Patricia de Moraes Mello Boccolini EXPOSIÇÃO A AGROTÓXICOS
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Patricia de Moraes Mello Boccolini EXPOSIÇÃO A AGROTÓXICOS
Universidade Federal do Rio de Janeiro Instituto de Estudos em Saúde Coletiva Doutorado em Saúde Coletiva Patricia de Moraes Mello Boccolini EXPOSIÇÃO A AGROTÓXICOS E MORTALIDADE POR LINFOMA NÃO-HODGKIN NO BRASIL E NO MUNDO Rio de Janeiro 2015 2 Patricia de Moraes Mello Boccolini EXPOSIÇÃO A AGROTÓXICOS E MORTALIDADE POR LINFOMA NÃO-HODGKIN NO BRASIL E NO MUNDO Tese de Doutorado apresentada ao programa de Pós-Graduação em Saúde Coletiva, Instituto de Estudos em Saúde Coletiva da Universidade Federal do Rio de Janeiro, como requisito parcial à obtenção do Título de Doutora em Saúde Coletiva. Orientador: Prof. Armando Meyer, Dr Rio de Janeiro 2015 3 4 5 "o barro toma a forma que você quiser você nem sabe estar fazendo apenas o que o barro quer" (Paulo Leminski). 6 DEDICATÓRIA A Jesus, meu Senhor e Salvador, ao meu grande amigo, companheiro e marido de uma longa jornada, Cristiano, pelo apoio incondicional em todos os momentos, sem você ao meu lado nada disso seria possível. à minha avó, Iracema, que sempre me incentivou com suas palavras de fé e carinho, e aos meus pais Maria Helena e Moacyr agradeço por tudo que sou e creio que certamente os encontrarei na eternidade. 7 AGRADECIMENTOS A Deus pоr ter sido essencial nessa jornada, autor do mеu destino, guia e socorro presente nаs horas de angústia. Ao meu orientador Armando Meyer pela paciência e por acreditar em mim. A minha família, marido, irmão, sobrinhos, cunhadas e sogros por acreditar e me incentivar em todos os momentos. Аоs meus amigos da Betânia e da célula, pеlаs orações, alegrias, tristezas е dores compartilhadas. Cоm vocês, аs pausas entre um parágrafo е outro dе produção foram um conforto e descanso, como é bom estar entre amigos de uma vida! Aos meus queridos amigos conquistados durante minha caminhada acadêmica, Ju, Bila, Gesiele, Maíra, Brenda, Karla, Marianne, além dos demais companheiros de journal. Aоs professores do IESC, quе foram importantes nа minha vida nesses últimos quatro anos е nо desenvolvimento dеstа tese, em especial aos professores Gabriel, Volney e Carmem. As secretárias da pós Nadja e Fátima pela imensa paciência e dedicação aos alunos. A todos aqueles quе dе alguma forma estiveram е estão próximos a mim fazendo esta vida valer cada vеz mais а pena. 8 ÍNDICE DE QUADROS E TABELAS Quadro 1: Toxicidade aguda - DL50 oral para ratos (mg/kg) Quadro 2: Classe toxicológica e cor da faixa no rótulo de produto agrotóxico Tabela 1: Classificação da Organização Mundial de Saúde para os LNH Tabela 2: Associações entre agentes infecciosos e alguns subtipos de LNH Quadro 3: Classificação de Agentes Carcinogênicos segundo a International Agency for Research on Cancer (IARC). Quadro 4: Revisão da literatura sobre exposição a agrotóxicos e Linfoma não-Hodgkin ÍNDICE DE TABELAS E FIGURAS DOS ARTIGOS PRIMEIRO ARTIGO Tabela 1: Taxas padronizadas de mortalidade por Linfomas Não-Hodgkin por faixa etária e percentual de variação entre o primeiro e último quadriênio das séries, nas regiões brasileiras e Brasil, no período de 1980-2012. Tabela 2: Percentual anual de mudança (APC – Annual Percent Change) de mortalidade padronizada por Linfomas não-Hodgkin no Brasil e Regiões, de acordo com sexo, no período de 1980 a 2012. Tabela 3: Percentual Anual de Mudança (APC – Annual Percent Change) de mortalidade por linfomas não-Hodgkin nos estados brasileiros e Distrito Federal, de acordo com sexo, no período de 1980 a 2012. Tabela 4: Variação Anual Média Percentual (AAPC – Average Annual Percent Change) de mortalidade por linfomas não-Hodgkin nos estados brasileiros e Distrito Federal, para ambos os sexos, nos últimos dez anos do período (2002 a 2012). Figura 1: Gráfico de tendência da taxa de mortalidade padronizada (por 100.000) por Linfoma Não-Hodgkin (LNH) no Brasil e regiões, 1980 a 2012. 9 SEGUNDO ARTIGO Tabela 1: Descrição do consumo per capita de agrotóxicos, IDH, prevalência de HIV por nível de renda segundo o Banco Mundial (n=117 países), 1998-2002 Tabela 2: Taxas de mortalidade por neoplasias hematológicas , por sexo e por nível de renda segundo Banco Mundial (n=117 países) Tabela 3: Tercis de consumo per capita de fungicidas, bactericidas, herbicidas, inseticidas e todos os agrotóxicos por tipo de neoplasia e por sexo. Tabela 4: Razão de taxa de mortalidade (RTM) por Linfoma de Hodgkin (LH), Leucemia, Mieloma Múltiplo (MM), Linfoma não-Hodgkin (LNH) e todas as neoplasias hematológicas por tercil de consumo per capita de fungicidas, bactericidas, herbicidas, inseticidas e todos os agrotóxicos e por sexo. Tabela 5: Coeficiente de associação entre o consumo per capita de agrotóxicos, IDH e prevalência de HIV com as taxas de mortalidade padronizadas de Linfoma de Hodgkin, Leucemia, Mieloma Múltiplo, Linfoma não-Hodgkin e todas as neoplasias hematológicas**** por sexo. 10 LISTA DE ABREVITURAS E SIGLAS LNH – Linfoma não-Hodgkin IARC – International Agency for Research on Cancer IDH – Índice de Desenvolvimento Humano HIV - Human Immunodeficiency Virus LH – Linfoma de Hodgkin MM – Mieloma Múltiplo CDSS - Comissão de Determinantes Sociais em Saúde OMS - Organização Mundial de Saúde ALAMES - Associação Latino-Americana de Medicina Social MST - Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra EPA - Environmental Protection Agency INCA - Instituto Nacional de Cancer José de Alencar SMR – Standard Mortality Ratio RR – Relative Risk OR – Odds Ratio IC – Intervalo de Confiança HR – Hazard Ratio SRR – Standard Rate Ratio IMC – Índice de Massa Corporal MRR – Motality Rate Ratio SIR - Razão Padronizada de Incidência/Standard Incidence Ratio DATASUS - Departamento de Informática do SUS SIM - Sistema de Informação sobre Mortalidade IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística APC - Variação Percentual Anual/Anual Percentage Change AAPC - Variação Percentual Anual Média /Average Anual Percentage Change FAOSTAT - Food and Agriculture Organization of the United Nations RTM – Razão de taxa de mortalidade DDT - diclorodifeniltricloroetano EPI - Equipamentos de Proteção Individual ANVISA - Agência Nacional de Vigilância Sanitária 11 SNC - Sistema Nervoso Central CID - Classificação Internacional de Doenças LNT – Linfoma Nasal das células T NK – Natural Killer EBV- Epstein-Barr Virus AIDS - Acquired Immunodeficiency Syndrome HTLV1 - Vírus Linfotrópico da célula humana do tipo um HHV8 - Herpes vírus tipo 8 humano HCV - Vírus da hepatite C MALT - Mucosa-associated lymphoid tissue 12 SUMÁRIO 1) INTRODUÇÃO 1 1.1. Relações entre as condições de saúde da população do campo e seus determinantes 1.2. Uso de Agrotóxicos e Impactos Sobre a Saúde Humana 1.3. Definição e Classificação dos Agrotóxicos 1.4. Linfoma não-Hodgkin (LNH) 1.5. Linfoma não-Hodgkin e Ocupação 1.6. Agrotóxicos e Linfoma não-Hodgkin (LNH) 2 6 8 10 16 17 2) JUSTIFICATIVA 29 3) OBJETIVOS 29 3.1. OBJETIVOS ESPECÍFICOS 29 4) ASPECTOS ÉTICOS 30 5) MATERIAL E MÉTODOS 30 6) RESULTADOS E DISCUSSÃO 30 PRIMEIRO ARTIGO: Tendência de mortalidade por linfomas não-Hodgkin no Brasil, 1980 a 2012 31 SEGUNDO ARTIGO: Exposição a agrotóxicos e mortalidade por Linfoma não Hodgkin, Leucemia, Linfoma de Hodgkin e Mieloma Múltiplo em adultos de 117 países: um estudo ecológico 53 7) CONCLUSÕES GERAIS 77 ANEXOS 78 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS DA TESE 80 1 INTRODUÇÃO: Nas últimas décadas do século XX, o mundo vem passando por inúmeras transformações tecnológicas, as quais abrangem, inclusive, a agricultura. A chamada “Revolução Verde” resultante do aumento do uso de agentes químicos agrícolas como fertilizantes e agrotóxicos provocaram uma profunda mudança na lógica produtiva da agricultura em todo mundo (Pimentel, 1996). O consumo mundial de agrotóxicos sofreu um rápido incremento a partir da segunda metade do século XX (Yudelman et al, 1998). Estima-se que em 1992 a América do Norte e a Europa Ocidental consumiram mais da metade dos agrotóxicos produzidos mundialmente, regiões estas que abrigam um pouco mais que 25% das terras globais ocupadas com agricultura (Yudelman et al, 1998). Embora a difusão de novas tecnologias agrícolas tenha acontecido inicialmente em países mais desenvolvidos, os impactos gerados por essas inovações repercutiram, também, nos países em desenvolvimento (Koh e Jeyaratnam, 1996). O aumento do uso de agrotóxicos e fertilizantes no Brasil ocorreu a partir da década de 1970, após inserção de políticas governamentais de incentivo ao uso de tais produtos. Àquela época, era oferecido aos trabalhadores rurais um financiamento destinado à compra de sementes, havendo, contudo, a pré-condição do direcionamento de uma parcela dos recursos concedidos para a compra de agrotóxicos e fertilizantes (Araújo et al, 2007). O Brasil encontra-se entre os cinco maiores consumidores mundiais de agrotóxicos (OPAS, 2010). Segundo o Sindicato Nacional da Indústria de Produtos para Defesa Agrícola (SINDAG), as vendas, em dólares, de agrotóxicos no Brasil aumentaram 945,51% entre os anos de 1992 e 2008. (SINDAG, 2002). Jeyaratnam e colaboradores (1987) realizaram um inquérito epidemiológico entre agricultores de quatro países asiáticos e encontraram uma prevalência de intoxicação por agrotóxicos entre 3 e 7%. Resultados semelhantes foram observados em estudos sobre intoxicação por agrotóxicos em trabalhadores agrícolas da América Latina (Murray et al, 2002), inclusive no Brasil (Oliveira-Silva et al, 2001; Moreira et al, 2002; Faria et al, 2005). Sendo assim, o aumento do uso de agrotóxicos em todo mundo pode representar um risco não somente ao meio ambiente (Pimentel et al, 1992), como também para a saúde humana (Koifman e Hatagima, 2003). 2 No que tange aos efeitos crônicos, um dos maiores desafios é estabelecer uma relação causal entre exposição aos agrotóxicos e desfechos crônicos em saúde. Isto se deve basicamente à necessidade de controle de fatores como: características biológicas individuais, consumo de tabaco e álcool, propriedades químicas dos produtos e condições específicas nas quais ocorreu a exposição (OPAS/OMS, 1996). Em recente revisão, Muller e colaboradores (2005) ressaltaram que diferenças metodológicas empregadas na análise dos diversos estudos podem limitar a comparação dos resultados e as conclusões sobre efeitos dos agrotóxicos na saúde humana. Os estudos que avaliam os impactos do uso de agrotóxicos no Brasil são escassos e enfatizam, na maioria das vezes, os efeitos agudos (Meyer et al, 2003). Dentre os efeitos crônicos, o uso de agrotóxicos pode ser considerado como uma condição potencialmente associada à etiologia do câncer, por sua possível atuação como iniciadores, substâncias capazes de alterar o DNA de uma célula e/ou como promotores tumorais, substâncias que estimulam a célula alterada a se dividir (Wünsch-Filho e Koifman, 2003). Em relação aos efeitos crônicos pode-se destacar alguns estudos no Brasil relacionados a distúrbios reprodutivos (Meyer et al 1999; Koifman, et al, 2002; Gibson e Koifman, 2008), a alterações psiquiátricas (Pires et al, 2005), a efeitos neurotóxicos/ teratogênicos (Meyer, et al, 2004) e ao câncer (Meyer et al, 2003; Koifman e Koifman, 2003; Chrisman et al, 2009). Os agrotóxicos têm sido apontados como fator de risco para o desenvolvimento de alguns tipos de câncer em agricultores, com destaque para os tumores hematológicos entre eles o Linfoma não-Hodgkin (Rusiescki et al, 2004; Chiu et al, 2006). Os LNH são um grupo heterogêneo de neoplasias malignas originárias no tecido linfóide, com características biológicas e quadro clínico variado (Alexander et al, 2007). Embora não haja consenso sobre os fatores causais, alguns estudos apontam para o risco aumentado de LNH entre trabalhadores agrícolas, pois durante sua jornada de trabalho estão expostos constantemente a variadas classes de agrotóxicos e substâncias potencialmente cancerígenas (Fritschi et al, 2005; Mills et al, 2005). 1.1. Relações entre as condições de saúde da população do campo e seus determinantes Diante do breve panorama acerca do uso de agrotóxicos e algumas de suas consequências para o ambiente e para a saúde humana, pode-se pensar um pouco mais sobre 3 as complexas relações entre as condições de saúde da população do campo e seus determinantes. Embora a produção científica no Brasil sobre esse tema ainda seja pouco explorada, geralmente, os estudos existentes sobre as condições desfavoráveis de saúde dessa população que vive no campo associam o estado nutricional com a posse da terra, processos de trabalho e saúde (incluindo o uso de agrotóxicos), morbimortalidade e relação com acesso aos serviços de saúde (Brentlinger et al, 1999; Veiga e Burlandy, 2001; Carneiro et al, 2008). Na verdade, poucos estudos vão além da tentativa de evidenciar um perfil mais precário de saúde da população rural quando comparada a população urbana (Figueiredo et al, 1987). Questões como acesso e qualidade dos serviços de saúde no campo, bem como saneamento básico são também pontuados em algumas pesquisas, mas o processo de “modernização conservadora” da agricultura brasileira e os rumos que a mesma tem tomado nas últimas cinco décadas é uma questão estrutural pouco debatida nos meios acadêmicos, principalmente entre epidemiologistas (Silva, 1999; Kassouf, 2005). Este tópico não pretende discutir o termo “modernização conservadora” cunhado por Barrington Moore1, mas talvez pensar nos rumos que a agricultura brasileira tomou, visto que não tivemos uma, propriamente dita, Reforma Agrária. A questão agrária no Brasil é um tema delicado e, talvez, pouco discutido nos meios acadêmicos atualmente, mas de fato a não consolidação de uma reforma agrária plena no Brasil país pode ser considerada como uma das principais causas da vulnerabilidade em que se encontra a população rural nacional (Moore, 1966; Silva, 1981). Em uma crítica ao conceito de determinantes sociais em saúde forjado no contexto da Comissão de Determinantes Sociais em Saúde (CDSS) da Organização Mundial de Saúde (OMS), Navarro analisa as mudanças, nos últimos 30 anos, nas condições de saúde e qualidade de vida das populações de países em desenvolvimento, resultante do impacto das políticas neoliberais colocadas em prática por muitos governos e promovidas pelo Banco 1 Esse termo foi elaborado pelo sociólogo Barrington Moore (1913-2005) com o objetivo de retratar o processo de desenvolvimento capitalista em países como Grã-Bretanha, França, Alemanha, EUA, China, Japão e Índia. Países como Alemanha e Japão, segundo o autor, realizaram revoluções burguesas vindas "de cima", ou seja, o processo de modernização (industrialização) dessas sociedades foi sedimentado no pacto político forjado entre a burguesia e os grandes proprietários de terras. Alguns pensadores nacionais como José Graziano da Silva utilizaram esse termo modernização conservadora na realidade brasileira a fim de mostrar que no Brasil houve uma entrada de forças produtivas de características capitalistas na agricultura. Com isso, esse autor destaca o fato de a estrutura fundiária brasileira, ao longo dos séculos, manteve-se concentrada nas mãos dos grandes proprietários rurais. Assim, segundo o autor, a agricultura nacional foi se integrando ao mercado ao se apropriar de tecnologias avançadas, mas, ao mesmo tempo, ainda mantém um grande abismo social ao não realizar uma reforma agrária. 4 Mundial e outras agências internacionais (Navarro, 2009). O autor também tenta desmitificar questões como o “desaparecimento do Estado” ao destacar a importância de se permanecer atento as práticas e não a teoria do neoliberalismo, pois o Estado não está desaparecendo, mas o que está havendo é uma mudança na natureza das intervenções do Estado. Segundo o autor, o que vem ocorrendo no mundo nas últimas décadas é o forjamento de alianças entre as classes dominantes dos países do Norte e do Sul, uma aliança que promove políticas neoliberais contra os interesses das classes populares desses países (Navarro, 2009). Por fim, em uma crítica contundente ao documento da CDSS o autor aponta que uma das principais fraquezas do mesmo é o fato deste ser profundamente apolítico. Assim, o autor vai além da premissa do documento de que são as desigualdades sociais que matam tentando pensar, que, na verdade, em quem são aqueles que se beneficiam dessas desigualdade que matam (Navarro, 2009). A experiência da leitura do texto do Vicente Navarro proporciona um olhar mais ampliado, sendo, talvez, o olhar mais apropriado para a situação atual da agricultura brasileira. O modelo agrário hegemônico no Brasil está baseado na monocultura para exportação, caracterizada pela intensa mecanização e uso de agrotóxicos (além dos transgênicos). Esse modelo é caracterizado pela cada vez maior concentração de terras, água e renda nas mãos de poucos e grandes proprietários causando um aumento no desemprego entre pequenos agricultores, aumento na migração campo-cidade, aumento da pobreza no campo e também no surgimento do trabalhador “boia-fria” totalmente expropriado de qualquer direito trabalhista (Porto e Soares, 2012). Em uma agricultura na qual a terra não mais pertence ao pequeno ou médio agricultor, bem como a água e até as sementes (transgênicas propriedade de grandes corporações), mostra a perda de soberania sobre a alimentação, ou seja, mostra um povo totalmente vulnerável (Breilh, 2006), como mostra o último censo agropecuário realizado em 2006, no Brasil, que constatou um aumento da concentração de terras nas mãos dos ricos e grandes proprietários rurais (IBGE, 2009). A população rural do Brasil é de cerca de trinta milhões de pessoas e desses mais da metade é composta de pobres e miseráveis, pois a renda média do trabalhador rural é de 80% do salário mínimo (IBGE, 2009). Além disso, quase três milhões de famílias de camponeses estão na pobreza absoluta, com renda familiar mensal de meio salário mínimo. Contando seis pessoas por família, temos um contingente de dezoito milhões de pobres no campo. Constituem a classe de semiproletários, que para sobreviver têm que assalariar parte da 5 família e, muitas vezes, complementar renda com o Bolsa-Família (Alves et al, 2012). Enquanto o Brasil se converte num dos principais produtores de alimentos do mundo, baseado em monoculturas para exportação aumentam as dificuldades para milhões de pequenos proprietários rurais permanecerem no campo (Porto e Soares, 2012). No artigo produzido pela Associação Latino-Americana de Medicina Social (ALAMES) discute-se que para a Medicina Social e para a Saúde Coletiva a atual fase de desenvolvimento capitalista deteriora de forma acelerada a qualidade de vida das maiorias e tem impacto sobre quatro processos que apesar de diferentes estão relacionados: aumento da pobreza, aprofundamento das desigualdades econômicas e políticas, deterioração ecológica e suas consequências para a saúde (Arellano et al, 2008). Arellano e colaboradores vão além, ao afirmar em seu estudo, que os atores centrais para a mudança nesse cenário são “os povos do mundo” agindo através de suas organizações, movimentos sociais, redes sociais e políticas onde a perspectiva de que os determinantes sociais da saúde são considerados uma ferramenta fundamental que permite ampliar a compreensão das causas das desigualdades e, assim, enfrentar o atual modelo de globalização neoliberal configurando novas formas de desenvolvimento econômico e social que não sejam centradas na acumulação de capital e consumo (Arellano et al, 2008). Nesse sentido o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra, o MST surgiu com objetivos definidos: luta pela terra, luta pela Reforma Agrária, luta por transformações na estrutura da sociedade brasileira e luta por um novo modelo agrícola. Fundado em 1984, ainda em período militar, o MST tem um papel estratégico e um acúmulo de práticas e também de propostas que podem contribuir para a construção de uma política de saúde voltada para o campo, para a população rural (Scopinho, 2010). No documento chamado Carta de Brasília do ano de 2007, um conjunto amplo de organizações sociais do continente americano expressou a importância da participação do Estado e dos movimentos sociais na transformação do modelo de desenvolvimento econômico e agrário vigente na superação das iniquidades em saúde apontando para a necessidade de se configurar modelos de desenvolvimento social e econômico sustentáveis, um modelo de Estado que garanta esses direitos impulsionando a soberania e segurança alimentar e a existência de processos agrícolas sustentáveis com uma proposta de agricultura familiar e camponesa. (Carta de Brasília, 2007 apud Arellano et al, 2008). 6 O aumento excessivo do uso de agrotóxicos no Brasil é apenas mais um produto desse modelo agrário hegemônico e que contribui ainda mais para uma faceta cruel: não são apenas as grandes lavouras monocultoras que utilizam esses produtos químicos em larga escala, mas também o pequeno produtor familiar, indicando que os conceitos da Revolução Verde ainda estão bem inseridos na realidade brasileira. O pequeno produtor rural adquire os agrotóxicos, que em geral já foram proibidos em seus países de origem, com recursos próprios ou através de financiamentos, gerando, com isso, endividamentos, mas essa ação se faz necessária para que sua mercadoria final seja aceita pelo “mercado”, este, sempre em busca de alimentos “bonitos e grandes” além, é claro, de ter que manter um mínimo de produtividade necessária para sustentar sua família e arcar com os custos de sua propriedade (Porto, 2007; Scopinho, 2010; Porto e Soares, 2012). 1.2. Uso de agrotóxicos e impactos sobre a saúde humana Atualmente, com o objetivo de atender a demanda crescente de grãos, hortaliças e frutas, os agricultores têm sido estimulados, sobretudo pelo mercado, a utilizar os agrotóxicos para aumentar a produção e reduzir as perdas das safras. Essa prática tem gerado graves conseqüências à saúde dos trabalhadores rurais e de seus familiares assim como da população de uma forma geral (Davis et al, 1992). Os agrotóxicos são compostos de origem química diversa ou mesmo produtos biológicos, desenvolvidos para combater pragas agrícolas e urbanas, sobre as quais exercem sua ação biocida (OPAS/OMS, 1996). Embora tais substâncias ainda exerçam um papel importante para a sociedade moderna, seu uso tem sido associado a diversos riscos ao ambiente e à saúde humana (Zahm e Blair, 1992; Lynge et al, 1997). Os possíveis efeitos adversos dos agrotóxicos à saúde humana dependem de suas especificidades químicas, da quantidade absorvida, do tempo de exposição e das condições gerais de saúde da pessoa exposta (OPAS/OMS, 1996). Grande parte do que se conhece sobre tais efeitos se deve especialmente a pesquisas em trabalhadores agrícolas, pois estes estão constantemente expostos aos riscos associados ao uso intensivo dessas substâncias químicas, e, por isso mesmo, formam um subgrupo populacional muito estudado (Pearce e Bethwaite, 1992; Scherr et al, 1992; Karunanayake et al, 2008). 7 Os efeitos sobre a saúde humana podem ser divididos em agudos e crônicos. Os efeitos agudos resultam da exposição a concentrações de um ou mais agentes suficientes para produzir um dano efetivo e aparente em um período de até vinte e quatro horas após a exposição. Isto se dá na forma de alergias, espasmos musculares, náuseas, desmaios, vômitos, convulsões, alterações do sistema nervoso e danos ao aparelho respiratório (OPAS/OMS, 1996). Os efeitos crônicos, por sua vez, são resultantes de uma exposição prolongada a doses relativamente baixas de um ou mais agrotóxicos, e que podem se manifestar, no longo prazo, na forma de malformações congênitas, infertilidade e algumas neoplasias, como: leucemia, linfoma não-Hodgkin, linfoma de Hodgkin, mieloma múltiplo, sarcoma de tecidos moles, melanoma e tumores de próstata, mama, cérebro e lábio (Cocco et al, 2005; Pukkala et al, 2009). Esses efeitos também podem ser observados em gerações que sucedem àquela de contato com tais produtos e, por isto mesmo, torna-se difícil se estabelecer uma relação causal entre exposição e desfecho. Com isto, esses efeitos podem ser confundidos com distúrbios de outra natureza, ou apenas não estarem relacionados ao agente etiológico (Alexander et al, 2007). Nos países em desenvolvimento, os trabalhadores pertencentes a pequenas comunidades agrícolas geralmente apresentam baixos índices de escolaridade. Isto pode ocasionar dificuldade na leitura de rótulos, no entendimento dos procedimentos de preparação e aplicação, aumentando o risco de “superexposição” ou mesmo intoxicação (Silva et al, 2005). Pode-se considerar que os efeitos adversos de uma possível exposição a agrotóxicos sobre a saúde humana seriam ainda mais agravados nessas comunidades agrícolas pelas condições sanitárias precárias e por déficits no sistema de saúde (Castro e Confalonieri, 2005; Peres e Moreira, 2003). Ainda nesses países em desenvolvimento, as famílias de trabalhadores dividem suas funções na agricultura, onde homens, mulheres e crianças têm diferentes atribuições. Essas famílias geralmente estocam os agrotóxicos de maneira imprópria dentro de suas residências o que gera um grande risco para a saúde de todos os habitantes. Um inquérito realizado no Quênia observou que 62% dos agricultores estocavam agrotóxicos em locais onde dormiam ou cozinhavam (Mwanthi, 1993). Além disso, agricultores rotineiramente descartam embalagens de agrotóxicos de maneira imprópria. Um estudo realizado no Brasil, nos estados de São Paulo e Santa Catarina, 8 respectivamente 21 e 27% dos agricultores descartavam embalagens de agrotóxicos de maneira inadequada (Garcia e Almeida, 1991). Nos Estados Unidos, os primeiros relatos veiculados acerca dos efeitos da exposição a agrotóxicos ocorreram a partir da década de 1960, por trabalhadores rurais que sofreram intoxicação por organoclorados (Pimentel, 1996). O livro “Silent Spring”, lançado em 1962, marcou o início do movimento ambientalista americano e a mudança de postura dos EUA e de outros países do mundo em relação aos agrotóxicos, culminando com a criação da EPA (Environmental Protection Agency). Nele, a escritora Rachel Carson mostrou como o inseticida DDT (diclorodifeniltricloretano) penetrava na cadeia alimentar de homens e animais selvagens e como seu efeito cumulativo estava levando a extinção de algumas espécies, entre as quais a águia-de-cabeça-branca, símbolo dos Estados Unidos (Carson, 2002). No Brasil, alguns casos envolvendo agrotóxicos adquiriram grande repercussão, como aquele envolvendo uma unidade industrial no Estado de São Paulo, o caso da Rhodia, ou ainda o da “Cidade dos Meninos”, localizado em Duque de Caxias, no Estado do Rio de Janeiro. Em ambas as situações foi observada uma severa contaminação humana e ambiental (Soares e Porto, 2007). O uso de agrotóxicos organoclorados foi limitado, no Brasil, pela Portaria 329, de 2 de setembro de 1985, tendo sua utilização, a partir de então, permitida somente para o controle de formigas (Aldrin) e em campanhas de saúde pública (DDT e BHC). Substâncias químicas como o DDT foram proibidas na agricultura em 1985 e nas campanhas de saúde pública em 1997 por serem consideradas cancerígenas e apresentarem uma grande persistência no meio ambiente (Soares e Porto, 2007). 1.3. Definição e Classificação dos Agrotóxicos A Lei Federal nº 7.802 de 11/07/89, regulamentada pelo Decreto 98.816 de 11/01/90, no seu Artigo 2º, Inciso I, define o termo AGROTÓXICO: "Os produtos e os componentes de processos físicos, químicos ou biológicos destinados ao uso nos setores de produção, armazenamento e beneficiamento de produtos agrícolas, nas pastagens, na proteção de florestas nativas ou implantadas e de outros ecossistemas e também em ambientes urbanos, hídricos e industriais, cuja finalidade seja alterar a composição da flora e da fauna, a fim de preservá-la da ação danosa de seres vivos considerados nocivos, bem como substâncias e 9 produtos empregados como desfolhantes, dessecantes, estimuladores e inibidores do crescimento” (Brasil, 2008). Essa definição exclui o uso de fertilizantes e agentes químicos administrados a animais a fim de estimular seu crescimento e/ou modificar comportamento reprodutivo (Brasil, 2008). No Brasil, o termo agrotóxico passou a ser utilizado em detrimento de defensivo agrícola, pois certifica, ou ao menos sugere a toxicidade destas substâncias químicas, notadamente quando são manipuladas sem os equipamentos de proteção individual (EPI) adequados (Araújo et al, 2007). Devido à grande diversidade de produtos e também a fim de facilitar o diagnóstico das intoxicações e, com isso, aplicar o tratamento específico, os agrotóxicos são classificados segundo o grupo químico que pertencem e segundo a sua ação. Os inseticidas possuem ação de combate a insetos, formigas e larvas e são divididos em organofosforados, carbamatos, organoclorados, piretróides e neonicotinóides. Já os fungicidas possuem ação de combate a fungos e os principais grupos químicos são: etileno-bis-ditiocarbamatos (como por exemplo, Maneb, Mancozeb, Dithane, Zineb, Tiram), trifenil estânico, captan e o hexaclorobenzeno. Os herbicidas possuem ação de combate a ervas daninhas e os tipos mais utilizados são: paraquat, glifosato, pentaclorofenol, derivados do ácido fenoxiacético (2,4 diclorofenoxiacético (2,4 D) e 2,4,5 triclorofenoxiacético (2,4,5 T) e dinitrofenóis. Os raticidas possuem ação de combate a roedores (dicumarínicos), enquanto os acaricidas possuem ação de combate a ácaros diversos e os molusquicidas possuem ação de combate a moluscos, basicamente contra o caramujo da esquistossomose. Os agrotóxicos são classificados também segundo sua toxicidade: Quadro 1: Toxicidade aguda - DL50 oral para ratos (mg/kg). Classe Classificação Dose Letal Classe 1 A Extremamente tóxico DL50 < 5 Classe 1B Altamente tóxico DL50 5 – 50 Classe 2 Moderadamente tóxico DL50 50-500 10 Classe 3 Pouco tóxico DL50 500-5000 Classe 4 Muito pouco tóxicos DL50 > 5000 Fonte: The WHO Recommended Classification of Pesticides by Hazard (extraído de: http://www.who.int/entity/ipcs/publications/pesticides_hazard_rev_3.pdf). Segundo a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), todos os produtos devem apresentar nos rótulos uma faixa colorida indicativa de sua classe toxicológica, por determinação legal, conforme demonstra o Quadro 2. Quadro 2: Classe toxicológica e cor da faixa no rótulo de produto agrotóxico. Classe Classificação Cor da Faixa Classe I Extremamente tóxicos Faixa Vermelha Classe II Altamente tóxicos Faixa Amarela Classe III Medianamente tóxicos Faixa Azul Classe IV Pouco ou muito pouco Faixa Verde tóxicos Fonte: ANVISA (extraído de: http://anvisa.gov.br/toxicologia/atos/2008/maio/rotulo_arena.pdf) 1.4. Linfoma não-Hodgkin Os Linfomas não-Hodgkin (LNH) fazem parte de um grupo heterogêneo de tumores malignos hematológicos de origem no tecido linfóide como os linfonodos ou outros locais representando mais de 3% das neoplasias malignas que ocorrem em todo mundo (Alexander et al, 2007). Os LNH são resultado de um dano ao DNA da célula precursora de um linfócito. Os linfócitos são as únicas células que se submetem a recombinação genética e mutação do DNA como parte do seu ciclo de vida normal de um processo denominado instabilidade genética 11 controlada. Essa alteração ou mutação do DNA do linfócito resulta em crescimento descontrolado e excessivo dos linfócitos. Anormalidades no controle ou nos mecanismos subjacentes ao processo podem resultar em imunodeficiência e/ou doença linfoproliferativa (Vanasse et al, 1999). Quando o acúmulo dessas células se dá inicialmente nos linfonodos, como amídalas, anel de Waldeyer e placas de Peyer no intestino delgado o linfoma é chamado de nodal. No entanto, os LNH também podem surgir a partir de células linfáticas em órgãos caracterizandose como extranodal , que acomete de 25% a 40% de todos os casos de LNH, como, por exemplo, no Sistema Nervoso Central (SNC), estômago e intestino (Costa et al, 2010; Padhi et al, 2012). Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), os LNH são agrupados de acordo com o tipo de célula linfóide, se linfócitos B, T e NK(natural killer). A maioria dos LNH tem sua origem nas células B (Dich et al , 1997). Tabela 1: Classificação da Organização Mundial de Saúde para os LNH Classificação da Organização Mundial de Saúde para os LNH Neoplasias de células B Precursores de células B Leucemia/linfoma de precursor B linfoblástico (leucemia linfoblástica aguda de precursor de célula B) Neoplasias de células B maduras (periféricas) Leucemia linfóide crônica de células B/linfoma linfocítico de pequenas células Leucemia pró-linfocítica B Linfoma linfoplasmocitóide Linfoma de zona marginal esplênico (com ou sem linfócitos vilosos) Leucemia de células vilosas Mieloma múltiplo/plasmocitoma Linfoma da zona marginal extranodal do tipo MALT Linfoma da zona marginal nodal (com ou sem células B monocitóides) Linfoma folicular Linfoma de células do manto 12 Linfoma difuso de células B Linfoma mediastinal de grandes células B Linfoma de cavidade Linfoma de Burkitt/ leucemia de célula tipo Burkitt Neoplasias de células T e NK Precursores de células T Leucemia/linfoma de precursor T linfoblástico (leucemia linfoblástica aguda de precursor de célula T) Neoplasias de células T maduras (periféricas) Leucemia pró-linfocítica T Leucemia linfocítica granular de células T Leucemia agressiva de células NK Leucemia/linfoma de células T do adulto (HTLV-I+) Linfoma extranodal de células NK/T, tipo nasal Linfoma de células T tipo-enteropatia Linfoma de células T γδ hepatoesplênico Linfoma de células T tipo paniculite subcutânea Micose fungóide/síndrome de Sézary Linfoma anaplásico de grandes células, tipo T/null, primário de pele Linfoma de células T periféricas não caracterizado Linfoma de células T angioimunoblástico Linfoma anaplásico de grandes células, tipo T/null, tipo primariamente sistêmico Fonte: OMS/2000 A OMS inclui a leucemia linfocítica crônica e mieloma múltiplo como LNH (Willett e Roman, 2007), no entanto, eles estão classificados separadamente pela Classificação Internacional de Doenças (CID). Atualmente, a Classificação Internacional de Doenças, a CID-10, inclui os seguintes subtipos de LNH: Linfoma não-Hodgkin folicular (C82.0, C82.1, C82.2, C82.7, C82.9), Linfoma não-Hodgkin difuso (C83.0, C83.1, C83.2, C83.3, C83.4, C83.5, C83.6, C83.7, C83.8, C83.9), linfoma de células T cutâneas e periféricas (C84.0, C84.1, C84.2, C84.3, 13 C84.4, C84.5) e outros tipos de Linfoma não-Hodgkin não especificados (C85.0, C85.1, C85.7, C85.9). São poucos os fatores de risco estabelecidos para o desenvolvimento de LNH, dos quais, a literatura destaca: o sistema imune comprometido de usuários de drogas imunossupressoras, infecção pelo vírus HIV, vírus Epstein-Barr (EBV), HTLV1 e pela bactéria Helicobacter pylori (Mwakigonja et al, 2008). A exposições a alguns agentes químicos como agrotóxicos (herbicidas e inseticidas), solventes e fertilizantes também tem sido apontadas como possíveis fatores de risco para LNH (Mills et al, 2005; Dreiher & Kordysh, 2005; Vineis et al, 2007) além da exposição à radiação ionizante (Karipidis et al, 2007). Tabela 2: Associações entre agentes infecciosos e alguns subtipos de LNH Associações entre agentes infecciosos e alguns subtipos de LNH Agentes infecciosos Vírus Epstein-Barr (EBV) Tipo de LNH relacionado Linfoma de Burkitt endêmico na África Linfoma de Burkitt esporádico Linfomas associados à AIDS HTLV-I Leucemia/linfoma de células T do adulto Herpes vírus tipo 8 humano Linfoma de cavidade ou primary effusion lymphoma (HHV8) Vírus da hepatite C (HCV) Linfoma linfoplasmocitóide associado à crioglobulinemia mista tipo II Linfoma de zona marginal esplênico Helicobacter pylori Linfoma MALT (mucosa associated lymphoid tissue) do estômago Chlamydia psittaci Linfomas MALT de anexos oculares Fonte: Hartge et al 2006 O aumento da incidência de LNH é, neste momento, ainda pouco explicado, contudo é apontada a existência de uma melhoria nas técnicas de diagnóstico, na classificação histopatológica, na captação dos casos pelos registros de câncer de base populacional e também no aumento da expectativa de vida da população (Willett e Roman, 2007). 14 Além disso, esse aumento da incidência de LNH também pode ser justificado pelo aumento de casos de AIDS ocorridos a partir do início da década de 80 (Willett e Roman, 2007). Indivíduos portadores do vírus HIV apresentam um risco de 60 a 100 vezes superior ao da população soronegativa para desenvolver LNH (Kersten & Oers, 2001). Mesmo com o início do uso da terapia antirretroviral em fins da década de 1980 e com a consequente diminuição de infecções oportunistas, da incidência do sarcoma de Kaposi e do linfoma primário do SNC (Sistema Nervoso Central), a incidência dos linfomas relacionados a AIDS parece não tem diminuido de maneira consistente (Levine et al, 2000). No entanto, uma revisão realizada por Chassagne-Clément e colaboradores (1999) apontou que o aumento de LNH não refletiu somente a epidemia de AIDS, cujo impacto sobre a incidência pareceu especialmente notório nos Estados Unidos, mas poderia ser atribuído, também, à fatores ambientais. A exposição de grande parte da população a um ou mais fatores ambientais poderia elevar o número de casos novos de LNH. Em relação a variação geográfica dos LNH, geralmente as taxas de incidência e mortalidade por LNH são maiores na Europa Ocidental, Oceania e América do Norte e menores na Ásia. Essa variação, no entanto, parece não se aplicar a um subtipo raro de LNH denominado linfoma nasal das células T/NK, muito frequente em países da Ásia e alguns países como México, Guatemala e Peru (Iturraspe et al 2005; Hartge et al, 2009). Alguns tipos de vírus associados ao desenvolvimento de linfomas, como o HTLV-1, também conhecido como Vírus Linfotrópico da célula humana do tipo um, retrovírus da mesma família do HIV, são frequentes em países do Caribe e Japão (Hartge et al, 2009). Outro exemplo é o linfoma de Burkitt, uma neoplasia das células B fortemente associada a infecção pelo Episten-Barr Vírus (EBV) que é endêmico em alguns países da África onde acomete principalmente crianças (Hartge et al, 2009). Nos países Ocidentais há uma clara predominância dos linfomas de células B de células T na área de cabeça e pescoço , constituindo aqueles entre 55% e 85 % dos linfomas sinonasais (Bugalia et al, 2013). A origem geográfica dessa diferença ainda não foi esclarecida, embora em algumas áreas geográficas, como o sul da China, a incidência mortalidade relativamente alta de LNT / NK corresponde às áreas endêmicas de infecção por EBV(Epstein Barr vírus), que também está associada à alta incidência do carcinoma de nasofaringe (Bugalia et al, 2013). Nesta região linfomas das células B também estão associados com EBV , o que parece sugerir que os fatores relacionados com a localização 15 geográfica são mais sugestivos do que a associação de diferentes linhagens celulares (Iturraspe et al 2005; Bugalia et al, 2013). Merhi e colaboradores (2007) conduziram uma meta-análise de 13 estudos do tipo caso-controle de base populacional com pesquisas realizadas dos EUA, França, Shanghai, Itália e Austrália e observaram que os tipos mais comuns de LNH (originários de linfócitos B) são os LNH difuso, com cerca de 30 a 40% de todos os casos e LNH folicular com 20 a 30% dos casos. Nos países desenvolvidos, no final da década de 90, a mortalidade por câncer em geral apresentou uma diminuição significativa. Segundo alguns autores, este fato pode ser atribuído ao declínio de neoplasias relacionadas ao fumo, notadamente ao câncer de pulmão (Pukkala et al, 2009). Entretanto, nesses mesmos países desenvolvidos, alguns tumores continuaram apresentando um aumento em suas taxas de mortalidade, como carcinoma hepatocelular, mieloma múltiplo e Linfoma não-Hodgkin (Willett & Roman, 2007). O aumento na mortalidade por LNH nos Estados Unidos ocorrido entre os anos de 1950 e 1980 foi observado, sobretudo, em regiões agrícolas (Schreinemachers et al, 1999; Garry et al, 1996). Nos Estados Unidos, as taxas de incidência e mortalidade por LNH por 100 mil são de 4,8 e 3,3 para homens e 4,4 e 3,5 para as mulheres (GLOBOCAN, 2012). Para o ano de 2012 foram estimados 38.160 casos novos de LNH entre homens e 31.970 entre as mulheres, além de 10.320 mortes por LNH entre os homens e 8.620 mortes entre as mulheres (Siegel et al, 2012). Na Europa, as taxas de incidência e mortalidade por LNH foram de 2,7 e 2,1 por 100 mil entre os homens e de 2,8 e 2,4 por 100 mil entre as mulheres (GLOBOCAN, 2012). Países como Austrália e Nova Zelândia o LNH ocupam o quinto lugar entre os cânceres com as maiores taxas de incidência e mortalidade. Nesses países, as taxas de incidência e mortalidade, são, respectivamente, 3,9 e 3,7 por 100 mil entre os homens e 4.0 e 3.8 mil entre as mulheres (GLOBOCAN, 2012). Como pode ser observado na maioria dos cânceres, o risco para o desenvolvimento do LNH aumenta com a idade e os homens, em geral, apresentam um risco maior que as mulheres em desenvolver LNH (Willett & Roman, 2007). No Brasil, o LNH encontra-se entre os 10 tipos de câncer mais incidentes (Brasil, 2012). Segundo dados do Instituto Nacional do Câncer (INCA), para o ano de 2012 foram 16 estimados 5.190 novos casos de LNH em homens e 4.450 em mulheres (Brasil, 2012). Nesse mesmo período, as taxas de incidência estimadas para homens residentes nas capitais brasileiras foram de 7,66 por 100 mil habitantes e para mulheres também residentes nas capitais do país foram de 6,85 por 100 mil habitantes (Brasil, 2012). 1.5. Linfoma não-Hodgkin e Ocupação O câncer pode surgir como consequência da exposição a agentes carcinogênicos presentes nos ambientes onde se vive e trabalha ou mesmo como decorrência das condições de vida e de fatores ambientais produzidos ou alterados pela atividade humana. Estima-se que 60 a 90% dos cânceres sejam devidos à exposição a fatores ambientais. Em cerca de 30% dos casos, não tem sido possível identificar a causa do câncer, sendo atribuída a fatores genéticos e mutações espontâneas (MS/OPAS, 2001). As estimativas sobre a contribuição dos fatores ocupacionais no desencadeamento dos cânceres variam entre 4 e 40% dependendo do tumor e metodologia de estudo empregada. (Ribeiro & Wünsh Filho, 2004). Entre os trabalhadores dos países em desenvolvimento (principalmente aqueles mais industrializados), a exposição a cancerígenos parece ser maior como decorrência de procedimentos precários de segurança e do uso de tecnologia obsoleta (Ribeiro & Wünsh Filho, 2004). Estima-se ainda que existam cerca de 50.000 a 70.000 substâncias de uso industrial, e que cerca de 3.000 novos produtos químicos sejam colocados no mercado por laboratórios e centros de pesquisa, a cada ano, sem que se conheça perfeitamente seu efeito tóxico sobre a saúde e seu potencial cancerígeno (Câmara, 2002; MS/OPAS, 2001). A exposição ao asbesto, por exemplo, chegou a ser relacionada ao desenvolvimento de linfomas, mas estudos recentes não encontraram associação (Becker et al, 2001; Seidler et al, 2010). Alguns estudos epidemiológicos têm observado a influência de riscos ocupacionais no desenvolvimento de LNH (Boffetta, 2004; Neasham et al, 2009; Orsi et al, 2009). Entre essas ocupações podemos destacar: agricultores, pecuaristas, trabalhadores de matadouros, aplicadores de pesticidas, químicos, cosmetologistas, trabalhadores de gráficas, pintores, trabalhadores da indústria petrolífera, trabalhadores do setor elétrico e trabalhadores da indústria da borracha (Costantini, 2001; Rushton et al, 2010). 17 1.6 Agrotóxicos e Linfoma não-Hodgkin Em muitos países existem programas específicos que atuam no controle da exposição a substâncias cancerígenas, como a EPA – Environmental Protection Agency nos Estados Unidos, gerando múltiplos sistemas de classificação. No entanto, a classificação da IARC (International Agency for Research on Cancer) é considerada referência internacional no meio científico e apresenta critérios definidos em seu programa de monografias que consiste em revisões sistemáticas acerca de estudos de substâncias consideradas cancerígenas (Wünsch Filho e Koifman, 2003), como é possível observar no Quadro3: Quadro 3: Classificação de Agentes Carcinogênicos segundo a International Agency for Research on Cancer (IARC). Grupo 1 - O agente (mistura) é carcinogênico para seres humanos. Evidências epidemiológicas suficientes para carcinogenicidade em seres humanos. Grupo 2A - O agente (mistura) é provavelmente carcinogênico para seres humanos. Evidência limitada em seres humanos e evidência suficiente em animais. Grupo 2B - O agente (mistura) é possivelmente carcinogênico para seres humanos Evidência suficiente em animais, mas inadequada em seres humanos, ou evidência limitada nestes. Grupo 3 - O agente (mistura ou circunstâncias de exposição) não é classificável em relação a sua carcinogenicidade para os seres humanos. Grupo 4 - O agente (mistura ou circunstâncias de exposição) provavelmente não é carcinogênico para os seres humanos. O câncer é uma doença que apresenta um longo período de latência e etiologia multifatorial, com isso, diversos modelos teóricos foram propostos para explicar a carcinogênese, envolvendo relações de probabilidade entre o risco de desenvolver a doença e os componentes temporais, genéticos e ambientais (Wünsch Filho e Koifman, 2003). 18 De acordo com a IARC, entre os agrotóxicos mais utilizados, somente os derivados do arsênico têm apresentado provas suficientes de carcinogenicidade em seres humanos (grupo 1). Outros agrotóxicos, incluindo herbicidas como o ácido fenoxiacético, os clorofenóis, os derivados da triazina com a atrazina e os inseticidas organoclorados foram classificados como possíveis agentes carcinogênicos em humanos, ou seja, grupo 2B da IARC (Mc Duffie et al, 2001). Alguns estudos em animais têm observado que algumas substâncias químicas apresentam potencial imunossupressor, incluindo agentes utilizados largamente nos locais de trabalho, como agrotóxicos, metais e químicos industriais (D´Cruz, 2000; Sobel et al, 2005). A possibilidade de que substâncias poluidoras do meio ambiente possam interferir no sistema imune dos seres humanos têm crescido diante de estudos realizados em indivíduos expostos de maneira acidental ou em seu local de trabalho (Corsini et al, 2008). Uma questão importante que alguns trabalhos têm procurado responder é se esses poluentes ambientais e ocupacionais podem afetar a resposta imune individual, e, assim, também aumentar a sensibilização a determinados antígenos desencadeando doenças autoimunes e, por fim, no desenvolvimento de neoplasias (Voccia et al, 2009; Alavanja & Bonner, 2005; Alavanja & Bonner, 2012). No entanto como o risco de desenvolver câncer pode ser aumentado através da exposição a agrotóxicos é uma questão ainda em debate. Alguns estudos tem sugerido que agrotóxicos podem interferir no funcionamento do sistema imunológico afetando o processo de reconhecimento e destruição de células anormais podendo aumentar a incidência de tumores associados a vírus oncogênicos como o LNH (Repeto & Baliga, 1997; Pearce &et al, 2005; Grulich & Vajdic, 2005). Um estudo realizado em agricultores nos Estados Unidos que investigou alterações na função imune em relação a atividades agrícolas e exposição aos agrotóxicos observou uma ativação dos marcadores das células T e NK (Vermeulen et al, 2005). Esses dados são consistentes com outros estudos que observaram que alterações nas atividades das células NK provocadas por exposição aos agrotóxicos podem estar relacionadas a um aumento no risco de desenvolvimento de LNH e/ou infecções virais, pois as células NK desempenham importante função na defesa do sistema imune contra infecções virais e formação de tumores (Querioz et al, 1998; Daniel et al, 2001; Corsini et al, 2005). 19 Segundo a IARC, apenas cinco agrotóxicos são considerados como prováveis ou possíveis carcinógenos humanos (Grupo 2A e 2B) entre eles: o herbicida glifosato, o inseticida tetraclorvinfos, paration, malation e diazinon (IARC, 2015; Guyton et al, 2015). No entanto, alguns agentes químicos ativam cânceres indiretamente alterando o material genético das células, rompendo a divisão celular. Como os linfócitos submetem-se rotineiramente a um processo rápido de divisão celular, um dano genético pode se acumular rapidamente. Alguns agrotóxicos podem induzir um dano cromossomial nos linfócitos e alguns estudos levantaram a hipótese que esse mecanismo pode proporcionar o surgimento de neoplasias (Ali et al, 2008; Bolognesi et al, 2011; Miranda e Contreras et al, 2013). Diante disso, o interesse em explorar a associação entre exposição por agrotóxicos e o aumento das taxas de incidência e mortalidade de LNH tem estado presente em diversos outros estudos (Hoar et al, 1986; Becher et al, 1996; Lynch et al, 2009). Uma revisão sistemática realizada por Bassil e colaboradores (2007) identificou 27 artigos que investigaram a associação entre agrotóxicos e LNH e em 23 destes artigos realizados nos Estados Unidos, Canadá, Europa e Austrália observou-se uma associação positiva, entre os quais 10 eram do tipo coorte, 12 do tipo caso controle de base populacional e 1 estudo ecológico. Segundo alguns estudos, a exposição aos agrotóxicos, especialmente herbicidas como ácido fenoxiacético e a atrazina, têm sido associados com um aumento no risco para LNH (Zahm et al, 1990; Becher et al, 1996; MacLennan et al, 2003). Outro herbicida muito utilizado na agricultura mundial e brasileira é o glifosato. Seu uso aumentou acentuadamente durante a década de 1990, e, atualmente, é o herbicida mais utilizado em muitos países. Um estudo realizado na Suécia observou um risco aumentado para LNH em agricultores expostos por um longo período ao glifosato (Hardell & Eriksson, 1999). No entanto, em uma coorte realizada nos Estados Unidos não foi observado um aumento no risco de desenvolver LNH em aplicadores de pesticidas expostos ao glifosato (De Roos et al, 2005). Quanto aos fungicidas, estes comportam muitos compostos de vários grupos químicos. Poucos estudos epidemiológicos têm avaliado a associação do LNH com fungicidas. Chiu e colaboradores (2006) avaliaram que agricultores que fizeram uso de fungicidas tinham um risco cinco vezes maior de desenvolver LNH em comparação aos agricultores que nunca 20 usaram tais agrotóxicos. No entanto, um estudo realizado na França essa associação entre fungicidas e LNH não foi estatisticamente significativa em agricultores (Orsi et al, 2009). Embora não haja consenso sobre os fatores causais, alguns estudos apontam para o risco aumentado de LNH entre agricultores (Dubrow et al, 1988 ; Blair et al, 1992; Fleming et al, 2003). Eles estariam submetidos durante a jornada de trabalho a diferentes solventes potencialmente cancerígenos, poeira, vírus de origem animal e variadas classes de agrotóxicos (Mills et al, 2005; Schumacher & Delzell, 1988). Uma meta-análise realizada por KellerByrne e colaboradores (1997) com seis estudos do tipo caso-controle observou um aumento significativo no risco para LNH entre agricultores da região central dos Estados Unidos. Agricultores tendem a ser mais saudáveis que a população geral, apresentando uma diminuição no risco para todos os tipos de câncer (Schreinemachers et al, 1999). Segundo um estudo de revisão realizado por Blair e Zahm (1995), isto pode ser atribuído à baixa prevalência de tabagismo observada entre os agricultores, aos maiores níveis de atividade física e talvez dietas mais ricas em fibras e com menor consumo de produtos refinados e/ou industrializados. A exposição a inseticidas organoclorados também têm sido apontada em alguns estudos como possíveis fatores de risco para LNH entre agricultores (Waddell et al, 2001; Spinelli et al, 2007). Amostras de sangue e de tecido adiposo são indicadores fundamentais de uma exposição passada a agrotóxicos lipossolúveis, principalmente se coletados antes do diagnóstico de LNH. Um estudo do tipo caso controle realizado na Suécia pacientes com LNH tinham maiores níveis de chlordane e PCBs que os controles (Hardell et al, 1996). Um estudo de coorte realizado nos Estados Unidos observou um aumento significativo no risco de LNH em trabalhadores agrícolas expostos ao inseticida organoclorado lindane (Purdue et al, 2007). Um estudo do tipo caso-controle de base populacional realizado na Austrália observou que a duração de exposição aos agrotóxicos foi relacionada como um fator de risco para o LNH com significância estatística para ambos os sexos e na faixa etária entre 20 a 74 anos (Fritschi et al, 2005). Contudo, outro estudo também do tipo caso-controle de base populacional realizado na Suécia observou que a duração de exposição aos agrotóxicos apresentou apenas um risco reduzido, sem significância estatística, para LNH em ambos os sexos e na faixa etária entre 27 a 84 anos (Hardell e Eriksson, 1999). 21 Alguns estudos epidemiológicos apontaram para um aumento no risco de desenvolvimento de LNH em indivíduos expostos ao carbamato (Zahm et al, 1990; Lynch et al, 2009), enquanto que em um estudo realizado por Cantor e colaboradores (1992) não foi encontrada associação significativa. Poucos estudos em trabalhadores agrícolas têm observado os efeitos do uso de agrotóxicos em mulheres, mesmo esta constituindo aproximadamente 36% da força de trabalho agrícola total nos países desenvolvidos (FAO, 2002). Alguns estudos observaram um aumento no risco para LNH em mulheres em virtude do uso de agrotóxicos (Sperati et al, 1999; Mills et al, 2005). No Brasil, Chrisman e colaboradores (2009) investigaram a associação entre o consumo per capita de agrotóxicos e a mortalidade de câncer por diferentes neoplasias em onze estados onde observaram um aumento na mortalidade por alguns tipos específicos de câncer entre agricultores do sexo masculino, inclusive o LNH. O quadro a seguir descreve de maneira sumária os principais estudos revisados. Quadro 4: Revisão da literatura sobre exposição a agrotóxicos e Linfoma não-Hodgkin Autor; ano; local de estudo Becher et al; 1996; Alemanha Delineamento do estudo Coorte prospectiva Sujeitos Resultados 2.479 agricultores Sperati et al; 1999; Itália Coorte prospectiva 2.978 agricultores e 2.586 esposas de agricultores Fleming et al; 2003; EUA Coorte prospectiva 9.471 agricultores e aplicadores de agrotóxicos Houve um incremento significativo na mortalidade por LNH em agricultores expostos a herbicidas e dioxinas (SMR= 3,26; IC 95% =1,19-7,10). Dados ajustados por sexo e idade. O tempo médio de acompanhamento foi de 3 anos. Entre as esposas de agricultores houve um incremento não significativo na mortalidade por LNH (SMR= 2,29; IC 95% = 0,62– 5,86). Dados ajustados por sexo e idade. Aumento significativo no risco de neoplasias do sistema linfático e hematopoiético em agricultores (RR= 2,2; IC 95%=1,5-3,2). Dados ajustados por sexo e idade. Houve um incremento significativo na mortalidade por LNH em agricultores expostos a herbicidas Mac Lennan et al; 2003; EUA Coorte prospectiva 32.473 agricultores 22 De Roos et al, 2005; EUA Coorte prospectiva 51.311 agricultores Samanic et al, 2006; EUA Coorte prospectiva 22.036 agricultores Mahajan et al, 2007; EUA Coorte prospectiva 51.311 agricultores Purdue et al; 2007; EUA Coorte prospectiva 22.409 agricultores Lynch et al; 2009; Coorte EUA prospectiva 19.655 agricultores (SMR= 3,72; IC 95% = 1,01-9,52). Dados ajustados por sexo e idade. Houve um aumento não estatisticamente significativo de 60% no risco de desenvolver LNH em agricultores expostos ao carbaryl por mais de 56 dias ao ano (OR=1,66; IC 95%=0,61-4,53) Dados ajustados por idade, fumo, local de residência e outros agrotóxicos. O tempo médio de acompanhamento foi de 5 anos. Entre os indivíduos expostos por mais de 116 dias ao ano ao herbicida dicamba o risco relativo observado foi de RR=1,31 IC 95%=0,74-2,3. Enquanto que entre os pouco expostos (menos de 116 dias ao ano) o risco relativo foi de RR=0,99 IC 95%=0,53-1,87. Dados ajustados por idade, local de residência e outros agrotóxicos. Houve um aumento não estatisticamente significativo de 10% no risco de desenvolver LNH em agricultores expostos ao glifosato (OR=1,0; IC 95%=0,7-1,9). Dados ajustados por idade, local de residência e outros agrotóxicos. O tempo médio de acompanhamento foi de 6,7 anos. O tempo médio de acompanhamento foi de 7,3 anos. Houve um aumento significativo no risco relativo de LNH em trabalhadores agrícolas expostos ao inseticida lindane RR = 2,6; IC 95% = 1,1-6,4. Dados ajustados por idade, sexo, estado de residência, nível educacional, tabagismo, uso de álcool, história familiar de câncer e tempo de uso de agrotóxicos. O tempo médio de acompanhamento foi de 9 anos. Houve um aumento significativo no risco relativo de LNH em trabalhadores agrícolas 23 Bonner et al, 2010; EUA Coorte prospectiva Alavanja et al, 2014; EUA Coorte prospectiva Hoar et al; 1986; EUA Caso-controle de base populacional Xu et al, 2006; Japão, Coréia do Sul e China Caso-controle de base hospitalar expostos ao butilato (RR =3,44, IC 95% =1,29-9,21). Dados ajustados por idade, sexo, estado de residência, nível educacional, tabagismo, uso de álcool, história familiar de câncer e tempo de uso de agrotóxicos. 57.310 Foi observada associação agricultores e significativamente positiva entre aplicadores de LHN e terbufos (inseticida agrotóxicos organofosforado) no 2o tercil de exposição HR=1,94 IC 95%= 1,163,22). 54.306 Foi observada associação entre LHN agricultores e e os seguinte agrotóxicos inseticidas aplicadores de e fungicidas: Terbufos, RR=1,6 (1,2agrotóxicos 2,2); Clordano, RR=1,4 (0,9-2,2); DDT, RR=1,6 (1,0-2,3); Dieldrin, RR= 2,2 (0,9-5,3); Heptacloro, RR=2,0 (1,2-3,4); Lindano, RR=1,8 (1,0-2,3); fungicida Benomyl, RR=2,2 (1,1-4,3); Mancozeb, RR=1,6 (0,8-3,3); Brometo de Metila, RR=1,8 (1,2-2,7). Dados ajustados por idade, sexo, estado de residência, nível educacional, tabagismo, uso de álcool, história familiar de câncer e tempo de uso de agrotóxicos. Casos 443 Um aumento no risco para LNH foi Controles 1005 observado em trabalhadores agrícolas expostos a herbicidas por mais de 20 dias por ano (OR=6,0 IC 95%=1,9-19,5) quando comparados com trabalhadores não agrícolas. Um aumento no risco para LNH foi observado em trabalhadores agrícolas expostos a fungicidas (OR=2,1 IC 95%=1,2-3,7) quando comparados com trabalhadores não agrícolas. Dados ajustados por sexo, idade, raça, freqüência de uso de agrotóxicos e classe de agrotóxicos. Casos 88 Foi observada associação positiva Controles 305 entre LHN e herbicidas (OR=3,17 IC 95%=1,36-7,38); inseticidas (OR=3,45 IC 95%=1,67-7,13) e fungicidas (OR=6,05 IC 95%=1,98- 24 Schumacher e Delzell, 1988 ; EUA Caso controle utilizando certificado de óbito Dubrow et al, 1988; EUA Caso controle utilizando certificado de óbito Zahm et al; 1990; EUA. Caso-controle de base populacional Cantor et al; 1992; EUA Caso-controle de base populacional Hardell e Eriksson, 1999; Suécia Caso-controle de base populacional Mc Duffie et al, 2001; Canadá Caso-controle de base populacional 18,46). Não foi encontrada uma associação entre LNH e agricultores no estado da Carolina do Norte nos EUA (OR=0,89 IC 95%=0,64-1,25). Dados ajustados por idade, ano de óbito, raça e local de residência. 76 casos e 304 Houve um aumento não controles estatisticamente significativo de 60% no risco de desenvolver LNH em agricultores (OR=1,6; IC 95%=0,83,4). Dados ajustados por idade e ano de óbito. 201 casos e Houve um aumento não 725 controles estatisticamente significativo de 50% no risco de desenvolver LNH em agricultores expostos a herbicidas (OR=1,5; IC 95%=0,9-2,5). Dados ajustados por local de residência e freqüência de exposição. 622 casos e Houve um aumento não 1.245 controles estatisticamente significativo de 20% no risco de desenvolver LNH em agricultores. (OR=1,2; IC 95%=1,01,5). Dados ajustados por idade, status vital, local de residência, tabagismo, histórico familiar de câncer hematológico, ocupação e tintura para cabelo. 404 casos e Um aumento no risco para LNH foi 741 controles observado em indivíduos expostos a herbicidas (OR=1,6; 95% IC=1,02,5) e fungicidas (OR=3,7; 95% IC=1,1-13,0). Dados ajustados por idade e ano de óbito. 517 casos e Foi observado neste estudo que entre 1506 controles as principais classes químicas de herbicidas houve risco para LNH entre os expostos a fenóxi herbicidas (OR= 1,38 IC ; 95% = 1,06 -1,81) e ao herbicida dicamba (OR= 1,88; IC 95%= 1,322,68), além dos expostos a carbamatos (OR= 1,92; IC 95%= 1,22-3,04) e inseticidas organofosforados (OR=1,73; IC 95%= 1,27-2,36). Casos 501 Controles 569 25 Waddell et al, 2001; EUA Caso-controle de base populacional Fritschi et al, 2005; Austrália Caso-controle de base populacional Spinelli et al, 2007; Canadá Caso-controle de base populacional Band et al, 2008; Canadá Caso-controle aninhado Mills et al, 2005; EUA Caso-controle aninhado Casos e controles foram pareados por idade e estado de residência. Variáveis de confundimento utilizadas: antecedentes médicos (sarampo, caxumba, câncer, história familiar de câncer e alergia), tempo e freqüência de exposição e classes químicas de agrotóxicos a qual foram expostos, se já morou em área rural e tabagismo. 748 casos e Houve um aumento no risco para 2236 controles LNH entre trabalhadores agrícolas de base que utilizaram 2,4D (OR=1,5, IC populacional 95%=1,0-2,3), lindane (OR=1,5, IC 95% =1,1-2,0) e para aqueles que utilizaram organofosforados por mais de 20 anos (OR=1,6, IC 95% =1,1-2,2). Dados ajustados por sexo, idade, raça e estado de residência. 694 casos e Neste estudo foi observado que uma 694 controles exposição a herbicidas esteve associada com um aumento no risco para LNH (OR=3,09, IC 95%=1,426,70) Dados ajustados por idade, sexo, raça e estado de residência. 422 casos e Houve um aumento no risco para 460 controles LNH em indivíduos expostos ao oxiclordano, metabólito do clordano (OR=2,68 IC 95%=1,69-4,24). Dados ajustados por idade, sexo, estado de residência, raça, escolaridade, histórico familiar de LNH, IMC (Índice de Massa Corporal) e ocupação. 769 casos e Houve um aumento não significativo 9.076 controles no risco de desenvolver LNH em agricultores (OR=2,14 IC 95%=0,76-6,03). Dados ajustados por estado civil, escolaridade, ingestão de álcool e tabagismo. 131 casos de Foi observado um risco elevado para LHC (sendo 60 todos os LHC em agricultores de LNH, 51 de hispânicos que cultivavam vegetais leucemia e 20 (OR=1,67, IC 95% = 1,12-2,48). de mieloma Houve um aumento do risco de LNH múltiplo) e 655 para os que foram expostos ao 2,4-D controles (OR=3,80, IC 95% =1,85-7,81). 26 oriundos da coorte de fazendeiros americanos (United Farm Workers of América – UFW). 172 casos e 1.432 controles Chiu et al, 2006; EUA Caso-controle de base populacional Mannetje et al, 2008; Nova Zelândia. Caso-controle de base populacional 291 casos e 471 controles Orsi et al, 2009; França. Caso-controle de base hospitalar 491 casos e 453 controles Pahwa et al, 2012; Canadá Caso-controle de base populacional 513 casos e 1506 controles Foi observado um aumento no risco de LNH para o sexo feminino exposto ao brometo de metila (OR = 3,78, IC 95% = 1,11-12,82). Dados ajustados por sexo, idade e raça (apenas casos identificados como hispânicos foram utilizados neste estudo). Houve um aumento estatisticamente significativo de desenvolver LNH em agricultores expostos a fungicidas (OR=5,0; IC 95%=1,714,5) e herbicidas (OR= 2,9; IC 95%= 1,1-7,9). Dados ajustados por sexo, idade, local de residência e histórico familiar de câncer. Houve um aumento no risco de desenvolver LNH entre trabalhadores agrícolas. Para agricultores do sexo masculino que cultivavam vegetais (OR=2,74; IC 95%=1,04-7,25) e para aqueles que cultivavam hortaliças e frutas (OR=2,28; IC 95%= 1,37- 3,79). Para agricultores do sexo feminino que cultivavam hortaliças e frutas (OR= 3,15; IC 95%1,50-6,61). Dados ajustados por sexo, idade, raça, tabagismo e ocupação. Houve um aumento não significativo de 60% no risco de desenvolver LNH em agricultores expostos a fungicidas (OR=1,6; IC 95%=0,92,1). Dados ajustados por idade, duração da exposição, residência rural ou urbana e escolaridade. Houve um aumento estatisticamente significativo no risco de desenvolver LNH entre os expostos ao DDT (OR=1,69; IC 95%=1,07-2,67); inseticidas organofosforados (OR=1,91; IC 95%=1,43-2,55); herbicidas OR=1,45; IC 95%=1,131,87; No mesmo estudo foi observada uma associação não estatisticamente significativa entre LNH e o herbicida 2,4-D (OR=1,27; IC 95%=0,98-1,65) e inseticidas 27 Zakerinia et al, 2012; Irã Caso-controle de base hospitalar Balasubramaniam et al, 2013; Índia Caso-controle de base hospitalar Cocco et al, 2013; Caso-controle Espanha, França, multicêntrico Alemanha, Itália, (com base Irlanda, República populacional e Tcheca. hospitalar) 200 casos (100 LNH, 54 HL, 46 MM) e 200 controles 390 casos e 1383 controles 2348 casos e 2462 controles Schreinemachers et al; 1999; EUA Ecológico Sexo masculino= 1.968,287 e sexo feminino= 2.051,064. Sexo masculino= 628.358 e sexo feminino= 643.965 Schreinemachers, 2000; EUA Ecológico Chrisman et al, 2009; Brasil Ecológico Sexo masculino= 88.959,213. Burns et al, 2011; EUA Ecológico N=1316 trabalhadores organoclorados (OR=1,29; IC 95%=0,99-1,67). Dados ajustados por idade e estado de residência. Foi observada uma OR = 3.9; IC 95%= 2,2-6,8 entre os indivíduos expostos a agrotóxicos. Foi observada uma OR = 3.1; IC 95%= 1,5-6,2 entre os agricultores expostos a agrotóxicos. Foi observada uma OR= 1,4; IC 95%= 0.8-2,6 entre os agricultores expostos a organofosforados. No mesmo estudo foi observada uma associação não estatisticamente significativa entre LNH e glifosato OR=3,1; IC 95%= 0,6-7,1. Dados ajustados por idade e país de residência. Um aumento significativo na SRRs foi observado no sexo feminino para LNH (SRR=1,35; IC 95%: 1,091,66). Foram utilizadas as variáveis idade e sexo como controle de confundimento. Não houve um aumento significativo na SRRs para o sexo masculino (SRR=0,89 IC 95% 0,75-1,07) e para o sexo feminino (SRR=0,95 IC 95% 0,78-1,16) Foram utilizadas as variáveis gênero e idade como controle de confundimento. Neste estudo de correlação a venda de agrotóxicos foi utilizada como proxy da exposição. Foi observado um aumento na mortalidade por LNH no sexo masculino. A razão de taxa de mortalidade por LNH no segundo tercil de exposição foi (MRR = 1,73; IC 95% 1,66-1,81) e no terceiro tercil de exposição foi (MRR = 1,50; IC 95% 1,43-1,57). Foi utilizada a variável idade como controle de confundimento. A Razão Padronizada de Incidência (SIR) para os 14 casos de LNH foi 28 Boccolini et al, 2013; Brasil Ecológico Yldirim et al, 2013; Turquia. Ecológico do sexo de 1,36 (IC 95% 0,74-2,29). masculino na produção do herbicida 2,4D no Estado de Michigan, EUA. Neste estudo de correlação a venda de agrotóxicos foi utilizada como proxy da exposição. Foi observado um aumento na mortalidade por LNH no sexo masculino e feminino. A razão de taxa de mortalidade por LNH no segundo quartil de exposição foi (MRR = 1,69; IC 95% 1,68-1,84); no terceiro quartil de exposição (MRR = 2,41; IC 95% 2,27-2,57); no quarto quartil de exposição MRR=2,92, IC 95% 2,743,11). Para o sexo feminino, a razão de taxa de mortalidade por LNH no segundo quartil de exposição (MRR = 1,87; IC 95% 1,69-2,06); no terceiro quartil de exposição (MRR = 2,28; IC 95% 2,10-2,47); no quarto quartil de exposição (MRR=3,20, IC 95% 2,98-3,43). N=1514 Neste estudo ecológico foram utilizados os dados de pacientes com diagnóstico confirmado de LNH disponíveis no Registro de Câncer e de uso de agrotóxico por kg. Foi observada uma correlação moderada através do coeficiente de Spearman de 0,497 com um p valor igual a 0,05. 29 2) JUSTIFICATIVA A utilização de agrotóxicos na agricultura brasileira e mundial é intensiva e muitos relatos de intoxicações por essas substâncias representam um grave problema à saúde, sobretudo em trabalhadores do campo. O uso de agrotóxicos no Brasil aumentou de forma bastante expressiva nas últimas décadas e o país se tornou, nos dias atuais, em um dos principais consumidores destas substâncias químicas. Entretanto, estudos epidemiológicos realizados no país, relacionando a exposição por agrotóxicos com agravos à saúde, ainda são escassos diante da gravidade do problema. Além disso, o aumento das taxas de incidência e mortalidade por LNH e neoplasias hematológicas tem sido observado para ambos os sexos e alguns estudos tem apontado para uma associação entre exposição a agrotóxicos e desenvolvimento de neoplasias hematológicas. Torna-se, portanto, imprescindível a realização de estudos epidemiológicos nacionais que possam descrever a situação do uso de agrotóxicos e verificar se tal fato pode estar relacionando com possíveis efeitos crônicos adversos, como o Linfoma não-Hodgkin e demais neoplasias hematológicas. Com isso, pretende-se produzir resultados que subsidiem a discussão de políticas públicas que promovam o uso racional de agrotóxicos. 3) OBJETIVO PRINCIPAL Analisar uma possível associação entre consumo de agrotóxicos e a mortalidade por linfoma não-Hodgkin, leucemia, linfoma de Hodgkin e mieloma múltiplo. 3.1. OBJETIVOS ESPECÍFICOS: Analisar a tendência de mortalidade por LNH na população de ambos os sexos com 20 anos ou mais, para todos os estados da Federação, por região e para o Brasil, no período compreendido entre 1980 e 2012. 30 Investigar uma possível associação entre a mortalidade por LNH e demais neoplasias hematológicas no ano de 2012 e exposição a agrotóxicos em 117 países. 4) ASPECTOS ÉTICOS Por se tratar de um estudo que utiliza bases de dados secundários agregados por estados, região e países, e, com isso, sem a possibilidade de identificação de indivíduos, em acordo com a Resolução 466/12 o presente estudo não foi submetido à apreciação do Comitê de Ética para avaliação quanto aos riscos a seres humanos. 5) MATERIAL E MÉTODOS A tese foi estruturada sob a forma de dois artigos, cobrindo os objetivos específicos. As metodologias utilizadas bem como os resultados estão integralmente apresentados no corpo desses dois artigos. A numeração das referências bibliográficas será exclusiva dos referidos artigos, não seguindo a sequência até então apresentada na tese. 6) RESULTADO E DISCUSSÃO Como discussão e resultados serão apresentados dois artigos: Primeiro Artigo Titulo: Tendência de mortalidade por Linfoma não-Hodgkin no Brasil, 1980 a 2012. Title: Non Hodgkin Lymphoma Time Trends in Brazil, 1980 -2012. Segundo artigo “Exposição a agrotóxicos e mortalidade por Linfoma não-Hodgkin, Leucemia, Linfoma de Hodgkin e Mieloma Múltiplo em adultos de 117 países: um estudo ecológico”. Pesticide exposure and non-Hodgkin lymphoma, leukemia, Hodgkin lymphoma and multiple myeloma mortality in adults at 117 countries: an ecological study. 31 ARTIGO 1: Tendência de mortalidade por linfomas não-Hodgkin no Brasil, 1980 a 2012. Title: Non-Hodgkin lymphoma Time Trends in Brazil, 1980 -2012. Autores: Patricia de Moraes Mello Boccolini1, Cristiano Siqueira Boccolini2, Armando Meyer3. 1 Doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Saúde Coletiva, Instituto de Estudos em Saúde Coletiva, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Brasil. 2 Pesquisador Associado do Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica em Saúde - Fundação Oswaldo Cruz, Brasil. 3 Professor Adjunto do Instituto de Estudos em Saúde Coletiva, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Brasil. RESUMO: Objetivo: Analisar a tendência de mortalidade por Linfoma Não-Hodgkin (LNH) em adultos no Brasil. Metodologia: Estudo de série temporal, que utilizou informações sobre os óbitos por LNH obtidas do Sistema de Informações sobre Mortalidade entre 1980 e 2012. As taxas de mortalidade padronizadas pelo método direto foram agrupadas por estados, regiões brasileiras e Brasil. Utilizou-se regressão Possion (joinpoint), obtendo-se a mudança anual percentual (APC) das taxas de mortalidade por LNH. Resultados: No Brasil e na região Sudeste, a taxa de mortalidade por LNH apresentou tendência crescente somente no período de 1989 a 1998 (APC=3,4%; p<0,05 e APC=3,0%; p<0,05, respectivamente); enquanto nas regiões Centro Oeste (APC=2,3%; p<0,05), Norte (APC=1,5%; p<0,05) e Nordeste (APC=3,1%; p<0,05), houve tendência estatisticamente significante de aumento em todo o período. A região Sul não apresentou tendência estatisticamente significativa no período. Conclusão: As tendências das taxas de mortalidade por LNH não foram homogêneas no Brasil e regiões, o que pode sugerir diferentes fatores de risco, qualidade dos sistemas de informação e até mesmo mudanças no diagnóstico e tratamento do LNH em cada estado e região brasileiras. Palavras-chave: epidemiologia. Linfoma não-Hodgkin; estudo de séries temporais; mortalidade; 32 Abstract: Objective: This paper aims to analyze the NHL mortality time trend in Brazil. Methodology: This was an epidemiological temporal trend study, with information on NHL deaths from 1980 to 2012 (ICD 9 and 10), standardized by age using the direct method. A Poisson (joinpoint) model was employed to estimate the Annual Percent Change (APC) of NHL mortality. Results: In Brazil and regions, there had a statistical significant increasing trend in the mortality ratio by NHL only from 1989 a 1998 (APC=3,4%; p<0,05 and APC=3,0%; p<0,05, respectively), but in the Middle West (APC=2,3%; p<0,05), North (APC=1,5%; p<0,05) and Northeast regions (APC=3,1%; p<0,05), the increasing trend was constant through all the period. In the South region there was no trend in NHL mortality. Conclusions: The increasing trends in NHL mortality observed were not homogeneous, and future studies should be conducted to understand the risk factors. Keywords: Non Hodgkin Lymphoma; time series studies; mortality; epidemiology. 33 ITRODUÇÃO: Os linfomas não-Hodgkin (LNH) fazem parte de um grupo heterogêneo de tumores malignos das células B e T que surgem nos linfonodos (nodal) ou em outros locais, como placas de Peyer, baço, tonsilas, entre outros, onde são chamados de extranodais1,2,3. O LNH geralmente é mais incidente em países desenvolvidos que em países em desenvolvimento4, sendo que entre as décadas de 1970 e 1980 foi observado um aumento das taxas de incidência por LNH de 3 a 4% ao ano, principalmente nos Estados Unidos, nos países da Europa e Austrália5,6,7,8, sugerindo que existem distintos padrões de distribuição de incidência dessa doença pelo mundo. A incidência e taxa de mortalidade por LNH nas populações podem sofrer influências de diversos fatores, como melhoria na captação dos casos pelos registros de câncer, melhoria das técnicas de diagnóstico e na classificação histopatológica3,4, pelo aumento de casos de AIDS ocorridos a partir do início da década de 19803,10 e até mesmo pelo desenvolvimento de novas drogas para seu tratamento, resultando em melhora na sobrevida de pacientes com LNH9,10,11. Em relação ao Brasil, o Instituto Nacional do Câncer estimou 5.190 novos casos de LNH em homens e 4.450 em mulheres em 2012 (taxa bruta de 7,66 e 6,85 por 100 mil habitantes, respectivamente)12, o que indica diferentes incidências entre os sexos. Considerando as tendências de taxas de mortalidade por LNH no Brasil, um estudo analisou a tendência de mortalidade por LNH apenas capitais da Região Sudeste entre 1980 e 2007, observando uma tendência de aumento das taxas de mortalidade por LNH em Belo Horizonte/BH e São Paulo/SP13. Com base em levantamento realizado nos dados disponíveis pelo SIM (Sistema de Informação de Mortalidade), foi observado que o LNH foi a segunda causa de morte por neoplasia hematológica para o sexo masculino e feminino14. Diante da magnitude da incidência e das taxas de mortalidade por LNH no cenário nacional, as possíveis variações regionais na incidência, a limitação dos estudos publicados, e as potenciais diferenças de taxas de mortalidade entre os sexos, torna-se fundamental a elaboração de estudos epidemiológicos que demonstrem como a mortalidade por LNH se comporta ao longo do tempo na população brasileira. Assim, o objetivo do presente estudo 34 foi analisar a tendência de mortalidade por LNH por estados da Federação, região e sexo, entre 1980 e 2012. MATERIAL E MÉTODOS: Desenho de estudo Trata-se de um estudo de série temporal de mortalidade por LNH que utilizou dados secundários obtidos por meio do Sistema de Informação sobre Mortalidade (SIM) da base de dados do Departamento de Informática do SUS (DATASUS). No estudo foram incluídos todos os óbitos por residência de indivíduos de ambos os sexos, com 20 anos ou mais, residentes nos estados brasileiros e Distrito Federal entre os anos de 1980 a 2012. Dados sobre mortalidade por LNH Os dados sobre a mortalidade por LNH obtidos do SIM são referentes ao período de 1980 a 2012, no qual, de acordo com a Classificação Internacional de Doenças (CID), o LNH recebe os códigos 200 e 20215 segundo a CID-9 (até 1995) e C82-C8516 de acordo com o CID-10 (a partir de 1996). As taxas específicas foram calculadas a partir de 20 anos de idade para as faixas etárias, utilizando-se intervalos de 10 anos (20 a 39, 40 a 59, e 60 ou mais anos). As taxas padronizadas de mortalidade por LNH foram calculadas pelo método direto, utilizando a população mundial de 196617. As informações sobre idade e sexo foram obtidas do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE)14, sendo agrupados por estado, para as cinco regiões brasileiras e para o Brasil. Análise dos dados Inicialmente foi realizada uma análise descritiva, observando-se a mortalidade por LNH por faixa etária, e comparando as taxas quadrienais de mortalidade do início e do final do período (1980 a 1983; e 2009 a 2012, respectivamente) para obtenção do percentual de variação entre os quadriênios por meio da fórmula [(taxa do quadriênio final - taxa do quadriênio inicial)/taxa do quadriênio inicial] x 10013. Foram calculadas, então, a variação percentual anual (Anual Percentage Change APC) da taxa de mortalidade por LNH no período; e a variação percentual anual média (Average Anual Percentage Change – AAPC) dos últimos 10 anos por meio de regressão Poisson utilizando o programa Joinpoint (Joinpoint - http://www.srab.cancer.gov/joinpoint) 35 que permite o ajuste de dados de uma série a partir do menor número possível de pontos de inflexão: os valores podem ir de menos a mais infinito (números negativos representando tendência decrescente, e positivos tendência crescente), sendo que o valor zero representaria a ausência de tendência18. Os testes de significância utilizados basearam-se no método de permutação de Monte Carlo e no cálculo da variação percentual anual da taxa, utilizando-se o logaritmo da taxa, podendo haver de um até quatro pontos de inflexão (ou de mudança de tendência)18. Como não é possível extrair o logaritmo do número zero, todos os estados do Brasil que apresentaram o valor zero de taxa de mortalidade por LNH em um ou mais anos do período considerado (nos cálculos das taxas para a população geral ou por sexo) foram excluídos da análise. Como conseqüência, em algumas tabelas houve ausência do valor da tendência e taxas para os referidos estados. Cada ponto significativo, que indica uma mudança na tendência (caso tenha havido alguma), foi mantido no modelo final. Para descrever a tendência linear por período, o percentual anual estimado de mudanças e o Intervalo de Confiança de 95% (IC95%) foram depois computados para cada uma de suas tendências, compondo uma linha de regressão de acordo com o logaritmo natural dos índices, utilizando-se o calendário anual como a variável de regressão. Por se tratar de um estudo que utiliza bases de dados secundários agregados por estados e região, sem a possibilidade de identificação de indivíduos, em acordo com a Resolução 466/12 o presente estudo não foi submetido à apreciação do Comitê de Ética para avaliação quanto aos riscos a seres humanos. RESULTADOS: As taxas de mortalidade por LNH são maiores entre indivíduos das faixas etárias mais elevadas, além de serem maiores entre os homens do que entre as mulheres. Quando comparados o primeiro e o ultimo quadriênio da série (1980-1983 e 2008-2012, respectivamente), percebe-se que houve aumento das taxas padronizadas de mortalidade por LNH nas faixas etárias superiores a 40 anos, principalmente entre os indivíduos com 60 anos ou mais e entre as mulheres. Contudo, somente entre a faixa etária de 20 a 39 anos da população masculina, houve variação negativa no Brasil, e nas regiões Sudeste, Centro-Oeste e Norte (Tabela 1). 36 Levando em conta os resultados das regressões de Poisson, no Brasil e regiões houve tendência de aumento estatisticamente significante das taxas de mortalidade por LNH em pelo menos um período da série histórica avaliada. Contudo, comparando as regiões do Brasil, houve grande heterogeneidade tanto da magnitude quanto dos períodos das tendências, sendo as mesmas constantes nas regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste (Tabela 2). Considerando a população geral, o Brasil e a região Sudeste apresentaram tendência de aumento estatisticamente significante da taxa de mortalidade por LNH somente no período de 1989 a 1998 e 1988 a 1999, respectivamente, enquanto na região Sul foi observada tendência de aumento entre 1982 e 2003. Nas regiões Centro-Oeste, Norte e Nordeste foi observada uma tendência de aumento constante em todo o período analisado, sendo maiores as magnitudes de variação percentual na região Nordeste. Ainda considerando a população geral, a região Sudeste foi a única que apresentou tendência estatisticamente significante de diminuição das taxas de mortalidade por LNH (entre os anos de 1999 e 2012 - Tabela 2). Na análise por sexo, os homens apresentaram tendência de aumento das taxas de mortalidade por LNH no Brasil em um período de dezenove anos (1980 a 1998) e as mulheres por nove anos (1989 a 1997), seguidos de períodos com ausência de tendência (Tabela 2). Nas regiões Sul e Sudeste, foram observados períodos em que houve aumento estatisticamente significativo da tendência de mortalidade por LNH, seguida de ausência tendência, sendo que na região Sudeste a diminuição foi estatisticamente significativa para ambos os sexos. Na região Centro-Oeste observou-se uma diminuição estatisticamente significativa entre a população masculina a partir do ano de 2005 (Tabela 2). Levando-se em conta os estados brasileiros e Distrito Federal, a regressão de Poisson evidenciou também grande heterogeneidade de resultados, sendo que em seis estados foi observada tendência estatisticamente significante de aumento das taxas de mortalidade por LNH em todo o período, tanto para a população geral, quanto para ambos os sexos (Minas Gerais, Espírito Santo, Distrito Federal, Ceará, Pernambuco e Piauí). Os demais estados apresentaram alguns períodos de aumento da tendência. As exceções foram o estado do Rio de Janeiro, que não apresentou tendência estatisticamente significante em nenhum período; e o estado de São Paulo, que apresentou tendência estatisticamente significativa de redução das taxas de mortalidade nos últimos nove anos do período. Paraná e Alagoas também 37 apresentaram tendência de redução de mortalidade por LNH, mas somente em curtos períodos do início do período, seguido de tendência de aumento (Tabela 3). Todos os estados da região Norte, bem como três estados do Nordeste (Sergipe, Rio Grande do Norte e Maranhão) apresentaram taxa de mortalidade por LNH igual a zero em um ou mais anos compreendidos nesse estudo, tendo sido excluídos das análises. Em relação ao recorte para os últimos dez anos do período estudado (2002 a 2012), houve aumento percentual médio (AAPC) estatisticamente significante em 12 estados, sendo que no estado da Paraíba houve, em média, um aumento de mais de 13% nas taxas de mortalidade por LNH. O estado de São Paulo foi o único dos dezessete estados estudados com redução percentual, e estatisticamente significativa, das taxas de mortalidade por LNH, tanto para homens quanto para mulheres. Entre os estados de Mato Grosso do Sul, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul não houve tendência estatisticamente significativa no período (Tabela 4). Na Figura 1 podem ser visualizadas as taxas pontuais de mortalidade por LNH a cada ano e a tendência estimada por Joinpoint para o Brasil e regiões. DISCUSSÃO: No Brasil e regiões houve tendência de aumento das taxas de mortalidade por LNH em pelo menos um período da série histórica estudada. Ao levar em conta a variável sexo, os homens apresentaram tendência de aumento das taxas de mortalidade por LNH no Brasil em um período de dezenove anos (1980 a 1998) e as mulheres por nove anos (1989 a 1997), seguidas de tendência de aumento sem significância estatística. As taxas padronizadas de mortalidade por LNH foram maiores entre os homens que entre as mulheres. No entanto, o incremento observado entre o primeiro e o último quadriênio da série foi maior entre as mulheres que entre os homens, com exceção da Região CentroOeste. Novak e colaboradores (2012) realizaram um estudo na Croácia utilizando dados de mortalidade e incidência no período entre 1988 e 2009 e observaram um aumento estatisticamente significativo da incidência de LNH em mulheres, sem encontrar, contudo, mudança na tendência de mortalidade por LNH em ambos os sexos19. Um estudo recente que avaliou a tendência de mortalidade por LNH nas capitais dos estados da Região Sudeste do Brasil observou que a cidade do Rio de Janeiro/RJ não 38 apresentou tendência estatisticamente significante em nenhum período estudado e que a cidade de São Paulo/SP apresentou tendência estatisticamente significativa de redução nos últimos nove anos do período13. Esses resultados foram semelhantes aos encontrados no presente estudo, apesar das diferenças metodológicas empregadas para a análise. Em fins da década de 1990, principalmente nos países desenvolvidos, a mortalidade por câncer em geral apresentou uma diminuição significativa. Segundo alguns autores, este fato pode ser atribuído ao declínio de neoplasias relacionadas ao fumo, notadamente ao câncer de pulmão20, 21. Entretanto, nesses mesmos países desenvolvidos, alguns tumores continuaram apresentando um aumento em suas taxas de mortalidade, como carcinoma hepatocelular, mieloma múltiplo e Linfomas não-Hodgkin2. Outro fator importante a ser destacado, foi aumento no padrão de sobrevida para pacientes com LNH ocorrida inicialmente em países desenvolvidos em fins da década de 199021, 22. Essa mudança também começou a ser notada em países em desenvolvimento, como o Brasil, com a introdução de novas drogas que vêm contribuindo na redução da mortalidade por LNH9, 23 . Esses possíveis padrões de redução e estabilidade das taxas de mortalidade observados em alguns estados e regiões podem ser atribuídos a tanto a essa melhoria do tratamento quanto a melhoria do acesso aos serviços de saúde. São poucos os fatores de risco estabelecidos para o desenvolvimento de LNH, dos quais, a literatura destaca: o sistema imune comprometido devido ao uso de drogas imunossupressoras, infecção pelo vírus HIV, vírus Epstein-Barr, HTLV1 e pela bactéria Helicobacter pylori24,25. A exposições a alguns agentes químicos como agrotóxicos (herbicidas e inseticidas), solventes e fertilizantes também tem sido apontadas como possíveis fatores de risco para LNH26, 27, 28, 29, 30, 31, 32,33 além da exposição à radiação ionizante34. Atualmente, o Brasil encontra-se entre os principais consumidores mundiais de agrotóxicos34 e apesar da crescente regulação do uso dessas substâncias químicas, muitos agentes potencialmente cancerígenos foram amplamente utilizados no Brasil até meados da década de 199035. Uma revisão, realizada por Chassagne-Clément e colaboradores (1999) observou que o aumento de LNH não foi reflexo somente da epidemia de AIDS, cujo impacto sobre a incidência pareceu especialmente notório nos Estados Unidos, mas seria também atribuída à fatores ambientais21. 39 Hopper e colaboradores (2001) realizaram um estudo nos Estados Unidos utilizando as estatísticas de mortalidade por LNH no período entre 1979 e 1996, no qual observaram que a epidemia de HIV/AIDS tem contribuído substancialmente para o aumento nas taxas de incidência e mortalidade por LNH24. O envelhecimento da população pode ser considerado um outro possível fator de contribuição no aumento da mortalidade por cânceres36. No presente estudo foi observado que as taxas de mortalidade por LNH são maiores entre os indivíduos com 60 anos ou mais de idade. Os achados do presente estudo são corroborados por estudos realizados na Europa e Estados Unidos que também encontraram tendência de aumento na mortalidade por este tipo de câncer em indivíduos nessa mesma faixa etária8, 10, 17, 36. Um estudo que utilizou dados de mortalidade por LNH de 29 países Europeus entre 1980 a 2004 também observou um aumento nas taxas de mortalidade por LNH, principalmente na década de 1990 nos países do Leste Europeu e entre indivíduos na faixa etária de 60 anos ou mais19. Uma limitação do estudo foi a impossibilidade de realização de uma análise da mortalidade por sub-tipos de LNH, devido a irregularidade na distribuição dos óbitos no registro do SIM. Nos capítulos da CID-10 para LNH, o que apresentou um maior número de óbitos foi o C85 (LNH de outros tipos e tipo NE). Outra limitação é que como se trata de uma análise de séries temporais, torna-se difícil detectar mudanças tanto nos extremos das séries quanto em estados com pequenos números de morte. Alguns estados, principalmente da região norte do Brasil, tiveram que ser excluídos pela ausência de registro de morte de LNH em um ou mais anos do período. Por outro lado, a grande vantagem da regressão de joinpoint é que a mesma não assume o pressuposto de variância constante nas taxas de mortalidade por LNH18. Os Registros de Câncer de Base Populacional geram dados de incidência de câncer no Brasil e seriam uma boa opção para análise de tendência de casos novos e não de óbitos. Porém esses registros ainda apresentam algumas limitações: abrangem apenas capitais brasileiras e alguns poucos municípios do interior; têm períodos de dados consolidados diferenciados, ou seja, não apresentam uma série histórica única compreendendo grandes períodos de informações consolidadas, o que dificulta o seu uso nesse tipo de análise. A sub-notificação e a mal-classificação de óbitos ainda é um problema no Brasil. Porém, alguns estudos realizados no Brasil vem demonstrando melhoras na confiabilidade, a 40 validade, além da cobertura universal dos dados provenientes do SIM37,38,39. Contudo, como o foco desse estudo é a tendência de mortalidade, a questão da sub-notificação é menos relevante, pois assume-se que esse viés seja relativamente constante em todo o período do estudo. CONCLUSÕES: Enfim, os fatores ambientais possivelmente relacionados ao desenvolvimento do LNH e a plausível mudança da exposição aos mesmos ao longo do tempo além da possível melhoria de diagnóstico, tratamento e acesso aos serviços de saúde para pacientes com LNH podem ter contribuído para mudanças nos padrões de incidência e sobrevivência ao LNH. Enquanto que a melhoria nos serviços de registro de mortalidade; as mudanças de classificação da CID; e os possíveis efeitos de coorte associados ao envelhecimento da população podem ter contribuído para os padrões de mortalidade. Todos esses foram fatores não controlados no presente estudo e que podem explicar a grande heterogeneidade dos padrões temporais observados. Contudo, tais padrões podem ser úteis para a gestão pública e privada adotarem medidas de prevenção e vigilância que resultem na redução do perfil de morbi-mortalidade por LNH. 41 Tabela 1: Taxas específicas de mortalidade por Linfomas Não-Hodgkin por faixa etária e percentual de variação entre o primeiro e último quadriênio das séries, nas regiões brasileiras e Brasil, no período de 19802012. Brasil e Regiões/ faixa etária Taxa de mortalidadepor LNH padronizada (por 100.000 habitantes) Total Homens 1980 a 1983 2009 a 2012 % de variação 1980 a 1983 Mulheres 2009 a 2012 % de variação 1980 a 1983 2009 a 2012 % de variação Brasil 20-39 1,18 1,24 4,47 1,59 1,49 -6,45 0,79 1,00 25,69 40-59 2,88 3,51 21,84 3,64 4,44 21,72 2,13 2,65 24,54 60+ 4,65 7,72 66,08 5,57 9,04 62,17 3,82 6,64 73,85 20-39 1,20 1,31 9,69 1,58 1,65 4,41 0,82 0,98 20,07 40-59 3,25 4,18 28,49 4,11 5,36 30,30 2,39 3,08 28,57 60+ 5,64 10,17 80,16 7,20 12,00 66,51 4,27 8,66 103,03 20-39 1,46 1,33 -8,90 2,03 1,57 -22,78 0,90 1,11 22,55 40-59 3,67 3,83 4,32 4,79 4,91 2,53 2,59 2,84 9,82 60+ 6,36 9,08 42,72 7,66 10,78 40,75 5,27 7,76 47,25 20-39 1,08 1,12 3,43 1,37 1,25 -8,59 0,79 0,99 24,30 40-59 2,49 3,52 41,26 2,84 4,17 47,08 2,10 2,90 37,87 60+ 4,38 7,99 82,40 4,35 9,19 110,94 4,37 6,88 57,39 20-39 0,78 1,23 56,21 0,93 1,51 62,76 0,65 0,95 45,36 40-59 1,52 2,77 82,48 1,76 3,38 91,87 1,29 2,23 72,72 60+ 1,91 4,70 146,51 2,33 5,51 136,07 1,51 4,04 167,33 20-39 0,68 0,75 11,33 0,93 0,88 -5,34 0,41 0,62 51,51 40-59 1,36 2,09 53,15 1,52 2,77 81,82 1,18 1,37 16,52 60+ 2,24 3,36 50,01 2,87 3,79 32,06 1,61 2,94 82,62 Região Sul Região Sudeste Região CentroOeste Região Nordeste Região Norte 42 Tabela 2: Percentual anual de mudança (APC – Annual Percent Change) de mortalidade padronizada por Linfomas não-Hodgkin no Brasil e Regiões, de acordo com sexo, no período de 1980 a 2012. Tendência 1 Região Período Tendência 2 APC Período (IC=95%) Tendência 3 APC Período (IC=95%) APC (IC=95%) 1980-1989 0,4 1989-1998 *3,5 1998-2012 0,0 Masculino 1980-1998 *4,1 1998-2001 -12,6 2001-2012 0,0 Feminino 1980-1989 0,7 1989-1997 *4,1 1997-2012 0,1 1980-1982 -12,7 1982-2003 *3,0 2003-2012 -1,2 Masculino 1980-1989 -0,1 1989-1999 *4,2 1999-2012 -0,2 Feminino 1980-1982 -20,2 1982-2003 *3,8 2003-2012 -1,5 1980-1988 0,2 1988-1999 *2,8 1999-2012 *-1,5 Masculino 1980-1985 -1,7 1985-1999 *2,2 1999-2012 *-1,3 Feminino 1980-2001 *2,3 2001-2012 *-1,9 - - Centro Oeste 1980-2012 *2,0 - - - - Masculino 1980-2005 *3,0 2005-2012 *-7,5 - - Feminino 1980-2012 *1,9 - - - - 1980-2012 *1,6 - - - - Brasil Sul Sudeste Norte 43 Masculino 1980-2012 *1,8 - - - - Feminino 1980-2012 *1,6 - - - - 1980-2012 *2,8 - - - - Masculino 1980-2012 *2,6 - - - - Feminino 1980-2012 *3,0 - - - - Nordeste * (tendência estatisticamente significante - valor de p<0,05). - (não houve necessidade de cálculo de joinpoint para o período, pois o menor número de joinpoints foi alcançado). 44 Tabela 3: Percentual Anual de Mudança (APC – Annual Percent Change) de mortalidade por linfomas nãoHodgkin nos estados brasileiros e Distrito Federal, de acordo com sexo, no período de 1980 a 2012. Estado Categoria Tendência 1 Período APC Tendência 2 Período APC Tendência 3 Período APC total masculino feminino 1980-1984 1980-1991 1980-1992 -4,9 -1,6 -0,4 1984-2012 1991-1999 1992-1995 *2,6 *7,9 18,5 1999-2012 1995-2012 -0,7 0,3 total masculino feminino 1980-1983 1980-2012 1980-1982 -10,1 *1,4 *-42,9 1983-1986 1982-1986 14,8 20,5 1986-2012 1986-2012 *1,1 *1,9 total masculino feminino 1980-1982 1980-2012 1980-2012 -20,8 *1,8 *3,0 1982-1999 - *4,1 - 1999-2012 - -0,1 - total masculino feminino 1980-2000 1980-2000 1980-2000 *2,7 *2,4 *3,1 2000-2012 2000-2012 2000-2012 *-2,3 *-2,3 *-2,2 - - total masculino feminino 1980-2012 1980-2012 1980-2012 *1,3 *1,1 *1,8 - - - - total masculino feminino 1980-2006 1980-2012 1980-2012 0,2 -0,2 0,2 2006-2012 - -3,7 - - - total masculino feminino 1980-2012 1980-2012 1980-2012 *1,9 *1,6 *2,6 - - - - total masculino feminino 1980-2012 1980-2012 1980-2012 2,5* 3,0* 2,3* - - - - total masculino feminino 1980-1986 1980-2012 1980-1992 9,9 *2,0 -3,4 1986-1990 1992-2012 -11,1 *4,9 1990-2012 - *3,5 - total masculino feminino 1980-1983 1980-2012 1980-2012 59,3 *12,0 *17,9 1983-2012 - *4,7 - - - total masculino feminino 1980-2012 1980-1986 1980-2012 0,8 *-13,6 0,9 1986-1995 - *10,6 - 1995-2012 - -1,8 - Rio Grande do Sul Paraná Santa Catarina São Paulo Minas Gerais Rio de Janeiro Espírito Santo Distrito Federal Goiânia Mato Grosso Mato Grosso do Sul * (tendência estatisticamente significante - valor de p<0,05) - (não houve necessidade de cálculo de joinpoint para o período, pois o menor número de joinpoints foi alcançado). 45 Tabela 3 (continuação): Percentual Anual de Mudança (APC – Annual Percent Change) de mortalidade por linfomas não-Hodgkin nos estados brasileiros e Distrito Federal, de acordo com sexo, no período de 1980 a 2012. Alagoas total masculino feminino 1980-1990 1980-1990 1980-2012 *-5,8 *-6,2 1,4 1990-2012 1990-2005 - *4,0 *6,4 - 2005-2012 - -8,7 - Bahia total 1980-2012 *1,6 - - - - masculino 1980-2012 *1,6 - - - - feminino 1980-1982 47,5 1982-1985 -9,9 1985-2012 *2,0 total 1980-2012 *4,1 - - - - masculino 1980-2012 *3,5 - - - - feminino 1980-2012 *5,2 - - - - total 1980-2000 -0,8 2000-2012 *13,3 - - masculino 1980-2000 -2,0 2000-2012 *13,4 - - feminino 1980-2000 1,1 2000-2012 *16,9 - - total 1980-2012 *2,5 - - - - masculino 1980-2012 *2,6 - - - - feminino 1980-2012 *2,6 - - - - total 1980-2012 *4,8 - - - - masculino 1980-2012 *4,2 - - - - feminino 1980-2012 *5,7 - - - - Ceará Paraíba Pernambuco Piauí * (tendência estatisticamente significante - valor de p<0,05) - (não houve necessidade de cálculo de joinpoint para o período, pois o menor número de joinpoints foi alcançado). 46 Tabela 4: Variação Anual Média Percentual (AAPC – Average Annual Percent Change) de mortalidade por linfomas não-Hodgkin nos estados brasileiros e Distrito Federal, para ambos os sexos, nos últimos dez anos do período (2002 a 2012). Estado Total Masculino Feminino Rio Grande do Sul 0,4 -0,7 0,3 Paraná *0,7 *1,4 *1,9 Santa Catarina -0,1 *1,8 *3,0 São Paulo *-2,3 *-2,3 *-2,2 Minas Gerais *1,3 *1,1 *1,8 Rio de Janeiro -2,0 -0,2 0,2 Espírito Santo *1,9 *1,6 *2,6 Distrito Federal *2,5 *3,0 *2,3 Goiânia *3,5 *2,0 *4,9 Mato Grosso *4,7 *12,0 *17,9 Mato Grosso do Sul 0,8 -1,8 0,9 Alagoas *4,0 -3,9 1,4 Bahia *1,6 *1,6 *1,1 Ceará *4,1 *3,5 *5,2 47 Paraíba *13,3 *13,4 *16,9 Pernambuco *2,5 *2,6 *2,6 Piauí *4,8 *4,2 *5,7 * (tendência estatisticamente sgnificante - valor de p<0,05 Taxa de Mortalidade por LNH por 100.000 Taxa de Mortalidade por LNH por 100.000 Taxa de Mortalidade por LNH por 100.000 Taxa de Mortalidade por LNH por 100.000 Taxa de Mortalidade por LNH por 100.000 Taxa de Mortalidade por LNH por 100.000 48 Figura 1: Gráfico de tendência da taxa de mortalidade padronizada (por 100.000) por Linfoma Não-Hodgkin (LNH) no Brasil e regiões, 1980 a 2012. Brasil Ano Região Sul Ano Ano Região Sudeste Região Centro-Oeste Ano Ano Região Norte Nordeste Ano 49 Referências Bibliográficas: 1. Morton LM , Wang SS, Devesa SS, Hartge P, Weisenburger DD, Linet MS. Lymphoma incidence patterns byWHO subtype in the United States, 1992-2001. Blood. 2006 Jan 1;107(1):265-76. 2. Alexander DD, Mink PJ, Adami HO, Chang ET, Cole P, Mandel JS, Trichopoulos D. The non-Hodgkin lymphomas: a review of the epidemiologic literature. Int J Cancer. 2007;120 Suppl 12:1-3 3. Zelenetz AD, Wierda WG, Abramson JS, Advani RH, Andreadis CB, Bartlett N, Bellam N, Byrd JC, Czuczman MS, Fayad L, Glenn MJ, Gockerman JP, Gordon LI,Harris NL, Hoppe RT, Horwitz SM, Kelsey CR, Kim YH, Krivacic S, LaCasce AS, Nademanee A, Porcu P, Press O, Pro B, Reddy N, Sokol L, Swinnen L, Tsien C,Vose JM, Yahalom J, Zafar N, Naganuma M, Dwyer MA. Non-Hodgkin's Lymphomas, version 3.2012. J Natl Compr Canc Netw. 2012 Dec 1;10(12):1487-98. 4. Müller AM, Ihorst G, Mertelsmann R, Engelhardt M. 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Cad Saúde Pública 2004; 20: 1262-8. 53 ARTIGO 2: Exposição a agrotóxicos e mortalidade por Linfoma não-Hodgkin, Leucemia, Linfoma de Hodgkin e Mieloma Múltiplo em adultos de 117 países: um estudo ecológico Pesticide exposure and non-Hodgkin lymphoma, leukemia, Hodgkin lymphoma and multiple myeloma mortality in adults at 117 countries: an ecological study. Autores: Patricia de Moraes Mello Boccolini1, Cristiano Siqueira Boccolini2, Armando Meyer3. 1 Doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Saúde Coletiva, Instituto de Estudos em Saúde Coletiva, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Brasil. 2 Pesquisador Associado do Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica em Saúde - Fundação Oswaldo Cruz, Brasil. 3 Professor Adjunto do Instituto de Estudos em Saúde Coletiva, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Brasil. RESUMO: Objetivo: Investigar uma possível associação entre a mortalidade por LNH e demais neoplasias hematológicas no ano de 2012 e exposição a agrotóxicos em 117 países. Metodologia: Trata-se de um estudo descritivo ecológico onde o consumo per capita de agrotóxicos foi utilizado como medida indireta da exposição populacional a essas substâncias químicas em 117 países. Foram incluídos no estudo todos os países (117) que apresentaram dados sobre venda de agrotóxicos no período de 1998 a 2002 disponibilizados pela divisão de estatística da FAOSTAT. Os dados de mortalidade por LH, LNH, MM e Leucemia (desfecho) para o ano de 2012 foram obtidos por meio do site GLOBOCAN da IARC. Os países foram ainda categorizadas em baixo, médio e alto consumo de acordo com os tercis de consumo per capita de agrotóxicos. As razões de taxa foram obtidas utilizando o menor tercil (primeiro tercil) como referência. Por último foram estimados modelos de regressão linear com distribuição gama (taxas de mortalidade a esquerda da média) onde os desfechos foram as taxas padronizadas de mortalidade por LH, LNH, MM, Leucemia e por todas as neoplasias hematológicas ajustados por sexo, e ajustados por tercil de consumo per capita de agrotóxicos, IDH e prevalência de HIV. Resultados: A mortalidade por Leucemia e MM apresentou uma associação estatisticamente significativa com a exposição a fungicidas, bactericidas(RTM = 1, 34; RTM=1,93) e herbicidas (RTM=1,38; RTM=2,33). A mortalidade por leucemia e MM também estiveram associados com a exposição a todas as classes de agrotóxicos quando analisados de maneira conjunta (RTM=1,41; RTM= 2,20). Quando a mortalidade por todas as neoplasias foram contabilizadas de maneira conjunta, esta apresentou associação estatisticamente significativa com a exposição a fungicidas, 54 bactericidas (RTM=1,51) e herbicidas (RTM=1,66). As taxas de mortalidade padronizadas por 100 mil habitantes por Leucemia, MM e todas as neoplasias hematológicas foram maiores e estatisticamente significativas no segundo e terceiro tercil de consumo de agrotóxicos (consumo per capita de agrotóxicos total) em relação ao primeiro (R2=0,34 e R2= 0,26). Palavras-chave: neoplasias hematológicas; pesticidas; mortalidade; epidemiologia. 55 INTRODUÇÃO No final da década de 1990, a mortalidade por câncer em geral apresentou uma grande diminuição nos países desenvolvidos. Este fato pode ser atribuído ao declínio de neoplasias relacionadas ao fumo, notadamente o câncer de pulmão1. Contudo, alguns tumores continuaram a apresentar um aumento em suas taxas de incidência e mortalidade, como carcinoma hepatocelular e algumas neoplasias hematológicas como mieloma múltiplo (MM), linfoma não-Hodgkin (LNH), linfoma de Hodgkin (LH) e leucemia2. Trabalhadores agrícolas apresentam menor risco de morte por doenças cardiovasculares e câncer, quando comparados com a população geral3,4,5,6. Entretanto, estes trabalhadores apresentam um excesso de risco para algumas neoplasias como: leucemia, linfoma não-Hodgkin, linfoma de Hodgkin, mieloma múltiplo, sarcoma de tecidos moles, melanoma e tumores de próstata, mama, cérebro e lábio, embora não haja consenso sobre os fatores predisponentes7,8. Sabe-se que a atividade agrícola pode expor o trabalhador a diversos agentes potencialmente cancerígenos como solventes, poeira, vírus e variadas classes de agrotóxicos9,10,11,12. O uso de agrotóxicos no Brasil e no mundo tem aumentado nas últimas décadas. Foi observada uma correlação positiva entre o consumo per capita de agrotóxicos em 11 estados brasileiros no ano de 1985 com as taxas de mortalidade por câncer de 1996 a 1998 para algumas neoplasias, como sarcoma de tecidos moles, leucemia e tumores de próstata, lábios, esôfago e pâncreas13. Além disso, quando estes 11 estados foram agrupados com base no consumo per capita, a razão de taxas de mortalidade sugeriu um maior risco de morte para algumas neoplasias, inclusive para o LNH, naqueles estados pertencentes aos tercis de maior consumo13. Com isso, torna-se necessário investigar uma possível associação entre a mortalidade por LNH, MM, LH e Leucemia e exposição aos agrotóxicos de forma mais aprofundada em escala global. MATERIAL E MÉTODOS Desenho de estudo Trata-se de um estudo descritivo ecológico onde o consumo per capita de agrotóxicos foi utilizado como medida indireta da exposição populacional a essas substâncias químicas em 117 países. 56 Países incluídos no estudo Foram incluídos no estudo todos os países (117) que apresentaram dados sobre venda de agrotóxicos no período de 1998 a 2002 disponibilizados pela divisão de estatística da FAOSTAT14 Food and Agriculture Organization of the United Nations no site: http://faostat3.fao.org/home/E. Acessado em: 15/06/2014. Os países que atenderam a esses critérios de inclusão foram: África do Sul, Albânia, Alemanha, Argélia, Angola, Argentina, Armênia, Austrália, Áustria, Bahamas, Barém, Bangladesh, Barbados, Bélgica, Belize, Butão, Bolívia, Botsuana, Brasil, Burundi, Camarões, Canadá, Cazaquistão, Chile, Colômbia, Congo, Costa Rica, Costa do Marfim, Croácia, Chipre, Dinamarca, Equador, Egito, Eslováquia, Eslovênia, Espanha, Estados Unidos, Estônia, Etiópia, Fiji, Finlândia, França, Gâmbia, Gana, Grécia, Guiné, Haiti, Honduras, Hungria, Iêmen, Islândia, Índia, Indonésia, Irã, Iraque, Irlanda, Itália, Jamaica, Japão, Jordânia, Laos, Letônia, Líbano, Lituânia, Luxemburgo, Macedônia, Madagascar, Malauí, Malta, Maurício, México, Moldávia, Moçambique, Mianmar, Namíbia, Nicarágua, Noruega, Nova Zelândia, Omã, Países Baixos, Paquistão, Panamá, Papua Nova Guiné, Paraguai, Peru, Polônia, Portugal, Qatar, Quirguistão, Quênia, Reino Unido, República Dominicana, República Tcheca, República da Coréia, Romênia, Ruanda, Samoa, Senegal, Síria, Sri Lanka, Sudão, Suriname, Suécia, Suíça, Tajiquistão, Tailândia, Tanzânia, Togo, Trinidad e Tobago, Turquia, Uganda, Uruguai, Vanuatu, Venezuela, Vietnã, Zâmbia, Zimbábue. Dados sobre uso de Agrotóxicos A venda de agrotóxico foi utilizada como proxy da exposição a essa substância. Esse dado foi obtido por meio da divisão de estatística do site FAOSTAT durante o período de 1998 a 2002. Foi realizada uma média ponderada do uso de agrotóxico, por país, de acordo com o número de informações obtidas nesse período. Em seguida, os dados de uso de agrotóxico (em kg) foram divididos pelo número de habitantes de cada país a fim de estimar o uso per capita dessas substâncias. Os países foram então categorizados em baixo, médio e alto consumo, de acordo com os tercis de consumo per capita de agrotóxicos. Foram utilizados dados de uso por classe de agrotóxicos (herbicidas, fungicidas, bactericidas e inseticidas ainda subdivididos em inseticidas organoclorados e organofosforados). Contudo, não foram realizadas análises em separado para inseticidas organoclorados e organofosforados, pois muitos países não apresentaram dados completos sobre essas substâncias. 57 Dados sobre IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) e prevalência de HIV O IDH foi desenvolvido em 1990 pelos economistas Amartya Sen e Mahbub ul Haq, com o objetivo de enfatizar que pessoas e suas capacidades devem ser os critérios finais para avaliar o desenvolvimento de países e não apenas o crescimento econômico. O IDH vem sendo usado desde 1993 pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) no seu relatório anual como uma medida comparativa (que varia de 0 a 1) para classificar os países pelo seu grau de “desenvolvimento humano”, onde países com índices mais próximos de zero apresentam desenvolvimento humano baixo e países com índices mais próximos de um apresentam desenvolvimento humano alto. A cada ano os países membros da Organização das Nações Unidas (ONU) são classificados de acordo com essa medida. O indicador é composto pelos dados de expectativa de vida ao nascer, anos médios de estudo e longevidade15. As informações sobre o IDH no ano 2000, a prevalência de HIV também no ano 2000 e os dados sobre os estratos de renda dos países incluídos no estudo foram obtidas no site do Banco Mundial16 http://www.worldbank.org/ Acessado em 15/07/2014. O IDH foi multiplicado por 10 a fim de facilitar a sua interpretação. Dos 117 países incluídos no estudo, nove (Bahamas, Butão, Guiné, Iraque, Líbano, Omã, Suriname, Macedônia e Vanuatu) não tinham informações disponíveis sobre o IDH e sete (Albânia, Argélia, Letônia, República da Coréia, Samoa, Macedônia, Vanuatu) sobre a prevalência de HIV. Dados sobre a mortalidade por LH, LNH, MM e Leucemia Os dados de mortalidade por LH, LNH, MM e Leucemia (desfecho) para o ano de 2012 foram obtidos por meio do site GLOBOCAN17 da IARC (International Agency for Research on Cancer): http://globocan.iarc.fr/Default.aspx Acessado em: 16/06/2014. O LH, LNH, MM e Leucemia foram classificados de acordo com a Classificação Internacional de Doenças – (CID-10)18. No site, as taxas foram obtidas já padronizadas e calculadas pelo método direto19. Análise dos dados Os países foram ainda categorizadas em baixo, médio e alto consumo de acordo com os tercis de consumo per capita de agrotóxicos. Foi feita a média das taxas de mortalidade 58 padronizada por LH, LNH, MM e Leucemia para cada um dos tercis. As razões de taxa foram obtidas utilizando o menor tercil (primeiro tercil) como referência. As razões de taxa também foram calculadas para ambos os sexos, sendo utilizado intervalo de confiança (IC) de 95%. Foi calculado o p de tendência (ptrend) para avaliar diferenças entre os tercis, considerando o IC de 90 a 95% como marginalmente significativo superior a 95% como estatisticamente significativo. Por último foram estimados modelos de regressão linear com distribuição gama (taxas de mortalidade a esquerda da média) onde os desfechos foram as taxas padronizadas de mortalidade por LH, LNH, MM, Leucemia e por todas as neoplasias hematológicas ajustados por sexo, e ajustados por tercil de consumo per capita de agrotóxicos, IDH e prevalência de HIV. Os modelos ajustados foram considerados como marginalmente significativos quando o IC estava entre 90 e 95% e como estatisticamente significativo acima de 95%. RESULTADOS: O consumo per capita de fungicidas e bactericidas, herbicidas, inseticidas e do total de agrotóxicos foi maior entre os países de renda alta, havendo uma tendência estatisticamente significativa de aumento do consumo entre os estratos de renda. As exceções foram entre os consumos per capita de inseticidas clorados e fosforados, que foi maior entre os países de renda média/alta. Considerando todos os países as classes de agrotóxicos com maior consumo foram fungicidas, bactericidas e herbicidas. A prevalência de HIV foi maior e estatisticamente significativa entre os países de renda baixa. Também foi possível observar uma tendência de diminuição da prevalência de HIV com o aumento dos estratos de renda dos países. Como seria o esperado, houve uma tendência de aumento do IDH com o aumento dos estratos de renda dos países (Tabela 1). Em relação a todas as neoplasias hematológicas, as taxas foram maiores entre os países de renda alta com tendência de aumento entre os estratos de renda e maiores entre os homens do que entre as mulheres. Para o LH e o LNH as taxas foram maiores nos estratos de renda baixa. Para o LNH houve tendência marginalmente significativa de diminuição das taxas de acordo com o aumento do estrato de renda. Para o LH houve uma tendência estatisticamente significativa de diminuição das taxas de acordo com o aumento do estrato de renda. Enquanto que as taxas de mortalidade por Leucemia e MM foram maiores nos estratos de maior renda com tendência estatisticamente significativa entre os estratos (Tabela 2). Para todas as classes de agrotóxicos, para fungicidas, bactericidas e herbicidas foi observada uma Razão de Taxa de Mortalidade (RTM) por todas as neoplasias hematológicas, 59 para Leucemia e MM cerca de 50% maior entre os países do 3º tercil de consumo per capita de agrotóxicos quando comparados com o 1º tercil de consumo. Com exceção da classe de inseticidas onde houve uma redução não estatisticamente significativa da RTM para todas as neoplasias hematológicas em relação ao 1º tercil de consumo per capita de agrotóxicos. Foi observada uma menor RTM por LH entre os países pertencentes ao maior tercil de consumo per capita das classes de herbicidas e inseticidas. Não foi observada nenhuma associação entre RTM por LNH e tercil de consumo per capita de agrotóxicos (Tabelas 3 e 4). Considerando o modelo estatístico final, as taxas de mortalidade padronizadas por 100 mil habitantes por Leucemia, MM e todas as neoplasias hematológicas foram maiores e estatisticamente significativas no segundo e terceiro tercil de consumo de agrotóxicos (consumo per capita de agrotóxicos total) em relação ao primeiro. Não foi observada associação entre consumo per capita de agrotóxicos e as taxas de mortalidade padronizada por LH e LNH. O IDH esteve positivamente associado com maiores taxas de todas as neoplasias hematológicas, MM e Leucemia (apenas para mulheres) e esteve negativamente associado com LH. A prevalência de HIV esteve positivamente associada com LNH, leucemia e MM (Tabela 5). DISCUSSÃO: No presente estudo a mortalidade por MM e Leucemia apresentou uma associação estatisticamente significativa com a exposição a fungicidas, bactericidas e herbicidas. A mortalidade por MM e leucemia também estiveram associados com a exposição a todas as classes de agrotóxicos quando analisados de maneira conjunta. O LH esteve associado com a exposição a herbicidas e inseticidas. Quando a mortalidade por todas as neoplasias foram contabilizadas de maneira conjunta, esta apresentou associação estatisticamente significativa com a exposição a fungicidas, bactericidas e herbicidas. O MM é uma das neoplasias hematológicas mais frequentes contabilizando cerca de 20% de todos os cânceres hematológicos. É uma neoplasia maligna dos plasmócitos que infiltram a medula óssea suprimindo a hematopoese normal provocando, também, destruição óssea20. A incidência de MM tem crescido gradualmente nas últimas décadas em alguns países e esse padrão de aumento pode ser explicado também por fatores ambientais20. Alguns estudos tem reportado associação entre mortalidade por MM e exposição a agrotóxicos21,22,23 . Herbicidas foram positivamente associados a MM em estudos do tipo caso controle com casos incidentes realizados na Suécia e Canadá24,25. O estudo de coorte 60 realizado nos EUA chamado Agricultural Health Study também observou um aumento significativo no risco de desenvolver MM entre os expostos a herbicidas26. A leucemia é uma doença maligna dos glóbulos brancos (leucócitos) e representam cerca de 3% do total da incidência de câncer no mundo, com pouca variação desta proporção em diferentes regiões27. No Brasil, o Instituto Nacional do Câncer (INCA) estimou para o ano de 2012, aproximadamente 9.580 novos casos de leucemias28. Sendo estes, em torno de 5.240 para o sexo masculino e de 4.360 para o sexo feminino por 100.000 habitantes28. As leucemias são classificadas de acordo com o tipo celular envolvido e o grau de maturação das células. Os padrões das leucemias são bastante distintos nos diferentes subgrupos. São convencionalmente distinguidas pelas células de origem (linfócitos, mielócitos, monócitos) e pelo comportamento clínico-patológico (aguda ou crônica). Em adultos, os tipos mais comuns de leucemia são a leucemia mielóide aguda (LMA) e a leucemia linfocítica crônica29 (LLC). A contribuição da ocupação na etiologia das leucemias está bem estabelecida. Além dos fatores de risco de natureza ocupacional devem ser considerados na investigação da etiologia de leucemia: a exposição ao benzeno, as radiações ionizantes, o óxido de etileno, os campos eletromagnéticos e os agrotóxicos30. Alguns estudos reportaram um aumento no risco estatisticamente significativo de morte por leucemia entre indivíduos expostos a pesticidas em geral13,27,31,32, onde este último estudo utilizou dados secundários do Sistema de Informação de Mortalidade (SIM) do Brasil e consumo per capita de agrotóxicos como proxy da exposição a essas substâncias. No presente trabalho não foi possível analisar a mortalidade pelos diversos subtipos de leucemia e linfomas não-Hodgkin, pois os dados retirados do GLOBOCAN/IARC estão apresentados de maneira conjunta, ou seja, as taxas de mortalidade padronizadas foram calculadas a partir do somatório dos óbitos de todos os subtipos de leucemias e linfomas nãoHodgkin. O presente estudo não encontrou uma associação estatisticamente significativa entre exposição a agrotóxicos e mortalidade por LNH. No entanto, Boffetta e Voch (2007) ao conduzir uma meta-análise de 11 estudos dos tipos coorte e caso-controle em países da Europa, Canadá e Estados Unidos observaram um aumento significativo de 11% no risco para LNH entre os expostos a agrotóxicos33. Blair e colaboradores (1992) também conduziram uma meta-análise com 14 estudos, do tipo coorte, caso-controle de base populacional e ecológico nos EUA, Canadá, Europa e Nova Zelândia tendo observado associação significativa entre exposição aos agrotóxicos e LNH34. 61 Os LNH fazem parte de um grupo heterogêneo de tumores malignos hematológicos representando mais de 3% das neoplasias malignas que ocorrem em todo mundo. O aumento da incidência de LNH é, neste momento, ainda pouco explicado, contudo a melhoria na captação dos casos pelos registros de câncer, nas técnicas de diagnóstico e na classificação histopatológica podem ter contribuído para esse aumento35,36. Além disso, esse aumento da incidência de LNH também pode ser justificado pelo aumento de casos de AIDS ocorridos a partir do início da década de 198037 . São poucos os fatores de risco estabelecidos para o desenvolvimento de LNH, dos quais, a literatura destaca: o sistema imune comprometido de usuários de drogas imunossupressoras, infecção pelo vírus HIV, vírus Epstein-Barr(EPV), HTLV1 e pela bactéria Helicobacter pylori. A exposição a alguns agentes químicos como agrotóxicos (herbicidas e inseticidas), solventes, fertilizantes também têm sido associados como possíveis fatores de risco para LNH38. No Brasil, alguns estudos ecológicos que utilizaram dados agregados de mortalidade provenientes do Sistema de Informação de Mortalidade (SIM) encontraram associação estatisticamente significativa entre exposição a agrotóxicos e LNH13,39. Neste estudo, contudo, não foi encontrada associação. No presente trabalho, a exposição a herbicidas e inseticidas também esteve associada com um aumento das taxas de linfoma de Hodgkin. O LH é uma neoplasia hematológica que apresentou uma estimativa de 67.000 novos casos em todo mundo em 201240. Pode-se distinguir o LH do LNH através da presença de células denominadas Reed-Sternberg41. O LH apresenta um padrão onde as maiores taxas de incidência e mortalidade são observadas em indivíduos com idade entre 15 a 40 anos e com 55 anos ou mais. Existem dois principais subtipos de LH: o LH clássico e o linfócito nodular41. As causas do LH não são totalmente compreendidas, no entanto, alguns estudos têm sugerido que a exposição a agrotóxicos pode estar associada com o desenvolvimento de LH42,43,44. Este estudo observou que os linfomas de Hodgkin e não-Hodgkin foram as neoplasias hematológicas cujas taxas de mortalidade foram maiores nos países de renda baixa. Nesse grupo de países de renda baixa a maioria são provenientes da África e Ásia. Em alguns países africanos os vírus EBV e HIV são endêmicos (nesse estudo foi possível observar maior prevalência de HIV nos países de renda baixa) e considerados fatores de risco para o desenvolvimento de linfomas, com destaque para o linfoma de Burkitt45,46. 62 O consumo per capita de inseticidas clorados foi maior nos países de renda baixa, talvez porque neste grupo estejam países do continente africano que ainda utilizam alguns organoclorados para controle de vetores47,48. No entanto, não foi possível observar uma associação entre inseticidas clorados e neoplasias hematológicas, pois como estas substâncias são proibidas em muitos países não existem dados na FAO para todos os países participantes no período estudado. Como o câncer faz parte de um grupo de doenças que apresentam um longo período de latência, a diferença de tempo entre uma possível exposição a agrotóxicos (1998-2002) e as mortes por todas as neoplasias hematológicas (2012) foi analisada, a fim de evitar distorções entre a exposição a um determinado fator de risco e a morte por um tipo específico de câncer49. Os estudos ecológicos são úteis para avaliar o efeito médio de uma intervenção ou exposição sobre um determinado desfecho na população, devendo ser interpretados de forma diferente dos encontrados em estudos individuais desde que sejam levados em consideração os potenciais erros e vieses inerentes a esse desenho de estudo, sendo pouco custosos e de rápida execução50. Geoffrey Rose (1985) argumenta que se uma população inteira está exposta a um determinado fator de risco, os estudos observacionais clássicos conseguem identificar apenas marcadores associados a algum desfecho51. Aplicando esse conceito de Rose (1985) para o presente estudo: se toda uma população está exposta a agrotóxicos em sua forma ativa ou resíduos (sendo trabalhadores agrícolas ou não, pois existem outras rotas de exposição não ocupacionais como dieta alimentar e ambiente), os estudos observacionais poderiam identificar os agrotóxicos como causa base de alguma doença apenas para a população à margem da distribuição de risco51. Sendo assim, o uso de países como unidades de análise ecológica, e a divisão dos mesmos em tercis de consumo per capita de agrotóxicos, podem ser úteis para evidenciar a associação do uso dessas substâncias com o as neoplasias hematológicas, pois podem ser comparadas áreas geográficas distintas entre si. Como não existe um limite seguro de exposição para substâncias consideradas possivelmente cancerígenas pela IARC, isso corrobora a idéia de que a exposição crônica a baixas dosagens pode ser considerada um importante fator de risco para o aumento de neoplasias com destaque para as hematológicas52. Uma das principais limitações do presente estudo foi a baixa acurácia dos dados de mortalidade de alguns países da Ásia Ocidental e da África. A estimativa de mortalidade de câncer do Globocan para o ano de 2012 nesses países foi feita utilizando dados de câncer de 63 países vizinhos ou estimando a mortalidade a partir de dados de incidência nacional utilizando modelos de sobrevida. Isto acontece principalmente devido à ausência de sistemas de informação de mortalidade cconfiáveis ou de ampla cobertura nestes países53. CONCLUSÕES: Apesar das limitações inerentes a este desenho de estudo, os resultados desse trabalho sugerem que a exposição por agrotóxicos entre os anos de 1998 e 2002 nos 117 países incluídos no trabalho esteve associada com as taxas de mortalidade por LH, MM e Leucemia no ano de 2012. Estudos de coorte que levem em conta potenciais diferenças genéticas em distintas populações e que utilizem marcadores biológicos de exposição ajudariam a aprofundar o entedimento da associação entre agrotóxicos e câncer. Diante disso, conclui-se que, devido ao possíveis efeitos deletérios a saúde, o uso de agrotóxicos deve ser regulado de forma efetiva em escala global, regional e local. 64 Tabela 1: Descrição do consumo per capita de agrotóxicos, IDH, prevalência de HIV por nível de renda segundo o Banco Mundial (n=117 países), 1998-2002. Países de renda baixa Países de renda intermediária Países de renda médiaalta Países de renda alta Total Consumo per capita de fungicidas e bactericidasa* 0,022 (0,001-0,047) 0,070 (0,001-0,141) 0,179 (0,019-0,338) 0,564 (0,025-1,102) 0,200 (0,092-0,308) Consumo per capita de herbicidas* 0,010 (0,001-0,023) 0,046 (0,008-0,085) 0,282 (0,098-0,465) 0,739 (0,001-1,678) 0,282 (0,099-0,466) Consumo per capita de inseticidas* 0,015 (0,002-0,029) 0,059 (0,019-0,100) 0,147 (0,029-0,265) 0,179 (0,001-0,381) 0,153 (0,087-0,219) Consumo per capita de inseticidas clorados** 0,617 (0,001-1,337) 0,005 (0,002-0,008) 0,143 (0,001-0,030) 0,025 (0,001-0,063) 0,129 (0,001-0,263) Consumo per capita de inseticidas fosforados** 0,007 (0,001-0,015) 0,040 (0,004-0,076) 0,080 (0,016-0,144) 0,039 (0,012-0,067) 0,041 (0,027-0,055) Consumo per capita de todos os agrotóxicos* 0,056 (0,007-0,104) 0,223 (0,048-0,398) 0,702 (0,206-1,199) 1,548 (0,001-3,269) 0,676 (0,331-1,022) 6,631 (2,241-11,021) 1,347 (0,242-2,452) 2,769 (0,001-5,843 0,230 (0,167-0,294) 2,012 (1,135-2,288) 0,367 (0,319-0,416) 0,505 (0,447-0,562) 0,634 (0,580-0,688) 0,834 (0,812-0,856) 0,646 (0,611-0,681) HIV*b IDH*c a – Consumo per capita de agrotóxicos: os dados de uso de agrotóxico (por kg) foram divididos pelo número de habitantes de cada país a fim de estimar o uso per capita dessas substâncias. Fonte: FAOSTAT b-Prevalência de HIV, por país, no ano 2000. Fonte: Banco Mundial c- Índice de Desenvolvimento Humano, por país, no ano 2000. Fonte: Banco Mundial P de tendência ptrend * p<0,001 ** p>0,05 65 Tabela 2: Taxas de mortalidade por neoplasias hematológicas , por sexo e por nível de renda segundo oBanco Mundial (n=117 países) . Países de renda baixa Países de renda intermediária Países de renda médiaalta Países de renda alta Total Linfoma de Hodgkin*a 0,533 (0,367-0,700) 0,627 (0,432-0,822) 0,537 (0,389-0,684) 0,267 (0,208-0,327) 0,457 (0,388-0,526) masculino*a 0,672 (0,442-0,902) 0,769 (0,512-1,027) 0,670 (0,485-0,855) 0,328 (0,259-0,397) 0,567 (0,478-0,655) feminino*a 0,456 (0,313-0,598) 0,365 (0,225-0,505) 0,407 (0,274-0,540) 0,207 (0,150-0,264) 0,332 (0,276-0,387) Leucemia*a 2,344 (1,632-3,057) 3,200 (2,609-3,791) 3,843 (3,425-4,262) 3,409 (3,243-3,576) 3,310 (3,093-3,527) masculino*a 2,544 (1,788-3,301) 3,888 (3,144-4,632) 4,183 (3,645-4,722) 4,309 (4,040-4,579 3,912 (3,638-4,186) feminino*a 2,161 (1,472-2,850) 2,585 (2,099-3,070) 3,377 (2,987-3,766) 2,665 (2,499-2,831) 2,752 (2,557-2,947) Mieloma Múltiplo*a 0,700 (0,357-1,043) 0,558 (0,402-0,714) 1,247 (1,014-1,479) 1,656 (1,484-1,828) 1,160 (1,028-1,292) masculino*a 0,700 (0,380-1,020) 0,662 (0,477-0,846) 1,517 (1,181-1,852) 1,956 (1,724-2,188) 1,362 (1,196-1,529) feminino*a 0,694 (0,317-1,072) 0,442 (0,303-0,581) 1,070 (0,868-1,272) 1,402 (1,261-1,544) 0,995 (0,878-1,111) 3,261 (2,451-4,071) 2,927 (2,287-3,567) 2,823 (2,300-3,347) 2,651 (2,412-2,890) 2,850 (2,613-3,088) masculino***a 4,128 (3,190-5,065) 3,642 (2,863-4,422) 3,403 (2,772-4,035) 3,337 (3,045-3,630) 3,544 (3,258-3,830) feminino****a 2,594 (1,837-3,352) 2,265 (1,687 - 2,844) 2,350 (1,889-2,811) 2,128 (1,902-2,354) 2,287 (2,072-2,503) Linfoma Não-Hodgkin*****a 66 Tabela 2 (continuação): Taxas de mortalidade por neoplasias hematológicas , por sexo e por nível de renda segundo oBanco Mundial (n=117 países) . Países de renda baixa Países de renda intermediária Países de renda média-alta Países de renda alta Total Todos as neoplasias hematológicas*a 5,578 (4,282-6,874) 9,162 (3,545-14,779) 8,263 (6,891-9,636) 14,871 (13,393-16,349) 10,478 (8,980-11,976) masculino*a 6,128 (4,559-7,696) 10,562 (4,284-16,840) 8,829 (7,301-10,357) 16,182 (13,948-18,423) 11,502 (9,751-13,254) feminino*a 5,038 (3,751-6,325) 7,756 (2,764-12,749) 7,699 (6,412-8,985) 13,555 (12,291-14,818) 9,455 (8,113-10,796) a- Taxa padronizada de mortalidade por 100 mil habitantes por neoplasias específicas no ano 2012, por sexo b- ptrend * P<0,001 ** p=0,615 *** p=0,356 **** p=0,690 *****0,577 67 Tabela 3: Tercis de consumo per capita de fungicidas, bactericidas, herbicidas, inseticidas e todos os agrotóxicos por tipo de neoplasia e por sexo. Fungicidas e bactericidas 1º tercil 2º tercil Herbicidas 3º tercil 1º tercil 2º tercil Inseticidas 3º tercil 1º tercil 2º tercil Todos 3º tercil 1º tercil 2º tercil 3º tercil Linfoma de Hodgkin masculino 0,638 0,613 0,449 0,738 0,546 0,392 0,515 0,754 0,431 0,685 0,572 0,444 feminino 0,382 0,362 0,251 0,444 0,328 0,229 0,305 0,479 0,210 0,395 0,387 0,213 Total 0,523 0,467 0,382 0,590 0,469 0,305 0,431 0,590 0,351 0,538 0,479 0,354 masculino 3,144 4,267 4,326 3,187 4,295 4,279 3,503 4,067 4,167 3,046 4,287 4,403 feminino 2,321 2,946 2,990 2,374 2,859 3,047 2,477 2,738 3,041 2,272 2,933 3,051 Total 2,692 3,631 3,608 2,754 3,541 3,661 2,913 3,385 3,633 2,628 3,597 3,705 masculino 0,782 1,708 1,597 0,772 1,351 1,989 1,200 1,192 1,695 0,751 1,523 1,813 feminino 0,623 1,187 1,174 0,610 1,044 1,300 0,910 0,890 1,185 0,603 1,144 1,238 Total 0,700 1,423 1,356 0,690 1,190 1,595 1,031 1,041 1,408 0,677 1,313 1,490 Leucemia Mieloma Múltiplo 68 Tabela 3 (continuação): Tercis de consumo per capita de fungicidas, bactericidas, herbicidas, inseticidas e todos os agrotóxicos por tipo de neoplasia e por sexo. Fungicidas e bactericidas 1º tercil 2º tercil Herbicidas 3º tercil 1º tercil 2º tercil Inseticidas 3º tercil 1º tercil 2º tercil Todos 3º tercil 1º tercil 2º tercil 3º tercil Linfoma Não-Hodgkin masculino 3,703 3,572 3,356 4,026 3,331 3,321 3,677 3,782 3,172 3,818 3,559 3,254 feminino 2,262 2,426 2,174 2,549 2,226 2,082 2,228 2,605 2,028 2,385 2,482 1,995 Total 2,913 2,954 2,685 3,221 2,703 2,647 2,874 3,123 2,554 3,033 2,956 2,562 masculino 9,185 11,469 13,852 9,204 11,270 14,190 13,552 9,634 11,521 9,033 12,093 13,381 feminino 7,329 9,790 11,245 7,243 8,796 12,504 10,579 7,912 9,872 7,143 9,602 11,619 Total 8,281 10,671 12,527 8,252 10,015 13,336 11,941 8,772 10,723 8,114 10,832 12,489 Todos as neoplasias hematológicas 69 Tabela 4: Razão de taxa de mortalidade (RTM) por Linfoma de Hodgkin (LH), Leucemia, Mieloma Múltiplo (MM), Linfoma não-Hodgkin (LNH) e todas as neoplasias hematológicas por tercil de consumo per capita de fungicidas, bactericidas, herbicidas, inseticidas e todos os agrotóxicos e por sexo. Neoplasias Fungicidas e Bactericidas (RTM) 1o Tercil 2o Tercil 3o Tercil Herbicidas (RTM) 1o Tercil 2o Tercil 3o Tercil Inseticidas (RTM) 1o Tercil 2o Tercil 3o Tercil Todos os agrotóxicos (RTM) 1o Tercil 2o Tercil Linfoma de Hodgkin Masculino 3o Tercil 1,00 0,960 0,703 1,00 0,740 0,531a 1,00 1,463 0,836a 1,00 0,835 0,648 Feminino 1,00 0,946 0,658 1,00 0,740 0,516a 1,00 1,571 0,869b 1,00 0,981 0,539a Total 1,00 0,892 0,730 1,00 0,796 0,518a 1,00 1,369 0,815a 1,00 0,890 0,657 Leucemia Masculino 1,00 1,357 1,376a 1,00 1,348 1,343a 1,00 1,161 1,530 1,00 1,407 1,445b Feminino 1,00 1,270 1,288a 1,00 1,204 1,283a 1,00 1,106 1,314 1,00 1,291 1,343a Total 1,00 1,349 1,340a 1,00 1,286 1,380a 1,00 1,162 1,247a 1,00 1,369 1,410b Mieloma Múltiplo Masculino 1,00 2,184 2,043b 1,00 1,751 2,578b 1,00 0,994 1,514 1,00 2,027 2,413b Feminino 1,00 1,905 1,885b 1,00 1,710 2,130b 1,00 0,977 1,301 1,00 1,898 2,055b Total 1,00 2,033 1,938b 1,00 1,725 2,330b 1,00 1,010 1,336 1,00 1,939 2,201b Linfoma não-Hodgkin Masculino 1,00 0,965 0,907 1,00 0,827 0,825 1,00 1,029 0,863 1,00 0,932 0,852 Feminino 1,00 1,073 0,961 1,00 0,873 0,878 1,00 1,169 0,910 1,00 1,041 0,837 Total 1,00 1,014 0,922 1,00 0,839 0,822 1,00 1,087 0,888 1,00 0,975 0,844 70 Tabela 4 (continuação): Razão de taxa de mortalidade (RTM) por Linfoma de Hodgkin (LH), Leucemia, Mieloma Múltiplo (MM), Linfoma não-Hodgkin (LNH) e todas as neoplasias hematológicas por tercil de consumo per capita de fungicidas, bactericidas, herbicidas, inseticidas e todos os agrotóxicos e por sexo. Neoplasias Fungicidas e Bactericidas (RTM) 1o Tercil 2o Tercil 3o Tercil Herbicidas (RTM) 1o Tercil 2o Tercil 3o Tercil Inseticidas (RTM) 1o Tercil 2o Tercil 3o Tercil Todos os agrotóxicos (RTM) 1o Tercil 2o Tercil 3o Tercil Todas Neoplasias Hematológicas Masculino 1,00 1,249 1,508b 1,00 1,224 1,600b 1,00 0,722 0,863 1,00 1,339 1,481b Feminino 1,00 1,336 1,534b 1,00 1,214 1,750b 1,00 0,748 0,933 1,00 1,344 1,626b Total 1,00 1,283 1,513b 1,00 1,214 1,660b 1,00 0,735 0,898 1,00 1,335 1,539b ptrend a = p<0,05 e ≥0,001 b= p< 0,001 71 Tabela 5: Coeficiente de associação entre o consumo per capita de agrotóxicos, IDH e prevalência de HIV com as taxas de mortalidade padronizadas de Linfoma de Hodgkin, Leucemia, Mieloma Múltiplo, Linfoma não-Hodgkin e todas as neoplasias hematológicas**** por sexo. Consumo per capita de agrotóxico total IDH HIV 1o tercil 2o tercil 3o tercil masculino 0 0,275 0,324 -0,267c -0,023a feminino 0 0,293 0,234 -0,227c -0,110 Total 0 0,408 0,477 -0,280c -0,140 Masculino 0 0,316c 0,326c -0,013 0,330c Feminino 0 0,348c 0,367c -0,057a 0,025c Total 0 0,333c 0,340c -0,033 0,032c Linfoma de Hodgkin Leucemia 72 Tabela 5 (continuação): Coeficiente de associação entre o consumo per capita de agrotóxicos, IDH e prevalência de HIV com as taxas de mortalidade padronizadas de Linfoma de Hodgkin, Leucemia, Mieloma Múltiplo, Linfoma não-Hodgkin e todas as neoplasias hematológicas**** por sexo. Consumo per capita de agrotóxico total IDH HIV 1o tercil 2o tercil 3o tercil Masculino 0 0,307a 0,312a 0,159c 0,013 Feminino 0 0,259a 0,283a 0,161c 0,025a Total 0 0,215a 0,268a 0,161c 0,025a 1o tercil 2o tercil 3o tercil Masculino 0 0,055 0,059 0,053a 0,170a Feminino 0 0,109 0,040 0,038a 0,027a Total 0 0,079 0,048 0,048a 0,021a Masculino 0 0,211a 0,220a 0,178c 0,012 Feminino 0 0,269a 0,193a 0,207c 0,010 Mieloma Múltiplo Linfoma nãoHodgkin Todas Neoplasias Hematológicas 73 Consumo per capita de agrotóxico total IDH Total 0 0,243 a 0,214 a HIV 0,191 C 0,007 * Consumo per capita de agrotóxicos: os dados de uso de agrotóxico (por kg) foram divididos pelo número de habitantes de cada país a fim de estimar o uso per capita dessas substâncias. Fonte: FAOSTAT **Prevalência de HIV, por país, no ano 2000. Fonte: Banco Mundial ***Índice de Desenvolvimento Humano, por país, no ano 2000. Fonte: Banco Mundial **** Todas as neoplasias hematológicas inclui as taxas padronizadas por 100 mil habitantes de linfoma de Hodgkin, Leucemia, Mieloma Múltiplo e Linfoma não-Hodgkin ptrend a>0,05 e ≤0,10 c≥0,01 74 Referências do artigo 2: 1. Willett E, Roman E. Epidemiology. IN: Lymphoma: Pathology, Diagnosis and Treatment. Marcus, R., Sweetenham, JW, Williams, ME. (orgs). Published by Cambridge University Press, 2007. 2. Miligi L, Costantini AS, Veraldi A, Benvenuti A; WILL, Vineis P. Cancer and pesticides: an overview and some results of the Italian multicenter case-control study on hematolymphopoietic malignancies. Ann N Y Acad Sci. 2006 Sep;1076:366-77. 3. Dich J, Zahm SH, Hanberg A, Adami HO. Pesticides and cancer. Cancer Causes Control. 1997 May;8(3):420-43. 4. Dreiher J, Kordysh E. Non-Hodgkin Lymphoma and Pesticide Exposure: 25 years of research. Acta Haematol, 2006; 116: 153-164. 5. Blair A, Freeman LB. 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Como a utilização de agrotóxicos na agricultura brasileira e mundial é intensiva, podese considerar que este estudo avançou ao apontar a situação do uso dessas substâncias, além de verificar a relação de tal fato com a mortalidade por neoplasias hematológicas. Apesar das limitações inerentes ao desenho de estudo utilizado, os resultados desse trabalho sugeriram que a exposição por agrotóxicos entre os anos de 1998 e 2002 nos 117 países incluídos no trabalho esteve associada com as taxas de mortalidade por LH, MM e Leucemia no ano de 2012. A baixa acurácia dos dados de mortalidade de alguns países da Ásia Ocidental e da África foi outra limitação encontrada durante o trabalho e isto aconteceu principalmente devido à ausência de sistemas de informação de mortalidade confiáveis ou de ampla cobertura nestes países. Diante disso, como primeiro passo para o aprimoramento dos programas de controle de câncer, recomenda-se a que estabeleçam registros de câncer de base populacional e sistemas de informação de mortalidade em todos estes países. Nesse trabalho também foi observada a tendência de mortalidade por LNH no Brasil, no entanto, não foi possível elucidar suas possíveis causas devido ao desenho de estudo usado. Assim, novas pesquisas que avaliem a associação entre LNH e exposição a substancias químicas são fundamentais para que medidas de prevenção e vigilância que resultem na redução do perfil de morbi-mortalidade por LNH possam ser implementadas. Estudos de coorte que levem em conta potenciais diferenças genéticas em distintas populações e que utilizem marcadores biológicos de exposição ajudariam a aprofundar o entedimento da associação entre agrotóxicos e câncer. Diante disso conclui-se que, devido ao possível efeito deletério a saúde humana, o uso de agrotóxicos deve ser regulado de forma efetiva em escala global, regional e local. 81 ANEXOS: 82 83 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS DA TESE EM ORDEM ALFABÉTICA: 1) Alavanja MC, Bonner MR. Pesticides and human cancers. Cancer Invest. 2005;23(8):700-11. 2) Alavanja MC, Bonner MR. Occupational pesticide exposures and cancer risk: a review. J Toxicol Environ Health B Crit Rev. 2012;15(4):238-63. 3) Alavanja MC, Hofmann JN, Lynch CF, Hines CJ, Barry KH, Barker J, Buckman DW, Thomas K, Sandler DP, Hoppin JA, Koutros S, Andreotti G,Lubin JH, Blair A1, Beane Freeman LE.Non-hodgkin lymphoma risk and insecticide, fungicide and fumigant use in the agricultural health study. PLoS One. 2014 Oct 22;9(10):e109332. 4) Alexander DD, Mink PJ, Adami HO, Chang ET, Cole P, Mandel JS, Trichopoulos D. The non-Hodgkin lymphomas: a review of the epidemiologic literature. 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