Escolas rurais no Brasil o retrato de Córrego do Ouro – GO
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Escolas rurais no Brasil o retrato de Córrego do Ouro – GO
Escolas rurais no Brasil o retrato de Córrego do Ouro – GO1 Levi dos Santos2, Dejane Paulino3, Gloria Dark Martins4, Kenia de Andrade5, Edison Fernando Pompermayer6, Itamar Pereira de Oliveira7 Resumo: Esta pesquisa tem como proposta verificar a oferta do Ensino Fundamental para Crianças da Zona Rural no Município de Córrego do Ouro, discursando teoricamente sobre como está o ensino na zona rural, abordando ainda o povoado de Carmolândia-GO, tendo como foco principal as leis educacionais vigentes, bem como autores renomados como: Bof (2006), Campos (2004), Freitas (1980), Fernandez (1999), Nepomuceno (1994), Nagle (2001), Ribeiro (2001), Romanelli (1993), Saviani (2000) e autoras Correligionarias Santana e Silva (2002) e pesquisa de campo, com a pretensão de diagnosticar as condições atuais dos alunos da zona rural, suas famílias, coordenadores e professores, sem, contudo esgotar o assunto. Este estudo tem ainda a intenção de despertar o interesse de pesquisadores e políticos, para os problemas da educação do campo, existentes já na formação da base da educação rural no Brasil, colaborando para a existência das dificuldades percebidas aqui como resultado deste estudo, na importância deste tipo de pesquisa para o ensino rural brasileiro. Palavras chave: Dificuldades. Educação Rural. Ensino. Escola. Abstract: This research proposal is to check the quantity of elementary school to Children in Rural Area in the City of Córrego do Ouro, and theoretically discuss how the education in rural areas is still approaching the town of Carmolândia-Go, focusing on the main current education laws, as well as renowned authors such as: Bof (2006), Campos (2004), Freitas (1980), Fernandez (1999), Nepomuceno (1994), Nagle (2001), Ribeiro (2001), Romanelli (1993), Saviani (2000) and the authors from Córrego do Ouro Santana and Silva (2002). As field research with the intention of diagnosing the current conditions of rural students their families, coordinators and teachers were consulted without putting end the subject. This study also intends to awaken the interest of researchers and policy makers to the problems of rural education, which are already in the formation of basic rural education in Brazil, adding to the existence of the difficulties perceived here as a result of this study, the importance his type of research for teaching rural areas. This study also intends to awake the interest of researchers and policy makers to the problems of rural education, which are already in the formation of basic rural education in Brazil, adding to the existence of the difficulties perceived here as a result of this study, the importance of this type of research for teaching rural areas. Key-Words: Difficulties.Rural Education. School. Teaching. 1 Artigo produzido para conclusão do curso de Direito da Faculdade Montes Belos (FMB). Acadêmico do curso de Direito da FMB. 3 Acadêmica do curso de Direito da FMB. 4 Acadêmica do curso de Direito da FMB. 5 Acadêmica do curso de Direito da FMB. 6 Professor orientador da FMB. 7 Professor orientador da FMB. 2 Revista Faculdade Montes Belos, v. 5, n. 3, Maio 2012 2 L. Santos et al. 1.0. Introdução Escolas rurais no Brasil o retrato de Córrego do Ouro - GO específica dos profissionais que provêm o ensino nas escolas do campo e tendo em vista a “Ninguém nasce educador ou marcado para ser educador; a gente se faz educador; a gente se forma como educador, permanentemente na prática”. Paulo Freire imprescindível valorização das especificidades do ambiente rural em relação ao ambiente urbano, bem como a diversidade cultural e social que os distingue, esta pesquisa se propõe a identificar os saberes dos docentes das Escolas Rurais do Nos últimos anos o Brasil tem buscado cada Município de Córrego do Ouro - GO, buscando vez mais consolidar-se no cenário mundial como compreender como estes saberes são articulados às grande produtor e exportador de produtos do suas práticas pedagógicas. Bem como verificar o agronegócio. A valorização do campo como setor papel destas escolas rurais na formação histórica, econômico proeminente não gerou, no entanto, social e ambiental da comunidade de Carmolândia- preocupação com a melhoria do ensino rural de GO entrevendo assim analisar suas ações. Para acordo com os dados do SAEB (2004). tanto, tal investigação poderá aguçar a promoção de Desta forma, juntamente com a constatação discussões, estimularem a atualização profissional e do SAEB (2004) e ainda com a experiência em o processo de formação continuada, e ainda instigar escolas rurais teve-se por base a inspiração para este a busca de instrumentos teóricos a cerca da história trabalho, cujo objetivo é investigar a problemática e da sociedade, analisando o paradigma da escola que envolve essa modalidade educacional. Pois, rural, desde os jesuítas e seus valores para a entende-se que a escola rural deveria ser um grande sociedade brasileira especialmente a comunidade campo de pesquisas científicas fornecedor de novas campesina. tecnologias e técnicas de manejo, bem como ambiente privilegiado de capacitação de mão-deobra especializada, já que a grande riqueza do país 2.0. Um breve olhar histórico sobre a educação rural no Brasil está na zona rural. Entretanto a visão de muitos a respeito do ensino rural entra em contraste com os Sabe-se que a educação rural no Brasil dados fornecidos pelo MEC/INEP de 2000 a 2006 sempre foi deixada em segundo plano, apesar da os quais indicam que “foram desativados 23.174.00 grande maioria das pessoas viverem no campo. estabelecimentos de ensino no campo, um dado Uma das explicações para este descaso encontra-se incômodo para um país que necessita desenvolver no fato de que muitas pessoas de condições especialmente nessa área”. melhores que o restante da população mandava seus Sendo assim, cientes da contribuição da filhos estudarem fora do país ou pagavam um prática da Educação ambiental nas escolas rurais, professor particular para seus filhos. Aqueles, levando em conta a necessidade de capacitação entretanto, que não contavam com uma situação Revista Faculdade Montes Belos, v. 5, n. 3, Maio 2012 3 L. Santos et al. Escolas rurais no Brasil o retrato de Córrego do Ouro - GO financeira semelhante, recebia pouca instrução, isso exclusivamente na população analfabeta, pois porque para os fazendeiros o ensino era visto como crescia a necessidade de mão-de-obra qualificada forma de ascensão social,não cabendo aos filhos de para o trabalho, daí a mudança de mentalidade. trabalhadores esse direito. Pois, sabe-se que, antes da década de 30 a escolarização era apenas para os homens públicos e O entusiasmo pela educação e o otimismo pedagógico, que tão bem caracterizam a década de 1920, começaram por ser, no decênio anterior, uma atitude que se desenvolveu nas correntes de idéias e movimentos políticosociais e que consistia em atribuir importância cada vez maior ao tema da instrução, nos seus diversos níveis e tipos. [...] (NAGLE, 2001, p. 135). Ao falar de otimismo pedagógico, Nagle deixa claro que se tratava de uma situação característica da realidade urbana, uma vez que a sociedade brasileira da década de 20 enfrentava sérios problemas, dentre eles o analfabetismo e o desafio de estender a educação primária, como obrigatória e de responsabilidade pública, em um contexto de crescimento industrial. Sobre o papel da educação nessa época: ricos. A respeito dessa mudança de mentalidade: Apenas na década final da Primeira República a situação vai ser alterada com o aparecimento do “técnico” em escolarização, a nova categoria profissional; este é que vai daí por diante tratar, com quase exclusividade dos assuntos educacionais. [...]. De qualquer modo, a estratégia de luta se altera e, com isso, o antigo ideario que supervalorizava a escolarização dá lugar a um conjunto de princípios relacionados com as questões de ordem política, econômica e social. Nesse conjunto, o tema da escolarização ocupa um lugar sem muito desataque e, ao mesmo tempo, se apresenta muito restrito quanto ao seu conteúdo (NAGLE, 2001, p. 136). Assim a história do ensino rural no Brasil Speyer (1983, p. 19) pondera que “a sociedade brasileira nasce no meio rural: é neste meio que ela surge e se organiza”. Entretanto este mesmo [...] a escolarização é tida como um dos elementos do subsistema cultural, portanto, um elemento que deve ser analisado e julgado em combinação com os demais elementos da cultura brasileira, e com as condições da existência social definidas na exposição dos setores político, econômico e social. Aceitandose a idéia de que a sociedade brasileira do tempo passa de uma “sociedade fechada” para uma “sociedade aberta”, torna-se necessário identificar o papel que a escolarização desempenhou, no sentido de favorecer ou dificultar a passagem (NAGLE, 2001, p. 133). ambiente rural recebe poucos investimentos e dia após dia se testemunha o fechamento de escolas ou seu funcionamento em situações de decadência. Sendo assim, ao longo das décadas, a história da educação no Brasil tem mostrado que esteve a serviço do poder dominante, e aos filhos de camponeses restava apenas à educação em classes multisseriadas, onde os alunos estudavam todos Neste instante a educação toma outra juntos, mesmo que cursando séries diferentes. Hoje dimensão após a década de 30, uma vez que o ainda existem locais com práticas e metodologias modelo vigente agroexportador passava por um semelhantes. processo de transformação, fato este ligado à industrialização. O problema já não se centralizava Revista Faculdade Montes Belos, v. 5, n. 3, Maio 2012 4 L. Santos et al. Escolas rurais no Brasil o retrato de Córrego do Ouro - GO a redução dos salários dos professores e o fechamento de diversas escolas. 2.1. A educação rural em Goiás A educação em Goiás inicia-se no mesmo Percebe-se assim, claramente que em Goiás período em que a mineração do ouro na região foi a educação não era prioridade, pois, um Estado que impulsionada no século XVII. Uma vez que a pensa que conter gastos públicos é reduzir salários mesma também não era prioridade dos governantes, dos professores, que já ganhava pouco ou fechar pois o interesse girava em torno da exploração do escolas é mesmo uma despautério. Desta forma, é metal em solo goiano bem como o de outros visível que a educação da classe popular ou minérios. educação nacional não era considerada como algo Na capitania de Goiás os padres representavam a parte mais culta da sociedade. Os primeiros professores públicos chegam nessa região somente em 1788, sendo três professores de primeiras letras para Vila Boa (cidade de Goiás), Meia Ponte (Pirenópolis) e Pilar, dois de latinidade e um de retórica. A primeira escola aqui fundada data de 1787, estava localizada na atual cidade de Pirenópolis. A segunda escola foi criada em Santa Luzia, atual cidade de Luziânia. No final da primeira década do século XIX, em todo território goiano, existiam apenas quatorze professores, sendo a maioria presentes na capital Vila Boa (PALACIN, et al. 1995, p. 134). Assim a educação em Goiás não foi diferente do resto do país, isso porque inicialmente estava voltada para a educação religiosa. E quando essa não era dada pelos padres religiosos, era importante, já que os filhos dos grandes fazendeiros estudavam fora. Em relação à educação nas fazendas em Goiás: A fazenda Dumbazinho recebeu instruções para que os meninos aprendessem a indústria pastoril e a catequeses, para que depois que voltassem as suas aldeias, ensinasse aos seus irmãos os conhecimentos industriais, além de servirem de interpretes entre os cristãos e suas tribos. [...] Para facilitar a catequese, criaram-se os aldeamentos no século XVIII, com o objetivo, dentre outros, de programar as escolas para ensinar a ler e escrever, aprender a religião e a língua dos portugueses. As meninas aprenderiam a fiar, tecer e coser, já os meninos ocupariam de ofícios como o de carpinteiro e ferreiro e cuidados com a lavoura e pecuária, destinados também aos adultos (VALDEZ, 2002, p. 59). ministrada por professores sem qualificação e o governo não colaborava para sua melhoria, reduzindo os salários dos professores. Percebe-se pela fala da autora que, a implantação da educação rural em Goiás tinha duplo sentido, ou seja, tanto servia a educação Nessa linha de pensamento Palacin et al. (1995, p. 134) continua enfatizando como era vista a educação em Goiás dizendo: voltada ao catolicismo quanto aos interesses dos grandes fazendeiros. Sem contar que a educação era voltada para as funções menos importante, visto que, nesse século a educação era vista como algo Para piorar ainda mais a educação em Goiás, no início do século XIX, em decorrência da política governamental de contenção de gastos públicos, o então governador da capitania Francisco de Assis Mascarenhas, o Conde de Palma, ordenou desnecessário para os filhos das classes pobre. Conclui-se assim que, a educação rural em Goiás não teve como em outros estados, uma Revista Faculdade Montes Belos, v. 5, n. 3, Maio 2012 5 L. Santos et al. Escolas rurais no Brasil o retrato de Córrego do Ouro - GO grande importância, já que, a falta de investimentos A cidade de Córrego do Ouro está localizada e a vontade política sempre prevaleceram em a 162 quilômetros de Goiânia, e de acordo com o relação ao assunto. Como já foi colocado na censo de 2010, conta com aproximadamente 2.632 introdução, estudar a educação rural é o foco habitantes. Situada próxima aos municípios de principal deste trabalho, mas não a educação no Buriti de Goiás, Fazenda Nova, Sanclerlândia, São âmbito geral, mas sim, a educação rural em Luís de Montes Belos e Mossâmedes, Córrego do Carmolândia que é um povoado da cidade de Ouro concentrando cerca de 50% de sua população Córrego do Ouro. na zona rural e integra a microrregião de Iporá, como se pode observar no mapa abaixo: 3.0. História e educação em Córrego do ouro GO Figura 1 - Localização geográfica da cidade de Córrego do Ouro. improvisaram uma igreja, e daí em diante foram Suas origens remontam ao período de 1934 que contaram com os esforços do Padre Alexandre Pereira. Suas excelentes terras e a construção de uma ponte sobre o Rio Fartura favoreceram a vinda de várias famílias com vistas à agropecuária. Para acelerar o desenvolvimento urbano, foi efetuada a doação de uma gleba para a formação do patrimônio,por Benedito Cordeiro de Paula, Benedito Cordeira da Silva, Benedito Abadia Monteiro, Antônio Jacó de Araújo, Augusto e Ivo Pires de Faria. Em torno de um surgindo às primeiras moradias, com predominância de elementos ligados à agricultura e à pecuária. Crescendo gradativamente, em seis de outubro de 1948 o povoado passou a distrito da Cidade de Goiás, pela Lei Municipal nº 6 da Câmara Municipal de Goiás. A autonomia foi concedida pela Lei Estadual nº 776, de 24 de setembro de 1953, instalando-se o município em 1º de janeiro de 1954, desmembrando-se da Cidade de Goiás. Seu nome está ligado ao córrego de igual nomenclatura, rancho, Revista Faculdade Montes Belos, v. 5, n. 3, Maio 2012 6 L. Santos et al. Escolas rurais no Brasil o retrato de Córrego do Ouro - GO que banha o município e o acréscimo “ouro” local”. Ao final dos anos cinqüenta, foi eleito o relembra o metal de dali era extraído. senhor João Camilo do Couto, o qual governou até 1961. Neste mesmo ano, José Ferreira Morato Com a transformação de Córrego do Ouro em distrito, a comunidade passou a viver um período de euforia. O progresso precisava acontecer. O povoado aumentava, com o surgimento do comércio e das escolas. [...] na alma do povo havia a vontade de progredir e começaram a surgir, então, as primeiras idéias de emancipação. Córrego do Ouro precisava marcar presença entre os municípios goianos. E foi com esse espírito que o povo se mobilizou para a luta em prol da independência do município. Em 1950, Córrego do Ouro já contava com uma população aproximadamente nove mil habitantes [...] (SANTANA & SILVA, 2002, p. 41). assumiu a prefeitura, e logo de início assinou um Foram anos de busca incessante pela filhos a ler a escrever, visando com isso à emancipação do distrito, marcados por diversas manutenção dos negócios da família, ou seja, manifestações e lutas para que o distrito passasse à assinar o nome e a se ocupar com a contabilidade condição de município. Tal fato se concretizou com dos negócios familiares. Desta forma, a educação a Lei nº. 776/53, conforme recorte do Diário Oficial formal era privilégio dos filhos de quem tinha mais, do Estado nº. 6.971, de 12/11/1953: isso porque o Estado não assumia a educação, e os convênio entre a prefeitura e o DERGO. Além disso, construíram as escolas das regiões de Cana Brava, Cedro e Espírito Santo e o cemitério municipal. Sabe-se que desde os primórdios da humanidade, sempre houve a idéia de uma educação para a elite e para as classes mais baixas. E os pais se preocupavam apenas em ensinar os pais que tivesse vontade de ensinar um pouco mais, Lei nº. 776/53, cria o município de Córrego do Ouro e dá outras providencias. A Assembléia Legislativa do Estado de Goiás decreta e eu promulgo a seguinte Lei: Art. 1º - fica desmembrado do município de Goiás e eleva à categoria de município, o atual distrito de Córrego do Ouro. Art. 2º - o município de Córrego do Ouro constituirá Termo de Comarca de Goiás. Art. 3º a sede do município será a atual Vila do Córrego do Ouro, a que se confere o título de cidade. Assim, em 1955 o senhor Belmiro Alexandrino da Costa foi eleito como prefeito da cidade, administrando-a até 1959. Nesse período, a cidade cresceu bastante, como relata Santana e Silva (2002, p. 51), “diversas repartições públicas foram criadas, entre elas uma agência postal telegráfica, e instalaram-se as sedes da Prefeitura, da Câmara Municipal, da coletoria e da Delegacia pagavam professores para trabalharem dentro da sua própria casa. E em Córrego do Ouro não era diferente. Segundo Santana & Silva (2002, p. 81), “o primeiro professor particular a chegar à região foi o Sr. Domingos [...] que ministrava as aulas na casa de Alexandre Jacob para os filhos destes”. É importante ressaltar que, a construção de escolas em alguns locais incentivava a procura pelas mesmas, pois a visão do então prefeito era difundir o ensino o que não era muito comum em Goiás. Percebe-se que, sua visão era voltada para uma educação rural, pois ao construir as escolas nesses locais além de educar, deixava claro que as pessoas não precisariam sair do seu local para levar os filhos para a cidade de Córrego do Ouro. Pode ser que Revista Faculdade Montes Belos, v. 5, n. 3, Maio 2012 7 L. Santos et al. Escolas rurais no Brasil o retrato de Córrego do Ouro - GO esse seja o motivo da grande maioria da população Essa escola permanece funcionando devido a até hoje concentrar-se na zona rural. Percebe-se que questões políticas, pois a família do Sr. Clarimundo a visão do então prefeito era bastante inovadora, já o fundador da escola atua constantemente na que tinha a preocupação que não era comum em política local. Goiás, preocupar-se com a educação para ajudar as pessoas ficarem no local onde viviam. As comunidades vizinhas à cidade de Córrego do Ouro começaram a se preocupar O Povoado de Carmolândia foi escolhido também com a educação de seus filhos e fundaram para o estudo, por querer conhecer um pouco mais outras escolas na zona rural. Mas foi na gestão de sobre a educação local, já que sempre foi José Ferreira Morato, que foi criada a Escola incentivada pelos prefeitos no decorrer da história. Municipal Bananal, situada à esquerda da rodovia A partir da emancipação do município, que data de Córrego do Ouro – Fazenda Nova e teve início das 1954 foram oficializadas as escolas municipais. As suas atividades em 1966. No entanto, não existe escolas citadas a seguir estão todas inseridas no registro da mesma, pois um incêndio queimou toda município de Córrego do Ouro. documentação referente a essa escola. A Escola Municipal Boa Vista foi construída A Escola Municipal Lageado foi fundada em no mandato do prefeito Belmiro Alexandrino da 1967 e teve como seu primeiro professor o Sr. João Costa, situada às margens do córrego Confusão, na Evaristo Sobrinho e fica a margem do Córrego Fazenda de João Moitinha, a mesma iniciou suas Lageado. Todas as escolas citadas acima foram atividades em abril de 1954 e teve como primeiro fechadas no ano de 2001, primeiramente por professor Constantino Veloso dos Santos. incentivo do então prefeito da cidade de Córrego do A Escola Simão Vaz, situada na fazenda de Ouro e também porque já não havia tantos alunos mesmo nome do Sr. Augustinho Simão Vaz, foi na região, já que, a maioria das pessoas se fundada em 1954, sendo que esse local onde situava deslocava para a cidade ou então para outro país, ou a escola se tornou um pequeno povoado, mas seja, a causa maior é o êxodo rural. A causa do mesmo sendo dentro de um povoado a escola não abandono da zona rural e o deslocamento para a resistiu e fechou. cidade de Córrego do Ouro e também para outras A Escola Reunida Cedro, foi fundada em cidades vizinhas é uma das conseqüências do êxodo 1962, e ficava localizada na Fazenda Cedro, rural, pois além do incentivo do então prefeito em pertencente retirar as crianças das escolas rurais e levá-las para à família Pereira, fazenda de propriedade do Senhor Divino Pereira. A Escola Estadual de Carmolândia foi a cidade temos também os movimentos que ocorreram no país nos séculos XIX e XX. Essa fundada em 1964 e está localizada no povoado de retirada das crianças incentivou os pais a mudarem Carmolândia, sendo que a mesma é a única que para as cidades para não ver seus filhos usarem permanece funcionando até hoje e com 85 alunos. transporte escolar mal conservado e também Revista Faculdade Montes Belos, v. 5, n. 3, Maio 2012 8 L. Santos et al. Escolas rurais no Brasil o retrato de Córrego do Ouro - GO percorrerem grandes distancia para chegarem às isso ocasiona um problema muito grande que o país escolas dos centros urbanos. tem enfrentado desde a década de 70, o êxodo rural “A educação no meio rural”: [...] a educação rural oferecida tem sido criticamente analisada como um instrumento de reprodução e expansão da estrutura agrária. Argumenta-se que a educação oferecida à população do meio rural é uma educação em que predomina uma concepção „urbana‟ de vida e desenvolvimento, em que não há uma valorização da cultura, do modo de vida, dos valores e concepções do homem e mulher do campo, como se a vida e a cultura do campo estivesse condenada a extinção ou fosse de inferior qualidade (BOF, 2006, p. 75). que já foi discutido anteriormente. 4. 0. A oferta do ensino fundamental para crianças da zona rural no município de Córrego do ouro. Para que uma escola seja considerada rural não basta apenas localizar-se em um espaço geográfico diferenciado do urbano. Deve antes apresentar outras características, o que levou o Desta forma, percebe-se que, a educação oferecida na zona rural e na zona urbana no IBGE a definir esta modalidade de escola da seguinte maneira: município de Córrego do Ouro, corrobora a fala da autora, pois, os conteúdos ministrados na escola são os mesmos trabalhados em qualquer parte do país, ou seja, a matriz curricular já vem pronta e os professores colocam-nas em prática. O art. 28 da LDB 9394/96: [...] pouco dessa legislação foi colocada em prática. Embora tenha colaborado para que as constituições dos Estados determinassem a adaptação dos currículos e calendários as características e necessidades das regiões, pouco deles especificaram e programaram com mais detalhes sua política de educação na área rural, dissociada de uma visão urbana de educação (BOF, 2006, p. 74). As escolas do campo são aquelas que têm sua sede no espaço geográfico classificado pelo IBGE como rural, assim como as identificadas com o campo, mesmo tendo sua sede em áreas consideradas urbanas. Essas últimas são assim consideradas porque atendem a populações de municípios cuja produção econômica, social e cultural está majoritariamente vinculada ao campo (BRASIL, 2007, p. 27). De acordo com a classificação do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), a escola de Carmolândia, que fica no município de Córrego do Ouro se enquadra como rural, pois além de estar inserida num povoado, atende às crianças advindas do campo. O estabelecimento em questão Por isso é importante que cada professor tenha consciência de que, cada grupo de alunos é diferente e deve ser respeitada, e acima de tudo deve-se ter atenção redobrada com os alunos advindos da zona rural, para que eles não tenham uma visão distorcida do seu meio e leve-os a atende 85alunos, utiliza os serviços de pessoas com formações diversificadas, entre elas: pedagogia, letras, história, normal superior, e nível médio, como magistério, pré-formação e contabilidade, além de contar com duas merendeiras que também fazem o serviço geral. buscarem as cidades e saírem do meio onde vive, Revista Faculdade Montes Belos, v. 5, n. 3, Maio 2012 9 L. Santos et al. Escolas rurais no Brasil o retrato de Córrego do Ouro - GO Como já foi apresentado em nossa pesquisa, A diferenciação que caracteriza a um dos grandes problemas da educação do campo organização do corpo docente de Carmolândia faz concentra-se na formação dos professores. De com que os profissionais desta escola se adaptem acordo com Bof (2006, p. 35) “O nível de mais rapidamente às orientações da LDB escolaridade dos professores revela, mais uma vez, 9394/96, que determina que os professores devam a condição de carência da zona rural”. No ensino ter o ensino superior completo ou em fase de fundamental de 1ª a 4ª série, apenas 9% apresentam conclusão até o ano de 2010 para estarem em sala formação superior, enquanto na zona urbana esse de aula. contingente representa 38% dos docentes. Na Escola Municipal de Carmolândia a situação apresenta-se de forma diferenciada, já que 90% dos professores possuem nível superior, com exceção de alguns que trabalham fora da área de formação. No Ensino Fundamental, todos os profissionais são formados em pedagogia. Percebe- De modo geral, o universo da educação no meio rural é ainda bastante marcado pela presença das escolas isoladas multisseriadas que possuem um único professor (a) para duas, três e até quatro séries diferentes. Em 2002, 62% das escolas primárias brasileiras e 74% das classes de 1ª a 4ª séries estavam localizadas em áreas rurais e 95% das escolas com apenas uma sala de aula (aproximadamente 60 mil) encontravam-se no meio rural (BOF, 2006, p.71). se que, essa formação ocorre pelo fato do povoado de Carmolândia ficar próximo à cidade de São Luís, Todavia, a descrição de Bof para a maioria que é considerada uma cidade universitária, pois das escolas brasileiras não se aplica totalmente na além da Universidade Estadual de Goiás oferecer os escola de Carmolândia, objeto da pesquisa, pois a – mesma, apesar de possuir salas multisseriadas Laticínios, agrega no máximo duas turmas na mesma sala, e as Parcelada em História, Parcelada em Educação outras de um total de oito são utilizadas apenas por Física; a cidade conta também com a FMB – uma turma. A afirmação de Bof quanto ao tipo de Faculdade Montes Belos, a qual oferece diversos educação ministrada no meio rural está em cursos, Contabilidade, desacordo com a escola pesquisada, isso porque a Enfermagem, escola tem salas individuais e ainda mais, tem salas Farmácia, Fisioterapia, cursos técnicos em Gestão que atendem no máximo cinco alunos, isso devido Ambiental, Tecnologia em Alimentos entre outros. aos pais não aceitarem que os filhos sejam Em Sanclerlândia, cidade vizinha à Córrego do transportados para a cidade de Córrego do Ouro, já Ouro, tem - se a UEG com os cursos de que muitos moram longe da cidade e tem que passar Administração e Licenciatura em Informática. por um longo percurso de ônibus e estradas ruins Pensa-se que daí vem o grande número de pessoas para chegarem à escola, e, além disso, existem na diplomadas. escola pesquisada vários professores preparados e cursos de Pedagogia, português/inglês, Direito, Pedagogia Zootecnia, Tecnologia em Administração, regular e parcelada, Letras formados para atender a clientela. Revista Faculdade Montes Belos, v. 5, n. 3, Maio 2012 10 L. Santos et al. Escolas rurais no Brasil o retrato de Córrego do Ouro - GO A maioria dos alunos advém de classe Carmolândia para estudarem. Só que podemos econômica de poder aquisitivo baixo sendo verificar divergências na fala do MEC e na composta de filhos de moradores de fazenda, sítio, realidade vivida pelo município pesquisado, já que chácara e povoado. Para atender a demanda local a a escola é bastante adequada para receber as escola funciona com os turnos matutinos e crianças. vespertinos. Desta forma, muitas dificuldades são enfrentadas pelos alunos no trajeto de suas casas até 4.1 A escola da zona rural: o olhar dos a escola. Segundo a coordenadora da Escola coordenadores, educadores, educandos e Municipal de Carmolândia, Célia Maria Rosa pais de alunos. Cavalcante Prudente, um dos principais problemas está relacionado ao transporte escolar. Geralmente A fim de analisar como o ensino rural está utilizam-se ônibus, os quais devidos às más sendo ministrado no município de condições das estradas quebram com freqüência e Córrego do Ouro com o propósito de verificar até precisam de constantes reparos. que ponto a educação do campo relaciona-se com a Tal situação repete-se em diversas regiões urbana, realizou - se uma pesquisa de campo com a do país, e tem constituído tema de discussão em coordenadora do estabelecimento, professores que congressos e seminários brasileiros, como o atuam na escola rural, bem como com alunos e seus verificado pelo Ministério da Educação e Cultura pais. (MEC 2004): Segundo a coordenadora da Escola Municipal de Carmolândia, Célia Maria Rosa No ano de 2004 ocorreu a II Conferência Nacional por uma Educação do Campo (IICNEC) organizada por Movimentos Sociais, Movimento Sindical e Organizações Sociais de Trabalhadores e Trabalhadoras do Campo e da Educação; das Universidades, ONGs e de Centros Familiares de Formação por Alternância. Na Conferência discutiu-se sobre o campo e a educação, em especial a preocupação com crianças e adolescentes que estão fora da escola ou que estão em escolas inadequadas ou que precisam ir à cidade para estudar e que a cada dia se descobrem sem alternativas sociais dignas de trabalho e permanência no campo. Cavalcanti Prudente, em resposta a entrevista, enfatizou que não são necessárias alterações no calendário escolar, já que os alunos são crianças pequenas e não trabalham na colheita e nem na plantação das lavouras, também porque os pais dão prioridades aos estudos dos filhos. O calendário escolar é desenvolvido a partir da rede estadual com o intuito do uso do transporte escolar atender todos os alunos, já que a grande maioria usa o transporte Percebe-se assim que, as dificuldades para chegar até a escola. As atividades escolares são verificadas na Conferência Nacional, ocorrem de acordo com o meio que vivem sem perder de igualmente na cidade de Córrego do Ouro, já que vista o mundo lá fora, já as comemorações da diversas crianças e adolescentes precisam se escola deslocar tanto para Córrego do Ouro quanto para comemorativas são em geral do focalizando calendário as local datas e as Revista Faculdade Montes Belos, v. 5, n. 3, Maio 2012 11 L. Santos et al. Escolas rurais no Brasil o retrato de Córrego do Ouro - GO apresentações são de acordo com o meio em que as as condições são restritas, fazendo com que as crianças vivem, ou seja, o meio rural. Não existem famílias migrem para os centros urbanos. Mas, em estratégias a relação aos conteúdos trabalhados na zona rural, ele atração/fascínio envolvendo a zona rural ou zona revela serem os mesmos trabalhados na zona urbana, pois ao trabalhar conforme a matriz urbana, pois o currículo que seguem é o mesmo em curricular advindo da rede estadual, a mesma dá todas as escolas. diferenciadas oportunidade de para flexibilizar minimizar os conteúdos, João Vieira da Mota tem 2º grau completo adaptando-os ao meio em que a criança está em Contabilidade e é também técnico em inserida. A escola trabalha com alunos, cujos pais Bovinocultura de Leite – UEG – Unu de São Luís são preocupados com o desenvolvimento dos de Montes Belos. Foi professor de português e mesmos. Desta forma, alguns pontos que segundo ciências, no período de 2005 a 2011 das turmas de ela os pais vêem ser bom na escola de Carmolândia 6º ao 9º Ano, na Escola de Carmolândia, e estão relacionados com o baixo número de alunos argumenta proporcionando um atendimento individualizado, conhecimento e muita vontade de aprender. Ele professores formados e alguns até pós-graduados e atribui conteúdos de acordo com os parâmetros e o meio enfrentadas pelos pais dos alunos, que, no seu ponto (zona rural). Daí o porquê da escola sobreviver por de vista, motiva-os a se esforçar mais, tendo sempre tantos anos e ser diferente. em vista uma melhoria de vida, o que na maioria Para Weder Alves da Silva, professor de que essas os alunos características têm às um bom dificuldades das vezes significa para eles os valores da sociedade português do sexto (6º) ao nono (9º) ano, da urbana. De acordo com o entrevistado, os conteúdos Escola Municipal de Carmolândia, formado em ministrados Letras Universidade diferenciando-se apenas a forma com que estes são Estadual de Goiás - Unu - Jussara, a questão que trabalhados. Esta metodologia diferenciada tem por envolve a aprendizagem dos alunos da zona rural objetivo não incentivar a busca pela zona urbana, não se diferencia dos demais alunos advindos da mas mesmo assim ela está presente, pensa-se que zona urbana, devido à escola contar com salas de daí venha o desejo incessante pelo meio urbano aula com um número reduzido de alunos em relação presente nos alunos advindos do meio rural, já que à processo essa visão urbana de educação traz embutida a ensino/aprendizagem. O interesse dos alunos da contraposição entre o campo e a cidade. Um dos zona rural em permanecer no campo é pequeno, corolários deste pensamento é o tônico presente principalmente se analisar a própria condição entre os alunos que os leva a pensar numa educação escolar que na maioria das vezes obriga esses que privilegie tudo que está fora do local onde se alunos a procurar novas oportunidades na zona vive, cujo resultado final é o êxodo rural. - cidade, português/inglês o que pela facilita o são os mesmos da cidade, urbana, já que a visão elitista é presente. No campo Revista Faculdade Montes Belos, v. 5, n. 3, Maio 2012 12 L. Santos et al. Escolas rurais no Brasil o retrato de Córrego do Ouro - GO Zilda Lopes de Araújo é formada em Desta forma, fica evidente que a educação Pedagogia e Pós - graduada em Língua Portuguesa oferecida na zona rural deixa clara a visão urbana pela UEG, Unu de Jussara, trabalha com o 5º ano de educação. Seja por falta de adequação curricular em Carmolândia. Enfatiza que os alunos pensam e buscando fixar as pessoas do campo na terra como agem da mesma forma que os alunos da zona os próprios professores dizem fazer, ou pela falta de urbana, apenas a escola da zona rural não tem os incentivos, federal, estadual ou municipal de fixar o mesmos recursos tecnológicos, como a informática, homem na terra. Os professores deixam claro que a que as escolas da zona urbana. No entanto, os educação oferecida na zona rural de Córrego do alunos são bastante esforçados e gostam de viver no Ouro é algo diferenciado, pois todos os professores campo. Os conteúdos ministrados são os mesmos, que trabalham na escola pesquisada enfatizam que a pois é entregue aos professores no início do ano adaptação curricular é fundamental para a mudança uma Matriz Curricular pronta e a escola deve segui- de mentalidade dos alunos, mesmo que muitos não la. Mas, é visível pela sua fala que ela faz permanecem no campo, tem uma visão voltada para adaptações em relação à forma de trabalhar, a zona rural e muitos apesar de saírem à procura de aproveitando o meio que as crianças vivem. emprego nos grandes centros, outros em busca de Percebe-se escolas, voltam para o meio rural, outros fazem a preocupação da mesma em contextualizar a aprendizagem dos alunos, pois ao fazer adaptações na Matriz Curricular se torna uma facilitadora da aprendizagem. cursos voltados para a área rural. Para não finalizar, sobre o trabalho pedagógico dos professores no campo: Veiguima Prudente de Oliveira e Silva formada em Pedagogia pela UEG de São Luís de Montes Belos é professora de geografia das turmas de 6º ao 9º Ano, diz que os alunos com os quais trabalha são oriundos das fazendas e do povoado, e normalmente são muito educados e prestativos. Para a educadora, a aprendizagem deles não deixa a desejar em relação às escolas da zona urbana. Em se tratando de conteúdos trabalhados, na zona rural, ela opta pelo concreto. Mas, ela enfatiza que os conteúdos são os mesmos, apenas faz adaptações na Assim, por mais que se fale das possibilidades de levar uma educação adequada para o meio rural, concluímos que a educação brasileira, se consideradas as necessidades e aspirações do povo do meio rural, nunca se preocupou com estes aspectos de modo explícitos. [...] o planejamento educacional vem negligenciando a educação no meio rural e, quando a atende, impõe uma educação igual à planejada para as zonas urbanas. Esta distância entre a teoria e a prática tem como conseqüência duas tendências: de um lado, um elevado índice de evasão dos que não se interessam pela educação oferecida e, de outro, um processo crescente de êxodo rural, pois aqueles que ficam no processo só poderão continuar os seus estudos ou realizar-se profissionalmente nos centros urbanos (SPEYER, 1983, p. 72). hora de trabalhar. Destaca ainda, que quando os alunos vão crescendo, eles mesmos tomam a O que se pode perceber é que existem decisão de ir para a zona urbana, seja em busca de políticas públicas voltadas para a fixação dos estudos ou de trabalho. mesmos no campo, mas que, quando colocadas em Revista Faculdade Montes Belos, v. 5, n. 3, Maio 2012 13 L. Santos et al. Escolas rurais no Brasil o retrato de Córrego do Ouro - GO prática não privilegiam a questão educacional. geograficamente nos moldes do ensino rural, na Como os próprios professores descreveram os prática transmite valores urbanos. E já que se conteúdos não diferem daqueles ministrados na analisa o olhar que os educadores têm a este zona urbana, a matriz curricular não é construída respeito julga - se relevante e oportuno ouvir as coletivamente e já vêm elaborados pelos meios diversas falas do principal objeto de estudos: os oficiais, e assim os profissionais repassam esses educandos da Escola Municipal de Carmolândia da conteúdos, buscando contextualizá-los. Isso tudo zona rural. Os entrevistados pertencem à faixa leva os alunos a ter uma grande vontade de migrar etária de cinco a 14 anos. A escolha dos mesmos para as cidades já que esses são os valores justifica-se pela facilidade que demonstraram em privilegiados pela educação que recebem. expor suas idéias. Verifica - se de perto a realidade dessas crianças, que por falta de escolas no campo [...] a educação rural oferecida tem sido criticamente analisada como um instrumento de reprodução e expansão da estrutura agrária. Argumenta-se que a educação oferecida à população do meio rural é uma educação em que predomina uma concepção „urbana‟ de vida e desenvolvimento, em que não há uma valorização da cultura, do modo de vida, dos valores e concepções do homem e mulher do campo, como se a vida e a cultura do campo estivesse condenada a extinção ou fosse de inferior qualidade (BOF, 2006, p. 72). capaz de proporciona-lhes o desenvolvimento e a continuidade dos estudos, acabam se expondo a todo tipo de dificuldades para chegar a uma escola na cidade. E isso dificulta muito a aprendizagem, como já foi colocado anteriormente. Desta forma, em resposta ao questionamento obtiveram-se as seguintes respostas: Edson da Silva Junior, aluno da Desta forma, percebe-se que, a educação escola em Carmolândia do 1º ano, de cinco anos, oferecida na zona rural e na zona urbana no disse que anda mais ou menos 30 minutos a pé para município de Córrego do Ouro, corrobora a fala da pegar o ônibus e quando chega à escola está autora, pois, os conteúdos ministrados na escola são empoeirado e muito cansado mas no entanto gosta os mesmos trabalhados em qualquer parte do país, de estudar e da sua professora. Elder Junior Pereira Duarte, aluno também ou seja, a matriz curricular já vem pronta e os professores colocam-nas em prática. da escola em Carmolândia, do 2º ano e de oito anos Tendo em vista tal problemática, tem – se de idade, diz que ele e a irmã vão de moto com o optado também por analisar o ponto de vista do avô ou de bicicleta. Afirma levar mais ou menos 20 corpo discente da escola pesquisada e avaliar o que minutos de bicicleta, ou 5 minutos de moto e que consideram a respeito da educação que recebem. gosta muito de estudar, mas preferiria que a escola A zona rural do município de Córrego do tivesse computadores para eles aprenderem Ouro, como foi dito, conta com cerca de 200 informática e não precisar ir à cidade, deixando crianças que na sua grande maioria usa o sistema de claro gostar do meio que vivem. transporte escolar para chegar às salas de aulas, e Jéssica Gregório Nunes, aluna da escola em receber uma educação, que embora se enquadre Carmolândia, do 1º ano, de apenas seis anos gasta Revista Faculdade Montes Belos, v. 5, n. 3, Maio 2012 14 L. Santos et al. Escolas rurais no Brasil o retrato de Córrego do Ouro - GO cerca de 15 minutos para pegar o ônibus que os leva Rafael Pereira de Sousa, aluno da Escola para a escola. Diz que gosta muito de ir à escola, Municipal de Carmolândia do 8º ano (14 anos), pois lá vêem filmes, vão ao laboratório de anda mais ou menos 30 minutos para chegar onde informática os pega o ônibus, muitas vezes perde aula porque o computadores, mas o que ela mais gosta é de estar veículo quebra ou não conta com o petróleo na escola, devido aos professores e aos colegas. suficiente para levá-los. Tal problema, segundo ele, da cidade aprender a usar Layane Cris Victoria de Almeida, aluna do 4º ano (nove anos), mora no povoado de dificulta muito a aprendizagem, pois de vez em quando não consegue chegar à escola. Carmolândia e não anda muito para chegar à escola. Gilmagda Silva de Paula, aluna da Escola de Gosta muito de estudar, das professoras e dos Carmolândia do 8º ano (13 anos), vai à escola de colegas, e acima de tudo de aprender sempre mais. moto e não usa transporte escolar, no entanto gosta Fanuel Carlos Alves Martins, aluno da muito dos conteúdos ensinados e dos colegas e escola Carmolândia do 8º ano (13 anos), vai à professores. Para ela a escola está ótima, pois escola dirigindo a moto da família. Tanto ele quanto aprende muito nela. a irmã Kássia Karlla (11 anos) gostam muito da Segundo as falas dos alunos a educação em escola de Carmolândia, comentam que a escola não Carmolândia é eficiente, pois são unânimes em dispõe de laboratório de computação, e tem por isso afirmar que gostam da escola e dos professores. É de serem levados a cada quinzena à escola de perceptível que os relacionamentos estabelecidos ali Córrego do Ouro, para terem aulas de informática. e a prática pedagógica é diferenciada da realidade Quanto aos conteúdos que aprendem na escola do de outros municípios, citados pelo povoado, consideram não haver diferença em Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Instituto relação aos da zona urbana, se comparados às É recorrente nas respostas dos educandos em informações que troca com os outros colegas e relação ao tipo de transporte utilizado por eles que, amigos da Escola Municipal Ana Morato. uns andam a pé, outros de moto, ou até mesmo de Vanderlúcia do Carmo, aluna da escola de bicicleta para chegarem à escola. Outro ponto Carmolândia do 9º ano (14 anos), também usa a bastante enfatizado é o sentimento que nutrem em moto como transporte para chegar até a escola, mas relação à escola, aos professores e ao ensino quando o pai não pode levá-la, usa sua bicicleta ou ministrado, mostrando que a escola tem alunos que vai até mesmo a pé. A adolescente diz que gosta gostam de permanecer ali e, quando tem que deixá- muito da escola, pois sempre estudou ali, mas como la por algum motivo, seja por falta de alunos, ou por são poucos alunos, diz que de agosto em diante vão não ter as séries do Ensino Médio, se sentem para Córrego de Ouro terminar os estudos lá na bastante apreensivos. Outra problemática suscitada Escola Municipal Ana Morato e acha que é uma é a do transporte escolar, além de ser precário ainda pena, pois gosta muito da escola e dos professores. tem alguns problemas em relação às verbas para Revista Faculdade Montes Belos, v. 5, n. 3, Maio 2012 15 L. Santos et al. Escolas rurais no Brasil o retrato de Córrego do Ouro - GO abastecimento do mesmo e além das estradas serem ali eram só parentes e que hoje há muitas mudanças, ruins nos meses chuvosos e nos mesmos de poeira, principalmente em relação à obrigatoriedade de trazendo transtornos para os educandos, tais como: possuírem graduação bem como os concursos, o doenças, chegarem empoeirados e cansados na que prima pela qualificação dos profissionais. escola e isso, segundo os próprios educandos, dificultam bastante à aprendizagem. Assim a educação na zona rural tem passado por várias transformações ao longo das décadas, Após a realização da pesquisa de campo mas ainda predomina uma concepção urbana de com professores e alunos fez-se oportuno analisar a vida e desenvolvimento. Esta concepção de vida é fala dos pais de alunos que estudam na escola evidente em várias circunstâncias, principalmente pesquisada, isso para verificar a visão dos mesmos na mídia, nos anúncios de jornais e revistas. Na em relação à educação oferecida aos seus filhos. Em educação em Carmolândia também não é diferente, resposta à entrevista com pais de alunos que principalmente em alguns eventos realizados na estudam na escola da zona rural de Carmolândia escola, tais como: festas, brincadeiras, o próprio foram encontradas as seguintes colocações: PPP (Práticas de Pesquisa Pedagógica) da escola. O Sirleia Ferreira de Jesus Vieira, mãe de dois Programa Curricular que já vem pronto e a escola alunos na Escola Municipal de Carmolândia, diz tem que executar, mas com ressalva, pois isso é que fica muito preocupada com o transporte escolar, mostrado no próprio documento da escola. Mas, pois muitas vezes o seu filho não tem como ir à também é importante frisar que a valorização da escola porque a moto não está disponível. Com cultura está presente no modo de vida do homem do relação ao ensino considera-o de boa qualidade, campo, na forma de vestir, de falar, enfim em sem contar que pode morar na zona rural e o filho muitos momentos, mas também existem aqueles estudar perto. Para ela, o lugar onde vivem é muito momentos que a visão de vida ideal é a da vida na bom, pois tem a oportunidade de ter uma vida cidade, principalmente quando os próprios alunos melhor na fazenda e o filho estudar com professores falam das novas tecnologias, computador, dando qualificados. tanta importância em ir à cidade de Córrego do Carlos José Alves da Silva, pai de aluno da escola de Carmolândia, considera que a escola da Ouro, aprender a usar o computador ou fazer pesquisa no mesmo. fazenda é bem melhor, porque as crianças têm a oportunidade de estarem mais próximas dos pais, do 5.0. Considerações gerais local onde nasceram acima de tudo. Ele diz que gosta muito da escola, apesar de não ter estudado O objetivo proposto nesta pesquisa foi nela, mas cresceu aqui junto com seus familiares. analisar a educação na zona rural de Córrego do Gosta da escola porque foi seu avô quem a fundou e Ouro partindo do que está nas legislações vigentes diz que no começo os professores que trabalhavam para a educação na zona rural e indo para uma Revista Faculdade Montes Belos, v. 5, n. 3, Maio 2012 16 L. Santos et al. Escolas rurais no Brasil o retrato de Córrego do Ouro - GO pesquisa de campo. Para que esse trabalho fosse razão da ineficiência do poder público, isso está concretizado, foi necessária a realização de enraizado nas decisões tomadas com base no pesquisas em livros, sites oficiais e também uma oportunismo, interesses políticos de cada época e pesquisa de campo. Outro ponto que também em pequenas crendices. mereceu a atenção nessa pesquisa foi em relação ao É assim que, no estudo da organização escolar brasileira, atentando-se para sua contradição interna e para seus elementos mediadores, partiu-se da constatação do fato de ter a sociedade brasileira, desde sua origem, uma vinculação com o sistema econômico, político e social capitalista mundial (RIBEIRO, 2001, p. 14). currículo escolar da zona rural, isso foi possível graças à análise da matriz curricular de história e geografia, observando até que ponto, o mesmo trabalha voltado para a visão urbana de educação e desenvolvimento, ou se este está voltado para a educação rural, valorizando o cotidiano dos alunos Isso até hoje tem sua marca alojada na da zona rural, bem como de suas famílias e educação brasileira de norte a sul e os problemas professores no município. com o ensino rural no Município de Córrego do Todo esse estudo só pode ser concretizado Ouro é apenas uma extensão desta realidade. por meio de recorte teórico onde se utilizou de Percebe-se que, o ensino rural no município está em autores renomados bem como de autoras naturais de decadência, apenas não ruiu devido aos interesses Córrego do Ouro Santana e Silva, que muito políticos locais. No entanto foram detectados ainda contribuíram para se chegar até aqui, ou seja, no outros problemas que exigem certa urgência a busca final dessa pesquisa. Para a realização dessa de soluções. Problemas esses que são: alunos que pesquisa adotou-se a abordagem qualitativa por saem de casa muito cedo e percorrem longas perceber que é uma forma mais precisa apresentar distâncias a pé e às vezes sozinhas até o ponto de as respostas à problemática, onde se observou os ônibus e retornam muito tarde para casa, falta de dados analisados, apresentando o significado que as tecnologia que para os alunos é muito importante, e pessoas dão às coisas relacionadas à educação no apresenta mundo contemporâneo. A metodologia utilizada foi contextualização, mesmo à bibliográfica onde se usou autores renomados e as entrevistas percebe-se a preocupação tanto dos legislações, que, foi de grande importância, pois professores quanto dos coordenadores em trabalhar enriqueceu muito os conhecimentos e pesquisa de contextualizando os conteúdos ao cotidiano da zona campo, onde foi possível entender como é a oferta rural entende se, que ainda assim, fica a desejar, educacional no município pesquisado. visto que, o currículo é o mesmo trabalhado na zona deficiência em termos que por meio de das Após o estudo de teóricos que trata da urbana, isso é também importante, pois, a educação rural ao longo dos tempos no Brasil e em LDB9394/96 (BRASIL, 1996) no seu art. 28 prevê Goiás, é possível concluir que a educação rural no que não se pode mudar o currículo, porém deve ser Brasil já tem nas suas raízes mais remotas parte da Revista Faculdade Montes Belos, v. 5, n. 3, Maio 2012 17 L. Santos et al. Escolas rurais no Brasil o retrato de Córrego do Ouro - GO adequado a cada realidade sem prejuízo para o os prefeitos buscaram fechar as escolas da zona educando. rural deixando apenas a de Carmolândia. Posto que, Assim, como em outras localidades o tais confirmações ao serem apresentadas não sistema de transporte escolar apesar de precário, esgotam de nenhuma forma o assunto, pelo resolve parcialmente essa ausência da escola no contrário desperta o interesse, pelo menos para os campo para atender aos filhos dos trabalhadores historiadores, de se aprofundar em tais questões tão rurais, sitiantes e pequenos proprietários de terra, a importantes para o desenvolvimento do município e problemática é que esse transporte não apenas em a nação. Colaborando para a existência das Córrego do Ouro é deficitário, mas em todos os dificuldades percebidas aqui como resultado deste municípios, dificuldades estudo, encontram - se crianças maltratadas com o tanto para as crianças quanto para os pais, que veem excessivo esforço diário para chegar à escola, baixo seus filhos saírem todos os dias, percorrendo rendimento escolar, pais preocupados com a grandes distancias para buscar uma aprendizagem. situação dos filhos e professores sem saber muito ocasionando enormes Desta forma, conclui-se que, tanto as que fazer. crianças como os pais das mesmas segundo os relatos na pesquisa de campo, apresentam um 6.0. Referências bibliográficas fascínio pela cidade em detrimento ao campo, motivados talvez pelo fato do ensino não for contextualizado, conseqüentemente não há uma real valorização dos espaços campo/cidade não dando a essas crianças a capacidade de uma escolha consciente. Isso também aconteceu na percepção de alguns pais, porém com uma motivação diferente, muitos confessaram o desejo de se estabelecer na cidade para facilitar os estudos dos filhos por entender que as escolas urbanas são melhores que as escolas rurais. Sendo assim, conclui se que a educação rural no Brasil tem nas suas raízes mais remotas parte da razão de sua ineficiência, estampando nos processos paliativos e nas tomadas de decisões com base no oportunismo e interesses de pequenos grupos políticos, nesse caso não apenas locais, mas em todos os níveis, pois desde as gestões anteriores, BRASIL. Ministério da Educação/Instituto Nacional de Estudo e Pesquisas Educacionais, Brasília: 2007. 63 p. BRASIL. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional nº 9.394, de 24 de dezembro de 1996. s.p. BRASIL. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional nº. 4024/61. s.p. BRASIL. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional nº. 5.692/71. s.p. BRASIL. 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