Anne Dejean-Assémat, uma cientista francesa premiada

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Anne Dejean-Assémat, uma cientista francesa premiada
MINISTÈRE DES AFFAIRES ÉTRANGÈRES ET EUROPEENNES
N° - 2010
Anne Dejean-Assémat, uma cientista francesa premiada
Bióloga especialista dos processos que originam o câncer
no ser humano, Anne Dejean-Assémat recebeu o prêmio
L’Oréal-Unesco para as Mulheres e a Ciência, no valor de
100.000 dólares, recompensando anos dedicados à pesquisa.
Faça sol, faça chuva, Anne Dejean-Assémat gosta de correr
pelos parques de Paris. E não é acaso se as qualidades de
maratonista – passada regular e perseverância apesar da ingratidão e
do cansaço do esforço repetido – são cultivados por esta cientista
alta e loira. Foram essas qualidades que levaram Anne DejeanAssémat a ser recompensada com o prestigioso prêmio L’OréalUnesco para as mulheres e a Ciência. A cada ano, cinco
pesquisadoras do mundo inteiro são premiadas, não apenas pela
importância excepcional dos trabalhos realizados, mas também por
Anne Dejean-Assémat © photo Micheline
Pelletier para Fondation d'Entreprise L'Oréal
que, segundo os 18 membros do júri presidido por Günter Blobel,
prêmio Nobel de medicina em 1999, elas representam um modelo a
ser seguido pelas jovens que desejam trilhar uma carreira científica.
Lutando contra o câncer
Doutora em ciências, Anne Dejean-Assémat dirige, desde 2003, a unidade de organização celular e
oncogenèse no Instituto Pasteur, bem como a unidade de biologia molecular e celular de tumores no
Instituto Nacional de Saúde e Pesquisa Médica (Inserm). Todo dia de manhã, ao vestir seu jaleco branco, a
francesa prepara-se para compreender e superar os mecanismos do câncer, para melhorar as terapias para
combatê-lo. Na origem da doença, há células saudáveis que se transformam, tornando-se cancerosas. Os
motivos dessas mutações permanecem desconhecidos, em grande parte, e é este mistério que Anne DejeanAssémat tenta desvendar.
Para tanto, é preciso debruçar-se incessantemente sobre o microscópio do laboratório, no universo
infinitamente pequeno da célula humana. Quase todo o conteúdo genético da célula reside no núcleo. Este
contém proteinas que funcionam como “receptores” para pequenas moléculas, como vitaminas ou
hormônios. A pesquisadora descobriu que um desses receptores, o do ácido retinoico, apresenta uma
estrutura diferente nas células cancerosas de pacientes sofrendo de leucemia. Um caminho para entender,
enfim, como a mutação deste receptor pode levar à leucemia nos seres humanos. A descoberta é sobretudo
um fantástico avanço para o possível efeito terapêutico do ácido retinoico nesse tipo de leucemias. Mas,
para conseguir tais resultados, quantas horas de trabalho. “É uma profissão feita, principalmente, de
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fracassos, ressalta Anne. É preciso ter nervos sólidos e pouco amor próprio. A cada dois anos, mais ou
menos, um experimento dá o resultado esperado.”
Avanços notáveis para as terapias
Um caminho cujas pedras não detêm a pesquisadora, que também observou que o mesmo receptor
altera-se também em certos tipos de câncer do fígado, provando que a hepatite B pode ser a causa da
mutação. Este é um avanço considerável, pois comprova a existência de vínculo direto entre uma doença
viral e a transformação de uma célula saudável em célula cancerosa.
Ainda mais recentemente, a pesquisadora provou que o arsênio, substância utilizada no tratamento
de algumas leucemias, também tinha a capacidade de alterar o receptor mutado do ácido retinoico. Daí,
utilizar arsênio para impedir a mutação pode ser um caminho a explorar. Os trabalhos em andamento estão
focados na proteina SUMO, descoberta na década de 1990, e que também pode alterar a estrutura do
receptor mutado do ácido retinoico. O próximo passo é tratar de entender como mudanças de atividade
dessa proteina podem provocar uma divisão irregular das células, e o câncer.
Conciliando vida pessoal e pesquisa
Membro da Academia de Ciências desde 2004, Anne Dejean-Assémat tem consciência de que esta
obra, fruto de muita paciência, deve-se, entre outros, à compreensão das pessoas mais próximas, como seu
marido, um apoio constante e sem falha, e seus três filhos – duas meninas e um menino – hoje
adolescentes. Pois até em casa, “você não deixa seus projetos atrás ao fechar a porta do laboratório. O
trabalho toma seu tempo e sua mente permanentemente”. A alquimia é complexa, mas não é de todo
impossível conciliar vida familiar e vida científica de alto nível. Se o marido e os filhos garantem hoje a
retaguarda e um porto seguro, foram os pais, engenheiro e professora de matemática, além de um professor
de biologia nos anos de colégio, que lhe deram a inspiração e motivação necessárias para ingressar na
carreira científica. “Ficava fascinada com o mundo vegetal e animal, recorda, parecia-me que dedicar
minha vida tentando compreendê-lo seria uma alegria. Ir ao laboratório todo dia de manhã é um
privilégio, não uma obrigação.” Outro aspecto que desencadeou sua vocação foi a militância de seus pais,
com o pai apaixonado por ecologia e a mãe feminista, que lhe ensinaram a questionar e derrubar os
preconceitos. Ensinamentos que hoje são um trunfo no dia a dia do seu trabalho.
Rumo à paridade
Visivelmente feliz com seu itinerário, agora chegou a vez de ela incentivar as jovens a não duvidar
na hora de seguir uma carreira científica: “Se vocês gostam da profissão, deixem seus medos de lado e
aproveitem as oportunidades! diz, fervorosa. A bióloga entende o receio que garotas podem sentir, de não
conseguirem conciliar vida profissional intensa com vida pessoal, porém acrescenta: “as mentalidades
devem mudar. Devemos incentivar e tranquilizar as garotas desde novas. É preciso ter fé nas mulheres”.
Anne Dejean-Assémat lembra as primeiras participações em congressos científicos, quando muitas vezes
era a única mulher em meio à plateia masculina, e hoje orgulha-se em ver que a paridade vem se impondo
até no meio científico. Prova disso é o fato de mulheres terem recebido, em 2009, os prêmios Nobel de
Biologia e Medicina. Duas delas, inclusive, já haviam sido recompensadas, anteriormente, com o prêmio
da Fundação L’Oréal-Unesco.
Pascale Bernard
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