AQVOX PHONO 2 CI
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AQVOX PHONO 2 CI
TESTE Jorge Gonçalves AQVOX PHONO 2 CI Se há país europeu onde o vinilo tem (ainda e sempre) uma grande aceitação é a Alemanha, facto bem patente na existência de duas revistas exclusivamente dedicadas a gira-discos, cabeças de leitura, acessórios para som analógico, discos, etc. Alguns poderão apelidar esta «teimosia» de conservadorismo, mas essa será uma atitude excessivamente reducionista, já que o que está na génese de tudo isto é a combinação da existência de uma indústria local bastante activa, nomeadamente em termos de fabricantes de (bons) giradiscos, com um gosto genuíno pelo som analógico, novamente positivamente reflectido no facto de durante muitos anos este ser o país europeu onde mais se vendia equipamento de áudio de dois canais. Aliás, a nossa confrade na EISA, a revista Stereo, continua garbosamente a «gabar-se» 2 AUDIO&CINEMA EM CASA de não testar equipamento para cinema em casa. Poderá ser que o meu amigo Mathias Bode seja considerado, como ele próprio o diz por vezes em tom de brincadeira, algo como que um dinossáurio da alta-fidelidade, mas não deixa de ser importante e sintomático que a Stereo continue a juntar em volta de si um vasto número de leitores e de anunciantes. Mas a razão principal porque estamos aqui tem a ver com o facto de há uns meses eu ter sido abordado telefonicamente por uma entusiástica voz, falando um inglês com apenas um ligeiro sotaque e que me apregoava todas as qualidades de uma novíssima unidade phono acabada de introduzir no mercado alemão. Tão convincente foi o Norman Luebke que acabei por aceitar que me enviasse uma dessas unidades para eu ouvir. Trata-se então da AQVOX PHONO 2 CI, desenhada quase em exclusivo por uma das mais interessantes «personagens» actuais do mundo da engenharia electrónica aplicada ao áudio. De facto, Carlos Candeias, que tive o gosto de encontrar pessoalmente aqui há uns anos, com ascendência portuguesa na família, começou por tentar desenvolver uma marca de electrónica no mercado alemão, país onde viveu por largos anos, tendo lá casado. A vida muda e o Carlos acabou por se separar e ir viver para a China. Neste momento está casado com uma chinesa e fala mandarim na perfeição, sendo um autêntico homem dos sete ofícios, já que criou uma empresa, a Candeias Engineering, a qual desenvolve projectos para diversos nomes bem conhecidos do áudio profissional e doméstico, tais como, por exemplo, a C.E.C., um prestigiado fabricante japonês. Maio 2006 n.° 189 Um dos elementos fundamentais desses projectos é o recurso à utilização de módulos electrónicos, desenvolvidos pelo Carlos e recorrendo a topologias originais e patenteadas. Vão ao endereço http://www.candeias.com/english/company.htm e encontrarão certamente informação mais que suficiente para satisfazer mesmo os mais interessados nos meandros da electrónica. Carlos Candeias tem desde já um currículo impressionante no domínio da electrónica aplicada ao áudio: em 1984 desenhou o primeiro upgrade para o conversor D/A de um leitor de CD’s, seguido de uma coluna bipolar com correcção activa, em 1990, da tecnologia de amplificação CHAMP, em 1995, do amplificador LEF, em 2000, do controlador de ganho IGM, em 2004, com a maior precisão até hoje conseguida em controlo de volume, e diversas outras inovações que seria fastidioso enumerar. A tecnologia mais interessante desenvolvida pelo Carlos é a LEF (Load Effects Free), que tem como objectivo fundamental libertar um transístor do efeito da carga, uma das situações que mais limita o seu desempenho. De acordo com a documentação da Candeias Engineering/CC Tech, a tec- nologia LFE anula na prática muitos dos malefícios da realimentação, ao evitar que a maioria das distorções de funcionamento dos dispositivos activos ocorra em vez de tentar corrigilas mais tarde. O recurso à configuração cascode evita que as não linearidades resultantes da curva característica de tensão VCE afectem o sinal, embora tenha como efeito menos positivo uma perda de rendimento de amplificação em potência. Na topologia LFE e utilizando as palavras do próprio Candeias, é como se um elegante e versátil bailarino evoluísse na nossa frente, movendo-se como uma pena, tendo, no entanto, o indispensável apoio de um culturista sempre que fosse necessário recorrer a demonstrações de força. Isto significa que o transístor principal trabalha sempre num regime de total à-vontade em termos dinâmicos e não transfere para a saída a sua característica de corrente de saída (Ic), já que tem sempre ao seu lado o insubstituível «assistente de corrente». Novamente recorrendo à documentação da CC Tech, é como se um amplificador LFE soasse sempre como tendo capacidades «ilimitadas» de corrente e tensão dentro da sua gama de funcionamento, isto combinado com velocidade, dinâmica e uma elegância notável. Não resisto, aliás, a transcrever uma notável comparação entre o funcionamento da tecnologia LFE e o génio Leonardo da Vinci, desvendada pelo Carlos Candeias na documentação citada: Suponhamos que é entregue a Leonardo a tarefa de pintar o tecto de uma igreja em Florença utilizando toda a sua arte e minúcia. Neste exemplo Leonardo é o transístor principal de um bloco LFE. Se a tela/tecto se situar à altura de Leonardo este não terá qualquer problema em superar-se uma vez mais. Mas o pé-direito da capela é bem alto (ilustrando aqui a característica de tensão VCE do transístor), pelo que ele vai necessitar de uma plataforma móvel que o eleve até uma altura tal que ele consiga pintar esticando apenas o braço, como é normal. A plataforma representa aqui a montagem cascode. Mas, enquanto pinta, ele necessita de ter perto de si (idealmente nos braços) toda a sua panóplia de tintas, paletas e pincéis, que representam aqui a característica de corrente Ic do transístor de que temos estado a falar. Claro que isso é impossível, mas felizmente ele tem a possibilidade de recorrer a assistentes bem possantes (os auxiliares de corrente do transísAUDIO&CINEMA EM CASA 3 TESTE AQVOX PHONO 2 CI tor), que lhe carregam tudo isso e o deixam pintar sem sentir nas mãos mais peso que o do próprio pincel. Se lhe for possível, imagine Leonardo pintando com ambas as mãos, usando ao mesmo tempo pincéis grandes e pequenos, pintando a alta velocidade com uma impressionante paleta de cores, e ficará muito próximo de imaginar como funciona a tecnologia LFE. Só para o ajudar um pouco: os amplificadores «normais» funcionam como pintores que têm sempre que carregar as suas próprias paletas e tintas e recorrem a escadas que os obrigam a esticar demasiado os braços para chegar à zona a ser pintada. Esta é uma alegoria muito bem conseguida e que ajuda a compreender de que modo a topologia LFE se destaca das tecnologias convencionais de amplificação. Em termos práticos, a CC Tech implementa esta tecnologia incorporando todos os componentes necessários para a construção de um bloco de amplificação num módulo selado e encapsulado, designado por CC80. As características deste módulo são notáveis: funcionamento puramente diferencial, andar de saída LFE em classe A, controlo interno de offset, regulador de tensão integrado, ganho ajustável entre 0 e 800, funcionamento estável com ganho unitário, filtro interno configurável, compensação de frequência configurável, injecção de corrente configurável, distorção dinâmica muito baixa e baixo ruído. As aplicações possíveis são bem variadas, não se limitando ao caso vertente da unidade phono que recorre a quatro destes módulos. Em conjunto com a LFE, Candeias recorre a uma outra possibilidade tecnológica, pouco utilizada pela maioria dos projectistas de electrónica e designada por «Injecção de Corrente/Current Injection». O que se consegue fundamentalmente com a combinação das duas topologias é uma simplificação enorme dos circuitos amplificadores: para um funcionamento totalmente balanceado seriam normalmente necessários seis andares independentes de amplificação por canal, coisa que Candeias 4 AUDIO&CINEMA EM CASA consegue com apenas dois blocos CC80 por canal. Claro que quanto menos vezes um sinal for amplificado (Candeias diz que um amplificador copia o sinal de entrada para a saída), mais hipóteses temos de que ele não se afaste do original. Por outro lado, a topologia Current Injection dispensa o uso de realimentação, o que só pode contribuir para uma melhoria na qualidade do sinal, uma vez que a realimentação não contribui positivamente para a qualidade do sinal em si, antes se limitando a tentar corrigir aquilo que o amplificador fez de mal. Claro que, neste caso, não temos praticamente nenhuma corrente de offset de entrada, já que, caso contrário, essa corrente poderia percorrer a cabeça e prejudicar o seu funcionamento. Descrição técnica O PHONO 2 CI é um prévio phono que possui na sua saída, graças aos módulos CC80, um amplificador de corrente single-ended, em classe A. totalmente simétrico. Mas um dos seus maiores méritos é possuir algo que muito raramente se encontra num prévio deste tipo, a não ser nos muito caros – entradas balanceadas. A AQVOX fornece adaptadores XLR para RCA. E qual a grande vantagem deste tipo de entrada num andar phono? Pois pura e simplesmente porque a cabeça de gira-discos é um dispositivo transdutor inerentemente balanceado, que possui no seu interior duas bobinas completamente independentes que captam o sinal de cada um dos canais. Assim sendo, temos duas ligações por canal, sem qualquer ponto comum de massa, o que é a definição final de um gerador balanceado. Nada mais natural que a amplificação se faça igualmente através de um amplificador balanceado, coisa que normalmente não é feita por uma questão de custo. Aliás, na saída do braço as ligações são normalmente balanceadas e é o cabo de ligação ao prévio, ao recorrer a fichas RCA, que obriga a estabelecer a ligação comum de massa que transforma a ligação balanceada em simples. As duas vantagens mais evidentes de um amplificador balanceado são: uma melhor relação sinal/ruído, uma vez que os sinais do tipo comum se cancelam um ao outro; um ganho suplementar de 6 dB em relação a um amplificador single-ended de topologia semelhante. Em face dos níveis reduzidos dos sinais a amplificar que, em casos extremos, atingem amplitudes pouco maiores que 100 microvolt, não é difícil perceber que a AQVOX tenha recorrido a esta configuração. Mas este interessante fabricante alemão não se ficou por aí. Tentando adaptar o mais possível a precisão da curva de correcção RIAA, que deve ser uma imagem no espelho daquilo que aconteceu no torno de corte dos masters que dão origem aos discos LP, a AQVOX colaborou com a Neuman na definição de uma constante que tivesse em conta o facto de a maioria das máquinas de corte de masters utilizarem igualização adicional acima dos 20 kHz (frequência a partir da qual diminui muito significativamente a amplitude dos sinais gravados no disco), para proteger quer as próprias cabeças quer os amplificadores que as atacam. E porquê a Neuman? Porque foi o maior fabricante de máquinas de corte para discos e o que manteve essa fabricação durante mais tempo, mesmo até bem dentro dos anos 80. Uma rápida pesquisa permitiu concluir que, por exemplo, nos Estados Unidos, 60% das máquinas de corte instaladas a partir de 1950 eram de fabricação Neuman. A chamada «curva Neuman» foi definida mais tarde que a curva RIAA, o que faz com que esta seja um standard «legal», enquanto a da Neuman é um standard «de facto», já que é a curva que é utilizada na prática. Na prática, a adopção desta curva por parte da AQVOX faz com que os sinais com frequências acima dos 15...18 kHz sejam ligeiramente mais amplificados, o que se deveria traduzir por um som mais vivo e claro nos agudos. O facto é que a maioria destas frequências não Maio 2006 n.° 189 A electrónica do PHONO 2 CI está contida numa sólida caixa de alumínio escovado com uma estrutura simplista: dois controlos de volume na parte frontal, ladeados por um comutador de filtro subsónico (à esquerda) e pelo botão de volume (à direita). A «constante Neuman» eleva ligeiramente o ganho nos agudos. é audível, mas lá que existe um resultado final confirmado por vários especialistas, na forma de um som mais aberto e espacial, isso é verdade. Daí a razão para a utilização da chamada «constante Neuman de 50 kHz» no PHONO 2 CI, coisa muito rara em qualquer unidade phono. Por outro lado, a AQVOX defende que não seja utilizada a constante de igualização das frequências graves introduzida já nos finais dos anos 70 pela IEC, pois na prática não é mais que um filtro subsónico que tinha como fim facilitar a vida a alguns conjuntos gira-discos/braço que, pelas mais diversas circunstâncias, não conseguiam reproduzir correctamente as baixas frequências e entravam mesmo em oscilação mecânica com a energia contida nos graves mais profundos (ainda me lembro das demonstrações da Telarc da Abertura 1812 de Tchaikovski, quando os canhões finais quase que faziam o braço fugir do disco!). do tipo balanceado, razão porque, para além das entradas balanceadas por XLR, a AQVOX recorreu a entradas convencionais do tipo RCA. Estas entradas são recomendadas fundamentalmente para o caso de cabeças MM, que possuem um nível de tensão de saída mais elevado, mas é evidente que isso não deve ser encarado de modo dogmático. Eu utilizei as duas possibilidades e, embora reconheça que a ligação balanceada tem muitas vantagens, concordo que, no caso de não ser possível utilizá-la, a entrada RCA é uma boa alternativa. Nas traseiras, as citadas fichas de ligação (entrada e saída) RCA e XLR, três interruptores DIP switch para seleccionar a impedância e a capacidade de carga da cabeça (100 Ohm ou 1 k, apenas, num caso, e 47 pF, 100 pF, 220 pF e 470 pF, no outro), bem como um outro para definir o aumento de ganho (+ 6 dB ou + 20 dB), um comutador de selecção de entrada e um outro para implementar ou não a ligação de massa comum, que pode em determinados casos facilitar a resolução de problemas de zumbido. A fonte de alimentação constitui mais uma das novidades desta unidade, pois é do tipo comutado, situação pouco vulgar neste tipo de unidades, em que se utiliza normalmente uma fonte linear. Igualmente original é o conceito de «injecção de corrente» empregue na entrada do PHONO 2 CI, e que funciona de modo alternativo em relação à convencional amplificação de tensão. Neste caso é a corrente gerada na cabeça (e que pode ter valores bem mais importantes que as diminutas tensões de microvolt atrás citadas) que excita a entrada do amplificador, através de uma resistência de valor bem mais elevado do que é normal. Deste modo a cabeça não «vê» do outro lado a impedância baixa que é costume existir (entre 200 Ohm e cerca de 10 kOhm) do lado do prévio, o que diminui a eventual constrição dinâmica. Como já disse atrás, a maioria dos cabos de ligação de gira-discos não é A AQVOX tem uma excelente relação com o actual fabricante das máquinas Neuman. AUDIO&CINEMA EM CASA 5 TESTE AQVOX PHONO 2 CI Rhodium Requiem, para o prévio do sistema, construído por mim e que possui igualmente uma excelente entrada phono para fins de comparação. Na ligação entre a unidade phono e o prévio recorri a um cabo com fichas RCA, pois o meu prévio não possui ligações balanceadas. O Kimber Select KS 1021 levava o sinal para o Mark Levinson N.º 27.5, ligado à Quad ELS 63 por meio do Kimber KS 3035 e, mais tarde, pelo van den Hul Supernova. Os componentes activos e passivos que intervêm na amplificação estão dispostos sobre um amplo circuito impresso, e é visível aqui a qualidade dos componentes utilizados, nomeadamente as resistências de 1% e os condensadores de polipropileno, isto para além dos quatro módulos CC80 e dos andares de regulação da tensão de alimentação. As comutações entre os diversos modos de funcionamento são controladas por lógica TTL, a qual actua sobre relés de contactos dourados. Pena apenas os condensadores cerâmicos na entrada. Eu sei que desde que se deixou de utilizar o poliestireno nunca mais se conseguiu chegar perto do seu elevado nível de desempenho sónico para sinais de pequena amplitude, mas os condensadores cerâmicos não são certamente o melhor substituto. Eu utilizo condensadores de poliestireno de 1% na minha unidade phono e esperaria que a AQVOX recorresse aos condensadores miniatura de polipropileno para a mesma situação. Eu sei que o PHONO 2 CI tem um preço quase imbatível mas, já agora, porque não uns potenciómetros de melhor qualidade (e melhor linearidade ao longo do campo de rotação, embora tenham duas secções em paralelo)? Eu posso estar a pedir de mais e certamente que a AQVOX não tem culpa de eu próprio ser (mais ter sido, que hoje em dia o tempo não dá para nada) construtor de equipamentos, mas isso não impede que eu peça aquilo que, em meu entender, optimizaria o comportamento do PHONO 2 CI de tal modo que só as unidades 6 AUDIO&CINEMA EM CASA muito high-end o ultrapassariam. Audições O AQVOX PHONO 2 CI ficou comigo durante um vasto período de tempo, não só graças à boa vontade do Norman mas também porque o meu pouco tempo livre fez com que decorresse algum tempo até que me fosse possível sentar calmamente e escrever esta análise. Audições foram realmente muitas e com bastante prazer, razão porque não me estou a queixar. A melhor maneira de testar um produto como esta unidade phono com dois tipos de entrada diferentes é tendo dois cabos de gira-discos idênticos, um equipado com fichas RCA e o outro com fichas XLR. Felizmente eu tinha essa possibilidade, na forma do Audioquest Lapis, um clássico já com alguns anos e que numa das suas formulações possuía quatro condutores independentes. Deste modo pude ensaiar as diversas possibilidades e ver até que ponto a entrada balanceada constituía uma maisvalia. Coisa que, aliás, eu já sabia desde há algum tempo, uma vez que tenho comigo a unidade phono do prévio Jeff Rowland Consummate, que aqui há alguns anos foi das primeiras a incluir entradas balanceadas. Assim sendo, nada como seguir em frente e ligar o PHONO 2 CI à cabeça Benz LP que equipa o braço SME V do meu Basis Gold Debut. A partir daqui o sinal ia, através de um Black Foram experiências muito interessantes e compensadoras do ponto de vista auditivo as que pude estabelecer durante os três meses que ensaiei esta versátil unidade phono. Foi necessário experimentar diversas situações, nomeadamente o ajuste de ganho de entrada e a posição do potenciómetro de volume que mais se adaptava ao equilíbrio de ganhos do meu sistema, mas no final tudo combinou bem. Aliás, é para este último aspecto que chamo desde já a atenção dos leitores: insistam em diversas possibilidades de ajuste dos controlos de nível do PHONO 2 CI, pois só assim conseguirão os melhores resultados. Um nível de saída baixo conduz a um som pouco dinâmico e mesmo demasiado escuro, razão porque eu acabei por optar por colocar os dois potenciómetros no máximo e seleccionar o ganho suplementar de +20 dB na entrada. Aqui as coisas ficaram mais equilibradas, embora não deixasse de sentir que o conjunto tinha possibilidades de ir ainda mais além. E o Carlos Candeias disse-me exactamente isso nos e-mail que trocámos e em que eu citava esta situação, pois informou-me que as unidades de produção do PHONO 2 CI colocadas no mercado a partir do início deste ano tiveram alguns pequenos ajustes no ganho global e mesmo no do andar de controlo de volume. Pelos vistos não fui só eu a detectar a necessidade desta pequena alteração. Pois ouvir discos de vinilo é ainda considerado como que um certo «desvio à normalidade» por parte de um vasto número de pessoas. De facto, no momento em se podem armazenar milhares de músicas com- Maio 2006 n.° 189 primidas em MP3 num pequeno leitor que pesa apenas algumas dezenas de gramas e que só necessita de um par de auscultadores para nos «encher» os ouvidos de músicas, como é que é possível recorrer a uma tecnologia mecânica tão antiquada e a discos de vinilo tão volumosos para ter apenas algo como cinco a seis faixas por lado do disco? Sim, porque não nos podemos esquecer que de 20 em 20 minutos o ouvinte é obrigado a levantar-se para ir virar ou mudar o disco. Pois é, mas a verdade é que quem gosta de vinilo continua a usar os tão pouco ergonómicos discos pretos e tenho visto mesmo muito audiófilo moderno a converterse incondicionalmente aos encantos do som analógico. Sim, convém não esquecer que, em termos de fonte, o vinilo é praticamente a única solução analógica existente, pois as «velhas» cassetes desapareceram praticamente de circulação em poucos anos. Não quero ficar aqui a perorar indefinidamente sobre o som analógico, como ele é bonito, como ele tem qualidades únicas, enfim, um conjunto de loas que, colocadas por escrito, pouco adiantariam para os que continuam cépticos em relação ao vinilo. Para além disso, o importante não é querer convencer alguém, o que conta mesmo é que as pessoas se convençam por si próprias quando sujeitas à experiência, ou seja, esta acção «messiânica» só funciona quando quem está do outro lado tem os ouvidos e a mente abertos para novas experiências. E que experiências são essas? Pois ouvir um bom disco de vinilo num bom sistema é como degustar um bom vinho: tem que se começar a preparar o «cenário» com alguma antecedência, ver se o vinho está à temperatura correcta, abri-lo algum tempo antes (dependendo da estrutura do vinho, das castas usadas e dos anos que tem) e, não menos importante, combiná-lo com o tipo de comida correcto, ou seja, que potencie as suas qualidades ou, no mínimo, que não as ofusque. Parece complicado mas não é. Os dias que correm dão-nos demasiado a ideia de que tudo é de consumo rápido, que não há tempo para fruirmos as coisas e as emoções que elas nos provocam, mas é exactamente por isso que penso que devemos forçar-nos a nós próprios para conseguirmos esses tais momentos de paragem tão importantes na vida, para estarmos lado a lado com a música, a família e os amigos e recuperarmos emocionalmente do desgaste da vida moderna. Caso contrário, corremos o risco de passarmos por tudo de modo tão acelerado que quando damos por isso é como se já tivéssemos visto e experimentado tudo e não nos restassem mais objectivos na vida, o que, sinceramente, é algo que não me agrada como perspectiva de vida. E ouvir vinilo proporciona-nos exactamente essa possibilidade, pois existe em todo aquele ritual de retirar o disco da protecção, passar a escova por ele, colocá-lo no prato do giradiscos e ligar o motor, colocando depois a agulha na sua superfície, uma sensação de desaceleração de ritmo, de paz interior, que nos coloca logo à partida numa situação de predisposição para apreciar a música que sai dos sulcos do disco. E é aqui que entra em acção uma boa unidade phono, pois é ela que vai permitir que os minúsculos sinais que saem da cabeça de leitura sejam amplificados de modo correcto, que significa não só compensar perfeitamente a igualização imprimida ao sinal musical antes de passar para o disco, como ainda não lhe acrescentar ruídos espúrios, mas atribuindo ao sinal amplitude suficiente para que possa entrar no andar de amplificação seguinte como se fosse um sinal de linha. AUDIO&CINEMA EM CASA 7 TESTE AQVOX PHONO 2 CI estragar nada. A qualidade dos timbres, a solidez da imagem espacial, a riqueza dos graves imponentes e profundos, tudo isto são aspectos de reprodução que só abonam em favor do PHONO 2 CI. Os metais, as cordas e as percussões ressoam com toda a sua paleta natural de cores, sem sensações directas de qualquer tipo de compressão e com uma energia que entusiasma quem ouve. A reduzidíssima amplitude do sinal original, bem como as enormes (1:1000) variações no ganho ao longo da frequência fazem com que projectar um bom andar de phono seja um dos desafios maiores que se colocam a um engenheiro de áudio. Mas as audições que fiz provaram que o Carlos Candeias e os engenheiros da AQVOX conhecem bem o seu métier. E uma das primeiras coisas a constatar é alguma superioridade das entradas balanceadas em relação às entradas RCA. Nada que não fosse de esperar, em face das minhas diversas experiências com este tipo de ligações. De facto, pelas entradas balanceadas a música ganha um maior arejamento, uma maior coesão, é como se, por exemplo, uma orquestra sinfónica como a Filarmónica de Berlim se espalhasse num leque maior, coincidindo isso com uma superior capacidade de expressão dos músicos, mais livres eles também para manifestarem todo o seu virtuosismo. Tinha na minha frente, na ligação XLR, como que um verdadeiro festim em três dimensões, com uma envolvência sonora e dinâmica que provocavam como que um inebriar dos sentidos. A ausência de brilho artificial nos agudos e extrema clareza da gama média conferiam a 8 AUDIO&CINEMA EM CASA cada som ouvido uma magnificência que convidava a ouvir por mais tempo e mesmo a «estrear» alguns dos discos que tenho sempre de lado para estas ocasiões especiais. De facto, quando da minha última deslocação ao Japão, comprei um álbum duplo de Chick Corea, acompanhado por Pat Metheny, Gary Burto, Roy Haines e Dave Holland, a um preço que não me atrevo a divulgar, disco esse que se revelou ser algo de sublime, não só pelo vinilo puro de 180 gramas utilizado na sua fabricação, como pelas maravilhas que continha nos sulcos ainda por mim não desvendados. O ritmo verdadeiramente alucinante que Chick Corea imprime às suas actuações estava ali bem presente, como igualmente se destacou a quase verdadeira comunhão entre este músico espectacular e os outros grandes nomes que com ele emparceiravam. Assim vale a pena ouvir vinilo! Quando da reprodução de música de câmara, o cinzelado e a delicadeza das harmonias instrumentais contidas em certas faixas (com trabalhos de Vivaldi, Boccherini e Corelli) do disco Die Rohre, gravado utilizando exclusivamente equipamentos a válvulas, revelaram-me subtilezas de reprodução que só as muito boas unidades phono conseguem ir buscar sem Bom, o texto já vai longo, e não há nada de negativo no PHONO 2 CI? Em relação ao que disse atrás e às loas que teci, não retiro uma palavra. Apenas comento que será de ter em atenção o equilíbrio de ganhos, principalmente quando se usem cabeças de baixo nível de saída, como acontece com diversas Ortofon. A não optimização deste aspecto pode produzir como resultado um som dinamicamente mais mortiço e mesmo mais arrastado em termos de timing. Por outro lado, e sempre que tal seja possível, são de preferir sempre as entradas balanceadas. Creio que uma boa loja não terá problemas em fornecer os cabos apropriados, isto desde que ou se compre o equipamento directamente na Alemanha ou já exista na altura distribuidor em Portugal. Conclusão Para os (ainda muitos) amantes do analógico o AQVOX PHONO 2 CI é uma proposta que permite potenciar o desempenho sónico de um bom sistema analógico. A um preço que se pode considerar acessível, proporciona entradas balanceadas e um conjunto de ajustes, coisas que só costumam estar presentes em equipamentos de preço bem superior. Os controlos de volume frontais são muito úteis e o desempenho sonoro é de primeira água. Eis aqui uma proposta de uma jovem empresa que merece singrar no mercado português pelo menos tão bem como o está a fazer no exigente mercado alemão de vinilo. Muito recomendado. Preço na Alemanha: 700,00 e Representante: N/D em Portugal Contacto: www.aqvox.de