Teoria dos Sistemas Nebulosos Aplicada a Sistemas de

Transcrição

Teoria dos Sistemas Nebulosos Aplicada a Sistemas de
Teoria dos Sistemas Nebulosos Aplicada a Sistemas de Informação Geográfica
para Definição de Roteiro
CLAUDIA SADECK BURLAMAQUI
LIANG-YEE CHENG
EPUSP – Escola Politécnica da Universidade de São Paulo,
Av. Prof. Almeida Prado, Tv. Dois, LabCAD, Cidade Universitária, 05.508-990, São Paulo, SP, Brasil
{claudia.burlamaqui, cheng.yee}@poli.usp.br
Abstract. Nowadays the urban space is changing quickly and this fact demands the use of a Geographic
Information System (GIS) to optimize the decision making process of the urban planners. The analyses that are
carried out in the definition of interventions in urban space require large variety of information, in different
levels of complexity, and several of them are fuzzy. In this paper, Fuzzy Systems Theory is applied to model
and to analyze spatial information. Some concepts and methods of the theory were inserted in a GIS to solve
urban planning problems in order to evaluate the impact of fuzzy data analysis. The results achieved shows that
application of the theory in the GIS is efficient to decision-making process of the urban planning and allow a
more rational and realistic spatial analysis.
Resumo. Em um problema real de análise do espaço urbano, na maioria das vezes os dados são subjetivos
(qualitativos, imprecisos). Entretanto, as técnicas utilizadas nos modelos convencionais de Sistemas de
Informação Geográfica (GIS) permitem o trabalho com dados desta natureza recorrendo-se a uma série de
simplificações. Visando buscar alternativas para a solução deste tipo de problema esta pesquisa investigou a
aplicabilidade da Teoria dos Sistemas Nebulosos (TSN) em GIS. Com base nos conceitos na TSN,
implementou-se sistemas para análise do espaço urbano, através do desenvolvimento de métodos para a
modelagem e análise de dados subjetivos nestes estudos. Os resultados encontrados mostram que a aplicação da
TSN em GIS é eficiente para o processo de tomada de decisão no planejamento urbano e que permite uma
análise espacial mais próxima da realidade.
1
auxílio no processo de tomada de decisão, capaz de
modelar com base em dados descritivos e espaciais
qualitativos (subjetivos, imprecisos), permitindo uma
análise do espaço urbano mais eficiente.
Introdução
Em um problema real de análise relacionado ao espaço
urbano, tal como a definição de roteiro turístico, na
maioria das vezes os dados são subjetivos (qualitativos,
imprecisos). Entretanto, as técnicas utilizadas nos modelos
convencionais de Sistemas de Informação Geográfica
(GIS) nem sempre permitem o trabalho com dados desta
natureza sem que se recorra a uma série de simplificações,
e nem sempre são capazes de realizar análises qualitativas,
onde a complexidade e a subjetividade humana, expressas
em linguagem natural, exigem um método de modelagem
e análise mais adequado. Visando buscar alternativas para
a solução deste tipo de problema esta pesquisa investiga a
aplicabilidade da Teoria dos Sistemas Nebulosos (TSN)
em GIS.
Visto que o grande desafio das cidades atualmente é
garantir a sua sustentabilidade de modo a gerar recursos
próprios que a mantenham viva, e o fato do turismo ser
considerado como atividade econômica capaz de
proporcionar melhores condições de vida (Lemos, 1999),
proporemos um método para auxiliar o turista na
elaboração do seu roteiro, através da possibilidade de
escolha de pontos turísticos, baseada na interpretação do
seu interesse pessoal.
2
Revisão Bibliográfica
As pesquisas na área de análise espacial estão baseadas na
premissa de que incertezas existem devido a um processo
aleatório dentro de sistemas espaciais e que, portanto,
modelos estatísticos e probabilísticos seriam o mais
apropriado para uso. Entretanto, alguns aspectos de
incerteza não podem ser atribuídos ao acaso, por exemplo,
o uso de termos de linguagem (Leung, 1988). Deste modo,
Com base nos conceitos na TSN, pretende-se
implementar sistemas de auxílio a definição de roteiro
turístico, através do desenvolvimento de métodos para a
modelagem e análise de dados subjetivos nestes estudos.
O objetivo deste trabalho é municiar os planejadores
e usuários do espaço urbano com uma ferramenta de
9
o uso da Teoria dos Conjuntos Nebulosos é o mais
apropriado para modelagem de imprecisão e vagueza
(como informações qualitativas).
Em 1985, Ponsard e Tranqui (1985) aplicaram a
lógica nebulosa em um estudo de análise do espaço urbano
na Europa, onde consideraram que regiões econômicas são
espaços nebulosos. Apresentaram um método de
classificação da regionalização nebulosa para descrever
regiões que possuem características imprecisas. De acordo
com Burrough (1989), a modelagem tradicional é rígida
demais para este tipo de estudo e que, portanto, resulta em
inconsistência. Sendo assim, optou pelo uso da linguagem
natural para definição de regiões e defendeu a necessidade
de um modelo de dados que trabalhe a inexatidão dos
dados mantendo os princípios sistemáticos.
Para Burrough (1998) o aumento da procura por
dados e análises espaciais não está relacionado apenas às
ciências da terra, os planejadores urbanos e as agências
cadastrais precisam de mais informações sobre a
distribuição da terra e dos recursos na cidade. Vale
destacar que desde 1989 Burrough aplica a TSN em GIS
para análise do meio ambiente, considerando que os
fenômenos do mundo real não podem ser modelados
apenas de forma exata ou tratados probabilisticamente, e
que a utilização da TSN permite que a incerteza devido a
vagueza sejam tratadas em ambiente de análise espacial.
Fazendo uma análise comparativa, Burrough (1992)
demonstrou que a seleção e a reclassificação nebulosa é
menos sensível a erros nos dados, principalmente quando
os valores estão próximos às bordas das classes.
Em nível nacional, Braga et al. (1994) utilizaram a
lógica nebulosa para obtenção de mapas de fertilidade do
solo, pois a classificação e os métodos da teoria
possibilitam a definição de classes sem o estabelecimento
de limites precisos. Borges e Fonseca (1998) e Simões
(1998) mencionaram a lógica nebulosa para aplicação em
cartografia automatizada e em unidades ecológicas,
respectivamente. Além disso, o Instituto Nacional de
Pesquisas Espaciais (INPE) vem desenvolvendo trabalhos
que utilizam a Teoria dos Conjuntos Nebulosos para
"Integração e Análise Espacial de Dados em Pesquisa
Mineral" (Moreira et al, 1998) e o método de classificação
contínua na análise espacial de propriedades naturais
(Bönisch et al, 1998).
Na literatura sobre GIS poucas referências foram
encontradas com aplicações voltadas para o turismo.
Alguns modelos propõem a produção de mapas temáticos
com informações turísticas em meio digital, outros a
definição do melhor roteiro entre pontos definidos (não
necessariamente turísticos). Alguns sistemas de
identificação de rota estão disponíveis para consulta via
Internet, como é o caso dos sites apontador.com e
michellin.com.fr.
Em 1994, Lopes e Wandresen (1994), utilizando o
cadastro técnico multifinalitário, propuseram um mapa
temático, com simbologia específica para representação
dos caminhos de passeios e registraram os pontos de
entretenimento e lazer. Hensley, West e Wilkes (1999)
também nesta direção realizaram estudo sobre rotas
históricas. Casella (1999) em sua Dissertação de Mestrado
Diagnóstico Ambiental do Município de Bombinha, SC
sistematizou informações sócio-econômicas em uma base
cartográfica temática.
3
Turismo: qual o melhor roteiro?
O objetivo deste trabalho é desenvolver uma aplicação
para auxiliar o turista na elaboração do seu roteiro, através
da possibilidade de escolha de pontos turísticos, baseada
na interpretação do seu interesse pessoal. Armazenados
em um banco de dados, os resultados das consultas podem
ser reaproveitados para subsidiar os planejadores na tarefa
de garantir os recursos para sustendo da cidade através de
planos de intervenção, infra-estrutura adequada e
preservação do ambiente natural e urbano. Devido à
complexidade do problema e as inúmeras soluções
possíveis, procuramos fazer na proposição e construção do
protótipo, simplificações para tornar o sistema eficiente e
prático. Os resultados obtidos são apresentados junto com
a análise de validação.
Durante esta pesquisa verificamos que quando o
turista já conhece o lugar ou quando tem referências sobre
seus pontos turísticos, os sistemas existentes atendem
satisfatoriamente suas aspirações. Entretanto, para os
turistas que procuram por informações baseados apenas
em seu gosto pessoal ou desejo de fazer determinada
visita, estes sistemas não fornecem respostas eficientes. A
modelagem dos conceitos subjetivos, tais como interesse
histórico e interesse ecológico, que geograficamente
possuem posição espacial bem definida, é feita para tornar
possível a seleção de pontos a serem visitados com base
nos interesses dos turistas, eliminando a necessidade do
conhecimento prévio, além de ser pré-requisito para
construção de um sistema de consulta personalizado. Estes
conceitos subjetivos, podem ser modelados através da
aplicação da TSN em GIS.
Sendo assim, baseados no fato de que o turista busca
em um lugar pontos turísticos que sejam de seu interesse e
que, não necessariamente, tenha conhecimento detalhado
sobre estes pontos, foi elaborado um método para sugestão
de pontos turísticos a serem visitados e proposição de um
roteiro, juntamente com indicação de meios de locomoção,
10
compatível com o seu interesse e disponibilidade de tempo
e recursos financeiros.
4 Definição do Método Proposto
Dado um conjunto S = {s1 , s 2 ,..., s n } de n pontos com
potencial de exploração turística de uma determinada
região, cada ponto pode ser definido segundo m
propriedades P = {p1 , p 2 ,..., p m } , entre as quais, podemos
citar as informações determinísticas sobre localização
espacial, tempo médio e o custo médio de visita, horários
de funcionamento e os aspectos subjetivos que
caracterizam o potencial turístico, tais como, culturais,
ecológicos, esportivos, históricos, religiosos, entre outros.
Devido às características peculiares de cada ponto
s i , i = 1,..., n , definimos conjunto de pontos que possuem
um determinado aspecto relacionado ao potencial
turístico, como por exemplo: o conjunto de pontos de
interesse ecológico; e o conjunto de pontos de interesse
histórico.
Tendo em vista a subjetividade da definição destes
aspectos, podemos modelá-los como conjuntos nebulosos
(Zadeh, 1965). Aplicado ao exemplo anterior, temos, para
~
o conjunto de pontos de interesse ecológico: S eco ,
m ~ ( si )
, i = 1,..., n ;
definido pela função de pertinência Seco
analogamente, para o conjunto de pontos de interesse
histórico:
~
S his
, definido pela função de pertinência
Seguindo as preferências indicadas pelo turista, a
determinação do grau de interesse do turista sobre o ponto
si , m I~ ( si ) , pode ser feita aplicando-se as operações dos
t
conjuntos nebulosos.
No exemplo dado,
correspondente é:
t
4.1 Interesse do Turista
Com base nos graus de caracterização turística de cada
ponto s i e na preferência do turista, determinamos o grau
de interesse do turista sobre o ponto, m I~ ( si ) , onde I t
t
indica o interesse do turista.
A preferência do turista é um dado de entrada do
sistema. Sua indicação é feita no inicio da consulta, de
forma próxima a da linguagem natural, permitindo
inclusive combinações, por exemplo, visitar os pontos
‘ecológicos’ e ‘históricos’ ou ‘culturais’.
do
m ~I ( s i )
t
eco
his
(1)
cul
onde Ù e Ú indicam, respectivamente, as operações de
escolher o mínimo e máximo. São operações de interseção
e união de conjuntos nebulosos.
Outras combinações possíveis para a indicação da
preferência foram disponibilizadas no sistema de consulta
e, para cada combinação, calcula-se m I~ (si ) , i = 1,..., n , de
t
forma análoga.
4.2 Tempo e o Custo de Locomoção entre os Pontos
No que diz respeito à locomoção do turista, o objetivo
deste sistema é encontrar o meio de locomoção mais
adequado para cada trecho do roteiro, levando em
consideração tempo e custo. Foram definidos três meios
de locomoção possíveis para percorrer cada trecho, são
eles: a pé, táxi e ônibus.
O cálculo do tempo ( t i , j ) em cada trecho, para cada
meio de locomoção disponível, é definido conforme as
expressões abaixo:
Tempo a pé
t ipe
,j =
his
Os valores de grau de pertinência dos pontos s i , em
relação aos conjuntos nebulosos, são obtidos através da
avaliação dos especialistas. Por outro lado, as informações
determínisticas, tais como, t , c e horário de
funcionamento dos pontos turísticos são obtidos nas
agências de turismo, empresas estaduais ou municipais de
fomento ao turismo ou in loco.
expressão
m I~ ( si ) = m S~ ( s i ) Ù m S~ ( si ) Ú m S~ ( si )
m S~ ( s i )
, i = 1,..., n ; e assim para os demais aspectos que
caracterizam o potencial turístico. Exemplos das
propriedades utilizadas podem ser encontrados no caso do
estudo deste trabalho, na Tabela 2. Seguindo a notação
usual, usaremos ~ para indicar conjuntos nebulosos.
a
Tempo de táxi
Tempo de ônibus
t itx, j =
t ion
,j =
(2)
d i, j
pe
v
d i, j
v
tx
d i ,a
v
pe
(3)
+ t itx
+ t aon +
d a ,b
v
on
+
d b, j
v
(4)
pe
onde, d i, j - distância entre os pontos s i e s j ;
tx
- velocidade média do
v pe - velocidade média a pé; v
tx
táxi; t i - tempo médio de acesso ao táxi (tempo de espera
ou tempo até o ponto de táxi mais próximo ao ponto s i );
v on
velocidade
média
do
ônibus;
distância
entre
o
ponto
turístico
s
e
o
ponto
de
d i ,a
i
ônibus s a , que fica próximo ao s i , sendo s a Ï S ;
d b, j - distância entre o ponto turístico s j e o ponto de
ônibus s b , que fica próximo ao s j , sendo s b Ï S ;
d a ,b - distância entre o ponto de ônibus s a e o ponto de
ônibus s b , s a , s b Ï S ; t aon - tempo médio de espera no
ponto de ônibus s a , s a Ï S .
Os superscritos
pe , tx e on indicam,
respectivamente, os meios de locomoção: a pé, táxi e
ônibus. Os subscritos i e j indicam os pontos si e s j ,
i, j = 1,..., n e i ¹ j , ou o trecho entre eles. Como o caso
11
i = j corresponde ao deslocamento de um ponto a ele
mesmo, não é considerado no cálculo porque não possui
significado prático na análise.
Utilizando os valores de tempo e custo determinados
através das Equações (2) a (7) e com base nas funções de
~
~
pertinência dos conjuntos Wt e Wc , para cada trecho
Para efeito das simulações a serem realizadas, o valor
foi utilizado para indicar o trecho onde não existe
linha de ônibus.
O cálculo do custo ( ci , j ) em cada trecho, para cada
meio disponível, pode ser feito através das seguintes
equações:
(i, j ) que liga os pontos s i e s j , s i , s j Î S e i ¹ j ,
t ion
, j = -1
Custo a pé
Custo de táxi
Custo de ônibus
cipe
,j = 0
citx, j =
ccitx, j
determina-se
os
tx
pe
m w~ (i, j ) , m w~t (i, j ) ,
graus
j) ,
~ (i ,
m won
t
t
de
m w~pe (i,
c
satisfação
j) ,
m wtx~c (i, j ) ,
~ (i, j ) correspondente a cada meio de locomoção.
m won
c
(5)
(6)
q
on
cion
´ g i, j
, j = cp
(7)
onde, ccitx, j - custo de uma corrida entre os pontos s i e
s j ; q - número de pessoas por táxi; cp on - passagem de
ônibus, cujo valor por viagem é assumido como fixo;
g i , j - número de viagens de ônibus necessários para
deslocar do ponto s i a s j .
De forma similar ao tempo de deslocamento em cada
trecho, o caso i = j , não é considerado no cálculo.
Dos valores necessários para cálculo do tempo e do
custo, somente q , é dado de entrada a ser fornecido pelo
usuário durante a consulta. Os demais são informações
obtidas através de levantamentos e previamente
armazenadas no sistema ou são determinados a partir das
informações geográficas.
4.3 Seleção do Meio de Locomoção entre os Pontos
Visando modelar a subjetividade que pode estar presente
na escolha de um meio de locomoção para cada trecho e
facilitar a escolha baseada em duas grandezas distintas, o
tempo e o custo, o conceito de ‘satisfação’ foi utilizado.
O conceito de ‘satisfação’ foi modelado como
conjunto nebuloso W~ . Os conjuntos nebulosos ‘satisfação’
em relação ao tempo, Wt , e ao custo, Wc são definidos,
respectivamente, no domínio do tempo e no domínio do
custo. A Figura 1 mostra as funções de pertinência do
conjunto nebuloso ‘satisfação’ em relação ao tempo, Wt ,
e ao custo, Wc . As curvas utilizadas no sistema foram
definidas através do conhecimento de técnicos em
planejamento e especialistas em turismo.
Dois conceitos foram considerados na definição
destas curvas: a satisfação é inversamente proporcional ao
tempo e ao custo; para valores elevados de tempo e custo,
a curva tende a zero.
Figura 1a Curva de satisfação do tempo.
Figura 1b Curva de satisfação do custo.
O grau de satisfação do deslocamento a pé no trecho
(i, j ) pode ser determinado com base no requisito de
economia de tempo e de custo, através da seguinte
equação:
(8)
m ~pe (i, j ) = m ~pe (i, j ) Ù m ~pe (i, j )
w
wt
wc
Os graus de satisfação do deslocamento de táxi,
~ (i , j ) podem ser obtidos de
m wtx~ (i, j ) e de ônibus, m won
forma similar.
Como o meio de locomoção adequado ao trecho
(i, j ) é definido como aquele que proporciona maior grau
de satisfação para aquele trecho específico, o grau de
satisfação do trecho é dado por:
pe
on
tx
on
~ (i , j ), m w
~ (i, j )) = m ~ (i, j ) Ú m w
~ (i , j ) Ú m w
~ (i, j )
m w~ (i, j ) = max(m w~pe (i, j ), m wtx
w
(9)
e o meio de locomoção selecionado, mt Î { pe, tx, on} , é
aquele cujo grau de satisfação é:
(10)
m ~mt (i, j ) = m ~ (i, j )
w
w
Sendo assim, o sistema retorna ao usuário o meio de
locomoção mais adequado e o respectivo grau de
satisfação para cada trecho, juntamente com o custo e o
tempo necessário para percorrê-lo.
12
4.4 Definição do Roteiro
Por simplicidade, assume-se que o ponto de partida e
chegada do roteiro é o hotel onde o turista está hospedado.
Sendo assim, tendo o conjunto de l hotéis da região
considerada, H = {h1 ,..., hl } , como dado do sistema,
quando
o
turista
escolher
o
seu
hotel , hk , k = 1,..., l , no ato da consulta, tem-se como
ponto de partida e de chegada s 0 dado por:
(11)
s =h
0
k
e o conjunto de pontos usados na análise do roteiro é:
S * = {s 0 , S } = {si } , i = 0,..., n
(12)
Portanto, no estudo de roteiros, as formulações
apresentadas nos itens anteriores podem ser aplicadas
diretamente, incluindo apenas o ponto de partida s 0 . Ou
seja, trabalhando com n + 1 pontos.
Como s 0 é ponto obrigatório do roteiro, seu grau de
pertinência em relação a todos os aspectos considerados
são definidos com o valor máximo igual a 1.0.
A definição de um roteiro adequado ao turista foi
modelada como um problema de seleção de trechos
melhores avaliados considerando: o interesse do turista em
percorrer os trechos; e o grau de satisfação do trecho em
relação ao custo e ao tempo, além de restrições de
recursos financeiros e tempo disponível que o turista pode
fornecer ao sistema no início da consulta.
Uma proposta para avaliar o interesse do turista em
percorrer um trecho (i, j ) , m ~I (i, j ) , é utilizar a média
t
aritmética do seu interesse sobre os pontos s i e s j , ou
seja:
(13)
m I~ ( s i ) + m I~ ( s j )
t
m I~ (i, j ) = t
t
2
O grau de satisfação em relação ao custo e tempo do
trecho (i, j ) , m w~ (i, j ) , pode ser determinado utilizando a
Equação (9).
Tendo em vista que outras questões de ordem pessoal
também podem afetar nos pesos do m ~I (i, j ) e m w~ (i, j ) na
t
decisão final sobre a escolha ou não do trecho (i, j ) , o
grau de interesse final do turista em percorrer o trecho,
m I~ (i, j ) , é definido pela equação seguinte:
f
(14)
m ~ (i, j ) = (1 - b ) × m ~ (i, j ) + b × m ~ (i, j )
If
It
W
onde, m ~I (i, j ) - grau de interesse final do turista em
f
percorrer o trecho (i, j ) ; e b - o fator que representa o
perfil do turista. Este fator é utilizado para tentar modelar
o efeito de inclinações pessoais sobre importância relativa
do m ~I (i, j ) e m w~ (i, j ) na decisão final.
t
Tendo em vista que existe uma certa relação entre a
preocupação com a economia e a categoria do hotel que o
turista escolhe para se hospedar, quanto menos luxuoso o
hotel, a tendência é refletir uma preocupação maior com a
economia. Por exemplo, a categoria 5 estrelas tem valor
de b igual a 0,10, 4 estrelas igual a 0,20 e assim por diante
até hotéis de categoria 1 estrela.
Visando a elaboração de um método prático de
solução do problema combinatório, com base nestas
informações, ao invés de partir para busca exaustiva ou
usar métodos de otimização que requerem grande volume
de cálculos, o sistema seleciona o melhor roteiro através
de um método heurístico que busca a solução ótima local
em cada ponto do roteiro.
No método, partindo de um ponto i , selecionar o
trecho (i, j ) que apresenta maior grau de interesse
m ~I (i, j ) dentro de todos os trechos remanescentes (trechos
f
ainda não percorridos) que saem do ponto i . Em caso de
coincidência de valores dos graus de interesse dos trechos,
é adotado um critério de desempate que se baseia no
menor tempo
t i, j
dos trechos coincidentes.
Em caso de nova coincidência de valores, usa-se como
critério de desempate o tempo de visita dos pontos de
destino dos trechos. A busca começa pelo ponto de partida
s 0 . Para cada trecho selecionado, o ponto do destino do
trecho passa a ser o ponto de partida do próximo trecho.
Para cada um dos trechos acrescidos, o sistema realiza um
teste para verificar se o roteiro gerado obedece às
restrições de tempo e recursos financeiros do turista,
incluindo o tempo e custo para retornar do último ponto
do trecho ao ponto s 0 .
Este processo se repete até que se encontre o maior
número de trechos que não violam o limite do tempo e
recursos financeiros ou até não existirem mais pontos
turísticos a serem visitados, caracterizados pelo interesse
do turista. O resultado é utilizado como roteiro para ser
recomendado ao turista.
5
Caso de Estudo: Melhor Roteiro Belém
A cidade de Belém, capital do Pará é o principal portão de
entrada da Região Amazônica. Situada às margens da Baía
de Guajará tem cerca de um milhão e duzentos mil
habitantes possui clima quente e úmido durante todo o ano
e guarda uma série de riquezas naturais, históricas e
culturais. Neste contexto, o perímetro urbano da cidade de
Belém foi eleito como caso de estudo para a aplicação do
método proposto.
5.1 Modelo de Dados
O modelo de dados adotado na aplicação Melhor Roteiro
Belém (Tabela 1) está baseado no modelo do banco de
dados geográficos do Sistema de Informações
Metropolitanas de Belém - SIME, disponível em (Iochpe,
2001), Relatório de Atividades do SIME.
13
Tabela 1 - Dados do Sistema Melhor Roteiro Belém.
Dado
Pontos Turísticos
Hotéis
Trechos entre Pontos
Logradouro
Eixo de Logradouro
Linhas de Ônibus
Pontos de Ônibus
Edificações
Hidrografia
Vegetação
Equipamentos
Data
2000/2001
2001
2001
2000
2000
2000
2001
2000
2000
2000
2000/2001
Fonte
PARATUR
PARATUR
Levantamento de Campo
SIME
SIME
CTBEL
PDTU
SIME
SIME
SIME
SIME
5.3 Consultas ao Sistema
5.2 Aplicação do Método Proposto
Nesta aplicação um conjunto de n = 23 pontos
turísticos S = {s1 , s 2 , s 3 ,..., s 23 } é caracterizado por
quinze propriedades, especificadas na Tabela 2.
Tabela 2 - Descrição das Propriedades dos Pontos
Turísticos.
Prop.
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
11
12
13
14
15
Nome
Especificação
Nome
Nome do Ponto Turístico.
Conjunto de pontos turísticos culturais. Índices
~
S cul
elevados para museus, cinemas, teatros, monumentos, etc.
Conjunto de pontos turísticos ecológicos. Índices
m S~ (s i )
eco
elevados para parques ecológicos, praias, etc.
Conjunto de pontos turísticos especiais. Índices
m S~ ( s i )
spc
elevados para shoppings, comércio, serviço, etc.
Conjunto de pontos turísticos esportivos. Índices m ~ ( s )
S esp i
~
S esp
elevados para campo de futebol, ginásios, etc.
Conjunto de pontos turísticos históricos. Índices
~
S his
~
S laz
~
S rel
t
c
m S~ ( s i )
cul
~
S eco
~
S spc
m S~ ( s i )
his
elevados para monumentos históricos, etc.
Conjunto de pontos turísticos de lazer. Índices
O custo da passagem de ônibus em Belém é de
R$ 0,85, mas para efeito de cálculo este valor foi
arredondado para R$ 1,00. O valor inicial da corrida de
táxi é de R$ 2,75 e é cobrado R$ 1,15 a cada quilômetro.
Com vista à validação da aplicação, foram realizadas 20
consultas ao sistema, tendo como universo de pesquisa
habitantes da cidade de Belém. Embora sem a utilização
de instrumentos formais para avaliação, as consultas
forneceram resultados satisfatórios e condizentes com os
interesses expressos pelos moradores. Uma das simulações
efetuadas está exemplificada a seguir.
Consulta
Hotel: Hotel Ipê.
Interesse: pontos turísticos com características de lazer e
religiosas.
Restrições: tempo disponível de 4:00 horas.
Roteiro: o roteiro calculado a partir do Hotel Ipê, indica
que o turista deve ir de ônibus até a Basílica de N. Sra. de
Nazaré, de ônibus até o Complexo de Santo Alexandre e
retornar de ônibus ao hotel (figura 2). Seguindo estas
orientações o turista deve percorrer o roteiro em
aproximadamente 3:20 horas, ao custo de R$ 8,00, sendo
R$ 3,00 despendidos em transporte. R$ 5,00 é o preço do
ingresso no Complexo de Santo Alexandre.
m S~ ( s i )
laz
elevados para parques de diversão, parques aquáticos, etc.
Conjunto de pontos turísticos religiosos. Índices m ~
S rel
(s i )
elevados para igrejas, etc.
Tempo médio de visitação no ponto turístico.
(min)
Custo médio no ponto turístico.
(R$/pessoa)
Horário
Imagem
Link
Desc.
End.
Horário de funcionamento.
Fotografia do ponto turístico.
Site na Internet do ponto ou site de referência.
Texto com descrição do ponto turístico.
Endereço do ponto turístico.
Para a descrição dos quatro hotéis considerados no
sistema implementado, seis itens estão detalhados na
Tabela 3 foram utilizados.
Tabela 3 - Descrição das propriedades dos hotéis.
Prop.
Nome
Especificação
1
Nome
Nome do hotel.
2
Categoria
Categoria1 segundo EMBRATUR.
3
Fator b
Fator que representa o perfil do turista2.
4
Imagem
Fotografia do hotel.
5
Link
Site do hotel na Internet.
6
Endereço
Endereço do hotel.
Figura 2 Mapa do roteiro calculado para a consulta
aos pontos turísticos de lazer e religiosos, partindo do
Hotel Ipê; tabela dos pontos turísticos selecionados; e
tabela dos trechos a serem percorridos, em ordem.
1
De acordo com a Empresa Brasileira de Turismo - EMBRATUR, os hotéis são
classificados em cinco categorias: uma estrela, duas estrelas, três estrelas, quatro
estrelas e cinco estrelas.
2
O fator
b
varia de 0,1 a 0,5 e corresponde a categoria cinco estrelas a uma
estrela, respectivamente.
14
5.4 Análise dos Resultados
Ao analisar os resultados da consulta concluimos que o
número de pontos turísticos com as características
requisitadas pelo turista (Figura 3) na cidade é pequeno e
que devido a sua restrição de tempo foi possível indicar
apenas dois pontos a serem visitados no roteiro.
Entretanto, o índice de caracterização destes pontos
quanto ao interesse definido é alto, o que deve deixar o
turista muito satisfeito.
recomendações de roteiros que correspondem às
expectativas e às restrições dos turistas e aprovados pelos
profissionais ligados à área de turismo.
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Geoprocessamento. GIS Brasil 98, Anais. Salvador, 1998.
1 CD ROM.
Figura 3 Gráfico do grau de interesse do turista
m I~ ( si ) ) nos pontos turísticos derivados da consulta.
t
6
Considerações Finais
Ao analisar o trabalho realizado, concluimos que os
estudos de Sistemas de Informação Geográfica feitos sob a
ótica da Teoria dos Sistemas Nebulosos já apresentam
várias aplicações bem sucedidas.
A preocupação com a sustentabilidade das cidades
motivou a modelagem de um método de busca do melhor
roteiro em passeios turísticos.
Na modelagem do sistema verificamos que a
subjetividade estava presente tanto nos dados como nas
análises realizadas na busca do melhor roteiro. Sendo
assim, trabalhamos com um modelo de busca subjetiva de
pontos, sem necessidade de conhecimento específico por
conta do turista e com a caracterização destes pontos
através da subjetividade dos mesmos.
Outro conceito importante implementado é o de meio
de locomoção mais adequado, segundo os parâmetros de
tempo e custo, determinados por curvas de satisfação
definidas por profissionais do espaço urbano. Sendo
assim, conseguimos implementar um sistema flexível que
permite ao turista elaborar roteiros adequados às suas
ansiedades, considerando seu perfil, sem a necessidade de
conhecimento prévio e detalhado sobre os pontos
turísticos. Como trabalho remanescentem, ainda existe a
necessidade de calibrar melhor os valores de pertinências
utilizadas neste trabalho, através de um levantamento de
campo mais amplo.
Devido a limitação do espaço, ilustramos o método
com apenas uma das muitas consultas realizadas. No
entanto os resultados mostraram-se satisfatórios, com
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