Almeida O Castelo de D. Dinis

Transcrição

Almeida O Castelo de D. Dinis
JOÃO DOS SANTOS DE SOUSA CAMPOS
JOÃO DOS SANTOS DE SOUSA CAMPOS
Arquitecto e Urbanista pela ESBAP – Univ. do Porto (1974), Mestre (M.Sc.) em
Relações Interculturais pela Univ. Aberta / Lisboa (2002), com dissertação sobre
a Arquitectura dos “Impérios do Espírito Santo” nos Açores e Doutor (Ph.D.)
em História da Arte pela Univ. de Coimbra (2009), com tese sobre a Arquitetura
Militar portuguesa do século XVI no Golfo Pérsico. Foi professor do Curso de
Arquitetura da ESAP-Porto (1986/1999). Actuou como Consultor para o Centro
Histórico do Porto (1998/2003). É Consultor e Projectista da Fundação Calouste
Gulbenkian para o Património Português no Mundo desde 1992 (com missões
e projetos desenvolvidos em 25 países em 4 continentes). Desde 2006 é Consultor
da Câmara Municipal de Almeida para a salvaguarda da Fortaleza.
Membro fundador do Comité Internacional sobre Património Construído compartilhado (ICSBH), Perito do Comité Internacional das Fortificações (ICOFORT/ICOMOS) e Membro Honorário do Comité Internacional das Cidades
Históricas (CIVVIH/ICOMOS), desenvolvendo desde há duas décadas uma participação activa nas reuniões e seminários promovidos regularmente. É igualmente membro da “Europa Nostra”.
Em Almeida realizou vários estudos e projectos (reabilitação das Portas Exteriores de Santo António para o CEAMA, reabilitação do Baluarte de S. João de
Deus / Museu Militar, renovação do Corpo da Guarda Principal / Paços do Concelho, restauro e valorização do “Quartel das Esquadras” com o novo Museu de
Artes Primitivas), bem como diversos projectos urbanos.
Entre as duas dezenas de livros publicados até agora destacam-se as edições, com
o sêlo da Câmara Municipal de Almeida, de As Coberturas das «Casamatas»
(2006), Candidatura das Fortificações Abaluartadas na «Raia» Luso-Espanhola
como Património Mundial/UNESCO (coord., 2009), Portas e Poternas da Praçaforte (2008), e Três Pontas Notáveis numa Estrela Singular (2010).
Além disso, tem sido responsável pela publicação da revista semestral CEAMA
(em Português e Inglês) do Centro de Estudos de Arquitectura Militar de
Almeida (10 números desde 2008), tendo participado como autor em todas as
edições. Desde 2007 organiza anualmente em Almeida o Seminário Internacional
sobre Arquitetura Militar, cujas actas se publicam na revista.
Colaborou na edição de 2005 do Dicionário Temático da Lusofonia (dir. F.
Cristóvão et al ) e, em 2010, sobre património construído de origem portuguesa,
participou em Património de Origem Portuguesa no Mundo (dir. José Mattoso),
publicado pela Fundação Calouste Gulbenkian.
Em 2007 publicou Impérios, Patrimónios e Identidade - Intervenções Pioneiras e
Novidades Adquiridas e, em 2008, na editora Harrassowitz Verlag, Algumas Notas
sobre Arquitetura Militar Português no Golfo Pérsico: Ormuz, Keshm e Larak. Em
2011 edita Viana de Lima e a Introdução da Arquitectura Moderna em Portugal
– Ensaio sobre a Casa Cortez e em 2013, em co-autoria com Fernando Cobos,
publica vasta análise das fortificações (com exaustivo catálogo iconográfico) relativas a Almeida/Ciudad Rodrigo – A Fortificação da Raia Central (edição trilingue).
No domínio do projecto de Arquitectura a sua produção é vasta e ecléctica, sendo
a maioria dos seus trabalhos premiados em concurso público: por exemplo, a reformulação da Área Pública do Rio Lima em Viana do Castelo (1986), a Escola
Superior de Tecnologia e Gestão do Politécnico de Bragança (1990), a reabilitação
do Teatro Curvo Semedo, em Montemor-o-Novo (1997), a criação da Pousada /
Parador no antigo Convento da Graça em Tavira (2000), os novos Paços do Concelho de Pinhel no Solar dos Seixas (2003) ou a reabilitação da Igreja Matriz de
Campanhã, Porto (2010).
Architect and Urbanist by ESBAP – Univ. of Porto (1974), Master (M.Sc.) in Intercultural Relations by Univ. Aberta/Lisbon (2002), with a dissertation on Architecture of the “Empires of Espírito Santo” in Azores Islands and Doctor (Ph.D.) in
History of Art by the Univ. of Coimbra (2009), with a thesis regarding 16th-century
Portuguese Military Architecture in the Persian Gulf. He was a Teacher for the Architecture Program at ESAP-Porto (1986/1999). He served as a Consultant for Porto’s Historical Centre (1998/2003). He is a Consultant and Project Planner for
Fundação Calouste Gulbenkian for Portuguese Heritage in the World since 1992
(with missions and projects developed across 25 countries in 4 continents). Consultant for Almeida’s City Hall for the Safekeeping of the Fortress, since 2006.
Founding member of the International Committee on Shared Built Heritage
(ICSBH), Expert for ICOMOS’ International Committee of Fortifications (ICOFORT) and Honorary Member of CIVVIH/Historical Cities, for which he has been
developing, for two decades, an active participation in meetings and seminars promoted regularly. He is also a member of “Europa Nostra”.
In Almeida, he has carried out several studies and projects (rehabilitation of the
Outer Gates of Santo António for CEAMA, rehabilitation of the Bulwark of S. João
de Deus / Military Museum, the renovation of the Main Guard’s Corp/City Hall,
restoration and valorization of the “Quartel das Esquadras” with the new Museum
of Primitive Arts), as well as different urban projects.
Among the two dozen books he has published thus far, he highlights the edition,
with the seal by Almeida’s City Hall, The Roofs of the “Casamates”, 2006, “Candidacy of the Bulwarked Fortifications of the Portuguese-Spanish “Raia” (Border-Line) as World Heritage, UNESCO” (coord.), 2009, Gates and Posterns of
the Fortress, 2008, and Three Remarkable Points in a Unique Star, 2010.
Apart from that, he has been in charge of the publication of the six-monthly magazine CEAMA (in Portuguese and English) of Almeida’s Study Centre for Military
Architecture (10 issues since 2008), taking part as an author in all issues. Since
2007, he has been organizing, on an annual basis, the International Seminar on
Military Architecture, held in Almeida, whose proceedings are published in the magazine.
He collaborated in the 2005 edition of Dicionário Temático da Lusofonia (dir. F.
Cristóvão et al) and, in 2010, about the Portuguese-origin built heritage, participated on Património de Origem Portuguesa no Mundo (dir. José Mattoso), published by Fundação Calouste Gulbenkian.
In 2007, he published Impérios, Patrimónios e Identidade – Intervenções Pioneiras e Novidades Adquiridas and, in 2008, at Harrassowitz Verlag, Some Notes on
Portuguese Military Architecture in the Persian Gulf: Hormuz, Keshm and Larak.
In 2011 presents an issue on Viana de Lima and the Introduction of Modern Architecture in Portugal - Essay on Casa Cortez and in 2013, co-authored with Fernando Cobos, an extensive analysis of fortifications (with comprehensive
iconographic catalog) regarding Almeida / Ciudad Rodrigo - The Fortification of
Central Border (trilingual edition).
Concerning architectural project, his production is vast and eclectic, where the majority of his works were awarded as public tender as, for instance, the Reformulation
of River Lima’s Public Area in Viana do Castelo (1986), the Technological High
School of Politécnico de Bragança (1990), the Rehabilitation of Curvo Semedo
Theater in Montemor-o-Novo (1997), the creation of the Pousada / Parador on the
ancient Convent of Graça at Tavira (2000), the new Council House of Pinhel at the
Solar dos Seixas (2003) or the rehabilitation of the Mother Church of Campanhã,
Porto (2010).
Almeida O Castelo de D. Dinis Trazado_Maquetación 1 24/01/14 10:49 Página 1
Para a minha Zeza – pois por ela
existe este livro –, com o pensamento
na nossa Inês e na nossa Luísa.
Almeida O Castelo de D. Dinis Trazado_Maquetación 1 24/01/14 10:49 Página 2
O castelo de D. Dinis e a fronteira de Portugal
The castle of King Dinis and the frontier of Portugal
Autor / Author
João Campos
Prefácio / Foreword
José Blanco
Posfácio / Afterword
Adriano Vasco Rodrigues
Desenhos 3D / 3D Drawings
Isabel Domingues
Direcção Gráfica e Revisão Geral / Graphic Direction and General Reading
João Campos
Tradução / Translation
Adriana Veleda
Capa / Cover
Composição a partir de desenho de Jacques Funck / Composition from original
drawing of Jacques Funck “Carte de la Situation de la Ville d’Almeyda” (AHM-DIV4-1-02-01_m0037), in «Devise Generale des Ouvrages Additieneaux pour la Défense D’almeida, 1766» - AHM-DIV-4-1-02-01 / Arquivo Histórico Militar, Lisboa.
Na contracapa, reprodução parcial do / Back Cover, partial reproduction of “Profil
tiré au milieu de la Ville d’Almeida depuis le Plus haut Ouvrage de la Fortification
jusqu’au plus bas”, Jacques Funck, «Relation de la Défense d’Almeida / 1766» –
AHM-DIV-4-1-02-22_m0010, Arquivo Histórico Militar, Lisboa.
Data / Date
Dezembro / December, 2013
© Câmara Municipal de Almeida
Direitos reservados. Este livro pode ser reproduzido com o devido conhecimento
do Editor ([email protected]) e do Autor ([email protected]), referenciando bibliograficamente a fonte.
Rights reserved. This book can be reproduced with due notice to the Editor ([email protected]) and to the Author ([email protected]), with bibliographical reference of the source.
O autor cede os seus direitos da presente edição a favor do Município
de Almeida, como contributo junto da Câmara Municipal para promoção
de relações internacionais no âmbito das actividades do
C.E.A.M.A. – Centro de Estudos de Arquitectura Militar de Almeida.
The author assigns his rights in this issue in favor of the Municipality of Almeida,
as a contribution to promote
international relations in the framework of the activities of
CEAMA – Studies Center on Military Architecture of Almeida.
ISBN: 978-989-8705-00-6
Depósito Legal: 367459/13
Impressão / Printer
Gráficas Lope. Tel. +34 923 194 131. Salamanca. Spain
www.graficaslope.com
FOTOGRAFIAS PHOTOGRAPHS
Além de imagens do arquivo pessoal do autor, o material fotográfico inserido
neste livro tem outras proveniências e autores, conhecidos ou desconhecidos.
Neste último grupo inscrevem-se as fotos da D.G.E.M.N. assinaladas no
texto (Arquivo do Forte de Sacavém – S.I.P.A./Sistema de Informação para
o Património Arquitectónico) e a foto aérea dos finais da década de 1990
(do Arquivo Municipal). Também pertencentes ao acervo da Câmara Municipal são as fotos aéreas de 2007 (e que vão referenciadas), assim como as
restantes, de autoria dos técnicos da Câmara Municipal de Almeida, Arq.
João Marujo e Arq. Luís Trindade – aos quais o Autor agradece penhoradamente.
In addition to images of the personnel file, the photographic material inserted
in this book has other sources and authors, known or unknown. In this latter
group, one includes the pictures of D.G.E.M.N. marked in the text (Archive of
Sacavém Fort – S.I.P.A./Sistema de Informação para o Património Arquitectónico) and the aerial photo of the late 1990s (from the Municipal Archive).
Also belonging to the City Hall collection are the aerial photos from 2007
(which are referenced), as well the remaining ones, authored by the technician
of Almeida’s City Hall, whom the author thanks wholeheartedly.
DESENHOS DAS PLANTAS E DA RECONSTITUIÇÃO 3D DA EVOLUÇÃO DO CASTELO E DE PROJECTO PRELIMINAR DA PROPOSTA DE
INTERVENÇÃO NA ZONA DO CASTELO DRAWINGS OF PLANS AND
3D RECONSTITUTION OF THE CASTLE’ EVOLUTION AND OF THE
PRELIMINARY PROJECT OF THE INTERVENTION’ PROPOSAL IN THE
CASTLE ZONE.
A colaboração da Arquitecta Isabel Domingues foi imprescindível para a elaboração do conteúdo computacional do capítulo 6 e para a criação das imagens tridimensionais do capítulo 7. Neste último capítulo participou ainda
a Arquitecta Ana Gesta Santos, dando apoio de desenho ao traçado do arranjo urbano e do apontamento preliminar do projecto das edificações antevistas. A ambas deve o Autor o reconhecimento pela valorização
introduzida com a sua participação empenhada.
The collaboration of Architect Isabel Domingues was fundamental to develop
all the computational content of Chapter 6 and the creation of three-dimensional images of Chapter 7. In this latter chapter also participated Architect
Ana Gesta Santos, supporting the drawing of the urban arrangement and the
preliminar appointment for the project of envisioned buildings. The Author
must recognize the value entered with full participation of both.
Almeida O Castelo de D. Dinis Trazado_Maquetación 1 24/01/14 10:49 Página 3
Almeida O Castelo de D. Dinis Trazado_Maquetación 1 24/01/14 10:49 Página 4
ORTOFOTOMAPA, 2006
Ref.: Instituto Geográfico Português,
www-igeo.pt (C.M.A. - Arquivo da
Câmara Municipal de Almeida).
Almeida O Castelo de D. Dinis Trazado_Maquetación 1 24/01/14 10:50 Página 5
ALMEIDA – O CASTELO DE D. DINIS E A FRONTEIRA DE PORTUGAL
THE CASTLE OF KING DINIS AND THE FRONTIER OF PORTUGAL
PREFÁCIO / FOREWORD, José Blanco ............................................................................................................................................................................................................................................
7
1 – QUE FAZER COM O CASTELO? / WHAT TO DO WITH THE CASTLE? ......................................................................................................................................................
11
12
13
1.1 – Que existe no alto da Praça-Forte de Almeida? / What can we find at the top of Almeida’s Stronghold? ........................................................
1.2 – Avanços do conhecimento sobre o Castelo Medieval e sua evolução .................................................................................................................................
Advances in the knowledge on the Medieval Castle and its evolution
1.3 – Um propósito de salvaguarda / A proposal for safeguarding .........................................................................................................................................................
2 – SIGNIFICADO HISTÓRICO DA FRONTEIRA PORTUGUESA
A DELIMITAÇÃO DA RAIA COMO FACTOR IDENTITÁRIO
HISTORICAL MEANING OF THE PORTUGUESE FRONTIER
THE LIMITS OF THE BORDER AS AN IDENTITY FACTOR .......................................................................................................................................................................
2.1 – Primórdios e antecedentes de uma região estratégica singular
Beginnings and history of a unique strategic region ..................................................................................................................................................................................
2.2 – As terras de Riba-Côa como chave da idealização de uma fronteira
The lands of Riba-Côa as the key for idealizing a frontier .................................................................................................................................................................
2.3 – D. Dinis e o Tratado de Alcanices / King Dinis and the Treaty of Alcañices ................................................................................................................
DOCUMENTOS DE SOBERANIA RELACIONADOS COM ALMEIDA
SOVEREIGNITY DOCUMENTS RELATED WITH ALMEIDA ...........................................................................................................................................................................
2.4 – Soberania e conflitualidade na “Raia Central” medieval
Sovereignty and conflict in the medieval Central Border.....................................................................................................................................................................
2.5 – Aproximação à situação moderna e contemporânea / Reaching modern and contemporary times .....................................................
3 – REPRESENTAÇÃO DE PORTUGAL E DA FRONTEIRA CENTRAL
THE REPRESENTATION OF PORTUGAL AND THE CENTRAL FRONTIER ...........................................................................................................................
3.1 – A fixação dos limites / The fixation of the limits .........................................................................................................................................................................................
3.2 – O mapa de Fernando Álvares Seco e outras grandes produções..............................................................................................................................................
The map of Fernando Álvares Seco and other great productions.................................................................................................................................................
3.3 – Do período da União Ibérica à nova dinastia portuguesa ..............................................................................................................................................................
From the Iberian Union to the new portuguese dynasty ......................................................................................................................................................................
3.4 – O mapa nacionalista de Brás Teixeira e a fronteira da Beira
The nationalist map by Brás Teixeira and the frontier of Beira ....................................................................................................................................................
4 – OS CASTELOS DE RIBA-CÔA NO “LIVRO DAS FORTALEZAS” DE DURTE DE ARMAS
THE CASTLES OF THE UPPER CÔA’RIVER IN “BOOK OF FORTRESSES” BY DUARTE DE ARMAS .................................................................
4.1 – As fortificações de Riba-Côa no inventário da D.G.E.M.N.
The fortifications of Riba-Côa in D.G.E.M.N.’ inventory ....................................................................................................................................................................
5 – TORRES DE MENAGEM, BARREIRAS ARTILHEIRAS E FOSSOS
KEEP TOWERS, ARTILLERY BARRIERS AND DITCHES ..................................................................................................................................................................................
5.1 – A torre de Almeida no seu tempo / Almeida’s keep in its time ....................................................................................................................................................
5.2 – A nova arquitectura militar na transição para os tempos modernos ..................................................................................................................................
The new military architecture in the transition for modern times ..............................................................................................................................................
5. 3 – Uma estrutura militar em funções durante mais de cinco séculos.......................................................................................................................................
A military structure operating for more than five centuries ..............................................................................................................................................................
15
19
22
22
24
27
32
33
37
38
41
40
45
44
46
53
60
63
64
67
68
77
74
Almeida O Castelo de D. Dinis Trazado_Maquetación 1 24/01/14 10:50 Página 6
6 – EVOLUÇÃO CONJECTURAL DO CASTELO DE ALMEIDA (SEC. XIII- SEC.XIX)
CONJECTURAL EVOLUTION OF THE CASTLE OF ALMEIDA (13th to 19th Century).......................................................................................................
6.1 – Um ponto de partida: o poço do castelo / A starting point: the well of the castle ....................................................................................................
6.2 – Documentos fundamentais / Essential documents...................................................................................................................................................................................
6.3 – Descrição sumária da evolução / Synthesis of the evolution ...........................................................................................................................................................
6.4 – Castelo de D. Dinis – uma visão retrospectiva / The castle of D. Dinis: a retrospective vision
6.4.1 – A construção de uma ideia geográfica do reino .....................................................................................................................................................................
The construction of a geographical notion of the kingdom .................................................................................................................................................
6.4.2 – Uma fisionomia para o castelo de D. Dinis / A physiognomy for the castle of D. Dinis.................................................................
6.5 – O castelo de D. Manuel e os avanços na arte de fortificar ...............................................................................................................................................................
The castle of D. Manuel and the breakthroughs in the art of fortifying .................................................................................................................................
6.5.1 – A planta do castelo de Almeida no livro das fortalezas
The plant of Almeida castle in the livro das fortalezas ........................................................................................................................................................
6.5.2 – Os desenhos das vistas de Duarte de Armas
The drawings of the views by Duarte de Armas .........................................................................................................................................................................
DOCUMENTOS MANUELINOS SOBRE A REALIZAÇÃO DE REFORMAS NO CASTELO
NOS FINAIS DA PRIMEIRADÉCADA DO SÉCULO XVI
MANUELINE DOCUMENTS ON THE CONDUCTION OF REFORMS ON THE CASTLE
– END OF THE FIRST DECADEOF THE 16TH CENTURY .......................................................................................................................................................................................
81
84
88/87
90/89
90
91
95/94
97
96
101
102
106
6.5.3 – O registo de Manuel de Azevedo Fortes
Aabout the recording of Manuel de Azevedo Fortes ....................................................................................................................................................................
109
6.6 – Adaptação do Castelo a fortim moderno / Adaptation to modern fort .............................................................................................................................. 111/112
6.6.1 – A reformulação do núcleo da fortificação após 1695 .......................................................................................................................................................
117
The reformulation of the nucleus of the fortification after 1695 ................................................................................................................................
112
6.6.2 – Os registos espanhóis após a ocupação de 1762 / The Spanish records after the 1762 occupation .................................... 117/113
O DESAPARECIMENTO DA SILHUETA MEDIEVAL DE ALMEIDA
THE DISAPPEARANCE OF ALMEIDA’S MEDIEVAL SILHOUETTE ............................................................................................................................................................
6.6.3 – A leitura de um importante perfil da praça-forte, datado de 1766 ....................................................................................................................
Reading an important profile of the stronghold of 1766 .....................................................................................................................................................
114
119
118
DESENHOS ESPANHÓIS DURANTE A OCUPAÇÃO DE ALMEIDA, APÓS CERCO (1762/63)
SPANISH DRAWINGS DURING THE OCCUPATION OF ALMEIDA, AFTER THE SIEGE (1762/63) ......................................................................
120
OS RELATÓRIOS DO CORONEL ENGENHEIRO JACQUES FUNCK, 1766
THE REPORTS BY COLONEL ENGINEER JACQUES FUNCK, 1766 ....................................................................................................................................................................
125
6.7 – Depois da destruição de 1810
6.7.1 – Da explosão do paiol aos meados do século XX
From the explosion of the magazine until the mid-20th century ..................................................................................................................................
133
6.7.2 – Panorama contemporâneo / Contemporary overview ..................................................................................................................................................... 141/138
6.7.3 – Um ponto de chegada: um muro siglado / A point of arrival: a wall with acronyms ..................................................................... 143/142
7 – PROPOSTA PRELIMINAR PARA INTERVENÇÃO
PRELIMINARY INTERVENTION PROPOSAL ................................................................................................................................................................................................................
147
7.1 – Enquadramento / Background......................................................................................................................................................................................................................................
148
7.2 – Uma proposta para futuro / A proposal for future ..................................................................................................................................................................... 153/152
7.3 – Descrição breve de um programa de intervenção / Brief description of an intervenrion program ...................................................
155
CRONOLOGIA / CHRONOLOGY ..........................................................................................................................................................................................................................................................
BIBLIOGRAFIA / BIBLIOGRAPHY
....................................................................................................................................................................................................................................................
POSFÁCIO / AFTERWORD, Adriano Vasco Rodrigues ..................................................................................................................................................................................................
161
183
189
Almeida O Castelo de D. Dinis Trazado_Maquetación 1 24/01/14 10:50 Página 7
Almeida O Castelo de D. Dinis Trazado_Maquetación 1 24/01/14 10:50 Página 8
C
Na página anterior / Back page
No ponto mais elevado de toda a região e no
meio da grande Fortaleza abaluartada de
Almeida temos hoje o perfil em que sobressai a
torre do relógio substituindo, no próprio lugar, a
torre sineira da antiga Igreja Matriz da
povoação. No lugar desta subsiste a presença
dos ciprestes do antigo cemitério em que a zona
se transformou depois da explosão de 1810. Ao
seu lado esquerdo, o vazio do sky-line assinala o
lugar onde se ergueu o Castelo que vinha desde
os tempos medievais e cuja evolução se
finalizou naquela data.
At the highest point of the entire region and
in the middle of the great bulwarked Fortress
of Almeida, today we have the profile in
which the Clock Tower stands out replacing,
in its own turn, the bell tower of the old Main
Church of the population. In its place, there
are the cypresses of the old cemetery, in which
the area was transformed after the 1810
explosion. To the left side, the empty of the
sky-line marks the place where the Castle
once stood coming from medieval times and
whose evolution was completed on that date.
8
om a presente obra, que fui amavelmente convidado
a prefaciar, prossegue o Doutor Arquitecto João
Campos a sua campanha em defesa da memória e da
identidade portuguesas, a que há já muitos anos vem dedicando o melhor da sua competência, do seu talento e do seu
entusiasmo.
É sabido como, sobretudo a partir de 1974, se tornou comum
entre nós desdenhar do passado de Portugal. Como escreveu
então Fernando Dacosta, “preservar a memória tornou-se
hoje num acto revolucionário. Porque quase tudo o que
existe visa precisamente o seu apagamento. A subcultura dominante está a querer transmitir a ideia aos mais jovens de
que o País começou agora. Que para trás apenas existem trevas e vácuos. Portugal tem mil anos de História e nós, portugueses, detemos uma memória fabulosamente rica”.
Ao contrário de outros complexos que parecem, infelizmente, “irreversíveis” na sociedade portuguesa, o desvelo
pela Memória de Portugal tem vindo a reafirmar-se em anos
recentes, graças a um punhado de historiadores, investigadores e críticos de arte de grande valor, na primeira linha dos
quais figura o Doutor Arquitecto João Campos.
É impressionante o currículo do Doutor Arquitecto João
Campos. Há vinte e cinco anos membro do ICOMOS (Conselho Internacional para os Monumentos e Sítios), tem prestado nesse âmbito colaboração em pareceres sobre bens
candidatos à classificação de Património Mundial
(UNESCO). É Perito do International Scientific Committee
on Fortification and Military Heritage (ICOFORT) e Membro Honorário do International Committee on Historic
Towns and Villages (CIVVIH).
A partir de 1992, prestou inestimáveis serviços à Fundação
Calouste Gulbenkian, no domínio do património de origem
portuguesa edificado fora de Portugal, quer como consultor
quer como autor de numerosos projectos de reabilitação de
edifícios militares, religiosos e civis em Marrocos, Malta,
Brasil, Uruguai, Senegal, Etiópia, Moçambique, Quénia, Tanzânia, Irão, Índia, Bangladesh, Indonésia, Sri Lanka, Holanda, etc. Pela sua intervenção nestes projectos, pode
dizer-se, creio eu, que é o mais internacional dos arquitectos
portugueses.
Depois da sua prestação como Consultor da Câmara Municipal do Porto para o Centro Histórico do Porto – Património Mundial (1997/2002), o Doutor Arquitecto João Campos
W
ith the current work, which I was kindly invited
to preface, Prof. João Campos pushes forward
with his campaign towards the defence of Portuguese memory and identity, to which he has already dedicated and for many years now the best of his knowledge, talent
and enthusiasm.
It is known how, especially from 1974 onwards, it became
quite common among us to despise the past of Portugal. As
Fernando Dacosta wrote at the time, “preserving the memory today became a revolutionary act. Because almost anything that exists precisely aims at erasing it. The dominant
subculture wants to convey the idea to our young ones that
the country has just started now. That, back there, there is
only darkness and vacuums. Portugal has a thousand years
of history and we, the Portuguese, we hold a fabulously rich
memory.”
As opposed to other complexes that unfortunately seem
“irreversible” in Portuguese society, kindling the Memory of
Portugal has been making a stand during recent years,
thanks to a handful of historians, researchers and art critics
of great value, in first line of which one finds Prof. João Campos.
The curriculum of Prof. João Campos, Architect, is remarkable. He has been a member of ICOMOS (International
Council on Monuments and Sites), has collaborated, under
this scope, with opinions on sites applying to be listed as a
World Heritage Site (UNESCO). He is an expert at the International Scientific Committee on Fortification and Military Heritage (ICOFORT) and Honorary Member of the
International Committee on Historic Towns and Villages
(CIVVIH).
From 1992 onwards, he has provided invaluable services to
Fundação Calouste Gulbenkian in the field of Portugueseorigin heritage built outside Portugal, both as a consultant
and as author of numerous rehabilitation projects of military,
religious and civil buildings in Morocco, Malta, Brazil, Uruguay, Senegal, Ethiopia, Mozambique, Kenya, Tanzania, Iran,
India, Bangladesh, Indonesia, Sri Lanka, Netherlands, etc..
Due to his intervention in these projects, it can be said, I believe, that he is the most international of Portuguese architects.
After his performance as a Consultant for Porto’s City Hall
for Historic Centre of Porto – World Heritage (1997/2002),
Almeida O Castelo de D. Dinis Trazado_Maquetación 1 24/01/14 10:50 Página 9
caiu em 2006 sob a magia histórica e arquitectónica da
Praça-Forte de Almeida, pela qual se deixou totalmente apaixonar. Desde Março desse ano, é Consultor e Arquitecto da
Câmara Municipal de Almeida para a Salvaguarda do Património da Praça-Forte.
O coup de foudre é compreensível. Como escreveu o Prof.
Doutor António Filipe Pimentel, “(…) o complexo que define o sistema fortificado de Almeida constitui, seguramente,
com Elvas e Valença, um dos mais impressivos e significantes
marcos dessa extraordinária coroa que, no decurso dos séculos, formaria o sistema defensivo da fronteira terrestre, ao
abrigo do qual Portugal lograria vingar e sobreviver como
projecto colectivo e além do qual, por seu turno, se modelaria
pouco a pouco (nessa contenção) o outro em relação ao
qual, como toda a identidade, o País se conformou” (sublinhado meu).
O leitor encontrará neste excelente estudo todas as qualidades que, ao longo dos anos, todos se habituaram a reconhecer no Autor: a seriedade e o rigor da investigação, a
competência técnica e o bom-senso, que não escondem,
antes completam, uma irreprimível paixão pela memória de
Portugal e pela nossa identidade de portugueses.
Prof. João Campos fell, in 2006, under the historical and architectural magic of Almeida’s Stronghold, with whom he
completely fell in love. Since March of that year, he has been
a Consultant and an Architect for Almeida’s City Hall for the
Safeguarding of the Heritage of the Stronghold.
The coup de foudre is understandable. As Prof. Doutor António Filipe Pimentel wrote, “(…) the complex defined by
Almeida’s fortified system is surely, along with Elvas and Valença, one of the most impressive and significant landmarks
of that extraordinary crown that, throughout centuries, formed the defensive system of the land border, under which
Portugal would manage to strive and survive as a collective
project and beyond which, in turn, it would be modeled little
by little (within such contention) the other in respect to
which, like any identity, the country has conformed.” (emphasis added).
The reader will find in this excellent study all qualities that,
throughout the years, all grew accustomed to recognize in
the Author: seriousness and rigor in research, expertise and
common sense, which do not hide, but rather complete, an
irrepressible passion for the memory of Portugal and for our
identity as Portuguese.
JOSÉ BLANCO
Presidente da / President of
WMF – World Monuments Fund – Portugal
Antigo Admnistrador da / Former Trustee of
Fundação Calouste Gulbenkian
9
Almeida O Castelo de D. Dinis Trazado_Maquetación 1 24/01/14 10:50 Página 10
Almeida O Castelo de D. Dinis Trazado_Maquetación 1 24/01/14 10:50 Página 11
1
Almeida O Castelo de D. Dinis Trazado_Maquetación 1 24/01/14 10:50 Página 12
Na página anterior / Back page
Vista aérea rasante do núcleo urbano central da
Praça-forte de Almeida, vendo-se as estruturas
arqueológicas da zona do Castelo (foto dos
finais da década de 1990, Arquivo C. M.
Almeida)
Shallow aerial view of the urban nucleus of
Almeida’s Stronghold, with the archaeological
structures at the area of the Castle (picture
from the end of the 1990s, Archive of
Almeida’s City Hall)
Sequência de imagens (2013) tiradas da Torre
do Relógio sobre a área arqueológica do alto da
Vila, com a rampa de acesso (à esq.) à
plataforma do antigo cemitério (à direita com a
capela mortuária já inoperante)
Sequence of images (2013) taken from the
Clock Tower over the archeological area of
the high point of the Village, with an access
ramp (to the left) to the platform of the old
cemetery (to the right, with the already
inoperative mortuary chapel).
12
1.1 – QUE EXISTE NO ALTO DA PRAÇA-FORTE
DE ALMEIDA?
1.1 – WHAT CAN WE FIND AT THE TOP
OF ALMEIDA’S STRONGHOLD?
O
T
Castelo de Almeida apresenta-se hoje com contornos cada vez mais difusos, tanto fisicamente como
na representação do valor cultural de umas ruínas
que, assim, se vão desfasando progressivamente na memória
colectiva.
Esse afastamento deve-se a uma falta de consciencialização
quanto à importância histórica do significado de uma pedras
que permanecem no ponto mais elevado do interior da
Praça-forte de Almeida. Na realidade, muito poucos trabalhos de investigação foram produzidos especificamente sobre
o sítio, seja do ponto de vista da epistemologia do conhecimento da História, prolongando-se na falta de validação da
importância técnica e científica daquela fortificação para o
estudo da evolução da Arquitectura Militar portuguesa.
Paralelamente, tal significa uma falta de visibilidade do monumento, com prejuízo para a atracção de diferentes tipos
de interesse no caso de Almeida.
A redescoberta moderna do Castelo terá acontecido nos
anos de 1950, quando a Direcção-Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais, do Ministério das Obras Públicas
(D.G.E.M.N.-M.O.P.) procede à “exumação” das ruínas que
haviam sido aterradas para a realização de um Passeio Publico, na segunda década do século XIX.
A intervenção levada a cabo, vai já para 50 anos, serviu para
consolidar algumas evidências construídas e para prejudicar
outras (nomeadamente com um percurso de visita que
ofende alguns aspectos da conservação do sítio), sem falar
he Castle of Almeida today has increasingly more diffuse contours, both physically and in the representation of the cultural value of some ruins that, thus,
progressively dissipate from the collective memory.
This departure is due to a lack of awareness of the historical
importance of the meaning of some stones that endure at the
highest point of the interior of the stronghold of Almeida. In
reality, very few research works have been specifically produced for the site, from the viewpoint of the epistemology of historical knowledge, extending in the lack of validation of the
technical and scientific importance of that fortification to the
study of the evolution of Portuguese military architecture.
In parallel, this means a lack of visibility of the monument, a
loss to attract different types of interest in the case of Almeida.
The modern rediscover of the Castle probably happened in
the 1950s, when the General Directorate of Buildings and National Monuments, of the Public Works Ministry (hereinafter
D.G.E.M.N.-M.O.P.) carries out an “exhumation” of the ruins
that had been grounded to build a Public Promenade, during
the second decade of the 20th century.
The intervention that took place more than 50 years ago served to consolidate some evidences built and to hinder others
(specifically with a tour path that offends some aspects of the
site’s preservation), not to mention a different conception of
the archaeological vision, disrespecting, at the time, any concern whatsoever with the stratigraphic record of extensive removals of land made then.
Almeida O Castelo de D. Dinis Trazado_Maquetación 1 24/01/14 10:50 Página 13
numa concepção diferente da visão arqueológica, na altura
desrespeitando qualquer preocupação com o registo estratigráfico das extensas remoções de terras feitas então.
O que existe hoje é mais um vazio do que um preenchimento. Num preciso ponto de extraordinária valia na definição da paisagem, quem a ele chega perguntará o que são
aquelas pedras e não terá resposta adequada.
Para o observador normal é muito difícil, sem suporte informativo qualificado, imaginar a complexa evolução construtiva do que ali se passou, ou sequer imaginar um castelo
que existiu na Idade Média.
E, no entanto, estamos porventura no lugar onde se concretizou a mais extensa e conseguida experimentação na arte
de fortificar em Portugal, na evolução que cumpriu desde os
tempos recuados da Neurobalística até à sua morte, em consequência do efeito devastador da guerra Pirobalística. As
estruturas iniciais foram acompanhando a evolução técnica
vanguardista da artilharia, primeiro transitoriamente com
uma relevante adição de muralha baixa inter-relacionada
com um fosso e, depois, passando a fortim Moderno nos inícios do século XVIII, após uma explosão tremenda que arruinou as estruturas medievais, por acção de um raio que fez
explodir a pólvora guardada, provavelmente, no piso inferior
da alta torre de menagem dionisina.
Foi ainda uma explosão no novo e grande paiol que fez ir
pelos ares a estrutura que resultara desde o Castelo medieval,
devido a uma bomba apontada desde a bateria do Cerco dos
Franceses em 1810, fazendo capitular a extraordinária fortaleza abaluartada, um dos expoentes europeus da técnica
da fortificação.
De tudo isso resultou o que lá está, depois de o lugar ter sido
apagado com a realização de um romântico espaço de jardim, numa plataforma-miradouro que escondia o sofrimento dos desastres da guerra.
Desse olvido se resgatam agora umas ruínas preciosas e que
é necessário pôr em evidência, integrando o conjunto monumental com um espaço revitalizado e que é, simultaneamente, um documento do mais alto valor.
1.2 – AVANÇOS DO CONHECIMENTO SOBRE O
CASTELO MEDIEVAL E SUA EVOLUÇÃO
Os avanços de maior relevo que se verificaram desde o final
da campanha da D.G.E.M.N. (anos de 1980) provieram dos
contributos de Angel de Luís Callabuig1, insistindo sobre a
What lingers today is more emptiness than replenishment. In
a precise point of extraordinary added value for the definition
of the landscape, whoever arrives at the castle will wonder
what those stones are and will not have an adequate answer.
For the average observer, it is quite difficult, without a qualified informative support, to imagine the complex constructive
evolution that happened there or even imagine that a castle
existed in the Middle Age. And, nevertheless, we perhaps
stand on the place that materialized the most comprehensive
and accomplished experimentation in the art of fortifying in
Portugal, in the evolution that it served from the ancient times
of Tension Artillery up until its death, as a consequence of the
devastating effect of Powder Artillery war. The first structures
accompanied the technical and avant-garde evolution of artillery, first transitionally – with a relevant addition of a lower
wall, related to a ditch – and after becoming a modern fort in
the beginning of the 18th century –after the tremendous explosion that ruined the medieval structures due to a lightning
that caused the explosion of the gunpowder probably stored
in the lower floor of the high Dionisian keep.
An explosion of the new and great magazine also blew up the
structure that remained from the medieval castle, due to a
bomb aimed from the battery of the 1810 French Siege, forcing
the capitulation of the extraordinary bulwarked fortress, one
of the European exponents of the art of fortification.
All this resulted in what is found there, after the site has been
removed with the construction of a romantic garden area, in
a platform-viewpoint that hid the suffering of the disasters
of war.
From that oblivion, some precious ruins have now been
rescued, which need to be highlighted, integrating the monumental set within a revitalized space and that is, simultaneously, a document of great value.
1.2 – ADVANCES IN THE KNOWLEDGE ON THE
MEDIEVAL CASTLE AND ITS EVOLUTION
The greatest advances observed since the end of DGEMN’s
campaign (1980s) came from the contributions of Angel de
Luís Callabuig1, who insisted on the issue of the dramatic alteration of Almeida’s landscape, long before the explosion of
the powder magazine during the 3rd French Invasion.
A reviewed edition, printed half a dozen years ago, goes as far
as including several explicative drawings of that Author, while
also reproducing a conical perspective dating back to 1994
Torre do Relógio, provavelmente construída
sobre as fundações da torre da antiga Igreja
Matriz, vista a partir do acesso à plataforma do
antigo cemitério
Torre do Relógio, probably built on the
foundations of the tower of the ancient
Mother Church, as seen from the access to the
platform of the old cemetery.
1
No II Simpósio sobre Arquitectura
Militar Abaluartada, realizado em Almeida a 20 de Novembro de 1992, apresentou uma hipótese inovadora sobre a
não existência da torre de menagem do
castelo medieval, mais tarde confirmada
e explicada em VILHENA DE CARVALHO, José, “O Castelo de Almeida –
Origem, História e Destruição. Controvérsias”, 2ª edição revista e aumentada,
Câmara Municipal de Almeida, 2006.
During the 2nd Symposium of Bulwarked
Military Fortification, held in Almeida on
20th November, 1992, he put forward an
innovative hypothesis on the non-existence of the keep of the medieval castle,
later confirmed and explained at VILHENA DE CARVALHO, José, “O Castelo de Almeida – Origem, História e
Destruição. Controvérsias”, 2nd edition,
reviewed and extended, Câmara Municipal de Almeida, 2006.
13
Almeida O Castelo de D. Dinis Trazado_Maquetación 1 24/01/14 10:50 Página 14
Na primeira fotografia, a partir do que resta da
plataforma do Passeio Público do século XIX,
vemos a face interna das Portas Interiores de
Santo António, com o arranjo urbano
comemorativo dos Centenários (1940). Depois,
temos a escarpa da cortina da barreira artilheira
da reforma Manuelina do Castelo, rematada ao
fundo pelo bastião Sudoeste. Por último vemos,
em primeiro plano no ângulo Sul / Nascente, o
bastião mais destruído dando sequência à
cortina desse lado, com o fosso e o bastião
Nascente / Norte. Em fundo, a Torre do Relógio
com a área do antigo cemitério.
In the first photo, from what remains of the
platform of the Public Promenade of the
nineteenth century, we see the internal face of
the Interior Gates of Santo António, with the
urban arrangement made during the
Centennial Commemorations (1940). Then,
we have the escarpment of the curtain of the
artillery barrier made during the Castle’s
Manueline reform, topped at the by the
southwestern bulwark. Finally we see in the
foreground, South/East angle, the most
destroyed bulwark providing sequence to the
curtain on this side, with the ditch and the
East/North bulwark. In the background, the
Clock Tower with the area of the old cemetery.
2 Ms. 68 da Secção de Geografia e Mapas
da Biblioteca Nacional de Madrid, referenciado à sua publicação, já de 1987, por
Fernando Rodriguez de la Flor, “El fuerte
de la Concepción y la arquitectura militar
de los siglos XVII y XVIII”.
Ms. 68 of the Section of Geography and
Maps of Biblioteca Nacional de Madrid, a
reference made to its publication, already
in 1987, by Fernando Rodriguez de la Flor,
“El fuerte de la Concepción y la arquitectura militar de los siglos XVII y XVIII”.
3 VILHENA DE CARVALHO, José, “Almeida, Subsídios para a sua História”, 2
vols. (1973), Santa Casa da Misericórdia
de Almeida, (2ª ed.), Viseu, 1988.
4
COBOS, Fernando e CAMPOS, João,
“Almeida / Ciudad Rodrigo – A Fortificação da Raia Central”, Consórcio Transfronteirizo, Salamanca, 2013.
5
“Plano del castillo de la plaza de Almeida”, dim. 30,5 x 24,5 cm., Joseph de
Hermosilla & Esteban Peñafiel,
BN.MR/43/68, Biblioteca Nacional de España, Madrid, op. cit., p. 357.
14
questão da drástica alteração da paisagem de Almeida, muito
antes da explosão do paiol durante a 3ª Invasão Francesa.
Numa edição revista, dada a lume há meia dúzia de anos, incluem-se mesmo vários desenhos explicativos daquele Autor,
reproduzindo-se igualmente uma perspectiva cónica datada
de 1994 (que presumimos ter figurado na primeira edição
do livro de José Vilhena de Carvalho, saída nesse ano).
Callabuig, afinal, alertava para que a ideia de uma recuperação da imagem medieval não decorreria de uma reparação
dos estragos da Guerra Peninsular, antes houvera uma outra
fase, historicamente ultrapassada, em que se desejara e tivera
(na sequência da derrocada da torre medieval, altaneira e
obsoleta) uma configuração diferente do castelo. Simultaneamente dava-nos uma visão retrospectiva do castelo à
época do “Livro das Fortalezas” de Duarte de Armas.
Em 2006 surge, no «Apêndice Conclusivo» da controvérsia
que dominou acerca da subsistência das torres do Castelo de
D. Dinis, a reprodução do desenho de 17622, evidenciando
claramente a arquitectura da estrutura do antigo castelo
muito adaptada, no final da Guerra dos Sete Anos. E reproduz-se, novamente com má qualidade de leitura, o desdobrável do trabalho de Jacques Funck, feito no ano de 1766,
mostrando o perfil de Almeida sem torres medievais, mas
que não havia sido compreendido aquando da sua inicial recolecção por José Vilhena de Carvalho3.
Do ponto de vista documental estava-se já de posse da informação, bastante e pertinente, para a explicação da evolução sobre o castelo de Almeida.
Em Janeiro de 2013 publica-se uma obra4 em que houve o
ensejo de reproduzir, com excelente qualidade, não apenas
a citada iconografia de 17625, mas ainda outro extraordinário
registo, de 1763, devido a António de Gaver6, para além de
um enorme conjunto de planos de Almeida dos séculos
XVIII e XIX em que, simplesmente, se constata a não-confirmação da persistência da forma arcaica da fortificação.
No capítulo da pesquisa historiográfica aplicada, pouco mais
há a acrescentar ao labor de Mário Jorge Barroca, da Universidade do Porto, repetindo enquadramentos e apreciações
(which we presume that appeared in the first edition of the
book by José Vilhena Carvalh, published that year).
Callabuig, after all, warned that the idea of a recovery of the
medieval image would not follow a repair of the damages
made by the Peninsular War, but rather that another phase
had happened, historically outdated, during which a different
configuration of the castle was considered and actually existed
(following the collapse of the medieval tower, quite haughty
and obsolete). Simultaneously, he gave us a retrospective view
of the castle at the time of the “Livro das Fortalezas” by Duarte
de Armas.
In 2006, at “Apêndice Conclusivo” of the controversy that he
created around the subsistence of the towers of D. Dinis’ Castle, there is the reproduction of a 17622 drawing, clearly highlighted the much-adapted architecture of the structure of the
ancient castle, at the end of the Seven Years War. And again
with a poor reading quality, there is a reproduction of Jacques
Funck’s fold-out, made in 1766 and which shows the profile
of Almeida without any medieval towers, but which had not
been understood during the initial recollection by José Vilhena de Carvalho3.
From a documental point of view, one already possessed
plenty and pertinent information for the explanation of the
evolution of Almeida’s castle.
In January 2013, a work is published4 with the desire to reproduce, with excellent quality, not only the aforementioned iconography of 17625, but also another extraordinary record of
1763, created by António de Gaver6, plus a huge set of plans
of Almeida, from the eighteenth and nineteenth centuries, that
simply attest to the non-confirmation of the persistence of the
archaic form of the fortification.
Regarding the applied historiographical research, little is there
to add to the work of Mário Jorge Barroca, of Universidade do
Porto, repeating guidelines and assessments on the archeology
of the site7.
The current edition will bring (such is expected) some contribution for the historiography of the castle, namely by proposing a reading that consecrates explanatory hypothesis that
Almeida O Castelo de D. Dinis Trazado_Maquetación 1 24/01/14 10:50 Página 15
sobre a arqueologia do sítio7. A presente edição trará, assim
se espera, algum contributo para a historiografia do castelo,
designadamente com a proposta de leitura consagrando hipóteses de explicação que informam de modo um pouco diferente a fisionomia do fortificação, na transição do castelo
de D. Dinis para o de D. Manuel.
Mais recentemente começam a dar fruto as investigações arqueológicas de André Teixeira, da Universidade Nova de Lisboa, publicando o resultado de algumas campanhas8.
Pressente-se, porém, que está ainda por conferir todo o potencial do caminho a desvendar por uma tarefa sistemática de
valorização arqueológica baseada na metodologia aplicada e
na reabilitação patrimonial.
Este livro contém uma proposta de abordagem global para a
zona do castelo que se estima possa desembocar em tomada
de decisões orientadas para o que existe de excepcional no
local para a explicação da Cultura Portuguesa. O imbricamento da componente física do património com a reflexão
sobre a identidade nacional, no estabelecimento dos limites
de Portugal, é outro aspecto imanente no trabalho que se dá
à estampa.
inform somewhat differently on the physiognomy of the fortification, during the transition from the castle of D. Dinis to
the one of D. Manuel.
More recently, the archeological research by André Teixeira,
of Universidade Nova de Lisboa, have begun to pay off, with
the publication of the results of some campaigns8. There is,
however, the feeling that still remains unravelled the potential
of the way to be made through a systematic work of archaeological appreciation based on applied methodology and rehabilitation of heritage.
This book contains a global approach to the area of the castle,
which may lead to a guided decision-making process for what
is truly exceptional on that location for the explanation of Portuguese Culture. The interweaving of the physical component
of heritage with the reflection on national identity, in the establishment of the limits of Portugal, is another inherent aspect of the work that is being printed.
1.3 – UM PROPÓSITO DE SALVAGUARDA
In the ancient documents stating that from the castle of Almeida lands from eleven bishoprics9 can be seen, the issue is
not so much that it is an exceptionally high point from which
a greater ranger is achieved. Indeed, the mere elevation of topography of the land, while being quite hegemonic over the
surrounding territory (as it happens exactly at the point where
the castle of King Dinis was built), is sufficient to encompass
the skyline in a circular view that virtually only needs to face
adversity from weather conditions. Evidently this circumstance retains an increased value in terms of the strategic value
of a fortification – hence the existence of the castle since the
Nos documentos antigos em que se afirma que do castelo de
Almeida se avistam terras de onze bispados9, a questão não é
tanto por haver um ponto excepcionalmente elevado a partir
do qual se tenha um alcance maior. Na realidade, a simples
elevação da orografia do terreno, sendo ainda assim hegemónica no território em redor (como sucede exactamente com o
ponto onde foi construído o Castelo de D. Dinis), é suficiente
para fazer abarcar a linha do horizonte numa observação de
vista circular que praticamente só tem que enfrentar a adver-
1.3 – A PROPOSAL FOR SAFEGUARDING
Fotos das ruínas do Castelo tiradas da Torre do
Relógio em 2004 (Arquivo C. M. Almeida)
Pictures of the ruins of the Castle taken from
the Clock Tower, in 2004 (Archive of
Almeida’s City Hall)
6
“Plano de la plaza de Almeida situada
en la comarca de Pinel, aunque separada
la jurisdicción, se halla en los 40 grs. y 20
mins. de latitud, con 11 grs. y 20 mins. de
longitud”, op. cit. pp. 365-367.
7
Da bibliografia de M. Barroca ressaltam
os ensaios From the references by M.
Barroca, one highlights the essays “D.
Dinis e a Arquitectura Militar Portuguesa”
(1988), “Castelos Medievais Portugueses.
Origens e Evolução (1998), “Aspectos da
Evolução da Arquitectura Militar na Beira
Interior”(2000), “Tempos de Resistência e
de Inovação: Arquitectura Militar Portuguesa no Reinado de D. Manuel I (14051521)” (2003).
8
TEIXEIRA, André – Sondagens Arqueológicas no Castelo de Almeida e Envolvente: síntese dos resultados, in
CEAMA nº 2, João Campos (coord.), C.
M. de Almeida, 2008, “Almeida: o Potencial Arqueológico de um espaço de guerra
multissecular, in Candidatura das Fortificações Abaluartadas da Raia Luso-Espanhola a Património Mundial – UNESCO,
João Campos (coord.), pp. 53-59, C. M. de
Almeida, 2009 e, muito recentemente, “O
Castelo de Almeida – Arqueologia de um
espaço de guerra multissecular” (coord. e
textos do Catálogo da exposição.
Agosto/Setembro de 2013), C. M. Almeida, 2013.
9
CARVALHO DA COSTA, António,
“Corografia Portuguesa e Descripçam
Topográfica do Famoso Reino de Portugal”, 1706 e 1708, Braga (2ª ed.), 1868, p.
214; PINHO LEAL, Augusto Soares
d’Azevedo Barbosa de, “Portugal Antigo
e Moderno”, Lisboa, 1873, p.146.
15
Almeida O Castelo de D. Dinis Trazado_Maquetación 1 24/01/14 10:50 Página 16
Cortina, fosso e bastião Nascente / Norte da
muralha Manuelina numa fotografia de 2003
(Arquivo C. M. Almeida)
Curtain, ditch and East/North bulwark of the
Manueline wall, in a 2003 picture (Archive of
Almeida’s City Hall)
10
No decurso de um workshop integrado nas comemorações do Cerco de
Almeida, que ocorreram de 22 a 24 de
Agosto de 2008, foi apresentado e discutido um estudo preliminar para a
construção de uma edificação para equipamentos diversos, com uma esplanadamiradouro. No conjunto do percurso
lúdico que se equacionou foi integrado
um Memorial ao Sacrifício de Almeida
– ver / see CEAMA nº 3 (coord. João
Campos), C. M. Almeida, 2009, p. 65.
During a workshop within the commemorations of the Siege of Almeida, taking
place from 22nd to 24th August, 2008, a
preliminary study was presented and discussed for the construction of a building
for diverse purposes, with a belvedere. In
the leisure set that was being equated, a
Memorial to the Sacrifice of Almeida was
included.
11
Escultura de Paulo Marujo, provisoriamente montada junto das ruínas do Castelo e que, logo em Agosto de 2008, serviu
para o primeiro acto de homenagem às
vítimas do Grande Desastre.
Sculpture by Paulo Marujo, provisionally
placed near the Castle’s ruins and that, as
soon as August, 2008, served for the first
homage to the victims of the Great Disaster.
16
sidade das condições atmosféricas. Evidentemente que tal circunstância retém um valor acrescido do ponto de vista da estratégia de uma fortificação – e daí a existência do Castelo
desde o tempo dos Mouros ou, pelo menos, desde D. Dinis,
admitindo que a estrutura fortificada que foi «reconquistada»
para o rei Leonês se situaria a umas centenas de metros, sendo
obra do rei Português a construção castrense e a transferência
do povoamento, com concessão de foral, nos finais do século
XIII.
A intenção de possibilitar o disfrute de uma das belas visões
panorâmicas de 360º no território nacional foi objecto, em
200910, de uma apresentação preliminar de um projecto que
associava o aspecto lúdico de percursos e da existência de uma
esplanada à solução para integrar construções desenquadradas
existentes no local (cisterna de abastecimento público de água,
instalações de telecomunicações, etc.). Além disso procuravase já dignificar toda a área, fazendo convergir nela toda uma
carga simbólica em torno da celebração do Sacrifício de Almeida no cerco, destruição e morte das explosões de 1810. Daquela altura resultou a criação de um Memorial escultórico, a
integrar na construção do edifício-miradouro11.
Pode dizer-se que remontam tais estudos e produções a uma
fase de arranque em torno do objectivo mais abrangente de
reabilitar toda a zona do Castelo, e a que agora se regressa para
re-direccionar propostas.
Já antes, porém, houvera a decisão de transferir o cemitério
para fora de muralhas, tendo-se completado a exumação dos
sepultamentos, com a consequente possibilidade de reconversão dessa importante parcela.
time of the Moors or, at least, since D. Dinis, assuming that
the fortified structure that was “recaptured” for the Leonese
king would stand a few hundred meters and that the Portuguese king built the castle construction and transferred the
settlement, by granting a charter in the late thirteenth century.
The intention of providing the enjoyment of a beautiful 360º
panoramic view in the national territory was, in 200910, the
object of a preliminary presentation of a project that brought
together the leisure aspect of the paths and the existence of an
esplanade as the solution to integrate out-of-place construction on the site (public water supply cistern, telecommunication facilities, etc). Furthermore, the intention was already to
dignify the entire area, transforming it into the convergence
spot of the immense symbolism surrounding the commemoration of the Sacrifice of Almeida during the siege, destruction
and death explosions of 1810. That time resulted in the creation of a sculptural Memorial, which integrates the construction of a belvedere11.
One might argue that such studies and productions date back
to a startup phase around a more encompassing objective –
rehabilitating the entire area of the Castle.
Already before, however, there was the decision of transferring
the cemetery to the outside of the walls, completing the exhumation of the graves and the consequent possibility of reconverting that important parcel.
On the other hand, at the side of the Bulwark of Nossa Senhora das Brotas, its use was stabilized as a paddock and stud
farm, having then been extended to the outside with the creation of riding areas.
This leaves us the entire aspect of the archeological site already
recognized, integrating the urban arrangement in an encompassing manner.
This is the challenge that needs to be surpassed. To that extent,
one needs to deepen the knowledge on what is generically called Castle of D. Dinis, particularly by stabilizing contours of
its probable evolution up until the moment of its disappearance. This knowledge will inform on possible marks on the
land, allowing one to draw conclusions for the formulation of
proposals for drawing up spaces, in the lead of eventual archeological that still need to be discovered.
Only by knowing the historical and physical context of evolution will we be able to transform the place with a sense of proper preservation and transformation towards development.
We have a point of arrival: the desire to understand and share
an invaluable monument. With an overall contextualization
Almeida O Castelo de D. Dinis Trazado_Maquetación 1 24/01/14 10:50 Página 17
Por outro lado, na vertente do Baluarte de Nossa Senhora das
Brotas, estabilizou-se o seu usufruto como picadeiro e coudelaria, tendo-se estendido ao exterior a criação de áreas de prática da equitação.
Resta assim todo o aspecto do sítio arqueológico já reconhecido, integrando o arranjo urbano de um modo abrangente.
Este é o desafio que importa vencer. Para isso teremos que
aprofundar o conhecimento do que genericamente designamos por Castelo de D. Dinis, estabilizando os contornos da
sua evolução provável até ao momento em que desapareceu.
Esse conhecimento informará sobre marcas possíveis no terreno, permitindo tirar ilações para a formulação de propostas
de desenho dos espaços, na pista de eventuais valores arqueológicos que estarão por descobrir.
Só conhecendo o contexto histórico e físico da evolução verificada poderemos transformar o lugar com um sentido de correcta preservação e de transformação no sentido do
desenvolvimento.
Temos um ponto de chegada: a vontade de entender e partilhar um monumento inestimável. Com uma contextualização
geral e com a consciência do que é importante, poderemos
então apontar o futuro. A aposta na musealização do sítio arqueológico, a par do incremento das pesquisas, será o caminho a prosseguir.
Este livro pretende contribuir para o vislumbre do que pode
ser a capitalização do valor letárgico de umas pedras que terão
que passar a dizer muito mais às pessoas que as visitam.
and with the awareness of what is important, we can point out
the future. The musealization of the archaeological site alongside the growth of the research, will be the way to travel.
This book wants to contribute towards a glimpse of what may
be the capitalization of the lethargic value of some stones that
could begin to tell much more to the people visiting them.
Desde o ângulo Sul / Poente da plataforma
Oitocentista do Passeio Público então realizado
temos o desenvolvimento lateral / superior da
Porta Interior de Santo António e, em segundo
plano, o CEAMA, instalado na Porta Exterior do
revelim do mesmo nome. Depois temos duas
fotografias revelando a situação do fosso em
2013, por meio de duas imagens (em direcção a
Norte e a Nascente), com observação mais
detalhada da escarpa e contra-escarpa do fosso
e do bastião no ângulo Poente / Sul.
From the South/West angle of the 19thcentury platform of the Public Promenade,
built at the time, we find the later/upper
development of the Interior Gate of Santo
António, and, on the background, the
CEAMA, on the Outer Gate of the ravelin
with the same name. Then, two pictures
highlighting the situation of the ditch in 2013
via two images (North/East direction) with a
more detailed view of the scarpment and
counter-scarpment of the ditch and the
bulwark at the West/South angle.
Como noutras fotos incluídas neste capítulo, a presente dá-nos conta da singularidade da paisagem do alto
do Castelo. Em primeiro plano vêem-se construções e dispositivos técnicos de infraestruturas urbanas
desconformes com a importância patrimonial do sítio, e em relação aos quais já se procedeu
oportunamente à apresentação de uma solução (integrando um miradouro / memorial), a qual se recupera
agora nas propostas para a valorização de toda a zona.
As in other photos included in this chapter, this one provides an account of the uniqueness of the
landscape from the top of Castle. In the foreground, we see buildings and technical devices of urban
infrastructure, nonconforming with heritage importance of the site, and for which a solution was
already presented in a timely manner (integrating a belvedere/memorial), which is now recuperated in
the proposals now for the recovery of the entire area.
17
Almeida O Castelo de D. Dinis Trazado_Maquetación 1 24/01/14 10:50 Página 18
Almeida O Castelo de D. Dinis Trazado_Maquetación 1 24/01/14 10:50 Página 19
2
Almeida O Castelo de D. Dinis Trazado_Maquetación 1 24/01/14 10:50 Página 20
N
Na página anterior / Back page
Percepção da localização de Almeida,
numa implantação muito característica
das cidades ideais modernas, observandose a expressividade da divisão natural no
território.
Perception of the location of Almeida,
with an implantation very characteristic
of the modern ideal cities. One observes
the expressivity of the territory’s natural
division.
20
o mosaico de povos que conformaram a realidade cultural da Península Ibérica, o caso português apresenta
as suas especificidades, tal como os outros se reivindicam das suas razões e sentidos.
O que mais intriga na consubstanciação de um modo de ser
português, desde muito cedo virado para uma determinação
independentista – mais do que autonómica – foi, desde o início,
a obstinação de definir o território. Marcar a raia, a beira, o extremo, o limite. Essa foi uma constante que nos conduziu, com
os nossos vizinhos espanhóis, à definição da partilha do
Orbe…
Com os reinos peninsulares vizinhos não nos era bastante a
autonomia. Era a independência que se lograva alcançar nas
reconfigurações geográficas. Porém, não descurámos a hipótese de uma unidade – tutelada por Portugal – e que esteve
prestes a consumar-se por mais de uma vez, mas que afinal rejeitámos quando as duas Casas reais se reuniram sob o comando do mesmo monarca, cuja legitimidade por via lusitana
não oferece a menor das contestações. Nessa altura, voltámos
a preferir a independência e foi novamente a reconstrução dos
limites que implicou uma nova ideia de fortificação da fronteira, último esforço arquitectónico de dimensão nacional que
Portugal realizou num programa que abarcou reinados e gerações, atravessando praticamente dois séculos, e que se continuava simultaneamente, para além da Europa, na Península,
com a demarcação dos limites portugueses em três outros continentes: na América, contra Franceses, Holandeses e Espanhóis, em África contra Holandeses e Ingleses, na Ásia contra
Ingleses, Holandeses e os potentados locais.
A complexidade regional, geográfica e temporal como todo
esse vasto processo se consubstanciou, no conturbado período
das guerras e da diplomacia europeias, apresenta naturais variantes consoante os casos específicos. Nem tão-pouco é aqui
o momento de abordar a “maneira de ser” do Português, na
sua postura como homem universal. Se, não obstante, isso aqui
se invoca é tão apenas para que se refira que na própria constituição do Portugal como Nação, e logo como Estado, a matéria-prima da formação cultural do país não é consequência de
uma via de sentido único na afirmação hegemónica de uma
cultura contra outra, esmagando as aspirações de povos ou
substituindo as marcas das etnias, ou do aniquilamento de uma
língua ou outros movimentos de exclusão.
W
ithin the mosaic of peoples that formed the cultural
reality of the Iberian Peninsula, the Portuguese case
has its own specificities, such as the others claim
their own reasons and meanings.
What is most intriguing in the materialization of a Portuguese
way of being, which from a very early time seems to be determined to be independent – much more than autonomous, was
from the start a stubbornness to define the territory. Limit the
dry frontier, the edges, the extremes, the boundaries – this was
what drove us, together with our neighboring reign of Spain,
to define the sharing of the Globe…
With the neighboring peninsular kingdoms, autonomy was not
sufficient. We wanted to achieve independence in our geographical reconfigurations. Nevertheless, we did not overlook the
hypothesis of a union – overseen by Portugal – that almost became a reality more than once, which was ultimately rejected
when both Royal Houses were united under the reign of only
one monarch, whose legitimacy to become Portuguese King
cannot be contested. At that time, we once again preferred to
be independent and, again, the reconstruction of our frontiers
gave rise to a new idea of fortification of the frontier, a final architectural effort with a national dimension, during which Portugal put into practice a program that encompassed different
reigns and generations, spanning almost two centuries and
which was simultaneously continued, apart from Europe in the
Peninsula, with the demarcation of the Portuguese boundaries
across three other Continents: in America, against the French,
Dutch and Spanish; in Africa, against the Dutch and the English; and in Asia, against the English, Dutch, and local potentates.
The regional, geographical and chronological complexity of
this vast process, within the troubled period of wars and diplomacy in Europe, presents some natural differences according
to specific cases. Nor is this the moment to approach the “way
of being” of the Portuguese, in his posture as universal man.
However, if this is stated herein, it is only to mention that, during the constitution of Portugal as a Nation and, therefore, a
State, the raw material of the country’s cultural formation is not
a consequence of a one-way street to affirm one culture against
the other in a hegemonic fashion, by crushing the aspirations
of peoples or by replacing ethnic marks or by killing off a language or any other exclusion movements.
Almeida O Castelo de D. Dinis Trazado_Maquetación 1 24/01/14 10:50 Página 21
A miscigenação que é recorrente invocar na caracterização tipológica do homem português não se aplica somente para qualificar as influências culturais, e até étnicas, noutros países, ou
a forma como se realiza a integração do Português emigrado
nos países de acolhimento.
Na própria formação do país, Portugal é a alquimia da aculturação que integrou e transmutou diferenças e complementaridades entre diversos grupos populacionais, de díspares origens.
Mesmo quando comparado, no processo civilizacional da Cristianização Europeia em que Portugal se integra, nos seus confins ocidentais e ao lado dos outros reinos cristãos peninsulares,
os portugueses formaram-se com os que estavam no território,
ainda que fossem (ou tivessem sido) “infiéis”. Por isso, as ondas
de choque do Grande Cisma de 10541 repercutem-se em Portugal, no ressurgimento da fé, ajudando a construir uma fronteira, resguardando todos os que estavam dentro dos seus
limites, e projectando a sua expansão possível, assimilando e
integrando essas populações para o novo quadro civilizacional
cristão, a todos e com todos se miscigenando. No fim de contas,
só com gente, e com a gente que havia e se abrangeria na igualdade, se construiria soberania…
Portugal declara-se como reino (1143) umas décadas após o
Grande Cisma de 10542, podendo dizer-se que é também fruto
de um novo quadro civilizacional cristão, provocando os realinhamentos europeus, mas fazendo a aculturação e a miscigenação das diferenças e das aspirações da população num
quadro de povoamento orientado.
As adaptações diocesanas na área de contacto com os Muçulmanos, a Sul de Leão e de Portugal, enquadrando a Reconquista, tiveram a sua influência na definição do perfil do
território. Segundo Rita C. Gomes3, “um dos mais importantes
momentos de mudança dos equilíbrios regionais no século XII
ocorreu, justamente, com a autonomização de Ciudad Rodrigo,
localidade que estava até então dependente de Salamanca e que
o rei leonês Fernando II vai transformar em cidade episcopal
autónoma. Os salmantinos vão aliar-se a D. Afonso Henriques
na defesa dos seus interesses, provocando incursões do monarca português na ‘Estremadura’ leonesa, na década de 1160.
O que não impede que Ciudad Rodrigo, ainda por estes tempos
sem muralhas, se tivesse desenvolvido durante a segunda metade da centúria, estendendo o seu território para ocidente, até
à ‘terra de Castel Rodrigo’. Também as comunidades monásticas e as ordens religiosas, a par dos poderosos terratenentes e
da expressão livre dos concelhos instituídos por privilégio real,
todos juntos vão entretecer uma sedimentação do sentido nacional, o qual progressivamente deixaria de ser incipiente.
The miscegenation that one needs to invoke when characterizing the type of Portuguese man, it not only applied to qualify
cultural and even ethnic influences in other countries or the
way the Portuguese emigrated to the host countries.
In the formation of the country, Portugal is the alchemy of acculturation that integrated and transmuted differences and
complementarities among various population groups of contrasting origins.
Even when compared with the civilization process of European
Christianization, where Portugal is integrated, across its Western boundaries and alongside with other Peninsular Christian
kingdoms, the Portuguese mingled with those who were already in those territories, even if these were (or had been) “infidels.” Therefore, the shock waves of the Great Schism of 10541
reverberated in Portugal in the resurgence of faith by helping
to build a border, protecting all who were within its limits and
projecting its possible expansion, thus assimilating and integrating those populations within the new Christian civilization
by creating a miscegenation process to all and with all. After
all, only with people and with the people who existed and was
encompassed by equality, could the sovereignty be built…
Portugal becomes a kingdom (1143) several decades after the
Great Schism of 10542, a consequence of a new Christian civilizational framework, and causes realignments in Europe, while
conducting the miscegenation and acculturation of the differences and aspirations of the population within a framework
of oriented settlement.
The religious adaptations in the areas of contact with the Muslims, to the South of Leon and Portugal and during the Reconquest, had their influence to define the territory’s profile.
According to Rita C. Gomes3, “one of the most important moments of change in the 12th-century regional balances took
place, precisely, with Ciudad Rodrigo becoming autonomous,
a town that was hitherto dependent of Salamanca and that the
Leonese King Fernando II will transform into an autonomous
Episcopal city. The Salmantinos will ally with D. Afonso Henriques in order to defend their interests, leading the raids ordered by the Portuguese monarch at the Leonese Estremadura,
during the 1160s. The fact remains that Ciudad Rodrigo, still
without its walls at this time, developed quite expressively during the second half of the century, extending its territory westward, to the “land of Castel Rodrigo”. Monastic communities
and religious Orders, together with powerful landowners and
the free expression of municipalities instituted by royal privilege, will weave together the sediments of a national sense,
which gradually cease to be incipient.
1
A separação entre as Igrejas Católica e
Ortodoxa determinou o enfraquecimento de um processo civilizacional em
que, mais tarde, entronca a queda de
Constantinopla (1453). No ínterim,
ocorrem no Ocidente muitos movimentos purgatórios e reformadores, implicando profundamente os contornos
institucionais e políticos do continente.
The separation between the Catholic and
Orthodox Churches succeeded in undermining a civilizational process in which,
later, was linked to the fall of Constantinople (1453). In the meantime, there
were, in the West, many purgatories movements and reformers, implying deep political and institutional boundaries of the
continent.
2 Neste ano, em Constantinopla, dá-se
a consumação da separação entre a
Igreja cristã, originando a Igreja católica
de Roma e a Igreja ortodoxa. Perdurando divergências desde a divisão do
Império Romano, foi o momento de
marcar posições de controlo pelo poder
teológico e terreno. Por outro lado, o
Ocidente era permeável à influência dos
Bárbaros, vindos sobretudo do Centro/Norte da Europa (tendo Roma
apoiado o Sacro Império com Carlos
Magno), ao passo que o Oriente estava
mais estabilizado, mantendo-se mais fiel
à tradição helenística bizantina.
This year, in Constantinople, was the consummation of the separation of the Christian Church, giving rise to the Roman
Catholic Church and the Orthodox
Church. Keeping the differences since the
division of the Roman Empire, it was time
to mark the positions of control by the
theological and terrain power. Moreover,
the West was permeable to the influence
of the Barbarians, coming mainly from
Central / Northern Europe (Rome and
supported the Holy Roman Empire with
Charlemagne), while the East was more
stabilized and remained more faithful to
the Hellenistic tradition Byzantine.
3 COSTA GOMES, Rita, Castelos da
Raia, vol. I, Beira (1996) 2001, IPPAR,
Lisboa, p. 5.
21
Almeida O Castelo de D. Dinis Trazado_Maquetación 1 24/01/14 10:50 Página 22
2.1 – PRIMÓRDIOS E ANTECEDENTES
DE UMA REGIÃO ESTRATÉGICA SINGULAR
2.1 – BEGINNINGS AND HISTORY OF
A UNIQUE STRATEGIC REGION
As Terras de Riba-côa situam-se numa das mais vetustas regiões da Península, seja do ponto de vista geológico, seja do
ponto de vista histórico. Na época dos Lusitanos, povos pastores, a área era atravessada por rotas de transumância na ida
para a Bética ou para o Douro, durante as inverneiras e no regresso aos Montes Hermínios, nas brandas ou tempo calmoso.
As tribos Transcudanas tinham por vizinhos os Lusitanos Lancienses, na região da Guarda, os Ávaros, na zona de Marialva,
os Medobrigenses no planalto da Mêda e os Longobrigenses
nas encostas do graben de Longroiva, nos confins ocidentais
da Meseta. Mais para Leste, os Vetones ou Vetões, aparentados
com os Lusitanos, estendiam-se um pouco para Nascente de
Salamanca integrando Cattacobriga, isto é, Almeida.
A incorporação dos territórios de Riba-Côa corresponde em
parte a uma razão histórica, baseada nos direitos de trânsito
dos gados. Tradicionalmente aqueles territórios pertenciam aos
Lusitanos, sendo essa a razão da Guerra Viriática do período
Romano, mas também no período Visigótico, no domínio Muçulmano e na fase da Reconquista.
A região de Riba-Côa era um espaço de trânsito. Esse direito
de passagem não pode ser negado. Existe referido nos “fueros”
de Alfaiates, anterior à incorporação portuguesa, e foi uma das
razões da Batalha de Navas de Tolosa (1212), garantindo o
pasto dos rebanhos cristãos na bacia do Guadiana.
The Lands of Riba-Côa are located in one of the most ancient
regions of the Peninsula, both from a geological and an historical point of view. At the time of the Lusitanians, pastoral people, the area was crossed by the routes of transhumance on
the way towards Bética or the Douro, during the winter time,
and to return to the Hermínios Hills, during milder weather.
The Transcudana tribes neighbored with several peoples: the
Lusitanos Lancienses at the region of Guarda, the Ávaros, at
the area of Marialva, the Medobrigenses at Mêda’s plain and
Longobrigenses at the hills of the graben of Longroiva, in the
confines of the Western Plateau. Farther east, the Vettones, akin
to the Lusitanians, stretched a bit further to the East of Salamanca, integrating Cattacobriga, i.e., Almeida.
The incorporation of the territories of Riba-Côa corresponds,
partly, to an historical reason, based on the husbandry routes.
Traditionally, those territories belonged to the Lusitanians, the
reason why the Viriathus’ War took place during the Roman
occupation period, but also during the Visigoth occupation,
the Muslim occupation and the Reconquista period.
The region of Riba-Coa was, therefore, a space of transit. This
right of passage could not be denied. It is mentioned in Alfaiates’ charter, prior to the Portuguese integration, and was one
of the reasons behind the Battle of Las Navas de Tolosa (1212),
ensuring the pasture for the Christian flocks in Guadiana’s
basin.
2.2 – AS TERRAS DE RIBA-CÔA COMO CHAVE DA
IDEALIZAÇÃO DE UMA FRONTEIRA
Raia é um mero traço no mapa ou um espaço de geometria um
pouco variável, ou fluida, que vai desenhando um compromisso entre dois lados, entre dois territórios, dois povos ou dois
Estados, geralmente de cultura idêntica ou sobreponível.
E é tão artificial o efeito do traçado da linha de fronteira que,
em certos troços desse traço, se percebe que estamos perante
uma mera convenção, tão simbólica no terreno como na cartografia pode ser o que, mais ou menos artificialmente, se
queira traçar.
Há dezenas de quilómetros sem qualquer espécie de explicação
natural para que a fronteira seja por ali e não por outro lado,
ou então, muitas vezes, seria natural que a fronteira fosse por
um determinado acidente morfológico, mas adoptou-se outra
razão, de menor aparato ou justificação aparente.
22
2.2 – THE LANDS OF RIBA-CÔA AS THE KEY FOR
IDEALIZING A FRONTIER
The dry frontier is a mere line drawn in a map or a geometrical
space quite variable or fluid that designs a commitment between both sides, between two territories, two peoples or two
states, which generally had a shared or similar culture.
And the effect of tracing the frontier’s line is so artificial that
in some stretches of this line one realizes that one is only seeing
a mere convention, as symbolic in the terrain as in the cartography, which more or less artificially tries to define it.
There are dozens of kilometers without any sort of natural explanation for the frontier to be there or elsewhere or, often, it
would be natural for the frontier to be caused a given morphological incident but another reason was chosen, of lesser importance or apparent significance.
The most ancient toponyms of the foundation of the Portuguese nationality reflect this aspiration precisely, conveying the
desire of creating a frontier: Beira (“Edge”), Extremadura (“Ex-
Almeida O Castelo de D. Dinis Trazado_Maquetación 1 24/01/14 10:50 Página 23
Os topónimos mais antigos da fundação da nacionalidade portuguesa reflectem esse mesmo anseio, pelo significado imanente no desejo de fazer o delineamento da fronteira: Beira,
Extremadura, Ribacôa, Alentejo… Ainda que a linha de separação seja um tanto difusa – mais do que um limite, uma raia,
fenómeno peninsular característico de marcar uma pertença.
Simultaneamente, essa toponímia nova e ideológica tem na
base outras, mais arcaicas, práticas e populares, que nos explicam exactamente os primórdios: a miscigenação é realizada
com a população islâmica que habita o lugar.
Atentemos no que se passa na Beira, na região ribacudana. Do
lado português, os topónimos das povoações não podem ser
mais explícitos – Almeida, Alfaiates, Bismula4…
A necessidade de uma percepção da posse, colocando marcos
no território e cobrando impostos, sujeitando à guerra ou
dando forais, tudo isso perpassa claramente na fixação do território de Ribacôa: no ano anterior à assinatura do Tratado de
Alcanices (1297, que é o da concessão do foral de D. Dinis a
Almeida), os representantes dos povos expressam a decisão de
inquirir as demarcações “desde a agoa do Tejo até onde entra
o Côa no Douro”.
Depois, com o Tratado, vai verificar-se um delineamento da
fronteira que não segue a morfologia dominante do terreno:
apesar de menos claro, tem a vantagem de ser mais perene, pois
os rios, “como notou o geógrafo Raffestin, originam geralmente
fronteiras disputadas e conflituosas (onde se situa o limite: nas
margens –e qual delas– ou a meio do curso das águas?)”5.
Paradoxal será o facto de essas aparentes debilidades parecerem
dar-nos, afinal, o cimento do respeito pelo outro, aquilo que
está na base da manutenção – com pequenas variações ao
longo de séculos – de uma linha de fronteira que é a mais estável e a mais antiga do mundo. Falamos de uma fronteira
aberta, sem traços naturais compreensíveis, aquela que Almeida e Ciudad Rodrigo pontuam em cada lado da linha de
separação.
Não é que não pudesse eleger-se um acidente natural que desse
inequívoca menção da separação. Mas o conceito de ser-se independente, em Portugal, não implica a ausência do outro. A
Raia também une, sobrepondo caminhos e pertenças: a cultura
galaico-portuguesa, por exemplo, é disso flagrante exemplo,
com a fronteira do Minho nunca desunindo os povos dessa
raia húmida do Norte português.
Como aqui, na “Raia central”, escolhido o começo da Meseta
que já não era Portugal, Almeida constitui a referência e a âncora do respeito pela soberania acordada: Almeida significa,
do árabe, justamente, a mesa que se antevê, a partir daí, nos
plainos de Leão e de Castela. Portugal é ainda a orografia do
Côa, deixando depois de o ser com a paisagem do Águeda.
treme”), Riba-Côa (“Côa’s Margin”), Alentejo (“Beyond the
Tagus”) … Even if the separation line is quite diffuse – more
than a limit, a dry frontier, a peninsular phenomenon that is
characteristic of making a stand.
Simultaneously, this new and ideological toponymy is based
on other toponymys, more archaic, practical and popular,
which explain the ancient times: the miscegenation with the
Muslim population that lives there.
Let us consider what is happening at the Beira, on the region
of the Riba-Côa. On the Portuguese side, the names of the villages couldn’t be more explicit – Almeida, Alfaiates, Bismula4…
The need to establish ownership, by placing landmarks and
charging taxes, subjecting to war or giving charters, all of this
is clearly exemplified in the way the territory is established in
Riba-Côa: the year before the signing of the Treaty of Alcañices
(1297, the same year that D. Dinis gave the charter to Almeida),
the representatives of the people expressed the decision to ask
about the limits “from Tagus’ waters to where Côa enters the
Douro.”
Afterwards, with the Treaty, the frontier limits do not follow
the terrain’s dominant typology: despite being less clear, it holds
the advantage of being more lasting, since rivers “[A]s noted
by the geographer Raffestin, usually originate borders often
disputed and conflict-ridden (where is the limit situated? On
the banks – and which one of them – or in the middle of the
water?)”5.
Paradoxical is the fact that these apparent weaknesses provide,
after all, the cement of the respect for others, the feeling that
will be at the basis for the maintenance – with minor variations
over the centuries – a boundary line that is most stable and ancient in the world. This is an open border, with no natural traits
visible, the one that Almeida and Ciudad Rodrigo hold on each
side of the separation line.
One could easily choose a natural accident that unequivocally
could provide a mention of the separation. But the concept of
being independent, in Portugal, does not imply the absence of
the other. The frontier also unites, overlapping routes and belongings: the Galician-Portuguese culture, for instance, is a blatant example, since the Minho’s frontier was never able to
separate the peoples of that frontier in the Northern region of
Portugal.
As here, at the “central frontier,” after the beginning of the Plateau was chosen, which was not Portuguese territory, Almeida
is the reference and the anchor of the respect for the sovereignty agreed upon: Almeida means, in Arabic, precisely, the
plateau that overlooks the plains of Leon and Castile. Portugal
is still Côa’s orography, no longer so after Águeda’s landscape.
4
Sendo todos de origem árabe, no caso
da aldeia de Bismula está-se a referir à
própria oração principal dos Islâmicos.
Being all of Arab origin, in the case of the
village of Bismula, one is referring to the
main Islamic prayer itself.
5
COSTA GOMES, Rita. Castelos da
Raia - Vol. 1, Beira, p. 14.
23
Almeida O Castelo de D. Dinis Trazado_Maquetación 1 24/01/14 10:50 Página 24
6
A Bula do Papa Alexandre III, “Manifestis Probatum” data de 23 de Maio de
1179.
The Bull of Pope Alexander III, “Manifestis Probatum”, May 23rd, 1179.
24
Aqui vigia Ciudad Rodrigo, além permanece Almeida, vigilante na perenidade do Tratado de Limites em função mais antigo do Mundo. Esse convénio de Alcanices, celebrado em
1297, culminou século e meio de uma urdidura constante a
fazer a fronteira, desde Afonso Henriques, tecendo a raia como
se compõe um novo organismo global e autónomo, até que
ganha foros de verdadeiro reconhecimento, que é o da aceitação pelos seus vizinhos, já depois de reconhecido, desde há
muito6, pelas instâncias internacionais, isto é, devidamente reconhecido pelo Papa.
A questão da fronteira foi, como dizíamos, objecto de activa
movimentação logo desde o primeiro rei, D. Afonso Henriques, o qual fez diversas incursões (também repetidas por seu
filho e sucessor D. Sancho I) para capturar, sem sucesso, Ciudad Rodrigo, incluindo a acção de destruição de um primeiro
castelo recém-construído.
Here, Portugal overlooks Ciudad Rodrigo and Almeida becomes the vigilant of the perpetuity of the world’s most ancient
Boundaries’ Treaty, still in force.
This agreement established in Alcañices, celebrated in 1297,
put a stop to a century and a half of a constant warp to create
the border, already coming from the time of Afonso Henriques,
weaving the frontier as a new global and autonomous body,
until it is truly recognized by being accepting by its neighbors
– after having been already recognized since long6, by the international authorities, that is, duly recognized by the Pope.
As was being said, the issue of the frontier was the object for
an active movement that lasted already since the first King –
D. Afonso Henriques – who made several raids (repeated by
his son and successor D. Sancho I) to capture, unsuccessfully,
Ciudad Rodrigo, including the destruction of a newly built first
castle.
2.3 – D. DINIS E O TRATADO DE ALCANICES
2.3 – KING DINIS AND THE TREATY OF ALCAÑICES
A observação do fenómeno do estabelecimento de uma rede
estruturada de território ocupado não se confina ao interesse
da defesa e correlativos aspectos militares.
Porventura, a fortificação da raia é uma questão muito mais
vital do ponto de vista do aprofundamento da consubstanciação de um status económico e social que viabilizasse uma identificação soberana autónoma com um reino independente.
Para isso era necessário que os povos fossem viáveis e, para tal,
a defesa do seu estabelecimento num território potencialmente
disputado só podia ser feita construindo castelos.
Nesse sentido, de um lado e de outro assiste-se a um polvilhamento de torres de vigia e de cercas de protecção, várias sendo
as que, no lado português, são de fundação leonesa. Porém, do
lado português, a intenção é desde cedo orientada no sentido
de fazer urbe conjuntamente com a defesa, criando uma rede
estruturada, incluindo a hierarquia religiosa e civil representadas ao mais alto nível, fazendo a jurisdição no território. Uma
rede assim intencionalmente trabalhada gerou uma trama sociopolítica coerente e autónoma que se afirmou sem ter havido
necessidade de antagonização entre os povos e comunidades
locais. Aliás, alguns desses povos e desses castelos eram pertença do Reino de Leão, tratando-se de os “reconfigurar” para
Portugal.
É no fenómeno urbano por extenso – económico, social, religioso, administrativo, de cobrança de impostos, de celebração
da justiça, de infraestruturação geral do espaço representativo
como sede do poder a todos os níveis – que verdadeiramente
Establishing a well-structured network of the occupied territory is not restricted to the interest of defense and respective
military aspects.
In fact, the fortification of the frontier is a much vital issue if
one considers the materialization of an economic and social
status that enabled an autonomous and sovereign identification
as an independent kingdom.
To that extent, the peoples needed to be viable and, for such,
the defense of their ownership over a potentially disputed territory could only be made by building castles.
In this sense, on one side and the other, one witnesses the appearance of watchtowers and protection fences, of which, on
the Portuguese side, many have a Leonese foundation. Nevertheless, on the Portuguese side, the intention is, from the start,
oriented towards building towns and defensive mechanisms
jointly, by creating a structured network, including the religious
and civil hierarchy represented at the highest level, to offer jurisdiction over the territory. A network thus intentionally crafted generated a coherent and independent socio-political plot,
which was created without the need of antagonizing the peoples and local communities. Incidentally, some of these people
and these castles belonged to the Kingdom of León and they
had to be “reconfigured” to Portugal.
If one considers the urban phenomenon as a whole – economic, social, religious, administrative, tax collection, celebration
of justice, creation of general infrastructures representing
power in all levels – one sees the king’s sovereignty rising above
the castle’s alcalde.
Almeida O Castelo de D. Dinis Trazado_Maquetación 1 24/01/14 11:11 Página 25
se exerce a soberania do rei, acima de quem tenha por alcaide
no castelo.
Este movimento da consolidação raiana ocorre principalmente
durante os reinados de D. Afonso III e D. Dinis, quando se esgota o impulso da compressão anti-muçulmana, a cargo dos
portugueses, tornando-se conveniente tratar do perfil a Nascente.
Nos decénios em que duram aqueles reinados observa-se uma
constância no entendimento da geomorfologia política do território, balizados pelos Tratados de Badajoz (1267)7 de Alcanices, trinta anos depois.
O papel de D. Dinis na assinatura do acordo de fronteira global
começara, porém, muito antes. Na verdade, seu pai utilizou as
relações familiares entre as duas casas reais para o enviar, apenas com sete anos de idade, à corte de Afonso X em Sevilha,
para que este (que era seu avô), o armasse cavaleiro – e assim
constituindo o momento preambular do acordo de Badajoz e
do caminho a fazer até Alcanices, mais tarde celebrado com
Fernando IV de Leão e Castela, seu tio.
A indefinição dos limites permanecia ainda no findar do século
XIII. D. Dinis opta com segurança pela opção de uma linha de
fronteira a estabelecer na margem direita do Côa e, com grande
pompa e afirmação de vontade, concede foral a Almeida, dez
meses antes da celebração do acordo com o reino vizinho.
Nessa antecipação está implícita uma vontade de afirmação, e
na formalização do acto, dado em Trancoso, estava reunida
uma corte notarial nunca vista, a subscrever o documento.
No Tratado de Alcanices está exarada a posição de D. Fernando, rei de Leão e Castela: “entendendo e conhecendo que
vós haveis direito em alguns lugares dos castelos e vilas de Sabugal e de Alfaiates e de Castelo Rodrigo e de Vilar Maior e de
Castelo Bom e de Almeida e de Castelo Melhor e de Monforte
e dos outros lugares de Riba Côa, que vós Rei D. Dinis tendes
agora em vossa mão e porque vos apartais do direito que havíeis em Valencia e em Ferreira e em o Esparregal, que agora tem
a Ordem de Alcântara na sua mão e que havíeis em Ayamonte
e em outros lugares, etc. […]”. Mais à frente o Tratado refere
expressamente que o rei português “renunciava ao direito que
tem em Valencia, em Ferreira, no Esparregal e em Ayamonte”,
podendo por isso inferir-se que a ocupação da região ribacudana por D. Dinis, a que tinha direito, terá sido feita tirando
proveito de uma vantagem militar. Não obstante esses domínios são reclamados mais tarde pelos Portugueses, justificando
primeiramente que a própria Ordem de Alcântara era de fundação portuguesa, tendo origem no bispado de Pinhel, próximo da povoação de Cinco Vilas, com o nome de Ordem de
S. Julião do Pereiro. Já no foral de Sortelha (município de Sabugal) dado por D. Sancho II – portanto muito antes do Tra-
This movement to consolidate the dry frontier takes place
mainly during the reigns of D. Afonso III and D. Dinis, when
the anti-Muslim compression impulsion comes to an end, and
in charge of the Portuguese, being convenient to draw limits to
the East.
In the decades during those reigns, one observes a constant in
the understanding of the territory’s political geomorphology,
limited by the Treaties of Badajoz (1267)7 and Alcañices, thirty
years later.
The role of D. Dinis during the signature of the global frontier
agreement had, nevertheless, started years earlier. In fact, his
father used his family relationships between both royal houses
to send him, at the age of seven, to the Court of Alfonso X in
Seville, so that the latter (who was his grandfather) would
knight him – thus constituting the preamble to the agreement
of Badajoz and the route to travel until Alcañices, later celebrated with Fernando IV of Castile and Leon, his uncle.
The vagueness of the boundaries lingered on until the end of
the 13th century. D. Dinis safely opts for a boundary line to be
established on the right bank of the Coa, and with great pomp
and assertion of will, he grants a charter letter to Almeida, ten
months before the conclusion of the agreement with the neighboring kingdom. In this anticipation, there is an underlying
motivation to be affirmed and, during the formalization of the
act given in Trancoso, a never-before-seen court was gathered
to sign the document.
The Treaty of Alcañices records the position of D. Fernando,
King of Castile and Leon: “[U]nderstanding and knowing that
you have the right over some castles and villages of Sabugal,
Alfaiates, Castelo Rodrigo, Vilar Maior, Castelo Bom, Almeida,
Castelo Melhor, Monforte and other places of Riba Côa, that
you, King D. Dinis, have in your hand and since you forego
your rights over Valencia, Ferreira, and Esparregal, who now
has the Order of Alcântara in his hand and that you have in
Ayamonte and other places, etc. […].” Further on, the Treaty
clearly states that the Portuguese King “[F]orewent his right
over Valencia, Ferreira, Esparregal, and Ayamonte,” which may
lead to the conclusion that the occupation of the region of RibaCôa by D. Dinis, rightfully so, was made by taking advantage
of a military advantage. Nevertheless, these dominions are later
reclaimed by the Portuguese with the main justification that
the Order of Alcântara had a Portuguese origin, at the Bishopric of Pinhel, near the village of Cinco Vilas, under the name
of Order of S. Julião do Pereiro. The charter letter of Sortelha
(municipality of Sabugal), given by D. Sancho II – much earlier
than the Treaty of Alcañices – clearly states that the village of
Valencia de Alcântara originated in Sortelha.
7
Firmado entre Afonso X de Castela e
Afonso III de Portugal a 16 de Fevereiro
de 1267, foram acertadas demarcações
“assi como entre Caya en Goadiana
como se va por la vena al mar”, para
além de outras questões que retiravam
inferioridade nos direitos de soberania
portuguesa sobre o território do Algarve. A partir de 1264, com vista ao esclarecimento dos direitos e regras, foram
nomeados pela primeira vez “partidores”, com base em cujo trabalho “por primera vez se produce una delimitación y
reconocimiento de situaciones en toda
la frontera”.
Signed between Afonso X of Castile and
Afonso III of Portugal on February 16th,
1267, were agreed boundaries “as signed
between Caya en Goadiana as “se va por
la vena al mar”, in addition to other issues withdrewing inferiority in the rights
of sovereignty Portuguese territory on the
Algarve. From 1264, in order to clarify
the rights and rules, were named the first
“separators” based on whose work “por
primera vez se produce una delimitación
y reconocimiento de situaciones en toda
la frontera”.
25
Almeida O Castelo de D. Dinis Trazado_Maquetación 1 24/01/14 11:11 Página 26
Na linha do horizonte, a meio, divisa-se o
dissimulado perfil da praça-forte de Almeida,
sinalizando o começo da Meseta Ibérica, na
direcção Nascente, para lá do acidente
orográfico que se pressente e que constitui o
vale escavado do rio Côa
On the middle of the horizon, one sees the
dissimulated profile of the stronghold of
Almeida, marking the beginning of the Iberian
Meseta, on the East, beyond the imminent
orographic accident, which is the excavated
valley of river Côa.
26
tado de Alcanices –, diz-se que a população de Valencia de Alcântara era proveniente de Sortelha.
De todo o modo ficou assim garantida a transumância NorteSul, essencial para os povos que seguiam uma lógica consuetudinária da geografia económica. Na zona, a toponímia
guarda a memória da sua importância vital: nas proximidades
de Almeida, encontra-se, por exemplo, Porto de Ovelha, Cabreira, Malhada Sorda. A Beira cinde-se da Extremadura espanhola na faixa do vale do Côa, o sítio da mais antiga e extensa
manifestação de arte rupestre da Humanidade.
O delineamento da raia consubstanciou a paz entre os dois reinos, tendo-se consumado algumas alterações de pertença: em
troca de Aroche e Aracena, assim como dos domínios de Aiamonte, Esparregal, Ferreira de Alcantara e Valença de Alcantara, e ainda de outros lugares nos ‘‘Reinos de Leão e de Galiza’’,
Portugal agregou Campo Maior, Ouguela e Olivença (hoje administrada por Espanha) e, principalmente, viu reconhecida a
posse definitiva das ‘‘Terras de Riba-Côa’’ e seus castelos (Almeida, Alfaiates, Castelo Bom, Castelo Melhor, Castelo Rodrigo, Monforte, Sabugal e Vilar Maior) e de San Felices de los
Gallegos (hoje na posse de Espanha).
Para sublinhar o expresso reconhecimento de uma raia que se
antevia como fulcro de um traçado de soberania, a fala do rei
de Leão e Castela não deixa de enfatizar o acordo alcançado.
Diz o texto, literalmente: “E outro si por que me vós partades
das demandas que me faziades sobre razon dos termos, que
som antre meu Senorio, e vosso por esso me vos parto do ditos
Castellos, e Villas, e Lugares de Sabugal, e de Alfayates, e de
Castel Rodrigo, e de Villa Maior, e de Castel Boom, e de Almeida, e de Castel Melhor e de Monforte, e dos outros Lugares
de Riba Coa que vós agora teendes à vossa maãao, com todos
seus Termos, e Direitos, e perteenças, e partome de toda demanda, que eu hei, ou poderia aver contra vós, ou contra vossos successores per razom destes Lugares sobreditos de Riba
Coa, e de cada hum delles. E outo si me parto de todo o Direito,
In any event, the North-South transhumance was granted, essential for the people that followed the usual logics of economybased geography. In the zone, the toponymy guards the
memory of its vital importance: near Almeida, for instance,
one finds Porto de Ovelha, Cabreira, Malhada Sorda. The Beira
is separated from the Spanish Extremadura at Côa’s valley, the
place for the oldest and most extensive manifestation of the
rock art of Humanity.
The limitation of the border materialized the peace between
both kingdoms, while some changes of ownership took place:
in exchange for Aroche and Aracena, as well as Aiamonte, Esparregal, Ferreira de Alcantara, Valença de Alcantara, and
other places of the “Kingdoms of Leon and Galicia”, Portugal
aggregated Campo Maior, Ouguela, and Olivença (today under
Spanish rule) and mainly, it obtained the definitive ownership
over the “Lands of Riba-Côa” and its castles (Almeida, Alfaiates, Castelo Bom, Castelo Melhor, Castelo Rodrigo, Monforte,
Sabugal, and Vilar Maior) and São Félix dos Galegos (today
under Spanish rule).
To underline the categorical recognition of a frontier that was
anticipated as the fulcrum point of a tracing of sovereignty, the
speech of the king of Leon and Castile emphasizes the agreement reached. The text literally states: “E outro si por que me
vós partades das demandas que me faziades sobre razon dos
termos, que som antre meu Senorio, e vosso por esso me vos
parto do ditos Castellos, e Villas, e Lugares de Sabugal, e de Alfayates, e de Castel Rodrigo, e de Villa Maior, e de Castel Boom,
e de Almeida, e de Castel Melhor e de Monforte, e dos outros
Lugares de Riba Coa que vós agora teendes à vossa maãao, com
todos seus Termos, e Direitos, e perteenças, e partome de toda
demanda, que eu hei, ou poderia aver contra vós, ou contra
vossos successores per razom destes Lugares sobreditos de Riba
Coa, e de cada hum delles. E outo si me parto de todo o Direito,
ou jurisdiçom, ou, Senorio Real tambem en possissom come
em propriedade, come en outra maneira qualquer, que eu hi
Almeida O Castelo de D. Dinis Trazado_Maquetación 1 24/01/14 11:11 Página 27
DOCUMENTOS DE SOBERANIA RELACIONADOS COM ALMEIDA
SOVEREIGNITY DOCUMENTS RELATED WITH ALMEIDA
CARTA DE FORAL [DE ALMEIDA] DOADA POR EL-REI D. DINIZ
NO DIA 8 DE NOVEMBRO DE 1296 NA VILA DE TRANCOSO
[ALMEIDA’S] CHARTER LETTER GIVEN BY KING D.
DINIS ON 8TH NOVEMBER, 1296, AT THE VILLAGE OF TRANCOSO
O âmbito do texto do foral é muito simples, praticamente consistindo num
juramento da Casa Real (“eu Dom Dinis pela graça de Deus Rei de Portugal
e do Algarve em conjunto com minha mulher a Rainha Dona Isabel e com
meus filhos Infante Dom Afonso e Dona Constança”), garantindo para
sempre a “ essa Vila e Castelo de Almeida com todas as suas aldeias e termo”
[…] “todos os vossos foros, usos e costumes”. Será interessante observar
desde logo a importante subscrição do documento, acompanhando o selo
real pendente (“para sempre dou a vós esta minha carta selada da minha
bola de chumbo que tenhais em testemunho”): Infante D. Afonso (príncipe
herdeiro), D. Martim Gil, alferes, D. João Afonso d’Albuquerque, D. João
Fernandes, de Lima, D. João Rodrigues, de Briteiros, D. Fernão Peres, de
Barvosa [Varosa?], D. Lourenço Soares, de Valadares, D. Pedro Eanes, D.
João Mendes, de Briteiros, João Symhom, Durão Martins, mordomo, Silvestre Miguens, sobrejoiz (?), Pedro Afonso, ribeiro.
A importância do acto é transmitida, não apenas por o foral ser concedido pelo rei, mas subscrito pela rainha e pelos filhos, Afonso (futuro
rei) e Constança, o Chanceler do reino, alguma gente nobre e das leis
mas, sobretudo, pelo reconhecimento da Igreja, que de igual modo assim
se distingue: “D. Martinho, arcebispo de Braga, D. Joane, bispo de Lisboa,
D. Pedro, bispo de Évora, D. Sancho, bispo do Porto, D. Egas, bispo de
Viseu, D. Vasco, eleito de Lamego, D. Frei João, bispo da Guarda, D. Frei
Domingos, bispo de Silves. D. Estêvão Eanes, chanceler-geral, Domingos,
deão de Braga, Paio Domingues, deão de Évora, João Peres, dalpram (?)”.
The scope of the charter letter’s text is quite simple, virtually being an oath of
the Royal House (“I, Dom Dinis by the Grace of God King of Portugal and
the Algarve, together with my wife, the Queen Dona Isabel, and my children,
Prince Dom Afonso and Dona Constança”) that guarantees, forever, to “that
Village and Castle of Almeida, with its villages and limits” […] “all charters,
uses and traditions”. It is interesting to see, from the start, the important signatures of the document that accompany the pending royal seal (“forever I
give you this letter, sealed with my lead ball, for which you bear witness”):
Prince D. Afonso (heir to the throne); D. Martim Gil, ensign, D. João Afonso
d’Albuquerque, D. João Fernandes, of Lima, D. João Rodrigues, of Briteiros,
D. Fernão Peres, of Barvosa [Varosa?], D. Lourenço Soares, of Valadares, D.
Pedro Eanes, D. João Mendes, of Briteiros, João Symhom, Durão Martins,
mordomo, Silvestre Miguens, Sobrejoiz (?), Pedro Afonso, ribeiro.
The importance of the act is conveyed not only because the charter is granted
by the king, but also because it is signed by the queen and his children, Afonso
(future king) and Constança, the Chancellor of the kingdom, some noblemen
and lawmen but, mainly, because it was recognized by the Church, also distinguishing: “D. Martinho, archbishop of Braga, D. Joane, bishop of Lisbon,
D. Pedro, bishop of Évora, D. Sancho, bishop of Porto, D. Egas, bishop of
Viseu, D. Vasco, chosen for Lamego, D. Frei João, bishop of Guarda, D. Frei
Domingos, bishop of Silves. D. Estêvão Eanes, general-chancellor, Domingos,
Dean of Braga, Paio Domingues, Dean of Évora, João Peres, dalpram (?)”.
“Carta de foral doada por El-Rei D. Dinis no dia
6 de Novembro de 1296, na vila de Trancoso” a
Almeida
Charter granted by King D. Dinis on 6th
November, 1296, at the village of Trancoso
to Almeida.
27
Almeida O Castelo de D. Dinis Trazado_Maquetación 1 24/01/14 11:11 Página 28
Dá-se o texto completo, com a grafia da época, assinalando esse rol notável das assinaturas que constam no documento, todos nomeados numa
lauda que praticamente ocupa mais de 2/5 da escritura. O documento
deve ter servido para valer, na sua representatividade, para a finalização
do Tratado de Alcanices, dez meses depois.
“En nome de deus Ámen. Saibbam quantos | esta carta virem
que eu Don Denis pela graça de deus | Rey de Portugal e do Algarve emsenbra com minha molher a Raynha donna Isabel e
com meus filhos Infa | te dom Afonso e donna Constança dou i
outorgo | a vos concelho e pobradores da minha villa de Almeyda e de seu termo asy aos presentes como | aos que am de
viir todos os vossos foros usos e cos | tumes compridamente pera
todo sempre assi como os me | lhor sempre ouvestes. Outro sy
vos outorgo | e prometo que nunca eessa vila e castelo de almey
| da com todas sas aldeyas e termho nem leyxe a Infante | nem
a rico homem nem a outra nenhua pessoa toda nem parte |
dela. mays que fique e seia meu e dos Reys que de pos | mim
veerem e que reinarem no reyno de Portugal E nem | huum
nom seia ousado dos meus propreos nem dos stran | hos que
contra os vossos foros nem contra este meu outorga | mento
queiram viir mays valham e tenham pera todo sempre | asy
como melhor poderem valer e teer. E dou been | çom a todos
meus sucessores que de pos mjm veerem que | os vossos foros e
esta minha outorgaçom a guarda | rem e aqueles que contra eles
veerem seiam malditos a aiam | a ira de deus. E por tal que esto
mays valha e tenham | pera sempre dou a vos esta minha carta
seelada da minha | bola de chumbo que tenhades em testemuynho. Data em | Trancoso oyto dias de Novembro. El rey o mandou | Era de mil trezentos trjnta e quatro anos Infante dom
Afonso dom martim Gil alferes dom | joam affonsso dalborquerque dom Joam fernandez de limha |
dom Joam rodriguez de bryteyros dom fernam perez de | Barvosa
dom Lourenço Soarez de Valadares dom | Pedro eanes dom Joam
TRATADO DE ALCANICES
A fonte para o conhecimento deste documento fundamental da história
das fronteiras, de importância mundial, é a Crónica do Rei D. Dinis, de
Rui de Pina. O cronista faz a leitura paleográfica do grande pergaminho
que se guarda na Torre do Tombo, e revela grande segurança na redacção
transcrita do gótico.
Não será de estranhar a apetência de Rui de Pina, visto não apenas ser de
ofício um guardador e manuseador de documentação histórica do reino,
como também por ser pessoa entendida na razão geográfica, nas razões
consuetudinárias e nas próprias implicações estratégicas do traçado.
Quanto a esta última questão, é bom lembrar que Rui de Pina, já no tempo
de D. João II foi encarregado de participar em diversas missões diplomáticas, de entre as quais se destacam as discussões havidas em Barcelona,
após a viagem de Colombo ao Caribe, procurando delimitar (em negociações que teriam já como pano de fundo a ideia do Tratado de Tordesilhas)
os domínios destinados a Portugal e os destinados a Espanha.
Sobre as razões do direito antigo, lembremos as referências reveladores
aduzidas por Adriano Vasco Rodrigues quanto à natureza da incorporação dos territórios de Riba-Côa no território português, ao resumir
uma “razão histórica com base nos direitos de trânsito dos gados, que tinham origem lusitana, direitos esses que foram retomados no plano da
Reconquista portuguesa, estabelecido em tempos de Afonso Henriques.
Tradicionalmente aqueles territórios deviam pertencer-nos. O trânsito
de gados foi uma das causas da guerra Viriática, no período romano, no
visigótico, durante o domínio muçulmano e no período da Reconquista.
A região de Riba-Côa era um espaço de trânsito. Esse direito de passagem não pode ser negado. Existe referido nos «fueros» de Alfaiates, anterior à incorporação portuguesa e foi uma das razões da Batalha de
Navas de Tolosa, que serviu para garantir o direito de pasto dos rebanhos
cristãos na bacia do Guadiana”.
Quanto ao conhecimento geográfico da região, não esquecemos que Rui
de Pina (1440-1522) era natural da Guarda, tendo sido o historiador oficial do reino por encomenda de D. João II ao instituir-lhe uma tença em
1490 para «escrepver e assentar os feitos famosos asy nossos como de
nossos Reynos». São de sua autoria as Crónicas de D. Sancho I, D. Afonso
II, D. Sancho II, D. Afonso III, D. Dinis, D. Afonso IV, D. Duarte, D.
Afonso V e D. João II, pelo que na sua actividade cronística teve que
inter-relacionar constantemente as questões derivadas de uma mutabilidade dos limites de soberania que eram aspecto focal da actuação régia
da primeira dinastia.
28
The complete and original text is reproduced, with the spelling of that time,
marking the remarkable list of signatures contained in the document; all
named in a page that practically covers more than 2/5 of the deed. The document must have served to enforce, in its autonomic representation, the
finalization of the Treaty of Alcanices, ten months later.
Meendiz de Bryteyros confere |
Joam symhom Duram martijz moordomo Sil | vestre migeez sobreioiz Pedro Afonsso | rribeyro.
dom Martinho o arcebispo de Braga Dom | Oane Bispo de Lixboa. a Eglesia de Coynbra | que esta vagante dom Pedro Bispo
de Evora | dom Sancho Bispo do Porto dom Egas Bis | po de
Vyseu dom Vaasco Elleyto de Lamego | dom ffrey Joam Bispo
da Guarda dom frey Domiingo Bispo de Silves dom Stevam
Eanes o chaçe | ler Gyral dominguez dayam de Bragaa | Paay
domingues dayam de Evora João Perez dalpram Eu Domingos
perez scrivam dachan | çelaria o screvy |.
In “Chancelaria de D. Diniz”, Lº. 2, fl.124, 129 v.,
Instituto dos Arquivos Nacionais, Torre do Tombo, Lisboa.
TREATY OF ALCAÑICES
The source for the knowledge of the Treaty of Alcañices, as an essential
document on the history of the frontiers, with a global importance, is
found in Crónica do Rei D. Dinis by Rui de Pina. The chronicler conducted
the palaeographical reading of the great parchment stored at Torre do
Tombo and revealed great security in the wording transcribed from the
Gothic.
One must not be surprised by Rui de Pina’s skills because he was not only
a keeper and handler of the historical documentation of the kingdom, but
also a person knowledgeable in geographical and in customary affairs and
even in the strategic implications of the frontier.
Regarding this last issue, one should recall during the time of D. João II,
Rui de Pina was responsible for several diplomatic affairs, one of which is
the discussions held in Barcelona. These discussions, conducted after Columbus’ voyage to the Caribbean, were looking to define (in negotiations
that would already have as a backdrop the idea behind the Treaty of Tordesillas) areas intended for Portugal and Spain.
Regarding the reasons of ancient law, Adriano Vasco Rodrigues adduced
revealing references behind the nature of the incorporation of the territories of Riba-Coa in the Portuguese territory. He said that it was “a historical reason based on the rights of cattle passage, which had a Lusitanian
origin, that were reused in the plan of the Portuguese Reconquista, established in the times of Afonso Henriques. Traditionally, those territories
should belong to us. The passage of cattle was one of the reasons why Viriathus’ War took place during the Roman occupation period, the Visigoth
occupation, the Muslim occupation and the Reconquista period. The region of Riba-Coa was a space of transit. This right of passage could not be
denied. It is mentioned in Alfaiates’ charter prior to the Portuguese integration and was one of the reasons behind the Battle of Las Navas de Tolosa, ensuring the rights of pasture for the Christian flocks in Guadiana’s
basin”.
As for the region’s geographical knowledge, one must keep in mind that
Rui de Pina (1440-1522) was born at Guarda, being the official historian
of the realm by order of D. João II, who instituted an annual fee in 1490,
for de Pina to “write and record the famous feats, both ours and of our
Kingdoms”. He was the author of the Chronicles of D. Sancho I, D. Afonso
II, D. Sancho II, D. Afonso III, D. Dinis, D. Afonso IV, D. Duarte, D.
Afonso V and D. João II. This is why his chronicling activity had to constantly relate to issues on the mutability of the frontiers of sovereignty,
which were essential aspects of the royal conduct during the first dynasty.
Almeida O Castelo de D. Dinis Trazado_Maquetación 1 24/01/14 11:11 Página 29
Pergaminho do Tratado de Alcanices de 12 de
Setembro de 1297
Parchment of the Treaty of Alcañices of 12th
September, 1297.
Tal como para o foral, verifica-se a grande importância dada ao protocolo
da escritura da «Carta de Concórdia», a qual aqui registamos no seu texto
completo, reproduzindo o treslado do Castelhano em que foi escrito o
original com a ortografia que nos foi legada por Rui de Pina (“verbo a
verbo tornado fielmente por mim, Cronista”), incluindo o intróito escrito
no Capítulo X da Crónica d’El-Rei D. Dinis. Eis a transcrição:
«Dos cazamentos, e Escaybos que depois da concordia se fezeraõ antre estes Rex em Alcanizes.
Corno esta concordia antre hos Rex, e seus Regnos foy sobre seguranças apontada como dice, EIRey D. Fernando, e ha Rainha
sua madre, e ho Ifante D. Anrique seu Tutor pera se tudo fazer
com mais firmeza, e mayor autoridade sendo feyto por prazer,
e consentimento de todolos do Regno, chamaram sobre este cazo
ha Cortes geraaes quo se logo fizeram em Çamora, onde por todolos Estados dambolos Regnos, de Castella, e de Liam foy concordado que por ceçarem danos, perdas, e outros grandes
inconvenientes que da guerra com Portugal se seguiam, era
beem que ha paaz se fizesse com outorgua dos cazamentos, e
das outras couzas, que EIRey D. Diniz requeria segundo fora
apontado, e concordado antre elle, e ElRey D. Sancho e sobre
esso enviaram loguo Embayxadores, e Procurador ha EIRey D.
Diniz que era em Coimbra Alonso Peres de Gusman pera lhe
certifiquarem ho que nas Cortes fora asentado, e pera has cou-
As for the charter letter, the protocol for the writing of the “Carta de Concórdia” was of great importance. The full text, originally written in Spanish, is reproduced here in Portuguese. This spelling left by Rui de Pina
(“word by word faithfully taken by me, Chronicler”) includes the introduction written in Chapter X of the Crónica d’El-Rei D. Dinis. Here is the
transcript:
zas loguo averem devido efeyto concordaram vistas das pessoas
Reaes no Luguar Dalcanizes, que hee em Castella, pera onde
hos Rex loguo partiram, e se ajuntaram no mez de setembro de
mil duzentos e noventa e sette annos, e com EIRey de Castella
foram ha Rainha Dona Maria sua madre, e ho Ifante D. Anrique seu Tutor, e defensor dos Regnos, e com elles hos Ifantes, e
senhores que aho diante direy na Escritura do escaybo onde sam
particularmente nomeados. E com ElRey D. Diniz foy ha Rainha Dona Isabel, sua molher que levou consiguo ha Ifante
Dona Costança sua filha, e ho Ifante D. Affõso irmaaõ delRey
D. Diniz, e hos Bispos, e senhores que na carta do escaybo particularmete estaõ nomeados, e o Ifante D. Affonso erdeyro ficou
na Villa de Trancozo em Portugal hos quaaes todos jutos asentaram principalmete entre si, e seus Regnos, e senhorios ha
paaz, e seguridade por corenta annos, nos quaaes fossem verdadeiros amiguos damiguos, e imiguos de imiguos, e que todalas pessoas de qualquer estado, e condiçam que fossem que de
hum Regno aho outro durando ho tempo da paaz fizessem
guerra, dano, ou maal, que fossem loguo entregues aho Rey, e
Regno danificados pera delles se fazer justiça inteyra segundo
fosse ha qualidade do crime, e porque ouveram por beem que
hos cazamentos que se aly haviam de fazer nom se concertassem, nem fezessem atee que todalas entreguas e escaybos das
Villas, e Luguares de hu Regno ha outro fossem feytos, e concordados, e como atraaz elles estaõ apontados. Foy loguo feyta
huma carta de concordia das ditas couzas cujo treslado de verbo
a verbo tornado fielmente por mim Coronista de Castelhano
em Portuguez de proprio original que vy, e jaaz no Tombo he
que se segue:
«Em nome de Deos amem, saybam quantas esta carta virem, e
leer ouvirem que como fosse contenda sobre Vidas, termos, e
partimentos, posturas, e preytos antre nós D. Fernando pela
graça de Deos Rey de Castella, e de Liam, e de Toledo, e Dalgezira, Sevilha, e Córdava, e de Murcia, e Jaem, e do Alguarve, e
29
Almeida O Castelo de D. Dinis Trazado_Maquetación 1 24/01/14 11:11 Página 30
senhor de Molina de huma parte, e D. Diniz pela mesma graça
de Deos Rey de Portugual, e do Alguarve, da outra por razaõ
destas contendas sobre ditas nacem antre nõs muitas guerras,
e omezios, e excessos em tal maneyra que de nossas terras dambos foram muitas roubadas queymadas, e estraguadas em que
se fez hy muyto pezar ha Deos nosso Senhor por morte de muytos homens, vendo, e guardando que se aho diante fossem destas
guerras, e discordias que estavam nossas terras dambos em
tempo, e ponto de se perder por nossos peccados, e de vir as
mãaos dos imiguos da nossa fie, e em fim por apartar iam
grande desserviço de Deos, e da Santa Egreja de Roma, nossa
madre, e iam grandes danos, e perdas nossas, e da Christandade, por ajuntar paaz, amor, e grande serviço de Deos, e da
Egreja de Roma ho sobredito Rey D. Fernando com Concelho,
e outorguamento, e por autoridade da Rainha Dona Maria
minha madre, e do Ifante D. Anrique meu tio, e meu Tutor, e
guarda dos meus Regnos, e dos Ifantes D. Pedro, e D. Felippe
meus irmáaos, e de D. Diogoo de Farum Senhor de Biscaya, e
de D. Sancho filho do Ifante D. Pedro, e D. Joham Bispo de Tuy,
e D. joham Fernandes Adiantado moor de Galiza, e D. Fernam
Fernandes de Molina, e D. Pedro Ponce, e D. Guarcia Fernandes
de Vila mayor, e D. Alfonso Peres de Gusmam, e D. Fernam
Pires, Mestre Dalcantra, e D. Estevam Pires, e D. Telo Justiça
moor da minha Caza, e doutros Ricos homens boons de meus
Regnos, e da Irmãdade de Castela, e de Liam, e dos Concelhos
destes Regnos, e de minha Corte. E eu ElRey D. Diniz suso dito
com concelho, e outorgua da Rainha Dona Isabel, minha molher, e do Ifante D. Affonso meu irmaão, e D. Mar-tinho Arcebispo de Braga, e D. Joham Bispo de Lixboa, e D. Sancho Bispo
do Porto, e D. Vasco Bispo de Lameguo, e do Mestre do Templo
Davis, e de D. Affonso meu mordomo màor, senhor Dalbuquerque, e de D. Martim Gil meu Alferes moor, e de D. Joham Rodrigues de Briteyros, e de D. Pedro Annes Portel, e de Lourenço
Soares de Valadares, e de Martim Affõso, e de Joham Fernádes
de Lima, e de Joham Mendes, e de Fernam Pires de Barboza
meus Ricos homens, e de Joham Simam meyrinho moor de
minha caza, e dos Concelhos de meus Regnos, e de minha Corte
ouvemos acordo de nos avirmos, e fazermos avenças antre nós
nesta maneyra que se segue, a saber, que eu Rey D. Fernando
sobredito entendendo, e conhecendo que hos Castellos, e Villas
da terra Darronches, e Darecena com todos seus termos, direytos, e pertenças que eram de direyto do Regno de Portugual, e
de seu Senhorio que hos ouve EIRey D. Affonso meu avoo delRey D. Affonso vosso padre contra sua vontade, sendo estes Luguares del-Rey D. Affonso, e que outro si os tiveram EIRey D.
Sancho meu Padre, e eu, e por essa pus comvosquo em Cidade
Rodriguo, que vos desse, e entreguasse has ditas Villas, e Castellos, ou escaybos por elles a paar dos vossos Regnos de que vós
vos paguasseis, de dia de Sam Miguel que passou da era de mil
trezentos trinta e quatro annos atée seis mezes, e porque volo
assi nom comprio douvos por essas Villas, e Castellos, e pellos
seus termos, e pellos frutos daquelles que ahi ouvemos meu avoo
ElRey D. Affonso, e meu padre ElRey D. Sancho, e eu outro si
atee ho dia doje, Olivença, e Campo mayor, que sam a paar de
Badajos, e Sam Felizes dos Gualeguos com todolos seus termos,
e direytos, e pertenças, e com todo senhorio, e juridiçam Real,
que ajades vós, e vossos socessores por erdamento pera sempre
assi ha possessam, como ha propriedade, e tiro de mim e do Senhorio de meus Regnos de Castella, e de Liam hos ditos Luguares, e todo direyto que eu ha hy hey de hos aver, e dou volo, e
ponho-o em vós, e vossos sucessores, e no Senhorio de Portugual, pera sempre. Outro si meto no vosso Senhorio, e de vossos
30
socessores do Regno de Portugal para sempre ho Luguar que
dizem Ouguela, que hee junto de Campo mayor acima dito,
com todos seus termos direytos, e pertenças, e dou ha vós, e ha
todos vossos socessores do Senhorio de Portugal toda juridiçam
direyto, e Senhorio Real que eu tenho, e devo ter de direyto no
dito Luguar Douguela, e tiro de my, e do Senhorio de Castella,
e de Liam, e ponho em vós, e em todos vossos socessores, e no
Senhorio do Regno de Portugal pera sempre salvo ho Senhorio
direytos, e herdades, e Egrejas deste Luguar Douguela, que hos
aja ho Bispo, e Egreja de Badajos atee que com elle faça que
volas solte assi como deve. Todas estas couzas de suso dittas vos
faço porque nos quiteis dos ditos Castellos, e Villas Darronches,
e Darecena e de seus termos, e dos fruytos que dahy ouvemos
EIRey D. Affonso meu avoo, e ElRey D. Sancho meu padre, e
eu. Outro si eu ElRey D. Fernando entendendo, e conhecendo
que vós tendes direyto em alguus Luguares dos Castellos, e Villas do Sabugual, e Alfayates, e de Catel Rodriguo e Villar mayor,
e de Castel bom, e Dalmeyda, e de Castelmilhor, e Monforte, e
doutros Luguares de riba de Coa, hos quaaes vos Rey D. Diniz
tendes aguara em vossa maão, e porque vós vos partis, e tiraaes
do direyto que tínheis em Valença, e em Ferreyra, e no Esparragual que agora tem ha Ordem Dalcantra em sua maão, e do
direyto que aviades em Ayamonte, e em outros Luguares que
aviades em Liam, e em Gualiza, e assi porque vos vos partis, e
tiraaes das demandas que me vós fazieis por rezaõ dos termos
que sam antre ho meu Senhorio, e ho vosso, por essa eu me
parto, e tiro dos ditos Gastellos, e Villas, e Luguares do Sabugual, e Alfayates, e de Castel Rodriguo, e de Villar mayor, e de
Castel bom, e Dalmeyda, e de Castel milhor, e de Monforte, e
dos outros Luguares de Riba de Coa, que aguora vós tendes em
vossa maão, com todos seus termos e pertenças, e partome de
toda ha demanda que eu tenho ou poderia ter contra vós, ou
contra vossos socessores por rezam destes Luguares sobreditos
de Riba de Coa, e cada huu delles, e outro si me parto de todo
direyto, ou jurdiçam, ou Senhorio Real tam bem na possessan
como na propriedade como em outra maneyra qualquer que
ho eu ahy tenha, e ho tiro de my todo, e de meus Senhorios e de
meus socessores, e dos Senhorios dos Regnos de Castella, e de
Liam, e ponho em vós, e em vossos socessores, e no Senhorio do
Regno de Portugual pera sempre, e mando, e outorguo que se
por ventura aa alguns privilegios ou cartas ou estromentos parecerem, que forem feytos antre hos Rex de Castella, e de Liam,
e hos Rex de Portugal sobre estes Luguares sobre ditos davenças,
ou de posturas, demarcaçoens, e em outra qualquer maneyra
sobre estes Luguares que sejam, contra vós ou contra vossos socessores, ou em vosso dano, ou em dano do Senhorio de Portugal, que daqui em diante nom valham nem tenham ha
menagem, e firmeza nem se possam ajudar dellas eu, nem meus
socessores, has quaaes todas revogo pera sempre. E eu ElRey D.
Dinis asima dito por Olivença, e por Campo mayor, e por Sam
Felizes dos Gualegos que me vós dais, e por Ouguela, que meto
em meu Senhorio segundo asima he dito, eu me parto, e tiro
dos Castellos, e Villas Darronches, e Darecena, e de todos seus
termos, e direytos, e de todas suas pertenças, e de toda ha demanda que eu tenho, ou poderia ter contra vós, ou contra vossos
socessores por razam destes Luguares sobreditos, e de cada huu
delles que ElRey D. Affonso vosso avoo, e ElRey D. Sancho vosso
padre, e vós ouvestes, e recebestes, e destes Luguares dou ha vós,
e ha vossos socessores todo direyto, e jurdiçaõ, e Senhorio Real,
que eu ey, e de direyto poderia aver nesses Castellos, e Villas
Darronches, e Darecena, por qualquer maneyra que ho eu ahy
ouvesse, e ho tiro do meu, e de meus socessores, e do Senhorio
do Regno de Portugal, e ho ponho em vós, e em vossos socessores, e no Senhorio do Regno de Castella, e de Liam, pera sempre,
outro si eu EIRey D. Diniz, porque vós, vos tiraaes dos Castellos,
e Villas do Sabugual, e Dalfayates, e de Castel Rodriguo, e de
Villar mayor, e de Castel bom, e Dalmeyda, e de Castel milhor,
e de Monforte; e doutros Luguares de Riba de Coa, com seus
termos que eu aguora tenho em minha maão assi como asima
hee dito, eu tambem me tiro, e aparto de todo direyto, que eu
ey em Valença, e em Ferreyra, e no Esparragual, e em Ayamonte, outro si me parto de toda las demandas que tenho, e poderia teer contra vós, em todolos outros Luguares de todos
vossos Regnos, e Senhorios em quaalquer maneyra, outro si me
parto de todalas demandas que eu tinha contra vós por razam
dos termos que sam antre ho meu Senhorio, e ho vosso sobre
que era contenda. Eu EIRey D. Fernando de suso dito por my,
e por todos meus socessores com concelho, e outorguamento, e
autoridade da Rainha minha madre, e do Ifante D. Anrique,
meu tio, e meu Tutor, e guarda de meus Regnos prometo ha
booa fee, e juizo sobre estas couzas asima diitas, e cada huuma
dellas pera sempre nunqua vir contra ellas por my, nem por outrem de feyto, nem de direyto nem concelho, e se assi nam fizer
que fique por perjuro, e por tredor como quem mata seu senhor,
ou trae, Castello. E nos Rainha, e ho Ifante D. Anrique asima
dito, outorguamos todas estas couzas, ou cada huuma dellas, e
damos poder, e autoridade ha ElRey D. Fernando pera fazellas,
e prometemos por booa fee por nós, e por ho dito Rey D. Fernando, e juramos sobre hos santos Evangelhos, sobre hos quaaes
pozemos nossas maãos, e fazemos menagem ha vós Rey D.
Diniz, que ElRey D. Fernando, e nós tenhamos, e cumpramos,
e guardemos, e façamos teer comprir, e guardar todalas couzas
sobreditas, e cada huua dellas pera sempre, e de nunqua virmos
contra ellas por nós, nem por outrem de feyto, nem de direyto,
nem concelho, e se assi ha nam fizermos fiquemos perjuros, e
tredores como quem mata Senhor, ou trae Castello.
E eu EIRey D. Diniz, por my, e por ha Rainha Dona Isabel
minha molher, e polo Ifante D. Affonso meu filho erdeyro, e por
todolos meus vassalos, e socessores, prometo aa booa fee, e juro
sobre hos Sanctos Evangelhos sobre que ponho minhas maãos,
e faço menagem ha voos Rey D. Fernando por voos, e por vossos
socessores, e ha voos Rainha Dona Maria, e ha voos Ifante D.
Anrique de teer, e guardar, e comprir todas estas coizas acima
ditas, e cada huua dellas pera sempre, e nunqua vir contra ellas
por my, nem por outrem de feyto, nem direyto, nem concelho, e
se assi nam fizer que fique por perjuro, e tredor como quem
mata senhor, ou trae Castello. E porque todas estas cotizas
sejam mais firmes, e mais certas, e, nam possam vir em duvida,
fazemos deste duas cartas em huu teor, que hee huua como
outra seladas com nossos sellos de chumbo de noos ambos os
Rex, e dos selos das Rainhas sobredictas, e do Ifante D. Anrique,
e em testemunho de verdade; das quaaes cartas cada huu de
noos hos Rex ha de teer senhas: feyta em Alcanizes quinta feyra
doze dias do mez de Setembro da era de mil duzentos noventa
e sete annos.»
In “Coronica DelRey Dom Diniz”
de Rui de Pina, capítulo X.
Almeida O Castelo de D. Dinis Trazado_Maquetación 1 24/01/14 11:11 Página 31
Principais localidades portuguesas nos finais da
Idade Média, com as suas fortificações e outras
características
Main Portuguese villages and towns by the end of
Medieval Ages, with their fortifications and other
carachteristics.
(CAMPOS, João e COBOS, Fernando –
“Almeida / Ciudad Rodrigo – A Fortificação
da Raia Central”, Consórcio Transfronteirizo,
Salamanca, 2013, pp.16;17)
Esquema das principais fortificações medievais
da fronteira de Castela que intervieram nas
guerras dos séc. XVII e XVIII.
Scheme of the main medieval fortresses in the
frontier of Castille which participate at the wars
of 17th and 18th centuries.
(COBOS F y CASTRO, J. Castilla y León.
Castillos y fortalezas, León 1998).
ou jurisdiçom, ou, Senorio Real tambem en possissom come
em propriedade, come en outra maneira qualquer, que eu hi
avia, e toloo de mim todo, e dos meus successores, e do Senorio
dos Reinos de Castella, e de Leom, e ponoo en vós, e em vossos
Successores, e no Senorio do reino de Portugal pera sempre”.
D. Dinis nomeia de seguida o Bispo de Lamego e o Almoxarife
da Guarda como “enqueredores, deparytidores e demarcadores
em todos os logares das fronteyras»8 com a incumbência de escrutinarem por onde se definiria o território do reino de Portugal desde o rio Tejo até que o rio Côa desaguasse no Douro.
A colonização do território era uma política primordial, para
o que se promovia o aforamento de terras e povos, fundando
ou refundando núcleos urbanos. O ritmo de outorga de cartas
de foral nos reinados de D. Afonso III e de D. Diniz não tem
paralelo na história de Portugal, contando-se por cerca de 150,
sendo a maioria na faixa raiana. A concessão de foral implicava
a cedência de direitos municipais (que estão na base de uma
organização territorial do estado nacional português) em troca
da lealdade institucional ao rei, garante da soberania unificada
sob o território delimitado.
As condições de atracção das populações passavam, inclusivamente, pela segurança. Só no tempo de D. Dinis foram inter-
avia, e toloo de mim todo, e dos meus successores, e do Senorio
dos Reinos de Castella, e de Leom, e ponoo en vós, e em vossos
Successores, e no Senorio do reino de Portugal pera sempre”.
Then, D. Dinis nominates the Bishop of Lamego and the Almoxarife of Guarda as “inquisitors, dividers and limiters of all
places of the frontier”8, with the task of scrutinizing the place
where the territory of the kingdom of Portugal would be defined, from the river Tagus until the mouth of Côa at Douro.
The colonization of the territory was a primary policy, which
is promoted by the tenure of land and people, founding or refounding urban centers. The pace of granting charters during
the reigns of Kings Afonso III and Dinis has no parallel in the
history of Portugal (totaling approximately 150), most of which
were given at the border line. The granting of a charter entailed
the transfer of municipal rights (which are the basis of a territorial organization of the Portuguese national state) in exchange for institutional loyalty to the king, guaranteeing the
sovereignty unified under the defined territory.
The conditions to attract populations were also related to security issues. During D. Dinis reign alone, 80 castles of the
kingdom were renovated, of which 2/5 were located on the
frontier with Castile and Leon.
8 Em “Gavetas da Torre do Tombo”, vol.,
III, pp. 603-606. O processo de reconhecimento dos «marcos e malhões» da Raia
sempre se realizou, fixando-se a periodicidade, no reinado de D. Manuel, “em
cada ano”, cuja expedição de verificação
e levantamento, executada por Duarte de
Armas (1507/1508), é um exemplo pertinaz que se consubstancia no mais profícuo documento histórico, o Livro das
Fortalezas, ou nas referências claras do
Inquérito de Mendo Afonso Resende,
1537/38, entre Castro Marim e Caminha.
In “Gavetas da Torre do Tombo”, vol III,
p. 603-606. The recognition process of the
«marcos e malhões» of the frontier was always done, and the intervals stated
“yearly” during the reign of D. Manuel,
that the expedition of verification and
survey, carried out by Duarte de Armas
(1507/1508) is a pertinacious example
and which is embodied in the most prolific historical document that is the “Book
of Fortresses”, or the clear references of
“Inquérito de Mendo Afonso Resende”,
1537/38, between Castro Marim and Caminha.
31
Almeida O Castelo de D. Dinis Trazado_Maquetación 1 24/01/14 11:11 Página 32
vencionados 80 castelos no reino, dos quais 2/5 se situavam na
linha da raia com Castela e Leão.
As marcas de um urbanismo reformador foram cumulativamente modernizando o país, assim se promovendo uma imagem de unidade, na construção de infra-estruturas e na
construção das cercas e dos dispositivos de defesa.
D. Dinis, tendo começado com sete anos o seu relacionamento
com o tema da raia de Portugal, manobrando com o avô e com
tios e primos para acertar o perfil do mapa do senhorio que
lhe compete dirigir como um rei que se quer moderno, acaba
por se afirmar, por via matrimonial, numa internacionalização
com Astúrias, isto é, passando os limites dos confrontantes,
assim alcançando reconhecimento mais além.
2.4 – SOVEREIGNTY AND CONFLICT IN THE
MEDIEVAL CENTRAL FRONTIER
9
Mil pães, mil moios de vinho, oito
moios de cevada, duas vacas, quatro porcos, sete carneiros, dois cabritos, doze
leitões, sessenta galinhas, trezentos ovos,
um almude de manteiga, um de mel, um
de vinagre, farinha, sal, alhos, cebolas,
seis cargas de lenha, seis fogaças e um
maravedi para açafrão e pimenta, a
acrescer, no 1º de Maio, 252 libras de
moeda antiga (Inquirições de D. Afonso
III, Liv. 4º, fl. 28 e fl. 66, IAN / TT, Lisboa).
One thousand loafs of bread, one thousand measures of wine, eight measures of
barley, two cows, four pigs, seven sheeps,
two goatlings, twelve sucklings, sixty chickens, three hundred eggs, one almude of
butter, one of honey, one of vinegar, flour,
salt, garlics, onions, six loads of wooden,
six fogaças and one maravedi for saffron
and pepper, plus 225 pounds, in ancient
currency, on 1st May (“Inquirições de D.
Afonso III, Liv. 4º,fl. 28 e fl. 66, IAN / TT,
Lisbon).
10 Neste aspecto, o Padre Carvalho da
Costa indica as existentes em 1708 (as
mesmas doze que seriam arroladas, na
Memória Paroquial, como funcionando
cinquenta anos depois): Santo António,
Nossa Senhora da Conceição, Senhora do
Desterro, Senhora da Anunciada, Bom
Pastor, S. Pedro, S. João, Santo Aleixo,
Santo Amaro (junto à qual se fazia uma
feira), Santo André, S. Lourenço e S. Sebastião.
In this respect, the priest Carvalho da
Costa indicates those existing in 1708 (the
same twelve that would be enrolled in the
Parochial Memory, as operating fifty
years later): Santo António, Nossa Senhora da Conceição, Senhora do Desterro, Senhora da Anunciada, Bom
Pastor, S. Pedro, S. João, Santo Aleixo,
Santo Amaro (near which there was a
fair), Santo André, S. Lourenço, and S.
Sebastião.
32
The marks of a renovating urbanism were cumulatively modernizing the country, thus promoting an image of unity in the
construction of infrastructures and the construction of walls
and defensive mechanisms.
D. Dinis, having started when he was seven years old his relationship with the theme of the frontier of Portugal, maneuvering with his grandfather, uncles and cousins to set the Map
Profile of the landlord that was his responsibility to manage as
a king who wants to be modern, ends up claiming, through
marriage, in a internationalization with Asturias, i.e., passing
the limits of bordering, thus, reaching further recognition.
2.4 – SOBERANIA E CONFLITUALIDADE NA
“RAIA CENTRAL” MEDIEVAL
A Idade Média é um tempo de permanente ruptura de equilíbrios, no que diz respeito à segurança dos povos e à soberania
dos reinos.
Observemos o caso específico de um castelo, Linhares, uma
defesa de retaguarda da fronteira da Beira, e o papel desempenhado no tempo que conduziu à Crise Dinástica portuguesa
de 1383/1385.
Já em tempos muito recuados, Linhares desempenhou, na Reconquista, vários momentos de relevo, desde logo por volta do
ano de 900, com a actuação de Afonso III de Leão. Mais tarde,
confirmando a Cristianização, a função proeminente de Linhares é retomada por Afonso Henriques, agora num plano da
configuração territorial do reino (impondo a definitiva progressão para o Sul).
Linhares era um termo bastante povoado pelos finais do século
XIII, conferindo-se com o tributo que era pago ao rei9, ou até
pelo número de casas nobres e de capelas10, sem contar com a
matriz e duas capelas colaterais11. Sabe-se que no “Cadastro de
1527”, de D. João III, a vila tinha 153 (casas de) moradores,
sendo 1006 na área do termo.
A sua importância fora confirmada pelos trabalhos importantes de reconstrução a que o castelo foi submetido por D. Dinis,
fixando-lhe a expressão ainda hoje patente: uma torre de menagem com fortes machicoulis, a que se contrapõe, quase tão
alta como esta, outra torre quadrangular que encerrava a cerca
da primitiva povoação, defendendo o recinto da couraça.
Ainda em 1372-73, D. Henrique II de Castela fazia incursões
na região no que se pode considerar a primeira entrada pela
Raia da Beira dirigida à capital do reino de Portugal. Por essa
altura foi tomada, entre outras, a vila de Linhares, tendo sido
The Middle Ages are a time of permanent disruption of equilibrium, with respect to the security and sovereignty of the peoples of the kingdoms.
Let us take the case of a castle, Linhares, a rear-guard defense
of the frontier of Beira, and the role played in the time leading
to the Portuguese Dynastic Crisis 1383/1385.
Already in times much retreated, Linhares played in the Reconquest, several moments of relief from the outset about the
year 900, with the action of Alfonso III of Leon Later, confirming the Christianization, the prominent role of Linhares resumed by Afonso Henriques, now in a plan of territorial
configuration of the kingdom (imposing a definite progression
to the South).
Linhares was a very populated term by the end of the thirteenth
century, conferring with the tribute that was paid to the king9,
or even by the number of noble houses and chapels10, not counting the matrix and two side chapels11. It is known that in the
“Registration of 1527” by D. João III, the village had 153 (houses of) residents, and 1006 in the area of the term.
Its importance was confirmed by the important works of rebuilding the castle that was submitted by D. Dinis, fixing the
expression still patent: a dungeon with strong machicoulis, to
which opposes almost as high as this, another square tower
which contained about the primitive village, defending the premises of armor. Also in 1372-73, D. Henrique II of Castile
made inroads in the region that can be considered the first
entry by the frontier of Beira directed to the capital of the kingdom of Portugal11. By that time it was taken, among others,
the village of Linhares, having been razed spaces of the brother
of D. Afonso IV, to whom his father had donated the landlord.
During the dynastic crisis of 1383/1385, the border was again
the scene of fighting between the two sides the frontier, and the
Almeida O Castelo de D. Dinis Trazado_Maquetación 1 24/01/14 11:11 Página 33
arrasados os paços do irmão de D. Afonso IV, a quem o pai
tinha doado o senhorio.
No decurso da crise dinástica de 1383/1385, a Beira foi novamente palco de lutas entre os dois lados da Raia, tendo o alcaide-mor de Linhares e Celorico tomado o partido de D. João
I de Castela12. Mas em fins de Maio ou princípios de Junho de
1385, por pressão dos moradores, Celorico e Linhares empenharam-se, com os de Trancoso, na vitória da batalha então ali
travada. Este acontecimento antecedeu o desfecho definitivo
que o futuro rei de Portugal, D. João I, obteve no confronto decisivo de Aljubarrota, vencendo o seu homónimo castelhano
e, desse modo, garantindo a fundação da nova dinastia de Avis.
Os acontecimentos da Beira com o exército de D. João I de Castela (filho de Henrique II de Leão e Castela e casado com D.
Beatriz, filha do rei português D. Fernando, falecido sem sucessão varonil), vinham já do tempo de D. Fernando I de Portugal e enquadram-se na Guerra dos Cem Anos, tendo-se
manifestada a pretensão de D. João I de Castela ser o rei de Portugal, logo a partir de Dezembro de 1383 (com o início da crise
do período de regência da rainha viúva, D. Leonor). A importância desses eventos é atestada na seguinte passagem da Crónica de D. João de Fernão Lopes13: “Sede certos que de boa e
pouca gente não foi ferida batalha entre os portugueses e os
castelãos, de quantas houveram em toda a guerra, que esta”.
As interferências de Castela culminaram, perdendo-se muitas
vidas em dois exércitos régios (apoiados do lado de D. João I
de Castela pelos franceses e, do lado de D. João I de Portugal,
pelos ingleses), após a declaração do Mestre de Avis como rei,
com a imediata reivindicação bélica ao trono por parte de D.
João de Castela, entrando novamente pela Beira em direcção a
Lisboa14, sendo travado em Aljubarrota, a 14 de Agosto de
1385, num dos acontecimentos de maior vulto para a continuidade do reino português.
Com a vitória de Aljubarrota findou a guerra com Castela e
deu-se fim à guerra civil portuguesa. Encerrou-se assim a participação de Portugal na Guerra dos Cem Anos, tendo-se afirmado a sua posição no quadro internacional através da Aliança
Luso-Britânica (que perdura até hoje), selada pelo Tratado de
Windsor de 1386 e reforçada pelos laços matrimoniais contraídos com D. Filipa de Lencastre15.
A paz com Castela só viria a firmar-se com D. João II, casado
com D. Isabel de Portugal, através do Tratado de Ayllón, ratificado em 1423.
2.5 – APROXIMAÇÃO À SITUAÇÃO MODERNA
E CONTEMPORÂNEA
Na edição «Almeida/Ciudad Rodrigo - A Fortificação da Raia
Central», e da qual retirei o essencial deste capítulo então ela-
Captain-General of Linhares and Celorico took the part of D.
João I of Castile12. But in late May or early June 1385, under
pressure from the residents, Celorico and Linhares endeavored,
with the residents of Trancoso, in the victory of the battle there.
This event preceded the final outcome that the future King of
Portugal, D. João I, got in the decisive confrontation of Aljubarrota, winning his Spanish namesake and, thereby, ensuring
the founding of the new dynasty of Avis.
The events of Beira with the army of D. João I of Castile (son
of Henrique II of Castile and León and married to Beatrice,
daughter of the Portuguese king D. Fernando, who died without manly succession), came already from the time of D. Fernando I of Portugal and fall into the Hundred Years War, and
it was expressed the intention of D. João I of Castile to be the
king of Portugal, as from December 1383 (with the beginning
of the crisis period of the regency of the widow Queen, D. Leonor). The importance of these events is demonstrated in the
following passage from the Chronicle of D. João de Fernão
Lopes13: “Be certain that good and few people were not injured
in the battle between the Portuguese and the Spanish, from
how many there were in the entire war, like this.”
The interference of Castile ended up costing many lives in two
royal armies (supported on the side of D. João I of Castile by
the French and, on the side of D. João I of Portugal by the British), after the declaration of the Master Avis as King, with the
immediate war claim to the throne by D. João of Castile, re-entering the Beira towards Lisbon14, being caught in Aljubarrota,
on 14th August, 1385, one of the largest single events for the
continuity of the Portuguese kingdom.
With the victory of Aljubarrota ended the war with Castile and
ended also the civil war in Portugal. Thus, ended the participation of Portugal in the Hundred Years War, and it was claimed its position on the international framework through the
British-Portuguese Alliance (which continues today), sealed by
the Treaty of Windsor, in 1386, and strengthened by the bonds
of marriage contracted with D. Filipa de Lencastre15.
The peace with Castile would only be established with D. João
II, married to D. Isabel of Portugal, in 1411, with the Treaty of
Ayllón, ratified in 1423.
2.5 – REACHING MODERN
AND CONTEMPORARY TIMES
In the edition of “Almeida/Ciudad Rodrigo – The Fortification
of the Central Border”, from where I caught the essential matter
that I wrote for this chpter, my Colleague co-Author of the
11
O Cronista (já no século XV) regista
o sucedido: Henrique II partira de Zamora “em Setembro meado de 1372, entrou pela Beira que andou devastando
em fins deste ano e princípios de 1273,
conquistou Almeida, Pinhel, Linhares,
Celorico e Viseu, e prosseguiu seu caminho para Lisboa” (Fernão Lopes, “Crónica de D. Fernando”, cap. 71-72-73,
IAN / TT, Lisboa).
“Ajustadas as pazes com Castela, logo se
tratou do casamento da Infanta Dona
Beatriz, filha legítima de D. Fernando,
com D. Sancho, Conde de Albuquerque,
e o de Dona Isabel, filha bastarda do
monarca português, com D. Afonso,
Conde de Gijon e de Noronha, bastardo
de Henrique II. No dote que D. Fernando deu à ilegítima incluía-se a vila de
Linhares. O casamento esteve para se
dissolver, porque se fez contra a vontade
do noivo, não foi então consumado e,
depois da morte do pai, D. Afonso chegou mesmo a pedir o divórcio. Por fim
tudo se compôs, e dos régios bastardos
proveio a nobilíssima família dos Noronhas (Braancamp Freire, ‘‘Brasões da
Sala de Sintra”, I, pp. 47-48), in Boletim
da DGEMN / MOP nº 98, Dezembro de
1959, p.15.
The Chronicler (already in the fifteenth
century) records what happened: Henrique II departed from Zamora “in midSeptember 1372, entered in the Beira
where he walked devastating in the end of
this year and early of 1273, conquered Almeida, Pinhel, Linhares, Celorico and
Viseu and continued his way to Lisbon”
(LOPES, Fernão. “Crónica de D. Fernando”, cap. 71-72-73, IAN / TT, Lisbon).
“After the peace with Castile was adjusted, there immediate arrangements for
the marriage between Princess Dona Beatriz, legitimate daughter of D. Fernando,
and D. Sancho, Count of Albuquerque, or
between Dona Isabel, illegitimate daughter of the Portuguese monarch, with D.
Afonso, Count of Gijon and Noronha, illegitimate son of Enrique II. In the dowry
D. Fernando gave to her illegitimate
daughter, the village of Linhares was included. The marriage was to be dissolved,
because it was conducted against the
groom’s will; therefore, it was not consummated and, after his father passed, D.
Afonso requested a divorce. At the end,
everything came together and the royal illegitimate couple gave birth to the noble
family of the Noronhas. (Braancamp
Freire, ‘Brasões da Sala de Sintra, I, pp.
47-48)” – in Boletim da D.G.E.M.N. /
M.O.P. nº 98, December 1959, p.15.
33
Almeida O Castelo de D. Dinis Trazado_Maquetación 1 24/01/14 11:11 Página 34
12 “Foi o primeiro que se veio para ElRei de Castela, e ficou por seu ali na
Guarda”, in Fernão Lopes, “Crónica de
D. João I”, p. I, cap. 57-58, IAN / TT, Lisboa.
“Was the first that came for the king of
Castile, and was there, in Guarda, for
him.” - In LOPES,Fernão. “Chronicle of D.
João I”, P. I, chap. 57-58, IAN / TT, Lisbon.
13
Fernão Lopes, “Crónica del Rei Dom
Joham I de boa memoria e dos Reis de
Portugal o décimo”, ed. Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 2 Vols., Lisbon, 1973.
14 A campanha militar, começada em
Maio e finda em Agosto, é a resposta
castelhana à declaração do Mestre de
Avis como Rei de Portugal (6 de Abril de
1385) nas Cortes de Coimbra.
The military campaign, begun in May
and ended in August, is the Castilian response to the declaration of the Master of
Aviz as King of Portugal (April 6th, 1385)
in the Cortes of Coimbra.
15 Com o estabelecimento da Aliança
Luso-Britânica e os movimentos matrimoniais entre as cortes europeias produzidas com o cessar da Guerra dos Cem
Anos, os reis de Portugal, a rainha de
Castela, a imperatriz da Alemanha (D.
Leonor, filha de D. Duarte de Portugal),
Carlos da Borgonha, o Temerário (filho
da infanta D. Isabel, irmã dos «altos infantes»), os pretendentes ao trono de
Aragão e muitos ilustres e importantes
aristocratas europeus eram parentes
próximos e descendentes do rei D. João
I de Portugal.
With the establishment of the British-Portuguese Alliance and the marital movements between the European courts
produced with the cessation of the Hundred Years War, the kings of Portugal, the
Queen of Castile, Empress the of Germany (Leonor, daughter of D. Duarte of
Portugal), Carlos of Burgundy, the “Temerário” (son of the Infanta Isabel, sister
of the ‘altos infantes’), the claimants to the
throne of Aragon and many illustrious
and important European aristocrats were
close relatives and descendants of King D.
João I of Portugal.
16 CAMPOS, João e COBOS, Fernando
– “Almeida / Ciudad Rodrigo – A Fortificação da Raia Central”, trilingual edition by Consórcio Transfronteirizo,
Salamanca, 2013, p. 64.
34
borado, o meu Colega co-autor do livro acrescentava uma leitura complementar para o entendimento do que representa a
fronteira entre os dois países ibéricos. Diz ele que «a crescente
supremacia económica e militar das Coroas unidas de Aragão
e Castela não significou, no entanto, um aumento da tensão na
fronteira. Pelo contrário, a assinatura do Tratado de Tordesilhas
e os acordos alcançados sobre as ilhas atlânticas trouxeram um
momento de tranquilidade, na medida em que Portugal e Castela não tinham apenas acordos diplomáticos para não discutir;
também eram, de facto, aliados e cruzavam matrimónios com
a intenção abertamente manifestada de se unirem sob um herdeiro comum. No período compreendido entre 1494 e 1580,
salvo alguns pequenos desencontros originados com a chegada
dos sucessivos herdeiros de Castela (Filipe e Joana em 1506 e
Carlos I em 1517), pode dizer-se que ambas as coroas trabalharam em conjunto e nunca foi apresentado um programa sistemático de fortificação da fronteira. Depois do período de
União das Coroas a fronteira esvaziou-se de conteúdo prático
mas, quando surge a nova Dinastia dos Braganças Portugal
constrói, entre 1640 e 1700, a sua fronteira ex novo, pois não
havia fortificações importantes desde os finais do século XV,
enquanto Espanha não fez praticamente nada, tirando fortes
de campanha, cuja missão era facilitar uma reconquista de Portugal que nunca chegou a acontecer»16.
O episódio mais importante, no decurso da Guerra dos Sete
Anos,com reflexos na fronteira portuguesa, acontece em 1762:
França e Inglaterra estavam há vários anos em guerra, mas no
início de Janeiro, Inglaterra declara guerra a Espanha e envia
expedições contra La Havana e Manila. Espanha responde com
o rompimento de toda a linha defensiva portuguesa, tomando
Chaves, Bragança, Miranda e Almeida. Mas a guerra já não
quer a conquista de países, nem sequer o domínio permanente
das praças ocupadas. Na Paz de Paris de 1763, Espanha devolverá as praças portuguesas e Inglaterra devolverá La Havana e
Manila em troca da Flórida, que irá perder na seguinte guerra
Hispano-Franco-Britânica de 1778-70, que acabaria no Tratado de Versalhes de 1783. Da ocupação espanhola de Almeida
restam importantes monumentos iconográficos para o entendimento da antiga fortificação do castelo.
Pese embora a existência de uma forte beligerância nos tempos
medievais, que foram os de formação da fronteira, o quadro
dos conflitos e guerras no período moderno mostra uma consequência nova, com a progressiva rarefacção de povoamento.
Isso incluiu o abandono de algumas posições muralhadas, por
vezes passando a servir de cercas de cemitérios.
Orlando Ribeiro diagnostica um factor singular para a causa
da depressão demográfica: “As longas Guerras da Restauração
e da Sucessão da Espanha (1640/1763), que se reacenderam
book added a complimentary observation on the understanding of what represents the border between both countries. He
says that «the growing economic and military supremacy of
the united crowns of Aragon and Castile did not mean, nevertheless, an increased tension in the frontier. On the contrary,
the signature of the treaty of Tordesillas and the agreements reached over the Atlantic islands produced a moment of tranquility, since Portugal and Castile had diplomatic agreements
not to fight and they were, in fact, allies and crossed matrimonies with the open intention of becoming united under a common heir. Between 1494 and 1580, except for some small
disagreements originated with the arrival of the successive heirs
of Castile (Filipe and Joanna in 1506 and Carlos I in 1517), one
may say that both crowns worked together and a systematic
program for the fortification of the border was never submitted. One might say, therefore, that between 1640 and 1700, Portugal built its frontier ex novo, since there weren’t any major
fortifications since the end of the 15th century, since Castile
(or Spain, according to the term’s modern meaning) didn’t do
anything except for campaign forts with the mission of enabling the Reconquista of Portugal (which never happened greatly because an attempt was never made using enough
resources)»16.
The most importante episod with refexions in Portuguese border, during the Seven Years War, happens in 1762: France and
England had been at war for several years, but in early January,
England declares war on Spain and sends expeditions against
Havana and Manila. Spain responds by breaking the entire Portuguese defensive line, taking Chaves, Bragança, Miranda and
Almeida. But the war is neither related to the conquest of countries nor to the permanent domain of the places occupied. In
the Peace of Paris of 1763, Spain will return the Portuguese
squares and England will return Havana and Manila in exchange for Florida, which will eventually be lost in the FrancoHispano-British war of 1778-70 that will end with the Treaty
of Versailles in 1783.
Some important iconographic documents from the time of
Spanish occupation of Almeida still remain for a quite understanding of the Castle’s old fortification.
Despite the existence of a strong belligerence in medieval times,
which were those of the formation of the border, the frame of
the conflicts and wars in the modern period shows a new result, with the gradual depletion of the population. This included the abandonment of some walled positions, sometimes
going to serve as fences of cemeteries.
Orlando Ribeiro diagnoses a singular factor in the cause of demographic depression: “the long Wars of Succession and Restoration of Spain (1640/1763), which revived four times, with
Almeida O Castelo de D. Dinis Trazado_Maquetación 1 24/01/14 11:11 Página 35
quatro vezes, com 31 anos de luta em 124, criaram uma insegurança que gerou por força o retraimento; reforçados com a
Guerra de Espanha logo seguida da Guerra Mundial e um nacionalismo exacerbado por quase meio século, restringiram
progressivamente o papel da fronteira como faixa de relação”17.
A isso há que somar, no interim que vai do período referido
aos meados do século XIX, a incidência dos efeitos que, embora não sendo exclusivos da zona raiana, nela foram particularmente sentidos: a crise posterior ao “Pacto de Família” em
Espanha e as invasões francesas no quadro da Guerra Peninsular (1801/1815).
As guerras napoleónicas conjecturarão o fim do sistema defensivo abaluartado: na fronteira da Beira, quer Almeida, quer
Ciudad Rodrigo serão sitiadas e tomadas por inimigos que aparecem de dentro das fronteiras e com tecnologias de armamento que superam as capacidades de defesa das fortificações.
Deixando de lado as vicissitudes das guerras que tiveram lugar
entre Castela e Espanha, por um lado, e Portugal por outro, na
generalidade entroncando na geopolítica das grandes famílias
reais da Europa entre os séculos XVII e XIX, a situação hoje
diplomaticamente existente entre o Reino de Espanha e a República Portuguesa ficou plasmada no Tratado dos Limites de
Lisboa, firmado em 29 de Setembro de 1864, pelo qual se fixaram definitivamente, em parte, as fronteiras hoje vigentes,
desde a foz do Rio Minho até à confluência da Ribeira do Caia
com o Rio Guadiana (os marcos fronteiriços daí até à foz do
Guadiana ficaram por assinalar neste primeiro Tratados dos
Limites, em virtude de Portugal não reconhecer a ocupação espanhola do município de Olivença). O restante troço da fronteira só foi demarcado por um novo Tratado dos Limites, em
1926, desde a confluência da Ribeira de Cuncos com o Rio
Guadiana até à foz deste rio internacional (ficando, até hoje,
por traçar a linha fronteiriça em torno de Olivença).
Como curiosidade dá-se a seguinte explicação comentada: No
Norte, os restos do castelo de Piconha e sua circunscrição passaram a integrar território espanhol, no município galego de
Calvos de Randin, a leste de Tourém. Conjuntamente com Portelo, Montalegre, Monforte de Rio Livre e Chaves, defendia a
passagem aos vales dos rios Cávado e Tâmega.
Para além da situação de Olivença, Piconha é o único caso de
castelo constante do Livro das Fortalezas de Duarte de Armas
que deixou de integrar o território português, conquanto sempre tivesse pertencido ao designado «Couto Misto», um território autónomo e de duplas nacionalidades, com uma plêiade
de privilégios remontando à Baixa Idade Média (certamente
fazendo frente às configurações disputadas entre os estados nacionais de Leão e de Portugal).
31 years of struggle in 124, created an uncertainty that generated by force the withdrawal; reinforced with the War of Spain,
soon followed by the World War and exacerbated nationalism
for nearly half a century, progressively restricted the role of the
border as a strip of relations”17. It should be added to this, that
in the interim period that goes from the mid-nineteenth century, the incidence of the effects that, although not unique to
the border area, were particularly felt: the crisis after the “Pacte
de Famille” in Spain and the French invasion in the context of
the Peninsular War (1801/1815).
The Napoleonic wars will conjecture the end of the bulwarked
defensive system: in Beira frontier both Almeida and Ciudad
Rodrigo will suffer sieges and will be taken by enemies that appear from within their borders, using weapon technologies that
overcome the fortifications’ defense capacities
Leaving aside the vicissitudes of wars that took place between
Castile and Spain on the one hand, and Portugal on the other,
generally drawing upon the geopolitics of the major royal families of Europe between the seventeenth and nineteenth centuries, today the situation, diplomatically speaking, between
the Kingdom of Spain and Portugal was enshrined in the Treaty
of Limits of Lisbon, signed on 29th September 1864, by which
today’s existing borders were definitively settled, in part, from
the mouth of the Minho River to the confluence of Ribeira do
Caia with the Guadiana River (the border landmarks thence
to the mouth of the Guadiana were noted by this first Treaty of
Limits, because Portugal does not recognize Spanish occupation of the municipality of Olivença). The remaining portion
of the border was only marked by a new Treaty of Limits, in
1926, from the confluence of Ribeira de Cuncos with the Guadiana River to the mouth of this international river (remaining
until today, by drawing the boundary line around Olivença).
As a curiosity we give the following commented explanation:
In the north, the remains of the Castle of Piconha and its division became part of Spanish territory in the Galician municipality of Calvos of Randin, east of Tourém. Together with
Portelo, Montalegre, Monforte de Rio Livre and Chaves, defended the passage to the valleys of the rivers Cávado and Tâmega.
Apart from the situation of Olivenza, Piconha is the only case
of a castle featured on the “Livro de Fortalezas” of Duarte de
Armas that no longer integrates the Portuguese territory,
though it had always belonged to the called ‘Couto Misto’, an
autonomous territory and with doubles nationalities, with a
host of privileges dating back to the Middle Ages (making sure
the front configurations disputed between the national states
of León and Portugal).
17
RIBEIRO, Orlando. Introduções
Geográficas à História de Portugal. Estudo Crítico, Lisboa, Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 1977, p. 186
35
Almeida O Castelo de D. Dinis Trazado_Maquetación 1 24/01/14 11:11 Página 36
Almeida O Castelo de D. Dinis Trazado_Maquetación 1 24/01/14 11:12 Página 37
3
Almeida O Castelo de D. Dinis Trazado_Maquetación 1 24/01/14 11:12 Página 38
Na página anterior / Back page
SECO, Fernando Álvares, «Portugalliae que olim
Lusitania, novissima & exactissima descriptio /
auctore Vernando Alvaro Secco», atlas Gerard
de Jode, «Speculum Orbis Terarum», Antwerp,
1565. - Escala [ca. 1:1300000], 1560 [i.é. 1561],
grav., color.; 34,00x51,20 cm, em folha de
40,00x54,30 cm. Ref.: cc-379-v, Biblioteca
Nacional de Portugal, Lisboa.
Abaixo / Bottom
BERLINGHIERI, Francesco, «Hispania
Novella», mapa “actualizado” e com a
designação de “Portugallia”, no primeiro Atlas
impresso (1482) da «Geografia» de Ptolomeu
(séc. II).
Map “updated” and with the designation of
“Portugallia” in the first printed atlas (1482) of
Ptolomeus’ Geography» (2nd Century).
1
A designação adoptada para o reino
ocidental é “Portugalia”, em lugar da tradicional Lusitânia que a tradição grecolatina transportava nas reproduções dos
séculos anteriores.
The designation adopted for the western
kingdom is “Portugalia”, instead of the
traditional Lusitania that the Greek-Latin
tradition had carried into latter centuries.
2 CRESPO SANZ, Antonio – Un Mapa
Olvidado: el Atlas de El Escorial, p. 60.
38
3.1 – A FIXAÇÃO DOS LIMITES
3.1 – THE FIXATION OF THE LIMITS
A
he identification of physical and political spaces of
the Iberian Peninsula1, with the corresponding basic
chorography, intentionally appears considered in the
so-called Atlas of Ptolemy, the first set of printed maps, published in 1482. The edition resulted from the efforts of
Francesco Berlinghieri. Of the main novelties of the review
of the matter of Ptolemy’s Geography (2nd century), there is
the addition of a double sheet with the map of the Iberian
Peninsula (as well as France and Italy or the Baltic), whose
“Hispania Novella” is repeated in subsequent editions (Ulm,
1482, Rome, 1507, Strasbourg, 1513, Munster, 1540, etc.)...
The editions perfected by Castaldi (1544) and Geminus
(1545) were greatly widespread, with the model of these
prints reused in multiple copies disseminated throughout
Europe during a very long time2.
The sources for the creation of the charter are unknown, certainly grounded on the knowledge of local cartographers.
Other examples of maps of the Peninsula were produced in
countries and by authors foreign to it. The documented elaboration of Hispanic authors only happens in the middles of
the 16th century and occurred in both States in a similar period, probably with similar objectives and methodologies.
In Portugal, Fernando Alvares Seco and his map of Portugal(published in Italy in 1561) and Spain with the map of
Andalusia(1579) by Jeronimo de Chaves, and with a map by
an unknown author on the region of Aranjuez (“Carpetaniae
Pars Descriptio”, 1584), we find many similarities, leading
some Spanish authors to admit that such coincidences come
from a common origin (the so-called “Atlas do Escorial”) –
which “makes us suspect that the Atlas3could have served as
a base for other cartographic documents and that the excessive concern in keeping such information, considered strategic, induced kings to maintain it hidden”4.
Such opinion, relatively consensual, cannot be disparaged,
regarding the interest in keeping secret the information contained in the cartographic representation: after all, geography
is always the first instrument to make war...
identificação dos espaços físicos e políticos da Península Ibérica1, com a corografia básica correspondente, surge intencionalmente considerada no
chamado Atlas de Ptolomeu, o primeiro conjunto de mapas
impressos, publicado em 1482. A edição resulta dos esforços
de Francesco Berlinghieri. Das principais novidades da revisão da matéria da Geografia de Ptolomeu (séc. II) consta a
adição de uma folha dupla com o mapa da Península Ibérica
(assim como da França e da Itália ou do Báltico), cuja «Hispania Novella» se repete nas sucessivas edições (Ulm, 1482;
Roma, 1507; Estrasburgo, 1513; Munster, 1540, etc.). Tiveram grande difusão as edições aperfeiçoadas por Castaldi
(1544) e por Geminus (1545), sendo o modelo dessas gravuras reutilizado em diversas cópias veiculadas por toda a
Europa durante muito tempo2.
T
Almeida O Castelo de D. Dinis Trazado_Maquetación 1 24/01/14 11:12 Página 39
Primeiro mapa de Portugal impresso, com as
armas antigas e as Armas Novas do Reino de
Portugal, assinalando-se as armas dos Reinos
confrontantes da Andaluzia, de Leão e da Galiza
(não referindo Castela).
First printed map of Portugal, with antique and
the new coat of arms of the Kingdom of Portugal,
also pointing up the coat of arms of the bordering
Kingdoms of Andalusia, Leon and Galicia (not
referring Castille).
SECO, Fernando Álvares, [Portugal] / Vernandi
Alvari Secco; Sebastianus a Regibus Clodiensis
in aere i[n]cidebat; Michaelis Tramezini formis,
cum Summi Pontificis ac Veneti Senatus
privilegio. - Escala [ca 1:1340000], Veneza:
Michaelis Tramezini, 1561, gravura, p&b;
35,30x51,50 cm. Ref.: cc-950-v, Biblioteca
Nacional de Portugal, Lisboa.
3
Não se conhecem as fontes para a realização da carta, certamente fundamentada no conhecimento de cartógrafos locais. Outros exemplos de mapas da Península foram
produzidos em países e por autores exteriores a ela. A elaboração documentada de autores hispânicos acontece apenas em meados do século XVI, e terá ocorrido em ambos os
Estados num tempo similar e, provavelmente, com objectivos e metodologias semelhantes.
Em Portugal, com Fernando Álvares Seco e o seu mapa de
Portugal (publicado em Itália em 1561), e em Espanha com
o mapa da Andaluzia (1579), de Jeronimo de Chaves, e com
um mapa de autor desconhecido sobre a região de Aranjuez
(«Carpetaniae Pars Descriptio», 1584), encontramos muitas
similitudes, levando alguns autores espanhóis a admitir que
tais coincidências provêm de uma origem comum (o designado “Atlas do Escorial”) – o que “nos faz suspeitar que o
Atlas3 pudesse ter servido de base a outros documentos cartográficos e que a excessiva preocupação em manter em se-
Nevertheless, concerning the map of Portugal, the methodology and concerns and style of chorographic annotation,
with an important physical reasoning in hydrographical details, may suggest an explanatory approximation to the authorship, perhaps tendentiously coincident... The principles
of what would be an abandonment from the empty representation outside the limits of the Portuguese state, and conversely, in the case of the Atlas of the Escorial, the Spanish
state, show the same attitude. We note, however, that the requesters are from the same family: in Portugal, D. Catarina
of Austria, widow of D. João III; in Spain, Carlos V, his
brother. One might say that this and that work are completed
while maintaining respect for the political individualization
of representation5, considering the inflexible position of the
queen regent of Portugal regarding the separation of the
kingdoms (despite the marriage treaty of her daughter Maria
Manuela to the future Filipe II in Spain, but which ended
with an early and tragic interruption).
O chamado Atlas do Escorial é um
conjunto de 20 folhas (44 x 59 cm) + 1
folha índice (com uma quadrícula de localização das anteriores, a maior escala),
dobradas ao meio e encadernadas em
pergaminho. Em conjunto compõem um
mosaico de 2,20 m de altura por 3 metros
de comprimento. Ficou esquecido durante séculos na Biblioteca do Palácio
Real filipino, e terá constituído a base de
produção de outra cartografia e servido
para uso prático do rei. Obrigou a um
trabalho de campo vasto e repartido por
vários técnicos, sendo registada a vasta
informação cartográfica recolhida, guardando-se o resultado sem aparentemente
ser passado a limpo. Contém cerca de 10
000 referências, das quais 8 500 topónimos de povoações (distinguindo bispados, arcebispados e cidades muralhadas),
cerca de 1 000 cursos de água (de que
umas seis centenas referem os respectivos
nomes) e mais de 300 pontes.
The so-called Atlas del Escorial is a set of
20 sheets (44 x 59 cm) + 1 index sheet
(with a grid of the previous location, in a
larger scale), folded in half and bound in
parchment. Together, they comprise a mosaic 2.20 m in height and 3 meters long. It
had been forgotten for centuries in the Library of the Royal Philippine Palace, and
probably formed the basis for the production of other cartography works and was
used by the king. It imposed a vast field
work, divided into several technicians, who
registered the vast cartographic information collected, saving the result that apparently was still a draft. It contains about
10,000 references, of which 8500 are names
of towns (distinguishing bishoprics, archbishoprics and walled cities), about 1000
water courses (of which some six hundred
feature their names) and over 300 bridges.
4 CRESPO SANZ, Antonio – Un Mapa
Olvidado: el Atlas de El Escorial, p.89.
5 “A fronteira que delimita os reinos está
marcada por meio de uma linha de pontos, mas nem todos os reinos estão representados e apenas alguns têm o seu nome
em rótulo, pelo que não pode considerarse um mapa político completo. Portugal
(que na altura não pertencia à Coroa es-
39
Almeida O Castelo de D. Dinis Trazado_Maquetación 1 24/01/14 11:12 Página 40
panhola) [na verdade nunca pertenceu,
devido ao estatuto separado da soberania
dos Áustrias] e a Catalunha aparecem
com o texto rotulado em maiúsculas e,
embora no primeiro a fronteira seja
muito precisa, na Catalunha mostra dúvidas sobre o traçado na zona dos Pirinéus” – in CRESPO SANZ, Antonio, «Un
Mapa Olvidado: el Atlas de El Escorial»,
p. 77.
“The frontier marking the kingdoms is
marked by means of a dotted line, but not
every kingdom is represented and only
some have their names in a label, so it
mustn’t be considered a complete political
map. Portugal (which at the time did not
belong to the Spanish Crown) [in fact, it
never did, due to the separate status of the
sovereignty of the Habsburg] and Catalonia appear with lettered text in capitals
and, although at first the border is very accurate, Catalonia shows doubts concerning
the delimitation area in the Pyrenees” – in
CRESPO SANZ, Antonio, «Un Mapa Olvidado: el Atlas de El Escorial», p. 77.
6 Guido de Sforza (1518-1564), bispo de
Parma e, na diplomacia vaticana, próximo dos Habsburgos, era o “protector
dos interesses portugueses junto da Santa
Sé”. As preocupações de Portugal na embaixada enviada por D. Catarina centravam-se sobretudo nas questões do futuro
da Inquisição, do processo dos Cristãosnovos e a nomeação dos Núncios. Na
cartela dedicatória escreve-se: “Guido
Sforza: dedicamos-te, devida à protecção
dispensada à nossa gente, a Lusitânia descrita pela arte de Fernando Alvares
Seco...”, tendo sido substituída pela descrição de Gerard de Jode, na edição de
Antuérpia, criando o título: “Portugalliae
quae olim Lusitania”.
Guido de Sforza (1518-1564), Bishop of
Parma and in Vatican diplomacy, near the
Habsburgs, was the “protector of Portuguese interests with the Holy See”. The concerns of Portugal in the Embassy sent by
D. Catarina focused mainly on issues of
the future of the Inquisition, the process of
the New Christians and the appointment
of Nuncios. In the dedicatory, one reads:
“Guido Sforza: we dedicate to you, due to
the protection given to our people, the Lusitania described by the art of Fernando
Alvares Seco...”, having been replaced by
the description of Gerard de Jode, in the
edition of Antwerp, creating the title: “Portugalliae quae olim Lusitania.”
Real Academia de la Historia — Colección:
Departamento de Cartografía y Artes Gráficas
— Ref.: C-003-082; Dim.: 31’5 x 21 cm
40
gredo uma informação considerada estratégica induziu os
reis a mantê-lo oculto”4.
Não se desmerece a opinião, relativamente consensual,
quanto ao interesse em manter reserva sobre informação que
a representação cartográfica continha: afinal, a geografia
sempre é o primeiro instrumento para fazer a guerra…
Porém, no que ao mapa de Portugal concerne, a metodologia
e as preocupações e estilo de anotação corográfica, com importante fundamentação física no detalhe hidrográfico,
podem sugerir uma aproximação explicativa da autoria, quiçá
tendencialmente coincidente… Os princípios do que seria o
abandono a um vazio de representação fora dos limites do Estado português e, reciprocamente, no caso do Atlas do Escorial, do Estado espanhol, mostram uma mesma atitude.
Notemos, porém, que os encomendadores são da mesma família: em Portugal, D. Catarina de Áustria, viúva de D. João
In any event, and not wanting to further expand a discussion
that has not place here, there is the question of the possibility
of the cartographer (or the cartography workshop) being the
same for both documents.
3.2 – THE MAP OF FERNANDO ÁLVARES SECO
AND OTHER GREAT PRODUCTIONS
Of Fernando Álvares Seco, mathematician, nothing more is
known about his life and work apart from the map that bears
his authorship. The preparation of the statement in question
was designed to oblige the Cardinal Camerlengo6 of Paul IV
(meanwhile deceased and replaced by Pius IV) during the
embassy headed by Lourenço Pires de Tavora (1510-1573),
arrived in Rome in June 1559.The original was lost, but managed to be passed as an engraving (by Sebastiano di Re, dim.
36x66cm) and published in Venice in 1561, bearing the date
of 1560.
The orientation of the map, from the West at the top of the
page, is positioned relative to the geographic location of the
receiver, in Rome looking to the West that is Portugal, thus
being quite harmonious with the classical vision of the Renaissance, compared to the classics that described the Peninsula by explaining that Portugal is at the head of Europe. In
the geographical description of Strabo, Europe is a dragon
and Hispania its head.
The original is at an unknown location, but there were approximately 20 examples of the print made in Venice by
Michele Tramezino. We are at the beginning of the reign of
D. Sebastião(1547-1578, crowned with three years of age),
during the regency of his grandmother, D. Catarina of Austria (Sebastião takes office in 1568, aged 14).
This is the first printed map with the image of Portugal. Despite its historical and technical importance, even as an isolated piece, e.g., without the theoretical implications
mentioned in the previous paragraph, it is an element of remarkable importance. Therefore, it quite surprising that only
recently has a research been pursued, hitherto practically isolated, by Suzanne Daveau.
We go to this author7 for the synthetic characterization of
the situation: “Precociously unified state and of a stable extension since the thirteenth century, immediately provided
with a uniform language, Portugal seemed, early on, to have
a geographical description of the whole as an effective expression of its national consciousness. However, the earliest
Almeida O Castelo de D. Dinis Trazado_Maquetación 1 24/01/14 11:12 Página 41
III, em Espanha, Carlos V, seu irmão. Pode dizer-se que um e
outro trabalho se completam mantendo o respeito pela individualização política da representação5, considerando a posição inflexível da rainha regente de Portugal quanto à
separação dos reinos (apesar do tratado de casamento da sua
filha Maria Manuela com o futuro Filipe II de Espanha, mas
que acabou numa precoce e trágica interrupção).
De toda a maneira, e não querendo entrar numa discussão
que aqui se não adapta, suscita-se a interrogação sobre a possibilidade de o cartógrafo (ou a oficina de cartografia) ser
coincidente para um e outro documento.
3. 2 – O MAPA DE FERNANDO ÁLVARES SECO E
OUTRAS GRANDES PRODUÇÕES
De Fernando Álvares Seco, matemático, mais nada se sabe
sobre a sua vida e obra, para além do mapa que ostenta a sua
autoria. A elaboração do mapa em apreço teve por objectivo
obsequiar o Cardeal Camerlengo6 de Paulo IV (entretanto
falecido e substituído por Pio IV), no decurso da embaixada
chefiada por Lourenço Pires de Távora (1510-1573), chegada
a Roma em Junho de 1559. O original perdeu-se, mas logrou
ser passado a gravura (por Sebastiano di Re, dim. 36x66 cm)
e editado em Veneza em 1561, ostentando a data de 1560.
A orientação do mapa, com o Ocidente no topo da folha, posiciona-se relativamente à situação geográfica do receptor, de
Roma olhando para o Ocidente que é Portugal, assim se compaginando com a visão erudita do Renascimento, em relação
aos clássicos que descreviam a Península explicando que Portugal fica na cabeça da Europa. Na descrição geográfica de Estrabão, a Europa é um dragão e a Hispânia a sua cabeça.
Desconhece-se o paradeiro do original, mas subsistem cerca
de 20 exemplares da impressão feita em Veneza por Michele
Tramezino. Estamos no início do reinado de D. Sebastião
(1547-1578, coroado com três anos de idade), no período de
regência de sua avó, D. Catarina de Áustria (D. Sebastião assume o poder em 1568, com 14 anos).
Trata-se do primeiro mapa impresso com a imagem de Portugal. Pese embora a sua importância histórica e técnica,
mesmo visto como peça isolada, isto é, sem as implicações teóricas apenas afloradas no ponto anterior, constitui um elemento de notável importância. Por isso surpreende que só
recentemente se tenha prosseguido uma tarefa de investigação
até agora praticamente isolada, encetada por Suzanne Daveau.
«Portugalliae, que olim Lusitania, nouissima & exactissima descriptio / auctore, Fernando Alvaro Secco»,
c.1560. Gravado por Sebastiano del Re (1561) e integrado nos Atlas do Mundo, de Abraham Ortelius, a
partir de 1570. Engraved by Sebastiano del Re (1561) and included, since 1570, in the Atlases of the World, by
Abraham Ortelius.
As Terras de Riba-Côa, aqui numa ampliação parcial do mapa de Portugal da 2ª edição do Atlas de Ortelius,
de 1588, dedicada ao futuro Filipe III, que ascenderá ao trono em 1598. O Reino de Portugal mantinha a
configuração cartográfica que se vê repetida desde a sua primeira circulação.
The Lands of Riba-Coa, here in an enlarged portion of the map of Portugal of 2nd edition of the Atlas of
Ortelius, 1588, dedicated to the future Philip III, who will ascend to the throne in 1598. The Kingdom of
Portugal held the mapping configuration that is repeatedly adopted since its first publication.
41
Almeida O Castelo de D. Dinis Trazado_Maquetación 1 24/01/14 11:12 Página 42
“Tabla del reyno de Portugal”, fl. 58 – Atlas del
Rey Planeta, Pedro Teixeira Albernaz, 1634.
7
DAVEAU, Suzanne – Geografias de
Portugal, in Portugal e a Geografia Portuguesa, Inforgeo Nº 4, Jun. 1992, Associação Portuguesa de Geógrafos, p. 9.
8 Autores espanhóis admitem uma data
mais consentânea com idêntico tempo e
propósito paralelo do Atlas do Escorial,
isto é, rondando os meados do século
XVI
Spanish authors admit a more consistent
date with the same parallel time and purpose of the Atlas of the Escorial, i.e. at
around the mid-sixteenth century.
42
A esta autora recorremos7 para a caracterização sintética da
situação: “Estado precocemente unificado e de extensão estável desde o século XIII, logo provido de uma língua uniforme,
Portugal pareceria destinado a possuir desde cedo uma descrição geográfica de conjunto, como expressão eficaz da consciência nacional. No entanto, a mais antiga que se conhece,
em latim, data só do começo do século XV (1416) e faz parte
de uma descrição da Europa: obra de arauto anónimo, ela reflecte já vigorosamente tanto a unidade nacional como a organização regional. Durante a primeira parte do século XVI,
no auge da expansão ultramarina, apenas aparecem descrições
regionais ou locais, ainda que o necessário conhecimento geográfico de conjunto do Estado seja patente no numeramento
da população de 1527-32 e no mapa de Álvares Seco (1560).
“Será preciso esperar pela crise dinástica, que se anuncia em
1557 quando o jovem D. Sebastião ocupa o trono português,
e que se agudiza em 1580, com a Unificação das Coroas de
Portugal e de Espanha, para aparecerem Geografias históricas, através das quais o moderno Reino, ameaçado da sua individualidade, vai procurando as raízes da antiga Lusitânia.
André de Resende escreve em 1569-73 «De Antiquitatibus
Lusitaniae», que será publicado em 1593 segundo a ordem
dada pelo Rei D. Henrique em 1580. Frei Bernardo de Brito
anexa, em 1597, uma «Geografia da Antiga Lusitânia» aos 4
primeiros volumes da sua «Monarquia Portuguesa». Dois
anos mais tarde, em 1599, o legista Duarte Nunes de Leão
acaba de escrever a sua «Descripção do Reino de Portugal»,
que será publicada em 1610.”
known, in Latin, dates only from the beginning of the fifteenth (1416) century and is part of a description of Europe:
the work of anonymous herald, it already vigorously reflects
both national unity and regional organization. During the
early part of the sixteenth century, at the height of the overseas expansion, only regional or local descriptions appear,
although the geographical knowledge needed of the entire
state is evident in the population count of 1527-32 and the
map by Álvares Seco (1560).
“One needs to wait for the dynastic crisis, announced in 1557
when young D. Sebastião takes over the Portuguese throne,
and which grows graver in 1580, with the Unification of the
Crowns of Portugal and Spain, to see the appearance of historical Geographies, through which the modern Kingdom,
threatened in its individuality, seeks the roots of ancient
Lusitania. André de Resende writes in 1569-73 «De Antiquitatibus Lusitaniae», which will be published in 1593 according to an order given by King D. Henrique in 1580. Frei
Bernardo de Brito annexed in 1597 a «Geography of Ancient
Lusitania» to the first 4 volumes of his “Monarquia Portuguesa”. Two years later, in 1599, the lawmaker Duarte
Nunes de Leão has just written his “Descripção do Reino de
Portugal”, which will be published in 1610.”
The literary use of the geographical description assumes, together with drawings, the necessary role for a severance of
Portugal in the Hispanic space, aimed at creating a national
identification.
Álvares Seco was based, for the making of his map in “numerous administrative, ecclesiastical, military and commercial itineraries and a charter of Portugal existing in the
beginning of the reign of King João III (1521-1557). It is this
charter which will result in a comprehensive collection of
values of geographical coordinates of about 1500 places in
the territory, known as List of Hamburg(ca. 1525), but also
linked to the Atlas do Escorial (ca. 1538)8, in the figuration
that corresponds to the Portuguese space. One must also recall that the “Numeramento” (census) dates back to the same
time, 1527-1532, the first major demographic inventory of
the country, all witnessing a clear concern for the knowledge
and reorganization of space on a national scale”.9
In Álvaro Seco’s map, the frontier line is achieved by conforming the names of populations and mainly by interpreting the organic of the hydrographical basin under
Portuguese rule.
Almeida O Castelo de D. Dinis Trazado_Maquetación 1 24/01/14 11:12 Página 43
A utilização literária da descrição geográfica assume, ao lado
do desenho, o papel necessário de uma autonomização de
Portugal no espaço hispânico, tendente à criação de uma
identificação nacional.
Álvares Seco ter-se-á baseado para a feitura do seu mapa em
“numerosos itinerários administrativos, eclesiásticos, militares e comerciais, e uma carta de Portugal existente no início
do reinado de D. João III (1521-1557). É esta carta que estará
na origem de uma detalhada recolha de valores das coordenadas geográficas de cerca de 1500 lugares do território, conhecida como Lista de Hamburgo (ca. 1525), mas também
ligada ao denominado Atlas do Escorial (ca. 1538)8, no que
corresponde à figuração do espaço português. Recordaríamos ainda que data da mesma época o «Numeramento», de
1527-1532, o primeiro grande inventário demográfico do
País, todos testemunhando uma clara preocupação de conhecimento e reorganização do espaço à escala nacional”.9
No mapa de Álvares Seco a linha de fronteira é conseguida
pela conformação dos topónimos do povoamento e, sobre-
One of the earliest work regarding the execution of the map,
in 1957, already stated, relying on the study by Armando
Cortesão that “as to the technique used by Álvaro Seco, the
relationship between the distances of places and the perfect
proportion with current surveys, led to the conclusion that
mathematical methods of geodesic triangulation were used”.
Therein Álvaro Seco will have worked over a “standard
chart” prior to 1530 and commissioned by King João III. According to the authors consulted, “Portugal anticipated the
survey of a chart of the whole set, and in large-scale, by about
30 years before any other country.”10
The diffusion of the map, apart from the initial Italian edition, was owed to a version (in four leafs, with the dimension
of 60x96 cm), immediately promoted in Antwerp by Gerard
de Jode (1565) and after, with the inclusion of the representation in his Atlas, published in 1578 and in 1593, the
“Speculum Orbis Terrarum”. But it was mainly for being featured at Abraham Ortelius’ Atlas (“Theatrum Orbis Terrarum”, the most splendid Geographic Atlas hitherto
produced, composed in 1570 to be a present to King Filipe
Reino de Portugal, João Teixeira Albernaz, I, c.
1640 – Escala aprox.: 1:291000 - Manuscrito em
seis folhas coladas / Manuscript in 6 glued leafs,
132x234 cm, Ref.: Il-239, Biblioteca Nacional de
Portugal, Lisboa.
9
GARCIA, João Carlos – A Lusitânia
para o Cardeal Guido Sforza: um Mapa
de Portugal de 1561 na Biblioteca Nacional, p. 364.
10 FERREIRA, Alves; MORAIS, Custódio de Morais; SILVEIRA, Joaquim da e
GIRÂO; Amorim - “O mais antigo mapa
de Portugal (1561)”, Centro de Estudos
Geográficos da Fac. de letras da Univ. de
Coimbra, Coimbra, 1957.
43
Almeida O Castelo de D. Dinis Trazado_Maquetación 1 24/01/14 11:12 Página 44
“Descripcion del reyno de Portugal y de los
reynos de Castilla que parten con su frontera,
Delineada por D. Pedro Teixeira”, 1662.
11
O levantamento empreendido por
Duarte de Armas em 1509 “é um documento comparativo de grande interesse.
Notou sempre cuidadosamente, além do
número de léguas que separavam duas
fortalezas, a qualidade do caminho: fragoso, mau, arazoado, bom ou bom e chão,
categorias ainda muitas vezes temperadas
por advérbios: muito ou arrazoadamente.”
The survey underwent by Duarte de
Armas is 1509 “is a comparative document
of great interest. He always carefully noted,
apart from the number of leagues separating two fortresses, the quality of the road:
ridgy, bad, reasonable, good or good and
ground, categories often seasoned by adverbs: very or reasonably.” - in DAVEAU,
Suzanne – A descrição territorial no Numeramento de 1527-32, 2001, p. 18.
12 A Lista toponímica de Hamburgo, cujo
estudo ainda não tem carácter conclusivo
é, segundo Suzanne Daveau (op. cit., p.
11), “datável, pela dedicatória, de cerca de
1526. Com efeito, esta lista de milhar e
meio de topónimos é, na realidade, o índice locativo de um mapa anterior, que ela
permite reconstituir”.
The toponymic list of Hamburg, whose
study still hasn’t been concluded, is, according to Suzanne Daveau (op. cit., p. 11),
“datable by the inscription of about 1526.
In fact, this list of 1,500 places is, in fact, the
location index of a previous map, which it
allows to rebuild”.
44
tudo, como interpretação da orgânica das bacias hidrográficas sob soberania portuguesa.
Num dos trabalhos mais antigos relativos à execução do mapa,
em 1957, já se afirmava, apoiando-se o estudo em Armando
Cortesão, que “quanto à técnica utilizada por Álvaro Seco, a
relação entre as distâncias dos lugares, e a perfeita proporção
com os levantamentos actuais, levam à conclusão de que se
utilizaram métodos matemáticos de triangulação geodésica”
Nesse sentido Álvaro Seco terá trabalhado sobre uma “cartapadrão” anterior a 1530 e encomendada pelo rei D. João III.
Segundo os autores consultados, “Portugal antecipou-se no
levantamento de uma carta de conjunto, e em grande escala,
cerca de 30 anos antes de qualquer outro país”.10
A difusão do mapa, para além da inicial edição italiana,
deveu-se a uma versão (aumentada para quatro folhas, compondo a dimensão de 60x96 cm), logo promovida em Antuérpia por Gerard de Jode (1565) e depois com a inclusão
da representação no seu Atlas, editado em 1578 e em 1593,
o «Speculum Orbis Terrarum». Mas terá sido sobretudo pela
figuração no Atlas de Abraham Ortelius (o «Theatrum Orbis
Terrarum», o mais esplendoroso Atlas geográfico até então
produzido, composto em 1570 para ser presente ao rei de Espanha Filipe II), que a configuração do reino português criou
a sua imagem internacional, mostrando a estabilidade das
fronteiras reafirmadas soberanamente desde o final do século XIII. Esse desenho sempre foi tomado como correcto,
mesmo durante o período de união das duas Coroas ibéricas.
II of Spain) that the configuration of the Portuguese kingdom created its international image, showing the stability of
sovereign borders reaffirmed since the late thirteenth century. This drawing has always been taken as correct, even
during the union of the two Iberian crowns.
Ortelius’ Atlas continued a course of successive editions,
without prejudice of the expansion of the knowledge of the
modern figuration of Portugal in the acclaimed Atlas of Gerard Mercator, successful in the repeated and enlarged prints
from the original dated of 1595.
From the descriptions of the routes, particularly the Livro
das Fortalezas by Duarte de Armas11, we have a quantified
representation12 of the contours of Portugal, possibly translated in the early 1530s into a detailed chart from the Kingdom – aggregated to the conduction of the general census of
the country – the “Numeramento” of 1527-1532.
Referring to the period before the acclaimed printed map of
Alvares Seco, there is a document, appeared in the Real Academia de la Historia de Madrid, a small fragment (31,5
x21cm) of a large map. Suzanne Daveau says that this is the
copy of a charter, with successive uses not escaping the similarities that exist between its characteristics and the works
of Seco (edited in 1561, but necessarily before the 1560s),
and the “Atlas de El Escorial” (probably between 1538 and
1554). The original of such charter (that ended up having
military uses13, being divided into pieces for a more comfortable transportation) might, therefore, have served as a support for the execution of both cartographical materials
(excluding, according to experts, the hypothesis of one being
at the basis for the execution of the other). The question that
seems important is the admissibility of common authorship.
3.3 – FROM THE IBERIAN UNION
TO THE NEW PORTUGUESE DYNASTY
The path made by the cartographical representation of Portugal also has another important landmark: the map of “Atlas
del Rey Planeta”, 1634.
In the first case, Pedro Teixeira Albernaz (c. 1595-1662), the
cartographer that created the most precise and coveted charters for Filipe IV, including the topography of Madrid (20
printed leafs, 1656) and the extraordinary representation of
Portugal published in 1662, produced since his arrival in
Spain an extraordinary collection of documents, which was
Almeida O Castelo de D. Dinis Trazado_Maquetación 1 24/01/14 11:12 Página 45
O Atlas de Ortelius prosseguiu um curso de sucessivas edições, sem prejuízo da expansão do conhecimento da figuração moderna de Portugal no celebrado Atlas de Gerard
Mercator, com sucesso de repetidas e ampliadas impressões,
a partir da inicial datada de 1595.
Desde as descrições de roteiros, e particularmente o do Livro
das Fortalezas de Duarte de Armas11, temos uma representação quantificada12 dos contornos de Portugal, possivelmente traduzida em inícios da década de 1530 numa
pormenorizada carta do Reino - agregada à realização do
censo geral do país – o «Numeramento» de 1527-1532.
Remetendo para antes do celebrado mapa impresso de Álvares
Seco existe um documento, aparecido na Real Academia de
la História de Madrid, um pequeno fragmento (31,5 x21 cm)
de um grande mapa. Suzanne Daveau afirma tratar-se da cópia
de uma carta, com sucessivas utilizações, não escapando as
parecenças que existem entre as suas características e as dos
trabalhos de Seco (editado em 1561, mas necessariamente anterior à década de 1560), e do “Atlas de El Escorial” (com data
balizada entre 1538 e 1554). Poderia pois o original de uma
tal carta (que acabou por ter uma utilização militar13 e ser retalhada por comodidade de transporte) ter servido de suporte
à realização de ambos materiais cartográficos (estando excluída, segundo os especialistas, a hipótese de um deles estar
na base da preparação do outro). A questão que parece imporse é sobre a admissibilidade de haver autoria comum.
3. 3 – DO PERÍODO DA UNIÃO IBÉRICA
À NOVA DINASTIA PORTUGUESA
O percurso feito pela representação cartográfica de Portugal
tem ainda um outro especial momento referencial: o mapa
do “Atlas del Rey Planeta”, de 1634.
No primeiro caso, Pedro Teixeira Albernaz (c. 1595-1662),
o cartógrafo que confeccionou as mais precisas e cobiçadas
cartas para Filipe IV, incluindo a topografia de Madrid (em
20 folhas impressas, 1656) e a extraordinária representação
de Portugal editada em 1662, produziu desde a sua chegada
a Espanha um extraordinário acervo documental, o qual se
achava perdido (com excepção dos itinerários descritivos),
até que foi descoberto em Viena e publicado há escassa dezena de anos. O seu trabalho14 apresenta a rede de portos de
que se compõe a “Descripcion de España y de las costas y
puertos de sus reinos”, e foi concluído em 1634. Trata-se de
um monumental atlas manuscrito das costas e portos da Pe-
considered lost (except for descriptive itineraries) until being
discovered in Vienna and published a few years ago. His
work14 presents the network of ports composing the “Descripcion de España y de las costas y puertos de sus reinos”
and was concluded in 1634. It is a monumental handwritten
atlas of the shores and ports of the Iberian Peninsula, the result of 9 years of field work, begun in 1622, integrating, apart
from the Spanish part, a map of Continental Portugal (orientated, as opposed to Álvares Seco’s, from the East up) and
some twenty others of its coast, accompanied with texts with
the respective descriptions.
“Descripcion del Reyno de Portugal y de los Reynos de
Castilla que parten con su frontera / Delineada por D.
Pedro Teixeira; Dedicada a la Magestad del Rey Nro Sr.
D. Phelipe 4°; Por D. Joseph Lendinez de Guevara;
Marcus Orozcus sculpsit - en casa de Santiago de
Ambrona (Matriti) -1662” (Dim. 109x77cm, Ge DD
2987, Bibliothèque Nationale de France). Esta é a
cartografia que serve de base à nova representação de
Portugal, em substituição do Mapa de Alvares Seco,
perdurando outro século nas sucessivas versões. Os
trabalhos de levantamento das costas da Península
elaborados por Pedro Teixeira Albernaz (1622-1630)
reflectem-se nos detalhes de todo o litoral.
This is the map that underpins the new representation of
Portugal, replacing the map of Alvares Seco, lasting
another century in successive releases. The work of
surveying the coasts of the Peninsula developed by Pedro
Teixeira Albernaz (1622-1630) is reflected in the details
of the sea shore.
45
Almeida O Castelo de D. Dinis Trazado_Maquetación 1 24/01/14 11:12 Página 46
“Plano de la frontera de España con Portugal
comprendiendo los ríos Duero, Mondego y
Tajo”. Acompanha carta do Duque de Alba para o
Rei. Coria, 10 de Abril de 1641, e a vários documentos sobre o ataque de Portugal, armas, munições e pontos da fronteira por onde se pode entrar
It accompanies a letter by the Duke of Alba to
S. M. Coria, on 10th April, 1641, and several
documents on the attack to Portugal, weapons, ammunition, and entrance points
across the border.
AGS. MPyD. 05-176, Archivo G. de Simancas.
13
Desde o escasso dimensionamento da
folha (que é o único elemento que resta
de uma produção de larga escala, eventualmente com quatro ou seis grandes
pergaminhos em mosaico), de modo a
partir o seu fácil acomodamento em
campanha, salienta-se o risco de linhas
de rumo e respectivas rosas (à semelhança das rotas de navegação), próprias
da determinação de movimentos segundo a orientação solar ou por meio do
uso da bússola, para as deslocações militares.
From the sparse dimensions of the page
(the only element left of a large-scale production, eventually with four or six great
parchments arranged in a mosaic), as to
make its transportation easier during
campaigns, one emphasizes the drawing
of the rhumb lines and respective compass
roses (similar to navigation routes), used
for determining movements according to
the position of the sun or to the use of a
compass, during military missions.
14 O Atlas é um dos mais impressivos
monumentos cartográficos do século
XVII, e apresenta-se com 173 páginas,
com 116 imagens coloridas com mapas
de Portugal, de Espanha e de outros pontos do mundo. Entre as imagens dos portos figuram 11 de Guipúzcoa; 5 da
46
nínsula Ibérica, fruto de uns 9 anos de trabalho de campo,
iniciado em 1622, integrando, além da parte espanhola, um
mapa do conjunto de Portugal Continental (orientado ao
contrário do de Álvares Seco, isto é, com o Leste para cima)
e mais vinte outros do seu litoral, acompanhados de textos
com as respectivas descrições.
No final do percurso comum sob o regime dos Habsburgos,
iniciado em 1580, chegámos a 1640 com uma representação
internacionalmente divulgada da extensão do reino de Portugal. Para isso contribuiu sobretudo o valor das prestações
de alto nível dos cartógrafos trabalhando na corte de Madrid.
Nela se empregava a fina-flor portuguesa de matemáticos e
desenhistas de planos, salientando-se o Cosmógrafo-mor de
Espanha, João Baptista Lavanha.
Ainda de autoria de Pedro Teixeira, um dos mais qualificados representantes da dinastia familiar de cartógrafos portugueses15, destaca-se por fim o mapa com a “Descripción
del Reyno de Portugal y de los Reynos de Castilla”, gravada
em Madrid em quatro folhas. Deste documento damos o
realce que merece, chamando a atenção para a data da sua
publicação pelos espanhóis (1662, ano da morte do autor),
não obstante os levantamentos necessários à sua confecção
terem sido os executados até ao final da década de 1620 para
o Atlas monumental que concluiu em 1634. Desconhece-se
a razão da encomenda, com a qual se reiteravam os limites
de Portugal em pleno reinado de Filipe IV e no decurso de
uma guerra de fronteiras pela independência nacional.
Tal como o mapa de Álvares Seco, a “Descripción del Reyno
de Portugal y de los Reynos de Castilla, delineada por Pedro
Teixeira”, estava desenhada com o Ocidente para cima. Da
versão que aqui apresentamos (1705, já dedicada a Filipe V
de Espanha) a imagem regulariza-se com a orientação do
Norte no alto da folha. A imagem mostra um exemplar adornado por gravuras das principais cidades, com descrições
textuais em francês, já que foi editado em Paris.
O mapa de Pedro Teixeira, ao ser divulgado em Madrid em
1662, vai destronar um século de vigência da imagem de
Portugal construída através da carta de Fernando Álvares
Seco e das suas múltiplas versões que circulavam, nos diversos atlas europeus, desde o último quartel do século anterior.
A Descrição de Pedro Albernaz Teixeira, gravada por Marcus de Orozcos, vai fazer, à semelhança de Seco, outro século
como a imagem do país.
Uma tal produção sobre Portugal constitui um facto relevante, dado que essas cartas são documentos políticos de
grande significado, e para mais em resultado dos trabalhos
promovidos directamente pela Corte de Madrid.
At the end of the ordinary course under the Habsburgs’
reign, started in 1580, we reach 1640 with an internationally
publicized representation of the extent of the kingdom of
Portugal. To that extent, there was particular value in the
high-quality contributions of the cartographers working in
the court of Madrid. There, one would find the finest of Portuguese mathematicians and draughtsmen, emphasizing the
Chief Cosmographer of Spain, João Baptista Lavanha.
Also by Pedro Teixeira, one of the most qualified representatives of the family dynasty of Portuguese cartographers15,
one should highlight the map with the “Descripción del
Reyno de Portugal y de los Reynos de Castilla”, engraved in
Madrid in four leafs. This document receives the highlight
it deserves, underlining the date of its publication by the
Spanish (1662, year when the author dies), although the surveys needed for its creation had been executed until the end
of 1620s for the monumental Atlas he concluded in 1634.
The reason behind the commendation is unknown, with
which the limits of Portugal are approved during the reign
of Filipe IV and during a war of frontiers for national independence.
As the map of Álvares Seco, the “Descripción del Reyno de
Portugal y de los Reynos de Castilla, delineated by Pedro
Teixeira,” was drawn up with the West on top. The version
we present here (1705, now dedicated to Filipe V of Spain)
includes the regularization of the orientation with the North
at the top of the sheet. The picture shows a copy adorned
with prints of major cities, with textual descriptions in
French, since it was published in Paris between.
The map by Pedro Teixeira, to be disclosed in Madrid in
1662, will dethrone a century of validity of the image of Portugal built by Fernando Alvares Seco’s charter and its multiple versions that circulated in several European atlas, since
the last quarter of the previous century. The Description of
Pedro Albernaz Teixeira, engraved by Marcus Orozcos, will
create, like Seco’s, another century as the country’s image.
Such production on Portugal is a relevant fact, since charters are political document with great meaning, even more
so as a result of works promoted directly by the Court of
Madrid.
Almeida O Castelo de D. Dinis Trazado_Maquetación 1 24/01/14 11:12 Página 47
“Lemites de Portugal”
In “Fronteira de Portugal fortificada pellos reys
deste reyno. Tiradas estas fortalezas no tempo
del rey dom Manoel / Copiadas por Brás Pereira”,
Brás Pereira a partir de Duarte de Armas,
excepto a peça em epígrafe, fólio duplo,
manuscrito colorido, 1642. Dim.: 415 x 595 mm.
Mapa com desenho à pena e aguarelado,
profusamente decorado Map drawn by quill
and watercolors, profusely decorated.
Ref: IL 192, BNP – Biblioteca Nacional de
Portugal, Lisboa.
3. 4 – O MAPA NACIONALISTA DE BRÁS TEIXEIRA E
A FRONTEIRA DA BEIRA
3.4 – THE NATIONALIST MAP BY BRÁS TEIXEIRA
AND THE FRONTIER OF BEIRA
Do tempo da Aclamação dos Braganças como reis de Portugal
subsiste um mapa, de autoria do Cartógrafo João Teixeira Albernaz16, com evidente interesse iconográfico, e que se reproduz, embora pareça não adiantar muito sobre a informação
que Álvares Seco fornecia quase um século antes. Figura com
o Leste para cima, como acontece no Atlas do seu filho, Pedro
Teixeira, de 1634, tratando-se do primeiro manuscrito, conhecido, de um mapa de Portugal que representa a totalidade do
território, datando de cerca de 1640. Está depositado na Biblioteca Nacional de Lisboa, sendo conhecido como “Mapa Gulbenkian”17.
Também sem ser por especiais motivos de avanço científico da
representação geográfica, existe um curioso mapa de autoria
de Brás Pereira (1642), integrando um livro com as cópias dos
desenhos dos castelos medievais e de transição de Duarte de
Armas. A sua execução, integrada na cópia do Livro das Fortalezas contém um significado particular, pois a ela subjaz a recuperação do valor documental da soberania do país que se
consubstanciara na encomenda de D. Manuel I ao seu escudeiro no início do século XVI. O título dado ao manuscrito
não deixa margem para diferente conclusão: “Fronteira de Portugal fortificada pellos reys deste reyno. Tiradas estas fortalezas
no tempo del rey dom Manoel”.
From the time of Acclamation of the Braganza House as
monarchs of Portugal, there remains a map, authored by
cartographer João Teixeira Albernaz16, with obvious iconographic interest, and that is reproduced herein, although it
seems not to add much to the information Alvares Seco had
provided almost a century before. Featuring the East at the
top, as in the Atlas by his son, Pedro Teixeira, 1634, being
the first manuscript known of a map of Portugal representing the entire territory, dating from around 1640. It is deposited in the Biblioteca Nacional de Lisboa, being known
as “Mapa Gulbenkian”17.
Also without special motives of scientific advances of the
geographical representation, there is a curious map by Brás
Pereira (1642), integrated in a book with copies of the drawings of Duarte de Armas’ medieval and transitional castles.
Its execution, integrated in the copy of the Livro das Fortalezas, has special significance because it underlies the recovery of the documentary value of the sovereignty of the
country that will mark the commissioning of D. Manuel I
to his squire in the early sixteenth century. The title given
to the manuscript leaves no scope for different conclusion:
“Frontier of Portugal fortified by the monarchs of this kingdom. These fortresses taken in the time of king Manuel”.
Biscaia; 5 de Castela; 9 de Leão; 19 da Galiza; 21 de Portugal; 16 de Andaluzia; 2 de
Múrcia; 5 de Valência e 7 da Catalunha.
Deste trabalho excepcional beneficia o
pormenor com que vai ser tratada a linha
litoral do mapa de Portugal publicado em
1662. Foi editado em fac-simile em 2002.
The Atlas is one of the most impressive cartographic monuments of the seventeenth
century and presents itself with 173 pages
with 116 color images with maps of Portugal, Spain and other parts of the world.
Among the images of the ports listed there
are 11 of Guipúzcoa; 5 of Biscay; 5 of Castile, 9 of León, 19 of Galicia, 21 of Portugal,
16 of Andalusia, 2 of Murcia, 5 of Valencia
and 7 of Catalonia. This exceptional work
benefits the detail with which the coastal
line of the Portuguese map published in
1662 will be treated. It was published in
facsimile in 2002 - Editorial Nerea (Filipe
Pereda and Fernando Marías, eds.), Hondarribia, Spain.
15 Pedro era filho de um outro cartógrafo
notável, Luís Teixeira, e irmão de João Teixeira Albernaz. A sua vida decorreu em
grande parte em Espanha: na década de
1610 partiu para o país vizinho e, entre
1622 e 1630, trabalhou no levantamento
das costas da Península Ibérica. Tendo começado pelas cartas náuticas, veio depois
a dedicar-se aos levantamentos topográficos, talvez por influência de João Baptista Lavanha (1555-1624), cosmógrafo e
professor de matemática do rei de Espanha, Filipe IV.
Pedro was the son of another notable cartographer, Luis Teixeira, and brother of
João Teixeira Albernaz. His life took place
largely in Spain: in the late 1610s he left for
the neighboring country and, between 1622
and 1630, worked on the survey of the
coasts of the Iberian Peninsula. Having
begun by nautical charts, he then became
devoted to surveying, perhaps influenced by
João Baptista Lavanha (1555-1624), professor of mathematics and cosmographer of
the Spanish king, Filipe IV.
16 João Teixeira Albernaz I (ou o Velho,
para se distinguir do seu neto homónimo) nasceu em Lisboa no último quartel do século XVI, tendo falecido cerca
de 1652. Seu avô, Pero Fernandes, era
cartógrafo, dando início a uma genealogia de produtores da mais qualificada
cartografia europeia. O pai, Luís Teixeira,
colaborou no Atlas de Ortelius (repre-
47
Almeida O Castelo de D. Dinis Trazado_Maquetación 1 24/01/14 11:12 Página 48
Plano de la frontera de España y Portugal
correspondiente a Salamanca y Extremadura con
sus sistemas defensivos a ambos lados. Dim.: 31 x
45 cm. Incluído numa carta de Urbano de
Ahumada, Mestre de Campo, de 23 de Dezembro
de 1643. / Included in a letter by Urbano de
Ahumada, field marshal, on 23rd December, 1643.
AGS. MPyD. 56-089, Archivo General de
Simancas
sentações da Coreia e do Japão, a partir
da edição de 1595 do Theatrum Orbis
Terrarum»). João Teixeira foi o mais prolífico cartógrafo português do século
XVII: a sua produção inclui dezanove
atlas, num total de duzentas e quinze cartas, muitas delas referentes ao Brasil.
João Teixeira Albernaz I (or the Old, to
make a distinction with his homonymous
grandson) was born in Lisbon in the final
quarter of the 16th century, having passed
circa 1562. His grandfather, Pero Fernandes, was a cartographer, beginning a genealogy of producers of the most reliable
European maps. His father, Luis Teixeira,
cooperated at Ortelius’ atlas (representations of Korea and Japan, from the edition of Theatrum Orbis Terrarum 1595
‘). João Teixeira was the most prolific Portuguese cartographer in the seventeenth
century: his production includes nineteen
atlas, totaling two hundred and fifteen
charts, many of them related to Brazil.
17 Por ter sido adquirido pela Fundação
Calouste Gulbenkian, em 1964, à Livraria Pregliasco, de Turim, após parecer
favorável de Armando Cortesão, e
doado à Biblioteca Nacional de Portugal
em 2007.
Because it was acquired by Fundação Calouste Gulbenkian, in 1964, to Pregliasco
Library, at Turim, after a favourable opinion issued by Armando Cortesão and
donated to Biblioteca Nacional de Portugal in 2007.
48
Tratando-se de cópias cuidadas do manuscrito, com introdução da cor, acrescenta a disponibilização de um mapa com uma
configuração (e orientação) idêntica à das reproduções de Fernando Álvares Seco e de Gerard de Jode / Abraham Ortelius.
Um dos maiores interesses que apresenta é o de permitir situar
as vistas do Livro de Duarte de Armas no território português,
conferindo à leitura da sua sequência (da esquerda para a direita e seguindo o índice seiscentista) a visão da linha dos “Lemites de Portugal”, conforme se titula em cartela própria.
Antecedendo qualquer representação unitária do espaço geográfico, o trabalho de Duarte de Armas (que inclui um roteiro
comentado e com a especificação das distâncias entre cada uma
das fortificações) era um verdadeiro documento representativo
da fronteira de Portugal. A partir daqui, a consciência da importância da existência de uma carta da terra nacional, que servisse como orientação e como reivindicação de posse (tal como
as do mar e das terras que se descobriam e de que Portugal se
reclamava a soberania), terá feito com que (antecipando o que
aconteceria depois em Espanha) houvesse a decisão de elaborar
um mapa com as fronteiras e o recorte das costas, tal como
atrás referimos.
Na retoma da independência, a zona da Beira – provavelmente
a mais sensível por ser chave da idealização da fronteira imaginada por D. Dinis –, foi objecto de curiosos registos documentados nos Arquivos. Um deles é o do croquis que
acompanha a carta do Duque de Alba, enviada ao rei Filipe IV
logo em 10 de Abril de 1641, centrando atenções nas Terras de
Riba-Côa. O seu propósito era, juntamente com outros documentos, informar “sobre o ataque a Portugal, armas, munições
e pontos da fronteira por onde se pode entrar”. A missiva, escrita em Coria, responde à solicitação “no ofício em que V.Mg.
me manda que lhe diga as forças que existem e as praças fron-
Since these are careful copies of the manuscripts, with the
introduction of color, it adds the availability of a map with
a configuration (and orientation) similar to the reproductions by Fernando Álvares Seco and Gerard de Jode / Abraham Ortelius. One of its greatest interests is that it allows
locating the views of the book by Duarte de Armas in Portuguese territory, providing a sequential reading (from the
left to the right and following the 17th-century index) the
view of the line of “Portugal Limits”, according the title in
its own inscription.
Anticipating any unitary representation of the geographic
space, the work of Duarte de Armas (which includes a commented itinerary that specifies the distances between each
of the fortifications) was a true representative document of
the border of Portugal. From here on, the awareness of the
importance of the existence of a charter of the national land,
which could serve as a guideline and serve the purposes of
claiming ownership (such as the seas and the lands that were
discovered and over which Portugal claimed sovereignty),
caused (anticipating what would happen next in Spain) the
decision to make a map with the borders and the contours
of the coasts, as previously mentioned.
After regaining independence, the area of Beira – probably
the most sensitive one for being the key of the idealization
of the frontier imagined by D. Dinis – was the object of curious records documented in the Archives. One of them is
the croquis accompanying the letter from the Duke of Alba,
sent to King Filipe IV as early as 10th April, 1641, focusing
attention on the Lands of Riba-Côa. Its purpose was, along
with other documents, inform “on the attack on Portugal,
weapons, ammunition and border points through which
one can enter.” The letter, written in Coria, responds to the
request “in the letter that HRH sent me to tell you which
are the strengths and frontier fortresses and, to satisfy HRH,
I’m sending you attached a map that I order from my district, signaling the strongest places”.
It was the beginning of the Portuguese War of Restoration,
in which Almeida will play a prominent part with the developments that took place in their own fortified system.
The disputes over the sensitive mediating strip between the
two countries is very present in the concerns of one and the
other, continuing throughout time – as seen in the notes
we’ve gathered on the vitality of the subject for the fixation
and maintenance of the borders.
Almeida O Castelo de D. Dinis Trazado_Maquetación 1 24/01/14 11:13 Página 49
teiricas e, para satisfazer V.Mg., à parte lhe remeto um mapa
que mandei fazer sobre o meu distrito, em que se assinalam os
lugares mais fortes”.
Eram os inícios da Guerra da Restauração, na qual Almeida
vai desempenhar um papel proeminente, com a evolução acontecida no seu próprio sistema fortificado. As disputas da sensível faixa mediadora da separação entre os dois países está
muito presente nas preocupações de um e de outro lado, prosseguindo ao longo dos tempos – tal como se observa nos apontamentos que juntamos, acerca da vitalidade do assunto para a
fixação e manutenção da linha de fronteira.
No desenho perspectivado e aguarelado de finais de 1643, com
uma faixa esbranquiçada onde se escreve “Portugal” e estão localizadas as praças entre a fronteira da ribeira de Tourões e o
vale do rio Côa, demonstra-se um propósito de fazer recuar a
demarcação até à fronteira natural deste rio. O desenho acompanha o “Plano de la Frontera de España y Portugal”, descrevendo a situação militar de Almeida, considerada como a
”praça de armas principal, tem-na fortificada com os seus traveses, metade de alvenaria e metade de faxina e terra e hoje
estão a construir um fosso, tem um castelo antigo, onde guardam as suas munições”. Esta descrição pode complementar-se
com a que é feita por João Salgado Araújo, na sua obra “Sucessos miltares das armas portuguesas em suas fronteiras depois
da real acclamaçao contra Castella”, publicada em 1644, ao narrar os factos do ano 1641: “Ordenou D. Alvaro de Abranches,
no primeiro seu governo desta provincia, Se fícese hua fortificaçâo, com quatro ou cinco reductos, metendo dentro della
igreja & castello. Boa traça por ficar praça darmas mais ajustada
& milhor acomodada”.
A respeito do Castelo Medieval de Almeida, este mesmo autor
descrevia-o assim: “Tem sua fortaleza para poente, na mayor
eminencia da villa, sem padrasto algum, com duas torres no
primeiro castello & hua cerca descortinada, como seus reductos descortinados, cisterna nativa de boa agoa nunca se pode
acabar de alimpar pella muyta agoa, que brota tanta, que no
estio tem cuarenta palmos. Tem casa de muniçoens dentro do
primeiro castello & atafona. Agora se lhe vao fazendo casas de
alojamento. Tem despois deste primeiro castello hua cerca com
quatro reductos descortinados & ponte lenadiça que cae sobre
hua cava que a cerca em redondo, guarnecida de lageas altura
de duas picas outras duas de vao como suas ladroeiras a partes
convenientes”.
No plano para “reconocer el terreno de la Concepción de
Osuna”, de 1644, constam as principais fortificações abaluar-
In the perspective drawing, in watercolors, of late 1643, with
a whitish strip with “Portugal” written, which features the
locations of the places between the border of Ribeira de
Tourões and the valley of Côa River, there is the purpose of
receding the demarcation up to the natural frontier of this
river. The plan accompanies “Plano de la Frontera de España y Portugal”, describing the military situation of
Almeida, considered as the “main place of arms, being fortified with its beams, half in masonry and half in fascine and
earth and today they are building a ditch, it has an old castle,
where they store ammunition”. This description may be
complemented with the one made by João Salgado Araújo,
in his work “Sucessos miltares das armas portuguesas em
suas fronteiras depois da real acclamaçao contra Castella”,
published in 1644, by narrating the facts of thr year of 1641:
“D. Alvaro Abranches ordered, during his first government
of this province, to create a fortification there, with four or
five redoubts, including a church and castle. Good design,
since the stronghold is more adjusted and more accommodated”.
Regarding Almeida’s medieval castle, this same author describes it as such: “It has its fortress facing the west, in village’s highest point, without any obstacle, with two towers
Descripción para reconocer el terreno de la
Concepción de Osuna. Dim.: 30 x 42 cm.
AGS. MPyD. 28-060, Archivo General de
Simancas.
49
Almeida O Castelo de D. Dinis Trazado_Maquetación 1 24/01/14 11:14 Página 50
Mapa del Campo de Argañan: en que van
anotados los vados, que se encuentran desde
Ciudad Rodrigo, siguiendo el curso del rio
Agueda, hasta Escarigo, lugar del reyno de
Portugal. Dim.: 46 x 74 cm. SH. SA-02/01,
Archivo General de Simancas
50
tadas da fronteira luso-espanhola: Forte da Concepción, concebido pelo marechal Osuna, Valdemula e Almeida. Da parte
espanhola, o Fuerte de la Concepción é desenhado com uma
planta quadrada e quatro grandes baluartes pentagonais nos
cantos. Esta obra começou a ser construída por ordem de Gaspar Téllez Girón, Duque de Osuna, a 8 de Dezembro de 1663,
e foi demolida em Outubro de 1664.
A reivindicação dos limites expressos no mapa da soberania
da nova dinastia de Bragança, coincide com o que estatuía a
configuração vigente durante o período de união das duas Coroas ibéricas. Não obstante, tal foi preciso evidenciar-se através
de um gigantesco esforço que a construção da fronteira abaluartada representou para Portugal.
Almeida ainda virá a ser espanhola, ao ser ocupada no decurso
da Guerra dos Sete Anos (1762/63), mas tudo se recompôs com
o desfecho das beligerâncias familiares dos grandes da Europa.
E chegamos, nesta mostra, ao século XIX com um registo da
zona-chave, mostrando o designado “Campo de Argañan”. Era
este um terreno propício à invasão do território pela grande
manobra político-militar montada entre franceses e espanhóis,
razão por que este mapa foi cuidadosamente elaborado “en que
van anotados los vados, que se encuentran desde Ciudad Rodrigo, siguiendo el curso del rio Agueda, hasta Escarigo, lugar
del reyno de Portugal”. Todo este envolvimento antecipava a
Guerra Peninsular, em cujos momentos iniciais o país vizinho
participa com Napoleão contra Portugal, incluindo no episódio
prévio da chamada “Guerra das Laranjas” (que beliscou indelevelmente o Tratado de Alcanices) e na participação ao lado
in the first castle and walls without curtains, as its redoubts,
a native cistern with good water, which cannot be cleaned
because it has plenty of water (in the Summer, reaching 40
spans). It has a house for ammunition inside the first castle
and watchtower. Now, they are building accommodations.
After this first castle, it has a wall with four redoubts without
curtains and a drawbridge that falls over a ditch surrounding it, garnished with slabs two picas high with another two
picas in length, with ladroeiras at convenient points”.
The plan to “recognize the terrain of la Concepción de
Osuna”, 1644, features the main bulwarked fortifications of
the Portuguese-Spanish border: Concepción Fort, designed
by Marshal Osuna, Valdemula and Almeida. On the Spanish
part, the Fuerte de la Concepción was designed with a
square floor plan and four large pentagonal bulwarks at the
corners. This work was begun by order of Gaspar Téllez
Girón, Duke of Osuna, on 8th December, 1663, and was demolished in October 1664.
The claim of the limits expressed in the map of sovereignty
of the new dynasty of Braganza coincides with what was established by the current configuration during the union of
the two Iberian crowns. However, this had to be evidenced
through a massive effort, represented by the construction
of the bulwarked border for Portugal.
Almeida would still be Spanish by being occupied during
the Seven Years War (1762/63), but everything fell into place
with the outcome of the family wars of Europe’s major characters.
And we arrive, during this enumeration, to the 19th century
with the record of a key-area, showing the so-called “Campo
de Argañan”. This was the terrain prone to the invasion of
the territory by the great political-military maneuver devised between the French and the Spanish, reason why this
map was carefully elaborated “in which we note the fords,
found between Ciudad Rodrigo, following the river Agueda,
until Escarigo, place of the kingdom of Portugal”. All this
involvement anticipated the Peninsular War, in which initial
moments the neighboring country participates with
Napoleon against Portugal, including the previous episode
of the “War of the Oranges” (which indelibly pinched the
Treaty of Alcanices) and the participation alongside the
troops at the 1st French Invasion. And it will be through
Campo de Argañan that the armies of Andre Massena will
enter in 1810 in Portugal, overwhelming Almeida.
Almeida O Castelo de D. Dinis Trazado_Maquetación 1 24/01/14 11:14 Página 51
das tropas na 1ª Invasão Francesa. E vai ser através do Campo
de Argañan que os exércitos de André Massena entrarão em
1810 em Portugal, subjugando Almeida.
Era então já um tempo de grande disseminação da informação.
Em 1808, e legendado em português e em francês, os exércitos
de Napoleão já deverão ter utilizado a “Carta Militar” impressa
em Lisboa. O material geográfico encontra-se orientado a Leste
e apresenta algarismos inscritos ao lado das vias indicando as
distâncias em léguas e em horas de percurso.
This was a time of great dissemination of information. In
1808, captioned in Portuguese and in French, Napoleon’s
armies probably already used the “Military Charter” printed
in Lisbon. The geographical material is found orientated to
the East and presents numbers on the side of the routes, indicating the distance, in leagues and in hours for the journey.
“Carta Militar das principais Estradas de
Portugal” por Eça L. Homem da Cunha, Grav.
Romão Eloy Almeida, mapa em 4 fls. (74x136
cm em folha de 98,50x143 cm), escala 1/ 470
000. BNP Ref.: 914.69 (084.3), Biblioteca
Nacional de Portugal, Lisboa, 1808.
51
Almeida O Castelo de D. Dinis Trazado_Maquetación 1 24/01/14 11:14 Página 52
Almeida O Castelo de D. Dinis Trazado_Maquetación 1 24/01/14 11:14 Página 53
4
Almeida O Castelo de D. Dinis Trazado_Maquetación 1 24/01/14 11:14 Página 54
F
Castelo Rodrigo, Livro das Fortalezas de
Duarte de Armas: “Castello Rodryguo tirado
natural / da parte do sull alcayde moor ho /
conde de mªalva”.
A
1 Existe um Códice B (cód. 9241, Biblioteca Nacional de Madrid), menos completo e com representações mais apressadas. Algumas indicações diferem (ou
são esquecidas) ou até serão acrescentadas em alguns dos fólios do exemplar
madrileno.There is a Codex B (code
9241, Madrid’ National Library), less
complete and featuring less detailed representations. Some indications differ or
were even added in some pages of Madrid’s edition.
2 Reynaldo dos Santos, “A Torre de
Belém – Estudo Histórico e Arqueológico (1514-1520)”, Coímbra, 1922, p. 30.
54
notemos primeiro, relativamente ao Códice que se
acha na Torre do Tombo1 – esse monumento iconográfico que Reynaldo dos Santos classificou como “a
mais preciosa ilustração que se pudesse ambicionar para
uma crónica de edificação manuelina do reino”2 – a repartição da representação dos castelos nele constantes:
– 6 na Raia do Minho;
– 10 no Norte Transmontano;
– 4 sobre o rio Douro, a Poente/Norte;
– 13 na Beira (sendo 6 no Riba-Côa: Castelo Rodrigo, Almeida, Castelo Bom, Castelo Mendo, Vilar Maior e Sabugal);
– 7 a Sul do Tejo/Norte do Alentejo;
– 15 sobre o Guadiana (incluindo Olivença).
Estes 55 castelos do “Livro das Fortalezas”, através do alinhamento dos quais se marcava a fronteira manuelina, são a
maioria dos pontos-chave cuja posse de senhorios foi realizando a primeira linha de uma progressiva delimitação da
soberania medieval portuguesa, a partir de D. Afonso III/D.
Diniz.
irst of all, one must highlight that the Codex that can
be found at Torre do Tombo1 – that iconographic monument that Reynaldo dos Santos classified as “the
most precious illustration that could be ambitioned to chronicle the kingdom’s Manueline buildings”2 – divides the castles as such:
– 6 at Minho’s dry frontier;
– 10 at the northern area of Trás-os-Montes;
– 4 over river Douro, to the West/North;
– 13 at the Beiras (6 at the Riba-Côa Region: Castelo Rodrigo, Almeida, Castelo Bom, Castelo Mendo, Vilar
Maior, and Sabugal);
– 7 to the south of Tagus/ northern Alentejo;
– 15 over the river Guadiana (including Olivenza).
These 55 castles featured at Livro das Fortalezas, which aligned marked the border during the Manueline period, are the
majority of the most important points that made up the first
line of a progressive limitation of the Portuguese medieval
sovereignty, from the reigns of King Afonso III/King Dinis,
through a system of manors.
One witnesses, particularly in Almeida, the route towards a
transition model of architecture, by re-contextualizing the
Dionysian castle, adding ingenious adaptations that testify
to the quick transition from torsion artillery to powder artillery.
Both confirming and ratifying that evolution, one witnesses
the appearance of a low wall with round bastions, rising to
the height of the chemin de ronde and with artillery positions. Nevertheless, this wall with a defensive use made via
battlements also has an assistant ditch (using solid brickwork
in its escarpments and counter-escarpments); this aspect
makes it a unique example on the set of castles featured on
the Codex. One notes, in fact and regarding the record of
ditches (excluding Almeida), that its planimetric expression
only appears in 10 other cases (Monforte do Rio Livre, Miranda do Douro, Sabugal, Segura, Monforte, Arronches,
Campo Maior, Olivença, Alandroal, and Mourão), although
all denote a less formal and older character, only covering
part of the perimeter.
One must take into account the importance of the Manueline
works in Almeida, which were the responsibility of an im-
Almeida O Castelo de D. Dinis Trazado_Maquetación 1 24/01/14 11:14 Página 55
Assinala-se, significativamente em Almeida, o caminho da
uma arquitectura de transição, por meio da recontextualização do castelo dionisino, apondo-lhe engenhosas adaptações
que dão conta da galopante transição da neurobalística para
a pirobalística.
Conferindo e ratificando essa evolução, surge uma cerca
baixa com bastiões redondos, à mesma cota do adarve, com
posições para artilharia. Porém, tal muro com uso defensivo
por ameias, apresenta um fosso adjunto (construído em boa
maçonaria nas escarpas e contra-escarpas), aspecto que o
torna exemplar único no conjunto dos castelos do Códice.
Nota-se, aliás, quanto ao registo de fossos (e excluindo Almeida), que somente aparece a sua expressão planimétrica
em outros 10 casos (Monforte do Rio Livre, Miranda do
Douro, Sabugal, Segura, Monforte, Arronches, Campo
Maior, Olivença, Alandroal e Mourão), conquanto todos denotem um carácter menos formal e mais antigo, além de só
abrangerem parte do contorno.
É de ter em conta a importância das obras manuelinas em
Almeida, as quais estiveram a cargo de importante empreiteiro da época, o mestre biscainho Francisco d’Anzilho. As
adaptações concretizadas, pela sua complexidade e dimensão
só têm equiparação às mais ousadas obras mandadas então
fazer no espaço ultramarino3.
É uma época de grande euforia construtiva, que vinha já do
tempo do rei D. João II, antecessor de D. Manuel. Só para
continuarmos a observação do esforço de modernização no
“Livro das Fortalezas” vejamos a sinopse seguinte4: “diversas
obras recém-concluídas (‘bareyra nova’ em Miranda e Almeida, ‘Coyraça nova’ em Melgaço, ‘baluarte novo’ em Castelo Rodrigo, ‘fortaleza feita de novo’ em Vimioso) ou ainda
em construção (como Vinhais, com os alicerces para cubelos;
Alpalhão, onde se acaba a fortaleza ‘toda nova’, e Penamacor,
em cuja torre de menagem se vê mesmo um guindaste em
funcionamento”. Invoca-se, no entanto, a observação “de que
Almeida e Freixo de Espada-à-Cinta representam ‘a forma
mais desenvolvida que Duarte de Armas nos lega’ porquanto
sabemos que aí trabalharam os Biscainhos Danzilho e Pêro
Lopes, que decerto escapariam aos métodos rotineiros dos
construtores locais. Ao fazer o ponto de situação, o ‘Livro
das Fortalezas’ dá-nos, ao mesmo tempo, a medida exacta
das suas limitações”.
É igualmente curioso verificar que, do conjunto referido, 26
irão mais tarde ser remodelados, mais ou menos profundamente, através da técnica do moderno abaluartado, em al-
portant contractor of that time, the Biscayan master called
Francisco d’Anzilho. The adaptations made, due to their
complexity and dimension, can only be compared to the boldest works being made overseas at that time3.
It is a period of great constructive euphoria, which was being
felt since the reign of João II, predecessor of D. Manuel. Only
to continue observing the modernization effort recorded at
“Livro das Fortalezas,” consider the following synopsis4:
“[S]everal recently finished works («new barrier» at Miranda
and Almeida, «new curtain wall and tower» at Melgaço,
«new bulwark» at Castelo Rodrigo, «newly-built fortress» at
Vimioso) or still being finished (as Vinhais, with the foundations for the square towers; Alpalhão, where the “entirely
new” fortress is finished and Penamacor, where you could
see a crane working right above the keep.” The author, nevertheless, mentions that “Almeida and Freixo de Espada-àCinta” represent “the most evolved shape left by Duarte de
Armas,” because the Biscayan Danzilho and Pêro Lopes worked there, who certainly manage to escape to the ordinary
methods employed by the local builders. While making a status report, the ‘Livro das Fortalezas’ provides at the same
time the exact measure of its limitations”.
Also interesting is to verify that, considering the abovementioned set, 26 castles will later be remodeled, to a lesser or
greater extent, using the modern bulwarks’ technique, which
resulted in entirely new war machines in some cases (as in
Castelo Mendo, Livro das Fortalezas de Duarte
de Armas: “Castello Mendo tirado natural / da
parte do norte”.
3
MOREIRA, Rafael in “A Época Manuelina”, «História das Fortificações Portuguesas no Mundo», Alfa, 1989, Lisboa,
pp. 91-157.
4 MOREIRA, Rafael, op. cit., pp. 117118.
55
Almeida O Castelo de D. Dinis Trazado_Maquetación 1 24/01/14 11:14 Página 56
Castelo Bom, Livro das Fortalezas de Duarte de
Armas: “Castello Boo tirado natural / da banda
doleste alcayde / moor ho conde de mªalva”. Do
lado direito da vista sucedem-se dois
apontamentos dos castelos sequenciais na
fronteira, primeiro “almeyda” e, a seguir,
“castelo Rº”.
At the right side of the drawing two
annotations of sequential castles in the border
are represented, first "almeyda" and, after,
castelo Rº".
56
guns casos resultando máquinas de guerra inteiramente
novas (como Valença do Minho ou Almeida), onde a incorporação da antiga fortificação medieval praticamente desapareceu.
Além destas novas situações, 4 outras intervenções abaluartadas – Lindoso, Alfaiates, Marvão e Vila Viçosa – ocorrem
em localizações não representadas no Códice (embora todas
possuíssem castelo medieval). E, no que concerne a Vila Viçosa, a importância que por esta nova via adquire dever-seá ao facto de ser a sede da nova Casa reinante. De todo o
modo, há também que comentar, em relação àquele quarteto,
como sendo de menor relevância (ou mesmo não significativo) o que se consumou e o que subiste da remodelação.
Sobre a distribuição das novas intervenções abaluartadas
pelos diversos segmentos da linha de fronteira, verifica-se
uma grande disparidade na distribuição, teoricamente correspondente à eficácia do novo sistema. Assim, constata-se:
– na Raia do Minho, anotam-se 5 casos (Caminha, Vila Nova
de Cerveira, Valença, Monção e Melgaço) – a que se junta o
Forte da Ínsua, marcando a soberania no meio das águas da
embocadura fluvial no oceano. O exemplar de maior impacto é a Praça-forte de Valença;
– no Norte transmontano somente 3 intervenções existiram
(Lindoso, Chaves e Bragança) sendo despicienda a do Lindoso, e relevando-se a notoriedade de Chaves;
Valença do Minho ou Almeida), where the incorporation of
the ancient medieval fortification disappeared almost entirely.
Apart from these new situations, four other interventions
featuring bulwarks - Lindoso, Alfaiates, Marvão and Vila Viçosa – take place in locations that do not appear on the
Codex (although they also included a medieval castle). And,
regarding Vila Viçosa, the importance gained with this new
construction must be related to the fact that it is the headquarters of the new reigning dynasty. At all events, it is important to underline that, regarding that quartet, what was
materialized and what endured as a consequence of that renovation is of less relevance (if not at all meaningless).
Regarding the distribution of the new interventions featuring
bulwarks across the different segments of the frontier, one
verifies a great disparity, which theoretically corresponds to
the efficiency of the new system. Thus, one observes:
At Minho’s dry frontier, 5 cases (Caminha, Vila Nova de Cerveira, Valença, Monção, and Melgaço) – together with the
Forte da Ínsua, which marks sovereignty in the middle of the
river’s mouth, right at the ocean. The example with the greatest impact is the Fortress of Valença;
At the northern area of Trás-os-Montes, only 3 interventions
took place (Lindoso, Chaves, and Bragança), but Lindoso’s
is quite insignificant, while Chaves’ is quite striking;
Over river Douro, only Miranda do Douro;
At Beiras, of the 13 abovementioned medieval castles, only
a sparse trio is emphasized, two at the Riba-Côa region (Almeida and Alfaiates) and, a bit further south, Penamacor.
Since it is widely known that Alfaiates or Penamacor had a
restrict range and were incomplete, Almeida becomes the
absolute maximum expression, contradicting the sufficiency
of the new construction, totally modern and unmistakable
– mainly when compared with Minho’s and Guadiana’s dry
frontiers;
To the south of Tagus/ northern Alentejo, four of the seven
medieval castles are modernized (Castelo de Vide, Marvão,
Portalegre, and Arronches), but none is particularly important as an example of bulwarked construction;
Over Guadiana, the most vulnerable part of the frontier, due
to orographic reasons, one finds nothing less than 14 interventions featuring bulwarks (most of which are particularly
interesting) occupying the landscape: Ouguela, Campo
Maior, Estremoz, Elvas, Olivença, Vila Viçosa, Juromenha,
Monsaraz, Mourão, Noudar, Moura, Serpa, Alcoutim, and
Almeida O Castelo de D. Dinis Trazado_Maquetación 1 24/01/14 11:14 Página 57
– sobre o rio Douro apenas Miranda do Douro;
– na Beira, dos 13 castelos medievais atrás referidos, um escasso trio se constata, sendo dois no Riba-Côa (Almeida e
Alfaiates) juntando-se, um pouco mais a Sul, Penamacor.
Conhecendo-se o restrito alcance e a incompletude de Alfaiates ou de Penamacor, sublinha-se a expressão máxima
absoluta de que Almeida disfruta, contrapondo a suficiência
da nova implantação, totalmente moderna e inconfundível
– sobretudo em comparação com as Raias do Minho ou a do
Guadiana;
– a Sul do Tejo / Norte do Alentejo, 4 dos sete castelos medievais sofrem alterações modernas (Castelo de Vide, Marvão, Portalegre e Arronches), conquanto nenhum se mostre
particularmente importante no capítulo do abaluartado;
– sobre o Guadiana, o troço de fronteira mais permeável
dada a facilitação orográfica, nada menos de 14 intervenções
com fortificação abaluartada (a maior parte delas com interesse particular) sucedem-se na paisagem: Ouguela, Campo
Maior, Estremoz, Elvas, Olivença, Vila Viçosa, Juromenha,
Monsaraz, Mourão, Noudar, Moura, Serpa, Alcoutim e Castro Marim. Junto à fronteira do Caia, quatro fortificações
abaluartadas que tiveram castelos desenhados no Livro de
Duarte de Armas (Campo Maior, Elvas, Juromenha e Olivença) realçam, conjuntamente com Estremoz, as qualidades
que as tornam especiais, ganhando primazia absoluta a
Praça-forte de Elvas, para mais agregando em redor um conjunto notável de modernos fortes complementares, especialmente o de Santa Luzia e o da Graça.
O troço final do Guadiana ostenta uma mais regular distribuição de fortificações abaluartadas.
Na verdade ressalta a enorme concentração de complexas
edificações de defesa imediatamente correlacionadas com
Elvas, contrastando com a total falta de acompanhamento
da “Estrela de Almeida” por construções equiparáveis (fundamentalmente pela diferenciação da natureza do território,
mas também pelo impacto que a funcionalidade da máquina
de guerra do Ribacôa representava).
Outro aspecto de interesse – e que desde já se assinala – é o
facto de, a acompanhar o levantamento das defesas da raia
de Portugal, o escudeiro Duarte de Armas ter sido incumbido de registar as distâncias entre os castelos, produzindo
uma lista contida no Códice da Torre do Tombo. Tal permite,
pela primeira vez, que o rei possua uma ideia objectiva da
“envergadura” da fronteira terrestre, expressa em léguas. É
sintomático que pela mesma altura (e, por hipótese assaz in-
Castro Marim. Near the border of River Caia, four bulwarked fortifications that are featured at Duarte de Armas’ Book
(Campo Maior, Elvas, Juromenha, and Olivença) highlight,
together with Estremoz, the qualities that make them special,
gaining complete primacy the Stronghold of Elvas, particularly because it aggregates a notable set of modern complementary forts in its surrounds, particularly the one of Santa
Luzia and the one of Graça.
The final stretch of Guadiana’s frontier exhibits a more regular distribution of bulwarked construction.
In reality, it is quite striking the enormous concentration of
complex defensive buildings immediately connected with
Elvas, against the total lack of similar complements given to
“The Star of Almeida” (essentially due to the different nature
of the territory, but also due to the high level of functionality
of Riba-Côa’s war machine).
Another aspect of interest – which we highlight now - is the
fact that, together with the survey of the defenses existing at
the Portuguese frontier, the squire Duarte de Armas was also
given the task to record the distances between the castles,
producing a list contained in the Codex at Torre do Tombo.
This allowed the king to have for the first time an objective
idea of the “size” of the land border, expressed in leagues. It
is quite revealing that, at the same time (and perhaps, consi-
Sabugal, Livro das Fortalezas de Duarte de
Armas: “Sabugall tirado natural / da banda do
sull / alcayde”.
57
Almeida O Castelo de D. Dinis Trazado_Maquetación 1 24/01/14 11:14 Página 58
Vilar Maior, Livro das Fortalezas de Duarte de
Armas: “Vilar Mayor tirado natural / da banda
do norte”. Numa elevação em segundo plano,
do lado direito da vista, está um
apontamento de “aguarda”, com a
representação de um castelo.
On the top of a background mountain, on the
right side of the drawing, there is a note to
"aguarda" with the representation of a castle.
5
“Introdução”, Rita Costa Gomes, in
“Castelos da Raia, Vol. I – Beira”, (1996)
2001, IPPAR, Lisboa, p. XI.
6 “Livro de Demarquações dentre estes
Regnos e os de Castella e de contractos
de pazes”, Fernão de Pina, Lº 61 ‘Leitura
Nova’, fl. 135, IAN/TT, Torre do Tombo,
Lisboa.
7 Idem, “Cartas Missiva”, Maço 2, fl135.
8 Ver PINA, Rui de, “Chronica d’El-Rei
D. João II”, in Col. dos Livros Inéditos da
História de Portugal, tomo II, cap. XXX,
1762, Lisboa.
9 “Livro I do serviço del-rei”, cód. 492,
fl.36, CML]. [“Introdução”, Manuel da
Silva Castelo Branco, in Duarte de
Armas, Livro das Fortalezas, ANTT e
Ed. INAPA, 1990, Lisboa, pp. 4-5.
10
“Introdução”, Manuel da Silva Castelo Branco, in Duarte de Armas, Livro
das Fortalezas, ANTT e Ed. INAPA,
1990, Lisboa, p. 5.
58
trigante, talvez concertadamente preparado pelos soberanos
de cada lado de uma ignota linha), um “contino de la casa
real”, de nome Fernando de Peñalosa, realizou5 em 1509 uma
tarefa semelhante de visita aos castelos de “Castela, Leão e
Toledo”, por ordem dos Reis Católicos, sogros do rei português, D. Manuel I.
“É certo que no ‘tratado de pazes’, celebrado entre D. Afonso
V e seu filho D. João com os Reis Católicos, confirmado em
Toledo a 6 de Março de 1488, um dos capítulos estipulava
que as duas partes fizessem ‘derribar todalas fortalezas que
novamente tinham sido feitas em os ditos seus reinos, na
raia, depois que o rei de Portugal entrara em Castela…’”6. E,
efectivamente, foram destruídas algumas fortalezas, torres e
casas-fortes, levantadas então dos dois lados da fronteira7.
“No entanto, Rui de Pina relata que, no começo de 1488, conquanto houvesse paz com Castela. D. João II mandara «prover e fortalecer e repairar todalas cidades, vilas e castelos dos
extremos de seus reinos; e assim, nesse ano, manda-ra começar a cava e torres de Olivença, o que os reis de Castela
quiseram por rogos impedir mas sem resultado»8. Estas
preocupações continuam a ser tomadas por D. Manuel, apesar de jurado príncipe de Castela, Leão, Aragão, Sicília e Granada, após o seu casamento com D. Isabel, filha dos Reis
Católicos.
“O destino encarregou-se de fazer malograr o sonho da ‘monarquia ibérica’”, e nas Cortes de Lisboa, em 1502, D. Manuel
dering an intriguing hypothesis, jointly combined by both
sovereigns of each side of an unknown line), a “contino de
la casa real” called Fernando de Peñalosa, performed5 a similar task in 1509: to visit the castles of “Castile, Leon and
Toledo”, by order of the Catholic Kings, in-laws of the Portuguese king, D. Manuel I.
It is certain that on the ‘Peace Treaty’ signed between D.
Afonso V and his son D. João with the Catholic Kings, confirmed in Toledo on March 6th 1488, one of the chapters stipulated that both parties were to “destroy every fortress that
had been once again made in their kingdoms, on the frontier,
after the Portuguese king entered Castile6. In effect, some
fortresses, towers and strongholds that had been built on
both sides of the border were destroyed7.
“Nevertheless, Rui de Pina reports that, in the beginning of
1488, although there was peace with Castile, D. João II orders
that «every city, village and castle at the kingdom’s frontier
must be garnished and strengthen; thus, on that same year,
he ordered the construction of the ditch and towers at Olivenza, which the Castilian Kings tried to stop but to no
avail»8. These concerns are still quite real during D. Manuel’s
reign, who had been sworn prince of Castile, Leon, Aragon,
Sicilia and Granada, after marrying D. Isabel, daughter of the
Catholic Kings.
“Destiny was responsible for thwarting the dreams of an
«Iberian Monarchy» and during the 1502 Lisbon’s Courts,
D. Manuel receives twenty million from the people, destined
also to the making of walls, towers and barriers in Mourão,
Arronches, Assumar, Marvão, Segura, Sabugal, Alfaiates,
Chaves, Melgaço, Mértola, Monsanto, Bragança, and Sintra9.
“Between 1537 and 1538, an emissary of D. João III will record the limits of the places located along the border with
the neighboring country, in conditions quite similar and following an itinerary also very close to that travelled by Duarte
de Armas”10.
Finally, one should highlight the heraldry drawn by Duarte
de Armas during his visits to the castles, which, in the featured design of Almeida, has a unique record across the entire
Codex.
In all double folios (i.e., in each one and all representation
of castles), the author uses the national flag, square, with
eight castles aligned in a circle, which confine an interior
square that features (in a cross) five small shields, each one
of which had five round marks.
Almeida O Castelo de D. Dinis Trazado_Maquetación 1 24/01/14 11:14 Página 59
obtém dos povos a contribuição de vinte milhões, destinados
também ao “fazimento” de muros, torres e barreiras em Mourão, Arronches, Assumar, Marvão, Segura, Sabugal, Alfaiates,
Chaves, Melgaço, Mértola, Monsanto, Bragança e Sintra9.
“Entre 1537 e 1538, um emissário de D. João III irá proceder
à demarcação dos termos dos lugares situados ao longo da
fronteira com o país vizinho, em condições bastante semelhantes e seguindo um itinerário também muito aproximado
ao percorrido por Duarte de Armas”10.
Por fim, deixamos uma nota quanto à heráldica que Duarte
de Armas desenha nas suas vistas dos castelos, a qual encontra, na figuração de Almeida, um registo singular no conjunto do Códice.
O autor utiliza em todos os fólios duplos (isto é, em cada
uma e em todas as representações dos castelos), a bandeira
nacional, quadrada, com oito castelos dispostos em cercadura confinando um quadrado interior onde se dispõem (em
cruz) cinco pequenos escudos, tendo cada um cinco marcas
redondas.
Além dessa bandeira estão representados na figuração de Almeida outros três pendões heráldicos: a bandeira da Ordem
de Cristo, uma bandeira quadrada com a insígnia real da esfera armilar e um grande festão enfolado, com duas esferas
armilares e uma grande legenda nos três lados da peça. Este
último pendão decorativo triangular, onde se vê também a
esfera armilar, aparece de modo mais simplificado por mais
duas vezes: na vista Noroeste de Miranda do Douro e na vista
Leste da Lapela. Os outros dois estandartes anteriormente
enunciados só surgem na representação de Almeida.
Por que razão no caso de Almeida, e só neste, se verifica a
concentração de todos os emblemas? Qual a mensagem que
se pretende transmitir ao fixar-se especialmente em Almeida
a marca da Cruz de Cristo, ao lado da marca real, inscritas
numa base regular quadrangular? E porquê apenas na representação de Almeida?
Além do mais, era “o alcaide moor o marquez” (de Vila Real),
como informa Duarte de Armas no título da sua vista de “Almeyda da banda do Sull”, isto é, era um nobre conceituado, D.
Fernando de Menezes (1499 / 1523), o qual capitaneava ainda,
dentre as fortificações arroladas no “Livro das Fortalezas”, os
castelos de Alcoutim, Caminha e Valença do Minho.
O sinal distintivo de Almeida, claramente transmitido pela
exuberância da heráldica presente vai, em todo o caso, confirmado pela aposta na sua importância militar que as obras
de remodelação acarretaram no tempo de D. Manuel I.
Almeida’s design, apart from this flag, includes other three
heraldic symbols: the flag of the Order of Christ, a square
flag with the royal insignia of the armillary sphere and a large
furrowed garland with two armillary spheres and a great caption covering three sides of the piece. This final decorative
triangular piece, also featuring the armillary sphere, appears
in a simpler fashion two more times: on the northwest view
at Miranda do Douro and the eastern view at Lapela. Both
of the symbols mentioned earlier only appear in Almeida’s
drawing.
Why is it that in the case of Almeida, and only in this case,
all emblems come together? What is the message to convey
when establishing, particularly in Almeida, the Cross of
Linhares:
“Planta topográfica com indicação da zona
de protecção e da área vedada à construção”
(fig. 1 do Boletim) e aspecto geral do lado
Sul, após os trabalhos de restauro.
Fotografia (fig. 9 do Boletim).
Linhares:
"Topographic plan with the indication of the
protection zone and the area where
construction is forbidden"
(fig. 1 of Boletim) and general view of the
Southern side, after the restoration works.
(fig. 9 of Boletim).
FONTE: Boletim da D.G.E.M.N. / M.O.P.
nº 98, Dezembro de 1959.
59
Almeida O Castelo de D. Dinis Trazado_Maquetación 1 24/01/14 11:14 Página 60
4.1–AS FORTIFICAÇÕES DE RIBA-CÔA NO
INVENTÁRIO DA D.G.E.M.N.
11
A intervenção de conservação da
D.G.E.M.N. em fortificações, no período
a que se reporta a publicação dos Boletins
(nº 1, Janeiro de 1934 ao nº 131, 1990),
regista 23 exercícios documentados, dos
quais apenas 3 se referem a abaluartado
– Valença do Minho (Nº 115, Dezembro
de 1971), Monumento de Sagres (Nº 100,
Junho de 1960) e o Forte da Berlenga (Nº
74. Dezembro de 1953) –, sendo que estes
dois últimos têm um interesse residual no
âmbito da tipologia da arte moderna de
fortificar.
DGEMN’s preservation works in fortifications, during the period when the Bulletins were published (from nr. 1 in
January 1934 to nr. 131 in 1990), documents 23 work campaigns, of which only
3 were performed in bulwarks – Valença
do Minho (nr. 115, December 1971), Sagres’ Fortress (nr. 100, June 1960) and
Berlenga’s Fort (nr. 74, December 1953),
being that these last two have a residual
interest for the study of the modern art of
fortification.
O modelo arcaico perpassa, de facto, pelo catálogo de Duarte
de Armas. Fazendo a caracterização do que, para além de
Almeida, se apura na Beira, olhemos para o caso dos casos
mais notáveis de castelos medievais, na observação de como
estão inscritos noutro catálogo, este do século XX, o conjunto dos ‘Boletins’ da DGEMN – Direcção-geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais11.
No que toca à repartição geográfica, apenas dois castelos medievais – Sabugal e Linhares – se relacionam com a fortificação da raia central, sendo o primeiro o mais importante,
encabeçando a região montante das Terras de Ribacôa, e o
segundo uma já longínqua linha de defesa, muito interiorizada no esquema medieval da fronteira.
Daqui se extrai a preferência por uma intervenção (ainda
que minoritária) na castelologia, ideologicamente vinculada
à preferência por valores como a antiguidade (da “pátria”),
redundando na afirmação de um tipo de nacionalismo deslocado mas que, ao nível da gramática técnica gerou na conformação a um “estilo” que, não poucas vezes, afectou
indelevelmente a autenticidade patrimonial.
Em complemento do inventário dos inícios do século XVI,
regista-se a intervenção ao longo de quase seis décadas do
século XX, respeitante ao universo da raia da Beira, escolhendo em ambos os casos uma planta e uma fotografia representativa.
Christ next to the royal mark, inscribed in a regular square
base? And why is this only represented in Almeida?
Besides, “the alcalde was the Marquis” (of Vila Real) as
Duarte de Armas tells us in the title of his view of “Southern
Almeida.” He was a respectful nobleman, called D. Fernando
de Menezes (1499 / 1523), who also captained, among the
fortifications listed at “Livro das Fortalezas,” the castles of
Alcoutim, Caminha and Valença do Minho.
This distinctive sign at Almeida, clearly transmitted by the
exuberance of the heraldry is confirmed, in any event, by the
emphasis of its military importance, implied by the renovation works carried out during D. Manuel I’s reign.
4.1– THE FORTIFICATIONS OF RIBA-CÔA IN
D.G.E.M.N.’ INVENTORY
The archaic model permeates, indeed, the catalog of Duarte
de Armas. While making the characterization of what can
be found at the Beiras region, apart from Almeida, one will
analyze the most notable cases of medieval castles, while observing how they are registered in another book, this one belonging to the 20th century: the set of “Bulletins” of DGEMN
– Direcção-geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais
(Directorate-general of National Buildings and Monuments)11.
Regarding geographical distribution, only two medieval castles – Sabugal and Linhares – are related to the fortifications
found at the center of the frontier, being that the first is more
important since it spearheads the upstream region of the
Lands of Riba-Côa and the second one represents a distant
line of defense, quite inland considering the medieval scheme
of the frontier.
From this, one may infer the preference for interventions
(even if in minority) in castles ideologically linked to the preference of values such as antiquity (of the “motherland”),
which results in the affirmation of a sort of misplaced nationalism, which nevertheless, regarding the technical grammar,
generated the acceptance of a “style” that, not infrequently, indelibly affected the authenticity of our heritage.
As a complement for the inventory of early 16th-century, one
mentions the intervention, lasting for almost 6 decades, in the
20th century regarding the universe of Beira’s frontier, choosing for both cases a representative plant and photograph.
60
Almeida O Castelo de D. Dinis Trazado_Maquetación 1 24/01/14 11:15 Página 61
Sabugal: “Planta topográfica com a indicação da
zona de protecção” (fig. 1 do Boletim) e aspecto
geral do lado Sul, após os trabalhos de restauro.
Fotografia (fig. 16 do Boletim).
Sabugal: "Topographic plan with the indication
of the protection zone" (fig. 1 of Boletim) and
general view of the Southern side, after the
restoration works. (fig. 16 of Boletim).
FONTE: Boletim da D.G.E.M.N./M.O.P. nº 57,
Dezembro de 1949.
61
Almeida O Castelo de D. Dinis Trazado_Maquetación 1 24/01/14 11:15 Página 62
Almeida O Castelo de D. Dinis Trazado_Maquetación 1 24/01/14 11:15 Página 63
5
Almeida O Castelo de D. Dinis Trazado_Maquetación 1 24/01/14 11:15 Página 64
A alta torre de menagem de Olivença, tardia e
singular no seu aspecto medievo, poderá
aproximar-se da imagem
da estrutura que existiu em Almeida
até finais do século XVII.
The tall keep of Olivenza, late and unique in its
medieval aspect, may be close to the image of
the structure that existed in Almeida until late
17th century.
5.1 – A TORRE DE ALMEIDA NO SEU TEMPO
S
Na página anterior / Back page
A Torre do Relógio, construída provavelmente
sobre as fundações da torre da antiga Igreja
Matriz, assinala o ponto mais alto da cidadela
de Almeida, aqui vista a partir do baluarte de S.
João de Deus.
The Clock Tower, probably built on the
foundations of the tower of the former Main
Church, marks the highest point of the citadel of
Almeida, in this picture seen here from the
bulwark of S. João de Deus.
64
em reivindicar para o Castelo de Almeida um exclusivo
de representatividade, reconhecer-se-á contudo que a
sua alta torre de menagem alcança uma grande projecção no quadro da fortificação medieval. Ocorre à lembrança,
pela escala e pela determinação em fazer, a congénere de Olivença. Mas a torre oliventina é muito mais tardia, não obstante a fortificação do lugar se inicie, após Alcanices, por
acção de D. Dinis. Na realidade, será só com D. João II que
se faz uma serôdia obra gótica, de mais de 37 metros de altura, como se se tratasse de um marco que faltava no delineamento da fronteira do país.
Esse é o pensamento recorrente dos reis de Portugal: garantir
a inviolabilidade do solo nacional (ao mesmo tempo espreitando as oportunidades que os tratados de casamento pudessem resultar numa unificação da Ibéria, pelo menos sob
igualdade de liderança portuguesa).
Assim, é ainda o sucessor daquele rei, D. Manuel, quem irá
debruçar-se, intensamente, sobre o problema contraditório
da união e da fronteira, trazendo para a produção portuguesa da arquitectura militar a mais profunda alteração de
paradigmas. E seu filho, D. João III, prosseguirá durante todo
o reinado a tarefa de quantificar e registar quantos eram os
Portugueses e onde estavam, dando origem à produção das
cartas geográficas do território.
Na falta de fotografia da torre de Almeida (que supomos que
deveria ser bastante próxima da de Olivença), será oportuno
que comparemos os registos paralelos de algumas fortificações retratadas no Livro das Fortalezas. As torres das Terras
de Riba-Côa – a porção mais tardia a fazer parte do reino –
mandadas fazer por D. Dinis, seriam as mais altas e fortes de
quantas pontuavam na sua fronteira. Juntamente com Almeida não esquecemos o Sabugal com o altaneiro prisma
pentagonal e, com significado paralelo, a torre quadrangular
de Vilar Maior. Todos os casos vão a caminho dos 40 metros
de altura, verdadeiros arranha-céus dos Tempos Medievais,
sem deixarem de lado a manifestação pretendida de força e
de perenidade no seu assentamento.
5.1 – ALMEIDA’S KEEP IN ITS TIME
W
ithout claiming that the Castle of Almeida is an
exclusive of representativeness, one must nevertheless recognize that its tall keep reaches a great
projection within the framework of medieval fortification.
Its counterpart of Olivenza, for its scale and determination
to build it, comes to mind. But Olivenza’s tower is much later,
although the fortification of the place begins, after Alcanices,
by the action of D. Dinis. In reality, it would only be with D.
João II that a latter Gothic work is conducted, more than 37
meters tall, as if it were a landmark that was missing in the
delineation of the border of the country.
This is the recurring train of thought of the Portuguese
kings: to ensure the inviolability of national territory (while
peering opportunities that the marriage treaties could result
in a unification of Iberia, at least, equal under Portuguese
leadership).
Almeida O Castelo de D. Dinis Trazado_Maquetación 1 24/01/14 11:15 Página 65
Outra enorme estrutura vertical foi promovida pelo rei D.
Dinis, um pouco mais a Sul da cabeceira do Côa. Trata-se da
grande torre de menagem de Penamacor, cuja construção se
iniciou por volta de 1300 e se arrastou por mais de dois séculos: ao desenhá-la para figurar no seu Livro das Fortalezas,
Duarte de Armas escreveu em nota que “a torre de menagem
nom era acabada ao tempo que eu aly estaua”.
Dando uma mirada ao que se passava nas proximidades de
Almeida no outro lado da fronteira, logo ocorre o castelo de
Ciudad Rodrigo, com o forte paralelepípedo desmultiplicado
de robusta base quadrada, e praticamente à mesma distância
mas mais para Norte, a torre de San Felices de los Gallegos
(que também ficou portuguesa em 1297). Depois, e capitalizando a afirmação castelhana, o Castelo de La Mota, em
Medina del Campo, entre Valladolid e Salamanca.
Os casos apontados interessam não apenas na equiparação
da capacidade de construir alto e afirmativamente, mas por
situações que nos importa ter em conta para a caracterização
da evolução da fortificação em Almeida.
A realização do esforço português para apresentar razões ao
lado leonês exerce-se na Beira com as obras que antecedem
imediatamente a celebração do Tratado de Alcanices. Com
antecipação de alguns meses sobre a data do acordo, a criação de factos incontornáveis e tão expressivos como Sabugal,
Vilar Maior e Almeida, balizam a paisagem das terras de
Riba-Côa que interessava anexar. Era a manifestação do conteúdo defensivo na morfologia do território que viria a conformar-se como português.
Thus, it is still the successor of that king, D. Manuel, who
will intensively dwell on the contradictory problem of the
union and the border, bringing to the Portuguese production
of military architecture the most profound change of
paradigms. And his son, D. João III, will continue on during
his reign with the task of quantifying and registering how
many Portuguese there were and where they lived,
originating the production of geographic charts of the
territory.
In the absence of a photograph of Almeida’s tower (which is
assumed to be fairly close to that of Olivenza), it would be
appropriate to compare the parallel records of some
fortifications portrayed in the Livro das Fortalezas. The
towers of the Lands of Riba-Coa – the portion that became
part of the kingdom later – ordered by D. Dinis would be the
tallest and strongest of those that punctuated its border.
Along with Almeida, one must remember Sabugal, with the
towering pentagonal prism and, with parallel meaning, the
quadrangular tower of Vilar Maior. All cases are almost 40
meters high, true skyscrapers of Medieval Times, without
leaving aside the desired manifestation of strength and
durability of their settlement.
Another enormous vertical structure was promoted by king
D. Dinis a little further south of the headwaters of the Coa.
This is the great donjon of Penamacor, whose construction
was started around 1300 and dragged on for over two
centuries: while drawing it to include it in his Livro das Fortalezas, Duarte de Armas made an annotation saying that
“the keep still hadn’t been finished when I was there.”
If one observes what was happening in the vicinity of
Almeida, across the border, one immediately sees the castle
of Ciudad Rodrigo, with a strong scaled parallelepiped with
a robust square face, and virtually at the same distance but
further north, the tower of San Felices de los Gallegos (which
was also Portuguese in 1297). Afterwards and leveraging the
Castilian affirmation, the Castle of La Mota, in Medina del
Campo, between Valladolid and Salamanca.
The two cases mentioned interest not only to match the
ability to build in height and affirmatively, but in situations
No conjunto das imagens desta página pode
ver-se um resumo relativo a Olivença, com a
planta actual da cerca do castelo de D. Dinis,
mais tarde adicionada com uma enorme torre
de menagem, por D. João II. Embora hoje não
seja reconhecível, a barreira artilheira encontrase anotada, conjuntamente com o fosso, na
planta de Duarte de Armas (Livro das
Fortalezas, Torre do Tombo, Lisboa), ainda
subsistindo incaracteristicamente parte do
fosso, paralelo à muralha medieval da cidade.
At this group of images, on this page, one can see
a synthesis regarding Olivenza, with the current
plant of D. Dinis’ castle’s fence, added later with
an enormous keep by D. João II. Although today
it can’t be recognizable, the artillery barrier is
duly noted, together with the ditch, in Duarte de
Armas’ plant (Livro das Fortalezas, Torre do
Tombo, Lisbon), still uncharacteristically
enduring part of the ditch, parallel to the city’s
medieval wall.
65
Almeida O Castelo de D. Dinis Trazado_Maquetación 1 24/01/14 11:15 Página 66
Vilar Maior e Sabugal, com as torres de menagem
que balizam as cabeceiras do Côa, cujas terras
integram o Tratado de fronteiras desde 1297.
Na pág. seg. San Felices de los Gallegos
Vilar Maior and Sabugal, with keeps limiting the
headwaters of the Coa, whose lands are part of
the Treaty of borders since 1297. Next page, San
Felices de los Gallegos.
1
“Por la sencillez y buena proporción
de sus líneas está considerada como «la
reina de todas las torres de Castilla» NOGUERA; Antonia, “El Castillo de La
Mota / Medina del Campos”, p. 62.
2
O acesso ao adarve da torre em Olivença
é feito, à maneira da Giralda de Sevilha,
com rampas que eram também praticáveis
por muares. Para além da mesquita/catedral andaluza, conhecemos esta solução
árabe em alguns outros minaretes, como é
o caso do de Safi, em Marrocos.
The access to the battlements of
Olivenza’s keep is made similarly to Giralda in Seville, with ramps that could
also be used by mules. Apart from the
Andalusian mosque/cathedral, we
know this Arab solution in other
minarets, as is the case of Safi, Morocco.
66
Não atingindo seguramente a perfeição de La Mota, a torre
de menagem de Almeida (ressoando no espírito a agregação
às suas congéneres próximas, em Vilar Maior e no Sabugal)
quereria ombrear com a semiologia do poder de tão poderosa e estática postura como era, acima de todas, a fortaleza
de Medina del Campo. No Sul, Olivença é uma testa-de-ponte
frente a Andaluzia e fixando a raia até ao confim do Algarve,
cuja soberania ficou também estabilizada em Alcanices. Medina del Campo, com um belíssimo coroamento de machicoulis e de guaritas balançadas, impõe-se igualmente pelo
grande impacto estético1. Tem planta quadrada de 13,50 m
de lado e uma altura de 38 metros, isto é, um volume próximo da torre oliventina2. Ou como seria a de Almeida.
Vilar Maior (fundada, com a Reconquista, nos tempos de
Fernando Magno de Leão, em meados do século XII) sugere
uma dinâmica muito rápida nos finais do século XIII, com
o rei leonês Afonso IX a fazer importantes reformas na cerca
da vila, em 1280. D. Dinis, reivindicando a posse e atribuindo-lhe foral em 1296 (altura em que se terá erigido a
grande torre), inscreve-a definitivamente na coroa de castelos raianos da Beira, através do Tratado de 1297. O Sabugal
terá tido obras mais extensas, com o mesmo cenário político
e nas mesmas datas. A definição da geometria da fortificação
e a realização da torre de menagem implicaram a demolição
de casas da povoação, modificando o perfil da vila leonesa.
Quanto a Almeida, a sua torre (como as outras duas) presta
serviço directo à porta do recinto muralhado, deixando de
vigorar a característica implantação centrada dos castelos
that need to be taken into account for the characterization
of the evolution of the fortification in Almeida.
The execution of the Portuguese effort to present reasons to
the Leonese side is conducted at Beira, with works that
immediately precede the celebration of the Treaty of
Alcanices. Anticipating by a few months the date of the
agreement, the creation of undeniable and expressive facts
such as Sabugal, Vilar Maior and Almeida, limit the landscape of the lands of Riba-Côa that needed to be annexed.
This was the demonstration of the defensive content in the
terrain morphology that would become Portuguese.
Without surely attaining the perfection of La Mota,
Almeida’s keep (resounding in the spirit the aggregations to
their nearby counterparts of Vilar Maior and Sabugal) would
want to be a match to the semiology of power of the everso-mighty and static posture, above all else, of the fortress of
Medina del Campo. In the south, Olivenza is a bridgehead
across Andalusia and sets the border to the confines of the
Algarve, whose sovereignty was also stabilized in Alcanices.
Medina del Campo, with a beautiful crowning of
machicoulis and balanced watchtowers, is also dictated by
the great aesthetic1 impact. It has a square layout 13.50 m in
each side and a height of 38 meters, i.e., a volume similar to
Olivenza’s tower2. Or as it could be Almeida’s keep.
Vilar Maior (founded with the Reconquista, in the times of
Fernando I of León in the mid-twelfth century) suggests a
very rapid momentum in the late thirteenth century, with
the Leonese King Alfonso IX making major reforms in
Almeida O Castelo de D. Dinis Trazado_Maquetación 1 24/01/14 11:15 Página 67
medievais mais antigos. A torre de menagem de Almeida era
quadrangular, embora com uma face obliquada, gerada pela
organização da geometria do recinto, quase quadrado. À data
da sua construção, sendo a povoação mudada para a pequena colina em que se demarca o castelo pelo rei D. Dinis,
concedendo-lhe foral, a estrutura defensiva corresponderia
visualmente a um landmark na paisagem do território que
se desejava fixar como solução para os limites do país.
Ao lado do castelo, com algumas casas disseminadas no pequeno plaino e na doce vertente do arco Norte / Nascente,
existiria uma pequena igreja que viria a ser a matriz da povoação, chegada ao início do século XVI com importância
reconhecida a ponto de o rei mandar Duarte de Armas desenhar sobre as suas torres a mais completa heráldica do
Livro das Fortalezas de fronteira do reino de Portugal.
5.2 – A NOVA ARQUITECTURA MILITAR NA
TRANSIÇÃO PARA OS TEMPOS MODERNOS
Vejamos o que se passou em Medina del Campo. O castelo
de La Mota3 constitui uma formidável realização medieval e
apresenta o enorme interesse de ter sido o inovador campo
de vanguarda militar na sua arquitectura, a partir de meados
do século XV.
Em 1475, Isabel I de Castela4 e o futuro rei Fernando II de
Aragão, depois de coroados em Segóvia como reis de Castela
e Leão, tomaram posse do castelo e implementaram uma extraordinária remodelação. Àparte a valorização estética do
village’s wall in 1280. D. Dinis, claiming ownership and
assigning it a charter letter in 1296 (at which time he will
have ordered the erection of a great tower), definitely
inscribes it within the crown of bordering castles of Beira,
through the Treaty of 1297. Sabugal probably had more
extensive works, even with the political scene and around
the same dates. The definition of the geometry of the
fortification and the realization of the keep involved the
demolition of houses in the village, changing the profile of
the Leonese village.
As for Almeida, its keep (as well as the other two) provides
direct service to the gate of the walled enclosure, putting a
stop to the characteristic centered implantation of the oldest
medieval castles. Almeida’s keep was square, albeit with an
oblique face, generated by the organization of the geometry
of the enclosure, almost square. At the time of its
construction, with the village moved to the small hill on
which it stands out due to the castle of King Dinis, who grant
it a charter, the defensive structure visually match a
landmark in the landscape of the territory that was wanted
as a solution to fix the limits of the country.
Next to the castle, with some houses spread out in the small
plateau and the sweet side of the North/East side, there was
a small church that would become the main of the population, arriving in the beginning of the 16th century with such
importance that the king ordered Duarte de Armas to draw,
over its towers, the most complete heraldry of the Book of
Fortresses at the frontier of the kingdom of Portugal.
3
Uma “mota”, na acepção castelhana do
termo, é uma elevação do terreno num
contexto orográfico de grande uniformidade, num vasto plaino – tal como é a
Meseta Ibérica, no fim (ou no princípio)
da qual se acha Almeida. A escolha do
sítio para implantar o castelo por D.
Dinis segue o paradigma castelhano,
exactamente no ponto mais elevado da
redondeza, conquanto de uma subtil leitura, com excepção da vertente virada ao
vale do rio Côa. Era esse o local ideal
para o rei português refundar a povoação de Almeida.
A “mota” in the Spanish understanding of the term is an elevation in the
terrain within a greatly uniform orographic context, in a vast plateau –
such as the Iberian Meseta, at the end
(or beginning) of the one found in
Almeida. The choice of the place to
build the castle, made by D. Dinis,
complies with the Castilian paradigm, exactly at the highest point of
the vicinity, having, nevertheless, a
subtle reading, except for the side facing the valley of River Coa. This was
then the ideal place for the Portuguese king to found once again the
village of Almeida.
4
Isabel, a Católica, nasceu em Abril de
1451 em Madrigal de las Altas Torres, aldeia próxima de Medina del Campo,
tendo falecido nesta cidade, em Novembro de 1504.
Isabel, the Catholic, was born April
1451 in Madrigal de las Altas Torres,
a village near Medina el Campo, having passed away in that city in November 1504.
67
Almeida O Castelo de D. Dinis Trazado_Maquetación 1 24/01/14 11:15 Página 68
5.2 – THE NEW MILITARY ARCHITECTURE
IN THE TRANSITION FOR MODERN TIMES
A torre de menagem medieval de San Felices de los Gallegos conserva-se devido a sucessivas obras de
actualização lhe foram introduzidas, particularmente a barreira artilheira do séc. XV (foto de cima)
e os complementos abaluartados, aquando da Guerra da Restauração.
San Felices de los Gallegos’ medieval keep is preserved due to successive upgrades introduced,
particularly the artillery barrier of the 15th century (pictured above) and the bulwarked complements, during
the War of Restoration.
68
Let’s see what happened in Medina del Campo. The Castle
of La Mota3 is a formidable and medieval achievement and
has the enormous interest of being the innovative one in the
field of military vanguard in its architecture, from the midfifteenth century onwards.
In 1475, Isabel I of Castile4 and the future king Fernando II
of Aragon, after being crowned in Segovia as Monarchs of
Castile and Leon, took possession of the castle and
implemented an extraordinary remodeling process. Aside
from the aesthetic value set, “the Catholic Monarchs never
doubted to deploy all known technology and money
necessary to make La Mota into the best Artillery Castle in
Europe in the modality called of transition”5. The main
craftsmen were “Alonso Nieto, resident of the noble town of
Medina del Campo, our greatest worker of the works that we
ordered in La Mota and fortress of the said town”, relying on
the performance of Arab experts (builders), which are given
a prominent role in the conception of the advances
produced, including the names of Master Abdallah and Master Ali de Lerma – “the latter, signalled as an «engineer»
could be the one responsible for the construction of the
ditch, barrier, etc”6.
The amazing result of the adaptation underwent in La Mota,
with the construction of the artillery barrier and respective
ditch, resulted in an enhancement of self-representation and
affirmation of the keep while introducing a broad
horizontality to the huge set. This horizontality, instead of
removing height, helped to affirm the verticality, immediately
giving the impression, from the outset, the addition of a
construction that is not visible by anyone who approaches,
but who knows that something will happen. In fact, the
constructive design of the ditch, with a disproportionate
height, forcing the expeditious embankments forming
escarpments, natural or constructed, continues to hold the
past vertical image of castles. Now, however, height is
achieved at the expense of the plans below the earth line,
thereby setting a new idea of majestic force, which already
aggregates and adds in a single piece the whole apparent
volume effect achieved by the removal of the excavation.
But the technical advances cannot be reduced to the
adoption of position to low-grazing firing lines, adapted to
the logic of pyro-ballistics. Artillery allows the idealization
of complex surveillance and answer systems with fire
Almeida O Castelo de D. Dinis Trazado_Maquetación 1 24/01/14 11:15 Página 69
conjunto, “los Reyes Católicos no dudaram en emplear toda
la tecnología conocida y el dinero necessário para convertir
La Mota en el mejor castillo artillero europeo en la modalidade denominada de transición”5. Foram principais artífices
“Alonso Nieto vecino de la noble villa de Medina del Campo
nuestro obrero mayor de las obras que nos mandamos facer
y deficar en La Mota e fortaleza de la dicha villa”, contando
com a actuação de peritos (alarifes) árabes, aos quais se atribui papel destacado na concepção da vanguarda produzida,
assinalando-se os nomes de Maestre Abdallah e de Maestre
Ali de Lerma – “este señalado como «engeniero» poderia ser
el responsable de la construcción del foso, barrera, etc”.6
O espantoso resultado da adaptação sofrida em La Mota,
com a realização da barreira artilheira e respectivo fosso resultou num enaltecimento da própria representatividade e
afirmação da torre de menagem ao mesmo tempo que introduzia uma alargada horizontalidade ao enorme conjunto.
Essa horizontalidade, ao invés de retirar altura contribuiu
para afirmar a verticalidade, pressentindo-se desde logo o
acrescentamento de construção não visível por parte de
quem se aproxima, mas que sabe que algo vai acontecer. Na
verdade, a concepção construtiva do fosso, com uma desmesurada altura, obrigando a expeditos taludes que formam escarpas, naturais ou construídas, continua a reter a imagem
vertical do passado dos castelos. Agora, porém, a altura é
conseguida à custa dos planos abaixo da linha de terra, assim
fixando nova ideia de força majestática, já que agrega e adiciona, numa só obra, todo o volume aparente conseguido
pelo efeito da retirada da escavação.
Mas os avanços técnicos não se reduzem à adopção de posições para novas linhas tiro a cota baixa, adaptados à lógica
da pirobalística. A artilharia permite a idealização de sistemas complexos de vigilância e de resposta com armas de
fogo, através de percursos incorporados na realização da muralha e da escarpa, com casamatas, torres de ventilação, ca-
weapons, through paths incorporated in the construction of
the wall and the escarpment, with casemates, ventilation
towers, caponiers, mines and countermines that encompass
the enemy’s harassment hypotheses.
Round bastions appear as a response to the first theorizations
on flanking and crossing of fires, originating characteristically expressions of transitional military architecture. Such
elements compete, quite openly, for the identification and
beauty of fortifications. Almeida would associate the good
scale of its circular bastions with a much balanced ditch
design, being its implementation particularly significant
even for the quality of materials and construction
techniques. It is the rare case of a fortress with the bottom of
the ditch lined with stone ashlars of good stonework, all
identical to the blocks of the scarp and counter-scarp.
These extraordinary accomplishments that are the ditches
and the artillery barrier of Medina del Campo anticipate
another famous work that was built on the border of
Catalonia by Ramirez López, between 1497 and 1503: the
fortress of Salces, a formidable technical achievement that
elevated the use of casemates and wedded the design of the
ditches with the possibility of flooding7 mines and casemates
in case of influx of enemies.
This technical universe had its reflections in Portugal, being
the fortification of Almeida the chosen one to carry out the
most elaborate experience of evolution of military
architecture during the transitional period. Almeida is, a little,
a miniature of La Mota, evolving in its way and own scale.
Even as a secondary issue (however unique in the Book of
Duarte de Armas), it seems for us seeing the new artillery
balcony of the East / South angle like an approach to the
Ciudad Rodrigo e “El Macho”. Na foto da
esquerda, tirada do adarve superior da grande
torre de menagem, vê-se o traçado da cerca
quadrangular medieval com um pequeno
torreão quadrado no ângulo, paralelamente à
implantação da torre, e o “cubo” redondo da
barreira artilheira, depois defendida pelo fosso
(de que se conservam marcas na evolução
urbana do local). Os espaços intersticiais foram
sendo sucessivamente aproveitados, tal como se
documenta na planta (pág. seg.).
Ciudad Rodrigo and “El Macho”. At the left
photo, taken from the top of the upper battlement
of the great keep, one sees the layout of the
medieval square wall with a small square turret
at the angle, parallel to the deployment of the
tower, and the round “cube” of the artillery
barrier, then defended by the ditch (of which
there are marks of the place’s urban evolution).
The interstitial spaces were gradually recovered,
as it is documented in the plan (following page).
5
COBOS, Fernando – Memória. Plan
de Restauración del Castillo de Medina
del Campo, Junta de Castilla y León,
Valladolid, 1993, p. 4.
6
In Antonia Noguera, op-cit., p. 41.
7
COBOS, Fernando y CASTRO,Fracisco Javier de, in “La Fortaleza de Salsas
y la fortificación de transición española”,
consideram Salces como um expoente
do uso do sistema de contraminas, dispondo de poços em cada torre ou baluarte, a partir dos quais se fazia o
controlo visual do nível freático, impossibilitando o uso das galerias e casamatas pelo inimigo, pois permitia a
inundação do sistema. Os autores referidos consideram Ramiro López como
um génio do Renascimento.
69
Almeida O Castelo de D. Dinis Trazado_Maquetación 1 24/01/14 11:15 Página 70
Em cima, à esquerda/Top left: “Plano de una
porcion de recinto de la plaza de Ciudad
Rodrigo” (parcial/partial). / Dim.: 17 x 28 cm.
Escala / Scale: 30 toesas. Final do século XVIII
/Late 18th century (c. 1799), Ref.: SH. SA-2/20,
Instituto de Historia y Cultura Militar, Madrid.
Este plano, de finais do século XVIII, representa
a zona da Porta da Colada. À direita da Porta da
Colada encontra-se a grande trincheira do
castelo com a sua bateria baixa e alta.
This plan, from the late eighteenth century, is the
area of the Gate of Colada. To the right of the
Gate of Colada is the great trench of the castle
with its low and high battery.
Em cima à direita/Top right: Luis de Nieulant.
“Plano de una porcion de la falsa braga del
Castillo pª cubrirse con texa como esta el
pedazo A.B., assinado em Ciudad Rodrigo a 19
de Outubro de 1768/signed at Ciudad Rodrigo
19th October, 1768. Dim.: 30 x 38 cm.
Escala/Scale: 30 toesas. Ref.: AGS. MPy D. 34069. Archivo General de Simancas.
Durante a segunda metade do século XVIII o
castelo foi utilizado como armazém para os
apetrechos de artilharia e, para ampliar o
espaço, foi proposta a construção de um grande
alpendre no espaço existente entre as duas
muralhas ou barreiras exteriores.
During the second half of the eighteenth century
the castle was used as a warehouse for the
accoutrements of artillery, and to increase the
space, the construction of a large porch in the
space between the two walls or exterior barriers
was proposed.
Em baixo/Bottom: Juan Martin Cermeño,
“Planta y perfil de la torre del castillo de Ciudad
Rodrigo”, 1766.Dim.: 66 x 47 cm. Escala/Scale:
100 toesas. Ref.: CGE. Ar.E-T.7-C.3-386, Centro
Geográfico del Ejército, Madrid.
70
poneiras, minas e contraminas que abrangem as hipóteses
de assédio do inimigo.
Os bastiões redondos surgem como a resposta às primeiras
teorizações do flanqueamento e cruzamento de fogos, originando as características expressões da arquitectura militar
de transição. Tais elementos concorrem muito acentuadamente para a identificação e beleza da fortificação. Almeida
associaria a boa escala dos seus bastiões circulares a um desenho do fosso muito equilibrado, sendo a execução do
mesmo particularmente significativa pela qualificação dos
materiais e das técnicas construtivas. É caso raro de fortaleza
balanced sentinels, very expressive, which La Mota presents
when the reform of the medieval structure; by its turn, San
Felices de los Gallegos adopt a similar feature, in its own way,
also in the time of the Catholic Kings. We will reproduce the
pictures of the Livro das Fortalezas in the next chapter to
compare with the photographs of these Castilians cases, in
the whole leading to think about an eventually regional
shared technology.
What remains of its archeology and precious iconographic
documents that can be gathered allows us to achieve a
preview of the configuration of the system implemented by
D. Manuel at the end of the first decade of 1500.
While it is not an isolated experience, the comparative
reading with other cases allows one to conjecture that
Almeida was the most comprehensive and qualified case of
Portuguese engineering of the time, which may be extended
to some overseas areas such as the Artillery Castle in El
Jadida, Morocco (Mazagan).
It is still up to the historical and archeological research to
find more useful information regarding more thorough
knowledge of the characteristics of the Manueline
fortification of Almeida. It is for example conceivable that
the round towers had casemates, if not all, at least some of
the four. Nor is it known whether the evolution of Dionysian
castle for the proto-modern structure contained
embankments or galleries with upper terrace between the
old perimeter and the one caused by Manueline additions.
A whole program of study and discoveries will need to
advance to learn more about the important archeology of
Almeida.
Artillery barriers, such as the ones shown in the cases of San
Felices de los Gallegos, Ciudad Rodrigo, or Medina del
Campo are always adaptations, more or less extensive and
Almeida O Castelo de D. Dinis Trazado_Maquetación 1 24/01/14 11:15 Página 71
com o fundo do fosso revestido com silhares de pedra de boa
cantaria, em tudo idênticos aos blocos da escarpa e da contra-escarpa.
Essas extraordinárias realizações que constituem os fossos e
a barreira artilheira de Medina del Campo antecipam outra
obra famosa que se constrói na fronteira da Catalunha por
Ramirez Lopéz, entre 1497 e 1503: a fortaleza de Salces, uma
formidável realização técnica que exponenciava o uso das
casamatas e conjugava a concepção dos fossos com a possibilidade de inundar7 minas e casamatas no caso de entrada
de inimigos.
Este universo técnico teve os seus reflexos em Portugal, sendo
a fortificação de Almeida a eleita para a mais elaborada experiência de evolução da arquitectura militar no período de
transição. Almeida é, um pouco, como se fosse uma miniatura de La Mota, evoluindo a seu modo e na escala própria.
Mesmo num aspecto secundário (mas que é único no Livro
de Duarte de Armas), parece-nos ver na novidade do balcão
artilheiro do ângulo Nascente / Sul uma aproximação às guaritas balançadas, muito expressivas, que La Mota apresenta
com a reforma da estrutura medieval, e que San Felices de
Castelo de La Mota, Medina del Campo, o mais avançado castelo medieval com adaptação para artilharia.
Na imagem de cima (histórica, pedida de empréstimo da edição de Antonia Noguera, 2001), vê-se
distintamente a cortina de muralha acrescentada paralelamente a todo o perímetro, com um fortíssimo
valado, resultando uma fachada que se equipara à elevação medieval. No entanto, a percepção da nova
cortina artilheira e seus bastiões redondos é de uma estrutura horizontalizada, como se pode ver na foto de
baixo, com linha de fogo rente ao solo e nas ameias do adarve do muro. Atente-se ainda na escala do
conjunto com a esbelta torre de menagem.
Castle of La Mota, Medina del Campo, the most advanced medieval castle with adaptation to artillery. In the
image above (historical, requested as a loan from Antonia Noguera’s work, 2001), we see distinctly the curtain
wall added in parallel to the entire perimeter, with a very strong ditch, resulting in a facade that matches the
medieval elevation. However, the perception of the new artillery curtain and its round bastion is a
horizontalized structure, as seen in the photo below, with the firing line close to the ground and in the
battlements of the wall. One must also refer the scale of the set with the slender keep.
7
COBOS, Fernando y CASTRO,
Francisco Javier de, in “La Fortaleza de
Salsas y la fortificación de transición
española”, consider Salces as the utmost example of the countermine system, having shafts in each tower or
bastion, from which the visual control
of the water level was made, precluding
the use of galleries and casemates by
the enemy, as it allowed a flood system.
The authors consider Ramiro Lopez as
a genius of the Renaissance.
71
Almeida O Castelo de D. Dinis Trazado_Maquetación 1 24/01/14 11:16 Página 72
La Mota. Em cima a torre de menagem, vista
após a entrada da barreira artilheira. Em baixo,
o fosso junto à escarpa do paramento vertical da
barreira artilheira, com o “cubo” redondo, de
vários pisos, dominando a esquadria do ângulo.
La Mota. Above, the keep, seen after the entrance
of the artillery barrier. Below, the ditch near the
escarpment of the vertical wall of the artillery
barrier, with the round “cubo”, with several floors,
mastering the squareness of the angle.
72
complex, sometimes reaching a degree of unexpected
improvement.
In the case of Ciudad Rodrigo, one is able to distinguish
three great constructive stages: the first one encompasses the
keep and the first enclosure with square and half-circle towers, built in 1372 by Enrique II of Castile and León; the second one is the cavalier located over the keep, which was
ordered by the king Enrique IV in 1466 to his alcalde Diego
del Águila; and finally, in the beginning of the 16th century,
in 1506, the alcaide Antonio del Águila built the artillery barriers with circular towers and perimeter ditch.
These are structures that were updated that, instead of becoming obsolete quickly, could meet effectively and for much
longer the defensive function that the pyro ballistics
subjected the ancient castles to. Thus, the archaic silhouettes
endured across episodes of war and adding centuries. A great
engineer of bulwarked works could compromise,
incorporating certain devices of the past. In November of
1765 the Spanish Crown, a few months after the end of the
Seven Years War, decides to send to Ciudad Rodrigo Juan
Martín Cermeño to draw up a new defensive plan. On 14th
July, 1766, the engineer puts forward a set of proposals,
including a plan for the medieval castle. In the document,
he describes thusly the medieval castle of Ciudad Rodrigo:
“Attached to the wall of the place, it has an ancient castle with
its ditch and two enclosures and on the inside a square tower
or macho, with three able rooms in good condition. The first
two have an ashlar vault, reinforced with arches of the same
material and the highest of these has five feet of thickness at
the center, thus becoming both bomb-proof. The third room
has bricks in a spiral, with three and a half wide at its center.
In the inner enclosure, there are some storage areas and armory that need repairs, as well as the walls of the enclosures,
which are quite deteriorated.”
As is observed, the transitional device would be preserved,
even earning the engineer’s approval: the divisions of the
tower would be used as gunpowder magazines (the first two
would be vaulted) and the one located at the cavalier for the
purpose of artillery pieces using wires, wicks and similar materials.
Two years after Cermeño’s appreciations, Luis de Nieulant,
who would finally put forward making use of the castle’s
fausse-braie (1768, in a document reproduced herein), raises
the issue of the safety condition of the castle. He wrote: “It is
an ancient work with a small square plant, with ditch; the
Almeida O Castelo de D. Dinis Trazado_Maquetación 1 24/01/14 11:16 Página 73
los Gallegos irá a seu modo adoptar, igualmente, no tempo
dos Reis Católicos. Teremos as imagens do Livro das Fortalezas no capítulo seguinte para confrontar com as fotografias
desses casos castelhanos, no conjunto fazendo pensar numa
tecnologia regional eventualmente partilhada.
O que resta da sua arqueologia, e os preciosos documentos
iconográficos que se conseguem reunir fazem-nos alcançar
uma visualização da configuração do sistema implementado
por D. Manuel no final da primeira década de 1500.
Não sendo experiência isolada, a leitura comparativa dos outros casos permite-nos conjecturar que Almeida foi o caso
mais extenso e qualificado da engenharia portuguesa da
época, extensível a alguns domínios ultramarinos, como o
castelo artilheiro de Mazagão (El Jadida), em Marrocos.
Compete ainda à investigação histórica e arqueológica a descoberta de mais indicações úteis a um cabal conhecimento
das características da fortificação manuelina de Almeida. É,
por exemplo, crível que os torreões redondos fossem acasamatados, se não todos, pelo menos alguns dos quatro. Também se desconhece se da evolução do castelo dionisino para
a estrutura proto-moderna constavam terraplenos ou galerias com terraço superior, entre o perímetro antigo e o acrescentado pelas adições manuelinas. Todo um programa de
estudo e descobertas terá que avançar para sabermos mais
sobre a importante arqueologia de Almeida.
As barreiras artilheiras, como aqui se mostra nos casos de
San Felices de los Gallegos, de Ciudad Rodrigo, ou de Medina del Campo, são sempre adaptações, mais ou menos extensas e complexas, por vezes atingindo um grau de
aperfeiçoamento insuspeitável.
No caso de Ciudad Rodrigo, podemos distinguir três grandes
etapas construtivas: a primeira abrange a torre de menagem
e o primeiro recinto com torreões quadrados e em semicírculo, construídos em 1372 por Enrique II de Castela e Leão;
o segundo é o cavaleiro localizado sobre a torre de menagem,
que foi encomendado pelo rei Enrique IV em 1466 ao seu
alcalde Diego del Águila; e, finalmente, no início do século
XVI, em 1506, o alcaide Antonio del Águila constrói as barreiras artilheiras com torres circulares e um fosso em parte
do perímetro.
Estas estruturas foram sendo actualizadas pelo que, em vez
de se tornarem obsoletas rapidamente, puderam atender de
walls without embankment, with parapets of little resistance,
all destroyed or in poor condition; at the center, it has a
square tower and, at the middle of this one, another rises,
called Macho, both of which are very exposed to enemy cannons (…). Its walls should have some sort of embankment,
at least to contain some troops, its parapets an average solidity; it would be better if the tallest tower was removed, or
its macho and the works would be bomb-proofed”.8
Vista do fosso escalonado com o bastião redondo do
ângulo da foto da página anterior, a partir da ponte
do acesso. Em baixo a face interna do muro da
barreira artilheira, com as posições de fogo rasantes,
o adarve e o coroamento do “cubo artilheiro”
acasamatado, com vários níveis de fogo.
View of the steep ditch with the round bulwark of the
angle of the picture from the previous page, from the
access bridge. Below, the internal face of the wall of
the artillery barrier, with low-flying fire positions, the
battlement and crowning of the “artillery cube”, with
casamates, with various levels of fire.
73
Almeida O Castelo de D. Dinis Trazado_Maquetación 1 24/01/14 11:16 Página 74
Fortaleza de Salces, num desenho de Francisco
de Holanda (“Livro das Antigualhas”, Biblioteca
del Escorial) e numa imagem de satélite do
Google Earth. A reprodução é do 1º fac-simile
(fl. 43v).
Fortress of Salces, in a drawing by Francisco de
Holanda (“Livro das Antigualhas”, Biblioteca del
Escorial) and in a satellite image from Google
Earth. It reproduces the 1st fac-simile (fl. 43v ).
In «Os Desenhos das Antigualhas que Vio
Francisco d’Ollanda, Pintor Portugués (…1539
– 1540…). Publicalos, con notas de estúdio y
preliminares el Prof. E. Tormo, de la
Universidad de Madrid», Ministerio de Asuntos
Exteriores, Madrid, 1940.
Na página seguinte, em cima, três imagens de
Leonardo da Vinci (baluartes avançados em
esquina - Códice Madrid, 1503/05; secções de
fortalezas e apontamento de fortaleza com fosso
e torreões redondos opostos - Manuscritos,
1487/90). O avanço da artilharia chamou a
atenção de Leonardo para a adequação formal e
funcional da arquitectura militar, revelando
descobertas e aspectos concomitantes com as
realizações mais vanguardistas. A vista aérea do
notável Castelo Artilheiro de Vila Viçosa
sustenta teorias acerca da experimentação de
um projecto de Leonardo da Vinci.
At the following page, top, three images by
Leonardo da Vinci (advanced bulwarks in a
corner - Codex Madrid, 1503/05; sections of
fortresses and note of fortress with ditch and
opposite round turrets - Manuscripts, 1487/90).
the advanced of artillery caught Leonardo’s
attention towards the formal and functional
adaptation of military architecture, revealing
discoveries and aspects concomitant with the
most avant-garde achievements. The aerial view
of the noticeable Artillery Palace of Vila Viçosa
supports theories about it being a test for a
project by Leonardo da Vinci.
74
forma eficaz e por muito mais tempo a função defensiva a
que a pirobalística submeteu os castelos antigos. Assim, as
silhuetas arcaicas suportaram todos os episódios de guerra,
adicionando séculos. Um grande Engenheiro de obras abaluartadas poderia comprometer-se, incorporando certos dispositivos do passado. Em Novembro de 1765 a Coroa
espanhola, poucos meses após o fim da Guerra dos Sete
Anos, decide enviar a Ciudad Rodrigo Juan Martín Cermeño
para elaborar um novo plano de defesa. Em 14 de Julho de
1766, o engenheiro apresenta um conjunto de propostas, incluindo um plano para o castelo medieval. No documento,
ele descreve desta forma a estrutura medieval de Ciudad Rodrigo: " unido à muralha da praça, tem um castelo antigo
com o fosso e dois recintos e, dentro, uma torre quadrada ou
macho, com três divisões capazes, em bom estado. As duas
primeiras, de abóbada de cantaria, reforçada com arcos do
mesmo material, e superior a estas, com cinco pés de espessura sobre chave, ficando as duas, por conseguinte, à prova
de bomba; e a terceira estância, de rosca de tijolo com três e
meio de grossura na chave. No recinto interior há alguns armazéns e sala de armas, e tudo necessita ser reparado, como
também as muralhas dos dois recintos, que se acham muito
deterioradas."
Como se observa, o dispositivo de transição seria preservado, ganhando mesmo a aprovação do engenheiro: as divisões da torre seriam usadas como paióis de pólvora (sendo
os dois primeiros abobadados) e a localizada no cavaleiro
com o propósito de guardar apetrechos das peças de artilharia como fios, mechas e materiais similares.
In the case of Almeida, one needs to recognize the conceptual and execution effort that it represent, even for the meaningful fact that the Portuguese fortification dialogs with the
nearest Castilian examples which (as seen particularly in
Medina del Campo) were at the top of the greatest demands
of affirmation and mastery in the evolution of the function
they served.
Still from the time of D. Manuel, the revolutionary Artillery
Castle of Vila Viçosa, with its system of ditches and bunkers,
presents itself ex-novo as a vanguard, although at a more
measured scale, in line with the complex and impregnable
modernity enunciated in Salces, upon which Leonardo da
Vinci and others definitely pondered.
5.3 – A MILITARY STRUCTURE OPERATING
FOR MORE THAN FIVE CENTURIES
The reason behind the choice of Almeida for its military
function was full of logic. The longevity of fortification,
suffering two major adaptations to meet the requirements of
the so-called art of war, is proven by its endurance from the
late thirteenth century until its destruction by the explosion
of 1810. Throughout this time, the Castle of Almeida has
always been a central pole of attention for the defense of the
border, even when it was boiled, in its final phase, to the
arsenal of the great bulwarked fortress with the great
gunpowder magazine inside.
That evolution is accounted for by some precious
documents, which we want to rescue in this approximation
to the intrinsic value of the military structure and its
evolution. With the synthesis presented, one wants that the
Almeida O Castelo de D. Dinis Trazado_Maquetación 1 24/01/14 11:16 Página 75
Na parte inferior vemos a planta do piso térreo
do Castelo Artilheiro de Vila Viçosa, juntamente
com a fotografia da entrada. Foi avançada a
hipótese de o mesmo ser projecto de da Vinci
(John Bury, “A Leonardo project realized in
Portugal”, 1983), dadas as relações de Benedetto
de Ravena com o duque de Bragança, D. Jaime,
no início da segunda década de 1520.
At the lower area, we see the plant for the ground
floor of the Artillery Castle of Vila Viçosa, together
with the picture from the entrance. There is the
hypothesis of it being a project by da Vinci (John
Bury, “A Leonardo project realized in Portugal”,
1983), given the relationships Benedetto de Ravena
had with the Duke of Bragança, D. Jaime, in the
beginning of the 1520s.
75
Almeida O Castelo de D. Dinis Trazado_Maquetación 1 24/01/14 11:16 Página 76
Imagens do Castelo Artilheiro de Vila Viçosa,
reproduzindo-se a planta geral de Vila Viçosa
com o projecto abaluartado completo do
Engenheiro Nicolau de Langres (in Mello de
Mattos, Gastão de, “Nicolau de Langres e a sua
Obra em Portugal”, Lisboa, 1941). Nas
fotografias da página seguinte destaca-se um
dos bastiões redondos e o fosso escavado no
terreno rochoso da implantação.
Images of the Artillery Castle of Vila Viçosa, with
the reproduction of the general plant of Vila
Viçosa with the complete bulwarked project by
Engineer Nicolau de Langres (in Mello de Mattos,
Gastão de, “Nicolau de Langres e a sua Obra em
Portugal”, Lisboa, 1941). In the pictures of next
page, one should emphasize one of the round
bastions and the ditch, excavated in the rocky
terrain of the implementation.
8
COBOS, Fernando e CAMPOS, João
– “Almeida / Ciudad Rodrigo – A Fortificação da Raia Central”, 2013, p. 384 –
relatório contido na peça iconográfica
de 1768 incluída no catálogo do livro citado e reproduzida no presente capítulo.
/ - report contained in the 1768 iconographical piece featured in the catalog of
the referred book and reproduced in the
current chapter.
76
Dois anos após as apreciações de Cermeño, Luis de Nieulant,
apresentou finalmente um uso para a fausse-braie do castelo
(1768, em documento aqui reproduzido), levantando a questão da condição de segurança do castelo. Ele escreveu: "É
obra antiga, com uma pequena planta quadrada, com fosso,
as muralhas sem terrapleno, com parapeitos de fraca resistência, todos destruídos ou em fracas condições; no centro,
tem uma torre quadrada e, no seu centro, outra se levanta,
chamada Macho, ambas as quais estão muito expostas aos
canhões dos inimigos (...).Convém que as suas muralhas tenham terrapleno, pelo menos para conter algumas tropas, os
seus parapeitos uma solidez média, seria melhor se a torre
mais alta fosse retirada, ou o seu macho, e ficando a obra à
prova de bomba.” 8
No caso de Almeida é forçoso reconhecer o esforço conceptual e de execução que representou, até pelo facto significativo de a fortificação portuguesa dialogar com os exemplares
castelhanos que lhe eram próximos, os quais (como vimos
images essentially facilitate an integrated relationship of the
information carried by the architectures of the different
examples, thus helping to ground the vision of what the
castle of Almeida would look like during the path until the
bulwarked phase. In this sense, one wants to caption each
image, or the set where it is integrated, and extract by
comparison useful conclusion for the vision put forward in
the following chapter.
Finally, as a glimpse for Almeida’s essential iconography, one
reflects upon an iconographical document of utmost
importance for the study on the evolution of the Castle of
Almeida: the Plant of the Place of Almeida, by Manuel de
Azevedo Fortes, the Kingdom’s Chief Engineer. This plant
(drawn by his Assistant, Captain José Fernandes Pinto
Alpoim) dates back to 1736, being the oldest iconographical
element known on the new fortification of Almeida, with an
initial project of an unknown origin, whose works may have
been started probably still in 1641.
Apart from the numerous indications for the general contour
of the twelve-pointed star of Almeida, one should emphasize,
Almeida O Castelo de D. Dinis Trazado_Maquetación 1 24/01/14 11:16 Página 77
particularmente em Medina del Campo) se alcandoram nas
maiores exigências de afirmação e domínio na evolução da
função de que estavam investidos.
Ainda do tempo de D. Manuel, o revolucionário Castelo artilheiro de Vila Viçosa, com seu sistema de fossos e casamatas, apresenta-se ex-novo como uma vanguarda, conquanto
a uma escala mais comedida, na linha da modernidade complexa e inexpugnável enunciada em Salces, na qual Leonardo
da Vinci e outros não terão deixado de reflectir.
5. 3 – UMA ESTRUTURA MILITAR EM FUNÇÕES
DURANTE MAIS DE CINCO SÉCULOS
A razão de ser da escolha de Almeida para a função militar
revelou-se plena de sentido. A longevidade da fortificação,
sofrendo duas grandes adaptações para responder às exigências da chamada arte da guerra, comprova-se pela sua subsistência desde os finais do século XIII até ao seu
aniquilamento pela explosão de 1810. Ao longo desse tempo
o Castelo de Almeida foi sempre um pólo fulcral das atenções da defesa da fronteira, mesmo quando se resumia, na
sua fase final, ao arsenal da grande fortaleza abaluartada,
com o grande paiol da pólvora no seu interior.
Dessa evolução nos dão conta alguns elementos documentais preciosos, os quais pretendemos resgatar nesta aproximação ao valor intrínseco da estrutura militar e sua
evolução. Com a súmula apresentada pretende-se que as
imagens possam facilitar, essencialmente, um relacionamento integrado da informação que as arquitecturas dos diferentes exemplos transportam, ajudando a fundamentar a
própria visão de como seria o castelo de Almeida no percurso até ao abaluartado. Nesse sentido pretende-se legendar
cada imagem, ou o conjunto em que se enquadra, e extrair,
por comparação, as ilações úteis para a visão proposta no capítulo seguinte.
for our purpose, the highlight given on the right bottom to
the project of a new magazine for the Fortress. The disaster
of the loss of the storage facilities for gunpowder (stored at
the lower floor of the keep) due to explosion caused by the
tremendous thunderstorm at the end of the previous century,
made urgent the provision of a magazine with appropriate
conditions, particularly as wartime was being foreshadowed
and Almeida would be a presumed war theater, because it
would involve the threat of invasion of the border.
Similarly to an identical attitude for another two sides of the
Manueline ditch (where he established the construction of
warehouses), Manuel de Azevedo Fortes provides exact indications of a new construction on the western side. This
would be a new magazine, although the castle already had
one, which will subsist (perhaps with reinforcements for the
“bomb-proof ” resistance) until the explosion under French
fire, since the project of the Chief Engineer failed to come
through. There are plenty of meaningful details, revealing
the careful application of technical security devices, from
siphons to vents with expansion and anti-intrusion device
77
Almeida O Castelo de D. Dinis Trazado_Maquetación 1 24/01/14 11:16 Página 78
“Planta // da // Praça de Almeida, // Com
obras interiores e exteriores addicionadas e
de/terminadas pelo Engenheiro-mor do Reino
Manuel de // Azevedo Fortes // Riscada pelo
Cappitam Jozé Fernandes Pinto Alpoym //
Anno de 1736”
Escala da Planta: 0 - 1000 Palmos; Escala de 0
– 100 Palmos para Corte, Planta e Alçado do
“Payol de pólvora” com cobertura abobadada
à prova de bomba/ Scale of the blueprint 01000 hands; scale of 0 – 100 hands for the Cut,
Blueprint and Façade of the bomb-proof
vaulted Gunpowder magazine.
GEAEM/DIE, 543- 1-2-2.
A direita / Right side:
“PLANO E PERFIZ DA PRAÇA DE ALMEIDA
// Para servir à intelligencia da Memória sobre
o estado das Fortificaçoens da ditta Praça,
depois das demoliçoens pra / ticadas pellos
Franceses a 10 de Mayo, e pellos Alliados a 7
de Junho de 1811; e para indicar o Projecto de
reparar as dittas de- / moliçoens pello modo
mais expedito para pôr a referida Praça em
estado de resistir a hum golpe de mão. / Pellos
Officiaes do Real Corpo de Engenheiros // O
Tenente Coronel Caula e o Major Neves Costa”.
// // P.XX. // Nº 14 // // Almeida 3 de Agosto
de 1811”.
Parcial. Sobre toda a área de destruição do
Castelo está escrito: “em ruínas”.
Partial. Over all the área of destruction of the
Castle is written: “in ruins”.
Gabinete de Estudos Arqueológicos de
Engenharia Militar / Direcção de
Infraestruturas / Ministério da Defesa, Lisboa.
Ref.: GEAEM/DIE – 544-1-2-2.
78
Finalmente, com realce também para a iconografia fundamental de Almeida, reflectimos sobre um documento iconográfico da maior pertinência para o nosso estudo sobre a
evolução do Castelo de Almeida: trata-se da Planta da Praça
de Almeida, de Manuel de Azevedo Fortes, o Engenheiromor do Reino. Esta planta (riscada pelo seu Ajudante, Capitão José Fernandes Pinto Alpoim) está datada de 1736, sendo
o mais antigo elemento iconográfico conhecido relativo à
nova fortificação de Almeida, de cujo projecto inicial se desconhece a origem, cujas obras poderão ter sido iniciadas provavelmente ainda em 1641.
Para além de inúmeras indicações para o contorno geral da
estrela de doze pontas de Almeida, salienta-se, para o nosso
propósito, o destaque do canto inferior direito, com o projecto
de um novo paiol para a Fortaleza. O desastre da perda das
instalações de armazenamento da pólvora (que estava no piso
inferior da torre de menagem) devido a explosão causada por
tremenda trovoada no final do século anterior, tornava premente a disponibilização de um paiol nas devidas condições,
tanto mais que se prenunciavam tempos de guerra e Almeida
seria cenário presumível do teatro das beligerâncias, pois se
trataria de ameaça de invasão da fronteira.
À semelhança de idêntica atitude para outros dois lados do
fosso manuelino (onde se previa a construção de armazéns),
Manuel de Azevedo Fortes dá-nos a indicações exactas de
nova construção no lado Poente. Seria a realização do novo
paiol, embora no castelo já existisse um armazém de pólvora,
que irá subsistir (talvez com reforços para a resistência “à
prova de bombas”) até à sua explosão debaixo de fogo dos
and, interestingly, including the raising of the wall above the
bomb-proof roof, allowing the filling with a “bed” of loose
firewood, dried vines and manure, to cushion the impact of
an eventual mortar and preventing it from exploding in
direct contact with the building, as ordered by the treaties of
military architecture9.
As we will see ahead, the 1736 project provides precious insights so that, according to the scale adopted, we have a
highly reliable approximation to the dimension of the
Manueline castle and, via the information contained in
Duarte de Armas’ plant, we can retrospectively access a view
of D. Dinis’ castle.
In that year of 1736 the concern with gunpowder was great
and, as we saw, with this aspect there must be always careful
attention. In Ciudad Rodrigo, on the same date, adaptation
measures to store gunpowder in the keep of the castle tower
were taken. Here, the Engineer Pierre Moreau, author of the
Fuerte de la Concepción10, proposes the use of the three
floors of the tower, stating that “This fortress of Ciudad Rodrigo, which would serve as the main defense of these frontiers and also garrison, with the artillery it has and that will
come for this purpose, needed to have five thousand quintales of gunpowder, which may be storage on the three
bomb-proof vaults of the castle’s keep in this place, which
are currently being lined and restored properly, as they
should be to store the gunpowder.”
No serious hindrance happened and the strong and mighty
structure still stands today in Ciudad Rodrigo. As for
Almeida, we leave you with the cartographical document in
Almeida O Castelo de D. Dinis Trazado_Maquetación 1 24/01/14 11:16 Página 79
franceses, posto que o projecto do Engenheiro-mor não teve
concretização. Notam-se muitos pormenores significativos,
revelando o cuidado de aplicação dos dispositivos técnicos
de segurança, desde o sifonamento às ventilações com expansão e dispositivo anti-intrusão e, curiosamente, incluindo
a elevação de parede acima das águas da cobertura à prova
de bomba, possibilitando o enchimento com uma “cama” de
lenha solta, vides secas e estrumes, para amortecer a queda
de eventual morteiro e prevenindo que o mesmo não explodisse em contacto directo com a edificação, como mandavam os tratados da arquitectura militar9.
Como veremos adiante, o projecto de 1736 dá-nos informações preciosas para, em conformidade com a escala nele
adoptada, fazermos uma aproximação de grande fiabilidade
à dimensão do castelo manuelino e, por via da informação
da planta de Duarte de Armas, retrospectivamente acedermos a uma visualização do castelo de D. Dinis.
Naquele ano de 1736 a preocupação com a pólvora era
grande e, como se viu, com esse aspecto há que haver sempre
redobrada atenção. Em Ciudad Rodrigo, na mesma data,
eram tomadas medidas de adaptação para guardar pólvora
na torre de menagem do castelo. Aqui, o Engenheiro Pierre
Moreau, autor do Fuerte de la Concepción10, propõe a utilização dos três pisos da torre, afirmando que “esta praça de
Ciudad Rodrigo que havia de servir com principal armazém
para a defesa destas fronteiras e, para além das suas guarnições, artilharia que tem e há-de vir a este fim, precisa de ter
5 mil quintais de pólvora, que pode ser colocada nas três
abóbadas à prova de bomba da torre de Menagem do castelo
da praça, que estão actualmente a ser revestidas e restauradas
de forma adequada, segundo devem estar para conservar a
dita pólvora”.
Nenhum percalço grave sucedeu e a forte e grande estrutura
ainda hoje se mantém em Ciudad Rodrigo. Já quanto a Almeida, deixamos o documento cartográfico em que os Oficiais do Real Corpo de Engenheiros Tenente-Coronel Caula
e Major Nesves Costa registam para memória, a 3 de Agosto
de 1811, o estado de ruína que restava do Castelo, quando
os Aliados tomam novamente posse de Almeida após a saída
dos franceses.
which the Officers of the Royal Corps of Engineers,
Lieutenant-Colonel Caula and Major Neves Costa registered
for future reference, on 3rd August, 1811, the ruinous state of
the Castle, when the Allies once again took possession of
Almeida after the French exit.
Pedro Moreau, Edificios Militares en Ciudad
Rodrigo / “Almazen de polvora a prueba en la
torre del omenage del castillo. Numero 1º” /
Remitido por Don Pedro Moreau con Carta de
13 de Junio de 1736.
Dim.: 22 x 16 cm. Escala / Scale: 6 toesas.
Ref.: AGS. MPyD. 12-142.
Archivo General de Simancas.
9
E manifestamente o Engenheiro-mor
estatuía no “Engenheiro Português”
(1728-29) ou já se descrevia no “Methodo Lusitanico” de Luís Serrão Pimentel, de 1680.
And, openly, the Chief Engineer laid
down such ideas in the work “Engenheiro
Português” (1728-29) or already described in his “Methodo Lusitanico” by Luís
Serrão Pimentel, 1680.
10
Com obras entre 1735 e 1756, na altura de grandes obras na Fortaleza de
Almeida e num período em que ganha
forma a Plaza Mayor de Salamanca. Nos
trabalhos da Aldea del Obispo participa
Manuel de Lara Churriguera, um dos arquitectos do projecto daquele espaço urbano – um quase-quadrado que, na
definição de Miguel de Unamuno, é um
“cuadrilátero irregular, pero assombrosamente armónico”.
With works between 1735 and 1756, a
time of great works in Almeida fortress
and a period in which the Plaza Mayor of
Salamanca gains its shape. In the work of
Aldea del Obispo participates Manuel de
Lara Churriguera, one of the architects of
that urban project – an almost-square
which, in the definition of Miguel de Unamuno, is an "irregular quadrilateral, but
hauntingly harmonic".
79
Almeida O Castelo de D. Dinis Trazado_Maquetación 1 24/01/14 11:16 Página 80
Almeida O Castelo de D. Dinis Trazado_Maquetación 1 24/01/14 11:16 Página 81
6
Almeida O Castelo de D. Dinis Trazado_Maquetación 1 24/01/14 11:16 Página 82
Na portada deste capítulo:
A vila de Almeida dentro da Praça-forte, vista
do lado Sul / Nascente. À esquerda da torre
neoclássica, construída no lugar da implantação
da torre barroca da Igreja que foi pelos ares em
1810, situava-se o Castelo.
In the cover page of this chapter:
The city of Almeida inside the Fortress, seen from
South / East. The Castle stood to the left of the
neoclassical tower, built on the site of the
implantation of the baroque tower of the church
that was blown up in 1810.
Abaixo e na página seguinte:
As três fases fundamentais da fortificação
do alto da colina de Almeida
inscritas sobre a planta topográfica actual,
mostrando a evolução conjectural do Castelo.
1ª FASE / 1ST FASE
O CASTELO DE D. DINIS
THE CASTLE OF KING DINIS
Bottom and in the next page:
The three fundamental phases of fortification
on the hill of Almeida
inscribed in the current topographic plan,
showing the conjectural evolution of Castle.
1ª FASE (FIM SÉC. XIII / INÍCIOS SÉC. XVI)
1ST PHASE (LATE 13TH CENTURY /
EARLY 14TH CENTURY)
A – IGREJA (com altar orientado a Nascente)
CHURCH (altar facing the East)
B – PORTA DO CASTELO (com pequena barbacã)
GATE OF THE CASTLE (with small barbican)
C – TORRE DE MENAGEM (possivelmente abobadada, com acesso provável pelo andar nobre, o qual
comunicava com o adarve)
KEEP (possibly vaulted, with probable access via the noble floor, which communicated with the
chemin-de-ronde)
D – TORRE COM DUPLA ORIENTAÇÃO (Norte / Nascente, possivelmente sobradada)
TOWER WITH DOUBLE ORIENTATION (North/East, possibly with wooden floor)
E – CUBELO DE ÂNGULO (orientação Sul / Poente)
ANGLE SQUARE TOWER (South/West disposition)
F – POÇO QUADRANGULAR
G – TERRENO ESCARPADO
SQUARE WELL
SCARPED TERRAIN
2ª FASE (INÍCIOS SÉC. XVI / FIM SÉC. XVII)
2ND PHASE (EARLY 14TH CENTURY / LATE 16TH
CENTURY)
A – IGREJA MATRIZ (ampliada no comprimento e com três naves)
MOTHER CHURCH (extended in length and with three naves)
C – TORRE DE MENAGEM (com o primeiro piso provavelmente utilizado como paiol)
KEEP (with the first floor being used as powder magazine)
H – BARREIRA ARTILHEIRA COM BASTIÕES REDONDOS DE ÂNGULO, CORTINAS COM ESCARPA,
FOSSO LAJEADO E CONTRA-ESCARPA ARTILLERY BARRIER WITH ANGLE ROUND
BASTIONS, ESCARPED CURTAINS, DITCH WITH SLABS AND COUNTER-ESCARPMENT
I – EVENTUAL CASAMATA PARA ARTILHARIA NO NÍVEL INFERIOR DO BASTIÃO
PROBABLE CASEMATE FOR ARTILLERY ON THE LOWER LEVEL OF THE BASTION
J – NOVA PORTA DA FORTIFICAÇÃO (com trânsito, corpo de guarda e terraço para artilharia)
NEW GATE OF THE FORTIFICATION (with transit, Guard’s Corps and artillery terrace)
K – PONTE (levadiça?, de madeira)
BRIDGE (drawbrige?, in wood)
L – BALCÃO REDONDO DE ARTILHARIA (no cubelo Sul / Poente)
ROUND ARTILLERY BALCONY (at the south/West square tower)
M – BALCÃO REDONDO PEQUENO DE ARTILHARIA (balançado no ângulo das cortinas Nascente / Sul)
SMALL ROUND ARTILLERY BALCONY (balanced at the angle of the east / south curtains)
N – ARMARIA E ARMAZÉNS DE LOGÍSTICA MILITAR E DE ABASTECIMENTOS
ARMORY AND MILITARY AND SUPPLIES LOGISTICS WAREHOUSES
O – MODELAÇÃO DO TERRENO COM FORTE ADAPTAÇÃO EM ALGUMAS ÁREAS
MODELLING OF THE TERRAIN WITH STRONG ADAPTATION IN SOME AREAS.
82
Almeida O Castelo de D. Dinis Trazado_Maquetación 1 24/01/14 11:16 Página 83
3ª FASE (INÍCIOS DO SÉC. XVIII – 1810)
3RD PHASE (EARLY 18TH CENTURY – 1810)
A – IGREJA MATRIZ (com eventual aumento longitudinal e nova torre sineira)
MOTHER CHURCH (possible longitudinal extension and new bell tower)
P – PORTA DUPLA DE ACESSO (com ponte levadiça) fixando a sua direcção com a implantação da torre
da igreja) DOUBLE ACCESS GATE (with drawbridge), establishing its direction with the
implantation of the bell tower
R – DISPOSIÇÃO MODERNA DOS ARMAZÉNS DE MUNIÇÕES E DE ARMARIA/MODERN
DISPOSITION OF THE AMMUNITION WAREHOUSES AND ARMOURY
S – PAIOL GRANDE À PROVA DE BOMBA (com barreira de segurança)
LARGE BOMB-PROOF MAGAZINE (with safety barrier)
T – ATAFONAS (post-ocupação espanhola de 1762/63, com plataforma invadindo o fosso)
FLOURMILLS (after the Spanish occupation of 1762/63, with a platform invading the ditch)
U – ARTICULAÇÃO COM A PORTA DE SANTO ANTÓNIO
ARTICULATION WITH SANTO ANTÓNIO GATE
Q – COBERTO DA ENTRADA (anexo à cortina de ângulo)
ENTRY ROOF (attached to the angle curtain)
2ª FASE / 2ND FASE
O CASTELO DE D. MANUEL
THE CASTLE OF KING MANUEL
3ª FASE / 3RD FASE
O FORTIM MODERNO
THE MODERN FORT
83
Almeida O Castelo de D. Dinis Trazado_Maquetación 1 24/01/14 11:16 Página 84
6.1 – A STARTING POINT:
THE WELL OF THE CASTLE
W
Pedras sigladas na parede interna do poço
medieval.
Stonemason’s markings on the inside wall of the
medieval well.
1
Extraída de / Caught from TEIXEIRA,
André (coord. e textos), “O Castelo de
Almeida – Arqueologia de um espaço de
guerra multissecular”, C. M. Almeida,
2013, p. 19.
Não se esquece que, de acordo com as
sondagens arqueológicas orientadas por
esse autor, existem paramentos – nomeadamente na fundação e na face Nordeste
da torre medieval e no remanescente da
torre de menagem – onde se constata
uma boa estereotomia dos silhares de
granito, com pedras sigladas.
Do not forget that according to archaeological surveys targeted by this author,
there are paraments - particularly in the
Foundation, in Northeast side of the medieval tower and the remainder of the
keep - where he finds a good stereotomy
of granite ashlars, with marked stones.
Além do Catálogo, ver: / besides the catalog, see: “Sondagens Arqueológicas no
Castelo de Almeida e Envolvente: síntese
dos resultados, in CEAMA nº 2, João
Campos (coord.), C. M. de Almeida,
2008; “Almeida: o Potencial Arqueológico de um espaço de guerra multissecular, in «Candidatura das Fortificações
Abaluartadas da Raia Luso-Espanhola a
Património Mundial – UNESCO», João
Campos (coord.), pp. 53-59, C. M. de
Almeida, 2009).
84
6.1 – UM PONTO DE PARTIDA:
O POÇO DO CASTELO
A
o elaborarmos os desenhos de reconstituição volumétrica e formal da fortificação no alto da pequena elevação de terreno de Almeida concluímos que seria
vantajoso adoptar uma atitude que se salientava: fixar como
referente espacial o poço no interior do recinto.
Partimos, portanto, do conhecimento de um dado objectivo:
o poço antigo, com as suas paredes em blocos de granito siglados, permanece no campo arqueológico. Subsidiariamente tem
interesse por se tratar de um elemento centrado, isto é, constitui
uma espécie de ponto focal na geometria do campo de operações do projecto, o que facilita imediatamente a referência da
representação gráfica no espaço. Assim, todas as secções desenhadas que se mostram nesta explicação inicial, quer as longitudinais (isto é, na direcção Norte / Sul), quer as transversais
(Nascente / Poente), passam pelo centro do poço.
Como se imagina, a existência de uma fonte de abastecimento de água é um aspecto de importância vital numa fortificação, mormente se tivermos em conta o evidente risco
de ficar cercada. Não admira que este poço surja com regularidade nas descrições que acompanham a vida da fortificação, salientando que era farto de água. Hoje parece estar
seco embora não se encontre atulhado, visto que foi tapado
com lajes de granito, o que permitiu a sua conservação. Um
hile making the drawings for the volumetric and
formal reconstitution of the fortification on the highest point of the small elevation in the terrain of Almeida, we came to the conclusion that it would be fruitful to
adopt an attitude that stood out: establishing the well inside the
enclosure as the spatial reference.
Therefore, we start off from the knowledge of an objective
datum: the ancient well, with its walls in blocks of granite bearing inscriptions, remains in the archaeological field. Then
again, it interesting because it is a centred element, i.e., it is a
kind of focal point in the geometry of project operations’ field,
which immediately facilitates the reference of the graphical representation in the area. Thus, all sections are designed to show
this initial explanation, either the longitudinal ones (i.e., in the
North / South direction) or transverse ones (East / West), pass
through the centre of the well.
As it may be imagined, the existence of a water supply source
is an aspect of utmost importance within a fortification, particularly if one takes into account the evident risk of a siege. No
wonder that this well appears regularly in the descriptions that
accompany the life of the fortification, stressing that water was
plentiful. Today it appears to be dry although not cluttered, as
it was covered with granite slabs, which allowed its preservation. One aspect that emerges within its construction is, on the
one hand, the technical quality of its execution and, secondly,
the large number of mason’s marks featured in the construction. It provides the impression that all the craftsmen who worked there wanted to contribute to the work, leaving their
signature at the place’s origin of life.
And when were the stones of that well made? There are certainly many questions to be put forward in this archaeological
field, but this question is enticed by two essential aspects. The
first deals with the characteristics of the isodomic granite ashlars of the region, which are identical to those used in the escarpment and counter-escarpment of the ditch; the second
aspect refers to a curious acronym that appears in the photograph1, being visible in one of the stones, clearly, a small drawing of a square with four small circles at the vertices. This
signal reproduces, perhaps, the basic configuration of the Manueline work that was on-going at the time when the well was
also being re-built, at the end of the first decade of the sixteenth
century. The interest of this reading (needing confirmation
from the point of view of scientific dating) would address ques-
Almeida O Castelo de D. Dinis Filmar_Maquetación 1 27/01/14 12:35 Página 85
Ao alto da página vê-se a compleição do Castelo
Manuelino, delineado sobre o desenho do
alçado da situação actual da ruína da escarpa
Poente, com as bases dos bastiões redondos em
cada lado
On top of the page, the aspect of the
Manueline Castle, outlined over the drawing
of the elevation of the current ruinous
situation of the Western escarpment, with the
bases of the round bastions on each side.
Nas plantas ao lado, desenhadas a partir da
reconstituição do fosso (com escarpa e contraescarpa), fixa-se o essencial da justaposição das
grandes reformas da estrutura militar (séc. XVI
e séc.XVIII)
At the plants by side, drawn from the
reconstitution of the ditch (with escarpment and
counter-escarpment), the essential notes on the
juxtaposition of the great reforms of the military
structure (16th and 18th centuries).
85
Almeida O Castelo de D. Dinis Filmar_Maquetación 1 27/01/14 12:36 Página 86
0
5m
1
10
0m
Nesta pág. e na seguinte/This page and following:
Com dois perfis ortogonais passando pelo centro
do poço, observa-se a proporção da obra de D.
Dinis, prosseguida nos séculos seguintes com as
profundas adaptações ocorridas nos inícios do
século XVI e do século XVIII, correspondendo às
modificações profundas ocorridas no modo de
fazer a guerra.
With two orthogonal profiles through the center of
the well, one observes the proportion of the work of
D. Dinis, continued in the following centuries with
the profound adaptations that occur in the early
sixteenth century and the eighteenth century,
corresponding to the profound changes occurring in
the way of making war.
86
com lajes de granito, o que permitiu a sua conservação. Um
aspecto que ressalta no interior da sua construção é, por um
lado, a qualidade técnica da realização e, por outro, o número elevado de marcas de canteiro que ostenta. Dá a impressão de que todos os artífices que ali trabalharam
quiseram dar o seu contributo para a obra, deixando a sua
assinatura no ponto de vida do local.
E de quando datará a execução das pedras daquele poço? Haverá certamente muitas questões a colocar neste campo arqueológico, mas esta dúvida é suscitada por dois aspectos
fulcrais. O primeiro tem a ver com as características dos silhares isodómicos de granito da região, e que são em tudo
idênticos aos das escarpas e contra-escarpas do fosso; o se-
tions that sometimes arise regarding the date of the ditch’s stones, although we think that its walls are a direct capping against
the terrain and, therefore, date back to 1508/09.
In truth, the geomorphological nature of the site was prone to
cuts direct from the soil, which was sufficiently consistent to
allow, with great ease, the modelling of a rigorous configuration, revealing an innovating geometry from that time. We
never detected (as we have seen written already) the existence
of any medieval stones under the plan of the escarpments, as if
it was a later capping, i.e., from the bulwarked age. It is true
that the tectonics of the walls of the ditch suggest a similar approach, as technical nature of the work permitted by the material, but the date does not necessarily have to come from the
plots of the great modern work.
When this explanation hypothesis is put forward, this does not
mean (but rather reaffirms) that the well wasn’t at the centre of
the square of the medieval castle, which is in fact referenced in
several sources. But improvement works undertaken by D. Manuel I may have included a review or reinforcement of the well’s
conditions (perhaps deepening it to ensure more water), substantially improving that essential infrastructure. And the concern about the quality of the stone (and lime) that the King
imposed during the audit he ordered makes us assume that the
stone works, supervised by the builder Francisco Danzilho,
would be of great quality (as can be seen still today). The craftsmanship related to stone were very prominent at that time and
in the region and one only needs to recall, for example, that
Diogo Boitaca was working at that time at the construction of
the Cathedral of Guarda, in addition to other working sites in
production at the border area of the Douro and even at the region of Riba-Coa.
Almeida O Castelo de D. Dinis Filmar_Maquetación 1 27/01/14 12:36 Página 87
gundo aspecto prende-se com uma curiosa sigla que aparece
na fotografia1, distinguindo-se numa das pedras, claramente,
um pequeno desenho de um quadrado com quatro pequenos círculos nos vértices. Este sinal reproduz, porventura, a
configuração básica da obra manuelina que estaria em curso
na altura em que o poço terá sido igualmente objecto de
atenção, nos finais da primeira década do século XVI. O interesse desta leitura (a confirmar do ponto de vista da datação científica) daria resposta a dúvidas que por vezes surgem
sobre a data do aparelho do fosso, embora pensemos que as
paredes deste são capeamento directo contra o terreno e,
portanto, datando de 1508/09.
Na verdade, a natureza geomorfológica do sítio era propícia
a que se cortasse directamente o solo, o qual se apresentava
suficientemente consistente para permitir, com maior facilidade, a modelação de uma configuração rigorosa, revela-
0
5m
6.2 – ESSENTIAL DOCUMENTS
The most widely used documents, when referring to the Castle
of Almeida, is the Plant and Two Views from the Livro das Fortalezas by Duarte de Armas. Nevertheless, those drawings are
made more than two centuries after the construction of the
castle, accurately portraying the proto-modern phase of the
fortification, given the profound changes that were taking place
to adapt it to war with artillery.
But, in fact, the record of the King’s Squire, accepting the situation in 1508/09, consecrated all that was built previously allowing us to draw conclusions about the configuration of the
medieval enclosure.
In the case of Almeida, we have the unique fact that there are
two records by Duarte de Armas with different information.
Such occurrence was already explained in the previous chapter,
concluding the extreme usefulness of the specifications contai-
10
10 m
Em cima, o Castelo Manuelino e, em baixo, a
adaptação de inícios de Setecentos, na qual
permanece o substancial da barreira artilheira e
do fosso.
On top, the Manueline Castle and at the bottom,
the adaptation from the early 18th century, which
retains the essential of the artillery barrier and the
ditch.
87
Almeida O Castelo de D. Dinis Filmar_Maquetación 1 27/01/14 12:36 Página 88
0
5m
10
10 m
Observação comparativa da evolução verificada
entre o Castelo Manuelino e o Fortim Moderno,
segundo a direcção Norte / Sul, incluindo o
aumento da Igreja Matriz.
Comparative observation of the evolution seen
between the Manueline Castle and the Modern
Fort, North/South orientation, including the
extension of the Main Church.
2
As imagens consultadas do espólio fotográfico das campanhas dos anos de
1950/60, da Direcção-geral dos Edifícios
e Monumentos Nacionais, também não
mostram paredes mais antigas por detrás dos paramentos das escarpas ou das
contra-escarpas que estavam a ser objecto de conservação e de restauro.
The images consulted from the photographic collection referring to the
campaigns of the 1950s/60s, at the Direcção-geral dos Edifícios e Monumentos
Nacionais, also do not show the oldest
walls behind the walls of the escarpments
or counter-escarpments, which were being
preserved and restored.
3 Hoje reunida exaustivamente em
COBOS, Fernando e CAMPOS, João –
“Almeida / Ciudad Rodrigo – A Fortificação da Raia Central”, ed. trilingue do
Consórcio Transfronteirizo, Salamanca,
2013.
Today comprehensively collected in
COBOS, Fernando and CAMPOS, João
– “Almeida / Ciudad Rodrigo – A Fortificação da Raia Central”, trilingual edition
by Consórcio Transfronteirizo, Salamanca, 2013.
4 Classificado como Monumento Nacional, a par das Muralhas da Fortaleza.
Classified as National Monument, jointly
with the Wall of the Fortress.
(Dec. Nº 14 985, de 3/02/1928, Dec. Nº
28 536, de 22/03/1938 e ZEP de
24/04/1962.
5 Datando de 1995, na altura da infeliz
implantação do posto de transformação
de energia eléctrica, afectando a adjacência da contra-escarpa da cortina
Nascente, Arquivo da Câmara Municipal de Almeida.
Dating from 1995, at the time of the unfortunate deployment of the power station, affecting the adjacency of the
counter-escarpment of the eastern wall,
Archive of Almeida’s City Hall.
88
dora de uma geometria inovadora da época. Pelo nosso lado
nunca detectámos (como já vimos escrito) a existência de
qualquer aparelho medievo por debaixo do plano das escarpas, como se se tratasse de um capeamento mais tardio, isto
é, da época do abaluartado2. É verdade que a tectónica dos
muros do fosso sugerem atitude idêntica, enquanto natureza
técnica do trabalho permitido pelo material, mas a data não
tem necessariamente que vir dos canteiros da grande obra
moderna.
Quanto se acaba de dizer como hipótese de explicação não
implica (antes reafirma) que não existisse o poço no centro
da quadra do castelo medieval, de resto referenciado em várias fontes. Mas as obras de beneficiação empreendidas por
D. Manuel I poderão ter incluído uma revisão ou reforço das
condições do poço (porventura de aprofundamento para garantir mais água), melhorando substancialmente aquela infraestrutura essencial. E a preocupação com a qualidade da
pedra (e da cal) que o rei colocava como exigência na fiscalização mandada fazer, pressupõe que os trabalhos de cantaria orientados pelo construtor Francisco Danzilho seriam
(como ainda hoje se atesta) de grande qualidade. As artes relacionadas com a pedra eram muito salientes nessa época e
na região, para tanto bastando lembrar, por exemplo, que
Diogo Boitaca laborava então a edificação da Sé da Guarda,
para além de outros estaleiros em produção na zona raiana
do Douro e mesmo na região de Riba-Côa.
6.2 – DOCUMENTOS FUNDAMENTAIS
A documentação mais utilizada, quando se fala do Castelo
Medieval de Almeida, é a Planta e as duas Vistas do Livro
das Fortalezas de Duarte de Armas. Não obstante, esses desenhos são feitos mais de dois séculos após a construção do
castelo, retratando com propriedade a fase proto-moderna
da fortificação, face às alterações profundas que estavam em
curso para a sua adaptação à guerra com artilharia.
Mas, na verdade, o registo do escudeiro do rei, acolhendo a
situação existente em 1508/09, consagrava quanto estava rea-
ned in the field copy (the so-called Codex B, in the custody of
the National Library of Spain). In the discrepancies between
the pairs of perspectives provided by Duarte de Armas, one
came to find much useful information to proceed with the establishment of a Dionysian setting of the castle. In turn, only
from those records could one move forward with some detailed
aspects of the image of the Manueline castle.
Apart from these drawings, we have, dating back to more than
two centuries later, the Plant of Almeida’s Stronghold by Manuel de Azevedo Fortes (1736), featuring a precious note and
project regarding the castle of Almeida, already deeply changed
at that time.
These changes will be later confirmed by a prolific production
motivated by the Spanish Siege and occupation of Almeida, the
most significant episode (within Europe) of the Portuguese involvement in the Seven Years War. This information – mainly
the Spanish production owed to António Gaver and, after the
return of national sovereignty, the Portuguese materials (especially those of Jacques Funck) – will facilitate a very substantive
approach to the modern configuration of the fort which served
as the arsenal of the fortress until 1810.
Of the cartographical production that was made available3, namely elements that still need to be dated after the destruction
and loss that occurred as a result of the earthquake and tsunami
in Lisbon in 1755, we have compiled the moments that best
depict the evolution. Arriving to our days, the best and most
important document that we have is, of course, the archaeological monument4, whose analysis outweighs any other. We had
a magnificent topographical surveying5, yielding very useful
counterpoints about the ancient iconographic contents.
By electing certain hypotheses regarding the volumes of the finishes included in the Medieval Castle, transported afterwards
for two other important moments of the evolution of the fortification, we took options that don’t want to create controversy
regarding detail aspects, although there were some concessions
regarding areas depleted of information void, always pursuing
the most consensual hypothesis from the point of view of the
standards.
Almeida O Castelo de D. Dinis Filmar_Maquetación 1 27/01/14 12:36 Página 89
lizado para trás – o que nos permite tirar ilações sobre a configuração do recinto medieval.
No caso de Almeida temos o facto singular de existirem dois
registos de Duarte de Armas com disparidade de informação. Uma tal ocorrência foi já objecto de abordagem explicativa em capítulo anterior, concluindo-se pela extrema
utilidade nas especificações contidas no exemplar de campo
(o chamado Códice B, à guarda da Biblioteca Nacional de
Espanha). Nas discrepâncias entre os pares de perspectivas
fornecidas por Duarte de Armas viemos encontrar indicações muito úteis para prosseguir com a fixação de uma configuração dionisina do castelo. Por sua vez, só a partir desses
registos pudemos avançar com alguns aspectos de pormenor
da imagem do castelo manuelino.
Além desses desenhos temos, datando de mais de dois séculos após, a Planta da Praça-forte de Almeida de Manuel de
Azevedo Fortes (1736), onde se inscreve um precioso apontamento e projecto relativos ao castelo de Almeida, nessa altura já profundamente alterado.
Essas alterações são depois confirmadas por uma prolífica
produção motivada pelo Cerco e ocupação de Almeida pelos
espanhóis, como episódio mais significativo (no território
europeu) do envolvimento português na Guerra dos Sete
Anos. Essa informação – principalmente a produção espanhola devida a António de Gaver e, em consequência do retorno à soberania nacional, os materiais portugueses
(mormente os de Jacques Funck) – vai facilitar uma aproximação muito substantiva à configuração moderna do fortim
que serviu de arsenal à fortaleza até 1810.
Da produção cartográfica que passou a dispor-se3, designadamente por datar depois da destruição e perda que terá
ocorrido em consequência do terramoto e do maremoto de
Lisboa de 1755, respigámos os momentos que melhor retratam a evolução. Chegados aos nossos dias, o melhor e mais
importante documento de que dispomos é, evidentemente,
o monumento arqueológico4, cuja análise sobreleva quaisquer outros. Dispusemos de um magnífico levantamento topográfico5, originando contrapontos muito úteis sobre os
conteúdos iconográficos antigos.
0
6.3. – SYNTHESIS OF THE EVOLUTION
We have three moments limited in the description of the road
travelled between the end of the 13th century: after the Foundation period, the major change occurs about two centuries
later, in the beginning of the 16th century, adapting to meet
the new demands of the war effort and in correspondence with
the novelties being transported by the power and image of Castile, under the Catholic Monarchs; in turn, two centuries later,
at the beginning of the eighteenth century, the military apparatus is again reconfigured against the destruction caused by
natural elements on the medieval structures.
To present the evolution cluster, we chose, apart from the
plant from the three phases (see pages 82-83), a succession
of drawings of longitudinal and transverse profiles regarding
each one of them. Through the observation of these interpre-
5m
10
1
0m
O perfil Nascente / Poente do Castelo
Manuelino aparece, no alto da página,
desdobrado com a hipótese da existência de
adarve sobre abóbadas entre a muralha
medieval e a nova barreira artilheira, ou
somente com o novo muro adstrito à escarpa do
fosso. Na verificação da evolução do tempo do
abaluartado destaca-se a existência do grande
paiol à prova de bomba.
The East / West profile of the Manueline Castle
appears, at the top of the page, unfolded with the
hypothesis that there were battlements over the
vaults between the medieval wall and the new
artillery barrier or merely with the new wall
attached to the scarp of the ditch. During the
verification of the evolution during the
bulwarked period, there is the great bomb-proof
magazine.
89
Almeida O Castelo de D. Dinis Filmar_Maquetación 1 27/01/14 12:36 Página 90
Ao elegermos certas hipóteses de volumetrias ou de remates
que se inscreveriam no Castelo Medieval, transportadas depois
para os dois outros momentos fulcrais da evolução da fortificação, fizemos opções que pretendem não polemizar sobre aspectos de pormenor, embora tenha havido algumas concessões
perante zonas de vazio informativo, sempre perseguindo a hipótese mais consensual do ponto de vista da norma.
6.3 – DESCRIÇÃO SUMÁRIA DA EVOLUÇÃO
6
Essa ausência de elementos interessantes para constarem de uma representação terá resultado na decisão de
Duarte de Armas de dar as duas vistas
do castelo no lado oposto e a partir de
ângulos próximos. Esta interpretação –
conjuntamente com a evidência (em
ambas as perspectivas) de não representação de qualquer muro de defesa da
aglomeração de casario com a sua igreja
– é uma razão que, em conjunto com
outros indicadores de carácter topográfico e com a falta de evidências arqueológicas, nos levam a duvidar da hipótese
de ter existido uma cerca medieval ovalada, admitida por Margarida da Conceição (“Da vila cercada à praça de
guerra: formação do espaço urbano em
Almeida”, Lisboa, 2002).
This absence of interesting elements to
feature in a representation resulted in
Duarte de Armas’ decision from including two views of the castle on the opposite side and from close angles. This
interpretation – together with the evidence (in both perspectives) of not representing any defence wall of the cluster of
houses with their church – is a reason
why, together with other topographical indicators and the lack of archaeological
evidences, make us question to hypothesis
of the existence of an oval-shaped medieval fence, admitted by Margarida da
Conceição (“Da vila cercada à praça de
guerra: formação do espaço urbano em
Almeida”, Lisboa, 2002).
90
São três os momentos balizados na descrição do caminho
percorrido desde os finais do século XIII: depois dos tempos
fundacionais, a grande alteração ocorre cerca de dois séculos
depois, nos começos de Quinhentos, adaptando a resposta às
novas exigências da guerra e em esforço de correspondência
com as novidades que transportam o poder e a imagem de
Castela, sob os Reis Católicos; por sua vez, dois séculos após,
pelos inícios de Setecentos, reconfigura-se o dispositivo militar face à destruição que os elementos da Natureza provocaram nas estruturas medievais.
Escolhemos para a apresentação de conjunto da evolução,
além das plantas das três fases (ver págs. 82-83), uma sucessão
de desenhos dos perfis longitudinais e transversais relativos
a cada uma delas. Será através da observação destes elementos
de interpretação que basearemos a explicação do percurso
histórico do Monumento de Almeida.
No primeiro grupo de desenhos mostramos o Castelo de D.
Dinis com dois cortes ortogonais (pág. 83), seguido de um
perfil do Castelo Manuelino e do Fortim do século XVIII
(pág. 81).
Para facilitação da leitura da informação contida nos perfis
repete-se, em tamanho menor, a situação do tempo de D. Manuel e a alteração verificada na fase moderna, com o contorno
da situação anterior em fundo. Do mesmo modo dá-se a explicação gráfica da hipótese de a adaptação da barreira artilheira não ter tido um adarve completo entre a muralha do
castelo de D. Dinis e a nova cortina da escarpa, sem espaço
construído com galeria utilizável (ou até sem preenchimento
com terrapleno), ficando livre o espaço intersticial entre a implantação inicial e o novo perímetro.
Finalmente (ver pág. 85), aborda-se a situação actual, com o
desenho de um perfil do sítio arqueológico pelo fosso da cortina Poente, tendo em delineamento de fundo a imagem do
alçado do Castelo Manuelino. Este é o lado que os desenhos
de Duarte de Armas não abordam, pelo que pensamos que
tation elements, we will base the explanation of the historical
path of Almeida’s Monument.
In the first group of drawings, we show the Castle of D. Dinis
with two orthogonal sections (page 83), followed by a profile
of the Manueline castle and the 18th century fort (page 81).
To facilitate the reading of the information contained in the
profiles, there is the repetition, in smaller size, of the situation during D. Manuel’s time and the change to the modern
stage, with the outline of the previous situation in background. Likewise, we provide the graphical explanation of
the hypothesis of the adaptation of the artillery barrier not
having a full battlement between the wall of the castle of
King Dinis and the new curtain of the escarpment without
the space built with a usable gallery (or even without being
filled with embankment), leaving the interstitial space between the initial deployment and new perimeter free.
Finally (see page 85), there is the approach to the current situation, with the drawing of the profile of the archaeological
site from the western curtain, with the outline, at the background, of the façade of the Manueline Castle. This is the
side that the drawings of Duarte de Armas do not encompass, reason why we consider that during his passage
through Almeida the works on this side were still not expressive, while this side has little use for urban or any other type
of construction6.
The diagrams that complete the general presentation of the
evolution are two plants: the first may almost be considered an
extension to the medieval situation if not for the substantial
changes on the entrance (and in the church’s dimension); the
second plant shows the juxtaposition of the 18th-century fort
– which almost corresponds to the disappearance of the medieval castle. In both cases, these records are based, from a drawing point of view, in the reconstitution tested for the set of
the Manueline ditch, from the current topographical survey.
6.4. – THE CASTLE OF D. DINIS:
A RETROSPECTIVE VISION
6.4.1 – THE CONSTRUCTION OF A
GEOGRAPHICAL NOTION OF THE KINGDOM
The political conditions in the map of the Peninsular were
strategically perceived by D. Dinis: apart from the on-going
presence of the Moors (in whose expulsion the peninsular
Almeida O Castelo de D. Dinis Filmar_Maquetación 1 27/01/14 12:36 Página 91
na altura da sua passagem por Almeida os trabalhos deste
lado não teriam ainda expressão, sendo esta uma vertente
pouco propícia ao uso urbano ou de outro tipo6.
Os diagramas que completam a apresentação geral da evolução são duas plantas (ver pág. 85): a primeira quase que se
pode considerar um acréscimo da situação medieval, não fossem as alterações substantivas na entrada (e na dimensão da
igreja); a segunda planta mostra a sobreposição do fortim Setecentista – o que quase faz corresponder ao desaparecimento
do castelo medieval. Em ambos os casos esses registos são feitos tendo como base de desenho a reconstituição ensaiada
para o conjunto do fosso manuelino, a partir do levantamento
topográfico actual.
6.4 – O CASTELO DE D.DINIS:
UMA VISÃO RETROSPECTIVA
6.4.1 – A CONSTRUÇÃO DE UMA
IDEIA GEOGRÁFICA DO REINO
As condições políticas no mapa da Península foram estrategicamente percebidas por D. Dinis: além da continuada presença dos Mouros (em cuja expulsão continuavam
empenhados os reinos cristãos peninsulares), Portugal era
aliado de Aragão, desde o seu casamento, estando este reino
interessado igualmente em pressionar Castela, tal como acontecia com Navarra, senhoreada pelo rei de França, Filipe IV.
Por outro lado, D. Dinis soube explorar as disputas intestinas
das nobrezas leonesa e castelhana, num quadro em que o rei
de Leão e Castela, Fernando, então menor de idade, era representado por sua mãe, Maria de Molina e pelo tio de seu
pai, o rei D. Sancho IV (1258-1295). Fernando IV só completaria os 16 anos, tomando posse como rei, em 1301. No ano
seguinte, cumprindo o estatuído no Tratado de Alcanices
(1297), casou-se em Valladolid com Constança, infanta de
Portugal, filha da Rainha Santa Isabel, de Aragão, e do rei D.
Dinis de Portugal.
Na complexa teia político-social, militar e diplomática do
Ocidente europeu no final de Duzentos, um rei como D.
Dinis conseguiu dominar um conhecimento estratégico e táctico absolutamente notáveis. Tal só era possível – operando
decisões que tinham lugar quase simultaneamente em todo
o jogo de fronteiras (incluindo a marítima, como sucedeu
com o assédio naval acometido a Lisboa) – dispondo de um
Christian kingdoms were engaged), Portugal was an ally of
Aragon, since his marriage, while this kingdom was also interested in pressuring Castile, such as happened with Navarra, mastered by the King of France, Philip IV.
On the other hand, D. Dinis was able to explore the internal
disputes occurring between the Leonese and Castilian nobilities, within a situation in which the king of León and Castile, Fernando, under age at the time, was being represented
by his mother Maria de Molina and his father’s uncle, King
Sancho IV (1258-1295). Fernando IV would only complete
16 years of age, taking over as king, in 1301. The following
year, fulfilling the requirements established in the Treaty of
Alcanices (1297), he married in Valladolid with Constança,
Princess of Portugal, daughter of Queen Saint Isabel of Aragon, and King Dinis of Portugal.
In this complex political, social, military and diplomatic web
of the European West at the end of 13th century, a king such
as D. Dinis was able to master an absolutely remarkable strategic and tactical knowledge. This was only possible - operating decisions that took place almost simultaneously across
the entire game of frontiers (including the maritime one, as
happened with the naval harassment that affected Lisbon) –
by having available a mental knowledge of the map that he
wanted to define for the contours of Portugal. For that extent,
he used every means within his reach to perfectly clarify all
limits of the territory.
The so-called Guarda Campaign (1296) that anticipates, as a
war action with great repercussion, the establishment of the
frontiers at Alcanices, has contours of a truly Medieval rawness, which cannot be intrinsically related to the diplomatic
treatment used in the preparation of acts and the protocols
faithfully followed in the wording of the treaties of peace and
friendship. Rui de Pina, in his Crónica do Rei D. Dinis, has no
problem in reporting that, after the King arrived at the frontier
with his people, “with all malevolence entered Castile, killing
and burning and destroying everything that his men could
find, making the biggest and crudest war they could, and the
Portuguese at front took over a castle by force, called Torres,
and many people found it all were killed”, carrying on with the
description continues reporting that the advance of the troops
did not respect neither churches nor the age or condition of
the people, like, in fact, the Castilian troops did. After taking
Ciudad Rodrigo and Ledesma and occupying Torres, the army
continued "making raw war without any resistance or contradiction, forty leagues into Castile” until Simancas, where D.
91
Almeida O Castelo de D. Dinis Filmar_Maquetación 1 27/01/14 12:36 Página 92
Visão retrospectiva da imagem dos volumes,
perspectivados em direcção ao céu, das torres
principais do Castelo Medieval de D. Dinis.
Posicionado o observador em direcção à
entrada, antecipa-se-lhe uma pequena barbacã
de protecção. A segurança da porta era
reforçada por um balcão de “mata-cães”.
Estes, também designados tecnicamente por
“machicoulis”, assinalam o aspecto guerreiro da
edificação, marcando os quatro lados do alto
prisma da torre de menagem.
Retrospective vision of the image of the volume,
put into perspective towards the sky, of the main
towers of King Dinis’ Medieval Castle. With the
observer positioned towards the entrance, one
sees a small protection barbican. The door’s safety
was reinforced by a balcony with machicolations.
These, also technically called machicoulis,
marked the building’s warrior aspect, setting the
four side of the high prism of the keep.
conhecimento mental do mapa que queria para definir os
contornos de Portugal. Para isso usou todos os meios ao seu
alcance para deixar os limites do território absolutamente esclarecidos.
A chamada Campanha da Guarda (1296), que antecede,
como acto bélico de grande repercussão, a fixação das fronteiras em Alcanices, tem contornos de uma crueza verdadeiramente medievalesca, pouco compaginável com o trato
diplomático que é usado nos contornos preparatórios dos
actos e com os protocolos fielmente seguidos à risca na letra
dos tratados de paz e amizade. Rui de Pina na sua Crónica do
Rei D. Dinis não se coíbe de relatar que, chegado o rei à fronteira com as suas gentes, “com toda malquerença entrou em
Castela, matando e queimando e destruindo toda a coisa que
os seus achavam, fazendo maior e mais crua guerra que podiam, e tomaram os portugueses na frontaria um castelo pela
força, que chamam Torres, e quantas gentes nele acharam
todas foram mortas” continuando na descrição a relatar que
o avanço das tropas não respeitavam igrejas nem olhavam à
idade ou condição das pessoas, à semelhança, aliás, do que
faziam as tropas castelhanas. Depois de tomada Ciudad Rodrigo e Ledesma, e ocupado Torres, o exército prosseguia “fazendo crua guerra sem alguma resistência nem contradição,
quarenta léguas por Castela” até Simancas onde estava D. Fernando IV de Leão. Na vila os soldados portugueses entraram
sem qualquer reverência, despedaçaram as imagens dos santos, roubaram tudo e mataram a eito quantos no templo se
refugiaram, sem olhar a idade.
Na base de tal furor seria de pensar que D. Dinis avançasse
sobre Simancas para sujeitar o seu opositor, humilhando-o.
92
Ferdinand IV of León was. The Portuguese soldiers entered
the village without any reverence, smashed the saints, looted
everything and killed many that took refuge in the temple in
rows, without any regards to age.
At the basis of such wrath, one would think that D. Dinis
would move forward to Simancas to subject his opponent,
humiliating him. However, for logistical reasons or at the insistence of the prayers from the queen or to save the prenuptial agreement for the marriage of his daughter, D. Constança
with the King of Leon (already contracted to be part of a
truce with Portugal), the truth is that D. Dinis gives some
time to redefine things under the terms that, more or less,
had already been arranged – giving his antagonist time to
gather the courts in Zamora (where they would propose
peace with Portugal), and this time it was for real, as came
to be in the Alcanices at the gates of Simancas, months later.
According still to the Chronicle of Rui de Pina, one year and
three months of war had passed and the King retreated to
Portugal (according to the Chronicler, upon request from
the Castilians), but maintained every castle of the conquest
of Riba-Côa occupied and with garrisons. In the meantime,
with the means focusing on the border of the Beira region,
Castile ordered an attack to Lisbon by naval forces stationed
in Seville, occurring a naval battle off the coast of the Alentejo to rescue the ships that had been arrested, fully loaded,
in Lisbon "there was a great and raw war but finally the Admiral of Portugal was victorious and took his ships and galleys from his enemies and others that he could carry and
brought everything to the port of Lisbon”.
Almeida O Castelo de D. Dinis Filmar_Maquetación 1 27/01/14 12:36 Página 93
Porém, por razões logísticas ou por insistência das preces da
rainha, ou então para salvar o acordo pré-nupcial de união
de sua filha, D. Constança, com o rei de Leão (já contratado
para fazer parte das tréguas com Portugal), a verdade é que
D. Dinis dá campo para que se redefinam as coisas nos termos em que mais ou menos se havia combinado – dando
tempo para o antagonista reunir as cortes em Zamora (onde
se proporia a paz com Portugal), e para que desta vez fosse
para valer, como o veio a ser em Alcanices, às portas de Simancas, meses depois.
Tinham sido, seguindo ainda a Crónica de Rui de Pina, um
ano e três meses de guerra e retirava-se o Rei para Portugal
(segundo o Cronista a rogo dos Castelhanos), mas mantendo
todos os castelos da conquista de Riba-Côa ocupados e guarnecidos. No interim, com os meios centrados na região fronteira da Beira, Castela ordenara ataque a Lisboa por meio das
forças navais estacionadas em Sevilha, ocorrendo uma batalha naval ao largo da costa alentejana para resgatar as naus
que tinham sido apresadas, carregadas, em Lisboa, “onde
todos houveram grande e crua guerra, mas enfim o Almirante de Portugal ficou vitorioso e tomou aos contrários suas
naus e galés, e mais as que consigo levavam, e trouxe tudo ao
porto de Lisboa.”
Entretanto D. Dinis aprontara e concedera foral a Almeida
(que terá implicado a sua refundação), declarada assim povoação e castelo portugueses antes do Tratado dos Limites e
apresentando a carta de privilégios concedidos em Alcanices,
subscrita pelos nomes mais sonoros do Reino, incluindo toda
a representação do Clero, ao seu mais elevado grau de representação formal.
Percebe-se hoje o sentido de futuro que a preocupação do rei
português transmitia em relação ao território ribacudano.
Realmente, a Raia Central era a chave da pacificação no interior do mapa português, sendo como era uma das principais
chaves da entrada no reino a partir de Castela. Por isso, todos
os castelos das Terras do Cimo do rio Côa, incluindo os que
foram pertença leonesa, sofreram reforços importantes para
a capacidade de defesa. Almeida é um caso paradigmático,
posto ser aquele que mais se afasta de uma morfologia do território natural para o visionamento de uma linha de divisão
de soberanias. No total da Raia Central eram nove os castelos
integrados no lado português: Almeida, Alfaiates, Castelo
Bom, Castelo Melhor, Castelo Rodrigo, Monforte, Sabugal,
Vilar Maior e San Felices de los Gallegos (que regressará intermitentemente a várias posses, ficando castelhana). No Sul,
Meanwhile, D. Dinis created and granted a charter letter to
Almeida (which caused the village to be founded once
again), thus being declared a Portuguese village and castle
before the Treaty of Limits and presenting the charter of the
privileges given in Alcanices, subscribed by the most famous
names of the kingdom, including the representation of all
clergy at its highest level of formal representation.
Today, one understands the sense of future that D. Dinis’
concern transmitted regarding the territory of Ribacoa. In
fact, the central frontier was the key to pacify the inland of
the Portuguese map, since it was one of the main entry points
in the kingdom from Castela. Therefore, all castles of the
lands above the river Coa, including those that had once belonged to the Leonese, suffered important reinforcement in
their defensive capacity. Almeida is a paradigmatic case,
since it is the most drawn from a natural territorial morphology to vision a line that divides kingdoms. In total at the
Central Raia there were nine castle integrates in the Portuguese side: Almeida, Alfaiates, Castelo Bom, Castelo Melhor,
Castelo Rodrigo, Monforte, Sabugal, Vilar Maior e San Felices de los Gallegos (which will intermintently belong to different kingdom, in the end Castilian). To the south, the
Treaty only recognizes the integration in Portugal of Campo
Maior, Ouguela and Olivenza (today administered by Spain).
No seu conjunto, as imagens tridimensionais
deste ponto reconstituem uma visão possível do
Castelo de Almeida nos finais do século XIII. As
bases documentais em que nos baseamos são o
monumento arqueológico e o registo de Duarte
de Armas no Livro das Fortalezas. Nesta
prospecção ao estado antigo da fortificação
inscreve-se a implantação hipotética da igreja
matriz, cuja evolução e desaparecimento andou
de par com a história da própria fortificação.
As a whole, the tridimensional images on this
point put together a possible vision of the Castle
of Almeida towards the end of the 13th century.
The documental evidences, which serve as a
basis, are the archeological monumento and the
record of Duarte de Armas in his Livro das
Fortalezas. In this prospection to former state of
the fortification falls the hypothetical
implantation of the mother church, whose
evolution and disappearance walked hand in
hand with the history of the fortification itself.
93
Almeida O Castelo de D. Dinis Filmar_Maquetación 1 27/01/14 12:36 Página 94
The Castilian fortification of the new frontier will appear
later, except for the case of the castle of Ciudad Rodrigo, built
by Enrique II of Castile in 1371-1372 to control the city that
had taken the side of the Portuguese king two year earlier7.
6.4.2 – A PHYSIOGNOMY FOR CASTLE D. DINIS
Passing by some uncertainty regarding the place where Almeida was founded, it seems possible to admit that the creation of a fortified structure occurred by order of D. Dinis at
the end of the 13th century, changing the location of the village with a Roman/Muslim origin (eventually with a fence
or small castle), reconquered by the knights of St. Julian, stationed near Cinco Vilas (Pinhel). This process is related to
the Christian Reconquista in the area, during which Almeida
remained under Leonese rule at that time.
If not grounded by the area’s historical knowledge, there
wouldn’t be a reason for Antonio de Gaver, the most qualified Spanish engineer that studied and drew Almeida (during the Spanish occupation of 1762/63), to say that the castle
that existed inside the Stronghold had been ordered by the
Portuguese king D. Dinis8, because if it had a Leonese origin,
he would have most certainly said so.
Perhaps the settlement and the corresponding protection (of
probable Arabic origin) of the initial core of Almeida have
been restored and improved in the Leonese time, but this occurred at a point where it became a primitive occupation, a
few hundred meters from the new Portuguese foundation.
The involvement of King Dinis in the complex, belligerent
and diplomatic plot, which occupied him during the RibaCoa campaign with an attitude of affirmation of sovereignty
very focused on the consignment of the borders at the central frontier, justifies the decision to build a symbol-fortification, as expressive as it might be to serve as an immovable
landmark of the dividing line that was intended to be achieved.
For the dimensions, number and type, it is easy to perceive the
reach of the meaning of the keeps built in the Lands of RibaCôa: Almeida, building a strong and high tower (and the one
being analyzed in retrospective9) in Vilar Maior and Sabugal,
and yet another starting in Penamacor, a little further South.
Almeida’s keep would be, judging from the indications of
Duarte de Armas, in line with the most salient cases of the
border fortification program desired by D. Dinis. The medieval delineation of the separation of the kingdom of Portugal will culminate, in a quite simple fashion, in Olivenza,
94
Almeida O Castelo de D. Dinis Filmar_Maquetación 1 27/01/14 12:36 Página 95
o Tratado apenas acolhe a integração em Portugal de Campo
Maior, Ouguela e Olivença (hoje administrada por Espanha).
A fortificação castelhana da nova fronteira será mais tardia,
excepto no caso do castelo de Ciudad Rodrigo, construído por
Enrique II de Castela em 1371-1372 para controlar a cidade
que havia tomado o partido do rei D. Fernando de Portugal
dois anos antes7.
6.4.2 – UMA FISIONOMIA PARA
O CASTELO DE D. DINIS
Passando ao lado de alguma incerteza sobre o lugar de fundação de Almeida, parece ser de admitir que a criação de uma
estrutura fortificada terá ocorrido por determinação de D.
Dinis, no final do século XIII, mudando o lugar da povoação
de origem romana/islâmica (eventualmente com uma cerca
ou pequeno castelo), reconquistada pelos cavaleiros de S. Julião do Pereiro, instalados perto de Cinco Vilas (Pinhel). Este
processo refere-se à Reconquista Cristã na zona, tendo Almeida permanecido nessa altura sob soberania Leonesa.
Se não radicasse no conhecimento histórico da zona, não haveria razão para que Antonio de Gaver, o mais qualificado Engenheiro espanhol que estudou e desenhou Almeida (durante
a ocupação espanhola de 1762/63), dissesse que o castelo que
existia dentro da Praça-forte tinha sido mandado fazer pelo
rei português D. Dinis8, pois se tivesse origem Leonesa, decerto ele o afirmaria.
João Baptista Henriques afirma na sua Corografia de 1691 que
foi D. Dinis quem “fabricou o castelo”, passando “a povoação
para onde hoje se encontra em 1296”, data que coincide com
o movimento em torno da afirmação de posse da posição estratégica para a integração do território ribacudano.
Na Corografia do Padre António Carvalho da Costa, do início
do século XVIII, diz-se que “El-rei D. Dinis a fundou no sítio
em que hoje está, mandando fabricar o seu castelo, que El-rei
D. Manuel reedificou pelos anos de 1509”
No “Portugal Antigo e Moderno”, Pinho Leal explica mais
completamente a passagem de mãos na Reconquista e a transferência do sítio, correlacionando a fundação do castelo medieval em nova localização com o foral que lhe atribuiu D.
Dinis.
Porventura, o povoamento e a correlativa protecção (de provável origem árabe) do núcleo inicial de Almeida, haviam sido
restaurados e melhorados no tempo Leonês, mas tal ocorrera
num ponto em que assentou uma primitiva ocupação, a escassas centenas de metros da nova fundação Portuguesa.
already during the times of D. João II, but still carrying all
the inheritance of the past dynasty.
The landscape of Almeida would be punctuated, at the time
of the construction of the Castle, by other building (the
church that, together, would aggregate a village) and, in the
opposite side of the place for the construction of the houses,
a steep cliff. The walls turned their back to the South/West
corner, there naturally protected naturally by the orographic
aggressiveness. On the opposite side was the entrance to the
fortified enclosure, from which the urban settlement that D.
Dinis granted a charter to as early as 1296 would germinate,
on the eve of claiming ownership over the region and achieving its possession by the Treaty of Alcanices.
Also, one wants to underline the issue of the place’s morphology, radically different from the one offered today, given the
deep changes produced with the construction of the Interior
Gates of Santo António, in the modern enclosure of the
Stronghold. There, a filling of lands was verified (17th/18th
centuries), whose volume is largely supported for the structural reinforcement of the blind arches for passageways, as
well as the curving of the retaining wall.
Regarding the expression built within the walls, one is far from
being able to ensure how it was initially. We know that the well
was there, exactly at the point where the topography confirms,
which (as in Olivenza) would have a square section.
As in the other sets of images, referring to the following stages, the principle adopted was to extract all that could offer
the intersection of the reading made from the drawings by
Duarte de Armas with the topographical features of the survey carried out some fifteen years ago. Nevertheless, neither
the amount nor the qualitative distinctions of the topogra-
7
COBOS, F. y CASTRO, J. - Castilla y
León, castillos y fortalezas, León, 1998,
p. 90.
8 A afirmação está contida na descrição
da sua Planta de Almeida, de 1763, a
qual se transcreve à frente, na caracterização do fortim moderno.
The affirmation is found in the description of his Plant of Almeida, of 1763,
which is transcribed hereinafter, in the
characterization of the modern fort.
95
Almeida O Castelo de D. Dinis Filmar_Maquetación 1 27/01/14 12:36 Página 96
9 Algumas imagens idênticas, incluindo
perspectivas cónicas, foram já oferecidas
pelo Eng. Callabuig, conforme referimos. Neste livro (além de questionarmos a entrada da fortificação na fase
manuelina), alargamos a amostra em
número e em descrição evolutiva, utilizando outra metodologia de representação.
Some identical images, including conical
prospects have already been offered by
Engineer Callabuig as mentioned. In this
book (apart from questioning the issue of
the entry to the fortification during the
Manueline phase), we expand the sample
in numbers and in evolutionary descriptions, using another method of representation.
96
O envolvimento do rei D. Dinis na trama complexa, guerreira
e diplomática, que o ocupou na campanha de Riba-Côa, com
uma atitude de afirmação de soberania muito focada na consignação da fronteira da raia central, justificam que houvesse
decidido pela erecção de uma fortificação-símbolo, tão expressiva quanto pudesse servir para constituir um marco inamovível da linha de divisão que era intento alcançar.
Pelas dimensões, pelo número e pela tipologia será fácil perceber o alcance do significado das torres de menagem concretizadas nas Terras de Riba-Côa: em Almeida, construindo
uma torre forte e alta (e a que retrospectivamente estamos
dando visão9), em Vilar Maior e no Sabugal, e ainda iniciando
outra, em Penamacor, um pouco mais para Sul.
A torre de menagem de Almeida estaria, a avaliar pelas indicações de Duarte de Armas, na linha dos casos mais salientes
do programa de fortificação da fronteira desejado por D.
Dinis. O pontuamento medieval da separação do reino de
Portugal irá culminar serodiamente em Olivença, já em tempos de D. João II, mas ainda transportando toda a herança da
dinastia passada.
A paisagem de Almeida seria marcada, na altura da construção do Castelo, por outra edificação (a igreja que, em conjunto,
agregaria um povoado) e, na vertente oposta ao local de implantação do casario, uma falésia escarpada. As muralhas viravam costas ao ângulo Sul / Poente, aí protegidas
naturalmente pela agressividade orográfica. No lado oposto
era a entrada do recinto fortificado, junto da qual germinaria
o assentamento urbano a que D. Dinis concedeu foral, logo
em 1296, nas vésperas de reivindicar a região e conseguindo
a sua posse pelo Tratado de Alcanices.
Igualmente se pretende sublinhar a questão da morfologia do
sítio, radicalmente diferente da que hoje se nos oferece, dada
a alteração profunda operada com a construção das Portas Interiores de Santo António, no recinto moderno da Praça-forte.
Aqui verificou-se (séc. XVII / XVIII) um preenchimento de
terras cujo volume é suportado, em grande medida, pelo re-
phic registration attributable to Dionysian times are particularly large, except in the curtain of the medieval wall of
the West side and the tower of the North/East corner.
6.5 – THE CASTLE OF D. MANUEL
AND THE BREAKTHROUGHS
IN THE ART OF FORTIFYING
We had the opportunity to provide, in both previous chapters,
some considerations on the background and conclusions on
the work ordered by D. Manuel, as to adjust Almeida to the
pyro-ballistic techniques demanded by warfare.
In the assessments conducted, we saw the distinctive signal
that the sovereign wished to give the Castle inherited from
the times of D. Dinis, even by emulation resulting from the
counterpoint that Almeida materializes from the point of
view of the assertion of sovereignty in the face of Castile,
after the works of extraordinary adaptation that had been
implemented in Medina del Campo.
In spite of this all, this was a time when the relationships
between Portugal and Spain “were quite friendly and the
political ambition of the peninsular unit under the aegis of a
Portuguese prince seemed to be well accepted by both
parties. It is certain that in the «peace treaty» signed between
D. Afonso V and his son D. João and the Catholic kings,
formed in Toledo on 6th March 6, 1488, one of the chapters
stipulated that both parties had to “destroy all fortresses that
were built again in their respective kingdoms, at the dry
frontier, after the Portuguese king had entered in Castile...»10.
And, in fact, some fortresses, towers and strong houses were
destroyed, built at the time on both sides of the border11.
However, Rui de Pina reports that, in the beginning of 1488,
although peace was maintained with Castile, D. João II ordered to “supply and strengthen and repair all cities, villages
and castles of the limits of his kingdoms and, thus, in that
year, he orders the beginning of the ditch and towers of
Almeida O Castelo de D. Dinis Filmar_Maquetación 1 27/01/14 12:36 Página 97
forço estrutural dos arcos cegos no trânsito da passagem, bem
como pelo encurvamento da parede de contenção.
No que se refere à expressão construída dentro das muralhas,
estar-se-á um pouco longe de se poder garantir como seria
nos tempos iniciais. Sabemos que estava lá o poço, exactamente no ponto que a topografia nos confirma, o qual (como
o de Olivença) tinha secção quadrada.
Como nos outros conjuntos de imagens, referidos às fases seguintes, o princípio adoptado foi o de extrair tudo quanto poderia oferecer o cruzamento da leitura dos desenhos de Duarte
de Armas com os elementos topográficos do levantamento
efectuado há uma quinzena de anos. Não obstante, nem a
quantidade nem a destrinça qualitativa do registo topográfico
atribuível ao tempo dionisino são particularmente extensos,
excepto na cortina da muralha medieval do lado Poente e na
torre do ângulo Norte / Nascente.
6.5 – O CASTELO DE D. MANUEL
E OS AVANÇOS DA ARTE DE FORTIFICAR
Tivemos ocasião de fazer, nos dois capítulos anteriores, algumas apreciações sobre o enquadramento e conclusões acerca
da obra mandada realizar por D. Manuel, no sentido de dotar
Almeida do ajustamento que as técnicas pirobalísticas da
guerra implicavam.
Nas apreciações feitas vimos um sinal distintivo que o soberano pretendeu dar ao Castelo herdado dos tempos de D.
Dinis, até por emulação resultante do contraponto que Almeida concretiza, do ponto de vista da afirmação da soberania
face a Castela, depois das obras de adaptação extraordinárias
que tinham sido executadas em Medina del Campo.
Apesar de tudo, era um tempo em que as relações entre Portugal e Espanha “eram bastante amistosas e a ambição política
da unidade peninsular sob a égide de um príncipe português
parecia ser bem aceite por ambas as partes. É certo que no
«tratado de pazes», celebrado entre D. Afonso V e seu filho D.
João e os reis Católicos, conformado em Toledo a 6 de Março
de 1488, um dos capítulos estipulava quer as duas partes fizessem «derribar todalas fortalezas que novamente tinham
sido feitas em os ditos seus reinos, na raia, depois que o rei de
Portugal entrara em Castela…»10. E, efectivamente, foram destruídas algumas fortalezas, torres e casas-fortes, levantadas
então dos dois lados da fronteira11. No entanto, Rui de Pina
relata que, no começo de 1488, conquanto houvesse paz com
Castela, D. João II mandou «prover e fortalecer e repairar todalas cidades, vilas e castelos dos extremos de seus reinos; e
assim, nesse ano, mandara começar a cava e torres de Olivença, o que os reis de Castela quiseram por rogos impedir
mas sem resultado»12. Estas precauções continuam a ser tomadas por D. Manuel, apesar de jurado príncipe de Castela,
Olivenza, which the kings of Castile tried stopping with
pleads, but without result»12. These precautions continued
to be taken by D. Manuel, although he was the sworn prince
of Castile, Leon, Aragon, Sicily, and Granada, after his
marriage to D. Isabel, daughter of the Catholic Monarchs.”13
In Chapter 4, we noted how Almeida became the king’s desired exponent, exhibiting in the Livro de Duarte de Armas a
singular record, granted from the start by the importance of
the imagery of the heraldry. As we have seen, the Castle of
Almeida is, among the 55 represented castles, the one that
appears ornamented with the greatest number of flags topping
the towers, in a total of five in both views representing the
castle, although the national flag is repeated.
On this view of the Northeast, there is also an exceptional
triangular and decorative garland, with two armillary spheres
and a long tail which extends over the castle. The mast is
implanted in the recently renewed artillery device at the angle
of the high curtain. In the other double folio, representing the
perspective over Southern Almeida, represents three more
symbols: the repetition of the kingdom’s flag on top of the
keep, the flag of the Order of Christ and a square flag with the
royal symbol of the armillary sphere.
We will dwell on other aspects of the drawings by Duarte de
Armas later on, as to emphasize the technical and interpretative
aspects contained in the information they maintain.
In Chapter 5, when considering the fortification of Almeida
as the most relevant one in the military context of European
transitional architecture, we incite a comparison with the
remarkable Castilian cases of La Mota (mentioned above) and
Salces. One of the contributions of this study, with the
reconstruction of images that are published, may be the
recognition of this fact as an accepted ground for the
historiography of the subject, which will allow new advances,
especially when combined with a great effort for the
preservation and deepening of knowledge and its promotion.
The scarceness of iconography on the castle of Almeida is
quite expressive. After the spectacular collection of documents of Livro das Fortalezas, one falls into an absence of
over two centuries without records of the configuration of
Almeida. In reality, after 1510, the drawing available is the
Plant of Almeida by Chief-Engineer Manuel de Azevedo;
after 1510, Fortes, dating back to 1736.
The catastrophe causing the loss of the fortification’s medieval layout had already happen, without any other record
apart from those produced by Duarte de Armas. There isn’t
even a drawing of the project of the great Fortress, the Central Shield of the Kingdom, while the authors of the fortress
still remain unknown.
The new original known, due to the Kingdom’s Chief-Engineer, is related to the works to complete the Stronghold that
10
ANTT –“Livro de Demarquações
dentre estes Regnos e os de Castella e de
contractos de pazes”, coligido por Fernão de Pina, liv. 64 da “Leitura Nova”, fl.
135.
11 Id., «Cartas Missivas», Maço 2, Nº
310.
12 Rui de Pina, “Chrónica d’El-Rei D.
João II, in «Col. dos Livros Inéditos da
Hist. de Portugal, tomo 2, cap XXX, Lisboa, 1792.
13 CASTELO BRANCO, Manuel da
Silva - Introdução, in ARMAS, Duarte
de, “Livro das Fortalezas”, pp. 4-5,
ANTT, Lisboa, 1990.
97
Almeida O Castelo de D. Dinis Filmar_Maquetación 1 27/01/14 12:36 Página 98
Reconstituição da visão do observador do
século XVI, saindo da porta lateral da Igreja
Matriz e dirigindo-se para o Castelo, com a
barreira artilheira antecedida de fosso e ponte
levadiça dando acesso à porta nova
Reconstitution of the vision of the 16th century
observer, exiting the Mother Church’s lateral door
and heading towards the Castle, with the
artillery barrier preceded by a ditch and
drawbridge giving access to the new door.
Nesta página e nas seguintes deste ponto pode
observar-se o conjunto do castelo manuelino
com os “cubos” redondos nos quatro cantos, e
que tanto aproximam a imagem de Almeida a
La Mota, em Medina del Campo – o caso mais
saliente da arte da arquitectura militar da sua
época em Castela, e contra cujo poder se queria
afirmar o reino de Portugal. Não se inscreveram
nos desenhos as posições de artilharia rasantes
ao terreno (e que decerto a barreira possuiria),
nem as eventuais bocas de fogo nos torreões
angulares, ao nível do fosso.
At this page and the following pages of this
point, one may observe the set of the
Manueline castle with the round “cubos” at
the four corners and that bring the image of
Almeida so close to La Mota, in Medina del
Campo – the most prominent case of the art
of military architecture of its time in Castile
and against whose power the kingdom of
Portugal wanted to make a stand. The
drawings do not include the artillery’s lowangle fire position in the field (and which
certainly the barrier would have), nor the
eventual fire power at the angular turrets at
the ditch level.
98
Leão, Aragão, Sicília e Granada, após o seu casamento com D.
Isabel, filha dos Reis Católicos.”13
No capítulo 4 apontámos como Almeida se constituiu no expoente desejado pelo rei, mostrando no Livro de Duarte de
Armas um registo único, conferido desde logo pela importância da figuração heráldica. Como vimos, o castelo de Almeida é, dentre os 55 castelos representados, o que aparece
ornamentado com o maior número de bandeiras a encimar
torres, somando cinco nas duas vistas que respeitam à sua
representação, contando com a repetição da bandeira nacional.
Na vista de Nordeste aparece um excepcional pendão decorativo triangular, com duas esferas armilares e longa legenda na
cercadura desenvolvendo-se por sobre o castelo, estando o
mastro implantado no remodelado dispositivo de artilharia
no ângulo da cortina elevada. No outro fólio duplo, com a vista
de Almeida do lado Sul, repete-se a bandeira do reino no topo
da torre de menagem, a bandeira da Ordem de Cristo e uma
bandeira quadrada com a insígnia real da esfera armilar.
Noutros aspectos dos desenhos de Duarte de Armas nos deteremos de seguida, por forma a salientar os aspectos técnicos
e interpretativos contidos na informação que eles guardam.
No capítulo 5, ao considerarmos a fortificação de Almeida
como a de maior relevância no contexto militar da arquitectura europeia de transição, apelando à comparação com os notáveis casos castelhanos de La Mota, acima referenciado, e de
Salces. Uma das contribuições deste estudo, com as imagens
de reconstituição que se publicam, poderá ser o reconheci-
had been being built since 1641. The reason to include the
presentation of “Planta da Praça de Almeida com obras interiores e exteriores, adicionadas e determinadas pelo Engenheiro-mor do Reino” at this discussion about the
Manueline Castle is owed to the fact that it contains a detail
referring to a work (not concluded) on the castle’s ditch.
The importance of this detail lies in the fact that it provides
the indication on the dimensions of the curtain of the
battlement and its escarpment, on the West side. Through
the use of its scale (“Scale of 100 Spans of the Gunpowder
Magazine”) one was able to extract elements that, transposed
for the current topographical survey, would allow one to
safely configure the volume of the artillery barrier.
Knowing such data, comparing them with the drawings of
the Spanish Engineers after 1762 (collected during the third
stage of the work’s evolution) and having the confidence
needed for the existing reality in the archaeological field at
the top the Castle, we have rebuilt a very approximate view
of the Manueline Castle. Compared with the construction
of the 1st Dynasty, the structure of the fortification of
Almeida would earn, in the middle of the Aviz Dynasty, an
expression that would reach an implementation that was five
times greater than the initial one. The perception of this
conclusion leads to the full understanding of the importance
of Almeida in terms of transitional military architecture in
Portugal.
Almeida O Castelo de D. Dinis Filmar_Maquetación 1 27/01/14 12:36 Página 99
mento deste facto como base assente da historiografia do
tema, o que permitirá novos avanços, tanto mais quanto maior
seja o esforço de preservação e de aprofundamento do conhecimento e da sua divulgação.
A escassez de iconografia do castelo de Almeida é muito
grande. Depois do espectacular acervo documental do Livro
das Fortalezas, mergulha-se numa ausência de mais de dois
séculos sem registos da configuração de Almeida. Na realidade, depois de 1510, o desenho que temos disponível é a
Planta de Almeida do Engenheiro-mor Manuel de Azevedo
depois de 1510, Fortes, datada de 1736.
Já acontecera a catástrofe que causou a perda da traça medieval da fortificação, sem que restasse outro registo para além
dos produzidos por Duarte de Armas. Tão pouco subsiste
algum plano da traça da grande Fortaleza, o Escudo Central
do Reino, continuando-se ainda na ignorância sobre quais
foram os seus projectistas.
O novo original que se conhece, devido ao Engenheiro-mor
do Reino, relaciona-se com os trabalhos da conclusão da
Praça-forte, em construção desde 1641. A razão para englobarmos a apresentação da “Planta da Praça de Almeida com
obras interiores e exteriores, adicionadas e determinadas pelo
Engenheiro-mor do Reino” nesta discussão sobre o Castelo
Manuelino, é devido ao facto de nela se conter um detalhe referente a uma obra (não concretizada) a localizar no fosso do
castelo.
A importância desse detalhe reside no facto de nos fornecer a
indicação sobre o dimensionamento da cortina com o adarve
e a respectiva escarpa, do lado Poente. Através do uso da sua
escala (“Petipé de 100 Palmos do Payol da pólvora”) pudemos
extrair os elementos que, transpostos para o levantamento topográfico actual, nos permitiram, com segurança, configurar
a volumetria da barreira artilheira.
Conhecendo tais dados, confrontando-os com os desenhos
dos Engenheiros espanhóis post-1762 (a seguir recolhidos na
terceira fase da evolução da obra), e afiançados pela realidade
existente no campo arqueológico do alto do Castelo, reconstruimos uma visão muito aproximada do Castelo Manuelino.
Comparativamente com a realização da 1ª Dinastia, a estrutura da fortificação de Almeida ganhara, a meio da Dinastia
de Aviz, uma expressão que atingia uma implantação praticamente quíntupla da inicial. A percepção desta conclusão induz
a compreensão plena da importância de Almeida no plano da
arquitectura militar de transição em Portugal.
99
Almeida O Castelo de D. Dinis Filmar_Maquetación 1 27/01/14 12:36 Página 100
Os desenhos apresentados neste ponto, com perspectivas da reconstituição da fortificação
de Almeida após as reformas manuelinas, pressupõem que terá existido um terrapleno entre
a antiga muralha medieval e a barreira artilheira com os novos bastiões redondos.
Na implantação verifica-se um aumento da volumetria da igreja matriz, igualmente ordenada
por D. Manuel, ficando a possuir três naves e um maior comprimento.
The drawings presented at this point, with perspectives of the reconstitution of Almeida’s
fortification after the Manueline reforms, assume that there was an embankment between
the old medieval wall and the artillery barrier with new round bastions. We observe
the implantation with an increase in the volume of the mother church, also ordered
by King Manuel, and which now has three naves and a greater length.
100
Almeida O Castelo de D. Dinis Filmar_Maquetación 1 27/01/14 12:36 Página 101
6.5.1 – A PLANTA DO CASTELO DE ALMEIDA
NO LIVRO DAS FORTALEZAS
6.5.1 – THE PLANT OF ALMEIDA CASTLE
IN THE LIVRO DAS FORTALEZAS
Começando pela Planta (ocupando metade do fólio 128), ressaltamos a indicação da robustez da construção que estava a
ser remodelada por ordens de D. Manuel I. As legendas fazem
chamada para “este muro he daltura de 9 varas”, bem como a
menção da torre quadrada, que “tem daltura 14 varas e meia e
de grossura 2 varas”, assim como a torre de menagem abobadada “e tem daltura 21 varas e meia e agrossura do muro dela
2 varas e meia”.
A importância da fortificação é-nos dada, sobretudo, pela indicação de 53 posições de artilharia, das quais 41 se dispõem
na nova barreira artilheira associada ao fosso que foi realizado
ex-novo, com silhares de boa pedra, em todo o perímetro.
A planta desenhada por Duarte de Armas apresenta um programa completamente inusitado, conferindo-se a grandiosidade das intervenções que se acabavam de fazer nos diferentes
registos inovadores:
– A adopção de novas técnicas de guerra e correspondentes
adaptações arquitectónicas, poderá indiciar que, excepto na
zona da entrada, os espaços entre as muralhas altas do castelo
medieval remodelado e o parapeito ameado da cerca baixa e
Beginning with the blueprint’s drawing (in a half leaf of fl.
128) one highlights the robustness of the castle that had just
been renovated by order of D. Manuel I. The captions make
reference to, “this wall with a height of 9 ells” and mentions
the square tower, “14 and a half ells tall and 2 ells thick,” as
well as the vaulted keep, “21 and a half ells tall and its wall 2
and a half ells thick.”
The importance of the fortification is given mainly by the
mention of 53 artillery positions, of which 41 are found on
the new artillery barrier associated with the newly-built
ditch, with stone ashlars across the entire perimeter.
The plant designed by Duarte de Armas presents a completely unusual program, which grants it the greatness of the interventions that had been finished and that included several
innovations:
– The adoption of new warfare techniques and corresponding architectural adaptations might indicate that, except at
the entrance, the spaces between the medieval castle’s high
walls and the battlemented parapet at the low fence, with its
À esquerda: / Left side:
“Almeyda”, Planta / Plan,
in Duarte de Armas, “Livro das Fortalezas”,
Códice A, fl. 128v (parcial). Ref.: Ms 159 da
Casa-forte da Torre do Tombo – IAN/TT,
Lisboa.
À direita / Right side:
Sobreposição da planta com o levantamento
topográfico actual sobre o registo de Duarte de
Armas. Podemos observar o grau de
ajustamento entre os dois desenhos,
congratulando-nos pela grande aproximação
que nos confere o trabalho do enviado de D.
Manuel, sem prejuízo de podermos reivindicar
que a localização da entrada nova na barreira
artilheira não estará posicionada na cortina
correcta.
Overlapping of the plant with the existing
topographical over Duarte de Armas’ record. We
can observe the degree of adjustment between
both drawings, one being quite satisfied with the
great approach that the work of King Manuel’
envoys provides, although we may claim that the
location of the new entry in the artillery barrier
is not positioned in the correct curtain.
101
Almeida O Castelo de D. Dinis Filmar_Maquetación 1 27/01/14 12:36 Página 102
seus modernos torreões redondos, serão plataformas para serventia militar, através de terrapleno ou por meio de plataforma
abobadada ao nível do novo parapeito;
– A consignação de um fosso perimetral, realizado ex-novo e
de excepcionais condições construtivas, atestadas nas evidências arqueológicas. Contudo, salienta-se o facto de o traço do
perímetro da contra-escarpa do fosso não apresentar o rigor
geométrico que lhe competiria, o que só será explicável pelo
desconhecimento do projecto ou pela fidelidade ao princípio
da confirmação da situação verificada. De todo o modo, em
relação aos desenhos das vistas, terá havido adição de elementos que Duarte de Armas não viu em Almeida;
– A concepção de um novo tipo de porta, com ponte (provavelmente levadiça, na sua justificação militar) conduzindo a
uma construção autónoma, com Trânsito e Corpos de Guarda
em cada lado. A localização da nova porta no desenho suscita
dúvidas, devido ao espaço necessário, às evidências arqueológicas e ao que se representa no desenho da vista do Códice de
Madrid; tratar-se-á de um lapso do desenho, visto que todas as
marcas arqueológicas e a própria funcionalidade (para além do
espaço disponível) apontam para que a nova entrada se fazia
num ponto mais desafogado, no tramo da nova cortina que
passa a ser a direcção escolhida, em linha com a torre da igreja;
– a manutenção, documentada com medições planimétricas e
altimétricas, do quadrado medieval a que se adossava, pelo
lado exterior, no ângulo Noroeste, uma forte torre de menagem
com machicoulis no alto das quatro faces. Este castelo apresenta já as adaptações manuelinas, com a menção de uma
forma curvilínea no ângulo Nascente / Sul que era um novo
posto artilheiro num balcão circular, substituindo um ausente
torreão;
– esse quadrilátero contém já a expressão das adaptações à artilharia, que aparecem indicadas de forma expressiva, principalmente na barreira artilheira, de cota sensivelmente menor
(embora o desenhador não informe qual a sua altura, possivelmente por não a ter confirmado no local).
6.5.2 – OS DESENHOS DAS
VISTAS DE DUARTE DE ARMAS
A informação contida nas perspectivas de Almeida é de grande
utilidade para a compreensão da arquitectura do castelo na
transição para a Idade Moderna. Um aspecto particular suscita
a atenção: trata-se do aparecimento, na vista da banda de Nordeste, de um bastião circular que não aparece desenhado na
planta. A discrepância relativamente a este aspecto no desenho
102
modern round turrets, will be platforms with military use,
as a terraplein or as a vaulted store at the new parapet level.
– The recording of a ditch around the perimeter, built ex-novo
and carrying exceptional constructive conditions, proven by
archeological evidences. Nevertheless, one should also register
that the drawing of the counter-escarpment perimeter fails to
be as geometrically rigorous as needed, what only can be explained by ignorance of the project and because it was not
done when it was drawn. Therefore, in relation to the drawings
of the views, some elements should be added in Lisbon, which
Duarte de Armas had not seen in Almeida.
– The design of a new gate, with a bridge (possibly a drawbridge, according to the tradition and to justify its military
use), which leads to an autonomous construction, with Transit and a Guards’ Corps on each side. The location of the new
door raises some doubts, due to the space needed, archeological evidences and to what is represented at Madrid’s Codex;
it seems to be a lapse of drawing, as all archaeological brands
and its own functionality (beyond the space available) pointed out that the new entry is made in a more affluent point,
the leg of the new curtain that becomes a chosen direction,
in line with the church tower;
– The maintenance, documented with planimetric and altimetric measurements, of the medieval square, which was
now leaning against a strong keep with machicoulis at the
top of each four faces, on the external side, to the northeast.
This castle already includes Manueline adaptations, with
mention to a curvilinear shape on the East/South angle,
which was a new artillery position located at a circular balcony, thus replacing a missing turret.
– This quadrilateral already contains the expression of the
adaptation to artillery, which are indicated quite effusively,
particularly at the artillery barrier with a marked lower
height (the drawer fails to inform about its height, possibbly
because he couldn’t confirm its existence).
6.5.2 – THE DRAWINGS OF THE
VIEWS BY DUARTE DE ARMAS
The information contained on the perspectives of Almeida is
very useful to understand the transition of the castle’ architecture into the Modern Ages. One aspect in particular raises our
attention: the appearance, in the northeastern perspective, of
a circular bastion that is not drawn on the plant. The discrepancy regarding this aspect of the drawing at Madrid’s Codex
is complete. In the latter, there is a visible formulation of the
Almeida O Castelo de D. Dinis Filmar_Maquetación 1 27/01/14 12:36 Página 103
“Almeyda da banda do Sull / alcaide moor ho
marquez”, Vista da Vila e do Castelo de Almeida
do lado Sul.
View of the Village and the Castle of Almeida
from the South.
In Duarte de Armas, “Livro das Fortalezas”,
Códice A, fl. 72v e 73. Ref.: Ms 159 da Casaforte da Torre do Tombo - IAN/TT, Lisboa.
Na imagem abaixo reproduz-se o
correspondente fólio no Códice de Madrid –
Ms. 924, Biblioteca Nacional de Madrid.
The image below reproduces the corresponding
folio in Madrid’Codex - Ms. 924, Biblioteca
Nacional de Madrid.
do Códice de Madrid é total. Neste aparece uma visível formulação da porta, com arco de volta inteira, já com troneiras no
adarve, e o que parecem ser pedras de armas. Do lado esquerdo
da porta surge o arranque do que pode ser a barreira artilheira.
Uma legenda informa expressamente que “esta barreyra he
nova quanto diz / ante a porta cf. o que parece nesta / pintura”.
É este apontamento que há-de considerar-se fidedigno, e não
o arranjo dado no pergaminho de Lisboa.
Um comentário ainda para o facto de Duarte de Armas nos
dar duas vistas com uma escassa rotação de ângulo, quando na
maior parte das situações dos restantes castelos ele nos apresenta lados opostos. O que parece ser legítimo extrair-se é que
a área a Poente não teria expressão urbana relevante, desde logo
devido à morfologia do sítio. Mas, sobretudo, poderá extrairse desse facto que as obras estavam ainda num estado que não
mostravam outros interesses relevantes, para além do anotado
(nos ângulos do lado Sul do castelo, um começo de obra da
cerca baixa nesta banda e, na outra vista, a porta nova com um
arranque do muro da escarpa, a cota baixa).
Não deixa de ser surpreendente que as óbvias diferenças entre
os desenhos dos Livros de Lisboa e de Madrid não tenham
ainda merecido os favores de uma explicação por aqueles que
têm escrito sobre o assunto. Mesmo o excelente estudo de Manuel Castelo Branco parece não reparar nas faltas de coincidência nos registos sobre Almeida, as quais se revelam as mais
significativas de todos os documentos dos Códices14
Na outra perspectiva (do lado Sul) aparece a menção expressa,
relativamente à cerca: “esta barreyra e cobelos se fizerão novos”.
gate, with a full arch, including already embrasures on the chemin-de-ronde and what appear to be coats of arms. On the left
side of the door, one sees the beginning of what seems to be
the beginning of the artillery barrier. A legend explicitly states
that “esta barreyra he nova quanto diz / ante a porta cf. o que
parece nesta / pintura” (“this barrier is a new one, as it says /
over the gate cf. it apears in this / painting “). This notice is to
be consider as reliable, and not the arrangement given in the
Lisbon’ parchment.
A further comment to the fact that Duarte de Armas provides
two perspectives, with only a slight angle rotation, when in the
majority of the other castles, he presents opposite sides. The-
103
Almeida O Castelo de D. Dinis Filmar_Maquetación 1 27/01/14 12:36 Página 104
“Almeyda tirado natural / da banda do nordeste”,
Vista de Nordeste da vila e do castelo de Almeida.
View from Nord/East over the village and the
castle of Almeida.
In Duarte de Armas, “Livro das Fortalezas”,
Códice A, fl. 73v E 74. Ref.: Ms 159 da Casa-forte
da Torre do Tombo - IAN/TT, Lisboa.
Na imagem abaixo reproduz-se o correspondente
fólio no Códice de Madrid – Ms. 924, Biblioteca
Nacional de Madrid. Ao lado da porta está uma
importante legenda onde se pode ler: «esta
Barreyra he nova quanto diz ante a porta cf. Ho
que parece nesta pintura», dando clara imagem
da obra em construção aquando da estada de
Duarte de Armas em Almeida, mas que todavia
não surge no desenho do Códice de Lisboa.
The image below reproduces the corresponding
folio in the Madrid’Codex - Ms. 924, Biblioteca
Nacional de Madrid. By side the door is an
important caption which reads: "this Barrier is
new as it says at the door cf. what looks in this
painting ', giving clear picture of the work under
construction at the time of the staying of Duarte de
Armas in Almeida, which nevertheless does not
arise in the drawing of Lisbon’ Codex.
14
É muito curioso que o autor repare
nas diferenças entre os registos correspondentes a Castelo Mendo e Castelo
Bom sem referir Almeida (aparecendo
este castelo na sequência daqueles) – cf.
Nota de rodapé na qual escreve: “Por
vezes, verificamos entre os 2 códices algumas diferenças, mesmo quando as
vistas da povoação pertencem a bandas
iguais (ex.: Castelo Mendo, N; Castelo
Bom, O; Mogadouro, O, etc.)."
It is very curious that the author note the differences between the records corresponding
to Castelo Mendo and Castelo Bom without
referring Almeida (appearing this castle in
the wake of those) - cf. footnote in which he
writes: "Sometimes, we find between the 2 codices some differences, even when the views
of the village belong to the same side (ex.:
Castelo Mendo, N; Castelo Bom, O; Mogadouro, O, etc.)."
In CASTELO BRANCO, Manuel da
Silva - Introdução, in ARMAS, Duarte
de, “Livro das Fortalezas”, p. 1, ANTT,
Lisboa, 1990.
104
No lado direito do fólio duplo vê-se, coroando uma proeminência orográfica, a representação de uma cerca de muralhas
com bastiões e um castelo no interior, com alta torre de menagem arvorada de estandarte e a menção escrita “Castello Rodriguo”.
O Marquês que detinha a alcaidaria de Almeida na altura da
passagem de Duarte de Armas era D. Fernando de Menezes
(1499 / 1523), possivelmente delegando no seu irmão bastardo
D. Pedro de Noronha, cujo nome aparece expresso (“dom
pedro irmãao do marquez”) no desenho do Códice B, Madrid.
refore, it seems correct to infer that the area to the West didn’t
have a relevant urban expression, due, from the start, to the
site’s morphology. But, essentially, one is able to infer for this
fact that the works would still be quite incipient and failed to
reveal other relevant interests, apart from the notes taken (on
the southern angles of the Castle, the beginning of the works
on the artillery barrier and, in the other perspective, the new
gate with the start of the escarpment wall, at a lower height).
It is somewhat surprising that the obvious differences between
the drawigns of the Books of Lisbon and Madrid have not yet
earned the favor of explanations by those who has been writing
on the subject. Even the excellent study by Manuel Castelo
Branco seems not to notice the the lack of coincidence in the
records about Almeida, which are the most significant in all
the documents of the Codices14.
In the perspective from South there is a direct reference to the
walls: “esta barreyra e cobelos sefizerão novos” (“this barrier
and towers were made new”).
On the right side of the double folio, one sees, crowing a geographical prominence, the representation of a fence of walls
with bastions and a castle within, with a high keep toppled with
a banner and the written reference: “Castello Rodriguo.”
The Marquis responsible for Almeida’s alcaidaria during
Duarte de Armas’ passage was D. Fernando de Menezes (1499
/ 1523), who possibly delegated powers to his bastard brother,
Almeida O Castelo de D. Dinis Filmar_Maquetación 1 27/01/14 12:36 Página 105
A representação de Almeida dos fólios 72v e 73 surge com o
desenho de 3 estandartes com heráldicas diferentes: na “menagem”, o pendão das quinas com oito castelos; no cubelo a
Nascente, o estandarte da Ordem de Cristo; e no quase-bastião
artilheiro (uma espécie de balcão redondo) que acabava de ser
modernizado (à semelhança dos bastiões da cerca reformada),
aparece uma bandeira com a insígnia da esfera armilar de D.
Manuel.
As estruturas constantes do trabalho de autoria de Duarte de
Armas eram, seguramente, as de maior préstimo para os intentos de D. Manuel, mormente o castelo de Almeida – o qual,
no alinhamento do Códice, aparece com o aspecto arquitectónico e militar mais vanguardista, ostentando as últimas aquisições teórico-práticas da arte da guerra, com a construção de
uma cerca caracterizada pela pouca altura e pelos bastiões redondos (tal como em Medina del Campo, com os “cubos artilheiros”), ao mesmo nível que o adarve, para uso da artilharia
triunfante.
A novidade da cerca baixa é absoluta e consagra a experiência
vanguardista de uma configuração pré-abaluartada: embora
este desenho não registe, passaria a haver um fosso seco com
escarpa de boa alvenaria e, segundo interpretação plausível,
contendo no interior da nova muralha um terrapleno interior
ou uma plataforma com circuito à cota dos parapeitos, e no
qual operavam (a baixa altura) os artilheiros.
A comparação do desenho no Códice de Lisboa e seu correspondente no de Madrid leva a pensar que Duarte de Armas,
D. Pedro de Noronha, whose name is referenced ( “dom pedro
irmãao do marquez” – brother of the marquis) at the drawing
of the Codex B, Madrid.
The representation of Almeida in the folios 72v and 73 features
the drawing of three banners with different heraldries: at the
“keep,” the shields pennon with eight castles; at the eastern
round turret, the banner of the Order of Christ; and at the artillery demi-bastion (a sort of round balcony) that had just been
renovated (as were the bastions of the renovated wall), one sees
a flag with the insignia of D. Manuel’s armillary sphere.
The structures reproduced in the work by Duarte de Armas
were surely those that better served D. Manuel’s intentions,
principally at Almeida’s Castle, which, considering the Codex’
line-up, appears with the most avant-garde architectural and
military design, bearing the latest theoretical and practical acquisitions of warfare, with the construction of a wall of low
height and round bastions (like Medina del Campo, with its
“artillery cubos”), with the same height of the chemin-deronde, in order to use triumphant artillery.
The novelty of a low wall is absolute and consecrates the avantgarde experience of a pre-bulwarked configuration: there lies
a dry ditch with escarpments made of good stone and an interior embankment, on which artillery soldiers operate (on a low
height). The comparison of the drawing on Lisbon’s Codex and
its Madrid’s counterpart makes us consider that Duarte de
Armas, in Almeida, was not familiar with the project being
105
Almeida O Castelo de D. Dinis Filmar_Maquetación 1 27/01/14 12:36 Página 106
DOCUMENTOS MANUELINOS SOBRE A REALIZAÇÃO DE REFORMAS NO CASTELO NOS FINAIS DA PRIMEIRA DÉCADA DO SÉCULO XVI
ANUELINE DOCUMENTS ON THE CONDUCTION OF REFORMS ON THE CASTLE – END OF THE FIRST DECADE
OF THE 16TH CENTURY
CARTA DE D. MANUEL I, DATADA DE 9 DE SETEMBRO DE 1508,
PARA MATEUS FERNANDES, ARQUITECTO REAL, SE DESLOCAR
A ALMEIDA A FIM DE FISCALIZAR A EMPREITADA DA “BARREIRA QUE MANDAMOS FAZER NO CASTELO”, DANDO INSTRUÇÕES PRECISAS PARA VERIFICAÇÃO E PARA SE ACOMPANHAR
POR AUXILIARES, BEM COMO PARA REPORTAR TODOS OS ASPECTOS TÉCNICO-FINANCEIROS DOS TRABALHOS EM CURSO
LETTER BY D. MANUEL I, OF 9TH SEPTEMBER, 1508, TO MATEUS
FERNANDES, ROYAL ARCHITECT, TO TRAVEL TO ALMEIDA AS TO
MONITOR THE WORKS OF THE “BARRIER WHOSE CONSTRUCTION WAS ORDERED AT THE CASTLE”, PROVIDING CLEAR INDICATIONS TO VERIFY AND TO BE ACCOMPANIED WITH
ASSISTANTS, AS WELL AS TO REPORT ALL TECHNICAL-FINANCIAL ASPECTS OF THE WORKS IN COURSE
Importa salientar neste documento que o rei estaria bem ciente do que fora
mandado fazer para renovar o castelo medieval, só se tornando possível
tanta minúcia e insistência para um controle eficaz dos trabalhos existindo
um caderno de encargos preciso para um projecto que teria que conter as
componentes da quantificação e dos custos respectivos: “saber se vale o dito
milhão e quinhentos e cinquenta mil reais do dito contrato, para que se
valer menos alguma coisa lhe ser descontado, e valendo mais nom sejamos
obrigado a lho pagar” (não obstante, como diz no final da carta, querer
saber o valor dos custos totais quantificando valores, “se por ventura achardes que passa a dita avaliação do dito conto e quinhentos e cinquenta mil
reis do dito contrato, todavia se escreverá para sabermos quanto mais
passa”).
Assim é que surge expressamente recomendado que a fiscalização se detenha na verificação da compatibilidade dos materiais e das técnicas construtivas com o preço a pagar (vos informai da cal, de onde a trazem e quanto
vale na região, assim como a pedra, de onde a tiram, bem como a água e a
areia com os respectivos custos de transporte). Além disso ordena-se que
proceda a ensaios in situ (abrir a obra em alguns pontos para de dentro se
ver bem se vai tão farta de cal e de pedra como deve, e se a dita cal é boa,
“por quanto temos emformaçom que em algüua maneira nom vay tam farta
de caal como deve”).
O rigor e transparência das contas públicas era uma dominante, fazendose acompanhar a equipa de fiscalização pelo Corregedor da comarca, com
procedimentos estatuídos: em face do que é constatado, “fareis escrever
as avaliações por autos públicos perante o dito Corregedor, que no-los
enviará, tudo esclarecido e selado”.
A carta outorga a Mateus Fernandes o poder de mandar alterar para melhorar ou fazer cumprir o contrato (“e o que nom achardes que vay bem
lho fazer emmendar e coreger, como vos parecer que deve ser”).
O empreiteiro era Francisco Danzilho, também nomeado no documento
que se transcreve com a grafia original:
It is important to emphasize that the king would be very well aware of what
had been ordered to renovate the medieval castle, only becoming possible so
much detail and insistence for the effective control of the works, with precise
specifications for a project that would have to contain the quantities and their
costs: “to know if it is really worth one million, five hundred and fifty thousand
reais, stated at the contract, so that if it is worth less some discount should be
achieved and, if it is worth more, we must pay accordingly (although, as is
said at the end of the letter, the king wants to know the total costs by quantifying values, "if by chance you find that the said assessment is more than the
said conto and five hundred and fifty thousand reais of that contract, you
must write so that we know how much more it is”).
Thus, it is expressly recommended that the audit should worry about the verification of the compatibility of the materials and constructive techniques
with the price to pay (“please, be informed about lime, where does it come
from and how much is it worth in the region, as well as stone, where is it obtained, and water and sand, with the respective transportation costs). Apart
from that, he is ordered to conduct in situ tests (open the work in some point
so see if inside it is filled with lime as it should be and if the lime is good, “because we have the information that in some way it has not enough lime”).
The rigor and transparency of public account was predominant, with the auditing team being accompanied by the Magistrate of the district, with statutory
procedures: in the face of what is found, “you shall write the reviews by public
proceedings before the said Magistrate, who will send them to us, all cleared
and sealed”.
The letter grants Mateus Fernandes the power to order improvements or to
enforce the contract (“and if you think something is not correct, please order
that it is amended and corrected, as it may seem fit”).
The contractor was Francisco Danzilho, also appointed in the document reproduced herein with the original writing:
106
Almeida O Castelo de D. Dinis Filmar_Maquetación 1 27/01/14 12:36 Página 107
"Matheus Fernandes, Nos elrey vos emviamos saudar: nos
demos dempreitada a Francisco Damzinho, biscainho e mestre
de pedrarya, hüua barraª. que mamdamos fazer em o castello
da villa dalmeida por hüu conto e quinhentos e cymquoenta
mill rs. e por condiçom do contrauto, que com elle sobre a dita
empreytada fizemos, somos obrigado lha mandar ver e avaliar,
tanto que acabada for, pera se ver se vay na prefeiçom que deve,
segundo forma do dito contrauto, e asy avaliar o que pode custar a dita obra, pera se saber se vale o dito hüu milhom e quinhentos e cymquemta mill rs. do dito contrauto, pera que se
algüua cousa menos valer lhe ser descontado do dito preço, e
valendo mais nom sejamos obrigado a lho pagar, segundo mais
largamento no dito contrauto he decrarado, de que com esta
nos emuiamos o trelado. E porque esta cousa compre muito a
nosso seruiço ser vista e emxaminada e asy avaliada como deve
e por pesoa de sãa comciemcia e bõos oficiaes, e nos temos de
vos conhecido e sabido quanto sofiente pera yso e pera todas as
outras cousas sooes bo quezemos encaregar a vos e per esta en-
comendamos que por niso nos seruirdes, ainda que vos seja trabalho, cheguees ha dita villa dalmeida, homde acharees o coregedor da dita comarqua, que da dita obra teue careguo, e com
elle a vede, e alem diso tambem leuay comvosco hüm official
hõo ou dous deses que nesas obras andã, que sejam aluenees e
quais vos virdes que pera yso compre, e com elles e o dito coregedor, que vos de todo dara emformação verdadeira, a vede da
maneira que vay e se vay comforme ao dito comtrauto, e ainda
se vos parecer que compre se romper per algüus casos pera de
demtro se ver bem se vay tam farta de call e pedra como deve,
e se a dita call he booa, por quanto temos emformaçom que em
algüua maneira nom vay tam farta de caal como deve; e o que
nom achardes que vay bem lho fazer emmendar e coreger, como
vos parecer que deve ser. E depois de vista, vos com os ditos oficiaes que leuardes aveliay toda, per a milhor maneira que poderdes, per omde a dita avaliaçom possa ser bem certa e
verdadeira, e pera se fazer como deve, vos emformay da caal,
domde a trazem, e o que nesta terra vale, e asy a pedra, homde
a tiram e augoa e area, e o que tudo faz de custo domde o trazem até a dita obra, emformarmdouos de tudo com o dito coregedor, a que sobre yso esprevemos, e de todo vos dara
verdadeira emformaçom e todo ho que sobre yso fizerdes asy
da dita vista como avaliaçom farees esprever per autos pubricos
perante o dito coregedor e nos amuiara tudo çarado e aselado.
e se por vemtura achardes que passam a adita avaliaçam dos
ditos hüu qto. bclrs. [um conto quinhentos e cinquenta mil reis]
do dito contrauto todavia se escreuera pera sabermos quanto
mais passa. (…)
Escrita em Syntra a ix dias de setembro — Andre Pires o fez —
de 1508".
No dorso / On the back page:
"Carta da ida do mestre Almeyda pr elrey a Mateus fernandez
mestre das suas obras da Batalha".
In Corpo Cronológico, Parte II, Maço 16, Doc. 25,
ANTT – Arquivo Nacional da Torre do Tombo, Lisboa.
AUTO PÚBLICO DE QUITAÇÃO, DATADO DE 10 DE NOVEMBRO DE
1512, SOBRE O PAGAMENTO DOS TRABALHOS DE FISCALIZAÇÃO
DA EMPREITADA DE REFORMA DO CASTELO DE ALMEIDA.
PUBLIC QUITTANCE DEED, OF 10TH NOVEMBER, 1512,
REGARDING THE PAYMENT OF THE AUDIT OF THE WORKS FOR
THE REFORM OF THE CASTLE OF ALMEIDA.
Examinadas as obras, Mateus Fernandes foram pagos os honorários de Álvaro Pires, que o coadjuvou, fazendo documento público de quitação subscrito por ambos e por Diogo de Seixas, presumivelmente o Corregedor da
Comarca. Nas contas especificadas inclui-se o aluguer de duas bestas, para
deslocação dos dois técnicos, juntamente com os custos relativos a “26 dias
que lá andou” Álvaro Pires. O pagamento devido a Mateus Fernandes, na
altura um dos mais qualificados arquitectos do reino, é de presumir que estivesse incluído no recebimento geral que teria pelos serviços que prestava
como Arquitecto-mor. Entre a data da carta anteriormente apresentada e o
presente traslado medeiam 4 anos e 2 meses, o que levanta algumas interrogações sobre quando se terá cumprido a ordem real de ir a Almeida, ou
quando se terão finalizado os trabalhos, sendo seguro que em Setembro de
1508 já havia matéria que levava D. Manuel a suscitar a incumbência da tarefa de fiscalização a Mateus Fernandes. Por outro lado, sabemos através da
pesquisa de Sousa Viterbo consignada no seu Dicionário Histórico e Documental (Vol. 1, pp. 270-275), que pela Quaresma de 1511, a companhia de
Francisco Danzilho (com mais de trezentos trabalhadores, muitos sendo
seus compatriotas biscaínhos) está em Tavira, preparando-se para passar
para o Norte de África, onde D. Manuel lhe outorgara vastos trabalhos nas
fortificações de Alcácer-Ceguér, Ceuta, Tânger e Arzila. Eis a transcrição,
com a grafia da época, do documento acima citado:
After the works were examined, Mateus Fernandes paid the fees to Álvaro
Pires, who helped him, creating a public discharge document signed by both
and by Diogo de Seixas, probably the Magistrate of the district. The accounts
specified include the rental of two beasts, for the travels of both technicians,
together with the costs of the “26 days spent there” by Álvaro Pires. The payment due to Mateus Fernandes, who was at the time one of the most qualified
architects of the kingdom, was probably included in the general expenditure
that was owed for his services as Chief Architect. Between the date of the abovementioned letter and the current writing, 4 years and 2 months pass, which
raises some doubts about the time when the royal order to go to Almeida was
carried out or when the works were finished, although it is certain that in
September of 1508 some matters already caused D. Manuel to request an
audit from Mateus Fernandes. On the other hand, we know through the research of Sousa Viterbo, recorded in his Dicionário Histórico e Documental
(Vol. 1, p. 270-275), that during the Lent of 1511, the company of Francisco
Danzilho (with more than three hundred workers, many being his Biscayan
countrymen) is at Tavira, preparing to move to North Africa, where D. Manuel had bestowed him extensive work on the fortifications of Ksar es-Seghir,
Ceuta, Tangier and Asilah.
Here is the transcript, with spelling of the time, of the above mentioned document:
"Sejam certos os que este conocimento vyrem como he verdade
que Mateus fernandes, mestre, Aluoro Pirez, pedreiro, conoceram e comfesarom que receberam de mestre Alularo, recebedor
das ditas obras, este dinheiro — s - Mateus Fernandez, mestre,
de hüa besta em que foy Almeyda por mandado delreey que lhe
mandou dar pera a yda vynda mil outuocemtos reis e asy
Aluoro Pirez, pedreiro, que foy com ele por mandado do dito
Senhor, de uynte seis dias que ia amdou — s - a xxxbj rs. por
dia que se montarom nouecemtos trinta e seis rs. e asy por hüa
besta em que foy e veyo que o dito senhor mandou dar mil outocentos reis, que fazem de soma quatro mil quinhentos trynta
e seys rs. e por asy ser verdade que os eleja receberom ser feito
este conocimento a x dias de nouembro de mil bc e douze anos.
Diogo de seixas. Mateuss Fernandes.- Aluar° Pis".
In Corpo Cronológico, Parte II, Maço 16, Doc. 25,
ANTT – Arquivo Nacional da Torre do Tombo, Lisboa.
CARTA DE QUITAÇÃO DE D. MANUEL I, DATADA DE 20 DE
MAIO DE 1517, RELATIVA À PROVENIÊNCIA DO FINANCIAMENTO PARA A REALIZAÇÃO DAS OBRAS MANDADAS FAZER
“NOS MUROS E FORTALEZA DA VILA DE ALMEIDA, CASTELO
BOM E CASTELO RODRIGO” E RESPECTIVA LIQUIDAÇÃO POR
PARTE DO COBRADOR DOS IMPOSTOS, RUI DE ANDRADE.
QUITTANCE LETTER BY D. MANUEL I, OF 20TH MAY, 1517, REGARDING THE PROVENIENCE OF FUNDING FOR THE WORKS ORDERED AT “THE WALLS AND FORTRESS OF THE VILLAGE OF
ALMEIDA, CASTELO BOM AND CASTELO RODRIGO” AND RESPECTIVE PAYMENT MADE BY THE TAX COLLECTOR, RUI DE ANDRADE.
Mais tardio, e muito curioso pelos informes que contém sobre a dimensão
do esforço financeiro implicado nos trabalhos de três fortificações de RibaCôa. É este documento formal de não dívida que o rei passa para descanso
do cobrador dos impostos.
Later and quite interesting for the information contained on the dimension
of the financial effort underwent in the works of the three fortifications of
Riba-Côa. This is a formal non-debt document issued by the king to the
rest of the tax collector.
107
Almeida O Castelo de D. Dinis Filmar_Maquetación 1 27/01/14 12:36 Página 108
As obras realizadas nos finais da primeira década de Quinhentos nas fortificações mencionadas, e presumidamente entregues de empreitada ao
mesmo Mestre biscaínho, Francisco Danzilho, tiveram um financiamento
local, por meio de impostos cobrados na região pelo “vedor e recebedor”
Rui de Andrade, através da “finta terceira que para as ditas obras se lançou
em toda a comarca, de cem réis por cada pessoa (…) e da quarta finta e
derradeira de cada pessoa”. A cobrança abrangeu um primeiro montante
de 78 lugares (“três contos e duzentos e trinta e quatro mil e setenta e sete
réis), que tinham relaxado o pagamento, mais 107 lugares de um segundo
montante (um conto e setecentos e setenta e sete mil e trinta e dois réis),
tudo declarado no livro de receita. Havia ainda outros dinheiros (cento e
cinquenta e cinco réis do lugar de Souto, dos concelhos de Parada e Ster(?)
e da vila de Castelo Rodrigo) e outros de acertos de contas com Francisco
Danzilho, por verbas que este tinha recebido (da “pedra, madeira e telha
que saiu das casas que tomaram e derrubaram para a cava da dita vila de
Almeida) e de outras que tinha pago (por “alugueres de casas e de camas”).
Os valores eram elevados e o documento dava grande ênfase ao cumprimento havido por Rui de Andrade, exarando explícita menção de que o
mesmo “deu de tudo muito boa conta com entrega, e damos de tudo por
quite e livre deste dia para todo o sempre e queremos que nunca, ele ou os
seus herdeiros, sejam citados ou acusados ou demandados, pois que de tudo
deu muito boa conta, para firmeza do que mandamos dar esta nossa carta
de quitação, por nós assinada e selada com o nosso selo pendente”.
Veja-se a transcrição do documento da época:
"Dom Manoell etc. A quamtos esta nosa carta de quitaçam
virem fazemos saber que nos mamdamos tomar comta a Rui
Damdrade, caualleiro da ordem de Sãtiaguo e veador e recebedor que certo tempo da obra que se fez nos muros e fortalleza
da villa dalmeida Castell Boo e Castell Rodrigo e achouse polla
recadaçam de sua comta que elle dito Ruy damdrade no tempo
que o carguo teue, recebeo tres comtos e dozemtos e trimta e
quatro mill e dozemtos e setemta e sete K. per esta ga. (guisa)
—s- ix Rptycrs. dallguus llugares que ficaram por paguar na
fimta terceira que se pera as ditas obras liamçou em toda a comarca de cem r. cada pesoa e os ilugares de que asy o dito dinheiro recebe() firam setemta e oyto llugares por desvairadas
somas e j conto biicbii bijelxxx ii rs. de cemto e sete llugares decrarados no liuro de sua recepta que pagaram na quarta fimta
e derradeira de cada pesoa, segundo yso mesmo no dito livro
esta declarado, e cxxxxxb rs. que mais recebeo fora do iliuro dos
lugares de souto e dos concelhos de parada dester e da villa de
Castell Rodrigo da dita fimta dos ditos cemto irs e iii ir iii que
recebe° de Francisco Damzinho por os ja ter recebidos, dizendo
que pagara alugueres de casas e camas e por os não ter pagas
os tornar a emtregar ao dito Ruy damdarade e elle Rui damdadrade as pagou e xii lxx rs. que recebe° de pedra, madeira, telha,
que sayo das casas que tomaram e deribaram pera a caua da
dita villa dallmeida que se vemdeo e por que dos ditos Ires comtos e dozemtos e xxx iiij mill e iT lxxbij F.'. que asy recebe°, deu
de tudo muy boa conta com emtrega, o damos de todo por quite
e livre deste dia pera todo sempre e queremos que nunca elle
nem seus erdeiros em nenhüa tempo em comtos nem fora delles
seja citado, acusado nem demandado por quanto de todo deu
muito boõa comta com entrega como dito he, e pera firmeza
deito lohe mandamos dar esta nosa carta' de quita çãs, per nos
asynada e sellada com o noso sello pemdemte. Dada em Lixa,
a xx dias de maio — Andre Pirez afez — de jbcxbij (1517)".
em Almeida, não conhecia o projecto que se estava realizando,
limitando-se a apontar o que vira, o que seria ainda uma parte
menos compreensível.
Posteriormente, em Lisboa, teria então Duarte de Armas ocasião de conhecer a traça do projecto que se concluía em Almeida, representando o que se conhece no Códice A,
eliminando a representação da porta que tinha anotado, visto
não permitir o encaixe dos bastiões redondos que era então
questão de representar e “inventando” um bastião suplementar,
a marcar a porta.
Acaso na altura existisse no local obra mais desenvolvida, e designadamente a realização do fosso, tal como vem a completar-se, outra teria provavelmente sido a escolha dos pontos de
observação para representar a fortificação com a vila. A expres108
The works carried out at the end of the first decade of the 16th century on
the said fortifications, whose contracts were possibly given to the same Biscayan master, Francisco Danzilho, were locally funded, via taxes levied on
the region by the “debtor and collector” Rui de Andrade, through the “third
tax levied throughout the entire district for those works, of one hundred
réis per person (…) and the fourth and last tax per person”. The levying
encompassed a first amount of 78 places (“three contos and two-hundred
thirty-four thousand and seventy-seven réis), who had failed the payment,
plus an additional 107 places of a second amount (“one conto and sevenhundred seventy-seven thousand and thirty-two réis), all declared in the
revenue book. Other amounts existed (one hundred fifty-five réis of the
place of Souto, the councils of Parada and Ster(?) and the village of Castelo
Rodrigo) and others of settlement of accounts with Francisco Danzilho, for
amounts he had received (for the “stone, wood and tile that came out of
the houses they have taken and brought down for the ditch of the said village of Almeida) and others paid (for “the rental of houses and accommodations”).
The amounts were high and the document gave great emphasis to the compliance by Rui de Andrade, making an explicit statement that he “gave very
precise accounts upon delivery and we consider everything paid for and
free from this day to eternity and we never want him or his heirs, to be
cited or accused or questioned, because he gave very good accounts of everything, reason why we issued this quittance letter, signed by us and sealed
with our pending seal”.
Please refer to the transcript of the document of that time:
In «Corpo Cronológico», parte 2., Maço 16, doc. 25,
ANTT – Arquivo Nacional da Torre do Tombo, Lisboa
built and was limited to register what he saw, only a part misunderstood.
Later, in Lisbon, Duarte de Armas had the opportunity to become familiar with the project that was being concluded in Almeida, representing what is known of Codex A, eliminating
the representation of the door previously drawn, since it didn’t
allow the fitting of the round bastions that needed to be represented thusly and “inventing” a supplementary bastion, marking the door.
If there were works further developed at that time, namely the
materialization of the ditch, as came to be true, the observation
point chosen to represent the fortification with the village could
be different. The expressive artillery barrier, with its round bastions, was introduced in the drawings that Duarte de Armas
Almeida O Castelo de D. Dinis Filmar_Maquetación 1 27/01/14 12:36 Página 109
siva barreira artilheira, com os seus bastiões redondos, foram
introduzidos nos desenhos que Duarte de Armas apontara no
local, não sendo as perspectivas tomadas susceptíveis de permitir a inscrição das escarpas e contra-escarpas de uma peça
absolutamente nova no panorama da arquitectura militar de
transição que se vivia.
No caso de Almeida, as diferenças do que está representado
numa e noutra fonte variam substancialmente no registo das
obras da “cerca nova”. São, provavelmente, dois momentos de
representação: um primeiro, plasmado no Códice de Madrid,
como apontamento (em papel) do que foi constatado pelo desenhador na sua visita, sempre “tirando natural”; no outro desenho (em pergaminho) o pintor régio terá incorporado
informação que lhe terá sido mostrada no Paço, solicitando-se-lhe a incorporação da informação na representação da
maior reforma da arquitectura militar que D. Manuel I levou a
cabo em território continental português. Não será, por isso,
despiciendo notar que o título do desenho com a vista da banda
Sul não contenha a costumada referência de ter sido feita conforme o que estava no local (embora na outra vista, talvez por
mero lapso, se insista na expressão “tirado do natural”).
made at place, but the perspectives assumed didn’t allow the
inscription of the escarpments and counter-escarpments of an
absolutely new piece of the transition military architecture panorama being lived at that time.
In the case of Almeida, the differences between what is represented in one source and the other vary substantially in the record of the works for the “new wall.” These are probably two
distinct moments of representation: the first one, featured in
Madrid’s Codex, as a note (in paper) of what was seen by the
drawer during his visit, always “as I see it”; in the other drawing
(parchment), the royal painter includes information that was
probably shown to him in the Palace, at the request of adding
information in the representation of the greatest reform of military architecture that king D. Manuel carried out in Portuguese continental territory. Therefore, it wouldn’t be
insignificant to note that the title of the drawing with the view
of the southern area fails to mention the usual reference that it
was drawn according to what was seen on location (although
the other view, maybe due to an honest mistake, still features
the expression “as I see it”).
6.5.3 – SOBRE O REGISTO DE
MANUEL DE AZEVEDO FORTES
6.5.3 – ABOUT THE RECORDING BY
MANUEL DE AZEVEDO FORTES
A escassez de iconografia do castelo de Almeida é muito
grande. Depois do espectacular acervo documental do Livro
das Fortalezas, mergulha-se numa ausência de mais de dois
séculos sem registos da configuração de Almeida. Na realidade, depois de 1510, o desenho que temos disponível é a
Planta de Almeida do Engenheiro-mor Manuel de Azevedo
depois de 1510, Fortes, datada de 1736.
Já acontecera a catástrofe que causou a perda da traça medieval da fortificação, sem que restasse outro registo para além
dos produzidos por Duarte de Armas. Tão pouco subsiste
algum plano da traça da grande Fortaleza, o Escudo Central
do Reino, continuando-se ainda na ignorância sobre quais
foram os seus projectistas.
O novo original que se conhece, devido ao Engenheiro-mor
do Reino, relaciona-se com os trabalhos da conclusão da
Praça-forte, em construção desde 1641. A razão para englobarmos a apresentação da “Planta da Praça de Almeida com
obras interiores e exteriores, adicionadas e determinadas
pelo Engenheiro-mor do Reino” nesta discussão sobre o Castelo Manuelino, é devido ao facto de nela se conter um detalhe referente a uma obra (não concretizada) a localizar no
fosso do castelo.
The scarceness of iconography on the castle of Almeida is quite expressive. After the spectacular collection of documents of Livro das
Fortalezas, one falls into an absence of over two centuries without
records of the configuration of Almeida. In reality, after 1510, the
drawing available is the Plant of Almeida by Chief-Engineer Manuel
de Azevedo; after 1510, Fortes, dating back to 1736.
The catastrophe causing the loss of the fortification’s medieval layout
had already happen, without any other record apart from those produced by Duarte de Armas. There isn’t even a drawing of the project
of the great Fortress, the Central Shield of the Kingdom, while the
authors of the fortress still remain unknown.
The new original known, due to the Kingdom’s Chief-Engineer, is
related to the works to complete the Stronghold that had been being
built since 1641. The reason to include the presentation of “Planta
da Praça de Almeida com obras interiores e exteriores, adicionadas
e determinadas pelo Engenheiro-mor do Reino” at this discussion
about the Manueline Castle is owed to the fact that it contains a detail
referring to a work (not concluded) on the castle’s ditch.
The importance of this detail lies in the fact that it provides the indication on the dimensions of the curtain of the battlement and its
escarpment, on the West side. Through the use of its scale (“Scale of
100 Spans of the Gunpowder Magazine”) one was able to extract
109
Almeida O Castelo de D. Dinis Filmar_Maquetación 1 27/01/14 12:37 Página 110
A importância desse detalhe reside no facto de nos fornecer a
indicação sobre o dimensionamento da cortina com o adarve e
a respectiva escarpa, do lado Poente. Através do uso da sua escala (“Petipé de 100 Palmos do Payol da pólvora”) pudemos extrair os elementos que, transpostos para o levantamento
topográfico actual, nos permitiram, com segurança, configurar
a volumetria da barreira artilheira.
Conhecendo tais dados, confrontando-os com os desenhos dos
Engenheiros espanhóis post-1762 (a seguir recolhidos na terceira fase da evolução da obra), e afiançados pela realidade existente no campo arqueológico do alto do Castelo, reconstruimos
uma visão muito aproximada do Castelo Manuelino. Comparativamente com a realização da 1ª Dinastia, a estrutura da fortificação de Almeida ganhara, a meio da Dinastia de Aviz, uma
expressão que atingia uma implantação praticamente quíntupla
da inicial. A percepção desta conclusão induz a compreensão
plena da importância de Almeida no plano da arquitectura militar de transição em Portugal.
Nesta página reproduzimos dois aspectos de
pormenor da Planta de 1736, devida ao
Engenheiro-mor do reino, Manuel de Azevedo
Fortes. Em cima, uma ampliação do “castelo”
(Z) no alto da Praça-forte, junto à Portas
Interiores de Santo António (K). Deixando o
lado do acesso (com a ponte dormente),
propõe-se ocupar as partes ortogonais do fosso,
com armazéns, sendo um deles para a pólvora
(Y). O projecto do grande paiol, apresentado em
detalhe (que multiplica várias vezes a
capacidade do existente dentro do recinto),
fornece preciosas informações sobre a escala
das componentes manuelinas, conferindo-nos
segurança para a reconstrução virtual do
castelo.
On this page we reproduce two details of the1736
Plan, due to the Chief-engineer of the kingdom
Manuel de Azevedo Fortes. Above, an expansion
of the "castle" (Z) on the top of the Stronghold,
near the Interior Gate of Santo António (K).
Leaving aside the access (with the sleeper bridge),
proposes to occupy the orthogonal parts of the
ditch with warehouses, one being for gunpowder
(Y). The project's large barn, presented in detail
(which multiplies several times the capacity of
the existing within the small fort), provides
valuable information on the scale of Manueline
components, giving us certainty for the virtual
reconstruction of the castle.
Na página seguinte / Following page:
“Almeida y su castillo” (Parcial e com uma
ampliação” / Partial an with detail)
Dim.: 43,2 x 36,1 cm.
Ref.: CGE. Ar.G bis-T.6-C.4-130.
110
Almeida O Castelo de D. Dinis Filmar_Maquetación 1 27/01/14 12:37 Página 111
Vinda de uma destruição do fim do século, por
via da explosão fatal da pólvora que se guardava
na torre de menagem, a nova estrutura
fortificada durará cerca de cem anos até que,
novamente, toda a carga destruidora
concentrada no paiol (cuja cobertura à prova de
bomba se via do exterior) fará ir pelos ares o
fortim moderno. Coming from a
destruction at the end of the century, due to
the fatal explosion of the gunpowder kept in
the keep, the new fortified structure will last
aproximately one hundred years until, once
again, the entire destroying load concentrated
in the magazine (whose bomb-proof roof
could be seen from the outside) will blow up
the modern fort.
6.6 – ADAPTAÇÃO DO CASTELO
A FORTIM MODERNO
Portugal, com o início da 4ª Dinastia, fizera um tremendo esforço para reestruturar a linha de fronteira, repetindo a grandeza
da obra medieval e construindo dezenas de imensas construções
abaluartadas15, segundo o que de mais moderno era então possível fazer-se. Desse esforço resultara a disponibilidade de um
corpo próprio de engenheiros e tratadistas, alguns dos quais,
como Serrão Pimentel ou Azevedo Fortes, estiveram e projectaram obras em Almeida.
O Pacto de Família entre os Bourbon de França e de Espanha e
a aliança de Portugal com a Inglaterra viriam condicionar algumas decisões relativas a projectos de fortificação na fronteira, a
elements that, transposed for the current topographical survey,
would allow one to safely configure the volume of the artillery
barrier.
Knowing such data, comparing them with the drawings of the Spanish Engineers after 1762 (collected during the third stage of the work’s
evolution) and having the confidence needed for the existing reality
in the archaeological field at the top the Castle, we have rebuilt a very
approximate view of the Manueline Castle. Compared with the
construction of the 1st Dynasty, the structure of the fortification of
Almeida would earn, in the middle of the Aviz Dynasty, an
expression that would reach an implementation that was five times
greater than the initial one. The perception of this conclusion leads
to the full understanding of the importance of Almeida in terms of
transitional military architecture in Portugal.
15
Trata-se de um feito histórico com profunda repercussão na paisagem socio-cultural de um país que constrói, em menos
de uma geração, uma obra coerente e
única no panorama europeu de Seiscentos, com uma irrepetível dimensão técnica
e estética. Pelas suas características próprias e pelas implicações políticas na Civilização Europeia, carece ainda de pleno
reconhecimento a nível mundial.
This is an historic achievement with profound impact on the social-cultural landscape of a country that builds, in less than
a generation’s time, a coherent and unique
work within the 17th-century European
scene, with an unrepeatable technical and
aesthetic dimension. For their own characteristics and political implications in the
European civilization, it still lacks full recognition worldwide.
111
Almeida O Castelo de D. Dinis Filmar_Maquetación 1 27/01/14 12:37 Página 112
Plano de la plaza de Almeida (Parcial)
Dim.: 56,8 x 63,3 cm.
Con explicación: “Tomada el 5 de agosto de 1762
despues de 10 dias de trinchera abierta”.
Ref.: AGI. MP-Europa-Africa, 78.
Archivo General de Indias, Sevilla.
16
Excepção de primeira linha é o Fuerte
de La Concepción, de carácter marcadamente ofensivo, dando razão aos que em
Espanha continuavam a advogar a vantagem estratégica de controlar Almeida
(que em todo o caso deveria ser um
posto da fronteira espanhola), para tanto
sendo necessário construir uma enorme
estrutura fortificada para dominar a
Praça-forte portuguesa.
Except from Fuerte de La Concepción,
with a clearly offensive character, giving
reason to those that, in Spain, continued
to advocate for the strategic advantage of
controlling Almeida (which, in any case,
must be a Spanish boundary), being necessary, to that extent, to build an enormous fortified structure to master the
Portuguese stronghold.
6.6 – ADAPTATION OF THE CASTLE
TO A MODERN FORT
Portugal, with the beginning of the 4th Dynasty, had made a tremendous effort to restructure the line of the frontier, repeating
the greatness of medieval works and building dozens of great bulwarked constructions15, according to the most modern standards
of that time. The result from that effort was Portugal had its own
corps of engineers and treatisers, some of which, as Serrão Pimentel or Azevedo Fortes, were at and projected works in Almeida.
The Pacte de Familie between the French and the Spanish Bourbons
and Portugal’s alliance with England will condition the new fortification projects, some of which (projected by Spain to answer the
Portuguese fortification of more than a century earlier) failed to
come through16. Apart from the production caused by the feud over
the limits of Portugal, the military construction activity had greater
impact in the overseas territories of the two great colonial potencies.
Of the Seven Years War17 and of the history of the brief siege suffered by Almeida on August 1762, a proliferous production of iconography was created, with different origins (local, by friends and
foes) – all apparently wanting to take advantage, each in its own
way, of an interesting theoretical material, beyond the military
value of the information that knowing the characteristics of the
fortification would represent for the person.
That material includes diverse attentions on the hill of the Castle,
which had already suffered deep alteration in the early 18th century, which allows us to rebuild the construction that began to be
present for a century, serving as general warehouse for war materials, including the storage of gunpowder.
The significant jump that occurred with the evolution of the disaster of 1695 reveals the utility of a fortification whose profile
changes radically. A sort of interior redoubt, a fort within the fortress, is the preferential safe point to keep the weapons that fuel
that entire war machine. It will also be the fate of the gunpowder
that still persists (and which will dictate its end) approximately
one hundred years later.
6.6.1 – THE REFORMULATION OF THE NUCLEUS
OF THE FORTIFICATION AFTER 1695
In the middle of the night of 24th August, 1695, during a violent
summer storm that befell Almeida, lightning hit the highest point
of the entire region, the keep of the castle. The result, with the explosion of gunpowder that was stored in the tower, was the ruin
of the oldest components of the military structure.
112
Almeida O Castelo de D. Dinis Filmar_Maquetación 1 27/01/14 12:37 Página 113
maior parte dos quais (projectados por Espanha como resposta
à fortificação portuguesa de mais de um século antes) não lograram concretização16. Além da produção provocada pela contenda nos limites de Portugal, teve maior incidência a actividade
da construção militar nos territórios ultramarinos das duas
grandes potências coloniais.
Da Guerra dos Sete Anos17 e da história do breve sítio sofrido
por Almeida em Julho / Agosto de 1762, resultou uma prolífera
produção de iconografia de diversas proveniências (locais, amigas e inimigas), todos parecendo desejar tirar proveito, à maneira de cada um, de material teórico interessante, para além do
valor militar da informação que o conhecimento das características da fortificação representava para o seu possuidor.
Nesse material incluem-se atenções diversas sobre o alto do Castelo, o qual tinha sofrido já profundas alterações no início do século XVIII, autorizando-nos a reconstituição que terá passado
a vigorar, durante um século, servindo a construção como o depósito geral dos matérias de guerra, incluindo o armazenamento
das provisões de pólvora.
O salto significativo que ocorreu com a evolução após o desastre
de 1695, vem revelar o préstimo de uma fortificação cujo perfil
muda radicalmente. Espécie de reduto interior, um fortim dentro da fortaleza, constitui o ponto de resguardo preferencial do
armamento que abastece toda a grande máquina de guerra. Será
ainda o destino do paiol que permanece, e que ditará o seu fim,
uns cem anos depois.
The dates and the authorship of the decisions on the functional
and architectural adaptation of the fortified set of the ancient castle are still unknown.
One of the concerns that still existed in 1736 (date of Plant Manuel
de Azevedo Fortes) was related to the storage of gunpowder, which
forced the chief engineer to assign a new use to the Manueline ditches. Neither the new magazine, nor the other two storage areas
that are planned were built18.
In all three situations, the counter-escarpments would be disassembled, to gain space transversally, occupying the extension of the respective curtains. That would allow the integral maintenances of the
round bulwarks with the limiting counter-escarpments, which can
only be understood, from a military safety point of view, if the lower
level of the bulwarks had chambers with casemates – as was suggested before and according to the exuberantly demonstrated principles in the great example of Medina del Campo.
6.6.2 – THE SPANISH RECORDS
AFTER THE 1762 OCCUPATION
One of the most important portrayers/reporters of Almeida of that
time was Engineer Antonio de Gaver, of whom we begin by rescuing a plant dating back to 1763. Apart from the name of the
chart – referring “Almeida and its castle” in an apparent rare mention to the Castle in the titles of the cartography on the Place of
Arms – the small drawing of the fort includes an element that is
not featured later: an exterior construction connected to the for-
Detalhe do “Plano de la Plaza de Almeida” de
Antonio de Gaver, 1763, reproduzida adiante na
janela documental sobre os desenhos produzidos
durante a Ocupação espanhola. Nas imagens
tridimensionais deste ponto temos uma visão
completa e bastante rigorosa acerca do arsenal
central da Fortaleza, além de se admitir uma
evolução da igreja matriz que inclui a construção de
uma torre barroca, tudo desaparecendo em 1810.
Detail of “Plano de la Plaza de Almeida” by
Antonio de Gaver, 1763 reproduced ahead in the
document window on the drawings produced
during the Spanish Occupation. In the threedimensional images of this point we have a
complete picture and quite rigorous about the
central arsenal of the fortress, in addition to
admitting an evolution of the mother church
which includes the construction of a baroque
tower, all disappearing in 1810.
17 Juntamente com o episódio bélico de
Almeida, a expressão mais visível da
Guerra dos Sete Anos, envolvendo os
dois países ibéricos, teve lugar na América do Sul, com a questão da bacia do
Prata e a ocupação de Colónia do Sacramento, bem como da Ilha de Santa Catarina, no Brasil, a qual só será devolvida
em 1777 com o Tratado de Santo Ildefonso.
Together with the belligerent episode of Almeida, the most visible expression of the
Seven Years War involving both Iberian
countries took place in the South America,
with the issue of the La Plata basin and the
occupation of the Sacramento Colony and
the Isle of Santa Catarina in Brazil, which
will only be returned in 1777 with the
Treaty of Santo Ildefonso.
113
Almeida O Castelo de D. Dinis Filmar_Maquetación 1 27/01/14 12:37 Página 114
O DESAPARECIMENTO DA SILHUETA MEDIEVAL DE ALMEIDA
THE DISAPPEARANCE OF ALMEIDA’S MEDIEVAL SILHOUETTE
1
CONCEIÇÃO, Margarida Tavares da
– “Da vila cercada à praça de guerra: formação do espaço urbano em Almeida”,
Lisboa, 2002.
2
Na acepção do Diccionário da Lingoagem Portugueza, H. Brunswick, Lisboa,
1908. Os casados, excluídos que estavam
os menores de idade, eram os que haviam recebido o sacramento do matrimónio.
According to Diccionário da Lingoagem
Portugueza, H. Brunswick, Lisboa, 1908.
Excluded minors of age, married were
those who had received the sacrament of
marriage.
114
No caminho para o esclarecimento da evolução da fortificação de Almeida
está o trabalho de Margarida Tavares da Conceição1, útil em muitos aspectos, dando-nos a conhecer um documento a vários títulos precioso. Vamos
transcrevê-lo aqui com a possível adaptação ortográfica.
Nesse escrito salientam-se, para além de uma colorida descrição do desastre, diversos aspectos de pormenor que ilustram algumas características de
Almeida.
Sendo importante confirmar que, no final do século XVII, o castelo funcionava como grande paiol (integrante do esquema geral da grande fortificação que estaria a finalizar-se por essa altura na sua compleição estrelada
com fossos), retiramos a vivacidade da confirmação da morada do Sargento-mor Engenheiro Jerónimo Velho de Azevedo, ou da quantificação
da população residente. É curiosa a destrinça que se faz na contagem da
população não militar (“compõe-se de 464 fogos, em que há 1323 pessoas
de sacramento [casados] e 278 de confissão [religiosos2], fora os pequenos
de menor idade”).
Sobre o castelo medieval propriamente dito confirmamos que os pisos eram
abobadados duplamente, o que não obstou à ocorrência do desastre, servindo para aprovisionar a pólvora para o serviço da Fortaleza. O perímetro
desta foi severamente molestado pelas grossas pedras que voaram do Castelo, caindo e destruindo sobretudo a área que engloba os baluartes de
Nossa Senhora das Brotas, de Santo António, de S. Pedro e de S. Francisco,
arrasando a massa construída da vila. A Igreja Matriz, implantada ao lado
das torres do Castelo, voou com a explosão (“excepto a capela-mor e um
altar colateral, os quais prodigiosamente estão intactos e sem ruínas”). Das
estruturas medievais ficou um amontoado de escombros que irão ser removidos para a sua transformação em fortim moderno, mantendo as funções de paiol e armaria geral – o que lhe será fatal no Cerco de 1810.
In the path to clarify the evolution of Almeida’s fortification, one finds the
work of Margarida Tavares da Conceição1, useful in several aspects by introducing a document quite valuable across several areas. The document is transcribed herein, with the possible adaptation of spelling.
This written work emphasizes, apart from a vivid description of the disaster,
several details that illustrate some of the characteristics of Almeida.
Since it is important to confirm that, in the late seventeenth century, the castle
functioned as a great magazine (integrated within the general scheme of the
great fortification that would be near completion at this with its star shape
with ditches), we retrieve the liveliness of the confirmation of the address of
Chief-Sergeant of Engineering Jerónimo Velho de Azevedo or the quantification of the resident population. It is curious that a distinction is made between
non-military population (“it consists of 464 houses, in which there are 1323
people with sacrament [married]and 278 of confession [religious2], not counting those of minor age”).
Regarding the medieval castle per se, one attests that the floors had a double
vault, which didn’t prevent the disaster from happening, being used to replenish the gunpowder for the service of the fortress. The perimeter of the latter
was severely harassed by the heavy stones that flew off from the Castle, falling
and destroying mainly the area encompassing the bulwarks of Nossa Senhora
das Brotas, Santo António, S. Pedro and S. Francisco, razing the village’s buildings. The Mother Church, located next to the towers of the castle, flew with
the explosion (“except the chancel and a side altar, which were wonderfully
intact and without ruins”). The medieval structures were reduced to a heap
of rubble that will be removed its transformation into a modern fort, maintaining the functions of magazine and general armory - which will be fatal in
the 1810 Siege.
“RELAÇÃO DA FATAL RUÍNA QUE SUCEDEU NA PRAÇA DE ALMEIDA, NA NOITE DE TERÇA-FEIRA 23 DE AGOSTO DE 1695 ÀS
ONZE HORAS PARA A MEIA-NOITE”.
“REPORT OF THE FATAL RUIN OCCURING AT THE PLACE OF ALMEIDA, ON TUESDAY NIGHT, 23RD AUGUST, 1695, AT ELEVEN
O’CLOCK AT NIGHT”.
Às oito horas da noite começou a ameaçar tempestade; esta foi em aumento
com grandíssimo vento, trovões e relâmpagos até às onze para a meia-noite
quando, soando três espantosos e tremendos trovões, incontinenti (?) com
o raio ou raios, que se presume lançaram voo ao armazém de pólvora que
estava numa das torres do Castelo, tendo abóbadas dobradas, com dezoito
palmos de entulho, entre uma e outra, e as paredes dezasseis de grosso.
Todo o Castelo, em que estavam os armazéns dos demais petrechos militares
ficou raso, da mesma sorte a Igreja Matriz que era a que estava mais vizinha
dele, excepto a capela-mor e um altar colateral, os quais prodigiosamente
estão intactos e sem ruínas, livrando-os delas estar o Santíssimo Sacramento
no altar colateral para onde se havia mudado do altar-mor, por nele se andar
dourando o retábulo.
Toda a parte da vila que está entre os baluartes de Santo António e de Nossa
Senhora das Brotas ficou arrasada e os parapeitos dos dois baluartes e da
cortina entre eles com muita ruína e todas as guaritas do Castelo caídas para
a parte Nascente, até ao baluarte de S. Francisco; as mais das casas ficaram
por terra e as que não estão tão arruinadas, se não podem reedificar senão
fabricando-se de novo.
O Convento das Religiosas de Nossa Senhora do Loreto, da Ordem Terceira
de S. Francisco, que é o que está mais longe do Castelo, defronte da porta do
mesmo baluarte de S. Francisco, teve tal fatal ruína, em todo ele e na igreja,
que só o corpo e a casa por onde se entra para ele estão capazes de assistirem
nele; sessenta e duas mulheres que se acham dentro salvaram as vidas porque
com o temor da tempestade entraram todas encomendando-se a Deus em
uma pequena capela que dentro tinha mandado fabricar uma religiosa cha-
At eight o’clock in the evening, a storm started to form; this increased with a
great wind, thunder and lightning until eleven to midnight when, upon hearing three amazing and tremendous thunders, incontinenti (?) with the lightning or lightnings, which are presumed to have blown up the gunpowder
magazine that was in one of the towers of the castle, having bended vaults,
with eighteen spans of rubble, between one and another, and walls sixteen
spans thick.
The entire Castle, where the warehouses for the different military equipment
were found, was razed, the same luck being shared by the Mother Church that
is closer to it, except the chancel and a side altar, which were wonderfully intact and without ruins and luckily the Holy Sacrament was at the side altar,
to where it had been shifted from the main altar, because the altarpiece was
being gilded.
All of the area of the village that is between the bulwarks of Santo António
and of Nossa Senhora das Brotas was razed and the parapets of both bulwarks
and of the curtain between them were quite ruined, as were all the watchtowers of the Castle falling to the East, up until the bulwark of S. Francisco; the
houses were completely ruined and those that are not so ruined can only be
mended by being constructed anew once again.
The Convent of Sisters of Our Lady of Loreto, of the Third Order of St. Francis,
which is further from the Castle, in front of the gate of that bulwark of S. Francisco, had such fatal ruin around it and the church that only the body and the
entry house are able to assist it; sixty-two women who were inside had their
lives saved because, with the thunder of the storm, they all entered a small
chapel to commend themselves to God; the chapel was ordered by a religious
Almeida O Castelo de D. Dinis Filmar_Maquetación 1 27/01/14 12:37 Página 115
mada Maria de S. João Baptista, e ainda existe com opinião de inculpável
vida e singular virtude, e uma imagem de um Menino Jesus que está na capela, a quem é dedicada, tem obrado muitos milagres, como parece o presente, e só uma religiosa está em perigo de vida, porque depois do que
sucedeu, saindo da capela, caiu despenhada numa das ruínas; mas estão estas
religiosas ainda na inclemência do tempo, porque os madeiramentos e telhas,
tudo se rompeu, ainda os do coro e da outra casa, que está em pé, que no
mais até as paredes se arruinaram.
No baluarte de S. Francisco está uma quantidade de pedras de imensa grandeza das que voaram do Castelo, sendo este baluarte, como fica dito, o mais
distante dele e, pelo muito que estão enterradas, se considera excessiva altura
a que subiram e também porque, dando uma sobre um meio-canhão o amolgou, como se não fora de matéria tão sólida e forte, e outras, mais pequenas,
que caíram sobre várias pessoas, lhes fizeram conhecidas amolgaduras.
No fosso, estrada coberta e obras exteriores deste baluarte caíram muitas pedras e ainda na campanha, em distância considerável, e se arruinaram os parapeitos, sendo todos desta Praça revestidos a cantaria, como é toda a
muralha dela.
Na cortina que corre daquele baluarte para o de S. Pedro, onde está a Porta
que chamam da Cruz, caíram bastantes pedras e uma delas, que caiu sobre
o Corpo de Guarda, matou um dos soldados que estava dentro. Nas mais
partes da vila também houve considerável estrago e muitas casas caídas, mas
não com tanto excesso como naquelas que se tem relatado. Num telhado
ainda, em que não caíram pedras, ficou telha sã com a opressão do ar e rigor
do estrondo e, também, estalaram a maior parte dos madeiramentos das
casas, ainda as vigas da maior grossura.
As portas e janelas de todas as casas da vila se abriram com o estrondo e a
violência do ar, e as que estavam com ferrolhos, fechos ou trancas fortes, se
fizeram em pedaços e os ferrolhos, ainda os mais grossos, estalaram e se dobraram.
No mesmo ponto que voou o Castelo começou a chover excessiva água - a
que se atribui não arderem todas as casas da vila sobre que tinha caído aceso
o morrão que estava nos armazéns, e que a água apagou e também abateu o
pó das ruínas - que bastaria para afogar a gente. Esta chuva durou só uma
hora, que foi o tempo que bastou para servir de remédio, sem acrescentar
dano.
Tiveram também estes miseráveis moradores segundo sobressalto porque,
duas horas depois do primeiro sucesso, por entre as ruínas do Castelo se
devia comunicar o fogo à parte onde estavam as bombas, granadas, alcanzias
(?), lanças, petardos e outros petrechos de fogo, ainda carregados do tempo
da guerra, e todos rebentaram, mas sem nenhum dano porque já estavam
sufocados debaixo da imensa quantidade de pedra que lhe tinha caído em
cima.
Já que se tem referido o horrendo castigo que Deus deu a todos os que se
acharam nesta Praça, é preciso que também se publique a sua misericórdia
com que o moderou com a chuva, para não arderem as casas; como já ficou
dito, com ser o sucesso a horas que todos estavam recolhidos em casa, porque
se andara gente pelas ruas, toda ficaria morta, que a violência do estrondo e
do ar oprimido romperam as janelas, com muita mais facilidade mataria os
viventes e também (caso nunca visto em tão fatal e geral ruína) em morrerem
só vinte pessoas e ficarem feridas quarenta, que só dez têm evidente perigo
de vida, e em sucederem prodígios que parecem milagres de que só se relataram alguns, porque a referir todos fora necessário grande volume.
Ao Capitão de cavalos, João de Requerent, Francês de nação, veio-lhe a casa
abaixo, em que estava dormindo, fazendo-se-lhe em pedaços o leito que de
uma trave lhe cobria só o tamanho do corpo, sem sentir nenhuma moléstia.
O Sargento-mor Engenheiro Jerónimo Velho de Azevedo, arruinando-selhe toda a casa e fazendo-se-lhe em pedaços o leito em que estava com sua
mulher, ficaram ambos num canto, ele só com uma leve escalavradura na
testa e ela com algumas nódoas, sem serem de cuidado.
woman called Maria de S. João Baptista, who still exists with the opinion of
blameless life and singular virtue, and an image of a Baby Jesus that is in the
chapel, to whom the chapel is dedicated, has wrought many miracles, as the
present situation, and only one religious woman has her life in danger, because
after what happened and when she was leaving the chapel, she fell prostrated
into some ruins; but these religious women are still faced with the weather’s
inclemency, because the wood and tiles were completely destroyed, as well as
those of the choir and of another house, which still stands, since even the walls
collapsed.
At the bulwark of S. Francisco, there is a quantity of great stones of those that
flew off of the Castle, being this bulwark, as was said, the furthest away from
it and, since many of them are buried, it is quite excessive the height that they
rose and also because one hit a cannon and dented it, as if it was not such a
solid and strong material, and others, smaller, which fell on several people,
causing them injuries.
At the ditch, covered walkway and outer works of this bulwark, many stones
collapses and also at the campaign, at a considerable distance and parapets
were ruined, being all parapets of the Place covered in stone masonry, as its
entire wall.
At the curtain running from that bulwark to the bulwark of S. Pedro, where
the Gate called Cruz is, many stones fell and one of them, which fell over the
Guards’ Corps, killed one of the soldiers that was inside. In the other parts of
the town there was also considerable damage and many fallen houses, but
not as excessive as those that are being reported. On a roof, in which no stones
fell, the tiles were sane with the air oppression and the size of the thunder and
most wood structures found at the houses cracked, even thicker beams.
The doors and windows of every house in the village were opened with the
noise and violence of the air and those that had strong locks, latches or tresses
were made into pieces and the bolts, even thick ones, cracked and buckled.
When the Castle blew up, excessive rain started to pour – reason why all of
the town’s houses didn’t burn to the ground due to the lit cinders that were in
the warehouse and that the water put out and also settled the dust of the ruins
– which would suffice to drown us. This rain lasted only an hour, which was
the time it took to serve as a remedy without adding damage.
These miserable residents had a second shock because two hours after the first
hit, amid the ruins of the castle, fire communicated with the part where there
were bombs, grenades, alcanzias (?), spears, and other fire weapons, still loaded from wartime, and they all exploded, but no damage was done because
they were smothered under the immense amount of stone that had fallen upon
them.
Since we are mentioning the horrendous punishment that God gave to all that
were found in this Place, we need to also publish his mercy, because he moderated it with the rain, so that the houses wouldn’t burn down; as it was said,
fortunately it was a time when all persons were in their homes, because if people had been walking in the streets, they would all be dead, such was the violence of the thunder and of the oppressed air that came in from the windows,
which would much more easily kill the living and also (never before seen in
such fatal and general ruin) only twenty people were killed and forty injured,
only ten have their lives in danger, and wonders took place that seem miracles,
of which some are reported, because a large volume would be needed to refer
to them all.
To the horses’ captain, João de Requerent, Frenchman, his house collapsed,
where he was sleeping, with a beam that only covered half his body shattering
his bed, without suffering any injury.
The Chief-Sergeant of Engineering, Jerónimo Velho de Azevedo, with his entire
house in ruins and the bed he was sharing with his wife shattered into bits,
they were both in a corner, him only with a mild abrasion in the forehead and
she with some bruises, without needing care.
António de Figueiredo, Factory’s Official, after the ruin of all the houses and
half of the bed he was sharing with his wife and a child, they were all found
alive in the other half, a rafter that fell from the ceiling serving them as support
115
Almeida O Castelo de D. Dinis Filmar_Maquetación 1 27/01/14 12:37 Página 116
António de Figueiredo, Oficial da Vedoria, arrasando-se-lhe todas as casas
e a metade da cama e que estava com sua mulher e uma criança, ficaram na
outra metade todos os três vivos, servindo-lhes de amparo uns caibros que
caíram do forro, e tendo em outra casa três filhos pequenos, também livraram com semelhante prodígio.
A mulher do Soldado Luís de Ávila, médico do partido do Hospital desta
Praça, que se achava fora dela, por ter ido visitar um doente, de todo se lhe
arruinaram as casas e ficou a mulher com sete crianças sem nenhuma moléstia, debaixo de umas tábuas que caíram do forro, parecendo impossível
caberem todos em tão pequeno distrito.
A mulher de Bernardo Gomes, mercador, caindo-lhe toda a casa em cima,
duas pedras da mesma que de cima caíram, sendo uma das que voou do
Castelo, lhe fizeram um nicho onde ficou viva e sem ferida, e a tiveram, depois de muitas horas em que esteve enterrada debaixo do entulho, já não podendo falar quando chegaram às pedras que a amparavam, mas botando
uma mão de fora se conheceu que estava viva e ficou sem perigo.
O Capitão de Infantaria António Soares e sua mulher lhe caiu toda a casa
em cima e, sem saber como, se acharam sem lesão no meio das ruínas.
A viúva de Manuel Ribeiro Xistro ficou enterrada, e o esteve muito tempo,
mas com o amparo que lhe fez uma escada ficou livre.
Uma filha de Manuel Roíz, ferrador, ainda de mama viva, na mesma cama
onde se achou a sua mãe e uma tia mortas e a criança pegando no peito da
mãe defunta.
Achando-se entre as ruínas dois moços órfãos de pai e mãe abraçados um
com o outro um morto e feito em pedaços e o outro vivo e sem nenhuma
lesão.
Outras muitas pessoas se tiveram debaixo das ruínas vivas sem saberem dizer
como escaparam.
Esta vila é da sereníssima Casa do Infantado, está situada na Comarca de Pinhel, a uma légua da Raia de Castela: compõe-se de 464 fogos, em que há
1323 pessoas de sacramento e 278 de confissão, fora os pequenos de menor
idade, que não entram neste número, como também não entra nele a guarnição militar que consta de um terço de infantaria com seus Oficiais e 500
Soldados e uma tropa de cavalos de 80."
Primeira e última páginas
do documento transcrito pertencente à
Biblioteca Nacional da Ajuda
(Ms. 50-V-34, f. 415 e 416v)
First and last pages of the transcribed
document belonging to the Biblioteca
Nacional da Ajuda.
116
and having their three small children in another house, all away from peril
with similar miracle.
The wife of Soldier Luis de Avila, doctor of the army at this Place’s Hospital,
who was outside, having gone to visit a patient, all homes were ruined and
the woman and their seven children were found with no injury, under some
planks failing from the lining, seeming impossible to all of them could fit in
such a small space.
The wife of Bernardo Gomes, merchant, having the house fallen on top of her,
two of the stones that are also fell, one of which flew off from the Castle, formed
a niche where she was found alive and without injuries and, after spending
many hours buried beneath the rubble, unable to speak when they got to the
stones that were sheltering her, but she put a hand out to show that she was
alive and without any danger.
The Infantry Captain, António Soares, and his wife had their house falling
on them and, not knowing how, they were found uninjured amidst the ruins.
The widow of Manuel Ribeiro Xistro was buried, and was buried a long time,
but with the support that she found on a staircase, she became free.
A daughter of Manuel Roiz, blacksmith, still breastfed, was found in the same
bed where her mother and aunt were also found, both dead, and the child
was latching to the breast of the deceased mother.
Among the ruins, two boys, orphan of father and mother, were found in an
embrace, one dead and made into pieces and one alive and without any injury.
Many other people were found under the ruins alive, without being able to
say how they escaped.
This village belongs to the most serene Casa do Infantado, is situated in the
District of Pinhel, a league of the dry frontier with Castile: it consists of 464
houses, in which there are 1323 people with sacrament and 278 of confession,
not counting the small children, which are not included in this number, nor
does this number include the military garrison, which consists of a third of
infantry with their officers and 500 soldiers and a troop of 80 horses.”
Almeida O Castelo de D. Dinis Filmar_Maquetación 1 27/01/14 12:37 Página 117
6.6.1 – A REFORMULAÇÃO DO NÚCLEO
DA FORTIFICAÇÃO APÓS 1695
A meio da noite de 24 de Agosto de 1695, no decurso de uma
violenta tempestade de Verão que se abateu sobre Almeida, desfecharam-se raios da trovoada sobre o ponto mais alto de toda
a região, a torre de menagem do Castelo. O resultado, com a explosão da pólvora que se guardava na torre, foi a ruína das componentes mais antigas da estrutura militar.
Não se conhecem ainda as datas e a autoria das decisões sobre a
adaptação funcional e arquitectónica do conjunto fortificado do
antigo castelo.
Uma das preocupações que ainda existiam em 1736 (data da
Planta de Manuel de Azevedo Fortes) relacionava-se com o
acondicionamento da pólvora, levando o Engenheiro-mor a
consignar um préstimo novo para os fossos manuelinos. Nem
o novo paiol, nem os outros dois armazéns que se projectavam
construir foram concretizados18.
Nas três situações as contra-escarpas seriam desmontadas, a fim
de se ganhar espaço transversalmente, ficando ocupada a extensão das cortinas respectivas. Isso permitiria manter integralmente os bastiões redondos com as contra-escarpas fronteiras,
o que só se compreenderá, do ponto de vista da segurança militar, acaso o nível inferior dos bastiões tivesse câmaras acasamatadas – tal como aventámos atrás, e de acordo com os
princípios exuberantemente demonstrados no exemplar maior
de Medina del Campo.
6.6.2 – OS REGISTOS ESPANHÓIS
APÓS A OCUPAÇÃO DE 1762
Um dos mais importantes retratistas / repórteres de Almeida
deste tempo foi o Engenheiro Antonio de Gaver, de quem começamos por resgatar uma planta com data de 1763. Para além
do nome da carta – referindo “Almeida y su castillo” no que, aparentemente, é rara menção do Castelo em título de cartografia
existente sobre a Praça-forte – o pequeno desenho do fortim inclui um elemento que não aparece posteriormente: uma construção exterior ligada à fortificação por aquilo que aparenta ser
um pontão de serventia (curiosamente, falta a ponte da entrada).
Existe um documento, sugerindo ser uma fase preparatória da
carta atrás citada, contendo o aspecto que registámos sobre o
castelo. É atribuível ao mesmo autor, sabendo-se que Gaver participara19 nos trabalhos do cerco de Agosto de 1762 e, sobretudo,
após o assalto. No documento em referência está escrita uma
nota sobre Almeida: “Tomada el 5 de Agosto de 1762 despues
de 10 días de trinchera abierta”.
tification via what seems to be a pontoon with full use (oddly
enough, the entrance bridge is absent).
There is a document, suggesting a preparatory phase of the abovementioned letter, containing the aspect that we recorded over
the castle. It is attributable to the same author, knowing that Gaver
participated19 in the siege work in August 1762, and especially
after the assault. In the document referenced, there is a note on
Almeida “Taking of 5th August, 1762, after 10 days with an open
trench”.
Apart from these records, the Spanish occupations leaves us yet
another plan and description by Antonio de Gaver that shows,
with extraordinary precision, the state in which Almeida is found
at that time. That iconographical piece is highlighted, since it is
quite important.
Together with another drawing (Plant and Section, exclusively dedicated to the “castle of the place”), also produced during that period by other Spanish engineers that were in Almeida (Joseph
Hermosilla and Esteban Peñafiel) – this final chart by Antonio de
Gaver, 1973, has a precious note regarding the fort essentially repeating the indications made by Hermosilla and Peñafiel, but with
very interesting additional details.
All that information was used to compose, with a degree of reliability that we consider to be great, the general image of the third
stage of the evolution of the Castle of Almeida.
Finally we mention, with respect to one of the biggest names in
engineering of Almeida, the creation of the mills that are today
very interesting archaeological evidence. The Sergeant Major of
Infantry (acting as an Engineer) Miguel Luis Jacob, with professional integrity already recognized to the experienced Engineer in
the work of the northern Alentejo, shall intervene in Almeida after
regaining possession after the departure of the Spanish, in order
18
Deve-se a Azevedo Fortes, dentre os
projectos realizados, o enorme Quartel de
Infantaria, ou das Esquadras, obra emblemática de Almeida pelo carácter distintivo que empresta ao ambiente urbano.
The enormous Infantry Barracks or of Esquadras is owed to Azevedo Fortes,
among other projects constructed, emblematic work of Almeida by the distinctive
character that it gives to the urban environment.
19 “A captura de Almeida pelas tropas espanholas em 1762 representa um marco
na história da fortificação fronteiriça por
vários motivos. Em primeiro lugar, Espanha concentrou mais de vinte dos seus
melhores engenheiros, alguns dos quais
seriam responsáveis por importantes projectos da fortificação do império espanhol
nas Américas, como Silvestre Abarca na
fortificação de Havana ou Agustín Cramer na de Montevideo; por outro lado,
produziu a constatação das deficiências
tácticas da defesa de Almeida”
“The capture of Almeida by the Spanish
troops in 1762 represents a historical landmark of the history of frontier fortifications
for several reasons. Firstly, Spanish gathered more than twenty of its best engineers,
some of which responsible for important
fortification projects across the Spanish empire in the Americas, such as Silvestre
Abarca at the fortification of La Habana or
Agustín Cramer at Montevideo’s; on the
other hand, it produced the finding of the
tactical deficiencies of Almeida’s defense” in COBOS, Fernando e CAMPOS, João –
“Almeida / Ciudad Rodrigo – A Fortificação da Raia Central”, p, 178, 2013.
117
Almeida O Castelo de D. Dinis Filmar_Maquetación 1 27/01/14 12:37 Página 118
to recover the Fortress, to which he dedicate himself until the end
of his life. He was a tireless worker, drawing the recovery of many
spaces, adapting buildings to modern military functions.
Among his works, one observes the adaptation of Bulwark of
Nossa Senhora das Brotas or Trem, the Bread Factory “for the
troops”, which generated the need for the increased production of
flour milling. This results in the three mills, whose archaeological
marks are still easily detectable in the archaeological site of the
Castle. The first record to include them is the Plant by Miguel Luis
Jacob, notable chart for being the only that states, in addition to
the attacks, the damage to the walls. We do not know why the wall
of the counter-escarpment advanced, occupying the ditch and verticalizing the wall at this new component.
6.6.3. – READING AN IMPORTANT PROFILE
OF THE STRONGHOLD DATED FROM 1766
Giving even further importance to the work Jacques Funck
conducted in Almeida, one will emphasize the drawings annexed to the Reports archived at the Military Historical Archive, Lisbon. One has adapted the remarkable General
Letter to create the cover of this book, paying homage to the
Author. In the Report that incorporates this and other highly
interesting drawings, the Colonel of Engineering Jacques
Funck produces a very adjusted (and prescient) analysis over
the disability (and presumable consequences) of the Castle,
although the magazine “is quite good and can hold approximately 600 barrels. It has, however, the defect of being surrounded, at a short distance, by other magazines built from
wood and located at such a high level that makes them visible
from the outside. The castle is quite small and, as such, exposed to great danger. If, by chance or even intentionally, fire
was to reach and penetrate the magazines, all ammunition
would be lost at the same time. One must also add another
drawback: its weak capacity; insufficient to store the amount
of powder required to defend the town in case of siege and,
in addition, the distributions that would need to happen on
a daily basis, from a single magazine, would expose it, at all
times, to great danger.”
Inside the castle, Funck considered that the “warehouses for
food and ammunition that were installed in the castle (…)
are quite good, only having the defect of not being big
enough, of not having been built bomb proof and of being
too close to gunpowder magazines”, both the one inside,
bomb proof and the other two, in wood, located outside the
castle.
118
Almeida O Castelo de D. Dinis Filmar_Maquetación 1 27/01/14 12:37 Página 119
Além desses registos, a ocupação espanhola deixa-nos também
outro plano e uma descrição de Antonio de Gaver que reflecte,
com extraordinária precisão, o estado em que Almeida se encontrava naquela altura. Fazemos dessa peça iconográfica um
destaque, face à sua importância.
Juntamente com outro desenho (Planta e Secção, exclusivamente
dedicados ao “castillo de la plaza”), também produzido por esse
tempo por outros engenheiros espanhóis que estavam em Almeida (Joseph Hermosilla e Esteban Peñafiel) – esta última carta
de Antonio de Gaver, de 1763, contém um apontamento precioso da configuração do fortim, no essencial repetindo as indicações de Hermosilla e Peñafiel, mas com pormenores
adicionais muito interessantes.
De tudo isso nos servimos para compor, com um grau de fidedignidade que reputamos grande, a imagem geral da terceira
fase da evolução do Castelo de Almeida.
Mencionamos finalmente, com relação a um dos nomes importantes da engenharia de Almeida, a criação das atafonas que são,
hoje-em-dia, uma evidência arqueológica muito interessante. O
Sargento-mor de Infantaria com exercício de Engenheiro Miguel
Luís Jacob, com a probidade profissional já reconhecida ao Engenheiro experimentado nos trabalhos do Norte alentejano,
passa a intervir em Almeida logo após a retoma da posse após a
saída dos espanhóis, a fim de recuperar a Fortaleza, a ela se dedicando até ao final da sua vida. Foi um trabalhador incansável,
desenhando a recuperação de muitos espaços, adaptando as
construções às modernas funções militares.
Entre as suas obras conta-se a adaptação do Baluarte de Nossa
Senhora das Brotas, ou do Trem, a Fábrica do Pão “de munição”, o que terá gerado a necessidade de maior produção de
moagem de farinha. Surgem assim as três atafonas, cujas marcas arqueológicas são ainda hoje facilmente detectáveis no
campo arqueológico do Castelo. O primeiro registo em que
aparecem é na Planta de Miguel Luís Jacob, carta notável por
ser a única que indica, para além dos ataques, os prejuízos causados às muralhas. Desconhecemos a justificação para o
avanço sobre o muro da contra-escarpa, ocupando o fosso e
verticalizando o muro nessa nova componente.
6.6.3 – A LEITURA DE UM IMPORTANTE PERFIL
DA PRAÇA-FORTE DATADO DE 1766
Fazemos jus à importância do trabalho que Jacques Funck realizou em Almeida, dando aqui relevo aos desenhos que se anexam aos Relatórios que se guardam no Arquivo Histórico Militar
de Lisboa. Da extraordinária Carta Geral fizemos adaptação
119
Almeida O Castelo de D. Dinis Filmar_Maquetación 1 27/01/14 12:37 Página 120
DESENHOS ESPANHÓIS DURANTE A OCUPAÇÃO DE ALMEIDA, APÓS O CERCO (1762/63)
SPANISH DRAWINGS DURING THE OCCUPATION OF ALMEIDA, AFTER THE SIEGE (1762/63)
Plano del castillo de la plaza de Almeyda
Dim.: 30,5 x 24,5 cm. Escala / Scale: 20 toesas.
Ref.: BN. MR/43/68, Biblioteca Nacional de España, Madrid
“PLANO DEL CASTILLO DE LA PLAZA DE ALMEYDA”, PELOS
ENGENHEIROS ESTEBAN PEÑAFIEL E JOSEPH DE HERMOSILLA
Este é o surpreendente documento iconográfico que nos chega, com alto
nível de explicitação, acerca da configuração do Castelo, após a sua reconversão como fortim moderno.
No plano dos Engenheiros Hermosilla e Peñafiel está claramente representada a “barreira artilheira” manuelina com os quatro cubos e o fosso
que a circundava. Dentro dela, o castelo medieval foi substituído por diversas dependências adossadas à barreira, havendo um edifício novo com
uma grande abóbada de berço – o paiol que explodiu no cerco de Agosto
de 1810. É muito significativa a adopção de um dispositivo complementar como o glacis, apesar das dificuldades orográficas do local e da escassez de área para a sua modelação em algumas vertentes.
Embora existam diferenças significativas, este desenho parece ter sido
utilizado no destaque que António de Gaver fez na sua grande planta
geral de Almeida. Será natural uma inclusão como essa, num trabalho
que, produzido uns meses após, era oriundo de uma prestação feita por
ajudantes de Gaver. Devido à qualificação deste técnico e ao facto de o
Castelo estar desenhado com aspectos que provêm de maior observação,
daremos mais crédito à segunda representação em aspectos como:
- a altura do terreno com o glacis;
- a proporção do fosso e elevação das cortinas e bastiões do Castelo Manuelino;
- o dimensionamento do paiol à prova de bomba;
- a eventual existência de um espaço de segurança entre o paiol e o interior da cortina da muralha.
“PLANO DEL CASTILLO DE LA PLAZA DE ALMEYDA”, BY ENGINEERS ESTEBAN PEÑAFIEL AND JOSEPH DE HERMOSILLA
This is the surprising iconographic document that arrived until us, with a
high level of explanation, about the configuration of the Castle, after its reconversion as a modern fort.
In the plan designed by Engineers Hermosilla and Peñafiel it is clearly represented the Manueline “artillery barrier” with its four towers and the surrounding ditch. Inside the medieval castle has been replaced by several
dependencies built against the barrier and a building with a big barrel vault
– the gunpowder magazine that exploded during the siege of August 1810.
It is very significant to the adoption of a supplementary device like the glacis, despite the local orographic difficulties and shortage area for its modeling in some orientations.
Although there are significant differences, this drawing seems to have been
used in the Gaver detail that Antonio de Gaver did in his great general plan
of Almeida. Such an inclusion like that would be natural, in a work produced a few months later, was from a provision made by Gaver ‘ collaborators. Due to qualification of this technician and the fact that the Castle
was drawn with features provided from further observation, one can give
more credit to the second representation in matters such as:
- terrain height with the glacis;
- the proportion of the ditch and the raising of the curtains and bastions of
the Manueline Castle;
- the scale of the dimensions of the bomb-proof gunpowder magazine;
- the probable existence of a safety area between the gunpowder magazine
and the interior of the curtain wall.
Almeida O Castelo de D. Dinis Filmar_Maquetación 1 27/01/14 12:38 Página 121
“PLANO DE LA PLAZA DE ALMEIDA SITUADA EN LA COMARCA
DE PINEL, AUNQUE SEPARADA LA JURISDICCIÓN, SE HALLA EN
LOS 40 GRS. Y 20 MINS. DE LATITUD, CON 11 GRS. Y 20 MINS. DE
LONGITUD” DATADA DE PEÑARANDA DE BRACAMONTE EM 15
DE MARZO DE 1763, FEITA POR ANTONIO DE GAVER.
“PLANO DE LA PLAZA DE ALMEIDA SITUADA EN LA COMARCA
DE PINEL, AUNQUE SEPARADA LA JURISDICCIÓN, SE HALLA EN
LOS 40 GRS. Y 20 MINS. DE LATITUD, CON 11 GRS. Y 20 MINS. DE
LONGITUD” DATED FROM PEÑARANDA DE BRACAMONTE, 15th
MARCH OF 1763, MADE BY ANTONIO DE GAVER.
Este plano foi elaborado pelo Engenheiro Antonio de Gaver em Peñaranda de Bracamonte, perto de Salamanca, em 1763. Descreve minuciosamente toda a rede urbanística da vila, incluindo o nome das ruas e
praças. As fortificações também são pormenorizadas e incorpora, em
destaque, a planta e o perfil do Castelo, que lembra vivamente o executado pelos Engenheiros José de Hermosilla e Estaban Peñafiel. Além
disso, acrescenta as plantas dos alicerces e segundo piso e um alçado do
Quartel de Infantaria.
Para facilitar a compreensão do plano e do regime jurídico, económico,
militar e político da vila de Almeida, incorpora uma extensa descrição,
no próprio plano, que, pelo seu inegável interesse, reproduzimos integralmente:
“Plano da praça de Almeida, situada na comarca de Pinhel, embora separada na jurisdição. Ocupa um terreno alto, algo mais de umas 8 toesas
sobre o nível da campanha, que domina em todos os seus circuitos; a sua
figura é um hexágono quase regular fortificado à moderna; é chave da précitada província, opõe-se ao forte da Conceição, construído pela nossa
parte na margem da ribeira de Tourões (que serve de linha de demarcação
que divide os dois reinos), distante da referida praça pouco mais de duas
léguas legais, todo terreno de labor e planície, com as suas muralhas revestidas de arranjada e boa silharia, com 3 toesas e 5 pés de altura do cordão
(sobre o qual corre um caminho de rondas, que terraplenaram os inimigos
no receio do sítio para dar mais grossura ao parapeito) até o nível do fosso,
com um reparo de uma berma ou liseira de toesa e meia do plano do fosso,
e 1 toesa e 5 pés de largo, que serve de plataforma e ainda parece que quiseram aperfeiçoá-la para falsa braga, deixando os seus fogos de nível ao
plano do caminho coberto; constava a população de 660 fogos, com 2.350
vizinhos, mas, com o estrago das bombas, ficaram arruinados os dois terços
da habitação; as ruas, na maior parte, têm pendente da igreja até a praça
principal, mais baixa do que ela umas 15 toesas. Nos circuitos da praça há
4 fontes saudáveis e abundantes e, a pouco menos de um tiro de fuzil, a
mais distante sem outras algo afastadas. Na praça principal há um poço
de 1 toesa e 5 pés de diâmetro que fornece para o servil a tropa e parte da
vila; e, no bairro de S. João, e entre algumas casas imediatas, há 60 poços
de água grossa e um pouco salobra, sem outros 3 na horta das religiosas.
O clima é são; no entanto, nalguns tempos experimentaram-se algumas
doenças com receios de epidemia. O governo militar reduz-se a um governador com grau de brigadeiro ou marechal de campo, o estado-maior e o
comandante geral da província da Beira Alta e Baixa, que reside nela. A
guarnição regular é de um regimento de infantaria, outro de cavalaria e
um terço de milícias, pronto para a sua defesa na comarca de Pinhel, sobre
o pé de 1.600 homens. No eclesiástico há um padre ou vigário na única
igreja paroquial, reduzida a uns 14 capelões soltos, um convento de freiras
de Santa Clara, regularmente de 30 até 50 religiosas, e extramuros, à distância de um quarto de légua, o convento do Cristo da Barca com o seu
guarda e 8 ou 10 religiosos terceiros de S. Francisco. O político reduz-se a
2 juízes ordinários para entender no civil e criminal com recurso ao tribunal de Vila Real, na província de Trás-os-Montes, três vereadores e um procurador de câmara, uma alfândega com ministros correspondentes; pagam
ao rei 500 reais de sisa e 4,5 por 100.
Edifícios militares
O castelo, fábrica do rei D. Dinis. São de muito boa silharia as muralhas e
quatro torres redondas terraplenadas e circuitadas de um peitoril de 3 pés
de grossura com a sua banqueta, que serve de parapeito, e uma plataforma
ou passagem encostada aos edifícios interiores, que são um armazém de
This plan was created by Engineer Antonio de Gaver in Peñaranda de Bracamonte, near Salamanca, 1763. It thoroughly describes the entire urban
fabric of the village, including the name of the streets and squares. The fortifications are also detailed and it even incorporates the plan and the section
of the castle, which clearly resembled the one performed by the Engineers
José de Hermosilla and Estaban Peñafiel. Futhermore, he adds the plants
for the foundations and second floor and a façade of the Infantry Barracks.
To help the understanding of the plan and of the juridical, economic, military and political features of the village of Almeida, the plan itself produces
a comprehensive memory, which is reproduced in full due to its undeniable
interest:
“Plan of the place of Almeida, located in the county of Pinel, but with an
independent jurisdiction. It occupies a high terrain, more than 8 toises
above the campaign level, which it dominates with its circuits; its shape
is an almost regular fortified hexagon in a modern fashion; it is the key
of the abovementioned province, opposing to the fort of La Concepción
built by us on the edge of the bank of Turones, (which serves as a demarcation line dividing the both kingdoms) distant from that place by a little
more than two legal leagues, the entire terrain made of working fields and
plain, its walls lined with neat and good ashlar, 3 fathoms and 5 feet high
from the revetment (on which one finds the chemin-de-ronde, which the
enemies embanked, fearing a siege, to provide more thickness to the parapet ) to the pit level, with a reinforcement of a edge of one and a half
toises from the ditch and 1 toise and 5 feet of width, which act as a platform and it seems they wanted to perfect it to a fausse-braie, leaving its
embrasures at the same level of the chemin-de-ronde; it has 660 houses,
with 2350 inhabitants, but the damages caused by the bombs have ruined
two thirds of the houses, the majority of its streets go from the church to
the main square, lower than the first by 15 toises. The place’s circuits have
4 healthy and abundant fountains, reachable by musket shot the most distant one without others more distant. On the main square, there is a well
of 1 toise and 5 feet of diameter, which supplies the army and part of the
population and on the neighborhood of São João and between some houses, there are 60 wells with thick and unhealthy water and 3 others on the
nuns’ orchard. The climate is good, but some time ago there were some
bouts of illness with fear of epidemics. The military government is reduced to a governor, ranked as a brigadier or field marshal, the general chief
of staff and the commander of the province of Beira Alta and Baixa, who
resides there. The regular garrison is of an infantry regiment, another of
cavalry and a third of militias, reading for its defense in the municipality
of Pinhel, of approximately 1,600 men. Regarding the religious, there one
priest or vicar in the only parish church, reduced to some 14 chaplains, a
nuns’ convent of Saint Claire, regularly with 30 to 50 nuns, and, outside
the walls at a distance of one quarter of a league, the convent of Cristo da
Barca, with its keeper and 8 to 10 friars praying to S. Francis. The political
domain is reduced 2 ordinary judges to judge civil and criminal proceedings, with appeals been judged by the Court of Vila Real, in the province
of Trás-os-Montes, three councilors, a lawyer, a customs house with respective secretaries; they pay the King 500 reales of sisa and 4.5 for 100.
Military buildings
The castle, ordered by King Dinis, its walls are of good ashlar and it has
four embanked round towers, surrounded by a ledge of 3 feet of thickness,
with its banquette, acting as a parapet, and a platform or passage attached
to the inner buildings, which are a bomb-proof gunpowder magazine, with
slabs of 12 toises and 3 feet long and 6 toises and 3 feet wide on the outside,
121
Almeida O Castelo de D. Dinis Filmar_Maquetación 1 27/01/14 12:38 Página 122
PLANO DE LA PLAZA DE ALMEIDA SITUADA
EN LA COMARCA DE PINEL, AUNQUE
SEPARADA LA JURISDICCIÓN, SE HALLA EN
LOS 40 GRS. Y 20 MINS. DE LATITUD, CON 11
GRS. Y 20 MINS. DE LONGITUDE / Antonio de
Gaver. Peñaranda de Bracamonte, 15 de marzo
de 1763.
Trata-se de uma peça desenhada de grande
dimensão (102,4 X 99 cm, escala de 200 toesas
na planta e de 50 no perfil). Na margem inferior
direita:
It is a drawing of large dimension (102,4 X 99
cm, scale 200 toesas and 50 toesas for section). In
the lower right margin: “Se levanto este plano
por orden del exmo. señor conde de Aranda
teniente general de los ejercitos de S.Magd. y
comandante general del ejercito de Portugal” –
Arquivo do Centro Geográfico del Ejército,
Madrid, CGE. Ar.G bis-T.6-C.4-131.
pólvora à prova coberto de lajes embutidas com 12 toesas e 3 pies de longo
e 6 toesas e 3 pés de largo pela parte exterior, cujo paramento é de muito
boa silharia, com o seu muro de guarda-fogo mas sem nenhum respiradouro para a ventilação da pólvora; à esquerda da entrada há um armazém de apetrechos de 15 toesas de longo, 4 de largo, com segundo piso de
tábuas, mas sem tecto; na direita, e quase unida à parede de resguardo do
armazém, está a sala de armas; tem 12 toesas e 3 pés, também com segundo piso de tábuas e sem teto, de modo que estes edifícios deixam um
pátio de 21 toesas de longo e 11 de largo e, no meio, um poço de abundante
água doce de nascente.
No baluarte chamado das Casernas há, construídas sob o terrapleno, 19
abóbadas que, ao todo, compõem 113 toesas de longo e, umas por outras,
com 2 toesas, 5 pés de largo com abóbadas semicirculares de boa silharia
de só 3 pés no casco, por cujo motivo, no tempo do sítio, foram reforçadas
122
whose surface is of very good ashlar, with its firewall, but without ventilation for the gunpowder; to the left of the entrance, there is a utensils storage
area, 15 toises long and 4 wide, with a second floor of wooden boards, but
no ceiling; to the right and almost attached to the wall guarding the storage
is the gun room, 12 toises and 3 feet, also with a second of wooden boards
and no ceiling; this way, these buildings create an area of 21 toises long
and 11 wide and, in the middle, there is a well with plenty of spring water.
On the bulwark called of the Casernas, 19 vaults were built under its embankment, which are 113 toises long and some have 2 toises and 5 feet of
width, with semicircular vaults of good ashlar of only 3 feet at their center,
reason why they were reinforced, during the siege, with debris and earth
and of approximately 3 toises wide, able to provide accommodation for
1,000 men, counting with the third part of use, creating at the center a
small patio of 8 toises in length and 5 in width, in the middle of which
Almeida O Castelo de D. Dinis Filmar_Maquetación 1 27/01/14 12:38 Página 123
com faxina e terra e quase 3 toesas de largo, capazes para se alojar 1.000
homens, contando a terceira parte de serventia, e deixam no centro um reduzido pátio com 8 toesas de longo e 5 de largo e, no meio, uma pia que
recebe um cano de água nascente, embora escasso: na abóbada da passagem da porta de Santo António ou do Socorro, de iguais circunstâncias que
a antecedente, serve com indiferença para 50 cavalos ou à infantaria e, de
um e outro lado, também, igualmente com abóbada, há um quarto para o
oficial e um capaz corpo de guarda e, em curta diferença, há o mesmo na
passagem do revelim que cobre essa porta: num dos lados da porta principal há um bom corpo de guarda para a tropa e oficial e um calabouço e
uma mestrança no baluarte das Abrotas: o único quartel é o estabelecido
imediato a esta porta e paralelo à cortina, os muros de boa alvenaria, repartido nuns reduzidos quartos de 4 toesas em quadro com 1º e 2º piso coberto com abobadilha de tijolo de rosca e resguardado sem tecto capaz de
alojar um regimento com incomodidade, e a isto se reduzem os edifícios
militares desta praça, só o hospital de S. João de Deus unido à alfândega”.
para a composição da capa deste livro, prestando homenagem
ao Autor. No Relatório em que incorpora aquele e outros desenhos de alto interesse, o Coronel Engenheiro Jacques Funck produz uma análise muito ajustada (e premonitória), sobre a
deficiência (e presumíveis consequências) do Castelo, apesar de
que o "paiol de pólvora é bastante bom e pode armazenar cerca
de 600 barris. Tem, no entanto, o inconveniente de estar rodeado
a pequena distância por outros paióis construídos em madeira
e situados em plano tão elevado que os torna visíveis do exterior.
O castelo é muito pequeno e por consequência exposto a grandes perigos. Se por acaso ou intencionalmente o fogo chegasse
a penetrar nos paióis, todas as munições se perderiam ao mesmo
tempo. Há que acrescentar ainda outro inconveniente: o da sua
fraca capacidade; são insuficientes para armazenar a quantidade
de pólvora necessária à defesa da cidade em caso de cerco e, além
disso, as distribuições a que se teria que proceder diariamente a
partir de um único grande paiol, expô-lo-iam, a todo momento,
a grande perigo.”
Dentro do castelo, Funck considerava que “os depósitos de víveres e de munições que foram instalados no castelo (…) são
bastante bons, têm apenas o defeito de não serem suficientemente grandes, de não terem sido construídos à prova de bomba
e estarem demasiadamente próximos dos paióis de pólvora”,
tanto o do interior à prova de bomba como dois outros, em madeira, localizados no exterior do castelo.
Num anexo a esse relatório é analisada a situação da fortaleza,
sintetizando: a Praça-forte de Almeida enquadra uma “colina
sobre a qual a cidade está situada, cobrindo todos os lados, sendo
a inclinação é mais acentuada do lado oeste do que leste. O lugar
mais elevado dessa colina é protegido por um forte antigo de
quatro torres e um fosso".
there is a pew that receives a pipe of spring water, although scarce; in the
vault providing passage at the door of San António or del Socorro, with
equal circumstances than the one before, easily lodged either 50 horses or
infantry, with vault on both sides, with a room for the officer and a room
to receive the Guards’ corps and, over a short difference, the same exists
on the passage of the ravelin that covered this door: on one of the sides of
the main gate, there is a good Guards’ Corps for the troops and officer and
a dungeon and an armory in the bulwarks of the Abortas; the only barracks
are those established immediately on this door and parallel to the curtain,
with walls of good masonry, divided into some reduced areas of 4 square
toises with the 1st and 2nd floor covered with a small vault of bricks in a
spiral and safe, but without roof, able to lodge a regiment with some discomfort and this is the list of the military buildings of this stronghold, only
the hospital of San Juan de Dios attached to the customs”.
Peñaranda de Bracamonte em Março / March, 1763.
Dn. Antonio de Gaver
In an annex to that report, the situation of the fortress is analyzed, synthetizing: Almeida’s stronghold is framed by a “hill
over which the town is located, covering all sides with a steeper slope on the west side than on the east. The highest point
of this hill is guarded by an ancient fort of four towers and a
ditch.”
That orography is referred to on the extraordinary drawing
that accompanies the Report by the Swedish Engineer, a
great draughtsman, with 8 records of terrain sections (see reproduction on the highlight given to the documents by this
author). Herein, the section corresponding to the “Profil tiré
au milieu de la Ville d’Almeida depuis le Plus haut Ouvrage
de la Fortification jusqu’au plus bas” is reproduced, with a
detailed annotation of the noteworthy buildings according
to the ABCD longitudinal line. In an extremely secure report, Funck casts some light one several aspects that are gone
today, not only the Castle and the Mother Church that stood
beside it. The following data is clearly observed (from left to
right):
-The existence of a palisade on the covered walkway, both
on the lowest (eastern) and the highest point (west);
-The complex configuration of the parapets of the ravelin of
the Horta do Governador or of Amores (at the time, none of
these designations appear);
-The perfect definition of the ditches (including the edge in
the curtain between the bulwarks of S. Franscisco or Chafariz
or S. João de Deus), with the bulwark of S. Francisco in the
posterior plan, but significantly above the level of the base
of ravelin, thus leaving the lowest area of the walls’ system
well marked;
123
Almeida O Castelo de D. Dinis Filmar_Maquetación 1 27/01/14 12:38 Página 124
Dessa orografia nos dá conta o extraordinário desenho que
acompanha o Relatório do Engenheiro Sueco, grande desenhador, com 8 registos de secções do terreno (ver reprodução no
destaque dos documentos de autoria desse autor). Reproduzimos aqui a banda correspondente ao “Profil tiré au milieu de la
Ville d’Almeida depuis le Plus haut Ouvrage de la Fortification
jusqu’au plus bas”, com um pormenorizado apontamento dos
edifícios notáveis segundo a linha longitudinal ABCD. Num registo muito seguro, Funck elucida-nos sobre diversos aspectos
hoje desaparecidos, que não apenas o Castelo e a Igreja Matriz
que lhe ficava ao lado. Nele se observam claramente (da esquerda para a direita) os seguintes dados:
- a existência de paliçada no caminho coberto, tanto no lado
mais baixo (Nascente), quer no ponto mais alto (Poente);
- a configuração complexa dos parapeitos do revelim da Horta
do Governador ou dos Amores (na altura não surgindo nenhuma destas designações que lhe estão atribuídas);
- a definição perfeita dos fossos (incluindo a berma na cortina
entre os baluartes de S. Francisco e do Chafariz ou de S. João de
Deus), com o baluarte de S. Francisco no plano posterior, mas
sensivelmente acima da cota da base do revelim, deixando assim
bem assinalada a área mais baixa do sistema de muralhas;
- a expressão do Convento das Freiras, com uma singela torre
sineira na igreja de Nossa Senhora do Loreto;
- o alçado da face interna da Porta Interior de S. Francisco, juntamente com o longo apontamento da fachada lateral do Quartel
das Esquadras (sem faltar do escadório sugerido);
- aproximando-nos do alto do Castelo vê-se um muro de suporte
com uma plataforma e, logo a seguir, aquilo que parece ser o alçado de outro muro, correspondente provavelmente a uma cota
aplanada que ainda hoje subsistirá, antecipando a área do antigo
cemitério;
- no ponto mais alto do terreno a Igreja Matriz sobrepõe-se ao
alçado do Castelo. Deste vê-se, claramente, do lado direito do
antigo templo, o bastião redondo Noroeste do fortim, com o
grande paiol à prova de bomba em segundo plano, finalizando
com um escorço em que se vê o desenvolvimento da cortina
entre aquele bastião e o de Sudoeste;
- descendo depois, no lado Poente, para o fosso, vemos o perfil
da cortina e o volume lateral da Porta Interior de Santo António,
entre o baluarte de Nossa Senhora das Brotas (ou Abróteas,
como escreve Funck) e o baluarte de S. Francisco;
- apresenta-se-nos então uma ponte dormente, em madeira, comunicando com o grande revelim de Santo António, tendo em
fundo o flanco e a face direita do baluarte de Santo António, no
124
-The expression of the Nuns’ Convent, with a simple bell
tower at the church of Our Lady of Loreto;
-The façade for the internal face of the Interior Gate of S.
Francisco, together with a long note of the lateral façade of
the Quartel das Esquadras (along with the suggested stairway);
-Approaching the top of the Castle, one sees a retaining wall
with a platform and, soon after, what seems to be the elevation of another wall, probably corresponding to a flattened
height that still stands today, anticipating the area of the former cemetery;
-At the highest point of the terrain, the Mother Church overlaps the elevation of the Castle. This is clearly seen on the
right side of the ancient temple, the northwest round bulwark of the fort, with the great bomb-proof magazine in the
background, ending with a foreshortening in which one sees
the development of the curtain between that bulwark and
the southwest bulwark;
-Afterwards, descending on the western side towards the
ditch, one sees the profile of the curtain and the lateral volume of the Interior Gate of Santo António, between the bulwark of Nossa Senhora das Brotas (or Abróteas, according
to Funck’s spelling) and the bulwark of S. Francisco;
-He then presents a sleeper bridge, of wood, communicating
with the great ravelin of Santo António, having as a backdrop
the flank and right face of the bulwark of Santo António, in
the middle of which there is a construction (in the plant by
the Colonel of Engineering, there is no indication of its function);
-The section of ravelin presents the great development of the
parapets, ending at the apex of the curtains with a typical cylindrical watchtower that punctuates the entire fortification;
-The External Gate of Santo António (still without the development that characterizes it today) is not featured in the
drawing, although one sees the wooden bridge that provides
access to the glacis and to the exit, as a cut, of the fortress;
-To finish, the covered walkway, supported by a palisade, as
said in the beginning.
This record has a meridian clarity about the essential configuration of the fortress, including the fort that occupied the
high point of the hill from the inside of the great walls. This
is, therefore, the full confirmation of the Castle’s profile that
one has via the drawings by Hermosilla e Peñafiel and by António de Gaver.
Almeida O Castelo de D. Dinis Filmar_Maquetación 1 27/01/14 12:38 Página 125
Plano de la plaza de Almeida (Parcial / Partial)
Dim.: 56 x 72 cm.
Ref.: SH. POR 4-16, Instituto de História y
Cultura Militar, Madrid.
Desde antes do documento de Azevedo Fortes
(1736), a configuração do Castelo está bastante
estabilizada. Nesta carta de Antonio de Gaver
(antecipando a chegada de importantes
Engenheiros ao serviço do Exército português)
repete-se o ícone que, atravessando um século,
desapareceu em 1810.
Since before the document of Azevedo Fortes
(1736), the setting of the Castle is well stabilized.
In this plan by Antonio de Gaver (anticipating
the arrival of important engineers serving
Portuguese Army) it is repeated the icon, which
crossed one century, disappearing in 1810.
meio do qual existe uma construção (na planta do Coronel Engenheiro não se indica a função);
- a secção do revelim apresenta o grande desenvolvimento dos
parapeitos, terminando no vértice das cortinas com uma típica
guarita cilíndrica que pontua toda a fortificação;
- a Porta Exterior de Santo António (ainda sem o desenvolvimento que actualmente a caracteriza) não aparece no desenho,
embora se veja a ponte de madeira que leva ao glacis e à saída,
em cortadura, da fortaleza;
- finaliza-se com o caminho coberto, precavido por paliçada, tal
como dissemos no começo.
Este registo é de uma clareza meridiana sobre a configuração essencial da Fortaleza, incluindo o fortim que ocupava o alto da
colina do interior das grandes muralhas. Está assim completa a
confirmação do perfil do Castelo que guardamos dos desenhos
de Hermosilla e Peñafiel e de António de Gaver.
Sobre o desenho abaixo: / On the following
drawing:
Detalhe da folha com os perfis da Praça-forte de
Almeida de Jacques Funck, 1766, reproduzida
adiante na janela documental sobre os Relatórios
do Engenheiro Sueco, sendo este o “Profil tiré au
milieu de la Ville d’Almeida depuis le plus haut
Ouvrage de la Fortification jusqu’au plus bas”.
Detail of the page with the profiles of Almeida’s
Stronghold by Jacques Funck, 1766, reproduced
ahead in the document window on the Reports
by the Swedish Engineer, this one being “Profil
tiré au milieu de la Ville d’Almeida depuis le
plus haut Ouvrage de la Fortification jusqu’au
plus bas”.
OS RELATÓRIOS DO CORONEL ENGENHEIRO JACQUES FUNCK, 1766
THE REPORTS BY COLONEL ENGINEER JACQUES FUNCK, 1766
“DEVISE GENERALE DES OUVRAGES ADDITIONEAUX NECESSAIRES POUR LA DEFENSE DE LA VILLE D’ALMEIDA”
DEVISE GENERALE DES OUVRAGES ADDITIONEAUX NECESSAIRES
POUR LA DEFENSE DE LA VILLE D’ALMEIDA”
Os documentos que se encontram no Arquivo Histórico Militar de Lisboa, de autoria de Jacques Funck (1766), representam a chave para algumas leituras sobre a configuração da Praça-forte na segunda metade
do século XVIII.
Em 1768 o Marquês de Pombal remete o técnico para a grande colónia
da América do Sul, onde irá orientar o desenvolvimento e defesa da nova
capital (transferida de Salvador da Baía)1. Tendo o Engenheiro Sueco
sido transferido para o Brasil, a intervenção para o melhoramento dos
dispositivos militares em Almeida é sobretudo comandada pelo grande
arquitecto e Sargento-mor de Engenharia Miguel Luís Jacob e seus colaboradores.
Essa acção, que nos vai deixar às portas das convulsões políticas de uma
Europa em revolução e da invasão de Portugal por extraordinários exér-
The documents found at the Historical Military Archive of Lisbon, created
by Jacques Funck (1766), represent the key for some readings on the configuration of the Stronghold during the second half of the 18th century.
In 1768, the Marquis of Pombal sends the technician to the large colony of
South America, where he will guide the development and defense of the
new capital (transferred from Salvador da Bahia)1. Since the Swedish engineer was transferred to Brazil, the intervention to improve the military
devices in Almeida is commanded by the great architect and Master Sergeant of Engineering Miguel Luis Jacob and his collaborators.
This action, which will lead us to the threshold of the political convulsions
of a Europe in the middle of a revolution and of the invasion of Portugal
by extraordinary foreign armies, was mainly to rehabilitate the existing heritage (except for the project of the Latrines, demolished later, which Funck
1
Realça-se o Plano da Vila do Rio de Janeiro com as Fortificações Propostas ou
o projecto do Arsenal do Trem e Quartel
de Artilharia, ambos de 1769, mas
devem incluir-se todos os projectos para
a defesa da baía de Guanabara, povoando a paisagem e determinando
(com a Igreja) a actividade urbanística
das últimas três décadas do século
XVIII, assim antecipando uma capacidade de acolhimento como futura capital do Reino de Portugal e do Brasil.
Citam-se, no arco do Rio de Janeiro, os
fortes de S. Jorge, Lage e Santa Cruz, auxiliados pelos fortes do Leme, complexo
de Praia Vermelha e de S. Clemente,
além dos fortes do Calabouço, da ilhas
de Villegagnon e das Cobras, de S. Se-
125
Almeida O Castelo de D. Dinis Filmar_Maquetación 1 27/01/14 12:38 Página 126
citos estrangeiros, foi sobretudo a da reabilitação do património existente
(com excepção do projecto das Latrinas, depois demolidas, e que tão reclamadas eram por Funck, a fim de evitar os crónicos problemas de saúde
pública). Temos que excepcionar, igualmente, o extraordinário projecto
de Anastácio de Sousa e Miranda para o Corpo de Guarda Principal (actual Câmara Municipal), que ficará pronto para um comando improfícuo
no desastre do Cerco de Agosto de 1810.
Pela importância da descrição e dos projectos para melhoramento das
condições da Fortaleza de Almeida após a efémera ocupação espanhola
de 1762/1763, no âmbito da Guerra dos Sete Anos, fica aqui (a par de
outro2 de que se recolhe igualmente valiosa informação, quer pela descrição, quer pelos desenhos que também a acompanham) a transcrição
da tradução de um Relatório precioso, a que estão agregadas três importantes peças desenhadas:
“PLANO GERAL DAS OBRAS ADICIONAIS NECESSÁRIAS À DEFESA DA CIDADE DE ALMEIDA
bastião e da Conceição, todos triangulando fogos. Do lado de Niterói assinalam-se os fortes da Praia da Boa Viagem,
Gragoatá, São Luiz e a bateria da Praia
de Fora (Documentação da Marinha –
Divisão de Mapoteca e Biblioteca do Rio
de Janeiro).
We enphasize the Plan of the City of Rio
de Janeiro with the Fortifications proposals or draft as the Arsenal and Artillery
Barracks, both from 1769, but must include all projects up to defend Guanabara
Bay, populating the landscape and determining (with the Church) the urban activity of the last three decades of the
eighteenth century, thus anticipating a reception capacity as a future capital of the
Kingdom of Portugal and Brazil. We can
cite in the arch of Rio de Janeiro, the forts
of S. Jorge Lage and Santa Cruz, helped
by Forte do Leme, the complex of Praia
Vermelha and St. Clement, in addition to
the fort of Dungeon, the fortification of
the islands of Villegagnon and Cobras,
end the forts of St. Sebastian and Conceição, all of them triangulating fires. From
the Niterói side we note the forts of Praia
da Boa Viagem, Gragoatá, Sao Luiz and
the battery of Praia de Fora (Documentation of Navy - Divisão de Mapoteca e
Biblioteca do Rio de Janeiro).
2 RELATION DE LA DEFENSE D’ALMEIDA, 1766 - RELATION DE LA
VILLE D’ALMEIDA, LE TERREIN DES
ENVIRONS À UNE LIEU DE DISTANCE ET DE SES FORTIFICATIONS
ACTUELLES (1+7 pp. ms., acompanhado de dois notáveis desenhos, um
dos quais contendo a secção geral pelo
alto da Praça-forte
Accompanied by two remarkable drawings, one of which contains a general
section passing through the top of the
Stronghold), in Arquivo Histórico Militar,
Lisboa, PT AHM-DIV-4-1-02.
126
O bastião de S. Pedro é tão baixo que o terrapleno é quase visível por
toda a parte e tem pela frente alturas suficientemente próximas para
sobre ele exercerem o comando. Por esta razão, torna-se necessário erguer sobre ele um cavaleiro, de acordo com a construção, a, proposta no
plano anexo. Esta obra dará maior eficiência ao citado bastião e fará com
que exerça o comando sobre os terrenos circunvizinhos e as alturas que
lhe ficam defronte, permitindo-lhe também cobrir a parte interna das
outras obras de fortificação, que desse lado ficam à vista.
O flanco esquerdo do bastião de Santo António suplanta em mais de 30
pés de altura a face direita do bastião de S. Pedro, não consente a colocação de mais de quatro canhões e a sua defesa assenta num sistema de
fogos demasiadamente oblíquo para que possa exercer o comando sobre
o fosso e o caminho coberto que lhe ficam defronte. É, por consequência,
indispensável tornar o aludido sistema de fogos mais horizontal e duplicar, ao mesmo tempo, o número das suas bocas de fogo. Por estas razões
propõe-se que esse flanco sofra uma redução de alguns pés e que se lhe
coloque por cima um outro flanco recuado, de acordo com a figura, b,
constante do plano anexo. Esse flanco recuado ou adicional poderá permitir a colocação do mesmo número de peças que o outro, facto que se
traduzirá na possibilidade de exercer fogo duplo contra as alturas frontais, numa melhor defesa da face direita do bastião de S. Pedro e na possibilidade de tornar mais horizontal o sistema de fogos que enfiam o
fosso e o caminho coberto.
A cortina entre os bastiões de S. Pedro e de Santo António assenta sobre
terreno muito inclinado, o que faz com que a muralha fique bastante exposta à vista e sujeita a ser batida por fogos de enfiada. A solução para
este inconveniente estará em nivelá-la tanto quanto possível, a fim de
que possa, nesse sítio, oferecer protecção suficiente à parte interna das
fortificações. Para esse efeito é absolutamente necessário reduzir a muralha e o parapeito numa das extremidades e elevá-los na outra, até ficarem na mesma altura, e cobrir cada declive deslocando o parapeito um
pouco no sentido transversal, como se indica nas letras, C-C, do plano.
Esta transformação far-se-á com pouco trabalho e evitará certamente
que a parte interior da cortina seja batida, permitindo ao mesmo tempo
a colocação, aqui e ali, de canhões dirigidos contra as alturas frontais,
em caso de necessidade.
O revelim entre os bastiões de S. Pedro e de Santo António está construído sobre um grande declive e o terreno circunvizinho é bastante irregular, circunstância que lhe pode causar bastante dano por parte das
alturas adjacentes. Por esta razão é necessário dar maior comando a esse
revelim, o que se conseguirá através da construção de uma face recuada
paralela à face esquerda que seja superior em alguns pés de altura, obra
que poderá permitir um fogo duplo contra as alturas frontais. É também
claimed incessantly for, in order to prevent chronic health problems). We
have also make an exception for the extraordinary project of Anastácio de
Sousa e Miranda for the Main Guard Corps (now the Town Hall), which
will be ready for an unhelpful command during the disaster of the Siege in
August 1810.
For the importance of the description and the projects to enhance the conditions of the Fortress of Almeida, after the ephemeral Spanish occupation
in 1762/1763, during the Seven Years War, we reproduce herein (along with
other2 that also provides valuable information, both for its description and
for the accompanying drawings) the transcription of the translation of a
precious report, to which three important drawn pieces are aggregated:
“GENERAL PLAN OF ADDITIONAL WORK NECESSARY FOR THE
DEFENCE OF THE TOWN OF ALMEIDA”
The bulwark of S. Pedro is so low that the embankment is nearly visible all
over and, at the front, the heights at the front are close enough to exercise
control over it. For this reason, it becomes necessary to build a cavalier on
it, according to the construction, a, as proposed in the plan annexed. This
work will give greater efficiency to the said bulwark and cause it to exercise
command over the surrounding terrain and heights that are in front of it,
also allowing covering the internal part of other fortification works, which
are visible on that side.
The left flank of the bulwark of Santo António is 30 feet higher than the
right face of the bulwark of S. Pedro, not granting the placement of more
than four cannons and its defense is made via a firing system that is too
oblique to exercise command over the ditch and the covered walkway in
front of it. It is, therefore, indispensable to make the said firing system more
horizontal and to double, at the same time, the number of pieces of ordnance. For these reasons, it is proposed to reduce this flank by some feet,
placing on top another flank, indented according to the figure, b, shown in
the plan attached. This indented or additional edge may allow the placing
of the same number of the other, because that will mean the possibility of
exercising double fire over the heights in front, a better defense of the right
side of the bulwark of S. Pedro and the possibility of making the firing system more horizontal in relation to the ditch and covered walkway.
The curtain between the bulwarks of S. Pedro and Santo António is settled
on a very steep terrain, which makes the wall become quite exposed and
subject to being hit by enfilade fires. The solution to this drawback is to
flatten it as much as possible so that it may, at this site, offer enough protection to the internal part of the fortifications. For this purpose it is absolutely necessary to reduce the wall and parapet at one end and raise them
in the other, until they are at the same height and to cover every slope shifting the parapet transversally, as shown in the letters, DC, in the plan. This
transformation will be done with little work and will certainly prevent the
inside of the curtain from being hit, while allowing the placement here and
there of guns directed against the heights in front, if necessary.
The ravelin between the bulwarks of S. Pedro and Santo António is built
on a great slope and the surrounding terrain is very irregular, whereby
enough damage may be caused by the adjacent heights. For this reason, it
is necessary to give greater control to this ravelin, which will be achieved
through the construction of a recessed face, parallel to the left side, that
should be a few feet higher, a work that may allow a double fire against the
frontal heights. It is also necessary to level the right face with the recessed
face, all in accordance with the construction, d, d, appearing in the plan
annexed. This additional work will make the defense of the said ravelin
much more efficient and at the same time, will better cover the flank angles
of the bulwark, to the right and to the left, of the bulwarks of Santo Antonio
and S. Pedro, which are at present quite exposed.
Almeida O Castelo de D. Dinis Filmar_Maquetación 1 27/01/14 12:38 Página 127
necessário nivelar a face direita com a face recuada, tudo isto de acordo
com a construção, d, d, constante do plano anexo. Esta obra adicional
tornará a defesa do citado revelim bastante mais eficiente e, ao mesmo
tempo, cobrirá melhor os ângulos de flanco do bastião, à direita e à esquerda, dos bastiões de Santo António e de S. Pedro, os quais se encontram, de momento, bastante expostos.
As quatro alterações supra mencionadas abrangem as obras adicionais
necessárias à defesa do polígono entre os bastiões de S. Pedro e de Santo
António, mas o polígono que fica em frente deste, do outro lado da cidade, entre os bastiões do Chafariz e de Santa Bárbara, encontra-se também em situação idêntica: está situado em terreno muito inclinado e tem,
por consequência, o mesmo defeito que o outro, com a restrição de não
haver alturas tão perigosas desse lado. Os planos que se seguem mostrarão o estado das obras actuais, o projecto das novas e as condições em
que se encontram os respectivos terrenos.
The four above-mentioned changes include the additional work required
for the defense of the polygon between the bulwarks of S. Pedro and Santo
Antonio, but the polygon that is in front of the latter, on the other side of
town, between the bulwarks of Chafariz and of Santa Barbara, is also in
the same situation: it is situated on very steep terrain and has, therefore,
the same defect as the other, with the restriction that there aren’t any dangerous heights on that side. The following plans show the status of current
works, the project for new ones and the conditions in which the respective
terrains can be found.
The bulwark of Chafariz is 30 feet shorter than the one of Santa Bárbara,
which causes the internal part of the constructions of this polygon to be
completely uncovered. As the construction of a large underground beneath
the bulwark of Chafariz was begun, it would not only be very useful, to the
town, its completion, but it would also be necessary to build, just above this
bulwark, an earth cavalier, designed according to the figure, c, of the plan
annexed. This work, which would not be very expensive, would the com-
“CARTE / DE LA SITUATION DE LA / VILLE /
D’ALMEYDA / 1766”
Folha de rosto, primeira e última páginas do
Relatório de Jacques Funck Cover, first and
last pages of the Report by Jacques Funk
“DEVISE GENERALE DES OUVRAGES
ADDITIONEAUX NECESSAIRES POUR LA
DEFENSE DE LA VILLE D’ALMEIDA / 1766” AHM-DIV-4-1-02-01_m0012, m0013 e m0036 /
Arquivo Histórico Militar, Lisboa.
127
Almeida O Castelo de D. Dinis Filmar_Maquetación 1 27/01/14 12:38 Página 128
Folha de rosto, primeira e última páginas do
Relatório de Jacques Funck Cover, first and
last pages of the Report by Jacques Funk
“DEVISE GENERALE DES OUVRAGES
ADDITIONEAUX NECESSAIRES POUR LA
DEFENSE DE LA VILLE D’ALMEIDA / 1766” AHM-DIV-4-1-02-01_m0012, m0013 e m0036 /
Arquivo Histórico Militar, Lisboa.
Na página anterior / Back page
Rosto do manuscrito do Relatório de Jacques
Funck “DEVISE GENERALE DES OUVRAGES
ADDITIONEAUX NECESSAIRES POUR LA
DEFENSE DE LA VILLE D’ALMEIDA / 1766” AHM-DIV-4-1-02-01_ m0037 / Arquivo
Histórico Militar, Lisboa. Trata-se de um
documento de grande valor artístico,
demonstrando uma notável capacidade de
representação formal, mostrando o pormenor
topográfico e toponímico relevante para o raio
de influência militar directa da Praça-forte com
o seu castelo interior. É muito expressiva a
inscrição do vale do rio Côa, que constitui uma
barreira natural muito significativa e o avanço,
já dentro da Meseta Ibérica, da posição de
Almeida como marco fundamental da fronteira.
Cover of the Manuscript Report of Jacques
Funck “DEVISE GENERALE DES
OUVRAGES ADDITIONEAUX
NECESSAIRES POUR LA DEFENSE DE LA
VILLE D’ALMEIDA / 1766” - AHM-DIV-41-02-01_ m0037 / Arquivo Histórico Militar,
Lisboa. This is a document of great artistic
value, demonstrating a remarkable capacity
for formal representation, showing the
relevant topographic and toponymic detail to
the radius of direct military influence of the
Stronghold with its inner castle. It is an
expressive description of the Coa Valley,
which forms a very significant natural barrier
and the breakthrough, as in the Iberian
Meseta, of the position of Almeida as a
cornerstone of the border.
128
O bastião do Chafariz tem menos 30 pés de altura do que o de Santa Bárbara ficando, por consequência, inteiramente a descoberto a parte interna das construções desse polígono. Como se iniciou a construção de
um grande subterrâneo por baixo do bastião do Chafariz, seria não só
útil como bastante necessária à cidade a sua conclusão. Seria também
necessário erguer, precisamente por cima deste bastião, um cavaleiro de
terra, concebido de acordo com a figura, c, do plano anexo. Esta obra,
que não ficaria muito cara, duplicaria o comando deste polígono e cobriria, ao mesmo tempo, a parte interior de todas as construções que
ficam nesse local e que estão, de momento, demasiadamente expostas.
Os subterrâneos serão de grande utilidade durante um cerco, para o
acondicionamento de doentes e feridos, servindo também para a instalação de armazéns de toda a espécie, dada a presente escassez dos mesmos na cidade.
A cortina e o revelim acima do citado polígono podem ser dispostos segundo a construção E, F e S, constante do plano, quase pela mesma forma
como se mostra acima, no que respeita à cortina entre os bastiões de
Santo António e de S. Pedro. A poterna designada pela letra, h, no plano,
fica por baixo da cortina, perto do ângulo do flanco do bastião do Chafariz. É feita de madeira e começa já a apodrecer e, se acabar por cair de
vez, causará bastante dano à cortina sob a qual foi construída. Como é
necessária a existência de uma poterna nesse local, por onde se possa entrar em comunicação com as obras exteriores, é indispensável que seja
solidamente construída e que tenha, por cima, abóbada em cimento.
Os dois polígonos situados sobre o alto das escarpas a Noroeste da cidade
possuem também alguns inconvenientes, em particular o revelim entre
o bastião de Abrotas e o de Santa Bárbara, cuja defesa é impossível, como
se pode claramente ver pelos esquemas constantes do plano anexo. É necessário, por consequência, fazer algumas obras adicionais para a defesa
do fosso circunvizinho. Para esse efeito, nada poderá ser melhor e menos
dispendioso do que construir flancos reduzidos de cada lado e por baixo
dos outros flancos, pela forma sugerida pelas letras J, J, do plano.
É também necessário construir uma nova poterna por baixo da cortina,
mesmo defronte do local designado pela letra E, a fim de se poder estabelecer uma comunicação segura com o revelim e as obras mestras, uma
vez que não existe actualmente qualquer saída nesse local.
Diante desse revelim há um duplo declive mas, como o terreno defronte
desses dois polígonos é demasiado escarpado e o segundo declive feito
mand of this polygon and cover, at the same time, the inside of all the buildings on that site, which are at the present too exposed. The underground
will be very useful during a siege, for the accommodation of the sick and
wounded, also serving for the installation of warehouses of all sorts, given
the present shortage of them in the town.
The curtain and the ravelin above the said polygon must be disposed according to the constructions E, F and S, according to the plan, almost as is
shown above, regarding the curtain between the bulwarks of Santo António
and S. Pedro. The postern indicated by letter, h, in the plan is placed below
the curtain, near the flank angle of the bulwark of Chafariz. It is made of
wood and is beginning to rot and, if it eventually collapses, it will cause
great damage to the curtain under which it was built. Since the existence
of a postern at that location is needed, where it can communicate with the
external works, it is essential that it is solidly built and has a cement vault
on the top.
The two polygons situated on the top of the cliffs, to the northeast of the
town, also have some drawbacks, particularly the ravelin between the bulwark of Abrotas and the one of Santa Bárbara, whose defense is impossible,
as may be understood by the schemes on the annexed plan. It is necessary,
therefore, to conduct some additional works for the defense of the neighbouring ditch. For that effect, nothing could be better or less expensive than
building reduced flanks on either side and below the other flanks, as suggested by letter J, J of the plan.
It is also necessary to build a new postern beneath the curtain just in front
of the place designated by the letter E in order to establish a secure communication with the ravelin and master works, since there is currently no
exit at this location.
In front of that ravelin, there is a double slope, as the terrain in front of
these two polygons is too steep and the second slope made by this construction creates a very steep incline, the amount of land needed to fill the holes
would be such that this work would be difficult to implement. It is, therefore, more valuable to level even further the second covered walkway, which
is further ahead, and turn it into a bonnet on the angle of ravelin which
lies between the bulwarks of Abrotas and Santo Antonio, as described in
the letters, M, of the plan.
The two said bonnets may efficiently defend this great scarp in front of
these two polygons, whose defense is nearly impossible currently, mainly
the protruding angle of the slope in front of the bulwark of Santo António,
Almeida O Castelo de D. Dinis Filmar_Maquetación 1 27/01/14 12:38 Página 129
por essa construção cria um talude muito acentuado, a quantidade de
terra necessária para encher as covas seria tal que tornaria essa obra de
difícil execução. É, por isso, que vale mais nivelar o segundo caminho
coberto, que fica mais adiante, e transformá-lo num barrete sobre o ângulo do revelim que fica entre os bastiões de Abrotas e de Santo António,
como se indica nas letras, M, do plano.
Os dois barretes mencionados podem defender eficazmente esta grande
escarpa diante desses dois polígonos, cuja defesa é quase impossível actualmente, sobretudo o ângulo saliente do declive que fica diante do bastião de Santo António, o qual é mais escarpado que qualquer das outras
obras. O revelim que nesse local cobre a porta de Santo António tem necessidade de uma pequena obra em forma de declive, a realizar na extremidade da ponta, conforme se indica nas letras, N, do plano. A ponte
mencionada necessita de ser bem paliçada e fechada por uma barreira,
em caso de necessidade.
Os dois polígonos a Sudeste da cidade, situados na base do declive, necessitam sofrer uma elevação de alguns pés em todos os ângulos salientes,
sobretudo na ponta do bastião de S. Francisco, onde se deverá construir
um barrete que permita defender melhor o interior da cidade e a parte
interna das obras que ficam à direita e à esquerda, de harmonia com o
projecto designado pela letra, O, no plano anexo. Como nesse local não
há espaço suficiente para a instalação de pequenos armazéns que fiquem
a coberto em caso de cerco, propõe-se a abertura da gola do bastião de
S. Francisco, pela forma indicada nas letras, P, do plano, destinando-se a
terra obtida a ser utilizada nas obras adicionais.
Os dois revelins, à esquerda e à direita do bastião de S. Francisco necessitam também da construção de dois barretes, uma vez que se encontram
de momento um tanto expostos, por serem bastante visíveis do exterior.
Estas obras vão designadas no plano pelas letras, Q, V.
É de particular importância a construção do barrete no revelim que fica
entre os bastiões de S. Francisco e de S. Pedro, porque se destina também
a proteger a entrada ou porta que fica desse lado da cidade. É necessário
que esse barrete seja construído com flancos que permitam melhorar o
comando sobre o caminho coberto à sua direita e esquerda e, também,
sobre as alturas que lhe ficam defronte. É também necessário fortificar a
extremidade da ponte que dá acesso a esse revelim, por meio de uma pequena obra cuja construção se assemelharia a um declive em forma de
barrete, como se indica nas letras, S, do plano. Esta obra será cercada por
paliçadas, tal como atrás se indicou a propósito do revelim diante da
outra porta da cidade.
Os parapeitos ao longo das fortificações da cidade estão construídos de
tal maneira que o seu conjunto assume a forma de um talude. Esse
grande talude torna-os demasiadamente fracos e incapazes de resistirem
ao choque de bala, se estas os atingirem ao centro, sobre a coroa dos parapeitos. Por esta razão é necessário erguer alguns pés, pela parte da
frente, todos os parapeitos que ficam por cima do cordão situado a Sul,
onde a cidade é muito baixa. Como se pode deduzir pela observação da
linha, A, B, C, traçada no primeiro plano do perfil de alguns bastiões que
se junta a este relatório.
Todos os parapeitos que ficam a Norte, sobre a parte alta da cidade, poderão ser reduzidos pela parte interna, sobre a coroa do parapeito, até
atingirem a mesma altura. O mesmo se recomenda quanto às muralhas,
as quais devem ficar proporcionadas como se indica nas letras, D, E, F,
do citado perfil.
Os revestimentos de alvenaria de todas as fortificações da cidade têm
grande necessidade de sofrerem reparações nos vários sítios onde a muralha se encontra fendida, desde o cimo do cordão atá à sua extremidade.
Diz-se que as fendas das muralhas foram motivadas pelo último tremor
de terra, mas é também de crer que seja consequência da sua má construção, como é fácil verificar em alguns sítios onde a muralha os curvou,
which is more sloped than any other work. The ravelin that covers the gate
of Santo António there needs a small slope-shaped work, at its ends, according to the indication of letters, N, of the plan. The said bridge needs to be
strongly palisaded and closed with a barrier, in case of need.
The two polygons to the southeast of the town, located at the base of the
slope, need to be raised a few feet in all protruding angles, mainly at the
end of the bulwark of S. Francisco, where a bonnet must be built to allow
the better defense of the inside of the town and the internal part of the
works to the right and left, harmoniously with project indicated by letter,
O, in the annexed plan. Since that place has not enough room to install
small warehouse, which would be safe in case of siege, one puts forwards
the opening of the neck of the bulwark of S. Francisco, as indicated by letter,
P, of the plan and the earth obtained should be used in additional works.
The two ravelins, left and right of the bulwark of S. Francisco also require
the construction of two bonnets, since they are somewhat exposed for the
time being, since they are quite visible from outside. These works are designated in the plan by the letters Q, V.
Of particular importance is the construction of the bonnet at the ravelin
that sits between the bulwarks of S. Francisco and S. Pedro, because it also
should protect the entrance or door that is on that side of town. It is necessary that this bonnet is constructed with flanks that allow the improvement
of the command over the covered walkways to its right and left and also
over the heights in front. It is also necessary to strengthen the end of the
bridge that provides access to this ravelin by means of a small work, whose
construction would resemble a slope-shaped bonnet, as described in the letters, ‘S’, of the plan. This work will be surrounded by palisades, as indicated
above concerning the ravelin on the other gate of the town.
The parapets along the town’s fortifications are constructed in such a way
that the entire set assumes the shape of a slope. This large slope makes them
too weak and unable to withstand the shock of bullets, if they hit them at
the center, over the crown of the parapets. For this reason, it is necessary to
raise, a few feet and on the front, all parapets located on top of the cordon
to the South, where the town is very low. As can be deduced by observing
the line, A, B, C, drawn in the first plan of the profile of some bulwarks, attached to this report.
All parapets located at the north, on the town’s higher part, may be reduced
internally, over the crown of the parapet, until they reached the same height.
The same is recommended for the walls, which should be proportional, as
indicated by letters D, E, F of the said profile.
The masonry coatings of all of the town’s fortifications have great need to
undergo major repairs in various places where the wall is cracked, from
the top of the cordon to its end. It is said that the cracks of the walls were
motivated by the last earthquake, but it is also believed to be a consequence
of their poor construction, as is easily observed some places where the wall
curved them, as a result of earthquakes and because they didn’t have
enough earth to support the strength of the bulwark. One easily reaches the
conclusion that they would not withstand cannon fire.
The weakest of these works is the left face of the bulwark of S. Pedro: on
the outside, it already has a slope of some feet, although it must be amongst
the first works to be carried out. The counter-scarpment also punctually
needs a few repairs and all places where the walls have the same conditions
have been designated by the numbers 1, 2, 3 etc. in the annexed plan.
The covered walkway surrounding the place needs to be raised a few feet,
in some places more than in others, because the base of the master works
is found uncovered, due to terrain irregularities and poor guidance offered
during the construction of said works.
To fully remedy this defect an expense too big would be needed; however,
it is absolutely necessary to properly repair the works that are in front of
two polygons covered by the large slope of the land to the northeast and
129
Almeida O Castelo de D. Dinis Filmar_Maquetación 1 27/01/14 12:38 Página 130
Folha desdobrável do Relatório de Jacques
Funck (incluindo um perfil geral da Praça-forte,
entre o ponto mais alto e o mais baixo do
recinto e mais sete secções do sistema
muralhado da fortificação, passando pelos
glacis fronteiros aos baluartes e a dois revelins)
Fold out sheet of the Report by Jacques Funck
(including a general profile of the Stronghold,
between the highest and the lowest points of
the enclosure and seven sections of the walled
fortification system, through the glacis in
front of the bulwarks two ravelins)
“RELATION DE LA DEFENSE D’ALMEIDA /
1766” - AHM-DIV-4-1-02-22_m0010 / Arquivo
Histórico Militar, Lisboa.
Planta de Almeida com a representação dos
edifícios militares existentes nos meados do
século XVIII, a indicação das linhas de corte
dos perfis constantes noutro desenho e o
conjunto das obras adicionais referenciadas no
Relatório de Jacques Funck Plan of Almeida
with the representation of existing military
buildings in the mid-eighteenth century, the
indication of the cut lines of the profiles
contained in another drawing and all the
additional works cited in the Report by
Jacques Funck “DEVISE GENERALE DES
OUVRAGES ADDITIONEAUX NECESSAIRES
POUR LA DEFENSE DE LA VILLE D’ALMEIDA
/ 1766” - AHM-DIV-4-1-02-01_m0038 /
Arquivo Histórico Militar, Lisboa.
130
Almeida O Castelo de D. Dinis Filmar_Maquetación 1 27/01/14 12:38 Página 131
em consequência dos abalos de terra e por não ter força suficiente para
suportar a terra do baluarte. Facilmente se conclui também que não suportaria o fogo dos canhões.
A mais fraca destas obras é a face esquerda do bastião de S. Pedro: tem
já pela parte de fora uma inclinação de alguns pés, sendo de toda a necessidade que figure entre as primeiras obras a serem levadas a efeito. A
contra-escarpa tem também necessidade, aqui e ali, de algumas reparações e todos os locais onde as muralhas se encontram nas mesmas condições vêm designados pelos algarismos 1, 2, 3 etc., no plano anexo.
O caminho coberto que cerca a praça tem necessidade de ser elevado alguns pés, em certos sítios mais do que noutros, porque a base das obras
mestras se encontra a descoberto como consequência da irregularidade
do terreno e da má orientação seguida na construção das referidas obras.
Para se remediar totalmente esse defeito seria preciso fazer uma despesa
demasiado grande. É no entanto absolutamente necessário reparar convenientemente as obras que ficam diante dos dois polígonos abrangidos
pela grande inclinação do terreno a Nordeste e a Sudoeste da cidade, de
acordo com as indicações constantes do plano anexo (desde I até L, e depois desde Q até T).
A base das obras mestras diante dos citados polígonos fica demasiadamente a descoberto e a parte interna do caminho coberto é actualmente
bastante visível do exterior, o que os sujeita a serem batidos por fogos de
enfiada. Como nesses dois locais o terreno é muito irregular, é preciso
repará-lo pela forma já proposta para as cortinas desses dois polígonos.
Assim, é de crer que nada se omitiu aqui que fosse necessário a uma defesa que abranja toda a praça, de acordo com as obras actuais e o respectivo terreno; contudo, para alcançar esse objectivo é necessário
acrescentar algumas obras às já existentes.
O castelo da cidade, designado pela letra V e que serve de paiol de pólvora, é bastante bom e pode armazenar cerca de 600 barris. Tem, no entanto, o defeito de estar rodeado, a pequena distância, por outros paióis
construídos em madeira e situados em plano tão elevado que os tornam
visíveis do exterior.
O castelo é muito pequeno e, por consequência, exposto a grandes perigos. Se por acaso ou intencionalmente o fogo chegasse a penetrar nos
paióis, todas as munições se perderiam ao mesmo tempo. Há que acrescentar ainda outro inconveniente: o da sua fraca capacidade; são insuficientes para armazenar a quantidade de pólvora necessária à defesa da
cidade em caso de cerco e, além disso, as distribuições a que se teria que
proceder diariamente a partir de um único paiol expô-lo-iam, a todo o
momento, a grande perigo. Por estas razões propõe-se aqui a construção
de dois paióis adicionais, à prova de bomba, cada um com capacidade
para 600 ou 800 barris; erguer-se-iam à direita e à esquerda da cidade, e
por forma a facilitarem a transmissão de ordens em caso de necessidade.
Os locais para a sua edificação vêm indicados pelas letras Z, Z, no plano
anexo.
Construiu-se à pressa (em madeira), durante o último cerco, um pequeno paiol de pólvora, por baixo da cortina do lado direito do bastião
de Santa Bárbara. A armazenagem de pólvora nesse local torna-se muito
perigosa para a citada cortina, motivo pelo qual se lhe poderia dar outro
uso mas, para tal, seria necessário reconstruí-lo em pedra e cal, porque
a madeira depressa apodrecerá debaixo da terra.
Os depósitos de víveres e munições que foram instalados no castelo, designados pela letra W, são bastante bons, apenas tendo o defeito de não
serem suficientemente grandes, de não terem sido construídos à prova
de bomba e de estarem demasiadamente próximos dos paióis de pólvora;
contudo, se os subterrâneos do cavaleiro da cortina, cuja construção foi
proposta, vierem a ser aprovados, haverá aí bastante lugar para esse efeito
durante um cerco, uma vez que todos deverão ser construídos à prova
de bomba.
west of the town, in accordance with the terms of the annexed plan (from
I to L, and then from Q to T).
The base of the master works in front of the said polygons would be too visible and the internal part of the covered walkway is currently quite visible
from the outside, which subjected them to be hit with enfilade fires. Since
the terrain is quite irregular at these two locations, one needs to repair them
in the manner already proposed for the curtains of these two polygons.
Thus, it is believed that nothing has been omitted here that was necessary
to a defense covering the entire place, according to the current works and
the respective terrain; however, to achieve this, it is necessary to add some
existing works.
The town’s castle, designated by the letter V and serving as a powder magazine, is quite good and can hold approximately 600 barrels. It has, however, the defect of being surrounded, at a short distance, by other
magazines built from wood and located at such a high level that makes
them visible from the outside.
The castle is quite small and, as such, exposed to great danger. If, by chance
or even intentionally, fire was to reach and penetrate the magazines, all
ammunition would be lost at the same time. One must also add another
drawback: its weak capacity; insufficient to store the amount of powder required to defend the town in case of siege and, in addition, the distributions
that would need to happen on a daily basis, from a single magazine, would
expose it, at all times, to great danger. For these reasons, it is proposed here
to build two additional magazines, bomb proof, each with a capacity of
600 or 800 barrels; they would be built on the right and left of the town
and in order to facilitate the transmission of orders in case of need. The
sites for such constructions are indicated by the letters Z, Z, in the annexed
plan.
Hastily, during the last siege a small gunpowder magazine was built (in
wood) under the curtain to the right side of the bulwark of Santa Bárbara.
The storage of gunpowder at this location is very dangerous for the said
curtain, reason why another use should be given to it, but, for such, it would
be necessary to rebuild it in stone and lime, because wood will soon rot
under the earth.
The warehouses for food and ammunition that were installed in the castle,
designated by the letter W, are quite good, only having the defect of not
being big enough, of not having been built bomb proof and of being too
close to gunpowder magazines; however, if the underground of the cavalier
of the curtain, whose construction was proposed, are to be approved, there
will be plenty of room there for that purpose during a siege, since they
should all be bomb proof.
The barracks of the city are quite good, particularly those intended for the
infantry; however, they are insufficient to house half of the current existing
garrison. For this reason, one here proposes to build another one, along the
curtain between the bulwarks of Chafariz and S. Francisco, which can accommodate, in times of peace, at least 600 Infantry men.
The hospital in this city was practically undermined by fire bombs during
the last siege and the house where they currently accommodate the patients
is too cumbersome and too small to keep clean. Excrements accumulate on
a daily basis and greatly contribute to illnesses. For this reason it is necessary to repair, in the best possible way, the old hospital, so that they can
more comfortably accommodate the patients of this garrison.
Since there is no latrine for the use of the garrison of this city, all the streets
and interior part of the walls have become filthy, which causes many diseases in times of great heat. This type of building is, in a walled city, more
necessary than any other: for this reason it is proposed to construct a latrine
near the curtain to the right of the bulwark of S. Pedro, designated by the
letter X in the annexed plan.
The overall cost estimate for all works proposed herein will not reach a very
large sum, since the cost of the greater number of works presented here is
NOTA sobre as obras de fortificação no período do
Marquês de Pombal:
Após a chamada Guerra Fantástica (5 de Maio a 3 de
Novembro de 1762), o país manteve um grau de desconfiança grande sobre os rumos da paz e os equilíbrios dos interesses imperiais na Europa, pelo que
se reforçaram fortificações, actualizando umas e
construindo outras de novo (designadamente o incomparável Forte da Graça, em Elvas), sob superintendência do Conde de Schaumburg-Lippe, como
Marechal-general do exército português (por indicação de Inglaterra). Foi um administrador eficaz,
ordenando a elaboração de levantamentos cartográficos, regulamentando o funcionamento das tropas,
consolidando a disciplina, padronizando fardamentos e promovendo a instrução militar. O seu secretário, Miguel de Arriaga Brum da Silveira, foi o
elemento de ligação ao primeiro-ministro de D. José
I. O exército passou a ter 25 regimentos de infantaria,
1 de voluntários reais, 1 da armada, 10 de cavalaria
e 4 de artilharia, distribuídos pelo território.
A disponibilização de verbas para as obras foi grande
e os trabalhos muito expressivos, Em Almeida, na
fase posterior ao fim da Guerra dos Sete Anos (23 de
Julho de 1764 a 19 de Outubro de 1765), o número
médio de operários utilizados nas obras ultrapassava
diariamente os 500, ao longo de 66 semanas da campanha (gastando-se 29.514$895 réis). Na 53ª semana
atingiu-se a cifra de 869 trabalhadores, segundo registos do Arquivo Histórico Militar, de Lisboa. Mais
tarde, nova campanha reata obras de vulto, tendo o
número de operários sido igualmente muito expressivo (com a expressiva média diária de 600 homens
em Março de 1776).
NOTE on the fortification works during the time
of the Marquis of Pombal
After the so-called Fantastic War (5th May to 3rd
November, 1762), the country maintained a great
level of distrust towards the peace paths and the
balances of the imperial interests in Europe, reason why fortifications are reinforced, updating
some and building others anew (namely the incomparable Fort of Graça, in Elvas), under the supervision of Count of Schaumburg-Lippe, as
General Marshal of the Portuguese army (appointed by England). He was an efficient administrator, requesting the elaboration of cartographic
surveys, regulating the troops' operations, consolidating discipline, standardizing uniforms and
promoting military instruction. His secretary, Miguel de Arriaga Brum da Silveira, was the liaison
to the prime minister of D. José I. The army began
having 25 infantry regiments, 1 of royal volunteers, 1 of navy, 10 of cavalry and 4 of artillery, distributed across the territory. The amounts made
available for the works were great and the works
were quite long. In Almeida, after the end of the
Seven Year War (23rd July, 1764 to 19th October,
1765), the average number of workers used in the
works each day was higher than 500 throughout
66 weeks of campaign (spending 29,514$895 réis).
In the 53th week, it was reached the figure of 869
workers, according to records of Historical Military Archives, Lisbon. Later, a new campaign retakes once again great works, with an also very
expressive number of workers (the expressive daily
average of 600 men in March of 1776).
131
Almeida O Castelo de D. Dinis Filmar_Maquetación 1 27/01/14 12:38 Página 132
In Arquivo Histórico Militar, Lisboa, PT AHMDIV-4-1-02-01_m0037, m0038 & m0039.
Folha de rosto, primeira e última páginas do
Relatório de Jacques Funk Cover, first and
last pages of the Report by Jacques Funk
“RELATION DE LA DEFENSE D’ALMEIDA /
1766” - AHM-DIV-4-1-02-22_m0002, m0003,
m0009 / Arquivo Histórico Militar, Lisboa.
As casernas da cidade são bastante boas, em particular a destinada à Infantaria; são contudo insuficientes para abrigar metade da guarnição actualmente existente. Por esta razão propõe-se aqui a construção de mais
outra, ao longo da cortina, entre os bastiões do Chafariz e de S. Francisco,
a qual poderá alojar, em tempo de paz, pelo menos 600 homens de Infantaria.
O hospital desta cidade ficou praticamente minado pelo fogo das bombas
durante o último cerco e a casa onde se recolhem actualmente os doentes
é muito incómoda e demasiadamente pequena para que se possa manter
asseada. Os excrementos acumulam-se de dia para dia e contribuem bastante para as doenças. Por esta razão é necessário reparar, pela melhor
forma possível, o velho hospital, para que se possam alojar mais comodamente os doentes desta guarnição.
Como não existe qualquer latrina para uso da guarnição desta cidade,
todas as ruas e a parte interior das muralhas se tornaram imundas, facto
que provoca muitas doenças nas épocas de grande calor. Esta espécie de
construção é, numa cidade fortificada, mais necessária do que qualquer
outra: por esta razão propõe-se a construção de uma latrina perto da cortina quer fica à direita do bastião de S. Pedro e que se designa pela letra,
X, no plano anexo.
A estimativa geral das despesas com todas as obras aqui propostas não
atingirá uma soma muito elevada, uma vez que o custo do maior número
de obras aqui proposto é pequeno. Estas obras deverão ser feitas apenas
de terra, mas antes de se poder elaborar a estimativa geral das despesas
a efectuar com elas, seria necessário traçar o perfil ampliado para cada
uma delas, em separado, o que levaria tempo. É por isso que aqui se mencionam as principais obras, as que deverão ser feitas em primeiro lugar,
por exemplo: o cavaleiro proposto para o bastião de S. Pedro, a reconstrução do hospital e a construção da latrina. Todos os planos referentes
às citadas obras são feitos em relevo, com a respectiva estimativa por
cima, tal como se apresentam a seguir.
Feito em Almeida em 1766.
Jacques Funck, Coronel de Engenharia”.
small. These works should be made only of earth, but before one can draw
a general estimate of the cost to pay for them, it would be necessary to trace
the expanded profile for each one of them, which would take time. For that
reason, one mentions the main works, which should be done first, e.g.: the
proposed cavalier on the bulwark of S. Pedro, the reconstruction of the hospital and the construction of latrines. All plans relating to the aforementioned works are done in relief, with their estimated above, as presented
below.
Made in Almeida, 1766.
Jacques Funck, Colonel of Engineering.
Almeida O Castelo de D. Dinis Filmar_Maquetación 1 27/01/14 12:38 Página 133
“PLANTA DE ALMEIDA” // Alexandre João
Botelho de Vasconcelos e Sá Tenente
Engenheiro a levantou e fez em 1836
Ref.: GEAEM/DIE- 18-1-2-2, Gab. Estudos de
Arqueologia e Engenharia Militar, M. da
Defesa, Lisboa.
1
6.7 DEPOIS DA DESTRUIÇÃO DE 1810
6.7 – AFTER THE 1810 DESTRUCTION
6.7.1 – DA EXPLOSÃO DO PAIOL
AOS MEADOS DO SÉCULO XX
6.7.1 – FROM THE EXPLOSION OF THE MAGAZINE
UNTIL THE MID-20TH CENTURY
Repetindo os movimentos do Cerco de 1762 (tão bem documentado que fora por toda a inteligência militar, os franceses saberiam de cor a lição…), Almeida sucumbe depois
de um Cerco de um mês, posto na sequência da Batalha do
Côa, em Julho de 1810.
Não pode, porém, haver dúvidas quanto às excelentes condições do fortim do Castelo, dentro do qual se localizava o
paiol. Wellington, logo a 29 de Agosto escreve, do Quartelgeneral instalado em Celorico, ao Ministro da Guerra1 dando
conta do sucedido e atestando: “não tenho inteligências sobre
as quais eu possa depreender, respectivamente à causa por
que se há rendido; alguns prisioneiros feitos ontem relatam
que o Depósito do Castelo (o qual, contudo, era à prova de
bomba) fora pelos ares na noite de sábado”.
Following the movements of the 1762 Siege (so well documented by all the means of military intelligence, the French
would know their lesson by heart...), Almeida succumbs after
a siege of a month, laid following the Battle of Coa in July
1810.
Nevertheless, there couldn’t have been any doubts regarding
the excellent conditions of the Castle’s for, in which the gunpowder magazine was found. Wellington, as soon as 29th
August 29 writes from the Headquarters installed at Celorico
to the War Minister1 giving account of what happened and
stating: “I have no intelligence on which I can deduce
respectively the cause why they surrendered, some prisoners
taken yesterday reported that the deposit of the Castle (which,
however, was bomb proof) blew up on Saturday night”.
Cópia da correspondência trocada
entre Lord Wellington e D. Miguel Pereira Forjaz, no ano de 1810, Carta nº 83,
in “Boletim do Arquivo Histórico-Militar, 3º Vol., 1933. Vem a talhe de foice
complementar sobre a posição dos injustiçados Tenente-rei Francisco Bernardo
da Costa e Almeida e Major de Fortunato
José Barreiros (acusados de traição e sofrendo a morte), com as próprias palavras escritas por Arthur Wellesley: “na
segunda-feira o governador tinha pedido
capitular”, depois de inicialmente ter recusado condições para rendição, porque
“tendo o fogo novamente principiado o
governador se tinha sustido tanto tempo
quanto lhe duraram as restantes munições, até que faltando-lhe estas, se havia
rendido na manhã de ontem. (…) Espero
que esta relação seja achada correcta em
todos os seus mais essenciais pontos, e
dar-me-á a maior satisfação igualmente
achar que a perda de Almeida e a transferência para o Inimigo dos apetrechos
militares e provimentos que a mesma
praça continha não há sido ocasionada
por erros do governador ou da sua guarnição. (…) Considerada a posição em
que eu havia ajuntado o Exército, tão
perto daquela Praça, é para lamentar que
eu não tivesse uma oportunidade para
verificar a sua situação, depois da perda
do seu Depósito.”
Copy of the letters exchanged between
Lord Wellington and D. Miguel Pereira
Forjaz, in the year of 1810, Letter no. 83,
in “Boletim do Arquivo Histórico-Militar,
3º Vol., 1933. It adequately fits to complement on the position of the wrongfully
judged Chief Lieutenant Francisco Bernardo da Costa e Almeida and Major Fortunato José Barreiros (charged with
treason and suffering the death penalty),
with words written by Arthur Wellesley
himself: “on Monday, the Governor had
asked to capitulate” after having initially
refused the rendition terms, because “having fire started once again, the governor
had held for as long as the remaining ammunitions endured, until, when these
ended, he surrendered on yesterday’s morning (…). I hope that you find this relation
correct in all of its most essential points
and I would be greatly satisfied also to
learn that the loss of Almeida and the
transference for the enemy of the military
paraphernalia and supply that the Place
had wasn’t use to mistakes from the Governor or his garrison. (…) Considered the
position in which I had gathered the Army,
so close to that Place, it is regrettable that
I hadn’t had an opportunity to verify its situation, after losing its Deposit.”
133
Almeida O Castelo de D. Dinis Filmar_Maquetación 1 27/01/14 12:38 Página 134
2 MARBOT, Jean Baptiste Antoine Marcelin, Barão de, “Mémoires du Général
Baron de Marbot”, II, p. 353, Librairie
Plon, Paris, 1898, cit. in CONCEIÇAO,
Margarida Tavares da – “Da vila cercada
à praça de guerra: formação do espaço
urbano em Almeida”, p. 111, Lisboa,
2002.
MARBOT, Jean Baptiste Antoine Marcelin, Barão de, “Mémoires du Général
Baron de Marbot”, II, p. 353, Librairie
Plon, Paris, 1898, cit. in CONCEIÇAO,
Margarida Tavares da – “Da vila cercada
à praça de guerra: formação do espaço urbano em Almeida”, p. 111, Lisboa, 2002.
3 William Cox (Colonel), Publisher T.
Egerton, London, 1815. Cox era o Comandante da Praça-forte, cunhado do
Marechal Beresford (desempenhando
funções no Estado-maior de Wellington
e governando Portugal).
William Cox (Colonel), Publisher T. Egerton, London, 1815. Cox was the Commander of the Stronghold, brother-in-law of
Marshal Beresford (performing functions
in Wellington’s General Staff and ruling
Portugal).
4 “PLANO E PERFIZ DA PRAÇA DE
ALMEIDA // Para servir à intelligencia
da Memória sobre o estado das Fortificaçoens da ditta Praça, depois das demoliçoens pra / ticadas pellos Franceses a 10
de Mayo, e pellos Alliados a 7 de Junho
de 1811; e para indicar o Projecto de reparar as dittas de- / moliçoens pello
modo mais expedito para pôr a referida
Praça em estado de resistir a hum golpe
de mão. / Pellos Officiaes do Real Corpo
de Engenheiros // O Tenente Coronel
Caula e o Major Neves Costa”. // // P.XX.
// Nº 14 // // Almeida 3 de Agosto de
1811”. Gabinete de Estudos Arqueológicos de Engenharia Militar / Direcção de
Infraestruturas / Ministério da Defesa,
Lisboa. Ref.: GEAEM/DIE – 544-1-2-2.
5 Permitimo-nos interpretar como significando que a maçonaria era idêntica à da
obra da Restauração. Nesta não existem
silhares siglados à maneira medieval e as
recentes escavações (conduzidas em
componentes comprovadamente anteriores a D. Manuel I) mostram aparelhos de
alvenaria isodómica de grande qualidade,
incluindo em fundações, cuja aparência
é semelhante, por sua vez, à da obra manuelina das escarpas do fosso ou do poço
que terá sido objecto de melhoramento
no início do século XVI (ver TEIXEIRA,
André (coord. e textos) “O Castelo de Almeida – Arqueologia de um espaço de
guerra multissecular” (Catálogo da exposição, Agosto/Setembro de 2013), C. M.
Almeida, 2013.
134
O efeito catastrófico do rebentamento de duas bombas que
penetraram no paiol do Castelo foi de uma dimensão ainda
hoje difícil de compreender em toda a sua extensão. O Ajudante de Campo do Marechal Massena, que estava no quartel-general francês instalado em Ciudad Rodrigo, conta que
o estrondo extraordinário que se ouviu ao final da tarde de
26 de Agosto “c’était la forteresse d’Almeida qui venait de sauter, par suite de l’explosion d’un immense magasin à poudre
(…). Cette malheureuse place fut détruite de fond en comble”.2 Diversos relatos confirmam o estado de calamidade que
sobreveio instantaneamente, com evidente destaque para
toda a zona alta onde ocorreu a explosão, deitando por terra
o Castelo, a Igreja Matriz e todo o contorno da envolvente,
sem prejuízo da destruição generalizada que sobreveio, com
os sucessivos rebentamentos e incêndios que se lhes seguiram.
Através da “Justification of Colonel William Cox: Late Governor of Almeida. Translated from the Portugueze”3, sabemos que “as ruas estavam entulhadas, e assim que cheguei
ao lugar onde tinha antecedentemente estado, claramente
conheci que todo o edifício, que era uma imensa massa de
cantaria, estava inteiramente demolido. Havia dentro das
muralhas do Castelo três Armazéns de Pólvora, todos à
prova de bomba (…). O principal Armazém continha dois
mil e quinhentos barris de pólvora, os dois mais pequenos
estavam cheios com artilharia preparada e munição de mosquetes, e não havia um só cartuxo, nem um barril de pólvora
em situação exposta”. Anexo ao processo de julgamento marcial de William Cox (tendo sido ilibado, sendo expiado o Tenente-rei Costa e Almeida) existe um documento4 das
vésperas da explosão (Junho de 1810), de autoria do Comandante da Artilharia, Major Barreiros, no qual se dá a última
descrição construtiva e funcional do fortim: “Na parte mais
elevada de toda a povoação está um antigo Castelo formado
por um recinto quadrado, com quatro torres redondas nos
ângulos, com seu fosso e contra-escarpa; tudo construído da
mesma cantaria que as muralhas da Praça5. Entra-se para o
Castelo por uma ponte dormente de madeira, que atravessa
a largura do fosso; sendo fechada por duas grandes portas,
uma sobre a contra-escarpa e outra na escarpa. Logo na entrada do Castelo há um Trânsito abobadado que tem, à direita e à esquerda, dois pequenos armazéns à prova de
bomba, com as entradas pelo mesmo Trânsito: sobre estes
armazéns há uma grande casa com bela e magnífica disposição para sala d’armas, para o que foi construída com altas
The catastrophic effect of the detonation of two bombs that
penetrate the Castle’s magazine was such that, today still, one
cannot perceive its entire extension. Marshal Massena’s Aidede-Camp, located in the French headquarters located in
Ciudad Rodrigo, tells us of the extraordinary blast he head
on the late afternoon of the 26th August “c’était la forteresse
d’Almeida qui venait de sauter, par suite de l’explosion d’un
immense magasin à poudre (…). Cette malheureuse place
fut détruite de fond en comble”.2 Several reports confirm the
calamitous state that immediately followed, evidently highlighting the entire upper area where the explosion took place,
destroying the Castle, the Main Church and the whole
contour of the surrounding, notwithstanding the widespread
destruction that came with the successive explosions and
fires that followed.
Through the “Justification of Colonel William Cox: Late
Governor of Almeida. Translated from the Portugueze”3, we
know that “the streets were cluttered, and as soon as I arrived
at the place where I had previously been, I clearly knew the
entire building, which was an enormous mass of stone, it was
entirely demolished. Inside the Castle’s wall, there were three
gunpowder magazines, all bomb-proof (…). The main Magazine contained two thousand and five hundred gunpowder
barrels, the two smaller ones were filled with artillery prepared and musket ammunition and there was a single shell
or powder barrel exposed.” Attached to the martial trial case
of William Cox (who was acquitted, the Chief Lieutenant
Costa e Almeida being expiated) there is a document4 regarding of the eve of the explosion (June 1810), authored by
Commander of Artillery, Major Barreiros, in which he gives
the last constructive and functional description of the fort:
“In the highest part of the whole village, there is an ancient
Castle formed by a square enclosure, with four round towers
at the angles, with its ditch and counter-scarp, all built of the
same stone of the walls of the Place5. One enters the Castle
through a wooden stable bridge, which crosses the width of
the ditch; it is closed by two great gates, one over the counterscarp and the other at the scarp. Immediately at the entrance
of the Castle, there is a vaulted passage that, to the right and
left, has two small bomb-proof gunpowder magazines, with
entrances through the same passage; over these magazines,
there is a great house with a beautiful and magnificent
disposition for the armory, being built with high and large
windows, which make it clear and well-ventilated; on the
second floor, there is a similar house, but less ventilated and
Almeida O Castelo de D. Dinis Filmar_Maquetación 1 27/01/14 12:38 Página 135
e rasgadas janelas que a fazem clara, bem ventilada; tem em
segundo andar outra igual casa, mas menos airosa e clara, a
qual só serve para conter géneros de pouco peso e maior volume. Dentro do mesmo recinto há um outro grande e terrível armazém de pólvora, sem luz nem ventilação alguma,
circulado em parte por uma singela parede que forma como
uma separação deste a todos os armazéns que aqui há; o resto
do terreno contido dentro do Castelo é ocupado por cinco
casas que têm diversas aplicações, servindo uma para conter
balas de chumbo e alguns géneros avulsos, outra cordagens
de todas as classes, outra paus de barracas, arreios velhos e
lanternetas, outra caixotes de balas de calibre 12, granadas
reais, balas de ferro de pequenos diâmetros, etc. etc. Sobre
estas mesmas casas há três, ocupando os mesmos espaços,
onde se contem abarracamentos, mantas, armamentos, correamentos, caldeiras e muitos outros géneros que se acham
lançados no Inventário dos mesmos armazéns, estando todas
elas de tão má construção que nem pelo menos estão à prova
das granadas de 6 polegadas. Todos estes armazéns têm as
suas entradas por um pátio que forma o vazio do Castelo, o
qual tem no seu centro uma profunda cisterna que pode conter água precisa para 8 dias a toda a guarnição: este pátio está
todo ocupado com muitas pilhas de balas, bombas e granadas de todos os calibres, e algumas peças de ferro e bronze
que se tem reputado incapazes de serviço. No ponto superior
de todo o recinto, com uma varanda com parapeito de cantaria, para a qual se monta por largas e espaçosas escadas que
ao mesmo tempo dão a entrada para os depósitos do segundo andar, há na mesma varanda uma larga e alta banqueta para a qual também se monta por degraus nela
praticados; esta só serve para dela melhor se descobrir a
campanha e algumas partes da vila. Não tem este Castelo
aplicação alguma nem a pode ter mais do que a de cobrir
com os seus grossos muros todos os armazéns que nele existem dos efeitos das baterias de peça do sitiante, à excepção
porém do lajeado que forma na do grande armazém que lhe
elevaram a altura dos seus pés-direitos a um ponto tal que
se deixam ver de todas as posições circunvizinhas da Praça”.
Ao se retomar a posse da praça, em 1811, o primeiro registo
cartográfico do estado em que se encontrava a fortaleza (de
autoria do Tenente-coronel Engenheiro Bernardo de Caula
e do Major Engenheiro Neves da Costa) retrata o castelo
como ruína. E em 1815, no julgamento referido (onde se
condenara também à morte, à revelia, o citado Major Barreiros) foi apresentada uma «Esposição Verídica e Sincera
clear, which only serves to store items that are lightweight
and greater in volume. Within the same enclosure, there
another great and terrible gunpowder magazine, without any
light or ventilation, partly surrounded by a simple wall that
forms a sort of separation among all magazines there; the
rest of the terrain within the Castle is occupied by five houses
with different uses, one serving the store lead bullets and
other assorted items, another one ropes of all sorts, another
one tent sticks, old harnesses and lanterns, another one boxes
of 12 caliber bullets, royal grenades, small diameter iron
bullets, etc. etc. over these houses, there are three, occupying
the same spaces, which the tents, blankets, arms, belts,
boilers and many other items, which are included in the
inventory of those storages, are stored; all have a very poor
construction and are not even bomb-proof against 6-inch
grenades. All these storage areas have their entries through
a courtyard that forms the emptiness of the Castle, which
has at its center a deep cistern that can hold water for 8 days
for the entire garrison: this courtyard is occupied with many
piles of bullets, bombs and shells of all calibers, and some
pieces of iron and bronze that cannot be of service. In the
upper point of the entire enclosure, with a balcony with a
“Planta da praça d’Almeida”, c. 1836, assinada
por Abel Augusto Dias Urbano, T.te d’Engª.
(Parcial / Partial). Ref.: GEAEM/DIE – 72171-22, Gab. Estudos de Arqueologia e Engenharia
Militar, M. da Defesa, Lisboa.
Tal como a planta anterior, poderá ser o
projecto da plataforma do jardim, apresentando
suplementarmente a indicação do cemitério.
Like the previous plan, it can represent the
project with the platform for a garden, presenting
further indication of the cemetery.
5 One allows the interpretation of this as
meaning that the stones with identical to
those used in the Restoration works. In
the latter, there aren’t any stones marked
in the medieval style and the most recent
excavations (carried out in components
demonstrably prior to D. Manuel) exhibited isodomic stone arrangements of
great quality, including foundations,
whose appearance is similar, in turn, to
the Manueline works of the scarps of the
ditch or the well that was improved in the
beginning of the 16th century (see TEIXEIRA, André (coord. e textos) “O Castelo de Almeida – Arqueologia de um
espaço de guerra multissecular” (Catálogo da exposição, Agosto/Setembro de
2013), C. M. Almeida, 2013.)
135
Almeida O Castelo de D. Dinis Filmar_Maquetación 1 27/01/14 12:38 Página 136
6 Arquivo Histórico Militar, Bilbl., Cód.
225/15, p. 5, AHM, Lisboa.
Military Historical Archive, Bilbl., Cód.
225/15, p. 5, AHM, Lisbon.
136
das Razões e Impossibilidades que Provam a Sua Alteza Real
o Príncipe Regente de Portugal e a toda a Nação a Falsidade
do Facto e Depoimentos das Testemunhas que Juraram Contra Fortunato José Barreiros, sobre ter Ele Sido o Autor da
Desgraça do Castelo de Almeida e Entrega da Praça às Tropas Francesas, em Agosto de 1810”, de que nos interessa fixar
a descrição escrita no tempo pretérito perfeito6: “Era o castelo de Almeida, um pequeno reduto, e antiga fortificação,
de figura quadrangular com quatro torres redondas nos seus
ângulos, circulado de largo e profundo fosso, com contraescarpa revestida de pedra de cantaria da mesma qualidade
que os seus grossos e altos muros, com uma única e grande
porta no meio do lado que olhava o Norte, por onde se entrava passando por cima de uma ponte de madeira que atravessava o seu fosso, e se fechava com duas grossas e
resistentes portas, uma no principio, outra no fim da mesma
ponte, à vista das quais estava uma sentinela efectiva, e o seu
corpo de guarda postado a vinte passos de distância daquela
entrada, da qual saíam outras sentinelas que também havia
sobre as esplanadas do castelo, sempre rondando em torno
do mesmo castelo. Era o interior do castelo unicamente ocupado com vários armazéns, onde se guardavam corpos inflamáveis, combustíveis, armas, ferramentas, etc., etc.,
formando no seu meio um pátio de figura rectangular com
uma superfície de 62 a 64 toesas quadradas, quase todo ele
ocupado por pilhas de balas, bombas, e granadas de bem diferentes calibres, como depósito geral destes corpos. Junto
ao lado que olhava a Oeste, havia um grande e mal construído armazém de pólvora, circulado em parte por uma parede que formava um recinto próprio para embaraçar a
acessibilidade às paredes do mesmo armazém; tinha este
duas portas, uma na parede do mesmo armazém, a qual distava da entrada da porta de 45 a 50 passos ao mais. Servia
este castelo como armazém geral da praça, onde ninguém
entrava sem licença, mesmo naquelas horas do dia em que
se achava aberto para se fazer entrar ou sair de seus armazéns
alguns géneros precisos, ou mesmo para outros diferentes
serviços”. E acrescenta um pouco mais à frente: “o grande armazém de pólvora dentro do castelo estava em uma tão indigna posição, e era de uma tão péssima construção pela
altura dos seus pés-direitos, que se deixava ver de todos os
pontos circunvizinhos à praça oferecendo, com as duas faces
da asna que o cobria, dois planos bem distintos e conhecidos
ao inimigo, sem haver método ou maneira de se poder cobrir
parapet in stonework, which is accessed by wide and
spacious stairs that also provide entrance to the deposits on
the second floor; at the same balcony there is a wide and tall
banquette that is accessed through some steps built in it; it
only serves to have a better view of the campaign and some
parts of the village. The Castle does not have use nor any
application it have besides covering with its thick walls all
magazines that exist to fight the batteries of the besiegers,
apart from the slab it forms on the great magazine that was
built at the height of the Castle, at such point that the
surrounding positions of the Place are not observable”.
When the place was regained in 1811, the first cartographical
account of the condition in which the fortress was found
(authored by Lt. Col. of Engineering Bernardo Caula and
Major of Engineering Neves Costa) depicts the castle as a
ruin. And, in 1815, in the aforementioned trial (with the
cited Major Barreiros was also sentenced to death, by
default), the “«Esposição Verídica e Sincera das Razões e
Impossibilidades que Provam a Sua Alteza Real o Príncipe
Regente de Portugal e a toda a Nação a Falsidade do Facto e
Depoimentos das Testemunhas que Juraram Contra
Fortunato José Barreiros, sobre ter Ele Sido o Autor da
Desgraça do Castelo de Almeida e Entrega da Praça às
Tropas Francesas, em Agosto de 1810” is presented, which
offers a description written in the past6: “It was the castle of
Almeida, a small redoubt, and the ancient fortification, of a
square plant with four round towers in its angles, surrounded
by a wide and deep ditch, with a counter-scarp covered in
ashlar masonry of the same quality of its thick and high
walls, with a unique and great gate in the middle of the side
overlooking the North, which was entered by crossing over
a wooden bridge that crossed its ditch and was closed by two
thick and resistant gates, one at the beginning and another
one at the end of the said bridge, at the sight of which was
an active sentinel and a Guards’ Corps twenty steps away
from that entrance, from where another sentinels left that
existed at the Castle’s esplanade, always around that castle.
The inside of the castle was only occupied by several storage
areas, storing flammable items, fuels, weapons, tools, etc.,
etc., forming, inside, a rectangular courtyard with a surface
of 62 to 64 square toises, almost entirely occupied by piles of
bullets, bombs and grenades of different calibers, as general
deposit of these items. Near the side overlooking the West,
there are a great and poorly-built gunpowder magazine,
partly surrounded by a wall that formed a different enclosure
Almeida O Castelo de D. Dinis Filmar_Maquetación 1 27/01/14 12:38 Página 137
FOTO AÉREA (inícios de 1960 ?). Trata-se da
mais antiga fotografia aérea conhecida da
Praça-forte de Almeida, assim se revelando na
sua peculiar forma estrelada. Observa-se a
existência de alinhamentos de árvores na
plataforma do jardim do Castelo.
AERIAL PHOTO (early 1960s?). It is the oldest
known aerial photograph of the Stronghold of
Almeida, here revealled in its peculiar star
shaped. Note the existence of alignments of trees
in the platform of the Castle’ garden.
Ref.: AHM-DIv-3-47-AH 3.6- 18889, Arquivo
Histórico Militar, Lisboa.
de corpos capazes de amortecerem o choque das grossas
bombas que se mandassem sobre ele”.
Com o castelo, a Igreja que se lhe geminara desde a fundação
de D. Dinis teve idêntica sorte. Apesar de o bispo de Pinhel,
D. Bernardo Beltrão, na visita paroquial de 1817, ter instado
à reconstrução da Igreja Matriz, a sua reedificação não foi
sequer tentada.
O sítio, reduzido a um expressivo monte de escombros, ficou
indelevelmente marcado como o local do infortúnio da Fortaleza. É então projectado um novo arranjo do local, escondendo os escombros do castelo: em 1819, o Governador da
Praça-forte de Almeida, João Teles de Menezes e Melo, ordena o aterramento das ruínas resultantes do arrasamento
do local pela explosão do paiol7.
Essa configuração surge em cartografia de 1836, não se conhecendo a data exacta em que o espaço terá sido concluído
como uma espécie de Passeio Público, já em voga no urbanismo europeu. A intenção óbvia parece que terá residido
na vantagem de esquecer o infortúnio que ocorrera no local,
to encompass the access to the walls of the same magazine;
this had two doors, one on the wall of that magazine, which
was away from the entrance of the door 45 to 50 steps or
more. This castle served as a general storage area in the place,
where no one entered without permission, even at those
times of the day when it was open to allow the entrance or
departure, from its, of some precise items, or even to other
different services.” It adds a little further ahead: “the great
gunpowder magazine inside the castle was in such an
undignified position and it had such poor construction at
the heights of its ceilings that it was seen from all the points
surrounding the place, offering, with the two sides of the
truss that covered it, two distinct plans, known to the enemy,
without any method or way to be able to be covered with
structures able to cushion the impact of the heavy bombs
that could be sent against it”.
With the Castle, the Church that had germinated there ever
since D. Dinis’ Foundation had a similar fate. Although the
Bishop of Pinhel, D. Bernardo Beltrão, during his visit in
7 A constatação é feita ainda, em relatório de 1853 do Coronel de Artilharia
Manuel Ignácio Ferreira e do Capitão de
Engenharia Joaquim António Dias para
o Estado-maior, sobre a funcionalidade
da fortificação: “Do velho castelo de D.
Diniz, reedificado por D. Manuel, com
as suas 4 grandes torres e respectivo
fosso e reconstruido e transformado nos
princípios do século XVIII, que, no
dizer do Padre Luiz Cardoso, continha
um depósito de armas, munições e fardamentos para um exército de 300.000
homens, grande paiol á prova de bomba,
trem de peças de variados calibres, etc.,
não restam hoje sequer vestígios. As ruínas das suas muralhas derrocadas pela
explosão que teve logar em 1810 durante
o cerco do exército francês, foram arrasadas pouco depois, achando-se hoje
parte do lugar em que se conservou por
tantos anos, transformado numa pequena alameda mandada fazer em 1819
pelo governador João Teles de Menezes
e Mello”.
The observation is also made on a 1853
report by the Artillery Colonel Manuel Ignácio Ferreira and the Engineering Captain Joaquim António Dias for the Chief
Staff on the functionality of the fortification: “Of the ancient castle of D. Dinis, rebuilt by D. Manuel, with its 4 great towers
and respective ditch and rebuilt and
transformed in the early 18th century,
which, in the words of Father Luiz Cardoso, contained a deposit of weapons, ammunition and uniforms for an army of
300,000 men, great bomb-proof gunpowder magazine, train of different calibre
pieces, etc, of which no trace lingers today.
The ruins of its destroyed walls, due to the
1810 explosion during the French army’s
siege, were razed soon after and today the
place that was preserved for so many
years is transformed into a small avenue
ordered in 1819 by the Governor João
Teles de Menezes e Mello”.
137
Almeida O Castelo de D. Dinis Filmar_Maquetación 1 27/01/14 12:38 Página 138
CARTA AEROFOTOGRAMÉTRICA, 1960 (?)
Ref.: DGEMN / MOP, Direcção-Geral dos
Edifícios e Monumentos Nacionais / Ministério
das Obras Públicas (Arquivo da Câmara
Municipal de Almeida).
Carta aerofotogramétrica da Praça-forte de
Almeida num documento da DGEMN com
chancela datada de 15/5/963, com uma
implantação de futura Pousada afectando os
restos arqueológicos do Castelo. Na altura a
DGEMN procedia a trabalhos de escavação no
sítio. Verifica-se igualmente que o esquema
viário cortaria o ângulo Sul / Poente da
plataforma do jardim público.
Aerophotogrammetric plan of the Stronghold of
Almeida, a DGEMN’ document with stamp dated
15/5/963, with a deployment for a future
Pousada affecting the archaeological remains of
the Castle. At the time DGEMN was carrying out
some excavation work on the site. It also appears
that the road scheme would cut the South / West
corner of the Public Garden platform.
138
ao mesmo tempo que se desfrutaria de uma privilegiada condição de observação paisagística.
Depois de muita pedra reutilizada para trabalhos outros,
mormente de reparação dos estragos causados pelo Cerco
dos Franceses, acabou por se soterrar toda a ruína a que chegara o cume de Almeida. Em 1830 é erguida a Torre do Relógio, presumivelmente sobre a fundação da torre da Matriz
e, pouco tempo depois, a plataforma do alto da vila é aproveitada para a concretização do cemitério.
A associação da zona ao campo santo terá contribuído para
uma persistente manutenção da memória do desastre. Entretanto, pelos registos camarários do último quartel do século XIX, percebe-se que o abandono do local se vai
consumando: “a zona do castelo tinha-se transformado em
lixeira e os terrenos onde antes tinham existido vários quarteirões foram considerados públicos «(…) pelo abandono de
mais de setenta anos, por terem desaparecido as casas, que
ali existiam, com a explosão do Castelo (…)». Embora ninguém tivesse reclamado a propriedade dessa área, houve
quem a tentasse usurpar: um abastado proprietário foi incriminado, por andar «avaladando uma porção de terreno
1817, instigated the reconstruction of the Main Church, such
wasn’t even attempted.
The site, reduced to an expressive pile of rubble, was
indelibly marked as the site of the Fortress’ misfortune. A
new arrangement of the place is then designed, hiding the
ruins of the castle: in 1819, the Governor of the Stronghold
of Almeida, João Teles e Melo, ordered the grounding of the
ruins resulting from the destruction of the site by the
explosion of the powder magazine7.
This configuration appears in the cartography of 1836, not
being known the exact date in which the area was completed
as a kind of Public Promenade, already in vogue in European
urbanism. The obvious intention seems to have resided in
the advantage of forgetting the misfortune that occurred at
the site, while the people would enjoy a privileged position
for landscape viewing.
After many of the stone was used in different works, mainly
repairs of the damages caused by the French Siege, the ruin
that struck the peak of Almeida ended up being buried. In
1830, the Clock Tower is erected, presumably over the
foundation of the Main Church’s Tower and, a while after
that, the platform at the top of the village is used for the
construction of a cemetery.
The association of the area to the campo santo contributed
towards a persistent maintenance of the memory of the disaster. However, according to the City Hall’s records of the last
quarter of the 19th century, one can see that the abandonment
of the place is creeping in: “the area of the castle had been
transformed into a dump and the terrains where there once
were several blocks were considered public «(…) for the
abandonment, for more than seventy years, because the
houses there disappeared with the explosion of the Castle
(…)». Although no one ever claimed ownership over that
area, some tried to usurp it: a wealthy owner was prosecuted
for “using a portion of public land’, but the prosecution
would prove ineffective because the defendant joined the
municipal executive in 1886. In contrast, the use that the City
Hall proposed for this area was summed up to the
construction of «sties for pig farming»8.
6.7.2 – CONTEMPORARY OVERVIEW
In the 1960s, continuing with the intention of providing the
country’s main entry points with “Pousadas”, the State
considers to give to the beautiful Fortress of Almeida quality
hotel facilities9. Nevertheless, accesses through Vilar
Almeida O Castelo de D. Dinis Filmar_Maquetación 1 27/01/14 12:38 Página 139
Formoso were not the best. Moreover, in addition to the
opulence of the walls and some buildings (few, which
harbored military functions), there was a weak interest in
the heritage of the urban substrate. It was a village devoid of
wealth and conditions for a quality service. Nonetheless,
there was an implementation10, inscribed by DirectorateGeneral for National Buildings and Monuments (DGEMN),
precisely trying to take advantage of the landscape. We do
not know who inscribed the aerophotogrammetric map
regarding the top of the Castle but, similarly to what was
happening with the ongoing cases, it suggests a design in line
with the architects to whom the Estado Novo had ordered
these infrastructure projects11.
The Pousada would occupy part of the remains of the Castle,
in an area of the Dionysian keep and obviously in the
development of the round bastion and annexed ditch. It is
quite evident that the entire area would thusly be condemned
as an archeological field, so that the eventual implementation
of the building would have meant the definitive loss of the
monument. Such situation, in a time when the Directorate
General was engaged in archaeological excavations of the
Manueline ditch is paradoxical but understandable by the
function of the salvation of heritage performed by DGEMN,
which was also engages in the construction of new hotels.
The Pousada in Almeida only became real a quarter of a
century later, trying to recover the stronghold from the
doldrums that had gradually befallen upon it, in
consequence of the destruction of 1810 and the loss of its
military function, due to the strategic obsolescence in the
geography of the country’s defense. And, when it becomes
real (already far from the Castle, but also in a prominent
position in the landscape), the allocation of the historic
urban fabric remains, as a result of a new location being
chosen.
DGEMN’s12 performance, which throughout time suffered
with some contradictions that were a consequence of the
need to answer requests with some intrinsic antagonism,
eventually left an archaeological site with a neglected
level of protection without any effort for an interpretive
framework.
The neglect from the safeguarding mission continues with
such formlessness that, when it is stopped, such is manifested
in the loss of the historic integrity of the site. Example of this
is the way it deploys the route for “visiting” the ruins
(including the access at the West/South angle) or power
Reprodução de quatro fotografias do acervo da
Direcção-geral dos Edifícios e Monumentos
Nacionais relativos a trabalhos de escavação
empreendidos nas décadas de 1950 e de 1960.
Nas duas primeiras vêem-se os primeiros
desaterros. A terceira fotografia mostra o fosso
na cortina Poente (com o avanço da construção
onde se implantaram as atafonas) e, em
primeiro plano, a linha da base do bastião
redondo no ângulo Poente / Sul. Na última foto
deste grupo, com a vista da cortina Sul, a partir
do ângulo Nascente / Sul, para além de limpeza
e de conservação observam-se trabalhos de
restauro na contra-escarpa.
Reproduction of four pictures of the collection of
Direcção-Geral dos Edifícios e Monumentos
Nacionais, regarding excavations undertaken in
the 1950s and 1960s. In the first two, one sees the
first earthworks. The third photograph shows the
ditch in the west curtain (with the progress of
construction where the mills were built) and, in
the foreground, the base of the round bastion at
the West/South angle. At last one of this group,
with the view of South curtain, from the
East/South angle, in addition to the cleaning and
conservation, one observes the restoration work
on the counter-escarpment.
8
CMA, “Livro de Actas das Sessões da
Câmara”, 1863, fl. 327v., 1865, fl. 81v., cit.
in CONCEIÇAO, Margarida Tavares da
– “Da vila cercada à praça de guerra: formação do espaço urbano em Almeida”,
p. 116, Lisboa, 2002.
9 Após a primeira Pousada, inaugurada
em Elvas em 1942, foram abertas as de
Bragança e de Valença do Minho (respectivamente em 1959 e 1963.
After the first Pousada, inaugurated in
Elvas in 1942, there was the opening of
those of Bragança and Valença do Minho
(1959 and 1963, respectively).
10 Em princípio, uma implantação
como a que se referencia no documento
da DGEMN, disporia de uma intenção
arquitectónica preliminar: estaremos perante a ideia de um edifício de pequena
dimensão, como eram as realizações de
programas reduzidos para o incipiente
turismo da época – ver CAMPOS, João,
“A Pousada de Almeida – o seu sítio e estudos correlacionados”, in CEAMA Nº
9, pp. 40-54, C.M. Almeida, 2012.
In principle, a construction as the one referred to in DGEMN’s document would
have a preliminar architectural intention:
we would stand before the idea of a small
building, as were the executions of reduced programs for the fledgling tourism of
that time – see CAMPOS, João, “A Pousada de Almeida – o seu sítio e estudos
correlacionados”, in CEAMA Nº 9, pp.
40-54, C.M. Almeida, 2012.
139
Almeida O Castelo de D. Dinis Filmar_Maquetación 1 27/01/14 12:39 Página 140
Planta e perfis do Levantamento
Topográfico elaborado em 1995
(Arquivo: Câmara Municipal de
Almeida)
Plant and profile of the
Topographical Survey made in 1995
(Archive: Almeida’s City Hall)
140
Almeida O Castelo de D. Dinis Filmar_Maquetación 1 27/01/14 12:39 Página 141
público», mas o processo judicial revelar-se-ia sem efeito
porque o acusado passou a integrar o executivo municipal
em 1886. Em contrapartida, a utilização que a Câmara propunha para esse espaço resumia-se à construção de «chiqueiros para creação de gado suíno»8.
6.7.2 – PANORAMA CONTEMPORÂNEO
Nos anos de 1960, prosseguindo uma intenção de dotar os
principais pontos de entrada do país com “Pousadas”, o Estado pensa em dotar a bela Fortaleza de Almeida de um estabelecimento hoteleiro de qualidade9. Não obstante, a
acessibilidade, a partir de Vilar Formoso, não era das melhores. Por outro lado, para além da opulência das muralhas e
de alguns edifícios, poucos, que albergaram funções militares, fraco interesse patrimonial existia no substrato urbano.
Tratava-se de uma povoação desprovida de riqueza e de condições de retaguarda para um serviço de qualidade. Contudo
existiu pelo menos uma implantação10, inscrita pela Direcção-geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais, precisamente buscando a vantagem da condição paisagística.
Desconhecemos a quem se deve a inscrição na carta aerofotogramétrica no alto do Castelo mas, à semelhança do que
se passava com os casos em curso, sugere um desenho na
linha dos arquitectos Modernos a quem o Estado Novo havia
encomendado os projectos destas infraestruturas.11
A Pousada ocuparia uma parte dos próprios restos do Castelo, na zona da torre de menagem dionisina e, obviamente,
no desenvolvimento do bastião redondo e do fosso adjacentes. É evidente que toda a área estaria, assim, condenada
como campo arqueológico, pelo que a eventual concretização da edificação teria implicado a perda definitiva do monumento. Uma tal situação, numa altura em que a
Direcção-geral estava empenhada nas escavações arqueológicas do fosso manuelino, é paradoxal mas compreensível
pela função de resgate patrimonial que a DGEMN promovia,
mas ocupando-se também da missão construtiva das novas
Pousadas.
A Pousada em Almeida só veio a concretizar-se um quarto
de século depois, tentando fazer recobrar a Praça-forte do
marasmo que paulatinamente se abatera sobre ela, na consequência da destruição de 1810 e da perda de função militar, pela obsolescência estratégica na geografia da defesa do
país. E, quando se concretiza (longe já do Castelo, mas igualmente numa posição paisagística de relevo), a afectação do
Sequência das fotos ao lado: / Sequence of the
photos by side:
Vista da cortina Sul a partir do ângulo Nascente
/ Sul, em Setembro de 2003.
View of the South curtain from the East/South
angle, September 2003.
Vista da cortina Poente da barreira artilheira,
incluindo a escarpa e a contra-escarpa, a partir
do ângulo Norte / Poente. Observa-se a
ocupação do fosso com a plataforma onde
foram construídas as atafonas, após a
desocupação espanhola, em 1764. Ao fundo, o
bastião redondo reconstruído, no ângulo Poente
/ Sul (Foto de Set. 2003).
View from the West curtain of the artillery
barrier, including the escarpment and counterescarpment, from the North/West angle. One may
observe the occupation of the ditch with the
platform for which the mills were built, after the
Spanish disengagement in 1764. In the
background, the round bastion reconstructed, at
the West/South angle (Photo of Sep. 2003).
Percepção dos volumes do fosso, com a base das
atafonas, devendo ter-se em atenção que os
planos inclinados ainda continuavam,
sensivelmente até à cota do interior do castelo
(Foto de Set. 2003).
Perception of the volumes of the ditch, with the
base of mill, where one must bear in mind that the
inclined planes still continued approximately to
the lower height of the castle (Photo of Sep. 2003).
Contra-escarpa da cortina Norte perto da
inflexão que se produz após o maciço de
alvenaria de pedra, do mesmo tipo da obra
manuelina, que servia de apoio à ponte de
acesso à entrada do Castelo Manuelino. Na
parte superior vê-se o muro do cemitério
(Foto de Set. 2003).
Counter-escarpment of the north curtain near
the inflection that occurs after the mass of stone
masonry, of the same type of Manueline work
that support the access bridge to the entrance of
the Manueline Castle. At the top, the cemetery
wall is seen (Photo of Sep. 2003).
11
Os autores dos edifícios que haviam
sido concluídos no programa das Pousadas foram Miguel Jacobetty Rosa
(Elvas), José Carlos Loureiro (Bragança)
e João M. Breyner Andresen (Valença).
The authors of buildings that were concluded under the Pousadas’ Program
were Miguel Jacobetty Rosa (Elvas), José
Carlos Loureiro (Bragança) and João M.
Breyner Andresen (Valença).
141
Almeida O Castelo de D. Dinis Filmar_Maquetación 1 27/01/14 12:39 Página 142
Vista da contra-escarpa do fosso manuelino a
partir do bastião Sul / Poente, em direcção ao
Baluarte de Nossa Senhora das Brotas. Atribuise o movimento dos silhares de pedra ao
“esmagamento” a que foram sujeitos com a
expansão do ar aquando da explosão do grande
paiol, a 25 de Agosto de 1810, pondo fim ao
cerco que as tropas napoleónicas à Praça-forte
desde 24 de Julho, no começo da Terceira
Invasão Francesa (Foto de Set. 2003).
View of the counter-escarpment of the Manueline
ditch from the South/West bulwark towards the
bulwark of Nossa Senhora das Brotas. The
movement of the stone ashlar was probably
caused by the “crushing” they were subjected to
with the air expansion during the explosion of
the great gunpowder magazine on 25th August,
1810, ending the siege the Napoleonic troops had
been laying to the Stronghold since 24th July, in
the beginning of the Third French Invasion
(Photo of Sep. 2003).
Face interior da parede do bastião redondo do
ângulo Poente / Norte da barreira artilheira.
Diversas evidências arqueológicas questionam o
uso interno deste espaço, possivelmente
tratando-se de casamata para defesa do fosso
com artilharia na cota de fundo (Foto de Set.
2003).
Interior face of the Wall of the round bulwark at
the West/North angle of the artillery barrier.
Several archaeological evidences have questioned
the internal use of this space, possibly being a
casemate for defending the ditch with artillery at
the bottom height (Photo of Sep. 2003).
142
tecido histórico do casco urbano mantém-se, como consequência da nova escolha de localização.
A actuação da DGEMN12, sofrendo ao longo dos tempos de
contradições que sempre a acompanharam face à necessidade de acorrer a solicitações com algum antagonismo intrínseco, acabou por deixar um campo arqueológico com um
nível de protecção negligenciado, sem qualquer esforço de
enquadramento interpretativo.
A negligência da missão de salvaguarda prossegue por um
amorfismo que, quando é interrompido, se manifesta em
prejuízo da integridade histórica do local. É disto exemplo a
forma como se implanta o percurso de “visita” das ruínas
(incluindo a rampa de acesso no ângulo Poente / Sul) ou o
posto de transformação de energia eléctrica, já nos finais do
século XX. Praticamente nada resta da modelação do glacis
no terreno da envolvência do fosso.
A falta de sensibilização para a importância do sítio instituise como justificação para implantações descuidadas na zona,
votada que foi a um secundário plano, como é exemplo a cisterna de abastecimento público de água à Vila, acompanhada
de plataformas de dispositivos para serviços de comunicações e sinais.
A população ainda não logrou reconciliar-se com o local.
Apenas mais recentemente, com a exumação dos restos mortais e sua transferência para o novo cemitério municipal, fora
plant, already in the late twentieth century. Virtually nothing
remains of the model of the glacis on the terrain surrounding
the ditch.
The lack of awareness regarding the importance of the place
became the basis for the justification for careless
construction in the area, which lost its importance, as in the
case of the village’s water supply cistern, together with
platforms for communication and signals services devices.
The population still struggles to reconcile with the place.
Only more recently, with the exhumation of the human
remains and their transfer to the new municipal cemetery,
outside walls, could one admit the possibility of reversing
the space concerned to be fully enjoyed, from a urban point
of view.
6.7.3 – A POINT OF ARRIVAL:
A WALL WITH ACRONYMS
As in the beginning of the chapter, we now end with a
reflection on similar archaeological materials. Firstly, we
mentioned carved stonemasonry, signed by masons and that
is preserved in the walls of the well at the hilltop of Almeida;
we now refer to a wall that came forth disconnected from
that time’ context13. There seems to be no resistance to the
only plausible explanation: a reuse of materials from the
Almeida O Castelo de D. Dinis Filmar_Maquetación 1 27/01/14 12:39 Página 143
de muralhas, se admite a possibilidade de reverter o espaço
em causa para usufruto urbano pleno.
6.7.3 – UM PONTO DE CHEGADA:
UM MURO SIGLADO
Tal como no início do capítulo, encerramos agora com uma
reflexão sobre materiais arqueológicos similares. Primeiro
falámos de pedras talhadas de cantaria, assinadas pelos pedreiros e conservadas nas paredes do poço do alto da colina
de Almeida; agora referimos um paramento de muro aparecido em situação desligada do contexto de época13. Parece
não haver resistência à única explicação plausível: tratar-seá de um reaproveitamento de materiais do Castelo, e designadamente dos silhares de capeamento da escarpa ou da
contra-escarpa do fosso manuelino.
Castle, in particular the ashlars capping the escarpment or
counter-escarpment of the Manueline ditch.
In fact, due to the wall’s own nature (containing the earth at
the ledge of the neighboring part of the parcel leading up to
the opposite street), one sees that it is an expeditious use for
the realization of a portion of a wall ledge, which featured
very poor masonry, either in the foundation or on the
completion of masonry in rough stone at the top. The
concentration of a large grouping of acronyms, distributed
along five contiguous regular rows demonstrates the
nonrandom nature of the construction: making use of the
Manueline stones of the ditch or of the elevation of the
artillery barrier, from the beginning of the 16th century, thus
“honoring” the use of the more heavily “decorated” ashlars
and, in any case, authenticated. Such stones were perchance
12
É sustentável que a ideia que presidiu
ao início dos trabalhos de desentulhamento, promovidos pelo Estado em
1943/47, visasse a reconstituição do castelo, como aconteceu noutras situações.
As escavações procuravam fundamentos
justificativos (por processos não científicos) que dessem suporte a uma montagem idealizada do monumento, como
forma de exaltação nacionalista. Aparentemente (aparte a documentação fotográfica abundante, são escassos os
elementos de caracterização das “escavações” levadas a cabo), os resultados não
terão sido suficientemente consistentes,
tendo-se desistido de um possível intento inicial, apesar de terem sido reconstruídos vários paramentos das
cortinas, das bases dos bastiões artilheiros e do fosso. Além da campanha dos
anos de 1940, a DGEMN procedeu a
uma segunda grande campanha em
1964/66 e a uma terceira fase entre 1969
e 1971.
It is sustainable that the idea that presided to the beginning of the declutering
works, promoted by the State in 1943/47,
tried to reconstitute the castle, as happened in other situations. The excavations
searched for justifications (via non-scien-
Fragmento de muro de suporte integrado em
parede de compartimento na reformulação de
uma pequena habitação (Fotos de inícios de
2002).
Fragment of the support wall integrated in a
compartment wall during the renovation of a
small house (Photos from the beginning of 2002).
Algumas das siglas em silhares de granito no
fragmento de muro de uma pequena casa,
provavelmente provenientes do Castelo (Fotos de
inícios de 2002).
Some of the marks in granite ashlars in the wall
fragment at a small house, probably from the
Castle (Photos from the beginning of 2002).
143
Almeida O Castelo de D. Dinis Filmar_Maquetación 1 27/01/14 12:39 Página 144
tific processes) that could support an idealized montage of the monument, as a nationalistic exultation. Apparently (apart
from the abundant photographical documents, the elements characterizing these
excavations are scarce) the results were
not sufficiently consistent and an initial
possible intention was abandoned, although several walls of the curtains, of the
bases of the artillery bulwarks and the
ditch have been built. Apart from the
1940s campaign, DGEMN carried out a
second great campaign in 1964/66 and on
a third stage between 1969 and 1971.
13 Aquando da realização de obras
(2001) numa pequena casa da Rua da
Cruz, o Gabinete Técnico Local (que actuava na salvaguarda do Centro Histórico de Almeida) detectou a existência
de um fragmento de muro com características especiais, tendo-se procedido ao
levantamento das siglas encontradas.
During the works (2001) in a small house
at Rua da Cruz, the Local Technical Office (which was working to safeguarding
Almeida’s Historical Centre) detected the
existence of a small fragment of Wall with
special characteristics and the marks
found were surveyed.
144
De facto, pela própria natureza do muro (fazendo a contenção das terras do socalco da parte contígua da parcela que
dá para a rua oposta) vê-se que é uma utilização expedita
para a realização de um troço de uma parede de socalco, a
qual apresenta maçonaria de pior qualidade, quer na fundação quer no completamento da alvenaria em pedra rústica,
na parte superior. A concentração de um elevado agrupamento das siglas, distribuídas por cinco fiadas regulares contíguas demonstra o carácter não aleatório da concretização:
aproveitar as pedras manuelinas do fosso ou da elevação da
barreira artilheira, do começo do século XVI, com isso “dignificando” o aproveitamento dos silhares mais “decorados”
e, em todo o caso, autenticados. Tais pedras foram porventura dispensadas, senão antes, pelo menos quando se faz
tábua rasa das ruínas da explosão e se soterrou o espaço para
dar origem a uma plataforma com jardim, tal como se assinala nas cartas atrás mostradas.
A extensão limitada da ocorrência desse aparelho (que não
aparece em nenhuma outra construção contígua da rua) e a
distância a que se encontra do sítio da fortificação do Castelo, num evidente desfasamento de quaisquer outras marcas
topográficas com relevância histórica, mais reforçam a conclusão sobre o deslocamento deste conjunto de umas três dezenas de elementos de cantaria, sendo cerca de metade
assinados pelos canteiros (forma de assinalar a quantidade
trabalho a ser pago).
São, porém, estas as pedras que nos contam a vida (e por
vezes a morte) que aconteceu, com os edifícios e com as gentes. Destas memórias e das pedras que permanecem se faz a
História dos sítios e se aprende quem somos.
dispensed, if not earlier, at least when a clean sweep of the
ruins of the explosion was made and the space that gave
origin to a platform with garden was buried, as pointed out
in the above displayed letters.
The limited extension of the occurrence of this type of stone
(which is not featured in any other construction at the street)
and the distance from the site of the Castle’s fortification, in
a clear discrepancy from any other historically relevant
topographic marks, further reinforce the conclusion on the
moving, from that set, of three dozens of stones, of which
almost half were signed by the masons (as to mark the
quantity of work to be paid).
Nevertheless, these are the stones that tell us about the life
(and often the death) that took place, alongside the buildings
and the people. From these memories and from the stones
that linger, the History of the places was made and thus we
learn who we are.
Na página seguinte / Following page
APÓS A DESTRUIÇÃO DO CASTELO
AFTER THE DESTRUCTION OF THE CASTLE
V – ADAPTAÇÃO DA ACESSIBILIDADE URBANA LOCAL (com esquema viário fixado nos fins dos anos
de 1980) ADAPTATION OF LOCAL URBAN ACCESSES (with road scheme established at the
end of the 1980s)
W – CEMITÉRIO (com desaparecimento da Igreja e construção da capela mortuária, possivelmente na
posição da fachada principal do templo) CEMETERY (with disapearance of Church and
construction of mortuary chapel in the position of the temple’s main façade)
X – ÂNGULO (restos) DA PLATAFORMA DO PASSEIO PÚBLICO (séc. XIX)
THE PUBLIC PROMENADE WALK (19TH Century)
ANGLE (remains) OF
Y – RAMPAS DE ACESSO À PLATAFORMA (restos do sistema construído, que igualmente tinha rampa no
lado Nascente) PLATFORM ACCESS RAMP (remains of the built system, which also had
ramp on the eastern side)
Z – CONSTRUÇÕES ESPÚRIAS PARA INFRAESTRUTURAS RECENTES (finais do séc. XX)
SPURIOUS CONSTRUCTIONS FOR RECENT INFRASTRUCTURES (end of 20th Century)
LOCALIZAÇÃO DA CASA DA RUA DA CRUZ
LOCATION OF THE HOUSE IN CRUZ STREET.
Almeida O Castelo de D. Dinis Filmar_Maquetación 1 27/01/14 12:39 Página 145
Z
W
W
V
Z
Z
Y
V
Z
V
145
Almeida O Castelo de D. Dinis Filmar_Maquetación 1 28/01/14 08:41 Página 146
Almeida O Castelo de D. Dinis Filmar_Maquetación 1 28/01/14 08:41 Página 147
Almeida O Castelo de D. Dinis Filmar_Maquetación 1 28/01/14 07:53 Página 148
Ao lado, o Alto do Castelo e as áreas
adjacentes da Vila.
On the side, the Top of the Castle and
neighbouring areas of the Village.
Na página seguinte, Corte-Alçado do Estudo Preliminar para intervenção, com a relação do Museu de Sítio
e a circunstância patrimonial principal, vendo-se o desenvolvimento da cortina Poente da ruína do Castelo
Manuelino e, em fundo, a Torre do Relógio. Na Planta especificam-se os principais espaços e propostas:
Next page: Section of the Façade of the Preliminary Study for the intervention, with the relation of the
Site Museum and the main heritage, with the development of the West curtain of the ruins of the
Manueline Castle and, as a backdrop, the Clock Tower. The plant specifies the main areas and proposals:
Na página anterior / Back page
Perfil do projecto preliminar integrado para a
revitalização do Alto do Castelo, passando pelo
fosso Poente e pelo Museu de Sítio proposto. Vêse ainda a nova “Porta” de entrada no recinto da
Barreira Artilheira e a Estrutura do Poço
Medieval. Em fundo vê-se delineado, nas suas
exactas proporções, partindo do levantamento
topográfico actual, o alçado Poente do Castelo
Manuelino com a Igreja Matriz do lado Norte.
Profile of the integrated preliminary project to
revitalize the Top of the Castle, passing through
the West ditch and the proposed Site Museum.
One also sees the new “Gate” of entrance in the
enclosure of the Artillery Barrier and the
Structure of the Medieval Well. At the
background, outlined in its exact proportions
from the current topographic survey, the West
façade of the Manueline castle with the Main
Church to the North.
148
7.1 – ENQUADRAMENTO
7.1 – BACKGROUND
A
A
lmeida, um dos mais qualificados exemplares da
Fortificação Moderna em Portugal e a mais singular
cidade-fortaleza abaluartada do Ocidente europeu
(devido à forma estrelada única do seu enorme perímetro),
contém dentro de si um monumento arqueológico da maior
relevância na historiografia da arte de construir a defesa militar. Trata-se do sítio arqueológico do Castelo, onde tudo
começou com uma primeira grande fortificação do rei D.
Dinis – e desde então evoluindo para desempenhar um papel
significativo, quiçá único, no contexto da definição do território português.
lmeida, one of the most qualified examples of Modern Fortification in Portugal and the most unique
bulwarked fortress-city in the European West (due
to the unique star-like shape of its enormous perimeter) contains within an archaeological monument of the greatest relevance for the historiography of art to build the military
defence. This is the Castle’s archaeological site, where it all
started with a first great fortification by king D. Dinis – and
ever since then, evolving to carry out a meaningful role, perchance unique, within the context of the definition of Portuguese territory.
Almeida O Castelo de D. Dinis Filmar_Maquetación 1 28/01/14 07:53 Página 149
149
Almeida O Castelo de D. Dinis Filmar_Maquetación 1 28/01/14 08:42 Página 150
Vista à vol-d’oiseau do lado Poente, com o
conjunto das medidas propostas como Estudo
Preliminar do(s) projecto(s) a elaborar para
intervenção de reabilitação e valorização do
Alto do Castelo. Nesta imagem como nas
seguintes perspectivas enquadram-se os
diversos espaços e edifícios com as
componentes arqueológicas, sem a presença dos
elementos arbóreos que, na zona, são muito
marcantes, os quais são genericamente para
preservar.
Vol-d’oiseau view of the West side, together with
the measures put forward by the Preliminary
Study of the project(s) to be developed for the
intervention regarding the rehabilitation and
enhancement of the Top of the Castle. In this
image as in the following, the perspectives fit into
the various spaces and buildings with the
archaeological components, without the presence
of tree elements, which are quite marking in the
area and will generically be preserved.
Uma pergunta se perfila, após o percurso expositivo do presente trabalho: como é que um campo arqueológico – para
mais num estado de ruína e muito incompleto – poderá servir
para nos esclarecer sobre o processo evolutivo que, ocorrendo
numa mesma peça arquitectónica, demonstra a razão de ser
da arquitectura militar, desde a Idade Média ao Abaluartado?
Tal será possível se o visitante souber ler os espaços e decifrar
as pedras e a paisagem do lugar, num resgate prático da documentação, fazendo-a interagir com as evidências arqueológicas. A apresentação qualificada da leitura histórica do sítio
merece ser reavivada, visto tratar-se da explicação mais importante sobre a arquitectura militar manuelina, no que se convencionou designar por “Arquitectura Militar de Transição”.
A consciencialização da importância da salvaguarda dos vestígios existentes, conjugada com a evidenciação dos valores
arqueológicos e de outro tipo de documentos, vai fazendo
um curso que releva, nos últimos anos, da atitude de protecção empreendida pelo Município no campo do Património.
Depois das intervenções criticáveis da Direcção-geral dos
Edifícios e Monumentos Nacionais nas décadas de 1940 a
1970, está em desenvolvimento (com âmbito limitado pelas
sempre escassas dotações orçamentais) uma atitude diferente: produz-se investigação e trabalho científico em cam150
A question lingers on, after the explanatory path of the current work: how may an archaeological field – furthermore
in a ruinous state and quite incomplete – serve to clarify the
evolution process that, occurring in the same architectural
piece – demonstrate the reason for the existence of military
architecture from the Middle Age until the Bulwarked Age?
Such will be possible if the visitor is able to read and decipher
the stones and landscape of the place, in a practical rescue
of documentation, making it interact with archaeological evidence. A qualified presentation of the historical reading of
site deserves to be revived, because this is the most important
explanation on Manueline military architecture, which is
conventionally termed “Transitional Military Architecture”.
The awareness of the importance of the safeguarding of the
existing remains, together with the disclosure of the archaeological values and other types of documents, will travel a
course that reveals, during recent years, the attitude of protection undertaken by the Municipality in the field of heritage. After the questionable interventions by of the
Directorate-General for National Buildings and Monuments
from the 1940s to the 1970s, a different attitude is currently
being developed (with limited scope due to the ever-scarce
budgetary allocations): research and scientific work in ar-
Almeida O Castelo de D. Dinis Filmar_Maquetación 1 28/01/14 08:42 Página 151
Vistas gerais do conjunto das medidas
propostas, com aproximação à vol-d’oiseau,
respectivamente a partir dos quadrantes Sul
(em cima) e Nascente / Norte (em baixo).
Overview of the set of proposed measure,
with a vol-d'oiseau approximation,
respectively from the South quadrants (top)
and East/North (below).
Na página seguinte / Following page
Sequência de perspectivas tomadas no sentido
do Baluarte de Nossa Senhora das Brotas para a
Torre do Relógio. No primeiro plano vê-se o
espaço exterior de treino do Picadeiro
antecedendo o volume do Museu de Sítio e, em
último plano, o edifício de equipamentos e
infra-estruturas na antiga plataforma da Igreja
Matriz.
Sequence of perspectives taken in the direction of
the Bulwark of Nossa Senhora das Brotas
towards the Clock Tower. In the foreground one
sees outer area of the Paddock, preceding the
volume of the Site Museum, and, on the last plan,
the building of equipment and infrastructures in
the former platform of the Mother Church.
151
Almeida O Castelo de D. Dinis Filmar_Maquetación 1 28/01/14 07:15 Página 152
chaeological campaigns is being produced, by surveying vestiges and collecting materials. The result of these actions is
disclosed1, the debate on the rehabilitation of the entire area
is promoted and solutions to solve the integration of disqualifying elements are projected2.
Drawing attention to the need of such operations was accompanied with a reflection on the meaning of the “Sacrifice of
Almeida”, in a reference to the war effort against the French
during the 3rd Invasion of Portugal by Napoleonic troops,
translated into colossal losses, namely with a sky-high number
of victims, caused by the blast of the magazine. It was included
in the actions supported by the Municipality for awarenessraising for Art3, result in the production of a sculpture memorial to be integrated in the said building, in the program which
also considered the creation of a belvedere, topping the elevation of the hill of Almeida and allowing the perception of the
extraordinary surrounding landscape.
The openness of the City Hall for the publication of the current essay is concomitant with the desire to deepen the participated and conscious actions to appreciate the heritage of
the council, in which there is an exceptional set of monuments of military architecture – making the characterization
of Almeida’s special thematic context unique (which is at the
origin of the creation of CEAMA - Centro de Estudos de Arquitectura Militar de Almeida/ Study Centre of Military Architecture of Almeida), both nationally and internationally.
The Stronghold and the Medieval/Manueline Castle with its
evolution up until 1810, the historical and cultural focus of
the Siege of Almeida, the castles of Castelo Bom and Castelo
Mendo – all examples listed as National Monuments – encompassing the vicinity, for their potential vestiges, of Vale
de la Mula and the fortifications of Pinhel, Trancoso,
Celorico and Linhares da Beira, Guarda, Vilar Maior, Touro,
Alfaiates, Sabugal, Sortelha or Belmonte and, on the Spanish
side, Fuerte de la Concepción and Ciudad Rodrigo, as well
as San Felices de los Gallegos or even Medina del Campo,
with, together, create a highly interesting collection and position Almeida in the centre of an hinterland that explains
the political evolution of Kingdoms and Iberian States.
7.2 – A PROPOSAL FOR THE FUTURE
Today, when faced with the situation of the archaeological
field at the top of Castle in Almeida, only the experts will realize the importance of the document we have under our
152
Almeida O Castelo de D. Dinis Filmar_Maquetación 1 28/01/14 07:15 Página 153
panhas arqueológicas, com levantamento de vestígios e recolha de materiais. Dá-se a conhecer o resultado dessas acções1, promove-se o debate sobre a reabilitação de toda a
zona, projectando-se soluções para resolver a integração de
elementos desqualificadores2.
A chamada de atenção para a necessidade de tais operações
foi acompanhada de uma reflexão sobre o significado do “Sacrifício de Almeida”, referido ao esforço da guerra contra os
franceses na 3ª Invasão de Portugal pelas tropas napoleónicas,
traduzido em perdas colossais, designadamente em exorbitante número de vítimas, causadas pela explosão do paiol. Envolveu-se no âmbito das acções suportadas pelo Município a
sensibilização pela Arte3, resultando a produção de um memorial escultórico a integrar no citado edifício, no programa
do qual se considerou complementarmente a criação de um
mirante, rematando a elevação da colina de Almeida, e dando
a perceber a extraordinária paisagem em redor.
A abertura da Câmara Municipal para a publicação do presente ensaio vem no sentido do aprofundamento desejado da
actuação participada e consciente na valorização do património concelhio, no qual se conta um excepcional conjunto de
monumentos de arquitectura militar – tornando única a caracterização do contexto temático especial de Almeida (e que
está na origem da criação do CEAMA – Centro de Estudos
de Arquitectura Militar de Almeida), à escala nacional e internacional. A Praça-forte e o Castelo Medieval/Manuelino
com sua evolução até 1810, o foco histórico e cultural do
Cerco de Almeida, os castelos de Castelo Bom e de Castelo
Mendo – todos exemplares classificados como Monumentos
Nacionais – estendendo-se na proximidade pelos vestígios
potenciais de Vale de la Mula e pelas fortificações de Pinhel,
de Trancoso, de Celorico e de Linhares da Beira, da Guarda,
de Vilar Maior, do Touro, de Alfaiates, do Sabugal, de Sortelha
ou de Belmonte e, do lado de Espanha, com o Fuerte de la
Concepción e Ciudad Rodrigo, bem como San Felices de los
Gallegos ou mesmo Medina del Campo, no total reunindo
um acervo do mais elevado interesse, posicionam Almeida
na capitalidade de um hinterland que explica a evolução política dos Reinos e Estados Ibéricos.
7.2 – UMA PROPOSTA PARA FUTURO
Quando hoje deparamos com a situação do campo arqueológico do alto do Castelo, em Almeida, só os especialistas se
darão conta da importância do documento que temos sob
1
Em cima: Uma perspectiva a partir do centro do recinto das ruínas do Castelo, com um ponto de estada junto da
reabilitação do poço medieval, assinalado por uma “escultura estrutural”. / Above: A view from the center of the
enclosure of the castle ruins, with a stop area at the rehabilitation of the medieval well, marked by a "sculptural structure".
Ao centro: O fosso na cortina Poente, com o Museu de Sítio ao fundo. Em plano mais recuado agrega-se o conjunto
construído da Torre do Relógio, com o novo Pórtico de entrada, o portal do antigo cemitério e o edifício de
infraestruturas urbanas e equipamentos de apoio, com o mirante e o Memorial do “Sacrifício de Almeida”. / Centre:
the ditch on the West curtain, with the Site Museum at the background. In the rearmost plan, there is the set built in the
Clock Tower, with the new entrance Portico, the portal of the ancient cemetery and the urban infrastructures and support
equipment building, with the belvedere and the Memorial of “The Sacrifice of Almeida”.
Em baixo: A rua lateral, com o bastião redondo do ângulo Norte / Nascente e o conjunto de edificações que articulam
o Alto do Castelo com as memórias arqueológicas do sítio. / Bottom: The lateral street, with the round bulwark of the
North/East angle and the set of building articulating the Top of the Castle with the site’s archaeological memoires.
Através de publicações do CEAMA
(TEIXEIRA, André – Sondagens Arqueológicas no Castelo de Almeida e Envolvente: síntese dos resultados, in
CEAMA nº 2, João Campos (coord.), C.
M. de Almeida, 2008) e em “Almeida: o
Potencial Arqueológico de um espaço de
guerra multissecular”, in «Candidatura
das Fortificações Abaluartadas da Raia
Luso-Espanhola a Património Mundial –
UNESCO», João Campos (coord.), pp.
53-59, C. M. de Almeida, 2009. Recentemente, do mesmo autor, foi editado “O
Castelo de Almeida – Arqueologia de um
espaço de guerra multissecular” (Catálogo da exposição, Agosto / Setembro de
2013), C. M. Almeida, 2013.
Through the publications of CEAMA
(TEIXEIRA, André – Sondagens Arqueológicas no Castelo de Almeida e Envolvente: síntese dos resultados, in CEAMA
nº 2, João Campos (coord.), C. M. de Almeida, 2008) and in “Almeida: o Potencial
Arqueológico de um espaço de guerra multissecular”, in «Candidatura das Fortificações
Abaluartadas
da
Raia
Luso-Espanhola a Património Mundial –
UNESCO», João Campos (coord.), pp. 5359, C. M. de Almeida, 2009. Recently, by
the same author, with the publication of “O
Castelo de Almeida – Arqueologia de um
espaço de guerra multissecular” (Exhibition Catalog, August/September 2013), C.
M. Almeida, 2013.
2 A Câmara Municipal encomendou há
alguns anos, ao autor deste livro, um projecto para construir espaços para equipamento e infraestruturas na zona do
Castelo e, ao mesmo tempo, promover a
integração do volume não qualificado da
cisterna e câmara de manobras da cisterna de abastecimento público de água à
Vila. Ao mesmo tempo proceder-se-á à
remoção do posto de transformação de
energia eléctrica da ilharga da ruína do
castelo, somando-se ao núcleo de infraestruturas (sinais de comunicações fixas
e móveis) e de equipamento de apoio à
regeneração urbana da zona (serviço de
jardins, sanitários públicos).
The City Hall commended, some years
ago, to the author of this book a project to
build spaces for equipment and infrastructures in the area of the Castle, while at the
same time promoting the integrating of the
unfit volume of the cistern and hydraulic
chamber of the public water supply cistern.
At the same time, there will be the removal
of the power station at the flank of the
Castle’s ruins, adding it to the nucleus of
infrastructures (land and mobile communication signals) and equipment supporting the urban regeneration of the area
(garden service, public restrooms).
153
Almeida O Castelo de D. Dinis Filmar_Maquetación 1 28/01/14 08:42 Página 154
O Museu de Sítio e sua relação com a contra-escarpa do ângulo Norte / Poente, vendo-se a
modelação pontual do glacis. O novo Pórtico de
entrada serve de contraponto ao volume do
Museu, no qual se faz a explicação da
importância do Castelo na História.
The Site Museum and its relationship with the
counter-scarp of the North/East angle, seeing the
punctual modelling of the glacis. The new entrance
Portico acts as a counterpoint to the volume of the
Museum, in which one makes the explanation of
the importance of the Castle throughout History.
3
Ver CEAMA nº 3, C. M. Almeida,
2009, com as Actas do Seminário “Memória, Mito e História – o Sacrifício de
Almeida” e a apresentação dos resultados do 1º Simpósio das Artes que teve
lugar entre 22 e 24 de Agosto de 2009.
See CEAMA nº 3, C. M. Almeida, 2009,
with the Minutes of the Symposium “Memória, Mito e História – o Sacrifício de
Almeida” and the presentation of results
from the 1st Art Symposium, taking place
between 22nd-24th August, 2009.
4 TEIXEIRA, André (coord. e textos),
“O Castelo de Almeida – Arqueologia de
um espaço de guerra multissecular”
(Catálogo da exposição. Agosto/Setembro de 2013), p. 68, C. M. Almeida,
2013.
TEIXEIRA, André (coord. and texts), “O
Castelo de Almeida – Arqueologia de um
espaço de guerra multissecular” (Catálogo da exposição. Agosto/Setembro de
2013), p. 68, C. M. Almeida, 2013.
154
os olhos. Mas estamos perante a evidência do que resta da
mais importante obra de carácter militar levada a cabo no
reinado de D. Manuel, ao fazer a primeira grande alteração
da arquitectura medieval existente, dando mostras de uma
actualização sobre o que de mais espectacular acontecia na
arte edificatória da guerra. Essa notoriedade de Almeida nos
inícios do século XVI explica, de uma vez, a razão de ser das
medidas adequadas à alteração dos paradigmas bélicos,
desde a neurobalística à novidade da pirobalística.
Entretanto, diversas sondagens foram efectuadas para conhecimento do sítio. “Os trabalhos arqueológicos desenvolvidos
no castelo durante os últimos anos poderão ter sido a primeira
etapa para pôr termo a dois séculos de abandono desta área
da vila de Almeida, após o malogro de 1810. Deverão também
corrigir intervenções globalmente infelizes realizadas durante
o século XX, devolvendo o monumento à fruição dos seus habitantes e dos forasteiros, em correctas condições de conservação. Esperemos que seja possível levar a bom porto um
projecto de requalificação de toda a área, reintegrando-a neste
conjunto de património militar excepcional.”4
Salvo alguma correcção estrutural que o desbravar da arqueologia nos imponha, a proposta de leitura da evolução
da fortificação que apresentamos pressupõe que o investimento no sítio é a melhor maneira de proteger o monumento
arqueológico.
Simultaneamente, incentivar uma campanha de prospecção
larga e exigente, reveladora de estratos e recolectora de mate-
eyes. But we are looking at the evidence of what remains
form the most important work of a military nature carried
out during the reign of King Manuel, who made the first
major modification of the existing medieval architecture,
thus exemplifying an update on the most spectacular trends
of the construction of war at that time. This notoriety of
Almeida in the early sixteenth century explains, at once, the
reason behind the adaptation, due to the change in warfare
paradigms, from tension artillery to the novelty of pyro-ballistics.
Meanwhile, several surveys have been conducted to know
the site. “The archaeological works carried out in the castle
over the last few years may have been the first stage to end
two centuries of neglect of this area of the village of Almeida,
after the catastrophe of 1810. They should also globally correct unfortunate interventions carried out during the twentieth century, returning the monument to the enjoyment of
its residents and visitors, in correct preservation conditions.
Hopefully, it will be possible to entirely requalify the area,
reintegrating it into this set of exceptional military heritage”4
Except for some structural correction imposed by the discoveries of archaeology, the proposal for the reading of the
evolution of the fortification we put forward assumes that
investing in the site is the best way to protect the archaeological monument.
Simultaneously, encouraging a wider and demanding
prospection campaign, revealing layers and gatherer of ma-
Almeida O Castelo de D. Dinis Filmar_Maquetación 1 28/01/14 08:42 Página 155
riais que enriqueçam o espólio documental, é uma tarefa que
se espera muito frutuosa. Haverá que preparar as melhores
condições para o usufruto de um património que, por certo,
será qualitativa e quantitativamente acrescentado no futuro.
Proteger, neste como na generalidade dos casos que respeitam ao Património Cultural, é sinónimo de actuação sobre
o objecto, estudando, restaurando, reabilitando, tornando
útil o conhecimento.
7.3 – DESCRIÇÃO BREVE
DE UM PROGRAMA DE INTERVENÇÃO
A importância do Castelo de Almeida, consolidadas e beneficiadas que sejam as ruínas existentes (incluindo a reintegração de algumas reconstituições do contorno do lugar),
justifica a criação de um pequeno Museu de Sítio, explicando
aquilo que os olhos vulgares não conseguem ler.
O arranjo do conjunto das áreas exteriores implicará atenção
especial quanto ao tipo de referências e ao aproveitamento
de certas zonas, dotando cada ponto especial com a informação pertinente, motivando os visitantes para a descoberta.
É necessário transmitir, em cada momento e lugar, onde se
situa o espectador: tal implica que os visitantes sejam conduzidos à “porta” de entrada do Monumento, revelando os sucessivos aspectos maiores que a exposição no Museu
confirmará, pormenorizando com diagramas, esquemas e ma-
terials that enrich the document collection, is a task that is
expected to be very fruitful. One will need to prepare the
best conditions for the enjoyment of a heritage that will certainly be qualitatively and quantitatively added in the future.
To protect, in this as in most cases regarding Cultural Heritage is a synonymous of acting on the object, studying,
restoring, rehabilitating, and making knowledge useful.
Perspectiva aglutinadora dos pontos mais
expressivos da intervenção proposta, vista a
partir do centro das ruínas do Castelo.
Agglutinating perspective of the most expressive
points of the proposed intervention, seen from the
centre of the Castle’s ruins.
7.3 – BRIEF DESCRIPTION
OF AN INTERVENTION PROGRAM
The importance of the Castle de Almeida, after the existing
ruins have been consolidated and improved (including the
reintegration of some reconstructions of the contour of the
place), justifies the creation of a small museum, explaining
what ordinary eyes cannot read.
The arrangement of the exterior areas will call for special attention regarding the type of references and the use of certain
areas, giving each special location with pertinent information, motivating visitors to discover more. It is necessary to
convey, in each moment and place, where the visitor is; this
means visitors are lead to the “gate” of entry to the Monument, revealing the successive greater aspects that the Museum exhibit will confirm, detailing with diagrams, schemes
and models. The Museum will obviously include the presentation of materials collected in the prospections.
155
Almeida O Castelo de D. Dinis Filmar_Maquetación 1 28/01/14 07:15 Página 156
O espaço de jardim (que se encontra fortemente
arborizado com espécies a proteger) e o volume
do Museu de Sítio apresentando, como entrada,
a reconversão do pórtico da capela mortuária
do antigo cemitério.
The garden space (which is heavy with trees, with
species to be protected) and the volume of the Site
Museum presented; the entrance is the
conversion of the portico of the mortuary chapel
of the old cemetery.
156
quetas. A matéria do Museu incluirá, obviamente, a apresentação dos materiais recolhidos nas sondagens de prospecção.
O que propomos, como antevisão de um projecto de integração global para a zona do Alto de Almeida, é uma atitude extensiva de integração de todos os elementos presentes na zona,
de modo a perfazerem um conjunto historicamente complexo
e relevante. O desenho urbano e o tratamento dos espaços verdes (contando-se com espécimes de grande interesse) contribuirão para que a fruição se revele plenamente alcançada.
Concluímos, assim, anotando as diferentes componentes de
uma intervenção desejável. Cada uma delas terá que ser aprofundadamente estudada e devidamente articulada, incluindo
a natural extensão aos espaços urbanos adjacentes, todos eles,
de resto, impregnados de um mesmo sentido cultural.
a) O Castelo
Motivo central da área, as ruínas deverão ser objecto de uma
revisão profunda das condições em que são apresentadas. Há
aspectos a restaurar e a complementar pontualmente, fazendo
parte dos trabalhos de salvaguarda a retirada das estruturas
que actualmente danificam o monumento. As acessibilidades
e a iluminação do monumento revelam-se aspectos importantes no projecto a elaborar.
b) A Igreja Matriz e a Torre do Relógio
Para além das expectativas de uma campanha de escavações
com o objectivo de desvendar o conhecimento do templo (deverá existir muito material das sucessivas fundações das fases
que a Matriz conheceu desde o século XIII), o esteio da apresentação é a última transformação que aconteceu, com a construção da Torre do Relógio nos fundamentos da sineira eclesial.
Porém, há que contar com hipóteses entusiasmantes para o desenho do espaço, incluindo o jardim com a proposta de traçado
segundo o hipotético eixo da nave central e das linhas das fachadas laterais.
What we propose, anticipating a project for the full integration of the area of the Top of Almeida, is an extensive attitude
to integrate all elements presents in that zone, as to create a
set that is historically complex and relevant. The urban outline and the treatment of gardens (featured as examples of
great interest) will contribute to fully achieve fruition.
Thus, we conclude by noting the different components of a
desirable intervention. Each one of them will have to be
deeply studied and properly articulated, including the natural extension of neighbouring urban areas, all of which, in
fact, embody the same cultural sense.
a) The Castle
Central motive to the area, the ruins should be subjected to
a thorough review of the conditions in which they are presented. Some aspects need to be restored and supplemented
punctually and part of the work of safeguarding must include
the removal of the structures that are currently damaging the
monument. The accesses and the lighting of the monument
are important aspects in the project to be developed.
b) The Main Church and the Clock Tower
Beyond the expectations of an excavation campaign with the
aim of uncovering the knowledge of the temple (there should
be plenty of material of the successive foundations that the
Mother Church had since the thirteenth century), the mainstay of the presentation is the last transformation that happened with the construction of the clock tower, built as a
church bell. However, we must expect exciting hypotheses
for the design of the space, including the garden with the
proposed route according to the hypothetical axis of the nave
and the lines of the side façades.
c) The Gate and the new system of accesses and stays
The relevance of the entrance (since the marks of the meeting between the access bridge over the ditch are preserved)
should be marked with the proposal of a portico, of modern
design, without affecting any archaeological trace. This will
be a way of indicating how the Castle operated, while it disciplines the organization of the path on the sire. The maximum simplification of the circuits leads to the preference for
a distribution in which the stays are distinguished by the approximation with to the geometric centre of the Castle (the
subsistent well) and to the keep area. The crossing of the
ditches occurs in three areas (always with non-intrusive
processes towards the archaeological remains): the gate, the
east curtain (taking advantage of an existing ramp) and the
west curtain (in the interrelationship with the mills, which
Almeida O Castelo de D. Dinis Filmar_Maquetación 1 28/01/14 07:15 Página 157
c) A Porta e o novo sistema de acessos e estadas
A relevância da entrada (uma vez conservadas as marcas do
encontro da ponte de acesso sobre o fosso) deve ser assinalada
com a proposta de um pórtico, de concepção moderna, sem
afectar qualquer vestígio arqueológico. Será uma forma de indicar como era o próprio funcionamento do Castelo, ao mesmo
tempo que disciplina a organização dos percursos no sítio. A
simplificação máxima dos circuitos leva a preferir uma distribuição em que as estadas se destacam pela aproximação ao centro geométrico do Castelo (o poço subsistente) e à zona da torre
de menagem. O atravessamento do fosso verifica-se em três
pontos (sempre com processos não intrusivos nos restos arqueológicos): a porta, a cortina Nascente (retirando proveito
de uma rampa existente) e a cortina Poente (na inter-relação
com as atafonas, as quais carecem de maior pesquisa arqueológica). A engenharia deverá ser chamada a um projecto específico e inovador na concepção e desenho dos passadiços.
d) O Glacis e a Plataforma do Jardim Público
A intenção é reconfigurar, onde possível, a modelação aproximada do terreno do glacis, sobretudo após a remoção do posto
de transformação que está implantado no local. Também na
reconstituição do espaço circundante do bastião redondo
Poente / Norte, em articulação com o projecto de construção
do Museu de Sítio, poderá dar-se expressão a essa componente
externa da edificação militar moderna. Por outro lado, e tendo
em conta a expressiva presença dos restos da plataforma construída no século XIX para o jardim, julga-se que tal evidência
deva ser valorizada.
e) As Atafonas
A importância da indústria alimentar de Setecentos (numa altura em que a guarnição de Almeida poderia rondar os 4000
militares) é um marco assinalável pela expressividade da arqueologia, mas ainda por se tratar de tema com vertentes didácticas significativas, incluindo a tecnologia ou a ecologia.
f) O Museu de Sítio
Edifício simples, a encaixar no socalco que o terreno apresenta, permitirá dispor de volume com altura suficiente para
albergar uma maqueta de grandes dimensões, mostrando a
configuração do castelo e facilitando a imediata confrontação com as ruínas adjacentes. O espaço deverá possibilitar
as explicações sobre a Arquitectura Militar de Transição e
mostrar os achados das escavações. Na entrada aponta-se a
manutenção do alçado da capela mortuária do antigo cemitério, com os elementos de arqueologia que contém. A leitura
proposta para o arranjo sugere que esse local seria, eventual-
lack archaeological research). Engineering experts must be
called to create a specific and innovating project in the conception and design of footbridges.
d) The Glacis and the Public Garden Platform
The intention is to reconfigure, where possible, the approximate modelling of the terrain of the glacis, especially after the
removal of the power station that is deployed on site. Also in
the reconstitution of the space surrounding the west/north
round bastion, in conjunction with the planned construction
of the Site Museum, one may provide expression to this external component of the modern military building. On the other
hand, and given the significant presence of the remains of the
nineteenth century platform for the garden, it is believed that
such evidence should be valued.
e) The mills
The importance of the 18th-century food industry (in a time
where the garrison of Almeida could be of approximately
4000 military) is a notable landmark for the expressiveness
of archaeology, but also because a theme with significant didactic aspects, including technology or ecology.
f) The Site Museum
A simple building, to be built on the ledge of the terrain, will
have to have a volume high enough to accommodate a largedimension model, showing the configuration of the castle
and facilitating the immediate confrontation with the neighbouring ruins. The space should include explanations on the
Transitional Military Architecture and showcase the findings
of the excavations. At the entrance, one wants to highlight
the preservation of the façade of the mortuary chapel of the
Uma antevisão da plataforma-miradouro
(camuflando a cisterna de abastecimento
público de água) na sua relação com os
diferentes espaços do Alto do Castelo,
pontuados pelo eixo do acesso ao Museu de
Sítio (e sua entrada recuperando a porta da
capela hoje abandonada) e pelo novo Pórtico
das Ruínas.
A preview of the platform-belvedere
(camouflaging the public water supply cistern)
and its relation to the different areas of the Top of
the Castle, punctuated by the access to the Site
Museum (and its entrance recovering the door of
the now abandoned chapel) and the new Portico
of the Ruins.
157
Almeida O Castelo de D. Dinis Filmar_Maquetación 1 28/01/14 07:15 Página 158
Visão de conjunto da proposta preliminar de
intervenção, com uma perspectiva baixa sobre o
programa construído do Alto do Castelo e
(na página seguinte) um vol-d’oiseau no eixo
Norte / Sul.
View of the set of the preliminary intervention
proposal, with a low perspective over the built
program of the Top of the Castle and
(in the following page), a vol-d’oiseau from the
North/South axis.
mente, o da porta principal, na linha da última fachada principal da Igreja Matriz.
g) O Portal do antigo Cemitério
Na extremidade oposta do presumido eixo da Igreja está o
portal do antigo cemitério. Considerados os princípios integradores da solução, e por provavelmente ser o sítio do altarmor do templo, é de preferir a manutenção (devidamente
enquadrada) de um fragmento do muro com o pórtico que
se conserva actualmente.
h) O Edifício do “Sacrifício de Almeida”
Assim chamado por facilitação e por integrar (tal como se
acha projectado) o Memorial dos acontecimentos resultantes
da explosão do paiol do Castelo, existe uma peça escultórica
a integrar na construção. A intenção de camuflar as construções desqualificadoras que existem na zona, enquanto se
dota o Alto do Castelo com uma construção capaz de albergar condignamente equipamentos de infraestruturas e outros, de apoio aos visitantes, foi já equacionada em projecto
que, com possíveis pequenas adaptações, se justificará agora,
mais que nunca.
Com um programa de intervenção delineado como aqui sugerimos, estamos crentes de que um progresso significativo
poderá resultar na preparação de Almeida e da Praça-forte
para os desafios que se colocam. Para além do dever cultural
e cívico, é a consciência da necessidade de não deixar esmorecer a defesa de um Património ímpar que nos impõe entusiasmo perante o Futuro.
Será então possível organizarem-se perspectivas novas, beneficiando-se de um dos mais esquecidos mas promissores
espaços – que se quer vivo – da História de Portugal.
158
old cemetery, with the archaeological elements contained.
The reading proposed for the arrangement suggests that this
place would be eventually the main door, according to the
last main façade of the Mother Church.
g) The Portal of the Ancient Cemetery
At the opposite end of the presumed axis of the Church is
the gate of the old cemetery. After the principles integrating
the solution have been considered and probably because it
is the site of the altar of the temple, one opts for the maintenance (properly grounded) of a fragment of the wall with the
portico that is preserved today.
h) The Building of the “Sacrifice of Almeida”
So called to facilitate and integrate (just as it was projected)
the Memorial of the events resulting from the blast of the Castle’s magazine, there is a sculpture that will integrate the construction. The intention of camouflaging unfit constructions
that exist in the area, while endowing the Top of the Castle
with a construction capable of worthily accommodate infrastructures and other equipment to support to visitors, has already been addressed with a project, with possible minor
adjustments, and now, more than ever, it is fully justified.
With an intervention program as the one suggested herein, we
believe that the meaningful progress may occur in the preparation of Almeida and its Stronghold for the challenges ahead.
Apart from the cultural and civic duty, it is the consciousness
of the need of not leaving the defence of a unique Heritage
perish that makes us feel enthusiastic towards the Future.
Then, it will be possible to organize new perspective, improving one of the most often forgotten but promising spaces
– that needs to be alive – in the History of Portugal.
Almeida O Castelo de D. Dinis Filmar_Maquetación 1 28/01/14 07:15 Página 159
159
Almeida O Castelo de D. Dinis Filmar_Maquetación 1 28/01/14 07:15 Página 160
Almeida O Castelo de D. Dinis Filmar_Maquetación 1 28/01/14 07:15 Página 161
CRONOLOGIA
BREVEMENTE COMENTADA
BRIEFLY ANNOTATED
CHRONOLOGY
À semelhança do que por vezes se observa em ensaios que implicam com a natureza
histórica da temática estudada, entendi elaborar uma cronologia que permitisse enquadrar a evolução da própria existência das sucessivas fortificações de Almeida, cruzando com a informação relevante para a compreensão da problemática da definição
das fronteiras.
A tarefa não se mostrou fácil, nem completada numa desejada simplificação da sua
complexidade. Que factos assinalar, sobretudo aqueles que não estão directamente circunscritos a Almeida, quer geográfica, quer socialmente? Como manter um fio condutor que oriente para o enriquecimento da problemática, sem introduzir diversão especulativa, isto é, permitindo um sistemático recentramento do objectivo central? Qual
o equilíbrio possível num manuseamento de dados históricos que são uma escolha informada de um ponto de partida pessoal?
A certa altura optaria por prescindir da Cronologia, mas dei-me conta de que tal induziria a perigo de desvio idêntico no corpo do texto, acaso trasladasse para a redacção
deste explicações de enquadramento que desejaria não esquecer. Quer dizer, em ambas
as situações, o registo de acontecimentos históricos tende a ser crescente para o correlacionamento causal, enquanto panorama global mas, ao mesmo tempo que adensa
expectativas, tende a afastar-se do centro da análise.
Porém, a vantagem adveniente da apresentação de um inventário cronológico é a de
ele não ser um mero rol de datas mais ou menos interessantes, antes servindo para
acompanhar com pequenos comentários tendentes a complementar informação que,
não sendo expressamente inserida no corpo do texto geral da presente edição, nele se
deverá pressupor implícita com vista a uma mais alargada explicação do tema.
Ponderadas as circunstâncias optei, portanto, por não desperdiçar o trabalho produzido, pois julgo que a retenção de algumas datas e a ressalva de certos aspectos poderão
trazer informação pertinente, sobretudo quando cotejada com o cruzamento de acontecimentos que levam a mudanças do status ante. Fica assim incluído este apêndice.
Similar to what is often seen in essays dealing with the historical nature of the
subject, I have chosen to elaborate a chronology of the successive fortifications of
Almeida with relevant information added to understand the problem of defining
borders.
The task was not easy, nor complete, in a desired simplification of its complexity.
What facts should be documented, especially those that are not directly
circumscribed to Almeida, both geographically and socially? How can a conduction
thread, steering towards the enrichment of the issue, be maintained without
introducing speculative diversion, i.e., allowing a systematic recentering on the
primary objective? What is the possible balance in handling historical data that are
an informed choice from a personal point of view?
At a certain point, I wanted to dispense with the chronology, but I realized that this
might deviate from the body of text. Instead, I opted to discuss background
information that I did not want to be forgotten. In both situations, the recording of
historical events tends to increase to show causal correlation. Overall, at the same
time the recording increases expectations, it tends to move away from the center of
the analysis.
Notwithstanding, the advantage of a presentation of a chronological inventory is
that it provides a broader explanation of the subject. It is not a mere list of more or
less interesting dates, but a set of complementary information accompanied by short
comments that provides more information about the general body of text of the
current work.
After weighing the circumstances, I therefore opted not to waste the work produced,
since I think that retaining some dates and safeguarding certain aspects may bring
relevant information, especially when collated with the intersection of events that
lead to changes in the status quo ante. Thus, the following appendix is included.
DATAS ASSINALÁVEIS SOBRE A DEFINIÇÃO DOS LIMITES DE PORTUGAL
E SOBRE O ENQUADRAMENTO DA FORTIFICAÇÃO DE ALMEIDA1
NOTEWORTHY DATES ON THE DEFINITION OF THE LIMITS OF PORTUGAL
AND ON THE BACKGROUND OF THE FORTIFICATION DE ALMEIDA1
711 (31 de Julho / 31st July) – Batalha de Guadalete entre Mouros e Cristãos. Após passarem o Estreito de Gibraltar a 30 de Abril, as forças comandadas por Tarik Ibn-Ziyad derrotam as defesas visigodas do rei Roderick nas proximidades de Guadalete (Guad + Layt, Rio dos Leões) no sul da Península Ibérica. A batalha marca o início da fulminante conquista da Península Ibérica pelos Muçulmanos, cuja presença se vai prolongar por quase 8 séculos, e da qual resultou a incorporação, no corpo nacional de Portugal, de fortes influências culturais. Regista-se resistência de Pelágio (718),
assumindo o protagonismo o reino das Astúrias. Battle of Guadalete between Moors and Christians. After passing the Strait of Gibraltar on 30th April, the forces, led by Tariq ibn-Ziyad, defeat the
Visigoth defenses of King Roderick near Guadalete (Guad + Layt – River of Lions) in the south of the Iberian Peninsula. The battle marks the beginning of the fulminant conquest of the Iberian
Peninsula by the Muslims, whose presence will endure for almost 8 centuries and which resulted in the incorporation of strong cultural influences in the Portuguese national structure. One must refer
to the resistance by Pelagius (718), where the kingdom of Asturias takes the lead.
713 – 1ª Campanha de Muça ben-Nusayt, conquistando Medina, Sidónia, Sevilha e Mértola.
First Campaign of Musa bin Nusayr, conquering Medina, Sidonia, Seville and Mértola.
714 – 2ª Campanha de Muça ben-Nusayt abrangendo os territórios da Lusitânia, conquistando Évora, Santarém e Coimbra.
of Lusitania, conquering Evora, Coimbra and Santarém.
800 – Coroação do Imperador Cristão Carlos Magno.
1
Second Campaign of Musa bin Nusayr encompassing the territories
Coronation of the Christian Emperor Charlemagne.
No desenvolvimento da Cronologia sublinham-se os factos que mais (ou exclusivamente) se referem a Almeida ou à fronteira da Beira.
For the development of the Chronology, one underlines the facts that refer the most (or exclusively) to Almeida or to the frontier of Beira.
161
Almeida O Castelo de D. Dinis Filmar_Maquetación 1 28/01/14 07:15 Página 162
866-909 – Reinado de Afonso III das Astúrias, o primeiro grande impulsionador da Reconquista Cristã. O processo de Reconquista por Afonso III das Astúrias inicia-se com o Porto e termina, no
período comandado por esse rei, com a presúria de Toro (900) e Burgo de Osma (912). Um tão vasto território, que chegava a todo o Noroeste Peninsular, de uma forma definitiva até ao Douro,
mas alargando-se até ao Mondego (embora de uma forma não definitiva) e prolongando-se para Leste até às Terras de Riba-Côa. Uma tal geografia impôs novos modelos de alianças e de partilha
Reign of Alfonso III of Asturias, the first major driving force behind the Christian Reconquista.
do poder, pré-figurando as alterações e o mosaico de soberanias que se iria formar a curto prazo.
The process of the Reconquista by Alfonso III of Asturias begins with Porto and ends with the period ruled by this king, with the conquest of Toro (900) and Burgo de Osma (912). Such a vast
territory, which reached the entire Northwest Peninsula all the way to the Douro, but extending up to the Mondego (albeit in a non-definitive manner) and extending eastward to the Lands of RibaCoa. Such geography imposed new alliances and power-sharing models, anticipating the changes and the mosaic of sovereignty that would be formed shortly after.
868 – Presúria de Portucale por Vímara Peres.
Conquest of Portucale by Vímara Peres.
870 – Construção do castelo de S. Miguel do Paraíso. Data atribuída ao primeiro castelo medieval Cristão (S. Miguel do Paraíso) no território do futuro Condado Portucalense, situado em território
da diocese de Braga, junto ao rio Ave. Construction of the castle of S. Miguel do Paraíso. Date assigned to the first Christian medieval castle (S. Miguel do Paraíso) in the territory of the future
County of Portugal, located in the territory of the diocese of Braga, near river Ave.
872 – Presúria de Chaves pelo Conde Odoário.
Conquest of Chaves by Count Odoário.
878 – Presúria de Coimbra pelo Conde Hermenegildo Guterres.
893 – Presúria de Zamora.
899 – Presúria de Simancas.
Conquest of Coimbra by Count Hermenegildo Guterres.
Conquest of Zamora.
Conquest of Simancas.
960/68 – Construção do Castelo de Guimarães por Mumadona Dias. Senhora de vastas regiões que eram sua propriedade, a elevação dessa fortificação inicial serviu para garantir a protecção do
mosteiro de Guimarães face aos ataques dos Normandos (particularmente activos no Minho entre 961-71). Do século X é ainda o castelo de Lanhoso, e um conjunto de dez fortificações condais
que a sobrinha de Mumadona, D. Flâmula Rodrigues, mandou construir e doou ao mosteiro de Guimarães (Trancoso, Moreira de Rei, Longroiva, Numão, Muxagata, Meda, Penedono, Alcarva, Sernancelhe e Caria). Aquando da morte do Conde Hermenegildo Mendo Gonçalves, marido de Mumadona Dias, esta reparte o território dos seus senhorios pelos filhos, cabendo a Gonçalo Mendes
Construction of the Castle of Guimarães by Mumadona Dias. Lady with vast regions of property, the building of this initial fortification served to protect the monastery
a chefia da Terra Portucalense.
of Guimarães against the attacks of the Normans (particularly active in Minho between 961 to 71). Also from the tenth century is the castle of Lanhoso and a set of ten count fortifications that the niece
of Mumadona, D. Flâmula Rodrigues, built and donated to the monastery of Guimarães (Trancoso, Moreira de Rei, Longroiva, Numão, Muxagata, Meda, Penedono, Alcarva, Sernancelhe e Caria). Upon
the death of Count Hermenegildo Mendo Gonçalves, husband of Mumadona Dias, she divides the territory of her landlords to her children, leaving the leadership of Portucalanse lands to Gonçalo
Mendes.
999 – Referência à morte de Mumadona Dias.
Reference to the death of Mumadona Dias.
1037 – Início do reinado de Fernando I, o Magno, rei consorte da Galiza e de Leão.
Beginning of the reign of Ferdinand I, the Great, King consort of Galicia and León.
1039 – Conquista de Almeida por Fernando Magno de Leão e Castela. De provável origem remontando ao tempo dos Romanos, com pequeno castro e posterior castelo muçulmano, Almeida foi conquistada aos Mouros nesta data. Entre 1156 e 1190 verificam-se alternâncias de posse leonesa, muçulmana e portuguesa. Conquest of Almeida by Ferdinand I, the Great, of León and Castile. With its
origin probably dating back to Roman times, with a small hill fort and a subsequent Muslim castle, Almeida was conquered from the Moors on this date. Between 1156 and 1190, there is alternating
possession between Leon, the Muslim and the Portuguese.
1056-1063 – Concílio de Compostela. O Papa Alexandre II prega em Leão a 1ª Cruzada para a conquista de Jerusalém.
to conquer Jerusalem.
Council of Compostela. Pope Alexander II preaches in Leon the 1st Crusade
1064 – Conquista de Coimbra pelo moçárabe Sismundo ou Sesnando Davides, o qual é designado Senhor da cidade por Fernando Magno.
Sesnando Davides, who is designated as the city’s Lord by Ferdinand the Great.
1070 – A Sé episcopal de Braga é restaurada.
The Episcopal Cathedral of Braga is restored.
1073 – Afonso VI concentra em si as coroas de Leão, Castela, Galiza e Portucale.
1075 – D. Afonso VI conquista Toledo.
Conquest of Coimbra by Mozarabic Sismundo or
Alfonso VI gathers the crowns of Leon, Castile, Galicia and Portucale.
D. Alfonso VI conquers Toledo.
1076 – Tomada de Jerusalém pelos Seléucidas ou Seljúcidas.
Taking of Jerusalem by the Seleucid or Seljuks.
1090-91 – Casamento de D. Raimundo, Conde da Borgonha com D. Urraca, filha de Afonso VI, o qual entrega o governo da Galiza ao genro.
D. Urraca, daughter of Alfonso VI, who entrusts the ruling of Galicia to his son-in-law.
Wedding of D. Raimundo, Count of Burgundy, with
1093 – Ordem de S. Julião do Pereiro, instituída por D. Henrique, Conde de Portucale, fundada perto de Cinco Vilas (Pinhel), em territórios de Riba-Côa, os quais viriam depois a pertencer a
Portugal, tendo mais tarde sido trasladada para a jurisdição da Ordem de Alcântara, de fundação castelhana. Order of S. Julião do Pereiro, instituted by D. Henrique, Earl of Portucale, founded
near Cinco Vilas (Pinhel), in the lands of Riba-Coa, which belonged to Portugal, and later become transferred to the jurisdiction of the Order of Alcantara, a Spanish foundation.
1095 – Primeira Cruzada. O movimento de esquadras com forças militares que incorporavam o movimento das Cruzadas serviu aos primeiros reis Portugueses para a Reconquista e consequente alargamento das fronteiras do reino. Logo em 1140 há uma primeira tentativa de tomada de Lisboa (canalizando 70 navios que haviam aportado ao Porto), intento esse repetido com sucesso por D. Afonso
Henriques em 1147, utilizando uma armada de 200 velas proveniente de Dortmouth com combatentes da Alemanha, da Flandres, da Normandia e da Inglaterra (num total de 13000 homens), e que
havia parado no Porto, tendo o bispo local induzido a empresa com a promessa do saque, segundo indicações do rei português. Em 1154 (partida de Bergen com 15 navios e 2000 guerreiros) e em 1157
(uma frota do conde da Flandres composta por Franceses e Flamengos), os contributos de duas diferentes expedições cruzadísticas à Terra Santa não permitiram alcançar a tomada de Alcácer do Sal.
Em 1189 D. Sancho I recebe o apoio de Cruzados para tomar o castelo de Alvor e, meses mais tarde, outra expedição ajudará na tomada de Silves (que todavia se perde novamente para os Mouros). Anos
depois, outra armada de Cruzados, mesmo sem terem chegado a acordo com D. Sancho I, tomam Silves e saqueiam a cidade, prosseguindo para a Síria. E em 1217, entrando nova frota alemã no Tejo,
D. Soeiro, bispo de Lisboa, foi o intermediário para negociar a efectiva conquista de Alcácer do Sal, a qual resistiu por dois meses aos 100 navios entrados no Sado até capitular. No princípio do Inverno
regressa a frota ao Tejo, passando aí o resto da estação. First Crusade. The movement with the military squads that incorporated the Crusades served the first Portuguese kings for the Reconquista and
the consequent expansion of the frontiers of the kingdom. As early as 1140, there is a first attempt to capture Lisbon (channeling 70 ships that had docked at Porto); such attempt was successfully replicated
by D. Afonso Henriques in 1147 using a fleet of 200 vessels from Dortmouth with soldiers from Germany, Flanders, Normandy, and England (a total of 13,000 men), which had stopped in Porto and
which the local bishop had induced with the promise of loot, according to indications by the Portuguese king. In 1154 (departure from Bergen with 15 ships and 2000 warriors) and 1157 (a fleet of the
Count of Flanders comprised of French and Flemish), the contributions of two different Crusade expeditions to the Holy Land did not allow the conquest of Alcacer do Sal. In 1189, D. Sancho is supported
162
Almeida O Castelo de D. Dinis Filmar_Maquetación 1 28/01/14 07:15 Página 163
by Crusaders to take the castle of Alvor, and months later, another expedition will help conquering Silves (which, however, is lost again to the Moors). Years later, another army of Crusaders, without
having reached an agreement with D. Sancho I, takes Silves and plunders the city, continuing to Syria. And, in 1217, when a new German fleet entered the Tagus, D. Soeiro, bishop of Lisbon, was the
intermediary to negotiate the actual conquest of Alcacer do Sal, which resisted for two months against 100 ships docked on Sado until capitulating. In the early winter, the fleet returns to the Tagus,
spending the rest of the season there.
1096 – O Conde de Borgonha, D. Henrique, primo de D. Raimundo, casa com D. Teresa, filha bastarda de D. Afonso VI. Como dote recebe as terras a Sul do rio Minho até Coimbra, ficando senhor
dos Condados Portucalense e Conimbricense, base territorial primeira da constituição do futuro estado.
The Count of Burgundy, D. Henrique, cousin of D. Raimundo, married D. Teresa, bastard
daughter of D. Alfonso VI. As a dowry, he receives the lands south of the River Minho until Coimbra, becoming lord of Portucalense and Conimbricense Counties, the first territorial basis for the
constitution of the future state.
1096 – D. Henrique concede foral a Guimarães, passando a ser a capital do Condado.
D. Henrique grants a charter to Guimarães, which becomes the capital of the County.
1105 – Pacto Sucessório entre os Condes de Borgonha, comprometendo-se a que, com a morte de D. Afonso VI, D. Raimundo seria reconhecido como rei de Leão, Castela e Galiza, sendo concedido
a D. Henrique o território de Toledo com um terço dos seus tesouros ou o reino da Galiza.
Succession Pact between the Counts of Burgundy, pledging that with the death of D. Alfonso VI, D.
Raimundo should be recognized as king of León, Galicia and Castile, being granted to D. Henrique the territory of Toledo with a third of its treasures or the kingdom of Galicia.
1109-1110 – Viagem do Conde D. Henrique a Cluny para se concertar com o abade sobre a questão sucessória após a morte do Conde D. Raimundo.
consult with the abbot on the issue of succession after the death of Count D. Raimundo.
1112 (Abril / April) – Morte do Senhor do Condado Portucalense, Conde D. Henrique, em Astorga, sendo sepultado em Braga.
Astorga, buried in Braga.
Journey of Count D. Henrique to Cluny to
Death of Lord of the County of Portugal, Count D. Henrique, in
1122 (ou / or 1225) – D. Afonso Henriques é armado cavaleiro na catedral de Zamora (segundo algumas fontes na catedral de Tui), pelo arcebispo de Braga, o qual se exilara, conluiado com Afonso
contra os interesses de D. Teresa e da Casa dos Travas galegos.
D. Afonso Henriques is knighted in the cathedral of Zamora (according to some sources, in the cathedral of Tui), by the Archbishop
of Braga, who had exiled himself, colluded with Alfonso against the interests of Teresa and the Galician House of Travas.
1128 (24 de Junho / 24th June) – Batalha de S. Mamede, Guimarães, entre D. Afonso Henriques e as tropas dos barões portucalenses contra as tropas do Conde galego Fernão Peres de Trava, que
tentava apoderar-se do governo do Condado Portucalense, com o apoio da mãe de Afonso.
Battle of S. Mamede, Guimarães, between D. Afonso Henriques and the troops of the Portucalian
barons against the troops of Galician Count Fernão Peres de Trava, who tried to take over the government of the Portucalense County, with the support of Afonso’s mother.
1128 – Instalação da Ordem dos Templários no Condado Portucalense, sendo seu primeiro Mestre Gualdim Pais, combatente na batalha de Ourique. De seu nome completo, «Ordem dos Pobres
Cavaleiros de Cristo e do Templo de Salomão», teve um castelo doado por D. Teresa em Fonte Arcada/Penafiel. Neste mesmo ano instala-se também a Ordem dos Hospitalários («Ordem do Hospital
de S. João de Jerusalém»), fixada inicialmente em Leça do Balio, embora esta organização só assumisse o papel militar em Portugal nos finais do século XII.
Settlement of the Knights Templar in
the Portucalense County, with Gualdim Pais as their first Master, a warrior at the Battle of Ourique. Its full name was “Order of the Poor Knights of Christ and of the Temple of Solomon” and it had
a castle donated by D. Teresa at Fonte Arcada / Penafiel. On that same year, the Knights Hospitaller also settled (“Order of the Hospital of St. John of Jerusalem”), initially in Leça do Balio, although
this organization only assumed a military role in Portugal in the late twelfth century.
1131- Início da construção do Mosteiro de Santa Cruz, em Coimbra, passando a considerar-se a cidade como capital do reino em formação.
Santa Cruz in Coimbra, shifting the focus to the city as the capital of the kingdom in the making.
1135 – D. Afonso VII é coroado Imperador de Leão e Castela, imperador cristão do Ocidente.
1136 – D. Afonso Henriques vence a batalha de Cerneja, derrotando os exércitos galegos.
Beginning of the construction of the Monastery of
D. Alfonso VII is crowned Emperor of León and Castile, Christian emperor of the Western.
D. Afonso Henriques wins the battle of Cerneja, defeating the Galician armies.
1137 (4 de Julho / 4th July) – Paz de Tui, firmada entre Afonso VII e seu primo Afonso Henriques, a partir de cuja assinatura este começa a intitular-se de «rex» e desvia a sua atenção para a
Reconquista a Sul.
Peace of Tui, signed between Alfonso VII and his cousin Afonso Henriques, signature from which he begins to call himself ‘rex’ and diverts his attention to the Reconquista in
the south.
1139 (25 de Julho / 25th July) – Afonso Henriques é aclamado rei de Portugal na sequência da vitória sobre cinco reis Mouros em Ourique, no dia de Santiago e na provável data de aniversário do
protagonista Português. A importância da inesperada vitória conduziu a uma acelerada autonomização do governo do entretanto expandido Condado Portucalense, na busca de uma independência
da vassalagem a Galiza e Leão.
Afonso Henriques is acclaimed King of Portugal, following the victory over the five Moorish kings in Ourique, on the day of Saint James and on the probable date
of birth of the Portuguese protagonist. The importance of the unexpected victory led to a rapid empowerment of the government while expanding the Portucalense County, seeking independence
from the vassalage of Galicia and León.
1141 – Investidas de D. Afonso Henriques contra o condado galego de Toronho.
Raids of D. Afonso against the Galician county of Toronho.
th
1141 (25 de Março / 25 March) – Recontro de Arcos de Valdevez, entre Afonso Henriques e Afonso VII.
Arcos de Valdevez’ clash between Afonso Henriques and Alfonso VII.
th
1143 (5 de Outubro / 5 October) – Tratado de Zamora, de paz entre Afonso Henriques e Afonso VII de Leão, na presença do enviado papal, o cardeal Guido de Vico, passando a partir de então
a ser considerado como o primeiro Rei de Portugal.
Treaty of Zamora, peace between Afonso Henriques and Alfonso VII of León, in the presence of the papal envoy, Cardinal Guido de Vico,
from henceforth to be regarded as the first King of Portugal.
1143 (Dezembro / December) – Vassalagem de D. Afonso Henriques à Sé Apostólica.
th
1147 (16 de Junho / 16 June) – Chegada de Cruzados do Norte da Europa a Portugal.
Vassalage of D. Afonso Henriques to the Apostolic See.
Arrival of Northern European Crusaders to Portugal.
1148 – D. Afonso Henriques restaura as dioceses de Lisboa, Lamego e Viseu. Os bispos, sendo nomeados pelo rei e sagrados pelo arcebispo de Braga, deixam assim as dioceses de serem sufragâneas
de Mérida/ Santiago de Compostela, tenho D. Afonso VII apresentado protestos junto do Papa. Não eram apenas os bispos a poderem ser designados por D. Afonso Henriques: igualmente nomeou
o rabino-mor, Yahia Ben Yahia, o qual foi mesmo escolhido para ministro das Finanças de Afonso Henriques, responsável pela colecta de impostos no reino. D. Afonso Henriques restores the
dioceses of Lisbon, Lamego and Viseu. Since the bishops were appointed by the king and anointed by the Archbishop of Braga, the dioceses were no longer suffragan of Merida/Santiago de Compostela,
although D. Alfonso VII lodged protests with the Pope. Bishops were not the only persons that could be designated by D. Afonso Henriques: he also appointed the chief rabbi, Yahia Ben Yahia, who
was even chosen as the King’s Finance Minister, responsible for collecting taxes in the kingdom.
1153 – Criação do Mosteiro de Alcobaça para a Ordem de Cister. A Ordem de Bernardo de Claraval foi, desde o seu primeiro estabelecimento em Portugal (1140-42), com o importante Mosteiro
de S. João de Tarouca (refundação de um primitivo estabelecimento em S. Cristóvão de Lafões, c. 1138), o zelador da própria viabilidade de Portugal enquanto estado independente, servindo os de-
163
Almeida O Castelo de D. Dinis Filmar_Maquetación 1 28/01/14 07:15 Página 164
sígnios da Santa Sé.
Creation of the Monastery of Alcobaça for the Cistercian Order. The Order of Bernard of Clairvaux was, since its first establishment in Portugal (1140-42) with the important
monastery of S. João de Tarouca (refounding of a primitive property in S. Cristóvão de Lafões, c. 1138), the caretaker of the very viability of Portugal as an independent state, serving the purposes
of the Holy See.
1156 – Início do Mestrado de D. Bento Soares Surgis na Ordem de S. Julião do Pereiro (até 1190), logo se ocupando da conquista do castelo de Almeida aos Mouros, ficando na dependência do
reino de Leão. Begining of the Magistery of D. Bento Soares Surgis at the Order of St. Julian of Pereiro (until 1190), early occupied with the conquest of the castle of the Moors in Almeida, being
dependent on the kingdom of León.
1158 (23 de Junho / 23rd June) – Tratado de Sahagún. Firmado entre D. Fernando II de Leão e seu irmão D. Sancho III de Castela (falecido em Agosto desse ano), estabelecia que no caso de morte
de um deles o sobrevivente tomaria o reino do outro e, na Reconquista, dividir-se-iam os territórios ocupados pelos Mouros ficando para Leão o espaço entre Lisboa e Niebla, sendo o restante para
Castela. O novo rei de Castela, D. Afonso VIII, menor, não foi atendido pelo tio que aproveitou para anexar territórios castelhanos e deixando inoperativo o acordo. Treaty of Sahagún. Signed
between D. Ferdinand II of León and his brother D. Sancho III of Castile (died in August of that year), the treaty provided that, in the event of death of one, the survivor would take the kingdom of
the other one, and during the Reconquista, the territories occupied by the Moors would be divided so that the space between Lisbon and Niebla was for León, with the remaining space for Castile.
The new king of Castile, D. Alfonso VIII, underage, was not attended by his uncle, who took a chance to seize Castilian territories and left the agreement invalid.
1160 – Início da construção do Castelo dos Templários, em Tomar, e da Sé de Lisboa.
1160 (c.) – Atribuição de terras a colonos Francos no centro de Portugal.
1162 – Ocupação do território galego de Limia pelo rei de Portugal.
Beginning of the construction of the Castle of the Knights Templar in Tomar, and the Cathedral of Lisbon.
Allocation of land to Frank settlers in central Portugal.
Occupation of the Galician territory of Limia by the king of Portugal.
1163 – Incursão de D. Afonso Henriques no reino de Leão até Salamanca, com a tomada de Ciudad Rodrigo.
the taking of Ciudad Rodrigo.
Incursion of D. Afonso Henriques in the kingdom of Leon until Salamanca, with
1165 – Tratado de Paz de Pontevedra, compreendendo a entrega de Tui e o casamento da filha de D. Afonso Henriques com o rei Fernando II de Leão.
of Tui and the marriage of the daughter of D. Afonso Henriques with King Ferdinand II of León.
1166 – Fundação da Ordem de Alcântara, com base na Ordem de S. Julião do Pereiro.
1166 – Foral de Évora.
Peace of Pontevedra, including the delivery
Foundation of the Order of Alcantara, based on the Order of S. Julião do Pereiro.
Charter of Évora.
1167 – Campanha de D. Afonso Henriques na Galiza, com a conquista de Tui.
Campaign of D. Afonso Henriques in the Galicia, with the conquest of Tui.
1168 – Reconquista leonesa de Ciudad Rodrigo, com a criação de uma diocese (sucedânea da velha diocese suevo-visigótica de Calábria (próximo de Almendra / Castelo Melhor).
conquering of Ciudad Rodrigo, with the creation of a diocese (diocese suevo substitute for old-Visigothic Calabria (near Almendra / Castelo Melhor).
1169 (Abril-Junho/ April-June) – Desastre de Badajoz, sendo D. Afonso Henriques ferido e feito prisioneiro pelas tropas de D. Fernando II de Leão.
Henriques was wounded and taken prisoner by the troops of King Fernando II of León.
1170 – Concessão do Foral aos Mouros de Lisboa e de outras povoações ao Sul do Tejo.
Leonese re-
Disaster of Badajoz, where D. Afonso
Charter for the Moors of Lisbon and other towns south of the Tagus.
1172 – Criação do ramo português da Ordem de Santiago da Espada. A Ordem fora criada em Castela (cerca de 1160), tendo tido um papel relevante na Reconquista avançada por D. Afonso Henriques, perseguindo o espírito cruzadístico (Palmela foi sua primeira sede, tendo-lhe sido também atribuído o senhorio de Arruda, Alcácer e Almada).
Creation of the Portuguese branch of the
Order of Saint James of the Sword. The Order had been created in Castile (circa 1160), having a relevant role in the Reconquista led by D. Afonso Henriques, chasing the crusading spirit (Palmela
was their first home, having been also awarded the lordship of Arruda, Alcacer and Almada).
1175 – Separação matrimonial de Fernando II de Leão, e de D. Urraca Afonso, filha de D. Afonso Henriques, por pressão da Santa Sé e dos eclesiásticos da Galiza, levantando-se problemas derivados
da posse de terras por dote e conduzindo a um período de guerra.
Marriage separation of Ferdinand II of León and D. Urraca Afonso, daughter of King Afonso Henriques, due to pressure from
the Holy See and the church of Galicia, with problems stemming from the ownership of land by dowry leading to a period of war.
1176 – Ordem de Avis (ramo português da Ordem de Calatrava, criada em 1158 em Castela), compartilhando o domínio da raia do Tejo e Guadiana com a Ordem de Santiago.
(Portuguese branch of the Order of Calatrava, established in 1158 in Castile), sharing the area of the dry frontier of Tagus and Guadiana with the Order of Santiago.
1178 – Incursão do Infante D. Sancho até Sevilha.
Order of Avis
Raid of Prince Sancho to Seville.
rd
1179 (23 de Maio / 23 May) – Bula «Manifestis Probatum», pelo Papa Alexandre III, conferindo o reconhecimento régio a D. Afonso Henriques.
Alexander III, conferring regal recognition to D. Afonso Henriques.
“Manifestis Probatum” Papal Bull by Pope
1180 – Ataques do Infante D. Sancho na região de Riba-Côa, acabando vencido pelas tropas de Fernando II de Leão na batalha de Argañan (Ciudad Rodrigo).
region of Riba-Coa, eventually defeated by the troops of Ferdinand II of León in the battle of Argañán (Ciudad Rodrigo).
1185 (6 de Dezembro/ 6th December) – Morte de D. Afonso Henriques.
1189 – Incursão de tropas leonesas contra Celorico da Beira.
Death of D. Afonso Henriques.
Raid of Leonese troops against Celorico da Beira.
1190 – Reconquista portuguesa das terras da Beira Alta por Paio Guterres, que foi apelidado de “Almeidão”, e posteriores alternâncias portuguesas e leonesas.
lands of Beira by Paio Guterres, who was nicknamed “Almeidão” and subsequent Leonese and Portuguese alternations.
1196 – Incursão de D. Sancho I na Galiza, com a tomada dos castelos de Tui e de Pontevedra.
1198/99 – Incursões leonesas nas raias de Trás-os Montes e da Beira Interior.
Portuguese reconquering of the
Raid of D. Sancho I in Galicia, with the taking of the castles of Tui and Pontevedra.
1198 – Lide de Ervas Tenras, em Riba Côa, entre D. Sancho I e as tropas leonesas, com perdas acentuadas de nomes importantes da nobreza Portuguesa.
between D. Sancho I and the Leonese troops, with significant losses of important names of Portuguese nobility.
1199 (Primavera / Spring) – Cerco leonês a Bragança.
Attack of Prince D. Sancho at the
Strugle of Ervas Tenras, in Riba-Coa,
Leonese raids in the dry frontiers of Trás-os-Montes and Beira Interior.
Leonese siege to Bragança.
1199 – Derrota do rei D. Sancho I de Portugal em Ervas Tenras, próximo de Pinhel.
Defeat of King D. Sancho I of Portugal in Ervas Tenras, near Pinhel.
1209 – Início da concessão de foros pelo rei leonês nas Terras de Riba-Côa. São os chamados “Foros de Castelo Rodrigo”, filiados na tradição dos “Foros Longos de Ciudad Rodrigo”, contemplando
164
Almeida O Castelo de D. Dinis Filmar_Maquetación 1 28/01/14 07:15 Página 165
o primeiro Castelo Rodrigo e sendo os das povoações próximas distribuídos ao longo das duas décadas posteriores (Castelo Melhor, Almeida, Castelo Bom, Alfaiates).
Beginning of the granting
of charters by the Leonese king in the Lands of Riba-Coa. They are the so-called “Charters of Castelo Rodrigo”, affiliated to the tradition of “Long Charters of Castelo Rodrigo”, contemplating the
first Castelo Rodrigo and those of the nearby villages were distributed on the two following decades (Castelo Melhor, Almeida, Castelo Bom, Alfaiates).
1211 (Março / March) – Morte de D. Sancho I.
Death of D. Sancho I.
1212 – D. Afonso IX de Leão invade o Norte de Portugal derrotando D. Afonso II na batalha de Valdevez. A incursão é vasta e recoloca o problema da estabilização da fronteira Norte, ao tomar povoações importantes como Contrasta (Valença) e Melgaço. As tropas de Leão avançam depois contra Trás-os-Montes e marchando sobre a Beira, derrotando D. Afonso II em Barroso, Santo Estêvão
D. Alfonso IX of León invades the North of Portugal, defeating
de Chaves, Montenegro, Vinhais, Ledra, Lampazas, Aguiar da Pena, Panóias, Algoso, Freixo de Espada-à-Cinta, Alva, Urros e Mós.
D. Afonso II in the battle of Valdevez. The incursion is vast and puts forward once again the problem of the stability of the northern frontier by retaking important villages such as Contrasta (Valença)
and Melgaço. The Leonese troops then advance against Trás-os-Montes and march over Beira, defeating D. Afonso II in Barroso, Santo Estêvão de Chaves, Montenegro, Vinhais, Ledra, Lampazas,
Aguiar da Pena, Panóias, Algoso, Freixo de Espada-à-Cinta, Alva, Urros and Mós.
1212 (16 de Julho / 16th July) – Batalha de Navas de Tolosa contra os Mouros (integrando forças de Castela, França, Itália, Aragão, Navarra, Leão e Portugal – embora os reis dos dois últimos países
não tenham estado presentes). Para além do reforço do prestígio do rei de Castela, face ao retumbante impacto da vitória da coligação cristã por si comandada, uma das consequências foi o benefício
Battle of Navas de Tolosa against the Moors (integrating armies from Castile, France, Italy,
extraído pelo rei português, contra a pretensão do rei leonês pela posse de territórios portugueses.
Aragon, Navarre, León and Portugal - although the kings of the last two countries were not present). In addition to enhancing the prestige of the king of Castile, with the resounding impact of the
victory of the Christian coalition he led, one of the consequences was the benefit extracted by the Portuguese king against the claim of the Leonese king for possession of the Portuguese territories.
1212 (11 de Novembro / 11th November) – Tréguas entre Portugal e Leão, celebradas em Coimbra por intermediação do rei de Castela.
mediation of the king of Castile.
Truce between Portugal and León, held in Coimbra with
1220 – A pressão sobre a fronteira minhota continua de forma muito afrontosa, com penetrações e vitórias do partido leonês e seus apoiantes em Barcelos (Várzea), Braga e Guimarães. Em Chaves
estacionam até 1231. The pressure on the border of Minho still goes on quite outrageously with penetrations and wins from the Leonean party and their supporters in Barcelos (Várzea) Braga
and Guimarães. They station in Chaves until 1231.
1222 – Consagração do Mosteiro de Alcobaça, baseado nos domínios concedidos por Afonso Henriques à Ordem de Cister.
granted by Afonso Henriques to the Cistercian Order.
1223 (25 de Março / 25th March) – Morre D. Afonso II de Portugal.
Consecration of the Monastery of Alcobaça, based on the domains
D. Afonso II of Portugal dies.
1226 – D. Sancho, atingindo a idade, junta-se a Afonso IX de Leão para combater os Mouros na fronteira Leste (sem sucessos em Cáceres, Badajoz e Elvas, onde o rei português quase perdeu a vida).
D. Sancho, coming of age, joins Alfonso IX of Leon to fight the Moors in the eastern border (no victories in Cáceres, Badajoz and Elvas, where the Portuguese King nearly lost his life).
1226 – O irmão do rei, o Infante D. Afonso, exila-se em França, casando em 1232 com a Condessa de Bolonha, D. Matilde.
the Countess of Bologna, D. Matilde.
1231 – Acordo do Sabugal, entre D. Sancho II e Fernando III de Leão, pelo qual era restituída Chaves.
Chaves was returned.
The king’s brother, Prince D. Afonso, exiled in France, married in 1232
Agreement of Sabugal, between D. Sancho II and Ferdinand III of Leon, through which
1243 – Bispos Portugueses apresentam queixas ao Papa Inocêncio IV sobre a desordem reinante em Portugal e contra a perda de privilégios a que as Dioceses vinham sendo sujeitas, em benefício
por vezes de Ordens Mendicantes recém-instaladas. A conflitualidade já vinha de trás, tendo sido emitida uma bula de interdição do país pelo Papa Gregório IX, por queixa do bispo de Lisboa, em
1231. Portuguese bishops complain to Pope Innocent IV on the reigning disarray in Portugal and against the loss of privileges that the dioceses were being subjected to, sometimes to the benefit
of the newly installed Mendicant Orders. The conflict was already old, with Pope Gregory IX having issued a papal bull banning the country after the complaint of the Bishop of Lisbon in 1231.
1245 – Ordem papal de separação matrimonial entre D. Sancho II e D. Mécia Lopes de Haro, por não ter havido pedido prévio de dispensa de consanguinidade, tornando desse modo os filhos ilegítimos e complicando a sucessão ao trono. Papal Order for the marital separation between D. Sancho II and D. Mécia Lopes de Haro, since there was no request for waiver of inbreeding, thereby
making their children illegitimate and complicating the succession to the throne.
1245 (24 de Julho / 24th July) – Bula de Inocêncio IV que depõe D. Sancho II, declarado «rex inutilis», no Concílio de Lipon, na sequência da publicação, em Março, da Bula «Inter Alia» que responsabilizava o rei pela anarquia existente. (“E eles [os bispos idos a Roma] contaram ao Papa como se perdia Portugal por míngua de justiça que o rei não fazia por sua simplicidade. E ele disse que
Papal Bull by Innocence IV deposing D. Sancho II, declared “rex inutilis” at
lhes daria por governador quem eles entendessem”, in «Crónica Geral de Espanha de 1344», Frei António Brandão).
the Council of Lipon, following the publication, in March, of the “Inter Alia” Papal Bull, which blamed the king for the existing anarchy. (“And they [the bishops who went to Rome] told the Pope
how Portugal was becoming starved for justice that the King did not apply because he was a simpleton. And he said he would name Governor whom they wanted” in «Crónica Geral de Espanha de
1344», Frei António Brandão).
1245/48 – Guerra civil Portuguesa entre os filhos de D. Afonso II de Portugal. O termo da contenda só se alcança com a morte do rei D. Sancho II e a nomeação de D. Afonso III, conde de Bolonha,
como rei. No decurso do tempo da guerra intestina (1246), o Infante D. Afonso de Castela (futuro Afonso X, o Sábio), apoia D. Sancho II de Portugal, com tomada dos castelos da Guarda e da CoPortuguese civil war between the sons of D. Afonso II of Portugal. The strife ends only with the death of King Sancho II and the appointment of D. Afonso III, Count of Bologna, as king.
vilhã.
During the time of the internecine war (1246), Prince Alfonso of Castile (future Alfonso X the Wise) supports D. Sancho II of Portugal by taking the castles of Guarda and Covilhã.
1248 – Conquista de Sevilha pelo rei de Castela e Leão, Afonso X. Este feito da Reconquista Castelhana reforça as pretensões a todo o Gharb-al-Andaluz, cujos direitos se celebraram no Pacto de
Sahagún.
Conquest of Seville by the king of Castile and Leon, Alfonso X. This feat of the Castilian Reconquista reinforces the claims to all-Gharb al-Andalus, whose rights were held in the
Covenant of Sahagún.
1249 – D. Afonso III de Portugal conclui a Reconquista portuguesa, com a conquista de Faro, Albufeira e Silves.
Faro, Albufeira and Silves.
1250 – Baseado na Guarda, o rei português reforça os castelos da fronteira.
1250-51 – Guerra entre Portugal e Castela pela posse do Algarve.
1251 – D. Afonso III conquista os castelos de Aroche e de Aracena.
D. Afonso III of Portugal ends the Portuguese Reconquista, with the conquest of
Based on Guarda, the Portuguese king reinforces the border castles.
War between Portugal and Castile over the possession of the Algarve.
D. Afonso III conquers the castles of Aroche and Aracena.
165
Almeida O Castelo de D. Dinis Filmar_Maquetación 1 28/01/14 07:15 Página 166
1253 – Acordo de Chaves entre D. Afonso III e D. Afonso X sobre a posse do Algarve. A filha bastarda do rei de Castela, com seis anos de idade, casaria com o rei português (ficando assim na situação
de bígamo) e seria o filho varão desse matrimónio quem herdaria o território quando atingisse os sete anos de idade. Ao atingir a idade núbil Beatriz teve uma filha, D. Branca (1259), tendo nascido um
varão, D. Dinis, em Outubro de 1261, futuro rei de Portugal. Agreement of Chaves between D. Afonso III and Alfonso X over the ownership of the Algarve. The illegitimate daughter of the king of
Castile, six years old, would marry the Portuguese king (thus becoming a bigamist) and the male child from their marriage would be the one to inherit the territory upon reaching the age of seven. Upon
reaching the marriageable age, Beatriz had a daughter, D. Branca (1259), and then gave birth to a boy, D. Dinis, in October 1261, the future king of Portugal.
1260-1279 – D. Afonso III promove o primeiro censo da população militar do reino, o “Rol dos Besteiros do Conto” (cabia a cada concelho a disponibilização de um número de elementos fixado
em proporção à respectiva representatividade).
D. Afonso III promotes the first census of the military population of the kingdom, the “Rol dos Besteiros (Crossbowmen) do Conto” (it was up to
each municipality the provision of a fixed number of elements in proportion to its representativeness).
1267 (16 de Fevereiro / 16th February) – Tratado de Badajoz entre D. Afonso III e D. Afonso X sobre a questão do Algarve. O Sul do território da Reconquista portuguesa seria para integrar na
coroa portuguesa, ficando os territórios da margem esquerda do Guadiana na posse de Castela. A partir do Caia a linha divisória é o rio Guadiana. D. Afonso III, o Bolonhês, passa a intitular-se
«Rei de Portugal e do Algarve». Meses depois, o príncipe D. Diniz (talvez com apenas 7 anos de idade) é armado cavaleiro em Sevilha pelo seu avô Afonso X de Castela, configurando uma decisão
final de renúncia à posse do Algarve por parte de Castela.
Treaty of Badajoz between D. Afonso III and Alfonso X on the question of the Algarve. The southern territory of the Portuguese
Reconquista would be integrated into the Portuguese crown, leaving the territories on the left bank of the Guadiana in possession of Castile. From Caia, the dividing line is the river Guadiana. D.
Afonso III, the Bolognese, begins to call himself “King of Portugal and the Algarve”. Months later, Prince D. Dinis (perhaps only 7 years old) is knighted in Seville by his grandfather Alfonso X of
Castile, setting the final decision to renounce the possession of the Algarve by Castile.
1279 – Início do reinado de D. Dinis, o qual se estenderá por um longo período de 46 anos.
Beginning of the reign of D. Dinis, which will span over a long period of 46 years.
1280 – Incursão do Infante D. Afonso de Portugal em Leão, tendo lugar a “Lide de Alfaiates”, em Riba-Côa.
in Riba-Coa.
Raid of Prince Afonso of Portugal in León, taking place as the “Battle of Alfaiates”,
1282 – Casamento de D. Dinis com D. Isabel de Aragão. A conjuntura ibérica, calibrada pela menoridade do rei de Leão e Castela e pelas pretensões hegemónicas de Pedro III, o Grande, de Aragão,
permitem uma aliança estrategicamente eficaz para a necessidade de afirmação da soberania do rei Português.
Wedding of D. Dinis with D. Isabel of Aragon. The Iberian situation, calibrated by
the minority of the king of Castile and Leon and the hegemonic pretensions of Pedro III the Great of Aragon, allow a strategically effective alliance for the need to affirm the sovereignty of the
Portuguese king.
1282-1290 – Período áureo na atribuição de forais a povoações e de contratos de aforamento. Igualmente se destaca uma década de concessão de privilégios a feiras francas.
assigning charters and contracts of tenure to villages. Also, one must emphasize a decade of granting privileges to frank fairs.
1290 (9 de Agosto / 9th August) – Bula do papa Nicolau IV, de aprovação da criação dos Estudos Gerais.
Golden period in
Papal Bull of Pope Nicholas IV, approving the creation of the General Studies.
1291– Encontro de Ciudad Rodrigo entre D. Dinis e D. Sancho IV para tratarem do casamento dos respectivos filhos (D. Constança de Portugal com o príncipe herdeiro de Castela).
between D. Dinis and D. Sancho IV in Ciudad Rodrigo to handle the marriage of their children (D. Constança of Portugal with the Crown Prince of Castile).
Meeting
1295 – Declaração de guerra a Castela por D. Dinis, com apropriação das terras de Riba-Côa. Aproveitando a crise de sucessão no unificado reino de Leão e Castela, o rei português (com a questão
do Algarve assegurada) passa a pressionar na Beira, vindo a ser sanado o diferendo pelo Tutor do rei de Leão, o Infante D. Henrique.
Declaration of war to Castile by D. Dinis, who took over the
lands of Riba-Coa. Taking advantage of the succession crisis in the unified kingdom of Castile and Leon, the Portuguese king (with the question of Algarve already guaranteed) begins to apply
pressure at Beira, where the dispute was settled by the Tutor of the king of León, Prince D. Henrique.
1295 (6 de Setembro / 6th September) – Acordo da Guarda, ratificado em Ciudad Rodrigo (4 de Outubro), segundo o qual D. Dinis receberia no mês seguinte as vilas e castelos de Moura, Serpa,
Mourão e Noudar e, em Setembro do ano seguinte, os castelos de Aroche e de Aracena, ficando a promessa de se proceder à demarcação efectiva da fronteira entre os dois reinos. Em contrapartida
Agreement of Guarda, ratified in Ciudad Rodrigo (4th October), according
D. Dinis retirava o apoio a um dos pretendentes ao reino de Castela e casava a sua filha com D. Fernando IV de Leão.
to which D. Dinis would receive, in the following month, the towns and castles of Moura, Serpa, Mourão and Noudar and, in September of the following year, the castles of Aroche and Aracena,
with the promise of establishing the actual demarcation of the border between both kingdoms. In contrast, D. Dinis withdrew support to one of the pretenders to the kingdom of Castile and married
off his daughter to D. Ferdinand IV of León.
1296 (Janeiro / January) – Nova crise sucessória em Leão e Castela. O rei português alcança uma aliança estratégica entre Portugal e o reino de Aragão, passando D. Dinis e o seu cunhado aragonês
a apoiarem um dos pretendentes ao trono de Castela, D. João. É anulado o contrato de casamento da filha de D. Dinis com o herdeiro de Castela, ficando este prometido à filha de Filipe, o Belo, de
França.
New succession crisis in Castile and Leon. The Portuguese king reaches a strategic alliance between Portugal and the kingdom of Aragon and D. Dinis and his Aragonese brother-in-law
began supporting one of the pretenders to the throne of Castile, D. João. The marriage contract of the daughter of D. Dinis to the heir of Castile is annulled and the latter is then promised to the
daughter of Philip the Fair of France.
1296 (20 de Janeiro / 20th January) – Os comissários de Castela e Leão não comparecem na data marcada para a delimitação da fronteira na Beira, tendo D. Diniz aproveitado o pretexto para
The commissioners of Castile and León do not attend on the scheduled date for the delimitation of the border in
organizar uma vasta campanha militar, posta em marcha no final do Verão.
Beira, and D. Diniz seized the pretext to organize a vast military campaign, set in motion in late summer.
1296 (Setembro / September) – Campanha da Guarda, com incursão das tropas de D. Dinis sobre as terras de Riba-Côa (Sabugal, Alfaiates, Vilar Maior, Castelo Bom, Monforte da Beira, Almeida,
Castelo Rodrigo, Castelo Melhor) e avançando até Simancas, ocupando Salamanca, Tordesilhas, mas não afrontando a capital, Valladolid.
Campaign of Guarda, with the incursion of D. Dinis’
troops over the lands of Riba-Coa (Sabugal, Alfaiates, Vilar Maior, Castelo Bom, Monforte da Beira, Almeida, Castelo Rodrigo, Castelo Melhor) and advancing until Simancas, occupying Salamanca,
Tordesilhas, but not reaching the capital, Valladolid.
1296 (Verão / Summer) – Entrada de uma força naval castelhana em Lisboa, tendo aprisionado naus carregadas que estavam no Restelo e levando-as, sendo depois resgatadas após combate naval
(ao largo de Sines?). Entry of a Spanish naval force in Lisbon, which imprisoned and took ships that were loaded in Restelo, which were later rescued after a naval combat (off Sines?).
1296 (8 de Novembro / 8th November) – Concessão de Foral a Almeida por D. Dinis, dado em Trancoso. D. Dinis faz culminar, no termo da Campanha de Riba-Côa, a promoção de um acto régio
realizado com grande aparato, nele pondo excepcionais cuidados jurídicos e de representação, como acentuação do contexto para a celebração do Tratado de Alcanices. Charter to Almeida by
D. Dinis, given in Trancoso. D. Dinis peaks, at the end of his Campaign of Riba-Coa, the promotion of a regal act with great splendor, putting into it exceptional care in legal and representation
matters, as an accentuation of the context for the celebration of the Treaty of Alcanices.
1297 (12 de Setembro / 12th September) – Tratado de Alcanices vinculando D. Fernando IV e D. Diniz “Antre nós Dom Fernando pela graça de Deos Rey de Castella, de Leon, de Toledo, de Galiza,
de Sevilha, de Cordova, de Murça, de Jaen, do Algarve, e Senhor de Molina de hua parte, e Dom Diniz pela graça de Deos Rey de Portugal, do Algarve da outra” foi celebrado acordo “por ajuntar
166
Almeida O Castelo de D. Dinis Filmar_Maquetación 1 28/01/14 07:15 Página 167
paz, e amor, e grão serviço de Deos, e da Heygreja de Roma”. D. Fernando IV, na altura menor, sendo regente sua mãe, a rainha D. Maria de Molina, casou em 1302 com D. Constança, filha de D.
Dinis e de D. Isabel, princesa de Aragão e rainha de Portugal. Por sua vez, a irmã de Fernando, D. Beatriz, irá casar com o sucessor de D. Dinis, D. Afonso IV, em 1309. Treaty of Alcañices,
binding D. Ferdinand IV and D. Dinis “Between us, Dom Fernando, by the Grace of God King of Castile, León, Toledo, Galicia, Seville, Cordoba, Murça, Jaen, Algarve and Lord of a part of Molina
and Dom Dinis, by the Grace of God King of Portugal, of the Algarve of the other” an agreement was celebrated “bringing together peace, love and great service of God and the Church of Rome”.
D. Ferdinand IV, underage at the time with his regent mother, Queen Maria de Molina, married in 1302 with D. Constança, daughter of D. Dinis and D. Isabel, Princess of Aragon and Queen of
Portugal. In turn, the sister of Ferdinand, D. Beatriz, would marry the successor of D. Dinis, D. Afonso IV, in 1309.
1300 – Reunião em Ciudad Rodrigo entre D. Dinis e os reis de Castela para acerto das acções diplomáticas junto da Santa Sé em relação à legitimação de Fernando IV e seu casamento com D. ConsMeeting at Ciudad Rodrigo between D. Dinis and the monarchs of Castile to establish the diplomatic actions to the Holy See regarding the legitimacy of the
tança, filha dos reis Portugueses.
marriage of Ferdinand IV to D. Constança, daughter of the Portuguese kings.
1300 (c.) – Reforço do corpo militar de elite, os “Besteiros do Conto”, composto por um número pré-estabelecido de operacionais das armas de besta, a indicar e mobilizar em prontidão por cada
Reinforcement of the elite military corps, the “Besteiros do Conto”, composed of a pre-defined number of crossbowmen, that should be appointed and readily
Concelho em caso de guerra.
mobilized by each County in case of war.
1302 – Casamento de D. Constança de Portugal com Fernando IV de Castela.
1303-1307 – Assistência financeira e militar de D. Dinis a Castela.
Wedding of D. Constança of Portugal to Ferdinand IV of Castile.
Financial and military aid from D. Dinis to Castile.
1304 – D. Diniz arbitra conflito entre Aragão e Castela e na sucessão dos pretendentes ao trono de Castela, conferindo assim ao rei Português uma autoridade reconhecida no contexto peninsular.
D. Dinis arbitrates a conflict between Castile and Aragon and the succession of pretenders to the throne of Castile, thus giving the Portuguese king a recognized authority in the peninsular context.
1307 – Nomeação do Almirante Português, Nuno Fernando Cogominho, cargo novo na estrutura naval de defesa do país.
to a new position in the country’s naval defense structure.
1308 – Celebração de um Tratado de Comércio com o rei de Inglaterra.
Conclusion of a Treaty of Commerce with the king of England.
1312 – Embaixada da corte de Aragão para demarcação da fronteira e resolução de alianças matrimoniais.
matrimonial alliances.
1314 – Demarcação da linha de fronteira na região de Noudar e Moura.
Appointment of the Portuguese Admiral, Nuno Fernando Cogominho,
Envoy from the court of Aragon for the demarcation of the frontier and resolution of
Demarcation of the frontier line at the region of Noudar and Moura.
1317 – Nomeação de Manuel Pessanha, genovês, para comandante de uma frota real, com incumbência de organizar uma armada militarmente eficaz.
as the commander of the royal fleet, responsible for organizing a militarily efficient army.
Appointment of Manuel Pessanha, Genovese,
1319 (14 de Março/14th March) – Criação da Ordem de Cristo pela Bula papal «Ad ea ex-quibus» de João XXII. Tal medida estratégica e diplomática permitiu a D. Dinis conservar o poder e os
Creation of the Order of
bens dos Templários em Portugal, justificada pela Cruzada a continuar contra os Infiéis, na ajuda a Castela, mas também em direcção ao Algarve d’além-mar em África.
Christ by the Papal Bull “Ad ea ex-quibus” of John XXII. Such strategic and diplomatic measure allowed D. Dinis to retain the power and the property of the Templars in Portugal, justified by the
continuing crusade against the Infidels, to help Castile, but also towards the overseas Algarve in Africa.
1325-1357 – Reinado de D. Afonso IV.
Reign of D. Afonso IV.
1326 – A guerra civil que longamente opusera D. Afonso, enquanto príncipe herdeiro, e seu pai, D. Dinis, prolonga-se com a ascensão do novo rei na luta contra os seus meios-irmãos até às tréguas
assinadas em 1329. The civil war, which had long opposed D. Afonso and his father, D. Dinis, as heirs to the throne, is extended until the rising of the new King in the fight against his halfbrothers until the truce is signed in 1329.
1328 – Casamento da Infanta D. Maria de Portugal com Afonso XI de Castela, sendo no ano seguinte celebrada a “aliança perpétua” entre D. Afonso IV e os reis de Castela e Aragão. Marriage
of Princess D. Maria of Portugal with Alfonso XI of Castile, and in the following year, the “everlasting covenant” was celebrated between D. Alfonso IV and the kings of Castile and Aragon.
1336 – Primeira viagem da frota real às Canárias, provavelmente ainda sob comando do Almirante Manuel Pessanha.
of Admiral Manuel Pessanha.
First trip of the royal fleet to the Canaries, probably still under the command
1336-1339 – No contexto da guerra civil castelhana rompe-se a aliança feita, através do casamento de D. Maria (filha de D. Afonso IV de Portugal) com Afonso XI de Castela, sendo aquela repudiada,
Within the context of the Castilian civil war, the convenant established by the marriage of D. Maria (daughter of
face ao apoio de Portugal a D. Juan Manuel, pretendente ao trono de Castela.
King Afonso IV of Portugal) with Alfonso XI of Castile is breached due to the support of Portugal to D. Juan Manuel, pretender to the throne of Castile.
1336 – Como consequência da Guerra dos Cem Anos (envolvendo primacialmente os interesses de Inglaterra e de França), nos seus reflexos peninsulares é estabelecido um acordo de casamento
entre o príncipe herdeiro de Portugal, D. Pedro, e D. Constança Manuel, filha de D. Juan Manuel, rival de Afonso XI pela obtenção do trono de Castela. Portugal toma parte activa nas beligerâncias,
tendo-se verificado em 1337 uma devastadora incursão de D. Afonso IV de Portugal a Ciudad Rodrigo, com destruição do Mosteiro de Santa Ágata. Por intercessão papal e do rei de França estabeAs a consequence of the Hundred Years War (primarily involving the interests of England and France), its peninsular
lece-se, em Julho de 1339, um Tratado de Paz entre Portugal e Castela.
reflection establishes an agreement of marriage between the Crown Prince of Portugal, D. Pedro, and D. Constança Manuel, daughter of D. Juan Manuel, rival of Alfonso XI for obtaining the throne
of Castile. Portugal takes an active part in the warfare and in 1337 there is a devastating incursion by D. Afonso IV of Portugal to Ciudad Rodrigo, with the destruction of the Monastery of St. Ágata.
Through the intercession of the Pope and the King of France, a peace treaty between Portugal and Castile is established in July 1339.
1340 (30 de Outubro / 30th October) – Batalha do Salado, entre a coligação Luso-Castelhana e os potentados Muçulmanos de Granada e Marrocos, evitando as pretensões destes à reconquista de
Battle of Salado, between the Portuguese-Castilian coalition and the Muslim potentates of Granada and Morocco, avoiding their motivations to regain former territories.
antigos territórios.
1345 – Procurando o reconhecimento internacional da posse das Ilhas Canárias, D. Afonso IV faz saber ao papa Clemente VI as viagens efectuadas sucessivamente pelas naus portuguesas.
international recognition of his lordship over the Canary Islands, D. Afonso IV informs Pope Clement VI of the trips taken successively by the Portuguese ships.
1353 – Tratado comercial com Inglaterra, válido por 50 anos.
Seeking
Commercial Treaty with England, valid for 50 years.
1355 (7 de Janeiro / 7th January) – Morte de D. Inês, mulher do príncipe herdeiro (a primeira, D. Constança Manuel, morrera c. 1349), por ordem de D. Afonso IV, tentando assim impedir novo
Death of D. Inês,
envolvimento de Portugal na guerra civil castelhana, dada a trama da sucessão envolvendo apoios e pretensões de Aragão, a cuja corte os Castros da família de Inês pertenciam.
167
Almeida O Castelo de D. Dinis Filmar_Maquetación 1 28/01/14 07:15 Página 168
wife of the Crown Prince (the first, D. Constança Manuel, died c. 1349), by order of King Afonso IV, in an attempt to prevent a further involvement of Portugal in the Spanish civil war, given the
plot of succession involving the support and pretensions of Aragon, to whose court the Castros, Inês’ family, belonged.
1357-1367 – Reinado de D. Pedro I.
Reign of D. Pedro.
1358 – Tratado de Aliança entre Portugal e Castela, assinado por Pedro I de Portugal e Pedro I de Castela, aproveitando os tempos de acalmia existente ao fim de décadas de envolvimento nas
guerras civis ocorridas por motivos sucessórios. Alliance Treaty between Portugal and Castile, signed by Pedro I of Portugal and Pedro I of Castile, leveraging the existing calm, after decades of
involvement in the civil wars due to succession reasons.
1362 (25 de Maio / 25th May) – Entrega da alcaiadaria do castelo de Almeida a Nuno Fernandez do Amaral, vassalo do rei.
do Amaral, a vassal of the king.
Nomination as Alcalde of the castle of Almeida toNuno Fernandez
1363 – D. João, filho bastardo de D. Pedro I, é investido pelo próprio pai no cargo de Mestre de Avis. Tem 6 anos de idade e será o futuro D. João I de Portugal.
I, is invested by his own father as Master of Avis. He is 6 years old and will be the future D. João I of Portugal.
D. João, bastard son of D. Pedro
1366 – Preocupado com a sucessão, D. Pedro estabelece com Castela (primeiro com D. Pedro, o Cruel, depois com Henrique II de Trastâmara) um Tratado de casamento do filho herdeiro com a
Worried about the succession, D. Pedro sets with Castile (first with Pedro the Cruel,
Infanta castelhana, o qual não será oficialmente consumado, tendo D. Fernando casado com Leonor Teles.
then with Henrique II of Trastámara) a treaty of marriage between the Crown prince and the Castilian princess, which will not be officially consummated, since D. Fernando married Leonor Teles.
1367-1383 – Reinado de D. Fernando de Portugal.
Reign of D. Fernando of Portugal.
1367 (27 de Maio / 27th May) – Carta de confirmação de Nuno Fernandez do Amaral como alcaide do castelo de Almeida.
Castle of Almeida.
1369 – D. Fernando reforça a fortificação existente em Almeida.
Confirmation letter of Nuno Fernandez do Amaral as alcalde of the
D. Fernando reinforces the existing fortification in Almeida.
1369-1371 – Conjugado com a guerra civil de Castela com as exigências decorrentes da Guerra dos Cem Anos e das alianças geradas, resulta novo período de guerra entre os reinos vizinhos de
Portugal e Castela. Tomam partido pelo rei português, D. Fernando, as cidades de Zamora, Ciudad Rodrigo, Lumbrales e Hinojosa del Duero, em Leão, e ainda Alcántara e Valencia de Alcántara.
With the Castilian civil war and the demands stemming from the Hundred
De acordo com o Tratado de Alcoutim, Ciudad Rodrigo e Valencia de Alcántara ficaram de posse de D. Fernando.
Years War, alliances are created and a new war period begins between the neighbouring kingdoms of Portugal and Castile. The cities of Zamora, Ciudad Rodrigo, and Lumbrales Hinojosa del Duero,
in León, and also Alcántara and Valencia de Alcántara, side with the Portuguese King, D. Fernando. According to the treaty of Alcoutim, Ciudad Rodrigo and Valencia de Alcántara are under D.
Fernando’s rule.
1369-71 – 1ª das Guerras contra Castela, decorrendo de um complexo jogo pela posse do trono deixado vazio após a morte de Pedro I de Castela por parte de vários pretendentes, entre os quais
D. Fernando I de Portugal (invocando direitos sucessórios por ser bisneto de Sancho IV pelo lado materno). Durante este primeiro período de beligerância Braga foi capturada e incendiada, logo
em 1369. Vinhais e Bragança foram ocupadas, assim como Almeida, Pinhel, Celorico da Beira e Viseu, para além de ter sido posto cerco a Lisboa e se registarem perdas navais de grande monta. O
bloqueio português de Sevilha, com a ocupação portuguesa do Guadalquivir por uma armada que se eternizou por 23 meses de indescritível sofrimento para as tropas, rematada pela humilhante
derrota de Saltes, foi outro desastre acumulado neste período. A questão sucessória irá ser mediada pelo Papa Gregório XI, resolvendo-se a contenda que igualmente interessava a Pedro IV de
Aragão, Carlos II de Navarra e João de Gante, duque de Lancaster (casado desde 1370 com a filha mais velha do defunto rei de Castela e filho de Eduardo III de Inglaterra, por cujas pretensões ao
reino de França se deu início à Guerra dos 100 Anos). Foi, no entanto, Henrique de Trastâmara, um irmão bastardo de Pedro I de Castela, quem assumiu a coroa e foi proclamado Rei. 1st of the
Wars against Castile, a consequence of a complex game over the possession of the throne left empty after the death of D. Pedro I of Castile, from various contenders including D. Fernando I of
Portugal (invoking succession rights for being the great-grandson of Sancho IV on his mother’s side). During this first period of belligerence, Braga was captured and burned immediately in 1369.
Vinhais and Bragança were occupied, as were Almeida, Pinhel, Celorico da Beira and Viseu, in addition to laying siege to Lisbon. Great naval losses also took place. The Portuguese blockade of
Seville, with the Portuguese occupation of the Guadalquivir by an armada that in 23 months immortalized indescribable suffering to the troops, topped by the humiliating defeat of Saltes, was yet
another disaster during this period. The succession issue was mediated by Pope Gregory XI, who solved the strife between Pedro IV of Aragon, Carlos II of Navarre and John of Gaunt, Duke of
Lancaster (married since 1370 to the eldest daughter of the late King of Castile and son of Edward III of England, whose pretensions to the kingdom of France began during the Hundred Years War).
It was, however, Henrique de Trastâmara, a bastard brother of Pedro I of Castile, who took the crown and was acclaimed King.
1371 (31 de Março / 31st March) – Assinatura do Tratado de Alcoutim entre D. Fernando I de Portugal e D. Henrique II de Castela, com confirmação em Toro pelos altos dignatários castelhanos,
Signature of the Treaty of Alcoutim between D. Fernando I of Portugal and D. Enrique II of Castile, with the confirmation in Toro by the
mas logo alterado no ano seguinte pelo Tratado de Tui.
high-ranking members of the Castilian kingdom, but changed the following year by the Treaty of Tui.
1372-73 – 2ª Guerra contra Castela na qual participam um exército mercenário Inglês apoiando as intenções do duque de Lancaster, pretensamente ao lado dos Portugueses, e com Franceses juntos
2nd war against Castile, attended by an English mercenary army supporting the intentions of the Duke of Lancaster, allegedly alongside the Portuguese and the French together
aos Castelhanos.
with the Castilians.
1372 (Dezembro / December) – Numa campanha fulminante, D. Henrique II de Castela invade o reino Português conquistando os castelos de Almeida, Pinhel, Linhares e Celorico da Beira,
chegando a Coimbra em Janeiro. During a fulminating campaign, D. Enrique II of Castile invades the Portuguese kingdom, conquering the castles of Almeida, Pinhel, Linhares and Celorico da
Beira, arriving at Coimbra in January.
1372 (20 de Dezembro / 20th December) – Carta de nomeação de Diego Gomes para alcaide do castelo de Almeida, dada em Tentúgal.
Castle of Almeida, given in Tentúgal.
Letter of appointment of Diego Gomes for alcalde of the
1373 – Tratado de Santarém, entre D. Fernando I e D. Henrique II de Castela comprometendo-se o rei Português a repudiar e expulsar os apoiantes galegos refugiados em Portugal. No acordo com
Treaty of Santarém, between D. Fernando I and D. Enrique II of Castile, where the Portuguese King repudiated and
o rei Castelhano, é-lhe concedido o senhorio de Almeida por três anos.
expelled the Galician supporters, refugees in Portugal. In this agreement with the Spanish king, the lordship of Almeida is granted for three years.
1373 (16 de Junho / 16th June) – Tratado de Westminster contra Castela (Henrique II de Trastâmara), assinado em Inglaterra com Eduardo III, confirmando o acordo celebrado em 1372 (Tagilde)
com o Duque de Lencastre, segundo filho do rei inglês. Portugal ficava neutral em relação a França e obtinha colaboração política, militar e comercial, contrabalançando a animosidade ibérica de
Treaty of Westminster against Castile (Henry II Trastámara) signed in England with Edward III, confirming the agreement in 1372 (Tagilde) with the Duke of Lancaster, second
D. Fernando.
son of the English king. Portugal was neutral in relation to France and got political, military and commercial collaboration, counteracting the Iberian animosity of King Fernando
1375 (28 de Maio / 28th May) – D. Fernando promulga em Santarém a Lei das Sesmarias, num quadro geral de crise económica que se manifestava há já algumas décadas por toda a Europa, agravada
168
Almeida O Castelo de D. Dinis Filmar_Maquetación 1 28/01/14 07:15 Página 169
pela peste negra.
King Fernando promulgates the Law of Sesmarias in Santarém, in a general framework of economic crisis that manifested itself for some decades throughout Europe, exacerbated
by the black plague.
1377 (29 de Dezembro / 29th December) – Carta de concessão do castelo de Almeida, dada em Vila Nova d’Anços, designando como alcaide Fernando Dias Botelho.
of Almeida, given in Vila Nova d'Anços, designating Fernando Dias Botelho as alcalde.
1378-1417 – Grande Cisma do Ocidente.
Charter granting the castle
Great Schism.
1381 (Maio / May) / 1382 (Agosto / August) – 3ª Guerra Fernandina com Castela com enfrentamentos nas margens do Caia, levando ao acordo de casamento da filha de Fernando e Leonor Teles,
D. Beatriz, primeiro com o filho do rei D. João I de Castela, e depois com ele próprio. 3rd War with Castile, with clashes in the banks of Caia, leading up to the marriage agreement of the daughter
of Fernando and Leonor Teles, D. Beatriz, first with the son of D. Juan I, King of Castile, and afterwards with the King himself.
1381 (segundo semestre / second half) – Conquista de Almeida pelos castelhanos, prosseguindo até tomar Trancoso. Durante a crise dinástica Almeida jura fidelidade à rainha consorte de Castela,
D. Beatriz, filha de D. Fernando de Portugal, casada com D. João I de Castela. Conquest of Almeida by the Castilians, followed by the conquest of Trancoso. During the dynastic crisis, Almeida
swears loyalty to the queen consort of Castile, D. Beatriz, daughter of D. Fernando of Portugal, married to D. Juan I of Castile.
1382 (Agosto / August) – Tratado de Elvas (que inclui a devolução de Almeida e de Miranda a Portugal), entre D. Fernando I e D. Henrique II de Castela, para as negociações do qual o Papa
Clemente VII enviou uma embaixada (sob a égide de Pedro de Luna, mais tarde Bento XIII), para encontrar uma solução para a crise, ao arrepio do conhecimento dos Ingleses, e no qual se estabelece
o casamento da filha do suserano português com o filho do rei de Castela e Leão, tendo acontecido que, por viuvez de D. João I, este acabou por casar com a Infanta Portuguesa, prefigurando assim
uma crise sucessória Portuguesa que irá desembocar na ascensão de uma nova Dinastia em Portugal. Treaty of Elvas (which includes the devolution of Almeida and Miranda to Portugal), between
D. Fernando I and D. Enrique II of Castile. Pope Clement VII sent an envoy (under the aegis of Pedro de Luna, later Pope Benedict XIII) for the negotiations to find a solution for the crisis, in
defiance of the English. The wedding of the daughter of the Portuguese sovereign with the son of the king of Castile and Leon is settled, although it so happened that, since D. Juan became a widower,
he eventually married the Portuguese princess, thus prefiguring the Portuguese succession crisis that will culminate in the rise of a new dynasty in Portugal.
1383 (2 de Abril / 2nd April) – Pouco tempo antes da morte de D. Fernando (Outubro de 1383) celebra-se o Tratado de Salvaterra de Magos, segundo o qual o filho varão do matrimónio de D.
Beatriz com D. João I de Castela (isto é, o futuro rei do país vizinho) seria, aos 14 anos, o rei de Portugal, ficando regente a viúva deste, D. Leonor. Entre estas e outras complexas normas do acordo
nupcial então firmado, D. Fernando, depois de ter começado com projectos de anexação do reino vizinho, acaba por submeter-se a condições que representam já o desespero de salvação da soberania
do país. Shortly after the death of D. Fernando (October, 1383), the Treaty of Salvaterra de Magos is celebrated, according to which the male son born out of the marriage between D. Beatriz and
D. Juan I of Castile (i.e., the future king of the neighbouring country) would be, at age of 14, the king of Portugal and the widdow D. Leonor would be the regent. Among these and other complex
rules of the nuptial agreement signed at that time, D. Fernando, after having started annexation projects in the neighbouring kingdom, eventually submits to conditions which already represent the
despair for the salvation of the country’s sovereignty.
1383 (Outubro / October) – celebra-se na catedral de Toledo o luto pela morte de D. Fernando e, no dia seguinte, a elevação da sua filha D. Beatriz, rainha de Castela, como rainha de Portugal. O
Mestre de Avis escreve a D. João I de Castela para vir tomar conta do reino e, para obviar a constrangimentos internos à união das duas coroas, o rei de Castela manda prender o próprio irmão,
At the cathedral of Toledo takes place the mourning for the death of D. Fernando. On the following day, her daughter, D. Beatriz, queen of
casado com D. Isabel, filha bastarda de D. Fernando.
Castile, is acclaimed queen of Portugal. Master of Avis writes to D. Juan I of Castile for the latter to take over the kingdom. To remedy the internal constraints to the union of the two crowns, the
king of Castile orders the arrest of his own brother, who is married to D. Isabel, illegitimate daughter of D. Fernando.
1383-84 – Leonor Teles de Menezes é Rainha regente de Portugal, em nome da filha D. Beatriz, rainha de Castela e Leão.
Beatriz, queen of Castile and León.
Leonor Teles de Menezes is the regent queen in Portugal on behalf of D.
1383 (meados de Dezembro / mid-December) – D. João I de Castela, acompanhado por D. Beatriz, rainha de Castela e de Portugal, invade Portugal pela fronteira da Beira e é triunfalmente acolhido
na cidade da Guarda.
D. Juan I of Castile, accompanied by D. Beatriz, Queen of Castile and Portugal, invades Portugal through the border of the Beira and is triumphantly welcomed in Guarda.
1384 – Invasão de Portugal por D. João I de Castela, seguindo pela Guarda e Celorico da Beira em direcção a Coimbra.
and Celorico da Beira towards Coimbra.
Invasion of Portugal by D. Juan I of Castile, carrying on through Guarda
1385 – Nova invasão castelhana, em Julho, conquistando Almeida, Pinhel, Trancoso e Celorico da Beira, atingindo Coimbra em Agosto.
Pinhel, Trancoso and Celorico da Beira, reaching Coimbra in August.
New Castilian Invasion in July, conquering Almeida,
1385 (6 de Abril / 6th April) – Cortes de Coimbra, com designação das atribuições reais do Mestre de Avis, D. João I. Início da 2ª Dinastia (de Avis), com casamento do rei com Filipa de Lencastre.
Cortes of Coimbra, with designation of the real powers of the Master of Avis, D. João I. Begining of 2nd Dynasty (Avis), with the King’s marriage with Philippa of Lancaster.
1385 (14 de Agosto / 14th August) – Batalha de Aljubarrota entre as forças Portuguesas do Mestre de Avis e de Nuno Álvares Pereira (apoiadas por Ingleses) e o exército de D. João I de Castela (com
o contributo de forças Francesas, Aragonesas e Italianas), dando a supremacia às pretensões de independência de Portugal. Battle of Aljubarrota between the Portuguese forces of Master of Avis
and Nuno Álvares Pereira (supported by the English) and the army of D. Juan I of Castile (with contributions from French, Aragonese and Italian forces), giving supremacy to the independence motivations of Portugal.
1385 – Na sequência de Aljubarrota os exércitos portugueses reconquistam os castelos que se tinham levantado por D. Beatriz de Portugal, rainha de Castela (Santarém, Leiria, Óbidos, Alenquer,
Torres Novas e Sintra e, na fronteira do Alentejo, Marvão e Vila Viçosa). Following Aljubarrota, the Portuguese armies regain the castles that had uprisen for D. Beatriz of Portugal, queen of
Castile (Santarém, Leiria, Óbidos, Alenquer, Torres Novas, and Sintra anda t the Alentejo’s border, Marvão and Vila Viçosa).
1386 – Os exércitos do Mestre de Avis e do Condestável, reunidos, conquistam Bragança, Chaves e Almeida (Junho), numa campanha dura para a recomposição dos limites, com incursão Portuguesa
Together, the armies of the Master of Avis and of the Condestable, conquer Bragança, Chaves and Almeida (June), in a hard campaign for the recomposition of the
por Ciudad Rodrigo e Coria.
frontier, with a Portuguese incursion at Ciudad Rodrigo and Coria.
1386 (9 de Maio / 9th May) – Tratado de Windsor entre D. João I e Ricardo II de Inglaterra, de boa amizade e de apoio mútuo.
good friendship and mutual support.
Treaty of Windsor between D. Juan I and Richard II of England, of
1386 (8 de Junho / 8th June) – Na sequência dos recontros de três dias que levaram à conquista do castelo de Almeida, o Mestre D. João de Aviz nomeia Ruy Vasques de Castell Branco como alFollowing three days of clashes that led to the conquest of the castle of Almeida, Master John of Aviz appointed Ruy Vasques de Castell Branco as alcalde.
caide.
169
Almeida O Castelo de D. Dinis Filmar_Maquetación 1 28/01/14 07:15 Página 170
1387 – Criação do Imposto das Sizas pelas Cortes de Lisboa, tratando-se do primeiro imposto geral aplicável a todas as transacções realizadas em qualquer parte do país por todas as pessoas, independentemente do estrato social, constituindo o seu montante três quartos das rendas públicas do reino. Creation of the siza tax by the Court of Lisbon, the first general tax applicable to all
transactions made by every person, regardless of social status, across the country. The siza tax accounted for three quarters of the kingdom’s public income.
1387 – Incursão portuguesa por Zamora, com ajuda dos ingleses, regressando por Ciudad Rodrigo e Almeida. Após a “Campanha de Leão”, D. João I cumpre a promessa de ir de Almeida a pé até
Guimarães, fazendo doação do seu laudel (que ainda se conserva no Museu Alberto Sampaio, naquela cidade). Portuguese incursion through Zamora, with English assistance, returning via Ciudad
Rodrigo and Almeida. After “Léon Campaign”, King João I fulfills the promise of walking from Almeida until Guimarães, donating his Laudel (which is still preserved in the Alberto Sampaio Museum
in that city).
1388 – Reconquista de Melgaço e, mais tarde, de Campo Maior.
Reconquest of Melgaço and later Campo Maior.
1389 – Restituição a Portugal de Castelo Melhor, Castelo Rodrigo e Castelo Mendo, de acordo com o Tratado de Monção, em troca de Olivença e Tui.
and Castelo Mendo to Portugal, according to the Treaty of Monção, in return for Olivenza and Tui.
1389 (29 de Novembro / 29th November) – Tréguas de seis anos entre Portugal e Castela.
1390 – Morte de D. João I de Castela.
Return of Castelo Melhor, Castelo Rodrigo
Truce of six years between Portugal and Castile.
Death of D. Juan I of Castile.
1393 – Novas tréguas, por mais quinze anos, entre os reinos de Castela e Portugal.
1396 – Tomada de Badajoz pelos Portugueses, apesar das tréguas firmadas.
1397 – Investida e incêndio de Viseu pelos Castelhanos.
New truce for fifteen additional years between the kingdoms of Castile and Portugal.
Taking of Badajoz by the Portuguese, despite the truce signed.
Raid and fire at Viseu by the Castilians.
1398 – Incursão do Infante D. Dinis, aliado de Castela e pretendente ao trono português, passando por Sabugal, Guarda, Viseu e Covilhã.
to the Portuguese throne, passing Sabugal, Guarda, Viseu and Covilhã.
1399 – Incursão castelhana em Penamacor.
Raid by Prince D. Dinis, an ally of Castile and contender
Castilian incursion in Penamacor.
1400 – Tomada de Penamacor e de Miranda do Douro por Castela.
Taking of Penamacor and Miranda do Douro by Castile.
1402-1414 – Combates sucessivos na fronteira de Penamacor, ficando Valverde del Fresno integrada no território castelhano.
is integrated into Castilian territory.
Successive fights on the border of Penamacor. Valverde del Fresno
1403 – Morre D. Henrique III de Castela, deixando um herdeiro de dois anos e ficando regente rainha Catarina de Lencastre, irmã de D. Filipa de Lencastre, rainha de Portugal – em virtude do que,
pela proximidade familiar, se passou a viver efectivas tréguas entre os dois reinos da Península. D. Enrique III of Castile dies, leaving a two-year old heir substituted by the regent Queen Catarina
de Lencastre, sister of D. Filipa de Lencastre, Queen of Portugal - because of that familial proximity, effective truce was experienced between both kingdoms of the Peninsula.
1407 (12 de Maio /12st May) – Almeida passa a ser domínio da Coroa, por compra e troca de terras entre D. João I e o Alcaide de Almeida, Rui Vasques de Refóios, passando este a ser Senhor de
Almeida is under rule of the Crown, due to purchase and exchange of land between king João I and Rui Vasques de Refoios, alcalde of Almeida, which became Lord
Sarzedas e Sobreira Formosa.
of Sarzedas and Sobreira Formosa.
1411 (31 de Outubro / 31st October) – Tratado de Paz de Ayllón, assinado em Segóvia, ratificado a 30 de Abril de 1423 (aquando da subida ao trono de D. João II de Castela) e tornado definitivo
em 30 de Outubro de 1431, com a assinatura de um Convénio em Medina del Campo, deixando Portugal mais entregue à empresa ultramarina e à estabilização da vida social e comercial das zonas
raianas até então muito afectadas por guerras e, por sua vez, com os Castelhanos mais ocupados com a resolução do reino Muçulmano de Granada. Peace Treaty of Ayllon, signed in Segovia,
ratified on 30th April 1423 (during the ascension to the throne of King Juan II of Castile) and finalised on 30th October 1431, with the signing of an Agreement in Medina del Campo. This left
Portugal more dedicated to affairs overseas and to the social and commercial stabilization of bordering areas which have been very affected by wars. In turn, the Castilians were more occupied with
the capture of the Muslim kingdom of Granada.
1415 (21 de Agosto / 21st August) – Conquista de Ceuta, marcando o início da Expansão europeia e alargando os horizontes das fronteiras portuguesas.
of the European expansion and broadening the horizons of the Portuguese borders.
Conquest of Ceuta, marking the beginning
1421-1422 – D. João I ordena o levantamento populacional, “Rol dos Besteiros do Conto”, com propósitos eminentemente militares (o anterior ocorrera cerca de 150 anos antes).
the population survey, “Rol dos Besteiros do Conto” with predominantly military purposes (the former occurred about 150 years before).
1422 – É referida a existência de 1 704 homens no “Rol dos Besteiros”.
There is the reference that 1704 men are enrolled in the “List of Crossbowmen”.
1431 (30 de Outubro / 30th October) – Tratado de Paz de Medina del Campo, celebrado em definitivo com a morte de D. Beatriz, ocorrida nesse ano.
celebrated with the death of D. Beatriz on that same year.
1431 – Morte de Nuno Alvares Pereira.
D. João I ordered
Peace Treaty of Medina del Campo, definitely
Death of Nuno Alvares Pereira.
1441 (30 de Maio / 30th May) – Carta de D. Afonso V fazendo mercê do castelo de Almeida a Pedro Peixoto (escudeiro do Infante D. Henrique), até então arrendado a Pedro Lourenço de Ferreira.
Letter of kimg Afonso V given mercy of the Castle of Almeida to Pedro Peixoto (squire of Prince Henry, the Navigator), previously leased to Pedro Lourenço Ferreira.
1433 (15 de Agosto / 15th August) – Morte de D. João I de Portugal. Sucede-lhe D. Duarte, com 42 anos de idade, vindo a falecer 5 anos mais tarde.
by D. Duarte, 42 years old, who died five years later.
1434 – D. Duarte institui que Almeida passa a garantir o fornecimento de 9 besteiros para o Rol de Besteiros.
to the List of Crossbowmen.
1438 – Morte de D. Duarte e início do reinado de Afonso V, sendo regente sua mãe, a rainha D. Leonor.
1444 – A Ordem de Avis torna-se independente da Ordem Castelhana de Calatrava.
King Duarte establishes that Almeida shall ensure the provision of 9 crossbowmen
Death of D. Duarte and early reign of Afonso V, being regent his mother, Queen Leonor.
The Order of Avis becomes independent from the Castilian Order of Calatrava.
th
1446 (15 de Janeiro / 15 January) – Atingindo a maioridade, D. Afonso V começa a reinar.
1453 (29 de Maio / 29th May) – Queda de Constantinopla, fim do Império Romano do Oriente.
170
Death of D. João I of Portugal. He is succeeded
Becoming of age, D. Afonso V begins to reign.
Fall of Constantinople, the end of the Eastern Roman Empire.
Almeida O Castelo de D. Dinis Filmar_Maquetación 1 28/01/14 07:15 Página 171
1453 – Almeida é doada por D. Afonso V a D. Pedro de Menezes.
Almeida is donated by D. Afonso V to D. Pedro de Menezes.
1458 – O rei doou a Vila de Almeida a seu sobrinho, Conde de Vila Real, o que gerou conflitos sociais.
flicts.
The king donated Almeida to his nephew, Count of Vila Real, what generated social con-
1463 – Os moradores de Almeida ficaram isentos do pagamento de portagem em todo o reino, à semelhança dos habitantes de Pinhel.
hout the kingdom, like the inhabitants of Pinhel.
The residents of Almeida were exempted from toll throug-
1476 (1 de Março / 1st March) – Batalha de Toro, no quadro da Guerra de Sucessão de Castela, entre tropas suportando Joana de Castela e portuguesas de D. Afonso V e tropas apoiando Isabel de
Castela e de Fernando II, rei de Aragão. A derrota do rei de Portugal, defendendo as pretensões da sobrinha Joana de Trâstamara, dita ”Beltraneja” (com quem havia casado, assumindo assim a
condição de rei-consorte de Castela), inviabilizou o projecto de união dos dois reinos, o qual vai ser retomado com o seu filho D. João II, preparando o casamento deste com a filha dos Reis Católicos
Battle of Toro, in the framework of the Castilian Succession War between forces supporting Joana of Castile and Afonso V, King of Portugal and troops
no tratado de paz então celebrado.
supporting Isabel of Castile and Ferdinand II, King of Aragon. The defeat of the king of Portugal, defending the claims of his niece Joana, the Beltraneja (who was married with him, thereby assuming
the kingship of Castile), prevented the proposed union of the two kingdoms, a project that would be taken up by his son, King João II, celebrating the matrimonial alliance of his son and heir with
the daughter of the Catholics Kings.
1479 (4 de Setembro / 4th September) – Tratado de Alcáçovas-Toledo, tendo D. Afonso V renunciado às pretensões ao trono de Castela, firmando-se a paz entre Castela e Portugal, com renúncia
da Rainha de Portugal a disputar direitos tutelados por sua prima Isabel, a Católica. Ficava determinado o casamento dos príncipes herdeiros (1490), tendo D. Isabel voltado a casar, após a morte
de D. Afonso (1491), com o irmão do sogro, o rei D. Manuel (em 1497), assim se restabelecendo a possibilidade de uma sempre perseguida União Ibérica, chegando a jurar-se herdeiro o filho D.
Miguel da Paz (morto aos 21 meses de idade), tendo a mãe morrido em 1498. Mais tarde (1500) o rei Português casará com a irmã, D. Maria de Aragão (de quem nasce uma prole ilustre e determinante
do futuro do país) e, ainda, com D. Leonor de Áustria, irmã de Carlos V, e que será depois rainha de França, com Francisco I. Dentre os filhos de D. Maria, Infanta de Espanha, contam-se o futuro
D. João III e a Infanta D. Isabel (que casou com Carlos V Habsburgo, Imperador de Espanha, de quem nasce o rei Filipe II de Espanha e I de Portugal), para além do futuro rei de Portugal, D.
Henrique (1578-80), Cardeal de Portugal, e de outros nomes importantes. Treaty of Alcaçovas-Toledo, where D. Afonso V waived his claims to the throne of Castile, signaling peace between
Castile and Portugal, with a waiver from the Queen of Portugal to dispute rights protected by her cousin, Isabel the Catholic. The marriage between the Crown heirs (1490) would be determined
and D. Isabel was married, after the death of D. Afonso (1491), to the brother of her father-in-law, king D. Manuel (in 1497). The marriage restored the possibility of a long sought-after Iberian
Union, for which an heir was even indicated (D. Miguel da Paz, who died at 21 months of age), whose mother died in 1498. Later (1500), the Portuguese king married his sister, D. Maria of Aragon
(who gives birth to an illustrious offspring that will determine the future of the country), and also D. Leonor of Austria, sister of Carlos V, who will then become Queen of France, with Francis I.
The children of D. Maria, Princess of Spain, include the future King João III and Princess D. Isabel (who married Charles V Habsburg, Emperor of Spain, who is the father of King Filipe II of Spain
and I of Portugal), in addition to the future king of Portugal, D. Henrique ( 1578-80 ), Cardinal of Portugal, and other important names.
1481 – Início do reinado de D. João II.
Beginning of the reign of D. João II.
1488 – Dobragem do Cabo da Boa Esperança por Bartolomeu Dias.
Bartolomeu Dias reaches the Cape of Good Hope.
1492 – Comunidades locais fixam-se na região fronteiriça, havendo indícios de uma Judiaria na Vila de Almeida, na actual Rua do Arco.
are indications of a Jewry at Almeida village, in the current Arco Street.
Local communities set up in the border region; there
1492 (31 de Março / 31st March) – Édito de Alhambra (ou da Expulsão), de Isabel I de Castela e Fernando II de Aragão, os Reis Católicos. A promulgação deixava um reduzido prazo para os
afectados poderem organizar as suas vidas, uma vez que se determinava a sua entrada em vigor a 31 de Julho desse ano. Verificou-se então um êxodo de dezenas de milhares de Judeus, tendo o
maior contingente entrado pela fronteira da Beira, na região de Vilar Formoso. O Édito foi formalmente revogado em 16 de Dezembro de 1968, seguindo o Concílio Vaticano II. Edict of Alhambra
(or of Expulsion) of Isabella I of Castile and Ferdinand II of Aragon, the Catholic Monarchs. The enactment gave a reduced term for those affected to be able to organize their lives, since it determined
its coming into force on 31st July this year. There was then an exodus of tens of thousands of Jews, with the largest contingent entering the frontier of Beira, in the region of Vilar Formoso. The edict
was formally revoked on 16th December, 1968, following the Second Vatican Council.
1494 (7 de Junho / 7th June) – Tratado de Tordesilhas, um dos monumentos mundiais da diplomacia, segundo o qual o mundo se dividia entre Portugal e Espanha, segundo um meridiano a 370
Treaty of Tordesillas, one of the
léguas a oeste da ilha de Santo Antão no arquipélago de Cabo Verde. O tratado foi ratificado pela Espanha a 2 de Julho e por Portugal a 5 de Setembro de 1494.
monuments in the world of diplomacy, according to which the world was divided between Portugal and Spain, according to a meridian 370 leagues West of the island of Santo Antão in the Cape
Verde archipelago. The treaty was ratified by Spain on 2nd July and by Portugal on 5th September, 1494.
1495 (27 de Outubro / 27th October) – Coroação de D. Manuel I.
1496 – Expulsão dos Judeus e extinção da Judiaria de Almeida.
Coronation of King Manuel I.
Expulsion of the Jews and extinction of Almeida Jewry.
1496 – Na “Inquirição” é referida a existência de 1850 habitantes em Almeida.
The “Inquiry” refers the existence of 1850 inhabitants in Almeida.
1498 – Criação das Misericórdias pela Rainha D. Leonor, viúva de D. João II e irmã do rei D. Manuel.
Manuel.
1506 – Inquirições para o processo do Foral novo de Almeida.
Creation of Misericórdia Houses by Queen Leonor, widow of D. João II and sister of King
Inquiries for the process of the new Foral (charter) of Almeida.
1508 (9 de Setembro/ 9th September) – Carta de D. Manuel para Mateus Fernandes, mestre das obras de Alcobaça, para, com outro oficial e o Corregedor da Comarca de Almeida, irem ao castelo
desta Vila examinar a muralha que o rei dera de empreitada a Francisco d’Anzilho, mestre-de-obras biscaínho, pelo preço de 1550 reais, e avaliarem a obra e os materiais utilizados.
Letter of D.
Manuel to Mateus Fernandes, master-builder at Alcobaça, so that he, with another officer and the District Magistrate of Almeida, would go to the castle of this village to examine the wall, whose
contract the king had given to Francisco d’Anzilho, Biscayan master-builder, for the price of 1550 reais, and to evaluate the work and materials used.
1508 (9 de Setembro / 9th September) – Mandado de D. Manuel para se pagar a Martim Lourenço, mestre pedreiro, todo o seu jornal durante 28 dias que durou a sua deslocação a Almeida “a ver
a obra que aí fez Francisco d’Anzilho”.
Order of D. Manuel to pay Martim Lourenço, master mason, for his entire work for the 28 days that were spent on his trip to Almeida “to see the work that
Francisco d’Anzilho did there”.
1508-9 – Os desenhos de Duarte de Armas registam o castelo de Almeida com transformações importantes em curso.
important transformations underway.
1510 (1 de Junho / 1st June) – Foral Novo de Almeida por D. Manuel I.
The drawings of Duarte de Armas register the Castle of Almeida with
New Charter to Almeida by D. Manuel I.
171
Almeida O Castelo de D. Dinis Filmar_Maquetación 1 28/01/14 07:15 Página 172
1512 (10 de Novembro / 10th November) – Documento de quitação de custos pagos por Mateus Fernandes a Álvaro Pires (Mestre pedreiro). Que com ele andou nos trabalhos de fiscalização do
castelo de Almeida.
Document of acquittance for costs paid by Mateus Fernandes to Álvaro Pires (Master Mason), who stayed with him in the work of supervision of the castle of Almeida.
1517 (20 de Maio / 20th May) – Carta de quitação de D. Manuel I sobre a aplicação dos impostos locais criados para a realização das empreitadas concedidas a Francisco d’Anzilho nos castelos de
Almeida, Castelo Bom, Castelo Mendo e Castelo Rodrigo.
Acquittance letter of King Manuel on the application of local taxes created for the performance of contracts awarded to Francisco
d'Anzilho in the castles of Almeida,Castelo Bom,Castelo Mendo and Castelo Rodrigo.
1521 – Pero Garcia recebeu do rei D. Manuel I autorização para fundar a Casa da Misericórdia de Almeida.
Almeida.
1521 – Morte de D. Manuel I e subida ao trono de D. João III.
Pero Garcia received the consent by King Manuel I to found Misericórdia House of
Death of D. Manuel I and ascension to the throne by D. João III.
1527 – Numeramento ou Cadastro Geral do Reino, ordenado por D. João III.
Numeramento or General Census of the Kingdom, ordered by João III.
st
1527 (21 de Maio / 21 May) – Nasce em Valladolid o filho do Imperador Carlos V e de Isabel de Portugal, Filipe de Habsburgo.
Portugal, Filipe of Habsburg, is born.
In Valladolid, the son of the Emperor Carlos V and Isabella of
1527 (13 de Outubro / 13st October) – Nasce em Coimbra Maria Manuela filha de D. João III e Catarina de Habsburgo, irmã do Imperador Carlos V.
and Catarina de Áustria, Maria Manuela, is born.
In Coimbra, the daughter of King João III
1527 – No “Numeramento” é referida a existência de 412 moradores (moradas) em Almeida, contando-se 1200000 Portugueses de acordo com o primeiro censo ordenado pelo rei, D. João III.
The “Numeramento” refers to the existence of 412 residents (addresses) in Almeida, a part of the 1.2 million Portuguese according to the first census ordered by the King, D. João III.
1536 – Estabelecida a Inquisição em Portugal.
Inquisition is established in Portugal.
1537 – Procede-se à demarcação das terras da raia de Portugal. Quanto a Almeida assinala-se ser “Senhor desta Vila o Marquês de Vila Real e a fortaleza é a melhor de Riba de Côa”.
to the demarcation of lands in the border of Portugal. As for Almeida is noted to be "Lord of this village the Marquis of Vila Real and the fortress is the best of Riba Coa”.
1540 – Os Jesuítas chegam a Portugal e, em 1548, a Ordem funda o Colégio das Artes, em Coimbra.
bra.
Proceeds
The Jesuits arrived in Portugal and in 1548 the Order established the College of Arts in Coim-
1543 (Novembro / November) – O Papa Paulo III, por Breve de 6 de Março, emite dispensa de parentesco de Filipe Habsburgo e de Maria Manuela, primos direitos por lado dos pais e das mães,
quer de um, quer da outra. O casamento verifica-se depois de perfazerem 16 anos de idade, culminando um aparatoso cerimonial e o pagamento de largo dote pelo rei de Portugal. Haverá um filho
que morre antes dos dois anos de idade. A mãe falecera 4 dias após o parto, aos 18 anos de vida e somente 20 meses após o seu casamento. Pope Paul III, by Breve of 6th of March, emits waiver
of kinship Philip Habsburg and Maria Manuela, cousins by the side of the parents, either one or the other. The marriage was then checks to attaining the age of 16, culminating ostentatious ceremonials
and the payment of a large dowry by the King of Portugal. There will be a child who dies before the age of two. His mother had died four days after the birth, only with 18 years of life and only 20
months after the wedding.
1553 – É fundado em Lisboa o Colégio Jesuíta de Santo Antão, o qual funcionou até à extinção da Companhia de Jesus em 1759. Nele teve lugar a famosa “Aula da Esfera”, onde se ensinaram as
últimas novidades cientificas e a arte da edificação militar.
The Jesuit College of Santo Antão is founded in Lisbon, which functioned until the extinction of the Society of Jesus in 1759. The
famous “Class of the Sphere” took place in the College, where the latest scientific news were learnt, as well as the art of military construction.
1557 – Morte de D. João III e início da regência de D. Catarina de Áustria, avó de D. Sebastião, seguindo-se-lhe a regência do tio, o Cardeal de Portugal, D. Henrique. O novo rei acede ao trono com
14 anos, em 1668.
Death of D. João III and beginning of the regency by D. Catarina of Austria, grand-mother of D. Sebastião, followed by the regency of his uncle, the Cardinal of Portugal, D.
Henrique. The new king accedes to the throne at age of 14, in 1668.
1561 – Primeiro mapa do reino de Portugal, de Fernando Álvares Seco.
First Map of the Kingdom of Portugal by Fernando Alvares Seco.
1564 – Promulgação dos decretos do Concílio de Trento como leis do reino.
Enactment of the decrees of the Council of Trent as laws of the kingdom.
th
1571 (7 de Outubro / 7 October) – Batalha de Lepanto, ao largo de Patras (Grécia), na qual uma importante força espanhola (juntamente com forças de Veneza, os Cavaleiros de Malta e os Estados
Pontifícios, sob o comando de João da Áustria, venceram o Império Otomano, pondo fim à expansão Islâmica no Mediterrâneo. Battle of Lepanto, off of Patras (Greece), in which a major Spanish
force (along with forces from Venice, the Knights of Malta and the Papal States, under the command of John of Austria), defeated the Ottoman Empire, ending the Islamic expansion in the
Mediterranean.
1578 (4 de Agosto / 4th August) – Batalha de Alcácer-Quibir, em Marrocos, nela perdendo a vida o rei D. Sebastião. A chamada ”Batalha dos Três Reis”, por no campo de batalha terem perecido três
monarcas (D. Sebastião de Portugal e o seu aliado da dinastia Saadi, Sultão Mulay Mohamed e, do lado oposto, o Sultão de Marrocos, Mulay Moluco, tio do aliado do rei português, apoiado pelos
Otomanos), induz a mais grave crise de sucessão do reino português, por ficar bloqueada a transmissão directa após o período de governação de D. Henrique, o Cardeal-Rei, a quem vai suceder seu
sobrinho, Filipe II de Espanha.
Battle of Alcazarquivir, Morocco, during which King Sebastião lost his life. The so-called “Battle of the Three Kings,” since in the battlefield three monarchs
perished (King Sebastião of Portugal and his ally from the Saadi dynasty, Mohamed Sultan Mulay, and on the opposite side, the Sultan of Morocco, Mulay Moluco, uncle of the ally of the Portuguese
king, supported by the Ottomans), induces the most serious crisis of succession to the Portuguese kingdom, which is blocked by direct transmission after the government of D. Henrique, CardinalKing, who will be succeeded by his nephew, Filipe II of Spain.
1580 (25 de Agosto / 25th August) – Batalha de Alcântara, junto a Lisboa. No quadro da guerra da Sucessão, e rematando a invasão de Portugal pelos castelhanos (cerca de 40000 homens, dos quais
metade eram mercenários germânicos e italianos, sob comando do duque de Alba), teve lugar importante recontro militar com as tropas do pretendente português (D. António, Prior do Crato, neto
de D. Manuel I, tal como Filipe de Habsburgo). Dois dias depois a capital era ocupada.
Battle of Alcântara, near Lisbon. During the War of Succession and topping off the invasion of Portugal by
the Castilians (about 40,000 men, half of whom were German and Italian mercenaries, under the command of the Duke of Alba), an important military clash took place with troops of the Portuguese
pretender (D. António, Prior do Crato, grandson of King Manuel I, as Filipe of Habsburg). Two days after, the capital was occupied.
1580 (24 de Outubro / 24th October) – Captura da cidade do Porto, onde se haviam acantonado o que restava das tropas vencidas em Alcântara, pelas forças castelhanas, sob comando de Sancho
de Ávila, que se fez transportar por mar para pôr fim à sucessão da Dinastia de Avis.
Capture of Porto, where the rest of the troops, defeated by Castilian forces in Alcantara, had stationed — the
latter under the command of Sancho de Ávila, who chose transport by sea to end the succession of the Avis dynasty.
1581 (25 de Março / 25th March) – Filipe de Áustria é coroado rei de Portugal. Verificam-se sinais de sentido diferente na nova situação: por um lado averba-se uma derrota naval dos Espanhóis na baía
de Salga, na Ilha Terceira, Açores; por outro, iniciam-se os trabalhos para a ligação fluvial entre Porto e Toledo, decisão que depois cancelada. Entre 1582 e 1590 são abolidas as alfândegas fronteiriças
172
Almeida O Castelo de D. Dinis Filmar_Maquetación 1 28/01/14 07:15 Página 173
com Castela. Filipe of Austria is crowned King of Portugal. There are signs of mixed direction in the new situation: on the one hand, there is a naval defeat of the Spanish in the Bay of Salga, on
Terceira Island, Azores; on the other, the work to connect, through river, Porto and Toledo are begun but eventually canceled. Between 1582 and 1590, border customs are abolished with Castile.
1582 e / and 1583 – Expedições navais espanholas aos Açores, com recontros militares, contra a resistência de D. António Prior do Crato, reclamando-se rei de Portugal, incluindo a derrota de uma
armada Luso-francesa comandada por Strozzi.
Spanish naval expedictions to the Azores, with military clashes, against the resistance of D. António Prior do Crato, the self-proclaimed King of
Portugal, including the defeat of a Portuguese-French armada led by Strozzi.
1588 – Desastre da “Invencível Armada”.
Disaster of the “Invincible Armada”.
1589 – Desembarque em Peniche e em Cascais de forças navais de Isabel I de Inglaterra, com o objectivo (falhado) de tomar Lisboa, apoiando as pretensões do Prior do Crato.
and Peniche, the naval forces of Elizabeth I of England, with the (failed) objective of taking Lisbon, support the claims of the Prior of Crato.
1594 – Criação da Aula do Risco no Paço da Ribeira, em Lisboa.
th
Landing in Cascais
Creation of the “Class of Drawing” at Paço da Ribeira, Lisbon.
1595 (26 de Agosto / 26 August) – Morte do Prior do Crato, em Paris.
Death of the Prior of Crato, in Paris.
th
1598 (13 de Setembro / 13 September) – Morte de Filipe II de Espanha (desde 1555) e I de Portugal (post. 1581).
Death of Filipe II of Spain (since 1555) and I of Portugal (after 1581).
th
1633 (12 de Janeiro / 12 January) – Casamento do Duque de Bragança, D. João, futuro rei de Portugal, com Dona Luísa de Guzmán, da Casa Ducal de Medina-Sidónia.
Duke of Bragança, D. João, the future king of Portugal, and Dona Luisa de Guzmán, of the Ducal House of Medina-Sidonia.
Marriage between the
1635-40 – “Alterações” de Évora e do Algarve. O estado de perturbação social que progressivamente se veio instalando desde o começo do segundo quartel de Seiscentos, origina motins e arruaças
de grande expressão na zona Sul do país, com ecos noutros pontos do território. Tal situação espoleta sentimentos de mudança que estão na origem da Restauração, decorrentes da luta contra a
opressão fiscal e a crise do Império ultramarino.
Strikes of Evora and the Algarve. The social upheaval progressively installed from the beginning of the second quarter of the 17th century gives
origin to mutinies and riots of great expression in the South, with echoes elsewhere in the territory. This situation fuses feelings of change that are at the origin of the Restoration, arising from the
struggle against oppression and the fiscal crisis of the overseas empire.
1638 – O cônsul Francês em Lisboa é incumbido de apresentar a disponibilidade dos Gauleses para prestar ajudas aos Portugueses em caso de revolta contra Espanha.
Lisbon is responsible for presenting the availability of the French in helping the Portuguese in case of a rebellion against Spain.
The French Consul in
1639 (26 de Janeiro / 26th January) – Carta régia de Filipe III de Portugal requisitando 6000 soldados de infantaria e 1500 de cavalaria para, à custa do reino de Portugal, prestarem serviço nas
frentes de guerra em que Espanha está envolvida. Royal letter issued by Filipe III of Portugal requesting 6000 infantry and 1500 cavalry soldiers, at the expense of the kingdom of Portugal, to
serve in war fronts in which Spain is involved.
1639 (Abril / April) – D. João, Duque de Bragança, é nomeado General-de-mar-e-terra de Portugal.
D. João, Duke of Bragança, is appointed General-of-land-and-sea of Portugal.
1640 – Eclode a Revolta da Catalunha. Nobres Portugueses são mandados apresentarem-se em Madrid, muitos recusando. Entre os que não cumprem as ordens do Conde-duque de Olivares encontra-se D. João de Bragança. Revolt breaks out in Catalonia. Portuguese noblemen are order to be present in Madrid, but many refuse. Among those who do not comply with the orders of the
Count-Duke of Olivares is D. João of Braganza.
1640 (1 de Dezembro / 1st December) – Revolta dos “Conjurados” no Paço da Ribeira, com a proclamação da realeza da Casa de Bragança. É posto cerco ao castelo de S. Jorge, com a guarnição a
Uprising of
render-se, capturam-se as naus espanholas surtas no Tejo e neutralizam-se as fortalezas da barra de Lisboa. A vida da população da capital não sofre praticamente mudanças.
“conspirators” in the Paço da Ribeira, with the proclamation of the royalty of House of Braganza. A siege is laid to the castle of S. Jorge, where the garrison surrenders, the Spanish ships in the Tagus
are captured and the fortresses of the bar of Lisbon are neutralized. The life of the capital’s population suffers virtually no changes.
1640 (15 de Dezembro / 15th December) – Aclamação do Duque de Bragança como rei da nova dinastia, D. João IV. A população Portuguesa ascende a cerca de dois milhões de habitantes, em 466
000 fogos (em 1620 seriam mais cerca de 10 000 fogos). Acclamation of the Duke of Braganza as king of the new dynasty, D. João IV. The Portuguese population totals about two million inhabitants
with 466,000 dwellings (in 1620 there would be around 10,000 dwellings).
1641-1668 – Guerra da Independência, com desenvolvimentos na defesa das fronteiras, não apenas no território da Península Ibérica, mas igualmente no Ultramar (Brasil, África, Oriente). A
também designada Guerra da Restauração de Portugal ou Guerra da Aclamação, regista sucessivos e intermitentes combates em toda a raia da Beira.
War of Independence, with developments
in the defense of the borders, not only in the territory of the Iberian Peninsula, but also overseas (Brazil, Africa, East). The so-called War Portuguese Restoration War or Acclamation War includes
successive and intermittent fights across Beira’s entire dry frontier.
1641 (1 de Fevereiro / 1st February) – D. João IV nomeia o fidalgo da casa real António Pereira de Lacerda como alcaide-mor do castelo de Almeida.
Royal House António Pereira de Lacerda as Captain-General of the castle of Almeida.
1641 – Combates na ribeira de Tourões, em Alfaiates e noutros lugares da raia.
st
1641 (1 de Junho / 1 June) – Tratado de Aliança e Confederação com França.
King João IV appoints the nobleman of the
Fights at Ribeira de Tourões, Alfaiates and other places across the frontier.
Treaty of Alliance and Confederation with France.
th
1641 (12 de Junho / 12 June) – Tratado de Aliança com os Estados Gerais das Províncias Unidas, os quais se comprometem a suspender ataques contra a liberdade de os Holandeses comerciarem
nas possessões Portuguesas, embora se tenham continuado a verificar sucessivas ofensivas contra domínios ultramarinos em vários continentes. Treaty of Alliance with the General States of the
United Provinces, which undertake to suspend attacks against the freedom of the Dutch to trade in Portuguese territory, although there continued to be successive offences against overseas dominions
across several continents.
1641 (29 de Junho / 29th June) – Tratado de Estocolmo, de Aliança com a Suécia.
Treaty of Stockholm, forming an Alliance with Sweden.
1641 (Outubro / October) – Reposição da procissão anual em acção de graças pela vitória de Aljubarrota.
Restitution of the annual procession in honour of the victory at Aljubarrota.
1641 (finais / end of) – Ceuta não reconhece a secessão Portuguesa, mantendo-se sob domínio espanhol.
Ceuta does not recognize the Portuguese secession and remains under Spanish rule.
1641 – D. Álvaro de Abranches, Governador, ordena a renovação da fortificação de Almeida, cabendo a direcção inicial das obras a João Saldanha e Sousa.
orders the renewal of fortification of Almeida, with João Saldanha e Sousa becoming responsible for the initial direction of the work.
D. Álvaro de Abranches, Governor,
1641-1643 – O Arquitecto David Álvares superintende as obras da praça “administrando os oficiais pedreiros e mais trabalhadores e assistindo pessoalmente no trabalho das ditas fortificações”.
Architect David Álvares supervises the work on the fortress “administering the stonemasons and other works and personally aiding in the works of the said fortifications”.
173
Almeida O Castelo de D. Dinis Filmar_Maquetación 1 28/01/14 07:15 Página 174
1642 (29 de Janeiro / 29th January) – Tratado de Paz Anglo-luso, contra a liberdade de comércio nas colónias Portuguesas.
tuguese colonies.
Anglo-Portuguese Peace Treaty, against the freedom of trade in Por-
1642 – D. Miguel de Portugal, enviado ao Papa para obter o reconhecimento da nova Dinastia, acaba por regressar de Roma sem ter tido a audiência requerida.
Pope to obtain recognition for the new dynasty, eventually returns from Rome without having the required hearing.
D. Miguel of Portugal, sent to the
1642 – Elevação de um forte quadrangular abaluartado em Vale de la Mula (que incluía o núcleo central da povoação com a Igreja Matriz), e que será demolido na campanha de Osuna em 1662.
Construction of a square fort in Vale de la Mula (which included the central nucleus of the village, along with the Main Church), which will be demolished during Osuna’s campaign in 1662.
1642 – Tomada de Elges e de Valverde del Fresno pelos Portugueses, com retirada para Penamacor. Tomada de várias localidades de Riba-Côa pelos Espanhóis. Saque de San Felices de los Gallegos
e de El Gardón pelos Portugueses. Ataque Espanhol no Algarve, com cercos a Alcoutim e Castro Marim. Taking of Elges and Valverde del Fresno by the Portuguese, falling back to Penamacor.
Capture of various locations in Riba-Coa by the Spanish. Looting of San Felices de los Gallegos and El Gardon by the Portuguese. Spanish Attack at the Algarve, with sieges laid to Alcoutim and
Castro Marim.
1642 (23 de Setembro / 23rd September) – Alvará onde se ordena ao Engenheiro-mor do reino Charles Lassart o reconhecimento e o desenho das Fortificações da Beira.
Kingdom’s chief engineer, Charles Lassart, to survey and draw the fortifications of Beira.
Permit ordering the
1642 (25 de Dezembro / 25th December) – Aviso ao Engenheiro-mor do reino Charles Lassart para que prossiga o reconhecimento das Fortificações da Beira na companhia do Desembargador
Gregório de Valcaçar.
Warning to the Kingdom’s chief engineer, Charles Lassart, so that he may continue with the recognition of the Border Fortifications in the company of Judge Gregório de
Valcaçar.
1644 – Batalha de Montijo (Extremadura Espanhola), com vitória Portuguesa, revigorando o ideal da Restauração. Évora é sitiada.
victory, reinvigorating the idea of Restoration. Évora is besieged.
1645 – Nova embaixada, infrutífera, a Roma.
Battle of Montijo (Spanish Extremadura), with a Portuguese
New envoy, unsuccessful, to Rome.
1646-47 – Missões do Padre António Vieira a Paris e a Haia.
Missions of Father António Vieira to Paris and Hague.
1647 – Criação da Aula de Fortificações e Arquitectura Militar na Ribeira das Naus, em Lisboa.
Creation of the Classes on Fortifications and Military Architecture in Ribeira das Naus, in Lisbon.
1647-48 – Desde Dezembro de 1647, e durante um período de um ano, os Holandeses aprisionam 249 navios Portugueses (dos cerca de 300 que anualmente percorrem o Atlântico).
December 1647, and for a period of one year, the Dutch imprison 249 Portuguese vessels (of about 300 that annually traverse the Atlantic).
1645 – Data das Portas de S. Francisco, atribuídas a Pierre Garsin.
Since
Date of the S. Francisco Gates, attributed to Pierre Garsin.
1646 – Prosseguimento das obras com direcção de João de Saldanha e Sousa e Pierre Garsin, vindo a suceder-lhes Rodrigo Soares Pantoja, verificando-se um incremento das obras a partir de 1657.
Continuation of the work under direction of João de Saldanha e Sousa and Pierre Garsin, succeeded by Rodrigo Soares Pantoja, with an increase of work from 1657 onwards.
1648 – Cerco mal sucedido dos Espanhóis a Olivença, sob comando do Marquês de Leganés.
Unsuccessful Spanish siege to Olivença, commanded by Marquis of Leganes.
1648 – Paz de Vestefália, pondo fim à Guerra dos 30 Anos, na qual Portugal não fez parte de nenhum tratado, embora tenha lutado contra os Habsburgos, no quadro da secessão de Espanha.
Peace of Westphalia, ending the 30 Years War, in which Portugal was not part of any treaty, although the country fought against the Habsburgs in the context of the Spanish secession.
1650 (14 de Janeiro / 14th January) – Vitória portuguesa importante na Extremadura, após cerco dos espanhóis, nas designadas “Linhas de Elvas”.
after the Spanish siege, in the so-called “Lines of Elvas”.
1652 – Existem em Portugal 448 conventos (317 masculinos e 111 femininos).
Important Portuguese victory at Extremadura,
There are 448 convents in Portugal (317 for males and 111 for females).
1654 (10 de Julho / 10th July) – Tratado de Westminster, de Paz e Aliança com Inglaterra, abrindo o Império Português ao livre comércio Inglês e concedendo privilégios a cidadãos britânicos
residentes no país, ficando amarrado a condições negativas de relacionamento. Treaty of Westminster, Peace and Alliance with England, opening the Empire Portuguese to free trade by the
English and granting privileges to British citizens residing at the country, getting bound to negative conditions of the relationship.
1655 (7 de Setembro / 7th September) – Tratado de Aliança e Amizade entre D. João IV e Luís XIV.
Treaty of Alliance and Friendship between D. João IV and Louis XIV.
1655 (Novembro / November) – Chega a Roma o grande diplomata Francisco de Sousa Coutinho, mas a Cúria papal não lhe reconhece o título de embaixador.
diplomat Francisco de Sousa Coutinho, but the papal Curia does not recognize his title of ambassador.
1656 (8 de Novembro / 8th November) – Morte de D. João IV. A rainha D. Luísa de Gusmão, espanhola, assume a regência.
the regency.
Arrival at Rome of the great
Death of D. João IV. The Queen D. Luísa de Gusmão, Spanish, assumes
1657 (Abril / April) – Cerco a Olivença, sendo a cidade tomada pelos exércitos Espanhóis. Simultaneamente instala-se o estado de guerra com os Holandeses, tendo 40 navios bloqueado o porto
de Lisboa durante 3 meses. A siege is laid to Olivenza and the city is taken by Spanish armies. Simultenously, there is war with the Dutch and 40 ships are blocked at the port of Lisbon for 3
months.
1658 (Outubro-Dezembro/October-December) – Cerco de Elvas pelos Espanhóis, seguido de cerco Português a Badajoz, que fracassou.
Portuguese siege of Badajoz.
Siege of Elvas by the Spanish, followed by an unsuccessful
1658 – Durante a regência de D. Luísa de Gusmão foi mandado construir um hospital em Almeida, devido ao incremento do número de doentes e feridos, amontoados na Cadeia e na Casa da CâDuring the regency of D. Luísa de Gusmão a hospital was built in Almeida, due to an increase in the number of the sick and wounded, huddled in Jail and House Chamber.
mara.
1659 (14 de Janeiro / 14th January) – Batalha das Linhas de Elvas, com retumbante vitória Portuguesa sobre os Espanhóis.
the Spanish.
Battle of the Lines of Elvas with a resounding Portuguese victory over
1659 (17 de Novembro/17th November) – Tratado dos Pirenéus, enquadrado no termo da Guerra dos 30 Anos, entre Espanha e França, tendo Portugal sido excluído das negociações e vendo os
Franceses reconhecerem Filipe IV como rei de Portugal. No quadro da “Paz de Vestefália” os Suecos reconhecem a Filipe IV a mesma condição, o que leva ao corte de diplomáticas com o país
nórdico.
Treaty of the Pyrenees, taking place at the end of the 30 Years War between France and Spain, with Portugal being excluded from the negotiations and with the French recognizing Filipe
IV as king of Portugal. Under the “Peace of Westphalia”, the Swedes recognize the same status to Filipe IV, which leads to the cutting of diplomatic ties with the Nordic country.
174
Almeida O Castelo de D. Dinis Filmar_Maquetación 1 28/01/14 07:16 Página 175
1661 (Dezembro / December) – Chegada a Portugal do Conde de Schomberg (alemão ao serviço de França) para desempenhar as funções de Mestre-de-campo-general, o qual vai ter papel deterArrival at Portugal of Count Schomberg (German in the service of France) to perform the functions of Mestre-de-camp-general, who will play a
minante no desfecho da Guerra da Restauração.
determining role in the outcome of the War of Restoration.
1661 (23 de Junho/ 23rd June) – Tratado de Paz e Aliança com Carlos II de Inglaterra, tendo sido combinado o casamento de Dona Catarina com o soberano Inglês, em troca do pagamento de
avultada quantia em dinheiro como dote, a que se juntava a cedência de Tânger e de Bombaim. A Inglaterra garantia apoio internacional e a vinda para Portugal de mercenários. Com o casamento
Treaty of Peace and Alliance with Charles II of England,
(10 de Maio de 1662) chegam 2700 ingleses (dos quais 700 cavaleiros), os quais foram destacados para as zonas nevrálgicas do Alentejo.
having been arranged the marriage of Dona Catarina with the English sovereign in exchange for the payment of a large sum of money as dowry, to which was added the cession of Tangier and
Bombay. England ensured international support and the sending of mercenaries to Portugal. With the wedding (10th May, 1662) 2700 British men arrive (of which 700 were cavaliers), which were
assigned to the neuralgic areas of the Alentejo.
1663 – Segunda fase da campanha militar contra Portugal, com exércitos Espanhóis comandados por D. João de Áustria, no Sul, e pelo Duque de Ossuna, no Norte da fronteira. No Alentejo, os Espanhóis sitiaram Évora (que capitulou, 22 de Maio) mas são derrotados na Batalha do Ameixial, perto de Estremoz (8 de Junho), numa histórica vitória para o êxito da Dinastia de Bragança. Na Beira
ocorre a 2 de Julho desse ano um combate decisivo para os interesses Portugueses, tendo a Praça de Almeida conseguido impor uma derrota aos sitiantes. A data é celebrada como Feriado Municipal
no concelho de Almeida.No monumento aos Restauradores, em Lisboa, o nome de Almeida figura devido a este feito. Second phase of the military campaign against Portugal, with Spanish armies
commanded by D. John of Austria, in the South, and the Duke of Osuna, in the North of the border. In the Alentejo, Evora (that capitulated on 22nd May) is besieged by the Spanish, who are in turn
defeated at the Battle of Ameixial near Estremoz (8th June), a historic victory for the success of the House of Bragança. In Beira occurs a decisive battle for the Portuguese interests on 2nd July, during
which the Fortress of Almeida managed to impose a defeat on the besiegers. The date is celebrated as a municipal holiday in the council of Almeida. The name of Almeida figures in the monument to
the Restauradores, due to this battle.
1664 – Batalha de Castelo Rodrigo com conquista para Portugal. Assalto Espanhol a Almeida, tendo sido repelidas as tropas do Duque de Ossuna. Tomada de Sobradillo pelos Portugueses.
of Castelo Rodrigo with a conquest for Portugal. Spanish raid to Almeida, which repelled the troops of the Duke of Osuna. Capture of Sobradillo by the Portuguese.
Battle
1665 (3 de Junho / 3rd June) – Decreto em que se refere a actividade construtiva de Antonio Piabla Dobles e de Pedro Gilles de Saint-Paul nos trabalhos de fortificação de Almeida.
referring to the constructive activity of Antonio Piabla Dobles and Pedro Gilles de Saint-Paul at the works of the fortification of Almeida.
Decree
1665 (17 de Junho / 17th June) - Batalha dos Montes Claros, última grande batalha pela Restauração, impondo um afastamento das pretensões de Filipe IV de Espanha à reunificação.
Montes Claros, final great battle for the Restoration, leaving behind claims of Filipe IV of Spain towards the reunification.
Battle of
1665 (17 de Setembro / 17th September) – Morte de Filipe IV de Espanha, ex-rei Filipe III de Portugal.
th
1666 (27 de Fevereiro / 27 February) – Morte de Dona Filipa de Gusmão.
Death of Filipe IV of Spain, former King Filipe III of Portugal.
Death of Dona Filipa de Gusmão.
st
1667 (31 de Março / 31 March) - Tratado de Aliança Ofensiva e Defensiva entre os reis de Portugal e de França contra Carlos II de Espanha.
the kings of Portugal and France against Carlos II of Spain.
Treaty of Offensive and Defensive Alliance between
1668 (5 de Janeiro / 5th January) – Fim da Guerra da Restauração com a assinatura do Tratado de Lisboa em nome dos reis D. Afonso VI (embora regesse D. Pedro II) de Portugal e D. Carlos II de
Espanha (sendo regente sua mãe, D. Maria Ana de Áustria, viúva de Filipe IV), devolvendo-se prisioneiros e conquistas (excepto Ceuta). End of the Portuguese Restoration War with the signing
of the Treaty of Lisbon on behalf of kings D. Afonso VI (although the regent was D. Pedro II) of Portugal and D. Carlos II of Spain (the regent being his mother, Maria Anna of Austria, widow of
Filipe IV), returning prisoners and conquests (except for Ceuta).
1669 (1 de Janeiro / 1st January) – Breve «Dilectum Filium» em que o Papa se compromete a resolver o diferendo com Portugal e reconhece a independência. A 2 de Abril, por novo Breve («Quioquid
Incolumi») a Santa Sé aceita finalmente um embaixador Português. «Dilectum Filium» Order, in which the Pope agrees to settle the dispute with Portugal and recognizes its independence. On
2nd April, a new Order («Quioquid Incolumi») the Holy See finally accepts a Portuguese ambassador.
1670 (8 de Janeiro / 8th January) – Bula do Papa Clemente XI, reconhecendo a Restauração da Monarquia Portuguesa.
Monarchy.
1680 – Fundação da Colónia de Sacramento.
Bull of Pope Clement XI, recognizing the Restoration of the Portuguese
Foundation of Colónia de Sacramento.
th
1681 (7 de Maio / 7 May) – Tratado provisório entre D. Pedro II de Portugal e D. Carlos II de Espanha, concedendo a Portugal a conservação da Colónia de Sacramento.
between D. Pedro II of Portugal and D. Carlos II of Spain, granting Portugal the conservation of the Colónia de Sacramento.
Provisional Treaty
1686 – O Sargento-mor Jerónimo Velho de Azevedo, discípulo de Luís Serrão Pimentel (autor do Tratado de Fortificação “Método Lusitânico”) foi autorizado a “pôr escola e ensinar em seis meses
do ano, três na Praça de Almeyda e outros três na de Penamacor”. Reformada em 1732, superintendendo Manuel de Azevedo Fortes, quando provavelmente era lente António Velho de Azevedo
(act. 1684-1745) a Aula ainda estava activa em 1791, nela dando aulas o Engenheiro António Bernardo da Costa (1753-1792). Chief Sargeant Jerónimo Velho de Azevedo, disciple of Luís Serrão
Pimentel (author of the Treatise on Fortification “Método Lusitânico”) was authorized “Create a school and teach, for six month of the year, three at the Place of Almeida and three at Penamacor’s”.
Reformed in 1732, under the influence of Manuel de Azevedo Fortes, when António Velho de Azevedo was the likely teacher (1684-1745), the Class would still be active in 1791, taught at the time
by Engineer António Bernardo da Costa (1753-1792).
1692 – A rainha D. Catarina de Bragança (1638-1705) regressa viúva de Carlos II de Inglaterra (1630-1685), após a morte do sucessor, o cunhado Jaime II. Viajando por terra, entrou em Portugal
Queen Catherine of
por Almeida, onde se demorou a descansar, tendo chegado a Lisboa em Janeiro de 1693. Durante a sua estada em Almeida beneficiou a Misericórdia com cem mil réis.
Braganza (1638-1705) returns widow of Charles II of England (1630-1685), after the death of the successor, her brother-in-law James II. Traveling by land, entered into Portugal by Almeida, where
he took a rest, having arrived in Lisbon in January 1693. During his stay in Almeida benefited the Misericórdia House with a gift of one hundred thousand réis.
1695 (23 de Agosto / 23rd August) – Pela meia-noite, dá-se a destruição de várias estruturas do castelo medieval, devido à acção de um raio numa tempestade de verão, com a queda da torre de menagem. A fortificação vai ser reparada e profundamente alterada, decorrendo o completamento da fortaleza abaluartada, expurgando as características antigas e refazendo no interior do fortim um
grande paiol de pólvora à prova de bomba. By min-night it occurs the destruction of several structures of the medieval castle, due to the action of lightning in a summer storm, with the fall of
the keep. The fortification will be repaired and deeply modified, along with the completion of the bulwarked fortress, purging the old features and redoing, at the interior of the fort, a large bomb
proof gunpowder magazine.
1700-10 – Guerra da Sucessão Espanhola.
War of the Spanish Succession.
1701 – Tratado de Aliança entre D. Pedro II e Luís XIV, reconhecendo Filipe V como rei de Espanha.
Treaty of Alliance between D. Pedro II and Louis XIV, recognizing Filipe V as King of Spain.
175
Almeida O Castelo de D. Dinis Filmar_Maquetación 1 28/01/14 07:16 Página 176
1703 (31 de Março / 31st March) – Tratado de Aliança Defensiva com o Sacro Império Germânico, a Inglaterra e a Holanda, com expressa denúncia da relação com os Franceses.
Defensive Alliance with the Germanic Holy Roman Empire, England and the Netherlands, with express termination of the relationship with the French.
Treaty of
1703 – Início da implicação de Portugal na Guerra de Sucessão de Espanha, com uma reviravolta das alianças, apoiando a pretensão do Arquiduque Carlos de Áustria ao trono de Espanha, o qual
desembarca em Lisboa com a corte a fim de conduzir um exército internacional (Portugueses, Ingleses e Holandeses) na invasão do território espanhol. Beginning of the involvement of Portugal
in the War of the Spanish Succession, with a reversal of alliances, supporting the claim of the Archduke Charles of Austria to the throne of Spain, who arrives in Lisbon with the court to conduct an
international army (Portuguese, English and Dutch) in the invasion of Spanish territory.
1703 (27 de Setembro / 27th September) – Tratado de Methuen entre Inglaterra e Portugal.
Methuen Treaty between England and Portugal.
1704 – Invasão hispano-francesa da Beira, tomando Salvaterra do Extremo, Segura, Penha Garcia, Monsanto, Idanha-a-Nova, Castelo Branco e Vila Velha de Ródão. Reconquista de Monsanto
Spanish-French invasion of Beira, capturing Salvaterra do Extremo, Segura, Penha Garcia, Monsanto, Idanha-a-Nova, Castelo
pelos Portugueses e tomada da vila espanhola de Fuenteginaldo.
Branco and Vila Velha de Ródão. Reconquering of Monsanto by the Portuguese and capture of the Spanish village of Fuenteginaldo.
1704 (27 de Setembro / 27th September) – Participando na Guerra da Sucessão Espanhola, Portugal invade o território de Espanha, com um exército liderado pelo Marquês de Minas, pondo cerco
a Ciudad Rodrigo, em apoio às pretensões de Carlos de Habsburgo, tendo depois retirado. Taking part in the War of Spanish Succession, Portugal invaded the territory of Spain with an army led
by the Marquis de Minas, laying siege to Ciudad Rodrigo, to support the claims of Charles of Habsburg, although later they withdrew.
1705 – Conquista de Valencia de Alcántara e de Albuquerque e reconquista das praças da Beira Baixa que haviam sido perdidas no ano anterior, sob comando do Marquês de Minas (Salvaterra do
Extremo, Segura, Zebreira, Castelo Branco e Monsanto). Conquest of Valencia de Alcántara and Albuquerque and reconquest of the fortresses of Beira which had been lost in the previous year,
under the command of the Marquis de Minas (Salvaterra do Extremo, Segura, Zebreira, Castelo Branco and Monsanto).
1706 – Ofensiva Portuguesa até Madrid sob comando do Marquês de Minas, com o objectivo de colocar Carlos de Áustria no trono espanhol, tomando Alcántara (14 de Abril), Ciudad Rodrigo,
Salamanca e outros lugares, incluindo a conquista de Madrid (28 de Junho) e fazendo aclamar Carlos III, da Casa dos Habsburgos. Em vista da ausência do pretendente (que saira de Portugal para
a Catalunha em 1705) e face aos apoios populares a Filipe V (retirado em Burgos), o exército regressa a Portugal. Portuguese offensive reaching Madrid under Marquis de Minas’ command, with
the objective of putting Carlos of Austria on the Spanish throne, taking Alcántara (14th April), Ciudad Rodrigo, Salamanca and elsewhere, including the conquest of Madrid (28th June) and forcing
the acclamation of Carlos III, of the House of Habsburg. In view of the absence of the contender (who had left Portugal to go to Catalonia in 1705) and due to popular support to Filipe V (retreating
in Burgos), the army returned to Portugal.
1706 (9 de Dezembro / 9th December) – Morte de D. Pedro II e início do reinado de D. João V.
Death of D. Pedro II and the beginning of the reign of D. João V.
1707 (25 de Abril / 25th April) – Batalha de Almansa em que as forças do Arquiduque Carlos (incluindo o contingente Português) sofrem pesada derrota.
of Archduke Carlos (including a Portuguese contingent) suffers a heavy defeat.
1707 (26 de Maio / 26th May) – Capitulação de Serpa, pelas forças do Duque de Osuna.
1707 – Reconquista de Alcántara e Ciudad Rodrigo pelos Espanhóis.
Battle of Almansa, in which the force
Rendition of Serpa, by the force of the Duke of Osuna.
Recapture of Alcántara and Ciudad Rodrigo by the Spanish.
th
1708 (9 de Julho / 9 July) – Casamento em Viena, por procuração, de D. João V com Dona Maria Ana de Áustria.
Austria.
Wedding in Vienna, by proxy, between D. João V with Dona Maria Anna of
1709 (7 de Maio / 7th May) – Batalha do Caia perto de Badajoz, verificando-se expressiva derrota das tropas Portuguesas.
troops.
Battle of Caia, near Badajoz, with an expressive defeat for the Portuguese
1710 – Combates e escaramuças toda em a raia da Beira. Em Vila Viçosa as tropas de Filipe V derrotam o exército apoiante do arquiduque Carlos.
frontier border. In Vila Viçosa, troops of Filipe V defeat the army supporting Archduke Carlos.
1711 (15 de Março / 15th March) – É recuperada a praça de Miranda do Douro, a qual havia sido ocupada pelos Espanhóis.
cupied by the Spanish.
Battles and skirmishes across the entire dry
Recovery of the fortress of Miranda do Douro, which had been oc-
1711 – Cercos a praças fronteiriças do Alentejo pelos Espanhóis sob comando do Marquês de Bay: Elvas em Junho e Campo Maior em Setembro-Outubro, não tendo ambas sido capturadas.
Sieges to frontier fortifications at the Alentejo border by the Spanish under the command of the Marquis de Bay: Elvas in June and Campo Maior in September-October, having both been captured.
1712 (27 de Novembro / 27th November) – Paz de Utreque, com o armistício entre D. João V e Luís XIV de França e Filipe V de Espanha.
V and Louis XIV of France and Filipe V of Spain.
Peace of Utrecht, with the armistice between D. João
1713 (11 de Abril / 11th April) – Devolução mútua das praças tomadas por ambos os contendentes (Luís XIV e D. João V), de acordo com a Paz de Utrecht.
by both contenders (Louis XIV and D. João V), according to the Peace of Utrecht.
Mutual return of captured fortress
1715 (8 de Fevereiro / 8th February) – Conclusão do processo de paz de Utreque, com a assinatura de um Tratado de Paz entre Portugal e Espanha, garantido por Jorge III de Inglaterra, reconhecendo
Conclusion of the Peace Process of Utrecht, with the signing of a peace treaty
a legitimidade de Filipe V, tendo Portugal assegurado o retorno da Colónia de Sacramento, na bacia do Prata.
between Portugal and Spain, backed by George III of England, recognizing the legitimacy of Filipe V and Portugal securing the return of Colónia de Sacramento, at the River Plate basin.
1717 (19 de Julho / 19th July) – Derrota dos Turcos na batalha naval de Matapan, na qual Portugal participa com significativa importância.
which Portugal participates with significant importance.
1719 – Nomeação de Manuel Azevedo Fortes (1660-1749) para o cargo de Engenheiro-mor do Reino.
the Kingdom.
Defeat of the Turks in the naval battle of Matapan, in
Appointment of Manuel Azevedo Fortes (1660-1749) for the position of Chief Engineer of
1722 – Publicação do “Tratado Sobre o Modo mais Fácil e mais Correcto de Fazer as Cartas Geográficas”, de Manuel de Azevedo Fortes.
mais Correcto de Fazer as Cartas Geográficas” by Manuel de Azevedo Fortes.
Publication of the “Tratado Sobre o Modo mais Fácil e
1728-29 – Publicação do Tratado “O Engenheiro Português”, em dois tomos, por Manuel de Azevedo Fortes, lente da Aula de Fortificação e Engenheiro-mor do reino.
“O Engenheiro Português”, in two volumes, by Manuel de Azevedo Fortes, teacher at the Fortification Class and Chief Engineer of the Kingdom.
176
Publication of the Treatise
Almeida O Castelo de D. Dinis Filmar_Maquetación 1 28/01/14 07:16 Página 177
1729 (19 de Janeiro / 19th January) – Casamentos de Dona Maria Bárbara, filha de D. João V, com o futuro rei de Espanha, Fernando VI e do príncipe D. José, futuro rei de Portugal, com Dona
Mariana Vitória, filha de Filipe V de Espanha.
Weddings of Dona Maria Bárbara, daughter of D. João V, with the future King of Spain, Fernando VI and of prince D. José, future King of Portugal,
with Dona Mariana Vitória, daughter of Filipe V of Spain.
1732 – Foi decretada a instituição de uma Academia Militar em Almeida.
Decreed the establishment of a Military Academy in Almeida.
1736 – Data da mais antiga planta conhecida da Fortaleza moderna de Almeida, incluindo a indicação de projectos para obras em falta, de autoria do Engenheiro-mor do reino, Manuel de Azevedo
Fortes (1660-1749).
Date of oldest known plant of modern fortress of Almeida, including an indication of projects for missing works, authored by the chief engineer of the kingdom, Manuel de
Azevedo Fortes (1660-1749).
1739 – Publicação de “Descripçam Corografica do Reyno de Portugal…”, de António de Oliveira Freire.
Freire.
Publication of “Descripçam Corografica do Reyno de Portugal…”, by António de Oliveira
1750 (13 de Janeiro / 13th January) – Tratado de Madrid ou dos Limites, sobre a configuração da fronteira post-Tordesilhas, reestruturando a configuração geográfica dos territórios Portugueses e
Espanhóis, especificamente na América do Sul. Alexandre de Gusmão é o principal de Portugal, transmitindo uma ideia de soberania brasileira em formação. A Colónia de Sacramento é cedida a
Espanha. Na prática, o Marquês de Pombal sustém a aplicação do acordo. Treaty of Madrid or of the Limits on the setting of the post-Tordesillas border, restructuring the geographical configuration
of the Portuguese and Spanish territories, specifically in South America. Alexandre de Gusmão is the main figure for Portugal, conveying an idea of Brazilian sovereignty still in the making. The
Colónia de Sacramento is ceded to Spain. In practice, Marquis of Pombal sustains the implementation of the agreement.
1750 (31 de Julho / 31st July) – Morte de D. João V e ascensão de D. José ao trono.
st
1755 (1 de Novembro / 1 November) – Terramoto e maremoto de Lisboa.
Death of D. João V and rising to the throne of D. José.
Lisbon earthquake and tsunami.
1759 – Já se encontra em Almeida o Engenheiro Miguel Luís Jacob (c. 1710-1771), figura técnica de grande mérito para a Praça-forte de Almeida, até à sua morte. Em 1762 foi nomeado Sargentomor. Engineer Miguel Luís Jacob (c. 1710-1771) is already at Almeida, a technical figure of great merit for the stronghold of Almeida, continuing there until his death.
1761 (12 de Fevereiro / 12th February) – Tratado do Pardo, anulando o Tratado de Madrid de 1750, firmado entre D. José e Carlos III de Espanha.
in 1750, signed by D. Jose and Carlos III of Spain.
Treaty of Pardo, negating the Treaty of Madrid
1761 (5 de Agosto / 5th August) – “Pacto de Família”, entre os reis da França, da Espanha e o duque de Parma, o terceiro que vigorou ao longo do século XVIII e que unia os Bourbons, a cuja Casa
pertenciam desde 1700 os soberanos de Espanha (desde que Filipe V, neto de Luís XIV de França, ascendera ao trono contra a Casa de Áustria). As consequências do tratado conduziram a uma
política belicista contra Inglaterra, conduzida por França na chamada Guerra dos Sete Anos, tentando ganhar vantagens marítimas e comerciais, vendo-se Portugal envolvido por arrastamento
devido à Aliança com os Ingleses. A posição espanhola viu-se derrotada, ocasionando consideráveis perdas ao final, em 1763, destacando-se a entrega da Florida a Inglaterra (espoletando a Crise
da Independência dos Estados Unidos da América), e a Colónia do Sacramento a Portugal. “Pacte de Familie”, between the French and the Spanish kings and the Duke of Parma, the third that
was in force throughout the 18th century and that United the Bourbons, to whose the monarchs of Spain belonged since 1700 (since Filipe V, grandson of Louis XIV of France, rose to the throne
against the Hapsburgs). The consequences of the treaty led to a war policy against England, led by France’s during the so-called Seven Years War, trying to gain maritime and commercial advantages
and where Portugal eventually becoming involved by entrainment, due to the Alliance with the British. The Spanish position was defeated, causing considerable losses in the end in 1763, emphasizing
the delivery of Florida to England (triggering the crisis of the Independence of the United States of America), and the Colónia do Sacramento to Portugal.
1761-63 – Espressão Luso-espanhola da Guerra Mundial dos Sete Anos, com a designação de «Guerra do Mirandum» ou «Guerra Fantástica», desenvolvendo-se em Portugal e na América do Sul,
cujo desfecho é uma vitória estratégica de Portugal, traduzida no Tratado de Paris.
Luso-Spanish expression of the World War of Seven Years, with the name “War of Mirandum” or “Fantastic
War”, which took place in Portugal and the South America, ending with a strategic victory of Portugal that was transformed into the Treaty of Paris.
1762 – Notificações e ultimatos de Espanha e de França (16 de Março, 1 de Abril e 23 de Abril), coroados pelo abandono concertado dos embaixadores a 27 de Abril, e assim desencadeando a fase
de guerra.
Notifications and ultimatums of Spain and France (16th March, 1st April and 23rd April), crowned by the concerted abandonment of ambassadors on 27th April, and thus triggering
the war.
1762 – Início da participação de Portugal (aliado de Inglaterra) na Guerra dos Sete Anos (1756/1763), com declaração formal de guerra por parte de Espanha em 15 de Julho, sendo incendiados
S. Pedro de Rio Seco, Vale da Mula, Vale de Coelha e Malpartida, e saqueadas Nave de Haver, Junça e Naves, todos nas proximidades de Almeida. Invasão espanhola da Beira, conquistando Castelo
Rodrigo, Almeida e Castelo Bom (tomadas em 25 de Agosto pelo Conde Alexander O’Reilly, Escocês, Coronel de Áustria e Marechal de Espanha, 1º Governador da Luisiana Espanhola) e Vila Velha
de Ródão. Conquista Portuguesa de Valencia de Alcántara. Conquista Espanhola de Castelo Branco. Beginning of the participation of Portugal (ally of England) in the Seven Years War (1756/1763),
with a formal declaration of war by Spain on 15th July, torching S. Pedro de Rio Seco, Vale da Mula, Vale de Coelha, and Malpartida and looting Nave de Haver, Junça and Naves, all near Almeida.
Spanish invasion of Beira, conquering Castelo Rodrigo, Almeida and Castelo Bom (taken on 25th August by Count Alexander O’Reilly, Scottish Colonel of Austria and Marshal of Spain, 1st Governor
of Spanish Louisiana) and Vila Velha de Ródão. Portuguese conquest of Valencia de Alcántara. Spanish conquest of Castelo Branco.
1762 (5 de Maio / 5th May) – As tropas do Marquês de Sarriá invadem a fronteira Nordeste, cercando Miranda do Douro. A 8 desse mês, o bombardeamento da praça provoca uma enorme explosão
do paiol, contando-se 400 mortos, e levando à capitulação.
The troops of the Marquis of Sarria invade the Northeast border, surrounding Miranda do Douro. On the 8th of that month, the
bombing of the fortress causes a huge explosion of the magazine, with the total count of 400 dead, and subsequent capitulation.
1762 (6 de Maio / 6th May) – Desembarcam em Lisboa forças auxiliares britânicas, sob o comando do general George Townshend.
command of General George Townshend.
1762 (Maio / May) – Rendição sucessiva de cidades (Vimioso, Bragança a 16, Chaves a 21).
British auxiliary troops disembark in Lisbon, under the
Successive rendition of cities (Vimioso, Bragança on 16th and Chaves on 2st).
1762 (3 de Julho / 3rd July) – Chega a Lisboa, por indicação Inglesa, Friedrich Wilhelm Ernst zu Schaumburg-Lippe, o conde de Lippe, com o objectivo de comandar o exército luso-britânico, sendo
para isso nomeado marechal-general a 10 desse mês. According to an English order, Friedrich Wilhelm Ernst zu Schaumburg-Lippe, Count Lippe, arrives in Lisbon, with the objective of leading
the Portuguese-British Empire, being appointed General Marshal on the 10th.
1762 (25 de Agosto / 25th August) – Depois da capitulação de Castelo Rodrigo e de um cerco de 10 dias, Almeida é ocupada pelas tropas de Carlos III de Espanha e Luís XV de França, no âmbito
da denominada “Guerra Fantástica”, sob comando do Marquês de Sarriá. After the capitulation of Castelo Rodrigo and following a 10-day siege, Almeida is occupied by troops of Carlos III of
Spain and Louis XV of France, under the so-called “Fantastic War”, under the command of Marquis of Sarria.
1762 (Outubro / October) – Pedro de Cevallos, depois de pôr sítio à cidade, toma Colónia de Sacramento, na margem esquerda do estuário do rio da Prata.
to the city, takes Colónia de Sacramento, on the left bank of the estuary of the River Plate.
Pedro de Cevallos, after laying a siege
177
Almeida O Castelo de D. Dinis Filmar_Maquetación 1 28/01/14 07:16 Página 178
1762 (1 de Dezembro / 1st December) - Assinado um armistício entre os exércitos Luso-britânico e Franco-espanhol comandados, respectivamente, pelo Conde de Lippe e pelo general Pedro Pablo
Abarca de Bolea, Conde de Aranda. Signature of an armistice between the Portuguese-British and French-Spanish armies commanded respectively by Count Lippe and General Pedro Pablo
Abarca de Bolea, Count of Aranda.
1763 (25 de Fevereiro / 25th February) – O Tratado de Paz celebrado em Paris a 10 desse mês, é ratificado por D. José, com a devolução de Chaves, Almeida e Colónia de Sacramento e das restantes
praças tomadas na guerra.
The Peace Treaty celebrated in Paris on the 10th of that month is ratified by D. José, with the return of Chaves, Almeida, and Colónio de Sacramento and remaining
fortress captured during the war.
1763 – Já depois de extintas as Casas dos Jesuítas, contam-se ainda 538 mosteiros e conventos em Portugal (407 masculinos e 131 femininos).
there still are 538 monasteries and convents (407 for males and 131 for females).
Even after the Houses of the Jesuits had been extinct,
1763 – Devolução das praças tomadas durante a campanha da Guerra dos Sete Anos, de acordo com o Tratado de Paris, subscrito a 10 de Fevereiro de 1763 pela Inglaterra, França, Portugal e Espanha.
Return of the fortress taken during the campaign of the Seven Years War, according to the Treaty of Paris, signed on 10th February, 1763 by England, France, Portugal and Spain.
1764 (Julho / July) – Após a retirada dos Espanhóis, inicia-se em Almeida um esforço de restauro e adaptação das condições da fortificação de Almeida. Miguel Luís Jacob realiza, sob as ordens do
marechal-de-campo Francisco MacLean e tendo como ajudantes Francisco João Roscio (c. 1737-1805) e Francisco Gomes de Lima (c. 1730-post. 1791), tal como Jacob saídos da Academia de Fortificação de Lisboa, o levantamento de Almeida, com vista aos trabalhos necessários após o Cerco e a ocupação espanhola durante a Guerra dos 7 Anos. Entre 1764 e 1768 produz uma notável
colecção de desenhos de engenharia, muitos dos quais coadjuvado por Anastácio António de Sousa e Miranda (1746-1825), que o substituiu como principal engenheiro da praça depois da sua
morte em 1771, com a patente de Major-engenheiro. Parece existir elevado grau de probabilidade de que terá sido lente da Aula de Almeida, para a qual terá elaborado um “Tratado de Fortificação
Regular e Irregular”. Os desenhos mais representativos referem-se a importantes obras de adaptação, como a Vedoria (adaptada a Casa dos Governadores), Hospital Militar, Quartel do Regimento
de Penamacor (adaptação do antigo Hospital Real), Quartel de Cavalaria de Santa Bárbara, Quartel de Artilharia do Baluarte de Santo António, Fábrica do Pão de Munição, etc.. Deverão datar dessa
época (e da acção do Engenheiro Jacob) as atafonas cujas ruínas se distinguem do lado Poente do castelo, com uma plataforma de implantação que invadiu a geometria do fosso, adaptando a parede
da contra-escarpa.
After the Spanish retreated, efforts for the restoration and adaptation of the conditions of the fortification of Almeida are started. Miguel Luís Jacob conducts, following orders
by Camp Marshal Francisco MacLean and being aided by Francisco João Roscio (c. 1737-1805) and Francisco Gomes de Lima (c. 1730-post. 1791), who, like Jacob had studied in Lisbon’s Fortification
Academy, the survey of Almeida, as to determine the works necessary after the Siege and Spanish occupation during the Seven Years War. Between 1764 and 1768 he produced a remarkable collection
of engineering drawings, many of which are assisted by Anastacio António de Sousa and Miranda (1746-1825), who replaced him as chief engineer of the fortress after his death in 1771, with the
rank of Major engineer. It seems that it is very likely that he was the teacher of the Class in Almeida, for which he created a “Tratado de Fortificação Regular e Irregular”. The most representative
drawings refer to important adaptation works, such as the Factory (which became the Governor’s House), Cavalry Barracks of Santa Bárbara, Artillery Barracks at the Bulwark of St. António, Bread
Factory, etc. Probably from that time (and from Jacob’s influence) are the mills whose ruins may be observed at the west side of the castle, with a deployment platform that invaded the geometry of
the ditch, adapting the wall of the counterscarp.
1766 – “Plano Geral das Obras Adicionais Necessárias à Defesa da Cidade de Almeida”, pelo Coronel de Engenharia Jacques Funck.
of the City of Almeida”, by Colonel Engineer Jacques Funck.
1768 – A população Portuguesa é calculada em 2400000 habitantes.
“General Plan of Additional Works Needed to the Defense
The Portuguese population is estimated to be 2,400,000 residents.
1769 (Março / March) – A fronteira de Portugal deixa definitivamente de passar por Marrocos, com o abandono da última praça conservada no Norte de África, Mazagão. A população da cidade
dirige-se para a Amazónia e funda Nova Mazagão. Em Setembro celebra-se um Tratado de Paz Luso-marroquino. The border of Portugal definitely stops including Morocco, with the abandonment
of the last place conserved in North Africa, Mazagan (El Jadida). The city’s population goes to the Amazon and founded New Mazagan. On September a Portuguese-Moroccan peace treaty is celebrated.
1770 – Pinhel é elevada a cidade.
Pinhel becomes a town.
1771 – Castelo Branco é elevada a cidade.
Castelo Branco becomes a town.
1774 (11 de Janeiro / 11th January) – Tratado de Amizade entre D. José e o sultão de Marrocos, com troca de embaixadores.
an exchange of ambassadors.
Friendship Treaty between D. José and the sultan of Morocco, with
1774 (23 de Julho / 23rd July) (19 de Outubro / 18th October) – Grandes obras de reforço da Praça-forte de Almeida ordenadas pelo Marquês de Pombal, chegando a trabalhar diariamente mais
de 500 operários contratados (atingindo o número de 869 na 53ª semana).
Great works of strengthening the Stronghold of Almeida ordered by the Marquis of Pombal, coming to work every day
more than 500 contracted workers (reaching number 869 in the 53th week).
1776 – Na eminência de conflito armado com Espanha são ordenadas mais obras de reforço em Almeida, nelas chegando a trabalhar 600 operários em Março deste ano.
conflict with Spain more works ordered to strengthen Almeida, raising the number of 600 workers in March this year.
1776 – Calcula-se que a população do Brasil seja de cerca de 1900000 habitantes.
1777 – Pedro de Cevallos toma a Ilha de Santa Catarina, no Sul do Brasil.
On the brink of armed
The Brazilian population is estimated to be of 1,900,000 residents.
Pedro de Cevallos captures the Island of Santa Catarina, at the south of Brazil.
th
1777 (24 de Fevereiro / 24 February) – Morte de D. José e subida ao trono de Dona Maria. A 4 de Março é deferida a demissão do Marquês de Pombal e, a 7, concede o perdão aos Marqueses de
Death of D. Joseph and accession to the throne of Dona Maria. On 4th March the dismissal of the Marquis of Pombal is granted and, on the 7th, a pardon is given to the
Távora e de Alorna.
Marquises of Tavora and Alorna.
1777 (20 de Maio / 20th May) – Colónia de Sacramento entrega-se sem luta às forças Espanholas de Pedro de Cevallos.
of Pedro de Cevallos.
Colónia de Sacramento surrenders, without a fight, to the Spanish forces
1777 (1 de Outubro / 1st October) – Tratado de Santo Ildefonso, de paz e de limites, com devolução de Santa Catarina a Portugal por troca definitiva com Colónia de Sacramento e a estabilização
das fronteiras do Brasil. Treaty of San Ildefonso, of peace and limits, with the return of Santa Catarina to Portugal Cologne with the permanent exchange of Colónia de Sacramento and the stabilization of the frontiers of Brazil.
1778 (Janeiro / January) – Criação da Academia Real da Fortificação, Artilharia e Desenho.
178
Creation of the Royal Academy of Fortification, Artillery and Drawing.
Almeida O Castelo de D. Dinis Filmar_Maquetación 1 28/01/14 07:16 Página 179
1778 (11 de Março / 11th March) – Tratado do Pardo, de aliança, neutralidade e comércio entre D. Maria I e Carlos III de Espanha, pondo termo à guerra no hemisfério Sul, tendo Portugal cedido
as Ilhas de Fernão Pó e de Ano Bom. Treaty of Pardo, of alliance, neutrality and trade between D. Maria I and Carlos III of Spain, ending the war in the South, according to which Portugal ceded
the islands of Fernão Pó and Ano Bom.
1785 – Casamento dos infantes ibéricos, casando o futuro D. João VI com Dona Carlota Joaquina e de Dona Mariana Vitória com o infante de Espanha, D. Gabriel de Bourbon.
the Iberian princes, uniting the future King D. João VI with Dona Carlota Joaquina and Dona Mariana Vitória with the prince of Spain, D. Gabriel de Bourbon.
Marriage between
1789-1799 – Revolução francesa. A 14 de Julho, com a tomada da Bastilha, a monarquia absolutista de França entra em colapso. Os ideais revolucionários vão-se apoderando das transformações de
mentalidades e de sistemas de governo na Europa. A ascensão de Napoleão Bonaparte a Imperador de França e a sua ambição conduzem, porém, a uma situação geral de beligerância na maior parte
do continente europeu. French revolution. On 14th July, with the storming of the Bastille, the absolute monarchy of France collapses. Revolutionary ideals will be taking over the changes in
attitudes and government systems in Europe. The rise of Napoleon Bonaparte as the Emperor of France and his ambition leads, however, to a general situation of belligerency in most of the European
continent.
1793 (15 de Julho / 15th July) – Tratado de Auxílio Mútuo e de Convenção Militar Luso-espanhola. Em Setembro seguem contingentes do exército Português para as Campanhas do Rossilhão, na
fronteira da Catalunha.
Treaty of Mutual Assistance and Portuguese-Spanish Convention. In September, there are contingents of the Portuguese army for the Roussillon campaigns in the border
of Catalonia.
1793 (26 de Setembro / 26th September) – Tratado entre D. Maria I e o rei de Inglaterra sobre Mútuo Auxílio contra a França.
Mutual Assistance against France.
1793 (Dezembro / December) – Desembarcam tropas Inglesas em Lisboa.
Treaty between D. Maria I and the King of England regarding
English troops disembark in Lisbon.
1794 (Abril / April) – Derrota e desorganização dos exércitos dos exércitos Luso-espanhóis, comandados pelo conde La Union, no desfecho da guerra da fronteira catalã, verificando-se ainda um
aguerrido combate em Palau contra os Franceses, em 13 de Agosto. Nas negociações da paz Portugal é excluído de participar no Tratado de Basileia, assinado em Junho de 1795.
Disorganization
and defeat of the Portuguese-Spanish armies, commanded by Count La Union, at the outcome of the war at the Catalan border, with another valiant fight against the French in Palau, on 13th August.
During the peace negotiations, Portugal is excluded from participating in the Basel Treaty, signed in June 1795.
1797 – Nas vésperas das Invasões Napoleónicas, o Governador da Praça-forte de Almeida considerava que a guarnição militar de Almeida deveria somar 3600 homens (600 por baluarte) mais uma
Companhia de Artilheiros e um esquadrão de Cavalaria. Estavam montadas 109 peças de artilharia, sendo 90 de bronze e 19 de ferro.
On the eve of the Napoleonic Invasions, the Governor of
the Fortress of Almeida considered that the military garrison should add 3600 men (600 per bulwark) another Company of Artillery soldiers and a Squadron of cavalry. There were mounted 109
artillery pieces, 90 bronze and 19 iron.
1797 (Junho / June) – Chega a Lisboa um exército Inglês de 6000 homens.
An English army of 6000 men arrives at Lisbon.
1801 – A força militar estacionada em Almeida era de 3000 homens, sendo 1599 soldados de Infantaria, 448 de Cavalaria e 100 de Artilharia, sendo os restantes ajudantes.
tioned in Almeida was 3000 men, with 1599 soldiers of Infantry, 448 Cavalry and 100 Artillery, the remaining helpers.
The military force sta-
1801 – Guerra das Laranjas, primeiro episódio das Guerras Peninsulares, sob orientação de Napoleão Bonaparte, com invasão do Alentejo pelo exército Espanhol sob comando de Manuel Godoy.
Perda de Olivença.
War of the Oranges, first episode of the Peninsular Wars, under the guidance of Napoleon Bonaparte, with invasion of the Alentejo by the Spanish army commanded by
Manuel Godoy. Loss of Olivenza.
1801 – A estimativa da população em Portugal é de cerca de 3000000 habitantes.
The Portuguese population is estimated to be of 3,000,000 residents.
1806 (21 de Novembro / 21st November) – Napoleão Bonaparte decreta o Bloqueio Continental em Berlim, o que implicava o encerramento dos portos Portugueses à navegação Britânica e o
confisco dos bens dos súbditos Ingleses em Portugal. Entretanto, chega a Portugal uma esquadra Inglesa para acertar o apoio político-militar contra a França.
Napoleon Bonaparte decrees the
Continental Blockade in Berlin, which entailed the closure of the Portuguese ports to British ships and confiscation of property of British nationals in Portugal. However, an English squad reaches
Portugal to confirm the political and military support against France.
1807 (Julho / July) – Napoleão ordena o encerramento dos portos Portugueses a Inglaterra. O Acordo de Tilsit, firmado com o czar Alexandre I da Rússia, nesse mesmo mês, garantia a Napoleão
o fechamento do extremo leste da Europa às preocupações da sua política expansionista.
Napoleon orders the closure of Portuguese ports to England. The agreement of Tilsit, signed with Tsar
Alexander I of Russia on that same month guaranteed Napoleon of the closing of the eastern end of Europe against the concerns of his expansionist policy.
1807 (11 de Outubro / 11th October) – Ordem de invasão de Portugal, dada a Junot.
Order to invade Portugal, given to Junot.
1807 (27 de Outubro / 27th October) – Tratado de Fontainebleau entre a França e a Espanha, estabelecendo a repartição do território Português em três partes: uma para o rei da Etrúria, outra para
Treaty of Fontainebleau between France and Spain, establishing the division of the Portuguese territory into three parts: one for the king of Etruria,
Espanha e outra ainda sob tutela de Napoleão.
one for Spain and one still under tutelage of Napoleon.
1807 – Primeira Invasão de Portugal pelo exército napoleónico, sob o comando de Junot. As tropas atravessam os campos da Beira Baixa, tomando Castelo Branco na sua marcha para Lisboa.
First invasion of Portugal by the Napoleonic army, under Junot’s command. The troops go through the fields of Beira Baixa, taking Castelo Branco in their march towards Lisbon.
1807 (29 de Novembro / 29th November) – Partida da família real e da corte para o Brasil, antecipando in extremis a sua captura e dos meios navais de Portugal, como era ordem expressa de Bonaparte. Departure of the royal family and court to Brazil, anticipating in extremis their arrest and the arrest of naval resources in Portugal, as this was the express command of Bonaparte.
1808 – Depois do aliciamento feito pelo governador Junot, juntando três legiões que seguem para França para se juntarem às hostes napoleónicas, para uma luta contra o absolutismo monárquico
de alguns países, a 26 de Abril Bonaparte recebe em Bayonne uma «Deputação Portuguesa com representantes da Regência, da Universidade e da Inquisição, constituindo uma prova de fidelidade
ao Imperador dos Franceses, a que se segue, em 23 de Maio, uma «Súplica» de Constituição para Portugal, como «nação confederada». Porém, Junho e Julho são meses de grande instabilidade, com
as massas populares a amotinarem-se contra o poder invasor Francês. After the enticement made by governor Junot, who gathered three legions that travel to France to join the Napoleonic
armies, to a fight against monarchical absolutism of some countries. On 26th April, Bonaparte receives in Bayonne a “Portuguese Deputation with representatives of the Regency, University and the
Inquisition”, constituting a test of loyalty to the Emperor of the French, which is followed, on 23rd May, by a “Supplication” of Constitution for Portugal, as a “Confederate nation”. However, June and
July are months of great instability, with the population rioting against the French invading power.
1808 (1-5 de Agosto / 1st-5th August) – Desembarcam em Lavos (Figueira da Foz) 13500 soldados Ingleses sob comando do General Arthur Wellesley.
Lavos (Figueira da Foz) under the command of General Arthur Wellesley.
13,500 English soldiers disembark on
179
Almeida O Castelo de D. Dinis Filmar_Maquetación 1 28/01/14 07:16 Página 180
1808 (17-21 de Agosto / 17th-21st August) – Batalhas da Roliça e do Vimeiro, entre o exército Francês e as forças Inglesas e Portuguesas, respectivamente sob comando de Wellesley e do general
Freire de Andrade, obrigando Junot a pôr fim à chamada Primeira Invasão. Battles of Roliça and Vimeiro, between the French army and the English and Portuguese forces, under the respective
command of Wellesly and General Freire de Andrade, forcing Junot to end the First Invasion.
1809 (Março-Maio / March-May) – Segunda Invasão Francesa, sob o comando de Soult, invadindo pelo Norte (Alto Douro e Trás-os-Montes) e atingindo o Porto. Sob pressão do exército Angloluso os Franceses retiram, averbando pesada derrota já em território Espanhol, na batalha de Talavera. Na América do Sul Portugal ocupa a Guiana Francesa, retendo o território até ao Congresso
de Viena (1815). Second French Invasion, under the command of Soult, invading the North (Alto Douro and Trás-os-Montes) and reaching Porto. Under pressure from the Anglo-Portuguese
army, the French withdraw, counting already with heavy defeats in the Spanish territory, in the battle of Talavera. In South America, Portugal occupies French Guiana, retaining the territory until
the Congress of Vienna (1815).
1810 – Assinatura de Tratados de Comércio, Amizade e de Aliança e Navegação, assegurando aos Britânicos condições preferenciais ruinosas para o progresso nacional.
of Commerce, Friendship and Alliance, Navigation, assuring the British preferential terms, ruinous to national progress.
Signature of the Treaties
1810 (Junho / June) – Terceira Invasão francesa, sob o comando de Massena, tomando o caminho da Beira Alta, em direcção a Celorico da Beira e tomando Almeida. Batalha do Côa, 24 de Julho
de 1810, preâmbulo do cerco à Praça-forte de Almeida, com as tropas francesas, comandadas pelo Marechal Ney, e as anglo-lusas, orientadas pelo Brigadeiro-general Robert Crawford. Third
French invasion, under the command of Massena, taking the path of Beira Alta, towards Celorico da Beira and taking Almeida. Battle of the Coa, 24th July, 1810, a preamble to the siege of the Place
of Almeida, with the French troops, commanded by Marshal Ney, and Anglo-Portuguese, guided by Brigadier General Robert Crawford.
1810 (26, 27 28 de Agosto / 26th, 27th and 28th Ausgut) – Fim do cerco e capitulação da Praça-forte de Almeida. Ao fim da tarde desse primeiro dia, o grande paiol no interior do fortim explodiu
com extraordinária violência e causando enorme desastre, com o sacrifício da cidade. A rendição é assinada a 27 de Agosto por André Massena e William Cox, Governador da Praça-foorte de
Almeida, entrando as tropas francesas a 28 de Agosto. End of the siege and capitulation of the fortress of Almeida. By the evening of that first day, the great storehouse of gunpowder inside the
fort blew with extraordinary violence and causing huge disaster, with the sacrifice of the city. Surrender is signed on the 27th of August by Andre Massena and William Cox, Governor of the Stronghold
of Almeida, entering the French troops on the 28th of August.
1810 (27 de Setembro / 27th September) – Batalha do Buçaco, com pesada derrota dos Franceses.
Battle of Buçaco with heavy defeat of the French.
1810-11 (Outubro-Março / October-March) – o exército de Massena é incapaz de transpor o sistema defensivo das fortificações das «Linhas de Torres», retirando sem atingir a capital.
army is unable to pass the system of defensive fortifications of “Lines of Torres”, retreating without reaching the capital.
1811 – Retirada dos Franceses, retomando o caminho de Celorico e da Beira, averbando pesada derrota na sua passagem pelo Sabugal.
with a heavy defeat during their passage through Sabugal.
Massena’s
French retreat, once again through Celorico da Beira,
1811 (3 a 5 de Maio / 3rd to 5th May) – Batalha de Fuentes de Oñoro, nas imediações de Vilar Formoso com derrota dos exércitos de Massena (48500 homens) pelas forças luso-britânicas (37000
tropas reforçadas por 500 guerrilheiros espanhóis), sob o comando de Arthur Wellesley.
Battle of Fuentes de Onoro, near Vilar Formoso to defeat the armies of Massena (48,500 men) by the Portuguese-British forces (37,000 troops reinforced by 500 Spanish guerrillas), under the command of Arthur Wellesley.
1811 (11 de Maio / 11th May) – A guarnição francesa abandona a praça de Almeida durante a madrugada, conseguindo passar a linha de cerco organizada pelas forças luso-britânicas, escapando
The French garrison abandons the place of Almeida overnight, getting through the line of siege
para Espanha. Destruição do Fuerte de la Concepción pelo general inglês Robert Crawford.
organized by the British-Portuguese forces, fleeing to Spain. Destruction of the Fuerte de la Concepción by British general Robert Crawford.
1812 (19 de Janeiro / 19th January) – O Tenente John Beresford, sobrinho do Comandante Marechal William Beresford, é retirado em perigo de vida depois de ferido no ataque de Wellington para
a tomada de Ciudad Rodrigo. Apesar de incentivado a lutar pela vida com o brado constante de “Alma até Almeida” (onde seria socorrido) acabou por falecer, estando sepultado na Praça Alta do
No assalto morreu também o Major-General Robert Craufurd, que já se distinguira na Batalha do Côa em Julho do ano anterior. Lieutenant John Beresford, nephew
Baluarte de Santa Bárbara.
of Commander Marshal William Beresford, is removed in danger of life after being injured in the attack by Wellington for capture of Ciudad Rodrigo. Although encouraged to fight for life with the
constant cry of “Soul until Almeida” (where he could be helped) he passed away and is buried in the Upper Square of Santa Barbara bulwark. Also died in the assault Major-General Robert Craufurd,
who has distinguished himself in the Battle of Coa in July last year.
1812 – Iniciam-se trabalhos de restauro da fortaleza de Almeida.
1815 – Criação do Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves.
Restoration works are begun in the fortress of Almeida.
Creation of the United Kingdom of Portugal, Brazil and the Algarve.
1816 (20 de Março / 20th March) – Morte de D. Maria e ascensão de D. João VI, o qual era o regente desde 1799, já depois de a mãe ter enviuvado e ter ficado demente, em 1792.
Maria and rise of D. João VI, who had been the regent since 1799, already after his mother had been widowed and gone insane in 1792.
1819 – O Governador João Telles de Menezes e Mello ordenou o aterro das ruínas do antigo castelo/fortim, construindo-se uma plataforma para esplanada de jardim.
Menezes and Mello ordered the landfill of the ruins of the old castle / fort, constructing a platform for a terrace garden.
Death of D.
Governor João Telles de
1821 (4 de Julho / 4th July) – Regresso da família real do Brasil acompanhada de um séquito de cerca de 4000 servidores. Depois do desembarque o rei jurou, na Sala das Cortes das Necessidades,
as bases da Constituição, tornando-se assim Portugal uma Monarquia Constitucional. Return of the royal family from Brazil accompanied by an entourage of about 4000 servers. After landing,
the king swore in the Sala das Cortes das Necessidades, the foundations of the Constitution, thus Portugal becoming a Constitutional Monarchy.
1822 (7 de Setembro / 7th September) – Proclamação da independência do Brasil. Portugal virá a reconhecê-la em 1825 (15 de Novembro), celebrando o primeiro Tratado de Paz e Aliança.
mation of the independence of Brazil. Portugal will eventually recognize it in 1825 (15th November), celebrating the first Treaty of Peace and Alliance.
1822 (23 de Setembro / 23rd September) – Promulgação da Constituição Política da Monarquia Portuguesa. A 1 de Outubro o rei jura a Constituição Liberal.
stitution of the Portuguese Monarchy. In 1st October the king swears the Liberal Constitution.
Procla-
Promulgation of the Political Con-
1824 – Abrilada, golpe absolutista liderado por D. Miguel, filho segundo do rei. Em Maio, D. João VI (que conseguiram evitar o seu sequestro a bordo de um navio inglês surto no Tejo, irá ordenar
o exílio de D. Miguel. Abrilada, an absolutist coup d’état led by D. Miguel, second son of the King. In May, D. João VI (who had managed to prevent being kidnapped on an English ship anchored
on Tagus) will order the exile of D. Miguel.
1826 (6 de Março / 6th March) – D. João VI designa um Conselho de Regência, sendo titular a infanta D. Isabel Maria. A 10 de Março morre e a 29 de Abril é outorgada a Carta Constitucional
concebida por D. Pedro ainda no Brasil. D. João IV appoints a Regency Council, with Princess D. Isabel Maria at its head. On 10th March, he dies and on 29th April, the Constitutional Charter,
created by D. Pedro while still on Brazil, is approved.
180
Almeida O Castelo de D. Dinis Filmar_Maquetación 1 28/01/14 07:16 Página 181
1826 (2 de Maio / 2nd May) – D. Pedro abdica do trono português a favor de sua filha D, Maria da Glória. A combinação passava por esta casar com o tio, o qual, por sua vez, assinaria a Carta. A 4
de Outubro D. Miguel, em Viena, decide-se a jurar a Carta. Neste mês, desembarca em Lisboa um destacamento Inglês destinado a garantir o funcionamento do regime liberal- D. Pedro designa o
irmão como regente na menoridade da rainha Maria da Glória, com quem deveria casar.
D. Pedro abdicated to the Portuguese throne in favor of his daughter, D. Maria da Glória. The agreement
was that she would marry her uncle, who, in turn, would sign the Charter. On 4th October, D. Miguel, in Vienna, decides to swear the Charter. That same month, an English detachment landed in
Lisbon to ensure the functioning of the Liberal Regimen - D. Pedro appoints his brother as the regent while Queen Maria da Vitória was underage, who he should wed.
1827 – Almeida, tendo tomado partido pelos Liberais de D. Pedro IV, rendeu-se neste ano ao partido Absolutista de D. Miguel.
the absolutist party of D. Miguel.
Almeida, having sided with D. Pedro IV’s liberals, surrenders to
1828 (22 de Fevereiro / 22nd February) – D. Miguel regressa ao país, jura a Carta e, seguidamente, promove o regresso do Absolutismo, dissolvendo a Câmara dos Deputados.
to the country, swears the Charter and then promotes the return of Absolutism, dissolving the Chamber of Deputies.
1830 – É construída uma torre no local da torre da antiga Igreja Matriz, sendo nela colocado o relógio da vila.
placed on it the watch of the city.
D. Miguel returns
A tower is built on the site of the tower of the former parish church, and it was
1831 (7 de Abril / 7th April) – Abdicação do Imperador do Brasil, D. Pedro I, a favor do filho de cinco anos D. Pedro de Alcântara. D. Pedro regressa a Portugal em 1832 e assume a luta pelo trono
(em nome de D. Maria II), confrontando-se com o irmão Miguel. Abdication of the Emperor of Brazil, Dom Pedro I, on behalf of his five year old son, D. Pedro de Alcantara. D. Pedro returned
to Portugal in 1832 and takes on the fight for the throne (on behalf of D. Maria II), fighting against his brother Miguel.
1832 (8 de Julho / 8th July) – Desembarque das forças liberais na praia do Pampelido, perto do Mindelo, constituídas por cerca de 8000 homens e mais de 50 navios, tendo a força militar entrado
no Porto no dia seguinte. Landing of liberal forces in Pampelido beach, near Mindelo, consisting of approximately 8,000 men and more than 50 ships, with the military force entering Porto next
day.
1832-1834 – Durante a Guerra Civil as chamadas casamatas, no Baluarte de S. João de Deus, servem de prisões de revoltosos liberais. Nelas passaram 1358 prisioneiros, dos quais 221 morreram.
During the Civil War, the so-called bunkers at the Bulwark of S. João de Deus function as a prison for the rebellious liberals. Inside them passed 1358 prisoners, of whom 221 died.
1834 – O irmão de Filipe VII de Espanha, D. Carlos de Bourbon, pretendente ao trono que vagara, recolhe-se a Almeida, orientando os seus partidários absolutistas na Guerra Carlista, episódio
The brother of Filipe VII of Spain, D. Carlos of Bourbon, contender to the
da Guerra Civil (1833/1840). Almeida é sitiada pelos partidários da rainha regente, D. Maria Cristina de Bourbon.
throne who had wandered, took refuge in Almeida, guiding his absolutist supporters in the Carlist War, episode of the Civil War (1833/1840). Almeida is besieged by supporters of the queen regent,
D. Maria Cristina of Bourbon.
1834 (28 de Maio / 28th May) – Convenção de Évora-Monte, pondo fim à guerra civil.
Convention of Evora -Monte, ending the civil war.
th
1834 (30 de Maio / 30 May) – Extinção das Ordens religiosas masculinas e nacionalização dos seus bens.
Extinction of male religious orders and the nationalization of their assets.
th
1834 (15 de Agosto / 15 August) – No discurso à Câmara dos deputados o rei pede a sua condução como rei e autorização para casar sua filha com um príncipe estrangeiro. D. Pedro IV morre a
24 de Setembro, D. Maria II é a nova rainha (casando em Janeiro de 1835 com Augusto de Leuchtenberg e, após a precoce morte deste, contrai matrimónio em Janeiro de 1836 com Fernando II de
In his speech to the Chamber of Deputies the king asks for his recognition as a king and permission to marry his daughter to a foreign prince. D. Pedro IV dies on
Saxe-Coburgo-Gotha).
24thSeptember, D. Maria II is the new queen (married in January 1835 to August of Leuchtenberg and after his early death, she weds, in January 1836, with Ferdinand II of Saxe-Coburg-Gotha).
1844 – Encabeçando a Revolta de Torres Novas, o combatente liberal e ex-primeiro ministro retira para Almeida com um regimento acompanhado dos revoltosos, encabeçados por José Estevão.
A Praça de Almeida sofre novo cerco. Spearheading the Rebellion of Torres Novas, the liberal and former prime minister fighter falls back to Almeida with a regiment together with insurgents,
commanded by José Estevão. The Fortress of Almeida is once again besieged.
1853 – Novo período de grandes obras de reparação da fortaleza.
New period of great repair works at the fortress.
1854 – A “Roda dos Expostos” é transferida das instalações do antigo Convento das Freiras para uma casa na Rua das Muralhas junto da poterna de S. João de Deus.
Children” is transferred from the old facility on the Nuns Convent to a house in the Street near the postern of S. John of God.
1863 – O recenseamento da população indica um total de 3 829 618 Portugueses. Almeida, com 425 moradas, tem 1730 habitantes.
Almeida, with 425 dwellings, has 1730 inhabitants.
The “Wheel of the Abandoned
The population census indicates a total of 3,829,618 Portuguese.
1864 (24 de Setembro / 24th September) – Tratado dos Limites de Lisboa, fixando o contorno do território português desde o Norte até à confluência dos rios Caia e Guadiana, ficando suspenso o
traçado pelas dificuldades advenientes da não aceitação da anexação de Olivença por parte de Espanha. Treaty of the Limits of Lisbon, establishing the contour of the Portuguese territory from
the north up until the confluence of rivers Caia and Guadiana. The agreement is suspended due to the difficulties created by the fact that Spain didn’t accept the annexation of Olivenza.
1865 – Epidemia em Almeida.
Epidemic in Almeida.
1888 – O Governo militar da “Praça de Guerra de 1ª Classe” de Almeida dispõe de uma força composta por 23 artilheiros, 13 soldados da 4ª Companhia, 81 de Infantaria e o respectivo EstadoThe military government of the “ War Stronghold of 1st Class” of Almeida has a force consisting of 23 gunners, 13 soldiers of the 4th Company, 81 men of Infantry and its General Staff.
Maior.
1890 – Almeida tem 2327 habitantes em 538 moradas.
Almeida has 2327 residents in 538 dwellings.
th
1926 (29 de Junho / 29 June) – Convénio de Limites de Lisboa, em complemento do Tratado de 24 de Setembro de 1864, definindo o traçado entre a confluência do rio de Cuncos no rio Guadiana
até à foz deste rio. Permanece diplomaticamente irresolvida a questão de Olivença. Convention of Limits of Lisbon, complementing the Treaty of 24th September, 1864, which defined the contour
between the confluence of river Cuncos and river Guadiana until the mouth of the latter. Diplomatically, the issue of Olivenza remains unresolved.
1927 – A fortaleza de Almeida deixa de ter funções militares. É inaugurado o “Grémio União Almeidense”.
Almeidense”.
Almeida fortress ceases its military functions. It is launched the club “Grémio União
181
Almeida O Castelo de D. Dinis Filmar_Maquetación 1 28/01/14 07:16 Página 182
Almeida O Castelo de D. Dinis Filmar_Maquetación 1 28/01/14 07:16 Página 183
ADAMS, Betina, “A Raia entre Portugal e Espanha nas Américas: Notas
acerca do Tratado de Tordesilhas e seus desdobramentos territoriais”, in
CEAMA nº 8, João Campos (coord.), C. M. de Almeida, 2011.
ALMEIDA, Carlos, Roteiro dos Monumentos de Arquitectura Militar do Concelho da Guarda, Coimbra, 1943.
——, “Castelos e Cercas Medievais. Séc. X a XIII”, in História das Fortificações Portuguesas no Mundo (coord. Rafael Moreira), Lisboa, 1989.
ALMEIDA, João, Roteiro dos Monumentos Militares Portugueses, 3 vols., Lisboa, 1945.
ARAÚJO, João Salgado de, Sucessos Militares das Armas Portuguesas em Suas
Fronteiras depois da Real acclamação contra Castella, Oficina de Paulo
Craesbeck, Lisboa, 1644.
ARMAS, Duarte de, Livro das Fortalezas, Fac-simile do Ms. 159 da CasaForte do Arquivo Nacional da Torre do Tombo, ANTT, Lisboa, 1990.
AZEVEDO, Rui de, Fronteiras entre Portugal e Leão em Riba-Côa antes do
Tratado de Alcanices (1297), Biblos, vol. 10, Coimbra, pp. 454-466, Lisboa, 1934.
——, Riba Côa sob Domínio de Portugal no reinado de D. Afonso Henriques.
O Mosteiro de Santa Maria de Aguiar, de fundação portuguesa e não leonesa, Anais (da Academia Portuguesa de História), IIª Série, vol. 12, pp.
231-298, Lisboa, 1962.
BRITO, Frei Bernardo de, Crónica de Cister, Lisboa, 1720.
——, Monarquia Lusitana, Lisboa, 1806.
BURY, John B., “Benedetto da Ravenna (c. 1485-1556)”, in A Arquitectura
Militar na Expansão Portuguesa (dir. Rafael Moreira), Porto, 1994.
BARROCA, Mário Jorge, “D. Dinis e a Arquitectura Militar Portuguesa”, Revista da Faculdade de Letras: História, pp. 801-822, Porto, 1988.
——, “Do Castelo da Reconquista ao Castelo Românico (Séc. IX a XII)”,
Portugália, Nova Série, vol. XI-XII, pp. 89-136, Porto, 1990-91.
——, “A Ordem do Templo e a Arquitectura Militar Portuguesa do Século
XII”, Portugália, Nova Série, vol. XVII-XVIII, Porto, pp. 171-209, 199697.
——, “Castelos Medievais Portugueses. Origens e Evolução (Séc. IX-XIV)”,
La Fortaleza Medieval. Realidad y Símbolo, Actas de la XV Asamblea General de la Sociedad Española de Estudios Medievales, pp. 13-30, Alicante, 1998.
——, “Aspectos da Evolução da Arquitectura Militar na Beira Interior”, I
Jornadas do Património da Beira Interior, in Beira Interior: História e Património, pp. 215-238, Guarda, 2000.
——, “Tempos de Resistência e de Inovação: a Arquitectura Militar Portuguesa no Reinado de D. Manuel I (1405-1521)”, in Portugália, nova série,
vol XXIV, pp. 95-122, Porto, 2003
AZEVEDO, Rui Pinto de, A Ordem Militar de S. Julião do Pereiro, depois chamada de Alcântara, “Anuário de Estudios Medievales”, vol. 11, pp. 713729, Barcelona, 1981.
BAPTISTA DE CASTRO, João, Mappa de Portugal Antigo e Moderno, Lisboa
(2ª ed.), 1762.
AMADO, Teresa, As Relações de Fronteira no século de Alcanices, “Actas das
IV Jornadas Luso-Espanholas de História Medieval”, 2 vols., Porto, 1998.
——, (coord.), Los ingenieros militares de la monarquía hispánica en los siglos
XVII y XVIII, Madrid, 2005.
ALMEIDA, Teresa Caillaux de, “O Cerco de Almeida na memória dos Franceses de antes e de agora”, in CEAMA, nº 3, João Campos (coord.), C. M.
de Almeida, 2009.
CÁMARA, A., MOREIRA, R. e VIGANÒ, M., Leonardo Turriano ingeniero
del rey, Aranjuez, 2010.
CÁMARA, A., Fortificación y ciudad en los reinos de Felipe II, Madrid, 1998.
AFONSO, Virgílio, Sabugal. Terras e Gentes, s/l, 1985.
CABRAL, António Augusto Dinis, “Castelo Rodrigo. Subsídios para a sua
História”, Beira Alta, vol. 20 (4), pp. 717-745, Viseu, 1961.
BARRENTO, António Martins e VILHENA DE CARVALHO, José Vilhena
de, A Praça de Almeida na «Guerra Fantástica», Almeida, 2006.
——, “Algumas Notas sobre o Castro do Castelo de Calabre e, Almendra”,
Studium Generale, vol. 9 (1), pp. 138-158, Porto, 1962.
BRANDÃO, Frei António, Crónica Geral de Espanha de 1344, ed. crítica de
Luís F. Lindley Cintra, Academia Portuguesa de História, Lisboa, 1990.
——, História da cidade de Calábria em Almendra (Subsídios), Porto, 1963.
BERGER, José Paulo, “A Fronteira da Beira e a Defesa do Território – Cartografia, Fortificação e Arquitectura Militar dos sé-culos XVIII-XIX”, in
CEAMA nº 3, João Campos (coord.), C. M. de Almeida, 2009.
——, “Arquitectura na rota das invasões Francesas: as linhas de defesa de
Lisboa”, in CEAMA nº 7, João Campos (coord.). C. M. de Almeida, 2011.
BERNAL ESTÉVEZ, Ángel, El concejo de Ciudad Rodrigo y su tierra durante
el siglo XV, Salamanca, 1989.
BOLETIM da D.G.E.M.N. Ministério das Obras Públicas, Castelo de Sabugal,
nº 57. Lisboa, Dezembro de 1949.
——, Ministério das Obras Públicas, Castelo de Linhares, nº 98. Lisboa, Dezembro de 1959.
BORGES, Augusto Moutinho, Cronologia de Almeida, 1296/1996. (Guarda),
1996.
CARVALHO DA COSTA, António, Corografia Portuguesa e Descripçam Topográfica do Famoso Reino de Portugal, 1706 e 1708, Braga (2ª ed.), 1868.
COBOS, F., “Artilleria y Fortificación Ibérica de Transición en torno a 1500”,
in Mil Anos de Fortificações na Península Ibérica e no Magreb (500-1500),
Actasm do Colóquio Internacional, 2000 (coord. Isabel Fernandes), pp.
677-694, C.M.Palmela, Lisboa, 2003.
——, Memória. Plan de Restauración del Castillo de Medina del Campo. Junta
de Castilla y León, Valladolid, 1993.
——, “Dessins de fortification dans “Os desenhos das antigualhas” du portugais Francisco de Holanda (1538-1540)”, Actas de Atlas Militaires Manuscrits europeens, Paris, 2004.
——, “La formulación de los principios de la fortificación abaluartada: de
la “Apología” de Escrivá (1538) al “Tratado” de Rojas (1598)”, in M. Silva
(coord.) Técnica e ingeniería en España. I. El renacimiento, Zaragoza,
2004.
183
Almeida O Castelo de D. Dinis Filmar_Maquetación 1 28/01/14 07:16 Página 184
——, “La fortificación española en los siglos XVII y XVIII: Vauban sin Vauban y contra Vauban”, in M. Silva (ed.). Técnica e ingeniería en España II:
el siglo de las luces, Zaragoza, 2005.
——, “Los Sistemas de Fortificación como Patrimonio Heredado”, in Cámara, A. (coord.), Los Ingenieros Militares de la Monarquía Hispánica en
los Siglos XVII y XVIII, Madrid, 2005.
——, “The perception of the value of the bastioned fortifications as monument heritage, in Reconstruction or new construction of medieval castles
in the 19th century”, in Europa Nostra Bulletin nº 61, Gianni Perbellini
(editor), Verona, 2007.
——, “Los Ingenieros y las Escuelas de Fortificación Hispánicas en Europa
y América”, in CEAMA nº 1, João Campos (coord.), C. M. de Almeida,
2008.
——, “Almeida on the Raia. Report on the fortifications of the Portuguese
border line for its designation as a candidate for world heritage site”, in
CEAMA nº 4, João Campos (coord.), Almeida, 2009.
——, “El sistema de fortificaciones abaluartadas hispano-portuguesas como
Patrimonio de la Humanidad. Caracterización y valoración del sistema
- estado de la cuestión”, in VV.AA. Cas-tillos de España, nº 164-166. Madrid, 2011.
——, “La huella de la muralla en la ciudad”, in VV.AA. Fortificaciones de
Pamplona: la vida de ayer y hoy en la ciudad amurallada, Pamplona, 2011.
——, “Metodología para la Caracterización Tipológica y Tecnológica de la
Fortificación de la Raya de Portugal como Sistema”, in CEAMA nº 8, João
Campos (coord.), Almeida, 2011.
——, Las escuelas de Fortificación Hispánicas en los siglos XVI, XVII y XVIII,
Segovia, 2012.
——, Una visión integral de las escuelas y los escenarios de la fortificación española de los siglos XVI, XVII y XVIII. Actas del IV Congreso de castillología ibérica, Madrid 2012. URL: http:// www.castillosasociacion.es/
congreso/ACTAS/PON1. htm
COBOS, Fernando e CAMPOS, João, Almeida / Ciudad Rodrigo. A Fortificação da Raia Central, ed. trilingue do Consórcio Transfronteirizo, Salamanca, 2013.
COBOS, Fernando y CASTRO FERNÁNDEZ, José Javier, Castillos y Fortalezas. León, 1998.
——, “Los ingenieros, las experiencias y los escenarios de la arquitectura
militar española en el siglo XVII”, in Los ingenieros militares de la Monarquía Hispánica en los siglos XVII y XVIII.
COBOS, F., GARRIDO, X. y HOYUELA, A., Descubrir a historia. Plan Director de las fortalezas transfronterizas do Bajo Miño. Xunta de Galicia,
A Coruña, 2006.
——, “Plano Director das fortalezas Transfronteiriças do Baixo Minho”, in
CEAMA nº 5, João Campos (coord.), Almeida, 2010.
COBOS, Fernando e CASTRO, Francisco Javier de, “Salsas y la fortificación
de transición española”, in Castillos de España Nº 110-111, Madrid, 1998.
COBOS, F., CASTRO, J. J. y CANAL, R., Castros y recintos en la frontera de
León en los siglos XII y XIII. Fortificaciones de tapial de cal y canto o mampostería encofrada. Edición digital, Valladolid, 2011.
COBOS, F. y RETUERCE, M., Metodología, valoración y criterios de intervención en la arquitectura fortificada de Castilla y León, edición digital.
Valladolid, 2012.
COBOS, F., RETUERCE, R. y HERVAS, M. A., Apuntes sobre el control del
territorio del Duero Superior en la Edad Media. Diagrama estratigráfico
territorial, in Actas del V congreso de Arqueología Medieval Española.
Valladolid, 1999.
184
CAMPOS, João, Arzila-Torre de Menagem / Le Donjon d’Asilah (coord. e textos), Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa, 1995.
——, Dicionário Temático da Lusofonia (dir. Fernando Cristóvão et al): 16
verbetes sobre património construído de origem portuguesa fora de Portugal, Lisboa, 2005.
——, As Coberturas das “Casamatas” / Las Coberturas de las “Casamatas” /
The Roofs of the “Casemates”, C. M. de Almeida, 2006.
——, Impérios, Patrimónios e Identidade. Intervenções Pioneiras e Novidades Adquiridas, Porto, 2007.
——, Portas e Poternas da Praça-forte / Gates and Posterns of the Fortress,
C. M. de Almeida, 2007.
——, Arquitectura Militar Portuguesa no Golfo Pérsico, Universidade de
Coimbra, 2008.
——, Almeida, Candidatura das Fortificações Abaluartadas da Raia LusoEspanhola a Património Mundial-UNESCO / Candidacy of the Bulwarked
Fortifications of the Portuguese-Spanish Raia (Border Line) as World Heritage-UNESCO (coord. e textos), C. M. de Almeida, 2009.
——, Três Pontas Notáveis numa Estrela Singular / Three Remarkable Points
in a Unique Star, C. M. de Almeida, 2009.
——, “Património de Origem Portuguesa no Mundo” (dir. José Mattoso):
21 verbetes in Vol. II (África Sub-sahariana, coord. J. M. Fernandes),
Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa, 2010.
——, “Uma mão cheia de impressões e de projectos (Arzila e Safi, em Marrocos, Moçambique, Quíloa e Mombaça, na Costa Oriental, com outros
comentários de permeio)” in África. Arquitectura e Urbanismo de Matriz
Portuguesa, Universidade Autónoma de Lisboa, 2011.
——, “Almeida e a Candidatura da Fronteira Abaluartada a Património
Mundial”, in CEAMA nº 7, João Campos (coord.), C. M. de Almeida,
2011.
——, “As Novas Fronteiras da Modernidade e a Fortificação Abaluartada
(as fronteiras abaluartadas luso-espanholas e a construção intercontinental das Identidades Nacionais)”, in CEAMA nº 8, João Campos
(coord.), C. M. de Almeida, 2011.
——, “Fortalezas e Tratados para serem as Fronteiras do Novo Mundo”, in
CEAMA nº 8, João Campos (coord.), C. M. de Almeida, 2011.
——, “Medindo o Céu e Construindo Baluartes. A Importância do Ensino
Científico dos Jesuítas em Portugal”, in CEAMA nº 10, João Campos
(coord.), C. M. de Almeida, 2013.
——, “Quartéis e outros edifícios notáveis em Almeida”, in CEAMA nº 10,
João Campos (coord.), C. M. de Almeida, 2013.
CAMPOS, João e COBOS, Fernando, Almeida / Ciudad Rodrigo – A Fortificação da Raia Central, ed. trilingue do Consórcio Transfronteirizo, Salamanca, 2013.
CINTRA, Luís Filipe Lindley, A Linguagem dos Foros de Castelo Rodrigo
(1959), Lisboa, 2ª ed., facsimilada, Lisboa, INCM, 1984.
CARITA, Rui, O Atlântico: Ilhas e Costa Africana, in História das Fortificações
Portuguesas no Mundo (dir. Rafael Moreira), Lisboa, 1989.
——, A Defesa do Atlântico nos séculos XV e XVI, in A Arquitectura Militar
na Expansão Portuguesa (dir. Rafael Moreira), Porto, 1994.
——, Ensaio, in O Lyvro de Plantaforma das Fortalezas da Índia da Biblioteca
da Fortaleza de S. Julião da Barra, Lisboa, 1999.
——, “A Fortaleza de S. Brás de Ponta Delgada no século XVI”, in CEAMA
nº 1, João Campos (coord.), C. M. de Almeida, 2008.
——, A Paisagem Histórica de Almeida, in Candidatura das Fortificações
Abaluartadas da Raia Luso-Espanhola a Património Mundial – UNESCO,
João Campos (coord.), C. M. de Almeida, 2009.
Almeida O Castelo de D. Dinis Filmar_Maquetación 1 28/01/14 07:16 Página 185
——, “O Engenheiro-mor Manuel de Azevedo Fortes e a Praça forte de Almeida”, in CEAMA nº 5, João Campos (coord.), C. M. de Almeida, 2010.
——, História da Arte Luso-Brasileira – Urbanização e Fortificação, Coimbra,
2004.
——, “A Circulação dos Modelos Arquitectónicos na Época Moderna: o Retorno”, in CEAMA nº 8, João Campos (coord.), C. M. de Almeida, 2011.
——, “De Mazagão a Almeida: a Fortificação regular no Reino e nos domínios portugueses de Além-mar”, in CEAMA nº 1, João Campos (coord),
C. M. de Almeida, 2008.
CARITA, Rui e CARDOSO, Homem (fotografia). O Escudo do Reino. A Fortaleza de São Julião da Barra, Lisboa, 2007.
CASTELO BRANCO, Manuel da Silva, “Introdução, in ARMAS, Duarte” de,
Livro das Fortalezas, ANTT. Lisboa, 1990.
CID CEBRIÁN, José Ramón (coord), La ciudad frente a Napoleón: bicentenario del Sitio de Ciudad Rodrigo. Ciudad Rodrigo, 2010.
CONCEIÇAO, Margarida Tavares da, Da vila cercada à praça de guerra: formação do espaço urbano em Almeida, Lisboa, 2002.
——, Arte de Portugal no Mundo, 15 Vols., Lisboa, 2009.
——, Fortificações Abaluartadas de Almeida, in Candidatura das Fortificações
Abaluartadas da Raia Luso-Espanhola a Património Mundial – UNESCO,
João Campos (coord), C. M. de Almeida, 2009.
——, ENRÍQUEZ DE SALAMANCA, Fernando, “Castillos de Salamanca
y Zamora”, in Revista Geográfica Española, nº 49, 1967.
——, “A Praça da Guerra. Aprendizagens entre a Aula do Paço e a Aula de
Fortificação”, in OCEANOS nº 41. Lisboa, 2000.
FERNANDEZ MOYANO, A. y RODRIGUEZ DE LA FLOR, F., “La fortificación de Ciudad Rodrigo en el siglo XVII”, in Revista de Historia Militar,
nº 59, 1985.
CORTESÃO, Armando e MOTA, A. Teixeira da, Portugaliae Monumenta Cartographica, 6 vols., Lisboa, 1960-1962 (Comissão das Comemorações do
V Centenário da Morte do Infante D. Henrique; 2ª ed., introdução de Alfredo Pinheiro Marques, Imprensa Nacional-Casa da Moeda, Lisboa, 1987.
FERREIRA, Alves; MORAIS, Custódio de Morais; SILVEIRA, Joaquim da e
GIRÂO; Amorim, "O mais antigo Mapa de Portugal" (1561), Centro de
Estudos Geográficos da Fac. De letras da Univ. de Coimbra, Coimbra,
1957.
CRESPO SANZ, Antonio, Un Mapa Olvidado: el Atlas de El Escorial, in Catastro, Oct., pp. 59-89, 2005.
GARCÍA GIRÓN, Raúl, “Las fortificaciones de la frontera de Castilla tras la
secesión portuguesa (1640)”, in Cuadernos de Arte e Iconografía, tomo
18, nº 35, Madrid, 2009.
——, El Atlas del Escorial, Valladolid, Universidad de Valladolid (Dissertação de Doutoramento em Geografi a), 2008.
CASTRO FERNÁNDEZ, José Javier et al., Guía de la raya de las fortificaciones de la frontera, Valladolid, 2001.
——, “Reformas y adaptaciones de las fortificaciones medievales de Ciudad
Rodrigo al uso de la artillería”, in Mil años de fortificações na Peninsula
Iberica e no Magreb (500-1500), Actas do Simpósio Internacional sobre
Castelos, Lisboa, 2002.
——, Los Ingenieros Reales de los Reyes Católicos. Su nuevo sistema de fortificación, in Artillería y Fortificaciones en la Corona de Castilla durante
el reinado de Isabel la Católica, Madrid, 2004.
DAVEAU, Suzanne, "As Geografias de Portugal", in «Portugal e a Geografia
Portuguesa», Inforgeo Nº 4, Jun. 1992, Associação Portuguesa de Geógrafos, pp. 9-16, Lisboa, 1992.
——, “A descrição territorial no Numeramento de 1527-32”, Penélope, Lisboa, vol. XXV, p. 7-39, 2001.
——, “Conhecimento Actual da Representação Corográfica de Portugal no
século XV” in Olhar o Mundo, Ler o Território. Uma viagem pelos mapas
(colecção Nabais Conde), coord. António Campar et al., Coimbra, Instituto de Estudos Geográficos/Centro de Estudos Geográficos. Faculdade
de Letras da Universidade de Coimbra, p. 33-37, 2003.
——, “O fragmento de mapa corográfico de Portugal da Real Academia de
la Historia de Madrid. Fases de realização e de utilização”, Cadernos de
Geografia Nº 26-27, p. 3-17, Coimbra, 2007-2008.
——, "Um antigo mapa corográfico de Portugal (c. 1525). Reconstituição a
partir do Códice de Hamburgo", Centro de Estudos Geográficos da Universidade de Lisboa, 2010.
DIAS, Maria Helena e ALEGRIA, Maria Fernanda, “Lisboa na Produção
Cartográfica Portuguesa e Holandesa dos Séculos XVI e XVII: o Espaço
e o Intercâmbio”, in Penélope. “Fazer e Desfazer a História” Nº 13, pp. 5569, Ed. Cosmos, 1994.
DIAS, Pedro, “As Fortificações Portuguesas na Cidade Magrebina de Safi”,
in OCEANOS nº 28, Lisboa, 1996.
——, História da Arte Portuguesa no Mundo (1415-1822). O Espaço do Índico, Lisboa, 1996.
——, A Arquitectura dos Portugueses em Marrocos (1415-1769), Coimbra,
2000.
GARCIA, João Carlos, “A Configuração da Fronteira luso-espanhola nos
Mapas dos Séculos XV a XVIII”, in Treballs de la Societat Catalana de
Geografia Nº 41, Vol. XI, pp. 293-323.
——, “A Lusitânia para o Cardeal Guido Sforza: um Mapa de Portugal de
1561 na Biblioteca Nacional”, in HISTÓRIA. Revista da Faculdade de Letras da Universidade do Porto, III Série, vol. 11, pp. 363-368, Porto, 2010.
GATES, David, La Úlcera Española. Historia de la Guerra de la Independencia, Madrid, 1987.
GONÇALVES, Iria, Povoamento Medieval de Riba-Côa, in Paisagens Rurais
e Urbanas (IV), Centro de Estudos Históricos da U.N. de Lisboa, pp. 51107, Lisboa, 2009.
GOMES, Rita Costa, Castelos da Raia, Vol. 1, Beira, IPPAR, Lisboa, (1996)
2001.
GONZÁLEZ SIMANCAS, M., “Plazas de guerra y castillos medioevales de
la frontera de Portugal”. Estudios de arquitectura militar, in Revista de
Archivos, Bibliotecas y Museos, 3ª época, 1910-1911.
GRANDE DEL BRÍO, R., Castillos y fortalezas en la provincia de Salamanca
(siglos VIII-XVIII), Salamanca, 2006.
GUTIÉRREZ GONZÁLEZ, José Avelino, Fortificaciones y feudalismo en el
origen y formación del reino leonés (siglos IX-XIII), Valladolid, 1995.
HENRIQUES, João Baptista, Corografia Lusitana e República Portuguesa,
Lisboa, 1691.
HOLANDA, Francisco de, Os Desenhos das Antigualhas que Vio Francisco
d’Ollanda, Pintor Portugués (…1539 – 1540…). Publicalos, con notas de
estúdio y preliminares el Prof. E. Tormo, de la Universidad de Madrid,
Ministerio de Asuntos Exteriores, Madrid, 1940.
HORWARD, Donald, Napoleón y la Península Ibérica: los asedios de Ciudad
Rodrigo y Almeida, 1810, Salamanca, 2006.
HOYUELA A., URBS IBEROAMERICANA, Memoria, Territorio, Lugar y Artificio de las ciudades iberoamericanas entre los tratados de Tordesillas
(1494) y San Ildefonso (1777), Actas del V Congreso Internacional “Restaurar la memoria. Patrimonio y Territorio”, AR&PA, 2006;
——, “La deconstrucción de las fronteras de Brasil: del Tratado de Tordesillas al de San Ildefonso (1494-1777)”, in CEAMA nº 8, João Campos
(coord.), Almeida, 2011.
185
Almeida O Castelo de D. Dinis Filmar_Maquetación 1 28/01/14 07:16 Página 186
LEÃO, Duarte Nunes de, Descrição do Reino de Portugal, Lisboa, 1610.
LADERO QUESADA, Miguel Ángel, La formación de la frontera de Portugal
en los siglos XII y XIII y el tratado de Alcañices (1297).
LARREN, H. y GUTIÉRREZ, J. A., Recinto amurallado de Ciudad Rodrigo
(Salamanca). Cronotipología, in II Congreso de Arqueología Peninsular,
Zamora, septiembre de 1996, Vol. 4, 1999.
LOPES, Fernão, Crónica del Rei Dom Joham I de boa memoria e dos Reis de
Portugal o décimo, 2 Vols., Lisboa, 1973.
LOPES DE AYALA, Pedro, Crónica Del Rey Don Juan El Primero de Castilla
y de León, Madrid, 1780.
PIMENTEL, António Filipe, A Porta Central do Reino: Relevância Epistemológica das Fortificações de Almeida, in Candidatura das Fortificações Abaluartadas da Raia Luso-Espanhola a Património Mundial - UNESCO,
João Campos (coord.), C. M. de Almeida, 2009.
PERES, Damião, História de Portugal, ed. Barcelos, 1929.
LUIS CALABUIG, Ángel de, Ciudad Rodrigo. Las Fortificaciones, Salamanca,
2009.
PINA, Rui de, Crónica de D. Dinis, segundo o Códice Inédito nº 891 da Biblioteca Pública Municipal do Porto, seguida da versão actualizada da edição Ferreiriana de 1726, Biblioteca Histórica – Série Régia, Ed. Livraria
Civilização, Porto, 1945.
MORENO, Humberto Baquero, “Os Municípios Portugueses nos Séculos
XIII a XVI”. Estudos de História, Lisboa, 1986.
PINHO LEAL, Augusto Soares d’Azevedo Barbosa de, Portugal Antigo e Moderno, Lisboa, 1873.
MATTOSO, José, A nobreza Medieval Portuguesa / A Família e o Poder, Ed.
Estampa, Lisboa, 1981.
QUINTA, Ana Luísa, A Fortaleza de Almeida – Uma perspectiva arquitectónica, C. M. de Almeida, 2008.
——, História de Portugal, ed. Círculo de Leitores. Lisboa, 1993.
——, Identificação de um País: ensaio sobre as origens de Portugal.
1096/1325, 2 Vols., Lisboa, 1995.
MARQUES, José, A presença da Igreja na História Militar Portuguesa: das
origens aos finais do séc. XIV, sep. das Actas do I Colóquio ‘Para uma visão global da História Militar’, Porto, 1990.
MACEDO, Jorge Borges de, Constantes da História de Portugal”, sep. de ‘Portugal – Um estudo de Direito Comparado / Bula «Manifestis probatum»
de 23 de Maio de 1179, Academia das Ciências, Lisboa, 1981.
MARTÍN, José-Luís (1998), San Julián del Pereiro entre Calatrava y Alcántara, O Tratado de Alcanices e a importância histórica das terras de Riba
Côa, UCP, pp. 185-195, Lisboa.
MANZANO MONIS, Manuel, El mariscal de campo don Pedro Moreau y el
fuerte de la Concepción, in Boletín de la Real Academia de Bellas Artes de
San Fernando nº 52, Madrid, 1981.
MARTÍN BENITO, José Ignacio, El Alcázar de Ciudad Rodrigo: poder y control
militar en la frontera de Portugal (siglos XII-XVI), Ciudad Rodrigo, 1999.
MASSAPINA, Vasco, “A Função Militar das Cidades de Fronteira, contida
no Modelo Erudito da Fortificação Abaluartada, transportado pelos Militares para o Brasil/Colónia, contribuiu para gerar a Ocupação Territorial e uma Nacionalidade Moderna”, in CEAMA nº 8, João Campos
(coord.), C. M. de Almeida, 2011.
MATA PÉREZ, Luis Miguel, Ruta de las fortificaciones de la frontera. Ciudad
Rodrigo, San Felices de los Gallegos y Aldea del Obispo, Ciudad Rodrigo,
2001.
MELLO DE MATTOS, Gastão de, Nicolau de Langres e a sua Obra em Portugal, Lisboa, 1941.
MOREIRA, Rafael (dir.), História das Fortificações Portuguesas no Mundo,
Lisboa, 1989.
——, A Época Manuelina, in História das Fortificações Portuguesas no
Mundo (dir. Rafael Moreira), Lisboa, 1989.
——, A Arquitectura Militar na Expansão Portuguesa, Porto, 1994.
NOGUERA, Antonia Ortolá, El Castillo de La Mota de Medina del Campo
(2ª ed.). Junta de Castilha y León, Valladolid, 2001.
ORTHELIVS, Abraham, Theatrvm Orbis Terrarvm, ed. fac-simile C. M. Editores, Ediciones de Arte y Bibliofilia, S. A., do original (Anvers, 1588, 2ª
ed. ampliada e dedicada a Filipe III, tendo a primeira sido apresentada a
seu pai, Filipe II) da Biblioteca Geral Histórica da Universidade de Salamanca (BG-52039) e da Biblioteca da Sociedade Bilbaína (C.F.4.), Salamanca, 2011.
186
PEREIRA, Brás (e ARMAS, Duarte de), Fronteira de Portugal Fortificada pellos Reyes deste Reyno. Tiradas estas Fortalezas no Tempo del Rey Dom
Manoel. Copiadas por Brás Pereira, MR, Il. 192, Biblioteca Nacional de
Portugal, Lisboa, 1642.
QUEIMADO E SILVA, Tiago João, “Contributos para a história medieval
de Almeida e do seu castelo (séculos VIII-XIII)”, in CEAMA nº 9, João
Campos (coord.), C. M. de Almeida, 2012.
RODRIGUES, Adriano Vasco, “A Vila Morta de Stª Cruz da Vilariça”, Horizonte, vol. 4 (45), pp. 73-76, Guarda, 1957.
——, O Templo romano de Almofala. Nova Interpretação sobre o Casarão da
Torre, Beira-Alta, vol. 24 (4), Viseu, pp. 433-435, 1965.
——, Terras de Meda. Natureza e Cultura, Meda, 1983.
——, Os Lusitanos – Mito e Realidade, Academia Internacional da Cultura
Portuguesa, Lisboa, 1998.
——, Importância Cultural e Estratégica de Almeida ao longo do Tempo, in
Candidatura das Fortificações Abaluartadas da Raia Luso-Espanhola a
Património Mundial – UNESCO, João Campos (coord.), C. M. de Almeida, 2009.
——, Almeida. Da Pré-história aos nossos dias / Memórias, ed. bilingue, C.
M. Almeida, 2010.
RODRIGUES, Adriano Vasco e BRANDÃO, D. Domingos de Pinho – “Missão de Estudo Arqueológico na Região da Vilariça – Moncorvo”, Studium
Generale, vol. 9 (1), Porto, pp. 336-351, 1962.
RODRIGUES,António Simões (Coord.), História de Portugal em Datas, Círculo de Leitores, Lisboa, 1994.
RIBEIRO, José Albino Galheta, “O Património na rota das Invasões Francesas”, in CEAMA nº 7, João Campos (coord.), C. M. de Almeida, 2007.
RODRÍGUEZ DE LA FLOR, Fernando, “Algunos documentos inéditos en
el Archivo General de Simancas relativos a la construcción del Real
Fuerte de la Concepción”, in Revista de Estudios, nº 2, Salamanca, 1982.
——, La intervención de Manuel de Lara Churriguera en la reconstrucción
del Real fuerte de la Concepción, Archivo Español de Arte, nº 224, 1983.
——, “El fuerte de la Concepción: una obra ejemplar de arquitectura militar
del siglo XVIII”, in Revista de Historia Militar, nº 54, 1983.
——, El fuerte de la Concepción y la arquitectura militar de los siglos XVII y
XVIII, Salamanca, 1987.
——, La frontera de Castilla. El fuerte de la Concepción, Salamanca, 2003.
RODRÍGUEZ DE LA FLOR, Fernando y FERNÁNDEZ MOYANO, Antonio, “Los proyectos de fortificación de Ciudad Rodrigo durante la secesión de Portugal (1640-1668)”, in Revista de Estudios, nº 11-12, Salamanca, 1984.
ROMÁN, Milagros Flores, A Nomeação das Fortificações de Almeida como
Património Mundial, in Candidatura das Fortificações Abaluartadas da
Almeida O Castelo de D. Dinis Filmar_Maquetación 1 28/01/14 07:16 Página 187
Raia Luso-Espanhola a Património Mundial – UNESCO, João Campos
(coord.), C. M. de Almeida, 2009.
VICENTE, António Pedro, A Região do Riba-Côa na visão do Francês August
du Fay, C. M. de Almeida, 2006.
TEIXEIRA, André, “Sondagens Arqueológicas no Castelo de Almeida e Envolvente: síntese dos resultados”, in CEAMA nº 2, João Campos (coord.),
C. M. de Almeida, 2008.
VILHENA DE CARVALHO, José, Almeida, Subsídios para a sua História, 2
vols. (1973), Santa Casa da Misericórdia de Almeida, 2ª ed., Viseu, 1988.
——, Almeida: o Potencial Arqueológico de um espaço de guerra multissecular, in Candidatura das Fortificações Abaluartadas da Raia Luso-Espanhola a Património Mundial – UNESCO, João Campos (coord.), pp. 53-59,
C. M. de Almeida, 2009.
TEIXEIRA, André (coord. e textos), O Castelo de Almeida. Arqueologia de
um espaço de guerra multissecular (Catálogo da exposição. Agosto/Setembro de 2013), C. M. Almeida, 2013.
TERREIRO, Álvaro, Frei Bernardo de Brito, Historiador Profético da Resistência (1569-1617), Lisboa, 1992.
SERRÃO, Joaquim Veríssimo, História de Portugal, 2ª ed., Lisboa, 1978.
SÁNCHEZ, María José Muriel, Ceremoniales en los Esponsales de Filipe II y
Maria Manuela de Portugal, Salamanca, 2013
VALLADARES, Rafael, La Guerra Olvidada. Ciudad Rodrigo y su comarca
durante la restauración de Portugal (1640-1668), Ciudad Rodrigo, 1998.
——, O Castelo de Almeida. Origem, história e destruição. Controvérsias,
C.M. de Almeida (2ª ed.), 2006.
VILHENA DE CARVALHO, José e BARRENTO, António Martins, A Praça
de Almeida na “Guerra Fantástica”, Almeida, 2006.
VITERBO, Francisco Maria de Sousa (1899-1922). Dicionário Histórico e
Documental dos Arquitectos, Engenheiros e Construtores Portugueses, 3
vols., Lisboa, 1899-1904-1922 (2ª ed., fac-simile, Lisboa, INCM, 1988).
VIGUERA MOLINS, Maria Jesús, En torno a Riba Coa y al-Andaluz”, O Tratado de Alcanices e a importância histórica das terras de Riba Côa, UCP,
pp. 131-152, Lisboa, 1998.
WELLESLEY, Arthur / FORJAZ, Miguel Pereira, “Cópia da correspondência
trocada entre Lord Wellington e D. Miguel Pereira Forjaz, no ano de
1810”, Carta nº 83, in Boletim do Arquivo Histórico-Militar, 3º Vol., Lisboa, 1933.
ZAPATER, Miguel Ramón, Cister Militante, Saragoça, 1662.
187
Almeida O Castelo de D. Dinis Filmar_Maquetación 1 28/01/14 07:16 Página 188
Almeida O Castelo de D. Dinis Filmar_Maquetación 1 28/01/14 07:16 Página 189
Almeida O Castelo de D. Dinis Filmar_Maquetación 1 28/01/14 07:16 Página 190
A
Na página anterior / Back page
O sítio do Castelo, que preenchia o vazio à
direita da Torre do Relógio e dos ciprestes do
antigo cemitério, visto de Poente, a partir do
Revelim do Paiol. Á direita as construções do
actual Picadeiro, no Baluarte do Trem ou de
Nossa Senhora das Brotas.
The place of the Castle, which filled the void
to the right of the Clock Tower and the the
cypresses of the old cemetery, seen from the
West from the Ravelin of Paiol. To the right,
the construction of the current Ring, in the
Bulwark of Trem or Nossa Senhora das
Brotas.
190
explosão do paiol do Castelo de Almeida, na terceira
Invasão Francesa (1810), destruindo profundamente
a área onde se implantava, deu lugar a conjecturas e
reconstituições hipotéticas, com certezas duvidosas, que motivaram este trabalho de investigação do Arq. Doutor João
Campos.
O processo histórico de Almeida é basilar para o conhecimento e compreensão da evolução arquitectónica do Castelo
atribuído a D. Dinis, na passagem para a fase abaluartada,
com interesse não só local mas global.
Depois das campanhas da D.G.E.M.N. (1970) em Almeida,
a observação das ruínas e as comparações que vêm sendo
feitas recorrendo a Duarte de Armas, deixaram, como expressa o Autor numa síntese feliz, mais um vazio do que um
preenchimento. A primeira reacção e procura esclarecida
sobre qual foi a evolução do Castelo visto por Duarte de
Armas, até à data da explosão, deve-se, como refere João
Campos, a Angel de Luís Callabuig, insistindo sobre a questão da drástica alteração da paisagem de Almeida, muito antes
da explosão do paiol.
O autor do presente livro, num trabalho laborioso e persistente de investigação, considerando Almeida como o seu
projecto sempre inacabado, recusou improvisos. Recorreu a
fontes históricas seguras, de que evidencio o Códice B, da
Biblioteca Real de Madrid, o Atlas del Escorial, o Mapa de
Portugal de Fernão Álvaro Seco e outros, realizou prospecções de campo e estabeleceu comparações entre Almeida e
obras congéneres e chamou a atenção para exemplares de referência na temática, como o Castillo de la Mota, em Medina
del Campo, ou a fortaleza de Salces, na fronteira com França.
Fez trabalho sério e seguro.
Outro aspecto relevante deste livro liga-se ao estudo da consolidação da fronteira de Portugal, factor da identidade nacional, avançando por uma via já por ele traçada com
Fernando Cobos, na publicação “Almeida/Ciudad Rodrigo –
a Fortificação da Raia Central”, feito editorial com menos de
um ano de intervalo sobre a presente edição.
As Terras de Riba-Côa e as suas fortalezas mereceram-lhe
particular atenção, como chaves da fronteira e bases da soberania nacional. Recorda as hostilidades medievais ao longo
da Raia, antes e depois do Tratado de Alcanices, evidenciando a importância dos castelos transcudanos.
Neste trabalho persistente, profundo e honesto, enriquecido
T
he explosion of the gunpowder magazine of the Castle of Almeida, during the Third French Invasion
(1810), deeply destroying the area where it stood,
gave away to hypothetical conjectures and reconstitutions,
with doubtful certainties, which motivated this research
work by Prof. João Campos.
The historical process of Almeida is fundamental for the
knowledge and understanding of the architectural evolution
of the Castle attributed to D. Dinis, in the passage to the bulwarked phase, with not only a local but global interest.
After D.G.E.M.N.’s campaigns (1970) in Almeida, the observation of the ruins and the comparisons that have been made
using Duarte de Armas have left, as the author expresses in a
happy synthesis, more emptiness than a filling. The first reaction and enlightened research on what was the evolution of
the Castle viewed by Duarte de Armas, until the date of explosion is owed, as stated by João Campos, to Angel Luis Callabuig, insisting on the issue of drastic changes in the landscape
of Almeida, long before the explosion of the powder magazine.
The author of the current book, in a laborious and persistent
research work, considering Almeida as his never-finished
project, refused to improvise. He used safe historical sources,
of which I highlight the Codex B at Biblioteca Real de Madrid, the Atlas del Escorial, the Mapa de Portugal by Fernão
Álvaro Seco and others, conducted field prospections and
established comparisons between Almeida and similar works
and drew our attention to benchmarks in the theme, such as
the Castillo de la Mota, in Medina del Campo, or the fortress
of Salces, at the border with France. He conducted a serious
and secure work.
Another relevant aspect of this book is bound to the study of
the consolidation of the frontier of Portugal, a factor of national identity, advancing by a route already mapped out for him
with Fernando Cobos, in the publication “Almeida/Ciudad Rodrigo – a Fortificação da Raia Central”, an editorial achievement with less than one year apart on this issue.
The Lands of Riba-Côa and their fortresses earned him particular attention, as keys for the border and the basis of national sovereignty. He recalls the medieval hostilities along
the dry frontier before and after the Treaty of Alcanises,
highlighting the importance of transcudanos castles.
This persistent, deep and honest work, enriched by architectonical projects and plans elaborated by the Author, high-
Almeida O Castelo de D. Dinis Filmar_Maquetación 1 28/01/14 07:16 Página 191
por projectos arquitectónicos e planos elaborados pelo
Autor, evidencia-se a proposta da criação de um pequeno
museu de sítio, integrando uma apresentação do Castelo
com uma grande maqueta, e propondo também a integração
histórica da área urbana em apreço. Na elaboração do projecto interpretou trabalhos arqueológicos ali realizados e as
marcas que são pistas para novos avanços.
A investigação do Doutor João Campos representa um
grande avanço no estudo do Castelo de Almeida e na região.
O livro está enriquecido com larga documentação, uma vasta
cronologia comentada sobre Almeida e a fronteira, bem
como exaustiva bibliografia.
O Arq. Doutor João Campos tem vasto e rico curriculum. É
Mestre em Relações Interculturais, Arquitecto e projectista
da Fundação Gulbenkian, Doutor em História da Arte, Consultor da Câmara Municipal de Almeida, membro do ICOMOS (pertencendo ao Comité Internacional do Património
Partilhado, Perito do Comité de Fortificações e Honorário
das Cidades Históricas). Intervém na candidatura de Almeida a Património Mundial. Coordena o Centro de Estudos de Arquitectura Militar de Almeida. Tem larga
experiência de planeamento urbano, foi docente do Curso
de Arquitectura no Porto e é autor de valiosa bibliografia.
Em relação a Almeida o trabalho que vem realizando na conservação, restauro, revitalização urbanística e embelezamento arquitectónico, respeitando as regras do Património,
tornam-no merecedor do respeito e gratidão de quantos
estão ligados a Almeida, pelas raízes, pelo coração ou pela
cultura.
lights the proposal to create a small site museum, incorporating a presentation of the Castle with a large scale model
and also proposing the integration of the historic urban area
in question. In preparing the draft, he interpreted the archaeological work conducted there and the marks that are
leads to new advances.
The research by Prof. João Campos represents a great advance in the study of the Castle of Almeida and its region.
The book is enriched with great documentation, a vast annotated chronology on Almeida and the frontier, as well as
comprehensive bibliography.
The Architect João Campos, PhD, has a vast and rich curriculum. He has a Master’s Degree in Intercultural Relationships, is an Architect and project designer for Gulbenkian
Foundation, a PhD in History of Art, is a Consultant for Almeida’s City Hall, member of ICOMOS (being a part of the
International Committee of Shared Heritage, Expert for the
Committee of Fortifications and Honorary Member of Historical Cities). He intervenes in the candidacy of Almeida to
World Heritage Site. He coordinates the Centro de Estudos
de Arquitectura Militar de Almeida (Studies Centre on Military Architecture of Almeida). He has a vast experience in
urban planning, he taught in the Architecture Degree at
Oporto and is the author of a valuable bibliography.
Regarding Almeida, the work that is being done in the conservation, restoration, urban revitalization and architectural
embellishment, while respecting the rules of Heritage, make
João Campos worthy of the respect and gratitude of all who
are connected to Almeida, by the roots, by the heart or by
the culture.
ADRIANO VASCO RODRIGUES
Historiador, Arqueólogo, Publicista
Historian, Archaeologist, Publicist
191
Almeida O Castelo de D. Dinis Filmar_Maquetación 1 28/01/14 07:16 Página 192

Documentos relacionados