AQVOX PHONO 2 CI

Transcrição

AQVOX PHONO 2 CI
TESTE
Jorge Gonçalves
AQVOX PHONO 2 CI
Se há país europeu onde o vinilo tem
(ainda e sempre) uma grande aceitação é a Alemanha, facto bem patente na existência de duas revistas
exclusivamente dedicadas a gira-discos, cabeças de leitura, acessórios
para som analógico, discos, etc.
Alguns poderão apelidar esta «teimosia» de conservadorismo, mas essa
será uma atitude excessivamente
reducionista, já que o que está na
génese de tudo isto é a combinação
da existência de uma indústria local
bastante activa, nomeadamente em
termos de fabricantes de (bons) giradiscos, com um gosto genuíno pelo
som analógico, novamente positivamente reflectido no facto de durante
muitos anos este ser o país europeu
onde mais se vendia equipamento de
áudio de dois canais. Aliás, a nossa
confrade na EISA, a revista Stereo,
continua garbosamente a «gabar-se»
2 AUDIO&CINEMA EM CASA
de não testar equipamento para cinema em casa. Poderá ser que o meu
amigo Mathias Bode seja considerado, como ele próprio o diz por vezes
em tom de brincadeira, algo como
que um dinossáurio da alta-fidelidade, mas não deixa de ser importante
e sintomático que a Stereo continue a
juntar em volta de si um vasto número de leitores e de anunciantes.
Mas a razão principal porque estamos
aqui tem a ver com o facto de há uns
meses eu ter sido abordado telefonicamente por uma entusiástica voz,
falando um inglês com apenas um
ligeiro sotaque e que me apregoava
todas as qualidades de uma novíssima unidade phono acabada de introduzir no mercado alemão. Tão convincente foi o Norman Luebke que
acabei por aceitar que me enviasse
uma dessas unidades para eu ouvir.
Trata-se então da AQVOX PHONO 2
CI, desenhada quase em exclusivo
por uma das mais interessantes «personagens» actuais do mundo da
engenharia electrónica aplicada ao
áudio. De facto, Carlos Candeias, que
tive o gosto de encontrar pessoalmente aqui há uns anos, com ascendência portuguesa na família, começou por tentar desenvolver uma
marca de electrónica no mercado alemão, país onde viveu por largos anos,
tendo lá casado. A vida muda e o
Carlos acabou por se separar e ir viver
para a China. Neste momento está
casado com uma chinesa e fala mandarim na perfeição, sendo um autêntico homem dos sete ofícios, já que
criou uma empresa, a Candeias
Engineering, a qual desenvolve projectos para diversos nomes bem
conhecidos do áudio profissional e
doméstico, tais como, por exemplo, a
C.E.C., um prestigiado fabricante
japonês.
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Um dos elementos fundamentais
desses projectos é o recurso à utilização de módulos electrónicos, desenvolvidos pelo Carlos e recorrendo a
topologias originais e patenteadas.
Vão ao endereço http://www.candeias.com/english/company.htm e
encontrarão certamente informação
mais que suficiente para satisfazer
mesmo os mais interessados nos
meandros da electrónica.
Carlos Candeias tem desde já um currículo impressionante no domínio da
electrónica aplicada ao áudio: em
1984 desenhou o primeiro upgrade
para o conversor D/A de um leitor de
CD’s, seguido de uma coluna bipolar
com correcção activa, em 1990, da
tecnologia de amplificação CHAMP,
em 1995, do amplificador LEF, em
2000, do controlador de ganho IGM,
em 2004, com a maior precisão até
hoje conseguida em controlo de volume, e diversas outras inovações que
seria fastidioso enumerar.
A tecnologia mais interessante desenvolvida pelo Carlos é a LEF (Load
Effects Free), que tem como objectivo
fundamental libertar um transístor do
efeito da carga, uma das situações
que mais limita o seu desempenho.
De acordo com a documentação da
Candeias Engineering/CC Tech, a tec-
nologia LFE anula na prática muitos
dos malefícios da realimentação, ao
evitar que a maioria das distorções de
funcionamento dos dispositivos activos ocorra em vez de tentar corrigilas mais tarde. O recurso à configuração cascode evita que as não linearidades resultantes da curva característica de tensão VCE afectem o sinal,
embora tenha como efeito menos
positivo uma perda de rendimento de
amplificação em potência. Na topologia LFE e utilizando as palavras do
próprio Candeias, é como se um elegante e versátil bailarino evoluísse na
nossa frente, movendo-se como uma
pena, tendo, no entanto, o indispensável apoio de um culturista sempre
que fosse necessário recorrer a
demonstrações de força. Isto significa
que o transístor principal trabalha
sempre num regime de total à-vontade em termos dinâmicos e não transfere para a saída a sua característica
de corrente de saída (Ic), já que tem
sempre ao seu lado o insubstituível
«assistente de corrente». Novamente
recorrendo à documentação da CC
Tech, é como se um amplificador LFE
soasse sempre como tendo capacidades «ilimitadas» de corrente e tensão
dentro da sua gama de funcionamento, isto combinado com velocidade,
dinâmica e uma elegância notável.
Não resisto, aliás, a transcrever uma
notável comparação entre o funcionamento da tecnologia LFE e o génio
Leonardo da Vinci, desvendada pelo
Carlos Candeias na documentação
citada:
Suponhamos que é entregue a
Leonardo a tarefa de pintar o tecto
de uma igreja em Florença utilizando
toda a sua arte e minúcia. Neste
exemplo Leonardo é o transístor principal de um bloco LFE. Se a tela/tecto
se situar à altura de Leonardo este
não terá qualquer problema em
superar-se uma vez mais.
Mas o pé-direito da capela é bem alto
(ilustrando aqui a característica de
tensão VCE do transístor), pelo que
ele vai necessitar de uma plataforma
móvel que o eleve até uma altura tal
que ele consiga pintar esticando apenas o braço, como é normal. A plataforma representa aqui a montagem
cascode.
Mas, enquanto pinta, ele necessita de
ter perto de si (idealmente nos braços) toda a sua panóplia de tintas,
paletas e pincéis, que representam
aqui a característica de corrente Ic do
transístor de que temos estado a
falar. Claro que isso é impossível, mas
felizmente ele tem a possibilidade de
recorrer a assistentes bem possantes
(os auxiliares de corrente do transísAUDIO&CINEMA EM CASA 3
TESTE AQVOX PHONO 2 CI
tor), que lhe carregam tudo isso e o
deixam pintar sem sentir nas mãos
mais peso que o do próprio pincel.
Se lhe for possível, imagine Leonardo
pintando com ambas as mãos, usando ao mesmo tempo pincéis grandes
e pequenos, pintando a alta velocidade com uma impressionante paleta
de cores, e ficará muito próximo de
imaginar como funciona a tecnologia
LFE.
Só para o ajudar um pouco: os amplificadores «normais» funcionam
como pintores que têm sempre que
carregar as suas próprias paletas e
tintas e recorrem a escadas que os
obrigam a esticar demasiado os braços para chegar à zona a ser pintada.
Esta é uma alegoria muito bem conseguida e que ajuda a compreender
de que modo a topologia LFE se destaca das tecnologias convencionais
de amplificação.
Em termos práticos, a CC Tech implementa esta tecnologia incorporando
todos os componentes necessários
para a construção de um bloco de
amplificação num módulo selado e
encapsulado, designado por CC80.
As características deste módulo são
notáveis: funcionamento puramente
diferencial, andar de saída LFE em
classe A, controlo interno de offset,
regulador de tensão integrado,
ganho ajustável entre 0 e 800, funcionamento estável com ganho unitário, filtro interno configurável, compensação de frequência configurável,
injecção de corrente configurável,
distorção dinâmica muito baixa e
baixo ruído. As aplicações possíveis
são bem variadas, não se limitando
ao caso vertente da unidade phono
que recorre a quatro destes módulos.
Em conjunto com a LFE, Candeias
recorre a uma outra possibilidade tecnológica, pouco utilizada pela maioria dos projectistas de electrónica e
designada
por
«Injecção
de
Corrente/Current Injection». O que se
consegue fundamentalmente com a
combinação das duas topologias é
uma simplificação enorme dos circuitos amplificadores: para um funcionamento totalmente balanceado
seriam normalmente necessários seis
andares independentes de amplificação por canal, coisa que Candeias
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consegue com apenas dois blocos
CC80 por canal. Claro que quanto
menos vezes um sinal for amplificado
(Candeias diz que um amplificador
copia o sinal de entrada para a saída),
mais hipóteses temos de que ele não
se afaste do original. Por outro lado,
a topologia Current Injection dispensa o uso de realimentação, o que só
pode contribuir para uma melhoria
na qualidade do sinal, uma vez que a
realimentação não contribui positivamente para a qualidade do sinal em
si, antes se limitando a tentar corrigir
aquilo que o amplificador fez de mal.
Claro que, neste caso, não temos
praticamente nenhuma corrente de
offset de entrada, já que, caso contrário, essa corrente poderia percorrer
a cabeça e prejudicar o seu funcionamento.
Descrição técnica
O PHONO 2 CI é um prévio phono
que possui na sua saída, graças aos
módulos CC80, um amplificador de
corrente single-ended, em classe A.
totalmente simétrico. Mas um dos
seus maiores méritos é possuir algo
que muito raramente se encontra
num prévio deste tipo, a não ser nos
muito caros – entradas balanceadas.
A AQVOX fornece adaptadores XLR para RCA.
E qual a grande vantagem deste tipo
de entrada num andar phono? Pois
pura e simplesmente porque a cabeça de gira-discos é um dispositivo
transdutor inerentemente balanceado, que possui no seu interior duas
bobinas completamente independentes que captam o sinal de cada um
dos canais. Assim sendo, temos duas
ligações por canal, sem qualquer
ponto comum de massa, o que é a
definição final de um gerador balanceado. Nada mais natural que a
amplificação se faça igualmente
através de um amplificador balanceado, coisa que normalmente não é
feita por uma questão de custo. Aliás,
na saída do braço as ligações são normalmente balanceadas e é o cabo de
ligação ao prévio, ao recorrer a fichas
RCA, que obriga a estabelecer a ligação comum de massa que transforma
a ligação balanceada em simples. As
duas vantagens mais evidentes de um
amplificador balanceado são: uma
melhor relação sinal/ruído, uma vez
que os sinais do tipo comum se cancelam um ao outro; um ganho suplementar de 6 dB em relação a um
amplificador single-ended de topologia semelhante. Em face dos níveis
reduzidos dos sinais a amplificar que,
em casos extremos, atingem amplitudes pouco maiores que 100 microvolt, não é difícil perceber que a
AQVOX tenha recorrido a esta configuração.
Mas este interessante fabricante alemão não se ficou por aí. Tentando
adaptar o mais possível a precisão da
curva de correcção RIAA, que deve
ser uma imagem no espelho daquilo
que aconteceu no torno de corte dos
masters que dão origem aos discos
LP, a AQVOX colaborou com a
Neuman na definição de uma constante que tivesse em conta o facto de
a maioria das máquinas de corte de
masters utilizarem igualização adicional acima dos 20 kHz (frequência a
partir da qual diminui muito significativamente a amplitude dos sinais gravados no disco), para proteger quer
as próprias cabeças quer os amplificadores que as atacam. E porquê a
Neuman? Porque foi o maior fabricante de máquinas de corte para discos e o que manteve essa fabricação
durante mais tempo, mesmo até bem
dentro dos anos 80. Uma rápida pesquisa permitiu concluir que, por
exemplo, nos Estados Unidos, 60%
das máquinas de corte instaladas a
partir de 1950 eram de fabricação
Neuman. A chamada «curva
Neuman» foi definida mais tarde que
a curva RIAA, o que faz com que esta
seja um standard «legal», enquanto a
da Neuman é um standard «de
facto», já que é a curva que é utilizada na prática. Na prática, a adopção
desta curva por parte da AQVOX faz
com que os sinais com frequências
acima dos 15...18 kHz sejam ligeiramente mais amplificados, o que se
deveria traduzir por um som mais
vivo e claro nos agudos. O facto é
que a maioria destas frequências não
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A electrónica do PHONO 2 CI está
contida numa sólida caixa de alumínio escovado com uma estrutura simplista: dois controlos de volume na
parte frontal, ladeados por um comutador de filtro subsónico (à esquerda)
e pelo botão de volume (à direita).
A «constante Neuman» eleva ligeiramente o ganho nos agudos.
é audível, mas lá que existe um resultado final confirmado por vários
especialistas, na forma de um som
mais aberto e espacial, isso é verdade. Daí a razão para a utilização da
chamada «constante Neuman de 50
kHz» no PHONO 2 CI, coisa muito
rara em qualquer unidade phono.
Por outro lado, a AQVOX defende
que não seja utilizada a constante de
igualização das frequências graves
introduzida já nos finais dos anos 70
pela IEC, pois na prática não é mais
que um filtro subsónico que tinha
como fim facilitar a vida a alguns conjuntos gira-discos/braço que, pelas
mais diversas circunstâncias, não conseguiam reproduzir correctamente as
baixas frequências e entravam
mesmo em oscilação mecânica com a
energia contida nos graves mais profundos (ainda me lembro das
demonstrações da Telarc da Abertura
1812 de Tchaikovski, quando os
canhões finais quase que faziam o
braço fugir do disco!).
do tipo balanceado, razão porque,
para além das entradas balanceadas
por XLR, a AQVOX recorreu a entradas convencionais do tipo RCA. Estas
entradas são recomendadas fundamentalmente para o caso de cabeças
MM, que possuem um nível de tensão de saída mais elevado, mas é evidente que isso não deve ser encarado
de modo dogmático. Eu utilizei as
duas possibilidades e, embora reconheça que a ligação balanceada tem
muitas vantagens, concordo que, no
caso de não ser possível utilizá-la, a
entrada RCA é uma boa alternativa.
Nas traseiras, as citadas fichas de ligação (entrada e saída) RCA e XLR, três
interruptores DIP switch para seleccionar a impedância e a capacidade
de carga da cabeça (100 Ohm ou 1 k,
apenas, num caso, e 47 pF, 100 pF,
220 pF e 470 pF, no outro), bem
como um outro para definir o
aumento de ganho (+ 6 dB ou + 20
dB), um comutador de selecção de
entrada e um outro para implementar ou não a ligação de massa
comum, que pode em determinados
casos facilitar a resolução de problemas de zumbido. A fonte de alimentação constitui mais uma das novidades desta unidade, pois é do tipo
comutado, situação pouco vulgar
neste tipo de unidades, em que se
utiliza normalmente uma fonte linear.
Igualmente original é o conceito de
«injecção de corrente» empregue na
entrada do PHONO 2 CI, e que funciona de modo alternativo em relação à
convencional amplificação de tensão.
Neste caso é a corrente gerada na
cabeça (e que pode ter valores bem
mais importantes que as diminutas tensões de microvolt atrás citadas) que
excita a entrada do amplificador, através de uma resistência de valor bem
mais elevado do que é normal. Deste
modo a cabeça não «vê» do outro lado
a impedância baixa que é costume existir (entre 200 Ohm e cerca de 10
kOhm) do lado do prévio, o que diminui a eventual constrição dinâmica.
Como já disse atrás, a maioria dos
cabos de ligação de gira-discos não é
A AQVOX tem uma excelente relação com o actual fabricante das máquinas Neuman.
AUDIO&CINEMA EM CASA 5
TESTE AQVOX PHONO 2 CI
Rhodium Requiem, para o prévio do
sistema, construído por mim e que
possui igualmente uma excelente
entrada phono para fins de comparação. Na ligação entre a unidade
phono e o prévio recorri a um cabo
com fichas RCA, pois o meu prévio
não possui ligações balanceadas. O
Kimber Select KS 1021 levava o sinal
para o Mark Levinson N.º 27.5, ligado
à Quad ELS 63 por meio do Kimber
KS 3035 e, mais tarde, pelo van den
Hul Supernova.
Os componentes activos e passivos
que intervêm na amplificação estão
dispostos sobre um amplo circuito
impresso, e é visível aqui a qualidade
dos componentes utilizados, nomeadamente as resistências de 1% e os
condensadores de polipropileno, isto
para além dos quatro módulos CC80
e dos andares de regulação da tensão
de alimentação. As comutações entre
os diversos modos de funcionamento
são controladas por lógica TTL, a qual
actua sobre relés de contactos dourados. Pena apenas os condensadores
cerâmicos na entrada. Eu sei que
desde que se deixou de utilizar o
poliestireno nunca mais se conseguiu
chegar perto do seu elevado nível de
desempenho sónico para sinais de
pequena amplitude, mas os condensadores cerâmicos não são certamente o melhor substituto. Eu utilizo condensadores de poliestireno de 1% na
minha unidade phono e esperaria
que a AQVOX recorresse aos condensadores miniatura de polipropileno
para a mesma situação. Eu sei que o
PHONO 2 CI tem um preço quase
imbatível mas, já agora, porque não
uns potenciómetros de melhor qualidade (e melhor linearidade ao longo
do campo de rotação, embora
tenham duas secções em paralelo)?
Eu posso estar a pedir de mais e certamente que a AQVOX não tem
culpa de eu próprio ser (mais ter sido,
que hoje em dia o tempo não dá para
nada) construtor de equipamentos,
mas isso não impede que eu peça
aquilo que, em meu entender, optimizaria o comportamento do PHONO
2 CI de tal modo que só as unidades
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muito high-end o ultrapassariam.
Audições
O AQVOX PHONO 2 CI ficou comigo
durante um vasto período de tempo,
não só graças à boa vontade do
Norman mas também porque o meu
pouco tempo livre fez com que
decorresse algum tempo até que me
fosse possível sentar calmamente e
escrever esta análise. Audições foram
realmente muitas e com bastante
prazer, razão porque não me estou a
queixar.
A melhor maneira de testar um produto como esta unidade phono com
dois tipos de entrada diferentes é
tendo dois cabos de gira-discos idênticos, um equipado com fichas RCA e
o outro com fichas XLR. Felizmente
eu tinha essa possibilidade, na forma
do Audioquest Lapis, um clássico já
com alguns anos e que numa das
suas formulações possuía quatro condutores independentes. Deste modo
pude ensaiar as diversas possibilidades e ver até que ponto a entrada
balanceada constituía uma maisvalia. Coisa que, aliás, eu já sabia
desde há algum tempo, uma vez que
tenho comigo a unidade phono do
prévio Jeff Rowland Consummate,
que aqui há alguns anos foi das primeiras a incluir entradas balanceadas.
Assim sendo, nada como seguir em
frente e ligar o PHONO 2 CI à cabeça
Benz LP que equipa o braço SME V
do meu Basis Gold Debut. A partir
daqui o sinal ia, através de um Black
Foram experiências muito interessantes e compensadoras do ponto de
vista auditivo as que pude estabelecer
durante os três meses que ensaiei
esta versátil unidade phono. Foi
necessário experimentar diversas
situações, nomeadamente o ajuste
de ganho de entrada e a posição do
potenciómetro de volume que mais
se adaptava ao equilíbrio de ganhos
do meu sistema, mas no final tudo
combinou bem. Aliás, é para este último aspecto que chamo desde já a
atenção dos leitores: insistam em
diversas possibilidades de ajuste dos
controlos de nível do PHONO 2 CI,
pois só assim conseguirão os melhores resultados. Um nível de saída
baixo conduz a um som pouco dinâmico e mesmo demasiado escuro,
razão porque eu acabei por optar por
colocar os dois potenciómetros no
máximo e seleccionar o ganho suplementar de +20 dB na entrada. Aqui
as coisas ficaram mais equilibradas,
embora não deixasse de sentir que o
conjunto tinha possibilidades de ir
ainda mais além. E o Carlos Candeias
disse-me exactamente isso nos e-mail
que trocámos e em que eu citava esta
situação, pois informou-me que as
unidades de produção do PHONO 2
CI colocadas no mercado a partir do
início deste ano tiveram alguns
pequenos ajustes no ganho global e
mesmo no do andar de controlo de
volume. Pelos vistos não fui só eu a
detectar a necessidade desta pequena alteração.
Pois ouvir discos de vinilo é ainda
considerado como que um certo
«desvio à normalidade» por parte de
um vasto número de pessoas. De
facto, no momento em se podem
armazenar milhares de músicas com-
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primidas em MP3 num pequeno leitor que pesa apenas algumas dezenas de gramas e que só necessita de
um par de auscultadores para nos
«encher» os ouvidos de músicas,
como é que é possível recorrer a uma
tecnologia mecânica tão antiquada e
a discos de vinilo tão volumosos para
ter apenas algo como cinco a seis faixas por lado do disco? Sim, porque
não nos podemos esquecer que de
20 em 20 minutos o ouvinte é obrigado a levantar-se para ir virar ou
mudar o disco. Pois é, mas a verdade
é que quem gosta de vinilo continua
a usar os tão pouco ergonómicos discos pretos e tenho visto mesmo
muito audiófilo moderno a converterse incondicionalmente aos encantos
do som analógico. Sim, convém não
esquecer que, em termos de fonte, o
vinilo é praticamente a única solução
analógica existente, pois as «velhas»
cassetes desapareceram praticamente de circulação em poucos anos.
Não quero ficar aqui a perorar indefinidamente sobre o som analógico,
como ele é bonito, como ele tem
qualidades únicas, enfim, um conjunto de loas que, colocadas por escrito,
pouco adiantariam para os que continuam cépticos em relação ao vinilo.
Para além disso, o importante não é
querer convencer alguém, o que
conta mesmo é que as pessoas se
convençam por si próprias quando
sujeitas à experiência, ou seja, esta
acção «messiânica» só funciona
quando quem está do outro lado tem
os ouvidos e a mente abertos para
novas experiências.
E que experiências são essas? Pois
ouvir um bom disco de vinilo num
bom sistema é como degustar um
bom vinho: tem que se começar a
preparar o «cenário» com alguma
antecedência, ver se o vinho está à
temperatura correcta, abri-lo algum
tempo antes (dependendo da estrutura do vinho, das castas usadas e
dos anos que tem) e, não menos
importante, combiná-lo com o tipo
de comida correcto, ou seja, que
potencie as suas qualidades ou, no
mínimo, que não as ofusque. Parece
complicado mas não é. Os dias que
correm dão-nos demasiado a ideia de
que tudo é de consumo rápido, que
não há tempo para fruirmos as coisas
e as emoções que elas nos provocam,
mas é exactamente por isso que
penso que devemos forçar-nos a nós
próprios para conseguirmos esses tais
momentos de paragem tão importantes na vida, para estarmos lado a
lado com a música, a família e os
amigos e recuperarmos emocionalmente do desgaste da vida moderna.
Caso contrário, corremos o risco de
passarmos por tudo de modo tão
acelerado que quando damos por
isso é como se já tivéssemos visto e
experimentado tudo e não nos restassem mais objectivos na vida, o que,
sinceramente, é algo que não me
agrada como perspectiva de vida.
E ouvir vinilo proporciona-nos exactamente essa possibilidade, pois existe
em todo aquele ritual de retirar o
disco da protecção, passar a escova
por ele, colocá-lo no prato do giradiscos e ligar o motor, colocando
depois a agulha na sua superfície,
uma sensação de desaceleração de
ritmo, de paz interior, que nos coloca
logo à partida numa situação de predisposição para apreciar a música que
sai dos sulcos do disco.
E é aqui que entra em acção uma boa
unidade phono, pois é ela que vai permitir que os minúsculos sinais que
saem da cabeça de leitura sejam amplificados de modo correcto, que significa não só compensar perfeitamente a
igualização imprimida ao sinal musical
antes de passar para o disco, como
ainda não lhe acrescentar ruídos espúrios, mas atribuindo ao sinal amplitude
suficiente para que possa entrar no
andar de amplificação seguinte como
se fosse um sinal de linha.
AUDIO&CINEMA EM CASA 7
TESTE AQVOX PHONO 2 CI
estragar nada. A qualidade dos timbres, a solidez da imagem espacial, a
riqueza dos graves imponentes e profundos, tudo isto são aspectos de
reprodução que só abonam em favor
do PHONO 2 CI. Os metais, as cordas
e as percussões ressoam com toda a
sua paleta natural de cores, sem sensações directas de qualquer tipo de
compressão e com uma energia que
entusiasma quem ouve.
A reduzidíssima amplitude do sinal
original, bem como as enormes
(1:1000) variações no ganho ao
longo da frequência fazem com que
projectar um bom andar de phono
seja um dos desafios maiores que se
colocam a um engenheiro de áudio.
Mas as audições que fiz provaram
que o Carlos Candeias e os engenheiros da AQVOX conhecem bem o
seu métier.
E uma das primeiras coisas a constatar
é alguma superioridade das entradas
balanceadas em relação às entradas
RCA. Nada que não fosse de esperar,
em face das minhas diversas experiências com este tipo de ligações. De
facto, pelas entradas balanceadas a
música ganha um maior arejamento,
uma maior coesão, é como se, por
exemplo, uma orquestra sinfónica
como a Filarmónica de Berlim se espalhasse num leque maior, coincidindo
isso com uma superior capacidade de
expressão dos músicos, mais livres eles
também para manifestarem todo o
seu virtuosismo. Tinha na minha frente, na ligação XLR, como que um verdadeiro festim em três dimensões,
com uma envolvência sonora e dinâmica que provocavam como que um
inebriar dos sentidos. A ausência de
brilho artificial nos agudos e extrema
clareza da gama média conferiam a
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cada som ouvido uma magnificência
que convidava a ouvir por mais tempo
e mesmo a «estrear» alguns dos discos que tenho sempre de lado para
estas ocasiões especiais. De facto,
quando da minha última deslocação
ao Japão, comprei um álbum duplo
de Chick Corea, acompanhado por
Pat Metheny, Gary Burto, Roy Haines
e Dave Holland, a um preço que não
me atrevo a divulgar, disco esse que
se revelou ser algo de sublime, não só
pelo vinilo puro de 180 gramas utilizado na sua fabricação, como pelas
maravilhas que continha nos sulcos
ainda por mim não desvendados. O
ritmo verdadeiramente alucinante que
Chick Corea imprime às suas actuações estava ali bem presente, como
igualmente se destacou a quase verdadeira comunhão entre este músico
espectacular e os outros grandes
nomes que com ele emparceiravam.
Assim vale a pena ouvir vinilo!
Quando da reprodução de música de
câmara, o cinzelado e a delicadeza
das harmonias instrumentais contidas
em certas faixas (com trabalhos de
Vivaldi, Boccherini e Corelli) do disco
Die Rohre, gravado utilizando exclusivamente equipamentos a válvulas,
revelaram-me subtilezas de reprodução que só as muito boas unidades
phono conseguem ir buscar sem
Bom, o texto já vai longo, e não há
nada de negativo no PHONO 2 CI?
Em relação ao que disse atrás e às
loas que teci, não retiro uma palavra.
Apenas comento que será de ter em
atenção o equilíbrio de ganhos, principalmente quando se usem cabeças
de baixo nível de saída, como acontece com diversas Ortofon. A não optimização deste aspecto pode produzir
como resultado um som dinamicamente mais mortiço e mesmo mais
arrastado em termos de timing. Por
outro lado, e sempre que tal seja possível, são de preferir sempre as entradas balanceadas. Creio que uma boa
loja não terá problemas em fornecer
os cabos apropriados, isto desde que
ou se compre o equipamento directamente na Alemanha ou já exista na
altura distribuidor em Portugal.
Conclusão
Para os (ainda muitos) amantes do
analógico o AQVOX PHONO 2 CI é
uma proposta que permite potenciar
o desempenho sónico de um bom sistema analógico. A um preço que se
pode considerar acessível, proporciona entradas balanceadas e um conjunto de ajustes, coisas que só costumam estar presentes em equipamentos de preço bem superior. Os controlos de volume frontais são muito úteis
e o desempenho sonoro é de primeira água. Eis aqui uma proposta de
uma jovem empresa que merece singrar no mercado português pelo
menos tão bem como o está a fazer
no exigente mercado alemão de vinilo. Muito recomendado.
Preço na Alemanha: 700,00 e
Representante: N/D em Portugal
Contacto: www.aqvox.de

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