Outubro 2008 - Museu da Lourinhã

Transcrição

Outubro 2008 - Museu da Lourinhã
M
u
s
e
u
d
a
Lourinhã
Número 9
Ano 2008
Mês Outubro
Grupo de Etnologia e Arqueologia da Lourinhã
Museu da Lourinhã
Editorial
Com o fim das férias retoma-se o ciclo das aulas e as escolas
estão de regresso ao Museu. De facto, o número de solicitações
para visitas guiadas, muitas delas ao campo, é muito grande.
O Museu orgulha-se de poder contribuir para um melhor conhecimento quer da história humana recente quer do passado remoto, e incentivar o gosto pela ciência. As visitas ao campo permitem ver de
perto estruturas geológicas peculiares, tais como o dique de que se fala no artigo
sobre a 4ª Caminhada e 2º BTT, e vestígios de dinossauros ou sítios onde se
fizeram achados.
Mas o Museu não se esgota nessas actividades. Assim, continua a apoiar a
investigação científica e a participação dos nossos investigadores em eventos
nacionais e internacionais (o que também é uma forma de divulgar o Museu), e
desenvolve simultaneamente actividades de apoio social, como se dá conta nas
notícias.
No próximo número contamos apresentar uma nova secção do Boletim, que será
um espaço de diálogo, permitindo responder às questões que nos queiram colocar. Já me aconteceu, ao visitar um museu, ter gostado de fazer perguntas sobre
as peças expostas e, até, sobre outros temas, mas não ter tido essa oportunidade por uma razão ou outra. Imagino que o mesmo possa ter acontecido consigo.
Pois bem: escreva-me e eu encaminharei a pergunta para o especialista
adequado, e transmitir-lhe-ei a resposta. Os assuntos que tenham interesse mais
geral serão publicados e até poderão dar origem a artigos! Aqui está mais uma
forma de colaboração. Conto consigo. Até breve
Fernando Nogal
Neste número
2
3
8
10
Mensagem do Editor
Notícias da Associação
Serviços do Museu
Concurso Jovem
Artigos
3
5
6
7
8
9
4ª Caminhada e 2º BTT “Rota dos Dinossauros”
Três dias de férias no Ancorense
Antigas profissões - O alfaiate
Museu da Lourinhã na Argentina
Novas descobertas em formações geológicas de S. Pedro de Moel
Ilustração Paleontológica – Parte III
Capa: A praia do areal na manhã de 28 de Setembro de 2008 (ver artigo na
página 3)
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2
Boletim N.º 9
Outubro 2008
Museu da Lourinhã
Notícias
•
1 de Outubro - Dia do Idoso
Assinalando o Dia do Idoso, que se comemora a 1 de Outubro, o Museu ofereceu o ingresso a
todas as pessoas com 65 ou mais anos de idade.
•
O Museu celebrou o dia 5 de Outubro
Em comemoração do Dia de Implantação da República, o Museu abriu com horário normal, no
próprio dia 5 de Outubro. Cerca de 60 visitantes aproveitaram para ver as novidades, entre as
quais o crânio de Torvosaurus.
•
Mês do Reformado
Outubro é o Mês dos Reformados e o Museu, em colaboração com a Câmara Municipal da
Lourinhã, organizou tardes de visita e convívio nas suas instalações. Assim, nos dias 7, 8, 9,
10, 15 e 16 mais de 250 idosos visitaram o Museu. Na sala das profissões, os objectos expostos evocaram muitas memórias
dos seus antigos donos. A Casinha Regional foi também local de animado convívio. Ao sabor do pão cozido no forno da
casinha, ou de castanhas assadas, partilharam-se histórias e saberes. Estas sessões devem muito do seu êxito ao trabalho
voluntário de Maria das Dores Matos Pereira. Aqui fica um grande “Muito obrigado!” da Direcção.
•
Admissão de novos Associados
Durante o mês de Outubro foram aprovados os pedidos de admissão de três novos associados. De assinalar que foi atribuído
o número 500.
•
Feira do Bebé e da Criança
Nos próximos dias 14 a 16 de Novembro o Museu participará, com seu pavilhão para exposições itinerantes, na Feira Bebés
e Crianças, que se realiza em Lisboa, no Parque do Tejo (na zona a norte da Expo98, junto ao rio Trancão). Esperam-se
cerca de 21.000 visitantes. Informações completas sobre este evento podem ser obtidas em http://terraalternativa.com
4ª Caminhada e 2º BTT - Rota dos Dinossauros
ta guiada gratuita ao pavilhão de Paleontologia.
O Domingo 28 de Setembro começou cedo para os Finalmente, às 9:30, os 165 caminhantes e 45 ciclistas
organizadores e participantes na 4ª Caminhada e 2º BTT
"Rota dos Dinossauros", uma iniciativa da Câmara
Municipal da Lourinhã a que o Museu aderiu e apoiou.
Por volta das 8:30 já havia muito movimento em frente ao
Museu,
distribuíam-se
autocolantes,
camisolas
e
bonés azuis e
cor-de-rosa.
Daí a pouco o
Museu abria a
porta do pátio e
muitos dos participantes aproveitaram a visiOutubro 2008
puseram-se a caminho, rumo à igreja gótica de Santa
Maria do Castelo, onde se fez uma paragem, para ouvir
uma breve explicação dada por Isabel Mateus e recuperar
o fôlego (o vosso cronista confessa a sua falta de forma)!
Desceu-se em seguida para o vale, que foi atravessado
em
direcção
a
Labrosque.
Na
vegetação das bermas e
dos valados era impossível não notar a enorme quantidade de caracóis, até parecia que se
devia mudar o nome ao
passeio e chamar-lhe "Rota dos Caracóis".
Uma vez no alto foi fácil ir até ao moínho, onde se fez
nova pausa, com mais esclarecimentos prestados por
Isabel Mateus, que chamou a atenção para a costa
incluído a sua defesa na guerra da Restauração, altura em
que o forte de Paimogo foi importante.
Boletim N.º 9
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Museu da Lourinhã
O dia estava lindo, como que "feito de encomenda"
desvendava toda a costa para norte. As ilhas Berlengas,
muito nítidas, pareciam estar ao alcance da mão.
Seguiu-se a descida para a praia da Areia Branca. Uma
vez atingida a base da duna fez-se nova paragem, que
permitiu à Dra. Sandra Gouveia explicar a importância e
função das dunas bem como a necessidade de as
defender e preservar. Seguiu-se pela praia até à pousada,
e aí tomou-se a estrada alcatroada a caminho de Paimogo.
Sobe e desce e volta a subir, chegou-se perto da praia do
Caniçal. Isabel Mateus aproveitou para chamar a atenção
para o dique magmático que corta a arriba e se prolonga
pelo mar dentro. As águas, muito cristalinas, permitiram
ver o dique com pormenor.
É interessante saber como se formou esta verdadeira
parede. Um dique, ou filão magmático, resulta de
uma fractura nas rochas
sedimentares que foi aproveitada
pelo magma, que ascendeu
através dela.
Posteriormente o magma
arrefeceu e cristalizou. A
rocha que o constitui,
chamada dolerito, é,
assim, mais recente
que a sequência
sedimentar que
atravessa.
4
A descida da arriba para o parque de terra batida que dá
acesso à praia do Caniçal foi um bom teste ao equilíbrio,
mas tudo se venceu e Paimogo já ficava perto, só mais
uma subida ... até à estrada alcatroada. Esta passa muito
perto do sítio onde foi descoberto o ninho de ovos de
dinossauro, que se pode ver no Museu.
Finalmente a ligeira descida para o Forte de Paimogo, que
data do século XVII e onde se encontrava preparada uma
recepção. Após mais uma breve alocução da Isabel
Mateus, detalhando as descobertas feitas na zona e a
riqueza paleontológica desta região, os participantes
retemperaram forças num alegre convívio.
Em suma, uma linda manhã, bem passada, num agradável
e saudável passeio. Uma experiência a repetir e
recomendar.„ Fernando Nogal (colaborações de Carla
Alexandra Tomás e Isabel Mateus; fotos não assinaladas: F.
Nogal)
Boletim N.º 9
Outubro 2008
Museu da Lourinhã
Três dias de férias no Ancorense
Introdução
Íamos com a intenção de visitar e
fazer um reconhecimento de algumas
estações de arqueologia situadas a
norte e a sul de Vila Praia de Âncora
e descritas por vários arqueólogos
desde os inícios do século XX.
Esperávamos de ver algumas peças
in loco e considerávamos utópico
encontrar um pico ancorense.
Tivemos três dias de férias, duas
horas de manhã e duas horas à tarde,
em trabalho de prospecção. Outras
tantas horas dedicadas à lavagem
das peças, secagem e acondicionamento no carro.
Localização
Esta publicação preliminar resulta da
recolha de superfície feita pelos
autores, entre 30/9 e 2/10 de 2008,
junto à igreja de Santo Isidoro, a norte
de Vila Praia de Âncora, sobre o
caminho pedonal que acompanha a
praia e é paralelo à rua dos Caídos.
Sobre uma base granítica que aflora
na praia e se prolonga pelo mar,
encontra-se a areia móvel da praia
actual e cascalheira resultante da
acção do mar sobre as camadas
superiores. Directamente sobre este
granito assenta um arenito consoli-
dado, castanho-escuro, que
atinge cerca de metro e meio a
dois metros de espessura.
Este arenito é visível em toda
a extensão prospectada e é
estéril do ponto de vista
arqueológico.
Segue-se uma camada de
terra negra que, na base, pode
ser de negro-acastanhado,
onde se encontram calhaus
rolados e, entre estes, muitos
trabalhados. Estes sedimentos
encontram-se a uma cota de 5 Pico ancorense e pico asturiense.
a 7 metros e prolongam-se Foto: Simão Mateus
para nascente, sul e norte. Foi
unifaces, sendo de realçar os picos
nestes sedimentos que fizemos a Asturienses e Ancorenses.
recolha da indústria lítica que iremos
apresentar.
Não encontrámos quaisquer vestígios
de alimentação tais como ossos ou
Indústrias
conchas.
Desde Afonso do Paço (1928) muitos
têm sido os arqueólogos portugueses Conclusão
e estrangeiros que se debruçaram e Encontrarmo-nos numa estação com
estudaram a indústria do litoral norte ocupação humana desde o Paleolítico
português e o nosso intento é, até ao Epipaleolítico e Mesolítico o
apenas, dar mais um contributo para que poderá justificar a divergência
a problemática asturiense/ancorense.
entre diversos autores na descrição e
Já em casa, e neste curto espaço de
tempo, fizemos uma selecção das
peças por grupos e comparámo-las
com as existentes no Museu
Geológico de Lisboa, recolhidas por
Breuil et al (1962) e Viana (1930).
Foram encontradas desde macro
peças a pequenas lascas com os
mais diversos tamanhos e tipologias,
todas em quartzito excepto uma, em
quartzo, num total de 539 artefactos:
muito eolizados, ou rolados, com
arestas boleadas – 36; com fractura
térmica, antes ou depois do trabalho
humano – 43. Algumas das peças
foram reutilizadas. Na sua maioria
têm trabalho unifacial. Somente 70
estão trabalhadas sobre as duas
faces.
Estratigrafia da estação de Igreja de
Santo Isidoro (Vila Praia de Âncora):
1. Nível do mar.
2. Granito de base, areia móvel da
praia actual e cascalheira rolada.
3. Arenito fino, consolidado, castanhoescuro.
4. Sedimentos negros com calhaus
rolados inclusos, sobre o qual existe
um caminho pedonal com calhaus
rolados e trabalhados.
Outubro 2008
No respeitante a técnicas de talhe e
indústrias, temos a presença do
Acheulense, Languedocense, Clactonense, Musteriense, Ancorense e
Asturiense (ver foto).
Uma percentagem significativa das
peças tem projecção em bico característico do litoral Norte de Portugal,
rio Minho e Astúrias e nítido em
raspadores, raspadeiras, bifaces e
Boletim N.º 9
datação dos acervos recolhidos.
Dedicamos este artigo a um dos
sócios do Museu da Lourinhã que,
voluntariamente, efectuou muitas
horas de trabalho, João Manuel
Parente Gonçalves (João Quintino),
natural de Freixieiro do Soutelo, Vila
Praia de Âncora.
Posteriormente, uma vez efectuada a
sua numeração, estudo e classificação, estas peças serão doadas ao
Museu da Lourinhã para fazerem
parte do seu acervo. „ Isabel Mateus
e Horácio Mateus
Bibliografia
BREUIL, H., PAÇO, A., RIBEIRO, O.,
ROCHE, J., VAULTIER M., FERREIRA, O.
da V. e ZBYSZEWSKI, G. (1962). Les
industries paléolithiques dês plages
Quaternaires du Minho. (La station de
Carreço). Comunicações dos Serviços
Geológicos de Portugal. 46. Lisboa. 53131.
PAÇO, A. (1928). Estação Paleolítica do
Carreço. Brotéria, série Fé Ciências e
Letras, IX (III), Lisboa. 157-170.
VIANA A. (1930). Estações Paleolíticas do
Alto Minho. Portucale, vol. III (15). Porto.
185-235.
5
Museu da Lourinhã
Antigas profissões – O alfaiate
Era uma arte importante que conferia
um estatuto, diremos que confortável
e bem remunerado, ao respectivo
artesão. Tanto assim que os judeus,
durante a Idade Média, fizeram dela a
principal actividade: “foi a profissão
de alfaiate a que mais professaram
(os judeus) na nossa Idade Média,
durante os séculos XIV e XV. (…)
Alfaiataria do início do século XX.
Em segundo plano vê-se um auxiliar
a engomar com um ferro a brasas.
O alfaiate é um profissional que
confecciona roupas masculinas. O
nome tem origem na palavra árabe
alkhayyát. O verbo Kháta significa
coser.(1) A costureira diferencia-se do
alfaiate por confeccionar as roupas
femininas provindo o nome da palavra
latina consustura.
O termo latino para alfaiate é sartor
que, em Português, deu origem ao
verbo sarcir, o qual significa coser, e
às palavras sarcir, que se refere à
técnica de remendar um tecido roto
com um pedaço de tecido do mesmo
padrão, e de o coser de tal modo que
não se perceba o remendo, e
sarcideira, a mulher que usa essa
técnica.
Contrasta com fundilhar, ou seja, pôr
fundilhos, que consiste em tapar o
roto ou reforçar o tecido, normalmente de calças ou de casacos de
trabalho, com pano igual ou diferente,
geralmente mais forte que o original.
Esse ofício era, então, o que em
Lisboa ocupava o maior número de
Israelitas. (…) O alfaiate de D. Afonso
V era um hebreu – mestre Latão –, e
o de D. João II era outro – Mestre
Abraão.”(2)
Os alfaiates eram artesãos altamente
especializados sujeitos a rigorosos
exames e anos de prática, para
obterem a carteira profissional.
Tinham que saber talhar, alinhavar,
chulear, casear, coser e fazer todos
os acabamentos necessários e
exigidos pelo cliente na confecção de
calças, casacos, coletes … E havia,
ainda, aqueles ou aquelas que faziam
ilhós, botões, plissados e, após o
aparecimento das meias de vidro,
apanhavam as malhas caídas(3).
Sedas, brocados, veludos, tafetás,
cetins, damasco, linhos, lãs, ou,
simplesmente, cotim, sarja ou burel
foram utilizados, durante séculos,
pelo alfaiate e tudo era cosido com
agulha e linha de boa qualidade, com
a ajuda do dedal que protegia o dedo
médio que normalmente empurra a
agulha.
A fita métrica para tirar as medidas ao
cliente, as diversas tesouras para
cortar e talhar os
tecidos, o giz para
desenhar os cortes, os
chumaços, a entretela,
os botões, o ferro para
assentar costuras e
engomar
eram
os
principais utensílios do
alfaiate.
As peças da profissão de alfaiate expostas no Museu
incluem: brunidores, ferro de engomar, tábua de manga,
máquina Singer, dois casacos entretelados e
alinhavados, além de um quadro alusivo ao alfaiate.
6
Até meados do século
XIX todas as costuras
eram feitas à mão. A
máquina de costura foi
comercializada apenas
a partir da segunda
metade do século XIX.
Boletim N.º 9
GEAL 1429 Etn.: Máquina de costura
SINGER C93, de 1905. Oferta de Álvaro
Matos, de Vale Covo.
No século XX, destacam-se, na
Lourinhã, os alfaiates:
ƒ Luís Veríssimo, com alfaiataria na
R. João Luís de Moura onde ensinou
a arte a Luís Santos. Este doou os
casacos em duas fases de elaboração, entretelados e alinhavados,
expostos no Museu da Lourinhã.
GEAL 383-Etn.: Casaco de homem
em fase de costura, sem mangas e
alinhavado. Comp. 75 cm; Larg. 53
cm. Oferta de Luís Santos
ƒ José Dias, que vivia na R. Miguel
Bombarda, (a mulher, D. Adelaide,
após a morte do marido, ofereceu
parte do espólio ao Museu da
Lourinhã).
ƒ Os Mirandas (toda a família
trabalhava na alfaiataria), também
na rua João Luís de Moura(4)
ƒ Pedro Marques de Carvalho (n. 286-1879, f. 28-12-1952) que teve
alfaiataria na rua da Misericórdia e,
mais tarde, na Av. António José de
Almeida. Foi mestre de alfaiates
mais jovens, entre eles, o Miranda e
o José Lourenço do Toxofal(5).
„ Isabel Mateus e Simão Mateus
Outubro 2008
Museu da Lourinhã
Estas peças pertenceram ao alfaiate José
Dias e foram doadas ao Museu da
Lourinhã por Adelaide Dias:
a) Ferro a brasas para engomar.
Constituído por uma braseira com grelha
no interior e tampa com um pequeno
orifício no topo para encaixar numa cunha
da braseira. Era todo em ferro só com o
punho em madeira. (GEAL 380-Etn.);
b) Tábua de mangas, em madeira (GEAL
385-Etn.). Servia como apoio para
engomar mangas.
c) e d) Brunidores em madeira (GEAL 384Etn. e 381-Etn.). Serviam para assentar as
costuras.
Bibliografia e entrevistas:
1. Wikipedia.org/wiki/alfaiate. Acedido em
12/08/2008.
2. VASCONCELOS, José Leite de (1982).
Etnografia
Portuguesa.
Vol.
IV.
Imprensa Nacional – Casa da Moeda.
Lisboa. 132.
3. Entrevista com Júlia da Piedade Silva
Matos, em 18/8/2008.
4. Entrevista com Carolina Mateus (90
anos), em 13/8/2008.
5.Entrevista com JPedro Carvalho
Simões Silva, neto de Pedro Marques
de Carvalho.
Peças que pertenceram ao alfaiate Pedro
Marques de Carvalho:
e) Tesoura em cobre;
f) Banco de madeira que Pedro de
Carvalho utilizava para apoio do pé direito
enquanto costurava.
Museu da Lourinhã na Argentina
um facto que os artigos científicos que descrevem os
Octávio Mateus e Rui Castanhinha, paleontólogos e Éossos
nunca conseguem substituir o detalhe e rigor de
investigadores do Museu da Lourinhã, deslocaram-se no
passado mês de Setembro a Neuquén, uma cidade
situada na parte norte da Patagónia, uma região da
Argentina.
O mote da viagem foi o Congresso Latino-Americano de
Paleontologia de Vertebrados onde apresentaram
resultados da sua investigação e aproveitaram para
estudar dinossauros daquele país. A cidade de Neuquén é
a capital de uma província com o mesmo nome que é
conhecida por ser muito rica em dinossauros do Cretácico.
A Argentina é um dos
cinco países "big five" no
que respeita a paleontologia de dinossauros,
em número de espécies
e de espécimes. Os
restantes países são:
Estados Unidos, Canadá,
Mongólia e China.
uma observação directa. Estas visitas permitiram aos
paleontólogos observarem, em detalhe e ao vivo, os ossos
dos dinossauros argentinos, que são comparados com os
fósseis que os investigadores estudam em Portugal ou
outras localidades.
No percurso da viagem estiveram as visitas às colecções
científicas dos seguintes museus: Museo Argentino de
Ciencias Naturales (em Buenos Aires), Proyecto Dino
(Lago Barreales), Museo Paleontológico Ernesto
Bachmann (El Chocón), Museo Paleontológico de Zapala
(Zapala) e Museo Carmen Funes (Plaza Huincul).
Além do congresso e
visitas a museus, o tempo permitiu ainda algum
trabalho de campo e
visita a localidades paleontológicas.
Os dois investigadores
do Museu da Lourinhã
Este congresso que condescobriram parte de
tou com a presença de
um crânio do Jurássico
cerca de 300 especialisSuperior (não está relatas de várias nacionalidacionado com o crânio da
des, sobretudo da Argenfoto) que foi provisotina, Brasil e Estados
riamente classificado coUnidos.
Octávio Mateus (à esquerda) e Rui Castanhinha junto de um crânio
mo sendo de um ictiosde Carnotaurus sastrei. Foto de Octávio Mateus
sauro, e que preservava
Os “nossos” dois, e
um
molde
natural
do
endocrânio,
isto é, o molde do
únicos, portugueses apresentaram quatro comunicações,
cérebro
e
outras
partes
moles
cranianas.
duas das quais tiveram também a colaboração de outro
investigador do Museu, Ricardo Araújo, focando temas
diversos:
ƒ
ƒ
ƒ
ƒ
Ovos do Jurássico Superior de Portugal
Um estegossauro Dacentrurus armatus da Lourinhã
Tartaruga e dinossauro de Angola
Evolução de dentes e mandíbulas de dinossauros
ornitópodes.
Outubro 2008
A viagem contou com o apoio do Fundação para a Ciência
e Tecnologia, Museu da Lourinhã, Universidade Nova de
Lisboa (CICEGe-FCT), e Southern Methodist University.
Mais informações estão disponíveis em:
http://lusodinos.blogspot.com/search/label/Argentina
„ O Editor agradece a colaboração e as informações prestadas
por Octávio Mateus
Boletim N.º 9
7
Museu da Lourinhã
Novas descobertas em formações geológicas de
São Pedro de Moel
Integrados no programa de escavações de verão, um grupo de paleontólogos do Museu Lourinhã realizou,
nos dias 6 a 11 do passado mês de
Julho, trabalhos de prospecção e
escavação paleontológicas na região
de São Pedro de Moel.
Esta equipa, constituída por Octávio
Mateus, Bruno Pereira, Ricardo
Araújo e Rui Castanhinha, representa
uma colaboração entre o Museu e a
Universidade Nova de Lisboa e teve
ainda o apoio da Câmara Municipal
da Marinha Grande.
podemos encontrar na região da
Lourinhã.
As rochas de São Pedro de Moel
contam-nos que aquela região não
está parada.
São exemplos das várias deformações sofridas por estas rochas as
falhas, fracturas intensas e inclinações acentuadas das camadas
geológicas. O agente responsável por
estas deformações é o diapiro de São
Pedro de Moel – Marinha Grande.
Um diapiro é uma estrutura que
resulta da ascensão de rochas
evaporíticas, de que são exemplos o
sal e o gesso, e que, por serem
menos densas que as rochas que
estão por cima destas, ascendem em
direcção à superfície.
sentido de melhor perceber e
enquadrar este achado. Desta
prospecção resultaram diversas recolhas, sobretudo de invertebrados, que
nos vão permitir inferir não só uma
idade mais precisa para aquelas
rochas, mas também o ambiente que
as originou. Foram recolhidas essencialmente amonites, bivalves e alguns
gastrópodes.
É de salientar, para além da camada
onde se encontram os peixes, uma
nova jazida onde foram descobertos
euequinóides endocíclicos (ouriçosdo-mar regulares, semelhantes aos
que vemos hoje nas praias) bem
preservados, e uma outra jazida onde
foram descobertas amonites de
grandes dimensões (30cm ou mais).
Como o material que está por cima da
camada composta por rochas evaporíticas é rígido e pouco plástico, estas,
ao ascender, provocam a deformação
das rochas que atravessam. Essa
deformação dá-se através da fractura
e do dobramento das rochas atravéssadas pelo diapiro.
Este fenómeno continua a dar-se até
que deixem de existir rochas evaporíticas em profundidade.
Dobras a Norte da Praia de São
Pedro de Moel. Estão assinalados a
azul os planos de estratificação nas
dobras.
As rochas presentes nas arribas
litorais daquela região datam do
Triássico ao Jurássico inferior, tendo
entre 210 e 146 milhões de anos. São
mais antigas que as rochas que
contém os fósseis de dinossauro que
Ainda na região de São Pedro de
Moel, a sul de Água Madeiros, tinha
anteriormente sido descoberta uma
camada contendo fósseis de peixes.
Estes apresentam um elevado grau
de preservação, sendo visíveis não
só as partes ósseas, mas também
escamas.
Associada à escavação deste achado
foi feita prospecção paleontológica no
A amonite de S. Pedro de Moel
As
amonites
eram
moluscos
gastrópodes, algo semelhantes a
caracóis, que tiveram uma grande
expansão durante o período Mesozóico e se extinguiram há 65 milhões
de anos, juntamente com os
dinossauros.
„ Bruno Pereira
O Museu da Lourinhã disponibiliza os seguintes Serviços:
•
•
8
•
•
Visitas guiadas e palestras
Paleontologia:
o Preparação de fósseis
o Elaboração de moldes
o Venda de réplicas
Boletim N.º 9
Conservação e restauro de peças
Workshops:
o Conservação e restauro
o Réplicas
o Preparação de fósseis
Outubro 2008
Museu da Lourinhã
Ilustração Paleontológica
III – Ilustração de fósseis
Se no desenho em forma de vida
de um animal existem uma série de
regras a serem respeitadas, no desenho de material fóssil não existem
menos.
O objectivo ao ilustrarmos um fóssil é
que se retirem o máximo de informações mas, muitas vezes, este apresenta interferências. Consideramos
poluição visual informações desnecessárias e irrelevantes como sejam,
entre outras, fracturas, certas diferenças de coloração, rocha envolvente
cuja remoção é perigosa, ou deformações causadas pelo homem.
Nestes casos podemos suprimir esta
informação, ou “corrigi-la”. Decisões
de supressão ou correcção do que
observamos partem sempre de uma
análise pessoal, sujeita a erro ou a
melhor opinião.
O critério de selecção da quantidade
de informação a passar influencia a
qualidade da arte final.
Na ilustração podemos
também restaurar, recuperar, ou “regenerar”, uma
parte do fóssil que já se
perdeu.
Podemos fazê-lo se tivermos noção de como seria
a parte em falta ou, por
exemplo, no caso de uma
vértebra em que o fóssil é
simétrico, tendo a apófise
direita pode reconstituir-se
a esquerda.
Qual é o osso? De que membro? De que lado?
Qual é a posição correcta?
Metacarpo de saurópode, a única vista em posição
correcta é a da direita.
Autor: Simão Mateus
Mais uma vez estamos a
partir de uma interpretação, sujeita a
erro, mas em que esse erro é
assumido e tido como mínimo.
Estas duas situações, correcção de
faltas e supressão de interferências,
são vantagens claras da ilustração
sobre a fotografia.
Tendo o fóssil pronto a ser desenhado, já preparado, limpo, catalogado e
protegido, há logo uma série de
questões que se levantam: Que fóssil
é? Como está posicionado? Quantas
vistas são necessárias? Qual a
melhor técnica a aplicar? Quais os
pormenores a serem salientados?
Qual a escala? Vai ser aplicado num
conjunto ou sozinho?
que dedo? (Quantos são os dedos?)
E tudo isto só para ir buscar a
bibliografia gráfica.
Imaginemos que conseguimos obter
respostas para todas estas perguntas,
o que não é fácil mesmo para um
paleontólogo com experiência.
Olhamos para o osso e vamos posicioná-lo. Qual é o lado de cima e qual é
o lado de baixo? Qual é a parte da
frente? O lado direito e o esquerdo? E
isto foi só para colocar o fóssil em
cima da nossa mesa de trabalho!
Se numa vértebra as respostas
podem ser claras e simples, as coisas
mudam de figura num osso longo.
Imaginemos uma falange. Para quem
não considere uma falange um osso
longo as falanges dos saurópodes
podem atingir 30 cm, maiores que o
úmero humano. É o tipo de osso, não
o tamanho do osso, que conta.
Estudo para pé e mão de
estegossauros
Autor: Patrícia Latas, Menção
Honrosa CIID 2000/1
Outubro 2008
Numa falange surgem-me as perguntas: De que dinossauro é? Se estiver
no meio de outras ossadas é possível
identifica-lo. Que osso é? Úmero,
fémur, falange?
Concluímos então que é uma falange!
De que membro? Posterior ou
anterior? Direito ou esquerdo? De
Boletim N.º 9
Vértebra com reconstituição de
apófise esquerda
Autor: Simão Mateus
A ilustração em si só agora vai
começar. Mas isso é para um próximo
boletim. „ Simão Mateus
9
Museu da Lourinhã
M
u
s
e
u
d
a
Lourinhã
Concurso Jovem – O Mestre Alfaiate
Apresentamos aqui a solução do problema proposto no Boletim Nº 7,
de Agosto de 2008
Livro de registos (chão)
Tesoura (bolso alfaiate)
Pregadeira (na parede)
Óculos do alfaiate
Molde (na parede)
Tesoura (mesa do ajudante)
Cadeira (mesa da direita)
Grupo de Etnologia e Arqueologia da Lourinhã
10
Boletim N.º 9
Outubro 2008

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