LENDAS DE BEJA o Touro e a Cobra e outras lendas
Transcrição
LENDAS DE BEJA o Touro e a Cobra e outras lendas
LENDAS DE BEJA o Touro e a Cobra e outras lendas... VIAGENS do Cigano Castanho e da Cigana Mariana através do MARAVILHOSO por José Penedo um deNómio de José Rabaça Gaspar (img001 - capa – os ciganos o fogo e os astros…) José Penedo – um deNómio de José Rabaça Gaspar img002 – silhueta touro e cobra – marca d‘água ISBN: 978-84-686-0375-9 Impresso em Portugal / Printed in Portugal Impresso por Bubok Publishing 2 Lendas de Beja – o Touro e a Cobra e outras LENDAS... José Penedo VIAGENS do Cigano CASTANHO e da Cigana MARIANA ATRAVÉS DO MARAVILHOSO por TERRAS do AQUÉM TEJO I I Penedo Gordo – Beja 1988 – 1995/6 Corroios – Seixal 1998/99 e 2008 - 2012 3 José Penedo – um deNómio de José Rabaça Gaspar 4 Lendas de Beja – o Touro e a Cobra e outras LENDAS... concepção montagem e adaptação de J0SÉ PENED0 VIAGENS do Cigano CASTANHO e da Cigana MARIANA ATRAVÉS DO MARAVILHOSO pelas TERRAS do AQUÉM TEJO 1ª JORNADA LENDAS DO ALENTEJO I 1ª PARTIDA lendo LENDAS DE BEJA - O TOURO E A COBRA e outras lendas a ler nas letras das estrelas ou A HUMANIDADE A CRESCER PARA A LIBERDADE ou o maravilhoso fantástico no imaginário alentejano PENEDO GORDO – BEJA 1988 – 1995 Corroios – Seixal 1998/99 e 2008 - 2012 5 José Penedo – um deNómio de José Rabaça Gaspar FICHA TÉCNICA Título Autor reescrita, introduções, estudos e pistas de leitura coordenação e montagem desenhos e arranjo gráfico VIAGENS do Cigano Castanho e da Cigana Mariana através do MARAVILHOSO por Terras do Aquém-Tejo LENDAS DO ALENTEJO I lendo LENDAS DE BEJA - O TOURO e a COBRA e outras... José Penedo José Rabaça Gaspar @ JJO OR RAG AGA A @ e montagens finais, pp. 397 e sg. com imgs da net. processamento de texto e 1ª em 1989 - Amstrad PCW 8256 - JORAGA - Penedo Gordo, Beja impressão 2ª recuperação de texto e desenhos por especial favor de Minerva, ESE/Beja, c/ Prof. Mantinhas, Grilo, Toucinho e equipa. 3ª revisão em 1994/95 e em 1995/96 a acabar em 2008 – 2012. Revisões Maria de Fátima da Vinha Borges Local Penedo Gordo - Beja e Amora / Corroios - Seixal data/s 1988 - 1994/95 e 1995/96 e 1998/99 – 2012. Assistência técnica e Todos estes trabalhos tiveram a assistência dos técnicos da acompanhamento INFORGÉNESE -Amora – Continente, Seixal e depois MMCruz todos os direitos reservados @ JORAGA – Pentium 200 - WinWord, Hewlett Packard Desk Jet 550C Penedo Gordo, Beja 1993/94 a 1995/96, 2012, com todos os direitos reservados. ISBN 978-84-686-0375-9 O Cante dos Contos dos quatro cantos do AQUÉM TEJO Penedo Gordo, Beja, de 1988 - 1995/96 Corroios, Seixal, 1998/99 – 2012 JORAGA Nota 1: Este livro está também disponível em PDF onde pode ver as imgens a cores... Declaro que ―Desejo oferecer o eBook aos leitores que comprarem o meu livro em papel.‖ Os que não puderem ou não quiserem ter o livro em papel podem ter o livro em PDF por um preço quase simbólico. Aceder em: http://www.bubok.pt/livros/5206/Lendas-deBeja--O-Touro-e-a-Cobra-e-outras-LENDAS Nota 2: Por razões óbvias, e por se tratar de Literatura Oral, Popular, Tradicional, o autor não utiliza o projectado (infeliz e confuso) Acordo Ortográfico. 6 JORAGA Lendas de Beja – o Touro e a Cobra e outras LENDAS... dedicatória ...para a FÁ, a FADA / ANJO que me apareceu n’A MAR de DOR em 1991 e para a Diana, para o David e Beatriz, pela minha falta de arte para lhes contar histórias... a desgraça de um Povo é ser geralmente mais conhecido, nos seus defeitos e qualidades, pelos que os exploram e oprimem utilizando esses conhecimentos para seu benefício... do que por aqueles que têm por missão aproveitar e encaminhar as suas potencialidades e características para o seu DESENVOLVIMENTO e PROGRESSO imparável... é preciso, entretanto, reconhecer que é mais fácil oprimir e explorar em proveito próprio, as características latentes e criar barreiras, paredes e arenas para domar a fúria do TOURO, do que aproveitar devidamente a sua força bruta, a sua fúria indomável e a sua fecundidade para uma correcta e eficaz CONSTRUÇÃO do DESENVOLVIMENTO... que, talvez, só seja possível, através da luta interminável, entre o TOURO e A COBRA... aí, o desafio desta aposta e destas LENDAS (in)acreditáveis! Para ____________________________________________ Com Amizade, o desafio para uma Reflexão Crítica / Tomada de Consciência / para uma urgente e consciente Intervenção Activa... Após uma longa Aprendizagem e Docência em em Permanência:, mais de 50 anos após o curso superior, mais de 40 anos de exercício activo, e após 12 anos de Aposentação do ensino Oficial / vulgo Vida Activa / que pode ser considerada de Professor Jubilado / Emérito no que eu chamo de ISSCCAA – Instututo Superior de Superiores Ciências Complementares e Artes Aplicadas, aqui vos deixo a minha ‘Tese de Mestrado a Catedra’ / ‘Oração de Sapiência’ / ‘Última Aula’ como Liturgia Académica de uma vida que começa. 7 José Penedo – um deNómio de José Rabaça Gaspar 8 Lendas de Beja – o Touro e a Cobra e outras LENDAS... E R A U M A V E Z N O A L E N T E J O... apresentação lendo LENDAS DE BEJA - O TOURO E A COBRA e outras lendas a ler nas letras das estrelas ou A HUMANIDADE A CRESCER PARA A LIBERDADE ou o maravilhoso fantástico no imaginário alentejano introdução a VIAGENS do Cigano CASTANHO e da Cigana MARIANA ATRAVÉS DO MARAVILHOSO pelas TERRAS do AQUÉM TEJO 9 José Penedo – um deNómio de José Rabaça Gaspar O CANTE: DOS CONTOS DOS 4 CANTOS DO ALENTEJO 10 Lendas de Beja – o Touro e a Cobra e outras LENDAS... 0 - em viagem... «... Tenho visto alguma coisa do mundo, e apontado alguma coisa do que vi e ouvi. De todas quantas viagens porém fiz, as que mais me interessaram sempre foram as VIAGENS NA MINHA TERRA. Se assim o pensares, leitor benévolo, quem sabe? pode ser que eu tome outra vez o bordão de romeiro, e vá peregrinando por esse Portugal fora, em busca de histórias para te contar.» Almeida Garrett in VIAGENS NA MINHA TERRA (§ final) E foi assim, leitor amigo, que um dia decidi convidar-te para entrar no mundo do conto encantado da fantasia do ERA UMA VEZ..., pegando de novo no bordão de romeiro que o ilustre visitante teve de abandonar e, seguir contigo, apesar de nos escassear a sua arte, e peregrinar por estas terras e por este Alentejo fora, em busca de histórias, para te/me (en)co(a)ntar/es. Vamos seguir pausadamente ao ritmo lento de uma simpática e irreverente caravana de ciganos que encontrámos errantes por esses montados. Se pudermos, nem sequer vamos interferir nas histórias. À medida que avançarmos devagar, muito devagar, vamos sentar-nos quedos de espanto, de olhos, ouvidos, nariz e boca e pele, com todos os sentidos e sensibilidade muito atentos, e deixar falar esses fabulosos, 11 José Penedo – um deNómio de José Rabaça Gaspar espantosos contadores de histórias que o tempo vai tragando voraz e impiedoso. Aquela história de mil e novecentos que ouvi UMA VEZ..., tinha-me ficado nos olhos para sempre... Um velho sisudo de barbas brancas e cabelos ralos, debruçado na sua mesa gasta de velhos escritos, disseme lá do alto do seu retrato faiscante, pendurado na parede de um sujo e perdido café de aldeia, a sua penosa vergonha e atrevimento de tanto escrever, enquanto tantos homens e mulheres da sua terra oprimida, sedenta de liberdade, nem sabiam ler, nem escrever... Mais do que os olhos e os ouvidos, o nariz a boca as mãos, aquele aviso mudo gritado de outros tempos, ainda não deixou de me impressionar os sete sentidos... Angustiado e impotente, de olhos cor de sonho, gastei meio século do meu tempo a tentar ensinar os outros a ler e a escrever. Pouco fiz. Menos adiantei... ... até que, UMA VEZ... UMA VEZ descobri o que estava à vista de toda a gente. Poucos ainda o tinham descoberto. UMA VEZ descobri, disseram-me, contaram-me, ouvi dizer que muitos dos que me diziam nem saber ler nem escrever, liam e escreviam os mais belos contos de encantar e cantavam dizendo os mais belos cantos capazes de cativar, e afinal, me seduziam e embalavam, desde a meninice! Não quis nem acreditar! Daí, o atrevimento de tentar agarrar essa arte de encantar e metê-la nesta máquina dos tempos modernos, o sistematizador ou ordenador que teimam em chamar computador, com a ideia, não de a 12 Lendas de Beja – o Touro e a Cobra e outras LENDAS... aprisionar, mas de a recolher como semente que assim há-de ser fecunda e germinar, mesmo quando os homens loucos e racionais decidirem criar tudo com máquinas frias e fatais e já não houver mais espaço para o sonho... É a aposta do poeta de 1888: «E assim, nas calhas da roda Gira, a entreter a razão, Esse comboio de corda Que se chama coração.» Venham então daí à cata desses criadores de tesouros da cultura tradicional que por aí andam pobres e ignorados, votados ao desprezo, enquanto uns senhores se vão pavoneando e locupletando com a cultura instituída ganhando bom dinheiro a vociferar do alto do estrado das suas escolas ou tribunas, sem haver polícia capaz de lhe dar ordem de prisão, que “...o povo nada inventa, nada cria; antes deturpa e suja as criações magistrais da cultura e da ciência erudita!” e publicam, em livros de luxo, os ―Tesouros da Literatura Popular Portuguesa‖! Publicam ―o lixo‖!!! Ganham dinheiro! Não pagam direitos!!! Que seria da cultura erudita, se não tivesse raízes? O convite, pois, é para ir à procura da Cultura Ancestral, aquela que é em gérmen no Ventre da Terra e corre como o Vento no Útero do Tempo e fecunda com o seu sémen tudo o que é cultura ciência e desenvolvimento em todo o Universo. do ventre da terra é o canto que grita o grito de vida de um povo oprimido que dá pão que dá trigo que dá de comer saído da terra embebida em esperma que é suor e que é sangue 13 José Penedo – um deNómio de José Rabaça Gaspar por gente vertido espremido exprimido por violentado povo que se sente ofendido / fendido / fundido (com um o no lugar do un) e contudo cantando regando ceifando rasgando amanhando cavando mondando faz nascer das vozes que cantam o canto o canto da terra que não é ouvido. esse canto que é cante é cultura profunda é como as flores que nascem no campo como a erva que pinta de verde a planície... todos a vêem , a todos encanta dão colorido ao mundo universo, mas fenecem e morrem parecendo infecundas... vivendo uma vida, num dia fugaz!!! 14 Lendas de Beja – o Touro e a Cobra e outras LENDAS... img005 – acampamento dos ciganos As carroças de duas rodas assentaram pacatamente no chão libertando as azêmolas e formaram em estrela em redor do campo... (p. 18) 15 José Penedo – um deNómio de José Rabaça Gaspar 16 Lendas de Beja – o Touro e a Cobra e outras LENDAS... É como o pensamento de Álvaro de Campos, escrito num livro abandonado em VIAGEM: «Venho dos lados de Beja. Vou para o meio de Lisboa. Não trago nada e não acharei nada. Tenho o cansaço antecipado do que não acharei, E a saudade que sinto não é nem no passado nem no futuro. Deixo escrita neste livro a imagem do meu desígnio morto: Fui como as ervas e não me arrancaram.» mas logo florescem no tempo da flor ao ritmo fecundo das quatro estações trazendo o feitiço ao pão das espigas dando embriaguez ao vinho das cepas. o canto que eles cantam é canto da terra esquecido ignorado para desprezar... são contos que encantam como os cantos que eles cantam em cante que brota do ventre das gentes ligado em cordão ao ventre da terra. eles contam eles cantam co/antos de encantar mas nas contas que contam não têm lugar! 17 José Penedo – um deNómio de José Rabaça Gaspar Vamos nós, ao menos, ouvi-los CA/ONTAR... «não evoluo, VIAJO.» «Navegadores antigos diziam: “Navegar é preciso: Viver não é preciso‖» disse-nos ainda Fernando Pessoa. E foi então que deparei com aquela caravana de ciganos que decidiu parar as suas carroças e montar arraiais naquele lugar estranho... Estávamos no ano cinquenta depois de trinta e oito e a deslizar sobre as quatro rodas do oitenta e oito que nos abria boas perspectivas para rodar com segurança até ao ano dois mil e trinta e oito... As carroças de duas rodas assentaram pacatamente no chão libertando as azêmolas e formaram em estrela em redor do campo. Delas, três ficaram com as baias majestosas erguidas para o céu, aparecendo-nos, ao pôr-do-sol, como hirtas peças de artilharia, guardando nobre acampamento de aguerridos senhores. As outras afocinhavam no chão verde refazendo-se exaustas da dura caminhada. Vindos do fundo dos tempos, das Terras de Santa Maria e todo o Mundo, o Cigano Castanho e a Cigana Mariana surpreenderam-se seduzidos pela monotonia faiscante desta desolada planície alentejana. Gente sem pátria nem terra que todo o mundo é seu!... há pedaços de terra que lhes falam mais. Que sentem mais seus. Do alto do seu trono da trotante carroça ondulando ao sabor dos cascos troantes que enchiam os campos e os montes, esta terra vasta, extensa sem fronteiras dizia-lhes mais que as outras terras. Ouviam certamente a flauta encantada do poeta do Orfeu: 18 Lendas de Beja – o Touro e a Cobra e outras LENDAS... «Encho os olhos de terra. No Alentejo há muita e é de graça. Dou-lhes esta fartura, Antes que um só torrão na sepultura, Os encha e satisfaça.» (M. Torga in Diário X) A terra voz ecoava na planície e a magia do canto captava inconsciente os sons e a voz difusos, seguindo a sugestão do poeta: ... ennnnnnnnche os ooooolhos de teeeeerra... (silêncio alucinante)... ... ennnnnnnnche os ooooolhos de teeeeerra... E eles a encher a encher os olhos e os sete sentidos o seu ser todo com o gozo imenso de ninguém os vir proibir, de ninguém os vir prender por aquele crime de roubar a terra que é sempre dos outros, porque ali, além “... No Alentejo há muita e é de graça‖. Era a terra a cantar captada pelo Torga transmontano o médium/druida/, artista/poeta que como ninguém, ouve por dentro as mensagens que a terra-madre tem para os seus paridos. In/Tolerados, in/dóceis, in/domáveis, livres e soberbos, irredutíveis, irreverentes os ciganos, o Cigano Castanho e a Cigana Mariana, assim como, por vezes encontram nos intermináveis caminhos do mundo, sempre diferentes tão iguais, uma terra mais afim, que lhes fala melhor, que eles entendem melhor, encontram, por vezes ao redor do mundo, um povo, uns povos irredutíveis soberbos livres irreverentes, que os entendem melhor. São gente que os tolera e respeita. Diferentes. Aceita, admira, ao lado / de longe... e deixa-os ser como são. Defende-se, entrando no jogo perigoso das suas artes de viver diferente… Enganados, escorraçam-nos quando eles já partiram para serem acolhidos ali, logo mais além... para logo entrarem outra vez no jogo... São os povos da planície do Alentejo, ouvi contar por quem corre com eles, e os povos, da Estremadura espanhola, que eles mais sentem 19 José Penedo – um deNómio de José Rabaça Gaspar seus diferentes/semelhantes, onde mais bem se sentem. Províncias irmãs unidas num espaço que é contínuo, ligadas/cortadas pela fada Odiana de falas cruzadas, prosódia CONsoante com nomes diferentes, por nações diferentes, fronteiras cortadas pelas espadas dos senhores das guerras. com armas diferentes do sentir das gentes... Naquela noite, à luz da fogueira vermelha do acampamento, de olhos brilhantes, brasas acesas apesar de cansados, ansiosos semicerrados abertos de tanto quererem ver... eram já noites e noites depois de terem atravessado o Tejo!... douuuuuuuu-lhes eeeeeeesta fartuuuuuuuuuura!... douuuuuuuu-lhes eeeeeeesta fartuuuuuuuuuura!... antes que um só torrão na sepultura os ennnncha e satisfaaaaaaça!!!, ouvia ela, a Mariana, das profundezas da voz mágica da Terra, e o Cigano Castanho explodiu: Ei! gente!!! Isto Aquém do Tejo é só montes e montados a perder de vista... Terra quente e bravia que nos esturrica com o calor do sol em brasa e logo nos tolhe e encolhe com o frio de gelo quando o sol se vai...! Eiiiii! gente! Tanta terra!!! Tanta cor!!! E há quem diga que isto é uma monotonia! Não têm olhos para ver! gritou-lhe o poeta das imagens, que andou a apanhar com a sua caixa de luz as cores da terra e das paisagens alentejanas... Isto é de morrer de pasmo e solidão vomitavam, encolhendo os ombros, os aceleras lá dos nortes e das cidades, que, em grande velocidade, vão à procura de outras paragens, à procura das serras e das areias do Além-Garbe..., que isto, para os senhores Godos, tudo abaixo do Tejo é Além... e eles, os donos, é que dão os nomes... 20 Lendas de Beja – o Touro e a Cobra e outras LENDAS... Gente esquisita! esta, plantada como árvores paradas majestosas à beira da estrada! E o modo como cantam?!!! Aqueles cantes!!!? Pufff! Não há pachorra! Não têm ouvidos para ouvir, gritou de longe a cigana Mariana, tricana ladina, a de olhos meigos, luzeiros de fogo, que andava encantada duns olhos castanhos do cigano moreno iguais ao seu nome. Cigana tricana de olhos de fogo de corpo marmóreo esguio a dançar bailava bailava ao redor da fogueira as tranças desfeitas em cabelos longos esvoaçando à roda do seu busto firme suas ancas soltas girando girando ateando chamas noutros olhos vivos do cigano trigueiro que chamam Castanho castanho como os olhos castanhos também! Mas hoje não bailam. Mudos e que dos. Pararam ali para ouvir. O quê? Cantar. Contar. A terra a falar. A água a correr. o ar a voar. O fogo a crepitar. Répteis a deslizar. Grilos e ralos a gritar um grito estonteante. Gente a murmurar. Grupos a cantar. Grupos de namorados enlaçados ao luar... Hoje é noite de abrir os olhos para ouvir. É dia de abrir as janelas do corpo para admirar. É tempo de abrir todas as portas do ser todo para o espanto, o deslumbramento!!! Terra madrasta de miséria, chama-lhe os senhores que vão gastar o que lhe sugam sem suar, para a cidade de outros prazeres... Terra para desprezar e esquecer, mentem os tolos apressados, que rasgam 21 José Penedo – um deNómio de José Rabaça Gaspar estradas lisas e velozes pela planície além e não têm tempo de ver que estão atravessando a terra com tesouros mais fabulosos que os das mil noites... e uma, como diz o Borges, o poeta que via por ser cego! ou das mil e uma noites de encantar, como dizem os poetas que não sonham a dormir!? Hoje é a hora de parar para ouvir esta Terra, este Povo cantar. Contar-nos a vida com artes de encantar. Olha esta neblina de madrugada! É a Terra a arfar. O campo a falar com sinais de fumo que esvoaça. O seu corpo a abrir. O sol a penetrar. A Vida a gerar Vida... Vamos nós por esses montes e povoados roubar os tesouros que ficaram desprezados, abandonados esquecidos..., tesouros que os finaços nem vêem de tanto os olhar... e quando lhos mostramos, !!!, encolhem os ombros. É um segredo sagrado, uma jura secreta... ciciou o cigano à cigana castanha presa nos seus lábios, as cores misturadas, corpos enlaçados de nomes trocados. Nestas Terras do Sado, Tejo e Odiana, há imensos tesouros que são de pasmar! Não há só galinhas e gado a roubar... Há tesouros ricos, finos preciosos, dignos de um Califa para entesourar... Como aquele califa Harun-el-Raschid, aquele que reinava no reino de Bagdade, aquele califa que os mandava guardar e escrever em letras douradas, para não se perderem para a Humanidade. É isto que agora, e d‘ora em diante, vamos, doravante, nós os dois roubar... para os esbanjar, espalhar ao vento, devolver ao povo que os soube criar... 22 Lendas de Beja – o Touro e a Cobra e outras LENDAS... img006 – a dança da cigana mariana Cigana tricana de olhos de fogo de corpo marmóreo esguio a dançar bailava bailava ao redor da fogueira... (p. 21) 23 José Penedo – um deNómio de José Rabaça Gaspar 24 Lendas de Beja – o Touro e a Cobra e outras LENDAS... E assim em tempos de dor, em tempos de crise, quando tudo à roda é escuridão negra de terror, e esse terror é de toda a terra o grande senhor, qual negro dragão, em luta com quem, não há salvação... quando a vida à roda é só solidão; quando tu estás só mesmo misturado e envolvido no turbilhão da vida, turbilhão de feira... quando não há mais resposta para as contradições da vida; quando a cada resposta tentada, desesperada, te surge logo, sem tempo para a refazeres, um novo e louco desafio... quando te pedem só as soluções já feitas..., mesmo sem serem solução... quando já não precisam de ti porque já têm outros e lhes fica mais barato... quando já não precisam, para nada, do teu contributo, antes pelo contrário, e to vêm dizer delicadamente... quando, já desesperado dás de borla e nem sequer dão conta que ofereces um tesouro... quando os outros, acomodados, já têm as soluções todas..., soluções mais cómodas... quando só precisam de ti para as soluções deles... e tu decidires dizer: JÁ BASTA... quando pela centésima vez, deres conta que te enganaste no caminho e voltares atrás, mais uma vez, pela centésima primeira vez, 25 José Penedo – um deNómio de José Rabaça Gaspar ao princípio, para começar tudo de novo..., e exactamente pelo caminho diferente dos que te dizem: “vem por aqui...” quando a prepotência, a arrogância e a imbecilidade diplomada / instalada / poderosa porque no poder - for tão cínica, tão subtil e capciosa, que já não te deixam uma saída digna... ENTÃO a gente perdida sem mais solução, senão a fantasia e a imaginação... para exorcizar os medos todos os medos para renovar energias, para retomar o seu lugar no ciclo universal qual pulsar ou quartar no mundo imenso das galáxias que gira em espiral... para vencer tiranias, para descobrir caminhos que as ciências não apontam... mas aponta a sabedoria... então, quando isso acontecer, vai ao cofre da sabedoria ancestral, a dos saberes profundos imemoriais... monta o teu cavalo, toma da espada e... qual cavaleiro andante, príncipe encantado, ou qual mísero viandante desprezado vagabundo, põe-te a correr mundo... põe-te a cantar / contar... ou põe-te a escutar a cantar / contar OS CONTOS OS CANTOS QUE SÃO DE ENCANTAR e começam todos, mais ou menos assim: ERA UMA VEZ... 26 Lendas de Beja – o Touro e a Cobra e outras LENDAS... E, cada vez que acabar uma história, lembra-te, como nos recorda Selma Lagerlöf, quando nos fala da morte da sua avó, recordando aquele seu hábito de se sentar no sofá de canto, no seu quarto, a contar-nos histórias: “...sempre que passava-me a mão pela cabeça e dizia: terminava uma história, Tudo isto é tão verdadeiro, como eu estar aqui e tu aí, como vermo-nos uma à outra...” Quando ela morreu, a avó, “calaram-se as histórias e canções que embelezavam a nossa casa, encerradas naquele caixão negro, donde nunca mais voltariam!... qualquer coisa de muito doce nos faltou na vida. Foi como se nos houvessem expulsado de um mundo maravilhoso, cujas portas, constantemente abertas para nós, se tivessem fechado, de súbito, para sempre. E ninguém mais havia que fosse capaz de as abrir!...” Felizmente, como a própria Selma nos provou, isso não é verdade. Quantas portas desse mundo maravilhoso ela nos abriu e continua a abrir? Nós, queremos, mesmo sem os seus dons excepcionais, provar que ainda é possível abrir muitas portas por abrir... Cada um de nós, através da fantasia e da imaginação, tem dentro de si a chave do cofre que nos dá acesso ao mundo encantado e maravilhoso da realidade mais verdadeira que a realidade aparentemente verdadeira que se abre às janelas dos nossos sentidos comuns... Com as suas Histórias Maravilhosas e A maravilhosa Viagem de NILS HOLGERSON através da Suécia, ela, ―a contista épica por excelência‖, como lhe chamaram os que lhe deram o Prémio Nobel da Literatura, e pela primeira vez a uma mulher, dá-nos, ela própria a 27 José Penedo – um deNómio de José Rabaça Gaspar prova de que não pode ser verdade que as portas do MUNDO DO MARAVILHOSO ―se tivessem fechado, de súbito, para sempre‖... Basta ouvir uma vez pela milésima vez, o neto pedir: “„Vó conta aquela da princesa... Conta aquela...” É por isso que voltamos a parar para que voltamos a parar para CO/ANTAR É por isso ESCUTAR OS CONTOS E OS CANTOS DE ENCANTAR que começam todos, mais ou menos assim: ERA UMA VEZ... 28 Lendas de Beja – o Touro e a Cobra e outras LENDAS... 1ª PARTE – A/s LENDAS/s DO TOURO E DA COBRA img007 – o touro e a cobra desenhados com letras - separador 29 José Penedo – um deNómio de José Rabaça Gaspar 30 Lendas de Beja – o Touro e a Cobra e outras LENDAS... ERA UMA V E Z ... 0.0 - B E J A E A/s L E N D A/s ou A VISÃO DO VELHO CIGANO CEGO Castelo de Beja Subindo lá vai Castelo de Beja Tu metes inveja Às águias reais. (Cancioneiro Popular do Alentejo) Touro nobre na peleja A sua maior batalha Esculpido na muralha De lutar pela liberdade Lembras ao povo de Beja Fazer cair a muralha A sua maior batalha. Que fechava esta cidade. Beja tem uma lenda. Tem um brasão. Tem um castelo. Águias reais. Um Touro... Beja é uma legenda. Rainha da planície. Centro do Baixo Alentejo. Tem no touro - rei da planície - o símbolo da sua força. Tem nas águias - rainha das alturas - o símbolo das suas ambições... Tem o castelo - morada de nobres cavaleiros ao serviço do rei - o símbolo da sua nobreza. Não tem cobras, nem serpentes, nem répteis que se revolvem no ventre da terra! 31 José Penedo – um deNómio de José Rabaça Gaspar Mas a lenda, as lendas, valem, às vezes, talvez, por todos estes símbolos. Pode ser até, que o que está oculto, ou só escondido, dê um significado diferente a tudo o que parece que se vê!... A sabedoria ancestral, captando as lições da vida ao longo de todo um tempo que se perde na memória das gerações, em toda a sua complexidade e contradições, captando do cosmos as leis e os sinais dos impulsos que governam os astros e toda a vida que se movimenta nos planetas e nas estrelas ao longo das imensas infindáveis galáxias, incapaz de a organizar e comunicar através de um tratado científica e tecnicamente correcto e absoluto, vai transmitindo essa sabedoria através da complexidade da sua cultura tradicional, basicamente oral, que permite uma recriação e uma adaptação constante, infindável, emocionantemente actualizada em constante reinvenção. Eu, deixei há muito tempo de ter tempo para perder tempo. Passei então a perder tempo à procura do tempo. Dos sinais que o tempo nos deixou. Fico então imenso tempo a ouvir a voz do vento que atravessa o tempo e nos vai falando através das gerações redescobrindo sempre o encanto novo dos contos antigos que nunca ficam velhos porque é sempre nova a arte de os contar. E para lá do vento o brilho das estrelas. O Fogo. Nelas lemos as letras das histórias que nunca deixam de encantar, fecundando a terra com a fertilidade da água que alimenta o nosso corpo e a nossa imaginação, o nosso sentido de viver. É esta sabedoria que as comunidades vão transmitindo ao ritmo da vida. 32 Lendas de Beja – o Touro e a Cobra e outras LENDAS... Como o contador de ―O principezinho‖, desde menino que as pessoas crescidas fizeram tudo para matar em mim o artista que podia/devia ser... Passaram a ensinar-me a gramática, a geografia, a história, a matemática e a avaliar-me pelas cotações fabricadas por pessoas engravatadas que se armaram em donas do tempo e da história... Então, quando tenho saudades dos tempos em que podia ser tudo, e me canso de falar de futebol de política e de gravatas como as pessoas crescidas, volto então a refugiar-me no desenho da jibóia que engoliu um elefante e ―Depois as jibóias ficam sem se poder mexer e dormem durante os seis meses em que fazem a digestão...‖ É um teste. É o meu teste. Então, as pessoas crescidas, olham lá do alto do seu ar importante e dizem: - “Então porque é que um chapéu havia de meter medo?” E encolhem os ombros ou nem sequer se dignam parar para ver... E eu, como não tenho o poder de as repreender ou reprovar, fico reprovado, apavorado, e desisto... Mas o certo é que, nesta terra quente de sol e de noites geladas, de searas douradas e de pão negro, há muitos muitos anos, que é o presente dos anos que hão-de vir, houve uma luta de vida e de morte que ainda há, entre uma serpente e um touro que ficou gravado nas muralhas da cidade e que em noites de lua cheia se liberta para a vigiar da serpente sempre sempre pronta para a voltar a atacar ou para a despertar da letargia em que vive mergulhada? não se sabe ao certo. Há mesmo quem diga que não é uma luta de inimigos, mas o cíclico encontro de vida e de morte que é o Amor, e este encontro, luta de vida e morte entre a serpente e o touro é de facto de morte porque é condição para a vida ser vivida e constantemente renovada. Como o Amor. 33 José Penedo – um deNómio de José Rabaça Gaspar É esta pois a história que vamos contar, para que todos a possam cantar e cantando se possam encantar e encantados a possam representar apresentando a ficção que é, afinal, a realidade..., para que enfim a possam reCRIAR. E naquela noite os nossos ciganos encontravam-se sentados à roda da fogueira. Nesta terra quente, de noites frias como o gelo, o fogo reúne as pessoas para escutarem os anciãos, que pouco têm a ver com as pessoas crescidas e pretensiosas que se arvoraram em donos da cidade com o poder do dinheiro dos cargos e com o poder de ajuizar os outros e distribuir benesses ou castigos. Não era esse o cenário. Enrolados na mesma manta, os rostos e os corpos quase se confundiam à luz cintilante e incerta do fogo. Os olhos brilhavam na noite. Os olhos da cigana Mariana reflectiam os olhos acesos do Cigano Castanho. O velho cigano, já de pele enrugada e de corpo encurvado, embrulhado na sua manta, reflectia nos olhos que correram muito mundo, o brilho das estrelas. A maneira como estava sentado, de fronte do par apaixonado, permitia que o Cigano Castanho e a Cigana Mariana vissem, misturado com o brilho das estrelas, o perfil das muralhas da cidade reflectida nos seus olhos que não viam... O velho cigano, então abriu a boca e contou... Há muitos muitos anos, que eu já não me lembro, era talvez ainda mais novo do que vós, quando passei aqui pela primeira vez, ouvi contar uma lenda desta cidade que era uma muralha de pedra erguida no meio da planície, e não entendi. Ainda não a entendo. 34 Lendas de Beja – o Touro e a Cobra e outras LENDAS... img008 – a dança do fogo e das estrelas… dos astros… dos signos… ... e os olhos do velho viram-na bailar... p. 37 35 José Penedo – um deNómio de José Rabaça Gaspar 36 Lendas de Beja – o Touro e a Cobra e outras LENDAS... Era a lenda do touro e da serpente... e os olhos do velho viram-na bailar em redor da fogueira a viram dançar seu corpo ondulante em voltas girar ao redor do fogo a serpentear rodando encantada em círculo-espiral em dança magia à luz do luar de mulher serpente a enfeitiçar os olhos ciganos incréus a olhar a serpente humana em ondas rodar seduzir atrair aterrorizar estacando em pose d'hipnotizar que prepara o bote felino mortal de abraçar o corpo louco a delirar do cigano vencido por golpe letal da mulher serpente cigana fatal que o envolveu por fim no abraço final... mortal? vital? E o cigano vencido, ergueu-se a lutar com a cigana serpente que o estava a abraçar em abraço de morte de asfixiar abraço de vida de ressuscitar... E ela apertou-o, seus anéis possantes sua boca aberta pronta a devorar... Ele atravessou-a, chifres penetrantes com o peso do corpo, boca a espumar... E olhos do velho cansados de olhar 37 José Penedo – um deNómio de José Rabaça Gaspar em redor do mundo, tanto admirar mudo com o espanto de ver, sem captar, guerras, mortes, lutas a vida gerar... olhando as estrelas, olhando o luar de boca fechada, como a murmurar incapaz de entender o saber ancestral que lia nas letras do livro universo escrito em estrelas em forma de versos sem saber o quê, como interpretar... O touro e a cobra? A serpente e o touro? O Bem e o Mal? A Vida e a Morte Guerra à opressão? Grito: Liberdade? Encontro fecundo de macho e de fêmea? A revolta subtil da mulher escrava? Encontro vital da vida e da morte? A precariedade da vida feliz? A busca sonhada da felicidade sempre ameaçada? ... ... Ou será que tudo isto tem muito a ver afinal com aquele mito proibido que vedado, é consentido no rito da morte risco que é a tourada ancestral que põe frente a frente homem e touro em combate desigual 38 Lendas de Beja – o Touro e a Cobra e outras LENDAS... de macho p‘ra macho impante donde a mulher está ausente mas sempre sempre presente como a história da serpente ou da cobra da história que vence o touro na luta mas ao vencer é vencida...? e quem vence nestas lides de touradas e corridas com capotes e com farpas e nas faenas com capas e com espadas mortais com toureiros e capinhas campinos e apoderados com pegadores e forcados cavalos e cavaleiros todos artistas de um circo que uns atrai, outros repele e excita multidões... é afinal um escape um sonho de vida e morte que o mortal sempre persegue desde as mais remotas eras tempos imemoriais em busca da felicidade que é imortalidade? Tantas perguntas, ó Céus que um simples conto contém para ver de olhos fechados quando essa lenda provém de um saber imemorial 39 José Penedo – um deNómio de José Rabaça Gaspar que é transmitido oralmente pelos velhos anciãos que muito sabem contando mas têm dificuldade de explicar com noções claras ou pouco claras talvez que são caras à cultura que por artes ou por manhas se convencionou chamar da cultura - a erudita e que afinal só encobre outras artes, outras manhas...!!! ... o velho cigano, deixou de pensar e mudo falando, com fogo no olhar o velho ancião começa a contar... a história esquecida de todos sabida... Leitura de letras escritas nos astros que podem ser lidas olhando as estrelas no céu do Alentejo amplo e descoberto por olhos abertos de poetas sábios mesmo analfabetos... que apontam com o dedo de olhos fechados a Ursa maior a Ursa menor 40 Lendas de Beja – o Touro e a Cobra e outras LENDAS... a Cassiopeia o Touro, a Serpente Signos do Zodíaco sempre em movimento em luta constante donde nasce a vida em mil repartida pelo cosmos sem fim onde este planeta -pra nós o maior! girando no espaço em torno do sol em torno da lua em torno de si à velocidade de trinta quilómetros num fugaz segundo é ínfimo mundo perdido em Galáxias do imenso Universo. Eis então, crianças senhoras, senhores, meninos, meninas, a história esquecida de todos sabida, do touro e da cobra, como ele a contou, de noite ao luar, o cigano velho de estrelas no olhar. 41 José Penedo – um deNómio de José Rabaça Gaspar 42 Lendas de Beja – o Touro e a Cobra e outras LENDAS... 1 A/S LENDA/S DO TOURO E DA COBRA img010 – o touro e cobra (em letras de imprensa) 43 José Penedo – um deNómio de José Rabaça Gaspar 1.00 - O TOURO E A COBRA -v. - 00 Noutros tempos, há muitos muitos anos que hão-de acontecer de novo no futuro, havia um reino muito grande e muito belo onde os habitantes eram todos muito belos e amigos. Viviam, quase podemos dizer com certeza, muito felizes... Trabalhavam as suas terras. Estas eram distribuídas em campos imensos que não precisavam de muros e divisões pois todos respeitavam o que era dos outros para ser mais de todos. Ajudavam-se uns aos outros, faziam festas, conviviam uns com os outros... cantavam, dançavam e amavam... Faziam jogos que muito os divertiam e até os trabalhos mais duros e necessários eram feitos como se fossem jogos e festas, pois todos se ajudavam a amanhar as terras, a semear, a regar e mondar, a ceifar e arrecadar as colheitas, a pascer o gado e a transformar tudo em alimentos e vestidos coloridos e outros objectos para viver, cantar, tocar e folgar nas festas da vida... e acudir nas doenças e celebrar as cerimónias dos que deixavam esta vida... Trocavam as coisas que sobravam uns com os outros e nomeavam, à vez, os seus reis e rainhas, os seus príncipes e princesas, isto é, aqueles que os haviam de servir governando durante certo tempo, o que acontecia com certa regularidade para não se cansarem nem perderem o encanto... Como durante esse tempo de serviço, esses não tinham tempo para se governar, pois governavam os outros, todos os sustentavam e 44 Lendas de Beja – o Touro e a Cobra e outras LENDAS... garantiam que nada lhes faltasse, para que não faltasse nada a cada um de todos os outros... "e assim eram felizes para sempre...‖ como costumam acabar todas as histórias. Era assim, há muitos muitos anos, que se perderam na memória dos tempos, mas ainda não no coração dos que sonham felicidade, liberdade e a alegria. Chegou entretanto um dia em que a alegria e a paz desses habitantes desse reino começou a ser ameaçada. Ouviu-se dizer, que um grande monstro rondava as fronteiras do reino. Nos campos, durante a noite, as sementeiras começavam a aparecer destruídas. As pessoas, quando, de manhã, chegavam para continuar o trabalho do dia anterior, ficavam mudas de espanto pois encontravam grandes estragos e podiam ver enormes sulcos muito estranhos que nenhum ser vivo, dos que eles conheciam, pessoas ou animais, poderia ter feito... O que seria? O que não seria? Quem poderia ter sido? Começou então a ouvir-se dizer que tudo era devido a uma enorme serpente que ainda ninguém tinha visto ao vivo, mas todos suspeitavam já a ter entrevisto a esquivar-se e a esconder-se em sítios esconsos esquisitos e havia mesmo quem afirmasse que o seu esconderijo seguro era o poço do monte da cobra... Esse monte ficava lá para noroeste da cidade principal do reino, num sítio ermo por onde ninguém se atrevia a passar de noite e, os que se teriam atrevido a passar, mesmo de dia, nunca ninguém mais alguma vez soube o que lhes terá acontecido... foram certamente devorados pelo monstro desconhecido ou levados pela gigantesca cobra para o 45 José Penedo – um deNómio de José Rabaça Gaspar seu refúgio preferido, e nunca mais ninguém ouvira falar deles, começando mesmo a duvidar-se se alguma vez teriam existido. Logo a seguir, começou também a constar, a ouvir-se dizer, a dizerse, que o monstro não era somente mau e por isso destruía tudo o que podia, mas era igualmente um terrível bicho inteligente, pérfido e ambicioso que tentava descobrir o modo de entrar na cidade principal do reino, tomar conta da praça principal, e instalar-se no castelo, donde governaria todo o reino e seria então indiscutivelmente servido pelo medo, pelo terror e pelo servilismo de todos os seus habitantes. Entretanto, apareciam cada vez mais sinais de que o monstro devorava cada vez mais habitantes que se atreviam a andar sós pelos caminhos e pelos campos. Para o aplacar da sua fúria devastadora começava-se a exigir que cada rua, bairro, freguesia ou monte, lhe sacrificasse a donzela mais bonita e virgem que normalmente era escolhida pelas suas amigas e vizinhos como a princesa das festas da Primavera em Maio. Eram ―as Maias‖ coroadas de flores que passariam a ser sacrificadas ao monstro para que não continuasse a destruir as suas culturas e deixasse de matar os seus habitantes ou os fizesse desaparecer para lugares misteriosos donde nunca mais se sabia notícia. Passaram-se assim, anos e anos de angústia indescritível, de terror horrível, de mudos medos, de revoltas caladas, de actos de heroísmo desesperados. Nada parecia acalmar a sanha opressora da serpente cobra monstro que tudo devorava. E um dia, sem se saber muito bem como, os habitantes cada vez mais isolados e fechados nas suas casas para melhor se defenderem pensavam eles começou a correr de porta em porta a notícia fatal. A serpente do mal e da guerra, da destruição e da opressão, já 46 Lendas de Beja – o Touro e a Cobra e outras LENDAS... estava no meio da cidade. Tomava conta da praça principal. Tinha feito fugir todos os governantes e defensores que não sabiam o que fazer e, para tomar conta da cidade e do reino e tudo dominar, a serpente cobra-sinuosa monstro lançava gritos horripilantes no meio da praça, no alto da cidade e dava saltos e urros sibilantes, torcia-se e retorcia-se nos seus anéis coloridos e viscosos, dava voltas e reviravoltas descrevendo círculos e oitosssssss e essssssses endiabrados, numa dança louca, infernal, impossível de contar e descrever... Só vendo. 47 José Penedo – um deNómio de José Rabaça Gaspar 48 Lendas de Beja – o Touro e a Cobra e outras LENDAS... img011 – a serpente domina a praça da cidade… A serpente do mal e da guerra, da destruição e da opressão, já estava no meio da cidade. Tomava conta da praça principal... (p. 46) 49 José Penedo – um deNómio de José Rabaça Gaspar 50 Lendas de Beja – o Touro e a Cobra e outras LENDAS... Os habitantes da cidade, das aldeias, dos lugares, dos montes, dos bairros e das ruas, estavam aterrados, petrificados de medo e de espanto. Tal como os governantes, amedrontados e espavoridos, não sabiam o que fazer. Contavam uns aos outros, para se animarem em família, histórias de tempos idos muito antigos de que já ninguém se lembrava muito bem e falavam contudo de esperança e felicidade, mas não encontravam solução. Desejariam perguntar, ao menos, aos outros, doutras ruas, doutros lados, se valeria a pena fazerem alguma coisa, e se valesse, o quê, e como o haviam de fazer. Mas a comunicação era impossível. Os mensageiros que tentaram mandar de uns para os outros lados, começaram também a ser apanhados pelo monstro que, de vez em quando, suspeitando, saía da praça, e apanhava os desprevenidos que, para encurtar caminho, se atreviam a passar pelas imediações... Foi então que no desespero, inventaram a única maneira que tinham de comunicar com os de longe, para lhe darem sinal, para se levantarem, se prepararem, se decidirem enfim, todos em conjunto, atacar e destruir o monstro, que durante tanto tempo, tanto mal causara, e agora os aterrorizava e os queria dominar para sempre... Começaram a cantar as canções que conheciam e o seu estro produzia sobre os momentos dramáticos que viviam. Logo as cantavam em coro. Esse coro vinha juntar-se ao grito do alto que lançava o repto. Ao coro inicial ia-se juntando sempre mais e mais gente... E o canto de cada rua, cada bairro, cada lugar e cada aldeia, cantado a plenos pulmões, eram gritos saídos do ventre da terra que atroavam os ares e cobriam os gritos da serpente monstro. Assim o som dos cantes começou a ouvir-se por todos os cantos da cidade e foi o sinal para todos começarem a avançar a fim de se ouvirem melhor uns aos outros e poderem encontrar, finalmente, um lugar onde se pudessem juntar. Irresistivelmente, levados pela magia do 51 José Penedo – um deNómio de José Rabaça Gaspar canto, todos estavam a caminhar para a praça principal que era ocupada pelo monstro. Cada grupo que caminhava do seu lado ia arrastando consigo todos os que encontrava pelo caminho. Começavam enfim a encontrar-se grupos de ruas e bairros diferentes... Para se saudarem, no reencontro da alegria, as crianças começaram a trocar as flores com que se tinham enfeitado para a festa ou para a morte. Os outros todos, mesmo os que depois de tantas desilusões estavam dispostos a permanecer indiferentes e alheios, contagiados, e, ou por medo ou para se mostrarem fortes, ou para vencerem o medo do medo de enfrentarem a serpente, juntavam-se ao que começava a ser um povo e cada um levava consigo aquilo que tinha mais à mão. Armas não. Como era um povo que nunca soubera o que era a guerra, não tinham armas. Armavam-se com o que tinham. Como era Primavera, e à semelhança das crianças, a maioria levava flores. Outros levavam os instrumentos com que trabalhavam em casa e nos campos... Outros levavam só os símbolos que representavam a sua vontade de paz, de alegria, de felicidade... eram desenhos e pinturas e sinais e a sua poesia e as suas canções e os seus gestos e os seus vestidos de cores de festa... Muitos levavam tralhas velhas de que já não precisavam em casa, para irem armados com qualquer coisa que serviria, quem sabe?, de arma de arremesso para atirar para cima do monstro, para o entulharem e enterrarem se fosse possível, para o queimarem, para o consumirem e fazerem desaparecer... O importante é que todos se juntavam, inventando cada um o que lhe era possível e, o mais importante, é que todos se iam decidindo a enfrentar unidos a terrível serpente que ameaçava a cidade, todo o reino e todos os habitantes. Assim, quando os cantes já tinham circulado por todo o reino e entrado em todas as ruas e casas onde os habitantes se escondiam cheios de medo e de terror, os grupos da frente que já tinham mais 52 Lendas de Beja – o Touro e a Cobra e outras LENDAS... gente a cantar com eles, começaram a chegar às entradas das ruas que desembocavam na praça... ao verem a serpente, os primeiros estacaram tomados pelo espanto. Depois, quebrado o primeiro choque, queriam fugir, mas os detrás, que queriam ver, não os deixaram escapar... e, ao mesmo tempo que tinham medo, eram seduzidos, fascinados pelo monstro que, ao vê-los, se encheu de nova fúria e tentava atacar todos ao mesmo tempo... Passados os primeiros momentos de confusão e medo, de cada canto da praça recomeçaram os cantos e os grupos começaram a avançar e a cantar cada vez mais forte para se libertarem do medo e do fascínio que a serpente exercia sobre eles com o seu poder mágico... Pouco a pouco o canto era já só cante e cada vez mais forte. Foi então que a serpente-monstro-cobra-réptil, teve um ataque de raiva, de fúria imparável. Viu que estava perdida. Deu ainda, na praça, saltos desesperados, mais voltas e reviravoltas e urros terríveis, mas, perante o cante que gritava sem medo, procurava um lugar para fugir. Não era fugir que ela tentava. Procurava sim escapar-se para o castelo da cidade, onde melhor poderia defender-se e donde melhor poderia dominar todo o reino e toda a população! Fugiu então por uma pequena rua que encontrou livre ludibriando a multidão e serpenteando por entre a arcaria do açougue. No primeiro momento, todos ficaram surpreendidos. Tinham-se esquecido, e ao mesmo tempo consentido que aquela pequena rua ficasse livre e desimpedida. Era no entanto um sinal claro de medo do monstro medonho e, logo a seguir a este sinal, que era o gesto desesperado de tentar tudo por 53 José Penedo – um deNómio de José Rabaça Gaspar tudo, os habitantes do reino que agora se sentiam cheios de coragem por se verem todos juntos, animados e encorajados pelos cantos que cada grupo de cada rua, ou de cada bairro ou de cada aldeia, ou monte, ou de cada zona, atirava para o ar como gritante cante da terra, movidos por uma força envolvente que emanava deste cante, todos caminharam atrás da terrível serpente que tudo e todos ameaçava. Temiam-na ainda, mas sentiam que estava próxima a possibilidade de a vencerem definitivamente... Foram percebendo que afinal a bicha não fugia mas que se dirigia a toda a pressa para o castelo. Que faria tudo para nele se instalar, impedindo-os de entrar, governando então de lá, a seu bel-prazer... Mas o povo todo junto, nesta altura era uma autêntica multidão... os cantos-cantes redobravam de energia e de expressão... não havia hipótese de os da frente terem medo e se deixarem atemorizar, recuarem ou tentarem fugir... os que vinham detrás empurraram-nos decididamente para dentro das muralhas do castelo e, os primeiros à força por temerem o que lhes poderia acontecer, e os outros a seguir, em catadupas, entraram. 54 Lendas de Beja – o Touro e a Cobra e outras LENDAS... img012 – a luta / dança dos touros e cobras no castelo da cidade Aconteceu neste momento o imprevisto que todos afinal sabiam que podia acontecer e desejavam ansiosamente. p. 58 55 José Penedo – um deNómio de José Rabaça Gaspar 56 Lendas de Beja – o Touro e a Cobra e outras LENDAS... A serpente procurava, ora refúgio, ora os mais diversos modos de os intimidar como fizera na praça. A multidão entretanto espalhava-se pelo terreiro e pelas amuradas do castelo... Ninguém queria arredar pé. Ninguém se atrevia a enfrentar o monstro... Aspirava-se no ar a ameaça de uma tremenda luta de vida e de morte dentro das muralhas do castelo... A serpente soltava silvos arrepiantes e evoluía em círculos desesperados, em espirais ameaçadoras, desafiando a multidão que ora se aproximava, ora se afastava na defensiva, tentando enfrentar a cobra, mas sem êxito. Foi então que, de súbito, apareceu o TOURO. Cheio de energia e força, surpreso e generoso, correu a praça desembolado a farejar os possíveis adversários... Ele que tinha sido, durante todo o tempo o companheiro e o apoio de todos os habitantes, nos trabalhos do campo, desde o amanho das terras, às sementeiras, às colheitas, à recolha e transformação de todos os produtos, parecia assim, de súbito, fera disposta a defender-se, atacando qualquer fera ou inimigo que se lhe apresentasse pela frente. Após a primeira corrida louca de reconhecimento, vitoriado pela multidão que entretanto se escudou atrás das barreiras, e ameaçado pela serpente que o enfrentava medindo-o à distância, o Touro parou. Escavou a terra com fúria desmedida e espumou. Olhou em todas as direcções como que a medir o tamanho e a força da serpente que se empinava na sua frente desafiando-o, temendo-o também. Ambos se olharam com fúria. Parecia iminente a luta. Uma luta de vida e de morte... Caiu um silêncio profundo no terreiro do castelo. Ambos se miravam como hipnotizados. 57 José Penedo – um deNómio de José Rabaça Gaspar O Touro, como que fugindo ao magnetismo que o paralisava, escavou mais uma vez a terra. A serpente procurava prender o olhar do toiro e aproximar-se o suficiente de cabeça erguida para desfechar o bote decisivo que lhe permitisse envolvê-lo depois, presa derrubada, nos seus anéis possantes... Aconteceu neste momento o imprevisto que todos afinal sabiam que podia acontecer e desejavam ansiosamente. Só não se sabia se poderia acontecer e quando aconteceria. A multidão movimenta-se. Do meio da multidão começam a aparecer primeiro um touro, depois outros, depois muitos touros. Dava a impressão que cada família, cada grupo, tinha levado, escondido o seu touro secreto, o seu touro protector, o seu touro indispensável. Mas não era cada um. Cada grupo de dois ou mais, fazia aparecer um touro, que desde sempre trazia escondido, repartido em pedaços como que recortado em puzzle e dentro de cada um uma parte, que ali, de súbito, começava a aparecer em peças que procuravam e encontravam o seu complemento, a encaixar-se, a tomar forma... Eram dezenas e dezenas de touros que apareciam e saltavam da multidão, em menos tempo do que levamos a contar e se espalharam por todo o terreiro da arena muralhada do castelo. Eram já centenas. Tornaram-se milhares... Então, o Touro bravo, o grande Touro, investiu e todos com ele... Logo à primeira investida, todos puderam constatar o que também já sabiam desde há muito, muito tempo, desde sempre. A cobraserpente-bicho horrendo era afinal um grande monstro de papel ornamentado e enfeitado, disfarçado de fitas e papéis e outros enfeites coloridos que se fora tornando grande e asqueroso monstro poderoso e dominador, à medida que crescia e se agigantava com a força que todos os iludidos que foram engolidos e enganados lhe iam 58 Lendas de Beja – o Touro e a Cobra e outras LENDAS... dando... Assim, rompeu-se o monstro logo ao primeiro assalto, e perante o assédio feroz e a seguir de festa de todos os touros, começaram a saltar da serpente-cobra-monstro-de-papel todos os que magicamente a formavam e não passavam, na sua grande maioria, de crianças e jovens frágeis tímidos e imberbes que assim juntos e disfarçados foram, tanto tempo, a causa de tantos infortúnios e tanta miséria, impedindo um povo de caminhar e construir o seu futuro fortemente enraizado no seu passado ancestral de partilha com a natureza que os envolvia e gerara... À medida que todos os enganados e desaparecidos se iam libertando do monstro fantoche, a cobra-serpente-monstro-de-papel, os restos que os vestiam foram-se acumulando ao centro do terreiro. Os que saltavam do monstro, alguns esboçavam ainda gestos de luta, sinais de agressão, mas logo se transformavam em dança de festa e encontravam o seu grupo, o seu par, a sua família, o seu povo... A multidão em júbilo cantou e dançou e foi acumulando, no centro da praça, todos os disfarces, todas as armas, todos os restos inúteis e velhos que por ignorância ou por medo, timidez ou ilusão, tinha acumulado e levado e era o símbolo da dominação e do medo em que tinham vivido durante tanto tempo... Finalmente lançaram o fogo à pira e foi uma grande festa. E todos cantaram e dançaram a alegria incontida. E inventaram o hino da alegria e da paz que já desde sempre ecoava no Universo e há milhares de anos se ouvia mas ninguém o cantava... Vem, canta, dança a alegria Canta bem alto o hino à paz... Canta a poesia deste povo que trabalha o pão... 59 José Penedo – um deNómio de José Rabaça Gaspar Vem canta, dança a alegria conta os teus contos de encantar... Vem cantar o cante deste povo que partilha o pão. Voa como as águias a rainha das alturas – céu... Percorre a campina onde vive e cresce a vida – o pão... Voa sobre os montes a planície do Aquém-Tejo – Além Vê de lá o Mundo a gente que trabalha a Terra – o pão Luta como o touro em fúria louca contra a tirania Luta co'a serpente o signo força do que avilta a vida Vem cantar o cante deste povo que trabalha o pão Vem cantar o coro deste povo que partilha o pão. Quando a festa acabou ali naquele lugar, todos partiram e foram levar a festa espalhando-a pelas ruas, praças e bairros da cidade; pelas aldeias, lugares e montes de todo o reino. Espalharam as cinzas, as flores, as pombas e os gestos que eram sinais e símbolos da paz e da alegria. Terminou assim a história do Touro e da Cobra. Ou antes, assim começou uma era nova de trabalho, de alegria e de paz para todos os habitantes daquele reino... 60 Lendas de Beja – o Touro e a Cobra e outras LENDAS... Continua a contar-se, entretanto, ainda agora em longos serões de Inverno junto à lareira ou em amenas noites de lua cheia carregadas de mistério, em grupos alegres que se juntam pelos campos, que, na euforia final, ninguém se lembrou de vasculhar as cinzas quentes da grande fogueira naquele dia de festa memorável, para verificar se o fogo tinha, de facto, destruído tudo. Todos tinham visto que os restos da serpente tinham ficado reduzidos a cinzas e até as tinham espalhado ao vento. O fogo tinha destruído tudo. Tudo o que se via. Consta agora, que uma pequena parte da cobra, um pequeno corpo muito reduzido, teria escapado com vida e com toda a malícia do monstro. Pequeno e insignificante, ninguém se apercebera disso e, por sua vez, o bicho-monstro, agora cheio de medo e de terror, teria fugido discretamente como réptil refinado no mal e fora encontrar refúgio nas profundezas do poço do monte da cobra que fica lá para noroeste da cidade principal do reino, donde, como toda a gente do campo sabe e cantam os poetas e artistas, sopram os ventos de tempestade que destroem as searas e os rebentos das árvores... e empurram os habitantes desnorteados para o refúgio dos seus abrigos nos montes... Conta-se ainda... Conta quem vive ou passa por aqueles lados... que em certas noites de luar, se ouvem um rastejar e uns silvos esquisitos e logo a seguir um restolhar de sons surdos e furiosos que muito bem podem ser sinais de uma luta feroz e encarniçada de um Touro e uma Cobra monstruosa... e tudo isto lá para as redondezas do poço do monte da cobra... Alguns que vagueiam tarde pela cidade adormecida, dizem que já ouviram estes sinais pelas imediações da praça ou do castelo da cidade... A praça, pode ser a praça principal, mas há quem diga que é, sim, a praça de touros que durante muito tempo ali fica assim como um espectro inútil onde não acontece a magia de uma cobra esguia encarnada num toureiro destemido armado de farpas capas e 61 José Penedo – um deNómio de José Rabaça Gaspar espada enfrentar o touro, em luta de morte... Há pois quem diga que, mesmo sem espectadores, ou talvez só para alguns poucos privilegiados que sonham os sonhos só vividos nos contos e lendas de encantar..., essa luta acontece nas noites de lua cheia. Conta-se. Canta-se. Ouve-se contar em encontros fortuitos em que os habitantes se encontram para cantar e também para contar outros contos de encantar... Conta-se. Nunca ninguém viu nada de concreto, talvez encantados, enganados pelo luar ou pelo sortilégio da hora ou da solidão do lugar... É talvez bom sinal. É sinal de que talvez o Touro continue a velar pela paz do reino. É talvez sinal de que o touro bravo repartido em pedaços por cada um dos habitantes, continua a luta interminável com a Cobra. Beja, em 22 de Maio de 1986 ou 1689 ou 9681 e em 11 de Maio de 1988 que pode ser 2001 e Setembro de 2008. Conto reinventado, todo dito e contado como lenda encantada... já completo encontrado escrito com letras no livro brilhante, do céu cintilante, pelo velho cigano à luz das estrelas. 62 Lendas de Beja – o Touro e a Cobra e outras LENDAS... 63 José Penedo – um deNómio de José Rabaça Gaspar 64 Lendas de Beja – o Touro e a Cobra e outras LENDAS... 0.1.0 - AS LENDAS DO TOURO e da COBRA E OS CONTADORES DE HISTÓRIAS 65 José Penedo – um deNómio de José Rabaça Gaspar 66 Lendas de Beja – o Touro e a Cobra e outras LENDAS... 0.1.0 - Quem conta um conto, acrescenta-lhe um ponto...‖ Inda mal o velho cigano acabara de contar a história, em palavras mudas que ele ouvira contar imaginadas, nos tempos antigos em que passara por Beja agarrado às saias da mãe cigana que mendigava cirandava e rapinava alguma coisinha para sobreviverem enquanto o pai cigano e os outros, ciganavam pela cidade e imediações e pelas feiras e mercados... inda ele, o velho cigano, cego, via, no brilho das estrelas, a luta perpétua incessante sedutora do touro e da cobra que giravam em movimentos ovais de espiral... e já os ecos do atentado soavam pela cidade e punham em alvoroço os velhos e conceituados contadores de histórias a quem desde há muito ninguém ligava a mínima importância, por velhos e desligados da cultura do progresso moderno como se dizia... - Aqui d‘El Rei que nos roubam a magia das nossas lendas... Alguém estranho, cigano larápio, se atreveu a desvendar a caverna dos nossos tesouros escondidos e tenta penetrar nos segredos que nem nós sabemos desvendar e apropriar-se dos valores que nem nós sabemos devidamente apreciar e vamos transmitindo em palavras veladas sibilinamente 67 cantadas de acordo com as José Penedo – um deNómio de José Rabaça Gaspar circunstâncias e os circunstantes às gerações que nos ouvem sem nos ouvir e entender... e logo convocaram um encontro dos mais velhos e sabidos, ali em lugar discreto e desafogado à sombra das árvores frondosas das portas de Avis, de olhos abertos para a planície imensa que se estendia a perder de vista... pelos campos onde teria acontecido a luta, as lutas, ... do touro e da cobra... os episódios da fonte mouro... as imorredouras batalhas da morte do Lidador... os movimentos da revolução de 1383... os campos da família Alcoforado... Eram a ti Ana Maria do Pelame, o ti Jorge da Cruz da Boavista, o Jorge das Cantigas, maltês de toda a parte, a ta Isabel Mateus que viera co‘s ratinhos e por cá ficara, o Carlos Miúdo do Joaquim Cardador dos lados de Mombeja que apesar de velho era sempre Miúdo, a Fátima da Almocreva vinda de Alvalade e que vivia lá para a Mouraria, o Ti Luís Filipe mais conhecido por Bull o Touro e ainda o Jorge Corujo amante de corridas e touradas rijas... Eram assim as histórias que contavam...co/cantavam... 68 Lendas de Beja – o Touro e a Cobra e outras LENDAS... 1.01 - O TOURO E A COBRA – V/01 O Touro vence a cobra e liberta a cidade. Não, não é assim que a história se contou... Dizia a tia Ana Maria e ela morava lá para os lados do bairro do Pelame. A mim, contaram-me a história assim: Há muitos muitos anos, quando Beja nem era ainda uma cidade, e era uma terra pequena, mais pequena do que é agora, muito mais pequena, era rodeada de campos de cultivo a toda a volta e, até muito muito longe, até se perder a vista, havia uma mata muito grande como se fosse uma floresta onde havia muitos animais selvagens. As pessoas viviam do amanho dos campos e iam à floresta para arranjarem lenha para acenderem as lareiras e cozinharem a comida e também para caçarem. A certa altura tiveram de deixar de o fazer. Os que se atreviam a entrar na floresta nunca mais voltavam e um que conseguiu escapar falava muito aflito de uma cobra, um bicho muito grande e muito feio, que ele vira engolir o seu companheiro. 69 José Penedo – um deNómio de José Rabaça Gaspar ... Saiu assim do mêo das árvores uma coisa a modos que um ramo muito grosso que mais aparecia um tronco do qu‟ium bicho, sem nada se poder fazeri, aquele braço apanhô o Maneli que lá ficou apertadinho sem se poder mexeri coitadinho e foi engolido em menos de um piscar d'olhos. Ê cá na pude fazeri mais nada sanão alargari a fugiri e escapuli-me o mais depressa que pude... Nunca mais houve descanso naquela terra. Nem ao campo se podia ir trabalhar sossegado. No tínhemos já avonde co trabalho e mais essas cavandelas todas, e agora mais esta nos havera de aconteceri. As pessoas da terra juntaram-se então para ver o que haviam de fazer. Lembraram-se de mandar um touro para os lados onde o Manel tinha sido morto e, passados uns tempos, viram-no voltar muito maltratado e com sinais de que esmagara a bicha. Foi uma festa tão grande que o povo passou a pendurar nas paredes as cabeças dos touros que tinha de matar e quando construíram a muralha, fizeram uma grande cabeça de touro lavrada numa pedra e lá a puseram à vista de todos, voltada para fora para meter medo às cobras que se quisessem atrever a entrar na cidade. E assim as pessoas puderam viver descansadas. Vitória, vitória, acabou-se a história. E AGORA A TODA A HORA O TOURO, LÁ NA MURALHA, GUARDA A CIDADE DA COBRA. PODEM DORMIR SOSSEGADOS! 70 Lendas de Beja – o Touro e a Cobra e outras LENDAS... 1.02 - O TOURO E A COBRA – V/02 O touro é engolido pela cobra mas a população mata-a enquanto o digere e a cidade é libertada. Num ei nada assim camo êla contoi mê sinhori. A stória ei mas ó menos a mesma mas num há ninhum grovito qui ei um boi de corna alta quantu mais um gachélo que fique d'impéi numa garreia cuma bicha desse esbarrunto... Tal é lá isso hen! Mas isso sân'istórias! que uma bichana dessas num há aqui, nim nunca overa de haveri, na senhori, mesmo noutros tempos. Ê num m'interi mas com'ê ovi dzeri é qu'a bicha ficou com'um grifo e o boi ficou lá todo incorrusquinhado na barriga da cobra qu'era um esbarrunto da grossura dum êcalitro já bem medrado... A história é mais ou menos assim... Contou o Ti Jorge da Cruz da Boavista. Em tempos passados, houve uma vez uma perigosíssima serpente, que aterrorizava os habitantes da região de Beja pois destruía muitas culturas e sementeiras, chegando mesmo a matar algumas pessoas que apanhava no descampado dos montes. 71 José Penedo – um deNómio de José Rabaça Gaspar Certo dia, a população teve de tomar medidas e chegou à conclusão que só poderia matar uma serpente daquele tamanho pondo-a a lutar com um animal também de grande envergadura. Foi então que se lembraram dos touros que utilizavam para os trabalhos agrícolas e havia, no povoado, alguns que eram de grande porte. Escolheram pois um dos maiores e levaram-no até perto da floresta que naqueles tempos não distava muito da cidade, para um local onde havia sinais mais recentes dos estragos que a cobra tinha feito... Não foi preciso esperar muito tempo. A serpente apareceu. Houve uma luta de morte. O touro bem lutou enfurecido e raivoso, espezinhando tudo e tentando furá-la com os chifres, mas a cobra enrolou-o, apertou-o e depois de o asfixiar engoliu-o todo inteiro. As pessoas que assistiram ficaram atónitas e desconcertadas perante aquele espectáculo horrível e choraram a sorte do animal tão nobre e corajoso. Passado algum tempo, como descobriram que a bicha não se mexia, com o peso que tinha na barriga, e souberam que levaria meses a digerir o touro, juntaram-se os mais corajosos e, com enxadas, forquilhas, varapaus, foices e gadanhas, foram-se à serpente e mataram-na. Abriram-na depois de a cortarem quase toda e trouxeram como troféu a cabeça do touro que, anos mais tarde, esculpiram em pedra e meteram-na na muralha que estava em construção na cidade. A BICHA MATADA. POVO SOSSEGADO. TOURO EMURALHADO. E CONTO ACABADO! 72 Lendas de Beja – o Touro e a Cobra e outras LENDAS... 1.03 - O TOURO E A COBRA – V/03 A população lança um touro para ser comido pela cobra a fim de libertarem a cidade. Mas que é que vomecês stão p'raí aldeagando! Ele os intigos num cuntavam nada assim! Isto é mesmo um esbarrunto ó mal acomparado é com'ó ôtro que diz: quêm conta um conto, acrescenta um ponto. Ele há cada paiolo mais taronjo qu'inté a gente já nem fica esparsido! Ora com'ê ovi contar Cantigas era assim que contava o Jorge das imbora ê no m'alembre dirêto é assi al modos... Era uma vez... e Beja ainda nem era uma cidade ... e tinha campos e matas por tudo quanto era lado, apareceu uma cobra que metia medo a toda a gente e não havia quem pudesse ir para o campo trabalhar ou pudesse andar sossegado pelas ruas. Andando assim o povo muito aflito e sem saber o que fazer, juntaram-se num grande ajuntamento e discutiram o bom discutir até resolverem como é que se havia de livrar daquela peste que não deixava ninguém viver sossegado... Lembraram-se então de deitarem um touro para que a cobra o comesse e uma vez que ficava farta, desapareceria e deixava-os em paz. 73 José Penedo – um deNómio de José Rabaça Gaspar E foi assim que fizeram. Deitaram um touro a monte, lá para os lados onde a bicha rondava e o touro nunca mais ninguém o viu e da cobra nunca mais ninguém ouviu falar. De barriga cheia a serpente ficou por lá meses e meses a dar conta dele e, ou nunca mais acordou, ou nunca mais se lembrou de vir inquietar a gente destes lados. Foi assim que um touro salvou a terra onde viviam as antigas pessoas de Beja que nem se chamava assim, nem era uma cidade... e as pessoas puderam voltar a viver em paz... e mais tarde, quando isto foi uma cidade e teve muralhas, meteram a cabeça esculpida do touro nelas para toda a gente se lembrar que foi um touro que a livrou ... e assim é que foi a história do touro a história do boi e assim é que fica e assim se livra a cidade da bicha e isso foi obra maior que um tesouro livrar-se da cobra a terra do touro. Novelo enrolado... e conto acabado... Vamos pois deitar p'ra cedo acordar e cada um lidar bem no seu lugar... 74 Lendas de Beja – o Touro e a Cobra e outras LENDAS... 1.04 - O TOURO E A COBRA – V/04 A cobra é envenenada com um touro a que tinham dado veneno e assim é libertada a cidade Mas a ta Isabel Mateus é que no stava a modos... Que é qu'eles stão p'raí aldegando que num dizem uma cum duas... o conto é mais ó menos esse mas o certo é que a cobra foi morta cum veneno que há pra matar as cobras e um homem de cá que tinha andado por muitos lados é que sabia... Algum dia, há anos muitos anos, quando Beja era rodeada de uma floresta cheia de animais selvagens e nem tinha este nome e os habitantes daqui trabalhavam os campos ao redor, aconteceu que uma grande cobra apareceu e metia medo a toda a gente e causava muito mal a tudo e até matava pessoas. Muito preocupados com o que sucedia, as pessoas juntavam-se para discutir o que haviam de fazer mas não havia modos de encontrarem uma solução para tamanho mal. Um dia, apareceu numa assembleia, um homem que tinha corrido muito mundo e era um explorador aventureiro que tinha visto e ouvido de tudo... No meio da barafunda e da altercação em que todos estavam, pediu para falar e então contou que tinha visto as cobras e as serpentes matarem gente e outros animais com o veneno mortal que elas tinham, mas havia sempre um veneno mais venenoso e mortal para atacar os outros venenos e ele sabia o segredo de um veneno que até as cobras peçonhentas podia matar e não via outro modo de se livrarem da cobra que tanto mal fazia a pessoas como a animais e até aos campos que tanto trabalho davam a cultivar... o problema era descobrirem o modo como haviam de dar o veneno a comer à cobra, pois se o engolisse, o certo é que morreria e ficariam livres da cobra para sempre. 75 José Penedo – um deNómio de José Rabaça Gaspar Todos o ouviram com muita atenção e com o respeito que é devido a uma pessoa que andou por longes terras e sabe de venenos e artes de outros lados e de outros povos e ali ficaram a ver qual seria a melhor maneira de poderem usar o saber e inteligência daquele homem que andara por longe e sabia de cobras e venenos. Decidiram, pois, acatar a sua opinião. Perguntaram-lhe então, se esse veneno dado a um animal de grande porte, o mataria logo, ou se levaria algum tempo a dar efeito. Ele disse que sim. Então, todos se lembraram que poderiam dar aquele veneno do aventureiro ao maior touro que encontrassem nas redondezas e, depois de o envenenarem, dá-lo-iam a comer à cobra. Foi assim que fizeram. O homem aventureiro que andara por longes terras e sabia de venenos preparou a mezinha. Deram-na a beber ao touro, o que não foi fácil, pois ele não a queria beber, e lançaram-no para o campo, para os lados onde havia de encontrar a serpente mais rapidamente. O touro ainda lutou com ela, mas, envenenado como estava, sucumbiu. A cobra engoliu-o. Ficou envenenada e morreu uns tempos depois. A recordar o sacrifício deste tão nobre animal, esculpiram e colocaram a cabeça de um touro nas muralhas da cidade, para todos se lembrarem de um animal tão forte e perigoso, que afinal foi tão amigo dos habitantes desta cidade... segredo, segredo, veneno, veneno... Touro envenenado. Cobra envenenada. História acabada Como foi contada. 76 Lendas de Beja – o Touro e a Cobra e outras LENDAS... 1.05 - O TOURO E A COBRA – V/05 A cobra engole um touro mas é morta por uma manada de touros em fúria e pela população. Mas Carlos Miúdo que era filho do Joaquim Cardador que morava lá para os lados da Boavista e lidava com touros e vacas desde que nascera, ouvira e sabia a história do touro e da cobra duma outra maneira que passamos a contar. Em tempos que já lá vão, há muitos muitos anos de que já ninguém se lembra, a campina toda, aqui à roda do que é agora Beja, era cheia de árvores grandes e de mato onde havia muitos animais selvagens e muita caça, e os nossos antepassados guardavam grandes rebanhos de animais como porcos e ovelhas, mas o melhor de tudo eram grandes manadas de touros e de vacas, que até 77 José Penedo – um deNómio de José Rabaça Gaspar serviam para os ajudar a desbravar as terras e fazer as grandes sementeiras que eram de pasto para os animais e de pão para os habitantes de toda a região do Alentejo e dos Algarves que, no fim do Outono, se trocavam nas feiras de Castro e Alvito. Viviam todos, cada um como era da sua sorte e não faltava a lenha para o fogo, nem a carne da caça e dos rebanhos para comer o que era preciso, nem o pão que havia com fartura para ser cozido todas a semanas no forno de cada monte, que acenavam de longe, em longe uns aos outros, com as colunas de fumo branco que saíam do lado das casas voltadas para nascente. Nunca, até uma certa altura, se tinha ouvido dizer que os habitantes desta região tivessem tido medo de alguma coisa ou bicho que os impedisse de trabalhar a terra deles e de ajudar no amanho das terras dos outros... Mas aconteceu um dia, começar-se a ouvir falar de uma enorme cobra que causava estragos nas terras semeadas e começava até a fazer fugir os caçadores que nunca tinham tido precisão de fugir de nada, a não ser quando viam que não valia a pena caçar mais. Começou de facto essa cobra a fazer estragos de mais e muitos puderam vê-la de longe a destruir as suas terras, e o medo, e depois o terror e o medo passaram a dominar o ânimo e as vontades de todos os habitantes. Ficaram assim, durante algum tempo paralisados, sem saber o que haviam de fazer, até que um dia resolveram juntar-se para conversarem e descobrir em conjunto o que haviam de fazer. Era evidente que não se atreviam a enfrentar aquela cobra que os aterrorizava e destruía impunemente todo o trabalho que, apesar de tudo, iam, persistente e teimosamente, fazendo nos campos, desbravando, amanhando, cultivando... mas nunca chegavam a ver o benefício de tantos trabalhos, suores e dores... Lembraram-se então, de repente, que possuíam, ao menos, grandes e possantes manadas de touros que os ajudavam no amanho dos 78 Lendas de Beja – o Touro e a Cobra e outras LENDAS... campos e lhes forneciam a carne e o leite que os iam mantendo vivos... Aí estava a solução!... Quem sabe?! Juntariam uma valente manada de touros e atirá-la-iam contra a cobra maldita... Mesmo que a bicha adregasse de matar um ou outro, nada poderia fazer contra uma manada brava e enfurecida que havia de ficar ainda mais brava, se a danada da cobra conseguisse matar algum deles... Esta ideia foi acolhida como uma esperança que se mudou em alegria e pouco a pouco impôs-se a todos como única e desesperada solução. Não tinham mesmo outra e era a que tinham à mão, usando dos meios que dispunham. Mesmo correndo o risco de perderem algumas cabeças de gado, tudo era preferível ao medo e à desgraça contínua em que viviam permanentemente. Juntaram então uma manada de touros bem forte e brava e encaminharam-na para os campos onde há menos tempo tinham visto a cobra andar à solta e à vontade destruindo tudo o que lhe apetecia. Atraída pelo tropel ensurdecedor, a cobra apareceu. Ao avistar aquele inimigo inesperado, ela enrolou-se e desenrolou-se volteando no ar sibilou em desafio. Fssssssst Fichsssssssssst. ...Afinal, desde que aparecera que todos fugiam de medo, e não era aquela nuvem carregada de pontos negros que ia fazê-la fugir... Os touros, que até ali corriam quase em debandada, ao verem a bicha voltear no ar e a sibilar, investiram direitos ao alvo. Rasgaram a campina de cabeça em riste prontos a rasgar e esmagar, mas ela esquiva e rastejante iludiu a sua fúria e deixou-os passar desafiandoos de novo, altiva e provocante. Frustrados no ímpeto do primeiro ataque, os possantes animais pararam surpreendidos e voltaram-se. Lá estava ela, arrogante, toda empinada no ar segurando-se em pé só apoiada em duas voltas do seu corpo enorme que a seguravam no chão... 79 José Penedo – um deNómio de José Rabaça Gaspar Cegos de raiva investiram de novo e, quase ao apanhá-la, a bicha esquivou-se ao golpe pendurando-se numa árvore que bordeava a clareira transformada em arena de combate de morte. Era agora um enorme ramo abanado por inesperada tempestade, enquanto a toda a volta caía um silêncio de terror e a terra e o ar parecia terem paralisado de respeito. Era o momento em que os animais paravam e pareciam desnorteados por falharem o ataque. Ao descobrirem o grosso ramo diferente dos outros que lhes acenava em provocação os animais atacaram de novo. Aquele ramo rasava o chão e parecia, a todo o momento, ir desprender-se. Investiram com mais fúria e a toda a brida. Não podiam falhar. Não podiam dar-lhe tempo de se erguer de novo. Quase o conseguiram. Os primeiros ainda a apanharam de raspão no momento em que ela se erguia para escapar e outro e outro e outro ainda golpearam-na com as hastes erguidas nas voltas que a cobra fazia e desfazia para se poder erguer... Foi então que um dos últimos touros da manada tropeçou nos da frente e, dobrando as patas dianteiras, caiu desamparado ao alcance do braço temível que se desenrolava da árvore e pretendia escapar. Rápida como um raio a cabeça que se esquivava volteou fulminante e no momento em que o touro possante intentava levantar-se, a cobra já o tinha abraçado e desenrolava-se do ramo à medida que se enrolava mais no touro e o parava nos movimentos desesperados que o animal fazia torcendo-se e volteando-se para a tentar apanhar e desenvencilhar-se dela. Quando os outros, ao fundo do campo aberto, se voltaram para atacar de novo, já a cobra tinha apertado o boi no seu abraço mortal de muitas e asfixiantes voltas e, abrindo a enorme bocarra, engoliu-o de pronto fazendo-o desaparecer no seu enorme corpo. Estava agora estendida no terreno carregada com o peso da presa que apanhara. 80 Lendas de Beja – o Touro e a Cobra e outras LENDAS... Arrastou-se ainda um bocado para a entrada da floresta, mas não pôde ir muito longe porque o animal era grande e o peso era muito, mesmo para um monstro daquela força e tamanho. Os touros em manada, que já não divisavam a inimiga a desafiá-los, iam a desistir, mas logo reagiram ao alarido dos pastores e das gentes que entretanto se tinha juntado para assistir àquela luta nunca vista e correram direitos à clareira por onde a cobra deixara rasto... De longe as pessoas só puderam adivinhar a fúria dos animais a investir contra a bicha pesada que mal se podia mexer... E, quando finalmente se puderam aproximar para guiar os touros de volta, puderam então acabar de abrir a cobra já de todo esmagada e quase desfeita, e libertar o touro sacrificado que ainda mexia e respirava a custo. Trouxeram-no a rojo, que já não podia andar, e, depois de o matarem por já não poder viver, puseram a cabeça dele no cimo da casa que era a mais alta e era vista de mais longe e de muitos outros montes ao redor. Nunca mais os habitantes destas redondezas esqueceram esta luta e logo que se ergueu a cidade onde agora é a cidade de Beja, escavaram numa pedra a cabeça de um toiro e lá ficou nas muralha como lembrança do sucedido para nunca mais ser esquecido. E assim... POR OBRA DE UMA MANADA DEU-SE CABO DE UMA COBRA E ACABOU-SE A DANADA... E ACABOU-SE A HISTÓRIA... Meada dobada. história acabada. 81 José Penedo – um deNómio de José Rabaça Gaspar E ASSIM, NO FIM DA PELEJA, COMO A HISTÓRIA NOS DIZ, OS HABITANTES DE BEJA FORAM, PRA SEMPRE, FELIZES! TODOS ELES? NÃO. SÓ QUEM QUIS A FORTUNA BENFAZEJA!... 82 Lendas de Beja – o Touro e a Cobra e outras LENDAS... 1.06 - O TOURO E A COBRA – V/06 A cidade é livre de um ataque dum exército de mouros com a ajuda de uma manada de touros lançada contra eles. A Fátima, de olhos azuis e cara morena com um misto de raças que ninguém poderia julgar compatíveis e misturáveis, que veio dos montes da Almocreva e mais pequenina ainda viera da herdade de Alvalade, vive agora ali para a zona da Mouraria, às Portas de Moura, que também é povoada de ciganos e malteses que pouco a pouco se fixaram na cidade que agora se chama Beja. 83 José Penedo – um deNómio de José Rabaça Gaspar Muito calada e fugidia, quando está num grupo, isola-se numa ponta ou procura como que esconder-se ao fundo duma sala, e só pelos olhos se adivinha que está atenta a tudo o que a rodeia e se emociona e vive, reagindo ao que vai ouvindo e vendo – vivendo. A lenda do touro e da serpente deixou-a, primeiro, surpresa e depois, quase em segredo, contou a lenda do TOURO como a tinha ouvido contar, e era uma lenda do tempo dos mouros, muitos séculos depois de os romanos se terem ido daqui embora, tempos esses em que se localizaria a lenda do touro e da serpente que ela ouvia surpresa aos outros contadores... Essa Fátima, que traz no nome evocações dos sons árabes da princesa Alfátima, todos a conheciam por Míriam, nunca ninguém soube porquê. Talvez porque se chamava Maria de Fátima como tem que ser com toda a mulher portuguesa que se presa ou era conhecida por Burrica que era o Má-nome que lhe vinha da família. Contava assim ela, a história que era lenda... A lenda do Touro passou-se aqui no tempo em que os mouros vinham de Mirtilis do Sul para conquistar a cidade e com o apoio de muitos outros mouros que se lhe juntaram no caminho, vindos das terras da Moura e de Serpes... Ao ouvirem falar que um grande exército se aproximava desta zona, os habitantes, dispersos pelos montes e herdades, apressaram-se a refugiar-se dentro das muralhas da cidade invadindo-a por todas as portas. Pela porta de Évora e de Avis, pelas portas de Moura e de Mértola e até alguns pelo arco dos Prazeres que era mais estreita e rodeada de um jardim de delícias onde se podia cheirar o odor intenso das laranjeiras floridas misturado com o cheiro do alecrim e do rosmaninho espalhado pelas barreiras que rodeavam a cidade. Invadiam assim a cidade pelas suas cinco portas em forma de estrela, acompanhados pelas famílias e rebanhos mais preciosos dos 84 Lendas de Beja – o Touro e a Cobra e outras LENDAS... animais que pretendiam salvar e lhes poderiam valer caso o cerco se tornasse prolongado. Era parca a guarnição de homens de armas treinados para defender a cidade que, naquela confusão medieval, mudava constantemente de senhores mouros ou cristãos que punham as populações inseguras em constante sobressalto e mal havia tempo para os senhores actuais, se preocuparem convenientemente com as fortificações que mal abraçavam e protegiam o pequeno burgo. Apesar de tudo, os exércitos que se aproximavam para reivindicar questões de senhorio que tinham sido usurpados por parentes e tricas familiares, eram numerosos e vinham dispostos a tudo. As intenções dos donos da cidade, ninguém as sabia ao certo nem o que pretendiam defender, até mesmo se eram mais a favor de outros senhorios mouros ou cristãos, contando muito pouco para isso, os interesses ou os desejos da população que não tinha lá muitas preferências pelos deuses únicos e absolutos do crescente ou do levante... Oriundos talvez de um indefinido e mal conhecido povo cúneo de cultura avançada e de características diferentes e bastantes evoluídas que contrastavam com os povos vizinhos, pouco interessava à população de pastores e agricultores enraizados aqui desde séculos, que os senhores em guerra adorassem um ou outro deus único e absoluto... O que sabiam, é que eles pouco ou nada contavam para esses problemas que eram questões de guerra para os senhorios da cidade e para os califas e vizires dos exércitos que a cercavam ... O cerco já durava há uns tempos e não se via saída possível que não fosse a rendição pela fome e pelo cansaço ou o assalto que se tornava iminente pela evidente desproporção de forças em presença. Uma guarnição pequena e mal armada, perante cinco exércitos numerosos e bem armados que se espalhavam tranquilamente pelas campinas que rodeavam a cidade. 85 José Penedo – um deNómio de José Rabaça Gaspar Mais preocupados que os senhores em resolverem rapidamente o problema, a população dos que se refugiaram dentro dos muros e via perderem-se os seus bens e culturas que estavam à mercê dos invasores, murmurava cada dia mais alto e buscava uma solução para o conflito que se arrastava indefinidamente. Foi então que se lembraram duma ideia genial. Sem pastos e forragens que lhes valessem por muito tempo para aguentarem o gado que pretendiam salvar, em vez de o verem definhar e morrer à fome, os pastores-guerreiros lembraram-se de o usar para lançar a confusão e a morte entre os seus inimigos... Numa madrugada, em que nada o fazia prever, abriram subitamente todas as portas da cidade e, antes que os acampamentos árabes espalhados pela planície se apercebessem bem do que se passava, estavam todos invadidos e espezinhados pelas manadas de toiros que fugiam à frente dos gritos da população e dos poucos soldados que se tinham distribuído pelas cinco saídas da estrela em que se abria a cidade... O grosso principal dos sitiados tinha-se concentrado na saída das portas de Mértola, pois era ali nas cercanias que estava o acampamento dos principais chefes que comandavam o cerco e a manada de touros mais valentes e cuidadosamente escolhida foi por ali que tinha sido ardilosamente conduzida. 86 Lendas de Beja – o Touro e a Cobra e outras LENDAS... img013 – os touros rompem o cerco mouro da cidade… Numa madrugada, em que nada o fazia prever, abriram subitamente todas as portas da cidade e,... p. 86 87 José Penedo – um deNómio de José Rabaça Gaspar 88 Lendas de Beja – o Touro e a Cobra e outras LENDAS... O pânico e a confusão foi de tal ordem misturada com a grita de um e outro lado que, os invasores, convencidos de que se tratava de um cataclismo do outro mundo e perdidos ou isolados dos seus chefes, debandaram à frente das manadas em fúria ou eram sumariamente decapitados ou mortos pela população ou pelos poucos soldados que vinham atrás, sem terem tempo de se aperceberem do que realmente se passava. Foi assim que o Touro, símbolo da riqueza e da força duma região, conquistou o seu lugar nas muralhas com mais um título que nunca mais as gentes haveriam de esquecer: - o de defensor e libertador das terras e bens desta população que vive dispersa pelos montes por muitas léguas em redor... E depois? Depois?! Morreram as vacas e ficaram os bois! Assim ficou a meada enleada história acabada, até ser de novo, outra vez dobada! A HISTÓRIA CONTOU: CO'A AJUDA DOS TOUROS ASSIM SE LIVROU, A BEJA, DOS MOUROS. CORRENDO EM MANADA PELAS CINCO ENTRADAS 89 José Penedo – um deNómio de José Rabaça Gaspar PELAS CINCO PORTAS P'LAS PORTAS DE MÉRTOLA P'LO ARCO DE AVIS PELA ENTRADA DE ÉVORA ARCO DOS PRAZERES ENTRADA DE SERPA FOI A DEBANDADA DOS MOUROS C'OS TOUROS SEMPRE À DESFILADA. VITÓRIA ALCANÇADA! E O POVO ENCONTROU NA TERRA LIVRADA IMENSOS TESOUROS DEIXADOS P'LOS MOUROS NA TERRA LAVRADA! 90 Lendas de Beja – o Touro e a Cobra e outras LENDAS... 1.07 - O TOURO E A COBRA – V/ 07 Num dia de tempestade um Touro Azul descobre uma cidade que muitos anos antes tinha sido engolida por um terramoto. ...Mas o ti Luís Filipe, que lá na terra era mais conhecido por ―Bull - o Touro", retirado lá pró fundo, sentado a um canto com o resto da plaineta colada no bêço que ia mudando com a língua dum lado pró outro da boca, já com um trancaço levado dos diabos que até metia aflição a quem ouvia aquela tosse funda, olhava de soslaio toda aquela história de estarem para ali a contarem histórias, com o seu olhar miúdo de ironia e distante silêncio, e ia lá dizendo para os seus botões: 91 José Penedo – um deNómio de José Rabaça Gaspar Isto sãn 'stórias de moços piquenos! Já no é nada comós intigos. Isto é mesmo uma paiolada ó atão a gente é qu'éramos taronjos de todo, poi'sorte!... Ora a istória que a gente inventava, a saber, que não podia ser verdadeira, pois parece que Beja nunca esteve interrada, dizem os intendidos, mas há muita coisa interrada com'aquela casa romana lá prós Pisões... e há esta terra toda que cá da banda debaixo do Tejo e que uns donos disto acoimaram aí de Alentejo sem a gente ter que ver ou ser tido nem achado e durante muito tempo esteve p'ráqui mais que interrada e inda stá, ó se stá... é só ver o Alqueva ó as minas das Neves Corvo se trouxerem algum interesse cá pró povo... no andam nem um bocadinho até parece um atoco... Ele é comó cante e comás décimas cá do povo e com‟estas lendas... só vêm cá pra fora prós jornais e com letra de forma se for do interesse dos latinfundiários e dos senhores, qu'isto ele há uns que o são das agriculturas outros das culturas... isto é assim a modos qu'a gente a conversar antes que mal pareça... Ora a stória qu'a gente cá inventou e no pode ser verdadeira e é mais verdadinha quás outras todas é mesmo assim. 92 Lendas de Beja – o Touro e a Cobra e outras LENDAS... O TOURO AZUL... que desenterrou Beja... Há muitos, muitos anos, quando Beja ainda não era uma cidade nem tinha este nome... teria para aí uns trezentos habitantes..., ouvi dizer, deu-se um terramoto e aquela povoação ficou completamente enterrada por areias e calhaus. Os tempos, aos poucos, foram passando e nunca mais se soube nada da cidade ou lá o que era aquela terra que aqui havia dantes... Um certo dia, um maioral que vivia aqui para esta zona, saiu com o seu gado para pastar. Andou, andou, andou e não reparou que o tempo se agravava. Foi então que se desencadeou um grande temporal que mais parecia um dilúvio. O gado espantou-se fugindo cada uma das reses para cada lado e tentando acudir a uns e a outros, armou-se ali uma tal confusão que o homem acabou por se perder. Ao seu lado, só um Touro, completamente Azul. O maoiral lá se abrigou como pôde e não tendo mais o que pensar senão no gado que andaria, sabe Deus por onde, não tirava os olhos do intrigante Touro Azul que o não abandonava e continuava a pastar como se nada fosse com ele. Passadas algumas horas, a tempestade foi-se espalhando e, quando o homem se dispunha a procurar o gado transviado com a ajuda do Touro que lhe restava, o animal não se arredava do sítio onde pastava e... parece que já não pastava mas tentava escavar... parecia mesmo que procurava o que quer que fosse... começou mesmo a escavar com mais força e depois com mais fúria como se estivesse acossado por alguma coisa estranha... Teria descoberto a cova de algum bicho ou o buraco de alguma cobra que se esgueirava agora para o fundo. 93 José Penedo – um deNómio de José Rabaça Gaspar Tanto escavou, tanto escavou, que começaram a aparecer as pedras do que mais parecia ter sido uma grande construção sabe-se lá de uma igreja ou dum castelo e rastos do bicho ou da bicha nunca mais se viram. Habitava mas era nos restos de um palácio enterrado ou quem sabe? as ruínas de uma cidade desaparecida. O maioral, ao ver tal acontecimento, lembrou-se das histórias que tinha ouvido contar aos que as tinham já ouvido contar há muitos muitos anos e logo pensou que poderia ser a povoação desaparecida que ficara enterrada por um terramoto de que já ninguém se lembrava. Só de ouvir falar, de vez em quando, mas já ninguém ligava. Correu então de monte em monte a contar a todos os que encontrava aquilo que lhe tinha acontecido de mistura com a aflição do gado que se tinha perdido e a pouco e pouco toda aquela gente foi aparecendo à medida que a história ia correndo correndo e lá iam desenterrando a cidade que não era cidade mas tinha castelo e muralhas e igrejas e ainda bastantes casas. Passados alguns anos, Beja ou o que agora o é, ficou totalmente desenterrada e novamente habitada e para recordar o sucedido, os habitantes resolveram esculpir nas muralhas a cabeça do Touro para que assim ficasse como símbolo da velha cidade de Beja, agora reconstruída, renascida e renovada. 94 Lendas de Beja – o Touro e a Cobra e outras LENDAS... E assim se contou E O TOURO ESCAVOU E BEJA ENCONTRADA Assim se cantou E BEJA ENCONTROU DE NOVO HABITADA ESTA HISTÓRIA DO TI BULL TANTO TRABALHOU QUE METEU UM TOURO AZUL TANTO TRABALHOU A DESCOBRIR A CIDADE QUE FOI LIBERTADA. QUE HÁ MUITO ESTAVA E TANTO LUTOU ENTERRADA QUE SE LIBERTOU ALI JAZIA IGNORADA E O MUNDO PARA TODA A ETERNIDADE ENCANTOU PELOS GRANDES DA CIDADE POR SER TÃO en/CANTADA! P‘LOS GRANDES SENHORES DO REINO! 95 José Penedo – um deNómio de José Rabaça Gaspar 1.08 - O TOURO E A COBRA – V/ 08 A cobra é fechada numa paliçada onde metem um touro bravo que luta até a morte. Mas o Jorge Corujo não se deixou convencer por todas estas histórias de fantasias mal arquitectadas, que não respondiam ao seu sonho de luta e de liberdade... e vai daí, contou assim... Há já muitos anos, em que a cidade de Beja cabia ainda dentro das muralhas, havia uma floresta enorme à sua volta, onde habitava um monstro terrível que era uma enorme cobra e causava grande medo e terror a toda a população. A situação foi-se agravando, porque essa cobra monstruosa destruía as colheitas dos agricultores, e comia-lhes o gado e deixava-os na miséria e na fome. Pior do que a fome, era o medo e o terror em que todos viviam. Os que governavam a cidade, preparavam e adestravam os seus soldados mas eram tão poucos, que mal chegavam para calar a população que se mostrava cada vez mais insatisfeita e revoltada, até que se convenceram que tinham de encontrar uma solução. 96 Lendas de Beja – o Touro e a Cobra e outras LENDAS... Reuniram-se com os velhos mais sábios da cidade e foi então que tiveram a ideia de arranjarem maneira de enfrentarem a cobra com um touro, coisa que até aí ninguém se tinha lembrado, apesar de já terem perdido muitos animais. Foram então erguendo uma paliçada, lentamente, à volta da clareira onde a cobra muitas vezes se refugiava e estendia ao sol para aquecer o seu corpo frio e viscoso e, um certo dia, que ela ali dormitava em breve letargia, provavelmente a digerir algum pequeno animal que devorara, fecharam-lhe o cerco. Antes que acordasse de todo e se escapasse com as suas artes e manhas de bicho peçonhento e ardiloso, meteram-lhe dentro o touro mais possante e bravo que tinham encontrado entre todos os que tinham. O touro enfrentou-a e antes que a cobra enorme se pudesse erguer para o envolver e asfixiar, ele prendeu-a com as suas patas esmagando-a e com as suas grandes e afiadas armas furou-a lado a lado, trespassando-a repetidas vezes. A morte da cobra foi festejada com grandes cantos e festas como nunca houve memória em toda a cidade. Mais tarde, alguém se lembrou de esculpir, numa grande pedra, a cabeça de um touro, e, aquando da reconstrução das muralhas, ela foi ali encravada de tal modo, que passaria a ser o símbolo da cidade libertada. História contada e nunca acabada! Sempre REVIVIDA Sempre RENOVADA Em cada TOURADA ELA É REPETIDA... O TOUREIRO É COBRA QUE ATACA PRIMEIRO NESTA LUTA ARMADA 97 José Penedo – um deNómio de José Rabaça Gaspar DE VIDA OU DE MORTE. OU DE VIDA E DE MORTE?... DUMA VEZ A SORTE MAS NOUTRAS SAI À ESTACADA TOURADAS E A COBRA ENTÃO MUDA A SORTE E MORRE MORRE O TOURO VARADO P‘LOS CORNOS FURADA PL‘O TOUREIRO-COBRA P‘LO TOURO ESMAGADA! QUE VIBRA A ESPADA! 98 Lendas de Beja – o Touro e a Cobra e outras LENDAS... 1.09 - O TOURO E A COBRA - V 09 A cidade os touros os mouros... as cobras e as dobras de ouro... os mitos de uma idade de ouro... Afinal, nenhuma destas histórias é verdade! Ou quem sabe? Talvez todas o sejam à sua maneira... ou seja: a verdade de quem a conta. Talvez a sua história seja a sua verdade... e talvez, quem sabe? Um dia o liberte, e à sua cidade! ESTE ESPAÇO É SEU, CARO LEITOR. Aqui o vamos encontrar LENDO ESCREVENDO DIZENDO a sua LENDA 99 José Penedo – um deNómio de José Rabaça Gaspar 100 Lendas de Beja – o Touro e a Cobra e outras LENDAS... 0.1.1 AS LENDAS e os MAGOS da CLAREIRA ESCONDIDA na FLORESTA – PISTAS DE LEITURA E POSSÍVEIS FORMAS DE EXPRESSÃO 101 José Penedo – um deNómio de José Rabaça Gaspar 102 Lendas de Beja – o Touro e a Cobra e outras LENDAS... 0.1.2 AS LENDAS E OS MAGOS DA CLAREIRA ESCONDIDA NA FLORESTA E... Havia naquele reino uma clareira escondida no meio da floresta que todos sabiam que existia mas ninguém nunca tinha visto... Nessa clareira havia uma casa que não era casa e era habitada por uns magos, os sábios que desvendavam os mistérios do Universo e da Natureza Humana, mas que nunca sabiam muito bem o que era o Universo e a Natureza Humana porque eles também eram um bocado humanos, embora fossem magos e tentassem estar acima das coisas humanas... Mas fora, não podiam estar, porque senão não podiam perceber a Natureza Humana e não podiam falar ou comunicar com as pessoas humanas... E estando dentro, procuravam aquele refúgio da clareira escondida na floresta, onde estavam sempre a completar os seus conhecimentos e a adaptar a sua linguagem porque os conhecimentos da humanidade iam mudando e a linguagem entendida pelos humanos era, de tempos em tempos, muito diferente e por vezes tornava-se muito confusa... É evidente, pelo que dissemos, que esses magos sábios não eram só sábios magos porque senão não perceberiam nada da Humana Natureza. Eram também magas e sábias que muitos conheciam por fadas, por procurarem ter na mão dos seus conhecimentos o poder de revelar o destino dos homens / da humanidade... Chegou mesmo a dizer-se que havia também bruxas e feiticeiras à mistura, mas isso eram influências de outras histórias, pelo que, essas, rapidamente deixavam a clareira escondida na floresta, e fundavam, pelos reinos e cidades, umas casas, que se pretendiam semelhantes àquelas, mas não tinham nada a ver com esta história que é de pura e fantástica 103 José Penedo – um deNómio de José Rabaça Gaspar fantasia verdadeira... acontecia mesmo que, nessa escola secreta escondida na floresta, os sábios trabalhavam de noite sem fim, que era o dia, em que havia espaço para caberem todos os sonhos do mundo, mesmo os que não se podiam realizar e enchiam de alegria o coração das pessoas, e era assim, na noite, que eram devidamente semeadas as flores de todos os sonhos e realizações que depois haviam de crescer sãs e belas, ao calor do sol... A certa altura, chamavam àquela casa dos magos escondida na floresta, o Palácio Encantado da Ciência, melhor, da Sabedoria, porque era habitada por sábios que já faziam a alquimia de muitas ciências adquiridas e amadurecidas ao longo de muitos séculos... Noutras épocas, chamavam-lhe variados e diversos nomes e havia até quem lhe chamasse a Escola dos Sábios, porque afinal constava que era uma Escola onde os Sábios daquele reino se juntavam para aprender e por isso, muitas vezes, vinham Sábios de muitos outros lugares para investigarem e desvendarem os segredos do Universo e da Natureza Humana... e, entre outras coisas, procuravam descobrir os segredos destas lendas inventadas, des/cobertas, lidas e delidas, pacientemente elaboradas, ditas e reditas em anos e anos a fio tecidas em tecidos textos preciosos e, ao longo de séculos, sedimentadas e transformadas, que por vezes formavam e se transformavam em minas de oiro e outros materiais preciosos que era preciso explorar penosamente, minando e escavando e peneirando, separando-as das misturas de terra, cascalho e lixo, até chegar ao mineral de valor incalculável... Mas a confusão era muita, porque passaram também a chamar escola, e escola de sábios, a muitas outras coisas que se podiam parecer de longe com esta Escola dos Sábios, mas, era tão de longe aquilo em que se podiam parecer, que não se pareciam mesmo nada. Podemos mesmo dizer que eram o contrário. Enquanto na Escola dos 104 Lendas de Beja – o Touro e a Cobra e outras LENDAS... Sábios, os sábios se juntavam para aprender, nas outras, a que chamavam nomes parecidos por engano, nem se juntavam, nem se juntavam para aprender, e por isso, não eram sábios... mas juntavam-se, dizia-se, para ensinar umas coisas que não sabiam bem se tinham aprendido e diziam que estavam ali para ensinar e ver se os outros sabiam... Assim, parece que afinal ninguém tinha tempo nem motivos para aprender nada... uns fingiam que ensinavam, não se sabe bem o quê...?, e os outros fingiam que aprendiam, mesmo sem saber o que os outros não sabiam e lá viviam entretidos nessas casas que alguns confundiam com a Escola dos Sábios, mas não eram nada - nem Escolas, nem muito menos de Sábios... E, de facto, como não eram nada, nem nunca existiram, não vale a pena perder tempo com essas coisas que não existem e alguns, repito, confundem com a Escola dos Sábios escondida na clareira da Floresta, que era de magos e fadas e, portanto, eram pura fantasia de verdade. Em determinada altura, mas isso foi há muitos muitos anos que ainda estão para acontecer, não se sabe bem quando, chamaram-lhe, alguns, ESCOLA Superior de Investigação de/para Todos, porque ali todos tinham de trabalhar e estudar muito, por uma razão muito simples... como os minerais e os textos tecidos eram muito preciosos e misturados com muitas coisas que o não pareciam, mas depois se verificava que o eram, e mesmo muito preciosas, eram precisos trabalhadores e investigadores e especialistas dos mais variados quadrantes e ramos, e oriundos das mais diversas origens e condições... e, todo este trabalho, não era possível, e não tinha sentido nenhum, sem o trabalho exaustivo e profundo daqueles que, bem agarrados à terra, afanosamente cavavam e abriam as galerias e quase desesperadamente carreavam sacos e sacos de terra e a acumulavam em montões e montões de lama, que por vezes mais parecia esterco, e onde finalmente se podia procurar o mineral precioso, que era de qualidade e valor diverso, mas muitas vezes 105 José Penedo – um deNómio de José Rabaça Gaspar quase impossível de distinguir e separar... e havia, enfim, os grandes depósitos de material precioso, seleccionado, que, então, seria cuidadosamente escolhido e distribuído para reenriquecimento e revitalização plural de feliz policromia para aquela terra e para toda a humanidade... Muitos agora espantam-se, porque afinal ninguém, destes tempos, tem tempo para ouvir a voz das lendas tecidas de palavras! ou para entender as mensagens deixadas nas vozes e nos rastos de outros tempos!!! Mas, quem é que agora tem tempo para ouvir a voz do vento, ou para ler as mensagens que cintilam nas estrelas como letras que os poetas transformam em palavras que voam com o vento? ou ler os vestígios que se afundaram nos aluviões do tempo? As pessoas agora não têm tempo, nem olhos para verem a luz natural e verdadeira, ofuscados como estão pela luz artificial que as não deixa ver as estrelas!!! O segredo, só o detêm os sábios que decidiram ter tempo e espaço para ouvir a voz do vento e aprender a ler as mensagens do espaço no original, apreendendo os seus segredos em qualquer língua falada no Universo... Transmitem-na depois porventura como os poetas e como os contadores de histórias, numa língua parecida com as línguas que conhecemos... as palavras e os sons parecem iguais, mas só as ouvem e entendem, só as captam, os que são capazes de se perder no caos do espaço para se encontrarem e perceberem e saberem renascer de novo nos mistérios da vida. Mas só se pode renascer depois de morrer... Só se pode ser fecundo depois de ser fecundado... A planta só pode nascer depois de ser semeada no ventre da terra... Só se pode sustentar, erguido na vida, o que estiver devidamente mergulhado nas raízes, enterrado e vivo, para poder crescer, comunicar, ser fecundo, multiplicar-se e povoar a Terra... 106 Lendas de Beja – o Touro e a Cobra e outras LENDAS... img014 – a clareira dos magos escondida na floresta… Nessa clareira havia uma casa que não era casa e era habitada por uns magos, os sábios que desvendavam os mistérios do Universo e da Natureza Humana... p. 103 107 José Penedo – um deNómio de José Rabaça Gaspar 108 Lendas de Beja – o Touro e a Cobra e outras LENDAS... E era assim, que naquela clareira perdida na floresta se juntavam pessoas vivas que viviam e por isso não estavam lá, e eram investigadores do saber que era a cultura milenária dos povos, de todos os povos, e por isso, vinham e estavam em todos os lugares e tempos, e sabiam das ciências humanas e da sociedade como a cultura, a política e a economia, e, para conhecerem a vida, a viviam e sofriam e dela estavam distantes para se poderem pronunciar sobre ela... eles tinham conhecimentos dos segredos da Natureza e da Natureza Humana, dos comportamentos, pensamentos e formas de expressão e de comunicação e intercomunicação, o segredo dos signos, dos sinais e dos símbolos e ícones de cada geração... coisas que ao longo dos tempos foram tendo vários nomes como Ciências, Geografia, Língua e Linguística e Filologia, Filosofia e Psicologia com a Psicolinguística, a Antropologia, a Etnografia... sabiam de outras artes como as Artes que privilegiavam algum dos sentidos, como a Arte Divina dos Sons, ou a Arte da Magia das Formas e das Cores... Sabiam também das artes que procuram a comunicação global para chegarem aos sete sentidos através dos cinco mais conhecidos e enumerados pelos humanos... Tentavam a Semiótica ou a Ciência das formas, dos signos e dos símbolos... a Epistemologia ou as bases científicas de todas as ciências... enfim... a Hermenêutica, a chave de penetrar em todos os mistérios e perceber a multiplicidade de mensagens dos múltiplos grupos sociais que foram construindo a humanidade nas suas diversas e multímodas manifestações... com aquilo que muitos chamaram, porque tudo precisa de nomes, as Ciências Sociais... E, a estes, juntavam-se os que conheciam da vida e da comunicação, tudo o que era a arte de viver... 109 José Penedo – um deNómio de José Rabaça Gaspar E foi assim que começaram a aparecer propostas e pareceres os mais diversos, e, por outro lado, mais complementares e indispensáveis, porque só do contributo de todos os campos do saber humano era possível tentar chegar a algum conhecimento verdadeiramente útil e eficaz para o desenvolvimento da humanidade a caminho de uma maior felicidade de vida plenamente vivida... Mas afinal, o que fazemos nós aqui? nesta história, perguntaram os sábios, muitos dos quais também eram fadas, e que não estavam ali para perder tempo e, muito menos, para resolver tudo com uma varinha de condão?!... Para já, esta história, que tenta contar a nossa história, está muito mal engendrada, diziam alguns, porque nos apresenta dando a impressão que somos seres diferentes dos outros que existem, quando afinal, nós somos tal e qual os outros que também têm de ser diferentes para poderem perceber o que são!!!... Pois aí é que está o problema, diziam outras fadas entre as quais havia também sábios, mas é que temos de parecer diferentes para os outros perceberem que somos iguais, e eles, os humanos, é que percebem da natureza humana, porque eles é que são humanos, e portanto eles é que podem falar do que conhecem, mas como o objecto do conhecimento tem de estar fora daquele que procura conhecer, de facto eles não se conhecem a si mesmos se não saírem de si próprios, e nós, como estamos fora é que os conhecemos, mas não os poderíamos conhecer se não fossemos humanos, e não podíamos falar-lhes da natureza humana e dos seus anseios mais profundos, se não fossemos humanos, porque a não conhecíamos e ninguém pode falar do que não conhece!!! Então em que ficamos? ... Tudo isso é muito verdade mas nem todos falam e entendem da mesma maneira, pelo que tivemos necessidade de inventar uma maneira de dizer as coisas para os outros as entenderem e nós 110 Lendas de Beja – o Touro e a Cobra e outras LENDAS... entendermos os outros, até que encontrámos uma maneira, que é a das histórias que fazem de conta, porque é muito difícil explicar tudo a todos sem fazer de conta e fazendo de conta podemos quase dizer tudo e entender tudo... Mas as histórias que fazem de conta não são verdadeiras e por isso não contam a realidade e cá estamos nós a trair os fundamentos da nossa ciência e da nossa escola que assim não serve para nada!... Aí é que vocês estão enganados... gaguejavam outros... mas é que a verdade - realidade é tão complexa, relativa e interdependente de tantos factores que é difícil reproduzi-la para a abarcar na sua multímoda pluralidade e aí, com as lendas e os poemas, tentamos as formas de expressão mais adequadas que permitam ler/ver e comunicar em circular o omniálogo para que todos cheguem perto da verdade... Bem!, sabiam cada palavra difícil estes sábios, que até diziam algumas que ainda não existiam... Mas parece que não havia meio de se entenderem os bons dos sábios e as encantadoras fadas, encantados como estavam por desejar ter alguma coisa de sólido e de verdadeiro e de seguro, de ordem, para dar sentido à sua escola escondida na secreta clareira da floresta onde se reuniam para desvendarem os segredos do Universo e da Natureza Humana, quando subitamente repararam que a Ordem do Universo era o que nós chamamos Caos/Confusão e que Tudo o que tem Vida está em Movimento, e que a Natureza Humana é tão plurifacetada que é rara ou inexistente a Pessoa Humana que se conhece a Si Mesma... !!! Eia, gritaram então!!!... Já temos bases sólidas para o nosso trabalho sério e científico! É que, afinal, não temos bases sólidas nenhumas, cavando assim, bem fundo, os alicerces da nossa Ciência e Investigação... !!! E foi então, ali, que todos se atiraram ao trabalho com afã!!!. 111 José Penedo – um deNómio de José Rabaça Gaspar 112 Lendas de Beja – o Touro e a Cobra e outras LENDAS... 0.1.3 pistas de leitura/s para as LENDAS do TOURO e da COBRA… Então que me dizeis, caras cofadas e caros comagos, dessa história de ciganos que viajam em caravanas e percorrem reinos cidades e povoações e se põem a pilhar o que é dos outros? Não será isso um atentado às regras da Justiça que devem nortear todos os reinos? Deveis saber ilustre cosábio que aquilo que muitos deitam fora dá para muitos viverem, até o lixo... e deveis saber que, no meio do lixo, as pessoas distraídas com a ordem da vida que às vezes é uma boa desordem, atiram ao desprezo muitas coisas preciosas e que lhes fazem muita falta... mas fazem-no por falta de espaço, ou por estar na moda, ou por exibicionismo e por estatuto social e intelectual deformado... e, acontece ainda, que muitas vezes só do lado de fora é que se vê bem e é preciso estar a uma certa distância para se ter a noção da realidade no seu conjunto, sem contar com a miopia o estrabismo e o astigmatismo e até outras doenças que são frequentes na humanidade enferma!... Deixemos então seguir a caravana com os seus utilíssimos roubos para reciclagem dos produtos... mas o que é lá essa história de pôr o cigano ceguinho a contar a história mais fantástica e incrível para parecer mais verdadeira? É que, já nos tempos da avó da minha avó velhinha, no tempo em que não havia jornais nem outros meios de comunicar notícias, os ceguinhos é que tinham por missão, contar o que os outros que viam não viam e faziam, e lá iam vivendo divulgando e cantando os contos de terra em terra e as pessoas que viam, agradecidas, pagavam-lhes para viver e sustentavam-nos... em troca de os ajudarem a ver... Para mais, eles é que costumam ver o que os outros não vêem. De 113 José Penedo – um deNómio de José Rabaça Gaspar tanto olharem e de tanto terem para ver, por vezes, parece que os que vêem é que ficam ceguinhos..., para o que é essencial! “É que o essencial é invisível para os olhos‖, dizia aquele mago que voava nos aviões dos anos quarenta e punha principezinhos a falar com raposas em coisas tão banais e corriqueiras e às vezes esquecidas por serem essenciais!... Isto discutiam animadamente os comagos e cofadas que eram todos cosábios, e pouco a pouco, e por vezes, surpreendentemente, lá iam descobrindo o sentido das coisas, até das que pareciam banais e desprezíveis...! Mas têm ao menos alguma arte, algum sentido, esses contos contados e cantados para encantar? Disso não sabemos muito, cara cofada, pois tentámos ler as intenções secretas do velho cigano cego em frente do par dos ciganos enamorados olhando a cidade as muralhas e as estrelas, mas parece que o que ele via na Via Láctea era o longo percurso da longa via da sua vida quase secular e quereria ele, quem sabe, deixar naquele conto o resumo cifrado do muito que vira através dos caminhos do mundo e dos tempos...! Mas então, porque não contava ele, claro e direito, aquilo muito que aprendeu? Certamente porque não sabia, caros cosábios, não sabia traduzir as letras das estrelas em letras e sons falados nas nossas línguas que usamos todos os dias, e, mesmo sabendo o que sabia da vida vivida e observada, corre-se sempre o risco de cada um entender aquilo que sabe que quer saber... e assim, deixa o desafio para cada um desvendar, na sua língua, na língua que cada um usa para pensar e para sonhar e construir para si os mundos reais que não existem e assim ficam com as pistas para descobrirem o que supunham não 114 Lendas de Beja – o Touro e a Cobra e outras LENDAS... poder ser verdade e não sabiam... pois é este o desafio mais humano e tentador para os seres inteligentes que caminham na vida... Dai-nos então uma chave desses contos, dessas lendas? É muito arriscado, ó cosábios que tudo quereis saber, mas sempre tentaremos umas pistas... Chaves?!, Chaves universais que podem abrir tudo?!, isso não existe. Só nos contos de fadas!!! Primeiro, era preciso perceber o motivo por que se inventam lendas, que as pessoas chegam a crer mais verdadeiras que as histórias que foram história ou histórias verdadeiras de reis e de rainhas e príncipes e princesas e povos verdadeiros que muitas pessoas julgam que são lendas... Depois, reparai bem, que todas começam em tempos perdidos na memória dos tempos que afinal todos sonham que hão-de acontecer de novo e inventam casos e personagens que nunca existiram mas todos desejam ser... É sempre um pouco assim a insatisfeita natureza humana... Depois vivem felizes ou viviam simplesmente... e é sempre um mal exterior que os vem perturbar e causar desgraças, quando afinal, o mal vem sempre de dentro e de bem perto, mas eles contam como se viesse de fora para assim descobrirem essa verdade tão simples que até custa a crer porque não se quer... ...E então, as pessoas ficam cheias de medo e de pavor, e até vão procurar a solução que já sabem, se a quiserem saber, vão-na procurar através de desconhecidos sábios génios ou supostos superhomens, quando, afinal, são eles, é cada um, que procuram, encontram e executam as soluções e sofrem as consequências ou ficam recompensados... ...Metem ainda nos contos todos os seus defeitos e virtudes, qualidades e características, muitos dos seus valores culturais e revoltas e cansaços acumulados por gerações e gerações porque muito bem se conhecem.... 115 José Penedo – um deNómio de José Rabaça Gaspar ...e tentam desvendar os mistérios do que os confunde como a complementaridade do masculino e do feminino que parece fálico e dominador na cobra mas afinal é feminino e fecundo e parece forte e indómito no touro mas por vezes falha, morre mas liberta... Quantos mistérios, credes vós, que podem ser apontados num simples conto duma, duas páginas? A origem, a formação, as frustrações, os desejos e anseios daqueles que os ouvem e daqueles que os contam...!!! A COBRA tem sido sempre entendida como a origem do MAL, de todos os males que afligem a humanidade. Segundo a Bíblia, Adão e Eva viviam no Paraíso Terreal, pois Deus os colocara no Jardim do Éden para o cultivar e o guardar, mas deu-lhe este preceito: “Podes comer do fruto de todas as árvores do jardim; mas não comas do fruto da árvore da ciência do bem e do mal; porque no dia em que dele comeres, morrerás indubitavelmente.” Mas... “A serpente era o mais astuto de todos os animais dos campos que o Senhor Deus tinha formado. Ela disse à mulher: É verdade que Deus vos proibiu comer do fruto de toda a árvore do jardim?” “A mulher respondeu-lhe: Podemos comer do fruto das árvores do jardim. Mas do fruto da árvore que está no meio do jardim, Deus disse: “Vós não comereis dele, nem o tocareis, sob pena de morte.” “ serpente Oh não! tornou a vós não morrereis! Mas Deus bem sabe que no dia em que dele comerdes, os vossos olhos se abrirão, e sereis como deuses, conhecendo o bem e o mal.”...Veio então a tragédia conhecida... “A mulher vendo que o fruto da árvore era bom para comer, de agradável aspecto, e muito apropriado para abrir a inteligência, tomou dele, comeu, e apresentou-o também ao seu marido, que comeu igualmente.”...os olhos abriram-se... Deus apareceu, repreendeu-os, condenou os três... “E o Senhor Deus disse: Eis que o homem se tornou como um de nós, conhecendo o bem e o mal. Agora, pois, cuidemos que ele não estenda a sua mão e tome 116 Lendas de Beja – o Touro e a Cobra e outras LENDAS... também do fruto da árvore da vida, e o coma, e viva eternamente. E o Senhor Deus expulsou-o do jardim do Éden, para que ele cultivasse a terra donde tinha sido tirado. E expulsou-o; e colocou, ao oriente do jardim do Éden, Querubins armados de uma espada de fogo, para guardar o caminho da árvore da vida.” (Génesis, Cap. 2 e 3). E assim ficámos com mais uma história. Lenda? Uma lenda cheia de símbolos e sinais para explicar uma outra história mais complicada e complexa que é a da origem da humanidade ou, mais propriamente, a da origem dos seus males, permanecendo sempre o mito do Paraíso/Éden! Uma explicação judaico-cristã que foi ou é sinal de civilização ocidental cristã!!! Mas há outras explicações para a Humanidade e os seus males. Por exemplo esta. ―Segundo os livros de Zoroastro, o primeiro homem e a primeira mulher foram criados puros e submetidos a Ormusd, seu autor. Arimânio viu-os e teve inveja da sua felicidade; abordou-os sob a forma de uma cobra, apresentou-lhes frutos e persuadiu-os de que era ele o criador de todo o Universo. Eles acreditaram e, desde então, a sua natureza ficou corrompida, e esta corrupção infectou a sua posteridade.” (Fulcanelli, in As Mansões Filosofais, ed. 70. 1977; e José Gabriel Pereira Bastos e Fernanda Birrento, in A Mulher O leite e a Cobra, ed. Rolim, 1988). Então? Consideramos a serpente como origem de todo o mal que veio cair sobre a humanidade, como parece podermos entender da Bíblia e de Zaroastro / Zaratustra ou é, afinal, a serpente, o agente do caminho imparável para a maturidade e para a liberdade responsável que fez sair a Humanidade da Infância e da Adolescência em que viviam completamente dependentes e submissos, para 117 José Penedo – um deNómio de José Rabaça Gaspar assumirem, decisivamente, DE OLHOS ABERTOS, em pleno risco, a LIBERDADE E A RESPONSABILIDADE? Até aparecer a serpente e os frutos, os nossos progenitores seriam como crianças que Deus tinha de proteger e guiar pela mão indicando os limites... Inocentes, sem poderem arriscar... e morrer... e, a partir daí, eis que têm de renunciar ao proteccionismo, aos privilégios e assumir a vida com todos os riscos. inclusive, o risco de MORTE!!! Também na Bíblia, livro do Êxodo, capítulo sétimo: “O Senhor Deus disse a Moisés e a Aarão: Se o Faraó vos pedir um prodígio, tu dirás a Aarão: toma a tua vara e atira-a diante do Faraó: ela se transformará numa serpente..." ... E mesmo quando os sábios, os encantadores e os mágicos do Faraó fizeram o mesmo com os seus encantamentos e atiraram cada um as suas varas que se transformaram em serpentes, a vara de Aarão engoliu as deles... E quando o Povo de Israel vagueou pelo deserto a caminho da Terra Prometida, em castigo das suas murmurações, diz o Livro dos Números, capítulo vinte e um: ―Então o Senhor enviou contra o povo serpentes ardentes, que morderam e mataram a muitos." O povo arrependido recorre a Moisés. ―Moisés intercede pelo povo, e o Senhor disse a Moisés: Faz uma serpente ardente e mete-a sobre um poste. Todo o que for mordido, olhando para ela, será salvo. Moisés fez, pois, uma serpente de bronze, e fixou-a sobre um poste. Se alguém era mordido por uma serpente e olhava para a serpente de bronze, era salvo." !!! !!! O que significa afinal a SERPENTE? A Morte ou a Vida? A origem do Mal? O Poder de Deus? A mola que desafia a Humanidade para os riscos da Criatividade e da Liberdade? A guardadora dos segredos e mistérios profundos que a Humanidade busca desde sempre incansável e inutilmente? Ou significará a inteligência? A inquietação atrevida que não deixa que a Humanidade caia no comodismo 118 Lendas de Beja – o Touro e a Cobra e outras LENDAS... (Paraíso), na demissão irresponsável não interveniente, no imobilismo estéril? Isto tudo, talvez e muito mais... E o TOURO? O que significa o TOURO, que é afinal o herói, personagem principal das múltiplas lendas que inventámos e tanto, que teve direito a figurar, esculpido, nas muralhas da cidade, e desenhado, ocupa o lugar central do escudo heráldico que é o brasão - emblema deste povo? Ah! o TOURO, esse foi sempre, através de todos os tempos e espaços o símbolo da energia criadora, o símbolo da força, do ímpeto indomável, da fúria indómita, o símbolo / simbólica da fonte do vigor da potência fecundante e fertilizante que fecunda a terra e a torna produtiva e criadora... Em todas as regiões e religiões do Mundo, o TOURO aparece como signo, ícone, simbólica, índice da seiva vital, o sémen, o falo desmedido que rasga o VENTRE DA TERRA e a torna produtiva e criadora abrindo nela a vida escondida e secreta, desvendando os tesouros ciosamente guardados... abrindo caminhos de riqueza e felicidade... Até o povo eleito de Javé, perdido no deserto, quando Moisés desapareceu para receber as Tábuas da Lei, desesperado, fabricou um BEZERRO DE OIRO construído com os brincos e colares que todo o povo guardava avaramente e celebrou festas ao ÍDOLO, vendo nele OS DEUSES DA ABUNDÂNCIA que os libertaram do cativeiro do Egipto... Este drama de idolatria e de ingratidão ao Deus de Moisés, pode ser lido na Bíblia, no Êxodo capítulo trinta e dois e seguintes... a ponto de Moisés, no regresso, cheio de fúria, quebrar as Tábuas da Lei que tinham sido escritas pelo próprio dedo de Deus, e destruí-o pelo fogo até o reduzir a pó que moeu e dissolveu na água, que na 119 José Penedo – um deNómio de José Rabaça Gaspar fúria da sua cólera obrigou a beber aos filhos de Israel... tendo os filhos de Levi passado à espada mais de três mil homens dos que se rebelaram contra Javé! O certo é que ainda no tempo de David, havia signos e imagens que perpetuavam a idolatria ao bezerro de oiro sonhando a abundância dos tempos da escravatura no Egipto! Povo de cabeça dura e digno de ser exterminado da face da Terra! ... Donde a força idolátrica do TOURO que se opõe à força do Deus Criador Todo Poderoso?... Muito haveria para contar... Mas mais não contamos porque muito haveria e há para contar, mas há mais pistas e exemplos que os nossos coartistas querem apresentar... ... É que de facto, uma das coisas mais comoventes que acontecia naquela Escola Secreta da clareira escondida na floresta que não existia era, quando na clareira inacessível aparecia uma criança, um velho ou um poeta com um poema um conto ou uma canção nas mãos nos lábios ou no coração… e a mostrava aos sábios! Alguns deles liam. Reliam. Sorriam. Liam-na depois alto e expressivamente para que os outros a ouvissem. Cantavam-na embelezada com a arte dos sons. Todos aplaudiam. Pediam para a guardar e publicar aos ventos... Iam ao seu tesouro escondido e davam-lhes uns grãozinhos de oiro ou pedras preciosas... Punhamlhe a mão na cabeça... e lá voltavam para casa, mais felizes, do que se tivessem encontrado todo o ouro do mundo, com o seu TESOURO FABULOSO! 120 Lendas de Beja – o Touro e a Cobra e outras LENDAS... 0.1.4 Possíveis formas de expressão para as LENDAS do TOURO e da COBRA Mas então que propostas temos dos coartistas, artífices que artam lá na terra? e concretamente sobre estas lendas que contastes de touros e de cobras? Muitas propostas, ó caros comagos... Há um grupo que se exprime com o corpo, o corpo inteiro que a natureza deu. São jovens, crianças e gente madura. Propõem-se contar a história sem palavras para ser universal. A cobra é uma bailarina que gira e rodopia ameaçando uma cidade inteira, cercando, ameaçando, aterrorizando... O povo, com o medo e seduzido, tenta reagir... há perdas e mortes... entra em pânico... procura soluções contra a cobra que foge, ludibria, domina, se disfarça...domina... até que o povo decide mandar um touro contra ela... O touro que sai, observa o terreno, descobre a inimiga, enfrenta-a, investe... numa ambiguidade de luta e jogo amoroso de vida e de morte contra a serpente que já não é a serpente mas o povo que se encadeou em cobra e depois já é povo que se transforma em touro e luta com a serpente... Procuram-se depois uma ou várias soluções estilizadas de cada um dos dez mais um dos contos e termina com a festa da libertação ou da catástrofe que gerará a libertação... Há agora um PAR, só DOIS, ó caras cofadas, que se propõem dançar, sozinhos esta lenda, voando nas asas da fantasia e inebriados na música mais sublime que foi possível conceber pelos médiuns que captam os sons do universo e emoldurados num cenário de cores de sonho realidade que os artistas das formas e dos tons captaram do arco-íris! 121 José Penedo – um deNómio de José Rabaça Gaspar Tudo isto, mas muito mais complexo, se propõe fazer agora um POVO espalhado por diversos lugares, que depois de tempos e tempos de preparação, aliás como todas as outras tentativas de representação que são humanas e tentam penetrar no sobrehumano, tendo divulgado o conto canto por todos os cantos da sua terra, escolas, grupos, famílias e solitários, recolhe de todos eles ideias e sugestões... fabricam símbolos e enfeites de mil formas e mil cores e chega o dia da celebração... o dia da festa... o dia da representação... A grande dança da serpente, formada por centenas, só tem sentido quando os grupos vindos de todos os cantos e lugares se vai juntando e figurando o medo, o pavor, a afoiteza da multidão enfim unida, que enfrenta a cobra monstro... a põe em fuga para o castelo... O percurso da praça para o castelo... a cobra e o povo já uno na sua diversidade que pode ser um cortejo de símbolos e cantos diversificados... A cobra no Castelo e as novas tentativas de intimidação para a tomada do poder com ameaças e fúrias desmedidas... é dança macabra que aterra e seduz. A aparição do touro-touros e a luta final do touro e da cobra e a multidão que se transforma em manada de touros... é jogo fantasia feita realidade na arte! A fogueira festa final e a fuga imperceptível dos restos sub-reptícios da serpente... é a festa que se espalha por toda a cidade libertada... que afinal continua ameaçada... Mas há ainda um grupo musical que se propõe cantar representar a mesma lenda, com sons luzes e cenários, evocando os cenários conhecidos com montagens de grafismos, fotos, sons e cores... Os cantores, com as suas vozes – touros, atacam os microfones ligados a fios intermináveis – serpentes, que eles/as cantores/as com as suas bocas – serpentes, simulam engolir como se os micros subitamente 122 Lendas de Beja – o Touro e a Cobra e outras LENDAS... se transformassem em touros... E outros grupos musicais lançam as suas bailarinas/os serpentes coleantes ao som das suas violas e baterias – touros estonteantes de fúria que se transformam em sons envolventes como serpentes que devoram vocalistas e bailarinos/as... Nós nem precisamos de representar, diz um grupo de aficcionados da festa brava dos touros e touradas... A corrida que vamos apresentar a cavalo, com pegas e a pé, é afinal a luta do touro e da serpente, do toureiro frente ao touro, macho contra macho, com o feminino sempre ausente presente como na vida e na realidade... numa ambiguidade que se representa porque não se explica... Tudo isto e muito mais pode acontecer à volta duma simples lenda... - Os artistas que trabalham com o ouro e a prata e outros metais e com eles fabricam adornos, enfeites e feitiços criaram anéis, braceletes, colares e medalhões com touros e serpentes que insidiosamente se enrolam em espirais carregadas de insinuações... - Os das artes gráficas inventaram livros articulados como cobras que tinham dentro touros e histórias em palavras e desenhos de encantar... - Os poetas e os músicos cantavam a lenda em canções dolentes que dançarinos interpretavam em bailados coreografados de corpos esguios que se transformavam em cobras ondulantes e touros de corrida... - Os oleiros faziam nascer da sua roda giratória serpentes repelentes que enleavam touros desesperadamente vencidos na sua fúria... e os artistas do barro, com as suas mãos, conseguiam um misto de herói a transformar-se em serpente e a moura apaixonada a transformarse em fonte numa magia de formas surpreendente… - Os mestres marceneiros fabricavam com pedaços de madeira, cobras articuladas que soavam como matracas ligadas por nastros de pano que se dobravam e desdobravam ou serpenteavam ligados com arames e desafiavam touros que se montavam e desmontavam em madeira fina com recortes e encaixes e ranhuras... 123 José Penedo – um deNómio de José Rabaça Gaspar - Nas festas de Carnaval, os mascarados destrajavam-se de touros e de cobras e esboçavam lutas em qualquer canto da cidade, nunca se descobrindo se eram homens que se disfarçavam de cobras e mulheres de touros ou vice-versa, para o jogo e a ambiguidade permanecer como se fosse verdade... - Os pastores artistas, no enlevo e distância do seu isolamento, iam fabricando a canivete, de paus rijos e disformes, de ramos partidos e dispersos... ora cobras que mexiam e metiam medo... ora faziam dos ramos secos em forquilhas, touros estilizados que mais pareciam vivos na fúria de combate... - Até as crianças, nos seus grafismos de riscos sem sentido, desenhavam sem saber!... ondulações de serpentes ondulantes misturadas com touros... - Desenhando uma praça circular, com arcos e bancadas repletas de uma multidão disforme, com um touro ao meio atónito, em defesa, pronto a investir, os poetas das formas e das cores, com tintas e variegados materiais, pintam na sua tela as sugestões que as outras artes não podem sugerir... e dizem tudo aos que quiserem perceber...nas suas gravuras, pinturas, tapeçarias... - Na sua intimidade, os casais de amantes dançam a dança do touro e da cobra. O amante com o seu falo serpente ataca as ancas da amante touro que com os seus lábios cobra engole e recebe a força túmida do amante que se entrega... - E dos outros artistas? Não falas dos outros artistas que povoam o Universo? 124 Lendas de Beja – o Touro e a Cobra e outras LENDAS... img015 – uma mistura de símbolos e sinais… 125 José Penedo – um deNómio de José Rabaça Gaspar 126 Lendas de Beja – o Touro e a Cobra e outras LENDAS... Dos outros artistas que desempenham os seus papéis de figurantes no vasto palco que é o Mundo? De muitos desses esquecemo-nos... Só sabemos que inventaram coisas nunca vistas e inconcebíveis... Sabemos por exemplo de crianças que já o não eram e nunca tiveram tempo de andar na escola para aprenderem a ser artistas, que se vestiram de rolos de papel pintado e enfeitado com fitas de mil cores e se colaram umas às outras numa fila imensa coleante transformando-se numa enorme serpente e foram pelas ruas e praças meter medo às pessoas acomodadas e instaladas em muitas instâncias de vários poderes, que andavam a estragar o seu mundo de floresta virgem e selvagem, com as suas políticas vesgas de progresso e desenvolvimentos e outras coisas sem pés nem cabeça que destruíam o Mundo em vez de o tornarem mais habitável e bonito... e vai daí, disseram sem palavras aos marretas dos touros que marravam de cabeça baixa sem olhar para as estrelas, para o sol, a lua e os planetas que continham as letras do passado e do futuro... Ai ele e isso?! Pois desta vez quem ganha a luta da lenda é a serpente que nós já estamos cansadas de ser as más da fita... e ai de vocês se se atrevem a estragar mais o nosso mundo livre e belo com mais muralhas e muros e paredes e grades e sebes e divisões e cortes e portas sem entradas nem saídas e chaminés e fumos e porcarias que emporcalham tudo... Ai de vocês, se nos roubam o Espaço do Mundo do Futuro que é Nosso! Nós queremos o Ar a Água a Chuva o Sol o Espaço sem fim onde nos queremos encontrar... para nos encantar/mos... Mas que podem significar as lendas e histórias que gerações e gerações guardaram na memória e contam e recontam dos mais diversos modos?...Como vimos com a Bíblia e Zaroastro, a SERPENTE 127 José Penedo – um deNómio de José Rabaça Gaspar é a fonte e a causa de todo o mal, do sofrimento, da morte a que a humanidade está inexoravelmente condenada?... ou é simplesmente a origem e causa da sua emancipação e libertação arriscada e responsavelmente assumida o risco de optar pela liberdade que todas as democracias do mundo prometem e a que todo o ser humano aspira e teme no mais profundo do seu ser?... Isso são perguntas que ficam para sempre sem resposta, mesmo nesta escola de magos sábios e de fadas que se refugiam na clareira secreta escondida na floresta, e durante a noite infinita que é o dia espaço em que todos os sonhos se podem realizar, procuram descobrir os segredos da Natureza e da Natureza Humana que faz viver os povos e os lança nos caminhos do futuro à procura da liberdade e da felicidade... Mas embora nós não o saibamos, sempre revelaremos mais um segredo para os que têm ouvidos para ver e olhos para ouvir... E o segredo é este. É que entrar no mundo das lendas e dos contos não é para qualquer um. É só para os que são capazes de regressar ao Futuro. Isso. Exactamente o que dissemos. Entrar no Mundo das Lendas e dos Contos é um REGRESSO AO FUTURO... É um mergulho no tempo um mergulho nos Tempos um mergulho nas raízes uma procura do estado puro original numa tentativa encantada, sedutora, irresistível de o alcançarmos de novo no Futuro... É uma VIAGEM de encontrar um sentido para a vida um desejo insaciável ansioso de encontrar de novo um Tempo e um Espaço em que de Novo tudo pode acontecer de Novo... 128 Lendas de Beja – o Touro e a Cobra e outras LENDAS... ENCONTRADO, CONTADO ENCANTADO! No meio das desilusões, contradições, condições e falsas ilusões da vida real que é um irreal dolorosamente real para uma grande multidão a quem todos os males acontecem em cadeia... apesar dos esforços... apesar dos desejos... apesar dos trabalhos... apesar da paciência infinita... apesar da esperança... apesar de todas as promessas dos que pretendem que podem prometer... há sempre uma multidão de desprotegidos, dos arredados da sorte que só no sonho encontram hipóteses de felicidade... que subitamente se perde ao acordar... Ora o segredo é este. O encontro com a MAGIA DAS LENDAS é ir ao encontro do sonho, mesmo sem dormir... mesmo sem ter necessidade de acordar... é fabricar o SONHO como um artista produz a sua obra perante a qual se detém embevecido... É VIAJAR PELO MUNDO ENCANTADO DAQUELE VELHO DE CORAÇÃO SIMPLES QUE ERA SEGADOR DE ERVA E VIVIA NUMA CABANA DE BARRO DISTANTE DE QUALQUER CIDADE LÁ NUM PAÍS LONGÍNQUO DOS REINOS DO ORIENTE E CONSEGUIA POUPAR MEIO DINHEIRO POR DIA DOS CINCO MEIOS DINHEIROS QUE GANHAVA VENDENDO A ERVA QUE CORTAVA NA SELVA PARA FORRAGENS DE CAVALOS E AO FIM DE MUITOS MUITOS ANOS CONSEGUIU SER DONO DE UM TESOURO QUE OFERECEU SEM SE DAR A CONHECER À MAIS BELA PRINCESA DA TERRA QUE SURPREENDIDA LHE AGRADECE COM OUTRO TESOURO AINDA MAIS VALIOSO QUE POR SUA VEZ ELE ENVIA AO PRÍNCIPE MAIS BELO E PODEROSO DE QUE OUVIRA FALAR E NUNCA VIRA... E QUE AFINAL SE TRANSFORMA NUM TESOURO 129 José Penedo – um deNómio de José Rabaça Gaspar INCALCULÁVEL CAPAZ DE FAZER ENCONTRAR / ENCANTAR PRÍNCIPES E PRINCESAS QUE CASAM... SÃO MUITO FELIZES... E... NO FIM DE MUITAS MUITAS VIAGENS... VIVEM TODOS... O VELHO SEGADOR DE ERVA DE CORAÇÃO SIMPLES, OS PRÍNCIPES E AS PRINCESAS... NUM PALÁCIO ENCANTADO... COMO É SEMPRE O DA MAGIA DAS LENDAS... E DOS CONTOS DE ENCANTAR. É NO FUNDO O QUE ESTE LIVRO PRETENDE SER. A VOZ E A MÃO MILAGROSA DO GÉNIO DOS TEMPOS QUE, POUSANDO-SE SOBRE A VOSSA CABEÇA, VOS FAÇA DESCOBRIR O VALOR IMENSO DO VOSSO TRABALHO HUMANO E DO AMOR, e cada um possa construir enfim... o SEU PALÁCIO ENCANTADO DE ENCANTAR!!! 130 Lendas de Beja – o Touro e a Cobra e outras LENDAS... ... na impossibilidade de to enviar todo de uma vez, aqui te envio a primeira bolsinha do tesouro acumulado de migalhas guardadas durante anos e anos, pelo velho segador de erva de coração simples que fez felizes reis e princesas... Fico à espera, sem esperança de receber nada de troca, para no final receber tudo duma vez... Mas além das Lendas do TOURO e da COBRA, Beja tem ainda mais LENDAS com Touros e Cobras e outras Cobras e Touros ou Ícones ou Signos carregados de significado e de mistério. Aí a seguir, te envio mais uma arca de tesouros recolhidos por muitos ao longo de muito tempo e espaço que têm feito reflectir os magos da clareira escondida na floresta, contando-os e recontando-os nas suas assembleias, cheios de prazer, de prazer e de apreensões! Qual será, no fundo, o significado destes contos que contam encantados contas que muitas vezes nos escapam? 131 José Penedo – um deNómio de José Rabaça Gaspar 132 Lendas de Beja – o Touro e a Cobra e outras LENDAS... LENDAS DE BEJA o Touro e a Cobra e outras lendas... VIAGENS do Cigano Castanho e da Cigana Mariana através do MARAVILHOSO por José Penedo um deNómio de José Rabaça Gaspar 133 José Penedo – um deNómio de José Rabaça Gaspar img016 – a/s fonte/s… 134 Lendas de Beja – o Touro e a Cobra e outras LENDAS... 2ª PARTE A/S LENDA/S DA FONTE MOURO Mas além das Lendas do TOURO e da COBRA, Beja tem ainda mais LENDAS com Touros e Cobras e outras Cobras e Touros ou Ícones ou Signos carregados de significado e de mistério. Aí a seguir, te envio mais uma arca de tesouros recolhidos por muitos ao longo de muito tempo e espaço que têm feito reflectir os magos da clareira escondida na floresta, contando-os e recontando-os nas suas assembleias, cheios de prazer, de prazer e de apreensões! Qual será, no fundo, o significado destes contos que contam encantados contas que muitas vezes nos escapam? 135 José Penedo – um deNómio de José Rabaça Gaspar 136 Lendas de Beja – o Touro e a Cobra e outras LENDAS... 2 - A/S LENDA/S DA FONTE MOURO 2.01 - A LENDA DA FONTE MOURO (prosa, rescrita) 2.02 - A LENDA DA FONTE MOURO (Décimas de um anónimo) recolha de Manuel Joaquim Delgado in"Etnografia e Folclore no Baixo Alentejo" p. 230/231 2.03 - A LENDA DA FONTE MOURO (rescrita por Fernanda Frazão) in ―Lendas Portuguesas”, 5º vol. p. 85 2.04 - LENDA DE BEJA - A FONTE DA MOURA, por Edmundo Belfonte, 1º in ―A Folha de Beja‖, 10/01/1901 2º, in ―Jornal de Beja‖, em 17, 20 e 25 de Junho de 1986 por intermédio do senhor Barbosa Bentes. 137 José Penedo – um deNómio de José Rabaça Gaspar 138 Lendas de Beja – o Touro e a Cobra e outras LENDAS... 0.2.0 - Ligação entre as LENDAS… Mas por onde andará a COBRA encantada da lenda contada do TOURO e da COBRA? Onde se esconde ela? Mudou-se em estrela? Ou, andará encantada, algures escondida, pelos campos perdida, esperando o desENCANTO? Dizem... as pessoas que sabem: “... que há quem tenha visto, em noites de luar, a enorme serpente ir junto da fonte beber nela as longas saudades de Aldonça...” Dizem outros, que junto do MONTE DA COBRA, um dia se defrontou ela com um TOURO BRAVO... Que SERPENTE ENORME é essa? Que TOURO BRAVO se atreveu ela a defrontar? Onde é o MONTE DA COBRA? Onde é a FONTE MOURO? Quem é Aldonça, aquela que se transformou em fonte, e Atanásio, o que se transformou em cobra, na Lenda da Fonte Mouro? Dizem que a MOURA encantada pode lá aparecer sob a forma de bela mulher de longos cabelos doirados fiando em fuso de oiro fios de luar... 139 José Penedo – um deNómio de José Rabaça Gaspar ... e que a COBRA pode ser vista, nas redondezas, em noites de lua cheia... ... Desde a noite mágica dançada no largo da feira, os nossos ciganos andaram e cirandaram pelas ruas de Beja, por largos e praças, por campos e montes... Não lhe permitiam parar muito no mesmo local... Ditos de pilhagens e ciganagens, que muitos aproveitavam para fazer, caíam-lhe em cima… e eles lá seguiam pelos caminhos das Terras de Santa Maria e Todo o Mundo a querer dizer que Todo o Mundo é seu e nunca estão no seu Mundo e acolheram-se nas sombras da saída da cidade lá para os lados das ruínas do Carmo Velho depois de passarem a encruzilhada de S. Pedro... onde havia uma FONTE de água fresca e abundante a correr generosamente pelo valado... FONTE MOURO, FONTE MOURO O QUE TEM A TUA ÁGUA? DIZEM P'RAÍ FONTE MOURO QUE ESCONDE UMA GRANDE MÁGOA ESCONDE UMA GRANDE MÁGOA DUM AMOR QUE FOI PROIBIDO: QUEM ME DERA DESSA ÁGUA! QUEM MO DERA TER VIVIDO! 140 Lendas de Beja – o Touro e a Cobra e outras LENDAS... SE POR MIM FOSSE VIVIDA, UMA PAIXÃO, ASSIM!?, TÃO VIVA TAMBÉM ME MUDAVA EM BICA QUE CORRESSE TODA A VIDA! OU ENTÃO MUDAVA EM COBRA P‘RA BEBER EM FONTE VIVA QUE CORRESSE A TODA A HORA PARA ASSIM VALER A VIDA! Estavam, sem o saber, ao pé da FONTE MOURO, que muitas lendas, tinha, para contar... Mas eles que de noite ouviram ou viram ruídos de luta, movimentos difusos de alguém que rasteja, de algo que se agita... murmúrios da água que corre, que corre e que canta, que geme de prazer de ser bebida, encantada por sentir que mata a sede, uma sede profunda que não morre, insaciável, insaciada... ruídos confusos que no meio do pesadelo dos sonhos são de luta de morte... mas duma morte que não mata mas cria... que grita... ...ao romper da manhã, encantados e despertos, vão ver que, durante a noite, ouviram ou viram os sonhos e os cantos e os contos que contam e cantam encantos... de cobras e de touros... de cristãos e de mouros... de gentes e bichos que povoaram esta terra... de tesouros escondidos envoltos em mistérios... Foram perguntar pelos montes perdidos por ali escondidos... ...Nós sempre temos ouvisto que isto aqui se chama o MONTE DA FONTE DA COBRA e isto aqui já era do meu avô e sempre aqui tenho vivido... mas aqui só temos água daquele poço que o meu avô abriu. A FONTE MOURO é além do outro lado da estrada seguindo pela 141 José Penedo – um deNómio de José Rabaça Gaspar azinhaga e fica mesmo ao pé do MONTE DA SERRA, e aqui deste lado, logo a seguir, é o MONTE DA COBRA, mas nós não sabemos donde vêm estes nomes, nem quem lhos pôs, não senhor... isto contou o simpático casal de velhotes que habita o Monte da Fonte da Cobra ...e ainda o ano passado arrancaram as laranjeiras que iam da fonte (a Fonte Mouro) até ao monte que lhe fica por cima e está em ruínas!, que aquilo é mesmo um desmazelo... e nem sei bem a quem é que aquilo agora pertence, porque parece que andam lá demandas com os herdeiros que eram uns Vilhenas... E foi assim que os nossos ciganos ficaram a saber alguma coisa, do muito que ali há para e n c a n t a r… ...mas as lendas contam-se ou cantam-se! e as LENDAS contam ou cantam... que... 142 Lendas de Beja – o Touro e a Cobra e outras LENDAS... 2 - DUAS LENDAS DA FONTE MOURO 01 - A LENDA DA FONTE MOURO (prosa) 02 - A LENDA DA FONTE MOURO (Décimas de um anónimo) recolha de Manuel Joaquim Delgado in "Etnografia e Folclore no Baixo Alentejo" p. 230/231 143 José Penedo – um deNómio de José Rabaça Gaspar 144 Lendas de Beja – o Touro e a Cobra e outras LENDAS... 2.01 A LENDA DA FONTE MOURO 2.01 - A LENDA DA FONTE MOURO (prosa) recolha de Manuel Joaquim Delgado in "Etnografia e Folclore no Baixo Alentejo" p. 230/231 A Nordeste da cidade de Beja, a pouco mais de meia hora de caminho, a pé, ainda hoje há uma horta cuja fonte de boa água fresca corre de noite e de dia para um barranco. Chama-se da FONTE MOURO e junto dela passa um caminho vicinal. Diz-se que a dita horta fora outrora de abastado mouro de nome Albutassén, que havia de sua esposa Judith uma formosa e gentil filha chamada Aldonça. Pouco temente a Allah, Albutassén era rico mas muito avarento e mau. Porém, sua filha Aldonça, a antítese do pai, era bondosa, desprezava as riquezas e muito crente em Allah. Em idade de noivar e com tendências afectuosas, ela vivia recolhida em casa entregue a trabalhos domésticos e outras ocupações próprias da sua condição de jovem moira. Raro consentia seu pai que Aldonça se afastasse de casa a ir a alguma festa ou a assistir nalguma mesquita aos sagrados ritos e devoções em honra de Allah. Em todo este termo corria fama de seus excelentes dotes físicos e morais, o que mais atraía as atenções e curiosidades dos jovens cavaleiros que tinham a dita de contemplar tão excelsa como encantadora e formosa moira. Dada ao afecto amoroso, a bela Aldonça votava particular atenção a um jovem cristão de nome Atanásio que, embora pobre e de crença diferente da sua, possuía, contudo, excelentes dotes morais e de 145 José Penedo – um deNómio de José Rabaça Gaspar carácter que faziam inveja a seus companheiros, alguns nobres e ricos cavaleiros. Sabendo das tendências amorosas da filha, Albutassén mais ainda a contrariava e, raro, consentia que ela saísse da horta onde vivia, triste e contrafeita, entregue às suas chorosas penas. Um dia pensou o jovem moço Atanásio raptar a mulher de seus sonhos e encantos mais caros, visto de outro modo ser-lhe impossível possuir aquela que tanto amava. E, numa noite clara de Agosto, em que a lua estendia sobre a terra seu manto de luz, o moço cavaleiro, montado em seu ginete fogoso, dirige-se à horta onde já o esperava, impaciente e nervosa, a formosa Aldonça. Os olhos dela eram as noites negras estreladas, e o seu cabelo em ondas como as do mar, tinham a cor do azeviche. Ao ver o seu bem amado, trasbordante de alegria, mas nervosa, a jovem moira ajoelha, volve ao céu o doce olhar e, numa prece fervorosa e breve, pede a Allah misericórdia e perdão do seu plano de fuga. Passaram-se alguns segundos. Junto de si chegou o moço cristão que a arrebatou e, sentando-a na sela, à sua frente, corre veloz no fogoso ginete. Allah, que sabe dos desígnios dos homens, não podia consentir na fusão de duas crenças diferentes. Não favoreceu, por isso, ao cristão a sua amorosa aventura e nem à jovem amada a felicidade que tanto desejava. Então, com o seu poder divino, fez que o cristão se mudasse em serpente, e ela, Aldonça, se transformasse numa fonte de água cristalina. 146 Lendas de Beja – o Touro e a Cobra e outras LENDAS... img017 – a fonte e a cobra… ―...há, quem tenha visto, em noites de luar, a enorme serpente ir, junto da fonte, beber nela, as longas saudades de Aldonça...‖ p. 139 147 José Penedo – um deNómio de José Rabaça Gaspar 148 Lendas de Beja – o Touro e a Cobra e outras LENDAS... É assim que o incansável e persistente professor Manuel Joaquim Delgado nos conta a Lenda da FONTE MOURO, num livro que intitulou "A Etnografia e o Folclore no Baixo Alentejo‖ e assim a registou para a posteridade nas páginas duzentas e trinta e duzentas e trinta e uma... ... lendas de moiros e cristãos que não podiam casar porque o grande Allah não podia consentir na fusão de duas crenças diferentes!!! fizeram brilhar na noite os olhos dos ciganos... ele o Cigano Castanho a ver-se transformado em enorme serpente que ardente de sede buscava nas sombras do barranco a água fresca e cristalina que para lá corre de noite e de dia incessantemente para o saciar... em que se tinha transformado a bela cigana Mariana... Mas não, não era verdade. Eles eram da mesma crença e da mesma raça e isto eram sonhos de encantar que lhes povoavam os sonos encantados que dormiam enlaçados, misturados, embevecidos numa felicidade que os fazia livres... e membros de uma religião universal que estava acima e para além destes ciúmes e desavenças de deuses antropomorfizados à medida dos preconceitos das multidões que os concebem... ... mas havia ainda um velho ca(o)ntador, sentado ao luar, aquele luar luminoso das noites de Agosto que não deixa dormir de fresco que traz nas suas asas, a deixar adivinhar a brasa do dia que ameaça derreter estas terras do aquém Tejo..., sentado à porta do monte, o velho co(a)ntador, deixava correr, em versos de décimas, a lenda já velha, que lhe tinham contado dos lendários senhores que tinham vivido no Monte da Cobra, agora o ―seu‖ monte, que não era seu!, e eram moiros e moiras que tinham plantado aquele laranjal que enchia ali o ar de perfumes esquisitos inebriantes de mistura com o feitiço da lua que brilhava lá no céu... 149 José Penedo – um deNómio de José Rabaça Gaspar Aquela mangana! a rir-se dos homens atarefados que só olham pró chão!!!. Mas o ca/ontador, com a sua viola de cordas de arame, cantava na aragem o canto da água que corria da Fonte do Mouro chamada, e... encantado como que em transe, exorcizando os sortilégios circundantes, cantava baixinho versos de redondilhas ondulantes que cavalgavam no dorso do vento como melodia de encantar:... 150 Lendas de Beja – o Touro e a Cobra e outras LENDAS... 2.02 A LENDA DA FONTE MOURO 2.02 - A LENDA DA FONTE MOURO – (Décimas de um anónimo) recolha de Manuel Joaquim Delgado in "Etnografia e Folclore no Baixo Alentejo" p. 230/231 Na região transtagana, Perto da velha cidade De Pax-Julia romana Já muito velha de idade, Inda hoje há uma fonte D'água pura, cristalina, Que nasce num baixo monte, Nas faldas duma colina; muito fresca e afamada, A FONTE MOURO é chamada. É tradição, diz a lenda, Que a horta em que a fonte está Fora de um servo de Allah Que habitara esta vivenda. Era orgulhoso, abastado, Judith o nome da esposa, Ele Albutassén chamado, A filha Aldonça formosa. 151 José Penedo – um deNómio de José Rabaça Gaspar Mais linda que a luz do dia, Outra assim não haveria. Em Deus Allah pouco crente Esse rico Albutassén Era mau pra toda a gente E avaro como ninguém. Aldonça, porém, bondosa, Mui afeita à piedade, Era em Allah temerosa, Dezoito Abris sua idade, Durante os quais recolhida Em casa, fazia vida. Raro, seu pai consentia Que ela daí se afastasse, E da horta não saía, Inda assim não demorasse... Corria na redondeza Fama de dons excelentes. 0s seus dotes de beleza Eram sabidos das gentes; De Aldonça, a seus caros afectos Se opõe o pai nos projectos. Particular afeição A jovem moira votava, Não a moiro, mas a cristão; Sabendo-o, quem duvidava? Era pobre a condição Do amado cavaleiro, Nos dons morais o primeiro 152 Lendas de Beja – o Touro e a Cobra e outras LENDAS... Lá da sua freguesia. Atanásio se chamava E todo o mundo o sabia. Pensou o moço rapaz Arrebatar a donzela A dona dos seus amores, E viver entre as flores Aonde quer que lhe apraz. Monta o ginete fogoso Numa noite de luar Do mês de Agosto calmoso, A correr a vai buscar; À sua espera já estava Aldonça que suspirava... Chegado à horta o cristão O precioso tesoiro, A quem tem tanta afeição, Quer levar para longe do moiro. À sua frente, na sela, Sentada, a jovem formosa, Vai segura, mas medrosa, Na boa esperança vai ela... Numa corrida seguia O ginete a toda a brida. Pelos desígnios sabidos Só de Allah que tudo manda, Dos homens desconhecidos, Torna o mal, o bem desanda. Allah consentir não pode 153 José Penedo – um deNómio de José Rabaça Gaspar Na fusão de duas crenças Diferentes, e logo acode A puni-los com sentenças, Transformando-os, de repente, Ela em fonte, ele, em serpente. Num fado eterno e fatal Dum amor contrariado, Até ao Juízo Final 'Stá a moira e seu amado. Mas que sons são estes? Quem canta ao luar? Quem teima em cantar as lendas contadas que são de encantar com a lua a brilhar?!!! Autor desconhecido! Incógnito! Paternidade incognoscível! Anónimo! Valores da cultura tradicional que, constatam os senhores da cultura!, nascem da terra como a água das fontes sem ninguém os criar! Sem direitos de autor!!! Isto cismavam os jovens ciganos, ela a Mariana e ele o Castanho, cada um para si a pensar, sem nada mostrar das dúvidas e segredos secretos que julgavam sonhar e só para si guardar!!! Havia ainda porém, mais histórias para contar... ... as histórias da FONTE MOURO ainda não tinham acabado, porque uma dona do tempo sem tempo nascida nos anos cinquenta e que só tinha sete anos quando a televisão nasceu e podia ameaçar vir roubar-lhe os tesouros sonhados escondidos em castelos semiderruídos onde viveram reis e rainhas príncipes e princesas..., tesouros bebidos da fonte que jorrava inesgotável dos avós e dos velhos lá da aldeia!... essa dona, de nome Fernanda Frazão que, 154 Lendas de Beja – o Touro e a Cobra e outras LENDAS... como ela diz continuou a ter “à sua disposição todos os velhos e velhas do mundo, e os menos velhos também, para lhe encantarem os dias com tudo quanto é lenda e conto e história e maravilha.”...esta dona de tempos antigos, através dos ―Amigos do Livro‖ editores pôs à nossa disposição seis belos volumes com as ―LENDAS PORTUGUESAS‖ para que, perante o perigo da aculturação progressiva que os novos meios de comunicação permitem, os povos, cada povo não perca o enraizamento dos seus valores culturais, o que seria um empobrecimento drástico para eles e para a humanidade. ... e foi assim, que naquela noite de brilhante e mágico luar de Agosto, o Cigano Castanho e a Cigana Mariana viram aparecer, recortada na luminosidade feérica daquela noite, a figura meio indefinida, mas real e sedutora de uma jovem avó, de nome Maria Fernanda, que eles não conheciam, a contar para encantar, a mesma história que talvez tenha lido ou ouvido ao velho professor Manuel Joaquim que por sua vez a ouvira cantar aos velhos cantadores e contadores de histórias aqui do Alentejo... e conta-a assim, da página oitenta e cinco a oitenta oito do quinto volume das Lendas Portuguesas:... 155 José Penedo – um deNómio de José Rabaça Gaspar 156 Lendas de Beja – o Touro e a Cobra e outras LENDAS... 2.03 LENDA DA FONTE MOURO 2.03 - A LENDA DA FONTE MOURO (reescrita por Fernanda Frazão) in ―Lendas Portuguesas”, 5º vol. p. 85 A nordeste de Beja, a pouco mais de meia hora de caminho da cidade, existe, ainda hoje, uma horta com uma fonte de água muito fresca correndo para um barranco. Já no tempo dos mouros ali existia a horta, mas incorporada na propriedade de Albutassén, o mouro mais rico da região. Ao lado da horta havia uma bela casa, grande e branca, de um só andar e parecida a uma prisão. De facto, era rodeada de um muro alto que tapava a habitação dos olhos curiosos. As poucas pessoas que tinham entrada na casa de Albutassén diziam que, para lá do portão de ferro que dava acesso à propriedade, havia um pátio sombreado de árvores de fruto. Ao penetrar na casa do mouro ficava-se imediatamente maravilhado com a enorme entrada, de chão de mármore branco e negro, e uma fontezinha em forma de taça donde brotava naturalmente, no Inverno, água quente e, no Verão, água fresca. O escoamento desta corrente fazia-se por um pequeno canal descoberto que levava directamente a um enorme tanque que ficava no jardim da parte detrás da casa. De cada lado desta imponente e fresca entrada ficavam os aposentos da família de Albutassén, que à boa maneira árabe tinha dentro de casa um nunca acabar de gente, desde irmãos e cunhados, a filhos e até primos. As mulheres da família, conforme mandava a Lei e o costume, em presença masculina mantinham a face tapada e só saíam de casa no momento do casamento. A este acto eram 157 José Penedo – um deNómio de José Rabaça Gaspar totalmente alheias, pois que o enlace era negociado entre o pretendente e o chefe da família, neste caso Albutassén. Assim estava destinado acontecer a Aldonça, a única filha do mouro. Este, porém, muito cioso dela, como de tudo o resto que era propriedade sua, não mostrava pressa em tratar do casamento da filha. Preferia mantê-la consigo todo o tempo que lhe fosse possível, tanto mais que, rico como ele era, nunca lhe faltaria pretendente. De facto, muitos homens pretendiam aceder a Aldonça, que não conheciam, mas sabiam ser bonita, bondosa e muito crente de Alá, bem ao contrário de Albutassén. Mas Aldonça parecia não sair nunca, nem sequer para ir à mesquita rezar a Alá. Sua vida passava-a no remansoso jardim da casa do pai, entretendo os dias à sombra das laranjeiras, jogando xadrez, cantando ou ouvindo as velhas escravas contarem histórias, infindavelmente. Apesar de tudo isto, de toda esta prisão dourada, Albutassén descobriu que Aldonça estava tristemente apaixonada. 0 mouro não atinava como tal era possível no recato daquela casa. E o pior de tudo descobriu-o depois a paixão de Aldonça era nada menos que um cristão, Atanásio, chegado à região vindo sabe-se lá de onde! Redobrou Albutassén a vigilância. Ameaçou de morte os escravos que propiciassem os encontros, mas nunca descobriu de que modo se encontrava Aldonça com Atanásio. No terror em que vivia de seu pai, a rapariga começou a perder cores e apetite, a entristecer cada vez mais. Atanásio todos os dias a via mais pálida e tristonha, mas não conseguia resolver o caso. Depois de muito ponderar, decidiu acabar com aquela agonia mútua o mais depressa possível, e a única solução viável, ainda que perigosa, pareceu-lhe ser o rapto. Falou com Aldonça, que concordou com a solução, e combinaram a oportunidade. 158 Lendas de Beja – o Touro e a Cobra e outras LENDAS... Assim, numa noite de Agosto, em que o luar inundava a perder de vista a planície alentejana, Atanásio chegou ao portal da horta onde já Aldonça o esperava, acocorada junto a um muro para se esconder na sombra. Ao ver chegar o amante encheu-se-lhe o coração de alegria e de gratidão por Alá. Ergueu os olhos ao céu numa muda oração de agradecimento pelo paraíso que antevia abrir-se-lhe e, nesse momento exacto, um estranho caso aconteceu: Aldonça transformou-se em fonte, Atanásio transmudou-se em serpente. Conta a lenda que a Alá não prazia esta união de diferentes religiões e, por isso, encantou para todo o sempre aquele par de namorados. Dizem as gentes da terra que em noites de luar, especialmente em Agosto, se vê muitas vezes a cobra bebendo naquela fonte as longas saudades de Aldonça. 159 José Penedo – um deNómio de José Rabaça Gaspar ... ao ouvirem isto, o par de ciganos estreitaram-se mais ternamente no abraço em que estavam enlaçados e saciaram longamente as saudades e os medos que os perturbavam quase não acreditando na felicidade que lhes era concedida ao abrigo das leis e costumes e talvez dos interesses escondidos das religiões e dos senhores que mandavam na sociedade que eles se atreviam a invadir e a perturbar, correndo sempre de lado para lado na sua carroça que os levava de terra em terra de feira em feira de festa em festa percorrendo incansavelmente o imenso Alentejo sempre misterioso e sedutor, com mil segredos e tesouros para encontrar e contar, e de encantar... Ainda inconscientes semi-adormecidos na ânsia de matar a sede insaciável, eis que mais um cantador vinha da profundidade dos tempos, cantar com as suas oitavas de decassílabos quase épicos: a LENDA DE BEJA - a fonte da moura... O certo é que aos dezassete do mês de Novembro do ano de mil e novecentos, quando o século vinte estava mesmo no alvorecer, conta-se que o poeta Edmundo Belfonte concebeu os seus versos heróicos de oitavas, com musicalidade, ritmo e rima de ―Os Lusíadas‖, tentando cantar, com a ―FONTE MOURA‖, a epopeia da cidade de Beja e da Planície sem limites para o Sul... Apareceu publicada pela primeira vez no jornal ―A FOLHA DE BEJA‖ N° 419, Ano IX, de 10 de Janeiro de 1901, que tinha como editor João Valente Beck, mas tinha tido como Director Político, José Mendes Lima e foi um jornal que sobreviveu até 1919 sob a orientação de Marques Mendes. Foi no ―Jornal de Beja‖ de 17, 20 e 25 de Junho de 1986 que foi dada de novo a conhecer aos seus leitores, pela mão, julgamos nós, do amante enternecido pelas coisas da sua terra, o senhor Barbosa 160 Lendas de Beja – o Touro e a Cobra e outras LENDAS... Bentes, neto do último director daquele jornal e mais conhecido por ―o Cheira Pedras‖ pelo ardor e pelo empenho que sempre pôs em procurar conhecer e dar a conhecer todos os sinais que podem ajudar a ler a história e as raízes deste povo... Mas, ciganos que somos, sempre a deambular, e assim que vamos encontrar o par amoroso o Cigano Castanho e a Cigana Mariana, sentados ao fresco da fonte, depois de saciados, ouvindo o poeta de novecentos... 161 José Penedo – um deNómio de José Rabaça Gaspar 162 Lendas de Beja – o Touro e a Cobra e outras LENDAS... LENDA DE BEJA – A FONTE DA MOURA 2.04 - LENDA DE BEJA – A FONTE DA MOURA, por Edmundo Belfonte, 1º in ―A Folha de Beja‖, 10/01/1901 2º, in ―Jornal de Beja‖, em 17, 20 e 25 de Junho de 1986 por intermédio do senhor Barbosa Bentes. Subindo à velha torre do castelo Erguida ao noroeste da cidade Desfruta o visitante um quadro belo Se do ano correr a mocidade, Verá da mãe Natureza o gran desvelo, Vestindo de verdura a imensidade Das campinas, e, orlado a mal-me-queres, As messes bastas da cuidosa Ceres. Ao leve e fresco arfar da viração, Que corre pelo prado a suspirar, Exercendo sobre nós fascinação, Parece o campo, movediço mar. Enchendo-nos de gozo o coração, O doce panorama faz sonhar Co‟um ser celestial, casto e gentil, Poder divino do ridente Abril. Planície sem limites para o Sul, Desdobra-se formosa, viridente, Por sob a vastidão da cúpula azul D'um belo e puro céu, sempre fulgente. Por entre o flóreo manto de taful E gracil Primavera permanente, 163 José Penedo – um deNómio de José Rabaça Gaspar A música das aves, e defronte, Em linha sinuosa, o horizonte. Olhando agora desde o norte a leste, Um campo acidentado se descobre (Serra do Mendro) Vestindo um manto muito mais agreste; Porém a flora tem par'cer mais nobre. O flóreo manto, que neste campo veste Segredos da Natura mãe encobre; São ledas aves descantando amores, São frescas fontes e mimosas flores. Desçamos à planura a ver agora Um tanto mais perto a Natureza, Após um pouco do nascer da Aurora, Saindo aos prados da gentil beleza. Primeiro comecemos pela flora Do Norte a Leste, que dará surpresa Num célico conjunto d'harmonia, Enchendo o peito d'alegria. Aqui cristais destila a Fonte Santa, (Água medicinal) Oculta estando junto à férrea via; Um tanto mais abaixo alegre canta Gentil donzela, que ao amor envia Queixumes ternos com que o moço encanta, Qu‟aos doces cantes com prazer se alia. Num tanque mais a leste há lavadeiras (Pelame) Lavando sob o olor das laranjeiras. Além no cimo da vertente o Santo, Que às almas justas dá no céu entrada, 164 Lendas de Beja – o Touro e a Cobra e outras LENDAS... Olha as campinas de florente manto E escuta atento pastoril balada. Ao lado a Borja, com pomar d'encanto (Horta do Borges) Sentada à beira de escabrosa estrada E além d'um ribeirinho com decência (Barranco do Rabelo) A quinta apelidada Consciência. Mais longe, no planalto d'um outeiro, Contempla as graças do surgir do Sol A Senhora das Neves que primeiro Descobre a luz purpúrea do arrebol. E neste campo florestal inteiro Hinos d'amor repica o rouxinol, Enchendo os peitos d'eternal magia, Quer seja noite ou brilhe o claro dia. Voltemos para o Norte. O Carmo Velho Ou antes as históricas ruínas, Convento onde do célico Evangelho O povo ouviu as práticas divinas, Onde a caridade, o são conselho Aos homens ensinou Santas doutrinas, Com suas largas derrocadas portas Domina pequeninas, várias hortas. Detrás, a curtíssima distância, Envolta em flores que a luz bela doura Num paraíso d'ideal fragrância Oculta-se a gentil FONTE DA MOURA, (falham 2 v. já na 1ª ed.) Onde dizem, divinal princesa 165 José Penedo – um deNómio de José Rabaça Gaspar Mourisca, foi esconder sua beleza. Versão lendária, mas que prende e agrada Contava-me em pequeno minha avó: Meu filho; nesta fonte transformada Em cobra, uma princesa sobre o pó Se arrasta, começava, que encantada Há muito tempo está. Isto é um dó. Já muita gente viu a pobre cobra, Que, súbito fugindo se desdobra. Malvada gente que no mal só pensa, A cobra procurando em seus retiros, As armas vis lh'aponta, sem detença, Mandando à triste venenosos tiros! Mas ela estando a fado estranho apensa Sem dano se retira, entre suspiros, Sumindo-se instantânea, prontamente Aos olhos desta tão malvada gente. Um dia uma formosa rapariga Vivendo com seus pais n'um pobre monte, Que perto ali ficava, e era amiga D'a horas altas ir beber à fonte, Fiando o fuso setinosa estriga, Angélica deidade viu de fronte Da ubérrima, cristalina origem Que fora do Empyrio etérea virgem. A tímida donzela receosa Passando perto as boas noites deu, Notando que a deidade suspeitosa, 166 Lendas de Beja – o Touro e a Cobra e outras LENDAS... Que súbito a tal hora lh'apareceu, Tinha na frente, linda e cobiçosa Uma condeça, que hábil mão teceu, Contendo largas e mimosas passas, D‟aquelas que em tal tempo eram escassas. A estranha criatura respondendo, Ao cumprimento da gentil donzela, Lhe disse, seu trabalho suspendendo: “Feliz te faça Deus, criança bela. Não queres passas, filha? Tira, querendo." A jovem se aproxima com cautela, Tirando quatro passas a tremer “Não tiras mais? Pesar haveis de ter..." Agradecendo se retira a jovem De susto e medo muito atormentada; Em breve, cantos d'alma que comovem Ouviu, apenas alcançou a estrada, São cantos que apesar do medo, a move Para ouvi-los, fazer ali parada; Julgou ouvir voz dum Serafim, Que tristes mágoas declinou assim: Oh Silvanea, oh Silvanea Oh Silvanea desgraçada! Há-de vir o fim do mundo E Silvanea aqui postada! Pobre flor da Murinea N'este vale abandonada Por um Pai que te adorava 167 José Penedo – um deNómio de José Rabaça Gaspar Oh Silvanea desgraçada! Sempre entregue a negro olvido, Em cobra vil transformada Chegarás ao fim do mundo Oh Silvanea desgraçada! Nem no inferno profundo Tu terás, Silvanea entrada, Pois que a lei dos teus deixaste Oh Silvanea desgraçada! Por seres do jovem Cristão Terna flor idolatrada Te votou a eterna dor Oh Silvanea desgraçada! Mal dizendo o teu amor Te deixou escravizada Dum poder desconhecido Oh Silvanea desgraçada! Verás bela a flor na haste, Pouco depois desfolhada, Isto por anos sem conto Oh Silvanea desgraçada! Teu sofrer não tem desconto Tuas mágoas não são nada Para a demência paterna Oh Silvanea desgraçada! 168 Lendas de Beja – o Touro e a Cobra e outras LENDAS... Fica entregue à dor eterna, Com teu pranto malfadado, Alimentando esta fonte, Oh Silvanea desgraçada! Cessou da moura o cântico sentido Sucedendo-lhe então fremente pranto Profundos ais de queixas mil seguido Que os ecos da campina acorda em espanto! Dizia minha avó, que após o encanto, Cessou da moura o cântico sentido Sucedendo-lhe então fremente pranto Profundos ais de queixas mil seguido Que os ecos da campina acorda em espanto! Dizia minha avó, que após o encanto, Muitos séculos tinham decorrido, E que esta moura só se põe vista Na festejada noite do Baptista. Opresso o peito, alucinada a mente E as pernas mal sustendo o débil busto, A casa corre atarantadamente Mordida a moça por crescente susto, Entrando em casa cai redondamente... Mas corre a socorrê-la irmão robusto, Que o pulso possuía duro e forte, Esbelto o talhe e donairoso o porte. 169 José Penedo – um deNómio de José Rabaça Gaspar Voltando à natural serenidade, Narrou a jovem, detalhadamente O caso estranho, baixo, à puridade, Temendo ouvi-la qualquer outra gente. A dar prova de cabal verdade, Notou que as passas milagrosamente Se tinham transformado em peças d‟ouro Brilhando como um fúlgido tesouro! Beja, 17.11.1900 Edmundo Belfonte (in "A Folha de Beja", 10 de Janeiro de 1901) 170 Lendas de Beja – o Touro e a Cobra e outras LENDAS... img018 – a moura encantada em fonte e a tímida donzela A tímida donzela receosa Passando perto as boas noites deu,...p. 166 171 José Penedo – um deNómio de José Rabaça Gaspar 172 Lendas de Beja – o Touro e a Cobra e outras LENDAS... Sentados ali à beira da fonte que sai duma mina e corre para um barranco que atravessa uma azinhaga, foi assim que a Cigana Mariana e Cigano Castanho ouviram o épico arrojado cantar as lendas que a avó misturava da bela moura Aldonça que passa a Silvanea desgraçada e aparece a uma formosa rapariga, amiga de a altas horas ir beber à Fonte e fica com quatro passas transformadas em ouro, fúlgido tesouro, que fica a testemunhar a verdade de toda esta fantasia...!!! Era a avó que misturava as lendas? De Aldonça e Alfátima lá nos Hermíneos tão perto e tão distantes, se contam lendas semelhantes, como a da Moura Encantada do caminho de Mértola...!!! Era a avó ou vate que sonhava e de tanto sonhar as misturava?!!! Ali postados, deslumbrados, os ciganos nada puderam confirmar. Era no luar de Agosto. Não tiveram pois oportunidade de ver a aparição da cobra aparecer na meia-noite do dia de São João! Num outro ano havemos de cá vir, sem ninguém nos ver, na noite de 23 para 24 de Junho... Prometeram! 173 José Penedo – um deNómio de José Rabaça Gaspar 174 Lendas de Beja – o Touro e a Cobra e outras LENDAS... 0.2.1 - ENCONTRO DOS MAGOS NA FONTE DAS CAVADAS Mas os ciganos, mesmo apaixonados como o par jovem que nos leva a correr pelo Mundo da Fantasia e do Maravilhoso, não vivem só da água das fontes... deram conta que precisavam de comer, e como eles, também os animais que puxavam as carroças e os acompanhavam nas suas andanças... Correram os montes por palha mas o ano não tinha sido lá muito bom... A primavera não tinha sido luminosa como os mais anos... e umas chuvadas já no mês de Junho tinham derrubado as searas e atrasaram as ceifas que só podiam ser magras, e o mais do grão a rebentar com a humidade e o calor, e a palha estava a apodrecer... ... Só lá p‘rás herdades fartas é que se pode esgravatar alguma coisa do que sobra aos que têm a mais... sentenciou o velho cigano sentado nas pernas dobradas como os budas do oriente e enrolando o tabaco na mortalha que não dispensava... É abalarem lá para as bandas da Almocreva que dali nunca arredou pobre de pedir sem ser aviado!... ... A palavra do velho é Lei e ainda por cima ele sabe o que diz sem dali arredar pé... e o mais, nós não temos mais aqui o que procurar... Vamos assim ver os ciganos abalar azinhagas fora ao redor dos montes que ladeiam o Carmo Velho, meter à circular e seguir os caminhos do Monte da Almocreva onde as sobras dos imensos telheiros que abrigavam os fardos davam para fartar e ainda sobrava... 175 José Penedo – um deNómio de José Rabaça Gaspar Satisfeitos e servidos, vamos encontrar o par de ciganos acampados junto à FONTE DAS CAVADAS que ao outro dia logo chegarão os outros com a erva e a palha que arranjaram pelo caminho... E a noite é toda nossa, gemeu a cigana Mariana ao ouvido do Cigano Castanho! E era. Mas não era. Depois de matarem a sede na água fresca e abundante que ali corre e sempre correu por duas bicas de água sempre abundante duma grossura maior que os pulsos fortes dum homem do campo cavador de enxada e corre farta e livre tanto de verão como de Inverno e que de verão ainda é mais fresca que de Inverno... os nossos ciganos recolheram para passarem a noite no seu palácio encantado que era em cima da palha por baixo da carroça... Ele não há fonte como a das Cavadas!... Só nos anos da seca é que a cortaram uns tempos para reforçar o abastecimento da água à cidade mas quando veio a água do Roxo amanharam-na outra vez como houvera de ser e ali corre ela generosa e perdulária a perder-se pela valeira que ia encher o lavadouro e regar as hortas da quinta da Faleira que faziam a abastança de tudo o que era verde no mercado de Beja... isto nos anos em que aquilo tudo ali eram hortas... Agora!!! perde-se por aí que é uma dor de alma... Uma água como não há outra! ...que é muito melhor do que essa que vendem pr'aí em garrafões... uma água que até é boa prós doentes e prós bebés... É ver a quantidade de gente que, ainda agora, que já há água canalizada nas casas do Penedro, vem aí com as bilhas metidas nas rodelas dos carrinhos de mão que durante anos e anos foram a canalização das casas deste povo todo... e os que já não têm esses carrinhos, vêm com garrafões e depósitos, e vem gente da cidade e doutros lados até de carro para beberem desta água que não há 176 Lendas de Beja – o Touro e a Cobra e outras LENDAS... outra igual... Mal há-de ser se vão ter de a cortar outra vez para a misturarem com a outra água que vai para os depósitos e depois é tratada e distribuída pelas casas... Mal há-de ser se nos tiram tudo o que é são e autêntico como esta água que sai pura e verdadeira do ventre da terra... É que aquela noite era noite de luar e os nossos ciganos custavam a adormecer. E como lhes custava a adormecer no meio do seu enleio ouviram vozes que vinham lá dos lados da fonte e pareciam ser de muita gente reunida... Aguçados pela curiosidade rastejaram do seu esconderijo ali escondido a céu aberto e puseram-se a espreitar... O que haviam de ver? Naquela noite os MAGOS DA CLAREIRA ESCONDIDA NA FLORESTA tinham precisamente escolhido a FONTE DAS CAVADAS para a sua reunião de sábios que desvendam os mistérios do Universo e da Natureza Humana e ali estavam reunidos em grupos de magos e fadas espalhados pelas mesas e pelos bancos e pelo muro baixo que rodeia a cúpula branca que protege as bicas da fonte e forma sobre elas como que uma caverna fresca por onde, quem sabe, se pode entrar no Mundo das Mil e Uma noites?... Eram então eles que contavam aquelas coisas sobre aquela fonte e dizia-se que diziam muitas coisas mais?!!!... Mal vai aos seres humanos se lhes tiram tudo o que é são e autêntico como esta água pura e verdadeira que aqui sai do ventre da terra para lha darem depois de misturada e tratada com produtos e purificada, dizem eles, porque por este andar vão dizer que só são bons para as pessoas os produtos de plástico misturados e modificados e tantas vezes conspurcados que em vez de alimentarem andam para aí a matar a gente aos bocadinhos como fazem com os 177 José Penedo – um deNómio de José Rabaça Gaspar insecticidas que tudo vão envenenando até o que eles comem e bebem... Pobre humanidade se não for capaz de salvar algumas fontes de água viva para poderem matar a sede verdadeira! Pobres deles se secam todas as fontes como as que têm ainda, de poesia e canto e lendas e contos e tradições populares para alimentarem os seus sonhos de felicidade e liberdade... e de vida!!! Pobres deles quando se convencem que, para conseguirem a felicidade, tem de conseguir que tudo seja igual, fabricado em série, tudo a obedecer ao mesmo modelo... quando se vestirem todos da mesma maneira, quando todos forem iguais, quando todos pensarem da mesma maneira!... Pobres loucos que não sabem o que querem! E o perigo das doutrinas religiosas e políticas e ideias pessoais quando se convencem até que o ano seria ideal sem as quatro estações, que seria melhor haver só dia ou só a noite, ou só a luz ou só a sombra, só o bem ou só o mal... e não dão conta, coitados!, que se tivessem isso, teriam o tédio a morte... o caos que não gera a vida se fossem esses loucos a criar a humanidade... Que seria do Universo se não houvesse o estímulo criador da diferença do calor e do frio do peso e da imponderabilidade da luz e das trevas como diz Milan Kundera, Hubert Reeves e outros... e da energia sublime das milhares de variações existentes entre os pólos negativo e positivo em que muitos querem dividir a Humanidade como a Morte e a Vida e o Bem e o Mal?! 178 Lendas de Beja – o Touro e a Cobra e outras LENDAS... img019 – a fonte das cavadas… uma visão naif… ...hoje estamos aqui reunidos à volta desta fonte que rebenta em duas bicas cheias de impulso e de força duma mina cavada nas entranhas da terra... p. 181 179 José Penedo – um deNómio de José Rabaça Gaspar 180 Lendas de Beja – o Touro e a Cobra e outras LENDAS... O certo é que, caros comagos e cofadas, os ciganos escondidos ao luar ouviram às tantas falar hoje, estamos aqui reunidos à volta desta fonte que rebenta em duas bicas cheias de impulso e de força duma mina cavada nas entranhas da terra que com duas golfadas enche o pequeno poço ali cavado e protegido e depois se perde pela regueira cavada em sulco por esses campos e ribeiros e vai fertilizando os terrenos, encher lagos e talvez desaguar no mar e voltar ao interior da terra transformada em chuva ou em neve para a tornar a fecundar e brotar de novo e tudo fazer renascer... Numa terra seca e deserta como esta imensa planície que chamaram Alentejo é a água que produz o milagre da vida e a falta de água é fonte de angústia desolação e de morte... Esta força da água a correr forte por estas duas bicas é música maravilhosa encantatória que as pessoas em grupos, sozinhos, aos pares, às escondidas... vêm ouvir para alimentar o seu sonho de fertilidade felicidade vida... É como a força sedutora da mulher, do feminino... é o signo da beleza e do bem da fantasia... é o sinal de que pode haver um mundo em que tudo, mesmo inacreditável, é possível, e todos os desejos podem ser realizados. Mas não é só esta fonte que existe. Tanto nesta como em muitas outras, há seres que vêm à procura dos seus sonhos de felicidade e é por isso que há, por todo o lado, a fonte dos namorados e as fontes de sete bicas... e aqui, os nossos ciganos tiveram um sobressalto, ao lembrarem-se das numerosas fontes que tinham visto por todo o mundo que tinham corrido e das que tinham ouvido dizer que havia, isto contado pelo velho cigano que já tinha corrido muito mais mundo do que eles, e as tinha ou visto ou ouvido contar a outros velhos ciganos, que tinham corrido tudo o que era Mundo... e em todas elas, de água fresca e cristalina, aparecia, nas noites de luar, uma princesa encantada, que 181 José Penedo – um deNómio de José Rabaça Gaspar seria uma bela moira ou uma bela adormecida ou uma princesa do oriente ou do ocidente ou índia ou dos países exóticos dos Andes ou das Ilhas, conforme a fantasia e os sonhos de cada um... e ali estão elas, encantadas, à espera dum milagre, dum feito heróico que desfaça o encanto!!! Vejam por exemplo o que acontece na FONTE MOURO. Uma fonte que fica além para Norte do outro lado da cidade mais ou menos à mesma distância que esta fica e onde na outra noite pernoitaram o par de namorados que são nossos convidados esta noite... !!! e eles que pensavam estar ali escondidos a assistir a uma reunião de seres nunca vistos e ouvidos... a cigana Mariana abriu muito o olhos e agarrou-se com força ao corpo do Cigano Castanho que ainda os tinha mais abertos e morria de pavor... Sim, eles pensam que nós somos seres como os outros que estão habituados a espiar e pilhar, e o certo é que somos, mas não somos bem como os outros porque a nós não é preciso iludir e enganar... Venham para aqui e sentem-se connosco para nos contarem o que viram e não viram e aqui sempre estão melhor gozando do fresco destas árvores e destes bancos e podem ficar inebriados pela música desta água refrescante que brota das entranhas da terra com uma vitalidade carregada de fecundidade e fertilidade... De manso, muito de mansinho... de mãos dadas um ao outro... o par de ciganos levantou-se... começou a caminhar... e como transportados nas asas da brisa suave que corria imperceptível... encontraram-se maravilhados no meio da assembleia dos magos e das fadas que tinham muitas coisas para contar... e semeavam, durante a noite, as sementes de todas as flores de todos os sonhos e desejos que depois durante o dia se haviam de tornar realidade e crescer e multiplicar-se à luz do sol... 182 Lendas de Beja – o Touro e a Cobra e outras LENDAS... Como viram, explicaram então os sábios da clareira escondida na floresta depois de lhes terem dado a beber da água da fonte em transparentes taças de cristal que ali apareceram como por magia e eram, pura e simplesmente, cocharros talhados em cortiça ou a concha das mãos unidas como toda a gente pode beber, como viram lá na vossa FONTE MOURO que outros chamam a FONTE DA MOURA porque pensam que é mais claro e mais simples, mas esquecem ou querem esquecer que a fonte foi descoberta e mandada construir pelo mouro que consideram mau e terrível e esquecem muitas vezes que mesmo ao lado, não muito longe, fica o monte da FONTE DA COBRA e logo mais adiante o monte da COBRA que vão espreitar a medo e até lhe metem um MONTE da SERRA pelo meio para impedir que se juntem, sem perceberem coitados! que a magia da FONTE MOURO da encantada princesa perderia todo o sentido sem a ameaça terrível constantemente possível de aparecer por lá uma cobra sedenta a beber longamente as saudades de Aldonça... Há mesmo quem diga que caçadores espertos e experientes já tentaram tudo para matarem o monstro que aparece ali em noites de luar com todas as artimanhas laços armadilhas e tiros fatais... mas para sorte deles e da humanidade a Cobra esguia sempre sempre se esgueirou sem dano desaparecendo instantaneamente dos olhos cegos dos mortais para sempre aparecer de novo a beber a beber sem nunca se saciar... Chega por hoje, por esta noite que já vai bem alta, porque temos mais convidados para uma festa de despedida... e era certo. Ansiosos pelo calor da noite e intrigados pelas coisas misteriosas que se passavam no ar ao luar daquela noite, os pares de namorados da aldeia tinham-se levantado e com a desculpa aos pais que morriam de sede e iam buscar água para toda a família, pegaram no carrinho de uma roda com dois arcos e dois braços e com os potes vazios partiram a caminho da fonte onde, por pressentimento, sabiam que 183 José Penedo – um deNómio de José Rabaça Gaspar iam encontrar os seus amados. Não era novidade nenhuma isso, que já tinham aprendido desde os trovadores medievais que cantavam os encontros secretos dos amantes que todos acabavam por saber, mas o que não sabiam é que naquela noite, se iam encontrar em tão brilhante e encantatória assembleia... encantados de espanto de se verem todos misteriosamente descobertos nos seus secretos sonhos, em coro de magia de braço dado, fizeram uma grande roda à volta dos magos e do par de ciganos e todos em roda puseram-se a cantar... as canções das FONTES de todo o tempo e lugar... 184 Lendas de Beja – o Touro e a Cobra e outras LENDAS... 2.2 - A/s LENDA/s DA FONTE DAS CAVADAS 185 José Penedo – um deNómio de José Rabaça Gaspar 186 Lendas de Beja – o Touro e a Cobra e outras LENDAS... ...E no meio dos cantos e da festa, um par de namorados não se conteve e passou a co/antar a seguinte LENDA... 2.2.01 - LENDA DA FONTE DAS CAVADAS – 1ª Versão ... Todos vocês sabem que esta Fonte das Cavadas, serviu durante anos e anos o povo do Penedo Gordo, que inventou, para a transportar, um carrinho de mão prático e original, que entre a roda dianteira e as pegas para o guiar, se abria em dois arcos onde se podiam transportar duas bojudas bilhas de água que eram a água corrente das casas e a água que matava a sede à gente nos trabalhos do campo... Foi mandada construir pelo senhor Joaquim Filipe Fernandes, em 1876, como lá está gravado na pedra por cima das bicas, e era o dono da Quinta da Faleira e das hortas que verdejavam por esta regueira e forneciam o mercado de Beja durante anos e anos... Olhando daqui para nascente e para o norte, podemos ver que estamos no vértice dum triângulo formado pelo castelo de Beja e pelos campos a perder de vista dos Condes da Boavista, Santa Clara do Louredo... Esta é a fonte que dava de beber aos que trabalhavam no monte da Almocreva... e tudo isto parece envolver um certo mistério e significado... Tudo isto, como se pode ver, é rodeado de férteis terrenos de cultivo, dos melhores barros vermelhos de Beja, do Alentejo... ... Consta... Contaram-me... Ouvi dizer que havia por aqui um touro e uma serpente. A serpente, cobra, procurava delimitar o seu território de pasto, de comida, de sustento e de domínio... para si e para as cobras suas 187 José Penedo – um deNómio de José Rabaça Gaspar súbditas que viviam na sinuosa ribeira alimentada por um fio de água que ninguém sabia donde vinha... O touro, esse vivia nos fartos pastos circundantes que sustentavam numerosa manada de fecundas vacas leiteiras, o seu orgulho e harém... Consta então, que um dia se envolveram numa disputa por questões de água... O touro: que a serpente lhe roubava a água que fazia reverdecer os seus pastos... A cobra: que o touro era o culpado de lhe faltar a água no veio por onde ela se movimentava, porque os campos sequiosos ao redor, para se manterem verdes e lhe darem alimento e mais a todas as vacas, lha bebiam toda e a deixavam a míngua... ...Decidiram-se então por uma luta. Uma luta que seria de morte... E... nessa noite, de lua resplandecente, quando a cobra se erguia no seu corpo enroscado para abraçar o seu inimigo e o apertar no seu abraço mortal...; e o touro investia já de cabeça a rojar quase o chão com os poderosos cornos apontados e levantava sucessivamente as patas dianteiras para esmagar o réptil repelente, eis que se produziu o encanto... ...Nessa altura, o rei dos animais?, a Lua?, o Sol?, alguma Estrela?,... interveio... paralisou-os e disse: Vós que disputais por causa da água... ides transformar-vos em fonte... tu, touro ficarás uma bica mais grossa e poderosa... e tu, cobra, uma bica mais fina de água sempre corrente e forte que será fresca e deliciosa no verão e quente e reconfortante no inverno... e sempre separados e sempre misturados, ambos cavareis uma ribeira CAVADA serpenteando e fertilizando todos estes campos e matando a sede a todos os viandantes que vão demandar estas paragens, no 188 Lendas de Beja – o Touro e a Cobra e outras LENDAS... meio deste Alentejo quente e tórrido... e isto para sempre... assim disse a fada! ... e foi assim que nasceu, talvez, a LENDA DA FONTE DAS CAVADAS... 189 José Penedo – um deNómio de José Rabaça Gaspar 190 Lendas de Beja – o Touro e a Cobra e outras LENDAS... ...Mas a namorada disse: Eu sei outra versão!... e timidamente, começou a contar assim: 2.2.02 - LENDA DA FONTE DAS CAVADAS – 2ª Versão Conta uma lenda, de tempos muito antigos, parece que de mil mais mil anos, que correram incessantemente sobre a vida, que, ali, no vértice do triângulo que os barros vermelhos da Almocreva, Penedo Gordo, formam com o castelo de Beja ou com a casa da Torrinha que é o solar Almodôvar e o solar dos Condes da Boavista, a umas centenas de metros da sede do monte maior da Almocreva nome feminino de almocreve que não é comum usar no feminino e nos leva a supor que já em tempos muito antigos que se perderam na memória, teria havido uma mulher que suplantou os homens no ofício de organizar e conduzir as caravanas de bestas de carga, ali, muito perto da propriedade mais conhecida pelo número e qualidade de vacas leiteiras e de touros mais famosos da região... havia um lugar especialmente fresco e verdejante, farto em bons pastos para o gado, que era atravessado por um declive, uma valeira, entre terrenos, que aparentava ser mais fresco e verdejante e transmitia por assim dizer frescura e fecundidade aos campos e montes de ao redor que eram ponteados aqui e além por recantos de sombras raras no meio da campina abrasadora... e no meio desse pasto, pachorrento e distante, como se nada fosse com ele, havia um grande touro que dominava e protegia a maior e mais luzidia manada de vacas leiteiras que se espalhavam pelos imensos pastos abundantes e verdejantes e produziam leite em abundância que eram o alimento, a força e o sustento de toda a gente daquela esforçada e laboriosa região... passava por ali muito perto a larga e espaçosa canada por onde, nos períodos da transumância, corriam centenas e centenas de cabeças de gado guiados por experientes almocreves que conduziam as 191 José Penedo – um deNómio de José Rabaça Gaspar manadas com a ajuda dos seus maiorais em busca de pasto e de frescura, quando o calor tórrido ameaçava deixar à míngua o gado que era a razão de ser e o meio de subsistência de toda uma imensa e estranha região... a acompanhar essas manadas de gado e atraída pela magia do perfume do leite, uma grande cobra estendia a sua vigilante avidez por toda aquela zona fértil de bom pasto onde pastava a maior manada de vacas dominada e protegida pelo touro maior e mais poderoso que por ali jamais fora visto, grande e poderoso como um penedo... era insinuante e discreta a cobra que se esgueirava por entre as árvores e as ervas da valeira e atrevidamente atravessava fugaz e repentinamente os caminhos e valadas por onde transitavam a gente e os animais com suas caravanas de bestas de carga e carros de carga e carroças... o touro, pesado e pachorrento, circulava lenta e vagarosamente com a sua imensa manada pelos campos cercados de estacadas aramadas em ciclos regulares para aproveitar sempre os pastos tenros e renovados renascidos e alimentados pelas águas e pelo sol que também por si obedecem a ritmos renovados, e assim serpenteavam pelos campos fartos e abundantes prenhes de fartura e abundância ao sabor das estações... assim também a serpente circulava discreta e disfarçada de mil formas aspectos e disfarces habilmente insinuada por entre as ervas e riachos, veios de água veredas e caminhos... foi assim que, durante muito tempo, iludidos e disfarçados, viveram em aparente e desconfiada paz os inimigos inconciliáveis e dependentes que não podiam nem ver-se, nem viver um sem o outro... até que um dia... um dia, ali a uma centena de metros do vértice do triângulo equilátero que forma a Herdade da Almocreva com o Castelo de Beja 192 Lendas de Beja – o Touro e a Cobra e outras LENDAS... ou a Torre do solar dos Almodôvar e o solar do Condes da Boavista ali para Santa Clara do Louredo... eis que um dia se encontram, se afrontam, se acusam mutua e violentamente... ah! és tu serpente maldita que em certas épocas do ano me roubas a água que fecunda os campos onde cresce a erva verde e abundante que sustenta a manada que dá o leite que é o sustento, o vigor e a força desta região e do seu povo?... ah!, és tu maldito, que com tua imensa manada me roubas todos os refúgios e me deixas a descoberto em todos os esconderijos em que me tento esconder!!!? ah! és tu serpente cobra que roubas o leite e mataste a vaca leiteira que alimentava o vitelo mais forte e prometedor de toda a manada?... ah! eras pois tu e o teu gado que me roubavam as poças de àgua dos regatos que me refrescavam e me permitiam ocultar da vista dos que me perseguem e querem matar...!? ah? eras tu que afugentavas e assustavas a manada que tantas vezes fugia atarantada e espavorida e não parava, irrequieta, sem poder comer....!? ah! eras tu... ... ... ah! eras tu... ... ... e assim, travando-se de razões, que não eram razões, ali se ergueram um contra o outro em desafio de luta de vida e de morte... era noite de lua cheia e a luz feiticeira iludia-os encantando-os... 193 José Penedo – um deNómio de José Rabaça Gaspar já a cobra se enrolava nos anéis que lhe serviam de apoio no chão e se arqueava para desferir o bote contra o touro monstro, que furioso investia com todo seu peso e o perigo das suas hastes pontiagudas de cornos arqueados... ela disposta a envolvê-lo nos seus mortais anéis... ele disposto a esmagar a serpente insidiosa e insinuante com todo o peso das suas patas devastadoras... foi nesse momento que o feitiço do luar os paralisou e os deixou estáticos, e a terra se abriu como se fosse uma benção ou uma maldição... Vós que dependeis um do outro e disputais ferozmente pela frescura das fontes e fecundidade da terra, permanecereis juntos e separados para sempre transformados em duas bicas de águas abundantes e imperecíveis que hão-de ser a fonte de frescura e abundância falada e afamada por toda a região... e vós viandantes e caminhantes que passardes e aqui vos vierdes dessedentar assim os conhecereis porque uma bica será grossa e forte como um touro e a outra será grossa e esguia como uma serpente insinuante e interminável e ambos nunca unidos inconciliáveis mas sempre juntos... separados mas misturados na sua força indomável correrão serpenteando pela terra até ao mar infindo e fecundarão a terra e acalmarão o fogo ardente desta região e assim se unirão dois inimigos irreconciliáveis que hão-de correr quentes no Inverno e frescos no verão para que assim do encontro dos contrários aparentemente irredutíveis nasça a fonte da vida imperecível... as pessoas da região, para a transportarem para as suas casas, hãode inventar um carro de mão com uma cabeça que roda no chão sustentada por dois braços e com dois membros que se estendem para o poderem fazer rodar e, no seu corpo, que assenta ainda em 194 Lendas de Beja – o Touro e a Cobra e outras LENDAS... dois pés para se poder parar, abrirão dois círculos em forma antropogamiamórfica que correrá todos os caminhos e levará a todas as casas a água, ou, por assim dizer, a própria fonte de água viva e vivificante... Assim, Fonte das Cavadas, a Fonte das Duas Bicas, a Fonte do Touro e da Cobra, são bicas que nos remetem ao início da História e afinal ligam toda esta história. 195 José Penedo – um deNómio de José Rabaça Gaspar 196 Lendas de Beja – o Touro e a Cobra e outras LENDAS... 0.2.2 - O CANTE DAS FONTES Dá-me uma gotinha d'água, Fui à fonte beber água, Dessa que eu oiço correr; Bebi tornei a beber; Entre pedras e pedrinhas, „Stava o meu amor defronte, Alguma gota há-de haver...? Regalei-me de o ver! Alguma gota há-de haver, Fui à fonte beber água, Quero molhar a garganta; Encontrei um ramo verde; Quero cantar como a rola, Quem o perdeu tinha amores, Como a rola ninguém canta! Quem o achou tinha sede! Dá-me uma pinguinha d'água, Fui à fonte beber água, Não ma dês pelo cucharro; Debaixo da flor da murta; Dá-ma pelas tuas mãos, Foi só p'ra ver os teus olhos, Para ter sabor tão raro! Que a sede no era muita? Para ter sabor tão raro, Fui à fonte beber água, É do trabalho no campo; Achei um ramo de flores; Nós somos feitos de barro, Quem'no achou (perdeu) tinha sede, E da terra é o meu canto! Quem‟no perdeu (achou) tinha amores! Dá-me uma pinguinha d'água, Fui à fonte beber água, Dessa que oiço correr; Onde o rio desce, desce; Entre silvas e mentrastos Nem a água apaga a sede, Alguma pinga há-de haver. Nem o meu amor me esquece! Dá-me uma gotinha d'água, Fui à fonte beber água, Não ma dês pela tigela; Debaixo da vide branca; Dá-ma pela tua boca, Fui p'ra ver o meu amor, Que eu não tenho medo dela! Que a sede não era tanta! Dá-me uma pinguinha d'água, Fui à fonte beber água, Da boca faz uma bica; Por baixo da folha verde; Quanto mais água me dás, Encontrei o meu amor, Tanto mais sede me fica! Bebi água sem ter sede! 197 José Penedo – um deNómio de José Rabaça Gaspar Fui à fonte beber água, Em casca de belancia; Nem bebi, nem truxe augua, Nem falei com quem eu queria! ... quando o grupo desatou a cantar ‗Dá-me uma gotinha d'água‘... todos se lembraram de outras cantigas e outras quadras a cantarem as fontes, os encontros secretos, as demoras na fonte, as mentiras e disfarces, as esperas desesperadas dos namorados no caminho das fontes, as desculpas... os enredos... as más línguas... e todos à roda cantaram cantaram... e até os magos ciganos entraram no desafio... e às tantas, já não se sabia quais eram as quadras tradicionais e com direitos de autor já consagrados pelo tempo e nunca registados, e quais eram as improvisadas ali inventadas de novo, trocando, misturando e baralhando as palavras e as ideias... No Pened(r)o há uma fonte, D'água fresca e abundante; É das Cavadas, do monte, Mata a sede ao viandante! Há no mundo muitas fontes D'água pura, frescas águas; Mas a mais viva entre montes, É a água das Cavadas! Há poços e ricas veias, Água correndo nas casas; Mas para as gentes da aldeia, Água sã, só nas Cavadas! 198 Lendas de Beja – o Touro e a Cobra e outras LENDAS... Ela dá saúde aos mortos, Faz medrar na horta a couve; Não tem tratos desses tortos, Com'esta água, nunca houve! Com'esta água nunca houve, Com'as nossas tradições Se houver quem no-las roube, Vai passar consumissões! Vai passar consumissões, Porque as fontes não se matam; Aqueles que matam as fontes, Trazem a morte na alma! 199 José Penedo – um deNómio de José Rabaça Gaspar 200 Lendas de Beja – o Touro e a Cobra e outras LENDAS... img020 – a fonte touro cobra e a figueira… Mal sabes quanto me alegro Quando te vejo defronte: É como quem morre de sede E põe a boca na fonte. in Cancioneiro Popular de J. Leite de Vasconcellos, Vol. I, p. 421. (Ver Fonte Mouro, p. 157 – Fonte da Moura, p. 163. 201 José Penedo – um deNómio de José Rabaça Gaspar 202 Lendas de Beja – o Touro e a Cobra e outras LENDAS... ... No meio do entusiasmo, houve até quem se lembrasse das cantigas dos trovadores medievais como a de Pero Meogo (1253?1269?), comparando-a com a adaptação de Natália Correia, 1970: (Levou-s'a louçana), A bela acordara Levou-se a velida; Formosa se erguia; Vai lavar cabelos Lavar seus cabelos Na fontana fria, Vai, na fonte fria, Leda dos amores, Radiante de amores, Dos amores leda. De amores radiante. (Levou-s'a velida), Formosa se erguia; Levou-s'a louçana; A bela acordara; Vai lavar cabelos Lavar seus cabelos Na fria fontana, Vai, na fonte clara; Leda dos amores, Radiante de amores, Dos amores leda. De amores radiante. Vai lavar cabelos Lavar seus cabelos Na fontana fria; Vai, na fonte fria; Passa seu amigo Passa seu amigo Que lhi ben queria, Que muito queria, Leda dos amores, Radiante de amores, Dos amores leda. De amores, radiante. Vai lavar cabelos Lavar seus cabelos Na fria fontana, Vai, na fonte clara, Passa seu amigo Passa seu amigo Que a muito ama, Que muito a amava, Leda dos amores, Radiante de amores, Dos amores leda. De amores radiante. 203 José Penedo – um deNómio de José Rabaça Gaspar Passa seu amigo, Que lhe bem queria; O cervo do monte A augua volvia, Passa seu amigo Que muito lhe queria; O cervo do monte A água volvia, Leda dos amores, Radiante de amores, Dos amores leda. De amores, radiante. Passa seu amigo, Passa seu amigo, Que a muit'amava; O cervo do monte Volvia a augua, Que muito a amava; O cervo do monte Revolvia a água, Leda dos amores, Radiante de amores, Dos amores leda. De amores, radiante. 204 Lendas de Beja – o Touro e a Cobra e outras LENDAS... 2.3 - A LENDA DA PRINCESA ENCANTADA EM COBRA 205 José Penedo – um deNómio de José Rabaça Gaspar 206 Lendas de Beja – o Touro e a Cobra e outras LENDAS... 0.2.3 A perplexidade dos ciganos... As lendas da FONTE MOURO, com princesas transformadas em FONTE, A FONTE DA MOURA com o seu amado transformado em COBRA, ver o MONTE da FONTE DA COBRA e o MONTE DA COBRA, não podiam terminar, sem ver esta transfiguração d'A PRINCESA TRANSFORMADA EM COBRA. Foi contada por Simplícia Maria das Dores, de Penedo Gordo, freguesia de Santiago Maior, Beja, concelho e Distrito de Beja. Não temos o ano de quando foi recolhida, mas vem no I volume, com o N° 129, o último do II Ciclo: A BELA E O MONSTRO, dos CONTOS POPULARES E LENDAS, coligidos por José Leite de Vasconcellos e preparados para a publicação sob a coordenação de Alda da Silva Soromenho e Paulo Caratão Soromenho, e publicado POR ORDEM DA UNIVERSIDADE, (Acta Universitatis Conibrigensis), Coimbra, 1963. Quem já não percebia nada destes contos, lendas e interpretações, eram os nossos inseparáveis ciganos, o Cigano Castanho e a cigana Mariana, que depois daquele encontro maravilhoso e inesperado com o fantástico nunca imaginado, pensavam que estavam dentro dos segredos dos contos e das lendas e dos signos e dos símbolos que eles traziam, quando, em vez de verem a princesa transformada em fonte, ouviram da tia Simplícia, ali do Penedo Gordo, de ao pé da Fonte das Cavadas, que foi mandada construir por Joaquim Filipe Fernandes no ano de 1876, como reza a placa de pedra que lá está por cima das duas bicas dentro daquela cúpula nascida do chão que a 207 José Penedo – um deNómio de José Rabaça Gaspar protege e guarda para os viandantes se abrigarem e refrescarem..., contar a lenda: A PRINCESA ENCANTADA EM COBRA... Aí fica, como a transcrevemos da citada obra. 208 Lendas de Beja – o Touro e a Cobra e outras LENDAS... 2.4.01 A PRINCESA ENCANTADA EM COBRA por Simplícia Maria das Dores, do Penedo Gordo… …por Simplícia Maria das Dores, de Penedo Gordo, freguesia de Santiago Maior, Beja, concelho e Distrito de Beja In CONTOS POPULARES E LENDAS, coligidos por José Leite de Vasconcellos e preparados para a publicação sob a coordenação de Alda da Silva Soromenho e Paulo Caratão Soromenho, e publicado POR ORDEM DA UNIVERSIDADE, (Acta Universitatis Conibrigensis), Coimbra, 1963 Havia um moinho muito velho chamado da Torre. Diziam que apareciam lá medos e ninguém para lá queria ir habitar, até que foi para lá um moleiro mais a mulher morar; havia lá umas figueiras muito antigas. Debaixo das figueiras aparecia lá uma cobra muito grande com uns olhos muito ramudos, como os olhos de uma pessoa. O homem e a mulher viam-na, nas não tinham medo, não se assustavam; até que uma manhã de S. João apareceu uma menina muito linda, com um testo de ouro na mão a pedir uma brasa de lume, chamando-lhe vizinha. A mulher assustada veio à porta ver quem era; perguntou-lhe onde é que estava, que vinha chamandolhe vizinha. Onde ela disse à mulher que era vizinha, porque estava ali encantada na raiz da figueira, havia já uma quantidade de anos, e que saía naquele dia de S. João, porque o encantamento lhe dava ordem de sair; que vinha feita uma mulher, mas daquele dia em diante só ali vinha a aparecer, ou feita numa cobra ou num carneiro, ou num touro, que só assim naquela forma aparecia, e que podia assustá-los, à mulher e ao tal dito moleiro, mas não lhe podia falar, porque só aparecia assim feita bicho; o encanto não a deixava aparecer senão naquele dia de S. JOÃO. Onde a mulher do moleiro, muito assustada de ver uma menina tão linda, perguntou-lhe se não havia nada que de lá a pudesse tirar, donde ela estava encantada. Ela, com muito desejo de sair de lá para fora, disse para a mulher que podia, querendo, a desencantar de lá: levando ela a mulher 209 José Penedo – um deNómio de José Rabaça Gaspar dentro de um lindo palácio, que ela tinha debaixo da raiz da figueira, onde ela tinha a morada; chegou ela a levar lá a mulher do moleiro para mostrar a riqueza que tinha. A mulher, vendo aquela riqueza, e prometendo-lhe ela ficar rica, mais o marido, convenceu-se a querer desencantar a princesa. Onde a princesa jantou nesse dia com o moleiro e a mulher dele, e almoçou; e afinal muito contentes se encontravam a princesinha mais o moleiro e a mulher, onde combinaram da maneira que haveria de ser desencantada. A princesa dizia que era desencantada em três noites, caso a mulher do moleiro tivesse coragem de não se assustar com o que visse; que a princesa mandava pôr ao pé de uma serra de palha, que ela por pino da meia-noite lá haveria de aparecer feita de um carneiro. Parece que vinha para lhe marrar, mas chegou ao pé dela com aquela fúria com que vinha e ficou feito na princesa; agradeceu-lhe por aquela noite. Depois na segunda noite veio feita num touro a berrar e a esgravatar, touro muito bravo; a mulher com muita coragem ameigou-o, levantou-o e o touro não lhe fez mal. Ficou outra vez a dita princesa falando com a mulher, agradecendo-lhe pela segunda noite. Dizendolhe a princesa para ela que na terceira noite, na última vez, é que era o mais perigo: vinha feita numa serpente e enrolava-se em volta da cintura e devia dar-lhe um beijo na face esquerda; que não se atemorizasse, que ela não lhe fazia mal. A mulher assustou-se, quando ela lhe foi para beijar a cara, e ia para lhe tirar os santos olhos; ela apertou-a e matou-a, e ela disse-lhe: "Ah! Tirana, que me dobraste o meu encantamento". E ficou encantada por outra quantidade de anos. 210 Lendas de Beja – o Touro e a Cobra e outras LENDAS... 0.2.4 - os magos pesarosos pelo sucedido decidem não reunir... Assim ficou o encanto dobrado e o conto acabado... Desta vez os magos da clareira escondida na floresta já não reuniram mas foram pensando maduramente durante o enterro da pobre mulher do moleiro que por falta de coragem dobrou o encantamento da princesa e pagou com a vida quando descobriu que a serpente quando lhe foi para a beijar, ia para lhe tirar os santos olhos.... Que mistérios e segredos se encontram encantados neste conto assim contado em que os medos do moinho da Torre faziam com que ninguém para lá quisesse ir morar, até que foi para lá um moleiro mais a mulher... Porquê tantas mutações? Primeiro cobra, depois menina, depois carneiro, depois touro, depois cobra?... Representará esta mistura de masculinos e femininos, e em contraste com a Lenda da Fonte Mouro em que e Atanásio que se transforma em cobra, o mito da ADROGENIA do Banquete de Platão, em que os seres humanos seriam hermafroditas e portanto sós, completos, e agora erram pelo mundo na procura desesperada do seu complemento que os realize, faça felizes e os torne criadores?... Ou esta Lenda da mulher corajosa que se atreve a enfrentar perigos terríveis para quebrar tabus e encantamentos seculares, serão um aviso por exemplo solidez da FAMÍLIA TRADICIONAL que só sobrevive, devido ao mito da FIDELIDADE CONJUGAL!? Ora como esta sociedade está impregnada por uma mentalidade machista, falocrática e falocêntrica, parece ser comummente aceite que A FAMÍLIA TRADICIONAL poderá porventura subsistir se a INFIDELIDADE FOR DO HOMEM, e sobretudo se for conveniente e 211 José Penedo – um deNómio de José Rabaça Gaspar hipocritamente disfarçada por ser tolerada, mas tudo ruirá e se desmorona em derrocada se a INFIDELIDADE FOR DA MULHER por se tornar SOCIALMENTE INSUSTENTÁVEL... É ver os filmes, os casos conhecidos de divórcios, e a INSUSTENTÁVEL LEVEZA DO SER de Milan Kundera, em que Teresa arrasta Tomás, se revolta com as suas infidelidades, mas sustenta o insustentável até se perderem no isolamento completo... Mas vejamos melhor a lenda! Ao princípio, nada de medos. ―Havia lá umas figueiras muito antigas”. Debaixo das figueiras aparecia lá uma COBRA muito grande com uns olhos muito ramudos, como os olhos de uma pessoa. O homem e a mulher viam-na, mas não tinham medo, não se assustavam...” Um casal isolado, a lidar todo o dia no trabalho do moinho, convive com a natureza que o rodeia como Adão e Eva no paraíso e nem da cobra tinham medo, pois até tinha os olhos ramudos como os de uma pessoa, sinal que a viam de perto e com tempo para poderem observar bem, a ponto de atentarem bem nos olhos, com a familiaridade das pessoas mais amigas que se querem... 212 Lendas de Beja – o Touro e a Cobra e outras LENDAS... img021 – a cobra a figueira e o moinho… Havia um moinho muito velho chamado da Torre. Diziam que apareciam lá medos... p. 209 213 José Penedo – um deNómio de José Rabaça Gaspar 214 Lendas de Beja – o Touro e a Cobra e outras LENDAS... A seguir a mulher assustou-se. Quando nada o fazia prever... ―até que uma manhã de S. João apareceu uma MENINA MUITO LINDA, com um testo de ouro na mão a pedir uma brasa de lume, chamando-lhe vizinha.” Em vez duma explosão de alegria por finalmente ter uma vizinha, ainda por cima linda e atraente, aparece finalmente o susto, o medo o receio, mas que perante as revelações do encantamento que só lhe permitiriam aparecer daí em diante em forma de CARNEIRO, TOURO e SERPENTE e só três vezes, e perante o espanto diante das riquezas do lindo palácio que era a sua morada debaixo da figueira que a podiam tornar rica a ela e ao moleiro... a mulher ―convenceu-se a querer desencantar a princesa.‖ Era só preciso ter ―coragem para não se assustar com o que visse.‖ e assim depois do susto veio a sedução... Então... “...por pino da meia-noite lá haveria de aparecer feita de um CARNEIRO.” A mulher não teve medo e a princesa em que se transformou, agradeceu-lhe. “... na segunda noite veio feita num TOURO... TOURO muito bravo.” ―A mulher com muita coragem ameigou-o, levantou-o e o touro não lhe fez mal.” e a princesa agradeceu-lhe pela segunda noite. "... Na terceira noite, na última vez, é que era o mais perigo: vinha feita numa SERPENTE e enrolava-se em volta da cintura e devia darlhe um beijo na face esquerda;...” E “A mulher assustou-se, quando ela lhe foi para beijar a cara, e ia para lhe tirar os santos olhos; ela apertou-a e matou-a...” 215 José Penedo – um deNómio de José Rabaça Gaspar Crê-se primeiro que a mulher tão corajosa terá apertado a cobra pegando-lhe abaixo da cabeça como sabem fazer os domadores e que teria matado o encanto, mas o encanto não morre e a pobre mulher é que paga com a vida e o encantamento é dobrado. "Ah! Tirana, que me dobraste o meu encantamento...” e aqui ficamos nós estarrecidos e perplexos perante os signos e os símbolos que esta lenda nos quer comunicar... Nem a fúria do CARNEIRO atemorizam a mulher... Nem a bravura do TOURO a impedem de o acariciar e levantar... Só quando lhe aparece na forma familiar de COBRA, depois de se deixar enrolar pela cintura, no momento do beijo, é que a viscosidade duvidosa da SERPENTE que “foi para beijar a cara, e ia para lhe tirar os santos olhos‖; assustam a mulher que morre e dobra o encantamento... Caros comagos e cofadas, ouviram os ciganos dizer a uma das fadas muito comovida depois daquele funeral muito concorrido por todo o povo que fora abalado por tão insólita história que vinha assim confirmar os medos pelos quais ninguém queria para lá ir para o moinho muito velho chamado da Torre,... nós bem que dizíamos... ele ao princípio nem tiveram medo da cobra que até parecia humana mas depois ele viu-se... pobre mulher e pobre do moleiro, agora coitado... e outras coisas mais que se ouviam como é costume, ...caras cofadas e caros comagos, perante estas emoções tão violentas a que todos fomos submetidos hoje não reunimos para tentar desvendar esta história que mistura os encantamentos da PRINCESA em COBRA quase humana e familiar... em MENINA MUITO LINDA que vai por uma brasa à vizinha e a assusta e seduz... em CARNEIRO que vai para marrar e se transforma em menina... em TOURO muito bravo que não lhe faz mal... em SERPENTE falsa ou que levou a mulher a duvidar com o medo que lhe arrancasse os santos olhos e a apertou e matou e foi injuriada de TIRANA... 216 Lendas de Beja – o Touro e a Cobra e outras LENDAS... Por hoje desistimos de mais tentativas de descobrir os mistérios da Natureza Humana até porque já deixámos muitas pistas na assembleia da primeira noite da clareira escondida na floresta quando falámos do TOURO e da COBRA, e deixamos cada um entregue à necessidade do seu isolamento, à imperiosa ânsia de estar só e de se deixar assustar e seduzir e não ter medo e se deixar morrer de medo e o anseio imperioso de viver com os outros e conviver, ver até olhos humanos na cobra grande e repugnante, assustar-se com a menina que encanta e seduz, enfrentar as fúrias do carneiro e do touro, mas deixar-se matar perante a ameaça de deixar de ver... DE FICAR SEM OLHOS PARA VER... A cigana Mariana assustada que fechara os olhos para pensar deitada no campo, voltada para as estrelas, acordou sobressaltada e olhou para o seu companheiro o Cigano Castanho que dormia a seu lado... Não dormia. De olhos bem abertos percorria o céu inteiro onde naquela noite brilhavam as estrelas ofuscadas pelo brilho da lua, e quando a sentiu acordada, apontou as estrelas e falou sem a olhar para não perder as suas descobertas: Olha, olha que maravilha as constelações riscadas no céu. O CARNEIRO além mansinho, parado, como que deitado junto aos Peixes; O TOURO logo a seguir a arremeter em fúria com a testa e os chifres cravejados de brilhantes estrelas e a mais brilhante e maior é a Aldebarã; e além mais longe A SERPENTE que não se vê senão uma parte porque a outra há-de rodar do outro lado do mundo, mas fica além ao lado por cima da Balança... é o Ofioco... o signo que não existe... o 13°... aquele que faz a ligação entre os doze para que o ciclo dos 12 se renove incessantemente... 217 José Penedo – um deNómio de José Rabaça Gaspar Não vejo bem! Não... Já vejo. Ajuda-me a encontrar... pediu a cigana. Olha além... depois logo a seguir... agora do outro lado do céu... Já vês? Que mistérios e segredos têm as estrelas para nos contar? Será que brilham tanto só para nos encantar?...Não acredito. Tanto encantamento e beleza e tanto brilho, hão-de servir com certeza para VERMOS... Um dia destes havemos de surpreender de novo os Magos da Clareira escondida na Floresta e havemos de aprender mais uma infinidade de coisas sobre os mistérios do Universo e da Natureza Humana... sonhos e verdades que eles nem sequer se atrevem a sonhar! 218 Lendas de Beja – o Touro e a Cobra e outras LENDAS... 3 - LENDAS ou HISTÓRIA OU PERSONAGENS REAIS QUE SE TORNARAM LENDA do fantástico que se torna real ao real que se torna fantástico 3.1 - A MORTE DO LIDADOR – o lida DOR –a DOR lida 5.1.1 - A Revolução em Beja – (1383 - 1385) 5.3 - Mariana Alcoforado – (A Freira de Beja) 219 José Penedo – um deNómio de José Rabaça Gaspar 220 Lendas de Beja – o Touro e a Cobra e outras LENDAS... 0.3 - CIGANOS ANDARILHOS acontece que a nossa caravana de ciganos inebriados pela aura das lendas que tinham ouvido tentavam começar a compreender a terra e as gentes por onde passavam, e assim passaram os dias seguintes a deambular pela cidade e além das pessoas que encontravam e olhavam e os olhavam, eles passaram a ver outras coisas para além das ruas e das casas e a olhar as pessoas como eles eram olhados. Por detrás de um povo há sempre uma carga de ideias de história de verdades ou de mentiras de ideias preconcebidas ou de preconceitos, de história ou de lenda, de tradições ou costumes, de arte ou de características... que podem ajudar a ver melhor as pessoas... até que ponto é que esta herança influía ou 221 José Penedo – um deNómio de José Rabaça Gaspar modificava o primeiro olhar sobre as pessoas? até que ponto lhes dava a conhecer as virtudes ou os defeitos, os traumas ou o desejo de deles se libertarem? E foi assim que andando andando e cirandando para tudo iam olhando olhando e anotando... E viram que em toda a parte fosse por magia ou arte aparecia com fulgor o nome do LIDADOR. Mas que LIDADOR é este com estátuas e pinturas? O que diz a esta gente que o põe lá nas alturas? É com certeza um herói que diz muito a esta gente Seja lá pelo que for. Foi certamente um valente! O que terá sido ao certo. vamos sabê-lo de perto... será mesmo um lidaDOR? ou será uma DORlida 222 Lendas de Beja – o Touro e a Cobra e outras LENDAS... img022 – a luta de morte entre o cristão – o lidador - e o mouro… E ali foi mais aficada a lide... p. 228 223 José Penedo – um deNómio de José Rabaça Gaspar 224 Lendas de Beja – o Touro e a Cobra e outras LENDAS... 3.01 - O LIDADOR Gonçalo Mendes da Maia, o Lidador fora nomeado fronteiro de Beja por El-Rei D. Afonso Henriques primeiro rei de Portugal e no ano de 1170 para comemorar o dia em que completava 95 anos de baptismo, 80 de ter vestido armas e 70 de cavaleiro, empreende uma surtida contra os mouros, tendo enfrentado o temeroso Almoleimar e o poderoso Alboacém que são derrotados mas pagando com a vida tão estrondosa vitória! E assim entrou na lenda 0 famoso Lidador Por ter vencido a contenda E dos mouros ser terror! Depois de Alexandre Herculano nos ter deixado nas LENDAS E NARRATIVAS as páginas brilhantes que foram a semente fecunda do romance histórico e do romantismo mais puro em Portugal, dandonos, na época convulsa das lutas liberais do século dezanove, um conjunto de quadros espantosos sobre a história, as tradições e valores do velho Portugal medieval, cavaleiresco e semibárbaro, 225 José Penedo – um deNómio de José Rabaça Gaspar poderia querer dizer que é pretensão demasiada querer apresentar aqui a velha lenda ou história. Não é pretensão. Antes convite a uma nova e repetida leitura e se possível uma nova recriação, nesta época que vivemos, seguindo afinal o exemplo que Herculano nos deixou... Cada época, cada geração, tem o direito de ter a sua leitura da história...?!!! É mesmo essa heresia que queremos afirmar. Mesmo os rigorosos iluminados que clamam infalivelmente que a história é, tem de ser objectiva, e só pode ter uma leitura, gritam-no em monumentais edições e envoltos em grandes doutoramentos, porque sabem que não é verdade. Basta comparar dois desses notáveis monumentos sobre o passado, basta ler dois jornais ou ouvir e ver dois noticiários sobre o presente!!! O que vale saber a Historia? Como é que cada povo e cada geração lê a sua História? O que valem a História e as Tradições, à luz dos novos condicionalismos e desafios da época que vivemos? Longe de nós pretender imitar Herculano na beleza da escrita e na vivacidade e realismo romântico com que nos faz aparecer as personagens no seu ambiente com o rigor histórico em que ele é mestre segundo as leis de um são e fecundo romantismo da Época! “Seul est bon ce qu‟est vrai.” Fica o desafio para os incansáveis renovadores de Hoje, tentarmos construir o Futuro e o Desenvolvimento, com o mesmo ardor e verticalidade deste gigante da Literatura Portuguesa que não se coibiu de intervir como cidadão consciente e empenhado na transformação da Sociedade do seu tempo, até com a sua nobre retirada para Vale de Lobos aos 49 anos, onde veio a falecer, em 1877, com 67 anos de idade... Como complemento da constelação que formam as LENDAS DE BEJA, fomos copiar, dos LIVROS DE LINHAGENS atribuído ao Infante D. 226 Lendas de Beja – o Touro e a Cobra e outras LENDAS... Pedro, filho de D. Dinis, insertos nos PORTUGALIAE MONUMENTA HISTORICA, SCRIPTORES, o excerto das páginas 279-280... ... e assim continuar a saudável pilhagem que o Cigano Castanho e a Cigana Mariana continuam a fazer por este Alentejo fora, para assim devolverem ao povo o tesouro dos valores preciosos que lhe pertencem... 227 José Penedo – um deNómio de José Rabaça Gaspar 3.01.1 - A MORTE DO LIDADOR In LIVROS DE LINHAGENS atribuído ao Infante D. Pedro, filho de D. Dinis D. Gonçalo Mendez irmão de D. Soeiro Meendez, foi adiantado por ElRei D. Afonso Henriques na fronteira e venceu muitas lides, de que aqui nom falamos. E uum dia, indo a correr a par de Beja, houve duas lides ua com Almoleimar e a outra com Alboacém, rei de Tânger. E Almoleimar chamou-se vencedor das lides, porque era aventurado em elas, e havia tal forçaa, que em todo o homem que pusesse a lança, nom lhe valia armadura que se lhe nom quebrasse, que lha não metesse pelo corpo. E houveram aquele dia sua lide muito aficada e acharom-se ambos no campo e derom-se das lanças e for a terra. E ali faziam uuns e outros de todas as partes muito pera livrar aquele com que veera. E estando assi a lide muito aficada, chegou D. Egas Gomez de Sousa e D. Gomes Meendez Gedeam, e os filhos de D. Egas Moniz, de riba de Douro, e livrarom D. Gonçalo Meendez e puserom-no em uum cavalo. E ali foi mais aficada a lide, assi que os mouros nom no puderam sofrer e foram vencidos e morto D. Almoleimar e D. Gonçalo Meendez chagado de chagas mortaes. E os cristãos indo-se mui ledos pola vitória que houverom, como quer que muitos deles desperecessem, oolharom per uum grã campo e virom viir mil de cavalo quanto mais podiam. Este era Alboacém, rei de Tânger, que passara aquém-mar por cobrar o castelo de Mértola, que lhe tinha forçado um seu tio, o qual castelo fora de uum seu avôo deste Alboacém. Este Alboacém quisera seer na lide primeira de Almoleimar, e nom pôde, porque Almoleimar se coitou, rompendo a alva. 228 Lendas de Beja – o Touro e a Cobra e outras LENDAS... E disserom a D. Gonçalo Meendez em como aquelas companhas vinham; e ele chamou tôdolos seus fidalgos e fez com eles sua fala: "que sabiam em como fora voontade de Deus de leixar com eles D. Afonso Henriques por guarda daquela frontaria, nom pelo ele merecer, mas porque assi foi sua voontade; e que, como quer que cada um deles esto mais merecesse, que lhes pedia por mesura que, pois os mouros vinham tão acerca e em esto nom podia haver conselho alongado, que lhe prouguesse de ele dizer em esto aquelo que lhe parecesse‖. E eles todos louvaram-no, como aquele que era muito amado deles; e disse-lhe: Senhores, peço-vos um dom: que me outorguedes o que vos quero pedir. E eles louvaram-no, dizendo que nom podia seer cousa que ele demandasse que eles nom outorgassem, ca bem certos eram que nom demandaria senom todo aguisado e a sua honra deles. E porque ele estava mal chagado e entendia em si que a lide não poderia sofrer, por as grandes chagas que tinha no corpo, que lhe dera Almoleimar, de que perdia muito sangue, de que enfraqueciam as pernas e os membros, temendo-se do cavalgar com a fraqueza, o que ele encobria mui bem a todos, pediu-lhes que, se ele desperecesse naquela lide, que ficasse D. Egas Gomez de Sousa em seu logo, que era de boom linhagem e de grandes bondades. E eles responderom que Deus o guardaria de todo cajom e de todo o perigo; e, se tal cousa acontecesse, que eles fariam como lhe ele mandava A D. Gonçalo Meendez se mudava cada vez mais a cara do rosto, e entendeu sua fraqueza D. Afonso de Baião e disse-lhe que se desarmasse e que se assentasse no campo, ca eles todos morreriam ante ele ou venceriam. E ele disse que Deus nom quisesse que ele escondesse sua força, enquanto lhe pudesse durar antre taes amigos. E em esto os mouros vinham a grã pressa, como aqueles que tiinham 229 José Penedo – um deNómio de José Rabaça Gaspar que os cristãos achariam cansados e chagados da primeira lide que houverom. E em esto disse D. Gonçalo Meendez. Senhores, estes mouros vêm com grã loucura. Vamo-los receber! Ali desarrancarom todos contra eles e nas primeiras feridas caiu D. Gonçalo Meendez do cavalo, como aquele que estava já sem força. E os fidalgos, que eram muito seus amigos, e estremados em bondade, quando virom seu caudel, desejando sa vida sobre tôdalas cousas, faziam cada vez melhor, crescendo-lhes as forças, como aqueles que eram mazelados da perda de tal amigo que tiinham que já o nom podiam vingar, se ali o nom vingavam. E por esta grã força acendia-se cada vez mais e mais, como aqueles que eram de grã coraçom. E de todas as partes do mundo em aquele tempo esclareciam a sas bondades, das cavalarias que faziam. Ali se espedaçavam capelinas e bacinetes e talhavam escudos e esmalhavam fortes lorigas; e ferirom-se de tão dura força de tamanhos golpes, que os cristãos da Espanha e os mouros que desto ouvirom falar, dos talhos das espadas que naquele lugar forom feitos, disserom que taes golpes nom podiam seer dados per homens. E esto nom foi maravilha por assi teerem, ca i houve golpes que derom per cima dos ombros, que fenderom metade dos corpos e as selas em que iam e grã parte dos cavalos; e outros talhavam per meio, que as metades se partiam cada ua a sua parte. E disserom que Sant'Iago os fizera com sua mão; pero a verdade foi esta: eles forom dados por os mui bõos fidalgos com ajuda de Sant'Iago, e os mouros virom-se maltreitos, nom o puderom sofrer e forom vencidos. E os cristãos perecerom melhor da quarta parte; e forom a D. Gonçalo Meendez e acharom-no morto. E a tristeza e doo dos fidalgos foi mui grande, e levarom-no muito honradamente. Ele era de idade de noventa e cinco anos, e ali lhe puserom nome ―o boom velho Lidador‖, como quer que o já ante chamassem, havia grã tempo, ―Lidador‖. E oolharom por as chagas que tinha e houverom per 230 Lendas de Beja – o Touro e a Cobra e outras LENDAS... grande maravilha de lhe tanto durar a força, ca elas eram grandes e estavam em lugares mortaes. 231 José Penedo – um deNómio de José Rabaça Gaspar 232 Lendas de Beja – o Touro e a Cobra e outras LENDAS... 0.3.1 - OS MAGOS NO ALTO DA TORRE OS MAGOS DA CLAREIRA ESCONDIDA NA FLORESTA REÚNEM no alto da TORRE DO CASTELO E numa noite límpida depois de um dia quente de um verão ardente como são os do Alentejo, a assembleia dos Magos da Clareira escondida na floresta decidiu reunir-se no terraço mais alto da Torre do Castelo de Beja para não só poderem sentir as raízes do tempo e da terra em que ela está solidamente enterrada, mas também para poderem descortinar lá do alto, um tanto distanciados do barulho e do burburinho do formigueiro que se agita pelas ruas e casas da cidade, o sentido do tempo e da paisagem, o tempo e o espaço em que os acontecimentos se passaram, como tentar penetrar nos sinais da história que vive e constrói a sociedade actual. Além do mais, gozava-se ali duma frescura paradisíaca! que qualquer um de nós pode tentar sentir deixando-se vogar no mundo fantástico da imaginação mesmo que esteja a ler estas páginas num dia tórrido de calor ou num dia de frio gélido de Inverno... Os ciganos irrequietos e imprevisíveis que ali se tinham escondido para poderem desfrutar o panorama único de observar uma paisagem mágica ao redor de todo o horizonte transfigurado pela luz difusa da lua, arranjaram maneira de se dissimular entre a respeitável e ilustre assembleia dos sábios. Passavam mesmo a ser aceites como membros de tão luzidia assembleia, pois como era impossível ocultarem-se aos olhos penetrantes dos magos da clareira escondida na floresta, estarem ocultos e tentarem esconderem-se era o mesmo que estarem presentes e a partilhar a discussão, ao menos como ouvintes atentos e sedentos de tudo ouvir para melhor ver... 233 José Penedo – um deNómio de José Rabaça Gaspar Ouvimos, caras cofadas e comagos o relato comovente atribuído ao infante D. Pedro, filho de D. Dinis, tentando ouvir os ecos das vozes dos tempos medievais em que se enaltece a força e a coragem dum velho Lidador de noventa e cinco anos que além de excepcional combatente capaz de sobreviver aos golpes de Almoleimar ―que havia tal força que em todo homem que pusesse a lança, nom lhe valia armadura, que se lhe não quebrasse, que lha nom metesse pelo corpo.‖ era um chefe igualmente excepcional que não se sentia digno de comandar tão nobres companheiros de armas e, antes de morrer, e para prevenir a hipótese lúcida da sua morte, ali, sem detença, nomeia seu substituto a D. Egas Gomez de Sousa “que era de boom linhagem e de grandes bondades‖. Vem então uma segunda lide contra o imenso exército de Alboacém em que, apesar de o Lidador cair logo no primeiro embate, é uma hipérbole fantástica ao valor e força dos cristãos que só poderia ser explicada pela intervenção do maravilhoso cristão dizendo os próprios agarenos que desta luta ouviram falar ―que taes golpes nom podiam seer dados per homens.” “...a verdade foi esta: eles forom dados por os mui boos fidalgos com a ajuda de Sant'Iago‖. É esta a verdade documentada do cronista medieval, à distância de quatro ou cinco reinados!!! Desta verdade medieval, o grande mestre da História e das Letras que foi Alexandre Herculano talha com golpes de artista mestre mais uma das suas espantosas Lendas e Narrativas em meados do século dezanove filmando com rigor imbatível os homens de armas e suas vestes, cavalos arreios e armaduras, como tenta dar-nos conta do seu estado de espírito perante a luta de conquista em que estava empenhada toda a península no afã de expulsar os mouros e impor a 234 Lendas de Beja – o Touro e a Cobra e outras LENDAS... soberania dos senhores cristãos... que desde há quatro séculos vinham descendo das Astúrias!!! O que eram esta luta e estes tempos, só o podemos tentar compreender lendo-o na mestria impressionante como o grande mestre e escritor nos resume cinco séculos de história e neles retrata Beja e estas batalhas que aconteceram no mês de Julho de 1170 quando “se viam ondear as searas maduras ainda não cegadas, cultivadas por mãos de agarenos para seus novos senhores cristãos. Regadas por lágrimas de escravos tinham sido esses campos, quando em formoso dia de Inverno os sulcou o ferro do arado; por lágrimas de servos seriam outra vez humedecidos, quando, no mês de Julho, a paveia cerceada pela foice, pendesse sobre a mão do ceifeiro; choro de amargura havia aí, como, cinco séculos antes, o houvera: então de cristãos conquistados, hoje de mouros vencidos.”..."Nesta luta de vinte geraçõoes andavam lidando as gentes do Alentejo.”... E oito séculos depois? Quem eram e quem são as gentes do Alentejo? Quem eram e quem são os habitantes do ALENTEJO ou seja desta Região que se estende desde a margem esquerda do Tejo até às serras muralhas do Algarve? Quem lhe pôs o nome? Por quem, e por quê, e porque combatiam estes valorosos senhores que até vieram de riba Douro e se envolviam em terríveis e encarniçadas lutas enquanto as searas eram sulcadas regadas e cegadas pelo suor e pelo sangue de servos e escravos que ora eram cristãos ora agarenos vencedores?! Vem com certeza desses tempos da reconquista o nome de além Tejo e do além Garbe, que depois se estendeu até aos Além - Mar 235 José Penedo – um deNómio de José Rabaça Gaspar Mas, antes de nos adiantarmos, é a partir deste ambiente e dos dados gerais recolhidos que temos de partir para perceber a História ou a Lenda ou porque não, para tentar perceber a História através da Lenda. A mão de mestre, escritor e historiador de Herculano, dá-nos o filme da movimentada campanha que celebrava os noventa e cinco anos do fronteiro de Beja... Baseado no relato atribuído ao infante D. Pedro, eis como Herculano nos relato o filme daquele dia de Julho de 1170... ―Trinta fidalgos, flor da cavalaria, corriam, à rédea solta pelas campinas de Beja; trinta, não mais, eram eles; mas orçavam por trezentos os homens de armas, escudeiros e pajens que os acompanhavam.‖ Aí está Herculano, no século dezanove, depois de ter lido aquela crónica e com os conhecimentos de história medieval em que era mestre, a relatar-nos, para vermos em directo, um típico fossado de uma trintena de cavaleiros e seus homens de armas... logo a seguir a esta corrida inicial, o recontador do episódio vai focar a figura e feitos dos que mais avultavam entre o pequeno exército cristão e os poderosos chefes árabes que comandavam uma extensa e profunda linha de cavaleiros mouros... que depois de vencidos foram socorridos por Ali-Abu-Hassan ―que viera com mil cavaleiros em socorro de Almoleimar.‖... É preciso ler, ler de novo aqueles impressionantes nove capítulos pintados com letras pelo magistral Herculano e depois... depois ver, ver de novo o filme devidamente enquadrado no seu tempo medieval, recuando seis, sete séculos, e levar-nos ainda mais cinco séculos para trás do início da nossa nacionalidade como Portugal, caminhar talvez mais para trás até aos tempos dos romanos e Lusitanos e mais 236 Lendas de Beja – o Touro e a Cobra e outras LENDAS... ainda... para apreendermos as nossas autênticas e profundas raízes... Terá sido este o motivo que levou Herculano a reconstituir, rescrevendo-a, esta última lide do Lidador? Quem somos afinal e para onde vamos? Pelo nome - ALENTEJO - somos possivelmente os herdeiros dos conquistadores que baptizaram desde há longo tempo estas terras com o ferrete dominador e colonizador de distância e exploração. Quem, senão uns senhores vindos do norte, podiam conceber o nome de Além-Tejo? Só podia ser além do Tejo para os cristãos poderosos que vieram do Norte, das Astúrias, dos Montes Cantábricos e do Nordeste, vindos das Castelas e das Gálias, com toda a carga de séculos de vingança contra os árabes ocupantes. Já antes, estas mesmas terras, tinham sido possivelmente Terras de Além-Mar para os sarracenos que vieram do Norte de África e do Oriente. Antes destes, já tinham sido cobiçadas pelo Império Romano que, no coração do Alentejo, apelidou esta Terra de Pax Julia que passou sucessivamente a Paju - Baju - Beja, tudo isto a marcar as sucessivas ondas de ocupantes e conquistadores que por aqui passaram. Ou, seremos os sucessores dos povos primitivos que aqui viveram e a quem pertencia esta terra? Desde quando? Quem foram eles? Quem somos nós? Interrogações angustiantes mas de difícil resposta. Somos com certeza uma mistura em que os primitivos e os sucessivos invasores se amalgamaram e onde houve sempre grandes senhores, poucos, mais ou menos trinta, servidos por um punhado de homens de mão, que punham à sua disposição a multidão de escravos que era toda a população que procurava viver da terra e do trabalho, fossem seus 237 José Penedo – um deNómio de José Rabaça Gaspar senhores cristãos, visigodos, agarenos ou cúneos... Cada grupo esperava os seus salvadores, e a cada grupo de salvadores que chegava sucedia-se a reciclagem dos servos e dos escravos que justificava, para os salvadores, o trabalho de os terem libertado. E, na base da pirâmide social, permaneceram e permanecem sempre os que servem de alicerce e base para que essa pirâmide se mantenha de pé. Até quando? Até descobrirem que a podem fazer desmoronar por completo. Mas isso seria o caos e a desordem completa e a sociedade cairia na anarquia ineficaz, como defendem os mentores da ordem estabelecida, mesmo a seguir a uma espécie de revolução e mudança como pode ser visto por numerosos episódios da história como este em que o Lidador nos libertou dos poderosos opressores mouros... E se fossemos dominados pelos mouros? Leríamos nós agora na história e nas lendas que tínhamos sido libertados dos temíveis opressores cristãos, por um heróico Almoleimar ou Albuassén?!... Que blasfémia meu Deus, quando pretendemos que as lendas e as histórias tenham um fim educativo e formativo e preparem as nossas crianças e jovens para a sociedade em desenvolvimento... É exactamente por isso que queremos deixar aqui as pistas possíveis de análise e desmistificação dos nossos mitos mais mitificados, para que dando a possibilidade de as nossas crianças e jovens e adultos se formarem na libertação de todos os preconceitos e tabus absurdos, tenham a possibilidade de construir um Mundo Melhor com um Desenvolvimento gratificante para a Humanidade no seu Global em que todos, todos os seres humanos possam participar consciente e responsavelmente conseguindo o máximo da sua realização pessoal na sociedade a que pertencem e que, afinal, é a Humanidade na sua globalidade de Tempo e de Espaço. 238 Lendas de Beja – o Touro e a Cobra e outras LENDAS... Claro que estas tiradas fastidiosas e quiçá de difícil deglutição, eram achegas de diversas fadas e magos, de sábios mais experientes e doutros menos maduros e letrados, mas todos a contribuírem para uma descoberta do que se pode ler através dos acontecimentos e dos tempos e, ainda por cima, com a fragilidade perigosa de os relatos serem relatos narrados, contados, descritos, e portanto nascidos de uma ficção que pode tentar dar-nos a realidade na sua totalidade mas que todos sabemos que é impossível e daí a sua fraqueza e a sua grandeza quando se trata de uma autêntica obra de arte nascida do génio popular ou erudito, porque o génio humano não está dependente dos aprendizes de feiticeiro que procuram castrar a criatividade humana. No meio disto tudo o nosso simpático e sequioso par de ciganos de olhos esbugalhados a olhar para o modo como os outros povos e outras raças tentam conhecer-se e exprimir-se e exprimindo-se conhecer-se e dar-se a conhecer, estavam pura e simplesmente boquiabertos por lhes parecer incrível serem precisas tantas discussões e discursos para descobrirem as fraquezas e virtudes tão evidentes e observáveis da Natureza Humana que não é só deste povo desta região como de todas as outras... É ver como eles ciganos chegados de fora são acolhidos quando chegam a uma região estranha... como afinal são todas por onde se movimentam, ou não é nenhuma, porque eles vêm e são das Terras de Santa Maria e Todo o Mundo e têm as suas raízes e a sua liberdade nos seus costumes, tradições e leis que, vistos de fora, parecem incrivelmente coercivos e limitadores... Então, ou chegam desprotegidos e discretos e podem ser tolerados, ou chegam como poderosos e ricos senhores e serão aceites e imporão as suas actividades e até as suas extravagâncias... 239 José Penedo – um deNómio de José Rabaça Gaspar É afinal o mesmo que acontece com os habitantes de origem ou aqui radicados! Ou jogam o jogo dos interesses do poder estabelecido, ou continuam ou passam a ser o sustentáculo dos que se querem arvorar em salvadores do povo e perpetuar a exploração, a colonização e o aproveitamento só para alguns, das capacidades da região e das suas gentes. Claro que não há os servos da gleba nem escravos nem torturados em masmorras da Idade Média... Mas há o isolamento, a falta de estímulo, o desprezo, a falta de motivação para trabalhar, a falta de poder de compra, a sobrecarga de trabalho repetitivo e monótono, a falta de diálogo... com todo o cortejo de meios refinadamente destrutivos quer económica, quer física, quer psicologicamente... Tantas pistas de leitura a partir de um simples relato de um episódio medieval? Nós diremos: Tão poucas!!! A participação de todas as ciências sugeridas pela Escola dos Magos da Clareira Escondida na Floresta e o contributo da Hermenêutica e da Semiologia para analisar todas as pistas dos Signos Símbolos e Índices que um texto nos revela poderia levar-nos à recriação de um TEXTO tecido de fios e cores realizando uma textura de variedade e beleza insuspeitadas... Assim, são só algumas pistas que deixamos abertas para caminharmos de descoberta em descoberta na prossecução de uma Verdade que, porventura, pensávamos que já tínhamos adquirido... Vamos sair daqui, que já temos uma parte bem boa do tesouro das Lendas e Tradições e da História deste povo para lha devolvermos inteira ficando nós e eles muito mais ricos... 240 gritaram mudos os Lendas de Beja – o Touro e a Cobra e outras LENDAS... ciganos, a ladina Cigana Mariana e o vivaço Cigano Castanho,... e ala! que se faz tarde e já ganhámos a noite, que é, como dizem os outros: Já ganhámos o dia! Vamos mas é ainda saber de outros episódios e acontecimentos que se deram neste Castelo e nesta Torre altaneira e dominadora que se ergue acima da planície por luas e léguas ao redor, e muito tem ouvido ou visto deste estratégico ponto de observação e muito tem para nos contar ou mostrar de tudo o que deu conta através deste Espaço imenso e dos Tempos e Ventos que sopraram... Há por aí a História de uma Revolução contada por um conversador espantoso que escrevia para as pessoas ouvirem e verem aquilo que dizia. Parece que um tal senhor Fernão Lopes que nos relata como se fosse um cinema impossível de fazer nos filmes o que se passou nesta cidade de Beja e com as suas gentes... Mas os acontecimentos não começaram aqui e por esta semana já chega, e vamos à vida que também precisa de comer, de beber e Amar... 241 José Penedo – um deNómio de José Rabaça Gaspar 242 Lendas de Beja – o Touro e a Cobra e outras LENDAS... 3.02 - REVOLUÇÃO EM BEJA – 1383/1385 CAPÍTULO 42 DA CRÓNICA DE EL-REI D. JOÃO I DE BOA MEMÓRIA de FERNÃO LOPES 243 José Penedo – um deNómio de José Rabaça Gaspar 244 Lendas de Beja – o Touro e a Cobra e outras LENDAS... A INSURREIÇÃO NA PROVÍNCIA COMO FOI TOMADO O CASTELO DE BEJA E MORTO O ALMIRANTE MICER LANÇAROTE Quando foi morto o conde João Fernandes e feito o levantamento de Lisboa, a rainha mandara as sua cartas pelo Reino, tanto aos Alcaides dos castelos como aos notáveis das vilas e cidades, queixando-se do que havia acontecido, e dizendo-lhes como haviam de proceder na aclamação de D. Beatriz sua filha, rainha de Portugal. E escreveu também a El-Rei de Castela que tratasse de vir depressa ao Reino. Já então, como adiante podereis ver, ele estava na Guarda. De modo que, tanto por causa da sua vinda como por os mais dos fidalgos do Reino estarem do lado da rainha, foi levantada voz e pendão por sua filha, na forma como ela escrevera nas suas cartas. Mas esta aclamação era dura de ouvir à gente pequena dos lugares. E não podendo os pequenos opor-se às grandes pessoas, consumia-selhes o coração de angústia, consentiam-no com medo e temor contra o qual não tinham defesa. Assim aconteceu em Estremoz: quando João Mendes de Vasconcelos, primo da Rainha D. Leonor, que naquele tempo tinha o castelo, mandou aclamar a rainha D. Beatriz, e trouxeram o pendão pela vila. Lopo Afonso e Lourenço Dias, com alguns outros do lugar, como viram que o outro povo estava agitado e descontente com tal feito, logo disseram que era preciso pôr na praça um cepo e um cutelo para decepar os que se opusessem ao que eles faziam. 245 José Penedo – um deNómio de José Rabaça Gaspar E, durando esta divisão nos corações de uns e de outros, foi sabido pelo Reino como o Mestre assumira o encargo de Regedor e Defensor dos Reinos e como tomara o castelo de Lisboa e o tinha em seu poder. E a alguns do Reino que disto souberam parte aprouve muito, especialmente aos povos miúdos; a outros, diferentemente, que estavam da parte da rainha pesava assaz, posto que pensassem que tudo isto era em vão. Ora aconteceu que em Beja estava por alcaide Gonçalo Vasques de Melo e tinha o castelo em nome da rainha. Nisto escreveu outra vez a rainha suas cartas ao concelho de Beja para que não deixassem de ter voz por ela e, se acontecesse El-Rei de Castela vir por ali, o acolhessem na vila sem nenhum receio nem temor, porque ele os defenderia de quem quer que lhes quisesse fazer mal e lhes faria por isso muitas mercês. Recebidas as cartas pelos principais do lugar, mandaram deitar pregão pela vila que todos no outro dia fossem ouvir recado de cartas que sua senhora a rainha mandara. No dia seguinte juntaram-se Estevão Mafaldo e João Afonso Neto e mestre João e Rui Pais Sacoto e Mendes Afonso e outros notáveis do lugar; apartaram-se todos à porta pequena de Santa Maria da Feira e começaram a ver aquilo que a rainha lhes escrevera. Era muito o povo que estava pelo adro, aguardando que lhe dissessem que novas eram aquelas que a rainha mandava dizer. E, sentindo-se apertados os corações de todos, disse um que chamavam Gonçalo Ovelheiro para os outros: Não está agora aqui ninguém que vá saber que cartas são estas, ou que recado é este que a rainha manda? Falou então um bom escudeiro a que chamavam Gonçalo Nunes de Alvelos, que não era dos grandes nem dos mais pequenos, e disse para Vasco Rodrigues Carvalhal: Queres-me tu ajudar e iremos saber que cartas são estas? 246 Lendas de Beja – o Touro e a Cobra e outras LENDAS... E ele disse que lhe aprazia. Então juntaram-se com eles até uns trinta e chegaram até onde estavam aqueles notáveis. Falou Gonçalo Nunes e disse: Que cartas são estas que vós assim ledes de que nós não sabemos parte? Porventura esta vila se há-de manter e defender por quatro ou cinco que vós aqui sois? Certamente não, mas por nós outros que cá moramos. Disse então Estevão Mafaldo. Que união é essa com que vós assim vindes? Respondeu Gonçalo Nunes dizendo: Isto não é união, mas queremos saber que cartas são estas. Falou então Mendes Afonso e disse que ele perguntava bem e era razão que as vissem. Então se meteram todos os notáveis no Paço do Concelho, e parte dos outros com eles, e, lidas as cartas, deram-nas a um tabelião que as publicasse aos de fora. E ele saiu a eles e disse-lhes: Amigos, o feito é este, eu não sei para que mais me deter em ler o que aqui vem. A conclusão é esta: se quereis antes ter com a rainha ou com Mestre. E eles responderam todos a uma voz, dizendo: Com o Mestre! Com o Mestre! Esses maiorais, quando isto ouviram, partiram-se logo cada um para sua pousada e não ousavam mostrar-se. Eles nisto, sem mais tardança, viram aparecer gente de armas no Castelo. Então começaram todos a bradar: Levanta-se o castelo! Levanta-se o castelo! Gonçalo Nunes cavalgou à pressa e os outros todos se foram armar e começaram logo a atacar o castelo. O alcaide, quando isto viu, pôs fogo a duas torres em que estava muita munição, para os da vila se não aproveitarem dela, no caso de ser o castelo tomado; e, os de dentro, defendendo-se rijamente e ferindo alguns dos atacantes, 247 José Penedo – um deNómio de José Rabaça Gaspar puseram os da vila fogo às portas do castelo, e logo que estas arderam entraram dentro numa quarta-feira a horas de comer. E o alcaide foi levado e posto a salvo por amigos seus. Gonçalo Nunes e Vasco Rodrigues apoderaram-se logo do castelo e aclamaram o Mestre, rondando e vigiando a vila, em nome dele, com as portas fechadas. Estando assim a vila vigiada, chegou alguns dias depois, de noite, um homem de Campo de Ourique, montado numa égua, e falou aos da vigia para que dissessem aos que tinham a cargo reger a vila que naquela tarde chegara Micer Lançarote a um lugar chamado Os Colos, que era dali nove léguas, a caminho de Odemira, que é no reino do Algarve, para levantar esta região e aclamar El-Rei de Castela. Quando isto soube, Gonçalo Nunes tomou consigo cinquenta homens de cavalo, cem besteiros e peões. Caminharam toda a noite de modo que chegaram a Os Colos ao alvorecer. O almirante e os seus tinham já selados os cavalos para partirem; e assim armados como estavam foram todos presos, com mouros e mouras e azêmolas e quanto haver levavam. Aos homens tomaram as armas e os animais e deixaram-nos ir, e o almirante veio para a vila montado numa mula. Chegado aqui meteram-no na torre de menagem, dizendo ele afincadamente a todos: Amigos, mandai-me bem preso a arrecadado a meu senhor o Mestre, e não me queirais matar sem porquê. Eles respondiam que no tivesse medo. E enquanto Gonçalo Nunes foi levar ao Mestre tudo quanto tinham tomado ao almirante, os da vila, receando que ele se levantasse com o castelo, foram lá todos um dia e disseram a Vasco Rodrigues que ficara a comandar o castelo que o pusesse cá fora. Vasco Rodrigues, receando-se deles, retirou-se para sua casa e deixou-o na torre. 248 Lendas de Beja – o Touro e a Cobra e outras LENDAS... O almirante quando viu isto começou a defender-se o melhor que podia; e bradando-lhe eles que viesse cá abaixo e não tivesse medo, assim o fez. Mas pensando encontrar neles piedade e compaixão, foi morto de má e aviltante MORTE. Assim acabou os seus últimos dias. "... os seus postumeiros dias.” 249 José Penedo – um deNómio de José Rabaça Gaspar 250 Lendas de Beja – o Touro e a Cobra e outras LENDAS... img023 – o largo de Santa Maria da Feira com o Castelo em fundo… “...apartaram-se todos à porta pequena de Santa Maria da Feira e começaram a ver aquilo que a rainha lhes escrevera.” p. 246 251 José Penedo – um deNómio de José Rabaça Gaspar 252 Lendas de Beja – o Touro e a Cobra e outras LENDAS... 0.3.2 - ...os magos… observam agora a história, do alto da torre do castelo… … os magos da clareira escondida na floresta observam agora a história, do alto da torre do castelo, descendo até à profundidade de 1383, 1385; e, guiados pelo magistral-prodigioso-sedutor FERNÃO LOPES, levam-nos pela mão para ver e ouvir. e para ouvindo e lendo, assim ficarmos envolvidos e avisados pela história ... Os magos que a anteriormente se tinham reunido no alto da torre do castelo para daí observarem o nascimento da nossa nacionalidade como povo, nos tempos de D. Afonso Henriques o conquistaDOR, o fundaDOR, e do seu homem de confiança e fronteiro de Beja: o lidaDOR, acharam que não havia melhor ponto de observação para olharem e ouvirem os tempos e os espaços que correram duzentos anos depois, tão vivamente relatados por Fernão Lopes, do que O ALTO DA TORRE DO CASTELO... Aí o vamos encontrar a si, caro leDOR, na companhia da Cigana Mariana e do Cigano Castanho, a tentar ler connosco a DOR e todos os sentimentos que moveram estes personagens destas histórias. Com que DORES lidaram eles para realizarem os seus feitos? O que era para eles a DOR? A HONRA por exemplo? O ÓDIO? O AMOR? Que DORES conquistaram? Em que DORES e VALORES fundaram a sua vida e o país que nos deixaram?... Por sorte temos a guiar-nos o mago do visualismo, dum tempo em que nem o cinema nem o vídeo existiam e ainda bem, pois creio que não conseguiriam guiar-nos com a mesma leveza e profundidade como este mago das palavras, consegue fazer com a sua escrita... Escrita feita para ouvir e ver, mesmo para analfabetos que eram a maioria dos portugueses do seu tempo, Fernão Lopes leva-nos a ver e a ouvir a história, não a sua escrita ou a sua história, e assim, pega 253 José Penedo – um deNómio de José Rabaça Gaspar no leitor vedor-ouvinte, obrigando-o livremente a ver porque, ele até pode fechar os olhos e os ouvidos, e depois, a ficar sem remissão envolvido na história, mesmo os que fecharam os olhos e os ouvidos, porque como seres sociais terão de ficar comprometidos... Não se pode ler Fernão Lopes e ficar como espectador indiferente. Tem que se ficar participante. Ou antes, só os que se sentem participar na história, intervenientes da história do seu tempo, podem entender Fernão Lopes e os acontecimentos da Época que ele relata... Ora esguardai, como já dantes vistes e ouvistes, aquilo que se passava naqueles tempos por todo o Reino de Portugal e de Castela. Não era uma luta de independência ou predomínio entre reis e senhores que queriam o seu reino e a sua independência!... A própria rainha queria entregar seu Reino ao Reino de Castela! Do que se tratava no fundo, naquele tempo como agora, era de um Povo que queria o seu espaço e a sua terra para viver nela em Liberdade e realização... dizia uma das fadas que aprendera a ler a história através dos tempos. Pouco ganharam com isso é verdade, porque a história que nos relata REVOLUÇÕES, relata-nos sempre as fraquezas e desvarios que aconteceram quando o poder cai na rua e é apanhado pelo povo abandonado e oprimido que não cresceu a saber usar a sua liberdade e se comporta como criança ingénua e incapaz de assumir responsabilidades... Comete todo o tipo de crimes e loucuras e... nem tem tempo para ver e se arrepender como ÉDIPO da lenda, que ao descobrir que tinha morto o seu pai e dormido com a sua mãe, fura os olhos com alfinetes e coberto de andrajos, abandona Tebas onde reinava como senhor todo poderoso! Como criança abandonada que não dá conta dos crimes que comete, aparecem logo os educadores responsáveis e previdentes que, mais ou menos rapidamente, e com mais ou menos violência, metem tudo de novo na ORDEM que lhes convém e tudo volta à normalidade... não fosse o povo ter tempo de, com o tempo, poder aprender alguma coisa para saber usar o poder... Isto é sabido pelos grandes que, 254 Lendas de Beja – o Touro e a Cobra e outras LENDAS... como vimos no relato da página cento e sessenta, cento e sessenta e um embora lhes pesasse a alegria dos povos miúdos dos lugares, iam pensando que tudo aquilo seria em vão...”E a alguns do Reino que disto souberam parte aprouve muito, especialmente aos povos miúdos; a outros, diferentemente, que estavam da parte da rainha pesava assaz, posto que pensassem que tudo isto era em vão.” Porquê? Porque aqueles que se apoderam do poder e da força do povo podem e ou procuram poder ter o tempo de poder cometer os erros que quiserem para adquirirem experiência e rodagem para manobrar... pois ninguém nasce predestinado para se instalar seguro no poder... nem os reis! Para vermos isto acrescentaram outros e outras intervenientes daquela assembleia de magos da clareira escondida na floresta que estavam reunidos no alto da torre do castelo mestre Fernão Lopes dá-nos em resumo uma visão global do que se passava em todo o reino, não esquecendo o que já relatou desde o início, pois vamos no capitulo 42 duma primeira parte que tem 193 capítulos em que, depois, o mestre da escrita visual nos faz passar visceralmente pelas tribulações e padecimentos que passou o povo de Lisboa durante o cerco montado pelo rei de Castela e como resistiu e finalmente como o Mestre de Avis foi aclamado Rei e nomeou Nun‘Álvares como condestável do Reino; e uma segunda parte com 203 capítulos em que a luta pela independência culmina com a Batalha de Aljubarrota em que nos relata, em resumo, como poucos, muito poucos, cheios de medo, mas unidos e bem comandados podem muito; e muitos, mesmo muitos, com diversos interesses e mal comandados podem muito pouco e são derrotados! Daí até se confirmar a nossa independência e este povo se lançar nos descobrimentos, entraram as negociações, e os grandes chefes e senhores retomaram os seus poderes e posses ou foram substituídos por outros, e até a inquisição foi pedida pelos reis para meter na ordem os mais arredios e tornar mais fácil o engrandecimento da 255 José Penedo – um deNómio de José Rabaça Gaspar riqueza e poder dos mais poderosos, e... dominado o povo e democratizado... lá se continua a escrever a história... mesmo com os erros e crimes dos poderosos e tiranos... É aqui, neste enquadramento, que encaixa a leitura do capitulo 42 da Crónica de El-Rei. João I de Boa Memória de Fernão Lopes. Tendo em conta o que se passava em todo o reino, o relato do que se passou em Beja é um sério aviso contra as falsas ilusões! É ver como, nos capítulos imediatos à revolução em Beja, Fernão Lopes nos leva a observar o que se passou em Portalegre e Estremoz, e como o povo era intimidado e se revoltava. Mostra nos logo a seguir e ao mesmo tempo, os desatinos que se cometeram em Évora e levando-nos depois até ao Porto e por aí adiante até ao Cerco e a aclamação do Rei e à distribuição de favores, poderes e riquezas... que vão criar os alicerces da nova dinastia da época em que Portugal se vai lançar pelo Mundo a descobrir... A chegada das cartas a Beja e os processos democráticos usados pelos dirigentes para as dar a conhecer, vão precipitar os acontecimentos e permitir, pelo menos aparentemente, a realização de uma quase ilusão: que o povo toma o poder… A repressão e violência que vai ser preciso para meter tudo de novo nos eixos, sabemo-lo, ou só podemos adivinhá-lo um pouco pela história que se seguiu e pelo latifundismo e morgadio que imperaram ferozmente nos séculos seguintes aqui no Alentejo... Basta ver A História da Inquisição em Évora, do Professor Borges Coelho, ou ler/ver a história das Casas de Avis e Bragança e, por exemplo, a Seara de Vento de Manuel da Fonseca, ou o Levantado do Chão de José Saramago, para se ter uma ideia. O episódio da morte de Mice Lancerote, como o caso da morte do Bispo em Lisboa, como a morte da abadessa de Évora, são os factos vivos, viva e emocionantemente relatados, índices ou signos de todos os desatinos e desvarios de que um povo sem maturidade pode cometer em todos os tempos... mesmo na revolução russa... 256 Lendas de Beja – o Touro e a Cobra e outras LENDAS... mesmo na revolução chinesa... mesmo no vinte e cinco de Abril... mesmo na independência prematura com décadas de atraso das colónias províncias ultramarinas que não estavam preparadas para assumir as suas riquezas e os seus valores, para justificar que todos os povos de ALÉM-MAR-TERRA-TEJO-GARVE-DOURO ou outros, como quaisquer outros que não sirvam interesses centrais, não estão preparados para assumir a sua independência e a assumir os seus valores e a sua cultura, e assim as regionalizações vão ser implementadas por pessoas devidamente escolhidas e preparadas, como o caso das televisões e rádios e universidades e Alquevas... para que, com uma farsa bem montada de pretensa regionalização, a colonização perdure e se perpetue, embora com processos mais refinados e democráticos... Porque, inquisição, não; mas saneamentos sim. Condenações à morte e prisões, só algumas; mas desprezo, marginalizações, falta de meios, falta de condições de trabalho, boicotes, impedimentos, falta de implementação de trabalhos que vão fundo na recolha e estudo dos valores regionais e locais... isso continua, mesmo à beira do ano dois mil e da aproximação de uma entrada solene e ao mesmo tempo boa e perigosa na comunidade europeia!!!?... Essas coisas locais e regionais continuam a ser estudadas pelas universidades distantes in competentes, em nome da competência, por doutores distantes ou génios que tudo abarcam, sem uma implantação séria, válida e visceral que promova, imparavelmente, o desenvolvimento com a afirmação dos valores de cada Região! Como o Esopo das fábulas, o escravo a quem é prometida a liberdade a troco da obra que tinha criado, perguntamos aos que nos oferecem a liberdade, sem nos permitirem alcançá-la por nós: Onde tendes preparado o precipício para os homens livres? E, a pé, sem guardas, nem ajudas, caminhou sozinho!... Há interpretações quem nos acuse de abusarmos em análises disseram umas fadas e uns magos, já cansados. 257 e José Penedo – um deNómio de José Rabaça Gaspar São muitos e complexos os sinais das lendas e história. Parece que assim fechamos portas possíveis à leitura e leituras que as pessoas podem fazer... Não fechamos, caras cofadas e comagos. Em vez de fecharmos uma, desafiamos as pessoas a abrirem mil... E o mais grave, é que ainda hoje, passados mais de seis séculos depois de 1383/5 e passados mais de vinte e cinco séculos, depois de Esopo, ainda há Escolas, Ministérios e Serviços de Cultura que oferecem trabalho e condições de subsistência a pessoas a troco da sua liberdade de pensar e da sua criatividade! E ainda há quem responda: onde tendes preparado o precipício para os homens livres? comentou um desconhecido que tinha ficado toda a reunião em silêncio! - Há de facto, ainda hoje, mil portas por abrir... ... Quer dizer que nós, é que vamos ter de ler o que significam todas estas coisas? perguntou a cigana Mariana. É isso mesmo, - respondeu o Cigano Castanho, muito pensativo preocupado. Mas a mim falaram-me da história, duma mulher que se chamava MARIANA como eu. Também já ouvi falar, mas não sei quem é. Fala-se mas é dumas CARTAS que ela se calhar nem escreveu!... Então, lá teremos de tentar ler as CARTAS DA MARIANA, disse a cigana Mariana... A janela dela, dizem, é aquela do convento que dá ou dava aqui para as portas de Mértola... Vês! Aquela lá por cima do terraço... ... Ainda um dia me hei-de ir sentar junto às grades daquela janela e tentar perceber os amores daquela Mariana... – disse a cigana, que também era Mariana, com os olhos revirados de ironia... ... 258 Lendas de Beja – o Touro e a Cobra e outras LENDAS... 3.03 - MARIANA ALCOFORADO - A FREIRA DE BEJA a realidade as cartas e a lenda 259 José Penedo – um deNómio de José Rabaça Gaspar 3.03.1- MARIANA ALCOFORADO – a história possível… A FREIRA DE BEJA uma realidade semelhante a tantas outras No ano de 1640, ano em que ia acontecer a Restauração em Portugal, numa casa que dá de esquina para rua do Touro, e se abre para a Praça D. Leonor e para o Largo que tinha a antiga capela de S. João, nasceu uma menina a que puseram o nome de Mariana. Já tinha uma irmã, Ana, dois anos mais velha e, até 1649, ainda nasceram os irmãos Baltazar, cinco anos mais novo, Catarina e Miguel, nove anos mais novos, e depois de ela já estar no convento, a família ainda foi abençoada com mais três rebentos, o Francisco, quando Mariana tinha quinze anos, Filipa, três anos depois e Maria, a Peregrina, quando a freira fazia vinte anos e já tinha nove de convento e quatro de profissão religiosa. A feliz família era dos Alcoforados que, pelos dados que temos, não seria dos maiores nem dos mais pequenos, mas não fugia, até por isso mesmo, à instituição dos Morgadios. Como muitas vezes acontecia nesta época, o filho mais velho conservava a herança paterna, o património familiar, que devia conservar e se possível aumentar com um bom casamento; os outros irmãos seguiriam a carreira das armas ou a vida eclesiástica, e as raparigas?, ou a família conseguia um casamento rico ou estavam destinadas ao convento. Foi para isso, aliás, que foi criado o Convento de Nossa Senhora da Conceição em Beja (1459?-1890?)??? Foi sobretudo por isso? Parece podermos deduzir que foi criado para que as boas famílias vivessem na Paz e na Prosperidade! Assim esta feliz devota e razoavelmente próspera família, cedo destinou o futuro à gentil menina que não seria muito feia, mas não teria a beleza esplendorosa que viesse a desencantar um príncipe encantado. Aliás 260 Lendas de Beja – o Touro e a Cobra e outras LENDAS... já tinha uma irmã mais velha e, aos nove anos, já tinha pelo menos dois irmãos varões para que a ilustre família tivesse assegurados os Bens e a continuidade. Assim, Mariana entrou aos 11 anos, 1651, para o Convento de Nossa Senhora da Conceição, onde professaria cinco anos mais tarde, partilhando a comunidade com as freiras, na sua maior parte também de boas e até ricas famílias que ali estariam, não por vocação ou devoção, mas por desgostos de amor, algumas? poucas!, mas como já podemos calcular, sobretudo por determinação paterna que tinha de zelar escrupulosamente pela manutenção ou aumento dos rendimentos familiares e não pelo seu esbanjamento, como aconteceria se fosse dada em casamento a algum digno pretendente, ainda por cima, com dote adequado!!! Nestas circunstâncias, é evidente, que para estas senhoras, viverem entregues à sua fé e fervor religiosos, teriam a servi-las uma quantidade de devotas e fervorosas religiosas que, por vocação? (provocação? ou porbocação), ou devoção?!, ou obrigação!? mais ou menos voluntária, assim fugiam ao duro trabalho das classes mais baixas. Seguindo ainda a mesma ordem de raciocínio ou de juízos temerários que estamos a desenvolver, haveria tudo a esperar destas santas devotas: um misticismo religioso assoberbado a sublimar as frustrações recalcadas, ou então os devaneios fantásticos a dar asas aos sonhos e inclinação natural para o casamento e a maternidade!!! Mariana só dali viria a sair, se é que se pode chamar sair a saída para o cemitério que era debaixo das lajes que vieram a ocupar duas quadras do convento, com 83 anos de idade, quando morreu em 28 de Julho de 1723. E ali ficaria, ilustre e desconhecida, como aconteceu à grande maioria de ilustres desconhecidas irmãs que durante quase quatro séculos e meio, mais de vinte gerações, passaram pelo Convento de Nossa Senhora da Conceição de Beja, não fossem as célebres CINCO CARTAS a gritar o encanto dos amores que teria tido a dita de 261 José Penedo – um deNómio de José Rabaça Gaspar experimentar, breve e apaixonadamente, e foi ela que as escreveu de facto, tempo e meios não lhe teriam faltado, ou lhe foram atribuídas por um genial editor ou, como se insinua, pelo feliz e galanteador amante!? Terá desempenhado variadas funções durante os longos setenta e dois anos que passou no Convento: foi escrivã e vigária como depois se verificou por variados documentos; teria sido porteira, como dá a entender numa das suas cartas, mas a título passageiro e como meio de cura; e consta que chegou a ser proposta para abadessa em 1709, quando já, só? tinha sessenta e nove anos, mas teria sido insuficientemente votada. Perante tão enigmática e vulgar personagem, valerá a pena perder tempo a dar uma espreitadela sequer pelas famosas ou famigeradas cartas? Só vale a pena fazê-lo, se conseguirmos decidir a tempestuosa questão em que tantos e tão ilustres autores se envolveram? Por mim, tenho a impressão que não. As cartas existem. Valem pelo que valem independentemente do verdadeiro autor. São, de qualquer maneira, um espectacular simulacro do real. A prova é a discussão acesa que levantam. Se são de Mariana, no original em francês ou traduzidas e retocadas, são um bom exemplar de epistolografia íntima que muitos escritores gostariam de subscrever. Se foram inventadas, então, terão de ser geniais. São porventura, não o grito de uma freira, mas um grito tão grande e tão profundo de centenas, de milhares de mulheres, talvez de homens e mulheres de uma região, de um povo, humilhado, oprimido, refinada e hipocritamente sacrificado com o apanágio de uma “vocação entrega” superior!!! e fundamentalmente por interesses mesquinhos, valores indiscutíveis de uma época! ou da nossa época. É, porventura, isto, ou algo de mais profundo que é preciso ler nas cartas, e não, penso, e sobretudo, a questão da origem e da originalidade... 262 Lendas de Beja – o Touro e a Cobra e outras LENDAS... É isso que vamos tentar ler nas CARTAS. 263 José Penedo – um deNómio de José Rabaça Gaspar 264 Lendas de Beja – o Touro e a Cobra e outras LENDAS... img024 – mariana! (a partir de desenho…) ―E ali ficaria, ilustre e desconhecida,... não fossem as célebres CINCO CARTAS A GRITAR...‖ p. 261 Desenho decalcado a partir de um desenho de Matisse? ou de ?, difundido pelo Museu Rainha D. Leonor, de Beja, nos anos oitenta (86/87?). 265 José Penedo – um deNómio de José Rabaça Gaspar 266 Lendas de Beja – o Touro e a Cobra e outras LENDAS... 3.03.2 - MARIANA ALCOFORADO – as cinco cartas… A FREIRA DE BEJA as cinco cartas que são uma explosão poética de uma imensidade de sentimentos humanos... ou finge/dores Nada mais se saberia desta freira de Beja e nem talvez este pouco se soubesse, como aconteceu com centenas de suas irmãs que por lá passaram durante anos e anos (cerca de 430 anos de 1459? a 1890, pois, entre 1892 e 1897, teria sido quase totalmente derrubado juntamente com a antiga residência dos Duques de Beja - O Paço dos Infantes - que lhe era contíguo); ... nada mais se saberia da Freira Portuguesa, dissemos, se, em 1669, quando ela teria 28, 29 anos, não tivessem aparecido, em França, as Lettres Portuguaises, que seriam a tradução de cinco cartas suas dirigidas ao seu amante o Cavalheiro Chamilly, (que teria nascido por volta de 1625 e teria na altura do romance os seus 42/43 anos, um respeitável quarentão) - ou teriam sido escritas em francês logo no original? - que durante uma breve estadia em Beja ao serviço do seu rei e da Restauração do Reino de Portugal ( entrou em Portugal em 1663 fazendo parte de um grupo de franceses que se juntou aos ingleses chamados por D. João IV, tendo entrado em vários combates e Batalhas, e em Beja, deve ter estado depois das Batalhas de Poymoio e San-Lucar, Agosto de 1666, tendo, em Setembro de 1667, ainda tomado parte no ataque ao castelo de Ferreira e depois retirado para França. Teria, portanto, durante o 267 José Penedo – um deNómio de José Rabaça Gaspar tempo que esteve por aqui sediado, partilhado os favores desta ardente mulher e pode-se gabar de ter despertado a maior paixão do mundo como ela diz quase no final da terceira carta, paixão tão grande que vai sobreviver longo tempo depois da súbita partida para França, onde o esperava o título e o proveito de Marquis de Chamilly, talvez avisado pela família dos contratempos diplomáticos que poderiam trazer estes proibidos amores clandestinos conhecidos de todos. Essa paixão terá durado meio ano / um ano com intervalos das campanhas e saídas do Senhor de Chamilly, mas que, depois de a ter desencadeado: “ao amar-te experimentei alegrias surpreendentes... manifestaste-me a tua paixão, fiquei deslumbrada, e abandonei-me a ti perdidamente”. Estes amores geraram pois uma explosão de exaltação, e vão, como paixão exaltada e explosiva que era, e por ser impossível e proibida, desencadear em cadeia uma amálgama de sentimentos contraditórios, complementares? ―Ai!, que seria de mim sem tanto ódio e tanto amor a encher-me o coração?" São, possivelmente, estes sentimentos cruzados que fazem destas cartas a expressão poética mais acabada e exaltante entre a poesia barroca de seiscentos, maneirista, cultista, conceptista, marcada por um classicismo estafado e decadente que primava pelo formalismo oco e pela falta de talento. A atravessar esta aridez balofa dos literatos do tempo, aparecem em prosa (poesia!), atribuídas a Soror Mariana Alcoforado, cinco sinceridade a cartas atingir o de Amor, que arrebatamento na que sua se simplicidade, manifesta nas sucessivas contradições despertadas por um Amor que atingia as raias da Loucura, são, porventura, a mais bela e expressiva manifestação poética do que pode o Amor e do que ele é ou pode ser na vida do ser humano, principalmente na vida da mulher como diz Mário Gonçalves Viena na sua obra ―O Amor na Literatura Portuguesa"; embora haja também quem diga que ―essas cartas nem sequer têm nível literário....” 268 Lendas de Beja – o Touro e a Cobra e outras LENDAS... No século XVII, temos pois conhecimento de que “A nota mais vibrante de Amor... irrompeu, como tudo leva a crer, de entre as grades de um convento.” Era difícil, nessa época, esperar que surgisse, espontânea e sincera, uma manifestação em que transbordasse veemência e paixão, ou até a autenticidade de amor, sobretudo da parte de uma mulher, apaixonadamente vivido... Os preconceitos puritanos, os valores sociais em voga, e os interesses económicos, enclausuravam as mulheres em casa e nos conventos e mesmo as outras só sairiam de casa para se casar por conveniência da família, muitas vezes sem se terem visto ou tendo-os visto de longe ou nas cerimónias religiosas... conseguindo, como sempre acontece, as mais felizardas ou as mais audazes, contactos epistolares através de criadas e mendigos e por vezes directamente (!) iludir o recolhimento e recato das famílias mais austeras, mas com grandes perigos e riscos, ou acabavam com clamorosos raptos ou internamento nos conventos... Aliás, ainda encontramos ecos deste fenómeno social nos romances de Camilo e muitos sabem histórias parecidas que ocorreram em pleno século XX! Era de facto muitas vezes preferível o rigor da prisão dos conventos, em que era mais fácil conseguir estratagemas que permitissem surtidas nocturnas dos amantes..., do que a liberdade aprisionada da casa paterna... No meio de tudo isto, ficamos perante um insólito problema. As cartas que existem, o original publicado, é em francês. A partir desse original (?), aparecem em várias dezenas de línguas. 130 edições em oito línguas diferentes segundo Godofredo Ferreira que publicou uma obra em 1923. Assim, seriam 76 francesas, 23 inglesas, 3 italianas, 3 alemãs, 3 espanholas, uma em dinamarquês, uma holandesa e vinte em português. Fala depois, Belard da Fonseca, em edições em húngaro, checo, grego, polaco, sueco e outras, na sua obra de 1966. A que se fica a dever este fenómeno? Todos estão de acordo em que se fica a dever ao impacto desta explosão de verdade e sinceridade, 269 José Penedo – um deNómio de José Rabaça Gaspar que apareceu no meio do desencanto da Literatura de Seiscentos. Nós podemos até lê-las em português! mas não podemos ter contacto com a força, a veemência e a violência que estaria na letra e escrita original, porque dessas não temos notícia. Podemos tão só imaginar, dando-nos conta, por exemplo na quinta carta, a última, que declara “fazer-lhe sentir, na diferença de termos e modos desta carta, que finalmente acabou por me convencer de que já me não ama e que devo, portanto, deixar de o amar‖. Poderemos apercebernos disso até no modo como aparece, em cores mais carregadas ou mais esbatidas, uma autêntica explosão dos mais variados sentimentos que parecem contraditórios e impossíveis de retratar na mesma tela; e isto, quando já não há sentimentos - DORES, como ela diz!!! Resta-nos então concluir, portanto, que todos aqueles sentimentos são FINGIdos! Ela FINGE/DORES! “O poeta é um fingi(e)dor...‖, diz Pessoa. O poeta finge DOR, podemos dizer nós. Nestas cartas, o personagem emissor, nitidamente no feminino, possivelmente, “...finge tão completamente, / que chega a fingir que é dor, / a dor que deveras sente.” Mas, quem nos diz, que aquela quinta carta é, realmente a última? Também este assunto, da ordem das cartas, é polémico. Qual é a primeira e quais as do meio, e qual a última. Uma notícia que temos é, para podermos fazer uma ideia de como aconteciam as coisas de publicações naquela época, sabermos que em meados de 1668 já corriam numerosas cópias em França quando, em 28 de Outubro de 1668, o senhor Claude Barbin obteve o “Privilège du Roi" para imprimir a 1ª edição! Esta, 1ª edição, só aparece a 4 de Janeiro de 1669, dizendo ao leitor que “Com muito cuidado e esforço, encontrei maneira de recobrar uma cópia correcta da tradução das cinco Cartas portuguesas, escritas a um distinto gentil-homem que serviu em Portugal. Vendo-as 270 louvadas, ou procuradas tão Lendas de Beja – o Touro e a Cobra e outras LENDAS... empenhadamente, por todos aqueles que sabem o que são sentimentos, creio que lhes daria um raro prazer imprimindo-as. Não sei o nome daquele a quem foram escritas, nem o de quem as traduziu...” Isto lemos no prefácio traduzido por Eugénio de Andrade numa edição bilingue feita para a RTP, em Março de 1980. Ora o senhor Barbin, diz dos seus esforços para “recobrar uma cópia correcta da tradução‖! Depois, diz: ―não sei o nome daquele a quem foram escritas‖!!! Que pena! Bastaria ter falado da pessoa que as teria escrito, para nos ter salvo de uma discussão inútil e longa de séculos! A verdade é que se sabia, afinal, ―o nome daquele a quem foram escritas‖: Noel Bouton, Marquis de Chamilly, em finais de 1667, mais conhecido, primeiro, como Noel Bouton, Chevalier, Seigneur de Montaigu ou de Saint-Leger, também tratado por: Comte de Chamilly-Saint-Leger que, quando veio para Portugal, em 1663, teria possivelmente 38 anos, e em 1667, 42, quando Mariana teria, respectivamente, 23, depois 27! Consta que teria "uma figura elegante e majestosa‖. Parece que tradutor, a quem chegaram a chamar autor, teria sido um certo Monsieur de Guilleragues! Se de facto, como escreveu Matos Sequeira, as cartas são uma mistificação, e se a freira não existiu, ou existiu, mas não terá sido ela que escreveu as cartas, então, nesta hipótese, A FICÇÃO, A MISTIFICAÇÃO LITERÁRIA, podemos dizer que ATINGE UM TAL REALISMO, SÃO UM TAL SIMULACRO DO REAL, QUE PODEREMOS CONSIDERAR SIMPLESMENTE UM PRODÍGIO, "O MODO COMO AS CINCO CARTAS EXPRIMEM OS SENTIMENTOS FEMININOS DAS APAIXONADAS...‖ Só os femininos? ou o de TODAS AS PESSOAS APAIXONADAS que subitamente foram separadas do objecto da sua PAIXÃO?! 271 José Penedo – um deNómio de José Rabaça Gaspar A Título de exemplo, tentaremos um levantamento, ainda que superficial, porque aprofundado seria exaustivo, DOS SENTIMENTOS QUE ESTÃO EXPRESSOS, SÓ NA 5ª CARTA – A ÚLTIMA em que já não há sentimentos a exprimir, como diz a autora, para enfim, os que andamos distraídos ou tão ocupados com a riqueza e variedade da NATUREZA HUMANA como educadores etc., darmos conta que eles – OS SENTIMENTOS – de facto existem, são muitos, variados, contraditórios e ricos, e podem ser desencadeados em nós e nos nossos filhos e educandos…, não só pelo que aconteceu a Mariana, e com esta violência, mas, como vulgarmente se diz, por "COISAS QUE ACONTECEM NA VIDA" a que por vezes não ligamos, não queremos ligar, ou queremos que os outros não liguem IMPORTÂNCIA!... Ora, esses SENTIMENTOS podem ser desencadeados por atitudes e gestos que consideramos ―normais‖, e, muitas vezes sem nos apercebermos da sua gravidade, e para maior surpresa ainda, não conseguimos perceber o que podem, de facto, desencadear: de crimes... guerras... heroísmos... ou simples loucuras...!!! Assim, SOROR MARIANA, pretensa ou autêntica emissora das cartas: Descobre, primeiro, FRIAMENTE que já NÃO É AMADA e portanto NÃO DEVE AMAR... – É o DESPEITO., A REVOLTA DE SE VER PRETERIDA. A DESILUSÃO DE SE VER TRAÍDA, A SUA VINGANÇA! em contradição com o auto domínio, a frieza e a paz que pretende dar a entender, ter alcançado! Até vai devolver as recordações: cartas e presentes como o retrato e pulseiras. Estava na disposição de queimar tudo mas declara-se incapaz. Prefere dar a entender que atingiu o DESPRENDIMENTO, mas, em vez de os queimar, vai devolver os presentes, confessando que, afinal, é incapaz de o fazer. Com a devolução, mesmo que o não consiga, ao menos na sua 272 Lendas de Beja – o Touro e a Cobra e outras LENDAS... mente, renasce a ESPERANÇA de que os objectos e cartas o venham a comover e, quem sabe? re/CONQUISTAR!!! Quer sentir, até ao fim, a PENA de separar-se delas e causar, ao menos algum DESPEITO. Confessa a AUTO COMISERAÇÃO, mas quer que ELE as receba. Se as queimasse, ELE nem daria conta! Quer portanto ferir, como se sente ferida! Confessa a VERGONHA sua e dele de se sentir ligada àquelas futilidades... Declara-se RACIONAL, mas foi preciso VIOLÊNCIA para se separar de cada uma quando se gabava de já estar DESPRENDIDA. Confessa MIL IMPULSOS e MIL HESITAÇÕES que não se podem imaginar. Conheceu o DESVARIO do seu amor quando tentou curar-se dele e não ousaria se pudesse prever que haveria tanta DIFICULDADE e VIOLÊNCIA. Seria menos DOLOROSO continuar a amar apesar da INGRATIDÃO. Joga outra vez a SEDUÇÃO! A PAIXÃO, afinal, é mais forte que amar a pessoa amada. O SOFRIMENTO é tão penoso, que torna ODIOSO o ser que se mostrou INDIGNO do seu amor. AMA de tal maneira, que tem de ODIAR. O ORGULHO, TÃO PRÓPRIO DAS MULHERES, vai impedi-la de tomar decisões contra o ser amado. Até suporta o DESPREZO e suportaria o ÓDIO e o CIÚME. Mas a INDIFERENÇA é INTOLERÁVEL, INSUPORTÁVEL! Vieram até provas de AMIZADE e ridículas provas de CORRECÇÃO. Verifica que as cartas foram recebidas e não causaram qualquer PERTURBAÇÃO no coração do amado. Tamanha INGRATIDÃO! provoca LOUCURA. A razão dessa LOUCURA é tamanha que nem sequer lhe resta a ILUSÃO de as cartas não terem sido recebidas. 273 José Penedo – um deNómio de José Rabaça Gaspar Denuncia por isso a sua FRAQUEZA, e acusa-o de ter dito a VERDADE depois de mil acusações de não lhe ter escrito nunca. Recusa, entretanto, ser ESCLARECIDA. Prefere a PAIXÃO. Prefere a ILUSÃO. Preferia não ser obrigada a NÃO LHE PERDOAR. Declara-o INDIGNO dos seus sentimentos. Conhece finalmente AS SUAS DETESTÁVEIS QUALIDADES. Pede, apesar disso, que se ele tiver QUALQUER PEQUENA ATENÇÃO, que a ajude a ESQUECE-LO completamente. Nem sequer admite que a leitura o fizesse sentir algum DESGOSTO, pois, A CONFISSÃO e o ARREPENDIMENTO dele, poderia enche-la de CÓLERA e de DESPEITO “e tudo isso poderia de novo INCENDIAR-ME‖... ―NÃO SE META NO MEU CAMINHO" grita desesperadamente tentando acreditar que seria ainda possível vir a encontrá-lo... "NÃO ME INTERESSA SABER O RESULTADO DESTA CARTA...” "pode estar SATISFEITO com o mal que me causa..." Prefere a INCERTEZA... ESPERA conseguir qualquer coisa parecida com a TRANQUILIDADE... Promete não ficar a ODIAR... Desconfia dos SENTIMENTOS EXALTADOS para se permitir ODIAR... Tem a CONVICÇÃO que poderia encontrar um amante melhor e mais fiel! mas NÃO ACREDITA que alguém a possa amar... NÃO ACREDITA QUE OUTRA PAIXÃO a possa absorver! Experimenta a REVOLTA e lança o desafio: “que poder teve a minha paixão sobre si?” NÃO PODE ESQUECER um coração ENTERNECIDO... Não pode esquecer quem lhe revelou prazeres que não conhecia... Todos os seus IMPULSOS estão ligados ao ídolo que criou. Os PRIMEIROS PENSAMENTOS E PRIMEIRAS FERIDAS não podem curar-se nem apagar-se... 274 Lendas de Beja – o Touro e a Cobra e outras LENDAS... NÃO pode ser AUXILIADA nem APAZIGUADA... Mesmo, à hipótese de outras PAIXÕES..., prefere A LEMBRANÇA do SEU SOFRIMENTO... ACUSA o ser amado de lhe ter dado a conhecer A IMPERFEIÇÃO e o DESENCANTO de uma AFEIÇÃO que não pode durar eternamente e a AMARGURA que acompanha um AMOR VIOLENTO quando não é correspondido... Confessa-se vítima de CEGA INCLINAÇÃO e de um CRUEL DESTINO que NOS PODEM PRENDER àqueles que só a outros são sensíveis!... “É TAL A PENA QUE SINTO POR MIM que TERIA MUITOS ESCRÚPULOS em arrastar o último dos homens ao estado a que me reduziu...” Isto é DESESPERO, DOR INENARRÁVEL!!!... Já não me merece NENHUM RESPEITO... Entretanto não pode decidir-se a semelhante VINGANÇA... Procura depois DESCULPÁ-LO... Reconhece, de facto, que uma freira raramente pode inspirar amor, ...mas ao menos a elas, NADA AS IMPEDE DE PENSAR CONSTANTEMENTE NA SUA PAIXÃO... Será preciso ter pouca DELICADEZA para suportar sem DESESPERO as futilidades das outras amantes... Avisa-o de que, com as outras estará sempre exposto a NOVOS CIÚMES... Quantas suportam os maridos com DESGOSTO... Como pode um amante não PEDIR CONTAS RIGOROSAS que ela está disposta a dar? Como pode um amante ou um marido ACREDITAR facilmente e SEM INQUIETAÇÃO... Seria preferível o seu AMOR sem lei... “Hei-de ser toda a vida uma DESGRAÇADA... Já antes MORRIA DE MEDO que me não fosse fiel... QUERIA VÊ-LO A TODO O MOMENTO... INQUIETAVA-ME... Desesperava-ME por não ser 275 José Penedo – um deNómio de José Rabaça Gaspar mais bonita e mais digna de si; LAMENTAVA a mediocridade da minha condição... PENSAVA NOS PREJUÍZOS que ele poderia ter... IMAGINAVA QUE NÃO O AMAVA BASTANTE... RECEAVA, por si, A CÓLERA DA MINHA Família... afinal, encontrava-me NUM ESTADO TÃO LAMENTÁVEL como o que estou agora.” TERIA ARRISCADO TUDO para ir ter com ele... Ter-se-ia DISFARÇADO... E se ele a não acolhesse numa terra estranha que HORROR que LOUCURA! Que VERGONHA tão grande para a minha família, a quem QUERO TANTO depois que DEIXEI DE O AMAR! Tem SANGUE FRIO... Ao menos uma vez fala PONDERADAMENTE... Sabe que A MODERAÇÃO lhe agradará... Mas, NÃO QUER SABÊ-LO... SUPLICA que não escreva mais...!!! AMEI-O COMO UMA LOUCA, TUDO DESPREZEI!... A AVERSÃO dele só pode ser VISCERAL para a não AMAR APAIXONADAMENTE... DEIXEI-ME FASCINAR!... Ele não RENUNCIOU a nada: outros prazeres, caça, campanhas... perigos... Ele NÃO FOI CORAJOSO... Uma carta do irmão bastou para fugir... e, durante a viagem, a sua DISPOSIÇÃO era a melhor do mundo!... Tenho razões para O ODIAR MORTALMENTE... Foi ela que causou a SUA PRÓPRIA DESGRAÇA... Foi INGÉNUA... Não usou ARTIFÍCIOS para se fazer amar... Acuso-o de Perfídia... ...Declaro-lhe que o entregarei à VINGANÇA de minha família... Ela viveu num ABANDONO e numa IDOLATRIA que a horrorizam, e o REMORSO persegue-a com UMA CRUELDADE INSUPORTÁVEL... 276 Lendas de Beja – o Touro e a Cobra e outras LENDAS... Sente ENORME VERGONHA DOS CRIMES que ele a levou a cometer... A Paixão impedia-a de CONHECER-LHES A MONSTRUOSIDADE... O seu coração está DILACERADO... Não consegue libertar-se desta CRUEL PERTURBAÇÃO... Crê, apesar de tudo, que NÃO LHE DESEJA NENHUM MAL... Até DESEJA QUE ELE SEJA FELIZ... “Quero escrever-lhe outra carta... com mais SERENIDADE... para, com SATISFAÇÃO, o CENSURAR pelo seu procedimento injusto, quando este já não ME IMPORTUNAR... e farei SENTIR que o DESPREZO; que falo da sua TRAIÇÃO com a maior INDIFERENÇA; que esqueci ALEGRIAS E PENAS...” Ele tem vantagens porque inspirou uma PAIXÃO que lhe fez PERDER A RAZÃO... mas não deve ENVAIDECER-SE com isso. “Eu era nova, ingénua; haviam-me encerrado neste convento desde pequena; não tinha visto senão gente desagradável; nunca ouvira as belas coisas que constantemente me dizia; parecia que só a si devia o ENCANTO E A BELEZA QUE DESCOBRIRA EM MIM, E NA QUAL ME FEZ REPARAR...” “Mas por fim, LIVREI-ME DO ENCANTAMENTO....” E, depois de desferir as mais AZEDAS e IRÓNICAS ACUSAÇÕES termina: “É preciso deixá-lo, e não pensar mais em si. Creio mesmo que não voltarei a escrever-lhe. Que obrigação tenho eu de lhe dar conta de TODOS OS MEUS SENTIMENTOS?" Parece, podermos afirmar, que temos, aqui, um levantamento quase completo de TODOS OS SENTIMENTOS que podem mover A NATUREZA HUMANA! ou, ao menos, as/os apaixonadas/os! 277 José Penedo – um deNómio de José Rabaça Gaspar Os que ali faltam na minha pretensa listagem, pode o leitor procurá-los avidamente nessa mesma carta e nas restantes quatro. Este é o mágico conselho dos magos da clareira escondida na floresta, das fadas e dos sábios que desta vez se reuniram no BALCÃO DE ONDE SE AVISTA MÉRTOLA - as Portas de Mértola!!!. Aquele BALCÃO, Janela? Varanda? Onde Mariana tantas vezes... "MUITAS VEZES DALI TE VI PASSAR COM UM AR QUE ME DESLUMBRAVA; ESTAVA NAQUELE BALCÃO NO DIA FATAL EM QUE SENTI OS PRIMEIROS SINAIS DA MINHA DESGRAÇADA PAIXÃO. PARECEU-ME QUE PRETENDIAS AGRADAR-ME, EMBORA NÃO ME CONHECESSES; CONVENCI-ME DE QUE ME HAVIAS DISTINGUIDO ENTRE TODAS AQUELAS QUE ESTAVAM COMIGO; QUANDO PARAVAS, IMAGINAVA QUE O FAZIAS INTENCIONALMENTE PARA QUE MELHOR TE VISSE, E ADMIRASSE O GARBO E A DESTREZA COM QUE DOMINAVAS O CAVALO; DAVA COMIGO ASSUSTADA, QUANDO O LEVAVAS POR SÍTIOS PERIGOSOS... Com esta sábia assembleia de fadas e de magos a olhar ansiosos o intenso vaivém das PORTAS DE MÉRTOLA vamos ouvindo Fidelino de Figueiredo: Pode ali ver-se nessas cartas poema: ―O desespero do abandono; a lógica sentimental de tender a justificar o que se deseja; a voluptuosidade agridoce de gozar no sofrimento; o transporte de absorver toda a personalidade do ente amado; as contradições constantes de quem só toma posições extremas e insustentáveis e num incessante vaivém se debate, como havendo perdido o rumo no pego encapelado do sentimento; todo o delírio imaginoso de uma alma reduzida à imobilidade e à clausura, orgulhosa de haver ascendido a um cume excelso donde avistou vasta amplidão de ideal; a alternativa de querer ciosamente guardar no coração recordações da perdida felicidade, como tesouro velado a almas vulgares, para logo fraquejar perante o penoso dessas 278 Lendas de Beja – o Touro e a Cobra e outras LENDAS... memórias; a abnegação sem orgulho; todos os extremos doidejantes duma alma rica de emotividade, mas que perdera o equilíbrio e a realidade - tudo que uma paixão absorvente pode produzir, ali está expresso naquele pequeno poema de amor. O martírio do abandono, o inferno de amar já sem esperança e a desolação de quem antevê para si toda uma vida de solidão e tristeza trespassam as cartas, não com a monotonia plangente das lamentações, mas em traços rápidos e incisivos, feitos de cobardia egoísta e egoísmo orgulhoso. Nessa mulher o amor revelou-lhe a própria alma, tão grande e sensível que parece ter-se nela acumulado a sensibilidade de gerações, o caudal guardado pela clausura. Estava mesmo disposta a servir as amantes que porventura ele tivesse em França para não perder a oportunidade de arcar com a insuportável gravidade, risco e perigo do seu amor por ele...!!! 279 José Penedo – um deNómio de José Rabaça Gaspar Enfim... As Cartas Portuguesas! Les Lettres Portuguaises! As Cartas da Freira Portuguesa! Cinco Textos tecidos de DOR(ES), GRITOS gritados em gritantes LETRAS DE SENTIMENTOS angustiados e contrários confusos, contraditórios mas gritos que ecoam em estonteante ECO dilacerante de encontro aos muros do convento, do convencional que oprime e dilacera, teimosamente olhando do balcão de Mértola o Longe, o Azul, o Sul, o Sol, a Luz, o Além, A Felicidade!!! GRITOS e GRADES! Grades que provocam os gritos... Gritos que procuram desesperadamente derrubar as grades que os tentam sufocar e abafar . Cartas Portuguesas! Lettres Portuguaises! Letras Portuguesas GRITOS DORES SENTIMENTOS GRITOS ESTRIDENTES SAÍDOS DAS MAIS ENTRANHAS DO CORAÇÃO DUMA MULHER!... 280 PROFUNDAS Lendas de Beja – o Touro e a Cobra e outras LENDAS... COMO GRITOS SAÍDOS DAS ENTRANHAS DA TERRA GRITOS DE GENTE GRITOS DE POETA GRITOS DE PESSOAS GRITOS DE UM POVO desesperadamente A GRITAR para despedaçar, lutando, TODAS AS GRADES! Buscando a LIBERDADE!!! 281 José Penedo – um deNómio de José Rabaça Gaspar 282 Lendas de Beja – o Touro e a Cobra e outras LENDAS... img025 – mariana à janela donde se avista Mértola! “Muitas vezes dali te vi passar com um ar que me deslumbrava...” p. 278 283 José Penedo – um deNómio de José Rabaça Gaspar 284 Lendas de Beja – o Touro e a Cobra e outras LENDAS... 3.03.3 - MARIANA ALCOFORADO - A lenda que (se) pode (en)co(a)nt(r)ar... Há anos, muitos anos que se passaram há mais de trezentos anos, mais precisamente em 1640-1723, num reino muito distante e perdido do mundo que ficava ali no Alentejo mais propriamente em Beja, havia uma mulher e um homem que queriam ter um filho pois já tinham uma filha, e um filho era importante, segundo os costumes do tempo, para assegurar as propriedades e com elas a prosperidade e a posteridade duma família com pergaminhos... e terras... e bens... e prole... Tanto desejaram, tanto desejaram, que um dia, quando a mulher se estava refrescando na frescura sombreada de uma fonte retirada das vistas da cidade perdida, lá para os lados de noroeste, apareceu-lhe uma cobra monstruosa e encantada que lhe disse: Não tenhas medo. O teu desejo vai ser satisfeito. Antes de um ano, darás à luz uma menina. Leonor era assim que se chamava a mulher ouviu. Não era bem aquilo que queria... Mas, como com cobras não se pode discutir muito, guardou para si o seu segredo e esperou. A profecia da serpente realizou-se e aquela mulher teve uma filha tão linda que o homem quis dar uma grande festa para partilhar com todos a sua alegria. O senhor Francisco, extremoso pai amigos, assim se chamava o além de convidar todos os familiares, parentes e convidou também as fadas do reino para que providenciassem o futuro mais feliz possível para a sua filha, o que não era muito fácil, naqueles tempos conturbados!... e naqueles ermos perdidos! Ora havia naquele reino, perdido e esquecido há anos muitos anos, treze fadas que fadavam e rondavam a cidade com seus fados 285 José Penedo – um deNómio de José Rabaça Gaspar bons e maus, mas eles, que só tinham um serviço completo com doze pratos, digno de tais convidadas, convidaram só doze. Chega. Disse o senhor Francisco Não é por faltar uma que a menina ficará menos bem fadada!... e quem dá o que tem, não é obrigado a mais. Até porque, se convidamos mais uma, e não a podemos servir na baixela de prata como as outras doze! Leonor disse a senhora D. que ofensa, meu Deus! Que horror não seria! E uma mesa com treze, até pode ser logo um mau agoiro para a nossa filha!... Bem basta que tenha sido outra filha, e não um filho como tanto desejávamos, para a ser mau presságio... Isto, pensava secretamente e senhora D. Leonor, mas não disse nada. A festa foi celebrada com muita alegria e esplendor e no meio dos cantos e dos contos com que os convidados se encantavam uns aos outros perante a beleza da menina que nascera, e, embora já fosse encanto que bastasse, as fadas fadaram a princesa com dons e encantos que tinham guardados no poder mágico das suas varinhas de condão! Veio então a primeira e disse: Estás fadada, estás marcada, para seres mui virtuosa, e seres sempre consagrada a um deus, como uma rosa! A segunda disse: Serás a mais inocente no meio da tua gente! A terceira disse: E num dia especial, quando passar um cortejo, o teu ar celestial, vai despertar tal desejo que te há-de ser fatal 286 Lendas de Beja – o Touro e a Cobra e outras LENDAS... E a quarta disse: De tal modo sentirás que toda a terra ouvirá! A quinta disse: Não sentirás só o Amor provarás todas as DORes! A sexta disse: Teu Amor e tua DOR tua DOR e o teu Pranto vão dar ao Mundo calor - cor e encher tudo de Espanto - santo!!! A sétima disse: A tua DOR sem igual Vai dar-te Prazer sem rival! E a oitava: ‗Té na tua Solidão vai vibrar teu coração em luta contra a Razão Labirinto e Confusão!!! E a nona disse: Os prazeres que vais sentir, muitas damas, de o sonharem dariam a vida e porvir, (a vida por vir) de só um pouco, provarem!!! E a décima: Com todos os teus sentidos misturados e vividos os teus gritos de Prazer serão Dores para... Morrer! Viver E a décima primeira: Vou-te lançar um encanto, contado com doce canto. 287 José Penedo – um deNómio de José Rabaça Gaspar e um tal deslumbramento que verás o seu Encanto no meio do sofrimento!!! E como o cortejo das fadas a era muito longo e todos tinham parado, com a boca seca, tensos sequiosos, parados suspensos, para ouvir as palavras mágicas das fadas e procuravam adivinhar nelas o que seria o futuro de tão prendada menina, no meio daquelas palavras cantadas/encantadas, eis que de repente houve um barulho infernal – BRRRUM BUM BUM – na sala da festa, que causou a maior confusão. Entrara a fada de olhos brilhantes e coléricos, que não tinha sido convidada, e vinha vestida de preto e pensava, na sua raiva delirante, que a todas as fadas tinham fadado a menina com tudo o que há de bom e desejável, e vinha para estragar todas as promessas de felicidade que pairavam sobre o berço e a vida da menina... (É assim, às vezes, a sorte do nosso fado! É que as magas e as fadas também tem raivas e podem enganar-se ou distrair-se!... ou até precipitar-se!) Disse então a numero treze: Abacadabra! Amor com DOR! Ouvi todos com horror! Brum Ruumm Bruummm...e com terror! Por volta dos seus vinte anos, Ai! esta bela menina vai-se picar nalgum fuso, ou nalguma agulha fina! ou então vai encontrar uma serpente encantada como já acontecera a sua mãe... para a ter ! Ficará ferida de morte!... E, se conhecer o Amor, há-de conhecer também 288 Lendas de Beja – o Touro e a Cobra e outras LENDAS... a DOR pungente que tem! ... Aí tens a tua Sorte... Este é que é o meu dote! Brrrrrrr! Amor com DOR! ...E voou como um vapor...! E tão rápido como tinha entrado, a fada furiosa desapareceu sem que ninguém visse sequer por onde... Apareceu então a rainha das fadas, que esperava tudo daquela sua companheira, que não tinha sido convidada, e se tinha deixado ficar para o fim, sem que ninguém o tivesse percebido. Tais eram os votos que todas as fadas tinham feito, que todos pensavam que algum, era com certeza, já, o da rainha das fadas!... Ela aliás, em nada se distinguia das outras, mas era a rainha escolhida para reinar durante aquele tempo, coisas que só acontecem no reino das fadas!... E disse a rainha das fadas, para nós, a número doze: Nada posso desfazer do que disse aquela fada! Ela há-de-se picar... E também vai encontrar uma serpente encantada!... Mas a picada de morte, não é morte. Será vida! E vai viver a dormir uns cem anos bem contados... E depois, ao acordar, com a picada mortal! os gritos que ela vai dar durante toda uma vida vão espantar toda a Terra que se verá comovida 289 José Penedo – um deNómio de José Rabaça Gaspar como em convulsões de guerra, abalada, arrebatada, por uma DOR renovada! A festa acabou com bastante alegria misturada com o medo e a ansiedade do que iria acontecer, e cada um foi para as suas casas... Os pais da menina que a queriam defender de todo o mal que lhe pudesse acontecer, ao chegar logo aos onze anos, meteram-na numa espécie de castelo que bem podia ser uma prisão, mas onde estavam convencidos de que nenhum mal, daqueles que foram anunciados pela fada irada, lhe podia vir a acontecer, e onde nada lhe faltaria de tudo o que desejasse. Viveu assim a menina muitos anos e se até aos onze já era prendada com todos os dons que as fadas tinham anunciado, mesmo no castelo que bem podia ser uma prisão, onde nada lhe podia faltar, esses dons desenvolveram-se tanto, à medida que ela ia crescendo cada vez mais bela e sedutora, que quem a via não podia deixar de gostar dela. Vinham então naquele tempo, muitos príncipes e cavaleiros doutros reinos para auxiliarem este reino que passava tempos muito conturbados. Já antes de a Menina nascer, durante doze lustros, um rei poderoso tinha tomado conta de todo o reino ao qual pertencia este reino mais pequeno e mais perdido e esquecido, e mandava em todos os povos mesmo neste desprezado e perdido para além do Tejo de modo que muitos viviam no medo e na revolta. Vinham então, estes príncipes cavaleiros ajudar o rei, para que isso não pudesse mais acontecer. Mas aconteceu que um dia, quando a menina já estava a passar a idade anunciada pela fada despeitada, e já ninguém pensava que algum mal lhe pudesse acontecer,...um dia, que estava com todas as suas companheiras, olhando do alto duma varanda envidraçada tudo o que se descortinava para o Sul até lá muito ao longe, para os reinos de Mértola e além Garbe, ela, de repente, soltou um grito desesperado e caiu como se estivesse morta. Ninguém dera conta de 290 Lendas de Beja – o Touro e a Cobra e outras LENDAS... nada. Não se notava ferida nenhuma. Na mão direita que tinha pousada sobre o peito, notava-se um sinal que nem picada parecia! O que seria? O que não seria? Os médicos chamados não descortinaram nada! Mas o certo é que ela continuava aparentemente morta e de olhos fechados parecendo que morria! Nesse momento, sem que disso ainda se tivessem bem apercebido as donzelas que olhavam fascinadas os campos e os longes que se abriam para o Sul, entrava na cidade, pelas portas de Mértola, um grupo de soldados comandados por um forte e esbelto cavaleiro, que brindava a população, que timidamente os espreitava por detrás das janelas e começava a correr para a rua, com evoluções e malabarismos arriscados com que habilmente fazia evoluir a sua montada na calçada empedrada da rua e no aterro que ladeava o castelo encantado que mais parecia uma prisão onde nenhum mal podia acontecer à fadada menina, e arrancava ais e suspiros de aflição e excitação às pessoas que assistiam surpresas! enfeitiçadas! Foi no momento em que a luz o nimbou com um reflexo repentino!... No momento em que se recuperava dum súbito desequilíbrio da montada!... No momento em que Mariana escondida, tão distante!, ali tão perto!, atrás da janela, estava presa como que alheada nas evoluções arriscadas do nobre cavaleiro,... que um brilho inesperado acendeu os olhos de Mariana! Um brilho repentino! Um golpe fatal! Como um raio! Relâmpago! Repentino! Fulminante! Invisível! Invisível a todos! Real para ela! que a prostrou sem vida... Sem vida aparente! Correu então pela cidade a nova nunca ouvida de que uma bela menina na flor da idade que pouco mais teria que os seus vinte anos ou ainda os não teria tão fresca e jovem ela aparecia!, estava picada de morte e não morria, e já se mantinha assim há muitos dias... Tanta fama correu, que a nova chegou aos ouvidos daqueles formosos cavaleiros, que tinham vindo de longe para ajudar o rei 291 José Penedo – um deNómio de José Rabaça Gaspar deste reino nas campanhas e dificuldades que o reino atravessava. Vinham pois eles equipados com tudo o que tinham de melhor e podiam transportar para assim melhor servirem o rei que vinham servir e dar bom-nome ao rei de que eram súbditos. Quando a nova correu entre aqueles estrangeiros, houve um que disse: Parbleu! Quel belle nouvelle! Oh meu Deus, que nova bela! Je saurai, certainement Eu saberei com certeza Qu'est-ce qu'elle a, la demoiselle! Qual o mal dessa donzela! Porventura! eu sei a doença que sofre a pobre e formosa donzela! Não posso ter a certeza, mas se a puder ver, experimentarei os remédios que pude trazer comigo e nunca me abandonam e são segredos descobertos no nosso reino que porventura ainda não chegaram ao vosso país e não me competirá a mim revelá-los, tão só usá-los em caso de extrema necessidade como me parece ser esta! Tão formoso discurso foi ouvido com muita atenção, espanto e esperança, e logo esta bela fala do cavaleiro correu pela cidade, e logo o levaram à presença da doente que mais parecia morta, mas que irradiava uma beleza suave e discreta na sua palidez. O cavaleiro chegou, olhou e ela continuava como morta. Olhou com mais atenção e pode ver a cor da palidez do rosto e dos lábios e como que pode adivinhar o brilho dos seus olhos mesmo sem os ver. Fez com a cabeça um sinal que todos entenderam que sabia que doença era e que teria o remédio indicado para ela e todos se retiraram respeitosamente... mesmo a ama, que mais cuidava daquela menina, encarregada pelos pais de que nada lhe faltasse mesmo naquele castelo que mais parecia uma prisão! Então..., o cavaleiro olhou mais insistentemente os olhos que não via mas adivinhava... os olhos que o não viam mas o adivinhavam! aproximou-se. tocou-lhe no rosto. deu-lhe o beijo... 292 Lendas de Beja – o Touro e a Cobra e outras LENDAS... Mal a beijou ela começou a abrir os olhos, e quando lhe deu o remédio salvador que trazia para a salvar, ela abriu desmedidamente os olhos de encanto e espanto descobrindo realidades fantásticas que os sonhos e presságios já lhe tinham indicado, mas ela não julgava nem sonhava possíveis, não podendo conter em si a alegria que a fez entrar num desvario que mais parecia um deslumbramento. Todos se encheram de alegria e festejaram tão milagrosa cura que ela não podia esconder de ninguém e, durante algum tempo, pode aquele salvador providencial visitar e assistir à espantosa convalescença da sua doente! Quando enfim, no final das campanhas, os cavaleiros tiveram de partir, e entre eles aquele maravilhoso que a tinha salvo, os seus gritos de dor e alegria foram tão estridentes, tão impressionantes, que embora só desse CINCO! daqueles PRODIGIOSOS GRITOS, UM EM CADA DEZ ANOS DOS CINQUENTA QUE AINDA VIVEU, eles foram tão sentidos, tão dolorosos, tão expressivos da alegria e do encanto que sentira, que se ouviram além fronteiras e ainda ecoam pelo mundo como expressão dos mais profundos sentimentos que pode experimentar a pessoa humana! TÃO TRISTES, TÃO SAUDOSOS, TÃO SENTIDOS DA PARTIDA, POR SE VER ASSIM TRAÍDA, POR SE VER ASSIM CAÍDA! QUE PASSOU A SUA VIDA A QUERER CURAR-SE DA FERIDA, SEM O QUERER, POR ESTAR PERDIDA... E POR MAIS QUE ELA GRITASSE E QUE DESEJASSE CURAR-SE; OS SEUS GRITOS DOLORIDOS, ERAM SÓ P'RA QUE ELE VOLTASSE E LHE ABRISSE AQUELA FERIDA POIS ENCONTRARA NA VIDA... 293 José Penedo – um deNómio de José Rabaça Gaspar UMA ENCANTADA ALEGRIA, QUE ELA NÃO QUERIA PERDIDA, E VALIA MAIS QUE A VIDA, VIVIDA SEM ALEGRIA!... Eram assim os gritos de Mariana! Os gritos de Maria... Os gritos de Ana... Os gritos da Ama... Os gritos da Maria Ana... da Maira... da Maíra...da Nairama... da Arima... da Arinama... da Miriam... de todas os MARIAS que de todos os rios, de todas as rias, do Tejo, do Sado, do Guadiana – Odiana, do Alva e Ceira, do Mondego e do Douro... que correm para o MAR... que unem fronteiras, que rasgam fronteiras... daquém, dalém montes... daquém e dalém Tejo!!! mas carregam as DORES de todas as FONTES! e levam as lágrimas de todos os peitos... onde a DOR floriu! Eram assim os gritos de MARIAS!... 294 TANTAS! Tantas MARIANAS!... Lendas de Beja – o Touro e a Cobra e outras LENDAS... A MAGIA DAS DÉCIMAS POPULARES!!! O MOTE GLOSADO EM ESPIRAL – ou A QUADRATURA DO CÍRCULO. A MAGIA DA QUADRA QUADRADA QUE GIRANDO SE TORNA CÍRCULO! E então se transforma na CIRCULATURA DO QUADRADO! img026 – a magia das décimas ou a circulatura do quadrado… 295 José Penedo – um deNómio de José Rabaça Gaspar img026b – a magia das décimas ou a circulatura do quadrado… manuscrito! 296 Lendas de Beja – o Touro e a Cobra e outras LENDAS... 0.3.03 - Os Magos na Sala do Capítulo Os magos e as fadas da clareira escondida na floresta, que nesse dia tinham reunido na sala do capítulo, onde tantas freiras tinham sido repreendidas e censuradas pelas suas leviandades e a quem foram impostas rigorosas e penosas penitências, saíram cabisbaixos e ainda pensativos carregados com os mistérios que tentavam desvendar através de tão atribuladas e excitantes histórias com um misto de factos reais e históricos, à mistura com umas cartas que tanta polémica levantaram e levantam sobre a sua autenticidade e mais ainda a Lenda!... e tentaram ir até ao balcão de Mértola que se abria sobre a planície para o Sul... Quem é que lá foram encontrar? triste e pensativa, recortada no contraluz do dia a entardecer? A Mariana! Não. Não era a Mariana Alcoforado. Mesmo que fosse não a reconheceriam, pois como não deixou nenhum retrato autêntico para a posteridade, muitos artistas a retrataram conforme a sua ideia, suposições e inspirações, e até Matisse, em traços simples e vigorosos, se comoveu com a pobre freira portuguesa do sul e, como diz Belard da Fonseca, como nunca deve ter visitado Portugal, nos dá a imagem de uma mulher tipo de marroquina, lábios muito carnudos, malares salientes e olhar de animal perseguido.‖ Como é que ali teria entrado aquela intrusa? Não sabiam e também não perguntaram. Também ninguém sabe como é que o Cavalheiro de Chamilly teria entrado naquele convento de clausura rigorosa!, mas sabe-se que pelo menos desde 1665 as freiras foram fazendo casas próprias ou mais propriamente quartos encostados aos muros do convento e o pai de Mariana teria até mandado construir 297 José Penedo – um deNómio de José Rabaça Gaspar duas, e embora fossem obrigadas a ir pernoitar no dormitório interior, algumas, pelo menos algumas vezes, não iam com certeza. Ali estava ela recortada pela luz coada da Janela de Mértola e respeitaram seu silêncio e as suas divagações. Pensava talvez, como eles os magos, e elas as fadas, descobrir o significado das leis daquela época que encerravam jovens de tenra idade num convento inventado pelos senhores dos morgadios e latifúndios para que a riqueza da terra não se perdesse! e ali as sepultavam vivas! E a riqueza dos valores e sentimentos humanos que foram traídos e violentados? Essa Mariana é talvez um símbolo! Quando a riqueza humana, de sentimentos humanos e de corpo humano é semeada nesta terra fecunda do Alentejo, não pode ficar condenada à esterilidade castrada, ignorada, sem dar frutos. Os seus arroubos de doação e entrega, a sua riqueza de sentimentos, ecoaram pelo Mundo e ainda ecoam. Ela, como a Florbela e mais ainda outra figura de Lenda, a Aldonça da Fonte Mouro, são possivelmente os ícones, símbolos desta TERRA ALENTEJANA, feminina, fértil, rica, tanto em CULTURA como em CULTURA Terra, Povo, e a FONTE de Aldonça, como as CARTAS de Mariana, serão o grito feminino desta TERRA fecunda quando a querem votar ao abandono, a pretendem fechar numa clausura ou lhe criam entraves ao desenvolvimento, ou a pretendem simplesmente colonizar como um qualquer Marquis de Chamilly que só viria aproveitar e impor sua superioridade balofa de gente erudita e bem nascida! E vêm! E chegam! E regem! E ditam! E determinam! Mandam! Decidem! Condenam! Tem soluções para tudo! que não resolvem nada... - Os de cá, não percebem nada! Nós é que sabemos! Então não vêem, seus molengões, o que podem fazer, das coisas que são vossas! - Nós é que sabemos!... Eles é que sabem...! 298 Lendas de Beja – o Touro e a Cobra e outras LENDAS... Como todos os colonizadores souberam fazer, sempre, o melhor, nas colónias onde enriqueceram à custa dos ignorantes!!! Coitados!!! Claro que não é só isso! disse uma das fadas que tinha estado sempre muito calada. Quantos gritos de mulheres enclausuradas e exploradas se revêem na revolta de Mariana e quantas damas que ficaram para tias, sonharam aquelas cartas que talvez tenham escrito nos seus diários íntimos... E como elas, quantas terras? Quantas regiões perdidas, isoladas, enclausuradas, exploradas, oprimidas... deixadas estéreis em nome de leis como a dos morgadios... em nome do desenvolvimento... (deles!); do envolvimento... (deles!); em nome do regadio... (deles!); em nome da Pátria… (deles!); em nome da crença... (deles!); em nome da Fé... (deles!); em nome do progresso... (deles!).... quantas Marianas... Anas... Marias... Rios... Rias... Mares... ficaram infecundos, sem AMAR... sem CRIAR... A GRITAAAAAAAR: AIS! AI! AI! AI! IA!... ... ... IAAAAAAAAAAAAAAA M ! Há uma imensidade de sinais que tentamos desvendar. Talvez aquela cigana os esteja a ler melhor que nós, olhando a lua que se levanta neste céu de Agosto e esteja a ler nos astros, os destinos e anseios das mulheres e homens deste país de poetas, cantadores e contadores de histórias! Mas já vêm aí as Europas e as Américas com os seus dólares e ecus e euros, e com os seus iluminados a decidirem o que é melhor para nós e para o Alentejo... E esses, que estudam nos livros e nas catedrais do saber, não se vão deixar enganar pelas letras das estrelas que têm o segredo do Cosmos e do Universo! Esses vão trazer aqui tudo o que é iluminária e inteligenzia!!!... Vão ouvir e seguir todos e tudo, até lhes vão pagar para os ouvir ―cagar sentenças‖!, menos ouvir as soluções daqueles que sabem, porque 299 José Penedo – um deNómio de José Rabaça Gaspar sempre aqui viveram ao ritmo das estações e sabem ouvir e interpretar a Terra e a Natureza, a até, pobres analfabetos!, tentam ler as letras das estrelas!, com a sua Poesia e o seu Cante!!! E assim encerraram, os magos da clareira escondida na Floresta, as suas reflexões. A Mariana recolheu-se à sua liberdade e correu para o campo à procura do acampamento e do seu amado, o Cigano Castanho... ... Na Planície imensa, ao Sol de Agosto, abraçados um ao outro, ouviram subitamente um GRITO! Um CHORO! UM CORO! que era um lamento das ÁRVORES DO ALENTEJO gritado num soneto de Florbela Espanca: «ÁRVORES! CORAÇÕES, ALMAS QUE CHORAM, ALMAS IGUAIS À MINHA, ALMAS QUE IMPLORAM EM VÃO REMÉDIO PARA TANTA MÁGOA!» «ÁRVORES! NÃO CHOREIS! OLHAI E VEDE: TAMBÉM ANDO A GRITAR, MORTA DE SEDE, PEDINDO A DEUS A MINHA GOTA DE ÁGUA!» 300 Lendas de Beja – o Touro e a Cobra e outras LENDAS... Aviso aos leitores… Avisam-se os leitores mais distraídos, que qualquer semelhança que possa haver entre qualquer coisa que fica aqui contado e a história ou personagens possivelmente existentes na História ou na sociedade vista no seu conjunto, é pura e simples coincidência, uma vez que tudo o que fica aqui escrito é obra de pura ficção e do contributo de muitas e variadas obras de ficção de consagrados e renomados autores, e só existe no prodigioso MUNDO DA FÁBULA! do FANTÁSTICO! do MARAVILHOSO!... POSSIVELMENTE MAIS REAL DO QUE O MUNDO dito REAL!... O Autor 301 José Penedo – um deNómio de José Rabaça Gaspar 302 Lendas de Beja – o Touro e a Cobra e outras LENDAS... VITÓRIA VITORIA ACABOU-SE A HISTORIA. E ASSIM FICA PROVADO, DEPOIS DE BEM ENROLADO O NOVELO JÁ DOBADO... QUE AQUI NO ALENTEJO, NÃO SE VIVE DE ILUSÕES NEM DE SONHOS SENSAÇÕES... NEM TÃO POUCO DE PAIXÕES! POIS TUDO ISTO SÃO PURAS FICÇÕES... ISTO TUDO É UM DESERTO, ONDE NADA É PERTO... ONDE NADA É LONGE!... NÃO HÁ LONGE NEM DISTÂNCIAS, MAIS AMPLAS NESTE PAÍS... MAS HÁ ESPAÇO PRÓ SONHO E HISTÓRIAS DE PASMAR... É O POVO QUEM O DIZ COM SEUS CONTADORES DE HISTÓRIAS E CANTADORES E POETAS... QUEM NÃO CRÊ!!!? SÓ QUER É TRETAS. NÃO QUER POETAS SÓ QUER PETAS P‘RA REGAR A IDIOTICE! MAS SE QUER SÓ ANEDOTAS NÓS TAMBÉM LHAS CONTAREMOS E MUITAS ATÉ COM CHISTE PR‘ADOÇAR ESSA CHATICE E ATÉ A PAROLICE DOS PACÓVIOS DA CIDADE. 303 José Penedo – um deNómio de José Rabaça Gaspar NÓS QUE SOMOS BONS ARTISTAS COMO DIZ CERTO JUIZ... MAS PASSAMOS POR PAROLOS PRÓS TOLOS DESTE PAÍS QUE QUEREM PAPAS E BOLOS... VIMOS DAQUI AVISAR QUEM ASSIM OUSA PENSAR NA SUA PRIVACIDADE SEM PENSAR UM SÓ INSTANTE!... QUE LABORA EM ERRO GRANDE!... E ISSO É DOENÇA GRAVE OU UM MAL DA NOSSA RAÇA... MAS É DOENÇA QUE PASSA OU CO‘A MORTE, OU CO‘A IDADE! BONS SONHOS TENHAM SENHORES, SENHORAS E CRIANCINHAS, ‗TÉ NOVA OPORTUNIDADE!... TAVONDE!!! T‘AVONDO!!! TEM AVONDO!!! 304 Lendas de Beja – o Touro e a Cobra e outras LENDAS... TAVONDE... TAVONDO... TEM AVONDO ! - Fim ! - Chega ! ... um FIM antes de acabar... como um último copo, para saborear devagar, durante a despedida... TAVONDO é uma expressão de algumas zonas do Alentejo... - Tavonde! Chega. Por agora basta! - avisava com ar brincalhão o António Romão do Penedro, quando acabava de lhe encher o copo... Tavondo! Por ora chega, de lendas e de reflexões!... Porque talvez, quem sabe? depois de ouvir os gritos estridentes de Mariana, os avisos luminosos das lendas escritos nas estrelas..., possamos ouvir os GRITOS DESTE POVO... povo “indolente” que moureja ao sol, ―filho da fome e do trabalho sazonal‖, que grita mudo: - ―...somos nós!‖ ―...temos uma cultura.‖. ―Grita Alqueva...‖ ―...uma gota d‘água...‖ ―...alça-se o Castelo...‖ ―...soltam-se os touros...‖...canta o seu cante... e conta os seus contos... tem uma história... tem os seus poetas... os seus artistas... tem pessoas... tem gente... terra... e grita, calado: Chega de colonização! TAVONDO...tem avondo!... chega! ...é que naquele dia de LUA CHEIA, (1988/08/26,27) a MARÉ CHEIA invadiu todo o areal da praia onde tínhamos acampado, não nós! claro!, mas os ciganos que eram o Cigano Castanho e a Cigana Mariana, e ameaçava, com a sua fúria, invadir a Terra, cobrindo-a, submergindo-a, impedindo os humanos de VER COM OS OLHOS ABERTOS os mistérios do MAR... Mas, sete horas depois, quando se levantou a alva e ainda todos dormiam DE OLHOS FECHADOS, a MARÉ VAZIA, com o recuo profundo das águas, pôs a descoberto as profundidades do mar... 305 José Penedo – um deNómio de José Rabaça Gaspar Então, acordei, não eu! claro! ...e pude ter o privilégio de VER os segredos ocultos aos olhos humanos... Assim, um dia, quando tiverem oportunidade de caminhar na praia durante uma maré vazia excepcionalmente profunda, aquando das marés vivas, que vos permita caminhar pela nudez do mar... avancem sem medo pela nudez de a mar... da mar... d‘amar... talvez nesse dia, nos possamos ver e enfim perceber A LENDA DO TOURO, A LENDA DA COBRA E DA FONTE MOURO... DA PRINCESA COBRA E DO LIDADOR... e até voltar, vivendo outra vez, a mil e trezentos e oitenta e três... levantar um povo, tomar o castelo... depois regressar de novo ao futuro a mil e seiscentos nos anos quarenta e então gritar como a MARIANA os gritos de DOR desta TERRA fértil e que fica estéril de não fecundada... e os gritos gritados do povo esquecido 306 Lendas de Beja – o Touro e a Cobra e outras LENDAS... por ser desprezado por ser explorado por ser fecundado... em proveito alheio. ... E então perguntar: QUE CONTOS, QUE LENDAS ESTE LIVRO CONTA? LENDAS DE ENCANTAR P‘RÁ GENTE CANTAR DE NOITE AO LUAR? ou servem também para entender que aqui ou no mundo onde quer que seja... há lendas de touros de serpentes cobras de mouros e mouras de encantos e fontes de lutas de morte sonhando tesouros procurando a sorte procurando um norte gritando de dor de paixão, de amor... como aqui em Beja . e isso acontece em terra esquecida em qualquer lugar no tempo ou no espaço no mundo perdida... como em toda a parte 307 José Penedo – um deNómio de José Rabaça Gaspar na humanidade em constante guerra pela liberdade que seduz e aterra!... eterno combate do Homem na Terra bem escrito em verso no imenso Universo que podemos ler olhando as estrelas que são como letras das lendas que lemos... nós?...os analfabetos??? Para quem O MAR é A MAR… AMAR!!! 308 Lendas de Beja – o Touro e a Cobra e outras LENDAS... 4 - OUTROS SIGNOS 4.1 – PISÕES 4.2 – AS MAIAS 309 José Penedo – um deNómio de José Rabaça Gaspar 310 Lendas de Beja – o Touro e a Cobra e outras LENDAS... 4.1 - PISÕES 311 José Penedo – um deNómio de José Rabaça Gaspar 312 Lendas de Beja – o Touro e a Cobra e outras LENDAS... 0.4.1 - PISÕES – os Ciganos Romanos?!... A dada altura, correu voz pelas casas acaloradas de Beja e do seu termo, que, para os lados do Poente, a alguma distância do coração do Monte da Almocreva, viveu uma família romana, talvez de nome Atília, com a sua Villa Urbana de residência apalaçada, a sua Villa Rustica, para os servos, e a Villa Fructuaria, com os seus silos e armazéns para as colheitas, na melhor das comodidades e condições... de verão, protegiam-se do calor ardente do sol com a frescura da água que caia como em chuva em magníficos repuxos, serpenteava em regatos correntes como serpentes, e se estendia em reconfortantes piscinas como o mar... No Inverno, defendiam-se do frio com a grossura das paredes e a água circulava quente do hipocausto subterrâneo para os tanques aquecidos e podiam aproveitar toda a fonte do calor do sol, sempre generoso e abundante ao Sul... À voz da descoberta! de todos os lados correram a ver aquela maravilha! gente de todos os lados, sequiosos, chorosos, deslumbrados, pela facilidade tão evidente de poder ser feliz em clima tão hostil! Choravam eles a tristeza de terem esquecido a arte de construir no ambiente adequado a habitação certa para poderem viver cómodos, confortáveis e felizes!... Mas para aqueles Atília viverem confortáveis, quantos eram sugados pelo frio, pelo calor, pela sede e pela fome? ??? Naquela noite, o Cigano Castanho e a Cigana Mariana adormeceram embalados pelo sonho ancestral e universal de cada ser humano ter um lar, uma casa, uma vila, um monte... no campo, isolado dos 313 José Penedo – um deNómio de José Rabaça Gaspar outros e do mundo, mas muito perto para conviver... e poder dormir enfim ao som inebriante dos grilos e cigarras misturado com a música do vento que passa a dedilhar as árvores e as searas, acompanhada pelo murmúrio enfeitiçante da água das fontes e correntes... Assim, isolados! solitários! estariam aptos para enfim intervirem inteiros! solidários! na sociedade construída pelas mulheres e homens do seu povo universal encantado com o riso das crianças a crescerem para um Mundo Novo... Ali, entre ruínas… sonhando-se romanos instalados, meditavam: QUE OBSCURAS LETRAS SE LÊEM NA CLARIDADE DAS ESTRELAS?... QUE CLAREZA DE ESTRELAS PODEMOS NÓS LER NA OBSCURIDADE DAS LETRAS QUE JUNTAMOS PARA FORMAR A MAGIA DAS PALAVRAS QUE TENTAM CONTAR AS LENDAS E AS HISTÓRIAS QUE TENTAM ENCANTAR COMO O CANTO DAS SEREIAS? SÃO OS MISTÉRIOS QUE TODOS BEM SABEMOS, MAS NÃO DESCOBRIMOS NEM DIZEMOS!... QUE LOUCURA! SÃO VERDADES QUE NÓS BEM DES/CONHECEMOS MAS NÃO REVELAMOS NEM AS ENTENDEMOS! PORQUE SE NOS ATREVÊSSEMOS A OUVI-LAS COMO O CANTO sacrílego DAS SEREIAS Ficaríamos PRESOS COMO ULISSES OU CEGOS E SURDOS COMO OS OUTROS SEUS COMPANHEIROS DE AVENTURA... PORQUE NENHUM SER HUMANO PODE OUVIR OU VER DIZER A VERDADE QUE REGE A HUMANIDADE... 314 Lendas de Beja – o Touro e a Cobra e outras LENDAS... SEM MORRER!!! MORRER? OU LIBERTAR-SE DESTA HUMANIDADE CONHECIDA QUE NÃO PODE SUPORTAR A LUZ INTENSA DA VERDADE NUA E CRUA, IMENSA, SECRETA E PROFUNDA, QUE A MANTÉM NA VIDA???!!! TAVONDO! - dizem os alentejanos. BONDA – Tem Abonde – dizem os outros mais ao Norte!!! Tem que chegue. TEM AVONDO! Chega. BAAAAAAAAAAAAAAAAAAASTA! 315 José Penedo – um deNómio de José Rabaça Gaspar 316 Lendas de Beja – o Touro e a Cobra e outras LENDAS... img027 – no remanso de uma mansão romana!!! …“Ali, entre ruínas. sonhando-se romanos instalados, meditavam:...” p. 314 317 José Penedo – um deNómio de José Rabaça Gaspar 318 Lendas de Beja – o Touro e a Cobra e outras LENDAS... 4.2 - AS MAIAS In Expresso de 5 de Maio de 1984, Num trabalho de José Quitério, em COSTUMES: AS MAIAS – O 1º de Maio já era data antes de ser festa combativa: flores, meninos(as), destinos gentílicos, manducações rituais, diabo e esconjuros, trabalho e capital. Embora se estranhe, isto anda tudo ligado. 319 José Penedo – um deNómio de José Rabaça Gaspar 320 Lendas de Beja – o Touro e a Cobra e outras LENDAS... 04.2 - AS MAIAS E OS MAGOS AS MAIAS A FESTA DAS FLORES A FESTA DA PRIMAVERA A FESTA DA ALEGRIA A FESTA DA VIDA AS MAIAS AS FESTAS MILENÁRIAS DA PRIMAVERA também EM BEJA... AS MAIAS AS FESTAS DO VERDE E DAS FLORES AMARELAS E DE TODAS AS CORES... AS FESTAS DA ESPERANÇA NO VERDE DAS SEARAS QUE SE HÃO-DE TRANSFORMAR NO AMARELO DAS COLHEITAS DA COR DO OURO E DO SOL... AS FESTAS que celebram o ciclo constantemente renovado e aparentemente contraditório da ambígua vitória da VIDA sobre a MORTE e da MORTE sobre a VIDA que por sua vez será de novo vencida... E foi assim que há anos muitos anos que estão ainda para vir que a cidade de Beja se vestiu de FLORES e de CORES para celebrar uma FESTA nunca vista e nunca acontecida que afinal se celebrava desde sempre e em muitos lugares porque já vinha no coração e no ser íntimo de cada pessoa desde os tempos imemoriais e esteve sempre na alma e nas raízes destes povos de aquém do Tejo... 321 José Penedo – um deNómio de José Rabaça Gaspar Cada rua, cada bairro, cada canto de cada freguesia tinha o seu trono ricamente engalanado com todas as riquezas que permitia a fantasia das cores e dos odores que a Natureza tão prodigamente proporciona nesta época do ano e em cada trono, entronizada, a rapariga símbolo da beleza, da juventude, da alegria e da vontade de viver de toda a gente... Os sons, os cheiros misturados, o movimento e a agitação das pessoas espalharam-se pelo ar e rapidamente se propagara a toda a região e chegaram até à clareira escondida na floresta onde os magos e as magas meditavam estudavam e procuravam descobrir, descobrindo-se, a verdade, as verdades profundas da Natureza e da Natureza Humana... Ansiosos, insatisfeitos e preocupados, os magos da clareira escondida na floresta, onde evidentemente havia as magas-fadas com a sua afinada sensibilidade e encantos que encantavam os magos que por sua vez as encantavam com os encantos que lhe eram próprios, próprios da sua natureza e condição,...os magos da clareira, dizíamos, ansiosos, insatisfeitos e preocupados em sondar o significado dos gestos e manifestações que revelavam a maneira de ser profunda dos humanos, depois de terem tentado terminar tanta vez e dizer TAVONDO… CHEGA… TEM QUE CHEGUE… TEM AVONDO… JÁ CHEGA… como dizia o António - o Romão ali o do Penedro com os seus olhos brilhantes e manhosos quando o copo já estava cheio e não cabia lá mais, para depois, malandro, o despejar todo de um trago e o estender de novo e repetir depois de cheio: ―‘tá Avonde‖,...os magos ali escondidos na clareira da floresta à vista de toda a gente, beberam no ar a chuva de sons e cheiros misturados que andavam espalhados por toda a parte. e embriagados... vestiram-se de flores amarelas e de todas as cores que abundavam pelos campos e florestas e à beira dos caminhos e vieram misturar- 322 Lendas de Beja – o Touro e a Cobra e outras LENDAS... se, visto que sempre estavam misturados, com o turbilhão da turbamulta que celebrava a FESTA . . . Era uma FESTA como já dissemos nunca vista, uma festa total, uma festa de todos, uma festa geral desde sempre celebrada por todos com gestos e actos ou autos que todos inventavam e em que todos participavam... festa cheia de todas as cores e cheiros e encantos de todas as flores a sobressaírem dos tapetes imensos de verdura que naquele ano providencial cobria toda a imensidão dos campos que eram de terra de barro vermelho como se a terra se tivesse misturado com o suor e o sangue de todos os que neles trabalham e trabalharam em séculos e séculos de amanhos e sementeiras que alimentaram as sucessivas gerações de senhores e de escravos embora aqueles fossem mais bem alimentados mas estes sempre gastavam mais, que foram sempre muitos, muitos mais milhares os mal alimentados que sustentam os poucos bem alimentados e agora ali estavam cobertos do verde e da esperança de virem a transformar-se no amarelo dourado das searas e dos girassóis e do junquilho e dos pastos com promessas de oiro e de pão e de abundância para o corpo e para a alma de todos… Era de facto a FESTA. Via-se, ouvia-se, respirava-se, saboreava-se e sentia-se a FESTA por todos os sentidos e poros do corpo e do espírito que envolvia e embriagava as pessoas na sua totalidade, mas no fundo, no fundo, ninguém sabia bem em que consistia a FESTA porque a FESTA consistia precisamente naquilo que cada um cada grupo era capaz de inventar, inventando espaços, inventando sons, INVENTANDO A FESTA, para se surpreenderem e surpreender os outros numa explosão de espanto e de fascínio do fantástico que provocava um estado de embriaguez e de deslumbramento sem igual... 323 José Penedo – um deNómio de José Rabaça Gaspar Era a FESTA! Em todos os cantos ruas e praças e a qualquer hora do dia ou da noite havia imenso por onde escolher e não havia possibilidade nenhuma de escolher o espectáculo que se queria ver porque em todas as praças ruas e cantos da cidade e de qualquer freguesia ou lugar havia uma grande ou pequena multidão empenhada numa parcela da FESTA que era total e não havia mãos a medir... Mesmo assim, os magos e as magas que iam representando a dramatização da sua Escola da Clareira escondida na Floresta aberta ali aos olhos de toda a gente lendo e aprendendo no livro da vida os muitos segredos que procuravam aprender e aprofundar nos livros e no isolamento solidário das suas reflexões iam distinguindo aqui e ali em diversos tempos e lugares que eram quase os mesmos diversas manifestações que eram tão variadas e tão as mesmas celebradas de diferentes maneiras que afinal se concretizavam na mesma sinfonia de música e de gestos em movimentos tão diferentes e tão iguais que era espantosa coisa de ver como diz o pai dos nossos cronistas e contadores, dos artistas que detêm a arte de contar tudo o que há para OUVER... A lenda do Touro e da Cobra era representada ali entre a Praça da República e o Castelo em jogo de grandes grupos que ora eram cobras ora touros… Também num canto do jardim e nos empedrados das calçadas gente pequena e grande criava símbolos do Touro e da Cobra que ficavam desenhados nas pedras até serem apagados... ou nasciam figuras de barro e de madeira que de repente se animavam e ali ficavam gravados, parados em luta num movimento estático que se prolongava para sempre até os materiais durarem... em relevo... em 324 Lendas de Beja – o Touro e a Cobra e outras LENDAS... baixos relevos… desenhados e pintados em pratos ou nos mais diversos objectos… Em diversos recantos de ruas e de casas havia música e dança e poesia que horripilantes faziam renascer os Ai que impressão!!! movimentos Que nojo!!! sedutoramente Que horror!!! da luta entre o Touro e a Cobra em evoluções de magia e de fantasia... Lá para o Bairro da Esperança celebrava-se igualmente e de diversas maneiras, que eram as mesmas, a Lenda da Fonte Mouro com grupos mais misturados de grandes e pequenos e de homens e mulheres, outros mais propriamente só de gente grande outra só mais predominantemente de gente pequena cada um como mais gostava e dava azo a exprimir e satisfazer a sua fantasia e habilidades... No Moinho da Torre parcial e efemeramente reconstituído no próprio local onde diziam que existiu o outro diziam que na verdade não era bem ali mas o que interessava isso? representavam aquela história nunca acontecida mas que todos sabem que aconteceu da Princesa transformada em Cobra, aquela que apertou a mulher até à morte quando ia para lhe furar os sagrados olhos que a impediriam de ter os olhos abertos para a vida... Quando os artemagos da Lenda do Touro e da Cobra invadiam o Castelo, saía nesse momento a pequena grande multidão de cavaleiros e homens de pé que acompanhavam o LIDADOR na sua derradeira e memorável surtida contra os Mouros para comemorar os seus 95 anos de baptismo, 80 de vestir armas e 70 de Cavaleiro enfrentando o temeroso Almoleimar e o poderoso Alboacém que são derrotados e vencidos mas pagando com a sua morte e a de muitos dos seus tão estrondosa vitória... 325 José Penedo – um deNómio de José Rabaça Gaspar Mas já à porta pequena de Santa Maria da Feira se juntavam os que tinham ouvido o pregão que anunciava terem chegado de Lisboa novas cartas da rainha a D Leonor, a aleivosa, que pediam aos nobres e notáveis das vilas e castelos que não tivessem medo de tomar voz por sua filha, D. Beatriz, casada com o rei de Castela que os defenderia e remercearia por tudo quanto por ele fizessem... coisas deveras duras de ouvir para a arraia miúda... e todos à uma responderam ao aio que se prontificara a ler as cartas e as resumiu... não sei para que mais me deter em ler o que aqui vem. A Conclusão é esta: se quereis antes ter com a rainha ou com o Mestre e todos responderam a uma voz: Com o Mestre! Com o Mestre... e logo os maiorais fugiram e logo eles: Alça-se o Castelo! Alça-se o Castelo... e o foram tomar defendendo-se os de dentro rijamente e puseram fogo a duas torres em que estava muita munição... e os da vila entraram dentro numa quarta-feira a horas de comer e assim passaram a rondar e a vigiar a vila até que prenderam e mataram Mice Lancerote que se dirigia ao reino do Algarve para levantar essa região e aclamar o rei de Castela... No meio de tudo isto e de tão pacata como admirável confusão, não era coisa menos admirável de ver, os grupos de moços e de moças que celebravam e gozavam os cantos e os encantos das fontes com seus contos acrescentados ou remendados de muitos pontos que cerziam e recriavam novas e espantosas histórias como aquela que as magas e os magos foram surpreender na Fonte das Cavadas onde os contadores como os caçadores e pescadores e outros mentireiros cantadores tinham metido ali debaixo daquela cúpula arredondada como se fosse um mausoléu um Touro e uma Cobra que não se entendiam e passavam a vida a guerrear transformados um na bica grossa e farta e a outra na bica mais estreita e impetuosa mas ambas fartas e poderosas que juntando-se no pequeno tanque depois vão 326 Lendas de Beja – o Touro e a Cobra e outras LENDAS... correndo e serpenteando até ao mar (até a mar) até um dia voltarem de novo transformadas em negras nuvens descarregando-se em chuva sobre a terra e as nascentes para ali correram de novo na Fonte inesgotável que é fresca de verão e quente no Inverno... pela estranha magia de tudo o que nasce do ventre da Terra - Mãe. Ai quem me dera ser água Sempre da fonte a correr, Para beijar os teus lábios Quando lá fosses beber! ...lançou uma cantadeira, desafiando o grupo para um descante… e logo um pretendente a namorado respondeu: Ai! se eu pudesse ser água, E tu lá fosses beber Bebia, amor, tuas mágoas E contigo ia viver! (ou morrer!) A água tem mil segredos Mil histórias p‘ra contar; São amores ou são degredos Que vão correndo pró mar! Quantos segredos encerra A água a correr das fontes? Traz lá do Ventre da Terra Mil lendas, contos, amores!!! ...ali foram encontrar, as magas e os magos da clareira escondida na floresta o espantoso grupo de moças e de moços cantando e 327 José Penedo – um deNómio de José Rabaça Gaspar questionando e tudo mudando da história e da lenda dos outros contadores e mentidores... se não se estava mesmo a ver que aquela abóbada redonda que mais parece uma cabeça gigantesca de um árabe com o seu turbante não era mesmo um mausoléu que guardava ali para sempre os amores proibidos pecaminosos à luz de ambas as religiões e tradições entre um grande e formoso príncipe mouro e uma bela e encantadora cristã de uma outra religião que para ali vinham às escondidas de todos celebrar os seus encontros de apaixonados e... numa noite de lua cheia... quando decidiam fugir para longe, para uma ilha deserta onde enfim pudessem ser um do outro sem necessidade de se ocultarem dos olhos reprovadores de uma parte e outra...e eis que, eis que Alá e Javé intervêm lá do alto do seu Céu ao mesmo tempo e querendo separá-los para sempre e para exemplo de toda a humanidade, eis que sem terem tempo de se entenderem e combinarem, fiados cada um na sua omnisciência e na sua omnipotência, repentinamente tiveram a mesma ideia e ali os juntaram para sempre em duas bicas cantantes permanentemente juntas e permanentemente separadas, mais quentes de Inverno e mais frescas de verão e a partir do tanque em que se misturam, aí vão serpenteando pelos vales até ao mar (à mar) fecundando e fertilizando as terras por onde passam e matando a sede aos viandantes... e voltando sempre, sempre do mar em nuvens negras e ameaçadoras de tempestade mas que trazem a chuva que vai fecundar a terra e renovar as nascentes... e assim as duas Bicas são a FONTE das paixões CAVADAS, proibidas por todas as religiões com todos os dogmas e imposições que se não compadecem com a Natureza Humana... À vista disto, as magas e os magos sorriram surpreendidos por aquela tão atrevida e desrespeitosa transgressão da lenda mito que tão laboriosamente tinham ou/visto inventar sobre a FONTE DAS CAVADAS... e mais sorriram, mas já discretamente, porque nessa 328 Lendas de Beja – o Touro e a Cobra e outras LENDAS... altura passavam uns sisudos senhores que deviam ser da organização daquelas festas populares paciente e generosamente organizadas pelos grandes senhores para entreter e divertir o povo e... muito ajuizadamente, discorriam em voz baixa que se tornou progressivamente mais alta e imperiosa: que desaforo!... Já não há respeito pelas nossas tradições! Não se respeitam as lendas e os contos que tão pacientemente mandámos recolher e divulgar como fidedignas e autênticas!... mas que escândalo!... Por este caminho onde é que isto vai parar... Isto não pode ser. Temos de mandar intervir as forças da ordem e do saber e da ciência e da cultura e do Poder... Se isto assim continua, se o povo aprende a divertir-se sem licença... se não se limita a assistir a espectáculos prodigamente fornecidos por medida e sabiamente orientados por nós! o que e que vai acontecer?... Rapidamente aprenderiam que a Cultura é deles! que lhes pertence! e ainda um dia aparecem aí uns loucos a pedir direitos de autor por esta Cultura que a Natureza franca e generosa põe à nossa disposição!!!... e o pior... o que ainda é pior... é que depressa hão-de descobrir que a CULTURA TRADICIONAL, ela que é e sempre foi essencialmente oral e transmitida de geração em geração que a nova geração por sua vez recriava e reinventava, ainda descobrem dizíamos que assim como os seus antepassados foram espantosos criadores de contos e de cantos , ainda se convencem que eles os de agora e os do futuro tem o mesmo direito!... e então lá se acaba esta NOSSA DEMOCRACIA que tanto trabalho nos deu a criar... e até, imaginem bem! tem permitido que o povo escolha os seus legítimos representantes que os governam com tanta sabedoria e sacrifícios de toda a ordem e tanto no que diz respeito à Cultura como à Política e como na Economia!!! ... Ai se eles descobrem que podem inventar a Festa e podem pôr um nome às coisas que eles inventam, e fazem a sua Cultura!!! Ai que desgraça! É que, pôr nome às coisas, é ser dono delas! É ter direitos e poder sobre elas! Se isso acontece, lá ficamos nós sem o 329 José Penedo – um deNómio de José Rabaça Gaspar tão duro privilégio de os instruir, ensinar e educar, que tantos e tão grandes sacrifícios nos têm custado até agora!... que até nos dão direito a uma reforma mais cedo e bem paga!!! Ainda os magos, magoados de grande mágoa, ouviam os últimos comentários que já não ouviram ou não precisavam de ouvir mas já noutros pontos assistiam a outros episódios incríveis espalhados por imensos cantos e recantos... Ali debaixo dumas abóbadas onde se queria criar cultura o mestre de fazer nascer as formas no barro e na madeira que saem animados das suas mãos ouve com atenção as sugestões dum pobre poeta e medita descendo ao fundo das suas raízes a forma de representar o seu povo a sua gente a sua região e enquanto amassa o barro vai pensando e de repente começa a moldá-lo a dar-lhe forma e grita: já está! E apareceu o pastor e o moiral e a ceifeira e o ceifeiro e a catarina e os coros e as lendas e as fontes e as aias... a aprender com ele e a ver como toma vida o barro informe ainda há pouco inanimado as escolas e os arranjistas enviaram discípulos para aprenderem com o mestre... daí a pouco, promovem-se exposições e vendas e lá aparece o pobre e humilde artesão que tem a arte de animar o barro rodeado de uma corte de ceramistas e artistas consagrados diplomados a venderem as suas peças, pobres tentativas de imitar o mestre, por bom preço devido ao seu nome e ao seu diploma e à sua escola, enquanto o artesão que deu alma a tudo vai assistindo escondido e discreto porque tem as peças presas e pagas pelo espaço e material e forno e pelo pão que lhe pagam para viver e criar... e foi assim que o vi um dia, não fui eu que o vi foram os magos naquele dia de festa!, foi assim que o vi num dia rodeado por uma corte de ávidos aprendizes pegar num bocado de barro... começar a moldar... formar... criar... fazer nascer uma figura ou um conjunto de figuras que representavam não sei o quê que se 330 Lendas de Beja – o Touro e a Cobra e outras LENDAS... movia ali na estática representação do barro ... e de repente... afastando as mãos uma da outra, disse: já está!... e ainda não o tínhamos ouvido bem ou ainda não tínhamos percebido, porque o som das palavras ainda não tinha tido tempo de chegar ao nosso entendimento e as suas mãos que criaram bateram uma na outra e fizeram regressar o barro à sua forma informe primitiva que permite todas as formas e criações... Já está! - disse-me ele um dia em segredo... disse ele em segredo a um dos magos da clareira escondida na floresta, franzindo os olhos marotos num misto de tristeza inexprimível e de orgulho incontido…: A ideia já cá está na minha cabeça e faço-a... e crio-a... ou destruo-a... quando me apetecer! com as minhas mãos!!! Mas já pelas ruas da cidade se assistiam às Cavalhadas e jogos e lutas de cavaleiros... cavalheiros!!! talvez. A praça de touros regurgitava de gente. Assistiam a uma tourada de morte a pé e a cavalo!... Sem perceberem, sabendo, que assistiam àquela luta interminável de um Touro e duma Cobra que nunca existiram... Já os campos desportivos se enchiam de gente que praticava os mais diversos desportos e, em grupos diversos e diferentes espaços, serpenteavam atrás de uma bola que voava e serpenteava por sua vez até ser agarrada, domada e de novo lançada e disparada, enchendo campos verdes de rabiscos de variegadas cores... E havia merendas no parque da mata municipal... e grupos populares os mais diversificados que jogavam a malha e o chinquilho e toda a espécie de jogos tradicionais desde o pião ao arraiol... 331 José Penedo – um deNómio de José Rabaça Gaspar E havia espectáculos, danças coreográficas, jogos e diversões nas piscinas que serpenteavam em escorregas poços e baloiços... E os claustros do convento de Nossa Senhora da Conceição e de S. Francisco, assistiam às cenas reinventadas da Mariana e dos contos Universais!... Enfim, era uma cidade em festa... com todos os seus habitantes e forasteiros a inventarem e recriarem as suas fantasias já feitas e inventadas... Eram assim as festas das MAIAS, AS FESTAS DAS FLORES, AS FESTAS DA PRIMAVERA... AS FESTAS DA ALEGRIA E DA VIDA, A FESTA DA ESPERANÇA NO VERDE DOS CAMPOS QUE SE IRIAM TRANSFORMAR NO OIRO COR DO SOL DAS SEARAS E NO AMARELO TORRADO DO GRÃO DAS COLHEITAS QUE SE TRANSFORMARÁ EM PÃO... Era assim a FESTA DAS MAIAS celebrando a vida em todo o seu esplendor, em toda a sua pujança de juventude e, de novo, tremendamente agressiva e destruidora de tudo o que é velho e não resiste mais à força da VIDA NOVA que renasce, exactamente a partir da MORTE... Nestas festas, as MAIAS, as meninas entre os sete e os doze anos, graciosamente enfeitadas de flores de todas as cores e odores, nos seus tronos caprichosamente engalanados de flores amarelas das giestas, e brancas dos jarros e rosas das olaias..., Meninas MAIAS no limiar da sua meninice a passar para a adolescência, são, eram em muitos lados o símbolo de toda a beleza e de todas as promessas e de todos os sonhos... Promessas de rosa em botão que mostram toda a sua beleza e esplendor pelo período de um dia e logo fenece e 332 Lendas de Beja – o Touro e a Cobra e outras LENDAS... murcha e se desfaz numa morte aparente carregada de sementes que trazem em si os gérmenes da vida sempre a renascer... Povo do Aquém-Tejo, desde tempos imemoriais, desde sempre ligado à Terra e ao seu Culto, à sua Cultura, este Povo, já caldeado de cúneos e lusitanos e depois de romanos e de árabes, têm na terra as suas raízes tão profundas, que, é do VENTRE DA TERRA, que nasce o seu PÃO o seu sustento, celeiro dum país, a sua CULTURA sustento deste Povo e duma Região e sua forma de expressão através do seu CANTE, da sua POESIA, dos seus CONTOS e LENDAS a sua VIDA... só um POVO assim ligado ao VENTRE DA TERRA MÃE podia ter o privilégio de ser, através dos seus GRUPOS CORAIS, a expressão mais acabada do CANTE, só um POVO assim podia ter sido escolhido para ser a própria VOZ DA TERRA!!! Donde vêm então estas FESTAS das MAIAS que vamos reinventar? E como eram celebradas? Isso são contos largos que têm muito, ou quase nada de certo para vos contar! É já aí a seguir – AS MAIAS – AS FESTAS DA PRIMAVERA! 333 José Penedo – um deNómio de José Rabaça Gaspar 334 Lendas de Beja – o Touro e a Cobra e outras LENDAS... img028 – as maias… no centro de muitas outras lendas e celebrações!!! ―Era assim a FESTA DAS MAIAS celebrando a vida em todo o seu esplendor...‖ p. 332 335 José Penedo – um deNómio de José Rabaça Gaspar img029 – a maia… (in DA) In Diário do Alentejo, 15 de Abril de 1983. 336 Lendas de Beja – o Touro e a Cobra e outras LENDAS... 4.2.1 - AS MAIAS – AS FESTAS DA Primavera A FESTA AS MAIAS... eram por isso a ocasião oportuna para se celebrarem, em toda a sua euforia loucura deslumbramento e alegria... as festas de todos os sonhos anseios mitos símbolos aspirações tradições... dos povos do Sul... Conta-nos um cronista do Diário do Alentejo que se assina P.G., num número talvez de um dia de Maio de 1954 (26 é a data que foi possível detectar), numa coluna dedicada à FESTA DAS MAIAS: ―A sua origem distancia-se a épocas remotíssimas. Essencialmente pagã, sendo por muitos escritores atribuída aos romanos. Com a vinda dos árabes parece ter florescido mais, tanto assim, que é nas terras onde estes mais se demoraram, que maiores vestígios ficaram desta festa, como, por exemplo, no Algarve e nalgumas terras do Alentejo.‖ (...) ―Tal como nos é descrito, por escritores que desta festa se têm ocupado, procuramos dar uma pálida ideia do que ela era: ―Numa casa, junto à rua, constituía-se um trono todo ornamentado de rendas, fitas, flores e objectos de ouro que lhe davam um certo ar de riqueza. No sítio, procurava-se a rapariga mais bonita, com a idade aproximada aos doze anos, para ir servir de Maia. Envergava um vestido todo branco, tendo na cabeça uma coroa de flores; era toda enfeitada de rendas, fitas, flores e jóias, como o trono que ocupava. 337 José Penedo – um deNómio de José Rabaça Gaspar ―Abria-se a porta, de par em par, e, na rua, em frente da ‗Maia‘, erguia-se um mastro vistosamente ornamentado de verdura e flores, em volta do qual se cantava e se dançava muito animadamente. ―Esta festa tinha lugar todos os anos no 1° dia do mês de Maio. Todos os instrumentos musicais vinham para a rua nesse dia, ainda que desafinados. Os adeptos de Lieu também não faltavam, havendo abusos de toda a espécie. Era um dia completo de alegria e folgança. ―Cada rua tinha uma só ―Maia‖ procurando todos que a da sua rua fosse a mais bonita, ganhando em tudo às outras. ―É ainda do nosso tempo a existência de uma só Maia em cada rua, vestidas com relativo gosto, mas só aos domingos do mês de Maio. Presentemente, são 3 e 4 na mesma rua, com a cara suja e mal vestidas, em qualquer dia da semana. (...) ―No princípio do século presente, era ainda costume, em Beja e noutras terras, irem os seus habitantes passar o dia 1° de Maio nas hortas, comendo lautas jantaradas, acompanhadas das respectivas libações. Pelo dia fora cantavam e dançavam. ―Talvez, por esta razão, algumas Câmaras Municipais tivessem deliberado que o seu feriado Municipal fosse no 1° de Maio. ―As actuais festas populares de São João e São Pedro fazem lembrar um pouco as antiquíssimas festas das ―MAIAS".‖ ... Vieram depois AS MAIAS dos anos 80... Em 1982, por iniciativa do Núcleo de Etnografia da Casa da Cultura da Juventude de Beja e do seu responsável Florival Baioa, apareceu ―uma única MAIA para uma cidade... ali na rua do Ulmo‖. 338 Lendas de Beja – o Touro e a Cobra e outras LENDAS... Em Janeiro de 1983, a dinâmica poeta popular Maria Guiomar Peneque cantava assim as MAIAS da sua infância distante: No Largo Lima Faleiro (que foi aonde nasci), era eu ‗inda menina Já lindas maias fazia como outras iguais não vi. Com uma cadeira alta e outra mais pequenina, logo no trono sentavam de entre aquelas que chegavam, a mais bonita menina. Um lençol branco, bordado ou uma saia de rendas do pescoço até ao chão; flores presas com pontinhos dispostas em profusão. Maças do rosto com tinta feita a papel encarnado; cara pintada a farinha, lindos brincos-de-rainha nas orelhas pendurados. Uma capela de rosas das mais bonitas que havia tecida com malmequeres e verdura entrelaçada na cabeça se prendia. 339 José Penedo – um deNómio de José Rabaça Gaspar Cada uma à sua esquina com a bandeja na mão, à espera que os lavradores que passavam p'rá tourada nos dessem algum tostão. Por debaixo das cadeiras havia a caixa de lata onde se juntava o lucro das ofertas; mas as contas davam sempre zaragata!... A Maia largava o trono (muitas vezes já à brocha...) Cada qual com a sua parte ia comprar guloseimas à loja do senhor Rocha. Ó minha querida cidade, ó velha feira de Maio dos tempos que já lá vão: - Das Maias que já não vejo só guardo a recordação. E, a 15 de Abril de 1983, no Diário do Alentejo, agora semanal, onde este poema apareceu, aparecia também, pela pena de Manuel de Sousa Tavares, como que um anúncio da Primavera que chegava: «―AS MAIAS‖ regressam este ano a Beja.» Contava assim o jornalista, que tão dramaticamente nos ia deixar passado um lustro: 340 Lendas de Beja – o Touro e a Cobra e outras LENDAS... «Todos os anos, em Maio, era ver as crianças vestidas de branco, cobertas de flores e grinaldas na cabeça, salpicando as esquinas das ruas e largos da aldeia ou cidade deste Alentejo. Sentadas, imperturbáveis, em seus tronos improvisados de banco ou cadeira, trazidos de casa, tornavam-se sinal de novo ciclo da Natureza, do “maduro Maio” das colheitas e do estio avizinhando-se. A quem passava, vozes tenras soletravam invariavelmente em tom cantado: “Um tostão para a Maia que não tem saia.” E na bandeja, lá ia deslizando uma moeda, depois outra, “sempre poucas”.» Mas em muitos lados as MAIAS foram proibidas e em muitas terras a tradição foi-se perdendo e... o «MAIO DAS FLORES parecia condenado a perder de vez uma das suas “sagrações”.», como continua a dizer, mais adiante o cronista dos anos oitenta. «Este ano, porém, o Núcleo de Etnografia da Casa da Cultura da Juventude de Beja está disposto a reabilitar a tradição das MAIAS, a mobilizar as crianças da cidade para o reanimar dos tronos onde goivos e lírios, jarros e cravos com as giestas e as mimosas, as papoilas e os lírios, os malmequeres brancos e amarelos e os mentrastos e os espantosos tapetes de pequeninas flores das mais variadas e impossíveis cores e odores, são o tesouro da Natureza enfeitando o corpo de ―RAINHAS CRIANÇAS‖»... E tudo isto deve ser entendido numa ― (...) perspectiva viva e activa, fruto de uma filosofia participativa na defesa do nosso património históricocultural.‖ Segundo a opinião, e talvez fruto da observação pessoal, do mesmo jornalista «(…) esta “usança popular” estará em Portugal particularmente entranhada nas crianças das classes mais pobres. Através das MAIAS, elas conseguem amealhar o dinheiro (ainda que 341 José Penedo – um deNómio de José Rabaça Gaspar parco) para satisfazer necessidades que a sua condição converteu em “capricho”. Em Beja, era normal as crianças que entravam nas MAIAS partilharem as ofertas entre si, para depois gastarem, na Feira de Maio, o dinheiro que geralmente os pais não tinham para lhe dar.» Esta, seria uma maneira de retomar “ESSA SAUDAÇÃO DOS POVOS AO RENASCER DA VIDA VEGETAL‖... que poderia ser animada com os ―jogos infantis tradicionais‖ como o berlinde, o jogo da pata, o eixoeixo-ribaldeixo, o pião...o apanha, o agarra, o salta e o mata... Destas «MAIAS - TRADIÇÃO QUE REGRESSA» fez eco o Primeiro de Janeiro de 10 de Maio de 1983 e, a 13 de Maio, o Diário do Alentejo fazia assim a reportagem da festa: « (...) As “MAIAS” voltaram, nessa sagração de um novo ciclo da Natureza a que, anualmente, e desde a Antiguidade, diversos povos se entregaram. Foram escolas inteiras como a “(...) Escola do Salvador que colectivamente se empenharam na sua representação. (...) ou ainda “ruas inteiras” (como a do Pé da Cruz) que emprestaram uma nova moldura ao seu quotidiano: sobre o chão, tornado tapete de flores e folhas de palmeira, se ergueu ali uma das mais airosas “MAIAS” deste Maio diferente. (...) desde os bairros mais modernos (como o do Ultramar) até aos suburbanos ou mais pobres, como os do Pelame, Senhora da Conceição, Esperança, Apariça, Zona Azul.» É no entanto o semanário ―Expresso‖ pela mão de José Quitério que, a 5 de Maio de 1984, traça o esboço de um estudo sobre as MAIAS com mais dados e referências de várias fontes e autores... Primeiro fala-nos das proibições destas festas. 342 Lendas de Beja – o Touro e a Cobra e outras LENDAS... «Uma postura da Câmara de Lisboa, de 1385 rezava assim: “outro sim estabellecemos que d'aqui em diante, em esta Cidade e seu termo, nom se cantem Janeiras nem MAYAS, nem a outro nenhum mez do anno.”» «Em carta régia de 1402 também se determinava: “(...) que não cantassem mayas, nê janeiras, e outras cousas que eram contra a ley de Deus”.» Cita ainda Pinho Leal que no seu ―Portugal Antigo e Moderno‖ (vol. V, 1875) onde refere que “há alguns anos o governo proibiu a FESTA DAS MAIAS”. Houve escritores que referem este rito popular por intermédio do jornalista do Expresso de 1984, e o colunista do ―Diário do Alentejo‖, levando-nos até trinta anos antes, onde nos é recordado o que disseram Aquilino Ribeiro, Alexandre Herculano, D. Francisco Manuel de Melo e Séneca. Aquilino Ribeiro: ―Quando os pães apendoam, pelos caminhos, na testeira das belgas, no festo dos cabeços, as giestas desentranham-se em maias. Maias amarelas, maias brancas, é uma epifania.‖ Alexandre Herculano, «em ―O Monge de Cister‖ (Capítulo IV, ―A festa da Maia‖), cuja acção decorre precisamente no tempo de D. João I, depois de citar a postura da Câmara de Lisboa ―(...) esguardando a uns graves peccados que se em esta cidade de mui longos tempos acá faziam, e extremadamente peccados de dollatria e costumes danados dos gentios‖, indica que a lei não atingia as comunas de mouros e as povoações por eles principalmente habitadas, e 343 José Penedo – um deNómio de José Rabaça Gaspar descreve o ―préstito da maia‖ no Restelo: ―(...) a filha de Muça, que fazia o principal papel, vinha cavalgando uma formosa hanaceia levada de rédea por dois rapazes coroados de boninas e rodeada de mancebos e donzelas, do mesmo modo enramados de flores e cantando certas cantigas ao som de adufes e pandeiros, com uma toada mui de folgar; (...) as crianças derramavam flores sobre a cabeça dos maios pequeninos, que eram como génios que circundavam a deusa da festa da Primavera‖. Contudo, o colunista do ―Diário do Alentejo" de 1954, cita só, de Alexandre Herculano: ― (...) porque a negregada cadela da filha (de Muça) vai fazer de maia‖.» D. Francisco Manuel de Melo, na ―Carta de Guia de Casados‖ é citado por este último jornalista que transcreve: ― (...) aborrece-me umas ―maias‖ muito enfeitadas sempre de bordados e jóias, que parecem Fama de Procissão, ou Rainha Moura‖. Já Séneca, desde os primórdios da era cristã dirigia ásperas censuras contra a licenciosidade de tais ―Floralia‖. MAIA é, em resumo, como dizem as enciclopédias um ―Rito popular, sobrevivência de antiquíssimos cultos agrários, que consiste essencialmente em enfeitar, no dia 1° de Maio, as portas e janelas, os animais e os veículos, com ramos ou coroas de flores, sobretudo com giestas. Trata-se de impedir a entrada do ―Maio‖, personificação do Mal. Por vezes, a este rito, associam-se certos manjares cerimoniais. ―MAIA personifica O DESPERTAR DA NATUREZA NA PRIMAVERA e a sua festa celebrava-se em Maio e por isso terá dado o nome a este mês.‖ 344 Lendas de Beja – o Touro e a Cobra e outras LENDAS... "MAIA representaria uma deusa da fecundidade, a PROJECÇÃO DA ENERGIA VITAL.‖ Voltando ao citado jornalista do ―Expresso‖ podemos ter uma panorâmica das multímodas celebrações e motivações através do tempo e do espaço: "O dia das ―MAIAS‖ é o primeiro de Maio, que, desde tempos imemoriais se comemora em Portugal e assume diversas formas celebrativas de Norte a Sul.‖ Baseando-se depois em Ernesto Veiga de Oliveira, vai descrevendo as várias formas de celebrar estas festividades, apoiando-se numa considerável plêiade de estudiosos, tais como: Abade de Baçal, Manuel Joaquim Delgado, Reis Dâmaso, Rafael Bluteau, Rocha Peixoto, Jorge Dias, José Leite de Vasconcellos, Jaime Lopes Dias, Luís Chaves, Luís da Silva Ribeiro... Ao contrário de muitas outras regiões, em que a personalização do ―maio" retouceiro e sátiro é masculina, representado por rapazes ataviados de giestas, ― (...) Nas províncias do Sul, a pessoalização é normalmente feminina. Assim, no Alentejo, com particular incidência em Beja. Aqui, as ―MAIAS‖ são meninas que vestem de branco e enfeitam com flores, pondo-lhes na cabeça uma coroa de mais flores, e sentando-as em cadeiras, à esquina de alguma rua, nalgum largo, ou junto à porta de sua casa. Em seu trono enfeitado de rosas se aquietam algumas horas, enquanto companheiras mais pequenas bandejas na mão, pedem a quem passa: 345 crescidas, com José Penedo – um deNómio de José Rabaça Gaspar «- Meu senhor, um tostãozinho para a ―Maia‖»; ou «– Um tostão para a ―Maia‖ / Que não tem saia!», segundo Manuel Joaquim Delgado. «A mitologia cristã associa o hábito giesteiro à tradição de que, quando Jesus nasceu, os judeus assinalaram a casa onde estava com um ramo de giesta, para mais tarde o prenderem. Quando tal quiseram fazer, todas as portas das casas da localidade – ó maravilha de deus infante – estavam também com os mesmos ramos, tornando impossível o reconhecimento....» Rafael Bluteau, no seu ―Vocabulário Portuguez e Latino‖ (tomo V, 1716) diz das MAIAS que «(...) na antiga Gentilidade eram espectáculos desonestos (...) representações obscenas (...) festa que em Roma se celebrava com ramos, ervas e capelas de flores no mês de Maio, por ser o tempo em que as plantas são mais viçosas (...) antigos desatinos da gentilidade.» Segundo o Abade de Baçal, as MAIAS são restos das religiões naturais, adoradoras dos deuses protectores: FLORA – deusa da florescência; CERES – deusa dos frutos; PALAS – protectora dos lameiros; FAUNA – a ―Bona Dea‖, mãe de Mercúrio; MAIA – deusa da fecundidade; acrescentando que as nossas MAIAS se filiam nas festas FLORALES romanas, celebradas durante seis dias, desde 28 de Abril a 4 de Maio, em honra de FLORA, ―(...) por mulheres nuas saltando lascivas e proferindo palavras obscenas, acompanhadas de gestos impúdicos.‖ «No fundo trata-se do velho mito solar em que o Verão, entrando em luta com o Inverno, acaba por vencê-lo. E o Maio anunciava que mais 346 Lendas de Beja – o Touro e a Cobra e outras LENDAS... uma vez a terra ia ser fecundada, que a vida prosseguia e que o amor e a luz inundariam outra vez o mundo.» (Rocha Peixoto) «Tudo isto entronca em remotíssimos cultos agrários, na profundeza dos séculos, em que os povos saúdam o renascer da vida vegetal com ritos simbólicos as forças criadoras da Natureza.» «Em Lagos existe a antiga ―Lenda do Maio‖, segundo a qual a população costumava adornar um homem com as melhores jóias da terra e que, montado em belo e enfeitado ginete, percorria as ruas na manhã do 1° de Maio. Em certo ano, terminado o giro pela cidade, o cavaleiro seguiu para o campo e desapareceu. Dizem que desde então os lacobrigences ficaram esperando o ―regresso do Maio‖, a ponto de haver um ditado popular ―Tornará como o Maio de Lagos‖. A acompanhar todas estas festividades consta que havia a tradição de grandes comezainas e bacanais desde a antiguidade, mas as recordações mais recentes mostram que em geral no país se comiam castanhas como esconjuro do mal e nas beiras todos comiam o caldudo, e ao sul do Tejo é geral o costume de merendas no campo... »« Parece poder verificar-se que ―a gente sisuda‖, ―as pessoas ajuizadas‖ os ―senhores‖ os representantes do poder civil ou religioso ou cultural, não gostavam das MAIAS (como diziam os magos que já tínhamos esquecido de tão escondidos na clareira aberta da floresta). Não gostavam das MAIAS, como desde há muito se vêm contrariando AS FESTAS POPULARES celebradas ao ritmo das Estações e da Natureza que eram vistas como Manifestações pagãs, gentílicas, que normalmente levavam a desmandos, excessos inconvenientes! 347 José Penedo – um deNómio de José Rabaça Gaspar Nos regimes autoritários ou eivados de paternalismo e proteccionismo, o facto é que o Povo existe para servir e divertir os ―grandes senhores‖ e ―padrinhos protectores e salvadores‖ e, se se considera que tem algum préstimo aquilo que o povo produz ou cria, (se é que o povo pode criar alguma coisa caso não seja permitido pelos ―grandes senhores‖!) só o poderá fazer para os servir e divertir... É ver os casos da música, da poesia, das artes populares... Só em beneficio dos senhores é reconhecida e útil! Divertimentos para o povo, aqueles que ―os senhores‖ prodigamente lhes oferecem como - a Telenovela quotidiana nos dai hoje - mais os Telejornais e os Telefilmes; ouvir ou ver/assistir ao menos a um desafio de bolapé por semana, como – ouvir missa nos domingos e festas de guarda –; gastar dinheiro em feiras, romarias e ―serões para trabalhadores‖ ou outras variedades semelhantes em festividades especiais, locais, regionais ou nacionais, sempre com atracções de fora, ainda melhor se forem estrangeiros e muito caras... mas sobretudo nada de excessos! nada de desmandos! Alegria e espontaneidade, sim, mas devidamente controladas!!! Como se a Natureza não cometesse excessos! Como se não houvesse cheias, trovoadas, tremores de terra, vulcões e cataclismos que ciclicamente renovam a Vida causando a Morte!!! Como se ―os Senhores‖ não cometessem excessos!!! Excessos proibidos e condenáveis ao Povo, mas que o Povo, como criança menor, não pode cometer, sem ser severamente punido e penalizado, exactamente pelos ―senhores‖ que podem cometer esses mesmos excessos lá em casa ou no ―estrangeiro‖!!! O ressurgimento da MAIAS, como das festas tradicionais, que obedeciam ao ciclo do Sol, da Luz e da Vida, seriam uma Revolução tão evidente como a descoberta heliocêntrica de Galileu, que poria a 348 Lendas de Beja – o Touro e a Cobra e outras LENDAS... Pessoa Humana como centro e medida de todas as coisas, e o Povo centro e medida de todas as políticas e regimes!!! ―em que todos os instrumentos vinham para a rua nesse dia, ainda que desafinados..., em que era um dia de alegria e folgança!‖ em que a população se sentiria em sintonia com a Natureza que se abre num mar Verde de promessas, de Pão, de Alegria e de Vida, com toda a agressividade, subversão e violência, que a própria Natureza traz - com os pólenes, sementes e súbitas trovoadas - num crescimento para a Vida tão intenso e por vezes tão brutal que, para muitos, vêm as alergias, e para os que já não têm mais resistências, a Morte! para que a Vida renasça. Têm, afinal, muito para nos contar, AS MAIAS! Mas chega. Tavondo! MAIAS, como FESTAS POPULARES, só quando o Povo Soberano as souber de novo inventar e criar como é de seu direito e dever. Os donos do Poder, de qualquer Poder, desde o político ao religioso ao económico e ao cultural, souberam sempre e sabem que, quem dá o nome às coisas, é porque as cria, e se torna o dono dessas mesmas coisas! Daí, no fundo, a grande luta surda entre as CULTURAS. a popular e tradicional, e a académica dita erudita, como se a CULTURA alguma vez pudesse estar em conflito ou contradição! O que está em causa é, afinal, a manipulação da cultura para se servir ou para a pôr ao serviço de quem?! Quando se decreta transformar a LÍNGUA – a PALAVRA sem respeito pelo Povo que é o Dono e Criador incontestado do mais poderoso meio de Comunicação, e/ou de Domínio, e/ou de Libertação, é porque não convém, aos que a isso se atrevem, o Senhorio do Povo sobre as coisas, os seres, a sua Língua, a sua PALAVRA, a sua Vida. 349 José Penedo – um deNómio de José Rabaça Gaspar No dia em que o Povo assumir a FESTA, a PALAVRA, a ALEGRIA, a VIDA, teremos então o Poder assumido pelo Povo – a Democracia. Celebra-se hoje, 1° de Maio de 1989, o 1° Centenário da resolução do Congresso Internacional de Trabalhadores de Paris, em 1889, que consagrou o 1° de Maio como FESTA INTERNACIONAL DO TRABALHO. Estaremos mais uma vez a subverter, ou em sintonia perfeita com a Natureza pois já em 1890, esta data era celebrada em Portugal com ―um passeio ao campo‖ e, como dizia Rocha Pinheiro em 1894 a propósito da FESTA DOS TRABALHADORES no dia 1° de Maio, tratase: ―(...) d'o triunfo da seiva nova e procriadora - o TRABALHO (exaltação da fecundidade), sobre a força estéril e nociva - o CAPITAL (esconjuro da entidade maléfica)... que como o Touro e a Cobra se mantêm numa luta titânica e permanente com pontos mais altos ou mais baixos na impossibilidade de viverem juntos/separados, como o Bem e o Mal, como o Homem e a Mulher, numa descoberta sempre conseguida e frustrada de fecundidade e reprodução... Tal como a Natureza ciclicamente se renova, também a Comunidade Humana tem de caminhar para o seu crescimento emancipação e libertação, destruindo e apagando, renovando e transformando o que é velho, caduco, estéril e nocivo... num caminhar imparável para o desenvolvimento... As MAIAS, as Festas da Primavera, da Vida e da Alegria, são o símbolo desta Esperança constantemente renovada... É afinal a Lei da Vida e da Natureza, tão evidente e visível no nosso dia a dia, que até a Pessoa Humana a pode entender – os outros 350 Lendas de Beja – o Touro e a Cobra e outras LENDAS... seres estão sujeitos a ela, sem a poderem entender, pensamos nós – sem disso poderem tomar consciência – e, esta consciência, pode ser até Ideia Chave que nos permita libertar-nos da negativa angústia do ancestral e corrosivo medo da velhice e da morte, porque, finalmente, poderemos entender a velhice e a morte como condição de uma Nova Vida que constante e ciclicamente se reNOVA. 351 José Penedo – um deNómio de José Rabaça Gaspar 352 Lendas de Beja – o Touro e a Cobra e outras LENDAS... 0.4.3 - NOTA FINAL – lendo LENDAS DE BEJA PRETENDE SER UM DESAFIO PARA, como o Velho Cigano PODEMOS IR LENDO LENDAS nas LETRAS das ESTRELAS!,,, SERVE TAMBÉM ESTE LIVRO PARA AFIRMAR AOS QUATRO VENTOS, MESMO QUE NINGUÉM SAIBA OUVIR A VOZ DO VENTO, QUE O POVO, E NESTE CASO O POVO DO ALENTEJO AQUÉM DO TEJO SEMPRE CRIOU A SUA MÚSICA, A SUA POESIA, OS SEUS CONTOS, OS SEU CANTOS, AS SUAS LENDAS A SUA ARTE sem interferências (ou apesar) dos donos e dos doutores, apesar dos colonizadores que lhe chamaram ALÉM - TEJO - e, como ―pôr o nome é ser dono!!!‖ - que a vieram explorar e banquetear-se com ela! É por isso mesmo, e apesar disso, que continua com o mesmo Direito, Dever e até necessidade de continuar a criar a sua música, a sua poesia, os seus cantos, os seus cantes e descantes, as suas lendas e a sua arte, até para se exorcizar de todos os males, e deles Beja, 1° de MAIO de 1989 José Penedo 353 José Penedo – um deNómio de José Rabaça Gaspar 354 Lendas de Beja – o Touro e a Cobra e outras LENDAS... 5 - BIBLIOGRAFIA/s nota1 BIBLIOGRAFIA ou a referência às FONTES apoios e a solidão/ária 5.1 BIBLIOGRAFIA/s 5.1 – Bibliografia – referência às Fontes 5.2 – Bibliografia de Autores e Obras 5.3 Bibliografia Viva… 1 A BIBLIOGRAFIA, como aliás vou ter oportunidade de dizer para o/s índice/s, vão numerados, depois de longas hesitações, porque são parte integrante da obra idealizada. Não são mero apêndice ou elementos para facilitar a leitura. São capítulos de leitura que condicionam e orientam ou subvertem toda a Leitura. Neste caso da BIBLIOGRAFIA, o mais importante, não é própriamente a Bibliografia como é entendida em geral. A BIBLIOGRAFIA não escrita, essas HISTÓRIAS que você ouviu ccontar e de que já não se lembra... Aqueles de que se lembra mas não ligou importância nenhuma porque foram contadas por alguém sem cotação no mercado das economias ou ideias rentáveis... Essas mesmo, que não podem estar aqui citadas, porque são as que voçê conhece, são A BIBLIOGRAFIA indispensâvel para entender estas LENDAS e as reCONTAR e as subVERTER... 355 José Penedo – um deNómio de José Rabaça Gaspar 356 Lendas de Beja – o Touro e a Cobra e outras LENDAS... 5.1 BIBLIOGRAFIA a referência às FONTES os APOIOS ou a SOLIDÃO SOLIDÁRIA Nestas VIAGENS ATRAVÉS DO MARAVILHOSO, escritas na angustiante solidão da desconfiança e da incompreensão, em que foi preciso resistir aos constantes desânimos e desistências sucessivas, pela falta de tempo, pela falta de condições, pela falta de estímulos, pelos constantes apoios negativos que vão desde os risinhos superiores dos pretensos eruditos sérios e realistas que só acreditam no imediato, ate a necessidade de resistir para subsistir com horários sobrecarregados de tarefas inúteis e absorventes, sem o mínimo respeito pelo trabalho exaustivo de uma investigação tentando caminhar por zonas pouco andadas e exploradas... tudo isto de mistura com agressões inauditas, autênticos atentados a minha dignidade profissional e humana, numa escola cega pela sua infalibilidade diplomada de cultura livresca de costas viradas para a realidade gritante, profunda e transformadora do meio em que esta inserida... no meio de tanta contrariedade, em que este acto de amor com a cultura tradicional se transformava por vezes numa doação unilateral quase violenta em que falhava a partilha do encontro amoroso; no meio deste angustiante conjunto de circunstâncias que atingia vezes sem conta os limites da resistência humana!...; quem sabe se em vez de impeditivas, estas tremendas tensões limite foram afinal a mola real que me terão levado, como a Sherazade das mil e uma noites, a desafiar o Califa todo poderoso do destino e das forcas que me queriam destruir, para, no encanto dos contos e das 357 José Penedo – um deNómio de José Rabaça Gaspar lendas e dos cantos, encontrar a magia, qual varinha magica, que havia de trazer remédio para a situação de desespero sem saída em que tantas vezes me encontrei; eis que subitamente descubro que nada disto teria sido possível sem me sentir rodeado de uma multidão de sábios e estudiosos e amantes da cultura, da CULTURA entendida na sua acepção global que vai ate as raízes...; e afinal, a dolorosa viagem que parecia insuportavelmente solitária, estava afinal acompanhada e impulsionada, solidária, por uma série de ilustres viajantes audaciosas que me proporcionavam a sua maravilhosa companhia, sem distinção de idades, sem limites de tempo ou de espaços! sem a distancia inacessível do pedestal da erudição e do desprezo pelo desejo esforçado de conhecer... Que PRAZER agradável foi viajar com tantas e tão fantásticas companhias, associadas a esta CARAVANA DE CIGANOS incansáveis andarilhos que não param, atentos afinal, aquilo que os residentes distraídos, de tão habituados, e os passantes apressados a caminho das praias do Algarve, a não vêem!... Eis pois, em género de crónica de viagem, que pára para descansar, a lista ainda que incompleta das obras e autores e pessoas com quem me foi dado viajar, nesta sedutora e exaustiva viagem através do Maravilhoso destas TERRAS DO AQUÉM-TEJO… Não seguira porventura as regras ortodoxas ditadas pelos donos da cultura e do saber que da prémios e promoções! Não é isso que procuramos… 358 Lendas de Beja – o Touro e a Cobra e outras LENDAS... é que, como diz Miguel Torga, o insatisfeito e incansável andarilho dos caminhos maravilhosos e perdidos deste Povo e desta Pátria Língua Portuguesa in (TRÁS-OS-MONTES) PORTUGAL a n'UM REINO MARAVILHOSO acontece a desgraça de O POVO SABER DE Uma MANEIRA e as ESCOLAS SABEREM DOUTRA. 359 José Penedo – um deNómio de José Rabaça Gaspar 360 Lendas de Beja – o Touro e a Cobra e outras LENDAS... 5.2 - BIBLIOGRAFIA – autores e obras… JOSÉ LEITE DE VASCONCELLOS o Professor e Mestre, pela imensidão da obra que conseguiu escrever e tesouros que prodigiosamente pode coligir e me deu a oportunidade de consultar, como: ETNOGRAFIA PORTUGUESA com seus 7 volumes; CONTOS POPULARES E LENDAS, I e II vol., com a coordenação de Alda e Paulo Soromenho; CANCIONEIRO POPULAR PORTUGUÊS, I, II e III vol., coordenado e com introdução de Maria Arminda Zaluar Nunes; ROMANCEIRO PORTUGUÊS, I e II vol., com notícia preliminar de R. Menendez Pidal; publicações da Universidade de Coimbra impulsionadas pela dedicação e empenho do Professor Orlando Ribeiro com a colaboração de uma vasta equipa com o Prof. Manuel Viegas Guerreiro e o Dr. António Machado Guerreiro, além dos já mencionados que arrancaram da escuridão em que estavam mergulhadas, as preciosidades irrecuperáveis, fruto de longos anos de apaixonado e incansável trabalho. TRADIÇÕES POPULARES DE PORTUGAL, organização e apresentação de M. Viegas Guerreiro; FILOLOGIA BARRANQUENHA apontamentos para o seu estudo publicados pela Imprensa Nacional - Casa da Moeda. MANUEL JOAQUIM DELGADO o incansável e mal compreendido investigador das raízes do BAIXO ALENTEJO, sócio do Instituto Português de Arqueologia, História e Etnografia e sócio fundador da Sociedade de Língua Portuguesa, com A ETNOGRAFIA E O FOLCLORE DO BAIXO ALENTEJO, 2a edição da Assembleia Distrital de Beja, 1985, tendo sidojá uma separata da Revista Ocidente, Lisboa, 1956.; A LINGUAGEM POPULAR DO BAIXO ALENTEJO E O DIALECTO BARRANQUENHO (Estudo etnofilológico), 2ª edição da Assembleia Distrital de Beja, 1983, 1ª edição do autor, 1951 depois de ter sido publicada grande parte em artigos no Arquivo de Beja, entre 1948 e 1950; SUBSÍDIO PARA O CANCIONEIRO DO BAIXO ALENTEJO, I e II vol., 2a edição do Instituto Nacional de Investigação Cientifica, Lisboa, 1980, 1ª edição de Lisboa, 1955; ENSAIO MONOGRÁFICO (Histórico, Biográfico, Linguístico e Crítico) acerca de Beja e dos Bejenses mais Ilustres, Beja 1973; com ―o manancial de preciosos elementos‖ que sem o seu trabalho seriam irrecuperáveis ou levariam imenso trabalho a recolher... PADRE JOÃO RODRIGUES LOBATO pelos rumos que abriu e continua a abrir com suas recolhas, de lendas, falares e documentação em AMARELEJA, RUMO À SUA HISTÓRIA, Évora, 1961 e pelo trabalho sobre Aljustrel que não tive oportunidade de consultar; FRANCISCO VALENTE MACHADO pelo grande amor e dedicação com que se entregou à investigação de tudo o que podia ser útil à sua terra e a este Mundo Maravilhoso das Tradições do seu Povo, pelos numerosos trabalhos que publicou e pelos que tem guardados e podem correr o risco de destruição e extravio; e pela MONOGRAFIA DE VILA VERDE DE FICALHO, edição da Biblioteca, Museu de Vila Verde de Ficalho, 1980. 361 José Penedo – um deNómio de José Rabaça Gaspar FERNANDA FRAZÃO pela sua crença nas raízes profundas da Tradição, apesar de ter visto nascer a televisão e temer pelo desaparecimento ―dos velhos e velhas‖ e da sua mágica forma de comunicação, que manifesta nas LENDAS PORTUGUESAS, 6 vol. Amigos do Livro editores, sem data 1984?); e pelo espaço que neles dá ao Alentejo e as suas Lendas... GENTIL MARQUES com o seu Imenso e perseverante trabalho na recolha, estudo e divulgação das LENDAS DA NOSSA TERRA, e pelas numerosas e quase exaustivas notas que se seguem a cada lenda, com numerosos dados sobre Beja; e pela Lenda da MOURA E DO TOURO (Messejana) vol. III, p.163 que pode servir para comparar com a da PRINCESA TRANSFORMADA EM COBRA, recolhida por José Leite de Vasconcellos, no Penedo Gordo, de Simplícia Maria das Dores; e pela lenda da FONTE MOURA, vol. III, p. 358, que é de Santarém e se refere ao tempo de D. Afonso Henriques, que pode servir para comparar com as LENDAS DA FONTE MOURO, daqui e do Algarve; tudo isto em LENDAS DE PORTUGAL, 5 volumes, Editorial Universus, publicados em 1962 Lendas dos Nomes das Terras, 1963 Lendas Heróicas, 1964 Lendas de Mouras e Mouros, 1965 Lendas Religiosas, 1966; e Lendas de humor. CARLOS OLIVEIRA e JOSÉ GOMES FERREIRA, pelo estudo inicial e pelo monumental trabalho de recolha, ou antes, escolha de contos já publicados: ―Os contos populares publicados nesta antologia foram escolhidos de obras de Teófilo Braga, Adolfo Coelho, José Leite de Vasconcellos, A. Tomás Pires, Consiglieri Pedroso, Ataíde Oliveira e outras colectâneas e revistas por onde tem andado disperso o tesoiro que hoje se reune aqui.” em CONTOS TRADICIONAIS PORTUGUESES em 4 volumes, das Iniciativas Editoriais, Lisboa, em edição especial para a Lavraria Figueirinhas, Porto, sem data, (p. 58?). TEÓFILO BRAGA pelo trabalho pioneiro de investigador incansável em O POVO PORTUGUÊS NOS SEUS COSTUMES, CRENÇAS E TRADIÇÕES, em 2 volumes, Publicações Dom Quixote, Lisboa, 1985 (1ª ed. de 1885), e CONTOS TRADICIONAIS DO POVO PORTUGUÊS, 2 volumes, Publicações Dom Quixote, Lisboa 1987, (1ª ed. de 1883), ambos publicados na colecção PORTUGAL de PERTO, dirigida por Joaquim Pais de Brito, assistente de Antropologia do ISCTE, com valiosos trabalhos e estudos de Etnografia e Antropologia de inestimável valor e profundidade. ALEXANDRE HERCULANO o austero e implacável criador do Romantismo, em especial pela criação da LENDA: A MORTE DO LlDADOR e os inesgotáveis dados históricos dos primórdios da Nacionalidade, em LENDAS E NARRATIVAS que apareceram coligidas em 1851 depois de publicadas em O PANORAMA e A ILUSTRAÇÃO, como monumentos para renovar a Literatura em Portugal, e pela HISTORIA DE PORTUGAL que começou a publicar desde 1846 e nos chegou através da ULMEIRO, edição de José A. Ribeiro, Lisboa, 1980. Júlio MARTINS professor efectivo no Colégio Militar, pela selecção dos textos e comparação com os extractos dos LIVROS DE LINHAGENS insertos no PORTUGALIAE MONUMENTA HISTORICA, SCRIPTORES, e excerto da p. 279-280 da Morte do Lidador em TRECHOS SELECCIONADOS DAS LENDAS E NARRATIVAS DE ALEXANDRE HERCULANO, Didáctica Editora, Lisboa, 1974. 362 Lendas de Beja – o Touro e a Cobra e outras LENDAS... MÁRIO GONÇALVES VIANA pelas achegas, informações e opiniões que manifesta sobre os diversos períodos literários e citações que nos faz chegar de Matos Sequeira e Fidelino de Figueiredo, sobre Mariana do Alcoforado, em O AMOR NA LITERATURA PORTUGUESA, Domingos Barreira editores, Porto, sem data. ANTÓNIO BELARD DA FONSECA ilustre Bejense, advogado, que se dedicou à investigação de Arte, e escritor, que foi Director do Museu Regional Rainha Dona Leonor, pelo rigor e clareza com que traz uma luz nova sobre os equívocos provocados pelo editor das LETTRES PORTUGAISES, em 4 de Janeiro de 1669, o senhor Barbin, e o presumível autor que terá sido o tradutor das CARTAS, Guillerauxes, no seu livro MARIANA ALCOFORADO A FREIRA DE BEJA E AS LETTRES PORTUGUAISES, 1966, bem como as achegas para responder a falsas interpretações mal documentadas, com os apoios de muitos outros autores e investigadores como: MANUEL RIBEIRO com VIDA E MORTE DE MADRE MARIANA ALCOFORADO, Lisboa, 1940 e LUCIANO CORDEIRO, com SOROR MARIANA A FREIRA PORTUGUESA, 2ª ed. Lisboa, 1890 e GODOFREDO FERREIRA, que em 1923 nos informa sobre o espantoso número de edições nas diversas línguas que tiveram AS CARTAS PORTUGUESAS e ainda o poeta EUGÊNIO DE ANDRADE pela TRADUÇÃO E ORDENAMENTO DAS CARTAS PORTUGUESAS Atribuídas A MARIANA ALCOFORADO, edição bilingue RTP, Março de 1980. FERNÃO LOPES: AS CRÓNICAS DE FERNÃO LOPES CRÓNICA DE EL-REI D. PEDRO, CRÓNICA DE EL-REI D. FERNANDO, CRÓNICA DE EL-REI D. JOÃO em português moderno, por ANTÓNIO JOSÉ SARAIVA, Antologias Universais da Potugalia Editora, sem data <1982?), em especial o capitulo da página 215 e seguintes: A INSURREIÇÃO NA PROVÍNCIA Como foi tomado o castelo de Beja e morto o Almirante Micer Lançarote, que termina assim:..."O almirante quando viu isto começou a defender-se o melhor que podia; e bradando-lhe eles que viesse ca abaixo e não tivesse medo, assim o fez. Mas pensando encontrar neles piedade e compaixão, foi morto de ma e aviltante morte. Assim acabou os seus últimos dias.” Porquê ―traduzir‖ os célebres ―postumeiros dias‖? FERNÃO LOPES HISTORIA DE UMA REVOLUÇÃO Primeira parte da CRÓNICA DE EL-REI D. JOÃO I DE BOA MEMÓRIA, com actualização do texto, introdução e notas de José H. Saraiva, Publicações Europa-América, Janeiro de 1977, em especial pelo capítulo 42, p.158, A REVOLUÇÃO EM BEJA Como foi tomado o castelo de Beja e morto o almirante Mice Lançarote, que termina assim: “...O almirante, quando esto viu, começou de se defender o melhor que pode. E eles bradando que descesse afundo e não houvesse medo, houve-o de fazer. E cuidando de achar em eles piedade e compaixão, mataram-no de ma e desonrada morte, e assim acabou seus postumeiros dias.” FERNÃO LOPES de AUBREY F.G. BELL Tradução do Inglês por ANTÓNIO ÁLVARO DORA, José Ribeiro Editor, 3ª edição: Março de 1986, Ulmeiro, que tomou por base 363 José Penedo – um deNómio de José Rabaça Gaspar a 2ª edição, corrigida, da Revista Ocidente, de 1943, como diz o editor, Trata-se de um livro fundamental para a compreensão de Fernão Lopes.‖ A. KIBEDI VARGA TEORIA DA LITERATURA, com a colaboração de Benoit de Cornulier, D.W. Fokema, Heide Gottner, Michel Grimsud, Elrud Ibsch, P.W.M. de Meier, Heinrich F. Plett, Horst Steinetz, Teun A. Van Di, Aart Van Zoest, Pierre V. Zima, tradução de Tereza Coelho, apresentação e revisão de Eduardo Prado Coelho, Editorial Presença, o Copyright by A. et J. Picard, 1981, pela vasta bibliografia que apresenta em cada uma das colaborações, pela actualização e desafios que faz a todo o trabalho de Análise Textual, abrindo-se ao campo de inúmeras disciplinas e áreas de investigação. RICHARD E. PALMER HERMENÊUTICA, HERMENEUTICS NTERPRETATION THEORY in Schleiermacher, Dilthey, Heidegger and Gadamer, Northwestern University Press, 1969, Tradução de Maria Luísa Ribeiro Ferreira, Edições 70, Lisboa, 1986, pela profundidade que sugere para a Teoria da interpretação literária. MESQUITELA LIMA ANTROPOLOGIA DO SIMBÓLICO (ou o simbólico da Antropologia), Editorial Presença, 1983, pelas pistas que apresenta e pelos exemplos apresentados de, a partir de contos tradicionais em diversas variantes, e analisando a sua estrutura, descobrir as suas simbólicas e então partir para uma visão quase global das respectivas sociedades, o que se torna impraticável como diz o autor. CARLOS REIS TÉCNICAS DE ANÁLISE TEXTUAL. Livraria Almedina, Coimbra, 2ª edição, 1978, por ser o livro fundamental para a abordagem de qualquer texto. Vítor MANUEL DE AGUIAR E SILVA TEORIA DA LITERATURA, Livraria Almedina, Coimbra, 4ª edição, 1982, pela constante renovação e actualização que revela e pela abertura e exigências cientificas que demonstra e exige. D. A. TAVARES DA SILVA Professor do Instituto Superior de Agronomia, que nos deu o ESBOÇO DUM VOCABULÁRIO AGRÍCOLA REGIONAL, separata dos ―ANAIS DO INSTITUTO SUPERIOR DE AGRONOMIA‖ vol. XII, Lisboa, 1942, e por este trabalho ser o resultado de “...observar a terminologia dos nossos agricultores, muito sua, original por vezes, pois em grande parte, cuido eu, se não encontra nos dicionários...E quantas vezes estes e outros vocábulos regionais, que os léxicos não registam, definem com justeza tão perfeita a operação técnica, que sobreleva a do termo cientifico." Dai a riqueza e expressividade da nossa Língua que tudo e capaz de definir com propriedade e precisão excepcionais, e muito seria útil ao país para conhecimento do todo e de cada uma das regiões. ANTÓNIO MANUEL COUTO VIANA que organizou a antologia que intitulou; TESOUROS DA LITERATURA POPULAR PORTUGUESA, Editorial Verbo, Lisboa, S. Paulo, 1985; pelo pretenso serviço prestado a Literatura Popular; pelo mau exemplo e descaramento insultuoso contra o Povo a pretexto de balofa erudição que não é capaz de ver na dicotomia da maior parte das quadras populares a ligação do tema e da expressão dos sentimentos ou da sátira e da ironia, a Natureza e a realidade da vida a que o povo está ligado; insultando o povo (que) raro cria, antes adopta e adapta o que recebe de 364 Lendas de Beja – o Touro e a Cobra e outras LENDAS... alguém de mais instruído intelecto..., mas reconhece que e o nosso cancioneiro...o mais vivente e fecundo, e finalmente publica, depois de descaradamente a insultar, as recolhas de recolhas e selecções de múltiplas selecções, os grandes primores da alma portuguesa. !!! Com tantos exemplos de obras de grande fôlego, não dá nenhum exemplo de DÉCIMAS, que consideramos a mais artificiosa e complexa forma de poesia popular! SELMA LAGERLÖF (1858-190) Prémio Nobel da Literatura, a primeira escritora a receber tal galardão e 1909, por nos ter dado A MARAVILHOSA VIAGEM DE NILS HOLGERSON ATRAVÉS DA SUÉCIA, tradução de Maria de Castro Henriques Osswald, 5ª edição da Editora Educação Nacional de Adolfo Machado, Porto, s/data; HISTÓRIAS MARAVILHOSAS, versão portuguesa da Editorial Minerva, Lisboa 1952; O LIVRO DAS LENDAS, Tradução de Pepita de Leão e introdução de Paulo Arinos, Edição Livros do Brasil, Lda., Lisboa, s/data; A CARROÇA FANTASMA, versão Portuguesa de Leão Penedo, Filme da Transcontinental (Colúmbia), Editorial Minerva, Lisboa, 15 de Agosto de 1941; OS SETE PECADOS MORTAIS E OUTROS CONTOS.... enfim por toda a sua obra e por todas as suas MARAVILHOSAS VIAGENS ATRAVÉS DO MARAVILHOSO, mais real do que eu estar aqui e tu ai como dizia que a sua avó lhe dizia, quando no final de um conto lhe acariciava carinhosamente a cabeça... PEARL S. BUCK Prémio Nobel, pelas HISTÓRIAS MARAVILHOSAS DO ORIENTE, tradução de Fernanda Pinto Rodrigues, Edição Livros do Brasil, Lda., Lisboa, 1965, que afinal são uma VIAGEM de descoberta, por terra e mar, a um mundo fabuloso de encanto e Fantasia, o mistério lendário das terras orientais. Os primores da sabedoria e da imaginação asiáticos reflectem-se nestas histórias maravilhosas que Pearl Buck recriou com o talento inimitável que lhe valeu o prémio Nobel. RUDYARD KIPLING (186-1936), Prémio Nobel em 1907 pela sua obra em especial: SIMPLES CONTOS DAS COLINAS KIM O LIVRO DA SELVA CHARLES PERRAULT (1628-1703) pela coragem de, na sua época, irromper pelo campo do maravilhoso e do imaginário, em especial com LES CONTES DE MA MÈRE L‘OYE (1694), contos que recolheu para “l'amusement des enfants‖ e CONTES DU TEMPS PASSÉ (1697), obras que ilustram a sua destemida e temerária posição na famosa QUERELLE DES ANCIENS ET MODERNES. HANS CHRISTIAN ANDERSEN (1805-1875) autor de CONTOS que publicou entre 1835 e 1872 e na sua simplicidade acessível, parece escrever para crianças, o que só os adultos podem entender em toda a sua profundidade... ANTOINE DE SAINT-EXUPÉRY (1900-1940), piloto militar francês, que foi abatido num voo de reconhecimento durante a segunda guerra mundial, pelos voosdesafios que nos deixou nas SUAS obras, em especial por nos CATIVAR ―aprivoiser‖, com LE PETIT PRINCE, Librairie Gallimard, Paris,1943. 365 José Penedo – um deNómio de José Rabaça Gaspar LYMAN FRANK BAUM (1856-1919) pela fantasia com que nos sabe levar com Dorothy, to THE WONDERFUL WIZARD OF OZ, que naquele dia de ciclone, não conseguiu fugir para o subterrâneo para onde a chamava a tia Em, por causa do Totó que lhe saltou dos braços e se foi esconder debaixo da cama... e, aí vamos nós, depois da casa girar três vezes..., através dos ares, viajar pelos mundos do sonho... WILHELM GRIMM (1786-1859) e seu irmão JACOB GRIMM (1785-1863), notáveis eruditos do romantismo alemão, e fundadores da filologia alemã, que nos deixaram a famosa e imensa recolha de CONTOS POPULARES, e se tornaram famoso pela divulgação dos CONTOS DE GRIMM GIOVANNI BOCCACIO (1313-1375), que situando-se numa epidemia de peste em Florença, faz encontrar dez jovens, sete raparigas e três rapazes, que ao longo de dez dias de isolamento numa quinta ―encantada‖ nos dão os saborosos e picantes contos do DECAMERON (1349-1353) LEWIS CAROL ou antes CHARLES DODGSON (1832-1898) pelo encanto refinadamente irónico e perigosamente adulto com que nos leva ao mundo infantil de ALICE NO PAÍS DAS MARAVILHAS ou melhor "ALICE'S ADVENTURES IN WONDERLAND JONATHAN SWIFT (1667-1745), escritor irlandês que em 1726 publica uma violenta sátira à sociedade inglesa e à civilização da época com AS VIAGENS DE SAMUEL GULLIVER, que encontramos habitualmente como Viagens de Gulliver, presumivelmente apropriado para crianças...! e assim vamos até ao país dos anões, depois ao dos gigantes, depois, à ilha em movimento habitada por sábios, e enfim até à região dos cavalos civilizados que dominam antropóides degradados! Enfim, um mundo de FICÇÃO! JEAN DE LA FONTAINE (1621-1695) por nos ter dado o retrato pedante da sociedade do século XVII (ou ―...de tout temps/les petits ont pâti des sottises des grandes‖) através da sua Arca de Noé rebelde e brincalhona dedicada ao Delfim de França, para através das FÁBULAS que devemos a ESOPO, o ilustre príncipe se poder distrair, já que isso é permitido aos príncipes; mas também para, por debaixo de uma capa de aparente puerilidade, poder dedicar alguns pensamentos a reflexões mais sérias e a algumas verdades consideráveis! Não será descabido evocar aqui, de novo, Miguel TORGA ou Adolfo Rocha com os seus/nossos BICHOS! CONTOS ÁRABES AS MIL E UMA NOITES!!! VLADIMIR PROPP AS FUNÇÕES DO CONTO, pelos meios que fornece... NUNO BETELHEIM PSICANÁLISE DO CONTO DE FADAS, pelas pistas que abre... LUIZ VAZ DE CAMÕES OS LUSÍADAS e a sua monumental viagem através do tempo e do espaço que vai da Via Láctea à Ilha dos Amores e passa por dezasseis séculos de história da civilização pC, mergulhando até aos tempos de 366 Lendas de Beja – o Touro e a Cobra e outras LENDAS... Homero aC e não descortinamos até onde e até quando o génio do seu poema abre clareiras de prodigiosa fantasia, mais real e profunda que a própria realidade!!! FERNÃO MENDES PINTO PEREGRINAÇÃO pelas suas viagens de ladrão civilizado e de bandido apóstolo, de civilizador de civilizações surpreendentes, navegando por este rio acima através dos REINOS DO FANTÁSTICO REAL! GONÇALO FERNANDES TRANCOSO CONTOS E HISTÓRIAS DE PROVEITO E EXEMPLO, de 1575 JOÃO BAPTISTA DE ALMEIDA GARRETT VIAGENS NA MINHA TERRA e a sua promessa/desafio de tomar o bordão de romeiro e caminhar de novo por esse Portugal fora, à procura de histórias para te contar... en/cantar/cont(r)ar... MIGUEL TORGA PORTUGAL e o DIÁRIO, que em resumo são as suas viagens incansáveis e de uma profundidade ímpar através do país, através do Tempo, do Espaço, em especial por ―UM REINO MARAVILHOSO TRÁS-OS-MONTES sim, porque, mesmo num reino maravilhoso, acontece ―a desgraça de o povo saber duma maneira e o povo de outra!" e pelo retrato do ALENTEJO e o cântico do Homem e da Terra! ADOLFO COELHO CONTOS POPULARES PORTUGUESES, 1ª edição de 1879 e Publicações Dom Quixote, Portugal de Perto, Lisboa 1988, e o prefácio de Ernesto Veiga de Oliveira. CONSIGLIERI PEDROSO CONTOS POPULARES PORTUGUESES, (1ª edição em 1910 e edições Vega 1978 ), com prefácio de Maria Leonor Machado de Sousa que lhe agradece pelos preciosos documentos para a compreensão dos vectores tradicionais da nossa cultura. J. DAVID PINTO-CORREIA ROMANCEIRO TRADICIONAL PORTUGUÊS, Editorial Comunicação, Lisboa, 1984, pela apresentação crítica, organização, notas e sugestões para uma análise literária do nosso romanceiro... ADOLFO SIMÕES MÜLLER O PRÍNCIPE IMAGINÁRIO E OUTROS CONTOS TRADICIONAIS PORTUGUESES, Distri Editora, 1985, pela selecção prefácio e notas... MARIA LAURA BETTENCOURT PIRES HISTÓRIA DA LITERATURA INFANTIL PORTUGUESA, Editorial Vega, Lisboa, s/data, pela lucidez que revela de procurar as suas raízes na literatura tradicional oral... e por assim tentar destruir a hipotética barreira que existe entre a Literatura Tradicional e a dita Erudita! /Infantil!... MICHEL GIACOMETTI e FERNANDO LOPES GRAÇA CANCIONEIRO POPULAR PORTUGUÊS, Círculo de Leitores, 1981, e pela obra incomensurável que construíram e estão a construir... MANUEL DA FONSECA 367 José Penedo – um deNómio de José Rabaça Gaspar SEARA DE VENTO – CERROMAIOR e por toda a sua obra de poesia encantatória sobre o Alentejo... OLÍMPIO NUNES O POVO CIGANO, Livraria Apostolado da Imprensa, Porto, 1961, por conseguir ir to longe e tão dentro de um mundo de mistério e maravilhoso que escapa a todos ou a grande maioria dos que se sentem incomodados ou fascinados por ele! MARIA JOÃO PAVÃO SERRA FILHOS DA ESTRADA E DO VENTO, CONTOS E FOTOGRAFIAS DE CIGANOS PORTUGUESES, Assírio e Alvim, Dezembro de 1986, pelo impacto e divulgação que conseguiu despertar... JOSÉ SILVESTRE RIBEIRO BEJA NO ANNO DE 1845, com introdução de José Manuel da Silva Passos, pelo retrato que nos legou de Beja do século XIX, ele, que foi Governador Civil nesta cidade em 1845-1846, edição da Câmara Municipal de Beja, 1986 FERNANDO NUNES RIBEIRO O BRONZE MERIDIONAL PORTUGUÊS, Beja 1965 e A VILLA ROMANA DE PISÕES, Beja, 1972 publicados in ARQUIVO DE BEJA, pelas recolhas e investigações arqueológicas e históricas que nos levam a procurar as raízes do Povo Alentejano, para além dos Árabes e Romanos, até aos vestígios de um POVO CÚNEO que possivelmente abrem profundas pistas para o desenvolvimento desta região agrária num REGRESSO AO FUTURO que se impõe... JOSÉ D. GARCIA DOMINGUES O ALENTEJO ÁRABE E A SUA INTERACÇÃO NO REINO DE PORTUGAL, Lisboa 1958, separata da revista INDEPENDÊNCIA, da Sociedade Histórica da Independência de Portugal, pelo tremendo campo de batalha que nos mostra, onde, apesar de tudo, floriu poesia... ARNALDO SARAIVA, pelos trabalhos, estudos e investigações no campo das Literaturas Marginais e outros estudos... e pela aproximação distante... JOSÉ SARAMAGO LEVANTADO DO CHÃO a retratar o ALENTEJO ou um ALENTEJO, e pelo seu fantástico MEMORIAL DO CONVENTO e por nos ter posto a navegar na sua inacreditável JANGADA DE PEDRA... JOSÉ GABRIEL PEREIRA e FERNANDA BIRRENTO A MULHER, O LEITE E A COBRA, edições Rolim 1988, pelas pistas que nos abrem a investigar o quotidiano (crendices?) que mergulha nas raízes da criação do mundo... JEAN CHEVALIER et ALAIN GHEERBRANT DICTONNAIRE DES SYMBOLES, MYTES, RÉVES, COUTOUMES, GESTES, FORMES, FIGURES, COULEURS, NOMBRES, Ed. Robert Lafont/Jupiter, Paris, edition originale 1969, et edition revue et corrigé 1982, pelos elementos fronecidos para desvendar os SIGNOS, SINAIS, ÍNDICES, INDÍCIOS, SÍMBOLOS... LA SAINTE BIBLE Traduite en Français sous la Direction de L'École Biblique de Jérusalem, Desclée de Brouwer, Edition du Cerf, Paris, 1955. 368 Lendas de Beja – o Touro e a Cobra e outras LENDAS... 5.3 – ainda uma bibliografia viva… e o livro vivo… Há, ainda, lugar para pessoas, estudiosos e amigos, que directa ou indirectamente me acompanharam e acompanham nesta tão penosa e por vezes angustiante como agradável VIAGEM ATRAVÉS DO MARAVILHOSO. Cito em especial: JOSÉ EDUARDO BARBOSA BENTES, pelo amor e dedicação que dedica aos mínimos pormenores do Património Cultural de Beja e outros, a ponto de ganhar o epíteto de ―O Cheira Pedras‖. ABÍLIO PERPÉTUA Direcção-Geral RAPOSO, de Educação coordenador de Adultos, Distrital pela de Beja da publicação da LITERATURA POPULAR DO DISTRITO DE BEJA, Edição do Ministério da Educação e Cultura e Direcção-geral da Educação de Adultos, 1986. ABÍLIO TEIXEIRA, coordenador da Concelhia de Beja da DIRECÇÃOGERAL DE APOIO E EXTENSÃO EDUCATIVA, pelas recolhas e incentivos que tem tentado para a investigação e divulgação da Poesia Popular e valores tradicionais... ASSOCIAÇÃO PARA A DEFESA DO PATRIMÓNIO CULTURAL DA REGIÃO DE BEJA, pelas inúmeras iniciativas e trabalhos desenvolvidos e promovidos... MUSEU REGIONAL DE BEJA, e a todos os que lá trabalham pelas informações e dados fornecidos, e pelas pesquisas permitidas e pelo trabalho de abertura e revitalização do museu vivo e interveniente que a cidade e a região precisam... 369 José Penedo – um deNómio de José Rabaça Gaspar POPULAÇÃO DE BEJA, cidade, concelho, distrito e a todos os ALENTEJANOS que com a sua maneira de estar na vida, pelo seu CANTE, pelos seus CANTOS e CONTOS e filosofia de vida nos dão a matéria base para ler alguns fundamentos das características deste POVO, em especial os habitantes do PENEDO GORDO e amigos alentejanos que me honraram com a sua amizade e boa vizinhança e tantas vezes estranharam este estrangeiro do Norte aqui perdido nesta solidão! O/A/s ALUNA/O/s DE PORTUGUÊS, LITERATURA PORTUGUESA e LITERATURA PARA CRIANÇAS, da Escola Secundária Diogo de Gouveia (Nº 1 de Beja), em especial aos cursos dos 10° e 11º anos, de 1984/85, que inventaram o gosto pela Literatura que estudávamos; os da Escola do Magistério Primário de Beja com os Cursos de Educadores de Infância e Cursos de Promoção de Educadores de Infância e o Curso de Professores, entre 1984 e 1987; os da Escola Secundária Nº 2 de Beja (Escola Sec. Manuel da Fonseca, proibido pelo Ministério e depois D. Manuel I) em especial os alunos do 8° ano 5ª e 7ª turmas do Ano Lectivo 87/88, como por exemplo para lembrar todos os colegas: o Luís Filipe (Bule), a Ana Isabel, a Ana Paula, o Jorge Cruz, a Paula Cristina, o Rogério, etc.,..., que tantas vezes não me entenderam nos caminhos que entendia dever caminhar, e tanto me deram das suas memórias e cultura; bem como todos os colegas e agentes culturais das mais diversas instituições e associações que tantos dados forneceram e com quem partilhei muitas des/ilusões... e os Cursos do 11º ano, 1987/88, da Escola Sec. Nº 2, de Beja, pelas viagens fabulosas que inventaram através do seu ALENTEJO, seguindo as pegadas de Garrett, viajando para melhor conhecer e dar a conhecer a sua Terra... Não me lembro dos nomes. Só me lembro que era uma turma de electrotecnia, e foi das melhores turmas que tive a trabalhar a Língua e a Literatura, 370 Lendas de Beja – o Touro e a Cobra e outras LENDAS... mesmo comparando com turmas de Cursos Humanísticos com que me foi dado trabalhar. À MARIANA e ao CASTANHO, um casal real com quem convivi alguma coisa, por me terem fornecido, sem o saberem, e sem eu o saber, a ideia do par-ficção, que saltou para dentro destas viagens através do maravilhoso, transformando-se em ciganos irrequietos e irreverentes... À NATÁLIA, que da sua cadeira de rodas, encontrou força para me empurrar nesta viagem tantas vezes impossível e temerariamente fascinante... À PIEDADE, e à DIANA, que, para eu poder ter a companhia destas tão numerosas e ilustres figuras, elas, as companheiras de todas as horas e angústias durante a maior parte do tempo desta escrita, tiveram de suportar a solidão imposta pela minha necessidade absorvente de partir para as regiões da leitura e escrita criadora, penalizando-as com a minha presença distante e tremendamente dependente... Finalmente, já na última década do século XX e no dealbar do século XXI, falta citar a Fátima, a barranquenha, a fada alentejana, que me deu por assim dizer, a cidadania alentejana, com o David, alentejano, logo migrado para a Margem Sul, onde é notável e visível uma interveniente comunidade de alentejanos… e a Beatriz, a princesa cheia de encanto e magia!!! Para todos, mas para elas especialmente, o meu abraço, um beijo cheio de ternura, impregnado de todo o feitiço destas lendas maravilhosas cujo significado profundo ainda me escapa... e nos continua a espantar!!! 371 José Penedo – um deNómio de José Rabaça Gaspar Falta citar o grande LIVRO ABERTO que é a VIDA e em especial aqui A VIDA NO ALENTEJO no seu apelo e solicitações constantes e, na sua imensa SOLIDÃO, lembrando afinal que O ACTO CRIADOR só e possível no AMOR, no AMOR PARTILHADO ENTRE O HOMEM E MULHER, mas verificando, por contradição e ambiguidade, que o ACTO CRIADOR só se realiza na SOLIDÃO absoluta... e no campo da arte, permito-me citar os casos deste século: A pintora VIEIRA DA SILVA que sentia necessidade de pedir aos amigos que a deixassem não ter o prazer de ir tomar com eles o café ou de ir a um concerto ou a uma festa, porque os seus quadros, sem ela não nasceriam e a Humanidade ficaria mais pobre; o exemplo de MIGUEL TORGA, o transmontano sempre chamado para o Reino Maravilhoso da solidão de Trás-os-Montes, e sempre solicitado pela vida, numa SOLIDÃO-SOLIDÁRIA inexprimível; e ainda o exemplo do prémio Nobel da Literatura, Garcia Marques que, depois de conceber os seus CEM ANOS DE SOLIDÃO, quando durante uma viagem olhava o deserto e as montanhas!, e depois ... tem de se isolar durante dois anos em que fica totalmente dependente dos amigos e da família, para o tabaco, para a comida, as necessidades primárias, e... até dos comerciantes que lhe fiavam... para produzir a obra prima que deslumbrou o Mundo! Ainda no final, este novo final em Junho de 1995, passados seis anos!!!, tenho ainda um agradecimento muito a especial. Todo este trabalho se teria perdido, se, em Julho de 1994, não tivesse tido a sorte de encontrar a equipa do Projecto Minerva, em Beja, que estava de malas aviadas para regressar ao seu trabalho normal, depois de um trabalho pioneiro por todo o Distrito digno dos maiores elogios. Como acontece muitas vezes neste Ministério de Educação que parece apostado em deseducar, apesar dos professores 372 Lendas de Beja – o Touro e a Cobra e outras LENDAS... que tem, ou talvez por causa disso, muitos que se empenharam em trabalhos e experiências pioneiras e duma projecção ímpar, são arrumados e ignorados como qualquer ―coisa‖ sem préstimo!!! Um país pobre e de fracos recursos não se pode dar ao luxo de desperdiçar, ignorar e enxovalhar, pessoas como estas que abriram as portas do Futuro para as gerações do Futuro... Na altura em que corria o risco de perder a informatização de todo este trabalho, eis que, por indicação do Professor e amigo Vito Carioca, pacientemente, os colegas Manuel Mantinhas e António Grilo, do Projecto Minerva, pólo da Escola Superior de Educação de Beja, sob o coordenação do colega Toucinho da Silva, me ajudaram e permitiram que, com o skanner, recuperasse o que foi possível de texto e desenhos para o poder reformular e trabalhar... Pensei que seriam suficientes os serões de Inverno para recuperar todo este trabalho e, só passado um ano cheguei ao termo do 1ª fase. Está enfim o texto recuperado. OBRIGADO e um grande abraço para o Mantinhas e Grilo porque este trabalho fica, também, um pouco deles. Afinal, já em finais de 1995 e alguns meses de 1996, só a persistência da Fátima nas revisões pormenorizadas, e o encanto da companhia do David, agora ao lado da Diana, estão a permitir a revisão e reconstrução final de todo este trabalho. Uma viagem que começou, parecendo solitária, fica afinal como uma obra colectiva e daí e não a assinar com o meu nome, mas, como optei desde o início, com o meu deNómio, José Penedo. Este deNÓMIO fica aí, a significar toda esta gente que permitiu que eu realizasse este trabalho. Publicá-lo?!!! Isso será outra aventura e outro desafio. Acho que não é comigo nem depende de mim. 373 José Penedo – um deNómio de José Rabaça Gaspar 374 Lendas de Beja – o Touro e a Cobra e outras LENDAS... 6 – EXTRAS 6.1 6.1.1 - Confidência 6.1.2 - Brinquedo de Miguel Torga 6.1.3 - Estrela de José Penedo 6.2 6.2.1 - Bibliografia do autor 6.2.2 - Uma Resenha d Ana Machado 6.2.3 - Referência à publicação destas lendas no Arquivo de Beja pela mão do Professor Doutor José Orta 6.2.4 - O TOURO e a COBRA vistos por dois artistas de Tela e do Barro – Paizana e Isaclino 6.3 SEPARATAS com várias montagens de imagens a permitir sonhar com o tema do TOURO e da COBRA 6.3 - Separata 1 – Touros Luz 6.3 - Separata 2 – Desenhos da obra 6.3 - Separata 3 – Estatuas Touro / Mulher Cobra 6.3 - Separata 4 – Pinturas – Picasso… Animalistas… 6.3 - Separata 5 – Pinturas (MIX) 6.3 - Separata 6 – TC Mitologia 6.3 - Separata 7 – Desenhos Vários 375 José Penedo – um deNómio de José Rabaça Gaspar 376 Lendas de Beja – o Touro e a Cobra e outras LENDAS... 6.1.1 - CONFIDÊNCIA: De um amigo, Já de cabelos brancos, e com multa falta deles, e também com muitos muitos anos de Beja, recebi um dia este desabafo: “Beja é uma terra madrasta. Não reconhece o valor e o trabalho dos seus filhos, ou dos que vêm de fora para se dedicar e empenhar ao seu serviço…, mas bajula e se verga aos estranhos que vêm para colonizar e explorar!...” Não. Não é Beja e a sua gente num repente descobrimos ambos São aqueles que se arvoraram em donos para melhor colonizar e explorar! Beja, Primavera de 1989. José Penedo 377 José Penedo – um deNómio de José Rabaça Gaspar 378 Lendas de Beja – o Touro e a Cobra e outras LENDAS... 6.1.2 - B R I N Q U E D O (Miguel Torga) FOI UM SONHO QUE EU TIVE: ERA UMA GRANDE ESTRELA DE PAPEL, UM. CORDEL E UM MENINO DE BIBE. O MENINO TINHA LANÇADO A ESTRELA COM AR DE QUEM SEMEIA UMA ILUSÃO; E A ESTRELA IA SUBINDO, AZUL E AMARELA, PRESA PELO CORDEL À SUA MÃO. MAS TÃO ALTO SUBIU QUE DEIXOU DE SER ESTRELA DE PAPEL. E O MENINO, AO VÊ-LA ASSIM, SORRIU E CORTOU-LHE O CORDEL. Coimbra, 6 de Fevereiro de 1936 - Miguel Torga, in Diário I 6.1.3 - E S T R E L A (José Penedo) e desde este dia, aqui, aquém do Tejo e do Mondego tão distante da minha terra natal a Serra a minha Tserra Sterra e do menino de bibe, essa ESTRELA deixou de ser ESTRELA de PAPEL deixou de estar presa por um cordel, e ao vê-la daqui, sorri-lhe…! sorriu-me…! e passou a ser a minha ESTRELA! De LETRAS no PAPEL! Penedo Gordo, de Outubro de 1988 José Penedo 379 José Penedo – um deNómio de José Rabaça Gaspar 380 Lendas de Beja – o Touro e a Cobra e outras LENDAS... 6.2– EXTRAS – autor, colaboração e apoios… 6.2.1 - Bibliografia do autor 6.2.2 – em teatro por Natália Quinta Queimada e alunos 6.2.3 - Uma Resenha de Ana Machado 6.2.4 - Referência à publicação destas lendas no Arquivo de Beja pela mão do Professor Doutor José Orta 6.2.5 - O TOURO e a COBRA vistos por dois artistas de Tela e do Barro – Paizana e Isaclino 381 José Penedo – um deNómio de José Rabaça Gaspar 382 Lendas de Beja – o Touro e a Cobra e outras LENDAS... 6.2.1 - bioBIBLIOGRAFIA DO AUTOR Salientando as duas TRILOGIAS sobre o ALENTEJO… A MAR – Autor: José d’A MAR – Maio / Junho de 2003 – 102 pp. Um deNómio de José Rabaça Gaspar. A MAR – Como a água das fontes e dos rios, a VIDA, todas as VIDAS, correm sempre para O MAR… A MAR… AMAR… Nestes poemas com a influência de Camões, Torga e Borges, é proclamada a subversão: O MAR é A MAR! ISBN 950-502-602-5 /e 6 – Preço para transferir €3 – Em papel – $7.28 mais custos de envio. (in LP euros 7.5) A ILHA – Autor: José d’A MAR – Julho / Agosto de 2003 – 80 pp. Um deNómio de José Rabaça Gaspar. A ILHA, na sequência de A MAR, é um poema carregado de LENDAS e pretende ser um desafio para que os leitores descubram a MAGIA de criarem a sua própria ILHA em A MAR…. ISBN 1-4135-0116/7-8/6 – Preço para transferir €3 – Em papel – $6.44 mais custos de envio. (in LP euros 7.5) A FEIRA – Autor: José Penedo de Castro – Set/ Out 2003 –154 pp. Um deNómio de José Rabaça Gaspar. José Penedo de Castro é um cigano andarilho de FEIRAS que tenta mostrar com palavras e imagens o movimento e o colorido destes centros de Encontros e desEncontros... Publicou também, na mesma editora, como José d‘A MAR – A MAR e A ILHA. ISBN 1-4135-0126/7-5/3 – Preço para transferir €3 - Em papel – $9.80 mais custos de envio. (in LP euros 10) A COBRA – Autor: José Penedo – Dez 2003 / Jan 2004 – 184 pp. Um deNómio de José Rabaça Gaspar. Em A COBRA, José Penedo, outro deNómio como José d‘A MAR, e José Penedo de Castro, canta-nos aqui, em BALADAS, as Lendas do Touro e da Cobra (uma LENDA de BEJA?) e o enCanto das Fontes… numa espécie de sinfonia em três Andamentos e várias Cantatas… ISBN 1-4135-0135/6-4/2 – Preço para transferir €3.5; em papel – $10.64 mais custos de envio. (in LP euros 10) A SERPE – Autor: José Penedo de Serpa, Março / Abril de 2004 – 118 pp. Outro deNómio de JRG, como José d‘A MAR, José Penedo de Castro e, e José Penedo, canta agora AQUI, as Lendas da SERPE, que pode ser o Rio ANA, e as origens de SERPA e Mértola… ISBN 1-4135-0142/3-7/5 – Preço para transferir €3 – Em papel – $7.68 mais custos de envio. (in LP euros 7.5) A MOURA – Autor: José Penedo de Moura, Maio / Junho de 2004 – 136 pp. José Penedo de Moura, outro deNómio de JRG, canta agora AQUI, através de 10 ―vozes‖ – autores diferentes, as Lendas da MOURA, cidade cristã, com nome pagão – ou a UTOPIA da CONVIVÊNCIA (im)Possível!!! ISBN 1-4135-0164/5-8/6 – Preço para transferir €3 – Em papel – $8.30 mais custos de envio. In LP euros 10) ALFÁTIMA – Autor: José da Serra do Vale do Zêzere, Julho / Setembro de 2004 – 124 pp. Com este livro sobre a LENDA da MOURA – ÁLFÁTIMA – o autor, decide regressar ao FUTURO, à sua Sterra – Serra da Estrela – Manteigas, com 10 Lendas da Moura encantada, à espera de uma libertação gloriosa, com Cristãos e Mouros… A HUMANIDADE, um só POVO, com o tesouro da sua polícroma diversidade interCULTURAL. ISBN 1-4135-0185/6-0/9 – Preço para transferir €3.5 – Em papel – $8.30 mais custos de envio. In LP euros 10) NOMINALIA – Autor: Herminia Herminii – Março de 2005 – 526 pp. - Uma TRILOGIA da minha Sterra – Serra da Estrela, Manteigas, a minha Terra na Serra… NOMINALIA é uma Sinfonia vastíssima e caótica cujas notas não são outra coisa senão NOMES: terras, lugares, apelidos, alcunhas, expressões… de Serra da Estrela, Manteigas, terra do autor. ISBN 1-4135-3547/8-X/8 – Preço para transferir €5 – Em papel – $19.80 mais custos de envio. (in LP euros 15) O PASTOR – Lenda do Pastor dos Hermínios – por Viriato dos Hermínios – previsto para ser editado na e-libro.net, em Setembro de 2005 Novembro de 2005 (2º de uma outra trilogia da Serra da Estrela) O PASTOR – LENDA/s do PASTOR DOS HERMÍNIOS – é só uma MENSAGEM fascinante ditada pela ESTRELA – A SERRA, do Pastor que conquistou os MONTES ERMOS! Viriato dos Hermínios foi encarregado de a divulgar a quem a quiser ouvir. Há mais 5 lendas complementares. ISBN 1-4135-3600/1-X/8 – Preço para transferir €2.62; papel–US$ 9.80 (más gastos de 383edon). (in LP euros 10) MANTEIGAS – uma Terra na Serra 383edondilh em Lendas – Lenda da Fundação mítica de Manteigas, por Hermes do Zêzere – previsto para ser editado na e-libro.net, em Novembro de 2005 – Março 2006 (enfim a outra TRILOGIA sobre Manteigas, Serra da Estrela, com ALFÁTIMA e O PASTOR). Manteigas enoVELADA em muitas lendas e A LENDA de como foi descoberto o lugar onde hoje é MANTEIGAS e do PORQUÊ de ser este nome usado, contrariamente ao uso corrente, no plural – manteigas… & o que são OU PODEM SER os ribeiros e ribeiras e caminhos e estradas… que serpenteiam pela Serra… ISBN 1-4135-3613/4-8/X – Preço para transferir €2.62 – Em papel – US$ 11.20 (e 383edon). (in LP euros 10) GRITOS NA SOLIDÃO – Décimas de INOCÊNCIO DE BRITO – um POETA popular de S. Matias, Beja – Um Mestre esquecido e ignorado – José Rabaça Gaspar (coord.) Cremilde de Brito, Manuel de Sousa Aleixo – Junho 2006 – Inocêncio de Brito —1853? – 1938?— foi um notável Mestre na Arte de versar em Décimas ―construindo‖ importantes temas com um profundo fundamento como a Morte, a Guerra, a Mulher… ISBN 1-4135-3624-7 – Para transferir €3.05 em papel – US$ 14.72 (más gastos de envio) in LP euros 12.5) ISBN 972 9171 03 3 OUTROS EM COLABORAÇÃO: «Lendas da Moura SALÚQUIA», Março de 2005, com mais de duas dezenas de versões, uma Edição de “Moura Salúquia” AMCM, 250 pp., tem prefácio e colaboração de 10 versões da lenda e uma Décima; «OS LOBOS DE MANIAMBA» Moçambique 1968 / 1970» Memórias da CART2326, Janeiro de 2005, com 156 pp., tem recolha de dados, organização, plano, digitalização e apresentação (c/ versão do CANCIONEIRO DO NIASSA). “Que modas?...que modos? (actas do 1º. Congresso do Cante Alentejano) (dos GRUPOS CORAIS ALENTEJANOS)”, edição de FaiALentejo, Horta, Faial, Açores, com 360 pp. – colaboração. DEIXAS… As DÉCIMAS e Os Poetas Populares… colaboração no jornal “Há Tanta Ideia Perdida”, da Confraria do Pão… Alentejo, Alandroal, Terena… 383 José Penedo – um deNómio de José Rabaça Gaspar BIO(BIBLIO)GRAFIA Nota: deNómios de José Rabaça Gaspar. (www.joraga.net ) Não são um pseudónimo nem um heterónimo (exclusivo de Pessoa) mas um neologismo inventado, um NOME (outro), anjo ou demónio, musa inspiradora, que escreve através do autor, o livro ou cada um dos poemas do autor. José RABAÇA GASPAR – usando 1001 deNÓMIOS diversos… Professor de Língua e Literatura Portuguesa, já dispensado do Ensino Oficial, é de novo aluno. Nasceu na Serra da Estrela, Manteigas (1938), tirou o Curso Superior de Filosofia e Teologia, na Guarda, e exerceu a sua actividade, desde 1961 em várias localidades da Serra – Loriga, Gouveia, Covilhã e Ferro, passando depois pela Academia Militar, em Lisboa, antes de cumprir o Serviço Militar em Moçambique – Metanguala, Maúa e Nampula, (4 anos) tendo passado algum tempo em Angola – Luanda e Benguela. Frequentou depois, em Paris, um Curso intensivo de Animação Cultural, para os Povos em Desenvolvimento e Alfabetização, com Paulo Freire, e esteve, 4 anos, nos Serviços de Apoio aos Emigrantes Portugueses na Alemanha onde frequentou Cursos de Alemão e leccionou Português. De regresso a Portugal, em 1975, esteve primeiro a trabalhar nas Cooperativas Agrícolas como trabalhador agrícola, na Alfabetização e Animação Cultural tendo ingressado no ensino Oficial em 1976. Leccionou em Rio Maior, Setúbal, Caldas da Rainha e cerca de 20 anos em Beja, Alentejo, procurando levar os alunos a aprender o melhor da Língua e da Literatura Portuguesa, a partir das suas raízes culturais. A Poesia Popular, as Canções, o Contos, as Lendas, os Provérbios e os usos e costumes, bem como a maneira característica de FALAR (saudações, nomes, alcunhas, expressões regionais…) serviam, normalmente, de base para aprender toda a gramática e ―riqueza‖ da Língua e da Literatura. Com mais de 20.000 páginas de Recolhas e Textos dispersos por mais de 200 obras alguma das quais podem ser consultadas em http://www.joraga.net – um ESPAÇO na NET – aminhaTEIAnaREDE… desde 09.2002. PUBLICAÇÕES 2006 – Junho – GRITOS NA SOLIDÃO – Décimas de Inocêncio de Brito, um Poeta Popular de S. Matias, Beja, um Mestre ignorado e esquecido! – José Rabaça Gaspar (coord.) Cremilde de Brito, Manuel de Sousa Aleixo – in www.e-libro.net 2006 – Março – MANTEIGAS – uma Terra na Serra 384edondilh em LENDAS, por Hermes do Zêzere (no prelo, na e-libro) 2005 – Novembro – O PASTOR – LENDAS do Pastor dos Hermínios, por Viriato dos Hermínios, in www.e-libro.net 2005 – Março – ―Que modas? …que modos? (actas do 1º. Congresso do Cante Alentejano em Nov. de 1997)”, edição de FaialAlentejo, Horta, Faial, Açores – colaboração com resumo da comunicação apresentada e participação em debates. 2005 – Março – OS LOBOS DE MANIAMBA – Edição da Cart2326, recolha de dados, organização, plano, digitalização e apresentação. 2005 – Março – Lendas de Moura, edição de ―Moura Salúquia‖ AMCM* – Prefácio, colaboração e apresentação. -*Associação das Mulheres do Concelho de Moura 2005 – Março – NOMINALIA, com o deNómio de Herminia Herminii, in www.elibro.net 2004 – Setembro – ALFÁTIMA, com o deNómio de José da Serra do Vale do Zêzere, in www.e-libro.net 2004 – Maio – A MOURA, com o deNómio de José Penedo de Moura, in www.elibro.net 2004 – Abril – O Canto do CANTE – DEIXAS – as DÉCIMAS e os Poetas Populares, colaboração regular, no Jornal ―Há Tanta Ideia Perdida‖ da Confraria do Pão, Alentejo, Alandroal, Terena… 2004 – Fevereiro – A SERPE, com o deNómio de José Penedo de Serpa, in www.elibro.net 2003 – A GUERRA68/70 – LOBOS DE MANIAMBA – Memórias da Guerra Colonial da CART 2326 – Moçambique 1968/1970. (ver tb. In www.joraga.net com o Cancioneiro do Niassa e Canções de Guerra contra a Guerra…) 2003 – Dezembro A COBRA, com o deNómio de José Penedo, in www.e-libro.net 2003 – Outubro – A FEIRA, com o deNómio de José Penedo de Castro, in www.elibro.net (ver em Poesia de Vanguardia). 384 Lendas de Beja – o Touro e a Cobra e outras LENDAS... 2003 – Julho – A ILHA, com o deNómio de José D‘A MAR, in www.e-libro.net (ver em Poesia e Vanguardia). 2003 – Maio – A MAR, com o deNómio de José D‘A MAR, in www.e-libro.net (ver em Poesia e Vanguardia). 2003 – Fevereiro – Mértola – As Vozes do Silêncio – in www.joraga.net – Alentejo – Mértola… 2002 – Lenda/s do Pastor da Serra da Estrela (5 EXEMPLARES impressão e encadernação manual) 2002 – LENDA/s de ALFÁTIMA (5 EXEMPLARES impressão e encadernação manual) 2001 – Ceifeiro e Mil e Uma Noites – Grito do Índio, A LENDA do Pastor da Serra da Estrela, e NOMINALIA (5 EXEMPLARES impressão e encadernação manual) 2000 – Dezembro – in Revista Arquivo de Beja – Vol. XV, série III – PRESÉPIO – AUTO DE NATAL de S. Matias, Beja 1999 – Dezembro – in Revista Arquivo de Beja – Vol. XII, série III – Décimas de Inocêncio de Brito – GRITOS NA SOLDÃO. 1998 – Agosto – in Revista Arquivo de Beja – Vol. VII e VIII, série III – DÉCIMAS – Uma Linguagem Comum Ibero Americana 1997.01 – 1996.12 – SERPA 385edondilh EM LENDAS – Serpa Antiga – separata de SERPA INFORMAÇÃO, 4º série, n.º 17 (12.000 exemplares). 1997 – Dezembro – in Revista Arquivo de Beja – Vol. VI, série III – MOURA – 10 LENDAS – UMA LENDA – A Moura Amor A Morte – A Magia ou a Utopia da Convivência (im)possível. 1996 – Dezembro – in Revista Arquivo de Beja – Vol. II e III, série III – INSTITUTO ALENTEJANO DE CULTURA (IAC/D). 1996 – Setembro – AUTO DA VISITAÇÃO (DO VAQUEIRO) –NATAL NA ESCOLA OU A MAGIA DE TUDO RENOVAR – proposta de várias re/cr(i)eações. Ed. Da Escola Secundária João de Barros, Corroios, (50 exemplares impressão e encadernação manual). 1996 – Abril – in Revista Arquivo de Beja – Vol. I, série III – A/s LENDA/s do TOURO E DA COBRA – Uma lenda de Beja? 1995 Abril / Maio – A/s FEIRA/s – A FEIRA DE CASTRO EM VÃS REDONDILHAS – Brochura policopiada, (500 exemplares) ed. Escola Secundária João de Barros, Corroios e Junta de Freguesia de Corroios. 1995 Abril / Maio – ILHA DO PESSEGUEIRO – A/s LENDA/s enCoANTADAS em 385edondilhas – Edição policopiada (100 exemplares) Junta de Freguesia de Corroios. 1995 – Março / Dezembro in LER EDUCAÇÃO Nºs 17/18 – Revista da Escola Superior de Educação de Beja – A LITERATURA (CULTURA TRADICIONAL) e o Desenvolvimento e a urgente criação de um INSTITUTO ALENTEJANO DE CULTURA /DESENVOLVIMENTO. 1994 – Abril e Maio O CANTO DO CANTE – in Jornal Terras do Cante Ano I, 1ª série, Nº 2 e Nº 3, Alcáçovas, Évora. 1987 (1989) – POETAS POPULARES DO CONCELHO DE BEJA – introdução, selecção, Anexos e Estudo final, arranjo gráfico, paginação e trabalho em processador de texto – Editora Câmara Municipal de Beja – Concelhia DGAEE (Direcção-Geral de Apoio e Extensão Educativa, Beja, 1987. 1985 – Outubro, Évora – A Linguística e a Análise Literária como contributo para o Desenvolvimento do Alentejo – in ACTAS do CONGRESSO SOBRE O ALENTEJO, III volume, pp. 1127 – 1131 1957 – Desde o Curso de Filosofia e Teologia, imensos trabalhos publicados em órgãos Regionais e da Escola e muitos preparados para publicação… 385 José Penedo – um deNómio de José Rabaça Gaspar 386 Lendas de Beja – o Touro e a Cobra e outras LENDAS... 6.2.2 – Natália Quinta Queimada, de Clássicas, (estudo e teatro em 1991) com o Professor de Filosofia e seus alunos do Secundário fizeram um estudo e uma adaptação ao teatro que representaram em Beja, na Casa da Cultura e em Corroios na Escola Secundária 1, (depois Esc. Sec. João Barros), em Abril de 1991 387 José Penedo – um deNómio de José Rabaça Gaspar 388 Lendas de Beja – o Touro e a Cobra e outras LENDAS... 6.2.3 - Ana Machado – Antropóloga – um testemunho Lendas de Beja: o Touro e a Cobra e Outras Lendas José Rabaça Gaspar Obra ainda não publicada LENDAS A obra Lendas de Beja – O Touro e a Cobra e outras Lendas…, de José Rabaça Gaspar, professor de Literatura na Escola Secundária D. Manuel I, em Beja, traduz-se num trabalho de investigação minucioso e preciso sobre muitas das lendas e estórias maravilhosas que marcam a identidade cultural das gentes de Beja. Levando a cabo quase dez anos de recolha de lendas, a Lenda da Cobra e do Touro é, sem dúvida, a mais interessante e mais rica em conteúdo, sendo contada de múltiplas maneiras e com várias versões. Nesta(s) estória(s) existe quase sempre um predomínio do touro sobre a cobra, podendo representar, assim, uma vitória da força e astúcia do touro sobre a ruindade e ambição da cobra. O imaginário da cultura portuguesa, está carregado de evocações à cobra como animal quase humano capaz dos actos mais desprezíveis, pelo que esta lenda não poderia ―fugir à regra‖. Seja como for, a verdade é que esta lenda ainda está viva, e com por- menores que se vão recombinando consoante as versões, e expressa a ideia de um mito de origem que organiza e marca a sua concepção do mundo envolvente. Num tempo em que o conhecimento científico impera, todos os ensina- mentos baseados na oralidade, os contos, os jogos, os cantares, as crenças e as lendas, passados de boca em boca, de geração em geração, parecem estar ameaçados de esquecimento e à deturpação dos seus significados. Esta obra remete-nos para um conhecimento tradicional, assente na natureza e raiz popular de um povo, colocando-nos perante um conhecimento dos antigos, dos ditos ―analfabetos‖, que transportam consigo verdadeiras bibliotecas, sabedorias e segredos. Ao transpor esta realidade para a escrita está-se a preservar um património vivo, rico, que merece ser conhecido por todos. Daí que trabalhos como o de José Rabaça Gaspar devam ser encorajados e dignificados, na medida em que a nossa cultura popular encerra ainda muitos mistérios e desafios que vale a pena serem descobertos. Ana Machado Antropóloga in ―Imenso Sul‖, Nº 17, Janeiro de 1999, p. 46 389 José Penedo – um deNómio de José Rabaça Gaspar 390 Lendas de Beja – o Touro e a Cobra e outras LENDAS... 6.2.4 - In Arquivo de Beja – pela mão do Professor Doutor José Orta 391 José Penedo – um deNómio de José Rabaça Gaspar da Página 31 a 62 392 Lendas de Beja – o Touro e a Cobra e outras LENDAS... 6.2.5 - O Touro e a Cobra vistos por artistas da tela e do barro… Paizana… Isaclino… Paizana – O Mestre dos Símbolos na Forma e Cor Isaclino – o Mestre do Barro 393 José Penedo – um deNómio de José Rabaça Gaspar 394 Lendas de Beja – o Touro e a Cobra e outras LENDAS... 6.3 Separatas IMAGENS EXTRA Com montagem de obras de vários artistas & outras ideias 6.3 - Separata 1 – Touros Luz 6.3 - Separata 2 – Desenhos da obra 6.3 - Separata 3 – Estatuas Touro / Mulher Cobra 6.3 - Separata 4 – Pinturas – Picasso… Animalistas… 6.3 - Separata 5 – Pinturas (MIX) 6.3 - Separata 6 – TC mitologia 6.3 - Separata 7 – Desenhos Vários (Nota:com imagens da obra, do autor e várias pesquisadas em várias páginas da internet.) 395 José Penedo – um deNómio de José Rabaça Gaspar 396 Lendas de Beja – o Touro e a Cobra e outras LENDAS... 6.3 - Separata 1 – Touros Luz TOURO – ASTROS DE LUZ 397 José Penedo – um deNómio de José Rabaça Gaspar 398 Lendas de Beja – o Touro e a Cobra e outras LENDAS... 6.3 - Separata 2 – Desenhos da obra 399 José Penedo – um deNómio de José Rabaça Gaspar 400 Lendas de Beja – o Touro e a Cobra e outras LENDAS... 6.3 - Separata 3 – Estátuas Touro / Mulher Cobra 401 José Penedo – um deNómio de José Rabaça Gaspar 402 Lendas de Beja – o Touro e a Cobra e outras LENDAS... 6.3 - Separata 4 - Pinturas - Picasso… - Animalistas… Touro e Cobra – Toureiros e Toiros… por vários artistas como Piasso… 403 José Penedo – um deNómio de José Rabaça Gaspar 404 Lendas de Beja – o Touro e a Cobra e outras LENDAS... 6.3 - Separata 5 – Pinturas (MIX) Touro e Cobra – Toureiros e Toiros… por vários artistas como Picasso… 405 José Penedo – um deNómio de José Rabaça Gaspar 406 Lendas de Beja – o Touro e a Cobra e outras LENDAS... 6.3 - Separata 6 – TC na Mitologia TOURO - MITOLOGIA 407 José Penedo – um deNómio de José Rabaça Gaspar 408 Lendas de Beja – o Touro e a Cobra e outras LENDAS... 6.3 - Separata 7 – Desenhos Vários TOURO E COBRA - vários 409 José Penedo – um deNómio de José Rabaça Gaspar 410 Lendas de Beja – o Touro e a Cobra e outras LENDAS... 7 - ÍNDICE/s Nota 22 mapa/s - pista/s de (re)leitura/s 7 - ÍNDICE/s 7.1 – Índice de índices e indícios… 7.2 – Índice, lista das GRAVURAS 7.3 - PLANO GLOBAL DESTA OBRA 7.4 – PLANO de possíveis Jornadas pelo ALENTEJO 7.5 – LINKs – Páginas da Internet com Lendas do Alentejo 7.6 – ÍNDICE GERAL (manual) 7.7 – ÍNDICE GERAL (com ligações) 2 Assim como a BIBLIOGRAFIA, o ÍNDICE, ou os ÍNDICES, também vão numerados. Porquê? Como já foi dito anteriormente, eles fazem parte da ESTRUTURA DA OBRA tal como foi concebida; ou antes, são eles, e sobretudo o ÍNDICE GERAL, que tenta mostrar toda a articulação como foi concebida e estruturada a obra, ou melhor dizendo, como se foi estruturando a partir das primeiras ideais e sucessivas escritas e rescritas. Os índices, sobretudo o índice, é, sem dúvida, uma proposta de LEITURA que, evidentemente, pode ser recusada pelo leitor. 411 José Penedo – um deNómio de José Rabaça Gaspar 412 Lendas de Beja – o Touro e a Cobra e outras LENDAS... 7.1 - índice de índices e indícios… lista dos mais evidentes Índices indícios - indicadores - símbolos - simbólicas mitos - sonhos - desejos - valores - formas - figuras gestos - emblemas - signos ou sinais ÁGUA ÁGUIAS ALENTEJO ALENTEJANAS ALENTEJANOS ALMOLEIMAR ANEDOTAS ÁRABES AREIA ARENA ARTISTAS CANTE CANTO O elemento primordial… que há… que dizem que falta no Alentejo… as romanas? as reais? as águias - águias selvagens/livres... a sua grandeza! majestade! o seu bico, as suas garras! a Águia rainha das aves, Rainha das Montanhas, Rainha da Planície... e o ancestral sonho humano de voar... Um nome dado por conquistadores, colonizadores, assumido ou que tem de ser assumido,pelos habitantes do AQUÉM-TEJO… O adjectivo que identifica um tipo de mulheres raro, diferente, indomadas, indomáveis, sábias, sofredoras… e muitas outras coisas como as anedotas… A definição de um tipo de pessoas únicas e vulgares (invulgares) que conseguem ser normais sendo poetas… artistas… o valoroso lutador invencível nimbado com o seu turbante que torna mais heróico o nosso herói... de e sobre os alentejanos e os NOMES, AS ALCUNHAS, OS MÁ - NOMES... e os vestígios e mitos, os nomes, as lutas, as lendas, os poemas... da praia distante do Alentejo interior mas há mar Alentejano que evoca o deserto? a imensidão do mar? a cor da pele? tom árabe? cigano? alentejano?... e a sua forma circular... em espiral... e as explicações ou as leituras cifradas do indecifrável evidente... A identificação de um tipo de CANTO único, inimitável porque nasce da terra ou é a VOZ DA TERRA cantada por pessoas… A arte de se expressar que, no Alentejo, se chama CANTE… 413 José Penedo – um deNómio de José Rabaça Gaspar CANTORES CARTAS... CAVALOS CIGANOS COBRA CONTADORES CONTOS COROS CORTEJOS CRESCENTE CRUZ DANÇA DESFILES DEZEDORES ESTRELAS FESTA FOGO FONTE FREIRA GRADES GRITOS GRITOS Os intérpretes do CANTO / CANTE, que, no Alentejo, se chamam CANTADORES… Que aqui significam as CARTAS da FREIRA de BEJA, os GRITOS de Mariana do Alcoforado… ou a Poesia de Florbela Espanca… ou da Mulher Alentejana… Os animais que nos remetem para as sagas heróicas de guerras antigas e antigos feitos… Os ciganos e suas tradições, o velho cigano e a sabedoria dos tempos e espaços, o cigano Castanho e a cigana Mariana e sedução desejo de liberdade na Natureza – Mundo... a/s serpente/s da terra, do povo, da Bíblia, o dolo, a prudência, a repugnância... Os Mestres da Arte de CONTAR, com toda a magia da harmonia dos sons e das palavras e dos sons... e as lendas de encantar e os CONTADORES/AS de HISTORIAS... Os Grupos que interpretam o CANTE… A manifestação colectiva de um povo em festa… A LUA e a relação do Alentejo com os Árabes… a religiosidade, as crenças, as crendices… as bruxas... A manifestação corporal mais expressiva dos sentimentos, que é muito apreciada e realizada nas comunidades ciganas e pouco conhecida nas comunidades alentejanas… Relacionados com cortejos e manifestações populares… Expressão atribuída aos MESTRES da POESIA, especialmente aos analfabetos que criam e / ou dizem DÉCIMAS… Que, no Alentejo, brilham numa imensidão quase sem fronteiras... A expressão popular e colectiva da ALEGRIA e da Amizade… e o calor ardente do Sol que marca o Alentejo esquecendo o frio... A vida que brota do Ventre da Terra… Ver o significado: irmã, e as grades, a prisão... o convento... os muros... Os gritos que pretendem derrubar as GRADES... Há gritos aglutinadores: Por Sant'Iago... Por Ala!... De alegria! De angústia! De socorro... e as GRADES que criam barreiras à liberdade, à expressão, à comunicação... 414 Lendas de Beja – o Touro e a Cobra e outras LENDAS... IDADE DE OIRO INDÍCIOS INDOLÊNCIA JARDIM JOGOS LIDADOR LIVRO LUTA LUZ MAIAS MAGAS MAGOS MARIANA MASTROS MESTRE MOURA MOUROS MÚSICA PREGUIÇA POETAS POPULARES POVO PRAÇA REINO DO MEDO O reino feliz da convivência e entre – ajuda... Os sinais, os signos, os símbolos... os mistérios (in)decifráveis... Ou a confusão com a força serena e indomável, imparável... As flores e as árvores; e os perfumes inebriantes que encantam a vida... A Arte de fazer coisas sérias a brincar… O herói medieval e do romantismo... Os livros e os autores, a busca das soluções nunca encontradas... Presente em todas as Lendas... Porquê? Há ou não uma LUZ própria de cada Região? Sempre diferente mas característica?! Por exemplo a da planície?! E a do céu azul, diferente de todas as luzes?!... A COR única... As festas da Primavera... Bruxas? Feiticeiras? Magas? as Boas? as Más? Da Magia Magia, ao Ilusionismo, até à Magia ou Arte do quotidiano, como a de uma escola ligada à vida e à sociedade sem escola; ou a busca incessante e sempre insatisfeita de explicações para o inexplicável... a Mariana, a cigana, a Florbela, a Campaniça, a mulher, a opressão, as leis justas... as FESTAS JOANINAS e a/s Festa/s... O/s Nome/s apelidos frequentes nesta região e o cargo ou mester... e o MESTRE nomeado Regedor e Defensor do Reino... os Salvadores... e... A Moura encantada, a beleza distante, a sedução... Os Mouros. Os Árabes. Os Muçulmanos... A ideia do árabe rico e os tesouros e os mistérios, a vida faustosa... Donde e porquê esta música e este CANTE ALENTEJANO... (vide indolência) e a ambiguidade entre preguiça e obedecer ao ritmo da Natureza... Ver a sua arte própria inimitável, popular; e suspeita e intrigante para as artes eruditas... Entidade abstracta? Concreta? Ver a revolução e o caminho da sonhada e nunca alcançada democracia... Como lugar de encontro e cruzamento de desencontros, de festa, de ritos... O Reino da desconfiança da intimidação do 415 José Penedo – um deNómio de José Rabaça Gaspar ROMANOS SOLIDÃO SOLIDÃO SOLIDÁRIA SOLIDARIEDADE TERRA TOURADA TOURO autoritarismo discricionário.. Ver as marcas do que permanece... com restos, rastos de exploração e opressão... e de lições... Fundamental para a preparação da gestação do acto criador Ou o milagre de criar o impossível... Indispensável para que o acto criador e eficaz aconteça... Por exemplo os barros vermelhos, a terra mais produtiva para as searas que podemos ver como Terra empapada em suor e sangue que lhe da uma fecundidade única . .. O seus ritos, rituais... o insólito possível..., a contestação à sua desumanidade!, crueldade!.... O poder a fertilidade(a vaca) a força, a abundância(o vitelo de oiro)... A força bruta que o homem põe ao seu serviço... AS MIL CARACTERÍSTICAS ÍNDICES E INDÍCIOS que faltam como esta arte de viver alentejana, indefinida?... indefinível? ...que inquieta... intriga... e desarma... os ―estrangeiros‖ mesmo cá de dentro, que se vingam em milhares de anedotas às vezes cheias de significado..., outras, muitas, carregadas de uma raiva e de uma malícia vingativa que, pretensiosamente ofensiva, ofende e retrata os que pensam que servem para menosprezar os alentejanos... ver a dignidade majestosa com que se veste de safões... pelico... capote..., chapéu... cajado... ...e como usa o tarro... o cajado... o alforge ao ombro... o cocharro... o barro... a madeira... a casa própria do clima e paisagem alentejana... a arte telúrica com que assumem a sua indolência proverbial!? que talvez seja o sinal mais poderoso de resistência e persistência, teimosia e poder criador que este povo tem, respeitando as leis da Natureza e o seu ritmo e ciclo, sem lutas inúteis e estéreis... mas de uma resistência ao trabalho insuperáveis e duma resistência imbatível nas adversidades...; tão fraco e tão poderosamente forte como a água que, quando não fura a pedra (e muitas vezes fura)..., mesmo que lhe criem barreiras e barragens, ou não as façam por negligência, maldade ou falta de visão... ele, ela 416 Lendas de Beja – o Touro e a Cobra e outras LENDAS... há-de contornar ou derrubar os obstáculos, irresistível, imparavelmente, mesmo que pare algum tempo..., pior ainda se lhe tapam todos os escapes!!!... ...tantas coisas tão simples e importantes que dariam para estudos intermináveis e que estudados, conhecidos e rentabilizados para uso e proveito deste Povo, abriria caminhos imparáveis de Progresso e Desenvolvimento... e marcariam o fim da Colonização que está estigmatizado no nome que os do Norte/ os Colonizadores? puseram ao Além-Tejo... ou teriam sido os de Aquém do Tejo?... 417 José Penedo – um deNómio de José Rabaça Gaspar 418 Lendas de Beja – o Touro e a Cobra e outras LENDAS... 7.2 - ÍNDlCE/s – lista das gravuras Lendo Lendas de Beja ou só Lendas de Beja ou o Touro e a Cobra ou O Cigano Castanho e a Cigana Mariana ou a viagem pelo Universo do sonho do maravilhoso, do prodigioso... simples? intrigante? ... 001 Capa extra transparente 0 002 Touro e Cobra – marca de água – a repetir nas brancas pares 003 Silhueta Touro Cobra 10 004 Touro Cobra sobrepostos 10 005 Acampamento dos ciganos 15 006 A dança da cigana 23 007 Letras a desenhar o Touro e a cobra (separador) 29 008 A dança do fogo ou das estrelas 35 009 Cobra e Touro – Bandarilheiro Touro 38 010 Touro e cobra em letras de imprensa… 43 011 A serpente domina a praça da cidade 49 012 A luta do touro e da cobra no castelo da cidade 55 013 Os touros rompem o cerco da cidade 87 014 A clareira dos magos escondida na floresta 107 015 A mistura dos símbolos sinais 125 419 José Penedo – um deNómio de José Rabaça Gaspar 016 A/s fonte/s 134 017 A fonte e a cobra 147 018 A moura encantada e a tímida donzela 171 019 A fonte das Cavadas 179 020 A Fonte a cobra e a Figueira 199 021 A cobra, a figueira e o moinho 211 022 A luta de morte do cristão e do mouro 221 023 O largo de Santa Maria da Feira com Castelo ao fundo 249 024 Mariana 263 025 Mariana e a janela donde se avista Mértola 281 026 A magia das décimas ou a quadratura do círculo 293 026b A magia das décimas ou a quadratura do círculo - manuscrito 294 027 No remanso de uma mansão romana 313 028 as Maias no centro de várias celebrações e lendas… 331 029 A Maia in DA 332 030 Contra Capa – montagem de touros e cobras – vários artistas… 436 420 Lendas de Beja – o Touro e a Cobra e outras LENDAS... 7.3 - PLANO GLOBAL desta OBRA PLANO GLOBAL e resumo do trabalho em disquetes e para rever o ÍNDICE D lbj. 1 2 Pág. Numeraç ão 00 01 001-008 01ª 02 009-020 021-028 0. 0.0 03 029-042 1. 1.00 04 043-054 0.1.0 1.01 1.02 1.03 05 055-066 1.04 1.05 1.06 3 06 067-074 07 075-086 08 087-094 1.07 1.08 1.09 0.1 0.1.1 0.1.2 0.1.3 0.1.4 09 095-098 2 10 099-108 2.01 2.02 11 109-120 2.03 2.04 12 121-140 0.2.1 141-150 3 3.01 3.02 0.3 4 13 0.4.0 4.01 0.4.1 4 14 151-162 5 0.5 6 Título bits.doc (Modelo com desenhos e…) Capa, 1 e 2, Ficha técnica, dedicatória e título da introdução …em viagem (introdução 1) Beja e as lendas – Visão do cigano cego… (introdução 2) A LENDA DO TOURO E DA COBRA O TOURO E A COBRA – V/00 – (A Lenda do TC reconstruída) As Lendas… e os contadores de histórias O Touro e a Cobra v/01 – O touro vence a cobra… O Touro e a Cobra v/02 – O touro é engolido pela cobra… O Touro e a Cobra v/03 – a população lança um touro… O Touro e a Cobra v/04 – a cobra é envenenada… O Touro e a Cobra v/05 – A cobra engole um touro… manada. O Touro e a Cobra v/06 – A cidade é livre de um ataque… O Touro e a Cobra v/07 - … Touro azul O Touro e a Cobra v/08 – A cobra fechada numa paliçada. O Touro e a Cobra v/09 – Leitor é a sua vez… Pistas de leitura para as Lendas do Touro e da Cobra As Lendas do TC e os Magos da Clareira da Floresta Os Magos… as pistas de leitura/s… as possíveis formas de expressão Disquete Acumulação da disquete 1 e 2 LENDAS DA FONTE MOURO (com referências e uma introdução) Lenda da Fonte Moura, rescrita de M. J. Delgado Lenda da Fonte Moura, Décimas de um anónimo, rec. De M. J. D Lenda da Fonte Moura, rescrita de Fernanda Frazão Lenda da Fonte Moura, Oitavas de Edmundo Belfonte Encontro dos Magos na Fonte das Cavadas O Cante das Fontes… A FONTE DAS CAVADAS A FONTE DAS CAVADAS 1ª versão A FONTE DAS CAVADAS – 2ª versão pequeno poema à Fonte das Cavadas… A LENDA DA PRINCESA ENCANTADA EM COBRA A perplexidade dos ciganos A PRINCESA ENCANTADA EM COBRA reflexão magoada dos Magos… 322048 343040 Lendas e História ou Lendas Históricas? – Lidador, 1383, Mariana Os Ciganos andarilhos… as Lendas e a História… O LIDADOR (Dados Históricos) 421 bits. Disq bits. Em ac. 45056 101376 177152 988672 988672 116736 69632 201728 332800 193024 913920 913920 1902592 1902592 456704 2359296 2359296 27136 70144 112640 135680 111104 456704 49152 José Penedo – um deNómio de José Rabaça Gaspar 6.01 0.6 5 15 16 17 163-170 171-176 177-182 18 19 183-196 197-208 20 21 209-214 215-222 22 223-232 23 233-242 24 243-256 25 257-270 26 271-272 7. 0.7 8 8.1 8.2 8.3 0.8 08.1 9 0.9 10 0.10 10.01 10.02 0.10.0 0.10.1 0.11 0.11.1 0.12 0.12.1 0.12.2 0.12.3 0.13 A morte do LIDADOR – pelo Infante D. Pedro Os Magos no alto do Castelo… ou o desafio de Herculano… A Revolução em Beja (1383/85) por Fernão Lopes Os Magos na Torre do Castelo MARIANA ALCOFORADO Mariana… a realidade Mariana… as cinco cartas… cinco gritos… Mariana… a Lenda que se pode en/cont(r)ar… Mariana… uma décima final Os Magos na sala do Capítulo… TAVONDE… Tem Avonde… PISÕES Pisões – os ciganos romanos? AS MAIAS As MAIAS e os MAGOS… As MAIAS – AS FESTAS DA PRIMAVERA AS MAIAS – 9 quintilhas de Maria Guiomar Peneque… e os jornais… O ressurgimento das MAIAS… ou a subversão!!! LENDO AS LENDAS… BIBLIOGRAFIA BIBLIOGRAFIA ou A SOLIDÃO SOLIDÁRIA ÍNDICE/s ou as PISTA/s para reenviar os leitores Índice de índices ou indícios… Índice de gravuras Índice Geral Confidência Brinquedo de Miguel Torga – (Estrela de Papel) Estrela no papel de José Penedo PLANO GLOBAL (doc.27 em 2 pág. 183296) 422 33792 37362 33792 57856 333312 545266 545266 2904562 2904562 677744 3582306 37744 34816 47104 49152 68096 291840 528752 148992 677744 Lendas de Beja – o Touro e a Cobra e outras LENDAS... 7.4 - PLANO de (possíveis) JORNADAS pelo ALENTEJO… outras obras que enquadram esta: - VIAGENS ATRAVÉS DO MARAVILHOSO 1ª jornada ERA UMA VEZ NO ALENTEJO VIAGENS ATRAVÉS DO MARAVILHOSO DO CIGANO CASTANHO E DA CIGANA MARIANA POR TERRAS DO AQUÉM TEJO 1ª partida: (uma incursão pelo mundo das lendas) lendo LENDAS DE BEJA nas letras das estrelas O TOURO E A COBRA e OUTRAS LENDAS ou a humanidade a crescer para a liberdade o maravilhoso fantástico no imaginário alentejano autor: José Penedo, Penedo Gordo, Beja, 1988. 260p. 2ª partida: (uma digressão ou leitura através de Baladas) A/s LENDA/s BALADAS do TOURO E DA COBRA autor: José Penedo – o baladeiro, Penedo Gordo, Beja, 1992/1993/94. 3ª partida: (uma digressão através do Cancioneiro Medieval e Popular) AS FONTES AS LENDAS – O CANTO, O ENCANTO das FONTES autor: José da Fonte Santa, Penedo Gordo, Beja, 1991/1993/94. 4ª partida – pistas de LEITURA (estudo, análise e propostas…) em elaboração. 5ª partida Uma dramatização feita pela professora Maria Natália Quinta Queimada, com finalistas da Escola Secundária Diogo de Gouveia, de Beja, Março e Abril de 1992 (com um VÍDEO); Uma série de várias peças em barro do Mestre barrista, Isaclino, de Beja – a partir de 1986…( propriedade da Câmara Municipal de Beja, e outras recriações em promessa ao autor destas lendas que o mestre Isaclino considerou uma vez co-autor dessas peças!!! 6ª partida: (a partir destas experiências, em colaboração com outras entidades, escolas, associações e grupos…, explorar várias formas de re/criação, representação, divulgação… até no empedrado das ruas, peças de artesanato, música e bailado…) 2ª jornada 1ª partida A FEIRA DE CASTRO – AS FEIRAS EM VÃS REDONDILHAS A FEIRA DE CASTRO – AS FEIRAS – vista por um CIGANO CASTANHO andarilho de feiras, penedo gordo – BEJA – 1987 /1991/1993/94 2ª partida – (um estudo das origens e linguagem da FEIRA a programar com entidades ou pessoas de Castro Verde…) 423 José Penedo – um deNómio de José Rabaça Gaspar 3ª jornada 1ª partida: - LENDA/s da ILHA DO PESSEGUEIRO autor: José d‘A MAR, Aivados, verão de 1989, Penedo Gordo, Beja, Outono de 1989, Ilha do Pessegueiro, Ano Novo de 1992, Penedo Gordo, Beja, 1993794 2ª partida: - A MAR autor: José d‘A MAR, Penedo Gordo, 424edo, 1989- 1991- 1993/94 4ª jornada – 1ª partida MOURA – lendo A/s LENDA/s autor: José Penedo de Moura, Penedo Gordo, Beja, Outubro de 1986 – 1994 2ª partida SERPA ENC(O)ANTADA em LENDAS 3ª partida MÉRTOLA – as pessoas também falam – As Vozes do Silêncio: http://www.joraga.net/mertola/index.htm … (baseado num trabalho de Fátima Borges) (um projecto a desenvolver com entidades e interessados da cidade de MOURA para ??? trabalhos que podem ir da dramatização, à ilustração, à criação de signos, símbolos… artesanato… divulgação…) 424 Lendas de Beja – o Touro e a Cobra e outras LENDAS... 7.5 - Links – com Páginas de lendas do Touro e da Cobra e outras lendas do Alentejo… LENDAS DO ALENTEJO - http://www1.ci.uc.pt/iej/alunos/2001/lendas/index.htm - http://www1.ci.uc.pt/iej/alunos/2001/lendas/alentejo.htm Por Marta Costa Lendas do Alentejo LENDAS DO ALENTEJO - http://orgulhoseralentejano.paginas.sapo.pt/index.html Por Miguel Gaspar Roque - http://orgulhoseralentejano.paginas.sapo.pt/lend_alet.htm LENDAS E TRADIÇÕES http://www.alentejolitoral.pt/PortalTurismo/ARegiao/LendasTradicoes/Paginas/LendaseTradicoes.aspx Por alentejolitoral Canto da Terra http://www.cantodaterra.net/ct/site/lendas/default.asp?fpage=0&page=1&find=Todas%20as%20lendas &findbox=0 Lendas de Beja Lendas de Évora http://www.cantodater ra.net/ct/site/lendas/d efault.asp?fpage=0&pa ge=1&find=%C9vora&f indbox=8 http://www.canto daterra.net/ct/site /lendas/default.as p?fpage=0&page= 1&find=Beja&find box=13 ALENTEJO – TERRA MÃE – Fundação 6- Património e Cultura Imaterial / Os Contos e as Estórias Alentejanas... Nota: Esta ligação e a Fundação ‗Terra Mãe‘ foram desactivadas, mas mantém um Banco de Dados - http://www.bdalentejo.net/ - de notável utilidade, com publicações sobre o Alentejo de muito e variados autores. (http://www.alentejo-terramae.pt/index) (desactivada, fica para que conste) 425 José Penedo – um deNómio de José Rabaça Gaspar Obras com algumas lendas do Alentejo e eAlentejo com muito Alentejo… Por joraga - http://www.joraga.net/pags/0obras00as6de2003_04.htm (As obras do Autor, sempre em actualização...) Joraga dos1001deNÓMIOS aminhaTEIAinterminávelnaREDEilimitada um ANDARILHO em viagem pelas 7 partidas... 7 jornadas... 7 mundos... 7 mares... 7 temas... 7 espaços... 7 tempos... JORAGA o acrónimo de JOsé RAbaça GAspar e outros mais de 1001 deNÓMIOS... http://www.joraga.net/contos/index.htm http://www.joraga.net/contos/pags/53_contos&lendas_alentejo.htm http://www.joraga.net/contos/pags/53_00_indice.htm CONTOS & LENDAS – Contos e Lendas em Portugal, com um lugar especial dado ao Alentejo e uma grande recolha de por Obras e Autores (15) com a digitalização dos que constam na revista TRADIÇÃO de SERPA, 1899 - 1904 A ARTE de enCANTAR na LITERATURA POPULAR PORTUGUESA por JORAGA o acrónimo de JOsé RAbaça GAspar e outros mais de 1001 deNÓMIOS.. - contacto © joraga ® http://www.joraga.net/eAlentejo/ Nota: Esta ligação, embora esteja com problemas de actualização do MOODLE, a rever em breve, desempenhou o seu papel num curso de uma Universidade Sénior (USALMA) e apresenta um importante esquema de trabalho e estudo sobre o Alentejo. eAlentejo alguns aspectos de uma indentidade «Caminhando e cantando e seguindo a canção…» TRABALHOS mais actuais, desde 2011, podem ser vistos no CANTO do CANTE no FaceBook e AQUI no SBRIBD - http://pt.scribd.com/jose_gaspar_23 2012 e 1013, no que decidi chamar ANO DO CANTE, com mais de seis dezenas de trabalhos... sobre o CANTE... e mais de 10.000 consultas e leituras... Dá especial relevo aos Grupos Corais e Instrumentais do CANTE... Levantamento de mais de sete centenas de Pautas musicais das ―modas‖ e canções... Empenho especial na elaboração do imenso CANCIONERO... http://pt.scribd.com/jos%C3%A9_gaspar_35 Com 33 carregamentos e cerca de 3000 leituras, desde 2011 / 05 / 22 até Maio de 2012... Com variados temas, com especial relevo para os POETAS POPULARES e memórias do tempo da Guerra em África (1967 / 1970) e Reforma Agrária 1975... http://www.joraga.net/ Página principal do autor com os mais variados temas desde a Família, à Guerra, à investigação de Valores Culturais idententários do Alentejo... Uma espécie de Enciclopédia, a que tive de dar o nome de ―aminhateianarede‖, com actualização, pelo menos, mensal... 426 Lendas de Beja – o Touro e a Cobra e outras LENDAS... 7.6 – ÍNDICE GERAL (manual) ÍNDICE – MAPA – PISTA de re/ leitura/s que aparece aqui para o leitor se poder orientar neste LIVRO LENDAS DO ALENTEJO – lendo LENDAS DE BEJA – O TOURO E A COBRA e outras… que é uma primeira PARTIDA da VIAGEM DO CIGANO CASTANHO E DA CIGANA MARIANA ATRAVÉS DO MARAVILHOSO POR TERRAS DO AQUÉM – TEJO que, depois de Beja, seguir(ão)iam por outras terras e montes… que pretende ser a PRIMEIRA JORNADA das VIAGENS ATRAVÉS DO MARAVILHOSO DO CIGANO CASTANHO E DA CIGANA MARIANA que passam por outras regiões e terras de Portugal e pelas Terras de Santa Maria e Todo o Mundo… 0 0.0 1 1.00 0.1.0 1.01 1.02 1.03 1.04 1.05 1.06 1.07 1.08 1.09 0.1.1 0.1.2 0.1.3 0.1.4 2 2.01 2.02 2.03 2.04 em VIAGEM BEJA e A/s LENDA/s O TOURO E A COBRA O TOURO E A COBRA – versão 00 AS LENDAS DO TOURO E DA COBRA e os CONTADORES DE HISTÓRIAS O TOURO VENCE A COBRA – versão 01 O TOURO É ENGOLIDO PELA COBRA – versão 02 A POPULAÇÃO LANÇA UM TOURO PARA SE LIBERTAR DA COBRA – versão 03 UM TOURO ENVENENADO, ENVENENA A COBRA – versão 04 UMA MANADA DE TOUROS MATA A COBRA – versão 05 OS TOUROS VENCEM OS MOUROS – versão 06 UM TOURO AZUL DESCOBRE A CIDADE PERDIDA – versão 07 O TOURO E A COBRA LUTAM NA ARENA – versão 08 A LENDA DO TOURO E DA COBRA… era uma vez…, leitor, é a sua vez… versão 09 ou o recomeço… AS LENDAS E OS MAGOS DA CLAREIRA ESCONDIDA NA FLORESTA – com PISTAS DE LEITURA AS LENDAS E OS MAGOS DA CLAREIRA ESCONDIDA NA FLORESTA PISTAS DE LEITURA PISTAS para POSSÍVEIS FORMAS DE EXPRESSÃO A/s LENDA/s DA FONTE MOURO A LENDA DA FONTE MOURO – recolha de MJDelgado A LENDA DA FONTE MOURO – Décimas de um anónimo in ibidem A LENDA DA FONTE MOURO – rescrita de Fernanda Frazão LENDA DE BEJA – A FONTE DA MOURA – oitavas de 427 11 29 31 44 65 69 71 73 75 77 83 91 96 99 101 103 113 129 135 145 151 157 José Penedo – um deNómio de José Rabaça Gaspar 0.2.1 3 3.01 3.02 0.3 4 0.4.0 4.01 0.4.1 5 0.5 6 6.0 0.6 7 0.7 8 8.1 8.2 8.3 0.8 9 09 10 0.10.1 10.1 0.11 0.12 0.12.1 0.13 0.13.1 0.13.2 0.13.3 Extra1 Extra2 Extra3 Edmundo Belfonte Encontro dos Magos na Fonte das Cavadas… sobre o Fonte Mouro… A/s LENDA/s da FONTE DAS CAVADAS LENDA DA FONTE DAS CAVADAS - 1ª versão LENDA DA FONTE DAS CAVADAS - 2ª versão O CANTE DAS FONTES A LENDA DA PRINCESA ENCANTADA EM COBRA A perplexidade do Ciganos… A PRINCESA ENCANTADA EM COBRA A REFLEXÃO MAGOADA DOS MAGOS AS LENDAS E A HISTÓRIA Os ciganos andarilhos… as LENDAS e a HISTÓRIA… O LIDADOR A MORTE DO LIDADOR pelo Infante D. Pedro Os magos no alto do castelo ou o desafio de Herculano A REVOLUÇÃO (1383/1385) em BEJA por Fernão Lopes Os Magos na Torre do Castelo MARIANA ALCOFORADO – A FREIRA DE BEJA A REALIDADE (?) alguns dados… AS CINCO CARTAS QUE FING(em)DORES A LENDA QUE SE PODE EN/CONT(R)AR Os MAGOS na SALA DO CAPÍTULO do CONVENTO Aviso aos leitores Vitória… Vitória… TAVONDE PISÕES PISÕES os ciganos romanos? AS MAIAS AS MAIAS e os MAGOS… AS MAIAS as FESTAS DA PRIMAVERA A FESTA… Lendo as LENDAS BIBLIOGRAFIA BIBLIOGRAFIA ou a SOLIDÃO SOLIDÁRIA ÍNDICE/s ou a/s PISTA/s para reenviar o LEITOR Índice de índices… indícios… Índice de gravuras ÍNDICE GERAL Confidência - 377 Brinquedo de Miguel Torga - 379 Estrela de José Penedo - 379 163 175 185 187 191 197 205 207 209 211 219 221 225 228 233 243 253 259 260 267 285 297 301 303 305 311 313 319 321 337 353 355 357 411 413 419 429 436 428 Lendas de Beja – o Touro e a Cobra e outras LENDAS... 7.7 - ÍNDICE FINAL com ligações às páginas… LENDAS DE BEJA ................................................................................................................. 1 introdução ............................................................................................................................ 9 0 - em viagem... ................................................................................................................. 11 1 – A/s LENDAS/s DO TOURO E DA COBRA ....................................................................... 29 0.0 - B E J A E A/s L E N D A/s .......................................................................................... 31 1 A/S LENDA/S DO TOURO E DA COBRA ........................................................................... 43 1.00 - O TOURO E A COBRA -v. - 00 .................................................................................. 44 0.1.0 - AS LENDAS DO TOURO e da COBRA E OS CONTADORES DE HISTÓRIAS ................. 65 0.1.0 - Quem conta um conto, acrescenta-lhe um ponto...” ...................................................... 67 1.01 - O TOURO E A COBRA – V/01 ................................................................................... 69 1.02 - O TOURO E A COBRA – V/02 ................................................................................... 71 1.03 - O TOURO E A COBRA – V/03 ................................................................................... 73 1.04 - O TOURO E A COBRA – V/04 .................................................................................. 75 1.05 - O TOURO E A COBRA – V/05 ................................................................................... 77 1.06 - O TOURO E A COBRA – V/06 ................................................................................... 83 1.07 - O TOURO E A COBRA – V/ 07 .................................................................................. 91 1.08 - O TOURO E A COBRA – V/ 08 .................................................................................. 96 1.09 - O TOURO E A COBRA - V 09 .................................................................................... 99 0.1.1 AS LENDAS E OS MAGOS DA CLAREIRA ESCONDIDA NA FLORESTA PISTAS DE LEITURA 101 0.1.2 AS LENDAS E OS MAGOS DA CLAREIRAESCONDIDA NA FLORESTA ........................ 103 0.1.3 pistas de leitura/s para as LENDAS do TOURO e da COBRA… ................................ 113 2 - A/S LENDAS/S DA FONTE MOURO ............................................................................. 135 2 - A/S LENDA/S DA FONTE MOURO ............................................................................... 137 0.2.0 - Ligação entre as LENDAS… .................................................................................. 139 2 - DUAS LENDAS DA FONTE MOURO .............................................................................. 143 2.01 - A LENDA DA FONTE MOURO recolha de Manuel Joaquim Delgado ................................... 145 2.02 - A LENDA DA FONTE MOURO – (Décimas de um anónimo) ............................................. 151 2.03 - A LENDA DA FONTE MOURO (rescrita por Fernanda Frazão) .......................................... 157 2.04 - LENDA DE BEJA – A FONTE DA MOURA, por Edmundo Belfonte, ..................................... 163 0.2.1 - ENCONTRO DOS MAGOS NA FONTE DAS CAVADAS .............................................. 175 2.2 - A/s LENDA/s DA FONTE DAS CAVADAS .................................................................. 185 2.2.01 - LENDA DA FONTE DAS CAVADAS – 1ª Versão ........................................................... 187 2.2.02 - LENDA DA FONTE DAS CAVADAS – 2ª Versão ........................................................... 191 0.2.2 - O CANTE DAS FONTES .................................................................................... 197 429 José Penedo – um deNómio de José Rabaça Gaspar 2.3 - A LENDA DA PRINCESA ENCANTADA EM COBRA ..................................................... 205 0.2.3 A perplexidade dos ciganos... ................................................................................ 207 2.4.01 A PRINCESA ENCANTADA EM COBRA por Simplícia Maria das Dores, do Penedo Gordo… .......................................................................................................................... 209 0.2.4 - os magos pesarosos pelo sucedido decidem não reunir... ................................... 211 3 - LENDAS ou HISTÓRIA ............................................................................................... 219 0.3 - CIGANOS ANDARILHOS .......................................................................................... 221 3.01 - O LIDADOR ............................................................................................................ 225 3.01.1 - A MORTE DO LIDADOR .......................................................................................... 228 0.3.1 - OS MAGOS NO ALTO DA TORRE ........................................................................... 233 3.02 - REVOLUÇÃO EM BEJA – 1383/1385 ............................................................................ 243 0.3.2 - ...os magos… observam agora a história, do alto da torre do castelo… ................ 253 3.03 - MARIANA ALCOFORADO - A FREIRA DE BEJA .............................................................. 259 3.03.1- MARIANA ALCOFORADO – a história possível…........................................................... 260 3.03.2 - MARIANA ALCOFORADO – as cinco cartas… .............................................................. 267 3.03.3 - MARIANA ALCOFORADO - A lenda que (se) pode (en)co(a)nt(r)ar... ............................ 285 0.3.03 - Os Magos na Sala do capítulo ............................................................................ 297 Aviso aos leitores… ........................................................................................................... 301 VITÓRIA VITORIA ............................................................................................................. 303 TAVONDE... TAVONDO... ................................................................................................... 305 4 - OUTROS SIGNOS ....................................................................................................... 309 4.1 - PISÕES ................................................................................................................... 311 0.4.1 - PISÕES – os Ciganos Romanos?!... ...................................................................... 313 4.2 - AS MAIAS ............................................................................................................... 319 04.2 - AS MAIAS E OS MAGOS......................................................................................... 321 Era a FESTA! ................................................................................................................... 324 4.2.1 - AS MAIAS – AS FESTAS DA Primavera ....................................................................... 337 0.4.3 - NOTA FINAL – lendo LENDAS DE BEJA................................................................. 353 5 - BIBLIOGRAFIA/s .......................................................................................................... 355 5.1 BIBLIOGRAFIA a referência às FONTES .......................................................................... 357 5.2 - BIBLIOGRAFIA – autores e livros… .............................................................................. 361 5.3 – ainda uma bibliografia viva… e o livro vivo… ................................................................ 369 6 – EXTRAS ..................................................................................................................... 375 6.1.1 - CONFIDÊNCIA: ...................................................................................................... 377 6.1.2 - B R I N Q U E D O (Miguel Torga) ............................................................................. 379 6.1.3 - E S T R E L A (José Penedo) .................................................................................... 379 6.2– EXTRAS – autor colaboração e apoios… .................................................................. 381 6.2.1 6.2.2 6.2.3 6.2.4 6.2.5 - bioBIBLIOGRAFIA DO AUTOR ................................................................................... 383 – Natália Quinta, de Clássicas, (estudo e teatro em 1991) ............................................. 387 - Ana Machado – Antropóloga – um testemunho........................................................... 389 - In Arquivo de Beja – pela mão do Professor Doutor José Orta ...................................... 391 - O Touro e a Cobra vistos por artistas da tela e do barro… Paizana… Isaclino… ................ 393 6.3 Separatas ................................................................................................................. 395 6.3 - Separata 1 – Touros Luz ............................................................................................ 397 6.3 - Separata 2 – Desenhos da obra .................................................................................. 399 430 Lendas de Beja – o Touro e a Cobra e outras LENDAS... 6.3 6.3 6.3 6.3 6.3 - Separata Separata Separata Separata Separata 3 4 5 6 7 – – – – – Estatuas Touro / Mulher Cobra................................................................. 401 Pinturas – Picasso… Animalistas… ............................................................. 403 Pinturas (MIX) ....................................................................................... 405 TC mitologia .......................................................................................... 407 Desenhos Vários .................................................................................... 409 7 - ÍNDICE/s .................................................................................................................. 411 7.1 - índice de índices e indícios… ....................................................................................... 413 7.2 - ÍNDlCE/s – lista das gravuras ..................................................................................... 419 7.3 - PLANO GLOBAL desta OBRA ....................................................................................... 421 7.4 - PLANO de (possíveis) JORNADAS pelo ALENTEJO… ........................................................ 423 7.5 - Links – .................................................................................................................... 425 7.6 – ÍNDICE GERAL (manual)............................................................................................ 427 7.7 - ÍNDICE FINAL com ligações às páginas… ...................................................................... 429 431 José Penedo – um deNómio de José Rabaça Gaspar 432 Lendas de Beja – o Touro e a Cobra e outras LENDAS... (ANEXO EXTRA com notícia de finais de Abril de 2012) Escultura rara de um touro com cerca de três mil anos para ver em Beja http://sicnoticias.sapo.pt/cultura/2012/04/30/escultura-rara-de-um-touro-com-cerca-de-tres-mil-anos-para-ver-em-beja A escultura, devido à "sua raridade, particular relevância científica e valor iconográfico", vai estar patente ao público até ao próximo dia 29 de junho na galeria de exposições da Empresa de Desenvolvimento e Infraestruturas do Alqueva (EDIA), em Beja. ... A peça, com 23 centímetros de altura, 17 de largura e 45 de comprimento, representa "um touro em posição natural de repouso, deitado sobre o ventre e com a parte traseira ligeiramente recostada sobre a perna esquerda", explica a EDIA. A escultura foi recuperada no sítio arqueológico Cinco Reis 8, intervencionado no âmbito da empreitada de construção de uma infraestrutura da rede primária do subsistema de rega de Alqueva, o troço de ligação Pisão-Beja. O sítio arqueológico Cinco Reis 8 é uma necrópole da 1. Idade do Ferro, "constituída por recintos limitados por fossos de planta retangular, no centro dos quais se situam sepulturas individuais". A EDIA, desde o início da construção do empreendimento de fins múltiplos de Alqueva, já promoveu cerca de 1.300 intervenções arqueológicas no âmbito da minimização de impactes decorrentes das obras do projeto. Segundo a empresa, as intervenções arqueológicas "têm permitido conhecer em concreto os espaços de ocupação" inseridos nas mais diversas cronologias, da pré-história aos tempos modernos, e tipologias, como necrópoles, habitações e povoados. "Este conhecimento vem trazer novas luzes sobre o passado e contribuir para uma revisão do atual estado do conhecimento científico", sublinha a EDIA. Lusa PISTAS de LEITURA curtas: • A/s LENDA/s do TOURO e da COBRA ou um ÍNDÍCIO / ÍNDICE / SIMBÓLICA da Cidade... do Alentejo... do País...do Planeta... com seus complexos conflitos!!! • Possivelmente, NÓS, como sociedade, criámos, NÓS próprios, uma série de MONSTROS INSACIÁVEIS e agora, não sabemos “destruir” ou lidar com eles... Corroios, Primavera de 2012 – O Autor -----------------------------------------------------------------------------------------------Corroios, 8 de Maio de 2012 José Rabaça Gaspar 433 José Penedo – um deNómio de José Rabaça Gaspar Este trabalho foi acabado de realizar com e imprimir em versões manuais: 1º por JORAGA Amstrad pcw8256 1º de Maio de 1989 Penedo Gordo, Beja e posteriormente, por @ JORAGA – C 486-66c – WinWord, Hewlett Packard Desk Jet 550C Penedo Gordo, Beja 1994/95 no Verão de 1995 e em Julho de 1998, e finalmente em Setembro de 2008, Abril de 2012, Corroios, Seixal, com todos os direitos reservados por: JORAGA emviagem... ... e foi editado pela BUBOK http://www.bubok.pt/ Onde pode ser pedido em formato eBook (PDF) e no formato em papel ‗a pedido‘ em Abril / Maio de 2012. 434 Lendas de Beja – o Touro e a Cobra e outras LENDAS... 435
Documentos relacionados
0 - plano global PLANO GLOBAL e resumo do trabalho em
Os Ciganos andarilhos... as Lendas e a História... O LIDADOR (Dados Históricos) A morte do LIDADOR - pelo Infante D. Pedro Os Magos no alto do Castelo... ou o desafio de
Leia mais