otimizar o bem-estar
Transcrição
otimizar o bem-estar
CONSENSO INTERNACIONAL OTIMIZAR O BEM-ESTAR DAS PESSOAS QUE VIVEM COM UMA FERIDA FRUSTRAÇÃO ANSIEDADE ESTIGMA DOR ODOR MEDO CULPA SOLIDÃO revisão de um grupo de trabalho de especialistas CHEFE DE REDAÇÃO Jason Beckford-Ball EDITOR: Kathy Day PUBLICADO POR: Wounds International Enterprise House 1–2 Hatfields London SE1 9PG, Reino Unido Tel: + 44 (0)20 7627 1510 Fax: +44 (0)20 7627 1570 [email protected] www.woundsinternational.com © Wounds International 2012 Apoio da Smith & Nephew. As opiniões expressas são as dos autores e não refletem necessariamente as da Smith & Nephew. Como citar este documento: International consensus. Optimising wellbeing in people living with a wound. An expert working group review. London: Wounds International, 2012. Disponível em: http://www. woundsinternational.com PREFÁCIO Em fevereiro de 2011, um grupo de profissionais de saúde e investigadores especializados no tratamento de feridas reuniu-se na Cidade do Cabo, na África do Sul, para estabelecer uma estrutura que contribuísse para assegurar que os profissionais de saúde são capazes de maximizar o bem-estar dos doentes quando proporcionam um tratamento de feridas efectivo. A reunião não abordou apenas a qualidade do tratamento de feridas individuais, mas sobretudo o custo humano de viver com uma ferida e o papel dos clínicos, da indústria e das organizações na abordagem do bem-estar do doente1. Seguiu-se uma reunião de consenso em maio de 2011 em Bruxelas, na Bélgica, que contou com a presença de importantes especialistas da Europa, dos EUA e da Austrália, proporcionando uma ampla diversidade de experiências e antecedentes, incluindo investigadores médicos, de enfermagem, de profissões ligadas à saúde e da indústria. Após a reunião de consenso, foi produzido um projeto de documento que foi objeto de uma profunda análise pelo grupo de trabalho de especialistas. Foram também consultados outros especialistas internacionais de modo a refletir a prática em diferentes regiões do mundo. Culminou num documento de consenso sobre todas as declarações e conclusões, assinado por cada membro do grupo de trabalho de especialistas. Em outubro de 2011, realizou-se um workshop com dois grupos de utentes de serviços na Universidade de Leeds, no Reino Unido. O workshop tinha como objetivo estudar o impacto de viver com uma ferida nos doentes, nos prestadores de cuidados e nos membros da família. Membros da Pressure Ulcer Research Service User Network (PURSUN UK) e do Bradford Wound Care Group discutiram as suas experiências pessoais e contribuíram depois para o processo de revisão do texto. As suas citações são utilizadas para ilustrar pontos ao longo deste documento. Este documento tem como objetivo: aumentar a compreensão dos intervenientes sobre o impacto de viver com uma ferida no bem• estar das pessoas e dos prestadores de cuidados • melhorar a capacidade dos profissinais de saúde partilharem decisões sobre o tratamento com as pessoas e os seus prestadores de cuidados para ajudar a melhorar a concordância e a reduzir as complicações • realçar a importância de saber ouvir e destacar formas de iniciar um diálogo sobre bem-estar • aumentar a capacidade dos intervenientes implementarem estratégias de tratamento de feridas custo-efectivas, que otimizem o bem-estar e envolvam todos os intervenientes principais. Grupo de trabalho de especialistas Matthias Augustin Diretor, Institute for Health Services Research in Dermatology and Nursing, University Clinics of Hamburgo, Alemanha Keryln Carville Professora Auxiliar de Enfermagem Domiciliária, Silver Chain Nursing Association e Curtin University, Austrália Michael Clark (Presidente adjunto) Professor Convidado, Viabilidade Tecidular, Birmingham City University, Reino Unido John Curran Diretor, 7bn, Londres, Reino Unido Mieke Flour Departamento de Dermatologia, University Hospital Leuven, Bélgica Christina Lindholm Professora de Enfermagem Clínica, Karolinska University Hospital/Sophiahemmet University, Suécia John Macdonald Diretor, Projeto Medishare e Hospital Bernard Mevs, Port-au-Prince, Haiti e Departamento de Dermatologia e Cirurgia Cutânea, Miller School of Medicine, University of Miami, Florida, EUA Kyoichi Matsuzaki Presidente, Departamento de Cirurgia Plástica, Kawasaki Municipal Tama Hospital, Professor Associado, Departamento de Cirurgia Plástica, St. Marianna University School of Medicine, Japão Christine Moffatt Professora de Enfermagem Clínica, Nottingham University e Enfermeira Consultora, Reino Unido Matt Pattison Diretor, 7bn, Londres, Reino Unido Patricia Price Psicóloga da Saúde e Presidente da School of Healthcare Studies, Cardiff University, Reino Unido Paul Trueman Professor Auxiliar de Economia da Saúde, Brunel University, Londres, Reino Unido Wendy White Enfermeira Consultora Clínica/Formadora, Wendy White Woundcare, Nova Gales do Sul, Austrália Trudie Young (Presidente) Professora de Viabilidade Tecidular, Bangor University Enfermeira de Viabilidade Tecidular, Aneurin Bevan Health Board, País de Gales, Reino Unido Otimizar o bem-estar das pessoas que vivem com uma ferida Embora os cuidados de saúde estejam cada vez mais centrados no doente, os clínicos, as organizações de saúde e a indústria desempenham papéis importantes para assegurar que os cuidados são prestados de forma eficaz e que têm em conta as necessidades complexas das pessoas que vivem com uma ferida1. POR QUE É IMPORTANTE O BEM-ESTAR? O impacto de viver com uma ferida é complexo e multifatorial. Os clínicos, a indústria e as organizações de saúde concentram-se muitas vezes na cicatrização da ferida como o critério principal de avaliação dos resultados. Os profissionais de saúde medem e registam os dados sobre a ferida, como por exemplo a redução do tamanho e da profundidade e o aspeto do leito da ferida; as organizações de saúde podem solicitar os valores de prevalência e incidência de diferentes populações de doentes e tipos de feridas; e os investigadores da indústria concentram-se muitas vezes nas propriedades de um determinado penso, como a sua eficácia antimicrobiana ou as suas propriedades de gestão de fluidos. • A rotina matinal demora duas horas todos os dias antes do pequeno-almoço. É um trabalho duro • Embora todos estes elementos sejam importantes, muitas pessoas que vivem com uma ferida podem ter prioridades diferentes, como a redução da dor ou do odor, camuflar manchas inestéticas ou preocupações sobre o uso de pensos volumosos que as impedem de usar certas roupas ou sapatos, ou de desempenhar certas atividades diárias. As pessoas “em risco” ou as que vivem com uma ferida enfrentam grandes mudanças nas suas vidas quotidianas e têm de integrar uma série de procedimentos relacionados com o tratamento que podem ser difíceis de adotar a longo prazo e entrar em conflito com os seus estilos de vida, prioridades e comportamentos. Enquanto os aspetos físicos de uma ferida podem ser medidos com diversas ferramentas, o conceito de “bem-estar” é mais difícil de captar. Nas pessoas que vivem com uma ferida, o bem-estar pode ser prejudicado pela cronicidade (isto é, quando a ferida é lenta a cicatrizar ou recidiva)2, embora as pessoas com uma úlcera cicatrizada também possam ter uma qualidade de vida pior comparada com a população em geral3. Esta última pode estar relacionada com elevadas taxas de recidiva e/ou a necessidade de adotar medidas terapêuticas para toda a vida (por exemplo, terapia de compressiva)3. Reconhece-se que fatores psicossociais, como a ansiedade e a depressão, estão associados ao atraso na cicatrização das feridas4-6, enquanto que o tratamento inadequado dos sintomas pode fazer com que os doentes não cumpram o tratamento7-9. Existem atualmente fortes evidências de que quando o doente está ativamente envolvido no seu tratamento, os resultados melhoram10. Tal requer que se capacitem as pessoas para se encarregarem da sua própria saúde e para terem uma escolha e um controlo superiores sobre os serviços que utilizam. Além disso, a facilidade de acesso aos cuidados e referenciação para profissionais de saúde com conhecimentos, capacidades e recursos atualizados são essenciais para o diagnóstico precoce, o início rápido do tratamento apropriado e para evitar complicações2. A melhoria da saúde e do bem-estar considera-se cada vez mais associada a benefícios económicos e sociais11 Uma definição de bem-estar em relação ao tratamento de feridas foi acordada pelo grupo de consenso (Caixa 1). CAIXA 1 Bem-estar em relação ao tratamento de feridas O bem-estar é uma matriz dinâmica de fatores, incluindo fatores físicos, sociais, psicológicos e espirituais. O conceito de bem-estar é inerentemente individual, varia ao longo do tempo, é influenciado pela cultura e pelo contexto e é independente do tipo, duração ou ambiente de cuidados da ferida. Na cicatrização de feridas, a otimização do bem-estar de uma pessoa será o resultado da colaboração e das interações entre clínicos, doentes, as suas famílias e os prestadores de cuidados, o sistema de saúde e a indústria. Os objetivos finais consistem em otimizar o bem-estar, melhorar ou cicatrizar a ferida, aliviar/gerir os sintomas e assegurar que todas as partes estão totalmente empenhadas neste processo. OTIMIZAR O BEM-ESTAR DAS PESSOAS QUE VIVEM COM UMA FERIDA | 1 Fatores que afetam o bem-estar DOMÍNIOS DO BEM-ESTAR Saúde refere-se ao estado geral de uma pessoa, significando normalmente estar sem doenças, lesões ou dores. A Organização Mundial de Saúde definiu saúde pela primeira vez em 1948 como “um estado de completo bem-estar físico, mental e social e não apenas a ausência de doença ou enfermidade”12. Esta definição continua a influenciar políticas e associa-se habitualmente a três domínios do bem-estar inter-relacionados: ■■ Bem-estar físico: capacidade de desempenhar de forma independente atividades como tomar banho, vestir-se, comer e movimentar-se ■■ Bem-estar mental: implica que as faculdades cognitivas estão intactas e que o doente não apresenta medo, ansiedade, stress, depressão ou outras emoções negativas ■■ Bem-estar social: capacidade de participação e envolvimento com a família, a sociedade, os amigos e os trabalhadores1. Além disso, o grupo de consenso acordou um quarto domínio para ampliar a definição de bem-estar: ■■ Bem-estar espiritual/cultural: capacidade de sentir e integrar significado e finalidade na vida através de ligações com o próprio e com outros. Trata-se de uma parte integrante da saúde mental, emocional e física e pode estar associado a uma religião específica, crenças culturais ou valores pessoais. Logo que a pele fica vermelha ou gretada pode ser muito assustador. A vida para Bem-estar físico Os parâmetros físicos envolvidos numa ferida incluem fatores diretos como o seu tamanho, profundidade, localização e duração2. Outros parâmetros físicos que estão indiretamente ligados ao estado da ferida incluem odor, dor/irritação e fugas causadas por níveis excessivos ou mal geridos de exsudado2. Estes fatores podem conduzir a: ■■ Mobilidade reduzida por exemplo, incapacidade para subir escadas, andar ou utilizar os transportes públicos ■■ Evitar o contacto social, por exemplo, devido a controlo inadequado do exsudado13 ■■ Má alimentação, por exemplo, agravamento da obesidade devido a imobilidade ou falta de apetite devida a depressão ■■ Perturbações do sono e fadiga, por exemplo, devido à dor à noite2. Dados de grupos de discussão internacionais identificaram consistentemente a dor como um dos sintomas que as pessoas com feridas crónicas consideram particularmente aflitivo14-16. O odor e o exsudado excessivo associados a fugas também podem atuar como uma lembrança física constante da ferida e suscitar sentimentos de repugnância, aversão e baixa autoestima17. Embora a cicatrização seja o objetivo primário dos cuidados da maioria das pessoas com feridas, no caso de feridas malignas ou que não cicatrizam, a cicatrização pode não ser tão importante como a gestão dos sintomas físicos. Nesses casos, pode ser apropriado considerar o bem-estar geral da pessoa como um resultado tão importante como a cicatrização da ferida. • É muito fácil ficar deprimido e isolado Além disso, as pessoas que têm uma ferida crónica muitas vezes têm outras condições que afetam a sua capacidade de viver de forma independente, o que pode conduzir a uma maior dependência noutras pessoas, ao internamento hospitalar não planeado e/ou à necessidade de adaptar as suas condições de vida de modo a poderem gerir elas próprias o seu estado em casa. É importante que os profissionais de saúde procurem as capacidades existentes e trabalhem com os doentes para os ajudar e apoiar nas suas atividades diárias Bem-estar psicológico: Viver com uma ferida crónica está muitas vezes associado ao aumento da ansiedade e à má qualidade de vida5,7,18 (ver Caixa 2). Cole-King e Harding4 descobriram uma correlação significativa entre ansiedade e depressão e a cicatrização retardada em doentes com uma úlcera de perna de origem venosa. Investigação adicional revelou que a depressão pode preceder a ferida ou ser uma reação à ferida (por exemplo, 2 | CONSENSO INTERNACIONAL CAIXA 2 Problemas psicológicos associados a viver com uma ferida Ansiedade/depressão ●● Medo (por exemplo, de traumas/infeções adicionais) ●● Imagem corporal alterada ou má e baixa autoestima ●● Sensação de sujidade ●● Fúria/frustração – “porquê eu”? ●● Estigma (por exemplo, reação de outros) ●● Vergonha ●● Solidão e isolamento social ●● Culpa (por exemplo, dificuldade em cumprir o tratamento) ●● Ela (a ferida) pode controlar a sua vida. O sentimento irá da incompreensão no jovem até à impossibilidade de nadar ou socializar. Não se pode usar calções no verão. São muitas coisas, como não conseguir ver os amigos, ir nadar ou correr pelo jardim com os netos devido à dor e ao odor) e à cicatrização retardada17,19. A depressão também pode ser um precursor da autonegligência, do sono perturbado e da má alimentação, que podem ter um impacto negativo na cicatrização da ferida4. O impacto psicológico de viver com uma ferida pode ser particularmente difícil para a pessoa discutir. As pessoas que vivem com uma ferida durante um longo período de tempo podem perder a confiança e a esperança, procurando proteger-se desenvolvendo defesas sociais, afastando-se do contacto com outras pessoas20 ou escondendo a verdadeira extensão dos seus problemas21. Algumas podem estar em negação dos problemas associados a viver com uma ferida22, enquanto outras podem expressar fúria sobre a própria ferida – “porquê eu” – e sobre os tratamentos prescritos13. As pessoas ficam muitas vezes frustradas porque a ferida nunca vai cicatrizar23 e está “eternamente a cicatrizar”24 ou têm um medo extremo que a ferida se deteriore. A ruptura da pele pode suscitar sentimentos de culpa e frustração, especialmente se a pessoa tiver feito tudo bem – fazendo-a sentirse ainda mais impotente, conduzindo a uma maior dependência nos clínicos e noutras pessoas25. Os amigos e a família podem dar muito conforto e força ajudando a pessoa a manter uma perspetiva positiva e apoiando-a nas suas atividades diárias. Bem-estar social As pessoas que vivem com uma ferida podem passar muitas horas na cama ou sentadas com pouco para fazer. Isto pode provocar isolamento social e depressão com menos oportunidades de interação social através de diversão ou trabalho15. Muitas pessoas podem precisar de equilibrar o seu mundo social com a necessidade de lidar com aspetos potencialmente embaraçosos de viver com uma ferida, como o odor e o penso repassado, assim como fatores físicos como a dor e a mobilidade reduzida, ou problemas psicológicos como a depressão. Além disso, as pessoas que não conseguem trabalhar por causa de uma ferida, muitas vezes sentem uma perda do seu papel no seio da família e têm dificuldade em lidar com a situação em termos financeiros26. Viver com uma ferida crónica pode ser extremamente perturbador e muitas pessoas têm dificuldade em organizar as suas rotinas diárias associadas ao cuidado da sua ferida. Isto pode conduzir a uma sensação de incapacidade para viverem as suas vidas como desejariam25 e a “uma luta pelo controlo e pela independência”27. É importante que os clínicos incentivem a autoconfiança e apoiem os doentes com feridas crónicas no autocuidado domiciliário. Isto pode ser uma experiência extremamente positiva para as pessoas, embora possa colocar uma grande carga emocional e financeira sobre os prestadores de cuidados e os membros da família, devendo as suas necessidades ser consideradas quando se tomam decisões sobre tratamento28. A capacidade das pessoas para gerir as suas feridas é variável e algumas podem não sentir que controlam o seu estado e estar menos vigilantes na prevenção de recidivas24. Algumas pessoas podem depender mais de outras (por exemplo, viverem num lar ou estarem acamadas) e podem aceitar com agrado o envolvimento da equipa de cuidados de saúde, sentindo que existe uma ligação forte entre o conselho do clínico e o seu bem-estar25. Bem-estar espiritual/cultural Existe falta de informação sobre a forma como as questões espirituais e culturais influenciam as escolhas e as práticas de tratamento de feridas. A forma como as pessoas percebem a sua ferida e as expetativas em torno da cicatrização podem estar relacionadas com o seu nível de conhecimentos de saúde, aptidões literárias e sistema de crenças. A influência dessas crenças, que podem ter sido transmitidas através de diferentes gerações, pode colidir diretamente com os conselhos dos clínicos e conduzir ao fracasso no que diz respeito à adoção dos tratamentos adequados22. Os clínicos têm de reconhecer e esforçar-se por compreender as crenças, as sensibilidades religiosas e os antecedentes culturais das pessoas e envolver os doentes nas decisões em vez de as imporem. Tal pode OTIMIZAR O BEM-ESTAR DAS PESSOAS QUE VIVEM COM UMA FERIDA | 3 incluir evitar consultas clínicas durante festivais religiosos, obter a autorização dos doentes para incluir tratamentos que tenham sido produzidos utilizando produtos de origem animal29 e ajudar as pessoas a ultrapassar a crença de que certos tratamentos são ineficazes22. Igualmente, os clínicos devem reconhecer que as pessoas têm o direito de recusar tratamentos ou de querer utilizar terapias alternativas. OLHAR ALÉM DOS QUATRO DOMÍNIOS DE BEM-ESTAR De modo a compreender melhor como é que as pessoas vivem com uma ferida e como é que isso afeta a sua vida quotidiana, a 7bn, uma agência sediada no Reino Unido, decidiu estudar o comportamento humano (incluindo doentes e clínicos, assim como a indústria e os serviços de saúde) relativamente ao tratamento de feridas. O estudo envolveu 13 participantes de Londres no Reino Unido e da Geórgia nos EUA, que apresentavam uma variedade de úlceras crónicas diabéticas, vasculares e não diagnosticadas. A equipa utilizou uma abordagem etnográfica para compreender as vidas quotidianas das pessoas que vivem com uma ferida. Isto envolveu que dois investigadores passassem quatro horas com cada participante em sua casa. Os temas abordados incluíram as rotinas diárias do tratamento das feridas e concentraram-se nos fatores que influenciam a qualidade de vida, como os passatempos ou os compromissos sociais, o impacto do cuidado das feridas crónicas, as práticas clínicas, a vida familiar, a comunidade local e as redes de apoio. Estas informações foram registadas utilizando técnicas observacionais, filme e fotografia. Além do trabalho domiciliário, a equipa visitou lares de repouso na Geórgia (EUA) e realizou sessões de grupo com 12 clínicos para explorar as suas atitudes em relação à concordância e ao bem-estar. Os exemplos da forma como uma ferida crónica afetou o dia-a-dia das pessoas abrangidas por esta investigação incluíram: ■■ Um cavalheiro reformado na casa dos sessenta, que “vivia para o seu críquete”, queixou-se de ser incapaz de continuar com o seu passatempo como árbitro de críquete devido ao agravamento das suas úlceras após longos períodos de pé (por exemplo, fazer de árbitro durante seis horas). ■■ Uma mulher com uma úlcera crónica foi impedida de jogar badminton devido à dificuldade em encontrar um penso para gerir os níveis elevados de exsudado. Isto conduziu a aumento de peso, redução da sua capacidade para se encontrar com os amigos e aumento da depressão. ■■ Um homem paraplégico desenvolveu uma úlcera de pressão devido à fricção e ao aumento da humidade (transpiração) após uma mudança de casa recente. Isto causou uma enorme frustração, vergonha e a sensação de estar sujo. ■■ Uma mulher com uma úlcera venosa utilizou a internet para aprender mais sobre o seu problema e passou a ser a perita local em mudanças de pensos. ■■ Um jovem com uma doença vascular crónica não conseguia ir às lojas locais sem ficar extremamente envergonhado devido ao odor da sua ferida. Isto tinha-o impedido de frequentar a universidade e limitava as suas atividades sociais. A partir desta investigação foi identificado um conjunto de oito princípios que englobavam todos os elementos da experiência do tratamento de feridas dos doentes: ■■ Capacitação: a necessidade de uma pessoa assumir o controlo dos elementos físicos, psicológicos e emocionais do tratamento de feridas ■■ Gestão do risco: a utilização por parte de uma pessoa de certos comportamentos ligados ao tratamento da sua ferida (por exemplo, ponderar certas atividades e o nível de risco inerente às mesmas) ■■ Quotidiano: o impacto constante do tratamento de feridas na vida quotidiana do doente ■■ Estigma: de que forma as respostas de outras pessoas podem afetar aquelas que vivem com uma ferida ■■ Exterior: o aspeto dos pensos e produtos ■■ Movimento: de que forma as atividades de uma pessoa “se encaixam” com os pensos utilizados nas feridas. ■■ Limpeza: a necessidade de higiene da pessoa pode colidir com a necessidade de manter os pensos durante sete dias. 4 | CONSENSO INTERNACIONAL FIGURA 1 Um modelo de inovação que pretende apresentar soluções para problemas comuns do tratamento de feridas utilizando os oito princípios identificados como sendo importantes para as pessoas que vivem com uma ferida (cortesia da 7bn: http:// www.7bn.co.uk) ■■ Proteção: o papel dos pensos e dos produtos para tratamento de feridas para proteger o corpo de danos físicos e de infeções. Estes oito princípios foram depois aplicados a um modelo de três anéis do bem-estar em relação ao tratamento de feridas (Figura 1). Envolvimento dos utentes de serviços/prestadores de cuidados Este trabalho é apoiado pelos utentes de serviços e prestadores de cuidados envolvidos na elaboração deste documento. Para muitas dessas pessoas, houve uma sensação de invasão constante da privacidade e um receio de que a ferida voltasse, ficasse infetada ou “apanhasse uma pancada”. Passar tempo com a família ou os amigos, ir dar uma volta de carro ou andar a pé e manter-se ocupado com passatempos (como jardinagem, ouvir música ou ler) foram todos considerados importantes para proporcionar uma sensação de bem-estar e proteger de sentimentos de isolamento e depressão. Muitos falaram da necessidade de controlarem as suas vidas, mesmo que isso envolvesse fazer pequenas coisas como arrumar a casa ou tirar fotografias das feridas para se manterem atualizados sobre o seu progresso. Ter acesso ao equipamento e aos produtos corretos que se encaixavam no seu estilo de vida também foi importante para ajudar os doentes a tratar as suas feridas em casa, enquanto que o acesso limitado aos cuidados hospitalares e aos equipamentos adequados (por exemplo, colchões de redistribuição da pressão) foi muitas vezes uma frustração. • Desenvolver uma abordagem partilhada Toda a investigação e todas as opiniões recolhidas para este documento demonstram as vastas necessidades das pessoas que vivem com uma ferida e destacam a necessidade de uma abordagem partilhada para otimizar o bem-estar. Essa abordagem exige que os clínicos, as organizações de saúde e a indústria: ■■ Trabalhem com as pessoas que vivem com uma ferida para identificar e resolver as suas preocupações ■■ Fomentem a concordância através da capacitação e da escolha ■■ Implementem um plano de tratamento eficaz através da tomada de decisões partilhada com as pessoas que vivem com uma ferida. O que as pessoas querem é controlar a sua própria situação. A autogestão e a tomada de decisões partilhadas são resultados-chave da capacitação30 OTIMIZAR O BEM-ESTAR DAS PESSOAS QUE VIVEM COM UMA FERIDA | 5 Avaliar e medir a qualidade de vida e o bem-estar CAIXA 3 Utilizar o TELER para anotação clínica O TELER é um sistema de recolha de dados clínicos que engloba domínios HRQoL (qualidade de vida relacionada com a saúde) e foi adaptado para medir as experiências do impacto das feridas dos doentes e questões relacionadas com as feridas. Tem dois elementos principais – a anotação clínica e a medição clínica. Permite ao clínico avaliar a evolução, ou a falta de evolução, do estado de um doente, assim como os parâmetros específicos de um penso (por exemplo, desempenho do penso e gestão de sintomas) para determinar o tratamento ideal43. É importante descobrir o que as pessoas gostam de fazer quando estão bem e ver se isso pode continuar a ser feito ou encontrar formas de ajudar a pessoa a consegui-lo • INSTRUMENTOS PARA MEDIR A QUALIDADE DE VIDA RELACIONADA COM A SAÚDE Nos cuidados de saúde utilizam-se instrumentos de avaliação da qualidade de vida relacionada com a saúde (HRQoL) quando é necessário tomar decisões clínicas e políticas. A HRQoL engloba o estado físico e funcional, o estado emocional e o funcionamento social, e pode ser avaliada utilizando instrumentos genéricos ou específicos das doenças ou das condições particulares: ■■ Instrumentos de HRQoL genéricos, como o Nottingham Health Profile, o EuroQol-5 e o Short Form-3631. ■■ Instrumentos de HRQoL específicos da condição, como o Questionário de úlceras de perna de origem venosa da Charing Cross31, o Protocolo de Cardiff sobre o impacto das feridas32 e a Avaliação de Freiburg sobre a qualidade de vida, que foi validado para todos os tipos de feridas agudas e crónicas, incluindo feridas de cicatrização difícil33. Os instrumentos específicos das condições particulares podem ser complementadas por ferramentas para avaliar quaisquer intervenções de tratamento de feridas e benefícios para os doentes (por exemplo, PBI-w34, e a Avaliação do tratamento pelo método de Le Roux (TELER®) (Caixa 3)). Além disso, existem ferramentas simples para captar as experiências dos doentes, incluindo o Perfil de resultados médicos de autoavaliação (MYMOP)35, que pode ser preenchido pelo próprio; o Protocolo para avaliação da qualidade de vida individual – Ponderação direta (SEIQoL-DDW)36 e o Índice gerado pelo doente (PGI)37. Os clínicos também podem utilizar instrumentos do dia-a-dia para avaliar a experiência da dor do doente (por exemplo, Escala Visual Analógica; Questionário de Dor de McGill simplificado38), assim como o nível de ansiedade e depressão (por exemplo, Hospital and Anxiety Depression Scale39). Uma grande parte da investigação incidiu sobre os doentes com úlceras venosas crónicas das extremidades inferiores23,40,41 e a importância do controlo da dor. No entanto, trabalhos recentes destacaram também o impacto de viver com uma úlcera do pé diabético42 e com uma úlcera de pressão27 na qualidade de vida e no bem-estar. Embora os instrumentos de HRQoL forneçam informações quantitativas, são concebidos para examinarem os défices de funcionamento e podem não captar o que as pessoas pensam e sentem sobre viver com uma ferida41. O bem-estar é subjetivo, varia ao longo do tempo e, habitualmente, é difícil de medir. A focalização, portanto, tem de ser colocada em métodos de autoavaliação e observação para ativar processos que apoiem as pessoas que vivem com uma ferida para as ajudar a atingir o seu potencial e aumentar a sua satisfação geral com a vida. AVALIAÇÃO DO BEM-ESTAR É importante que os clínicos vejam o doente “como uma pessoa” e se concentrem nas suas experiências individuais – o objetivo consiste em obter um conhecimento tão completo quanto possível da situação médica do doente, da sua qualidade de vida e da forma como a sua ferida tem impacto em todos os aspetos da vida quotidiana. As questões sobre o bem-estar não devem substituir uma avaliação completa da situação médica do doente ou a utilização de testes de diagnóstico, que continuam a ser da maior importância Construir uma relação terapêutica O grupo de consenso discutiu o desenvolvimento de um ambiente de competência, carinho, compromisso e compaixão no envolvimento com os doentes e na forma como os clínicos têm de construir uma relação que seja equitativa e baseada na confiança. Para o conseguir, os clínicos devem: ■■ Estar totalmente concentrados na pessoa durante cada interação ■■ Evitar distrações, por exemplo, desligar o telemóvel ■■ Fazer perguntas para compreender melhor a atual experiência da pessoa com ferida 6 | CONSENSO INTERNACIONAL ■■ ■■ ■■ ■■ ■■ ■■ ■■ ■■ • Evitar interromper nos primeiros 60 segundos de consulta ou orientar os comentários da pessoa Considerar de que forma a pessoa pode reagir ao que lhe perguntam Observar a pessoa e ouvir atentamente Registar quaisquer observações, por exemplo, que a pessoa parece ansiosa; ou que estava a coxear ligeiramente quando entrou na sala Estabelecer um prazo para qualquer entrevista ou discussão - “Isto vai durar apenas alguns minutos” Estar ciente das diferenças culturais e ser sensível às necessidades espirituais dos doentes Acumular informação ao longo de várias consultas - a continuidade dos cuidados é importante para distinguir qualquer informação sobre bem-estar resultante da discussão inicial, que inclui o diagnóstico e o historial médico passado, e fazer depois o seu seguimento Evitar uma atitude defensiva profissional/rotulagem, por exemplo, se a pessoa diz que está nervosa porque teve más experiências com clínicos no passado, é importante não tomar isso como uma crítica pessoal nem começar a ver a pessoa como “difícil”. Os chamados doentes difíceis são regularmente culpados por não cicatrizarem, mas isso pode ser um reflexo da forma como estão a ser vistos pelos clínicos e não do estado real da sua ferida. As competências interpessoais são importantes, particularmente nas situações crónicas em que é importante que o clínico desenvolva e mantenha uma relação com a pessoa. Tal inclui ser honesto sobre a gravidade da ferida e as limitações do seu conhecimento uma vez que isso ajuda a criar confiança Assegurar a capacitação e a escolha Os clínicos têm de ouvir as pessoas para ganharem a sua confiança e explicar-lhes o que estão a fazer com empatia44. A comunicação melhorada deve conduzir a uma parceria em que a pessoa se sinta capacitada para discutir quaisquer opções ou preocupações de tratamento, podendo o clínico apresentar informações para ajudar a pessoa a avaliar os benefícios dessas escolhas44. • Um estudo recente revelou que a escolha informada sobre os cuidados que são prestados é altamente valorizada pelas pessoas, especialmente entre os idosos45. Além disso, a qualidade da relação entre o doente e o profissional de saúde pode ter um impacto positivo nos resultados do tratamento, ao melhorar a capacidade de autogestão do doente e o seu nível de concordância46-48. Saberem o que está disponível, serem capazes de dizer o que querem, serem ouvidos e participarem nas decisões sobre o seu tratamento são as coisas que realmente importam para os doentes Momento adequado para as avaliações do bem-estar Além de reservarem um tempo específico durante as visitas dos doentes para fazerem perguntas, é também possível para qualquer membro da equipa multidisciplinar avaliar o bem-estar enquanto desempenha tarefas clínicas de rotina, quer durante as visitas ao domicílio quer nas consultas. Realizar medições como a tensão arterial é o momento perfeito para verificar o tono muscular e a mobilidade de uma pessoa. Além disso, ao desempenharem tarefas básicas de enfermagem, como lavar ou dar banho aos doentes, os enfermeiros podem verificar os níveis de higiene pessoal e a perda de peso, assim como as alterações na pele, perfusão, etc. Isto também pode proporcionar uma oportunidade para conversas informais, que podem ajudar a revelar a forma como a pessoa se sente. • Ao avaliar doentes, é importante criar um ambiente sem stress no qual eles se sintam seguros e confortáveis, e isto pode variar em função das diferentes pessoas. Por exemplo, alguns doentes podem preferir ter uma consulta numa sala ou num gabinete separado, onde é pouco provável que existam interrupções e onde podem falar abertamente sobre si próprios, enquanto que outros podem preferir um ambiente mais social no qual as preocupações são partilhadas. Ao considerar as perguntas a realizar, é importante mantê-las simples OTIMIZAR O BEM-ESTAR DAS PESSOAS QUE VIVEM COM UMA FERIDA | 7 Desenvolver instrumentos para o bem-estar A perspetiva de uma pessoa sobre a sua doença e o seu tratamento pode ajudar os clínicos a compreender as experiências individuais de viver com feridas difíceis e frequentemente dolorosas. Os enfermeiros, em particular, podem desempenhar um papel essencial a ouvir as pessoas e a utilizar as informações para otimizar os cuidados49. Há necessidade de desenvolver instrumentos simples que permitam às pessoas discutir o seu bem-estar em relação à sua ferida e quaisquer preocupações específicas que possam ter. Os instrumentos devem ser dinâmicos para permitir às pessoas ajustar as suas opiniões de acordo com as mudanças das suas prioridades à medida que avançam no percurso do tratamento. • Os instrumentos para obter informações sobre o bem-estar têm de ser práticos, fáceis de utilizar e capazes de se adaptar a qualquer ambiente clínico ou interação com o doente Perguntas para iniciar a avaliação do bem-estar A forma como os clínicos obtêm essas informações vai depender do local onde a pessoa é observada. Por exemplo, pode ser mais fácil obter pistas no ambiente de casa da pessoa, mas para aquelas que são seguidas na clínica, um questionário simples numa ficha, a preencher na sala de espera, pode ser uma ajuda útil para uma conversa, ajudando a pôr à vontade as pessoas mais reservadas e dando-lhes tempo para organizarem as suas respostas antes de verem o clínico. Na Caixa 4 abaixo encontram-se exemplos de perguntas que podem ser utilizadas para iniciar uma conversação sobre o bem-estar. CAIXA 4 Exemplo de perguntas para iniciar uma conversação sobre o bem-estar 1. A sua ferida melhorou ou piorou? Queira descrever. Se é nova, como é que aconteceu? 2. A sua ferida impediu-o de fazer coisas na semana passada? Se assim foi, o quê? 3. O que é que lhe causa mais perturbação/sofrimento e quando é que ocorre? 4. Tem alguém para o ajudar a lidar com a sua ferida? 5. O que é que ajudaria a facilitar/melhorar a sua experiência diária de viver com uma ferida? • Quando se fazem perguntas aos doentes, estas devem ser feitas de uma forma aberta e não prescritiva e os clínicos têm de fazer a “ligação” com os doentes em vez de se limitarem a preencher uma lista de verificação Compreender de que forma a ferida de uma pessoa muda ao longo do tempo As informações dependem do tempo e mudam ao longo do tempo. Por este motivo, é importante adaptar as perguntas para compreender de que forma a vida de uma pessoa é afetada a diferentes horas do dia (Figura 2). Uma revisão das rotinas diárias pode ser monitorizada numa base regular para verificar o progresso e pode ser apoiada por ferramentas validadas para monitorizar problemas específicos como a dor38,50. Quaisquer alterações podem dar um importante feedback, que pode ser utilizado na implementação de estratégias adequadas para controlar os sintomas de forma mais eficaz ou persuadir as pessoas sobre tendências positivas. FIGURA 2 De que forma a sua ferida o afeta em diferentes horas do dia?51 10 9 8 11 12 1 2 3 7 6 5 4 Ao acordar – por exemplo, pôr as pernas para baixo para fora da cama pode causar-lhe dor 10 9 8 11 12 1 2 3 7 6 5 4 Meio da manhã – por exemplo, pode não conseguir tomar bem duche ou molha os pensos quando toma duche 8 | CONSENSO INTERNACIONAL 10 9 8 11 12 1 2 3 7 6 5 4 A Meio-dia – por exemplo, pode ter dificuldade em apanhar o autocarro para as lojas ou ficar envergonhado com o cheiro da ferida quando está fora de casa 10 9 8 11 12 1 2 3 7 6 5 4 Meio da tarde – por exemplo, pode estar exausto por dormir mal e precisa de se deitar 10 9 8 11 12 1 2 3 7 6 5 4 Fim da tarde – por exemplo, pode haver uma fuga no penso depois de um dia de atividade 10 9 8 11 12 1 2 3 7 6 5 4 Noite – por exemplo, o seu sono pode ser perturbado devido à dor. FIGURA 3 Exemplo do diário de um doente mostrando apenas um dia. A introdução da informação não deve demorar mais de cinco minutos a completar, embora os doentes possam desejar demorar mais tempo a exprimir completamente os seus pensamentos e sentimentos e prefiram um estilo narrativo menos estruturado ou um "monólogo interior". A utilização de fotografias também é importante para acompanhar o progresso e pode ajudar a iniciar a conversação na próxima consulta. Para mais informações sobre os diários dos doentes, aceder ao Scottish Health Council: http://tinyurl. com/799gydy • Alguém o mudou por si? Para uma informação pormenorizada mais personalizada ao longo do tempo, os diários dos doentes podem ser utilizados para comunicar informações qualitativas sobre as experiências de uma pessoa que vive com uma ferida. Estes relatos comunicados pelo próprio podem ser particularmente úteis para aqueles que estão em contacto com vários serviços ou profissionais de saúde (Figura 3). Pessoas diferentes sentir-se-ão confortáveis com diferentes formas de comunicação. Pode ser útil ter uma série de instrumentos disponíveis para ajudar nestes casos OTIMIZAR O BEM-ESTAR DAS PESSOAS QUE VIVEM COM UMA FERIDA | 9 Avaliação contínua As informações sobre o bem-estar devem ser documentadas de uma forma clara e utilizadas para o seguimento. As perguntas têm de se tornar mais individualizadas ao longo do tempo, concentrando-se nas preocupações específicas que afetam o bem-estar. Por exemplo, isto pode permitir ao clínico monitorizar os padrões de sono do doente, o nível de dor e a capacidade para utilizar ajudas para a vida quotidiana. A discussão contínua dará importantes pistas sobre a altura em que as coisas mudam e contribuirá para informar o plano de tratamento de modo a assegurar que reflete a situação atual e as preocupações do doente. Muitas pessoas que vivem com uma ferida crónica podem interagir com muitos profissionais de saúde diferentes ao longo de um período de tempo prolongado (por exemplo, enfermeiros, cirurgiões, fisioterapeutas, psicólogos e nutricionistas). Isso pode significar que algumas pessoas e os seus prestadores de cuidados tenham de dar as mesmas informações muitas vezes, o que pode ser angustiante ou tornar-se numa fonte de frustração. É importante que qualquer avaliação seja documentada e, quando possível, partilhada entre a equipa multidisciplinar para assegurar a continuidade dos cuidados e evitar alterações desnecessárias ao regime de tratamento por diferentes membros do pessoal. É muito fácil ser rotulado de não cumpridor se discordar do clínico. Os conselhos têm de ser práticos e equilibrados – é difícil estar todo o dia sentado numa cadeira com as pernas levantadas • OBSTÁCULOS À AVALIAÇÃO Poderá haver vários obstáculos à obtenção destas importantes informações, tais como a capacidade de acesso das pessoas aos serviços, os horários apressados das consultas ou a falta de privacidade, assim como a falta de um sistema de documentação comum para todos os profissionais envolvidos no tratamento de pessoas com uma ferida crónica. Do mesmo modo, muitas pessoas evitam discutir o seu bem-estar com receio de “incomodarem” os clínicos ou preocupam-se que os clínicos possam julgálas. Além disso, os clínicos devem considerar a capacidade de as pessoas transmitirem informações tanto verbalmente como por escrito. Por esse motivo, é importante que os clínicos se envolvam com os membros da família e os prestadores de cuidados, que desempenham um papel muito importante na gestão do dia-a-dia da pessoa que vive com uma ferida, especialmente no que diz respeito àquelas que não conseguem comunicar, como os idosos debilitados ou as pessoas com deficiência cognitiva. No entanto, a exposição diária dos clínicos ao sofrimento físico e emocional pode conduzir a sensibilidade reduzida ou “frieza”, fazendo-os subestimar a experiência de dor de uma pessoa, por exemplo. Podem sentir-se impotentes e ficarem afetados ou ansiosos ao lidarem com as expetativas dos seus doentes e dos membros da família22. Tal pode significar que os objetivos do doente diferem daquilo que o clínico julga ser melhor para essa pessoa. Isto pode conduzir ao distanciamento, dificultando a capacidade de o clínico avaliar corretamente e incentivar uma mudança de comportamento. Pode haver um “abismo” entre aquilo que as pessoas dizem que querem e aquilo que os clínicos acreditam que deve ser proporcionado52. Relatório de caso: "problemas de saúde" para o bem-estar O seguinte relatório de caso, baseado nas experiências de um dos membros do grupo de trabalho de especialistas, destaca a importância da avaliação precisa e de que forma um diagnóstico incorreto ou a falha em diagnosticar uma ferida que não cicatriza pode ter impacto no bem-estar do doente Um homem de 72 anos vive numa ilha da zona ocidental da Suécia. Nos últimos 12 anos desenvolveu feridas circunferenciais bilaterais, que cobriram completamente os dois membros inferiores e lhe causaram dores insuportáveis. O penso das feridas tinha de ser feito mais ou menos continuamente pela mulher, assim como uma vez por dia por um enfermeiro da comunidade. Não havia um diagnóstico confirmado, embora se considerasse que as feridas eram úlceras de perna de origem venosa. O homem tinha perdido aproximadamente 15 kg de peso durante o período de 12 anos e estava confinado a uma cadeira de rodas. De um modo geral, o seu bem-estar era muito mau e as suas circunstâncias também influenciavam a qualidade de vida da mulher, uma vez que ela tinha de estar constantemente disponível para mudar os pensos. Quando um enfermeiro especializado em feridas, que também era estomaterapeuta (enfermeiro estomaterapeuta/ET), o visitou na altura em que o enfermeiro da comunidade estava de férias, a sua primeira reação foi que as feridas não eram úlceras de perna de origem venosa. Constatou o aspeto anorético do homem, bem como na sua expressão de dor, e decidiu interná-lo no departamento de cirurgia colo-retal do hospital universitário da região. Após a avaliação, o homem foi diagnosticado com colite ulcerosa. O doente foi medicado e submetido a uma terapia nutricional intensiva e já recuperou peso. Também já é capaz de ficar de pé sem precisar da cadeira de rodas. As feridas foram por fim diagnosticadas como pioderma gangrenoso e iniciou-se o tratamento adequado, que conduziu à cicatrização em oito semanas, melhorando drasticamente o bem-estar do doente e da sua esposa. 10 | CONSENSO INTERNACIONAL Otimizar o bem-estar para o tratamento efetivo das feridas • Para assegurar que o bem-estar é o objetivo principal dos cuidados, há necessidade de desenvolver estratégias que tornem a prestação de cuidados de saúde mais eficiente e permitam responder atempadamente às necessidades das pessoas que vivem com uma ferida. Os bons resultados dependem tanto de uma boa autogestão como de bons cuidados médicos. A capacitação e a educação são essenciais para a implementação de uma tratamento de feridas efetivo, com enfâse nos cuidados centrados no doente48. Determinar as preferências dos doentes para obtenção de informações e participação nos seus cuidados é o primeiro passo para criar uma parceria bem-sucedida, que pode conduzir à melhoria da satisfação com os cuidados e a melhores resultados A educação sobre a razão pela qual se desenvolveu uma ferida e a forma como certas decisões de tratamento são tomadas pode ajudar a resolver as preocupações individuais e a gerir as expetativas. Tal pode ser adicionalmente apoiado por folhetos informativos para o doente e recursos educacionais. Em termos gerais, as pessoas têm muito mais probabilidades de cumprir um tratamento se o compreenderem e normalmente aceitam estratégias que sejam coerentes com os seus próprios antecedentes e crenças53. Devem ser oferecidos às pessoas serviços que sejam seguros, de fácil acesso e respondam às necessidades individuais. Isto pode incluir a disponibilização de centros de acolhimento sem marcação ou flexibilidade de horários nas consultas. Algumas pessoas sentem apoio e encorajamento ao partilharem as suas experiências com um grupo de pessoas com problemas de feridas semelhantes. Foi demonstrado que modelos de cuidados sociais, como o Lindsay Leg Club® (ver Caixa 5), melhoram a saúde e o bem-estar de pessoas com úlceras de perna crónicas54. Ao removerem o estigma associado a viver com uma ferida, esses clubes podem melhorar a concordância, reduzir a ansiedade e a depressão e ter um impacto positivo na cicatrização e nas taxas de recidivas55. O custo do tratamento de feridas cónicas que não cicatrizam é elevado. Entre as variáveis importantes contam-se o período de tempo até à cicatrização, a frequência das mudanças de penso e o tempo de enfermagem, assim como a organização de cuidados (isto é, agudos ou baseado na comunidade)56. Para os doentes com um risco acrescido de cicatrização retardada, foi demonstrado que a identificação precoce e uma abordagem estruturada tratamento utilizando estratégias de tratamento adequadas (por exemplo, terapias avançadas) reduzem o tempo de cicatrização, melhoram a qualidade de vida e reduzem os custos gerais dos cuidados56. Além disso, a formação contínua do pessoal com o objetivo de melhorar os seus conhecimentos e competências também foi considerada importante56. No entanto, é necessária investigação adicional para compreender perfeitamente os benefícios desta abordagem utilizando estudos de economia da saúde bem concebidos. DESENVOLVER UM PLANO DE CINCO PONTOS Os intervenientes devem trabalhar em conjunto para melhorar o bem-estar de uma forma custoefetiva e eficiente. É necessário que os clínicos desenvolvam uma parceria terapêutica com os doentes e respetivos prestadores de cuidados na qual as decisões sejam partilhadas, que as organizações de saúde apoiem iniciativas para o bem-estar que respondam às preferências dos doentes e que a indústria desenvolva produtos que otimizem a eficácia, a estética e a qualidade de vida. CAIXA 5 O Lindsay Leg Club®: um modelo de cuidados sociais A Lindsay Leg Club® Foundation foi criada no Reino Unido para que os doentes com problemas dos membros inferiores se juntassem e obtivessem cuidados e apoio. Estes clubes oferecem cuidados clínicos de elevada qualidade, que podem ser prestados em ambientes não tradicionais como salões comunitários ou igrejas locais. Cada Leg Club pertence aos seus membros, que o frequentam para obterem conselhos e tratamento e para se encontrarem e socializarem com outros membros. No Reino Unido e na Austrália, mais de 1000 pessoas recebem conselhos ou tratamento todas as semanas no âmbito dos Leg Clubs. Os elementos principais de um Leg Club bem-sucedido são a integração completa de interação social e prestação de cuidados de saúde, resultando num tratamento coletivo em que os membros com úlceras de perna são tratados em conjunto, e o papel dos voluntários, que angariam fundos e gerem o seu clube local. As marcações não são prescritivas e os doentes/membros podem simplesmente “aparecer” para obterem apoio social e/ou serem tratados. Esta organização também conseguiu fazer pressão para obter serviços melhorados para os doentes com problemas dos membros inferiores e dá informações especializadas baseadas na experiência coletiva dos seus membros que têm feridas. Para mais informações, visite: www.legclub.org OTIMIZAR O BEM-ESTAR DAS PESSOAS QUE VIVEM COM UMA FERIDA | 11 IMPLEMENTAR UM PLANO DE CINCO PONTOS PARA OS INTERVENIENTES PRINCIPAIS: Pretende-se criar um quadro para os quatro intervenientes principais assegurarem a otimização do bem-estar quando implementam o tratamento de feridas efetivo CLÍNICOS O clínico é essencial na otimização do bem-estar das pessoas que vivem com uma ferida, agindo como a ligação entre o doente, a organização de saúde e a indústria. Os membros da família e os prestadores de cuidados também devem estar envolvidos neste processo. Os clínicos devem ter como objetivo: 1. Fazer perguntas sobre o bem-estar utilizando uma abordagem holística e lembrar-se que o doente é uma “pessoa” 2. Dar prioridade ao bem-estar na avaliação, tratamento e cuidado da ferida de um doente 3. Envolver os doentes nos seus cuidados oferecendo uma escolha genuína de opções de tratamento e facultando a informação e o apoio adequados. Devem respeitar o direito de recusa do tratamento dos doentes 4. Utilizar o feedback do doente para planear/adaptar serviços 5. Assegurar a colaboração com os seus colegas: saber quando referenciar e para quem DOENTES As pessoas que vivem com uma ferida crónica devem receber a mesma atenção em termos de cuidados do que as outras pessoas com doenças crónicas, como a diabetes ou doenças cardíacas. Os doentes são a única constante no percurso de tratamento, ao passo que aqueles que prestam os cuidados podem mudar. Os doentes devem: 1. Esperar que lhes sejam feitas perguntas sobre o bem-estar e dar prioridade às preocupações 2. Reconhecer o seu direito a discutir o seu bem-estar e expressar expetativas e preocupações sobre o tratamento 3. Assumir um papel ativo nas decisões tomadas sobre o seu tratamento e comprometer-se a uma participação sustentada no cuidado da sua ferida 4. Quando razoável, esperar que lhes sejam oferecidas opções de tratamento e flexibilidade na prestação de cuidados 5. Refletir sobre a forma como os seus cuidados são prestados e apresentar sugestões quando à forma como os serviços podem ser adaptados ORGANIZAÇÕES As organizações de saúde individuais podem apoiar os clínicos ao criarem um bom ambiente de trabalho para o pessoal e os serviços adequados para os seus utentes. As organizações também têm um papel importante na formação e na investigação e no fornecimento de materiais para os doentes que possam ser adaptados para populações etnicamente diversificadas. As organizações devem ter como objetivo: 1. Assegurar o bem-estar do seu pessoal para que este possa cuidar do bem-estar de outras pessoas44 2. Aceitar o bem-estar como um dos principais motores do tratamento de feridas efetivo e baseado no conhecimento, e comprometer-se com a investigação contínua 3. Disponibilizar serviços que apoiem o bem-estar dos doentes na implementação de um tratamento eficaz das feridas. Estes devem ser relevantes para as necessidades dos grupos de doentes individuais e não devem ser discriminatórios 4. Apoiar estratégias que melhorem a comunicação entre os clínicos e os doentes (incluindo a utilização de tecnologia moderna, por exemplo, telemedicina, redes sociais e aplicações) 5. Monitorizar as reclamações e melhorar os serviços em conformidade. INDÚSTRIA A indústria também pode desempenhar um papel ativo no apoio aos clínicos, doentes e organizações, dando prioridade e aceitando o bem-estar como um dos principais motores da inovação e conceção de produtos. A indústria deve ter como objetivo: 1. Desenvolver produtos inovadores que estejam em linha com os estilos de vida dos doentes e dar prioridade ao bem-estar na implementação de um tratamento de feridas efectivo 2. Fornecer sistemas de comunicação relevantes e robustos em colaboração com os clínicos e doentes 3. Realçar a importância do bem-estar e elaborar um programa de investigação no âmbito do bem-estar e do tratamento de feridas com base nas experiências clínicas e dos doentes 4. Responder ao feedback dos clínicos e doentes sobre os produtos que oferece 5. Manter uma abordagem ética à produção, marketing e vendas de produtos. 12 | CONSENSO INTERNACIONAL REFERÊNCIAS 1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. 8. 9. 10. 11. 12. 13. 14. 15. 16. 17. 18. 19. 20. 21. 22. 23. 24. 25. 26. 27. 28. 29. Gray D, Boyd J, Carville K. Effective wound management and wellbeing for clinicians, organisations and industry. Wounds International 2011. Available at: http://www.woundsinternational.com/practice-development/effective-woundmanagement-and-wellbeing-for-clinicians-organisations-and-industry European Wound Management Association. Position Document. Hard to heal wounds: a holistic approach. MEP Ltd, London 2008. Palfreyman S. Assessing the impact of venous ulceration on quality of life. Nurs Times 2008;104(41):34-7. Cole-King A, Harding KG. Psychological factors and delayed healing in chronic wounds. Psychosom Med 2001;63(2):216-20. Persoon A, Heinen MM, Vleuten CJM, et al. Leg ulcers: a review of their impact on daily life. J Clin Nurs 2004;13: 3,341-52. Vedhara K, Miles JN, Wetherell JM. Coping style and depression influence the healing of diabetic foot ulcers: observational and mechanistic evidence. Diabetologica 2010;53(8):1590-8. Solowiej K, Mason V, Upton D Review of the relationship between stress and wound healing: part 1. J Wound Care 2009; 8(9):357-66. Solowiej K, Mason V, Upton D. Psychological stress and pain in wound care, part 2: a review of pain and stress assessment tools. J Wound Care 2010;19(3):110-5. Solowiej K, Mason V, Upton D. Psychological stress and pain in wound care, part 3: management. J Wound Care 2010;19(4):153-5. Department of Health. The White Paper ‘Equity and Excellence: Liberating the NHS’, 2011. Department of Health. Our Health and Wellbeing Today. Crown Publications 15150, 2010. World Health Organization. Constitution of WHO. WHO Basic Documents, Geneva, 1948. Herber OR, Schnepp W, Rieger MA. A systematic review on the impact of leg ulceration on patients’ quality of life. Heath and Quality of Life Outcomes 2007; 5:44 doi: 10.1186/1477-7525-5-44. Price PE, Fagervik-Morton H, Mudge, EJ, et al. Dressing related pain in patients with chronic wounds: an international perspective. Int Wound J 2008;5(2):159171. Fagervik-Morton H, Price P. Chronic ulcers and everyday living: Patients’ perspective in the UK. Wounds 2009;21(12);318-23. Mudge E, Spanou C, Price P. A focus group study into patients’ perception of chronic wound pain. Wounds UK 2008; 4(2): 21–28. Jones JE, Robinson J, Barr W, Carlisle C. Impact of exudate and odour from chronic venous leg ulceration. Nurs Stand 2008;16-22;22(45):53-4, 56, 58. Walburn J, Vedhera K, Hankins M, et al. Psychological stress and wound healing in humans: a systematic review and meta analysis. J Psychosom Res 2009;67(3):253-71. Vileikyte L. Stress and wound healing. Clin Dermatol 2007; 25(1):49-55. Lindahl E, Norberg A, Söderberg A. The meaning of caring for people with malodorous exuding ulcers. J Adv Nurs 2008; 62(2): 163–71 Flanagan M, Vogensen H, Haase L. Case series investigating the experience of pain in patients with chronic venous leg ulcers treated with a foam dressing releasing ibuprofen. World Wide Wounds 2006. Available at:http://tiny.cc/ p8i76. Moffatt CJ. Perspectives on concordance in leg ulcer management. J Wound Care 2004;13(6):243-8. Hareendran A, Bradbury A, Budd J, et al. Measuring the impact of venous leg ulcers on quality of life. J Wound Care 2005;14(2):53-7. Chase S, Melloni M, Savage A. A forever healing: the lived experience of venous ulcer disease. J Vasc Nurs 1997; 15: 73. Lindahl E, Norberg A, Söderberg A. The meaning of living with malodorous exuding ulcers. J Clin Nurs 2007;16(3a):68–75. Franks P, Moffatt C, Doherty D, et al. Longer-term changes in quality of life in chronic leg ulceration. Wound Repair Regen 2006;14:536-41. Gorecki C, BrownJ, Nelson EA, et al. Impact of pressure ulcers on quality of life in older patients: JAGS 2009. doi: 10.1111.11/j.1532-5415.2009.02307. Nabuurs-Franssen MH, Huijberts MS, et al. Health-related quality of life of diabetic foot ulcer patients and their caregivers. Diabetologia 2005;48(9):190610. Epub 2005 Jul 2. Enoch S, Shaaban H, Dunn KW. Informed consent should be obtained from patients to use products (skin substitutes) and dressings containing biological material. J Med Ethics 2005;31:2-6. 30. Aujoulat I, d"Hoore W, Deccache A. Patient empowerment in theory and practice: polysemy or cacaophony? Patient Educ Couns 2006; doi 10.1016/j. pec.2006.09.008. 31. Gonzalez-Consuegra RV, Verdu J. Quality of life in people with venous leg ulcers: an integrative review. J Adv Nurs 2011; 67(5): 926–44. 32. Price P, Harding K. Cardiff Wound Impact Schedule: the development of a condition-specific questionnaire to assess health-related quality of life in patients with chronic wounds of the lower limb. Int Wound J 2004; 1(1):10-7. 33. Augustin M, Herberger K, Rustenbach S, et al. Quality of life evaluation in wounds: validation of the Freiburg Life Quality Assessment-wound module, a disease-specific instrument. Int Wound J 2010;7:493-501. 34. Augustin M, Blome C, Zschocke I, et al. Benefit evaluation in the therapy of chronic wounds from the patients' perspective - development and validation of a new method. Wound Rep Regen 2011; doi 10.1111/j.1524-475X.2011.00751.x 35. Paterson C. Measuring outcomes in primary care: a patient generated measure, MYMOP, compared with the SF-36 health survey. BMJ 1996;312(7037):1016–20. 36. Hickey AM, Bury G, O'Boyle CA, et al. A new short form individual quality of life measure (SEIQoL-DW): application in a cohort of individuals with HIV/AIDS. BMJ 1996;313(7048):29–33. 37. Camilleri-Brennan J, Ruta DA, Steele RJ. Patient generated index: new instrument for measuring quality of life in patients with rectal cancer. World J Surg 2002:26(11); 354–9. 38. Melzack R. The short-form McGill Pain Questionnaire. Pain 1987;30(2): 191–7. 39. Zigmond AS, Snaith RP.The hospital anxiety and depression scale.ActaPsychiatr Scand 1983;67(6):361–70. 40. Green J, Jester R. Health-related quality of life and chronic venous leg ulceration: part 1. Wound Care 2009; S12-17. 41. Green J, Jester R. Health-related quality of life and chronic venous leg ulceration: part 2. Wound Care 2010; S4-S1. 42. Gorecki C, Lamping DL, Brown JM et al. Development of a conceptual framework of health-related quality of life in pressure ulcers: A patient-focused approach. Int J Nurs Stud 2010;47:1525-34. 43. Grocott P. Developing a tool for researching fungating wounds. World Wide Wounds 2001 (Jul). Available at http://tiny.cc/zoqb1. 44. Douglas K. When caring stops, staffing doesn’t really matter. Health Economics 2010;28(6):415-19. 45. Kings Fund. Patient choice: how patients choose and how providers respond 2010. http://www.kingsfund.org.uk/current_projects/patient_choice 46. Edwards H, Courtney M, Finlayson K, et al. Chronic venous leg ulcers: effect of a community nursing intervention on pain and healing. Nurs Stand 2005;19(52):47-54. 47. Price PE. Education, psychology and ‘compliance’. Diabetes Metab Res Rev 2008;24:S101-5. 48. Jordan JL, Ellis SJ, Chambers R. Defining shared decision making and concordance: are they one and the same? Postgrad Med J 2002; 78 (921):383-4. 49. Hawkins J, Lindsay E. We listen but do we hear? The importance of patient stories. Br J Community Nurs 2006;11(9):S6-14. 50. WUWHS Principles of best practice: Minimising pain at wound dressing-related procedures. A consensus document. London: MEP Ltd, 2004. 51. Roden A, Young T. In: Kingsley A, Padmore J (Eds). Painstaking care, everyday issues in wound management. Wound Care Society, UK 2006 52. Coulter A. Do patients want choice and does it work? BMJ 2010; 341: doi: 10.1136/bmj.c4989 53. Enright S. The Psychology of preventive health. BMJ 1996;313:1090. 54. Edwards H, Courtney M, Finlayson K, et al. Improved quality of life and healing for clients with chronic leg ulcers: a randomised controlled trial of a community intervention. J Clin Nurs 2009;18:541-49. 55. Lindsay E. The Lindsay Leg Club model: a model for evidence-based leg ulcer management. Br J Community Nurs 2004. 9(6 Suppl): S15-S20. 56. Tennvall GR, Hjelmgren J, Oien R. The cost of treating hard-to-heal venous leg ulcers: results from a Swedish survey. World Wide Wounds 2006 (Nov). Available from http://tinyurl.com/cqyh6a8 OTIMIZAR O BEM-ESTAR DAS PESSOAS QUE VIVEM COM UMA FERIDA | 13 O regresso da pessoa com ferida à sua vida normal NOVO Envergonhada pelas manchas de exsudado no penso, com receio dos toques e encontrões, frustrada com pensos que não ficam no lugar; Para pessoas com feridas crónicas, esconder-se pode ser a única opção. Os resultados inspiraram-nos para criar o ALLEVYN Life, desenvolvido para ajudar as pessoas com feridas crónicas a recuperar a liberdade e com impacto positivo no bem-estar. Na Smith & Nephew uma pesquisa observacional revelou as razões pelas quais viver com uma ferida crónica impede as pessoas de viver a vida que querem viver. Descubra como o ALLEVYN Life pode ajudar a recuperar uma vida normal. Visite: http://feridas.smith-nephew.pt/ Advanced Wound Management Smith & Nephew, Lda. Parque Tejo EN ao Km 131 2625-445 Forte da Casa Portugal T +351 214 460 650 F +351 214 460 679 Desenvolvido para as pessoas. Desenhado para a vida. e-mail: [email protected] http://feridas.smith-nephew.pt ™Marca registada da Smith & Nephew © Smith & Nephew AWM/13/54 A Wounds International publication www.woundsinternational.com