2011 - Crea-GO
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2011 - Crea-GO
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) GPT/BC/UFG Conselho Regional de Engenharia e Agronomia de Goiás. C755d 10º Prêmio Crea Goiás de Meio Ambiente : compêndio dos trabalhos premiados / Conselho Regional de Engenharia e Agronomia de Goiás. – Goiânia : [s. n.], 2011. 242 p. : il. Prêmio Crea Goiás de Meio Ambiente 2011. Inclui referências. ISSN 2236-5214 1.Meio ambiente – Goiás. 2. Proteção ambiental – Goiás. 3. Desenvolvimento sustentável – Goiás. I. Título. CDU: 502.15(817.3) MEMBROS DA COMISSÃO JULGADORA DO 10º PRÊMIO CREA GOIÁS DE MEIO AMBIENTE Modalidade Arquitetura e Urbanismo Arq. Urb. Maria Luísa Gomes Adorno Eng. Arq. Fernando Carlos Rabelo Eng. Civ. Augusto Cardoso Fernandes Arq. Urb. Walmir Santos Aguiar Modalidade Geologia e Minas e Produção Limpa Geol. Renato de Barros Eng. Minas Almir Pinto Lopes de Menezes Tec. Miner. Rodolfo Pinto de Mendonça Eng. Eletric. Marcos Antônio Correntino da Cunha Modalidade Produção Agronômica e Meio Ambiente Rural Eng. Agr. e Seg. Trab. Marcelo Emílio Monteiro Eng. Ftal Raquel de Fátima Boaventura Eng. Agr. José Renato Catarina Ribeiro Tec. Agropec. Valdivino Eterno Leite Eng. Agr. Elíria Alves Teixeira Modalidade Imprensa Eng. Agr. Udson Boaventura Gontijo Jor. Enzo de Lisita Jor. Carolina Goos Eng. Agr. Débora de Almeida Campos Modalidade Educação Ambiental Tec. Agropec. César Alves de Lima Júnior Eng. Agr. Márcio Sena Pinto Eng. Agric. e Seg. Trab. Marco Antônio Vezzani Tec. Agrim. Luís Roberto Dias Modalidade Saneamento Tec. Eletrotec. Temístocles Mendes Ribeiro Tec. Eletromec. Valdeon Moraes Bueno Eng. Civ. Daniel Ferreira Eng. Civ. Lívia Maria Dias Modalidade Engenharia Química Eng. Quím. Harlan Brockes Tayer Eng. Minas Augusto César Gusmão Lima Eng. Quím Mário José Ribeiro Eng. Quím. Duarte Jesus de Lima COMISSÃO DE MEIO AMBIENTE DO CREA-GO / 2011 Efetivos: Eng. Civ. ROGER PACHECO PIAGGIO COUTO - Coordenador Eng. Minas ALMIR PINTO LOPES DE MENEZES Tec. Agrim. LUÍS ROBERTO DIAS Eng. Quím. HARLAN BROCKES TAYER - Coordenador-Adjunto Eng. Agr. MÁRCIO SENA PINTO Arq. Urb. WALMIR SANTOS AGUIAR Suplentes: Eng. Agr. MARCELO EMÍLIO MONTEIRO Tec. Edif. MARCO ANTÔNIO DE MELO Tec. Miner. JULIANA PAULA GONZAGA Tec. Agropec. CÉSAR ALVES DE LIMA JÚNIOR Eng. Civ. AUGUSTO CARDOSO FERNANDES Arq. Urb. VIVIANE ALMEIDA BASTOS PRESIDÊNCIA PRESIDENTE: Eng.Civ. GERSON DE ALMEIDA TAGUATINGA DIRETORIA 1° VICE-PRESIDENTE: Eng. Ftal. DANIEL DEMORI 2° VICE-PRESIDENTE: Eng. Civ. LEONARDO MARTINS DE CASTRO TEIXEIRA 1° SECRETÁRIO: Eng. Alim. LARISSA RODRIGUES RIBEIRO PEREIRA 2° SECRETÁRIO: Tec. Eletromec. VALDEON MORAES BUENO 1° TESOUREIRO: Eng. Agr. ROGÉRIO DE ARAÚJO ALMEIDA 2° TESOUREIRO: Eng. Civ. ANÍSIO BENEDITO DE OLIVEIRA JÚNIOR APRESENTAÇÃO O Conselho Regional de Engenharia e Agronomia de Goiás – Crea-GO – entrega, aos profissionais do Sistema Confea/Crea e à comunidade, o compêndio dos projetos/programas vencedores do Prêmio Crea Goiás de Meio Ambiente em 2011. Este livro traz contribuições valiosas para a conservação da biodiversidade do Cerrado, servindo de exemplo e de inspiração para novos projetos e ajudando a difundir a cultura da preservação do meio ambiente em nossa sociedade. Em 2011, o evento revestiu-se de um caráter especial ao comemorar o marco da décima edição de sua realização. Desde a sua primeira edição, realizada em 2001, foram inscritos 660 projetos/programas, com 86 premiados. Foram deliberadas 20 menções honrosas e cerca de 230 profissionais integraram as Comissões Julgadoras. A décima edição do Prêmio recebeu 56 indicações que foram analisadas por uma Comissão Julgadora composta por 29 profissionais que atuam na área de meio ambiente em suas diversas modalidades. Além de duas menções honrosas, foram entregues sete estatuetas, em forma de Siriema, símbolo do prêmio, aos vencedores das modalidades de Arquitetura e Urbanismo, Saneamento, Produção Limpa, Meio Ambiente Rural, Educação Ambiental, Engenharia Química e Imprensa. A cerimônia de entrega da 10ª Edição do Prêmio Crea Goiás de Meio Ambiente foi realizada no dia 24 de novembro de 2011, no Cedro Eventos, em Goiânia, com a presença de 500 convidados dentre autoridades políticas, presidentes e diretores de entidades de classe, ex-presidentes do Crea-GO, conselheiros, colaboradores, profissionais da imprensa e demais presentes. Acredito que embora o prêmio seja reconhecido pela sociedade civil e organizada do Estado de Goiás, ele ainda é uma gota no oceano em meio a tantas mudanças de comportamento que a sociedade precisa incorporar e praticar para que possamos vislumbrar um mundo melhor. Comparo o planeta Terra com um navio navegando a toda velocidade em direção ao futuro, ignorando os perigos que tem pela frente. Os tripulantes são representados por uma sociedade viciada no consumo desenfreado e sempre em busca de lucros aviltantes, que não quer nem ouvir falar nos riscos. E vai aí o nosso alerta: é necessário reduzir a velocidade dos estragos e alterar a rota do crescimento, sob pena de naufrágio em meio à poluição e a falta de recursos naturais. O crescimento sustentável da economia é o nosso maior desafio. Precisamos mergulhar de vez na onda verde e testar a todo o momento o nosso índice de comprometimento com ações capazes de preservar o meio ambiente e de realmente promover o crescimento sustentável da economia. É neste cenário que o Prêmio Crea Goiás de Meio Ambiente se insere e exerce um papel extremamente importante: mostrar que, por meio de projetos, programas ou ações em busca da preservação, recuperação, defesa e conservação do meio ambiente, a sociedade pode participar ativamente do desenvolvimento sustentável. Já passamos da hora de escolher o tipo de mundo que deixaremos para as futuras gerações. Boa leitura! Goiânia, setembro de 2012 Eng. Civil Gerson de Almeida Taguatinga - Presidente - SUMÁRIO Menção Honrosa....................................................................................................................... 11 Projeto: Recuperação das nascentes e matas ciliares do Ribeirão Samambaia. Premiada: Superintendência Municipal de Águas e Esgoto de Catalão - Goiás Menção Honrosa....................................................................................................................... 23 Projeto: Programa de Educação Ambiental - “Semana Águas do Cerrado” Premiada: Associação Ambiental Pró-Águas do Cerrado - AAPAC Modalidade Imprensa Escrita................................................................................................... 37 Projeto: Lagoa Formosa volta a existir Premiada: Jornalista Karen Farias Modalidade Imprensa Televisão............................................................................................... 43 Projeto: Voçorocas: Uma ameaça ao sudoeste goiano. Premiados: Jornalistas Caroline Pandolfo e José Divino Nascimento. Modalidade Imprensa Rádio..................................................................................................... 53 Projeto: Série de entrevistas sobre a questão da falta de água no Estado. Premiados: Radialistas Luiz Geraldo Teixeira, Mariani Ribeiro, Clênia Marques e Rafael Mesquita. Modalidade Arquitetura e Urbanismo...................................................................................... 61 Projeto: Projeto de infiltração de águas pluviais utilizando poços e trincheiras de infiltração. Premiados: Eufrosina Terezinha Leão Carvalho e Jorge Tadeu Abrão Modalidade Saneamento.......................................................................................................... 89 Projeto: Projeto de automação da Saneago: Inovação e contribuição ao combate às perdas. Premiada: Saneago - Saneamento de Goiás S/A Modalidade Produção Limpa.................................................................................................... 97 Projeto: Responsabilidade Socioambiental EBM - Política de Produção Limpa. Premiados: EBM Incorporações S/A. Modalidade Educação Ambiental.......................................................................................... 117 Projeto: Estruturas de infiltração de águas da chuva como meio de prevenção de inundações e erosões. Premiados: José Camapum de Carvalho e Ana Cláudia Lélis Modalidade Engenharia Química........................................................................................... 171 Projeto: Destinação final de lodo de estação de tratamento de esgoto através da técnica de co-processamento. Premiados: Larissa Velho, Dalmo Gritz, Cézar Augusto da Rosa, Rogério de Araújo Almeida. Modalidade Meio Ambiente Rural.......................................................................................... 219 Projeto: Cerne - Controle de erosões e reflorestamento com espécies nativas e exóticas. Premiados: Base Aérea de Anápolis Menção Honrosa - Meio Ambiente Rural Projeto: Recuperação das nascentes e matas ciliares do Ribeirão Samambaia Premiada: Superintendência Municipal de Águas e Esgoto de Catalão - Goiás Recuperação das nascentes e matas ciliares do Ribeirão Samambaia Meio Ambiente Rural RESUMO O projeto visa o plantio de mudas de árvores das mais variadas espécies do cerrado; colocação de cercas; preparo e manutenção de aceiros; acompanhamento do desenvolvimento de mudas com o objetivo de preservar o Ribeirão Samambaia que abastece Catalão, através do replantio de suas matas ciliares. Para não alterar o bioma, a Superintendência Municipal de Água e Esgoto de Catalão planta espécies do cerrado como baru, ipê, tamboril, pau-pombo, pororoca, sangra d´água, pequi, jatobá, amburana, pau d´óleo. Pindaíba, buriti, mangue-do-brejo, angico, caraíba, sucupira branca, canjerana, quaresmeira, vinhático entre outras. Até 2011 foram plantadas 900 mil mudas e 170 km de extensão de cercas colocadas. A equipe é composta por 7 homens, todos funcionários da Superintendência. O valor investido no projeto até julho de 2011 é de R$ 4.500.000,00. Os recursos são da própria Superintendência. Prêmio CREA Goiás de Meio Ambiente 2011 15 16 Prêmio CREA Goiás de Meio Ambiente 2011 Prêmio CREA Goiás de Meio Ambiente 2011 17 18 Prêmio CREA Goiás de Meio Ambiente 2011 Prêmio CREA Goiás de Meio Ambiente 2011 19 20 Prêmio CREA Goiás de Meio Ambiente 2011 Prêmio CREA Goiás de Meio Ambiente 2011 21 Menção Honrosa - Educação Ambiental Projeto: Programa de educação ambiental “Semana Águas do Cerrado” Premiada: Associação Ambiental Pró-Águas do Cerrado - AAPAC Programa de Educação Ambiental “Semana Águas do Cerrado” Associação Ambiental Pró-Águas do Cerrado¹ Educação Ambiental RESUMO O Programa de Educação Ambiental “Semana Águas do Cerrado” tem o objetivo de desenvolver atividades junto à rede pública de ensino cuja temática envolve assuntos referentes à bacia hidrográfica e políticas de gestão ambiental, de saneamento e de recursos hídricos. A intenção é de realizar, em sala de aula, 01 semana de atividades voltadas ao tema “água”. Desde 2009 a Associação Pró-Águas vêm desenvolvendo esse programa. Nesse ano de 2011, o programa está em realização em 05 municípios da bacia hidrográfica do Rio Meia Ponte, envolvendo um público direto de 884 alunos e 87 professores, atingindo indiretamente um público de 1700 pessoas. O tema trabalhado inclui conceitos e noções de bacias hidrográficas, tratamento de água e tratamento de efluentes industriais. No primeiro semestre foi realizada capacitação dos professores e planejamento das atividades; e no segundo semestre é feita a aplicação dos conceitos aos alunos. Ao final é realizada solenidade de encerramento onde os alunos têm a oportunidade de demonstrar à comunidade os trabalhos realizados e conceitos adquiridos. A “Semana Águas do Cerrado” conta com aulas expositivas, visitas técnicas, oficinas temáticas, experimentos, concurso de textos e desenhos, exposição fotográfica e de vídeo, premiação de alunos e atividades artístico-culturais. Como resultados, observou-se um auxílio no crescimento profissional dos professores e educacional dos alunos envolvidos, além de permitir a integração local e a conscientização quanto às questões relacionadas à água e ao meio ambiente. ¹ Associação Ambiental Pró-Águas do Cerrado, Goiânia/GO. Site: www.proaguasdocerrado.org.br. PROGRAMA DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL “SEMANA ÁGUAS DO CERRADO” Associação Ambiental Pró-Águas do Cerrado – AAPAC Empresas associadas 26 Prêmio CREA Goiás de Meio Ambiente 2011 INTRODUÇÃO 1. Apresentação da entidade A Associação Ambiental Pró-Águas do Cerrado (AAPAC) é uma entidade sem fins lucrativos criada em 2007 com o objetivo de desenvolver projetos relacionados ao meio ambiente. A base de atuação da entidade está voltada à gestão de recursos hídricos, sendo definida a região da bacia hidrográfica do Rio Meia Ponte/GO como área prioritária de intervenção. Desde sua fundação a entidade vem atuando com dois programas prioritários: - I) Programa de Proteção aos Mananciais: tem o objetivo de levantar a problemática ambiental da bacia do Rio Meia Ponte, principalmente no que se refere aos mananciais de abastecimento público, e atuar com medidas de conscientização, preservação e recuperação ambiental; - II) Programa de Educação Ambiental: tem por objetivo o desenvolvimento de atividades junto à rede pública municipal de ensino cuja temática envolve assuntos referentes à bacia hidrográfica e políticas de gestão ambiental, saneamento e recursos hídricos. Atualmente, a Associação Pró-Águas possui seis empresas associadas sendo cinco ligadas ao setor de distribuição de combustíveis e uma ligada ao setor advocatício. São elas: Alesat Combustíveis S.A.; Distribuidora Tabocão Ltda.; Zema Cia de Petróleo Ltda.; Idaza Distribuidora de Petróleo Ltda.; Distribuidora Rio Branco de Petróleo Ltda.; e Hoffmann Advogados. 2. Programa de Educação Ambiental “Semana Águas do Cerrado” 2.1. Apresentação e metodologia A “Semana Águas do Cerrado” é um projeto de conscientização e educação ambiental realizado junto à rede pública municipal de ensino cujo objetivo é de desenvolver ações voltadas à sensibilização, conservação e proteção dos recursos hídricos e do meio ambiente. O projeto visa substituir as aulas convencionais por uma semana de atividades voltadas ao tema “água.” As atividades realizadas incluem palestras, experimentos, oficinas de trabalho, visitas de campo, atividades artísticas, culturais e outras. Tudo é planejado visando a integração com todas as disciplinas escolares. O programa de educação ambiental é baseado nos seguintes princípios: I) visão de longo prazo e sem conteúdos político-partidários e religiosos; II) ênfase, por parte dos professores, aos assuntos referentes a bacia hidrográfica e políticas de gestão ambiental, saneamento e recursos hídricos, a nível municipal, estadual e nacional; III) valorização dos projetos de preservação ambiental desenvolvidos pelas empresas privadas parceiras e poder público em geral, visando enaltecer as entidades que investem em melhorias ambientais; IV) respeito ao cronograma do projeto, considerando as etapas de planejamento, aplicação e avaliação; e V) realização de solenidade final para exposição dos trabalhos realizados, com a participação dos pais e alunos, autoridades públicas, dirigentes de empresas, lideranças e mídia. O projeto é dividido em duas fases: - Fase I: envolve o planejamento do projeto e a capacitação dos professores. Ocorre no primeiro semestre do ano e inclui a definição da equipe envolvida, escola e turmas de realização dos trabalhos, datas e planejamento das atividades a serem realizadas durante a “Semana”, organização da proposta pedagógica, além da capacitação dos envolvidos. A capacitação envolve encontros teóricos, onde são discutidos assuntos técnicos e pedagógicos relacionados com o tema de trabalho; e encontros práticos, perPrêmio CREA Goiás de Meio Ambiente 2011 27 mitindo que a teoria seja vivenciada no âmbito local. - Fase II: envolve a fase de planejamento e desenvolvimento das atividades do projeto, sendo realizada no segundo semestre, ocasião em que todos os participantes vivenciam a necessidade e importância da integração regional. Nesse momento, os alunos concentram uma semana para realizar atividades e promover discussões sobre a água. São realizadas visitas técnicas, experimentos, palestras, oficinas de trabalho, produção de material e outras. Ao final da aplicação da “Semana” realiza-se uma solenidade de encerramento, momento em que os alunos apresentam à sociedade os conceitos adquiridos e trabalhos produzidos. Para fechamento do projeto é realizado um seminário de avaliação envolvendo discussões com todos os envolvidos para identificação dos pontos fortes e pontos alvos de melhoria visando a reaplicação nos anos seguintes. Todo o trabalho é executado em parceria com Prefeituras e Secretarias Municipais de Educação através da formalização de Acordos de Cooperação firmados entre os envolvidos. 2.2. Formação/capacitação de recursos humanos Durante a fase I do projeto, um dos pontos enfocados é a capacitação de professores e multiplicadores. Nos anos de 2010 e 2011, o tema trabalhado incluiu noções de bacias hidrográficas, tratamento de água para abastecimento público, e tratamento de efluentes; tendo sido abordados os seguintes assuntos: -1. Bacia Hidrográfica: conceitos; noções de qualidade e quantidade das águas; usos múltiplos; importância dos mananciais de abastecimento público; principais impactos; bacia hidrográfica do rio Meia Ponte; mananciais locais. -2. Abastecimento público: noções básicas de captação, tratamento e distribuição da água; poluição da água e doenças de veiculação hídrica. -3. A bacia hidrográfica como unidade de trabalho ambiental; A necessidade de recursos financeiros para controlar e melhorar as águas dos rios; As possibilidades de uma gestão de bacias; A cobrança pelo uso das águas; Responsabilidades do Poder Público, iniciativa privada e cidadãos. A capacitação é realizada através de aulas expositivas na Escola para padronização de conceitos e discussão sobre o tema trabalhado, bem como encontros práticos para realização de visitas de campo a empresas públicas e privadas do município visando o conhecimento das ações realizadas na área de meio ambiente. A carga horária é de 20 horas/aula. Como material didático é utilizado uma apostila contendo cópia dos slides de cada encontro e textos diversos, como Semana da Água: um programa de educação ambiental para crianças e adultos (Monticeli et. al., 1996), Semana da Água de Valinhos, Glossário de termos técnicos em gestão de recursos hídricos (Consórcio PCJ, 2006), vídeos (Consórcio PCJ) e outros. A parte prática envolve visitas de campo em empresas públicas e privadas localizadas no próprio município cujo objetivo é o de conhecer as atividades que são realizadas a favor do meio ambiente, visando sempre o enaltecimento dos trabalhos executados. As visitas são realizadas nos mananciais de captação da água para abastecimento público do local, Estação de Tratamento de Água (ETA), e Estação de Tratamento de Efluentes (ETE) de empresas (indústrias alimentícias, produtos de limpeza e/ou distrito agro-industrial). A intenção é de conhecer, na prática, os procedimentos utilizados para uma boa captação da água do rio; os sistemas de tratamento da água bruta em água potável, bem como os parâmetros laboratoriais necessários; os sistemas de utilização de água no setor industrial e seu tratamento para posterior reutilização e/ou devolução ao meio ambiente. 28 Prêmio CREA Goiás de Meio Ambiente 2011 2.3. Realização do projeto A “Semana Águas do Cerrado” é uma seqüência de aulas onde ocorre a substituição das aulas convencionais por atividades relacionadas ao tema de trabalho, as quais são previamente definidas pelos professores. Durante sua realização são desenvolvidas atividades diversificadas como palestras, oficinas temáticas, experimentos, visitas de campo, construção de maquetes, produção de textos e desenhos, representações artísticas e culturais, etc. O aluno é motivado a relacionar os temas trabalhados com todas as disciplinas do curriculum escolar bem como com o seu cotidiano. As atividades também se voltam ao conhecimento de como o município vem trabalhando a gestão do meio ambiente e dos recursos hídricos, sendo estas observadas durante o momento das visitas in loco. Todo o trabalho executado no decorrer da Semana é demonstrado à comunidade no momento da solenidade de encerramento do projeto. Esta, por sinal, visa priorizar a participação dos alunos, permitindo sensibilizar os familiares, autoridades, dirigentes locais e demais convidados. A solenidade conta com exposição de trabalhos; apresentação de filme demonstrativo das atividades do projeto; lançamento de livro com os melhores trabalhos produzidos pelos alunos; premiação de alunos; apresentação de atividades culturais; entrega de certificados aos envolvidos (alunos, professores e empresas) e coquetel de confraternização. Parte do que foi realizado em cada município é apresentado abaixo. I) Município de Nerópolis Em 2009 foi implementado o projeto piloto para grupo de 04 professores e 35 alunos do 7º ano matutino do Instituto Municipal João Paulo II. O projeto foi batizado de “Semana Águas do Cerrado – Quem ama cuida”. Em 2010 a reaplicação foi realizada na Escola Municipal Professor Oscarino Caetano de Rezende, incluindo 09 turmas do 6º ao 9º ano. O público foi de 270 alunos e 40 professores (envolvendo as disciplinas de Geografia, Artes, História, Português, Inglês, Ensino Religioso, Matemática e Ciências, além da direção e coordenação de turno e coordenação pedagógica da Escola). Em 2011 o projeto será aplicado no Instituto João Paulo II para 04 turmas do 8º ano matutino e vespertino, totalizando 24 professores e 134 alunos. A “Semana Águas do Cerrado – Quem Ama Cuida” será executada no período de 07 a 11 de novembro, com solenidade de encerramento agendada para o dia 1º de dezembro. Grupo de alunos envolvidos no projeto piloto Prêmio CREA Goiás de Meio Ambiente 2011 Visita técnica à Estação de Tratamento de Água Municipal (Saneago) Explicação sobre procedimentos necessários para o tratamento de água 29 Visita técnica a Estação de Trata,ento de Efluentes Industriais (Quero Coniexpress) Visita técnica a ETE (Quero Coniexpress) Experimento prático sobre o consumo de água na lavagem do pátio da Escola Autoridades presentes no evento Aluno explicando o funcionamento da Estação de Tratamento de Efluentes da empresa Quero Entrega de certificados Encontro de capacitação de professores Visita técnica a Estação de Tratamento de Água local Maquete do Rio Meia Ponte Público presente no evento Exposição de material Entrega de premiação Município de Senador Canedo O projeto piloto foi realizado em 2009 na Escola Municipal Irmã Catarina Jardim Miranda. Conhecido como “Semana Águas do Cerrado Goiano”, este envolveu 15 professores e 105 alunos do 6º ano matutino. Em 2010 foi firmada parceria direta com a Escola. Assim, o projeto “Amigos do Meia Ponte” envolveu 30 professores e 400 alunos. 30 Prêmio CREA Goiás de Meio Ambiente 2011 Experimento sobre consumo de água para lavagem de veículos Visita técnica a Estação de Tratamento de Água Municipal Visita técnica à Estação de Tratamento de Efluentes da empresa Cicopal Solenidade de encerramento 2009 Entrega de certificados Entrega de premiação Atividade cultural na Escola Amigos do Meio Ponte 2010 Visita técnica à Estação de Tratamento de Água municipal 2010 Passeata educativa nas imediações da Escola - Amigos do Meio Ponte 2010 Em 2011 o público também envolve 400 alunos e 30 professores. A “Semana Águas do Cerrado Goiano” foi realizada nos dias 29 de agosto a 02 de setembro e a solenidade de encerramento será em 09 de setembro. Visita à captação de água municipal Prêmio CREA Goiás de Meio Ambiente 2011 Visita ao Rio Meio Ponte Plantio de mudas 31 III) Município de Goianira Em 2010 foi realizado piloto neste município. Estiveram envolvidos 35 alunos do 6º ano e 04 professores da Escola Municipal Lázara Maria da Costa. O projeto foi batizado de “Semana Águas do Cerrado – Gotas que fazem a diferença”. Turma participante do projeto piloto Visita técnica à Estação de Tratamento de Efluentes do Distrito Agroindustrial Solenidade de encerramento Visita à Estação de Tratamento de Água local Apresentação artística A reaplicação em 2011 ocorreu na Escola Municipal Cora Coralina para público de 10 professores e 150 alunos de 03 turmas do 6º ano matutino. A “Semana Águas do Cerrado – Água: coração da Terra” foi realizada entre os dias 15 a 19 de agosto com solenidade de encerramento prevista para o dia 22 de setembro Faixa de apresentação fixada na Escola Alunos participantes do projeto Autoridades presentes na abertura - fala do prefeito municipal Oficina de trabalho: Análise da conta de água residencial Oficina de trabalho: Bacias hidrográficas e tratamento de água Visita técnica na ETE do distrito agroindustrial 32 Prêmio CREA Goiás de Meio Ambiente 2011 IV) Município de Terezópolis de Goiás Neste ano encontra-se em realização o projeto piloto. O trabalho será na Escola Municipal Professora Divina Maria Felício para grupo de 03 professoras e 70 alunos do 4º e 5º ano matutino. Abaixo seguem imagens dos encontros de capacitação. A execução da “Semana Águas do Cerrado – Gotinhas de esperança” será no período de 12 a 16 de setembro. A solenidade de encerramento está agendada para o dia 07 de outubro. Professoras participantes do projeto piloto Visita na Ecovila Santa Branca Visita na ETA - Estação de Tratamento de Água da Saneago local ETA Saneago V) Município de Aparecida de Goiânia Neste município também encontra-se em realização o projeto piloto. As atividades da “Semana Águas do Cerrado – Água: fonte de vida” foram executadas entre os dias 22 a 26 de agosto com culminância agendada para o dia 16 de setembro. O público atingido é de 20 professores e 150 alunos do 6º ano matutino da Escola Municipal Marista Sul. Professoras participantes do projeto piloto Encontro de capacitação dos professores Visita na ETA - Estação de Tratamento de Água da Saneago local ETA Saneago Prêmio CREA Goiás de Meio Ambiente 2011 33 Visita técnica à Estação de Tratamento de Água (ETA) Meia Ponte Visita técnica à Estação de Tratamento de Efluentes (ETE) da empresa Zuppani Industrial Números da Semana Águas do Cerrado 2010 Município Classes Alunos Professores e Coordenadores Público presente na Solenidade final Nerópolis 09 270 40 700 Goianira (Projeto Piloto) 01 35 04 300 Senador Canedo 09 400 30 450 Nerópolis 04 134 24 350* Goianira 03 130 10 300* Senador Canedo 09 400 30 800* Terezópolis de Goiás (Piloto) 03 70 03 280* 2011 Aparecida de Goiânia (Piloto) 04 150 20 400* Total: 05 municípios 42 1589 161 3580 *Número estimado. 2.4. Resultados alcançados Após finalização do projeto é realizado seminário de avaliação em cada município com objetivo de identificar os pontos fortes e pontos alvos de melhoria para possível continuidade dos trabalhos nos anos seguintes. A realização dessa atividade permitiu concluir que a implementação dos projetos encontra-se compatível com os planejamentos realizados, vez que os objetivos propostos definidos no início dos trabalhos e os resultados esperados foram alcançados com êxito. Para a equipe técnica envolvida o resultado obtido foi considerado maior do que o esperado, pois foi capaz de despertar o envolvimento dos alunos, segurança e confiança na execução e exposição dos trabalhos. A implementação dos Projetos foi avaliada como positiva, pois permitiu a utilização de metodologias dinâmicas para transmissão de 34 Prêmio CREA Goiás de Meio Ambiente 2011 conceitos, além de auxiliar no crescimento profissional dos servidores da rede municipal de educação e de permitir a integração local e a conscientização quanto às questões relacionadas à água. A realização desse trabalho possibilitou ainda a valorização dos alunos e professores, valorização da Escola perante a comunidade local e transmissão de conhecimentos sobre a importância da água e do meio ambiente. Em 10 de dezembro de 2010, a Associação Pró-Águas realizou o “I Seminário Geral de Educação Ambiental”, evento voltado aos professores participantes cujo objetivo principal foi de promover o intercâmbio de experiências em educação ambiental visando conhecer as atividades realizadas pela “Semana Águas do Cerrado” nos municípios e discutir novas possibilidades de intervenção do projeto para os anos seguintes. Além da apresentação de cada município também foi realizada uma palestra com a coordenadora de Educação Ambiental do Consórcio PCJ (Consórcio Intermunicipal das Bacias dos Rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí/SP), Sr.ª Andréa Borges, para conhecimento da experiência em educação ambiental realizada no estado de São Paulo (vide fotos abaixo). Para 2011 é prevista a continuidade desse intercâmbio de experiências via realização do “II Seminário Geral de Educação Ambiental”. Professores participantes Palestra P/cJ Palestra Nerópolis Palestra Goianira Palestra Senador Canedo Professores 3. Equipe técnica - Durval Ferreira Freitas Filho – Químico, Secretário Executivo Ass. Pró-Águas do Cerrado. - Kharen de Araújo Teixeira – Bióloga, Coordenadora Ass. Pró-Águas do Cerrado. - Maria Rosa Cerbino – Bióloga, Coordenadora local de Nerópolis. - Vivianne Dias Correia Costa – Pedagoga, Coordenadora local de Goianira. - Maria Helena Ferezin – Pedagoga, Coordenadora local de Aparecida de Goiânia. - Elisângela Cristina da Silva – Bióloga, Coordenadora local de Senador Canedo. - Adilson Pereira dos Santos – Coordenador local de Terezópolis de Goiás. Prêmio CREA Goiás de Meio Ambiente 2011 35 FOTOS CAPACITAÇÃO 36 Prêmio CREA Goiás de Meio Ambiente 2011 Modalidade Imprensa Escrita Matéria: Lagoa Formosa volta a existir Premiada: Jornalista Karen Farias Jornal O Popular - Suplemento do Campo Organização Jaime Câmara Lagoa Formosa volta a existir Jornal O Popular - Suplemento do Campo Organização Jaime Câmara RESUMO O projeto intitulado “Lagoa Formosa volta a existir” é o resultado de um trabalho de investigação e pesquisa junto a produtores do Assentamento Luís Ório, que fazem parte do Programa Nacional de Reforma Agrária. Na reportagem publicada no mês de junho de 2011, no Suplemento do Campo, do Jornal O Popular, é possível entender o que pequenos proprietários têm feito para recuperar uma lagoa da região, que antes havia sido totalmente escoada para a formação de pasto. Na matéria é possível observar uma solução acessível para a questão de prevenção e recuperação de recursos hídricos, resultado do trabalho conjunto de especialistas e produtores que, além de utilizarem a terra, têm nela a fonte de renda e a sustentabilidade da família. O resultado final do trabalho supera o objetivo inicial, que seria apenas informar a comunidade sobre os métodos de recuperação utilizados, a importância e a eficiência dos mesmos, e caminha para reflexões importantes sobre o valor da água, o entendimento de como esse recurso é essencial para o desenvolvimento do homem do campo e como ele também pode ser fonte de lucratividade. Biocombustível Testes com o diesel de cana já somam mais de 2 milhões de quilômetros rodados. [3 Campo Suplemento do De 24 a 30 de junho de 2011 ANO 21 - NO 1221 Milho Analistas divergem quanto aos efeitos do fim dos subsídios ao etanol de milho nos EUA. [9 Lagoa Formosa volta a existir Lagoa no município de Itaberaí foi drenada para ser uma área de pastagens e assim permaneceu por vários anos. Pequenos agricultores se uniram para recuperá-la, reflorestaram áreas de nascentes, entre outras medidas, e já comemoram os bons resultados do esforço. [6 e 7 Sebastião Nogueira 40 Prêmio CREA Goiás de Meio Ambiente 2011 6 De24 a 30 de junho de 2011 Recursos hídricos Agricultores tentam fazer pasto voltar a ser uma lagoa Em alguns pontos, profundidade já atingiu dois metros. Chuvas ajudaram. Karen Farias DE ITABERAÍ A lagoa Formosa, na região ruraldeItaberaí(GO),desapareceu, há mais de dez anos, depois de ter a água drenada e sua área transformada em pastagem. Pequenos agricultores, que ocupam o espaço há pouco mais de quatro anos, tentamrecuperar a represa, com o reflorestamento das matas ciliares e o fechamento de drenos, buscando com isso aumentar a quantidade e melhorar a qualidade da água na região. Com o objetivo de construir uma área para pastagem e criação de gado, o antigo proprietário das terras que cercavam a lagoa decidiu, além de desmatar e limpar a área, para facilitar a locomoção e tratamento dos animais, construir vários drenos, que levaram ao es- coamento total da água. Com isso, toda a região perdeu em potencial hídrico. Há cerca de quatro anos, a área foi requerida pelo governo para o Programa Nacional de Reforma Agrária e se transformou no assentamento Luís Ório, habitado por 21 famílias, divididas em parcelas de terra praticamente iguais. A agricultura familiar é a atividade principal e a maior responsável pela sustentação das cerca de 80 pessoas que, desde então, moram na região. Desde o início da ocupação, os atuais proprietários sofrem com a falta de água, principalmente nos períodos de seca. “Quando chegamos aqui, era preciso pegar água no meio de um poço, que não tinha mais do que cinquenta centímetros de profundidade”, lembra Nair Benta Araújo Costa, Prêmio CREA Goiás de Meio Ambiente 2011 umas das pequenas proprietárias. “Chegávamos a andar mais de um quilômetro para pegar água para beber e lavar roupa”, complementa Genesi de Oliveira e Silva, outra agricultora. Valdemar Costa Sobrinho, mais conhecido como Tim, esposo de Nair, lembra que mesmo depois de construir duas cisternas em volta de sua casa, durante o período de estiagem, a família ficava praticamente sem água para consumo próprio. “A água é uma necessidade básica para qualquer ser humano, principalmente para o pequeno agricultor. A água é vida”, complementa. Diante das dificuldades para sobrevivência e a necessidade de água para a lavoura e criação de animais, as famílias decidiram reestruturar a lagoa, que já tinha sido parte importante do cenário da região no passado. Organizados em uma associação, os pequenos proprietários reuniram verba e compraram as primeiras mudas para o reflorestamento das áreas de nascentes. REFLORESTAMENTO “O replantio de mudas nativas da região, o cuidado com as Áreas de Preservação Permanente e o empenho em manter a vegetação das Reservas Legais são fundamentais para que os agricultores possam reestruturar uma represa ou lagoa que foi desativada”, enfatiza Luciana dos Reis Valadão, agente de desenvolvimento rural do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae). Ela explica, ainda, que o processo de recuperação de nascentes pode ser feito de forma natural, o que, apesar de ser mais barato, é muito lento. Ou pode ser feito de forma artificial, com a compra de mudas ou transplantação de espécies das redondezas para junto das nascentes. “A recuperação da mata ciliar é importantíssima para evitar o assoreamento e também para a contenção da água”, defende Leonardo Machado, assessor técnico da Federação de Agricultura e Pecuária de Goiás (Faeg). Cerca de 3,3 mil mudas foram plantadas na área da lagoa Edson Antunes de Souza, Valdemar Costa, o Tim, (ao centro), e Donizeti Divino da Silva, pequenos produtores em Itaberaí Formosa. “Juntamos nossas forças e os poucos recursos de cada agricultor para desenvolver esse projeto, mas a falta de dinheiro é sempre um problema”, considera Divina Célia de Souza, presidente da associaçãodosagricultores doassentamento. “Estamos fazendo tudo com as nossas próprias forças e possibilidades, simplesmente porque isso é essencial para nós”, completa Tim. Outro passo importante que os moradores da região da lagoa realizaram foi o cercamento da área ao redor de toda a represa. “Hoje, nenhum animal chega perto das nascentes e também evitamos, ao máximo, a entrada de pessoas. Estamos em uma etapa de preservação total”, comenta Tim, ao explicar que, com isso, evita-se a compactação do solo e o desmatamento. 41 CAMPO / encarte do jornal O POPULAR e JORNAL DO TOCANTINS 7 Fotos: Sebastião Nogueira PARA CONSTRUIR OU REESTRUTURAR UMA REPRESA Animais ficam a 20 metros de distância da lagoa Fazer o levantamento topográfico da região. Nele serão detalhados os recursos hídricos, bem como o melhor lugar para a construção e o limite máximo de inundação. Também é necessário reconhecer a possibilidade de recuperação de nascentes ou a necessidade de desvio de água dos afluentes próximos. 1 Entrar com o pedido de licença ambiental e outorga de uso de água junto à Secretaria de Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Semarh) do Estado. 2 Maiságuaerendanapropriedade Para a agente de desenvolvimento rural do Sebrae, Luciana dos Reis Valadão, a construção de uma represa ou a reestruturação de uma lagoa é um importante passo para o pequeno e médio agricultor. “Além de aumentar o potencial hídrico da parcela de terra, o represamento da água pode também se tornar outra fonte de renda para o pequeno proprietário, principalmente se liberada para a piscicultura”, comenta ela. Quando se trata de uma porção pequena de terra, onde o produtor precisa aproveitar ao máximo os recursos disponíveis, a possibilidade de represamento é ainda mais atrativa, principalmente porque resguarda o produtor dos sofrimentos inerentes à seca, ao acumular a água das chuvas. Mas Leonardo Machado, assessor técnico da Federação de Agricultura e Pecuária de Goiás (Faeg), lembra que o processo de construção de uma represa é demorado e requer muitos cuidados com a legislação e com o meio ambiente. “É preciso que o agricultor calcule com cuidado o tempo e o recurso destinados para a construção, porque tudo isso pode demorar até dois anos, desde o projeto inicial, até o término das obras”, adverte. Os custos para a construção ou reordenamento de uma lagoa variam muito, segundo Ghimayel Andrade de Souza, diretor de meio ambiente da Secretaria Municipal de Meio Ambiente de Itaberaí (Semma). “Os valores envolvidos nesse processo dependem do tamanho da área a ser inundada, a quantidade de máquinas, de mão-de-obra empregada e a área onde será feita a construção. Tudo isso é muito variável”, considera. Estar atento à legislação ambiental é um ponto importante para os agricultores que pretendem construir uma represa em suas terras. “Para uma construção desse tipo é necessário um licenciamento para a obra e a outorga de uso de água, que podem demorar de oito meses a um ano para serem aprovadas”, explica Leonardo. Somente com essa documentação o agricultor estará apto a trabalhar com os recursos hídricos de sua região. Além das questões legais, outro ponto importante a ser considerado é o impacto ambiental que a obra irá causar no terreno. “Calcular o potencial hídrico e se preocupar com o reflorestamento das margens e nascentes é essencial para que um projeto de represa seja aprovado”, aponta Ghimayel. Desenvolver o projeto construtivo da barragem. Nele deve conter: a cota de inundação, considerando o período mais chuvoso do ano; o controle de vasão da água, com o cálculo da descarga de fundo, a responsável por evitar inundações e secas; o local de construção; além de todas a 3 medidas de proteção ambiental, tanto das margens como das nascentes. Replantio ou transplantação de espécies para as margens das nascentes, com o objetivo de tornar a área o mais similar possível à original. 4 Construir a barragem a partir de uma nascente pré-existente ou com o desvio de água de um afluente próximo. 5 Fazer o ganho ambiental com o reflorestamento entre15 a100 metros das margens, dependendo do tamanho da represa e da legislação local. 6 Cercar toda a área de reflorestamento para evitar a entrada de animais e, com isso, impedir a compactação do solo, desmoronamentos e erosões. 7 Fonte: Secretaria Municipal do Meio Ambiente (Semma) de Itaberaí Ele lembra, ainda, que se o agricultor pretende usar a água da barragem para irrigação ou criação de animais ela não pode ser construída em Área de Preservação Perma- nente, ou de Reserva Legal. E que no projeto de construção precisam estar expressas as ações de “ganho ambiental”, que são as relacionadas ao reflorestamento. Barragem é o próximo passo No mês de maio, com a ajuda da prefeitura de Itaberaí, os pequenos produtores do assentamento Luís Ório tamparam os primeiros drenos e agora esperam um posicionamento das autoridades para a construção da barragem que, segundo Divina, já foi aprovada pela Secretaria do Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Semarh). “O aterro é essencial para reter a água e fazer a melhor distribuição dela pelo terreno”, explica Joaquim Roberto Lima Teixeira, 42 agrônomo da Agência Goiana de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater). Donizeti Divino da Silva, um dos produtores, explica que desde que foram tomadas as primeiras medidas para a recuperação da lagoa a água da região melhorou, tanto em qualidade como em quantidade. “Ano passado, nessa época, já faltava água na maioria das cisternas e começava a preocupação com o gado e a plantação. Agora, até a água do poço melhorou, sem contar que já posso fazer planos de ampliação da minha lavoura de maracujá,” declara. CHUVAS AJUDARAM Com menos de dois meses após o fechamento dos primeiros drenos, e com apenas duas chuvas fortes durante esse período, a lagoa Formosa já apresenta alguns pontos com cerca de dois metros de profundidade e ocupa uma área de, aproximadamente, seis alqueires. “É mui- to bom poder olhar e ver o resultado do nosso esforço”, comenta Donizeti. Para Edson Antunes de Souza, um dos agricultores, além de melhorar a qualidade da água da região a reconstrução da lagoa é fundamental para aproveitar ao máximo as áreas não cultiváveis. “Antes, tínhamos uma área que estava totalmente desperdiçada, era um solo empobrecido, que não servia para agricultura, e não queríamos apenas colocar o gado. Agora ela gera um recurso que é essencial para nós: a água”, defende ele. Mas o agrônomo da Emater, Joaquim Roberto Lima Teixeira, lembra que, no caso da Lagoa Formosa, apenas os primeiros passos foram dados. “A região da lagoa demanda uma barragem grande, de mais ou menos quatro metros de altura. Sem isso, a água pode voltar a secar”, explica, ao reforçar que esse é um processo que demanda tempo e recursos financeiros. Prêmio CREA Goiás de Meio Ambiente 2011 Modalidade Imprensa Televisão Reportagem: Voçorocas: uma ameaça ao sudoeste goiano Premiados: Jornalistas Caroline Pandolfo e José Divino Nascimento TV Rio Claro (Jataí) da Rede Anhanguera de Televisão - Organização Jaime Câmara Voçorocas: uma ameaça ao sudoeste goiano TV Rio Claro (Jataí) - da Rede Anhanguera de Televisão Organização Jaime Câmara RESUMO O sudoeste goiano é a região que mais produz grãos no Estado. No entanto, a exploração desordenada do solo para o uso da agricultura e pecuária está provocando o desequilíbrio ambiental na região. A maior conseqüência é o surgimento de grandes voçorocas nas fazendas de lavouras e pastagens. Em Jataí e Mineiros grandes áreas já se tornaram verdadeiros cemitérios de árvores mortas. Até o Parque Nacional das Emas, maior reserva de cerrado preservada da América Latina, sofre as conseqüências da ganância humana. O local que abriga diver sas espécies ameaçadas de extinção está sendo engolido pelas voçorocas. A reportagem que foi dividida em dois atos mostra o trabalho de formiguinha dos policiais da Delegacia Estadual do Meio Ambiente (DEMA) para conter a agressão. Além de atuar de forma punitiva multando os agressores, o trabalho tem também o foco na conscientização ambiental. Os fazendeiros da região são orientados de forma técnica para reparar os danos causados à natureza. Parque Nacional das Emas em Mineiros - GO 46 Prêmio CREA Goiás de Meio Ambiente 2011 Prêmio CREA Goiás de Meio Ambiente 2011 47 48 Prêmio CREA Goiás de Meio Ambiente 2011 Prêmio CREA Goiás de Meio Ambiente 2011 49 50 Prêmio CREA Goiás de Meio Ambiente 2011 Prêmio CREA Goiás de Meio Ambiente 2011 51 Modalidade Imprensa Rádio Série de entrevistas sobre a questão da falta de água no Estado Premiados: Radialistas Luiz Geraldo Teixeira, Mariani Ribeiro, Clênia Marques e Rafael Mesquita Rádio CBN - Goiânia - Organização Jaime Câmara Série de entrevistas sobre a questão da falta de água no Estado Rádio CBN-Goiânia - Organização Jaime Câmara RESUMO A intenção da série de entrevistas, realizadas durante o CBN Goiânia, no período de 5 a 8 de julho de 2011, foi mostrar como o Estado se preparou para o período de seca este ano em Goiás. Desde fevereiro aconteceram diversas reuniões para tratar do assunto, onde foram cobradas medidas preventivas para evitar o desabastecimento. Foram entrevistados na série representantes da Saneago, do Ministério Público e da Saneago Caesb, que atende a região do entorno do Distrito Federal, região com maior problema no abastecimento no Estado. Série de entrevistas sobre a questão da falta de água no Estado CBN 1ª Entrevista A primeira matéria tratou das ações adotadas pela Saneago para evitar o desabastecimento no Estado. A reportagem foi com diretor de produção da Saneago, Eduardo do Carmo. Ele disse que as ações preventivas foram tomadas desde janeiro, com controle dos mananciais, tentando evitar o assoreamento e a poluição nos pontos de coleta. Houve ações de reforço em Jataí, Mineiros, cidades do Entorno de Goiânia e do DF. Em cidades com menos de 500 mil habitantes houve obra para aumento da produção. Entrevista na íntegra com: Diretor de Produção da Saneago – Eduardo do Carmo Afiúne Com relação às medidas para evitar a falta de água esse ano. Quais medidas foram adotadas pela Saneago? “A Saneago, preocupada com o abastecimento das cidades do Entorno do Estado de Goiás, está tomando providências preventivas e corretivas desde janeiro. Nós começamos com o monitoramento dos nossos mananciais de superfície, controlando o assoreamento e a contaminação destes. Estamos ampliando os sistemas de captação e perfuração de poços artesianos em várias regiões do Estado Goiás, como nas cidades do Entorno, em Valparaíso, Luziânia, Itumbiara, Rio Verde, Jataí e outras localidades.” Com relação às cidades do Estado que mais preocupam nessa época de seca. “Estamos conseguindo fazer um reforço de produção nas cidades com menos de 200 mil habitantes. Já nas cidades maiores, como Goiânia, Aparecida, Rio Verde e Jataí, temos grandes obras em curso, que deverão ser inauguradas agora no final de 2011 e também em 2012. Ao mesmo tempo, a diretoria de produção realiza nos sistemas de água um controle de perdas físicas. Com o controle de perda de água, podemos ofertar mais água aos nossos clientes, que é o interesse da Saneago.” Como está situação dos investimentos? “A Saneago tem investimentos próprios e investimentos externos (PAC II, BNDES entre outras diversas entidades), tendo, assim, aproximadamente 1,5 bilhão de reais para investir em 2011 e 2012. Os investimentos serão realizados em sistemas no Estado inteiro. A previsão é que esses sistemas, tanto no final do ano como no ano que vem, disponibilizem mais água para a população do Estado de Goiás. Nós pedimos à população e aos clientes da Saneago que, nesse período de seca, façam uso comedido da água, que não desperdicem água. No mês que vem começa o período de seca e sempre há uma redução natural da produção de água em todas as cidades do Estado de Goiás.” 56 Prêmio CREA Goiás de Meio Ambiente 2011 2ª Entrevista A segunda matéria foi com o promotor Érico de Pina Cabral, do Centro de Apoio Operacional do Consumidor, que afirmou estar acompanhando os processos desenvolvidos pela empresa. Segundo ele, foi solicitado um cronograma de obras e mais celeridade nelas. Ainda de acordo com o promotor, o problema maior acontece em Aparecida de Goiânia, onde a população ainda sofre com a falta de água. Ele lembrou também dos problemas de Senador Canedo e do Entorno do Distrito Federal, onde ainda são esperadas a conclusão de várias obras. Ele diz que foram assinados 4 tacs pra solução dos problemas, apresentados em 2010. Entrevista na íntegra com: Promotor Érico de Pina Cabral – Coordenador do Centro de Apoio Operacional do Consumidor do Ministério Público Estadual O Ministério público está acompanhando se a Saneago tem tomado essas medidas preventivas, que foram apresentadas antes do problema acontecer? “Sim. Desde o ano passado, quando houve o grave problema da seca, com a falta de água e água suja, o Ministério Público tem realizado várias reuniões com a Saneago, cobrando medidas preventivas, para que esse problema não ocorra novamente neste ano. Já nos reunimos várias vezes. Temos aqui um cronograma de obras, com algumas já concluídas e outras ainda sem conclusão, que devem ser finalizadas até o mês de setembro.” Quais são as principais medidas que foram solicitadas? “Temos acompanhado e cobrado celeridade. O grande problema que penso que teremos nessa seca é forçar a conclusão de algumas obras em Aparecida, como a parte de Goiânia do Jardim Atlântico, onde teve falta d’água no ano passado. Talvez (digo talvez por falta de conhecimento técnico exato) não tenhamos esse problema por força da conclusão de uma grande adutora, que está sendo feita para ligar o sistema Meia-Ponte na Vila Adélia. Trata-se de uma adutora de 800mm, que vai resolver o problema dessa parte sudoeste daqui de Goiânia. O problema é estender esse novo volume de água aos bairros de Aparecida pra lá do Garavelo, porque houve um problema na execução das obras e essas obras hoje estão paradas. Nós estamos tentando resolver.” Temos outro problema no Estado, que são algumas cidades no Entorno de Brasília e aqui no Senador Canedo, onde a Saneago não é a responsável pelo tratamento abastecimento de água potável aos moradores. Nesses casos, as responsáveis são empresas municipais. O Ministério Público conversou com essas empresas, houve negociação? Pois no Senador Canedo nós tivemos e temos problemas sérios. “Senador Canedo, das cidades do entorno de Goiânia, hoje, é a que tem a melhor perspectiva, por incrível que pareça. Em Senador Canedo estão sendo concluídas obras no valor de 48 milhões. Está sendo concluída uma nova estação de tratamento, além de várias adutoras. Nós fizemos várias reunião aqui no Ministério Público com a empresa municipal de saneamento lá de Senador Canedo, porque neste município a concessão Prêmio CREA Goiás de Meio Ambiente 2011 57 não é da Saneago. A perspectiva em Senador Canedo é muito boa. Nós acreditamos, pelo que foi apresentado no Ministério Público, que neste ano, em Senador Canedo, não haverá os mesmos problemas do ano passado. Talvez um ou outro ponto ainda pode ser problemático, mas com a nova estação de tratamento e com a nova captação que está sendo concluída, se é que já não foi concluída, eu penso que Senador Canedo ficará com a melhor situação aqui da região do entorno de Goiânia. Agora, no entorno de Brasília o problema é grave. No entorno sul de Brasília nós fizemos 4 tacs da com a Saneago, cidade por cidade, bairro por bairro, cano por cano, situação por situação, pra resolver o problema emergencial do entorno. Inclusive cobrando da Saneago, no Tac, a colocação de caminhão pipa naqueles lugares onde não tem como estender a tubulação e não tem como perfurar porque não dá água. Portanto, na região do entorno sul, o problema será amenizado. Já na região do entorno norte (Planaltina, Águas Lindas e Santo Antônio), a situação pouco evoluiu. Estamos trabalhando para verificar o que deve ser feito.” 3ª Entrevista Na terceira e última matéria da série, falamos com o representante do consórcio Saneago/Caesb, Vercileu Antônio de Jesus, que afirmou não ser preocupante a situação do abastecimento na região, por conta das providências que foram adotadas. Segundo ele, até que fosse concluído o projeto de abastecimento de Águas Lindas, o consórcio providenciou a perfuração de poços artesianos. Ainda de acordo com ele, nem mesmo a utilização de carros pipas estava prevista para 2011. Ele não garantiu a data para conclusão da ETA de Águas Lindas, mas garantiu que as providências seriam suficientes. Entrevista na íntegra com: Gerente Técnico do Consórcio Saneago/Caesb - Vercileu Antônio de Jesus A situação de abastecimento de água é preocupante esse ano? Quais foram as medidas tomadas? “Até o momento está tudo tranquilo em relação à falta d’água. Nós temos algumas providências que foram tomadas. Até que seja concluído o projeto definitivo do sistema de abastecimento de Águas Lindas, feito através do método convencional, estamos tomando providências para a perfuração de mais poços.” Há um complicador maior para encontrar o local ideal para fazer essas perfurações? “O nosso departamento, a Hidrogeologia, já executa um trabalho de locação desses poços. Então não temos essa dificuldade.” Há, esse ano também, previsão em relação aos caminhões pipa? “Não temos nenhuma previsão de situação que possa acarretar a falta d’água, logo não há necessidade de caminhão pipa.” 58 Prêmio CREA Goiás de Meio Ambiente 2011 Essa ETA anunciada fica pronta quando? “Quanto a isso, não posso fornecer nenhuma previsão, porque é um projeto entre Saneago e Caesb. Mas acredito que não demore muito, pois Águas Lindas apresenta hoje um crescimento muito grande. Isso nos preocupa. Não podemos deixar que esse projeto fique moroso.” Há morosidade hoje? “Não podemos nos acomodar quanto a execução do projeto, permitindo que ele fique moroso. Há preocupação das duas empresas para que a conclusão desse projeto seja o mais rápido possível. Prêmio CREA Goiás de Meio Ambiente 2011 59 Modalidade Arquitetura e Urbanismo Projeto: Projeto de infiltração de águas pluviais utilizando poços e trincheiras de infiltração. Premiados: Eufrosina Terezinha Leão Carvalho e Jorge Tadeu Abrão Projeto de infiltração de águas pluviais utilizando poços e trincheiras de infiltração RESUMO Estudo, projeto e instalação de sistema de reservação e infiltração para manter o equilíbrio hidrológico da área após a implantação de Condomínio Residencial em Goiânia. O projeto visa reduzir e controlar os fluxos superficiais e o volume de água encaminhado para o rio. Foi projetada e executada uma bateria de poços e valas (trincheiras) de infiltração, interligados. No dimensionamento do sistema utilizou de parâmetros de infiltrabilidade e características do solo, variação do nível de lençol freático local e dados pluviométricos da cidade de Goiânia. Os poços foram revestidos com tubos de concreto pré-moldados perfurados ou pneus usados. Etapas de construção: abertura dos poços e valas. Os poços foram revestimento com manta geotêxtil e em seguida o revestimento em manilha ou pneus. As valas foram preenchidas com brita envelopada em manta geotêxtil. A manta geotêxtil separa o solo do sistema de infiltração (poços e valas). No centro da vala uma tubulação em PVC (perfurada) tem a função de infiltração e adução dos fluxos para os pontos de descarga às margens do córrego. Águas superficiais e dos telhados das unidades habitacionais são encaminhadas para o sistema de infiltração. A fase de estudos do solo e projeto ocorreu entre novembro/2008 a julho/2009 e a execução de julho a agosto/2010. O projeto beneficia diretamente o córrego e a comunidade local. Este estudo faz parte de uma Tese de Doutorado da UnB. 64 Prêmio CREA Goiás de Meio Ambiente 2011 PROJETO DE UM SISTEMA CONSTITUIDO DE POÇOS E VALAS PARA RESERVAÇÃO E INFILTRAÇÃO DE ÁGUA DE PLUVIAIS Identificação do Trabalho: Projeto: Eufrosina Terezinha Leão Carvalho Empresa: Trípoli Construtora - Engo. Jorde Tadeu Abrão Além do Projeto de sistema de infiltração foi implantado na área um campo experimental que faz parte de uma pesquisa de doutorado na UnB Fazem parte desta Pesquisa: Mestrado UFG: Alexandre Garcês de Araújo Orientador - Prof. Dr. Gilson de Farias Neves Gitirana Jr - UFG Co- Orientador - Prof. Dr. Maurício Martines Sales – UFG Doutorado UnB: Eufrosina Terezinha Leão Carvalho Orientador - Prof. Dr. José Camapum de Carvalho – UnB Co- Orientador - Prof. Dr. Gilson de Farias Neves Gitirana Jr – UFG Concepção das estruturas de infiltração, implantação do sistema de infiltração e descarga de águas pluviais em lançamentos múltiplos do excedente na margem esquerda do Córrego Cascavel. Obra: Condomínio residencial Bosque Sumaré – habitação coletiva horizontal. Proprietário: Endereço: Rua Marechal Floriano, Área, Quadra, Chácara, Parque Anhanguera – Goiânia,GO. Área do empreendimento: 14.771,72m2. Período para estudos preliminares: novembro/2008 a julho/2009 Conclusão do Projeto: julho/2009 Execução do Projeto: julho a agosto/2010 Prêmio CREA Goiás de Meio Ambiente 2011 65 PROJETO DE PESQUISA A PESQUISA É UM PROJETO COM A PARTICIPAÇÃO DA UnB, UFG E FURNAS Fazem parte desta Pesquisa: Doutorada UnB: Eufrosina Terezinha Leão Carvalho Orientador - Prof. Dr. José Camapum de Carvalho – UnB Co- Orientador - Prof. Dr. Gilson de Farias Neves Gitirana Jr – UFG Prof. Dr. Maurício Martines Sales – UFG Os estudos utilizados neste projeto fazem parte de um Projeto maior de Pesquisa financiado pelo PRONEX (Programa de Apoio a Núcleos de Excelência) submetido à FAP-DF (Fundação de Apoio a Pesquisa do Distrito Federal) e Projeto Casadinho do CNPq. Este projeto tem por objetivo analisar o potencial de infiltração dos solos regionais e os riscos de colapso estrutural e erosão interna do solo. A prática de infiltração embora bem vista no controle dos fluxos superficiais pode implicar em geração de problemas para o perfil de solo. Assim o estudo pode propõe soluções regionais e recomendações técnicas para a administração pública. Hoje não só no DF como em Goiânia danos ambientais como erosões e comprometimento de mananciais são gerados pelo excesso de fluxo superficial em conseqüência do uso e ocupação do solo. A infiltração surge como técnica mitigadora, no entanto, devido às características dos solos regionais surgem outros riscos a serem analisados, tais como colapso e erosão interna. Com o excesso de fluxo superficial as próprias estruturas de drenagem urbana existentes têm demonstrado insuficientes e novos projetos de ampliação das redes existentes têm o seu custo elevado e pode não resolver o problemas dos fluxos. Nas cidades é cada vez maior o volume de água a ser drenado e acarreta grandes custos e transtornos para o poder público e a população. Desta forma os conhecimentos obtidos neste estudo poderão contribuir para solução de problemas regionais/nacionais, a exemplo do que ocorre em outros países. O país está despertando para a necessidade de garantir a infiltrabilidade da água no solo de modo a promover o equilíbrio ambiental e o desenvolvimento sustentável. Ao assegurar a infiltração de água no solo estará contribuindo para a redução dos custos dos sistemas convencionais de drenagem de águas pluviais. Ressalta-se, no entanto, que não se dispõe hoje de tecnologia apropriada nem de mão de obra qualificada para atuar no desenvolvimento de projetos que observem não só a questão da infiltração como os riscos dela oriundos, principalmente no processo de infiltração forçada. A infiltração, embora necessária, se não for bem estudada poderá dar origem a outros problemas como a ocorrência de colapso estrutural do solo e erosão interna, ocasionando assim, não só danos ambientais irreversíveis como danos materiais de alto custo. O colapso estrutural do solo de efeitos danosos nas regiões do Distrito Federal e em Goiânia, já é bastante conhecido pelos pesquisadores e pode ocasionar recalques em edificações, danificação de redes de água e esgoto, subsidências em ruas, avenidas e rodovias, tombamento de linhas de transmissão etc. Já a erosão interna ocasiona danos imprevisíveis como interdição e desocupação de quadras residenciais como já registrados eventos destes acidentes em cidades goianas do entorno de Brasília. Portanto, tornam-se imprescindível, formar pessoal como: técnicos, engenheiros 66 Prêmio CREA Goiás de Meio Ambiente 2011 e pesquisadores que possam entender melhor os problemas característicos dos solos do cerrado para lidar com o problema. O desenvolvimento do tema é importante não só para o Distrito Federal e Goiás como para o país. Espera-se com o projeto desenvolver técnicas apropriadas para a implantação de sistemas de infiltração em solos colapsíveis e erodíveis. Formar profissionais e pesquisadores para a atuarem na área e reduzir custos de implantação e manutenção das obras de infra-estrutura urbana. Para esta Pesquisa um dos campos experimentais está instalado na área do Condomínio residencial Bosque Sumaré de propriedade da Trípoli Construtora. A parceria com Trípoli Construtora por intermédio do Eng. Jorge Tadeu Abrão facilitou o andamento da pesquisa nesse local onde foi possível contar com a concessão da área para a obtenção de material para análise em laboratório e monitoramento em campo. Além de contar com a indispensável ajuda nos trabalhos ali realizados, a quem aqui queremos agradecer. Goiânia, 6 de setembro de 2011 Enga. Eufrosina Terezinha Leão Carvalho CREA-GO – 3519/D MEMÓRIA FOTOGRÁFICA DA EXECUÇÃO DO PROJETO INTRODUÇÃO Nas escavações dos poços e valas projetos foram utilizados equipamentos mecânicos com intervenção humana nos pontos de conexões entre o poço e a respectiva vala. Uma sequência de fotografias mostra os materiais e processos de execução do projeto. TUBULAÇÕES A tubulação que interliga o sistema de infiltração e realiza a adução dos fluxos foi perfurada com broca de diâmetro 10 mm a 2/3 de seção perfurada para conduzir os fluxos e favorecer a infiltração no percurso como mostra a Figura 1. Prêmio CREA Goiás de Meio Ambiente 2011 67 Figura 1 - Tubo original, sistema de perfuração, configuração final do tubo e armazenamento. POÇOS E TRINCHEIRAS O uso de manilhas em concreto armado pré-moldado e pneus usados perfurados foram utilizados para dar estabilidade ao perfil de solo nas paredes do poço. Cuidados especiais foram adotados no uso de pneus como revestimento para evitar os criadouros de insetos e não acumular água além de permitir a infiltração entre um pneu e outro, mantendo afastamento por pedaços do próprio pneu, Figura 2. Figura 2 – Manilha em concreto perfurado para os poços da linha de tráfego e pneus usados também perfurados para os locais sem tráfego de veículos. MATERIAIS PARA PREENCHIMENTO E PROTEÇÃO DOS SISTEMAS DE INFILTRAÇÃO Com a finalidade de separar a interface solo e o sistema de infiltração foi utilizado o envelopamento do material granular de preenchimento das valas foi colocado a manta geotêxtil. Ao apresenta a brita #1” de preenchimento das trincheiras. A manta geotêxtil foi colocada na interface solo revestimento e fundo dos poços e uma camada de brita colocada num fundo do mesmo. A Figura 3 mostra os materiais manta geotêxtil e brita. 68 Prêmio CREA Goiás de Meio Ambiente 2011 Figura 3 – Material da manta geotêxtil para revestimento dos poços e das valas e a brita 1” para o preenchimento das valas e revestimento do fundo do poço. EQUIPAMENTOS Nesta seção serão apresentados os processos utilizados para a escavação dos poços e valas ou trincheiras. Os poços foram escavados utilizando uma perfuratriz adaptada para produzir o diâmetro projetado. A escavação das valas foi feita utilizando uma retroescavadeira e o acabamento entre a junção poço trincheira foi feita por escavação manual, Figuras 4, 5 e 6. Figura 4 – Equipamento de perfuração dos poços e das valas e vista de um poço escavado nas dimensões de projeto. Prêmio CREA Goiás de Meio Ambiente 2011 69 Figura 5 – Sistema de escavação de valas com o uso da retroescavadeiras Processo manual para escavação de valas, Figura 6. Figura 6 - Escavação manual das valas e configuração final dos poços e valas REVESTIMENTO DE POÇOS E TRINCHEIRAS Sistema de revestimento dos poços com a manta geotêxtil é um processo simples que utiliza grampos para fixar o tecido nas paredes dos poços ou valas antes da colocação do revestimento do poço com os anéis de concreto pré-moldado ou pneus usados, Figuras 7 e 8. 70 Prêmio CREA Goiás de Meio Ambiente 2011 Figura 7 – Colocação da manta geotêxtil no poço Figura 8 - Processo utilizado para descer as manilhas nos poços e configuração final de um poço revestido Prêmio CREA Goiás de Meio Ambiente 2011 71 A Figura 9 mostra à esquerda da figura uma linha de poços acabados e à direita os poços já com as tampas. Figura 9 - Vista geral dos poços escavados e revestidos à esquerda e poços já com as tampas à direita Configuração final da manta nas valas e camada de brita 1” no fundo da vala, Figura 10 Figura 10 - revestimento e enchimento das valas 72 Prêmio CREA Goiás de Meio Ambiente 2011 A Figura 11 mostra o detalhe entre poço e vala sempre tomando precaução em relação ao isolamento do sistema de infiltração e o solo . Figura 11 - ligação poço vala ou trincheira A Figura 12 apresenta detalhe do conjunto poço vala e tubulação de adução que percorre o interior da trincheira. Figura 12 – Sistema vala, poço e tubulação Prêmio CREA Goiás de Meio Ambiente 2011 73 A Figura 13a e 13b mostram o processo contínuo de execução do sistema e no primeiro plano apresenta o trecho onde o sistema brita e tubulação será fechado em um sistema de envelopamento, Figura 13. Figura 13 - colocação da tubulação ao longo das valas. Configuração final do sistema com tipos de conexão das tubulações secundárias de coleta de água de uma unidade habitacional, Figura 14. 74 Prêmio CREA Goiás de Meio Ambiente 2011 Figura 14 – Vista geral com os tipos de conexão das tubulações secundárias com as unidades habitacionais. Tampas das caixas de passagens que permite coleta de água superficial e a manutenção do sistema de infiltração como mostra a Figura 15. Figura 15 – Tampa de caixa de passagem que permite a coleta de águas superficiais. Goiânia, 7 de setembro de 2011 Enga. Eufrosina Terezinha Leão Carvalho CREA-GO – 3519/D e CONFEA – 100378367a Prêmio CREA Goiás de Meio Ambiente 2011 75 MEMORIAL DESCRITIVO DO PROJETO DE INFILTRAÇÃO DE ÁGUA DE CHUVA Obra: Condomínio Residencial Bosque Sumaré – habitação coletiva Proprietário: Trípoli Construtora – Engº. Jorde Tadeu Abrão Endereço: Rua Marechal Floriano, Área, Quadra, Chácara, Parque Anhanguera – Goiânia, Go Área do empreendimento: 14.771,72m2 Concepção e projeto de sistema de infiltração utilizando poços e trincheiras e implantação de descarga múltipla para o lançamento dos fluxos excedentes no Córrego Cascavel. O controle das águas pluviais no Condomínio Residencial Bosque Sumaré foi feito por meio de sistema de infiltração de águas pluviais utilizando poços e trincheiras de infiltração. A Figura 1 mostra a situação do Condomínio Bosque Sumaré no Parque Anhanguera, região sudoeste de Goiânia. Figura 1 – Área de implantação do Projeto Condomínio Residencial Bosque Sumaré, situado à Rua Marechal Floriano, Parque Anhanguera, Goiânia – Go (Trípoli Construtora) e localização do campo de pesquisa – Campo experimental. Nesse empreendimento foi implantado um campo de pesquisa dentre três, chamado Campo Experimental II, esses campos fazem parte de uma pesquisa de doutorado que estuda o comportamento hidromecânico de diferentes perfis de solo, característicos da cidade de Goiânia. Nesse estudo o solo foi analisado por meio de ensaios de campo e laboratório. Os ensaios permitem avaliar as condições críticas do comportamento de um perfil quando submetido a elevados percentuais de umidade, carga hidráulica ou fluxos de água transiente 76 Prêmio CREA Goiás de Meio Ambiente 2011 No campo de pesquisa foram instalados poços de infiltração de pequeno diâmetro (poço piloto) e de grande diâmetro (escala real) e o lençol freático foi monitorado em uma cisterna profunda existente no local. O sistema de poço de infiltração permite a infiltração pontual e o processo ocorre sob condição axissimétrica onde um sistema tridimensional pode ser convertido em um sistema bidimensional com duas variáveis: o diâmetro e a profundidade do poço. Detalhe do campo de pesquisa com a locação das estruturas de infiltração está apresentado na Figura 2. Figura 2 - Área destinada ao Campo de Pesquisa II no Condomínio com as estruturas a ensaiadas. Locação do poço de infiltração em escala real, poço piloto, em escala reduzida e cisterna é um poço profundo que possibilita avaliar a sazonalidade do nível do N.A durante a variação da estação seca e chuvosa, durante o ano. Para a concepção deste projeto e coleta de dados para a pesquisa, foram realizados ensaio de campo e laboratório para a obtenção dos parâmetros do solo. No campo além da coletas das amostras para os ensaios de laboratório foram realizados vários testes de infiltração nos poços de pequeno e grande diâmetro com a finalidade de obter as taxas de infiltração média para orientar o projeto de poços de infiltração. O cálculo do volume de aporte baseou-se em dados pluviométricos de 25 anos da Estação Meteorológica da Universidade Federal de Goiás. O dimensionamento das estruturas de infiltração foi feito através da compensação diária de todos os dias do ano considerando os dias chuvosos e não chuvosos durante 25 anos. De acordo com esta avaliação foram projetadas estruturas que podem controlar os fluxos das águas pluviais em toda a área do empreendimento. Na região de solo orgânico foi avaliada a camada com a capacidade de infiltrar uma porcentagem dos fluxos não infiltrados nas estruturas anteriores. Para proteger a estabilidade do perfil foram projetados condutores que chegam aos poços em profundidade segura que não causam a erosão do perfil. O excedente dos fluxos não infiltrados será encaminhado para o leito do córrego de acordo com os critérios estabelecidos pela Prefeitura de Goiânia e o lançamento no rio será feito por múltiplos pontos de lançament o com a finalidade de solicitar o mínimo possível da estabilidade da margem do córrego. Prêmio CREA Goiás de Meio Ambiente 2011 77 A seguir serão descritos os procedimentos e resultados dos ensaios de campo e laboratório. 1. ENSAIOS DE LABORATÓRIO São apresentados nessa seção os resultados dos ensaios de laboratório e os ensaios de campo para análise do perfil estudado quanto à sua caracterização e capacidade de infiltração. 1.1. Solo silte argiloso de cor vermelha 1.1.1. Caracterização geotécnica do solo Esse solo tem predominância na área e os resultados da análise granulométrica são apresentados na Figura 2. Esta análise foi realizada por peneiramento e sedimentação de acordo a normatização. Na análise por sedimentação foram utilizados os métodos de sedimentação com o uso e sem o uso de defloculante. Como defloculante foi utilizado o hexametafosfato de sódio. De acordo com a análise granulométrica esse perfil é característico de solo estruturado, pois na análise granulométrica por sedimentação com o uso de defloculante as curvas granulométricas de todas as profundidades tiveram suas granulometrias reduzidas a partir da peneira #200, processo de defloculação do solo. Na figura aparecem os dois grupos de curva granulométrica: um grupo de curvas sem o uso de deflucolante e outro grupo com as curvas com o uso de defloculante. As curvas apresentadas na figura mostram os resultados do ensaio da granulometria com e sem o uso de defloculante nas profundidades de 0,5; 1,0; 1,5 e 2,0m de profundidade. Observa-se que ao utilizar o defloculante na granulometria por sedimentação as amostras perdem sua estrutura natural e todas, praticamente, adquirem a mesma curva granulométrica nas profundidades estudadas, curvas a 0,5; 1,0; 1,5 e 2,0m de profundidade com uso de defloculante. As curvas granulométicas estão plotadas na Figura 3. Figura 3 – Curvas granulométricas obtidas por peneiramento e sedimentação com defloculante (hexametafosfato de sódio). 78 Prêmio CREA Goiás de Meio Ambiente 2011 Com os resultados das curvas granulométricas registrados na Figura 3, foram traçados os gráficos da Figura 4 registrando a variação da granulométrica do solo em relação à profundidade. Nessa figura foi observado um acréscimo no teor de argila até a profundidade de 1,0m. Em 1,5m há um acréscimo deste teor para novamente voltar a reduzir abaixo desta profundidade. A granulometria do silte apresenta um padrão de ocorrência inverso ao comportamento da argila visto que o teor de silte aumenta com a profundidade, aproximadamente na mesma proporção que decresce o teor de argila. Também na profundidade de 1,5m o teor de silte aumenta e em 2,0m decresce. O teor de areia, diferentemente do que ocorre com a argila e silte, decresce com a profundidade numa menor proporção para o solo analisado sem defloculante. Quando utilizado o defloculante o teor de argila aparece desde a profundidade de 0,5 m, resultado compatível com solo muito intemperizado quando realizada a granulometria por sedimentação com uso de defloculante. As frações agregadas de silte e argila se desagregam com o defloculante e formam a fração argila. A Figura 4 registra também a variação do limite de plasticidade até 2,0m de profundidade. A plasticidade do solo estudado é praticamente constante ao longo de todo o perfil. Na Figura 4 são apresentados os resultados dos ensaios de caracterização do solo: na coluna à esquerda estão registradas as profundidades de retirada das amostras e na coluna da direita os resultados dos ensaios de caracterização do solo. Avaliando os resultados apresentados na Figura 4 verifica-se pouca variação no índice de plasticidade e nos pesos específicos dos sólidos. Figura 4 – Variação da granulometria do solo e do limite de plasticidade. Na Tabela 1 são apresentados o resumo dos resultados dos ensaios de laboratório variando com a profundidade. Prêmio CREA Goiás de Meio Ambiente 2011 79 Tabela 1 – Resultado dos ensaios de laboratório relacionando as profundidades com os respectivos pesos específicos dos grãos, peso específico natural e limites de consistência do solo. Prof. Peso específico (m) dos grãos de solo (Kgf/cm3) 0,50 2,708 1,00 2,669 1,50 2,792 2,00 2,664 Peso específico natural (Frasco de areia) (Kgf/cm3) - 1,29 - 1,42 Limite de Liquidez (%) Limite de Plasticidade e Índice de Plasticidade (%) 35,7 34,4 34,0 37,4 24,9 24,3 23,4 25,7 10,9 10,1 10,5 11,7 A Figura 5 apresenta o perfil de umidade do solo, na etapa de retirada de amostras deformadas e indeformadas e umidade na etapa de ensaios de infiltração em campo. Nota-se que a umidade sofreu uma razoável alteração entre a data de retirada de amostras e a etapa de ensaio de campo, o perfil apresentou mais úmido em setembro de 2008 do que em janeiro 2009 na data do teste. Esse fato sugere a necessidade de avaliar as condições de umidade do solo em todas as etapas testadas já que a umidade do perfil não depende apenas da estação chuvosa, mas também da variação de umidade relativa. A umidade relativa tem relação direta com a insolação sofrida na superfície do terreno de acordo com a temperatura e evaporação. O lençol freático registrado se manteve constante nas duas etapas, em torno de 12,0m de profundidade. Figura 5 – Perfil de umidade do solo durante a escavação do poço e dia do ensaio do poço. 80 Prêmio CREA Goiás de Meio Ambiente 2011 1.1.1.2 Ensaios especiais Com o objetivo de avaliar melhor o solo em estudo, foram realizados ensaios especiais, mais sofisticados, na área do solo vermelho. Os resultados destes ensaios ajudaram entender melhor o comportamento do perfil do solo quanto à capacidade de reter água no perfil e/ou favorecer o processo de infiltração e também estabelecer em que condições o solo poderá se desestruturar e perder sua capacidade de infiltrar. Esses ensaios puderam conferir ao projeto maior precisão na escolha e dimensionamento das estruturas de infiltração. Os ensaios especiais foram granulometria utilizando o granulômetro a laser e a avaliação da curva característica do solo utilizando o processo do papel filtro. A partir do resultado da granulometria a laser foi possível verificar a defluculação da estrutura do solo quando tratado com defloculante, hexametafosfato de sódio ou com ultra-som nos diversos processos de tratamento prévio da amostra como não secagem, secagem ao ar ou secagem em estufa. Resultados da granulometria por Granulômetro a Laser das amostras de 1,0m, 2,0m e 3,0m utilizando os processos sem secagem prévia com secagem prévia, e secagem em estufa com e sem o uso de ultra-som são descritos como segue: a) we cd cu - secagem em estufa, com defloculante e com ultra-som; b) we cd su - secagem em estufa, com defloculante e sem ultra-som; c) we sd cu - secagem em estufa, sem defloculante e sem ultra-som; d) we sd cu - secagem em estufa, sem defloculante e sem ultra-som; e) wn cd cu - secagem ao natural, com defloculante e com ultra-som; f) wn cd su - secagem ao natural, com defloculante e sem ultra-som; g) wn sd cu - secagem ao natural, sem defloculante e sem ultra-som; h) wn sd cu - secagem ao natural, sem defloculante e sem ultra-som; i) ws cd cu - sem secagem prévia, com defloculante e com ultra-som; j) ws cd su - sem secagem prévia, com defloculante e sem ultra-som; k) ws sd cu - sem secagem prévia, sem defloculante e sem ultra-som; l) ws sd cu - sem secagem prévia, sem defloculante e sem ultra-som. As amostras de solo a 1,0; 2,0 e 3,0m de profundidade foram submetidas a todos os procedimentos citados e os resultados estão apresentados na Figura 6, para a profundidade de 1,0m; Figura 7, para a profundidade de 2,0m e; Figura 8, para a profundidade de 3,0m. Figura 6 – Resultado do ensaio de granulometria a leser para 1,0m de profundidade. Figura 7 – Resultado do ensaio de granulometria a leser para 2,0m de profundidade. Figura 8 – Resultado do ensaio de granulometria a leser para 3,0m de profundidade. Para avaliar a condutividade do perfil de solo, curvas característica de molhagem foram realizadas nas profundidades de 1,0; 2,0 e 3,0m. O ensaio foi realizado com as curvas de molhagem tendo em vista que o processo de infiltração ocorre mediante à imposição de fluxo sob alta carga hidráulica, infiltração de água no solo. Esses ensaios mostram que a condutividade hidráulica em solos não saturados é afetada pelo grau de saturação, pelo teor de umidade e pelos vazios do solo, os vazios do solo estão relacionados com a granulometria e com a estruturação do solo. Em um solo não saturado à medida que o solo vai ressecando, o ar substitui progressivamente a água dos poros, e durante este processo de perda de umidade pode ocorrer redução dos vazios do solo, Prêmio CREA Goiás de Meio Ambiente 2011 81 a descontinuidade do fluxo podendo formar ar ocluso entre a massa de solo e água. Esses fenômenos retardam o processo da condutividade hidráulica e conseqüentemente há perda da capacidade de infiltração. A Figura 9 mostra os resultados das curvas características por molhagem para obter a variação da sucção total e matricial do solo nas profundidades de 1,0, 2,0 e 3,0m de profundidade e suas respectivas curvas de ajuste. Nesta figura é possível verificar facilmente que á medida que o solo perde umidade aumenta a sucção do solo. A área total disponível para o fluxo da água decresce com a diminuição da quantidade de poros saturados por água, o ar passa a ocupar o lugar da água, dificultando a percolação da água como líquido, a partir daí o processo de percolação da água torna-se possível na forma de vapor. No entanto, altos valores de sucção favorecem a estabilidade nos cortes do perfil de solo, garantindo a estabilidade dos taludes do solo e nos poços a estabilidade de suas paredes. Figura 9 – Curva característica todas as profundidades, (Garcês Araújo, 2010). Para determinar a colapsividade do solo foram realizados ensaios oedométricos com o solo no seu estado natural e sob inundação. A profundidade escolhida foi a 3,0m de profundidade coincidindo com a profundidade de assentamento das fundações das unidades habitacional e por ser o perfil bastante homogêneo com a profundidade. Os ensaios realizados indicaram que o solo não apresentou nenhum nível de colapsividade para as cargas testadas, características das cargas que serão edificadas no empreendimento. Este solo apresenta um índice de vazios inicial de 1,77. A Figura 10 mostra o resultado desses ensaios e a ausência de colapso na inundação da amostra. Figura 10 – Coeficiente de colapso para o solo natural e inundado, profundidade de 3,0m, (Garcês Araújo, 2010). 82 Prêmio CREA Goiás de Meio Ambiente 2011 Para um solo com as características deste solo há restrição apenas para fluxos de água com contaminantes químicos, cuja ocorrência mais comum neste tipo de empreendimento é a infiltração de esgoto sanitário. Nesse caso, o perfil ao ser infiltrado por água com os contaminantes típicos, estará sujeito à desestruturação ou o colapso da estrutura do solo e como conseqüência sofrerá redução da permeabilidade do perfil podendo causar danos às estruturas vizinhas. Desde que mantidos fluxos de água não contaminados pelo maciço, o processo de infiltração será favorecido em todas as profundidades em estado natural do perfil de solo. 1.2. Solo argiloso orgânico de cor preta 1.2.1. Caracterização geotécnica do solo Na área estudada, região mais próxima à margem do córrego, verifica-se a presença de solo, argila orgânica de cor preta. O estudo mostrou alto teor de argila no perfil até a profundidade de 3,0m com mais de 85% de finos passando pela peneira 200, mas a partir da profundidade de 5,0m o solo apresenta um alto teor de material grosso e a porcentagem fina que passa pela peneira 200 não supera 2%. A 4,0m de profundidade o material foi insuficiente para realizar o ensaio. Nas profundidades a partir de 5,0m de profundidade o solo apresenta boa capacidade de infiltrar. Essa formação caracteriza que no passado a região foi um fundo de vale. Os resultados da análise granulométrica nas profundidades de 1,0; 2,0; 3,0; 5,0 e 6,0m estão expressos na Figura 11. A Figura 12 mostra material com mesma granulometria do material encontrado no perfil abaixo de 5,0 a 6,0m de profundidade, abaixo da argila orgânica de cor preta. Figura 11 – Perfil granulométrico do solo orgânico próximo ao Córrego Cascavel. Prêmio CREA Goiás de Meio Ambiente 2011 83 Figura 12 – Granulometria do material encontrado aos 5,0m de profundidade no perfil de solo orgânica, argila preta. Na Figura 13, perfil de umidade do solo orgânico com a capacidade de reter água diminuindo com a profundidade, o que indica que a partir de 4,0m o perfil tem boa capacidade de drenar, infiltrar devido a presença da granulometria graúda com seixo rolado de diâmetro até 10 cm. Esse perfil tem capacidade de reter água até a profundidade de 4,0 m e a partir daí o perfil permite bem a passagem da água. Figura 13 – Perfil de umidade do solo orgânico 84 Prêmio CREA Goiás de Meio Ambiente 2011 2. ENSAIOS DE CAMPO – INFILTRAÇÃO Os ensaios de infiltração nos poços foram realizados em uma etapa com dois testes. O primeiro teste de infiltração foi realizado no dia da inundação dos poços (enchimento dos poços no dia anterior ao teste propriamente dito simulando dias consecutivos de chuva). O segundo teste, no dia seguinte, fez-se novamente o enchimento dos poços para realizar o teste de infiltração. 2.1 Característica dos poços ensaiados Os ensaios foram aplicados em poços de diâmetro reduzido (diâmetro 0,20m), chamados poços piloto e em poços com diâmetro em escala real (diâmetro de 1,0m) os dois poços foram perfurados com a mesma profundidade, 2,50m. O poço em escala real foi revestido com tubos em concreto armado com suas paredes perfuradas com furos de 10 cm de diâmetro (na proporção de 5% de abertura em relação à área lateral do poço), foi colocado um revestimento em manta geotêxtil na interface solo e o revestimento em tubos para evitar a migração de grãos do solo para dentro do poço e vice-versa. O poço a trado, poço piloto, foi testado sem revestimento. 2.2 Processo de monitoramento dos poços de pequeno diâmetro e de diâmetro real A leitura do rebaixamento do nível da água no poço foi avaliada usando uma trena e cronômetro e sensor de nível d’água é um sistema mais preciso e prático, com interface com computador para coleta dos dados. As leituras do rebaixamento do poço foram feitas a cada meio minuto inicialmente ou cada 10 segundos pelo sensor, a partir da lâmina d´água na superfície do poço. A partir do momento que o poço ia perdendo carga hidráulica e o rebaixamento tornava-se mais lento, o tempo de leitura era espaçado, mas nunca superior a 5 minutos. Foi observado que a capacidade de infiltração no solo local é superior a capacidade de infiltração de outras regiões já estudada. A Figura 14 mostra o processo utilizado para ensaiar os poços com diâmetro em escala real, revestido em tubos de concreto perfurado e poço de pequeno diâmetro, poço piloto. Apresenta os métodos utilizados para a medida de rebaixamento do N.A. no poço: trena e sensor de nível d’água. Figura 14 – Ensaio de infiltração no poço em escala real e poço piloto. A Figura 15 apresenta os resultados dos ensaios dos poços no teste de inundação e no dia do teste propriamente dito, resultando em uma capacidade de infiltrar menor após inundação para ambos os poços. Isso atribui ao encharcamento do solo devido dias seguidos de chuva a uma maior dificuldade de infiltrar a água de chuva. A taxa de infiltração média para o poço do poço de grande de diâmetro é de Prêmio CREA Goiás de Meio Ambiente 2011 85 1,00x10-5m3 /m2 .s (valor expresso na linha pontilhada na cor cinza) e para o poço a trado é de 2,10x10-5m3 /m2 .s (valor expresso na linha pontilhada na cor alaranjada). O poço de grande diâmetro tem uma capacidade de infiltrar 2,1 vezes menor do que o poço a trado. Esta relação justifica-se pelo fato de que a relação entre volume a infiltrar em relação à área disponível para infiltrar é maior para o poço a trado do que para o poço de grande diâmetro. Figura 15. Figura 15 – Taxas de infiltração em função da profundidade para os poços de pequeno e grande diâmetro. 3. MEMORIAL DESCRITIVO DE PROJETO O referido projeto partiu da hipótese de instalar estruturas, que trabalhe inicialmente como reservação e em seguida infiltre a água no solo. As estruturas foram dimensionadas para reservar as águas pluviais nos momentos de pico em seguida promover a infiltração no solo de forma a controlar a drenagem no local onde os fluxos são produzidos. Desta forma as estruturas serão capazes de manter o equilíbrio hidrológico da área após a implantação do Condomínio Residencial Bosque Sumaré. Foram calculados poços e valas de infiltração capazes de receber acumular e permitir ao solo infiltrar o volume correspondente à chuva de projeto adotada, baseando em dados pluviométricos da cidade de Goiânia nos últimos 25 anos, computados todos os dias do ano. De acordo com o projeto, o volume que exceder ao volume recolhido será conduzido ao leito do rio, como vem ocorrendo com as áreas expostas na superfície do terreno. No entanto para proteger à margem do córrego Cascavel o lançamento do excedente será feito em mais de um ponto da margem com acesso protegido por projeto complementar que melhor convier de acordo com os estudos que vem sendo realizados no local. Poderá ser contemplado com taludamento da faixa de reflorestamento com largura de 30,0m atendendo as normas de acordo com a aprovação do projeto. 86 Prêmio CREA Goiás de Meio Ambiente 2011 O monitoramento do nível do lençol freático local, na época da estação chuvosa, mostrou que o mesmo não é inferior a 8,50m de profundidade. De acordo com essa informação foram projetados poços e valas para garantir zona efetiva de infiltração numa faixa a 7,0m aproveitando a camada mais permeável do local, garantindo preservar ainda uma distância mínima de 1,5m da cota máxima do lençol freático. Na implantação do sistema foram observados os seguintes aspectos: • Distância razoável entre dois ou mais poços ou valas e entre poços e estruturas das edificações, analisando a influência do bulbo de infiltração de cada poço e sua influência em outros poços ou em estruturas vizinhas; • Foram especificados poços revestidos em tubos de concreto armado perfurado e as valas preenchidas com brita 1” envelopando as tubulações drenantes. Todos os poços e valas serão revestidos com manta geotêxtil revestindo toda a superfície escavada, paredes e fundo e as valas ou trincheiras ser vegetadas; • Nos poços foram estabelecidas porcentagem de abertura no revestimento, paredes verticais área de 5% da superfície, com localização preferencial dos furos na parte inferior do poço para garantir maior capacidade de infiltração do poço. O método não propõe infiltrar todo o volume de aporte sobre uma superfície, mas sim fazer uma compensação diária levando em conta os dias de maior intensidade pluviométrica e os dias secos da estação. Procurou-se evitar o dimensionamento de elementos de infiltração que trabalhem sob sua capacidade máxima em poucos dias e na maioria dos dias do ano fiquem ociosos. Avaliou-se o volume de água que entra em uma estrutura de infiltração, analisando a porcentagem que infiltra a porcentagem que fica armazenada no sistema e a parcela que é lançada na rede natural de drenagem (córrego). Assim, o volume de aporte foi obtido em cada dia pela intensidade de chuva diária, fazendo a compensação em 24 horas, entre dias consecutivos. A intensidade pluviométrica que incide sobre uma área e é encaminhada para um poço de infiltração foi avaliada diariamente, num período de observação de 25 anos, entre os anos de 1978 a 2002, na cidade de Goiânia, utilizando dados coletados na Estação Meteorológica da Escola de Agronomia da UFG. O cálculo utilizado para o dimensionamento dos poços de infiltração foi baseado em um critério que permitiu concluir que o volume de aporte calculado na condição mais real e econômica possível. Os gráficos de eficiência versos o número de poços balizou a escolha da bateria de poços que atende a demanda local e foi utilizada uma eficiência de 56% como está apresentado no gráfico da Figura 16. A taxa de infiltração média adotada no projeto foi de 1,0x10-5(m3/ m2xseg). Nesse valor foi embutido um Fator de Segurança de “3” em relação aos valores médios. Para determinar o número de poços a área de 14.771,72m2, área total do empreendimento, foi dividida em pequenas áreas e para cada área menor foi calculado o número de poços suficiente para infiltrar 56% do volume armazena no pico das chuvas de maior intensidade. Fazendo a compensação, com segurança, das áreas impermeabilizadas pelas edificações. Os poços serão interligados com a função de manter reservada a água e o excedente ser lentamente encaminhado ao córrego. A interligação dos poços deverá ser feita por tubos PVC de diâmetro especificado no projeto, uniformemente perfurados na meia seção inferior para permitir a infiltração da água durante o percurso entre um poço e outro, a taxa de perfuração é de 5% da seção do tubo. O tubo perfurado deverá ser encaixado em uma trincheira composta com tubo, brita 1” envelopado com uma manta geotêxtil e o conjunto deverá ser coberto com solo compactado, detalhado no projeto. Prêmio CREA Goiás de Meio Ambiente 2011 87 A disposição dos tubos na trincheira deverá obedecer a inclinação mínima de 0,5% e a máxima de 5%, sabendo que quanto menor a inclinação maior a facilidade do fluxo de água infiltrar. Figura 16 – Escolha do número de poços e sua eficiência. Na porção da área que apresenta solo orgânico foram projetos poços mais profundos onde a descarga dos condutores não poderá exceder 2,5m de profundidade contados a partir do fundo do poço evitando erosões nas paredes e fundo do poço pela alta carga hidráulica que eventualmente venha se depositar no poço. Acompanha este memorial o projeto com a locação e detalhamento dos poços, a disposição das trincheiras com a variação das inclinações permitidas e os condutos dimensionados para atender a demanda de 56% para chuvas de maior intensidade registrada nos 25 anos considerados. Considerando a capacidade de infiltração do sistema poços e trincheiras de infiltração são capazes de controlar 83% dos fluxos superficiais e se houver manutenção satisfatória do sistema sua vida útil será prolongada garantindo uma solução definitiva de controle das águas pluviais local. O lançamento do excedente do fluxo superficial, aproximadamente 10% do volume que incide sobre a área, é lançado às margens do Córrego Cascavel em 6 pontos cuidadosamente preparados para esta finalidade. Segundo observações durante a última temporada de chuvas o sistema funcionou eficientemente e tem atraído visitantes para conhecer e constatar a funcionalidade do mesmo. Goiânia, 01 de setembro de 2011 Enga. Eufrosina T. Leão Carvalho CREA – 3519/D e CONFEA – 100378367 88 Prêmio CREA Goiás de Meio Ambiente 2011 Modalidade Saneamento Projeto: Projeto de automação da Saneago: inovação e contribuição ao combate às perdas Premiada: Saneago - Saneamento de Goiás S/A Projeto de automação da Saneago: inovação e contribuição ao combate às perdas RESUMO O projeto de automação da SANEAGO foi criado e desenvolvido por colaboradores internos com intuito de permitir a melhoria do controle operacional dos sistemas de abastecimento de água, evitando extravasamentos, faltas d’águas, auxiliando no combate às perdas físicas dos sistemas e consequentemente minimizando os impactos ambientais. Foi desenvolvido um Controlador Lógico Programável (CLP), que compõem o painel de automação juntamente com uma fonte de alimentação e um rádio-modem, permitindo ao operador visualizar os níveis, vazões, status de bombas, correntes de motores, baixo fator de potência e comandar bombas através de um software supervisório. Até o momento, o sistema de automação foi instalado juntamente com a equipe local em 105 unidades operacionais em 08 cidades atendidas pela empresa, ocasionando melhoria imediata do controle operacional, na redução significativa do número de extravasamentos e reduzindo o índice de perdas. A ideia inovadora de se criar e desenvolver um sistema de automação próprio, com custo bastante reduzido quando comparado aos sistemas comerciais, aplicável às necessidades e características da empresa, tem se mostrado uma solução eficaz e extremamente viável para contribuir com os gestores no controle operacional e ao combate às perdas de água. PALAVRAS-CHAVE: Automação, Saneamento e Perdas. INTRODUÇÃO O presente trabalho tem como objetivo apresentar um sistema de automação econômico a ser utilizado em Sistemas de Abastecimento de Água (SAA) e Sistema de Esgotamento Sanitário (SES). Procurou-se desenvolver uma alternativa mais econômica para atender uma variedade maior de sistemas de saneamento objetivando o combate à perdas de água nos SAA e minimização dos impactos ambientais na operação dos SES. METODOLOGIA UTILIZADA O projeto objetivou o desenvolvimento de um sistema que tivesse um custo de implantação e manutenção que viabilizasse a sua utilização mesmo em cidades menores, onde o retorno do investimento impediria a aplicação de soluções convencionais. Concomitantemente, o baixo custo de manutenção é conseguido com componentes robustos e que não exijam mão de obra extremamente especializada. Com esses requisitos, viu-se que em um sistema de supervisão e controle (SSC) que é composto por software e hardware apresenta componentes que são mais facilmente desenvolvidos como a interface homem máquina (IHM) e controlador, e outras cujo desenvolvimento é mais demorado e oneroso como os rádio modem e o medidor de nível contínuo. Na experiência da SANEAGO, e também pelo que se conhece das companhias de saneamento, o ponto vital e mais problemático é a comunicação. Numa planta industrial espalhada em todas as direções das cidades, como são os SAAs e SESs, o desafio é integrar todas as informações para o centro de operações (CO) e tomar as decisões de forma global. Duas características colaboram para rede de comunicação: os tempos de comunicação são relativamente lentos tendo eventos como variação de nível de um reservatório que demoram minutos, e a quantidade de informação para operação básica também é pequena, citando novamente os reservatórios que tipicamente possuem uma medição de nível e vazão. Sendo assim, procurou-se alternativas para a comunicação. Foram exploradas duas: utilização de rádios mais potentes e o uso de repetição do sinal. Na primeira alternativa, que denominamos força bruta, utilizou-se rádios da marca Vertex utilizados para voz que possuem potências típicas de até 40W, podendo em alguns modelos chegar a potências maiores. Esta solução foi adotada no município de Trindade. Instalou-se na estação de tratamento de água (ETA), que situa-se na zona rural, o centro de operações com uma antena direcional comunicando com os principais reservatórios e elevatórias (Reservatório Samara, Distrito, Sol Dourado, Vieira, Cristina2 e ETA) que distam de 4 a 17 km em topografia um pouco acidentada mas não existindo prédios altos na cidade. Embora este rádio possua uma interface para o usuário, foi necessário desenvolver um modem para interfacear com o controlador. Na segunda alternativa, onde utilizamos repetição de sinal, mais uma vez a características dos SAA de tipicamente possuírem centros de reservação situados nos locais mais altos das cidades permite que seja explorada a repetição do sinal nestes pontos. Para tanto selecionamos os rádios-modem da Freewave que possuem a capacidade de um mesmo equipamento funcionar com escravo e ser repetidor, diminuindo os custos de se implantar uma repetidora com esta função exclusiva. Esta configuração foi utilizada na cidade de Jataí, também instalado na ETA, atendendo todos os reservatórios e elevatórias de água. O controlador já se tinha desenvolvido há alguns anos uma versão que era utilizada nas elevatórias de esgoto para o controle automático do funcionamento das bombas. 92 Prêmio CREA Goiás de Meio Ambiente 2011 Foi desenvolvido em torno do microcontrolador PIC, para aplicação proposta foi ampliado o número de entradas saídas para 5 entradas analógicas, 6 entradas digitais e 6 saídas discretas. Na foto 1 temos um painel montado com o controlador, rádio-modem, fonte e acessórios. Na medição de nível adotou duas soluções: os transmissores de pressão LD 1.0 da SMAR onde se precisava de medição contínua de nível ou pressão, e boias de nível da ICOS para medição discreta (25, 50, 75 e 100%) nos reservatórios menos críticos do SAA.. As medições de vazão foram interligados aos medidores magnético ou do tipo Woltman. Foto 1 – Painel automação do reservatório R3 em Jataí Partiu-se para o desenvolvimento de uma interface homem máquina por vários motivos: é um componente que pesa nos custos do sistema, normalmente os supervisórios recentes necessitam de um microcomputador novo impedindo de se utilizar equipamentos mais antigos, e o desenvolvimento de um IHM demanda um grande número de horas de programação no primeiro, mas a replicação para os próximos é menos onerosa. Assim, desenvolveu-se um software que tivesse as características básicas para operação, que são a visualização dos níveis, pressões e vazões e o comando de bombas, e vai se agregando funções conforme a demanda dos operadores do sistema. O programa foi desenvolvido em DELPHI. A foto 2 mostra a tela do supervisório de Valparaíso. Prêmio CREA Goiás de Meio Ambiente 2011 93 Como o objetivo básico é melhorar o controle operacional e o combate as perdas decidiu-se que agregar recursos que poderiam colaborar para a melhor gestão seria fundamental, proporcionando um maior envolvimento dos gestores do sistema. Um é o espelho do IHM implantado no distrito que muitas vezes está localizado longe da ETA onde está o centro de operação, instalado no computador de um dos gestores do SAA para ele acompanhar em tempo real a operação do sistema, este espelho não permite a operação das bombas, mas pode-se visualizar o estado das mesmas e as condições hidráulicas dos reservatórios. Outro recurso que está sendo agregado é a integração com o sistema corporativo da empresa, fornecendo dados ao sistema de controle operacional. Este aplicativo é disponibilizado para outras áreas da empresa como a engenharia, também dentro do espírito de melhorar a gestão as instâncias hierárquicas superiores ao distrito poderão acompanhar através de gráficos e relatórios, atualizados a cada quinze minutos, os níveis de reservatórios e vazões a operação do SAA. Foto 2 – Tela supervisório de Valparaíso O projeto piloto que serviu para iniciar o desenvolvimento do sistema foi o reservatório Serrinha e a elevatória de água tratada (EAT)/reservatório Pedro Ludovico de Goiânia que entrou em funcionamento em outubro de 2009, o da cidade de Trindade começou a funcionar em maio de 2010 e o de Jataí em agosto de 2010. Atualmente está em implantação nas cidades de Rio Verde, Itumbiara, Morrinhos, Luziânia, Formosa, Valparaíso e Aparecida de Goiânia. E está em processo de aquisição material para implantação nas vinte e sete maiores cidades operadas pela SANEAGO, com recursos do BNDES. 94 Prêmio CREA Goiás de Meio Ambiente 2011 RESULTADOS OBTIDOS Um dos principais objetivos da implantação da automação é a redução das perdas e minimização dos impactos ambientais nos SAAs. Além de outras ações, nos sistemas onde foram implantados o sistema de automação, obteve-se uma contribuição perceptível, como pode-se exemplificado pelo Quadro 1. Quadro 1 – Perdas de faturamento - SAAs Além dos ganhos financeiros apresentados pela implantação do projeto de automação, destacamos a produção de água tratada, em m3, que deixou-se de perder a cada mês. Como resultados dessa economia podemos citar o aumento da capacidade de fornecimento de água tratada para uma eventual demanda reprimida no SAA, a redução de água produzida para atender uma mesma demanda, e como consequência temos a diminuição do consumo de energia elétrica nas estações de bombeamento, redução de água bruta captada nos mananciais hídricos e menor utilização de produtos químicos necessários ao tratamento da água. Ressaltamos que procurou-se integrar o sistema de automação à gestão de perdas, procurando-se uma sinergia neste sentido. O custo de implantação do sistema desenvolvido internamente trouxe grande economia para empresa. Na apuração dos custos de instalação com materiais e mão de obra estimou-se um custo de R$ 8.000,00 por unidade, considerando a amortização dos custos de desenvolvimento em 30 projetos que estão planejados para os próximos dois anos. Enquanto a aquisição de um sistema convencional de terceiros (SSC – sistemas de supervisão e aquisição de dados) ficaria em aproximadamente R$ 60.000 por unidade, ou seja, economizou-se 87% para empresa. Outro ganho que obtivemos foi um projeto financiado pelo BNDES no valor de R$ 1.766.000,00 onde se previa a implantação ou ampliação de sistemas de automação em 17 cidades abrangendo 51 unidades operacionais, foi ampliado para as 27 maiores cidades do interior e agora contemplando 184 unidades e com uma redução do custo estimado para R$ 640.000,00. CONCLUSÕES Embora o desenvolvimento pela equipe interna de um sistema de automação no seus componentes básicos seja algo inovador, tem se mostrado um caminho que permitirá um grande avanço na disponibilização desta ferramenta, que auxiliará os gestores no controle operacional, combate à perdas e minimização dos impactos ambientais nos sistemas de água e esgotamento sanitário. Até o momento, o projeto de automação foi instalado em 105 unidades operacionais em 08 cidades atendidas pela empresa, ocasionando melhoria imediata do controle operacional, na redução do número de extravasamentos e reduzindo o índice de perdas, contribuindo assim para preservação do meio ambiente. Prêmio CREA Goiás de Meio Ambiente 2011 95 Modalidade Produção Limpa Projeto: Responsabilidade Socioambiental EBM - Política de Produção Limpa. Premiada: EBM Incorporações S/A Responsabilidade Socioambiental EBM – Política de Produção Limpa RESUMO Desde 2008, a EBM Incorporações desenvolve sua própria Política de Produção com o objetivo de estabelecer um padrão de processo produtivo que contemple estratégias para garantir a minimização dos impactos gerados pelas atividades da empresa. Essa iniciativa visa despertar a consciência ecológica do empresariado, da gestão pública e da sociedade civil quanto à necessidade de minimização e corresponsabilidade dos problemas relativos ao meio ambiente na cadeia da construção civil. Ainda na fase de projeto, os empreendimentos passam por análises de impacto na vizinhança. Já durante a etapa de construção, a EBM desenvolve ações para reduzir poluição sonora, do ar e visual: são os programas Obra Amiga do Vizinho, Projeto Tapume e Arte de Obra. A empresa também estabeleceu uma meta desafiadora de que, até o final desse ano, 40% de toda a madeira utilizada nos empreendimentos seja oriunda de fornecedores certificados. É o consumo Responsável de Madeira. Em relação ao destino do lixo de obra, a empresa desenvolve o Programa de Gerenciamento de Resíduos Sólidos, que contempla cadastramento de receptores, treinamentos de colaboradores e separação de lixo. Os resultados das ações são expressivos: em análise do Instituto Ethos, a EBM superou a média nacional do ramo de construção civil, com desempenho que evoluiu mais de 40% em um ano. E mais: somente em 2011, a EBM comprou cerca de 1.000 m³ de madeiramento certificado; e 100% dos resíduos gerados nas obras foram destinados corretamente. Assim, a EBM preza e busca construir empreendimentos com qualidade e condições que levem a um desenvolvimento sustentável e uma produção cada vez mais limpa. 100 Prêmio CREA Goiás de Meio Ambiente 2011 Prêmio CREA Goiás de Meio Ambiente 2011 101 102 Prêmio CREA Goiás de Meio Ambiente 2011 Prêmio CREA Goiás de Meio Ambiente 2011 103 104 Prêmio CREA Goiás de Meio Ambiente 2011 Prêmio CREA Goiás de Meio Ambiente 2011 105 106 Prêmio CREA Goiás de Meio Ambiente 2011 Prêmio CREA Goiás de Meio Ambiente 2011 107 108 Prêmio CREA Goiás de Meio Ambiente 2011 Prêmio CREA Goiás de Meio Ambiente 2011 109 110 Prêmio CREA Goiás de Meio Ambiente 2011 Prêmio CREA Goiás de Meio Ambiente 2011 111 112 Prêmio CREA Goiás de Meio Ambiente 2011 Prêmio CREA Goiás de Meio Ambiente 2011 113 114 Prêmio CREA Goiás de Meio Ambiente 2011 Prêmio CREA Goiás de Meio Ambiente 2011 115 116 Prêmio CREA Goiás de Meio Ambiente 2011 Modalidade Educação Ambiental Projeto: Estruturas de infiltração de águas da chuva como meio de prevenção de inundações e erosões. Premiados: José Camapum de Carvalho e Ana Cláudia Lélis Estruturas de infiltração de águas da chuva como meio de prevenção de inundações e erosões. RESUMO O material bibliográfico Cartilha Infiltração e Cartilha Meio Ambiente: Infiltração foram desenvolvidas no âmbito do Projeto PRONEX financiado pela FAP-DF/CNPq: “Estruturas de infiltração da água da chuva como meio de prevenção de inundações e erosões”. Este projeto é uma parceria entre a Universidade de Brasília e a Universidade Federal de Goiás envolvendo alunos e professores das duas instituições. A Cartilha “Infiltração” se destina à 6ª e 9ª séries do ensino fundamental, ao ensino médio e a população em geral e administradores públicos e privados. Já a Cartilha “Meio Ambiente: Infiltração” se destina ao ensino fundamental (1ª a 5ª séries). Elas representam a disponibilização para a sociedade do conhecimento técnico-científico gerado no âmbito do projeto de pesquisa e traduz o esforço do grupo de trabalho na busca de popularização da ciência. Dos trabalhos, além dos autores, participaram vários consultores mirins empenhados na luta pelo desenvolvimento sustentável e pela melhoria da qualidade de vida na região, no Brasil e no planeta. 120 Prêmio CREA Goiás de Meio Ambiente 2011 Prêmio CREA Goiás de Meio Ambiente 2011 121 122 Prêmio CREA Goiás de Meio Ambiente 2011 Prêmio CREA Goiás de Meio Ambiente 2011 123 124 Prêmio CREA Goiás de Meio Ambiente 2011 Prêmio CREA Goiás de Meio Ambiente 2011 125 126 Prêmio CREA Goiás de Meio Ambiente 2011 Prêmio CREA Goiás de Meio Ambiente 2011 127 128 Prêmio CREA Goiás de Meio Ambiente 2011 Prêmio CREA Goiás de Meio Ambiente 2011 129 130 Prêmio CREA Goiás de Meio Ambiente 2011 Prêmio CREA Goiás de Meio Ambiente 2011 131 132 Prêmio CREA Goiás de Meio Ambiente 2011 Prêmio CREA Goiás de Meio Ambiente 2011 133 134 Prêmio CREA Goiás de Meio Ambiente 2011 Prêmio CREA Goiás de Meio Ambiente 2011 135 136 Prêmio CREA Goiás de Meio Ambiente 2011 Prêmio CREA Goiás de Meio Ambiente 2011 137 138 Prêmio CREA Goiás de Meio Ambiente 2011 Prêmio CREA Goiás de Meio Ambiente 2011 139 140 Prêmio CREA Goiás de Meio Ambiente 2011 Prêmio CREA Goiás de Meio Ambiente 2011 141 142 Prêmio CREA Goiás de Meio Ambiente 2011 Prêmio CREA Goiás de Meio Ambiente 2011 143 144 Prêmio CREA Goiás de Meio Ambiente 2011 Prêmio CREA Goiás de Meio Ambiente 2011 145 146 Prêmio CREA Goiás de Meio Ambiente 2011 Prêmio CREA Goiás de Meio Ambiente 2011 147 148 Prêmio CREA Goiás de Meio Ambiente 2011 Prêmio CREA Goiás de Meio Ambiente 2011 149 150 Prêmio CREA Goiás de Meio Ambiente 2011 Prêmio CREA Goiás de Meio Ambiente 2011 151 152 Prêmio CREA Goiás de Meio Ambiente 2011 Prêmio CREA Goiás de Meio Ambiente 2011 153 154 Prêmio CREA Goiás de Meio Ambiente 2011 Prêmio CREA Goiás de Meio Ambiente 2011 155 156 Prêmio CREA Goiás de Meio Ambiente 2011 Prêmio CREA Goiás de Meio Ambiente 2011 157 158 Prêmio CREA Goiás de Meio Ambiente 2011 Prêmio CREA Goiás de Meio Ambiente 2011 159 160 Prêmio CREA Goiás de Meio Ambiente 2011 Prêmio CREA Goiás de Meio Ambiente 2011 161 162 Prêmio CREA Goiás de Meio Ambiente 2011 Prêmio CREA Goiás de Meio Ambiente 2011 163 164 Prêmio CREA Goiás de Meio Ambiente 2011 Prêmio CREA Goiás de Meio Ambiente 2011 165 166 Prêmio CREA Goiás de Meio Ambiente 2011 Prêmio CREA Goiás de Meio Ambiente 2011 167 168 Prêmio CREA Goiás de Meio Ambiente 2011 Prêmio CREA Goiás de Meio Ambiente 2011 169 170 Prêmio CREA Goiás de Meio Ambiente 2011 Modalidade Engenharia Química Projeto: Destinação final de lodo de estação de tratamento de esgoto através da técnica de co-processamento. Premiados: Larissa Velho, Dalmo Gritz, Cézar Augusto da Rosa, Rogério de Araújo Almeida. Destinação final de lodo de estação de tratamento de esgoto através da Técnica de Co-Processamento RESUMO O lodo de esgoto é um produto renovável que nunca acabará e sua produção tem aumento contínuo. A principal estação de tratamento de esgotos da capital goiana produz diariamente 80 toneladas de lodo de esgoto. O co-processamento é a técnica de utilização de resíduos como substituto parcial de matéria-prima e/ou combustíveis em fornos de clínquer na fabricação do cimento. Aproveitando o potencial de destruição de resíduos da indústria cimenteira e a necessidade da busca de novas formas de disposição de lodo, foi desenvolvida a técnica para o co-processamento do lodo de esgoto da Estação de Tratamento de Esgoto Dr. Hélio Seixo de Brito, da cidade de Goiânia (ETE Goiânia), em escala industrial, na fábrica de cimento CCB – Cimpor Cimentos do Brasil Ltda, Unidade Cezarina – GO; respeitando os limites de emissões atmosféricas e a qualidade do clínquer produzido. O lodo de esgoto foi misturado à argila e alimentado no processo como substituto de matéria-prima. A carga máxima de lodo co-processado, respeitando os limites legais de emissões atmosféricas foi de 1,88 t h-1 em base úmida. Com esse resultado, foi determinado o fator de transformação de lodo em clínquer e estimada a capacidade de co-processamento da fábrica. Para cada tonelada de clínquer produzido podem ser co-processados 24,3 kg de lodo como substituto de matéria-prima. Em 2012, a Cimpor – Unidade Cezarina terá capacidade de co-processar as 80 toneladas diárias de lodo produzido pela ETE – Goiânia, livrando o ambiente de risco de contaminação que o lodo do esgoto representa. 1. INTRODUÇÃO O processo de tratamento de esgoto consiste basicamente na separação das fases sólida e líquida. A fase líquida é descartada em recursos hídricos dentro dos limites estabelecidos pela legislação. O lodo, que é denominado fase sólida mesmo apresentando cerca de 95% de água em sua composição, deverá receber tratamento seguindo para a disposição final. O lodo de esgoto é um produto renovável que nunca acabará e sua produção tem aumento contínuo. O odor desagradável, ao lado do alto teor de umidade, presença de metais pesados e outras substâncias prejudiciais tornam sua utilização um dos processos mais difíceis do ponto de vista da proteção do meio ambiente (ZABANIOTOU; THEOFILOU, 2008). Somente a ETE Goiânia, principal estação de tratamento de esgotos da capital goiana, produz diariamente 80 toneladas de lodo de esgoto (SANEAGO, 2005b, apud SILVA, 2007). Existem várias formas de disposição final do lodo. Todavia, os métodos mais comuns de disposição final, a agricultura, aterros sanitários e incineração, não removem completamente o risco de contaminação (WERTHER; OGADA, 1999). A utilização do lodo na agricultura traz benefícios por apresentar nitrogênio e fósforo na sua composição. Por outro lado, grandes quantidades não podem ser usadas pela presença de metais pesados, que são nocivos quando participam da cadeia alimentar humana. Atualmente, a incineração representa o método de disposição mais atrativo na Europa. Entretanto, a incineração não constitui um método de disposição completo pelo fato de aproximadamente 30% dos sólidos permanecerem na forma de cinzas, que são consideradas extremamente tóxicas em função da quantidade de metal presente (FYTILI; ZABANIOTOU, 2008). A disposição em aterros sanitários requer grandes áreas e uma vizinhança favorável, em função do forte odor, além de tratamento das águas do sistema de drenagem (ZABANIOTOU; THEOFILOU, 2008). Além dos métodos convencionais de disposição, o lodo pode receber diferentes tratamentos térmicos que são usados para converter grandes quantidades de lodo em energia útil. Os processos de utilização térmica do esgoto são realizados em instalações pré-existentes como em plantas de geração de calor, geração de energia e fabricação de cimento. A pirólise consiste na degradação das moléculas em altas temperaturas (300ºC a 900ºC) e ambiente anaeróbio, tendo como produtos hidrocarbonetos sólidos e materiais carbonizados. O lodo pode ser queimado ou utilizado simultaneamente com outro combustível por apresentar propriedades energéticas. Esses processos são realizados em leitos fluidizados e fornos de cimento e devem ser conduzidos com atenção, principalmente para emissões de SOx, NOx e mercúrio (WERLE; WILK, 2010). A utilização de resíduos e combustíveis alternativos em fornos de cimento é chamada co-processamento. As vantagens dessa utilização são as altas temperaturas (1.450ºC) e o elevado tempo de residência dos gases (de 5 a 6 segundos) no interior do forno, o excesso de oxigênio durante e após a combustão, a turbulência elevada, a atmosfera alcalina, a fixação de elementos traço na matriz do clínquer, a não geração de cinzas nem subprodutos, o total aproveitamento calorífico dos resíduos e o aproveitamento de instalações já existentes (CIMPOR, 2005). A substituição parcial de combustíveis fósseis não renováveis por combustíveis alternativos provenientes de outras indústrias e biomassa, além de ser uma fonte renovável, muitas vezes emite uma quantidade menor de CO2 que os combustíveis tradicionais (SNIC, 2008). Zabaniotou e Theofilou (2008), através de estudos de co-processamento do lodo de esgoto na Grécia, concluíram que resíduos inservíveis, tradicionalmente considerados um problema ambiental, podem ser transformados em combustíveis renováveis que não apenas produzem energia como reduzem as emissões de CO2. 174 Prêmio CREA Goiás de Meio Ambiente 2011 De acordo com o Sindicato Nacional da Indústria do Cimento (SNIC, 2008), no Brasil, a utilização de resíduos no co-processamento evoluiu de aproximadamente 200.000 toneladas em 2001 para 1 milhão de toneladas em 2008, sendo que a substituição de combustíveis fósseis não-renováveis já atingiu 15%. Aproveitando a capacidade potencial de destruição de 2,5 milhões de toneladas da indústria cimenteira no Brasil, e a necessidade da busca de novas formas de disposição do lodo de esgoto, o presente estudo visou o desenvolvimento da técnica do co-processamento do lodo de esgoto da Estação de Tratamento de Esgoto Dr. Hélio Seixo de Brito, da cidade de Goiânia (ETE Goiânia), em escala industrial, na fábrica de cimento CCB – Cimpor Cimentos do Brasil Ltda, Unidade Cezarina – GO; respeitando os limites de emissões gasosas e a qualidade do clínquer produzido. 2. OBJETIVOS 1.1. OBJETIVO GERAL O presente estudo objetivou avaliar o co-processamento de lodo de esgoto da ETE - Goiânia, para produção de clínquer em escala industrial na CCB Cimpor Cimentos do Brasil Ltda, Unidade Cezarina. 1.2. OBJETIVOS ESPECÍFICOS Os objetivos específicos foram: •Caracterizar o lodo proveniente da ETE - Goiânia; •Definir os pontos de alimentação e dosagem do lodo na planta de clíquer; •Avaliar as emissões de CO e hidrocarbonetos totais (THC); •Avaliar possíveis dificuldades operacionais; •Avaliar a qualidade do clínquer produzido. 3. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 1.3. ETE - GOIÂNIA A ETE Goiânia foi projetada para atender até o ano de 2010, uma população de 841.773 habitantes e uma vazão média de 2,3 m3 s-1. Está previsto a implantação da segunda etapa da ETE que passará a atender 1.192.033 habitantes até o ano de 2025 com vazão média de 3,2 m3 s-1. A fase já implantada conta com tratamento primário quimicamente assistido, a segunda fase receberá tratamento secundário por meio do sistema de lodos ativados (SANEAGO, 2005b, apud SILVA, 2007). O esgoto bruto que chega à estação de tratamento passa por uma grade grosseira com espaçamento de 7,5 cm para retenção dos sólidos grosseiros, em seguida é conduzido para o gradeamento fino com espaçamento de 0,6 cm. Os sólidos retidos nas etapas de gradeamento são conduzidos a um contenedor e destinados ao aterro sanitário de Goiânia. Após a retirada dos sólidos grosseiros a areia é removida em caixa de areia do tipo aerada, com vazão máxima de projeto de 1.710 L s-1 e no final da caixa de areia adiciona-se o coagulante sulfato férrico (Fe2(SO4)3) na concentração de 32 mg L-1. Após a caixa de areia e antes do decantador encontra-se a calha Parshal (medidor de vazão). É nessa etapa que o polímero é adicionado no processo em uma concentração de 1,0 mg L-1 (SILVA, 2007). O esgoto é encaminhado para os decantadores primários, de formato circular com 42 m de diâmetro. O produto sedimentado, juntamente com a escuma, é denominado lodo, e é bombeado para o processo de deságue e estabilização. O deságue é realizado em centrífugas, e a estabilização do lodo é feita com adição de 20% de cal virgem em base seca. A produção diária de lodo de 80 toneladas é descartada em fazendas de plantação de eucalipto e as áreas são monitoradas por dois anos após a aplicação (SILVA, 2007). Prêmio CREA Goiás de Meio Ambiente 2011 175 1.4. MÉTODOS CONVENCIONAIS DE DISPOSIÇÃO FINAL DO LODO De acordo com Jordão e Pessôa (2009), as possíveis soluções para a disposição do lodo são: incineração, aterros sanitários, uso agrícola, reuso industrial e lançamento no oceano. Alguns aspectos como a presença de esgotos industriais no sistema de tratamento; quantidade e características do lodo gerado; devem ser bem estudados antes da decisão pelo método de destinação final. A Tabela 1 apresenta o percentual do lodo em cada método de disposição na União Européia. Tabela 1 Porcentagem de lodo reciclado e disposto na União Européia. País Agricultura (%) Aterro sanitário (%) Incineração (%) Oceano (%) Outrros métodos (%) Bélgica 2 55 15 0 1 Dinamarca 54 20 24 0 2 França 60 20 20 0 0 Alemanha 27 54 14 0 5 Grécia 10 90 0 0 0 Irlanda 12 45 0 35 8 Itália 33 55 <1 0 11 Luxemburgo 12 88 0 0 0 Holanda 26 50 3 0 20 Portugal 30 60 0 0 10 Espanha 50 35 5 10 0 Reino Unido 44 8 7 30 11 Total 37 40 11 6 6 Fonte: Adaptado de Hall (1994), apud Werther e Ogada (1999). O processo de higienização do lodo permite diminuir seu nível de patogenicidade. Entre os principais métodos pode-se citar: Compostagem: É um processo aeróbio de decomposição da matéria orgânica, onde são controlados a umidade, temperatura, oxigênio e nutrientes. Os organismos patogênicos são inativados através da temperatura, que atinge valores entre 55ºC e 65ºC. O produto pode ser usado como condicionador de solos (SPERLING, 2005). Estabilização Química: Eleva-se o pH através da adição de cal, o que diminui a atividade biológica. Controla a putrescibilidade, mas aumenta-se o teor de sólidos. Os metais pesados presentes mantêm-se no estado sólido. É geralmente utilizado quando os destinos são aterros sanitários e aplicação no solo (JORDÃO; PESSÔA, 2009). Tratamento Térmico: Consiste no aumento da temperatura através de uma fonte de calor. A umidade é evaporada e os agentes patogênicos eliminados. Requer digestão e desidratação prévia para ser viável economicamente (SPERLING, 2005). 3.1. Incineração A incineração apresenta uma série de vantagens comparada a outros métodos. O volume do lodo é reduzido cerca de 90%; os compostos orgânicos tóxicos são destruídos; o poder calorífico do lodo favorece a recuperação de energia e a geração de odores 176 Prêmio CREA Goiás de Meio Ambiente 2011 é minimizada. Contudo, 30% dos sólidos permanecem como cinzas, que em muitos casos é considerada extremamente tóxica em função da quantidade de metais presentes (FYTILI; ZABANIOTOU, 2008). A tecnologia do processo de incineração tem melhorado ultimamente. As plantas são compactas e eficientes energeticamente (FYTILI; ZABANIOTOU, 2008). Técnicas para o controle das emissões gasosas e os custos estão tornando a incineração mais atrativa que outros métodos (WERTHER; OGADA, 1999). 3.2. Disposição em Aterros Sanitários De acordo com Werther e Ogada (1999), a disposição de lodo em aterros sanitários é predominante nos países desenvolvidos. Cerca de 40% do lodo produzido na União Européia vai para aterros sanitários. Embora seja o método mais praticado, o futuro da disposição em aterros é duvidoso. Um dos problemas existentes é a natureza física do lodo, resultando em problemas estruturais nos aterros. Deseja-se que o lodo seja estabilizado e desidratado para diminuir o odor e a geração de gás e percolado. Outro problema é a disponibilidade de áreas apropriadas para a construção de aterros, a obtenção de licença para tal é longa e tediosa. A vantagem de ser um método barato está desaparecendo rapidamente. A Tabela 2 apresenta a compilação dos custos de diferentes métodos de disposição do lodo de esgoto (WERTHER; OGADA, 1999). Ano Disposição em aterro (DEM t-1)* Desaguamento, estabilização física e disposição em aterro (DEM t-1)* Desaguamento, incineração e disposição em aterro (DEM t-1)* 1980 5 – 15 20 – 50 100 – 150 1985 20 – 50 40 – 80 120 – 160 1990 50 – 150 90 – 170 150 – 230 1991 70 – 180 100 – 210 170 – 290 1992 100 - 450 130 – 480 200 – 500 * DEM = Marco Alemão Fonte: Adaptado de Kassner (1992), apud Werther e Ogada (1999). 3.3. Uso agrícola A presença de nitrogênio e fósforo no lodo lhe confere a propriedade de fertilizante, uma vez que esses elementos são nutrientes básicos para o crescimento das plantas. Entretanto, além de nitrogênio e fósforo, vários outros elementos estão presentes. A presença de metais pesados pode ser perigosa se participar da cadeia alimentar humana (FYTILI; ZABANIOTOU, 2008). No Brasil, a Resolução Conama 375 define os critérios e procedimentos para uso agrícola de lodos de esgoto gerados em estação de tratamento. O lodo não pode ser utilizado em pastagens, hortaliças, culturas inundadas e/ou culturas cuja parte comestível entre em contato com o solo. As pastagens poderão ser implantadas após 24 meses da última aplicação, outras culturas devem obedecer ao limite de 48 meses (CONAMA, 2006). Prêmio CREA Goiás de Meio Ambiente 2011 177 O lodo passível de uso agrícola é classificado em A e B em função da concentração de patógenos (coliformes termotolerantes, ovos viáveis de helmintos, Salmonella e vírus). Além de respeitar os limites das concentrações de patógenos, todo lodo que será utilizado para fins agrícolas deverá respeitar, também, os limites máximos de concentração de substâncias inorgânicas apresentados na Tabela 3 (CONAMA, 2006). Tabela 3 Concentração máxima de substâncias inorgânicas no lodo de esgoto para uso agrícola. Substâncias inorgânicas Concentração máxima permitida no lodo de esgoto ou produto derivado (mg kg-1 base seca) Arsênio 41 Bário 1.300 Cádmio 39 Chumbo 300 Cobre 1.500 Cromo 1.000 Mercúrio 17 Molibdênio 50 Níquel 420 Selênio 100 Zinco 2.800 Fonte: Conama (2006a). 1.5. MÉTODOS INOVADORES DE DISPOSIÇÃO DO LODO DE ETE 3.4. Pirólise Pirólise é a degradação térmica sobre influência de temperaturas entre 300ºC e 900ºC, de um material orgânico em atmosfera inerte sem a presença de oxigênio, que resulta em três fases distintas (sólida, líquida e gasosa). As reações térmicas em que se utilizam catalisadores (indústria petroquímica) são chamadas de craqueamento catalítico. O processo de produção de carvão vegetal se dá através da pirólise da madeira, a fase gasosa é utilizada como fonte de energia para manter o processo, a fase líquida nesse caso é o bioóleo, composto principalmente por alcatrão (KHIARI et al., 2004). A pirólise vem sendo praticada como opção para destinação de lodo de estações de tratamento de esgoto. Essa técnica aparenta ser menos poluente que os métodos convencionais (incineração, combustão), por concentrar os metais pesados em um resíduo sólido. Assim, seu lixiviado não é tão impactante quanto o das cinzas de incineradores. As reações que ocorrem (Equação 3.1) são as mesmas do craqueamento térmico e condensação (FYTILI; ZABANIOTOU, 2008). Matéria orgânica + energia → CH4 + CO + H2 + ... + energia 178 (Equação 3.1) Prêmio CREA Goiás de Meio Ambiente 2011 As principais frações formadas após a degradação do lodo são (CASANOVA; AGGULO; AGUADO, 1997, apud FYTILI; ZABANIOTOU, 2008): •Fase sólida: carvão, na maioria das vezes carbono puro com pequenas quantidades de material inerte. •Fase líquida: consiste em alcatrão ou óleo, que contém substâncias como ácido acético, acetona e metanol. •Fase gasosa: gás não condensável que contém principalmente hidrogênio, metano, monóxido de carbono, dióxido de carbono, e muitos outros gases em concentrações menores. Khiari et al. (2004) investigaram as características da pirólise de lodo focando a cinética da pirólise, temperaturas de aquecimento, composição elementar do resíduo, e compostos orgânicos voláteis dos gases de exaustão. A pirólise inicia-se com a vaporização dos compostos voláteis, seguida de uma decomposição primária dos componentes não voláteis, resultando no carvão. Dependendo da disponibilidade de oxigênio, o carvão pode sofrer pirólise secundária antes ou concomitante com a oxidação. A pirólise primária produz uma grande quantidade de alcatrão e gases. A pirólise secundária a altas temperaturas do carvão é a fonte de muitos hidrocarbonetos e compostos aromáticos encontrados nos produtos finais voláteis. Em uma temperatura de 276ºC, a pirólise e a oxidação podem ocorrer simultaneamente. A maioria das reações pirolíticas é endotérmica na ordem de 100 kJ kg -1, enquanto os processos de oxidação são exotérmicos na ordem de 10.000 kJ kg -1. Caballero et al. (1997) avaliaram a pirólise de três tipos de lodo (dois lodos industriais e uma mistura de resíduos orgânicos e inorgânicos). A Tabela 4 mostra a composição elementar dos três lodos estudados. Tabela 4 Análise elementar de três tipos de lodo submetidos a pirólise. Elemento Lodo 1 Lodo 2 Lodo 3 H 4,58 4,39 4,23 C 32,10 30,97 17,70 N 3,88 3,72 1,33 S 2,12 1,18 4,81 Umidade 79 83 69 Valores expressos em % p/p do total de elementos analisados. Lodo 1 e 2 são lodos industriais, e o lodo 3 formado por mistura de resíduos orgânicos e inorgânicos. Fonte: Caballero et al. (1997). A pirólise foi realizada em dois reatores conectados em série, com uma interface ligada a um cromatógrafo gasoso para analisar os produtos resultantes. A determinação do rendimento dos gases foi realizada através da pirólise secundária em temperaturas variando de 300ºC a 800ºC, conforme Tabela 5. A pirólise primária produziu um sólido com cerca de 22% dos compostos voláteis remanescentes. Cerca de 77% dos compostos voláteis foram transformados em gases leves. Prêmio CREA Goiás de Meio Ambiente 2011 179 Tabela 5 Rendimento da pirólise secundária de três lodos, em diferentes temperaturas. Componentes Lodo 1 Lodo 2 Lodo 3 300ºC 800ºC 300ºC 800ºC 300ºC 800ºC Metano 0,28 0,65 0,24 0,44 0,10 0,39 Etileno 0,35 1,10 0,30 0,76 0,10 0,49 Etano 0,23 0,22 0,20 0,10 0,09 0,05 Propileno 0,25 0,30 0,24 0,18 0,10 0,14 Propano 0,13 0,05 0,10 0,03 0,04 0,02 C4 0,28 0,20 0,30 0,25 0,14 0,02 Metanol 0,23 0 0,25 0 0,25 0 CO 0,71 4,60 0,70 4,65 0,95 2,00 CO2 5,79 17,50 3,21 16,26 4,99 14,50 Água 9,00 20,10 2,00 22,5 10,05 29,50 Total 17,25 44,72 0,25 45,17 16,81 47,11 - 54,3 - 52,1 - 41,0 Carvão + inertes Rendimentos em % de peso, base seca. Fonte: Caballero et al. (1997). Hudson e Lowe (1996) dizem que o processo é auto-suficiente em energia produzindo carvão com poder calorífico variando entre 1.433 kcal kg-1 e 5.493 kcal kg-1. O carvão e o excesso de gás podem ser queimados para secar o lodo, calor adicional pode ser obtido por meio da queima dos gases não condensáveis no reator primário. O mercado para o produto ainda está em desenvolvimento, e o produto deve estar disponível em quantidade suficiente para assegurar a entrega e sustentar o mercado. O gás pode ser usado como combustível, o carvão também pode ser queimado e o óleo pode ser usado como matéria-prima por indústrias químicas ou de combustíveis. O óleo obtido tem alta viscosidade e poder calorífico na faixa de 6.926 kcal kg-1 a 9.976 kcal kg-1, as características elementares do óleo são geralmente estáveis sobre uma vasta gama de condições operacionais (WERTHER; OGADA, 1999). 3.5. Oxidação Úmida A oxidação úmida é uma técnica destrutiva que envolve a degradação térmica, hidrólise e oxidação da matéria orgânica numa reação de simples estágio, sem necessidade de equipamentos complexos de lavagem de gás. Os produtos formados são o dióxido de carbono, nitrogênio e água. O processo pode ser realizado em condições sub-críticas, com temperatura e pressão abaixo de 374ºC e 100 bar. Se o processo operar com temperatura e pressão acima de 374ºC e 218 bar ele encontra-se em condições super-críticas. Uma alta taxa de destruição de compostos orgânicos persistentes, como bifenilas policloradas (PCB´s), pode ser atingida no processo super-crítico (HUDSON; LOWE, 1996). A desvantagem do método é que parte da matéria orgânica é solubilizada. O lí- 180 Prêmio CREA Goiás de Meio Ambiente 2011 quor produzido contém uma elevada demanda bioquímica de oxigênio (DBO) e alta concentração de carbono orgânico dissolvido (COD), devendo retornar às estações de tratamento (HUDSON; LOWE, 1996). 3.6. Co-combustão Segundo Werther e Ogada (1999), a técnica de co-combustão do lodo pode ser aplicada de diversas formas. O lodo é queimado juntamente com outro combustível, na maioria dos casos o carvão. Modificações nas plantas podem ser necessárias para a retenção de sub-produtos poluentes, assim como uma preparação prévia do combustível. O lodo para ser utilizado em plantas termoelétricas deve ser previamente seco. O carvão utilizado nesses processos deve apresentar granulometria 90% abaixo de 75µm. A alimentação do lodo pode ocorrer misturada com o carvão, ou separadamente em queimadores multicombustíveis (WERTHER; OGADA, 1999). Na Alemanha, num período de 2.000 horas de testes, foram utilizadas cerca de 4.000 toneladas de lodo seco em plantas de energia elétrica. A proporção do lodo partiu do valor inicial de 2% até aproximadamente 20%. Os resultados mostraram que não houve interferências significativas na operação durante a co-combustão (BILLOTET, 1992, apud WERTHER; OGADA, 1999). O lodo também pode ser co-incinerado sem a necessidade de pré-secagem. Bierbaum et al. (1997), apud Werther e Ogada (1999), usaram lodo com 70% de umidade em queimadores de leito fluidizado, alimentado juntamente com carvão (lignito). Foram obtidos bons resultados em relação à combustão e emissões. As emissões de material particulado, SO2, NOx e CO, permaneceram abaixo dos limites tanto para a combustão de carvão quanto para de resíduos. Por outro lado, houve a necessidade de investimentos para a absorção das emissões de Hg. A indústria cimenteira é uma alternativa de co-combustão, que nesse caso específico recebe denominação de co-processamento. Uma grande variedade de combustíveis alternativos é usada em plantas de cimento. Zabaniotou e Theofilou (2008) iniciaram estudos em cimenteiras para tratar e utilizar lodo de esgoto com umidade de 65% a 75%. O lodo foi imediatamente misturado com coque de petróleo para diminuição do odor e umidade. O material misturado foi alimentado para secagem e moagem no moinho de coque. A secagem foi realizada utilizando os gases quentes do resfriador com temperatura de 250ºC, evitando gastos extras com combustível para secagem. Entre 2003 e 2004, a planta de Vassiliko (Grécia) destinou 22.000 m3 de lodo. No co-processamento os gases de combustão podem ser monitorados precisamente e continuamente em tempo real. As propriedades do lodo como combustível podem ser analisadas frequentemente. A temperatura elevada do forno (1.450ºC) e o rápido resfriamento dos gases dificultam a formação de dioxinas e furanos. Sendo o lodo biomassa, isso ajuda as cimenteiras a reduzir as emissões de CO2 dos combustíveis convencionais. Por ser uma fonte renovável, auxilia a preservação das reservas de combustíveis convencionais (ZABANIOTOU; THEOFILOU, 2008). Os resultados do monitoramento das emissões gasosas na planta de Vassiliko ficaram abaixo dos limites estabelecidos por lei. As emissões de mercúrio atingiram apenas 6% do total do limite permitido pela União Européia. O resultado da soma dos 17 tipos de dioxinas e furanos foi de 0,006 ng Nm-3, sendo o limite legal de 0,1 g Nm-3. O limite de concentração total de metais pesados na União Européia é de 5,0 mg Nm-3, o resultado das emissões de metais durante o teste foi de 0,7960 mg Nm-3 (ZABANIOTOU; THEOFILOU, 2008). Prêmio CREA Goiás de Meio Ambiente 2011 181 1.6. FABRICAÇÃO DE CIMENTO O processo de fabricação do cimento é resultante de transformações físicas e químicas das matérias-primas de uma série de operações unitárias e transformações. 3.7. Preparação das matérias-primas O cimento pode ser fabricado tanto com matérias-primas de origem natural ou com produtos industriais. Os principais componentes necessários são: cal, sílica, alumina e óxidos de ferro. O processo utiliza essas substâncias em uma proporção adequada que raramente é encontrada na natureza. Para isso misturam-se materiais ricos em cal com outros que apresentem compostos como alumina e óxidos de ferro em maior quantidade. Os principais minerais que apresentam essas características são o calcário e a argila (FARENZENA, 2002). A calcita (CaCO3), forma mais estável do carbonato de cálcio, é o principal componente mineral do calcário e ocorre de forma disseminada como massas rochosas sedimentares. Secundariamente vem o carbonato de magnésio na forma de dolomita (CaMg(CO3)2). Além dos carbonatos outras variedades de minerais podem ocorrer nos sedimentos ou rochas calcárias como o óxido de silício (SiO2), óxido de alumínio (Al2O3) e óxido de ferro (Fe2O3). Elementos minoritários também estão presentes: K, Na, S, P, Ti, F, Mn, Cl na forma de seus óxidos ou sais correspondentes (FARENZENA, 2002). As argilas caracterizam-se por serem constituídas em sua maior parte por minerais específicos, chamados minerais de argilas ou argilominerais. Estes são produtos de alterações de uma grande variedade de rochas portadoras de quantidades apreciáveis de silicatos de alumínio hidratados, pela ação de intempérie ou decorrentes de processos hidrotérmicos de baixa temperatura (FARENZENA, 2002). 3.8. Mineração A mineração compreende processos de extração de minerais das rochas ou jazidas. Na fabricação de cimento é a operação unitária relativa ao processo de desmonte, extração e remoção do calcário e argila. A exploração das minas depende da origem das reservas, formação geológica e características mineralógicas da rocha. Essas informações juntamente com a qualidade e quantidade dos materiais da jazida sobre o aspecto econômico vão determinar a tecnologia específica e apropriada para sua exploração (FARENZENA, 2002). A forma mais comum de mineração de calcário é a céu aberto, a qual consiste na preparação e formação de frentes de desmonte e extração em formas de bancadas e taludes com larguras e alturas definidas, de maneira a proporcionar frentes de trabalho diversificadas. 3.9. Pré-homogeneização As matérias primas extraídas das minas têm diferente heterogeneidade, composição química e encontram-se em diferentes proporções. A pré-homogeneização é a operação unitária em que ocorre o empilhamento ordenado e adequado do calcário após a britagem, bem como das argilas após extração e remoção das jazidas, visando atenuar as variáveis relativas à composição química dos seus minerais constituintes (FARENZENA, 2002). O principal fundamento da pré-homogeneização é, mediante o conhecimento prévio da composição físico-química e mineralógica das matérias-primas originais, efetuar o empilhamento em forma de inúmeras camadas delgadas de maneira a proporcionar 182 Prêmio CREA Goiás de Meio Ambiente 2011 uma pré-adequação dos parâmetros ou módulos químicos do material empilhado, provenientes da dosagem de dois ou mais tipos de calcários ou argilas extraídos de diferentes frentes. Dessa forma ocorre a atenuação da variabilidade e heterogeneidade da composição química dos materiais, facilitando a correção e ajustes que serão realizados na próxima etapa correspondente à secagem e moagem (FARENZENA, 2002). 3.10. Moagem de Cru De acordo com Farenzena (2002), a dosagem dos materiais que compõem o cru, ou farinha (calcário, argila e outros materiais corretivos) deve obedecer a um rigoroso controle a fim de proporcionar a produção de farinha com granulometria, composição, parâmetros e módulos químicos conhecidos, continuamente ajustados e corrigidos de acordo com os padrões e objetivos definidos. Esse controle é importante para manter condições ideais de queimabilidade da farinha, estabilidade do forno e qualidade do clínquer e cimento produzidos. O percentual de alimentação de cada matéria-prima é função dos módulos químicos definidos para a farinha; fator de saturação de CaO (FSC), módulo de sílica (MS) e módulo de alumínio (MA) (Equações 3.2, 3.3 e 3.4), e das características térmicas e composição química dos combustíveis que serão usados no processo de calcinação e clinquerização. As matérias-primas são dosadas por balanças contínuas de alta precisão, conforme receita pré-estabelecida a partir dos resultados das análises químicas e granulométricas da farinha produzida. (Equação 3.2) (Equação 3.3) (Equação 3.4) A moagem de cru é a operação unitária que tem por objetivo preparar uma mistura homogênea, com composição química e granulometria uniforme a fim de assegurar a máxima combinação das reações no processo de clinquerização. É considerada uma das fases mais importantes do processo de produção do cimento. Na fábrica de cimento Cimpor, Unidade Cezarina, a moagem de cru é realizada em moinhos tubulares de bolas com câmara de secagem (Figura 1). Esses moinhos são cilindros de aço rotativos revestidos com material resistente ao impacto e abrasão. Internamente são divididos em três câmaras com funções de secagem, pré-moagem e moagem final. A parede divisória dessas câmaras é chamada de diafragma e sua função é a contenção da carga de corpos moedores dentro dos respectivos compartimentos, dando passagem apenas ao material a ser moído. A redução do tamanho do material alimentado ao moinho é realizada por meio da movimentação da carga moedora por impacto, compressão, fricção e atrito. A finalidade desses efeitos é o aumento da superfície específica do material alimentado, adequando-o para a reação dos elementos químicos constituintes na etapa da clinquerização. Prêmio CREA Goiás de Meio Ambiente 2011 183 Figura 1 Representação de um moinho tubular de bolas com câmara de secagem. Fonte: Farenzena (2002). 3.11. Clinquerização 3.12. Forno Rotativo Existem várias concepções para o processo de fabricação de clínquer, variando de processos via úmida, semi-úmida, semi-seca, lepol e via seca. Nos fornos via seca a farinha é alimentada ao sistema em suspensão. Existem três concepções construtivas desse tipo de forno: forno via seca longo, em que não há sistema de pré-aquecimento; forno com sistema de pré-aquecimento por suspensão com torre de ciclones (sistema convencional) e forno com pré-aquecimento por suspensão com torre de ciclones e sistema de pré-calcinação integrado à torre. A Unidade de Cezarina opera com dois fornos. A concepção do forno 1 é convencional e sua capacidade de produção é em média de 600 t d-1. O forno 2 tem diâmetro de 3,6 m e comprimento de 54 m, dotado de torre de ciclones de 5 estágios e equipado com pré-calcinador R-319 (Polysius) e com capacidade nominal de 2.000 t d-1 (Figura 2). (a) 184 (b) Figura 2 (a) Representação esquemática de torre de pré-aquecimento de 5 estágios com pré-calcinador integrado, (b) torre de pré-aquecimento do forno 2 da Unidade Cezarina. Fonte: Cimpor (2006b). Prêmio CREA Goiás de Meio Ambiente 2011 O processo de calcinação tem início na torre de ciclones onde a farinha é alimentada em contra-corrente com os gases quentes. A temperatura média dos gases de saída do ciclone 1 é de 341ºC. O perfil de temperatura da torre de pré-aquecimento é apresentado na Tabela 6. É nessa etapa que ocorrem as primeiras transformações químicas como a secagem das matérias-primas, desidratação das argilas e decomposição dos carbonatos. Na secagem ocorre a evaporação da umidade a 100ºC. Essa umidade pode estar presente na superfície dos grãos do material, chamada de água livre, pode ser a água capilar que enche as zonas ocas da estrutura e ainda a água que se encontra absorvida na superfície do material. A liberação da umidade tem início na moagem de cru até a zona mais alta da torre de pré-aquecimento. Tabela 6 Média das temperaturas da torre de pré-aquecimento do Forno 2 da Cimpor – Unidade Cezarina (auditoria sem resíduo). Ponto Temperatura ºC Saída do ciclone 1 341 Saída do ciclone 2 426 Saída do ciclone 3 670 Saída do ciclone 4 765 Saída do ciclone 5 854 Câmara de fumos 1.115 Fonte: Cimpor (200a). A primeira transformação que ocorre é a decomposição dos minerais, argilas e micas (Equação 3.5) em temperaturas de 250ºC a 700ºC, e transformação do quartzo-α em quartzo-β que é mais reativo. Quando o material atinge uma temperatura de aproximadamente 700ºC (ciclones 3 e 4) inicia-se a decomposição dos carbonatos (Equações 3.6 e 3.7). A reação de descarbonatação do carbonato de cálcio é uma das principais reações para a obtenção do clínquer. Por ser endotérmica, essa reação tem um grande consumo de energia (CIMPOR, 2006a). Al4[(OH)8.Si4O10] 300-600ºC → 2 Al2O3 + 4 SiO2 + 4 H2O (Equação 3.5) CaCO3 (s) 890ºC → CaO (s) + CO2 (g) (Equação 3.6) CaMg(CO3)2 745-890ºC → CaO (s) + MgO (s) + 2 CO2 (g) (Equação 3.7) Em temperaturas entre 550ºC e 900ºC (torre de ciclones, pré-calcinadores e na zona de calcinação do forno rotativo) continuam as reações de desidratação das argilas e decomposição dos carbonatos e iniciam-se as primeiras reações no estado sólido e formação da belita (2CaO.SiO2 ou C2S). As reações parciais do CaO com os óxidos Fe2O3, Al2O3 e SiO2 formam compostos intermediários como a ferrita, aluminatos e silicatos de cálcio. Próximo a 900ºC tem-se a conversão do quartzo-β em cristobalita (CIMPOR, 2006a). Prêmio CREA Goiás de Meio Ambiente 2011 185 No forno rotativo a zona de transição atinge temperaturas de 900ºC a 1.260ºC, inicia-se a formação de uma fase semi-líquida decorrente da conversão de compostos intermediários de Al e Fe em ferro-aluminato tetracálcico (4CaO.Al2O3.Fe2O3 ou C4AF) e aluminato tricálcico (3CaO. Al2O3 ou C3A). Ocorre a intensificação da formação da belita (Figura 3) proveniente da reação do SiO2 com o CaO remanescente, a partir do C2S e CaO tem-se a formação da alita (CIMPOR, 2006a). Figura 3 Microscopia do clínquer evidenciando os cristais de belita (C2S). Fonte: Cimpor (2006a). Na zona de fusão ou fase líquida (1.260ºC a 1.350ºC) ocorre a formação da fase líquida pela fusão total do C4AF e C3A. Cessa a formação de C2S e intensifica-se a formação de C3S (Figura 4). A próxima zona é a de clinquerização ou de alta temperatura (1.350ºC a 1.450ºC), onde termina o processo de formação de C3S, ocorrendo o desenvolvimento e crescimento de seus cristais (CIMPOR, 2006a). Figura 4 Microscopia do clínquer evidenciando os cristais de C3S. Fonte: Cimpor (2006a). 186 Prêmio CREA Goiás de Meio Ambiente 2011 O primeiro resfriamento ocorre ainda no interior do forno e parte do resfriador e as temperaturas caem de 1.450ºC para 1.250ºC. Essa etapa é a responsável pela solidificação da fase líquida e estabilização morfológica dos cristais constituíntes do clínquer principalmente cristais de C4AF e C3A. No segundo resfriamento as temperaturas do clínquer no resfriador, passam de 1.250ºC a 100ºC através da troca térmica do material com o ar. Nesse resfriamento se dá a estabilização morfológica da alita, belita e cristais de periclásio - MgO (Figura 5) (CIMPOR, 2006a). Figura 5 Microscopia do clínquer evidenciando os cristais de C3A e MgO. Fonte: Cimpor (2006a). 3.13. Composição potencial do clínquer A composição típica do clínquer é de aproximadamente 67% de CaO, 22% de SiO2, 5% de Al2O3, 3% de Fe2O3 e 5% de outros compostos. A alita ou C3S é o mais importante constituinte do clínquer, o qual é composto de 50% a 70% desse mineral. A alita é responsável por desenvolver a resistência final do cimento, após 28 dias. Cerca de 15% a 30% do clínquer é formado por belita ou C2S, sendo ela a responsável pelas resistências iniciais do cimento. O C3A representa de 5% a 10% a composição do clínquer seguido pelo C4AF que pode aparecer de 5% a 15% no clínquer (TAYLOR, 1997). 3.14. Fenômenos que afetam o processo de clinquerização Muitos fenômenos podem afetar o processo de clinquerização, alguns de forma positiva, porém, outros de forma negativa. Entre eles pode-se citar: formação de colagens, formação de anéis, nodulação do clínquer, agarramentos e ataque dos refratários. Formação de colagens: A colagem (Figura 6) é uma camada protetora que se forma sobre o revestimento do material refratário na zona de queima e cobre a carcaça do forno. Em condições normais tem espessura de 10 a 20 cm podendo chegar a 50 cm. A fase líquida do clínquer é o agente colante que solidifica à medida que a temperatura da superfície resfria perdendo calor por condução para a parede do forno. A vantagem dessas colagens é que elas evitam a perda do calor por radiação e protege a carcaça do forno de choques térmicos. A condutividade térmica das colagens é cerca da metade Prêmio CREA Goiás de Meio Ambiente 2011 187 da condutividade dos refratários. Além disso, elas reduzem o consumo de refratários por proteção do choque térmico, evitam a abrasão pela carga do forno e ataques químicos por constituintes do clínquer e cinzas do carvão (MARTINS, 1996). A formação de colagens é função da composição química da farinha, condutividade térmica do refratário que reveste a carcaça do forno, temperatura do material quando entra em contato com a crosta, temperatura da superfície da crosta em contato com o material, forma, temperatura e direção da chama. No caso de formação instável de colagens, devem-se efetuar melhorias eliminando ou diminuindo variações na composição mineralógica ou granulométrica das matérias-primas, composição e granulometria dos combustíveis, alimentação e temperatura do ar secundário (MARTINS, 1996). Figura 6 Foto da colagem formada na zona de clinquerização no interior do forno. Formação de anéis: Ocorre em todos os tipos de fornos, provocam diminuição do diâmetro de passagem dos gases e do material. Diminuem a produção do forno e perturbam a operação de arrefecimento. As principais causas são a granulometria elevada do combustível, variação da composição e granulometria das matérias-primas, calcinação incompleta na zona de cozedura, variação da temperatura e comprimento da chama do queimador, entre outras. Algumas das medidas a serem tomadas para minimizar o fenômeno são: a redução ou eliminação de qualquer tipo de variação, melhorar o perfil de temperatura e forma da chama além de ajustes na granulometria dos combustíveis (MARTINS, 1996). Existem três tipos de formação de anéis, o primeiro se forma na descarga do forno, o segundo se forma logo após a zona de sinterização e são formados de clínquer e o último se forma no fundo do forno e é chamado de anel de sulfato. O primeiro caso pode ser conseqüência do posicionamento do queimador, retorno de pó do resfriador ou ainda decorrente da segregação da fase líquida que ao entrar em contato com as partículas finas que retornam do resfriador aglutina-as rapidamente (MARTINS, 1996). No caso dos anéis de clínquer que se formam logo após a chama, várias podem ser as causas da sua formação entre elas a combustão ou distribuição do calor ineficiente ao longo do forno, operação irregular do forno com sucessivos sobreaquecimentos e resfriamentos na zona de queima, temperaturas elevadas na zona de queima por longos períodos, composição da farinha crua propícia a apresentar elevada percentagem de fase líquida na temperatura de clinquerização (MARTINS, 1996). 188 Prêmio CREA Goiás de Meio Ambiente 2011 Os anéis de enxofre situam-se na zona de baixa temperatura e são de difícil remoção, sendo geralmente realizada em paradas. Um balanço favorável de álcalis/enxofre contribui para a sua formação além da granulação adequada do clínquer (MARTINS, 1996). Nodulação: A nodulação é a granulação de um material pulverizado na presença de uma fase líquida. Na clinquerização é importante que a nodulação não seja insuficiente (material pulverulento) ou excessiva. A insuficiência causa fenômenos como pouca visibilidade da zona de saturação e dificuldade na condução do forno, aumento das emissões de NOx, inscrustrações na entrada do resfriador, dificuldades no transporte do resfriador, sobreaquecimento das partes metálicas do resfriador, pobre moendabilidade do clínquer e clínquer com baixas resistências mecânicas. O excesso de nodulação causa a formação de bolas de clínquer (Figura 7) e a granulação deficiente nos dois casos, confere uma temperatura excessiva na descarga do resfriador (MARTINS, 1996). Figura 7 Formação de bola de clínquer no interior do forno. Os fenômenos acima citados têm como conseqüência o aumento do consumo calorífico, redução da produção, redução da taxa de utilização do forno, custos superiores com revestimentos refratários e perda da qualidade do clínquer (MARTINS, 1996). Alguns materiais têm influência direta sobre a nodulação, entre eles a fase líquida. A quantidade de fase líquida ideal para garantir uma boa nodulação é de 23% a 27%, e módulos de alumino (MA) entre 1,4 a 1,5. A presença de teores elevados de SO3 diminui a tensão superficial acarretando na formação de um clínquer mais poeirento. Partículas grossas de cristais de quartzo e calcite dificultam a granulação, para isso é necessário um material bem moído e microhomogêneo (MARTINS, 1996). 3.15. Operação de fornos - parâmetros de controle A operação de fornos visa a segurança pessoal e dos equipamentos, produção de clínquer dentro dos padrões de qualidade, maior produtividade com menor consumo energético e estabilidade operacional do forno. Os principais parâmetros que devem ser controlados são mostrados na Figura 8. Prêmio CREA Goiás de Meio Ambiente 2011 189 Figura 8 Desenho esquemático representando os principais parâmetros de controle do forno (1: temperatura da zona de queima; 2: temperatura da câmara de fumos; 3: temperatura de saída dos ciclones; 4: oxigênio na câmara de fumos e 5: oxigênio na saída dos ciclones). Fonte: Cimpor (2006c). A temperatura da zona de queima tem importância sobre a qualidade do clínquer, afetando parâmetros de qualidade como a quantidade de CaO livre e quantidade de formação do C3S. A temperatura ideal é de 1.450ºC. Nessas condições os resultados das análises de CaO livre estão dentro da faixa de 1% a 1,5%, em temperaturas de 1.420ºC, por exemplo, os resultados de CaO livre são superiores a 1,5%. Ao contrário, resultados de CaO livre abaixo de 1% indicam altas temperaturas, como 1.480ºC (CIMPOR, 2006c). A temperatura da câmara de fumos indica o grau de preparação da farinha na torre de ciclones (descarbonatação, calcinação, secagem e reações intermediárias). Valores ideais são próximos a 1.000ºC. É considerada baixa temperatura aquela por volta de 970ºC e temperaturas excessivas encontram-se próximas a 1.030ºC. O oxigênio na câmara de fumos dá a indicação da eficiência da combustão, valores inferiores a 1,5% de O2 podem resultar na combustão incompleta, condições boas de operação resultam valores próximos a 2,0% de O2, excesso de O2 é representado por valores acima de 2,5% (CIMPOR, 2006c). A temperatura da zona de queima, oxigênio da câmara de fumos e temperatura da caixa de fumaça, são os principais parâmetros para uma boa condução. A combinação dos três parâmetros resulta em 27 cenários diferentes. O objetivo da operação do forno é manter os três parâmetros o mais próximo possível das condições ótimas. Para isso, existem variáveis de controle, que são diferentes ações que podem ser realizadas a fim de retomar o processo à estabilidade. As ações podem ser realizadas através de variáveis do forno ou do resfriador. As variáveis de controle são as seguintes: Forno: •Alimentação de farinha •Alimentação de combustível (pré-calcinador e forno) •Velocidade do exaustor do forno •Velocidade de rotação do forno 190 Prêmio CREA Goiás de Meio Ambiente 2011 Resfriador: •Velocidade do exaustor do resfriador •Velocidade dos ventiladores do resfriador (ar secundário) •Velocidade das grelhas O Quadro 1 descreve algumas situações de rotina com as quais os operadores se deparam, e descreve as possíveis formas de atuações. O objetivo principal é sempre a maximização da produção. Quadro 1 Condições do forno e formas de atuação com vistas a maximizar a produção. Situação Condição Atuação 1 Temperatura da zona de queima baixa Oxigênio na câmara de fumos baixo Temperatura da caixa de fumaça baixa Redução da velocidade de rotação do forno Redução do combustível 2 Temperatura da zona de queima baixa Oxigênio na câmara de fumos normal Temperatura da caixa de fumaça baixa Aumento da tiragem de exaustão do forno Aumento na alimentação de combustível 3 Temperatura da zona de queima muito baixa Oxigênio na câmara de fumos alto Temperatura da caixa de fumaça normal Redução da velocidade de rotação do forno Redução da tiragem de exaustão do forno 4 Temperatura da zona de queima baixa Oxigênio na câmara de fumos alto Temperatura da caixa de fumaça normal Aumento na alimentação de combustível Fonte: Cimpor (2006c). Avaliando a situação 2, verifica-se que ambas temperaturas da zona de queima e caixa de fumaça encontram-se abaixo do desejado. Para elevá-las aumenta-se a alimentação de combustível. Como o oxigênio está dentro da normalidade, isso significa que a combustão embora insuficiente para manter as temperaturas, está estequiometricamente balanceada. Um acréscimo de combustível quebraria o equilíbrio da combustão, por isso a necessidade de se aumentar a tiragem de exaustão do forno mantendo o oxigênio dentro dos padrões. É dessa forma, atuando nas variáveis de controle, que se conduz um forno para manter sua estabilidade. Não é apenas a diminuição da temperatura da zona de queima que indica que o forno está frio. Pode-se observar através de parâmetros indiretos a tendência da estabilidade, como por exemplo, a corrente elétrica do motor do forno. Quando o material esfria, a nodulação do clínquer diminui produzindo um material mais fino e uma queda na corrente do motor do forno. 1.7. FÁBRICA DE CIMENTO – UNIDADE CEZARINA A Unidade de Cezarina conta com duas minas, uma de produção de calcário e outra de argila. O calcário após o desmonte passa por um britador primário de mandíbulas e britador secundário de martelos, a produção média dos britadores é de 900 t h-1. O calcário recebe classificação como calcário objetivo e calcário corretivo em função do FSC: Prêmio CREA Goiás de Meio Ambiente 2011 191 •Calcário objetivo: FSC = 190 (± 30) •Calcáro corretivo: FSC = 90 (± 20) O plano de lavra indica as frentes de trabalho e localização dos calcários de diferentes teores. A confirmação do teor de cálcio do calcário é realizada através da análise do pó de perfuração na etapa do desmonte. Após a britagem é feita uma amostragem a cada 18 cargas de calcário alimentadas no britador, a fim de determinar a composição dos óxidos, FSC, MS e MA. A Tabela 7 mostra a composição média do calcário e argila do ano de 2009. O material britado é estocado no “hall” que tem capacidade de armazenamento de 23.000 t de calcário objetivo e 2.000 t de calcário corretivo. Tabela 7 Composição média do calcário objetivo, corretivo e argila utilizados pela Cimpor - Unidade Cezarina no ano de 2009. Fe2O3 CaO SiO2 Al2O3 SO3 MgO K 2O Na2O FSC MS MA C.Objetivo 0,9 48,3 8,3 1,0 0,1 1,4 0,1 0,2 200,5 4,7 1,1 C.Corretivo 1,3 42,6 17,6 1,7 0,2 1,5 0,3 0,2 85,9 6,2 1,3 Argila 12,1 0,8 38,2 28,7 0,6 0,2 0,2 0,04 0,6 1,0 2,5 Valores expressos em % p/p. Fonte: Controle Estatístico e Operacional (CIMPOR, 2009b). Os moinhos de cru 2 e 3 são responsáveis pela produção de farinha a ser alimentada no forno 2. O calcário é extraído do depósito de matéria prima por extratores de vibração e o transporte até as moegas é feito através de correias transportadoras. A argila que vem da mina é armazenda no pátio da fábrica. Através de pá carregadeira a argila é alimentada numa moega que descarrega em correia transportadora até chegar à moega da moagem de cru. O moinho de cru 2 conta com três balanças dosadoras na sua alimentação: balança de calcário objetivo, calcário corretivo e argila. Uma amostra diária é coletada na balança de alimentação do moinho e são realizados os ensaios de raio-x (composição química) e umidade. A proporção aproximada das matérias primas alimentadas no moinho está expressa na Tabela 8. Tabela 8 Média do percentual de matérias-primas alimentadas no moinho de cru 2, na Cimpor - Unidade Cezarina, em 2009. Matéria prima Percentual em base úmida Calcário objetivo ≈ 80 % Calcário corretivo ≈ 10% Argila ≈ 10% Fonte: Controle Estatístico e Operacional (CIMPOR, 2009b). O controle de qualidade da farinha produzida é feito a cada quatro horas. Os parâmetros de controle da qualidade são: •FSC = 106, quando os finos do filtro de manga estão sendo desviados para a alimentação de farinha ao forno 192 Prêmio CREA Goiás de Meio Ambiente 2011 •FSC = 108, quando os finos do filtro de manga estão sendo desviados para a moagem de cimento •MS = 2,5 •Percentual retido na # 170 (90 µm) ≤ 14 (± 2) A média anual da qualidade da farinha produzida encontra-se na Tabela 9. Tabela 9 Média da composição química da farinha produzida na moagem de cru 2, na Cimpor - Unidade Cezarina, em 2009. Fe2O3 CaO SiO2 Al2O3 SO3 MgO K2O Na2O FSC MS #170* 1,9 43,6 13,1 3,4 0,3 0,74 0,21 0,15 104,8 2,5 12,8 Valores expressos em % p/p. * Percentual retido Fonte: Controle Estatístico e Operacional (CIMPOR, 2009b). A farinha produzida é armazenada em silo contínuo (GOVER) com capacidade de 3.193 t. O mecanismo de extração de farinha desse silo, através da injeção de ar, proporciona um certo grau de homogeneização em seu interior. Os jatos de ar são insuflados em setores diversos respeitando uma sequência aleatória. A alimentação de farinha na torre de pré-calcinação é controlada por um fluxômetro. Amostras de farinha do 5º ciclone são coletadas em intervalos de oito horas e os parâmetros analisados são: perda ao fogo, SO3, Cl- e F- (Tabela 10). Tabela 10 Média da composição química da farinha do 5º estágio do forno 2 da Cimpor - Unidade Cezarina, em 2009. SO3 K2O Na2O Cl- F- Perda ao fogo Descarbonatação 3,32 0,67 0,13 0,43 0,02 5,44 84,65 Valores expressos em % p/p. Fonte: Controle Estatístico e Operacional (CIMPOR, 2009b). O forno 2 conta com pré-calcinador onde são alimentados os seguintes combustíveis: mix de coque de petróleo e moinha vegetal, alucoque, pneu picado e “blend” de resíduos. Amostras de clínquer são coletadas pontualmente na correia transportadora em intervalos de 4 horas. As análises realizadas para controle de qualidade do clínquer produzido são: raio-x, cal livre e o C3S calculado através de estequiometria (Tabela 11). Tabela 11 Média da composição química do clínquer produzido no forno 2 da Cimpor – Unidade Cezarina, em 2009. FSC MS MA CaO livre C3S (%) C2S (%) C3A (%) C4AF (%) 96,6 2,26 1,69 2,35 48,59 23,26 9,47 10,52 Fonte: Controle Estatístico e Operacional (CIMPOR, 2009b). Prêmio CREA Goiás de Meio Ambiente 2011 193 1.8. EMISSÕES ATMOSFÉRICAS A resolução Conama 382 estabelece o limite máximo de poluentes atmosféricos para fontes fixas. As emissões de material particulado no sistema forno deverão ficar abaixo de 50 mg Nm-3 corrigidos a 11% de oxigênio e os óxidos de nitrogênio (expresso como NO2) abaixo de 650 mg Nm-3 corrigido a 10% de oxigênio (CONAMA, 2007). Para co-processamento os limites de emissões são estabelecidos pela resolução Conama 264. O processo deverá ter monitoramento contínuo de CO, O2, temperatura e pressão do sistema forno, taxa de alimentação do resíduo (CONAMA, 1999). Deverá ser instalado um sistema de intertravamento para interromper automaticamente a alimentação de resíduos no caso de: queda da temperatura normal de operação, pressão positiva do forno, falta de energia elétrica ou queda busca de tensão, queda do teor de O2 no sistema, mal funcionamento dos monitores registradores de temperatura, CO ou THC. As emissões de THC não poderão exceder 20 ppmv corrigidos a 7% de O2 em termos de média horária. O limite de emissão de CO é de 100 ppmv corrigido a 7% de O2, podendo chegar a 500 ppmv se e os valores da média horária de THC forem inferiores a 20 ppmv (CONAMA, 1999). 4. MATERIAL E MÉTODOS 1.9. CARACTERIZAÇÃO DO LODO PROVENIENTE DA ETE – GOIÂNIA Durante o primeiro descarregamento de lodo, foi coletada uma amostra para sua caracterização. Foram realizadas as mesmas análises padrão da Cimpor, para determinar o potencial de co-processamento. Os parâmetros analíticos e os métodos utilizados estão apresentados nos Quadros 2, 3 e 4: Quadro 2 Parâmetros de caracterização de resíduos para co-processamento e métodos analíticos utilizados em sua determinação. Parâmetros Analíticos Método Analítico Antimônio Método 6010B (EPA, 1996e) Arsênio Método 6010B (EPA, 1996e) Bário Método 6010B (EPA, 1996e) Berílio Método 6010B (EPA, 1996e) Brometo Método 300.1 (EPA, 1997) Cádmio Método 6010B (EPA, 1996e) Chumbo Método 6010B (EPA, 1996e) Cianeto Método 4500-CN C/F (APHA et al., 2005) Cloreto Método 300.1 (EPA, 1997) Cobalto Método 6010B (EPA, 1996e) Cobre Método 6010B (EPA, 1996e) Cromo Método 6010B (EPA, 1996e) Enxofre Método 300.1 (EPA, 1997) Estanho Método 6010B (EPA, 1996e) 194 Prêmio CREA Goiás de Meio Ambiente 2011 Parâmetros Analíticos Método Analítico Fluoreto Método 300.1 (EPA, 1997) Manganês Método 6010B (EPA, 1996e) Mercúrio Método 3051 (EPA, 1994) e Método 245.7 (EPA, 2005) Níquel Método 6010B (EPA, 1996e) Parâmetros Analíticos Método Analítico Paládio Método 6010B (EPA, 1996e) Platina Método 6010B (EPA, 1996e) Poder Calorífico Inferior Método D 5865 (ASTM, 2007) Poder Calorífico Superior Método D 5865 (ASTM, 2007) Rhodio Método 6010B (EPA, 1996e) Selênio Método 6010B (EPA, 1996e) Tálio Método 6010B (EPA, 1996e) Telúrio Método 6010B (EPA, 1996e) Vanádio Método 6010B (EPA, 1996e) Zinco Método 6010B (EPA, 1996e) Cinzas (base seca) Método 2540B (APHA et al., 2005) Porcentagem de sólidos Método 2540B (APHA et al., 2005) Fósforo Método 6010B (EPA, 1996e) Quadro 3 Parâmetros analíticos dos compostos orgânicos semi-voláteis (SVOC) e métodos analíticos utilizados em sua determinação. Parâmetros Analíticos Método Analítico 1,2,4,5-Tetraclorobenzeno Método 8270 C (EPA, 1996g) 1,2,4-Triclorobenzeno Método 8270 C (EPA, 1996g) 1,2-Diclorobenzeno Método 8270 C (EPA, 1996g) 1,3-Diclorobenzeno Método 8270 C (EPA, 1996g) 1,4-Diclorobenzeno Método 8270 C (EPA, 1996g) 1-Cloro-4-fenoxibenzeno Método 8270 C (EPA, 1996g) 1-Cloronaftaleno Método 8270 C (EPA, 1996g) 1-Nitrosopiperidina Método 8270 C (EPA, 1996g) 2,4,5-Triclorofenol Método 8270 C (EPA, 1996g) 2,4,6-Triclorofenol Método 8270 C (EPA, 1996g) 2,4-Diclorofenol Método 8270 C (EPA, 1996g) Prêmio CREA Goiás de Meio Ambiente 2011 195 2,4-Dimetilfenol Método 8270 C (EPA, 1996g) 2,6-Diclorofenol Método 8270 C (EPA, 1996g) 2-Metil-4,6-dinitrofenol Método 8270 C (EPA, 1996g) 2-Metilfenol Método 8270 C (EPA, 1996g) 2-Metilnaftaleno Método 8270 C (EPA, 1996g) 2-Naftilamina Método 8270 C (EPA, 1996g) 3-Metilcolantreno Método 8270 C (EPA, 1996g) 4-Cloro-3-Metilfenol Método 8270 C (EPA, 1996g) 4-Metilfenol Método 8270 C (EPA, 1996g) Acenafteno Método 8270 C (EPA, 1996g) Acenaftileno Método 8270 C (EPA, 1996g) Acetofenona Método 8270 C (EPA, 1996g) Álcool Benzílico Método 8270 C (EPA, 1996g) Antraceno Método 8270 C (EPA, 1996g) Benzo(a)antraceno Método 8270 C (EPA, 1996g) Benzo(a)pireno Método 8270 C (EPA, 1996g) Benzo(a)fluoranteno Método 8270 C (EPA, 1996g) Benzo(g,h,i)perileno Método 8270 C (EPA, 1996g) Benzo(k)fluoranteno Método 8270 C (EPA, 1996g) Bis(2-Cloroetoxi)metano Método 8270 C (EPA, 1996g) Bis(2-Etilhexil)ftalato Método 8270 C (EPA, 1996g) Bromofenoxibenzeno Método 8270 C (EPA, 1996g) Butil Benzil Ftalato Método 8270 C (EPA, 1996g) Carbazole Método 8270 C (EPA, 1996g) Criseno Método 8270 C (EPA, 1996g) Di-n-octilftalato Método 8270 C (EPA, 1996g) Dibenzeno(a,h)antraceno Método 8270 C (EPA, 1996g) Dibutilftalato Método 8270 C (EPA, 1996g) Dietil Ftalato Método 8270 C (EPA, 1996g) Difenilamina Método 8270 C (EPA, 1996g) Dimetil Ftalato Método 8270 C (EPA, 1996g) Fenacetin Método 8270 C (EPA, 1996g) Fenantreto Método 8270 C (EPA, 1996g) Fenol Método 8270 C (EPA, 1996g) Fluoranteno Método 8270 C (EPA, 1996g) 196 Prêmio CREA Goiás de Meio Ambiente 2011 Parâmetros Analíticos Método Analítico Fluoreno Método 8270 C (EPA, 1996g) Hexaclorobenzeno Método 8270 C (EPA, 1996g) Hexaclorobutadieno Método 8270 C (EPA, 1996g) Hexaclorociclopentadieno Método 8270 C (EPA, 1996g) Hexacloroetano Método 8270 C (EPA, 1996g) Indeno(1,2,3,cd)pireno Método 8270 C (EPA, 1996g) m-Nitroanilina Método 8270 C (EPA, 1996g) Naftaleno Método 8270 C (EPA, 1996g) o-Nitroanilina Método 8270 C (EPA, 1996g) p-Nitroanilina Método 8270 C (EPA, 1996g) Pentaclorobenzeno Método 8270 C (EPA, 1996g) Pentacloronitrobenzeno Método 8270 C (EPA, 1996g) Pireno Método 8270 C (EPA, 1996g) Propizamina Método 8270 C (EPA, 1996g) Quadro 4 Parâmetros analíticos dos compostos orgânicos voláteis (COV) e métodos analíticos utilizados em sua determinação. Parâmetros Analíticos Método Analítico 1,1,1-Tricloroetano Método 8260 B (EPA, 1996f) 1,1,2,2-Tetracloroetano Método 8260 B (EPA, 1996f) 1.1.2-Tricloroetano Método 8260 B (EPA, 1996f) 1,1-Dicloroetano Método 8260 B (EPA, 1996f) 1,1-Dicloroeteno Método 8260 B (EPA, 1996f) 1,1-Dicloropropeno Método 8260 B (EPA, 1996f) 1,2-Dicloroetano Método 8260 B (EPA, 1996f) 1,2-Dicloropropano Método 8260 B (EPA, 1996f) 1,3-Dicloropropano Método 8260 B (EPA, 1996f) 4-Metil-2-Pentanona Método 8260 B (EPA, 1996f) Benzeno Método 8260 B (EPA, 1996f) Bromodiclorometano Método 8260 B (EPA, 1996f) Bromofórmio Método 8260 B (EPA, 1996f) Bromometano Método 8260 B (EPA, 1996f) Cis-1,2-Dicloroeteno Método 8260 B (EPA, 1996f) Cis-1,3-Dicloropropeno Método 8260 B (EPA, 1996f) Prêmio CREA Goiás de Meio Ambiente 2011 197 Parâmetros Analíticos Método Analítico Cloreto de Vinila Método 8260 B (EPA, 1996f) Clorobenzeno Método 8260 B (EPA, 1996f) Cloroetano Método 8260 B (EPA, 1996f) Clorofórmio Método 8260 B (EPA, 1996f) Clorometano Método 8260 B (EPA, 1996f) Dibromoclorometano Método 8260 B (EPA, 1996f) Diclorometano Método 8260 B (EPA, 1996f) Dissulfeto de Carbono Método 8260 B (EPA, 1996f) Estireno Método 8260 B (EPA, 1996f) Etilbenzeno Método 8260 B (EPA, 1996f) m,p-Xilenos Método 8260 B (EPA, 1996f) o-Xileno Método 8260 B (EPA, 1996f) Tetracloreto de Carbono Método 8260 B (EPA, 1996f) Tetracloroeteno Método 8260 B (EPA, 1996f) Tolueno Método 8260 B (EPA, 1996f) Trans-1,2-Dicloroetano Método 8260 B (EPA, 1996f) Tricloroeteno Método 8260 B (EPA, 1996f) Quadro 5 Parâmetros para caracterização de combustível e método analítico utilizados pela em sua determinação. Ensaios Método Utilizado Determinação de cinza em carvão NBR 8289 (ABNT, 1983) Determinação do poder calorífico ASTM 240 - 87 Determinação dos óxidos (Al2O3, Fe2O3, SiO2, CaO, MgO) NBR 4656 (ABNT, 2001) Foram coletadas dez amostras de lodo e argila para determinação do teor de umidade. Para o lodo foi determinado além da umidade o poder calorífico superior. Para determinação do teor de umidade, as amostras foram pesadas e mantidas por 24 horas em estufa a 105°C, calculando-se o percentual de umidade através da diferença dos pesos (Equação 4.1). (Equação 4.1) As amostras foram submetidas à análise de poder calórico superior (PCS) de acordo com a instrução operacional “IO-LCB-004 Determinação de poder calorífico superior e calibração da bomba calorimétrica” (CIMPOR, 2009C). 198 Prêmio CREA Goiás de Meio Ambiente 2011 1.10. DEFINIÇÃO DOS PONTOS DE ALIMENTAÇÃO E DOSAGEM DO LODO NA PLANTA DE CLÍNQUER O co-processamento se dá através de resíduos passíveis de serem utilizados como substituto de matéria-prima e ou de combustível. O lodo pode entrar no processo na etapa da moagem de cru por ser estabilizado com cal (CaO) ou como combustível na moagem de coque conforme a Figura 9. Chama-se de “cenário” o ponto de alimentação do lodo no processo. Figura 9 Fluxograma do processo de decisão do ponto de alimentação de lodo na fábrica de clínquer. Para definir o percentual de lodo na alimentação do moinho de cru (cenário 1) foram utilizados os parâmetros do Quadro 6: Quadro 6 Parâmetros para definição do percentual de lodo alimentado no cenário 1. Parâmetro Objetivo Observação Umidade da argila Máximo 30% A faixa de operação de umidade da argila no período das chuvas é de 20% em função de problemas operacionais como entupimento do shut da moega de abastecimento da correia transportadora. Co-processamento diário de lodo 80 t dia -1 Maximização do consumo de lodo para absorver a produção diária de lodo da ETE Goiânia. Prêmio CREA Goiás de Meio Ambiente 2011 199 Para a realização dos testes do “Cenário 1” com duração de oito horas cada, estimou-se um consumo de mix lodo/argila de aproximadamente 120 t. Os caminhões que transportaram lodo da ETE Goiânia para a Cimpor foram pesados em balança rodoviária na entrada e na saída da fábrica. Cada caminhão foi descarregado separado um do outro e recebeu o nome de “lote X”, em que “X” representa o número por ordem de chegada (Figura 10). Figura 10 Lote 1 de lodo de ETE recebido na Cimpor, Unidade Cezarina. Simulou-se a composição da mistura do mix argila/lodo para a realização de dois testes usando como meta os parâmetros do Quadro 6. A Tabela 12 apresenta a simulação da composição do mix argila/lodo para o teste 1, e a Tabela 13 para o teste 2. Tabela 12 Simulação da composição do mix argila/lodo do teste 1. Teste 1: 10% lodo no mix Dados 200 Argila Lodo Mix Equação Umidade 18% 67% 28% 4.2 Massa (bu) 75 t 20 t 95 t - Massa (bs) 61,5 t 6,6 t 68,1 t 4.3 % m/m (bu) 78,9% 21,1% 100% 4.4 % m/m (bs) 90,3% 9,7% 100% 4.4 Consumo (bu) 226,4 t dia-1 60,6 t dia-1 287 t dia-1 4.5 Prêmio CREA Goiás de Meio Ambiente 2011 Tabela 13 Simulação da composição do mix argila/lodo do teste 2. Teste 2: 5% lodo no mix Dados Argila Lodo Mix Equação Umidade 18% 67% 24% 4.2 Massa (bu) 225 t 30 t 255 t - Massa (bs) 184,5 t 9,9 t 194,4 t 4.3 % m/m (bu) 88,2% 11,8% 100% 4.4 % m/m (bs) 94,9% 5,1% 100% 4.4 Consumo (bu) 253,1 t dia-1 33,9 t dia-1 287 t dia-1 4.5 (Equação 4.2) (Equação 4.3) (Equação 4.4) (Equação 4.5) Em que: i: representa a matéria-prima utilizada (argila e lodo); bs: representa o cálculo do parâmetro em base seca e; bu: em base úmida. O consumo de 287 t dia-1 refere-se à substituição da alimentação de argila nos moinhos 2 e 3 onde a soma dessas alimentações opera na faixa de 14 t h-1. Multiplicou-se por um fator de utilização dos moinhos de 20,5 h dia-1. A Figura 11 mostra a representação esquemática da entrada do lodo no cenário 1. Com os resultados da simulação, partiu-se para a confecção do mix. Para o primeiro mix do teste 1, foram utilizados os Lotes 1 e 2 de lodo. O lodo foi misturado a três caminhões de argila (Figura 12) e homogeneizado com auxílio de pá-carregadeira (Figura 13). Para o teste 2, utilizou-se os Lotes 3, 4 e 5 de lodo juntamente com 9 caminhões de argila. Prêmio CREA Goiás de Meio Ambiente 2011 201 Figura 11 Representação esquemática do cenário 1. Figura 12 Descarga de argila para a preparação do mix argila/lodo. 202 Prêmio CREA Goiás de Meio Ambiente 2011 Figura 13 Utilização de pá carregadeira na homogeneização do mix argila/lodo. Foi criado um algoritmo para decisão da continuidade dos testes com duração de oito horas. As decisões foram tomadas conforme apresentado na Figura 14. Prêmio CREA Goiás de Meio Ambiente 2011 203 1.11. AVALIAÇÃO DAS EMISSÕES DE CO E HIDROCARBONETOS TOTAIS (THC) Os testes de queima foram realizados sem o co-processamento de outros resíduos, a fim de assegurar que quaisquer alterações nas emissões atmosféricas foram resultantes da presença de lodo no processo ou de instabilidade operacional. Duas horas antes do início de cada teste parou-se o consumo de resíduos. As emissões atmosféricas foram avaliadas através de analisadores contínuos instalados na chaminé da linha 2 de produção de clínquer e torre de pré-calcinação. Os analisadores compõem um banco de dados com os valores instantâneos registrados a cada minuto para tais compostos. 1.12. AVALIAÇÃO DAS DIFICULDADES OPERACIONAIS A operação do sistema na CIMPOR – Cezarina é automatizada. Todas as ações tomadas são realizadas através do comando central. As telas do comando central, gráficos dos parâmetros de controle, relatórios gerenciais e visitas na planta deram suporte para avaliação das dificuldades operacionais. Acompanharam-se os seguintes parâmetros operacionais: Cenário I: •Dificuldade do abastecimento do lodo na moega de argila; •Entupimento do “shut” da balança de dosagem; •Agarramentos da matéria prima na bica de entrada do moinho; •Entupimentos das grelhas do moinho; •Emissão de THC e CO na chaminé; •Emissão de CO na torre de pré-calcinação; •Temperatura da zona de queima; •Rotação do forno; •Corrente do forno; •Alimentação de combustível; •Alimentação de farinha. 1.13. AVALIAÇÃO DA QUALIDADE DO CLÍNQUER PRODUZIDO A qualidade do clínquer produzido foi acompanhada através do plano de amostragem para o teste de queima (Quadro 7). Quadro 7 Plano de amostragem para o controle de qualidade do clínquer e métodos analíticos. Amostra Frequência Local de coleta Argila Horária Balança Farinha produzida Horária Saída do moinho Farinha alimentada Quatro horas Entrada do forno Análises Metodologia Raio-x NBR 4656 (ABNT, 2001) Umidade Procedimento interno* Raio-x NBR 4656 (ABNT, 2001) Granulometria NBR 12826 (ABNT, 1993) Raio-x NBR 4656 (ABNT, 2001) Figura 14 Fluxograma do processo de decisão dos testes com diferentes adições de lodo. 204 Prêmio CREA Goiás de Meio Ambiente 2011 Amostra Farinha 5º estágio Clínquer Frequência Quatro horas Quatro horas Local de coleta 5º ciclone Correia Análises Metodologia Raio-x NBR 4656 (ABNT, 2001) Cl- Procedimento interno* Fl- Procedimento interno* Perda ao fogo NBR NM 18 (ABNT, 2004a) Raio-x NBR 4656 (ABNT, 2001) CaO livre NBR NM 13 (ABNT, 2004b) * Procedimento utilizado pela CIMPOR. 5. RESULTADOS E DISCUSSÃO 1.14. CARACTERIZAÇÃO DO LODO PROVENIENTE DA ETE GOIÂNIA Os resultados obtidos na caracterização do lodo apresentaram-se dentro dos parâmetros esperados para co-processamento. O poder calorífico superior obtido na caracterização pelo método Método D 5865 foi de 1.190 kcal kg-1 e a média obtida para PCS através do método “IO – LCB – 004” foi de 3.664 kcal kg-1. O lodo da ETE Goiânia pode ser usado para co-processamento como combustível alternativo em função do PCS ser maior que 3.000 kcal kg-1 e também pela presença de aproximadamente 15% de óxido de cálcio em sua composição. A umidade é o agente limitante para o uso sem um pré-condicionamento. Os resíduos recebidos na Unidade de Cezarina para co-processamento devem apresentaram teor de umidade inferior a 20% em massa. Os resultados para metais pesados do lodo apresentaram-se dentro dos limites desejados para co-processamento de resíduos na Unidade de Cezarina. Por estequiometria, valores abaixo desses limites asseguram que as emissões atmosféricas para esses elementos ficarão dentro do estabelecido pela resolução Conama 264. A Tabela 14 compara os valores de metais pesados obtidos na caracterização com os limites para recebimento pela Cimpor. Tabela 14 Comparação entre os parâmetros exigidos pela Cimpor e os encontrados na caracterização do lodo. Parâmetro Concentração máxima permitida Concentração no lodo Grupo I (Cd + Hg + Tl) 100 ppm 1,4 ppm Grupo II (As + Be + Co + Ni + Se + Te) 1.500 ppm 147,4 ppm Grupo III ( Sb + Cr + Sn + Pb + V) 5.800 ppm 110,1 ppm As Tabelas 15, 16 e 17 apresentam os resultados obtidos para caracterização do lodo para coprocessamento. Todos os resultados das análises dos compostos orgânicos semivoláteis ficaram abaixo do limites de quantificação do método em que foram analisados. Prêmio CREA Goiás de Meio Ambiente 2011 205 Tabela 15 Resultados analíticos da caracterização química do lodo. Parâmetros Limite de Quantificação Resultados Unidade Porcentagem de sólidos 0,05 35,1 % p/p Poder calorífico inferior 150 1.102 kcal kg-1 Poder calorífico superior 150 1.190 kcal kg-1 Cinzas (base seca) 0,05 48,2 % p/p Cloreto 280 nd mg k-1 Fluoreto 28 nd mg k-1 Cianeto 0,7 nd mg k-1 Brometo 1,4 10 mg k-1 Mercúrio 0,056 1,44 mg k-1 Chumbo 1 20 mg k-1 Cádmio 0,1 nd mg k-1 Tálio 1 nd mg k-1 Arsênio 1 nd mg k-1 Berílio 1 nd mg k-1 Cobalto 1 2,2 mg k-1 Níquel 1 25 mg k-1 Selênio 1 nd mg k-1 Telúrio 0,4 nd mg k-1 Cromo 1 55 mg k-1 Cobre 1 121 mg k-1 Manganês 1 104 mg k-1 Antimônio 1 nd mg k-1 Estanho 1 5,1 mg k-1 Zinco 1 394 mg k-1 Enxofre 1.781 3.401 mg k-1 Fósforo 1 6.311 mg k-1 Vanádio 1 30 mg k-1 Bário 1 127 mg k-1 Platina 0,4 nd mg k-1 Paládio 0,4 nd mg k-1 Rhodio 0,4 0,7 mg k-1 1 nd = não detectado 206 Prêmio CREA Goiás de Meio Ambiente 2011 Tabela 16 Resultados analíticos dos compostos orgânicos voláteis. Parâmetros Limite de quantificação Resultados Unidade 1,1,1-Tricloroetano 0,06 nd mg k-1 1,1,2,2-Tetracloroetano 0,06 nd mg k-1 1,1,2-Tricloroetano 0,06 nd mg k-1 1,1-Dicloroetano 0,06 nd mg k-1 1,1-Dicloroeteno 0,028 nd mg k-1 1,1-Dicloropropeno 0,06 nd mg k-1 1,2-Dicloroetano 0,06 nd mg k-1 1,2-Dicloropropano 0,06 nd mg k-1 1,3-Dicloropropano 0,06 nd mg k-1 4-Metil-2-Pentanona 0,06 nd mg k-1 Benzeno 0,028 nd mg k-1 Bromodiclorometano 0,06 nd mg k-1 Bromofórmio 0,06 nd mg k-1 Bromometano 0,06 nd mg k-1 Cis-1,2-Dicloroeteno 0,06 nd mg k-1 Cis-1,3-Dicloropropeno 0,06 nd mg k-1 Cloreto de Vinila 0,011 nd mg k-1 Clorobenzeno 0,06 nd mg k-1 Cloroetano 0,06 nd mg k-1 Clorofórmio 0,06 nd mg k-1 Clorometano 0,06 nd mg k-1 Dibromoclorometano 0,06 nd mg k-1 Diclorometano 0,06 nd mg k-1 Dissulfeto de Carbono 0,06 nd mg k-1 Estireno 0,06 nd mg k-1 Etilbenzeno 0,028 nd mg k-1 m,p-Xilenos 0,057 nd mg k-1 o-Xileno 0,028 nd mg k-1 Tetracloreto de Carbono 0,06 nd mg k-1 Tetracloroeteno 0,06 nd mg k-1 Tolueno 0,028 0,314 mg k-1 Trans-1,2-Dicloroetano 0,06 nd mg k-1 Tricloroeteno 0,06 nd mg k-1 1 nd = não detectado Prêmio CREA Goiás de Meio Ambiente 2011 207 Tabela 17 Resultados analíticos dos óxidos que compõe a matéria-prima do clínquer. Parâmetros Limite de quantificação Resultados Unidade Óxido de alumínio (Al2O3) 0,001 2,0 % p/p Óxido de ferro (Fe2O3) 0,001 2,39 % p/p Óxido de silício (Si2O3) 0,012 0,156 % p/p Óxido de cálcio (CaO) 0,118 15,6 % p/p Óxido de magnésio (MgO) 0,009 0,314 % p/p Os resultados das análises das dez amostras de lodo coletadas estão apresentados na Tabela 18. Podemos considerar estável a variação do PCS do lodo, sendo o valor médio encontrado de 3.644 kcal kg-1com desvio padrão de 281. O valor aceitável de desvio padrão no PCS para resíduos é de ± 300. Assim como o PCS a variação da umidade apresenta-se controlada, o que favorece o controle operacional do processo. A umidade do lodo considerada para as simulações dos testes foi a média das dez análises, valor de 67%. Tabela 18 Resultados das análises de poder calorífico superior e umidade do lodo recebido. Número da Amostra Poder Calorífico Superior (kcal kg-1) Umidade (%) 1 3.877 71,7 2 3.049 64,1 3 3.582 53,2 4 3.491 68,5 5 3.413 69,7 6 3.620 66,5 7 3.941 77,1 8 3.791 69,0 9 3.697 71,5 10 3.981 61,4 208 Prêmio CREA Goiás de Meio Ambiente 2011 1.15. TESTE 1 Os resultados das análises de umidade da argila estão apresentados na Tabela 19. Para os cálculos de simulação dos testes o valor utilizado foi de 18%, valor obtido através do resultado da média das dez análises realizadas. A variação encontrada na umidade da argila é dada pelo fato da argila estar sendo lavrada em diferentes frentes. A argila extraída mais próxima do fundo da cava da mina tem um maior teor de umidade, ao contrário daquelas extraídas de frentes superficiais. Tabela 19 Resultados das análises de umidade da argila. Número da Amostra Umidade % 1 4,1 2 37,1 3 15,0 4 14,5 5 25,3 6 16,9 7 18,1 8 12,2 9 20,1 10 19,8 O teste 1 foi simulado para uma adição de 10% de lodo no mix de argila. A média de um caminhão basculante de resíduos é de 25 t. Os caminhões de argila pesaram 5 t a menos do que o previsto, portanto a porcentagem de lodo no mix ficou 2% acima do simulado. Assim, as concentrações de lodo que seriam de 10% e 5%, passaram para 12% e 7%, respectivamente. A Tabela 20 mostra como ficou a composição real do mix argila/lodo. Para esse teste o consumo de lodo futuro seria de aproximadamente 75 t dia-1, valor bem próximo da quantidade diária de lodo produzida pela ETE Goiânia. Tabela 20 Composição real do mix argila/lodo do teste 1. Teste 1: 12 % lodo no mix Dados Argila Lodo Mix Equação Umidade 18% 67% 24% 4.2 Massa (bu) 60,8 t 21,31 t 82,11 t - Massa (bs) 49,86 t 7,0 t 56,86 t 4.3 % m/m (bu) 74% 26% 100% 4.4 % m/m (bs) 87,7% 12,3% 100% 4.4 Consumo (bu) 212,38 t dia-1 74,62 t dia-1 287 t dia-1 4.5 bs = base seca e bu = base úmida. Prêmio CREA Goiás de Meio Ambiente 2011 209 O primeiro teste teve início com o abastecimento do mix argila/lodo às 13h25min. O forno estava estável com alimentação de 125 t h-1, a média horária das emissões de THC corrigido a 7% de O2 na chaminé era zero ppm e as emissões de CO corrigidos a 7% de O2 estavam com média de 200 ppm. Assim que o mix argila/lodo entrou no moinho as emissões de THC subiram instantaneamente para 70 ppm corrigido a 7% de O2 na chaminé. Com esse resultado abortou-se o teste 1, pois o limite máximo para co-processamento é de 20ppmv corrigidos a 7% de O2 (CONAMA, 1999). 1.16. TESTE 2 O teste 2 foi simulado com um percentual de lodo no mix argila/lodo 50% inferior ao teste 1. Buscando uma umidade máxima do mix de 30%. A composição real do mix argila/lodo ficou acima do planejado, conforme apresentado na Tabela 21. Tabela 21 Composição real do mix argila/lodo do teste 2. Teste 1: 7 % lodo no mix Dados Argila Lodo Mix Equação Umidade 18 % 67 % 24 % 4.2 Massa (bu) 170,89 t 32,33 t 203,22 t - Massa (bs) 140,13 t 10,67 t 150,8 t 4.3 % m/m (bu) 84,1 % 15,9 % 100 % 4.4 % m/m (bs) 92,9 % 7,1 % 100 % 4.4 Consumo (bu) 241,37 t dia-1 45,63 t dia-1 287 t dia-1 4.5 Onde: bs = base seca e bu = base úmida. O teste 2 teve início com o abastecimento do mix argila/lodo as 12h40min. As emissões atmosféricas de CO e THC encontravam-se estáveis no início do teste. Durante o teste foram detectados picos de CO e THC acima do permitido para co-processamento. Essas instabilidades não foram ocasionadas pela adição de lodo na argila e sim por instabilidade operacional do processo. Foram realizadas três intervenções para limpeza da torre de pré-calcinação durante o teste de queima. A primeira no início do teste às 13h, a segunda às 17h50min e a última às 21h37min. O procedimento de limpeza na torre é uma prática comum na indústria cimenteira e consiste no jateamento da torre com água a 300 kgf cm-2, através de portas de inspeção. O jateamento, além da força física, provoca choques térmicos fazendo com que as colagens sejam derrubadas. Como conseqüência há uma grande entrada de ar frio no processo que esfria o forno. Essa condição operacional foi evidenciada através dos parâmetros de controle do processo, tais como emissão de CO na torre, corrente do motor principal e rotação do forno. A Figura 12 mostra a variação dos parâmetros operacionais do forno 2, como a temperatura da zona de queima, emissões de CO e THC corrigidos a 7% de O2 na chaminé e concentração de CO na torre de pré-calcinação.Os valores médios horários das emissões de CO e THC uma hora antes do início do teste eram respectivamente de 195 ppm e 15 pmm corrigidos a 7% de O2. O teste durou 8 horas com um intervalo referente à parada dos moinhos no horário de ponta. O teste teve início as 12h40min 210 Prêmio CREA Goiás de Meio Ambiente 2011 com alimentação do mix no moinho de cru 2 até as 17h45min. O moinho de cru 3 estava parado nesse período, lembrando que os gases de exaustão desses dois moinhos saem pela chaminé da linha 2 de clinquerização. Das 17h45min às 21h15min os moinhos ficaram parados retomando o teste às 21h15min. A partir desse horário o moinho de cru 3 passou a operar juntamente com o moinho de cru 2 com alimentação do mix de argila/ lodo até a 01h do dia seguinte. Eixo principal: Temperatura zona de queima, CO chaminé e CO torre. Eixo secundário:THC chaminé. Figura 15 Gráfico dos parâmetros operacionais do forno 2 durante o teste de queima. Durante o primeiro intervalo do teste a média horária do CO as 13h ficou acima dos limites legais, fato decorrente da limpeza da torre de pré-calcinação. Com a limpeza, uma grande quantidade de ar frio entrou no processo elevando os valores de CO na torre de pré-calcinação. Se o excesso de CO fosse oriundo do teste o valor de CO encontrar-se-ia elevado apenas na chaminé, pelo gráfico observamos que o pico de CO na chaminé é decorrente do pico de CO da torre. O mesmo fato observa-se às 19h e 21h, os horários correspondentes à segunda e terceira limpeza da torre de pré-calcinação onde os moinhos estavam parados (horário de ponta), portanto sem a realização do teste no período. Após o horário de ponta, o teste foi retomado do tempo 21h15min até a 1h00min. A limpeza da torre às 21h37min foi o que mais afetou o teste. Podemos observar na Figura 13 que o forno esfriou significativamente pelos valores da temperatura da zona de queima (eixo secundário) e corrente do motor principal do forno. Na primeira etapa do teste onde o THC e CO estavam dentro dos limites legais, o forno operava com temperatura média da zona de queima em 1.437°C e corrente do motor do forno em 57A. No período que compreendeu a segunda e terceira limpeza, a temperatura da zona de queima operou com média de 1.352°C e corrente do motor principal em 47A, comprovando que a operação do forno encontrava-se instável (forno frio). Prêmio CREA Goiás de Meio Ambiente 2011 211 Eixo principal: Corrente motor do forno, alimentação de farinha e THC chaminé. Eixo secundário:Temperatura zona de queima. Figura 16 Gráfico dos parâmetros operacionais do forno 2 durante o teste de queima. O forno operando fora da faixa ideal de temperatura faz com que as reações de combustão não se completem aumentando as emissões de CO. Os valores de THC que se encontravam estáveis no primeiro período, aumentaram ficando acima do limite para co-processamento. Verifica-se uma tendência de queda do THC que pode estar relacionado ao aumento da temperatura da zona de queima no último ponto. Outro fato que pode ter sido a causa do aumento do THC é que o moinho 3 passou a operar após o horário de ponta, aumentando o consumo do mix argila/lodo da moagem de cru. O fator limitante do consumo de lodo na moagem de cru são as emissões de THC. Quando os moinhos de cru 2 e 3 passaram a operar juntos, a carga de lodo na linha 2 aumentou, extrapolando as emissões. A carga máxima (bu) de lodo na linha 2 foi de 1,88 t h-1, calculado através da Equação 5.1 onde a alimentação média de argila foi de 12 t h-1 e o % m/m de lodo (bu) foi de 15%. (Equação 5.1) A produtividade média do moinho durante o teste foi de 124 t h-1(produtividade de farinha com lodo), utilizando o fator farinha/clínquer de 1,6 (forno 2), calculou-se o quanto de farinha produzida com lodo pode ser transformado em clínquer através da Equação 5.2, o valor obtido para a produtividade de clínquer com lodo foi de 77,5 t clínquer h-1. (Equação 5.3) O fator de transformação de lodo (bu) em clínquer calculado por meio da Equação 5.3 foi de 24,3 kglodo t-1clínquer. 212 Prêmio CREA Goiás de Meio Ambiente 2011 (Equação 5.4) Se as mesmas condições do teste realizado fossem reproduzidas para outros fornos, o consumo de lodo aumentaria de acordo com o aumento da capacidade de produção de clínquer. A Tabela 22 apresenta o aumento da produção de clínquer através da ampliação da linha 1 e construção da linha 3 em 2014. Com esses dados e com o fator de transformação lodo/clínquer, simulou-se o consumo máximo diário de lodo (bu) para cada ano, conforme a Tabela 23. Tabela 22 Capacidade de produção de clínquer na Cimpor – Unidade Cezarina de 2011 a 2014. 2011 2012 2014 Linha 1 600 t dia-1 1.300 t dia-1 1.300 t dia-1 Linha 2 2.000 t dia-1 2.000 t dia-1 2.000 t dia-1 Linha 3 0 0 1.500 t dia-1 Total 2.700 t dia-1 3.300 t dia-1 4.700 t dia-1 Tabela 23 Capacidade diária de consumo de lodo na Cimpor – Unidade Cezarina de 2011 a 2014. 2011 2012 2014 Linha 1 14,6 t dia-1 31,6 t dia-1 31,6 t dia-1 Linha 2 48,6 t dia-1 48,6 t dia-1 48,6 t dia-1 Linha 3 0 0 36,5 t dia-1 Total 63,2 t dia-1 80,2 t dia-1 116,7 t dia-1 1.17. EMISSÕES ATMOSFÉRICAS As emissões de THC na primeira etapa do teste ficaram dentro dos limites da resolução Conama 264. O valor médio encontrado corrigido a 7% de O2 foi de 11,5 ppmv, quando o moinho de cru 3 passou a rodar após o horário de ponta, os valores médios de THC na segunda etapa subiram para 38,8 ppmv. Durante o teste as emissões de CO ficaram acima do limite em três horários, sendo conseqüência da queda na temperatura da zona de queima. 1.18. QUALIDADE DO CLÍNQUER PRODUZIDO A avaliação da qualidade do clínquer produzido tem início com o controle das matérias-prima utilizadas no processo. Foi executado o plano de amostragem para o teste e na Tabela 24 podemos analisar os resultados para a composição dos óxidos constituintes do mix argila/lodo. A homogeneização do mix pode ser melhorada, o resultado obtido da análise da amostra da 01h mostra que houve elevação no teor de SiO2 e diminuição no teor de que Fe2O3, resultando em MA e MS fora da faixa operacional. Prêmio CREA Goiás de Meio Ambiente 2011 213 Tabela 24 Resultado das análises do mix argila/lodo do teste 2. Horário Umidade SiO2 Al2O3 Fe2O3 CaO MgO SO3 Na2O K 2O FSC MA MS 14 18,8 40,40 26,16 10,61 0,76 0,20 0,89 0,27 0,24 0,5 1,10 2,47 15 19,0 38,63 25,52 9,79 1,09 0,24 0,98 0,31 0,24 0,8 1,09 2,61 16 17,6 39,38 26,21 10,90 0,77 0,20 0,94 0,24 0,23 0,5 1,06 2,40 17 22,0 41,97 27,05 13,17 0,62 0,20 0,12 0,25 0,26 0,4 1,04 2,05 21 17,4 39,63 22,26 18,59 0,67 0,20 0,76 0,29 0,30 0,4 0,97 1,20 23 20,2 42,14 25,40 10,40 0,57 0,18 1,24 0,22 0,27 0,4 1,18 2,44 24 17,4 39,23 26,70 11,68 0,69 0,18 0,95 0,27 0,22 0,5 1,02 2,29 01 17,5 48,55 23,66 8,23 0,50 0,10 0,64 0,15 0,19 0,3 1,52 2,87 Tabela 25 Percentual de alimentação de matéria-prima e resultado das análises da farinha produzida durante o teste 2. Horário Calcário Objetivo Calcário. Corretivo Mix argila/lodo Laterita FSC MS MA 12 71,7 16.6 11 0,7 109,18 2,15 1,33 14 63,3 25,4 10,6 0,7 98,6 2,93 1,40 16 65,2 22,7 11,3 0,7 97,4 2,62 1,40 17 69,8 17,7 11,8 0,7 100,7 2,72 1,52 22 78,8 8,0 12,6 0,7 114,1 2,31 1,46 23 69,3 17,0 13,0 0,7 105,5 2,58 1,47 00 71,3 14,7 13,0 1,0 98,6 2,49 1,60 01 76,7 8,8 13,1 1,4 99,0 2,48 1,58 O MS da farinha produzida às 14h foi de 2,93, considerado alto, o que provoca dificuldade de clinquerização quando alimentado o forno. No mesmo instante houve queda da saturação, sendo corrigida com o aumento da alimentação de calcário objetivo. O valor de MS só estabilizou às 22h quando o moinho passou a operar com adição de 11,7% de argila. O FSC também apresentou variações, as amostras foram coletadas com freqüência horária, mas o plano de amostragem do controle de qualidade da farinha produzida é de uma amostra a cada duas horas. Percebe-se na Tabela 25 que ações foram tomadas a fim de acertar o FSC objetivo, diminuiu-se o percentual de calcário corretivo (menor teor de CaO) para aumentar o FSC. Os parâmetros químicos como FSC, MS e MA da farinha alimentada, operaram dentro da faixa de controle, conforme apresentado na Tabela 26. A farinha consumida durante o teste foi preparada com FSC objetivo para a queima de resíduos, como o teste foi realizado sem combustível alternativo, por estequiometria, não havia sílica suficiente para que o C3S ficasse dentro do objetivo. Os valores baixos de C3S foram agravados pela necessidade de intervenções para remoção de colagens da torre de pré-calcinação, diminuindo a temperatura do processo e consequentemente o calor necessário para completar as reações de clinquerização. Os resultados das análises do clínquer estão apresentados na Tabela 27. 214 Prêmio CREA Goiás de Meio Ambiente 2011 Tabela 26 Resultados das análises da farinha alimentada ao forno durante o teste 2. Horário FSC MS MA 15 108,24 2,31 1,46 20 108,42 2,16 1,40 00 106,37 2,29 1,39 Tabela 27 Resultados das análises do clínquer produzido durante o teste 2. Horário CaOl C3S C2S C3A C4AF 12 1,92 63,3 10,2 7,9 10,1 16 4,58 55,7 12,7 9,2 10,1 20 6,43 40,6 27,0 8,8 9,5 00 4,51 60,2 9,3 9,5 9,6 Embora o plano de amostragem tenha sido executado, não se pode atribuir os resultados de qualidade fora de especificação como conseqüência da utilização do lodo na moagem de cru. A produção de oito horas do moinho não pode ser desviada para alimentar o forno imediatamente. A farinha produzida com lodo é armazenada em silos, onde é homogeneizada com a finalidade de diminuir variações na sua composição química. A farinha alimentada ao forno não foi preparada para ser queimada sem resíduo. No teste com duração de oito horas não foi possível identificar o momento em que a farinha produzida com lodo alimentou o forno. 6. CONCLUSÃO Por meio da caracterização química do lodo, foi possível classificá-lo como combustível alternativo para co-processamento em plantas de fabricação de clínquer por apresentar um PCS médio de 3.664 kcal kg-1. Para ser utilizado como matéria-prima alternativa, é necessária a realização de pré-tratamento do lodo como diluição em argila a fim de garantir o enquadramento do parâmetro “PCS” dentro do estabelecido pela Cimpor. Os metais pesados identificados no lodo apresentaram-se em concentrações muito baixas, quando comparados aos limites que asseguram a não liberação destes materiais sob forma de vapores metálicos. O teste para co-processamento do lodo não apresentou problemas operacionais relacionados ao transporte e doseamento, bem como perdas de produtividade nos moinhos. A produtividade média do moinho de cru 2 durante o teste foi de 124 t h-1. Não foi possível co-processar o mix de argila/lodo do teste 2 simultaneamente nos moinhos 2 e 3 em função da extrapolação da emissão de THC na chaminé. As emissões atmosféricas podem ser controladas para operar dentro dos limites legais para co-processamento, desde que a carga de lodo não ultrapasse 1,88 t h-1. Foi possível estimar a capacidade de co-processamento de lodo no cenário 1 para as linhas 1 e 3. Será possível co-processar a produção diária de lodo da ETE – Goiânia, sem que sejam necessários investimentos adicionais ou mudanças no processo, a partir de 2012 com o ampliação da linha 1. A capacidade de co-processamento dentro dos Prêmio CREA Goiás de Meio Ambiente 2011 215 limites de emissões atmosféricas e qualidade do clínquer poderá chegar a 117 t dia-1 de lodo úmido em 2014 com a instalação da linha 3. 7. REFERÊNCIAS ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS - ABNT. 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Determinação do poder calorífico superior e calibração da bomba calorimétrica. Cezarina, 2009c. Instrução operacional.. ______. Cozedura – III Pré-calcinadores. Lisboa, 2006b. Material didático do curso de formação interna. ______. Cozedura – V Condução de fornos. Lisboa, 2006c. Material didático do curso de formação interna. CONAMA – CONSELHO NACIONAL DO MEIO AMBIENTE. Resolução nº 264 de 26 de agosto de 1999. Considera a necessidade de serem definidos procedimentos, critérios e aspectos técnicos específicos de licenciamento ambiental para co-processamento de resíduos em fornos rotativos de clínquer, para a fabricação de cimento. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 20 mar. 2000. Seção 1, p. 80-83. ______. Resolução nº 375 Define sobre critérioes e procedimentos, para uso agrí216 Prêmio CREA Goiás de Meio Ambiente 2011 cola de lodos gerados em estações de tratamento de esgotos e seus subprodutos, e dá outras providências. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 29 ago. 2006. ______. Resolução nº 382 Estabelece os limites máximos de emissão de poluentes atmosféricos para fontes fixas. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 02, jan. 2007. EPA – ENVIRONMENTAL PROTECTION AGENCY. Method 0023A – Sampling method fpr polychlorinated dibenzo-p-dioxins and polychlorinated dibenzofuran emissions from stationary sources. Dezembro, 1996a. Disponível em: <http://www.caslab. com/EPA-Methods/PDF/EPA-Method-0023A.pdf>. Acesso em: 16 set. 2010. ______. Method 0030 – Volatile organic sampling train. Setembro, 1986. Disponível em: < http://www.caslab.com/EPA-Methods/PDF/EPA-Method-0030.pdf>. Acesso em: 16 set. 2010. ______. Method 0031 – Sampling method for volatile organic compounds (SMVOC). Dezembro, 1996b. Disponível em: <http://www.caslab.com/EPA-Methods/ PDF/EPA-Method-0031.pdf>. Acesso em: 16 set. 2010. ______. Method 0050 – Isokinetic HCl/Cl2 Emission sampling train. Dezembro, 1996c. Disponível em: <http://www.epa.gov/osw/hazard/testmethods/sw846/pdfs/0050. pdf >. 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Disponível em: <http://www.caslab.com/EPA-Methods/PDF/8270c.pdf>. Acesso em: 19 set. 2010. ______. Method 9057 – Determination of chloride from HCl/HCl2 emission sampling train (Methods 0050 and 0051) by anion chromatography. Dezembro, 1996h. Disponível em: <http://www.epa.gov/osw/hazard/testmethods/sw846/pdfs/9057.pdf>. Acesso em: 16 set. 2010. ______. Method 8280A - The analysis of polychlorinated dibenzo-p-dioxins and polychlorinated dibenzofurans by high resolution gás chromatography/low resolution mass spectrometry (HRGC/LRMS). Dezembro, 1996i. Disponível em: <http://www.caslab.com/EPA-Methods/PDF/8280a.pdf>. Acesso em: 16 set. 2010. FARENZENA, H. Fabricação de Cimento Portland – Preparação das matérias-primas para fabricação de clínquer. Manual técnico, 2002. ______. Fabricação de Cimento Portland – Fundamentos básicos da calcinação e clinquerização. Manual técnico, 2003. FYTILI, D.; ZABANIOTOU, A. Utilization of sewage sludge in EU application of old and new methods – A review. 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O projeto conta com a assistência técnica de instituições como a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA), Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural de Goiás (EMATER-GO), Secretaria Municipal de Meio Ambiente de Anápolis (SEMMA), Universidade Estadual de Goiás (UEG), Secretaria Municipal de Meio Ambiente de Inhumas e diversos colaboradores. Em quatro anos de existência, o projeto realizou o plantio de mais de 14 mil mudas nativas e exóticas, construiu bacias de contenção, curvas de nível com a finalidade de minimizar os processos erosivos e facilitar a absorção de água pelo solo, contribuindo, dessa forma, para a preservação do meio ambiente e manutenção do lençol freático. O projeto constitui um viveiro com capacidade de 8.000 mudas produzidas a partir da coleta de sementes no interior da Base Aérea, com resultados surpreendentes, haja vista a diversidade de espécies. Vale ressaltar que após estudos efetuados pelas instituições supracitadas, a biodiversidade da Base Aérea de Anápolis foi considerada a mais preservada do município de Anápolis, sendo um verdadeiro banco de germoplasma, ou seja, uma unidade conservadora de material genético de uso imediato e com potencial de uso futuro. Nesse contexto, a Base Aérea de Anápolis demonstra seu compromisso com o meio ambiente, através de medidas efetivas para preservação da flora e fauna. 222 Prêmio CREA Goiás de Meio Ambiente 2011 SITUAÇÃO AMBIENTAL ANTERIOR A construção da Base Aérea de Anápolis - BAAN, no início da década de 70, demandou a retirada de materiais das caixas de empréstimo * (solo e cascalho laterítico) para terraplenagem de áreas destinadas a construção de obras de infraestrutura aeroportuária, tais como: pátio de estacionamento de aeronaves, pista principal e auxiliar, sistemas de drenagem, auxílios visuais e superestruturas para apoio a implantação da nova Unidade, tais como: hangar de manutenção, laboratório de eletrônica, seção de mísseis, hangar de suprimento, administração, banco de provas de motores aeronáuticos, hangar de alerta, vias e alamedas e outras afins. A retirada do material das caixas de empréstimo resultou na degradação ambiental* de parte da área, impossibilitando o surgimento natural de vegetação e, desta forma, levando ao surgimento de processo erosivo, objeto de grande preocupação por parte do Comando desta Base Aérea. *Caixa de empréstimo é um nome utilizado para caracterizar as áreas de retirada de materiais terrosos (solo areno-argiloso, colúvios cascalhentos e saprolito de rochas diversas) utilizados na base de estradas e na construção de aterros (Lacerda, 2005a; IPT, 2003). O método de mineração empregado nas caixas de empréstimos é a escavação mecânica a seco do material in situ, muito utilizado em rochas alteradas de fácil desagregação. Entre os materiais produzidos por esse método de mineração estão: areia, cascalho, canga laterítica, saibro, terra, argila, entre outros (IPT, 2003). *A degradação ambiental tem sido associada aos efeitos ambientais considerados negativos ou adversos e que decorrem principalmente de atividades ou intervenções humanas (Bitar, 1997) ÁREAS DE CAIXA DE EMPRÉSTIMO Prêmio CREA Goiás de Meio Ambiente 2011 223 224 Prêmio CREA Goiás de Meio Ambiente 2011 Prêmio CREA Goiás de Meio Ambiente 2011 225 IDEALIZAÇÃO DO PROJETO Localizada em uma área de 1.654,8, a BAAN desenvolve um projeto ambiental denominado CERENE - Controle de Erosões e Reflorestamento com Espécies Nativas e Exóticas que visa detectar processos erosivos em sua área patrimonial, preservar os mananciais hídricos recuperar caixas de empréstimos que foram utilizadas para construção das obras de infraestrutura aeroportuárias e demais instalações. Neste contexto, o projeto visa a recuperação de 9% do total da área patrimonial, identificadas para essa finalidade. Para recuperação desse passivo ambiental, no ano de 2005, foram estabelecidas medidas corretivas, visando, principalmente, o controle de erosões provocadas pela retirada do material laterítico na área patrimonial, mediante a revegetação da área e abastecimento do lençol freático através da infiltração das águas das chuvas, permitindo a manutenção dos mananciais existentes na BAAN. O estudo dos impactos ambientais e das medidas corretivas foi realizado pela EMATER-GO - Empresa de Assistência Técnica, Extensão Rural e Pesquisa Agropecuária, EMBRAPA - Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária, Gerência de Transferência de Tecnologia em GOiânia-GO e profissionais, do meio acadêmico, ligados ao meio ambiente. Colaboradores da Agência Rural Instalação da placa - março de 2007 Instalação Colaboradores da EMBRAPA - Dr. Ailton e Dra. Elainy 226 Prêmio CREA Goiás de Meio Ambiente 2011 IMPLANTAÇÃO DO PROJETO CERNE PRIMEIRA ETAPA A execução das medidas preconizadas pelas instituições envolvidas (EMATER-GO e EMBRAPA) teve início em março de 2007 e ainda estão sendo implantadas com a assistência dessas empresas governamentais. Assim, foram construídas 6 bacias de captação, preparo do solo e a revegeração com plantas nativas e exóticas, tendo sido plantadas em quatro anos e meio da implantação do projeto, cerca de 14.000 (quatorze mil) mudas, sendo cerca de 9.000 exóticas e 5.000 nativas, contribuindo para uma mudança significativa na paisagem das áreas em processo de recuperação. Dando início aos trabalhos, foram realizados serviços de contenção das águas pluviais através de desvios em forma de sulcos com destino as bacias ao longo das estradas internas, diminuindo a energia cinética das águas, durante o período chuvoso. A seguir, passou-se à realização de sulcos com intervalos de 5m e 30 cm de profundidade, transversalmente ao movimento das águas em 4 áreas degradadas a serem recuperadas, com as finalidades de reter as águas pluviais no trecho, funcionando como curvas de nível, e facilitar a abertura de covas para plantio de mudas, espaçadas 5 m entre si. (vide foto abaixo). Prêmio CREA Goiás de Meio Ambiente 2011 227 SEGUNDA ETAPA Uma vez preparadas as áreas, procedeu-se à abertura de covas com aplicação de esterco de gado, adubo termosfosfato e, em alguns casos, calcário. Aproximando-se o período das chuvas, iniciou-se a primeira fase do plantio com aproximadamente 2.500 mudas de eucalipto (exótica), plantadas na Área 1, doadas pelo Eng. Agrônomo Pedro Américo, Chefe do Escritório da EMATER, em Anápolis (vide fotos abaixo) A segunda fase veio a ser o plantio de aproximadamente 4.000 mudas de espécies nativas, também na Área 1, são elas: pquis, mangabas, ipÇes de várias cores, cajazinhas, paineiras ou barrigudas, muricis, jatobás, xixás, serejeiras, bálsamos, angicos, oitis, guapevas, cajús, amendoeiras, ingás, cagaitas, gabirobas e outras. 228 Prêmio CREA Goiás de Meio Ambiente 2011 TERCEIRA ETAPA Após o período de estiagem, em 2009, e a irrigação dos trechos plantados até então, ao final do ano, procedeu-se à aquisição de 2.500 mudas exóticas de acácias mangiun, adubos para covas e de cobertura e alguns materiais, visando a próxima etapa de plantio e construção do novo viveiro do projeto. A terceira etapa do projeto deu-se, então, com o preparo de covas adubadas com termofosfato e, em alguns casos, calcário. Isso foi feito em duas grandes áreas: uma próxima à cabeceira leste da pista de pouso (Área 2) e a outra próxima à divisa da Base, no lado oeste, junto à rodovia (Área 3). (ver foto abaixo) Prêmio CREA Goiás de Meio Ambiente 2011 229 Em seguida, com a chegada do período chuvoso, executou-se o plantio das mudas de acácias e mais mudas nativas na Área 2 e Área 1 (indicada na foto anterior), e posterior aplicação de adubos de cobertura nas duas áreas até então trabalhadas. Durante o plantio tivemos a participação dos engenheiros agrônomos Dr. Ailton (EMBRAPA) e Dra. Elainy (EMATER-GO). 230 Prêmio CREA Goiás de Meio Ambiente 2011 Durante a estiagem, em 2010, foram realizadas irrigações adubadas manuais a cada 15/20 dias, com a finalidade de garantir a sobrevivência das mudas plantadas até a chegada do período chuvoso. QUARTA ETAPA Com a chegada do período chuvoso, de outubro de 2010 a fevereiro de 2011, foi cumprida mais uma etapa do projeto, de preparo de covas, adubadas com termofosfato e calcário, compra e plantio de mais 3.500 mudas de acácias, 300 mudas de seringueiras e 1.500 nativas doadas pela EMBRAPA, EMATER-GO e Secretaria do Meio Ambiente de Inhumas-GO. Nesta fase trabalhou-se outro trecho da Área 2 e mais as Área 3 e 4 e aumentou-se a densidade de mudas na Área 1, Prêmio CREA Goiás de Meio Ambiente 2011 231 Nesta etapa deu-se, também, a conclusão da construção do novo viveiro de mudas do projeto CERNE, com capacidade para produção e manutenção de 8.000 mudas. Este viveiro permitirá uma melhor produção de mudas a partir de sementes obtidas no interior das áreas preservadas da BAAN, garantindo, assim, a existência e ampliação da biodiversidade local. 232 Prêmio CREA Goiás de Meio Ambiente 2011 RESULTADOS E SITUAÇÃO ATUAL DAS ÁREAS TRABALHADAS Após 4 anos e meio de muito trabalho para uma equipe de 5 pessoas em média, podemos observar resultados que, a princípio, nos parecia, se não impossíveis, muito difíceis de alcançar. Em que pese à quantidade de material retirado das caixas de empréstimos com a remoção dos micronutrientes encontrados no horizonte A do solo, os procedimentos adotados na recuperação das áreas degradadas se mostraram grandemente produtivos e satisfatórios, haja vista os seguintes resultados alcançados: * Redução significativa das erosões provenientes do grande fluxo de águas pluviais, através do aumento da absorção pelo solo; * Mudança da paisagem local com a revegetação por meio da plantação de espécies nativas e exóticas; * Início da reposição de micronutrientes na camada mais superficial do solo, proveniente da nova vegetação estabelecida. Esta nova realidade pode ser observada nas fotos abaixo e nos filmes anexos aeste Relatório de Apresentação do Projeto CERNE da BAAN. Prêmio CREA Goiás de Meio Ambiente 2011 233 234 Prêmio CREA Goiás de Meio Ambiente 2011 Prêmio CREA Goiás de Meio Ambiente 2011 235 236 Prêmio CREA Goiás de Meio Ambiente 2011 Prêmio CREA Goiás de Meio Ambiente 2011 237 238 Prêmio CREA Goiás de Meio Ambiente 2011 CONSIDERAÇÕES FINAIS A diferença de crescimento entre as plantas exóticas e nativas pode ser considerada normal, uma vez que as plantas exóticas crescem em direção a luz, enquanto que as plantas nativas tendem a fixar as raízes para depois crescerem. O baixo índice de mortalidade das mudas plantadas pode ser explicado, em parte, pelo controle permanente realizado pela equipe do projeto, que inclui a eliminação de formigas e cupins, cobertura com adubos (macronutrientes), replantio de mudas e a adição de micronutrientes quando necessário. Esse projeto demonstra a importância da continuidade da recuperação das áreas em questão, haja vista a mudança significativa da paisagem e consequentemente ganhos para o meio ambiente. AGRADECIMENTOS O Comando da Base de Anápolis reconhece o apoio das Instituições supracitadas, representadas pelos seus servidores que através da dedicação e profissionalismo escrevem um capítulo inédito na história desta Organização Militar, possibilitando justificar o objetivo do projeto CERNE: REESTABELECER O EQUILÍBRIO DO MEIO AMBIENTE NAS ÁREAS EM PROCESSO DE RECUPERAÇÃO. Base Aérea de Anápolis, 12 de setembro de 2011. ____________________________________________ Cap. Esp. - Samuel Mercê Rodrigues Prêmio CREA Goiás de Meio Ambiente 2011 239 EXPEDIENTE: COORDENADORIA DE COMUNICAÇÃO SOCIAL DO CREA-GO: Responsável: Doris Costa (Reg. Nº: JP 0886-GO) Cerimonial e Eventos: Responsáveis: Abadilene Marques e Luana Jayme Assessoria de Imprensa: Responsável: Paula Nogueira Contato: Rua 239 nº 585 – Setor Universitário - Goiânia- GO – CEP: 74605-070 Telefone: (62) 3221.6200 Site: www.crea-go.org.br REALIZAÇÃO: APOIO: