XXI

Transcrição

XXI
#1
ESBOÇO DE IDEIAS
- Antes do começo
- O que é igreja?
- No que implica ser igreja?
- O que se vê hoje?
- Seguindo a Cristo
- O modo digno
#2
ANTES DO COMEÇO
Quando eu comecei a trabalhar, recentemente,
sabia exatamente aquilo que eu seria na empresa:
estagiário. Estava no meu contrato. Era exatamente isso
que me definia na empresa e, com isso, sabia exatamente
o que eu faria: picotar papéis, grampear folhas e, no
tempo livre, servir o café.
Brincadeira a parte, a função é definida por aquilo
que se é, ou seja, a nossa identidade revela aquilo que
devemos fazer e a forma com a qual devemos nos
comportar. Um soldado age como soldado e não pode se
comportar como um general, pois ele é um soldado. Um
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estagiário não pode se comportar como o diretor
executivo da empresa, porque é um estagiário. Quando o
trabalho de alguém não condiz com sua posição ou ele
está sendo explorado, ou negligente.
Quando Paulo diz em Efésios 4:1
“Rogo-vos, pois, eu, prisioneiro no Senhor,
que andeis de modo digno da vocação a
que fostes chamados”
ele não está apenas alertando a igreja de Éfeso à boa
maneira como ela deve andar. Paulo clama. Paulo implora
pra que a igreja seja igreja. Pra que seu estilo de vida seja
digno do propósito pelo qual existe. Para que a vida dos
santos esteja em conformidade, em equilíbrio, em pé de
igualdade com a visão e missão de existir da igreja.
Olhando para a vocação da igreja, Paulo deseja que a
igreja de Éfeso cumpra o seu papel.
A idéia da palavra digno, αξιως (axios) no grego, é a
ideia de ter o mesmo peso, como uma balança de pratos
equilibrada, onde se encontra quem a igreja de Éfeso foi
convocada para ser, como peso de referência, e quem a
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igreja de fato é no outro prato. Em Filipenses 1:27, Paulo
diz à igreja de Filipos:
“Vivei, acima de tudo, por modo digno do
evangelho de Cristo […]”
Mais uma vez ele utiliza a palavra “digno” (axios)
colocando na balança a vida da igreja e os valores do
evangelho. Assim surge uma grande dúvida entre os
santos: “O que é a igreja?”. No que se baseia a identidade
dela? Qual o propósito pelo qual ela existe?
Quando a igreja conhece o que ela é, seu propósito,
ações e metas são naturalmente direcionadas para o viver
em conformidade com aquilo que Deus estabeleceu.
Qualquer coisa que fuja do propósito da igreja deve ser
cautelosamente ponderada, pois pode-se estar diante de
uma esquizofrenia espiritual, uma perigosa crise de
identidade.
#5
O QUE É IGREJA?
Antes de abordar no que consiste ser igreja, devemos
estabelecer o que não é a igreja, pois dessa forma
conseguimos combater rapidamente alguns equívocos a
respeito dela.

A igreja não é um lugar. O que chamamos de
templo é muito mais uma embalagem da igreja do
que seu conteúdo propriamente dito.

A igreja não é um clube. Não deve-se pensar que a
igreja é um grande clube gospel que está aberto
aos finais de semana para que o membro se sinta
salvo, amado, feliz e satisfeito.
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
A igreja não é uma empresa. Nunca podemos achar
que o impacto efetivo da igreja deve ser medido
por um modelo gerencial, pelos lucros nas
contribuições, pelo crescimento exponensial de
seus membros, muito menos pela quantidade de
metas e ações planejadas e alcançadas.

A igreja não é um show. Engana-se quem diz: “hoje
me senti bem na igreja”. Não existe consumidores
na igreja.

A igreja não é uma instituição filantrópica. O
propósito da igreja não é somente satisfazer as
necessidades materiais do mundo.

A igreja é εκκλησια (eclésia).
Na Bíblia essa palavra, eclésia, aparece pela
primeira vez em Mt 16:16-18 na confissão de Pedro:
“Respondendo Simão Pedro, disse: Tu és o
Cristo, o Filho do Deus vivo. Então, Jesus
lhe afirmou: Bem-aventurado és, Simão
Barjonas, porque não foi carne e sangue
que te revelaram, mas meu Pai, que está
nos céus. Também eu te digo que tu és
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Pedro, e sobre esta pedra edificarei a
minha igreja, e as portas do inferno não
prevalecerão contra ela.”
Existe muita discussão a respeito de qual é essa tal
pedra sobre a qual Jesus edificaria sua igreja. Entretanto
algumas coisas são claras na expressão “[Eu] edificarei a
minha igreja”.
Primeiro, Cristo é quem edifica a Igreja. Ele deve
ser quem define o que é igreja, ele teve a idéia e portanto
é ele quem deve estabelecer as diretrizes. Toda a
responsabilidade de fazê-la ser igreja está contida nas
mãos do “Cristo, Filho do Deus vivo”.
Em segundo lugar está a palavra edificarei,
οικοδομος
(oikodomos),
que
nos
dá
a
idéia
de
estabelecimento, fundação, crescimento. Ou seja, a igreja
está em constante mudança, como uma casa em
construção. Pra quem já vivenciou uma construção sabe
que as vezes quando os pedreiros resolvem sair do que
está na planta é necessário quebrar tudo que está errado
e começar novamente. Da mesma forma que em uma casa
em construção, a igreja é dinâmica, estabelecida sob o
fundamento dos apóstolos e supervisionada de perto por
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Cristo, o qual não hesita em quebrar tudo para reformar o
que está errado. A história da igreja está escrita pra
comprovar isso.
Em terceiro lugar, a igreja não é do pastor X ou do
reverendo Y. Não é da denominação Z ou W. Não é do
Apóstolo Zé nem do Bispo Fulano. “edificarei a minha
igreja” a igreja é do Senhor Jesus. Ele é a autoridade, ele
estabelece as diretrizes e é para Cristo que a igreja existe.
Ele é o cabeça da igreja, seu próprio corpo.
De fato em Cl 1:18, bem como em Ef 1:22-23, a
igreja é colocada como Corpo de Cristo, o qual é o cabeça
desse corpo, que é composto por partes, membros,
pessoas que confessam a mesma convicção, a mesma
identidade em Cristo e a mesma confiança em Deus e na
obra de Seu Filho, o qual não é apenas o cabeça, mas dono
do corpo. O que antes existia físicoencarnado entre nós,
hoje se manifesta através da igreja, o Corpo de Cristo.
Igreja, eclésia no grego, é a reunião dos cidadãos
chamados para fora de suas casas, convocados para um
propósito. Quando vejo essa definição eu lembro dos
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discípulos de Jesus, chamados não somente para fora de
suas casas, mas para fora de suas próprias vidas.
“Sigam-me, e eu vos farei pescadores de
homens.”
Mt 4:19
Jesus os chama a segui-lo e novamente trás pra si a
iniciativa de dar propósito e edificar a vida daqueles
pescadores. Jesus os transformaria em pescadores de
homens. Aí estava o primeiro chamado da sua igreja e o
início do trabalho de edificação: chamar e capacitar os
incapacitados para fazer aquilo que Jesus estabeleceu
como importante, pescar homens.
Ser igreja implica em seguir a Cristo, responder ao
chamado, à convocação daquele que é o cabeça, o líder, o
Rei da igreja. Se a igreja tem que ouvir atentamente
alguém, esse alguém é Cristo: fundador e edificador.
Essa é a igreja de Cristo.
Esse é o Corpo de Cristo.
Seguidores do Rei chamados para fora
de suas próprias vidas.
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NO QUE IMPLICA SER IGREJA?
Espero que tenha ficado claro que igreja à parte de
Cristo é qualquer coisa menos igreja. Um grupo que não
tem em Cristo identidade e base não pode ser chamado de
igreja. Mas qual o propósito dela? O que envolve o ser
igreja? Quais os valores e atitudes que são esperados?
Nada melhor que o próprio Cristo para estabelecer
parâmetros à igreja, afinal é dele e existe por causa dele.
#11
OS VALORES DA IGREJA
Talvez um dos trechos mais interessantes da bíblia
seja o sermão do monte, um dos techos, porém, menos
observados. Seria por causa da complexidade de se
entender o que Jesus ensinava ou por não se querer
aceitar o grau de compromisso e a profundidade dos
valores requeridos pelo Rei?
Iniciando no capítulo 5 de Mateus, Jesus estabelece
as diretrizes, edifica valores, o que há de importante, o
que é de sucesso, quem são os bem-aventurados. Os
interlocutores se encontram divididos:
Vendo Jesus as multidões, subiu ao monte, e,
como se assentasse, aproximaram-se os seus
discípulos; e ele passou a ensiná-los,
dizendo:
Mt 5:1-2
Jesus queria ensinar aos seus discípulos, então ele
sobe ao monte. Existe uma divisão clara da multidão e dos
chamados. Os valores que viriam a seguir não se
aplicavam a todo o mundo, senão para os seus pupilos, os
que foram convocados para segui-lo, a sua igreja. Inicia-se
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então as bem-aventuranças, que marcam muito mais do
que promessas para um viver piedoso; marcam os valores
de um Reino Eterno.
Bem-aventurados os humildes de espírito,
porque deles é o reino dos céus.
Os discípulos de Cristo se encontram na pobreza
(Lc 6:20), trocam o que é material pelo imaterial, renunciam o que é volátil pelo que é eterno. Não o fazem para
barganhar com Deus, mas porque possuem, em Cristo,
tudo (Ef 1:3). Os seguidores de Jesus abrem mão da
própria
segurança
financeira
(política
e
religiosa
também) para ganhar um tesouro eterno, o Reino dos
céus. Esse é o primeiro valor da igreja, abrir mão das
coisas terrenas, por amor a Cristo.
Bem-aventurados os que choram, porque
serão consolados.
O chamado de Cristo ao discipulado separa os que
renunciam essa felicidade terrena e sofrem, daqueles que
vivem a alegria do mundo. Sofrem e choram não porque
querem experimentar das alegrias terrenas (do kosmos),
mas porque não desfrutar da alegria do mundo é des-
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frutar de suas aflições (cf. Jo 16:33). A recompensa,
porém, está no consolo divino de providenciar uma Paz
que excede todo entendimento e na esperança futura. A
igreja, portanto, não sintoniza com a alegria do mundo,
mas prova daquele que é a fonte de deleite e consolo no
momento de aflição.
Bem-aventurados os mansos, porque
herdarão a terra.
Os discípulos de Cristo talvez tenham todos os
motivos para reivindicar direitos pelas aflições que
sofrem. Mas, ao contrário de lutarem por isso, suportam
com paciência a injustiça, silenciam-se diante da ofensa e
sofrem perante a perseguição. No Reino de Deus é rico
quem renuncia todo direito próprio e age com mansidão,
por amor a Cristo.
Bem-aventurado os que tem fome e sede
de justiça, porque serão fartos.
O reconhecimento do próprio pecado leva os
seguidores de Cristo a desejar justificação. Ao olhar a
pecaminosidade do mundo também clamam por justiça.
Nesse caso o discípulo de Cristo confia no Senhor,
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renunciando a autojustificação e o próprio padrão de
verdade. Assim recebem justificação por meio de Cristo e
verão a justiça de Deus em tempo oportuno na vida do
ímpio tanto na condenação como na salvação. No Reino
são satisfeitos os que renunciam a própria tentativa e o
próprio conceito de justiça.
Bem-aventurados os misericordiosos,
porque alcançarão misericórdia.
Muitas coisas estão em jogo na atitude de agir com
misericórdia. Os seguidores de Cristo sabem disso e se
dispõem a renunciar a própria dignidade e honra para
servir os aflitos, oprimidos e pecadores. Sua atitude não
está condicionada com qualquer promessa, senão com
algo que tem sustentado sua própria existência: a misericórdia do Senhor. Porque a Sua misericórdia é melhor que
a vida e se renova a cada manhã (Sl 63:3, Lm 3:22-23), o
servo do Reino renuncia sua própria dignidade e honra
para viver em comunhão com marginalizados e pecadores.
Bem-aventurados os limpos de coração,
porque verão a Deus.
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Pureza e inocência marcam o coração de um
seguidor de Cristo. Não se encontra nele a perfeição, mas
a marca do arrependimento constante e da confissão.
Muito mais do que sacrifícios, um coração contrito diante
de Deus é agradável (Sl 51:16-17). No Reino, feliz é aquele
que renuncia a própria imagem para reconhecer a própria
indignidade diante da magestade de Deus.
Bem-aventurados os pacificadores, porque
serão chamados filhos de Deus.
Só existe uma coisa importante para um discípulo
pacificador: a paz. Qualquer outra coisa é facilmente
deixada de lado em prol da paz. Um seguidor de Cristo
tem, nele, paz com Deus e com esse combustível sofre e é
injuriado, pois prefere sair perdendo do que deixar de
desfrutar desse valor que é próprio do Reino de Deus. Os
seguidores do Rei renunciam ao ódio, à violência e à
revolta, por amor à paz, por amor a Cristo. Essa é uma
marca tão visivelmente divina, que os Seus discípulos
“serão chamados filhos de Deus”.
Bem-aventurados os perseguidos por
causa da justiça, porque deles é o reino
dos céus.
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Quando alguém se identifica com esses valores,
quando se segue a Jesus na renúncia de propriedade, felicidade, justiça, honra e poder, não haverá reconhecimento
por parte do mundo, mas rejeição. Se o próprio Cristo foi
rejeitado, certamente seus seguidores o serão (Lc 10:3).
Nisto está o sucesso dos seus discípulos: sofrer pelos
valores, pela justiça do Reino.
A igreja de Cristo se encontra no sofrimento e na
renúncia. A igreja dos bem-aventurados é a igreja do
Crucificado. Não existe identificação com o mundo, mas
conflito constante de valores. A igreja de Cristo é a igreja
dos mártires, a igreja dos que sofrem por amor a Cristo.
Da mesma forma que o corpo de Cristo foi pendurado no
madeiro, o corpo de Cristo, a igreja, espera o mesmo fim.
Regozijai-vos e exultai, porque é grande o
vosso galardão nos céus;
Tertuliano afirmou: “O sangue dos Cristão é a
semente do Cristianismo”. Um discípulo, que se encontra
na renúncia e no sofrimento, espera seu prêmio, se alegra
no sofrimento, pois sua identidade trancende ao mundo
material. Corpos desfigurados, queimados, divididos,
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decapitados, torturados escutarão do próprio Senhor
Jesus: “bem-aventurado, bem-aventurado!”.
Esses são os valores
da Igreja dos bem-aventurados,
da Igreja dos perseguidos,
da Igreja dos divididos ao meio,
da Igreja do Crucificado
da Igreja de Cristo.
OS PROPÓSITOS DA IGREJA
Continuando em Mateus 5 podemos observar o
propósito fundamental da igreja:
Vós sois o sal da terra; ora, se o sal vier
a ser insípido, como lhe restaurar o sabor?
Para nada mais presta senão para,
lançado fora, ser pisado pelos homens.
Vós sois a luz do mundo. Não se pode
esconder a cidade edificada sobre um
monte;
Mt 5:13-14
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Eu, particularmente sou um fã do sal. Sei que ele
pode fazer mal por causa do sódio, mas mesmo assim,
gosto de tudo mais pro lado do salgado. Quão triste é uma
comida sem sal. O sal faz toda a diferença. A igreja é o sal
da terra. Jesus não diz que ela deve ser sal, mas que ela já
é sal. Seus discípulos uma vez chamados se tornaram sal.
Toda a terra, então se preserva pela igreja de
Cristo, todos os povos sentem a diferença, a sede que ela
causa. E causa, não porque faz algo, mas porque Cristo a
definiu com esse propósito. Ser igreja é ser sal da terra.
Vós sois a Luz do mundo.
Da mesma forma que o sal, Cristo não diz que a
igreja deve ser a luz, mas a igreja é a luz. A visibilidade da
igreja é algo inerente a ela. Ser igreja não é viver na
invisibilidade no mundo, pelo contrário, a Igreja de Cristo
é a Igreja visível e não pode ser diferente, pois esse é o
propósito pelo qual Cristo chamou seus discípulos: “não
se pode esconder uma cidade[…]”, não se pode esconder a
igreja.
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“Os seguidores são a Igreja Visível e o seu discipulado é a
ação visível pelo qual eles se destacam no mundo, ou não
são discípulos.”
Dietrich Bonhoeffer
Os seguidores de Cristo devem ser visivelmente
diferentes, afinal pra que serve um grupo de pessoas que
vive como o mundo? Pra que serve um crente que vive
como pagão?
Assim como o sal salga e a luz ilumina a igreja deve
ser igreja. Se o sal não salga, ele não é sal, se a luz não
ilumina, ela não é luz. Da mesma forma, se a igreja não se
comporta segundo os valores e propósitos de igreja de
Cristo, ela é qualquer coisa menos igreja.
Assim brilhe também a vossa luz diante
dos homens, para que vejam as vossas
boas obras e glorifiquem a vosso Pai que
está nos céus.
Mt 5:16
#20
O resultado prático da existência da igreja é o
resplandecer da glória de Deus. Esta é a razão de existir
da igreja: que na sua simples existência no mundo, os seus
valores e ações sejam visíveis e demonstrem a glória de
Deus aos homens e que eles, impactados, louvem a glória
de Deus ou fujam de sua presença.
“ a fim de sermos para louvor da sua
glória, nós, os que de antemão esperamos
em Cristo;”
Ef 1:12
A igreja é chamada para boas obras (Ef 2:10), para
o louvor da glória de Deus. Eis um bom termômetro para
definir a igreja: Impacto no mundo. Ser igreja é impactar
para a Salvação ou para a condenação (2Co 2:15-16).
De maneira mais prática, podemos passear pelas
escrituras para observar algumas dessas boas obras
inerentes à igreja.
#21
SEPARADOS DO MUNDO
A Igreja de Cristo foi chamada para ser santa e a
ideia de santidade é de exclusivamente separada,
destinada para alguma ação ou propósito. Pedro cita o
que Deus estabeleceu com Israel.
“Sede santos, porque eu sou santo.”
1Pe 1:16
A santidade do Seu povo possibilitava a presença
Santíssima do SENHOR. O benefício da santidade da Igreja
não é de Deus, mas do seu próprio povo. O discípulo de
Cristo abstém-se de uma série de práticas e pecados,
outrora comuns, para viver na plena comunhão com Deus.
“Isto, portanto, digo e no Senhor testifico
que não mais andeis como também andam
os gentios, […],”
Ef 4:17
Viver de maneira inculpável e pura diante de Deus
é o propósito do Seu povo, da sua Igreja. Sua marca não
mais é o pecado, mas a obediencia. A Igreja de Cristo
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odeia o pecado para poder viver em intimidade com o
Deus Santo.
CHAMADOS PARA IMITAR O PAI E O IRMÃO
“Portanto, sejam imitadores de Deus,
como filhos amados,”
Ef 5:1
A intimidade com Deus, fruto de uma vida em
santidade, leva o discípulo de Cristo a conhecê-lo. Não
consiste em um simples conhecimento teórico, mas
relacional, prático. Quanto mais se conhece a Deus, mais
compreende-se a profundidade do próprio pecado.
E é nessa dinâmica que se procura imitar a Deus.
Como filhos íntimos e amados, seus seguidores imitamno, a autoridade máxima, o referencial supremo, o bom
Pai, que ama seus filhos. Qual é o filho que, amado por seu
pai, não hesita em imitá-lo e resolve fazer a barba, usar os
sapatos maiores que o pé e a gravata com um nó cego? A
igreja imita o Pai, pois o ama e o conhece.
#23
Além de imitar o Pai, um filho sempre imita o
irmão mais velho. Cristo, o irmão mais velho dos
chamados por Deus, também é imitado pela igreja.
Porquanto aos que de antemão conheceu,
também os predestinou para serem
conformes à imagem de seu Filho, a fim de
que ele seja o primogênito entre muitos
irmãos.
Rm 8:29
Imitar a Cristo é propósito da igreja. Um discípulo
é o pupilo, aquele que está aprendendo com o mestre. Não
existe discípulo que não está na vida de aprendizado e de
imitação do mestre. Da mesma forma, discípulos de Cristo
são os imitadores de Cristo. A igreja é a reunião dos
pupilos de Cristo.
CHAMADOS PARA A UNIDADE
As vezes acordo e me sinto estranho, sinto como se
tiraram meu braço. Na verdade apenas dormi em cima
dele e perdi a sensibilidade. Penso na dificuldade que
seria viver sem um braço, ou qualquer outra parte!
#24
Se a igreja se divide, o corpo de Cristo sofre, se a
inimizade ou panelinhas existem nos seguidores de Jesus,
o corpo perde a plenitude da sua atuação. O corpo de
Cristo foi instituido para estar unido. A igreja foi chamada
para estar unida:
esforçando-vos diligentemente por
preservar a unidade do Espírito no vínculo
da paz; há somente um corpo e um
Espírito, como também fostes chamados
numa só esperança da vossa vocação;
Ef 4:3-4
Esse corpo, bem ajustado renuncia às próprias
capacidades, aos próprios desejos para manter a unidade.
Viver em unidade, ao contrário do que muitos pensam, é
muito mais do que evitar divisão. Unidade é reconhecer,
no outro membro do corpo, um alvo a ser servido. O corpo
cuida do próprio corpo, a igreja cuida de seus
constituintes, suporta em oração, supre as necessidades
físicas e espirituais, se importa, ama.
O amor sacrificial é a massa que une o corpo, é a
fonte de unidade da igreja é a manifestação visível da
marca dos seguidores de Cristo.
#25
“Nisto conhecerão todos que sois meus
discípulos: se tiverdes amor uns aos
outros.”
Jo 13:35
A igreja de Cristo se preocupa menos com a
própria vida para o bem do corpo. Isso é Unidade:
multiplicar, em humildade, o amor sacrificial.
CHAMADOS PARA PESCAR HOMENS
Durante alguns poucos anos, Jesus treinou e andou
junto com seus discípulos para que eles se tornassem
pescadores de homens. Ele não os chamou para construir
um templo, nem para se reunirem semanalmente e muito
menos para fazerem eventos e projetos para entretenimento. Ele os convidou para pescar homens.
Pescar é muito interessante. Confesso que não sou
muito chegado na pesca. Não tenho paciência, não tenho
jeito e não gosto do peixe vivo se debatendo. Acho eles
muito mais atrativos e saborosos com shoyu em algum
restaurante japonês, no qual eu posso comer (e gastar
#26
pouco de preferência). Mas pescar é interessante. Existem
algumas características que devemos ter quando vamos
pescar:

Ir onde estão os peixes.

Usar uma boa isca

Esperar

Esperar mais um pouco

Saber que as vezes por mais preparo que se tenha, o
peixe não virá. (sou profissional nessa parte!)
Da mesma forma, os pescadores de homens devem
ir onde os homens estão. Ou seja, esperar que pessoas
venham até nossos templos num culto de domingo é
esperar que uma bandeja de sashimi pule para dentro do
barco, pode acontecer, mas isso não é pescaria.
Usar uma boa isca não significa vender a vida com
Deus como algo cheio de benefícios e nenhum custo. Não
significa enganar a pessoa revestindo um anzol que corta
e machuca com uma minhoca suculenta. A salvação
sempre foi por causa da Graça de Deus, mas Cristo exige
tudo dos seus discípulos.
#27
“Duro é este discurso, quem o pode ouvir?”
Jo 6:60
Os valores e requisitos para seguir a Cristo não são
atrativos e, na verdade, Cristo nunca desejou que o
fossem. O próprio evangelho, sem filtros é suficiente. Pra
alguns será atrativo e para outros, repulsivo (Mt 19:22 –
jovem rico). A resposta de uma pessoa ao evangelho não
deve ser proporcional aos benefícios de seguir a Cristo,
mas à Sua importância.
Usar uma boa isca, portanto, não é perverter o
conteúdo do evangelho, mas é preocupar-se com a sua
transmissão.
Não
se
trata
aqui
de
método
de
evangelização, mas falar a mesma língua.
Tenho trabalhado com adolescentes há alguns
anos e transmitir a Verdade para aqueles jovens muitas
vezes implica em evitar palavras, tão corriqueiras no meio
evangélico, como graça, apóstolos, fariseus, beneplácito e
tantas outras que até pra quem já faz parte do ambiente
eclesiástico é um tanto incerta. A igreja deve usar a isca
certa para o peixe certo, mas nunca deixar de mostrar o
anzol.
#28
Espera. Século XXI é o século da velocidade. Se o
computador demorar mais do que um minuto para ligar,
reclamamos. Pescar homens é demorado e a igreja de
Cristo sabe disso e por isso espera. Não se preocupa com
número de homens pescados, pois confia na soberania de
Deus, que atrai o homem, convence do pecado, da justiça e
do juízo (Jo 16:8).
E nessa espera, a igreja de Cristo não se frustra
quando o peixe não é fisgado, pois confia no Senhor. As
vezes o peixe come toda a isca, mas não quer morder o
anzol. As vezes, caminha-se durante meses, anos, com
uma pessoa e no final ela escolhe o pecado, o mundo e a
própria vida.
A igreja de Cristo é, acima de tudo, a igreja dos pescadores de homens, chamados, capacidados e enviados
por Cristo.
CHAMADOS PARA DISCIPULAR
Quando Cristo chamou seus discipulos, ele não
somente convidou-os à seguir e aprender, mas ele os
chamou para um treinamento. Cristo faria com eles aquilo
#29
o que eles deveriam reproduzir logo em seguida. Durante
seu ministério, Cristo dedicou grande parte do tempo
para treinar 12 homens para ser discipuladores e, então,
quando ele ascenderia aos céus disse:
Ide, portanto, fazei discípulos de todas as
nações, batizando-os em nome do Pai, do
Filho, e do Espírito Santo; Ensinando todas
as coisas que eu vos tenho ordenado. E eis
que estou convosco todos os dias até à
consumação do século.
Mt 28:19-20
O papel de um discípulo de Cristo é discipular.
Discipulado não é um estudo bíblico; é muito mais que
isso. Jesus vivia com os doze, dormia, comia todas as
refeições. Onde Jesus estava, eles estavam também
observando as atitudes de Cristo em cada situação
comum, ou incomum da vida. Discipulado é andar junto, é
deixar alguém fazer parte de sua vida e fazer parte da
vida da pessoa. É vida na vida. É se importar com ela,
ouvir, aconselhar. É rir junto, chorar também. É treiná-la a
ser discipuladora.
#30
O discípulo discipula. Ele existe pra isso, ele foi
treinado pra isso. E por mais incapacitado que ele seja,
sabe e reconhece que Cristo estará com ele até o final dos
tempos! (É uma promessa!) Ainda que lhe custe tempo,
gastos, gasolina, paciência, o discípulo discipula. Não o faz
porque é cômodo, mas faz pois reconhece quem é Cristo,
compreende o versículo 18 de Mateus 28.
“Toda autoridade me foi dada nos céus e
na terra.”
Porque o Senhor Jesus tem TODA autoridade, o
discípulo discipula. As vezes encontro pessoas que dizem
não fazerem discípulos porque não conseguem fazer, não
sabem como fazer, ou não entendem o propósito de fazer.
O discípulo de Cristo faz por simples obediência, chama
três ou quatro pessoas e convida:
Siga-me. E Cristo os fará pescadores de homens
#31
O PROPÓSITO DA IGREJA
Em suma, o propósito do corpo de Cristo é ser o
corpo de Cristo.
Parece tosca essa frase, mas a igreja de Cristo
compreende que ser corpo de Cristo implica em viver em
unidade. Ser membro do corpo é imitar e ter as mesmas
características de Cristo. Ser corpo é estar vivo e viver
segundo propósitos, prioridades e valores do próprio
Cristo. E, por último, ser corpo de Cristo é sofrer a mesma
injustiça e a mesma morte que Cristo.
Ser Corpo de Cristo é viver
a vida de Cristo e não se surpreender
com a mesma sentença.
#32
XXI
O QUE VEMOS HOJE?
Valores e propósitos pulam das escrituras e nos
fazem pensar. É isso o que vemos hoje? É isso o que
encontramos no dia-a-dia daquilo que chamamos de
igreja? É isso que vemos na nossa própria vida? O que
encontramos hoje?
Me entristeço ao pensar nisso. Fruto de um lar
cristão, aprendi na igreja como ser cristão, antes mesmo
de ser um. Vivi na hipocrisia de querer ser aceito pelas
palavras da minha oração e pelas minhas boas atitudes.
Entretanto, aprendi a caminhar com Deus em
intimidade, compreendi sobre quem Ele é, experimentei
#33
da Sua graça, do Seu perdão, vi claramente o Seu agir na
minha vida, e por meio dela, fora da igreja em uma
missão, um ministério paraeclesiástico simples em seu
propósito: evangelizar e discipular adolescentes. Me
entristeço porque vejo, nas igrejas, adolescentes como eu
era: salvos em sua hipocrisia. Algo está errado.
O que era um só corpo se tornou vários corpos e
denominações. A unidade está esquartejada, sofre de uma
doença autoimune: orgulho. Onde existia uma vontade se
vê a vontade de cada um. O que tinha um só Espírito não
se vê nada, afinal, ninguém sabe quem é o Espírito Santo.
Onde havia seguidores hoje se encontram consumidores.
Onde existia o livre guiar do Espírito se vê a busca por
interesses próprios.
Quanto aos valores, troca-se o consolo de Cristo
pelo consolo das riquezas. Troca-se mansidão por uma
“boa” causa. Troca-se desejo de justiça pela delícia do
pecado. Troca-se a paz por brigas e discussões inúteis.
Troca-se o sucesso celeste pelo sucesso terreno. Troca-se
o que é eterno pelo vapor.
#34
Onde está a igreja Visível? Tudo que se vê é o
anonimato gospel de viver conforme o padrão do mundo.
Agentes duplos! Ultrassecretos!
Sal e Luz? Existe diferença? Tudo o que se encontra
é insipidez e escuridão no dia-a-dia de cada um. O que o
mundo diz a respeito da igreja? Não há nada o que dizer,
pois a glória de Deus não resplandece nas vidas dos
membros.
Santidade, imagem de Cristo? Tudo o que se vê é a
plasticidade de uma suposta vida com Deus. Vive-se sem
propósitos. Vive-se sem valores práticos. Sepúlcros
caiados! Está na hora de acordar! Alguns chamam de
avivamento eu chamo de acordar para a eternidade!
#35
ACORDE PRA ETERNIDADE
Francis Schaeffer foi cirúrgico no diagnóstico da
nossa igreja:
“Aqui está o grande disastre evangélico –
a falha do mundo evangélico pra se
manter na verdade como verdade. Existe
apenas uma palavra pra isso – a chamada,
acomodação: a igreja evangélica tem se
acomodado ao espírito mundano dessa
era.”
Para simplificar, o que se vê hoje nas igrejas é
acomodação. Ninguém está disposto a fazer nada fora de
sua zona de conforto.
Na própria vida, ninguém está disposto a mudar
velhos hábitos, pecados, jeitos de falar e de se vestir.
Quanto aos outros, ninguém se importa. Só ajudam-se em
momentos de extrema dificuldade se não for muito custo,
afinal, já possuo muitos problemas. Quanto a Deus,
ninguém está afim de muita obediência. Compromisso
existe apenas até onde se é conveniente.
Jesus presenciou isso na sua vida e obra. Como
uma
pessoa
extremamente
impressionante,
todos
queriam estar perto de Jesus! Afinal ele fazia prodígios,
#36
multiplicava pães e peixes, ninguém tinha fome perto de
Jesus e só de tocá-lo pessoas eram curadas. Chegaram até
a tentar proclamá-lo Rei!
Queriam estar perto de Jesus o suficiente pra
receber todas bençãos e coisas maravilhosas que ele
proporcionava, mas não queriam chegar tão perto, de
forma a adquirirem qualquer compromisso. Esses eram
os fãs de Jesus.
Os fãs são diferentes dos seguidores. Esses foram
chamados e escolheram abandonar tudo para seguir a
Cristo. Andavam com ele, comiam com ele, aprendiam,
eram repreendidos e viam de perto quem era Jesus.
Quando os fãs abandonaram a Jesus os seguidores
mostraram ser diferentes.
À vista disso muitos dos seus discípulos o
abandonaram e já não andavam com ele.
Então, perguntou Jesus aos doze:
Porventura, quereis também vós retirarvos? Respondeu-lhe Simão Pedro: Senhor,
para quem iremos? Tu tens as palavras da
vida eterna; e nós temos crido e conhecido
que tu és o Santo de Deus.
Jo 6:66-69
#37
Hoje existem pessoas que torcem por Jesus.
Gostam dele, são fãs! Possuem bandeiras, adesivos,
tatuagem, boné, camisetas, tem um peixe no carro, status
no Facebook, mas não querem compromisso. Afinal, pra
que ser um soldado quando se pode aproveitar a viagem?
Cantam-se louvores ao vento e vangloriam-se por
uma religiosidade inútil, sem profundidade e sem fruto.
“Este povo me honra com os lábios, mas
seu coração está longe de mim”
Mt 15:8
Ir ao culto todo domingo virou sinônimo de
intimidade com Deus. Mas não se vê fruto. Se além de
reverência, houvesse sinceridade entre palavras e o
coração, os cultos seriam muito mais silenciosos.
Graça de Deus se tornou muito mais um talismã do
que fonte de Vida. Deus se tornou muito mais um gênio da
lâmpada do que o poderoso chefão. Cristo se tornou
muito mais um passe grátis pra eternidade do que Senhor
e Rei. O Espírito se tornou muito mais uma surpresinha
que vem no “Mc Lanche Feliz da Salvação” do que o
próprio Deus. Fé se tornou muito mais orar uma oração
#38
do que convicção e certeza prática. Cristianismo, portanto, resume-se, hoje, muito mais a um adesivo de peixe
do que seguir a Cristo.
Particularmente, acho interessante o símbolo do
peixe ΙΧΤΥΣ (ICTUS). Um anagrama que significa Jesus
Cristo Filho de Deus Salvador. Uma marca dos mártires
Cristãos. Um símbolo que antes estava estampado em
lápides e túmulos, hoje embeleza parachoques de carros
de luxo. Carros de valores monetários que missionários
nem sonham em ter. Nossos gastos revelam nossas
prioridades, nossas prioridades revelam quem somos:
seguidores ou fãs.
Mateus 7 ilustra bem a existência e o futuro dos
fãs. Gente que chegará na eternidade diante de Cristo e
falará “Senhor, Senhor” e ele responderá “Eu nunca te
conheci”. O que me preocupa nessa passagem é a palavra
“muitos” (“muitos naquele dia dirão: Senhor, Senhor…”).
Existem muitas pessoas que estão na igreja que acham
que serão aprovadas por Deus, mas estão sendo
enganadas pela própria religiosidade! Isso é preocupante!
#39
O corpo de Cristo se infestou de Fãs
Admiradores entusiastas
Observadores de longe
Alérgicos a compromisso
Aversos a sacrifício
#40
SEGUINDO A CRISTO
Se alguém quer vir após mim, negue-se a
si mesmo, tome diariamente a sua Cruz
e siga-me
Lc 9:23
quer vir. Querer é o primeiro passo para se tornar
um seguidor de Cristo. Qualquer um pode segui-lo. Jesus
não estabelece pré-requisitos. É um convite aberto: Você
quer me seguir? Você quer estar do meu lado? É o seu
desejo isso? Existem implicações, “pós-requisitos”.
negue-se a si mesmo. A primeira implicação. Não se
trata de dizer não pra tudo que se é, mas dizer sim, com
#41
prioridade, a tudo que Cristo espera de nós. Um seguidor
de Cristo não está no centro da sua própria vida. Um
seguidor não vive em função de sua própria agenda. Um
seguidor não planeja ao redor de suas próprias vontades.
Ao contrário, vive na renúncia de sua própria vida
terrena, conforto, vontades, desejos, profissão, tudo, pra
fazer prioritariamente a vontade de Cristo.
Para o jovem rico, Cristo pediu para abandonar
suas riquezas. Para Nicodemos, sua religiosidade. Para
outros a família e a moradia. Você estaria disposto a
renunciar qualquer coisa por Cristo? O que te prende?
tome diariamente sua cruz. Eis o slogan de Cristo:
Venha e morra
Que
marketing!
Tenho
certeza
que
algum
publicitário teria umas boas dicas para Jesus se orientar
melhor no mercado. Talvez soaria melhor algo como
Venha e receba bençãos!
Mas a verdade é que a marca e o fim de um
seguidor de Cristo beiram muito mais a morte do que
qualquer benefício terreno. Se o próprio mestre não foi
#42
poupado, muito menos seus pupilos o serão. Como disse
Dietrich Bonhoeffer em seu livro Discipulado:
“Quando Cristo chama um homem, ele o
convida para vir e morrer”
É um convite ao sacrifício diário. Morrer para si
mesmo, diariamente, e viver a vida de Cristo. Morrer para
a própria vida (como os missionários e mártires) pela
causa de Deus. Se o martírio cristão fosse exemplo de
sucesso ensinado nas casas e igrejas, meninos cresceriam
querendo ser missionários e não jogadores de futebol!
Fui crucificado com Cristo. Assim, já não
sou eu quem vive, mas Cristo vive em mim.
Gl 2:20a
Paulo está dizendo que seu corpo não existe mais
para viver a própria vida, senão a vida de Cristo. O
propósito de existir do apóstolo é a causa do Reino. E
ainda que essa escolha implique em perseguição ou
espada, ele escolhe viver para Cristo. Isso é carregar a
Cruz.
Sempre ouço alguém falando de carregar a cruz
para qualquer problema natural da vida. Por exemplo,
#43
alguém está doente e diz: “Estou carregando a minha
cruz”. Por mais triste e doloroso que seja o sofrimento,
carregar a cruz é o custo natural de se viver segundo os
valores e propósitos de um seguidor de Cristo.
Se Cristo diz que devemos discipular, fazê-lo em
meio ao sofrimento é carregar a cruz. Escolher obedecer a
Deus em troca de perder o emprego, dinheiro, imagem,
reputação ou até mesmo a vida é carregar a Cruz.
e quem não toma a sua cruz e não me
segue, não é digno de mim.
Mt 10:38
Novamente a palavra digno (axios). Aquele que não
toma a sua cruz não tem o mesmo peso, a mesma
dimensão de um seguidor de Jesus. Não significa que
tomar a cruz é um requisito para segui-lo, senão que a
característica esperada para um seguidor de Cristo é
responder ao Seu chamado com fé, expressa pela obediência total ao Senhor até o fim, seja ele qual for.
Obediência é a expressão natural da fé que temos em
Cristo, mas infelizmente não é automática. Miserável
homem que sou! (Rm 7:24).
#44
Portanto, a marca de um seguidor não é caracterizada pelas músicas que se canta, não é evidenciada
pela linguagem que se usa, pelas bíblias que se carrega,
pelo conhecimento que se professa, por um peixe no
carro, nem mesmo um status no Facebook. Renúncia
completa, entrega total, obediência fiel e esperança na
eternidade são expressões dignas de um seguidor, o qual
segue o mestre de perto e não se lamenta pelas
implicações, pois está convicto que Jesus é Senhor, digno
de tudo e promete aos seus seguidores nada menos do
que um relacionamento pessoal e eternidade ao Seu lado.
Siga-me
Esse é o convite de Jesus
Um chamado para morrer
Um chamado para viver
Sem reservas
Sem lamento
#45
O MODO DIGNO
Rogo-vos, pois, eu, prisioneiro no Senhor,
que andeis de modo digno da vocação a
que fostes chamados
Ef 4:1
Paulo estava preso. Não que ele teria feito algo
para merecer isso, mas ele era um seguidor de Jesus. Ele
não vivia mais pra si próprio, mas vivia para os valores e
propósitos do corpo de Cristo. Sabia que ele não era o
centro da salvação, senão o escravo, o prisioneiro daquele
que é o centro do Universo: Jesus, o Cristo.
Esse é o modo digno. Não existe um plano “B”.
Cristo não estabeleceu dois estilos de vida para o cristão.
#46
Ou se é um seguidor, ou não. Ou se entrega a Cristo tudo,
ou nada. Não adianta alguém querer chamar Jesus de
Senhor se não está a fim de ser seu escravo. Quando
alguém se encontra com Jesus ou se ajoelha e se prostra
ou foge correndo. Pare um minuto para pensar nisso.
A parábola do tesouro escondido em Mateus 13 é a
minha predileta. Um homem encontra um tesouro em um
campo. Ele olha pra esse tesouro e percebe que é algo
fantástico! Ele nunca viu nada igual! Aquele tesouro é
mais valioso do que tudo o que ele tem. Então ele vai,
vende tudo.
A família, os amigos devem ter dito: Você está
louco! Vai vender tudo pra comprar aquele campo? Que
disperdício! Mas ele sabia onde estava investindo:
Encontrei um tesouro, algo digno de
vender tudo o que tenho.
Então Cristo chama pescadores:
Sigam-me, e eu vos farei
pescadores de homens.
Mt 4:19
#47
Largaram, então, suas redes e o seguiram, como
que dizendo:
Encontramos o Rei, digno de se abandonar
tudo o que temos
A minha oração é que reconheçamos a autoridade
de Cristo, que possamos aceitar o custo da nossa salvação,
o custo que involve ser igreja, o custo que se espera de um
seguidor. Somos salvos exclusivamente pela fé, mas fomos
salvos para praticar aquilo que Cristo preparou para nós
desde a eternidade passada (Ef 2:8-10).
Que possamos nos prostrar diante de Cristo, fonte
de tudo o que precisamos, alegria, amor, paz, bençãos
espirituais. Que nosso propósito de vida seja conhecer a
vontade de Deus e obedecê-la, pelo simples fato dEle ser
digno de nossa obediência. Obediência é o simples
transbordar de uma vida que tem em Cristo satisfação e
deleite. É pra isso que fomos criados: para nos
deleitarmos em Deus, essa é a adoração genuína.
A tarefa é árdua, o caminho é duro, não há volta.
Seguir a Cristo é difícil, mas por meio dEle, ainda que em
meio a lágrimas, a colheita é garantida, a alegria é farta e a
#48
duração é eterna (Sl 126:5-6). Dependa do Espírito Santo
de Deus e da Sua graça para ser transformado. Não
desista! Não se acomode! Corra a corrida, combata o bom
combate, guarde a fé até a eternidade!
A Graça não é de graça porque não tem custo.
A Graça é de graça porque foi dada,
Mas não foi dada sem custo.
Quem recebe de graça não pagou o preço.
O preço é a Cruz.
O preço foi pago por quem dá,
E quem dá espera um custo:
O custo de receber a Graça de graça
E pagar um preço:
O preço é a Cruz
A Cruz é o início. A Cruz é o fim.
#AcordePraEternidade
#49
ANTES DA ÚLTIMA PÁGINA
A motivação desse texto é antiga e remete a muitos
meses de aprendizado, leitura e lutas. Integridade
teológica é a coisa mais difícil de se ter. Enxergar a
incongruência entre o conhecimento teórico e a própria
vida é muito ruim, mas necessária. Ser incomodado a sair
do conforto nunca é prazeroso, mas quem não sai do
conforto, na minha opinião, não vê o agir de Deus.
Não deixe de ler alguns dos livros a seguir (Esse
texto é uma digestão de meses de leitura), mas,
principalmente, se enxarque da Palavra e busque ajuda de
Deus, pois é da sua vontade transformar-nos e nos fazer
seguidores, pupilos de Cristo, plenamento humanos,
santos, pescadores de homens.
Sigam-me e eu vos farei pescadores de
homens.
Mt 4:19
Acorde Pra Eternidade e
Receba o tesouro da Vida
Por um caminho sem volta
#50
Confira:
www.facebook.com/AcordePraEternidade

Bonhoeffer, Dietrich; “Discipulado”

Platt, David; “Radical”

Platt, David; “Follow Me” (traduzido, finalmente,
por Siga-me)

Idleman, Kyle; “not a fan”

Piper, John; “don’t waste your life”

Piper, John; “Pense”

Stott, John; “O Discípulo Radical”

Swindoll, Charles, R.; “Church Awakening” (traduzido como “Igreja desviada”).

Chan Francis; “O Deus esquecido”

Chan, Francis; “Apagando o inferno”

DeYoung, Kevin; “The hole in our holiness” (traduzido como “Brecha em nossa Santidade”)