Reguladores Vegetais na Citricultura
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Reguladores Vegetais na Citricultura
BOLETIM CITRÍCOLA Dezembro no 3/1997 UNESP/FUNEP/EECB REGULADORES VEGETAIS NA CITRICULTURA José Antonio Alberto da Silva e Luiz Carlos Donadio Funep Via de Acesso Prof. Paulo Donato Castellane, s/nº 14884-900 - Jaboticabal - SP Tel: (16) 3209-1300 Fax: (16) 3209-1306 E-mail: [email protected] Home Page: http://www.funep.com.br Ficha catalográfica preparada pela Seção de Aquisição e Tratamento de Informação do Serviço de Biblioteca e Documentação - FCAV. Silva, José Antonio Alberto da S586r Reguladores vegetais na citricultura / José Antonio Alberto da Silva. -- Jaboticabal : Funep, 1998. 38p.: il ; 21 cm. -- (Boletim Citricola, nº3). Bibliografia 1. Citros - reguladores vegetais. 2. Citros fito-hormonios. 3. Giberelinas. I. Título. II. Donadio, Luiz Carlos, colab. CDU 634.3 ÍNDICE 1. INTRODUÇÃO................................................................... 1 2. PRINCIPAIS REGULADORES VEGETAIS ....................... 2 3. APLICAÇÕES DOS PRINCIPAIS REGULADORES VEGETAIS EM CITROS .............................................................. 5 3.1. Produção de frutos .................................................... 7 3.1.1. Controle do florescimento............................... 7 3.1.2. Pegamento dos frutos.................................... 13 3.1.3. Raleio de frutos ............................................. 16 3.1.4. Controle do ataque de moscas-das-frutas .... 17 3.1.5. Controle da queda de frutos......................... 19 3.2. Qualidade dos frutos ............................................... 24 3.2.1. Tamanho........................................................ 24 3.2.2. Qualidade da casca ....................................... 25 3.2.3. Cor da casca .................................................. 27 3.2.4. Qualidade interna.......................................... 29 3.3. Pós-colheita, desverdecimento e armazenamento ..... 29 4. PRÁTICAS DE APLICAÇÃO DO ÁCIDO GIBERÉLICO ..... 33 5. LITERATURA CONSULTADA .......................................... 35 6. AGRADECIMENTO ......................................................... 38 REGULADORES VEGETAIS NA CITRICULTURA José Antônio Alberto da Silva1 Luiz Carlos Donadio2 1. INTRODUÇÃO A utilização de reguladores vegetais na agricultura não é recente, porém, crescente e chegando a ser, em determinadas situações, um fator de produção, qualidade e produtividade. O conhecimento das substâncias de crescimento presentes nos vegetais levou à descoberta de hormônios vegetais, responsáveis pelo crescimento e desenvolvimento dos tecidos, que, controlados, ou em aplicações exógenas, podem produzir efeitos benéficos. Entre os reguladores existem as auxinas, giberelinas, citocininas, etileno, retardadores e inibidores, que estão presentes e desenvolvem funções hormonais distintas nos vegetais. Este boletim tem por objetivo apresentar as técnicas de utilização de reguladores de crescimento vegetal em citros, especialmente as giberelinas, que são amplamente utilizadas na citricultura mundial, influindo do florescimento à senescência dos frutos, com dosagens comerciais definidas para vários países citrícolas e em função da finalidade de emprego, variedades tratadas, condições edafoclimáticas do pomar, estado nutricional e sanitário das plantas. 1 Engº Agrº MSc Pesquisador Científico, Estação Experimental Citricultura Bebedouro - C.Postal 49, 14700-000 - Bebedouro-SP, Brasil 2 Prof. Dr., Universidade Estadual Paulista-Unesp-FCAV - 14870-000 Jaboticabal-SP, Brasil 1 São apresentadas as informações básicas sobre os principais reguladores de crescimento vegetal, bem como experimentos e aplicação prática do ácido giberélico na citricultura. 2. PRINCIPAIS VEGETAIS REGULADORES Os hormônios vegetais são substâncias orgânicas sintetizadas no interior das plantas, geralmente em tecidos jovens em crescimento, com capacidade de produzir modificações qualitativas nos vegetais em um local distinto do qual foi originado. Algumas substâncias sintetizadas quimicamente em laboratório, ao serem aplicadas em vegetais, produzem efeitos semelhantes aos hormônios vegetais (substâncias produzidas naturalmente pela planta), tais como crescimento e desenvolvimento das plantas, frutos ou sementes, sendo denominadas substâncias reguladoras do crescimento vegetal, reguladores de crescimento ou fitorreguladores (qualquer substância que modifique algum processo fisiológico da planta, seja de origem natural endógena ou de origem sintética exógena). Existe uma infinidade de reguladores de crescimento, e novos são conhecidos dia a dia, com funções e efeitos distintos. O conhecimento dessas substâncias é de fundamental importância, uma vez que podem proporcionar vantagens aos agricultore,s como maiores rendimentos econômicos com as culturas. Os fitorreguladores podem ser classificados em 5 grandes grupos, sendo que cada substância envolvida apresenta efeitos múltiplos e, em muitos casos, idênticos entre os grupos: 2 • Auxinas: são substâncias que provocam o alongamento celular, ou seja, são responsáveis pelo crescimento e diferenciação, sendo a principal auxina de plantas o AIA (ácido indolilacético), responsável por numerosos processos biológicos nos vegetais; • Auxinas sintéticas: AIB (ácido indolbutírico) - capaz de promover o desenvolvimento de primórdios radiculares, sendo utilizadas no enraizamento de estacas no processo de propagação vegetativa de espécies vegetais; ANA (ácido naftalenacético) - usado no processo de desbaste químico de frutos; Derivados do ácido fenoxiacético: Ácido 2,4diclorofenoxiacético (2,4-D), ácido 2,4,5triclorofenoxiacético (2,4,5-T), ácido 2 metilclorofenoxiacético (MCPA), dentre outros - são utilizados, principalmente, como herbicidas seletivos, pois matam plantas daninhas do grupo das dicotiledôneas, sem danificar as monocotiledôneas; • Giberelinas: são substâncias promotoras do crescimento, capazes de estimular o alongamento celular, a divisão celular ou ambos os processos ao mesmo tempo. Das dezenas de giberelinas descobertas, o AG3 é o mais utilizado na agricultura; • Citocininas: são as substâncias reguladoras de crescimento que estimulam a divisão e diferenciação celular das plantas; • Inibidores e Retardadores: são substâncias capazes de inibir ou retardar processos fisiológicos e bioquímicos das plantas, ou seja, crescimento e desenvolvimento, tais como o alongamento de raízes e caules, germinação de sementes e brotamento de gemas. Ex: ABA (ácido abscísico); 3 Tabela 1. Fitorreguladores mais freqüentemente utilizados na citricultura. Nome Químico Nome Comum Formulação mais ativa AUXINAS • 5-cloro-3-metil-4-nitro-1H-pyrazole • Ácido 2,4-diclorofenoxiacético 2,4-D • Ácido naftalenoacético ANA • Ácido etil-5-cloro-1H-indazol-3-acético • 1-Naftalenacetamida • Ácido 2,4,5-triclorofenoxilacético • Ácido 2(2,4,5-tricloro-fenoxil)propiônico • Ácido-2,4-diclorofenoxipropiônico Figarón NAD 2,4,5-T 2,4,5-TP 2,4-DP Dichlorprop Fenotiol Éster isopropílico Éster etílico sal amina Éster etílico • S-etil-(4-cloro-O-toliloxi) tioacetato GIBERELINAS • Ác. 2,4a,7-trihidroxi-1-metil-8-metileno Ác. giberélico, gib-3-eno-1,10-dicarboxílico-1,4a-lactona AG 3 CITOQUININAS • 6-benzilaminopurina • 6-furfurilaminopurina INIBIDORES E RETARDADORES • Cloreto de 2-cloro-etil-trimetilamônio • 3-(2’-(3”,5”-dimetil-2”-oxiciclohexil)2’hidroxietil) glutarimida • Ácido 3-metil-5-(1’-hidroxi-4’-oxo2’,6’,6’-trimetil-2’-ciclo-exen-1’-1-il)cis,trans-2,4-pentadienóico • 2,2-dimetihidrazida do ácido succínico LIBERADORES DE ETILENO • Ácido 2-cloroetilfosfônico Fonte: AGUSTÍ & ALMELA (1991). 4 Éster isobutílico Ácido Esterbutilglicólico Ácido Ácido Benciladenina Kinetina Chlormequat, CCC Cycloheximida Ácido abscísico, Ácido ABA Daminozide, SADH Ethephon, CEPA Ácido • Etileno: relacionado à maturação dos frutos e senescência de órgãos vegetais. 3. APLICAÇÕES DOS PRINCIPAIS REGULADORES VEGETAIS EM CITROS Nos últimos anos, os reguladores vegetais, empregados em doses e épocas adequadas, têm proporcionado significativas melhoras na produção de plantas cítricas. A aplicação de reguladores vai desde a propagação, crescimento e produção até a colheita, preservação da qualidade em pós-colheita e armazenamento. A utilização racional de fitorreguladores vai ao encontro da necessidade e exigências constantes de se ampliar o fornecimento e a qualidade dos alimentos para a humanidade. O aumento do custo energético e o contínuo decréscimo de solo produtivo invadido por núcleos urbanos e pela indústria exigem técnicas que melhorem e aumentem a produtividade e o valor nutritivo dos produtos agrícolas. A necessidade de se obter colheitas elevadas, atendendo às exigências de mercado quanto à aparência externa, tamanho, cor, sabor, porcentagem de suco, época de colheita, etc., assegura o crescimento tecnológico da utilização de fitorreguladores, porém os efeitos na citricultura, em alguns casos, são indesejáveis devido à falta de experimentação. O êxito na utilização dos reguladores na citricultura é dependente de vários fatores, tais como: doses e épocas de aplicação, estádio fisiológico, sanidade e vigor das plantas. 5 Figura 1. Aspectos da aplicação de AG3 até ponto de escorrimento. Figura 2. Área experimental com plantas tratadas com AG3 e não tratadas (direita). 6 Dentro dos processos de produção, melhora e manutenção da qualidade dos frutos, destacam-se as seguintes etapas em que os reguladores interagem: • Produção de frutos Controle do florescimento Pegamento de frutos Raleio de frutos Controle do ataque de moscas-das-frutas Controle da queda de frutos • Qualidade dos frutos Tamanho Qualidade da casca Cor da casca Qualidade interna • Pós-colheita, desverdecimento e armazenamento 3.1. Produção de frutos 3.1.1. Controle do florescimento A produção dos citros é dependente do fator floração e pegamento de frutos. A floração, em alguns casos, como em plantas jovens e algumas variedades alternantes, apresenta número reduzido de flores, comprometendo o processo de produção eficiente. O controle da floração é um requisito indispensável em muitos casos quando se pretende aumentar a quantidade e qualidade das colheitas, sendo que esse controle engloba tanto o estímulo quanto a inibição (AGUSTÍ & ALMELA, 1991). Em laranjas doces, existem 5 tipos de brotações com botões que resultarão ou não em frutos. As estruturas mais 7 abundantes são os brotos mistos multiflorais (flores e folhas), representando 50%, seguidos pelos ramalhetes de flores (25%), flores solitárias (10%), brotos vegetativos (10%) e os brotos campaneiros (misto unifloral), menos abundantes (5%) (GUARDIOLA et al., 1977). O processo de indução floral geralmente ocorre no final do outono. Fatores ambientais, como baixas temperaturas, fotoperíodo, estresse hídrico, presença de frutos na planta, etc., influem no florescimento. Os citros brotam 3 vezes por ano, porém a brotação de primavera resulta em florescimento e frutificação. As brotações de início e final de verão geralmente apresentam apenas crescimento vegetativo, sendo exceções os limoeiros, as limeiras e a laranjeira ‘Pêra’, que produzem flores viáveis nas 3 brotações, sendo a principal a da primavera. A aplicação de ácido giberélico em pontos de sensibilidade, ou seja, no período de indução floral ou quatro meses antes, inibe a floração em diferentes intensidades, com efeito secundário de estímulo no desenvolvimento foliar, repercutindo sobre o tamanho do fruto de algumas variedades (GUARDIOLA et al., 1980). O número de frutos colhidos raramente supera 5% das flores inicialmente formadas, sendo 0,5% ou menos, normal em alguns casos (AGUSTÍ et al., 1982). Plantas que apresentam florescimento abundante caracterizam-se pela presença de número elevado de brotos florais sem folhas, resultando em redução do vigor da planta e baixo pegamento. Doses de ácido giberélico (10mg/L), só ou combinado com 2,4-D (15mg/L), aplicados nos meses de maio e junho (inverno), reduzem a floração em até 50% nos casos de colheitas baixas, redistribuindo a brotação (maior proporção de brotos florais com folhas) e aumentando a capacidade de pegamento. O atraso na época de aplicação só surtirá efeitos com aumentos nas doses de AG 3 8 (GUARDIOLA et al., 1977). A aplicação de 10mg/L de AG3 , quando as gemas iniciam a brotação e quando os brotos não superaram 3 mm de comprimento (não são visíveis os primórdios florais), estimula e distribui a brotação, reduzindo a floração (GUARDIOLA et al., 1980). Observar que esses dados são para as condições da Espanha. A floração também foi melhorada mediante a aplicação foliar de inverno com uréia, com baixo teor de biureto (170g/ planta), em julho e agosto (iniciação floral), com aumento de forma significativa na produção em 17 kg/planta, em relação ao tratamento com aplicação via solo, apesar de as plantas apresentarem níveis foliares adequados (LOVATT et al., 1992). • Alternância de Colheitas : é um fenômeno comum nas culturas, sendo que a intensidade e freqüência dependem de diversos fatores, entre estes a espécie e a variedade. Variedades com sementes geralmente são mais sensíveis ao fenômeno, devido à maior porcentagem de pegamento inicial que dificulta o mecanismo de autocontrole de abscisão da planta (MONSELISE & GOLDSCHMIDT, 1982). Outros fatores que determinam a alternância são: o balanço de carboidratos na planta, ou seja, o conteúdo de amido nas folhas, que em ramos de plantas sem produção é quatro vezes superior ao encontrado nos mesmos órgãos de árvores com produção abundante (GOLDSCHMIDT & GOLOMB, 1982); alterações metabólicas na nutrição nitrogenada, ou seja, planta com baixa produção apresenta alto conteúdo de nitrogênio total, já o conteúdo de nitrato é maior nas árvores com alta produção (MONSELISE et al., 1981); alterações no balanço hormonal, ou seja, a síntese de hormônios e conseqüente florescimento podem ser modificados pela presença de frutos na planta através do balanço de ácido abscísico, interação hormonal e nutricional. 9 O controle da alternância pode ser conseguido através da: • Aplicação de retardadores de desenvolvimento: MONSELISE & HALEVY (1964) incrementaram a floração e a produção em limoeiros com a aplicação, no verão, de 2.500mg/L de ácido N-dimetilaminosuccinâmico (Alar, BNine). O Alar também induziu a floração de laranja doce, porém DAVENPORT (1983) encontrou efeito inibidor da floração, quando aplicou 2.500mg/L, durante o verão, em plantas de lima ácida ‘Tahiti’, na Flórida. A aplicação de Paclobutrazol, entre 2,5 e 10g/planta, via solo, e entre 25 e 100mg/L, via foliar, aumenta a floração em laranjas, tangerinas e limoeiros, sendo crescente com a ocorrência de temperaturas baixas (DELGADO et al. 1986). • Aplicação de ácido giberélico: MOSS et al. (1977), em árvores de Valencia late com pouca produção, observaram que a aplicação de AG durante o repouso vegetativo reduziu a floração de primavera em 75%. • Desbaste químico de frutos: este método produz efeitos distintos, dependendo da variedade; porém, é um método eficiente de controle da alternância, principalmente quando se realiza na fase inicial de desenvolvimento dos frutos. O ácido naftalenoacético (ANA) e o ácido 2cloroetilfosfônico (CEPA, Ethephon, Ethrel) têm sido utilizados com êxito. MOSS et al. (1977), em Valência late com aplicação de 200 a 350 mg/L de Ethephon, obtiveram de 40 a 70% de desbaste. • Anelamento: esta técnica apresenta um efeito estimulador da floração, com antecipação ou aceleração da diferenciação floral, assim como um incremento da brotação e do número de gemas florais, ou seja, quando ocorre falta de flores, o único tratamento válido atualmente é o anelamento, devendo ser efetuado em todos os ramos secundários, evitando-se machucar o lenho. A época mais 3 10 adequada é o verão (meados de fevereiro), de modo que tratamentos precoces ou atrasados não surtem bons resultados (AGUSTÍ & ALMELA, 1991). O anelamento consiste em um corte simples sem afetar o lenho, ou seja, cortam-se apenas os vasos clivosos, interrompendo a translocação de açúcares da parte aérea para as raízes, impedindo a competição das raízes com as flores em metabólitos, resultando em acumulação destas substâncias diversas acima do ponto de anelamento, que irão nutrir e favorecer o pegamento. • Antecipação da época de colheita: este método é muito eficiente no controle da alternância; porém, nem sempre é possível, devido às exigências do mercado. A colheita precoce reduz o estresse provocado pelos frutos na planta; • Influência da poda: os resultados da poda dependem da época e intensidade, sendo que as podas moderadas no início da primavera e metade do verão apresentam as menores respostas (AGUSTÍ & ALMELA, 1991). • Influência do porta-enxerto: as combinações copa/ porta-enxerto exercem influência conhecida sobre as colheitas, devendo ser evitada a utilização de portaenxertos que, em determinadas condições, possam induzir alguma tendência à alternância, como os citranges (Troyer e Carrizo) (MOSS et al. 1977). 11 Figura 3. Frutos de ‘Hamlin’ tratados com AG3 e não tratados. Figura 4. Aparelhos utilizados para medir a resistência da casca e abscisão. 12 3.1.2. Pegamento dos frutos O pegamento compreende a fase de transformação e crescimento do ovário de uma flor em fruto. Dentre os fatores que determinam o pegamento, os principais são: • Floração, sua distribuição e intensidade: o número de flores abortadas é elevado, chegando em alguns casos em torno de 10% o número de frutos colhidos; outros, apenas 0,1% das flores resultam em frutos (GOLDSCHMIDT & MONSELISE, 1977; AGUSTÍ et al., 1982). A colheita final não depende da intensidade de floração. O número de frutos formados está inversamente relacionado com o número de flores formadas. A distribuição dos diferentes tipos de brotações com flores e folhas (mistos) é um fator importante para o pegamento. A desfolhação de brotos mistos reduziu em 75% a porcentagem de pegamento, em comparação com brotações sem desfolhação (LENZ, 1966), devido à capacidade das folhas em sintetizar e exportar metabólitos ao fruto em desenvolvimento. • Fatores nutricionais: as variedades são muito sensíveis à carência em macro e micronutrientes, o que, conseqüentemente, resultará em menores pegamentos e tamanho final de frutos. A pulverização de KNO3 a 2%, micronutrientes e ácido giberélico a 5 mg/L, quando 90% das flores perderem as pétalas, é recomendada. • Fatores hormonais: o controle do pegamento e desenvolvimento do fruto é um processo complexo que envolve diversos promotores e inibidores. O baixo controle hormonal encontrado pode ser incrementado mediante a aplicação de reguladores de crescimento durante o período de floração, sendo o AG3 o produto que tem apresentado os melhores resultados. Na tangerina ‘Ellendale’, a abscisão de frutinhos pequenos até 2cm foi registrada por RAGONE (1992) que, 13 utilizando um lote homogêneo desta variedade com baixa produção, conduziu experimento durante quatro anos, no qual aplicou 10 mg/L de ácido giberélico, quando 75% dos botões florais estavam abertos, molhando bem até o ponto de escorrimento. A aplicação melhorou a frutificação, sendo maior na 2ª e 3ª safras, com incremento de 16,8% nos valores acumulados. Os resultados coincidem com vários experimentos realizados sobre outras variedades com igual problema; porém, geralmente, quando o número de frutos é aumentado, o tamanho final do fruto pode ser menor. Tabela 2. Tratamentos recomendados para aumentar o pegamento de flores em mandarina Clementina e em laranja doce Navelate (GUARDIOLA et al., 1980). Variedade Dose de AG3 Outras substâncias Época da aplicação Clementina Navelate 5 mg/L 5 mg/L + anelamento Zn e Mn (*) 90% pétalas caídas Zn, Mn e K (*) 90% pétalas caídas (*) Zn na forma de ZnSO4 a 0,15%; Mn na forma de MnSO4 a 0,22%; K na forma de KNO3 a 2%; neutralização com Na2CO3 a 0,03%. A aplicação de 10mg/L de AG 3, em plantas no estado de pleno florescimento, resultou em aumento na produção de 223%, dobrando a quantidade de frutos de maior tamanho, portanto, exportáveis (EL-OTMANI, 1992). 14 Figura 05. Aspectos de anelamentos em ramos de citros. Figura 06. Frutos com alteração fisiológica (rachamento ou “splitting”) em Clementina. 15 3.1.3. Raleio de frutos O raleamento ou desbaste de frutos consiste na retirada do excesso de produção, seja por operação manual ou química, eliminando os frutos em cacho, deformados e de tamanhos distintos, com o objetivo de uniformizar os frutos na planta, dando condições para que estes se desenvolvam em tamanho e qualidade. A importância está em incrementar o tamanho dos frutos remanescentes, auxiliando no controle da alternância de produção. O ANA aplicado antes da queda natural de frutinhos provoca queda seletiva (frutos com menos de 20mm de diâmetro). Quando apresentam mais de 20mm, o ANA melhora o pegamento dos frutos. Estudos em Concórdia, Argentina, mostram que os melhores resultados foram obtidos com o Ethrel, na dose de 200 a 350 mg/L, quando os frutos apresentavam um tamanho de 0,5 a 2,0 cm de diâmetro, em pulverização na forma de neblina, molhando as partes externas das plantas e evitando o período das 10 às 16 horas, que resultou em desbaste de 40 a 70% dos frutos. O uso deste produto deve ser acompanhado de recomendação técnica, para evitar a ocorrência de excesso de raleio e queda acentuada de folhas. RAGONE (1992), testando doses de ethrel (150, 200 e 250 mg/L) aplicados na época da queda natural de frutinhos (1,5 a 2,5 mm) e o desbaste manual de 47% dos frutos (3,8 a 4,1 mm), observou que, na primeira safra, os tratamentos químico e manual produziram frutos maiores, em menor número, sem diferir no peso final da produção da testemunha. Na segunda safra, as plantas raleadas produziram normalmente, enquanto a testemunha produziu menos frutos. Assim, com doses de 150 a 200 mg/L, obtém-se um raleio adequado. 16 3.1.4. Controle do ataque de moscas-das-frutas Em experimentos conduzidos na Estação Experimental de Citricultura de Bebedouro-SP (EECB), MALAVASI et al. (1993) concluíram que o AG3 pode ser usado para reduzir a suscetibilidade dos frutos cítricos ao ataque de moscas-dasfrutas. Os experimentos mostraram que a aplicação de doses de AG3 , associado a espalhante organossilicone não iônico em laranjeira ‘Pêra’, quando os frutos atingem o tamanho final e imediatamente antes da mudança de cor da casca (alteração do verde para o amarelo ou laranja), reduziu significativamente sua suscetibilidade ao ataque de moscasdas-frutas, das espécies Anastrepha fraterculus (moscas-dasfrutas sul-americanas) e Ceratitis capitata (mosca-domediterrâneo). Isto é devido à atração que a coloração amarelada ou alaranjada exerce sobre essas moscas; portanto, o uso de AG retarda a degradação da clorofila da casca, resultando na manutenção da cor verde da casca dos frutos (sem afetar o desenvolvimento e maturação interna), diminuindo o efeito atrativo que estes exerciam. Os dados das Tabelas 3 e 4 ilustram alguns destes resultados. 3 Tabela 3. Resultados da liberação de A. fraterculus em gaiolas de campo sobre laranjeira ‘Pêra’, tratada com AG3 , marçooutubro de 1991. Época da avaliação Grupo Início da safra Controle Tratado Controle Tratado Controle Tratado Meio da safra Fim da safra Nº de frutas 312 304 329 327 330 312 Nº de pupas 9 2 8 3 4 0 Fonte: MALAVASI et al. (1993) 17 Tabela 4. Resultados da infestação pela população natural de C. capitata em laranja ‘Pêra’, em árvores tratadas com AG3 e controle. Grupo Número de frutas Controle 20mg/L AG3 + 0,1% Silwet L-77 Número de pupas 324 350 121 26 Fonte: MALAVASI et al. (1993). Em outros experimentos conduzidos na Fazenda Cambuhy, no município de Matão-SP, os mesmos autores concluíram que a ovoposição das moscas ocorre preferencialmente em frutos-controle (não tratados); as doses de AG3 não exerceram qualquer efeito fitotóxico sobre as plantas, não afetando a qualidade do fruto (tamanho, brix, ratio e % suco), sendo possível, ainda, adiar a aplicação de iscas tóxicas por, pelo menos, quatro meses. Na Tabela 5, podemos observar a preferência das moscas pelas frutascontrole e a proteção que o AG3 exerce contra a infestação. Tabela 5. Total de pupas de C. capitata obtidas em quatro tratamentos com AG3 , em laranja ‘Pêra’, na Faz. Cambuhy, 1992, analisando mensalmente 2.000 frutos. Tratamentos Tratamento usual Cambuhy (pulverização melaço + inseticida) Sem controle de moscas-das-frutas 10mg/L AG3 + 0,1% surfact. Organosil. Silwet L-77 (1 aplic.) 10mg/L AG3 + 0,1% Silwet L-77 (2 aplic. intervalo 60 dias) Fonte: MALAVASI et al. (1993). 18 Setembro Outubro 4 14 5 34 0 0 0 0 Tabela 6. Total de pupas de moscas-das frutas (C.capitata, A.fraterculus) e outros dípteros (Lonchaeideae) coletados de frutos caídos na Fazenda Cambuhy, 1992. Tratamentos 21 outubro 5 novembro Nº frutos % pupas Sem controle de moscas-das-frutas 600 10mg/L AG3 + 0,1% Silwet L-77 (1 aplicação) 169 10mg/L AG3 + 0,1% Silwet L-77 (2 aplicações com intervalo de 60 dias) 15 Nº frutos % pupas 76 1.658 65 22 469 18 2 444 17 Fonte: MALAVASI et al. (1993). Nas laranjas caídas (Tabela 6), o ataque de moscas no controle foi responsável por 76% do total de pupas obtidas em fins de outubro. Ambos os tratamentos com AG3, com 10 mg/L em maio, como o duplo tratamento com 10mg/L, em maio e julho, foram igualmente eficientes, diminuindo acentuadamente o ataque das moscas, substituindo, pelo menos até outubro, as pulverizações com inseticidas e melaço. 3.1.5. Controle da queda de frutos A queda de frutos representa grandes perdas na citricultura, ocorrendo em todas as variedades, não sendo uniforme no tempo e com intensidade dependente da variedade, porta-enxerto, condições climáticas e nutricionais, ou seja, todos os fatores que contribuem para um bom florescimento contribuem também para um bom pegamento. Geralmente, observa-se uma queda de flores antes, durante ou imediatamente após a antese, outra quando se inicia o desenvolvimento do fruto e uma queda final de frutos maduros. 19 Quando a floração é pouco abundante, a maior quantidade das partes reprodutivas se desprende na forma de fruto em desenvolvimento; porém, em casos de intensa floração, a queda se antecipa, sendo mais intensa (AGUSTÍ et al. 1982). A presença de folhas nos ramos com flores contribui para a síntese e exportação de metabólitos aos frutinhos, favorecendo a fixação destes, assim como o anelamento, já discutido anteriormente, que também tem essa função. A aplicação de AG3 (para pegamento) mais auxina ANA (para aumentar tamanho), em Clementina Fino, aumentou o pegamento e o número de frutos com maior tamanho (50mm) e valor comercial. O ANA, quando aplicado em frutos com mais de 20mm, aumenta o pegamento e, quando menor que 20mm, promove a queda de frutos. Não existe estudo que comprove a possibilidade de perda de vigor pelo uso de AG 3; porém, a aplicação (20mg/L), mais ou menos 2 meses antes do florescimento, diminui a floração, aumentando o tamanho das flores. O uso de AG e anelamento para melhorar o pegamento são técnicas utilizadas e recomendadas somente quando as plantas estão em perfeitas condições de nutrição, irrigação e fitopatológicas. Os dados de GUARDIOLA (1997) (Tabelas 7 e 8) confirmam estes efeitos. 3 Tabela 7. Efeito do anelamento e AG3 na abscisão tardia de mandarina Fortune. Tratamentos Testemunha Anelamento AG3 Frutos caídos 8 semanas 9-12 semanas 768 668ns 996* 605 402* 796* Fonte: GUARDIOLA (1997). 20 Frutos pegos 163 266* 200ns Tabela 8. Efeito do anelamento e AG3 na abscisão tardia de Clementina Oroval. Tratamentos Frutos (nº/planta) Testemunha Anelamento AG3 P = 0,95 Colheita (kg/planta) 580 740 796 13,3 Peso médio (g/fruto) 56 65 70 8 97,3 88,3 89,7 5,5 Fonte: GUARDIOLA (1997) Para o controle da queda de frutos maduros ou para monitorar a colheita, a aplicação de AG , associada a surfactante, tem mostrado efeito significativo em experimentos conduzidos por MALAVASI et al. (1993), SILVA & MALAVASI et al. (1995) e SILVA (1997), influindo favoravelmente na coloração e turgescência da casca, além das características internas dos frutos. Os autores chegaram às seguintes recomendações para as variedades comerciais brasileiras: 3 Tabela 9. Recomendações de doses e épocas de aplicação de AG3 com surfactante, em citros. Variedades Hamlin e Westin Dose AG3 Dose ( % ) (mg/L) Silwet L77 Época d e aplicação * T amanho do fruto * Atraso na co lh eita 5 - 10 0,05 abril-maio t am an ho q ua se definitivo e an tes d a mu d ança d e cor 2 a 3 meses 10 0,05 maio idem 3 a 4 meses Natal e Valência 10 - 20 0,05 maio idem 2 a 3 meses Tangerinas: Cravo, Murcote e Pon kan 10 - 20 0,05 março-abril idem 50 a 70 dias Lima ácida Tahiti 10 - 20 0,05 frutos com 35mm 50 a 70 dias Pêra * Em função da época de florada e desenvolvimento posterior dos frutos. Fonte: SILVA & MALAVASI (1995). 21 A aplicação, nas doses e épocas recomendadas, diminui a abscisão, mantendo os frutos nas plantas, após a época normal de colheita, sem que as características tecnológicas internas dos frutos sejam prejudicadas. O controle da queda e o monitoramento da colheita também podem ser obtidos com a aplicação de 16mg/L de 2,4-D (ésteres - butílico ou isopropílico) antes da mudança de cor; porém, a aplicação conjunta com AG3 melhora as características da casca. Quando os frutos tratados com AG 3 permacecem nas plantas além da época normal de colheita, iniciam-se a mudança de cor da casca pela degradação da clorofila, passando do verde-intenso ao amarelo-laranja (bronzeamento). Este amarelecimento da casca, torna-se atrativo às moscas-das-frutas, que migram para a área onde ainda restam frutos maduros, uma vez que os frutos não tratados já foram colhidos. Nesta situação, a alta infestação, associada a coloração atrativa, exige o monitoramento com armadilhas e controle tradicional através da aplicação de isca tóxica, caso contrário é normal ocorrer intensa queda de frutos lesionados com conseqüentes perdas na colheita. DONADIO & BARBIERI (1995) testaram o fenotiol para retardar a colheita de frutos de ‘Ponkan’, ‘Murcote’e ‘Pêra’. Foram testadas doses de 0 a 15mg/L, comparadas com dose de 15mg/L de ácido giberélico. Os resultados mostraram que, na dose maior (15mg/L), a retenção de frutos com boas qualidades foi de até 90 dias, mantendo cor esverdeada e não afetando a qualidade interna dos mesmos. Para promover a abscisão dos frutos maduros, o etefon é recomendado por não afetar a qualidade da casca de frutos frescos. Já visando ao processamento industrial, outros promotores podem ser utilizados quando o processamento for rápido. Essas aplicações são recomendadas principalmente quando se utiliza colheita mecânica e provocam uma queda intensa de folhas e parte dos frutos verdes, apesar de que uma parte destes seriam normalmente arrancados pelas colhedeiras. 22 Figura 7. Frutos de tangerina ‘Cravo’ tratados com AG3. Figura 8. Frutos de tangerina ‘Ponkan’ tratados com AG3. 23 3.2. Qualidade dos frutos 3.2.1. Tamanho O tamanho do fruto é um parâmetro de qualidade que determina sua aceitação pelos consumidores, especialmente das tangerinas, sendo um componente de rendimento (produtividade e porcentagem de suco). É influenciado pelas características genéticas, climáticas, nutricionais e práticas culturais. As práticas de desbaste do excesso de frutos, anelamento de ramos, controle adequado da irrigação, nutrição adequada (principalmente nitrogênio, potássio e zinco) e uso de reguladores de crescimento são recomendadas para se obterem frutos maiores. As auxinas de síntese estimulam a capacidade de crescimento do fruto; porém, a época de aplicação, tipo de auxina, formulação química, concentração e volume de calda aplicado influenciam no resultado. Na Califórnia, é recomendado o uso de 2,4-D de 12 a 14 mg/L em pulverização para Valência e pomelos (aplicações em meados de dezembro no Brasil), mas podem ocorrer efeitos colaterais como danos às folhas, brotações novas e frutinhos (EL-OTMANI, 1992). FABIANI et al. (1996) recomendam a dose entre 10 e 20 mg/L de derivados do ácido fenoxiacético (2,4-D;2,4-DP), quando os frutinhos apresentarem diâmetro de 15mm. Apesar de a aplicação do AG 3 não influenciar no tamanho final do fruto, Fornés et al. 1992, citados por GUARDIOLA (1992), obtiveram aumento na produção e maior número de frutos de primeira classe (>55mm) quando se utilizou o AG3 (Tabela 11). Nos experimentos conduzidos por SILVA et al. (1997), doses de AG aumentaram significativamente o diâmetro e a altura dos frutos. Porém, os aumentos na produção (kg/ planta) não foram significativos, quando comparados com o controle. 3 24 Tabela 11. Efeito do tratamento com AG3 na produção de frutos de 1ª classe, em relação à produção do pomar. Cultivar e pomar Produção total Controle AG3 Produção de 1ª classe (>55mm) Controle AG3 Clementina Fina -------------------------- t/ha ----------------------Alta produção 44 46 15 16 Média produção 25 34 15 14 Baixa produção 12 20 8 12 Clementina Nules Média produção 28 44 22 31 Baixa produção 22 44 19 34 Fonte: GUARDIOLA (1992). 3.2.2. Qualidade da casca Os frutos que apresentam boa qualidade da casca certamente resistem melhor às desordens fisiológicas, penetração de doenças, colheita, embalagem, transporte e comercialização. Frutos de laranjeiras ‘Pêra’ e ‘Hamlin’ tratados com AG3, na EECB, apresentaram-se mais resistentes à penetração da agulha de 1 mm de diâmetro na casca (punctura) dos frutos. Os frutos tratados com 5 e 10mg/L de AG3 + 0,05% de surfactante organossilicone Silwett L-77 apresentaram, após 126 e 208 dias respectivamente, casca mais resistente quando comparados com os não tratados (SILVA et al., 1997). Alterações fisiológicas na casca dos frutos ocorrem em diversas variedades cítricas, sendo as mais comuns: • “Creasing” – Caracteriza-se pela presença de fendas no albedo, que diminuem a qualidade comercial, dando mau aspecto externo, menor resistência e são porta de entrada de fungos. Aplicação de 20mg/L de AG reduz a ocorrência, 3 25 devendo ser aplicado quando os frutos têm entre 3 e 6 cm de diâmetro. • “Bufado” – Caracteriza-se pelo aparecimento de espaços internos vazios entre a casca e a polpa quando se processa a maturação. Os frutos colhidos um pouco tarde perdem em qualidade, não resistindo à manipulação e ao transporte. A aplicação de 10mg/L de AG 3, antes da mudança de cor, reduz essa ocorrência, e a aplicação simultânea com nutrientes nitrogenados melhora a resposta do AG3 . As tangerinas e as plantas mal nutridas são mais sensíveis a esta anomalia, devendo-se utilizar também os adubos nitrogenados (fosfatos ou nitratos), em concentrações de 1,5 a 2%. • “Splitting” (rachamento de frutos) - é uma desordem fisiológica que se inicia com uma pequena lesão na zona estilar do fruto, progredindo pela zona equatorial, podendo atingir toda a altura do fruto. Caracteriza-se pelo crescimento diferencial entre a polpa e a casca, ou seja, durante o crescimento, a polpa exerce uma pressão sobre a casca e, se esta não acompanha o crescimento, rompese. Várias são as causas desta alteração tais como: alterações climáticas, ventos, temperaturas elevadas, período com déficit hídrico seguido de alta umidade, desequilíbrio nutricional e ataque de patógenos, ocorrendo principalmente no período de desenvolvimento dos frutos, mas ainda verdes. Aplicações de fitorreguladores (giberelinas, auxinas e citocininas), em alguns casos, têm diminuído a ocorrência desta anomalia; porém, não se consegue repetir os resultados consistentemente. A incidência desta anomalia tem sido relacionada a níveis baixos de potássio que, quando utilizado, pode reduzir este dano pelo aumento da espessura da casca (efeito indireto no controle), porém é comum que se encontrem frutos abertos, mesmo com a casca espessa. Segundo Monselise & Costo (1985), Ruíz & Primo-Millo (1989) e Almela et al. (1990), citados por AGUSTÍ & ALMELA (1991) duas ou três aplicações de nitrato de cálcio a 2%, no 26 período de dezembro a março, reduz notavelmente esta incidência (50 a 70%), de modo mais eficiente que a aplicação de nitrato de potássio a 2%. 3.2.3. Cor da casca A coloração da casca (aspecto externo) sempre está associada à qualidade interna (sabor, textura), sendo um fator decisivo de compra; porém, a coloração da casca nem sempre está relacionada ao grau de maturação. SILVA et al. (1997), em aplicações de 5 a 20 mg/L de AG3 associado a espalhante, em laranjas doces, obtiveram valores de coloração da casca significativamente diferentes, ou seja, frutos tratados apresentam coloração com tons de verde, quando comparados com os controles, totalmente coloridos. Essas aplicações, além de alterações na casca dos frutos, propiciam menor incidência de ataque de moscas-das-frutas, menor queda de frutos após a época normal de colheita (estocagem de frutos na planta) e melhor resistência da casca, sem alterar as características internas da fruta. Na prática, para a comercialização no mercado de frutos frescos, nem sempre a coloração intensa da casca é indicativo de qualidade. Para o caso das tangerinas Cravo e Ponkan, a coloração laranja intensa é sinal de fruto passado. Já para a tangerina Murcote, o mercado só aceita frutos com coloração laranja intensa. Calculando o Índice de Cor (IC = 1000 x a / L x b), medida instrumental que permite dar um valor objetivo à cor da casca dos citros, através de um colorímetro Minolta, empregando a escala de ‘Hunter’, que define a cor segundo três parâmetros (L, a, b), pode-se chegar ao índice de coloração da casca dos frutos (Tabela 10), por meio do qual verificamos que os frutos tratados apresentam-se com coloração significativamente mais verde (0,13; -0,64 e –1,41) quando comparados com o controle (5,86 e 1,93). Esse índice varia entre -20 e +20, aproximadamente, durante os diferentes estados de coloração dos citros, sendo 27 que os valores de IC inferiores a -7 expressam uma coloração verde, aumentando em intensidade com valores mais negativos. Valores compreendidos entre -7 e +7 expressam tonalidades que compreendem o verde amarelado (entre -7 e 0); amarelopálido a laranja-verdoso (para valores próximos a zero) e laranjapálido (entre 0 e +7) (Figura 9). Os valores superiores a +7 expressam colorações laranja, que aumentam em intensidade com o aumento do IC (JIMENEZ-CUESTA et al. 1983). Verdeintenso -7 verde-amarelado amarelo-pálido a laranja-verdoso laranja-pálido laranjaintenso 0 +7 Figura 9. Relação entre o índice de cor e coloração de frutos. Figura 10. Determinação da coloração da casca com colorímetro Minolta. 28 Tabela 10. Valores médios de cor (L a b) de frutos de Hamlin e Pêra, expressos pelo IC. Tratamentos Índice de Cor - IC=1000 x a / L x b Hamlin - 126 dias após aplicação Pêra - 208 dias após aplicação 5 mg/L AG3 + 0,05 % Silwett L-77 0.13 c -0.64 c 10 mg/L AG3 + 0,05 % Silwett L-77 0.13 c -1.41 c 20 mg/L AG3 + 0,1 % Herbitensil 2.17 b 0.69 b Testemunha 5.86 a 1.93 a Médias seguidas de mesma letra não diferem entre si, pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade. 3.2.4. Qualidade interna Para a comercialização de frutas frescas, é importante a qualidade interna dos frutos (cor, acidez, brix), que é determinada por fatores genéticos, influência do porta-enxerto, condições climáticas, nutrição, irrigação, etc. A maturação interna dos frutos não sofre variações por ocorrência do tratamento com auxinas (AGUSTÍ & ALMELA, 1991) e giberelinas (SILVA et al. 1997), apresentando os frutos tratados valores de acidez e sólidos solúveis similares aos não tratados no período normal de colheita e superiores quando se atrasa a colheita. 3.3. Pós-colheita, desverdecimento e armazenamento Os reguladores de crescimento também se aplicam durante a conservação pós-colheita de frutos. O 29 envelhecimento, senescência da casca e outros tipos de alterações são porta de entrada para diversos fungos presentes no ambiente, que diminuem a qualidade dos frutos, levando ao apodrecimento. No processo de desverdecimento, a aplicação de 2,4-D em imersão permite que os frutos mantidos em câmara de desverdecimento percam a cor verde da casca, mas mantenham a cor verde e aparência sadia do cálice, retardando sua abscisão e, conseqüentemente, a entrada de patógenos. Na Califórnia, os limões vêm sendo tratados com 2,4D e cera antes do armazenamento, mantendo o cálice e prevenindo a podridão do ápice (Alternaria). Coggins et al., citados por EL-OTMANI (1992), concluíram que a aplicação de AG3 com cera na pós-colheita e pré-armazenamento, em limões, retarda a senescência da casca (amolecimento da casca), resultando em menor incidência de deteriorização, como a causada pela podridão amarga. No Brasil, as técnicas de tratamento pós-colheita de frutas ainda são pouco aplicadas, mas é crescente a conscientização da manutenção da qualidade dos frutos e das exigências de mercado. A manutenção da qualidade e vida pós-colheita dos frutos depende do conjunto de técnicas de pré-colheita, manejando as plantas com desbaste, poda, nutrição, irrigação, controle fitossanitário e uso adequado de reguladores de crescimento, associados a uma colheita criteriosa e técnicas de pós-colheita. O processo de colheita, visando ao mercado de frutos frescos, inicia-se logo que seja determinado o ponto ideal de colheita de cada variedade, evitando-se colher os frutos ainda molhados pelo orvalho da manhã e, de preferência, cortando-se o pedúnculo rente ao fruto com tesoura. Os frutos devem ser transportados em caixas de colheita, evitando-se excesso de atrito e solavancos para o “packinghouse”, que deve ser limpo, organizado e com maquinário adequado a essas frutas, onde serão limpos com detergentes e desinfetantes como o OPP (Orto fenil fenol), além do cloro, em tanques de lavagem de frutas, e seleção rigorosa. 30 A lima ácida ‘Tahiti’, destinada principalmente à exportação, obrigatoriamente deve ser tratada com AG3 , na dose de 20mg/L, para a manutenção da cor verde-escura da casca e retardo do envelhecimento dos frutos, através de imersão durante 30 a 60 segundos 1. Se essa dose de AG3 não for eficiente na manutenção da cor verde escura por mais tempo, doses maiores também terão pouco efeito. O 2,4-D (éster), a 400mg/L, deve ser adicionado a esta calda, pois auxilia na manutenção do cálice e retarda o envelhecimento dos frutos. O controle preventivo de podridões deve ser feito com a mistura de fungicida registrado e recomendado para este fim, como o tiabendazol a 2.000-5.000mg/L, também adicionado à calda. O uso de surfactante não iônico (não os detergentes e espalhantes) é sempre recomendado, pois auxilia na penetração dos produtos citados nos frutos. Finalmente, os frutos devem ser tratados com cera de alto brilho e de qualidade comprovada na dose de 1 L/t de fruta tratada. Em seguida, passam por um túnel de secagem, são embalados em caixas de papelão adequadas e, no caso da exportação, são refrigeradas a 6oC. Para laranjas e tangerinas, visando à exportação, todos os cuidados na colheita e manuseio anteriores devem ser seguidos, além da aplicação do 2,4-D e fungicidas adicionados à cera, nas mesmas doses anteriores (não se utiliza AG3 para essas variedades). Algumas variedades, como a tangerina ‘Satsuma’, apesar de atingirem qualidade interna para colheita, apresentam coloração da casca verde ou irregular. Para atingirem o mercado, é necessário remover a cor verde, promovendo, assim, melhores preços e colheitas precoces. Frutos que atingiram o tamanho e iniciaram a mudança de cor, podem ser colocados em câmara de desverdecimento, com 5-10 mg/L de etileno, a 90-95% de umidade relativa e 23-25oC de temperatura, durante 3-6 dias. 1 Aruá Comércio e Serviços Ltda. Exportação de Frutas. 31 Figura 11. Frutos de lima ácida ‘Tahiti’ com 35, 45 e 60mm. Figura 12. Queda intensa de laranja ‘Hamlin’ não tratada com AG3. 32 A pulverização de etefon 200-250mg/L, na planta, visando ao desverdecimento do fruto, tem sido eficaz para as tangerinas e seus híbridos. Para evitar a queda excessiva de folhas, o etefon não deve ser usado com outros produtos ou surfactantes ou em pulverização concentrada, Wilson 1983, citado por EL-OTMANI (1992). O tratamento com ethrel, em pós-colheita, é mais recomendado do que em pré-colheita devido à intensa desfolhação. O limão verdadeiro, tratado em pós-colheita com 1.000mg/L de ethrel ou 50 mg/L de etileno, atinge cor amarela comerciável 7 dias após tratado. Essas doses também foram eficientes para tangerinas e laranjas, mantidas em temperaturas de 17 a 25oC. Doses elevadas (5.000mg/L) de ethrel podem levar a danos na casca dos frutos (FUCHS & COHEN, 1969). 4. PRÁTICAS DE APLICAÇÃO DO ÁCIDO GIBERÉLICO A aplicação de AG , visando ao controle de moscasdas-frutas, para retardar a colheita, mantendo as características dos frutos (já citados), deve ser executada quando os frutos atingirem o tamanho definitivo, mas antes da mudança da cor da casca. A aplicação deve ser feita através de pulverização (pistola ou turbo pulverizador), com névoa fina, visando a molhar apenas os frutos até o início do ponto de escorrimento. A aplicação deve ser efetuada nos períodos mais frescos do dia (manhã e tarde). Nos experimentos conduzidos na EECB, por MALAVASI et al. (1993) e SILVA et al. (1997), nas aplicações em laranjeira ‘Pêra’, onde em uma mesma árvore eram encontrados flores e frutos em diferentes estágios, a aplicação, visando a frutos definidos, não interferiu no desenvolvimento das demais 3 33 fases. Observou-se ainda que, após 8 dias da aplicação em todas as variedades testadas, ocorreu queda de folhas velhas das plantas, que se estendeu até o 15º dia. Os testes mostraram que quando se adicionam surfactantes organossilicone não iônico à calda, a queda de folhas é intensificada, isto devido à capacidade deste em melhorar a penetração e conseqüente eficiência do AG 3. Após essa queda, verifica-se uma brotação intensa. O uso desse tipo de surfactante propiciou redução na dose de AG3 e no volume de calda a aplicar, devido ao melhor molhamento, ou seja, quando a calda aplicada atinge um lado do fruto, logo se espalha por toda a extensão deste. Não se observaram danos na casca e queda na produção seguinte, quando se respeitaram as doses e períodos de atraso na colheita, conforme fora recomendado (Tabela 9). A utilização de surfactantes na calda é sempre recomendada como agente de penetração e molhamento (contato) entre o regulador de crescimento e a planta. A forma ionizante do AG3 é de difícil penetração nos túbulos da epiderme das folhas e frutas, devido ao pH baixo (em torno de 4,0). Com a adição de surfactantes (que apresentam pH em torno de 7,0), o pH da calda eleva-se, a penetração e os efeitos do AG são melhorados. Segundo EL-OTMANI (1992), a melhor atividade do AG é obtida em pH ácido; já o surfactante atua melhor em pH próximo à neutralidade. Dados da Califórnia indicam que o baixo pH, por si só, não aumenta a eficiência do AG3, mas a presença do surfactante Silwett L-77 aumenta-a, independentemente do pH. 3 3 34 5. LITERATURA CONSULTADA AGUSTÍ, M., ALMELA, V. Aplicación de fitorreguladores en citricultura. Valência: AEDOS, 1991. 269p. AGUSTÍ, M.; GARCÍA-MARÍ, F.; GUARDIOLA, J.L. The influence of flowering intensity on the shedding of reproductive structures in sweet orange. Sci. Hortic., v.17, p.343-52, 1982. DAVEMPORT, T.M. Daminozide and gibberellin effects on floral induction of Citrus latifolia. HortScience, v.18, p.947-9, 1983. DONADIO, L.C., BARBIERI, J. Harvesting control of citrus fruit with Fengib. Proc. Int. Soc. Trop. Hortic., v.39, p.100-2, 1995. DELGADO, R. et al. Paclobutrazol effects on oranges and mandarins under tropical conditions. Acta Hortic., v.179, p.537-48, 1986. EL-OTMANI, M. Usos principais de reguladores de crescimento na produção de citros. 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