cobre no leite diminui com o avançar da lactação. O leite da vaca, com uma dieta de iciente em cobre, poderá conter menos cobre, mas o excesso na dieta terá pouco efeito sobre o nível de cobre no leite. O mínimo requerimento dietético de cobre não pode ser estabelecido sem se considerar o teor de molibdênio na dieta, sendo que em alguns momentos, outras substâncias interferem, como o enxofre. Apenas 4 ppm de cobre na dieta encontrará o requerimento sobre certas condições, e 10 ppm é um nível mais prático para o mínimo requerido. Mais de 10 ppm de cobre pode ser requerido, entretanto, somente para o gado alimentado de pastagem, ou consumindo alimentos que contenham altos níveis de molibdênio ou outras substâncias que interferem na absorção. Estudos sugerem que pode haver outros fatores, em certas forragens, que tenham um efeito adverso sobre a absorção e o metabolismo do cobre (Stoszek et aI.,1986). 96 • Sebastião Luiz de Almeida Filho Muitos sinais clínicos têm sido associados à de iciência de cobre, incluindo o crescimento reduzido ou a perda de peso e a diminuição na produção leite. Com uma de iciência mais severa, podem ocorrer diarreia, rápida perda peso, paralisia do crescimento, perda na coloração dos pelos e mudança em sua textura, aumento dos ossos no inal das patas, ossos frágeis que podem resultar em múltiplas fraturas das costelas e fêmur, juntas duras, que acarretam “passos de andadura” em gado adulto, diminuição ou atraso do estro e reprodução comprometida, além de di iculdade de parição e retenção de placenta, nascimento de bezerros com fraqueza congênita, morte repentina em virtude de falha severa no coração e anemia. As principais fontes inorgânicas de suplementos de cobre são os sulfatos, carbonato e óxidos. Os sulfatos têm grande disponibilidade biológica e o carbonato e os óxidos são intermediários e possuem baixa disponibilidade (Miller, 1972). O bovino é mais tolerante a altos níveis de cobre na dieta que os ovinos em razão da sua grande capacidade para eliminar o cobre do organismo pela bile. A ingestão de máximo teor tolerável na dieta de cobre para gado bovino é de 100 ppm (NRC, 1980). 4.1.7. Iodo O primeiro requerimento isiológico por iodo é na síntese pela glândula tireoide de hormônios que regulam, no organismo, a taxa de metabolismo de energia em todas as células do corpo. O clássico sinal da de iciência de iodo em gado é um aumento dessa glândula. Uma de iciência de iodo, entretanto, afeta quase todos os maiores aspectos da vida, reprodução e lactação, como a habilidade para resistir ao estresse. A de iciência de iodo em bezerros pode levá-los a nascerem cegos, sem pelos, fracos, sendo necessário detectar a severidade da de iciência (Hemken, 1970). Se o suplemental iodo não é fornecido, no mínimo, uma deiciência marginal pode ocorrer em muitas áreas. A disponibilidade Minerais para ruminantes • 97 de iodo no solo tem o maior efeito sobre o teor de iodo das plantas. Grandes fertilizações de nitrogênio reduzem o iodo nas forragens (Hemken, 1970). Normalmente, forragens e volumosos contêm mais iodo que grãos ou farelos de oleaginosas (Underwood, 1977). Talvez a presença de substâncias goitrogênicas seja de igual ou maior importância que alimentos com baixo teor de iodo, como um fator que contribui para levar à de iciência desse elemento. Por exemplo, o farelo de soja é levemente “goitrogenic” (Hemken, 1970). Os fatores goitrogenics do farelo soja interferem na reabsorção orgânica do iodo. Desse modo, há um aumento da perda fecal. Em contraste, algumas substâncias goitrogenic diminuem a captação de iodo pela glândula tireoide. É comum que vacas em lactação necessitem de mais iodo do que aquelas não lactantes, porque em torno 10% do iodo ingerido é, normalmente, excretado no leite. Além disso, esta percentagem pode crescer com o aumento da produção de leite (Miller et aI., 1975). Vacas em lactação não podem receber excessivo iodo na dieta, porque altos teores desse elemento no leite são considerados indesejáveis para humanos (Hemken, 1978). 4.1.8. Ferro O ferro é um componente essencial da hemoglobina, mioglobina, citocromos e outros sistemas enzimáticos, e está envolvido no transporte de oxigênio para células. A maioria do ferro no organismo está na forma de hemoglobina. O requerimento de ferro dos ruminantes não é bem estabelecido, o que é geralmente aceito. Entretanto, o requerimento desse elemento nos animais jovens é maior que aquele dos ruminantes adultos e é norma ser em torno de 100 ppm. É mais provável que as de iciências ocorram em animais jovens, porque o leite de vaca é baixo em ferro, cerca de 10 ppm. O ferro também é uma função chave em outras enzimas envolvidas no transporte de oxigênio e no processo oxidativo, 98 • Sebastião Luiz de Almeida Filho incluindo a catalase, as peroxidases, as enzimas lavoproteínas e os citocromos. Por outro lado, o ferro é uma parte da mioglobina que transporta oxigênio nos músculos. Esse elemento compõe aproximadamente 5% da crosta terrestre, mas o teor no organismo do gado é somente de 50-60 ppm na base da matéria fresca (ARC, 1965). O nível de ferro no leite é muito baixo e não muda com o aumento de ferro na dieta (Underwood, 1977). 4.1.9. Manganês Em geral, os sinais de de iciência de manganês incluem crescimento reduzido, anormalidade no esqueleto e queda na atividade reprodutiva (Underwood, 1977). Estes sinais indicam a interrupção da função do manganês, que inclui a ativação de um número de enzimas, como as hidrolases, as quinases e as transferases. O manganês é encontrado em baixa concentração em todos os tecidos, apesar de os órgãos glandulares, como o ígado, o pâncreas e a hipó ise, terem maiores concentrações (Underwood, 1977). O teor desse elemento nos alimentos é muito variável e é in luenciado pelo tipo de solo, pelo pH do solo, pela fertilização e também pela espécie de planta. Em geral, forragens contêm níveis de manganês mais altos que grãos, como milho, aveia e cevada (Hidiroglou, 1979). Os requerimentos de manganês são aumentados pela maior concentração na dieta de cálcio e fósforo (Lassiter, 1972). No entanto, a exata inter-relação entre estes elementos não tem sido determinada. A maioria dos solos contém, comparativamente, altos níveis de manganês. Em contraste, o organismo animal tem um teor de manganês muito baixo, sendo que a média é de 0,3 ppm em um animal de leite, quantidade distribuída no fígado, nos ossos, na hipó ise, no pâncreas, rins e músculos. No animal, o manganês é combinado com outros compostos, especialmente, com proteínas em tecidos moles. Minerais para ruminantes • 99 O leite tem em torno 0,03 ppm de manganês, que é menos que 1% do nível de zinco. Essa quantidade pode ser aumentada em quatro vezes pela alimentação com grandes quantidades de manganês (Underwood, 1971). Apesar de extremamente variável, a maioria dos alimentos para o gado tem altos teores de manganês (Adams, 1975). O milho tem baixo teor de manganês, em torno 5ppm, já a cevada possui cerca de 15 ppm. O alto teor manganês nos alimentos e a baixa quantidade média no tecido corporal são alcançados, no gado de leite, pela baixa absorção, entre 3% e 4%, sendo típica e muito rápida a excreção endógena de qualquer excesso absorvido, excreção essa ocorrida por meio das fezes. A concentração de manganês nos tecidos é completamente regulada. O manganês é o único elemento que possui rápida excreção endógena fecal, que é a maior rota de homeostasia para regulação do manganês no organismo. Mudanças na absorção também são um importante fator, como já visto, mas são elementos extremamente dinâmicos. Absorção, turnover no tecido e reexcreção de manganês procedem de uma maneira muito rápida. O manganês é essencial para o funcionamento de vários sistemas enzimáticos. É comum que estes sejam complexos enzima – metal, em que a associação entre a enzima e o manganês é completamente livre, em contraste com o comportamento de alguns outros microelementos. Geralmente, os sintomas severos de de iciência desse elemento incluem crescimento reduzido, anormalidades dos ossos e esqueleto, distúrbios de reprodução e bezerros nascidos anormais (Underwood, 1977). Na Universidade do Estado Washington, todos os bezerros nascidos de vacas, as quais receberam 16-17 ppm de manganês por 12 meses, nasceram deformados (Rojas et al., 1965). A anormalidade inclui, caracteristicamente, juntas largas, ossos que quebram facilmente e fraqueza geral. Esse nível de 16-17 ppm afeta a taxa de crescimento e é possível que a produção de leite também seja prejudicada seriamente. Com rações com baixo nível de 100 • Sebastião Luiz de Almeida Filho manganês, vacas e novilhas tornam-se lentas na exibição do estro e é provável que tenham cio silencioso, além da concepção também ser reduzida. O mínimo requerimento na dieta é 40 de ppm na matéria seca da ração (NRC, 1978). 4.1.10. Molibdênio O molibdênio é um componente indispensável da enzima xantina oxidase, a qual é encontrada no leite e distribuída largamente no tecido animal. Consequentemente, o molibdênio é reconhecido como um elemento essencial para a saúde animal. Ainda que uma de iciência nunca tenha sido desenvolvida ou observada no gado, a informação que é disponível sobre outras espécies sugere que o requerimento de molibdênio para gado de leite é baixo, e uma de iciência, provavelmente, não ocorrerá sobre condições práticas. O molibdênio é encontrado em baixas concentrações em todas as células do organismo e do luído. A concentração de molibdênio no leite, de 18 a 120g/l, é extremamente in luenciada pela ingestão da quantidade de molibdênio na dieta (Underwood 1977). O gado de leite é menos tolerante que outras categorias animais ao alto nível de molibdênio. A toxidez de molibdênio é um importante problema prático em gado em pastos de várias áreas do mundo (Underwood, 1977). Solos de pH alto aumentam a disponibilidade de molibdênio para plantas, enquanto diminuem a captação do cobre. O molibdênio e o cobre são antagonistas um do outro, no metabolismo do organismo animal (Ward, 1978). O elevado teor de molibdênio na dieta aumenta o requerimento de cobre dos animais e, também, a quantidade deste mineral que causará toxidez. Assim, o aumento de cobre na dieta pode reduzir o efeito tóxico de molibdênio, e o aumento de molibdênio diminui o efeito tóxico do cobre. Minerais para ruminantes • 101 Ademais, o maior sinal de toxidez de molibdênio em gado é o mesmo sinal de de iciência de cobre, com diarreia, sendo especialmente manifestada sob condições de severa molibdenose (Lesperance et al., 1985). Um animal exposto por muito tempo a uma dieta com alto teor de molibdênio pode interferir no metabolismo de fósforo, o que pode resultar em laminite, anormalidade nas juntas e osteoporose. Altos níveis de molibdênio e enxofre, por sua vez, interferem na absorção do cobre. O efeito adverso do molibdênio e do enxofre sobre a absorção do cobre pode resultar na formação do insolúvel tiomolibdato no trato digestivo (Gawthorme et aI.,1985). Esses dois elementos também in luenciam o metabolismo do cobre, aumentando a sua perda urinária (Marcilese et aI., 1970). A de iciência de cobre parece ser o maior problema prático relacionado a esse elemento. Em contraste, um conhecido problema prático com molibdênio para gado leite é a toxidez. Inicialmente, o cobre foi mostrado ser essencial para formação da hemoglobina nas células vermelhas e, além do mais, necessário para prevenir anemia (Underwood, 1977). Uma pesquisa posterior demonstrou que o cobre é crucial no processo de pigmentação dos pelos, formação dos ossos, síntese de mioglobina, reprodução, função normal do coração e formação do tecido conectivo (Underwood, 1977). No nível celular, o cobre é um elemento altamente versátil. Ele é essencial em numerosas enzimas oxidativas, incluindo tiroxinase, uricase, citocromo oxidase e lisil oxidase (Underwood, 1977). Em certas partes da Inglaterra, a suplementação de cobre aumentou a taxa de crescimento de 10 – 70% em animais jovens (Thornton et aI., 1972). Uma extrema de iciência de cobre pode causar diarreia severa, seguida de rápida perda de peso, estagnação do crescimento e mudanças na cor da capa do pelo, além de ossos fracos, os quais podem resultar em fraturas múltiplas das costelas e do fêmur, retenção de placenta, nascimento com raquitismo congênito e anemia. Geralmente, a maior parte da de iciência do cobre ocorre 102 • Sebastião Luiz de Almeida Filho em animais no pastejo, especialmente, novilhas. Como no caso do ferro, o gado é capaz de estocar grandes reservas de cobre no ígado. O leite de vaca é completamente baixo em cobre, mas, se a ingestão de cobre é adequada no gado de leite, o bezerro terá um substancial estoque de cobre no ígado, entre 400 a 500 ppm. O nível de 10ppm de cobre, na matéria seca do alimento, é estimado ser o requerimento mínimo (NRC, 1978), e mais que 10 ppm podem ser necessários se as pastagens contêm altas concentrações de molibdênio ou outras substâncias interferentes (Hartmans, 1974). O incremento para 93 ppm de cobre na matéria seca da dieta, aumenta o teor de cobre do leite, mas não afeta a estabilidade oxidativa do leite (Dunkley et aI., 1968). O aumento do pH do solo diminui a absorção do cobre pelas plantas. No organismo animal, o molibdênio e o cobre são antagonistas um do outro. Altos níveis de molibdênio interferem no metabolismo de cobre. 4.1.11. Selênio Apesar da longa história do selênio como elemento tóxico, ele tem sido empregado para prevenir a doença do músculo branco em ruminantes jovens (Muth et aI., 1958), além de ter sido identi icado como um componente da enzima glutationa peroxidase por Rotruck et aI., (1973). Em virtude de sua propriedade antioxidante, essa enzima ajuda na prevenção de danos na membrana celular. As deficiências de selênio são de ocorrência mais provável quando as plantas estão crescendo em solos ácidos. O duodeno é o local primário de absorção selênio. Em torno de 40% do selênio administrado oralmente é absorvido pelo gado (Harrison e Conrad, 1984a), mas o grau de absorção pode ser influenciado pela forma do elemento, a quantidade em que foi ingerido e outros fatores da dieta. Cálcio, arsênio, cobalto e enxofre podem também diminuir a absorção de selênio de 50% ou mais (Harrison e Conrad, 1984). Minerais para ruminantes • 103 O maior sinal da de iciência é a doença do músculo branco, degeneração e necrose do músculo cardíaco. Em vacas alimentadas com dietas com níveis inadequados de selênio, se for incluído este na suplementação diminuiu-se a incidência de retenção de placenta (Jullen et al., 1976; Harrison et al. 1984) encontraram diminuição na retenção de placenta quando VITE e selênio foram administrados. O requerimento de selênio para o ruminante é de, aproximadamente, 0,1 ppm a 0,3 ppm, dependendo da forma química do selênio e do nível de fatores que interagem na dieta, incluindo VIT-E, enxofre, lipídios, proteínas e aminoácidos e vários micronutrientes (Ammerman e Miller, 1975). O nível máximo na dieta para ser seguro, é em torno 3 ppm a 5 ppm. Naturalmente, o selênio orgânico das plantas é muito mais tóxico que o selênio inorgânico usado em alimentos suplementados. O selênio é essencial para certas funções no organismo, como crescimento, reprodução, prevenção de várias doenças e proteção da integridade dos músculos. Ele é um componente essencial da enzima glutationa peroxidase (Rotruck et aI. 1973). Entre outras funções, esta enzima ajuda na proteção celular das membranas celulares de danos oxidação (Hoekstra, 1975). Provavelmente, ela está envolvida em outros importantes sistemas enzimáticos, funções bioquímicas e muitos processos metabólicos (Allaway, 1974). Em condições de de iciência subclínica de selênio, a performance pode ser reduzida com menores ganhos e menor e iciência reprodutiva, aumentando os serviços necessários para a concepção, podendo ocorrer o nascimento pré-maturo, a fraqueza e a morte de bezerros (Andrews et al., 1968). A incidência de retenção de placenta também pode ser elevada com a de iciência marginal (Conrad et aI., 1976). A presença da doença de músculo branco é evidência de de iciência severa. A diminuição do teor selênio de certos tecidos, dos quais os rins e ígado são os melhores indicadores, é um sinal da de iciência (Ammerman e Miller, 1975). Como exemplo, o teor de selênio em animais apresentando a doença do músculo branco 104 • Sebastião Luiz de Almeida Filho foi 0,035 ppm e 0,36 ppm para o fígado e rins, respectivamente (Andrews et aI.,1968), sendo os valores normais 0,1 ppm e 1.0 ppm no córtex do ígado e rins de carneiros (Underwood, 1971). As enzimas do soro sanguíneo oxalacético transaminase e lático desidrogenase aumentam com a de iciência severa de selênio e não têm medidas sensíveis para a de iciência marginal. Outro indicador de de iciência de selênio são as respostas do animal para a suplementação de selênio e em certas mudanças eletrocardiográ icas observadas na de iciência subclínica (Ammerman e Miller, 1975). Quando o gado consome plantas que têm quantidades extremamente altas, entre 400 ppm e 800ppm de selênio, uma severa toxidez do selênio pode ocorrer, a qual possui como sintomas: cabeça baixa e orelhas caídas, temperaturas elevadas, respiração di ícil, pulso fraco e sangramento espumando pela boca e nariz, diarreia aquosa e cegueira (NRC, 1971). O animal ica muito letárgico e torna-se prostrado antes de morrer, usualmente, por falha respiratória. A administração acidental de quantidades excessivas de selênio pode produzir efeito igual a LD50, sendo que, para toxidez aguda de selênio, a dose é em torno 23mg/100lb peso vivo (Shortridge et al., 1971). Sintomas de toxidez crônica de selênio, os quais ocorrem quando o gado consome plantas com níveis altos de selênio, entre 5 ppm e 20 ppm, por períodos prolongados, incluem perda de vitalidade, cascos alongados, perda peso progressiva, laminite, atro ia e cirrose do ígado, degeneração dos rins e degeneração e necrose do miocárdio, que é um músculo cardíaco. Com a toxidez crônica de selênio, os cascos e os pelos, bem como alguns tecidos, como os rins, contêm alta concentração de selênio. Aparentemente, a maioria da absorção de selênio ocorre na parte baixa do intestino delgado. Esse elemento, como ocorre com muitos microelementos, liga-se com compostos orgânicos, especialmente, a proteína. O selênio pode substituir o enxofre no aminoácido cistina ou metionina que se torna selenocistina Minerais para ruminantes • 105 ou selenometionina. Quanto à sua excreção, ela ocorre por meio das fezes, da urina e da respiração. Usualmente, uma substancial parte de selênio da dieta selênio não é absorvida, mas sim eliminada nas fezes. Ademais, a maioria da excreção endógena de selênio em ruminantes dá-se por intermédio da urina (Lopes et aI., 1969). O metabolismo do selênio é bastante complexo, e isso ocorre, parcialmente, em virtude das diferenças nos estados de valência, sendo quatro estados ao todo. Outros elementos, como o manganês e o ferro, têm mais de uma valência, o que resulta diferentes tipos de reações possíveis, bem como de interações com grande número de nutrientes e substâncias. O teor de selênio do leite varia apreciavelmente, com valores entre 0,003 ppm e 0,067 ppm (Ammerman e Miller, 1977). A baixa concentração está associada ao baixo consumo desse elemento na dieta. Em um estudo, feito por Waite et al. (1975), 1,5% do selênio radioativo absorvido foi encontrado no leite. Uma considerável porção do selênio no leite, provavelmente entre 60% e 75%, ocorre na fração proteica (Hogue, 1970). Uma das mais importantes e mais conhecidas interações do selênio é entre ele e a VIT-E. Apesar não haver uma substituição completa, altos níveis de vitamina E reduzem o requerimento de selênio, e o contrário também ocorre. É provável que o gado, recebendo pastagens tenras e suculentas e forragens jovens contendo alto teor VIT-E (tocoferol), possuirá baixo requerimento de selênio (Allaway, 1974). Outros nutrientes interagem com o selênio, como o enxofre, as proteínas, os sulfurados, e outros elementos, como o arsênio, o mercúrio e o cádmio (NRC, 1978). Recentes pesquisas indicam a possibilidade de dietas adequadas em selênio reduzirem a incidência de câncer (Underwood, 1977), enquanto algumas das interações são completamente complexas. Geralmente, altos níveis de enxofre, proteína ou arsênico diminuem a toxidez 106 • Sebastião Luiz de Almeida Filho de selênio (NRC, 1971). Sempre que há altas concentrações de selênio no alimento do gado leite, somente os rins e fígado acumulam mais que 3 ppm ou 4 ppm. Portanto, sempre que é alimentado em níveis tóxicos, o leite parece não oferecer perigo para humanos. A concentração de selênio no tecido e glutationa peroxidase pode ser usada como indicador do nível de selênio no organismo (Underwood, 1977). O selênio está envolvido em dezenas de reações orgânicas, dentre as quais se destaca o funcionamento da glutationa peroxidase, responsável pela destruição de hidroperóxidos, antes que haja agressão da integridade das membranas, por causa da intensa oxidação (Rowntree, et al., 2004). Portanto, o selênio atua sobre a integridade das membranas e proteção oxidativa dos tecidos. Ademais, esse elemento também participa dos hormônios da tireoide, potencializam a resposta imunológica, interferem na locomoção do espermatozoide, no metabolismo de ácidos graxos, DNA e RNA (Santos e Amstalden, 1998; Underwood; Suttle, 1999). Selênio e vitamina E apresenta uma forte relação de sinergismo, diminuindo as exigências de vitamina E na membrana celular e aumentando a retenção no plasma sanguíneo. A vitamina E, por sua vez, mantém o selênio na forma corporal ativa, diminuindo a sua perda e prevenindo a oxidação de fosfolipídio de membrana (Mcdowell, 1992; Galyen et al., 1999). O selênio também exerce ação antagônica ao enxofre (Henry; Miles, 2000), podendo substituí-lo em aminoácidos sulfurados e, então, ser incorporado a esqueletos proteicos (produção de selênio-aminoácidos, substituição do grupo sul idril em sistemas enzimáticos e produção de substâncias tóxicas). O NRC (1980) indicou que o nível máximo de selênio tolerado em gado de leite é de 2 ppm. Quando há ocorrência natural do selênio orgânico em plantas, ele é, aparentemente, absorvido de maneira mais rápida e também é mais tóxico que na forma inorgânica. Minerais para ruminantes • 107 4.1.12. Zinco O zinco funciona, muitas vezes, associado a sistemas enzimáticos, incluindo as metaloenzimas e os complexos metal enzimas (Miller, 1970). Como ativador ou constituinte de mais de 30 diferentes enzimas, envolvidas no metabolismo de ácido nucléico, proporciona a síntese de proteína e o metabolismo de carboidrato (Underwood, 1977), além de participar de muitas outras reações bioquímicas no organismo. A concentração de zinco é em torno de 20 ppm na matéria fresca do tecido, sendo maior do que em qualquer microelemento. Em contraste com muitos microelementos, o zinco é distribuído de maneira igual entre tecidos e órgãos. Apesar de alguns tecidos terem mais zinco que outros, as diferenças relativas são muito menores que a maioria dos microelementos (Miller, 1979). A absorção ocorre, principalmente, no abomaso e no intestino delgado, o itato não altera a disponibilidade de zinco em ruminantes, como se observa em não ruminantes. A de iciência de zinco em bezerros limita o ganho de peso, diminui o consumo de alimento e a e iciência alimentar, a qual reduz o crescimento testicular. Há ainda a paraqueratose na pele que, geralmente, é mais severa nas pernas, no pescoço, na cabeça e em torno das narinas, havendo perda de cabelo e debilidade geral, letargia, aumento da suscetibilidade para infecção, ranger de dentes e salivação excessiva (Kirechgessnev; Shwarz, 1975). Deve-se ressaltar também que vacas em lactação que foram alimentadas com 6 ppm de zinco desenvolveram sinais clínicos de de iciência, comparável a bezerros (Shwarz; Kirechgessnev ,1975). Pesquisas com carneiros têm, inclusive, indicado que o requerimento de zinco é maior para a reprodução que para o crescimento, sendo a quantidade de 17,4 ppm adequada para o crescimento. Além disso, com a administração de 32,4 ppm, houve melhora no crescimento testicular e na produção de esperma. (Underwood; Sommers, 1969). Contudo, em vários experimentos, 108 • Sebastião Luiz de Almeida Filho a adição suplementar de zinco em dietas que continham entre 18 ppm e 29 ppm desse elemento não melhorou o desempenho de bezerros ou de gado con inado (Zurcher, 1970). Em bezerros, a de iciência de zinco pode ser produzida dentro de três semanas. Ruminantes que são alimentados com dietas de icientes em zinco mostram um rápido e grande aumento na porcentagem de zinco que absorvem, tendo redução desse elemento nas perdas fecais. Geralmente, o leite contém em torno de 4 ppm de zinco. Este teor pode ser dobrado em níveis altos, porém não tóxicos de zinco na dieta (Neathery et al., 1973). O teor de zinco nos tecidos decresce brutalmente, quando há de iciência de zinco na dieta (Miller, 1969). O nível máximo tolerável de zinco é de 900 ppm ou 1000 ppm (NRC 1980). O grau para que a de iciência marginal possa ocorrer em gado de leite, em sistema de alimentação, não tem sido claramente estabelecido. Uma razão disso é a ausência de medida bioquímica efetiva para determinar uma de iciência marginal (Miller; Stake, 1974 ab). Quando o zinco é inadequado, observam-se efeitos como uma pequena redução na ingestão do alimento, taxa crescimento, resistência à infecção e, possivelmente, diminuição da e iciência reprodutiva (Miller, 1970). Em condições experimentais, muitas mudanças bioquímicas têm sido observadas em de iciências severas (Miller; Stake, 1974b). No entanto, nenhuma boa medida bioquímica para diagnosticar a de iciência sobre as condições de campo tem sido desenvolvida. Todas, com alguma promessa, incluem zinco no plasma, no cabelo, nos ossos e fosfatas e alcalina no plasma e outros tecidos (Kirchgessner; Schwarz, 1975). Estas medidas têm considerável variabilidade individual e são afetadas por outros fatores, além do nível zinco. Quando o gado é alimentado com dietas de níveis baixos de zinco, a porcentagem desse elemento na dieta absorvida aumenta com valores tão altos quanto 80%. No entanto, com dietas com níveis altos de zinco, há redução no teor absorvido para valores Minerais para ruminantes • 109 menores 10%. Um animal de crescimento rápido ou outro com alta produção de leite absorve mais zinco, que aqueles de menor necessidade. Isto explica a diminuição da absorção usualmente observada em animais velhos (Miller, 1975). Ademais, a diminuição na excreção endógena de zinco contribui para homeostasia em gado. Também, com dietas de níveis baixos de zinco, os níveis de zinco nos tecidos, incluindo ígado e rins, declinaram para menores teores. Em bezerros, dietas com altos teores desse elemento resultaram em grande crescimento no teor de zinco dos tecidos, incluindo o ígado, o pâncreas e os rins (Miller et al., 1970). A média é de 4 ppm no leite na base fresca, mas há diferenças entre vacas. Com dietas ricas em zinco a concentração no leite dobra, mas, depois de 700 ppm, há um platô. Além disto, há pouco aumento no teor de zinco no leite. Quando as vacas são alimentadas com um nível baixo de zinco na dieta, como 17ppm, sendo que o controle é de 40ppm, o teor de zinco diminui em torno 25%. Se a dieta for de iciente em zinco, com 6 ppm, por exemplo, a sua redução no leite é maior (Kirchgessner; Schwarz, 1975). A maioria do zinco no leite associa-se com a proteína, especialmente, a caseína, e muito pouco com a gordura (Parkash; Enness, 1967). A estimativa de requerimento de zinco para o gado de leite é em torno 40 ppm na matéria seca da dieta (NRC, 1978). O nível seguro máximo de zinco para gado leite é muito maior que o mínimo requerido, com vacas de leite em lactação, a dose é de 1279 ppm na matéria seca, não se reduz desempenho (Miller et al., 1965a). Em animais em crescimento, 500 ppm não afetaram adversamente o desempenho, mas, em um experimento com 900 ppm de zinco, houve diminuição do ganho de peso e da e iciência alimentar (Ott et aI., 1966). Diarreia, inércia e paralisia podem resultar do excesso de ingestão de zinco. O zinco e o cobre são os dois micronutrientes mais envolvidos em funções no organismo animal. Estima-se que o primeiro seja essencial em mais de duzentos sistemas enzimáticos no organismo 110 • Sebastião Luiz de Almeida Filho de um animal superior (Cousins; Hempe, 1990). Ademais, o zinco é essencial na transformação de retinol em vitamina A e na mobilização desta no ígado. De um modo geral, a ação da vitamina A dependente de níveis adequados de zinco na dieta, o que nem sempre acontece nas condições tropicais. Macdowell et al. (1983), em levantamento de teores de minerais nas forragens da América Latina, concluíram que o zinco estava ausente parcial ou totalmente em 75% das amostras analisadas e confrontadas com as exigências nutricionais de bovinos de corte. O zinco também participa do metabolismo de ácidos graxos, integridade das membranas das hemácias, síntese de DNA, metabolismo de proteína, regulação do apetite, integridade do epitélio e olhos, reprodução e crescimento. Ele está envolvido no sistema imunológico do animal em crescimento fetal e na manutenção da gravidez em condições normais. Altas doses de cálcio reduzem a absorção de zinco, o que também pode ocorrer com o cobre, o cádmio e itatos (Underwood; Suttle, 1999). 4.1.13. Cromo O papel do cromo na nutrição animal foi revisto pelo National Research Council – NRC, em 1997, já que vários estudos com bovinos demonstraram a importância do elemento em situação de estresse emocional, ísico e metabólico, resultando na intensi icação da produção, a qual propiciaria maior susceptibilidade a doenças e a alterações metabólicas. A ação do cromo é basicamente de potencializador da insulina e a sua ausência provoca alterações no metabolismo dos carboidratos, aminoácidos e lipídios em ação semelhante ao diabetes, ocorrendo ainda um efeito supressor no sistema imunológico (Burton, 1995). Em termos práticos, o cromo desempenharia a ação positiva em situações de estresse, tais como marchas, longas jornadas, desmame, castração, etc. Minerais para ruminantes • 111 4.1.14. Flúor Pesquisas com animais de laboratório sugerem que o lúor (F) é um alimento essencial para os animais ruminantes. Entretanto, a sua de iciência nunca foi produzida ou observada em gado de leite. O lúor é absorvido prontamente pelo rúmen e pelo intestino delgado dos ruminantes, promovendo a proteção óssea e dentária. TABELA 05 – Requerimentos de Minerais para Gado de Leite 2001. Nutrientes para Gado de Leitea. Minerais Vacas secas prenhesb Vacas em lactaçãob Prenhes em dias Produção de leite–Kg/dia Unidade 240 270 279 25 54 Cálcio % 0,44 0,45 0,48 0,62 0,60 Fósforo % 0,22 0,23 0,26 0,32 0,38 Magnésio % 0,11 0,12 0,16 0,18 0,21 Cloro % 0,13 0,15 0,20 0,24 0,29 Potássio % 0,51 0,52 0,62 1,00 1,07 Sódio % 0,10 0,10 0,14 0,22 0,22 Enxofre % 0,20 0,20 0,20 0,20 0,20 Cobalto mg/kg 0,11 0,11 0,11 0,11 0,11 Cobre mg/kg 12 13 18 11 11 Iodo mg/kg 0,4 0,4 0,5 0,6 0,4 Ferro mg/kg 13 13 18 12 18 Manganês mg/kg 16 18 24 14 13 Selênio mg/kg 0,3 0,3 0,3 0,3 0,3 Zinco mg/kg 21 22 30 43 55 a – Fonte: NRC (2001) b – Vacas holandesas adultas com peso de 680 Kg. 112 • Sebastião Luiz de Almeida Filho Capítulo V 5.1. Minerais orgânicos Na avaliação dos alimentos e suplementos nutritivos devese considerar a concentração e a biodisponibilidade do elemento. Essa biodisponibilidade diz respeito às formas como os minerais podem ser absorvidos no intestino e usados pelas células e tecidos animais (Underwood, 1981). A presença do mineral na planta forrageira, usada como alimento, não garante a absorção dele, pelo organismo animal. Os fatores que afetam a maneira como os nutrientes são utilizados pelos animais são o clima, tipo de solo, a espécie forrageira, manejo, a composição química das plantas forrageiras, além de fatores inerentes ao animal, como a idade, o pH dos conteúdos nos compartimentos do trato digestivo, a presença em excesso ou ausência de alguns minerais (sinergismo/antagonismo), além do conteúdo de nutrientes orgânicos (proteínas, carboidratos, vitaminas, aspectos sanitários). Os minerais envolvidos em vários processos metabólicos têm maior facilidade de se inter-relacionarem do que aqueles envolvidos em uma simples ou única função (Suttle, 1975). Entre eles, destacam-se o cobre, o ferro, o zinco e o selênio por serem íons polivalentes. 113 5.1.1. Formação de compostos orgânicos sintéticos quelatos Estudos com minerais orgânicos ou quelatos têm sido desenvolvidos com a inalidade de garantir a absorção do mineral no trato intestinal, sem entrar no processo de competição iônica (pressão iônica da mucosa intestinal), normalmente determinada pela presença de maior concentração dos íons minerais. São denominados quelatos os compostos formados por íons metálicos sequestrados por aminoácidos, peptídeos ou complexos polissacarídeos que proporcionam a esses íons alta disponibilidade biológica, alta estabilidade e solubilidade. A palavra “quelatos” vem do grego chele que signi ica garra, um termo adequado para descrever a maneira pela qual os íons metálicos polivalentes são ligados aos compostos orgânicos ou sintéticos (Mellor,1964). Para a formação dos quelatos, pode-se lançar mão de numerosas moléculas como ligantes, as quais têm função especí ica no metabolismo. Elas são de baixo peso molecular e a capacidade oxidativa ou ligante depende do tamanho da molécula e dos radicais carboxílicos. As principais moléculas são os ácidos aminados, ascórbico, cítrico, glucônico e etilenodiaminotetracético (EDTA). Normalmente, um cátion polivalente (mineral) pode fazer a ligação com uma, duas ou várias dessas moléculas, para formar um “composto” organicamente ligado ou quelato, podendo assim ser vendido como fonte mineral. A “Association of American Feed Control Of icials – AAFCO” (1997) de ine esses produtos orgânicos da seguinte forma: • • Complexo aminoácido-metal é um produto resultante da complexação de um sal metálico solúvel com aminoácidos. Metal proteinato é o produto resultante da quelação de um sal solúvel com uma proteína parcialmente hidrolisada. 114 • Sebastião Luiz de Almeida Filho • Complexo metal-polissacarídeo é o produto resultante da complexação de um sal solúvel com um polissacarídeo. Em geral, elementos minerais quelatos mostraram biodisponibilidade maior ou igual àqueles na forma de sulfato ou óxido (Ammerman; Henry, 1994). Para a utilização mais efetiva desse produto, são necessárias mais informações a respeito de sua composição, absorção e metabolismo no tecido que de ine sua disponibilidade biológica. 5.1.2. Biodisponibilidade dos quelatos O termo “Disponibilidade biológica” pode ser considerado como a medida da habilidade de um suplemento em sustentar os processos biológicos nos animais (McGilliray, 1978). A biodisponibilidade de um nutriente é um termo relativo, sempre se referindo ao valor de outro produto usado como padrão (Rosa, 1985). Trabalhos de Fox et al. (1981) e Dell (1984) enfatizaram estudos da utilização de nutrientes dentro do processo metabólico normal do animal. Contudo, estudos recentes têm desenvolvido compostos orgânicos semelhantes àquelas moléculas transportadoras de organismo animal (metalotioneina, ferritina, cerulosplamina e outros) de maneira a garantir sua e iciência em suprir de iciências. Assim, a disponibilidade biológica do metal na forma quelatada é dependente de três condições básicas na estrutura do composto: • Da forma de ligação com o metal nos quelatos formados com dois ou três aminoácidos, em que o íon metálico ica inerte na molécula, entrando com facilidade nas vias metabólicas, pois assume a característica da molécula orgânica. Minerais para ruminantes • 115 • • Do peso molecular da forma quelatada. O baixo peso molecular é a chave para a absorção como uma molécula intacta. Se o peso molecular de um quelato for maior do que 880 dáltons, certamente sofrerá prévia hidrólise na luz do trato digestivo e absorção pela mucosa não será garantida (Aafco, 1997). Da constante de estabilização do quelato. Ele deve ser constituído de dois ou três anéis de aminoácidos quelantes, para que estes sejam estáveis. Se a constante de estabilização dos aminoácidos é grande, eles irão resistir à ação de peptidases internas, liberando o átomo de metal na molécula (Ashmead, 1993). 5.1.3. Absorção dos quelatos Trabalhos in vivo têm demonstrado que minerais sob a forma de sais inorgânicos são geralmente ionizados no estômago e absorvidos no duodeno, onde o pH ácido determina a solubilidade. Desta forma, são ligados às proteínas e incorporados pela membrana das células da mucosa intestinal (Ashmead, 1993). O transporte para o interior das células dá-se pela difusão passiva ou pelo transporte ativo. Nessas condições é que podem ocorrer perdas pela reação com compostos, como colóides insolúveis (Herrick, 1993), ou processo de competição pelos sítios de absorção entre elementos minerais, que são interações antagônicas que inibem a absorção. No caso de aminoácidos quelatados, o elemento mineral metálico na molécula é quimicamente inerte, por causa da forma de ligação. Então não é afetado pelos diferentes ânions, como os íons metálicos livres. Os minerais quelatados são absorvidos no jejuno, atravessam as células da mucosa e passam diretamente para o plasma. A separação do aminoácido quelante dá-se no local em que o elemento mineral metálico é utilizado (Ashmead, 1993). 116 • Sebastião Luiz de Almeida Filho 5.1.3.1. Resposta à utilização de minerais quelatados Alguns estudos evidenciam uma resposta positiva de quelatos quando comparados com fontes inorgânicas (McDowell, 1996). Sperars, citado por McDowell (1996), concluiu em seus estudos que certos complexos orgânicos na dieta de ruminantes aumentam o desempenho (crescimento e produção de leite), a qualidade de carcaça e resposta imune e decresce a contagem de células epiteliais no leite comparado aos animais suplementados com as formas inorgânicas. Nos casos em que existem altas concentrações dietéticas de minerais, como o molibdênio (Mo), formas orgânicas de cobre (Cu) seriam vantajosas. Desta maneira, pode-se evitar, por exemplo, a formação de complexo tiomolibdato de cobre (Cu-Mo-S) no sistema digestivo (Nelson, citado por McDowell, 1996). 5.1.3.2. Zinco – Metionina Spears (1989) não encontrou nenhuma diferença no crescimento de novilhos recebendo óxido de zinco (ZnO) e o quelato de zinco com metionina, embora houvesse tendência de uma melhor resposta nesse tratamento. Analisando os resultados, o autor observou que, nas condições experimentais, tanto o zinco presente sob a forma de óxido como o quelatado foram absorvidos em um grau semelhante. Após a absorção, entretanto, eles parecem ter sido metabolizados de formas diferentes: houve uma tendência de menor excreção urinária e menor taxa de declínio no plasma do zinco nos animais suplementados na forma quelatada. O zinco e o cobre complexados com proteínas ou aminoácidos, tais como metionina ou lisina, tendem a ter vantagem com relação às suas formas inorgânicas quando são administrados a animais estressados. Minerais para ruminantes • 117 Por outro lado, o peso na desmama foi mais alto para bezerros suplementados com zinco – metionina em comparação com os resultados obtidos com o controle e com os animais que recebiam óxido de zinco (Spears; Kegley, 1991). Há uma tendência de imunomodulação em curso para combater a vasta quantidade de doenças, incluindo as incuráveis, como câncer, doenças autoimunes e condições in lamatórias. Fatores animados (moléculas de defesa) bem como os não animados (minerais), circundando-nos e interagindo com nosso sistema imune. Uma dieta balanceada deveria conter todos os componentes essenciais: proteínas, energia, vitaminas e minerais. Cada um destes constituintes tem um efeito especial sobre o sistema imune, começando o desenvolvimento do seu papel na imunidade nas células, frequentemente, as suas de iciências resultam em doenças (Mahima et al., 2013). Apesar de o cálcio ser o fator principal na febre do leite, o fator de in luência mais signi icante é a quantidade de magnésio na dieta. O nível das vitaminas e minerais no gado de leite não deveria ser considerado isolado dos outros antioxidantes ou do nível oxidativo. A adequação é a função desta interação, já que somente o aumento da concentração de uma simples vitamina ou mineral e o aumento pode também não ser a melhor opção. O manejo efetivo na transição requer uma passagem integrada para o manejo nutricional e ambiental, para evitar que as vacas tenham ruptura de rúmen, de iciência mineral, imunossupressão, desordem no metabolismo de lipídios e outras formas de estresse, como alimentos tóxicos e ruptura social. O esqueleto é um importante regulador do metabolismo de proteína e energia (Ian et al., 2013). A mastite não é somente a maior causa de perdas econômicas para a indústria de leite, mas também o maior problema em garantir a qualidade e segurança do leite, associado com a alta de células somáticas e de resíduos de antibióticos usados no tratamento. Um inovado acesso para proteção contra mastite é estimular o 118 • Sebastião Luiz de Almeida Filho mecanismo de defesa natural do animal. Avanços tecnológicos na pesquisa imunológica têm aumentado nossa habilidade para explorar a imunidade da glândula mamária durante períodos de alta susceptibilidade à doença. O elemento selênio afeta a inata e a adaptativa resposta imune da glândula mamária por meio da atividade celular e humoral. Pesquisas substanciais são feitas sobre o efeito do selênio na função imune da glândula mamária, o controle da mastite e a subsequente melhora da saúde do úbere. O aumento dos níveis de recomendações atuais e do selênio de levedura pode potencialmente ser usado para aumentar nossa capacidade de modular mecanismos isiológicos da glândula mamária bovina para responder às infecções (Salman, S. et. al. 2009). Em mamíferos, a espécie radical oxigênio (ROS) é um fator essencial da replicação celular, diferenciação e crescimento, notadamente durante a gestação, mas é também um agente de dano. Em mulheres, a ROS tem a função de remodelar o tecido uterino, implantar o embrião, estabelecer a vili e desenvolver os vasos sanguíneos característicos da gestação. O estoque, no corpo, de vitaminas e minerais de fêmeas em gestação usados é usado para manter os luxos de ROS no nível correspondente aos sinais oxidativos e para prevenir um desbalanço entre sua produção e o estresse oxidadativo, o que poderia ser prejudicial para mãe e para o feto. Há algumas evidências, baseadas em mecanismos regulatórios diferentes, de que a maioria dos efeitos de ROS relatados em humanos também ocorre em fêmeas ruminantes gestantes, alguns dos quais são relatados atualmente. Algumas vitaminas e elementos microminerais possuem o mesmo efeito no organismo de mamíferos. Eles estão envolvidos no controle de vias metabólicas e/ou “expressão gene”. Muitas vezes, eles também desempenham a atividade de “prender” o ROS. Em contrapartida, a de iciência desses elementos induz taxas altas de produção ROS. Desse modo, percebe-se que a de iciência induz desordens diferentes na gestação e pode acarretar diferentes tipos de estresse. Minerais para ruminantes • 119 Um exemplo é o correspondente decréscimo de cobalto em forragens, quando expostas à chuva pesada. Então, o suprimento de vitamina B12 para o organismo do ruminante em pastejo é reduzido e há falhas na gestação. Exposto ao ar livre, o ruminante em condições adversas pode aumentar o requerimento de vitaminas e microminerais. A adaptação de sistemas de produção leva em conta estas interações entre gestação e fontes de estresse ou mudança na qualidade de alimento bem como novos desenvolvimentos de conhecimento, para que seja possível promover práticas de agricultura sustentável (Bernard, A. et. al. 2006). A infertilidade em gado de leite é um problema complexo e multifatorial que não pode ser avaliado de maneira isolada. Claramente, há uma regra para prevenção de problemas no período de pré-parto período, em particular a hipocalcemia, mastite, laminite e retenção de placenta, as quais possuem um impacto negativo na subsequente fertilidade das vacas. Macrominerais, microminerais e vitaminas têm uma função vital na prevenção destas desordens. Os macrominerais estão envolvidos na posição ácido base de vacas leiteiras e in luenciam no metabolismo de cálcio. O uso de sal aniônico em combinação com cálcio e magnésio adequado, na suplementação, pode ajudar a melhorar a ingestão de matéria seca e reduzir o balanço negativo de energia no período pós-parto, bem como previne hipocalcemia. Vitamina E e zinco são efetivos na prevenção de mastite, a qual ocorre predominantemente nas primeiras semanas de lactação, por meio do aumento da função antioxidante e da queratinização do canal da teta, respectivamente. A laminite em gado leiteiro ocorre principalmente na lactação, embora a maioria das injúrias originais no casco das vacas ocorre antes do nascimento do bezerro. Zinco e biotina são responsáveis pela melhora da queratinização dos cascos e prevenção desta doença. Formas orgânicas de zinco são retidas melhor que fontes inorgânicas e podem prover grandes benefícios na prevenção de doenças. O zinco é o componente de algumas enzimas, como 120 • Sebastião Luiz de Almeida Filho superóxido dismutase, anidrase carbônica, álcool – desidrogenase, carboxipeptidase, fosfatase alcalina, DNA e RNA polimerases, com efeitos no metabolismo dos carboidratos, lipídios, proteínas e ácidos nucléicos (NRC, 2001). 5.1.3.3. Selênio de levedura A retenção de placenta pode ser reduzida pela prevenção de hipocalcemia e também pelo nível adequado de selênio no gado de leite. O selênio de levedura (orgânico) é conhecido por ter alta retenção nos tecidos e pode desempenhar a importante função de garantir selênio su iciente para as vacas, reduzindo doenças (Evans, A. et. al. 2006). O selênio está envolvido no sistema antioxidante do organismo por meio da enzima glutationa peroxidase (Gierus, 2007). Além disso, ele também está presente nos mais diversos processos metabólicos e bioquímicos no organismo animal (Dahlke et. al, 2005). A importância do selênio no organismo se dá por ser um componente das selenoproteínas, as quais apresentam importantes funções enzimáticas. As principais selenoproteínas são: enzimas glutationa peroxidase (GPx1 ou clássica, presente no citosol, GPx2 ou gastrointestinal, GPx3 ou extracelular, GPX4 ou fosfolipídio hidroperoxido expressas nos testículos), iodotironina deidinase (tI, tII, tIII), tireodoxina redutase, selenofosfato sintetase, selenoproteina P, seleno proteína W, seleno proteína epitelial prostática, seleno proteína espermática ligada ao DNA, 18K Da seleno proteína T. Dessa forma, o selênio funciona como um importante centro redutor, principalmente na neutralização de radicais livres (Sarmento, 2006). O termo “radical livre” refere-se ao átomo ou molécula altamente reativo, que contém numero ímpar de elétrons em sua última camada eletrônica. É este não emparelhamento de elétrons da última camada que confere alta reatividade a esses átomos ou moléculas. Todos os componentes celulares são susceptíveis à ação de radicais, porém a Minerais para ruminantes • 121 membrana é uma das mais atingidas em decorrência da peroxidação lipídica, a qual acarreta alterações na estrutura e permeabilidade das membranas celulares. Consequentemente, há perda da seletividade na troca iônica, liberação de conteúdo de organelas e formação de produtos citotóxicos, culminando com a morte celular (Ferreira; Matsubara, 1997). Rocha (2008) relatou que o animal possui sistema elaborado e complexo de defesa antioxidante para tratar ataques violentos dos radicais livres. Entretanto, cada vez mais há evidências sobre os bene ícios de adicionar antioxidantes, como o selênio e vitamina E, em dietas para dar suporte ao sistema de produção própria do organismo. As selênio proteínas antioxidantes (GPX1, GPX2, GPX3, GPX4) removem o peróxido de hidrogênio e os hidro peróxidos lipídicos e fosfolipídios, mantendo, assim, a integridade da membrana, modi icando a in lamação, a síntese de eucosanóides (prostaglandinas, tromboxanos e leucotrienos) e limitando a propagação de mais danos oxidativos. O selênio se caracteriza por uma versátil capacidade de oxirredução, sendo tal característica fundamental par sua atuação no centro ativo da enzima glutationa peroxidase, responsável pela eliminação de peróxidos (radicais livres) (Ortolani, 2002). Ele também constitui a enzima iodotironina de iodinase, que converte a tiroxina para sua forma ativa (MacDonald et al., 2002). Há remoção de peróxido de hidrogênio pela conversão de glutationa oxidada (GSH) em glutationa reduzida (GSSG). H2 O2+ 2GSH --- GSSG + 2H2O Ademais, o selênio é componente da enzima de iodinase tipo I responsável pela conversão de T4 em T3 que é a forma isiologicamente ativa, auxiliando na produção de hormônios da tireoide (MacDonald et al., 2002). Gonzalez; Silva (2003) relatam que o selênio e a vitamina E melhoram a imunocompetência demonstrada pelo aumento de imunoglobulinas. 122 • Sebastião Luiz de Almeida Filho 5.1.3.4. Cromo – Metionina O cromo é um mineral que é necessário em pequenas quantidades no metabolismo animal. Acredita-se que sua atuação seja no controle da tolerância dos animais à glicose. Seu efeito envolve o aumento da sensitividade das células à insulina. A de iciência de cromo, embora incomum, leva a quadros de intolerância à glicose, glicosuria, hiperinsulemia, hipercolestremia e hipertrigliceridemia em humanos. Hayirli, A. et al. (2001) conclui que o cromo em suplementação é bené ico à saúde e ao bem-estar de ruminantes durante períodos de estresse. A suplementação de cromo-metionina foi observada neste trabalho, e constatou-se que não houve efeito tóxico, sendo que elas foram mais bem absorvidas pelo animal na forma orgânicas. Já nas formas inorgânicas esses efeitos apresentaram-se contrário. A suplementação com cromo–metionina atenuou a sensitividade da insulina pré-parto e aumentou a tolerância à glicose pós-parto. Infelizmente, o gado não tem capacidade para, conscientemente, balancear sua própria dieta. Evidências na literatura cientí ica mostram que a maioria dos mamíferos exibem pouca sabedoria nutricional e que os animais selecionam uma dieta palatável de baixa qualidade em preferência a não palatável dieta nutritiva, levando, algumas vezes, à morte. Palatabilidade, consequências pós-digestivas e a demanda metabólica são fatores que controlam a quantidade e a frequência de consumo mineral pelo gado de corte (Olson, et. al. 2007). Minerais para ruminantes • 123 Referências ADAMS, R. S. 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Minerais para ruminantes • 137 Sobre o livro Formato 15 cm x 21 cm Tipologia Cambria Arial Papel Sul ite 75 g Bases práticas para produção de leite a pasto Edmundo Benedetti ISBN 978-85-7078-424-7 Leguminosas e sistema silvipastoril Edmundo Benedetti MINERAIS PARA RUMINANTES Água na alimentação de bovinos Edmundo Benedetti Esta obra contempla assuntos referentes ao metabolismo e o requerimento de minerais para o gado de leite. O conhecimento nesta área de nutrição animal contribuirá para um melhor desempenho na produção, evitando problemas causados por deficiências dos minerais, que comprometem o funcionamento do organismo animal. O texto traz ainda o histórico da descoberta dos minerais essenciais aos animais e destaca sua importância no metabolismo dos ruminantes, suas principais funções e inter-relações, deixando evidente a necessidade de suplementação mineral para a melhoria da produtividade. Sebastião Luiz de Almeida Filho Conheça outros livros sobre nutrição animal publicados pela Edufu: Sebastião Luiz de Almeida Filho MINERAIS PARA RUMINANTES Esta obra consegue unir informações do metabolismo dos minerais no interior do corpo dos ruminantes com informações das funções dos mesmos nas plantas forrageiras utilizadas na sua alimentação. É um contributo à construção de um conhecimento holístico do uso dos minerais na alimentação e nutrição, trazendo as particularidades de cada macro e micromineral, sua importância, problemas decorrentes de sua deficiência, exigências do ponto de vista nutricional, suas funções fisiológicas nos ruminantes e nas plantas forrageiras utilizadas em sua nutrição. Prof. Dr. Robson Carlos Antunes Faculdade de Medicina Veterinária - UFU