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E1
De 20 a 26 e fevereiro de 2016
QUINTO CADERNO
cultura
Um cataclismo chamado Dadá
Nascido há 100 anos em um pequeno cabaré de Zurique, o movimento Dadá tornou-se o berço das mais importantes manifestações artísticas do século XX
Rui Costa Pimenta
O imperialismo arregimentou massas de milhões
de pessoas para a gigantesca
carnificina da I Guerra através de uma orgia de propaganda nacionalista. Toda a
superestrutura da sociedade
burguesa foi tomada de um
frenesi patriótico, que envolvia não apenas os partidos conservadores e os altos
comandos milhares, mas os
partidos socialistas, os sindicatos e a esmagadora maioria
dos representantes da cultu-
ra européia. Os jovens, operários, pequeno-burgueses e
até mesmo burgueses, foram
massacrados nas fétidas trincheiras cheias de ratos, com
gás, baionetas e armas de fogo de um poder de destruição até então desconhecido,
deixando um saldo macabro
de mais de oito milhões de
vítimas. Esta manifestação de
completa decomposição da
sociedade capitalista, resultado da sua transformação em
imperialismo, foi engalanada
com hipócrita retórica poéti- corpos no campo de bataca pela nata da intelectualida- lha (revoluções russa de 1917,
de do velho mundo. Em con- alemã de 1918, húngara de
traste com o otimismo oficial 1921 etc.), expressava o codos velhos, apenas uma mi- lapso do capitalismo, as manoria de jovens artistas, co- nifestações artísticas do pósmo Wilfred Owen na Ingla- guerra vão expor o estado de
terra, retratavam a profunda bancarrota da cultura burdesilusão diante da carnifi- guesa.
cina que, aos poucos, foi toEstas manifestações, exmando conta das consciên- pressando tendências concias.
traditórias, serão aglutinadas
Da mesma forma que a on- sob a denominação escarneda revolucionária, que varreu cedora de Dadá, movimenos países que empilhavam to que foi o precursor natural
e necessário do surrealismo,
havendo entre ambos uma
relação dialética de continuidade e ruptura.
Nascido entre artistas da
Europa Central e do Leste
(o romeno Tristan Tzara, os
alemães Hugo Ball, Richard
Huelsenbeck e Hans Arp)
exilados em Zurique, em
1916, ainda durante a guerra, Dadá (expressão do balbuciar infantil usada intencionalmente repudiar o racionalismo e a “grandeza da
arte” predominantes) foi o
mais radical repto contra o
establishment cultural já realizado e, por extensão, contra a cultura ocidental em seu
conjunto.
De curta duração (191622), Dadá difere radicalmente das escolas modernistas,
como o cubismo, o futurismo e, inclusive, o expressionismo. Sem deixar grandes
obras foi, na realidade, antes
que uma escola literária ou
artística, um violento, fulminante e heteróclito movimento de agitação e, pelo seu objetivo de fazer tabula rasa da
cultura ocidental, um movimento antiliterário e antiartístico.
A rejeição indignada não
excluía sequer os cubistas e
outros modernos. Durante
a guerra, parte do expressionistas, principal movimento
de vanguarda na Alemanha
adotara uma posição chauvinista e estava a caminho de
se tornar uma corrente oficial. O movimento Dadá nasce em frontal oposição a este desenvolvimento da vanguarda alemã.
Os “dadás”, como denominavam a si mesmos, rejeitando, inclusive, os “ismos” então
em voga, promoveram agressivas manifestações de deboche contra os preconceitos oficialistas e toda a pretensa “se-
E2 CULTURA
CAUSA OPERÁRIA
(…)
riedade” artística, que causa- chauvinismo, fazendo com
vam não somente escânda- que muitos de seus integranlo, como furor que, freqüen- tes aderissem às posições retemente, terminavam em tu- volucionárias da classe opemultos reprimidos pela polícia. rária (um dos fundadores,
Em sua primeira apresentação Richard Huelsenbeck, era esparisiense, foi mostrada a um partaquista e foi por uma sepúblico horrorizado uma tela mana “comissário de Belas
de Francis Picabia onde estava -artes” durante a revolução
desenhado apenas “parte de ci- de 1918), dando-lhe um cama” na parte de baixo e “par- ráter de um verdadeiro mote de baixo” na parte de cima, vimento internacional que
tendo como legenda as letras se estendia da Alemanha até
“LHOOQ”, que pronunciadas os EUA (Duchamps, Picabia,
em francês formam a frase Man Ray), reunindo, em uma
obscena “Elle a chaud au cul”, única corrente de impugnalevando a assistência à beira da ção total da hipocrisia nas leagressão física.
tras e artes, o melhor da vanO movimento foi aponta- guarda artística dos princido, corretamente, como a ex- pais países do mundo. De um
pressão artística do “derrotis- modo geral, os participanmo” diante da guerra, políti- tes do movimento Dadá inca que era impulsionada pe- tegraram-se aos Partidos Colos internacionalistas, como munistas ligados à revolução
Lênin, Trótski e Rosa Luxem- russa de 1917.
burgo, cujo programa era a
O movimento nasceu em
derrota de suas próprias bur- Zurique em torno das ativiguesias na guerra pela revo- dades promovidas por Hugo
lução. Nesse sentido, uma das Ball que havia criado o famosuas principais característi- so Cabaré Voltaire. As famocas foi a feroz oposição ao sas soirées do Cabaré acaba-
ram por reunir inúmeros artistas de diferentes especialidades que declamavam poemas, encenavam, tocavam
música, faziam objetos de decoração etc. Os artistas rivalizavam na arte da provocação contra a cultura oficial e
o gosto limitado do público e
na criação das mais inusitadas técnicas artísticas. Surgiram ali as principais características do movimento: a música de barulhos, os poemas
feitos de palavras inexistentes, as manifestações de artes plásticas abstratas e conceituais.
Hugo Ball compôs para
uma das soirées um poemas
abstrato, ao qual se seguiriam
outros:
Gadji beri bimba glandridi
laula lonni dacori
Gadjama gramma berida
bimbala glandri galassassa
laulilimini
Gadji beri Bin balassa glassala laula gliglia wowolimai
Bin beri ban
A reação do público foi explosiva. Finalmente, o cabaré foi fechado pela pressão
da boa classe média e da burguesia local sobre o proprietário do imóvel.
A segunda etapa do movimento coincide diretamente com a revolução alemã de
1918 e se encerra com a derrota sangrenta da revolução
nas mãos da social-democracia e dos militares facistóides. Em 1918, o movimento se desloca para Berlim, incorporando novas figuras como Raoul Haussman, Johannes Baader, Hannah Höch,
George Grosz. John Heartfield, contribuindo para aglutinar um movimento de amplitude nacional com artistas
dadá de Hanover, como Kurt
Schwitters, de Colônia como
Marx Ernst, de Dresden, Otto Dix e outros.
O dadá berlinense e, por
extensão alemão, mostrou-se
claramente desde um primeiro momento como um movimento político que se colocava ao lado da revolução proletária contra o decrépito regime do Kaiser. Lançaram
contra o capitalista, a guerra, o regime monárquico e a
própria República de Weimar
em um sem número de manifestos, proclamações e eventos diversos com slogans e
frases políticas de efeito provocador: “colocaremos uma
bomba sob Weimar. Berlim é
o local Dadá. Nada nem ninguém será poupado!”
O assassinato dos líderes
da Revolução Alemã, os espartaquistas Rosa Luxemburgo e Karl Liebknecht em
janeiro de 1919 provou uma
ainda maior radicalização do
movimento que se ampliou
em diversas atividades dirigidas à população em geral
e à classe operária. Segundo
declarou Hausmann “o proletariado estava paralisado
e não podia ser sacudido de
sua narcose. Por isso, tivemos
que intensificar as ações do
Dadá: contra um mundo que
nem sequer conseguia reagir
com determinação perante
horrores imperdoáveis” (No
início era Dadá).
A revolução, no entanto,
iniciava a sua trajetória descendente com a morte dos
dois grandes revolucionários,
continuaria com dois anos
de massacres e terminaria na
contrarrevolucionária República de Weimar que abriria
caminho para o poder dos
nazistas.
O último grande evento
do movimento foi uma exposição realizada em agosto de
1920. Embora tivessem colocado em ação todo o seu ra-
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dicalismo político, este não Man Ray, Max Ernst e Hans
estava em harmonia com a si- Arp. Neste grupo fora do cotuação. A repressão geral lan- mum atuará ainda Benjamin
çou-se contra eles e os orga- Péret, que terá uma particinizadores foram processados pação de destaque nos pripor “ofensa ao Exército ale- meiros anos do trotskismo
mão” em função de uma das no Brasil.
peças da exposição. No tribuEm fevereiro de 1819, Annal, Grozs, através do seu ad- dré Breton lê na casa de Guilvogado, acaba por fazer uma laume Apollinaire o Manifesapostasia das provocações to Dadá 1918, de Tristan TzaDadá aceitando alegar que se ra, o qual considera que “veio
tratava apenas de uma piada, estourar como uma bomba”.
com o que foi inocentado.
Terminada a guerra, o poeIncubado durante a guer- ta encontrava-se em uma sira e restrito uma boêmia tuação de verdadeiro impasmarginalizada da socieda- se intelectual. Admirador do
de, crescido sob a breve Re- simbolismo francês, via clavolução Alemã nos anos de ramente a sua insuficiência
1918 e 1920, o movimento diante das necessidades do
Dadá viria a explodir mun- pós-guerra. Em um balanço
dialmente no início dos anos posterior declarou que “a be20 e o epicentro desta explo- leza por eles celebrada não é
são foi, logicamente, Paris. mais a nossa, e já na época coMantendo, há muito, corres- meçava a dar a impressão de
pondência com Tristan Tza- uma dama de véu perdida na
ra, uma das principais fi- distância”[1].
guras do círculo do CabaSua ruptura com Paul Varé Voltaire em Zurique, con- léry, por quem tinha gransiderado o verdadeiro fun- de admiração, consumou-se
dador do dadaísmo, Breton quando este poeta, evoluindo
serviu como elo de ligação para um claro conservadorisentre os iniciadores e uma mo, propôs a volta à formas
plêiade de novos poetas, re- métricas da literatura clássica
unidos em torno à sua pes- de Racine e, finalmente, insoa: Louis Aragon e Philippe gressou na Academia FranceSoupault, que viriam a ser, sa de Letras.
com ele, chamados de “os
Em 1919, Breton funda,
três mosqueteiros do surrea- com Louis Aragon e Phililismo” e, ainda, Paul Éluard, ppe Soupault, a revista LitJacques Digaut, René Char, térature, título sugerido pelo
Georges Ribemont-Dessaig- próprio Valéry em alusão ao
nes e outros. A estes junta- último verso da Arte poétiram-se, em Paris, os artis- ca do simbolista Paul Verlaitas plásticos Francis Picabia, ne, “e todo o resto é literatu-
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ra”[2]. Aí participaram os úlSerá também neste petimos remanescentes do sim- ríodo que Breton e Soupault
bolismo como o próprio Va- vão realizar a primeira expeléry e André Gide e escrito- riência nas técnicas surrealisres da vanguarda de antes da tas, criando juntos o primeiguerra reunidos em torno de ro texto de escrita automátiApollinaire: Max Jacob, Pier- ca, intitulado Champs magnére Reverdy, Blaise Cendrars e tiques. O novo método visava
André Salmon.
a liberar o fluxo do inconsA revista vai antecipar mui- ciente dos constrangimentos
tas das características do sur- do pensamento consciente e
realismo, publicando os Can- da elaboração literária.
tos de Maldoror de Isidore DuO estado de espírito de
casse, conhecido como Conde Breton, nesta etapa, pode
de Lautréamont, poeta maldi- ser medido pela sua reação à
to do romantismo, esquecido, morte prematura de Jacques
do qual Breton manuscreve os Vaché em virtude de um exversos de uma rara cópia em cesso de ópio: “exercia sobre
uma biblioteca e as Cartas de nós uma sedução sem igual. O
guerra, de Jacques Vaché, con- seu comportamento e os seus
siderado fonte fundamental ditos eram-nos objeto de conde inspiração.
tínua referência. As suas car-
CAUSA OPERÁRIA
tas tinham o efeito de um oráculo, cuja particularidade era
ser inesgotável (…) encarnava
para nós o mais alto poder de
“desapego” (o cúmulo de desapego em relação a tudo o que
hipocritamente se professava,
desapego em relação à arte –
‘a arte é uma estupidez’ -, desapego sobretudo em relação
à ‘lei moral’ vigente, que acabava de dar toda a medida do
seu valor.(…)”[3].
É com tais expectativas
que Breton vai ler o manifesto onde Tzara proclamava:
“um grande trabalho negativo
a cumprir”, o qual, segundo
Breton, “ateou fogo ao paiol”.
O grupo reunido em torno
a Littérature empreende uma
ruptura profunda com o modernismo da geração anterior
representado por Apollinaire que se mostra incapaz de
romper com o nacionalismo,
o espírito pseudo científico e
o esteticismo dos artistas oficiais que como Anatole France, Paul Claudel e Maurice
Barrès haviam se transformado, aos seus olhos, em um caso de corrupção literária pura e simples.
Em janeiro de 1920, Tristan Tzara chega a Paris e
transforma-se no centro da
agitação artística Dadá em
Paris, organizando diversas
“noitadas” artísticas e literárias onde o objetivo básico
era o de agredir o público e
escarnecer as convenções.
O grupo de Littérature abre
as páginas da revista para os
famigerados manifestos Dadá e promove uma enquête,
com a pergunta “Por que você escreve?”, que, de acordo
com Breton, “arrastou o mundo literário para uma armadi- de seria executado um núme- cabia e Ribemont-Dessaignes.
lha ainda não esquecida (…) ro ou que os dadás raspariam
O impulso decisivo para a
registrando suas respostas, o cabelo em público etc.
cisão será dado pelo primeiem grande maioria lamentáO golpe de misericórdia ro grupo, que toma a iniciaveis, por ordem de mediocri- vem quando a crítica oficial tiva na ação do movimento e
dade”[4]. A armadilha con- dá o seu primeiro sinal de as- dá um caráter distinto às masistiu em que os jovens escri- similação do caótico movi- nifestações habituais promotores, aproveitando-se de um mento, com um artigo do crí- vendo um julgamento-farsa
certo patrocínio dos mais ve- tico Jacques Riviére da Nou- do escritor de direita Maurilhos, como Valery, consegui- velle Revue Française, intitu- ce Barrès, contra quem os surram fazer com que uma gran- lado Reconhecimento a Dadá. realistas exploravam o fato de
de quantidade de nomes im- Para Breton, “Dadá beneficia- ter escrito textos piedosamenportantes dos círculos literá- va-se da hostilidade geral e ti- te nacionalistas e cínicos sorios franceses colaborassem, nha feito o possível para ob- bre a guerra: “a alegria reina
caindo na armadilha.
tê-la. Para quem éramos en- na trincheiras! Vós o sabeis
A enquête foi aproveitada, tão, nada era mais estimulante pelos jornais e pelas cartas
por contraste, para desvalori- que ser objeto de vaias, quan- de vossos filhos, maridos e irzar a arte de escrever: “escre- do não de furor. O sentimento mãos. Não é necessário exagevo para abreviar o tempo”, as- que tínhamos do valor da nos- rá-lo; não é necessário crê-los
sinalou Knut Hamsun, “por sa causa fortalecia-se com o fa- sob palavra, os bravos etc[7].
fraqueza”, segundo Valery.
to de que a opinião pública fosO julgamento estava lonBreton e Soupault escrevem se unanimemente contrária. ge de ser apenas uma peça côpequenas peças para serem in- Esta opinião, com efeito, tinha mica e sem sentido, mas foi orterpretadas nas “noitadas” pa- dado toda a sua medida de ser- ganizado como um verdadeirisienses de Dadá, como Vous vilismo nos anos precedentes, e ro processo, de caráter moral e
m’oublierez (Vocês me esque- incorrer a tal ponto na sua re- político, do escritor e das letras
cerão), interpretada por eles provação bastava para nos per- em geral, culminando com um
mesmos, na qual receberam suadir que estávamos no bom grande escândalo na entrada
com enorme satisfação “um caminho”[6]. A partir de ago- de Benjamin Péret na qualidabombardeio de ovos, tomates e ra, o movimento passava sutil- de de testemunha vestido coaté bifes que os espectadores fo- mente a se integrar na socie- mo um soldado alemão usanram adquirir precipitadamen- dade e a gozar de uma forma do uma máscara de gás.
te no intervalo. O que o públi- curiosa de popularidade que
A ruptura vem quando
co pensava de nós, pensávamos afetava o comportamento de Breton organiza junto com
nós dele em cêntuplo” [5].
parte dos seus membros co- outras publicações literárias
Em 1921, o movimento mo Tzara e Picabia.
de vanguarda um congresso
Dadá em Paris dá sinais preEsta situação de cansaço internacional, em 1922, “pacoces de esgotamento. Breton devida à repetição dos mes- ra a determinação de diretie seus amigos mais próximos mos recursos e o esgotamen- vas e a defesa do espírito mocansam-se da repetição de to do “efeito” das manifesta- derno”. O congresso não cheartifícios utilizados para cha- ções Dadá, levam à abertura ga a acontecer, torpedeado
mar a atenção e chocar o pú- de uma fenda entre os futu- por Tristan Tzara para quem
blico, tais como anunciar fal- ros surrealistas como Breton, “o dadaísmo não tem nada de
sos eventos onde, por exem- Aragon, Desnos, Soupault, moderno”. O fracasso do conplo, o ator Charlie Chaplin Peret e os entusiastas dos mé- gresso, no entanto, leva ao
estaria aderindo a Dadá e on- todos Dadá como Tzara, Pi- fim do movimento, abrindo
CULTURA E3
caminho para o surrealismo
que se expressará, depois de
um período de incubação, no
Manifesto Surrealista, redigido por Breton em 1924.
Apesar de seu caráter meteórico, o movimento Dadá
foi, do ponto de vista da forma e da técnica artística um
precursor efetivo do surrealismo e um elemento de transição entre o futurismo e este
movimento. É entre os Dadá,
de forma ainda não desenvolvida que elementos chave
do surrealismo começam a se
formar como a importância
dada ao inconsciente, ao acaso como elemento criativo
e, acima de tudo, a ambição
de romper completamente as
fronteiras estabelecidas pela
arte do passado. Dele, também, o surrealismo herdará
o seu caráter provocador e o
seu radicalismo político.
(Este texto faz parte de um
capítulo do livro ainda não
publicado Surrealismo e Revolução)
[1] In Entretiens, com André Parinaud
[2] “Que ton vers soit la
bonne aventure
Éparse au vent crispé du
matin
Qui va flueurant la menthe
et le thym…
Et tout le rest est littérature.
Paul Verlaine, Art Poétique.
[3] Entretiens.
[4] idem.
[5] idem.
[6] Idem.
[7] Philippe Audoin, Les
Surrealistes.
CAUSA OPERÁRIA
E4 CULTURA
De 20 a 26 e fevereiro de 2016
Imigrantes são tema dentro e fora das telas no
Festival de Berlim
No 66 Festival de Cinema de Berlim, filmes, artistas e
organizadores debatem a crise dos refugiados na Europa e
no mundo
Teve início na última quin- tra principal e nas mostras
ta-feira, dia 11, o 66o Festi- paralelas há temas como fuval de Cinema de Berlim que ga de países em guerra, mireúne obras cinematográficas séria entre outros. Entre os
de diversos países. Um dos 18 filmes da mostra princitemas de destaque no festival pal que concorrem ao Urserá a crise dos refugiados. so de Ouro estão “Cartas
Este tema será tratado tanto de Guerra” do cineasta Ivo
em filmes como por meio de Ferreira que trata da guerpalestras e ações dos organi- ra em Angola e o docuzadores como arrecadação de mentário italiano, dirigido
fundos para refugiados, dis- por Gianfranco Rosi, “Fogo
tribuições de convites para no Mar” que descreve a viexibições e estágios em sets da de refugiados na ilha de
de filmagens.
Lampedusa.
Para lembrar a situação dos
Há também filmes polírefugiados que chegam à Eu- ticos como “Soy Nero”, do
ropa vindos, principalmente, cineasta iraniano Rafi Pitts,
do Oriente Médio, o artista que conta a vida de um imiplástico chinês Ai Weiwei fez grante mexicano ilegal nos
uma instalação nas colunas Estados Unidos que se alisda sala de concertos Schaus- ta no exército norte-ameripielhaus, em Berlim, um dos cano para conseguir a cidalocais do festival, com 14 mil dania. Já o filipino “A Lulcoletes salva vidas que foram laby to the Sorrowful mysdeixados por imigrantes nas tery”, filme de oito horas,
praias gregas no ano passa- trata da emancipação das
do. A Alemanha, país sede do Filipinas do domínio colofestival, recebeu, somente em nial espanhol.
2015, cerca de um milhão de
Outro documentário de
refugiados.
destaque é “Zero Days”, de
Entre os filmes que con- Alex Gibney que relata como
correm a prêmios na mos- os EUA e Israel estão usando
a internet para atacar a política nuclear do Irã.
Já na mostra paralela Panorama, a segunda mais importante do festival, o Brasil terá
três representantes, “Antes o
Tempo não Acabava” de Fá-
Obra completa de
Guillhermo Cabrera
Infante é reeditada
bio Baldo e Sérgio Andrade,
o documentário “Curumim”
de Marcos Prado e “Mãe só
há uma”, novo filme de Anna
Muylaert. A diretora brasileira esteve presente no mesmo
festival no ano passado com
o filme “Que Horas Ela VolFora da competição tem o
ta?” que levou dois prêmios novo filme dos irmãos Coen,
no festival o de melhor longa “Ave César”, com George
de ficção na mostra Panora- Clonney. A presidente do júma e o prêmio da Confedera- ri é a atriz Meryl Streep e um
ção Internacional de Cinema dos homenageados será o
de Arte e Ensaio (CICAE).
cantor e ator, David Bowie.
Volpone – uma peça
isabelina em cartaz
Escritor cubano antes de falecer deixou a tarefa
para sua mulher organizar escritos e anotações para
terminar sua obra
Mulher de Cabrera Infante, Miriam Gómez, lança obras
reeditadas e uma ampliação de
um dos livros do escritor. Entre elas, ‘A ninfa inconstante’,
‘Mapa Dibujado por un Espia’,
e ‘Mea Cuba’ que foi ampliada.
Gómez leu, editou e agora após
mais de dez anos da morte do
companheiro conseguiu lançar
as obras póstumas.
Infante costumava retratar
o próprio país em seus textos, entre seus contos-relatos,
romances e ensaios, temos ‘A
ninfa inconstante’ que tratava da história de um crítico
de cinema que teria se apaixonado por uma garota mais
jovem que ele, isso se passan-
do em Havana em épocas revolucionárias. Já o ‘Mapa Dibujado por un Espia’ contava
de uma época futura a época
revolucionária, mostrando
um país diferente do que ele
conhecia, descrevendo forma ficcional o seu retorno a
Cuba após o exilamento para o velório de sua mãe. E por
fim ‘Mea Cuba’ que traz textos sobre a revolução cubana
e sobre Fidel Castro, segundo
o olhar de Infante.
Nascido em 22 de abril
de 1929, em Gibara, província de Cuba, e faleceu em
Londres, em 2005, Guillhermo foi um escritor que teve
uma importante participação
na Revolução Cubana junto
com Fidel Castro, chegando
até a receber o prêmio Cervantes em 1997, um dos principais prêmios literários da
língua espanhola.
O teatro Mube Nova Cultural, em São Paulo, exibe a peça
de Ben Johnson sobre a ganância
Ben Johnson foi contemporâneo de Shakespeare. Escreveu inúmeras peças de
teatro e Volpone talvez seja
sua melhor peça. Se não, pelo menos a mais conhecida e
a mais representada. Volpone é um rico cavalheiro que
finge estar morrendo para
enganar três pessoas que fingem agradá-lo com o propósito de herdar-lhe a fortuna.
Assim como Volpone, as
personagens da peça têm nomes italianos de animais. Os
espectadores da peça, no século XVII entendiam esses
nomes como nomes italianos
engraçados. Apenas quem
conhecia a língua sabia o que
havia por trás deles.
Como a peça trata da ganância, nada mais interessante do que retratar as personagens com nomes de animais
predadores, como a raposa, o
abutre, etc.
A diretora da peça ora
em cartaz figurou as personagens com as máscaras
da Commedia dell’Arte. Isso valeu-lhe uma crítica da
Folha de S. Paulo. Mais uma
vez o jornal soube mostrar,
com maestria, a sua enorme
arrogância. Como dono da
verdade, procura destruir a
encenação, fazendo chacota da ideia de fantasiar as
personagens com roupas de
animais.
Isso é sistemático no jornal. Seu quadro de medíocres
intelectuais acham-se donos
da verdade, talvez porque
escrevam num jornal que se
sente dono da verdade.
Mas a crítica parece ser
mais direcionada ao próprio
Ben Johnson do que à diretora da peça, Neyde Veneziano,
a qual tratou logo de responder às críticas da Folha. E respondeu bem. Não sabemos
por que razão o plumitivo
disse que o público se sentiu
infantilizado ao assistir à peça. E Veneziano também não,
afinal como alguém poderia
afirmar algo assim sem se dar
ao trabalho de psicanalisar
os espectadores.
Mas nada disso importa.
O que importa é que é uma
oportunidde rara de ver encenada no Brasil uma peça
de Ben Johson, um magistral autor de teatro cuja obra
foi eclipsada pela de Shakespeare e de Marlowe, seus
contemporâneos.
A peça encontra-se em
cartaz no teatro Mube Nova
Cultural e os ingressos são
de apenas R$5,00. No elenco,
grandes atores, como Chico
Carvalho (Volpone), Claudinei Brandão (Corbaccio),
Dirceu de Carvalho (Bonário
e Voltore), Eliana Rocha (Urraca), Fabio Espósito (Corvino), Fabíola Moraes (Célia e Serpina), Gabriel Miziara (Mosca), Guryva Portela
(Soldado e Juiz).

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