Zeca Afonso

Transcrição

Zeca Afonso
Zeca Afonso
Arquivo de letras de música
25 de Março de 2002
1
Conteúdo
Achégate a mim, Maruxa . . . . . . . . . . . . .
A formiga no carreiro . . . . . . . . . . . . . . .
Alegria da Criação . . . . . . . . . . . . . . . .
A mulher da erva . . . . . . . . . . . . . . . . .
As sete mulheres do Minho . . . . . . . . . . . .
Avenida de Angola . . . . . . . . . . . . . . . .
Bailia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
Balada do Outono . . . . . . . . . . . . . . . . .
Canção de embalar . . . . . . . . . . . . . . . .
Cantiga do monte . . . . . . . . . . . . . . . . .
Cantigas do Maio (eu fui ver a minha amada) . .
Canto moço . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
Chamaram-me cigano . . . . . . . . . . . . . . .
Contos Velhinhos . . . . . . . . . . . . . . . . .
Coro dos Caídos . . . . . . . . . . . . . . . . . .
Endechas a Bárbara escrava (aquela cativa) . . .
Entrudo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
Epígrafe para a arte de Furtar (roubam-me Deus)
Eu vou ser como a toupeira . . . . . . . . . . . .
Grândola Vila Morena . . . . . . . . . . . . . . .
Já o tempo se habitua . . . . . . . . . . . . . . .
Maria Faia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
Menina dos olhos tristes . . . . . . . . . . . . .
Menino de oiro . . . . . . . . . . . . . . . . . .
Menino d’oiro . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
Milho verde . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
Natal dos simples . . . . . . . . . . . . . . . . .
No lago do Breu . . . . . . . . . . . . . . . . . .
No vale de Fuenteovejuna . . . . . . . . . . . . .
Oh Coimbra do Mondego . . . . . . . . . . . . .
O homem da gaita . . . . . . . . . . . . . . . . .
Por Aquele Caminho . . . . . . . . . . . . . . .
Por trás daquela janela . . . . . . . . . . . . . .
Qualquer Dia . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
Quatro quadras soltas . . . . . . . . . . . . . . .
Que amor não me engana . . . . . . . . . . . . .
Rainha . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
Resineiro engraçado . . . . . . . . . . . . . . . .
Senhor poeta . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
Só ouve o brado da terra . . . . . . . . . . . . .
Teresa Torga . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
Traz outro amigo também . . . . . . . . . . . . .
Tu gitana . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
Utopia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
Vampiros . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
Vejam bem . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
Verdes são os campos . . . . . . . . . . . . . . .
2
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Verdes são os campos
Achégate a mim, Maruxa
Música: Zeca Afonso
Letra: Camões
In: Traz outro amigo também
Música: Zeca Afonso
Letra: popular: galego
Intérprete: Zeca Afonso
In: ’fura fura’, 1979
(cantar galego)
Versos de Segunda (jeito de jj)
Verdes são os campos,
De cor de limão:
Assim são os olhos
Do meu coração.
jj
= 80
Campo, que te estendes
Com verdura bela;
Ovelhas, que nela
Vosso pasto tendes,
De ervas vos mantendes
Que traz o Verão,
E eu das lembranças
Do meu coração.
2
4
A − ché − ga − te a mim, Ma − ru − xa
qué − ro − me ca − sar con − ti − go
ña
ña
ché − ga − te ben, mo
se − rás mi − ña mu
− re − ni − ña
− lle − ri − ña
= 120
Gados que pasceis
Com contentamento,
Vosso mantimento
Não no entendereis;
Isso que comeis
Não são ervas, não:
São graças dos olhos
Do meu coração.
Achégate a mim, Maruxa
chégate ben, moreniña
quérome casar contigo
serás miña mulleriña
Luís de Camões
Adeus, estrela brilante
compañeiriña da lua
moitas caras teño visto
mais como a tua ningunha
Adeus lubeiriña triste
de espaldas te vou mirando
non sei que me queda dentro
que me despido chorando
58
3
ché − ga − te ben, mo
se − rás mi − ña mu
− re − ni −
− lle − ri −
A formiga no carreiro
Vejam bem
Letra e música: Zeca Afonso
In: Venham mais cinco/gravado em 73
Letra e música: Zeca Afonso
In: Cantares do Andarilho
José João ([email protected]) (não juro que esteja tudo certo...)
jj(Dez-95)
A formiga no carreiro
vinha em sentido contrário
Caiu ao Tejo
ao pé de um septuagenário
(v1 v2 v1 v2 v3 v3 v4 v3 v3 v4)
Vejam bem
que não há só gaivotas em terra
quando um homem se põe a pensar
quando um homem se põe a pensar
Lerpou trepou às tábuas (bis)
que flutuavam nas águas (bis)
e do cimo de uma delas
virou-se para o formigueiro
mudem de rumo (bis)
já lá vem outro carreiro
Quem lá vem
dorme à noite ao relento na areia
dorme à noite ao relento no mar
dorme à noite ao relento no mar
E se houver
uma praça de gente madura
e uma estátua
e uma estátua de de febre a arder
A formiga no carreiro
vinha em sentido diferente
caiu à rua
no meio de toda a gente
Anda alguém
pela noite de breu à procura
e não há quem lhe queira valer
e não há quem lhe queira valer
buliu abriu as gâmbeas
para trepar às varandas
e do cimo de uma delas
...
Vejam bem
daquele homem a fraca figura
desbravando os caminhos do pão
desbravando os caminhos do pão
A formiga no carreiro
andava à roda da vida
caiu em cima
de uma espinhela caída
E se houver
uma praça de gente madura
ninguém vai
ninguém vai levantá-lo do chão
furou furou à brava
numa cova que ali estava
e do cimo de uma delas
...
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Vampiros
Alegria da Criação
Letra e música: Zeca Afonso
Letra e música: Zeca Afonso
Intérprete: Janita Salomé
In: ’galinhas do mato’, 1985
Arménia Rua, Fernando Faria (Alternativamente Em/D/B7)
Am
No céu cinzento Sob o astro mudo
jj
Am
G
Batendo as asas Pela noite calada
E7
Am
Vêm em bandos Com pés veludo
E7
Am
E7
Am
Chupar o sangue Fresco da manada
E7
Plantei a semente da palavra
Antes da cheia matar o meu gado
Ensinei ao meu filho a lavra e a colheita
num terreno ao lado
Am
Se alguém se engana Com seu ar sisudo
Eles comem tudo E não deixam nada [Bis]
A palavra rompeu
Cresceu como a baleia
No silêncio da noite à lua cheia
Vi mudar estações soprar a ventania
Brilhar de novo o sol sobre a baía
A toda a parte Chegam os vampiros
Poisam nos prédios Poisam nas calçadas
Trazem no ventre Despojos antigos
Mas nada os prende Às vidas acabadas
Fui um bom engenheiro um bom castor
Amei a minha amada com amor
De nada me arrependo só a vida
Me ensinou a cantar esta cantiga
São os mordomos Do universo todo
Senhores à força Mandadores sem lei
Enchem as tulhas Bebem vinho novo
Dançam a ronda No pinhal do rei
Feiticeira
Mãe de todos nós
Flor da espiga
Maldita para tiranos
Amorosa te louvamos
tens mais de um milhão de anos
Rapariga
G
Am
E lhes franqueia As portas à chegada
G
Am
Eles comem tudo Eles comem tudo
E7
Am
Eles comem tudo Eles comem tudo
Eles comem tudo E não deixam nada
No chão do medo Tombam os vencidos
Ouvem-se os gritos Na noite abafada
Jazem nos fossos Vítimas dum credo
E não se esgota O sangue da manada
Se alguém se engana Com seu ar sisudo
E lhe franqueia As portas à chegada
Eles comem tudo Eles comem tudo
Eles comem tudo E não deixam nada
Eles comem tudo Eles comem tudo
Eles comem tudo E não deixam nada
Quando o lume nos aquece
No grande frio de Inverno
Vem até nós uma prece
Que assim de longe parece
Uma cantiga
Magistrada Nossa natural
Vitoriosa
Curandeira dos aflitos
Amante de mil maridos
Há mais de um milhão de idos
tormentosa
Quando a fera encarcerada
Que dentro de nós suplanta
Quebra a gaiola sozinha
Voa voa endiabrada
Uma andorinha
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5
A mulher da erva
Utopia
Letra e música: Zeca Afonso
In: ’Cantigas do maio’, 1971
Letra e música: Zeca Afonso
In: ’Como se fora seu filho’, 1983
Arménia Rua
Victor Almeida
Velha da terra morena
Pensa que e já lua cheia
Vela que a onda condena
Feita em pedaços na areia
Cidade
Sem muros nem ameias
Gente igual por dentro
Gente igual por fora
Onde a folha da palma
afaga a cantaria
Cidade do homem
Não do lobo, mas irmão
Capital da alegria
Saia rota subindo a estrada
Inda a noite rompendo vem
A mulher pega na braçada
De erva fresca supremo bem
Canta a rola numa ramada
Pela estrada vai a mulher
Meu senhor nesta caminhada
Nem m’alembra do amanhecer
Há quem viva sem dar por nada
Há quem morra sem tal saber
Velha ardida velha queimada
Vende a fruta se queres comer
A noitinha a mulher alcança
Quem lhe compra do seu manjar
Para dar à cabrinha mansa
Erva fresca da cor do mar
Na calçada uma mancha negra
Cobriu tudo e ali ficou
Anda, velha da saia preta
Flor que ao vento no chão tombou
Braço que dormes
nos braços do rio
Toma o fruto da terra
É teu a ti o deves
lança o teu desafio
Homem que olhas nos olhos
que não negas
o sorriso, a palavra forte e justa
Homem para quem
o nada disto custa
Será que existe
lá para os lados do oriente
Este rio, este rumo, esta gaivota
Que outro fumo deverei seguir
na minha rota?
No Inverno terás fartura
Da erva fora supremo bem
Canta rola tua amargura
Manhã moça ... nunca mais vem
6
55
Tu gitana
As sete mulheres do Minho
Música: Zeca Afonso
Letra: Cancioneiro de Vila Viçosa
Intérprete: Helena Vieira
In: ’galinhas do mato’, 1985
Letra e música: Zeca Afonso
jj
As sete mulheres do Minho
mulheres de grande valor
Armadas de fuso e roca
correram com o regedor
Tu gitana que adivinhas
Me lo digas, poes no lo sê
Se saldre dessa aventura
Ô si nela moriré
Ô si nela perco la vida
Ô si nela triumfare
Tu gitana que adivinhas
Me lo digas, poes no lo sê
jj(Fev-96)
Essa mulher lá do Minho
que da foice fez espada
há-de ter na lusa história
uma página doirada
Viva a Maria da Fonte
com as pistolas na mão
para matar os Cabrais
que são falsos à nação
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7
Avenida de Angola
Traz outro amigo também
Letra e música: Zeca Afonso
In: ’Traz outro amigo também’, 1970
Letra e música: Zeca Afonso
In: ’Traz outro amigo também’, 1970
Arménia Rua,jj
versos de segunda/Luís Ferreira (jeito de jj)
C
A
Dum botão de branco punho
Amigo
F
D
Dum braço de fora preto
Maior que o pensamento
F
C
C
A
Vou pedir contas ao mundo
Por essa estrada amigo vem
G7
G
C
Além naquele coreto
A
A
D
C
F
Não percas tempo que o vento
C
Lá vai uma lá vão duas
C
G7
É meu amigo também
D
Três pombas a descansar
C
F
A7
Por essa estrada amigo vem
A
A7
A
D
Não percas tempo que o vento
C
Uma é minha outra é tua
G7
E
E
C
A
É meu amigo também
C
Outra é de quem n’a agarrar
A
Na sala há cinco meninas
E um botão de sardinheira
Feitas de fruta madura
Nos braços duma rameira
D
A
Em terras
Em todas as fronteiras
Seja benvindo quem vier por bem
Se alguém houver que não queira
Trá-lo contigo também
Lá vai uma lá vão duas...
O Sol é quem faz a cura
Com alfinete de dama
Na sala há cinco meninas
Feitas duma capulana
Aqueles
Aqueles que ficaram
(Em toda a parte todo o mundo tem)
Em sonhos me visitaram
Traz outro amigo também
Lá vai uma lá vão duas...
Quando a noite se avizinha
Do outro lado da rua
Vem Ana, vem Serafina
Vem Mariana, a mais pura
nota:
Alternativamente substituir:
A=D D=G C=F A7=D7 E=A7 G=C
Lá vai uma lá vão duas...
Há sempre um botão de punho
Num braço de fora preto
Vou pedir contas ao mundo
Além naquele coreto
Lá vai uma lá vão duas...
Ó noite das columbas
Leva-as na tua algibeira
Na sala há cinco meninas
Feitas da mesma maneira
Lá vai uma lá vão duas...
8
53
Teresa Torga
Letra e música: Zeca Afonso
In: ’Com as minhas tamanquinhas’
Arménia Rua
No centro a da Avenida
No cruzamento da rua
Às quatro em ponto perdida
Dançava uma mulher nua
A gente que via a cena
Correu para junto dela
No intuito de vesti-la
Mas surge António Capela
Que aproveitando a barbuda
Só pensa em fotografá-la
Mulher na democracia
Não é biombo de sala
Dizem que se chama Teresa
Seu nome e Teresa Torga
Muda o pick-up em Benfica
Atura a malta da borga
Aluga quartos de casa
Mas já foi primeira estrela
Agora é modelo à força
Que a diga António Capela
T’resa Torga T’resa Torga
Vencida numa fornalha
Não há bandeira sem luta
Não há luta sem batalha
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9
Bailia
Só ouve o brado da terra
Música: Zeca Afonso
Letra: Airas Nunes
In: ’Contos Velhos Rumos Novos’
Letra e música: Zeca Afonso
In: ’coro dos tribunais’, 1975
Arménia Rua
Ximnasio de Academo
Bailemos nós já todas tres, ai amigas,
so aquestas avelaneiras frolidas
e quen fôr velida, como nós, velidas,
se amig’ amar,
so aquestas avelaneiras frolidas
verrá bailar.
Bailemos nós já todas tres, ai irmañas,
so aqueste ramo d’ estas avelañas
e quen fôr louçaña, como nós, louçañas
se amig’ amar,
so aqueste ramo d’ estas avelañas
verrá bailar.
Por Deus, ai amigas, mentr’ al non fazemos,
so aqueste ramo frolido bailemos
e quen ben parecer, como nós parecemos,
se amig’ amar,
so aqueste ramo so l[o] que nós bailemos
verrá bailar.
Só ouve o brado da terra
Quem dentro dela
Veio a nascer
Agora é que pinta o bago
Agora é qu’isto
vai aquecer
rem
dó
rem
Cala-te ó clarim da morte
dó
rem
Que a tua sorte
dó
rem
Não hei-de eu querer
Mal haja a noite assassina
E quem domina
Sem nos vencer
Cobrem-se os campos de gelo
Já não se ouve
O galo cantor
Andam os lobos à solta
Pega no teu
Cajado, pastor
Homem de costas vergadas
De unhas cravadas
Na pele a arder
É minha a tua canseira
Mas há quem queira
Ver-te sofrer
Anda ver o Deus banqueiro
Que engana à hora e
que rouba ao mês
Há milhões no mundo inteiro
O galinheiro é de
dois ou três
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51
Senhor poeta
Balada do Outono
Música: Zeca Afonso (?)
Letra: António Barahona; Manuel Alegre
Intérprete: Zeca Afonso
(fado de Coimbra)
Letra e música: Zeca Afonso
(fado de Coimbra)
Fernando Carvalho (Gravação no mosteiro de Santa Clara (?))
Águas
Arménia Rua, jj
mim
ré
Meu amor é marinheiro,
E mora no alto mar,
Seus braços são como o vento,
Ninguém o pode amarrar.
mim
E pedras do rio
ré
mim
Meu sono vazio
ré
mim
Não vão Acordar
mim
Águas
Senhor poeta,
Vamos dançar,
Caem cometas,
No alto mar.
ré
mim
Das fontes calai
ré
mim
Ó ribeiras chorai
sib7 ré
mim
Que eu não volto A cantar
Cavalgam Zebras,
Voam duendes,
Atiram pedras,
Arrancam dentes.
Rios que vão dar ao mar
Deixem meus olhos secar
Águas
Das fontes calai
Ó ribeiras chorai
Que eu não volto A cantar
Senhor poeta...
Soltam as velas,
Vamos largar,
Caem cometas,
No alto mar.
Águas
Do rio correndo
Poentes morrendo
P’ras bandas do mar
Águas
Das fontes calai
Ó ribeiras chorai
Que eu não volto A cantar
Rios que vão dar ao mar
Deixem meus olhos secar
Águas
Das fontes calai
Ó ribeiras chorai
Que eu não volto A cantar
50
11
Canção de embalar
Resineiro engraçado
Letra e música: Zeca Afonso
In: ’Cantares de andarilho’
Letra e música: popular: Beira-Alta
Fernando Faria (Mortágua; recolha de Zeca Afonso)
Arménia Rua
A
D
D
A
A
Resineiro engraçado, engraçado no falar,
Dorme meu menino a estrela d’alva
Já a procurei e não a vi
Se ela não vier de madrugada
Outra que eu souber será p’ra ti
Ó i ó ai, se ele me lá quiser levar. [Bis]
Outra que eu souber na noite escura
Sobre o teu sorriso de encantar
Ouvirás cantando nas alturas
Trovas e cantigas de embalar
Já tenho papel e tinta, caneta e mata-borrão,
Já tenho papel e tinta, caneta e mata-borrão,
Ó i ó ai, pr’a escrever ao resineiro,
Ó i ó ai, que trago no coração.
Trovas e cantigas muito belas
Afina a garganta meu cantor
Quando a luz se apaga nas janelas
Perde a estrela d’alva o seu fulgor
Resineiro é casado, é casado e tem mulher,
Resineiro é casado, é casado e tem mulher,
Ó i ó ai, vou escrever ao resineiro,
Ó i ó ai, quantas vezes eu quiser.
Perde a estrela d’alva pequenina
Se outra não vier para a render
Dorme qu’inda a noite é uma menina
Deixa-a vir também adormecer
Nota:
Resineiro engraçado, engraçado no falar,
D
E7
Ó i ó ai, eu hei-de ir à terra dele,
A
a primeira mulher do Zeca Afonso, com que casou em Coimbra, era de Mortágua.
Acorde de viola: Alternativamente C/F/G7, G/C/D7
12
49
Rainha
Cantiga do monte
Letra e música: Zeca Afonso
In:
Letra e música: Zeca Afonso
In: ’Traz outro amigo também’, 1970
versos de segunda() (jeito de jj)
Arménia Rua
Quem diz que é pela rainha
Nem precisa de mais nada
Embora seja ladrão
Pode roubar à vontade
Todos lhe apertam a mão
É homem de sociedade
Fragância morena
Portal de marfim
Ondina açucena
Chamando por mim
Acima da pobre gente
Subiu quem tem bons padrinhos
De colarinhos gomados
Perfumando os ministérios
É dono dos homens sérios
Ninguém lhe vai aos costados
Cantiga do monte
Clareira do ar
Dançando na nuvem
Mudando em mar
Na flor da montanha
Na espuma a cair
Nos frutos de Agosto
Na boca a sorrir
Na crista da vaga
Tormento alonguei
No vento e na fraga
Só luto encontrei
Abriram-se as velas
Mal rompe a manhã
Na luz e nas trevas
Foi-se a louçã
Ai húmida prata
Meu sonho sem ver
Ai noite de Lua
Meu lume de arder
Ó finas areias
Ó clara manhã
Ó rubras papoilas
Da cor da romã
Ó rosto da terra
E abismos do mar
Ouvide o seu canto
De longe a arfar
Abriram-se as velas
Mal rompe a manhã
Na luz e nas trevas
Lá vai a louçã
Da morte zombando
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13
Que amor não me engana
Na aurora lunar
Num jardim suspenso
Do seu folgar
Letra e música: Zeca Afonso
In: Venham mais cinco/gravado em 73
Versos de segunda() (jeito de jj)
rem dó
rem
Que amor não me engana
rem dó
rem dó
Com a sua brandura
dó
lam rem
Se de antiga chama
mi
Mal vive a amargura
Duma mancha negra
Duma pedra fria
Que amor não se entrega
Na noite vazia
rem dó
sol rem
E as vozes embarcam
rem dó
sol rem
Num silêncio aflito
rem dó
rem
Quanto mais se apartam
dó
lam rem
Mais se ouve o seu grito
Muito à flor das águas
Noite marinheira
Vem devagarinho
Para a minha beira
Em novas coutadas
Junto de uma hera
Nascem flores vermelhas
Pela Primavera
Assim tu souberas
Irmã cotovia
Dizer-me se esperas
O nascer do dia
14
47
Nota:
Em 1979 Sérgio Godinho gravava um disco chamado ’Campolide’ e numa das canções cantavam, Adriano Correia de
Oliveira, Zeca Afonso e Fausto. Essa canção chama-se ’Quatro quadras soltas’ e nas quadras, cada um dos convidados
canta conforme o mencionado.
Cantigas do Maio (eu fui ver a minha
amada)
Letra e música: Zeca Afonso
In: Cantigas do Maio
jj(Nov-95)
Em
G
Eu fui ver a minha amada
h7
Em
lá prós lados dum jardim
h7
G
dei-lhe uma rosa encarnada
Em
para se lembrar de mim
Eu fui ver o meu benzinho
lá prós lados dum paçal
dei-lhe o meu lenço de linho
que é do mais fino bragal
Minha mãe quando eu morrer
ai chore por quem muito amargou
para então dizer ao mundo
ai Deus mo deu ai Deus mo levou
Eu fui ver uma donzela
numa barquinha a dormir
dei-lhe uma colcha de seda
para nela se cobrir
Eu fui ver uma solteira
numa salinha a fiar
dei-lhe uma rosa vermelha
para de mim se encantar
Minha mãe quando eu morrer ...
Eu fui ver a minha amada
lä nos campos eu fui ver
dei-lhe uma rosa encarnada
para de mim se prender
Verdes prados verdes campos
onde está minha paixão
as andorinhas não param
umas voltam outras não
Minha mãe quando eu morrer...
46
15
Canto moço
Letra e música: Zeca Afonso
In: ’Traz outro amigo também’, 1970
Victor Almeida, Fernando Farinha
E
A
Somos filhos da madrugada
A
Pelas praias do mar nos vamos
E
Respondeu-me: com efeito
nós temos aqui retida
uma quadra sem papeis
que encontramos na má vida
Diz que é uma quadra oral
sem identificação
que uma quadra popular
não precisa de cartão
À procura de quem nos traga
A
Verde oliva de flor no ramo
A
D
Das restantes quadras soltas
não tinha sequer noticia
dirigi-me a uma esquadra
e descrevi-as a um policia
Navegamos de vaga em vaga
A
D
Não soubemos de dor nem mágoa
E
Pelas praias do mar nos vamos
A
À procura de manhã clara
Lá do cimo de uma montanha
Acendemos uma fogueira
Para não se apagar a chama
Que dá vida na noite inteira
Mensageira pomba chamada
Mensageira da madrugada
Quando a noite vier que venha
Lá do cimo de uma montanha
Onde o vento cortou amarras
Largaremos p’la noite fora
Onde há sempre uma boa estrela
Noite e dia ao romper da aurora
Vira a proa minha galera
Que a vitória já não espera
Fresca, brisa, moira encantada
Vira a proa da minha barca.
Se diz que pertence ao povo
o povo que venha cá
que eu quero ver a licença
o registo e o alvará
[Fausto:]
O i o, Quando se embebeda o pobre
o i o ai, dizem olha o borracho
o i o ai, quando se emborracha o rico
acham graça ao figurão
Fui com a quadra popular
À procura da restante
quando o policia de longe
disse: venha aqui um instante
Temos aqui uma outra
não sei se você conhece
desrespeita a autoridade
e diz o que lhe apetece
Tem uma rima forçada
e palavras estrangeiras
e semeia a confusão
entre as outras prisioneiras
Se for sua leve-a já
que é pior que erva daninha
olhe bem pra ela é sua?
Olhei bem pra ela: é minha
O i o ai, nós queremos é justiça
o i o ai, e dinheiro para o bife
o i o ai e não esta coboiada
em que é tudo do sherife
16
45
Quatro quadras soltas
Chamaram-me cigano
Letra e música: Sérgio Godinho
In: ’Campolide’, 79
Letra e música: Zeca Afonso
In: Cantares de Andarilho
Victor Almeida
Arménia Rua
Eu vi quatro quadras soltas
À solta lá numa herdade
amarrei-as com uma corda
e carreguei-as p’rá cidade
Chamaram-me um dia
Cigano e maltês
Menino, não és boa rés
Abri uma cova
Na terra mais funda
Fiz dela a minha sepultura
Entrei numa gruta
Matei um tritão
Mas tive o diabo na mão
Cheguei com elas a um largo
e logo ao largo se puseram
foram ter com a família
e com os amigos que ainda o eram
Viram fados, viram viras
viram canções de revolta
e encontraram bons amigos
em mais que uma quadra solta
Uma viu um livro chamado
’Este livro que vos deixo’
e reviu velhas amizades
eram quadras do Aleixo
[Adriano:]
O i o ai, há já menos quem se encolha
o i o ai, muita gente fala e canta
o i o ai, já se vai soltando a rolha
que nos tapava a garganta
Ora bem tinha marcado
encontro com as quadras soltas
pois sim, fiquei pendurado
como um tolo ali às voltas
Chegou uma e disse: Andei
a cumprimentar parentes
e eu aqui a enxotar moscas
vocês são mesmo indecentes
Respondeu-me: ó patrãozinho
desculpe lá esta seca
estive a beber um copinho
com uma quadra do Zeca
Havia um comboio
Já pronto a largar
E vi O diabo a tentar
Pedi-lhe um cruzado
Fiquei logo ali
Num leito de penas dormi
Puseram-me a ferros
Soltaram o cão
Mas tive o diabo na mão
Voltei da charola
de cilha e arnês
Amigo, vem cá outra vez
Subi uma escada
Ganhei dinheirama
Senhor D. Fulano Marquês
Perdi na roleta
Ganhei ao gamão
Mas tive o diabo na mão
Ao dar uma volta
Caí no lancil
E veio o diabo a ganir
Nadavam piranhas
Na lagoa escura
Tamanhas que nunca tal vi
Limpei a viseira
Peguei no arpão
Mas tive o diabo na mão
[e é o próprio sôr Zeca Afonso que vai cantar aqui]
O i o ai, disse-me um dia um careca
o i o ai, quando uma cobra tem sede
o i o ai, corta-lhe logo a cabeça
encosta-a bem à parede
44
17
Contos Velhinhos
Qualquer Dia
Letra e música: Ângelo Araújo
Intérprete: Zeca Afonso
(fado de Coimbra)
Música: Zeca Afonso
Letra: F. Miguel Bernardes
Intérprete: Zeca Afonso
In: ’Contos Velhos Rumos Novos’
Fernando Pais
jj(Dez-95)
Contos velhinhos de amor
numa noite branca e fria
tantos trago para contar
são pétalas duma flor
desfolhadas ao luar
contos velhinhos de amor
numa noite branca e fria
tantos trago para contar
Em
No Inverno bato o queixo
G
h7
Sem mantas na manhã fria
Em
No Inverno bato o queixo
G
Qualquer dia
h7
Qualquer dia
No Inverno aperto o cinto
Enquanto o vento assobia
...
Contos velhinhos os meus
são contos iguais a tantos
que tantos já nos contaram
são saudades de um adeus
de sonhos que já passaram
contos velhinhos os meus
são contos iguais a tantos
que tantos já nos contaram
No Inverno vou por lume
Lenha verde não ardia
...
No Inverno penso muito
Oh que coisas eu já via
...
No Inverno ganhei ódio
E juro que o não queria
...
18
43
Por trás daquela janela
Faz anos o meu amigo
E irmão
Coro dos Caídos
Não pôs cravos na lapela
Por trás daquela janela
Nem se ouve nenhuma estrela
Por trás daquele portão
Fernando Pais
Letra e música: Zeca Afonso
Canta bichos da treva e da aparência
Na absolvição por incontinência
Cantai cantai no pino do inferno
Em Janeiro ou em maio é sempre cedo
Cantai cardumes da guerra e da agonia
Neste areal onde não nasce o dia
Cantai cantai melancolias serenas
Como o trigo da moda nas verbenas
Cantai cantai guizos doidos dos sinos
Os vossos salmos de embalar meninos
Cantai bichos da treva e da opulência
A vossa vil e vã magnificência
Cantai os vossos tronos e impérios
Sobre os degredos sobre os cemitérios
Cantai cantai ó torpes madrugadas
As clavas os clarins e as espadas
Cantai nos matadouros nas trincheiras
As armas os pendões e as bandeiras
Cantai cantai que o ódio já não cansa
Com palavras de amor e de bonança
Dançai ó parcas vossa negra festa
Sobre a planície em redor que o ar empesta
Cantai ó corvos pela noite fora
Neste areal onde não nasce a aurora
Nota: Comentário do autor, sobre esta música, in ’Cantares’:
’Um antigo poema incompleto serviu de base á música. O
conjunto constitui como que um complemento dos vampiros
entretidos, após a batalha, na recolha dos mais valiosos despojos.’
42
19
Endechas a Bárbara escrava (aquela cativa)
Por trás daquela janela
Letra e música: Zeca Afonso
In: ’Eu vou ser como a toupeira’ 72
Música: Zeca Afonso
Letra: Camões
In:
Arménia Rua (dedicada a Alfredo Matos que se encontrava preso)
Por trás daquela janela
Por trás daquela janela
Faz anos o meu amigo
E irmão
Versos de Segunda() (jeito de jj)
mim
Aquela cativa
Que me tem cativo,
Porque nela vivo
Já não quer que viva.
Eu nunca vi rosa
Em suaves molhos,
Que pera meus olhos
Fosse mais fermosa.
Não pôs cravos na lapela
Por trás daquela janela
Nem se ouve nenhuma estrela
Por trás daquele portão
Se aquela parede andasse
Se aquela parede andasse
Eu não sei o que faria
Não sei
Nem no campo flores,
Nem no céu estrelas
Me parecem belas
Como os meus amores.
Rosto singular,
Olhos sossegados,
Pretos e cansados,
Mas não de matar.
Se a minha faca cortasse
Se aquela parede andasse
E grito enorme se ouvisse
Duma criança ao nascer
Talvez o tempo corresse
Talvez o tempo corresse
E a tua voz me ajudasse
A cantar
Uma graça viva,
Que neles lhe mora,
Pera ser senhora
De quem é cativa.
Pretos os cabelos,
Onde o povo vão
Perde opinião
Que os louros são belos.
Mais dura a pedra moleira
E a fé, tua companheira
Mais pode a flecha certeira
E os rios que vão pró mar
Por trás daquela janela
Por trás daquela janela
Faz anos o meu amigo
E irmão
Pretidão de Amor,
Tão doce a figura,
Que a neve lhe jura
Que trocara a cor.
Leda mansidão,
Que o siso acompanha;
Bem parece estranha,
Mas bárbara não.
Na noite que segue o dia
Na noite que segue o dia
O meu amigo lá dorme
De pé
E o seu perfil anuncia
Naquela parede fria
Uma canção de alegria
No vai e vem da maré
Presença serena
Que a tormenta amansa;
Nela, enfim, descansa
Toda a minha pena.
Esta é a cativa
Que me tem cativo;
Por trás daquela janela
20
41
Nota: Comentário do autor in ’Cantares’
E pois nela vivo,
É força que viva.
Lourenço Marques 1956. Versos destinados à página literária de ’Voz de Moçambique’. A música peca por manifesta
ausência de identificação com os espírito dos ritmos e temas
africanos.
40
21
Entrudo
Por Aquele Caminho
Letra e música: popular: Beira-Baixa
Intérprete: Zeca Afonso
In: 1970
Letra e música: Zeca Afonso
Intérprete: Adriano Correia de Oliveira
Fernando Pais
Joaquim Leal, Fernando Faria
F#m
Ó entrudo Ó entrudo
E
F#m
Ó entrudo chocalheiro
E
Que não deixas assentar
F#m
as mocinhas ao solheiro
Eu quero ir para o monte
Eu quero ir para o monte
Que no monte é qu’eu estou bem
Que no monte é qu’eu estou bem
Eu quero ir para o monte
Eu quero ir para o monte
Onde não veja ninguém
Que no monte é qu’eu estou bem
Estas casa são caiadas
Estas casa são caiadas
Quem seria a caiadeira
Quem seria a caiadeira
Por aquele caminho
De alegria escrava
Vai um caminheiro
Com sol nas espáduas
Ganha o seu sustento
De plantar o milho
Aquece-o a chama
De um poder antigo
Leva o solitário
Sob os pés marcado
Um rasto de sangue
De sangue lavado
Levanta-se o vento
Levanta-se a mágoa
Soltam-se as esporas
De uma antiga chaga
Mas tudo no rosto
De negro nascido
Indica que o negro
É um espectro vivo
Foi o noivo mais a noiva
Foi o noivo mais a noiva
Com um ramo de laranjeira
Quem seria a caiadeira
Quem lhe dá guarida
Mostra-lhe a pintura
Duma cor que valha
Para a sepultura
Não de mão beijada
Para que não viva
Nele toda a raiva
Dessa dor antiga
Falta ao caminheiro
Dentro da algibeira
Um grão de semente
De outra sementeira
O sol vem primeiro
Grande como um sino
Pensa o caminheiro
Que já foi menino
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39
O homem da gaita
Epígrafe para a arte de Furtar (roubamme Deus)
Letra e música: Zeca Afonso
Arménia Rua
Música: Zeca Afonso
Letra: Jorge de Sena
In: Traz outro amigo também
Havia na terra
Um homem que tinha
Uma gaita bem de pasmar
Se alguém a ouvia
Fosse gente ou bicho
Entrava na roda a dançar
jj(Nov-95)
Roubam-me Deus
Outros o diabo
Quem cantarei
Um dia passava
Um sujeito e ao lado
Um burro com louça a trotar
O dono e o burro
Ouvindo a tocata
Puseram-se logo a bailar
Roubam-me a Pátria
e a humanidade
outros ma roubam
Quem cantarei
Sempre há quem roube
Quem eu deseje
E de mim mesmo
Todos me roubam
Partiu-se a faiança
Em cacos c’o a dança
E o pobre pedia a gritar
Ao homem da gaita
Que acabasse a fita
Mas nada ficou por quebrar
Quem cantarei
Quem cantarei
Roubam-me Deus
Outros o diabo
Quem cantarei
O Juiz de fora
Chamado na hora
’Só tenho que te condenar
Mas quero uma prova
Se é crime ou se é trova
Faz lá essa gaita tocar’
Roubam-me a Pátria
e a humanidade
outros ma roubam
Quem cantarei
O homem da louça
Sentado na sala
Levanta-se e põe-se a saltar
Enquanto a rabeca
Não se incomodava
A sua cadeira era o par
Roubam-me a voz
quando me calo
ou o silêncio
mesmo se falo
Aqui d’El Rei.
Pulava o jurista
De quico na crista
Ninguém se atrevia A parar
E a mãe entrevada
Que estava deitada
Levanta-se E põe-se a bailar
Vá de folia vá de folia
Que há sete anos me não mexia
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23
Eu vou ser como a toupeira
Oh Coimbra do Mondego
Letra e música: Zeca Afonso
In: ’Eu vou ser como a toupeira’, 72
Letra e música: Zeca Afonso (?)
(fado de Coimbra)
A. Guimarães
Eu vou ser como a toupeira
Que esburaca
Penitência, diz a hidra
Quando há seca
Eu vou ser como a gibóia
Que atormenta
Não há luz que não se veja
Da charneca
Oh Coimbra do Mondego
e dos amores que eu lá tive [bis]
quem te não viu anda cego
quem te não ama não vive [bis]
Do Choupal até à Lapa
foi Coimbra meus amores [bis]
e sombra da minha capa
deu no chão abriu em flores [bis]
E não me digas agora
Estás à espera
Penitência diz a hidra
Quando há seca
E se te enfias na toca
És como ela
Quero-me à minha vontade
Não na tua
Ó hidra, diz-me a verdade
Nua e crua
Mais vale dar numa sargeja
Que na mão
De quem nos inveja a vida
E tira o pão
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37
No vale de Fuenteovejuna
Grândola Vila Morena
Música: Zeca Afonso
Letra: Lope de Vega; (versão de) Natália Correia
In: ’Contos velhos rumos novos’,
Letra e música: Zeca Afonso
In: ’Cantigas do maio’, 1971
Arménia Rua
J.João (letra incompleta: não consegui entender uma parte do refrão)
Grândola, vila morena
Terra da fraternidade
O povo é quem mais ordena
Dentro de ti, ó cidade
No vale de Fuenteovejuna
cabelos aos vento estava
seguida pelo cavaleiro
o da cruz de Calatrava
entre a ramada se esconde
de vergonhosa e turbada
Dentro de ti, ó cidade
O povo é quem mais ordena
Terra da fraternidade
Grândola, vila morena
-Para que te escondes
moça formosa
desejos ???
paredes removem
Em cada esquina um amigo
Em cada rosto igualdade
Grândola, vila morena
Terra da fraternidade
Acercou-se o cavaleiro
e ela confusa e turbada
gelosias quis fazer
das ramas emaranhadas
Terra da fraternidade
Grândola, vila morena
Em cada rosto igualdade
O povo é quem mais ordena
mas como tem amores
as montanhas e os mares
atravessa facilmente
disse-lhe estas palavras
À sombra duma azinheira
Que já não sabia a idade
Jurei ter por companheira
Grândola a tua vontade
-Para que te escondes
moça formosa
desejos ???
paredes removem
Nota:
No vale de Fuenteovejuna
cabelos aos vento estava
seguida pelo cavaleiro
o da cruz de Calatrava
entre a ramada se esconde
de vergonhosa e turbada
Hoje houvi na rádio a seguinte história: Algumas destas quadras forma proibidas pela censura! No entanto, num concerto (Coliseu?) quando chegou a altura dessas quadras, Zeca
Afonso cantou ’la la la’ e o público em coro cantou a letra que
faltava!
Claro que nem a PIDE o podia impedir!
-Para que te escondes
moça formosa
desejos ???
paredes removem
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25
Já o tempo se habitua
Letra e música: Zeca Afonso
In: ’Contos velhos rumos novos’
Arménia Rua
Já o tempo Se habitua
A estar alerta
Não há luz Que não resista
À noite cega
Já a rosa Perde o cheiro
E a cor vermelha
Cai a flor Da laranjeira
À cova incerta
Nota:
Balada de inspiração Brassens, define simultaneamente um
estado de espírito e uma autobiografia, uma crise de consciência (destruição do sentimento de remorso) e uma meio social
(os prostíbulos do ’Terreiro da Erva’ ou os seus sucedâneos
mais ou menos bem iluminados.
Zeca Afonso, ’Cantares’
Água mole Água bendita
Fresca serra
Lava a língua Lava a lama
Lava a guerra
Já o tempo Se acostuma
À cova funda
Já tem cama E sepultura
Toda a terra
Nem o voo Do milhano
Ao vento leste
Nem a rota Da gaivota
Ao vento norte
Nem toda A força do pano
Todo o ano
Quebra a proa Do mais forte
Nem a morte
Já o mundo Se não lembra
De cantigas
Tanta areia Suja tanta
Erva daninha
A nenhuma Porta aberta
Chega a lua
Cai a flor Da laranjeira
À cova incerta
Nem o voo Do milhano ...
Entre as vilas E as muralhas
Da moirama
Sobre a espiga E sobre a palha
Que derrama
Sobre as ondas Sobre a praia
Já o tempo
Perde a fala E perde o riso
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35
No lago do Breu
Perde o amor
Letra e música: Zeca Afonso
(fado de Coimbra)
Fernando Carvalho, Fernando Pais
Ré
No lago do Breu,
Sem luzes no céu nem bom Deus
Lá
Que venha abrasar os ateus,
Ré
No lago do Breu.
No lago do Breu,
A noite não vem sem sinais
Que fazem tremer os mortais,
No lago do Breu.
Lá
Mas quem não for mau, não vá
Ré
Que o céu não se comprará
Lá
Não vejo a razão p’ro ser
Ré
Quem teme e não quer viver
Sol- Ré
Sem luzes no céu só mesmo como eu
Lá
Ré
No lago do Breu.
No lago do Breu,
Os dedos da noite vão juntos
Para amortalhar os defuntos,
No lago do Breu.
No lago do Breu,
A lua nasceu mas ninguém
Pergunta quem vai ou quem vem
No lago do Breu.
Mas quem não for mau, não vá
Que o céu não se comprará
Não vejo a razão p’ro ser
Quem teme e não quer viver
Sem luzes no céu só mesmo como eu,
No lago do Breu.
No lago do Breu,
Meninas perdidas eu sei,
Mas só nestas vidas me achei,
No lago do Breu.
34
27
Maria Faia
Natal dos simples
Letra e música: popular: Beira-Baixa
Intérprete: Zeca Afonso
In: traz outro amigo também
Letra e música: Zeca Afonso
In: Cantares de Andarilho
(reis, janeiras, canção de natal)
jj; Creissac(Jan-96) (Malpica :moda da azeitona)
Arménia Rua
Am
E
Eu não sei como te chamas
Am
oh Maria Faia
G
C
nem que nome te hei-de eu pôr
E
Vamos cantar as janeiras
Vamos cantar as janeiras
Por esses quintais adentro vamos
Às raparigas solteiras
Am
oh Maria Faia oh Faia Maria
cravo não que tu és rosa
oh Maria Faia
Rosa não que tu és flor
oh Maria Faia oh Faia Maria
Vamos cantar orvalhadas
Vamos cantar orvalhadas
Por esses quintais adentro vamos
Às raparigas casadas
Vira o vento e muda a sorte
Vira o vento e muda a sorte
Por aqueles olivais perdidos
Foi-se embora o vento norte
Não te quero chamar cravo
Que te estou a engrandecer
Chamo-te antes espelho
Onde espero de me ver
Muita neve cai na serra
Muita neve cai na serra
Só se lembra dos caminhos velhos
Quem tem saudades da terra
O meu abalou
Deu-me uma linda despedida
Abarcou-me a mão direita
Adeus oh prenda querida
Quem tem a candeia acesa
Quem tem a candeia acesa
Rabanadas pão e vinho novo
Matava a fome à pobreza
Nota:
Se fôr muito baixo tentar: Dm A Dm C F A Dm
28
Já nos cansa esta lonjura
Já nos cansa esta lonjura
Só se lembra dos caminhos velhos
Quem anda à noite à ventura
33
Milho verde
Menina dos olhos tristes
Letra e música: popular: Beira-Baixa
Intérprete: Zeca Afonso
Música: Zeca Afonso
Letra: Reinaldo Ferreira
Intérprete: Adriano Correia de Oliveira; Zeca Afonso
Jorge Pinto
jj(fev.96)
Milho verde, milho verde
Milho verde maçaroca
À sombra do milho verde
Namorei uma cachopa
Em
Menina dos olhos tristes
Am
Em
o que tanto a faz chorar
G
Am
o soldadinho não volta
Milho verde, milho verde
Milho verde miudinho
À sombra do milho verde
Namorei um rapazinho
h7
Em
do outro lado do mar
Em
h7
Em
Vamos senhor pensativo
olhe o cachimbo a apagar
o soldadinho não volta
do outro lado do mar
Milho verde, milho verde
Milho verde folha larga
À sombra do milho verde
Namorei uma casada
Senhora de olhos cansados
porque a fatiga o tear
o soldadinho não volta
do outro lado do mar
Mondadeiras do meu milho
Mondai o meu milho bem
Não olhais para o caminho
Que a merenda já lá vem
Anda bem triste um amigo
uma carta o fez chorar
o soldadinho não volta
do outro lado do mar
A lua que é viajante
é que nos pode informar
o soldadinho já volta
está mesmo quase a chegar
Vem numa caixa de pinho
do outro lado do mar
desta vez o soldadinho
nunca mais se faz ao mar
Nota:
Zeca Afonso: ’Menina dos Olhos Tristes’ Single Orfeu STAT803 1969
Zeca Afonso: ’De Capa e Batina’ CD Movieplay JA-8000
1996
32
29
Menino de oiro
Menino d’oiro
Letra e música: Zeca Afonso
In: ’As primeiras canções’
(fado de Coimbra)
Letra e música: Zeca Afonso
In: ’As primeiras canções’
(canção de Coimbra)
Fernando Carvalho
Aménia Rua
O meu menino é d’oiro
É d’oiro fino
Não façam caso que é pequenino
O meu menino é d’oiro
D’oiro fagueiro
Hei-de levá-lo no meu veleiro.
O meu menino é d’oiro
É d’oiro fino
Não façam caso
Que é, pequenino
Não façam caso
Que é pequenino
Venham aves do céu
Pousar de mansinho
Por sobre os ombros do meu menino
Do meu menino, do meu menino
Venha comigo venham
Que eu não vou só
Levo o menino no meu trenó.
O meu menino é d’oiro
D’oiro fagueiro
Hei-de levá-lo
No meu veleiro
Hei-de levá-lo
No meu veleiro
Quantos sonhos ligeiros
p’ra teu sossego
Menino avaro não tenhas medo
Onde fores no teu sonho
Quero ir contigo
Menino de oiro sou teu amigo
Venham altas montanhas
Ventos do mar
Que o meu menino
Nasceu p’r’amar
Venha comigo venham
Que eu não vou só
Levo o menino no meu trenó.
Venham aves do céu
Pousar de mansinho
Por sobre os ombros
Do meu menino
Do meu menino
Do meu menino
Venham comigo venham
Que eu não vou só
Levo o menino
No meu ternó
Levo o menino
No meu ternó
O meu menino é d’oiro
É d’oiro é de oiro fino
Não façam caso que é pequenino
O meu menino é d’oiro
D’oiro fagueiro
Hei-de levá-lo no meu veleiro.
Venham altas montanhas
Ventos do mar
Que o meu menino
Nasceu p’r’amar
Venha comigo venham
Que eu não vou só
Levo o menino no meu trenó.
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