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E1 De 20 a 26 e fevereiro de 2016 QUINTO CADERNO cultura Um cataclismo chamado Dadá Nascido há 100 anos em um pequeno cabaré de Zurique, o movimento Dadá tornou-se o berço das mais importantes manifestações artísticas do século XX Rui Costa Pimenta O imperialismo arregimentou massas de milhões de pessoas para a gigantesca carnificina da I Guerra através de uma orgia de propaganda nacionalista. Toda a superestrutura da sociedade burguesa foi tomada de um frenesi patriótico, que envolvia não apenas os partidos conservadores e os altos comandos milhares, mas os partidos socialistas, os sindicatos e a esmagadora maioria dos representantes da cultu- ra européia. Os jovens, operários, pequeno-burgueses e até mesmo burgueses, foram massacrados nas fétidas trincheiras cheias de ratos, com gás, baionetas e armas de fogo de um poder de destruição até então desconhecido, deixando um saldo macabro de mais de oito milhões de vítimas. Esta manifestação de completa decomposição da sociedade capitalista, resultado da sua transformação em imperialismo, foi engalanada com hipócrita retórica poéti- corpos no campo de bataca pela nata da intelectualida- lha (revoluções russa de 1917, de do velho mundo. Em con- alemã de 1918, húngara de traste com o otimismo oficial 1921 etc.), expressava o codos velhos, apenas uma mi- lapso do capitalismo, as manoria de jovens artistas, co- nifestações artísticas do pósmo Wilfred Owen na Ingla- guerra vão expor o estado de terra, retratavam a profunda bancarrota da cultura burdesilusão diante da carnifi- guesa. cina que, aos poucos, foi toEstas manifestações, exmando conta das consciên- pressando tendências concias. traditórias, serão aglutinadas Da mesma forma que a on- sob a denominação escarneda revolucionária, que varreu cedora de Dadá, movimenos países que empilhavam to que foi o precursor natural e necessário do surrealismo, havendo entre ambos uma relação dialética de continuidade e ruptura. Nascido entre artistas da Europa Central e do Leste (o romeno Tristan Tzara, os alemães Hugo Ball, Richard Huelsenbeck e Hans Arp) exilados em Zurique, em 1916, ainda durante a guerra, Dadá (expressão do balbuciar infantil usada intencionalmente repudiar o racionalismo e a “grandeza da arte” predominantes) foi o mais radical repto contra o establishment cultural já realizado e, por extensão, contra a cultura ocidental em seu conjunto. De curta duração (191622), Dadá difere radicalmente das escolas modernistas, como o cubismo, o futurismo e, inclusive, o expressionismo. Sem deixar grandes obras foi, na realidade, antes que uma escola literária ou artística, um violento, fulminante e heteróclito movimento de agitação e, pelo seu objetivo de fazer tabula rasa da cultura ocidental, um movimento antiliterário e antiartístico. A rejeição indignada não excluía sequer os cubistas e outros modernos. Durante a guerra, parte do expressionistas, principal movimento de vanguarda na Alemanha adotara uma posição chauvinista e estava a caminho de se tornar uma corrente oficial. O movimento Dadá nasce em frontal oposição a este desenvolvimento da vanguarda alemã. Os “dadás”, como denominavam a si mesmos, rejeitando, inclusive, os “ismos” então em voga, promoveram agressivas manifestações de deboche contra os preconceitos oficialistas e toda a pretensa “se- E2 CULTURA CAUSA OPERÁRIA (…) riedade” artística, que causa- chauvinismo, fazendo com vam não somente escânda- que muitos de seus integranlo, como furor que, freqüen- tes aderissem às posições retemente, terminavam em tu- volucionárias da classe opemultos reprimidos pela polícia. rária (um dos fundadores, Em sua primeira apresentação Richard Huelsenbeck, era esparisiense, foi mostrada a um partaquista e foi por uma sepúblico horrorizado uma tela mana “comissário de Belas de Francis Picabia onde estava -artes” durante a revolução desenhado apenas “parte de ci- de 1918), dando-lhe um cama” na parte de baixo e “par- ráter de um verdadeiro mote de baixo” na parte de cima, vimento internacional que tendo como legenda as letras se estendia da Alemanha até “LHOOQ”, que pronunciadas os EUA (Duchamps, Picabia, em francês formam a frase Man Ray), reunindo, em uma obscena “Elle a chaud au cul”, única corrente de impugnalevando a assistência à beira da ção total da hipocrisia nas leagressão física. tras e artes, o melhor da vanO movimento foi aponta- guarda artística dos princido, corretamente, como a ex- pais países do mundo. De um pressão artística do “derrotis- modo geral, os participanmo” diante da guerra, políti- tes do movimento Dadá inca que era impulsionada pe- tegraram-se aos Partidos Colos internacionalistas, como munistas ligados à revolução Lênin, Trótski e Rosa Luxem- russa de 1917. burgo, cujo programa era a O movimento nasceu em derrota de suas próprias bur- Zurique em torno das ativiguesias na guerra pela revo- dades promovidas por Hugo lução. Nesse sentido, uma das Ball que havia criado o famosuas principais característi- so Cabaré Voltaire. As famocas foi a feroz oposição ao sas soirées do Cabaré acaba- ram por reunir inúmeros artistas de diferentes especialidades que declamavam poemas, encenavam, tocavam música, faziam objetos de decoração etc. Os artistas rivalizavam na arte da provocação contra a cultura oficial e o gosto limitado do público e na criação das mais inusitadas técnicas artísticas. Surgiram ali as principais características do movimento: a música de barulhos, os poemas feitos de palavras inexistentes, as manifestações de artes plásticas abstratas e conceituais. Hugo Ball compôs para uma das soirées um poemas abstrato, ao qual se seguiriam outros: Gadji beri bimba glandridi laula lonni dacori Gadjama gramma berida bimbala glandri galassassa laulilimini Gadji beri Bin balassa glassala laula gliglia wowolimai Bin beri ban A reação do público foi explosiva. Finalmente, o cabaré foi fechado pela pressão da boa classe média e da burguesia local sobre o proprietário do imóvel. A segunda etapa do movimento coincide diretamente com a revolução alemã de 1918 e se encerra com a derrota sangrenta da revolução nas mãos da social-democracia e dos militares facistóides. Em 1918, o movimento se desloca para Berlim, incorporando novas figuras como Raoul Haussman, Johannes Baader, Hannah Höch, George Grosz. John Heartfield, contribuindo para aglutinar um movimento de amplitude nacional com artistas dadá de Hanover, como Kurt Schwitters, de Colônia como Marx Ernst, de Dresden, Otto Dix e outros. O dadá berlinense e, por extensão alemão, mostrou-se claramente desde um primeiro momento como um movimento político que se colocava ao lado da revolução proletária contra o decrépito regime do Kaiser. Lançaram contra o capitalista, a guerra, o regime monárquico e a própria República de Weimar em um sem número de manifestos, proclamações e eventos diversos com slogans e frases políticas de efeito provocador: “colocaremos uma bomba sob Weimar. Berlim é o local Dadá. Nada nem ninguém será poupado!” O assassinato dos líderes da Revolução Alemã, os espartaquistas Rosa Luxemburgo e Karl Liebknecht em janeiro de 1919 provou uma ainda maior radicalização do movimento que se ampliou em diversas atividades dirigidas à população em geral e à classe operária. Segundo declarou Hausmann “o proletariado estava paralisado e não podia ser sacudido de sua narcose. Por isso, tivemos que intensificar as ações do Dadá: contra um mundo que nem sequer conseguia reagir com determinação perante horrores imperdoáveis” (No início era Dadá). A revolução, no entanto, iniciava a sua trajetória descendente com a morte dos dois grandes revolucionários, continuaria com dois anos de massacres e terminaria na contrarrevolucionária República de Weimar que abriria caminho para o poder dos nazistas. O último grande evento do movimento foi uma exposição realizada em agosto de 1920. Embora tivessem colocado em ação todo o seu ra- De 20 a 26 e fevereiro de 2016 dicalismo político, este não Man Ray, Max Ernst e Hans estava em harmonia com a si- Arp. Neste grupo fora do cotuação. A repressão geral lan- mum atuará ainda Benjamin çou-se contra eles e os orga- Péret, que terá uma particinizadores foram processados pação de destaque nos pripor “ofensa ao Exército ale- meiros anos do trotskismo mão” em função de uma das no Brasil. peças da exposição. No tribuEm fevereiro de 1819, Annal, Grozs, através do seu ad- dré Breton lê na casa de Guilvogado, acaba por fazer uma laume Apollinaire o Manifesapostasia das provocações to Dadá 1918, de Tristan TzaDadá aceitando alegar que se ra, o qual considera que “veio tratava apenas de uma piada, estourar como uma bomba”. com o que foi inocentado. Terminada a guerra, o poeIncubado durante a guer- ta encontrava-se em uma sira e restrito uma boêmia tuação de verdadeiro impasmarginalizada da socieda- se intelectual. Admirador do de, crescido sob a breve Re- simbolismo francês, via clavolução Alemã nos anos de ramente a sua insuficiência 1918 e 1920, o movimento diante das necessidades do Dadá viria a explodir mun- pós-guerra. Em um balanço dialmente no início dos anos posterior declarou que “a be20 e o epicentro desta explo- leza por eles celebrada não é são foi, logicamente, Paris. mais a nossa, e já na época coMantendo, há muito, corres- meçava a dar a impressão de pondência com Tristan Tza- uma dama de véu perdida na ra, uma das principais fi- distância”[1]. guras do círculo do CabaSua ruptura com Paul Varé Voltaire em Zurique, con- léry, por quem tinha gransiderado o verdadeiro fun- de admiração, consumou-se dador do dadaísmo, Breton quando este poeta, evoluindo serviu como elo de ligação para um claro conservadorisentre os iniciadores e uma mo, propôs a volta à formas plêiade de novos poetas, re- métricas da literatura clássica unidos em torno à sua pes- de Racine e, finalmente, insoa: Louis Aragon e Philippe gressou na Academia FranceSoupault, que viriam a ser, sa de Letras. com ele, chamados de “os Em 1919, Breton funda, três mosqueteiros do surrea- com Louis Aragon e Phililismo” e, ainda, Paul Éluard, ppe Soupault, a revista LitJacques Digaut, René Char, térature, título sugerido pelo Georges Ribemont-Dessaig- próprio Valéry em alusão ao nes e outros. A estes junta- último verso da Arte poétiram-se, em Paris, os artis- ca do simbolista Paul Verlaitas plásticos Francis Picabia, ne, “e todo o resto é literatu- De 20 a 26 e fevereiro de 2016 ra”[2]. Aí participaram os úlSerá também neste petimos remanescentes do sim- ríodo que Breton e Soupault bolismo como o próprio Va- vão realizar a primeira expeléry e André Gide e escrito- riência nas técnicas surrealisres da vanguarda de antes da tas, criando juntos o primeiguerra reunidos em torno de ro texto de escrita automátiApollinaire: Max Jacob, Pier- ca, intitulado Champs magnére Reverdy, Blaise Cendrars e tiques. O novo método visava André Salmon. a liberar o fluxo do inconsA revista vai antecipar mui- ciente dos constrangimentos tas das características do sur- do pensamento consciente e realismo, publicando os Can- da elaboração literária. tos de Maldoror de Isidore DuO estado de espírito de casse, conhecido como Conde Breton, nesta etapa, pode de Lautréamont, poeta maldi- ser medido pela sua reação à to do romantismo, esquecido, morte prematura de Jacques do qual Breton manuscreve os Vaché em virtude de um exversos de uma rara cópia em cesso de ópio: “exercia sobre uma biblioteca e as Cartas de nós uma sedução sem igual. O guerra, de Jacques Vaché, con- seu comportamento e os seus siderado fonte fundamental ditos eram-nos objeto de conde inspiração. tínua referência. As suas car- CAUSA OPERÁRIA tas tinham o efeito de um oráculo, cuja particularidade era ser inesgotável (…) encarnava para nós o mais alto poder de “desapego” (o cúmulo de desapego em relação a tudo o que hipocritamente se professava, desapego em relação à arte – ‘a arte é uma estupidez’ -, desapego sobretudo em relação à ‘lei moral’ vigente, que acabava de dar toda a medida do seu valor.(…)”[3]. É com tais expectativas que Breton vai ler o manifesto onde Tzara proclamava: “um grande trabalho negativo a cumprir”, o qual, segundo Breton, “ateou fogo ao paiol”. O grupo reunido em torno a Littérature empreende uma ruptura profunda com o modernismo da geração anterior representado por Apollinaire que se mostra incapaz de romper com o nacionalismo, o espírito pseudo científico e o esteticismo dos artistas oficiais que como Anatole France, Paul Claudel e Maurice Barrès haviam se transformado, aos seus olhos, em um caso de corrupção literária pura e simples. Em janeiro de 1920, Tristan Tzara chega a Paris e transforma-se no centro da agitação artística Dadá em Paris, organizando diversas “noitadas” artísticas e literárias onde o objetivo básico era o de agredir o público e escarnecer as convenções. O grupo de Littérature abre as páginas da revista para os famigerados manifestos Dadá e promove uma enquête, com a pergunta “Por que você escreve?”, que, de acordo com Breton, “arrastou o mundo literário para uma armadi- de seria executado um núme- cabia e Ribemont-Dessaignes. lha ainda não esquecida (…) ro ou que os dadás raspariam O impulso decisivo para a registrando suas respostas, o cabelo em público etc. cisão será dado pelo primeiem grande maioria lamentáO golpe de misericórdia ro grupo, que toma a iniciaveis, por ordem de mediocri- vem quando a crítica oficial tiva na ação do movimento e dade”[4]. A armadilha con- dá o seu primeiro sinal de as- dá um caráter distinto às masistiu em que os jovens escri- similação do caótico movi- nifestações habituais promotores, aproveitando-se de um mento, com um artigo do crí- vendo um julgamento-farsa certo patrocínio dos mais ve- tico Jacques Riviére da Nou- do escritor de direita Maurilhos, como Valery, consegui- velle Revue Française, intitu- ce Barrès, contra quem os surram fazer com que uma gran- lado Reconhecimento a Dadá. realistas exploravam o fato de de quantidade de nomes im- Para Breton, “Dadá beneficia- ter escrito textos piedosamenportantes dos círculos literá- va-se da hostilidade geral e ti- te nacionalistas e cínicos sorios franceses colaborassem, nha feito o possível para ob- bre a guerra: “a alegria reina caindo na armadilha. tê-la. Para quem éramos en- na trincheiras! Vós o sabeis A enquête foi aproveitada, tão, nada era mais estimulante pelos jornais e pelas cartas por contraste, para desvalori- que ser objeto de vaias, quan- de vossos filhos, maridos e irzar a arte de escrever: “escre- do não de furor. O sentimento mãos. Não é necessário exagevo para abreviar o tempo”, as- que tínhamos do valor da nos- rá-lo; não é necessário crê-los sinalou Knut Hamsun, “por sa causa fortalecia-se com o fa- sob palavra, os bravos etc[7]. fraqueza”, segundo Valery. to de que a opinião pública fosO julgamento estava lonBreton e Soupault escrevem se unanimemente contrária. ge de ser apenas uma peça côpequenas peças para serem in- Esta opinião, com efeito, tinha mica e sem sentido, mas foi orterpretadas nas “noitadas” pa- dado toda a sua medida de ser- ganizado como um verdadeirisienses de Dadá, como Vous vilismo nos anos precedentes, e ro processo, de caráter moral e m’oublierez (Vocês me esque- incorrer a tal ponto na sua re- político, do escritor e das letras cerão), interpretada por eles provação bastava para nos per- em geral, culminando com um mesmos, na qual receberam suadir que estávamos no bom grande escândalo na entrada com enorme satisfação “um caminho”[6]. A partir de ago- de Benjamin Péret na qualidabombardeio de ovos, tomates e ra, o movimento passava sutil- de de testemunha vestido coaté bifes que os espectadores fo- mente a se integrar na socie- mo um soldado alemão usanram adquirir precipitadamen- dade e a gozar de uma forma do uma máscara de gás. te no intervalo. O que o públi- curiosa de popularidade que A ruptura vem quando co pensava de nós, pensávamos afetava o comportamento de Breton organiza junto com nós dele em cêntuplo” [5]. parte dos seus membros co- outras publicações literárias Em 1921, o movimento mo Tzara e Picabia. de vanguarda um congresso Dadá em Paris dá sinais preEsta situação de cansaço internacional, em 1922, “pacoces de esgotamento. Breton devida à repetição dos mes- ra a determinação de diretie seus amigos mais próximos mos recursos e o esgotamen- vas e a defesa do espírito mocansam-se da repetição de to do “efeito” das manifesta- derno”. O congresso não cheartifícios utilizados para cha- ções Dadá, levam à abertura ga a acontecer, torpedeado mar a atenção e chocar o pú- de uma fenda entre os futu- por Tristan Tzara para quem blico, tais como anunciar fal- ros surrealistas como Breton, “o dadaísmo não tem nada de sos eventos onde, por exem- Aragon, Desnos, Soupault, moderno”. O fracasso do conplo, o ator Charlie Chaplin Peret e os entusiastas dos mé- gresso, no entanto, leva ao estaria aderindo a Dadá e on- todos Dadá como Tzara, Pi- fim do movimento, abrindo CULTURA E3 caminho para o surrealismo que se expressará, depois de um período de incubação, no Manifesto Surrealista, redigido por Breton em 1924. Apesar de seu caráter meteórico, o movimento Dadá foi, do ponto de vista da forma e da técnica artística um precursor efetivo do surrealismo e um elemento de transição entre o futurismo e este movimento. É entre os Dadá, de forma ainda não desenvolvida que elementos chave do surrealismo começam a se formar como a importância dada ao inconsciente, ao acaso como elemento criativo e, acima de tudo, a ambição de romper completamente as fronteiras estabelecidas pela arte do passado. Dele, também, o surrealismo herdará o seu caráter provocador e o seu radicalismo político. (Este texto faz parte de um capítulo do livro ainda não publicado Surrealismo e Revolução) [1] In Entretiens, com André Parinaud [2] “Que ton vers soit la bonne aventure Éparse au vent crispé du matin Qui va flueurant la menthe et le thym… Et tout le rest est littérature. Paul Verlaine, Art Poétique. [3] Entretiens. [4] idem. [5] idem. [6] Idem. [7] Philippe Audoin, Les Surrealistes. CAUSA OPERÁRIA E4 CULTURA De 20 a 26 e fevereiro de 2016 Imigrantes são tema dentro e fora das telas no Festival de Berlim No 66 Festival de Cinema de Berlim, filmes, artistas e organizadores debatem a crise dos refugiados na Europa e no mundo Teve início na última quin- tra principal e nas mostras ta-feira, dia 11, o 66o Festi- paralelas há temas como fuval de Cinema de Berlim que ga de países em guerra, mireúne obras cinematográficas séria entre outros. Entre os de diversos países. Um dos 18 filmes da mostra princitemas de destaque no festival pal que concorrem ao Urserá a crise dos refugiados. so de Ouro estão “Cartas Este tema será tratado tanto de Guerra” do cineasta Ivo em filmes como por meio de Ferreira que trata da guerpalestras e ações dos organi- ra em Angola e o docuzadores como arrecadação de mentário italiano, dirigido fundos para refugiados, dis- por Gianfranco Rosi, “Fogo tribuições de convites para no Mar” que descreve a viexibições e estágios em sets da de refugiados na ilha de de filmagens. Lampedusa. Para lembrar a situação dos Há também filmes polírefugiados que chegam à Eu- ticos como “Soy Nero”, do ropa vindos, principalmente, cineasta iraniano Rafi Pitts, do Oriente Médio, o artista que conta a vida de um imiplástico chinês Ai Weiwei fez grante mexicano ilegal nos uma instalação nas colunas Estados Unidos que se alisda sala de concertos Schaus- ta no exército norte-ameripielhaus, em Berlim, um dos cano para conseguir a cidalocais do festival, com 14 mil dania. Já o filipino “A Lulcoletes salva vidas que foram laby to the Sorrowful mysdeixados por imigrantes nas tery”, filme de oito horas, praias gregas no ano passa- trata da emancipação das do. A Alemanha, país sede do Filipinas do domínio colofestival, recebeu, somente em nial espanhol. 2015, cerca de um milhão de Outro documentário de refugiados. destaque é “Zero Days”, de Entre os filmes que con- Alex Gibney que relata como correm a prêmios na mos- os EUA e Israel estão usando a internet para atacar a política nuclear do Irã. Já na mostra paralela Panorama, a segunda mais importante do festival, o Brasil terá três representantes, “Antes o Tempo não Acabava” de Fá- Obra completa de Guillhermo Cabrera Infante é reeditada bio Baldo e Sérgio Andrade, o documentário “Curumim” de Marcos Prado e “Mãe só há uma”, novo filme de Anna Muylaert. A diretora brasileira esteve presente no mesmo festival no ano passado com o filme “Que Horas Ela VolFora da competição tem o ta?” que levou dois prêmios novo filme dos irmãos Coen, no festival o de melhor longa “Ave César”, com George de ficção na mostra Panora- Clonney. A presidente do júma e o prêmio da Confedera- ri é a atriz Meryl Streep e um ção Internacional de Cinema dos homenageados será o de Arte e Ensaio (CICAE). cantor e ator, David Bowie. Volpone – uma peça isabelina em cartaz Escritor cubano antes de falecer deixou a tarefa para sua mulher organizar escritos e anotações para terminar sua obra Mulher de Cabrera Infante, Miriam Gómez, lança obras reeditadas e uma ampliação de um dos livros do escritor. Entre elas, ‘A ninfa inconstante’, ‘Mapa Dibujado por un Espia’, e ‘Mea Cuba’ que foi ampliada. Gómez leu, editou e agora após mais de dez anos da morte do companheiro conseguiu lançar as obras póstumas. Infante costumava retratar o próprio país em seus textos, entre seus contos-relatos, romances e ensaios, temos ‘A ninfa inconstante’ que tratava da história de um crítico de cinema que teria se apaixonado por uma garota mais jovem que ele, isso se passan- do em Havana em épocas revolucionárias. Já o ‘Mapa Dibujado por un Espia’ contava de uma época futura a época revolucionária, mostrando um país diferente do que ele conhecia, descrevendo forma ficcional o seu retorno a Cuba após o exilamento para o velório de sua mãe. E por fim ‘Mea Cuba’ que traz textos sobre a revolução cubana e sobre Fidel Castro, segundo o olhar de Infante. Nascido em 22 de abril de 1929, em Gibara, província de Cuba, e faleceu em Londres, em 2005, Guillhermo foi um escritor que teve uma importante participação na Revolução Cubana junto com Fidel Castro, chegando até a receber o prêmio Cervantes em 1997, um dos principais prêmios literários da língua espanhola. O teatro Mube Nova Cultural, em São Paulo, exibe a peça de Ben Johnson sobre a ganância Ben Johnson foi contemporâneo de Shakespeare. Escreveu inúmeras peças de teatro e Volpone talvez seja sua melhor peça. Se não, pelo menos a mais conhecida e a mais representada. Volpone é um rico cavalheiro que finge estar morrendo para enganar três pessoas que fingem agradá-lo com o propósito de herdar-lhe a fortuna. Assim como Volpone, as personagens da peça têm nomes italianos de animais. Os espectadores da peça, no século XVII entendiam esses nomes como nomes italianos engraçados. Apenas quem conhecia a língua sabia o que havia por trás deles. Como a peça trata da ganância, nada mais interessante do que retratar as personagens com nomes de animais predadores, como a raposa, o abutre, etc. A diretora da peça ora em cartaz figurou as personagens com as máscaras da Commedia dell’Arte. Isso valeu-lhe uma crítica da Folha de S. Paulo. Mais uma vez o jornal soube mostrar, com maestria, a sua enorme arrogância. Como dono da verdade, procura destruir a encenação, fazendo chacota da ideia de fantasiar as personagens com roupas de animais. Isso é sistemático no jornal. Seu quadro de medíocres intelectuais acham-se donos da verdade, talvez porque escrevam num jornal que se sente dono da verdade. Mas a crítica parece ser mais direcionada ao próprio Ben Johnson do que à diretora da peça, Neyde Veneziano, a qual tratou logo de responder às críticas da Folha. E respondeu bem. Não sabemos por que razão o plumitivo disse que o público se sentiu infantilizado ao assistir à peça. E Veneziano também não, afinal como alguém poderia afirmar algo assim sem se dar ao trabalho de psicanalisar os espectadores. Mas nada disso importa. O que importa é que é uma oportunidde rara de ver encenada no Brasil uma peça de Ben Johson, um magistral autor de teatro cuja obra foi eclipsada pela de Shakespeare e de Marlowe, seus contemporâneos. A peça encontra-se em cartaz no teatro Mube Nova Cultural e os ingressos são de apenas R$5,00. No elenco, grandes atores, como Chico Carvalho (Volpone), Claudinei Brandão (Corbaccio), Dirceu de Carvalho (Bonário e Voltore), Eliana Rocha (Urraca), Fabio Espósito (Corvino), Fabíola Moraes (Célia e Serpina), Gabriel Miziara (Mosca), Guryva Portela (Soldado e Juiz).
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