Artigo Filo Hemichordata

Transcrição

Artigo Filo Hemichordata
REINO ANIMALIA
FILO
HEMICHORDATA
grego: hemi = metade;
latim: chorda = corda ou cordão
nomes vernáculos: hemicordado, balanoglosso
Classe Enteropneusta
Classe Pterobranchia
Ordem Rhabdopleurida
Ordem Cephalodisca
Número de espécies
No mundo: 90
No Brasil: 7
Conhecidas no estado de São Paulo: 5
Estimadas no estado de São Paulo: 5
Balanoglossus clavigerus
filo Hemichordata é composto por espécies exclusivamente marinhas, de
corpo mole e cilíndrico. Apresentam características morfológicas que os
assemelham remotamente aos cordados. A classe Pterobranchia
compreende colônias de pequenos zoóides tubícolas, que habitam
preferencialmente águas profundas e circum-antárticas e lembram, superficialmente,
briozoários. Apesar de algumas espécies ocorrerem em águas rasas, nenhuma ainda foi
encontrada no litoral do Brasil. A classe Enteropneusta engloba espécies solitárias, de corpo
vermiforme, comumente alcançando mais de 1 metro de comprimento. Habitam,
preferencialmente, fundos rasos, sendo 5 espécies registradas em São Paulo. Balanoglossus gigas,
uma das maiores espécies do grupo, podendo atingir 2,5 metros de comprimento, está
potencialmente ameaçada no litoral de São Paulo, devido à poluição das águas e do
sedimento e ao assoreamento e aterramento das praias. A importância ecológica dos
hemicordados é desconhecida e a possibilidade de descobrir-se novas espécies parece remota,
pois as larvas planctônicas possuem vida muito longa, o que acarreta ampla distribuição
geográfica. Atualmente, não há, no Brasil, pesquisadores trabalhando com o grupo nem
coleções organizadas. Algum material, entretanto, encontra-se depositado no Departamento
de Ecologia Geral do Instituto de Biociências da Universidade de São Paulo.
HEMICHORDATA
SÉRGIO
DE
ALMEIDA RODRIGUES
Departamento de Ecologia Geral, Instituto de Biociências, Universidade de São Paulo,
Caixa Postal 11461, 05422-970 São Paulo, SP, e CEBIMar, USP
39
1. Introdução
O filo Hemichordata apresenta duas classes, Pterobranchia e Enteropneusta, cujos representantes são
exclusivamente marinhos.
A classe Pterobranchia compreende colônias de pequenos zoóides tubícolas, que lembram superficialmente
briozoários. Vinte e uma espécies encontram-se descritas, nenhuma até agora assinalada no Brasil. Habitam,
preferencialmente, águas profundas e parecem ser mais abundantes em águas circum-antárticas. No entanto,
algumas espécies têm sido encontradas em águas rasas da Flórida e das Bermudas, podendo assim, eventualmente,
ocorrer no litoral de São Paulo, tendo, porém, passado despercebidas até agora.
A classe Enteropneusta engloba 70 espécies solitárias, de corpo vermiforme, comumente alcançando mais
de 1 m de comprimento. Habitam preferencialmente fundos rasos, mas ocorrem também em grandes profundidades.
Sete espécies compõem a fauna brasileira, das quais cinco estão presentes no estado de São Paulo. Sua
importância ecológica é desconhecida e a possibilidade da descoberta de novas espécies parece remota.
As primeiras informações sobre os enteropneustos do Brasil devem-se a Spengel (1893), que descreveu
Balanoglossus gigas, baseado em material coletado por Fritz Müller em 1884–1885, no litoral de Santa Catarina
(Müller, 1898), e Schizocardium brasiliensis, proveniente da Baía de Guanabara. Balanoglossus gigas foi posteriormente
assinalado na Praia do Araçá, Litoral Norte do estado de São Paulo (Sawaya, 1950, 1951). Schizochardium brasiliensis
foi registrado para o estado de São Paulo, no canal de São Sebastião; nas enseadas do Flamengo (Petersen, 1987),
de Picinguaba e Ubatumirim (Nonato & Petti, 1996); e na Ilha Grande, estado do Rio de Janeiro (Petersen, 1987).
Sawaya & Forneris (1953) descreveram diversas novas espécies da Baía de Santos, São Paulo e Praia de
Itapema, Santa Catarina, todas elas consideradas por Björnberg (1959) sinônimas de Balanoglossus clavigerus Delle
Chiaje, 1829.
Um novo enteropneusto gigante foi encontrado em São Sebastião por Burdon Jones & Petersen (1964) e
pormenorizadamente descrito por Petersen (1965) sob o nome Willeya loya, baseado em exemplares capturados
na Praia do Araçá, São Sebastião, e em Siriúba, Ilhabela.
Finalmente, Glossobalanus crozieri Van der Horst, 1925 foi assinalado por Petersen & Ditadi (1967, 1971) em
São Sebastião.
Estágios larvais (tornárias) foram estudados por Björnberg (1953, 1955), a partir de amostras planctônicas.
Aspectos da biologia e fisiologia foram sumariadas por Sawaya (1964); as técnicas de coleta e o modo de vida das
espécies brasileiras, por Petersen (1987).
Balanoglossus clavigerus ainda ocorre na Baía de Santos e é abundante na praia de Barequeçaba, São Sebastião
(Shimizu 1991); de médio porte (cerca de 50cm de comprimento), seus excrementos são facilmente localizados
na superfície da areia. Schizochardium brasiliensis e G. crozieri são espécies de pequeno porte (5 a 10cm de comprimento),
a primeira das quais vive em fundos lodosos, em profundidades de 5m ou mais, e a segunda sob pedras e seixos
parcialmente recobertos de areia, na franja do infralitoral. Ambas vivem em ambientes bastante comuns ao longo
do litoral paulista e talvez possam ser consideradas como pouco ameaçadas. O mesmo, no entanto, não pode ser
dito para B. gigas e W. loya, pelo menos na região entremarés (nada se sabe de sua possível distribuição infralitoral):
vivem apenas em praias muito abrigadas, de perfil horizontal, situadas em fundos de baías e enseadas. Estes
locais sofrem intensa ação antrópica, devido a seus múltiplos usos. Balanoglossus gigas era bastante comum na Praia
276
S.A. Rodrigues
do Araçá até meados da década de 80, quando foi ali instalado um emissário submarino que modificou as
características físicas do local. Balanoglossus gigas, facilmente identificado pelos conspícuos montículos de
excrementos (“casts”), tornou–se raro nesta localidade (observação pessoal).
Atualmente, não há, no Brasil, pesquisadores trabalhando com o grupo nem coleções organizadas. As
lâminas histológicas que serviram de base para a descrição de W. loya encontram-se depositadas no Departamento
de Ecologia Geral do Instituto de Biociências da Universidade de São Paulo.
Como a importância ecológica das nossas espécies é desconhecida, seria interessante que novos estudos
fossem realizados.
Informações abrangentes sobre o grupo podem ser encontradas em Dawydoff (1948), Hyman (1959) e
Barrington (1965).
2. Literatura citada
Barrington, E.J.W. 1965. The Biology of Hemichordata and Protochordata. Londres: Oliver & Boyd. 176p.
Björnberg, T.K.S. 1953. Três novas Tornárias (Enteropneusta) da costa sul do Brasil. Boletim do Instituto
Oceanográfico, Universidade de São Paulo, 4(1-2): 81-102.
Björnberg, T.K.S. 1955. Sôbre quatro tornárias do Atlântico e do Mediterrâneo. Boletim do Instituto
Oceanográfico, Universidade de São Paulo, 6(1-2): 197-213.
Björnberg, T.K.S. 1959. On Enteropneusta from Brazil. Boletim do Instituto Oceanográfico, Universidade de
São Paulo, 10: 1-104.
Burdon Jones, C. & Petersen, J.A. 1964. Another giant enteropneust from the Atlantic. Nature, 203: 97-98.
Dawydoff, C. 1948. Stomocordés. In: Grassé, P.-P. (ed). Traité de Zoologie. Tomo 11. Paris: Masson. p. 365-532.
Hyman, L.H. 1959. The invertebrates. Volume 5: smaller coelomate groups. Nova Iorque: McGraw-Hill Book
Company. 783p.
Müller, F. 1898. Observações sobre a fauna marinha da costa de Santa Catarina. Revista do Museu Paulista, 3: 31-40.
Nonato, E.F. & Petti, M.A.V. 1996. Macrofauna bentônica das enseadas de Picinguaba e Ubatumirim: ocorrência
de espécies raras e descrição de novas espécies. III Simpósio sobre Oceanografia, Resumos. São Paulo:
Instituto Oceanográfico, Universidade de São Paulo. p. 219.
Petersen, J.A. 1965. Contribuição para o conhecimento da ecologia e da fisiologia de Enteropneustos do Brasil
com descrição de uma nova espécie Willeyia loya sp. n. Tese de Doutorado, Instituto de Biociências,
Universidade de São Paulo. 97p.
Petersen, J.A. 1987. Hemichordata. In: Manual de técnicas para a preparação de coleções zoológicas. Vol. 35(1).
Campinas: Sociedade Brasileira de Zoologia. 7p.
Petersen, J.A. & Ditadi, A.S.F. 1967. Reprodução e Desenvolvimento em Glossobalanus crozieri (Enteropneusta).
Ciência e Cultura, 19(2): 440-441.
Petersen, J.A. & Ditadi, A.S.F. 1971. Assexual reproduction in Glossobalanus crozieri (Ptychoderidae, Enteropneusta,
Hemichordata). Marine Biology, 9(1): 78-85.
Sawaya, P. 1950. Reencontro de Balanoglossus gigas Fr. Müller no litoral brasileiro. Boletim do Instituto
Oceanográfico, Universidade de São Paulo, 1(1): 135-138.
Sawaya, P. 1951. Balanoglossus gigas Fr. Müller rediscovered on the Brazilian Coast. Nature, 167: 730.
Sawaya, P. 1964. Enteropneustos. In: Vanzolini, P.E. (ed.) História Natural de Organismos Aquáticos do Brasil.
São Paulo: Fundação de Amparo à Pesquisa do estado de São Paulo. p. 309-316.
Sawaya, P. & Forneris, L. 1953. Enteropneustos brasileiros. Boletim da Faculdade de Filosofia, Ciências e
Letras, Universidade de São Paulo, zoologia, 18: 5-49.
Shimizu, R.M. 1991. A comunidade de macro invertebrados da região entre marés da praia de Barequeçaba, São
Sebastião, SP. Dissertação de Mestrado, Instituto de Biociências, Universidade de São Paulo. 72p.
Spengel, J.W. 1893. Die Enteropneusten des Golfes von Neapel und der Angrenzenden Meeres - Abschnitte.
Fauna und Flora des Golfes von Neapel 18: 1-758.