VOZ DAS MISERICÓRDIAS O caminho da qualidade

Transcrição

VOZ DAS MISERICÓRDIAS O caminho da qualidade
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Opinião
Manuel Caldas de Almeida
Olhar para o futuro e mudar o presente
VOZ DAS
MISERICÓRDIAS
Diretor Paulo Moreira /// anoXXX
/// Abril 2015 /// publicação mensal
O caminho da qualidade
As Misericórdias existem há mais de 500
anos e muitos referem que uma das causas
decisivas desta longevidade é a capacidade
que as instituições têm de se adaptar aos
tempos, mas também a sua íntima ligação
às comunidades, de ondem emanam e que
servem através de inúmeras respostas sociais.
Atentas à atualidade e com vista a assegurar
uma gestão cada vez mais rigorosa que garanta a sua sustentabilidade, as Misericórdias
e a sua União têm vindo a apostar em certificações de qualidade. Entre vários referenciais existentes no mercado, a União das
Misericórdias Portuguesas considera que é a
norma EQUASS a mais adequada à realidade
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do trabalho desenvolvido por estas instituições. Mais do que certificar procedimentos
internos de forma generalista, esta norma
europeia de certificação avalia a relação com
a comunidade.
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Património
Misericórdias no Dia
dos Monumentos e Sítios
Parte importante da identidade das Misericórdias deriva do seu património, material e imaterial. Um património que, em muitos casos, vai para além
da própria instituição. São espólios que marcam também as origens, os costumes e as tradições das comunidades. Por isso, como tem sido habitual,
várias Misericórdias, entre elas a de Albufeira (na foto), assinalaram o Dia Internacional dos Monumentos e Sítios com diversas iniciativas culturais
que deram a conhecer a sua história e o seu património. De norte a sul do país, houve espaço para inúmeras iniciativas.
04 Quaresma
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Misericórdia de Segura é referência regional
de tradições pascais. O VM foi conhecer
como é celebrada a Semana Santa.
Secretariado Regional de Lisboa da UMP
promoveu jornadas de reflexão e das
conclusões saiu um apelo aos valores.
Segura é guardiã
de tradições locais
Em ação
Partilha de recursos
sim, mas com otimismo
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Destaque
Maioria de idosos
em lar com demências
União das Misericórdias apresentou os
resultados do projeto VIDAS. Maioria dos
idosos em lar tem demências.
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Ponte da Barca
Ação social em
suporte digital
Na Misericórdia de Ponte da Barca estão
em via de extinção as pastas e ficheiros em
papel dos processos administrativos.
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em ação
FRASES
A economia
política deve ser
substituída pela
política cultural,
no sentido de
concentração de
todos os esforços
pessoais e sociais
na realização
plena de todos
os membros da
comunidade.
Jorge Barreto Xavier
Secretário de Estado da Cultura
O governante falava na abertura
do Fórum Internacional “O Lugar
da Cultura”
O país está em
cima de uma
bomba relógio.
O tique-taque
que ouvem é o da
crise demográfica
que está a minar
o presente de
centenas de
milhares de
famílias e o futuro
do país.
Catarina Martins
Porta-voz do Bloco de Esquerda
Declaração feita durante debate
na Assembleia de República sobre
políticas de natalidade
‘Projetos como este
são fundamentais’
Ministro da Segurança Social
cumpriu promessa feita à
Misericórdia no aniversário
de 500 anos: inaugurar
unidade com pessoas dentro
Texto Paula Brito
Castelo Branco A Misericórdia de Castelo
Branco inaugurou a unidade de cuidados
continuados integrados (UCCI) na presença do
ministro da Solidariedade, Emprego e Segurança Social que foi cumprir a promessa feita
à instituição no dia das comemorações dos 500
anos: “voltar a Castelo Branco para inaugurar
este edifício com pessoas dentro”.
A UCCI, construída de raiz, esteve quase
cinco anos fechada, à espera da assinatura
dos acordos necessários com os ministérios
da Saúde e Segurança Social que foram concretizados no ano passado. Aberta desde o dia
1 de Agosto de 2014, a UCCI esgotou a lotação
passados poucos dias da abertura o que demonstra “a importância do investimento para
Castelo Branco”, frisou Luís Correia, presidente
da autarquia local que comparticipou parte da
obra. Construída ainda com um apoio de 750
mil euros do programa modelar e o restante
suportado por fundos próprios da Misericórdia
que “teve que contrair um empréstimo bancário
de dois milhões de euros e que está a pagar
escrupulosamente”, confirmou o novo provedor, José Alves, que elogiou a “tenacidade” dos
dois anteriores provedores da instituição pelo
“calvário” que tiveram que atravessar durante
“os cinco grandes e penosos anos em que a UCCI
esteve encerrada”.
Com a abertura desta nova resposta, a Misericórdia albicastrense “dispõe de uma mais-valia que veio colmatar algumas carências no
distrito. Com o aumento da esperança de vida,
cada vez são mais os idosos a necessitar destes
cuidados, e não só, também surgem nos mais
novos patologias que tornam impossível serem
os seus familiares os cuidadores no domicílio”,
reforçou o provedor.
Com capacidade para 51 camas, 10 de média
e 30 de longa duração, e ainda 11 particulares
“que também estão ocupadas”, a unidade
permitiu criar 54 postos de trabalho. Um dado
salientado pelo ministro como exemplo de
como o sector social teve um peso importante
na inversão da curva do desemprego. “O desemprego em Portugal, que chegou a atingir quase
18% é, de acordo com o INE, de 13,3%, ou seja,
Portugal recuperou a níveis de 2011, e eu digo
isto aqui porque sei que uma parte significativa
dessa recuperação se deve à economia social”.
Segundo Pedro Mota Soares, no último ano,
os sectores social e da saúde geraram 12 mil
empregos.
O governante sublinhou ainda a importância do equipamento. “Projetos como este
são fundamentais em períodos como o que
estamos a atravessar, esta rede de confiança
e de proteção social é muito importante para
as famílias.” Uma rede que, de 2011 até 2014,
aumentou em “mais cerca de 30 unidades.
Estamos a falar de cerca de duas mil novas
camas em todo o país.”
Ao nível da celebração de acordos de cooperação, o ministro referiu que este governo foi
o que mais contratualizou com as instituições
sociais. “Nos últimos quatro anos chegamos aos
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Editorial
Fronteira
Bênção
de apartamentos
para idosos
A Misericórdia de Fronteira
inaugurou oito apartamentos
para idosos, na presença
do diretor do Centro
Distrital da Segurança
Social de Portalegre, do
presidente da autarquia
e do arcebispo de Évora,
que procedeu à bênção
do espaço. Segundo nota
informativa, os apartamentos
complementam a resposta do
lar com um serviço que faz os
utentes sentirem-se em casa
mas beneficiando de serviços
variados.
Águeda
Crianças na
semana cultural
do concelho
Acordos Unidade esteve quase
cinco anos fechada, à espera
da assinatura dos acordos
necessários com os ministérios
da Saúde e Segurança Social
As crianças da Misericórdia
de Águeda participaram
em duas atividades da
semana cultural, organizada
pelo Centro Social e
Paroquial da Borralha. Os
petizes do ATL assistiram
deliciados à apresentação
do livro “Filigrama e os
Descobrimentos da Saudade”,
pelo autor Miguel Midões.
As crianças do pré-escolar
participaram na ação
Biblioteca – Vem à escola
com “Gira estórias: estórias
da boca para fora”.
Paulo Moreira
Diretor do Jornal
[email protected]
Mora
Convívio
de duas gerações
na Páscoa
A celebração da Páscoa na
Santa Casa da Misericórdia
de Mora abrangeu todas as
idades. Crianças e idosos
uniram esforços na confeção
de folares, caça aos ovos e
construção de coelhinhos da
Páscoa em cartão. Segundo
nota da instituição, esta
iniciativa potenciou a partilha
de experiências entre duas
gerações distintas mas
igualmente “especiais”. A
cumplicidade entre todos
saiu fortalecida depois desta
ação. A Santa Casa fomenta
regularmente este tipo
de atividades que geram
benefícios na aprendizagem
das crianças e autoestima
dos idosos.
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NÚMEROS DAS MISERICÓRDIAS
13 mil acordos o que permitiu a meio milhão
de portugueses encontrarem nas instituições
sociais a capacidade de terem uma vaga para
uma criança, uma vaga para um idoso, para
uma pessoa com deficiência.”
O governante anunciou em Castelo Branco
a celebração de novos acordos de cooperação.
“Alocamos para este ano à ação social uma
verba de 50 milhões de euros” para abrir todos
os equipamentos que tiveram financiamento
comunitário. “São 195 respostas sociais de norte
a sul do país, do litoral ao interior, que foram
construídas com apoios comunitários, e que a
breve trecho vamos abrir, desde que as obras
estejam concluídas.”
O ministro agradeceu a Cardoso Martins,
presidente da assembleia geral e ex-provedor
da instituição. “Muito obrigado por tudo o que
fez e que vai continuar a fazer por esta casa” e
a todos os que têm “todos os dias a coragem de
gerir esta instituição de tantas respostas sociais
que servem tantos albicastrenses, o trabalho
que fez ao longo dos 501 anos é ímpar. É assim
que obras como esta e outras no futuro vão
continuar a ser geridas”. VM
A Santa Casa da Misericórdia de Viseu assinou, a 7 de abril,
um protocolo com a administração das Termas de Alcafache,
que permitirá aos utentes, colaboradores e familiares diretos
beneficiar de um desconto de 20% nos serviços de cariz
terapêutico ou de bem-estar.
65
106
A Misericórdia da Maia
promoveu uma ação de
formação sobre educação
pré-escolar para os 65
educadores de infância
da instituição.
A utente mais idosa da Santa
Casa da Misericórdia de
Barcelos, Virgínia dos Santos,
completou 106 anos de idade
a 4 de abril. O dia foi de festa
na instituição.
Fórmula
de sucesso
A identidade das Santas Casas assenta nas 14
obras de misericórdia, a que as mesmas se
obrigam e que balizam, de forma indelével,
a sua relação com a comunidade. Com
base neste pressuposto, as Misericórdias
têm sabido, ao longo de mais 500 anos,
construir uma relação sólida, duradoura,
estável e atenta com as comunidades em que
se inserem e de onde emanam e esta será,
seguramente, uma das razões centrais da sua
longevidade e vitalidade.
Ao serem capazes, em cada momento,
de interpretar as necessidades e anseios das
comunidades e de, em sintonia e colaboração
com elas, reencontrar respostas para os
problemas, as Santas Casas granjeiam
respeito e conhecimento junto daqueles que
servem. Assim, reforçam de forma duradoura
esta relação que, ao longo dos séculos, se
tem vindo a consolidar e que é com certeza
Misericórdias têm sabido,
ao longo de mais 500 anos,
construir uma relação
sólida, duradoura,
estável e atenta com
as comunidades
um dos motivos que explicam a sua longa
existência e a sua permanente atualidade.
Se pensarmos no projeto VIDAS –
Valorização e Inovação em Demências,
que procura respostas acertadas para um
problema cada vez mais preocupante numa
sociedade envelhecida, na certificação de
qualidade pela norma EQUASS, que baseia a
sua avaliação na maneira como as instituições
se relacionam com os diversos parceiros, ou
na forma como as Misericórdias participaram
e viveram o Dia Internacional dos
Monumentos e Sítios, temos em três domínios
diversos de atuação o mesmo denominador
comum. Ou seja, uma enorme preocupação e
estreita relação com a comunidade.
Ouvindo os seus anseios e necessidades
e encontrando as soluções mais acertadas,
as Misericórdias encontraram uma fórmula
de sucesso que tem mais de 500 anos e,
seguramente, terá muitos mais pela frente,
pois assenta na partilha dinâmica responsável
e inovadora.
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em ação
Leiria
Igreja é
monumento de
interesse público
A igreja da Misericórdia
de Leiria foi classificada
monumento de interesse
público pela Secretaria de
Estado da Cultura (SEC). Esta
classificação foi publicada
em Diário da República, a
13 de abril. De acordo com
o despacho, a classificação
deve-se ao “interesse como
testemunho simbólico
ou religioso, ao seu valor
estético, técnico e material
intrínseco, à sua conceção
arquitetónica e urbanística”.
A igreja foi erguida em 1544
mas o edifício atual resulta de
uma reconstrução, iniciada
em 1707.
Albufeira
Fotografias
para contrariar
estereótipos
A Misericórdia de Albufeira
inaugurou uma exposição
fotográfica, a 11 de abril,
que retrata o quotidiano
da comunidade cigana do
Sítio dos Montes. No olhar
que lançou sobre estas
famílias ciganas, a instituição
procurou encontrar uma
“perspetiva o mais distante
possível de estigmas e
estereótipos”. Esta mostra
fotográfica resulta do
trabalho desenvolvido desde
junho de 2014 junto das
famílias da comunidade para
promoção de competências
pessoais e sociais, visando a
sua integração social.
Segura é guardiã das
tradições da Quaresma
Misericórdia de Segura
tem mais de 400 anos de
existência e é considerada na
região a guardião de tradições
únicas da Semana Santa
Texto Paula Brito
Segura Com 224 irmãos e mais de 400 anos de
existência, a Santa Casa da Misericórdia de Segura,
no concelho de Idanha a Nova, tem um culto religioso, composto por 12 irmãos e o provedor, que
representa, nas celebrações da Quaresma, Jesus
Cristo. É ele que lava os pés aos restantes irmãos
na cerimónia do Lava-pés, que se realiza durante
a celebração de quinta-feira santa, é ele que serve
os irmãos na Ceia dos doze que acontece essa
mesma noite, depois da procissão do Encontro.
Manifestações únicas no país que se ficam a dever
à importância que a Misericórdia assumiu outrora
como garante da continuidade da Igreja, e hoje,
como guardiã das tradições da Quaresma.
Tudo começa na terça-feira santa. Os irmãos, cumprindo uma tradição secular, reúnem-se munidos da merenda, para irem ao
campo cortar o alecrim que hão de espalhar
pela igreja da Misericórdia para tornar menos
penoso o percurso, da sacristia até aos bancos,
que é feito pelos irmãos, descalços e de joelhos.
A ida ao campo é um ritual que se mantém com
algumas adaptações à realidade atual. “Era na
quarta-feira que se ia buscar o alecrim, mas
agora vão na terça, porque assim fica mais tempo a secar e fica menos duro, porque há anos
atrás as pessoas eram todas novas e hoje já são
muito idosas”, explica o investigador António
Catana para quem as alterações que foram
introduzidas não desvirtuam a tradição que,
para permanecer, “tem que se saber adaptar”.
É o caso também do peditório para a Ceia
dos doze. “Antigamente os irmãos iam distribuir,
à meia-noite, muito tapados, o pão às pessoas
mais pobrezinhas, geralmente eram as viúvas,
batiam à porta e diziam – esmola da Santa Casa
– hoje felizmente os tempos são outros e já não
vão à meia-noite, mas de manhã quando vão
fazer o peditório e oferecem um pão”.
Procissão tem três cruzes:
a maior é o verdadeiro
Cristo e as menores
simbolizam os dois ladrões
que o acompanharam até
ao calvário
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Saem logo pela manhã, na quinta-feira santa, com a bandeira, o crucifixo e a campainha
que anuncia o peditório. “Uns dão ovos, outros
dão azeite e geralmente dão dinheiro que reverte
para a única resposta que temos, um centro de
dia com 12 utentes, e aproveitamos, quando
vamos fazer o peditório para oferecermos um
pão não só às viúvas, como antigamente, mas
agora também aos viúvos”, explica Eduardo da
Preta, provedor da Santa Casa da Misericórdia
de Segura.
No final do dia, na igreja da Misericórdia,
com o chão já coberto de alecrim têm lugar
as cerimónias religiosas. “Os irmãos do culto
entram dois a dois, de joelhos e beijam o chão
três vezes”, explica o provedor, que entra no fim
acompanhado de duas crianças ou padrinhos e
senta-se no banco, a que chamam de “mocho”,
até o padre anunciar que a cerimónia do Lava-pés vai começar. Todos levam uma meia branca
com um dedo de fora que o provedor lava, com
uma bacia de barro e uma toalha de linho, simbolizando o gesto humilde de Cristo na última
ceia quando lavou os pés aos apóstolos.
“Esta é uma cerimónia única no país”, refere António Catana, que se tem mantido com
alguma condescendência da Igreja pelas épocas
em que foram as Misericórdias os garantes da
continuidade da religião, como são hoje as
Segura Misericórdia do distrito
de Castelo Branco apoia 12
idosos através de um centro
de dia
guardiãs das tradições ligadas ao período da
Quaresma. “Nos períodos difíceis, quer do Liberalismo quer da Implantação da República,
em que houve uma desorganização da igreja,
foram as Misericórdias que asseguraram estas
tradições e que continuaram a fazer estas celebrações, o concelho de Idanha chegou a ter 11
Misericórdias, hoje ainda se mantêm nove em
atividade, foram elas que sempre seguraram
essas tradições”.
Depois da cerimónia do Lava-pés sai à rua a
procissão do Encontro ou do Calvário que assume também algumas particularidades porque
não é uma, mas três as cruzes transportadas
com a imagem de Cristo, a maior é o verdadeiro
Cristo e as menores simbolizam os dois ladrões
que o acompanharam até ao calvário. É aí que
se dá o “Encontro” entre a Virgem Maria e o seu
filho. Surge a cruz do primeiro ladrão frente à
imagem de Maria que fica impávida, surge a
segunda imagem, e acontece o mesmo, quando
surge a imagem de Cristo, a Virgem mantém-se impávida, e só à terceira vez que a imagem
regressa é que os homens que carregam o andor
de Maria genufletem fazendo uma vénia. “Ela
reconheceu o filho ensanguentado”. Este gesto
teatral, no silêncio sepulcral da noite, iluminada
apenas pelas velas, cala fundo nos segurenses e
em todos os que assistem à procissão.
Hoje já não se faz o sermão no calvário, que
durante 42 anos foi feito pela Ti Lola, como
era conhecida na aldeia, mas continuam a ser
entoados os cânticos da ladainha das 46 santas,
algumas já não constam da atual liturgia, outras
com nomes pouco percetíveis como “Santa
Pulguésia, Santa Leocádia ou Santa Baselissa”.
No final da procissão é costume as mulheres
cortarem um raminho do alecrim que cobre o
chão da igreja e levarem-no para casa. É o que
faz Maria Carneiro, que já via a sua avó fazer,
e coloca-o atrás da porta “para não cair faísca”
na sua morada.
Terminada a procissão, é hora da Ceia dos
Doze que recria a última ceia de Cristo. Antigamente era servida na casa do provedor, hoje
no centro de dia da aldeia. Na hora do repasto
todas as mulheres devem sair e cabe ao provedor servir a ceia aos irmãos. Constituída por
uma sopa de grão, bacalhau com grão e ovo
cozido, na ceia não pode faltar ainda o peixe
frito apanhado no rio Erges, que banha a aldeia
e a separa da vizinha Espanha. “Tem que ser
do rio, não é do mar ou do que se compra na
peixaria”, frisa o provedor. O peixe acompanha
com um esparregado de ervas amargas, folhas
de urtiga, de fava, de saramagos, de acelgas,
de labaças e de nabo, e que é ali introduzido
“devido à presença dos judeus na nossa região
que utilizam essa variedade de ervas na sua
comemoração”, explica António Catana, o
investigador e responsável pela elaboração da
agenda “Mistérios da Páscoa” do município de
Idanha-a-Nova, que reúne as 270 manifestações
religiosas e populares que decorrem em todo o
concelho durante a Quaresma e Páscoa. Este ano
Segura esteve em destaque pela originalidade
das suas tradições que a Misericórdia local
continua a preservar desde há séculos. “Tenho
80 anos e já o meu avô não se lembrava quando
é que tinha começado”, conclui o provedor,
Eduardo da Preta.. VM
Oficina para
dar vida nova
aos livros
Restauro Misericórdia de Santarém tem
uma oficina de encadernação de livros antigos
Santarém Um computador dura, em média,
quatro anos. Os brinquedos foram criados para
funcionar ao longo de 24 meses. Os sapatos
resistem a até 200 horas de uso, ou 800 quilómetros de caminhos palmilhados. Os livros
deveriam durar uma vida inteira.
E, de facto, a importância desses objetos no
quotidiano das pessoas e o valor sentimental
ou histórico adquirido por determinadas obras
literárias fazem com que muitos apostem na
prorrogação da sua vida útil.
Por isso, a Oficina-Escola de Encadernação
da Santa Casa da Misericórdia de Santarém é
um lugar dedicado aos livros, onde coexistem
as máquinas de encadernação dos anos 60
utilizadas para fazer o restauro e encadernação.
O trabalho de encadernação e restauro de
livros é realizado na perfeição e com os melhores materiais, como se pode constatar pelos
trabalhos que decoram o espaço.
Utilizam folha de ouro fino, vários tipos de
peles, que são depois tratadas e trabalhadas
de forma única e personalizada para fazer as
encadernações ao gosto do cliente e um trabalho muito pessoal com o requinte e mestria de
outros tempos.
Martinha Boné, responsável pela Oficina-Escola de Encadernação da Santa Casa, diz
que a profissão está em “vias de extinção”, mas,
mesmo assim, mantém um certo otimismo.
O trabalho é bastante moroso, mas o resultado final “vale a pena”, assegura a responsável,
dizendo que o trabalho de restauro é aquele que
mais gosta de fazer.
“Há muita gente que desconhece que em
Santarém existe uma oficina deste tipo”, refere
Martinha Boné, acrescentando que o trabalho
não é caro quando se leva em linha de conta as
horas que demora a ser realizado.
Martinha Boné trabalha na oficina da
Misericórdia de Santarém há 23 anos e assume o seu amor pelo trabalho com os livros:
“devem ser acarinhados como bebés”, brinca,
confessando que lhe dá muito gosto quando
os clientes vão buscar as obras e “já não os
reconhecem”. VM
Texto Filipe Mendes
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Abril 2015
www.ump.pt
em ação
FOTO DO MÊS
Por Santa Casa da Misericórdia do Entroncamento
Bragança
Folares reúnem
gerações no forno
comunitário
A confeção do Folar da
Páscoa é uma tradição
ancestral em Trás-os-Montes.
Não há casa que não tenha a
iguaria na mesa nesta época
do ano. De forma a manter
viva esta tradição, alguns
seniores da Misericórdia de
Bragança meteram a mão na
massa e seguiram a receita
tradicional à risca. A assistir
à iniciativa, que teve lugar no
forno comunitário da cidade,
estavam as crianças que
frequentam as atividades em
tempos livres da instituição,
curiosas por conhecerem
o processo da confeção do
folar.
Entroncamento
‘Juntos somos
mais fortes’
Esposende
Campanha
para ‘dar música
aos idosos’
A Misericórdia de Esposende
está a promover uma
campanha para “dar música
aos idosos” do Centro de
Apoio Social Ernestino
Miranda (CASEM). O objetivo
é sensibilizar a comunidade
para a doação de cedês
já não utilizados mas que
podem fazer a alegria dos
utentes. “Musicateca” é o
nome desta iniciativa que
decorre até ao dia 15 de
maio. Os discos compactos
podem ser entregues no
CASEM, na Creche e Jardim
de Infância Santa Isabel, no
Hospital Valentim Ribeiro e
na clínica de medicina física e
reabilitação.
Os utentes das estruturas residenciais para pessoas idosas da Santa Casa da Misericórdia do Entroncamento celebraram o Dia do Humanismo com uma caminhada solidária. O evento que teve lugar a
9 de abril contou ainda com “amigos do Centro Social Paroquial dos Riachos que, simpaticamente,
alinharam neste desafio”. Segundo nota informativa da Misericórdia, durante a caminhada foram
relembrados “valores tão relevantes como: a solidariedade, a compreensão, a amizade, o amor ao
próximo, a entreajuda e tantos outros. Valores que fazemos questão de ter presentes nesta instituição”. O lema desta caminhada foi: «Juntos somos mais fortes» e somos mesmo”, refere a nota.
O CASO
Prova de orientação adaptada em Viseu
UMP Com o intuito de comemorar o Dia Mundial da Atividade Física, o Centro de Apoio a
Deficientes de Santo Estêvão (CSE) promoveu,
a 14 de abril, no Parque Aquilino Ribeiro, uma
prova de orientação adaptada para todas as
idades e graus de deficiência, contando para
o efeito com o apoio do Clube de Orientação
de Viseu e da Câmara Municipal de Viseu. O
evento contou com cerca de 150 participantes
de diversas instituições da região, entre elas, as
Misericórdias de Viseu, Castro Daire e Tarouca.
O objetivo foi proporcionar uma tarde diferente a todos os intervenientes, num convívio
intergeracional ao ar livre, num dos pulmões
naturais de Viseu, criando-se, ao mesmo tempo,
sinergias entre as diversas instituições da cidade
e do distrito, que responderam de forma positiva
ao convite do CSE.
A prova durou cerca de uma hora e meia.
Os participantes foram divididos em grupos,
cada um com o seu orientador, e cumpriram
animadamente o circuito previamente estabelecido pelo Clube de Orientação.
No final, o balanço não poderia ser mais
positivo. “Correu tudo muito bem. Falei com
os representantes das instituições presentes e
todos me disseram que gostaram muito e que
contam ser convidados novamente no próximo
ano”, salientou a diretora técnica do centro,
Manuela Martins. “Proporcionámos uma tarde
bem agradável e diferente, no meio da natureza.
O espaço não poderia ter sido melhor
para este tipo de atividade”, garantiu Infância
Pamplona, que registou a garantia do vice-presidente da autarquia viseense de continuar
a dar apoio, de forma a tornar o evento anual.
A administradora-delegada do CSE formulou
já um desejo para o próximo ano: “Queria que
a próxima edição fosse alargada a ainda mais
instituições”.
Por sua vez, o presidente do Clube de
Orientação de Viseu, Sérgio Aguiar, não re-
Objetivo foi proporcionar
uma tarde diferente
aos intervenientes,
num convívio ao ar livre,
num dos pulmões naturais
de Viseu
gateou esforços para que tudo corresse bem,
enaltecendo igualmente a realização deste tipo
de ações. “Quando o Centro de Santo Estêvão
nos contactou, mostrámo-nos logo disponíveis
para ajudar e dar todo o apoio possível a esta
iniciativa”. VM
Texto José Alberto Lopes
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Abril 2015
www.ump.pt
em ação
Tarouca
Presidente
da UMP inaugura
fisioterapia
A Misericórdia de Tarouca
inaugurou recentemente
as obras de ampliação da
sua clínica de fisioterapia.
A sessão solene teve lugar
a 9 de abril e foi presidida
pelo presidente da União das
Misericórdias Portuguesas,
Manuel de Lemos. De acordo
com o provedor, Lucílio
Teixeira, um acordo com o
Ministério da Saúde poderá
ser determinante para que a
população possa beneficiar
de serviços de saúde “sem
necessidade de deslocação
para outra localidade, com
encargos de viagens e perda
de tempo que se conhecem”.
Santar
Igreja reabre
após obras
de restauro
Após obras de conservação
e restauro, a Misericórdia
de Santar reabriu a sua
igreja. Iniciativa teve lugar a
21 de março e decorreu na
presença de várias entidades
e da comunidade local.
Segundo nota da instituição,
a igreja reabriu “com um novo
brilho, sendo agora possível
observar na sua plenitude
todo o seu esplendor. Pelo
seu valor inestimável,
enquanto monumento
classificado de interesse
público, reforçamos o nosso
orgulho e satisfação com a
concretização de mais este
projeto.”
Fotografar é viver para
o ‘poeta das imagens’
Fotografia publicada na
‘Visão’ foi mote para a mostra
que a Misericórdia de Pernes
tem agora no lar de grandes
dependentes
Texto Filipe Mendes
Pernes Lúcio Caldeira comprou a sua primeira máquina fotográfica aos 15 anos numa
loja da Rua Augusta, em Lisboa. Custou-lhe
220 escudos, que pagou, do seu bolso, em dez
prestações, com o dinheiro que ganhava no
primeiro emprego, no Banco Espírito Santo,
onde fez carreira como tesoureiro e prospetor.
Natural de Alcanena, Lúcio Caldeira foi criado pelos avós maternos numa quinta no Paço do
Lumiar. Foi aí que o gosto pela fotografia e pela
natureza se encontraram: “Passava a vida a tirar
fotografias. Eu era miúdo e conhecia muito bem
aquela zona. E foi nessa altura que começou o
meu fascínio pela natureza, em particular pelos
pássaros”, contou ao VM.
Mais tarde, e já depois de ter casado e de se
ter estabelecido em Santarém, comprou uma
outra máquina, uma Canon, “semiprofissional”,
que um cliente do banco, piloto da TAP, lhe
trouxe dos Estados Unidos.
“Comprei-a por 470 dólares. Ia pondo, aos
poucos, algum dinheiro de lado para comprar
os dólares”, recordou.
Desde então, Lúcio Caldeira intensificou o
seu gosto pela “captura de momentos”, ficando
com eles para sempre. “Cada vez que estou
a fazer uma fotografia, deixo um pedaço de
mim. Eu vivo o momento como se fosse uma
criança, fico inquieto para chegar a casa e passar
as fotografias para o computador e ver como é
que ficaram”.
“Fotografar é viver. Não sou capaz de estar
um dia sem fotografar”, afirmou Lúcio Caldeira
que mora com a mulher numa residência
assistida do Complexo da Quinta da Torre da
Misericórdia de Pernes.
Esta paixão valeu-lhe, no ano passado, a
publicação, na revista ‘Visão’, de um dos seus
trabalhos, escolhido de entre as centenas de fotografias que possui na galeria do site ‘Olhares’,
onde marca presença desde 2007.
“Eu coloco lá as fotografias mais para partilhar do que propriamente para alcançar notoriedade. Não ando a correr à caça de votos”,
diz, com orgulho.
Mas foi precisamente a fotografia publicada na ‘Visão’ que esteve na origem da
mostra permanente, com 70 trabalhos, que
a Misericórdia de Pernes decidiu colocar no
lar de grandes dependentes, complemen-
Misericórdia de Pernes
quis dar “visibilidade
ao fotógrafo e à sua
obra, porque transmite
sentimentos de alegria
e esperança”
tando a remodelação que o espaço sofreu
recentemente.
“A Misericórdia pretendeu cumprir o seu
lema “Cuidar com Bondade” através desta iniciativa, colocando as pessoas no centro da sua
ação. Por isso, quis dar visibilidade ao fotógrafo
e à sua obra, porque transmite sentimentos de
alegria e esperança”, refere o provedor João
Maia Frazão.
“Quisemos incluir estas fotografias no
espaço, decorando as salas e quartos, para o
tornar mais alegre. De facto, os trabalhos de
Lúcio Caldeira são plenos de vivacidade e cor”,
complementou.
Confessando-se “orgulhoso, satisfeito e
recompensado” por ter sido dado este destaque
ao seu trabalho, Lúcio Caldeira não se sente,
no entanto, um fotógrafo profissional, mas
sim “um simples amador que vive a fotografia
com paixão”.
“Nunca tirei nenhum curso de fotografia.
Aquilo que sei vem de experimentar e da leitura
de livros e artigos da especialidade”, diz, com
um sorriso, contando que uma das netas lhe
herdou este deslumbramento pela fotografia,
tendo tirado formação superior na área, no
Instituto de Arte e Design (IADE).
Lúcio Caldeira não consegue eleger aquela
que mais gosta e cita, a este propósito, Henri
Cartier-Bresson, um dos fotógrafos que admira:
“A minha melhor fotografia é aquela que eu vou
tirar amanhã”.
Além da paixão pela fotografia, Lúcio
Caldeira revela ainda um fascínio pela poesia.
Todas as fotos são acompanhadas por poemas
para “chegar ao coração das pessoas”, disse. VM
Abril 2015
www.ump.pt
Nordeste/Açores
Sensibilizar
para o
envelhecimento
A Misericórdia de Nordeste
promoveu, a 16 de abril, o II
Simpósio da Misericórdia,
intitulado “Envelhecer
bem: saber cuidar e ser
cuidado”. Sensibilizar para o
envelhecimento foi o objetivo
desta iniciativa que reuniu
mais de 150 pessoas. Além
de estudantes e cuidadores
formais e informais, o
simpósio contou também
com a presença do diretor
regional da Solidariedade
Social, da presidente do
ISSA, do presidente da União
Regional das Misericórdias
dos Açores, e do vicepresidente da autarquia.
VOZ DAS M ISERICÓRDIAS
Leia, assine e divulgue
Para assinar, contacte-nos: Jornal Voz das Misericórdias, Rua de Entrecampos, 9 – 1000-151 Lisboa
Telefone: 218110540 ou 218103016 Email: [email protected]
Chaves
Folar alia
tradição à
matemática
As crianças do Jardim de
Infância Nossa Senhora da
Conceição, da Misericórdia
de Chaves, meteram as mãos
na massa e confecionaram o
tradicional folar da Páscoa.
Com todos os ingredientes
em cima da mesa, todos
prestaram muita atenção às
explicações e inspirados nas
tradicionais receitas das avós,
levaram a tarefa a cabo. Os
educadores aproveitaram a
ação para fazer contagens.
O número de ovos foi
contabilizado pelos pequenos
cozinheiros e os mais
atrevidos não deixaram de
parti-los e colocá-los no
recipiente.
12
Abril 2015
www.ump.pt
em ação
Fundão
Concurso para
o logotipo
dos 500 anos
A Misericórdia do Fundão
lançou um concurso para a
criação de um logótipo que
assinale os 500 anos da
instituição. Segundo nota
informativa, o objetivo é criar
um elemento de afirmação
da identidade da Santa Casa,
a ser utilizado em “toda a
linguagem de comunicação
da instituição ao longo de
2016”. As propostas devem
ser enviadas até 30 de
junho, para apreciação do
vice-provedor e restantes
membros do júri. O vencedor
será contemplado com um
valor de 250 euros e um
prémio alusivo aos 500 anos.
Partilha de recursos
sim, mas com otimismo
16 Misericórdias de Lisboa
apelaram à partilha de
informação e recursos que
garanta a sustentabilidade,
mas sem descurar os valores
Texto Ana Cargaleiro de Freitas
UMP Mais de 160 pessoas de 16 Misericórdias
do distrito de Lisboa apelaram a uma estratégia de partilha de informação e recursos que
garanta a sustentabilidade, mas sem descurar
um outro aspeto fundamental: o otimismo.
Estas duas ideias foram transversais às mesas
redondas das jornadas de reflexão do Secretariado Regional de Lisboa (SRL), da União das
Misericórdias Portuguesas (UMP), a 18 de abril
em Torres Vedras.
Pela primeira vez, o debate fez-se entre
técnicos e dirigentes, o que para a presidente
do Secretariado e provedora de Cascais, Isabel
Miguens Bouças, foi “muito importante porque
no dia-a-dia quem está na linha da frente são os
técnicos”. E foram eles os alvos de algumas das
conclusões deste encontro. Formação de colaboradores com vista a redução de custos foi uma
delas. Apresentadas pelo irmão da Misericórdia
da Amadora, o jornalista Joaquim Franco, as
conclusões apontavam “a formação não como um
custo, mas um investimento” e, nesse sentido, “é
fundamental a partilha de informação”.
Mas ainda há um longo caminho a fazer,
considerou o presidente do Conselho Nacional
da UMP, que esteve na sessão de encerramento.
“As Misericórdias, em tempos votadas a um
certo isolamento, têm de passar a funcionar em
rede, sem perda da sua autonomia e soberania”,
disse Fernando Cardoso Ferreira.
Na mesma sessão esteve a presidente do
Instituto da Segurança Social (ISS), que foi
perentória: as parcerias vão ter de acontecer.
Falando sobre o Portugal 2020, Mariana Ferreira
relembrou que “vamos ter de descobrir mecanismos de partilha que permitam aumentar a
eficiência na gestão das instituições”.
Além disso, aquela responsável destacou que
algumas ferramentas de gestão são indispensáveis
para medição do impacto da ação das Misericórdias. Mariana Ferreira defendeu que “é preciso
mostrar este impacto da ação aos portugueses”
para garantir que no futuro o setor solidário continue a ser um parceiro privilegiado do Estado.
Importa, referiu, que “a contratualização seja
bem-sucedida, monitorizada, avaliada e fiscalizada e que o cidadão saiba exatamente como é
utilizada a verba dos seus impostos”.
Além de gestão e sustentabilidade, um
aspeto imaterial marcou igualmente o debate
“O otimismo promove
competência, eficácia
e ajuda a concretizar ideal
das Misericórdias”,
refere-se nas conclusões
do encontro
em Torres Vedras. A formação para os valores e
o otimismo foram considerados determinantes.
“Entende-se que, pelos valores, pela história e
por aquilo que elas representam, há todas as
condições nas Misericórdias para promover o
otimismo e contrariar a ideia das impossibilidades. O otimismo promove competência, eficácia
e ajuda a concretizar ideal das Misericórdias”,
refere-se nas conclusões.
E porque os voluntários também são colaboradores, as Misericórdias consideraram que
deverão ser encetadas ações de sensibilização
para o voluntariado junto das camadas mais
jovens das respostas de infância e juventude
e também uma espécie de programa Erasmus
regional. A ideia é proporcionar aos voluntários
a partilha de experiências, especialmente em
meios diferentes da sua origem.
Na sessão de encerramento também marcou
presença o bispo auxiliar de Lisboa. Em representação do cardeal patriarca, D. José Traquina
focou o papel das Santas Casas na renovação de
mentalidades e no combate à indiferença. A
proclamação do jubileu da misericórdia, pelo
Papa Francisco, vem fazer uma “proposta de
vida espiritual dos cristãos que nos leva a um
maior interesse pelos outros”. Nesta caminhada,
o Papa propôs uma releitura das obras de misericórdia nos dias de hoje. Para D. José Traquina,
isto significa que as Santas Casas “continuam
atualizadas”.
Recorde-se que o SRL é composto pelas
Misericórdias de Cascais, Amadora e Torres
Vedras, cujo provedor, Vasco Fernandes, não
teve dúvidas em afirmar que “esta foi a maior
reunião realizada pelo Secretariado”. VM
Murça
Alimentação
saudável no Dia
da Sopa
A Misericórdia de Murça
reuniu as crianças da sua
creche e jardim-de-infância
em redor de uma panela de
sopa. Na 4ª edição do “Dia da
Sopa” a pequenada ajudou
a confecionar este prato
com produtos locais para
sensibilizar a comunidade
para a importância de uma
alimentação saudável. A
instituição pretendeu desta
forma recuperar um hábito
perdido na dieta de muitas
famílias mas com benefícios
nutricionais comprovados.
Esta iniciativa proporcionou
uma maior cooperação
da Santa Casa com a
comunidade.
15
Abril 2015
www.ump.pt
VOZ ATIVA
José Gonçalves
de Almeida
Manuel Caldas de Almeida
Grupo Misericórdias Saúde
Enfermeiro
[email protected]
[email protected]
Olhar para o futuro e encetar
transformações no presente
Vamos falar
sobre AVC
Há mais de 10 anos, quando a ideia era
ainda um embrião, a UMP defendia já que
os cuidados continuados seriam a curto/
médio prazo um pilar essencial da saúde
em Portugal. Lutou e trabalhou, sempre
em conjunto com as Misericórdias, e em
sua representação, junto das entidades
oficiais para o desenvolvimento sustentado
desta resposta de saúde. Hoje temos uma
rede sólida, bem estruturada, funcional
e essencial à convalescença, reabilitação
e manutenção física. Graças à visão e ao
empenho das Misericórdias em servir mais
e melhor, mais de 50% da rede de cuidados
continuados é composta por Misericórdias,
muitas delas com padrões de qualidade
internacionalmente reconhecidos.
Sempre à frente no tempo, há alguns anos
que a UMP identificou uma nova realidade
de grande impacto que se começava a fazer
sentir cada vez mais: a demência. A tarefa
mais difícil depois de reconhecer uma nova
realidade é conseguir olhar para o futuro e
encetar transformações no presente. E foi
exatamente esse o caminho seguido pela
UMP.
Começando pela unidade piloto Bento
XVI em Fátima, hoje uma referência com
equipamentos e profissionais especializados
na área da demência, a UMP rapidamente
percebeu a urgência de dotar os lares das
Misericórdias de estruturas físicas e de
recursos humanos capacitados para acolher
utentes com estas características específicas
de forma adequada. Apoiado pelos fundos do
POPH preparou-se e levou-se para o terreno
o projeto VIDAS – Valorização e Inovação
em Demências. Formação a diversos grupos
de profissionais, adequação de espaços já
existentes, gestão de equipamentos para
demência e uma componente de investigação
sólida e inovadora no nosso país foram os
pilares principais deste trabalho que durou
cerca de ano e meio e envolveu algumas
dezenas de profissionais especializados
A Organização Mundial de Saúde (OMS)
define o AVC como um “síndrome clínico
caraterizado por um desenvolvimento rápido
de sinais de distúrbio focais e globais das
funções cerebrais, permanecendo por mais de
24 horas ou conduzindo à morte sem causas
aparentes além das de origem vascular”.
O AVC é uma das principais causas
de morte e de incapacidade em Portugal.
A situação tem vindo progressivamente
a melhorar, mas não deixa de ser muito
preocupante.
A responsabilidade em prevenir um AVC
deve ser partilhada por todos os cidadãos
e em especial pelos profissionais de saúde
– dar a conhecer um conjunto de fatores
de risco, propor a mudança de hábitos e
comportamentos e essencialmente ensinar os
principais sinais de alerta da doença: desvio
da face; falta de força num braço; dificuldade
em falar.
Os enfermeiros responsáveis pela
formação contínua da Santa Casa da
Misericórdia de Setúbal, com o apoio da
Sociedade Portuguesa do Acidente Vascular
Cerebral, tomaram a iniciativa de desenvolver
um módulo de formação “Vamos falar
sobre o AVC”, no dia 25 de março, nas
suas instalações e dirigido ao profissionais
cuidadores, com o objetivo geral de
sensibilizar e transmitir conhecimentos para
ajudar alguém que sofreu um AVC.
Para além da ação, foram passados dois
filmes alusivos à temática e que suscitaram
muito interesse pelos formandos.
Tendo em conta que o interesse superou as
expetativas, estão marcados outros módulos
de formação, com a necessidade de dar
resposta e procurar sensibilizar os familiares
de utentes institucionalizados. Estão
previstas ações de treino e desenvolvimento
de competências nos posicionamentos e
transferência de doentes com AVC .
O Dia Nacional do AVC foi dedicado à
prevenção, melhor que o tratamento. VM
na área, bem como entidades parceiras,
essenciais para o sucesso do projeto.
Recentemente foram apresentados
publicamente os primeiros resultados
dos estudos desenvolvidos na área da
investigação, ficando claro que, dos dados
recolhidos (nomeadamente cerca de 1500
baterias de testes aplicadas a utentes e mais
de 900 escalas aplicadas a formandos)
será possível retirar informação científica
pertinente para o conhecimento factual, em
contraste com o empírico, da realidade da
demência nos lares das Misericórdias.
Cumpre agora dar o passo seguinte. Analisar
esta problemática de uma visão “macro” e
definir uma estratégia nacional, articulada
e consistente para todas as Misericórdias,
rentabilizando recursos e saberes. O percurso
passa, mais do que pela criação de grandes
unidades específicas para a demência, por
assegurar que na comunidade onde já vivem,
as pessoas tenham as condições e os recursos
adequados. Reconhece-se a mais-valia de
poder existir em cada região uma unidade
específica de cuidados de saúde destinada à área
da demência para reabilitação dos utentes. As
energias e investimentos devem, no entanto, ser
canalizados essencialmente para as unidades
residenciais devidamente adaptadas, essas sim,
indispensáveis.
Cabe assim a cada Misericórdia o
importante papel de olhar para dentro de
si própria, bem como para a comunidade
local e perceber onde e como atuar. Mas
para que a competência e a qualidade dos
serviços prestados continuem a ser uma
marca das Misericórdias, apenas uma
estratégia integrada, através da sua União,
relativamente às diversas iniciativas na área
da demência que ora surgem, poderá garantir
a sustentabilidade, coerência e harmonia de
respostas tão necessárias.
Como dita um conhecido provérbio
africano “Sozinhos podemos até ir mais
rápido, mas juntos vamos mais longe.”. VM
Apenas uma
estratégia
integrada poderá
garantir a
sustentabilidade,
coerência e
harmonia de
respostas tão
necessárias
VOZ DAS M ISERICÓRDIAS
Órgão noticioso das Misericórdias
em Portugal e no mundo
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16
Abril 2015
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destaque
Maioria
dos idosos
em lar tem
demências
Terceira idade Maior parte dos idosos em estruturas
residenciais tem defeitos cognitivos e fragilidade geriátrica.
A conclusão surge no âmbito do projeto VIDAS
Texto Bethania Pagin
17
Abril 2015
www.ump.pt
A
maior parte dos idosos em estruturas residenciais tem defeitos
cognitivos e regista-se também um
elevado número de pessoas com
fragilidade geriátrica. A conclusão surge no âmbito de um projeto da União das Misericórdias
Portuguesas (UMP) sobre demências. Depois de
um ano no terreno, o balanço do VIDAS – Valorização e Inovação em Demências - é positivo.
Foram 23 as instituições envolvidas, 1500 os
idosos avaliados para determinar o grau e a
taxa de demências e também houve formação
específica para cerca de 500 colaboradores. O
seminário de encerramento desta iniciativa
teve lugar a 27 de março no Centro João Paulo
II, em Fátima.
Segundo o médico responsável pelo projeto,
Manuel Caldas de Almeida, o elemento fundamental a destacar é que “passamos de projeções
para um efetivo conhecimento da realidade”.
Conforme explicou durante a sessão de abertura
daquele seminário, os resultados preliminares
do VIDAS indicam que as pessoas entram nos
lares muito dependentes, o que considera ser
positivo: significa que a esperança média de
vida aumentou e que as pessoas têm condições
para ficar em casa até mais tarde.
Contudo, esta alteração no perfil do sénior
institucionalizado obriga a alterações várias
nas estruturas de acolhimento, que não foram
concebidas para apoiar este tipo de casos, “que
tende a aumentar”. Por isso, a grande mais-valia
do VIDAS é permitir “termos bases científicas
e concretas” para dar resposta ao problema.
Ainda segundo Manuel Caldas de Almeida,
existe “um problema a cobertura clínica e farmacológica na área das demências”, mas é possível
melhorar alguns aspetos. Lembrando que a maior
parte das estruturas residenciais para pessoas
idosas são adaptáveis, o médico, que também é
membro do Secretariado Nacional da UMP, frisou
que com os resultados obtidos através do VIDAS,
“estamos em condições de estabelecer critérios
ambientais e também de neuro estimulação e de
animação para essas pessoas”.
“O diagnóstico precoce, a competência
no cuidar, bem como o apoio estruturado em
casa, nos centros de dia ou em respostas ins-
VIDAS “Os resultados deste
projeto constituem um estímulo
para continuarmos”, frisou
Manuel de Lemos
titucionais é fundamental para asseguramos
qualidade de vida ao doente e à sua família”,
referiu. Por isso, o presidente da UMP, que
também marcou presença no seminário em
Fátima, destacou que a União encetará esforços
para dar continuidade ao projeto. “Os resultados deste projeto constituem um estímulo
para continuarmos”, frisou Manuel de Lemos.
Recorde-se que o projeto VIDAS foi financiado pelo Programa Operacional Potencial
Humano (ver texto ao lado) e englobou três
vertentes distintas: investigação, formação
e condições ambientais e arquitetónicas. As
responsáveis pelas áreas também participaram
no seminário de encerramento do projeto.
Ana Catarina Santos, neuropsicóloga que
coordenou a área de investigação, explicou
que as baterias de testes aplicadas aos utentes
envolveram cerca de uma centena de variáveis
e brevemente serão publicados os resultados.
Vai ser possível saber exatamente quantos
idosos estão a sofrer de demências nos lares
Continue na página seguinte
Z
18
Abril 2015
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destaque
Z
Identificar
as várias
fases da
demência
Na fase precoce
Sintomas ligeiros,
muitas vezes
negligenciados.
Diminuição de
capacidade de
adaptação à
mudança e frequente
a associação
dos sintomas à
depressão.
Na fase intermédia
Perda de
funcionalidade e
autonomia para
as atividades
de vida diária.
Retenção apenas de
informação muito
familiar, entre outros
sintomas.
Na fase avançada
Dependência total. As
alterações cognitivas
acompanham-se
de decadência
física significativa.
Nesta fase, pode-se
identificar uma fase
terminal.
10
Na fase precoce, muitas
vezes é difícil identificar os
sintomas da demência. São
10 os sinais de alerta: perda
de memória, dificuldade
em planear ou resolver os
problemas, dificuldade em
executar tarefas familiares,
desorientação no tempo,
no espaço e/ou pessoal,
dificuldade em perceber
imagens visuais e relações
espaciais, problemas de
linguagem, trocar o lugar
das coisas, discernimento
fraco ou diminuído,
afastamento do trabalho e
da vida social e alterações do
comportamento.
Continue na página seguinte
e em que grau está a doença. Trata-se de “um
estudo muito importante sobre a realidade do
nosso país, especialmente para as instituições”.
Durante alguns meses, um grupo de psicólogos percorreu o país para aplicação dos testes.
Validadas internacionalmente, as avaliações
efetuadas vão permitir determinar a incidência
das demências com base numa investigação
sólida, baseada em métodos científicos e de
cariz nacional, o que terá “certamente impacto
na perceção de competências por parte dos diversos profissionais que trabalham nessa área”.
O projeto VIDAS englobou ainda a área
da formação. Ao longo dos 12 meses foram
ministradas ações dirigidas a três níveis de
colaboradores: diretores técnicos e provedores,
profissionais de saúde e ajudantes de lar.
O objetivo da formação era dotar os profissionais de competências específicas para lidar
com as demências, como reconhecer a doença
mesmo na sua fase mais precoce, como lidar
com as pessoas doentes e seus familiares etc.
Helena Bárrios, coordenadora desta área
no VIDAS, explicou aos presentes que numa
primeira fase foram ministradas sessões multidisciplinares. A segunda etapa já contemplou
formação específica para cada tipo de colaborador, com vista a promover competências
distintas. Todas as ações foram alvo de avaliação
de satisfação e de conhecimentos adquiridos.
Embora a avaliação de satisfação tenha disso
positiva por parte da generalidade dos formandos, foi junto dos ajudantes de lar que o
impacto dos workshops foi mais relevante em
termos de conhecimentos adquiridos, o que,
como refere a coordenadora é natural visto que
“quem menos sabe é quem mais aprende”.
Recorde-se que foram envolvidas cerca
de 500 pessoas em cerca de 600 horas de formação, levadas a cabo por 21 formadores que
integraram a equipa.
Por fim, o VIDAS contemplou também a
avaliação arquitetónica e ambiental das estruturas residenciais para pessoas idosas (ERPI).
Para o efeito, foram efetuadas visitas a todas
as ERPI que aceitaram participar no projeto.
A responsável por esta área, a arquiteta Carla
Pereira, que também é provedora da Misericórdia de Aldeia Galega da Merceana, contou
aos presentes que a maior parte dos edifícios
pode ser adaptada para melhorar a resposta
às pessoas com demências. Cores e texturas
diferentes na parede e nos pisos, assim como
na sinalética das ERPI são, segundo a responsável, aspetos determinantes para este efeito
e muitas vezes passam por gestos simples. A
identificação dos quartos, por exemplo, deve
ser feita com recurso a elementos rapidamente
identificáveis, como fotografias ou ilustrações
coloridas.
Carla Pereira referiu ainda que já começa
a haver em ERPI recursos que até então eram
exclusivos aos equipamentos para pessoas
com deficiência. Entre as 22 instituições que
integraram o VIDAS, em duas já funciona, por
exemplo, uma sala de snozelen, que visa a estimulação sensorial e/ou a diminuição dos níveis
de ansiedade e de tensão. Normas de segurança,
sinalética em corredores, portas e escadas, entre
Fátima Seminário de encerramento teve lugar no Centro João Paulo II
outros, foram aspetos a avaliar pela equipa
responsável pela área da arquitetura.
Além das três áreas, a gestão também foi
alvo de estudo no âmbito do VIDAS. Segundo
Manuel Caldas de Almeida, importa preparar
as Misericórdias para a estrutura de custos que
os lares especializados em demências poderão
vir a ter. Para o efeito, ao longo do processo
foram solicitados dados que possibilitem não
só caracterizar as unidades, mas também identificar os principais fatores críticos. Segundo
Isabel Paixão, que está responsável por esta
área e que também falava no âmbito do seminário de encerramento, importa “projetar um
padrão adequado às necessidades das pessoas
com demência” do ponto de vista da gestão
dos diversos recursos, sempre numa ótica de
qualidade e quantidade.
Destacar ainda que o VIDAS contou com as
parcerias da CNIS, da Direção Geral de Saúde,
da Alzheimer Portugal, do Hospital do Mar e
do Hospital de Magalhães Lemos. Os parceiros
também marcaram presença no seminário de
encerramento a 27 de março.
Recorde-se que o VIDAS foi lançado em
fevereiro de 2014 numa cerimónia presidida
pelo ministro da Solidariedade, Emprego e
Segurança Social.
Otimizar
recursos
e evoluir nos
cuidados
Também estiveram
presentes
representantes das
entidades parceiras do
VIDAS. Entre outros,
António Leuschner,
do Hospital de
Magalhães Lemos, e
João Carneiro Silva, da
Alzheimer Portugal,
destacaram que é
fundamental haver
dados que viabilizem
não só a otimização
dos recursos, mas
também a evolução
dos cuidados.
19
Abril 2015
www.ump.pt
6
No mundo, cerca de 6% da
população com mais de 65
anos sofre de demências.
Esta percentagem duplica
a cada 5 anos. Na Europa,
são 7,3 milhões de pessoas
diagnosticadas com a
doença. Por ano, 1,4 milhões
de europeus desenvolvem
demência. A cada 24
segundos é diagnosticado
um novo caso. No nosso
país, as estimativas apontam
para a existência de 153 mil
pessoas com demência, dos
quais 90 mil com a doença
de Alzheimer. Cerca de 90%
dos casos diagnosticados são
acima dos 65 anos.
Ajustar as
prioridades
de atuação
POPH O presidente da Comissão Diretiva
do Programa Operacional Potencial Humano (POPH) esteve presente no seminário de
encerramento do VIDAS em Fátima a 27 de
março. Em representação do ministro da
Solidariedade, Emprego e Segurança Social,
Domingos Lopes destacou que este projeto da
União das Misericórdias Portuguesas, embora
tenha sido financiado no âmbito do QREN,
está “já imbuído pelo espírito de prestação
de contas e apresentação de resultados”,
eixo fundamental do quadro comunitário
Portugal 2020.
Fazer o balanço da atividade e avaliar os
seus resultados importa, referiu Domingos
Lopes, não apenas para divulgação e prestação de contas, mas também para perspetivar
“novos caminhos para desenvolver o nosso
trabalho”. “Claramente isto era um objetivo
deste projeto”, frisou.
O presidente da Comissão Diretiva do POPH
destacou ainda que projetos como o VIDAS são
importantes não só para “ajustar prioridades de
atuação”, mas também para “preparar e planear
o novo período de programação”.
Ainda sobre o novo quadro comunitário,
o Portugal 2020, o responsável destacou que
a primeira prioridade está relacionada com
competitividade e internacionalização, área
para a qual está destinado 50 por cento da
dotação total do programa.
Contudo, continuou, importa destacar o
facto de que, pela primeira vez, haverá fundos exclusivamente destinados a promover
a inclusão social e o emprego. “Não sendo a
prioridade, trata-se de um domínio novo e
específico” cuja verba triplicou em relação
ao Quadro de referência Estratégica Nacional
(QREN). No âmbito do Portugal 2020, o total
destinado a projetos desta tipologia passaram
de 500 milhões para 1500 milhões de euros.
O projeto VIDAS – Valorização e Inovação
em Demências foi financiado no âmbito da
tipologia de intervenção 6.15 – Educação para
a Cidadania e Projetos Inovadores do POPH.
Domingos Lopes referiu ainda que a medida
visava, entre outros, disseminar e alargar as medidas de combate à pobreza e exclusão social.
A sessão de abertura deste seminário final
do VIDAS contou ainda com o presidente da
União das Misericórdias Portuguesas (UMP),
Manuel de Lemos, e o responsável pelo projeto,
Manuel Caldas de Almeida, do Secretariado
Nacional da UMP.
Naquela sessão estiveram presentes perto
de 200 pessoas que estiveram envolvidas no
projeto. Recorde-se que o VIDAS assentou
em três eixos de ação (formação, investigação
e adaptação ambiental) e envolveu 23 instituições: 22 Misericórdias (Aldeia Galega da
Merceana, Arganil, Barcelos, Borba, Caminha,
Carrazeda de Ansiães, Crato, Fátima – Ourém,
Golegã, Mealhada, Montemor-o-Novo, Mora,
Oliveira de Azeméis, Pernes, Pombal, Ponte
de Sor, Santo Tirso, Seia, Tarouca, V. Nova de
Gaia, Vila Velha de Rodão e Vila Verde) e uma
IPSS, o Lar Santa Beatriz da Silva. Durante
a sessão de encerramento do VIDAS foram
ainda distribuídos guias para identificação e
compreensão das demências. VM
Texto Bethania Pagin
20
Abril 2015
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destaque
Continuar
a trilhar
o caminho
da qualidade
Centro João Paulo II Criada há 25 anos pela União
das Misericórdias Portuguesas, a instituição anexa
acaba de ser distinguida com o EQUASS Excellence
Texto Maria Anabela Silva
É
um espaço onde se respira afeto. Afeto
que se vê e que se sente no carinho
com que os profissionais lidam com
os utentes e nos sorrisos com que estes
premiam essa dedicação, na felicidade com
que os técnicos e voluntários encaram cada
pequena vitória dos seus ‘meninos e meninas’,
nos corredores, embelezados por fotografias ou
trabalhos dos utentes, tal como acontece em
qualquer casa de família. E, de facto, é isso que
o Centro de Deficientes Profundos João Paulo
II, equipamento da UMP em Fátima, representa
para os seus 192 residentes: um lar. Para muitos,
a sua única família.
São crianças e adultos com deficiências
graves. A maioria chega à instituição na infância
e aí permanece o resto da vida. “Recebemos
aqueles que, pela gravidade das suas patologias,
não podem estar noutras instituições”, explica
Joaquim Guardado, administrador-delegado do
centro, que, ainda hoje, recorda o “murro no
estômago” que sentiu a primeira vez que entrou
na instituição. “Ver crianças com deformações
que pensávamos não existirem mexe com
qualquer pessoa. Ficamos diferentes. Passamos
a dar outro valor à vida.”
Criada há 25 anos pela União das Misericórdias Portuguesas, a instituição acaba de
ser distinguida com o EQUASS Excellence,
o nível mais elevado deste modelo europeu
de certificação de qualidade. Um “prémio”
que, segundo Joaquim Guardado, vem reconhecer “a excelência dos serviços e do
modelo de organização” do centro. “Vir uma
entidade externa e independente dizer que
fazemos bem o nosso trabalho enche-nos
de orgulho, mas também nos responsabiliza
para continuarmos a trilhar esse caminho”,
afirma o responsável, que dedica esta distinção aos funcionários, mas, sobretudo, aos
utentes. “É um reconhecimento por eles e
pelo muito que eles nos dão. Muito mais do
que nós lhes damos a eles”, diz o dirigente,
tutor de cerca de 80 dos 192 utentes do lar
residencial do centro. “Sou a pessoa que os
representa. Sou pai, sou padrinho, sou tio,
sou avô. Naturalmente queremos o melhor
para a nossa família.”
O processo de certificação foi iniciado há
cerca de três anos e, de acordo com Joaquim
Guardado, permitiu introduzir melhorias ao
nível organizativo. “Hoje, está muito bem definido o campo de ação e o grau de autonomia de
cada elemento. É muito claro quem faz o quê e
o que cada um pode ou não decidir e tudo fica
registado”, explica.
Também Micaela Silva e Elisabeth Dias,
técnicas da instituição que integraram o grupo que internamente liderou o processo,
acreditam que a certificação trará mais-valias
para a instituição e, consequentemente, para
os utentes. Uma das alterações introduzidas
prende-se com a elaboração de um plano de
intervenção individualizado para cada um dos
utentes. “Esta é uma casa muito específica. Os
nossos residentes não se expressam nem se
deslocam. Não é fácil fazê-los ter uma participação nas atividades. Mas temos a obrigação
de tentar, procurando aproveitar ao máximo
todas as suas capacidades”, refere Micaela Silva,
nutricionista.
Elizabeth Dias conta que a certificação
trouxe também “um maior envolvimento” das
várias partes que compõem o universo da instituição, onde se incluem residentes, famílias,
fornecedores ou entidades parceiras. Foi, por
21
Abril 2015
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exemplo, criado o comité de residentes, que
integra utentes com maior autonomia e que
são agora a voz daqueles que não conseguem
exprimir-se junto da administração ou da equipa técnica. Ao gabinete de Joaquim Guardado
já chegaram algumas exigências do comité.
Depois do pedido de material para a elaboração
de pulseiras de plástico, “prontamente aceite”,
é agora reclamado um novo armário para o
espaço de cabeleireiro.
Uma escola onde não se aprende a ler
O centro é composto pelo lar residencial, que
acolhe 192 utentes, e pela Escola de Educação
Especial Os Moinhos, que integra 20 alunos
que residem na instituição.
Elizabeth Dias, educadora social, explica
que as crianças que frequentam a escola são
portadoras de multideficiência. “Não têm
lugar na estrutura escolar dita normal e, por
isso, frequentam a nossa escola. Aqui, não
se aprende a ler ou a escrever. Aposta-se na
estimulação sensorial e trabalha-se o posicionamento”, refere.
A instituição tem cerca de 200 funcionários,
onde se inclui uma vasta e diversificada equipa
técnica (enfermeiros, nutricionistas, psicólogos,
médicos, educadora e animadora sociais, terapeutas da fala e ocupacionais, fisioterapeuta,
auxiliar de fisioterapia, técnicas de educação
especial, professor de educação física etc.).
É a muitos desses técnicos que cabe a função de dinamizar atividades junto dos utentes.
Existem, por exemplo, espaços dedicados à
culinária e à jardinagem, uma sala de atividades ocupacionais, uma ludoteca, um grupo de
dança e desporto adaptado (boccia, tricicleta e
slalom). O centro dispõe também de uma sala
de snoezelen, para a estimulação sensorial, e
de um equipamento MyTobbi, um sistema integrado para a comunicação e acesso à internet
oferecido pela Fundação Portugal Telecom e
vocacionado para a deficiência neuro-motora.
“Conseguem funcionar com o equipamento
através do olhar. É também uma forma de
avaliamos e estimularmos competências”,
explica Lídia Saramago, técnica de educação
especial e reabilitação.
Elizabeth Dias e Micaela Silva frisam ainda
que há a preocupação de os utentes participarem em atividades no exterior a convite de
várias entidades. “Procuramos que o contrário
também aconteça, abrindo as nossas portas a
outras instituições, nomeadamente escolas”,
acrescentam.
O contato com a comunidade é também
feito através dos voluntários. Clotilde Aleixo,
68 anos, é uma presença habitual no centro,
onde começou a fazer voluntariado há seis anos.
“Houve uma exposição de sacos feitos pelos
utentes no Centro de Estudos de Fátima, onde
uma das minhas filhas trabalha. Venderam uns
80 e tiveram muitas encomendas. Pensei que
talvez precisassem da minha ajuda e ofereci-me”, conta Clotilde, que, duas vezes por semana, vai ao centro, onde faz o acabamento dos
sacos. Diz que é uma atividade que a realiza,
sobretudo, pelo que aprende com “os meninos”.
“Ensinam-nos muito e dão-nos muito mais do
que aquilo que recebem de nós”, diz, com a
emoção estampada no rosto.
Qualidade
depende dos
colaboradores
Santas Casas Para
provedores que optaram
pela certificação, empenho
dos colaboradores foi
determinante para o
sucesso
Texto Ana Cargaleiro de Freitas
O
desafio foi lançado pela União das
Misericórdias Portuguesas a 25 Santas Casas. Preparar as instituições
para a certificação de qualidade era
o objetivo principal desta iniciativa financiada
no âmbito do Programa Operacional Potencial
Humano (POPH). Após esta fase de capacitação
institucional, as Misericórdias estão, por decisão
própria, a solicitar as auditorias necessárias
para atribuição do selo que garante a qualidade
dos serviços. O Voz das Misericórdias conversou
com os provedores de seis Santas Casas que
obtiveram a certificação: Águeda, Evoramonte,
Pombal, Santar, Vila Nova da Barquinha e Vila
do Conde. Apesar da especificidade de cada
uma delas, houve um aspeto destacado por
todos: a qualidade depende do empenho dos
colaboradores.
Agora que o processo está concluído, os
provedores constatam que este foi o culminar
de um longo percurso e mais um passo na
evolução das Misericórdias. Em termos de
vantagens geradas, foi sublinhado por todos
uma melhoria na organização e uniformização
dos procedimentos. “Tendo em conta que há
normas definidas, cada um sabe aquilo que
deve e pode fazer e de que forma isso contribui
para a melhoria dos serviços”, reconheceu
António Rodrigues, provedor da Misericórdia
de Águeda.
Em Evoramonte, as vantagens são “inquestionáveis”. Sandra Silva, diretora de qualidade,
aponta uma melhoria na “organização e focalização da missão em termos de expetativas e
necessidades dos clientes”. Da mesma maneira,
o provedor de Pombal, Joaquim Guardado, valorizou a “organização e o rigor” como aspetos
altamente positivos.
Por outro lado, Hélder Silva, provedor da
Misericórdia de Vila Nova da Barquinha, notou
que o grande foco da certificação foi a capacitação dos colaboradores. “O ponto fulcral foi a
qualificação dos trabalhadores, através de ações
de formação, preparando-os para o futuro e
para servir os utentes com maior capacidade
de intervenção”.
Para Infância Pamplona, provedora da congénere de Santar, a participação neste projeto
permitiu “trazer ao de cima, o que de melhor
nós temos, os recursos humanos”. Por isso,
apesar do último ano de trabalho ter sido árduo,
fez emergir entre todos um espírito de união e
motivação acrescida. Sem essa dedicação não
teria sido possível abraçar o projeto da mesma
maneira. Esse foi aliás um aspeto referido por
todos os dirigentes: “Sem eles não teria sido
possível”.
Na Misericórdia de Vila de Conde, o esforço
dos recursos humanos “superou todas as expetativas” e serviu também para valorizar ainda
mais um aspeto determinante: a humanização
dos cuidados. Por isso, o provedor Arlindo Maia
reconhece que depois do esforço empreendido
“a instituição fica com o nome mas os profissionais ficam com a grandeza na sua maneira
de ser e na sua humanização”.
Para complementar a entrega das equipas,
foi notado pelos dirigentes o envolvimento dos
utentes, famílias e parceiros, na disponibilidade
em colaborar com a avaliação dos serviços e
nas sugestões de melhorias. Esta relação das
instituições com a comunidade envolvente,
recorde-se, é a principal característica norma
EQUASS (ver entrevista na página 22).
Tudo isto veio proporcionar o reconhecimento das instituições e uma relação de maior
proximidade com a comunidade. “Não deixa
de ser uma marca para os que nos visitam
perceberem o esforço da Misericórdia em
preparar os trabalhadores e equipamentos,
dando-lhes maior capacidade de intervenção
para servir os utentes”, sublinha Hélder Silva.
A provedora de Santar corrobora: “As pessoas
sabem que fazemos bem mas vê-lo reconhecido
por uma entidade externa é o corolário daquilo
que aspiramos fazer”.
Joaquim Guardado deixou o repto a outras
Misericórdias. “Espero que outros provedores se
entusiasmem com o projeto. É muito importante estarmos certificados, até pela imagem que
temos perante a comunidade, de que fazemos
com qualidade”.
De acordo com o responsável da UMP pela
ação social, Carlos Andrade, este projeto, que
contou com o apoio de duas empresas especializadas (ver testemunhos) visou preparar as
instituições para a certificação, através de ações
de formação. Coube depois a cada Santa Casa
decidir se realizava uma auditoria para obter
o selo de qualidade, o que explica que das 25
apenas seis tenham obtido o diploma. Neste
momento, estão agendadas auditorias para as
restantes instituições (ver entrevista).
Além deste projeto junto das Misericórdias,
a UMP também está a apostar na certificação
das suas respostas sociais. O Centro João Paulo
II, em Fátima, recebeu foi recentemente certificado com o nível Excellence da EQUASS (ver
texto na página seguinte).
22
Abril 2015
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“
destaque
Privilegiar
as relações
com a
comunidade
Entre as diversas
normas de qualidade
existentes no
mercado, a União
das Misericórdias
Portuguesas
decidiu utilizar a
EQUASS porque esta
certificação europeia
privilegia as relações
da instituição com
a comunidade
envolvente, ou
seja, utentes,
colaboradores,
familiares e parceiros
institucionais em
geral.
25
Foram 25 as Santas Casas
que integraram a primeira
fase do projeto da União das
Misericórdias Portuguesas
(UMP) que visa apetrechar
as instituições para as
certificações de qualidade
segundo a norma EQUASS.
O projeto foi financiado
no âmbito do Programa
Operacional Potencial
Humano. É intenção da
UMP avançar com uma
segunda fase através de
uma candidatura a fundos
do novo quadro comunitário
Portugal 2020. Poderão
ser 50 as Misericórdias a
integrar a iniciativa. Muitas já
manifestaram interesse.
Carlos Andrade
Boa gestão para
garantir o futuro
Texto Bethania Pagin
A certificação faz sentido para Misericórdias
com atividade mais reduzida?
A certificação da qualidade não tem nada a
ver com o tamanho da organização, mas com
procedimentos normalizados, serve tanto para
as grandes como para as pequenas. As grandes
poderão ter uma estrutura facilitadoras desses
indicadores mas penso que brevemente a matéria estará de tal forma disseminada que acabará
por chegar a todas as Misericórdias.
Carlos Andrade é o responsável do Secretariado
Nacional da União das Misericórdias Portuguesas pela área social e acompanhou todo o
projeto de preparação de 25 Misericórdias para a
certificação da qualidade. Além disso, é também
o coordenador das Instituições Anexas, duas
delas já foram certificadas pela norma EQUASS.
Entre outros modelos de certificação da qualidade, por que a opção pela norma EQUASS?
A UMP entende que as questões ligadas à
qualidade devem ser valorizadas e o EQUASS,
por ser um normativo europeu, tem dimensão
mais ampla que permite outra amplitude de
benchmarking, o que representa certamente
uma mais-valia do ponto de vista da credibilidade. Além disso, é um normativo especializado
em serviços sociais, adequado portanto às
atividades das Misericórdias. As alternativas
que tínhamos eram mais generalistas como a
ISO, que visa normalizar procedimentos, mas
que se adapta tanto aos serviços sociais, como
ao comércio ou à indústria. Por ser tão geral, é
também menos capaz de ler a realidade social
propriamente dita. Outra alternativa era a
norma do Estado, do ISS, mas que tinha uma
particularidade: consideramos que era uma
forma enviesada do Estado controlar administrativamente a atividade das Misericórdias, ou
seja, não visava essencialmente a certificação
da qualidade. Por isso tudo, pareceu-nos mais
adequada a norma EQUASS e, nesse sentido,
fizemos um acordo com a direção europeia do
EQUASS e temos vindo a aplicar a norma cá.
Qual é a característica principal da norma?
A característica principal da EQUASS é considerar que a questão fundamental para avaliar
a qualidade é a forma como a comunidade vê o
trabalho da Misericórdia. Todos os agentes que
interagem com a instituição são envolvidos no
processo de certificação: os trabalhadores, os
utentes, os seus familiares, os representantes
dos organismos públicos, os parceiros em geral. Basicamente a medição da qualidade é feita
através de como tudo é visto pela comunidade.
As Misericórdias são estruturas da comunidade por natureza e por isso este método é,
para nós, o que representa da melhor forma
a nossa identidade. Foi esta interação com a
comunidade que garantiu, de facto, a nossa
longevidade. As organizações que não estão
intimamente ligadas às comunidades acabam
por desaparecer porque deixam de ter esta
base de suporte. Ao subsistirem ao longo de
516 anos, as Misericórdias têm a prova de que
esta relação é estável e segura. Essa é a marca
que o EQUASS avalia e a União considera que
vai de encontro ao âmago da nossa ação.
A primeira fase do projeto da UMP já está concluída. Podemos esperar mais projetos nesta área?
A primeira fase abrangeu 25 Misericórdias, mas
é preciso esclarecer que a iniciativa não visava a
certificação, mas sim o apetrechamento das instituições para a certificação, que é um ato voluntário
das Misericórdias. O que a UMP fez foi garantir
que as Misericórdias estão preparadas do ponto
de vista dos procedimentos para poder certificar
a qualidade, se tiverem interesse nisso. Muitas
Misericórdias já nos contactaram para solicitar
a adesão ao programa e pensamos que a breve
trecho teremos condições para avançar com mais
50, por via do Portugal 2020, embora seja intenção
da UMP abranger a totalidade das Misericórdias.
Mais estratégias da União na área da qualidade?
A UMP, para além do trabalho que realizou
junto das Misericórdias, adaptou a norma
EQUASS a si própria. Nas nossas respostas
sociais na área da deficiência profunda - Centro João Paulo II e Santo Estêvão - já fizemos
o desenvolvimento do programa e temos
vontade de aplicar a norma também no Centro Luís da Silva, em Borba. Internamente, a
certificação é muito importante pelo facto de
as nossas respostas sociais estarem geograficamente dispersas, ou seja, a direção não está
presente o tempo todo. A certificação é um
instrumento fundamental para uma gestão
com essas características porque permite a
leitura e a monitorização de um conjunto
de indicadores que são determinantes para
uma boa gestão, permitem-nos uma gestão à
distância mas tecnicamente mais segura. Ou
seja, para além do que referi sobre o apoio às
Misericórdias, numa lógica de disseminação
e apetrechamento, temos uma perspetiva
interna do que é a concretização deste tipo
de projeto. Ainda não o fizemos em todas
as áreas, mas não está de lado a hipótese de
certificar toda a União. É uma matéria que não
está em cima da mesa, mas é uma expectativa
perfeitamente adequada e possível.
O que considera ter sido a grande mais-valia
deste projeto da União?
Dos 500 anos de existência das Misericórdias
portuguesas resulta que sempre soubemos fazer
uma leitura daquilo que era necessário fazer
em cada tempo. Este sinal de adequação tem
sido determinante para a nossa longevidade
e é também a garantia do nosso futuro. As
Misericórdias de hoje não se podem esquecer
das regras de boa gestão da atualidade e a utilização desses normativos garante-nos hoje que,
de facto, estamos apetrechados para garantir o
futuro. VM
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Abril 2015
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Penamacor Santa Casa
preparou uma surpresa para
os participantes: uma merenda
típica, onde não faltaram as
acelgas fritas com ovo e os
borrachões
Fontes reavivam
memória coletiva
em Penamacor
Cultura Dia dos Monumentos e Sítios foi comemorado por diversas Misericórdias.
Em Penamacor, a Santa Casa organizou uma visita às fontes, onde os mais velhos
partilharam com os mais jovens as memórias de um património coletivo
Texto Paula Brito
O
Dia Internacional dos Monumentos
e Sítios foi comemorado em Penamacor com uma visita às fontes que
se encontram fora do perímetro da
vila. Um passeio promovido pela Santa Casa
da Misericórdia, onde os mais velhos partilharam com os mais jovens as memórias de
um património coletivo, hoje escondido pelo
mato e esquecido pelo tempo, outrora fonte
de água e de vida.
Que o diga Maria de Lurdes, que passava
os domingos a brincar ao pé da fonte, e nem o
peso do cântaro de barro, que equilibrava na
rodilha feita de trapos tornavam o momento
mais penoso. “Ainda era um bom esticão, mas
quando somos novos aguentamos tudo”. Tem
mais de 80 anos, não quis, ou não soube dizer
quantos, mas recorda-se bem que há mais
de 20 anos que não via a fonte dos Frades, a
primeira das três que contemplava a visita,
a única que a fez subir o monte, soltar gargalhadas e embargar a voz. “Há mais de 20
anos que por aqui não passava, mas quando
era garota vínhamos para aqui, ainda me
lembro daquelas sobreiras onde andávamos
às cambalhotas, isto estava sempre cheio
de canalha, toda a gente tinha três e quatro
filhos naquela altura, passávamos aqui a
nossa mocidade”.
Já não se lembra se foi na fonte dos Frades
que foi pedida em casamento, mas sabe bem
que foi ali que conheceu o marido. “Conheci sim
senhora, naquela altura não havia maldades como
há hoje, tenho muitas saudades disto, fui por aqui
criada, passávamos aqui os domingos a correr, a
escondermo-nos, tempo que vai e não volta”. Mas a
fonte, que nunca secou, ainda ali permanece, construída com robustas pedras de granito. A fonte dos
Frades é a única que tem gravada na pedra a data
de construção, 1685. Recuando até ao século XVII
em Penamacor, será fácil associar o nome da fonte à
presença dos frades no convento de Santo António,
hoje pertença da Misericórdia. “O convento estava
nessa altura a sofrer reedificações sucessivas, por
exemplo, em 1692 reedificou-se a capela-mor e
entre esse período e 1634 reedificou-se a capela
da igreja, poderá ter alguma ligação, digo eu, ou
não”, admite Joaquim Nabais, do departamento
cultural do município de Penamacor.
Desconhecendo-se a existência de um convento de freiras em Penamacor, fica assim por
explicar o nome de outra das fontes visitadas
pelo grupo de cerca de meia centena de pessoas:
a fonte das Freiras, do outro lado da vila, com
um tanque junto ao chão para também matar
a sede aos animais.
Hoje o letreiro, “imprópria para consumo”,
afasta quem por ali passa, mas há quem assegure
que a água, que corre sempre com o mesmo ritmo, de Verão ou de Inverno, continua fresca e boa
como sempre foi. “Hoje tem isso escrito para não
fazerem análises e responsabilizar quem ali bebe
mas eu estou convencido que continua boa para
beber”, tal como a fonte da Água Férrea na vila,
que antigamente abria o apetite a quem desse
mal padecesse, recorda o senhor Júlio, com 82
anos acabados de fazer. “Quando eu era garoto
e andava na escola íamos lá beber água para
abrir o apetite, agora se querem abrir o apetite
vão à farmácia e compram um medicamento
qualquer. Tu és magrita devias beber daquela
água, é perto da tua escola, aponta para a prima,
uns 70 anos mais jovem”. “Achas?” Responde
incrédula a pequena Alice.
Localizada perto da ribeira e do local de
culto a Nossa Senhora do Incenso a próxima
fonte fica a dever o nome à santa devota dos
penamacorenses. Hoje a fonte da Senhora
do Incenso está quase inacessível, foi preciso
desbravar terreno para lá chegar, mas no tempo
de Maria de Fátima era a fonte onde matavam
a sede no dia de lavar a roupa na ribeira, com
o mesmo nome, que ali corre mesmo ao lado.
Saiam da vila carregados da merenda e da
roupa suja e voltavam, já no fim do dia, com a
Continue na página seguinte
Z
Abril 2015
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25
Tradições e
memórias do
património
no Crato
No Alentejo, mais
precisamente no
Crato, a Misericórdia
local organizou
percursos orientados
com vista a dar
a conhecer o
seu património
arquitetónico. Além
disso, na Casa Museu
Padre Belo teve lugar
uma conferência
sobre “Património
local: tradições e
memórias do Crato”.
A iniciativa contou
com a presença do
secretário de Estado
da Cultura, Jorge
Barreto Xavier, que
ainda visitou a casa
museu.
Primeira
rota de
igrejas das
Misericórdias
Foram quatro
as Misericórdias
alentejanas que
assinalaram o Dia
Internacional dos
Monumentos e Sítios
com o lançamento
de uma rota de
igrejas. Alcáçovas,
Évora, Redondo e
Vila Viçosa estão já
a dar os primeiros
passos para colocar
o seu património
numa rota de turismo
que será a primeira
a ser dedicada
exclusivamente
a Santas Casas.
Sessão teve lugar no
auditório do Centro
Cultural de Redondo.
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Continuação do texto de abertura
roupa limpa e seca e até com o banho tomado.
“Lavávamos a roupa ali, púnhamos os cordéis
entre as árvores e ali secava, às vezes até tirávamos a que trazíamos e tomávamos banho
com os peixes, eu adorava vir aqui, nem ia à
escola nesse dia”.
Quando a água canalizada e a eletricidade
chegaram à vila tudo mudou, mas Maria de
Fátima continua a não beber água da torneira
lá de casa. “Nem compro no supermercado, vou
ao Poço do Carvalho”, uma das mais de 12 fontes
da vila, “e encho os garrafões só para beber, no
Verão continuo a por a água nas cantaras de
barro, mantém-se mais fresquinha”.
Os mais pequenos ouvem as histórias não
conseguindo imaginar o dia-a-dia sem água
em casa ou máquina de lavar. A maioria nem
conhecia as fontes e muito menos o papel que
tinham desempenhado no tempo dos seus avós.
“Pelos vistos era um tempo difícil” admite a
pequena Estela.
Estava assim alcançado o objetivo traçado
pela Santa Casa da Misericórdia de Penamacor
quando decidiu escolher as fontes para assinalar
o Dia Internacional dos Monumentos e Sítios.
“Optámos por estas fontes fora da malha urbana porque são as mais desconhecidas e as mais
abandonadas, por outro lado desempenharam
um papel fundamental na vida da altura, hoje
são praticamente desconhecidas dos jovens e
por isso fico satisfeito que eles estejam aqui a
conhecer um património que é de todos nós”,
justifica João Cunha, provedor da Santa Casa da
Penamacor que no final preparou uma surpresa
para os participantes: uma merenda típica, onde
não faltaram as acelgas fritas com ovo, uma erva
que cresce por ali e com que tropeçamos em todo
o percurso, e os borrachões, bolos típicos da zona
raiana, assim chamados devido à grande quantidade de aguardente que levam na sua confeção.
O passeio começou com chuva, mas até o
sol se rendeu ao dia que valeu pelo convívio,
pela partilha, pelo conhecimento, cumprindo
assim o lema que presidiu este ano às comemorações do Dia Internacional dos Monumentos e
Sítios: “conhecer, explorar, partilhar”.
Além de Penamacor e Serpa (ver texto ao
lado), outras 15 Misericórdias, de norte a sul
do país, assinalaram a data com iniciativas
culturais variadas. Em Arcos de Valdevez a igreja
esteve aberta para visitas guiadas, palestras
sobre a história da instituição e uma exposição
de bandeiras e imagens da Semana Santa. Em
Aveiro, além das visitas guiadas à sacristia e
claustros, a igreja foi palco de um concerto.
Na Covilhã, a Capela do Calvário abriu as
portas ao público para dar a conhecer o seu
espólio, com destaque para o altar-mor em talha
dourada do século XVIII. Em Seia, a igreja da
Misericórdia e a Casa do Despacho acolheram
uma exposição de fotografia.
Por fim, o Museu da Misericórdia de Viseu
também integrou as comemorações com um
debate sobre a importância do património
cultural.
Sob o tema “Monumentos e Sítios: Conhecer, explorar, partilhar”, em 2015 foram
organizadas mais de 600 atividades por todo
o território nacional.
Ateliê
de artes
tradicionais
em Albufeira
No Algarve, a
Misericórdia de
Albufeira promoveu
um ateliê de artes
tradicionais, com
exposição de peças de
tapeçaria e empreita
dos utentes-artesãos
da Santa Casa. No
mesmo espaço, foi
possível saborear
a doçaria regional
algarvia. No âmbito
do Dia Internacional
dos Monumentos
e Sítios, também
foi possível visitar
a capela, onde teve
lugar um recital
que marcou o
encerramento da
iniciativa.
Quatro
Misericórdias
do Porto no
programa
No distrito do
Porto foram quatro
as Misericórdias
a assinalar este
dia dedicado ao
património. Em
Penafiel, decorreu
uma exposição de
registos religiosos.
No Porto, foi possível
explorar a casa e
o jardim da Quinta
da Prelada. Em
Póvoa de Varzim, a
Misericórdia abriu
ao público uma
exposição sobre
centenário da igreja.
Em Vila do Conde,
foi possível visitar a
igreja, de 1525, entre
outros espaços.
Igreja Serpa promoveu ações para sensibilizar miúdos e graúdos sobre a importância do património
Igreja abre
as portas
em Serpa
Serpa O fim de semana de 18 e 19 de Abril
anunciava sol e Helena Figueira nem pensou
duas vezes: nada como aproveitar dois dias de
Primavera para dar uma “escapadinha” com o
marido e festejar mais um aniversário. Foi assim que esta engenheira agrónoma de 35 anos,
natural de Setúbal, se meteu pela autoestrada
abaixo até chegar a Serpa, no distrito de Beja,
para desfrutar dos encantos de uma cidade que
é património mundial e que apenas conhecia
de passagens em tempo de menina. Um par de
dias de lazer e descanso que também incluíram
uma inesperada visita à Igreja de Nossa Senhora
da Consolação do Convento de São Paulo, propriedade da Misericórdia de Serpa.
“Sempre que viajamos e visitamos outras localidades, tentamos conhecer os seus
museus, as igrejas ou os monumentos mais
importantes. O meu marido não gosta muito,
prefere os restaurantes e as esplanadas, mas lá
me faz o jeito [risos]! É que apesar de estar ligada à agricultura, sempre tive este fascínio por
monumentos”, conta Helena Figueira ao VM.
“Ao princípio reclamo, mas depois até acabo por
gostar. E este convento é bem bonito”, acrescenta o marido, Miguel Silvestre, de 36 anos,
que trabalha na área das telecomunicações.
Helena e Miguel foram dois dos visitantes
que entre 18 e 19 de Abril passaram pela Igreja
de Nossa Senhora da Consolação do Convento
de São Paulo. O monumento esteve de “portas
abertas” no âmbito das comemorações de
mais uma edição do Dia Internacional dos
Monumentos e Sítios (DIMS), evento ao qual
a Misericórdia se associou pela primeira vez,
dando a conhecer a miúdos e graúdos algum
do seu património com valor histórico e
artístico.
“É imperativo reabilitar, conservar, divulgar
e partilhar para tornar mais ricas as comunidades que as Misericórdias servem. Deve-se aproveitar os espaços existentes nas Misericórdias,
porque o património tem de estar vivo, para ser
vivido e transmitido”, argumenta José Manuel
Coelho, técnico de ação social que organizou
os eventos. “E o balanço destas iniciativas foi
bastante positivo”, acrescenta.
Além das visitas guiadas à Igreja de Nossa
Senhora da Consolação do Convento de São
Paulo, construída no final do século XVII pela
Ordem de São Paulo, a instituição aproveitou
a oportunidade para promover um ateliê de
pintura de azulejos, que em quatro sessões
juntou quase 100 pessoas. A iniciativa teve o
apoio do Museu Regional de Beja e deu a conhecer alguns dos “episódios” presentes nos
painéis do monumento a alunos e professores
das escolas locais, assim como aos utentes do
Lar de São Francisco, da unidade de cuidados
continuados e do Hospital de São Paulo, todos
geridos pela Santa Casa.
Património mundial desde Novembro de
2014, o cante alentejano também não faltou
nas comemorações do DIMS em Serpa e as
vozes do Grupo Coral e Etnográfico “Os Camponeses de Pias” ecoaram bem alto na igreja
na noite de 19 de Abril. “Segundo a tradição,
o cante alentejano terá nascido no convento
paulista de Serpa, o que conferiu ao concerto
uma dimensão especial”, sublinha José Manuel
Coelho. VM
Texto Carlos Pinto
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derm bandas
29
Abril 2015
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quotidiano
EM FOCO
Música como forma de pertença
70
ELEMENTOS
São certa de 70
os integrantes
deste coro, entre
funcionários, antigos
funcionários e irmãos
da Misericórdia. A
maioria das vozes é
feminina.
Irmãos e
funcionários
no coro
Foi precisamente
na perspetiva de
integrar mais vozes
masculinas no
conjunto musical
que o provedor
Humberto Carneiro
abriu a participação
no grupo coral aos
irmãos da Santa Casa
da Misericórdia de
Póvoa de Lanhoso.
1
Póvoa de Lanhoso Estava
tudo combinado para
conhecermos o coro da
Misericórdia das terras de
Lanhoso. Mas qual o espanto
quando, aproximando-nos
do sítio onde se daria o
ensaio, nos deparamos com
a corrida da pequenada
que, saindo em algazarra do
ATL, cedia agora o espaço
aos nossos cantores. Na
verdade, tratava-se de uma
bela receção, de vozes livres
de maestro mas nem por
isso menos acolhedoras. Era
como chegar a uma casa de
família, que é, a bem dizer,
do que esta casa se trata.
Estamos em mais uma
quarta-feira destinada
aos ensaios do coro que
aqui se formou em Junho
de 2014. Grupo recente,
mas, se não fosse pela
cronologia, aqui ninguém
detetaria principiantes. Os
membros do coro, formado
por funcionários, atuais
e antigos, e irmãos, vão
chegando ao local com
o desembaraço de quem
já anda nisto há muito
tempo. “O coro foi criado
por um desafio lançado
pelo provedor. Há muitos
anos que aqui fazemos as
celebrações da Páscoa e
sempre houve um grupo de
funcionários que se juntava a
cantar para receber as cruzes
de todas as freguesias. Foi
assim que a ideia surgiu”,
explica-nos Sara Machado, 28
anos, responsável pelo coro
e enfermeira coordenadora
da unidade de cuidados
continuados da Santa Casa.
A adesão foi imediata.
Em poucos meses, no dia
5 de Setembro, dava-se
a primeira apresentação
pública deste coro
constituído por cerca de
70 elementos, com idades
entre os 26 e os 62 anos.
Rosa Madalena Peixoto é
o elemento mais velho,
mas a idade é proporcional
ao entusiasmo: “Quando
disseram que o coro existia,
inscrevi-me no mesmo dia.
Adoro cantar”, confessa-nos
esta professora primária
reformada e atual voluntária
e mordoma de respostas
seniores e de infância da
instituição. Mas entusiasmo
é coisa que aqui não falta.
Que o diga Aurora Silva, 36
anos, técnica superior de
educação. “O que o coro
tem de bom é o convívio e a
partilha”. Opinião partilhada
por Mónica Matias, 40 anos,
farmacêutica hospitalar.
“O convívio com os colegas
e com o maestro é ótimo.
Fortaleci amizades no coro”.
O maestro Ernesto
Coelho, 41 anos, tem longa
experiência na música e
desde logo aceitou o convite
para dirigir este coro
amador. Numa primeira
fase, teve de dividir todos
os integrantes do coro por
Maestro ‘Os primeiros ensaios
são de muita paciência.
É preciso conquistar
o coração das pessoas’
categorias, entre contralto,
sopranos, tenores e baixos.
“Quando se começa um
coro não há nada, nem
músicas, nem experiência.
Os primeiros ensaios são
de muita paciência. É
preciso conquistar o coração
das pessoas.” Coração
conquistado, hoje o coro
canta músicas de repertório
variado, com espaço para
a música clássica, popular
portuguesa, litúrgica e pop.
De todos os elementos que
concorreram a integrar
o coro, apenas um ficou
de fora, história que Sara
Machado faz questão de
nos contar. “Trata-se de
um elemento que tem uma
deficiência auditiva grave e
que por isso era-lhe difícil
chegar a certas notas. Mas
ainda assim não ficou
excluído, e é ele que está a
cargo do figurino do coro.”
Texto Carolina P. Falcão
ANO
O grupo existe
há menos de um
ano. Foi criado em
Junho de 2014 e
em Setembro, dia 5,
teve lugar a primeira
apresentação
pública.
62
ANOS
Rosa Madalena
Peixoto é a
integrante mais
velha do coro da
Misericórdia da
Póvoa de Lanhoso,
com 62 anos. O
elemento mais novo
deste grupo tem 26
anos.
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quotidiano
ESTANTE
Aprender
a voar para
sobreviver
As Aventuras de
Andreia e Alexandre
Rosa Almeida
Misericórdia do Porto
Outubro de 2014
Esta obra é da autoria
de uma reclusa do
Estabelecimento Prisional
Especial de Santa Cruz do
Bispo, no Porto. A edição
insere-se nas comemorações
dos 10 anos de gestão
partilhada do equipamento,
entre a Misericórdia do
Porto e a Direção Geral
de Reinserção e Serviços
Prisionais (DGRSP).
Este livro infantil conta-nos a
história de dois passarinhos
que têm uma vontade
incessante de conhecer
o mundo que os rodeia e
os animais que habitam a
floresta. Sob a orientação da
mãe, aprendem desde muito
cedo a voar e percebem
que essa capacidade é
fundamental para a sua
sobrevivência. Desde logo,
para encontrar alimento,
mas também para conhecer
outros lugares, sobrevoar as
árvores e as flores.
Durante a leitura da obra,
pequenos e graúdos vão-se
deliciar com as cores vivas, o
pormenor das ilustrações e
o traço delicado da caligrafia
manuscrita da autora.
Da mesma maneira, os
diálogos ternurentos entre
mãe e filhos não vão deixar
os leitores indiferentes.
Enquanto se desenrolam
as mais diversas aventuras
pela floresta e imediações do
lago, a progenitora aproveita
para transmitir pequenas
lições de vida, que serão
imprescindíveis para a
sobrevivência dos pequenos
pássaros no futuro.
Uma das lições que
persiste no desenrolar
das páginas prende-se
com a importância da
biodiversidade. Por isso, ao
longo da narrativa, podemos
notar que pássaros,
joaninhas, borboletas,
abelhas e mochos convivem
em grande harmonia,
mostrando que a riqueza
está na diversidade.
A Misericórdia assegura
desde 2005 a gestão
partilhada deste
estabelecimento
prisional. VM
Texto Ana C. de Freitas
Correntes de Vida
Misericórdia de Viana
do Castelo
Janeiro de 2015
No primeiro número
desta revista o provedor,
Manuel Gomes Afonso,
escreve que a publicação
concretiza o desejo de dar
a conhecer
de forma regular,
coerente e programada
tudo o que de mais
relevante se faz na Santa
Casa da Misericórdia
de Viana do Castelo.
Diagnóstico das
ONG em Portugal
Fundação Calouste
Gulbenkian, 2015
Este estudo recentemente
produzido pela
Universidade Católica
Portuguesa, no âmbito
do Programa Cidadania
Ativa, da Fundação
Calouste Gulbenkian,
visou aprofundar a
importância e o papel
das organizações nãogovernamentais na
sociedade portuguesa.
31
Abril 2015
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RECEITA NAS MISERICÓRDIAS
Frango no churrasco de Santulhão
Ingredientes
Modo de preparação
1 Frango;
2 Dentes de Alho;
3 Folhas de Loureiro;
4 Colheres da Sopa de Azeite;
1 dl de Vinho Branco;
Pimenta em Pó q.b.;
Sumo de 1 Limão;
Sal q.b.
Abre-se o frango e temperase com sal, pimenta e
loureiro. Vai a assar na grelha
previamente aquecida.
Entretanto, descasque os
alhos, pique-os para um
tacho, junte o azeite, leve ao
lume e deixe cozinhar até os
alhos ficarem douradinhos.
Adicione o vinho branco,
Anuncio Geriatricos PT.pdf
1
01/04/15
Preço
mexa e retire do lume. Pincele
o frango de vez em quando
com o molho que preparou
e deixe assar de ambos os
lados. Quando estiver assado,
douradinho, retira-se do
lume e está pronto a servir.
Acompanha com arroz de
espigos de Santulhão. Bom
Apetite!
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Dificuldade
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Abril 2015
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ÚLTIMA
Melhorar a ação social
através de suporte digital
Voluntariado Além da recuperação do edifício,
ASAE doou vestuário, calçado e roupa de cama
Software da Misericórdia
de Ponte da Barca permite,
entre outros, que a família
dos utentes acompanhe o que
se passa com o seu familiar
Voluntariado
em parceria
com ASAE
Texto Alexandre Rocha
Ponte da Barca Na Santa Casa da Misericórdia de Ponte da Barca estão em via de extinção
as pastas e ficheiros em papel dos processos
administrativos. A instituição aceitou o desafio
de entrar com o “pé direito” no século XXI e
deixou para trás as antigas formas de trabalho
substituindo-as por uma plataforma informática centralizada, a PLAGEAS (Plataforma
Administrativa de Gestão na Ação Social).
A ferramenta, acessível em qualquer parte
via internet, é constituída por uma série de
módulos dedicados à gestão das diferentes
respostas da Misericórdia, como o hospital, o
lar de idosos, a creche e jardim-de-infância, o
ATL ou o serviço de apoio domiciliário.
O módulo do lar, por exemplo, permite
agilizar o acesso a informações da ficha de
utente, associada ao seu perfil clínico, escala
de avaliação de dependência, notas de enfermagem, fisioterapia ou psicologia, para além de
um extenso lote de outras funcionalidades. Mas
este é somente um dos módulos em questão,
havendo um total de 9 outras aplicações que
vão desde a gestão de frota e das suas respetivas
rotas, passando pelos recursos humanos ou ao
hospital social.
Segundo o provedor desta Misericórdia,
António Bouças, toda a informação está resguardada por perfis, sendo que cada utilizador
tem acesso unicamente às informações que lhe
são destinadas: “A própria família de um utente
institucionalizado pode acompanhar em tempo
real o que se passa com o seu familiar, mesmo
que estejam em outra parte do mundo. E tudo
isto começou com a realização de um estágio
profissional em finais de 2013”, o mote para
apresentar o responsável por centralizar todo
este trabalho, Tiago Simões, natural do Porto,
26 anos, aluno de Engenharia Informática do
Instituto Politécnico de Viana do Castelo.
“O principal desafio foi dinamizar o trabalho
conjunto de todas as equipas em campo, com
as quais o Tiago interagiu intensivamente”,
conta-nos o provedor.
E como foi o começo deste desafio? Responde-nos o “arquiteto” da solução, que confessa
que a princípio não tinha a noção exata da escala para a qual o projeto viria a evoluir: “Tudo
começou no módulo para o lar de idosos, que é
o mais completo e as coisas foram crescendo”.
Orgulhoso da sua criação, destaca os ganhos e
vantagens evidentes da ferramenta, como a ma-
Ferramentas São 10
as aplicações para a gestão
de frota e das suas respetivas
rotas, passando pelos recursos
humanos ou ao hospital
nutenção sempre atualizada de todos os dados
ou certas funcionalidades que revolucionaram
a dinâmica do trabalho: “Na gestão do apoio
domiciliário, a diretora técnica antes poderia
bem gastar meio-dia ou mais no cálculo das
rotas a serem realizadas, o que agora é dado
automaticamente pelo sistema”.
Por agora este é um recurso exclusivo intramuros da Misericórdia de Ponte da Barca,
realidade que pode, no entanto, vir a mudar
num curto prazo, conforme salienta António
Bouças: “Já apresentamos esta solução à Comissão Local de Ação Social para que possamos
eventualmente partilhar estes recursos com
outras instituições”. Mas o desenvolvimento
não parará por aqui: “A Misericórdia de Viana
do Castelo demonstrou interesse em analisar
e também poder vir a fazer uso a plataforma”,
conclui, explicando que a utilização por outras
Misericórdias de todo o país é um objetivo em
vista ainda em estudo. VM
Almeirim A Misericórdia de Almeirim foi
palco de uma campanha de responsabilidade
social e ambiental da Autoridade de Segurança
Alimentar e Económica (ASAE), no dia 11 de
abril. Debaixo do sol primaveril, duas dezenas
de voluntários uniram esforços para pintar as
paredes da capela da Santa Casa, que ganhou
nova cor e nova vida com a tinta oferecida pela
autarquia.
Neste “dia muito especial”, como se pode
ler na nota informativa, a Misericórdia recebeu
o bispo de Santarém, D. Manuel Domingues
Pelino, na sua renovada capela por ocasião
da Festa da Divina Misericórdia, celebrada no
primeiro domingo depois da Páscoa. Nesta data,
estabelecida oficialmente como festa universal
pelo Papa João Paulo II, o bispo aproveitou o
convite para estreitar laços com a comunidade
e conversar com as crianças e jovens presentes.
O provedor da instituição, José Lobo de
Vasconcelos, congratulou-se pela iniciativa
destacando que o quotidiano da Santa Casa
passa por “servir o próximo e por isso mesmo
convidámos o Sr. Bispo a vir celebrar connosco
uma eucaristia de Ação de Graças pela nossa
atividade e também para rezar por aqueles que
nos ajudam e ajudaram”.
Além da recuperação do edifício, a ASAE
doou mais de 1200 peças de vestuário, calçado
e roupa de cama destinadas às famílias carenciadas do concelho. Segundo o inspetor-geral
da ASAE, Pedro Portugal Gaspar, este tipo de
campanhas insere-se nas atividades de responsabilidade social desenvolvidas habitualmente
com instituições de solidariedade social.
Desta forma, os artigos apreendidos têm
um fim mais nobre que não apenas o da sua
destruição. Um “presente especial” de 1250
artigos, enaltecido pelo provedor da instituição, que “vai ser distribuído por pessoas que
precisam de ajuda”.
No decorrer da cerimónia, José Lobo de
Vasconcelos valorizou ainda o gesto dos voluntários (funcionários e dirigentes da ASAE), que
prescindiram de um dia do seu descanso para
colaborar com uma instituição que tem como
missão “servir o próximo”. VM
Texto Ana Cargaleiro de Freitas