da produção - MPAC - Mestrado em Práticas Artísticas
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da produção - MPAC - Mestrado em Práticas Artísticas
A Universidade do Porto vem prosseguindo na sua intenção de interagir com a comunidade académica e com a população da cidade e da região através de uma oferta cultural singular e diversificada. É neste sentido que surge a exposição pack, que agora se apresenta ao público nos espaços da Reitoria. Esta exposição, concebida a partir dos trabalhos efectuados pelos estudantes finalistas do curso de Mestrado em Práticas Artísticas Contemporâneas da Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto, pretende promover o encontro da Universidade com a prática da arte contemporânea. Deseja-se igualmente com esta exposição alar-gar as possibilidades expositivas oferecidas pelas instituições da cidade, numa visão diversa da habitual chancela científica a que a Universidade está maioritariamente associada. Esta exposição é constituída por 25 peças representativas das actuais hipóteses de intervenção no âmbito das artes visuais, proporcionando a co-existência de pinturas com vídeos, instalações tridimensionais, peças sonoras e outro tipo de suportes. Com o propósito de ampliar a discussão em torno da exposição propõe-se, entre outras acções, a organização de visitas guiadas à exposição em momentos chave do calendário. Estou seguro que este evento marcará a Universidade e a Cidade pelo carácter inédito da iniciativa e pelo cunho de actualidade das peças expostas. Com ela, a Universidade do Porto dá sequência ao seu programa de actividades culturais e reafirma a intenção de promover a divulgação da produção intelectual e artística dos seus estudantes. Esta exposição só foi possível graças ao trabalho empenhado de diversas pessoas que connosco trabalharam e ao apoio de várias instituições. Agradeço de um modo particular o entusiasmo e o trabalho realizado pelos comissários da exposição Fernando José Pereira e Cristina Mateus. Agradeço, igualmente, a colaboração e o apoio de Jürgen Bock e Miguel Von Hafe para a realização das visitas guiadas à exposição. Agradeço, ainda, às instituições que se uniram a este projecto e o apoiaram (Férrinha, Filhos - Industrias Metálicas, Lda.; Fnac - Santa Catarina e LG Electronics Portugal). Por fim, agradeço a toda a equipa envolvida no projecto o empenho demonstrado ao longo de todos estes meses de produção da exposição. Termino desejando a continuidade deste tipo de iniciativas conjuntas dentro da Universidade do Porto e fazendo votos para que a exposição tenha o sucesso que merece junto da comunidade académica e do público da cidade. josé carlos marques dos santos Reitor da Universidade do Porto 3 “Junte-se um grupo o tempo necessário para fazer algo e logo a seguir dissolva-se para fazer outra coisa” j. lacan Para os artistas o espaço/tempo expositivo apresenta-se como o corolário de muitos e diversos investimentos. É uma circunstância decisiva. A exposição que agora se apresenta não foge a essa espécie de regra. Contudo, acrescenta-lhe uma peculiar circunstância: ela é o resultado de um esforço, ao mesmo tempo colectivo e individual, de um grupo de artistas que, momentaneamente, se encontraram reunidos em torno de um projecto académico. Desde o seu início que o mestrado em práticas artísticas contemporâneas se propôs a mapear as possibilidades de interacção teórico práticas que um ano lectivo potencia tendo, todavia, a consciência clara de que os artistas mantêm a capacidade, fundamental, da produção para afirmarem a sua condição. Daí a aposta, numa mais que evidente centralidade, dada à produção artística como leit-motiv para o confronto quotidiano com a teoria, obviamente também, em plano de destaque. A outra característica fundamental deste grupo é o descentramento medial e até sensorial que os artistas propõem para as suas obras. Nada que seja estranho ao programa orientador do mestrado que, por opção essencial, se integrou na lógica de campo expandido característica da arte contemporânea. Assim, podemos observar a convivência de desenhos com objectos sonoros, de vídeos com pinturas, de esculturas com fotografias bem como outros que por absoluta falta de denominação própria são obviamente inclassificáveis mas, contudo, integráveis na lógica aberta que pretendemos. Uma espécie de celebração para os netos das vanguardas, isto é, os artistas contemporâneos que, hoje, se mantêm distantes das disciplinas hieráticas da rigidez medial. Não sejamos, apesar de tudo o que foi dito, ingénuos. Não se trata do vale tudo em que aparentemente mergulhou a contemporaneidade, desde a fusão disciplinar até ao mais superficial dos pensamentos. Pelo contrário, o mestrado em que as obras, agora visíveis, foram produzidas pretendeu sempre apresentar-se como um território privilegiado de discussão e reflexão aprofundadas, mais não seja, para poder afirmar a descendência que agora reivindicamos: aquela que privilegia a actividade do pensar ainda que na forma peculiar que a arte nos proporciona, quer dizer, através de obras. Refere o pensador francês que a existência de um grupo deve ser sempre efémera. Só desta forma se afasta da tentação de lhe dar sentido e, consequentemente, auto-agrilhoar-se. O grupo que agora se apresenta nunca existiu de facto, apenas virtualmente. Talvez essa seja a sua mais-valia mais relevante, aquela que permitiu a construção de uma pluralidade de vias, claramente individuais, que, no limite, soube aproveitar a dinâmica do trabalho expositivo levado a cabo por parte dos alunos/artistas ao longo do ano lectivo com as suas experimentações efectuadas nos ateliers colectivos em que nos víamos envolvidos semanalmente. As obras com que agora somos confrontados são, talvez, a melhor prova do que vimos afirmando ao longo deste texto. Elas assumem a sua condição individualizada e apenas anuem ao convívio a que se encontram forçadas porque a ele sobrevivem sem necessidade de apoios exteriores. O próprio título da exposição remete directa e conscientemente para esta situação de associação efémera. Pack refere-se aquela condição em que vários objectos ou produtos, quase sempre independentes uns dos outros, se encontram empacotados numa mesma embalagem por facilidade de apresentação. Mal se desfaz o pacote qualquer um deles ganha, de imediato, a independência que já possuía, mesmo que de forma dissimulada, no seu interior colectivo. Esta é uma bela metáfora para o conjunto de obras que agora se encontra exposta. Queremos, também, dar destaque à arquitectura da exposição. O espaço originalmente distante das especificidades expositivas transfigurou-se num lugar privilegiado de exposição que assume, ele também, uma situação expandida ao configurar-se numa dupla condição: por um lado, como grande black box para potenciar ao máximo as necessidades das projecções videográficas; por outro, como espaço desenhado especificamente para receber as obras com necessidades lumínicas antagónicas, isto é, com indispensabilidade efectiva de luminosidade. Como sempre, a arquitectura apesar de se manter fora da intensidade dos spotlights afirma-se decisiva para o sucesso das obras em exposição. Esta vive, também, dessa dialéctica que, nos bons exemplos, produz resultados que a memória retém. Umas últimas palavras para o empenho da reitoria da Universidade na organização e efectivação desta exposição. Com a abertura das portas da Universidade à mais recente produção artística colocando um ponto final num longo período de separação e desconhecimento bem como a consequente abertura à cidade, em forma de proposta expositiva, oferece-se uma visão diversa da habitual chancela científica a que a Universidade está, maioritariamente, associada. A produção artística como área de conhecimento abarcado pela Universidade, como expansibilidade das possibilidades de investigação no interior do saber universitário afirma uma nova situação de ampliação dos saberes. Sabemos, contudo, que a investigação artística tem, por inerência, um grau de autonomia que dificulta grandemente a sua condição territorial. Mas esse é, talvez, o desafio mais interessante: entender os relacionamentos, complexos, a serem estabelecidos entre a condição expandida da produção artística contemporânea e a produção de saber académico. Por aqui têm passado grande parte dos desenvolvimentos das artes das últimas décadas. A integração dos saberes teóricos como componentes decisivos da produção artística vieram alterar, de forma irreversível, a condição experimental e heterodoxa da produção artística mas vieram, também, produzir um campo, expandido, de intencionalidades que, antes de mais, se podem afirmar, hoje, à altura da complexidade que a sociedade contemporânea lhes exige. Essa é uma condição que, queiramos ou não, devemos em parte à Universidade. Julho de 2007 cristina mateus e fernando josé pereira 5 Olha, sou eu e a minha mãe, 1º & 2ºVol // 2007 Serigrafia s/ tela, 18x(54x38cm) Évora 1964. Vive e trabalha em Lisboa. ¶ Licenciatura de escultura da esbal/fbaul, 1983-88. ¶ Curso de Cinema de Animação do Acarte, 1989-90. ¶ Membro do colectivo artístico Sparring Partners. ¶ Coeditora da Vaca que veio do Espaço, 1986-89. ¶ Professora do módulo de Ilustração da Fundação Calouste Gulbenkian, 1995-97. ¶ Professora do Ar.Co do departamento de ilustração e banda desenhada, 2001-2005. ¶ Coordenação da área de formação e programadora da Bedeteca de Lisboa, 2001-2005. ¶ Projecto na área da educação artística com o Museu Nacional de Arte Antiga, 2006-2007. ALICE GEIRINHAS — 7 Poema // 2007 Olha, sou eu e a minha mãe, 1ºVol ( versão digital) // 2007 Olha, sou eu e a minha mãe, 2ºVol (versão digital) // 2007 Grafite s/ papel, 13,5x25,5 cm Serigrafia s/ tela, 9 (54x38)cm Serigrafia s/ tela, 9 (54x38)cm ALICE GEIRINHAS — 9 Natural de Matosinhos. ¶ Vive e trabalha no Porto. “Espécie é aquilo que se oferece e se comunica ao olhar, aquilo que torna visível e, ao mesmo tempo, aquilo que pode — e deve, a qualquer custo — ser fixado numa substância e numa diferença específica, para poder constituir uma identidade.” giorgio agamben, Profanações O trabalho que mostro nesta exposição, corresponde - em substância — ao resultado a que — até ver — cheguei, neste mestrado em práticas artísticas contemporâneas. Pensei em cópia e original, e esqueci a originalidade. De seguida surgiram-me espelhos e reflexos. Depois, uma imagem reflexo de imagem — sem gente e sem máquina — surgiu de um único ponto de luz. Como origem e espécie. Espécie // 2007 Fotografia impressa a tinta, em lona plástica de pvc, 240x240cm ANTÓNIO ROCHA — 11 Comparência e Mérito // 2007 instalção, gravação s/ bronze e fita Nasceu em Aveiro em 1973. Vive e trabalha no Porto. ¶ Licenciatura em Artes Plásticas-Escultura pela Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto (2002). ¶ Foi membro fundador do Salão Olímpico (2003-2005) e do projecto Apêndice (2006-2007). Trabalha como artista plástica desde 1999, tendo realizado diversas exposições. ¶ Algumas exposições colectivas: “Busca Pólos”, Pavilhão Centro de Portugal (Coimbra/Museu de Arte Contemporânea Serralves) e Centro Cultural Vila Flor (Guimarães); “O Discurso do Excesso”, Terminal/Plano 21 (Oeiras). ¶ Algumas exposições individuais: “Desertar”, Intransit (Porto); “Without Name”, Galeria Quadrado Azul (Porto); “Zona de Estar”, Salão Olímpico” (Porto). ¶ Paralelamente, tem organizado exposições como “Falar das Coisas como elas São” e em parceria, exposição “Busca Pólos”; tem participado em edições como a “Desvio 265”, “ Olímpico n.º 0”, entre outras. CARLA FILIPE — 15 CARLA FILIPE — 17 Under // 2007 instalação, objecto em chapa galvanizada, barras de alumínio, chapa de acrílico espelhado, cabos de aço; vídeo, Loop 2’32’’ minutos; 90x130cm (diâmetro) x 150cm (altura) Nasceu no Porto, em 1980, onde vive e trabalha na sua empresa de produção artística “culturworks”. ¶ É licenciada em Artes Plásticas (2002) e pós-graduada em Direcção Artística (2003), pela Esc. Sup. Artística do Porto. ¶ Actualmente frequenta o 2º ano do Mestrado em Práticas Artísticas Contemporâneas na Fac. Belas Artes do Porto. ¶ Participa em exposições desde 2002, destacando-se a actividade com o grupo de artistas “What is Watt?” - Museu de Arte Contemporânea do Funchal (2005 e 2007), Fórum da Maia (2003 e 2006) e Bienal de Cerveira (2007). CATARINA ROCHA — 19 Na instalação under abordo questões relacionadas com o espaço e a sua percepção. Ela confronta os limites espaciais postulados por um dos mais antigos paradigmas da arte, em que o sentido óptico da percepção predomina sobre outros. A obra assenta no pensar o espaço enquanto lugar de construção, na sua vertente cartesiana, colocando-o em linha com os diversos tensores produtores de ressonâncias imaginárias e afectivas que advêm da nossa vivência dele (L.Nogueira, 1997). Factores de índole social, económicos, políticos e artísticos, próprios de cada época, produzem o efeito de curvatura1: uma linha imaginária que abarca em si as trajectórias virtuais e objectivas advindas do confronto entre a materialidade física do espaço e dos diversos tensores conceptuais\culturais que o deformam. É a individualidade de cada sujeito que provoca curvaturas diferentes perante o mesmo espaço, neste sentido, seria impossível que diferentes sujeitos, em diferentes tempos, pudessem percepcionar o espaço da mesma maneira. Estas variações e interacções ocorridas entre sujeitos, torna o espaço heterogéneo e dotado de múltiplas camadas de interpretação, gerando uma atmosfera gaseificada, aglutinadora de todas as tensões.2 Assumindo-se como uma metáfora destas interacções borbulhantes, under abre-se à construção de diversas camadas significantes. Esta instalação é vivida de forma mental e portanto visualizada de forma diferente por cada um. É a nossa cartografia cognitiva3, os nossos desejos, expectativas e memórias, que influenciam a leitura da peça, tanto no seu nível conceptual, como na sua visualidade interior. Neste sentido, este objecto esconde diferentes latitudes que exploro em dois níveis perceptivos. Formalmente a peça constrói-se através de um sólido suspenso, com uma forte presença escultórica. Espacialmente, desenvolve-se numa escala antropomórfica\arquitectónica ao permitir a imersão do observador, transportando-o para outras camadas perceptivas. Ao entrar em under o observador vê-se rodeado por uma multiplicidade dos planos espelhados resultando num caleidoscópio vertiginoso, infinito e borbulhante. Um vídeo de um balão que esvoaça, num espaço destituído de coordenadas e de referencias espaciais, está projectado no topo do sólido. Este balão assume-se como uma metáfora das ligações borbulhantes entre indivíduos em referência à proposta de L. Nogueira, quando ele caracteriza os espaços como lugares virtuais onde os indivíduos partilham efervescências emocionais. Sendo o balão, um balão de S. João, ele faz parte de um ritual de interacção entre sujeitos. Neste ritual, os indivíduos transformam o balão numa grande borbulha, libertando os seus desejos e anseios para dentro dele e fazendo-o elevar-se na atmosfera. Pela imersão no objecto, pela metáfora do balão, e pela desfragmentação e multiplicação da imagem, o fruidor irá encontrar-se e perder-se num múltiplo de perspectivas de si próprio imerso numa imagem indefinida e efervescente. Ele torna-se num elemento activo da instalação tornando-a única e referente a si próprio. NOGUEIRA, Luis Castro, “La risa del espacio”, Tecnos, Madrid, 1997 (pág. 30) ibidem (pág. 32) 3 ibidem (pág. 36) 1 2 CATARINA ROCHA — 21 Nasceu em Alfândega da Fé. Vive e trabalha no Porto. ¶ Licenciada em Artes Plásticas/Escultura, pela Faculdade de Belas Artes do Porto em 2001, na qual obteve a Pós-graduação em Prática e Teoria do Desenho em 2005. ¶ Frequenta o curso de Mestrado em Práticas Artísticas Contem-porâneas na Faculdade de Belas Artes desde 2006. ¶ Participou em diversas exposições colectivas e individuais entre as quais se destacam: So where were the spiders?, projecto Apêndice, Centro Comercial Cedofeita, Porto, 2006; Supermercado, Seilduken Gallery, Oslo (Noruega), 2005; Quartel - Arte Revolução e Trabalho, Aranha - espaço Web, Porto, 2004; Estudos imagens figuras - mostra de desenhos, oficina 201, Porto, 2004; Carro cor-de-rosa, happening na rua Miguel Bombarda, Porto, 2003; passa_porte - retrospectiva Belas–Artes em Erasmus, Galeria do Palácio de Cristal, Porto, 2002; Pontos de Contacto, Ateliers Livres, Porto, 2001; École´75, Bruxelas (Bélgica), 2001; O Desenho na fbaup, Fundação Curpetino de Miranda, Vila Nova de Famalicão, 2001. S/ titulo // 2007 vídeo, 7’ CECÍLIA ALBUQUERQUE — 23 CECÍLIA ALBUQUERQUE — 25 Expedição // 2007 dupla projecção de slides, 9 fotografias Lambda, mesa, cadeira e lâmpada Nasceu no Rio de Janeiro Brasil. Vive e trabalha no Porto, formouse em Artes Plásticas – Pintura pela Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto, foi membro fundador do Salão Olímpico. Trabalha como artista plástico desde 1999, tendo realizado diversas exposições individuais e colectivas. Desde então, organizou e comissariou diversas exposições como a Norht by Norhtwest (2001), juntamente com Gustavo Sumpta na Caldeira 213, mais recentemente Busca Pólos (2007) no Pavilhão Centro de Portugal, Coimbra / Museu de Arte Contemporânea Serralves e Centro Cultural Vila Flor, Guimarães, edita com estes e com José Maia o livro Salão Olímpico 2003/06. Algumas exposições: To Drag (2005) – Galeria Quadrado Azul, The stars turn into stripes forever (2003) – com Renato Ferrão, Salão Olímpico, No principio era a viaxe, 28 bienal de Arte de Pontevedra, Espanha. EDUARDO MATOS — 27 EDUARDO MATOS — 29 Nasceu em 1983. Natural e residente em Santo Tirso. ¶ Licenciada em Artes Plásticas-Pintura na Faculdade de Belas Artes daUniversidade do Porto. ¶ Participou em várias exposições, colectivas e individual, nas galerias Arthobler, Acert, Servartes, entre outras. S/título // 2006-07 30 desenhos, dimensões variáveis, pintura de esmaltes, acrílicos, lápis, canetas, e gravações FILIPA GODINHO — 31 FILIPA GODINHO — 33 Porto, 1983. ¶ Termina a sua Licenciatura em Artes Plásticas Pintura, Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto em 2006. ¶ 2006 Exposição colectiva “Barrigas de Freira”dos alunos finalistas do curso de Pintura da fbaup no Convento Corpus Cristi; Realização de uma diversidade de projectos performativos em espaços públicos do Porto; Participação no post-it city [porto] ciudades ocasionais Centre D´Art Santa Mónica(casm)+Centre de cultura contemporània de Barcelona(cccb), vídeos dos projectos Lixo e Tiraz, espaço Artes em Partes, rua Miguel Bombarda, Porto. Residência Artística mugatxoan coordenada por Ion Munduate e Blanca Calvo;Arteleku (Donostia San Sebastián), Fundação Serralves (Porto); Participação no festival set, organizado pela esmae (Escola Superior de Música e das Artes do Espectáculo), Porto. ¶ 2007 Menção Honrosa no Concurso para a Bolsa Ernesto de Sousa 2006/2007 (iniciativa conjunta da Fundação Calouste Gulbenkian e da Fundação Luso- Americana para o Desenvolvimento); Intervenções: ruas da Baixa do Porto e espaço Plano B, projecto jardim; espaço Praia da Luz, Foz do Douro, projecto volto já; estações do metro do Porto e exposição individual na Galeria Sala Maior (rua Miguel Bombarda), projecto A fazer uma Obra de Arte; performances aseréjá e Serv’artes, espaço Serv’artes, Porto; rua Miguel Bombarda e entrada do Serralves em Festa, projecto Galeria Ambulante; Projecção de vídeo do projecto Tiraz, cinema Batalha, Porto; Workshop de performance com Miguel Pereira; Realização do Logótipo boom, edição do álbum luz de Pedro Abrunhosa; Participação no Festival Fiestizaje em Espanha (Villafranca del Bierzo, León), projecto Utopia; Projecto destacado pelo Júri (constituído por representantes da instituição de acolhimento e da Fundação Calouste Gulbenkian), no concurso para a “Bolsa de Residência Artística na Casa de Velàzquez Madrid”; Pós-graduação em Práticas Artísticas Contemporâneas, fbaup. Férias na Praia dos Leões // Set. 2007 instalação vídeo FILIPA GUIMARÃES — 35 Colaboraram neste projecto: Águas do Porto, EM, Câmara Municipal do Porto, Thierry Lambert, Fernando Neves e Marcus Garcia FILIPA GUIMARÃES — 37 Logos VS physis // 2007 vídeo Nasceu no Porto, 1980. Licenciada pela fbaup em Artes PlásticasEscultura no ano de 2005. Durante o período de formação foi membro activo do grupo “Identidades”, um grupo de intercâmbio cultural e artístico entre o Brasil, Cabo Verde, Moçambique e Portugal. Neste âmbito participou em diferentes actividades, de entre as quais, projectos de Arte Pública, diferentes Oficinas e organização, participação e montagem de Exposições, Leilões de Obras de Arte e Feiras. ¶ Membro fundadora do colectivo “Senhorio”, desde 2004, no âmbito do qual participou na exposição “Pintado à Mão”, nos fanzines “Pingue”, “C(r)oquete” e “Busto” e no Grande Prémio de Desenho “The Winner Takes it All”. ¶ Nos últimos anos tem desenvolvido um trabalho de parceria baseado no ensino e no trabalho artístico com crianças pertencentes a níveis sócio-económicos e culturais desfavorecidos, em São Félix da Marinha e no Peso da Régua. INÊS AZEVEDO — 39 Perante o desafio de escrever um texto para a disciplina Textos de Artista veio-me à memória a crónica de António Lobo Antunes “Um terrível, desesperado e feliz silêncio” que descreve o escritor e a sua obra e pensei, é este o tipo de artista a que pertenço. Embrenhei-me, então, numa teia escrita de: “para mim isto é assim” e de: “faz sentido desta forma”. O texto foi entregue e o que sobrou foi o desconforto de o ter escrito e alguma falta de coragem para reler um texto vomitado. Caí no vazio da justificação e da injecção de sentido. Quando finalmente o reli não podia haver maior diferença entre a página de citação da crónica e o texto de cinco páginas que assinei. Para além de um ser um texto de escritor com o poder de expor em pouco uma imensidão de coisas e o outro andar longe disso, o principal problema estava na génese de pensar o que significa ser-se artista. A crónica fala sobre criatividade e o meu texto falava sobre produtividade. INÊS AZEVEDO — 41 Austrália // 2007 instalação, vários materias (mix media), dimensões variáveis Nasceu em Rebordões, 1981. Vive e trabalha em Santo Tirso. ¶ Formação: Licenciatura em Artes Plásticas, Curso de Pintura, Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto (fbaup), Bolseira Erasmus na Hochshule für Bildende Künste na cidade de Dresden, 2003/2004. A frequentar o segundo ano do mestrado em Práticas Artísticas Contemporâneas, da Faculdade de Belas Artes, Universidade do Porto. Prémios: Anteciparte 2005. ¶ Exposições Individuais: Paisagem Australiana, 20m3, Lisboa, 2007; Natureza Assistida, Centro Cultural de Vila das Aves, Vila das Aves, 2006; Austrália, Sala de Espera, Guimarães, 2006. ¶ Exposições colectivas: Opões e futuros #2_2006, Arte Contempo, Lisboa, 2006; Teleférico 1-Cais de Embarque, Teleférico de Guimarães, 2006; Encontro de Arte Jovem, Bienal de Arte, Chaves, 2006; Urbanismo, linhas e contornos, Galeria 24b, Oeiras, 2006; Reflexões contemporâneas sobre cartografia e coleccionismo, Museu Abade Pedrosa, Santo Tirso, 2005; Anteciparte 2005, Estufa Fria, Lisboa, 2005; Projectos Transportados, Laboratório das Artes, Guimarães, 2005. JOANA DA CONCEIÇÃO — 43 JOANA DA CONCEIÇÃO — 45 Profanar o Indizível No compacto enredo da comunicação, o frenesim dos consumidores da informação, são como o fluxo de uma cidade, em que todos vão e vêm e ninguém se encontra. Todos estão presentes e todos estão ausentes. Neste universo de excesso, de cansaço visual, a visibilidade é cada vez mais difícil senão impossível e quando isso acontece é sempre por muito pouco tempo. À arte, neste contexto de amável saturação icónica, coloca-se uma dificuldade a de saber definir o seu território, o seu lugar, que a autonomize no seu trabalho com a imagem do restante visível, entregue à sobre exposição informativa e comunicativa. Assim, na actual sociedade de abundância de imagens que nos rodeiam e onde os significados que lhes podemos atribuir parecem ser cada vez mais escassos, cabe ao observador explorar uma relação com a arte pela Impossibilidade, no profanar de um olhar livre sobre o indizível, sobre o que escapa à palavra, para interpretar e criar textos possíveis. STILL LIFE // 2007 vídeo, 6’20’’cm) Cortina // 2007 tecido sintético sublimado e tecidos de cor diversos, 3x(600x160cm) O meu projecto artístico consiste em questionar até que ponto num mundo de excesso de imagens, elas reflectem o mundo em que vivemos e como as olhamos, sem olhar verdadeiramente para elas. A forma como olhamos uma imagem e nos relacionamos com ela, é algo sobre o qual tenho vindo a investigar e a reflectir no meu trabalho e no mestrado. Nasceu no Porto 1960, licenciou-se em Pintura pela Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto em 1988. Pós-Graduação em Direcção Artística pela esap, em 2003. Actualmente desenvolve tese no Mestrado em Práticas Artísticas Contemporâneas da Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto. ¶ É desde 1986 docente de Artes Visuais no Ensino Básico e Secundário na Escola Pintor José de Brito em Viana do Castelo. ¶ Expõe regularmente desde os anos 80. Das suas mais recentes exposições destacam-se: 2007, Exposição "Pack", Reitoria da Universidade do Porto, Galeria Serpente “ Visibilidade Impossível “Swan Lake Projects, Porto; 2006, Galeria Barcad’artes “Morar” Swan Lake Projects – Centro Cultural do Alto Minho, Viana do Castelo; 2005, Galeria Fuga pela Escada “Incorporar” Swan Lake Projects – Guimarães; 2004, Intervenção “Identifica-se? / Is that you?” Swan Lake Projects - Museu da Imagem, Braga; Galeria Teatro Académico Gil Vicente “ No Man’s Land “ - Coimbra. www.virose.pt/hanta/SwanLake/ novo/default.htm [email protected] JOÃO CARLOS PEREIRA — 47 JOÃO CARLOS PEREIRA — 49 Nasceu em Santarém, 1980. Vive no Porto onde frequenta o Mestrado em Práticas Artísticas Contemporâneas na Faculdade de Belas Artes, Universidade do Porto, (fbaup), 2006/2007. Licenciado em Artes Plásticas – Pintura, fbaup, 2004. ¶ Desde 2003 que desenvolve actividade como artista plástico, tendo feito sete apresentações individuais, entre as quais se destacam: “Sob arte, técnica, linguagem e politica” (pêssegoprásemana; Porto, 2006), “Henriette Binger Barthes” (mco arte contemporânea; Porto 2006), “p.s. i love hue” (Galeria 24b; Oeiras, 2005) e “Repetição e Diferença” (Salão Olímpico; Porto, 2004). Apresentou trabalho em cerca de quinze exposições colectivas; das quais se destacam: “Antimonumentos” (ah Galeria de arte contemporânea, comissário Miguel von Hafe Pérez; Viseu, 2007); “pilot#3” (Bienal de Veneza, Itália, 2007), “Arte Lisboa 2006”, “Opções e Futuros” (colecção da fundação plmj, Galeria arte contempo; Lisboa,2006), “Prémio de pintura Rothschild” (Palácio das Galveias; Lisboa, 2005), “gpo31031405” (Galeria Pedro Oliveira, comissário Miguel Amado; Porto, 2005) e “White Board” (projecto de Daniel Schurer; Hildesheim, Alemanha, 2004). ¶ Participa regularmente em publicações independentes de bd e ilustração, trabalha individualmente num projecto musical sob o alter-ego de Marçal dos Campos. ¶ Vencedor de uma menção Honrosa (em conjunto com: Mafalda Santos, Miguel Carneiro e Rita Tavares) na exposição “Outros Lugares” na Faculdade de Direito da Universidade do Porto, 2004. ¶ Tem várias obras em colecções privadas e na colecção da Fundação plmj. Monte de Cunhas // 2007 acrílico sobre madeira, dimensões variáveis JOÃO MARÇAL — 51 ........................................................... ........................................................... ........................................................... ........................................................... ........................................................... ........................................................... ........................................................... ........................................................... ........................................................... ........................................................... ........................................................... ........................................................... ........................................................... ........................................................... ........................................................... ........................................................... ........................................................... ........................................................... ........................................................... ........................................................... ........................................................... ........................................................... ........................................................... ........................................................... ........................................................... ........................................................... ........................................................... ........................................................... ........................................................... ........................................................... ........................................................... ........................................................... ........................................................... ........................................................... ........................................................... ........................................................... ........................................................... ........................................................... ........................................................... ........................................................... ........................................................... ........................................................... ........................................................... ........................................................... ........................................................... ...................................................... ................................................... // 2007 ................................................................. ........................................................ .......... .............. — 53 Horror Vacui (horror ao vazio) // 2007 tinta acrílica pulverizada sobre azulejo Nasceu em Guimarães em 1979. ¶ Frequenta o 2º ano do Mestrado em Práticas Artísticas Contemporâneas da fbaup. Licenciado em 2005 em Artes Plásticas – Pintura na fbaup. Em 2004/05 recebe Bolsa de intercâmbio Sócrates/Erásmus com a Facultat de Belles Arts de Barcelona. ¶ Em 2004 adquire o 1º Prémio no âmbito da exposição colectiva -“Outros Lugares”- fbaup/fdup. Em 2003 recebe, em 1º lugar, o “1º Prémio Rothschild de Pintura”, promovido pelo Banque Privée Edmond de Rothschild. Em 2007 expõe individualmente na galeria Fernando Santos no Porto - “È difícil começar no começo e não querer voltar atrás”; e em 2006 - “Selected Theatre” – no espaço Apêndice, Centro Comercial Cedofeita no Porto. Em exposições colectivas passa pela galeria Reflexus Arte Contemporânea, o espaço pêssegoprásemana e o leilão Identidades na fbaup, ambos situados no Porto. JOSÉ ALMEIDA PEREIRA — 55 «O ABC do design contemporâneo» Autonomia - Em vez de autonomia, autonomia estratégica. Tal como essencialismo, autonomia é uma má palavra, especialmente quando a interdisciplinaridade pós-moderna se tornou rotina. Bonaventura - Hotel em Los Angeles ( John Portman), um novo tipo de arquitectura do sublime, uma espécie de hiper-espaço que desorienta a percepção humana. Espaço-delírio (Frank Gehry). Neo-Barroco dedicado à glória do corporativismo. Carcassonne – Destino turístico no sul de França, cidade medieval. Design – Tudo do jeans aos genes. Entorno – Velho sonho modernista de um mundo total de design. Finitude – O legado da Art Nouveau da passagem do séc. xix para o sec. xx e a vontade de transformar todas as coisas e produtos em arte. Morte do autor. Gesamtkunstwerk – Depois do 11 de Setembro de 2001 surge a necessidade de renovar o cérebro, cuidar da memória, ultrapassar o sublime cripto-fascista. High-Rise (arranha-céus) – Arquitectura vertical do séc. xx em New York. Novo turismo, do solo ao céu. Indisciplina – Multidisciplinaridade Jewel Box (guarda jóias) – Transparência Kool House – Metropolis, como o surfista no mar. Life Style – Design como ética. Mediação – A totalidade do mundo social apesar da sua fragmentação. O design como economia política. Nobrow – Uma das características do mundo mediatizado é a fusão entre mercado e cultura. Aparece então a definição de um tipo de “nobrow” (não-cultura), na qual distinções entre alta, média e baixa cultura são inaplicáveis. Para os pró-desenvolvimento “nobrow” isto não significa tanto uma estupidificação da cultura intelectual como um aumento da sabedoria sobre a cultura comercial. Todos estamos inseridos no mesmo “hipermercado”, mas em diferentes secções democráticas. Conjunção entre democracia e consumo, fantasia da resolução da divisão de classes. Outmoded (Obsoleto) – Os Panoramas são um exemplo da obsolescência de dispositivos que perdem eficácia na divulgação e captação dos exercícios de percepção humana Pós-Fordismo – Exprimir a crescente turbulência num medium estável (Koolhaas). Quarentena – Segundo Rem Koolhaas o arranha-céus é a cruz da “cultura da congestão” na antiga Manhattan, representada pela integração das duas formas emblemáticas: a “agulha” e o “globo”. A agulha açambarca a “atenção”, e o globo promete “receptividade”, sendo a História de Manhattan uma dialéctica entre ambas as formas. Discurso transformado radicalmente logo após o 11 de Setembro. Os aranha-céus passaram então a ser vistos como objecto de atentados terroristas. Running Room (Campo de acção) “Há quem utilize uma urna como um urinol”, era o caso dos desenhadores art nouveux que procuravam fundir a arte (urna) no objecto utilitário (urinol). Os funcionalistas modernos fizeram o inverso, interessados em levar o objecto utilitário à arte. Para Karl Kraus ambas as intenções eram erros simétricos, as confusões entre valor de uso e valor artístico que ameaçavam gerar uma indiferença regressiva esqueciam-se de reservar um “campo de acção” necessário à subjectividade liberal e para a cultura. Spectacle (Espectáculo) – O espectáculo passa a ser uma imagem acumulada a tal ponto que se converte em capital. Reactivação corporativa da cidade. Tectónica – Está em marcha a busca de uma arquitectura da era computacional, com uma superfície independente suspensa sobre uma armadura oculta. Ironicamente, conduziu, em parte, Gehry e seguidores ao modelo escultural do séc. xix. Unabombers – Joseph Conrad escreve em 1907 no seu “The secret agent”: “Presta atenção ao que digo. O fetiche da actualidade não é a monarquia ou a religião. Por isso os palácios e as igrejas deveriam manterse intactos… Um atentado homicida a um restaurante ou a um teatro pode doer… uma bomba na National Gallery faria algum barulho, mas não seria suficientemente séria. O fetiche sacrossanto está na educação e na ciência; qualquer imbecil coloca a sua fé nelas, sem saber porquê mas fá-lo”. Vernacular – A arquitectura pósmoderna pretendeu reviver algumas formas vernáculas, mas acabou por substitui-las por sinais comerciais. A imagem-mercadoria e o espaço são aliados através do design. Without Qualities (sem qualidades) – O design é sobretudo acerca do desejo, mas hoje este desejo parece mostrar uma carência de assunto, ou pelo menos a escassez de satisfação: o design parece estar orientado por um narcisismo que é todo ele feito de imagem, e sem quaisquer interioridade. Xed – Paradigma sem paradigmas. Ausência de narrativas contextualizadoras. Yahoos – … Zebras – No futebol americano, os árbitros que vestem camisolas às riscas são conhecidos como “zebras”. Os críticos parecem ter um papel semelhante nos desportos da arte e arquitectura, no entanto são cada vez mais marginalizados dos campos de jogo. Interpretado e traduzido do texto: FOSTER, HAL, The Abc of contemporary Design, October 100, mit press, Massachussets, 2002. p.191-199 Nasceu no Porto em 1976. ¶ Concluiu Escultura na Faculdade de Belas Artes do Porto em 2000. Frequentou o Curso de Dança da Escola de Dança Ginasiano até 1992. ¶ Expôs colectivamente: “cães“, no Projecto redline – Behind Borders, na Imerge em 2006; “Máquinas Chinesas“, nos Máus Hábitos, em 2002; “3 Banhos“ e “Pés“, no Museu da Faculdade de Belas Artes do Porto em 2000; “Retrato Para(z) oico“, no 1º evento artistico-cultural Sentidos Grátis, em 1998. Expôs individualmente: “Mamute, Medusas e outros animais“ na Praia da Luz em 2003; Instalação luminosa no Meia-Cave em 2002; “3 Banhos“ no Quarto da Maria – project room, no Edifício Artes em Partes, em Agosto de 2000. No âmbito do Concurso de Arquitectura para a reabilitação urbanística da Piazza Garibaldi, em Cantù, Itália, realizou a convite dos Arquitectos vencedores – “Cremascoli, Okumura, Rodrigues“ – uma Escultura- Fonte para a referida praça entre 2005 e 2007. Está inscrita no ano de dissertação do Mestrado em Práticas Artísticas Contemporâneas na fbaup. Vive e trabalha no Porto. Escudo // 2007 Escultura, lã, madeira, 150x110x25cm LÍLIA SILVA — 59 A escultura do “escudo” faz parte de um conjunto de exercícios para a paz aos conflitos em que me vejo atravessada. LÍLIA SILVA — 61 Proxemia Future // 2007 jogo programado em flash (colaboração Daniel Oliveira) Vive e trabalha em Guimarães, cidade onde nasceu em 1982. ¶ Licenciou-se em Artes Plásticas – Desenho, pela Escola Superior Artística do Porto, Extensão de Guimarães, em 2004. ¶ É membro criador do “Laboratório das Artes”, Coordenador do projecto “sala de espera” – Projectos de Arte Contemporânea, Comissário do “Espaço Transportável” no Jornal Notícias de Guimarães, Coordenador e Comissário do projecto de Arte Contemporânea “teleférico”. Participou, também, no projecto “garba” (Residência para artistas em Itália) em 2004. ¶ Tem vindo a realizar várias exposições, nomeadamente: Individuais – “Parasitic Humanoid”, Galeria Gomes Alves, Guimarães, 2006; “Proxemia – Dimensão [i]real”, espaço capela (Arquivo Municipal Alfredo Pimenta), Guimarães, 2005. Colectivas (selecção) – “Colectiva”, Galeria Reflexus – Arte Contemporânea, Porto, 2007; “Close”, O Apêndice, Porto, 2007; “Anteciparte”, Lisboa, 2006; “Cais de Embarque”, Teleférico, Guimarães, 2006; “Reflexões Contemporâneas sobre Cartografia e Coleccionismo”, Museu Municipal Abade Pedrosa, Santo Tirso, 2006; “Comemoração 15 Anos da Galeria Gomes Alves”, Guimarães, 2005; “27 artistas uma casa a demolir”, Laboratório das Artes, Guimarães, 2005; “16 salas, 1 espaço”, Laboratório das Artes, Guimarães, 2005; “No Nuke”, projecto garba, Itália, 2004; “a dizer...”, Espaço ‘pêssegoprásemana’, Porto, 2004; “Arte, Trabalho e Revolução”, Projecto Quartel, Porto, 2004. LUÍS RIBEIRO — 63 LUÍS RIBEIRO — 65 Nasceu em Maputo, Moçambique em 1979. ¶ Vive e trabalha em Lisboa e no Porto. ¶ Licenciou-se em Artes Plásticas-Escultura na Faculdade de Belas-Artes da Universidade do Porto (1998-2003). Frequentou o curso de Vídeo, Filme Experimental e Novos Media, no Ar.Co, em Lisboa. É docente desta instituição no Departamento de Cinema/Imagem em Movimento. Para além do seu trabalho artístico individual, desenvolve projectos colaborativos nos colectivos artísticos Coda e Embankment. Prótese // 2007 vídeo; tripla projecção, cor, loop MARIA MIRE — 67 MARIA MIRE — 69 Nasceu em 1979, vive em Guimarães e como artista plástico trabalha em Guimarães e no Porto. ¶ Actualmente é docente na Escola Artística e Profissional Árvore e frequenta o Mestrado em Práticas Artísticas Contemporâneas na Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto. ¶ A sua formação foi bietápica: Bacharelato em Pintura na Escola Superior Artística do Porto, extensão de Guimarães, em 2003 e posterior Licenciatura em Artes Plásticas, ramo Pintura na Escola Superior Artística do Porto, em 2004. ¶ Exposições Individuais (selecção) 2006 “2 Cubos e Um Espelho”, Sala de Espera – ArteContemporânea, Guimarães; 2005 “S/ Título” Intervenção numa página do jornal semanal notícias de guimarães; Exposição/parceria na concepção de um trabalho artístico 2007 max fernandes “Lat -14º 939 Lon 39º 139” e luís ribeiro “Close”, O Apêndice, Porto. ¶ Exposições colectivas (selecção) 2007 Exposição inaugural da galeria Reflexus – Arte Contemporânea, Porto 2006 “Operação Transbordo” – Projecto Teleférico, Teleférico de Guimarães; “Encontro de Arte Jovem”, Bienal de Arte, Chaves (pela fbaup); 2005 “Reflexões Contemporâneas Sobre Cartografia e Coleccionismo”, Museu Municipal Abade Pedrosa, Santo Tirso; “27 Artistas, Uma Casa a Demolir”, Laboratório das Artes, Guimarães; “16 Salas, Um Espaço, Laboratório das Artes, Guimarães; 2004 “ 8º 18’ 10” (w)” ”, Laboratório das artes, Guimarães; “Contra tempos”, Laboratório das artes, Guimarães; “E Se Insisto Naquilo Que Canta”, Antiga Central Eléctrica do Freixo, Porto; Quartel – Arte Trabalho Revolução, Porto; “Os Limites de Um Espaço”, Laboratório das artes, Guimarães; Grupos/projectos Projecto Teleférico, Laboratório das Artes, Espaço Provisório e Grupo xicz. Anatomia humana #0, #1, #2 // 2007 0- vídeo digital, cor, som, 4' 40" 1- vídeo digital, cor, som, 5' 25" 2- vídeo digital, cor, loop, 18' 30" MAX FERNANDES — 71 �������������� ����������������� ���� �������������� ����������������� ���� �������������� ������������������� ���� MAX FERNANDES — 73 Nómada // 2006-07 Roupa e fio em armário, bolas de dimensões variáveis Contentor II // 2007 Feltro, roupa, 1 cubo (100x100x100cm) Nasceu no Porto em 1962. Vive e trabalha no Porto. ¶ Licenciada em Pintura pela fbaup, em 1990. ¶ A frequentar o Mestrado Práticas Artísticas Contemporâneas na fbaup, em 2007. ¶ Participou em várias exposições individuais e colectivas desde 1990 em Portugal, no Brasil e na Finlândia. Coordenadora dos projectos culturais na Papélia, Reflexos_2003, Made in Portugal_2004, 4 estações 4 paragens_2005, Show cage (parceria com os Maus Hábitos)_ 2006, Diários gráficos_2007. REGINA PINHEIRO — 75 UMA IDEIA DE TRANSITÓRIO Agrupar e misturar as roupas, os cheiros outrora isolados, encostar histórias, memórias que se guardam simbólicamente, misturar o tempo e culturas, num espaço transitório e, através da cumplicidade, da generosidade, da reflexão acerca da capacidade de desprendimento (ou não) de coisas que já não utilizamos nem precisamos, criar com esse material excedente objectos aprisionados como obra de arte, mas com um antes e um depois, transitórios. A obsolescência, as memórias, a identidade, a precariedade, os novos nómadas, a partilha, a colectividade, a amizade, são algumas palavras associadas a assuntos que se levantam através do projecto e que fazem conexões para questões do nosso quotidiano. As bolas de roupa não pertencem a nenhum lugar. Elas vão mudar de espaço, conviver em diferentes situações. Não têm um lugar. O lugar da obra é transitório e a obra adapta-se ao contexto. A cada desafio de apresentar ou deslocar as peças, assumo essa mudança como parte do processo e da obra que é feita de intenções, mas essencialmente da abertura ao fluxo contínuo de possibilidades e de impossibilidades, que definem uma trajectória sem planos, mas com decisões. A obra não reconhece nenhum lugar como seu, por isso viaja, instala-se, abandona, viaja, ocupa, abandona, continuamente numa dinâmica nómada ou diria mesmo de migração. colaboraram no projecto nómada: Paula Correia, Nicole, Joana, Maria João Pires, Rodrigo Regueiras, Catarina, Joaquim, João Pereira, Lucas Teixeira, Mãe,Eduarda Pinheiro, Joana Coelho,Marta Pinheiro, Jorge Coelho, Margarida Pinheiro, Luisa,Filipe Gomes, Nazaré Monteiro, Ricardo, Olides Leça, Celeste, Lúcia, Irene, Cecília, Filipa, Alexandra Dias, Cristina Soares, Margarida Reis, Cristina Pinto, Pai, Juliana, Carina Constantino, Miguel Silva REGINA PINHEIRO — 77 Nasceu no Porto em 1980. Vive e trabalha no Porto. ¶ Licenciada em Artes Plásticas-Pintura pela Escola Superior Artística do Porto e pós-graduada em Direcção Artística pela Escola Superior Artística do Porto-Extensão de Guimarães. ¶ Actualmente encontra-se a frequentar o Mestrado em Práticas Artísticas Contemporâneas na Faculdades de Belas Artes da Universidade do Porto. ¶ Desde 2002 tem vindo a participar em diversas exposições individuais e colectivas, das quais se destacam: “Explorando às Avessas”, “Há quanto tempo estás parado”, na Galeria Fuga pela Escada, Guimarães; “Jovens Artistas”, no Palácio do Correio Velho, Lisboa e “7 para 1- projectos contemporâneos”, no Fórum da Maia, Maia. Sem título // 2007 instalação, tapete em lã, impressão lambda s/ alumínio, 123X334cm Sem título // 2007 5 impressões fotográficas, 28x42cm RITA PINTO — 79 A fotografia enquanto acontecimento distancia-se do seu referente pelos significados opacos que emergem do seu pensamento. Ela é tão mais subversiva quando se apresenta sob a forma de pensamento. Sendo este pensar uma máscara significante que advém do desejo da imprecisão do objecto que assume mais uma função de reflexão do que de apresentação. Esta inexactidão dos meta-referentes da fotografia desvia os seus significados para o universo da alucinação, “falsa ao nível da percepção, verdadeira ao nível do tempo”. 1 Ela define um espaço teatral, aparente, carregado de tensões, memórias, acções, profanações e consagrações. O termo consagrar está relacionado com o sagrado, e apresentase como algo de absolutamente diferente do profano. A forma como visualizamos esta transformação de ordem simbólica pode ser representada pelo termo hierofania2 indicado por Mircea Eliade que exprime a manifestação do sagrado num objecto profano. Esse objecto adquire uma dupla condição contraditória na sua essência: “a pedra sagrada, a árvore sagrada, não são adoradas como pedra ou como árvore sagrada, são-no justamente porque são hierofanias porque “mostram“ qualquer coisa que já não é pedra nem árvore, mas o sagrado, o “ganz andere“.3 Se o sagrado se manifesta num objecto, este transforma-se numa outra coisa qualquer, contudo não deixa de ser ele mesmo uma coisa pertencente ao mundo das coisas. Neste sentido assume-se como um elemento híbrido na sua presença, uma profanação e consagração de um espaço e tempo, que operam na mesma linha de horizonte. Giorgio Agambem aborda esta ambiguidade referente ao acto de consagrar (ou de profanar), afirmando que a contradição está assente no facto de se centrarem no mesmo objecto, “na medida em que se referem a um objecto que é exactamente o mesmo, que deve passar do profano para o sagrado e do sagrado para o profano, é sempre necessário contar que haja algum resíduo de profanidade em todas as coisas consagradas e um resto de sacralidade presente em todos os objectos profanados”.4 Ao relegarmos a importância do sujeito ao mesmo patamar de um objecto profano estamos a sacralizar aquilo que é suposto ser profano e a profanar o histórico estatuto do sujeito/autor enquanto ser autónomo. O espaço e o tempo são assim os limites da experiência do gesto que procura encontrar os seus termos no contacto com o outro, sendo este outro uma hierofania de um território. Esta constante in-localização do corpo através dos seus referentes objectuais não procura uma simples confrontação sensitiva mas um sentir para além do corpo, uma experiência profana, desligada da contemplação pura de um qualquer momento que emerge como verdade sublime. A analogia directa que existe entre o gesto e o tacto, entre o sentir e o sente-se, organiza topograficamente o posicionamento do eu no espaço social. Este diálogo não é nem independente de quem sente e de quem faz sentir, permitindo a passagem da obra que é desenraizada do espaço da identidade do artista para um espaço neutro. Um espaço que não procura a neutralização mas a abertura para um campo infinito, como refere Roland Barthes citado por Mário Perniola que “neutro não significa a abolição dos dados conflituais do discurso. Mas, precisamente o contrário, a sua manutenção e a sua proliferação infinita.” 5 Se através do gesto limitamos o território do corpo, a fotografia encerra esse gesto numa janela fechada para o corpo mas aberta à paisagem representativa. Neste sentido, a acção do corpo é relevada para uma figura profanada pela imagem fotográfica, retirando-lhe a sua existência sagrada e atribuindo-lhe um novo estatuto: o de vestígio. Esta exigência que a fotografia interpola ao observador transforma o acto de ver numa experiência autoreflexiva, do ver passamos para o ver-me. Giorgio Agambem caracteriza esta exigência como redentora: “A imagem fotográfica é sempre mais do que uma imagem; é o ligar de uma separação, de um dilaceramento sublime, entre o sensível e o inteligível, entre a cópia e a realidade, entre a recordação e a esperança.” 6 A janela que aparentemente se abre para a contemplação da paisagem fecha as suas portas no momento em que é confrontada pelo olhar do observador. O acto de contemplar contamina a imagem para um meta-referente que já não pertence ao eu mas ao posicionamento geográfico e social do outro. O eu transforma-se num fantasma e o outro em catarse dessa aparição. BARTHES, Roland, A Câmara Clara, Edições 70, Lisboa, 2006, p.127 ELIADE, Mircea, “O Sagrado e o Profano- A essência das religiões”, Livros do Brasil, Lisboa. A autora aborda a forma como o sagrado se manifesta nos objectos através dos tempos, bem como todo o processo de transformação de um objecto mundano num elemento sagrado de culto religioso e pagão. 3 Ibid:ibidem, p.26 4 AGAMBEM, Giorgio, “Profanações”, Cotovia, Lisboa, 2006, p.110 5 PERNIOLA, Mario, “A Arte e a sua Sombra”, Assírio & Alvim, Lisboa, 2006, p.45 6 AGAMBEM, Giorgio, “Profanações”, Cotovia, Lisboa, 2006, p.36 1 2 RITA PINTO — 81 Pós-cabo // 2007 cabos eléctricos, dimensões variáveis Nasceu nas margens do Ave em 1983. ¶ Criado com amor e carinho pelos seus avós Maria Emília Pereira e Manuel Moreira. ¶ Licenciou-se em Artes Plásticas – Escultura pela fbaup. ¶ Encontra-se no Mestrado de Práticas Artísticas Contemporâneas pela mesma instituição. SAMUEL SILVA — 83 Antecâmara1 O estatutO dO cabO na arte Pós-Medial Vítimas da industrialização, do pluralismo cultural e da sociedade de massas, atravessamos um momento onde uma das principais características do fazer artístico contemporâneo é, indubitavelmente, o seu comprometimento com as tecnologias do seu tempo. Somos confrontados diariamente, na rotina do sistema artístico, com exposições, eventos ou apresentações onde os objectos de arte convivem, sobrevivem e morrem descontraidamente com as habilidades e meios tecnológicos. De repente, o território “enciclopédico” da instalação não estranha qualquer formalização, onde a imagem e o som partilham o mesmo cenário com os aparelhos tecnológicos que a produzem e a objectualiza. Numa altura onde a exploração e experimentação artística busca freneticamente o up-to-date com a tecnologia na conquista do virtual, transformando as potencialidades dos mutáveis softwares em bandeiras criativas, assistimos simultaneamente a um progressivo “desleixe” dessa experimentação naquilo que a relaciona com a sua presentificação no espaço físico. Refiro-me aos sucessivos mergulhos desmedidos da arte no aprofundamento da interioridade maquinal, submetendo-se a um estado de dormência que a distrai de um certo entendimento do espaço que esta tecnologia ocupa enquanto objecto. Sendo o cabo um elemento comum e comunicante em toda esta teia industrial de aparelhos (emissores, produtores, reprodutores e receptores), procura-se debater, particularmente, o seu estatuto e lugar na contemporaneidade da prática artística. De facto, talvez seja pela sua insignificância objectual, que muitas vezes se torna objecto de atitudes de displicência formal, adquirindo um estatuto omnipresente, conseguindo nessa condição, ocasionalmente, penetrar nesse território singular do convívio com a forma artística. O momento da montagem é normalmente crucial, a mediocridade formal do cabo, torna-o imperceptível no processo de construção conceptual do objecto artístico, adquirindo gradualmente pertinência no espaço expositivo por excelência. Aqui são conhecidas as habilidades acrobáticas das equipas de montagem e dos directores de produção, nas estratégias de ocultação, muitas vezes assaltados por esta praga insignificante que reivindica quase revolucionariamente um lugar ao sol no palco expositivo. Interessante será pensar que relativo a este assunto, de repente o anónimo que dirige a montagem da obra, encontra-se perante um elemento que em tudo pode fazer a diferença, arriscando uma tímida intervenção na composição formal da instalação. Estaremos perante um espaço de decisão, criativo, fora do alcance do autor? Coloco-o numa calha, percorro-o junto ao rodapé, ou assumo a sua quase ausência perceptiva abandonando-o no seu percurso natural, na perspectiva de não influenciar a passividade composicional da peça? A revolução digital a que assistimos passivamente no papel de consumidores tem desbravado território na procura enlouquecida pela leveza e desmaterialização cada vez maior do objecto tecnológico. As conquistas no processo de minimização formal da tecnologia, por parte dos grandes construtores, têm sido utilizadas e denomi- nadas como estratégias de marketing de sucesso. Caminhamos desenfreadamente para uma desmaterialização progressiva da máquina contemporânea, na perspectiva ainda visionária que esta acabe por realizar o seu desejo máximo que se define na sua instauração completa no corpo humano deixando definitivamente de se resumir a um prolongamento estranho ao nosso corpo. Aliás, como adivinhamos nas palavras de Paul Virilio, no seu livro - A velocidade de Libertação: “ (...) o próprio ecrã acabará por se apagar e em breve desaparecer, em proveito de uma série de difusões, simultaneamente no fato de dados (data suit) e no capacete de visão esteroscópica, que transmuta o receptor num homem terminal, como se a última superficie, ou melhor, o último interface, fosse o do córtex occipital! “ A tecnologia Wireless, por exemplo, fez a sua primeira tentativa de assassínio do cabo, embora ainda não total, provavelmente foi apenas um sinal de que não estaremos longe de colocar o cabo num estatuto de “espécie em vias de extinção”. E se assim for talvez lhe poderemos conferir valor simbólico, como elemento obsoleto, abrindo definitivamente espaço para a sua integração formal no território artístico, abandonando a sua funcionalidade polivalente, que lhe atribui uma intensa utilização, exclusiva, na exploração das suas capacidades internas. De repente, não seria estranho, perante o advento da tecnologia sem-fios, ou Era pós-cabo (wire-less, bluetooth, infra-vermelhos, ou mais tarde ou mais cedo, circuitos de alimentação eléctrica sem fios), depararmo-nos com uma consequente lógica de utilização fetichista do cabo no território artístico, pelo seu sedutor carácter de obsolescência, ultrapassando categoricamente a sua condição de tropeço visual. Ou numa perspectiva mais apocalíptica, a ascensão delicada e imperceptível da tecnologia sem-fios e a obstinada instauração digital definitiva no nosso corpo (pós-forma), dissolverá por completo um terreno (e não me refiro agora nomeadamente apenas ao cabo, mas à totalidade do apparatus tecnológico) que foi sendo saudavelmente cultivado, por diversas manifestações artísticas desde os confins da Modernidade. A tese da obsolescência poderá provar que não, mas não nos esqueçamos que esse carácter encantatório só constituirá razão e sentido enquanto efemeridade. E depois? (2) Este pode ser o tempo das coisas pequenas. Do leve. Do delicado. Do comezinho. Do frágil. Do segundo. Da insignificância. Do pormenor. Do milímetro. Do detalhe. Da grama. Do pó. Do zoom. Da partícula. Do grão. Da unidade. Do mísero. Do pouco. Do efémero. Do invisível. Um excerto, pequeno, delicado. “Hoje em dia todos os ramos da ciência parecem querer demonstrar-nos que o mundo assenta em entidades delicadíssimas: tal como as mensagens do ADN, os impulsos dos neurónios, os quarks, os neutrinos vagueando pelo espaço desde o princípio dos tempos (...)”, disse Ítalo Calvino. E eu digo o que ele disse. Do leve. Do delicado. Do comezinho. 2 Chasing the blue Train, David Hammons, 1989, fotografia de Samuel Silva, da exposição “Anos 80: Uma Topologia”, Museu de Arte Contemporânea Serralves, 2007. 1 SAMUEL SILVA — 85 Sem Título // 2007 técnica mista, molduras sobre molduras, 200x300cm Nasceu em 1983, natural de Portimão. ¶ Foi estudante na esad nas Caldas da Rainha, onde se licenciou em artes plásticas. No lectivo de 2005/2006, devido ao programa Erasmus,que lhe proporcionou um semestre em Inglaterra, em Birmingham, o seu trabalho melhor se definiu como artista plástica. ¶ Tamara neste momento é mestranda em Práticas Artísticas Contemporâneas na Faculdade de Belas Artes do Porto, onde reside. Desde 2000 que participou em vários projectos e exposições individuais e colectivas; recentemente participou numa exposição internacional no Hotel Quinta do Lago, em Alcantarilha. TAMARA ALVES — 87 TAMARA ALVES — 89 S/ título, (Gravidez) – Ecografia // 2007 vídeo em duas partes, 6’ 30”, cor, som: 1. Ecografia transcrita para DVD, (4:3) 2. HDV CAM transcrita para DVD PAL, (16:9),Ed.3+1PA Nasceu em 1982. Vive e trabalha no Porto. ¶ Frequenta o Mestrado em Práticas Artísticas Contemporâneas na Faculdade de Belas Artes, Universidade do Porto, (fbaup), 2006/2007. Licenciada em Artes Plásticas- Escultura, fbaup, 2005. Conclui o curso de pesquisa e criação coreográfica, pelo Fórum Dança, Porto, em 2006. Recebe bolsa por mérito atribuída pela fbaup e prémio de melhor aluno finalista do Curso de Artes Plásticas – Escultura, 2005. Bolseira Erasmus na Academia de Belas Artes de Bolonha, Itália, 2004. ¶ Exposições individuais: vera, mco Arte Contemporânea, Porto, 2007; Vestígios, mco Arte Contemporânea, Porto, 2006. Chove nos meus olhos..., mco Arte Contemporânea, Porto, Espaços dolorosos, Cirurgias Urbanas, Porto, e Desvios da carne, Artes Múltiplas e Cão Danado, Porto, em 2005; Verso di me, Galeria V. Guidi, Bolonha, 2004. ¶ Exposições colectivas: em 2007, Distorciones e identidad, Badajoz, Espanha; Antimonumentos, Viseu (comissariada por Miguel von Hafe Perez). All my independent Women, eira 33, e Anteciparte, 2006, Lisboa. Em 2005, Blue Screen, Galeria do Palácio, Porto; Bienal de Cerveira, Tui. Attimo, Academia de Belas Artes, Bolonha; Outros lugares, Faculdade de Direito, Universidade do Porto, 2004. Contra péssimos hábitos, Maus Hábitos, Porto, 2003. ¶ Realiza ainda, com frequência, trabalhos no âmbito da performance dos quais se destacam, entre outros: Perfection in your hands, Apêndice, Porto; S/ Título (Gravidez) - I Acto, Arco, Madrid, Espanha; Can, mco Arte Contemporânea, Porto, 2006; Eu desejo, eu – objecto de desejo, Artes Múltiplas e Cão Danado, Porto, 2005; Corto os pulsos, Bolonha, Itália, 2004; How do you look?, Maus Hábitos, Porto, 2003; Co(po)patologia, centa, Castelo Branco, 2002. Participou ainda em performances colectivas: Entre tanto, em colaboração c/ António Pedro Lopes, Porto, 2006; Um mergulho, de Vera Mantero, Teatro Nacional São Luís, Lisboa, 2006; Transformer, de Miguel Pereira, Teatro Barakaldo, Bilbau, 2006; Xarxa 25, por La fura dels Baus, Feira, 2005; As.Atletas.Porto.2003, com Nadia Lauro e Franz Poelstra, mac Serralves, Porto, 2003. VERA MOTA — 91 S/ título (Gravidez), apresenta uma falsa condição como projecto artístico, no qual enquanto artista faço uso de um objecto instalado sobre o abdómen, para simular uma gravidez, canalizando as suas implicações e ressonância nos contextos onde é proposta, tanto operando em circuitos artísticos identificados, como criando novas alternativas. Estabelece-se uma relação estreita entre a materialidade da obra, a performatividade do artista e o quotidiano. Este projecto a longo prazo propõe a análise de uma série de questões que percorrem grande parte do espectro das práticas artísticas, desde os preconceitos sobre o trabalho de mulheres artistas, ao estatuto do artista e da obra de arte, bem como a sua produção, recepção e circulação, num mundo esgotado por uma exposição constante à voracidade dos media e onde a realidade se confunde com a sua própria construção. Proposto de forma generalizada como metáfora para a criação artística, reúne num corpo todo um conjunto de problemáticas que situam este trabalho para além de uma acção específica sobre o site. Abrangente e tão instável quanto flexível, reage - mais do que actua - conforme as premissas com as quais se confronta. O território em causa, tem um carácter híbrido e indefinido, concentrado no meu corpo enquanto artista ou largamente ampliado à escala da envolvente cultural e social de que não consegue separar-se. Ao integrar a obra como um adereço, provoco uma deformação na minha aparência, e assim me apresento na forma de grávida. Este é o primeiro momento de “exposição” do trabalho. Aí, a semelhança com a realidade, permite-me oscilar entre a condição de performer e a de mera transeunte, um estado de oscilação consciente e intencional, que propõe um nivelamento da minha presença, criando contextos de proximidade ou distância, enquanto promove uma fusão fértil entre realidade e ficção, arte e vida. Acessório, prótese, extensão, desvio. O projecto assume um carácter transitório, reversível e intermitente, no qual a obra se sobrepõe/ coincide com a artista. Por sua vez, a artista torna-se o primeiro espaço expositivo da obra, activando-a simultaneamente. As diferentes instâncias fundem-se. O projecto rompe fronteiras, revelado a sua eficácia enquanto veículo de comunicação, também fora dos circuitos artísticos. Público especializado e não especializado são colocados ao mesmo nível. Na sua condição de simulacro - antes de se revelar como farsa - S/ título (Gravidez) desencadeia o mesmo tipo de reacções em ambas as tipologias, seja numa feira de arte, museu, metro ou numa clínica de imagiologia. (onde me submeto a um exame que coloca em evidência a natureza do projecto). S/título (Gravidez), projecto artístico, e enquanto tal, produto social, é capaz de produzir e propor um fluxo de relações interpessoais, criando novas possibilidades de diálogo e procedimentos. O projecto fornece mais do que a experiência de contemplação do objecto, passiva e distanciada. Com um carácter assumidamente processual, de constante adaptação e reescrita, interactivo, generativo, S/ título (Gravidez) actua como instrumento e instigador de discussão. VERA MOTA — 93 O espaço expositivo do pack experimenta diferentes articulações entre os codificados “white cube” e “black box”, para criar um percurso através dos diferentes media presentes na exposição. Paralelamente, o projecto subtrai o carácter monumental do edifício e das salas onde está instalado, procurando ajustar-se à escala aos trabalhos artísticos. O percurso criado inicia e encerra com salas de exposição “convencionais” – brancas, iluminadas com luz natural -, atravessadas por percursos de penumbra que penetram em salas obscurecidas. Há uma inversão da hierarquia usual entre espaços/ media: a grande sala de exposições está escurecida e preparada para projecção e visionamento de imagens em movimento. Aí coexistem ecrãs de projecção e de retroprojecção, plasmas e um ecrã de computador. Na periferia deste escuro epicentro, foram criadas superfícies brancas de pladur (câmara de acolhimento, antecâmaras e átrio posterior). Assinalando a dimensão pública da nova entrada, foram colocados dois contentores marítimos, sobrepostos, adicionados à fachada da Reitoria, em cujo interior se criaram salas para projectos. O pack instalou-se entre 3 e 27 de Setembro na sala denominada Átrio de Química, no Átrio e escadaria anexa, nas antecâmaras de acesso e na escadaria externa do Jardim da Cordoaria. inês moreira e tiago costinhas AGRADECIMENTOS: A todos os artistas Jorge Soares, FNAC, Santa Catarina Jorge Silva, FNAC, Santa Catarina LG Electronics, Portugal Magda Gomes Dias, Férrinha, Filhos, Indústrias Metálicas, Lda. António José Alves, Férrinha, Filhos, Indústrias Metálicas, Lda. Fernando Pereira Emílio Faria Guilherme Santarém António José Rocha Dinis Santos Patrícia Almeida Isabel Campos Costa Joana Leão Ricardo Campos Costa Bruno Silva Manuel Ulisses Galeria Quadrado Azul Aida Castro Ana Rocha André Brinco Jonathan Saldanha Miguel Carneiro Miguel Graça Pilar Valadares Sara Nunes Daniel Oliveira Sílvia Jiménez Maria do Carmo Oliveira Marisa Ferreira Luísa Aleixo Virgílio Raposo Ficha técnica: Organização: Reitoria da Universidade do Porto, Mestrado em Práticas Artísticas Contemporâneas da Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto Arquitectura e Concepção Espacial: Inês Moreira, Tiago Costinha Docentes do MPAC: Cristina Mateus, Fernando José Pereira Coordenação: Alexandra Araújo, Ana Martins Produção: Maria Adelaide Ferreira Design: idd.fba.up.pt, Sérgio Couto, José Carneiro,João Cruz, Miguel Carvalhais Montagem: Produções Reais Fotografia: António Rocha, exepeto p.27 por Eduardo Matos Apoio à montagem: Delfim Machado, Vítor Ferreira Gabinete de Imprensa: Vasco Ribeiro, Raúl Santos Transportes: Rui Manuel Barreiro Faria, Unipessoal, Lda. Impressão: marca-ag.com Seguros: MDS, Corrector de Seguros e Gestão de Riscos 95