Aquecimento Global - Revista o Professor

Transcrição

Aquecimento Global - Revista o Professor
SINPRO - Sindicato dos Professores do ABC
Aquecimento Global:
maio/junho de 2007 edição no 06
Um planeta ameaçado
Trabalhadores em luta
contra a Emenda 3
Dez anos da morte de
Paulo Freire
Você conhece a
Síndrome de Burnout?
Revista do Professor - SINPRO Sindicato dos Professores do ABC
1
educação não é mercadoria
O setor privado de educação coloca os interesses mercantilistas à
frente dos educacionais, considera alunos como clientes, professores
e funcionários como empregados a serviço de seus lucros.
Um Governo que afirma ser este o momento de uma educação de
qualidade, não pode abrir mão do seu papel de controlar e
regulamentar o Ensino Privado
SINPRO Sindicato dos Professores do ABC
C o n f e d e r a ç ã o N a c i o n a l d o s T r a b a l h a d o r e s e m ERevista
s t a do
b Professor
e l e c i- m
ento de Ensino
2
SINPRO - Sindicato dos Professores do ABC
ENTREVISTA
5
maio/junho de 2007 edição no 06
Paulo Freire
EDUCAÇÃO
20 Síndrome de Burnout
Entrevista com Mário Sérgio
Cortella e as últimas declarações
de Paulo Freire
28
Dez anos da morte do educador
Professores sofrem com exaustão
e alunos sentem os reflexos em
sala de aula
Professores rejeitam piso de
R$850
CULTURA
INTERNACIONAL
12
O governo Lula no contexto
da América Latina
Por Julio Turra
SINDICAL
14
Emenda 3
Trabalhadores na luta contra
derrubada dos direitos
ESPECIAL
16
22
Aquecimento global
Planeta Terra pede socorro e toda
humanidade já sente os efeitos das
mudanças climáticas
Revista do Professor - SINPRO Sindicato dos Professores do ABC
Clarice Lispector e a
exposição no Museu da
Língua Portuguesa
NACIONAL
24 Lei Maria da Penha
Violência contra mulher tem
punição mais rigorosa
ARTIGO
26 Clima, cinismo e morte
27
Por Luiz Roberto Alves
O "eu" sitiado
Por José Arbex Jr.
AULA DE PORTUGUÊS
29 É como ouvir música
Por Rubem Alves
3
editorial
Direito à vida! E à qualidade de vida! Viva!
Modernidade, globalização, neoliberalismo, tecnologias avançadíssimas, violência manifestada em todas as formas,
até as inimagináveis... Esse é o panorama conjuntural que vivemos diariamente. A mídia, infelizmente, a serviço do
capital, não informa, antes deforma as realidades factuais, por meio de análises parciais e visando, exclusivamente,
aos interesses ideológicos a que se prestam. Dessa forma, cabe-nos a tarefa, não apenas de informar, mas de
trazer à tona assuntos polêmicos, que se interpõem em nosso cotidiano, e, mais que isso, alteram os rumos de
nossas vidas, ameaçando, também, a própria vida no planeta.
Nosso compromisso é trabalhar pela conquista e pela manutenção de direitos adquiridos, por essa razão não
podemos nos furtar à discussão de problemas que, diariamente, privam-nos de nosso direito primeiro: a vida. Assim,
nesta edição trazemos para a análise da categoria a matéria “Planeta ameaçado” que versa sobre o aquecimento
global e as conseqüências para a humanidade. Na mesma linha do direito à vida e ao exercício da cidadania,
apresentamos a Lei Maria da Penha, que trata sobre a violência contra mulheres. Depende exclusivamente de nós
a solução desses problemas, ou, ao menos, uma séria reflexão que nos leve a ações práticas e urgentes visando
seu combate.
E, como direitos conquistados não podem ser retaliados, conclamamos a todos os trabalhadores que integrem à luta
chamada pelas centrais sindicais contra a Emenda 3 e pela manutenção do veto presidencial. Tal emenda ameaça
nossos direitos e, praticamente, extingue os contratos de trabalho regidos pela CLT, e acaba com as Convenções
Coletivas do Trabalho, regulamentando o contrato de pessoa jurídica. Informe-se mais a esse respeito e participe
ativamente manifestando sua indignação contra mais esse ataque à classe trabalhadora.
A Revista do Professor traz, ainda, um presente aos docentes: a última entrevista do educador Paulo Freire e a
contribuição de Mário Sérgio Cortela, desnudando alguns aspectos do mestre e do homem que hoje homenageamos,
além de lembrar os dez anos de sua passagem.
Na seção cultura, sugerimos a visita ao Museu da Língua Portuguesa, no qual Clarice Lispector é homenageada, no
ano em que comemoramos os trinta anos de lançamento da obra “A hora da estrela”.
Aproveitamos para aprofundar nesta edição, as informações sobre a síndrome de Burnout, ou síndrome da
exaustão, como também é conhecida a doença que tem afetado muitos profissionais da Educação. Vale informar-se
mais, e estar atento aos sintomas.
Para encerrar, a seção “aula de português” traz a crônica do professor Rubem Alves, nos remetendo para o prazeroso
mundo da leitura.
Desejamos a todos ótima leitura! Até breve!
expediente
Revista do Professor - Ano II - Número 6 - maio/junho 2007 - SINPRO ABC - Sindicato dos Professores do ABC - Gestão 2004/2007
Diretoria Executiva: Aloisio Alves da Silva, Célia Regina Ferrari, Denise Filomena L. Marques, José Carlos Oliveira Costa, José Jorge Maggio, Paulo Cardoso de Souza,
Paulo Ostroski e Paulo Roberto Yamaçake • Presidente: Aloisio Alves da Silva • Diretora de Imprensa: Denise Filomena L. Marques - Edição e reportagem: Mayra
Monteiro - Mtb 47135 • Projeto Gráfico: Imprensa SINPRO ABC • Capa: Israel Barbosa • Tiragem: 4.000 exemplares • ISSN 1807-7994.
SINPRO ABC - Rua Pirituba, 61/65 - Bairro Casa Branca - Santo André - CEP 09015-540 - São Paulo
www.sinpro-abc.org.br • [email protected]
4
Revista do Professor - SINPRO Sindicato dos Professores do ABC
entrevista
Dez anos da morte de
Paulo Freire
Fotos: Acervo do Instituto Paulo Freire
Paulo Freire e dona Elza, primeira esposa, em 1980
"Eu sou um intelectual que não tem medo de ser amoroso, eu
amo as gentes e amo o mundo. E é porque amo as pessoas
e amo o mundo, que eu brigo para que a justiça social se
implante antes da caridade"
Paulo Freire
A
s pessoas às vezes dizem: ‘Olha, nós vamos ter a
comemoração de dez anos da morte do Paulo Freire’.
Outro dia eu escrevi um texto, no qual falo em comemorar
a morte, usando o sentido original da palavra. Comemorar
significa memorar junto, lembrar junto. Há vários modos de
comemorar. Existe a comemoração festiva e a não-festiva.
Não é errado dizer que comemora-se a bomba de Hiroxima e
Nagazaki, o 11 de setembro, o holocausto, a morte de alguém,
o que não é a mesma coisa de festejar. Portanto, no dia 19 de
setembro de 2007, nós vamos festejar os 86 anos que Paulo
Freire faria. No dia 2 de maio, quando morre o corpo dele,
temos uma comemoração não-festiva, em relação a nossa
perda. Comemoração é também celebrar, tornar célebre,
inesquecível. Nesse sentido, comemora-se, sim, os dez anos
Revista do Professor - SINPRO Sindicato dos Professores do ABC
sem a presença cotidiana de Paulo Freire”.
Essas palavras são do filósofo Mário Sérgio Cortella,
professor da PUC-SP, aluno e amigo muito próximo do
educador Paulo Freire, em entrevista à revista Fórum,
edição de maio.
De que forma a obra de Paulo Freire continua
presente?
Mário Cortella – Eu recuso muito uma frase – e não
é uma questão apenas de linguagem – sobre comemorar dez
anos sem Paulo Freire. Existem pessoas, obras e idéias que
não saem quando seu autor deixa de ter uma convivência
cotidiana conosco ou, quase usando uma expressão religiosa,
quando deixa de ter uma convivência material conosco. Paulo
5
Freire teve, em 1997, a morte de seu corpo. Quem tem uma
prática religiosa vai supor que ele mesmo não desapareceu.
Mas, deixando a questão religiosa de lado, existe uma obra
viva e um legado vivo de Paulo Freire. Nesse sentido, não são
dez anos sem ele; nunca teremos um ano sem Paulo Freire.
Sem ser triunfalista, nessa percepção, o legado dele é o que
deixou de vitalidade nas pessoas, nos projetos, nas utopias. É
aquilo que chamava de “o inédito viável”. Em 1997, tinha 76
anos e vinha produzindo e escrevendo bastante. Escreveu um
texto publicado pela professora Ana Maria Araújo Freire, sua
viúva, em um livro da Editora Unesp. É um texto muito forte,
sua última produção viva, aqui chamada de “Pedagogia da
Indignação”. Foi uma carta. Muita gente não sabe, mas Paulo
Freire escrevia à mão, em folha sem pauta, com uma letra que
ele e algumas pessoas compreendiam muito bem.
O que Chico achou disso?
MC – (risos) é o Chico Buarque de Holanda, um
dos gênios da música, um homem muito sedutor, com uma
capacidade artística muito grande, um homem bonito,
encantador. E, claro, ter ciúmes do Chico Buarque era mais
do que compreensível, até uma honra naquela situação. Paulo
Freire, humano, bastante humano, tinha essas condições de,
inclusive, saber o que não sabia, o que é um princípio básico
do conhecimento.
Aliás, uma das grandes lições que nos deixa é que
quando a gente sabe que não sabe, dá um passo significativo
na direção do conhecimento. Sócrates já houvera anunciado:
“Só sei que nada sei”. Mas uma coisa é anunciar isso, outra
coisa é vivenciar. Paulo Freire vivenciava isso com muita força.
Ele não tinha a chamada falsa modéstia, que é uma forma de
cinismo. Aquele que é ator, quando você elogia, diz “bondade
Em reuniões com grupos que aplicavam seu método,
sua”. Ao contrário, sabia da importância dele e de sua obra.
ele dizia que alfabetização não era sua especialidade e,
Ele sabia que sabia com os outros. Que o saber marcado pelo
nesses momentos, entrava em ação sua primeira mulher,
sabor é algo que se partilha.
dona Elza...
Isso ele fez, por exemplo, quando secretário, de
MC – Exatamente. Porque sua esposa, dona Elza,
1989 até maio de 1991. Era um democrata de altíssimo nível.
ela sim era uma professora, uma mestra – como se diz no
Nunca esqueço uma vez que precisávamos mesmo virar a
Nordeste até hoje. Tinha uma formação especializada nesse
noite discutindo um tema, com toda equipe que coordenava a
campo. Sempre foi uma docente, tal como sua viúva hoje,
Secretaria. Lá pelas duas da manhã, deu fome. Fizemos o óbvio
Ana Maria Araújo freire, doutora em História
que se faz em São Paulo: encomendamos
da Educação. A Anita foi uma aluna dele
várias pizzas. E aí, claro, não usamos,
Comemoração é também como nunca se fez, dinheiro público para
quando estava no antigo ginásio, porque o
pai dela era o dono da escola onde Paulo
isso, embora tivesse até verba e seria
celebrar, tornar célebre,
Freire ensinava. Isso lá no Grande recife.
admitido porque estávamos trabalhando.
inesquecível. Nesse
Mais tarde, foi sua orientanda no mestrado,
Mas fizemos a famosa “vaquinha”. Ele
quando ele era casado com dona Elza e
sentido, comemora-se,
também colocou lá seu cheque, dividindo
ela, com outra pessoa. Aí, um dia, ambos
a pizza. Eu, sorrateiramente – um dia
sim, os dez anos sem a
ficaram viúvos, se casaram e viveram
contei isso a ele -, tirei o cheque e pus o
presença cotidiana de
juntos, de 1988 até 1997. Há um belíssimo
dinheiro na mesa. Tenho ele comigo até
livro, chamado “Paulo e Anita” (editora
hoje. É um material que guardo, uma das
Paulo Freire
Olho d´Água), em que Anita conta histórias
minhas lembranças. E não passarei adiante
estupendas. Eu fiz a contracapa. É um
o chequinho.
livro muito gostoso, em que ela conta histórias da vida a dois.
Exceto uma, e quem revelou fui eu, em outra publicação.
Qual a contribuição de Paulo Freire para a África e
Paulo Freire era um homem que tinha um amor muito
outros países subdesenvolvidos?
grande por Ana Maria Freire, assim como amou profundamente
MC – Paulo Freire era o principal inspirador de
Elza Freire e todos os filhos. Era um homem que sabia ser
projetos de educação em países do Terceiro Mundo, com
repartido. Vi uma única vez ele ter uma demonstração de
sua obra publicada em 1968, ”Pedagogia do Oprimido”, uma
ciúme, num comício do Lula, em sua primeira candidatura
das mais reproduzidas no mundo todo. Esse texto serviu
à Presidência. Paulo Freire estava com Anita. Na época, já
também de inspiração a países do Terceiro Mundo, tal como
estavam, claro, casados. Ela encontrou-se com um grande
se dizia na época. Mas serviu também de inspiração para
músico da MPB que lhe deu um beijo muito bonito, carinhoso
países de Primeiro Mundo. A Obra de Paulo Freire, no que
e a abraçou. E Paulo Freire achou que ela tinha abraçado o
se refere ao diálogo, foi decisiva nos países nórdicos. Ele é
Chico Buarque. Desceu do palanque e foi a pé para casa,
o único brasileiro que tem, na Suécia, uma estátua ao lado de
subindo, já com a idade que ele tinha, aquela ladeira do
outras personalidades. Um homem cuja influência pelo mundo
Pacaembu em direção à Igreja Nossa Senhora de Fátima e à
afora foi decisiva, em alguns locais como grande mito e, em
avenida Dr. Arnaldo, ali na Pompéia, na região onde morava.
outros, como uma perspectiva de visão epistemológica. Ele
Ficou enciumado naquele dia. Anita contou essa história no
é um filósofo da educação. Não foi só alguém que produziu
livro, sem contar o santo. E aí, um belo dia, eu disse para ela
material no campo da educação em si, mas conseguiu fazer
“vou revelar, porque aquilo é uma beleza”. Um homem que tem
aquele chamado, ser um andarilho da utopia, caminhar pelo
ciúme de quem ele teve é um homem inteligente.
mundo afora e trocar correspondências com grandes pessoas
6
Revista do Professor - SINPRO Sindicato dos Professores do ABC
de todo o planeta. Suas obras influenciaram imensamente
científica, o Paulo Afonso Carlos, usou um texto dele que era
todo o pensamento pedagógico contemporâneo. Não dá para
proibido, “Educação como prática da liberdade”. A gente até
pensar na educação do mundo atual sem pensamento de
tinha uma cópia na época, mimeografada. Em 1977, já formado,
Paulo Freire.
lecionando na PUC-SP, comecei a ter aulas no mestrado com
E há uma coisa curiosa: muita gente lê Paulo Freire
o professor Moacir Gadotti. Até o ano anterior, o Gadotti tinha
hoje, obras como “Educação como prática de liberdade” ou
trabalhado com o Paulo Freire em Genebra. Então, passei a
“Pedagogia da autonomia”, seu último livro lançado, e acham
ter um contato mais próximo com o Moacir e mais ainda em
que é um pensamento óbvio. Ele escreveu há quarenta anos e,
1979, a partir da fundação do PT. Logo depois, participei da
nesse período todo, educadores sérios começaram a trabalhar
organização inicial da Fundação Wilson Pinheiro, da qual o
essas idéias. Lemos isso em outros autores, que leram Paulo
Paulo Freire era um dos próceres.
Freire. Então, quando as pessoas voltam ao original, começam
Gadotti se tornou meu orientador no mestrado. Então,
a achar que é muito óbvio. Ao ler “Pedagogia do Oprimido”,
comecei a ter essa convivência com o pensamento e com
é preciso levar em conta o universo vivencial da pessoa, o
o próprio Paulo Freire. Em 1988, Luiza Erundina foi eleita
que ela tem, os temas geradores. Então, essas percepções
prefeita de São Paulo e Paulo Freire foi o primeiro secretário
circularam há meio século.
por ela escolhido. Fui um dos chamados pelo Gadotti para
Quando nós passamos a saber e divulgar, a olhar
compor essa equipe e passamos a ter uma convivência mais
para ele de novo, dá impressão de que aquela visita é uma
cotidiana.
revisita. É uma obviedade falsa. Não se tem, de fato, aí, uma
Montou uma equipe com ele para gerir a Secretaria,
condição na qual ele não tenha criado. Ele criou muita coisa
embora já tivesse dito que não ficaria os quatro anos porque
forte do pensamento do materialismo dialético em Paulo
achava que tinha a tarefa de organizar o projeto, coordenar a
Freire. Ele mescla e sabe fazer uma síntese, na qual parte para
equipe, mas que ficaria apenas a metade do mandato, para
o cotidiano das pessoas. A expressão máxima é a idéia que
viajar, escrever mais livros e, portanto, preservar a liberdade
a leitura da palavra deve ser precedida
para sair pelo mundo.
pela leitura do mundo. Se você precede a
No primeiro ano da gestão dele, em
leitura da palavra pela leitura do mundo,
1989, o Gadotti era o chefe de gabinete e
Ele mesmo dizia que
para alfabetização de adultos, você terá
eu era o assessor especial; em 1990, nós
“fazer como Paulo Freire invertemos a posição, o Gadotti foi o assessor
um processo também de conscientização.
Existe
uma
filosofia
do
não é fazer o que Paulo especial e passei a ser o chefe de gabinete,
conhecimento, uma epistemologia, uma
ou seja, secretário adjunto, aquele que o
Freire fez”
didática e uma pedagogia que compõem
substituía. Em maio de 91, quando saiu,
a possibilidade de se estruturar o método.
continuei como secretário – alias, ele fez a
Aliás, essa metodologia não pode ser
sugestão à prefeita para que eu coordenasse
separada dos seus procedimentos. O Mobral, vez ou outra,
a equipe que ele já montara.
alegava que usava o método sem a metodologia e sem a
Quando deixou de ser secretário, já não orientava
ideologia, o que é impossível. Fazer a alfabetização da qual
mais trabalho na universidade, exceto eu, que fui o seu último
decorre o método está ligado à ideologia freireana. Senão
orientado. Aliás, Paulo Freire faleceu duas semanas antes da
seria ensinar uma técnica que ensina a desenhar o nome, pois
minha defesa. Não consegui remarcar, só em junho, depois
alfabetização também é interpretação.
de um mês, quando então convidei para compor a banca, em
seu lugar, a professora Ana Maria Freire, que participou, para
Paulo Freire reavaliou muito do seu próprio
minha alegria, do exame. Mas tive o que chamo de melhor
pensamento?
curso de alfabetização de adultos que existe. Porque, como
MC – Quando ele escreve “Pedagogia da Esperança”,
chefe de gabinete, todos os dias, quando dava 18h30, tinha
é uma revisita da “Pedagogia do Oprimido”, que sai quase trinta
que entrar na sala dele com 250, 300, 400 documentos. Ele
anos depois. Fez aí uma série de observações em relação
assinava a documentação porque a burocracia é grande:
ao conteúdo da época. Um homem como ele não perderia a
há gente que pede licença, ordem de compra, tudo. Era um
possibilidade de se auto-criticar. Aliás, se há uma coisa que
gesto automático, que ele fazia em uma hora e meia. Cabia
não apreciava, de fato, era a ortodoxia. Ele mesmo dizia que
a mim sentar do lado dele, pegar aquela pilha de processos,
“fazer como Paulo Freire não é fazer o que Paulo Freire fez”.
documentos e deliberações, passava um, ele assinava, eu
É fazer o que faria se estivesse aqui. Fazer o que fez Karl
tirava, passava outro, ele assinava, eu tirava, Era um processo
Marx não é fazer o que ele faria, é fazer o que ele faria se cá
automático, tanto dele como meu, porque todo o preparo
estivesse. Então, ele tinha essa capacidade, inclusive, de não
anterior já tinha sido visto. Nós ficávamos conversando sobre a
admitir que houvesse uma mistificação de seu trabalho.
vida, trabalho, sexualidade, educação... Sempre foi um homem
alegre, ele sempre soube que a alegria e seriedade não são
Como foi sua convivência com ele?
sinônimos de tristeza. Uma das coisas que ele mais gostava
MC –Tive contato com a obra do Paulo Freire, pela
era de música. Você chegava na casa dele e sempre tinha
primeira vez, em 1973. Eu estava entrando no primeiro ano
música ao fundo.
de filosofia, na universidade, e meu professor de metodologia
Revista do Professor - SINPRO Sindicato dos Professores do ABC
7
Eu morreria feliz se visse o
Brasil
cheio,
em seu tempo histórico,
fazer?
...para que nós criemos, como
de
marchas.
Marcha dos quem não
MC – era um apreciador
dizia
ele,
a
capacidade
de
têm
escola,
marcha
dos reprovados,
universal do esporte e, claro, gostava
marcha
dos
que
querem
amar e não
de contar histórias, tinha bom humor.
esperançar, já que não aceitava
podem,
marcha
dos
que
se
recusam a
Tinha uma que sempre contava e
esperança
do
verbo
esperar.
Dizia
uma
obediência
servil,
marcha
dos que
ria muito, que era um dos momentos
se
rebelam,
marcha
dos
que
querem
que tem que ser esperança do
clássicos da vida dele. Quando foi
ser
e
estão
proibidos
de
ser.
preso, no golpe militar, em 1964, verbo esperançar. E esperançar é ir
Eu acho que, afinal de contas,
estava em Brasília e depois foi levado
atrás,
é
juntar,
é
não
desistir.
as
marchas
são andarilhagens
para o Recife. Na primeira semana
históricas
pelo
mundo
e os sem-terra
em que estava preso, o capitão que
constituem,
para
mim,
hoje, uma das
tomava conta dos recrutas no quartel
expressões
mais
fortes
da
vida política
foi até ele e disse: “Professor, soube
e
da
vida
cívica
desse
país.
que o senhor é um grande educador, que tem a capacidade
Por isso mesmo, é que se fala contra eles. Até gente
de alfabetizar as pessoas... nós temos muitos recrutas
que
se
pensou
progressista fala contra eles (sem-terra), como
analfabetos aqui, será que o senhor poderia alfabetizá-los?”
se
fossem
uns
desabusados,
como se fossem destruidores da
Ele riu e disse: “Mas menino, é exatamente por isso que eu
ordem.
Pelo
contrário,
o
que
eles estão provando, mais uma
estou preso” (risos).
vez,
são
certas
afirmações
teóricas de analistas políticos,
Contava também que, quando foi visitar uma
de
que
é
preciso
mesmo
brigar
para obter o mínimo de
universidade na África, o reitor foi recebê-lo no estacionamento
transformação.
e, entre o estacionamento e a entrada da reitoria, tinha um
Eu lamento tristemente que Darcy Ribeiro já não
gramado. O reitor, um senhor de quase dois metros, cabelos
possa
saber,
já não possa estar vendo, sentindo e vendo
brancos, da comunidade Zulu, segurou sua mão e os dois
uma
marcha
como
essa. Eu acredito e agradeço a Deus
atravessaram o gramado de mãos dadas. Paulo freire pensou:
por
estar
vivo,
poder
ver e saber que os sem-terra marcham
“Meu Deus, se um outro brasileiro me encontra agora...”.
contra
uma
vontade
reacionária histórica implantada nesse
Quando entraram na reitoria, o reitor disse: “Professor, posso
país.
Meu
apelo,
meu
desejo, meu sonho é que outras
perguntar uma coisa? Quando nós estávamos caminhando, eu
marchas
se
instalem
nesse
país, por exemplo, a marcha pela
segurei sua mão e o senhor parece que reagiu mal”, e ele “sabe
decência,
a
marcha
pela
superação
da sem-vergonhice, que
o que é, no meu país os homens não andam de mãos dadas”.
se
democratizou
terrivelmente
nesse
país.
Eu acho que essas
E o reitor disse: “Nossa, deve ser um país muito estranho o
seu” (risos).
Paulo Freire com os filhos e o sociólogo Betinho
Paulo Freire é o nosso brasileiro mais ilustre?
MC – Acho que ele não aceitaria isso e também que não
seria bom se achasse. Acredito que ele acharia que o brasileiro
mais ilustre é aquele que não desistiu, seja quem for. Sem ser
demagógico nisso, diria que o brasileiro, a brasileira, que forem
incansáveis na luta por uma vida humana mais feliz, esses são
ilustres. Aquele que achar que a história está aberta para que
nós criemos, como dizia ele, a capacidade de esperançar, já
que não aceitava esperança do verbo esperar. Dizia que tem
que ser esperança do verbo esperançar. E esperançar é ir
atrás, é juntar, é não desistir.
O que ele mais gostava de
Última entrevista
No dia 2 de maio de 1997, Freire sofreu um infarto e
faleceu. Na última entrevista, concedida à TV PUC, dia 17 de
abril, o professor falou sobre temas que, mesmo passados dez
anos, ainda são totalmente atuais.
Marchas
Paulo Freire - Eu estou absolutamente feliz por estar
vivo ainda e ter acompanhado essa marcha, que como outras
marchas históricas, revelam o ímpeto da vontade amorosa de
mudar o mundo: essa marcha dos chamados sem-terra.
8
Revista do Professor - SINPRO Sindicato dos Professores do ABC
marchas nos afirmam como gente, como sociedade querendo
democratizar-se.
O ser humano em adaptação
PF - Indiscutivelmente e do ponto de vista biológico,
talvez nenhum outro ser tenha desenvolvido a capacidade de
adaptação às circunstâncias maior do que o homem e a mulher.
A adaptação no ser humano é um momento apenas para o que
eu chamo de “a sua inserção”. Qual é a distinção que faço
entre adaptação ao mundo e inserção no mundo? A distinção é
a seguinte: na adaptação há uma adequação, há um ajuste do
corpo às condições materiais, históricas, sociais, geográficas,
climáticas etc. Na inserção, o que há é a tomada de decisão no
sentido da intervenção no mundo. Por isso mesmo eu recuso
qualquer posição fatalista diante da história e dos fatos. Eu
não aceito, por exemplo, expressões como “é uma pena que
haja tantos brasileiros e brasileiras morrendo de fome, mas,
afinal, a realidade é essa mesma”. Não, eu recuso como falsa,
como ideológica essa afirmação. Nenhuma realidade é “assim
mesmo”. Toda realidade está aí submetida à possibilidade de
nossa intervenção nela. Eu não tenho dúvida nenhuma de que
a história da luta pela justiça rural e agrária nesse país, que
hoje o MST explicita numa posição crítica de quem se assume
como sujeito da história, revela a superação da posição inicial
da adequação, inclusive como uma forma de defesa. Uma das
minhas preocupações, uma de minhas razões de luta, uma
das minhas razões de presença no mundo é, exatamente de
que, como educador, eu posso contribuir para uma assunção
crítica da possibilidade da passividade para que se vá além
dessa passividade no que eu chamo de posturas rebeldes e de
posturas criticamente transformadoras do mundo.
O ser humano em evolução
PF - Eu acho que nós somos, homens e mulheres,
seres inacabados, mas com uma diferença radical em face do
inacabamento das árvores e dos outros bichos, por exemplo.
No momento em que nos tornamos capazes de nos saber
inacabados seria uma imensa contradição se ao mesmo tempo
não nos inseríssemos num movimento que é permanente e
que é um movimento de busca, procura.
O processo que nos inserimos de permanente busca,
eu venho chamando de “vocação do ser mais”. Na busca ou
no processo de busca da completude dessa vocação do ser
mais, nos perdemos, também. Estamos a uma indiscutível
possibilidade de distorcer o processo de busca do ser mais e a
essa distorção eu chamo de desumanização. A desumanização
por isso mesmo não é virtuosa, é um acidente trágico a que nós
estamos sujeitos no processo de buscar a nossa humanização
crescente. O que nós temos pela frente é exatamente essa
caminhada em que ser e deixar de ser se embatem.
Haverá sempre a possibilidade das trágicas
desistências de ser. Nossa grande tarefa de passar pelo
mundo é exatamente a da briga constante e permanente pela
busca do ser mais.
A fé
PF - Eu me situo, primeiro, entre os que crêem na
Revista do Professor - SINPRO Sindicato dos Professores do ABC
transcendentalidade e, segundo, eu me situo entre aqueles
que, crendo na transcendentalidade, não dicotomizam a
transcendentalidade da mundaneidade. Em primeiro lugar, até
mesmo do ponto de vista do senso comum, eu não posso chegar
lá a não ser a partir de cá. E se cá, aqui, é exatamente o ponto
em que eu me acho para falar de lá, então é daqui que parto
e não de lá. Eu respeito o direito que se tem de dicotomizar,
mas não aceito a dicotomia. Isso coloca a questão da minha fé
e da minha crença, que indiscutivelmente interferem na minha
forma de pensar o mundo.
Poucos dias antes de Darcy Ribeiro morrer, eu vi uma
linda entrevista dele, que deve ter sido uma das últimas, em que
ele falava dessa questão, dessa passagem, e ele dizia com muita
seriedade, muita amorosidade (...) “se a questão da fé passasse
pela razão crítica, eu teria fé”. Ele ainda dizia “eu fiz tudo, mas
não deu”. No fundo, ele disse, com palavras que não sei repetir
agora, “eu não sou mais do que o meu cadáver”. Quer dizer,
quando eu morro, eu sou um monte de coisas que se desfazem.
Quando Darcy dizia aquilo, com uma sinceridade enorme, com
grande lealdade, eu dizia a mim mesmo que, comigo, o processo
foi diferente. Eu nunca precisei - e nisso talvez eu esteja pouco
humilde – brigar comigo mesmo para me compreender na fé, por
isso mesmo, de vez em quando, eu me lembro de uma frase,
de uma das primeiras afirmações que li em um livro – quando
tinha uns 19 anos – de Miguel de Una-muno, um célebre filósofo,
amoroso, espanhol, em um livro que se chama “Idéias e Crenças”,
em que ele começa dizendo “as idéias se têm nas crenças se
está”. E comigo o que vem se dando é isso mesmo, quer dizer,
eu estou na minha fé. Eu nunca precisei de argumentações de
natureza científica e filosófica para me justificar na minha fé.
Cristo, meu camarada
PF - Quando muito moço, muito jovem, eu fui aos
mangues, aos córregos, aos morros do Recife, às zonas rurais
de Pernambuco trabalhar com os camponeses e favelados, eu
confesso, sem nenhuma choramingas, que fui até lá movido
por uma certa lealdade ao Cristo de quem eu era mais ou
menos camarada. Mas o que acontece quando eu chego lá,
a realidade dura do favelado e do camponês, a negação do
seu ser como gente, a tendência àquela adaptação de que
falei antes, aquele estado quase inerte diante da negação
da liberdade, aquilo tudo me remeteu a Marx. Sempre digo
“não foram os camponeses que disseram a mim: Paulo,
tu já leste Marx?” Não, de jeito nenhum, eles não liam nem
jornal! Foi a realidade deles que me remeteu a Marx. Então
que os jornalistas europeus, em 70, não entenderam a minha
afirmação. Quanto mais eu li Marx, tanto mais eu encontrei
uma certa fundamentação objetiva para continuar camarada
de Cristo. As leituras que fiz de Marx, de alongamentos de
Marx, não me sugeriram jamais que eu deixasse de encontrar
Cristo na esquina das próprias favelas. Eu fiquei com Marx na
mundaneidade a procura de Cristo na transcendentalidade.
Fontes: Entrevista de Mário Sérgio Cortella,
revista Fórum, e de Paulo Freire, reprodução
autorizada pela TV PUC.
9
notas
Índice de repetência no Brasil
só é melhor do que em ilha caribenha
“Comparando 41 países da América Latina e Caribe,
o número de repetências no Brasil só não é pior do que em
Anguila. Alguém sabe onde fica Anguila?”. A constatação e a
pergunta são da pesquisadora da Fundação Carlos Chagas e
professora da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo
(PUC-SP), Maria Malta Campos, feitas durante o debate “A
qualidade da Educação Básica”, promovido pela Universidade
de São Paulo (USP), na cidade de São Paulo.
O questionamento sobre a pequena ilha do caribe, que
tem 10 mil habitantes, serviu para ressaltar, para a platéia de
professores, os graves índices da educação básica brasileira.
O dado, que foi apresentado pela Organização das Nações
Unidas para a Educação, a Ciência e Cultura (Unesco), poderia
ser ainda pior. “Ele é baseado no Pisa - avaliação internacional
de desempenho de estudantes - que compara a aprendizagem
de jovens de 15 anos de idade em todo o mundo. No caso
do Brasil, foi necessário um ajuste, porque quase a metade
dos estudantes com essa idade não está no ensino médio.
Portanto, eles não entraram na conta. Imagina se entrassem”,
disse Campos.
Neste contexto, em que 15 milhões de brasileiros, maiores
de 15 anos, são analfabetos absolutos - não sabem ao menos
assinar o nome -, no qual apenas 23% das escolas de 1ª a
4ª série têm quadra de esporte e 22% têm biblioteca, além
da taxa de repetência de 20%, enquanto que no Peru é de
7%, a pesquisadora disse que a qualidade deve ser buscada
pela perspectiva dos direitos humanos. “Diante das pressões
internacionais por redução dos gastos sociais, o Brasil sempre
buscou a qualidade pensando em eficiência. Quer dizer,
ampliar o acesso sem gastar mais, o que cria um paradoxo.
A sinalização do governo, com o lançamento do Programa
de Desenvolvimento da Educação, mostra que a questão da
qualidade entrou na agenda e vai receber um pouco mais de
recursos, mesmo que ainda não suficiente”, disse.
Fonte: Planeta Educação
Série conta história de grandes
personagens da história para crianças
A Publifolha lançou uma série de livros que contam as
biografias de figuras-chave da história, ciência, arte e cultura,
com linguagem simples para o público infantil. Em “Meu nome
é”, personagens como Leonardo da Vinci, Alexandre – o
Grande, Albert Einstein, Marco Pólo, Mozart e Picasso narram
as principais passagens de suas vidas e detalhes da época
que viveram.
Os livros podem ser adquiridos pelo telefone 0800-140090
ou no site http://publifolha.folha.br.
Fonte: Folha Online
10
Permanência na escola
reduz homicídios, diz estudo
Jovens nascidos na periferia estão mais sujeitos à violência
urbana, à maternidade precoce e à evasão escolar. Segundo
a pesquisa da Fundação Sistema Estadual de Análise de
Dados (Seade) de São Paulo, há uma estreita relação entre a
criminalidade e a falta de estudo. Nas áreas pobres, há o dobro
de adolescentes entre 15 e 17 anos fora dos bancos escolares
do que aqueles que moram em bairros nobres da cidade e que
têm acesso a boas escolas.
De acordo com a pesquisa, o aumento no número de
matrículas, principalmente no Ensino Médio, traduziu-se
em menos assassinatos e gravidez de adolescentes. A
redução da mortalidade na juventude (de 70%) foi assinalada
principalmente nas áreas mais pobres.
Na periferia, os casos de adolescentes, entre 14 e 17 anos,
que tiveram filho chega ao dobro, se comparado com bairros
mais ricos; além disso, os jovens de 15 a 19 anos morreram
por homicídio três vezes mais que nos bairros ricos. A evasão
escolar em bairros periféricos é o dobro da registrada em
localidades mais nobres: 14,9% e 7,6%, respectivamente.
Fonte: Jornal O Dia
Acordo pode mudar ortografia
da Língua Portuguesa
A Comunidade dos Países de Língua Portuguesa deve
se reunir para discutir regras do português. A proposta de
acordo vai mexer com uma parte das 360 mil palavras
existentes hoje, no Brasil.
A intenção é que a mudança aproxime a o português
escrito no Brasil, em Portugal e em mais seis países:
Angola, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, Timor
Leste e São Tomé e Príncipe.
“Vantagens culturais, de ordem política, vantagens de
ordem econômica até porque aí a língua portuguesa não
terá duas vertentes em matéria de ortografia”, declarou
Evanildo Bechara, gramático e membro da Academia
Brasileira de Letras.
De acordo com a academia, certas regras podem
desaparecer das gramáticas. A idéia é economizar
acentos. Em palavras como vôo, abençôo e enjôo, o
circunflexo sairia de cena. O trema pode ser extinto.
Brasil, Cabo Verde e São Tomé e Príncipe já ratificaram
o acordo, mas Portugal ainda não se pronunciou. Por isso,
a mudança ainda não é valida.
Fonte: Portal Terra
Revista do Professor - SINPRO Sindicato dos Professores do ABC
MEC investirá R$ 400 milhões
em escolas até 2009
O Ministério da Educação decidiu aumentar em 50% o
valor das transferências de recursos do Programa Dinheiro
Direto na Escola. O objetivo é incentivar as escolas públicas
rurais e urbanas a melhorar os índices de qualidade. Segundo
o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais
Anísio Teixeira (Inep), com os recursos adicionais, o PDDE
terá um orçamento de R$ 400 milhões por ano.
Fonte: Agência Brasil
Marcha da CNTE recebe apoio
do parlamento uruguaio
A IV Marcha da Educação, realizada em 25 de abril,
ultrapassou as fronteiras do Brasil e encontrou eco no
parlamento uruguaio, de onde a parlamentar Ivonne Passada
enviou correspondência felicitando a CNTE pela organização
do evento e pelo empenho na promoção de uma educação
pública de qualidade.
Veja a íntegra do texto da parlamentar uruguaia enviada à
presidenta da CNTE, Juçara Dutra Vieira.
Companheira presidenta da Confederação Nacional dos
Trabalhadores em Educação (CNTE)
Quero saudar você e a organização sindical que preside
pela convocação da IV Marcha Nacional em Defesa da
Educação Pública.
Entendemos que o projeto dos governos progressistas da
região é o de promover uma educação pública de qualidade,
na qual nossos povos poderiam integrar-se à sociedade para
construir sua cidadania após anos de exclusão social.
Receba meu mais afetuoso abraço e meu compromisso
de erguer pontes para a construção de um Projeto Nacional
que integre nossas nações para que todas as nossas crianças
tenham acesso à educação pública como direito inalienável.
Ivonne Passada, Representante Nacional
Fonte: CNTE
CNE faz balanço sobre os dez anos
da Lei de Diretrizes e Bases
O Conselho Nacional de Educação (CNE) deu início, no
dia 13 de junho, ao ciclo de reuniões sobre os dez anos da
Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) — Lei
nº 9.394, de dezembro de 1996. “Queremos ver o que foi feito
desde a implementação da lei e sugerir possíveis modificações”,
explicou a presidente da Câmara de Educação Básica do CNE,
Clélia Brandão.
A revisão das diretrizes servirá também para a elaboração
do plano de carreira dos profissionais do magistério. “A
valorização do magistério é um desejo não só dos professores,
mas de toda a sociedade”, ressaltou Clélia. Os recursos para
garantir melhor remuneração da atividade docente já estão
previstos pelo Fundo da Educação Básica (Fundeb). Pelo
menos 60% dos recursos anuais totais do Fundeb serão
destinados ao pagamento dos profissionais do magistério da
educação básica em exercício efetivo na rede pública. O CNE
discutirá se a categoria profissionais de magistério engloba os
demais funcionários das escolas ou apenas os professores.
Uma das modificações discutidas na reunião do dia 13
trata da formação de professores. O artigo 62 da LDB autoriza
professores com nível médio a lecionarem na educação
infantil. Os especialistas do CNE pretendem estabelecer uma
vigência para o artigo. Assim, a partir de determinada data, os
professores seriam obrigados a ter uma graduação.
Fonte: MEC
Filosofia e Sociologia
Foi realizado entre os dias 15 e 17 de junho, no Palácio
das Convenções do Anhembi, o I Encontro Nacional sobre o
Ensino da Sociologia e Filosofia. Organizado pelo Sindicato
dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo e
outras entidades da educação, o Encontro abordou como tema
sociologia e filosofia e as orientações voltadas à construção de
uma escola crítica no século XXI.
Fonte: Apeoesp
Projeto estabelece o diálogo entre as pessoas em ambientes escuros
Chegou ao Brasil um dos projetos culturais que tem sucesso
garantido em todo o mundo: A novidade tem como maior atração
o “Diálogo no Escuro” e foi lançado no final de abril, no Shopping
Galleria, em Campinas, interior de São Paulo.
Com o objetivo maior de estabelecer o diálogo entre
as pessoas, o “Museu do Diálogo” oferece a oportunidade
dos visitantes vivenciarem uma experiência inédita e
inovadora. O público conhecerá espaços construídos
dentro de uma caixa preta: um bar, uma floresta, uma
cidade, um supermercado ou um barco, todos no escuro,
fazem parte do tour do Museu e os visitantes serão
Revista do Professor - SINPRO Sindicato dos Professores do ABC
conduzidos por pessoas cegas.
O “Museu do Diálogo” do Brasil é o primeiro da América
Latina e tem o grande desafio de se tornar referência na
inclusão, em especial, pela potencialidade de transformação
do sujeito de forma vivencial, lúdica e inovadora, pela
empregabilidade de pessoas com deficiência, pela
acessibilidade e a não discriminação.
O “Museu do Diálogo” de Campinas faz parte do início de
uma rede, que será instalada em todas as principais capitais
brasileiras.
Fonte: Planeta Educação
11
internacional
O governo Lula no
contexto da América Latina
Na América Latina, historicamente "quintal" do imperialismo estadunidense, a postura dos
governos diante de Washington é, sem dúvida, um elemento central para indicar o grau de
compromisso com a construção de nações soberanas e com as demandas populares de justiça
social, mudanças estruturais no regime de propriedade e distribuição de renda
S
Julio Turra
e há um traço comum nas eleições que deram a vitória
a Hugo Chávez, na Venezuela, Lula, no Brasil, Evo
Morales, na Bolívia, Tabaré Vazquez, no Uruguai e,
mais recentemente, a Rafael Correa, no Equador, é que elas
expressaram uma vontade profunda dos setores populares
de romper com a política de submissão ao imperialismo,
percebida em maior ou menor grau como responsável pelas
desigualdades sociais, para afirmar a construção de nações
soberanas e colocar na ordem do dia a superação da situação
de miséria das grandes maiorias.
Assim, as relações que esses governos passarão
a ter com o governo dos Estados Unidos, em particular com
o governo republicano de George W. Bush, são elementos
decisivos para determinar se os mesmos se colocam como
ponto de apoio ou como obstáculo para transformações
favoráveis aos povos.
Estreitam-se as relações de
Lula com Bush
Num único mês, março de 2007, Lula e Bush
encontraram-se duas vezes, tendo no centro das conversações
uma parceria entre Brasil e Estados Unidos para incentivar a
produção de etanol (biocombustível).
Em 9 de março, como parte de um giro do presidente
dos EUA por países latino-americanos (além do Brasil,
Uruguai, Colômbia, Guatemala e México), Bush foi recebido
por Lula, em São Paulo, onde os dois governos assinaram
um memorando que estabelece uma “parceria Brasil-Estados
Unidos para direcionar os recursos de nossos setores público
e privado na direção do fortalecimento dos biocombustíveis e
tecnologias relacionadas”, a qual seria desenvolvida em três
níveis: bilateral, em terceiros países e global.
12
Enquanto Lula recebia Bush numa unidade da
Petrobrás, em Guarulhos, e a cidade de São Paulo era
praticamente paralisada pelo esquema de segurança montado
diretamente pelo Departamento de Estado dos EUA, cerca
de 20 mil manifestantes, convocados pelo MST, UNE, CUT
e outras organizações, desfilavam pela avenida Paulista, aos
gritos de “Fora Bush e sua política do Brasil e da América
Latina”, dentre eles muitos militantes do PT.
As reações contra o anunciado acordo do etanol foram
imediatas. O MST, que já tinha tomado, em 6 de março, uma
posição conjunta com outros movimentos integrantes da Via
Campesina, divulgava no boletim eletrônico “Letra Viva” (MST
Informa nº 129) o abaixo reproduzido:
“Eles (o governo Bush e as transnacionais) querem
apenas lucro e não se importam com a situação do meio
ambiente, o aquecimento global e com a vida dos trabalhadores
rurais. Resolveram fazer essa ofensiva na produção de energia
renovável, para se livrar da dependência de importar petróleo
de países agora com governos nacionalistas, como Venezuela
e Irã. (...) Condenamos veementemente a iniciativa do governo
de George W. Bush, que nos próximos dias visita os governos
do Brasil, Colômbia, Guatemala para cooptá-los e seduzi-los
a multiplicarem a produção de álcool para exportarem aos
Estados Unidos. Em troca, os capitalistas estadunidenses dos
três grandes setores do capital exigem o direito de comprar
e/ou instalar dezenas de novas usinas de álcool em todo o
continente, sendo que propuseram a construção de 100 novas
usinas apenas no Brasil. (...) Um possível sucesso desse
plano americano seria uma tragédia para agricultura tropical,
transformaria grandes extensões de nossas melhores terras em
imensos monocultivos, eliminaria ainda mais a biodiversidade
e a produção de alimentos, apenas para abastecer os próprios
carros. Expulsaria milhões de trabalhadores do campo em
todo mundo, que se amontoariam ainda mais nas favelas das
metrópoles.”
Revista do Professor - SINPRO Sindicato dos Professores do ABC
Também a Direção Executiva Nacional da CUT, em 20
de março, posicionou-se sobre essas negociações entre Brasil
e Estados Unidos da seguinte forma:
“Com a iminência da derrota no Iraque, a vulnerabilidade
energética dos EUA se amplia, na medida em que não tem o
controle de duas das principais regiões petrolíferas – Irã/Iraque
e Venezuela. A redução da dependência do petróleo é bandeira
política de Bush. Ganhou fôlego, ainda, o debate sobre a crise
ambiental, trazendo para a agenda dos EUA a necessidade de
buscar fontes alternativas de energia.
O Brasil tem uma matriz energética bastante ampla e o
etanol ocupa lugar de destaque. Brasil e EUA são responsáveis
por mais de 70% da produção mundial de etanol, sendo que a
tecnologia da produção nacional, a partir da cana de açúcar, é
mais eficiente, tanto em termos econômicos como ambientais.
Mas a produção brasileira do etanol - e uma provável expansão,
está envolvida em graves problemas sociais, trabalhistas e
ambientais.(...)
Caminha em sentido contrário ao crescimento
econômico que queremos uma possível expansão
indiscriminada da área de cultivo dos latifúndios canavieiros
e da produção de álcool, o que poderá ocorrer pelo provável
aumento da demanda.
Para o trabalhador brasileiro das lavouras canavieiras,
o que sobra é a baixíssima remuneração, as péssimas
condições de trabalho e a violência sistemática praticada
por latifundiários e usineiros. Conforme pesquisa feita pela
Fundacentro, o ritmo de trabalho e as péssimas condições
nos canaviais causaram, entre mutilações e doenças, a morte
por exaustão de pelo menos 17 cortadores de cana, em São
Paulo, no ano de 2006.
Em que pese haver o benefício ambiental da
substituição do consumo de combustível fóssil por fontes
alternativas, haverá nas regiões produtoras uma forte expansão
do consumo de água, da poluição dos rios e das queimadas, do
esgotamento do solo pela monocultura. Também a expansão
da cana substitui, principalmente, os cultivos de alimentos
voltados para o mercado interno.
E essa situação pode ser agravada. Os termos do
acordo entre os governos dos dois países, EUA e Brasil conforme memorando divulgado, anunciam a intenção de
promover a tecnologia dos biocombustíveis, de cooperação
para a expansão do etanol em outros países da América Latina
e Caribe, estabelecendo padrões comuns para o combustível.
(...) A CUT defende que não seja assinado qualquer acordo
dessa magnitude sem ser precedido de um amplo debate
na sociedade, que envolva os trabalhadores, os movimentos
sociais, a comunidade acadêmica e científica.”
Mas Lula, em 31 de março, viajou aos Estados Unidos
onde reuniu-se com Bush em Camp David. A “Declaração
Conjunta” dos dois presidentes reafirmou os termos do
Memorando assinado em São Paulo e agregou, em seu Ponto
2, que os “esforços conjuntos” para a produção de etanol
em terceiros países, deverão começar no Haiti, República
Dominicana, São Cristóvão e Nevis e El Salvador.
Assim, não é sem razão que Hugo Chávez e Fidel
Castro criticaram publicamente essa “parceria” de Lula com
Bush para a produção de etanol, pois, para além dos efeitos
sociais e econômicos denunciados pelo MST e a CUT, em
particular da expansão da lavoura canavieira sobre áreas de
produção de alimentos (no Brasil e em outros países onde a
“cooperação” for implantada), ela tem um marcante aspecto
político, o de aprofundar as relações entre os governos dos
Estados Unidos e do Brasil, em detrimento de uma integração
entre os governos da região em oposição à política do
imperialismo dominante.
É preocupante, também, que num momento em que o
governo da Venezuela adota medidas como a retomada para
o controle da estatal PDVESA sobre as riquíssimas jazidas de
petróleo da Faixa do Orinoco e a não renovação da concessão
pública que beneficiava a rede privada RCTV (muito ativa,
por exemplo, na tentativa frustrada de golpe de Estado
contra Chávez, em abril de 2002), no Brasil, além do governo
Lula continuar calado quanto à reivindicação levantada por
inúmeras organizações populares e sindicais de Anulação do
Leilão da Vale do Rio Doce, no caso da RCTV, o presidente
brasileiro tenha defendido o Senado, que havia adotado uma
moção contra Chávez criticando a decisão do governo vizinho
de não renovar a concessão da RCTV, respondida em termos
duros pelo mandatário venezuelano.
Mas também aqui no Brasil, como nos países vizinhos,
se expressa a luta popular pela construção de uma nação
soberana, liberta da dominação imperialista. E essa luta que
dará a última palavra sobre um posicionamento mais solidário
e ativo de nosso país no cenário das lutas que sacodem o
continente americano de Norte a Sul.
Em que pese haver o benefício ambiental da substituição do consumo de combustível
fóssil por fontes alternativas, haverá nas regiões produtoras uma forte expansão do
consumo de água, da poluição dos rios e das queimadas, do esgotamento do solo pela
monocultura. Também a expansão da cana substitui, principalmente, os cultivos de
alimentos voltados para o mercado interno
Revista do Professor - SINPRO Sindicato dos Professores do ABC
13
sindical
É nosso e ninguém tira!
Direitos conquistados a base de muita luta não podem ser
retaliados. Trabalhadores em luta contra a Emenda 3
Fotos: Paulo Ostroski
Trabalhadores protestam contra a emenda 3
V
ocê quer deixar de ter direito ao 13º, férias, licençamaternidade, FGTS, auxílio-doença etc? Abrir mão
desses benefícios é o mesmo que jogar pelo ralo anos de
lutas e vitórias de toda classe trabalhadora brasileira. Mas é isso
que a polêmica emenda 3 quer fazer.
A emenda foi sugerida pelo ex-senador Ney Suassuna
(PMDB), apoiada pelo PSDB e PFL, e pretende impedir que
os fiscais do Ministério do Trabalho e Previdência multem
as empresas que não assinam a Carteira de Trabalho dos
funcionários; obrigam o trabalhador a se tornar Pessoa
14
Jurídica e emitir nota fiscal como empresa prestadora de
serviço; não pagam o salário caso o funcionário não emita
a nota e demitam o trabalhador que não optar em virar PJ.
Sendo assim, o empregado que se tornar PJ deixará de ser um
trabalhador para ser uma empresa e, com isso, não terá direito
aos benefícios citados no início da matéria. Sem esses direitos,
o funcionário pagará do próprio bolso o transporte ao local de
trabalho, refeições e INSS. Ainda, para ser PJ, é preciso pagar
mensalmente imposto de renda, impostos para a prefeitura
e um contador, ou então, fica com nome sujo. “O professor
Revista do Professor - SINPRO Sindicato dos Professores do ABC
tem que tomar consciência de que ele não é prestador de
serviço. Professor não pode ser empresa, não pode abrir mão
de direitos para assumir ônus tributários", avalia o professor
Aloísio Alves da Silva, presidente do SINPRO ABC.
“A emenda 3 estabelece uma situação absurda ao
tentar tirar dos fiscais o principal objetivo de verificar as
condições de trabalho e a ação de quem não cumpre os
deveres trabalhistas. Na prática, é uma proposta para se rasgar
a carteira de trabalho”, denunciou Artur Henrique, presidente
da CUT, na festa do trabalhador, dia 1º de maio.
Por que apoiar o veto?
No dia 16 de março, o presidente Luiz Inácio Lula da
Silva vetou a emenda, recebeu apoio das centrais sindicais
e o repúdio do patronato. Essa decisão do presidente será
submetida à votação no Congresso Nacional.
Conforme já citado anteriormente, a emenda 3 recebe
apoio do PSDB e PFL, que já estiveram envolvidos em outra
polêmica relacionada aos direitos trabalhistas. Quem não
se lembra do projeto de flexibilização do artigo 618 da CLT,
proposto pelo ex-presidente FHC, em 2001, que permitia ao
patrão negociar o pagamento de direitos com o empregado?
Em outras palavras, o funcionário sairia perdendo (mais uma
vez) porque se sentiria coagido a aceitar as “ofertas” do patrão,
ou então, rua! Com a emenda 3, o que ocorrerá será pior, pois
não haverá negociação de benefícios, mas, sim, a extinção de
direitos.
As grandes empresas serão beneficiadas pela
aprovação da emenda, por isso a apóiam. Sem fiscalização,
estarão livres para sapatear na cabeça dos funcionários,
cientes de que nada será motivo para intimidação. Se é
benéfica para os patrões, certamente não será tão positiva aos
trabalhadores.
É preciso que todos se unam pela defesa do veto
presidencial para garantir que as empresas não voltem à era
da escravidão e submeta os funcionários a péssimas condições
de trabalho, coagindo-os com argumento “ou vira PJ, ou estará
demitido”. “Entendo que a derrubada do veto presidencial
atingirá todos os trabalhadores, sendo que algumas
categorias deverão ser mais atingidas que outras, entre elas,
O SINPRO ABC também esteve presente no ato
os professores. Em primeiro lugar, é alto o percentual de
professores no ensino superior que não têm atividade docente
como principal fonte de renda, mas como complemento,
ou seja, tem outros empregos e alguns já são, de fato, PJ”,
observa Aloísio. “Segundo, porque considerando a maneira
como os barões (ou tubarões) da educação já desenvolvem
uma política de mercantilização do ensino, essa emenda vai
ao encontro de seus interesses, pois reduzirá drasticamente os
custos, principalmente no sistema EAD (educação à distância).
Assim, digamos não é emenda 3”, finaliza o professor.
Conscientização da categoria
Por diversas vezes, o Sindicato dos Professores do
ABC mobilizou-se para conscientizar a categoria a respeito da
realidade que está por trás da emenda.
A mais recente atividade, realizada dia 23 de maio,
envolveu os professores da base e os diretores explicaram
aquilo que a mídia não fala.
Professor, não permita que acabem com os seus
direitos conquistados historicamente. Sua mobilização trará
resultados positivos a você e a todos os trabalhadores do país.
Diga não à emenda 3 e à destruição dos direitos.
Observe a simulação
Com carteira assinada, se o trabalhador é demitido, tem direito a:
- Aviso prévio;
- Férias vencidas + 1/3;
- 13.º salário proporcional
- Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS)
- 40% da multa sobre o FGTS de todo o contrato
- Seguro Desemprego
Se o trabalhador for Pessoa Jurídica, em caso de demissão tem direito a:
- R$ 0,00 de indenização!
- O empregado ainda é obrigado a pagar para que o contador encerre a empresa que ele abriu
Fonte: CUT-SP
Revista do Professor - SINPRO Sindicato dos Professores do ABC
15
especial
Planeta ameaçado
Calor forte em época de frio, muita chuva em uns lugares, seca intensa
em outros, maremotos, terremotos e muita mudança na natureza. O que
é isso? Aquecimento global. Quem provocou isso? O próprio homem.
Quem sofre com esse problema? Toda humanidade!
Imagem: http://www.ecotourismblog.com/
16
Revista do Professor - SINPRO Sindicato dos Professores do ABC
O
homem colhe aquilo que ele mesmo planta. Esse
ditado se faz totalmente apropriado para explicar o
motivo das ações da natureza nos últimos anos. Ações
não, reações.
Em fevereiro deste ano, o Painel Intergovernamental
de Mudanças Climáticas (IPCC) da Organização das Nações
Unidas (ONU) divulgou relatório que creditava 90% de chance
de o aquecimento global ter sido causado pelo homem e fez
preocupantes estimativas sobre catástrofes ambientais. Em
2001, a porcentagem de responsabilidade era de 66%.
“Concentrações de dióxido de carbono (CO2), metano
e óxido nitroso aumentaram notavelmente como resultado
das atividades humanas desde 1750, e agora excedem, em
muito, os valores anteriores (...) Os aumentos globais na
concentração de dióxido de carbono se devem, sobretudo,
ao uso de combustíveis fósseis e mudanças no manejo da
terra, enquanto o aumento de metano e óxido nitroso se deve
primordialmente à agricultura”, diz o documento aprovado por
mais de 500 cientistas.
Em ‘’Resumo para os Formuladores de Políticas’’, que
faz parte do documento “Mudanças Climáticas 2007” do IPCC,
foi constatado que a temperatura da Terra pode subir de 1,8ºC
a 4ºC até o fim do século, mas essa variação pode ser ainda
maior.
Mesmo que as mais graves conseqüências estejam
previstas para daqui alguns anos, a sociedade já sente os
efeitos do aquecimento global. A década de 90 foi tida como a
mais quente do século, já que nos anos de 1998, 1997, 1995,
1990, 1999, 1991 e 1994, nessa ordem, foram registradas as
mais altas temperaturas, no período desde 1860. O século XX
foi considerado o mais quente do milênio.
Em longo prazo, os cientistas acreditam que haverá
derretimento das camadas polares, o que acarretará no
aumento entre 18 e 53 cm nos oceanos, até 2100. Secas, tufões
e outras tragédias ambientais podem ser intensificados.
Para Paulo Artaxo, cientista brasileiro membro do
IPCC, “a humanidade não tem alternativa”. Em entrevista ao
site oficial do Ministério de Ciência e Tecnologia, o pesquisador
revela que a única forma para amenizar o atual cenário é a
redução drástica na emissão de gases, mas da maneira mais
rápida e eficiente possível.
Na opinião de Artaxo, os países devem ser
responsabilizados de acordo com os danos já causados ao meio
ambiente e o Brasil, em especial, deve traçar uma estratégia
para diminuir os números de queimadas na Amazônia, uma
vez que essa é a maior fonte de envio de gases prejudiciais ao
meio ambiente.
afetada equivale ao estado da Califórnia (EUA). No hemisfério
Norte, o inverno deste ano foi considerado o mais quente
desde 1880. Segundo o governo americano, entre dezembro
de 2006 e fevereiro de 2007, a temperatura foi superior em
0,72ºC à média do século passado.
Em 2005, cientistas canadenses constataram que, por
conta do aquecimento da Terra, o nível dos oceanos pode subir
até sete metros, caso ocorra o derretimento da calota polar da
Groenlândia. O aumento dos níveis oceânicos coloca em total
alerta as cidades costeiras e algumas ilhas próximas ao local.
A publicação France Presse noticiou, no início de maio,
que o número de refugiados em conseqüência do aquecimento
global poderá passar de um bilhão de pessoas, em 2050. As
causas apontadas dão conta do agravamento dos conflitos já
existentes e a criação de novas catástrofes ambientais. Com
as mudanças climáticas, grandes povos serão obrigados a
migrar para outras localidades.
Para o pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas
Espaciais (Inpe) e membro do IPCC, José Antonio Marengo,
“não haverá refúgios climáticos, todos vão sentir”, diz ele ao
jornal Estado de São Paulo, em fevereiro deste ano. Ainda,
de acordo com Marengo, “os efeitos do aquecimento global
no Brasil serão sentidos de Norte a Sul do País. O aumento
da temperatura virá acompanhado de uma série de ameaças:
prejuízos econômicos; extinção de espécies da fauna e da
flora; maior exposição das cidades litorâneas, provocadas pelo
aumento do nível do mar”.
As preocupantes estimativas indicam que a Amazônia
pode virar cerrado, grande parte dos animais e plantas tende a
desaparecer, no sudeste brasileiro as chuvas se tornarão mais
intensas e a grande circulação de ventos será mais constante.
No Brasil, as cidades litorâneas serão as mais atingidas em
decorrência do aumento do nível dos oceanos.
Para o Ministério do Meio Ambiente, no Brasil, “o
maior impacto será na alteração do regime de chuvas e da
Imagem: http://www.greenpeace.org/
O que pode vir por aí
Há cerca de dois anos, a Antártida Ocidental teve uma
grande área derretida pelas altas temperaturas. A extensão
Revista do Professor - SINPRO Sindicato dos Professores do ABC
17
temperatura, com conseqüências diretas sobre a agricultura e
a biodiversidade. A Amazônia poderá perder parte considerável
das espécies. A ocorrência de desastres naturais e de quebras
de safra também poderá se tornar mais freqüente e intensa.
O risco de enxurradas e deslizamentos de terra tenderá a
aumentar”.
O que provocou o
aquecimento global?
Desde 1850, o planeta Terra tem visto a temperatura
global aumentar gradativamente. Fenômenos naturais, muitas
vezes imprevisíveis, podem ser apontados como um dos
fatores desse aquecimento. Outro motivo para explicar tais
mudanças é o aumento do efeito estufa, dessa vez com grande
responsabilidade do homem.
A utilização de combustíveis fósseis e outros processos
industriais, que causam acúmulo de gases na atmosfera e
propiciam o efeito estufa, são considerados por cientistas e
estudiosos como grandes causas do aquecimento. Dióxido
de carbono, metano, óxido de azoto e os CFCs são exemplos
desses gases totalmente nocivos ao planeta.
Em especial sobre o CO2, sabe-se da capacidade
em reter a radiação infravermelha do Sol na atmosfera, o que
estabiliza a temperatura do planeta por meio do efeito estufa.
A grande preocupação está acerca da elevação dos níveis
desse gás na atmosfera e, conseqüentemente, no aumento
da temperatura terrestre, que trará sérias conseqüências ao
planeta, colocando em risco a vida de todos. Os veículos
automotores e a indústria são os grandes emissores do gás.
Protocolo de Quioto
A pesquisa publicada pelo IPCC em 2007 foi a quarta
já realizada. Com base nos resultados obtidos em pesquisas
anteriores, especificamente as realizadas em 1995, foi
elaborado o Protocolo de Quioto, no qual é imposta aos países
desenvolvidos a meta de reduzir em 5,2% a emissão de gases
de efeito estufa até 2012.
Para o presidente do Instituto Brasil Pnuma, do
Comitê Brasileiro do Programa das Nações Unidas para o
Meio Ambiente, Haroldo Mattos de Lemos, o protocolo não
é suficiente para conter o aquecimento global. “Os cientistas
sabem que essa redução (na emissão de gases) que foi pedida
pelo Protocolo de Quioto é totalmente insuficiente. Vamos
precisar aumentar, e muito, o corte das emissões dos gases de
efeito estufa se não quisermos passar por problemas bastante
sérios no futuro próximo”, disse Lemos ao site Agência Brasil.
Assinado em 1997 e em vigor desde 2005, o Protocolo
de Quioto é o único no mundo a propor uma ação global para as
mudanças climáticas e estipula a redução de gases causadores
do efeito estufa. Inicialmente, 139 países ratificaram o tratado
e, hoje, mais de dez anos da assinatura, o número subiu para
169 mais a União Européia. Cada participante tem uma meta
específica dentro do objetivo global.
Os Estados Unidos, país que mais emite dióxido de
carbono, ainda está fora do acordo.
18
Os países em desenvolvimento não têm meta imposta,
mas são obrigados a calcular os inventários e desenvolver
medidas para reduzir a emissão dos gases.
Haroldo conta que o Brasil está cumprindo o papel
ao utilizar matriz energética limpa e combustível renovável
(álcool), mas ainda sofre com os desmatamentos que
contribuem para aumentar o aquecimento global. "Seria
uma coisa relativamente simples o Brasil reduzir ainda mais
a questão do desmatamento e, com algumas providências a
mais, estaria contribuindo, e muito, para evitar esse problema.
Se outros países fizessem a mesma coisa, teríamos um efeito
menor", ressaltou na entrevista.
O texto na íntegra do quarto relatório do IPCC deverá
ser divulgado até novembro deste ano, terá cerca de 900
páginas e tudo indica que servirá de referência para o “pósQuioto”, ou seja, o tratado dos países após a expiração do
atual protocolo, a ocorrer em 2012.
Brasil na luta contra o aquecimento
À época da entrada em vigor do protocolo de Quioto,
o Ministério do Meio Ambiente divulgou algumas ações que
o Brasil tem tomado para deter o problema do aquecimento
global. A princípio, foi plantado um bosque com cerca de
140 mudas de árvores, representando os países que haviam
ratificado o acordo. O espaço fica em Brasília e é formado por
diversos tipos de plantas nativas do Cerrado.
Mesmo sem metas impostas pelo protocolo, o Brasil
assumiu o compromisso voluntário para reduzir a emissão
de gases na atmosfera. Como principal desafio, o governo
ressaltou o combate ao desmatamento e às queimadas.
“O Ministério do Meio Ambiente tem conduzido ações
que terão reflexo no modelo de desenvolvimento, na ocupação
da terra e no futuro da Amazônia, bioma com importância
fundamental na regulação do clima global. Entre as iniciativas
governamentais, estão o Plano de Desenvolvimento
Sustentável para a Área de Influência da BR-163 e o Plano de
Ação para a Prevenção e o Controle do Desmatamento Ilegal
na Amazônia, que integram o Plano Amazônia Sustentável”,
descreve o site oficial do órgão.
Entre os anos de 2002 e 2004, mais de 475 mil hectares
foram plantados pelo Programa Nacional de Florestas. Para o
Ministério, “o cultivo de florestas é fundamental para a fixação
de carbono, contribuindo para a redução dos efeitos do
aquecimento global”.
Outros parques ecológicos receberam investimentos
para ampliação, sendo eles os parques nacionais Grande
Sertão Veredas (MG/BA), da Floresta da Tijuca (RJ) e da
Estação Ecológica do Taim (RS).
Revista do Professor - SINPRO Sindicato dos Professores do ABC
O que você pode fazer para controlar
o aquecimento global?
A assinatura do Protocolo de Quioto impõe metas aos
países. Mas não pense que essa é uma obrigação apenas
do governo. Cada um de nós deve ter consciência e realizar,
dentro de casa, ações que contribuam com a natureza.
Assim, ajudando o meio ambiente, você será beneficiado.
* Deixe seu veículo mais tempo na garagem
Os carros são grandes emissores de dióxido de
carbono. A cada 3,5 km que você deixar de dirigir, cerca de
um quilo desse gás deixará de ser enviado para a atmosfera.
Se possível, realize o trajeto a pé, de bicicleta ou transporte
coletivo, ou então, dê preferência a carros a álcool, que
poluem até cinco vezes menos que a gasolina. Outra
alternativa é dar carona a pessoas que vão para a mesma
direção que você, pois assim, menos carros sairão às ruas.
Realize revisões periódicas em seu carro, calibre os
pneus para gastar menos gasolina e não queimar o motor de
forma desnecessária. No trânsito, não acelere se o veículo
estiver parado e não ultrapasse a velocidade de 110 km/h
para não haver consumo excessivo de combustível.
Sobrecarga de peso e o ar-condicionado também
elevam o gasto de gasolina. Cada litro economizado
representa redução de 2,5 quilos de dióxido de carbono na
atmosfera.
* Plante árvores
Você sabia que uma única árvore absorve uma
tonelada de CO2 durante toda vida? Estatísticas mostram
que um cidadão deve plantar 40 árvores por ano para
compensar a quantia de gases emitidos.
Para contribuir ainda mais com o planeta, regue
as plantas no fim da tarde, dê preferência àquelas que
necessitam de menos água, reutilize água durante a rega.
* Recicle e reutilize
Se você reciclar metade do lixo de sua casa, cerca
de uma tonelada de dióxido de carbono deixará de ser
emitida por ano. Recicle e reutilize os materiais em seu
lar. A reutilização de embalagens de papel contribui com
a diminuição do corte de árvores, que são responsáveis
pela captação do gás metano e da purificação do ar. Opte
por vasilhames de vidro ao invés do plástico, tetrapack e
alumínio. Não jogue lixo nas ruas e rios.
Aproveite a água das lavagens de roupa e louça para
limpar pisos, calçadas, garagens, dar descarga etc.
Não jogue óleo no ralo da pia ou em vaso sanitário.
Procure um local para entregar esse material, assim como
as pilhas e baterias diversas.
Revista do Professor - SINPRO Sindicato dos Professores do ABC
* Troque as lâmpadas
As lâmpadas fluorescentes são mais econômicas.
Substituir a iluminação comum representa 80 quilos de CO2
a menos no ar.
* De olho na energia
Evite usar de forma desnecessária os equipamentos
eletrônicos. Se a televisão estiver ligada, desligue o rádio e
o computador, por exemplo. Banhos quentes consomem
muita energia, assim como ferro de passar roupa, aquecedor
e máquina de lavar.
* O que você come também interfere
Dê preferência a carnes de frango e evite carne
vermelha. Difícil de imaginar, mas a criação de gados, vacas
e bois contribui com o aquecimento global. De que forma?
Para criação de bovinos, é necessária a devastação do
campo para obter os pastos e, com isso, o número de árvores
diminui. Esse quadro se agrava quando as pastagens são
resultados de queimadas. Além do mais, a produção de um
quilo de carne vermelha consome mais água doce do que
360 duchas. Ainda, uma caloria de proteína animal queima
10 vezes mais combustíveis fósseis e emite 10 vezes mais
CO2 do que a mesma quantidade de caloria vegetal.
A elaboração de produtos enlatados consume
muita energia, por isso, opte por alimentos naturais, frutas,
verduras e legumes. Animais exóticos também devem ser
abolidos do cardápio.
* Não fume
Mesmo não sendo um grande poluente, o cigarro
contribui na poluição do ar. Dois maços de cigarro
por dia representam mais de 50 quilos de dióxido de
carbono no ano.
* Economize água
Faça reparos em vazamentos; não esvazie a cisterna
desnecessariamente; não tome banhos demorados; não escove
os dentes, faça a barba ou lave a louça com a torneira ligada.
Não jogue papéis, cigarros ou qualquer outra coisa no vaso
sanitário para não gastar mais água do que necessário. Banhos
de ducha economizam mais de sete mil litros de água por ano,
se comparar com banheiras.Utilize as máquinas de lavar louça e
roupa somente quando estiverem totalmente cheias.
* Seja consciente e divulgue
Passe adiante seus conhecimentos sobre o
aquecimento global. Faça a sua parte em proteção à natureza
e lembre-se: esse é um problema de toda humanidade.
19
educação
Você conhece a Síndrome
de Burnout?
Edvard Munch “O grito” (1893)
Cerca de 30% dos professores sofrem, mas desconhecem
a síndrome da exaustão, como também é conhecida
N
em síndrome do pânico, nem depressão, nem stress.
A síndrome de burnout é uma exaustão física e mental
muito comum em profissões que exigem o contato direto
com as pessoas, especialmente quando a relação é de ajuda,
como policiais, enfermeiros, médicos e professores.
O termo burnout vem do ingles burn – queimar - e out –
externo -, ou simplesmente exaustão. Quem é acometido pela
doença tem diminuição do interesse pelo trabalho, da energia,
humor, criatividade, idéia, auto-confiança e outros fatores de
motivação. No caso dos professores, o desconforto cresce ao
passo que a vontade de lecionar diminui.
Pesquisa realizada pela Confederação Nacional
dos Trabalhadores em Educação (CNTE), em parceria com
o Laboratório de Psicologia do Trabalho da Universidade
de Brasília (UnB), aponta que a síndrome de burnout atinge
cerca de 30% dos professores do país. De acordo com essa
análise, realizada em 2002, o desenvolvimento da Síndrome
da Desistência Simbólica do Educador, como também é
chamada, está diretamente ligada com as condições de
trabalho, sobrecarga de tarefas, falta de tempo, apoio,
assistência e recursos, excesso de reuniões, grande número
de alunos por sala de aula, comportamento dos estudantes
e até mesmo o relacionamento com os pais e direção das
escolas. O profissional que é submetido a um longo período
de trabalho, mas pouco intervalo para descanso e recuperação
tem grandes chances de desenvolver burnout.
Mesmo tendo sido reconhecida em 1999, os
afastamentos por conta dessa síndrome são raros no Brasil,
apesar de constar nas leis trabalhistas. Para o presidente do
SINPRO ABC, professor Aloísio Alves da Silva, “seria importante
que o próprio governo, por meio do MEC, criasse mecanismos
para regulamentar, fiscalizar e punir as instituições que
desrespeitam a legislação trabalhista e que se transformaram
em meros vendedores de diplomas”.
Sintomas e efeitos
O diagnóstico, em muitos casos, é confundido com
síndrome do pânico, por apresentar sintomas muito parecidos.
O stress também é citado como explicação inicial para os
acometidos pela síndrome de burnout.
Queda de cabelo, enxaqueca, dor de estomago,
taquicardia, sudorese, medo, palpitação, sensação de que
não conseguirá realizar o trabalho e angústia são sinais
inicialmente detectados. Ao longo do tempo, o profissional
Queda de cabelo, enxaqueca, dor de estomago, taquicardia, sudorese, medo, palpitação, sensação de que não
conseguirá realizar o trabalho e angústia são sinais inicialmente detectados. Ao longo do tempo, o profissional
apresenta quadros de irritação, fica arredio e se distancia dos alunos.
20
Revista do Professor - SINPRO Sindicato dos Professores do ABC
apresenta quadros de irritação, fica arredio e se distancia dos
alunos. Os reflexos também são sentidos no relacionamento
familiar e com pessoas próximas.
Quando não abandona o emprego, o portador de
burnout passa a realizar as atividades de forma apática, morosa
e sem perspectivas. Outros sintomas psicossomáticos também
podem ser observados como úlcera, insônia, hipertensão,
dores de cabeça, e, em muitos casos, consumo exagerado de
álcool e medicamentos.
Relato
Professora há 28 anos, Antônia Cibele Figueiredo
Ligório contou a experiência vivida para a revista Mátria, da
CNTE. Cibele relata que tinha vergonha dos sintomas e está
afastada há dois anos das atividades profissionais. “Eu queria
que alguém me compreendesse e não tinha. O meio, por incrível
que pareça, reage de forma hostil e minha tendência foi isolarme dos meus colegas de trabalho”, narra. “Dar aulas, trabalhar
com educação sempre foi meu sonho, minha vocação. Mas, de
um tempo para cá, estava me sentindo cansada, desanimada
e, em alguns momentos até angustiada com a perspectiva
de entrar em sala de aula, enfrentar os alunos e fazer o que
sempre soube fazer: educar”, conta na entrevista.
Tratamento
Especialistas alertam que nem sempre o afastamento
do ambiente profissional é o melhor remédio. A prevenção é
tida como melhor caminho para evitar a síndrome de burnout.
Algumas estratégias para melhorar o ambiente de trabalho
podem ser aplicadas com objetivo de impedir a criação de
cenário para o desenvolvimento da doença. O professor Jorge
Castellá Sarriera, da PUC-RS, descreve no artigo “A Síndrome
A escola também pode ajudar
O ambiente profissional reflete no comportamento
dos trabalhadores. Nesse caso, as escolas podem (e
devem) contribuir para o bem estar dos professores e,
conseqüentemente, ajudarão na qualidade de vida dos
funcionários.
- Promova debate e troca de idéias entre os docentes e
demais empregados;
- Invista na qualificação, realizando oficinas e
workshops;
- Facilite a comunicação com os trabalhadores;
- Reconheça as qualidades de cada funcionário.
- Permita que os empregados tenham intervalos para
descanso.
É importante o investimento em infra-estrutura nas
escolas, mas, acima de tudo, é fundamental que haja
investimento e respeito com os profissionais.
Revista do Professor - SINPRO Sindicato dos Professores do ABC
do Burnout : a Saúde em Docentes de Escolas Particulares”
algumas medidas a serem tomadas para melhorar a qualidade
de vida no âmbito profissional:
* Transformar a escola em um contexto saudável
* Propiciar o fortalecimento pessoal e coletivo
* Desenvolver capacidades de lidar com o stress e controle
das situações de conflito
* Criar redes de apoio social, como por exemplo, grupos de
discussão entre professores
* Promover reflexões entre líderes institucionais e
professores
* Trocar informações, experiências e incentivar debates
construtivos com os pais
* Enfatizar a promoção dos valores humanos no ambiente
de trabalho
*Adotar valores mais orientados para a coletividade, em
oposição aos valores mais individualistas.
Essa situação tem que mudar!
“Superlotação de sala de aula, baixos salários, pressão
junto aos professores por conta da exaustiva jornada de
trabalho, docentes que atuam em várias instituições para
conseguir um rendimento que atenda às necessidades,
falta de tempo para o lazer... Quem agüenta?”, questiona
o professor Aloísio Alves. “Vale ressaltar, ainda, que além
das doenças psíquicas temos doenças ocupacionais como
LER (lesão por esforços repetitivos), problemas de coluna,
agravo de voz e outros”, completa o presidente do SINPRO
ABC. “O procedimento correto, então, passa pela valorização
dos professores, limitação do número de alunos em sala de
aula, redução da pressão por resultados, entre outras ações.
Professor não é prestador de serviços”,finaliza.
Como se livrar do stress
Para ficar de bem com o trabalho, é preciso que
você esteja bem consigo mesmo. Sendo assim, lembre
de algumas dicas:
- Faça atividades físicas e cuide bem da sua
alimentação;
- Faça algum tipo de relaxamento antes ou após
sua jornada;
- Organize seus horários e elabore um planejamento
para as atividades que pretende realizar;
- Resolva seus problemas de forma tranqüila e
consciente;
- Aproveite os momentos de descanso para se
distrair;
- Procure não misturar as tarefas profissionais com
as pessoais;
- Tire pelo menos um dia na semana para fazer
coisas que gosta.
21
cultura
Clarice Lispector é atração no
Museu da Língua Portuguesa
Homenagem é realizada no ano em que se completam três
décadas da morte da escritora
E
m comemoração ao primeiro ano do Museu da Língua
Portuguesa, o Governo de São Paulo, em parceria com
o Instituto Brasil Leitor, inaugurou, em abril, a exposição
“Clarice Lispector – A hora da estrela”.
O ano de 2007 marca a terceira década do falecimento
da autora e da publicação de “A hora da estrela”, obra mais
popular de Lispector. A mostra tem curadoria de Júlia Peregrino,
cenografia de Daniela Thomas e Felipe Tassara e seleção de
textos de Ferreira Gullar.
Até o dia 2 de setembro, o público poderá apreciar
um pouco da vida e do trabalho da autora. Toda exposição
foi baseada a partir do texto de Clarice e traduz, em cada
ambiente, a característica reservada e introspectiva da
escritora. Em uma das salas, duas mil gavetas guardam
segredos de Lispector, mas apenas 65 têm chaves e podem
ser abertas. O público interage e explora todo espaço para
descobrir onde estão guardados os mistérios. Quem consegue
abrir se depara com correspondências, manuscritos, cadernos
de notas, documentos pessoais e outros materiais inéditos da
autora. Todo conteúdo é do Acervo Clarice Lispector, sob a
guarda do Arquivo Museu da Literatura Brasileira da Fundação
Casa de Rui Barbosa.
Entrar na cabeça de Lispector e observar questões
cotidianas, comuns em obras da escritora, também é possível
ao público. Uma cama simples, em outro ambiente, retrata o
romance “A paixão segundo G.H.”, no qual a história se passa
em um quarto de empregada.
As frases de Clarice guiam o visitante. Passagens
escritas pela autora compõem o rosto da artista, que só é
percebido quando olhado à distância. Ao contrário, o efeito
também fascina: de longe a silhueta, mas de perto textos da
escritora.
Recursos audiovisuais também foram adotados para
dar vida aos trabalhos de Lispector. No último corredor da
exposição, um vídeo exibe os freqüentadores do Parque da
Luz lendo passagens de conhecidas obras, como Olímpios e
Macabéas.
22
Revista do Professor - SINPRO Sindicato dos Professores do ABC
Lispector
Clarice nasceu na Ucrânia, em 1920, mas foi criada no
o calor de Pernambuco e Rio de Janeiro. Em 1939, ingressa
na faculdade de Direito e, no ano seguinte, lança o primeiro
trabalho de ficção, o conto “Triunfo”. A escritora inicia carreira
de repórter no jornal “A noite”, em 1942.
Aos 23 anos, casa-se com Maury Gurgel Valente,
colega de faculdade, e lança o primeiro livro “Perto do coração
selvagem”. Sua forma de escrever transforma a linguagem
na literatura brasileira, como por exemplo, a relação tempo e
espaço. “Há que se libertar da cultura para chegar à verdade.
Esse modo de ver se traduz, em termos literários, na ruptura
do realismo, da visão descritiva e sensata que, aliás, quase
nunca se encontra em sua obra”, observa Ferreira Gullar,
em entrevista ao jornal Estado de São Paulo. “A ruptura
tinha de se dar tanto fora como dentro, mesmo porque, nela,
a subjetividade prepondera sobre a objetividade, e disso
resulta a violentação do discurso, da linguagem, que vai se
acentuando de livro para livro”.
Casada com diplomata, Lispector vai morar no
exterior. Entre idas e vindas ao Brasil, aproveita para lançar
outros livros como “O lustre” e “A cidade sitiada”, na década
de 40. Em 1952, assume o pseudônimo de Tereza Quadros
para escrever na seção “Entre Mulheres”, do jornal Comício.
No final dos anos 50, já separada e residindo no Rio de
Janeiro, torna-se responsável pela coluna “Correio feminino
– Feira de utilidades”, do Correio da Manhã, sob o nome de
Helen Palmer.
Clarice Lispector sobrevive a uma tragédia, em 1966,
quando o quarto em que dormia pegou fogo e a deixou por
três dias entre a vida e a morte. Nesse fato, a escritora teve a
mão fortemente queimada e quase teve de amputá-la. Um ano
depois, torna-se cronista do Jornal do Brasil e lança o primeiro
livro para crianças.
O conturbado ano de 1968 foi intenso para Lispector.
Ela recebe prêmios por livros publicados, inicia uma série
de entrevistas para a revista Manchete e participa, na linha
de frente com outros intelectuais, da passeata dos Cem Mil,
contra a ditadura militar.
No dia 9 de dezembro de 1977, a escritora morre de
câncer. Mesmo após o falecimento de Clarice, diversas obras
foram lançadas e premiadas.
Romances, especiais de televisão, peças teatrais,
filmes, exposições e tradução das produções para 15 línguas
foram algumas das contribuições que Lispector deu ao mundo,
de forma simples, misteriosa e única.
“Outra coisa que não parece ser entendida pelos
outros é quando me chamam de intelectual e eu digo que não
sou. De novo, não se trata de modéstia e sim de uma realidade
que nem de longe me fere. Ser intelectual é usar, sobretudo, a
inteligência, o que eu não faço: uso é a intuição, o instinto. Ser
intelectual é também ter cultura, e eu sou tão má leitora que
agora já sem pudor, digo que não tenho mesmo cultura. Nem
sequer li as obras importantes da humanidade. [...] Literata
também não sou porque não tornei o fato de escrever livros
‘uma profissão’, nem uma ‘carreira’. Escrevi-os só quando
Revista do Professor - SINPRO Sindicato dos Professores do ABC
espontaneamente me vieram, e só quando eu realmente quis.
Sou uma amadora? O que sou então? Sou uma pessoa que
tem um coração que por vezes percebe, sou uma pessoa
que pretendeu pôr em palavras um mundo ininteligível e um
mundo impalpável. Sobretudo uma pessoa cujo coração bate
de alegria levíssima quando consegue em uma frase dizer
alguma coisa sobre a vida humana ou animal”. Essa é Clarice
Lispector.
Com informações do site oficial da escritora
Biografia
Romances
Perto do Coração Selvagem (1943); O Lustre (1946); A Cidade Sitiada
(1949); A Maçã no Escuro (1961); A Paixão segundo G.H. (1964); Uma
Aprendizagem ou Livro dos Prazeres (1969); Água Viva (1973); Um
Sopro de Vida - Pulsações (1978)
Novela
A hora da estrela (1977)
Conto
Alguns contos (1952); Laços de família (1960); A legião estrangeira
(1964); Felicidade clandestina (1971); A imitação da rosa (1973); A via
crucis do corpo (1974); Onde estivestes de noite? (1974);
A bela e a fera (1979)
Correspondência
Cartas perto do coração (2001);
Correspondência - Clarice Lispector (2002)
Crônicas
Visão do esplendor - Impressões leves (1975);
Para não esquecer (1978); A descoberta do mundo (1984)
Entrevista
De corpo inteiro (1975)
Literatura infantil
O mistério do coelho pensante (1967); A mulher que matou os peixes
(1968); A vida íntima de Laura (1974); Quase de verdade (1978);
Como nasceram as estrelas (1987)
Antologias
Seleta de Clarice Lispector (1975); Clarice Lispector (1981); O primeiro
beijo & outros contos, de Clarice Lispector (1991); Os melhores contos
de Clarice Lispector (2001); Aprendendo a viver (2004)
Obras publicadas no exterior
Die Passion nach G.H. (A paixão segundo G. H.); La manzana en la
obscuridad (A maçã no escuro); L'heure de l'étoile (A hora da estrela);
Osher samuy (Felicidade clandestina); The Foreign Legion (A legião
estrangeira); The Stream of Life (Água viva); Dove siete stati di notte
(Onde estivestes de noite); Zivá voda (Água viva)
Clarice Lispector - A hora da estrela
Museu da Língua Portuguesa - Estação da Luz,
Praça da Luz, s/nº, São Paulo.
Até 2 de setembro, de terças a domingos, das
10h às 17h.
Ingressos: R$ 4 e R$ 2; crianças de até 10 anos
e adultos a partir de 60 não pagam.
Informações: (11) 3326-0775
23
nacional
A amiga das mulheres
Estatísticas indicam que, no Brasil, a cada 15 segundos,
uma mulher é vítima de agressão. Isso representa quatro
casos por minuto e atinge o preocupante índice de 2,1
milhões por ano
E
las apanham, mas têm vergonha e medo de denunciar
os agressores. Muitas vezes, o inimigo divide o mesmo
teto e dorme na mesma cama. Ciúme, álcool ou
qualquer outra banalidade vira motivo para a agressão. Dados
da Organização Mundial de Saúde (OMS) indicam que, a cada
15 segundos, uma mulher é violentada no Brasil. Os registros
de ocorrências não retratam a realidade, já que grande parte
das vítimas não leva o caso à polícia por medo de sofrer novas
repreensões. Casos de estupros cometidos por chefes também
aparecem nas estatísticas.
Mas agora as brasileiras ganharam uma aliada na
luta pela defesa da integridade e contra as agressões. A Lei
Maria da Penha (11.340/06), sancionada pelo presidente Luiz
Inácio Lula da Silva, em 7 de agosto de 2006, cria mecanismos
24
para coibir e prevenir a violência doméstica e familiar contra
a mulher. “Eu acho que é muito importante o passo que se
deu para criar essa lei e para ter coragem de enfrentar esse
problema do tamanho que ele tem. Eu acho que muito mais
do que um problema com conseqüências graves, a violência
doméstica é fruto da ignorância. As pessoas não denunciam
porque têm medo e, normalmente, o medo é o pior inimigo que
se pode ter para reverter esse quadro”, afirma a juíza Andréia
Pachá, em entrevista à Agência Brasil.
Desde a vigência da lei, o tratamento com o agressor
ficou mais rigoroso, podendo este ser preso em flagrante ou ter
prisão preventiva decretada, não cabendo penas pecuniárias,
como o pagamento de multa ou doações de cestas básicas.
Dependendo do caso, o acusado pode ser proibido de se
aproximar da residência, mulher e dos filhos,e até mesmo a
vítima pode rever os bens e cancelar procurações feitas para
o agressor.
O tempo de detenção aumentou de um para três
anos, os casos passaram a ser acompanhados pelos
Juizados de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher
e não mais pelos Juizados Especiais Criminais. De agosto de
2006 até março de 2007, 12 estados já criaram os juizados
especializados em violência contra a mulher: Amapá, Distrito
Federal, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Pará, Paraná, Rio
de Janeiro, Rio Grande do Sul, Roraima, Santa Catarina, São
Paulo e Tocantins.
Realidade que impressiona
Levantamento realizado pela Fundação Perseu
Abramo, em 2001, revelou que o número de ocorrências contra
a mulher chegava a ultrapassar a marca de dois milhões por
ano. Desse total, cerca de 20% dos casos eram de agressão
física branda, sob a forma de tapas e empurrões; 8% de
violência psíquica, como ofensas morais e xingamentos; e
15% de ameaças.
Encorajamento
Amparadas pela nova lei, as mulheres passaram
a denunciar com mais freqüência as agressões sofridas.
Revista do Professor - SINPRO Sindicato dos Professores do ABC
Segundo a Confederação Nacional dos Trabalhadores em
Educação, no Rio Grande do Sul, nos primeiros 30 dias de
vigência, o aumento nas denúncias chegou a quase 50% nas
Delegacias Especializadas de Atendimento à Mulher (Deams).
Em Pernambuco, estado líder em casos de morte de mulheres
por companheiros, em apenas cinco dias foram registrados 13
flagrantes.
A Central de Atendimento à Mulher em situação de
violência, do Governo Federal, que atende pelo número 180,
passou a funcionar 24 horas e a contar com 20 pontos de
atendimento, além de 60 atendentes ao invés dos antigos
oito.
Apesar da condenação, Herredia goza do regime semiaberto. Indignada com o fato, Penha se uniu a movimentos
sociais e hoje, com 61 anos, quer reeditar o livro “Sobrevivi.
Posso contar”. “Escrever esse livro foi a minha carta de alforria,
pois enquanto escrevia me livrava das mágoas. Não penso
mais no que passei. Se for preciso lembrar de alguma coisa,
recorro ao livro”, comenta.
“Atrás de cada olho roxo existe um homem frouxo.
Violência contra a mulher é crime. Quando a violência contra a
mulher acaba, a vida recomeça”, elucida Penha.
Com informações da CNTE.
Quem é Maria da Penha?
Em 1983, a biofarmacêutica cearense Maria da Penha
Maia, na época com 38 anos e três filhas, sofreu duas tentativas
de homicídio, uma por arma de fogo e outra por eletrocussão
e afogamento. O agressor? O próprio marido, o professor
universitário Marco Antônio Herredia. Maria da Penha não
morreu, mas as seqüelas ficaram por toda sua vida.
No mesmo ano, em junho, as investigações foram
iniciadas, mas apenas em setembro do ano seguinte a denúncia
foi encaminhada ao Ministério Público Estadual.
Com a demora no julgamento, Maria da Penha
recorreu à Comissão Interamericana de Direitos Humanos da
Organização dos Estados Americanos (OEA), que, em 2001,
responsabilizou o Estado brasileiro por negligência e omissão
em relação à violência doméstica, além de recomendar
diversas medidas a respeito desse caso.
Dezoito anos depois do ocorrido, sob pressão
internacional, o processo foi encerrado, o marido de Maria da
Penha preso e condenado a oito anos de prisão. “Só me senti
recompensada com a condenação. Dela surtiram a mudança da
legislação e a implementação da disciplina Direitos Humanos,
a partir do ensino fundamental. Esse foi o saldo positivo do
meu sofrimento”, conta Penha, na edição de março da revista
Mátria, da CNTE.
Com um investimento de mais de R$ 30 milhões,
entre 2003 e 2006, o Governo Federal trabalhou forte
na ampliação do número de serviços de atendimento à
mulher vítima de violência. Promoveu a capacitação dos
agentes públicos para acolher essas mulheres e estimulou
a mudança dos instrumentos jurídicos e formais. Hoje,
há Centros de Referência de atendimento à mulher em
90% das capitais brasileiras e em 25% das cidades com
mais de 100 mil habitantes, três vezes mais do que há
quatro anos. Uma política que, segundo a Ministra
Nilcéia Freire, da Secretaria Especial de Políticas para
as Mulheres, permitiu a ampliação do atendimento às
mulheres em situação de violência, de 34.994, em 2002,
para 80.424, em 2006.
Uma das grandes dificuldades das mulheres
no enfrentamento à violência, segundo a Secretaria
é o acesso à Justiça. “Uma de nossas ações foi o
fortalecimento e a criação das Defensorias Públicas de
Atendimento à Mulher. Já são 12 integrando a rede de
atendimento à mulher” destaca.
Fonte: CNTE
As agressões em números
Confira os principais resultados da pesquisa de opinião “Percepção e reações da sociedade sobre a violência contra a
mulher”, realizada pelo Ibope para o Instituto Patrícia Galvão, em maio de 2006 (antes da aprovação da Lei nº 11.340). Foram
realizadas 2.002 entrevistas em 142 municípios, com brasileiros de 16 anos de idade ou mais:
- O ciúme é o segundo motivo para agressões contra mulheres. Em primeiro lugar, para 83% da população, os homens
agridem as mulheres após o consumo de bebidas alcoólicas;
- De 2004 a 2006, aumentou o nível de preocupação com a violência doméstica em todas as regiões do País, menos
no Norte/Centro-Oeste que já tem o patamar mais alto (62%). Na periferia das grandes cidades, esta preocupação passou de
43% , em 2004, para 56% , em 2006;
- 51% relataram conhecer ao menos uma mulher que foi ou é agredida pelo companheiro;
- 65% acreditam que atualmente as mulheres denunciam mais quando são agredidas; ou porque estão mais informadas
(46%) ou porque são mais independentes (35%);
- 64% dos entrevistados defendem prisão para os agressores.
Fonte: CNTE
Revista do Professor - SINPRO Sindicato dos Professores do ABC
25
artigo
Clima, cinismo e morte
Ninguém sabe se nos próximos 50 anos os mares subirão centímetros ou metros.
Há muitas variáveis. Mas está claro que os governos estão usando dados nãocientíficos e cedendo a interesses econômicos, o que impossibilita uma efetiva
mudança ético-ecológica
Por Luiz Roberto Alves
Q
uando a vida humana está em questão, não interessa
mais
classificar este e aquele de pessimista ou
otimista, catastrófico ou moderado. De fato, ninguém
sabe se nos próximos 50 anos os mares subirão centímetros
ou metros. Há muitas variáveis. Entre elas, o comportamento
das instituições e das pessoas. É mais que urgente a saída
da pobreza das quase três bilhões de pessoas, pois na
elevação do nível de vida avançam a cultura, a educação, a
infra-estrutura, e tudo isso ajuda a compreender, prevenir e
redirecionar o processo de mudanças da Terra. No entanto,
quanto aos governos, hoje os sinais são os piores.
Veja-se o caso do G-8. Em 2005, na reunião de
Gleneagles, os países ricos prometeram ajudar a África com
50 bilhões de dólares até 2015, com vistas ao cumprimento dos
objetivos do milênio. Até agora repassaram 2%, ainda a título
de cancelamento de débitos. Jeffrey Sachs, ex-coordenador do
Projeto Milênio da ONU, em artigo do jornal Il Sole 24 Ore de
13 de maio, afirma que os Estados Unidos impediram que se
construísse uma planilha para o desembolso dos recursos, o
que significa promessa vazia. E o que mais dói: Sachs informa
que somente as gratificações natalinas de 2006 oferecidas
pelas empresas que operam em Wall Street chegaram a 24
bilhões de dólares, metade de toda a promessa não-cumprida
do G-8 para com a África. Para ele, o cinismo é a marca do
programa de ajuda.
Foi interessante observar que no último mês de fevereiro
coincidiram os relatórios de Paris sobre o clima da Terra com
as comemorações do Darwin Day, que se prolongaram por
uma semana em instituições de vários países. Na Itália, a
Semana foi aberta pela Sra. Rita Levi Montalcini, Prêmio Nobel
de Fisiologia em 1986, e teve a participação de Mario Tozzi,
cientista que dirige o famoso programa de televisão Gaia. Eles
observaram que a melhor vocação de Darwin seria a Geologia,
na qual errou menos. No entanto, a despeito de superadas,
suas observações têm sido ponto de partida para pensar a
evolução da terra e suas catástrofes.
Seu estudo sobre os corais, considerado quase
perfeito, se projeta sobre a atual tragédia dessa formação
marítima, que também sinaliza a doença do nosso mundo. Na
conferência, Tozzi mostrou que o clima da terra não está louco,
26
mas sim o processo político contemporâneo. Pode-se juntar a
isso que são loucos os modos de regulação, ou desregulação,
do chamado desenvolvimento. Será que a maneira como se
fez a revolução industrial - baseada exclusivamente no lucro
- não era equivalente a um lento terremoto e uma crescente
erupção vulcânica?
Por esses e outros fatos, George Monbiot enunciou
em seu comentário do The Guardian, no primeiro de maio:
“A política do mundo rico sobre o efeito estufa se esclarece:
milhões vão morrer”. O primeiro sinal ainda é vivo: os países
não estão cumprindo os protocolos assinados e, para não
tocarem no sistema produtivo, mentem sobre os modos pelos
quais vão contornar o problema. Monbiot cita o estudo do
climatologista Malte Meinshausen, segundo o qual somente as
concentrações de gases abaixo de 400 partes por um milhão
garantem alguma chance de o clima não exceder a 2 graus.
Como se sabe, se isso ocorrer, põe-se em xeque as camadas
de gelo e a floresta amazônica. Ocorre que, no momento, a
concentração está em 459 ppm. O que significa que já há
excesso.
Ora, a União Européia e o Reino Unido (parece que
os Estados Unidos mal começaram a pensar no assunto)
estabeleceram que vão "segurar a barra" na marca dos
550ppm. Então, a temperatura poderá ir entre 2 e 5 graus a
mais e nossa vida estará ameaçada. Isso para quem pensa de
modo coletivo e não somente no seu nariz. Ocorre, pois, que
tanto os governos estão usando dados não-científicos como
estão cedendo aos interesses econômicos, impossibilitando
uma efetiva mudança ético-ecológica do nosso mundo. De
fato, deve-se cortar 60% das emissões entre hoje e o ano
2030, e entre 2030 e 2050 um corte mais radical, de 80%
no que corresponde a cada pessoa, com ênfase em todo o
sistema produtivo. Isso significa a mudança de todo o modo de
ser e viver, em todos os países da Terra. Nessa hora, a Ciência
deve vencer as mentiras e os interesses.
Luiz Roberto Alves, professor do Programa de Mestrado
em Administração da Universidade Metodista de São Paulo e do
Departamento de Comunicações e Artes da USP, atualmente é
pesquisador visitante na Universidade de Florença,
com apoio do CNPq.
Este artigo foi publicado no site Carta Maior, no mês de maio.
Revista do Professor - SINPRO Sindicato dos Professores do ABC
O "eu" sitiado
O alarme foi acionado pelo movimento da contra-cultura, nos anos 60, quando os jovens
denunciavam o legado da Guerra Fria. O socialismo, tentado na União Soviética e China,
degenerou em monstruosas ditaduras e partido único. O capitalismo provoca cada vez maior
desigualdade e gera todo o tipo de iniqüidades cotidianas
Por José Arbex Jr.
A
humanidade convive com uma lista terrível de ameaças,
reais ou imaginárias, potencialmente capazes de aniquilar
centenas de milhões de seres. Já não há a perspectiva
de um futuro tranqüilo para a humanidade como um todo, ao
passo que a vida passa a ser sentida e encarada como uma
guerra permanente a ser travada por cada indivíduo.
Como contrapartida, fracassaram as grandes narrativas
que, pelo menos ao longo dos dois últimos séculos, foram capazes
de oferecer explicações razoáveis sobre o funcionamento do
mundo e apontavam soluções. O alarme foi acionado pelo
movimento da contra-cultura, nos anos 60, quando os jovens
denunciavam o legado da Guerra Fria. O socialismo, tentado na
União Soviética e China, degenerou em monstruosas ditaduras
do partido único. O capitalismo provoca cada vez maior
desigualdade e gera todo o tipo de iniqüidades cotidianas. Sua
face neoliberal leva ao limite a desumanização do ser humano,
ao afirmar o indivíduo em detrimento da sociedade.
É o mundo do "eu sitiado", sintetizam alguns
pensadores do contemporâneo, para descrever sociedades
fragmentárias, despedaçadas, em que cada um se cerca das
garantias que consegue e pode reunir. A humanidade se divide
em castas, estamentos, grupos que se constituem segundo
suas possibilidades materiais.
Entre os abonados, seres solitários se encerram em
fortalezas, blindam carros, freqüentam clubes fechados,
contratam forças paramilitares, fazem seguro de todos os
tipos (de vida, contra roubo, contra terceiros, contra invalidez
e morte, de saúde; a cantora e atriz Jennifer Lopez fez seguro
estimado em 60 milhões de dólares de uma parte de seu corpo
- os glúteos - considerada vital para a sua carreira).
A classe média alimenta sonhos de consumo e tenta, em
alguma medida, reproduzir o estilo de vida dos mais ricos. Mas o
máximo que consegue é criar o inferno para si própria: milhões
vivem vidas sem sentido algum, comprimidos entre o desejo de
ter mais e o pânico de perder o pouco que ainda têm (o temor da
proletarização, para adotar uma expressão sociológica).
Os miseráveis que se amontoam em favelas se
organizam em bandos, ou usam o próprio corpo como arma.
A imensa maioria vive aterrorizada em barracos, teme a ação
dos narcotraficantes, das milícias e da polícia. Submete-se a
condições desumanas de trabalho (um imenso contingente é
obrigado a despertar no meio da madrugada para chegar ao
Revista do Professor - SINPRO Sindicato dos Professores do ABC
local do emprego, quando há, no início da manhã, para ganhar
um salário mínimo após 30 dias extenuantes), muitos são
empurrados à prostituição, à prática de pequenos crimes, à
mendicância, ao desespero alcoólatra.
Nada disso é rigorosamente novo. Em meados
do século XIX, Karl Marx já assinalava o fato de que o
capitalismo cria sociedades apenas aparentes, pois, sob o
signo da concorrência e da desigualdade, aquilo que une os
seres humanos é também aquilo que os separa: a luta pelo
emprego, por prestígio, pelo poder, por dinheiro e privilégios. A
vocação histórica da sociedade capitalista, nessa perspectiva,
é a fragmentação, a alienação, o enfeitiçamento provocado
pelo talismã mercadoria. Espera-se que os objetos (roupas,
carros, sapatos, móveis, cigarros, refrigerantes, cervejas etc.)
garantam, como objetos mágicos, a felicidade que já não se
encontra em lugar algum.
A arte mundial da passagem do século XIX para o
século XX registra prodigamente o "mal estar na civilização",
magistral fórmula sintetizada por Sigmund Freud para
descrever a inarredável e insolúvel cisão entre pulsão e
cultura. Do romance de Fiodor Dostoievski à dramaturgia de
Bertolt Brecht, de Franz Kafka a Samuel Becken, as páginas
de maravilhosos romances e os palcos de grandes teatros
exploraram e encenaram o abismo da solidão. A cidade
crua, a grande miragem urbana é o protagonista do século
XX, cujas possibilidades são levadas ao limite por James
Joyce. Finalmente, após a Segunda Guerra, Theodor Adorno
constatou: depois de Auschwitz, já não faz mais sentido fazer
poesia.
A diferença percebida na época contemporânea em
relação ao passado recente não é, portanto, o sentimento
em si da catástrofe e da perda do futuro (no máximo, posso
me enxergar nas próximas 24 horas), mas sim a fragilidade
cada vez maior dos laços sociais. A vida pública encolhe, a
privatização da vida se expande. O cidadão cede lugar ao
consumidor. Eis tudo.
Impossível determinar o limite desse processo insano.
Mas ele só será interrompido se uma outra lógica recolocar a
necessidade de ampliar o espaço público e afirmar a prioridade
dos valores solidários sobre os individualistas. A alternativa
será o tsunami social.
Jornalista José Arbex Jr. Editor do jornal “Mundo”
27
educação
Piso de R$ 850, só em 2010? Não!
Em manifestação organizada pelo movimento sindical, professores dizem
não ao piso de R$ 850
Já está no Congresso o projeto de lei (619/2007) que
sugere o piso de R$ 850 para jornada de 40 horas semanais. Além
de esse valor estar aquém do desejado pelos professores, ele seria
alcançado somente em 2010.
A reivindicação da categoria é antiga, porém a criação do
Piso Salarial Nacional Profissional do Magistério Público (PSNP)
ainda não atende às necessidades dos educadores no Brasil.
A exigência da Confederação Nacional dos Trabalhadores da
Educação (CNTE-CUT) é que o piso seja de R$ 1.575 para os
professores com licenciatura e de R$1.050 para os habilitados com
nível médio. Ambos os valores são relativos à jornada de 30 horas
semanais e entrariam em vigor em janeiro de 2008.
No final do mês de abril, os professores foram às ruas
e disseram não à proposta por acreditar que o valor está abaixo
do esperado e que, em 2010, a defasagem será maior já que não
consta no projeto a reposição da inflação.
De acordo com a proposta do governo, os pisos entre os
docentes com ensino médio e nível superior seriam nivelados, o que
também serviu como agravante para a recusa.
Segundo a CNTE – CUT, “o PSNP é fator essencial para elevar
a qualidade da educação e promover a valorização dos educadores
brasileiros”. Para tal, a Confederação propõe um piso real que não
some outros valores, como gratificações e demais benefícios.
No dia 23 de maio, professores voltaram às ruas para lutar
não somente por salários, mas, também, pelo respeito à profissão e
por investimentos na educação do Brasil.
Universidade Plaza Shopping
Se propusermos a você que imagine um local com lojas, salões
de estética, bancos, lanchonetes, livrarias e academias, o que viria à
sua mente? Um centro de compras? É o que deveria ser. Entretanto,
hoje em dia, a resposta pode ser outra: uma universidade.
O que aparentemente parece ser algo inofensivo tem mudado
os valores de alunos dessas instituições. A educação fica com o papel
coadjuvante, enquanto o consumo e o lazer viram protagonistas na
rotina universitária.
Em entrevista ao jornal “Brasil de Fato” (de 26/04 a 02/05),
um estudante, que preferiu não se identificar, mostra-se insatisfeito
com essa fusão. “A faculdade é uma baderna. A reitoria está mais
preocupada com o shopping do que com a estrutura de ensino. Onde
já se viu, somente cinco computadores lentos para acesso à internet?
Uma biblioteca com vários livros de direito desatualizados? Deveria
ser muito melhor”, reclama o aluno.
Na mesma reportagem, o coordenador adjunto do Laboratório
de Políticas Públicas da Universidade Estadual do Rio de Janeiro
(Uerj), Pablo Gentili, observa que a existência de campi universitários
em ambientes de consumo é símbolo do “paradigma da degradação”
vivido pela sociedade contemporânea. Há um paradoxo entre a
solidariedade e o cooperativismo promovidos pela educação pública,
com a competição consumidora vivida nesses centros de compras (e
não mais de estudo).
E os professores? Para eles resta a difícil missão: concorrer
com as mercadorias e disputar com o lazer a preferência dos alunos.
No mundo de hoje, essa tarefa não é nada fácil...
"Isso ratifica a forma como as universidades pensam, encaram
e produzem a educação, ou seja, mercadoria", explica o professor
Aloísio Alves da Silva, presidente do SINPRO ABC. "Dessa forma, o
ensino virou um produto como outro qualquer. Que diferença faz se o
aluno consumidor está consumindo hambúrgueres, corte de cabelo,
bijuterias ou educação, se o resultado é o mesmo para a instituição: o
lucro”, avalia o professor Aloísio Alves da Silva.
28
Resultados comprovam
O resultado da mais recente avaliação do Enade (Exame
Nacional de Desempenho de Estudantes) foi um tanto quanto
decepcionante para as escolas da rede privada e constatou a
necessidade de mais investimentos, por parte das instituições, na
educação, e não somente em estruturas modernas.
Dados do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas
Educacionais (Inep) retratam que mais de 30% dos cursos das escolas
particulares receberam conceitos 1 e 2. Nas faculdades públicas,
essas notas foram dadas para quase 17% dos avaliados.
Cerca de 1,5% das instituições privadas receberam
conceito 5, enquanto essa média foi alcançada por 21,2% dos
alunos da rede pública.
Em São Paulo, menos de 17% dos cursos obtiveram médias
acima de 50, na pontuação que vai até de zero a cem. Áreas como
biomedicina, biblioteconomia, ciências contábeis, editoração
e secretariado executivo não tiveram notas acima dessa
média no Estado.
Foram avaliados, em todo país, mais de 386 mil alunos
do ensino superior, nas áreas de administração, arquivologia,
biblioteconomia, biomedicina, ciências contábeis, ciências
econômicas, comunicação social, design, direito, música, formação
de professores (normal superior), psicologia, secretariado
executivo, teatro e turismo, em mais de 5701 cursos. A região
Norte do Brasil apresentou as piores notas (50% dos cursos com
conceitos 1 e 2) e o Sul do país conquistou a melhor posição (com
28% de notas 4 e 5).
Com informações do jornal “Brasil de Fato” e
Folha de São Paulo.
Revista do Professor - SINPRO Sindicato dos Professores do ABC
aula de potuguês
Rubem Alves
É como ouvir música
Se os jovens não gostam de ler é porque nunca
ouviram a leitura feita por um possuído
E
la me olhou e disse: “Encontrei um lindo poema em
Fernando Pessoa”. Fiquei contente, gosto muito de
Fernando Pessoa. Aí ela começou a ler. Epa! Senti-me mal.
As palavras estavam certas, mas ela tropeçava, parava onde
não devia, não tinha ritmo nem música. Não, aquilo não era
Fernando Pessoa, embora as palavras fossem suas. Senti o
mesmo que já sentira em audições de alunos principiantes.
Percebi, então, que a arte de ler é exatamente igual à arte de
tocar piano – ou qualquer outro instrumento.
Como é que se aprende a gostar de piano? O gostar
começa pelo ouvir. É preciso ouvir o piano bem tocado. Há
pianistas que já nascem com o piano dentro deles. O piano é
uma extensão de seus corpos. E há os “pianeiros”, como eu,
que me esforcei sem sucesso para ser pianista. Diferentes dos
pianistas, os “pianeiros” têm o piano do lado de fora. Esforçamse para pôr o piano do lado de dentro, mas é inútil. As notas
se aprendem. Mas isso não é o bastante. Os dedos esbarram,
erram, tropeçam – e aquilo que deveria ser uma experiência
de prazer se transforma numa experiência de sofrimento para
quem ouve e para quem toca. Um pianista, quando toca,
não pensa nas notas. A partitura já está dentro dele. Ele se
encontra num estado de “possessão”. Nem pensa na técnica,
é um problema resolvido. Ele simplesmente “surfa” sobre as
teclas seguindo o movimento das ondas.
Pois é assim que se aprende o gosto pela leitura:
ouvindo-se o artista – o que lê – interpretar o texto. Uso a
palavra “interpretar” no sentido artístico, teatral. O “intérprete”
é o possuído. É ele que faz viver seja a partitura musical
silenciosa, seja o texto teatral ou poético, silencioso na
imobilidade da escrita. Disse Shakespeare no 2º ato de
Hamlet: “Não é incrível que um ator, por uma simples ficção,
um sonho apaixonado, amolde tanto a sua alma à imaginação,
que todo se lhe transfigura o semblante, por completo o rosto
lhe empalideça, lágrimas vertam dos seus olhos, suas palavras
tremam, e inteiro o seu organismo se acomode a essa mesma
ficção?”. Se os jovens não gostam de ler é porque não tiveram
a experiência de ouvir a leitura feita por um possuído.
Há de se dominar a técnica da leitura como se domina
a técnica do piano. Acontece que o domínio da técnica é
cansativo e freqüentemente aborrecido. Antigamente, o
aprendiz de piano tinha que gastar horas nos monótonos
Revista do Professor - SINPRO Sindicato dos Professores do ABC
gf
d c ba
exercícios de mecanismo do Hannon. Mas mesmo os grandes
pianistas que já dominaram os essenciais da técnica têm que
gastar tempo e atenção debulhando as passagens complicadas
que não podem ser pensadas ao ser tocadas.
Mas só têm paciência para suportar o aborrecido da
técnica aqueles que foram fascinados pela beleza da música.
Estuda-se a técnica por amor à interpretação, que é o evento
orgiástico de possessão. Por isso tenho sugerido a escolas e
prefeituras que promovam “Concertos de leitura” para seduzir
os ouvintes à beleza da leitura. Não custam nada. Uma única
coisa é necessária: o artista, o intérprete... Um concerto de
leitura poderia organizar-se assim: Primeira parte: Poemas da
Adélia Prado. É impossível não gostar dela... Segunda parte:
“O afogado mais lindo do mundo”, conto de Gabriel García
Márquez. Terceira parte: Haicais de Bashô. Todo mundo
gostaria e sairia decidido a dominar a arte da leitura.
Artigo produzido por Rubem Alves, educador e escritor,
para a revista Educação (maio 2007)
Foto: http://www.ptsem.edu/Publications/inspire2/7.1/images/'68rubem%20alves.jpg
29
30
Revista do Professor - SINPRO Sindicato dos Professores do ABC
Paulo Freire
Um educador do povo!
"Haverá sempre a possibilidade das trágicas desistências de ser. Nossa
grande tarefa de passar pelo mundo é exatamente a da briga constante e
Revista do Professor - SINPRO Sindicato dos Professores do ABC
permanente pela busca do ser mais.“
31
Aquecimento Global...
...uma questão para ser pautada!
32
Revista do Professor - SINPRO Sindicato dos Professores do ABC

Documentos relacionados