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Via@ - revista internacional interdisciplinar de turismo
Em memória de Rachid Amirou
Philippe Bachimon & Francisco Dias
Fazer o elogio de um cientista e amigo que faleceu
turismo, em particular o jogo, o poisio, as
obrigações durante as férias…
recentemente, não é nada simples, uma vez que, à
medida que escrevemos vamos tomando
consciência do seu contributo, bem como da perda
que a sua ausência representa para a comunidade
de investigadores do turismo. Propomo-nos então
reflectir um pouco sobre a pessoa, os seus eixos de
reflexão e, acima de tudo, a importância da sua
obra prematuramente interrompida, e cujo
contributo para o debate sobre o turismo perdurará
muito para além da sua morte.
Rachid Amirou nasceu em Janeiro de 1956 em Draa
Ben Khleda (Argélia) e faleceu a 9 de Janeiro de
2011 em Auxerre (France). Enquanto sociólogo do
turismo, publicou diversos livros e artigos sobre o
tema do imaginário turístico. Foi inicialmente
professor na Universidade de Montpellier, em
seguida na Universidade de Perpignan e,
finalmente, na Universidade de Paris V. Foi
presidente da Rede Interregional e InterUniversitária de Investigadores de Turismo (R2IT),
depois de ter sido um dos seus principais
impulsionadores, desde o final da década de 1990.
O seu trabalho começou a ser reconhecimento
internacionalmente após a publicação do livro
« Imaginaire du tourisme culturel » (Editions du
Seuil). O seu segundo livro, sobre o tema das
sociabilidades de viagem, embora menos
conhecido, é igualmente importante. Foi co-autor
de obras de referência como: « Le tourisme local.
Une culture de l'exotisme » e « Tourisme et souci
de l'autre »... No total, publicou cerca de cinquenta
artigos, alguns deles fundamentais. Rachid Amirou
amava apaixonadamente a sua atividade docente e
formou inúmeros doutores em Sociologia do
Turismo, quer na França quer no exterior, com
especial destaque para o seu envolvimento em
Portugal, onde deixou na orfandade uma escola de
investigadores de Turismo que lhe concede enorme
reconhecimento.
A sua concepção não pode ser resumida num
pequeno texto, tal é a riqueza das suas ideias e
intuições, que assumem múltiplas facetas.
Destacaremos aqui apenas um dos seus temas
favoritos, designadamente a noção de paraíso
turístico, e em seguida iremos referir alguns dos
temas que ele abordou no estudo deste fenómeno
paradoxalmente ainda pouco conhecido que é o
O paraíso, a ilha e o jogo
Começando por constatar que os humanistas, os
poetas e os escritores descrevem geralmente o
paraíso como sendo um lugar isento de
preocupações, Rachid Amirou dedica-se a
compreender a objectivação turística desse paraíso.
De facto, a metáfora do paraíso descreve um estado
de felicidade e de graça natural, cuja nostalgia foi
estudada por Mircea Eliade (1964), que a definiu
como uma tendência do sujeito se colocar no
centro do mundo, e um desejo de suprimir
naturalmente a condição humana. Para Rachid, a
genealogia do paraíso turístico gira em torno de
dois pilares. Uma sociedade laicizada cuja origem
remonta à Revolução Francesa (e que teve
Rousseau como percursor) e o imaginário do
paraíso como metáfora da felicidade e do bemestar. Ele estuda este fenómeno tendo como base o
marketing edénico que é utilizado como slogan e
tema de promoção turística. Analisando os
discursos e as diversas práticas dos atores turísticos
(instituições, profissionais, comunicação social…),
Rachid Amirou demonstra que o paraíso é um
invariante cultural simbólico que se materialisa
especificamente na ilha protetora. A ilha
paradisíaca, o santuário ecológico, a experiência
turística… em suma, esta insularidade edénica foi
descrita por ele como sendo primariamente um
estado de espírito, uma forma de plenitude ou de
omnipotência.
Para Amirou, o imaginário laico do paraíso
corresponde a um espaço mental inicial protector,
no sentido de maternal. É assim que ele analisa a
noção de charme, usada e abusada pela promoção
turística, como fazendo parte deste universo
cultural simbólico de um imaginário turístico
edénico, como um instrumento de valorização do
íntimo, da simplicidade, da nostalgia e da proxémia.
Corroborando a ideia de outros autores, Rachid
Amirou mostra que um elemento fundamental da
experiência turística do paraíso reside na atenção
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estabeleceu uma distinção entre o substantivo jogo
(play) e a forma verbal “playing” (actividade lúdica,
acto de jogar ou se divertir), considerando que o
jogo, apesar de ser geralmente constituído por
regras que devem ser escrupulosamente
respeitadas (o jogo é uma coisa séria, como dizia
Huizinga), faz parte do universo da imaginação. Para
Winnicot, o acto de jogar, fazendo parte da
sublimação das pulsões (conceito freudiano), é
primariamente um sinal de saúde e bem-estar. Esta
ideia, cuja paternidade Amirou atribui a Kant
(1979), é por ele aprofundada para mostrar que o
jogo ser de alívio aos constrangimentos, está isento
de qualquer intenção ou motivação pragmática, e
dá prazer na medida em que intensifica a sensação
de saúde. É por esta via que Rachid Amirou chega à
conclusão de que as sociabilidades lúdicas,
claramente observadas durante as férias, são
igualmente um indicador de bem-estar social (bem
como do desenvolvimento social e individual).
que é dada a uma sociedade perfeita. O paraíso
turístico é um paraíso relacional. Em «Le Paradis,
c’est les autres» (Heaven is other people) – artigo
assim maliciosamente intitulado para fazer
contraponto a Jean-Paul Sartre, que tinha afirmado
que o inferno são os outros –, Amirou contrapos a
ideia de que o inferno resulta de uma experiência
de isolamento social, e que encantamento
paradisíaco advém de uma sociabilidade
comunitária e do reconhecimento social. Esta
sociabilidade necessita de um espaço insular à
margem da vida quotidiana, que permita uma
experiência
subjectiva,
de
plenitude
e
omnipotência, com o seu quê de ilusório.
Considerando que a felicidade individual implica
invariavelmente o outro (o mito do Éden inclui a
natureza encantadora, idílica, mas também uma
união a posteriori com outrem: Robinson e SextaFeira, Adão e Eva), para se empreender uma
genealogia da experiência turística é necessário,
segundo ele, proceder a uma observação detalhada
da experiência infantil. É por isso que ele adopta
como chave conceptual a noção de «modo
intermediário de experiência» do psicanalista
Winnicott (1971).
Assim, para explicar a génese da experiência
turística, Amirou adoptou uma perspectiva
ontogenética que, apesar de permanecer em
estado embrionário, podemos qualificar de
“psicanálise positiva”, uma vez que coloca como
motor do desenvolvimento psíquico a ausência de
conflito (contrariamente à psicanálise freudiana
ortodoxa), a sociabilidade lúdica que se desenvolve
no ambiente maternal. Amirou (2008) parte do
pressuposto de que a primeira experiência de
plenitude e de felicidade consiste em viver de pele
nua, muito ligada à descoberta de uma sensação de
omnipotência e de plenitude, que surge na criança
após o nascimento, logo que a mãe lhe dá o seio em
resposta aos seus gritos, e depois quando lhe é
dado um objecto de substituição para afagar a sua
angústia (como um brinquedo de peluche para
dormir). Rachid Amirou transfere para o turismo
este conceito de ilusão infantil, ligado interiormente
à imaginação e ao sonho, e exteriormente à
actividade, e considera-o como modo de
experiência fundamental do homem moderno,
descrevendo-o
numa
perspectiva
sócioantropológica, como um «espaço intermediário» da
experiência humana, posicionado entre o conhecido
e familiar, por um lado, e o desconhecido, que é
percebido como exótico, por outro. O turismo
corresponde a três mutações. Uma mutação
geográfica, procura de lugares diferentes – exóticos,
justamente – que tendem a ser vistos como
edénicos. Uma mutação societal (sociabilidades
lúdicas em comunidades, lugares de charme,
imaginário intimista). E uma mutação existencial,
que se traduz numa procura de si mesmo, numa
Winnicot considerava que esta mediação, por ser
um espaço lúdico, não é interna ou subjectiva, nem
totalmente cultural. Analisando as sociedades
turísticas, em particular os clubes de férias, e os
modos de vida que os turistas adoptam nos seus
espaços/tempos particulares, Amirou conclui que
estes funcionam como espaços de jogo. Em
consequência, retomou a definição de domínio de
jogo proposta por Caillois (1958)1, como sendo um
espaço que está à margem do resto da existência,
isolado e demarcado por fronteiras precisas, tais
como os estádios, os recintos recreativos, a praia…
Esta noção de insularidade de jogo havia sido
descrita por Bachelard, referindo-se ao imaginário
de ilha como um espaço de felicidade e de
segurança. Neste contexto teórico, o contributo de
Rachid Amirou consistiu em utilizar as suas próprias
experiências profissionais no âmbito do turismo,
apoiando-se posteriormente em inquéritos a
responsáveis do Club Med (Amirou, 1988), com o
objectivo de verificar as suas premonições.
Se actualmente se tornou um lugar-comum abordar
o turismo como uma experiência lúdica, isto devese sem qualquer dúvida a Rachid Amirou (1995) que
considerava que a noção de experiência se
compreende melhor através da noção de «espaço
potencial», enquanto espaço de possibilidades e de
experiências lúdicas. Esta noção foi adoptada de
Winnicot (1971) que, na sua análise do jogo infantil,
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tempo. A sociedade moderna de consumo incutiu
no indivíduo a dificuldade de dispor de tempo para
si próprio, impedindo-o de «comportar-se na sua
relação consigo próprio sem um propósito
pragmático e sem ser assaltado por um sentimento
de culpabilidade, o sentimento de ter a necessidade
absoluta de fazer qualquer coisa» (Amirou, 2007:
188).
perspectiva de autenticidade, que Wang (1999)
designa de autenticidade existencial.
Em síntese, segundo Rachid Amirou, é nesta
experiência primordial mãe/bebé, relação afectiva e
fusional vivida na infância, que devemos encontrar
a matriz genética da experiência do paraíso. O
turismo permite assim recriar, reviver de forma
mais ou menos ilusória, com mais ou menso
nostalgia, esta sensação ilusória de paraíso que
povoa o imaginário e que dá sentido à vida. Esta
interpretação é congruente com a de Gilbert
Durand (1964), que considerava o imaginário como
sendo um eufemismo da morte, na medida em que,
se não houvesse o imaginário, a vida não teria
sentido, restando a morte como sendo o único fim
da vida.
Este sentimento de «ter que fazer qualquer coisa»
durante as férias é o mesmo que obriga o turista a
cumprir obrigações (conformando-se por exemplo
com as prescrições acerca daquilo que deve ver,
daquilo que deve experimentar…), e que retira todo
e qualquer carácter gratuito às actividades
recreativas modernas. A partir daqui, Rachid
Amirou conduz a sua reflexão para uma conclusão
pessimista, que se confirma cada vez mais, e que
consiste no seguinte: «o drama das férias
(vacances)2, cuja etimologia sugere a ideia de
vacuidade, é justamente a impossibilidade do
indivíduo criar o vazio em torno de si, de reservar
tempo para si, de se abstrair de toda e qualquer
finalidade social» (Amirou, 2007: 189).
A vacância e o poisio
Vimos que a actividade lúdica coloca entre
parêntesis as actividades ordinárias da vida
quotidiana. A experiência turística oferece ao
indivíduo ou ao grupo a possibilidade de se
«distanciar». Este distanciamento pode ser,
segundo Amirou, real ou metafórico, uma vez que a
vida quotidiana ordinária é colocada entre
parêntesis. Um dos objectivos do turismo é permitir
que o indivíduo se coloque nesta bolha fora do
tempo e procure encontrar um «acordo perfeito
consigo próprio». Subjacente a este noção, que
Amirou toma de empréstimo do psicanalista Masud
Khan (1977), e que este por sua vez vai buscar à
concepção de Rilke. Este autor refere que o ser
humano, ao longo da vida, vive um conflito único
que reaparece constantemente sob diferentes
formas, e cada indivíduo vive a nostalgia de um
«acordo perfeito» consigo mesmo e com o mundo.
Este acordo perfeito consiste numa experiência
íntima, não-conflitual, que Khan qualifica
metaforicamente de «estado de poisio». É uma
experiência de inércia, de tranquilidade do espírito,
que isenta o indivíduo da necessidade de tirar
partido utilitário da sua intimidade ou da sua
integração em grupos. «O lazer dos Romanos era
por excelência um tempo em que cada pessoa se
dedicava a si mesma. Pode parecer um truísmo,
mas o ideal latino de converção de si (ad se
convertere) vem corroborar e reforçar esta noção
de estar em poisio» (Amirou, 2007: 189). O
objectivo final deste estado de repouso seria
«permitir ao indivíduo um certo número de
relações consigo mesmo» (op. cit., ibid.). Amirou
demonstra, seguindo Foucault (1989) e Baudrillard
(1979), que o conceito moderno de lazer inclui a
quase impossibilidade do indivíduo perder o seu
Alguns escritos
Apresentamos em seguida algumas considerações
sobre
os
escritos
do
Rachid
Amirou,
necessariamente sintéticas, sem a pretenção de
esgotar o manacial de riqueza que há em cada um
desses escritos. Vamos apenas evidenciar alguns
dos contributos específicos que são discerníveis nos
trabalhos mais conhecidos de Rachid, com o
propósito de contextualizar as suas ideias.
No livro « L'Imaginaire du Tourisme Culturel »,
publicado em 2002, Rachid demonstra como é que
o imaginário transforma um lugar neutro em
destino turístico. Ele retoma nesta obra um facto
antropológico
importante,
muitas
vezes
negligenciado pelos analistas: o facto da
turistificação do património remeter para os temas
recorrentes da autenticidade, da identidade cultural
e, por vezes, da etnicidade. Esta ideologia,
predominante nos discursos sobre o património
cultural, comporta segundo ele inúmeros malentendidos, tais como, entre outros, o que surge
associado à noção de património imaterial, um
património cuja acreditação se liberta da História e
da Arte.
No artigo « Un charme qu'il ne faut pas jeter »
(2004) ele disseca a intimidade, a simplicidade, a
nostalgia, a proximidade… como valores
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Por último, fazemos referência ao artigo « L'évasion
immobile » (2001), em que Rachid Amirou estuda a
prática que consiste em aglutinar diversas ofertas
turísticas em torno de um tema federador. É o que
acontece quando, por exemplo, um operador
organiza uma viagem tendo por mote a identidade
de um lugar, uma prática ou um conceito.
Analisando um tal conceito, Amirou mostra que
este só tem sucesso quando se propõe aos clientes
uma identidade partilhada, por mais improvável e
fantasiosa que ela seja.
constitutivos do conceito de turismo de charme,
utilizado como argumento de promoção turística. O
conceito de charme é proposto a turistas que
procuram o conforto de um “escudo protector”.
Havendo sempre o risco de, a nível local, o
desenvolvimento turístico se poder traduzir numa
reconstituição que desvaloriza o próprio
« charme ».
No artigo intitulado « De l'imagerie populaire à
l'Imaginaire touristique » (2002) Rachid Amirou
analisa a imagem mais simplificadora dos destinos
turísticos – o postal turístico – como uma espécie
de quinta-essência do imaginário turístico. Ele
mostra que a narrativa apresentada no verso do
cartão postal é quase obrigatória, mas também que
esta narrativa contribui para a produção das
paisagens e que, reciprocamente, as paisagens
apresentadas nos cartões postais entram na
categoria daquilo que «tem que ser visto e tem que
ser visitado».
Se um de nós os dois, Francisco, foi um dos últimos
doutorandos orientados por Rachid, o outro,
Philippe, teve o privilégio de trabalhar com ele,
como co-autor de dois livros. O primeiro, intitulado
« Le tourisme local, une culture de l'exotisme »
(2000), com prefácio de Michel Maffesoli, aborda a
questão do turismo cultural num contexto de
crescente afirmação das identidades locais. O
segundo, escrito em homenagem a Georges Cazes
quando ele se aposentou, intitula-se « Tourisme et
souci de l'autre » (2005). Tivemos como co-autores
Jean-Michel Dewailly e Jacques Malezieux que,
como muitos outros universitários, tanto devem a
Georges Cazes, enquanto um dos pioneiros do
pensamento científico no âmbito do Turismo e, em
particular, na questão do impacto turístico sobre os
espaços receptores, a nível social e identitário. Quis
o destino que Georges falecesse alguns meses
depois de Rachid Amirou.
Num outro artigo, intitulado « Tourisme et
postmodernité.
Les
métamorphoses
de
l’authenticité » (2007b), Rachid Amirou, parte da
definição de sociedade pós-moderna, cuja origem
ele situa nos anos de 1980, para em seguida
mostrar que o turismo é um elemento da
mundialização e da globalização, na sua versão pósmoderna. Já não se procura o autêntico, mas
apenas a sua versão "adocicada", fabricada pela
indústria do lazer, que corresponde a um simulacro
da realidade ou da autenticidade. No entanto, isso
não significa que o turista confunda o simulacro
com o original.
É claro que muitos dos conceitos que constituem o
legado de Rachid Amirou, e que relemos com
grande prazer, tal a simplicidade do seu estilo e a
clareza do seu pensamento, já foram considerados,
analisados,
aprofundados
e
por
vezes
instrumentalizados, e nem sempre a sua autoria
tem sido devidamente respeitada. Mas isso não
diminui, pelo contrário, engrandece o contributo de
Rachid Amirou para o domínio comum da
investigação em Turismo, que tem estado tão
pouco aberto às questões psicossociais, e daí o
prazer que tivemos em trabalhar com Rachid. Desde
logo porque a nossa relação com ele extravasou
claramente o estrito domínio profissional, mas
também porque o seu profundo conhecimento dos
trabalhos inovadores da Sociologia foi para nós
muito gratificante.
No artigo « Pour une culture du tourisme » (2005),
Rachid Amirou esboça uma dicotomia persistente.
Por um lado, para muitos atores culturais, um
objecto cultural tem valor em si mesmo, um valor
que lhe é inerente, sem que para isso seja
necessário colocá-lo no mercado, e o público é que
tem que fazer um esforço para ter acesso a esse
objecto; por outro, para os profissionais do turismo,
um objecto cultural só é atrativo se for posto à
venda e se gerar receitas substanciais. Isto leva a
que os profissionais e as instituições do turismo
mantenham um acordo tácito sobre a ilegitimidade
de um sector cultural cuja missão sagrada seria
unicamente salvaguardar e proteger o património
(chegando mesmo a impedir a visita), e sobre a
legitimidade social de, pelo contrário, se colocarem
os objectos culturais no mercado.
Rachid optou por nunca falar da sua doença. Deixou
uma esposa e uma filha, a quem adorava. O nosso
pensamento está também com elas.
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NOTAS
1 Rachid Amirou, 2008, « Le Paradis, c’est les autres ». Isolat relationnel et expérience du paradis : une entrée
par le tourisme “Heaven is other people”. Relational isolation and experience of Heaven in tourism”, in Journal
of Urban Research, p.3 à 8.
2 Esta ideia seria muito mais clara se, em língua portuguesa, em vez do termo “férias” usássemos o termo
vacância, caído em desuso. O termo vacância está de facto associado à ideia de vacuidade, seja em francês
“vacance”, no castelhano “vacaciones” ou no inglês “vacancy”.
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CITAR ESTE ARTIGO
Referência eletrônico:
Philippe Bachimon & Francisco Dias, Em memória de Rachid Amirou, Via@, Imaginários turísticos, n°1, 2012,
publicado o 16 de março de 2012.
URL : http://www.viatourismreview.net/Article8_PT.php
AUTORES
Philippe Bachimon & Francisco Dias
TRADUÇÃO
Francisco Dias
n°1 – 2012 - Imaginários turísticos
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